Editorial J - Especial - Marketing político - junho de 2012
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Texto: Larissa de Bem (6º sem.) e Renan Sampaio (8º)
Fotos: Eduarda Alcaraz (7º)
Nem vilão, nem mocinho
Marketing Político
CADERNO ESPECIAL
Como em uma novela, o candidato, na visão dos marqueteiros, precisa ser o protagonista durante uma campanha eleitoral. Não é preciso ser o vilão, o mocinho ou o galã: o fundamental é estar no foco das atenções.
Nas próximas páginas, dois profissionais especializados em não deixar que políticos passem em branco colocam luz sobre as técnicas empregadas nessa arte e as características comuns aos vencedores.
JUNHO DE 2012 / ESPECIAL / PÁGINA 1
“O que existe é
um ”
Antonio Costa Neto se estabeleceu em Porto Alegre com duas peças de teatro e uma campanha eleitoral para trabalhar. O publicitário e escritor vive há 13 anos nos Estados Unidos e entrou na política por acaso, em 1986. De lá para cá, ele já desempenhou funções de marketing político para campanhas de candidatos de diferentes tendências como Lula (PT), José Fogaça (PPS), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e até para o Partido Democrata, do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Veja a seguir os principais
trechos da entrevista:
“Não existe político
ou seja, possuir todas as condições para ganhar. Existe um padrão histórico em cada região e é importante seguir essa linha e ser o político que a população deseja. As promessas são baseadas
em plataforma de governo. Por isso, é importante fazer um estudo em cima dos problemas e ver aonde se quer chegar.”
“O processo evoluiu bastante. Hoje se trabalha com pesquisa e planejamento. Primeiro é preciso saber o que o candidato pensa e qual o sentimento dos eleitores.
Para isso, não basta analisar a intenção de voto, é preciso também detectar os reais problemas de uma cidade. As ideias de ambos
precisam bater, e a partir de então é que se constrói o
deve seguir. O que também contribui para isso é onde ele se encontra. Candidato de situação usa o discurso ‘vamos continuar’, já oposição segue falando que ‘está na hora de mudar’. Cada campanha tem
“Política se faz todo dia.
tratamento médico. Na alopatia, você tem febre e toma remédio para melhorar. Na homeopatia, você utiliza doses mínimas de um medicamento para evitar a doença. Assim é a política, que deve ser tratada durante todo o ano através de muita pesquisa. Quando a pessoa está
envolvida num ambiente eleitoral, ela está doente. O candidato não fala o que é, mas quem gostaria de ser. E os eleitores também. É preciso olhar a sociedade fora do contexto.”
“As eleições no Rio Grande do Sul são grenalizadas. Sempre há um partido mais à esquerda e um centro-esquerda. Aqui não há mais político de direita. Com toda certeza, a eleição não será vencida no primeiro turno.”
Publicitário construiu sua trajetória no Exterior
Não é novidade para ninguém o grande volume de dinheiro que é gasto num ano eleitoral. Geralmente, agências de publicidade ou empresas especializadas em marketing político participam da campanha para ganhar depois, quando o candidato estiver eleito. Há campanhas em que a empresa só recebe uma parte se o candidato vencer.
Tudo pode mudar. O opositor pode virar aliado e, o aliado,
antecipadamente a plataforma de ação mas, ao longo da jornada
e partir para novas ações. Por isso, num embate entre dois candidatos, um terceiro pode surgir forte, querendo resolver, não complicar, o que chama atenção do eleitorado, já
concorrentes.
Para colocar o nome numa disputa eleitoral, é preciso ter percorrido uma caminhada no meio político ou social. O marketing valoriza a trajetória do aspirante ao cargo público, enaltece suas conquistas e mostra ao público consumidor o quanto o candidato é qualificado. Como no mercado de trabalho, num processo de seleção, o currículo dá a partida e abre portas.
BRUNO BERTUZZI
JUNHO DE 2012 / ESPECIAL / PÁGINA 2
ENTREVISTA:Antonio Costa Neto
“O que existe é
um ”
José Luiz Fuscaldo tem um portfólio invejável: atuou em mais de 50 campanhas eleitorais durante 30 anos de atuação publicitária. Fuscaldo, formado em publicidade e jornalismo na PUCRS, já trabalhou com marketing político para todos os cargos de vereador a governador. Este ritmo segue para mais um ano de eleições municipais. Para ele, cor do terno, gravata, cabelo e maquiagem são apenas detalhes, que às vezes nem inspiram tanto cuidado quanto se imagina. O que importa na construção de uma candidatura vitoriosa é a gestão da comunicação.Veja a seguir os trechos
em destaque da entrevista.
O marketing político é todo o controle da construção de uma candidatura: da escolha do candidato – o produto – à apuração dos votos – o lucro. Não há uma concreta definição, diferente do marketing convencional. Acredito que, nos últimos anos, esta área de atuação está mais valorizada. Os partidos buscam este tipo de trabalho porque entendem sua verdadeira função, que é decisiva nas candidaturas. Poucos conseguem fazer uma campanha intuitiva, sem este apoio. O marketing auxilia e melhora a imagem. Mas também não se pode exagerar: marketing não é capaz de fazer mágica.
O trabalho de um publicitário durante uma campanha eleitoral é potencializar as qualidades do produto. Eu já trabalhei com campanhas ruins e que
O produto tem que ser bom, tem que ajudar. Às vezes, não adianta um trabalho perfeito, se o candidato não tiver empatia, posição e convencimento. O político pode estar todo arrumadinho na campanha, porém não conseguir engatar a pauta da eleição, o assunto, a atitude que o eleitorado quer ver.
O que faz um bom candidato é ter uma boa trajetória, posicionamento, visão política. A melhor forma de apresentar isso é através da televisão, pois ela consegue chegar a mais pessoas, substituindo os palanques. Outro meio em evidência
é a internet. As candidaturas ainda têm pouca experiência em trabalhar com esta mídia. São poucos os políticos que conseguem provocar e sensibilizar as pessoas. Eles esquecem que são mais talentosos no palanque do que na internet. O que é um erro, porque a internet não é nada mais do que um palanque digital. Só que ela tem outra lógica de funcionamento, as pessoas querem ser ouvidas, querem participar, querem se engajar. E as candidaturas ainda não perceberam isso. Mas vão ter que, uma hora ou hora, entrar nessa.
Para Fuscaldo, candidato é o produto e o voto, lucro
Pode existir um candidato bom e uma má campanha. Ou uma má campanha e um candidato bom. O papel do
marketing é equilibrar pesos. O ideal é fazer a campanha de forma objetiva, potencializando as qualidades do
candidato e o que ele tem a dizer para o eleitor. Entretanto, muitos vencem com ajuda de experientes e espertos políticos como apoiadores.
Aos poucos, os candidatos estão entendendo que o marketing político
e a gestão da comunicação são
fundamentais para a vitória nas eleições. A campanha é um produto, e o leitor, o consumidor.
Pesquisas eleitorais, muitas vezes, são
referências para traçar novas metas. Índices de rejeição, empates técnicos e perspectiva de segundo turno
atordoam o planejamento, mas
dão norte ao trabalho de marketing.
A situação mais preocupante para o marketing político é saber que o candidato está envolvido em situações mal
esclarecidas, escândalos ou históricos erros públicos. É tarefa difícil apagar do quadro político uma imagem negativa. Porém, o fácil esquecimento e a falta de informação da maioria dos
eleitores facilitam na reconquista da boa imagem.
RENAN SAMPAIO
JUNHO DE 2012 / ESPECIAL / PÁGINA 3
ENTREVISTA:José Luiz Fuscaldo
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