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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DISTRBIOS DA COMUNICAO HUMANA
ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS
MSCULOS MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO
DISSERTAO DE MESTRADO
Flvia Lees de Almeida
Santa Maria, RS, Brasil 2009
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ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS MSCULOS
MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO
por
Flvia Lees de Almeida
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de
Concentrao Audio e Linguagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Distrbios da Comunicao Humana
Orientadora: Prof. Dr. Ana Maria Toniolo da Silva Co-orientadora: Prof. Dr. Eliane Corra
Santa Maria, RS, Brasil
2009
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A447e Almeida, Flvia Lees de Eletromiografia de superfcie dos msculos masseter e temporal em sujeitos com bruxismo / Flvia Lees de Almeida. Santa Maria: UFSM, 2009. 111 f.
Orientador: Ana Maria Toniolo da Silva Dissertao (mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de Concentrao Audio e Linguagem, 2009.
1. Bruxismo. 2. Eletromiografia. 3. Msculos Mastigatrios. I. Silva, Ana Maria Toniolo da. II. Universidade Federal de Santa Maria, Mestrado do Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana, rea de Concentrao Audio e Linguagem. III. Ttulo.
CDU 616.314-001.4
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Cincias da Sade Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao
Humana
A Comisso Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Dissertao de Mestrado ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS MSCULOS MASSETER
E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO
Elaborada por
Flvia Lees de Almeida
como requisito parcial para obteno do grau de
Mestre em Distrbios da Comunicao Humana
Comisso Examinadora:
Ana Maria Toniolo da Silva, Prof. Dr. (UFSM) (Presidente/Orientador)
Eliane Corra, Prof. Dr. (UFSM) (Co-orientador)
Kelly Cristina Alves Silverio, Prof. Dr. (UTP) (Membro)
Cludio Figueir, Prof. Dr. (UFSM) (Membro)
Santa Maria, 30 junho, de 2009
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AGRADECIMENTOS
Agradeo, primeiramente, a Deus por no permitir que eu desistisse.
Obrigada pelo amor e ajuda nos momentos mais difceis.
A minha famlia, em especial, ao meu pai e minha me. Muito obrigada pelo
amor, pela confiana, pelo respeito e por aceitarem e acreditarem nas minhas
escolhas. A vocs, meu amor incondicional!
Agradeo muito ao meu mano, sobrinhos e a Rose! Obrigada pela pacincia e
por entenderem as minhas angstias e ausncias. Vocs moram no meu corao!
A minha querida orientadora Prof. Ana Maria por todo carinho, apoio e
confiana a mim dedicados durante todos esses anos que trabalhamos juntas. Os
seus ensinamentos foram fundamentais para o meu crescimento pessoal e
profissional.
A professora Eliane Corra pelas excelentes contribuies prestadas ao meu
trabalho. Muito obrigada!
A querida amiga e colega Angela! Nunca poderei agradecer por toda ajuda.
Tu s uma pessoa especial que sempre estar em meu corao.
As meninas do Laboratrio de Motricidade Oral: Geovana, Dbora, Luana,
Luane, Juliana, Fernanda, Tas e Clarissa por todo o apoio, colaboraes e,
principalmente, pela amizade que dedicaram a mim todo esse tempo!
A todos os amigos que torceram pela concretizao desse trabalho....essa
conquista no seria possvel sem vocs.
A minha querida mana Lu. Obrigada pelas palavras de incentivo, pelos
ouvidos pacientes, pelo carinho, pelos momentos compartilhados e principalmente
pela amizade!
Fao um agradecimento especial Professor Cludio Figueir, no apenas por
ter aceitado o convite para ser membro da banca do meu trabalho, mas por to
gentilmente ter contribudo com a realizao das avaliaes dos sujeitos da
pesquisa. Obrigada pela ateno e pelas contribuies que tanto enriqueceram esse
estudo.
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Agradeo a Prof Kelly Cristina Alves Silvrio pela disponibilidade e ateno
em aceitar participar da banca examinadora e por abrilhantar esse estudo com suas
consideraes. Muito obrigada!
professora Mrcia Keske-Soares por toda a dedicao em fazer do
Programa de Ps Graduao em Distrbios da Comunicao Humana um curso
respeitado, contribuindo dessa forma para o crescimento da Fonoaudiologia.
professora Luciane Jacobi, pela realizao das anlises estatsticas, pelas
excelentes explicaes e por toda a ateno a mim dedicada.
Para finalizar, agradeo a todas as pessoas que participaram desse estudo. A
colaborao de vocs foi fundamental para que esse momento se tornasse
realidade. Obrigada por acreditarem em mim e por contriburem com a cincia, em
especial, com a Fonoaudiologia.
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RESUMO
Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Distrbios da Comunicao Humana
Universidade Federal de Santa Maria
ELETROMIOGRAFIA DE SUPERFCIE DOS MSCULOS MASSETER E TEMPORAL EM SUJEITOS COM BRUXISMO
AUTORA: FLVIA LEES DE ALMEIDA
ORIENTADOR (A): ANA MARIA TONIOLO DA SILVA Data e Local da Defesa: Santa Maria, 30 de junho de 2009.
Este estudo teve como objetivo geral verificar o comportamento da atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, em sujeitos com e sem bruxismo. E como objetivos especficos mensurar a atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, verificar a graduao de dor palpao e sua correlao com a atividade eltrica em sujeitos com bruxismo, e o padro da atividade eltrica dos msculos masseter e temporal em sujeitos com e sem bruxismo, comparando-os. Participaram deste estudo 31 sujeitos, de ambos os sexos, com idades entre 19 e 51 anos, dos quais 20 apresentavam bruxismo (GE) e 11 no apresentavam bruxismo (GC). Os sujeitos foram avaliados atravs do instrumento RDC/TMD e realizaram avaliao odontolgica, fonoaudiolgica e exame eletromiogrfico. Este ltimo foi realizado nas situaes de repouso, mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada. Os resultados mostraram que o padro eletromiogrfico dos msculos apresentou-se prximos aos nveis de normalidade no repouso, mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada nos sujeitos com e sem bruxismo. A maioria dos sujeitos com bruxismo apresentou queixa de dor, sendo mais evidenciado o nvel severo e, principalmente, no msculo masseter. No houve correlao estatisticamente significante entre dor e atividade EMG. Quando comparadas as mdias da atividade eltrica dos grupos com e sem bruxismo, no verificou-se diferena estatisticamente significante nos msculos estudados, exceto para o masseter direito durante o repouso e para masseter esquerdo durante a mastigao. Pode-se concluir que a dor no consistiu um fator prejudicial ao desempenho da atividade eltrica dos msculos estudados nas situaes avaliadas e que o bruxismo no alterou a atividade eltrica dos msculos mastigatrios.
Descritores: Bruxismo; Eletromiografia; Msculos Mastigatrios.
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ABSTRACT
Masters Dissertation Postgraduate Program in Human Communication Disorders
Federal University of Santa Maria
ELECTROMYOGRAPHY OF SURFACE OF THE MASSETER AND TEMPORAL MUSCLES IN SUBJECTS WITH BRUXISM
AUTHOR: FLVIA LEES DE ALMEIDA
ADVISOR: ANA MARIA TONIOLO DA SILVA Date and Place of the Presentation: Santa Maria, June, 30th, 2009.
This study aimed to analyze the electric activity of masseter and temporal muscles, in subjects with bruxism. The specific objectives were to measure the electric activity of the masseter and temporal muscles, to verify the graduation of the pain to the palpation and your correlation with the electric activity in subjects with bruxism, and to compare the electrical activity pattern of these muscles in subjects with and without bruxism. 31 participants, male and female, aged between 19 and 51 years old were volunteers in the study, 20 of them with bruxism (SG) and 11 without bruxism (CG). The participants were examined based on RDC/TMD instrument, dentistry and speech pathology assessments and electromyography exam. The last one was carried out during rest, maximum intercuspation and the rhythmic mastication. The results showed that the electromyography pattern of the muscles was presented next to the levels to normality during rest, maximum intercuspation and usual mastication rhythmic in the subjects with and without bruxism. Most of the subjects presented complaint of pain, being more evidenced the severe degree and mainly in the muscle masseter. There was not statistically significant correlation between pain and EMG activity. It was not observed statistically significant differences in the studied muscles, except for the right masseter during the rest and for left masseter during the mastication when comparing the averages of the electric activity of the subjects with and without bruxism. It can be concluded that the pain did not consist a harmful factor to the electric activity performance of the studied muscles in the appraised situations and that the bruxism did not alter the electric activity of the masticatory muscles.
Key words: Bruxism; Electromyography; Masticatory Muscles.
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LISTA DE ILUSTRAES
FIGURA 1 Conexo para oito canais (A), pr-amplificadores ativos (B),
eletromigrafo (C), eletrodos duplos de superfcie(D).......................................41
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LISTA DE TABELAS
Tabelas referentes ao Artigo de Pesquisa: Relao entre dor e atividade
eltrica dos msculos mastigatrios na presena de bruxismo
TABELA 1 Distribuio das mdias e desvio padro da atividade
eletromiogrfica (RMS) dos msculos masseteres direito (MD) e esquerdo (ME)
e dos msculos temporais direito (TD) e esquerdo (TE) obtidas do grupo de
sujeitos com bruxismo (n=20) nas provas da eletromiografia (EMG) de repouso,
mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada..................................52
TABELA 2 Distribuio dos valores absolutos (n) e relativos (%) dos sujeitos
com bruxismo (n=20) segundo a escala de dor do RDC/TMD relatada nos
msculos masseteres direito (MD) e esquerdo (ME) e dos msculos temporais
direito (TD) e esquerdo (TE).............................................................................53
TABELA 3 Correlao entre a atividade eltrica dos msculos masseteres
direito (MD) e esquerdo (ME) e temporal direito (TD) e esquerdo (TE) com a
escala de dor do exame clnico do RDC/TMD dos sujeitos com bruxismo nas
provas da eletromiografia (EMG) de repouso, mxima intercuspidao e
mastigao habitual ritmada..............................................................................54
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Tabelas referentes ao Artigo de Pesquisa: Atividade eltrica dos
msculos mastigatrios em sujeitos com e sem bruxismo
TABELA 1 Comparao dos valores mdios e desvio padro (DP) da
atividade eletromiogrfica (RMS) dos msculos (MD), (ME), (TD) e (TE) obtidas
do Grupo Estudo (GE) e do Grupo Controle (GC) nas Provas de repouso (P1),
mxima intercuspidao (P2) e mastigao habitual ritmada (P3)....................72
TABELA 2 Comparao, em cada um dos grupos (GE e GC), da atividade
eletromiogrfica (RMS) entre os msculos masseteres e temporais nos lados
direito e esquerdo nas Provas de repouso (P1), mxima intercuspidao (P2) e
mastigao habitual ritmada (P3).....................................................................72
TABELA 3 Comparao, em cada um dos grupos (GE e GC), da atividade
eletromiogrfica (RMS) entre os msculos masseteres direito e esquerdo e,
temporais direito e esquerdo nas Provas de repouso (P1), mxima
intercuspidao (P2) e mastigao habitual ritmada (P3).................................72
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LISTA DE REDUES
A/D Conversor analgico/digital
Ag/AgCl Eletrodos Prata/Cloridato de Prata
bpm Batidas por minuto
CEP Comit em tica e Pesquisa
cm - Centmetros
dB Decibis
DP Desvio Padro
DTM Disfuno Temporomandibular
EMG Eletromiografia
GC Grupo Controle
GE Grupo Estudo
G - Gigaohm
Hz Hertz
KHz KiloHertz
mm - Milmetros
V - Microvolts
MD Msculo masseter direito
ME Msculo masseter esquerdo
P1 Prova 1: repouso
P2 Prova 2: mxima intercuspidao
P3 Prova 3: mastigao habitual ritmada
http://en.wiktionary.org/wiki/gigaohms
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RDC/TMD Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens
Temporomandibulares
RMS Root Mean Square Raiz Quadrada Mdia
SAF Servio de Atendimento Fonoaudiolgico
SE Sistema Estomatogntico
TD Msculo temporal direito
TE Msculo temporal esquerdo
V - Volts
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LISTA DE ANEXOS
ANEXO A Documento de aprovao no Comit de tica em Pesquisa........93
ANEXO B - Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens
Temporomandibulares (RDC/DTM)...................................................................94
ANEXO C - Protocolo de Avaliao Fonoaudiolgica..........................................111
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LISTA DE APNDICES
APNDICE A - Termo de Autorizao Institucional Servio de Atendimento
Fonoaudiolgico/SAF /UFSM..........................................................................118
APNDICE B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................119
APNDICE C Quadro de armazenamento de dados da Avaliao
Odontolgica....................................................................................................121
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SUMRIO
RESUMO.............................................................................................................6
ABSTRACT..........................................................................................................7
LISTA DE ILUSTRAES...................................................................................8
LISTA DE TABELAS............................................................................................9
LISTA DE REDUES......................................................................................11
LISTA DE ANEXOS...........................................................................................13
LISTA DE APNDICES.....................................................................................14
1 INTRODUO................................................................................................17
2 REVISO DE LITERATURA...........................................................................20
2.1 Bruxismo......................................................................................................20
2.2 Msculos Mastigatrios e Dor......................................................................26
2.3 Eletromiografia............................................................................................ 30
3 MATERIAL E MTODO..................................................................................37
4 RELAO ENTRE DOR E ATIVIDADE ELTRICA DOS MSCULOS
MASTIGATRIOS NA PRESENA DE BRUXISMO ......................................44
4.1 Resumo........................................................................................................44
4.2 Abstract........................................................................................................45
4.3 Introduo....................................................................................................46
4.4 Materiais e Mtodos.....................................................................................47
4.5 Resultados...................................................................................................52
4.6 Discusso....................................................................................................55
4.7 Concluso....................................................................................................58
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4.8 Referncias Bibliogrficas...........................................................................58
5 ATIVIDADE ELTRICA DOS MSCULOS MASTIGATRIOS EM SUJEITOS
COM E SEM BRUXISMO .................................................................................64
5.1 Resumo........................................................................................................64
5.2 Abstract........................................................................................................65
5.3 Introduo....................................................................................................65
5.4 Mtodos.......................................................................................................66
5.4.1 Caracterizao da pesquisa.....................................................................66
5.4.2 Procedimentos para seleo dos Grupos.................................................67
5.4.3 Critrios para seleo dos Grupos...........................................................67
5.4.4 Caracterizao do Grupos........................................................................68
5.4.5 Avaliao Eletromiogrfica.......................................................................68
5.4.6 Anlise dos dados.....................................................................................70
5.4.7 Mtodo Estatstico....................................................................................71
5.5 Resultados...................................................................................................71
5.6 Discusso....................................................................................................73
5.7 Concluses..................................................................................................76
5.8 Referncias Bibliogrficas...........................................................................77
6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...............................................................81
ANEXOS............................................................................................................92
APNDICES....................................................................................................117
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1 INTRODUO
O sistema estomatogntico constitui-se por um conjunto de estruturas que
desenvolvem funes comuns como a suco, a deglutio, a mastigao a
respirao e a fala. Quando existem desvios dos padres normais ocorrem
alteraes na forma ou funo destas estruturas.
As disfunes que atingem este sistema tm sido amplamente estudadas por
diferentes profissionais ligados a rea, sendo suas causas muitas vezes associadas
a algum tipo de hbito deletrio, pois os mesmos podem afetar as estruturas faciais,
proporcionando danos significativos as mesmas (ARAJO, 1988).
Entre os hbitos deletrios freqentemente relatados na literatura est o
bruxismo. Este, de acordo com a Classificao Internacional dos Distrbios do Sono,
pode ser definido como um hbito no fisiolgico do sistema mastigatrio,
caracterizado pelo apertar ou ranger dos dentes, sendo estes, provavelmente,
decorrentes da contrao rtmica dos msculos masseteres, realizados de forma
contnua e inconsciente, podendo ser de manifestao noturna ou diurna, atingindo
de 5 a 20% da populao em alguma fase da vida (THORPY, 1997; POSSIDENTE
et al., 1997), tendendo a diminuir com o avano da idade (KISER & GROENEVELD,
1998), embora ainda no haja na literatura um consenso sobre a real prevalncia do
mesmo (MACEDO, 2008).
Quando ocorre durante o sono, h predomnio de deslizamento das
superfcies oclusais dos dentes em contato excntricos e apertamentos dentrios,
levando ao aumento da tenso, devido contrao isomtrica dos msculos
elevadores da mandbula, sendo que nesta segunda situao a hipertrofia muscular
mais freqente (DEKON et al. 2003).
Pereira et al. (2006), citaram como possveis etiologias para o bruxismo,
principalmente, fatores psicossociais, alteraes do sono, uso de drogas de ao
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18
central ou desarmonias oclusais. Acredita-se que todos esses fatores promovam
alm de desgaste dentrio, dor na face, j que, h possibilidade do bruxismo estar
vinculado etiologia da dor facial (MCFARLANE et al., 2003).
Devido aos prejuzos provocados pelo bruxismo, uma avaliao detalhada
relevante, j que seu diagnstico no de fcil realizao e ainda porque no h
relatos na literatura de uma avaliao que contemple todos os aspectos que devem
ser avaliados (KOYANO et al., 2008). Caractersticas psicolgicas e aspectos da
arcada dentria, da musculatura orofacial e de qualidade de sono, so alguns dos
aspectos que devem ser investigados a fim de eleger o tratamento mais adequado e
favorecer a percepo do sujeito sobre a presena do hbito.
Segundo Ferla (2004), a avaliao fonoaudiolgica da musculatura facial
baseia-se, especialmente, na avaliao clnica a qual fornece dados subjetivos e
qualitativos do aspecto, resistncia, funcionalidade e potncia, sendo bastante vlida
e utilizada, tambm, para averiguar o aspecto da dor facial que explicitada no
momento da palpao da musculatura afetada.
Ainda que o exame clnico seja imprescindvel, Nagae & Brzin (2004)
acreditam que, na rea da fonoaudiologia, h uma crescente necessidade da
incluso de mtodos objetivos para verificar a condio muscular de sujeitos que
sofrem de patologias que prejudicam a musculatura mastigatria, em especial os
msculos masseter e temporal (GONZLES, 2000; DOUGLAS, 2002; FELCIO &
MORALES, 2003).
Desse modo, com o intuito de auxiliar e enriquecer a avaliao, bem como
proporcionar uma conduta mais adequada aos profissionais da fonoaudiologia e de
reas a fim, a eletromiografia de superfcie surge como mtodo importante,
permitindo maior objetividade nos resultados de pesquisas e na obteno de
parmetros para diagnstico (RAHAL & PIEROTTI, 2004; BIASOTTO, BIASOTTO-
GONZALEZ & PANHOCA, 2005).
Esta representa um meio de mensurar os potenciais eltricos emanados pelos
msculos no momento da contrao (QUIRCH, 1965; LEHMKUHL & SMITH, 1989;
DAHLSTRM, 1989; DE LUCA,1997).
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Portanto, este estudo teve como objeto geral verificar o comportamento da
atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, por meio de avaliao
eletromiogrfica, em sujeitos com e sem bruxismo.
Este estudo foi organizado em 6 captulos, sendo o primeiro a presente
introduo geral, o segundo destinado reviso de literatura; o terceiro aos
materiais e mtodos, o quarto e o quinto captulos referem-se aos artigos de
pesquisa provenientes dos resultados do estudo e, para finalizar, o sexto captulo
destina-se s referncias bibliogrficas do mesmo.
O artigo de pesquisa a ser apresentado no quarto captulo tem como ttulo
Relao entre dor e atividade eltrica dos msculos mastigatrios na presena de
bruxismo e como objetivo mensurar a atividade eltrica dos msculos masseter e
temporal, verificar a graduao de dor palpao e sua correlao com a atividade
eltrica em sujeitos com bruxismo. Este trabalho foi elaborado de acordo com as
normas da Revista Brasileira de Fisioterapia/Brazilian Journal of Physical Therapy
(RBF/BJPT) para a qual ser encaminhado.
O segundo artigo, apresentado no quinto captulo, procurou verificar, por meio
da avaliao eletromiogrfica, o padro da atividade eltrica dos msculos masseter
e temporal em sujeitos com e sem bruxismo, comparando-os. Esse artigo tem como
ttulo Atividade eltrica dos msculos mastigatrios em sujeitos com e sem
bruxismo, e ser submetido a Pr-Fono Revista de Atualizao Cientfica, sendo
redigido de acordo com as normas propostas pela mesma.
No final deste trabalho esto apresentados os anexos e apndices utilizados
na constituio da pesquisa.
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2 REVISO DE LITERATURA
Este captulo destinado reviso da literatura, por meio da anlise e
comparao de snteses de trabalhos e obras relacionados com o contedo deste
estudo. A fim de favorecer a compreenso da leitura, os assuntos sero abordados
separadamente, iniciando com a exposio de trechos sobre bruxismo, aspectos
anatmicos e fisiolgicos da musculatura envolvida na funo de mastigao e dor
e, por fim aspectos sobre eletromiografia.
2.1 Bruxismo
O bruxismo um hbito deletrio que danifica o sistema estomatogntico,
sendo decorrente, entre outros, da falta de coordenao neuromotora dos msculos
da mastigao, podendo manisfestar-se atravs de movimentos viciosos como
repetidas ocluses, em forma de tiques nervosos, projeo ou lateralizao da
mandbula (ARAJO, 1988). Este termo deriva da palavra grega brychein, que
significa apertamento, frico ou atrito dos dentes entre si sem nenhum objetivo
funcional aparente (FAULKNER, 1990).
Seus prejuzos atingem tanto a musculatura quanto a arcada dentria, j que
em sujeitos que realizam esse hbito pode haver hiperatividade do msculo
masseter, presena de desgastes dentrios, sensibilidade pulpar, periodontite e at
mesmo mobilidade dentria (MEDEIROS, 1991).
Alm dessas, a literatura tambm relata como caractersticas da ocorrncia
do bruxismo a tenso ocorrida nas estruturas envolvidas na funo da mastigao,
principalmente, nos msculos mastigatrios e na articulao temporomandibular,
que, associadas ao estresse, distrbios do sono, medo de dor, idade e at o sexo do
sujeito so apontadas como alguns dos fatores contribuintes para a diminuio da
atividade muscular em sujeitos patolgicos (ROMPR et al., 1992; RAUSTIA,
SALONEN & PYHTINEN, 1996).
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Um hbito deletrio, como o bruxismo, pode afetar a atividade eltrica dos
msculos envolvidos e, conseqentemente, prejudica a funo a qual esses
msculos se propem, como foi observado nos resultados do estudo de Tsolka et al.
(1994), onde pacientes com patologia muscular apresentaram aumento da atividade
eltrica no repouso.
Com relao sua prevalncia, existem controvrsias entre estudos. H os
que relatam que, na faixa entre 18 e 29 anos de idade, chega a 13%, diminuindo
com o avano da idade (LAVIGNE & MONTPLAISIR, 1994; KIESER &
GROENEVELD, 1998), outros acreditam que o bruxismo mais evidente na faixa
etria entre 10 e 40 anos (ATTANASIO, 1997) havendo ainda referncias que 5 a
20% da populao apresenta este hbito em alguma fase da vida sendo que esse,
freqentemente, est associado a sinais de ansiedade, estresse e transtornos do
sono (POSSIDENTE et al., 1997). Porm, de acordo com Macedo (2008), ainda no
h na literatura dados mais precisos a respeito da prevalncia do bruxismo,
provavelmente, devido realizao de diferentes metodologias nas pesquisas que
estudam esse hbito.
De acordo com a Classificao Internacional dos Distrbios do Sono, o
bruxismo pode ser descrito como a realizao, em especial durante o sono, de
movimentos estereotipados e peridicos com ranger e/ou cerrar de dentes,
provavelmente, decorrentes da contrao rtmica dos msculos masseteres. Alm
disso, o seu diagnstico no de fcil realizao, j que raramente percebido pelo
sujeito, manifestando-se por meio de rudos durante o sono, desconforto muscular
matinal e desgaste dentrio, o qual s ser notado aps avaliao com o dentista
(THORPY, 1997).
O bruxismo pode ser caracterizado pelo apertamento ou ranger dos dentes;
manifestando-se de dia ou de noite e apresentando-se de forma consciente (morder
lpis, dedos ou o uso contnuo da chupeta) ou inconsciente. Sua etiologia abrange
fatores locais (contatos prematuros, interferncias oclusais); sistmicos (indivduos
portadores de asma, rinite, pacientes com alteraes do sistema nervoso central,
distrbios gastrointestinais ou endcrinos); psicolgicos (estresse, ansiedade);
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Kieser%20JA%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Groeneveld%20HT%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus
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ocupacionais (prtica de esportes de competio) e/ou fatores hereditrios
(GUSSON, 1998; BADER & LAVIGNE, 2000).
Este, na maioria das vezes, diagnosticado por dentistas por meio da anlise
da arcada dentria, onde se observa, alm do tipo de ocluso, a existncia de
facetas de desgaste (BIANCHINI, 1998; JUNQUEIRA, 2004).
Indivduos que realizam bruxismo apresentam sinais e sintomas como
sensibilidade palpao; sensao de msculos rgidos do masseter e do temporal;
contrao excessiva e atpica do msculo masseter; cefalia que, provavelmente,
provocada pela m circulao nos msculos e/ou desequilbrio da atividade
muscular; desgaste nas facetas dos dentes anteriores; rudo noturno de rangimento;
aumento do tnus; espasmos musculares; contrao sustentada da musculatura e
perda dos perodos de repouso muscular (CLARO,1998; ROCHA, 2000; JARDINI,
2007).
Ibastera et al. (1998) realizaram um estudo com 24 sujeitos com bruxismo os
quais realizaram anamnese e eletromiografia de superfcie dos msculos
mastigatrios, digstricos, esternocleidomastideos e trapzios, na posio de
repouso. A anlise dos resultados demonstrou que a posio de repouso mantida
por uma mnima atividade eltrica, especialmente, dos msculos temporais e
trapzios e, que nestes sujeitos houve um desequilbrio muscular que promoveu um
predomnio de atividade para o lado esquerdo na situao de repouso.
Segundo Lacius-Pinto et al., (2000), o bruxismo um hbito oral deletrio de
causa multifatorial que pode comprometer de diferentes maneiras o sistema
estomatogntico, musculatura, dentes, periodonto, entre outros. Quando se
apresenta durante o sono, h predomnio de deslizamento das superfcies oclusais
dos dentes em contato excntricos e apertamentos dentrios, com aumento da
tenso por contrao isomtrica dos msculos elevadores da mandbula, sendo que
nesta segunda situao a hipertrofia muscular mais freqente (DEKON et al.
2003).
Relatos da literatura referem que o hbito de ranger os dentes mais
evidente em pacientes adultos estressados, hiperativos, sujeitos a episdios de
agressividade ou que apresentam personalidade compulsiva, afetando de maneira
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significativa a musculatura mastigatria (LAVIGNE & MANZINI, 2000; BADER &
LAVIGNE, 2000).
Dentre as diversas etiologias do bruxismo podem-se encontrar causas
emocionais, como o estresse, conflitos internos, tenses e ansiedade, assim como
outros fatores como o uso de fumo, lcool, drogas, ocorrncia de doenas ou
traumas, uma possvel ligao desse hbito com alteraes do sistema
dopaminrgico central e fatores de ordem central como os mecanismos
neurofisiolgicos e neuroqumicos, responsveis pelos movimentos mandibulares
relacionados mastigao, deglutio e respirao (ROCHA, 2000; LOBBEZOO &
NAEIJE, 2001; BARRANCA-ENRQUEZ, LARA-PREZ & GONZLEZ-
DESCHAMPS, 2004; PEREIRA, et al., 2006). Alm disso, a literatura refere que os
efeitos desencadeados pela existncia do mesmo dependero da natureza,
intensidade e durao com que ocorrerem (SILVA et al., 2002).
Sinais como dor ou sensibilidade dentria a estmulos trmicos, mialgia do
masseter e temporal, cefalia, cervicalgia e sensao de tenso na musculatura
mastigatria so os principais relatos de sujeitos portadores de bruxismo, bem como
de sujeitos com alteraes na articulao temporomandibular, havendo, portanto,
uma possibilidade de relao entre essas duas patologias (ZARB et al., 2000; ALO,
2003; MIYAKE et al., 2004; NAGAMATSU-SAKAGUCHI et al., 2008; SVENSSON et
al., 2008). McFarlane et al., (2003), tambm referem uma possvel relao entre
bruxismo e dor facial, j que o mesmo favorece a ocorrncia de hiperatividade da
musculatura mastigatria, alm de otalgia e cefalia.
Pergamalian et al., (2003) estudaram a possvel relao entre desgaste
dentrio, bruxismo, dor na articulao temporomandibular (ATM) e a severidade da
dor muscular em 84 sujeitos com desordem temporomandibular (DTM). Os autores
observaram a ocorrncia de bruxismo ocasional em 32,1% dos sujeitos, em 47,6%
atividade bruxista foi considerada freqente e em 11,9% dos sujeitos no houve
relato de bruxismo, alm disso, os resultados do estudo no evidenciaram relao
entre o bruxismo e dor muscular e, esse teve relao inversamente proporcional
com a dor na articulao temporomandibular. O estudo ainda evidenciou que as
variveis, desgaste dentrio, dor muscular e dor na ATM no tiveram relao
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Pergamalian%20A%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus
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significativa com o bruxismo, concluindo que nesses sujeitos o desgaste dentrio
no serviu para diferenciar sujeitos com e sem bruxismo; que a intensidade de dor
muscular no teve relao direta com a freqncia do bruxismo e teve associao
inversa com a dor na ATM.
Com relao avaliao de sujeitos com bruxismo, na rea da
fonoaudiologia, a anlise da musculatura mastigatria ainda realizada,
basicamente, por meio de palpao muscular, porm sendo esta uma avaliao
subjetiva e sujeita a controvrsias entre avaliadores, torna-se necessria a incluso
de procedimentos objetivos que verifiquem a condio da musculatura de sujeitos
que sofrem de patologias que prejudicam a musculatura (NAGAE & BRZIN, 2004;
FERLA, 2004), j que a literatura no menciona a existncia de um mtodo com
validade diagnstica que contemple todos os aspectos prejudicados por este hbito
(KOYANO et al., 2008). Contudo, o uso da eletromiografia de superfcie na
fonoaudiologia, por ser um mtodo objetivo, quantificador, no invasivo e indolor,
enriquece as avaliaes e auxilia no diagnstico, em especial, na rea de
motricidade orofacial (RAHAL & PIEROTTI, 2004; BIASOTTO, BIASOTTO-
GONZALEZ & PANHOCA, 2005).
Soares et al. (2004) avaliaram clinicamente o desempenho mastigatrio de 42
sujeitos, dos quais 24 apresentavam bruxismo e 18 no apresentavam bruxismo. Os
autores verificaram que sujeitos com bruxismo apresentaram predominncia de um
lado na mastigao (79%) contrapondo a 9 (50%) do grupo controle. Alm desse
dado, foi possvel constatar que 42% dos sujeitos com bruxismo realizavam
triturao dbil dos alimentos. Concluiu-se ao final do estudo que mastigao dos
sujeitos com bruxismo diferiu da normal devido ocorrncia de mastigao unilateral
e tambm pelo resultado inferior da varivel triturao dos alimentos. Os autores
sugeriram que os efeitos do bruxismo sejam minimizados, a fim de evitar a
ocorrncia de hipertrofia nos msculos mastigatrios e outros danos ao sistema
estomatogntico.
Glaros & Burton (2004) pesquisaram a relao entre o hbito de apertar os
dentes e o aumento da dor; se a presena desse hbito um indicador de disfuno
temporomandibular, e se os relatos de dor tm relao com a atividade
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Glaros%20AG%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Burton%20E%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus
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eletromiogrfica. Quatorze sujeitos sem queixa de dor foram avaliados por meio do
RDC/TMD, e divididos aleatoriamente em dois grupos. Durante a eletromiografia, um
grupo foi orientado a realizar apertamento dentrio com forte presso e o outro
grupo com fraca presso, realizando relaxamento aps esta testagem. Alm disso,
os sujeitos deveriam ao final de cada sesso de eletromiografia, indicar, por meio de
uma escala, a sensao de dor nos msculos avaliados. Os autores observaram que
a dor referida no grupo que realizou apertamento em forte presso dos dentes era
significativamente mais elevada que no outro grupo; que a atividade eltrica do
msculo masseter teve relao positiva com os relatos de dor e, tambm, que o
hbito de apertar os dentes pode aumentar a sensao de dor e auxiliar no
diagnstico de DTM, ainda que em sujeitos sem queixa aparente de dor.
Dallanora et al. (2004) avaliaram com eletromiografia de superfcie a atividade
eltrica no repouso dos msculos masseteres e temporais anteriores de sujeitos
com bruxismo submetidos a sesses de acupuntura. Os sujeitos com bruxismo
foram avaliados antes, imediatamente aps a sesso de acupuntura e por cinco dias
aps a interveno. Os resultados demonstraram reduo da atividade de ambos os
msculos em 66% a 73% dos sujeitos, na avaliao de 60 horas aps a sesso de
acupuntura, concluindo que o uso da mesma foi eficaz na diminuio da atividade
eltrica desses msculos em sujeitos com bruxismo.
Ferreira et al. (2007), analisaram a atividade eltrica dos msculos
masseteres de mulheres com bruxismo por meio da eletromiografia de superfcie e
procuraram observar a eficcia da utilizao de placas miorrelaxantes nas mesmas.
As coletas foram realizadas nas situaes de ocluso mandibular sem apertar os
dentes e na mxima contrao voluntria, tanto aps um dia de trabalho, sem a
utilizao de placas miorrelaxantes, como aps uma noite de sono utilizando a placa
miorrelaxante. Os autores verificaram diminuio na atividade eltrica dos
masseteres bilateralmente, em ambas as situaes, aps o uso da placa
miorrelaxante, sugerindo a utilizao desta como recurso miorrelaxante e, ainda
associando o aumento da atividade eltrica dessa musculatura com o estresse
provocado pela rotina do trabalho.
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Sujeitos bruxistas foram submetidos a tratamento com Toxina Botulnica
(BTX-A) e com injees de placebo, a fim de verificar a eficincia desta substncia
na atenuao da dor miofacial e da hiperatividade presente na musculatura desses
sujeitos. Aspectos clnicos objetivos (movimentos mandibulares, abertura de boca) e
subjetivos (dor no repouso, durante a mastigao, e tolerncia ao tratamento) foram
avaliados ao longo da pesquisa, que teve durao de 6 meses. Os resultados
demonstraram melhora em ambos os aspectos, em especial no grupo que utilizou a
toxina, evidenciando a eficcia desta substncia no tratamento da dor miofacial no
grupo estudado (GUARDA-NARDINI et al., 2008).
A fim de verificar os efeitos do bruxismo sobre a atividade eltrica da
musculatura mastigatria, Li et al., (2008) avaliaram por meio de exame clnico e
eletromiografia, 24 sujeitos com bruxismo e 16 sem bruxismo nas situaes de
repouso e contrao voluntria mxima. Os autores verificaram que na situao de
repouso os sujeitos com bruxismo obtiveram resultados significativamente maiores
que os do grupo sem bruxismo, ocorrendo o contrrio na contrao voluntria
mxima. Alm disso, puderam observar a ocorrncia mais elevada de assimetria nos
sujeitos com bruxismo, quando comparados aos sem bruxismo, embora sem
significncia estatstica.
Rossetti et al., (2008b) procuraram, em seu estudo, verificar se o bruxismo do
sono tem relao com a desordem temporomandibular (DTM) em 14 sujeitos com
DTM e 12 sujeitos sem DTM. Foram realizadas avaliao funcional, questionrio
clnico e uso de uma escala visual analgica para a palpao muscular. Alm
dessas avaliaes, os sujeitos tambm foram submetidos a polissonografia e a uma
segunda avaliao clnica que relacionava o ritmo da atividade muscular e a dor
matinal nos msculos mastigatrios. Os pesquisadores no encontraram relao
entre bruxismo do sono e DTM, tampouco com a dor na palpao.
2.2 Msculos Mastigatrios e Dor
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Rossetti%20LM%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus
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De acordo com Douglas (1999) e Natalini (2004), a mastigao uma funo
automtica, aprendida e condicionada que pode ser modificada, sendo considerada
a funo mais importante para o desenvolvimento do sistema estomatogntico, na
qual participam estruturas moles e duras da cavidade oral, msculos e a articulao
temporomandibular, comandadas pelo crtex.
A musculatura envolvida na mastigao tem sua insero na mandbula e
composta pelos msculos temporal, masseter e pterigideos medial e lateral. O
temporal, alm da elevao mandibular, mantm a postura da mandbula no
repouso, j o masseter faz elevao, lateralizao e protruso da mandbula, alm
de ser o msculo responsvel pela produo de fora para a realizao da
mastigao (GONZLEZ, 2000; DOUGLAS, 2002; FELCIO & MORALES, 2003;
FELCIO, 2004).
O comportamento eletromiogrfico dos msculos masseteres, temporais e
supra-hiideos frente mastigao de diferentes materiais (goma de mascar,
rolinhos de algodo e Parafilm) foi avaliado 10 em sujeitos sem histrico de
alteraes na musculatura, ou em qualquer uma das estruturas responsveis pela
mastigao. Aps a anlise dos resultados, a autora pode concluir que rolinhos de
algodo e Parafilm so materiais bastante teis e indicados para a realizao do
exame eletromiogrfico por apresentarem menor variao em relao aos demais
produtos (BIASOTTO, 2000).
Fazendo uma relao da musculatura mastigatria com as possveis
alteraes que podem acomet-la, Cattoni (2004) refere que os hbitos orais
deletrios, em especial bruxismo, briquismo, onicofagia e mordedura de lbios e
bochechas, so importantes fatores contribuintes para alteraes neuromusculares,
pois levam a uma demanda funcional atpica dos msculos mastigatrios produzindo
fadiga, dor e incoordenao dos mesmos e, dessa forma, prejudicam a mastigao.
Svensson et al. (2004) pesquisaram a associao da dor com a atividade
neuromuscular, em msculos da mandbula e msculos do pescoo em 19 homens.
Os sujeitos receberam injees de uma determinada substncia nos msculos
masseter direito ou no msculo esplnio com o intuito de induzir a dor, e realizaram
exame eletromiogrfico em trs diferentes posies de cabea, concluindo, ao final
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28
do estudo, entre outros aspectos, que a dor nos msculos da mandbula pode estar
associada ao aumento de atividade eletromiogrfica nos msculos do pescoo, com
a cabea e a mandbula na posio de repouso.
Sujeitos com Classe I e III de Angle foram submetidos avaliao
eletromiogrfica a fim de verificar e comparar a atividade do masseter e do
bucinador durante o ciclo mastigatrio de pedaos de po francs. A autora verificou
ao trmino do estudo, entre outros resultados, que nos sujeitos Classe I, os
msculos masseter e bucinador apresentam padres de atividade eltrica
semelhantes, o que no ocorre nos sujeitos Classe III (NAGAE, 2005).
Vinte sujeitos, diagnosticados portadores de dor miofacial, por meio do
questionrio Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens
Temporomandibulares (RDC/TMD), foram submetidos avaliao eletromiogrfica
dos msculos masseteres e temporais. Os participantes foram divididos em dois
grupos com 10 sujeitos em cada, sendo que um dos grupos recebeu um programa
de exerccios mastigatrios de 8 semanas com goma de mascar e o outro grupo,
apenas incentivo. Os resultados demonstraram que os sujeitos que realizaram os
exerccios com goma de mascar relataram decrscimo da dor durante o repouso e
durante o teste de mastigao. Alm disso, o exame eletromiogrfico final mostrou
um significativo aumento da atividade eltrica dos msculos masseteres no teste de
isometria neste grupo (GAVISH et al., 2006).
Shinozaki et al (2006) submeteram 13 sujeitos com DTM laserterapia a fim
de verificar a eficcia da mesma na reduo da dor e, por meio da avaliao
eletromiogrfica, puderam observar a atividade eltrica dos msculos masseter e
temporal na situao de repouso. Os sujeitos realizaram ainda, uma avaliao
subjetiva da dor. Foram realizadas avaliaes eletromiogrficas antes e aps as
aplicaes de laser, com intervalos de tempo. Reduo nas atividades eltricas dos
msculos foi observada aps a aplicao do laser, comprovando que esta tcnica
auxilia no alvio da dor.
As caractersticas da atividade eletromiogrfica dos msculos mastigatrios
(temporal e masseter) foram comparadas entre sujeitos com desordens
temporomandibulares, com dor nos msculos do pescoo e com um grupo controle,
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Gavish%20A%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVAbstractPlusDrugs2
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29
durante a realizao da prova de contrao voluntria mxima em uma pesquisa
realizada por Ferrario et al., (2007). As anlises das respostas eletromiogrficas dos
msculos durante o apertamento demonstraram que os sujeitos com DTM
apresentaram os menores valores de atividade eltrica (75V nos sujeitos com DTM,
124 V nos sujeitos com dor no pescoo e 95 V nos controles) e a maior
assimetria, quando comparados aos outros dois grupos.
Felcio et al., (2007) estudaram a mastigao e variveis como tempo para
ingerir, nmero de golpes mastigatrios e tipo mastigatrio (unilateral ou bilateral) de
20 sujeitos com desordem temporomandibular e 10 controles, os quais foram
submetidos a anamnese, exame clnico e anlise funcional da ocluso. Os
resultados do estudo indicaram que os sujeitos com DTM tiveram uma tendncia a
mastigao unilateral diferindo, dessa forma, do padro fisiolgico esperado,
ocorrendo o contrrio com a maior parte dos sujeitos normais que realizaram a
mastigao de modo adequado, ou seja, bilateralmente.
Rossetti et al., (2008a) utilizaram polissonografia do sono e o questionrio
Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens Temporomandibulares
(RDC/TMD), a fim de verificar a ocorrncia de dor miofacial em sujeitos com
bruxismo do sono. Os autores encontraram associao entre dor miofacial e
bruxismo e, embora o mesmo seja um fator de risco para a ocorrncia de dor, este
risco foi considerado baixo na populao estudada. Alm disso, como alguns
sujeitos relataram a ocorrncia de apertamento dentrio foi realizada a associao
deste com a dor, sendo que os resultados evidenciaram uma estreita relao entre
esses aspectos, inclusive demonstrando que o apertamento dentrio um fator de
risco maior para a dor do que o bruxismo do sono.
Com o objetivo de verificar a relao entre dor, atividade eletromiogrfica,
fatores psicolgicos e terapia oclusal com uso de placa oclusal, Van Selms et al.
(2008) puderam observar, aps um perodo de acompanhamento dos participantes
do estudo, que mudanas no comportamento emocional/psicolgico foram as que
tiveram mais relao com as mudanas na dor muscular. Alm disso, os autores
tambm verificaram que em 3 sujeitos houve associao entre a mudana na
atividade eletromiogrfica e uso da placa, embora no tenha ocorrido relao entre a
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Ferrario%20VF%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlushttp://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22van%20Selms%20MK%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus
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mudana na EMG e a dor , j em 2 sujeitos as alteraes na dor muscular estiveram
associadas ao uso da placa e a mudanas psicolgicas.
Santana-Mora et al. (2008) avaliaram, atravs de exame eletromiogrfico, os
msculos masseteres e temporais de 25 mulheres com queixa de Desordem
Temporomandibular (DTM) direita, 25 com DTM esquerda e 25 mulheres sem
disfuno durante a contrao mxima. Por meio desse estudo, foi possvel observar
que as participantes com DTM apresentavam atividade eletromiogrfica inferior as
do grupo sem disfuno, evidenciando ainda, que no grupo com DTM os temporais
estavam mais ativos que os masseteres. Alm disso, atravs do uso de um ndice de
assimetria, a pesquisa pode evidenciar que as mulheres com DTM direita
preferiam ativar o lado esquerdo e vice-versa. Os autores acreditam que essa
reduo na atividade eletromiogrfica possa ser vista como um mecanismo de
proteo criado pelo sistema neuromuscular.
Rodrigues-Bigaton et al. (2008) avaliaram por meio de eletromiografia os
msculos masseter e temporal, bilateralmente, em 31 sujeitos com DTM e 15
sujeitos clinicamente normais nas situaes de repouso e no mximo apertamento
dentrio. Os resultados evidenciaram um aumento da atividade eltrica no repouso
nos sujeitos com DTM em relao aos controles, porm na situao de apertamento
mximo de dentes no foram constatadas diferenas entre os grupos. Os autores
so cautelosos ao reconhecer que, ainda que este aumento de atividade tenha sido
evidenciado, o mesmo no deve ser considerado como hiperatividade muscular,
mas como um sinal sugestivo da presena de DTM.
2.3 Eletromiografia
A eletromiografia de superfcie consiste no registro e estudo das propriedades
eltricas intrnsecas dos msculos esquelticos, pois todo msculo ao ser contrado,
sofre uma srie de transformaes mecnicas, estruturais, qumicas e eltricas. As
descargas eltricas produzidas pela contrao muscular devem-se as mudanas de
polarizao na membrana que envolve a fibra muscular. O conjunto de descargas
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31
eltricas das diferentes fibras que compem uma unidade motora constitui o
potencial de ao que pode ser captado, amplificado e registrado pelo
eletromigrafo (QUIRCH, 1965).
Lous, Sheikholeslam & Moller (1970) avaliaram eletromiograficamente os
msculos masseteres e a poro anterior dos msculos temporais em sujeitos com
DTM e sem alteraes durante o repouso e verificaram um aumento significativo da
atividade eltrica destes msculos nos disfuncionados, sendo este aumento mais
evidente no msculo temporal, regio esta relacionada ao maior relato de dor.
A realizao de uma adequada avaliao eletromiogrfica depende de alguns
fatores como, por exemplo, eletrodos sensveis que capturem os potenciais eltricos
do msculo, um amplificador que processe o sinal eltrico e um decodificador que
permita a visualizao grfica do sinal, a fim de que a completa anlise dos dados
seja executada (SODERBERG & COOK,1984; PORTNEY, 1993).
O tipo de eletrodo empregado na avaliao depende do tipo de musculatura e
objetivo do estudo que est sendo realizado. Eletrodos de superfcie so utilizados
na avaliao de grandes msculos, ou grupos musculares superficiais. No so
invasivos e nocivos, alm de serem de fcil aplicao e mais confortveis para o
sujeito avaliado (SODERBERG & COOK, 1984; PORTNEY, 1993; CRAM, KASMAM
& HOLTZ, 1998), porm so suscetveis a atenuao causada pelo tecido
subcutneo e ao crosstalk (atividade eltrica oriunda de outros msculos ou grupos
musculares). indicado, tambm, o uso de um eletrodo terra, a fim de evitar
interferncias do rudo eltrico externo, que pode ser causado por outros aparelhos.
Este, geralmente, posicionado sobre um osso (SODERBERG & COOK, 1984;
PORTNEY, 1993).
A eletromiografia de superfcie uma avaliao objetiva, que vem sendo
utilizada, ao longo dos anos, para avaliar grupos musculares como o da mastigao,
em diferentes populaes, a fim de realizar uma interveno mais efetiva e
adequada ao padro eltrico que estes msculos apresentarem, j que este um
mtodo no invasivo, que consegue captar e registrar as mudanas na cinesiologia
da musculatura (CHRISTENSEN & RADUE, 1985; FERRARIO et al., 1993; FERLA,
2004; BRZIN, 2004; JARDINI, RUIZ & MOYSS, 2006), podendo ser conceituado,
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?Db=pubmed&Cmd=Search&Term=%22Jardini%20RS%22%5BAuthor%5D&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_DiscoveryPanel.Pubmed_RVAbstractPlus
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32
de acordo com Basmaijan & De Luca (1985), como o estudo dos sinais eltricos que
os msculos liberam durante uma funo.
Sendo o bruxismo um hbito que pode causar danos a musculatura
mastigatria, o uso da eletromiografia de superfcie em sujeitos portadores do
mesmo bastante indicado, uma vez que, geralmente, o bruxismo provoca
hiperatividade muscular, a qual leva fadiga e espasmo, acarretando dor nos
grupos musculares envolvidos na mastigao (LASKIN & BLOCK, 1986).
Esta considerada uma avaliao objetiva, pois realiza a coleta da atividade
eltrica de msculos, atravs de eletrodos conectados a equipamentos que realizam
amplificao e registro dos sinais (LEHMKUHL & SMITH, 1989; DAHLSTRM,
1989), geralmente sendo posicionados na regio de maior volume de massa
muscular (FERRARIO et al., 1993). De acordo com a literatura, se tratando de
msculos mastigatrios e para sujeitos normais, espera-se que o registro desses
sinais seja o mais simtrico e fisiolgico possvel (MCCARROL & NAEIJE, 1989),
sendo considerado dentro dos nveis de normalidade, para o repouso, um valor de
atividade eltrica em torno de 5V (CRAM, KASMAN & HOLTZ, 1998).
Ferrario et al. (1993) ao estudar homens e mulheres saudveis verificou que
na situao de repouso estes sujeitos tinham potenciais de atividade semelhantes
com valores de aproximadamente 1.9 V no temporal e 1.4 V no masseter, contudo
na prova de contrao voluntria mxima, os valores de atividade eltrica nos
homens foram superiores aos apresentados pelas mulheres, sendo 181.9V no
temporal e 216.2 V no masseter nos homens e 161.7 V no temporal e 156.8 V no
masseter nas mulheres.
Os cuidados para que se realize uma adequada coleta do sinal
eletromiogrfico de suma importncia, sendo cada vez mais freqente o emprego
do processo de normalizao dos dados, pelo fato deste permitir a reprodutibilidade
dos registros e reduzir a variabilidade das informaes, para que possa haver
comparao dos resultados entre diferentes indivduos (KNUTSON et al., 1994;
ERVILHA, DUARTE & AMADIO, 1998; FERLA, 2004; CORRA & BRZIN, 2007),
visto que a eletromiografia de superfcie avalia no apenas a atividade dos msculos
isoladamente, mas a atividade dos diferentes grupos musculares, como o caso dos
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33
msculos envolvidos na mastigao. Entretanto, conforme De Luca (1997), a
normalizao pode vir a suprimir dados que seriam essenciais para distinguir
sujeitos normais de sujeitos patolgicos.
A eletromiografia de superfcie relatada na literatura como uma excelente
forma de avaliar, de maneira no-invasiva, os processos bioqumicos e fisiolgicos
dos msculos esquelticos. Entretanto, possui limitaes, tais como colocao dos
eletrodos, caractersticas fisiolgicas, anatmicas e bioqumicas do msculo
estudado, tipo de fibra muscular ativada, espessura da pele assim como os cuidados
com o ambiente aonde ir se realizar o exame, como, por exemplo, revestir o piso
com material isolante, desligar aparelhos eltricos, cuidar o horrio das coletas (DE
LUCA 1997, SAKAI, 2006). Alm disso, com o intuito de diminuir estas limitaes,
Ferla, Silva & Corra, (2008) recomendam treinar e esclarecer o sujeito que ser
avaliado sobre todos os procedimentos aos quais ser submetido e realizar, pelo
menos 3 coletas para cada situao avaliada para assegurar a fidedignidade do
exame.
Portanto, necessrio ter um cuidado especial durante a avaliao
eletromiogrfica para que a mesma tenha validade, rigor cientfico e seja livre de
interferncias que, posteriormente dificultem a sua anlise, como, por exemplo, a
preparao prvia da pele, a fixao dos eletrodos e a posio do paciente
(HERMENS et al., 2000).
A avaliao eletromiogrfica dos msculos da mastigao muito importante
para complementar o diagnstico odontolgico, favorecendo a escolha da
interveno mais adequada, bem como evitando a recidiva do problema e, sendo o
bruxismo um problema, na maioria das vezes, diagnosticado pelos dentistas, a
eletromiografia de superfcie vem a contribuir com este diagnstico, no sentido de
esclarecer estes profissionais sobre as condies da musculatura mastigatria, a
qual muitas vezes prejudicada por esse hbito (VALENTINO, 2002; SOUSA,
2004).
Com o intuito de corroborar com essa informao, em estudo realizado por
Turcio et al. (2002), foi observado que, em sujeitos que apresentavam
comprometimento da musculatura mastigatria, limitao da funo mandibular e
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34
dor severa, houve diminuio da atividade eltrica dos msculos temporais, e
aumento da atividade do masseter na mastigao e contrao mxima aps
tratamento com placa estabilizadora, embora sem significncia estatstica. Os
autores referiram que esses sujeitos, geralmente, so estressados, o que favorece a
realizao de freqentes contraes isomtricas nesses msculos.
Ao analisar a postura, a atividade eltrica e a prevalncia de bruxismo em
diferentes classes oclusais, Gadotti, (2003) pode verificar, por meio de valores de
RMS bruto, que os sujeitos com bruxismo e portadores de classe II foram os que
tiveram maior atividade eltrica dos temporais e masseteres. Ainda nesse mesmo
estudo, constatou-se que tanto nos sujeitos com bruxismo, como nos sem bruxismo
os portadores de classe I foram os que tiveram padro eletromiogrfico mais
funcional, ou seja, atividade do temporal menor que do masseter.
Ressalta-se que a avaliao eletromiogrfica tem sido realizada,
principalmente, na posio de repouso mandibular, na mastigao e na isometria, a
fim de observar o padro muscular apresentado em sujeitos com diferentes
patologias (PEDRONI, BORINI & BRZIN, 2004; FERLA, SILVA & CORRA, 2008).
Rahal (2003) referiu que a eletromiografia, embora estudada desde os
primrdios do sculo XIX, de emprego recente na fonoaudiologia, sendo que sua
utilizao tem como objetivo auxiliar no diagnstico e teraputica dos distrbios
motores orofaciais e nas alteraes de respirao, mastigao, deglutio e fala.
Como a avaliao clinica subjetiva, existe, na fonoaudiologia, certa
dificuldade em estabelecer parmetros que facilitem o diagnstico. Em razo disto,
exames quantificadores como a eletromiografia, que mensuram os potenciais
eltricos emanados pelos msculos no momento da contrao muscular, tm sido
empregados na prtica clinica, a fim de complementar o diagnstico e possibilitar o
estabelecimento de correlaes entre os achados clnicos e eletromiogrficos
durante sua avaliao (RAHAL & PIEROTTI, 2004).
Na fonoaudiologia clnica, a interpretao dos achados eletromiogrficos,
freqentemente realizada por meio do sinal bruto, tem sido til para visualizar,
qualitativamente, o tamanho e a forma do potencial de ao muscular, permitindo
uma anlise minuciosa das caractersticas e do padro da ao exercido pelos
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35
msculos (NAGAE & BRZIN, 2004; NAGAE, 2005). Em alguns trabalhos os
achados eletromiogrficos so analisados no domnio da amplitude por meio do
clculo do RMS (root mean square), sem utilizao do procedimento de
normalizao que poderia suprimir distines do sinal entre sujeitos normais e com
patologias (RIBEIRO, MARCHIORI & SILVA, 2002).
Segundo Jardini (2005), uma avaliao acurada de todos os fatores
envolvidos nos aspectos de forma e funes orofaciais deve incluir os potenciais
neuromusculares que o sujeito apresenta, avaliados pela eletromiografia. No
entanto, sabe-se que os mtodos clnicos atuais utilizados para avaliao da face
so baseados em anlises qualitativas, como palpao, resistncia, prova de
funo, observao da forma, potncia trao, sinais de envelhecimento e, mais
atualmente, medies com paqumetro.
Concordando com a descrio acima, Oncis, Freire & Marchesan (2006)
realizaram um estudo eletromiogrfico dos msculos mastigatrios durante o
repouso e a mastigao, alm de rastrearem a movimentao mandibular nos ciclos
mastigatrios por meio da eletrognatografia em 26 sujeitos saudveis. Os autores
verificaram que houve uma diferena entre a atividade eltrica dos msculos no
repouso, estando o temporal mais ativo (1,28 v masseter; 1,94 v temporal),
observaram ainda que em 100% da amostra houve preferncia mastigatria, sendo
que 65,4% dos sujeitos realizam mastigao direita e 34,6% esquerda. Os
autores concluram que, mesmo em sujeitos normais pode haver preferncia por um
lado mastigatrio.
Quarenta sujeitos, divididos em 12 normais e 28 com DTM, foram avaliados
por meio de eletromiografia de superfcie, com a finalidade de verificar o
comportamento dos msculos mastigatrios (masseter e temporal) durante as
situaes de isometria e isotonia. Alm dessa avaliao, os sujeitos responderam o
questionrio Critrios diagnsticos de pesquisa para as Desordens
Temporomandibulares (RDC-DTM), que pode divid-los em 3 grupos de acordo com
as caractersticas da DTM sendo, tambm, submetidos a exame clnico. Os
resultados do estudo evidenciaram que, na maioria dos sujeitos sintomticos, a
atividade eltrica dos temporais foi predominante em relao dos masseteres em
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36
ambas as situaes de avaliao, ocorrendo o contrrio nos sujeitos normais. Os
autores puderam concluir que pode haver alteraes no padro eletromiogrfico dos
indivduos com DTM em relao aos assintomticos (TOSATO & CARIA, 2007).
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37
3 MATERIAL E MTODO
A realizao deste estudo preenche as normas e diretrizes do Conselho
Nacional de Sade, resoluo 196/1996 (BRASIL Resoluo MS/CNS/CNEP n.
196/96 de 10 de outubro de 1996), alm de ter sido aprovado pelo Comit de tica
em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria CEP/UFSM (ANEXO A) sob
o protocolo de nmero 0172.0.0243.000-07.
Os sujeitos que fizeram parte deste estudo foram jovens e adultos, com
idades entre 19 e 51 anos, com e sem bruxismo, de ambos os sexos e sem distino
de raas. Estes foram provenientes de encaminhamentos de profissionais da rea
da fonoaudiologia e da fisioterapia, bem como sujeitos que procuraram a
pesquisadora por iniciativa prpria, aps a leitura de anncios realizados em jornais
da cidade de Santa Maria - RS, bem como na mdia eletrnica no site da UFSM.
A escolha por jovens e adultos foi efetuada levando-se em considerao que
estes so momentos do desenvolvimento humano no qual as trocas dentrias j
ocorreram e, tambm, devido maior incidncia de estresse que, conforme relatos
da literatura (BARRANCA-ENRQUEZ, LARA-PREZ, GONZLEZ-DESCHAMPS,
2004; PEREIRA, et al., 2006) uma provvel etiologia do bruxismo. Alm disso,
Attanasio (1997) referiu que o bruxismo muito incidente, atingindo de forma
elevada a faixa etria entre 10 e 40 anos.
Antes de dar incio s avaliaes, que foram realizadas no Servio de
Atendimento Fonoaudiolgico (SAF UFSM), mediante autorizao da diretora do
mesmo (APENDICE A), todos os sujeitos foram esclarecidos verbalmente sobre os
procedimentos e, aos que estiveram de acordo, foi solicitada a autorizao para
participao na pesquisa por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(APENDICE B).
A amostra do estudo foi composta por 31 sujeitos, dos quais 20 pertenciam ao
Grupo Estudo (GE) e 11 ao Grupo Controle (GC). O GE era composto por 4 homens
(20%) e 16 mulheres (80%), com idades entre 19 e 51 anos. O GC contou com 1
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38
sujeito do sexo masculino (9,09%) e 10 sujeitos do sexo feminino (90,91%) com
idades entre 22 e 27 anos.
Estes respeitaram os critrios de incluso pr-estabelecidos pela
pesquisadora, sendo que para participarem do GE os sujeitos deveriam apresentar
queixa de bruxismo (ranger ou apertar os dentes; relato de hipersensibilidade na
musculatura da mandbula durante o dia, no repouso e/ou durante a mastigao,
evidenciada por dor e/ou desconforto ao toque, a diferentes temperaturas ou durante
as refeies, e desgaste dentrio) presente por um perodo de, no mnimo, 6 meses
(GADOTTI, 2003), serem jovens e/ou adultos, no apresentarem falhas dentrias e
terem referido dor na face, a qual foi confirmada pelo instrumento Critrios de
Diagnstico para Pesquisa de Desordens Temporomandibulares (RDC/TMD)
(ANEXO B). Para participarem do GC, os sujeitos no poderiam apresentar queixa
de bruxismo ou dor facial, deveriam ser jovens e/ou adultos, no apresentarem
falhas dentrias e responderem de forma negativa questo nmero 3 do RDC, a
qual confirmava a ausncia de dor facial nos ltimos meses.
Os critrios de excluso adotados foram aplicados tanto para o GC, quanto ao
GE e foram os seguintes: possuir doenas que pudessem comprometer a
musculatura esqueltica, tais como distrofia muscular, miopatias e mialgia, ou
apresentar sinais evidentes de comprometimento neurolgico que interferissem na
compreenso dos procedimentos e/ou na atividade muscular.
O instrumento Critrios de Diagnstico para Pesquisa de Desordens
Temporomandibulares (RDC/TMD) (ANEXO B) um mtodo composto por dois
eixos. No primeiro (Eixo I) avaliam-se questes fsicas das desordens musculares
e/ou articulares, como a dor palpao, abertura de boca, excurses da mandbula,
entre outros aspectos, no segundo eixo (Eixo II) so investigadas questes
comportamentais, psicolgicos e psicossociais, contemplando, desse modo, no
apenas os aspectos clnicos, mas tambm os fatores emocionais os quais so
mencionados como etiologia de patologias que danificam a musculatura mastigatria
(DWORKIN & LERESCHE,1992). Esta avaliao foi realizada pela pesquisadora.
A escolha por esta avaliao, tambm, considerou o fato de os sintomas da
DTM se assemelharem aos do bruxismo (ZARB et al, 2000; MIYAKE et al., 2004;
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39
NAGAMATSU-SAKAGUCHI, et al., 2008; SVENSSON et al., 2008), alm deste ser
um instrumento de qualidade e confiabilidade que permitiu identificar, em viglia,
alguns sinais e sintomas deste hbito, j que suas manifestaes so mais
evidentes durante o sono. Respostas positivas as questes 15c (Algum lhe disse,
ou voc nota, se voc range os seus dentes ou aperta os seus maxilares quando
dorme a noite?), 15d (Durante o dia, voc range os seus dentes ou aperta os seus
maxilares?) e 15e (Voc sente dor ou rigidez nos seus maxilares quando acorda de
manh?) do RDC (ANEXO B) auxiliaram no diagnstico, sugerindo a presena de
bruxismo no sujeito avaliado.
Um aspecto relevante, pertencente ao exame fsico (Eixo I), que tambm
serviu para ratificar o diagnstico de bruxismo, foi palpao muscular realizada nos
msculos temporal (posterior, mdio e anterior), masseter (superior, mdio e
inferior), regio mandibular posterior e submandibular, regies adjacentes a ATM e
musculatura intra-oral, apenas dos sujeitos pertencentes ao GE, j que a dor
muscular na regio da mandbula e suas proximidades foi uma das queixas,
freqentemente, relatada pelos sujeitos deste estudo.
Nesta etapa, os sujeitos foram orientados a responder, de maneira subjetiva,
a sensao que a palpao realizada pela pesquisadora provocou, classificando-a
em ausente (0), dor leve (1), moderada (2) e severa (3), para cada msculo e lado
palpado. Esta foi realizada com as polpas dos dedos indicadores e mdios, com
presso em forte intensidade.
Aps a avaliao do RDC, os sujeitos foram submetidos a avaliaes
fonoaudiolgica, odontolgica e eletromiogrfica.
A avaliao fonoaudiolgica, foi composta por uma breve anamnese e exame
do sistema estomatogntico (SE). A anamnese investigou antecedentes
fisiopatolgicos, presena de outros hbitos, realizao de tratamentos
odontolgicos ou fonoaudiolgicos prvios, bem como estado de sade geral do
sujeito. O exame do SE avaliou de forma intra e extra-oral os rgos do SE quanto
aos aspectos de tnus, sensibilidade e mobilidade; assim como, as funes de
mastigao, suco, deglutio e respirao, tendo como base o protocolo para
avaliao utilizado no SAF UFSM (ANEXO C). Apesar de no ser o foco deste
estudo, a avaliao fonoaudiolgica dos rgos e funes do SE foi realizada para
javascript:AL_get(this,%20'jour',%20'J%20Oral%20Rehabil.');javascript:AL_get(this,%20'jour',%20'J%20Oral%20Rehabil.');javascript:AL_get(this,%20'jour',%20'J%20Oral%20Rehabil.');
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auxiliar no diagnstico de bruxismo, j que nesta investigou-se o histrico do sujeito,
alm de visualizao e palpao muscular e avaliao das funes do SE, da qual a
mastigao faz parte.
A avaliao odontolgica foi realizada por um cirurgio dentista, colaborador
do estudo e com experincia na rea, com o propsito de confirmar a presena e a
ausncia do bruxismo, j que tanto o GE quanto o GC a realizaram. Nesta verificou-
se, por meio da anlise da arcada dentria, a ocorrncia de desgaste dentrio e a
ocluso (BIANCHINI, 1998; JUNQUEIRA, 2004), constatando que dos 20 sujeitos do
GE, 3 no apresentavam facetas de desgaste nos dentes, realizando apenas
apertamento dentrio. No foi utilizado protocolo especfico para esta avaliao e os
dados foram armazenados em um quadro elaborado pela pesquisadora (APENDICE
C).
O exame eletromiogrfico foi realizado nas situaes de repouso, mxima
intercuspidao e mastigao habitual ritmada, com o intuito de obter os registros da
atividade eltrica da parte superficial do msculo masseter e das fibras anteriores do
msculo temporal. Para a realizao desta avaliao o sujeito foi treinado e
esclarecido sobre a posio e as atividades que deveria realizar durante o exame,
conforme recomenda Ferla, Silva & Corra (2008).
Previamente realizao do exame, foi efetuada a higiene da pele do rosto
(HERMES et. al, 2000) com lcool etlico 70% onde foram posicionados os eletrodos
de superfcie. Para evitar quaisquer interferncias, alm do uso de um eletrodo de
referncia (terra) sobre a regio do osso frontal dos sujeitos, foram desligados todos
os aparelhos eletro-eletrnicos e fontes de luz que pudessem gerar
interferncia/rudo ao sinal eletromiogrfico, bem como revestiu-se com borracha o
piso e a mesa onde o aparelho encontrava-se no local da realizao das coletas (DE
LUCA, 1997; SAKAI,2006).
O equipamento utilizado para a realizao do exame eletromiogrfico foi o
modelo EMG 1200 (Lynx Tecnologia ltda.), composto de 8 canais de entrada
(FIGURA 1), placa conversora A/D de 16 bits e faixa de entrada de +/-2V. Utilizou-se
o filtro do tipo Butterworth, freqncia de corte passa-alta de 10Hz e passa-baixa
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41
de 1000Hz, freqncia de amostragem de 2KHz, 2048 amostras/canal e tempo
de amostragem de 1024s.
A captao dos sinais foi realizada por meio de pr-amplificadores ativos
(FIGURA 1) com entrada diferencial (PA1020) da Lynx Eletronics Ltda conectados a
eletrodos duplos de superfcie de Ag/AgCl (SODERBERG & COOK, 1984;
PORTNEY, 1993) da marca Hal Ind. e Com (FIGURA 1). Os eletrodos de
superfcie utilizados apresentavam 10 mm de dimetro e 2 mm de superfcie de
contato, com distncia fixa de 20 mm entre os mesmos, eram descartveis, auto-
adesivos e j possuam na sua superfcie inferior o gel condutor. Estes foram
posicionados na regio de maior volume e massa do msculo, aps solicitao da
realizao de uma contrao mxima pelo sujeito, a fim de que houvesse uma
captao mais efetiva do sinal (FERRARIO et al., 1993). O ganho foi de 20 vezes, a
impedncia de entrada de 10 G e a taxa de rejeio de modo comum de > 100 dB.
Figura 1 Conexo para oito canais (A), pr-amplificadores ativos (B), eletromigrafo (C),
eletrodos duplos de superfcie(D)
Para a coleta e anlise dos sinais eletromiogrficos foram usados os
Softwares BioInspector 1.8. (Lynx) e AqDAnalysis 7.0 (Lynx), respectivamente. Os
-
42
dados foram salvos em computador porttil com bateria prpria para evitar
interferncias; processados em RMS (raiz quadrada mdia) j que, de acordo com
Basmajian & De Luca (1985) este representa o melhor mtodo, pois contempla as
alteraes fisiolgicas do sinal eletromiogrfico, reflete o nmero, a freqncia de
disparo e a forma dos potenciais de ao das unidades motoras ativas, permitindo
ainda uma anlise da amplitude do sinal eletromiogrfico; e expressos em V
(microvolts).
As coletas foram realizadas com os sujeitos sentados confortavelmente,
cabea orientada de acordo com o Plano Frankfurt, com o tronco ereto, ps
apoiados no solo, braos apoiados sobre os membros inferiores e com olhos
fechados, a fim de evitar a interferncia da piscada no exame. Foram realizadas 3
coletas para cada uma das situaes estudadas (FERLA,SILVA & CORRA 2008),
a fim de excluir possveis indues de resultados, bem como para assegurar a
fidedignidade do exame (DE LUCA, 1997).
Com relao s provas realizadas, conforme sugeriu Ferla (2004), para a
prova de repouso, o padro adotado foi o sujeito estar sentado em posio habitual
de lbios e mandbula, sem contato entre as arcadas dentrias, e permanecendo
assim por 10 segundos com os olhos fechados; para a prova de mxima
intercuspidao o sujeito deveria contrair a musculatura mastigatria bilateralmente
e simultaneamente, com mxima intercuspidao dentria, mordendo com fora um
pedao de Parafilm (dobrado em 5 partes) (BIASOTTO, 2000; BIASOTTO-
GONZALEZ, BRZIN, 2004; BERRETIN-FELIX, et al., 2005) permanecendo assim
por 5 segundos, sob o comando verbal da pesquisadora aperta, aperta, aperta. A
mastigao habitual ritmada foi avaliada considerando como padro o sujeito
sentado realizando movimento de mastigao habitual em ritmo definido por
metrnomo (40 bpm), por 10 segundos. Para essa coleta foi utilizado po francs
cortado em pedaos com aproximadamente 2x1x1 cm (NAGAE, 2005) e metrnomo
digital da marca Cherub Tipo WSM 001.
A escolha dos melhores sinais levou em considerao a configurao do
mesmo, ou seja, os que apresentassem menos evidncias de rudo, bem como o
histograma mais harmnico e conexo ao sinal. Estes foram analisados com o auxlio
-
43
do software AqDAnalysis 7.0 (Lynx), quantificados em RMS (raiz quadrada mdia) e
expressos em V (microvolts). Optou-se pela anlise do sinal em RMS sem
normalizao, pois embora esta seja recomendada, j que permite a
reprodutibilidade dos registros e reduz a variabilidade de informaes (KNUTSON et
al., 1994; ERVILHA, DUARTE & AMADIO, 1998; FERLA, 2004), a sua utilizao
pode suprimir distines de dados quando se compara sujeitos normais e
patolgicos (DE LUCCA, 1997; RIBEIRO, MARCHOIRI & SILVA, 2002).
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44
4 RELAO ENTRE DOR E ATIVIDADE ELTRICA DOS
MSCULOS MASTIGATRIOS NA PRESENA DE BRUXISMO
4.1 Resumo
Objetivo: Mensurar a atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, verificar a
graduao de dor palpao e sua correlao com a atividade eltrica em sujeitos com
bruxismo. Mtodos: Todos os sujeitos do estudo foram selecionados aps avaliao por meio
do instrumento Critrios de Diagnstico em Pesquisa para Desordens Temporomandibulares
(RDC/TMD) alm de avaliao odontolgica e fonoaudiolgica. A atividade eltrica dos
msculos mastigatrios foi avaliada por meio da eletromiografia de superfcie nas situaes
de repouso, mxima intercuspidao e mastigao habitual ritmada. Para a coleta e anlise dos
sinais eletromiogrficos foram usados os Software BioInspector, 1.8 (Lynx), e software
AqDAnalysis. 7.0 (Lynx), respectivamente, quantificados em RMS (raiz quadrada mdia) e
expressos em V (microvolts). A anlise estatstica dos dados foi realizada atravs do
Coeficiente de Spearman com significncia de p
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45
fraca e sem significncia estatstica, indicando que a dor no consistiu um fator prejudicial ao
desempenho da atividade eltrica dos msculos estudados nas situaes avaliadas.
Descritores: Bruxismo, Eletromiografia, Msculos Mastigatrios, Dor facial.
4.2 Abstract
Objective: To measure the electric activity of the masseter and temporal muscles,to verify
the graduation of the pain to the palpation and your correlation with the electric activity in
subjects with bruxism. Methods: All the participants were examined according to the
Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorders (RDC/TMD) instrument
combined with the dentistry and the speech pathology evaluation. The electric activity in
the masticatory muscles was measured based on surface electromyography, during the rest,
maximum intercuspation and during usual mastication rhythmic. In the collection and
analysis of the electromyography signals, it was used BioInspector, 1.8
(Lynx
), and
AqDAnalysis, 7.0 (Lynx
), and the data were quantified on RMS (root mean square) and
expressed in V (microvolts). The statistic analysis was based on the Spearman
Coefficient with a significance level of 5%. Results: The results showed that the EMG
pattern of the studied muscles was presented next to the levels to normality in the rest,
maximum intercuspation and in the rhythmic habitual mastication. Most of the subject
with bruxism presented complaint of some pain, being more evidenced the severe degree
and mainly in the masseter muscle. There was not evidenced statistically significant
correlation between pain and activity EMG, once this last one was next the normality
levels. Conclusion: The analysis of the results indicated that in spite of the presence of
the pain in the masticatory muscles, most of the correlations between pain and EMG were
-
46
weak and without statistics significance, indicating that pain did not intervene with the
performance of the electric activity of the muscles studied in the evaluated situations.
Key words: Bruxism, Electromyography, Masticatory Muscles, Facial Pain.
4.3 Introduo
O bruxismo um termo que deriva da palavra grega brychein e pode ser descrito como
um hbito consciente ou inconsciente de ranger e/ou apertar os dentes, envolvendo
movimentos rtmicos semelhantes aos realizados durante a mastigao, porm, por no ser
funcional, causa dor e fadiga muscular, alm de danos aos dentes e periodonto, podendo ser
realizado durante o dia ou noite1,2
.
Sua etiologia abrange fatores locais, sistmicos, psicolgicos, ocupacionais e/ou
fatores hereditrios,3,4
alm de hbitos como o uso de fumo, lcool, drogas; doenas e
traumas, e uma possvel ligao com alteraes do sistema dopaminrgico central5. Quanto
prevalncia do bruxismo, at o momento, no existe na literatura6 um consenso a este
respeito, embora haja referncia de que o mesmo atinge de 5 a 20 % da populao em alguma
fase da vida sendo, freqentemente, associado a sinais de ansiedade, estresse e transtornos do
sono7.
Os sinais e sintomas mais expressivos do bruxismo so sensibilidade ao toque,
sensao de rigidez nos msculos mastigatrios, contrao excessiva e atpica do masseter,
cefalia que, provavelmente, provocada pela m circulao no msculo temporal, desgaste
nas facetas dos dentes anteriores e rudo noturno. Alm disso, a musculatura mastigatria
largamente afetada com aumento do tnus, espasmos, contrao sustentada e perda dos
perodos de repouso muscular8-10
.
-
47
A literatura refere que o bruxismo est vinculado etiologia da dor facial11
, estando de
acordo com as principais queixas de sujeitos com bruxismo que so mialgia do masseter e
temporal, cefalia, cervicalgia, e dor ou hipersensibilidade dentria a estmulos trmicos12-15
.
A fonoaudiologia uma das cincias que contribui para o tratamento do bruxismo
favorecendo, principalmente o relaxamento da musculatura envolvida e melhorando o padro
mastigatrio. Porm, at o momento no h nessa rea, ao menos como rotina, a realizao de
avaliaes que considerem todos os aspectos que devem ser investigados nos sujeitos que
realizam este hbito.
Com o intuito de contemplar estes aspectos, embora ainda de modo subjetivo, a
aplicao de mtodos como o Critrio de Diagnstico em Pesquisa para Desordens
Temporomandibulares (RDC/TMD)16
tem sido um importante recurso auxiliar de diagnstico,
pois permite identificar, em viglia, alguns sinais e sintomas do bruxismo.
Entretanto, como a avaliao clnica baseia-se na anlise qualitativa, acredita-se que a
incluso de mtodos objetivos, como a eletromiografia de superfcie, na rotina de
procedimentos de avaliao, vem a contribuir de forma mais efetiva para o diagnstico, j que
possibilita a anlise da atividade eltrica dos msculos envolvidos 17,18
.
Baseando-se nestas colocaes o presente estudo teve como objetivo mensurar a
atividade eltrica dos msculos masseter e temporal, verificar a graduao de dor palpao e
sua correlao com a atividade eltrica em sujeitos com bruxismo.
4.4 Materiais e Mtodos
A realizao deste estudo preenche as normas e diretrizes do Conselho Nacional de
Sade, resoluo 196/1996 (BRASIL Resoluo MS/CNS/CNEP n. 196/96 de 10 de outubro
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48
de 1996), alm de ter sido aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP) da instituio
no qual foi desenvolvido, sob o protocolo de nmero 0172.0.0243.000-07, sendo que
participaram deste estudo somente os sujeitos que estiveram de acordo com as explicaes
prestadas pela pesquisadora sobre os procedimentos e que assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
Assim, fizeram parte desta pesquisa, 20 sujeitos com bruxismo, sendo 4 do sexo
masculino (20%) e 16 do sexo feminino (80%), na faixa etria entre 19 e 51 anos (mdia de
idade de 26,90 anos), de ambos os sexos e sem distino de raas, os quais deveriam
apresentar queixa de dor facial, ranger e/ou apertar os dentes e desgaste ou apertamento
dentrio.
A escolha por jovens e adultos levou em considerao relatos de uma significativa
ocorrncia desse hbito na populao, em especial na faixa etria entre 10 e 40 anos19
, alm
de uma tendncia maior ao estresse nessa fase da vida que, conforme a literatura20,
considerado uma etiologia do bruxismo.
Foram excludos sujeitos que apresentassem doenas que danificam a musculatura
esqueltica, que possussem sinais evidentes de comprometimento neurolgico que pudessem
interferir na compreenso dos procedimentos, bem como na atividade muscular ou que
tivessem falhas dentrias.
Aqueles que preencheram os critrios estabelecidos foram submetidos, primeiramente,
a uma avaliao pelo instrumento Critrio de Diagnstico em Pesquisa para Desordens
Temporomandibulares (RDC/TMD)16
, que um mtodo padronizado, utilizado como auxiliar
no diagnstico da DTM, o qual foi realizado pela pesquisadora.
A escolha desta avaliao foi baseada no fato de que os sintomas da DTM
-
49
assemelham-se aos do bruxismo21,13-15
, alm de que, este um instrumento de qualidade e
confiabilidade que permitiu identificar em viglia alguns sinais e sintomas deste hbito, j que
as suas manifestaes so mais evidentes durante o sono. Este constitudo por dois eixos,
sendo que o Eixo I examinou aspectos fsicos e o Eixo II avaliou aspectos comportamentais,
psicolgicos e psicossociais16
.
A queixa de dor muscular foi confirmada e avaliada pelo exame fsico do RDC (Eixo
I), atravs da palpao dos msculos temporal e masseter, onde os sujeitos foram orientados a
responder, de maneira subjetiva, a sensao que a palpao provocou, classificando-a em
ausente (0), dor leve (1), moderada (2) e severa (3), para cada msculo e lado palpado. Este
exame foi realizado com presso em forte intensidade.
Alm de investigar a dor muscular, o RDC ratificou a presena de bruxismo nos
sujeitos que responderam de modo positivo as questes 15c (Algum lhe disse, ou voc nota,
se voc range os seus dentes ou aperta os seus maxilares quando dorme a noite?), 15d
(Durante o dia, voc range os seus dentes ou aperta os seus maxilares?) e 15e (Voc sente dor
ou rigidez nos seus maxilares quando acorda de manh?) do Eixo II do RDC, que verificaram
a ocorrncia de sintomas freqentemente evidenciados por estes sujeitos.
Aps a avaliao do RDC, os sujeitos realizaram avaliaes odontolgica
fonoaudiolgica, e eletromiogrfica.
A avaliao odontolgica foi realizada por um cirurgio dentista atravs da anlise da
arcada para verificao de desgaste nos dentes22,23
com o propsito de confirmar a presena do
bruxismo. Esta constatou que dos 20 sujeitos com bruxismo, 3 no apresentavam facetas de
desgaste nos dentes, realizando apenas apertamento. A avaliao fonoaud