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EDUCAÇÃO FÍSICA E VALORES HUMANOS POSSIBILITANDO CAMINHOS
INCLUSIVOS PARA A JUVENTUDE NA CIDADE DE FORTALEZA
Vivemos atualmente em meio a degradação dos valores humanos, principalmente no
âmbito familiar levando a juventude a sair cada vez mais cedo da escola ficando a
mercê das drogas, da criminalidade e da violência. Buscamos apresentar elementos para
a reflexão a respeito do resgate de valores humanos e das políticas públicas esportivas
para a juventude dentro das comunidades carentes, por meio da prática da Educação
Física em projetos sociais. Nesta perspectiva foram desenvolvidas pesquisas voltados a
juventude de três bairros (Conjunto Ceará, Mondubim e Barra do Ceará) da cidade de
Fortaleza – CE, situados em áreas de vulnerabilidade social, para compor este painel
que tem como objetivo mostrar as possibilidades para desenvolver os valores humanos
da juventude carente, a partir das seguintes intervenções: a primeira intitulada ‘Vila
Olímpica do Conjunto Ceará possibilitando caminhos na educação para a paz e valores
humanos’, onde busca refletir o resgate dos valores humanos por meio das vivências
práticas neste projeto. A segunda ‘O surf além das ondas para a inclusão de jovens da
Barra do Ceará’, na qual busca compreender o surf como um potencial educativo para o
resgate da cidadania e dos valores humanos. A terceira pesquisa ‘Valores humanos no
enfrentamento da violência no projeto esportivo da comunidade de Corrupião’, onde
busca dialogar com as manifestações e violência presentes nesta comunidade e as
possíveis ações de enfrentamento no resgate dos valores humanos. Concluímos que
estas ações foram exitosas e de extrema importância para o público participante das
pesquisas, pois conseguiram olhar para seu mundo vivido a partir de outras “lentes”, a
da cultura do amor, da tolerância e da paz. Evidenciando que a inclusão social destes
jovens a partir do acesso as políticas públicas esportivas, conseguiram fortalecer seus
vínculos afetivos e sociais, além de construírem o fortalecimento de uma consciência
coletiva dentro de suas comunidade.
Palavras-chave: Educação Física. Juventude. Valores Humanos.
O SURFE ALÉM DAS ONDAS PARA A INCLUSÃO SOCIAL DE JOVENS DA
XVIII ENDIPEDidática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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BARRA DO CEARÁ
Liana Lima Rocha
SEDUC-CE/UFC
Maria Eleni Henrique da Silva
FACED/UFC
Klertianny Teixeira do Carmo
FACED/UFC
RESUMO
O surfe é uma manifestação corporal que não se resume à prática em si, indo também
além do enfoque esportivo, podendo ser percebido como um “universo”, “um mundo
social” que proporciona um modo de ser e viver na cidade. Atualmente no cenário
nacional encontramos diversos projetos que ligam o surfe ao campo da educação, são
ações sociais que utilizam essa prática corporal como uma alternativa de educação para
a formação de jovens moradores de áreas consideradas de risco pela forte atuação do
tráfico de drogas e, consequentemente, da violência. Estudar essa alternativa dentro de
tal realidade triste no qual muitos desses jovens se encontram, torna-se ponto gerador
para a busca de reflexões para uma melhoria dessa juventude. O objetivo deste estudo é
compreender a relação que o surfe estabelece com a educação para formação humana de
jovens tendo como base no trabalho desenvolvido na escolinha ‘Surfando para a vida’
na praia da Barra do Ceará. A perspectiva metodológica utilizada para o
desenvolvimento dessa investigação foi o enfoque qualitativo de caráter exploratório. O
cenário do estudo foi um projeto social de surfe situado em uma praia próxima a uma
comunidade de alta vulnerabilidade social em Fortaleza. Jovens atendidos pelo projeto
assim como alguns funcionários e professores foram selecionados para um
aprofundamento desse estudo, as técnicas de coleta de dados foram o questionário, a
observação e a entrevista formais e informais. A partir dessa pesquisa percebemos que
o surfe pode apresentar um potencial educativo que vai além das manobras no mar, são
ensinamentos de valores humanos, de cidadania, de respeito ao próximo e ao meio
ambiente, tornando o surfe uma ferramenta social proveitosa para se dialogar com os
jovens contribuindo para a formação deles.
Palavras-chave: surfe, inclusão social e juventude.
INTRODUÇÃO
O surfe em alguns contextos tem sido trabalhado dentro de uma perspectiva
social formativa como um caminho para a formação de jovens em situação de
vulnerabilidade e exclusão social. São projetos que utilizam o surfe como instrumento
de educação, agente socialmente transformador, proporcionando noções de cidadania e
conscientização ambiental.
O surfe é uma manifestação corporal que não se resume à prática em si, indo
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também além do enfoque esportivo, podendo ser percebido como um “universo”, “um
mundo social” que proporciona um modo de ser e viver na cidade (ALBUQUERQUE,
2006).
Dessa forma a percepção em relação ao surfe perpassa visões restritas ligadas
apenas ao aspecto físico e esportivo, apresentando assim uma ampla compreensão que
percebe o surfe como uma importante ferramenta de caráter social, composta por uma
filosofia de vida, conforme observado nas palavras de Àrias e Andreatta (2003, p.96):
O surfe é acima de tudo, aquela sensação de aconchego, de eterna juventude e
de revitalização da alma. Não importa quem você seja, um Phd ou um gari,
um bodyboarder ou um longboarder, um brasileiro ou um americano, um
campeão ou um amador de técnica limitada. Não importa o atalho que você
esteja trilhando. Não importa o veículo que você esteja usando.... Todos nós
temos a certeza do que almejamos com o surfe... E no fundo, percebemos que
o mais importante não é a fama, nem glória, nem as conquistas materiais. O
que almejamos é a possibilidade de viver nesta terra de magia, de diversão,
de amizade e de paixão... A terra da eterna juventude... A terra do nunca,
situada no planeta surfe...
São aprendizados para a vida, pois a filosofia que envolve essa prática perpassa o
simples ensinamento das manobras, possibilitando também experiências e concepções a
respeito de uma vida mais ligada ao ser, através da sua filosofia, história, dialetos,
músicas e outros significados, caracterizando elementos de uma cultura corporal.
Segundo Àrias e Andreatta (2003), o surfe é hoje um dos esportes mais praticados
no mundo, são mais de dois milhões de praticantes em todo o planeta. O Brasil além de
ser o terceiro país do mundo em número de praticantes, é considerado uma referência
tanto no quesito geográfico por ter praias boas para a prática do esporte quanto em
relação a atletas de destaque em competições mundiais.
No cenário nacional encontramos também diversos projetos que ligam o surfe à
área da educação, utilizando-o como instrumento de educação, agente socialmente
transformador, proporcionando noções de cidadania de forma a complementar a
educação escolar, conforme descreve Nogueira (2014, p.7) “Natural e social articulam-
se continuamente. Entre outros resultados, a prática do surfe na periferia urbana de
Fortaleza concretizou-se em inserção social e educação ambiental”.
Alguns desses projetos ficam situados em localidades consideradas de risco pela
forte atuação do tráfico de drogas e, consequentemente, da violência como um caminho
para a juventude local.
O comportamento dos jovens associados a delinquência, mais do que uma postura
rebelde contra os valores das gerações mais velhas configura-se como um conflito de
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classe, decorrente da desvantagem social vivida pelos jovens da classe popular que
trilham diariamente o caminho da pobreza. São sujeitos carentes de bens materiais, mas
principalmente de direitos, assistência, oportunidades e esperança (ABRAMO, 2005;
DAYRELL, 2003; PAIS, 2003).
No município de Fortaleza, principalmente em comunidades periféricas, cresce o
número de homicídios envolvendo a juventude. Um dos polos onde há muitas
ocorrências é a comunidade da Barra do Ceará. A presente comunidade fica situada em
área de zona costeira, na qual as práticas são comuns, fazendo parte do cotidiano de
vários de seus sujeitos.
Esse espaço, que deveria servir como ponto de lazer para a juventude, acaba sendo
abandonado tornando-se local para a criminalidade, mas não em sua totalidade, pois o
projeto Surfando para a vida, vem de encontro a maré da atual lógica social,
promovendo através da prática do surfe, um completo ciclo de atividades que buscam a
construção de um processo formativo, para e com a juventude do seu entorno social.
Frente a este panorama, entre desafios e possibilidades do surfe como um
instrumento educativo, imbricado na minha própria experiência com o surfe desde a
infância faço os seguintes questionamentos: Que concepção de educação está presente
nesse projeto? Quais as noções de cidadania, cuidados com a saúde, com o meio
ambiente, com o bem-estar físico, mental e social são trabalhadas no projeto?
Portanto, o objetivo central desse estudo é compreender a relação que o surfe
estabelece com a educação para formação humana de jovens, a partir do trabalho
desenvolvido na escolinha ‘Surfando para a vida’. A importância desse trabalho se
expressa no forte enfoque educativo que será destacado em relação a essa prática
corporal, superando visões que a restringe ao aspecto físico esportivo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo foi desenvolvido a partir de uma metodologia qualitativa, de caráter
exploratório. A pesquisa qualitativa é fundamentalmente compreensiva e interpretativa.
Isso significa que o pesquisador faz uma interpretação dos dados. Isso inclui o
desenvolvimento da descrição de pessoas ou de um cenário, análise de dados para
identificar temas ou categorias e, finalmente, fazer uma interpretação ou tirar
conclusões sobre seu significado, pessoal e teoricamente, mencionando as lições
aprendidas e oferecendo mais perguntas a serem feitas (WOLCOTT, 1994).
A pesquisa exploratória foi realizada no projeto Surfando para a Vida, situado na
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praia da Barra do Ceará, em Fortaleza. A população foi composta de crianças e jovens
de 7 a 18 anos participantes regulares do projeto, professores instrutores e funcionários
que trabalham no projeto. A amostra foi composta por 40 participantes para a
observação.
Cinco jovens, três professores e dois funcionários do projeto foram escolhidos para
participarem das entrevistas semiestruturadas para complementar as observações.
Os procedimentos de coleta de dados usados na pesquisa foram: observações,
nas quais o pesquisador tomou notas de campo sobre comportamento e atividades das
pessoas no local da pesquisa. As entrevistas semiestruturadas com os participantes
envolveram perguntas, que visavam extrair visões e opiniões dos participantes.
(CRESWELL, 2007).
O trabalho de campo foi realizado em três fases: a) primeiro, foram realizadas
observações das características dos adolescentes participantes regulares para conseguir
notas de campo sobre comportamento e atividades das pessoas no local da pesquisa; b)
em um segundo momento, foram realizadas entrevistas com os professores e
funcionários que acompanham os jovens desde o início do projeto e que podiam falar
sobre as mudanças e melhorias notadas por eles no que diz respeito às características
dos adolescentes; c) em um terceiro momento, foram realizadas entrevistas com os
sujeitos da pesquisa, os jovens aprendizes do surfe, para a obtenção de mais
informações e com um caráter mais subjetivo dos assuntos analisados.
RESULTADOS E DISCUSSSÃO
O projeto atende cerca de 40 jovens, com idades entre 7 e 18 anos. A maioria
desses alunos são moradores da Barra do Ceará e de bairros vizinhos. Todos são
crianças e adolescentes pertencentes a famílias de baixa renda que passam por muitas
dificuldades sociais enfrentando diversos problemas como falta de emprego, de
assistência à saúde e oportunidades de crescimento social. Estes jovens convivem
diariamente com o mundo do crime e os seus contextos familiares apresentam inúmeros
sintomas de desestruturação, que vão desde o desemprego a práticas hediondas.
A maioria dos jovens chega a escolinha por desejo próprio, alguns são levados
pelos pais e outros são influenciados pelos amigos que participam do projeto. O desejo
principal deles é aprender o surfe e participar das diversas atividades oferecidas pelo o
projeto. Todos os alunos do projeto estão regulamente matriculados na escola. Logo os
alunos que estudam de manhã na escola participam das aulas do projeto no período da
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tarde e os alunos que estudam de tarde na escola participam no período da manhã.
O projeto tem como propósito educacional criar um ambiente educativo e de
formação para os jovens através de uma proposta esportiva usando o surfe com um
caráter educacional. Segundo eles, desenvolvendo um programa que busca
cotidianamente enriquecer o mundo dos seus integrantes por meio da construção de
relações afetivas saudáveis, fazendo com que eles se reconheçam como sujeitos ativos e
participantes do seu grupo e da sociedade, construindo, junto com o esporte, valores e
habilidades sociais.
Dessa maneira, o programa objetiva, prioritariamente, tornar os participantes
capazes de estruturar um projeto de vida a partir da sua experiência e convivência com o
outro. Segundo um dos professores as pessoas normalmente pensam o esporte no seu
sentido mais restrito, como uma atividade física ligada à competitividade ou à promoção
da saúde física. Para o projeto o esporte apresenta um significado muito mais amplo do
que esse, sendo compreendido como uma forma pedagógica e social e como prática
educativa construtora de valores humanos.
Portanto, a proposta pedagógica é desenvolver o esporte enfatizando a
construção de uma educação humana capaz de amenizar os problemas do
individualismo e a competitividade formando alunos solidários e cidadãos ativos frente
aos problemas da sociedade. Desenvolver o esporte fundamentalmente como uma
manifestação de sociabilidade, podendo ser um dos agentes dentro do processo
educacional assim como um instrumento poderoso para a transformação social.
Todo o trabalho desenvolvido no projeto segue uma linha pedagógica embasada
numa visão de educação integral, onde as manifestações da cultura corporal e esportiva
podem assegurar uma eficiente e legítima pedagogia coeducativa em cada ação
realizada.
O objetivo do projeto é estimular através de atividades esportivas e recreativas, a
formação dos jovens para que eles próprios deem uma direção em suas vidas, de
maneira que alcancem uma participação positiva na sociedade.
O projeto trata o surfe com um caráter educacional baseado em uma concepção
de educação humanista que prima pelo ensino dos princípios de cidadania, valorizando
questões humanas positivas para a construção de uma sociedade solidaria, preocupada
com a preservação do meio ambiente, contra a violência, que saiba identificar os
benefícios da prática física e saibam se manter longe das drogas. Caráter esse que
podemos perceber no relato do professore 1:
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A intenção do projeto não é descobrir talentos do surfe, mas formar jovens
que sejam bons sujeitos, educados, respeitadores e que sejam mais confiantes
procurando vencer as arrebentações da vida como eles vencem as
arrebentações do mar de forma honesta, sem trapacear a vez do amigo e sem
desistir de lutar.
O projeto trabalha as questões da Ética, da Pluralidade Cultural, do Meio
Ambiente, da Saúde paralelo ao ensino do surfe, usando também a sua filosofia para
ensinar valores humanos e princípios. Podemos perceber a partir dessas questões que ao
dialogar com os temas transversais paralelamente ao ensino do surfe, o projeto
possibilita o desenvolvimento dos valores e da dimensão humanistas.
As aulas do projeto podem ser apenas teóricas, usando o quadro branco,
exibindo vídeos, analisando revistas e outros materiais. Podem ser exclusivamente
práticas ou teórico-práticas.
Nas aulas os professores prezam pelo compromisso, pontualidade,
comportamento e o bom relacionamento com todos. Buscam a todo instante construir
um diálogo com os jovens e no final das aulas, inclusive das práticas, os professores
fazem uma roda de conversa como um momento de reflexão.
A programação das aulas de surfe ocorre de segunda a quinta-feira. Nas sextas-
feiras, os alunos participam de aulas diferenciadas de Flagfootball e capoeira. Nos
sábados, os alunos têm a oficina de prancha e aulas de kitesurf.
As aulas teóricas podem ser feitas análises de manobras através dos vídeos e
revistas, como também pode ser uma aula abordando temas transversais, por exemplo,
dialogando sobre questões referentes ao meio ambiente.
As aulas práticas são usadas para ensinar mais as técnicas do surfe, mas podem
também trabalhar outros aspectos paralelamente ao ensino das manobras e ao treino das
capacidades físicas, por exemplo, quando o professor desenvolve atividades
cooperativas trabalhando a questão da ética e do trabalho em equipe.
O projeto organiza passeios para que os alunos conheçam outras praias,
chamados de surfe trip. Ofertam também aulas de inglês. Na maioria das vezes estas
aulas são ensinadas por voluntários estrangeiros. Promovem palestras ministradas por
convidados abordando diversas temáticas, como a importância da atividade física, as
drogas, alimentação saudável, preservação do meio ambiente, entre outros assuntos com
enfoque educativo.
De forma geral, percebeu-se que os valores educacionais ensinados estão ligados
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a concepção educacional que trabalha a cooperação, a solidariedade e a preservação da
natureza. Dessa forma, os professores do projeto ensinam esses valores paralelos ao
ensinamento da filosofia do surfe que tem como lema a felicidade, o amor, o respeito à
natureza, a paz de espírito, confraternização entre os povos e cumplicidade,
Constatação essa que podemos perceber no relato do professor 2 quando
questionado sobre qual era sua concepção de educação:
A concepção de educação que eu desenvolvo é a concepção surfista de
verdade, sabe como ... é simples é só você enfrentar a vida de forma
saudável, tranquila, honesta, sendo solidário, amigável, cuidadoso com o
planeta e acima de tudo um surfista guerreiro de alma boa. É isso que eu
ensino aqui paralelo a ensinar eles a ficarem em pé na prancha, a serem boas
pessoas que saibam ser educados e respeitadores com todo.
O projeto procura ensinar valores capazes de influenciar na melhoria das
relações sociais, procurando amenizar os conflitos e problemas humanos como
exclusões e desigualdades através do ensinamento das noções de cidadania.
Ao entramos na sala principal do projeto encontramos muitos cartazes
educativos relativos à importância da água, cuidados com o meio ambiente, medidas
para uma atividade física segura, direitos das crianças e adolescentes.
Assistentes sociais promovem palestras sobre os direitos das crianças e os
adolescentes, dialogando também sobre questões de violência sexual, trabalho infantil,
doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência.
Para conscientizar os alunos com os cuidados com a saúde e com o meio
ambiente o projeto desenvolve aulas e campanhas durante o ano, principalmente no
período das férias, para a limpeza das praias e sempre que podem trazem textos, revistas
e documentários abordando a temática. São diálogos que levantam questões sobre os
benefícios da atividade física, alimentação saudável e até sobre higiene bucal, contando
na maioria das vezes com a participação de educadores físicos, nutricionistas e dentista
voluntário.
Os professores também procuram estimular a concentração dos alunos,
ensinando também as medidas necessárias para uma prática de surfe correta e saudável.
Segundo eles, no surfe, respeitar o mar, outros surfistas e seus próprios limites são
princípios essenciais para a prática do esporte.
Esses são muitos dos conteúdos desenvolvidos pelo projeto, conteúdos que vão
desde o ensino de questões de cidadania, meio ambiente até o movimento das técnicas
corretas para a prática de um surfe seguro. Como podemos perceber na fala dos alunos:
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Hoje não jogo mais nada no mar, antes eu ficava na praia chupava o picolé e
jogava o papel assim na água.... Hoje eu não faço mais isso de jeito nenhum
pego o papel e coloco no saco até disse pra minha mãe também pegar as
latinhas de cerveja e colocar no lixo não deixar mais na areia da praia. Tem
que cuidar do mundo, da água do planeta porque se a gente poluir o mar não
tem mais como surfar. (ALUNO 1)
Aprendi que temos que sempre estar praticando um esporte, seja futebol,
surfe e aquelas outras brincadeiras sempre, até bem velho. Antes de praticar
um esporte tem que acordar o músculo, fazendo exercícios contando até 12.
(ALUNO 2)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dessa pesquisa percebemos que o surfe pode apresentar um potencial
educativo que vai além das manobras no mar, são ensinamentos de valores humanos, de
cidadania, de respeito ao próximo e ao meio ambiente. Não se configurando apenas
como uma prática corporal que visa ganhos físicos ou competitivos esportivos.
O surfe nos permite fazer relações bem mais abrangentes do que apenas
movimentos radicais contra as ondas, sendo interpretado de diferentes formas,
consoante a natureza de quem o pratica; assim há quem o veja como um desporto,
passatempo, filosofia e/ou estilo de vida.
Nesse sentido percebemos o caráter educativo do surfe como uma ferramenta
social coerente para os espaços destinados a dialogar com a juventude configurando-se,
portanto como uma prática educativa.
Podemos assim concluir que a juventude necessita de ações sociais concretas
como essas que encaram o jovem como protagonista social, superando estereótipos e
conceitos superficiais e negativos, construindo uma proposta que caminhe com os
jovens e os seus contextos múltiplos, percebendo os como cidadãos importantes para a
construção de uma sociedade justa e igualitária.
Nesse sentido a política para o jovem precisa ser construída com ele e não para
ele, criando um ambiente favorável ao seu desenvolvimento e a sua formação, com
elementos da sua cultura, trabalhando com a criatividade e práticas que os estimulem
dentro da sua plenitude, compreendendo que a educação e a formação ocorrem também
em espaços diferentes da escola, reconhecendo potenciais educativos nos movimentos e
ações coletivas sociais (CARRANO, 2003).
Compreender processos educativos fora do eixo escolar que lide com os jovens e
suas práticas culturais promovendo uma educação crítica pode ser o viés necessário para
impactar ações destinadas a juventude, tratando a com a sua real importância social que
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lhe é de direito, assim a intenção dessa pesquisa é dar continuidade ao processo de
aprofundamento dessa relação, abordando o surfe em uma perspectiva mais vasta
levantando a hipótese dessa prática como um instrumento libertador.
REFERÊNCIAS
ABRAMO, Helena Wendel. “Condição juvenil no Brasil contemporâneo”. In:
Abramo, Helena Wendel e Branco, Pedro Paulo Martoni. Retratos da Juventude
Brasileira. São Paulo: Instituto Cidadania e Editora Fundação Perseu Abramo, 2005.
ALBUQUERQUE, Cynthia S. “Nas ondas do surfe”: estilo de vida,territorialização
e experimentação juvenil no espaço urbano. Fortaleza, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Sociologia UFC, 2006.
ÁRIAS, Marcello e ADRETTA, Romeu. Surfe Gênese – A história da evolução do
surfe. São Paulo: Cosmmos do Brasil, 2003. p.138.
CARRANO, Paulo César Rodrigues .Juventudes e cidades educadoras. Petrópolis:
Vozes, 2003, 180p.
CRESWELL, John W. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativos, quantitativos e
misto. 2 edição. Porto Alegre: Artmed, 2007. 248p.
DAYRELL, Juarez. O Jovem como Sujeito Social. Revista Brasileira de Educação. N.
24, p. 41-52, Set/Out/Nov/dez, 2003.
NOGUEIRA, Q.W.C. (2011). Esporte, desigualdade, juventude e participação.
Revista Brasileiras de Ciências e Esporte, 33(1),103-117
PAIS, Machado. Culturas juvenis. 2. Ed., Lisboa: Imprensa Universitária/casa da
Moeda, 2003. (Cap.01-02)
WOLCOTT, Harry F. Transforming Qualitative Data, Thousand Oaks. Casage
Publications, 1994.
VALORES HUMANOS NO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NO
PROJETO ESPORTIVO DA COMUNIDADE DE CORRUPIÃO
Alison Nascimento Farias
SME-MARACANAÚ/UNESP
Raplaell Moreira Martins
SEDUC-CE/FAMETRO/UNESP
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Antônio Jansen Fernandes da Silva
SEDUC-CE
RESUMO
A presente pesquisa tem como objetivo investigar as manifestações de violência entre os
alunos do projeto Esporte na Comunidade e intervir pedagogicamente através de uma
roda de conversa na construção de valores humanos e na minimização das principais
manifestações de violência, no bairro do Mondubim, em Fortaleza-Ceará. Os objetivos
específicos foram: identificar e classificar as manifestações de violência ocorridas nas
aulas do projeto quanto ao tipo: simbólicas, verbais e físicas; verificar se existem
variações de violência entre faixas etárias; e, ainda, construir juntamente com os
educandos novas regras e combinados para melhor convivência no projeto. Foi realizada
uma pesquisa descritiva, do tipo quantitativa e qualitativa utilizando-se dos seguintes
instrumentos: observação participante e uma tabela para registro construída pelos
autores, contendo uma lista com as principais atitudes e comportamentos agressivos que
pudessem ocorrer durante a execução da aula. Fizeram parte da amostra 40 alunos do
sexo masculino, sendo 15 com média de idade equivalente a 10.33, e 25 alunos com
aproximadamente 15 anos. A pesquisa de campo aconteceu no período de duas semanas,
no total de cinco aulas para cada turma. Ao final da pesquisa ficou constatado que os
alunos de faixa etária de sete a 12 anos se comportaram de maneira mais agressiva do
que a faixa etária de 12 anos em diante. Foi também verificado que a maioria dos alunos
sabiam que estavam agindo com agressividade mediante perguntas feitas aos mesmos
sobre violência na conclusão das aulas. Ao final, foi realizada uma roda de conversa
sobre as observações verificadas e os resultados obtidos quando foram construídas,
juntamente com os alunos, novas regras e combinados com o objetivo de melhorar a
convivência do grupo. Nesta pesquisa evidenciamos a grande importância da
constatação das manifestações de violência que acontecem em projetos esportivos
educativos e ações pedagógicas para a transformação dessa realidade.
Palavras-chaves: Projetos socioeducativos, Esporte educacional, Violência.
INTRODUÇÃO
A sociedade atual passa por grandes transformações em diversos segmentos
políticos, econômicos, culturais e tecnológicos. Essas transformações propiciam grandes
avanços, no entanto ampliam a crescente desigualdade social, sendo um dos fatores para
a crescente violência no mundo atual. Na sociedade atual, se disseminam diversos atos
de violência estrutural e pessoal que estão presente todos os dias, no cotidiano e nos
noticiários, atos de violência estão acontecendo diariamente em diversas cidades
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brasileiras e também no município de Fortaleza. É uma mazela social que se alastra de
maneira assustadora e traz o desafio da construção de uma cultura de paz, que é uma
tarefa de todos nós.
Mediante essa crescente trajetória de violência é que surgem projetos e
programas sociais com o objetivo de minimizar a violência entre crianças e jovens. O
Programa Esporte na Comunidade é um programa da SECEL (Secretária de Esporte e
Lazer de Fortaleza), que promove aulas sistematizadas de esporte às comunidades de
Fortaleza, tratando a prática como ferramenta pedagógica na socialização de
conhecimento tanto do universo esportivo como da sociedade contemporânea. Com
pressuposto em uma sociabilidade para além da competição, o programa prioriza a
participação popular junto aos processos de implantação e acompanhamento das
atividades desenvolvidas nas comunidades (SECEL, 2008).
O objetivo geral do programa é contribuir para a formação de uma
sociedade mais crítica por meio dos elementos da cultura corporal, desenvolvendo
assim, uma maior fundamentação acerca da consciência de classes, assim como a
participação popular junto ao processo de política pública na cidade de Fortaleza. Um
dos objetivos específicos do Programa é problematizar os valores do esporte de
competição, pretendendo construir outras possibilidades de abordar o esporte pautado
na participação, na criatividade, na autonomia e cooperação (SECEL, 2008).
A comunidade de Corrupião localiza-se no bairro do Mondubim, na cidade
de Fortaleza. Esta comunidade apresenta vários problemas sociais como: desigualdade
social, drogas, violência etc. No cotidiano com os alunos, percebemos que muitos têm
problemas no contexto familiar como: drogas, alcoolismo, pais separados, entre outros
conflitos. No contexto das aulas são percebidos com frequência diversos conflitos de
relacionamentos, resultando, muitas vezes, em atos de agressividade e violência.
O objetivo deste estudo é apresentar a pesquisa desenvolvida nesta comunidade
a respeito das manifestações de violência que ocorrem entre as crianças e jovens nas
aulas do projeto e intervenção pedagógica na construção de valores humanos e
diminuição das manifestações de violências verificadas na pesquisa. A pesquisa foi
desenvolvida tendo como objetivos específicos: identificar e classificar as
manifestações de violência ocorridas nas aulas do projeto quanto ao tipo: simbólicas,
verbais e físicas; verificar se existem variações de violência entre faixas etárias;
construir juntamente com os alunos através de uma roda de conversa novas regras e
combinados para melhor convivência do grupo.
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A pesquisa torna-se relevante no âmbito de uma educação para uma cultura
de paz na medida em que permite um diagnóstico das principais manifestações de
violência ocorridas e uma intervenção pedagógica plausível na resolução dessa
problemática
VIOLÊNCIA E SUAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO
De acordo com Levisky (1998), citado por Almeida (2010, p. 7), a violência
não é algo que surgiu agora, ela esteve presente em momentos passados na manifestação
de diferentes formas. Para o autor conceituar violência é muito difícil, pois esta pode ter
vários significados de acordo com cada cultura.”.
Segundo Galtung (1985), citado por Callado (2004), existem dois tipos de
violência, sendo uma direta ou pessoal, em que seria uma forma de agressividade
causada entre pessoas sendo possível identificar sujeitos envolvidos. A violência
indireta ou estrutural se caracteriza de maneira mais abrangente tendo um
desdobramento na corrupção e nas injustiças existentes na sociedade que resulta em
desigualdade social no qual uns tem muito dinheiro e outros não tem nada. Na violência
estrutural não é possível identificar pessoas envolvidas por ser algo bem mais amplo.
A violência está presente no espaço formal, na escola, afetando professores,
pais e alunos (SZADKOSKI, citado por ALMEIDA, 2010). De acordo com Oliveira e
Perim (2008), a violência permeia em diversos espaços, pois crianças e jovens recebem
vários tipos de influência e na maioria das vezes recebem maus conselhos. Os autores
defendem a importância de projetos educativos para minimizar os efeitos negativos da
violência.
Conforme afirma Blin (2005, p.17), as manifestações de violência são
caracterizadas por diversos atos de indisciplina, vandalismo, “bullyng” etc. O autor
comenta que essas manifestações de violência atingem professores, os próprios alunos
envolvidos em conflitos e demais pessoas da comunidade, seja em espaços formais e
não formais. E ainda, a questão da violência não se limita a atos físicos de violência,
mas a todos os atos subjetivos que provocam também formas de agressividade no
campo afetivo das pessoas que são afetadas por esse tipo de violência. A insegurança e o
clima de tensão estão presentes nesse campo das emoções e sentimentos.
INDISCIPLINAS DOS ALUNOS: UMA FACE DA VIOLÊNCIA NA EDUCAÇÃO
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Conforme Benette e Costa (2008), um dos grandes problemas hoje é a
indisciplina dos alunos, gerando um efeito negativo no processo pedagógico, bem como
o progresso do mesmo. Assim, a indisciplina dos alunos favorece outros problemas de
ordem comportamental desfavorável como: desrespeito ao professor no momento que
ele ministra suas aulas, conversas paralelas, insultos entre colegas, falta de atenção ao
conteúdo da aula. Este tipo de comportamento negativo acontece na escola formal e
também em espaços não formais como projetos e programas sociais.
Diante dessa problemática, é preciso que professores e toda equipe escolar
debatam sobre o tema e tracem metas inteligíveis para superar este problema. Na visão
de Benette e Costa (2008), o diálogo é o primeiro passo que os educadores tem que
fazer para encontrar alternativas para minimizar as causas da indisciplina.
De acordo com Bráz (2008), um dos fatores que contribui para a crescente
indisciplina de jovens é o consumismo, a tecnologia e o novo modelo de família atual.
Na correria do dia a dia as famílias não dialogam como antes, até mesmo no momento
das refeições, assistirem televisão é mais importante que conversar em família. O autor
menciona que esses fatores afetam o problema da indisciplina e este afeta de modo
drástico a evolução da educação brasileira.
Nagel (2005), citado por Bráz (2008, p. 8), comenta que é muito difícil
educar nessa sociedade, pois o homem moderno torna-se a cada dia mais superficial em
seus relacionamentos interpessoais, optando pelo isolamento. Segundo o mesmo autor,
por conta desse comportamento negativo do homem atual, a escola sofre as
consequências. E a sociedade sofre pela falta de diálogo entre as famílias e outros
grupos sociais. O autor afirma que para resolver o problema da indisciplina é necessário
que ocorra bastante dedicação e esforço de todos os atores envolvidos nesse processo.
ESPORTE EDUCACIONAL: UM CAMINHO POSSÍVEL
O esporte vem ganhando destaque em todo mundo. O crescente número de
programas e projetos sociais aumenta a cada dia, como forma de minimizar os efeitos da
violência através do esporte de qualidade para todos e com seu valor educacional.
Na visão de Oliveira e Perim (2008), além das inúmeras competências
aprendidas através do esporte educacional de qualidade, este é um direito exigido pela
constituição brasileira e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Muitas vezes
as crianças e adolescentes não são conhecedoras desse direito legítimo, cabem
principalmente aos profissionais de Educação Física conscientizá-los dos seus direitos
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bem como seu posicionamento para terem acesso.
O esporte é um poderoso instrumento de educação, muitos autores
defendem o esporte como um grande meio de educação para cidadania. Para que o
esporte tenha realmente este poder transformador, é necessário que profissionais
competentes possam implementar princípios de cidadania na prática esportiva para
então formar cidadãos.
De acordo com Oliveira e Perim (2008), para a minimização dos efeitos da
violência é necessário ampliar os conceitos de cidadania, bem como formar cidadãos.
Segundo os autores, o esporte pode contribuir satisfatoriamente para minimizar os
efeitos nocivos da violência. Ele critica que para que o esporte tenha esse efeito
positivo, deve-se eliminar a violência que acontece em muitas atividades mal
direcionadas e conflitos de torcidas que muitas vezes cometem verdadeiras atrocidades
em nome do esporte. É estabelecer conceitos de cidadania em sua prática e contar com
profissionais qualificados que formem atletas cidadãos, crianças respeitosas, torcedores
éticos que respeitem a vida humana acima de tudo.
Na visão destes autores, os educadores precisam utilizar o esporte como
uma ferramenta educativa estabelecendo princípios, valores e atitudes, com o propósito
de tornar os educandos cidadãos democráticos conhecedores dos seus direitos e deveres
respeitando seus semelhantes independente da sua posição social. No esporte
educacional todos participam independente se são habilidosos ou não, o princípio da
inclusão é inserido com o fim de quebrar preconceitos e valorizar a pessoa humana.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa foi desenvolvida através de uma metodologia quantitativa e
qualitativa, sendo realizado um estudo descritivo. Fizeram parte da pesquisa 40 alunos
do sexo masculino. Os alunos da amostra apresentavam idades de sete a 12 anos e um
segundo grupo acima de 12 anos. Sendo 15 alunos com média de idade de 10.33,
inseridos na primeira turma no horário de 18h00min as 19h00min; e 25 alunos com
aproximadamente 15 anos, inseridos na segunda turma no horário de 19h10min às
20h10min. Os alunos participantes do estudo estão no projeto desde outubro de 2011.
Na recolha dos dados, inicialmente, foi utilizada a observação participante
de cinco aulas para a faixa etária de sete a 12 anos, e cinco para a faixa etária acima de
12 anos, no período de duas semanas. Durante a observação das aulas o foco principal
foi a identificação de situações de comportamento agressivo ou violento, ocorridos
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entres as crianças e jovens. Foi construída uma tabela para o registro das manifestações
de violência, contendo uma lista das principais atitudes e comportamentos que
pudessem ocorrer no momento da aula. A tabela foi construída pelos autores com base
em estudos de Blin (2005). Os dados obtidos através da tabela de manifestações de
violência foram analisados quanto à frequência absoluta e relativa. Nesta pesquisa
procuramos zelar pelos princípios éticos em toda trajetória do estudo procurando
proteger os direitos dos sujeitos participantes.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante as duas semanas foram registradas 71 ocorrências de violências. Foi
constatado que os alunos na faixa etária de sete a 12 anos se comportaram de maneira
mais agressiva em relação aos alunos acima de 12 anos idade.
Na primeira semana foi identificada a ocorrência de violências simbólicas
totalizando 10 alunos na faixa etária de sete a 12 anos. Dos 10 alunos, dois recusaram a
participar da aula e oito conversavam e bagunçavam no momento em que o professor
iniciava a aula.
Em relação aos alunos que correspondiam a faixa etária de 13 a 17 anos,
apenas dois cometeram violência simbólica na primeira semana de aula, como, por
exemplo, conversas no momento da aula não dando atenção ao professor quando este
falava e discordância do conteúdo. Em relação a violência verbal, 11 alunos de faixa
etária de sete a 12 anos praticaram esse tipo de violência: cinco alunos atribuíram
apelidos humilhantes aos colegas no momento da aula; três alunos disseram palavrões
com colegas; e três contestaram com o professor por colocar alunos menos habilidosos
no grupo que eles estavam presentes. Apenas quatro alunos de faixa etária de 13 a 17
anos praticaram violência verbal. As principais ocorrências foram: apelidos humilhantes
e palavrões.
Algo que surpreendeu nesta primeira semana foi que apenas dois alunos na
faixa etária de sete a 12 anos cometeram violência física, no qual houve gritarias de um
aluno com outros colegas, e um aluno entrou de maneira brusca num colega no
momento da aula, totalizando três alunos. Não houve nenhum registro de violência
física na faixa etária acima de 12 anos.
Na segunda semana da pesquisa, totalizando três aulas para cada turma,
constatou-se que 14 alunos de faixa etária de sete a 12 anos praticaram violência
simbólica, sendo que sete alunos conversavam e bagunçavam no momento inicial da
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aula e não davam atenção para a explicação do conteúdo da aula. Três alunos se
recusaram a participar da aula, pois queriam só jogar. Quatro alunos bagunçaram no
início da aula e apresentavam passividade e indiferença ao ensino.
Nas faixas etárias de 13 a 17 anos apenas cinco alunos praticaram violência
simbólica, conversavam muito no momento que o professor necessitava de atenção, e
passividade em relação ao ensino. No campo das violências verbais 13 alunos (de faixa
etária de sete a 12 anos cometeram violência verbal, dos quais dois ameaçaram colegas.
Assim, 10 alunos manifestaram agressividade com os colegas através de palavrões e
apelidos humilhantes, um aluno chegou atrasado sem dar justificativa. Cinco alunos de
faixa etária de 13 a 17 anos praticaram violência verbal, sendo que três disseram
palavrões e dois ameaçaram colegas. No registro das violências físicas quatro alunos na
faixa etária de sete a 12 anos e um aluno na faixa etária de 13 a 17anos, cometeram
violência física através de gritarias com colegas.
Tabela 1 – Ocorrência de manifestações de violências segundo o tipo e a idade dos alunos com frequência
relativa em relação ao número de ocorrências total. Legenda: FA = frequência absoluta, FE = frequência
relativa, N = número de alunos.
Idade: 7 a 12 anos (N=15) Idade: 13 a 17 anos (N=25)
1ª semana
Tipo de violência (FA) (FR) (FA) (FR)
Violências Simbólicas 10 14% 2 2,8%
Violências Verbais 11 15% 4 5,6%
Violências Físicas 02 2,8% 0 0%
23 32,4% 6 8,4%
2ª semana
Violências Simbólicas 14 19% 5 7%
Violências Verbais 13 18% 5 5%
Violências Físicas 4 5,6% 1 1,4%
Subtotal 31 43,6% 11 15,49%
Total 54 76% 17 23,9%
Fonte: Adaptado por Blin (2005).
Segundo, Blin (2005), a causa para o fenômeno notável da violência simbólica
e verbal se justifica numa análise sociológica em que segundo o autor está na
desigualdade social presente na sociedade estabelecendo uma classe dominante no qual
domina sobre classe menos favorecida. Outro fator está na desestruturação familiar,
violência na comunidade etc.
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Mediante o resultado percebido bem como para a diminuição dessas
manifestações de violência no qual foi constatado através da pesquisa, foram
construídas novas regras e combinados juntamente com os alunos com o objetivo de
diminuir alguns desses atos agressivos que estavam ocorrendo no cotidiano do projeto.
Foram elaboradas regras de convivência como:
Não dizer palavrão com os colegas.
Respeitar o professor ouvindo-o quando o mesmo estivesse falando;
Respeitar os colegas menos habilidosos;
Não entrar de maneira agressiva em jogos diversos;
Respeitar as regras do jogo.
Também foram criadas algumas consequências se as regras citadas acima
fossem desrespeitadas, o grupo decidiu que o mesmo que cometeu tal ato ficaria fora do
jogo por dois minutos e pediria desculpas para o grupo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer da pesquisa foram verificadas informações que revelaram aspectos
importantes para resolver questões traçadas no presente estudo. Foi possível verificar
que as principais manifestações ocorridas foram: simbólicas e verbais, algo que nos
preocupa ainda mais, pois as marcas na psique humana são devastadoras influenciando
na personalidade e no caráter de modo negativo. Uma das possíveis conjeturas que
podemos mencionar que contribui para essas ocorrências de violência é a pobreza
excessiva, tráfico de drogas e a desestruturação familiar na comunidade de Corrupião.
Foi percebido uma diminuição considerável das manifestações de violência através da
roda de conversa onde foram construídas novas regras de convivência pelos próprios
alunos. Foi constatado através do presente estudo que a construção de regras de
convivência é uma possibilidade pedagógica plausível para minimizar os efeitos
hediondos da violência e suas manifestações.
Mediante o resultado encontrado na pesquisa é necessário implementar em
projetos esportivos educacionais estratégias de construção de regras e combinados onde
o educando seja o sujeito ativo no processo dessa construção.
REFERÊNCIAS
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6763ISSN 2177-336X
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ALMEIDA, Maria da Graça Blaya. A violência na sociedade contemporânea. Porto
Alegre: Edipucrs, 2010. 161 p.
BENETTE, Tereza Sanchez. Indisciplina na sala de aula: Possibilidades de
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CALLADO, Carlos Velazquez. Promovendo valores humanos na escola através da
educação física e dos jogos cooperativos. Rio de Janeiro: Projeto Cooperação, 2004.
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VILA OLÍMPICA DO CONJUNTO CEARÁ POSSIBILITANDO CAMINHOS
NA EDUCAÇÃO PARA A PAZ E VALORES HUMANOS
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Halisson Mota Cunha
UFC/ Saberes em Ação
Dirlene Almeida Ferreira
UNESP
Márcio Régis Pinto Pompeu
UFC/SEDUC
Resumo Esta pesquisa buscou apresentar elementos para a reflexão sobre a relação entre esporte,
políticas públicas e inclusão social no projeto social desenvolvido na Vila Olímpica do Conjunto
Ceará (V.O.C.C). Os objetivos da pesquisa foram identificar a concepção de esporte educacional
na V.O.C.C e analisar seu impacto na vivência da Cultura de Paz, no resgate de valores
humanos, na conscientização social e na construção da cidadania no cotidiano dos seus alunos
participantes. Foi desenvolvido segundo uma abordagem qualitativa do tipo estudo de caso. A
população é representada pelos alunos matriculados na V.O.C.C há mais de 8 anos, e a amostra
foi intencional e composta por 20 alunos, na faixa etária de 15 a 17 anos, e que participam
ativamente de suas atividades. Os instrumentos da pesquisa foram a entrevista semiestruturada e
a observação. Os resultados mostraram que a V.O.C.C tem cumprido seu papel no resgate dos
valores educacionais. Além das atividades físicas, a Vila também é um grande centro de
socialização para a comunidade, fortalecendo vínculos afetivos e sociais. Os alunos afirmaram
que o Projeto Abraço Amigo foi determinante para a construção de saberes e a vivência de uma
Cultura de Paz. O papel da Vila tem sido importante na formação humana de seus alunos, e tem
assumido um papel essencial no processo de crescimento e desenvolvimento destes jovens. Palavras-chaves: Esporte; Inclusão Social; Cultura de Paz; Valores Educacionais; Políticas
públicas.
Introdução
A formação para a compreensão e a vivência da situação da paz passou a ser
uma questão emergencial no planeta. Estamos vivendo, a nível planetário, a acentuação
da decomposição do modo de produção capitalista, que esgotou suas possibilidades
civilizatórias, é autofágico, e atualmente exacerba os mecanismos de destruição das
forças produtivas (GLUCKSTEIN, 2000; FORRESTER, 2002). Segundo Noronha
(2009), a sociedade enfrenta uma grande onda de desordem familiar. Cada vez mais
cedo jovens tem entrado no mundo da criminalidade; vidas estão sendo ceifadas por
todas as cidades brasileiras; valores tidos antes primordiais, hoje ficaram esquecidos. A
nossa sociedade vive um quadro de injustiças sociais, exclusão e falta de condições
materiais mínimas de sobrevivência que afeta a maioria da população, o que tem
causado insatisfação e violência de várias naturezas.
A construção de uma Cultura da Paz tem sido reconhecida como uma das
formas de enfrentamento da violência. Viver segundo uma Cultura de Paz significa
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repudiar todas as formas de violência e promover princípios e valores como a liberdade,
justiça, solidariedade, compreensão e tolerância. De acordo com a Resolução do ano de
2000, da UNESCO, manifesto por uma Cultura de Paz, ela, constitui-se dos valores,
atitudes e comportamentos que refletem o respeito à vida, à pessoa humana e à sua
dignidade, aos direitos humanos, entendidos em seu conjunto, interdependentes e
indissociáveis.
Apesar do conceito de esporte educacional não ser uma unanimidade entre os
autores, havendo uma vasta gama de concepções, sempre se converge para um eixo
principal, que é: esporte pela educação e não somente o esporte pela atividade física,
(BENTO 1995, 2004; CHAUÍ, 1995; SILVA e SILVA, 2004) o que o torna uma
excelente ferramenta para a inclusão destes valores. Em vez de privilegiar o aluno
campeão, “homem máquina”, que corre sem saber para onde, que arremessa sem saber o
que, e joga sem ter prazer, a noção de esporte e educação privilegia uma formação do
cidadão crítico, emancipado e solidário consubstanciado no princípio do esporte
educacional, com base em valores como a incorporação de uma cultura de paz,
cooperação, emancipação, regionalismo, coeducação, participação e totalidade (KUNZ,
2005). O esporte também não é o fim em si mesmo e nem tão pouco um conjunto de
técnicas para garantir o domínio dos gestos desportivos. Ao contrário, é um meio lúdico
e prazeroso, que serve como instrumento para a formação de outras capacidades,
habilidades e conhecimentos, que instrumentalize o aluno com os recursos necessários
para exercer uma vida digna.
A intenção desta pesquisa foi apresentar elementos para a reflexão sobre a
relação entre esporte, políticas públicas e inclusão social, a partir de indagações
levantadas na área do esporte educacional no projeto social desenvolvido na Vila
Olímpica do Conjunto Ceará (V.O.C.C).
A minha vivência e convivência como aluno da UFC (Universidade Federal do
Ceará) e estagiário de atividades esportivas me levou a conhecer por dentro o trabalho
educativo e social da Vila. O cotidiano didático e pedagógico vivido ao longo de
aproximadamente três anos com jovens e crianças foi gerador de dúvidas, esperanças e
angústias. A questão que me acompanha e que considero a questão de fundo nesta
pesquisa é a seguinte: a concepção inovadora, resgatadora e inclusiva tão divulgada pela
vila olímpica tem surtido realmente efeito no resgate da cidadania destas pessoas? As
crianças e jovens tem incorporado os valores humanos propostos através do esporte
educacional? O trabalho pedagógico das Vilas tem promovido realmente a
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conscientização social? Esta conscientização tem se traduzido em uma ação prática na
realidade, no cotidiano dos seus alunos?
Estas são questões essenciais e amplas, pertinentes em uma avaliação sobre a
efetividade deste projeto social. Na impossibilidade concreta de proceder a uma
investigação de tal complexidade, escolhi como objeto central desta pesquisa um dos
temas privilegiados na proposta pedagógica das Vilas que é a questão da Cultura de Paz,
a construção de uma cultura de não-violência na sociedade e a aprendizagem de valores
humanos. Nesse conjunto, a aprendizagem e a construção de saberes a respeito de
valores humanos passam a constituir-se como um dos objetivos legítimos e necessários
no contexto educacional escolar formal e não-formal. Assim, apresento algumas
questões mais específicas e tangíveis que nortearam esta investigação: qual a
compreensão dos jovens que participam hoje do esporte educacional na Vila Olímpica
do Conjunto Ceará sobre a Cultura de Paz? Que saberes e práticas relativas à Cultura de
Paz foram aprendidos por estes jovens? Estes jovens manifestam atitudes e
comportamentos de solidariedade, cooperação e respeito entre si e com os adultos com
quem convivem? Estes jovens agem no cotidiano segundo o princípio da não-violência?
Buscando respostas a estas questões é que esta pesquisa foi desenvolvida,
numa perspectiva de investigar a contribuição que a Vila Olímpica do Conjunto Ceará
tem dado para a construção de uma Cultura de Paz entre os jovens que frequentam este
espaço educativo. Investigando este projeto educacional objetivamos compreender
aspectos sobre o debate da paz e sobre a intervenção a partir de uma ação pedagógica
fundada em valores humanos na formação de jovens; e ainda, evidenciar o significado e
o sentido dados por estes a estas práticas esportivo-educativas.
Metodologia
Este estudo foi desenvolvido através de uma metodologia qualitativa, sendo
realizado um estudo de caso, com o objetivo não só descritivo, mas também
interpretativo de aspectos da realidade observada (LUDKE; ANDRÉ, 1986).
A população nesta pesquisa é representada pela totalidade de sujeitos
matriculados nas turmas de esportes na Vila Olímpica do Conjunto Ceará. A amostra foi
composta por 20 alunos, de ambos os sexos, na faixa etária de 15-17 anos de idade,
matriculados na Vila Olímpica do Conjunto Ceará há mais de oito anos, e que
participam ativamente das aulas e eventos propostos pela instituição. A composição da
amostra foi do tipo intencional, cujo critério de inclusão foi que os sujeitos deveriam ter
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oito anos de convivência na Vila e que já tivessem tido oportunidade de desenvolver a
capacidade de um pensamento reflexivo (KOHLBERG, 1971).
Inicialmente foram realizadas observações semiestruturadas, nas quais o
pesquisador tomou notas de campo sobre o comportamento e as atividades dos sujeitos
no local da pesquisa. A entrevista foi utilizada como uma grande ferramenta para a
captação imediata e corrente das informações desejadas. Esta técnica permite ao
pesquisador observar versões da realidade do entrevistado que não pode ser
quantificado em sua linguagem própria (MINAYO, 2000). A duração de cada entrevista
foi diferenciada, pois os entrevistados ficaram livres para responder a cada pergunta,
utilizando o tempo que fosse necessário. As entrevistas foram gravadas em áudio e em
seguida transcritas e preparadas para a fase de análise de dados.
Os dados coletados nas entrevistas foram analisados em seu conteúdo com o
objetivo de identificar o que estava sendo dito a respeito de determinado tema. Foi
utilizada a técnica de análise de conteúdo como um conjunto de técnicas para analisar o
conteúdo de comunicações, visando obter por procedimentos sistemáticos a descrição
das mensagens (qualitativos ou não) que permitissem a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Apresentação dos Sujeitos
Fizeram parte do estudo 14 jovens do sexo masculino (70%) e 6 do sexo
feminino (30 %). Os alunos da amostra apresentaram idades variando de 15 a 17 anos,
com uma média de 16, 35 anos e desvio padrão de 4,27. Entre os entrevistados, 50%
apresentaram a idade média de 17 anos, 35% 16 anos, e 15% 15 anos. Estas se
concentram na faixa etária de 14 a 17 anos formalizada pela Vila Olímpica que, segundo
seu Projeto Político Pedagógico, são os alunos que tem maior compreensão dos fatos,
poder de crítica, cobrança, fase desafiadora e que possuem alta competitividade e
determinação em suas atividades. Quanto à escolaridade, todos estão matriculados
regularmente em uma instituição de ensino pública, sendo este um pré-requisito da Vila
Olímpica para matricular-se em suas atividades. Todos se encontram cursando o ensino
médio.
Em relação ao tempo de participação dos alunos na Vila Olímpica, todos eles
ingressaram na instituição ainda crianças, na faixa etária de 6 a 9 anos (100% dos
alunos), permanecendo durante todo o período de sua adolescência matriculados nas
modalidades esportivas oferecidas pela Vila Olímpica. Os alunos, em sua totalidade, já
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experimentaram quase todas as atividades esportivas oferecidas pela Vila. Nota-se que
atualmente 50% dos alunos praticam uma modalidade esportiva, enquanto que 30%
participam em 3 modalidades, e apenas 20% praticam 2 modalidades esportivas. Na
medida em que os alunos avançam na idade o número de atividades desenvolvidas
diminuem. Entre os jovens de 17 anos, 60% estão atualmente matriculados apenas em
uma atividade esportiva, 30% estão matriculados em duas modalidades, e 20% dos
alunos participam de três modalidades esportivas. Entre os jovens de 16 anos, 42 (8%)
participam de uma modalidade e 57 (2%) participam de três modalidades esportivas. Já
entre os alunos de 15 anos, 100% praticam três modalidades esportivas sendo, suas
preferidas o futsal e o handebol.
Reconhecimento das temáticas e valores educacionais no cotidiano dos (das) jovens
Percebemos que 85% dos entrevistados expressaram, em suas respostas, que
realmente a Vila desenvolve as atividades temáticas durante o ano e que eles gostam de
aprender sobre estas temáticas. Em suas respostas eles comentaram que gostam de
aprender algo mais além do gesto técnico, como observado na fala do aluno 1: “sim é
bem legal aprender algo mais nas aulas. Os professores sempre passam nas aulas
coisas do abraço amigo”; aluno 17: “eu gosto, gosto muito principalmente quando tem
os passeios. Certeza, um dia isso vai ser bom principalmente para mim que eu quero ser
professor de educação física”. Foi notado que os alunos expressam quase que em sua
totalidade a ligação entre estas aulas e aprender algo mais. Outro motivo para estes
eventos ficarem marcados em suas memórias deve ser pelo fato de que em todo final de
evento realiza-se um passeio para culminar o evento como expressado pelo aluno 17,
que também expressou forte desejo de se tornar um professor de Educação Física.
Apenas 15% dos alunos informaram que aprendem um pouco ou alguma coisa nestas
temáticas.
É importante ressaltar que nenhum dos entrevistados declarou que não aprende
nada nestas aulas, o que reforça a validade desta perspectiva didática em uma proposta
pedagógica para o ensino dos esportes, comprometida com uma aprendizagem além dos
conteúdos específicos sobre os esportes, do próprio gesto técnico ou das estratégias de
jogo. Esta visão dos alunos demonstra que os jovens valorizam as possibilidades de
aprendizagens vinculadas à vida para além das quadras esportivas. Porém, apesar de
declararem que aprendem nestas aulas, as temáticas não foram apontadas quando
questionados sobre o que mais gostavam nas aulas, o que traz um questionamento sobre
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o porquê não foram lembradas pelos alunos e alunas.
Nesta categoria, 50% dos alunos relataram que a temática que mais
participaram e que mais gostaram foi o projeto “A Ludicidade do Movimento em Busca
de Um Abraço Amigo”. Embora seja um projeto desenvolvido na Vila Olímpica este
não pertence às Vilas Olímpicas do Conjunto Ceará. Trata-se de um projeto que convida
a Vila Olímpica a participar de suas ações e que tem por finalidade o trabalho da
Educação Física vinculado a temáticas sociais como: a Cultura de Paz (tema trabalhado
em sua caminhada da paz na primeira etapa do projeto), Educação Ambiental (tema
abordado em sua gincana verde), e a culminância do projeto que se realiza com um
passeio festivo onde se realiza um dia de atividades físicas, jogos, brincadeiras,
geralmente no setor esportivo da Universidade Federal do Ceará.
Esta preferência pode ser observada na fala do aluno 1: “Sim. Foi o Abraço
Amigo. Participei da gincana verde, da caminhada da paz. Gincana verde é sobre o
meio ambiente e a caminha da paz é para motivar a paz. A que eu mais participei foi a
gincana verde”; O aluno 12 nos disse que: “foi a da campanha da paz. Mais gostei foi
do abraço amigo” e o aluno 9 que disse que: “Acho que tudo um pouco, acho que o
mais interessante por exemplo: que era antigamente tinha muito mais hoje o pessoal só
vai por que tem passeio entendeu, assim se você gostar de participar fica mais
interessante. Perai, não sei o que verde, Abraço Amigo. Que eu mais gostei foi Abraço
Amigo.”
A colônia de férias que é desenvolvida em julho e janeiro atingiu apenas 15%
de preferência na valência de participação, e 10% na valência que gostou mais. O tema
da violência no esporte ficou com 10% para cada valência, e temáticas com relação ao
meio ambiente 10% para participação e 15% para que gostou mais. Observa-se que 15%
dos entrevistados falaram que participaram de tantas que não lembram de qual mais
participaram e qual mais gostaram, como expressado pelo aluno 17: “participei de
tantas mais que nem me lembro.”
Nesta categoria afere-se que o tema mais abordado pelos jovens é o projeto
Abraço Amigo que se encontra fora da Vila Olímpica, embora em seu Projeto Político
Pedagógico, no item Estruturas do Temas Geradores, menciona que a aplicação destes
temas e subtemas, são distribuídos nas atividades esportivas e de lazer durante o ano
todo. E cada tema deste deve ser discutido e internalizado por todos aqueles que fazem
parte da Vila. A compreensão dos temas geradores deve acontecer através de processos
dialógicos e coletivos como fator essencial para alcançar as metas do projeto trabalhado.
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Todos os alunos informaram que haviam sido influenciados por estas temáticas
de alguma maneira, no entanto 90% dos entrevistados afirmam que com certeza estas
temáticas influenciaram em seu cotidiano, transformando assim valores em seu dia a
dia, como expressado pelo aluno 8: “cara, acho que sim, por que tira a gente do mundo
das drogas e incentiva a gente entrar no esporte acho que isso é o que é mais
importante”; segundo o aluno 12: “um pouco. Que sei lá, eu era muito danado, agora
eu mudei muito, fazia muito coisa assim, prejudicava muito aqui”; o aluno 14, conta
que: “ajuda, a pessoa não faz coisa de errado como eu falei antes não vai para a rua,
fazer coisa de errado roubar usar droga”.
Pode-se considerar que as temáticas transformam os jovens quanto ao seu
comportamento violento, além de afastar os envolvidos do mundo das drogas. Também
ficou evidente que a consciência ambiental foi bastante trabalhada com os entrevistados,
como notado na fala do aluno 1: “mudou, mudou tudo. Quando a gente está em outro
ambiente não jogamos lixo no chão”; para o aluno 2: “sim, sim. Eu aprendi a respeitar
melhor o meio ambiente e outras coisas mais”; o aluno 18 disse que: “acho que sim,
principalmente sobre a natureza, temática sobre o meio ambiente, ajuda a certas
pessoas a não sujar o meio ambiente”. Apenas 5% dos alunos informaram que tem
influenciado um pouco no modo de viver, estas temáticas e outros 5% informaram que
achava que sim, que tinha surtido algum tipo de efeito.
Aprendizagens e saberes práticos sobre a cultura de paz, solidariedade, respeito e
cooperação
A análise das respostas sobre o que é paz demonstrou que todos os alunos
possuem saberes sobre o que é a paz, mas não têm um conceito bem formulado para a
paz. As respostas variaram bastante, no entanto as respostas foram agrupadas em
categorias: para 15% dos entrevistados paz é uma total falta de violência como relatado
pelo aluno 2: “paz. Sem briga sem violência”; e o aluno 3: “paz é a pessoa poder viver
feliz. Sem violência você poder andar em paz”. Foi percebido uma aproximação ao
conceito de paz positiva o qual diz que a violência não é justificável para absolutamente
nada, os jovens têm incorporado isso no decorrer de sua trajetória na Vila Olímpica.
A união foi mencionada por 15% dos entrevistados ao explicarem o que
significa paz, que também se encontra como fator pertinente à cultura de paz, quando
vista no aspecto social para melhorar as relações entre os grupos. O respeito foi citado
por 20% dos entrevistados como forma de paz. Nesta resposta foi percebido que os
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alunos relacionam “muito respeito” como forma de se almejar a paz e que também se
enquadra no processo de idealização para a paz no âmbito social, favorecendo o
conhecimento, respeito e valorização das diferentes manifestações culturais. Amar ao
próximo foi expresso por 10% dos entrevistados como forma de se chegar à paz. Paz é
tudo, foi referido por 15%, a felicidade por 5% dos jovens, e outras respostas, foram
apresentadas por 20% dos entrevistados.
Foi constatado que 95% dos entrevistados dizem estar agindo para promover a
paz em sua comunidade e em sua família. Vale salientar que muitos conceituaram paz
como sendo a ausência de todo tipo de violência, conforme resposta do aluno 18: “sim,
vamos dizer eu tento ser bem calmo não procuro confusão sempre tento conversa, tento
entender as pessoas também”; e do aluno 17: “tenho, tenho feito principalmente com os
meus pais separados eles antigamente eles discutiam muito e eu tava no meio tentado
levar a paz para eles”.
Novamente afere-se que a forma encontrada pelos entrevistados para que se
tenha mais paz no mundo foi a da ausência de violência com 35% dos entrevistados,
como relatado na fala do aluno 8, “primeiro acabar com a violência o principal disso
tudo é a violência”. Notou-se que 10% dos entrevistados mostram preocupação quanto
às formas de divulgação para se promover a paz como ilustrado nos comentários do
aluno 7: “passeata, conscientizar a população de todas as formas possíveis”. Também
foi citado a incorporação de novos tipos de conhecimento para promoção da paz em
nossa sociedade, verifica-se isso na voz do aluno 10: “É, buscar uma nova forma de
conhecimento por que sem conhecimento a pessoa não é nada”. Novamente o respeito
apareceu como forma de solucionar os problemas de violência segundo as respostas de
20% dos entrevistados.
Cerca de 85% dos alunos entrevistados informaram que cooperação significa
algum tipo de ajuda que você possa prestar a quem estiver necessitando. Como
podemos observar na fala do aluno 11: “Cooperar é ajudar o próximo, quando a
pessoa estiver com dificuldades em alguma coisa você ir lá e ajudar. É isso. ” A união
foi referida em 10% das respostas dos jovens, enquanto que, novamente, o respeito
aparece em 5% das respostas, como forma de cooperação.
Em sua maioria os jovens têm agido em cooperação na sua família e em sua
comunidade. Noventa e cinco dos entrevistados informaram que sim, estão agindo,
porém percebe-se que 90% dos jovens relataram que ajudam sua mãe e apenas 10%
relatam a presença do pai. Talvez pelo fato de que as famílias na periferia estão cada vez
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mais desestruturadas, e os jovens na maioria das famílias crescem sem a figura do pai
em suas vidas. Podemos observar isso nas respostas dos alunos 7: “tenho feito sim. Em
casa tenho ajudado minha mãe e na rua não faço baderna respeito todo mundo”; e do
aluno 3: “tô, tô. Minha mãe não pode ir deixar meus irmãos na escola ai eu vô deixar,
ela mal fica em casa, ajudo em casa”. Apenas 5% dos entrevistados informaram que
não estão agindo para haver cooperação, pois os mesmos falam que no momento estão
pensando mais neles do que nos outros.
A compreensão dos jovens sobre a solidariedade está muito próxima da
concepção de cooperação. De fato, 85% dos alunos informaram que tem a ver com
“uma forma de ajudar o próximo”. Podemos verificar isso observando os comentários
feitos pelos garotos nas entrevistas do aluno 16: “solidariedade, é quando a pessoa se
sente comovido com o que ela está passando no momento”; e do aluno 1:
“solidariedade, solidariedade é ajudar ao próximo saber se você tem mais alguma
coisa, daí compartilhar com os outros”.
A realização de ações de solidariedade em suas famílias e em sua comunidade
foi confirmada por 90% dos entrevistados, como relata o aluno 17: “tenho sim,
principalmente nestes dias, minha mãe conheceu uma família carente, aí ela junta
assim minhas roupas e leva para ela”. Embora vivendo em condições de vida não
muito boas eles procuram sempre ajudar uns aos outros com o pouco que têm. Apenas
5% dos alunos informaram que não estavam fazendo absolutamente nada para
contribuir com ações de solidariedade em seu cotidiano.
Na maioria das respostas os alunos informaram que respeito é como se fosse
uma forma de lidar com as pessoas harmoniosamente sem conflitos, procurando através
do diálogo a aceitação das diversidades culturais, buscar a compreensão de todos os
fatos sem que haja conflitos, como podemos observar na fala do aluno 4: “Respeito. É
você poder respeitar a opinião dos outros se a pessoa escolhe uma coisa, tem de saber
respeitar o que ela escolheu. Levando em conta as necessidades que a pessoa tem, daí
tem de respeitar”; na fala do aluno 1: “Para mim, respeito é você saber se dar com a
pessoa. Não desprezar ela, não fazer ela ser humilhada na frente de outras pessoas”. A
categoria de não ofender e outras ficaram com 5% respectivamente das respostas dos
entrevistados. Interessante de se notar é que todos os alunos têm agido para haver mais
respeito em suas famílias e em sua comunidade como relatado pelo aluno 6: “Tenho,
tenho dado amor, harmonia e paciência tanto na comunidade quanto na família. ”
Nota-se que embora os alunos não tenham conceitos estruturados e
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sistematizados dos valores como paz, cooperação, solidariedade e respeito eles têm
internalizado o que significa estes valores para os mesmos. A Vila Olímpica parece que
tem obtido resultados positivos no resgate dos valores educacionais de seus jovens,
formando assim um cidadão capaz de exercer sua cidadania, como explanado em seu
Projeto Político Pedagógico incorporado novos valores éticos, morais e sócio afetivos
dos alunos participantes. Como diria Ruben Alves, o importante não é o resultado, mas
sim o processo de construção do resultado, que neste caso simboliza uma ação de no
mínimo oito anos de intervenção.
Conclusão
Esta pesquisa teve como objetivo conhecer o trabalho educativo através do
esporte que tem sido desenvolvido na Vila Olímpica do Conjunto Ceará, identificando
se a concepção de esporte educacional tem surtido efeitos na vivência da Cultura de
Paz, no resgate de valores humanos, e na construção da cidadania no cotidiano dos seus
alunos participantes.
Percebe-se que além da Vila oferecer a prática de atividades físicas ela também
é um grande centro de encontro e de socialização para crianças, jovens, adultos e idosos
contribuindo assim para a fortificação de vínculos afetivos e sociais.
A partir de suas experiências os jovens afirmaram que têm incorporado os
valores educacionais que têm sido trabalhados nas diversas atividades que compõem o
projeto pedagógico da Vila. A atividade que foi indicada pela maioria dos jovens como
significativa para a aprendizagem destes valores foi o Projeto Abraço Amigo. Os alunos
afirmaram que a participação neste projeto foi um fator determinante para a construção
de saberes e para a vivência de uma cultura de paz. Os jovens defenderam que para
chegarmos à paz temos que negar todo tipo de violência. A conscientização ambiental
sempre esteve presente em suas respostas, e isso deve- se a vivência da gincana verde.
Importante de se registrar é que estes jovens durante o período em que estiveram na
V.O.C.C sempre fizeram parte do Projeto Abraço Amigo. É por meio dessa convivência
que as muitas oportunidades de contato social são proporcionadas à criança,
contribuindo para o seu desenvolvimento moral (FARINATTI, 1995; FONSECA, 2000).
Reconhecemos que todos os esforços para a redução da desigualdade social e
ações que oportunizem a educação e igualdade dos direitos humanos são válidos.
Porém, não podemos deixar de notar que a Vila como uma aparelhagem do Estado que
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disponibiliza de ferramentas para tal ação tem deixado a desejar na otimização de suas
ações inclusivas, isto pode ser notado quando a maioria dos jovens comenta que as
modalidades esportivas não estão sendo desenvolvidas como deveriam ser. Como
mencionado pelos jovens talvez pela falta de experiência de alguns estagiários ou pelo
simples fato de professores que atuam na área sem a sensibilidade necessária para a
atuação em questão.
Os alunos reconhecem que a Vila foi de extrema importância para eles,
livrando-os de inúmeras mazelas sociais presentes no bairro onde vivem. Chegando a
proteger os jovens de envolvimentos em condutas que rompem com a legalidade
judiciária, a Vila representa um papel essencial no processo de crescimento e
desenvolvimento destes jovens favorecendo o desenvolvimento geral humano.
Portanto, uma das formas de se alcançar este objetivo é pensarmos numa
prática educativa do esporte orientada por um viés inclusivo, que vise a promoção de
atividades recreativas, lúdicas, formativas e sociais. Uma prática que (re)construa
valores, tais como: a cultura de paz, respeito ao próximo, cooperação, solidariedade,
desenvolvimento da personalidade, da tolerância, da integração e convivialidade. E para
que isso ocorra é preciso que o professor acredite na mudança, zele por uma coerência
total entre suas ideias e suas ações na prática educacional; busque conteúdos e uma
metodologia de ensino dinâmica. Em suma, uma aprendizagem formativa que faça do
seu aluno um ser pensante, autônomo, criativo e crítico.
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