Emergentismo e o Problema da Causação Descendente · Dialogando com John R. Searle ! “John...

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Consciência: Emergentismo e o Problema da Causação Descendente Prof. Dr. Leonardo Lana de Carvalho (UFVJM) Frederico Fernandes de Castro (Mestrando)

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Consciência: Emergentismo e o Problema da Causação Descendente

Prof. Dr. Leonardo Lana de Carvalho (UFVJM) Frederico Fernandes de Castro (Mestrando)

Agradecimentos �  À Fundação de Amparo

à Pesquisa do Estado de Minas Gerais

�  À Universidade Federal d o s V a l e s d o Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

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Metodologia em Ciências Cognitivas

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Concepção (do modelo) Concepção (do protocolo experimental)

Avaliação / Validação da teoria

Avaliação / Validação da teoria

Calibração / Validação do modelo computacional

Exploração do experimento

Exploração do modelo

Revisão conceitual

Revisão do protocolo experimental

Modo  Conceitual

Modo  Experimental

Modo  Computacional

Carvalho, L. L., Varenne, F., Braga, E. M. (2014). Ontologias para a Modelagem Multiagente de Sistemas Complexos em Ciências Cognitivas. Ciências & Cognição, 19, 58-75.

Ponto de Partida

Fonte: Adaptado de TEIXEIRA, J. F. Mente, Cérebro e Cognição. Petrópolis: Editora Vozes. 2000. (Carvalho & Lopes, 2010)

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Suponhamos que um s i s t e m a ( s ) o b t e n h a elementos que, de acordo com a sua organização (x), produzirá propriedades (y).

SISTEMA

PROPRIEDADES

ELEMENTOS

ORGANIZAÇÃO

Sistema Searleano

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SEARLE, J. R. A Redescoberta da Mente. Trad. Eduardo Pereira. 2ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

John Rogers Searle 1932 -

Emergentismo

�  “... esta oposição entre partes versus todo, ou entre características básicas (concebidas como propriedades intrínsecas de particularidades microscóp icas ) ve r sus carac ter í s t i cas emergentes é parte do problema, e não parte da solução.” (Thompson, 2013, p. 479)

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THOMPSON, E. Emergência e o problema da causalidade descendente (Ap. B). In: A mente na vida: biologia, fenomenologia e ciências da mente. Instituto Piaget, 2013. (Original de 2007)

Emergentismo

�  Segundo Bertalanffy (1968): ◦  Um sistema é composto de elementos; ◦  Os elementos de um sistema possuem uma

organização; ◦  Um sistema possui propriedades.

BERTALANFFY, L. (1968). General System Theory: Foundations, Development, Applications. New York: George Braziller.

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Emergentismo

�  O conceito de superveniência repousa sobre a hipótese que consiste em dizer que um sistema não se restringe aos elementos, mas se prolonga sobre suas propriedades (Hare, 1984).

Hare, R. M. (1984). Supervenience. Proceedings of the Aristotelian Society, 58, 1-15.

–  Necessariamente, se Fa, então há uma inferência válida para a forma:

Para todo x, Se, Gx então Fx, Então, Ga então Fa.

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Emergentismo e SN

Ga : subconjunto de neurônios

x : neurônio Gx : conjunto de neurônios

Grupo Fa se Ga Gb : subconjunto de grupos de neurônios

x’ = Fa : grupo de neurônios

Gx’ : conjunto de grupos de neurônios

Rede Fb se Gb Gc : subconjunto de redes funcionais

x’’ = Fb : redes funcionais

Gx’’ : conjunto de redes funcionais

Cérebro Fc se Gc

Palavras

Sentenças

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Pulvermüller, F. (2005). Brain mechanisms linking language and action. Nature Reviews Neuroscience, 6, 576-582.

Emergentismo e SN

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Emergentismo e Substancialização das Propriedades

�  “Definição: Uma rede, N, de componentes inter-relacionados exibe um processo emergente, E, com propriedades emergentes, P, se e apenas se: ◦  E for um processo global que instancie P e derivar do

acoplamento dos componentes de N e da dinâmica não linear, D, das suas interações locais; ◦  E e P tiverem uma influência determinativa global para

local (“descendente”) na dinâmica.” (Thompson, 2013, p. 480)

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Emergentismo e Substancialização das Propriedades

�  “Embora a designação propriedade emergente seja generalizada, prefiro a de processo emergente. Em rigor, não faz sentido dizer que uma propriedade emerge, mas apenas que acaba por ser realizada, instanciada ou exemplificada num processo ou entidade que emerge no tempo.” (Thompson, 2013, p. 480-81)

Evan Thompson 1962 -

“Causação descendente”

�  “Causação descendente”: modificando a probabilidade de ocorrências internas!

�  “Nos casos em que a seleção natural opera através da vida e morte num nível de organização superior, as leis do sistema seletivo de nível superior determinam em parte a distribuição de eventos e substâncias de nível inferior [...] todos os processos nos níveis inferiores de uma hierarquia são limitados pelas leis dos níveis superiores e atuam em conformidade com elas” (Campbell, 1974, p. 180 segundo Thompson, 2013, p. 489)

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Dialogando com a Teoria da Gestalt

�  “ ‘Limitação’ é, portanto, uma noção formal ou topológica (Deacon, 2003). A forma, configuração ou topologia de um sistema limita ou evita certos comportamentos possíveis que as partes poderiam ter por si mesmas, ao mesmo tempo que lhes abre novas possibilidades em virtude dos estados a que o sistema pode aceder como um todo (Juarrero, 1999, pp. 132-33).” (Thompson, 2013, p. 487)

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A vida como estruturas, processos e formas emergentes

�  “Por exemplo, a propriedade de estar vivo não emergiu quando a vida teve origem na Terra; em vez disso, acabou por ser instanciada em resultado do processo emergente da autopoiése que constitui as células vivas.

�  Este exemplo também aponta para a importância das características causais dos processos emergentes: a rede emergente da autopoiése constitui um indivíduo biológico (uma célula) que produz mudanças no meio externo.

�  Também cria um contexto estruturado em que podem ter lugar novos tipos de eventos, como a síntese proteica e a replicação de ARN/ADN, que não podem ocorrer separadamente ou fora do meio intracelular protegido.” (Thompson, 2013, p. 481)

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A mente como estruturas, processos e formas emergentes

�  A mente humana ocorre como um processo emergente de segunda ordem, a partir dos processos e formas emergentes no SN.

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Dialogando com John R. Searle

�  “John Searle diz isto mesmo numa discussão relacionada: “A forma correta de pensar isto não é tanto “descendente”, mas como causalidade do sistema. O sistema, enquanto sistema, tem efeitos causais sobre cada elemento, embora o sistema seja constituído por esses elementos” (Searle, 2000b, p. 17 segundo Thompson, 2013, p. 489)

�  “Desta perspectiva, a expressão causalidade descendente é sintomática de um reconhecimento parcial de causalidade do sistema, juntamente com uma incapacidade para mudar completamente para uma perspectiva de causalidade do sistema.” (Thompson, 2013, p. 489)

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Considerações finais 1.  Somente sistemas são causais. Não há infração ao

“Princípio do fechamento Causal do Domínio Físico”. 2.  Uma propriedade emergente sinaliza apenas um sistema

constituído que assim tem condições para se inserir nas relações causais do nível de organização no qual o sistema se realiza (emergiu).

3.  Não haveria aqui causação descendente da “propriedade”, podendo toda ela ser reduzida aos processos, estruturas e formas emergentes, em acoplamento estrutural.

4.  Uma neurofenomenologia se encontra assentada em uma isomorfia entre a forma consciente experimentada em primeira pessoa e as formas teorizadas como reais no discurso de terceira pessoa.

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Referências Bibliográficas BERTALANFFY, L. General System Theory: Foundations, Development, Applications. New York: George Braziller, 1968. CARVALHO, L. L., VARENNE, F., BRAGA, E. M. Ontologias para a Modelagem Multiagente de Sistemas Complexos em Ciências Cognitivas. Ciências & Cognição, 19, 2014, 58-75. HARE, R. M. (1984). Supervenience. Proceedings of the Aristotelian Society, 58, 1-15. PULVERMÜLLER, F. Brain mechanisms linking language and action. Nature Reviews Neuroscience, 6, 2005, 576-582. SEARLE, J. R. A Redescoberta da Mente. Trad. Eduardo Pereira. 2ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2006. SEARLE, J. R. Mentes, Cérebros e Programas. Trad. Cléa Regina de Oliveira Ribeiro. In Teixeira, J. F. (Org.). Mentes, Máquinas e Consciência: uma introdução à filosofia da mente. São Carlos: Editora UFSCar, 1997, 61-94. TEIXEIRA, J. F. Mente, Cérebro e Cognição. Petrópolis: Editora Vozes, 2000. THOMPSON, E. Emergência e o problema da causalidade descendente (Ap. B). In: A mente na vida: biologia, fenomenologia e ciências da mente. Instituto Piaget, 2013 (Original de 2007) 19

Grupo de pesquisa UFVJM

� Centro de Estudos em Filosofia (CEFIL) ◦  Filosofia da Mente, Psicologia & Ciências

Cognitivas (Prof. Dr. Leonardo Lana de Carvalho) �  Léa Sá Fortes (Mestre em Ciências Humanas) �  Federico F. de Castro (Mestrando) �  Marcus Vinícius Escobar (Mestrando) �  Sophia Andrade Coelho (Mestranda) �  Denis James Pereira (IC – CAPES, CNPq) �  Altemar França (TCC)

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OBRIGADO!

Prof. Dr. Leonardo Lana de Carvalho Vice-coordenador do GT de Filosofia da Mente da ANPOF

Filosofia da Mente, Psicologia e Ciências Cognitivas – CEFIL / UFVJM Coordenador do Mestrado em Ciências Humanas – MPICH / UFVJM

Email institucional: [email protected] ou preferencialmente: [email protected]

Mestrando Frederico Fernandes de Castro

Mestrando em Ciências Humanas – MPICH / UFVJM Filosofia da Mente, Psicologia e Ciências Cognitivas – CEFIL / UFVJM

Email: [email protected]

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