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Encontro entre Bandeira e Drummond

Encontro entre Bandeira e Drummond

Poemas Jos, de Carlos Drummond de Andrade

Poema Vou-me embora pra Pasrgada, de Manuel Bandeira

Para ser dialogado por duas pessoas (1 e 2)

E agora, Jos?

a festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, Jos?

e agora, voc?

voc que sem nome,

que zomba dos outros,

voc que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, Jos?

Vou-me embora pra Pasrgada

L sou amigo do rei

L tenho a mulher que quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasrgada.

Est sem mulher,

est sem discurso,

est sem carinho,

j no pode beber,

j no pode fumar,

cuspir j no pode,

a noite esfriou,

o dia no veio,

o bonde no veio,

o riso no veio,

no veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, Jos?

Vou-me embora pra Pasrgada

Aqui eu no sou feliz

L a existncia uma aventura

De tal modo inconseqente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

Vou-me embora pra Pasrgada

E agora, Jos?

sua doce palavra,

seu instante de febre

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerncia,

seu dio e agora?

E como farei ginstica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a me-dgua

Pra me contar as histrias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasrgada

Com a chave na mo

quer abrir a porta,

no existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas no h mais.

Jos, e agora?

Em Pasrgada tem tudo

outra civilizao

Tem um processo seguro

De impedir a concepo

Tem telefone automtico

Tem alcalide vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

Se voc gritasse,

se voc gemesse,

se voc tocasse

a valsa vienense,

se voc dormisse,

se voc cansasse,

se voc morresse...

Mas voc no morre,

voc duro, Jos!

E quando eu estiver mais triste

Mais triste de no ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

l sou amigo do rei

terei a mulher que eu quero

na cama que escolherei

Sozinho no escuro

qual bicho do mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

voc marcha, Jos!

Jos, para onde?

Vou-me embora pra Pasrgada.

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