Ensino Fundamental 1.o ano – 1.o volume · Filosofia : 1o. ano / Michele Czaikoski Silva ; ... 1....
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Adilson Farias
Filosofia
Ensino Fundamental
1.o ano – 1.o volume
todos os direitos reservados à editora Positivo Ltda.
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MATERIAL DIDÁTICOCÓDIGOS DO
ok@CIE190
@CIE190 – Os cinco sentidos
S586 Silva, Michele Czaikoski.Filosofia : 1o. ano / Michele Czaikoski Silva ; ilustrações Andréa Horn ... [et al.]. —
Curitiba : Positivo, 2009.v. 1.
Sistema Positivo de Ensino.ISBN 978-85-385-3420-4 (Livro do aluno)ISBN 978-85-385-3419-8 (Livro do professor)
1. Filosofia. 2. Ensino fundamental – Currículos. I. Horn, Andréa. II. Título.
CDU 372.8
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)(Mônica Catani M. de Souza/CRB9-807/Curitiba, PR, Brasil)
diretor-suPerintendenteRuben Formighieri
diretor-geraLEmerson Walter dos Santos
diretor editoriaLJoseph Razouk Junior
gerente editoriaLMaria Elenice Costa Dantas
gerente de arte e iconografiaCláudio Espósito Godoy
autoriaMichele Czaikoski Silva
edição de conteÚdoLysvania Villela Cordeiro
ediçãoTirzá Ben-Hur Almeida de Souza
Pesquisa iconográficaAna Cláudia Dias Belquís Ribeiro Drabik
edição de arteCarina Stalchmidt
coordenação de arteFabíola Castellar
iLustraçãoAndréa HornLie KobayashiPriscila SansonSônia Horn
Projeto gráficoCommcepta Brand Design, Fabíola CastellarIlustração: Adilson FariasÍcones: Evelise Ferretti
editoraçãoJoice Cruz, Rosana Cunha
ProduçãoEditora Positivo Ltda.Rua Major Heitor Guimarães, 174 – 80440-120 – Curitiba – PRTel.: (0xx41) 3312-3500 – Fax: (0xx41) 3312-3599
imPressão e acabamentoGráfica Posigraf S.A.Rua Senador Accioly Filho, 500 – 81310-000 – Curitiba – PRFax: (0xx41) 3212-5452 – E-mail: [email protected] em 2011
© Editora Positivo Ltda., 2009Este livro foi atualizado segundo as definições do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, presentes na 5a. edição do
VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), publicado em 2009; porém, há possibilidades de alteração, visto que tais modificações vêm sendo implantadas, podendo gerar dúvidas e novas orientações.
Projeto Pedagógicode Filosof
ensino Fundamental – 1o. ano
ia
Concepção de ensino ............................................................. 7
Organização didática ............................................................. 9
Conhecimentos privilegiados ............................................... 12
Objetivos ...............................................................................15
Avaliação ...............................................................................15
Programação anual (Regime 9 anos) ......................................16
• 1°. ano ............................................................................... 16
• 2°. ano ............................................................................... 17
• 3°. ano ................................................................................18
• 4°. ano .................................................................................19
• 5°. ano .................................................................................19
Referências ............................................................................20
sumário
Projeto Pedagógico de Filosofia
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ConCePÇÃo de ensino
A Filosofia nasceu entre adultos. Aliás, entre um reduzido número de adultos, corajosos o bastante para pensar de forma rigorosa sobre si mesmos, a realidade que os cercava e o próprio ato de pensar, entregando-se à vertigem de questionar percepções, crenças e práticas. Desde então, inúmeros filósofos dedicaram-se a reflexões acerca da verdade no conhecer e da liberdade no agir, o que se desdobra em di-versos temas, entre os quais encontramos a infância e a educação.
Desde as origens, a Filosofia viu-se ligada à educação, pois foi entendida, ao mesmo tempo, como atitude e forma de conhecimento responsável pela formação humana, com vistas à excelência ética e intelectual. Ainda assim, a ideia de incluí-la nos currículos das séries iniciais desperta polêmica, mesmo entre os que aceitam plenamente a transposição didática de conteúdos científicos, técnicos e artísticos para tal contexto.
Estender essa transposição a conteúdos e métodos filosóficos é uma ideia recente, inaugurada por Mathew Lipman, na década de 60 do século XX. Ideia cujo ponto de partida foi o reconhecimento de semelhanças fundamentais entre os olhares dos filósofos e das crianças para o mundo, ambos caracteri-zados pela capacidade de maravilhar-se e pela curiosidade.
Tais características, inatas ao ser humano, permitiriam a entrada das crianças num universo de pro-blematizações, hipóteses e investigações reflexivas, aproximando-as, gradualmente, da Filosofia e de seus procedimentos.
A Filosofia é uma disciplina que leva em consideração formas alternativas de agir, criar e falar. Para descobrir essas alternativas, os filósofos persistentemente avaliam e examinam o que outras pes-soas normalmente têm como certo e especulam imaginativamente sobre quadros de referência cada vez mais amplos (LIPMAN, 1994, p. 143).
Antes dessa proposta, até se pensava em uma Filosofia da educação preocupada com a infância, mas não em uma Filosofia na educação dessa mesma infância.
Atualmente, cerca de 30 anos após as primeiras publicações de Lipman, voltadas diretamente ao público infantil, mais de 30 países, entre os quais o Brasil, pesquisam e aplicam sua proposta teórica, metodológica e curricular – conjunto que ficou conhecido como Filosofia para crianças.
Por outro lado, um grande contingente de pesquisadores dedica-se a uma avaliação crítica dessa iniciativa, mesmo quando reconhece o seu indiscutível valor fundante – reconhecimento que considera, em especial, a sistematização metodológica do ensino dessa disciplina para crianças e a relação direta dos conteúdos priorizados com a História da Filosofia.
Deve-se entender, portanto, a expressão filosofia para crianças, nesse primeiro sentido, como uma tentativa de levar a prática da filosofia às crianças, tentativa de tornar a história da filosofia acessível para que as crianças filosofem com ela. Pois bem, num sentido mais amplo, ela não só designa a tentativa particular de Lipman quanto uma nova área ou campo de interesse da própria filosofia, a de fazer filosofia com crianças. [...] A importância singular de Lipman deriva de ser – como Freud para a Psicanálise, Saussure para a Linguística, ou Weber para a Sociologia – um iniciador, um fundador e, ao mesmo tempo, de tentar levar à prática o caminho por ele funda-do. Mas de forma alguma sua proposta esgota as possibilidades de tal campo. Apenas as inicia (KOHAN, 2000, p. 14).
Ainda assim, não dispomos de parâmetros curriculares nacionais específicos para essa disciplina, já inserida nas grades do Ensino Fundamental de muitas escolas e que desperta o entusiasmo de edu-cadores que desejam, nas séries iniciais, uma formação voltada a determinados aspectos, tais como: senso crítico – pensamento problematizador e fundamentado em critérios; e postura ética, reflexiva e aberta ao diálogo. Logo, é natural haver muitas dúvidas sobre qual Filosofia ensinar às crianças e como
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fazê-lo. Somem-se ao quadro a escassez ou a ausência de conteúdos filosóficos na formação básica – e até mesmo superior – das décadas seguintes à instauração do Regime Militar e a distância que se fez entre a Filosofia acadêmica e a escolar.
Atualmente, o retorno da Filosofia como disciplina obrigatória dos programas de Ensino Médio e sua inserção em alguns vestibulares alimentam a reconstrução de currículos e metodologias. Enquanto isso, educadores do Ensino Fundamental avaliam as novas, diversas e, muitas vezes, contraditórias propostas curriculares e metodológicas para a inclusão da Filosofia nas séries iniciais. Entre elas, muitas defendem a transversalidade dos temas – em vez de uma disciplina específica – ou incentivam uma mera troca de opiniões entre os alunos, sem ultrapassar o senso comum.
Outras se empenham em garantir a especificidade da Filosofia, numa relação harmônica com as es-pecificidades da infância, reconhecendo a consistência de alguns fundamentos de Lipman, consideran-do críticas ao seu método – o qual se baseia em novelas filosóficas de aplicação bienal –, bem como buscando alternativas em relação a elas e às necessidades de uma geração e de uma cultura diferentes daquelas em que o primeiro caminho foi sistematizado.
Nessa perspectiva, em lugar de uma aprendizagem exaustiva de teorias, métodos e sistemas filosófi-cos historicamente constituídos, buscamos uma propedêutica, ou seja, uma preparação à Filosofia, com ênfase no progressivo filosofar sobre temas de interesse das crianças e da humanidade, o que chama-mos de sensibilização filosófica. Essa escolha implica atenção a alguns elementos:
• habilidades cognitivas relacionadas à reflexão e à práxis filosófica – divididas por Lipman em quatro grupos: raciocínio, investigação, formação de conceitos e interpretação/tradução. Estas, por sua vez, devem desdobrar-se em atitudes éticas no diálogo filosófico – ouvir, considerar e respeitar opiniões diferentes, entre outras. Sendo assim, preferimos designá-las por habilidades cognitivas e éticas;
• formas de pensar que considerem aspectos lógicos, estéticos/epistemológicos e éticos – o que Lipman denomina, respectivamente, de pensamento crítico, criativo e cuidadoso, ou, ainda, pen-sar de ordem superior e, mais recentemente, pensamento multidimensional;
• conceitos e questionamentos propostos por filósofos nas diversas áreas da reflexão filosófica – Metafísica, Axiologia, Ética, Política, Estética, Lógica, Antropologia, Epistemologia, etc.;
• reconhecimento do caráter falível e histórico de opiniões e saberes, bem como da necessidade de sua avaliação e reconstrução intersubjetivas;
• construção de pilares cognitivos e éticos para o exercício da cidadania;
• diálogo livre e democrático, mas organizado e investigativo, como método para elaborar, avaliar e reelaborar conhecimentos;
• estímulo ao encantamento, à alegria e à ludicidade no processo reflexivo;
• perguntas como instrumentos de problematização e construção de conhecimentos;
• ênfase na elaboração de conceitos, juízos e raciocínios coerentes;
• relevância das razões e dos critérios para julgar e argumentar;
• coerência e rigor nas discussões e raciocínios filosóficos – que diferem dos míticos, dos religiosos, dos científicos ou do senso comum;
• aprendizagem cooperativa, considerando a autonomia de cada aluno, a importância da participa-ção dialógica e a mediação do professor no processo investigativo;
• reflexão filosófica sobre limites e possibilidades do filosofar, bem como de outros saberes – senso comum, Arte, Ciência, etc.;
• contato com diferentes linguagens e pontos de vista, por meio da pesquisa e do diálogo;
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• respeito à diversidade de opiniões e de culturas;
• reflexão sobre valores;
• visão reflexiva de mundo, considerando diferentes ideias sobre o ser (efetividade) e o dever-ser (normatividade).
Por outro lado, cabe ressaltar que defendemos o ensino da Filosofia como disciplina, uma vez que a interdisciplinaridade se faz no diálogo entre os diversos campos do saber humano, cada qual com suas especificidades. Nesse contexto, entendemos o ensino como prática de mediação do professor na ela-boração e na avaliação de conceitos e raciocínios. Cabe a ele a problematização e não a transmissão de conhecimentos. Assim, a aprendizagem pode constituir-se de forma ativa e reflexiva.
Além disso, consideramos algumas críticas à aplicação integral do método de Lipman em nosso con-texto pedagógico, histórico e social, tais como:
• a ênfase no estudo da Lógica formal aristotélica, frente à relevância de outras áreas da Filosofia e à necessidade de vincular a ação ética e cidadã não só ao pensamento lógico mas também à reflexão política;
• a necessidade de repensar a efetividade da democracia e não apenas a sua normatividade;
• a ênfase em modelos, cujo possível caráter ideológico merece exame, representados por novelas para crianças e manuais para o professor.
Sendo assim, este material insere-se no campo de novos caminhos em construção, que não desconsi-deram fundamentos passados nem horizontes futuros. Para uma melhor aplicabilidade, requer uma pes-quisa constante por parte dos professores em relação à História da Filosofia e ao percurso da chamada Filosofia para crianças – para o que sugerimos iniciar pela leitura das obras indicadas no item Referências –, bem como das principais discussões relacionadas a concepções de ensino e aprendizagem, didática e avaliação. Afinal, a práxis filosófica deve ser libertadora e reflexiva em qualquer contexto, sempre pautada pela autonomia e pelo senso crítico de todos os atores envolvidos.
oRGaniZaÇÃo didÁtiCa
Cada volume possui uma unidade de trabalho, a qual será desenvolvida por meio de textos, imagens, discussões, atividades de sensibilização e de aprofundamento. Esses elementos poderão constar em algu-mas seções, cujo objetivo é subsidiar as diferentes etapas do desenvolvimento de determinado tema. A seguir, apresentamos tais seções e as etapas que elas favorecem.
Roda de Filosofia
Apresenta questões que estimulam discussões sobre determinado tema, por meio das quais os alunos podem, em diálogos mediados pelo professor, elaborar conceitos e argu-mentos de forma mais filosófica que em outras atividades propostas em cada volume.
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Eu e meus colegas
Esta seção tem como objetivo o desenvolvimento de trabalhos em grupos. Debates, con-versas e apresentação de vivências dos alunos são algumas das atividades trabalhadas na seção, que pode solicitar também alguma forma de registro escrito. A troca de ideias propicia a socialização dos alunos, os quais, ao mesmo tempo, constroem coletivamente o conhecimento e desenvolvem atitudes de participação em grupo e respeito às ideias expostas e às pessoas que falam.
Cidadão-mirim
Esta seção propõe o estudo de questões relacionadas à cidadania. Para tanto, são apre-sentadas, por meio de textos e de outras linguagens, situações para possibilitar a reflexão e a discussão dos alunos sobre atitudes que devem ser desenvolvidas, a fim de que eles possam crescer como cidadãos e exercer, assim, sua cidadania.
Momento repórter
Possibilita aos alunos identificar, conhecer, analisar, discutir, valorizar e respeitar opiniões e ideias, valores e conhecimentos de familiares, de profissionais ou de outras pessoas so-bre os mais variados assuntos, por meio de entrevistas, coleta de depoimentos, histórias e experiências de vida.
A pesquisa é sua!
Propicia aos alunos a construção e a ampliação do conhecimento por meio de pesqui-sa e análise de informações em enciclopédias, CD-ROMs, livros paradidáticos, revistas, Portal, entre outros meios de comunicação, sobre assuntos ou temas significativos que aprofundam o conteúdo abordado na unidade. O papel do professor é orientar o processo, explicitando os componentes que devem estar presentes na pesquisa: o assunto, as fon-tes, as formas de registro e a sistematização dos resultados obtidos, além de sugerir se a pesquisa será individual ou em equipe.
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Pare e repare!
Apresenta curiosidades, novidades ou contrapontos sobre o assunto trabalhado, assim como leitura de imagens e de diferentes gêneros textuais, os quais abrangem artistas e estéticas culturais, locais e universais, despertando o interesse dos alunos.
Conexões
Esta seção proporciona um momento para pensar sobre os assuntos explorados, favore-cendo conexões entre as diferentes áreas de conhecimento e possibilitando reflexões em relação às práticas sociais e suas causas, consequências e influências, assim como em relação à diversidade cultural.
Refletindo mais sobre o tema
Seção que encaminha atividades individuais, com finalidades diversas, como resgate ou problematização da cultura experiencial dos alunos, assim como aprofundamento e apli-cação dos conhecimentos abordados nos volumes. Isso possibilita aos alunos uma melhor organização das ideias e o desenvolvimento de hábitos de estudo. As formas de registro desta seção privilegiam diferentes meios de expressão: escrita, desenhos, pinturas, cola-gens, entre outros, os quais, em alguns momentos, estão conciliados com a oralidade.
Brincando com a Filosofia
Promove a criatividade, a sensibilização, a reflexão e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e éticas. Esta seção é caracterizada por atividades lúdicas e prazerosas, tais como: jogos pedagógicos; pequenas peças de teatro; músicas e/ou paródias; poemas; histórias em quadrinhos; apreciação e interação com obras de arte; confecção de murais e/ou de painéis; e exposições relacionadas ao conteúdo explorado. Ora propicia a apli-cação do conhecimento de forma lúdica e prazerosa, ora serve como sensibilização para iniciar uma unidade.
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Filosofia também tem história
Apresenta frases e ideias de filósofos sobre os assuntos abordados, como motivação para o desenvolvimento de diversos conceitos, com o objetivo de historicizar o conhecimento. A partir da familiarização com a história do conhecimento apreendido, os alunos passam a entender a construção da Filosofia, assim como a perceber a importância dessa área do conhecimento para nossa sociedade, pois é uma atividade humana produzida com o passar do tempo.
Caixa de imagens
Seção em que são promovidos momentos de apreciação, reflexão e interação com obras das Artes Visuais.
Caixa de música
Esta seção promove sensibilização, fruição, sistematização e/ou produção das linguagens da Música e a da Dança.
Etapas favorecidas pelas seções
• Sensibilização – encantamento e despertar da curiosidade sobre o tema.
• Interpretação e problematização de um texto ou de uma obra de arte.
• Discussão filosófica – investigação por meio de perguntas, assim como elaboração de conceitos e de argumentos.
• Atividades de aprofundamento sobre o tema discutido – produção escrita, novas leituras, pesqui-sa, entre outras.
• Atividades envolvendo habilidades cognitivas e éticas.
• Metacognição – avaliação participativa do conhecimento elaborado e do processo cognitivo-dia-lógico realizado numa aula (Exemplos: O que aprendemos e o que ainda queremos aprender sobre o tema? Como participamos, ouvimos, argumentamos e o que pode ser melhorado?).
ConHeCimentos PRiVileGiados
Além dos conteúdos descritos na programação anual de cada série, é importante que as aulas con-templem a abordagem explícita de habilidades cognitivas e éticas – relacionadas aos pensamentos crí-tico, criativo e cuidadoso –, num diálogo em que todos possam ser ouvidos, respeitados e estimulados
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à autocorreção. Entre essas habilidades, destacamos as seguintes, sob a forma de uma síntese da clas-sificação proposta por Lipman:
Raciocínio
tComparar e contrastar
tTecer analogias
tPerceber e evitar contradições e ambiguidades
tIdentificar e propor boas razões
tDefinir e avaliar critérios
tInferir por indução e dedução
Formaçãodeconceitos
tRelacionar e distinguir
tDefinir (significados)
tClassificar
tGraduar e sequenciar
tGeneralizar e particularizar
tExemplificar e contraexemplificar
tExplicar
Investigação
tObservar
tProblematizar
tCriar e explorar hipóteses
tPrever e avaliar consequências
tDescrever
tExemplificar e contraexemplificar
tSintetizar e concluir
tAutocorrigir-se
tImaginar
tBuscar sentidos
Interpretação/Tradução
tPrestar atenção e ouvir
tInterpretar criticamente
tParafrasear
tInferir pressupostos e visões de mundo
tTer empatia
tRespeitar
tDialogar
tConsiderar sentimentos
É importante o cuidado para não transformar as aulas em mero treinamento retórico das formas de raciocínio e expressão. As habilidades cognitivas citadas, as quais possuem desdobramentos éticos e vínculos com o exercício de uma cidadania participativa, devem ser aplicadas no diálogo sobre os con-teúdos, além de serem tematizadas e relacionadas entre si, em reflexões e atividades que permitam o seu desenvolvimento, favorecendo uma práxis investigativa capaz de equilibrar autonomia e cooperação mútua.
Vale destacar o fato de que tais habilidades também são úteis em outras áreas de conhecimento e que não garantem, se isoladas, uma discussão filosófica. Esse tipo de discussão – caracterizada pelo ri-gor conceitual e argumentativo, profundidade e multiplicidade das perspectivas consideradas, progresso e autocorreção na elaboração de conceitos, juízos e raciocínios – depende, ainda, de outros elementos postos em relação:
• temas de natureza filosófica;
• ênfase na elaboração de conceitos;
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• critérios e argumentos coerentes;
• ausência de dogmas e flexibilidade nos pressupostos;
• reflexão progressiva e metacognição (avaliação do processo de conhecimento vivenciado);
• relação entre lógica e experiência (não contradição, causalidade);
• comparação/contraste entre a normatividade e a efetividade;
• consideração crítica de valores;
• participação crítica e sensível na elaboração e no cumprimento de regras.
As discussões podem se desenvolver a partir das perguntas das crianças sobre o significado de alguma ideia. Depende do professor aproveitar essas oportunidades e usá-las como ponto de partida para a exploração filosófica. Se uma criança quiser saber o significado da palavra autori-dade, ou da palavra cultura, ou da palavra mundo, ou da palavra respeito, ou da palavra direitos, o professor pode usar qualquer uma delas como ponto de partida para conseguir tantos pontos de vista como quantas crianças há na classe, oferecendo aos alunos pontos de vista adicionais que foram desenvolvidos por filósofos, examinando as consequências de manter um ou outro ponto de vista e esclarecendo o significado das pressuposições dos diferentes pontos de vista (LIPMAN, 1994, p. 152).
Sendo assim, o currículo deve ser construído como recorte significativo de um todo formado por te-mas, áreas, habilidades, princípios e instrumentos da Filosofia, a serem postos em discussão e avaliação pelos alunos, sob as formas de diálogo, raciocínio e reflexão.
Tal abordagem pretende aproximar gradualmente as crianças de uma práxis filosófica, sem jamais desconsiderar sua experiência concreta nem as características afetivas, sociais e cognitivas de cada faixa etária. Por isso, não despreza o lúdico em favor de uma complexidade fora do alcance infantil. Também não se define tudo o que precisa ser dito sobre cada um dos temas e, sim, abrem-se possibilidades para o que pode ser dito e pensado pelos envolvidos.
Os conteúdos da Filosofia são temáticas que se apresentam na forma de certas perguntas e para as quais há diversas respostas, algumas das quais presentes com mais força no cultural de cada época histórica. Essas temáticas precisam estar sempre sendo examinadas, avaliadas e, even- tualmente, reelaboradas ou mesmo substituídas. Não só: faz parte dos conteúdos da Filosofia uma maneira própria de trabalhar as temáticas, as perguntas e as respostas. Essa maneira própria, ou o método, torna-se conteúdo à medida que é constantemente examinado, estudado, avaliado e reconstruído (LORIERI, 2002, p. 51-2).
Os elementos metodológicos, ou procedimentais, visados pelo currículo são habilidades e regras decorrentes, sugeridos em cada unidade como matéria para construção, reflexão, correção e aplicação. Já os temas partem de conceitos e questões historicamente relevantes para as diversas áreas da Filosofia:
• Antropologia – o homem como ser racional, afetivo e cultural, como indivíduo e ser social;
• Metafísica – mundo, natureza, essência e aparência das coisas;
• Axiologia – valores, preferências (em especial éticos e estéticos);
• Ética – bem, justiça, certo e errado, escolhas e regras;
• Política – autoridade, liberdade, direitos e deveres;
• Estética – beleza, gosto, arte e prazer;
• Teoria do Conhecimento ou Epistemologia – razão, verdade, ideias, pensar, conhecer e saber;
• Lógica – coerência, contradição e regras para o raciocínio;
• Filosofia da Linguagem ou Analítica – significados e jogos de linguagem.
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Das mesmas áreas, surgem as perguntas a serem propostas ou elaboradas para compor a discussão filosófica dos temas, bem como a serem inseridas pelo professor durante a mediação que irá realizar, com vistas ao desenvolvimento e à aplicação das habilidades já mencionadas. Vejamos alguns exemplos:
• Perguntas metafísicas – buscam essências e modos de ser, para elaborar conceitos – O que é natureza? O que é uma pessoa? O que é liberdade?
• Perguntas éticas – questionam valores morais subjacentes a juízos e ações – Essa é uma boa atitude? É certo desrespeitar essa regra?
• Perguntas estéticas – tratam da sensibilidade e dos valores subjacentes ao gosto e à arte – O que faz uma coisa ser bela? Qual o papel da arte?
• Perguntas epistemológicas – referem-se aos processos de pensar e conhecer – Os pensamentos são reais? Como surgem nossas ideias?
• Perguntas lógicas – questionam a coerência formal do raciocínio – Isso não contradiz o que foi dito antes? Essa explicação foi clara? O que se pode concluir dessa afirmação?
oBJetiVos
A proposta de filosofar com crianças tem como fundamento a noção de comunidade de investigação, elaborada por Lipman e seus colaboradores. Entre outras, ela teve a influência do modelo de comunida-de científica de Charles Peirce – na qual o conhecimento é considerado falível e dinâmico, enquanto a investigação (com base em dúvidas e hipóteses) tem prioridade para reavaliar crenças e torná-las cada vez mais verdadeiras, sem a pretensão de obter uma verdade definitiva.
Na comunidade de investigação, a criança deve aprender a pensar por si mesma, porém considerando as opiniões e os pontos de vista dos demais, numa atitude, ao mesmo tempo, rigorosa, aberta e sensível. Tal processo envolve um método dialógico e reflexivo, além de um currículo que contemple conceitos e procedimentos filosóficos, de acordo com os seguintes objetivos:
t estimular a reflexão filosófica;
t buscar significados e elaborar conceitos;
t argumentar com clareza e coerência;
t desenvolver a autonomia, mas também a intersubjetividade no pensar;
t desenvolver os pensamentos crítico, criativo e cuidadoso, por meio da descoberta e aplicação de habilidades cognitivas e éticas;
t construir bases para uma cidadania democrática e responsável;
t refletir sobre conceitos, valores, ideias e raciocínios estabelecidos.
aValiaÇÃo
A avaliação tem grande relevância nas aulas de Filosofia. Contínua e processual, deve ter cunho diag-nóstico, formativo e contar com a participação dos alunos para estabelecer processos autocorretivos.É importante que professores e alunos, juntos, avaliem, por exemplo, o modo como transcorreu uma discussão temática e que ganhos ela trouxe em termos de aprendizagem – o que implica a compreensão de conceitos e a aplicação de habilidades, bem como das regras enfatizadas.
A participação dos alunos é de grande relevância para a avaliação dos processos de ensino e apren-
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dizagem, tanto na elaboração de metas quanto na observação de resultados. Por exemplo: definem-se, em comum, as regras de levantar a mão para falar e ouvir uns aos outros, observando-se em que medida elas estão sendo cumpridas, ou priorizam-se as habilidades de oferecer razões e evitar contradições, verificando as dificuldades e os progressos na aplicação de tais regras.
Pesquisas, questões críticas e subjetivas, produções de textos e outros instrumentos, envolvendo oralidade e escrita, podem ser utilizados para compor a avaliação em termos de conteúdo, ou seja, da progressiva elaboração de conceitos e juízos, fundamentados em argumentos. Contudo, é preciso evitar a expectativa por “respostas certas”. Afinal, o consenso é raro em questões filosóficas, importando mais a argumentação que sustenta os pontos de vista e a clareza na exposição de conceitos.
Em vez de verificar o cumprimento de uma agenda de conteúdos e a apreensão de determinados conhecimentos, devem-se avaliar o desenvolvimento de habilidades cognitivas e éticas, os traços de um pensar crítico, criativo e cuidadoso, manifestados pelos alunos durante a abordagem dos temas, bem como a autonomia e a autocorreção de seus pensamentos.
Com base nisso, sugerimos a criação de um dossiê de cada um dos alunos ou da turma, para registrar toda a produção realizada durante o estudo dos temas – desenhos, textos, frases, entrevistas e/ou pesqui-sas. Além disso, as produções que tiverem caráter de maior sistematização do conhecimento elaborado devem ficar num portfólio, individual ou coletivo, que pode ser usado para compor a avaliação. Convencio-nalmente, as orientações para o professor, inseridas em cada volume, utilizam as formas dossiê da turma e portfólio da turma, quando houver indicação de inserir determinada produção em um ou em outro.
PRoGRamaÇÃo anual
1º. ANO - 1º. VOLUME
1. ENTRE NESSA RODA!
Roda• Como é uma roda?• Figuras redondas • O que se pode fazer numa roda?• Brincadeiras em roda• Rodas de antigamente para se aprender• Roda de Filosofia e suas regras
Diálogo• Ouvir• Falar • Atentar• Pensar• Perguntar• Voz e vez• Objetivos do diálogo
1º. ANO - 2º. VOLUME
2. SEJA AMIGO DO SABER
Amigo• Gostar• Brincar • Ajudar • Ter amigos• Ser amigo
Saber• O que é saber?• Não saber• O que sabemos?• O que podemos saber?• Ser amigo do saber
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1º. ANO - 3º. VOLUME
3. PODE PERGUNTAR!
Coisas fáceis e difíceis• De se fazer• De se entender• De se gostar• De se pensar
Perguntas• Palavras para perguntar (pronomes interrogativos)• Ponto de interrogação• Perguntas fáceis e perguntas difíceis• Perguntas que fazem pensar
1º. ANO - 4º. VOLUME
4. É TEMPO DE PENSAR!
Pensamento• Pensar sobre o que existe• Pensar sobre o que não existe• Pensamentos interessantes• Pensar sobre os pensamentos
Pensar sozinho e pensar juntos• Refletir num diálogo• Ideias diferentes• Propor e avaliar hipóteses• Perceber contradições• Autocorrigir-se• Filosofia como reflexão dialógica
2º. ANO - 1º. VOLUME
1. UM MUNDO MARAvILhOSO!
• Percepção de semelhanças e diferenças entre seres e objetos• Enganos na percepção • Mudanças, transformações e a essência dos seres e objetos
2º. ANO - 2º. VOLUME
2. FAçO PARTE DO MUNDO
• Corpo, seus movimentos, mudanças e transformações• Sensações, seus tipos, qualidades e utilidades • Sentimentos, suas causas e formas de expressão • Alegria e tristeza
2º. ANO - 3º. VOLUME
3. EU PENSO
• Pensar e refletir • Comunicabilidade dos pensamentos • Duvidar e duvidar deliberadamente• Imaginar (relações com a vontade)• Lembrar e esquecer (relações com a vontade) • Memória viva (idosos)
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2°. ano - 4º. VOLUME
4. hÁ OUTRAS PESSOAS AO MEU REDOR
• Pessoa• Semelhanças e diferenças entre as pessoas (modos de ser, pensar e viver)• Respeitar as pessoas e as diferenças• Por que gostar das pessoas?• Amizade
3°. ano - 1º. VOLUME
1. QUEREMOS SABER
• Curiosidade, suas causas e consequências • Perguntas, pronomes interrogativos e perguntas difíceis• Opiniões diferentes e respeito a elas• Argumentos para sustentar opiniões• Razões e boas razões• Aprender (relações com a curiosidade, as perguntas e os argumentos)
3°. ano - 2º. VOLUME
2. NEM SEMPRE CONCORDAMOS
• Razões para concordar e discordar• Pontos de vista diferentes• Os significados de certo e errado• Fazer o que é certo• Liberdade de escolher opiniões e atitudes próprias
3°. ano - 3º. VOLUME
3. O MUNDO DOS PENSAMENTOS
• O que é mente?• Como acontecem os pensamentos?• Relações entre os pensamentos, a subjetividade e a experiência
3°. ano - 4º. VOLUME
4. TANTAS FORMAS DE PENSAR
• Pensar para entender (pensamento crítico)• Pensar para criar (pensamento criativo)• Pensar para cuidar (pensamento cuidadoso)
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4°. ano - 1º. VOLUME
1. DESvENDAR MISTÉRIOS
• O que é mistério?• Raciocínio (inferência e conclusão)• Verdade e aparência• Possível e impossível
4°. ano - 2º. VOLUME
2. COMUNICAR SENTIMENTOS E PENSAMENTOS
• Como descobrir o que os outros sentem e pensam?• Gestos expressivos, palavras e sua ambiguidade• Conceito, causas e formas de expressar o medo, o amor e a raiva
4°. ano - 3º. VOLUME
3. O MUNDO DOS SONhOS E DA BELEzA
• Sonhar dormindo• Sonhar acordado (imaginação, desejos individuais e coletivos)• O que é beleza?• Arte e suas relações com o belo, o imaginário, a transformação e a criação
4°. ano - 4º. VOLUME
4. ESTAMOS vIvOS
• O que é vida?• Vivo X não vivo• Desenvolvimento e evolução da vida • Preservar a vida humana e dos outros seres• Viver bem
5°. ano - 1º. VOLUME
1. AMOR AO SABER
• Ter ideias• Refletir (pensar sobre o pensar)• O que é aprender e qual o papel da escola?• O que é saber?
ensino Fundamental
20
5°. ano - 2º. VOLUME
2. EM BUSCA DO BEM E DA JUSTIçA
• O que é o bem?• O que é a justiça?• O bem e a justiça como valores• Relação dos valores com as regras e as diferentes culturas• A busca do bem comum
5°. ano - 3º. VOLUME
3. QUANDO ACREDITAR?
• Critérios para acreditar• “Realidade” virtual• Formas de convencer• Relações entre verdade, persuasão, propaganda e consumo
5°. ano - 3º. VOLUME
4. SOMOS LIvRES?
• O que são direitos?• Relação entre direitos e deveres• Relação entre os direitos das crianças e a cidadania• O que é autoridade?• Temos liberdade em relação à autoridade?
ReFeRênCias PaRa o PRoFessoR soBRe HistóRia da FilosoFia
ABAGNANNO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ABRÃO, B. S. história da Filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2004. (Os pensadores).
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. história da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. (Filosofia, v. 1-3; a partir de 2006, v. 1-7).
ReFeRênCias BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: apresentação dos temas transversais – ética. 3. ed. Brasília: MEC, 2001. KOHAN, Walter O.; LEAL, Bernardina (Org.). filosofia para crianças em debate. Petrópolis: Vozes, 1999. v. 4. KOHAN, Walter O. o que você precisa saber sobre filosofia para crianças. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.LIPMAN, Mathew et al. filosofia na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 1994. LIPMAN, Mathew et al. o pensar na educação. Petrópolis: Vozes, 1995. LORIERI, Marcos Antonio. filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. (Docência em Formação: Ensino Fundamental).SPLITTER, Laurence J.; SHARP, Ann Margaret. uma nova educação: a comunidade de investigação na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 1999.