DOCUMENTANDO A ARQUITETURA RESIDENCIAL DA CIDADE DE … · DOCUMENTANDO A ARQUITETURA RESIDENCIAL...
Transcript of DOCUMENTANDO A ARQUITETURA RESIDENCIAL DA CIDADE DE … · DOCUMENTANDO A ARQUITETURA RESIDENCIAL...
DOCUMENTANDO A ARQUITETURA RESIDENCIAL DA CIDADE DE JOÃO PESSOA: entre o real e o digital
MOURA FILHA, MARIA BERTHILDE (1)
1. UFPB. Departamento de Arquitetura / PPGAU
Rua Juiz Ovídio Gouveia 18 – João Pessoa – PB – CEP. 58031-030 [email protected]
RESUMO
O produto aqui apresentado constitui desdobramento de pesquisas realizadas ao longo de três anos, no âmbito do programa de iniciação científica, com vinculação ao Laboratório de Pesquisa Projeto e Memória (LPPM), do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Paraíba. O objeto trabalhado nessa investigação foi a arquitetura residencial produzida e/ou ainda existente em João Pessoa, vista em perspectiva histórica, uma vez que percorrendo as ruas da cidade há edificações que documentam a transformação do modo de morar, entre os séculos XVIII e XX. Concluída tal pesquisa, os resultados obtidos permitiram avançar com o presente estudo, o qual tem por foco uma leitura sistematizada e didática sobre o conjunto da arquitetura residencial em foco, priorizando uma síntese gráfica que seguiu dois caminhos. O primeiro resultou na associação entre mapas da cidade, referentes ao período do século XVIII à década de 1940, e um levantamento da arquitetura residencial ainda remanescente na cidade, produzida no mesmo recorte temporal. Como recurso para localizar essa arquitetura, as ruas foram percorridas utilizando o Google Street view, de onde foram capturadas imagens sistematizadas a partir da datação de cada um dos referidos mapas, de modo a conseguir uma leitura da relação entre o urbano, a arquitetura e a organização espacial da sociedade, entendida através da localização dessas residências. O segundo produto obtido é uma síntese gráfica sobre as próprias residências, estudando através de maquetes 3D as transformações verificadas, ao longo do tempo, no modo de organizar o espaço de moradia considerando aspectos como: implantação no lote, programa de necessidades, organização espacial, volumetria, linguagem decorativa, etc. Trata-se, portanto, de um trabalho que alia os métodos tradicionais de investigação – bibliográfica, documental e de campo, aos recursos da modelagem digital, gerando maquetes utilizadas para documentação e estudo dessas residências, bastante dilapidadas pelo tempo e precário estado de conservação. Não sendo possível apresentar aqui todo o resultado da pesquisa, opta-se por tratar neste artigo sobre os procedimentos metodológicos de documentação e representação gráfica dessa arquitetura e, entre os modelos produzidos, explana-se a construção da casa térrea característica do período colonial, tendo por referência alguns exíguos exemplares que, embora muito alterados, ainda subsistem em João Pessoa.
Palavras-chave: Arquitetura residencial; Modelagem 3D; João Pessoa; História da Cidade.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Documentando a arquitetura residencial da cidade de João Pessoa: entre o real e o digital
O produto aqui apresentado é um pequeno recorte dos resultados obtidos com a
investigação proposta para o pós-doutorado em curso no âmbito do Programa
PNPD/CAPES, junto ao PPGAU/UFRN. Esta investigação, por sua vez, constitui um
desdobramento de pesquisa bem mais ampla, realizada durante três anos através do
programa de iniciação científica, com vinculação ao Laboratório de Pesquisa Projeto e
Memória (LPPM) do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Paraíba. O objeto trabalhado ao longo deste percurso é a
arquitetura residencial produzida e/ou ainda existente em João Pessoa, vista em perspectiva
histórica, uma vez que percorrendo as ruas da cidade vêem-se edificações que
documentam a transformação do modo de morar, desde a casa colonial até o século XX.
Concluída a pesquisa inicial, os resultados obtidos permitiram avançar com o projeto sobre o
qual se investe no momento, o qual tem por meta fazer uma leitura sistematizada e gráfica
do conjunto da arquitetura residencial em foco, priorizando dois caminhos. O primeiro, na
escala do urbano, identificando a localização da arquitetura residencial ainda existente
através da produção de mapas da cidade, referentes ao período do século XVIII à década
de 1940. Com estes mapas, o objetivo é associar a expansão e formação da cidade à
transformação das casas e, como recurso para localizar essa arquitetura, as ruas foram
percorridas utilizando o Google Street view, capturando imagens que foram sistematizadas
considerando a datação de cada um dos referidos mapas. Com o segundo caminho se
explora através de maquetes 3D as transformações verificadas, ao longo do tempo, no
modo de organizar o espaço de moradia observando aspectos como: implantação no lote,
programa de necessidades, organização espacial, volumetria, linguagem decorativa, etc.
Não sendo possível apresentar aqui todo o resultado da pesquisa, delimitou-se como
objetivo do presente artigo tratar sobre os procedimentos metodológicos adotados para
documentação e representação gráfica dessa arquitetura, exemplificando em particular
como se deu a apreensão da cidade no século XVIII e do correspondente modo de morar
em casas térreas características daquele tempo, reconstruídas com o recurso da
modelagem digital. Cumprindo tal objetivo, o artigo está ordenado de modo a explanar como
foram obtidos os resultados aqui apresentados quanto à: forma da cidade, mapeamento dos
exemplares arquitetônicos remanescentes na atualidade, reconstrução e análise do objeto
arquitetônico.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
O objeto urbano sob análise: a forma da cidade no século XVIII
Sendo a estrutura urbana o suporte físico no qual está inserido o objeto arquitetônico aqui
em estudo: a residência, uma primeira etapa a cumprir foi a compreensão da morfologia da
cidade ao longo do seu processo de expansão, no recorte temporal trabalhado.
Metodologicamente, produzindo e analisando mapas de tempos distintos, pôde-se identificar
onde estavam sendo implantadas as residências, como estas se distribuíam no espaço,
permitindo conhecer os tempos de ocupação das diversas áreas da cidade.
Tratando especificamente do século XVIII, um obstáculo se apresentou para o
desenvolvimento do estudo na escala do urbano: a escassez de cartografia, o que dificulta a
apreensão da sua estrutura física. Diante deste impasse, se decidiu construir um mapa
conjectural da cidade, reunindo informações recolhidas na pouca cartografia e documentos
manuscritos de época, adotando o procedimento a seguir explanado.
Da cartografia mais antiga, datada do início do século XVII, pouco se extrai sobre a
morfologia da cidade, por nesta predominarem as informações acerca da ocupação do
território da capitania, motivo que levava a representar o núcleo urbano de forma
esquemática. Informações mais aproximadas sobre o desenho da cidade vão constar na
cartografia produzida durante o período da ocupação holandesa na Paraíba e, por isso, esta
é a principal base de estudo, permitindo situar as vias, quadras, edifícios representativos.
Posteriormente, há um único registro gráfico de parte da cidade, na verdade um esboço
executado em 1692, pelo Capitão Manuel Francisco Grangeiro, em função da demarcação
de terras do Mosteiro de São Bento. Inexistindo qualquer outra cartografia do século XVIII,
se abre uma enorme lacuna nas fontes disponíveis para subsidiar o estudo da configuração
do espaço urbano, uma vez que somente em 1858 a cidade foi mapeada, por ordem do
presidente da Província da Paraíba, Henrique de Beaurepaire Rohan (SOUSA e VIDAL,
2010, p. 13).
A esta cartografia se somam alguns manuscritos que possibilitam acrescentar informações
sobre a cidade do século XVIII, embora sejam estes escassos, uma vez que tais
documentos tinham foco nas questões administrativas. Ao final, para construção do mapa
conjectural proposto, todos os dados coletados foram transferidos para o redesenho digital
do mapa de 1858, o qual foi trabalhado visando ocultar a cidade do século XIX e ressaltar,
de modo aproximado, o traçado do fim do século XVIII. A princípio, este longo tempo parece
comprometer o resultado obtido, mas esta ideia se dissipa perante o limitado crescimento
que a cidade teve até aquele tempo.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Apresentando o passo a passo seguido para a composição deste mapa, se passa a relatar
como ocorreu a formação da malha urbana mais antiga da cidade buscando observar, em
particular, onde estavam as residências, cuja arquitetura será apresentada a seguir.
A atual cidade de João Pessoa foi o núcleo inicial da Capitania da Paraíba, fundada por
determinação da Coroa portuguesa. Surgiu sob a designação de Nossa Senhora das Neves,
sendo-lhe acrescido o nome de Filipéia devido ao período de união das coroas ibéricas,
quando teve início sua história. Um relato daquela época informa que seus conquistadores
escolheram um platô elevado, junto ao Rio Sanhauá, para implantar a cidade que ficou
beneficiada pela proximidade de um bom porto, fonte de água doce, e uma pedreira
(SUMMARIO, 1848, p. 66-67). Foram a presença do rio e a conformação do sítio que
imprimiram à forma do aglomerado urbano duas características próprias da tradição urbana
portuguesa: a cidade colocada em posição elevada e a definição de dois setores
segmentados pela topografia, hoje referidos como cidade alta e baixa.
A cidade baixa, também denominada Varadouro, foi caracterizada na historiografia por sua
função portuária e comercial, a princípio mais restrita à exportação do açúcar produzido na
capitania, embora documentos registrem a existência de residências ali, desde os
primórdios da cidade, quando em 1587, um lote de cinquenta braças de terra foi dado “no
Varadouro para cazas e quintal”1. No entanto, a cartografia mais antiga pouco esclarece
sobre a ocupação dessa área, provavelmente, por ter uma ocupação tão esparsa que não
foi representada nem mesmo sob a forma esquemática utilizada em tais registros para
demarcar a cidade alta (Figura 1).
Figura 1: Recorte da cartografia da cidade, datada de 1609, contida na “Relação das praças fortes e
coisas de importância que Sua Majestade tem na costa do Brasil por Diogo de Campos Moreno”.
Fonte: Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo. Ministério do Reino. Coleção de plantas,
mapas e outros documentos iconográficos.
1 Sesmaria de 50 braças de terra no Varadouro, dada a Francisco Gonçalves. 1587. Livro do Tombo do Mosteyro
de Sam Bento da Parahyba. Livro 2. 1948, p. 13-15.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Deixando a área do Varadouro e vencendo o desnível da encosta se tinha acesso à cidade
que, como entendiam seus fundadores, era o núcleo situado no alto. Esta ligação se dava
por uma via referida na documentação sob diversos termos: em 1604, era o “caminho de pé
que vay para o Varadouro”2 e, em 1612, “rua publica que vay para o Varadouro”3. Esta
alternância de termos, entre rua e caminho, deixa dúvidas quanto à ocupação das margens
deste eixo.
Por sua vez, o núcleo da cidade alta foi estruturado a partir das ruas Nova e Direita. Sendo
paralelas, estas duas ruas eram conectadas por vias transversais que definiram os primeiros
quarteirões da cidade, observando uma ortogonalidade já constatada em outras
experiências urbanas do universo português daquela época. Este conjunto urbano foi mais
bem representado na cartografia produzida pelos holandeses, dando maior relevância à
presença das residências na cidade alta (Figura 2).
Figura 2: Recorte da gravura intitulada Frederice Stadt (c.1640), dando destaque ao núcleo urbano.
Sobre esta estão marcados os edifícios religiosos e principais ruas: (A) Beco da Misericórdia; (B) Rua
Nova; (C) Rua Direita; (D) Travessa do Carmo.
Fonte: REIS FILHO, 2000.
Observa-se que este traçado mantinha intrínseca relação com as igrejas e mosteiros ali
edificados, os quais foram registrados pelo sargento-mor Diogo de Campos Moreno, em
1609: a sé, “mais pobre que todas”; a Igreja da Misericórdia “muy ben lavrada”; e os
mosteiros dos franciscanos “que bastava muy ben acabado”, do Carmo “que se vay fazendo
2 Confirmação de datas de terras nos arrabaldes da cidade, pertencentes ao Mosteiro da Ordem de São Bento.
1604. Livro do Tombo do Mosteyro de Sam Bento da Parahyba. Livro 3. 1949, p. 93-97.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
e hu de São Bento que se fabrica”.4 Tais vias transversais, por estarem atreladas à
localização de alguns desses edifícios religiosos tiveram as seguintes denominações: Beco
da Misericórdia e Travessa do Carmo.
Documentos referentes a “datas de chãos” guardam informações relevantes sobre a
ocupação e formação da Rua Nova, entre o final do século XVI e os primeiros anos do XVII.
Um destes trata de lote concedido, em 1588, “no lugar onde diz que he no cabo da rua
Nova”, juntando-se aos “maiz vizinhoz” ali instalados5. Este e outros documentos permitem
constatar que, no início do século XVII, a Rua Nova já se encontrava com um considerável
índice de ocupação, mas como registrou a cartografia holandesa, a rua encerrava à altura
da sua intersessão com o Beco da Misericórdia.
Quanto à Rua Direita, era balizada ao norte pelo convento dos franciscanos e, ao sul, pela
Igreja da Santa Casa da Misericórdia. A partir dali havia apenas um caminho em direção ao
sítio onde estavam os jesuítas, instalados mais afastados do núcleo povoado e próximo à
aldeia dos índios Tabajaras, por lhes caber a princípio a catequese desses. Pouco se sabe
sobre o início da ocupação da Rua Direita, mas valendo-se de uma documentação posterior
é possível constatar que nas primeiras décadas do século XVII havia ali muitas casas,
sendo diversas edificadas em alvenaria de pedra. A utilização dessa técnica construtiva
demonstrava, por um lado, a disponibilidade de pedra para construção na região, mas
também certa estabilidade e desenvolvimento da cidade, consequência do crescimento da
produção açucareira da Capitania da Paraíba.
Estando a cidade em construção os holandeses dominaram a Capitania da Paraíba entre
1634 e 1654. A cidade edificada até as primeiras décadas do século XVII ficou registrada na
cartografia produzida sob o governo holandês, mas as guerras que caracterizaram este
tempo resultaram em uma ‘desconstrução’ do que havia anteriormente. Por isso, não se
sabe ao certo o que pode ter permanecido da arquitetura residencial erguida nas primeiras
décadas de sua fundação, pois os relatos do pós-guerra dão um quadro de devastação.
Quando João Fernandes Vieira chegou, em 1655, para restabelecer o governo português na
Paraíba, encontrou a capitania “completamente devastada pela guerra, pelo incêndio e pela
seca dos últimos anos” (MACHADO, 1977, p. 263). Em 1671, o capitão-mor Inácio Coelho
da Silva disse ter achado “so ruinas do que foy cidade, luzindo pouco sua milhora, em tantos
3 Escritura de venda de chãos na Rua Nova, comprados pelo Mosteiro da Ordem de São Bento.1612. Livro do
Tombo do Mosteyro de Sam Bento da Parahyba. Livro 3. 1949, p. 21-24. 4 Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo. Ministério do Reino. Coleção de plantas, mapas e outros
documentos iconográficos. Relação das praças fortes e coisas de importância que Sua Majestade tem na costa do Brasil por Diogo de Campos Moreno. 1609, fl. 10. 5 Carta de data de chãos na Rua Nova concedida a Gaspar Gonçalves. 1588. Livro do Tombo do Mosteyro de
Sam Bento da Parahyba. Livro 2. 1948, p. 30-33.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
annos que ha foy restaurada dos innimigos”6. Isto se confirma através da seguinte descrição
do capitão engenheiro de Pernambuco, José Pais Esteves, enviado à Paraíba, em 1691:
“Tem sento e setenta vizinhos, e a mayor parte das cazas terreas fabricadas de madeira, e
barro; poucas de pedra e cal, e muitas menos de sobrado tãobem feitas da mesma materia.
As que avia nobres de pedra e cal ficarão queimadas do tempo dos olandezes”7.
Percebe-se que quase quarenta anos após a retomada da Paraíba aos holandeses, as
condições da cidade eram muito precárias e as cicatrizes do passado ainda estavam
presentes. Um ano depois, em 1692, parte da cidade foi representada pelo Capitão Manuel
Francisco Grangeiro, abrangendo a área compreendida entre o Rio Sanhauá e a Rua Nova.
Através desse mapa é possível visualizar, parcialmente, como estava a cidade nessa época,
se observando que três novas vias foram representadas, como indicado na Figura 3.
Figura 3: Planta da Cidade da Paraíba, feita pelo Capitão Manuel Francisco Grangeiro, em 1692.
Entre as informações registradas pelo autor destacamos: (A) Rua do Varadouro para as cacimbas e
portinho; (B) Capelinha de São Pedro Gonçalves; (C) Estrada das cacimbas até a porta da igreja do
Rosário dos Pretos; (D) Estrada ou caminho do carro para a cidade e da cidade para o Varadouro; (E)
Igreja e mosteiro dos beneditinos; (F) Igreja Matriz.
Fonte: LINS, 2002.
O que se pode apreender neste desenho é que tais vias não resultavam de qualquer
planejamento da malha urbana e, tudo indica, eram os percursos cotidianos da população
que as definia. Também registrou o Capitão Grangeiro, serem estas vias ainda pouco
6 Arquivo Histórico Ultramarino. ACL_CU_014, Cx. 1, Doc. 80.
7 Arquivo Histórico Militar de Lisboa – 2ª Divisão – 1ª Secção – Nº 7.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
habitadas, havendo apenas algumas sequências de casas representadas nas imediações
do Varadouro e da cidade alta, estando os trajetos, em grande parte, sem edificações.
A estes dados cartográficos se somam alguns poucos manuscritos que acrescentam
informações sobre o traçado da cidade. Como exemplo, em 1693, em uma documentação
que trata sobre a reconstrução da casa de câmara e cadeia, foi sugerido fazer nova cadeia
na área “onde chamão a baixa”, a qual ficava “quasi no meyo da rua principal que tem essa
cidade”, se referindo à Rua Direita8. No entanto, tal proposta não foi acatada por ser o local
escolhido muito “afastado da povoação dessa cidade e impróprio para o intento”9. Da
mesma forma, o processo de transferência do edifício da alfândega permite entender um
pouco mais as limitações espaciais da cidade por volta de 1696. A ideia era construir um
novo edifício no Varadouro “por ser este o mais conveniente a respeito de ficar em menos
distancia para a carga e descarga dos navios”, reduzindo a possibilidade de “descaminho” das
mercadorias conduzidas à cidade “por matos, e despovoado”10. Portanto, dessa exígua
documentação pode-se extrair as seguintes cogitações: a cidade alta continuava restrita
àquelas poucas ruas iniciais e o Varadouro permanecia uma área distante e pouco povoada.
Outros documentos indicam que muitos lotes situados nas ruas Nova, Direita e na Travessa
do Carmo, só voltaram a ser reocupados quando decorridos, em média, cinquenta anos da
expulsão dos holandeses. Em paralelo, ocorria a formação e ocupação de novas ruas. Há
referência que, em 1713, o fim da Rua Nova, à altura da confluência com a Travessa da
Misericórdia, marcava o “principio da rua da ladeira, que corre para o Sul”, na qual foi dado
um lote de seis braças de terras “para fazer cazas”11. A estrada que ligava as cacimbas até a
Igreja do Rosário dos Pretos, representada na planta do Capitão Grangeiro, voltou a ser
citada em 1715, em carta de doação de lote para construção de uma “morada”, visando
promover o “augmento desta Cidade”12. Essa igreja foi, também, um dos elementos de
referência para a formação da Rua da Baixa que dava continuidade à Rua Direita seguindo
para o sul.
A presença dos jesuítas foi outro fator do crescimento da cidade em direção ao sul. Entre
1676 e 1759, quando foram definitivamente expulsos do Brasil, estes padres construíram no
mesmo sítio da antiga ermida de São Gonçalo, um imponente conjunto arquitetônico
formado pela casa e colégio da Companhia, a Igreja de São Gonçalo e o seminário, cuja
8 Arquivo Histórico Ultramarino. ACL_CU - Códice 256, fl. 202v. e ACL_CU_014, Cx. 3, Doc. 210.
9 Arquivo Histórico Ultramarino. ACL_CU - Códice 257, fl. 14. e ACL_CU - Códice 256, fl. 274v.-275.
10 Arquivo Histórico Ultramarino. ACL_CU_014, Cx. 3, Doc. 236.
11 Arquivo Público do Estado da Paraíba. Período Colonial. Documentos Manuscritos. Sesmarias. Livro 6 109, fl.
111v.-114. 12
Arquivo Público do Estado da Paraíba. Período Colonial. Documentos Manuscritos. Sesmarias. Livro 6 108, fl.
8v-10.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
função religiosa e de ensino constituiu um fator de atração da população naquela direção.
Isto, possivelmente, também favoreceu a ocupação da antiga “estrada que vai para os
engenhos”, a qual já constava na cartografia holandesa, mas agora se tem notícias de
doação de lotes para residência.
Outro espaço significativo surgiu em função da construção da igreja da Irmandade de Nossa
Senhora das Mercês, sagrada em 1741 (PINTO, 1977, p. 127). Esta foi um dos referenciais
da cidade do século XVIII, pois definiu um espaço urbano próprio, o Largo das Mercês, no
qual tinha fim a rua que, partindo do convento do Carmo, corria paralela à Rua Direita e
vinha dar à porta dessa igreja. É relevante atentar que as irmandades de leigos e suas
igrejas, somando-se à arquitetura monástica e secular, passavam a balizar a formação de
ruas e a definir eixos de crescimento. Isso vai se verificar com a “rua que vai de Sam
Francisco para o caminho do Tambiá”, o qual levava em direção ao sítio denominado de
Tambiá Grande e à bica de água ali existente, sendo também procurado pelos fiéis da
irmandade da Mãe dos Homens, cuja igreja estava em construção em 1767 (AGUIAR, 1992,
p.134).
Este relato permite perceber, aproximadamente, como se configurava a cidade até o final do
século XVIII, estando uma simulação de tal realidade representada no mapa conjectural
elaborado como resultado desta pesquisa (Figura 4).
Figura 4: Mapa conjectural da cidade, ao final do século XVIII, elaborado sobre a planta de 1858.
Fonte: Elaboração Maria Berthilde Moura Filha e Filipe Valentim Afonso, sobre base CAD fornecida
por Wylnna Vidal.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Através do mesmo se depreende que poucas ruas estavam consolidadas na cidade alta, e
que o crescimento da malha urbana foi muito lento e pouco expressivo, certamente reflexo
do contexto da capitania, anexada à Pernambuco desde 1756, retardando ainda mais o seu
desenvolvimento. Em decorrência dessa ação, os melhoramentos urbanos eram raros,
embora a documentação de época utilize repetitivamente os termos “augmento e ornato” da
cidade revelando o desejo de seus governantes.
Cumprindo a segunda etapa da pesquisa, este mapa guiou um passeio pelas ruas
existentes na cidade, no final do século XVIII, buscando identificar na arquitetura ainda
presente os registros físicos das residências daquela época.
O objeto arquitetônico na cidade: mapeando remanescentes do século XVIII
Compreendida a estrutura urbana, optou-se por somar este produto a uma pesquisa
realizada sobre a cidade atual de modo a identificar: onde estavam implantadas as
residências que guardam características arquitetônicas do período colonial; como estas se
distribuíam no espaço urbano quanto a padrões construtivos, permitindo conhecer a
estratificação social e espacial daquela época e ter uma leitura aproximada dos tempos de
ocupação dessas diversas ruas. Com isso, o objetivo foi confirmar onde estavam os
exemplares passíveis de algum estudo.
Sendo difícil, por motivos de tempo e segurança, percorrer todas as ruas da cidade no
recorte cronológico da ampla pesquisa, que abrange até a década de 1940, se decidiu tirar
partido dos recursos disponibilizados na internet, utilizando o Google Street View como
ferramenta para este passeio virtual, capturando imagens que foram sistematizadas
considerando a datação de cada um dos mapas produzidos no conjunto da pesquisa.
Tratando especificamente do mapa conjectural da cidade, no final do século XVIII, este
levantamento da realidade atual permitiu acrescentar algumas informações relevantes e
ratificar dados fornecidos pelo estudo da formação urbana. Assim se percebeu que as ruas
principais da cidade alta detêm o maior número de exemplares com características definidas
pela literatura como o modo de ordenar as residências do período colonial, confirmando
serem as ruas mais consolidadas àquela época. Na cidade baixa, poucos são os
exemplares identificados, indicando que, certamente, seriam mais precárias e menos
duradouras as residências naquela área. As ruas e espaços urbanos em processo de
formação no século XVIII parecem ter tido, também, residências menos duradouras, pois
nada permaneceu que remeta àquele período. Neste caso, se enquadram eixos como as
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
futuras ruas de Trincheiras e Tambiá, que eram então simples caminhos que levavam para
fora da cidade.
Obtendo esta visão da cidade e dos remanescentes arquitetônicos do passado, se tornou
possível escolher os exemplares que pautaram o desenvolvimento do modelo 3D. Feita a
seleção, foram realizadas visitas aos mesmos para coletar as informações que tais edifícios
ainda podem fornecer quanto à volumetria, organização espacial, materiais e sistemas
construtivos. Com isso, se elaborou o modelo apresentado aqui, em grande parte subsidiado
pela revisão bibliográfica de títulos sobre a arquitetura residencial brasileira, de modo a
sanar lacunas que os edifícios já não têm matéria para relatar.
O objeto arquitetônico sob análise: idealizando modelos
Tratando das casas mais antigas da cidade, o desafio de reconstituí-las pode ser
comparado a compor uma colcha de retalhos. Sobre as moradias existentes na cidade, em
1609, registrou Diogo de Campos Moreno que já se via formada “hua rua de muy boas
cazas de pedra e cal que se vão acabando e outras de taipa”13. Após o período da
dominação holandesa, muitas foram as cartas de doação de lotes urbanos, datadas dos
séculos XVII e XVIII que traziam observações como esta: “não consta que houvesse
senhorio dos chãos que os Supplicantes tratão mas parece que o tiveram porque n’elles se
veem algumas paredes arruinadas de pedra e cal”14.
Fica evidente a dificuldade de estudar esta arquitetura reunindo esparsas informações de
tempos diversos e com imensas lacunas: dados documentais que antecedem a invasão
holandesa; edifícios reconstruídos após o período holandês e registros físicos que hoje
subsistem na cidade, mas em geral muito alterados. Diante disso o estudo seguiu o único
caminho que se apresentou viável: selecionar exemplares existentes na cidade que ainda
guardam características da arquitetura residencial dos séculos XVII a XVIII e analisá-los a
luz das informações extraídas de escassa documentação de época e da historiografia da
arquitetura brasileira, gerando modelos hipotéticos, mas fundamentados em informações
consistentes.
13
Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo. Ministério do Reino. Coleção de plantas, mapas e outros
documentos iconográficos. Relação das praças fortes e coisas de importância que Sua Majestade tem na costa do Brasil por Diogo de Campos Moreno. 1609, fl. 10. 14
Arquivo Público do Estado da Paraíba. Período Colonial. Documentos Manuscritos. Sesmarias. Livro 6 109, fl.
79-82 e Sesmarias. Livro 6 109, fl. 82-84v.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Assim, para analisar a casa térrea que a historiografia caracterizou para o período colonial,
foi escolhida uma sequência de antigas residências localizadas na Rua General Osório e
reunidos os dados para elaboração do modelo: a composição das fachadas obtida pelo
levantamento gráfico e fotográfico; a dimensão dos lotes dada pela planta cadastral da
cidade disponibilizada pela Prefeitura Municipal; a disposição das cobertas ainda existente,
etc.
A construção do modelo teve início observando os lotes nos quais as residências estão
inseridas. Segundo Reis Filho (1987, p. 22), na cidade colonial estes possuíam "cerca de
dez metros de frente e grande profundidade". Vauthier (1981, p. 33), reportando-se ao caso
do Recife afirma que “cada casa ocupa sobre a rua apenas uma largura de 5 a 8 metros; as
que ultrapassam essa dimensão constituem fenômenos”. Ao observar a planta cadastral
levantada pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, verifica-se que naqueles quarteirões
que margeiam as ruas mais antigas da cidade, Nova e Direita, (atuais General Osório e
Duque de Caxias) as dimensões das testadas dos lotes não diferem muito do que registra a
historiografia.
Nestas mesmas ruas as antigas residências ainda se mantém construídas “sobre o
alinhamento do terreno, com suas empenas laterais coladas nos limites dos lotes vizinhos”
(MENDES; VERÍSSIMO; BITTAR, 2009, p. 141). Também se conserva a volumetria e
organização da coberta em duas águas, com a cumeeira paralela à fachada (Figuras 5 e 6).
Figuras 5 e 6: Conjunto de residências situadas na Rua General Osório e o modelo 3D que simula a implantação, volumetria e coberta da casa térrea do período colonial.
Fonte: Fotografia Maria Berthilde Moura Filha. Modelo idealizado por Maria Berthilde Moura Filha e produzido por Alexandre Magno Nascimento e Gilson Ferreira. 2015.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Uma vez que estas residências tiveram suas cobertas alteradas para inserção da
platibanda, uma inovação de finais do século XIX, no modelo foi feita a substituição por
soluções de beirais típicos das casas coloniais: os cachorros de madeira, as cimalhas e a
beira-sobeira que, segundo Corona e Lemos (1989, p. 75), foi largamente adotada nas
edificações do litoral brasileiro “pelo fato de ali predominarem as construções de pedra e
cal”. Para os antigos quintais continuam vertendo as águas posteriores das cobertas que ali
despejavam parte da chuva que caía sobre os telhados, evitando "o emprego de calhas ou
quaisquer sistema de captação e condução de águas pluviais, os quais constituíam
verdadeira raridade" (REIS FILHO, 1987, p.26).
Para elaboração das fachadas, as informações foram recolhidas em fotografias antigas da
Rua General Osório, bem como nos exemplares ainda existentes, mas nos dois casos fica
evidente que muitos elementos já surgem alterados. Assim, o que resta é a marcação dos
vãos, sobre os quais destacou Lúcio Costa (1937, p. 36 – 37): “Nas casas mais antigas,
presumivelmente nas do século XVI e durante todo o século XVII, os cheios teriam
predominado [...] já no século XVIII cheios e vazios se equilibram [...]”. Essa leitura da
relação de cheios e vazios leva a questionar quanto permaneceu da arquitetura residencial
anterior ao período holandês, uma vez que as fachadas hoje existentes têm um equilíbrio
que indica datarem da segunda metade do século XVII, ou do século XVIII, quando a cidade
foi reconstruída após a retomada da capitania pelos portugueses.
Nos vãos de portas e janelas ainda existentes nas residências da Rua General Osório, se
observa a presença de vergas retas, formando cercaduras retangulares, sendo raro o uso
das vergas em arco abatido, solução apontada como mais tardia na realidade brasileira. No
modelo foi resgatado um elemento característico dessas fachadas: o tratamento das
vedações, que podia ter alguma variação. Vauthier (1981, p. 66) faz referência às esteiras,
"espécie de trançado de palha em uma peça única, seguras por cima", provavelmente
incorporada à casa por influência dos nativos. Talvez ainda mais marcante tenha sido a
utilização das folhas em gelosias ou rótulas que eram os “caixilhos, de portas ou janelas,
cujo vão é preenchido por uma grade composta de pequenas tiras de madeira que se
cruzam diagonalmente” (CORONA e LEMOS, 1989, p. 415). A considerar as informações
absorvidas da historiografia as janelas de rótulas requeriam uma folha interna, em madeira
corrida, de modo a resguardar os ambientes da casa, quando convinha (VAUTHIER, 1981;
RODRIGUES, 1979). Por fim, sobre a pintura dessas rótulas registrou Vauthier (1981; p.
173) a utilização da cor verde, nas casas do Recife (Figuras 7 e 8).
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Figuras 7 e 8: Conjunto de residências situadas na Rua General Osório e o modelo 3D que simula como
podem ter sido as fachadas destas casas no período colonial.
Fonte: Fotografia Maria Berthilde Moura Filha. Modelo idealizado por Maria Berthilde Moura Filha e
produzido por Alexandre Magno Nascimento e Gilson Ferreira. 2015.
Partindo para a disposição interna da residência, o imóvel que serviu de modelo pouco teve
a informar por estar muito alterado. Por isso, se fez necessário tomar por referência a leitura
das fachadas, somada aos dados da historiografia sobre a planta da casa térrea colonial e
esboçar como podem ter sido as casas da antiga Rua Nova.
Percebemos que em João Pessoa a maior parte das casas térreas que ainda subsistem têm
na fachada uma porta e duas janelas, correspondendo ao tipo de planta onde havia um
corredor que se desenvolvia ao longo de uma das paredes laterais. Eram, portanto, do tipo
denominado pela historiografia como “meia morada”, na qual todos os cômodos “são
lateralmente ligados por um corredor” (CORONA e LEMOS, 1989, p. 318).
Quanto aos referidos cômodos, compunham um programa de necessidade muito reduzido,
limitando-se em geral a sala principal, as alcovas, a sala dos fundos e a cozinha.
Historiadores da arquitetura brasileira são unânimes ao atestar que como as construções
eram geminadas e levantadas em terrenos estreitos e profundos a disposição dos cômodos
não podia variar muito e “as plantas, deixadas ao gosto dos proprietários, apresentavam
sempre uma surpreendente monotonia” (REIS FILHO, 1987, p. 24). Talvez por isso tenha o
engenheiro francês Vauthier (1981, p. 37) feito a seguinte observação sobre as residências
do Recife "Assim, quem viu uma casa brasileira, viu quase todas".
A partir dessas informações e de esquemas de plantas elaborados para o estudo da
arquitetura residencial em outras realidades do Brasil, fazemos uma associação com os
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
poucos registros físicos que dispomos a partir da casa em estudo em João Pessoa. Sua
sala da frente, destinada ao homem e suas visitas, aproveitava as janelas que abriam para a
rua. Resta a dúvida se em alguns destes imóveis remanescentes em João Pessoa as salas
de frente abrigaram “alguma oficina de artesanato ou mesmo uma loja" (LEMOS, 1996,
p.32). As alcovas viriam em seguida, abrindo certamente para o corredor, ou quem sabe
comunicando entre elas nas casas com maior número destes cômodos. Por fim, deveria
estar outro ambiente fundamental da vida cotidiana da família, a varanda alpendrada ou sala
de fundos que abria para o quintal, recebendo iluminação e ventilação natural. Era este o
lugar onde as mulheres permaneciam a maior parte do tempo em seus afazeres domésticos,
na companhia de seus filhos e serviçais. No mais, era o “puxado” com a cozinha e outros
espaços de serviços, também voltados para o quintal (Figuras 9 e 10).
De forma geral, os quintais foram de fundamental importância para o cotidiano da população
no período colonial, pois eram destinados à criação de animais e cultivo de produtos para a
subsistência nas hortas e pomares que forneciam muitos dos alimentos básicos para seus
habitantes.
Figura 9 e 10: Planta baixa e corte longitudinal do modelo 3D das casas no período colonial.
Fonte: Modelo idealizado por Maria Berthilde Moura Filha e produzido por Alexandre Magno
Nascimento e Gilson Ferreira. 2015.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Através deste modelo, construído sobre informações disponíveis in loco, pesquisa
documental e bibliográfica, somadas a conjecturas sobre uma casa que já perdeu muito do
que foi no passado, se buscou reconstituir o tipo de residência que, certamente, foi mais
recorrente na cidade, ao tempo da colônia. Não se pode afirmar a veracidade deste modelo,
mas utilizá-lo como uma aproximação àquela realidade distante no tempo e um exercício de
reflexão sobre o espaço edificado pretérito, o qual pode ter a função didática de explicar um
objeto arquitetônico hoje praticamente desaparecido nas cidades brasileiras.
Sendo exposto aqui apenas este modelo, cabe lembrar que a pesquisa, quando concluída,
estará reproduzindo o mesmo tipo de procedimento sobre residências que, entre o período
colonial e a década de 1940, ainda registram com sua presença a mudança no modo de
morar na cidade de João Pessoa.
Referências Bibliográficas
AGUIAR, Wellington. Cidade de João Pessoa: a memória do tempo. João Pessoa: Gráfica e
Editora Persona, 1992.
BRANDÃO, Ambrósio Fernandes. Diálogos das Grandezas do Brasil. Recife: Fundação
Joaquim Nabuco / Ed. Massangana, 1997.
CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos. Dicionário da Arquitetura Brasileira. 2. ed. São Paulo:
Artshow Books, 1989.
COSTA, Lúcio. Documentação necessária. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional. Rio de Janeiro, n. 1, p. 31 – 39, 1937.
LEMOS, Carlos. História da Casa Brasileira. São Paulo: Contexto, 1996.
LINS, Eugênio de Ávila. Arquitectura dos Mosteiros Beneditinos no Brasil: século XVI a XIX.
2002. Tese (Doutoramento em História da Arte) – Faculdade de Letras, Universidade do
Porto, Porto, 2002.
LIVRO do Tombo do Mosteyro de Sam Bento da Parahyba. Liv. 2. Revista do Arquivo
Público Estadual de Pernambuco. Ano II, n. III. Recife: Imprensa Oficial, 1948.
LIVRO do Tombo do Mosteyro de Sam Bento da Parahyba. Liv. 3. Revista do Arquivo
Público Estadual de Pernambuco. Ano II. n. IV. Recife: Imprensa Oficial, 1949.
MACHADO, Maximiano Lopes. História da Província da Paraíba. Vol I. João Pessoa: Editora
Universitária/UFPB, 1977.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, Willian. Arquitetura no Brasil: de Cabral a
Dom João VI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2009.
MOURA FILHA, Maria Berthilde. De Filipéia à Paraíba: uma cidade na estratégia de
colonização do Brasil (Séculos XVI – XVII). João Pessoa: IPHAN/Superintendência na
Paraíba, 2010.
PINTO, Irineu Ferreira. Datas e Notas para a História da Paraíba.Vol. 1. João Pessoa: Ed.
da Universidade Federal da Paraíba, 1977.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. 6ª ed. São Paulo:
Perspectiva, 1987.
______ Imagens de Vilas e Cidades do Brasil Colonial. São Paulo: Ed. da Universidade de
São Paulo/Imprensa Oficial do Estado/Fapesp, 2000.
RODRIGUES, José Wasth. Documentário Arquitetônico. Belo Horizonte: Ed Itatiaia; São
Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1979.
SOUSA, Alberto; VIDAL, Wylnna. Sete Plantas da Capital Paraibana, 1858 – 1940. João
Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2010.
SUMMARIO das armadas que se fizeram, e guerras que se deram na conquista do rio
Parayba; escripto e feito por mandado do muito reverendo padre em Christo, o padre
Chistovam de Gouveia, visitador da Companhia de Jesus, de toda a provincia do Brasil. Iris.
Vol I. Rio de Janeiro, 1848. p. 19-102.
VAUTHIER, L. L. Casas de residência no Brasil. In. Arquitetura Civil I. São Paulo: MEC /
IPHAN / FAU-USP, 1981. p. 1-94.