Enem Nota Máxima
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IMPRENSA:LIBERDADE E CENSURA1
conecte-se
Dia Mundial da Liberdade de Imprensa – 3 de maio de 2012
Mensagem conjunta do Secretário-Geral da ONU e da Diretora-Geral da UNES-CO, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, 3 de maio de 2012.
Liberdade de expressão é um dos nossos direitos mais preciosos. Sustenta toda a liberdade aos outros e fornece uma base para a dignidade humana. Imprensa livre, pluralista e independente é essencial para o seu exercício. Essa é a mensagem do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A liberdade de imprensa implica a liberdade de ter opiniões e de procurar receber e transmi-tir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fron-teiras, como previsto no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Hu-manos. Essa liberdade é essencial para as sociedades saudáveis e dinâmicas.
As mudanças no mundo árabe demonstraram o poder das aspirações de direitos, quando combinado com novas e velhas mídias. A recém-descoberta liberdade de imprensa está prometendo transformar as sociedades por meio de uma maior transparência e responsabilidade. É abrir novas formas de comu-nicar e compartilhar informações e conhecimentos. Poderosas novas vozes estão mais altas – especialmente as dos jovens – onde ficavam caladas. É por isso que neste ano o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é centrado no tema “Novas vozes: a liberdade da mídia ajudando a transformar sociedades”. A liberdade de imprensa também enfrenta pressões severas em todo o mundo. No ano passado, a UNESCO condenou o assassinato de 62 jornalistas que morreram em decorrência do exercício da função. Esses jornalistas não devem ser esquecidos e os crimes não podem permanecer impunes. Como a mídia se move virtualmente, outros jornalistas on-line, incluindo blogueiros, estão sendo perseguidos, atacados e mortos por seu trabalho. Eles devem receber a mesma proteção que os trabalhadores tradicionais da mídia.
Em 13 e 14 de setembro de 2011, foi realizada na UNESCO, a primeira reunião interinstitucional das Nações Unidas sobre a segurança dos jornalistas e a questão da impunidade. Foi produzido um plano de ação da ONU para construir um ambiente mais livre e seguro para os jornalistas e profissionais de mídia em todos os lugares. Ao mesmo tempo, continuaremos a fortalecer as bases legais para a mídia livre, pluralista e independente, especialmente em países submetidos à transformação ou à reconstrução após conflito. Em um momento de sobrecarga de informações, temos de ajudar especialmente os jovens a desenvolver habilidades críticas e um melhor conhecimento de mí-
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dia. O Dia Mundial da Liberdade de Imprensa é a nossa oportunidade de le-vantar a bandeira na luta para avançar na liberdade dos meios de comunica-ção. Apelamos aos Estados, aos meios profissionais e às organizações não governa-mentais em todos os lugares para unir forças com as Nações Unidas para promover a liberdade on-line e off-line de expressão, de acordo com princí-pios internacionalmente aceitos. Esse é um dos pilares dos direitos individu-ais, uma base para sociedades saudáveis e uma força de transformação social.
MENSAGEM conjunta da ONU e da UNESCO do Dia Mundial da Liberdadede
Imprensa, 3 maio 2012. Disponível em: <www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/joint_message_by_un_and_unesco_on_the_world_press_freedom_day_3_
may_2012>. Acesso em: 5 jul. 2012. Texto adaptado.
ONU destaca papel catalisador da liberdade de imprensa para a mudança social e política
No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (3/5), as Nações Unidas des-tacaram o poder da liberdade de imprensa para deflagrar uma mudança social e política e para manter o governo responsável. A ONU ainda destacou que esse direito fundamental deve ser garantido em todo o mundo por meio da criação das condições para permitir que jornalistas realizem seu trabalho com segurança.
“Uma imprensa livre dá às pessoas acesso à informação que precisam para tomar decisões críticas sobre suas vidas. Mantém líderes responsáveis, expõe a corrupção e promove transparência na tomada de decisões”, disse o Secretário--Geral da ONU, Ban Ki-moon, em sua mensagem para marcar a data. “Ela au-menta a consciência e oferece uma saída para diferentes vozes, especialmente àquelas que de outra forma não são ouvidas.”
A Assembleia Geral da ONU designou o dia 3 de maio como o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa em 1993. Ele visa a celebrar os princípios fundamentais da liberdade de imprensa; avaliar a liberdade de imprensa em todo o mundo; defender os meios de comunicação de ataques à sua independência e prestar homenagem aos jornalistas que perderam a vida no exercício da profissão. O tema deste ano é “Novas Vozes: Liberdade Midiática Ajudando a Transformar as Sociedades”.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cul-tura (UNESCO), 62 jornalistas foram mortos em 2011 e muitos outros ficaram fe-ridos. Em dezembro do ano passado, 179 jornalistas foram detidos, indicando au-mento de 20% em relação a 2010. Esse é o nível mais alto desde a década de 1990.
ONU destaca papel catalisador da liberdade de imprensa para a mudança social e política. Disponível em: <www.onu.org.br/onu-destaca-papel-catalisador-da-liberdade-de-imprensa-
-para-a-mudanca-social-e-politica>. Acesso em: 5 jul. 2012.
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opinativa para uma questão apresentada de forma direta: “Como garantir a liber-
dade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?”.
Um antologia composta por quatro textos verbais de tipos variados e por um
texto não verbal serviam de consolidação, motivações e possíveis esclarecimen-
tos acerca da pergunta que viria formulada ao final.
O primeiro estímulo veio por uma charge do paulista Caco Galhardo que re-
tratou uma família sentada no tradicional sofá da sala — ao modo Simpsons —,
diante de um suposto aparelho de TV com formato de lata de lixo. A provocação
era clara e abria o debate interno da antologia em relação ao conteúdo transmiti-
do pelos meios de comunicação.
Um texto do jornalista e professor Eugênio Bucci abordava o “sensaciona-
lismo”, expressão comum nos meios informativos e que serve para identificar a
matéria jornalística que prioriza a técnica em detrimento do conteúdo em si. É
quando a espetacularização da notícia fala mais alto do que a informação e o
maior interesse do veículo de comunicação é elevar seus índices de venda e de
audiência. Ao aproximar a mídia da polícia, o professor Eugênio Bucci cria uma
— e procura evidenciar uma modalidade de reportagem que está muito longe do
jornalismo e muito perto do entretenimento.
O conteúdo do terceiro texto, extraído do site www.eticanatv.org.br, questio-
nava a falta de nitidez na identificação dos responsáveis pela imprensa, apontan-
do para exemplos de países que estimulam a autorregulamentação. Esse aspecto
temático continuou a ser explorado pelo texto seguinte, também extraído de um
site (www.observatorio.utlimosegundo.com.br) que indicava o Observatório da
Imprensa como a entidade incumbida de cobrar do jornalismo “contrapartidas em
deveres e responsabilidades sociais” para as “garantias e privilégios previstos pela
Constituição Federal”, dos quais usufrui.
Dois incisos do artigo 5º da Constituição Federal, de 1988, encerravam a anto-
logia reforçando a consistência formal do debate proposto pelo Enem naquela
edição. A liberdade de expressão e o respeito à vida privada, enumerados nos dois
incisos, já sugeriam a síntese da questão-tema.
Instruções técnicas exigiam um texto dissertativo na modalidade culta da lín-
gua portuguesa e que tivesse, no mínimo, quinze linhas.
A liberdade de informação e os abusos nos meios de comunicação
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REDAÇÃO DO ENEM
PROPOSTA DE REDAÇÃOLeia com atenção os seguintes textos:
Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando: a mídia chega filmando.
Eugênio Bucci. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema complexo porque remete para a questão da responsabilidade não só das empresas de comunicação como também dos jornalistas. Alguns países, como a Suécia e a Grã- -Bretanha, vêm há anos tentando resolver o problema da responsabilidade do jornalismo por meio de mecanismos que incentivam a autorregulação da mídia.
<www.eticanatv.org.br>. Acesso em: 30 maio 2004.
No Brasil, entre outras organizações, existe o Observatório da Imprensa – entidade civil, não governamental
e não partidária – que pretende acompanhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua página eletrônica , lê-se:
Os meios de comunicação de massa são majoritariamente produzidos por empresas privadas cujas decisões atendem legitimamente aos desígnios de seus acionistas ou representantes. Mas o produto jornalístico é, inquestionavelmente, um serviço público com garantias e privilégios específicos previstos na Constituição Federal, o que pressupõe contrapartidas em deveres e responsabilidades sociais.
Disponível em: <www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br>. Acesso em: 30 maio 2004. (adaptado).
Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988:
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;
X- são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte tema: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.
OBSERVAÇÕES
Seu texto deve ser escrito na modalidade culta da língua portuguesa. O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração. O texto deverá ter no mínimo 15 (quinze) linhas escritas. A redação deverá ser apresentada à tinta e desenvolvida na folha própria. O rascunho poderá ser feito na última folha deste Caderno.
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Ao elaborar uma dissertação, o autor emite, naturalmente, opinião quanto a
determinado tema. Para tanto estabelece uma abordagem, uma maneira de ler e de
trabalhar com esse tema. Por onde começar? Em que aspectos tocar? Com que
elementos aprofundar as ideias sobre os assuntos nele inseridos?
A liberdade de imprensa e os abusos cometidos pelo modo como algumas infor-
mações são transmitidas não eram duas situações separadas na proposta de redação
de 2004. Pelo contrário, juntas formavam a questão-tema. Por isso, o estudante não
poderia tratar de um sem tratar de outro ao desenvolver sua resposta dissertativa.
O primeiro texto verbal da antologia oferecida deixava entreaberta a discus-
são em relação à qualidade da informação. Um caminho fértil para a contextuali-
zação ou para prefácios que quisessem apresentar a dissertação a partir dos con-
ceitos básicos da imprensa. Qual é a principal função da imprensa? A quem deve
CAMINHOS POSSÍVEIS
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servir a informação? Quem decide o tipo de notícia e de que modo chegará aos
lares do país? Quem regulamenta a liberdade de informação no Brasil? Quem
mede a qualidade dos programas jornalísticos?
Ler os veículos de informação com olhar avaliativo, ou seja, considerando
aspectos técnicos e ideológicos empregados para a transmissão de qualquer tipo
de informação, em regimes democráticos, é uma atitude tão saudável que no Bra-
sil é comum, nos chamados grandes jornais, a presença de um profissional pago
pelo próprio veículo informativo para, efetivamente, realizar esse tipo de leitura.
É o profissional conhecido por ombudsman. Trata-se de um ouvidor pronto a de-
fender o leitor daquilo que considerar desvio de isenção. Suas considerações são
publicadas no mesmo jornal e estarão à disposição de todos os que optarem por
receber as notícias do país e do mundo por aquele veículo. Um dos textos da an-
tologia toca nesse ponto quando pergunta “Quem fiscaliza a imprensa?”. Caminho
aberto, portanto, para exploração argumentativa.
Outra situação de nossos tempos ligada ao tema daquele ano é a da transmis-
são de dados pela rede internacional de computadores. Qualquer discussão
acerca da liberdade que rege os veículos de informação, já na segunda década do
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ponsáveis tanto pela amplificação de notícias na internet quanto pela migração
de muitos jornais impressos para o formato de sites e portais, em ambiente virtual.
Junto de “liberdade”, é igualmente razoável discutir os “abusos” cometidos pelos
mais responsabilizado pela organização de importantes protestos no mundo, das
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res ataques à liberdade de divulgação e expressão, como os que tem recebido o
site Wikileaks.org.
Com tema amplo e muito aquecido neste início de século, caminhos não falta-
ram a uma boa dissertação.
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FAÇAMOS, AGORA, A LEITURA E ANÁLISE DA DISSERTAÇÃO DE UM ESTUDANTE DE ENSINO MÉDIO DESENVOLVIDA COM BASE NA PRIMEIRA PROPOSTA DE 2004, EM UM SIMULADO DO EXAME, COM DELIMITAÇÃO DE TEMPO E DE ESPAÇO. OS TEXTOS DE INSTRUÇÃO DA PROVA DE 2004 FORAM SUBSTITUÍDOS PELOS DA PROVA DE 2011.
Liberdade de manifestação
Distribuir notícias e informações pelo mundo é uma grande responsabilidade que deve ser assumida não só pelas empresas jornalísticas, mas também pelos gover-nantes, eleitos pelos maiores interessados que são os leitores. Claro que isso nos paí-ses democráticos que pregam a liberdade de expressão.
A imprensa, desde que foi criada, assume o controle das informações. Há agências de notícias internacionais de onde vêm vídeos, textos, fotografias que depois são apro-veitadas pelos mais diversos meios de comunicação como jornais, televisão, rádio, re-vistas etc. A distribuição dessa informação global é tão limitada que é só rodar os canais de televisão nos horários de jornal e perceber que as notícias são exatamente as mesmas, como se o mundo todo fosse noticiado por um único repórter. Basta pensar um pouco para chegar à conclusão de que há interesses que escolhem as notícias que poderão ser transmitidas naquele dia, naquela semana e naquele mês. Quem já não ouviu falar que uma notícia mal dada pode fazer despencar a bolsa de valores?
Hoje em dia, o leitor tem outras alternativas para receber informação do mundo todo. Notícias inclusive de pouca importância para as bolsas de valores, mas de inte-resse geral para a humanidade. Notícias que não dão audiência também podem ser importantes para a vida do leitor. Basta ter um computador ligado na internet para entrar em contato com internautas do mundo todo que podem transmitir informa-ções das partes mais distantes do planeta. Muitas manifestações políticas foram or-ganizadas pela internet mesmo em países de pouca liberdade de imprensa.
Os governantes precisam garantir a liberdade de expressão e a liberdade do leitor equipando escolas públicas, bibliotecas, associação de amigos dos bairros mais afas-tados e comunidades carentes de modo geral com computadores ligados a internet. Assim as pessoas poderão ter mais acesso a informações mais variadas sobre os acon-tecimentos no mundo.
REDAÇÃO
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REDAÇÃO COMENTADA
Liberdade de manifestação
Distribuir notícias e informações pelo mundo é uma grande responsabilidade que deve ser assumida não só pelas empresas jor-nalísticas, mas também pelos governantes, eleitos pelos maiores interessados que são os leitores. Claro que isso nos países demo-cráticos que pregam a liberdade de expressão.
O primeiro parágrafo anuncia o tema e registra o posicionamento do autor,
além de determinar o ambiente dentro do qual se dará a argumentação. Bom
início, apesar da linguagem truncada.
A imprensa, desde que foi criada, assume o controle das informações. Há agências de notícias internacionais de onde vêm vídeos, textos, fotogra-fias que depois são aproveitadas pelos mais diversos meios de comunicação como jornais, televisão, rádio, revis-tas etc. A distribuição dessa informa-ção global é tão limitada que é só ro-dar os canais de televisão nos horários de jornal e perceber que as notícias são exatamente as mesmas, como se o mundo todo fosse noticiado por um único repórter. Basta pensar um pou-co para chegar à conclusão de que há interesses que escolhem as notícias que poderão ser transmitidas naquele dia, naquela sema-na e naquele mês. Quem já não ouviu falar que uma notícia mal dada pode fazer despencar a bolsa de valores?
O segundo parágrafo desenvolve um interessante argumento para sustentar o
ponto de vista. Se as agências de notícias são as principais responsáveis pela distri-
buição das informações, todos corremos o risco de receber um mundo parcial pelos
veículos de informação que estiverem em nossas mãos. Tal argumento vai emba-
sar a tese consolidada no último parágrafo de modo coerente, como veremos.
Agências de notícias internacionais:
são empresas que enviam notícias aos mais
variados jornais do mundo. As mais impor-
tantes já possuem um século e meio de exis-
tência e dentre elas, as mais destacadas são
a Reuters, inglesa fundada em 1851, a fran-
cesa AFP-Agence France-Presse, fundada
em 1849, e a italiana Stefani, fundada em
1853. Já em 1958 surgiu a estadunidense
United Press. No Brasil, a mais antiga é a
D.A. Press, fundada em 1931 por Assis
Chateaubriand. Muito atuantes em nosso
jornalismo também são as mais novas
Agência Estado, de 1970, e Agência Brasil,
do início da década de 1990.
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Hoje em dia, o leitor tem outras alternativas para receber in-formação do mundo todo. Notícias inclusive de pouca importân-cia para as bolsas de valores, mas de interesse geral para a huma-nidade. Notícias que não dão audiência também podem ser im-portantes para a vida do leitor. Basta ter um computador ligado na internet para entrar em contato com internautas do mundo todo que podem transmitir informações das partes mais distantes do planeta. Muitas manifestações políticas foram organizadas pela internet mesmo em países de pouca liberdade de imprensa.
O autor desenvolveu mais um parágrafo argumentativo, apresentando ao
leitor outro viés para o debate. Demonstrou atualização ao mencionar a inter-
net e as transformações geradas no mundo virtual. Não só expôs a ideia de que,
pela internet, o cidadão comum passa a ser também um divulgador de notícias
como também lembrou seus leitores das manifestações recentes, no chamado
Mundo Árabe, organizadas dessa forma mais independente por internautas
daquela região e depois do mundo todo.
Os governantes precisam garantir a liberdade de expressão e a liberdade do leitor equipando escolas públicas, bibliotecas, asso-ciação de amigos dos bairros mais afastados e comunidades caren-tes de modo geral com computadores ligados a internet. Assim as pessoas poderão ter mais acesso a informações mais variadas sobre os acontecimentos no mundo.
O desfecho foi utilizado não só para concluir o raciocínio argumentativo pro-
posto no início do texto, mas também para contemplar a tradicional solicitação do
ENEM de “proposta de ação social”. Evocou o Poder Público a expandir o “acesso a informações mais variadas” inclusive às “comunidades carentes”. Usou uma apro-
ximação de palavras bastante expressiva que parece ter consolidado muito bem,
ao nosso ver, o ponto de vista assumido nos parágrafos anteriores: “Os governan-tes precisam garantir a liberdade de expressão e a liberdade do leitor.”. Não basta
garantir a liberdade de expressão da imprensa, é preciso garantir também a liber-
dade de escolha dos leitores.
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ESTUDO DO PARÁGRAFO
O parágrafo argumentativo II
A argumentação não segue sempre a mesma estratégia. Ela depende do tema,
da abordagem, do estilo e da inventividade do autor. Leia mais uma vez um trecho
do 2º parágrafo, reproduzido a seguir:
A distribuição dessa informação global é tão limitada que é só rodar os canais de televisão nos horários de jornal e perceber que as notícias são exatamente as mesmas, como se o mundo todo fosse noticiado por um único repórter. Basta pensar um pouco para chegar à conclusão de que há interesses que escolhem as no-tícias que poderão ser transmitidas naquele dia, naquela semana e naquele mês. Quem já não ouviu falar que uma notícia mal dada pode fazer despencar a bolsa de valores?
Como vimos, o segundo parágrafo é bastante insinuativo e tenta convencer
o leitor pela exposição do raciocínio lógico: se os canais televisivos apresentam as
mesmas notícias, elas foram fornecidas por um único local que, muito provavelmen-
É uma boa estratégia, ainda que a expressão “basta pensar um pouco” possa soar
um tanto agressiva. O autor poderia ter usado um tom mais amistoso. Do mesmo
modo, poderia atenuar a afirmação [...] há interesses que escolhem as notícias.
Para o “jogo argumentativo” é melhor manter o discurso mais distante possível da
imposição. Observe esta nova redação para as mesmas afirmações: É possível con-cluir que os interesses das agências de notícias talvez interfiram no processo de escolha das notícias transmitidas naquele dia, naquela semana e naquele mês.
A COMUNICAÇÃO ESCRITA: DICAS PARA UM BOM TEXTO DISSERTATIVO
Revisão
É preciso evitar a repetição desnecessária de palavras e de ideias. As repeti-
ções costumam truncar o texto e dificultar sua fluidez. Leia mais uma vez o primei-
ro parágrafo da redação intitulada Liberdade de manifestação:
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Distribuir notícias e informações pelo mundo é uma grande responsabilidade que deve ser assumida não só pelas empresas jor-nalísticas, mas também pelos governantes, eleitos pelos maiores interessados, que são os leitores. Claro que isso nos países demo-cráticos que pregam a liberdade de expressão.
Queísmo: a palavra “que” possui muitas funções na língua portuguesa e por isso,
às vezes, exageramos ao construir um período. É preciso reler os parágrafos e tentar
detectar todo tipo de repetição excessiva que tenha sido estabelecida sem qual-
quer intenção. Para garantir um ritmo de leitura mais adequado ao tipo de texto,
seria possível cortar o uso do pronome “que” pela metade, reescrevendo o parágra-
fo do seguinte modo: Distribuir notícias e informações pelo mundo é uma gran-
de responsabilidade que deve ser assumida não só pelas empresas jornalísticas,
mas também pelos governantes, eleitos pelos maiores interessados, os leitores.
Claro, isso nos países democráticos que pregam a liberdade de expressão.
Vocabulário
Muitas vezes, com intenção de produzir ênfase para um pensamento, o autor
utiliza palavras bastante sonoras e aparentemente densas, mas que estão distantes
da objetividade e da clareza necessárias a uma boa dissertação. O contexto auxilia
o leitor em alguns casos, mas o sentido do verbo “pregar” não foi totalmente resol-
vido pelo contexto, no primeiro parágrafo — Claro que isso nos países democrá-ticos que pregam a liberdade de expressão. Ficou claro que não se trata de colocar
pregos, mas, se considerássemos o outro sentido de “pregar”, entraríamos no cam-
po religioso — o de fazer pregação — quando a intenção mais provável era a de
selecionar situações que qualificassem as considerações anteriores. Algo como:
não estou falando de todos os países, mas, dentre os democráticos, daqueles
que por força de lei garantem a liberdade de expressão. Para chegar às intenções
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do, dada, muitas vezes, pela natural ampliação semântica a que estão sujeitas cer-
tas palavras, dentro do universo oral. Não é uma boa estratégia, contudo, em textos
dissertativos, exigir do leitor malabarismos interpretativos para a compreensão.
Outra situação que pode ser evitada pelo uso adequado do vocabulário, no
momento da revisão é a do ruído ou do eco que se produz quando o autor utiliza
palavras que possuem a mesma sonoridade, em situações muito próximas. Veja o
trecho: [...] mas também pelos governantes, eleitos pelos maiores interessados, que são os leitores. Note como as palavras “eleitos” e “leitores” geram desconforto.
O problema não está na adequação de sentido — os usos estão corretos, do pon-
to de vista semântico —, mas na repetição. Substituir ou simplesmente suprimir
um vocábulo pode facilitar a recepção do texto: [...] mas também pelos gover-nantes dos maiores interessados, os leitores.
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Leia mais uma vez o desfecho da redação intitulada “Liberdade de manifestação” : “Os go-
vernantes precisam garantir a liberdade de expressão e a liberdade do leitor equipando escolas
públicas, bibliotecas, associação de amigos dos bairros mais afastados e comunidades carentes de
modo geral com computadores ligados a internet. Assim as pessoas poderão ter mais acesso a in-
formações mais variadas sobre os acontecimentos no mundo".
Agora, reflita a partir dos seguintes questionamentos:
Como você se relaciona com a mídia? Você a utiliza apenas para saber o que se passa no
mundo ou chega a questioná-la em suas posturas opinativas? Você costuma ler jornais e revis-
tas para se informar? Faz opção pela internet? Frequenta sites vinculados à imprensa?
Como você vê o posicionamento de sua geração em relação aos jornais e demais fontes in-
formativas? A maior parte vai ao encontro da notícia ou prefere que ela já chegue selecionada?
É possível observar, em sua geração, o costume de ler jornais e revistas ou a informação se dá
apenas por meio televisivo?
Você costuma confrontar o modo como diferentes veículos de informação transmitem a
mesma notícia? Você acredita que a seleção e divulgação das notícias podem controlar o desen-
volvimento de opiniões, pensamentos e teses de toda uma geração?
PENSE BEM
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1. CINEMA
Cidadão Kane (Citizen Kane). Direção de Orson Welles. EUA: Mercury
Productions, 1941. (119 min).
Uma das maiores referências da história do cinema
norte-americano, Cidadão Kane (Citizen Kane) explora a
condição do homem que cresce economicamente à
custa do monopólio da informação. Em uma abordagem
singular do mestre da luz e sombra que foi Orson Welles,
o poder e a corrupção dão as cartas do jogo dentro de
uma das maiores sagas sobre o “quarto poder”,
registradas pelo cinema.
A montanha dos sete abutres (Ace in the hole). Direção de Billy Wilder.
EUA: Paramount Pictures, 1951. (111 min).
“Conheço os jornais como a palma da minha mão. Eu os posso escrever,
editar, imprimir, empacotar e vender. Eu trabalho com pequenas notícias e
grandes notícias e se não houver notícias, vou à rua e mordo um cão”. Es-
sas são falas do protagonista de A montanha dos sete abutres (Ace in the
Hole), logo no início do filme, em seu pedido de emprego ao dono de um
pequeno jornal da cidade de Albuquerque, no Novo México. Considerado
por muitos especialistas, verdadeira aula de jornalismo, o filme de Billy
Wilder contrapõe jornalista e jornalismo em um enredo que, de fato,
perspassa uma série de situações do meio: a liberdade de expressão, o
sensacionalismo, a censura, o reconhecimento (e a falta de reconhecimen-
to) etc. Muito adequado ao tema tratado pelo ENEM 2004.
2. INTERNET
Neste capítulo, dedicado à liberdade de expressão, propomos dois sites
ligados diretamente ao texto lido e estudado. Listamos a seguir os
endereços das agências de notícias Agência Brasil e Reuters em sua versão
brasileira. As agências de notícias como vimos durante a análise,
funcionam como fornecedoras de informações que são, depois,
reproduzidas por boa parte dos veículos de comunicação que circulam em
variados formatos: jornais, revistas, telejornais e, também, em outros sites.
RADAR
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EPR
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O portal da Agência Brasil é bastante completo e provoca o leitor à
participação. Oferece, inclusive, ouvidoria e vasto arquivo de notícias
organizado em calendário dos últimos dez anos. Nada mal para quem está
em busca de informação, não é?
Agência Brasil – <http://agenciabrasil.ebc.com.br/>
Reuters – <http://br.reuters.com/>
3. LITERATURA
ORWELL, George. Dentro da baleia e outros ensaios. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005.
George Orwell, escritor que inscreveu seu nome na história da literatura
inglesa com as obras 1984 e A revolução dos bichos, era também jornalista e
escreveu muitos ensaios, crônicas e artigos opinativos durante as décadas
de 1930 e 1940. Em Dentro da baleia e outros ensaios, o leitor brasileiro tem
a oportunidade de entrar em contato com o ácido e contundente observador
da cultura britânica da primeira metade do século XX. Orwell militava contra
todo e qualquer tipo de totalitarismo e sempre posicionava-se ao lado dos
mais pobres em suas análises sociais. Não deixe de ler!
4. LEITURA
ROSSI, Clovis. O que é jornalismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1995.
Em obra pensada para a consagrada série Primeiros passos, da editora
Brasiliense, o jornalista Clovis Rossi desenvolve um questionamento
significativo acerca da liberdade de imprensa no Brasil, que vai muito
além dos conceitos básicos que definem o jornalismo. Obra para iniciantes
escrita por quem já construiu uma carreira com mais de 40 anos, tendo
atuado nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil.
DINES, Alberto et al. A imprensa em questão. São Paulo: Editora
Unicamp, 1997.
Ao lado de Carlos Vogt e de José Marques de Melo, o renomado jornalista
responsável pelo Observatório da Imprensa, Alberto Dines, abordou o
jornalismo sob variados aspectos, em um seminário de mesmo nome —
A imprensa em questão — realizado pelo Laboratório de Estudos Avançados
da Faculdade de Jornalismo da Unicamp, realizado em 1996. O livro é o
registro das falas e dos debates que se seguiram. Excelente oportunidade
para entrar no ambiente da profissão de modo mais acadêmico.
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PROPOSTA 1O primeiro parágrafo da redação analisada foi considerado eficiente como
apresentação, pois ofereceu elementos importantes para um texto dissertativo —
tema, posicionamento crítico, contexto —, apesar de ter demonstrado alguma
fragilidade em sua linguagem. Procure reescrevê-lo de modo mais adequado, com
base nas considerações que foram feitas ao longo do capítulo.
PROPOSTA 2O “queísmo”, analisado na seção A Comunicação Escrita... parece não ter sido exclusivi-
dade do primeiro parágrafo. Leia a redação mais uma vez e reescreva os trechos em
que você o detectou. Faça o mesmo com as demais repetições que encontrar, durante
sua leitura.
PRATICANDO
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MÁXIMAS
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GRAMATIQUICES
Quando você se vê diante de uma proposta de produção de texto, qual é sua maior preocupação:
o que dizer ou como dizer? São dois desafios complexos para todo escritor, seja ele profissional
ou aprendiz. estruturas sintáticas e escolhas lexicais mais próximas do uso cotidianoou o
formalismo da linguagem livresca, acessível apenas a alguns usuários da língua?
A língua falada no papelMARCOS BAGNO
Nossa tradição escolar, baseada em concepções de
linguagem arcaicas, sempre tratou de fazer uma se-
paração rígida entre língua falada e língua escrita:
só a língua escrita ou, mais restritamente ainda, só
a língua escrita literária merecia ser estudada, ana-
lisada e codificada para, em seguida, se tornar obje-
to exclusivo de ensino. Com isso, a língua falada
não só era deixada de lado como também conside-
rada caótica, desregrada, imperfeita e ilógica. Uma
das principais revoluções da ciência linguística mo-
derna foi precisamente corrigir essa distorção mile-
nar e colocar a língua falada no centro da investiga-
ção sobre a linguagem.
As consequências negativas da supervalorização
da escrita e da depreciação da fala são muitas e
profundas. Uma delas é a falácia de que todo e
qualquer texto escrito tem que ser rebuscado, re-
cheado com palavras e construções pouco
usuais, de modo a ficar o mais distante possível
da “banalidade” da língua falada. Assim, entre
duas opções possíveis, só deve figurar na escrita
aquela que for a menos empregada na fala. Re-
sultado: usos que contrariam ao mesmo tempo a
fluência natural da fala e as regras tradicional-
mente prescritas pelas gramáticas normativas
só a língua escrita ou, mais restritamente ainda, só
a língua escrita literária merecia ser estudada, ana-
lisada e codificada para, em seguida, se tornar obje-
to exclusivo de ensino. Com isso, a língua falada
Hoje em dia, muita gente usa sem distinção o
verbo possuir. Em lugar do simples, prático e eficiente verbo ter, de uso essencial na língua, aparece
a todo momento o verbo possuir, como se fosse sinônimo absoluto de ter e coubesse em
todos os contextos.
MÁXIMAS
33
para a língua escrita, devido ao conhecimento
superficial dessas formas menos habituais e a
seu uso exagerado.
Um bom exemplo é o pronome o qual. Raríssimo
na fala espontânea, muita gente o emprega a tor-
to e a direito na escrita porque lhe ensinaram que
é preciso evitar a repetição do que. Aparecem, en-
tão, coisas como “um livro o qual nos ensina mui-
to” ou “um país o qual visitei há pouco”. Também
frequente é o uso de o qual no masculino singular
e sem a preposição que deveria acompanhá-lo:
“uma cidade o qual temos filial”, como me escre-
veram certa vez. A presença de o qual várias vezes
na mesma página é indício seguro de um texto
com problemas.
Hoje em dia, pelas mesmas razões, muita gente
usa sem distinção o verbo possuir. Em lugar do
simples, prático e eficiente verbo ter, de uso es-
sencial na língua, aparece a todo momento o ver-
bo possuir
ter e coubesse em todos os contextos. Assim,
preenchendo um formulário encontrei: “Você
possui filhos?”. Antes, quando eu acessava a caixa
de mensagens do meu celular, a gravação dizia:
“Você tem uma nova mensagem”. Agora, a voz
mudou e a gravação diz: “Você possui uma nova
mensagem”. Provas pedem ao candidato que assi-
nale a opção que “possui a resposta certa”. Nos ae-
roportos se dá prioridade às pessoas que “pos-
suam dificuldade de locomoção”. Na base de cur-
rículos do CNPq: “Fulano possui mestrado e dou-
torado”. Num documentário na televisão: “tal ave
possui hábitos migratórios”, “cada ninho possui
três ovos”, “só o macho possui canto”, entre outros
quinze usos de possuir num programa de trinta
minutos... É que além de substituir indevidamen-
te o verbo ter, o possuir também serve de curinga,
ocupando num mesmo texto o lugar de outros
verbos, mais adequados. Tal repetição revela a
pouca destreza do escrevente no manejo da lín-
gua escrita mais monitorada, culpa de um ensino
que se prende a gramatiquices inúteis e não favo-
rece o letramento.
Na paranoia de separar o certo do errado, a escri-
ta da fala, nosso ensino de língua acaba gerando
que se manifestam em textos untuosos e mal ar-
ticulados. Resultado: reprime-se a oralidade, que
é de uma riqueza inesgotável, e ao mesmo tem-
po não se promove uma escrita fluente e agradá-
vel de ler.
Na paranoia de separar o certo do errado, a escrita da fala,
nosso ensino de língua acaba gerando representações
da língua totalmente errôneas que se manifestam
em textos untuosos e mal articulados. Resultado: reprime-se
a oralidade, que é de uma riqueza inesgotável, e ao
mesmo tempo não se promove uma escrita fluente e
agradável de ler.
O TRABALHO INFANTILEM NOVOS TEMPOS2
conecte-se
Trabalho infantil continua em queda, mas ainda há mais de 4 milhões de pequenos trabalhadores
O número de crianças e adolescentes que traba-lham no país vem caindo nos últimos anos. Em 2009, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), havia 4,2 milhões de trabalhadores brasilei-ros com idade entre 5 e 17 anos, o que significa nível de ocupação de 9,8% do total das pessoas na faixa etária. Em 2008, esse nú-mero era de 4,4 milhões (10,2% do total). Segundo dados históricos da Pnad, desde 1995, o percentual de crianças ocupadas entre 5 a 9 anos caiu de 3,2% para 0,8% do total. Já entre os trabalhadores de 10 a 14 anos, o percentual despencou de 18,7% para 6,9%. Dos adolescentes de 15 a 17 anos, a média caiu de 44% para 27,4%.
Mesmo com a redução em ritmo acelerado, o país ainda contabilizava, no último ano, 123 mil crianças de 5 a 9 anos trabalhando – sendo 69% delas do sexo masculino. Entre 10 e 13 anos, esse número é de 785 mil, enquanto 3,3 milhões de trabalhadores tinham entre 14 e 17 anos.
Regiões
A Pnad mostra que há uma diferença considerável entre as regiões no que diz respeito ao trabalho infantil. O Nordeste concentrava 437 mil dos 908 mil traba-lhadores entre 5 e 13 anos (48% do total). Já o Sudeste, com uma população 60% maior, tinha 182 mil. Apesar da liderança, o Nordeste foi a região que apresentou maior redução entre 2008 e 2009 nessa faixa etária, com a erradicação de 98 mil postos de trabalho infantil.
Os números da Pnad revelam ainda que os trabalhadores menores de 18 anos
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ANOTAÇÕES
mantinham uma jornada de trabalho média de 26,3 horas semanais, com taxa de escolarização de 82,4%. A média de rendimento das crianças e adolescentes traba-lhadores era de R$ 278 e 30% deles não recebiam nenhuma contrapartida pelo trabalho oferecido. “A população ocupada de 5 a 13 anos de idade estava mais con-centrada em pequenos empreendimentos familiares, sobretudo em atividade agríco-la (57,5%). Aproximadamente 70,8% estava alocada em trabalho sem contra-partida de remuneração (não remunerados e trabalhadores para o próprio consu-mo ou na construção para o próprio uso)”, informa o texto-base da pesquisa.
MADEIRO, Carlos. Trabalho infantil continua em queda, mas ainda há mais de 4 milhões de
pequenos trabalhadores. Uol Notícias. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/especiais/pnad/2010/ultimas-noticias/2010/09/08/trabalho-infantil-continua-em-queda-mas-ainda-ha-
-mais-de-4-milhoes-de-pequenos-trabalhadores.jhtm>. Acesso em: 3 maio 2012.
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No século XXI, o Brasil tem experimentado novos e mais positivos números
em muitos aspectos ligados a temas sociais, e setores antes mais afastados dos
debates populares ganharam espaço na mídia. Em 2005, a prova de redação do
ENEM solicitou um posicionamento do jovem estudante acerca do trabalho infan-
til, um dos temas instigantes desses tempos em que o nosso país anuncia consi-
Logo no início da proposta, o estudante foi apresentado a um gráfico de nú-
meros gritantes: passam de 5 milhões as crianças trabalhadoras no Brasil. Concen-
tram-se no Nordeste e no Sudeste, mas são registradas em todas as regiões do
país, segundo dados do IBGE que mapeou crianças dos 5 aos 17 anos de idade.
O tema “O trabalho infantil na realidade brasileira” foi bastante provocado nos
textos verbais que se seguiram. O primeiro, trecho de artigo publicado no Diário
de Natal, assinado pelo procurador regional do trabalho no Rio Grande do Norte,
perspectiva que vê na falta de “conteúdo ético” do sistema capitalista contempo-
râneo o principal responsável por situações de exclusão. O segundo artigo, assinado
pelo sociólogo Joel Marin, professor da Universidade Federal de Goiás, investigava
o caráter “moralizador e disciplinador do trabalho”, contraponto, na visão das famí-
lias muito pobres, à natural marginalização de seus filhos.
Um último texto motivador
foi apresentado pela proposta
e se unia ao gráfico da abertura,
ampliando o setor mais infor-
mativo da prova. Tratava-se da
reprodução do 4º artigo do Es-
tatuto da Criança e do Adoles-
cente (Lei no 8.069, de 13 de
Julho de 1990), que diz respeito
aos direitos amplos das crian-
ças (vida, saúde, educação, ali-
mentação, esporte, lazer etc.).
Conforme instruções explí-
citas, o estudante deveria de-
senvolver uma dissertação de,
no mínimo, 15 linhas, escrita na
modalidade padrão da língua
portuguesa.
O trabalho infantil na realidade brasileira
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REDAÇÃO DO ENEM
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Leia com atenção os seguintes textos:
"A crueldade do trabalho infantil é um pecado social grave em nosso País. A dignidade de milhões de crianças brasileiras está sendo roubada diante do desrespeito aos direitos humanos fundamentais que não lhes são reconhecidos: por culpa do poder público, quando não atua de forma prioritária e efetiva, e por culpa da família e da sociedade, quando se omitem diante do problema ou quando simplesmente o ignoram em decorrência da postura individualista que caracteriza os regimes sociais e políticos do capitalismo contemporâneo, sem pátria e sem conteúdo ético."
Xisto T. de Medeiros Neto. A crueldade do trabalho infantil. Diário
de Natal. 21 out. 2000.
"Submetidas aos constrangimentos da miséria e da falta de alternativas de integração social, as famílias optam por preservar a integridade moral do filhos, incutindo-lhes valores, tais como a dignidade, a honestidade e a honra do trabalhador. Há um investimento no caráter moralizador e disciplinador do trabalho, como tentativa de evitar que os filhos se incorporem aos grupos de jovens marginais e delinquentes, ameaça que parece estar cada vez mais próxima das portas das casas."
Joel B. Marin. O trabalho infantil na agricultura moderna. Disponível em: < www. proec.ufg.br>.
“Artigo 4o – É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija uma dissertação sobre o tema: O trabalho infantil
na realidade brasileira.
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender seu ponto de vista e suas propostas, sem ferir os direitos humanos.
OBSERVAÇÕES Seu texto deve ser escrito na modalidade padrão da língua portuguesa. O texto não deve ser escrito em forma de poema (versos) ou narração. O texto deve ter, no mínimo, 15 (quinze) linhas escritas. A redação deve ser desenvolvida na folha própria e apresentada a tinta. O rascunho pode ser feito na última folha deste Caderno.
38
Uma boa dissertação leria com rigor a instrução “Com base nas ideias presen-
tes nos textos acima, [...]” e, assim, aproveitaria todas as possibilidades abertas
pela proposta, uma vez que os dois artigos opinativos, tanto o de Joel Marin como
o de Xisto de Medeiros, ofereciam possibilidades distintas de problematização do
tema e estavam a serviço da argumentação diversa e ponderada. Os outros dois
textos apresentados pela proposta eram informativos e, desse modo, poderiam
reforçar qualquer tipo de tese que se alinhasse à defesa dos direitos humanos,
como era sugestão da prova.
Além da utilização das ideias apresentadas em textos ofertados na própria
prova, as propostas de redação no ENEM costumam solicitar também o bom apro-
veitamento dos conteúdos estudados durante os períodos de formação. Assim,
obras literárias que apresentaram crianças desviadas do que se idealiza como
seus papéis sociais poderiam servir de excelente ilustração argumentativa.
Do mesmo modo, filmes bem recebidos pela crítica especializada poderiam tam-
bém servir à argumentação (veja alguns bons exemplos em nossa seção Radar).
CAMINHOS POSSÍVEIS
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Lendo com cuidado a proposta, não era difícil notar uma ligação direta entre
o texto do procurador Xisto de Medeiros e o artigo 4º do Estatuto da Criança e do
Adolescente, situação que poderia ser também utilizada como estratégia pelo
próprio estudante. Vejamos: enquanto o artigo 4º do Estatuto da Criança e do
Adolescente afirma que “é dever da família, da comunidade, da sociedade em ge-
ral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direi-
tos à vida, à saúde [...]”, o texto de Xisto de Medeiros acusa justamente a sociedade
e a família de omissão “em decorrência de postura individualista que caracterizam
os regimes sociais e políticos do sistema capitalista contemporâneo”. Trata-se de
uma evidente problematização do tema.
Assim, mesmo os dados do IBGE poderiam ser questionados pelo estudante
que demonstrasse sensibilidade suficiente para tratar em seu texto das crianças
que se espalham pelos semáforos das grandes e médias cidades do país, em bus-
ca de sobrevivência e que, talvez, escapem às estatísticas oficiais.
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ANOTAÇÕES
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REDAÇÃO
FAÇAMOS A LEITURA E ANÁLISE DA REDAÇÃO DE UMA ESTUDANTE DE ENSINO MÉDIO QUE, A NOSSO CONVITE, DESENVOLVEU UMA REDAÇÃO COM BASE NA PROPOSTA DO ENEM 2005.
Trabalho infantil: um ciclo
Quando se pensa na questão do trabalho infantil, a reação é quase sempre a mesma: pena, estranhamento e, às vezes, um pouco de culpa. Parece impossível que ainda existam crianças trabalhando, em condições análogas às do início da revolução industrial. De fato, é algo repulsivo, mas deve ser encarado como um problema real para ser resolvido.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 5 mil crianças e jovens, entre 5 e 17 anos, trabalhando no Brasil. É um número assustador, pois equivale a 5 mil crianças fora da escola, cujos pais não conseguem sustentar a família, cujas refeições são ralas e cujas perspectivas de vida são curtas e pobres de possibilidades. O que está em questão é um ciclo vicioso: as crianças veem-se obrigadas a trabalhar, em geral, por falta de recursos; largam a escola e ingressam no mundo adulto com chances microscópicas de entrar no mercado de trabalho. Estes então adultos têm filhos, que são empurrados para o trabalho, e assim sucessivamente.
Essas crianças muitas vezes recebem incentivos da família para trabalhar “Submetidas aos constrangimentos da miséria e da falta de alternativas de integração social, as famílias optam por preservar a integridade moral dos filhos, incutindo-lhes valores, tais como a dignidade, a honestidade e a honra de trabalhador”, diz Joel B. Marin, historiador. Ora, as famílias preferem que os filhos trabalhem honrosamente do que unam-se a delinquentes. Por outro lado, segundo o jornalista Xisto de Medeiros, “a dignidade de milhões de crian-ças brasileiras está sendo roubada diante do desrespeito aos direitos humanos fundamen-tais que não lhes são reconhecidos [...]”. Pais e filhos acreditam que o trabalho é a melhor opção: é um valor enraizado nessas famílias.
Mas, então, como romper este ciclo? A melhor solução seria cortar o mal pela raiz, investindo na educação pública, do ensino fundamental ao médio, já que as universidades públicas formam bem. Deve-se desenvolver políticas de incentivo à permanência na esco-la, escolher cuidadosamente o corpo docente, cuidar dos detalhes importantes como a constância das merendas, tudo para evitar o êxodo escolar. Mas isso não é tudo. Deve-se dar atenção à família como um todo, focando em cada integrante e em todos, para rom-per cada parte do ciclo. Medidas como o “Bolsa Família” são um bom primeiro passo para iniciar programas como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que atua com base na transferência direta na renda, em serviços de convivência de crianças e no acompanhamento familiar, corroendo literalmente cada fase do processo que tem como consequência o trabalho infantil.
41
REDAÇÃO COMENTADA
Trabalho infantil: um ciclo
O título foi habilmente extraído da própria redação, como se verá. É uma
boa opção não só para quem tem dificuldade de nomear os próprios textos,
mas também para quem está em busca de coesão.
Quando se pensa na questão do trabalho in-fantil, a reação é quase sempre a mesma: pena, estranhamento e, às vezes, um pouco de culpa. Parece impossível que ainda existam crianças tra-balhando, em condições análogas às do início da revolução industrial. De fato, é algo repulsivo, mas* deve ser encarado como um problema real para ser resolvido.
O primeiro parágrafo apresenta o tema e a manei-
ra como esse tema se generalizou no senso comum.
É justamente esse o ponto utilizado pela autora para
problematizá-lo. Trata-se de um tema que, de modo
geral, é abordado pelo aspecto emotivo. A autora não
afasta essa leitura, contudo, anuncia-o como “um problema real para ser resol-vido”. Em outras palavras, nos apiedarmos ou apresentarmos nossa repulsa à
situação não será de grande valia para a resolução da situação. Além disso, é
possível ler nesse início de texto uma importante referência histórica a qual-
quer tema ligado ao trabalho: a Revolução Industrial. A autora demonstra assim
o bom aproveitamento do que as instruções da prova chamam de “formação”.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)**, há mais de 5 mil*** crianças e jovens, entre 5 e 17 anos, trabalhando no Brasil. É um número assustador, pois equivale a 5 mil crian-ças fora da escola, cujos pais não conseguem sus-tentar a família, cujas refeições são ralas e cujas perspectivas de vida são curtas e pobres de possibi-lidades. O que está em questão é um ciclo vicioso: as crianças veem--se obrigadas a trabalhar, em geral, por falta de recursos; largam a escola e ingressam no mundo adulto com chances microscópicas
* Note como o uso da
conjunção adversativa
(“mas”) ajuda a proble-
matizar o tema. Uma coi-
sa é sentir repulsa pela
situação dada. Outra é
entendê-la como um
“problema real” que de-
ve ser resolvido. Para in-
troduzir o último pará-
grafo, voltará a usar
justamente a conjunção
“mas” e deixará ainda
mais nítida e coerente
sua estratégia.
** É um bom procedimento para
o texto dissertativo apresentar
o significado de uma sigla quan-
do é citada pela primeira vez.
Além de elegância, a autora de-
monstrou conhecimento à ban-
ca examinadora.
42
de entrar no mercado de trabalho. Estes então adultos têm filhos, que são empurrados para o trabalho, e assim sucessivamente.
Essas crianças muitas vezes recebem incen-tivos da família para trabalhar “Submetidas aos constrangimentos da miséria e da falta de alternativas de integração social, as famílias optam por preservar a integridade moral dos filhos, incutindo-lhes valores, tais como a dignidade, a honestida-de e a honra de trabalhador”, diz Joel B. Marin, historiador. Ora, as famílias preferem que os filhos trabalhem honrosamente do que unam-se a delinquentes. Por outro lado, segundo o jornalis-
ta**** Xisto de Medeiros, “a dignidade de milhões de crianças bra-sileiras está sendo roubada diante do desrespeito aos direitos hu-manos fundamentais que não lhes são reconhecidos [...]”. Pais e filhos acreditam que o trabalho é a melhor opção: é um valor en-raizado nessas famílias.
Nesses dois parágrafos intermediários lemos o
desenvolvimento da dissertação. A autora fez uma
opção segura e procurou valer-se dos textos apre-
sentados pela proposta. Depois de ter mencionado
os dados do IBGE, citou os dois autores dos textos
opinativos. Reforçou, dessa forma, seu posiciona-
mento, associando-se à tendência da própria prova.
Mas, então, como romper este ciclo? A me-lhor solução seria cortar o mal pela raiz, investin-do na educação pública, do ensino fundamental ao médio, já que as universidades públicas for-mam bem. Devem-se desenvolver políticas de incentivo à permanên-cia na escola, escolher cuidadosamente o corpo docente, cuidar dos detalhes importantes como a constância das merendas, tudo para evitar o êxodo escolar. Mas isso não é tudo. Deve-se dar atenção à família como um todo, focando em cada integrante e em todos, para romper cada parte do ciclo. Medidas como o “Bolsa Família” são um bom primeiro passo para iniciar programas como o Programa de Er-radicação do Trabalho Infantil (PETI), que atua com base na transfe-
**** É, de fato, importante qualifi-
car as personalidades citadas na
redação. Contudo, é melhor fazê-lo
apenas quando se tem certeza des-
sas qualificações. Joel Marin é um
sociólogo e Xisto de Medeiros é
mestre em Direito, procurador re-
gional do trabalho, além de atuar
como jurista no Ministério Público
do Trabalho. Sobre citação, aliás,
leia nossa seção Pense Bem e fique
por dentro do assunto.
*** Para transferir dados estatísti-
cos de um texto a outro, todo cui-
dado parece ser pouco. Ainda que
5 mil seja um número expressivo, o
IBGE registra mais de 5 milhões de
crianças e jovens trabalhando no
Brasil, o que modifica muito o ta-
manho do problema.
43
1COMO OS NÚMEROS SE COMPORTAM NO CONTEXTO SOCIAL
conecte-se
Em todos os lugares, os números estão à nossa volta. Nas ruas, no comércio, no trabalho,
na mídia, vemos tabelas, gráficos e lidamos com números cotidianamente.
Há profissionais que trabalham com situações numéricas mais complexas, como os
economistas, os estatísticos e até os chefes de cozinha – imagine o que aconteceria se um
prato extremamente especial e requintado fosse preparado com quantidades erradas de
ingredientes.
Outras profissões não exigem diretamente o uso dos números, mas sabemos que sem-
pre estamos ligados a eles. Os números nos rodeiam e estão associados ao ato mais simples
realizado, há milênios, pelo homem: a contagem.
colher
açúcar2 xíc gordura
1/2 xíc
1sal
sopa
chocolate amargoderretido
1 xíc
baunilhacolhersopa
1farinha2 xíc
água3/4 xíc
bicarbonatode sódio
colher sopa1
leite3/4 xíc
fermento em pó
1/2 colhersopa
ovos2
grande
s
14
OB
JET
IVO
S
Nesta etapa você vai estudar os diferentes significados e
representações dos números e das operações, reconhecendo-os
no contexto social. Os conhecimentos numéricos permitirão que
as situações-problema sejam resolvidas mais claramente,
auxiliando na identificação dos princípios de contagem e dos
padrões existentes em diversas questões cotidianas que
envolvem operações numéricas.
Contar significa associar elementos a símbolos e, por meio deles, expressar a própria
contagem. Para que isso ficasse mais fácil, ao longo da história da humanidade criamos
símbolos que representam os números (as quantidades). Nós usamos esses símbolos
quando queremos expressar tais quantidades. É claro que, para isso, precisamos de vários
símbolos ou então combinar alguns deles num sistema de numeração, permitindo que as-
sumam valores posicionais diferentes.
Às vezes, representamos com símbolos quantidades que não são inteiras (pedaços de
bolo, porcentagens de pesquisa) e valores que não são positivos (temperaturas abaixo de
zero, datas anteriores à era cristã). Isso tudo faz parte do universo numérico e do nosso co-
tidiano. Por isso, é bom lembrar que a ideia dos números, bem como seus símbolos e siste-
mas de numeração, foi elaborada para ajudar as pessoas a entenderem a realidade.
Os números estão presentes em muitas situações do nosso dia a dia, como nos códi-
gos de barras dos produtos que compramos, por exemplo.
A questão é: o que significam os números de um código de barras? Como esse códi-
go é composto?
DESAFIO
15
QUESTÃO DO ENEM
Leia a seguir uma questão da prova cancelada do ENEM 2009 abordando nosso calendário. Escolha uma alternativa e justifique sua resposta.
No calendário utilizado atualmente, os anos são numerados em uma escala sem o zero,
isto é, não existe o ano zero. A era cristã se inicia no ano 1 depois de Cristo (d.C.) e designa-se
o ano anterior a esse como ano 1 antes de Cristo (a.C.). Por essa razão o primeiro século ou
intervalo de 100 anos da era cristã terminou no dia 31 de dezembro do ano 100 d.C., quando
haviam decorrido os primeiros 100 anos após o início da era. O século II começou no dia
primeiro de janeiro do ano 101 d.C., e assim sucessivamente.
Como não existe o ano zero, o intervalo entre os anos 50 a.C. e 50 d.C., por exemplo, é
de 100 anos. Outra forma de representar anos é utilizando-se números inteiros, como
fazem os astrônomos. Para eles, o ano 1 a.C. corresponde ao ano 0, o ano 2 a.C. ao ano -1, e
assim sucessivamente. Os anos depois de Cristo são representados pelos números inteiros
positivos, fazendo corresponder o número 1 ao ano 1 d.C.
Considerando o intervalo de 3 a.C. a 2 d.C., o quadro que relaciona as duas contagens
descritas no texto é:
A Calendário Atual 3 a.C. 2 a.C. 1 a.C. 1 d.C. 2 d.C.
-1 0 1 2 3
B Calendário Atual 3 a.C. 2 a.C. 1 a.C. 1 d.C. 2 d.C.
-2 -1 0 1 2
C Calendário Atual 3 a.C. 2 a.C. 1 a.C. 1 d.C. 2 d.C.
-2 -1 1 2 3
D Calendário Atual 3 a.C. 2 a.C. 1 a.C. 1 d.C. 2 d.C.
-3 -2 -1 1 2
E Calendário Atual 3 a.C. 2 a.C. 1 a.C. 1 d.C. 2 d.C.
-3 -2 -1 0 1
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
16
A alternativa correta é a letra B . Veja por quê:
–1 e assim por diante. Já em nosso calendário, como não há ano 0, passamos diretamente
do ano 1 a.C. para o ano 1 d.C.
Sistema de numeração decimal
Nosso ponto de partida é o sistema de numeração decimal adotado por boa parte das
sociedades atuais, que utiliza 10 símbolos (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9), respeitando uma conta-
gem de 10 em 10 unidades. Cada símbolo pode ocupar uma posição diferente no número
e, consequentemente, assumir um valor posicional distinto. Sendo assim, temos as posições
básicas conhecidas como milhar (103), centena (102), dezena (101) e unidade (100). Os números
formados segundo essa regra representam quantidades no sistema decimal.
Na questão do ENEM, pudemos observar que os números são negativos quando represen-
tam datas anteriores ao marco da era cristã. Os números negativos surgiram da necessidade de
representar valores inferiores a zero que, por vezes, estavam presentes em subtrações nas
quais o primeiro valor era menor que o segundo. Por exemplo, 8 bananas – 10 bananas. Como
resolver uma operação de subtração nessas condições?
A primeira forma de agrupar os números deu origem ao conjunto dos números natu-
rais (N). Nesse conjunto estão presentes todos os números positivos e o zero. O conjunto
dos números inteiros (Z) contém todos os naturais e também os negativos (inteiros). Como
da divisão entre números inteiros nem sempre resulta um número inteiro, chegamos aos
números racionais (Q), os quais formam um conjunto que engloba todos os inteiros e tam-
bém as frações e os decimais (escritos em forma fracionária com numerador inteiro e deno-
minador inteiro e diferente de zero). O fato é que encontramos alguns decimais diferentes,
que não admitem representação em forma fracionária: são os decimais não periódicos, cha-
mados de números irracionais. Exemplo: 2 = 1,4142135… ou o número ! (3,1415926535…).
O conjunto dos números reais (R) nada mais é do que a união dos números racionais e
dos números irracionais.
N Z Q R
N = números naturais
Z = números inteiros
Q = números racionais
R = números reais
17
Esses não são os únicos grupos criados. Os números complexos, resultados inexisten-
tes no conjunto dos reais, por exemplo, raiz quadrada de números negativos, ampliaram o
universo dos conjuntos numéricos. Portanto, o conjunto dos números reais está contido no
conjunto dos complexos.
RADAR
Você conhece o jogo Matix? Pode-se fazer o download pelo site:
<www.4shared.com/file/hrZW9vRu/MATIX.html>.
Aproveite as horas de descanso para estimular seu raciocínio matemático, fazer
cálculos mentais e encontrar estratégias de antecipação de situações. Divirta-se!
ANOTAÇÕES
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QUESTÃO DO ENEM
A seguinte questão acerca de algumas particularidades dos números decimais fez parte da prova válida do ENEM 2009. A solução está associada aos números decimais e suas operações. Leia-a, responda qual alternativa considera correta e por quê.
Uma pessoa decidiu depositar moedas de 1, 5, 10, 25 e 50 centavos em um cofre
durante certo tempo. Todo dia da semana ela depositava uma única moeda, sempre nesta
ordem: 1, 5, 10, 25, 50 e, novamente, 1, 5, 10, 25, 50 e assim sucessivamente.
Se a primeira moeda foi depositada em uma segunda-feira, então essa pessoa
conseguiu a quantia exata de R$ 95,05 após depositar a moeda de:
A 1 centavo no 679o dia, que caiu numa segunda-feira.
B 5 centavos no 189o dia, que caiu numa quinta-feira.
C 10 centavos no 188o dia, que caiu numa quinta-feira.
D 25 centavos no 524o dia, que caiu num sábado.
E 50 centavos no 535o dia, que caiu numa quinta-feira.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A alternativa correta é a letra D . Veja por quê:
Para solucionar essa questão, é preciso calcular a quantos dias de depósitos R$ 95,05 equi-
valem. Um caminho para isso é somar as contribuições para um ciclo, ou seja, 1, 5, 10, 25 e 50
centavos, e depois dividir R$ 95,05 pelo valor dessa soma. O quociente dessa divisão, 104, será
o número de vezes que o ciclo se repete. Como o resto da divisão (0,41) é a soma de quatro
dias de um ciclo novo (1+5+10+25), sabemos exatamente a quantidade de dias de contribui-
ção e que 25 centavos foi o valor da última contribuição. Para saber o número de dias corridos,
basta multiplicar o quociente da divisão (104) por 5 (número de dias do ciclo), depois somar
os quatro dias equivalentes ao resto da divisão. Dessa forma, chegamos também ao número
de 524 dias, conforme aponta a alternativa correta.
Operações com números racionais
Às vezes, as operações com números decimais (também conhecidos como racionais)
nos pregam peças. Para não correr o risco de errar ao fazer esse tipo de operação, precisa-
mos nos orientar pela vírgula que divide o racional em uma parte inteira e uma parte fra-
cionária. Quando se tratam de valores monetários, sabemos que o centavo é uma divisão da
moeda corrente por 100, isto é, 1 centavo equivale a 0,01 dessa moeda. Assim, nesse exercí-
cio temos:
1 centavo = 0,01 real
5 centavos = 0,05 real
10 centavos = 0,10 real
25 centavos = 0,25 real
50 centavos = 0,50 real
É muito importante observar o valor da moeda e transformá-lo corretamente em uma
notação decimal para que as operações necessárias à resolução do problema fiquem corretas.
No caso da divisão entre decimais, algumas regras devem ser consideradas e é funda-
mental interpretar corretamente os resultados obtidos após as operações. Observe que,
nesse exercício, quando dividimos 95,05 (reais) por 0,91 (real) ou 91 centavos, obtemos 104
(grupos de 5 dias) como resultado e 41 centavos (ou 0,41 real) como resto. Isso porque 91
centavos é o valor depositado após uma sequência de 1, 5, 10, 25, 50 centavos.
A adição e a subtração de decimais devem ser feitas sempre considerando as partes
inteiras e as partes decimais (propriamente ditas) que estão separadas pela vírgula. Nesse
caso, 0,01 + 0,50 (1 centavo + 50 centavos) resultam 0,51 (51 centavos). Embora isso pareça
fácil, nem sempre é assim. Observe a subtração 0,68 – 0,2, por exemplo:
0,68
0,20
0,48
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ANOTAÇÕES
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Para fazer essa subtração, preencha com zero a casa que não tem valor. Assim, você
poderá realizar a operação com mais facilidade. Em seguida, não se esqueça de inserir a
vírgula no resultado.
Antes de efetuar uma operação, procure estimar seu resultado. Se você utilizar o cálculo
por estimativas antes de realizar operações com decimais, dificilmente chegará a um resul-
tado incorreto.
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QUESTÃO DO ENEM
Na prova do ENEM 2010, uma questão abordava a compra de materiais por uma escola. Leia-a, solucione e marque a alternativa correta.
Uma escola recebeu do governo uma verba de R$ 1.000,00 para enviar dois tipos de
folhetos pelo correio. O diretor da escola pesquisou que tipos de selos deveriam ser
utilizados. Concluiu que, para o primeiro tipo de folheto, bastava um selo de R$ 0,65
enquanto, para folhetos do segundo tipo, seriam necessários 3 selos, um de R$ 0,65, um de
R$ 0,60 e um de R$ 0,20. O diretor solicitou que comprassem selos de modo que fossem
postados exatamente 500 folhetos do segundo tipo e uma quantidade restante de selos
que permitisse o envio do máximo possível de folhetos do primeiro tipo.
Quantos selos de R$ 0,65 foram comprados?
A 476.
B 675.
C 923.
D 965.
E 1.538.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A alternativa correta é a letra C . Veja por quê:
Já que o custo dos selos para o folheto do segundo tipo é de R$ 1,45 (0,65 + 0,60 + 0,20)
e o gasto total para 500 folhetos é de R$ 1,45 x 500 = R$ 725,00, sobraram R$ 275,00
(R$ 1.000,00 – R$ 725,00). Dessa maneira, dividimos a sobra de R$ 275,00 pelo valor do selo
do primeiro folheto, obtendo 423 folhetos (275 ÷ 0,65 " 423). Não podemos esquecer de
somar a quantidade de selos no valor de R$ 0,65: são 423 do primeiro tipo e 500 do segun-
do, que, somados, dão um total de 923 selos de R$ 0,65.
Divisão com números decimais
O funcionário da escola que foi comprar os selos para o diretor postar os folhetos deve
ter trazido consigo um troco de 5 centavos (ou 0,05 real), já que da operação de divisão não
resultou um número inteiro.
As operações combinadas entre os números são muito utilizadas em situações do dia a
dia. Quando elas envolvem dinheiro, estamos lidando com números decimais. Por isso, va-
mos recordar a divisão com números decimais utilizando o caso dessa questão do ENEM.
Precisamos dividir 275 por 0,65. Por isso, temos de encontrar um número que dê 423,07,
resultado já conhecido dessa divisão. Fazendo várias divisões numa calculadora, por tenta-
tiva e erro, tem-se que 27.500 ÷ 65 é igual a 423,07. Se você fizer esse exercício com vários
outros números decimais e inteiros que não possuam o mesmo número de casas decimais
após a vírgula, verá que sempre chegará ao mesmo resultado. Então, podemos deduzir que,
se igualarmos o número de casas decimais nos dois números e eliminarmos a vírgula, en-
contraremos uma divisão possível de ser realizada.
Vamos trabalhar com 2,5 ÷ 5, exemplo mais simples.
Digamos que eu tenha 2 barras e meia de chocolate para dividir entre 5 pessoas.
Observando as barras acima, podemos concluir que cada pessoa receberá meia barra
de chocolate. Assim, 2,5 ÷ 5 = 25 ÷ 50 = 0,5. O resto dessa divisão é zero, isto é, não sobra
nenhum pedaço de chocolate.
Suponha agora que eu tenha 2 barras e meia de chocolate, mas queira dividir entre
2 pessoas.
Posso dar uma barra inteira a cada pessoa, mas a metade da outra barra sobrará. Nesse
exercício estou fazendo a operação 2,5 ÷ 2 = 25 ÷ 20 = 1, e o resto é 0,5.
23
As operações com decimais devem ser feitas com bastante atenção para que não deem
resultado errado. Não é difícil, por desatenção, obtermos o valor 5 como resto da divisão
anterior. Nesse caso, isso significaria que, ao dividir 2 barras e meia de chocolate entre
2 pessoas, eu ainda fiquei com 5 barras inteiras, o que não é possível.
RADAR
Para encontrar mais informações sobre operações entre números decimais,
acesse o site:
Frações e Números Decimais <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/
fundam/fracoes/fracdec.htm>.
As notícias de jornais, revistas e noticiários de TV estão repletas de dados percentuais.
Tudo parece estar expresso nessa forma matemática.
De fato, a porcentagem é uma maneira muito simples de represen-
tar frações. Quando leio a notícia “95% dos alunos tiraram notas acima
da média no ENEM”, penso que, a cada 100 alunos, 95 foram bem na
prova. Se eu tiver 200 alunos nessa mesma situação, saberei que 190
alcançaram notas acima da média, porque nesse caso a relação é pro-
porcional, isto é, se aumentar o número da amostragem, aumentará a
quantidade de alunos nas condições apresentadas.
Porcentagem ou percentagem: é uma palavra originária do latim per centum, que significa “por cento”, “a cada centena”.
ANOTAÇÕES
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QUESTÃO DO ENEM
Analise a seguinte questão da prova cancelada do ENEM 2009, solucione e escolha a alternativa correta.
Uma pesquisa foi realizada para tentar descobrir, do ponto de vista das mulheres, qual
é o perfil da parceira ideal procurada pelo homem do séc. XXI. Alguns resultados estão
apresentados no quadro abaixo:
O QUE AS MULHERES PENSAM QUE OS HOMENS PREFEREM
72%
das mulheres têm certeza de que os
homens odeiam ir ao shopping
65%
delas pensam que os homens preferem
mulheres que façam as tarefas de casa
No entanto, apenas 39%
dos homens disseram achar a atividade
insuportável
No entanto, 84%
deles disseram acreditar que as tarefas devem
ser divididas entre o casal.
Se a pesquisa foi realizada com 300 mulheres, então a quantidade delas que acredita
que os homens odeiam ir ao shopping e pensa que eles preferem que elas façam todas as
tarefas de casa é:
A inferior a 80.
B superior a 80 e inferior a 100.
C superior a 100 e inferior a 120.
D superior a 120 e inferior a 140.
E superior a 140.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A alternativa correta é a letra C . Veja por quê:
Para solucionar essa questão, temos as seguintes informações: 300 mulheres participa-
ram da pesquisa, 72% delas têm certeza de que os homens odeiam ir ao shopping e 65%
acreditam que os homens preferem mulheres que façam as tarefas de casa. O número total
de mulheres que consideraram a primeira afirmação pode ser encontrado quando transfor-
mamos 72% em um número decimal. Observe:
72% = 72
100 = 0,72
Ao multiplicar esse número por 300, chegamos ao número total de mulheres que acre-
ditam que os homens odeiam ir ao shopping: 216. Aí está cumprida uma etapa da questão.
Ainda é preciso saber quantas delas consideram que os homens preferem as mulheres que
façam todas as tarefas de casa. Seguindo o mesmo método, 65% = 65/100 = 0,65, que, mul-
tiplicado por 300, nos daria o número de 195 mulheres. Agora, vamos verificar quantas es-
tão presentes em ambos os grupos. Para isso, somamos as mulheres dos dois grupos de
respostas, depois subtraímos esse resultado de 300:
216 + 195 = 411
411 – 300 = 111 mulheres que acreditam que os homens odeiam ir ao shopping e pre-
ferem mulheres que façam todas as tarefas de casa.
Porcentagem: fração ou decimal?
Uma porcentagem é uma fração cujo denominador é igual a 100. Porcentagens são
representações numéricas muito usadas em nosso dia a dia, porque refletem facilmente as
quantidades exibidas. Isso se dá pelo fato de que uma amostragem de 100 indivíduos, ou
exemplares, é uma quantidade de percepção intuitiva. Frequentemente, vemos nos jornais
porcentagens que equivalem, por exemplo, à queda do preço da soja, ao aumento do des-
matamento em determinada região ou ao número de pessoas que possuem celulares, que
têm acesso à internet ou já visitaram determinado museu.
RADAR
Existem inúmeros exemplos de uso de porcentagens no dia a dia. Visite este site
para ver um exemplo, com dados do Censo de 2010 realizado pelo IBGE.
<http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2011/03/25/interna_
brasil,244511/populacao-de-minas-envelhece-e-cidades-incham.shtml>.
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QUESTÃO DO ENEM
Os códigos estão presentes em muitas situações no nosso dia a dia. Leia, a seguir, a questão da prova válida do ENEM 2009 e identifique a resposta correta para o problema.
Para cada indivíduo, a inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) é composto por
um número de 9 algarismos e outro número de 2 algarismos, na forma d1d
2 , em que d
1 e
d2 são denominados dígitos verificadores. Os dígitos verificadores são calculados a
partir da esquerda da seguinte maneira: os nove primeiros algarismos são multiplicados
pela sequência 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2 (o primeiro por 10, o segundo por 9, e assim
sucessivamente; em seguida, calcula-se o resto r da divisão da soma dos resultados das
multiplicações por 11, e se o resto r for 0 ou 1, d1 é zero, caso contrário, d
1 = (11 -r). O
dígito d2 é calculado pela mesma regra, na qual os números a serem multiplicados pela
sequência dada são contados a partir do segundo algarismo, sendo d1 o último
algarismo, isto é, d2 é zero se o resto s da divisão por 11 da soma das multiplicações for
0 ou 1, caso contrário, d2 = (11-s).
Suponha que o João tenha perdido seus documentos, inclusive o cartão de CPF e, ao
dar queixa da perda na delegacia, não conseguisse lembrar quais eram os dígitos
verificadores, recordando-se apenas que os nove primeiros algarismos eram 123 456 789.
Neste caso, os dígitos verificadores d1
e d2 esquecidos são, respectivamente:
A 0 e 9.
B 1 e 4.
C 1 e 7.
D 9 e 1.
E 0 e 1.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A alternativa correta é a letra A . Veja por quê:
Os nove primeiros algarismos do CPF de João são 123 456 789. Para calcular d1, deve-
mos multiplicar os nove algarismos por 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3 e 2:
1 x 10 + 2 x 9 + 3 x 8 + 4 x 7 + 5 x 6 + 6 x 5 + 7 x 4 + 8 x 3 + 9 x 2 = 210
Agora, divide-se esse resultado por 11:
210 ÷ 11 = 19, com resto 1.
Com o resto (r) sendo 1, d1 será 0. Agora, seguindo ainda as instruções do enunciado,
multiplica-se novamente:
2 x 10 + 3 x 9 + 4 x 8 + 5 x 7 + 6 x 6 + 7 x 5 + 8 x 4 + 9 x 3 + 0 x 2 = 244
Agora, dividimos esse novo resultado por 11.
244 ÷ 11 = 22, com resto 2.
Já que o resto é diferente de 0 ou 1, de acordo com o texto da questão, d2 será 11 – 2 =
9. Assim, o CPF de João tem o seguinte número: 123 456 789-09.
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QUESTÃO DO ENEM
Esta questão do ENEM 2011 traz um exemplo de como os números podem estar presentes em sugestões para aumentar o nosso bem- -estar. Leia a questão com atenção e encontre a resposta correta.
Você pode adaptar as atividades do seu dia a dia de uma forma que possa queimar
mais calorias do que as gastas normalmente, conforme a relação seguinte:
Disponível em: <http://cyberdiet.terra.com.br>. Acesso em: 27 abr. 2010.
Uma pessoa deseja executar essas atividades, porém ajustando o tempo para que, em
cada uma, gaste igualmente 200 calorias.
A partir dos ajustes, quanto tempo a mais será necessário para realizar todas as
atividades?
A 50 minutos.
B 60 minutos.
C 80 minutos.
D 120 minutos.
E 170 minutos.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A alternativa correta é a B . Veja por quê:
Proporcionalidade e os números
Quando tratamos de medidas e valores, é comum que os números estejam relaciona-
dos entre si. Eles podem, por exemplo, aumentar um em decorrência de um crescimento do
outro, ou então diminuir em função de um decréscimo do outro. Há casos, também, em que
ocorre o contrário: enquanto uns valores aumentam, outros diminuem na mesma propor-
ção. É importante compreender a ideia de proporcionalidade. No caso da questão do ENEM,
falamos de valores que de fato aumentam ou diminuem caso executemos, por mais ou
menos tempo, as atividades descritas. Assim, vamos analisar o seguinte quadro:
100 calorias 20 minutos Agachamentos ao telefone
100 calorias 30 minutos Supermercado
200 calorias 30 minutos Cuidar do jardim
200 calorias 30 minutos Passear com cachorro
150 calorias 30 minutos Tirar o pó dos móveis
200 calorias 30 minutos Lavar roupas
Nossa tarefa é aumentar o número de calorias gastas para 200. Para fazer isso, teremos
que aumentar também o tempo de execução das atividades. Se quisermos gastar 200 calo-
rias fazendo agachamentos enquanto falamos ao telefone, precisaremos de mais 20 minu-
tos, isto é, de um total de 40 minutos no telefone. Para gastar 200 calorias também no su-
permercado, precisaremos ficar lá por 60 minutos, isto é, 30 minutos a mais. Nos dois casos,
bastou multiplicar por 2 os valores correspondentes às calorias e aos minutos gastos em
cada atividade, ou seja, encontramos o dobro dos respectivos valores.
Entretanto, para gastar 200 calorias tirando o pó dos móveis, é preciso fazer outro cálcu-
lo. Vejamos: 150 calorias # 30 minutos tirando o pó. Se aumentarmos as calorias para 200,
precisaremos verificar a razão do aumento. A igualdade 150
200 =
30
? nos ajuda a re-
solver o problema, pois nos mostra que o aumento de calorias (de 150 para 200) correspon-
de a 1/3 do valor inicial (aumento de 50). Então, o tempo também precisará ser 1/3 maior do
que o inicial, isto é, 10 minutos a mais. Precisaremos, portanto de 40 minutos para consumir
200 calorias tirando o pó dos móveis.
Mas a questão do ENEM não termina aí. Deseja-se saber quanto tempo a mais será ne-
cessário para realizar todas as atividades gastando 200 calorias em todas elas. Como preci-
samos de 20 minutos a mais falando ao telefone, 30 minutos a mais no supermercado e 10
minutos a mais tirando o pó dos móveis, o total é de 60 minutos, ou 1 hora.
30
QUESTÃO DO ENEM
Veja esta questão do ENEM 2012 que envolve numeração e códigos. Leia com atenção e procure a resposta correta.
Os hidrômetros são marcadores de consumo de água em residências e estabelecimentos
comerciais. Existem vários modelos de mostradores de hidrômetros, sendo que alguns
deles possuem uma combinação de um mostrador e dois relógios de ponteiro. O número
formado pelos quatro primeiros algarismos do mostrador fornece o consumo em m3, e os
dois últimos algarismos representam, respectivamente, as centenas e dezenas de litros de
água consumidos. Um dos relógios de ponteiros indica a quantidade em litros, e o outro,
em décimos de litros, conforme ilustrados na figura a seguir.
1
1
2
2
3
3
4
4
5
5
6
6
7
7
8
8
9
9
0
0
H V A
B--
3 3 4 85 5Mostradorm³
unidade demedida
dezenas de litros
centenas de litros1m³ = 1000 litros
metros cúbicos deágua consumidos
Litros
Décimos de litrosSelo do INMETRO
Considerando as informações indicadas na figura, o consumo total de água registrado
nesse hidrômetro, em litros, e igual a:
A 3.534,85.
B 3.544,20.
C 3.534.850,00.
D 3.534.859,35.
E 3.534.850,39.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A alternativa correta da questão é a D . Veja por quê:
Observando o mostrador podemos identificar algumas medidas:
3.534 m3 = 3.534.000 litros,
8 centenas de litros = 800 litros
5 dezenas de litros = 50 litros
Agora, vamos “ler” os ponteiros. Temos que:
9 litros e
3,5 décimos de litro que é igual a 0,35 litro
-
rio somar essas medidas: 3.534.000 + 800 + 50 + 9 + 0,35 = 3.534.859,35.
Regra de três
A regra de três é uma ferramenta que auxilia o cálculo das relações entre valores. Vamos
estudar alguns exemplos para entendê-la um pouco melhor.
Digamos que um pedreiro, trabalhando em uma construção, consiga levantar uma pa-
rede inteira ao término de 1 hora de trabalho. Se esse mesmo pedreiro trabalhasse 2 horas
no mesmo ritmo, provavelmente construiria duas paredes como aquela.
Essa previsão é cabível, pois há uma proporcionalidade entre as paredes construídas e
o tempo gasto para fazê-las. Será que podemos pensar o mesmo quando fazemos com-
pras? O fato de ficarmos mais tempo numa loja significa que compraremos mais objetos, na
mesma quantidade? Naturalmente, não.
Dessa forma, podemos concluir que há casos aos quais a proporcionalidade se aplica e
outros aos quais ela não se aplica. Quando é aplicável, criamos uma expressão matemática
e a resolvemos com algumas operações de multiplicação e de divisão. Vejamos um exem-
plo, construído com base na questão do ENEM que acabamos de resolver:
Uma pessoa gasta 150 calorias tirando o pó dos móveis em 30 minutos de trabalho. Se
ela quiser trabalhar apenas 10 minutos, quantas calorias gastará?
150
? =
30
10
A regra de três recebe esse nome porque considera três valores conhecidos e um valor
desconhecido. Assim, vamos escrever que ? x 30 = 150 x 10, ? x 30 = 1.500 e nos perguntar:
qual é o número que, multiplicado por 30, resulta 1.500? Encontramos o valor 50, que é o
número de calorias que uma pessoa gastará se realizar a atividade por 10 minutos.
Em algumas situações a proporcionalidade existe, mas é inversa, isto é, enquanto um
elemento aumenta, o outro diminui. Pensemos, por exemplo, nas situações que envolvem o
tempo gasto para realizar uma viagem e a velocidade de deslocamento do carro. Se o mo-
torista dirigir mais depressa, chegará mais cedo, gastando menos tempo para fazer a via-
gem. Mas suponha que um carro ande a 60 km/h e leve 3 horas para fazer determinado
percurso. Se o motorista fizer o carro andar a 90 km/h, quanto tempo levará para chegar ao
destino desejado?
32
A regra de três, nesse caso, deve ser aplicada da seguinte forma:
tempo velocidade
3 horas 60 km/h
? horas 90 km/h
60
90 =
?
3
Note que a razão correspondente ao tempo ficou invertida. Isso ocorre porque, nesse
caso, a proporcionalidade é inversa. Agora é só aplicar a regra de três:
3 x 60 = ? x 90
180 = ? x 90
? = 2 horas
RADAR
Os números estão na nossa busca diária de saúde e bem-estar. Visite este site e note
a presença de percentuais e valores relativos à nossa saúde:
<www.rituais.net/tabid/272/language/pt-PT/Default.aspx>.
ANOTAÇÕES
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QUESTÃO DO ENEM
A prova do ENEM 2011 trouxe uma questão sobre o cálculo de alimentos e bebidas para uma festa. Leia, resolva e assinale a resposta correta:
Observe as dicas para calcular a quantidade certa de alimentos e bebidas para as festas
de fim de ano:
Quem organiza festas faz esses cálculos em cima do total de convidados, independente
do gosto de cada um.
Quantidade certa de alimentos e bebidas evita o desperdício da ceia.
Jornal Hoje. Texto adaptado. 17 dez. 2010.
Um anfitrião decidiu seguir estas dicas ao se preparar para receber 30 convidados para
a ceia de Natal. Para seguir essas orientações à risca, o anfitrião deverá dispor de:
A 120 kg de carne, 7 copos americanos e meio de arroz, 120 colheres de sopa de farofa,
5 garrafas de vinho, 15 de cerveja e 10 de espumante.
B 120 kg de carne, 7 copos americanos e meio de arroz, 120 colheres de sopa de farofa,
5 garrafas de vinho, 30 de cerveja e 10 de espumante.
C 75 kg de carne, 7 copos americanos e meio de arroz, 120 colheres de sopa de farofa,
5 garrafas de vinho, 15 de cerveja e 10 de espumante.
D 7,5 kg de carne, 7 copos americanos de arroz, 120 colheres de sopa de farofa, 5 garrafas
de vinho, 30 de cerveja e 10 de espumante.
E 7,5 kg de carne, 7 copos americanos e meio de arroz, 120 colheres de sopa de farofa,
5 garrafas de vinho, 15 de cerveja e 10 de espumante.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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34
A alternativa correta é a letra E . Veja por quê:
Operações matemáticas
A tabela a seguir nos dará uma ideia melhor do que devemos comprar para a festa de Natal.
Quantidade Porção para Cálculo para 30 pessoas
250 g de carne 1 pessoa 30 x 250 g = 7.500 g = 7,5 kg
1 copo de arroz 4 pessoas (30 ÷ 4 = 7,5) 7,5 x 1 copo = 7,5 copos
4 colheres de farofa 1 pessoa 30 x 4 colheres = 120 colheres
1 garrafa de vinho 6 pessoas (30 ÷ 6 = 5) 5 x 1 garrafa = 5 garrafas de vinho
1 garrafa de cerveja 2 pessoas (30 ÷ 2 = 15) 15 x 1 garrafa = 15 garrafas de cerveja
1 garrafa de espumante 3 pessoas (30 ÷ 3 = 10) 10 x 1 garrafa = 10 garrafas de espumante
Trabalhar com uma sequência de operações é algo bastante comum, porque nem sem-
pre conseguimos alcançar nosso objetivo com uma única ação. Neste planejamento preci-
saremos nos valer disso. Assim, multiplicamos por 30 a quantidade de carne consumida por
uma pessoa para encontrar a quantidade que devemos comprar para os 30 convidados.
O mesmo raciocínio vale para a farofa: se 4 colheres servem uma pessoa, devemos multipli-
car esse número por 30 para obter a quantidade correta para 30 pessoas.
Entretanto, no caso do arroz e das garrafas de vinho, cerveja e espumante, necessitamos
fazer um divisão para saber quantos grupos há em cada valor fornecido. Explicando melhor:
1 copo de arroz serve 4 pessoas. Assim, é necessário saber quantos grupos de 4 pessoas
existem em 30 para depois multiplicar esse número pela quantidade de copos. Com 1 gar-
rafa de vinho servem-se 6 pessoas. Por isso, é necessário saber quantos grupos de 6 pessoas
existem em 30 para depois multiplicar esse número pela quantidade de garrafas de vinho.
Esse mesmo cálculo é feito para as garrafas de cerveja e de espumante.
Desse exercício deduz-se que as operações (adição, subtração, multiplicação e divisão)
podem implicar ações diferentes. Vamos aprofundar essa reflexão?
A divisão nem sempre é usada para repartir objetos. Ela também pode servir para formar
grupos. A multiplicação pode ser utilizada para resumir a soma de parcelas iguais, mas tam-
bém para associar.
Os casos mais clássicos de adição e de subtração são os de reunir e retirar, respectiva-
mente. Mas a adição também pode ser usada para restaurar. Digamos, por exemplo, que
20 pessoas compareçam à festa de Natal do nosso anfitrião e, ao final, ele perceba que
sobraram alimentos e bebidas correspondentes a 10 pessoas. Quantas pessoas o anfi-
trião convidou para a festa de Natal? A subtração também pode servir para comparar.
Imagine que nosso anfitrião tenha gastado R$ 1.500,00 para fazer essa ceia de Natal e
35
que seu amigo, seguindo as mesmas dicas de planejamento, tenha gastado R$ 2.800,00.
Quanto o amigo do anfitrião gastou a mais do que ele?
Como você viu, é muito importante compreender as ideias associadas às operações que
envolvem os diversos números (naturais, inteiros ou racionais) presentes nas ações cotidia-
nas. Você pode fazer essa análise antes de executar cada uma dessas operações.
PENSE BEM!
Sabemos que a quantidade de água salgada existente no planeta Terra é muito maior que a quan-
tidade de água doce. São 1.235.000 trilhões de toneladas de água salgada e 41.000 trilhões de tone-
ladas de água doce. A quantidade de água salgada é, portanto, cerca de 30 vezes maior do que a de
água doce. Esses números chamam a atenção para a importância de fazer uso racional da água doce
para evitar a necessidade de empregar um sistema para transformar água salgada em água potável.
Já que para isso seria necessário um investimento financeiro razoável e certo tempo para implantar
esse sistema, qual é a sua contribuição para que não falte água para a população mundial?
Assista a um vídeo sobre a dessalinização da água do mar e, depois, visite o site abaixo para
saber mais:
<www.redetv.com.br/Video.aspx?124,28,167592,Entretenimento,Manha-Maior,Conheca-o-
-processo-de-dessalinizacao-da-agua-do-mar>
<www.uniagua.org.br>.
PRATICANDO
Questão 1
Foi realizada uma pesquisa com 125 jovens sobre as modalidades esportivas que eles
gostavam de ver nos jogos olímpicos. As opções eram vôlei, ginástica olímpica e hipismo e as
respostas foram as seguintes:
36
Quantos jovens não se interessavam por nenhum esporte?
A 5.
B 33.
C 48.
D 45.
E 55.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Questão 2
Em uma cidade, os preços dos transportes coletivos são diferentes: o metrô custa R$ 2,90 e o
ônibus custa R$ 3,00. Existe um bilhete que pode ser carregado com qualquer quantia e usado
separadamente para o ônibus ou para o metrô e também de forma integrada. O valor das viagens
pagas com esse bilhete, quando uma pessoa utiliza ônibus + metrô, é R$ 4,49. Analise a tabela a
seguir, que apresenta a movimentação de ida e volta de uma pessoa durante uma semana útil.
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
Ida e volta Só ida Só volta Ida e volta Só ida
Quanto essa pessoa deve ter de crédito para utilizar o bilhete de integração por um mês?
A R$ 71,84.
B R$ 77,84.
C R$ 107,04.
D R$ 70,84.
E R$ 107,84.
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Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Questão 3
Numa empresa, todos os funcionários possuem um crachá com um código, usado para
identificação dentro do prédio. Esse código possui 6 dígitos e é gerado da seguinte forma:
homens e 11 para as mulheres do setor administrativo, 20 para os
homens e 21 para as mulheres do setor técnico, e 30 para os homens e 31
para as mulheres do setor gerencial;
exerce em sua área;
dígito é o verificador encontrado segundo o algoritmo:
– encontrar o dobro de cada dígito (da esquerda para a direita);
– somar os valores;
– dividir por 11: se o resto da divisão for 0 ou 1, o dígito é zero; caso
contrário, o dígito é a subtração (11 – resto).
Um dia, ao olhar o crachá pendurado no pescoço de um funcionário técnico, o gerente
administrativo solicitou ao rapaz que fosse até o setor responsável para refazê-lo. O número que
estava impresso era 21554-9, cujo dígito estava errado. Qual seria o código correto?
A 21554-8.
B 21554-0.
C 20554-9.
D 20554-1.
E 21554-1.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Dígitos: o mesmo que algarismos. São símbolos que representam os números inteiros ou reais em um sistema de numeração posicional (no qual a posição determina o valor do algarismo).
38
CAMINHOS POSSÍVEIS
Você conseguiu resolver o Desafio proposto no início deste capítulo? Já conhecia a res-
posta ou teve de pesquisar?
O Desafio propõe que se descubra como são construídos os códigos de barra presentes
em todos os produtos industrializados. Ele segue o código EAN/UPC, sistema internacional
que auxilia na identificação de um item a ser vendido, movimentado e armazenado. Esse
código é formado por 4 grupos de dígitos (algarismos):
os 3 primeiros representam o prefixo da organização responsável por controlar e licen-
os três dígitos seguintes representam a identificação do produto
o último dígito é o verificador (segurança).
Tomemos como exemplo o seguinte código: 789168554550. Para
encontrar o dígito verificador você deve fazer o seguinte algoritmo:
1. Multiplique os dígitos do código alternadamente por 1 e por 3:
7 x 1 = 7
8 x 3 = 24
9 x 1 = 9
1 x 3 = 3
6 x 1 = 6
8 x 3 = 24
5 x 1 = 5
5 x 3 = 15
4 x 1 = 4
5 x 3 = 15
5 x 1 = 5
0 x 3 = 0
2. Em seguida, some os resultados das multiplicações. Nesse caso, o resultado é 117.
3. Encontre o múltiplo de 10 mais próximo do resultado da soma. Atenção: o múltiplo de 10
deve ser maior ou igual ao resultado da soma, nunca menor. Aqui, nosso número é 120.
4. Subtraia o resultado da soma das multiplicações (117) do múltiplo de 10 encontrado no
passo anterior (120). Deve ser feito então o seguinte cálculo: 120 – 117 = 3, que será o
dígito verificador.
O código completo do nosso exemplo é: 7896685245503.
Vale lembrar que, neste capítulo, estudamos aplicações variadas dos números e as ope-
rações que são utilizadas em diferentes contextos sociais. Com o estudo desses conjuntos
numéricos, por meio de alguns exercícios práticos, percebemos a importância de manuseá-
-los com destreza para facilitar as compras, a organização de festas, o planejamento de pou-
panças e a tomada de decisões relevantes para a nossa vida. É fundamental fazer uso da
linguagem matemática no reconhecimento de seus significados em contextos sociais, para
identificação de padrões, princípios de contagem e resolução de problemas.
Algoritmo: é uma sequência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, como uma receita de bolo.
39
PRATICANDO
Resposta das questões
Questão 1:
A alternativa correta é a letra C . Veja por quê:
Para solucionar esta questão, é preciso compreender que 60, 40 e 15 são os totais de votos por categoria
esportiva; sendo assim, as outras quantidades virão de um número absoluto de votos obtido ao
separarmos. Veja a divisão dos votos em grupos:
31
3
3
1
25
8
6vôlei
ginástica
hipismo
No final, o total de jovens que não se interessavam por nenhum desses esportes será o resultado da
subtração do total de jovens pelo total de votos computados, ou seja, se somamos 31 + 25 + 6 + 3 + 1 + 8
+ 3 = 77. Subtraindo, agora, 77 do total de jovens, que é 125, temos: 125 – 77 = 48.
Questão 2:
A alternativa correta é a letra C . Veja por quê:
Inicialmente, é necessário verificar qual será o gasto dessa pessoa, por dia da semana.
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
2 x R$ 2,90 = 5,80 R$ 4,49 R$ 3,00 2 x R$ 4,49 = R$ 8,98 R$ 4,49
Após isso, basta somar todos os dias e multiplicar por 4, que são as semanas de um mês:
R$ 5,80 + R$ 4,49 + R$ 3,00 + R$ 8,98 + R$ 4,49 = R$ 26,76 x 4 = R$ 107,04, valor total gasto por mês, por
essa pessoa, para locomoção.
Questão 3:
A alternativa correta é a D . Como era um rapaz da área técnica, os dois primeiros dígitos deviam ser 20,
e não 21. Devemos encontrar o dobro de cada algarismo: 2 # 4; 0 # 0; 5 # 10; 5 # 10; 4 # 8.
Somando esses resultados, 4 + 0 + 10 + 10 + 8 = 32; 32 ÷ 11 = 2, com resto 10. Como o resto não é nem 0
nem 1, devemos subtrair 11 – 10 = 1. O dígito verificador é 1; assim, o número correto seria 20554-1.
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ANOTAÇÕES
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MÁXIMAS
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METÁFORAS MATEMÁTICASEstamos acostumados a ver representações artísticas e matemáticas quase sempre separadas,
como se a arte fosse reflexo da emoção e a ciência da razão. Mas será que escultores, malabaristas,
bailarinos, pintores, músicos e outros artistas não utilizam conhecimentos científicos em seus
processos criativos e no dia-a-dia?Qual o papel da imaginação nas ciências e em outros campos
do conhecimento humano?
A Alegoria em MatemáticaNILSON JOSÉ MACHADO
A metáfora, uma figura de retórica que predomina
na linguagem poética e que é importante, de uma
maneira geral, na caracterização do estilo retórico, é
um instrumento essencial aos que se dedicam à Ma-
temática. Também na forma de alegorias, a presença
do sentido figurado em contextos matemáticos, se
não é a regra, nem de longe constitui exceção.
É quase impossível discorrer sobre a metáfora sem
ter Aristóteles como ponto de partida. Para o filóso-
fo, a metáfora consiste em dar a uma coisa o nome
de outra coisa, produzindo-se como que uma
transferência de significados, com base na analogia
ou na semelhança. É o que ocorre quando afirma-
mos que o jogador X é um leão, que a secretária, do
senhor Y é um doce, ou que o governo fechou as
torneiras do Banco Central. Etimologicamente, a
palavra Metáfora deriva das palavras gregas metá
(trans, além de) e phérein (levar, transportar).
Com relação ao desenvolvimento do raciocínio, à
concatenação de ideias nas pessoas em geral, Mar-
vin Minsky, professor e pesquisador do MIT (Michi-
gan Institute of Technology) nas áreas de Teoria
Matemática da Computação, Inteligência Artificial
e Robótica, afirma em seu instigante livro A socie-
dade da mente (1989): “Nossas melhores ideias são,
quase sempre, aquelas que transpõem dois mun-
dos diversos". Ele afirma também : "Muitas das boas
ideias são, na realidade, duas ideias numa só, o que
forma uma ponte entre duas esferas do pensamen-
to ou diferentes pontos de vista”.
É precisamente no estabelecimento de pontes en-
tre diferentes contextos, na iluminação de relações
estruturais que subjazem, a despeito da diversida-
de dos campos semânticos, que a metáfora afigura-
-se como instrumento fundamental.
Especialmente quando se trata de aproximar dois
contextos, um dos quais se apresenta mais familiar,
enquanto o outro afigura-se como o novo, a metá-
fora emerge como um poderoso instrumento para
a construção analógica de pontes entre os temas
MÁXIMAS
43
Pensar a matemática vai além de entender seu funcionamento. Qual a relação da matemática com a vida
cotidiana? Para que precisamos dela? Veja a seguir a interessante reflexão de Marcelo Leite a respeito de
como o ambientalista Lester Brown lida com quantidades e medidas em suas argumentações.
considerados. Nesse sentido, ela ocupa lugar de
destaque no discurso religioso, através das parábo-
-
poesia, onde a palavra é essencialmente fundadora
e as imagens são fundamentais. No mesmo sentido
parece caminhar a Matemática, na medida em que
seus objetos constituem talvez as pontes mais radi-
cais entre os contextos mais díspares: entre 3 aba-
caxis, 3 aviões ou 3x, transita o número 3.
Já a alegoria é como uma construção que tem as me-
táforas como seus tijolos. Etimologicamente, a palavra
é derivada das palavras gregas allós (outro) e agou-
rein (falar). Numa fórmula sintética, a alegoria diz b
para significar a. Trata-se, portanto, do engendramen-
to de uma significação figurada, densa em relações,
mas com as características básicas de uma Metáfora
continuada ou de uma cadeia de metáforas.
Numa palavra, a permanente transação entre os sen-
tidos literal e figurado é o motor dos processos cria-
tivos, das iniciativas diante do novo, das transcen-
dências da imaginação. Em tais situações, frequentes
tanto na construção do conhecimento quanto nos
processos de ensino, a primeira e a última palavras
parecem ser sempre da metáfora, da imaginação.
O insustentável peso da água MARCELO LEITE
Quanto pesa uma tonelada de soja exportada?
Quem fizer a pergunta a Lester Brown, autor da bí-
blia ambiental Estado do mundo, arrisca ouvir uma
resposta heterodoxa. Ele diria, provavelmente: mil
toneladas — de água.
Há quem abomine Lester Brown por sua capacida-
de de manejar estatísticas em favor da causa am-
biental. É o alvo preferido de Bjorn Lomborg, autor
do best-seller O ambientalista cético, escrito para
desconstruir cifras verdes. Mas Brown tem um mé-
Muitas das boas ideias são,
na realidade, duas ideias
numa só, o que forma uma
ponte entre duas esferas do
pensamento ou diferentes
pontos de vista”.
1A CIÊNCIA COMO CONSTRUÇÃO HUMANA
conecte-se
Por que a água do mar é salgada?Carlos Heitor Cony
Noite alta, o capitão do navio, dirigindo-se para o porto, encontrou o Diabo, que lhe
de moer café) que seria como a lâmpada do Aladim. Para qualquer coisa que o capitão pe-
disse, bastaria mover uma pequena manivela, e tudo se realizaria.
Afobado, temendo que o Diabo mudasse de ideia, o capitão foi para o seu navio, onde a
tripulação esperava para comer alguma coisa. Antes que houvesse um motim a bordo, o
capitão ordenou ao moinho: “Põe naquela mesa um banquete digno de um rei!”
Rodou a manivela e o moinho despejou louças e cristais, javalis defumados, faisões, lei-
tões de leite, aves e carnes variadas, além de vinhos das melhores safras. Parou de rodar a
manivela e entrou no festim com redobrada fome.
Depois foram todos dormir, mas uma tempestade se armou, ondas formidáveis cobriam
o convés e os camarotes, o naufrágio era iminente. O capitão aprendera que para dominar
a cólera das ondas, o melhor remédio era deitar sal no mar. Mas não tinha sal. Pegou o moi-
nho, rodou a manivela e pediu sal, muito sal. Na pressa, quebrou a manivela e não sabia o
que fazer para o moinho parar de funcionar. O sal inundou o navio, que, com o peso extra,
foi parar no fundo do mar. Até hoje, o moinho está lá embaixo, produzindo mais sal. Por isso
a água dos mares é salgada.
Era esta toda a minha ampla sabedoria a respeito do assunto. E nunca a questionei. Mas
li que num programa da TV americana a estrela Snooki Polizzi revelou que o mar é salgado
porque está cheio de esperma de baleia. Entre a teoria do moinho do Diabo e a do esperma
das baleias, fico com as duas e fico bem.
CONY, Carlos Heitor. Por que a água do mar é salgada? Folha de S.Paulo, São Paulo, 15 jan. 2012. Disponível em: <www1.
folha.uol.com.br/fsp/opiniao/20183-o-esperma-das-baleias.shtml>. Acesso em: 15 jan. 2012. Texto adaptado.
14
OB
JET
IVO
S
Neste capítulo, você poderá confrontar interpretações
científicas com interpretações baseadas no senso comum ao
longo do tempo ou em diferentes culturas e avaliar
propostas, de alcance individual ou coletivo, identificando
aquelas que visam à preservação e implementação da saúde
individual, coletiva ou do ambiente.
A atriz Gwyneth Paltrow, 39, acha que uma dieta de desintoxicação é capaz de man-
ter a saúde do fígado.
O apresentador de TV americano Bill O’Reilly, 62, acredita que as marés são um mis-
tério. E a estrela do reality show “Jesse Shore”, Snooki Polizzi, 24, acha que o mar é salga-
do porque está cheio de esperma de baleia.
As pérolas de celebridades sobre saúde e ciências são alvo do grupo inglês Sense
Science. Todo ano, eles fazem uma lista com as maiores bobagens ditas pelos famosos e
explicam o que a ciência diz sobre cada assunto.
A cantora americana Suzi Quatro, 61, diz que parou de ter dor de garganta após
adotar o hábito de tomar fibra solúvel para limpar o intestino. Para Suzi “toda doença
começa no intestino”.
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ciencia/1032912-grupo-desmente-perolas-cientificas
divulgadas-por-celebridades.shtml>. Folha de S.Paulo, São Paulo, 10 jan. 2012. Acesso em: 15 jan.
2012. Texto adaptado.
Qual papel o fígado desempenha no funcionamento do corpo humano?
Como se formam as marés?
Por que a água do mar é salgada?
Como manter um corpo em equilíbrio, saudável e em pleno funcionamento?
Como funcionam os telefones celulares? E os equipamentos que fazem ultrassom?
Essas e outras perguntas podem ser respondidas por você ao mergulhar nas discus-
sões que ocorrerão ao longo dos nossos livros. Assim, arregace as mangas e bom estudo!
DESAFIO
As explicações relacionadas no texto são factíveis? Podem ser consideradas científicas?
O que é ciência? Como se “faz” ciência?
15
QUESTÃO DO ENEM
Na prova do ENEM 2010 apareceu uma questão que explora o uso de duas palavras que, na linguagem corrente, são utilizadas com um sentido e, no meio científico, com outro. Leia, analise a questão e confirme qual é a maneira mais adequada de usar os termos.
Em nosso cotidiano, utilizamos as palavras “calor” e “temperatura” de forma diferente
de como elas são usadas no meio científico. Na linguagem corrente, calor é identificado
como “algo quente” e temperatura mede a “quantidade de calor de um corpo”. Esses
significados, no entanto, não conseguem explicar diversas situações que podem ser
verificadas na prática.
Do ponto de vista científico, que situação prática mostra a limitação dos conceitos
corriqueiros de calor e temperatura?
A A temperatura da água pode ficar constante durante o tempo em que estiver fervendo.
B Uma mãe coloca a mão na água da banheira do bebê para verificar a temperatura
da água.
C A chama de um fogão pode ser usada para aumentar a temperatura da água em uma
panela.
D A água quente que está em uma caneca é passada para outra caneca a fim de diminuir
sua temperatura.
E Um forno pode fornecer calor para uma vasilha de água que está em seu interior, com
menor temperatura do que a dele.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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16
Calor e temperatura
Calor é o nome dado à energia térmica quando ela é transferida de um corpo a outro,
motivada por uma diferença de temperatura entre eles. É energia térmica em trânsito. Por
exemplo, a água de uma piscina recebe calor durante o dia e assim armazena energia
térmica que será transferida ao ambiente, na forma de calor, à noite.
Temperatura é a grandeza física que permite medir o quanto um corpo está quente ou
frio. Está relacionada à energia cinética das partículas de um corpo, à energia de movimento
das partículas.
A chama de uma vela pode estar numa temperatura mais alta que a água do lago, mas
o lago tem mais energia térmica para ceder ao ambiente na forma de calor.
Estes conceitos, hoje formulados pela física, foram desenvolvidos por pesquisadores ao
longo do tempo, dando origem a uma área de conhecimento chamada termodinâmica.
Termodinâmica é o ramo da física que estuda as relações entre o calor, a temperatura,
o trabalho e a energia. Essa área surgiu a partir da necessidade de compreender como a
energia térmica poderia ser transformada em trabalho mecânico, por meio de máquinas, e
ser utilizada pelo homem.
-
pio, com o objetivo de medir, de forma mais objetiva, as sensações fisiológicas de calor e
frio. Na época, acreditava-se que a temperatura fosse uma potência motriz que provocava a
transmissão de um certo fluido sutil que emanava de um corpo quente para outro mais frio.
Mas não se sabia explicar ainda o que exatamente era transmitido entre os corpos.
-
tura, o que, em 1770, foi demonstrado pelo químico Joseph Black, ao misturar massas iguais
de líquidos com diferentes temperaturas, demonstrando que a variação de temperatura
em cada uma das substâncias misturadas não é igual em termos quantitativos. Assim, for-
mulou a teoria segundo a qual o calor é um fluido invisível chamado calórico. Um objeto se
aquecia quando recebia fluido calórico e se esfriava quando o perdia.
Entre o final do século XVIII e século XIX, Benjamin Thompson e outros cientistas de-
monstraram que o que se troca entre corpos de temperaturas diferentes é a energia ciné-
tica (energia térmica) de seus átomos e moléculas.
Em 1824, Sadi Carnot, um engenheiro militar francês, tornou-se o primeiro pesquisador
a preocupar-se com as características básicas das máquinas térmicas e a estudar o proble-
ma de seu rendimento. Ele demonstrou:
que a máquina recebe, de uma fonte qualquer, uma certa quantidade de calor à tempe-
e que rejeita calor à temperatura mais baixa do que a correspondente ao calor recebido.
Na década de 1840, James Prescott Joule formulou as bases da primeira lei da termodi-
nâmica ao mostrar que a quantidade de trabalho necessária para promover uma determi-
nada mudança de estado é independente do tipo de trabalho realizado (mecânico, elétrico,
magnético etc.), do ritmo e do método empregado. Ele concluiu que o trabalho pode ser
17
convertido em calor e vice-versa. Com pesquisas subsequentes, as Leis da Termodinâmica
foram definidas. São elas:
A primeira Lei da Termodinâmica traduz a conservação da ener-
pode ser alterada. A lei pode ser assim traduzida:
“Num sistema fechado, a energia interna permanece constante.”
A segunda Lei da Termodinâmica expressa a relação entre a en-
-
possível transformar totalmente energia térmica em trabalho
útil, uma parte é sempre degradada:
“A entropia do Universo aumenta numa transformação espon-
tânea e mantém-se constante numa situação de equilíbrio.”
A terceira Lei da Termodinâmica pode ser enunciada da se-
guinte forma:
“A entropia de todos os corpos tende a zero quando a temperatura
tende a zero absoluto.”
RADAR
Site
<http://sme.dcm.fct.unl.pt/u/carmo/fii/hist.pdf>
Conheça mais sobre a história da termodinâmica e os cientistas que investigaram
esta ciência.
PENSE BEM!
Há uma grande diferença entre nossas certezas cotidianas e o conhecimento científico.
Diríamos que o senso comum não se caracteriza pela investigação e pelo questionamento, ao contrá-
rio da ciência. Ele fica no imediato das coisas, é ditado pelas circunstâncias. É subjetivo, isto é, permeado
pelas opiniões, emoções e valores de quem o produz.
E você, tem por hábito indagar, questionar? Quais meios utiliza para fazer suas investigações e pesqui-
sas quando aparece uma dúvida?
Entropia: quantidade de energia ou calor que se perde num sistema físico ou termodinâmico quando ocorrem mudanças de um estado a outro desse sistema.
Sistema fechado: não sofre interferência externa, não perdendo nem ganhando energia para o exterior.
Zero absoluto: 0o Kelvin, que equivale a cerca de -273,15o Centígrados no sistema Celsius, o estado de agitação molecular.
18
QUESTÃO DO ENEM
Na prova anulada ENEM 2009 apareceu uma questão que explora o uso da expressão – “meio ambiente”, e a dúvida que algumas pessoas têm sobre a aplicação correta do termo. Leia a questão atentamente, marque a alternativa correta e justifique a sua resposta.
Suponha que o chefe do departamento de administração de uma empresa tenha feito
um discurso defendendo a ideia de que os funcionários deveriam cuidar do meio ambiente
no espaço da empresa. Um dos funcionários levantou-se e comentou que o conceito de
meio ambiente não era claro o suficiente para se falar sobre esse assunto naquele lugar.
Considerando que o chefe do departamento de administração entende que a empresa
é parte do meio ambiente, a definição que mais se aproxima dessa concepção é
A região que inclui somente cachoeiras, mananciais e florestas.
B apenas locais onde é possível o contato direto com a natureza.
C locais que servem como áreas de proteção onde fatores bióticos são preservados.
D apenas os grandes biomas, por exemplo, Mata Atlântica, Floresta Amazônica, Cerrado
e Caatinga.
E qualquer local em que haja relação entre fatores bióticos e abióticos, seja ele natural
ou urbano.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Ecologia
Você sabe por que 5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente?
Atualmente, devido à preocupação mundial com os desmatamentos, com a extinção de
muitas espécies animais e vegetais, com o aquecimento global e muitas outras alterações
ocorridas no planeta, fala-se muito em meio ambiente. Mas afinal, o que é meio ambiente?
O termo surgiu quando o biólogo alemão Ernest Haeckel, em 1869, pela primeira vez
empregou o termo ecologia.
Ecologia é o “estudo do ambiente”, que inclui todos os fatores quí-
micos, físicos e biológicos do meio que interferem na vida dos organis-
mos. A ecologia trata de problemas muito complexos, por isso precisa
dos conhecimentos de outras ciências como a física, a química, a geo-
grafia, a história, a biologia, a matemática, a estatística, a economia, a
antropologia etc.
Desde o início da história da humanidade, o homem observa e acu-
mula informações sobre o ambiente ao seu redor para dele tirar sua
sobrevivência. Já na Grécia Antiga pensadores como Hipócrates e Aris-
tóteles se referiam a temas relacionados ao que hoje se denomina ecologia.
Nos séculos XVIII e XIX cientistas estudaram cadeias alimentares e regulação de popu-
lações. Darwin anunciou as ideias básicas sobre inter-relações entre organismos. Na segun-
da metade do XIX os estudos na área da ecologia avançaram e ela passou a ser dividida em
Ecologia Animal e Ecologia Vegetal. Outros estudos dessa mesma época apresentam a li-
gação funcional entre plantas e animais de ambientes aquáticos e terrestres. Seres vivos,
princípios vão se agregando à nova ciência e hoje encontramos para ela várias definições:
estudo das inter-relações entre as coisas vivas e seu ambiente físico, juntamente com
ciência que estuda as condições de existência dos seres vivos e as interações, de qual-
estudo das inter-relações entre os organismos e seus ambientes, e tantas outras.
Em 1972, no dia 5 de junho, em Estocolmo, a Organização das Nações Unidas (ONU),
promoveu uma reunião internacional, a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o
Meio Ambiente, a fim de tratar de questões ambientais relacionadas a todo o planeta, devi-
do à constatável degradação ambiental, e alertar o mundo sobre o fato de que os recursos
naturais não são inesgotáveis.
Após vinte anos, outro grande evento foi organizado pela ONU, a Conferência das Na-
ções Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada entre os dias 3 e 14 de
junho de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. O evento ficou conhecido como ECO-92
Ecologia: é a ciência que estuda as interações entre os organismos e seu ambiente, ou seja, é o estudo científico da distribuição e abundância dos seres vivos e das interações que determinam sua distribuição.
20
ou Rio-92 e teve a participação de muitos chefes de Estado e de Organizações Não Gover-
namentais (ONGs). Dele surgiram documentos importantes como a Agenda 21 e a Carta
da Terra. A partir de então, novos encontros, seminários e convenções com temas específi-
cos sobre questões ambientais vêm ocorrendo pelo mundo, contemplando dimensões
Novamente no Brasil, entre 4 e 6 de junho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro será sede
da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. A cidade se
preparou, as ONGs e os movimentos sociais e empresariais se mobilizaram para pressionar e
propor pautas de políticas públicas, a fim de que a Rio+20 possa resultar em ações efetivas.
Para complementar o conceito de meio ambiente, leia o capítulo 3 – Dinâmica ambien-
tal deste volume.
RADAR
Para conhecer mais sobre a vida do naturalista Ernst Haeckel, acesse o site:
<www.multilingualarchive.com/ma/enwiki/pt/Ernst_Haeckel>.
Para conhecer a Carta da Terra, fruto das discussões da ECO-92, visite o site:
<www.cartadaterrabrasil.org/prt/what_is.html>.
Para conhecer a Agenda 21, fruto também da ECO-92, veja o site:
<www.crescentefertil.org.br/agenda21/index2.htm>.
PENSE BEM!
Você tem acompanhado as discussões sobre as temáticas abordadas na Conferência das Nações Uni-
das sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio +20? Conhece as que estiveram em pauta?
Como você acompanhou ou participou desse evento?
ANOTAÇÕES
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21
QUESTÃO DO ENEM
Na prova do ENEM 2011 apareceu uma questão que confronta um pressuposto do senso comum com pesquisas entomológicas e novas descobertas científicas.
Diferente do que o senso comum acredita, as lagartas de borboletas não possuem
voracidade generalizada. Um estudo mostrou que as borboletas de asas transparentes da
família Ithomiinae, comuns na Floresta Amazônica e na Mata Atlântica, consomem,
sobretudo, plantas da família Solanaceae, a mesma do tomate. Contudo, os ancestrais
dessas borboletas consumiam espécies vegetais da família Apocinaceae, mas a quantidade
dessas plantas parece não ter sido suficiente para garantir o suprimento alimentar dessas
borboletas. Dessa forma, as solanáceas tornaram-se uma opção de alimento, pois são
abundantes na Mata Atlântica e na Floresta Amazônica.
CORES ao vento. Genes e fósseis revelam origem e diversidade de borboletas sul-americanas.
Revista Pesquisa FAPESP, São Paulo, n. 170, 2010. Texto adaptado.
Nesse texto, a ideia do senso comum é confrontada com os conhecimentos científicos,
ao se entender que as larvas das borboletas Ithomiinae encontradas atualmente na Mata
Atlântica e na Floresta Amazônica, apresentam
A facilidade em digerir todas as plantas desses locais.
B interação com as plantas hospedeiras da família Apocinaceae.
C adaptação para se alimentar de todas as plantas desses locais.
D voracidade indiscriminada por todas as plantas existentes nesses locais.
E especificidade pelas plantas da família Solanaceae existentes nesses locais.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Ciência é método
E como o homem conseguiu chegar a um nível de conhecimento em que, além de classi-
ficar os insetos, sabe também que tipo de relação eles mantêm com a natureza: o que comem,
como vivem, em quais ambientes? Como e quando o homem começou a fazer ciência?
“Como tudo começou?” “Como tudo começou?”
Mas o que é ciência? Segundo o dicionário Aurélio, a ciência é:
Conjunto organizado de conhecimentos relativos a certas categorias de fatos ou fe-
nômenos. (Toda ciência, para definir-se como tal, deve necessariamente recortar, no real,
seu objeto próprio, assim como definir as bases de uma metodologia específica: ciências
físicas e naturais.) / Conjunto de conhecimentos humanos a respeito da natureza, da so-
ciedade e do pensamento, adquiridos através do desvendamento das leis objetivas que
regem os fenômenos e sua explicação: o progresso da ciência. / Ciência pura, ciência pra-
ticada independentemente de qualquer preocupação de aplicação técnica.
“Tudo merece ser apreciado, pois tudo merece uma interpretação”, já
dizia Herman Hesse!
O modo pelo qual um cientista se propõe a resolver um novo pro-
blema ou a questionar a validade de um conhecimento anterior é cha-
mado de método científico. O método científico compreende etapas
ou sequências bem definidas:
O problema: com uma observação bem acurada, curiosa, formulam-se perguntas, para as
quais não se encontra uma explicação de imediato. Desta forma, elabora-se um problema.
Em seguida, com o problema elaborado, buscam-se informações relacionadas a ele, organi-
zando-as em tabelas, gráficos e textos, para poder olhá-las criticamente e levantar hipóteses.
As hipóteses são explicações provisórias para a resposta/solução do problema.
O teste de hipóteses e/ou comprovação: para comprovar ou não se as hipóteses levan-
tadas são válidas, os cientistas realizam experimentos ou levantamentos bibliográficos
que venham dar respostas ao problema.
Herman Hesse (1877-1962): escritor alemão, naturalizado suíço. Entre suas obras, destacam-se Sidarta e O Lobo da
estepe.
MA
RI H
EFFN
ER
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A síntese e a conclusão: as análises dos dados coletados nos testes possibilitam a análise das
informações para se chegar a uma conclusão provisória, mas cabal naquele momento.
A comunicação das conclusões: todo conhecimento adquirido pela ciência deve ser
comunicado para a sociedade.
documentação
conclusões
seguir
aprendendo
novas
perguntas
hipóteses
experimentação
descobrimentos
observações
perguntas
Para demonstrar como o conhecimento se constrói, usemos o exemplo da questão do
ENEM sobre a alimentação das borboletas, que são classificadas como insetos.
O que são insetos?
O conhecimento que o homem tem sobre os insetos é bastante antigo. Esses seres vi-
vos foram retratados em pinturas, esculturas e monumentos do Egito Antigo, com desta-
que para as representações feitas para abelhas e escaravelhos. Os gafanhotos, por exemplo,
MA
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24
são citados no Antigo Testamento como a décima praga a atingir o Egito durante a escravi-
dão dos hebreus. Porém, como ciência, a entomologia só ganhou impulso com Aristóteles
(384-322 a.C.), que escreveu o resumo mais fiel sobre os insetos daquela época.
Na Renascença, período da história da humanidade caracterizado
pela renovação científica, artística e literária, entre os séculos XV e XVI,
as pesquisas dos entomologistas se ocuparam, principalmente, da ob-
servação das características e da criação de uma classificação, sendo
que somente a partir do início do século passado as pesquisas visaram
o conhecimento dos grandes fundamentos biológicos. Hoje sabe-se
que os insetos são seres vivos que pertencem ao Reino Animal, Filo
Arthropoda, Classe Insecta. Insectum significa “animal segmentado”.
E as borboletas o que são? O que comem? Onde vivem?
Por que vivem em um ambiente e não em outro?
São perguntas que vão sendo paulatinamente respondidas e acompanhando essas res-
postas é possível perceber como os conhecimentos vão sendo construídos ao longo do
tempo, com a participação de muitos cientistas, em diferentes épocas, como novas pergun-
tas vão surgindo e como a busca de respostas é inerente à evolução do conhecimento. É
um ciclo permanente!
RADAR
Quantas espécies de animais dependem de uma única árvore? Veja no infográfico a
vida se entrelaçando:
<http://planetasustentavel.abril.com.br/infograficos/popup.shtml?file=/
imagem/mundo_arvore_pop925x2757.jpg&img_src=/imagem/thumb-
infografico-mundo-arvore.jpg>
PRATICANDOAlguns cozinheiros sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando,
senão ele “sola”; sabem também que a determinados pratos, cozidos em banho-maria, deve-se
acrescentar algumas gotas de vinagre ou de limão para que a forma de alumínio não fique escura.
São conhecimentos transmitidos de geração em geração, que não só foram assimilados, mas
também incorporados ao dia a dia, sem questionamento.
Entomologia: ciência que estuda os insetos em todos os seus aspectos em relações com o homem, com as plantas e os animais. A palavra é formada por dois radicais gregos, entomon = inseto e logos = estudo.
25
Suponha que você está encarregado de explicar ao confeiteiro o porquê destes fenômenos.
Você diria que
A ao abrir a porta do forno ocorrem mudanças bruscas de temperatura, causando a contração
das moléculas expandidas de gás carbônico no bolo, deixando-o solado. Tanto o vinagre
como o limão impedem a oxidação do alumínio por terem efeito acidificante.
B o bolo só sola se o fermento que for utilizado estiver fora do prazo. O uso do vinagre ou limão
não evita a oxidação do alumínio, isso é mito.
C o ar frio que entra no forno é que deixa o bolo solado. Apenas o vinagre impede a oxidação do
alumínio; o limão não interfere e não tem qualquer função para evitar a oxidação.
D o ar frio que entra no forno é o responsável pelo bolo solar. Apenas o limão impede a oxidação
do alumínio; o vinagre não interfere no processo.
E o bolo sola somente se a porta do bolo for aberta nos primeiros 10 minutos, e não existe
qualquer relação com a mudança de temperatura. Somente a associação do vinagre e do
limão é que impede a oxidação do alumínio.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa A , veja por quê:
Quando a porta do forno é aberta, o ar aquecido do forno é liberado e ocorre um resfriamento da
superfície do bolo. Esse resfriamento é responsável pela contração das moléculas expandidas de gás
carbônico e por fazer o bolo ficar solado.
Utensílios de alumínio, ao ser aquecidos, liberam íons que se oxidam em contato com a água fervente.
Ao adicionar vinagre ou limão, estes acidificam a água e impedem a liberação de íons responsáveis pela
oxidação da forma.
CAMINHOS POSSÍVEIS
No caminho percorrido neste capítulo você pode compreender que o conhecimento
não é espontâneo, imediatista, mas é construído com estudo, método e colaboração entre
os homens. Há, portanto, uma grande diferença entre nossas certezas cotidianas e o conhe-
cimento científico, porque o senso comum não se caracteriza pela investigação nem pela
crítica, e carece de método. É ditado pelas circunstâncias. É subjetivo, isto é, permeado por
opiniões, emoções e valores de quem o produz.
26
Portanto, você, que está estudando e tendo contato com uma gama de conhecimentos
hoje estruturados e aceitos universalmente, precisa, sempre que se deparar com alguma
coisa que ainda não conheça, lançar perguntas que comecem com: o que é...? Como é...?
Por quê...? Assim você alimenta sua curiosidade e aprende sempre mais.
Bom estudo!
Respostas das questões
A resposta da questão da página 16 é a alternativa A . Veja por quê:
Cientificamente sabe-se que a temperatura da água (massa líquida) em ebulição, mesmo
recebendo energia (calor), permanece constante. Se a temperatura medisse a quantidade de
calor de um corpo, toda vez que um corpo recebesse calor, sua temperatura deveria aumen-
tar. Este é, portanto, um bom exemplo de equívoco da linguagem corrente, de senso comum.
A resposta da questão da página 19 é a alternativa E . Veja por quê:
Meio ambiente é qualquer local, natural ou artificial, que envolve as relações entre to-
das as coisas vivas (fatores bióticos) e não vivas (fatores abióticos). Portanto, o local de tra-
balho, a empresa, podem ser considerados MEIO AMBIENTE!
A resposta da questão da página 22 é a alternativa E . Veja por quê:
O senso comum acredita que as lagartas de borboletas, indiscriminadamente, sejam
vorazes, ou seja, se alimentem de qualquer tipo de folhas. O texto deixa claro que as lagar-
tas da família Ithomiinae têm preferência pelas plantas da família Solanaceae encontradas
ANOTAÇÕES
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MÁXIMAS
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DESAFIOS DA PESQUISAO desenvolvimento da ciência é imprescindível ao desenvolvimento tecnológico e social de
todo país. Para que ele seja possível, é necessária uma série de fatores, como grupos de
pesquisadores, centros de pesquisa, plano de desenvolvimento, cooperação internacional. A
ciência brasileira já tem uma história e pode fazer jus aos objetivos do País, para isso o empenho
estatal é muito importante. É o que nos explica o comentador no texto abaixo.
A ciência no Brasil
LUIZ CARLOS DE MENEZES
O Brasil – especialmente a partir dos anos 50 do sé-
culo passado, quer dizer, nos últimos 60, 70 anos –
tem tido uma política científica exercida como
atividade do Estado. A Fundação e o Conselho Na-
cional de Pesquisa, além de outros órgãos como
CAPES, FINEP, de âmbito federal; e fundações de
amparo à pesquisa de âmbito estadual, em São
Paulo a FAPESP, no Rio de Janeiro a FAPERJ, em Mi-
nas Gerais a FAPEMIG, são financiadoras e fomenta-
doras de atividade científica de forma centralizada,
concedendo bolsas de estudo no País e no exterior,
e financiando pesquisas. Esse é um aspecto. A reali-
zação dessas pesquisas como atividade do Estado
tem se dado em universidades públicas e em algu-
mas instituições públicas de pesquisa como o Insti-
tuto Manguinhos, no Rio de Janeiro, e o Instituto
Butantã, em São Paulo. A tradição mais antiga, que
vem do século XIX, é formada por instituições vol-
tadas para coisas da vida e da saúde – Manguinhos
e Butantã são dois exemplos, mas havia também o
(antigo Museu do Ipiran-
ga), em São Paulo, que são instituições de pesquisa
e museus ligados a universidades. No século XIX, os
museus e as faculdades de Medicina eram os cen-
tros de pesquisa, e hoje as universidades públicas
O Brasil – especialmente a partir dos anos 50 do sé-
culo passado, quer dizer, nos últimos 60, 70 anos –
tem tido uma política científica exercida como
atividade do Estado. A Fundação e o Conselho Na-
museus e as faculdades de Medicina eram os cen-
e museus ligados a universidades. No século XIX, os
tros de pesquisa, e hoje as universidades públicas
É necessário ter uma base de pesquisa para
que a pesquisa se torne pesquisa
aplicada, e haja uma consistência nessas
aplicações
MÁXIMAS
29
são os principais espaços de construção dessa
pesquisa. O Brasil tem tido um acompanhamento
parelho, com especialistas em todas as áreas de
pesquisa que há no mundo aqui no País. Não há
candidatos ao Nobel, mas também não passamos
mos programas de cooperação. Em temas como
altas energias, há pesquisadores cooperando com
o CERN (European Organization for Nuclear Research)
e o Fermilab (Fermi National Accelerator Labora-
tory), viajando, trocando experiências, e especialistas
desses centros de pesquisa nos visitam. Esses
exemplos são somente da Física, mas o mesmo
ocorre em todas as especialidades. Isso sim tem an-
dado relativamente bem, mas não se pode descui-
dar. Se houver descuido por uma década ou duas,
nuidade de formação humana, de financiamento
etc. Onde nós somos particularmente frágeis? Na
interface entre esse desenvolvimento científico e o
mundo da produção e dos serviços. Com exceção
de algumas áreas em que nós temos um dinamis-
mo e um protagonismo global importante, a inter-
face entre o desenvolvimento científico-tecnológico
e as práticas é muito frágil. Por exemplo, em uma
área em que nós fomos capazes de ligar o desen-
volvimento científico-tecnológico e a produção:
petróleo. A Petrobras, grande empresa estatal e
agora também com interesses privados, abriga até
mais que as universidades e tem uma proximidade
com algumas instâncias, por exemplo com a COPPE
(Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação
e Pesquisa de Engenharia), que é uma coordenação
das pós-graduações em Engenharia do Rio de Ja-
neiro. Em outras áreas, como a Saúde, isso também
ocorre, precisamente porque temos uma tradição
de institutos como Oswaldo Cruz, Manguinhos e
Butantan, que têm feito essa interface e a produ-
ção de vacinas. Mas a internacionalização da pro-
dução, a globalização, e parte da indústria
farmacêutica que nós tínhamos e que era muito
dinâmica sucumbiu pela entrada das multinacio-
nais que têm centros de pesquisa nas suas sedes.
É importante que o Brasil desenvolva conhecimentos
para além das suas fronteiras. A pesquisa espacial
no País tem tido muitos percalços. Por quê? Por
descuido. Há quem diga que o Brasil não precisa
fazer pesquisa espacial! Claro que precisa! Para ter
autonomia para satélites de comunicação. É
necessário ter uma base de pesquisa para que a
pesquisa se torne pesquisa aplicada, e haja uma
consistência nessas aplicações. Em alguns campos
nós fomos gravemente inconsistentes e pagamos o
preço por isso.
pesquisa. O Brasil tem tido um acompanhamento
parelho, com especialistas em todas as áreas de
pesquisa que há no mundo aqui no País.
área em que nós fomos capazes de ligar o desen-
volvimento científico-tecnológico e a produção:
e as práticas é muito frágil. Por exemplo, em uma
petróleo. A Petrobras, grande empresa estatal e
para além das suas fronteiras. A pesquisa espacial
É importante que o Brasil desenvolva conhecimentos
são os principais espaços de construção dessa
2 AMEAÇAS À SAÚDE
conecte-se
uma das maiores revoltas urbanas ocorridas no país. Milhares de habitantes tomaram as
ruas do Rio de Janeiro em violentos conflitos com a polícia. O motivo era uma polêmica
medida adotada pelo governo de então: a vacinação obrigatória.
De uma lado, os representantes do povo, armados de objetos de trabalho e domésticos
e de outro, uma figura bastante conhecida na época, o médico Oswaldo Cruz, que co manda
um exército de profissionais armados com lancetas e seringas. O palco da batalha são as
ruas da cidade.
Com uma população de mais de 800 mil habitantes, boa parte morando em cortiços sem
condições mínimas de higiene, o Rio era vitimado por surtos de febre amarela, varíola, peste
-
ves convocou o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que criou um plano de saneamento e hi-
gienização da cidade. Seu projeto, porém, envolvia controvertidas medidas de controle da
população e de seus hábitos de higiene, entre elas a operação “mata mosquitos” para com-
-
varíola. A falta de comprovação in-
viabilizaria a matrícula de estudan-
tes em escolas, a admissão em em-
pregos, a realização de casamentos
e diversas outras atividades.
Concomitantemente, a cidade
adotou um programa de reurbani-
zação idealizado pelo prefeito, Pe-
reira Passos, que promoveu a de-
molição de cortiços, desalojando
centenas de famílias. A justificativa
foi a promoção de medidas de hi-
giene e saúde. Charge de Leônidas, 1904.
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Diariamente você lê nos jornais, nas revistas, na internet notícias relacionadas a ques-
tões de saúde. As manchetes a seguir falam de doenças que apareceram recentemente, que
ainda afligem as pessoas ou que aparentemente estavam controladas, mas ressurgiram:
DETECÇÃO DE HEPATITE C SALVARIA MILHARES DE VIDAS
PROFISSIONAIS DA SAÚDE SÃO TREINADOS
PARA O COMBATE DA DENGUE EM SÃO PAULO
AUMENTAM OS CASOS DE
TUBERCULOSE NA FAVELA DA ROCINHA
“NARIZ ELETRÔNICO” PODERIA
DETECTAR TUBERCULOSE
HOSPITAL RECRUTA VOLUNTÁRIOS
PARA TESTAR DROGA CONTRA HIV
ANVISA APROVA REMÉDIO
PARA A HEPATITE TIPO C
UMA EM CADA DEZ JOVENS ATENDIDAS PELO
SUS EM SÃO PAULO TEM CLAMÍDIA, DIZ PESQUISA
ESTAMOS PREPARADOS PARA ENFRENTAR
UM VÍRUS IGUAL AO DO FILME “CONTÁGIO”?
BUTANTÃ LANÇARÁ SORO ANTIOFÍDICO EM PÓ
SURTO DE MENINGITE EM OURO BRANCO – MG É CONTROLADO
MAIS DE 10 MILHÕES DE PRESCRIÇÕES DE
ANTIBIÓTICOS SÃO DESNECESSÁRIAS
Ao ler essas manchetes reflita e responda:
Quais as doenças mais recorrentes no município onde você reside?
De que forma ocorre a transmissão delas?
Quais as propostas mais adequadas que poderiam ser implementadas para promo-
ver a saúde do indivíduo, da coletividade e do ambiente?
DESAFIO
-
ças que deflagraram a Revolta da Vacina, ainda são grandes ameaças à saúde da sociedade?
O que a população sabe atualmente que não sabia em 1904? Apareceram novas doenças?
Novas resistências e novos preconceitos? Qual a postura e a atitude da população, de um
modo geral, a questões de saúde pública?
Neste capítulo, você vai avaliar propostas que têm como objetivo
a preservação e a implementação da saúde do indivíduo, de um
grupo social ou do ambiente. Você identificará os agentes que
interferem na saúde e os fatores ambientais e sociais que
interferem na qualidade de vida da população. Conhecerá os
avanços da ciência e da tecnologia para o controle desses agentes,
visando a prevenção e a promoção da saúde.
31
QUESTÃO DO ENEM
A febre amarela, uma das doenças que afligia a população do Rio de Janeiro em 1904, ainda é ativa e exige cuidados. O exame do ENEM 2010 trouxe uma questão com esta temática.
A vacina, o soro e os antibióticos submetem os organismos a processos biológicos
diferentes. Pessoas que viajam para regiões em que ocorrem altas incidências de febre
amarela, de picadas de cobras peçonhentas e de leptospirose e querem evitar ou tratar
problemas de saúde relacionados a essas ocorrências devem seguir determinadas
orientações.
Ao procurar um posto de saúde, um viajante deveria ser orientado por um médico a
tomar preventivamente ou como medida de tratamento
A antibióticos contra o vírus da febre amarela, soro antiofídico caso seja picado por uma
cobra e vacina contra a leptospirose.
B vacina contra o vírus da febre amarela, soro antiofídico caso seja picado por uma cobra
e antibiótico caso entre em contato com a Leptospira sp.
C soro contra o vírus da febre amarela, antibiótico caso seja picado por uma cobra e soro
contra toxinas bacterianas.
D antibiótico ou soro, tanto contra o vírus da febre amarela como para veneno de cobras,
e vacina contra a leptospirose.
E soro antiofídico e antibiótico contra a Leptospira sp e vacina contra a febre amarela
caso entre em contato com o vírus causador da doença.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa B . Veja por quê:
Para responder a esta pergunta, você deve ler atentamente a questão e anotar a sequên-
cia das incidências de doenças, acidentes ambientais e agentes patológicos – a saber: febre
amarela, picadas de cobras e leptospirose – para poder decidir sobre as medidas de preven-
ção e de tratamento que poderá adotar.
Febre amarela é causada por um vírus, não existe soro contra
esta moléstia, mas há uma vacina. Para picadas de cobras, não há
prevenção imunológica, sendo necessário adotar cuidados pessoais
como o uso de roupas adequadas, dando preferência às botas de
cano alto, calças compridas e camisas de mangas longas, além de
não colocar as mãos em buracos de morros e pedras e ocos de árvo-
res, evitar deixar mochilas no chão ou outros pertences onde a cobra
possa se alojar e, ao se deparar com uma, manter a calma. Entretanto,
se mesmo com todos os cuidados uma pessoa for picada, deve ten-
tar reconhecer se ela é ou não peçonhenta, não tentar extrair o ve-
neno com a boca, manter-se em repouso e se dirigir para uma unida-
de de saúde mais próxima para receber os primeiros socorros. Mes-
mo que a cobra não tenha injetado seu veneno, o local da picada
pode infeccionar. O paciente pode tomar soro antiofídico na unida-
de de saúde, caso não tenha levado o soro liofilizado.
A Leptospira sp é uma bactéria, e a pessoa contaminada deve to-
mar antibiótico.
Febre amarela
A febre amarela é uma doença que, infelizmente, ainda faz milha-
res de vítimas em nosso país. É provocada por um tipo de vírus, o fla-
vivírus, que pode ser transmitido aos seres humanos de duas formas:
pela picada da fêmea do mosquito que precisa de sangue de
mamíferos para amadurecer seus óvulos, conhecido por Aedes
aegypti, desde que o inseto esteja contaminado (após picar um
ser humano com a doença). Esta doença é conhecida como fe-
bre amarela urbana.
pela picada do mosquito Haemagogus sp, conhecida como febre
amarela silvestre.
Regiões de maior incidência: esta enfermidade ocorre princi-
palmente nas regiões tropicais e subtropicais, em função das condi-
ções climáticas favoráveis para a procriação e o desenvolvimento
Antibióticos: são
substâncias que
interagem com bactérias
que infectam o organismo
de outros seres vivos,
matando-as, diminuindo
sua reprodução ou
atenuando sua toxidade.
Os antibióticos podem ser
naturais ou sintéticos.
Soro: é usado como
tratamento depois que a
doença já se instalou em
um organismo ou após a
contaminação com
agente tóxico específico,
como venenos ou toxinas.
Os soros são fabricados a
partir de organismos
vivos, e por isso são
chamados de imunobioló-
gicos. Os soros antiofídi-
cos neutralizam os efeitos
tóxicos do veneno de
animais peçonhentos,
como cobras e aranhas.
Vírus: não podem ser
considerados seres vivos,
por não apresentarem
características fundamen-
tais desses seres. Eles são
constituídos por um
envoltório proteico, DNA
ou RNA como material
genético (jamais os dois
juntos), e necessitam de
uma célula hospedeira
para conseguir se
reproduzir. São
considerados parasitas
intracelulares obrigató-
rios. Portanto, os vírus
não se replicam, mas são
replicados pelas células.
33
disseminação da doença, pois o clima quente, as chuvas e a grande quantidade de rios faci-
litam a reprodução desse inseto e o alastramento da doença.
Transmissão da doença e sintomas: após ser picada pelo mosquito, a pessoa contami-
-
tos, problemas no fígado e hemorragias. A doença provoca o derramamento da bilirrubina
em diversos tecidos do corpo – icterícia –, e o doente adquire um tom amarelado (pele e
olhos) – daí advém o nome pelo qual é conhecida a doença.
A doença se prolonga por aproximadamente duas semanas e, em alguns casos, pode
provocar a morte.
Prevenção: a vacina para febre amarela, que foi criada em 1937 pelo médico sanitarista
e virologista sul-africano Max Theiler, é elaborada com o vírus vivo atenuado – que são vírus
vivos enfraquecidos por ação de calor ou agentes químicos que, quando inoculados em um
organismo, não provocam doença, mas podem ser reconhecidos pelo sistema imune, que
começa a produzir anticorpos específicos –, sendo produzida no Brasil pela Fiocruz (Funda-
ção Oswaldo Cruz). É aplicada por via intramuscular e, em pessoas que sofrem de distúrbio
do sistema sanguíneo, por via subcutânea.
O efeito protetor ocorre uma semana após a aplicação e confe-
re imunidade por, pelo menos, dez anos. No Brasil, está incluída nos
Calendários de Vacinação para regiões endêmicas e pode ser utili-
zada a partir dos nove meses de idade. Deve ser aplicada também
em pessoas que viajam para qualquer região de risco, pelo menos
dez dias antes. A vacina geralmente produz poucos efeitos colaterais, como febre, dor de
cabeça, dor muscular e, raramente, reações no local de aplicação. A vacina é contraindicada
para crianças menores de nove meses, mulheres que estejam amamentando, pessoas com
doenças agudas sem diagnóstico ou que tenham feito uso recente de outras vacinas com
vírus atenuados ou contra a cólera, devido à interferência na indução imunológica.
ANOTAÇÕES
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Endemia: quando uma
doença existe frequente-
mente em determinadas
regiões.
34
QUESTÃO DO ENEM
A prova do ENEM 2012 trouxe uma questão que também relaciona os sintomas apresentados por um paciente e as condições de saneamento da localidade onde ele vive. Ela solicita que você, mediante as informações apresentadas, identifique a doença desenvolvida pelo paciente.
Medidas de saneamento básico são fundamentais no processo de promoção de saúde
e qualidade de vida da população. Muitas vezes, a falta de saneamento está relacionada
com o aparecimento de várias doenças. Nesse contexto, um paciente dá entrada em um
pronto atendimento relatando que há 30 dias teve contato com águas de enchente. Ainda
informa que nesta localidade não há rede de esgoto e drenagem de águas pluviais e que
a coleta de lixo é inadequada. Ele apresenta os seguintes sintomas: febre, dor de cabeça e
dores musculares.
Disponível em: <http://portal.saude.gov.br>. Acesso em: 27 fev. 2012. Texto adaptado.
Relacionando os sintomas apresentados com as condições sanitárias da localidade, há
indicações de que o paciente apresenta um caso de
A difteria.
B botulismo.
C tuberculose.
D leptospirose.
E meningite meningocócica.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta correta é a alternativa D . Veja por quê:
A descrição do local nos leva a supor que nele há muitos ratos, principalmente pelo acú-
mulo de lixo, o que torna o ambiente propício para sua proliferação. O texto afirma também
que há falta de drenagem das águas pluviais. Estes fatores indicam que a doença apresenta-
da pelo paciente que deu entrada no pronto atendimento é a Leptospirose, doença cujo
agente etiológico é uma bactéria, Leptospira SP, encontrada na urina de ratos contaminados.
Leptospirose
É uma doença infecciosa causada por bactérias chamadas Leptospira sp, sendo uma zo-
onose, isto é, uma doença que é transmitida por animais. São animais hospedeiros da Lep-
tospira sp: roedores, cães, suínos e equinos.
Transmissão da doença e sintomas: a contaminação pelos humanos, na maioria das
vezes, está associada ao contato com água, alimentos ou solo contaminados pela urina de
animais portadores da bactéria Leptospira sp. A doença aparece muitas vezes em locais su-
jeitos a alagamentos ou com infraestrutura precária: regiões sem
saneamento básico, acúmulo de lixo em locais públicos, falta de
controle da população de ratos. Nos centros urbanos, a doença po-
de aparecer após períodos de chuvas e de enchentes, quando as
águas acumuladas nos alagamentos são contaminadas com a uri-
na dos ratos que vivem na rede de esgoto ou nas ruas, devido ao
acúmulo de lixo ou de esgoto a céu aberto.
As bactérias são ingeridas ou entram em contato com a mucosa
ou com a pele. Após um período médio de duas semanas desde a
contaminação, surgem os primeiros sintomas: febre, calafrios, conjun-
tivite, dor nos músculos, fotofobia, dor de garganta, inchaço dos gân-
glios linfáticos
a 7 dias. Quando parece que o paciente está curado, ocorre uma piora,
agora envolvendo vários órgãos e o sistema vascular, com sintomas
como icterícia e hemorragia. Esse quadro persiste por 1 ou 3 semanas.
O tratamento é feito com o uso de antibióticos.
Conjuntivite: é a inflamação
da conjuntiva (membrana
que envolve grande parte
do globo ocular). A causa da
conjuntivite pode ser
infecciosa, alérgica ou
tóxica.
Gânglios linfáticos: também
conhecidos como
linfonodos, são órgãos que
consistem de vários tipos
de células e fazem parte do
sistema linfático. São
encontrados em várias
regiões do corpo, possuem
glóbulos brancos e agem
como filtro e armadilha
para partículas invasoras do
organismo.
Filmes
As doenças tematizadas nesse capítulo, assim como os períodos históricos do
surgimento dos principais sanitaristas e das primeiras vacinas, estão retratados em
algumas produções de cinema, das quais selecionamos duas:
RADAR
36
Sonhos Tropicais. Direção de André Sturm. Brasil: Flashstar, 2001. (120 min).
Baseado em livro do sanitarista brasileiro Moacyr Scliar, a história é ambientada
no Rio de Janeiro na época da chegada de Oswaldo Cruz, vindo da França, depois
de ter estudado no Instituto Pasteur. Ele relata a Revolta da Vacina que citamos
logo no começo do capítulo.
A Vida de Louis Pasteur (The Story of Louis Pasteur ). Direção de Willian Dieterle.
Estados Unidos: Classicline, 1936. (87 min).
História da vida do cientista Louis Pasteur e da sua dificuldade em convencer as
autoridades da França sobre a Teoria dos Germes. Retrata também suas
descobertas sobre as vacinas.
Site
Instituto Butantan: <www.butantan.gov.br>
Acesse o site do Instituto Butantan. Além de conhecer um bom exemplo de
instituição de pesquisa brasileira, você vai saber mais sobre os produtos que lá
são pesquisados e sobre o soro antiofídico.
ANOTAÇÕES
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37
QUESTÃO DO ENEM
A dengue é uma doença que vem castigando o país nos últimos anos. Sua transmissão é semelhante à da febre amarela, mas ela deixa vulnerável quase toda a população do território nacional. As medidas preventivas dependem da conscientização e participação da população. Frente ao expressivo número de casos e aos diferentes tipos da doença, o ENEM 2011 trouxe uma questão específica sobre o assunto. Leia o texto e depois responda a questão apresentada.
Durante as estações chuvosas, aumentam no Brasil as campanhas de prevenção à
dengue, que têm como objetivo a redução da proliferação do mosquito Aedes aegypti,
transmissor do vírus da dengue. Que proposta preventiva poderia ser efetivada para
diminuir a reprodução desse mosquito?
A Colocação de telas nas portas e janelas, pois o mosquito necessita de ambientes
cobertos e fechados para a sua reprodução.
B Substituição das casas de barro por casas de alvenaria, haja visto que o mosquito se
reproduz na parede das casas de barro.
C Remoção dos recipientes que possam acumular água, porque as larvas do mosquito se
desenvolvem nesse meio.
D Higienização adequada de alimentos, visto que as larvas do mosquito se desenvolvem
nesse tipo de substrato.
E Colocação de filtros de água nas casas, visto que a reprodução do mosquito acontece
em águas contaminadas.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa C . Veja por quê:
Recipientes que acumulam água, tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas
d’água descobertas, pratos de vasos de planas ou qualquer outro que possa armazenar
água de chuva, são ambientes propícios para que as fêmeas do mosquito coloquem seus
ovos. Colocar telas nas portas e janelas impede a entrada do mosquito dentro de casa, mas
ele não necessita de ambientes cobertos e fechados para sua reprodução. Lavar bem os
alimentos e filtrar são atitudes imprescindíveis para uma boa saúde, mas não porque o ali-
mento seja substrato para o desenvolvimento do mosquito e água contaminada seja seu
Dengue
A dengue é uma doença infecciosa causada por um arbovírus (existem quatro tipos
diferentes de vírus: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4), que ocorre principalmente em áreas
tropicais e subtropicais do mundo, inclusive no Brasil. As epidemias geralmente acontecem
no verão, durante ou imediatamente após períodos chuvosos. A febre amarela e a dengue
são doenças classificadas como reemergentes, pois ambas eram consideradas erradicadas.
Transmissão da doença e sintomas: a doença é causada por um vírus da família Flaviri-
dae e é transmitida, no Brasil, pelo mosquito Aedes aegypti, também infectado pelo ví-
rus. Esta espécie de mosquito é originária da África e chegou ao continente americano
na época da colonização. Não há transmissão pelo contato de um doente ou suas secre-
ções com uma pessoa sadia, nem fontes de água ou alimento. Após ser picada pelo
mosquito, a pessoa contaminada começa a apresentar uma série de sintomas.
Na dengue clássica, os sintomas são: febres altas, dores de cabeça, cansaço, dor muscu-
abdominal (principalmente em crianças), sintomas que duram de 5 a 7 dias.
Na dengue hemorrágica são: inicialmente os sintomas são semelhantes aos da dengue
clássica, mas, após o terceiro ou quarto dia de evolução da doença, surgem hemorragias
em virtude do sangramento de pequenos vasos na pele e nos órgãos internos. O trata-
mento da dengue requer bastante repouso e a ingestão de muito líquido. No tratamen-
to também são usados medicamentos antitérmicos, que devem ser recomendados por
um médico.
Prevenção: A melhor forma de se combater a dengue é eliminar os locais onde o mos-
quito se reproduz (os criadouros).
39
Mantenha
bem tampados
tonéis e barris
d’água.
Mantenha a caixa
d’água bem fechada.
Coloque também
uma tela no ladrão
da caixa d’água.
Encha de areia até a
borda os pratos das
plantas ou lave-os
semanalmente com
escova.
Troque a água dos
vasos de plantas
aquáticas e lave-os
com escova, água e
sabão uma vez
por semana.
Remova folhas,
galhos e tudo que
possa impedir a
água de correr
pelas calhas.
Vire todas as
garrafas com a boca
para baixo, evitando
que se acumule água
dentro delas.
Lave com sabão
a parte interior dos
utensílios usados
para guardar água
em casa.
Não deixe água
acumulada
sobre a laje.
Feche bem o saco de
lixo e deixe-o fora do
alcance de animais.
Coloque no lixo
todo objeto não
utilizado que possa
acumular água.
Lave com sabão
os tanques
utilizados para
armazenar água.
Coloque o lixo em
sacos plásticos e
mantenha a lixeira
bem fechada.
Combater a dengue é uma tarefa séria que deve ser realizada
todos os dias. O mosquito da dengue se reproduz onde há
água parada, por isso, é preciso eliminar todos os objetos que
podem acumular água para evitar que o mosquito nasça.
Veja a seguir quais são os principais focos do
mosquito da dengue e aprenda como se prevenir:
MA
RI H
EFFN
ER
40
RADAR
Você pode obter informações mais detalhadas sobre os diferentes vírus da dengue:
Sites
Ministério da Saúde: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.
cfm?idtxt=23620&janela=1>
Saiba como se faz uma armadilha para combater a dengue acessando o site:
<www.dengue.org.br/dengue_prevenir.html>
Vídeo
Canal Saúde da Fiocruz, no YouTube, que traz entrevistas com médicos e técnicos
do Ministério da Saúde que fornecem dados e informações sobre as ondas de
dengue nas várias regiões do Brasil: <www.canal.fiocruz.br/video/index.php?v
=dengue>
Artigo
Vale a pena ler uma notícia sobre novos mecanismos de controle biológico para
combate à dengue no seguinte endereço: <http://g1.globo.com/luta-contra-a-
dengue/noticia/2011/10/grupo-usa-mosquitos-geneticamente-modificados-
para-combater-dengue.html>
PENSE BEM!
Você acompanha as notícias sobre as epidemias de dengue em sua região?
Você soube de algum caso de dengue no município em que reside?
O que você tem feito para evitar a dengue: ações individuais, coletivas e para o ambiente? Você está
engajado em alguma campanha de combate à doença?
ANOTAÇÕES
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41
QUESTÃO DO ENEM
Os números do Ministério da Saúde mostram que o Brasil está perto de registrar o caso número 600 mil de AIDS no país. Desde o primeiro caso, em 1980, até a última atualização (junho/2010), foram contabilizados 592.914 casos de infecção pelo vírus HIV. Desses, 38.538 casos foram notificados em 2009. O país busca desenvolver pesquisas e implementar programas para combater a doença. Esta preocupação, porém, é da comunidade científica do mundo todo. Frente a essa realidade, na prova válida do ENEM 2009 foi publicada uma questão sobre o assunto.
Estima-se que haja atualmente no mundo 40 milhões de pessoas infectadas pelo HIV
(o vírus que causa a AIDS), sendo que as taxas de novas infecções continuam crescendo,
principalmente na África, Ásia e Rússia. Nesse cenário de pandemia, uma vacina contra o
HIV teria imenso impacto, pois salvaria milhões de vidas. Certamente seria um marco na
história planetária e também uma esperança para as populações carentes de tratamento
antiviral e de acompanhamento médico.
Vacina contra AIDS: desafios e esperanças. Ciência Hoje (44)
26, 2009. Texto adaptado.
Uma vacina eficiente contra o HIV deveria
A induzir a imunidade, para proteger o organismo da contaminação viral.
B ser capaz de alterar o genoma do organismo portador, induzindo a síntese de enzimas
protetoras.
C produzir antígenos capazes de se ligarem ao vírus, impedindo que este entre nas
células do organismo humano.
D ser amplamente aplicada em animais, visto que esses são os principais transmissores
do vírus para os seres humanos.
E estimular a imunidade, minimizando a transmissão do vírus por gotículas de saliva.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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42
A resposta é a alternativa A . Veja por quê:
A vacina leva o sistema imunológico a produzir anticor-
pos contra um antígeno específico, no caso, contra o vírus
da AIDS, lembrando que vacina é um tipo de imunidade ar-
tificial em que o próprio antígeno é inoculado no organis-
mo. Uma vacina não altera o genoma do organismo porta-
dor do vírus, e sim estimula a produção de anticorpos.
Proteger-se!
Ser e estar saudável é importantíssimo para evitar doenças ou para superá-las mais ra-
pidamente. Venha conhecer um pouco mais como o nosso organismo funciona:
Sistema Imunológico: quando você faz um corte, vários tipos de corpos estranhos
podem entrar no seu organismo, como bactérias, fungos ou vírus. Seu sistema imu-
nológico responde e elimina os invasores, enquanto a pele cicatriza e sela o corte.
Outras vezes, o sistema imunológico não dá conta de evitar que corpos estranhos se
instalem no seu corpo e acaba ocasionando uma infecção. O local inflama e fica
cheio de pus. A inflamação e o pus são efeitos colaterais do sistema imunológico fa-
zendo o seu trabalho.
e outros corpos estranhos tentam entrar no seu organismo. Seu sistema imunológico tem
de estar atento para lidar com todos estes problemas/invasores e assim manter a integrida-
de do organismo.
Mecanismos de defesa do organismo: pele e mucosas que revestem o organismo têm
como função protegê-lo de bactérias, fungos ou vírus. Caso algum desses micro-orga-
nismos entre no corpo, células específicas de defesa têm a capacidade de reconhecer o
invasor e passam a combatê-lo. O micro-organismo estranho recebe o nome de antíge-
no. O sistema imunológico responde ao antígeno produzindo um anticorpo, que é uma
proteína específica para cada tipo de antígeno.
Os linfócitos, células de defesa do organismo, atacam
os micro-organismos e assim começa a produção de an-
ticorpos, denominados imunoglobulinas.
O sistema imunológico tem a capacidade de reco-
nhecer um mesmo antígeno e produzir anticorpos para
reagir contra ele. Você já sabe que as vacinas são micro-
-organismos mortos ou atenuados na sua patogenicida-
de, ou às vezes apenas nas suas toxinas, cuja inoculação
provoca no organismo uma reação de imunização. Neste
Linfócito: é uma variedade de leucócito
(glóbulo branco) que mede de 6 a 8 mícrons,
de núcleo arredondado, produzido pelos
gânglios linfáticos e tecido linfoide.
Linfócito TDCD4+: é um linfócito auxiliar,
que reconhece o antígeno e passa
informação sobre ele a todos os outros
linfócitos, que desta forma são ativados,
atacando todos os antígenos idênticos.
Anticorpo: é uma proteína específica
que é produzida em resposta a um
antígeno.
Antígeno: é toda partícula ou
molécula capaz de iniciar uma
resposta imune.
Genoma: é o conjunto das informa-
ções contidas no DNA das células.
43
BRASIL TERÁ 12 NOVOS SHOPPINGS ATÉ O FIM DO ANO
Já em 2011, serão pelo menos mais 29 shoppings, totalizando 439 em todo o país
São Paulo – Com os corredores climatizados
cada vez mais cheios, a indústria de shopping
centers aumenta a velocidade de expansão no
Brasil ao sabor da maré mais favorável já vivida
pelo setor. Após a inauguração de quatro gran-
des shoppings no primeiro semestre, outros 12
abrirão as portas até o fim do ano. Em 2011, se-
rão pelo menos mais 29 shoppings, totalizando
439 em todo o país. Atualmente, há 396 empre-
endimentos desse tipo.
A conta é da Associação Brasileira de
Shopping Centers (Abrasce), que só considera
empreendimentos com mais de 5 mil metros
quadrados de área locável. Incluindo
shoppings menores, a Associação Brasileira de
Lojistas de Shopping (Alshop) prevê que o
país fechará 2010 com mais de 750 centros
em funcionamento e ganhará outros 200 até
2015 – ou seja, 40 por ano.
[...]
Brasil terá 12 novos shoppings até o fim do ano, Exame, São Paulo, 2 out. 2010. Disponível em: <http://exame.abril.com.
br/negocios/empresas/noticias/brasil-tera-12-novos-shoppings-fim-ano-583728>. Acesso em: 11 mar. 2012.
1 SOCIEDADE TECNOLÓGICA E MEIO AMBIENTE
conecte-se
ENTENDA A DIFERENÇA ENTRE LIXÃO E ATERRO SANITÁRIO
O Brasil ainda trata grande parte do li-
xo de forma incorreta. Dados da Abrelpe
(Associação Brasileira de Empresas de Lim-
peza Pública e Resíduos Especiais) mostram
que cerca de 1.600 municípios brasileiros
destinam seus resíduos a lixões. A maior
parte deles, 855, está localizada no Nordeste.
O IBGE afirma que a região, junto com o
Norte do país, leva mais de 80% dos seus re-
síduos para lixões. Todas as regiões, no en-
tanto, convivem o problema. A Política Na-
cional dos Resíduos Sólidos (PNRS), instituí-
da em 2010, prevê a extinção dos lixões no
Brasil até 2014.
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Os dados da Abrelpe também mostram que estamos produzindo
mais lixo. Em 2010, a geração de resíduos sólidos urbanos cresceu
6,8% em relação a 2009. Junto a isso, os números do IBGE não são
animadores: apenas 27,7% dos resíduos no Brasil vão, de fato, para
aterros sanitários. [...]
CINTRA, Lydia. Superinteressante, São Paulo, 19 mai. 2011. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/qual-a-diferenca-entre-lixao-e-aterro-sanitario>. Acesso em: 11 mar. 2012.
É possível estabelecer algum tipo de relação entre os textos acima? De que forma po-
deríamos associar o estilo de vida propagado atualmente mundo afora com os padrões de
consumo desta sociedade? Como o estilo de vida atual, baseado no consumo e em valores
individuais, poderia estar ligado aos problemas ambientais do mundo? Você acha que essa
lógica do consumo que predomina na sociedade é signatária da atual estrutura político-
Neste capítulo você será capaz de identificar o papel dos meios de
comunicação na construção da vida social, analisando a importância
dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
A história das chamadas relações entre sociedade e natureza é, em todos os lugares habitados, a da substituição de um meio natural, dado a uma determi-nada sociedade, por um meio cada vez mais artificializado, isto é, sucessiva-mente instrumentalizado por essa mesma sociedade. Em cada fração da super-fície da Terra, o caminho que vai de uma situação a outra se dá de maneira par-ticular; e a partir do “natural” e do “artificial” também varia, assim como mudam as modalidades de seu arranjo.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. São Paulo: Hucitec, 1996. p. 186.
O trecho acima, retirado da obra do geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001), gera algumas questões importantes neste capítulo: É possível viver em harmonia com a natureza? É possível haver desenvolvimento econômico e social de forma sustentá-vel? É possível utilizar os recursos naturais sem gerar impacto ambiental? É possível utilizar os recursos oferecidos pela natureza garantindo a inclusão social das comuni-dades tradicionais? O atual modelo de desenvolvimento adotado pela sociedade é compatível com a utilização sustentável dos recursos naturais?
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15
QUESTÃO DO ENEM
Os questionamentos sobre o modelo de desenvolvimento pós-Revolução Industrial orientaram a prova do ENEM 2010, que apresentou uma questão sobre o assunto . Leia-a, analise e indique a alternativa correta.
A poluição e outras ofensas ambientais ainda não tinham esse nome, mas já eram
largamente notadas no século XIX, nas grandes cidades inglesas e continentais. E a própria
chegada ao campo das estradas de ferro suscitou protestos. A reação antimaquinista,
protagonizada pelos diversos ludismos, antecipa a batalha atual dos ambientalistas.
Esse era, então, o combate social contra os miasmas urbanos.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2002
(adaptado).
O crescente desenvolvimento técnico-produtivo impõe modificações na paisagem e
nos objetos culturais vivenciados pelas sociedades. De acordo com o texto, pode-se dizer
que tais movimentos sociais emergiram e se expressaram por meio
A das ideologias conservacionistas, com milhares de adeptos no meio urbano.
B das políticas governamentais de preservação dos objetos naturais e culturais.
C das teorias sobre a necessidade de harmonização entre técnica e natureza.
D dos boicotes aos produtos das empresas exploradoras e poluentes.
E da contestação à degradação do trabalho, das tradições e da natureza.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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16
A relação homem e natureza
Ao longo do tempo os diferentes grupos
humanos se diferenciaram por meio de
seu nível de conhecimento e domínio da
técnica e da tecnologia. Esses aspectos
são fundamentais para determinar as rela-
ções que esses grupos e indivíduos vão
estabelecer com o meio em que vivem.
Em outras palavras, é possível afirmar que
o grau de desenvolvimento humano será,
entre outros aspectos, um dos principais
fatores que determinarão em que medida
vai se dar a apropriação pelo homem dos
recursos produzidos pela natureza.
Se os grupos humanos se relacio-
nam com a natureza de maneira distinta, de acordo com o seu nível de conhecimento,
do domínio das técnicas e consequentemente de seu desenvolvimento tecnológico,
muitos recursos que podem ser extremamente valiosos para uns, podem não possuir
valor algum para outros. Para os esquimós do Alasca, nos Estados Unidos, que vivem
sobre reservas que guardam milhões de metros cúbicos de petróleo, esse recurso mi-
neral de nada vale, pois para a sua comunidade não tem nenhuma utilidade.
Diferentemente dos esquimós, isolados, que vivem basicamente da subsistência, a
maioria dos habitantes do planeta precisa, direta ou indiretamente, do petróleo – fonte de
energia vital no mundo atual.
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Iglu construído com neve pela tribo Inuit, Canadá.
Trânsito em Mumbai, Índia
17
QUESTÃO DO ENEM
Atualmente, o nível de desenvolvimento tecnológico e o consequente grau de complexidade da economia mundial fazem com que uma variada gama de recursos oferecidos pela natureza seja explorada com diferentes intensidades por nossa sociedade. Esta foi uma questão apresentada na prova anulada do ENEM 2009:
O homem construiu sua história por meio do constante processo de ocupação e
transformação do espaço natural. Na verdade, o que variou, nos diversos momentos da
experiência humana, foi a intensidade dessa exploração.
Disponível em: <www.simposioreformaagraria.propp.ufu.br>. Acesso em: 9 jul. 2009. Texto
adaptado.
1. Uma das consequências que pode ser atribuída à crescente intensificação da exploração
de recursos naturais, facilitada pelo desenvolvimento tecnológico ao longo da história, é
A a diminuição do comércio entre países e regiões, que se tornaram autossuficientes na
produção de bens e serviços.
B a ocorrência de desastres ambientais de grandes proporções, como no caso de
derramamento de óleo por navios-petroleiros.
C a melhora generalizada das condições de vida da população mundial, a partir da
eliminação das desigualdades econômicas na atualidade.
D o desmatamento, que eliminou grandes extensões de diversos biomas improdutivos,
cujas áreas passaram a ser ocupadas por centros industriais modernos.
E o aumento demográfico mundial, sobretudo nos países mais desenvolvidos, que
apresentam altas taxas de crescimento vegetativo.
Qual alternativa você assinala como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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18
PENSE BEM!
Você acredita que a ocupação dos meios físicos e a utilização de seus recursos são essenciais para a
manutenção da vida humana? Por quê?
Aumentando a produção
Com o desenvolvimento tecnológico ocorrido a partir do século XVIII, surgiram sucessi-
vamente novas matrizes energéticas, como a energia a vapor, a eletricidade e o motor de
combustão interna. Esse processo, associado a uma sofisticação da organização e divisão
do trabalho desencadeou um profundo desenvolvimento da atividade industrial, que com
o passar do tempo se tornou menos dependente da força motriz humana, como relata o
jornalista e cientista político norte-americano Leo Huberman (1903-1968), em História da
riqueza do homem:
A invenção de máquinas para fazer o trabalho do homem era uma história anti-
ga, muito antiga. Mas, com a associação da máquina à força do vapor, ocorreu uma
modificação importante no método de produção. O aparecimento da máquina mo-
vida a vapor foi o nascimento do sistema fabril em grande escala.
HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
Se antes, na fabricação de determinado produto era necessário certo domínio da
técnica, com o desenvolvimento tecnológico tornou-se possível padronizar esse conhe-
cimento, aplicá-lo a uma máquina e utilizá-lo onde fosse possível instalá-la. Ou seja, teo-
ricamente, qualquer indivíduo que tivesse recursos materiais para adquirir uma dessas
máquinas passaria a ter também o domínio da técnica necessária para produzir uma
determinada mercadoria.
Obviamente, em meados do século XIX, o uso das máquinas a vapor não era tão comum,
pois seu funcionamento dependia de acesso a uma fonte de energia, no caso, o carvão mi-
neral. Mas o próprio desenvolvimento tecnológico contor-
nou essa limitação.
A construção de ferrovias com trens movidos a vapor
promoveu uma incipiente dispersão da atividade industrial,
que mais tarde seria intensificada com a mudança de ma-
triz para a energia elétrica. O que antes só era possível ser
feito com aço, madeira e trabalho humano nesse momento
se realizaria com apenas um fio elétrico. Com o advento da
energia elétrica, ocorreu uma profunda disseminação e in-
tensificação da produção industrial.
E agora, a produção passou a ser ilimitada? Não é bem
assim. Toda mercadoria produzida, por mais complexo que
seja o seu processo de fabricação, é resultado direto da trans-
formação de uma matéria-prima pelo homem. Portanto, essa Trabalhadores em uma linha de montagem, Michigan, EUA.
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GET
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IMA
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19
mercadoria é direta ou indiretamente o saldo de um processo que envolve muito trabalho,
mas sobretudo recursos naturais. Algumas das matérias-primas utilizadas pelo homem, como
areia e rochas, são retiradas diretamente de ambientes naturais e mesmo aquelas que pare-
cem não guardar nenhuma ligação com esses ambientes, como papel (árvores), tecidos (algo-
dão, lã do carneiro) e plástico (petróleo) são fruto da natureza.
PENSE BEM!
A evolução da matriz energética é resultado direto de um processo contínuo de evolução tecnológica.
Esse fenômeno implica uma graduação temporal no uso das tecnologias. É possível perceber como o uso
das tecnologias pode gerar impactos ambientais diferentes em função do contexto histórico-geográfico?
A sociedade tecnológica
atuaram em diferentes momentos da história. Isso significa que nossa sociedade é um pro-
duto histórico e, como tal, é possível constatar as sucessivas transformações conjunturais
pelas quais passou ao longo do tempo.
Em nossa sociedade, o homem se utiliza do conhecimento científico e da tecnologia
para transformar a natureza. Por esse motivo, ela pode ser chamada sociedade tecnológica.
Predomina nessa sociedade uma visão utilitarista da natureza. Ela é entendida apenas co-
Diferentemente de seus mais remotos ancestrais, que retiravam da natureza apenas
aquilo que era necessário para garantir a sua sobrevivência, o homem da sociedade tecno-
mercadoria e sob a lógica do mercado capitalista, esse bem natural deve ser explorado in-
tensamente para garantir a manutenção dos lucros do capitalista. Nesse contexto, o consu-
mo deve ser sempre estimulado: quanto maior o mercado consumidor maior a demanda
da oferta e da procura.
A existência de uma sociedade baseada no consumo está intrinsecamente ligada à su-
perprodução industrial e às leis de mercado do mundo capitalista. Logo, preservar a natu-
reza é infactível nessas condições.
ANOTAÇÕES
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20
QUESTÃO DO ENEM
O desequilíbrio na relação entre ambiente e atividade produtiva foi tema de uma questão da prova do ENEM 2010. Veja:
Os lixões são o pior tipo de disposição final dos resíduos sólidos de uma cidade,
representando um grave problema ambiental e de saúde pública. Nesses locais, o lixo é
jogado diretamente no solo e a céu aberto, sem nenhuma norma de controle, o que
causa, entre outros problemas, a contaminação do solo e das águas pelo chorume
(líquido escuro com alta carga poluidora, proveniente da decomposição da matéria
orgânica presente no lixo).
Almanaque Brasil Socioambiental 2008. São Paulo: Instituto
Sociambiental, 2007.
Considere um município que deposita os resíduos sólidos produzidos por sua
população em um lixão. Esse procedimento é considerado um problema de saúde pública
porque os lixões
A causam problemas respiratórios, devido ao mau cheiro que provém da decomposição.
B são locais propícios à proliferação de vetores de doenças, além de contaminarem o
solo e as águas.
C provocam o fenômeno da chuva ácida, devido aos gases oriundos da decomposição
da matéria orgânica.
D são instalados próximos ao centro das cidades, afetando toda a população que circula
diariamente na área.
E são responsáveis pelo desaparecimento das nascentes na região onde são instalados,
o que leva à escassez de água.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa B . Veja por quê:
Tendo em vista o uso, pela população, da parcelas de terra para o cultivo agrícola e da
água para o abastecimento, a contaminação do solo e dos lençóis freáticos pelo chorume
que emana dos resíduos depositados nos lixões se torna, além de um problema ambiental,
um grave problema de saúde pública.
Produzindo lixo
O estímulo ao consumo através dos modismos e o lançamento de novos produtos de
bens de consumo no mercado são o esteio da economia na sociedade tecnológica. Como
o ritmo de lançamentos das novidades no mercado é intenso, produtos que apresentam
boa condição de uso são descartados sem necessariamente estarem velhos. Muitos produ-
tos já nascem com o intuito de durar pouco: é a obsolescência programada. Outros são
feitos para serem descartáveis, como é o caso dos artigos de plástico ou de papel (copos,
guardanapos etc.). Entre os diversos efeitos colaterais provocados pela intensa produção e
pelo intenso consumo de nossa sociedade está a geração e descarte de resíduos.
Nas grandes cidades do mundo, de maneira geral, a maior parte desses resíduos tem
como destino final os chamados lixões, espaços a céu aberto onde sucessivas camadas de
detritos se acumulam e se depositam. Nesses locais não existe controle sobre o acesso de
pessoas aos resíduos, sendo comum, principalmente em países subdesenvolvidos, que uma
parcela da população mais pobre tente sobreviver recolhendo parte dos materiais descar-
tados. Da mesma maneira, não existe nesses espaços controle dos gases gerados pela de-
composição do lixo, que elevam o risco de explosões, nem do chorume, que pode poluir o
solo e lençóis freáticos. Essa situação causa graves problemas de saúde pública para o
conjunto de suas populações.
chorume
lixo
Poluição
Lixão
urubus e
outros animais
lençol
freático
Ação poluidora dos lixões.
A destinação ecologicamente correta dos resíduos sólidos é uma questão complexa para
todas as grandes cidades. Uma alternativa aos lixões são os aterros sanitários, espaços plane-
jados para a deposição dos detritos, onde o terreno é previamente preparado para isso. O
solo deverá ser impermeabilizado para evitar contaminações e o chorume e os gases gerados
pela decomposição do lixo receberão tratamento adequado.
22
ETE
Tratamentodo chorume
Captação e queima dogás metano
Captaçãodo chorume
Coberturadiária
Lixonovo
Terra virgemSelação com
Manta de PVCe argila
Não há contaminação do lençol freático
Aterro Sanitário
Não háurubus ou
animaisnem mau
cheiro
Todavia, nem sempre o aterro sanitário é viável como alternativa aos lixões. Por tseu
custo elevado, pela necessidade de um rigor técnico em sua implementação e também
pela ausência de leis que regulem o descarte de lixo, muitos gestores públicos e privados
acabam por não utilizá-los em detrimento de ações menos definitivas e de caráter paliativo,
mas que possuem um custo menor e garantem mais retorno publicitário, como campanhas
de reciclar, reutilizar ou renovar os materiais.
PENSE BEM!
Brasil à todo vapor OS
INDICADORES
ECONÔMICOS
MOSTRAM QUE
VAMOS DE
VENTO EM POPA!
A cultura do desperdício, marca de nossa sociedade, é o principal motivo da poluição existente no
planeta e tem gerado preocupação em especialistas e autoridades mundo afora. O que fazer com tanto li-
xo? Qual é o impacto ambiental provocado por ele? Quais são as mudanças de comportamento necessárias
para enfrentar esse problema? E você, o que está fazendo com os resíduos que produz?
© M
AR
I HEF
FNER
.
23
QUESTÃO DO ENEM
Na prova válida do ENEM 2009, uma questão baseada em um texto do antropólogo francês Bruce Albert abordou as relações que os índios ianomâmis mantêm com a floresta, o ambiente e sua previsão para o futuro, caso o homem não reflita sobre essa relação.
Os ianomâmis constituem uma sociedade indígena do norte da Amazônia e formam
um amplo conjunto linguístico e cultural. Para os ianomâmis, urihi, a “terrafloresta”, não é
um mero cenário inerte, objeto de exploração econômica, e sim uma entidade viva,
animada por uma dinâmica de trocas entre os diversos seres que a povoam. A floresta
possui um sopro vital, wixia, que é muito longo. Se não a desmatarmos, ela não morrerá.
Ela não se decompõe, isto é, não se desfaz. É graças ao seu sopro úmido que as plantas
crescem. A floresta não está morta pois, se fosse assim, as florestas não teriam folhas.
Tampouco se veria água. Segundo os ianomâmis, se os brancos os fizerem desaparecer
para desmatá-la e morar no seu lugar, ficarão pobres e acabarão tendo fome e sede.
ALBERT, Bruce. “Yanomami, o espírito da floresta”. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo:
Instituto Socioambiental, 2007 (adaptado).
De acordo com o texto, os ianomâmis acreditam que
A a floresta não possui organismos decompositores.
B o potencial econômico da floresta deve ser explorado.
C o homem branco convive harmonicamente com urihi.
D as folhas e a água são menos importantes para a floresta que seu sopro vital.
E wixia é a capacidade que tem a floresta de se sustentar por meio de processos vitais.
Qual alternativa você assinala como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa E . Veja por quê:
O texto apresentado no enunciado da questão descreve, de forma sucinta, a concepção
de natureza dos ianomâmis. Dentre as alternativas apresentadas, a correta é única que re-
presenta essa concepção corretamente.
As comunidades tradicionais
Evidentemente, nem todos os habitantes do planeta estão submetidos aos padrões de
comportamento impostos pela sociedade tecnológica. Há aqueles que resistem, mas resis-
tir não significa necessariamente não tomar parte desse jogo.
Diferentes grupos sociais tentam recriar um modo de vida em desuso para, de alguma
forma, contraporem-se à sociedade de consumo, como plantar seu próprio alimento, con-
sumir produtos orgânicos e produtos gerados por uma cadeia produtiva baseada na sus-
tentabilidade. Entretanto, essas iniciativas em geral são caras e pouco acessíveis para o con-
junto da população, pois, de certa forma, o mercado já se apropriou delas.
Outro aspecto importante deve considerar a complexidade das cadeias produtivas.
Mesmo em sistemas produtivos que buscam produzir com sustentabilidade socioambien-
tal, em algum momento do processo insumos, ferramentas, matérias-primas ou energias
utilizados terão de vir de outra cadeia produtiva, externa a essa lógica. Isso torna, portanto,
praticamente impossível produzir algo em uma escala razoável, que seja totalmente res-
ponsável social e ambientalmente.
Apesar de interessantes e bem-intencionadas, essas experiências ainda não represen-
tam uma alternativa viável ao modo de vida moderno. Vivendo sob a lógica da sociedade
tecnológica, a autossuficiência é uma utopia para grande parte da população mundial.
No entanto, uma pequena parte da população vive às margens dessa sociedade ou pou-
co é influenciada por ela.
-
necem comunidades que não foram “contaminadas” culturalmente e não sentem nenhuma
falta das inovações tecnológicas do mundo moderno, vivendo basicamente da subsistência.
São milhares de nativos (indígenas, aborígenes, esquimós etc.) e outras comunidades
(ribeirinhos, beduínos, quilombolas etc.) que não enxergam a natureza apenas como fonte
-
sário para a sobrevivência, pois entendem que ela precisa de tempo para recompor esses
recursos tão vitais para a manutenção da vida e de sua comunidade. Eles enxergam a natu-
reza como fonte de recursos naturais essenciais para a existência, assim como o resto da
Alguns desses povos, fundamentalmente os nativos, ainda enxergam a natureza como
um ser dotado de vida. Para eles é como se o planeta Terra fosse um grande organismo vivo.
Nessa perspectiva, explorar mais recursos do que se é capaz de utilizar é romper com o equi-
para que ele continue oferecendo alimentos e bens importantes para a vida de seu povo.
Essas concepções acerca da natureza garantem que o uso que se fará de seus recursos
gere um impacto ambiental muito menor que o provocado pela sociedade tecnológica.
25
QUESTÃO DO ENEM
A relação entre produção e ambiente foi tema de uma questão da prova válida do ENEM 2009. Veja:
No presente, observa-se crescente atenção aos efeitos da atividade humana, em
diferentes áreas, sobre o meio ambiente, sendo constante, nos fóruns internacionais e nas
instâncias nacionais, a referência à sustentabilidade como princípio orientador de ações e
propostas que deles emanam. A sustentabilidade explica-se pela
A incapacidade de se manter uma atividade econômica ao longo do tempo sem causar
danos ao meio ambiente.
B incompatibilidade entre crescimento econômico acelerado e preservação de recursos
naturais e de fontes não renováveis de energia.
C interação de todas as dimensões do bem-estar humano com o crescimento econômico,
sem a preocupação com a conservação dos recursos naturais que estivera presente
desde a Antiguidade.
D proteção da biodiversidade em face das ameaças de destruição que sofrem as florestas
tropicais devido ao avanço de atividades como a mineração, a monocultura, o tráfico
de madeira e de espécies selvagens.
E necessidade de se satisfazer as demandas atuais colocadas pelo desenvolvimento sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades nos campos econômico, social e ambiental.
Qual alternativa você assinala como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa E . Veja por quê:
A questão aborda o conceito de sustentabilidade. Bastante utilizado atualmente, esse
significa utilizar os recursos naturais para o desenvolvimento da sociedade sem compro-
meter a capacidade da natureza de se recompor para atender também às demandas das
futuras gerações. É o que sugere a alternativa correta.
Sustentabilidade
Entre as inúmeras discussões sobre os impactos da produção industrial no ambiente, a
preocupação com um desenvolvimento sustentável tem ocupado a agenda das conferên-
cias sobre o clima global. Se nos anos 1960 as discussões giravam em torno do crescimento
populacional, atualmente têm sido foco de debates os padrões de consumo das socieda-
des modernas industrializadas.
Assim como diferentes sociedades observam e se relacionam com o meio natural de
maneira diversa, as sociedades também significam de formas diferentes suas concepções
de progresso e desenvolvimento. Nas sociedades industriais contemporâneas é a multipli-
cação quantitativa da produção e do consumo que designa o estágio e o seu grau de evo-
O registro de altos níveis de temperatura global nos anos 1990 afirmou as críticas
daqueles que se preocupavam com os modelos de produção e consumo e sua dinâmica
de expansão nos países desenvolvidos e disseminação pelos países em desenvolvimento.
O quadro alarmante se configuraria se as populações de países em desenvolvimento, co-
mo China, Índia, Brasil, Indonésia e Rússia passassem a consumir na mesma escala, com os
mesmos padrões que já consomem norte-americanos, japoneses e canadenses, entre ou-
tras populações de países desenvolvidos.
PRATICANDOA seguir, veja uma questão elaborada nos moldes do ENEM.
ME LIGA MAIS TARDE!
AGORA EU TÔ ENROLADO
NO TRÂNSITO!
Brasil tem
25 milhões
de telefones
celulares. © M
AR
I HEF
FNER
.
27
As charges retratam situações muito comuns na sociedade contemporânea que estão ligadas
a um padrão comportamental de:
A realizar várias tarefas ao mesmo tempo com o objetivo de ser produtivo a qualquer custo.
B transportar os seus próprios bens, pois o custo do transporte terceirizado se elevou
significativamente durante as últimas décadas.
C consumir exageradamente, independentemente de suas condições de aquisição e pagamento
dos produtos.
D reduzir o consumo, reaproveitando o que outras pessoas descartam no lixo.
E pagar integralmente as suas dívidas com o objetivo de reduzir a inadimplência.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A resposta é a alternativa C . Veja por quê:
O padrão de comportamento que está disseminado na sociedade tecnológica é o consumo voraz.
A primeira charge afirma que existem no Brasil 25 milhões de celulares, o que daria aproximadamente um
aparelho para cada sete pessoas. Dados mais atuais indicam que essa média já foi superada. Os números
são impactantes, e a charge retrata um carroceiro, uma pessoa em possível situação de rua que, a despeito
disso, também tem celular. A segunda charge ilustra muito bem como grande parte do que é consumido
pela população é pago: em prestações de longo prazo. Infere-se que esse consumidor consome um volume
de mercadorias superior à sua capacidade de pagar, endividando-se.
28
CAMINHOS POSSÍVEIS
Neste capítulo você refletiu sobre alguns problemas ambientais e suas relações com o
modo de vida predominante na sociedade contemporânea. Você verificou que essa socie-
dade baseada no consumo possui um funcionamento, um modus operandi, em que esse
consumo é o combustível para a crescente e contínua evolução dos meios de produção e o
aumento no processo de geração de riqueza.
Para que isso ocorra da maneira mais eficiente possível, as pessoas são chamadas ao
consumo por meio de uma gama variada de técnicas que têm como ponto comum gerar
desejos de consumo – o indivíduo é aquilo que consome.
Nessa sociedade, em que as pessoas buscam, para reforçar as suas individualidades, di-
ferenciar-se a partir do consumo, o respeito ao meio ambiente é incompatível. Como conci-
liar a necessidade coletiva de se apropriar dos recursos para garantir a subsistência de toda
a humanidade com a capacidade que a natureza tem de recompor esses recursos e os an-
seios individuais que impulsionam o desejo de consumo de uma parte cada vez maior dos
7 bilhões de habitantes do planeta? Esse é o desafio!
Respostas das questões
A resposta da questão da página 16 é a alternativa A . Veja por quê:
No decorrer dos séculos XVIII e XIX, o intenso desenvolvimento das máquinas, fruto da
Primeira e Segunda Revolução Industrial, modificou profundamente a situação dos traba-
lhadores. A automação das fábricas fez que os trabalhadores perdessem a autonomia sobre
o trabalho realizado. A partir desse momento, o trabalhador passou a ser submetido a lon-
gas jornadas laborais em troca de uma baixa remuneração, além de condições de trabalho
serem degradantes.
Esse processo contribuiu para o aumento do lucro do proprietário da indústria que, por
sua vez, reinvestia esse lucro em novas tecnologias, para gerar um novo incremento de
produção. O efeito desse processo era o progressivo aumento do consumo de matérias-
-primas e a consequente degradação do ambiente em escala nunca antes vista. O texto de
Milton Santos cita justamente a resistência de indivíduos a essas transformações.
A resposta da questão da página 18 é a alternativa B . Veja por quê:
A questão exigia um razoável conhecimento sobre o nível de apropriação dos recursos
naturais pelo homem ao longo da história. O objetivo era localizar a alternativa que descre-
vesse corretamente as consequências desse processo de desenvolvimento tecnológico
que, ao longo da história, facilitou o aumento da exploração da natureza.. Essa relação tem-
po/intensidade só está presente na alternativa B .
29
MÁXIMAS
30
A geografia do medo GILBERTO DIMENSTEIN
O bairrismo, embora seja associado a uma visão pe-
quena, atrasada e provinciana, está entrando na
moda. Prospera nas regiões metropolitanas o efeito
“casulo”. Inseguras no trânsito, sentindo-se ameaça-
das pela violência, incomodadas com os pedintes
que se avolumam a cada esquina, famílias de classe
média e alta tentam se locomover o menos possível
e se esforçam para fazer do bairro uma espécie de
país independente, capaz de satisfazer todas as suas
necessidades. Isso significa que, na geografia do
medo, comprar, divertir-se ou escolher a escola dos
filhos está cada vez mais condicionado à proximida-
longe, mais ameaçador. O efeito “casulo” é visível nu-
ma pesquisa realizada pela InterScience com habi-
tantes de classe média e alta da cidade de São Pau-
lo, que foi concluída em 2003. Ao comprar um imó-
vel, 80% dos entrevistados informam que levam em
conta a autossuficiência do bairro, de olho na varie-
dade de serviços e de lojas. Cerca de 70% dos entre-
65% não querem ir longe para se divertir e, se pude-
rem, optam pelos cinemas e teatros do bairro.
O bairro passa a ser o cenário quase autossuficiente
da construção das identidades individuais. Combi-
nando limitação provinciana com caos metropolita-
no, o efeito “casulo” é consequência da degradação
das grandes cidades brasileiras.
A crise explode principalmente nas maiores cidades.
O cotidiano dos indivíduos é, em larga medida, o que
acontece na cidade.
O caos urbano é o grande gargalo político do futuro.
Nas cidades, hoje, mora boa parte da população mais
carente de moradia, emprego, alimentação, educação
e oportunidades no Brasil, o que agrava as tensões.
É mais do que óbvio que o país precisa urgentemen-
te de uma agenda para as regiões metropolitanas.
Urbanistas recomendam que, em cada região, sejam
criadas comissões com representantes estaduais, fe-
derais e municipais para traçar políticas coordenadas
de investimento em infraestrutura urbana e de racio-
nalização dos investimentos sociais. Nossas metró-
O AMBIENTE DA CIDADE E AS RELAÇÕES ENTRE CIDADÃOSA cultura, o sistema econômico e o ambiente em que vivemos fazem parte do que é nossa
sociabilidade. O que ocorre quando milhões de pessoas que compartilham uma cultura, ou
compartilham as diferenças que constituem uma cultura, vivem em cidades com uma imensa
desigualdade e diversas questões sociais a serem equacionadas?
moda. Prospera nas regiões metropolitanas o efeito
necessidades. Isso significa que, na geografia do
medo, comprar, divertir-se ou escolher a escola dos
das grandes cidades brasileiras.
O bairro passa a ser o cenário quase autossuficiente
O caos urbano é o grande gargalo político do futuro.
da construção das identidades individuais. Combi-
Nas cidades, hoje, mora boa parte da população mais
nando limitação provinciana com caos metropolita-
carente de moradia, emprego, alimentação, educação
no, o efeito “casulo” é consequência da degradação
e oportunidades no Brasil, o que agrava as tensões. longe, mais ameaçador. O efeito “casulo” é visível nu-
O bairrismo, embora seja associado a uma visão pe-
“casulo”. Inseguras no trânsito, sentindo-se ameaça-
MÁXIMAS
31
poles e seus problemas são gigantes, mas a visão dos
políticos sobre temas urbanos é pífia.
O mecanismo político que aí está simplesmente não
está funcionando, e o surgimento de propostas co-
mo essa demonstra o quanto nosso poder público
precisa agir.
Quanto mais altos os muros e grades, mais
proteção, certo? Errado!RAQUEL ROLNIK
Primeiro grades e portões cercaram prédios e casas, e guaritas foram instaladas nos limites entre os edifícios e
as ruas. Depois, muros altos passaram a cercar não apenas quadras inteiras, mas, às vezes, várias delas, fechando
pedaços de cidade com exclusividade para seus moradores e visitantes. O modelo acabou se disseminando
tanto que virou norma obrigatória em algumas cidades e até em alguns programas habitacionais.
O pressuposto de que quanto mais muros e grades, mais segurança existe alimentou, durante mais de duas
décadas, a transformação dos modos de morar. A ideia, que parece óbvia, é a de que, ocultando o máximo
possível o que se passa intramuros, evita-se a invasão e o roubo. Entretanto, a mais nova onda de furtos e
roubos, pelo menos na cidade de São Paulo, contraria esta ideia. Até novembro de 2012 foram mais de 20 os
condomínios de luxo, muradíssimos, que sofreram arrastões na capital paulista.
Em um deles, no bairro do Itaim Bibi, segundo o porteiro do condomínio os bandidos entraram pelos fundos,
escalando um muro de 4 metros de altura. De acordo com a Delegacia de Investigação de Crimes Patrimo-
niais, a cada mês são registrados, em média, dois arrastões em condomínios de luxo em São Paulo.
Sobre o tema, uma pesquisa realizada pela Polícia Militar do Paraná divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo1
revela que 60% das casas assaltadas em Curitiba são cercadas por muros. Apenas 15% são “abertas” para a
rua. Além disso, a pesquisa colheu depoimentos de detentos com participação em assaltos. Dos entrevis-
tados, 71% afirmaram que casas com muros são preferíveis para a realização de assaltos e 54% disseram
que os muros ocultam a ação.
O fato é que transformar a lógica do modo de morar e de organizar a cidade não resolve o problema da
violência nas ruas. As estratégias de furtos, roubos e assaltos também se adaptam. Uma das técnicas que
vem sendo utilizadas por criminosos hoje, por exemplo, é clonar ou roubar controles remotos de portões
automáticos, o que lhes permite entrar e sair de residências tranquilamente, sem alarde e, ironicamente,
“protegidos” por muros.
Moral da história: os muros fragmentaram cidades, destruíram a relação dos edifícios com o espaço públi-
co, empobreceram a paisagem e, como estamos vendo, não resolveram o problema da segurança. Pra que
servem então?
1 Veja a notícia "Viver sem muros é menos perigoso, dizem especialistas". Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/coti-dian/ff0710200722.htm>. Acesso em: 7 out. 2012.
2 CULTURA E GLOBALIZAÇÃO
conecte-se
© D
. CO
RTI
JO/S
UR
VIV
AL
Imagem da ONG Survival International mostra integrantes da tribo mashco-piro, na parte sudeste da selva peruana
ONG DIVULGA FOTOS DE ÍNDIOS ISOLADOS NA AMAZÔNIA
Sabine Righetti, de São Paulo
A ONG Survival International (surviva-linternational.org) divulgou nesta terça-fei-ra fotos de uma família de índios peruanos mascho-piro, considerados isolados (sem contato com não indígenas).
Os Mashco-Piro habitam o Parque Na-cional de Manú, no sudeste do país. Mas, de acordo com a ONG, avistá-los está cada vez mais recorrente nos últimos tempos.
A aproximação dos índios tem sido cau-sada pela extração ilegal de madeira no par-que e pela movimentação de helicópteros ligados à extração de gás e petróleo.
As fotos divulgadas ontem podem ser o registro mais detalhado já feito de uma co-munidade isolada – estima-se que hoje exis-tam cerca de cem em todo o mundo.
Mas o contato com os índios isolados é preocupante.
Recentemente, um fotógrafo de ori-gem indígena, Nicolas "Shaco" Flores, foi morto por uma flecha ao tentar contatar os Mashco-Piro.
"O primeiro contato é sempre perigoso e frequentemente fatal para a tribo e para aqueles que tentam o contato", disse, em nota, o diretor da ONG, Stephen Corry.
"A vontade dos indígenas de se mante-rem isolados deve ser respeitada."
Há um ano, a Funai (Fundação Nacional do Índio) liberou fotos aéreas de índios iso-lados no Acre, na divisa com o Peru. Depois disso, não houve mais divulgação de novos registros na região.
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/ciencia/1042147-ong-divulga-fotos-de-indios-isolados-na-amazonia.shtml>. Acesso em: 24 abr. 2012.
32
OB
JET
IVO
S
Neste capítulo você será capaz de identificar diferentes
manifestações culturais e a crescente importância dos meios de
comunicação na configuração da vida social.
Um novo mundo está tomando forma neste fim de milênio. Originou-se
mais ou menos no fim dos anos 1960 e meados da década de 1970 na coincidên-
cia histórica de três processos independentes: revolução da tecnologia da infor-
mação; crise econômica do capitalismo e do estatismo e a consequente reestru-
turação de ambos; e o apogeu de movimentos sociais e culturais, tais como li-
bertarismo, direitos humanos, feminismo e ambientalismo. A interação entre
esses processos e as reações por eles desencadeadas fizeram surgir uma nova
estrutura social dominante, a sociedade em rede; uma nova economia, a econo-
mia informacional/global; e uma nova cultura, a cultura da virtualidade real.
CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e
Terra, 1999. v. 3, p. 411.
O trecho extraído da obra do sociólogo espanhol Manuel Castells indica que as mu-
danças ocorridas nos últimos anos referentes aos nossos padrões de consumo ou nos-
sos hábitos cotidianos têm sofrido flagrante transformação, deixando o presente cada
vez mais distante do passado. As mudanças vivenciadas pelas gerações que cresceram
no pós-guerra do século XX foram radicais se comparadas com quaisquer outras de sé-
culos anteriores.
O que aconteceu com a organização das sociedades? Atualmente, a sensação
de mudança que um curto intervalo de tempo passado provoca significa uma mu-
dança que antes levaria anos para se realizar. Quais são as novas configurações
culturais relativas a esse novo contexto? Qual é o grau de influência e dissemina-
ção dos novos padrões e hábitos? Como os meios de comunicação interferem nes-
se processo?
DESAFIO
33
Lee Si-kap, um fazendeiro tímido que mo-ra em Yeongju, do centro da Coreia do Sul, é dono de um recorde: ele tem mais antenas parabólicas do que qualquer outro sul-corea-no – 85 delas, recebendo mais de 1.500 canais de televisão via satélite de mais de cem paí-ses, alguns de lugares tão distantes quanto a África do Sul e [o] Canadá. [...]
Plantação de antenas parabólicas, Gforum, 8 jul. 2009. Disponível em: <www.gforum.tv/board/1160/333717/plantacao-de-antenas-parabolicas.html>. Acesso em: 24 fev. 2012.
Como as novas tecnologias da informação influenciam nossa vida? Você acredita que no-
vos padrões de consumo e novos hábitos podem provocar o desaparecimento de algumas
comunidades humanas? A ampliação das trocas de informação e a popularização das tecnolo-
gias significam de fato um progresso para a humanidade? Vive-se hoje melhor do que antes?
Essas são questões para as quais você vai buscar respostas ao longo deste capítulo. Será
um momento para compreender melhor os princípios e a dinâmica da globalização que se
definiu mais claramente nos últimos quarenta anos.
Charge de Angeli publicada no jornal Folha de S.Paulo
Antenas parabólicas em Yeongju (Coreia do Sul), [s.d.].
34
QUESTÃO DO ENEM
A organização das sociedades e as mudanças sofridas por elas são assuntos discutidos em uma questão da prova anulada do ENEM 2009, feita com base no trabalho do arqueólogo francês André Prous.
Os vestígios dos povos tupi-guarani encontram-se desde as Missões e o rio da Prata, ao
sul, até o Nordeste, com algumas ocorrências ainda mal conhecidas no sul da Amazônia.
A leste, ocupavam toda a faixa litorânea, desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão. A oeste,
aparecem (no rio da Prata) no Paraguai e nas terras baixas da Bolívia. Evitam as terras
inundáveis do Pantanal e marcam sua presença discretamente nos cerrados do Brasil
central. De fato, ocuparam, de preferência, as regiões de floresta tropical e subtropical.
PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
Os povos indígenas citados possuíam tradições culturais específicas que os distinguiam
de outras sociedades indígenas e dos colonizadores europeus. Entre as tradições tupi-
guarani, destacava-se
A a organização em aldeias politicamente independentes, dirigidas por um chefe, eleito
pelos indivíduos mais velhos da tribo.
B a ritualização da guerra entre as tribos e o caráter semissedentário de sua organização
social.
C a conquista de terras mediante operações militares, o que permitiu seu domínio sobre
vasto território.
D o caráter pastoril de sua economia, que prescindia da agricultura para investir na
criação de animais.
E o desprezo pelos rituais antropofágicos praticados em outras sociedades indígenas.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Cultura e antropologia
Conhecer as tradições culturais de um povo pode causar estranhamento e fascínio. A
diversidade humana, relativa à organização de hábitos, costumes, símbolos e regras, garan-
te que se reconheça a alteridade, e essa a diferença entre os grupos humanos que com-
põem o mundo diz algo também sobre nós mesmos. Essa diversidade é expressa de manei-
ras diversas, compondo um conjunto significativo que chamamos cultura.
O antropólogo norte-americano Clifford Geertz (1926-2006) foi um importante autor e
pesquisador dos temas relativos à cultura. Uma referência de seu trabalho é o texto publi-
cado em 1973, “A interpretação das Culturas", em que o autor define conceitos e aponta
Geertz negava as ideias do antropólogo inglês Edward Tylor (1832–1917), seguidas pela
maioria dos antropólogos e que já haviam sido questionadas por outros, como o alemão
Franz Boas (1858-1942). Para Tylor, os antropólogos deveriam estabelecer uma escala evo-
lutiva entre os parâmetros vistos como civilizados, representados pela civilização europeia,
e como atrasados, os não evoluídos, representados pelas culturas periféricas à Europa: a
diversidade cultural nada mais era do que um estágio nesse processo de evolução.
Para Geertz, por sua vez, a cultura não está atrelada a qualquer condição natural nem
obedece a uma lógica evolucionista, mas configura-se como um contexto circunscrito, for-
mado por significados criados pelos próprios homens que a compõem. A observação da
cultura é feita para identificar esses significados e estabelecer as relações entre eles.
Mais recentemente, pesquisadores identificaram uma nova tendência relativa às mani-
festações da cultura em uma escala global. Na esteira do desenvolvimento de uma econo-
mia global, novos padrões estariam sendo forjados.
ANOTAÇÕES
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QUESTÃO DO ENEM
Os meios de comunicação mudaram o cotidiano das pessoas. Sobre esse assunto, a prova anulada do ENEM 2009 apresentou uma questão com base no texto do geógrafo brasileiro Rogério Haesbaert. Veja:
Leia o texto:
O intercâmbio de ideias, informações e culturas, através dos meios de comunicação,
imprime mudanças profundas no espaço geográfico e na construção da vida social, na
medida em que transformam os padrões culturais e os sistemas de consumo e de
produção, podendo ser responsáveis pelo desenvolvimento de uma região.
HAESBAERT, Rogério (org.). Globalização e fragmentação do mundo contemporâneo. Rio de
Janeiro: EdUFF, 1998.
Muitos meios de comunicação, frutos de experiências e da evolução científica
acumuladas, foram inventados ou aperfeiçoados durante o século XX e provocaram
mudanças radicais nos modos de vida, por exemplo,
A a diferenciação regional da identidade social por meio de hábitos de consumo.
B o maior fortalecimento de informações, hábitos e técnicas locais.
C a universalização do acesso a computadores e à internet em todos os países.
D a melhor distribuição de renda entre os países do sul, favorecendo o acesso a produtos
originários da Europa.
E a criação de novas referências culturais para a identidade social por meio da
disseminação das redes de fast-food.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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A Era da Informação
Um dos pesquisadores que se debruçam sobre o tema das culturas contemporâneas, o
sociólogo espanhol Manuel Castells apontou para uma mudança radical ocorrida a partir
da década de 1970. Para ele, o centro da transformação que vivemos está ligado diretamen-
te às inovações tecnológicas da informação, ao seu processamento e à sua comunicação.
O que caracteriza essa mudança, que Castells põe em paralelo com as transformações
tecnológicas ocorridas no século XVIII (ver capítulo Trabalho), não se refere à qualidade da
informação que há muito tempo se configurou da forma como a conhecemos hoje, mas à sua
manipulação em favor da produção de conhecimento, à sua aplicação e comunicação.
PENSE BEM!
Villemessant, o fundador do Figaro, caracterizou a essência da informação com uma fórmula
famosa. “Para meus leitores”, costumava dizer, “o incêndio num sótão do Quartier Latin é mais im-
portante que uma revolução em Madri”. Essa fórmula lapidar mostra claramente que o saber que
vem de longe encontra hoje menos ouvintes que a informação sobre acontecimentos próximos.
O saber, que vinha de longe – do longe espacial das terras estranhas, ou do longe temporal conti-
do na tradição –, dispunha de uma autoridade que era válida mesmo que não fosse controlável
pela experiência. Mas a informação aspira a uma verificação imediata. Antes de mais nada, ela
precisa ser compreensível “em si e para si”. Muitas vezes não é mais exata que os relatos antigos.
Porém, enquanto esses relatos recorriam frequentemente ao miraculoso, é indispensável que a
informação seja plausível. Nisso ela é incompatível com o espírito da narrativa. Se a arte da narra-
tiva é hoje rara, a difusão da informação é decisivamente responsável por esse declínio.
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 2008. p. 202-203.
Em O narrador (1936), o pensador alemão Walter Benjamin (1892–1940) chama a atenção para a na-
tureza da informação e sua relação com a narração.
O que você entende por informação? Segundo o autor, por que ela teria implicado o declínio da narra-
ção? O que o excesso de informação trouxe como ganhos e quais prejuízos ela implicou? Pense nisso!
Trata-se de um novo contexto, a Era da Informação, sustentado por uma linguagem di-
gital comum e uma incessante inovação marcada pela constante criação de interfaces en-
tre diferentes campos tecnológicos. Nesse contexto, tais inovações tecnológicas permitem
uma reconfiguração de suas aplicações pelos próprios usuários: novos paradigmas tecno-
lógicos são constituídos por sua própria aplicação e aproximação com outras tecnologias,
fazendo dos usuários seus produtores e da mente humana responsável direta pela produ-
ção. Descobertas e aplicações interagem de maneira cíclica, a partir de um movimento de
“fazer e aprender”, “aprender e fazer”.
38
RADAR
Anualmente é publicada uma pesquisa sobre o uso da tecnologia da informação e
comunicação no Brasil. Para obter alguns dados sobre o país nos últimos anos,
acesse o site do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da
Comunicação (Cetic): <http://cetic.br/usuarios/tic/index.htm>.
Para Castells, tão importante quanto a sinergia existente entre as novas tecnologias e a
descentralização da produção pelos usuários foi o desenvolvimento de tecnologias de co-
municação no pós-guerra, atreladas à tentativa de reaparelhamento das sociedades. Tais
condições exerceram grande influência para o início dessa revolução da tecnologia da in-
formação (TI), nos anos 1970, nos Estados Unidos.
No estado da Califórnia, em uma região conhecida como Vale do Silício, a alta concen-
tração centros de pesquisa, empresas de tecnologia, instituições universitárias, empresas
investidoras, entre outros, foi determinante para que empresas inovadoras de tecnologia
da informação se instalassem no local. Para avaliar sua dimensão, atualmente estão locali-
zadas lá empresas valiosas como Google, Intel, Apple, Symantec e Hewlett-Packard (HP),
dentre outras, muitas delas pioneiras e líderes em seus setores até hoje.
ANOTAÇÕES
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QUESTÃO DO ENEM
No contexto das tecnologias da informação, a cultura ganha novas dimensões e feições sob a aparência de uma comunidade global. Sobre o assunto, a prova válida do ENEM 2009 apresentou uma questão baseada em um texto do escritor brasileiro Ferreira Gullar:
[...] o índio do Xingu, que ainda acredita em Tupã, assiste pela televisão a uma partida
de futebol que acontece em Barcelona, ou a um show dos Rolling Stones na praia de
Copacabana.
Não obstante, não há que se iludir: o índio não vive na mesma realidade em que um
morador do Harlem ou de Hong Kong, uma vez que as relações dessas diferentes pessoas
com a realidade do mundo moderno são distintas, isso porque o homem é um ser cultural,
que se apoia nos valores da sua comunidade e que são os seus. [...]
GULLAR, Ferreira. Das inumeráveis atualidades. Folha de S.Paulo, São Paulo, 19/10/2008.
Ilustrada, p. E12.
Ao comparar essas diferentes sociedades em seu contexto histórico, verifica-se que
A pessoas de diferentes lugares, por fazerem uso de tecnologias de vanguarda, desfrutam
da mesma realidade cultural.
B o índio assiste ao futebol e ao show, mas não é capaz de entendê-los, porque não
pertencem à sua cultura.
C pessoas com culturas, valores e relações diversas têm, hoje em dia, acesso às mesmas
informações.
D os moradores do Harlem e de Hong Kong, devido à riqueza de sua História, têm uma
visão mais aprimorada da realidade.
E a crença em Tupã revela um povo atrasado, enquanto os moradores do Harlem e de
Hong Kong, mais ricos, vivem de acordo com o presente.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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O capitalismo informacional
A informação, nesse contexto contemporâneo, tornou-se a matéria-prima da tecno-
as novas tecnologias a todos os processos vividos por nós, cotidianamente. Tornamo-
-nos cidadãos mundiais sem sair do lugar: o mundo agora vem até nós por meio da tele-
visão, da internet. As novas tecnologias da informação configuraram-se, ainda, sob a for-
ma de redes, que permitiram mais flexibilidade no desenvolvimento de novas tecnolo-
gias, devido à maior interação entre pessoas, e da criação de novas tecnologias pela as-
sociação de outras antigas.
Esse novo mundo e essa nova cultura estão marcados por aspectos bastante defini-
dos. A revolução da tecnologia da informação ocorrida no pós-guerra fez dessas novas
tecnologias ferramentas que rapidamente se disseminaram e construíram uma lingua-
gem comum, digital, em que o poder, a riqueza e os códigos culturais passaram a depen-
der da disseminação da informação.
De outro lado, os movimentos sociais surgidos nos anos 1960, que lutavam contra as
instituições que controlavam a sociedade, favoreceram a constituição de comunidades
em rede, seja por seu internacionalismo, seja por sua independência em relação às insti-
tuições oficiais. Tais mudanças sociais favorecem o surgimento de uma sociedade frag-
mentada em tribos.
Informação. A crise que atingiu a economia mundial nos anos 1970 obrigou o desenvol-
vimento de um novo capitalismo, o informacional, apoiado na noção de produtividade
como resultado de inovações e competitividade como resultado de flexibilidade. Nesse
sentido as relações de produção se voltam à construção desses dois pilares: inovação e
flexibilidade.
A organização das empresas em redes exigiu a flexibilização dos trabalhadores e
-
ções das empresas e distinguiu duas categorias: uma formada por trabalhadores espe-
cializados, que logo se tornam obsoletos, e outra formada de maneira a atingir níveis
elevados de educação.
ANOTAÇÕES
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QUESTÃO DO ENEM
As relações de distinção e exclusão implícitas no processo de transformação da sociedade se aplicam a contextos mais amplos, como mostra a seguinte questão da prova anulada do ENEM 2009. Veja:
Entre as promessas contidas no bojo ideológico do processo de globalização da
economia estava a dispersão da produção do conhecimento na esfera global. Essa
expectativa [...] não se vem concretizando. [Nesse cenário, os tecnopolos aparecem como
um centro de pesquisa e desenvolvimento de alta tecnologia que conta com mão de obra
altamente qualificada.] Os impactos desse processo na inserção dos países na economia
global deram-se de forma hierarquizada e assimétrica. Mesmo no grupo em que se
engendrou a reestruturação produtiva, houve difusão desigual da mudança de paradigma
tecnológico e organizacional.
O peso da assimetria projetou-se [...] mais fortemente entre os países mais
desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento. [...]
expansão no mundo contemporâneo?” Inovação Uniemp, Campinas, v. 3, n. 1, jan.-fev. 2007. p. 40-41.
Diante das transformações ocorridas, é reconhecido que
A a inovação tecnológica tem alcançado a cidade e o campo, incorporando a agricultura,
a indústria e os serviços, com maior destaque nos países desenvolvidos.
B os fluxos de informações, capitais, mercadorias e pessoas têm desacelerado,
obedecendo ao novo modelo fundamentado em capacidade tecnológica.
C as novas tecnologias se difundem com equidade no espaço geográfico e entre as
populações que as incorporam em seu dia a dia.
D os tecnopolos, em tempos de globalização, ocupam os antigos centros de
industrialização, concentrados em alguns países emergentes.
E o crescimento econômico dos países em desenvolvimento, decorrente da dispersão da
produção do conhecimento na esfera global, equipara-se ao dos países desenvolvidos.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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Concentração técnico-científica
A busca por novas oportunidades de lucro faz o capitalismo informacional se expandir
de maneira incessante, atingindo regiões antes pouco vistas. No entanto, essa ampliação e
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mocratização ou de inclusão. Pelo contrário, a expansão dessa economia global se faz pela
segmentação do planeta conforme as condições de exploração.
A apropriação de forças produtivas, de fontes de matéria-prima e a exploração de novos
mercados são feitas de forma seletiva, deixando de fora países que não se constituem opor-
tunidades de investimentos ou, ainda, diferenciando regiões internas a outros países que
passam a se caracterizar como espaços da desigualdade.
PRATICANDOQuestão 1
Leia o texto abaixo e, na sequência, responda à questão.
[...] a cultura é mais bem vista não como um complexo de padrões concretos de comportamento
– costumes, usos, tradições, feixes de hábitos – como tem sido o caso até agora, mas como um
conjunto de mecanismos de controle – planos, receitas, regras, instruções (o que os engenheiros
de computação chamam “programas”) para governar o comportamento.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. São Paulo: Brasiliense, 1978.
Com base em nossas experiências cotidianas e nos eventos que caracterizam o mundo
contemporâneo, pode-se inferir que:
A os indígenas, por estarem mais distantes das sociedades urbanas, estão sendo programados
pelas políticas de tecnologia.
B a cultura permeia nosso cotidiano e confere significados e controle às nossas ações e olhares.
C a cultura não é uma ciência experimental, pois depende de leis que interferem no
comportamento humano.
D a informática provocou efeitos nocivos às comunidades indígenas transformando seus
comportamentos.
E o desenvolvimento da cultura contemporânea transformou-a em mecanismos de controle,
substituindo seus antigos padrões de comportamento.
Qual alternativa você assinalou como correta?
Por quê? Redija uma pequena justificativa para sua escolha.
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