Dos mistérios da atuação de Deus
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DOS MISTÉRIOS DA ATUAÇÃO DE DEUS
Editora „Der Ruf“ G.m.b.H., Munique.
1934
Introdução:
Em rica abundância, graças sobre graças oriundas da Luz fluem
para baixo, sobre a Terra, em uma época onde a ira sagrada derrama-se
purificando, a fim de aniquilar todas as trevas e, com isso, libertar dos impedimentos aquilo que anseia sinceramente e em humildade pelas
puras alturas.
São retirados véus da grandeza do acontecimento, oriundo de regiões que um espírito humano jamais pode alcançar sem ter de se
dissolver na pureza e no ardor, os quais lhe retiram a capacidade da
autoconsciência.
Por esse motivo apenas imagens disso são mostrados às pessoas
agraciadas. Imagens que elas podem suportar e assimilar, sem terem de
dissolver.
As graças só serão derramadas para aqueles que se esforçarem sinceramente para ainda se libertar das algemas do próprio auto-
aprisionamento aqui na Terra e reconhecer a grandeza de Deus.
Permanecem apenas imagens fracas em relação ao ímpeto real dos verdadeiros fenômenos, que são descritos aí. O olho do espírito que as
pode visionar fica, porém, apesar disso, quase ofuscado pelo brilho.
Deve se tornar, na luta, um auxílio para o ser humano, auxílio esse que pode deixar que ele reconheça o acontecimento na Criação de forma
mais fácil ao seu redor, já que ele só será capaz de realizar uma
conclusão em sua concepção, através da relação lógica com a origem
eterna de tudo aquilo que foi criado.
O véu abre-se e mostra a esfera divina inalcançável para a criatura
humana, esfera que sempre foi e sempre será eterna, sem começo, sem
fim, já que ela permanece sempre indissoluvelmente ligada a Deus, o Eterno. Ela é e atua como a irradiação direta de Deus, a qual jamais
pode se alterar.
Tudo é um todo, sempre atuante, que não surgiu apenas um após o outro! Contudo, isso não pode ser desenrolado diante do olho espiritual
de um ser humano de forma diferente do que em imagens individuais, para que lhe seja possível visualizar isso. E muitas, muitas
coisas ainda são omitidas, para que a impressão não ocasione confusão e, por fim, só apresente turvação e falta de clareza; pois para o espírito
humano são distâncias inapreensíveis que envolvem os fenômenos,
diante das quais, então, a Criação como pátria de todas as criaturas
humanas, permanece apenas como um anexo minusculamente
insignificante. —
Cede o véu do misterioso tecer e atuar de até agora na irradiação imediata de Deus, e diante do olho espiritual do ser humano que foi
agraciado para isso, vai, pouco a pouco, tornando-se claro:
Na proximidade de Deus
Um mar de Luz, sem limites para o olho, um mar de vida reluzente,
que num eterno pulsar, cria e difunde sempre de novo força e abundância. Concentrando tudo – de forma poderosa, criando.
Um tinir maravilhoso perflui tudo. Não é um som, nem um acorde,
nem o som de um órgão retumbante. Tudo isso é pouco demais, fraco
demais e desprovido de valor em comparação com o soar da Luz primordial! Seu som é o início da atuação para fora, para baixo,
enquanto o Divino poderoso emite sua vontade, expirando seu hálito
criador.
Há um movimentar-se no gigantesco mar da abundância da Luz,
lançando elevadas ondas, e dele desce, sobre uma onda de Luz coroada
de espuma, tomando forma, tornando-se visível, a primeira imagem primordial criadora, saída do Espírito de Deus:
A Mãe Primordial da Criação!
Ela se inclina para baixo, formada do Amor pela vontade de Deus-
Pai, e pode ser vista como uma estrela brilhante, enviada da Luz do
Eterno. Nascida para fora com uma poderosa pressão, oriunda do primeiro manancial de força, no início ainda totalmente inconsciente.
Apenas fora do círculo da Força viva desperta a disposição do
conceito de uma independência, que é capaz de continuar a atuar. E o
que Deus-Pai deu junto, como vibrando na Lei, isso começa a reluzir e a irradiar daí.
Como uma estrela, assim vibra esta que nasceu divino-enteal em
um espaço incalculável. Já independente, contudo ligada da forma mais estreita com a Luz primordial.
Através disso, ela é capaz de flamejar continuamente, arde e cria
para si mesma uma irradiação que a envolve, que continua a direcionar-se para baixo, resfriando-se e firmando-se com o
distanciamento. Com isso, da irradiação inicialmente branca, surgem
cores da mais delicada beleza, de reluzência rósea, que é una com o Amor criador e também tem de atuar da mesma maneira.
Amor criador! Nela reside o princípio materno do formar, do cuidar e
nutrir, do crescer, da assistência, do zelar e da severidade. E todos
esses conceitos que pulsam de forma viva aí, reluzem e soam em um tom que anuncia o Amor, o mais puro e mais sagrado Amor primordial.
Contudo, na primeira e delicada condensação que se forma em
torno desse sagrado Amor criador que tomou forma, há igualmente movimento. Extremidades finas erguem-se da base do círculo luminoso,
que envolve o núcleo, e esforçam-se saudosamente para cima, em
direção ao seu ponto central. Com isso elas se tornam mais ardentes,
mais luminosas, mais vivas e começam a reconhecer jubilando a existência. — —
Mais uma vez oferece-se, de forma plena, a maravilhosa imagem do
misterioso tecer que se realiza fora da Divindade onipotente, através de Sua irradiação, sob a pressão da sagrada vontade de Deus.
Da Luz rósea, suavemente sonante, que, da irradiação branca,
expande-se cada vez mais e mais perfluída por um movimento contínuo
do desenvolvimento, descem inúmeras chamas reluzentes, quais estrelas, que dançam faiscantemente como flocos de neve e que vão
lenta, lentamente para baixo.
Nada há, além do espaço infinito dessa abundância luminosa e seu resplendor, de sua quente reluzência e o cintilar dessas inúmeras
estrelas. No alto, como ápice, primeiro uma coroa luminosa. Esta e tudo
o que deve se formar do querer primordialmente criado encontra-se envolvido pelo resplendor do Amor divino, da Pureza e pelos raios da
Justiça.
Onde, porém, os raios oriundos da Vontade divina chegam pela primeira vez, tomando forma, em um determinado limite, forma-se
através do distanciamento e do resfriamento, acumulando-se, um anel,
uma concentração, onde os raios modificam-se, resfriando-se, dividem-
se e, então, não continuam a ir adiante no espaço apenas de forma vertical, mas também horizontal.
Com isso, modifica-se a cor e a densidade de uma espécie da
refração da Luz, e assim surge um plano que rodeia como um manto amplo e maravilhoso a Mãe primordial, a Rainha primordial Elisabeth.
Então, os véus luminosos, soantes e cantarolantes do sagrado
manto de irradiação da Rainha primordial Elisabeth dividem-se e sua face reluzente olha sorrindo para baixo, para os jardins perfluídos de
luz que surgiram do primeiro resfriamento, nos quais as virtudes
florescem individualmente, tomando forma. Os pensamentos de Deus, como modelos criadores espirituais, surgem e tomam forma lá,
guardando essas mais puras e mais sagradas fontes.
Formaram-se da vontade de Deus como modelo da Criação.
Cada um desses jardins das virtudes encontra-se repleto de vida e
de luz. Cada um deles se desenvolve e cresce tanto para o alto como
também para os lados e atua de forma irradiante para fora. Cada um é
algo completo por si e, contudo, na totalidade, apenas um elo, uma espécie.
Harmonicamente essa espécie vibra no entusiasmo bem-
aventurado, por ser-lhe permitido atuar servindo na proximidade de Deus, continuamente, de forma pura e fiel, e inexorável na Lei. Por si só
a bem-aventurança e a alegria além da compreensão já oferece esse
vibrar em conjunto, sem qualquer tipo de perturbação!
Esta é a esfera da irradiação imediata de Deus, ou seja, a esfera
divina.
O mais elevado desses jardins, onde cada um abrange distâncias
enormes, é o Jardim do Lírio Puro; pois a pureza como a virtude mais
elevada tem seu lugar diretamente aos pés da Rainha primordial, ligando-se ao seu reino de irradiação pessoal, no qual nada mais pode
ser capaz de se formar, além da própria Rainha primordial.
O Jardim do Lírio Puro tem como rainha a coroa de lírios Irmingard. Ela traz o nome Irmingard desde a eternidade. —
Quando um espírito é agraciado em poder olhar a imagem da
Rainha primordial Elisabeth, então, numa delicada resplandecência,
desenvolve-se primeiro, no lugar mais elevado, a coroa de luz com sete estrelas luminosas e resplandecentes. Um cabelo de luz, loiro, na
verdade branco-dourado flui como uma corrente de irradiação da coroa
e emoldura a estreita face divina de luz da Rainha primordial, na qual vivem continuamente olhos profundamente azuis e então novamente
dourado reluzentes, que chamejam, irradiam como força viva. Eles
olham com imensurável clareza, bondade, severidade e pureza.
Em seu manto de luz azul pulsa a vida. Ela irrompe irradiando do
maravilhoso receptáculo, o qual, transparente como alabastro, toma a
forma de uma figura feminina maravilhosa e exemplarmente bela. Nesse receptáculo corpóreo ondeia um mar de chamas de reluzência luminosa
dourada. Assim pulsa e flui vida luminosa através da figura inteira,
como o sangue no corpo humano.
Cada vez mais clara torna-se a figura, que parece aumentar continuamente em força luminosa e movimento. Ela se encontra com os
pés sob um solo magnífico, que crescendo se forma em jardim. Árvores
e estradas de resplandecência dourada, correntes de luz, alternam-se nesse jardim da esfera divina. Esse reino possui dimensões
inapreensíveis com sua indescritível beleza.
A Rainha primordial irradiante, que permite que a vida criadora flua por ela, cresce assim de maneira gigantesca, inapreensível. Em tudo ela
é tão grande, que o sentido humano não é capaz de compreender. Assim
é a Mãe primordial da Criação, Elisabeth, a Rainha, a mais pura de todas, a Única!
Há um soar e um cantarolar ao seu redor como se fossem milhões
de vozes bem-aventuradas e, apesar disso, em uma espécie extremamente delicada.
Em sua proximidade e a partir dela só podem existir irradiações.
Soa, entoa e murmura, de forma cada vez mais poderosa circula a
grande, maravilhosa e sagrada resplandecência, envolvida pelo manto vivo da regência da força primordial, tendo como base os jardins
dourados de Deus, regendo e atuando, trajando a vontade de Deus na
forma, na forma primordial.
No meio da coroa de luz da Rainha primordial irradia uma luz como
esmeralda. Nela se reflete o raio oriundo de Deus-Pai: a força que parte
de Imanuel e está ancorada em Parsival.
À direita arde na coroa, como um brilhante, a luz do puro amor
auxiliador que tudo vivifica e interpenetra de forma reluzente! Seu raio
incandesce e perflui a vibração do atuar vivo e criador da Rainha e
coloca-se, envolvendo tudo com seu brilho suave, sobre todo seu ser. É
oriundo do raio que une Jesus a Imanuel em Maria, a Rosa, uma parte
inenteal de Imanuel, que se encontra em ligação direta com Jesus.
Esses dois mais superiores raios que perpassam a Rainha
primordial e formam-se em Parsival e Maria, são Luz oriunda da Luz,
vida existente provinda de Deus!
À esquerda brilha na coroa de luz como uma magnífica pérola.
Poderosamente essa luz resplandece da cabeça sagrada da Rainha
primordial, e poderosamente ela emite o seu raio.
Essa resplandecência divina desce para os pés da Rainha primordial, ao plano divino que, pela primeira vez, tomou forma nos
jardins dourados e cresce lá como imagem primordial da Pureza,
irradiando de forma branca, numa maravilhosa beleza, sobre o ápice da perfeição na figura de um lírio: Irmingard. Ela é a mais superior virtude
que tomou forma a partir de Elisabeth.
E sob o jardim da Pureza segue-se um jardim após o outro, os quais abrigam as virtudes individuais e os quais, por sua vez, irradiam
adiante em sua espécie correspondente e bem definida.
Elisabeth, porém, rege sobre tudo como receptáculo receptador e como força atuante e, a partir das imagens primordiais das virtudes na
esfera divina, florescem, na etapa seguinte, os anciões, isto é, os
eternos.
Os pensamentos de Deus que tomaram forma trazem em si a força irradiante, direta e contém o todo, isto é, eles vibram cada um por si na
Cruz, são, portanto, ativos e passivos ao mesmo tempo. Eles vivem
na esfera divina.
Sua espécie particular, porém, objetiva atividades unilaterais de irradiação para uma determinada direção e, a partir disso, dirigindo-se
para baixo, para o puro espiritual, efetua uma cisão nas espécies que
vibram unilateralmente de forma predominantemente positiva e predominantemente negativa. Estas se formam, de modo
correspondente a sua espécie particular, em masculino e feminino.
Todas elas devem ser consideradas como crianças oriundas do Jardim de Deus.
Apenas estas é que formam o círculo dos mais elevados primordialmente criados no puro espiritual, portanto, fora da
esfera divina.
Por meio de sua vontade eles edificam lá o Templo, o Burgo sagrado,
para adoração de Deus, a Quem agradecem, a Quem vivem servindo
eternamente em bem-aventurança. Eles o edificam segundo a imagem primordial no divino.
Parsival
Grande demais é o acontecimento nas mais elevadas alturas, para
que ele seja capaz de ser comprimido de forma lógica em palavras humanas. Por isso, diante do olho espiritual surgem imagens
individuais oriundas do todo para uma mais fácil compreensão e para
comprimir em conceitos humanos.
Assim aparece Elisabeth com o menino Parsival nos braços.
Palavras sonantes soam de seus lábios:
“O menino nasceu no espírito a partir de mim, para fortalecimento da Criação e para o sagrado cumprimento do amor de Deus.
“Eu Sou!” foi a palavra que desceu do alto e tomou forma através de
mim. Parsival, o Espírito da Justiça, nasceu do sagrado amor unido
com a mais elevada pureza.
Ao mesmo tempo, abriu-se o arco do céu e, ofuscando, fluiu luz
além do limite do estreito círculo, e no jardim do Seu Pai a vida
flamejou e incandesceu o meu atuar.
Uma semente primordial após outra fluía então para baixo, para o
sagrado receptáculo preparado, que estava perpassado de vida doadora.
Soando, fluíam as gotas de força, flamejando de forma dourada elas caíam qual chuva através do círculo das pontas das virtudes divinas
formadas pelo querer e dividiam-se em masculino e feminino.
Auxiliares divino-enteais subiam e desciam, fortalecendo e apoiando as sementes primordiais no novo solo, e cresciam coluna após coluna,
aspirando pelo alto, num agradecido e jubiloso servir e reconhecer. Elas
se estendiam para o alto, orando ao Pai com todo o seu ser. Elas foram
encimadas por cúpulas pelas auxiliadoras pontas da força que ELE emanava para baixo – para nosso auxílio.
Assim se formou a casa em volta do menino Parsival, a Sede da
força e o abrigo protetor ao redor da fonte da vida.
E flamejava o receptáculo puro, que havia absorvido em si a vida, e
a emanava adiante, vivificando e criando na lei eterna.
E vivificando e criando atuava adiante, de modo que nasceu disso, fluindo em abundância, a pura força da mais perfeita beleza, para
honra do Criador. Portanto, do Jardim de Deus nasceram os mais
elevados, os fiéis de Parsival.
Em círculo eles rodearam a ardente e reluzente fonte da força de
Seu Pai. Adorando num alegre atuar!
E cada vez mais irradiante reluzia, através disso, o reino da Criação
primordial e expandia-se para baixo, para fora, através de condensações que se esfriavam.”
Assim soaram as palavras oriundas da boca da Rainha primordial.
Atuar em adoração
No vibrar da luz, trepida um som reluzentemente claro. Ele pode ser
comparado, de forma aproximada, com o soar claro como sino do mais puro copo de cristal, apenas bem mais alto, claro e luminoso, mas,
apesar disso, delicado como o sopro do vento.
Assim é o som da luz nos jardins eternos da Pureza, onde o Lírio Puro desenvolve-se a partir do querer da Rainha primordial. Ela é o
conceito tomado forma da maior Pureza, que não se deixa separar do
Amor e da Justiça.
Assim como o tecido dourado de luz de um maravilhoso botão de flor,
ela brota do manto flutuante da Mãe suprema, e ao redor dela reúnem-se
as irradiações que ela própria atrai e também novamente doa, num
pulsar maravilhosamente sonante, criador, sustentador e modificador, oriundo da Lei.
E essas irradiações, querendo servi-la, querendo auxiliar, querendo
atuar, fluem de volta para ela e partem novamente dela num maravilhoso circular fechado em si. Disso surge o maravilhoso som no reino luminoso
da virtude divina, da Pureza.
Flui um frescor nele, que se assemelha ao ar fresco ensolarado sobre picos de neve ofuscantes, e um hálito de calor sopra suavemente aí,
como o delicado aroma das flores nos quentes meios-dias de maio. A
pureza das fontes, que lhe nutrem e que fluem da Luz, é de um resplendor ofuscante e, como pérolas, elas borbulham saindo do vibrante
solo primordial.
O sentido humano não pode assimilar a imagem da virtude divina na
origem – apenas sua irradiação torna-se consciente a ele.
Do alto, da clara luz circulante, inclina-se para baixo uma delicada e
bela figura, semelhante a um anjo. Ela se forma lentamente, de raio em
raio e de forma em forma, a partir da irradiação fluente e em movimento da luz do maravilhoso Lírio. Ela se encontra de pé, erguendo suas folhas
branco-douradas como em adoração e captação das forças divinas, num
bosque dourado, cujas gramíneas finas, exalando aroma, tremulam e oscilam suavemente aspirando o alto.
Gotas reluzentes caem como orvalho da Luz e em sua abundância
florescente e irradiante forma-se uma luminosa e tecedora imagem primordial da graça e da pureza.
Clara como água límpida e cristalina flui das mãos da forma da
vontade, que ganha cada vez mais um encanto feminino, um brilho
luminoso dourado-esverdeado, que se cristaliza.
E este cristal de irradiações leva, tomado forma aí, o pensamento do
mais puro querer até diante do recipiente sagrado, em torno do qual a
Criação se forma. Flui e ondula e pulsa na resplandescente fonte da vida, à qual foi dado o nome: O Santo Graal.
Muitas destas figuras de luz saem dos Jardins das Virtudes Celestes,
corporificando-as com força irradiante que só possui uma origem: a Luz
de Deus.
Uma estrela irradiante liga-se estreitamente a outra, reluzindo
amavelmente em sua diversidade das mais delicadas cores e, apesar
disso, fundindo-se uma com a outra num anel circulante e vibrante, que irradia ofuscando: o primeiro círculo em torno do recipiente sagrado da
vida.
E estes são os guardiões do Santo Graal que sustentam o Burgo
sagrado através de seu servir vivo, em adoração jubilosa; e atuam para baixo, já que não podem evitar a irradiação.
Isto é a imagem primordial da beleza, da força, da coragem, da
sabedoria, da misericórdia e de muitas outras mais. Todas as correntes do querer espiritual que eles desenvolvem a partir de si, fluem para o
alto em adoração, também irradiam para fora e para baixo e formam-se,
correspondendo a sua forma primordial. É assim que eles nascem para fora e são novamente atraidos pela força da mais nobre igual espécie, e
são sempre de novo renovados pela corrente da água viva oriunda do
Santo Graal.
Assim se formam e constroem-se os jardins de Deus a partir do
alegre atuar na esfera do puro espiritual e, continuando a irradiar
desta, também na esfera espiritual como Criação posterior e atuam
junto no Paraíso! Ali florescem flores nas mais perfeitas formas, beleza e abundância. E, para alegria dos eternos, crescem os frutos irradiantes
nas árvores luminosas que aspiram ao céu.
Com isso constroem-se as belezas da natureza exemplar, que deve circundar, nutrir e sustentar todas as criaturas de Deus, e, a partir
dela, formam-se as forças que atuam na espécie do fogo, da água e do
ar como as correntes primordiais dos elementos por nós conhecidos.
Apenas então formam-se as imagens primordiais dos cristais, das
estrelas, e formam-se mundos de perfeita beleza e diversidade e sempre
se desenvolve neles espécie após espécie.
As entealidades ligadoras e beneficiadoras, porém, que efetuam tais formações, são sempre de um degrau mais elevado do que a sua
criação. É assim que se une o atuar dos guardiões puro-espirituais,
espirituais e enteais, formando um Burgo maravilhosamente sustentador e construtivo em direção ao alto, que é o Reino de Deus, e
para baixo, formando uma corrente de forças atuantes, prósperas e
doadoras de bênçãos. —
*
Eterna, no luminoso pulsar da Luz, movia-se a Criação divina que
surgira assim. Deus havia lhe dado um Senhor, o Guardião e Portador
da Luz, do qual a força, fluindo constantemente, podia se lhe tornar
sempre nova e sempre a mesma: Parsival.
Bem-aventuradas jubilavam as chamas puras que circundavam o
Rei da Luz e o Apoio da Luz. Em gratidão atuavam, dando o melhor de
si, tanto no alegre receber quanto no dar. Dando continuamente da
abundância de suas bem-aventuranças, também lhes era permitido
continuar bebendo da fonte da vida.
Flamejando, incandescendo e refletindo-se em todas as cores luminosas, o Reino de Deus desenvolveu-se, formando o Paraíso. E
Parsival, o Rei, o Filho da Luz Primordial, como parte de Imanuel,
reinava sobre o Santo Graal e doava para a Criação a força da vida.
Cada vez mais desenvolvia-se a Criação posterior. As forças enteais
atuavam cada vez mais para fora, para baixo e condensavam suas
espécies. De degrau a degrau elas davam o seu amor auxiliador umas
às outras e serviam todas àquele Um, ao Senhor e Rei da Criação e assim também a Deus.
Eles traziam notícias das profundezas e com seu vibrar puro na
vontade do Altíssimo, buscavam para si as instruções para o seu atuar.
Os espíritos humanos da Criação posterior falham
Então Deus-Pai enviou uma luz para iluminar os espíritos humanos
na matéria grosseira. Era Lúcifer, o arcanjo de um dos degraus de Seu
trono. E Deus deu-lhe a força para que ele iluminasse os seres humanos com a luz do raciocínio, para que eles pudessem utilizar
assim a intuição de seu espírito, dada por Deus, e moldá-la de forma
totalmente eficaz na pesada materialidade.
De forma reluzente e bramante Lúcifer desceu rumo à
materialidade, querendo cumprir alegremente o desejo do Senhor. E
passou-se um tempo.
Mas então os guardiões perceberam um movimento que ainda não haviam vivenciado, um bloqueio, uma estagnação. No atuar deles nada
havia se modificado, e de forma eternamente igual e maravilhosa, o
amor de Deus-Pai fluía para baixo cantando, bramindo e reluzindo através de seu Rei para eles.
De espécie a espécie a notícia penetrava cada vez mais alto, para
cima, e fazia-se perceptível como um movimento contrário no fluxo do vivo circular das leis. Eles sabiam que isto só podia vir de Lúcifer e,
numa vontade unida com força aumentada, eles vibravam sempre e
constantemente no amor servidor.
Eles não se queixavam, não temiam, mas a luz não fluía mais de
forma tão ininterrupta como antes. Os enteais nas esferas mais baixas
estavam preenchidos com a mesma força de Deus, pois também eles
serviam fiéis e sem distorções, mas eles viam com preocupação o atuar do ser humano!
Uma chama estava ajoelhada na dor do amor, diante do trono de Parsival. Era Irmingard, o Lírio Puro, a imagem primordial da pureza,
protegida e guiada pela própria Rainha celestial Elisabeth, e sua
preocupação era com a mulher terrena.
“Lúcifer nunca mais poderá percorrer os círculos do Graal”, assim
soava de forma vibrantemente metálica, clara como prata, mas mesmo
assim suave, da boca de Parsival. “Seu vibrar luminoso irá definhar e
ele cairá cada vez mais fundo. Ele atrairá vibrações das sementes espirituais e estas unir-se-ão a ele puxando para baixo. A mulher
terrena, porém, falhou por própria culpa; pois ela guiou o seu livre-
arbítrio de forma errada!”
Da imagem primordial da pureza, duas gotas vermelhas, como
sangue do coração, caíram sobre a pedra branca do Santo Graal. De
forma tão terrivelmente pesada, pesava sobre Irmingard o sofrimento da mulher; pois ela sabia o que tinha de vir agora: a queda de todo o
gênero humano!
Seus olhos reluzentes aprofundaram-se, maiores e mais azuis eles olhavam para cima, para o Senhor, cintilando no brilho úmido da dor.
As mãos brancas se colocaram em oração como folhas delicadas, a
forma oval do rosto luminoso parecia ainda mais delicada, os lábios
florescentes tremiam suavemente, como se não fossem capazes de formar a grandeza da intuição.
Mas o pedido subiu até Parsival e através dele foi para o alto, para
Deus-Pai.
“Senhor, não deixe as criaturas humanas nas garras de Lúcifer.
Salve-as, Senhor, eu te peço!”
E Parsival colocou sua mão direita reluzente sobre os cabelos
dourados do Lírio Puro, concedendo. Ele ainda não havia pronunciado a palavra, mas a vontade do Pai fluía para baixo, se cumprindo através
dele. —
Auxílio da Luz
E então aconteceu que na vontade de Deus-Pai foi decidido enviar
uma parte de Sua força para baixo, para a Criação posterior, para colher experiências e para auxílio da humanidade cambaleante e
oscilante, que estava próxima de sucumbir.
E o Espírito Santo se separou e se tornou visível sobre o Santo Graal, na figura de uma Pomba de branco-resplandescente. Então Ele
desceu para a Terra.
Contudo, profunda tristeza e escuridão já pesavam sobre a Terra. Nos longos períodos de desenvolvimento da Terra, a humanidade havia
piorado cada vez mais. Apenas brilhavam ainda sobre ela poucos
pontos luminosos, que poderiam ter se tornado um solo puro para
receber as irradiações divinas.
Nevoeiros se alastravam sobre a Terra, contudo os raios do Sol
abriam caminho para si e iluminavam muitas pontos maravilhosos.
Abismos rochosos íngremes se expandiam em desertos gigantescos. Eram como um enorme burgo de resistência. A Pomba luminosa ficou
parada por um momento pairando sobre eles, então tomou seu caminho
adiante para a Pérsia.
Em alturas imensas, outrora mal alcançáveis pelo olho humano, se
distendia em seus limites o reino ensolarado e florescente dos ismanos!
A pureza e a paz estendiam a sua luz brilhante sobre este lugar, uma luz que não era desta Terra.
O príncipe dos ismanos caminhava em seu jardim, que circundava
seu magnifico castelo numa abundância resplandescente e aromática.
Branca era sua veste longa e completamente simples; o cabelo e a barba caíam cheios e macios e emolduravam a face estreita e marrom,
cujos olhos juvenis brilhavam como dois sóis irradiantes e bondosos, de
forma sábia e doce, mas cheios de força.
Is-ma-el, o príncipe dos ismanos, que lhes era ao mesmo tempo guia
e preceptor, sacerdote e regente, levantou seu rosto para o luminoso
céu de azul profundo e um raio da luz transfigurou seu rosto. Ele havia intuído a proximidade da Pomba sagrada e inclinou seu espírito para
ouvir a voz do seu íntimo.
Seu semblante adquiriu uma expressão extraterrena e seus olhos brilhavam transfigurados.
“Sim, Senhor”, murmurava ele, “sim!”
E então ele se dirigiu rapitamente para a sua moradia. Em seus
aposentos, que irradiava pela suntuosa beleza das pedras preciosas e do ouro artisticamente trabalhados, ele tirou seus calçados e se deitou
cheio de esperança sobre uma pele branca.
Com a cabeça apoiada nas mãos, ele olhava com expectativa para um recipiente de puro jaspe, sobre cujo fundo repousava uma estrela
maravilhosamente lapidada. Não demorou muito e o recipiente começou
a soar baixinho. Aproximou-se um tecer luminoso, um perfume de
rosas e lírios, e um brilho delicado e fino como um véu, superado pela resplandecência de uma coroa de estrelas de um branco-azulado. Olhos
dourados e luminosos olhavam da torrente de véus, que se formavam
diante dos olhos espirituais ofuscados de Is-ma-el, para que ele pudesse suportar essa força da Luz e uma voz soou através de seu espírito,
fundo em seu coração.
“Ouve, Is-ma-el, príncipe dos Ismanos! Eu te chamo para um servir
fiel!
Vá até o lugar onde a Pomba branca aparecer para ti. Toma a tua
vara e o teu cavalo e segue o teu guia. Deves encontrar um menino que
deverá se chamar Abd-ru-shin, que significa “Filho do Espírito Santo”. Uma criança de um ano de idade. Ele é Parsival, meu filho! Proteja-o da
sede de morte dos homens e guia-o para que ele encontre aplainados os
caminhos da vida, quando seu tempo tiver chegado.
Ouve e segue minhas palavras. O Seu Pai te enviará a força!”
Suavemente, assim como havia surgido, a luminosa figura
desapareceu diante dos raios rígidos do dia terreno ensolarado. Quase imperceptível pairava ainda a última lembrança do aroma de flores pelo
ambiente.
Is-ma-el se levantou. Sentiu o seu corpo como se tivesse nascido de
novo. Ele bateu palmas. Alguns de seus mais elevados servos e amigos vieram em seguida e ouviram surpresos a sua ordem. Is-ma-el
preparou-se para a viagem e não disse para onde esta se dirigia, nem
contou nada sobre sua finalidade. As expressões silenciosas dos ismanos não exprimiram nenhuma pergunta. Alegremente eles
executaram a sua ordem. *(Ismael foi o mesmo espírito elevado, que
anunciou mais tarde, como “João Batista”, a existência terrena do Filho de Deus, Jesus.) —
Os anos se passaram sobre a Terra. – Na eternidade, eram como uma fração de um poderoso dia de luz. Imensurável, incomparável
terrenamente, é a vivência nas alturas luminosas. Lá cada desejo, cada
pedido atua de forma viva e se desencadeia imediatamente. Cada anseio puro traz cumprimento imediato.
Maravilhoso, incompreensível aos círculos de idéias do ser humano
na Terra é o tecer destes fios luminosos das leis que trabalham com tal
confiabilidade que nada, mas nem o mínimo pode se perder.
Fiéis, as forças auxiliadoras e servis reuniram-se em volta do Lírio
Puro, que havia se ajoelhado nos degraus do trono diante de Parsival,
como uma coluna flamejante.
Na hora sagrada da Ceia, era sempre ela, a mais pura das puras,
que podia levar ao Rei a taça sagrada. Somente ela era escolhida para
isto. Toda a sua vida repousava neste servir e a força de Deus fluía primeiro através dela, assim que ela recebia a taça sagrada das mãos de
seu Rei. Resplandecentemente ele unia esta força com a Luz primordial
e de forma resplandecente a força fluía através de Irmingard.
Contudo, desde que a vontade de Deus tocou a materialidade, o
Lírio Puro foi preenchido de um forte anseio, de segui-lo também até lá,
servindo-o. E seu anseio transformou-se em oração.
O pedido puro da intuição encontrou logo realização. E se realizou o
mistério sagrado, de que a força irradiante do Lírio baixou através da
bondade de Deus em um corpo humano.
Como uma corrente de luz ela fluiu para baixo, para a Terra,
seguindo o caminho da Pomba sagrada, e mais adiante, sobre desertos
e mares fluía a força da pureza, sob a mais elevada proteção e mais
forte condução, em direção do país Egito.
Muitos seres amáveis, semelhantes a flores reuniram-se logo aos
anjos, em torno dela. Eles construíram uma rede de fios luminosos, na qual ela foi entretecida para proteção contra o desalento que vinha de
baixo. Duas virgens luminosas com escudos estavam ao seu lado e
sobre ela pairava a força do Espírito Santo.
Astarte, a amável imagem enteal da pureza, a guardiã do
matrimônio e protetora de todas as virtudes da mulher terrena, porém,
voou jubilando ao seu encontro, exultando de alegria, pois agora, por força mais elevada, lhe adviria novamente ligação com a feminilidade
terrena decaída. —
Então Irmingard ingressou como Nahome, a filha de um príncipe egípcio, na matéria grosseira entre os seres humanos terrenos, para
servir a Parsival que a havia precedido e na Terra portava o nome Abd-
ru-shin, do mesmo modo como o servia nas alturas, no castelo luminoso do Santo Graal.
Com isto ela ancorava a pureza na Terra, sob a proteção de Abd-ru-
shin, para auxiliar a feminilidade terrena, que podia receber agora diretamente a sua irradiação, bem como também todos os auxiliadores
enteais próximos da Terra, que dessa forma podiam atuar de forma
fortalecida e mais intensa.
Quando então Parsival deixou o corpo terreno e com isso esta Terra,
para subir novamente para a Pátria, na mesma hora a figura luminosa
de Irmingard também abandonou o seu invólucro terreno, que fora conhecido como Nahome e, buscando apoio, ela ligou-se fortemente ao
raio luminoso de Parsival – Abd-ru-shin que ainda havia permanecido
ancorado na Terra.
Lentamente ela seguiu o corpo transfigurado de seu Rei, cada vez
mais e mais alto e, por fim, estando totalmente nele e abandonando
com ele o âmbito da Terra, percorrendo rapidamente todos os planos com a velocidade da mais pura luz. —
O Lírio Puro havia retornado outra vez para a luz da Pátria. Murmurando continuamente, fluía o som do elevado plano divino a sua
volta. E zuniam as asas dos anjos, que haurindo da fonte primordial da
vida, inclinavam suas taças e nutriam os jardins sagrados do Lírio.
Parsival, porém, como parte da vontade sagrada de Deus, havia
ingressado na fonte primordial da força e ali permaneceu durante
algum tempo. Sua vontade, porém, continuava a atuar sempre para fora, para toda a Criação, e no seio da grande sabedoria eterna
preparava-se um novo vibrar para o início de um novo círculo. —
No Santo Graal vivia a Rosa da Luz: Maria! *(Não é Maria de
Nazaré.) Luz dourada fluía dela e as gotas cristalinas da mais pura
água, oriundas da corrente de Luz de Deus-Pai, gotejavam vivificando e nutrindo continuamente através de Sua bela flor. Ela era eternamente
jovem e eternamente madura, eternamente cheia de força e eternamente
doadora, e a irradiação de sua espécie era amor.
Ela era a outra metade da justiça viva oriunda da parte inenteal, era
una com ela e uma parte dela. Onde a justiça tinha que golpear com
severidade, ali o amor equilibrava curando de acordo com a lei. —
E mais uma vez devia se cumprir uma grande graça na Criação, no amor de Deus: O que Parsival começou como Abd-ru-shin, isto
Maria, como Kassandra, devia completar na Terra.
E a vontade do Senhor se realizou no Santo Graal! Ardia e ondulava na taça sagrada, na qual o Pai derramava Sua Luz através do Filho.
Branco como cristal e irradiando de forma transparente, como um
grande diamante, assim reinava o Rei Parsival sobre o elevado assento dourado luminoso. De sua cabeça, que portava o elmo prateado com a
coroa, resplandecia a Pomba. Seus olhos eram claros como ouro e a
abundância de seus cabelos de luz alcançava até os seus ombros. Nas
mãos, transparentes como alabastro, ele segurava a espada.
À sua direita estava sentada Maria em vestes resplandecentemente
brancas. Irmingard, porém, seguida de um grupo de amáveis mulheres,
saiu de uma sala à esquerda do grande salão, descendo sobre degraus largos e luminosos.
Em suas mãos erguidas, ela trazia a taça luminosa, que,
ajoelhando, ela ofereceu ao Rei do Santo Graal.
Nisso soava como coros de sinos e sons de órgãos. O soar se
propagava, embora em ondas incontáveis, e sempre novas correntes da
mais pura luz seguiam estas ondas.
Os amplos salões de colunas estavam repletos de grupos
incontáveis de espíritos irradiantes. Em todo este brilho e este som da
luz, reinava adoração bem-aventurada a Deus através do Burgo
sagrado.
E uma nova, mais fortalecida e bramante vibração da luz dourada
fluía para lá, enviada do mistério de Deus com as palavras do Pai:
“Que assim aconteça!”
E desceu a mão de Deus sobre a cabeça do Filho e separou o amor da justiça. E sobre os ombros de Maria se deitou um manto de um
maravilhoso preto irradiante.
Maria incandescia igual à luz da taça sagrada nas mãos de Irmingard. De cima fluía a força do Pai e Maria colocou suas duas mãos
sobre o Santo Graal. Ela orava.
Inflamando-se, a luz branca de sua coroa se intensificou, semelhante a um ramo de rosas cintilantes. A Rainha primordial
aproximou-se dela, envolvendo-a ainda mais firme em seu manto, cuja
constituição só tem seu efeito protetor na força dos cumprimentos. Ao
baixar para a materialidade da Criação, o manto se modifica sempre na
espécie correspondente, necessária para a proteção de Maria. Pois o
amor oriundo da justiça é tão puro que sem invólucro ele jamais
poderia subsistir na materialidade, na corrente dos mundos escuros. Ele sempre seria atacado e obscurecido pelo mal oriundo de Lúcifer.
A oração de Maria ao Senhor intensificou-se até a força máxima.
Como línguas de chamas sagradas os espíritos bem-aventurados encontravam-se em torno de seu Rei Parsival. Maria continuava a orar
e, lentamente, sobre os raios que o Lírio Puro enviava para baixo, no
querer de sua própria espécie, de plano a plano, Maria desceu em
oração gradativamente à Terra! —
Em cada um dos planos ela provocava um forte afluxo de força
luminosa. Como se fossem preenchidos com nova vida, era assim que
os puros Criados intuiam a passagem do amor celeste. — —
No tempo destes acontecimentos vivia na Terra, nas proximidades
de Tróia, um pastor solitário: Péricles. Ele tinha o dom de poder ver e ouvir muitas coisas com o espírito, que permaneciam ocultas aos
outros.
A noite já descia sobre Tróia; nas campinas reinava silêncio. As ovelhas e as cabras se reuniam e todas encontravam o seu lugar. Elas
respiravam baixinho, como se estivessem ouvindo atentamente. As
flautas ecoavam apenas de modo fraco, só para dar a saudação noturna aos pastores espalhados por ali. E também já apareciam as primeiras
estrelas brilhantes no céu noturno. A alma de Péricles ficou silenciosa e
solene.
Para ele era como se do oriente longínquo se aproximassem, cada vez mais claros, exércitos por sobre as montanhas, rios, florestas; como
se ele ouvisse um cantar jubiloso de vozes, algo que ele nunca tinha
ouvido antes.
Então ele se sentiu, repentina e delicadamente tocado em sua
fronte, como que por delicados e frescos dedos, e ele levantou o olhor.
Ofuscado, porém, ele teve de fechar os olhos. Apenas depois de alguns momentos receosos ele pode reconhecer nitidamente, que diante dele,
num resplendor irradiante, encontrava-se um belo jovem dirigindo-lhe a
palavra. Mas a voz era tão enorme e poderosa, que devido ao seu bramir, ele mal podia assimilar o sentido do que era dito.
“Eu sou um mensageiro de Deus!”, falou o luminoso. “Eu vos
anuncio uma grande alegria. Vá, Péricles, e diga a todos que querem
crer: nasce uma luz sobre Tróia! Se reconhecerdes esta luz, então ela vos dará a abundância da vida. Se, porém, não a reconhecerdes, ficareis
entregue à morte!”
De fraqueza, Péricles havia caído de joelhos sob a poderosa pressão da luz. Ele tremia, estava branco e gelado. A força do anjo anunciador
havia sido demais para ele.
Mas mesmo assim uma pergunta soou de sua boca:
“Mas como devemos encontrar a luz, senhor?”
“Tu a verás na hora de sua chegada. Uma pomba branca irá pairar
sobre a casa!”
O hálito do luminoso tocou-o e ele desapareceu no nada diante de
seus olhos.
E houve grande movimento no mundo. Péricles o percebia. Seus
delicados órgãos de observação se aguçaram ainda mais. Ele, que
sempre estivera estreitamente ligado à natureza, sentia o vivificar das plantas e dos animais. Era como se todos os seres se espreguiçassem,
se aprumassem e se esforçassem para o alto, no novo brilho. O
sussurar nos ares se intensificou, o murmúrio nos rios e nas fontes aumentou de forma extraordinaria.
Como uma clara e delicada via láctea, formou-se um brilho no céu,
até embaixo na Terra.
De modo bem especial, misterioso, sim, respeitoso, esta corrente de luz tocou a sua alma.
Ele falava livremente disso aos seus companheiros, mas estes
olhavam para o céu e não conseguia reconhecer nada. Contudo, eles diziam confiantes:
“Deve ser assim, se é Péricles quem diz.”
Ele se preparou para a vinda da grande luz sobre a Terra.
Os pastores acreditaram nele, mas não refletiam a respeito. Eles
também não sentiam aquela grande alegria que só é dada ao espírito
que se encontra desperto e preparado para o amor de Deus. Eles aguardavam para ver o que aconteceria. – Uma raposa que atacasse a
manada, ou uma ovelha doente poderia chamar muito mais a sua
atenção.
Péricles sentiu isso. Ele não estava surpreso por causa disso e se calou. Mas quanto mais silenciava, tanto mais intensamente ele sentia
todas as elevadas forças do Além que se aproximavam dele.
Ele olhou para baixo, para a cidade adormecida, que se encontrava numa delicada neblina noturna. Archotes em chama tremulavam em
algumas casas e portões – os precursores da noite. No leste o azul
profundo já havia dado lugar a uma escuridão sem cor; no oeste, porém, ainda estava claro no céu e uma listra vermelha emoldurava o
mar.
Todos os enteais haviam desaparecido. Contudo, para ele era como se reluzisse um brilho, uma luz dele mesmo, como de uma lâmpada. Ele
olhou em volta, pois achava que um dos seus companheiros havia se
aproximado com uma luz. Mas não era isso. Ele reuniu seus
pensamentos e lançou-se ao chão, pois seu coração estava transbordante – e orou. Esta solução silenciosa lhe fez bem; tornou-se-
lhe claro, que ele estava esperando por algo, por alguma coisa
grandiosa, que o arrebataria no espírito de forma poderosa. Ele se lembrou novamente do mensageiro de Deus.
Como ele havia dito? “Eu sou o mensageiro de Deus!” Mas de qual
Deus ele havia falado? Quando ele se encontrava sentado assim tão quieto e pensativo, desprendido e cheio de confiança, cheio de
humildade, uma voz perpassou-o de forma nítida e clara:
“Só existe um Deus! Nós todos O servimos, somos apenas efeitos de
Sua vontade.”
Era assim que soava do alto, dos ares.
“Nós tecemos na Sua lei, mas a luz que agora vem a ti, esta provém
Dele”.
Ele sentiu vertigens, pois tudo isso lhe era tão novo.
O céu naturalmente se envolvera com a noite; as estrelas brilhavam
como nas noites úmidas pela chuva, quando um vento quente soprava,
limpando o céu. Havia um suave pesadume sobre a terra que exalava
um cheiro úmido.
Então foi como se uma corrente de chamas luminosas descesse do
céu! Em apenas um segundo, a região inteira estava mergulhada na luz
branca. Péricles quis fechar os olhos, mas eles permaneceram arregalados como que obrigados.
E ele viu uma Pomba branca e brilhante acima de si, ela trazia uma
rosa dourada no bico. Seu vôo era um deslizar silencioso. Ela desceu sobre o castelo de Príamos e desapareceu.
O pastor se levantou, deixou o seu rebanho e apressou-se para a
cidade, para contar o fato ao rei.
Um júbilo soava em sua alma como o badalar de sinos:
“Existe somente um Deus, mas a luz, que agora vem até ti, esta
vem DELE!”
E aconteceu que o pastor foi ter com Príamos e lhe contou, o que de
tão maravilhoso lhe havia sucedido.
Príamos o ouviu atentamente. Em seu modo claro e bondoso, ele deixou o pastor contar tudo. Mas ele mesmo era um homem de
existência terrena prática, para poder compreender toda profundidade
desta vivência.
Ele sabia: os pastores são um povo maravilhoso por si mesmo. Ele
acreditava de fato neles e já tinha ouvido muitas coisas boas sobre a
sabedoria de Péricles. Mas como era simples, ingênuo e estava
preenchido com as preocupações da existência terrena, ele se preocupou pouco com aqueles fenômenos finos e meditativos da alma.
“Tu trouxeste uma mensagem no mesmo momento em que nasceu
minha filha, Péricles. A criança deve estar sob proteção especial dos deuses. Outra coisa o gênero humano não entende. Queremos fazer
fielmente o que é certo, então também estaremos servindo aos deuses.
O que é eterno tem tempo até para depois da morte.”
Então foi como se uma tempestade se levantasse no espírito do
pastor:
“Acautela-te, Príamos! Reflita, atenta a cada uma das minhas palavras; pois elas pesam muito. Não fui eu quem as falou, mas o
mensageiro de Deus e ele não vem por causa de pequenas coisas do
dia-a-dia. Não penses apenas na proteção divina para a criança, lembra
também das palavras ameaçadoras que acompanham sua anunciação: “Nasce uma luz sobre Tróia! Se reconhecerdes esta luz, então ela vos
dará a abundância da vida. Se, porém, não a reconhecerdes, então
encontrareis a morte!”” – Ameaçadora soou a voz do pastor.
Nesta hora iniciou-se, vibrando, o prosseguimento do curso de um poderoso destino da humanidade, mas os seres humanos não
perceberam nada disso.
Péricles não encontrava sossego. Ele andava pela cidade, ia ter com os pastores, os camponeses, largava o seu rebanho, por causa da
palavra do anjo. Ele se aproximou dos pescadores, pois estes deviam
levar a notícia pelo mar afora, para as ilhas. Ele visitava os
comerciantes que aportavam na praia de Tróia, para que também eles levassem a mensagem do anjo através dos mares.
Mas a rainha Hekuba, a mãe da menina, não quis permitir isto.
Primeiro veio dela uma ordem para que houvesse silêncio, a fim de não incitar o povo. Depois, Péricles foi ameaçado e da terceira vez, ele foi
expulso do país.
Péricles caminhava aflito pela cidade de Tróia e sacudia o pó de seus pés; deixou até mesmo na beira da praia suas peles para os pés.
“Diga a Hekuba: O destino de Tróia provará que a mensagem do
anjo não é uma mentira, mas as palavras se cumprirão, se vós não vos modificardes: Se, porém, não reconhecerdes esta luz, ficareis entregue à
morte!”
Ele incumbiu um dos seus com estas palavras, como última
mensagem.
Descia uma nuvem escura e pesada, anunciando desgraça sobre
Tróia; enquanto que a única pessoa, em quem o grão de verdade
germinava, abandonava o país. —
A humanidade restringida, não deu atenção aos chamados de
sabedoria de Kassandra. Por isso tinha que vir a queda de Tróia, junto com o falhar da geração inteira.
Mesmo que Maria, tendo que sair novamente da Terra sem ter tido
êxito com os espíritos humanos indolentes, ainda assim a Luz permaneceu ancorada de modo intenso para auxílio da humanidade; e o
Filho de Deus, Jesus, pôde descer pela mesma irradiação para levar à
humanidade tola a Palavra de Seu Pai, oferecendo-a como última corda
de salvação na maior aflição. Até aquele momento, uma linha clara de permanente auxílio da Luz atravessava toda a existência humana.
Mas quando Jesus foi pregado na cruz pela massa cheia de ódio,
toda a ancoragem da Luz foi interrompida sobre a Terra escura; mesmo aquela ancoragem que Parsival e Maria haviam iniciado outrora, e que
Maria, como Kassandra, havia fortalecido de novo. A Luz se retraiu e
abandonou a humanidade terrena ao seu destino, por ela mesma desejado, já que esta a repelira.
Foi somente com a nova vinda de Parsival, como Abd-ru-shin, que o
caminho de luz se ligou de novo, para que a Terra não tenha que perecer no Juízo.
Desta vez, seguiram-No, de acordo com a vontade sagrada de Deus,
também Maria, como corporificação do amor divino e mais uma vez
Irmingard, a flor do Lírio Puro, impelida pela sua fidelidade. Eles se
encontraram na hora determinada.
E Parsival abriu caminho para a descida de Imanuel, o Filho do Homem, para o Juízo e para a edificação do Reino de Deus aqui sobre a
Terra. Imanuel tomou posse do atual invólucro de Parsival, purificado e
incandescido, e cumprirá o que foi prometido desde longo tempo.
O mistério do envio da trindade para a grande transformação
universal já foi retratada de várias maneiras. Há para os seres
humanos, porém, como o mais compreensível e também o mais belo em
forma de imagens, um escrito que pôde ser transmitido de forma clara pela mão de um que serve ao Graal, a partir das alturas mais puras. O
escrito retrata um quadro como só é possível admirar no mais puro
querer espiritual. As palavras só são dadas aos que foram iniciados com mais profundidade no saber da Criação e elas soam:
“O amor da Luz circunda a perfeição do Trígono celeste com raios
maravilhosos.
Ininterruptamente flui uma corrente sagrada da luz do Senhor, para
baixo, em direção àqueles que desceram à Terra e o brilho celestial da
luz está dividido em três, circundando em uma corrente tripla a perfeição do Trígono na matéria grosseira.
A mais sagrada força do Pai flui em direção ao Filho Imanuel na
eterna onipotência. O mais sagrado amor flui de Jesus para Maria, o
Amor do Senhor. A resplandecente pureza da Rainha primordial, porém, flui para a figura luminosa do Lírio.
O sagrado olho eterno do Senhor irradia sobre isto e olha cheio de
amor para baixo, para aqueles que saíram de seu coração, mas que mesmo assim permaneceram eternamente próximos Dele, pois são luz
de Sua luz, eternidade de Sua eternidade e amor de Seu amor.
Um no Pai e unido ao Pai atua Imanuel, mas mesmo assim é um por si, na mesma inentealidade sagrada, na qual Maria solta o manto
de seus ombros e entra em Imanuel, o inenteal, inenteal como Ele
mesmo.
E a flor do Lírio se eleva vibrando do Jardim de Deus e coloca sua
cabeça irradiante nas mãos sagradas de Imanuel, que a ergue até o Seu
coração. Ele lhe presenteou o místério do último e mais elevado amor, em cuja irradiação ela pode ingressar na luz primordial sagrada do
Senhor”.
*
Mas quem procurar sinceramente e em humildade pela Luz, na
alma deste haverá com isso mais claridade e ele poderá compreender muitas coisas que sempre deverão permanecer ocultas aos espíritos
indolentes. Em conjunto com a Mensagem do Graal tudo o que lhe foi
mostrado e dito lhe será de grande auxílio!