E agora, Drummond? - Edição 58
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Prepare a sua inscrição e indicação
Inscrições de 15 de julho a 04 de outubro
Realização
Somente o nosso contato com a natureza, com
algo maior, é capaz de nos reensinar o amor ao planeta e a nós mesmos
”
“Hugo Werneck
Do pioneirismo de Azevedo Antunes...
CONSELHO EDITORIAL Angelo Machado, Antônio Claret de Oliveira, Célio Valle, Evandro
Xavier, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Nestor Sant’Anna,
Paulo Maciel Júnior, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pós
DIRETOR GERAL E EDITORHiram Firmino
REPORTAGEMAna Elizabeth Diniz, Andréa
Zenóbio Gunneng (Correspondente Internacional), Cristiane Mendonça,
Fernanda Mann, Luciana Morais Maria Teresa Leal e Vinícius Carvalho
CAPAFoto: Fernanda Mann | Daniel Marenco/
Folhapress | Arte: Sanakan
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O P
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Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck
EDITORIA DE ARTEAndré Firmino
Marcos [email protected]
Sanakan [email protected]
REVISÃO Gustavo Abreu
DEPARTAMENTO COMERCIALJosé Lopes de Medeiros
Sarah [email protected]
Silmara [email protected]
MARKETING E [email protected]
IMPRESSÃOLog & Print
PROJETO EDITORIAL E GRÁFICOEcológico Comunicação em Meio Ambiente Ltda
REDAÇÃORua Dr. Jacques Luciano, 276
Sagrada Família - Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 Tel.: (31) 3481-7755
VERSÃO DIGITALwww.revistaecologico.com.br
GR
UP
O
REVISTA NEUTRA EM CARBONOwww.prima.org.br
Selo SFC
EXPEDIENTE1
QUEM DEFINE A TARIFA DA CEMIG?A tarifa da Cemig é definida pela Aneel, órgão federal responsável pelo valor das tarifas de todas as concessionárias de energia do Brasil (informações no site www.aneel.gov.br).
O QUE NÓS PAGAMOS NA CONTA DE LUZ?O valor que pagamos na conta de luz corresponde à energia que a concessionária compra e repassa para o consumidor; a custos de mão de obra, manutenção e expansão; ao imposto estadual; a tributos e encargos federais; à taxa de iluminação pública; entre outros itens.
TODO MUNDO PAGA ESSES IMPOSTOS?Os tributos federais são cobrados de todos. Mas, há muitos anos, o Governo de Minas isenta o imposto estadual da conta de metade das famílias mineiras (benefício concedido para consumo até 90 kWh/mês).
Para mais informações, acesse os sites www.cemig.com.br ou www.aneel.gov.br
A CEMIG OUVIU AS SUAS DÚVIDAS. E AGORA RESPONDE A TODOS OS MINEIROS.
IMAGEM DO MÊS
CARTA DOS LEITORES
CARTA DO EDITOR
SOU ECOLÓGICO
GENTE ECOLÓGICA
ECONECTADO
CÉU DE BRASÍLIA
INOVAÇÃO
ESTADO DE ALERTA
ECO CONSTRUÇÃO
PERFIL ÉRICA DRUMOND
POLÍTICA AMBIENTAL
POLÍTICA FLORESTAL
ARTIGO
TECNOLOGIA SOCIAL
PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS
GESTÃO
SEMANA DO MEIO AMBIENTE
SOS ANIMAL
PESQUISA
SAÚDE
SUSTENTABILIDADE
CHARGE
OLHAR EXTERIOR
VOCÊ SABIA?
NATUREZA MEDICINAL
OLHAR POÉTICO
ENSAIO ARTÍSTICO
CONVERSAMENTOS
E AGORA, DRUMMOND? PBH RESGATA A MEMÓRIA DO AUTOR DE
“TRISTE HORIZONTE” NA SERRA DO CURRAL
E mais...
Páginas VerdesPAULO HADDAD: EX-SECRETÁRIO DA FAZENDA DO GOVERNO ITAMAR FRANCO FALA SOBRE A ECONOMIA ECOLÓGICA
OS NÓS DA ENERGIA ELÉTRICA BRASILEIRA
101214202224262830323438485860666876808284909298
100102104110114
5016
40Mudanças Climáticas
A LUTA CONTRA A FOME DO SOCIÓLOGO BETINHO
106Memória Iluminada
“OSCAR DA ECOLOGIA” 2013 É LANÇADO NO ALTO DO CARTÃO POSTAL DA CAPITAL MINEIRA
86Prêmio Hugo Werneck
ÍNDICE1ÍNDICE
0800 570 0800 | www.sebraemg.com.br
O III Prêmio Sebrae Minas de Práticas Sustentáveis incentiva e valoriza as micro e pequenas empresas que transformam o mundo e são exemplos para a construção de um novo modelo organizacional. Acesse www.premiosebraemgsustentavel.com.br. Sua empresa será reconhecida e ainda pode servir de exemplo para outras organizações adotarem uma postura mais sustentável.
Inscrições até 20 de julho.
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IMAGEM DO MÊS1
NO COLO DA NATUREZA Sobre as ruínas de uma igreja abandonada, a natureza cuidou de criar novos encantos. Do
topo dos paredões de pedra, uma velha Gameleira (Ficus enormis) lançou suas raízes. Este
cenário fica às margens do encontro do Rio das Velhas com o Velho Chico, em Barra do Guaicuí,
distrito de Várzea da Palma. O local inspirou o Projeto Manuelzão, que pretende construir ali, o
marco do Rio das Velhas. Em expedição por suas águas, a ECOLÓGICO registrou o momento em
que sua repórter fotográfica, Fernanda Mann, sentiu-se um pouco parte dessa obra-prima, ao
escalar as enormes raízes. O que constata a nossa pequenês humana diante da nossa criação.
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DA
CARTA DOS LEITORES1FALE CONOSCOEnvie sua sugestão, opinião ou crítica para [email protected]
EDIÇÃO 56“Parabéns a toda a equipe da Revista ECOLÓGICO, que está cada vez melhor! Na última edição, gostei, particularmente, do Ensaio Artístico, assinado pela Fernanda Mann e também da matéria de capa sobre a revitalização do Hospital Hilton Rocha.” WALDEREZ COSTA E PAULA, pelo Facebook
ECO CONSTRUÇÃO“A verticalização é necessária, pois as cidades estão crescendo sem ter espaço suficiente.”ANDRÉ ROZADA, Piracicaba/SP
“Na minha casa fizemos um sistema de reaproveitamento da água da chuva.” VANESSA AMORIM, pelo Facebook
APOIO“Gostaríamos de agradecer a ECOLÓGICO pelo apoio dado ao evento PNB - Pedalando no Bairro - Parque das Mangabeiras que foi realizado dia 25 de maio. Os projetos da Vida Viva tem como principal objetivo fazer pessoas agirem e reagirem para uma qualidade de vida saudável. Nossos agradecimentos! O sucesso dos nossos eventos vem através das empresas que apoiam e incentivam a prática esportiva.” SÉRGIO VALLE e REGINA DORTA
O MINEIRÃO DO SAARA“Um estádio ‘’digno de Copa do Mundo’’, com toda a estrutura, conforto e segurança? Acho que os acontecimentos de 2014, bem como o patriotismo mascarado nos fizeram esquecer que mais que uma fachada para o mundo, o Mineirão representa quase 50 anos de história na capital mineira. Para muitos, uma rotina! O público de classes inferiores, que viam no jogo um passatempo, uma oportunidade para encontrar amigos e se divertir sentindo-se em casa, não mais tem a mesma percepção do novo espaço. Que tipo de planejamento visa a inteira modernização de um complexo de tamanha influência, mas não pensa nos impactos no trânsito, da sustentabilidade e das relações sociais?” CLARA MORAIS, pelo site
CONVERSAMENTOS “Parabéns pela matéria, Alfeu Trancoso! Quanta sabedoria em cada palavra desse texto! Sem dúvida, um belo presente para revigorar a sensibilidade e a paz de espírito.” AMANDA CARVALHO MONTANARI, BH/MG
PAUTA“Quero sugerir a pauta árvores de BH e área metropolitana” JOANA D`ARC M SOUZA, pelo site
NATUREZA MEDICINAL“Quero uma muda de Crajiru. Em Mato Grosso se chama levanta defunto!”LUIZA SALVADOR, pelo site
EMPRESAS“Onde estão as empresas que se preocupam com o meio ambiente?” MARIA MIRANDA, pelo Facebook
EU ASSINO
“Eu assino a Revista ECOLÓGICO
porque acho suas matérias bas-
tante variadas, que expõem dife-
rentes pontos de vista sobre um
mesmo tema, tendo desta forma
um posicionamento democrático.
Utilizo seus textos para enriquecer
meu conhecimento e minha fala
nos eventos dos quais participo.
Gosto muito da coluna da Maria
Dalce Ricas!”
LUCIANA SOFAL MENDES - Analista Educacional - SEE/MG
12 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
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w w w . b e l o h o r i z o n t e . m g . g o v . b r
Casa do Baile | Museu de Arte da Pampulha | Igreja São Francisco de Assis | Iate Tênis Clube | Casa de JK
Pampulha Iate Clube | Conjunto JK (Praça Raul Soares) | Sede Administrativa da Fundação Zoo-Botânica
Antiga Sede do Banco Mineiro de Produção | Edifício Niemeyer | Biblioteca Pública Professor Luiz de Bessa
Escola Estadual Governador Milton Campos | Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves
Um momen to e spec i a l pa ra ve r de pe r t o a s ob ra s que f i ze ram de Be lo Ho r i zon te o be r ço da a rqu i t e t u ra mode r na no B ra s i l .
de drogas. O moderno e eficiente sistema de coletas de esgo-tos, utilizado para o funcionamento da prática de esportes, ali, acabou se estendendo a toda região norte de Londres. E 100% do lixo operacional durante quaisquer outros eventos são separados e destinados, naturalmente, à reciclagem.
Se não bastasse, todo fornecimento de alimentação, equipamentos e prestação de serviços no parque,
atualmente, têm a obrigação de vir de mão de obra local, para prestigiar a economia, o co-mércio e o turismo da região, tornando-os mais baratos para a população.
É esta tal sustentabilidade, fora e dentro dos gramados, que a ECOLÓGICO aborda nesta edição inaugural do seu novo projeto
gráfico, também mais sustentável, com papel mais certificado, verniz natural e várias outras
contribuições necessárias ao desenvolvimento sus-tentável à natureza que a revista defende. É por isso, ca-
ros leitores e anunciantes, que também temos, nesta edição, a companhia de Paulo Haddad, Érica Drumond e Herbert de Souza, o irmão do Henfil, sob o guarda-chuva e a lem-brança de ferro de Carlos Drummond de Andrade, o poeta maior do Brasil. Acompanhe-os! Eles estão jogando o mesmo bolão da esperança conosco.
Boa leitura!Até o dia 23, lua cheia de junho!
O futebol tem algo a ver com o tema da sustenbilida-de? Só tem, como tudo na vida, e ficou claro através dos participantes da Mesa-Redonda “Os Desafios &
Legados da Copa do Mundo”, no auditório lotado do Sesc Palladium, em BH.
Tem mais. Por se tratar de uma agenda inadiável, positiva e vital, investir em obras como a reforma dos nossos estádios traz mais legados que desafios. Foi o que demonstrou Ed McCann, representante da Em-baixada da Inglaterra, sobre o que aconteceu com as Olimpíadas de Londres, em 2012.
Segundo ele, 75% de cada libra esterlina investida no evento foram gastas pensando no depois, no legado de melhorias que fica-ram para a cidade, e não no antes, no desafio das obras necessárias de infraestruturas. A região central de Londres, que era abandonada e poluída, e, por isso mesmo, foi escolhida para receber as olimpí-adas naquele país, tornou-se simplesmente o “maior parque urbano da Europa”.
Hoje, o representante inglês mostrou que o acesso até aquela região, revitalizada, só é permitido de bicicleta ou através de transporte público. Isso trouxe uma redução de 58% de emissões de carbono. Outras consequências benéfi-cas se seguiram, ao invés de virar mais um peso para o gover-no. Com a urbanização do local, reduziu em 60% o consumo
O RECADO PRÉVIO DA COPAOs desafios e legados que o futebol poderá trazer para o Brasil
14 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
CARTA DO EDITORHIRAM FIRMINO | [email protected]
FOTOS: 1. SHUTTERSTOCK | 2. REPRODUÇÃO
1.
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Toda Lua Cheia nas bancasou onde você desejar
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Sustentabilidade é a nossa pauta!
PÁGINAS VERDES1
“A NOSSA ECONOMIA AINDA É A DEGRADAÇÃO DA NATUREZA”
Ex-ministro da Fazenda do Planejamento do Governo Itamar Franco, no início dos anos 90, o economista Paulo Haddad trocou gabinetes, planilhas e discussões sobre PIB e inflação
pela sustentabilidade. Hoje, ele se dedica a prestar consultorias a empresas públicas e privadas sobre o que chama de economia eco-lógica. “É uma integração do pensamento econômico com o ambien-talismo”, define.
Nessa empreitada, Haddad teve como missão recente identifi-car novas vocações econômicas para Itabira - terra natal de Carlos Drummond de Andrade - que, desde os anos 40, tem como principal atividade econômica a extração de minério de ferro. “As operações mineradoras têm um ciclo de vida. O grande problema é a exaustão do mineral, o que nos leva a pensar logo em outras atividades para evitar a decadência econômica dos municípios. Itabira está se trans-formando em grande centro de formação de mão de obra técnica e universitária com vários cursos de engenharia. Em cinco anos, será uma Viçosa (cidade universitária de Minas referência no Brasil), prevê o consultor.
Nascido em Oliveira (MG), formado em Economia pela UFMG e com especialização em Planejamento Econômico pela Universidade de Haia (Holanda), Haddad foi também secretário de Estado do Pla-nejamento e da Fazenda de Minas e atuou como consultor de grandes instituições financeiras, como o Banco Mundial.
No mês passado, ele falou aos jornalistas, em São Paulo, durante workshop promovido pela mineradora AngloAmerican, sobre minera-ção e desenvolvimento. Aos 73 anos, engajado com novas tecnologias e com profundo conhecimento das várias fases econômicas do país, ele demonstra ter pela sustentabilidade a mesma dedicação que tinha às pla-nilhas dos tempos de secretário e ministro de governo. Confira a seguir:
Como surgiu seu interesse pelos temas ambientais?Pelo meu trabalho, viajo muito pelo Brasil. Conheço todas as re-giões e devo ter visitado de 300 a 400 municípios. Nessas viagens, impressionou-me muito o fato de as regiões e os municípios que estão economicamente deprimidos terem uma história de uso pre-datório em seus ecossistemas. Só para dar um exemplo, no leste brasileiro, hoje, existem apenas 3% da Mata Atlântica original. A parte mineira dessa região são os Vales do Jequitinhonha, do Mu-curi e quatro microrregiões do Vale do Rio Doce. Ali, com exceções isoladas, todos os municípios estão economicamente deprimidos.
Ana Cristina Cunha |
HADDAD “Economia ecológica é a interação do pensamento econômico com o ambientalismo”
PAULO HADDADEconomista e ex-ministro da Fazendae Planejamento do Governo Itamar Franco
Eles exploraram predatoriamente a base de recursos naturais e, com isso, afetaram também a produtivida-de das suas economias. Isso tudo me levou a estudar profundamente o que chamamos de economia ecológica. Esse processo veio se desenvolvendo desde a época em que fui secretário de Estado do Planejamento, visitan-do as regiões de Minas. Hoje, traba-lho e estudo muito a Amazônia.
Como o senhor analisa o mundo de hoje do ponto de vista da sustentabilidade?Com muita preocupação. Se você melhorar o padrão de vida das pes-soas do Terceiro Mundo, em regiões como o sudeste da Ásia e a África - o que é muito importante -, e mantiver o atual nível de consumo, o planeta fica insustentável. Então, não se trata de controle demográfico, mas da me-lhoria da produtividade e dos recursos que existem e, principalmente, não tentar imitar o padrão americano de vida. Os Estados Unidos têm 5% da população mundial e consomem 50% da energia do planeta. Se adotarmos esse o padrão de consumo, vamos ter uma pressão sobre a base de recursos naturais, que só pode ser resolvido com o progresso tecnológico. Essa saída te-ria de agregar, também, a mudança de comportamento da população e o con-sumo de serviços como o transporte público, com menor uso do individual.
Brasil, com o aumento da produ-ção de carros e políticas econô-micas de estímulo ao consumo, está na contramão dessas me-didas para tornar o mundo mais sustentável? Sim. Vejamos o caso de Belo Horizon-te. Há mais de 20 anos nós estamos tentando equacionar o problema do metrô e, enquanto isso não acontece, vamos amontoando as ruas de carros, emitindo CO2 e consumindo produ-tos que absorvem muitos recursos
naturais. Isso significa que vamos muito mal na questão da sustentabi-lidade. Sem funcionários suficientes e capacitados, temos um Ministério do Meio Ambiente relativamente fraco para a fiscalização. Nossa legislação é moderna, mas a fiscalização é frá-gil. E o que é mais importante, que é a consciência da população sobre a preservação, restauração e conserva-ção dos ecossistemas, é muito pouco desenvolvido. O progresso, nesse sen-tido, existe, mas é lento.
Podemos explicar seu conceito de economia ecológica?A melhor forma de explicar é compa-rá-lo com o conceito de economia tal como vem sendo praticado, tradicio-nalmente, pela maioria dos econo-mistas. O elemento fundamental que distingue os dois é a relação estabele-cida entre as atividades econômicas e os ecossistemas. Na visão tradicional, a economia é vista como um sistema isolado, sem trocas de matéria e ener-gia com o meio ambiente. Nessa visão, não se vislumbram insumos ecológi-cos ou produtos ecológicos enquanto se produz, como captação de água ou emissão de dejetos industriais em uma
bacia hidrográfica, enquanto se emite monóxido de carbono ou enquanto se acumula capital na sociedade. Ainda se considera como objetivo principal da economia, a maximização do cres-cimento econômico medido pela taxa de expansão do PIB per capita do terri-tório (União, Estados ou Municípios). O ecossistema é apenas o setor ex-trativo e de disposição de resíduos da economia, mesmo que esses serviços tornem-se escassos. E na perspectiva ecológica? O capital natural restante passa a ser o fator limitativo do crescimento eco-nômico num ecossistema saturado. A economia ecológica incorpora nos seus fundamentos as Leis da Termo-dinâmica. A primeira lei afirma, essen-cialmente, que não se pode criar ou destruir energia e matéria. O que se usa de recursos naturais renováveis e não renováveis tem de terminar de al-guma forma no ecossistema. Por exem-plo: o consumo de carvão num período é igual ao montante de gases residuais e de sólidos produzidos pela combus-tão do carvão. Contudo, a segunda Lei da Termodinâmica nos informa que os materiais usados na economia
CONTRADIÇÃO Continuamos amontoando as ruas de carros, emitindo CO2
e consumindo produtos que absorvem muitos recursos naturais
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 17
EH
CA
RR
OS
PÁGINAS VERDES1tendem a ser usados entropicamente – dissipam-se no sistema econômico. Há casos em que não é tecnicamente factível reciclá-los, como o chumbo na gasolina. Em outros casos, a reci-clagem custa enormes quantias de di-nheiro para extração dos materiais, tal como alumínio, aço e chumbo em um automóvel. Entretanto, outras dezenas de componentes, como os plásticos, não podem. Esses resíduos vão para o meio ambiente, que tem a capacidade de converter muitos deles em produ-tos inócuos ou ecologicamente úteis. Enfim, as atividades econômicas ex-traem recursos da natureza de baixa entropia e devolvem à natureza recur-sos de elevada entropia.
E as implicações práticas dessas leis para a vida e a sobrevivência dos seres humanos?Elas podem ser sumarizadas nas re-gras da sustentabilidade dos recursos naturais. Entre elas podemos desta-car as principais. Utilizar os recursos renováveis a taxas menores ou iguais à taxa natural. Otimizar a eficiência com a qual recursos não renováveis são usados, sujeito ao grau de subs-tituição entre recursos e ao progresso tecnológico. Manter sempre os fluxos de resíduos no meio ambiente no ní-vel igual ou abaixo de sua capacidade assimilativa. A vegetação nativa e os ecossistemas críticos devem ser pre-servados, reabilitados e/ou restaura-dos. A exploração futura do capital natural deveria ser restrita às áreas já fortemente modificadas pelas ati-vidades humanas prévias, como, por exemplo, a produção de biodiesel de dendê em áreas de pastagens degra-dadas na Amazônia.
E um exemplo mineiro?Esta questão pode ser ilustrada pela configuração histórica de uma duali-dade espacial no processo de desen-volvimento do nosso Estado. Apesar do esforço político-administrativo de diferentes governos estaduais, a nossa economia ainda se situa entre as que
têm um nível de crescimento infe-rior à média do nível do Brasil. Alguns números são ilustrativos. Em 1985, a participação relativa do PIB do Estado em relação ao PIB do Brasil a preços correntes era de 9,61%. Sem ultrapas-sar a marca dos 10%, essa participação chegou a 9,32%, em 2010. Da mesma forma, o PIB per capita de Minas, que representava 91,6% do PIB per capita do Brasil em 2000, chega a 90,7% em 2010, segundo o IBGE. Considerando que, ao longo dos últimos 15 anos, hou-ve várias experiências bem-sucedidas de promoção industrial visando a atrair novos projetos de investimento para o Estado, porque essa situação de persis-tência de uma posição relativamente estagnada da economia de Minas no ce-nário nacional? Basta observar que dos 853 municípios do Estado, 453 tinham PIB per capita inferior à metade do PIB per capita brasileiro, em 2010. Quase todos esses municípios se localizam no Norte de Minas, no Vale do Jequitinho-nha, no Vale do Mucuri e em algumas microrregiões do Vale do Rio Doce e da Zona da Mata. Desses 453 municípios, 159 têm o PIB per capita inferior a 30% do PIB per capita brasileiro.
Como esses municípios sobrevi-vem economicamente? Em geral, cerca de 60% de suas famí-lias estão protegidas por alguma política social compensatória do Governo Fede-ral (Bolsa-Família, Previdência Social, benefícios sociais continuados, etc.) e mais de 70% dos recursos orçamen-tários de inúmeras de suas prefeituras vêm de alguma forma das transferên-cias fiscais do Governo Federal (Fundo
de Participação dos Municípios, Fundo de Saúde, de Educação, etc.).
O que esses municípios têm em co-mum em sua dinâmica econômica? Uma história do uso predatório ou não sustentável de sua base de recursos naturais renováveis e não renováveis. Historicamente, é possível situar essa degradação ambiental ao longo do ci-clo do ouro, do ciclo do diamante, do desmatamento da Mata Atlântica, da ocupação desordenada do Cerrado, etc. A perda da qualidade de vida nes-sas regiões resulta na mesma medida da redução da natureza naturais e, em sequência, a formação dos bolsões de pobreza. Esses bolsões se contrapõem à prosperidade econômica e ao pro-gresso social das áreas do Triângulo Mineiro, do Sul de Minas, do Alto Paranaíba e do Noroeste de Minas, configurando uma dualidade espacial no desenvolvimento do Estado.
O que fazer?Como tem insistido Amartya Sen, Prê-mio Nobel de Economia de 1998, a res-ponsabilidade social de sustentabilidade não pode ser deixada inteiramente por conta do mercado, uma vez que o futuro não está adequadamente representado no mercado. O Estado deve servir como gestor dos interesses das futuras gera-ções, por meio de políticas públicas que utilizem mecanismos regulatórios ou de mercado, a fim de proteger o meio am-biente global e a base de recursos para as pessoas que ainda vão nascer.
É possível pensar em políticas públicas ambientais no atual contexto da crise econômico-fi-nanceira global?A crise econômica e financeira, inicia-da em 2008, vem se aprofundando em escala global e não há no horizonte de curto prazo indicativos de que ela pos-sa ser superada sem que o capitalismo venha a encontrar os caminhos de um novo paradigma para sua dinâmica de desenvolvimento sustentável. Em contextos como esse, o capitalismo
Os Estados Unidos têm 5% da
população mundial e consomem
50% da energia do planeta
“
”
18 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
não tende a sucumbir; ao contrário, concentra suas energias político-ins-titucionais e se reestrutura. Dada a experiência histórica de evolução do capitalismo, esse novo paradigma pode estar associado, a princípio, à concepção e à implementação de uma nova onda de inovações. Desde o século 18, as ondas de inovações de natureza Schumpeteriana (novos pro-cessos, novos produtos, novos mer-cados, novas formas de organização produtiva) são o motor das grandes transformações estrutu-rais do capitalismo. Essas ondas vão desde a intro-dução da energia a vapor nos sistemas produtivos até as redes digitais nas últimas décadas do sécu-lo 20. Trouxeram grande prosperidade para muitas nações que se tornaram as mais desenvolvidas no cenário internacional.
Quais inovações poderiam retirar as economias desenvol-vidas e emergentes do imbróglio recessivo e gerar novos ciclos de expansão?Uma observação preli-minar em que às cinco ondas de inovações que se desdobraram histori-camente de 1785 até o fim do século 20. Todas resultaram em aumentos significativos na produtividade da mão de obra. Multiplicaram o rendi-mento do trabalho por algumas cen-tenas de vezes em relação aos valores que prevaleciam até a Primeira Revo-lução Industrial.
A sexta onda de inovações, que já tem avançado lenta e exponencialmen-te ao longo das três últimas décadas, deverá estar centrada em um aumento radical na produtividade dos recursos naturais, visando a ampliar a capaci-dade de suporte do Planeta para aco-modar a intensificação dos níveis de
produção e de consumo de milhões e milhões de habitantes que estão se in-corporando às economias de mercado. Essa incorporação dá-se pelas vias dos incessantes ganhos de produtividade resultantes de inovações científicas e tecnológicas, da irreversível entrada da China na lógica da economia capi-talista, da melhoria da distribuição de renda e da riqueza em muitos países emergentes, como no próprio Brasil, etc. Somam-se, a tudo isto, os impac-tos destrutivos que as mudanças cli-
máticas têm provocado sobre os ecos-sistemas mundiais.
E as consequências dessas inova-ções para a dinâmica do capita-lismo no século 21?A sexta onda de inovações - biomimé-tica, nanotecnologia verde, ecologia industrial e sistema de design inte-grado - deverá gerar uma nova dinâ-mica da economia de mercado a qual vem sendo denominada Capitalismo Natural. Do ponto de vista histórico, a nova configuração do capitalismo pressupõe a criação de uma nova re-volução industrial que trará grandes
DDwww.sete-sta.com.br
A SETE amplia a qualidade de estudos e projetos ambientais
na Região Norte, com seu escritório em Parauapebas.
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Rua F, nº 50, União - Parauapebas/ PA
Telefone: (94) 3346-7628
benefícios para a sociedade. São ci-tados como benefícios: a diminuição da exaustão dos recursos naturais em uma ponta da cadeia de valor; a dimi-nuição dos níveis de poluição na outra ponta; e a formação de uma base para ampliar o emprego de qualidade em escala mundial.
O que podemos esperar no caso brasileiro?As questões de desenvolvimento econô-mico e socioambiental que estão clara-
mente definidas no atual contexto histórico do Bra-sil exigem uma perspectiva de longo prazo para o seu equacionamento. Entre essas questões destacam-se: a eliminação dos gar-galos na infraestrutura econômica, o desenvol-vimento das centenas de municípios e das inúmeras áreas economicamente de-primidas, a transição das políticas sociais compen-satórias para as políticas de redução das desigualdades e assimetrias sociais, uma política de preservação e de restauração da nossa base de recursos naturais, etc. Um bom sistema de planejamento de longo prazo (mais indicativo, mais flexível, mais exato,
mais rápido, mais descentralizado, mais participativo) pode ajudar na constru-ção de uma sociedade mais competiti-va sistemicamente, mais justa social-mente e com melhor contrato natural. Contudo, as nossas experiências mais recentes mostram também o fracasso do planejamento como processo, em que a grande maioria das políticas, programas e projetos tem descarrilado não nas etapas iniciais de formulação ou de mobilização das expectativas e aspirações dos beneficiários, mas na etapa da arte de implementação. Sem dúvida, uma indicação de nosso sub-desenvolvimento político.
PAULO HADDADEconomista e ex-ministro da Fazendae Planejamento do Governo Itamar Franco
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 19
SOU ECOLÓGICO1
20 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
Com a presença de 500 pessoas,
entre secretários de Estado,
prefeitos, representantes de
órgãos públicos, de ONGs e da socie-
dade civil foram empossados, na chu-
vosa tarde de três de junho, os novos
integrantes do Conselho Estadual de
Política Ambiental (Copam). A ceri-
mônia, realizada no Auditório JK, na
Cidade Administrativa, marcou a aber-
tura da ‘Semana do Meio Ambiente
2013’, quando também foi anunciada
a criação de três novas Unidades de
Conservação em Minas: os Refúgios
Estaduais de Vida Silvestre de Ma-
caúbas, Cauaia e Serra das Aroeiras,
localizadas no Vetor Norte da Região
Metropolitana de BH.
Foram empossados 964 conselheiros
das 17 Unidades Regionais Colegiadas
para o triênio 2013/2016. Por meio de
suas câmaras técnicas, cabe ao Copam
aprovar as Deliberações Normativas
(DNs) e definir as recomendações para
as políticas de meio ambiente no Esta-
do. Além de destacar a importância do
Copam como exemplo de conselho de-
mocrático e participativo para o país, o
secretário de Meio Ambiente e Desen-
volvimento Sustentável, Adriano Maga-
lhães, destacou desafios enfrentados
na gestão ambiental em Minas, entre
“A QUESTÃO AMBIENTAL
É PROBLEMA DE TODOS”eles a necessidade de deliberar sobre
temas ligados à água em sintonia com
a pauta de licenciamento ambiental e a
agenda florestal.
“Sabemos de municípios minei-
ros que já não têm água para irriga-
ção, nem para a geração de energia
e abastecimento humano. Bacias in-
teiras e muito próximas de nós, como
as dos rios das Velhas e Paraopeba, já
enfrentam sérios problemas de for-
necimento, outorga e disponibilidade
de água. Mesmo ainda sendo Minas
a grande caixa d’água do Brasil, não
imaginávamos que essa realidade
bateria à nossa porta tão rápido, tão
cedo”, ponderou o secretário.
E categórico, sentenciou: “A ques-
tão ambiental não é mais um proble-
ma apenas do Sisema e da Semad; é
de todos nós. E só vamos avançar se
caminhamos juntos, se nos dermos as
mãos. Portanto, deixo aqui o meu apelo
a todos os novos conselheiros: temos de
encarar a questão ambiental e da nossa
sobrevivência no planeta, não como um
problema, mas como um dever. A nossa
responsabilidade na tomada de deci-
sões, na aprovação e validação de proje-
tos no Copam, é compartilhada. Temos
de seguir juntos, buscando avanços e
melhorias permanentes”.
Sabemos de municípios
mineiros que já não têm água para
irrigação, nem para a geração
de energia e abastecimento
humano
“
”Adriano Magalhães
FOTOS: 1. JANICE DRUMOND/ASCOM SISEMA
1.
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“A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles
mesmos fazem a arte-final”
LUÍS FERNANDO VERISSIMO, escritor
“A educação é o único caminho para emancipar o homem. Desenvolvimento sem educação é criação de riquezas apenas para alguns privilegiados”
LEONEL BRIZOLA
“A vida é um processo, é como subir uma montanha. Mesmo que no fim não se esteja tão forte fisicamente, a paisagem visualizada é melhor”
LYA LUFT, escritora
“Como você sabe, os loucos sempre encontram as portas do céu abertas”
MARTHA MEDEIROS, escritora
“Só quero saúde! Beleza tem prazo!”
MARIA FERNANDA CÂNDIDO, atriz
22 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
2.
3.
4.
5.
"Só jogue no rio, ou no mar, o que o peixe pode comer"
ZIRALDO, cartunista
"Ao dar às pessoas o poder de partilhar, estamos tornando o
mundo mais transparente"
MARK ZUCKERBERG, um dos
fundadores do Facebook
"Tive o privilégio de ter uma avó e uma mãe que me ensinaram que a coisa mais importante do mundo é a liberdade"
GLÓRIA MARIA, jornalista
"Jogar comida fora é como roubar da mesa dos que são pobres e têm fome"
PAPA FRANCISCO
CRESCENDO
ÁRVORESA polêmica sobre o tratamento
adequado contra as moscas
brancas que estão destruindo
os fícus em Belo Horizonte
parece chegar a um final feliz.
No começo deste mês, foi
iniciado um tratamento à base
de inseticida orgânico de óleo de
nin. A aplicação já foi feita em 47
árvores da Avenida Barbacena,
no Barro Preto. Antes do
tratamento foram detectadas
uma média de 16 pragas em
cada folha. Depois de 15 dias
esse número caiu para 0,3.
ZULEIKA TORQUETTIA presidente da nova Feam
deu um show de competência
técnica e elegância, durante a
mesa-redonda sobre os desafios
e legados da Copa do Mundo,
em BH. Ela não só acrescentou
as melhorias ambientais que
o futebol pode trazer, como
contornou a ação de um grupo
de manifestantes que tentaram
politizar e agredir o secretário da
Secopa, Tiago Lacerda.
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 23
"A luta ecológica é como água procurando o mar. Ela brota na serra, ora se acalma num remanso, ora se agita na cachoeira, fica caudalosa na planície, se encolhe na grota... mas nunca volta sem perder o seu rumo, por ser fruto de um sentimento natural"
JOSÉ CARLOS CARVALHO, ex-ministro do Meio Ambiente
FOTOS: 1. AGÊNCIA BRASIL 2. JB ECOLÓGICO 3. CÍCERO RODRIGUES 4-5. REPRODUÇÃO 6. AGÊNCIA BRASIL 7-11-12. FERNANDA MANN
8. JB ECOLÓGICO 9.JUSTIN SULLIVAN 10.DIVULGAÇÃO
8.
7.
6.
9.
11.
12.
10.
ECONECTADOCRISTIANE MENDONÇA1
“Não é novidade, todos já desconfiavam: o
governo dos EUA está vigiando TODO MUNDO,
na rede: http://bit.ly/113xOdQ e o .BR?”
@srlm - Sílvio Meira, engenheiro
de software
“Índios x brancos: o que não falta é terra”
@paulogbarreto - Paulo Barreto, mestre
em Ciências Florestais
“Onde fica o papel indigenista e
mediador da Funai?”
@MMarcosTerena MMarcosTerena,
líder indígena
“Seus filhos vão provar o mundo. Cabe a
você decidir: sozinhos ou acompanhados”
@blogdosakamoto - Leonardo Sakamoto,
jornalista
“Ano Internacional da Água: Brasil
precisa fazer o dever de casa”
@betoverissimo – Beto Veríssimo,
co-fundador do Imazon
“Os orgânicos não fazem bem só à
saúde do indivíduo, são bons para a saúde
do ambiente”
@Joe_Valle - Joe Valle,
engenheiro florestal
“A realidade é um problema
intransponível!”
@MarceloTas - Marcelo Tas, apresentador
“Muito impressionante a entrevista
do Snowdon, que vazou os documentos
da megabisbilhotice da inteligência
americana. Vale ler!”
@MonicaWaldvogel - Mônica Waldvogel,
jornalista
“Todos os níveis hierárquicos devem
participar e abraçar as práticas sustentáveis”
@pluraleemsite - Sônia Araripe, jornalista
“É um equívoco atribuir às tribos ou aos
escravos toda a carga das raízes do país.
Brasil é soma, não seleção”
@neiduclos - Nei Duclós, poeta
“Estou encantado com o LEAF da
Nissan. Peguei um, dos dois táxis 100%
elétricos da frota de táxis no aeroporto
Santos Dumont”
@SergioMarone – Sérgio Marone, ator
“Mais uma vitória ruralista (e mais um
pedaço do país a ser destruído). Aprovado
plantio de cana na Amazônia Legal”
@felipedjeguaka - Felipe Milanez,
ambientalista
Não precisa ser um expert em arte-
sanato para conseguir transformar
um objeto que deixou de ser usado.
Na internet podemos encontrar
várias dicas fáceis de como fazer
de um velho jeans um porta-tre-
cos, por exemplo! A ideia vale para
botões de camisas, potes de vidros,
garrafas PETs, tecidos, móveis
estragados, entre uma infinidade
de materiais. Separamos aqui três
links bacanas para quem é adepto
do reuso! Veja:
O blog www.artesanatoereci-
clagemladoalado.blogspot.com.br tem centenas de fotos que vão lhe dar
milhões de ideias!
O www.luxodolixo.blogspot.com.br indica vários tutoriais de como, por
exemplo, transformar um filtro de café em uma luminária de rosas.
E, por último, o www.reciclagemearte.blogspot.com.br dá o passo a
passo de customização de roupas a brindes ecológicos!
APLICATIVO DO BEMUm aplicativo criado por desenvolvedores
brasileiros foi eleito o melhor app urbano do
mundo, durante um evento em São Paulo, onde
concorriam aplicativos móveis de Israel e dos
Estados Unidos. O Colab cria redes sociais para
incentivar o melhor exercício da cidadania. Por
meio de fotos e geolocalização, ele conecta
cidadãos às cidades com base em três pilares
de interação: pessoas que reportam questões
urbanas cotidianas; elaboração e proposta de
novos projetos e soluções; e avaliação de ser-
viços públicos. Os cinco criadores do aplicativo,
Bruno Aracaty, Gustavo Maia, Paulo Pandolfi,
Josemando Sobral e Vitor Guedes, de Recife e São Paulo, receberam o prêmio
de cinco mil dólares. O Colab é um aplicativo gratuito e pode ser encontrado no
Google Play play.google.com
ECO LINKS
Curta a página do Prêmio Hugo Werneck no
Facebook e concorra ao livro “Viagens do
Naturalista Saint-Hilaire por toda província
de Minas Gerais”. O sorteio será feito no dia
11 de julho; e o resultado, divulgado nas
nossas mídias sociais.
Curta: www.facebook.com/premiohugowerneck
ECO PROMOÇÃO
Quer ser um Repórter Ecológico? Basta enviar foto, texto ou vídeo
sobre algum tema ambiental para [email protected]
com nome completo e colocar no assunto “Repórter Ecológico”. Sua
notícia pode ser publicada aqui!
RECICLAGEM E DECORAÇÃO Vidros são
reutilizados como porta-talheres
REPÓRTER ECOLÓGICO
COLAB Oportunidade de fiscalizar
e avaliar o poder público
TWITTANDO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
CÉU DE BRASÍLIAVINÍCIUS CARVALHO
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA 1 A Amazônia Legal registrou a menor taxa de desmatamento desde
1988, ano em que o Inpe deu início à série histórica na região. Entre
agosto de 2011 e julho de 2012, o Brasil perdeu 4.571 km² de floresta.
É uma queda de 84% no desmatamento em relação a 2004. Naquele
ano, a Amazônia perdeu 27.772 km², a segunda maior taxa registrada
desde o início da série histórica – o pior índice foi em 1995, quando o
desmatamento atingiu 29.059 km².
DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA 2 Apesar das boas novas, o Greenpeace lembra que a redução do des-
matamento, 84%, só parece tão grande porque 2004 foi o ano com a
segunda maior devastação da história. A ONG também questionou a
afirmação da presidente de que o Código Florestal brasileiro é um dos
mais avançados do planeta. “A presidente esquece dos retrocessos,
da anistia e da alta do desmatamento [depois da aprovação da nova
legislação]”, argumenta a ONG.
INDÍGENAS NO PLANALTO O ministro da Secretaria Geral da Pre-
sidência, Gilberto Carvalho, recebeu
um grupo de 145 indígenas de seis
etnias no Palácio do Planalto para
tratar da ocupação nos canteiros da
hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
O ministro disse que os índios serão
ouvidos, mas não poderão mudar a
decisão do governo de prosseguir com
as obras. “Não vou enganar vocês. Vo-
cês não vão ter direito a veto. Vou ter
que ser muito sincero: se na consulta
prévia for perguntado e for dito ‘não’,
o governo vai repensar, mas a lei dá o
direito ao governo de fazer a obra”.
REAÇÃO INDÍGENA Após o assassinato de dois índios Te-
renas no Mato Grosso do Sul, o Con-
selho Indigenista Missionário (Cimi)
voltou a atacar o governo federal. Em
nota oficial, a instituição lembra que,
desde sua posse, em janeiro de 2011,
a presidente Dilma Rousseff nunca
recebeu uma delegação indígena para
tratar de demarcações ou de outros
assuntos do seu interesse - o contrá-
rio da atenção prestada pela presi-
dente aos ruralistas.
RESÍDUOS SÓLIDOS A pouco mais de um ano do prazo
estipulado pela Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) para que
os municípios deem fim à destinação
inadequada do lixo, mais de 3 mil
cidades brasileiras enviaram resíduos
para destinos considerados inadequa-
dos. Segundo a Abrelpe, foram quase
24 milhões de toneladas em 2012, o
equivalente a 168 estádios do Mara-
canã lotados.
MATA ATLÂNTICA EM RISCO Entre os anos de 2011 e 2012, o desmatamento na Mata Atlântica devas-
tou uma área de 235 km² de floresta - a maior taxa anual desde 2008. As
informações fazem parte do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata
Atlântica, divulgado pelo Inpe e pela ONG SOS Mata Atlântica. Minas foi o
estado que mais desmatou: 107 km².
26 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013 FOTOS: 1, 2 SANAKAN | 3. ANTONIO CRUZ/ABR | 4. AGÊNCIA BRASIL
1.
2.
3.
REDUÇÃO DE EMISSÕES Puxado pela queda no desmatamento
na Amazônia, o Brasil conseguiu re-
duzir em 38,4% a emissão de gases do
efeito estufa entre 2005 e 2010, segun-
do estimativa divulgada pelo governo
federal. O total emitido pelo país em
2010 foi de 1,25 bilhão de toneladas
de CO2 equivalente, comparado a 2,03
bilhões emitidos em 2005, data limite
do último inventário. Isso representa
65% da meta de redução estabelecida
pelo Brasil até 2020.
ÓLEO NA AMAZÔNIA Dois vazamentos de óleo na bacia amazônica, uma no rio Negro, nas
proximidades de Manaus, e outra no Napo, na selva equatoriana,
deixaram o governo brasileiro em alerta. A Capitania dos Portos do
Amazonas abriu inquérito para apurar o derramamento de diesel
nas instalações da Transpetro.
CÓDIGO FLORESTAL A implementação do novo Código
Florestal leva o Brasil a perder entre
15% e 40% de áreas previstas para
conservação obrigatória, dependendo
da região, mas também oferece uma
legislação mais fácil de ser aplicada
na prática, que permite maior preser-
vação efetiva. A informação consta de
estudo da ONG The Nature Conser-
vancy (TNC).
4.
Novo papel, mais ecológico. Novo projeto gráfico, mais leve e agradável. Nova tira-
gem, subindo para 26 mil exemplares, além da adoção, em breve, por todas as escolas do Estado. Novas páginas para o bom e combativo jornalismo. E o compromisso de sempre: tornar-se referência em Minas e no país, em in-formação de qualidade sobre susten-tabilidade na grande mídia impressa e digital brasileira.
É isso, caro leitor, caro assinante e caro anunciante, que vocês compar-tilharão doravante, a cada lua cheia teimosa no céu, com a nova Revista ECOLÓGICO, a mais respeitada e jornalística publicação sobre meio am-biente, desenvolvimento sustentável e responsabilidade social com circulação ininterrupta a mais de duas décadas.
Já fomos, durante nove anos conse-cutivos, o suplemento ESTADO ECO-LÓGICO no jornal “Estado de Minas”. Outros nove anos, a JB ECOLÓGICO, no “Jornal do Brasil”. E já a mais de qua-tro anos, em carreira solo, a sua Revis-ta ECOLÓGICO, das montanhas de Minas até o planalto central do Brasil, como cantava Caetano. Uma publica-ção que, religiosamente e seguindo o calendário da natureza, a cada 28 dias é distribuída, via Correios, para todo o mundo político, empresarial e institu-cional brasileiro, além de personalida-des e formadores de opinião na nossa terra brasilis. Além da sua venda em bancas e por assinatura.
A nossa consolidação no disputado mercado editorial mineiro e nacional, por se tratar de um tema que ainda não é pop - “sustentabilidade”, lato senso, significa “sobrevivência” do planeta e de todos nós - é um dos pri-
1 INOVAÇÃO
28 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
NOVA ECOLÓGICO,
DESAFIO MANTIDO
meiros resultados concretos do nosso Planejamento Estratégico´2013.
Feito em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC), eleita a oitava maior escola de negócios do mundo, ele foi lançado recentemente, na sede da ECOLÓGICO, na capital minei-ra, em solenidade simples e afetiva, presidida pelo secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Adriano Magalhães. Jun-to dele, também estiveram presentes
os professores Elson Valim e Paulo Roberto Villamarim, respectivamen-te, diretor-executivo e especialista em Gestão de Pessoas da FDC.
Ao descerrar a placa que define e evidencia os valores, princípios, visão e missão da ECOLÓGICO, o secretário destacou a importância da revista como instrumento de aglutinação, envolvi-mento e disseminação da informação ambiental num estado, país e mundo em desequilíbrio crescente e acelerado.
Adriano também destacou o caráter educativo da revista, tanto junto às es-colas quanto nas empresas, por meio de assinaturas corporativas, que exercem atividades de educação ambiental den-tro e fora de suas instalações, ajudando na igual conscientização ecológica de suas comunidades de entorno:
“É inegável a contribuição da Revista ECOLÓGICO em abordar e discu-tir um tema tão transversal, urgente e necessário, que é a questão ambiental e a sustentabidade que todos hoje bus-camos, conscientes ou não, do estado do mundo. É elogiável como a sua equipe de profissionais apaixonados que são pela causa, consegue nos envolver e aprofundar essa discussão de maneira inédita, bela, imparcial, séria, objetiva e didática ao mesmo tempo”.
Bem-vindo à nova ECOLÓGICO!A natureza que nos sustenta e o
amor que Hugo Werneck pregava agradecem mais ainda.
A equipe
PAULO ROBERTO VILLAMARIM E ELSON VALIM apoio da Fundação Dom Cabral
ADRIANO MAGALHÃES E HIRAM FIRMINO parceria na causa comum
FO
TO
S:
FE
RN
AN
DA
MA
NN
ESTADO DE ALERTAMARIA DALCE RICAS (*)1
Em recente decisão, o Tribunal de Justiça de Minas Ge-rais acatou ação do Ministério Público e suspendeu todos os atos autorizativos da Secretaria de Estado de
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), para supressão de Mata Atlântica e plantio, no município de Je-quitinhonha, concedidos à empresa Fazendas Reunidas Viena. Segundo a ação, entre 2009 e 2013, ela desmatou 3.078 ha de Mata Atlântica, em estágios médio e avançado de regeneração para plantio de eucalipto.
As autorizações são duplamente ilegais, porque nos estágios de recuperação mencionados só pode haver supressão em situações de utilidade pública ou de interesse social, que não é o caso, e mediante licenciamento. O desmatamento foi autorizado por propriedade e não pelo empreendimento como um todo, carac-terizando prática de fragmentar o licenciamento. Esse tipo de ação vem sendo denunciada há tempos pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente e outras entidades.
O primeiro grande caso foi o da Fazenda Vitória, com cerca de 4.000 ha, na qual o Instituto Estadual de Florestas (IEF) autorizou plantio de eucalipto na zona de amortecimento do Parque Estadual Serra do Cabral em 2007. Graças à ação do Ministério Público, o plantio foi paralisado, mas a prática permaneceu.
O caso da Fazendas Reunidas Viena compõe o quadro que levou a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais a apontarem Minas, pela quarta vez con-secutiva, como o estado campeão da derrubada do bioma no país, seguido pela Bahia e o Piauí. Nos últimos três anos, segundo da-dos do IEF, entraram em Minas cerca de 740.000 m³ de carvão provenientes da derrubada da Mata Atlântica da Serra Vermelha do estado. O pior disso tudo é perceber que o Governo de Minas parece não se importar com o desonroso título, já que nesse pe-ríodo nada fez para mudar a situação.
Nesse cenário, a Semad aparece frente à sociedade como respon-sável, o que em parte é verdade, já que cabe a ela a responsabilidade direta pela proteção da Mata Atlântica em Minas.
Mas é preciso ainda olhar além. Proteger a Mata Atlântica e paralisar o desmatamento, diante de tanta área já desmata-da, são ações previstas na política do Governo de Minas, ou a postura da Semad reflete orientação ou, no mínimo, descaso do Palácio Tiradentes? No jogo de cartas do poder, quem tem “ases e reis”, a Semad ou a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento?
(*) Superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda)
DESMATAMENTO AUTORIZADOFragmentar o licenciamento virou prática em Minas
x
30 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013 FOTOS: 1. DOMÍNIO PÚBLICO | 2. FLÁVIO DAYRELL GONTIJO
1.
2.
FILME ANTIGO Entra eucalipto, sai a Mata Atlântica
Certa vez encontrei-me com o professor da Universidade de Roma, Domenico de Masi, sociólogo, autor de vários livros encantadores, como o que trabalhei muito com os
meus alunos, a fim de incentivá-los a desenvolver a criatividade e o pensamento estratégico, com o livro “A Emoção e a Regra – Os Grupos Criativos na Europa de 1850 a 1950”.
Compartilho aqui um pedacinho de sua introdução, o trecho em que o professor Domenico fala sobre a fenomenologia do criativo: “As habilidades intelectuais e a preparação rigorosa dos indivíduos são exaltadas por um forte envolvimento emotivo e, quase sempre, por uma admirável correção profissional, além de um forte senso de união por pertencer ao mesmo grupo. Espírito de iniciativa, confiança recíproca, vontade firme, dedicação total, flexibilidade, prece-dência ligada à expressividade do trabalho mais do que à instrumentalidade, orienta-ção para o trabalho criativo, de preferência à vida extralaboral, mas também multiplici-dade de interesses, competitividade nos con-frontos com grupos concorrentes e solidarie-dade para com os colegas do mesmo grupo, segurança das próprias ideias e capacidade organizativa às vezes acompanhada de inge-nuidade exagerada e de ousada disponibilidade para com o risco, culto pela estética, pelos valores, pela dignidade e pela suprema-cia da arte e da ciência acima de qualquer outra expressão da atividade humana”.
Levei o meu livro no encontro e ganhei um autógrafo do mes-tre. Conversando sobre a minha atividade, Domenico me per-guntou como éramos capazes de fazer obras sustentáveis em ci-dades insustentáveis. Eu respondi concordando ser difícil a soma, mas que tentamos mitigar o problema, criando pequenos oásis em meio ao caos.
A construção sustentável se apresenta como um modelo, como um exemplo em escala menor para as cidades. Aponta a direção para as estratégias possíveis de: gestão de resíduos da construção e da operação, otimização no uso dos recursos hídricos e energé-ticos, seleção de materiais duráveis e que apresentem ao mesmo tempo conteúdos reciclados ou recicláveis, e com menores índices de toxidade, além do foco no desenvolvimento regional.
Os edifícios verdes funcionam um pouco como a acupuntura urbana do Jaime Lerner. São pontos que estimulam positivamen-te a cidade, desobstruindo os paradigmas arraigados dos que não
1
CIDADES, MAIS QUE CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS
acreditam na possibilidade de mudança. É um sinal vermelho forte, ou melhor, verde fosforescente de que a possibilidade existe e está materializada.
A beleza da sustentabilidade me foi relatada por uma amiga, Helena, que acaba de perder a mãe, uma notável professora da Universidade Federal de Minas Gerais, engenheira Delba Gon-tijo Figueiredo, formada no ano de 1953. Helena conta que a mãe, em suas últimas semanas, ficava durante grande parte do seu tempo com os olhos fechados e em silêncio. Em poucos mo-mentos ela abria os olhos e conversava, apesar de sua voz mais fra-ca. Em um desses momentos, Helena relatou a ela as novidades da construção sustentável, principalmente as relativas ao projeto
de paisagismo sustentável em que está tra-balhando. Então, a professora Delba abriu seus olhos, escutou atentamente e sorriu. E, ao final, do alto dos seus 87 anos, disse “Quantas novidades!... Vai me contando sempre, filha. Preciso aprender mais...”.
Fica aqui então nosso carinho pela pro-fessora Delba, que se juntou às estrelas para, de lá, cuidar de nós e nos inspirar a aprender a cada dia mais. O professor Domenico nos deixa o desafio de não fa-
zermos apenas construções sustentáveis, mas também cidades sustentáveis. A nossa saudosa engenheira Delba, nos lembra da necessidade de abertura e do desejo e humildade pela busca in-cessante pelo conhecimento. Criatividade, paixão e disciplina se unem nas palavras dos mestres pela busca da mudança que nos fará tão bem, em um tempo que urge e nos clama à sustentabili-dade de nós mesmos.
“Somente diante do uso de tecnologias mais inteligentes, um maior respeito pelos recursos naturais e um passo no sentido da exploração dos recursos renováveis e das práticas renováveis e autossuficientes, poderemos fazer frente à pressão. A cidade de-sempenha um papel-chave nesse esforço para estabelecer uma relação mais simbiótica com o território. Os edifícios são peças-chave da cidade, e seu desenho, inspirado nas análises do ciclo de vida, também pode contribuir com esse esforço.”
ECO CONSTRUÇÃOCRISTIANE SILVEIRA DE LACERDA (*)1
(*) Diretora da EcoConstruct Brazil – www.ecoconstruct.com.br Professora Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis:
Projeto e Performance da Universidade FUMEC.
O desafio é nãofazermos apenas
construções sustentáveis, mas também cidades
sustentáveis
“
”
32 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
Domenico de Masi
LÍQUIDO 3M PARA A
REDUÇÃO DE POEIRAS
EM SUSPENSÃODiego Gomes, da AngloGold Ashanti,
escreveu solicitando tecnologias para
diminuição dos STS sólidos totais em
suspenção (poeira) para testes nas
áreas operacionais. Sugerimos o Líquido
Supressor de Poeiras 3M LSP-1000, um
produto concentrado, solúvel em água,
destinado ao uso em baixas concentrações
e uma econômica ferramenta
biodegradável de manejo de água.
O LSP-1000 foi desenvolvido para
aplicações onde se necessita controle
ou eliminação de emissão de partículas
sólidas para o meio ambiente. Possui
propriedades que garantem alta
eficiência na umectação.
O segredo está na habilidade para a
aplicação do produto.
Atenção e cuidado, entretanto,
para o uso em áreas com tráfego de
veículos. O produto faz com que a terra
grude mais nos pneus dos veículos,
aumentando o trabalho na área de
lavagem de rodas.
PROFISSIONAL
LEED APA Arquiteta Ana
Lúcia Chagas
Barbosa Santos,
profissional que
está cuidando da
documentação LEED
para a certificação
de construção
sustentável da Nova Loja TETUM,
foi aprovada LEED AP (Accredited
Professional). Após 2 horas de
duração da prova, Ana Lúcia acertou
176 dos 200 pontos distribuídos com um
aproveitamento de 88%. Analu, além
de profissional AP LEED, é arquiteta,
esposa e mãe. Parabenizamos também
suas duas filhas Clara (15 anos), e
Amanda (9 anos) ,e o marido, João,
pela conquista.
Eduardo Moreira, arquiteto,
diretor da 1PRA1 Arquitetura
nos pergunta sobre contatos de
fornecedores de tintas minerais,
naturais, sustentáveis.
Recomendamos a Tinta Solum.
Trata-se de um
revestimento mineral
à base de terra
crua, retirado de
jazidas licenciadas
e usa como base a
água. Desenvolvida
com pigmentos das
terras brasileiras,
sua textura delicada
permite vários tipos
de acabamento.
Pronta para o uso,
ela pode ser aplicada
em áreas internas e
externas e, como não
possui plastificante, não
cria película ou bolhas.
As 15 cores são produzidas em
um processo físico sem auxílio
de meio químico e com baixo
uso de energia. A aplicação em
paredes internas proporciona um
ambiente mais saudável, por não
fechar os poros das superfícies,
permitindo um equilíbrio da
umidade relativa do ar.
A Tinta Solum não tem em
sua composição metais pesados
encontrados em pigmentos
sintéticos, é um produto livre
dos COVs (Compostos Voláteis
Orgânicos), substâncias poluentes
derivadas do
petróleo que
agridem a camada
de ozônio. Portanto,
atóxica e inodora,
reduzindo os riscos
de alergias.
Um fato
interessante sobre
a tinta Solum foi
o lançamento em
2011 da Linha
RESTAURO e uma
das cores de sua
paleta, o BRANCO
MINAS. Ela foi aplicada
na restauração da
Igreja de São José e na Capela
de Bom Jesus dos Matosinhos
em Congonhas (MG). Mais uma
dica, caso queira reduzir a carga
térmica de sua edificação, opte
pelas cores mais claras.
Os edifícios são peças chave da cidade, e seu desenho, inspirado nas análises do ciclo de vida, também pode
contribuir com este esforço
“
”
TINTAS MINERAIS, NATURAIS OU SUSTENTÁVEIS
IGREJA DE SÃO JOSÉ
Belo Horizonte
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 33
SAIBA MAIS www.tintasolum.com.br
SAIBA MAIS solutions.3m.com.br
FOTOS: 1. FELIPE GOMBOSSY 2.3. REPRODUÇÃO
2.
1.
3.
1PERFIL | ÉRICA DRUMONDDIRETORA-PRESIDENTE DA VERT HOTÉIS
A HOTELARIA SUSTENTÁVEL
Com sede em Belo Horizonte, a Vert Hotéis iniciou suas ati-vidades em 2010 e já tem im-
portantes conquistas a comemorar. A rede tem três unidades ‘Ramada’ em operação – São Paulo, Rio de Janei-ro e Lagoa Santa (MG) – e mais 14 contratos de hotéis em construção ou em fase final de aprovação assinados. A parceria com a Wyndham, maior grupo hoteleiro do mundo, prevê um contrato inicial de 25 anos, e a expec-tativa da Vert é ter 45 hotéis com a marca Ramada em operação no Brasil num horizonte de 15 anos.
À frente da Vert está a empresária e ex-secretária de Turismo de Minas, Éri-ca Drumond, que tem procurado has-tear também a bandeira da sustentabili-dade em seus negócios. Contando com o apoio e know-how da Wyndham – e amparada em conceitos como inovação, conservação de água e de energia, reci-clagem e inserção da comunidade do entorno no desenvolvimento de seus empreendimentos –, Érica afirma: “A busca pela sustentabilidade é um desa-fio permanente; ainda não somos uma empresa 100% verde. Mas estamos pro-curando evoluir e aprender a cada dia, porque esse é o caminho.” Confira:
A Vert se apresenta como uma empresa ‘verde’, tendo como principal pilar do negócio a sustentabilidade. Isso explica a escolha do nome Vert (verde em francês) e do slogan “somos todos hóspedes neste planeta”?Sim. Essa é a visão que procuramos im-primir ao nosso negócio. Nascemos com a vontade de nos consolidar no mercado como uma operadora de equipamentos
‘verdes’, com funcionários que abracem de fato essa causa, adotando práticas mais sustentáveis no dia a dia, e tam-bém com o compromisso de envolver a comunidade e os nossos hóspedes. Por isso, nos aliamos à Wyndham, que tem um dos mais sólidos programas de sus-tentabilidade em hotelaria no mundo – e estamos buscando aplicar conceitos de sustentabilidade tanto nos hotéis que operamos quanto nos que estamos construindo. Nosso foco é reciclar, reu-tilizar, fazer mais com menos, mas man-tendo sempre o conforto dos hóspedes e a qualidade dos serviços que pres-tamos. Não é o hóspede que tem que economizar água durante o banho, por exemplo, ou evitar deixar a luz acesa: nós é que temos de oferecer condições e equipamentos que permitam reduzir, de fato, os gastos com água e energia.
Os conceitos e práticas ecológicas se aplicam tanto aos empreen-dimentos em construção quanto na operação dos que já existem? Quais são as principais iniciativas?Temos investido bastante na melhoria da operação. Começamos pela reformu-lação da nossa carteira de fornecedores, dando preferência aos que oferecem, por exemplo, produtos biodegradáveis e uniformes confeccionados com tecidos ecológicos, como malhas feitas à base de PET. Também não trocamos toalhas e roupas de cama diariamente. Para hóspedes que ficam conosco por até três noites, mantemos o mesmo lençol e a mesma toalha, considerando que, na maioria das casas, essa troca é feita se-manalmente. A ideia é tornar o hóspede um dos atores dessa mudança de hábi-tos, informando a ele o quanto é econo-
Luciana Moraes |
1.
ÉRICA DRUMOND “Somos todos
hóspedes neste planeta”
mizado de água com essa medida. No entanto, caso alguém solicite ou ocorra algum acidente no quarto, como o der-ramamento de bebidas, a troca é ime-diatamente feita. Em relação às novas construções, temos buscado no merca-do empresas interessadas em construir as novas unidades e a se manterem co-nosco ao longo da operação.
Como tem sido a adesão das cons-trutoras e incorporadoras?Já está claro para a maioria dos em-presários que os investimentos em sustentabilidade podem encarecer a construção em até 15%, mas se pa-gam rapidamente com o início da operação. Acreditamos que as medi-das adotadas nos ajudarão a consoli-dar novos hábitos e a fomentar uma nova consciência, além de reduzir o impacto ambiental da nossa atividade. Por isso, é essencial que funcionários, fornecedores, hóspedes e outros par-ceiros do negócio estejam envolvidos. Não adianta ter regras e orientações de manual, se não mudarmos, na prática e individualmente, os nossos hábitos. Estamos apenas de passagem pelo mundo, ideia que traduzimos em
nosso slogan. Temos, portanto, o de-ver de deixar uma pegada positiva no planeta. Se não pudermos melhorá-lo, temos ao menos de diminuir o impac-to da nossa passagem por aqui.
Como os colaboradores da Vert são preparados para aplicar os conceitos de sustentabilidade no dia a dia? A Wyndham nos oferece o maior progra-ma de sustentabilidade do mundo. Foi exatamente por isso que nos associamos a ela. E um de princípios fundamen-tais desse grupo é a adoção de práticas ecológicas que estejam disponíveis e ao acesso de todos, inclusive de nossos concorrentes. O objetivo é fomentar um movimento global de melhoria, cresci-mento e respeito pelo planeta: não uma ação isolada. A ideia é fortalecer toda a cadeia de produtos e serviços e ainda as-segurar que nossos colaboradores – hoje são 250 – estejam motivados e mobili-zados. A responsável pelas práticas am-bientais da Wyndham (green woman) vem ao Brasil de duas a três vezes por ano para fazer palestras e treinar nosso pessoal. Temos um extenso manual de requisitos a cumprir e buscamos a sua implantação a todo o momento,inclu-
sive por meio da atuação dos nossos gerentes gerais, que estão bastante foca-dos no programa e direcionam as ações em todas as unidades Vert.
Como avalia a velocidade de apli-cação e os ganhos já obtidos com essas práticas?Os ganhos são muitos, mas ainda temos muito que avançar. Afinal, não estamos criando nada. Buscamos apenas im-plantar práticas de ecoeficiência bem-sucedidas no mundo, usar tecnologias e produtos já disponíveis no mercado. Mas nada é tão simples ou fácil. Assim como empresas de outros setores, en-frentamos diversas dificuldades, inclu-sive a falta de fornecedores de determi-nados itens no mercado nacional, como blazers de tecido ecológico para unifor-mes. A busca pela sustentabilidade é um desafio permanente; ainda não somos uma empresa 100% verde. Mas estamos procurando evoluir e aprender a cada dia, porque esse é um caminho que es-colhemos e no qual acreditamos. Isso se reflete de forma especial na construção de nossos novos hotéis, como o Ramada Minascasa, que terá telhado verde, sis-tema de elevadores inteligentes e outras
Empresária
hoteleira há
mais de 20 anos,
Érica Drumond é
especialista em
Marketing pela
Fundação Getúlio
Vargas e graduada
em Comunicação
Social, com habilitação em Relações
Públicas, pela Newton Paiva. Sócia do
Grupo Maquiné Empreendimentos –
empresa de sua família que administra
o Hotel Ouro Minas, único cinco
estrelas de Belo Horizonte, além dos
motéis Green Park e Forest Hills –
foi também secretária estadual de
Turismo(2007-2010). Atuou, ainda,
como presidente do Belo Horizonte
Convention & Visitors Bureau –
onde criou a campanha de sucesso
“Eu Amo BH Radicalmente”; como
diretora da Associação Comercial de
Minas e do Instituto Estrada Real. No
âmbito nacional, dirigiu a Associação
Brasileira da Indústria Hoteleira. Aos
44anos, é divorciada e tem três filhos.
QUEM É ELA
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 352
FOTOS: 1. PEDRO SILVEIRA /ODIN | 2. DIVULGAÇÃO
2.
Que Inhotim me perdoe, os profetas de Congonhas são a maior obra de arte
da América Latina!
“
”
1PERFIL | ÉRICA DRUMONDDIRETORA-PRESIDENTE DA VERT HOTÉIS
tecnologias destinadas a economizar água e energia. Estamos procurando avançar, ir além do que a legislação exige. A Vert quer ser reconhecida por clientes, colaboradores e investidores como uma empresa transparente, con-fiável e perene. Acreditamos que a sus-tentabilidade é o melhor caminho para alcançarmos esses objetivos.
A missão da Vert é o chamado “resgate da Hotelaria Essencial”. Quais são as bases desse conceito e os diferenciais para os clientes?Hoje,na hotelaria brasileira, o setor que mais cresce é o de hospedagem econô-mica. Hotéis com quartos pequenos, para hóspedes com permanência média de um a dois dias. Nosso objetivo é fa-zer com que o hotel seja uma extensão da casa do hóspede, onde ele possa des-frutar de uma boa cama, de um bom chuveiro, de um quarto sem ruído e com a luminosidade adequada. Nossos apartamentos são pequenos, mas têm camas grandes, que ocupam quase todo o espaço. Economizamos no construti-vo, mas nosso recheio é luxuoso. Ofe-recemos edredons e toalhas grandes, de qualidade. Em vez de oferecer uma toalha pequena e fina todos os dias, op-tamos por uma grande e luxuosa, mas não fazemos a troca diária. Também não oferecemos serviços de lavandeira nem de passadeira, mas temos ferro e tábua de passar nos quartos. Além de cafeteira, agregando um ‘quê’ de minei-ridade ao nosso atendimento.
Qual a sua visão sobre o turismo no Brasil e em Minas? Tem algum destino de sua preferência?Infelizmente, o turismo ainda é muito fraco no Brasil. Não temos uma políti-ca nacional de turismo com uma visão desenvolvimentista, apesar de ser esse o setor que mais gera empregos e ren-da em todo o mundo. O turismo movi-menta dezenas de áreas da economia, mas aqui isso não é reconhecido. A ho-telaria não é vista como uma indústria. Se fosse, o ar-condicionado e a TV que compramos para equipar suítes e apar-
tamentos nos seriam vendidos livres de impostos, a exemplo do que ocorre com carros e eletrodomésticos. É injusto, pois pagamos impostos como se fôs-semos consumidores finais. Enquanto não houver esse entendimento do tu-rismo como agente desenvolvimentis-ta, a geração de emprego e renda será sempre aquém do potencial brasileiro, e viajar pelo país continuará caro. Não adianta ter o recurso natural mais boni-to, as paisagens mais perfeitas: precisa-mos de hotéis, de transporte, de restau-rantes etc. Em Minas não é diferente. Temos o maior patrimônio histórico tombado do Brasil, as grutas mais boni-tas, mas faltam cuidado, logística e in-vestimento para que todas essas belezas sejam divulgadas e mais visitadas, inclu-sive pelos próprios mineiros. O descaso com a obra de Aleijadinho, em Congo-nhas, é um absurdo. Que Inhotim me perdoe, mas os profetas – com fungos – de Congonhas são a maior obra de arte da América Latina. Mas, infelizmente, estão lá, abandonados. Outro gargalo é o Aeroporto Internacional de Confins, com sua reduzida capacidade para pou-sos e decolagens, onde falta até estacio-namento. É vergonhoso ficar à mercê do governo federal, esperando obras e investimentos.
A senhora tem três filhos. Que valores quer ver perpetuados neles? É otimista em relação ao futuro do planeta?O valor maior é o trabalho. Não vou tentar mudar o mundo e dizer aos meus filhos que não consumam ou não se interessem por brinquedos, roupas e novos equipamentos. Somos de uma classe privilegiada, mas que trabalha muito para ter o que quer. Ensino que, se comprarem algo, têm de usar. Se for para deixar na gaveta, que doem para alguém. Eles têm essa consciência. Fazem contas e sempre me perguntam se para comprar algo terei de trabalhar mais, passar ainda mais tempo fora de casa. Digo a eles que quem trabalha sabe aonde quer chegar, faz dinheiro, tem sucesso e
credibilidade. As pessoas têm de ser honestas consigo mesmas e fazer aquilo de que gostam; não se deixa-rem apenas ser escolhidas para este ou aquele cargo. Digo o mesmo a to-dos os que se candidatam a uma vaga em nossos hotéis. Não queremos ape-nas escolher candidatos: queremos ser escolhidos e reconhecidos como uma empresa que valoriza a susten-tabilidade, a transparência e está dis-posta a fazer o melhor. Temos de se-guir fazendo mais, gastando cada vez menos. Nosso futuro e sobrevivência dependem disso.
De olho nas novas exigências do
mercado, a construção do Ramada
Minascasa Hotel, na Avenida Cristiano
Machado, sob a responsabilidade da
Construtora Líder e entrega prevista
para março de 2014, está pautada pela
sustentabilidade desde a concepção do
projeto. Com 200 apartamentos, e aliado
a um shopping, o empreendimento adota
as melhores soluções em tecnologia:
nas áreas comuns, que geram em torno
de 40% de economia de água, além de
evitar o desperdício;
telhados na irrigação dos jardins;
de caixa de retardo para lançamento
gradual na rede pública;
com recipientes para coleta seletiva,
promovendo a reciclagem de materiais
e diminuindo o impacto nos aterros
sanitários;
frias e de baixo consumo, acionadas
por interruptores vigia e utilização de
sensores de presença, nas garagens,
escadas e circulações, otimizando o
consumo energético nessas áreas.
central de aquecimento solar, que irá
gerar água quente para os chuveiros
e lavatórios dos apartamentos. Os
coletores solares irão fornecer 54% da
demanda diária de água aquecida. O
restante será suprido por um sistema de
apoio a gás. Anualmente, os coletores
solares irão gerar uma média de eficiência
de 43%, o que representa uma grande
economia de energia elétrica.
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36 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
SEGUNDO A ONU, ATÉ O FINAL DESTE SÉCULO, 95% DA HUMANIDADE ESTARÁ MORANDO NAS CIDADES. SERÁ, PORTANTO, NO MEIO URBANO QUE TODOS
NÓS TEREMOS DE CONSEGUIR QUALIDADE DE VIDA. SERMOS SUSTENTÁVEIS, NO TRABALHO, NOS TRANSPORTES, NO NOSSO ESTILO DE VIVER.
É POR ESTAS RAZÕES QUE, COM FOCO ESCLARECEDOR, JÁ A PARTIR DESTA EDIÇÃO, A REVISTA ECOLÓGICO IRÁ ABORDAR PERMANENTEMENTE O TEMA DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL.
Nosso Futuro CONSTRUTIVO E SUSTENTÁVEL
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O QUE É MELHOR PARA A NATUREZA E O MEIO AMBIENTE QUE NOS RESTAM? HORIZONTALIZAR A OCUPAÇÃO DOS POUCOS ESPAÇOS URBANOS QUE EXISTEM? VERTICALIZÁR, SOB A ÓTICA DE UMA NOVA E ECOLÓGICA CONCEPÇÃO CONSTRUTIVA QUE CONVERSE MAIS CONOSCO, COM O SOL, O VENTO
E UMA MELHOR VISÃO DE MUNDO?
ACOMPANHE!
O Dia Mundial do Meio Ambiente amanheceu mais verde ainda, ao redor da Serra do Curral, com a criação de quatro novas Unidades de Conservação
(UCs) no município de Nova Lima. Sem falar na inaugura-ção, pela Prefeitura de Belo Horizonte, da Trilha da Travessia, no alto do cartão-postal natural da capital mineira. Confor-me prometido, em vez de brigar com as ONGs que atuam na região, como aconteceu com vários ex-administradores, o prefeito Cássio Magnani convidou os ambientalistas para tes-
temunharem a assinatura dos decretos de criação dos Monu-mentos Naturais da Serra da Calçada, Serra do Souza, Morro do Pires e Morro do Elefante. Aliado, o prefeito da capital fez questão de se unir a Magnani na cerimônia de inauguração da placa que oficializou, em particular, o Monumento Serra da Calçada, realizada no Retiro das Pedras, onde ele mora. Marcio Lacerda ainda garantiu que a sua administração vai atuar politicamente de forma mais direta para, se possível, ampliar a área de preservação do monumento.
Fernanda Mann |
1POLÍTICA AMBIENTAL
UM PREFEITO FAZ...
SERRA DO SOUZA
MORRO DO PIRES MORRO DO ELEFANTE
SERRA DA CALÇADA
APOIO Simone Bottrel, da ONG Arca Amaserra, e Marcio LacerdaPALAVRA CUMPRIDA Cássio Magnani descerra a placa do Souza
38 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013 FOTOS: FENANDA MANN | 1. RAQUEL COUTO | 2. ONG ABRACE A SERRA
1.
Já a ampliação do Monumento Natural da Mãe D’água, no município vizinho, Brumadinho, durou pouco. O decreto que ampliava a área de preservação, garantindo a proteção de 30 nascentes e 500 hectares da Serra da Moeda, foi anulado. As-sinado há apenas três meses, pelo prefeito Antônio Brandão, o Decreto 059/2013, que atendia ao anseio das comunidades locais, foi revogado por... ele mesmo. Seu gesto decepcionou, em particular, os 10 mil cidadãos que se reuniram no sexto “Abraço à Serra”, no último dia 21 de abril, em comemoração à vitória dessa luta travada há anos.
No novo decreto, publicado no dia 23 maio, a prefeitura diminuiu o perímetro de proteção proposto inicialmente. Para a ONG Abrace a Serra, o instrumento legal é incons-titucional. “Trata-se de uma área especialmente protegida, e as normas ambientais são protecionistas no que se refere ao processo de criação de Unidades de Conservação. A criação de UCs pode se dar por qualquer ato do Poder Pú-blico; mas a diminuição de limites ou sua extinção só pode ser feita por lei específica. E essa lei tem de ser votada pela Câmara Municipal, o que não aconteceu.”
Segundo a Prefeitura de Brumadinho, o decreto anterior foi declarado nulo em “função de inconsistência técnica”. Ela alega que, inadvertidamente, a poligonal que define o Monumento Mãe D´água invadiu os municípios de Moe-da, Itabirito e Nova Lima. E, por isso, teve de ser corrigido.
...O OUTRO DESFAZ
Este ato é imprescindível. Nova Lima é o pulmão da
Região Metropolitana de BH
“
”Cássio Magnani, prefeito de Nova Lima
DESAPONTO O sexto “Abraço à Serra” que ainda não deu certo
ANTÔNIO BRANDÃO A assinatura do decreto que ele desfez
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 39
2.
O$ NÓ$ DA
ENERGIAPior regime de chuvas, desde o apagão, leva governo a ativar termelétricas para
evitar novo risco de racionamento. Mais caras e poluidoras, usinas movidas a carvão, gás e óleo podem custar até R$ 11 bilhões, apenas este ano
Quem não se lembra do racio-namento de energia em 2001, engatilhado pela queda no ní-
vel dos reservatórios das hidrelétricas? À época, os consumidores tiveram que cortar 20% do consumo de eletricidade para evitar sobretaxas e o governo im-pôs uma cobrança adicional às contas de energia superiores a 200 quilowatts/hora por mês. Segundo cálculos do Tri-bunal de Contas da União, um prejuízo total de R$ 45,2 bilhões, dos quais 60% saíram do bolso dos usuários e o restan-te do Tesouro Nacional.
Passados doze anos, o Brasil enfren-ta a pior seca desde então. Os reser-vatórios das hidrelétricas se encontram com apenas 42% da sua capacidade no Nordeste e 52% no Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por 70% do arma-zenamento de água do sistema. Novo risco de racionamento? O governo fe-deral assegura que não, mas avisa: será à custa de muito petróleo.
Para poupar os reservatórios, o Ope-rador Nacional do Sistema (ONS) mandou acionar todo o parque ter-melétrico brasileiro: usinas capazes de gerar 15 mil megawatts (MW), ou o equivalente a três usinas de Belo Monte. Por terem um custo operacio-nal até quatro vezes maior que as hi-
drelétricas, calcula-se que o Tesouro pode ter de destinar até R$ 11 bilhões para fechar as contas das empresas este ano, ou seja, a despesa de R$ 2,6 bilhões feita em 2012, com o mesmo fim, multiplicada por cinco. É quase a metade de todo o orçamento anual do Bolsa Família, - e gasto em usinas que emitiram mais de 15 milhões de tone-ladas de carbono apenas entre outu-bro e dezembro de 2012, segundo es-timativas da consultoria WayCarbon.
Pelo menos este ano, o custo pelo uso das termelétricas não deve chegar aos consumidores: o governo decidiu usar os recursos da Conta de Desen-volvimento Energético (CDE) para atenuar os gastos extras das distribui-doras de energia elétrica por causa do despacho de usinas térmicas. Sem esse dinheiro, as operadoras quebra-riam ou a presidenta Dilma Roussef teria de voltar atrás na promessa do corte de 20% na conta de luz.
A SECA NO BRASIL: os reservatórios das hidrelétricas se encontram com
apenas 42% da sua capacidade no Nordeste e 52% no Sudeste e Centro-Oeste
Vinícius Carvalho |
2JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 41FOTOS: 1. CARLOS BARRIA REUTERS 2. PAULO WHITAKER
2.
XX ECOLÓGICO | MAIO DE 2013
DIVERGÊNCIASA expansão do parque termelétrico é contestada por entidades ambientalis-tas, para quem a demanda adicional poderia estar sendo fornecida pela melhoria na conservação da energia desperdiçada hoje e por fontes reno-váveis como eólica e biomassa.
“As térmicas têm baixo custo de construção, licenciamento mais facili-tado e remuneração do governo mes-mo se ela não for usada. Precisamos ter um espaço mínimo para cada fonte nos leilões de energia e metas práticas de expansão para as energias renováveis”, defende o coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace Brasil, Ricardo Baitelo.
O anúncio da inclusão do carvão mineral nos leilões A-5, feito pelo ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, também despertou indignação entre entidades ambientalistas. Se-gundo a Associação Brasileira de Car-vão Mineral (ABCM), a meta é am-pliar a produção em 219 milhões de toneladas em três anos. A atual capa-cidade instalada comporta a geração de 1.765 MW, e o principal destino, com o repasse de 83% da disponibili-dade, é o mercado de energia elétrica.
“O Brasil tinha banido o carvão dos leilões e estava privilegiando opções mais limpas. Não faz sentido nenhum liberar o uso do carvão, é o mais po-luente de todos. O custo também não vale a pena. É um retrocesso”, critica o coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF no Brasil, Carlos Rittl. Segun-do ele, a operação de parques eólicos implica em emissões de apenas 9 g de CO2 equivalente para cada kWh gerado, ou cerca de 100 vezes menos do que as emissões médias de uma térmica a carvão.“Não queremos mu-danças abruptas, mas precisamos ter uma visão mais estratégica. Não es-tamos dando nenhum salto tecnoló-gico neste campo.”
As críticas à sazonalidade das ener-gias renováveis, usada em defesa das
"Não existe almoço grátis. Não se pode querer ao mesmo tempo
segurança de abastecimento, hidrelétricas sem reservatórios e, além
disto, não pagar pelo despacho de termelétricas quando necessário"
MAURÍCIO TOLMASQUIM,Presidente da Empresa
de Pesquisa Energética (EPE),
"O Brasil tinha banido o carvão dos leilões e estava privilegiando opções mais limpas. Não faz sentido nenhum liberar o uso do carvão, é o mais poluente de todos. O custo também não vale a pena. É um retrocesso"
CARLOS RITTL, coordenador do Programa
Mudanças Climáticas e Energia do WWF no Brasil
TERMELÉTRICASCrescimento de 223% entre 2001 e 2011. As térmicas que em 2001 representavam 7%. Em 2011, esse percentual subiu para 15%. para 15%
2011de 7%
2001
térmicas, também é questionada pelo professor do Instituto de Eletrotécni-ca e Energia da USP Célio Bermann. É que o aumento da capacidade de produção de energia, a partir do ba-gaço da cana, coincide com o período de seca nos reservatórios do sudeste. O mesmo vale para a capacidade de geração eólica no Nordeste, que au-menta na medida que os reservatórios ficam mais vulneráveis. “Utilizar ter-melétricas para complementar o sis-tema hidrelétrico é uma solução equi-vocada. Só a partir do bagaço da cana de açúcar, pode-se produzir 10 mil
megawatts excedentes, o que equiva-le a mais de duas vezes a energia mé-dia produzida por Belo Monte. Essa energia poderia estar disponível justa-mente na época das secas”, defende Bermann. Ao longo dos próximos dez anos, o governo estima que o consu-mo de energia crescerá, em média, 4,7% ao ano. Para atender a deman-da, a capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional deverá crescer 56% até 2021, saltando de 116,5 mil MW para 182,4 mil MW. O montante para as novas usinas chega a R$ 117 bilhões, sendo 57% em hidrelétricas.
1MUDANÇAS CLIMÁTICAS
42 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
2.
ECOLÓGICO/MAIO DE 2013 XX
"A atual estratégia de geração elétrica brasileira dissociada de
uma percepção mais precisa das mudanças climáticas levará
a um ambiente de ainda mais insegurança – energética,
econômica e física"
MARINA GROSSI, Presidente do CEBDS
INSEGURANÇA ENERGÉTICAA ênfase dos investimentos na hi-dreletricidade - responsável por 81% da de toda energia elétrica gerada no Brasil - também preocupa entidades
ambientalistas. Motivo? O maior remanescente hidrelétrico está na Amazônia, onde o governo pretende promover a construção de 40 grandes hidrelétricas e mais de 170 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). So-mente na bacia do rio Tapajós, estão previstas 12 grandes hidrelétricas no eixo principal do rio e nos afluentes Jamanxim e Teles Pires. “De que adianta ser limpa sem ser sustentável? Não podemos ignorar o impacto das grandes usinas para a conservação da Amazônia”, defende Rittl. O foco em
novas hidrelétricas também é ques-tionado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Em estudo lançado este mês, so-bre a vulnerabilidade do setor elétri-co brasileiro às mudanças climáticas, a instituição estima que a segurança energética das usinas irá diminuir, exigindo cada vez mais fontes como as térmicas, mais caras e poluidoras. O estudo foi elaborado a partir da análise de três usinas, considerando cenários até 2050.
MINAS GERAIS: reservatórios enfrentam dificuldades. É o caso de Emborcação, no rio
Parnaíba, que está com 44% de seu volume útil, e Nova Ponte, no rio Araguari, com 39%
A SITUAÇÃO EM MINASConsiderada a caixa d’água do Brasil,
Minas é ainda mais dependente do
regime de chuvas. A Companhia
Energética de Minas Gerais (Cemig) gera
96,7% de sua energia em hidrelétricas,
0,7% em parques eólicos e 2,6%
em usinas térmicas. Atualmente,
reservatórios mineiros importantes
enfrentam dificuldades. É o caso de
Emborcação, no rio Parnaíba, que está
com 44% de seu volume útil, e Nova
Ponte, no rio Araguari, com 39%. Para
diversificar sua matriz, a Cemig atua
na área de exploração de gás e faz
prospecção em quatro lotes na Bacia
do São Francisco. Caso seja encontrado
gás em grande quantidade, um dos focos
da empresa será a instalação de uma
termelétrica na região.
FIQUE POR DENTRO
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 432
4.
3.
FOTOS: 1. RENATO ARAUJO-ABR 2. DIVULGAÇÃO 3. REPRODUÇÃO 4. ELZA FIUZA-ABR
NOVAS FONTES
Segundo estimativas do Progra-ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a
evolução tecnológica e o ganho de es-cala experimentado pelas energias re-nováveis resultaram em investimentos da ordem de 237 bilhões de dólares em 2011, um crescimento de 6,5% em relação a 2010 e mais de 30% em relação a 2009.
Os recursos resultaram na insta-lação de 43 mil MW em eólicas e 39.700 MW em sistemas solares no
O aproveitamento da biomassa da ca-
na-de-açúcar para cogeração de ener-
gia elétrica fornece ao país uma fonte
energética complementar às hidrelé-
tricas e é uma das alternativas aos
derivados de petróleo. Essa fonte tem
seu maior potencial concentrado entre
os meses de abril e novembro, exata-
mente no período em que o nível dos
reservatórios das hidrelétricas dimi-
nui e são acionadas as termelétricas.
De acordo com a União da Indústria
de Cana-de-açúcar (Unica), o poten-
cial de geração da biomassa poderia
alcançar 14.000 MW médios em 2021,
quase três vezes a produção da usina
Belo Monte, prevista para gerar 4.571
MW. Outra vantagem é que a produ-
ção sucroalcooleira está concentrada
nas regiões Sudeste e Centro-Oeste,
próxima aos principais centros con-
sumidores de energia, o que reduz
a necessidade de longas linhas de
transmissão. Atualmente, o setor gera
Biomassa
mundo em 2011. Confira os princi-pais resultados e saiba como as fontes alternativas podem contribuir para a diversificação da matriz energética brasileira. Os dados constam do es-tudo “O Setor elétrico brasileiro e a sustentabilidade no século 21: opor-tunidades e desafios”. O documento foi elaborado por pesquisadores de instituições como Instituto Socioam-biental (ISA), Greenpeace, WWF, Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e Fundação Getúlio Vargas.
apenas 1.133 MW médios, o equiva-
lente ao atendimento anual de cinco
milhões de residências.
DESAFIOSUma resolução da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel) determina
que cabe à usina o investimento para
construir as linhas de transmissão que
levem o excedente até uma subestação
ou uma rede de distribuição de ener-
gia elétrica. Segundo levantamento do
Instituto de Eletrotécnica e Energia da
USP, a distância entre as usinas e a
rede varia de 10 a 30 km, percurso rela-
tivamente curto, e poderia estar sendo
financiado pelo BNDES. Com investi-
mento na troca de equipamentos de
cogeração - caldeiras de maior pressão
-, esses 10 mil megawatts potenciais
da biomassa também poderiam dobrar
para 20 mil megawatts, ou o equivalen-
te a quatro usinas de Belo Monte, se-
gundo o instituto.
1MUDANÇAS CLIMÁTICAS
44 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
2.
O mercado eólico mundial cresceu
quase 10% no ano passado, segun-
do dados publicados pelo GWEC.
Na liderança global deste mercado
estão China e Estados Unidos, se-
guidos por Alemanha, Espanha e
Índia. O Brasil não figura entre os
dez maiores produtores de ener-
gia eólica do mundo, mas ficou na
oitava posição do ranking que me-
diu o crescimento das instalações
em 2012. A capacidade atual
passa dos 1.500 MW e re-
presenta pouco mais de 1%
da eletricidade produzida
no país. Segundo o Atlas
Eólico Brasileiro, o po-
tencial avaliado da energia
eólica no Brasil é de 143 GW,
concentrado principalmente
nas regiões nordeste e sul. As
medições consideraram torres
eólicas de 50 metros de altura
e a revisão dessas estimativas,
considerando as atuais torres
superiores a 100 metros, pode-
ria atualizar este potencial para
mais de 300 GW, ou pratica-
Dados do Atlas Solarimétrico do Bra-
sil indicam que o país tem uma média
anual de radiação no território nacio-
nal entre 1.642 e 2.300 KWh/m2/ano,
o suficiente para atender a 10% de
toda a demanda atual de energia elé-
trica no país com o aproveitamento de
energia solar captada em apenas 3%
da área urbanizada do Brasil. O mer-
cado mundial de painéis fotovoltaicos
apresentou um crescimento anual en-
tre 30 e 40% nos últimos cinco anos,
com destaque para um crescimento
de 67% em 2011. E as células fotovol-
taicas têm registrado queda de preço
de cerca de 10% ao ano. A geração
solar se destaca pela baixa emissão
de gases de efeito estufa em sua ca-
deia energética –inferior a 30 g de CO2
equivalente/kWh produzido.
DESAFIOSO investimento em energia solar no
Energia eólica
Energia solar
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mente o triplo da capacidade instalada
da matriz elétrica nacional.
DESAFIOSAinda que a fonte seja a que mais cres-
ce no país – nos próximos quatro anos
devem ser instalados cerca de sete
mil MW, ou algo próximo a dois mil
MW por ano – há gargalos técnicos
que podem atrasar este crescimen-
to. O primeiro refere-se à disponibi-
lização da infraestrutura de trans-
missão e distribuição da energia.
As regiões que vêm recebendo
os parques, principalmente no
nordeste, eram importadoras
de energia e não contavam
com grandes malhas de
transporte da eletricidade.
Agora, devem passar a ex-
portar o excedente. Para
tanto, é necessário o re-
forço da estrutura de transmissão, o
que já vem atrasando a construção de
parques leiloados em 2009. São cerca
de mil MW prontos e que não estão
disponíveis no sistema justamente
pela falta de linhas de transmissão.
Brasil em 2011 foi menor em relação
aos outros setores de energia re-
novável. A dificuldade está no custo
de produção. Ainda é a energia mais
cara entre todas disponíveis, e de-
pende de saltos tecnológicos ainda
não realizados para ganhar escala e
competitividade junto às demais fon-
tes. Os maiores entraves à expansão
da energia solar seguem sendo a fal-
ta de incentivos e políticas públicas
que consolidem a indústria e o mer-
cado. Os incentivos dados à energia
eólica por meio do Proinfa e dos lei-
lões, por exemplo, ainda não foram
aplicados à solar.
O Brasil joga fora uma enorme
quantidade de energia elétrica que
poderia ser aproveitada para o seu
desenvolvimento. Segundo o relatório,
as perdas no sistema de transmissão
de energia elétrica no país ultrapassam
20% – um dos índices mais elevados do
mundo. Isso provoca impactos diretos
no aumento da tarifa do consumidor,
associado à ausência de recolhimento
de impostos pela energia não faturada.
PERDAS NA DISTRIBUIÇÃO
20,28% no sistema
eletrico brasileiro. Enquanto
outros países apresentam
perdas muito menores:
Chile 5,6%, Colômbia 11,5%,
Peru 9,3% e Argentina 9,9%.
DESAFIOSÉ impossível eliminar todas as perdas,
mas cortar cinco pontos percentuais
é tecnologicamente viável a partir
de investimentos na manutenção
do sistema: isolar melhor os fios de
transmissão e trocar transformadores
que já esgotaram sua vida útil. Dessa
forma, a perda poderia ser reduzida
e acrescentaria ao sistema elétrico o
equivalente a uma usina hidrelétrica
de 6.100 megawatts, 150% a mais que
a média de Belo Monte de acordo com
cálculos do Instituto de Eletrotécnica
e Energia da USP. Ainda segundo o
instituto, isso poderia ser alcançado
a um terço do custo de produzir um
novo megawatt. A Aneel, contudo,
não dispõe de metas de redução de
perdas técnicas nas empresas de
distribuição e concessionárias de
distribuição de energia.
Conservação
de energia
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 452
FOTOS: 1. DIVULGAÇÃO 2. ISTOCK 3. REPRODUÇÃO 4. FLUVANNA
4.
3.
EXEMPLO QUE VEM DE MINAS
A primeira usina solar fotovoltai-ca para produção de energia em caráter comercial no Bra-
sil entra em operação, este ano, na cidade de Sete Lagoas (MG). Resul-tado de uma parceria entre a Cemig, a Fapemig e a empresa espanhola de painéis fotovoltaicos Solaria, a usina terá capacidade de gerar até 3,3 me-gawatts (MW), o suficiente para abas-tecer cerca de mil residências.
“Será um grande laboratório”, avisa o superintendente de Tecnologia e Al-ternativas Energéticas da Cemig, Ale-xandre Bueno. A energia solar ainda é a mais cara do mercado: cerca de R$ 300 necessários para produzir um MW/hora, contra uma média de R$ 140 para as demais fontes. “O mer-
cado livre não pagaria hoje por essa energia, mas a tecnologia fotovoltai-ca é razoavelmente demandada no mundo e tem avançado rapidamen-te. Nosso objetivo é justamente estar na frente desse processo”. Ele cita o exemplo da fonte eólica, cujo custo de produção chegava a R$ 380 por MW há dez anos. Hoje está em torno de R$ 100, graças aos saltos em tecno-
logia, e é uma das mais competitivas do mercado.
O terreno que abriga a usina tem oito hectares e foi cedido pela prefei-tura de Sete Lagoas. O parque gera-dor está dividido em três unidades. A maior delas, com capacidade para 2,5MW, terá características de uma planta comercial de grande porte. A segunda, com capacidade de 0,45 MW, testará sistemas de médio por-te, como o empregado pela Cemig na reforma do Mineirão. A terceira será voltada essencialmente à pesquisa, composta pelas mais modernas tec-nologias disponíveis hoje no mercado. Os investimentos são de R$ 26 mi-lhões. “Quem não apostar em tecno-logia vai ficar para trás”, destaca.
1MUDANÇAS CLIMÁTICAS
46 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
Quem não apostar em tecnologia vai
ficar para trás
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ÃO
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A NATUREZA QUE
NOS PERDOE
Foi o que lamentaram juntos, e mais uma vez, o Ministério Público (MPMG), a Funda-
ção SOS Mata Atlântica, a Associa-ção Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no último dia 11, em BH, durante solenidade de lançamento do "Atlas de Desma-tamento da Mata Atlântica" no país.
Conforme cruzamento de dados,
mesmo sendo o estado brasileiro com a maior área natural de Mata Atlânti-ca, Minas ainda lidera o ranking dos maiores desmatadores desse bioma, seguido pela Bahia e o Piauí. Na visão da Amda, a situação fica mais grave. Minas ocupa os três primeiros luga-res, pois a produção de carvão para abastecer as suas empresas de ferro-gusa é um dos principais motivos do desmatamento que acontece nestes
Pelo quarto ano consecutivo, Minas continua sendo o estado campeão em desmatamento no país
Hiram Firmino |
1POLÍTICA FLORESTAL
48 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
dois estados. "Estamos envergonha-dos por sermos líder do desmatamen-to desde 2009, sem que o governo tome providência para mudar essa si-tuação", declarou Maria Dalce Ricas, superintendente da Amda. Inúmeras vezes, ela pontuou, a Frente Minei-ra pela Proteção da Biodiversidade denunciou à Secretária Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) a continuação do desmatamento. Que as Superin-tendências Regionais de Regulariza-ção Ambiental (Suprams) estavam fragmentando o licenciamento, be-neficiando, assim, as atividades eco-nômicas, e interpretando as leis de forma desfavorável à fragilidade da natureza e do meio ambiente. "Nada adiantou", desabafou.
Segundo confirmação do próprio Instituto Estadual de Florestas (IEF), as empresas mineiras de ferro-gusa
SERRA VERMELHA devastação no Piauí que chega na forma de carvão clandestino em Minas
FOTOS: 1. ANDRÉ PESSOA-ESP/CB-D.A PRESS | 2. JANICE DRUMOND/ASCOM SISEMA AGÊNCIA BRASIL
1.
MINAS QUE REAGEGoverno suspende autorizações e anuncia ações
de combate ao desmatamento no estadoconsomem carvão vegetal não apenas de diversos estados brasileiros, como até oriundo de outros países, como Paraguai e Bolívia. Nos últimos três anos, entraram para o parque side-rúrgico mineiro cerca de 6.000.000 m³ de carvão provenientes de Goiás, Mato Grosso, Bahia, Tocantis e Piauí. Deste, entraram 740.000 m³ de car-vão fabricados com a derrubada da Mata Atlântica da Serra Vermelha.
"É uma situação que se arrasta há mais de 40 anos. Já houve CPI da Máfia do Carvão na Assembleia Legislativa, denúncias inúmeras do Ministério Público, prisões, acordos e cronogramas para que as empre-sas consumidoras de carvão se tor-nassem autônomas; mas a situação não muda. Elas são tão competentes que deveriam publicar um manual de como burlar leis, continuar des-matando, ridicularizar a fiscalização e se safar de processos judiciais", declarou a ambientalista.
VEXAME NACIONAL No início de maio último, a Polícia Fe-deral e o Ministério Público libertaram 32 trabalhadores que faziam carvão na Fazenda Chapadão da Zagaia, no município mineiro de Sacramento, em condições de trabalho escravo. Segundo as ONGs socioambientais do Piauí, na Serra Vermelha a situação é idêntica.
O Ministério Público Estadual ob-teve, recentemente, duas liminares ju-diciais suspendendo diversas autoriza-ções para derrubada de Mata Atlântica e plantio de eucalipto em municípios do Vale do Jequitinhonha. A empresa Fazendas Vienas Reunidas obteve au-torização para diversos desmatamentos, que chegaram a quase seis mil hecta-res. Na liminar, a justiça suspende as autorizações e determina recomposição da vegetação. Segundo a SOS Mata Atlântica, o desmatamento nessa região é responsável por Minas Gerais liderar o ranking do desmatamento e, desde 2009, a entidade também vem avisando o governo mineiro, sem que providên-cias tenham sido tomadas.
Com o mesmo objetivo de proteger a Mata Atlântica remanescente no ter-ritório mineiro, o secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimen-to Sustentável, Adriano Magalhães, determinou a suspensão temporária dos chamados “Documentos Auto-rizativos de Intervenção Ambiental (Daias)” e das “Autorizações de Inter-venção Ambiental (Aias)” já emitidos pelo Sistema Estadual de Meio Am-biente e Recursos Hídricos (Sisema). A suspensão, na forma de resolução, vale para toda e qualquer permissão já emitida pelo governo referente às atividades de silvicultura em área de Mata Atlântica: “Observamos que 80% das autorizações em curso de supressão de vegetação são relativos à silvicultura no estado. Por isso, adota-mos essa paralisação”, esclareceu.
Ele determinou, ainda, por meio de ofício, a revisão de todos os “Daias” e “Declarações de Colheita e Comercialização (DCCs)” conce-didos pelo Sisema a partir de 2011 para atividades de silvicultura, além da divulgação mensal das concessões de todos esses documentos nos sites do Instituto Estadual de Florestas e da Semad: “Dessa forma, poderemos observar e ser bastante restritivos em relação às autorizações de interven-ção em áreas de Mata Atlântica no estado”, declarou Magalhães.
A partir de agora, garantiu o secre-tário, será feito um acompanhamento mensal das autorizações concedidas
e do monitoramento via satélite reali-zado pela Gerência de Monitoramento e Cobertura Florestal e da Biodiversi-dade do IEF. A ação deflagrará fiscali-zações automáticas em toda as áreas desmatadas indicadas como irregulares. Anunciou, ainda, que será feita fiscali-zação em toda área objeto de desmate segundo estudos anunciados pela Fun-dação SOS Mata Atlântica, seguida de medidas punitivas cabíveis em caso de constatação de irregularidades. “Vamos verificar toda a área de cerca de 11 mil hectares desmatada desde 2011, indi-cada como área de Mata Atlântica, a fim de identificarmos possíveis irregula-ridades”, explicou.
Ainda de acordo com o titular da Se-mad, o governo realizará reuniões públi-cas mensais para divulgação de dados e discussão de assuntos pertinentes ao tema, incluindo a revisão imediata da Resolução Semad 1804/2013, que dispõe sobre os procedimentos para au-torização da intervenção ambiental em todo o estado, visando maior proteção ao bioma.
Outra medida definida é a aplicação, na íntegra, do artigo 17-B da Delibera-ção Normativa (DN) 74/04, que trata do licenciamento ambiental em Minas, do artigo 27-A da lei 14.309/02, que dispõe sobre as políticas florestal e de proteção à biodiversidade no estado, bem como dos § 2º do artigo 1º e artigo 5º do Decreto 6.660/08, que regula-menta a lei 11.428/06, que dispõe sobre a utilização e proteção do bioma .
ADRIANO MAGALHÃES à frente da equipe: “Seremos mais restritivos”
2.
E agora, nosso caro Carlos Drummond de Andrade que, há quase quatro décadas, ao
saber que colegas jornalistas foram barrados e proibidos de caminhar so-bre a Serra do Curral, escreveu:
“Não voltarei a Belo Horizonte para ver o que não merece ser visto, o que merece ser esquecido, se revogado não pode ser”.
Colocando-se na pele daqueles que haviam sido impedidos de atra-
E AGORA,
DRUMMOND?BH resgata a "Travessia da Serra" que, proibida pela mineração durante a ditadura militar, fez o poeta maior do Brasil romper com a capital dos mineiros, chamando-a de "Triste Horizonte e destroçado amor"
| Hiram Firmino
1A TRAVESSIA DA SERRA
vessar a serra, hoje tombada e elei-ta democraticamente o “cartão de visita” mais natural e deslumbrante de BH, seu eu lírico também foi proibido de seguir a travessia que os moradores usavam antes da che-gada da mineração.
“Em vão tento a escalada. Cassetetes e revolvéres me barram a subida que era alegria dominical de minha gente. Proi-bido escalar. Esta serra tem dono. Não mais a natureza a governa. Desiste ou
leva bala. Encurralados todos, a Serra do Curral, os moradores lá embaixo. ”
Pois, hoje, o poeta pode voltar em espírito. Pode subir, atraves-sar e vislumbrar todos os 4,2 qui-lômetros que recompõem o agora liberto, como novo e mais emocio-nante, atrativo turístico para quem nos visita no alto do Parque Muni-cipal Serra do Curral, na extensão do Mangabeiras: a trilha ecológica “Travessia da Serra”. Com altitudes
50 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
2
variando de 1.200 a 1.380 metros, a caminhada exige do visitante es-forço físico e muito cuidado. Mas compensa pelo deslumbramento, diurno ou noturno (em noites de lua cheia a travessia também voltou a ser permitida), da cidade aos seus pés. Traz esperança, pela força de recuperação da natureza, quando respeitada que foi em boa parte do seu retorno.
A travessia é resultado da aliança
política e ambiental entre Belo Ho-rizonte e Nova Lima, que já se auto-denomina o “pulmão verde” da capital mineira. É também uma aliada da mineração hoje responsável e susten-tável da Vale, que sucedeu a antiga, militar e também modificada MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), em tempos idos.
Acredite, Carlos! A Serra do Curral não se tornou um retrato devastado, minerado e dolorido na parede. Pelo
contrário, já há mais consciência polí-tica, atitude verde e reais esperanças. Tal como Dom João VI vislumbrou e fez surgir o hoje Parque Nacional da Tijuca, a maior reserva de natureza preservada dentro de uma área urba-na no país, democraticamente aberto à visitação pública, a nossa travessia maior aqui está apenas começando. E como alegra!
É o que a Revista ECOLÓGICO lhe reporta, nesta edição. Acompanhe!
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 51
PRIMEIROS CAMINHANTES Como os bandeirantes, a redescoberta
de um belo horizonte
FER
NAN
DA
MAN
N
Por que Drummond chamou BH de triste horizonte?
Aqui, alguns trechos do lamento do poeta
| Maria Cristina Bahia Vidigal (*)
Plagiando Gabriel Garcia Marquez, não sei se foi
exatamente assim que aconteceu. Mas é assim que eu
me lembro do episódio do qual fui protagonista e que
narro a seguir. Em 1976, a ditadura militar imperava, as
mudanças aceleradas sequer eram imaginadas e Belo
Horizonte restava provinciana. Eu começava carreira no
jornal “Estado de Minas”. Domingo de sol, resolvemos
subir a Serra do Curral, aventura cultivada desde os
tempos do Colégio Estadual Central. A serra ainda era
nítida no horizonte ao sul da capital pacata; a trilha de
subida permanecia marcada, denotando a presença
intrépida de aventureiros recentes. Começamos a subida
bem cedo, com as adversidades previsíveis - pedras,
insetos, arbustos, mato.
Quase ao topo, talvez uma hora depois, um segurança
armado nos deu uma espécie de “alto lá”. Como assim,
cara pálida, diria o meu amigo Airton Ribeiro, se lá
estivesse, por que não podemos subir? “Isso aqui é da
MBR, vocês estão invadindo propriedade privada”. O
senhor está enganado, a Serra do Curral é da cidade,
sempre subimos e descemos quando assim entendemos,
foi o que retrucamos. “Pois agora não sobem mais”,
decretou o segurança fardado de azul, que a minha
memória reputa como um brutamontes.
"Por que não vais a Belo Horizonte? A saudade cicia e continua, branda: volta lá.
Tudo é belo e cantante na coleção de perfumes das avenidas que levam ao amor, nos espelhos de luz e penumbra onde se projetam os puros jogos de viver. Anda! Volta lá, volta já.
E eu respondo, carrancudo: Não.Não voltarei para ver o que não merece ser visto, o que
merece ser esquecido, se revogado não pode ser.Esquecer, quero esquecer é a brutal Belo Horizonte que se
empavona sobre o corpo crucificado da primeira. Tento fugir da própria cidade, reconfortar-me em seu
austero píncaro serrano. De lá verei uma longínqua, purificada Belo Horizonte sem escutar o rumor dos negócios abafando a litania dos fiéis. Lá o imenso azul desenha ainda as mensagens de esperança nos homens pacificados.
Em vão tento a escalada. Cassetetes e revólveres me barram a subida que era alegria dominical de minha gente. Proibido escalar. Proibido sentir o ar de liberdade destes cimos, proibido viver a selvagem intimidade destas pedras que se vão desfazendo em forma de dinheiro. Esta serra tem dono. Não mais a natureza a governa. Desfaz-se, com o minério, uma antiga aliança, um rito da cidade. Desiste ou leva bala. Encurralados todos, a Serra do Curral, os moradores cá embaixo.
Jeremias me avisa: "Foi assolada toda a serra. Vi os montes, e eis que tremiam, estremeciam. Olhei terra, e eis que estava vazia, sem nada nada nada".
Sossega minha saudade. Não me cicies outra vez o impróprio convite. Não quero mais, não quero ver-te, meu Triste Horizonte e destroçado amor".
Descemos, vencidos. Afinal, os tempos eram duros e
Milton Campos já tinha ensinado que, nas ditaduras, o
pior é o guarda da esquina. Mas não totalmente vencidos.
Indignada, fui para a redação do jornal e fiz a matéria,
publicada com destaque no dia seguinte. Com uma carta,
a matéria publicada foi enviada para o mineiro Carlos
Drummond de Andrade, radicado no Rio.
Aí veio a bomba! Alguns dias depois, o poeta fez um
protesto violento em versos lindos e duros. Baseado
nos fatos narrados na matéria, despedia-se de Belo
Horizonte: “Não quero mais, não quero ver-te, meu triste
horizonte e destroçado amor”. O adeus atormentado
do poeta colocou em polvorosa políticos, autoridades e
empresários; durante muito tempo, batemos com força
na mineradora e na sua arrogância.
Ao fim e a cabo, nada mudou. A serra continuou
interditada e acabou destruída, comida pelas escavadeiras
sedentas por minério. Foi-se a serra, a empresa também
desapareceu, engolida por uma outra, gigante. E ficou para
sempre o lamento do poeta no poema “Triste Horizonte”.
(*) Jornalista e Relações Públicas, com especialização em gestão e planejamento de Comunicação.
Fonte: www.50emais.com.br , site da jornalista Maya Santana.
1A TRAVESSIA DA SERRA
52 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
Tudo se deu no último sábado, oito de junho, marcando o en-cerramento oficial da Semana
Mundial do Meio Ambiente, na ca-pital mineira, realizado em parceria com a Revista ECOLÓGICO. Após dois dias de inesperadas e bem-vindas chuvas, o sol, o céu azul, o parque e a Serra do Curral se abriram agrade-cidos para receber os jornalistas, am-bientalistas e demais convidados do trade turístico.
Com outro compromisso na volta do dia, o prefeito Marcio Lacerda pre-cisou subir de carro, em vez de galgar a pé o primeiro trecho da caminhada até o paredão rochoso que norteou os primeiros bandeirantes na descoberta e criação depois de Belo Horizonte. Mas, antes, o nosso alcaide foi insta-do a se inspirar numa pequena praça que homenageia o seu nome, poeta, logo na entrada do parque. Ali, pôde reler o que está escrito para sempre em uma placa de ferro, que ele mes-mo inaugurou em 2009, durante sua primeira gestão na prefeitura . Elas explicam o sentido e a história de tudo. Nela há trechos do poema “Tris-te Horizonte”. Na outra parte, resgate que Drummond instigou:
“Aqui é o início. O parque vem res-gatar este patrimônio. A natureza nova-mente governará a Serra do Curral”.
Mil metros acima, passando pelo horror do passivo ambiental da Mine-ração Lagoa Seca, situação até hoje postergada e não resolvida pela PBH, em termos de uma solução constru-
tiva e ecológica, o Marcio Lacerda encontrou-se descontraidamente com os jornalistas e ambientalistas. Foi no Mirante do Parque, onde descortina e se deslumbra toda Belo Horizonte.
Dali caminhou , em um ato simbó-lico, até o segundo ponto da trilha, de onde já se vê todos os arredores da serra, em uma circunferência geográ-fica completa, a perder de vista. Um verdadeiro observatório do que existe de urbanidade e o que restou da paisa-gem natural ainda linda e montanhosa em quase toda a região metropolita-na. Do lado esquerdo da serra, o que Lacerda também pode comprovar, já passados quase 40 anos do “destroça-do amor” de Drummond?
Primeiro, que já não existem mais brutamontes fardados a impedir o ca-minho; e sim guias de turismo bem preparados, treinados e satisfeitos. Não para proibir, mas para mostrar toda a maravilha da recuperação ambiental que a natureza, sozinha e respeitada, é capaz de fazer. Princi-palmente, quando tem ajuda da mão e tecnologia humanas.
A trilha segue e termina no Parque das Mangabeiras. Pra quem não sabe, até a época dos prefeitos biônicos no Brasil, nesta área verde, então desco-nhecida pela população e pela opinião públida, abrigava-se uma mineração ainda rudimentar chamada Ferrobel. Ela era de propriedade da própria pre-feitura que, ao em vez de preservá-la, tinha outro e obscuro plano reservado a ela, já comum na época, o de substi-
A trilha ecológica "Travessia da Serra"
foi aberta à visitação, informalmente,
em setembro de 2012. O que a Belotur
promoveu agora foi apresentá-la
oficialmente ao mundo turístico e
ambientalista, para que ela seja mais
conhecida e visitada. De setembro pra
cá, houve apenas uma mudança: a
trilha começava na Praça de Encontro,
no sopé da serra, e ia até o Parque das
Mangabeiras. Devido a um problema
de desmoronamento na ex-cava de
mineração da Vale, ainda em processo de
recuperação ambiental, a PBH interditou
um trecho, temporariamente, por
questões de segurança. Mesmo com isso,
os turistas ganharam. A trilha original
tinha 2,3 km de percurso e, agora, tem
4,2 km. Isso significa que a permanência
na crista da serra é maior. Da portaria
do parque até o chamado Mirante 3 ou
Praça do Encontro, a trilha é liberada
para qualquer turista. Já dali em diante,
é preciso o acompanhamento de guias
monitorados, que saem três vezes por dia,
com grupos de até 20 pessoas. O passeio,
gratuito, dura cerca de três horas. Ao
todo, são 10 guias, sendo um bilíngue.
O parque conta com uma estrutura
composta por banheiros, bebedouros,
praça para alongamentos e
equipamentos de ginástica. Existem
oito mirantes. A partir deles, diferentes
pontos de BH e além da Região
Metropolitana podem ser contemplados.
Com mais de 125 espécies de aves, ele
fica aberto de terça a domingo, das 8h às
17h, com entrada permitida até as 16h,
a partir da Avenida José do Patrocínio
Pontes, 1.951 (Praça Estado de Israel),
no Mangabeiras. O agendamento das
caminhadas é feito pelo site www.
parqueserradocurral.com.br
Mais informações: (31) 3277-8100
COMO DESLUMBRAR-SE
RESGATE O antes e depois na Praça Carlos Drummond de Andrade, na entrada do Parque
2JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 53
2.
FOTOS: 1. ROGÉRIO REIS - TYBA 2. FERNANDA MANN
tuir o seu verde natural: implantar um grande loteamento no lugar das árvo-res, da fauna e nascentes correndo li-vres e límpidas cidade abaixo.
O plano, a imprensa alardeou de-pois, era perfeito. E só não deu certo por causa de um único herói e már-tir ao mesmo tempo. Um funcionário público, magro, ranzinza, arredio e in-dignado como você, caro Drummond.
Ele se chamava Bolívar Miranda. Era um chefe sem força e prestígio do an-tigo Departamento de Parques e Jar-dins, o logo famoso “DPJ”, que mais tarde virou o embrião da atual Secre-taria Municipal de Meio Ambiente, então ligado à Secretária Municipal de Serviços Urbanos.
Quando ficou sabendo da intenção loteadora e desecológica da prefeitu-
ra, bastou esse homem atravessar a Rua Goiás onde o jornal “Estado de Minas” ficava. Bastou-lhe repetir o gesto, a poucos metros dali. Atraves-sar Bahia e subir Goitacazes, onde ficava o gabinete e trincheira de luta do dr. Hugo Werneck, então presiden-te do Centro para a Conservação da Natureza em Minas Gerais. Pronto: a denúncia corajosa que ele fez ao
“VITÓRIA DO BOM SENSO”
"A Serra do Curral é parte
importante da identidade dos
cidadãos belo-horizontinos. Não
é possível imaginar esta cidade
sem este monumento natural,
pelo significado que ele tem. Por
seu aspecto histórico, de lazer e
também por sua beleza. Lembro,
ainda, que a preservação da Serra
é uma vitória da "sensibilidade
e do bom senso", uma vez que
esteve ameaçada de desaparecer
do nosso horizonte na década de 70
em função de trabalhos realizados
na região pela mineração. Todos
nós gostamos de viajar e curtir
a natureza. Quando estamos no
exterior, sempre visitamos o
local mais alto da cidades onde
vamos, para vislumbrá-las melhor.
Precisamos, pois, divulgar para
a nossa população e os nossos
visitantes que aqui também
temos um ponto bonito, do qual
devemos nos orgulhar, de onde se
pode avistar o horizonte dos dois
lados da serra. Peço a todos, que
tragam seus amigos e familiares.
E aos operadores de turismo, que
incluam este novo produto em seus
guias e roteiros".
Marcio Lacerda, prefeito de BH
1A TRAVESSIA DA SERRA
54 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
“Grande Jornal dos Mineiros” e as consequências esperadas repercuti-ram tal como a bomba causada pelo poema de Drummond na imprensa.
Sem padrinho político, Bolívar foi despedido sumariamente. A última notícia dele é que abandonou o servi-ço público e se refugiou em si mesmo, numa outra serra chamada Itatiaiuçu, a 70 km de BH, onde nasceu.
O QUE ACONTECEU?O prefeito seguinte, chamado Mau-rício Campos, querido por ser do bem e, lato senso, bastante popular, fez o que ninguém imaginava. Ado-tou a causa ambiental, que ainda tinha pouca expressão na época. E no lugar da mineração e do grande loteamento previsto pelo seu ante-cessor, de mais espigões na paisa-
gem mais altaneira da capital, ele anunciou a criação de um novo par-que para a cidade: Parque das Man-gabeiras, com mais de dois milhões de metros quadrados, hoje a maior, mais recuperada e preservada área verde de Belo Horizonte. Ele e Jorge Norman, então presidente da Belo-tur, foram literalmente carregados nos braços da população, no dia da inauguração do parque.
Quem hoje fizer a Trilha da Traves-sia e, lá do alto da serra, olhar o par-que e a cidade confirmará facilmente que essa foi e será sempre a melhor escolha para a melhor qualidade de vida de todos nós.
A caminhada continou, Drum-mond. Ao sul da serra, o prefeito Lacerda vislumbrou outra realidade ambientalmente reconstituída, um pouco diferente e melhor, felizmen-te, do que a jornalista Maria Cristina Bahia viu e relatou à época:
“Ao fim e a cabo, nada mudou. A serra continuou interditada e acabou destruída, comida pelas escavadeiras sedentas por minério. Foi-se a serra, a empresa também desapareceu, engo-lida por outra, gigante”.
FINAL DIFERENTEGraças aos demais veículos de co-municação que também abraçaram a defesa da serra, essa novela não terminou bem assim. Houve capítu-los novos no entremeio e no depois. A lembrança da antiga e ditatorial MBR, anterior ao advento, trazido pela ECO/92, da consciência ecoló-gica e de um mundo em desequilí-brio, quase não existe, guarda pou-cos vestígios. De tanto a imprensa e a opinião pública reclamar dela, por ter cortado o perfil da serra e altera-do o clima então ameno da capital mineira, não teve outro jeito. A pró-pria mineração, antes de virar Vale, mudou sua postura, abriu-se para o debate e abraçou a causa crescente ao seu redor.
Graças à MBR e à Vale juntas, a Mata do Jambreiro, a exemplo do Par-que das Mangabeiras, hoje incensada como a maior e mais preservada por-
DESLUMBRAMENTO No mirante do
Parque, a melhor vista da capital mineira
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 55
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Começo minhas palavras com um documento histórico:
"A Mineração Hana corporation Ltda. remeteu à Diretoria do
Patrimônio Histórico Artístico Nacional cópia do memorial que
dirigiu ao Senhor Governador do Estado de Minas, e no qual
procura justificar a necessidade de proceder à lavra de pequena
parte da crista da Serra do Curral, sem prejuízo para o Palácio
das Mangabeiras, para os mananciais de água potável de BH
e para a beleza da Paisagem". Mais adiante diz o texto: "A
preservação só pode ser obtida e assegurada
pelo tombamento da Serra, que é medida
prevista no Decreto Lei nº 25, de 30/11/1937".
Essas palavras foram escritas por um
homem franzino, mas que se agigantava com a
caneta na mão e foi uma das primeiras vozes
a se levantar pelo tombamento do conjunto
paisagístico da Serra do Curral. Refiro-me ao
poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade
que, em 1959, 13 anos antes da primeira
Conferência Mundial sobre Desenvolvimento
e Meio Ambiente, em Estocolmo, teve uma
visão profética da preservação dessa Serra.
Por essa razão, a praça de entrada do Parque
recebeu o seu nome, uma homenagem mais ao
ambientalista que ao poeta.
Em 2001, funcionários do Parque das Mangabeiras
preocupados com a preservação da Serra do Curral entenderam
que a melhor forma de protegê-la das diversas agressões seria
implantar um outro parque ao lado, onde se vislumbra todo
o seu conhecido paredão rochoso, avistado pela população. A
ideia, felizmente, frutificou.
Em setembro de 2012, o novo parque foi aberto ao público.
Nesses já nove meses de visitação, seja pela sua beleza
natural, seja pelo seu moderno modelo de gerenciamento
e boa estrutura, tem arrancado rasgados elogios dos
frequentadores.
Diante disso, a prefeitura, por meio da Belotur e da Fundação
de Parques Municipais, achou oportuno lançar oficialmente
esse novo produto ao trade turístico, para que os turistas que
nos visitam conheçam essa atração, de importância histórica
e beleza incontestável. O nome escolhido, por consenso, foi
Atrativo Turístico Trilha Ecológica "Travessia
da Serra".
Nós não queremos parar aqui, mas sonhar
um pouco mais, fazendo coro a centenas de
manifestações de visitantes. Se o passeio
diurno ali já é arrebatador, a caminhada
que também iremos implantar, doravante,
em todas as noites de lua cheia, é de tirar
o fôlego. Ver toda Belo Horizonte iluminada
ao sopé da serra é um deslumbre que
tem de ser compartilhado por mais olhos.
A maravilha dessa visão privilegiada não
poderia mais ficar restrita a poucos que já
conhecem e amam a serra.
Com o apoio da Revista ECOLÓGICO
na divulgação e, em busca de um
patrocinador, já estamos formatando mais esse produto
turístico, a Caminhada da Lua Cheia. O que estamos
democratizando aqui para a população são duas novas
atrações ecologicamente corretas, que muito nos ajudarão
na divulgação desse formidável e maravilhoso patrimônio
natural que o poeta nos ajudou a preservar.
Homero Brasil, presidente da Fundação de Parques
Municipais de BH
A lembrança, também lunar, de Carlos Drummond
1A TRAVESSIA DA SERRA
56 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
2.
ção de Mata Atlântica em toda região metropolitana de BH, acha-se intacta. Exatamente o contrário do que acon-teceu em praticamente todo o seu entorno, no município de Nova Lima, como resultado das ocupações verti-cais e horizontais, na forma de novos bairros e condomínios.
Até o que era a sua barragem de rejeitos, vista do alto da trilha, hoje parece um campo de golfe, de tanto verde e espécies pioneiras re-cuperando a vegetação original. As pilhas de estéril da extinta Mina de Águas Claras, também não são percebidas mais. Sumiu quase tudo na reabilitação arbórea realizada por ambas as minerações.
A trilha só não leva, temporaria-mente, até um ponto de onde se po-deria avistar a cratera provocada pela mineração por uma questão de tempo e segurança. Houve um deslizamento recente de encosta, o que está sen-do reconstituído paisagisticamente, dentro de um grande projeto, em im-plantação pela Vale, de recuperar e revegetar todo o dorso sul da serra, ao redor do seu lago artificial, ainda em enchimento. A proposta final, como no Mangabeiras, é jamais notar que existiu uma mineração ali, cuja ativi-dade social, por meio de geração de empregos, necessidade econômica e recuperação ambiental hoje são con-sideradas sustentáveis.
Foi isso, Drummond, o que o pre-feito Lacerda e a imprensa atual pu-deram constatar na inauguração da “Travessia da Serra”, a nova atração
turística-ecológica da Serra do Curral, já feita desde o início da Terra pela própria natureza. Uma travessia que não mais pertence aos municípios de BH e Nova Lima, muito menos à Vale. Mas, por meio delas, à toda a humanidade visitante.
Lembra do que Guimarães Rosa nos fala no final do “Grande Sertão: Veredas”? Que não existe nem bem nem mal, nem Deus nem o diabo. Apenas a experiência humana sobre o planeta, travessia e ponto final?
Com a questão ambiental, da qual você foi nosso mais valio-so precursor mesmo sem saber, acontece a mesma coisa. Nela, não cabe preconceitos nem prejul-gamento. Não existem mocinhos nem bandidos. Somos todos degra-dadores, aprendizes e reconstruto-res ao mesmo tempo. O que nos diferencia, entre nós mesmos, não é a nossa maldade nem o prazer e a violência que gostamos de prati-car, quando subjulgamos e destruí-mos a natureza de alguma manei-ra. Mas o nosso grau de ignorância perante ela e o amor maior que Hugo Werneck pregava:
“Somente o nosso contato com a natureza, com algo maior, é capaz de nos reensinar o amor ao planeta e a nós mesmos.”
Pode voltar a Belo Horizonte, poe-ta. Na nossa Serra do Curral del-Rei você verá algo que merece ser visto, o que merece ser reconsiderado e revogado já foi.
Sei que me cicia a irmos juntos, de mãos dadas. Com todo o sentimento do mundo e os olhos sempre desconfiados, mineiros que somos. Tristes e orgulho-sos: “90% de ferro nas calçadas, 80% de ferro nas almas”.
Mas venha, que tal convite não é impróprio. A indignação de Maria Cristina Bahia nos acompanhará vigilante. Podemos estar engana-dos na nossa ingenuidade de ainda acreditar e apostar nas pessoas. Mas pressinto que o início dessa cami-nhada realmente já começou. E isso é bom! Encurralados ainda estamos, mas pela serra em verde. Não pela
degradação, hoje contida e reverti-da. Mas pela sua beleza.
Mesmo triste e engajada, a poesia venceu. Você venceu a própria morte. Por causa da perenidade e do jorna-lismo de seus versos, a natureza tra-vessa, não mais sozinha, desvalorizada e incompreendida, parece novamente governar a serra.
"A partir desta trilha, se a
gente lançar um olhar sobre
esse horizonte, vemos os picos
que orientaram os primeiros
colonizadores de Minas Gerais.
Pelo Pico do Itacolomi, chegou o
bandeirante Antônio Dias, em 1698,
e iniciou a Vila Rica que deu origem
a Ouro Preto. O Pico do Itabirito
orientou a chegada dos bandeiras
que ocuparam toda a região à volta
da cidade de mesmo nome. E a
Serra do Curral, no princípio do
século XVIII, definiu a localização
da Vila do Curral Del Rey que, todos
sabem, originou Belo Horizonte.
Ou seja, estamos de volta ao
começo. Digo isso, também, para
mostrar a importância do poema
de Carlos Drumond de Andrade
e do movimento que foi feito
para preservar esse monumento
que tem elementos geográficos
e históricos fundamentais para
entendermos de onde viemos
e como tudo começou. Isso
aqui é pura história, beleza e
contemplação. É uma maravilha
que os mineiros e os não-mineiros
precisam descobrir".
Mauro Werkema, presidente da
Belotur
DE VOLTA AO COMEÇOIsso aqui é pura
história, beleza e contemplação. É uma
maravilha que os mineiros e os não-mineiros precisam
descobrir
“
”
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 57
3.
FOTOS: 1-2. FERNANDA MANN 2. BRENO PATARO
COM TANTA GENTE, O PLANETA FICA DOENTE
Esta é a fórmula explosiva com a qual estamos lidan-do, qual um "timer" de uma bomba prestes a fazer tudo voar pelos ares. Sem querer ser alarmista, mas
talvez já sendo, o fato é que não há como nos preocuparmos com a preservação ambiental simplesmente desconsiderando o descontrole com que a população mundial tem crescido. As taxas são alarmantes. No caso dos países subdesenvolvidos e do Brasil, o aumento foi maior ainda. Em 1872, no primeiro recenseamento brasileiro, éramos aproximadamente 9,9 mi-lhões de pessoas. Chegamos a 2011 com uma população 20 vezes maior no país.
A verdade é que a superpopulação força a utilização preda-tória dos recursos renováveis e não renová-veis. A Terra cobra seu preço à medida que vem sendo ocupada. “Discurso catastrófico”, dirão os pretensos otimistas, apoiados na hi-pótese de adesão cada vez maior da socieda-de à sustentabilidade e às tecnologias verdes.
Mesmo com modelos de desenvolvi-mento que prezem pela sustentabilidade, ainda assim, cairíamos em uma encruzi-lhada, se não trabalharmos por mudanças em nossa civilização.
Pensem nos seis bilhões de habitantes dos países subdesenvolvidos que, por serem po-bres e sem instrução básica suficiente, são presas fáceis dos caudilhos populistas, mas que também dese-jam um padrão de consumo semelhante ao da parcela de um bilhão dos que mais consomem no mundo.
O que será do planeta se a previsão de nascimento de mais sete bilhões de pessoas nas próximas sete décadas for concre-tizada? A atividade humana poderá crescer 16 vezes. E, caso isso ocorra, poderemos ter um aumento de temperatura no planeta de vários graus Celsius, reduzindo a área habitável da Terra em face do degelo dos glaciares e dos polos, que au-mentarão o nível dos oceanos e mares.
Claro que quando nos referimos ao problema dessa forma, não queremos dizer que as pessoas não possam ter direito de usufruir de todo o progresso humano que seja possível. Tampou-co que estejamos contra as pessoas. Muito pelo contrário. É por prezar os seres humanos em toda a sua plenitude, potencialida-de e direitos a uma vida digna, pertencentes a uma nação que
os acolhe e oferece o que merecem de melhor, é que defendemos a ideia de um mundo sustentável para todos que nele vivem.
Mas há que se considerar a grande irresponsabilidade dos governos em não se preocuparem com o crescimento desor-denado da população, sobretudo os daqueles países que não podem oferecer a seus cidadãos condições de desenvolvimen-to em saúde, segurança, educação, lazer, para dizer o mí-nimo. Não há efeitos positivos quando as nações se tornam reféns desse brutal crescimento populacional, que pressiona o planeta e leva à exaustão os recursos naturais não reno-váveis. Com o excesso de consumo, desperdício e mau uso dos recursos, caminhamos rumo à perda da biodiversidade,
extinção de espécies, desertificação, acidifi-cação dos oceanos e de chuvas, escassez da água, poluição do ar atmosférico e altera-ções climáticas. E isso já está acontecendo. Basta ver as informações dadas diariamente pelos noticiários. Estão em curso no planeta transformações graves que resultarão (e já resultam) em diversos desastres ambientais.
O preocupante é ainda perceber que não existe, salvo raras exceções, entre os líderes mundiais neste momento, consciência ade-quada para evitar essas graves consequên-cias sobre a humanidade.
É prova disso o resultado negativo da Rio+20, que só se prestou a atender problemas secundários setoriais de importância menor, tratados por dezenas de dife-rentes grupos de pressão corporativa.
A fatura, infelizmente, virá bem mais rápido do que preve-mos, se não entendermos já estamos ultrapassando os limites da capacidade do planeta. O tempo do olhar estreito ou das medidas isoladas, como se o que se passasse na vizinhança nada tivesse a ver conosco, acabou faz tempo. O mundo cla-ma por políticas globais. Por isso, a sustentabilidade ambien-tal, aliada à atenuação do aumento populacional, transfor-ma-se em uma questão de sobrevivência de nossa civilização. Não podemos deixar que nossos filhos e netos sejam os res-ponsáveis por pagar essa conta.
Recursos naturais limitados e elevado número de pessoas no planetaJosé Olavo Mourão Alves Pinto* |
1ARTIGO
* Empresário e autor do livro "O Direito de Bem Nascer"
O que será do planeta se a previsão
de nascimento de mais sete bilhões de pessoas nas próximas sete
décadas for concretizada?
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58 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
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A utilização dos incensos pelo homem remonta ao início de sua própria história. A atração
pelos aromas das plantas, madeiras, flores e resinas sempre acompanhou a caminhada evolutiva humana, que se utiliza dos incensos em cultos reli-giosos e ritualísticos, como oferenda ou ponte de acesso a uma consciên-cia superior.
Pois foi a partir dessa observação e pelo gosto apaixonado de me envolver com as plantas de nosso cerrado, que segui viagem com minha companhei-ra Cristina até o outro lado do mundo, mais precisamente em terras india-
Aromas do CERRADO
nas. A ideia era buscar informações de como produzir um incenso natural, atóxico, utilizando e manejando os re-cursos naturais encontrados em nos-sa região. Mas a realidade ambiental com que nos deparamos na Índia foi
assustadora e esse grande desafio foi relatado aqui na ECOlÓGICO numa série de cinco reportagens intituladas “Especial Índia”, nas edições do se-gundo semestre de 2010.
De volta ao sossego de meu sertão, lembro-me nitidamente daquele sá-bado no final de março de 2010. Le-vantei-me cedo com uma disposição incomum, pois finalmente daríamos início às ações de levar aos morado-res da comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) um pouco mais de cidadania e desenvolvimento social, com a possibilidade da criação de uma unidade de fabricação arte-
Incensos produzidos artesanalmente, geram trabalhoe renda na região do Alto do Vale do Jequitinhonha
ECOLÓGICO Edição 22 trazia um especial
sobre a Índia,seus incensos e cultura
1TECNOLOGIA SOCIAL
| Marcos Guião
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60 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
sanal de incensos. A expectativa era de adaptar o conhecimento e a expe-riência obtida no oriente, à realidade do cerrado existente no alto da Serra do Espinhaço.
TRÊS REQUISITOS BÁSICOSCom a mente abarrotada de infor-mações e o coração cheio de alegria, demos início ao trabalho de pesquisa na natureza ao redor da comunida-de. Para o melhor entendimento de como se produz um bom, incenso é necessário compreender que ele de-verá atender a três requisitos básicos: ter um aroma agradável, uma massa coesa e queimar completamente o palito sem interrupção. Adaptar essa formula básica e simples, utilizan-do recursos naturais renováveis em nossa região, demandou três longos anos de muita pesquisa e experimen-tação, contando com apoio de ami-gos, alunos, profissionais de áreas da química e farmácia, parcerias com universidades, além de uma intensa troca de saberes com os moradores de nossa comunidade.
Durante os processos de escolha da matéria-prima a ser usada, procuramos observar algumas regras que gerassem o menor impacto ambiental possível. Coletivamente o grupo construiu al-guns critérios que nortearam a escolha das espécies utilizadas, com especial atenção à eficiência, à parte da planta a ser utilizada, sua capacidade de re-generação, à população de cada uma delas na região, além da obediência de procedimentos mínimos de manejo
sustentável. E foi assim que, aos pou-cos, o entendimento da necessidade de buscar o equilíbrio entre a natureza e a interferência humana, deixou de ser uma ideia distante para se tornar uma vivência cotidiana.
Inicialmente a investigação dos muitos aromas existentes no cerrado deu uma travada, pois precisávamos de um equipamento que realizasse a extração dos perfumes e aí paramos no alto custo de um destilador. A solução encontrada foi desenvolver um modelo artesanal de destilador de óleos essenciais, eficiente e bem mais em conta. Depois de muitas pesquisas, acertos e erros, hoje essa técnica artesanal de obtenção de óleos essenciais já é repassada a ou-tros grupos ou pessoas interessados na possibilidade de realizarem uma extração caseira com um custo infi-nitamente menor.
Paralelamente a essa conquista, o grupo, cativado pelo projeto, deu iní-cio ao levantamento de quais seriam as plantas existentes na região que po-deriam ser aproveitadas. Listamos as características de aroma, cola e quei-ma, enumerando livremente as espé-cies sugeridas por todos. Em seguida, saímos a campo para avaliar qual o ta-manho do estrago que o uso daquelas plantas poderia provocar no delicado equilíbrio da natureza. Aí muitas de-las foram retiradas da lista, quando, por exemplo, a parte a ser utilizada era a raiz ou só existia uma pequena população na comunidade. Finalmen-te, chegamos a um consenso de quais seriam essas espécies.
Frequentemente temos repassado essa experiência prática por meio de treinamentos realizados aqui em São Gonçalo do Rio das Pedras (MG) aos interessados em aprender como fa-bricar seu próprio incenso. A ideia é que outros grupos de regiões e biomas diferentes possam buscar os recursos naturais em suas terras para desenvol-ver novos aromas e experiências.
SAIBA MAIS (38) 8823-6119
Depois de muitas pesquisas, acertos
e erros, hoje a técnica artesanal
de obtenção de óleos essenciais já é repassada a outros grupos ou pessoas
“
”
2
A Candeia (Eremanthus erythropa-ppus) é a mais utilizada, pois essa
arvoreta medra em profusão pelos
altos do Espinhaço. Tradicionalmente
é utilizada como poste de cerca devi-
do a sua grande resistência à água.
Quando levada ao fogão de lenha, tem
queima fácil e desprende um suave
aroma originado do óleo essencial de
alto valor comercial (alfa-bisabolol)
que corre em suas entranhas.
Inicialmente tentamos a Mutamba
(Guazuma ulmifolia), mas a descoberta
do Lobo-lobô (Persea rufotomentosa)
foi um achado inigualável. Sua frágil
entrecasca é empregada tradicional-
mente na culinária local para engros-
sar o feijão, o caldo do frango ao molho
pardo. Pois a tiramos da cozinha, e a
levamos para a manufatura dos incen-
sos. Em algumas regiões também é
conhecida como Quilombo, talvez por
ter sido usada pelos escravos na ten-
tativa de engrossar o caldo dos poucos
alimentos disponibilizados pelos se-
nhores de então.
Plantas que dão consistência e ajudam na queima
Plantas que colam
Aromas utilizados
CANDEIA
LOBO-LOBÔ
1TECNOLOGIA SOCIAL
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62 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
Existem muitas espécies aromáticas
pelos campos do Espinhaço e algumas
delas ainda estão em experimentação.
As utilizadas atualmente são o Capim
Nagô, o Rosmaninho (Lippia rotundifo-lia), a Amesca (Protium heptaphyllum) e
o Limão Cravo (Citrus x limonia), todas
elas, plantas de fácil manejo, algumas
com reprodução rápida, outras com
brotação exuberante depois de uma
poda adequada. Essas plantas forne-
cem um óleo essencial puríssimo, que
quando incorporado à massa dos in-
censos, determina a fragrância de cada
um. A exceção é a Amesca, também
conhecida como Breu Branco, da qual
a parte utilizada é uma resina encon-
trada incrustada no tronco das árvores
que preferem os ambientes úmidos das
margens de córregos e rios.
Plantas que cheiram
Fazer incensos requer algum conhecimento e muito treinamento. O conhecimento é
das plantas a serem utilizadas para compor o tripé: aroma, cola e queima, além de
uma planta para dar consistência à massa. Para enrolar a massa nos palitos é neces-
sário treinar um bocado, pois de primeira não é muito fácil.
“Como Fazer”
1 Comece transformando todas as
plantas colhidas num pó bem fino e
reserve.
2 Faça a extração dos óleos essen-
ciais das plantas que você vai usar e
também reserve.
3 Prepare um pouco da tintura das
mesmas plantas utilizadas como aro-
matizadoras e, mais uma vez, reserve.
4 Pegue três partes do pó da planta
escolhida para ajudar na consistência
da massa (Candeia).
1 Misture o óleo essencial escolhido com a tintura da mesma planta numa proporção média de 1:3, sendo uma parte de óleo
essencial e três partes de tintura. Isso pode variar de acordo com a composição do óleo essencial utilizado, pois cada um deles
tem uma consistência mais ou menos densa. Quanto mais espesso, menos óleo essencial deverá ser utilizado e quanto mais fino,
mais quantidade deverá ser misturada à tintura.
2 Deixe os palitos secarem de um dia para o outro e, com a massa ainda úmida, misture o óleo essencial com a tintura e despeje
numa vasilha de inox, mergulhando em seguida as varetas nessa mistura. Retire rapidamente e coloque para secar em local fres-
co, ventilado e protegido da luz solar direta, por aproximadamente 48 horas. Em seguida, embale para que os incensos permaneçam
perfumados por mais tempo. Hoje já temos embalagens desenvolvidas em papel reciclado, além da opção do caniço de bambu com
tampa de rolha.
AROMAS
MASSA
5 Acrescente duas partes da planta que
cola (Lobo-lobô) uma parte de carvão e
uma terça parte de salitre.
6 Misture tudo numa vasilha inox e
acrescente água aos poucos, até ob-
ter uma massa consistente, semelhante
a uma massa de biscoito.
7Em seguida, enrole pequenas porções
dessa massa nas varetas.
Está pronta essa etapa, mas ainda falta
incorporar os aromas, que é um trabalho
mais delicado
LIMÃO CRAVOAMESCA
ROSMANINHO CAPIM NAGÔ
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 63
INFORME PUBLICITÁRIO
Em 1997, quando conceitos de “sustentabilidade” e “respon-sabilidade ambiental” eram
pouco conhecidos pela maior parte das pessoas, o grupo Bom Jesus - em-presa líder no ramo de materiais de construção civil no Triângulo Mineiro – começou a se preocupar com a des-tinação correta dos resíduos gerados por sua atividade. O gestor João Gil-berto Resende conta que “fazia parte da cultura da região” deixar restos de materiais, como areia e brita, nas cal-çadas. Aos poucos, eles perceberam o problema que isso causava, espe-cialmente, na época das chuvas com o entupimento das bocas de lobo e o comprometimento da rede pluvial.
Empenhados em encontrar uma solução e, motivados pela Resolução 317 do Conama (Conselho Nacional
responsabilidade do proprietário da construção a destinação correta dos resíduos da obra, eles decidiram arre-
gaçar as mangas. Foi aí que a empresa implementou o serviço de caçambas para recolhimento dos resíduos gera-dos pelas obras e tornou-se também especialista no ramo. Mas era pou-co. Impulsionado por valores como respeito pela natureza, pelo ser hu-mano e pelo direito à cidadania, João Gilberto contratou uma empresa de consultoria técnica, sob coordenação da consultora Roberta Pennisi. Juntos, eles montaram equipes multidiscipli-nares e iniciaram uma verdadeira re-volução na empresa.
RECONHECIMENTOO esforço tem sido recompensado pelo aumento da produtividade, dos lucros e por uma maior satisfação dos funcionários com o próprio desempe-nho e também por contribuírem para a não degradação ambiental. Além, claro, dos prêmios que não param de chegar. Um dos mais recentes veio do Sebrae: o Prêmio de Práticas Susten-
táveis. A láurea é concedida a todas as empresas que se destacam na adoção de medidas que evitam a degradação e poluição do nosso planeta. “Sinto-me honrado com esse reconhecimento por uma instituição de tanta respeita-bilidade, como o Sebrae. Sem dúvida, é um grande incentivo para continuar-mos nossa jornada.”
HISTÓRIA DA EMPRESATudo começou em 1984 quando os empresários Olavo Fernandes Peixo-to e João Pereira de Miranda uniram suas empresas que não contavam com mais de 20 funcionários. A sede, na Rua Niterói, na região central de Uberlândia, tinha pouco mais de 700 metros quadrados. “Mal cabiam os ca-minhões”, lembra João Gilberto, que, na época, era o gerente de vendas.
produção e os serviços oferecidos e foram se adequando às necessidades do mercado. Hoje, além da Bom Jesus
GRUPO BOM JESUS É DESTAQUE EM INOVAÇÃO
Empresa do triângulo mineiro diferencia-se com postura sustentável
O GESTOR JOÃO GILBERTO: “GOSTO DE OLHAR NOS OLHOS DAS PESSOAS. É FUNDAMENTAL QUE MEUS FUNCIONÁRIOS ESTEJAM FELIZES”
FOTOS: MAURO MARQUES
Extração Mineral Ltda., fazem parte do grupo: as empresas Porto de Areia Bom Jesus Ltda, Porto Miranda Ltda, Bom Jesus Locação de Caçambas Ltda e Areia Miranda Ltda, totalizando 113 colaboradores diretos.
Estes se dividem entre a entrega do material de construção e a retirada do entulho da obra por meio da locação de caçambas, mantendo o local limpo e organizado. A prática evita descartes nas vias públicas e danos à rede plu-vial. As caçambas recolhidas passam por uma triagem, em que os materiais são separados e têm destinação re-gulamentada, reduzindo o volume de descarte no ambiente.
Madeiras, plásticos, metais, ferro, blocos de concreto, telhas, tijolos e outros são separados, selecionados e acondicionados adequadamente para serem reciclados. Assim, apenas resí-duos inertes são utilizados na recupe-ração de áreas degradadas; reduzindo, por exemplo, o impacto de erosões, como o das voçorocas conhecidas no município de Uberlândia desde 2004.
Outra preocupação da empresa é a realização constante de treinamentos, cursos e palestras com o objetivo de aperfeiçoar as condições de trabalho
nos cuidados relativos ao meio am-biente. Todos os funcionários recebe-ram (e ainda recebem) ajuda de custo para ampliarem seus estudos; para se tornarem mais atentos aos cuidados com a própria higiene e aparência, com a família e a com a forma com que se relacionam com os colegas de trabalho. “Essas ações fazem parte de um programa denominado Ser Tudo de Bom”, explica Roberta.
FUNCIONÁRIOS-MODELOTodos os funcionários da Bom Jesus estão envolvidos, de uma forma ou de outra, na implantação da coleta seleti-va de materiais, com a adequada des-tinação de resíduos; o consumo cons-ciente, a racionalização do consumo de energia elétrica e de água nas ope-rações internas; a redução do uso de recicláveis; a destinação de resíduos derivados do transporte; a recupera-ção da mata ciliar em áreas de extra-
ção; a limpeza e conservação das ruas no entorno da empresa e manutenção das árvores e jardins dos canteiros da via pública. Além disso, a frota de car-ros da empresa adota sistemas de ro-teirização para reduzir o consumo de combustível e a emissão de poluentes.
CERTIFICAÇÃO ISOO bom momento vivido pela empresa
que é um conjunto de normas técnicas que norteiam um modelo de gestão de qualidade para organizações em geral. João Gilberto acredita que eles já este-jam num processo bastante adiantado no que se refere aos processos em si.
para a prática, quebrando tabus, para-digmas e antigos conceitos. “É preciso convencer as pessoas de que é possível fazer diferente. E, nesse sentido, nosso foco são os líderes de setor que, na-turalmente, são multiplicadores e for-madores de opinião.” Roberta Pennisi acrescenta que o processo de adequa-ções internas inclui a expansão e mo-dernização da sede. “A empresa que não se se tornar sustentável vai perder em competitividade, porque o consu-midor já começa a exigir valor agregado nos produtos que consome”.
João Gilberto tem a mesma opinião. Segundo ele, a história de uma em-presa descompromissada com o meio ambiente é curta, porque as leis estão bem mais severas e a sociedade, mais
bem informada, cobra mais seus direi-tos”. Pessoalmente, o que mais o gra-
com paixão, é transformador. “Gosto de olhar nos olhos das pessoas com a consciência tranquila e sem vergonha de ganhar dinheiro com trabalho que desempenhamos, porque o fazemos com muita dignidade. É fundamental que meus funcionários estejam feli-
OUTROS PRÊMIOS
MPE Brasil 2011 – reconhece e es-timula as boas práticas de gestão;
Prêmio SESI de Qualidade do Trabalho 2012 – 1º lugar no segmen-to Indústria de Minas Gerais, na cate-goria: Desenvolvimento e Educação;
Prêmio SESI de Qualidade do Trabalho 2012;
Prêmio Top of Mind – 1º lugar como marca mais lembrada pelos consumido-res, nas últimas quatro edições 2009, 2010, 2011 e 2012, em pesquisa quan-titativa realizada pelo Jornal Correio e Instituto Expertise de Belo Horizonte, com crescimento progressivo no posi-cionamento da marca em Uberlândia.
SAIBA MAIS:www.grupobomjesus.com.br
A EMPRESA ADOTA SISTEMAS DE ROTEIRIZAÇÃO PARA REDUZIR O CONSUMO DE COMBUSTÍVEL E A EMISSÃO DE POLUENTES
Um círculo virtuoso, no qual to-dos se tornam conscientes do seu papel e de sua participa-
ção na construção de um mundo me-lhor para as gerações futuras. É assim que Ronaldo Simão, superintendente executivo e idealizador do Prêmio Mi-neiro de Gestão Ambiental (PMGA), define a iniciativa, que no último dia 11 reconheceu a AngloGold Ashanti (Cór-rego do Sítio de Mineração), a Cenibra e a FIAT por suas ações ambientais. A cerimônia de premiação do sétimo ci-clo do PMGA aconteceu no auditório Juscelino Kubitschek, na Cidade Ad-ministrativa de Minas, onde cerca de 500 pessoas estiveram presentes para prestigiar os vencedores. Na oportuni-dade, foi lançado oficialmente o oitavo ciclo do prêmio, que irá avaliar as em-presas inscritas no ano de 2013.
Com metodologia chancelada pela Organização das Nações Unidas
RECONHECIMENTOPrêmio Mineiro de Gestão Ambiental reconhece destaques em sustentabilidade
1GESTÃO
(ONU), pela União Brasileira para a Qualidade (UBQ) e pelo Governo de Minas Gerais, o Prêmio Mineiro de Gestão Ambiental é referência no reconhecimento de organizações ins-taladas no Estado que praticam um modelo de gestão ambiental sistêmi-co, capaz de gerar qualidade de vida dentro e fora de suas instalações. O objetivo do Prêmio é despertar nas empresas mineiras a busca pela me-lhoria contínua da gestão ambien-tal, aperfeiçoando a utilização dos
recursos naturais e promovendo a disseminação de ações inovadoras e diferenciadas, voltadas para a sus-tentabilidade e os seus reflexos na qualidade de vida das comunidades e nas questões ambientais globais. “O PMGA visa desencadear um processo estruturado nas empresas que maxi-mize os resultados positivos de suas ações, gerando com isto, ganhos reais para a sociedade no que diz respeito aos valores ambientais, sociais, eco-nômicos e culturais”, explica Simão.
O MÉTODOAs empresas vencedoras passam, primeiro, por um crivo rigoroso, que inclui três etapas de avaliação: elegi-bilidade, onde são eliminadas as em-presas com não-conformidades na área ambiental; avaliação dos relatórios de gestão e visitas técnicas às instalações; e júri, sendo que nesta etapa os nomes
68 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
Minas Gerais é um celeiro de inovações, sobretudo em
sustentabilidade.
“
”Francisco Gaetani
1.
das empresas não são apresentados aos juízes, apenas suas notas e observações dos examinadores (todos os examina-dores e juízes atuam voluntariamente). Estes juízes, em média 22 profissionais de destaque na sociedade, somente tomam conhecimento dos nomes das candidatas julgadas por eles após o en-cerramento do julgamento.
A avaliação engloba os últimos três anos de gestão, sendo que as empresas não competem entre si. Todas come-çam com 500 pontos e, à medida que vão apresentando lacunas com relação à metodologia, perdem pontuação. Com isso, o PMGA possibilita a parti-cipação de organizações de diferentes portes e de diferentes setores de atua-ção concorrendo em um mesmo ciclo de avaliação. Desde 2006, já foram premiadas 24 empresas, uma média de três por ano, que agora fazem par-te de um grupo seleto com resultados ambientais de alto desempenho.
SUSTENTABILIDADEDurante a cerimônia de premiação, Francisco Gaetani, secretário Execu-tivo do Ministério do Meio Ambiente e representante da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, no even-to, Minas Gerais é um celeiro de inovações, sobretudo em sustentabili-dade. “O Governo Federal tem a cons-ciência de que a agenda ambiental não faz parte de um ministério específico, mas de todo o país. Por isso precisamos de iniciativas como esta, pois a ques-tão ambiental traz consigo um grande senso de urgência, desafios globais e perdas irreversíveis”, afirmou.
Já o Secretário de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento, Adria-no Magalhães, que representou o Go-vernador Antonio Anastasia como anfi-trião do evento, ressaltou a relevância do PMGA por despertar nas organiza-ções a importância do cumprimento do seu papel no que diz respeito à sua responsabilidade de empresa cidadã, não apenas entre as vencedoras, mas entre todas as participantes.
SAIBA MAIS www.pmga.org.br
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 69
Ronaldo Simão, Adriano Magalhães, Marco Antônio Lage (FIAT) e Francisco Gaetani
Paulo Brant, presidente da Cenibra, recebe a homenagem; e José Margalith
(foto abaixo), representando a Anglogold Ashanti
FOTOS: 1. REPRODUÇÃO 2.3.4. RAFAEL MOTTA
2.
3.
4.
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Empreendimentos que enfren-tam longos e complexos pro-cessos de licenciamento am-
biental no Brasil, acabam de ganhar um aliado: o Solar, pacote de serviços, sob medida, que promete tornar a ex-periência menos penosa. A ideia par-tiu das empresas Geonature e Conci-liare - especializadas em consultoria ambiental - e Siteware, voltada para o desenvolvimento de softwares de ges-tão por resultados. Juntas, elas identi-ficaram os desafios enfrentados pelas companhias, em função do excesso de burocracia, e buscaram soluções. O lançamento oficial do serviço acon-tece no próximo dia 10 de julho, no auditório do 10º andar da Fiemg (Av. do Contorno, 4.460), às 9 horas.
A diretora da Conciliare, Patrícia Boson, conta que uma pesquisa feita com empresas, envolvidas em pro-cessos de licenciamento, apontou um dos maiores entraves: a “gestão das condicionantes”, impostas pelos órgãos públicos responsáveis pela ordenação do licenciamento ambien-
UMA PROPOSTA PARA DESCOMPLICAREmpresas se unem para oferecer serviços voltadosà gestão dos processos de licenciamento ambiental
1LICENCIAMENTO
tal. Essas são contrapartidas que po-dem ir desde a recuperação de par-ques, monitoramento da qualidade do ar à construção de um hospital ou escola. Justo no momento em que estudavam a melhor forma de aju-dar essas empresas, a Conciliare e a Geonature foram apresentadas ao software Sigma, desenvolvido pela Si-teware, que, inclusive, já está sendo utilizado pela AngloGold.
O diretor da Siteware, Alex Sander Soares, explica que a ferramenta sur-giu a partir de uma experiência-pilo-to demandada por outra mineradora. “Eles nos solicitaram um software que os ajudasse a gerenciar o processo de licenciamento, lembrando-lhes pra-zos, arquivando informações ao longo de cada etapa e organizando toda a memória do processo.” Diante da sa-tisfação do cliente com os resultados obtidos e do conhecimento acumu-lado ao longo da criação do software, o sistema foi aprimorado e, hoje, tor-nou-se uma ferramenta completa.
O software foi desenvolvido com
base nos princípios da gestão empre-sarial. A eficácia do aplicativo é obtida pela adequação à realidade de cada empreendimento e suas demandas, seja no que se refere às características, porte, atividade e localização, ou pelas necessidades de investimento e retor-no financeiro. De acordo com Soares, o software permite medir e monitorar indicadores-chave de performance e as condições definidas para a obten-ção das licenças ambientais. Além disso, a ferramenta organiza, registra e controla informações de todas as etapas do processo, relacionando-as com a legislação, as condicionantes, os documentos e as responsabilidades em cada empreendimento.
SETOR DE INTELIGÊNCIAMas Patrícia lembra que apenas a
aquisição do software não liquida a questão. A empresa precisa de uma equipe capacitada (o chamado “setor de inteligência”) para extrair o máxi-mo que a ferramenta é capaz de ofe-recer em termos de organização da
| Maria Teresa Leal
72 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
2
informação. Além disso, é necessário aliar conhecimento técnico e de legis-lação. “Caso contrário, o sistema não será utilizado em sua plenitude, nor-teando as melhores decisões a serem tomadas”, adverte.
Ela lembra que os processos de li-cenciamento são prolongados, perdu-rando, em geral, por toda a vida útil do empreendimento. Isso exige a dedica-ção de equipes inteiras, já sobrecarre-gadas por outros afazeres. “Nossa ideia é atuar como um braço operacional da empresa, reduzindo riscos, custos, perda de prazos, evitando o retrabalho e garantindo a otimização do tempo”. Patrícia relata ser comum uma equipe estar ocupada com uma condicionan-te, enquanto há outras quatro ou cinco à espera de solução”.
Outro ponto colocado por Vítor Fei-tosa, também diretor da Conciliare, é o dos atrasos causados pelas dificul-dades de gestão do processo de licen-ciamento, podendo implicar grandes prejuízos para o empreendedor. Se-gundo ele, não é incomum casos de empresas com perdas financeiras expressivas originadas pelos atrasos não previstos. Feitosa explica que, em geral, grandes projetos podem demo-rar dois anos para serem concebidos e mais dois para a implantação. Só, então, a operação é iniciada, gerando caixa para dar sustentação financeira
ao empreendimento. “Se houver atra-sos até chegarem nesse ponto, prin-cipalmente decorrentes do desacordo ou descumprimento de condicionan-tes, as perdas financeiras podem in-viabilizar o empreendimento”, alerta.
Mesma opinião tem a diretora da Geonature, Maura Bartolozzi. Ela acrescenta que o descumprimento de prazos pode comprometer a con-solidação dos empreendimentos, pois não basta executar as ações, é preciso documentar todo o processo, a fim de evitar o atraso na obtenção das licen-ças ambientais. Tais atrasos aumen-tam o custo financeiro dos empreen-dimentos. “O propósito do Solar é dar às empresas a agilidade e eficácia ne-cessárias, facilitando a compreensão das implicações de cada compromis-so assumido durante o processo de licenciamento e auxiliando na adoção das medidas mais adequados para cada situação. Desse modo, o Solar fornece aos responsáveis pelo projeto uma visão ampla do que está aconte-cendo de positivo e negativo. A ideia é que eles possam agir de forma cons-ciente e antecipada, evitando ter que apagar incêndio”.
Maura esclarece que o Solar pode atuar em três níveis. No primeiro, com um caráter operacional. Ou seja, na organização de todos os do-cumentos para alimentação inteli-
BENEFÍCIOS DO SOLAR
Organiza toda a documentação
referente ao licenciamento
ambiental de um determinado
empreendimento, mantendo a
memória ambiental da empresa de
modo seguro e acessível;
Registra, sistematiza, integra e
controla as informações de todas as
etapas do licenciamento ambiental –
condicionantes ambientais, estudos,
projetos e documentos correlatos;
Diminui consideravelmente a
complexidade no acompanhamento
do processo de licenciamento
ambiental;
Fornece condições para uma
avaliação criteriosa e sistematizada
dos riscos para a viabilização do
empreendimento, de modo a identificar
oportunidades e evitar conflitos que
acarretem atrasos e aumentem os
custos do empreendimento;
Proporciona visão estratégica e,
sobretudo, agrega inteligência à
tomada de decisão das lideranças
empresariais;
Melhora a performance dos setores
responsáveis pelas questões de meio
ambiente dos empreendedores,
deixando que os seus recursos
humanos foquem nas atividades
concretas de gestão ambiental, e não
na gestão da informação;
Promove a redução de
custos com a gestão, pois
apoia o empreendedor na
coleta, organização, análise,
compartilhamento e monitoramento
das informações que oferecem
suporte à tomada de decisões
estratégicas, desonerando-o
da perda de tempo na busca da
informação e do desperdício de
recursos humanos e financeiros;
Faz a gestão de riscos do
processo de licenciamento,
ao oferecer uma ferramenta
que possibilita a visão holística
dos projetos (prazos, custos,
condicionantes, contratados,
responsáveis, documentos) e,
assim, antecipar ameaças;
Fornece a visão dos marcos
no andamento do licenciamento
ambiental, podendo levar
à implantação de medidas
mitigadoras a tempo e a hora.
Alex Sander, Patrícia, Vítor e Maura: equipe unida
na busca de soluções para o licenciamento
FE
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DA
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JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 73
gente do aplicativo. Um segundo, de caráter tático, envolve a análise roti-neira das informações, por meio do entendimento das particularidades das questões ambientais, incluindo uma visão espacial, por georreferen-ciamento. “É a hora do gestor visuali-zar onde está o problema e quais são as questões a serem priorizadas. É o momento de separar o joio do trigo”. O terceiro nível, segundo Maura, é o estratégico, “em que é feita uma avaliação prospectiva dos conflitos, riscos, incertezas e restrições”.
MODERNIZAÇÃO É O CAMINHOA diretora da Conciliare, Patrícia Bo-son, lembra que, passados 30 anos da sua implementação, o licenciamento ambiental permanece no centro das discussões. Mas, na opinião dela, nin-guém deve esperar que o processo se torne mais fácil ou a legislação “mais frouxa”. Pelo contrário, a tendência
é que os órgãos públicos sejam cada vez mais rigorosos quanto às exigên-cias, devendo “aliviar” apenas para as médias e pequenas empresas. “Os pa-râmetros sempre foram mais ideológi-cos e políticos do que técnicos. Mas, agora, chegamos ao nível da irraciona-lidade”, critica Patrícia.
Por isso, é consenso em todos os segmentos da sociedade que os proce-dimentos técnicos e administrativos do licenciamento necessitam ser moderni-zados, inclusive, utilizando-se de ferra-mentas da Tecnologia da Informação.
Diante das interligações de alta complexidade envolvidas no processo de licenciamento ambiental de um empreendimento, a intenção do pa-cote Solar é proporcionar assessoria altamente qualificada, capaz de me-lhorar a performance da empresa. “As equipes gestoras ficam livres para se dedicar especificamente ao desenvol-vimento do projeto.”
1LICENCIAMENTO
QUAIS SÃO AS EMPRESAS
CONCILIARE Atua nos setores de energia,
mineração e siderurgia,
especificamente, na área de gestão
e planejamento ambiental e de
recursos hídricos.
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GEONATUREAnalisa informações ambientais
para definir estratégias que tornem
sustentáveis projetos nos setores de
mineração, logística, infraestrutura,
etc. Há oito anos participa do
licenciamento ambiental de alguns
dos maiores empreendimentos
construídos no país.
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Processos e Controle Ambiental há
13 anos. Dispõe de mais de 25 mil
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maiores empresas brasileiras.
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1SEMANA DO MEIO AMBIENTE
A BOLA DA VEZ É VERDEGoverno estadual, PBH e Fecomércio mostram, em seminário, o que
está sendo feito em prol de uma Copa 2014 mais sustentávelLuciana Moraes |
Ações e projetos desenvolvidos em Belo Horizonte para sediar a Copa do Mundo de Futebol, no ano que
vem, foram tema do seminário “Desafios e Legados de uma Copa do Mundo Susten-tável”, realizado durante a Semana do Meio Ambiente, no auditório do Sesc Palladium, no Centro da capital mineira. O mundial deve atrair mais de 600 mil turistas inter-nacionais e 3 milhões de turistas brasileiros nas 12 cidades-sede dos jogos. Somente em BH, são esperados 197 mil turistas es-trangeiros e 430 mil brasileiros.
O encontro foi promovido pelo Go-verno de Minas, em parceria com a Federação do Comércio (Feco-mércio MG), Prefeitura de BH e apoio da Revista ECOLÓGICO. Participaram da mesa-redonda o secretário estadual Extraor-dinário para a Copa (Secopa), Tiago Lacerda; a presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Zuleika Torquetti; o asses-sor de Projetos Especiais do
Sistema Fecomércio, Hegler Machado; o gerente de Planeja-
mento e Monitoramento Ambien-tal da Secretaria Muni-
cipal de Meio Ambiente, Weber Coutinho; o assessor da Associação Mineira dos Municípios (AMM), Gil-berto Amorato; e o chefe de gabinete da Secopa, Mário Queirós Neto.
USINA SOLARNa abertura do debate, mediado pelo jornalista
Hiram Firmino, diretor da ECOLÓGI-CO, o secretário Tiago Lacerda desta-cou o grande poder de mobilização do futebol e as oportunidades geradas pela Copa, tanto em relação à adoção de prá-ticas mais ecológicas, quanto na geração de novos empregos e renda. Na reforma do Mineirão, iniciada em 2010, pontuou Lacerda, foram adotadas inúmeras me-didas sustentáveis, entre elas o reapro-veitamento de concreto e madeira, bem como a instalação de uma usina para a geração de energia elétrica.
Mais de 70 mil metros cúbicos de con-creto foram reaproveitados para a produ-ção de asfalto, e os 50 mil antigos assentos destinados a outros estádios do interior mineiro. Como medida de compensação ao licenciamento ambiental da obra, fo-ram plantadas 8 mil novas árvores na re-gião da Pampulha, e a meta é chegar a um total de 11 mil mudas até o fim deste ano.
“Ao contrário de outras capitais, como Salvador, onde o estádio da Fonte Nova foi totalmente demolido, aqui mantivemos parte da estrutura e da fachada do Minei-rão, inclusive por questões de tombamento arquitetônico. O resultado foi o reaprovei-tamento de vários resíduos da obra, além
de uma considerável econo-mia”, explicou o secretário. O Mineirão é o primeiro estádio brasileiro a gerar energia elétri-ca limpa, por meio de captação solar, graças à instalação de uma usina em sua nova cober-tura. Ela vai produzir energia suficiente para abastecer cerca de 900 residências de médio porte, numa parceria entre a Cemig, o governo alemão e o
TIAGO LACERDA O Mineirão
como exemplo76 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1. 2.
Consórcio Minas Arena, que adminis-tra o estádio.
MINAS É REFERÊNCIA Segundo Zuleika Torquetti, para ava-liar o grau de sustentabilidade de um evento é preciso ter indicadores e metas. Pensando nisso, a Feam, com apoio da Secopa e da PBH, criou uma metodologia para quantificar as emis-sões de gases de efeito estufa (GEEs) que serão gerados nos eventos do mundial de futebol.
“A Pegada de Carbono para a Copa é um modelo desenvolvido pela Feam, validado em Brasília pelo comitê or-ganizador do mundial, e será adotado em todo o país”, informou. Em BH, a proposta é compensar as emissões de CO2 e de outros gases poluentes por meio do plantio orientado de no-vas árvores, visando principalmente à reabilitação de áreas degradadas. As ações deverão ser supervisionadas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), como forma de assegurar a efi-cácia da iniciativa e a sobrevivência dos espécimes plantados.
Para Weber Coutinho, apesar de ainda haver muito a ser feito, BH pode se orgulhar das medidas sus-tentáveis que vem adotando. Entre elas, o Programa de Certificação em Sustentabilidade Ambiental, desti-nado a empreendimentos públicos e
privados, residenciais, comerciais e ou industriais, que contribuem para a redução do consumo de água, de energia, das emissões atmosféricas e da geração de resíduos sólidos.
“Esse programa foi lançado ano pas-sado. Somos a primeira cidade brasi-leira a ter uma certificação específica, uma política indutora do combate às mudanças climáticas no poder muni-cipal. É um avanço importante. Hoje, já temos 19 empreendimentos certifi-cados, entre eles seis hotéis. Estamos em contato permanente com repre-sentantes de outras cidades que se-diarão jogos da Copa, com técnicos do Ministério do Meio Ambiente, e per-cebemos que as nossas ações são mo-delo para outros estados”, ponderou.
FORMAÇÃO PARA A VIDAOtimista, Hegler Machado frisou que o Brasil tem nas mãos a chance de fa-zer a Copa que todo o país merece e está esperando, com benefícios que se manterão mesmo após a realização do mundial. “Desde a nossa participação na RIO+20, ano passado, a Fecomér-cio está atenta às oportunidades que a Copa traz. Promovemos quase 100 palestras por todo o Estado, envolven-do e mobilizando 13 mil empresários do setor, além de estudantes de dife-rentes cidades. Há muitos desafios a serem superados, mas os ganhos são
O Plano de Redução e Compensação
das Emissões de Gases de Efeito Estufa
(GEEs), lançado na Semana do Meio
Ambiente pelo governo estadual, com
apoio da PBH, identifica ações para
mitigação e compensação das emissões
de GEEs geradas com a realização da
Copa das Confederações e Copa 2014.
Entre as propostas de compensação
estão compras públicas de baixo
carbono, gestão de resíduos e redução
do impacto do dióxido de carbono (CO2)
liberado nas atividades realizadas pelos
espectadores, além de parceria com a
FIFA para priorizar a oferta de produtos
e processos verdes por parte dos
fornecedores oficiais do evento.
FIQUE POR DENTRO
inegáveis, entre eles a chance de in-vestir na capacitação de pessoal.”
E completou: “Temos convênios com os governos federal e estadual na oferta de cursos gratuitos para a formação de profissionais que pode-rão se qualificar e atuar em diferentes áreas, ajudando a receber melhor os turistas. Estamos convictos de que essa é uma preparação que vale para a vida toda. É conhecimento que fica e renderá frutos para além desse mo-mento maior do futebol. Isso é muito gratificante”, concluiu.
MESA VERDE Os envolvidos mostraram exemplos sustentáveis de outros países, onde os legados superaram os desafios
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 77FOTOS: 1. REPRODUÇÃO | 2. FERNANDA MANN | 3. ANICE DRUMMOND/ASCOM SISEMA
3.
O Apadrinhamento de Escolas é uma iniciativa que oferece soluções para a dura realidade de crianças que vivem em comunidades às margens dos rios do Amazonas.
Com apenas R$ 25 por mês você leva a essas crianças educação transformadora, que une o ensino formal ao conhecimento tradicional, ambiente escolar acolhedor, material necessário para um bom aprendizado e capacitação adequada para os professores.
1S.O.S ANIMAL
Família
FRANCISCANAEles não são eremitas nem moram em cavernasou jejuam. Mas amam os animais como a si mesmos
Em uma chácara localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, uma família
“franciscana” trata, com carinho e cuidado, de cerca de 400 animais. Um cavalo idoso queimado por um carroceiro, cujas feridas demoraram mais de um ano para sarar. Um pa-pagaio que não para de tremer, víti-ma do estresse causado pelo tráfico. Uma seriema mutilada, que ganhou uma perna mecânica. Aves que, de-vido ao contrabando, não se recu-peraram psicologicamente e se au-tomutilam, arrancando as próprias penas. Papagaios sem bicos, cachor-ros e jabotis atropelados e outros tantos que dependem unicamente dos cuidados e boa vontade do ve-terinário Marcos Mourão, além da esposa e da filha dele, também vete-rinárias: Teresa Cristina Alves Brini e Danielle Brini Mota.
Os três trabalham seis dias por semana numa clínica veterinária no bairro Jaraguá. Nos finais de semana e feriados, o tempo deles é destina-do aos animais que moram no abrigo. Tanta dedicação mantém a família unida, mas “não sobra tempo nem para namorar”, brinca Mourão.
O gasto mensal é de cerca de R$ 14 mil para manter o abrigo, onde, além da família, trabalham três fun-cionários. O veterinário conta que: “às vezes, falta dinheiro para pagar as contas nas casas de rações, mas os do-
nos conhecem a causa e acabam me dando prazo maior para pagamento. Há meses também que falta dinheiro para pagar as contas de casa, mas eu não ligo. Não pode é faltar alimento e medicamento para esses animais que dependem da gente”. O veteri-nário explica que “não é fácil conse-guir ajuda para cuidar de animais ‘em fim de linha’, que não ‘servem’ mais e não são ‘bonitos’ aos olhos da maioria das pessoas. Só ajuda, aqueles que se identificam, amam, respeitam e os consideram seres vivos que também sentem dor, pensam e gostam de ca-rinho e atenção”.
Porém, mesmo com as dificulda-des, Mourão faz planos para o cria-tório. “Já comprei dois lotes, mas, no momento, não tenho condições financeiras para usá-los. Um dia, vou poder transformá-los em refúgio para mais bichos, entre eles: felinos e primatas. Comigo, eles têm apo-sentadoria garantida”, brinca.
Outros “franciscanos” são Rosân-gela Avelar e o marido Delton Jorge, que cuidam na própria casa - há mais de trinta anos - de animais recolhidos nas ruas. Eles moram no bairro Vera Cruz, em BH, e já são conhecidos na vizinhança pelo que fazem. Com fala emocionada, Alves conta que re-cebeu uma gata com quatro filhoti-nhos, mas que nem sempre tem con-dições de trazê-los para a casa. Mas, completa: “Há certos casos como o
80 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
| Maria Dalce Ricas e Luana Bhering
da gata, que mesmo não podendo, acabo pegando. Meu marido trabalha com reciclagem e vive encontrando animais abandonados no lixo e sem-pre traz para cuidarmos”.
CAMPANHA S.O.S. ANIMAISCom intuito de colaborar com abrigos que acolhem bichos abandonados ou vítimas de maus-tratos, a Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (Amda) criou a campanha S.O.S. Ani-mais. Lançada em 04 de outubro de 2012, Dia dos Animais, a campanha
começou por meio das redes sociais e do projeto Terça Ambiental, que de-bate temas de grande relevância para o meio ambiente toda última terça-feira do mês. A finalidade da ação é recolher donativos, principalmente alimentos, para apoiar as ações dos abrigos. Segundo a coordenadora da campanha, Elizabete Lino, “a mo-tivação vem da percepção de que o abandono de animais reflete um comportamento de indiferença ao destino deles, além da fragilidade e ausência de políticas públicas, inclu-
CUIDADOS Marcos cuida de um cavalo queimado por um
carroceiro e que levou mais de um ano para ser curado
CARINHO Rosângela leva para a casa, há mais de
trinta anos, animais que encontra abandonados
O ABRIGO Marcos recebe animais muitas
vezes rejeitados por estarem doentes
COMO PARTICIPARA campanha recebe material de limpeza,
principalmente água sanitária e saco de
lixo, rações para gatos, cães, cavalos e
aves de forma geral.
A entidade solicita que as doações sejam
de pacotes fechados e não a granel para
evitar contaminação alimentar. Os dona-
tivos podem ser entregues na portaria da
Rua Timbiras, nº 1560, no bairro Lourdes,
em Belo Horizonte.
A Amda publicará mensalmente dados
relativos às doações e destinações.
FIQUE POR DENTRO
SAIBA MAIS www.amda.org.br/
sive na área de educação”. Mas que, de acordo com ela, são minimizados pela “percepção de que há um cres-cente número de pessoas preocupa-das em mudar essa situação”. Lino também acredita “que quanto mais o problema e ações, como a de Marcos e Rosângela, forem divulgadas, mais pessoas se envolverão e cobrarão po-líticas públicas para mudar esse de-plorável quadro”.
2. 3.
1.
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 81
FOTOS: 1-2. LUANA BHERING 3. MARCOS MOURÃO
CASCA DE BANANA é usada na despoluição da água
Pesquisa do Centro de Ener-gia Nuclear na Agricultura (Cena) da USP, em Piracica-
ba, identificou a potencialidade da casca de banana na remediação de águas poluídas pelos pesticidas atra-zina e ametrina, muito utilizados, em plantações de cana-de-açúcar e mi-lho. Em amostras coletadas nos rios Piracicaba e Capivari e na estação de tratamento de água de Piracicaba, as águas contaminadas com esses pes-ticidas ficaram livres dos componen-tes após o tratamento, comprovando a eficácia do método, se comparado a outros procedimentos físico-quími-
cos mais comuns, como a utilização de carvão. O estudo foi realizado nos laboratórios de Ecotoxicologia e Quí-mica Analítica do Cena.
O procedimento é realizado com as cascas de banana trituradas e pe-neiradas após serem secas em forno a 60ºC. Depois são adicionadas ao vo-lume de água estabelecido, e a mis-tura é agitada e filtrada. Em seguida, a água é analisada em cromatógrafo de fase líquida acoplado a um espec-trômetro de massas. A capacidade de adsorção da casca de banana tam-bém foi estudada utilizando técnica com compostos radiomarcados, que
comprovou sua alta eficiência.O uso da casca de banana apresenta
vantagem sobre as demais metodolo-gias, como as remediações térmicas, químicas ou físicas e a fitorremedia-ção, segundo as pesquisadoras en-volvidas no estudo, Claudinéia Silva e Graziela Moura Andrade. Os pro-cessos tradicionais de tratamento de água não são suficientes para remover, eficientemente, resíduos de agrotó-xicos de forma a atingir o padrão de potabilidade e evitar riscos à saúde humana, sendo necessária a adoção de técnicas mais competentes e de baixo custo.
Ela tem potencial na remediação de águas poluídas pelos pesticidasatrazina e ametrina, utilizados em plantações de cana-de-açúcar e milho
AGÊNCIA USP|
82 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
1PESQUISA
QUEM É ELE?
SÉRGIO MONTEIRO
Um dos autores da pesquisa,
estudante de doutorado do
laboratório de Ecotoxicologia
do Cena/USP e pesquisador
científico do Instituto Biológico
da Secretaria de Agricultura do
Estado de São Paulo.
CAPACIDADE DE ADSORÇÃOA banana é uma fruta tropical consu-mida mundialmente, e sua casca cor-responde de 30% a 40% de seu peso total, sendo utilizada, principalmente, para produção de adubos, ração ani-mal e para a produção de proteínas, etanol, metano, pectina e enzimas. Seus principais constituintes são a ce-lulose, hemicelulose, pectina, clorofi-la e outros compostos de baixo peso molecular. Assim, a casca da banana apresenta grande capacidade de ad-sorção de metais pesados e compos-tos orgânicos, principalmente, devido à presença de grupos hidroxila e car-boxila da pectina em sua composição.
Segundo Sérgio Monteiro, um dos autores da pesquisa, essa metodologia de remediação poderá ser utilizada, principalmente, para tratamento de água de abastecimento público, origi-nárias de regiões com intensa prática agrícola, como é o caso das cidades da região de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), que são totalmente abastecidas pelo aquífero Guarani e a região de Piracicaba, onde está locali-zado o Cena. “Os estudos para aplica-ção em grande escala ainda devem ser
realizados, mas acreditamos que esse processo de remediação seja a melhor alternativa”, defende Monteiro.
“Tóxicos a organismos aquáticos, como peixes, crustáceos e moluscos, os efeitos crônicos desses herbicidas ao
ser humano, após exposições crônica ao longo de um extenso período ainda são controversos, fator que indica a neces-sidade de desenvolver estudos sobre a presença desses resíduos no ambiente e suas consequências sobre a saúde”, explica o professor responsável pelo Laboratório de Ecotoxicologia, Valde-mar Luiz Tornisielo. Os resultados da pesquisa foram publicados na edição 61 do mês de abril da revista “American Chemical Society” e do “Journal of Agri-cultural and Food Chemistry”.
O notável crescimento da popula-ção durante as últimas décadas pro-vocou um aumento das atividades industriais e, com isso, problemas ambientais. Como resultado da ação hostil da humanidade em prol de manter determinado nível de qualida-de de vida, a poluição do solo, do ar e dos fluxos de água já são parte da vida cotidiana. Em relação à degradação que tem ocorrido com o passar dos úl-timos anos, a poluição da água é uma das maiores preocupações.
* Publicado originalmente no site Agência USP.
OS PESTICIDAS atrazina e ametrina são utilizados, em sua maioria, em plantações de cana-de-açúcar e milho
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 83
2.
3.
FOTOS: 1. SANJA GJENERO 2. MARCOS SANTOS - USP IMAGENS 3. REPRODUÇÃO
1 SAÚDE
CANELA PODE PREVENIR DIABETES E MAL DE ALZHEIMER
Pesquisa aponta efeitos antioxidantes dessa cascaaromática, usada em diferentes pratos
Pesquisadores da Universida-de da Califórnia (UCLA), em Santa Barbara, Estados
Unidos, estão estudando a canela, uma casca aromática, usada em di-ferentes pratos e infusões. O obje-tivo é estabelecer sua possível ação no combate a doenças comuns que acometem a população mundial, como Alzheimer e diabetes.
A pesquisa se concentra em dois compostos presentes na canela – o cinamaldeído e a epicatequina – que ajudariam a retardar (e até a prevenir) o desenvolvimento dos “nós” filamentosos nas células ce-rebrais, que caracterizam a doença neurodegenerativa.
Esses “nós” se formam pelo acú-mulo da proteína tau, que desempe-nha um papel importante na estrutu-ra e funcionamento dos neurônios. Os pesquisadores acreditam que o cinamaldeído, composto respon-sável pelo sabor da canela, pode proteger essa proteína do estresse oxidativo pela capacidade de se unir aos resíduos de um aminoácido, a cisteína. As proteínas tau são vulne-ráveis a modificações, um fator que contribui para o desenvolvimento do mal de Alzheimer.
Segundo Donald Graves, profes-sor-adjunto do Departamento de Biologia Molecular da UCLA, “de certa forma, o cinamaldeído fun-ciona como uma capa: além de pro-teger as proteínas tau, unindo-se
aos resíduos da cisteína, também é capaz de se desprender, o que ga-rantiria o correto funcionamento das proteínas”.
Já a epicatequina – presente tam-bém em alimentos como morango, chocolate e vinho tinto – demonstrou ser um potente antioxidante. Além de deter o processo de oxidação, também interage com as cisteínas da proteína tau, e sua ação protetora é semelhan-te à do cinamaldeído.
Estudos indicam que há uma liga-ção estreita entre a diabetes Tipo 2 e a incidência do mal de Alzheimer, já que os níveis elevados de glicose
– típicos da diabetes – aumentam a produção de elementos reativos ao oxigênio, um processo que leva ao estresse oxidativo. Nesse sentido, estudos anteriores já haviam com-provado os efeitos positivos da ca-nela no controle dos níveis de glico-se no sangue e em outros problemas associados à diabetes.
Resta esperar pelos resultados finais da nova pesquisa, mas tudo indica que as substâncias presen-tes na canela podem ajudar a pre-venir o aparecimento – ou retardar o avanço – da forma mais comum de demência.
CINAMALDEÍDO - Composto responsável pelo sabor da canela
protege proteína de estresse oxidativo
AM
OR
A M
AR
IA
FONTE: Ciclo Vivo, texto originalmente publicado no site Discovery Notícias.84 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
A informação que forma e transforma o seu ponto de vista.Os fatos que formam e deformam a realidade.
As características que engrandecem e apequenam a política e a vida empresarial. As noticias que todo mundo quer ver e que muitos não gostariam de ver publicadas. As atitudes e as práticas sustentáveis
e insustentáveis para o meio ambiente.
R$ 5,00Ano 3 | No 32 | Junho/2012
materiaprimarevista.com.br
IMPRESSO
A FARSA da paz social
A direção da Usiminas seorgulhava de ter sofrido uma única
greve em seus 50 anos. Mas asiderúrgica era dona de tudo. Até dasede do Sindicato dos Metalúrgicos
VAVÁ, O ÚLTIMO CAMPEÃO DO GELO PERRELA MERENDOU A VERBA DA MERENDA
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MINAS É MAIOR POR CAUSA DELES: 31 empresários que abriram as portas
para o nosso grande futuroEstado chora sobre o leite derramado: a Itambé é mais uma empresa que se vai.
Lázaro Gonzaga, o presidente da Fecomércio, teme ser morto por colegas da diretoria.
materiaprimarevista.com.br
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MATERIAPRIMA
ECONOMIA | POLÍTICA | ESPORTES | CULTURA
JOSÉ SALVADOR SILVAPresidente do Hospital Mater Dei
ASSINE E LEIA:
1 IV PRÊMIO HUGO WERNECK
FESTA NA SERRAIV Prêmio Hugo Werneck de Sustentabidade, o “Oscar da Ecologia” 2013, é
lançado durante a confraternização no alto do cartão-postal da capital mineira
O evento fez parte da programação oficial de encerra-mento da Semana Mundial do Meio Ambiente, após o lançamento, pela Prefeitura de Belo Horizonte, da
trilha ecológica “Travessia da Serra”. Este ano, a premiação irá homenagear, in memoriam, a história do empresário Au-gusto Trajano de Azevedo Antunes que, nos anos sessenta, uma década e meia antes do advento da causa ecológica, tor-nou-se um ícone da mineração sustentável em plena floresta amazônica. Bem como também prestará um tributo ao ex-beatle Paul McCartney, cujo projeto “Segunda Sem Carne”, de engajamento e protesto contra o avanço da pecuária ex-tensiva e predatória também na Amazônia, é seguido por seus milhares de fãs e ambientalistas em todo o planeta, incluindo a equipe da Revista ECOLÓGICO.
As inscrições e indicações ao “Oscar” começam no próxi-mo dia 15 e vão até o dia 04 de outubro, com 14 categorias. Já a cerimônia de entrega da premiação está marcada para o dia dois de dezembro, no ex-Cine Teatro Brasil, no coração histórico e político de BH, em processo de restauração pela V&M DO BRASIL.
Hiram Firmino e Marcio Lacerda: o diretor da Ecológico também lançou o Projeto
“Serra do Curral – Eu te Amo”, de apoio e divulgação a todas iniciativas de proteção.
Caio, Sônia e Glauco Carvalho
Aladir Murta, Apolo Heringer e Vitor Feitosa
Augusto Trajano e Paul McCartney: ícones do evento este ano
SAIBA MAIS www.premiohugowerneck.com.br
1. 2.
86 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
Alexandre Mello
Willian Starling, Homero Brasil, Marta Amélia e Vasco Araújo
Eloah Rodrigues, Paulo César e Flávia Lamounier Silvia Nunes e Guilherme Ramos
Ronaldo Vasconcellos
Simone Bottrel Marcelo Ab´Saber
FOTOS: FERNANDA MANN | 1. REPRODUÇÃO | 2. MARCOS HERMES JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 87
1SUSTENTABILIDADE
COMO CRIAR SEU BEBÊ DE
FORMA SUSTENTÁVELDa nossa própria experiência selecionamos algumas
boas dicas para mães e pais de filhos pequenos
Mães, amamentem! Quer co-mida mais natural, orgânica e local do que o leite mater-
no? É o alimento mais puro que exis-te. Aproveite a fase da amamentação. Lembre-se de que não existe leite fraco, e que as mamas produzem de acordo com a demanda. Quanto mais você der de mamar, mais leite você irá produzir. Depois das primeiras semanas, a pro-dução se ajusta à demanda e boa parte do leite é produzido na hora da sucção. Por isso, não desista de amamentar quando seus seios “murcharem”. Faz parte! Se seu bebê continua ganhando peso, insista! Se você acha que a produ-
ção anda pouca, experimente não usar sutiã quando estiver em casa, amamen-tar com o maior conforto possível e olhando para seu bebê com amor. Tam-bém beba muito líquido e alimente-se bem. Com essas dicas, não tem erro! Se você parou de amamentar antes do que gostaria, pode tentar retomar a produção. Procure sobre técnicas na internet, nos fóruns de maternidade e amamentação ou com um especialis-ta. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda amamentação ma-terna exclusiva até os seis meses de vida, depois amamentação intercalada com alimentos até os dois anos.
CRIE CORAGEM E EXPERIMENTE FRALDAS ECOLÓGICASNão, você não vai precisar lavar a mão, ferver, quarar, passar. As fraldas ecológi-cas modernas são mais caras e envolvem derivados de petróleo, sim, mas com-pensam, tanto financeiramente quanto ambientalmente. Fico feliz de saber que fui criada com fraldas de pano, e não vou deixar um legado de cerca de 5.000 fraldas! (Sim, é o que gasta em média um bebê até o desfralde), que demorariam mais de 400 anos pra se decompor! E minha filha também vai se orgulhar disso. A partir do segundo mês fomos aos poucos experimentando
Carol Guilen e Dan Lima
90 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
FOTOS: 1. REPRODUÇÃO 2. CARIN
FONTE: donossoquintal.wordpress.com
e adorando as fraldas ecológicas mo-dernas. Práticas, podem ser lavadas na máquina, não devem ser passadas, dão a sensação de sempre seco e são respi-ráveis! Os adeptos defendem que são melhores para a pele e mucosa do bebê do que as descartáveis.
TROQUE, EMPRESTE, DOEBebês perdem tudo muito rápido. Não compensa comprar um munda-réu de coisas para nunca mais serem usadas. Procure classificados de ar-tigos duráveis usados, como berços, carrinhos e bebês conforto. Converse com familiares e amigos e troquem roupinhas pouco usadas, brinquedos etc. Há até lojas que alugam brinque-dos, inaugurando uma nova lógica não consumista para a diversão das crianças. Aqui em casa, nossa bebê teve muita sorte: ganhou berço usado de um coleguinha, carrinho e tapete de atividades emprestados de outros amiguinhos, roupinhas da prima e por aí vai. Como nós mesmos fizemos a decoração e reutilizamos móveis para fazer o trocador, prateleira e armários, nosso gasto foi mínimo – e desperdí-cio também!
RESISTA À TENTAÇÃO!Você quer o melhor para seu bebê, e a mídia e os shoppings estão repletos de coisas lindas, fofíssimas, adoráveis, e que prometem ser as melhores, as mais seguras, etc. Converse muito com sua mãe, familiares e amigos so-bre o que realmente é essencial para o bebê. Não tenha pressa em comprar. Antes do nascimento, tenha alguns sutiãs de amamentação, protetores de seios, absorventes e roupas bonitas para a mamãe e alguns macacões, bo-dies e calças para o bebê – cerca de 10 de calor e 10 de frio, além de fraldas e algumas mantas adequadas à estação. Se você tiver o quarto montado com berço e uma estação de troca prática, tiver o bebê conforto para levar seu bebê com segurança no carro, uma banheira simples e um carrinho, de preferência emprestado, está comple-to! Brinquedos, mamadeiras, bombi-nhas de amamentação, roupinhas de
passeio e até mesmo o carrinho você poderá comprar melhor depois que conhecer seu bebê, seu tamanho e as necessidades reais de vocês dois. Di-cas: vestidinhos para meninas podem durar mais se forem usados como ves-tidinhos quando for recém-nascida e como batinhas quando tiverem 4 me-ses, por exemplo. A Júlia conseguiu esticar o uso das blusinhas preferidas dessa forma. Lembre-se que você terá a vida toda do seu filho para comprar coisas para ele (a).
REUTILIZE A ÁGUA DO BANHOEm casa sempre reusamos a água do banho. Muitos pais fazem isso. Afinal, geralmente são dois banhos por dia e uma água quase limpa. Não custa nada e as gerações futuras agradecem o cui-dado com esse recurso essencial à vida.
SEJA NATUREBAEvite pomadas, cremes e lenços
umedecidos. A nossa bebê fica sem-pre com a pele irritada e até com candidíase depois de eu usar lenços umedecidos perfumados demais. Bem melhor usar algodão molha-do em água, e tratar a pele com um pouquinho de bumbum ao sol e ao ar todo dia.
INTRODUÇÃO DE ALIMENTOS SEGURA E SAUDÁVEL Prefira papinhas orgânicas, feitas por você mesmo. Basta procurar banana, laranja, chuchu, cenoura, abóbora, batata orgânicos – que são fáceis de achar. Cozinhe de preferência no vapor e amasse bem. Não é assim difícil fazer papinha, vá! Você pode cozinhar pedaços de legumes no seu arroz, amassá-los com um bocadinho de caldo de feijão e pronto!
Embaixo um resumo de trocas sim-ples para lhe ajudar a ter seu bebê e o planeta mais sadios!
TROQUE
Lenço umedecido
Fraldas descartáveis
Papinhas em vidro / lata
Água da descarga ou da lavagem do quintal
Leite artificial ou de vaca
POR
Algodão embebido em água
Fraldas ecológicas
Papinhas feitas em casa
Água sobrada do banho do bebê
Leite materno
AMAMENTAÇÃO a melhor forma de alimentar o bebê
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 91
2.
Até pra falar de coisa séria, como desmatamento, código florestal, alimentos transgêni-
cos e tráfico de animais, pitadas de bom humor são bem-vindas. “Elas reforçam a mensagem, trazem leveza e podem ganhar a simpatia imediata do leitor pela causa.” A afirmação é do jornalista Marcelo Freitas, editor do recém-lançado livro “Água Mole em Pedra Dura”, uma coletânea das melhores charges criadas pelos ar-tistas Genin, Aragão e Ricardo Melo e publicadas no jornal “Ambiente Hoje”, órgão oficial da Associação Mineira de Defesa do Ambiente en-tre 1989 e 2007.
Com quase 30 anos de profissão e passagem por alguns dos principais jornais da capital mineira, Freitas lembra que as charges sempre foram
HUMOR QUE FAZ
PENSARAs melhores charges que ilustraram, por duas décadas, as páginas do jornal “Ambiente Hoje”, da Amda, são selecionadas para livro memorável
Maria Teresa Leal |
Marcelo Freitas
ferramenta de denúncia e contesta-ção para os mais variados assuntos. Só que de um jeito divertido e irre-verente. “Talvez, por isso mesmo, nos grandes jornais, o chargista seja uma pessoa quase intocada. O dono do jor-nal pode até não concordar com uma matéria. Mas ai dele, caso se atreva a censurar uma charge.”
O livro é um retrato bem-humorado da história de Minas e do Brasil no in-tervalo de duas décadas. Retrata, com veemência, aquela que sempre foi a principal bandeira da Amda, o desma-tamento. Há belos trabalhos concei-tuais sobre esse tema, como o da onça pintada em substituição ao rosto da Mona Lisa e o dos animais observan-do as nuvens de um incêndio florestal formarem a expressão SOS, ambas de autoria de Genin.
As charges trazem leveza e podem
ganhar a simpatia imediata do leitor
pela causa
“
”
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 93 2
FOTOS: 1. GENIN 2. BERNADETE AMADO
2.
1CHARGE
Mas também, há fatos específicos como os contratos de risco na Amazô-nia, anunciados pelo Governo Militar no final dos anos 80, que abria a ex-ploração da floresta a empresas mul-tinacionais. A tentativa de venda, por meio de leilão, no governo Newton Cardoso, das fazendas da Empresa de Pesquisa Agropecuária (Epamig) que abrigavam as estações ecológicas de Corumbá, em Arcos e Lambari. Ou, ainda, a célebre canção de Tom Jobim, denunciando o fim da Mata Atlântica, que ele tanto amava.
Selecionar as charges não foi tare-fa das mais complexas. “O mais difí-cil foi criar uma maneira de oferecer todo o material ao leitor de forma que ele pudesse entender cada uma das charges e, ao mesmo tempo, ter uma ideia de como cada tema foi tratado
94 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
2.
ao longo do tempo pelos três chargis-tas”, relata Freitas.
A opção foi fazer uma seleção cro-nológica dos trabalhos, dividindo-os em cinco temas: Desmatamento e Biodiversidade; Poder Público; Cena Urbana, Amda, Lista Suja e o Futuro do Planeta. Mesmo assim, antes de cada tema, fez-se necessária uma in-trodução do contexto em questão. “É que alguns trabalhos estão relaciona-dos a acontecimentos muito específi-cos de época”, explica o editor.
IDEIAS RECORRENTESO leitor irá perceber que, dentro de cada tema, algumas ideias se repe-tem. Mas, na opinião do editor, essa recorrência é positiva porque nos conscientiza de que a realidade, infe-lizmente, não mudou muito. A maio-ria dos problemas ambientais de uma ou duas décadas atrás permanece. “Por isso é importante repetir, repe-tir, repetir”, reitera, lembrando que o “ideal seria chegar o dia em que es-ses artistas não mais tivessem o meio ambiente como tema para criar suas obras. E nesse dia, tenho certeza, eles também estariam realizados”.
A superintendente-executiva da Amda, Maria Dalce Ricas, concorda e avalia que a luta ambiental tem sido, muitas vezes, inglória. Ela lembra que o desmatamento em Minas e no país continua acelerado, os rios poluídos e, mesmo destacando bons exemplos,
a realidade é que a maioria das em-presas ainda age como se não tivesse nada a ver com o meio ambiente.
O mesmo se pode dizer do poder público. Em sua opinião, após déca-das, os interesses econômicos con-tinuam a dar as cartas nas políticas públicas, priorizando os ganhos finan-ceiros e mantendo a área ambiental como coadjuvante. “A sociedade, por sua vez, continua embalada no sonho do consumo infinito, dizendo-se preo-cupada com a degradação ambiental,
mas sem disposição alguma para mu-dar seus hábitos.”
Mesmo assim, Dalce acredita que a Amda e outros movimentos de defesa contribuíram para que alguma mu-dança acontecesse e “é reconfortan-te a consciência de termos mantido a bandeira da luta ambiental”. Para a ambientalista, as charges sempre nos provocam, pelo menos, um sorriso. Às vezes, gargalhadas. “Conseguem trans-formar o trágico em cômico, ao expres-sarem a história de um jeito diferente.”
ARTISTA PARTICIPOU DA PRIMEIRA ECOLÓGICO
Genin, que assina a maior parte
dos cartuns do livro, em função
de ter colaborado durante um
período maior com o Ambiente
Hoje, sente-se honrado com o
reconhecimento. Ele conta que a
inspiração era sempre a matéria
principal do jornal ou outra
notícia de grande repercussão
na mídia. Cético, porém, não
acredita que seja possível “fazer
graça” com temas tão sérios
quanto os que permeiam as
agressões ao meio ambiente.
Por isso, as charges, desse universo,
resvalam no “humor negro”. “São
bem ácidas. Não é pra rir, é pra fazer
pensar. Mas não tenho certeza se
conseguimos. Se fizermos pelo menos
uma cosquinha no leitor, já está bom.
Daí, o título do livro: Água Mole em
Pedra Dura...”, torce o artista. Por
coincidência, Genin também emprestou
seu traço marcante e bom humor para a
primeira edição da revista ECOLÓGICO,
numa matéria sobre uma homenagem
recebida pela Amda na Assembleia
Legislativa, por ocasião de seus 30 anos.
Às vezes, gargalhadas conseguem
transformar o trágico em cômico,
ao expressarema história de um
jeito diferente
“
”Maria Dalce Ricas
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 952
FOTOS: 1. ARAGÃO 2. GENIN 3. GENIN 4. ECOLÓGICO
3.
4.
1CHARGE
GENIN - Luiz Eugênio Quintão Guerra é mineiro de Itabira, formado em Engenharia Civil
pela PUC Minas e em Belas Artes pela UFMG. Fundou, com amigos, em 1979, o Cometa
Itabirano, jornal da imprensa alternativa mineira que teve papel de destaque na luta
contra a ditadura militar. Foi editor de arte nos jornais Diário do Comércio e Jornal de
Casa, em BH. Teve trabalhos publicados na revista de humor Bundas, do Rio de Janeiro,
e nos jornais mineiros Estado de Minas, Hoje em Dia e Pasquim. Além do engajamento
nas causas ambientais, ele gosta de celebrar a beleza, retratando mestres da música
e da poesia. Atualmente, dedica-se à confecção de esculturas, criando desde pequenas
peças até obras para espaços públicos. Para sua terra natal, fez três esculturas,
em tamanho natural, de seu conterrâneo mais ilustre, o poeta Carlos Drummond de
Andrade. Para Itabirito, fez as esculturas de Orson Welles e Telê Santana.
CABOQUIM - Ricardo Melo começou sua carreira em 1974, como ilustrador da Editora
Comunicação em BH. Jornalista formado pela UFMG, trabalhou na chamada imprensa
alternativa, que fazia oposição ao regime militar nos anos da ditadura e na grande
imprensa. Foi ilustrador e chargista do Diário do Comércio e Jornal de Casa, com
passagens pela revista Isto é e pelo jornal Estado de São Paulo. A partir de 1998, passou
a dedicar-se à elaboração de projetos de reformulação gráfica de grandes jornais como
Correio Braziliense e Diário de Pernambuco. Atualmente, é diretor de Produção e Edição
da Companhia Editora de Pernambuco.
ARAGÃO – José Carlos Aragão é bacharel em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes
da UFMG. É também jornalista, escritor e dramaturgo. Participou do Ambiente Hoje,
em suas primeiras edições, no final dos anos 80. Tem mais de 30 livros publicados
de poesia, contos e infantojuvenis. Ao longo da carreira, participou de vários salões
de humor, como os de Piracicaba, Volta Redonda, Porto Alegre, Recife, Teresina
e Itabira. Aragão foi militante da Amda e responsável pela coleta das milhares de
assinaturas que engrossaram o abaixo-assinado que resultou na introdução do texto da
Constituição Federal de 1988, do Art. 23, específico sobre o meio ambiente.
CHAMA DA RESISTÊNCIAPara o autor e ilustrador, Nelson Cruz, as charges desse trio são pílu-las para nossa memória. Mesmo pu-blicadas há tantos anos e espalhadas no tempo, recuperam acontecimentos e personagens que, como fantasmas, insistem em nos assombrar. “Com uma caneta de nanquim e uma ideia na cabeça, esses chargistas desenha-ram nossa realidade, nesse intermi-nável túnel do tempo, que é a nossa história”, pontua.
Cruz lembra que eles não só regis-traram os fatos daqueles dias, mas mantiveram acesa a chama da resis-tência àqueles que se apossam do po-der e decidem nele se manter. Cruz acredita ter sido estratégico manter essa posição pelo traço do humor. Em vez de armas, a caneta e o pincel. No
lugar de violência, a arte de desenhar, fazendo rir. Na opinião do ilustrador, o traço do humor foi (e continua sen-do), no Brasil, uma das formas mais elevadas de questionar os poderosos, revelar suas fraquezas e apontar cami-nhos para as discussões. “É essa in-quietação que temos a felicidade de ver reunida nesse livro. A mesma in-quietação que insiste em bater diaria-mente na porta da nossa consciência.”
É o que a ECOLÓGICO, em sua próxima edição, continuará mostrando. A partir da lua cheia de julho, vamos trazer, uma a uma, todas as charges que nos fizeram pensar. Bom proveito!
96 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
TRIO DE PESO
PUBLICAÇÃO editora
Comunicação de Fato, lançou
o livro na Escola Superior
Dom Hélder Câmara, como
parte das comemorações
dos 35 anos da AmdaPARA ADQUIRIR
O LIVRO, ACESSE www.comunicacaodefato.com.br
FOTOS: 1. REPRODUÇÃO 2. RITA GUERRA 3-4. ARQUIVO PESSOAL
1.
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4.
A Rádio América completa 58 anos levando informação, prestação de serviço e o Evangelho para toda
a comunidade cristã.
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OLHAR EXTERIORANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*)
DE BELO HORIZONTE, MG1
Depois de 10 meses, volto a Belo Horizonte. Desta vez, com um objetivo específico:
celebrar os 80 anos de meu pai. Meu voo em Pequim (China) decola com 40 minutos de atraso. Isso me dei-xa com apenas 20 minutos para fa-zer a conexão com destino a Lisboa (Portugal) no aeroporto de Frankfurt (Alemanha). Perdê-la representará também não embarcar no avião de Lisboa para Belo Horizonte (Brasil). Sei muito bem dos desafios que irei enfrentar, afinal esse aeroporto é simplesmente imenso. Mentalmen-te, entretanto, decido que irei con-seguir; que tudo fluirá harmoniosa-mente. Medito várias vezes durante as 10 horas de voo para manter mi-nha mente e meu espírito em paz; afinal, não é a nossa mente o nosso
maior inimigo, sempre a nos dizer: “Você não vai conseguir”?
NEGATIVIDADE AO REDOR Como se precisássemos de um ini-migo interno! A comissária de bor-do, o senhor que se senta ao meu lado, o guarda que checa meu pas-saporte, os outros dois guardas que vistoriam minha bagagem de mão – todos, sem exceção, me dizem: “Você não vai conseguir”. Quão raro na vida é encontrar alguém a nos incentivar, dar apoio e contribuir, mesmo que energeticamente, para que vençamos os desafios, especial-mente aqueles que se apresentam como missão quase impossível.
Acredito que tenham essa atitude para justificar a si mesmos sua falta de determinação e vontade para to-
mar as rédeas da vida, mudar o que precisa ser mudado e traçar sua pró-pria fortuna. Afinal, se aceitarmos que somos responsáveis pelo rumo que tomamos a partir de nossas escolhas, não teremos ninguém a quem culpar por nossos infortúnios, a não ser nós mesmos. E isso é qua-se insuportável!
Centrada e segura de meu propó-sito, rebato todos os ‘nãos’ com um sorriso. Correndo, atravesso corre-dores, desço e subo escadas, des-vio daqui e ali e... alcanço o por-tão de embarque, nesse momento, deserto. Sem conseguir pronunciar uma única palavra de tão sem fôle-go que estou, apresento meu car-tão e passaporte, entro no avião e me acomodo. Sorrio vitoriosa para mim mesma!
De volta a BEAGÁ
98 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
FER
NAN
DA
MAN
N
MOBILIDADE O uso de bicicletas como uma alternativa no trânsito caótico de Beagá é hoje uma realidade que vem ganhando,
cada vez mais, aderentes, principalmente à medida em que o governo implementa infraestrutura, como as ciclovias
Indescritível o prazer de começar o dia em meio à natureza, em um parque (das Mangabeiras) tão limpo e bem cuidado, que nada deixa a
desejar aos dos países desenvolvidos
“
”
PURO AÇÚCAR Jamais conseguirei entender a lógi-ca das companhias aéreas quando o assunto é alimentação. O avião mal decola e a equipe de comissá-rias já se prepara para o serviço de bordo. Independentemente de qual refeição, sempre é uma bomba de carboidratos que se transforma ime-diatamente em açúcar na corren-te sanguínea. Barrinha de cereais cheia de açúcar, muito pão, biscoi-to, pasta, arroz, doces, geleias, suco de laranja ou maçã, refrigerantes. Proteína e fibras são itens escassos. Resultado: em pouco mais de uma hora, o estômago já começa a recla-mar de fome. Só que em voos lon-gos, durante nove ou dez horas, os desavisados, que não carregam seu próprio ‘lanchinho’, literalmente pe-nam de fome. E ainda por cima, a próxima refeição só é servida meia hora antes de começar o processo de aterrisagem. Aí, é aquela correria!
QUE BELO HORIZONTE Depois de atravessar literalmente o globo (do Leste para o Oeste, e do Norte para o Sul), totalizando 23 ho-ras de voo, tendo de lidar com chine-ses, alemães e portugueses no trajeto, aterrisso finalmente em Belo Horizon-te. Ah, povo brasileiro! Povo abençoa-do por Deus! Sempre com um sorriso a oferecer; sempre tão gentis e prontos a ajudar, mesmo nas situações mais estressantes; e como adoram conver-sar! Exausta, mas feliz, adormeço para despertar, no dia seguinte, com o céu azulíssimo de Beagá. Acreditem: não há em nenhum outro lugar do mundo um céu tão azul e tardes tão douradas quantas as de BH!
EXPULSA DO PARAÍSO Como faço há 10 anos, todas as ve-zes em que venho a BH, caminho de terça a domingo, às sete da ma-nhã, no Parque das Mangabeiras,
ou melhor, costumava caminhar. Indescritível o prazer de começar o dia em meio à natureza, em um parque tão limpo e bem cuidado, que nada deixa a desejar aos dos países desenvolvidos... A não ser, agora, pelo quesito “segurança”. Friso aqui que nunca nada de ruim me aconteceu no Parque das Man-gabeiras, mesmo que, a essa hora da manhã, apenas mais quatro ou cinco pessoas se aventurem pelas suas subidas e descidas. Mas, des-ta vez, a insegurança e o medo que permeiam constantemente o in-consciente coletivo dos brasileiros, infelizmente, me contagiou.
Já nos primeiros metros de nossa caminhada, nesse dia às quatro da tarde, minha amiga jornalista Bertha Maakaroun me questiona: ‘Você tem coragem de andar sozinha por essas trilhas?’ Claro, respondo. ‘E por que não’? A resposta vem de imediato: Um guarda do parque, gritando, nos avisa que não poderemos ir até o mirante. Não será possível, naquele horário, garantir a nossa seguran-ça. Como assim?, indago incrédula. Àquela hora, o parque está cheio de gente; e quem garante a minha se-gurança enquanto caminho sozinha, cedinho, sem cruzar com um fun-cionário ou segurança do parque?
Em outra caminhada, agora com minha amiga jornalista Denise Mene-zes, a mesma situação se apresenta. Às 10h da manhã, Denise, ao perce-ber que andamos há tempo sozinhas pela trilha, diz que sou ‘louca’ de me ‘arriscar’ a caminhar sozinha pelo par-que. Ela se sente insegura, e o medo se instala. Combinamos que, ano que vem, caminharemos na Pampulha.
Essa mesma pergunta e sentimento de insegurança se repetem ao passear pelo parque com mais dois amigos. Resultado: quando vou caminhar so-zinha, entro em paranoia; o medo me domina; e percebo que a minha expe-
riência de prazer e alegria ao estar no Parque dos Mangabeiras foi mortal-mente contaminada pela realidade de violência em que vivem os brasileiros. Me sinto expulsa do paraíso!
PRÓ-RODÍZIO Se vivesse em Beagá, certamente lan-çaria o movimento “pró-rodízio” de carros. Absolutamente ridículo e im-possível o trânsito em Belo Horizonte. É triste constatar que os motoristas mineiros agora dirigem igualzinho aos chineses – cortam pela direita, obstruem as pistas de emergência, se sentindo mais espertos que todos. Me recuso, aqui, a comentar o comporta-mento frenético e irresponsável dos motoqueiros. Lugar para estacionar não existe. Alguma alternativa? Sim, a expansão da oferta de transporte público, principalmente de metrô. Entretanto, isso depende de vontade política – ops, melhor mudar de as-sunto! Enquanto isso, constato feliz que muitos agora andam de bicicleta pelos morros de BH; inclusive que ci-clovias foram construídas na área da Savassi. Que avanço ecológico!
CARTA DE AMOR E em meio a tantos encontros afetivos com meus amigos e minha família; a tantas experiências positivas com Belo Horizonte e seus arredores – Moeda, Brumadinho, Lagoa Santa, Serra do Cipó e Glaura, a caminho de Ouro Pre-to – celebrei com meu pai os seus 80 anos. Escrevi uma carta, a qual li para ele em sua festa de aniversário. Quando tudo terminou e estávamos deixando o salão de festa, ao apalpar o seu bolso, meu pai pergunta: ‘Uai, o que são esses papeis aqui?’ ‘Meu discurso para você, pai’. ‘Discurso, não, minha filha. Uma carta de amor’! ‘Sim, pai, eu lhe escrevi uma carta de amor’.
(*) Escritora, psicanalista e consultorainternacional de Comunicação
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 99
1VOCÊ SABIA?
HÁ QUANTASESTAMOS?
AS FLORESTAS Dos 64 milhões de km² de florestas que existiam no plane-
ta, restam menos de 15,5 milhões. Isso significa que 76%
das florestas primárias foram consumidas e eliminadas.
Das matas originais, a África mantém hoje 7,8%; a Ásia,
5,6%; a América Central, 9,7%; e a Europa Ocidental, ape-
nas 0,3%. O continente que mais possui florestas originais
é a América do Sul, com 54,8%. Ainda assim, segundo o
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, que faz o
monitoramento do desmatamento no Brasil, são derru-
bados cerca de 21 mil km² de florestas por ano, tamanho
equivalente ao estado de Sergipe. Da Mata Atlântica, restam
apenas cerca de 7% do território original. Do Cerrado, já
se perderam 48,2%; e a Floresta Amazônica brasileira que
permaneceu, praticamente, intacta até os anos 70, hoje tem
desmatada uma área correspondente a três estados de São
Paulo. A boa notícia é que, no caso da Amazônia, o ritmo
vem diminuindo, o que nos dá esperanças de uma postura
mais cuidadosa dos governantes em relação à região.
Há 160 mil anos viveram os
Homo sapiens e, 110 mil anos
depois, nossos ancestrais,
cuja variabilidade genética é a mes-
ma dos dias atuais. Por milhares de
anos, os homens foram nômades,
tornaram-se coletores, depois
agricultores e, somente há cerca
de 600 anos, ganharam os ma-
res. O século XV testemunhou
novas rotas e o nascimento do
comércio intercontinental.
Em meio milênio, os avanços
tecnológicos tornaram o pla-
neta globalizado, e, hoje, infor-
mações percorrem todo seu território em tempo real. Um
salto inimaginável para o homem de 300 anos atrás que
nem energia elétrica possuía. Por volta de 1439, surge a
prensa móvel de Gutenberg, um tipo de impressão que
permitiu a disseminação da aprendizagem em massa.
Dois séculos mais tarde, é inventada a primeira máquina
movida a vapor e, daí em diante, o tempo torna-se fugaz,
e tudo acontece cada vez mais rápido. A televisão em
cores tem apenas 60 anos, o primeiro computador ele-
trônico, 49, pesando 27 toneladas e ocupando 167 metros
quadrados. A palavra internet foi usada pela primeira vez
há 43, anos e o Projeto Genoma começou há 23. Quanta
coisa aconteceu... Como o mundo evolui! Mas como anda
a natureza? De onde vêm tantas ideias e os recursos que
viabilizam todas essas invenções?
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100 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
| Fernanda Mann
EM TEMPO Em termos numéricos, os grandes saltos se deram quase todos nos
últimos 70 anos, a exemplo da explosão populacional e do processo
massivo de urbanização mundial. Mas foi nesse período também que
a tecnologia avançou, com o aparecimento, por exemplo, dos contra-
ceptivos e das grandes mídias. Ou seja, a esperança foi semeada. A
informação alcança todos os cantos do globo e só depende da vontade
humana para que a mudança aconteça. Ainda há tempo!
DISTRIBUIÇÃO Cerca de metade da humanidade vive hoje em
cidades. As populações urbanas cresceram
de cerca de 750 milhões em 1950 para 3,6
bilhões em 2011. As cidades ocupam 2% da
massa de terra do planeta, mas são responsá-
veis pela produção de 70% da emissão de dióxido
de carbono. Seus moradores consomem 75% dos
recursos naturais do planeta, e cerca de 830 milhões de
pessoas vivem em favelas, número que continua a crescer.
A produção de alimentos está subindo de forma constante
e, proporcionalmente, superior ao crescimento populacional,
mas cerca de 925 milhões de pessoas passam fome no mundo.
Por outro lado, a Organização das Nações Unidas para Agricul-
tura e Alimentação, FAO, estima que o desperdício de alimento
chegue a 1,3 bilhão de toneladas por ano.
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POPULAÇÃO Nos últimos 50 anos, o número de habitantes do mundo
mais que duplicou. Pulou de 2,5 bilhões em 1950, para
7 bilhões em 2011. Ainda que, na maioria dos países, as
taxas de natalidade estejam decrescendo, a população
mundial segue aumentando.
RESÍDUOS O Brasil produz 195 mil toneladas de resíduos sóli-
dos urbanos por dia. Embora o excesso de “lixo” seja
um problema, seu manejo, se, devidamente admi-
nistrado, pode transformá-lo em solução. Caso fosse
aproveitado, estima-se que o potencial de energia
dos resíduos descartados no Brasil seria suficiente
para abastecer 30% da demanda atual do país.
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JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 101
misturá ele com o Canguçú, que tb é quente. Mas se o caso é de alergia, a mistura com o Velame é mió, pois que ele é frio”.Continuei perguntando, ouvindo e anotando enquanto saboreava uma larga fatia de queijo acompanhada de um cafezinho coado ali na horinha. Num pode tomar desaxe-gerado e tem ainda de se lembrar que na gripe ele é adoça-do e nos casos de tratamento dos rins é tomado sem doce. Pois essa santa planta alivrou minha tia Raimunda de um cisto nos úteros, que já tava inté comprovado nos exame. Bastou dar de tomar o chá aos tiquins e nuns poucos dias ela tornou fazer aquela examaida e o tal cisto tinha-se desaparecido. Eu continuava me assombrando com as in-formações, quando Luíza, cunhada de Dona Dica, que ouvia a prosa caladinha, contou o seguinte.
—“Eu sentia uma dorada no pé da barriga, parecia inté que minha bexiga lá ia se soltando. Dona Dica me ensinou tomar esse chá de Pustemeira e num se deu duas semanas pra aquilo tudo sumir pra lá. Nunca mais! Lá nos Macacos uma comunidade aqui perto, o povo põe ela na pinga para tratar de reumatismo e dor nas juntas.”
Pois é assim, quando penso que tudo conheço e já sei, me aparece uma novidade das mais especiais e só me resta agra-decer e entender que nada sei. Inté a próxima lua!
Nessas andadas pelo sertão do Gerais, dia desses se dei nas terras de São João da Chapada, lugarejo dos mais altos localizado na região de Diamanti-
na, alcançando quase mil e quinhentos metros de altitude. Lá entra um vento constante soprando por riba da chapa-da e o que se vê ao derredor são campos baixios, repletos de capins entremeados de inúmeras espécies medicinais bem específicas deste ambiente.
Uma delas me chamou deveras a atenção, a Pustemeira (Gomphrena sp), pequena erva dotada de folhas aveludadas recoberta por pelos dourados, que esconde raiz semelhante a uma diminuta cabeça de alho. Na região é planta afamada e todos com quem puxei prosa sobre suas qualidades e utili-dades foram unânimes em afirmar que “é um santo remédio, pois cura de mamando a caducando”. Dona Dica, moradora da zona rural da cidade e grande conhecedora das miudezas medicinais encontradas em meio ao capinzal que medra por todo lado, tem indicações certeiras para o chá preparado com suas raízes machucadas e mergulhadas na água fervente.
De acordo com ela, “prus caso de gripe, inframação dos peito e bronquite ele é bão misturado com melado. Inté aque-la dorada na barriga sem muito cabimento, inframação dos rins e reumatismo ela cura. Isso é trem que vem dos antigos, mas é priciso tomá de cuidado, pois ela é planta quente. Por isso é bão tomar o chá dela mais pra morno, senão pode se dá um suadô dismisurado e se o vivente dá o azar de tomá um vento, mermo que seja disfarçado, atrapaia. Aquilo pode inté virar a cara do doente, fica um desmazelo. Tem vez que é bão
Já ouviu falar da PUSTEMEIRA?
SAIBA MAIS w ww.natu reza dose rtao .com .br
(*) Jor na lis ta e consultor em plantas medicinais
NATUREZA MEDICINALMARCOS GUIÃO (*)1
102 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
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OLHAR POÉTICOANTONIO BARRETO1
E então eles estacionaram seu carro de papel à beira do bosque de matéria-prima. No centro da cidade. Da cidade de papel. Eram árvores também de papel.
Árvores de uma gramática que nunca explicava os verbos do mundo. Mas que trazia o mundo até eles, escrito e conjuga-do, sem precisar de giz, lousa ou caderno. Só queriam olhar as árvores. Folhear as árvores. Apenas isso. O homem cal-mamente coçou a cabeça. Penteou os cabelos com os dedos alongando os braços na direção do nascente. Quis abraçar o que ainda restava da noite mal dormida, rascunhada no cérebro que zumbia. Mas os ossos do sol, ainda raquítico, mirrado, estalaram em suas costas. E ele quase, por descuido, depenou um pássaro atrasado em seu bocejo. Na montanha de celulose picada a mulher descobriu umas coisas com as quais havia sonhado. E o casal de meninos parou de brigar, de repente, por causa de qualquer bobagem. Como não havia nada de novo na Terra, exceto aquilo de que já se esqueceu, aos pouquinhos o sol se infiltrou pelas copas, pelas folhas. E invadiu a avenida, espelhando as vidraças dos edifícios que ressonavam. Os primeiros motores roncaram pelas paredes. Era o sinal. Em silêncio foram se acomodando entre as cai-xas de computadores, geladeiras, televisões e a infinidade de pedaços de papelão, plástico, barbante e isopor. E agradece-ram a Deus pela humanidade jogar tanta coisa fora durante a noite. Porque era sempre assim a via salária: recolhiam o que dava pra fazer o dia espichar, até a hora de remendar o estômago. Mas aquela manhã foi diferente. Muito desigual das outras manhãs. A mulher descobriu, na montanha de celulose, uma revista de decoração. E abriu as páginas de sua casa de dois andares cercada por jardins de buganvílias,
samambaias e lanternas japonesas que caíam da varanda. E regou as begônias amarelas, as lágrimas de cristo que despen-cavam pelas cercas laterais e colocou água com açúcar nas garrafinhas de beija-flor. Depois, já se imaginando um pouco cansada, deixou que seu corpo caísse sobre a rede de pano da costa com guirlandas brancas. E sonhou que a vida é muito mais simples que “um pedaço de maçã, uma chuva de verão ou uma cadela dando cria” – como já ouvira alguém recitar certa noite, na porta de um restaurante de ricaços, enquanto recolhia seus restos de comida. E achara aquilo bonito. “A vida é muito mais simples que o meu entendimento. Mas o que eu posso me imaginar é meu também...” – ela balbu-ciou, enquanto admirava o chafariz de seu jardim, onde um anjo pequenino esguichava água de um pote que trazia sobre o ombro. Porém, como uma mulher nunca está onde mora, mas onde ama, ela chamou por ele, seu namorado. Já não era mais uma mulher sofrida, com sua revista de decoração nas mãos. Era uma menina com seu amor recém-descoberto. E juntos se deitaram na grama, de mãos dadas, para saber como é a vida de quem não está sozinho no mundo. Desse modo ele entrou por dentro da casa, acendeu a lareira e os lustres da sala. E ajeitou os quadros na parede. E foi ver o quarto que ficava lá em cima, no final da escada em caracol. Quando descobriu a cadeira de balanço ao lado da janela, abriu as cortinas para que o sol entrasse, e também se imaginou um pouco cansado. Sentado, quietinho como um gato que sonha com ratos entre almofadas de veludo escarlate, ele cruzou as pernas deixando que a preguiça estalasse os ossos naquele teto já recoberto de horas e heras azuladas. E roeu, devagar, o tempo que vinha enferrujando a brisa já meio gelada da ave-
MILAGRE DE PAPEL
104 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
RARIDADE Capa da primeira revista Action Comics
mostrando a estreia do Super Homem
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E o menino voava herói de si mesmo, soletrando Super Homem... E a irmã Mulher Maravilha, do mesmo modo, ficou
saltitando bailarina de alegria
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nida. Tossiu, enroscado num viveiro de passarinhos imaginá-rios. Lambeu o pelo do silêncio para que a cidade acordasse, definitivamente, nos olhos de sua mulher. E olhou nos olhos de sua mulher. E sorriu. Era a sua mulher. Aqueles lá, mais adiante... os seus filhos. De carne e osso. Não eram de papel. E isso era bom. Muito bom graças a Deus... – agradeceu-se. Como um homem nunca está onde ama, mas onde mora, ele chamou os meninos para que viessem conhecer os quartos, os brinquedos, a piscina azul com tobogãs no ar, a sala da TV e a cozinha. E fez um sacrilégio. Proibido por alguma dignidade que resistia não se sabe onde, tentou disfarçar o próximo passo. Não conseguiu. Simplesmente abriu a página da geladeira para os meninos. E escancarou na frente dos olhos deles um desperdício de salame, muçarela, refrigerante, doce de leite, suco de laranja, abacaxi, melancia, carne as-sada, peito de frango, banda de porco, camarão, chocolate e batata frita. Mas os meninos não atenderam ao seu chamado. Porque também, naquela hora da manhã, já haviam desco-berto dentro da montanha de celulose outra montanha de gibis e histórias em quadrinhos. E o menino voava herói de si mesmo, soletrando Super Homem essas palavras que passari-
nham fantasmas de Batman-Robin-Hood-Capitão-América dentro dele, já Durango Kid de tanta estripulia, com seus tesouros de papel. E a irmã Mulher Maravilha, do mesmo modo, ficou saltitando bailarina de alegria Florisbela-Pateta-Pato Donald-Tio Patinhas-Madame Min. E escondeu do ir-mão algumas fotos de artistas da TV, e outras coisas que havia por baixo da montanha, do outro lado, onde o pai já distribuía as ordens do dia. E o pai, de tão feliz, parecia comandar os rumos de um navio. Assim, carregaram seu carro de folhas que resumiam o mundo. Com os últimos capítulos da ma-nhã, foram embora pra casa. Ali, debaixo do viaduto onde moravam, improvisaram tábuas. Bateram pregos numa lata de querosene. Prenderam arames no teto e estava pronta a estante dos milagres. De tarde, a mulher regou as begônias e deu milho para as galinhas. O homem capinou as tiriricas da grama e fez uma casinha nova para o cachorro. Os meninos se lavaram numa bacia d’água. E a mulher chamou a todos para o banquete do dia: arroz, feijão, farinha. Quando a noite caiu sobre o viaduto, os quatro abriram a porta do castelo. Depois foi só acender, com a dignidade de quem sonha, a luz de uma mirrada lamparina. E ler, outra vez, os papéis da sua vida.
MEMÓRIA ILUMINADA | HERBERT DE SOUZA1
A FOME DE JUSTIÇA DO IRMÃO DO HENFIL
HISTÓRIA Filme baseado nos irmãos
Betinho, Henfil e Chico Mário
Alexandre Salum |
“Meu Brasil/ que sonha com a volta do irmão do Hen-fil/ de tanta gente que par-
tiu...” A citação na canção “O Bêbado e a Equilibrista” de João Bosco e Aldir Blanc, lançada em 1979 por Elis Re-gina, era para o então desconhecido “irmão do Henfil”: o sociólogo exilado Herbert José de Souza, ou melhor, Be-tinho. Nascido na cidade de Bocaiuva, no norte de Minas, em três de novem-bro de 1935, foi o terceiro de uma fa-mília de oito filhos. Hemofílico desde nascença, assim como os irmãos, o car-tunista Henfil e o músico Chico Má-rio , Herbert de Souza foi uma criança muito doente e teve tuberculose na in-fância. Costumava dizer que “nasceu para o desastre, porém com sorte”.
Desde adolescente sempre foi mui-to ativo nas questões sociais, e sua formação teve forte influência dos padres dominicanos. Fez parte dos movimentos Juventude Estudantil Católica, Juventude Universitária Ca-tólica, e no início da década de 1960, criou a AP – Ação Popular. Em 1962, formou-se em Sociologia pela UFMG e trabalhou no MEC e na Superinten-dência da Reforma Agrária durante o Governo João Goulart. Depois do gol-pe militar, em 1964, Betinho mobi-lizou-se contra a ditadura. Mas, em 1971, foi obrigado a se exilar primeiro no Chile e, depois, fugindo da dita-dura de Pinochet, no Panamá, Cana-dá e México. Retornou ao Brasil com a anistia em 1979 e, junto com dois economistas, fundou o IBASE – Ins-tituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Foi um dos primeiros a
apoiar a criação de organizações não governamentais. Além disso, passou a participar ativamente dos movimen-tos sociais pela reforma agrária e lide-rou o movimento “Terra e Democra-cia” que, dois anos antes da ECO/92, levou milhares de pessoas ao Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, foi um dos líderes da campanha “Ética na Política”, que re-sultou no impeachment de Fernando Collor. Logo após, criou o movimento “Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida”, conscientizando o povo brasileiro e colocando o combate à fome e à miséria em seu cotidiano e, em 1993, voltou a mobilizar o país com a campanha “Natal sem Fome”.
Betinho contraiu AIDS durante uma transfusão de sangue em 1986. Isso porque, como era hemofílico, ti-nha de se submeter periodicamente à transfusões. Sem desanimar, criou a Associação Brasileira Interdiscipli-nar de AIDS, que dirigiu até a morte. Em 1988, perdeu dois irmãos, Henfil e Chico Mário, por causa da mesma doença. O mineiro Herbert José de Souza, símbolo da luta pela cidadania, honestidade e coerência, morreu no dia nove de agosto de 1997, aos 61 anos, no Rio. Um verdadeiro exemplo para as futuras gerações de brasileiros. Se a música “O Bêbado e a Equilibris-ta” fosse composta hoje, talvez a letra seria diferente: “Meu Brasil/que so-nha com a volta do Betinho/ de tanta gente que partiu...”. A ECOLÓGICO selecionou alguns pensamentos desse visionário e humanista chamado Beti-nho. Confira:
106 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
HERBET DE SOUZA, O BETINHO “Solidariedade, amigos, não se agradece, comemora-se.”
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 107 2
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MEMÓRIA ILUMINADA | HERBERT DE SOUZA1● ECONOMIA“Não podemos aceitar a teoria de que se o pé é grande e o sapato, pequeno, devemos cortar o pé. Temos de trocar de sapato.”
“Não afirmo que o inimigo do Brasil é o capital estrangeiro, mas também não afirmo que por ser estrangeiro é melhor e mais amigo.”
● CRIANÇAS“As crianças estão nas ruas porque, no Brasil, ser pobre é estar condenado à marginalidade. Estão nas ruas porque suas famílias foram destruídas e nos omitimos.”
“Quando uma sociedade deixa matar crianças é porque começou seu suicídio como sociedade.”
“O jovem não é o amanhã, ele é o agora.”
● BRASIL“Há mudança no Brasil. Ela não corre, mas anda. Não corre, mas ocorre.”
“Para nascer um novo Brasil, humano, solidário, democrático, é fundamental que uma nova cultura se estabeleça, que uma nova economia se implante e que um novo poder expresse a sociedade democrática e a democracia no Estado.”
“É importante ver, com os dois olhos, os dois lados para mudar uma única realidade, a que temos.”
● MISÉRIA“A alma da fome é política.”
“Miséria é imoral. Pobreza é imoral. Talvez seja o maior crime moral que uma sociedade possa cometer.”
● ÉTICA“O Brasil tem fome de ética e passa fome em consequência da falta de ética na política.”
● CULTURA“Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda, sim, pela sua cultura.”
● VIDA“O que somos é um presente que a vida nos dá. O que nós seremos é um presente que daremos à vida.”
● ONGs“Não cabe às ONGs brasileiras acabar com ou pretender substituir o Estado, mas colaborar para a sua democratização. Não cabe às ONGs produzir para o conjunto da sociedade os bens e serviços que o mercado não é capaz de produzir, mas propor uma nova forma de produzir e distribuir que supere os limites da lógica do capital.”
● REFORMA AGRÁRIA“É um absurdo um país com tanta terra ociosa assistir sua população vegetar na periferia das grandes cidades.”
108 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
“A terra e a democracia aqui não se encontram. Negam-se, renegam-se. Por isso, para se chegar à democracia é fundamental abrir a terra, romper essas cercas que excluem e matam, universalizar esse bem, acabar com o absurdo, restabelecer os caminhos fechados, as trilhas cercadas, os rios e lagos apropriados por quem, julgando-se dono do mundo, na verdade o rouba de todos os demais.” “Muitas reformas se fizeram para dividir a terra, para torná-la de muitos e, quem sabe, até de todas as pessoas. Mas isso não aconteceu em todos os lugares. A democracia esbarrou na cerca e se feriu nos seus arames farpados.”
● MORTE“Quem fica na memória de alguém não morre.”
● IGUALDADE“O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade.”
● DEMOCRACIA“Democracia serve para todos ou não serve para nada.”
“A luta pela democracia é que desenvolve o mundo, e ela se constrói com e através da comunicação.”
● AIDS“No Brasil não existia o controle do sangue: a Aids era desconhecida. Ele não existia também para outras doenças. Assistimos ao comércio de sangue, uma irresponsabilidade total. Neste sentido, a Aids salvou o sangue.’”
● SOLIDARIEDADE “Em resposta a uma ética da exclusão, estamos todos desafiados a praticar uma ética da solidariedade.”
“Solidariedade, amigos , não se agradece, comemora-se.”
O cartunista Henfil no colo da mãe Dona Maria. E abaixo o músico Chico Mário: irmãos de Betinho
na herança de luta e amor
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 109 FOTOS: 1. JORGE LOPEZ/REUTERS 2-3. DIVULGAÇÃO
3.
2.
Ricardo Ferrari nasceu e se criou em Belo Horizonte numa época em que segun-
do ele, a cidade ainda era uma roça. Pintou seu primeiro quadro aos nove anos de idade. Assim, começou a jornada autodidata que culminou no inconfundível traçado de linhas e cores que resgata a memória da in-fância, guardada dentro de cada um que contempla suas imagens.
Pintou diversos temas durante sua jornada, mas uma situação vivida em fa-mília o influenciou de tal maneira que é hoje referência em suas obras. Ele mo-rava em uma casa alugada com a mu-lher e os filhos. Ao lado, vivia a irmã e, em uma segunda residência, um amigo. Certo dia, decidiram derrubar os muros que separavam as casas, formando, as-sim, um grande quintal. E, diariamente, os filhos, primos, amigos e vizinhos se reuniam ali, em brincadeiras infinitas.
Infelizmente, chegou um momento em que os donos do imóvel solicitaram
RESGATAR QUINTAISA emoção de Ferrari se desdobra em cores para
quem desconhece a intensidade dos quintais
a saída, pois ali seria construído um prédio, que persiste até os dias atuais. Ferrari se mudou com a família para um apartamento e, dessa história, nas-ceu a série de pinturas “Quintais”.
Anos depois, todos se mudaram para o municipio de Rio Acima. “Vie-mos na cara e na coragem, para morar no meio do mato, em contato direto com a natureza. A vida simples sem-pre me fascinou. Isso me trouxe muita
paz e só assim posso fazer o que eu faço. Aqui tenho inspiração de cores e formas, e isso foi fundamental para o meu trabalho”, conta.
Ferrari não quer comunicar nada pré-definido em suas obras. Explica que o faz pelo contentamento de resgatar, em cada um, o prazer de ser criança, que é o prazer de viver, e completa: “o sen-timento infantil é puro, desprovido de preconceitos e regras. Um sentimento que vamos perdendo com o tempo, à medida que nos tornamos adultos. Pa-rece que nos esquecemos dos quintais nos quais vivemos. Mas todos têm al-gum quintal e uma criança perdida lá dentro. Se eu consigo transmitir isso para as pessoas, pode ser que a crian-ça volte e elas comecem a ver a vida de maneira diferente, de forma mais bela e boa de se viver.” Inspire-se!
| Fernanda Mann
DEDICAÇÃO Ricardo Ferrari
em seu ateliê, em Rio Acima
1ENSAIO ARTÍSTICO
SAIBA MAIS www.rferrari.com
Memória de São Miguel y Almas de Guanhães
110 ECOLÓGICO | JUNHO DE 2013
1.
2.
Da Série Memórias de Infância
A Lagarta
Chuva de verão O Menino e o Dragão
JUNHO DE 2013 | ECOLÓGICO 113
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CONVERSAMENTOSALFEU TRANCOSO (*)1
O modelo consumista de produção da atualidade é 'ecocida' em sua natureza
e antiecológico em sua finalidade
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Filosofar é fazer pensar, refletir sobre como gerenciar melhor nossas escolhas cotidianas. Essa arte do bem pensar deve orientar nossas emoções e condecorar
nossas conquistas. Pensar para não sofrer, eis um dos le-mas centrais dessa atividade interrogante que tem por fina-lidade nos fazer encontrar a sabedoria do feliz. Por ser uma arte, todos a desejam, mas apenas uns poucos a atingem. E esses são os sábios, aqueles que conseguem monitorar com destreza as artimanhas do viver, fugindo das seduções do efêmero e dos negativismos atuais. Sabemos que muita gente não gosta de pensar, mas pode-mos aprender a gostar dessa atividade, já que todo amor é um aprendizado, fruto de um persistente esforço. Não existe gratuidade na vida. Toda pessoa doadora sabe disso. Ela dá porque re-cebe, ama porque é amada.
Há outro desafio fundamental para a vida que o ser humano teima em não assumir em sua amplitude: as im-plicações ecológicas da nossa relação com o planeta. Con-seguimos avanços significativos na esfera da política e da educação, em geral, mas na área dos sistemas econômicos pouca coisa foi conquistada. O sistema global de produção continua agindo como se os objetivos a alcançar fossem os mesmos de 200 anos atrás. O frenesi do crescimento a qualquer custo atinge todos os recantos da Terra. A roda acelerada desde o século XIX não pode parar. Para haver riqueza, é preciso produzir, consumir, obter lucro, criar mais trabalho, produzir e repetir tudo de novo numa ci-randa sem fim. Acreditam que, quanto mais consumirmos, mais trabalho criamos, mais o país pode se desenvolver. O
modelo consumista de produção da atualidade é ‘ecoci-da’ em sua natureza e antiecológico em sua finalidade. O planeta não mais suporta tamanha pressão sobre os seus já limitados recursos. Os ecologistas lançam pelos quatro cantos do mundo seus gritos de alarme. Mas os donos do poder industrial tapam os ouvidos a essas lamentações. É impossível pensarmos em crescimento e sustentabilidade num sistema em que a obsolescência é planejada e o des-perdício é o motor da reposição. Quase todos agem como se os recursos fossem ilimitados. É lógico que todos nós
precisamos consumir, mas consumo para suprir nossas necessidades e não para satisfazer o poço sem fundo dos nossos desejos. Todo o sistema global de produção atual aposta na ideia de que o supérfluo é mais importante do que o necessário.
Concluindo, podemos afirmar que a reflexão filosófica nos ajuda a encon-trar uma luz no meio do túnel antes
que o dique se rompa e a inundação esmague todos. Filo-sofar é apontar expectativas e, nesse aspecto, todas as pes-soas de bom senso devem, com urgência, utilizar a reflexão para propor novos caminhos ou uma saída para o impasse civilizatório em que nos encontramos. Urge lutarmos por uma sociedade mais verde, mais interativa com a natureza. Devemos saber que a luta ecológica não é somente uma luta para a preservação da espécie humana, mas de todas as espécies do planeta, já que somos fios da mesma rede interativa que forma o tecido da vida na Terra.
FILOSOFAR PARA PRESERVAR
(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas
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