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ENSINO SUPERIOR DE QUALIDADE: REPRESENTAÇÃOES DE ESTUDANTES DA PÓS-GRADUÇÃO DA UEFS
Nayra Oliveira de Brito Santos1 Taiara de Lima Silva Brandão Santos2 Eixo Temático: 13 - Ensino Superior no Brasil
RESUMO Este artigo tem o objetivo de compreender as representações sociais de estudantes dos programas de mestrado da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS sobre a qualidade no ensino superior, a partir da análise das representações gráficas e justificativas apresentadas. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, que utilizou como instrumento de coleta e produção de dados a entrevista semiestruturada. O quadro teórico é formado pelos conceitos de qualidade, Cunha (2009), Demo (1994), imagem Penn(2002); Machado (2010) e Representação Social Moscovici (2003); Jodelet (2002). Os resultados nos permite afirmar que os estudantes acreditam que a qualidade no ensino superior é balizada pela prática pedagógica, estrutura física adequada e pela capacidade disponibilizada pela instituição de edificar conhecimento, sendo esta última a representação mais reincidente. Palavras-chave: Representação Social. Imagem. Qualidade. RÉSUMÉ Cet article vise à comprendre les représentations sociales des étudiants du programme de maîtrise à l'Université d'État de Feira de Santana - UEFS sur la qualité de l'enseignement supérieur, de l'analyse de dessins et de justifications. Il s'agit d'une étude qualitative, qui a utilisé comme un outil pour la collecte des données et la production de l'entretien semi-structuré. Le cadre théorique est constitué par les concepts de qualité Cunha (2009), Démo (1994), l'image Penn (2002), Machado (2010) Représentation et social Moscovici (2003); Jodelet (2002). Les résultats nous permettent d'affirmer que les étudiants croient que la qualité de l'enseignement supérieur est marquée par la pratique pédagogique, une infrastructure physique adéquate et le renforcement des capacités fournies par l'institution de la connaissance, ce dernier étant la représentation la plus récurrente. Mots-clés : Représentation Sociale. l'image. la qualité. INTRODUÇÃO
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O paradigma industrial capitalista tem regido os ideais da sociedade atual, da qual
encontra-se num ritmo acelerado devido a evolução cientifica e tecnológica e o
aprimoramento da produção para obtenção de lucro. Segundo Berhens (2003) tal ideologia
tem afetado a universidade, tornando-a uma empresa produtora de conhecimento, assim,
supervalorizando a racionalização e restringindo o processo pedagógico ao produto final.
Desse modo, a qualidade da universidade tem pautado-se na dimensão da produção de
conhecimento e a relação entre prática pedagógica e pesquisa tem sido cada vez mais
dissipadas o que Vasconcelos (2009) caracteriza como obstáculo epistemológico.
Neste âmbito os professores universitários estão dedicando-se cada vez mais ao labor
da pesquisa em detrimento da prática pedagógica. A formação dos professores universitários
que se dá na pós-graduação lato senso e stricto-sensu tem sua metodologia pautada na
pesquisa, desfavorecendo a formação pedagógica dirigida a prática de ensino como afirma
(Ribeiro; Cunha, 2010, p. 8) que os professores universitários “se identificam exclusivamente
com a dimensão da pesquisa, valorizando a produção do conhecimento em detrimento da sua
socialização,” condição que tem deixado de fora do debate “a dimensão do ensinar, do
aprender e os processos e as estratégias de atuação dos docentes do ensino superior em sala de
aula”. Compreendendo que um dos fatores que contribui de forma significativa para a
qualificação do ensino básico é a qualidade da formação dos professores que acontece na
universidade, sendo estes formados por professores universitários qualificados em programas
de pós-graduação, lato sensu e stricto-sensu, nos questionamos: qual a concepção de
qualidade no ensino superior possui os estudantes de pós-graduação?
Realizamos a discussão da problemática e construímos um quadro teórico abordando
conceitos que serão relevantes para a análise dos dados: Teoria da Representação Social
(TRS), qualidade e ensino superior, baseado nos seguintes autores: Arruda (2007); Minayo
(2006); Moscovici (2003); Jovchelovitch (2003); Machado (2010), Aiello-Vaisberg (1995,
1997) dentre outros.
TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
A Representação Social segundo Jodelet (2002) está relacionada ao conjunto de
crenças, valores, opiniões, imagens, símbolos, elementos culturais e ideológicos, constituída
por dois processos: a ancoragem e a objetivação. Arruda (2002) pautada em Jodelet salienta
que os adultos também pensam com imagens, que constitui como parte do ciclo formativo da
objetivação, o núcleo figurativo. Nesse sentido, Aiello-Vaisberg (1995, 1997), considera a
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Associação Livre de Palavras, o desenho e as imagens, como melhor forma de expressar a
subjetividade, podendo ser aplicadas para diferentes temas e faixas etárias, além de levar em
consideração que as RS devem estar no inconsciente, podendo ser acessadas por técnicas
projetivas. Desse modo, o desenho é um importante meio para as RS, pois é uma forma de
expressão intermediária entre a realidade interna e externa, como afirma Arruda (2007).
Segundo Moscovici (2003, p. 71), objetivar é “descobrir a qualidade icônica de uma
ideia, ou ser impreciso, é reproduzir um conceito em uma imagem”, materializando um
esquema conceitual e significando assim os objetos. Moscovici (2003) afirma que o sentido
das palavras se dão à medida que são relacionadas a equivalentes não-verbais, aspecto este
que denota a relevância das imagens para a representação, como é enfatizado pelo autor ao
igualar a representação a uma imagem e vice-versa, constituindo a imagem como primeira
expressão representativa, antecedendo assim a representação conceitual. Neste âmbito o
referido autor definiu como parte integrante do processo de objetivação o núcleo figurativo.
Tal núcleo pressupõe que todas as imagens refletem a realidade, deixando de ser apenas um
signo e compondo o mundo que vivemos esta é imprescindível para a comunicação e
compreensão social por permear universo do pensamento e ser um elemento da realidade.
A ancoragem é definida como movimento interno da memória, que dá significado a
um novo objeto à medida que o aproxima de ideias prévias, tornando-a familiar, enquanto a
objetivação é a externalização da memória, o que reproduz as imagens e os conceitos para o
mundo exterior. Jovchelovitch (2003, p. 71), define a representação como “ reflexo do mundo
externo na mente, ou marca da mente que se reproduz no mundo externo”, demonstrando o
simbolismo das representações, que deve ser entendido como conhecimento social,
intrinsecamente relacionado com o núcleo figurativo.
Desse modo, o desenho é uma forma de comunicação que retrata imagens individuais
e sociais do sujeito, tanto no que concernem as relações atreladas ao contexto real e concreto,
quanto às dimensões íntimas, internas, além de objetivar a imagem, possibilitando que esta
primeira expressão representativa se efetue de forma concreta.
CONCEITO DE IMAGEM
Segundo Machado (2010, p. 183), os mapas são “representações planas da realidade
ou de parte dela, construídas para facilitar a visualização e a compreensão da mesma e
orientar as ações humanas.” Nesse sentido, os mapas mentais correspondem a representações
dos indivíduos sobre o espaço que vivem. O estudo do mapa mental surgiu a fim de perceber
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o comportamento espacial dos animais e dos humanos. Neste âmbito Machado (2010) faz
uma breve abordagem histórica sobre o conceito de mapas mentais, afirmando que foi
constatado por Tolman (1948) que homens e animais tem um “instinto territorial”, o que foi
denominado pelo autor de mapas cognitivos. Machado (2010) baseado na perspectiva de
Cassete 1994 e Fischer 1964, ao que se refere ao comportamento humano, salienta que as
representações cognitivas são dotadas de sentimentos, valores e juízos, que são apreendidos
através da interação do individuo com a cultura da qual está imerso.
A imagem é a comunicação sobre um objeto, que dá sentido a palavra, em
contrapartida ao ser analisada, esta é convertida em palavras, o que possibilita significações
variadas. Para Penn (2002), a imagem indica a construção de um mapa mental, do qual
permite identificar as relações entre os diversos elementos, nela inseridos. Pautado nas idéias
de Lyunch 1976, Machado, (2010), abrange o conceito de mapas mentais afirmando que tal
representação não se dá de forma isolada, mas de modo social, a partir de ideias convergentes,
que contribuem para a compreensão das objetivações.
Segundo Campos (2000), a técnica projetiva do desenho se propagou, sendo
considerada por leigos e clínicos como manifestação do inconsciente de forma simbólica. O
caráter não-verbal representativo do desenho possibilita manifestações espontâneas e
minuciosas do pensamento estruturante do sujeito, como afirma Filho (2007, p. 226), “a
vantagem do desenho é que há uma série de liberdades e possibilidades de expressão que
justificam seu emprego”. Segundo o referido autor, a expressão a partir do desenho permite a
descrição da vida psicossocial dos sujeitos, Relvas (2009) salienta que a imagem também é
um mecanismo cerebral utilizado no processo de aprendizagem ao gerar respostas internas de
estímulos externos. Portanto o desenho se caracterizou como meio de comunicação pública, à
medida que se legitimou como um dos meios de expressão das experiências humanas.
CONCEITO DE QUALIDADE
O conceito de qualidade não tem uma definição precisa, sendo variável como afirma o
MEC (2009) altera-se de acordo com o tempo e o espaço. No entanto, está vinculada a bens
de consumo, atrelado ao sistema neoliberalista que a utiliza para classificar produtos
comercializados, sendo empregada para induzir as empresas a aperfeiçoá-los garantindo sua
eficácia e eficiência a fim de atrair o maior contingente de consumidores, sustentando o
sistema capitalista à medida que perpetua a competição. Nessa perspectiva, a qualidade tem
uma ideologia racionalista e instrumental que atrofia e mercantiliza a humanização e a
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cidadania, visto que transforma ao homem em mais um produto, sendo este consumidor e
consumido pelo sistema mercadológico.
Demo (1994) contrapõe-se a ideologia de qualidade na perspectiva capitalista,
afirmando que esta é a humanização da realidade que tem por objetivo equalizar as
oportunidades, garantindo os direitos humanos e tornando a democracia uma condição
existencial que ultrapasse o caráter de luxo para camada popular. Nesse sentido, a qualidade
deve ser aplicada à educação, definida pelo autor como qualidade formal que pressupõe uma
educação composta por uma metodologia construtivista que propicie a criatividade e a
inovação, e a qualidade política que tem por objetivo assegurar uma formação cidadã e critica
que combata a opressão às camadas populares e humanize os sujeitos sociais.
A Unesco (2001, p.1), conceitua o termo qualidade no bojo da educação, salientando
que este é “um conceito dinâmico que deve se adaptar permanentemente a um mundo que
experimenta profundas transformações sociais e econômicas. É cada vez mais importante
estimular a capacidade de previsão e de antecipação. Os antigos critérios de qualidade já não
são suficientes. Apesar das diferenças de contexto, existem muitos elementos comuns na
busca de uma educação de qualidade que deveria capacitar a todos, mulheres e homens, para
participarem plenamente da vida comunitária e para serem também cidadãos do mundo”.
Desse modo, a qualidade na educação tem por finalidade construir conhecimentos que
emancipem sujeitos e contribua para melhoria da convivência social.
A qualidade no ensino superior deve abranger todas as dimensões que o constituem:
ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido, a Unesco (1999) afirma que a qualidade no ensino
superior deve abranger as diversas funções atribuídas a universidade. Em consonância com o
documento, Cunha (2009) salienta que para qualificar o ensino superior se faz necessário
considerar os contextos nacionais e regionais. Tubino (1997) afirma que a qualidade na
universidade só será alcançada se houver uma melhoria em vários âmbitos da universidade
como permanência discente, quadro docente, perspectiva pedagógica dentre outros fatores. O
referido autor ainda ressalta a relevância de atrelar a graduação com a pós-graduação. Nessa
perspectiva, Demo (1994) afirma que a universidade deve ser por excelência de qualidade
promovendo a pesquisa relacionada ao ensino como propulsora de uma formação autônoma,
critica e emancipadora. Portanto, a universidade de qualidade é aquela que avança no
provimento de conhecimento instrumental e promove a formação cidadã.
METODOLOGIA
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Esta pesquisa é descritiva segundo Gil (2008), valoriza opiniões, atitudes e crenças de
um determinado grupo, de cunho qualitativo que segundo Minayo (2007), permite ao
pesquisador se aproximar da realidade dos sujeitos da pesquisa, possibilitando maior interação
entre ambos.
A coleta e produção de dados se deu através da utilização da entrevista semi-
estruturada com a orientação de um guia, composto por três partes: Associação Livre de
Palavras (ALP), representações gráficas sobre o ensino superior de qualidade e questões
específicas que tratam da relação ensino, pesquisa e desenvolvimento profissional docente. A
técnica da entrevista semi-estruturada segundo Queiroz (1988), é um guia de coleta de dados
flexível que permite uma conversação entre pesquisador e sujeito da pesquisa.
O corpus de análise deste artigo é composto por essas representações gráficas e suas
descrições. Para complementar, utilizaremos a análise de conteúdos categorial e temática de
Bardin (1977) para nos ajudar na categorização das justificativas verbais dos participantes. A
análise das representações gráficas através da Teoria das Representações Sociais Moscovici
(2003), nos permitem captar de forma mais espontânea os mapas mentais e, por esta razão,
favorece o estudo da objetivação que incide na materialização de um esquema conceitual.
Vários autores como: Jovchelovitch (1998), Spink (1993), Aiello-Vaisberg (1997), Wagner,
(2000), dentre outros, se utilizam da representação gráfica para captar as RS dos objetos de
estudo.
Os sujeitos da pesquisa são 12 estudantes dos programas de mestrado (Desenho e
Diversidade Cultural, Saúde Coletiva, História e Linguística, Letras e Artes) da Universidade
Estadual de Feira de Santana – UEFS.
REPRESENTAÇÕES DOS ESTUDANTES:
A análise dos dados nos permitiu agrupá-las em três categorias, são elas: Prática
pedagógica; Infra-estrutura e Edificação do conhecimento. O presente artigo trará apenas uma
amostragem de cada categoria Alguns sujeitos afirmam que a qualidade da universidade é
evidenciada pela prática pedagógica do professor, outra parte dos sujeitos acreditam que a
qualidade no ensino superior depende da estrutura física oferecida pela instituição. A
edificação do conhecimento é outro preponderante ressaltado pela maioria dos sujeitos da
pesquisa como evidência de qualidade na universidade, para esses sujeitos a universidade de
qualidade deve contribuir de forma efetiva para a construção do conhecimento.
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Prática pedagógica
O sujeito LS1 retrata em sua representação gráfica a sala de aula tradicional, com as
carteiras enfileiradas e a mesa do professor em evidência na sala, saindo do docente faíscas o
que denota uma alusão à iluminação do ser professor:
LS1: [...] Alguns professores envelheceram, outros adoeceram, outros
circularam da UEFS, e o número de docentes reduziu e comprometeu muito
a qualidade, porque eu tenho uma equipe pequena para dar conta de um
curso com um elenco de disciplinas muito grande. Sobrecarrega esses
profissionais. [...] A qualidade tem sido também a questão da permanência
desse docente [...]. Nós temos um corpo docente mais preparado em termos
de titulação. As pessoas permanentes não tem desenvolvido pesquisa até
então.
A representação gráfica demonstra que o paradigma tradicional ainda rege das ações
pedagógicas atuais, Demo (1996), ao referir-se a essas práticas afirma que aula puramente
como transmissora de conhecimento não educa. Nesse sentido o professor, no ideário do
sujeito, configura-se como o transmissor do conhecimento, contrapondo-se a ideia de Demo
(1996) que percebe o professor como mediador do conhecimento, do qual deve ser criativo,
renovar a sua prática e manter a sua capacidade inventiva, estimulando os alunos a assumirem
uma postura critica e inovadora.
O sujeito da pesquisa faz referência ao papel do professor, salientando que a
permanência destes na universidade é imprescindível para manutenção da qualidade do ensino
superior. Cunha (2010) discute o conceito de lugar, na formação docente, salientando que este
é a própria identificação do sujeito com a profissão, tal fator contribuirá para a reflexão
teórica e prática, qualificando a ação pedagógica. A intensa mobilidade de docentes na
universidade impedem o estabelecimento de vínculos sólidos entre a comunidade acadêmica,
acarretando uma descaracterização da necessidade humana da dimensão afetiva no trabalho,
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para Chagas et. al. (2004) a prática pedagógica é regida pelos saberes docentes, entretanto a
solidez dos vínculos estabelecidos definem como os professores se percebem no mundo.
Infra-estrutura
O sujeito RG4 da pesquisa desenhou um rosto com um sorriso discreto, um olhar
melancólico e um balão de pensamentos com interrogações e exclamações, e logo abaixo, há
uma representação de uma forca.
RG4: Na verdade, eu coloquei uma cara um pouquinho alegre, ao mesmo
tempo com perplexidade e com interrogação. Porque é muito sério o jeito
que as coisas estão acontecendo aqui. Por exemplo, nosso departamento e
cantina não tem nem café, o café que vem é alguém que trás de fora, que
nem cafezinho se tem, porque não tem pó, não tem açúcar, não tem gás,
quer dizer, olha é como se nós estivéssemos notando o descaso. Ou seja, há
uma falta de crédito pra universidade.
Torna-se possível afirmar que o olhar melancólico faz alusão a falta de esperança em
recuperar a qualidade do ensino superior, o sorriso demonstra ironia no que possivelmente se
refere a duvida em haver qualidade na universidade. A forca nos permite relacionar a
qualidade do ensino superior a uma morte figurada da qual é suscitada devido à falta de
estrutura básica para formação profissional de qualidade. No que se refere o discurso do
sujeito refere-se à decadência da universidade, a qual não possui mínimos itens que
contribuem no desenvolvimento do trabalho universitário, relacionando a falta de tais itens
como demonstração de desprestígio a qual a universidade está atualmente inserida, o sujeito
refere-se ao descaso sofrido pela universidade, que nos permite mencionar as autarquias
responsáveis em zelar pela qualidade do Ensino Superior, estes não devem apenas atuar como
avaliador do processo de “ensinagem” Anastasiou (2005), mas, sobretudo, garantindo as
condições estruturais necessárias para o bom desenvolvimento das atividades no âmbito
universitário.
Observa-se que a Lei de Diretrizes e Bases (1996), estabelece no artigo 11 inciso V
que os recursos oferecidos pelos Municípios devem priorizar a educação infantil, por
conseguinte o ensino fundamental, atendendo de forma plena e acima das metas estabelecidas
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pela Constituição Federal, somente a partir de então, possibilita a colaboração da instância
citada a outros níveis de ensino. Tal redimensionamento de recursos deve atender as
necessidades do ensino médio, após atender as necessidades do ensino fundamental como é
previsto no artigo 10 inciso VI, permitindo a conclusão que a implicação dos Municípios com
o Ensino Superior é inibida, ficando o financiamento deste à cargo apenas da União. Nesse
âmbito Amaral (2003) destaca que há uma intensa expansão do ensino superior, contrapondo-
se ao pouco financiamento movimento. Oliveira (2009) salienta que os recursos aplicados ao
ensino superior da Bahia tem sido insuficiente para acompanhar a expansão de tal nível de
ensino desfavorecendo sua qualidade.
Edificação do conhecimento
O sujeito MM12 desenhou um computador, três pessoas de mãos dadas, um livro e
uma cabeça aberta a qual integra conteúdos ao próprio ser.
MM12: Quando eu coloquei como se fosse uma cabeça aberta é que para se
tenha ensino superior de qualidade é necessário que o docente tenha uma
cabeça aberta para adquirir novos conhecimentos, hoje assim a o fluxo de
conhecimento com a internet e outros meios de comunicação e o próprio
interesse do aluno é tão grande que muitas vezes o aluno chega em sala de
aula com o conhecimento que até o docente não tem. [...] Eu coloquei um
livro, um computador é realmente a questão da necessidade de atualização e
o computador é uma ferramenta muito importante e que muitos profissionais
ainda não dominam essa ferramenta pra adquirir da internet o que realmente
pode ajudá-lo, muitas vezes a restrição, só do impresso, só do livro e na
internet existem muitas ferramentas, no entanto, uma minoria sabe utilizá-lo
de maneira adequada, ir ao banco de dados, saber o que tem que pesquisar,
como procurar. [...] quando eu coloquei assim como se fossem várias
pessoas juntas é a questão da interdisciplinaridade e da
transdisciplinaridade, porque pra que estes pontos possam ocorrer primeiro
você tem que ter a união dos docentes, pra que a partir disso ocorra o
trabalho conjunto e tenha a melhoria da qualidade do ensino.
A representação gráfica do sujeito MM12 relaciona-se com a construção do
conhecimento como evidencia de qualidade na universidade, o livro é concebido no senso
comum como meio para adquirir conhecimento, ao lado deste está posicionado um rosto com
a cabeça aberta incorporando saberes, este aspecto demonstra a representação comum sobre o
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papel da universidade que é historicamente concebida como espaço do conhecimento
cientifico, portanto, tem a função promover aprendizagem. Nesse sentido, Cunha (2008)
afirma que a concepção cientifica impregnou os trabalhos acadêmicos, a universidade adaptou
seus procedimentos metodológicos de acordo com o paradigma cientifico, constituindo em
seu seio uma racionalidade cognitivo-instrumental. No entanto, a referida autora propõe uma
ruptura na concepção de conhecimento verdadeiro e recupera a revalidação do conhecimento
produzido socialmente na vida cotidiana.
O computador atualmente é outro elemento que representa o conhecimento, visto que,
este possui uma dinâmica cíclica de informações, possibilitando atualizações de saberes e a
sua reconstrução, bem como difunde o conhecimento de forma mais eficaz, tornando-o
acessível mundialmente. As três pessoas de mãos dadas demonstra que a interação é outro
aspecto relevante para garantia da qualidade na universidade, a partir desta, que o
conhecimento é socializado, discutido e reconstruído, estes três sujeitos da representação
possivelmente também faz alusão aos elementos que constituem a universidade que é o
ensino, a pesquisa e a extensão, estas precisão estar interagindo a fim de que a universidade
seja constituída de forma efetiva.
O discurso do sujeito, atribui a responsabilidade da qualidade da universidade ao
professor, focalizando o aspecto da atualização docente como pré-requisito para qualificação
do ensino que assegurará a qualidade da universidade, o estudante também refere-se a falta de
domínio a novas ferramentas pedagógicas de trabalho, exemplificada pelo computador, o
sujeito ainda salienta que as atualizações citadas a partir da união estabelecidas pelos
docentes, a inter e transdisciplinaridade são caracterizadas como trabalho conjunto capaz de
qualificar o ensino. Desse modo, o sujeito explicita a importância da interação entre os
docentes, demonstrando que para a melhoria da qualidade do ensino é necessário união e o
trabalho conjunto. Demo(1996) afirma que é necessário buscar o “equilíbrio entre o trabalho
individual e coletivo” a fim de que se aprimore as individualidades colaborando assim, para
construção das identidades sociais.
CONCLUSÃO
Este trabalho objetivou compreender as representações sociais dos estudantes de pós-
graduação da UEFS sobre a qualidade no ensino superior. As análises realizadas permitem
afirmar que os estudantes da pós-graduação entendem como universidade de qualidade aquela
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que possui uma prática pedagógica sólida, bem-estruturada, que possui infraestrutura
adequada e principalmente que contribui para construção do conhecimento.
No que se refere à prática pedagógica a maior parte dos sujeitos de tal categoria
transitam entre paradigma conservador que abarca em geral a representação dos desenhos e
paradigma emergente que caracteriza os discursos proferidos pelos mesmos, para estes
últimos, o ensino deve favorecer a aprendizagem, no entanto, a responsabilização atribuída ao
professor sobre o sucesso da aprendizagem demonstra que os estudantes ainda não se
percebem como sujeitos em tal processo.
No que concerne à categoria da infraestrutura, os sujeitos crêem que a defasagem da
mesma, ocasiona em implicações no ensino, de modo, a torná-lo ineficiente. Outra tendência
explicitada na discussão dos dados consiste no ideário que a falta de infraestrutura na
universidade é um indicador de desprestígio social. Torna-se importante salientar que tais
obstáculos tendem a dificultar a permanência da maioria do público atual da universidade que
possui uma situação socioeconômica menos favorecida.
Grande parte dos sujeitos da pesquisa acreditam que uma universidade de qualidade é
aquela que contribui para construção de aprendizagens dos estudante, propiciando a esses
autonomia e inserção social. A interação estabelecida entre os professores é outro elemento
explicitado pelos estudantes para que haja construção do conhecimento, pois este tem o papel
de qualificar o convívio social. Embora, o desenho apresente uma representação conservadora
sobre a concepção de aprendizagem, a partir de introjeção de conhecimentos à cabeças
abertas, o discurso dos sujeitos é povoado por concepções do paradigma emergente à medida
que significam o papel do estudante no processo de aprendizagem salientando que estes
devem ser ativos em tal processo e que a aprendizagem devem expandir os horizontes dos
sujeito.
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Bolsista PIBIC/CNPq, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa Sobre Pedagogia Universitária, email: [email protected] 2 Estudante do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Estadual de Feira de Santana,
Bolsista PROBIC/UEFS, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisa Sobre Pedagogia Universitária, email: [email protected]