Dissertacao mestrado volcker
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UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E AMBIENTAIS
MESTRADO EM CIÊNCIAS DO MAR ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL PARA AQÜICULTURA NA REGIÃO DO BAIXO SÃO JOÃO - RJ, APOIADO EM SIG E SENSORIAMENTO REMOTO
CLAUDIO MICHAEL VÖLCKER
Dissertação apresentada à Coordenação
do Mestrado em Ciências do Mar como
parte dos requisitos para obtenção do
grau de Mestre.
Rio de Janeiro
2007
UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E AMBIENTAIS
MESTRADO EM CIÊNCIAS DO MAR ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL PARA AQÜICULTURA NA REGIÃO DO BAIXO SÃO JOÃO -
RJ, APOIADO EM SIG E SENSORIAMENTO REMOTO.
CLAUDIO MICHAEL VÖLCKER
Banca Examinadora:
Dr. Júlio César de Faria A. Wasserman
Dr. Claudio Belmonte de Athayde Bohrer
Dr. Ricardo Pollery
Rio de Janeiro
2007
VÖLCKER, Claudio M. Determinação do Potencial para Aqüicultura na Região do Baixo São João – RJ, Apoiado em SIG e Sensoriamento Remoto. / Claudio Michael Völcker. – Rio de Janeiro : USU, 2007. 148 p. Dissertação (Mestrado) - Universidade Santa Úrsula. Mestrado em Ciências do Mar. Área de Concentração: Oceanografia Biológica. 1. Aqüicultura. 2. SIG. 3. Rio São João. 4 Geoprocessamento. I. Título.
Orientador: Prof. Dr. Philip C. Scott
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha esposa Adelina Völcker, aos meus filhos Jean Michael Völcker e Stephan Alexander Völcker, a minha mãe Úrsula Ilse Völcker, os alicerces de minha vida. Aos meus amigos José Branco e Ricardo Pollery, que sempre se dedicaram em oferecer as melhores condições para a viabilização e os maiores motivadores deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Esta Tese é fruto da colaboração de várias pessoas e Instituições, que
apoiaram várias fases deste trabalho tornando possível a sua realização. Agradeço a
todos e em especial:
Ao Dr. Philip C. Scott pela orientação efetiva, confiança e aprendizado.
Ao Dr. Julio Wasserman pela valiosa ajuda orientação e auxílio das
análises e na interpretação dos dados, e toda a consideração e tempo dispensados.
À Cia. Álcalis, em especial ao Wellington Neri que autorizou e
disponibilizou o laboratório CDPA - Centro de Desenvolvimento de Pesquisa da
Álcalis, ao Fernando Muzitano, Sione Maria Gonçalves Pessanha Silva e Sergio
Simões Martins pela realização das inúmeras análises de água.
À Universidade Santa Úrsula através do Laboratório de Oceanografia
Química e Sedimentologia - LOQUIM, pela infra-estrutura cedida para as análises
laboratoriais das amostras de água e solo em nome do prof. e Dr. Ricardo Pollery,
que teve papel fundamental nesta pesquisa, aprendizado e sugestões. Pela infra-
estrutura do Laboratório de Aqüicultura e Sistema de Informações Geográficas -
LAQUASIG com a disponibilização de hardware e software específicos para o
aprendizado do SIG e a manipulação e desenvolvimento das imagens de satélite,
destacando os alunos de graduação e pós-graduação em especial Mario Miceli pelo
aprendizado do IDRSI Kilimanjaro.
Ao José Francisco Branco, Secretário de Agricultura e Pesca e Jorge
Antonio da Silva, Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de
Casimiro de Abreu pela logística local, da disponibilizarão de embarcações,
combustível e piloto, sem o qual seria impraticável a subida quinzenal ao rio São
João, e da equipe da Sub Secretaria de Meio Ambiente em Barra de São João, em
especial Paulo Roberto Bastos, Responsável pela Sub-Secretaria de Meio Ambiente
e Desenvolvimento Sustentável de Barra de São João e Sergio das Neves Adames
pelo seu grande conhecimento de navegação.
Ao CILSJ – Consórcio Intermunicipal Lagos São João, em nome do
Secretário Executivo Luiz Firmino Pereira pela valiosa colaboração financeira e
logística das inúmeras idas e vindas a Barra de São João, Arraial do Cabo e Rio de
Janeiro.
Ao Sebastião Marcos Werneck da FUNASA, unidade de Barra de São
João pela disponibilização da garrafa van Dorn.
Ao IBAMA, unidade Poço das Antas pelos dados meteorológicos da
região e da disponibilização do Plano de Manejo da APA do rio São João.
Pelos companheiros que acompanharam e ajudaram na coleta de
amostragem e em especial Sival Silva Lima e Paulo Sergio França, Leandro Mattos
e Dra. Sandra Cunha.
À minha família pelo apoio e ajuda em especial a minha mãe e minha
esposa pela paciência, compreensão e por terem me incentivado sempre a
prosseguir, e o meu perdão pela ausência nos últimos tempos e que sempre tiveram
presentes em mim.
A todos os amigos que diretamente ou indiretamente contribuíram para
este trabalho.
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 22
1.1 JUSTIFICATIVA........................................................................................... 26
1.2 HIPÓTESE.................................................................................................. 27
1.3 OBJETIVOS................................................................................................ 27
1.3.1 Objetivo geral......................................................................................... 27
1.3.2 Objetivos específicos............................................................................ 27
2 AQÜICULTURA............................................................................................ 27
2.1 APRESENTAÇÃO DAS ESPÉCIES........................................................... 32
2.1.1 Litopenaeus vannamei.......................................................................... 33
2.1.1.1 Parâmetros ambientais......................................................................... 34
2.1.2 Macrobrachium rosenbergii.................................................................. 36
2.1.2.1 Parâmetros ambientais......................................................................... 37
2.1.3 Oreochromis niloticus........................................................................... 38
2.1.3.1 Parâmetros ambientais......................................................................... 39SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS – SIG E SENSORIA- MENTO REMOTO – SR............................................................................. 41
3.1 SIG............................................................................................................. 41
3.2 SR............................................................................................................... 43
4 ÁREA DE ESTUDO....................................................................................... 45
4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA.................................................................. 45
4.2 CLIMA........................................................................................................ 46
4.3 TOPOGRAFIA E ASPECTOS GEOLÓGICOS........................................... 48
4.4 COBERTURA VEGETAL............................................................................ 49
4.5 USO DO SOLO........................................................................................... 50
4.6 HIDROGRAFIA........................................................................................... 52
5 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................. 57
5.1 ESCOLHA DAS ESTAÇÕES DE COLETA DE ÁGUA................................ 57
5.2 METODOLOGIA......................................................................................... 61
5.2.1 Fatores abióticos................................................................................... 61
5.2.2 Cartografia.............................................................................................. 61
5.2.3 Tratamento das informações................................................................ 62
5.2.4 Dados Meteorológicos.......................................................................... 63
5.2.5 Geoprocessamento............................................................................... 63
6. RESULTADOS............................................................................................. 69
6.1 FÍSICO-QUÍMICO DA ÁGUA..................................................................... 70
6.1.1 Temperatura........................................................................................... 706.1.2 Salinidade............................................................................................... 716.1.3 pH............................................................................................................ 73
6.1.4 Oxigênio dissolvido.............................................................................. 74
6.1.5 Colimetria............................................................................................... 75
6.2 DADOS METEOROLÓGICOS.................................................................... 76
6.2.1 Temperatura atmosférica...................................................................... 76
6.2.2 Precipitação........................................................................................... 77
6.3 SIG............................................................................................................. 77
6.3.1 Uso e cobertura atual do solo.............................................................. 78
6.3.2 Canavial e vegetação rasteira............................................................... 80
6.3.3 Qualidade do solo.................................................................................. 80
6.3.4 Aptidão agrícola..................................................................................... 83
6.3.5 Recursos Hídricos – Captação de água.............................................. 85
6.3.6 Vias de acesso...................................................................................... 88
6.3.7 Áreas de restrições............................................................................... 90
6.3.7.1 Relevo.................................................................................................. 90
6.3.7.2 Áreas de preservação ambiental.......................................................... 93
6.3.7.3 Faixa ciliar............................................................................................. 95
6.3.7.4 Margem de segurança – canais e vias de acesso............................... 95
6.3.7.5 Áreas urbanas...................................................................................... 96
6.3.7.6 Fontes poluidoras................................................................................ 97
6.3.7.7 Malha hídrica........................................................................................ 97
6.3.8 Modelagem............................................................................................. 98
6.3.9 Parâmetros físico-químicos.................................................................. 100
6.3.10 Cruzamento das informações............................................................ 102
6.3.10.1 Decisão multi-critério uso da terra - áreas planas.............................. 103
6.3.10.2 Decisão multi-critério solo................................................................. 104
6.3.10.3 Decisão multi-critério água................................................................ 107
6.3.10.4 Decisão multi-critério recursos hídricos............................................. 109
6.3.10.5 Decisão multi-critério vias de acesso (infraestrutura)........................ 110
6.3.10.6 Decisão multi-critério fatores ambientais........................................... 110
6.3.10.7 Decisão multi-critério fatores de produção......................................... 112
6.3.11 Áreas viáveis........................................................................................ 117
6.3.11.1 Litopenaeus vannamei........................................................................ 117
6.3.11.2 Macrobrachium rosenbergii e Oreochromis niloticus.......................... 118
7. DISCUSSÃO................................................................................................. 120
7.1 DADOS FÍSICO-QUÍMICOS....................................................................... 121
7.2 AS ESPÉCIES CONSIDERADAS............................................................... 125
7.3 SIG.............................................................................................................. 127
8 CONCLUSÃO................................................................................................ 131
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 13310 GLOSSÁRIO................................................................................................ 146
11 ANEXOS...................................................................................................... 149
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1 Evolução da produção e da posição brasileira no ranking da FAO para aqüicultura mundial – 1990/2001................................. 29
Fig. 2 Litopenaeus Vannamei................................................................. 35
Fig. 3 Macrobrachium Rosenbergii......................................................... 38
Fig. 4 Oreochromis niloticus................................................................... 39
Fig. 5 Localização da área de estudo.................................................... 45Fig. 6 Localização da Bacia Hidrográfica do rio São João e os
municípios que integram............................................................... 46Fig. 7 Distribuição das chuvas na Macro Região Ambiental MRA-4,
que inclui a Bacia Hidrográfica do rio São João........................... 48Fig. 8 Assentamentos nas margens do Rio São João - áreas de
assentamento............................................................................... 51Fig. 9 Mapa de localização da bacia hidrográfica do rio São
João.............................................................................................. 54Fig. 10 Localização das estações na área de estudo.............................. 58Fig. 11 PI da localização de todas as estações de coleta,
georeferenciados, na área de estudo........................................... 60Fig. 12 Mapa da região de estudo nas cores RGB 457............................ 64
Fig. 13 Mapa da região de estudo nas cores RGB 432............................ 64
Fig. 14 Mapa da região de estudo nas cores RGB 542............................ 65
Fig. 15 Mapa da região de estudo nas cores RGB 752............................ 65
Fig. 16 Mapa da região de estudo nas cores RGB 754............................ 65
Fig. 17 Modelo para avaliação de áreas potenciais para aqüicultura...... 67Fig. 18 Temperatura média da água do rio São João no período de
coleta............................................................................................ 70Fig. 19 Salinidade na superfície e no fundo na Foz do Rio São João no
período de coleta.......................................................................... 71Fig. 20 Salinidade na superfície e no fundo na Vala dos Medeiros no
período de coleta.......................................................................... 71Fig. 21 Salinidade na superfície e no fundo no trecho do velho rio São
João no período de coleta............................................................ 72Fig. 22 Salinidade na superfície e no fundo em frente à fazenda de
camarão no período de coleta...................................................... 72Fig. 23 Valores médios de pH com o desvio padrão no rio São João no
período de coleta.......................................................................... 73Fig. 24 Concentração média com o desvio padrão do oxigênio
dissolvido no rio São João no período de coleta.......................... 74Fig. 25 Temperatura oC do ar mensal, no período de janeiro a julho de 76
2005, da estação meteorológica da REBio Poço das Antas........
Fig. 26 Precipitação mensal (mm), de junho 2005 a julho 2006 do baixo rio São João, da estação meteorológica da Agrisa...................... 77
Fig. 27 PI ‘Uso e cobertura atual do solo da região do baixo São João’, na área de estudo......................................................................... 78
Fig. 28 PI ‘Áreas viáveis: pasto, agricultura e plantio de cana-de-açúcar’, na área de estudo........................................................... 80
Fig. 29 PI ‘Tipos de solo da região do baixo São João’........................... 81Fig. 30 PI ‘Aptidão do terreno para construção de viveiros escavados’,
na região de estudo...................................................................... 83Fig. 31 PI ‘Aptidão agrícola da região do baixo São João’....................... 83
Fig. 32 PI reclassificado ‘Aptidão agrícola’ na área de estudo................. 85Fig. 33 PI ‘Distância de captação de água doce’ para aqüicultura: a)
dos principais tributários e o próprio rio São João na área de estudo; b) dos canais com ligações com rio São João, na área de estudo...................................................................................... 87
Fig. 34 PI ‘Distância de captação de água salgada’, na área de estudo.. 88
Fig. 35 PI ‘Vias de acesso’, na área de estudo........................................ 89Fig. 36 PI ‘Distância das vias de acesso’ a) acesso primário; b) acesso
secundário, na área de estudo..................................................... 90Fig. 37 PI ‘Planimetria da região do baixo São João’, na área de
estudo........................................................................................... 92Fig. 38 PI ‘Restrição declividade’ acima de 15m, na área de estudo....... 92
Fig. 39 Proposta de zoneamento da APA do rio São João...................... 94Fig. 40 PI ‘Áreas de preservação’ Reserva Biológica Poço das Antas
(REBio) e as áreas de preservação de acordo com o Plano de Manejo da APA do Rio São João: mangue, matas e vegetação arbustiva, na área de estudo........................................................ 93
Fig. 41 PI ‘Faixa marginal de proteção dos rios’ de acordo com a Lei No 4771, na área de estudo............................................................... 95
Fig. 42 PI ‘Margem de segurança’ de 60 m nas vias de acesso e nas margens nos canais e valas do baixo São João, na área de estudo........................................................................................... 96
Fig. 43 PI ‘Áreas urbanas’ com área de amortecimento de 1.000 m a partir da área de expansão urbana nos distritos de Unamar e Barra de São João e, nos assentamentos....................................
96Fig. 44 PI ‘Fontes poluidoras’ com área de amortecimento de 2.000 m
em torno dos pontos de alto índice de coliformes fecais e amortecimento de 3.000 m em torno das lagoas de decantação de vinhoto da indústria de álcool local.........................................
97 Fig. 45 PI ‘Malha hídrica’: rios, canais, valas, represa de Juturnaíba e
mar, na área de estudo................................................................. 98
Fig. 46 PI ‘Somatória de todas as áreas restritas’, na área de estudo..... 98Fig. 47 Diagrama sintético do Macro Modeler ilustrando os passos
seguidos no modelo para determinação da somatória das áreas restritas......................................................................................... 99
Fig. 48 PI ‘Adequação da salinidade para cultivo de L. vannamei‘, na região do baixo São João............................................................. 100
Fig. 49 PI ‘Adequação da salinidade para o cultivo de M. rosenbergii e O. niloticus’, na região do baixo São João................................... 100
Fig. 50 PI ‘Adequação da temperatura para L. vannamei, M. rosenbergii e O. niloticus’, na região do baixo São João................................ 101
Fig. 51 PI ‘Adequação do pH para L. vannamei, M. rosenbergii e O. niloticus’, na região do baixo São João........................................ 101
Fig. 52 PI ‘Adequação de oxigênio dissolvido para L. vannamei’, na região do baixo São João............................................................. 102
Fig. 53 PI ‘Adequação de oxigênio dissolvido para M. rosenbergii e O. niloticus ‘, na região do baixo São João....................................... 102
Fig. 54 Escala contínua, par a par, de nove pontos de importância relativa do módulo Weight do IDRISI®.......................................... 103
Fig. 55 PI ‘MCE uso da terra’ na região plana do baixo São João, na área de estudo.............................................................................. 104
Fig. 56 PI ‘MCE solos’ na área de estudo................................................ 106Fig. 57 PI ‘MCE L. vannamei x parâmetros físico-químicos da água’, na
área de estudo.............................................................................. 108Fig. 58 PI ‘MCE O. niloticus e M. rosenbergii x parâmetros físico-
químicos da água’ na área de estudo........................................... 108Fig. 59 PI ‘MCE para captação de água para a espécie L. vannamei’,
na área de estudo......................................................................... 109Fig. 60 PI ‘MCE para captação de água para as espécies M.
rosenbergii e O. niloticus’, na área de estudo............................... 109Fig. 61 PI ‘MCE para vias de acessos’, na área de estudo...................... 110Fig. 62 PI ‘MCE fatores ambientais para L. vannamei’, na área de
estudo........................................................................................... 111Fig. 63 PI ‘MCE fatores ambientais para M. rosenbergii e O. niloticus’,
na área de estudo......................................................................... 111Fig. 64 PI ‘MCE das áreas mais viáveis para L. vannamei’, na área de
estudo........................................................................................... 112Fig. 65 PI ‘MCE das áreas mais viáveis para M. rosenbergii e O.
niloticus’, na área de estudo......................................................... 113Fig. 66 Modelo do potencial do cultivo de L. vannamei, no baixo São
João.............................................................................................. 114Fig. 67 Modelo do potencial do cultivo de M. rosenbergii e O. niloticus,
no baixo São João........................................................................ 115Fig. 68 Diagrama sintético do Macro Modeler ilustrando os passos
seguidos no modelo para determinação do potencial para cultivo de Litopenaeus vannamei.................................................
116Fig. 69 Diagrama sintético do Macro Modeler ilustrando os passos
seguidos no modelo para determinação do potencial para cultivo de Oreochromis niloticus e Macrobrachium rosenbergii....
116
Fig. 70 PI ‘Área total viável’ 55,79 km2, que corresponde a 20,41% sobre a área total estudada de 273,33 km2.................................. 117
Fig. 71 PI ‘Áreas adequadas para cultivo de L. vannamei’, no baixo curso do rio São João, totalizando 667 ha, excluindo manchas menores que 15 ha....................................................................... 118
Fig. 72 PI ‘Áreas adequadas para cultivo de M. rosenbergii’ totalizando 4.697 ha, excluindo manchas menores que 15 ha....................... 119
Fig. 73 PI ‘Áreas adequadas para cultivo de O. niloticus’, totalizando 4.905 ha, excluindo manchas menores que 1 ha......................... 119
LISTA DE TABELAS
Tab. 1 Produção brasileira da aqüicultura, por modalidade e participação em 2004................................................................... 31
Tab. 2 Produção estimada, segundo as regiões e unidades da Federação, de peixes, crustáceos e moluscos – aqüicultura continental.................................................................................... 32
Tab. 3 Produção da carcinicultura marinha/estado em 2004.................. 34Tab. 4 Coordenadas geográficas dos pontos de coleta em UTM da
área de estudo............................................................................. 59Tab. 5 Fatores abióticos analisados no baixo curso do rio São João.... 61Tab. 6 Faixas espectrais do sensor TM. Modificada por BATISTA &
DIAS (2005)................................................................................. 62Tab. 7 Campanhas quinzenais para coleta de água, realizadas no
período de junho 2005 a junho 2006, no baixo curso do rio São João............................................................................................. 69
Tab. 8 Resultados de colimetria entre agosto 2005 e maio 2006 junto à foz do rio São João................................................................... 75
Tab. 9 Ocupação e uso do solo e suas respectivas áreas em km2 e percentual sobre a área total de 273,33 km2............................... 79
Tab. 10 Ocupação e uso do solo e suas respectivas classes................... 79Tab. 11 Identificação dos tipos de solos da região do baixo São João e
seu peso dado de acordo com a sua plasticidade, granulometria e composição adequada para a construção de viveiros escavados...................................................................... 82
Tab 12 Identificação da aptidão agrícola da região do baixo São João e suas classes dado de acordo com as suas características físico-químicas apropriadas para a agricultura........................... 84
Tab 13 Captação de água doce: classes x distância, onde: 4- excelente; 3 - muito bom; 2 – bom e 1 – regular...................... 86
Tab 14 Captação de água salgada: classes x distância, onde: 4- excelente; 3 - muito bom; 2 - bom e 1 – regular....................... 88
Tab 15 Adequação da área em função da distância para as vias de acesso primário e secundário, na área de estudo....................... 89
Tab 16 Classificação de adequação de solos para construção de viveiros escavados em função da planimetria, na área de estudo.......................................................................................... 91
Tab 17 Classificação da adequação da área em função da variação de parâmetros abióticos, onde: 4 - excelente; 3 - muito bom; 2 - bom e 1 - regular......................................................................... 101
Tab 18 Matriz de comparação entre pares para uso da terra.................. 103
Tab 19 Matriz de comparação entre pares para tipos de solo................. 106
Tab 20 Matriz de comparação entre pares para aptidão agrícola............ 106
Tab 21 Matriz de comparação entre pares dos parâmetros físico-químicos para L. vannamei.......................................................... 107
Tab 22 Matriz de comparação entre pares dos parâmetros físico-químicos para M. rosenbergii e O. niloticus.................................
107
Tab 23 Matriz de decisões utilizada pelo módulo Weight para obter os pesos relativos aos fatores de produção para L. vannamei........ 112
Tab 24 Matriz de decisões utilizada pelo módulo Weight para obter os pesos relativos aos fatores de produção para M. rosenbergii e O. niloticus................................................................................... 113
Tab 25 Parâmetros físico-químicos: de importância para a aqüicultura 121Tab 26 Capacidade de produção da região do baixo São João com
relação à produtividade das espécies e das áreas adequadas disponíveis................................................................................... 129
ANEXOS
I Temperatura em oC...................................................................... 149II Salinidade.................................................................................... 150III pH................................................................................................
151IV Oxigênio dissolvido...................................................................... 152V Secchii.......................................................................................... 153VI Resumo da metodologia utilizada para o SIG.............................. 154
VII Fotografias da área de estudo..................................................... 155
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
As principais abreviaturas utilizadas neste trabalho foram as seguintes:
ABCC – Associação Brasileira de Criadores de Camarão
APA – Área de Proteção Ambiental
CACAU - Cooperativa Agropecuária de Casimiro de Abreu Ltda.
CDPA - Centro de Desenvolvimento de Pesquisa Coronel Rubens de Mattos Gomes
CEPTA - Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros Continentais
CILSJ - Consórcio Intermunicipal Lagos São João
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
COOPERCRÃMMA - Cooperativa Regional de Piscicultores e Ranicultores do Vale
do Macacu e Adjacências Ltda.
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
DNOS - Departamento Nacional de Obras e Saneamento
ETM+ - Enhanced Thematic Mapper Plus
FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
FIPERJ - Fundação Estadual de Pesca
FMP – faixa marginal de proteção
GeoTIFF - Geographic Tagged Image File Format
IAP – Instituto Ambiental do Paraná
LAQUASIG - Laboratório de Aqüicultura e Sistemas de Informações Geográficas
LOQUIM - Laboratório de Oceanografia Química e Sedimentologia
MCE – Avaliação de multi-critério
MS - Microsoft
OADS - Organização Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
SEAP - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República
SERLA – Superintendência Estadual de Rios e Lagoas
SIG - Sistema de Informação Geográfica
SR - Sensoriamento Remoto
SRTM - Shuttle Radar Topography Mission
UC - Unidade de Conservação
UFF - Universidade Federal Fluminense
USU - Universidade Santa Úrsula
UTM - Universal Transverse Mercator
PI - Planos de Informação
ZPVS – zona de proteção de vida silvestre
RESUMO
Apesar do crescimento promissor da aqüicultura no Brasil, ainda não existem regras ou normas de planejamento espacial, ficando evidente a necessidade de estudos que possibilitem o zoneamento desta atividade em função das características ambientais, socioeconômicas e culturais de cada região, de modo a minimizar possíveis conflitos. Este trabalho tem como objetivo principal identificar e avaliar o potencial e as áreas mais apropriadas para o desenvolvimento da aqüicultura terrestre em viveiros escavados na zona costeira, no entorno do baixo curso do rio São João, RJ. Para tal, utilizou-se o Sistema de Informação Geográfica (SIG) compilando e analisando a grande quantidade de informações disponíveis. Este trabalho inclui diferentes processos de análise em mapas digitalizados e o gerenciamento da base de dados em matrizes aplicadas dentro do SIG. A base deste procedimento foi especialmente desenvolvida em um modelo que integra os diferentes critérios ambientais para as três espécies eurihalinas já estabelecidas e criadas no baixo curso do rio São João – Litopenaeus vannamei, Macrobrachium rosenbergii, e Oreochromis niloticus. Para a escolha das áreas aptas, utilizou-se processamento de diversas imagens integradas numa avaliação multicriterial, com criação de Planos de Informações (PI’s) descrevendo aptidão em função da topografia, tipos de solo e aptidão agrícola, vias de acesso, fontes de captação de água, variação espacial de parâmetros ambientais como salinidade, temperatura da água, pH e oxigênio dissolvido. Áreas restritas em função da legislação, uso humano e poluição, foram identificadas e excluídas. A comparação de fatores com a atribuição de pesos e a subseqüente avaliação multicriterial das matrizes gerou os PI’s das áreas adequadas para cada espécie. A área útil encontrada na região foi de 55,79 km2, 20,41% da área total estudada (273,33 km2). As áreas classificadas como muito boa e boa para a criação de Litopenaeus vannamei totalizaram 667 ha. Para Macrobrachium rosenbergii, a soma das áreas, classificadas como excelentes e muito boas totalizou 4.697 ha, excluindo fragmentos aptos menores que 15 ha. Para Oreochromis niloticus a soma das áreas, excelentes e muito boas totalizou 4.905 ha, somente considerando áreas contínuas acima de 1 ha. Estas informações poderão ser úteis para o processo de planejamento regional e tomada de decisões de gestores e investidores locais. Os resultados mostram o potencial aqüícola do baixo rio São João, com potencial de produção de 3.640 ton/ano de camarão, 9.864 ton/ano de pitu e 27.959 ton/ano de tilápia, podendo gerar 9.300 empregos diretos e receitas para os municípios envolvidos.
ABSTRACT
Despite the promising growth of aquaculture in Brazil, regulation and rules
for its spatial planning do not yet exist, and thus, studies that may support the activity as a function of environmental, socio-economic and cultural characteristics on necessary in each region, hence avoiding potential conflicts. This research has as its main objective the identification and evaluation of land-based aquaculture potential, of the most appropriate areas along the coastal zone and surrounding lands along the lower stretch of the São João River in the state of Rio de Janeiro. To accomplish that, a Geographical Information System – GIS was utilized where the available information was compiled and analysed. Different processes and analyses were carried out using digital maps, and data was managed in a georeferenced database, with matrices applied in GIS modelling. The basis for these procedures was developed in a model integrating different environmental criteria for the three eurihaline species already established in the study area – Litopenaeus vannamei, Macrobrachium rosenbergii, and Oreochromis niloticus. In order to select the suitable areas for aquaculture of the aforementioned species, several maps and images were processed and integrated as thematic layers, generating new maps describing relief, soil types, agricultural aptitude, access routes, fresh and seawater sources, spatial variation of environmental parameters such as salinity, water temperature, pH and dissolved oxygen. Areas where legislation, human use, or pollution were considered as constraints were identified and excluded. Weights for all factors were developed and the subsequent multicriteria evaluation generated a final suitability map for each species, a total of 55.79 km2 were detected as suitable areas, approximately 20.41% of the whole study area that comprised 273,33 km2. Areas classified as Very Suitable and suitable for farming Litopenaeus vannamei comprised 667 ha. For Macrobrachium rosenbergii the total area considered Very Suitable and Suitable was found to be 4,697 ha, excluding some fragments considered suitable, but in amounting less than 15 ha. For Oreochromis niloticus the sum of all Suitable areas comprised 4,905 ha, considering all continuous areas greater than over 1 ha. The information gathered is believed to be helpful in the regional planning and decision making processes of local managers and investors. The results show that the study area has a potential production capacity of 3,640 tons y-1 of shrimp, 9,864 tons y-1
prawn and 27,959 tons y-1 of tilapia, with the generation of 9,300 direct jobs for the municipalities involved.
22
1 INTRODUÇÃO
Zonas costeiras constituem áreas de grande complexidade, nas quais
efluentes são descarregados, recursos naturais são explorados e os sedimentos são
erodidos, transportados e depositados. Todas essas atividades resultantes da
interação entre processos naturais e antropogênicos, podem ocorrer ou não em
harmonia. Os estuários são ambientes nos quais os impactos humanos têm causado
uma grande variedade de mudanças. São locais ideais para o desenvolvimento,
devido à quantidade abundante de água que dispõem, são regiões que sofrem
intensas pressões e demandas dos vários setores da sociedade (FRENCH, 1997).
A definição de estuário mais aceita baseia-se nos padrões de variação da
salinidade. Um estuário pode ser considerado como uma região de mistura de
massas de água de salinidades diferentes. Os fatores dominantes quanto à
distribuição e padrões de circulação nos estuários são: a geomorfologia; o fluxo de
água doce; e a amplitude das marés. A salinidade tem uma importância
preponderante na distribuição dos organismos, vegetais e animais, que se
encontram nos estuários e que vivem na massa de água (DYER, 1973; RÉ, 2000).
Em Barra de São João, Município de Casimiro de Abreu localiza-se a foz
do rio São João em forma de “S” com áreas assoreadas formando bancos de areia
que se modificam constantemente pelo efeito das marés e dos ventos, formando
remansos e pequenas praias. A maré avança rio adentro onde podemos observar a
formação de manguezais em ambas as margens, cobrindo toda a extensão até o
início do trecho retificado distante mais de 10 km da foz. A vegetação típica de
mangue é formada por três espécies dos gêneros Laguncularia, Rhizophora e
Avicennia, com substrato lodoso com fauna e flora típica de região estuarina.
Os rios são sistemas ecológicos complexos que se caracterizam como
escoadouros naturais das áreas de drenagens adjacentes, as microbacias,
formando, em seu conjunto, as bacias hídricas. A complexidade destes sistemas
lóticos deve-se à sua geologia, tamanho e formas das sub-bacias de drenagem,
além das condições climáticas locais e ao uso da terra.
A bacia do rio São João é a segunda de importância do Estado do Rio de
Janeiro, que sofreu nas décadas de 70 e 80 intervenções de saneamento e
drenagem com a construção da represa de Juturnaíba dentro de um grande projeto
23
agrícola para a região. O uso da água para a Região dos Lagos se deu no final da
década de 90. Até então o rio era navegável, servindo de escoamento da produção
local, principalmente do carvão extraído da mata da restinga e do Morro de São
João. Na década de 50, o litoral estava ligado diretamente à pesca artesanal, e à
fabricação de canoas de pesca com a madeira de lei e, este porto marítimo e fluvial
deu origem, à cidade de Barra de São João. O estuário até então era muito piscoso
e uma grande comunidade de pescadores dependiam da pesca (CUNHA, 1995).
A ocupação do estuário do rio São João, segundo LAMEGO (1974), data
do século XVIII, atuando como via de escoamento de produção através dos rios que
a cortavam. Posteriormente, a ocupação da região foi vagarosa, sem haver nenhum
grande ciclo de desenvolvimento econômico.
Desde a década de 40, na região foi acelerada a devastação da Mata
Atlântica com a retirada de lenhas para a fabricação do carvão. Na década de 70
foram executadas várias intervenções como desmatamentos, queimadas e plantio
de pastagens. Grandes empreiteiras, sob a supervisão do Departamento Nacional
de Obras e Saneamento (DNOS), abriram trilhas, estradas de rodagem, iam da
Barragem da Represa de Juturnaíba e canais de drenagem, com o objetivo da
recuperação econômica do vale do rio São João. Tais fatos acarretaram em
impactos que interferem substancialmente na dinâmica ambiental do vale e nas
futuras produções agrícolas.
Na década de 80 rizicultores experientes vindos do Rio Grande do Sul se
estabeleceram na região, arrendando áreas e beneficiando-se da grande extensão
em planícies e canais de drenagem para a irrigação da rizicultura. O uso
descontrolado de agrotóxicos na lavoura alterava os componentes dos solos,
lixiviado pelas chuvas para o rio São João, causando a mortandade de peixes. Com
o avanço da cunha salina na maré alta e nas eventuais ressacas, bem como o
próprio processo de irrigação, proporcionou a concentração de sais nos pobres solos
tiomórficos, ricos em enxofre, resultando no fim da rizicultura irrigada no vale. A
agricultura empresarial fracassa, mas o vale mantém a sua estrutura territorial
excludente. O panorama posterior ao fracasso dos arrozais, foi marcado ainda pela
relação da terra como reserva de valor. Nos anos 80 ainda era possível acessar
créditos e manter a terra improdutiva como forma de aplicação. Neste sentido, o
gado retornou ao pasto (CUNHA, 1995).
24
Atualmente, na Bacia do rio São João a expansão do turismo se dá sob
duas formas: o turismo litorâneo, praticado no distrito de Barra do São João, e o
ligado à apreciação da natureza, em Casimiro de Abreu.
Paralelamente se desenvolveram os movimentos sociais como a reforma
agrária, onde no baixo São João se estabeleceu o assentamento de Sebastião Lan I
e o acampamento Sebastião II do lado do rio Indaiaçú.
Em Casimiro de Abreu, onde funciona o Pólo de Piscicultura da Baixada
Litorânea, foram desenvolvidos vários programas como a piscicultura familiar, o
pesque-e-leve e um programa para repovoar o rio São João com espécies
ameaçadas de extinção, em conjunto com o Centro de Pesquisa e Gestão de
Recursos Pesqueiros Continentais (CEPTA) - IBAMA, que desde 2001 está
reproduzindo artificialmente a piabanha, Brycon insignis (Steindachner, 1876).
Em parceria com o PRONAF, Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar, no Projeto de Aqüicultura das Regiões Serrana, Baixada
Litorânea e Adjacências foi criada a Cooperativa Agropecuária de Casimiro de Abreu
Ltda. – CACAU, com sede no próprio Município e a Cooperativa Regional de
Piscicultores e Ranicultores do Vale do Macacu e Adjacências Ltda. -
COOPERCRÃMMA em Cachoeiras de Macacu que envolve os municípios de
Cachoeiras de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito e Silva Jardim, com o objetivo
de promover o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva da aqüicultura da
região. Os cooperados são aproximadamente 100 piscicultores e ranicultores dos
municípios envolvidos, com ênfase na aqüicultura familiar, a legalização da
atividade, viabilização dos canais de comercialização, profissionalização da cadeia
produtiva e facilitação do acesso ao crédito. As metas estabelecidas no projeto são
aumentar o volume de vendas em 200%, até dezembro de 2006 e em 100%, até
dezembro de 2007 e, ainda, aumentar o número de propriedades legalizadas em
30%, até dezembro de 2007, segundo dados fornecidos pela Secretaria de
Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu.
São parceiros no projeto a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da
Presidência da República (SEAP), a Fundação Estadual de Pesca (FIPERJ), a
Empresa de Assistência Técnica do Governo do Estado (EMATER-Rio), a
Universidade Federal Fluminense (UFF), as Prefeituras de Casimiro de Abreu,
Cachoeiras de Macacu, Rio Bonito e Silva Jardim, o Instituto Anima, o Banco do
25
Brasil, a Associação dos Produtores de Peixes do Vale do Macacu (Acquapeixe) e a
Cooperativa Agropecuária de Casimiro de Abreu (CACAU).
A construção da Ponte Presidente Costa e Silva (Rio-Niterói), deu início à
migração mais intensa para a região trazendo conseqüências sócio-econômicas e
ecológicas, principalmente a poluição (CUNHA, 1995). A pesca no mar e no rio havia
sido desenvolvida desde o tempo dos jesuítas, em 1634, onde as primeiras colônias
se fixaram e se desenvolveram junto à foz do rio São João. As conseqüências da
construção da barragem de Juturnaíba, da retificação do baixo curso do São João
tiveram um impacto direto sobre a fauna e em especial os peixes, que dependiam da
subida do rio para reprodução. CADDY & GRIFFITHS (1995) descrevem a
importância sócio-econômica da pesca em regiões estuarinas e lagunares onde
ocorrem sobrepesca diminuindo o estoque natural do pescado a níveis inferiores aos
de segurança. Em Barra de São João, com o desaparecimento da fartura do
pescado, os pescadores artesanais remanescentes estão concentrando o seu
esforço na pesca costeira e na tentativa do cultivo de ostras junto à foz. Com o
crescimento contínuo da indústria do petróleo em Macaé, houve um novo boom de
migração na década de 2000. Isto ocorreu principalmente no Município de Rio das
Ostras adjacente ao Município de Casimiro de Abreu, em especial no distrito de
Barra de São João, onde a população vem crescendo a cada ano, competindo em
espaço e sobrevivência inclusive invadindo as áreas de mangue, ilhas e as dunas da
restinga
DIAS-NETO (2003) aponta várias causas para a crise pesqueira,
principalmente pelo impacto do excesso de esforço de pesca. A FAO - Food and
Agriculture Organization of the United Nations, (1995), apud DIAS-NETO (2003),
afirma que a comunidade internacional reconhece que o excesso de esforço de
pesca e de investimentos no setor pesqueiro, afetam negativamente a conservação
e ordenamento da pesca em longo prazo. São responsáveis também a degradação
ambiental e a decadência social.
Nesse contexto, a piscicultura marinha surge como uma alternativa.
BRANDINI et al., (2000) colocam a maricultura como alternativa para atender a
demanda comercial e repovoar os estoques nativos.
BARG (1992) cita o benefício sócio-econômico provindo da atividade da
aqüicultura sob a forma nutricional e empresarial contribuindo para diminuição do
26
declínio dos estoques pesqueiros através da pesca predatória. O desenvolvimento
sustentável da aqüicultura pode contribuir para a prevenção e controle da poluição
aquática, pois a atividade depende da captação de água de boa qualidade. Assim é
do interesse do aqüicultor selecionar áreas adequadas, com boa produtividade e
qualidade de água e mantê-la em boas condições (SCOTT, 2003).
Desde a década de 80 a aqüicultura familiar, realizada em pequenos
corpos de água (lagos naturais e pequenos viveiros escavados), rapidamente virou
uma atração devido à disponibilidade de financiamento com juros subsidiados no
Brasil. Hoje, existe o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura familiar –
PRONAF e do Banco do Brasil para o desenvolvimento da aqüicultura e agricultura
para os pescadores e assentados na região.
Na bacia hidrográfica do rio São João, o SIG vem sendo
gradativamente introduzido como ferramenta, principalmente para o mapeamento
das RPPNs da Mata Atlântica como estudo da preservação de sua biodiversidade
(GODOY et al., 2003 e SAUNDERS, 2004) e, do plano de manejo da APA da Bacia
do rio São João. SCOTT et al., (2002) realizaram um macro estudo da aqüicultura
para o Estado do Rio de Janeiro, indicando a região como muito promissora para
esta atividade.
1.1 JUSTIFICATIVA
Este trabalho se propõe a complementar informações para auxiliar a
gestão das bacias costeiras em questão utilizando uma metodologia alternativa para
áreas com precariedade de informações, como as bacias da região norte fluminense,
associando informações obtidas em campo com dados morfométricos e dados
espectrais dos sensores do satélite Landsat de forma a identificar de forma
hierarquizada o potencial da aqüicultura, em áreas sub-explotadas e que
apresentam afinidade para esta atividade.
A proposição de um estudo dessa natureza justifica-se pela
complementação de informações que podem auxiliar na gestão de bacias,
disponibilizando uma metodologia alternativa para áreas com precariedade de
informações, principalmente das bacias localizadas na região norte fluminense.
27
1.2 HIPÓTESE
Considerando que a área em questão faz parte de uma das bacias
hidrográficas mais importantes do Estado do Rio de Janeiro pela sua área de
abrangência e que o impacto ambiental em decorrência da retificação do leito
principal do rio São João resultou no fenômeno de salinização dos solos, ainda
assim, esta possui áreas que poderão vir a contribuir, para o desenvolvimento sócio-
econômico da região através da aqüicultura.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
• Identificar e avaliar o potencial e as áreas mais apropriadas para o
desenvolvimento da aqüicultura terrestre em viveiros escavados na zona
costeira do baixo curso do rio São João;
1.3.2 Objetivos Específicos
• Identificação e localização de fontes poluidoras que possam afetar a prática
da aqüicultura;
• Observar a influência do mar sobre o rio, principalmente quanto à penetração
da cunha salina no trecho retificado e do velho Rio São João e sua
estratificação;
• Identificação das áreas propícias disponíveis e adequadas para a criação das
espécies eurihalinas Litopenaeus vannamei (Boone, 1931), Macrobrachium
rosenbergii (De Man, 1879) e Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1757).
28
2 PANORAMA DA AQÜICULTURA
Aqüicultura é um dos ramos da produção animal que abrange desde
práticas de propagação de organismos aquáticos sob controle completo do homem
até a manipulação de pelo menos um estágio de suas vidas com a finalidade de
aumentar a produção (LUND & FIGUEIRA, 1989).
A atividade da aqüicultura para países em desenvolvimento não é só
estratégica, mas a solução de uma produção sustentável. Atualmente a expansão da
produção aqüícola baseia-se muito mais no eficiente uso dos recursos naturais, do
que em sistemas que possam ameaçar a degradação dos recursos naturais
disponíveis como a pesca (HILDSDORF & MOREIRA, 2004).
Segundo SCORVO, (2004), desde 1970, a aqüicultura mundial vem
apresentando índices médios anuais de crescimento de 9,2%, comparados com
apenas 1,4% da pesca extrativista, e àquele dos sistemas de produção de proteína
de animais terrestres (2,8%), para o mesmo período. A China é o maior produtor
mundial, com 71% do volume e cerca de 50% do faturamento. Conforme a previsão
da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO, (2002), a
piscicultura será responsável pela produção de 40% dos peixes consumidos no
mundo até 2010, em decorrência do aumento da população global e de mudanças
de hábito alimentar.
A aqüicultura é um dos sistemas de produção de alimentos que mais
cresce no mundo, sendo a piscicultura de água doce a atividade que vem se
mostrando mais promissora no Brasil em decorrência da malha hidrográfica e do
clima propício, principalmente no que diz respeito à criação de tilápias (WAGNER et
al., 2004).
O Brasil possui 8.400km de extensão litorânea, inteiramente diversificada,
condições climáticas excelentes, bem como um rico recurso hídrico continental com
potencial para aqüicultura. A maricultura, no Brasil, está representada basicamente,
pelos cultivos de crustáceos e moluscos. O cultivo de peixes marinhos e
equinodermas, ainda estão em fase laboratorial, e o cultivo de algas alcançou
produção comercial significativa nos anos 70 e 80, basicamente para a produção de
ágar e carageninas para exportação (STREIT et al., 2002).
29
No Brasil, a aqüicultura também vem despontando como atividade
promissora, registrando um crescimento superior à média mundial, passando de
20,5 mil toneladas, em 1990, para 210 mil toneladas, em 2001, correspondendo a
uma receita de US$ 830,3 milhões. No período de 1990-2001, o Brasil apresentou
um crescimento de aproximadamente 825%, enquanto a aqüicultura mundial
cresceu 187% no mesmo período. O resultado deste crescimento fica evidenciado
na classificação mundial estabelecida pela FAO, em que o Brasil se encontrava na
36ª colocação em 1990, passando a ocupar a 19ª posição em 2001 (figura 1), e a
13ª posição na geração de renda bruta (FAO, 2002). No ranking da América do Sul,
o Brasil encontra-se em segundo lugar, com 210 mil toneladas, sendo superado
apenas pelo Chile que apresenta uma produção três vezes superior, com 631,6 mil
toneladas.
Figura 1 – Evolução da produção e da posição brasileira no ranking da FAO para aqüicultura mundial – 1990/2001. Fonte: Borghetti et al., 2003.
Segundo ROCHA, (2003) enquanto a pesca extrativista vem revelando
sintomas de estagnação, a aqüicultura demonstra uma expansão vigorosa. A oferta
de pescado, oriundos da pesca e aqüicultura cresceu apenas 35,2% entre 1994 a
2002, não contribuindo para melhorar o consumo per capita no Brasil onde em
termos globais a oferta da pesca extrativista (marinha e de água doce) apresentou
30
um declínio de 7,2%. Neste mesmo período a aqüicultura revelou um crescimento de
712,5%, elevando a sua participação na produção de pescado no Brasil de 4,39%
em 1994 para 26,4% em 2002.
Segundo CAMARGO & POUEY, (2005), a aqüicultura será o setor do
país que mais oferecerá possibilidade de aumento da produção de pescado, em
médio prazo já que o Brasil apresenta condições favoráveis ao desenvolvimento das
mais diversas modalidades de aqüicultura, pois possui um grande potencial hídrico,
proveniente das bacias hidrográficas, das numerosas represas espalhadas por todo
país e da sua produtiva região costeira. Além disso, por ser um país essencialmente
agrícola, apresenta uma grande disponibilidade de produtos e subprodutos que
podem ser utilizados na formulação de rações a um custo relativamente baixo. Desta
forma é necessário um estudo que possibilite a formulação de um programa de
desenvolvimento da aqüicultura, levando-se em conta as diferentes regiões
brasileiras.
A topografia, na maioria das regiões do Brasil, favorece a construção de
tanques escavados para aqüicultura, bem como a condução da água para o
abastecimento por gravidade. Esses fatores, associados com a necessidade de
produzir um produto de qualidade e a procura de mercado, nacional e internacional,
têm levado a um aumento no cultivo de organismos aquáticos.
O Brasil oferece ampla variedade de alternativas para o desenvolvimento
da aqüicultura tanto marinha como dulcícola. Em termos comerciais, o camarão
marinho cultivado é o principal segmento da aqüicultura brasileira com 60.128
toneladas em 2002, principalmente para exportação, seguido pelo cultivo da tilápia
com 45.000 toneladas, de menor valor agregado, destinadas para o mercado
nacional (ROCHA, 2003).
De acordo com as últimas informações levantadas pelo Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, a piscicultura, na
classificação nacional por produção, respondeu, em 2002, por uma produção de
aproximadamente 158.058 toneladas, correspondendo a 67,1% da produção total da
aqüicultura, que foi de 235.640 toneladas (IBAMA, 2004). As outras modalidades de
aqüicultura, mesmo com menor produção, tiveram sua importância no contexto
nacional, como podemos observar na tabela 1. Segundo IBAMA, (2005) e MMA,
31
(2005) o Estado do Rio de Janeiro produziu 1.682,5 toneladas em 2005,
correspondendo a 0,9% da produção nacional e 5,5% da produção da região
Sudeste (tabela 2).
Tabela 1 - Produção brasileira da aqüicultura, por modalidade e participação em 2004. Fonte: IBAMA, 2004.
Modalidade Produção (t) Participação (%)
Piscicultura 158.058,0 67,1
Carcinicultura 64.171,5 27,2
Malacocultura 12.813,5 5,4
Ranicultura 597,0 0,2
Total 235.640,0 100,0
32
Tabela 2 – Produção estimada, segundo as regiões e unidades da Federação, de peixes, crustáceos e moluscos – aqüicultura continental. Fonte: IBAMA, (2005).
Regiões e Unidades da Federação
Total (t)
Peixes (t)
Crustáceos(t)
Brasil 180.730,5 179.737,5 362,5
Norte 17.531,5 17.495,5 35,0 Rondônia
Acre
Amazonas
Roraima
Pará
Amapá
Tocantins
4.041,0
1.839,0
4.775,0
1.710,0
2.041,5
235,0
2.890,0
4.040,0
1.839,0
4.775,0
1.710,0
2.006,5
235,0
2.890,0
0,0
0,0
0,0
0,0
35,0
0,0
0,0
Nordeste 39.153,5 39,088,5 57,5 Maranhão
Piauí
Ceará
Rio grande do Norte
Paraíba
Pernambuco
Alagoas
Sergipe
Bahia
731,0
2.116,5
18.185,0
83,0
228,0
1.057,0
3.902,5
2.156,5
10.694,0
731,0
2.116,5
18.181,5
83,0
228,0
1.009,0
3.902,5
2.147,0
10.690,0
0,0
0,0
0,0
0,0
0,0
48,0
0,0
9,5
0,0
Sudeste 30.723,0 30.017,0 270,0 Minas Gerais
Espírito Santo
Rio de Janeiro
São Paulo
4.972,0
3.209,5
1.682,5
20,859,0
4.914,0
2.924,5
1.600,5
20.578,0
0,0
250,0
20,0
0,0
Sul 61.252,0 61.252,0 0,0 Paraná
Santa Catarina
Rio grande do Sul
16.558,0
18.790,0
25.904,0
16.558,0
18.790,0
25.904,0
0,0
0,0
0,0
Centro Oeste 32.070,5 31.884,5 0,0 Mato Grosso do Sul
Mato Grosso
Goiás
Distrito Federal
6.901,0
16.627,0
8.016,0
526,5
6.901,0
16.627,0
7.866,0
490,5
0,0
0,0
0,0
0,0
2.1. APRESENTAÇÃO DAS ESPÉCIES As espécies que tradicionalmente vêm sendo usadas na prática da
aqüicultura na região nas últimas duas décadas são: Litopenaeus vannamei
33
(camarão branco), Macrobrachium rosenbergii (pitu, ou gigante da Malásia) e
Oreochromis niloticus (tilápia do Nilo).
2.1.1 Litopenaeus vannamei
A carcinicultura ou cultivo de camarão marinho teve sua origem no
Mediterrâneo e no século 15 d.C. na Indonésia. Na década de 1930 no Japão, o Dr.
Motosaku Fujinaga conseguiu a desova do camarão Marsupenaeus japonicus em
condições controladas, dando início à era moderna da carcinicultura com o
desenvolvimento da tecnologia de reprodução de camarões em cativeiro. Na década
de 70 se deu a propagação das técnicas de engorda em temos comerciais em
países de regiões tropicais e subtropicais. A partir de então, a carcinicultura marinha
evoluiu até ganhar posição de destaque no cenário internacional e é praticada em
mais de 50 países (NUNES et al., 2004). Em 2000 99% do L. vannamei encontrado
no mercado mundial era proveniente da aqüicultura (SEIFFERT et al., 2003).
O cultivo comercial de camarões marinhos no Brasil teve início na década
de 70, na Região Nordeste com a espécie Marsupenaeus japonicus, seguido das
espécies Farfantepenaeus brasiliensis, F. subtilis e Litopenaeus schmitti. No início
da década de 80 foram introduzidas as espécies exóticas Penaeus monodon e L.
vannamei, esta última que no início da década de 90 predominou o cultivo no Brasil
(BARBIERI Jr. & NETO, 2002).
Em 2002, a produção nacional em cativeiro de L. vannamei alcançou um
volume de 60.128 t, um incremento da ordem de 50% em relação ao ano anterior. A
produtividade média anual passou de 4.706 kg/ha/ciclo para 5.458 kg/ha/ciclo em
2003 (ROCHA & RODRIGUES, 2003).
Em 2003, o Brasil se destacou no ranking mundial: 6º lugar, com 90.190 t,
e em 1º lugar de produtividade com 6.084 kg/ha/ano. No Nordeste, o camarão
cultivado chegou à segunda posição das exportações do setor primário da economia
da região, logo depois do tradicional açúcar de cana em bruto e à frente de setores
dinâmicos como a fruticultura irrigada da região (ROCHA et al., 2004).
Em 2004, o segmento carcinicultura é a atividade mais expressiva da
maricultura brasileira, mesmo com uma queda de 15,8 % na produção de camarão.
A produtividade média caiu de 6,084 t/ha/ano para 4,573 t/ha/ano no ano de 2004. O
34
número de fazendas camaroneiras nos 14 estados produtores aumentou de 905
para 997 fazendas. A área inundada das fazendas aumentou de 14.842 hectares
para 16.598 ha. Os laboratórios de larvicultura e as indústrias de processamento
mantiveram seus níveis de atividade. Os camarões marinhos têm sua maior
produção concentrada na região Nordeste, embora ocorra nas regiões Sudeste e
Sul. Em 2004, a Associação Brasileira de Criadores de Camarões – ABCC realizou
pela segunda vez um censo da carcinicultura (ROCHA, 2004), conforme Tabela 3.
Tabela 3 – Produção da carcinicultura marinha/estado em 2004. Fonte: ABCC.
Fazendas Área Produção Estado No % ha % (t) %
Produtividade t/ha/ano
RN 381 38,2 6.281 37,8 30.807 40,6 4.905
CE 191 19,2 3.804 22,9 19.405 25,6 5.101
BA 51 5,1 1.850 11,1 7.577 10,0 4.096
PE 98 9,8 1.108 6,7 4.531 6,0 4.089
PB 68 6,8 630 3,8 2.963 3,9 4.703
PI 16 1,6 751 4,5 2.541 3,3 3.383
SC 95 9,5 1.361 8,2 4.267 5,6 3.135
SE 69 6,9 514 3,1 2.543 3,4 4.947
MA 7 0,7 85 0,5 226 0,3 2.659
PR 1 0,1 49 0,3 310 0,4 6.327
ES 12 1,2 103 0,6 370 0,5 3.592
PA 5 0,5 38 0,2 242 0,3 6.368
AL 2 0,2 16 0,1 102 0,1 6.375
RS 1 0,1 8 0,0 20 0,2 2.500
TOTAL 997 100 16.598 100,0 75.904 100,0 4.573
2.1.1.1 Parâmetros ambientais
Temperatura – Segundo BARBIERI & NETO (2002) esta espécie possui
grande capacidade de adaptação às mais variadas condições de cultivo, podendo
suportar ambientes com elevada amplitude térmica, entre 9oC e 34oC, sendo
desejáveis valores entre 26oC e 32oC (ABCC, 2005).
Salinidade - Embora no cultivo tradicional do L. vannamei emprega-se
águas com salinidade variando entre 15 e 40, em algumas camaroniculturas da
Região Nordeste, o camarão branco pode ser exposto a hipersalinidades acima de
35
55 ou a salinidades próximas a 1. Os camarões adultos da espécie L. vannamei
conseguem tolerar condições límnicas ou de água completamente doce por várias
semanas. Entretanto, até onde se sabe 0,5 de salinidade é considerado o nível
mínimo aceitável para o cultivo desta espécie (NUNES, 2001).
O cultivo do camarão L. vannamei (figura 2) em águas de baixa salinidade
é uma atividade recente no país, mas que já vem despertando o interesse de
pequenos empreendedores. As extensas faixas de áreas salinizadas localizadas em
regiões interiores e a boa adaptação, rusticidade e crescimento do L. vannamei a
condições de baixa salinidade, sugerem boas perspectivas de expansão deste novo
segmento (NUNES, 2001).
Há relatos do cultivo de L. vannamei desde água doce até altas
salinidades 45 a 50 (PÁEZ-OSUNA, 2001). Por outro lado, nestas condições há a
dificuldade de conduzir os cultivos com o mesmo sucesso se comparado com
salinidades próximas do conforto osmótico dos camarões. De acordo com BOYD
(1990), a faixa de salinidade melhor para o desenvolvimento dos camarões se
encontra entre 15 e 25.
Figura 2 - Litopenaeus vannamei. Völcker
Oxigênio - Segundo PÁEZ-OSUNA (2001), o oxigênio dissolvido é
considerado um dos parâmetros de qualidade de água mais críticos, tanto para os
sistemas naturais quanto para os viveiros de cultivo. Portanto, sua utilização na
36
avaliação das condições dos corpos de água ajuda a entender os processos de
renovação e auxilia na compreensão dos processos de mistura.
Os valores de oxigênio dissolvido considerados adequados para o
desenvolvimento do cultivo de camarões estão entre 4 – 6 mg.L-1 , sendo que a
restrição de retardamento de crescimento e estímulo da mortalidade se encontra
somente nos valores abaixo de 2,0 mg.L-1 (BELTRAME, E, 2003)
pH - Segundo BOYD (1990) em relação às espécies, quando o pH é
menor do que 4,0 se atinge o ponto chamado de morte ácida; em condições de pH
entre 4,0 a 6,0 e 9,0 a 11,0 há um crescimento lento, já com pH na faixa de 6,0 a 9,0
se alcança a faixa de ótimo crescimento. Por outro lado, para pH acima de 11,0
ocorre o chamado processo de morte alcalina.
2.1.2 Macrobrachium rosenbergii
A criação do camarão de água doce Macrobrachium rosenbergii iniciou-se
no Brasil, no final da década de 70, em Pernambuco, pelo Departamento de
Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco e a partir daí a espécie tem
sido cultivada em quase todos os estados do país (VALENTI, 1993, 1995, 2000).
Segundo os dados da FAO, Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura, entre 1990 e 2000, o volume produzido do gigante da
Malásia passou de 21.000 para 118.500 toneladas, correspondendo a um
crescimento de quase 500%, sendo um dos setores da aqüicultura que mais cresce
no mundo, embora as estatísticas de produção sejam difíceis de serem obtidas,
porque estes crustáceos são geralmente produzidos por pequenos proprietários
rurais e tem no consumo local seu principal mercado (VALENTI, 1998).
Segundo dados da FAO (FAO, 2002), na última década a produção
brasileira ficou em torno de 500 t anuais. O Grupo de Trabalho em Camarões de
Água Doce (GTCAD) estimou em cerca de 400 t a produção em 2001. Embora os
camarões de água doce venham sendo cultivados em 20 Estados (VALENTI, 2000),
observou que o maior número de criadores está localizado no Espírito Santo. No
Estado do Rio de Janeiro, somente a Fazenda Santa Helena, no Município de Silva
Jardim, está produzindo em escala comercial. Atualmente esta entrou com pedido de
licenciamento junto aos órgãos ambientais do Estado para ampliar a sua área de
37
produção em uma nova unidade localizada próximo à foz do rio São João, no
Município de Casimiro de Abreu, dentro da área de estudo deste trabalho.
Novas técnicas estão sendo desenvolvidas e incorporadas, como o uso
de substratos artificiais com manejo alimentar polifásico, que possibilita a elevação
da produtividade para 2 600 kg/ha em 3,5 meses, de camarões com peso médio
superior a 40 g (TIDWELL et al., 2001; 2002). O policultivo consiste na criação
simultânea de duas ou mais espécies aquáticas em um mesmo viveiro com o
objetivo de maximizar a produção, utilizando organismos com diferentes hábitos
alimentares e distribuição espacial. O policultivo com a tilápia nilótica aumenta a
produtividade e diminui o resíduo de ração no fundo do viveiro. Ambos exigem
temperaturas similares para atingir alta produtividade, podem alcançar o tamanho de
comercialização próximo de cinco meses, toleram águas de baixa qualidade e as
tilápias ocupam a coluna d'água, explorando pouco o fundo, enquanto que os
camarões ocupam apenas o extrato bentônico dos viveiros.
2.1.2.1 Parâmetros ambientais
Temperatura - O M. rosenbergii, (figura 3) apresenta bons resultados de
crescimento quando cultivado a temperaturas da água em torno de 24oC a 35oC
(COELHO et al, 1982). Segundo NEW & SINGHOLKA, (1984) esta espécie pode ser
cultivada entre 18 a 35oC sendo a faixa ótima entre 29 e 31oC e letais abaixo de
14oC e acima de 35oC.
Salinidade - Para que esta espécie alcance o tamanho ideal para o
comércio em curto espaço de tempo, o seu cultivo é feito em água doce (COELHO
et al., 1982). Após anos de pesquisas e testes, atualmente esta espécie também é
cultivada em água salobra (NEW, M & SINGHOLKA, S., 1984). Em Samoa foi
desenvolvida a sua criação em estuários com influência das marés, com salinidade
variando entre 12 e 25 (POOPER & DAVISON, 1982) e, na Carolina do Sul nos
Estados Unidos com salinidade de 10 foram obtidos resultados tão bons quantos em
água doce (SMITH et al., 1982).
pH – O M. rosenbergii alcança seu melhor crescimento numa faixa de pH
entre 7.0 e 8.0, neutro a levemente alcalino (CAVALCANTI et al, 1986).
38
Fig. 3 – Macrobrachium rosenbergii. Mississippi State University
2.1.3 Oreochromis niloticus
A tilápia é uma espécie exótica e acredita-se que no final da década de 90
se tornou o peixe mais cultivado no Brasil, responsável por cerca de 40% do volume
da aqüicultura nacional (ZIMMERMAN, 2004).
As tilápias são nativas do continente africano e da Ásia menor (GURGEL
& FERNANDO, 1994). No Egito, já se criava a tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus),
em 2500 AC. A tecnologia de cultivo da espécie deu início na China, hoje é criada
em mais de cem países, com uma produção anual estimada em 800.000 toneladas
(FITZSIMMONS, 2000).
A tilápia-do-Nilo (figura 4) foi introduzida no Brasil em 1950 pelo extinto
DNOCS para povoamento em açudes, objetivando ajudar no combate à fome. A
linhagem Bouaké foi introduzida em 1971 (BORGES et al., 2005) e, com o objetivo
de melhorar geneticamente o plantel, em 1996 foram importadas matrizes da
linhagem tailandesa Chitralada, gerando impactos positivos na produção (KUBITZA,
2000; LOVSHIN, 2000). Conhecida principalmente como tailandesa, linhagem
desenvolvida no Japão e melhorada na Tailândia, a Chitralada vem sofrendo
processo de melhoramento genético em nosso país (ZIMMERMANN, 2000).
39
Figura 4 – Oreochromis niloticus. Trewavas
Devido principalmente a sua rusticidade, rápido crescimento, carne de
ótima qualidade e boa aceitação pelo mercado consumidor, a tilápia-do-Nilo é a
espécie de água doce mais utilizada nos cultivos comerciais.
Para o controle de sua fecundidade e a sua alta taxa de reprodução foi
criada a geração monosexo. O método mais comum para a criação de populações
monosexo é a reversão sexual de larvas com a utilização de rações contendo
hormônios esteróides sexuais sintéticos (POPMA & GREEN, 1990). O Município de
Casimiro de Abreu, através da Secretaria de Agricultura e Pesca, vem
desenvolvendo um programa de produção de alevinos utilizando a reversão sexual,
para um programa social para fornecimento a pequenos agricultores para engorda. A
Prefeitura compra toda a produção de tilápia para a merenda escolar das escolas do
município, gerando uma renda adicional aos pequenos produtores locais.
2.1.3.1 Parâmetros ambientais
Temperatura - De acordo com PROENÇA & BITTENCOURT (1994), as
condições ideais para o cultivo da tilápia são: temperatura da água ideal entre 18 a
30oC, pH 6 a 8 e transparência da água de 25 a 45 cm.
JÚNIOR & JUNIOR, (2004) demonstraram em seu trabalho a viabilidade
de cultivo de tilápia nas regiões frias do estado de Santa Catarina, com temperatura
40
média da água em torno de 19 e 24oC e teve seu crescimento afetado com
temperatura de 12oC em dias consecutivos.
Salinidade – Muitas espécies e linhagens de tilápias são eurihalinas, com
capacidade de adaptação em ambientes com diferentes salinidades, podendo ser
cultivada tanto em água doce, salobra e salgada. Nas Filipinas foram realizados
ensaios com salinidade entre 14 e 35 com sobrevivência entre 82 e 94% e onde já
se consolidou como cultivo comercial (KUBITZA, 2005). Segundo o mesmo autor, o
cultivo de tilápias em tanques-rede em estuários deve ser avaliado, pois pode trazer
ganhos econômicos, sociais e ambientais para a população local devido ao declínio
da pesca extrativista. No sul da Bahia, na Barra do Serinhaém e Canavieiras estão
sendo realizados estudos, de cultivo de tilápia em tanques-rede em ambiente
estuarino desde 2001 para avaliação de sua viabilidade técnica e (DELL’ORTO et
al., 2002).
41
3 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS – SIG E SENSORIAMENTO
REMOTO - SR
3.1 SIG
O SIG é uma tecnologia em processo de desenvolvimento, tão intenso
que fica difícil chegar a uma definição que satisfaça aos envolvidos com o seu uso e
até mesmo àqueles que fazem seu marketing. Há inclusive os que chegam a
considerar SIG como uma ciência, e não como uma ferramenta (GOODCHILD, et
al., 1997). Assim foram selecionadas algumas definições, mostrando as várias faces
dos SIG:
“Qualquer conjunto de procedimentos manuais ou baseados em computador
destinados a armazenar e manipular dados referenciados geograficamente”
(ARONOFF, 1989);
“Um caso especial de sistema de informação, em que o banco de dados é
formado por características, atividades ou eventos distribuídos espacialmente”
(DUEKER, 1979);
“Um sistema de apoio à decisão que envolve a integração de dados
espacialmente referenciados, em um ambiente para resolução de problemas”
(COWEN, 1988);
“Um sistema de informações baseado em computador que permite a captura,
modelagem, manipulação, recuperação, análise e apresentação de dados
georeferenciados" (WORBOYS, 1995).
“Os SIG são um poderoso conjunto de ferramentas para coleta,
armazenamento, recuperação, transformação e visualização de dados do
mundo real, devendo ser vistos, entretanto, como um instrumento capaz de
realizar ações que vão além de codificar, armazenar e visualizar dados sobre
aspectos da superfície terrestre” (BURROUGH, 1986).
Um Sistema de Informação Geográfica integra dados espaciais e de
outros tipos num único sistema. Isto permite combinar dados de uma variedade de
fontes e tipos, provenientes de muitos bancos de diferentes dados. O processo de
converter mapas e outros tipos de informações espaciais numa forma digital, torna
possíveis métodos novos e inovadores para a manipulação e exibição de dados
42
geográficos. Assim, os SIG oferecem uma maneira potente de apoio à tomada de
decisão, espacialmente referenciada, em um contexto de planejamento local a fim de
satisfazer propósitos distintos, através de um conjunto de métodos, ferramentas,
banco de dados e atividades que atuam de forma coordenada e sistemática para
processar informação, tanto gráfica quanto descritiva dos elementos considerados.
Em ambiente SIG, para a representação de dados gráficos que
descrevem a localização, as formas geográficas e os relacionamentos espaciais
entre estas formas, são utilizados basicamente dois modelos de dados: o modelo
raster ou matricial (representado por um conjunto de células localizadas por
coordenadas), e o modelo vetorial (representado por três entidades geográficas
principais, a saber, pontos, linhas e áreas). Conforme observa BURROUGH (1986),
ambos os modelos de representação do espaço são estruturas de dados válidos. A
escolha do modelo mais adequado depende basicamente da aplicação à qual se
destina os dados e do software disponíveis.
Para XAVIER-DA-SILVA (1992), "o uso do Sistema de Informações
Geográficos permite ganhar conhecimento sobre as relações entre fenômenos
ambientais", estimando áreas de risco, potenciais ambientais e definindo
zoneamentos.
O uso de SIG’s permite obter mapas com rapidez e precisão a partir da
atualização dos bancos de dados, sendo uma ferramenta importante no estudo de
potencialidades do ambiente (VALLADARES & FARIA, 2004) e, no caso da
avaliação de áreas com risco de salinização constitui-se etapa importante para a
definição de práticas adequadas de manejo e conservação do solo e recursos
hídricos.
A utilização de SIG’s aplicado ao planejamento e ordenamento da região
costeira e das atividades socioeconômicas existentes na região apresenta diversas
vantagens, que incluem o benefício da integração das técnicas de processamento
digital de sensores remotos e a classificação temática com a análise espacial. Isso
possibilita subsidiar a otimização e a implantação de novas atividades
socioeconômicas, gerando impacto ambiental de menor proporção, resguardando
áreas de proteção ambiental e beneficiando os investidores com uma melhor
43
produtividade e segurança em áreas bem escolhidas para exploração de suas
atividades (SOUTO & AMARO, 2005).
PÉREZ, et al., (2003, 2005) usou o SIG e tecnologia relacionada para a
criação de um banco de dados utilizando as variáveis da qualidade de água que
influenciam no desenvolvimento do cultivo de peixes marinhos em gaiolas flutuantes
em Tenerife, nas Ilhas Canárias. O emprego da metodologia utilizando SIG para a
escolha de áreas para a aqüicultura está sendo amplamente explorado e se
tornando corriqueiro (AGUILAR-MANJARREZ & ROSS, 1995; KAPETSKY & NATH,
1997; NATH et al., 2000). A seleção de local é um fator chave para o sucesso e
sustentabilidade de empreendimentos aqüícolas, podendo minimizar conflitos com
atividades diferentes proporcionando o uso racional costeiro.
O sistema de informação geográfico oferece um ambiente poderoso
capaz de manipular grandes bancos de dados com ferramentas capazes de
gerenciamento ambiental em áreas aqüícolas, na capacidade de escolha de áreas
adequadas (CORNER et al., 2006).
O uso do SIG pode auxiliar também a melhorar a capacidade de extração
de informações de imagens do Sensoriamento Remoto (SR), através do uso de
dados ambientais espaciais relacionados, como na análise de padrões espaciais de
comunidades florestais e outros elementos da paisagem, cujos resultados podem ser
importados e incorporados à base de dados (BOHRER, 2000).
3.2 SR
Sensoriamento Remoto é a obtenção de informações sobre um objeto,
sem contato físico com o mesmo. São exemplos de sensores remotos os sistemas
que adquirem imagens da superfície terrestre a bordo de plataformas aéreas
(aviões) ou orbitais (satélites). A produção de mapas a partir de imagens de
sensoriamento remoto é uma simplificação da realidade complexa representada pela
imagem, o que justifica, muitas vezes, incorporá-la ao projeto, deixando-a falar por si
mesma (THOMAS, et al., 2001).
Muitas são as ferramentas que são utilizadas para auxiliar os processos
de avaliação ambiental e de gestão e de bacias hidrográficas. O SR é utilizado para
fornecer de forma clara, quantificada e circunstanciada o conjunto de impactos
44
previsíveis e imprevisíveis de um empreendimento ou atividade (LIBOS &
ZEILHOFER, 2005).
LUCIA PINTO, et al., (2001) usaram as técnicas de sensoriamento
remoto e SIG para a determinação e caracterização do manguezal do rio Ratones,
Santa Catarina, utilizando imagens LANDSAT e Spot Pancromática tratados com o
software Idrisi.
ALCÂNTARA, et al., (2005), utilizou o sensoriamento remoto em
ambientes que abrangem estudos de características estáticas e dinâmicas, tais
como morfologia e cartografia costeira, topografia, composição da água (pH,
temperatura. Clorofila a, sedimento em suspensão e transparência), batimetria,
influência de maré, correntes, recursos pesqueiros e poluição, utilizando imagens
Landsat TM 5.
45
4 ÁREA DE ESTUDO
4.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA
A bacia hidrográfica do rio São João está compreendida entre as latitudes
22°20′ e 22°50′ S longitudes 042°00′ e 042°40’ E, figura 5.
Figura 5 - Localização da área de estudo Völcker
Compreendendo uma superfície de aproximadamente 2.113 km2 e
perímetro de 266 km, oito municípios integram o território da bacia: Cachoeiras de
Macacu, Rio Bonito, Casimiro de Abreu, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio,
Rio das Ostras e Silva Jardim (figura 6).
A área de estudo compreende parte da bacia do baixo curso do rio São
João, nas latitudes e longitudes em UTM (Universal Transverse Mercator): 7.505.340
e 7.496.460 S e, 162.210 e 194.310 E, zona 23-S, datum South American Datum
(SAD-69), com área de 273,33 km2.
46
Figura 6 – Localização da Bacia Hidrográfica do rio São João e os municípios que integram. Fonte: Consórcio Intermunicipal Lagos São João - CILSJ. 4.2 CLIMA
As características climatológicas, do litoral do sudeste do Brasil têm sido
descritas por BERNADES (1952) e NIMER (1971, 1972 e 1979) e, as características
climáticas da bacia hidrográfica do rio São João foram estudadas pela firma
ENGENHARIA GALLIOLI (1972), como subsídios para as obras de saneamento e
CUNHA (1995) que descreve sobre o regime pluviométrico na região, comparando
as características da precipitação nas diversas estações instaladas na bacia
hidrográfica do rio São João.
Na região predomina o clima tropical úmido com sazonalidade definida e a
pluviosidade anual varia entre 1.100 a 2.000 mm com temperatura anual média de
22oC (KLEIMAN & GREEN, 1988), classificado por Köppen como sendo dos tipos Af
(clima úmido, com precipitação mensal superior a 60 mm) e Aw (úmido com inverno
seco, com a precipitação média inferior a 60 mm) (COIMBRA-FILHO &
MITTERMEIER, 1973). Segundo LAPENTA (2002), a média máxima de temperatura
anual foi de 28,6+2,6oC e a média mínima anual 20,0+2,9oC. A estação seca, de
abril a setembro, se caracterizou com médias de temperatura mínima mensal entre
15,7 oC e 21,1oC e precipitação mensal entre 3,9 a 169,0 mm. A estação chuvosa,
47
de outubro a março apresentou médias de temperatura máximas mensal entre
25,1oC e 32,4oC e precipitação mensal entre 202,0 a 299,5 mm.
A região apresenta um domínio de clima intertropical devido à posição
geográfica da bacia do rio São João junto à serra e na borda ocidental do Oceano
Atlântico, funcionando como um poderoso regulador térmico e fazendo com que o
clima seja quente e úmido. As instabilidades são freqüentes devido à chegada de
frentes frias (BARBIERI, 1999).
Os dados pluviométricos, de acordo com o Anuário Estatístico do Rio de
Janeiro, confirmam o fato de o verão ser a estação de chuvas, onde predomina a
massa de ar Continental Equatorial, enquanto o inverno é a estação de estiagem
onde prevalece à massa de ar Tropical Atlântica (MTA). A distribuição das chuvas
(figura 7) na bacia do rio São João exibe forte variação devido às mudanças de
massas de ar que pairam sobre a região, do relevo e ao fenômeno da ressurgência
em Arraial do Cabo (PRIMO & VÖLCKER, 2002).
Observa-se também que nas áreas mais elevadas da bacia do rio São
João, junto à serra e onde nascem os rios que drenam para o rio São João, a
pluviosidade ultrapassa mais que duas vezes a registrada no litoral (CUNHA, 1995).
Como o eixo da bacia hidrográfica está voltado para leste, este recebe os
ventos alísios, com predominância sudeste e nordeste (ALVARENGA, L. C. F. et al.,
1979).
48
Figura 7 - Distribuição das chuvas na Macro Região Ambiental MRA-4, que inclui a Bacia Hidrográfica do rio São João, segundo Barbieri, (1999).
4.3 TOPOGRAFIA E ASPECTOS GEOLÓGICOS
Na bacia do rio São João, observa-se três domínios morfológicos: a Serra
do mar, o Maciço Litorâneo e a Baixada. Estudos das características
geomorfológicas a jusante da barragem, no baixo curso do rio São João, foram
realizados por SANT’ANNA (1975) e AMADOR (1980a, 1980b), formada por colinas
com poucas elevações e pela planície aluvial, formada pela sedimentação marinha e
aluviões trazidos pelos rios da Serra do Mar e do Maciço Litorâneo.
Importantes estudos geológicos regionais do Estado do Rio de Janeiro
foram realizados por ROSIER (1957, 1965) enquanto as características geológicas
da região costeira do Estado foram descritas por LAMEGO (1945, 1946 e 1955), e
da Bacia Hidrográfica do rio São João por CUNHA (1995). Foram realizados
trabalhos pelo INPE/DRM-RJ (1977) e RADAMBRASIL (1983), com interpretação de
imagens multiespectrais do satélite LANDSAT-1 e imagem de radar (SLAR) com a
49
área inserida em mapas geológicos nas escalas 1:400.000 e 1:1.000.000,
respectivamente.
Na Bacia Hidrográfica do rio São João, foram identificadas as seguintes
unidades metamórficas que ocupam quase a totalidade da bacia hidrográfica com
exceção dos setores aluviais, costeiro e das ocorrências intrusivas (Morro de São
João e Serra do Sambê): as unidades intrusivas alcalinas no maciço do Morro de
São João e no maciço de Rio Bonito na Serra do Sambê; as unidades sedimentares,
relacionadas aos depósitos aluvionares dos rios São João, Capivari e Bacaxá; e a
formação da restinga, na faixa litoral.
As variedades de sedimentos foram identificadas e mapeadas por
AMADOR (1980a). Os depósitos aluvionares das planícies inundadas do rio São
João são constituídos por material argilo-arenoso com ou sem matéria orgânica. Ao
sul do Morro de São João são encontrados sedimentos superficiais arenosos finos e
médios, de coloração cinza-clara com camadas de conchíferos. As atuais áreas de
mangue apresentam um substrato de argilas orgânicas finas que se estende da foz
até cerca 15 km rio adentro acompanhando seus meandros (CUNHA, 1995).
A turfa no baixo São João ocorre na região junto à barragem da represa
de Juturnaíba, tem aproximadamente 5.000 ha de área com espessura que varia de
1 a 4 m.
4.4 COBERTURA VEGETAL
A cobertura vegetal na Bacia é constituída por campos de altitude,
florestas, brejos, campos inundados, pastagens, mangue e restinga. As florestas,
pertencentes aos remanescentes da Mata Atlântica podem ser encontradas nas
matas de topo de montanha, de meia encosta, de baixada e ribeirinhas. Não há
grandes extensões contínuas de florestas, exceto nas serras, mas fragmentos de
tamanho variados, isolados ou semi-isolados, cercados por pastagens e de cultivos
(BENIGNO et al., 2003).
No baixo São João, após a construção de valas e canais de drenagem
pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento - DNOS e por
fazendeiros, houve uma drástica redução dos brejos e campos inundados. Existe
ainda remanescente da mata ribeirinha, com largura variável, com brejos que
50
acompanham os meandros do rio São João, entre a foz do rio Lontra até as
proximidades do Morro de São João (BENIGNO et al., 2003).
Os manguezais se estendem ao longo das margens do rio São João,
desde a foz, a partir do rio Guarguá até a base do Morro de São João no início do
trecho retificado, e em alguns pontos do antigo leito, a 15 km da foz.
Na margem norte da Represa de Juturnaíba, seguindo a jusante do Rio
São João até a desembocadura do rio Aldeia Velha, e seguindo o mesmo até a
rodovia BR 101 encontra-se a Unidade de Conservação (UC) mais expressiva da
Bacia, a Reserva Biológica Poço das Antas – REBio, criada por Decreto em 1974.
Correspondendo a uma área de preservação de 5.000 ha, com perímetro de 44 km,
no Município de Silva Jardim. Nesta Unidade de Conservação (UC), observa-se as
três feições geomorfológicas: a baixada cristalina, composta por patamares que
foram à área de transição com a Serra do Mar, os tabuleiros e extensas planícies.
4.5 USO DO SOLO
A ocupação recente do solo se deu em dois períodos até a década de 70
e na década de 80. Desde meados do século XX a bacia Hidrográfica do São João
vem sofrendo uma rápida mudança do solo, incentivada pelas políticas
governamentais. Até então a exploração da madeira e o mono cultivo do café,
quando o rio era a principal via de escoamento, passou por grandes transformações
pelo investimento do governo, através do extinto DNOS para uma ocupação efetiva
na planície do Rio São João, com o incentivo à rizicultura. As obras de aterro e
drenagem romperam o equilíbrio natural da região, na fauna, flora e do próprio rio
(HELDER, C., 1999). Ainda na década de 70 procedeu-se um forte avanço no
desmatamento em virtude da exploração de madeireira e a produção de carvão.
Deu-se o início do plantio da cana-de-açúcar e a destilação de álcool com a
instalação da empresa Agrisa.
A partir da década de 80, em substituição à floresta foi sendo implantada
a agricultura de subsistência tendo com a pecuária, gado de corte e leite, a principal
atividade na região.
A partir da construção da Ponte Presidente Costa e Silva (Rio - Niterói) e
da melhoria das estradas que dão acesso à Região Litorânea e da exploração do
51
petróleo em Macaé houve um grande avanço demográfico na região, principalmente
em Barra de São João (Casimiro de Abreu) e em Tamoios (Cabo Frio) com
ocupação desordenada do solo trazendo agressão ao meio ambiente com a
devastação das matas na restinga, extração ilegal de areia, areola, desmatamento
do mangue e escoamento de esgoto in natura nos mananciais de água.
As ações antrópicas com a intervenção humana antes de 1969 e até a
atualidade, e o potencial turístico da bacia do Rio São João, foram descritos por
SAUNDERS, (2004).
Na área de assentamento agrícola (figura 8) Sebastião Lan I, localizado a
margem direita do Rio São João, junto ao trecho retificado e a formação, até o
presente momento irregular de um novo assentamento, o Sebastião Lan II, ao lado
da reserva REBio Poço das Antas, pratica-se a lavoura de mandioca, feijão,
maracujá, mamão e milho. Ambos os assentamentos estão localizados em áreas de
terreno de turfa e com alto risco de inundação.
Rio São João
Reprêsa Juturnaíba
Morro de São João
Barra de São João
Figura 8 - Assentamentos nas margens do Rio São João - áreas de assentamento. Fonte: EMATER Silva Jardim. A piscicultura ainda é pouco praticada na região. Pequenas captações de
água da bacia são utilizadas para criatórios de peixe. Na década de 90, no Município
de Silva Jardim, existiram alguns desses criatórios que produziam tambaquis,
carpas, tilápias e bagre africano na localidade de Goiabal.
No Município de Casimiro de Abreu podem ser encontrados seis
produtores que criam em 20 ha de viveiros escavados, diversos tipos de peixes
52
incluindo tambaquis, pacus, carpas, tambacus, piauçus e pirapitingas, porém com
baixa produtividade anual com cerca de 1 tonelada/ano (HELDER, 1999).
Atualmente há um programa de fornecimento de alevinos de tilápia
desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Pesca no Município de Casimiro de
Abreu para os pequenos produtores rurais e pesque-e-leve da Prefeitura. O pescado
recriado é vendido para a própria Prefeitura que utiliza o mesmo para a merenda
escolar.
A carcinicultura dulcícola representada pelo camarão da Malásia foi
criado, em diversas pequenas fazendas, hoje estão restritos à Fazenda Santa
Helena em Silva Jardim.
Recentemente, em 2004/5 iniciaram-se testes de criação de camarão
marinho próximo a foz do rio São João, sem sucesso até o presente momento.
4.6 HIDROGRAFIA
A bacia dista cerca de 70 km da cidade do Rio de Janeiro. O rio São João
tem suas nascentes na Serra do Sambê, no Município de Cachoeiras de Macacu a
cerca de 600 m de altitude e percorre 150 km até desembocar no Oceano Atlântico
em Barra de São João, que é o segundo Distrito de Casimiro de Abreu.
Aproximadamente a 71 km de sua nascente situa-se a represa de Juturnaíba, cuja
barragem foi construída no final da década de 70 e início de 80 (CUNHA, 1995).
A Lagoa de Juturnaíba até então era alimentada pelas águas dos rios
Capivari, Bacaxá e do Ouro e, tinha uma área de 8 km². Com a construção da
barragem passou a represar também as águas do Rio São João. O reservatório
cobriu a antiga Lagoa de Juturnaíba, criando um ecossistema que, embora aquático,
é distinto do original. A área alagada passou a ter uma superfície de 30,6 Km²
(CUNHA, 1995).
A maior parte da bacia localiza-se a montante da represa tendo os
principais afluentes que desembocam na represa o rio Bacaxá e o rio Capivari. A
jusante da barragem, o rio São João recebe os afluentes na sua margem esquerda
os rios Aldeia Velha, rio Indaiaçú, rio Lontra e rio Dourado e na margem direita os
principais rios Cangurupí e Guarguá. Os rios da margem esquerda têm maiores
53
vazões que os da margem oposta, pelo fato de drenarem as montanhas, onde as
precipitações são superiores às demais áreas da bacia, (figura 9).
54 Figura 9 – Mapa de localização da bacia hidrográfica do rio São João. Fonte: CILSJ
55
A bacia do Rio São João teve seu ecossistema profundamente alterado
pelo Programa Especial para o Norte Fluminense, do Ministério do Interior, através
de obras hidráulicas executadas pelo extinto DNOS entre as décadas de 50 e 80
com construção de inúmeras valas e canais para drenagem da imensa área de brejo
a jusante da barragem e retificações dos rios. A porção retificada do rio São João à
jusante da barragem apresenta uma calha retangular, com largura média que varia
de 50 a 80 m e profundidade entre 0,8 e 4,5 m em direção à foz. A calha retificada,
em alguns trechos, apresenta assoreamento dificultando a navegação na baixa-mar,
praticamente dividindo o canal em dois canais paralelos. É constituído de 3
segmentos, o primeiro, saindo em frente ao vertedouro com 2 km no sentido leste,
seguido pelo segmento que se prolonga por 7 km em direção nordeste onde recebe
na sua extremidade final o rio Indaiaçú e finalmente o último segmento com 15,5 km,
rumo leste, terminando no leito natural do rio São João (BENIGNO, et al., 2003). A
porção retificada recebe em seu trajeto águas de inúmeras valas cavadas por
fazendeiros. As margens são na maior parte de sua extensão, desnudas,
desprovidas de faixa ciliar, com gramíneas avançando para dentro do leito. As
águas, desde a barragem até próximo ao leito natural são barrentas, principalmente
entre os rios Aldeia Velha e Indaiaçú.
O curso natural do rio São João segue sinuoso à direita do canal, com
largura variando entre 20 e 40 m e profundidade podendo atingir 9 m e calha em
forma de “V”. Apresenta mata ciliar ainda bem preservada ao longo de seu trecho
até se encontrar no final do canal do DNOS rente ao sopé do Morro de São João.
Em época de estiagem as águas são claras de cor profundamente esverdeada
devido à afloração de algas. A partir deste ponto o rio São João segue sinuosamente
até a foz (13,5 km) já sob influência da maré e com manguezais ocupando ambas as
margens (BENIGNO, et al., 2003; PRIMO & VÖLCKER, 2002).
Os principais canais de drenagem são pela margem esquerda: vala dos
Meros, vala dos Medeiros, vala da Fazenda São João e vala da fazenda Carioca e,
pela margem direita: as valas da Agrisa, vala do Consórcio, vala do Jacaré e vala da
Pedra.
Além de sua importância como ecossistema fluvial o Rio São João, depois
que passou a alimentar a Lagoa de Juturnaíba, tornou-se de fundamental
56
importância para o abastecimento das cidades de Silva Jardim, Araruama, São
Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Armação dos Búzios, Iguaba Grande, Arraial do Cabo e
Saquarema.
As águas do Rio São João e afluentes também são de grande importância
para as atividades humanas, como irrigação de lavouras consumo industrial,
extração de areia, criação de peixes e pitus, pesca, recreação e navegação e, para
dessedentação animal e a manutenção da biodiversidade.
57
5 MATERIAL E MÉTODOS
O presente trabalho foi realizado a partir de informações de levantamento
de dados in situ e na literatura, relativo às propriedades físico-químicas da água e do
solo, dados de sensoriamento remoto no formato de imagens multiespectrais que
trazem informações indiretas sobre a bacia hidrográfica e suas características de
relevo, geologia e cobertura vegetal, e dados cartográficos no formato de cartas
topográficas, mapas temáticos, em diferentes escalas e fotografias
aerofotogramétricas.
5.1 ESCOLHA DAS ESTAÇÕES DE COLETA DE ÁGUA
Para avaliar a qualidade ambiental para a aqüicultura, foram selecionados
pontos para a coleta de água para análises e determinação de sua qualidade. A
escolha dos pontos de coleta foi feita de maneira a incluir locais julgados mais
representativos, como: a proximidade das desembocaduras de rios e canais;
próximos aos assentamentos, e locais de maior densidade demográfica. A posição
de cada estação foi fixada com GPS em coordenadas planas. Assim, foram
escolhidas sete estações de coleta (figura 10), no sentido foz até a barragem: a)
estação I situada na foz do Rio São João, após a ponte caída; b) estação II, entre a
desembocadura do Canal dos Medeiros e a criação de ostras; c) estação III, a
jusante do ponto de captação de água da fazenda de camarão, pertencente à
fazenda Tosana; d) a estação IV, no antigo leito nos meandros do Rio São João; e)
estação V localizada no primeiro terço do canal do São João retificado, próximo ao
rio Cangurupí; f) estação VI localizada a jusante da desembocadura do rio Indaiaçú e
abaixo do assentamento Sebastião Lan I; g) estação VII próxima à barragem da
Represa de Juturnaíba, onde foi fixada uma régua limimétrica.
As coletas do material ocorreram entre julho de 2005 a julho de 2006
sendo realizadas em intervalos de aproximadamente 15 dias, com embarcação de
alumínio, tipo voadeira com motor de popa de 25 Hp.
Além dos sete pontos fixos, foram escolhidos mais 18 pontos de coletas
extras nos principais afluentes e valas do Rio São João, para determinação da
qualidade da água de possíveis pontos de captação para a aqüicultura, assim como
58
Figura 10 - Localização das estações na área de estudo: a) estação I Foz; b) estação II Vala dos Medeiros; c) estação III Fazenda Camarão; d) estação IV Velho São João, e) estação V Cangurupí; f) estação VI Indaiaçú; g) estação VII Barragem Juturnaíba.
II
b
III
c
a
I
IV
d
VI
f
VII
g
V
e
59
mapear possíveis pontos de poluição: Rio da Aldeia Velha (N); Rio Indaiaçú (M); Rio
Lontra (J); Rio Dourado (G); Rio Cangurupí (I) e Rio Guarguá (B); e dos seguintes
canais e valas: Vala do Consórcio (H); Vala do Jacaré I (F); Vala do Jacaré II (O);
Vala da Pedra (E); Canal dos Meros (D); Vala dos Medeiros (C); Agrisa I (L); Agrisa
II (K); Vala da Fazenda Carioca (P); Vala da Fazenda São João (Q); canal de
captação de água da Fazenda Tosana; e, uma estação no mar (A). Todos os pontos
foram georeferenciados, (tabela 4) e a distribuição espacial dos mesmos ilustrados
na figura 11.
Tabela 4 - Coordenadas geográficas dos pontos de coleta em UTM na área de estudo.
Estação Local Coordenadas em UTM
Profundidade em m
I Foz do Rio São João 0192159 S 7498125 W 2,5
II Jusante Vala dos Medeiros 0192328 S 7500156 W 7,5
III Jusante do ponto de captação fazenda Tosana 0806383 S 7501157 W 7,5
IV Velho curso do São João 0800326 S 7500599 W 6,4
V Primeiro terço do canal retificado 0798596 S 7502429 W 4,5
VI Jusante do rio Indaiaçú 0789396 S 7502972 W 4,9
VII Jusante da Barragem 0781607 S 7499667 W 2,4
A Área oceânica costeira 0192502 S 7497687 W 5,0
B Rio Guarguá 0191832 S 7498690 W 0,5
C Vala dos Medeiros 0192444 S 7500431W 1,2
D Canal dos Meros 0808503 S 7500653 W 1,3
E Vala Fazenda São João 0807174 S 7501032 W 1,1
F Vala da Pedra 0806453 S 7499652 W 0,8
G Canal de captação Fazenda Tosana 0805549 S 7500792 W 2,4
H Vala do Jacaré I 0804088 S 7501065 W 1,0
I Vala do Jacaré II 0799029 S 7500781 W 1,5
J Vala do Consórcio 0798886 S 7500717 W 0,7
K Rio Dourado 0801707 S 7502534 W 2,9
L Vala Fazenda Carioca 0800539 S 7502467 W 1.0
M Rio Cangurupí 0795714 S 7501838 W 6,4
N Rio Lontra 0794225 S 7504581 W 2,1
O Agrisa I 0792944 S 7502625 W 2,5
P Agrisa II 0793187 S 7502703 W 1,9
Q Rio Indaiaçú 0788943 S 7503174 W 3,3
R Rio da Aldeia Velha 0784703 S 7500416 W 0,6
60
Figura 11 – PI da localização de todas as estações de coleta de água para análise, georeferenciados, na área de estudo.
61
5.2 METODOLOGIA
5.2.1 Fatores abióticos
Nas sete estações fixas foram coletadas amostras de água na superfície e
no fundo em período quinzenal. Nas 18 estações pontuais foram coletadas amostras
em profundidade de meia água. Utilizou-se para a coleta uma Garrafa de Nansen
com termômetro de inversão acoplado e uma garrafa tipo Van Dorn com 2 L de
capacidade. Na tabela 5 encontram-se os fatores abióticos analisados.
Tabela 5 – Fatores abióticos analisados no baixo curso do rio São João Fatores abióticos Unidade Metodologia/Equipamento Referência
Temperatura da água
oC Termômetro de bulbo e inversão
-
Salinidade - Refratômetro / Potenciometria
-
Condutividade mS/cm Potenciometria -
Transparência m Disco de Secchii Pompêo, M.L.M. (1999 a, b)
pH - Potenciometria -
Oxigênio Dissolvido mg O2/L-1 Método titulométrico Strickland & Parsons (1972)
Os dados de colimetria foram obtidos pelo CILSJ, analisadas pelo
laboratório da Cia. Álcalis em Arraial do Cabo.
5.2.2 Cartografia
Para abranger a área de estudo e obtenção da classificação da cobertura
e uso do solo bem como o uso de Sistema de Informações Geográficas para a
obtenção de mapas temáticos, foram obtidas as imagens de satélite
(http://glcfapp.umiacs.umd.edu:8080/esdi/index.jsp) Lansat 7-ETM+, bandas: 1, 2, 3,
4, 5, 7, obtidas em 28/02/2000 (órbita e ponto 216/076) de 2000, em meio digital,
cedida pelo Global Land Cover Facility (GLCF) do Institute for Advanced Computer
Studies (Maryland University, EUA).
A imagem foi captada pelo sensor Thematic Mapper (ETM+) do Landsat
7, apresenta uma resolução espacial de 30 metros, resolução radiométrica de 8 bits
62
(256 níveis de cinza) e resolução espectral com 7 bandas (tabela 6). A projeção da
imagem é a Universal Transverse Mercator (UTM) zona 23-S, datum South
American Datum (SAD-69).
Tabela 6 - Faixas espectrais do sensor TM. Modificada por BATISTA & DIAS (2005)
Banda Faixa espectral Resolução espacial (metros)
1 0,45 a 0,52 μm - azul 30 2 0,52 a 0,60 μm - verde 30 3 0,63 a 0,69 μm - vermelho 30 4 0,76 a 0,90 μm - infravermelho próximo 30 5 1,55 a 1,75 μm - infravermelho médio 30 6 10,4 a 12,5 μm - infravermelho termal 120 7 2,08 a 2,35 μm - infravermelho distante 30
Para a identificação de posicionamento das estações de coleta, pontos de
controle in situ e navegação, foi utilizado um GPS da Garmin modelo GPSmap 76S,
podendo receber sinal de até 12 satélites simultaneamente, com nível de precisão
entre 10-25 m.
Foi usado um mapa da área de estudo na escala 1:30.000 constituído por
um mosaico de imagens aéreas digitalizadas datadas de 1999 e 2000 no estudo de
renaturalização do rio São João, (BENIGNO, et al., 2003).
5.2.3 Tratamento das informações
A organização e tratamento das diversas informações foram realizados
com auxílio de diversos softwares (CorelDRAW X3, Adobe Photoshop CS2, GPS
DrackMaker® 13.1) e para o SIG utilizou-se o software de Sistema de Informações
Geográficas IDRISI®, versões Kilimanjaro® e Andes® desenvolvidos pela Clark
University, EUA. Este programa organiza as informações em seu banco de dados na
forma de Planos de Informações (PI’s) que podem ser manipulados através de
operadores matemáticos e lógicos.
63
5.2.4 Dados Meteorológicos
Foram coletados dados de temperatura do ar em oC (máxima, mínima e
média) e precipitação em mm, mensais, de duas estações meteorológicas: REBio
Poço das Antas, de 1983 a 2005, e da Agrisa, Agroindustrial São João Ltda.,
somente dados pluviométricos de 2004 a 2006.
5.2.5 Geoprocessamento
As imagens das 7 bandas foram importadas e processadas utilizando-se o
software IDRISI®. Conforme uma identificação preliminar da área de estudo em cada
cena, aplicou-se um recorte na imagem, limitando o espaço geográfico a ser
analisado nas latitudes e longitudes: 7.505.340 e 7.496.460 S e, 162.210 e 194.310
E, usando o módulo Window e reprojetada para Universal Transverse Mercator
(UTM), zona 23-S, através do modulo Project. A correção geométrica de cada
imagem recortada foi realizada através de pontos de controle nas imagens,
utilizando confluências e pontos notáveis da rede de canais e vias de acesso
principal e secundário, digitalizada da bacia, oriunda da imagem Landsat 7 (sistema
UTM, datum SAD 69), utilizando o módulo Reformat/Resample do IDRISI®.
Para a realização da classificação supervisionada foi necessária a
utilização de várias combinações entre as bandas do Landsat 2, 3, 4, 5 e 7. A
análise de cada classe baseou-se na interpretação visual da imagem, no trabalho de
campo e conhecimento adquirido.
Para a criação de mapas temáticos em formato Raster, foram utilizados
imagens e mapas (CIDE e EMBRAPA) digitalizados em CD, no formato Corel Draw®
(CDR). Foi necessário inicialmente transformar estas imagens no Photoshop® em
formato TIF para então serem importada para o IDRISI® no módulo Import em
GEOTIFF/TIFF. Posteriormente foram recortadas pelo módulo Window e, através de
módulo Resample ajustadas à imagem de trabalho georeferenciada, escolhendo, na
medida do possível, pelo menos 50 pontos em comum.
Como referência de base para a identificação das feições e realçar uma
determinada informação espectral do objeto admitiu-se as composições das bandas
64
espectrais LANDSAT, todas sob sistema RGB, usando o módulo Composite do
IDRISI®:
4, 5 e 7 - apresenta uma textura excelente, permitindo interpretações
estruturais, e visualização das áreas antrópicas. Esta composição foi usada
para a identificação de rios, canais e manguezais, (figura 12);
Figura 12 – Mapa da região de estudo nas cores RGB 457.
4, 3 e 2 - composição que ressalta o uso e ocupação do solo e hidrografia,
oferece uma boa discriminação entre área urbana (coloração variando de
bege a azul) e não urbana e os tipos de cobertura vegetal, principalmente as
áreas de mangue em tons de vermelho escuro. Esta composição foi utilizada
para a distinção da vegetação rasteira e pasto. A primeira apresenta uma
tonalidade vermelho escura, de rugosidade média evidenciada pela utilização
da banda 4 no canal vermelho. Utilizou-se também para a identificação das
praias e areais que apresentam tonalidade que varia do branco ao amarelo-
claro (figura 13);
Figura 13 – Mapa da região de estudo nas cores RGB 432
5, 4 e 2 – composição utilizada na identificação de antropismo como zonas
urbanas, regiões que sofreram intervenção humana, e solo exposto,
representada por coloração rósea com leves tons de cor laranja e
65
avermelhado marrom. Esta composição foi utilizada para a identificação de
pasto e as áreas de expansão urbana, (figura 14);
Figura 14 – Mapa da região de estudo nas cores RGB 542.
7, 5 e 2 – ressalta a vegetação e as planícies fluviais, pois as tonalidades de
verde diferem muito comparadas às regiões estuarinas, campo, pasto e aos
ecossistemas vizinhos que se apresentam em verde escuro. Mostrou-se muito
eficiente para o mapeamento das zonas urbanas que se distinguem com
bastante contraste. Esta composição foi utilizada para a digitalização de
pasto, áreas urbanas e os assentamentos, e manguezais, (figura 15);
Figura 15 – Mapa da região de estudo nas cores RGB 752.
7, 5 e 4 – Esta composição foi utilizada na identificação da malha hídrica (rios
e canais) com coloração negra que se contrastam sobre o azul, (figura 16).
Figura 16 – Mapa da região de estudo nas cores RGB 754.
66
Para a criação do mapa temático topografia foi utilizada uma imagem do
projeto Brasil em Relevo (http://www.relevobr.cnpm.embrapa.br/) que utilizou como
fonte primária os modelos digitais de elevação, com aproximadamente 90 metros de
resolução espacial, originários da missão de mapeamento do relevo terrestre SRTM
(Shuttle Radar Topography Mission), desenvolvido pela NASA (National Aeronautics
and Space Administration) e NGA (National Geospatial-Intelligence Agency) dos
Estados Unidos no ano 2000. Para a criação do mapa temático em formato Raster,
foram utilizadas imagens digitalizadas, importados para o IDRISI® no módulo Import
em GEOTIFF/TIFF, recortados pelo módulo Window e, através de módulo Resample
ajustadas à imagem de trabalho georeferenciada.
Os dados podem ser representados sob duas formas: a representação
vetorial (pontos, linhas e polígonos, delineados por um conjunto de coordenadas) e
em grade (raster, conjunto de células definidas pelas coordenadas x e y em um
sistema de grade). Cada célula, (pixel), é independentemente endereçada com o
valor de um atributo. A entrada dos dados é feita por digitalização ou por arquivos
digitais. A estrutura da base de dados é construída na forma de uma série de mapas
ou planos de informações, definidos por um mesmo sistema de coordenadas. O
atributo é o valor de uma variável geográfica associada com uma dada posição
topográfica. Os valores dos atributos podem ser transformados, usando-se
procedimentos lógicos e matemáticos de combinação de diferentes atributos ou
polígonos. A saída de dados pode ser feita na forma de gráficos e tabelas, arquivos
digitais e mapas temáticos ou Planos de Informações (PI’s).
Nestes PI’s foram utilizados os fatores que influenciam potencialmente
sobre a aqüicultura e que serviram como base para a escolha de áreas adequadas.
O sistema de classificação adotada para este estudo foi o mesmo usado por
Kapetsky @ Nath, 1997 e Scott, 2003. Os PI’s foram reclassificados usando-se as
seguintes classes e cores para melhor ilustração: 4 excelente (verde); 3 muito bom
(azul); 2 bom (amarelo) e 1 regular (vermelho).
O cruzamento e sobreposição entre PI’s resultou em novos PI’s através
de vários procedimentos no IDRISI® de acordo com a necessidade utilizando os
módulos Reclass, Overlay, Distance, Area, Buffer, Weight e MCE. Para facilitar
algumas operações usou-se o Macro Modeler, ambiente gráfico (fluxograma) para a
67
construção de modelos que mostra as fases do processamento utilizado, com os
nomes dos arquivos base, os módulos do IDRISI® utilizados em cada passo e, a
imagem resultado.
Para chegar ao PI final das áreas disponíveis e adequadas para a
aqüicultura seguiu-se o modelo ilustrado na figura 17.
Figura 17 – Modelo para avaliação de áreas potenciais para aqüicultura.
O PI para a localização das estações de coletas foram criados arquivos
.txt com as coordenadas de cada estação em UTM 23-S (x,y) e o número da
estação (z). Estes arquivos.txt foram importados para o IDRISI®, resultando em um
vetor onde os pontos correspondem ao local exato das estações de coletas e,
68
posteriormente adicionado a uma base de uma imagem LANDSAT para facilitar a
sua visualização.
Para todos os PI’s como salinidade, temperatura da água, oxigênio
dissolvido e pH, foi necessário também a criação de arquivos .txt, onde as
coordenadas representam x e y e os valores de cada parâmetro z, criando assim,
os vetores para cada fator analisados. Os valores dos parâmetros físico-químicos
acima foram interpolados com o módulo Interpol, mostrando assim a tendência dos
valores intermediários entre as estações de coleta, completando lacunas para
melhor visualização espacial destes parâmetros. O resultado da interpolação foi
seguido pela reclassificação com o módulo Reclass, atribuindo novos valores para
cada camada, agrupando valores próximos em uma única categoria.
69
6 RESULTADOS
As coletas quinzenais foram realizadas no período de junho 2005 a julho
2006, compreenderam a todas as condições de lua e altura das marés e em todas
as condições climáticas. Como podemos observar, na Tabela 7, o vento
predominante foi o NE seguido pelo SE na ocasião da entrada das frentes frias.
2005 e 2006 foram anos atípicos do regime de chuvas para esta região.
Tabela 7 – Campanhas quinzenais para coleta de água, realizadas no período de junho 2005 a junho 2006, no baixo curso do rio São João.
Campanhas Rio São João Maré Data Horário Tempo Chuva Vento
Preamar Baixa-mar Maré
1ª 14/6/05 08:20 - 14:00 bom +48hrs NE mode 07:08 0.9 14:26 0.3 V 2ª 5/7/05 09:20 - 15:00 bom +48hrs SE fraco 14:38 1.0 08:02 0.1 E 3ª 21/7/05 09:10 - 15:25 nublado +48hrs NE mode 15:30 1.2 08:54 0.0 E 4ª 16/8/05 09:10 - 14:04 bom +48hrs NE forte 13:54 1.0 07:09 0.2 E 5ª 31/8/05 09:40 - 13:45 nublado +48hrs NE fraco 13:53 1.4 07:26 0.2 E 6ª 19/9/05 08:55 - 15:10 nublado +48hrs NE mode 15:23 1.1 09:53 0.0 E 7ª 30/9/05 09:10 - 13:30 bom +48hrs NE fraco 13:45 1.1 07:06 0.1 E 8ª 11/10/05 08:45 - 12:25 bom +48hrs NE fraco 11:58 1.0 03:09 0.4 E 9ª 25/10/05 08:40 - 14:20 bom +48hrs NE mode 11:13 0.8 02:43 0.4 E
10ª 10/11/05 09:00 - 13:15 chuva chuva SE fraco 11:32 1.0 04:06 0.3 E 11ª 29/11/05 09:05 - 13:10 bom -24hrs E forte 13:13 1,1 07:19 0.2 E 12ª 8/12/05 09:10 - 13:25 nublado -24hrs SE fraco 09:02 0.9 15:06 0.6 V 13ª 28/12/05 09:05 -13:05 bom +48hrs SE fraco 13:13 1.1 07:19 0.2 E 14ª 16/1/06 09:35 - 14:00 bom +48hrs NE forte 10:08 0,4 15:34 1.1 E 15ª 31/1/06 09:25 - 13:45 bom -24hrs NE fraco 15:58 1.2 10:23 0.3 E 16ª 7/2/06 09:20 - 14:55 bom +48hrs NE fraco 08:37 0.7 17:13 0.4 V 17ª 22/2/06 09:05 - 13:40 bom +48hrs NE fraco 09:21 0.7 16:23 0.4 V 18ª 9/3/06 09:55 - 14:25 bom +48hrs NE fraco 11:45 0.8 18:04 0.3 V 19ª 29/3/06 08:45 - 14:50 bom +48hrs L fraco 14:43 1.3 08:54 0.2 E 20ª 11/4/06 09:25 - 13:00 bom -24hrs NE fraco 13:30 1.2 07:41 0.3 E 21ª 27/4/06 08:50 - 13:50 nublado -24hrs SE mode 08:23 0.1 14:21 1.3 E 22ª 9/5/06 09:15 - 12:50 nublado -24hrs S mode 12:23 1.0 06:28 0.4 E 23ª 23/5/06 09:55 - 14:35 nublado +48hrs SE fraco 12:02 1.1 05:58 0.4 E 24ª 8/6/06 09:35 - 13:15 bom +48hrs NE mode 12:41 1.1 06:23 0.3 E 25ª 5/7/06 09:20 - 12:50 bom -24hrs NE mode 09:49 0.9 16:43 0.5 V
70
6.1. FÍSICO-QUÍMICO DA ÁGUA
Os dados aqui apresentados resumem as amostragens das 7 estações
permanentes e das 18 estações extras no período entre junho de 2005 a julho de
2006, e constitui o maior número de amostragens realizadas recentemente no baixo
rio São João, para avaliar as características limnológicas e bióticas.
6.1.1 Temperatura
Valores médios de temperatura
0
5
10
15
20
25
30
35
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o
31-ag
o19
-set
30-se
t
11-ou
t
25-ou
t
11-no
v
29-no
v8-d
ez
28-de
z16
-jan31
-jan7-f
ev22
-fev9-m
ar
29-m
ar
11-ab
r
27-ab
r9-m
ai
23-m
ai8-j
un 5-jul
Data
Tem
pera
tura
°C
Figura 18 - Temperatura média da água do rio São João no período de coleta.
No que concerne às temperaturas da coluna de água em geral não foi
observada uma estratificação definida durante o período de estudo. No inverno
observou-se uma ligeira queda nas temperaturas, onde os valores apresentaram
uma variação de 20°C a 27°C (média 23°C ± 1,75, n=126) em toda a coluna de
água. A diferença máxima entre as temperaturas de superfície e de fundo não
ultrapassaram 1,0oC. Como esperado, as temperaturas no verão foram superiores
às observadas no inverno. Os valores das águas superficiais e de fundos oscilaram
entre 20°C e 30°C (média 25,8°C ± 2,52, n=224). Neste período a variação vertical
máxima foi de 0,5°C. Também não foram observadas variações significativos da foz
até a barragem. A média anual girou em torno de 24,53oC, (figura 18).
71
6.1.2 Salinidade
Estação I: Foz
0
5
10
15
20
25
30
35
40
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o
31-ag
o19
-set
30-se
t
11-ou
t
25-ou
t
11-no
v
29-no
v8-d
ez
28-de
z16
-jan31
-jan7-f
ev22
-fev9-m
ar
29-m
ar
11-ab
r
27-ab
r9-m
ai
23-m
ai8-j
un 5-jul
Data
Salin
idad
e
Superfície Fundo Figura 19 - Salinidade na superfície e no fundo na Foz do Rio São João no período de coleta.
Estação II: Vala dos Medeiros
0
5
10
15
20
25
30
35
40
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o
31-ag
o19
-set
30-se
t
11-ou
t
25-ou
t
11-no
v
29-no
v8-d
ez
28-de
z16
-jan31
-jan7-f
ev22
-fev9-m
ar
29-m
ar
11-ab
r
27-ab
r9-m
ai
23-m
ai8-j
un 5-jul
Data
Salin
idad
e
Superfície Fundo
Figura 20 - Salinidade na superfície e no fundo na Vala dos Medeiros no período de coleta.
72
Estação III: Fazenda Camarão
0
5
10
15
20
25
30
35
40
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o
31-ag
o19
-set
30-se
t
11-ou
t
25-ou
t
11-no
v
29-no
v8-d
ez
28-de
z16
-jan31
-jan7-f
ev22
-fev9-m
ar
29-m
ar
11-ab
r
27-ab
r9-m
ai
23-m
ai8-j
un5-j
ul
Data
Salin
idad
e
Superfície Fundo Figura 21 - Salinidade na superfície e no fundo em frente à fazenda de camarão, da propriedade Osana, no período de coleta.
Estação IV: Velho São João
0
5
10
15
20
25
30
35
40
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o31
-ago
19-se
t30
-set
11-ou
t25
-out
11-no
v29
-nov
8-dez
28-de
z16
-jan
31-ja
n7-f
ev22
-fev
9-mar
29-m
ar11
-abr
27-ab
r9-m
ai23
-mai
8-jun 5-jul
Data
Salin
idad
e
Superfície Fundo Figura 22 - Salinidade na superfície e no fundo no trecho do velho rio São João no período de coleta.
73
A salinidade foi detectada somente nas estações I, II, III e IV, sendo os
três primeiros localizados próximo à foz e o ponto III a 14 km, no velho São João. Na
estação I, junto à foz, devido a pouca profundidade (entre 1,2 a 2,5 m), foi observada
uma homogeneidade da salinidade entre a superfície e fundo, exceto em épocas de
chuvas, no verão, ou em chuvas mais prolongadas na entrada de frente fria, onde
não se chegou a detectar salinidade. Mesmo nestas condições, sempre foi detectada
uma penetração das águas marinhas, mais salgadas e mais densas, em
profundidade na estação II, aonde a profundidade chega a mais de 12 m. Nas
estações mais profundas (II, VII e III) observou-se uma ampla variação de salinidade
entre a superfície e o fundo (figuras 19, 20, 21 e 22).
Neste período de estudo a “cunha salina” não penetrou além dos 14 km
rio adentro. A presença de salinidade também foi evidenciada pela presença de
vestígios de mangue ao longo das margens. Pelo que foi observado in situ, a
penetração do mar depende da amplitude da maré, e da vazão de água do rio,
principalmente no período de estiagem.
6.1.3 pH
Valores médios de pH
0123456789
1011121314
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o
31-ag
o19
-set
30-se
t
11-ou
t
25-ou
t
11-no
v
29-no
v8-d
ez
28-de
z16
-jan31
-jan7-f
ev22
-fev9-m
ar
29-m
ar
11-ab
r
27-ab
r9-m
ai
23-m
ai8-j
un 5-jul
pH
Figura 23 - Valores médios de pH com o desvio padrão no rio São João no período de coleta.
Data
74
Junto à foz na estação I, e na estação II na preamar em época de
estiagem, a média do pH variou de 7,54 na superfície a 7,81 no fundo e 7,08 na
superfície a 7,60 no fundo, respectivamente. Quanto mais afastado da foz, sem a
influência da salinidade, a água doce apresenta tendência de acidez, assim como
nas épocas de chuva onde foram registradas as medições mais baixas.
No trecho do curso original do rio São João, estação III foram
registrados os valores mais baixos de pH, 2,80 e as maiores variações entre a
superfície e o fundo, 3,93 (7,14 superfície e 3,21 fundo), (figura 23).
Observou-se a descarga de água proveniente das inúmeras valas da
margem direita do rio, com pH extremamente baixo: vala do Consórcio com pH de
3,15 e a vala do Jacaré com pH de 3,70. Já na porção retificada do rio São João
foram observados dois pontos que contribuem com água de pH ácido: os canais da
Agrisa I e II com pH 3,37 e 3,10 respectivamente e o rio Indaiaçú onde foram
efetuadas três medições de pH: 3,86; 4,64 e 6,4 provavelmente devido à poluição
proveniente da cidade de Casimiro de Abreu.
6.1.4 Oxigênio dissolvido
Concentração média de Oxigênio dissolvido
0123456789
10
14-ju
n5-j
ul21
-jul
16-ag
o
31-ag
o19
-set
30-se
t
11-ou
t
25-ou
t
11-no
v
29-no
v8-d
ez
28-de
z16
-jan31
-jan7-f
ev22
-fev9-m
ar
29-m
ar
11-ab
r
27-ab
r9-m
ai
23-m
ai8-j
un 5-jul
.
mg/
L
Figura 24 - Concentração média com o desvio padrão do oxigênio dissolvido no rio São João no período de coleta.
Data
75
Para o oxigênio dissolvido, uma ampla variação foi detectada, em cada
dia de coleta e em cada estação (figura 24). A média global de oxigênio
dissolvido em 6,94 mg/L. Não há estratificação significativa em cada ponto
amostrado. Os níveis mais baixos, durante o período de estudo, foram
observados na estação IV, a jusante da desembocadura do rio Indaiaçú onde
foram registrados os seguintes níveis nas três medições: 3,30; 1,80 e 6,19 mg/L.
Estes resultados mostram que existe um comportamento bem
diferenciado da coluna d’água no que diz respeito à oxigenação. Os valores
encontrados no período abril-outubro são geralmente superiores aos valores
encontrados no verão, provavelmente devido ao regime de ventos na região e a
fotossíntese, período com pouca nebulosidade. De uma maneira geral, as diferenças
nas concentrações de oxigênio dissolvido, entre a superfície e o fundo, nas estações
amostradas foram pequenas.
6.1.5 Colimetria
Os coliformes fecais variaram de 13 a 4.300 NMP/100ml enquanto que na
desembocadura da Vala dos Medeiros foram observados os maiores níveis, que
variaram de 130 a 240.000 NMP/100ml, (tabela 8).
Tabela 8 – Resultados de colimetria entre agosto 2005 e maio 2006 junto à foz do rio São João. Fonte: CILSJ.
Coliformes fecais NMP/100ml Foz Vala dos Medeiros Data
13 54.000 11/08/05
140 240.000 25/10/05
49 130 10/11/05
130 2.400 29/11/05
130 2.400 08/12/05
1.600 5.400 16/01/06
2.400 24.000 31/01/06
240 24.000 07/02/06
240 24.000 22/02/06
240 240.000 09/03/06
4.300 24.000 29/03/06
23 2.400 11/04/06
13 1.600 27/04/06
24 560 09/05/06
76
Em ambos os pontos as maiores concentrações ocorreram nos meses de
verão, coincidindo com a alta temporada de turismo na região.
6.2 DADOS METEOROLÓGICOS
6.2.1 Temperatura atmosférica
No período de janeiro a julho de 2005 as temperaturas variaram de 14oC
(junho) a 40oC (janeiro e março) com temperatura média 28,5oC, no verão e de
24oC, no inverno, (figura 25).
Temperatura
18 19 20 19 1814 15
4037
40 3936
34 33
05
1015202530354045
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JULmêses
Tem
pera
tura
oC
mínimo máximo
Figura 25 - Temperatura oC do ar mensal, no período de janeiro a julho de 2005, da estação meteorológica da REBio Poço das Antas.
Os dados obtidos foram registrados de janeiro a julho de 2005, quando a
estação entrou em manutenção.
77
6.2.2 Precipitação
Precipitação baixo rio São João
0
50
100
150
200
250
Jun-0
5Ju
l-05
Ago-05
Set-05
Out-05
Nov-06
Dez-05
Jan-0
6
Fev-06
Mar-06
Abr-06
Mai-06
Jun-0
6Ju
l-06
Data
prec
ipita
ção
em m
m
precipitação Figura 26 - Precipitação mensal (mm), de junho 2005 a julho 2006 do baixo rio São João, da estação meteorológica da Agrisa.
O gráfico do índice de precipitação (figura 26) mostra o período de chuva,
nos meses de novembro a março (verão) e o período seco nos meses de maio a
agosto (inverno). Durante o período de estudo foi registrado o total de 1.257,5mm.
De acordo com os parâmetros acima, os resultados confirmam que os
dados físico-químicos estão dentro das possibilidades de fazer a aqüicultura na
região, nas especificações ideais para as espécies em questão, conforme
referenciado nas seções 2.1.1.1, 2.1.2.1 e 2.1.3.1, porém o pH é um fator limitante
na área IV devido à acidez elevada encontradas.
6.3 SIG Através do SIG, tendo como base as imagens de satélite e levantamento
cartográfico sistemático observou-se que a área terrestre estudada possui uma área
total de 273,33 km2.
78
6.3.1 Uso e cobertura atual do solo
As informações sobre vegetação foram extraídas a partir da foto
interpretação de fotografias aéreas, 1999/2000 e imagens de satélites 2000, Landsat
7. Através das composições de bandas descritas na seção 5.2.5 e de cartografia
pré-existente foram utilizadas para a identificação, interpretação e digitalização de
polígonos referentes a: hidrografia (mar, lagos, rios e canais de drenagem), vias de
acesso, área urbana, área de expansão urbana, elevações e morros, vegetação
rasteira e pasto, canavial, agricultura, mata, vegetação arbustiva, mangue e taboa.
A análise espacial foi auxiliada com observações sobre o uso do solo feito em
campo, (figura 27).
Figura 27 - PI ‘Uso e cobertura atual do solo da região do baixo São João’, na área de estudo. Na tabela 9, podemos observar que a área de campo e pastagem, com
vegetação predominantemente de gramíneas corresponde a 49,74% da área total
estudada, seguida da mata com 19,93%, vegetação arbustiva com 12,21%, mangue
com 1,18% e junco, acompanhando ambos as margens da porção retificada do rio
São João, com 0,58%. A área de agricultura corresponde a 0,44% da área total
estudada.
As atividades antrópicas, que correspondem à área urbana e a sua
expansão, foram extraídas a partir das imagens de satélite com a disponibilidade da
combinação de bandas espectrais RGB 321, que correspondem a 9,15% da área
79
total. A principal área urbana é o 5º Distrito de Casimiro de Abreu, Barra de São
João, localizada junto à foz do Rio São João e do assentamento Sebastião Lan I e II.
Tabela 9 - Ocupação e uso do solo e suas respectivas áreas em km2 e percentual sobre a área total de 273,33 km2.
Descrição Área em Km2 %
Mata 54,47 19,93
Vegetação arbustiva 33,38 12,21
Mangue 3,22 1.18
Campo / pasto 135,96 49,74
Canavial 18,48 6,76
Taboa 1,59 0,58
Agricultura 1,21 0,44
Morro / elevações 107,82 39,45
Área urbana e expansão 25.02 9,15
Este procedimento possibilitou a geração da base espacial de referência para o
entrecruzamento com a carta temática de uso da terra, com vistas à quantificação de
cada tema, usando o modo Database Query: Area, do IDRISI® (tabela 10), onde
foram dividendos em classes para as áreas mais aptas para a aqüicultura por serem
áreas de solo férteis, produtivos e planos.
Tabela 10 - Ocupação e uso do solo e suas respectivas classes. Descrição Descrição Classes Agricultura Áreas produtiva e plana, solo fértil 4
Campo / pasto Áreas produtiva e plana 4 Canavial Áreas produtiva e plana 3
Vegetação arbustiva Áreas não prioritárias 2 Taboa Indica áreas com baixa drenagem 2
mangue Áreas de preservação 1 Mata Áreas de preservação 1
Morro / elevações Topografia 1 Área urbana e expansão Áreas antrópicas 1
80
6.3.2 Canavial e vegetação rasteira Foram consideradas áreas favoráveis os pastos, canavial e agricultura,
por situarem em áreas planas dentro do perímetro da região estudada como também
o uso agrícola indica facilidade de mecanização e uso para produção já
experimentada. Os referidos PIs foram reclassificados e adicionados usando o
módulo Overlay: first + second sucessivamente (figura 28).
Figura 28 - PI ‘Áreas viáveis: pasto, agricultura e plantio de cana-de-açúcar’, na área de estudo. 6.3.3 Qualidade do solo
O solo para o propósito de construção de viveiros escavados para
aqüicultura deve apresentar uma textura composta por uma mistura de silte, argila e
areia com pH próximo a 7, não contendo mais de 10% de matéria orgânica. Os solos
com característica ácida (pH baixo ou inferior a 5) e com uma alta concentração de
matéria orgânica devem ser evitados devido aos custos e tempo associados com a
correção química de tais solos NUNES et al., (2004).
Os solos mais aproveitáveis são aqueles com teor de silte argiloso entre
30% a 70%. Solos muito arenosos proporcionam excessiva infiltração, dificultando a
manutenção da água nos viveiros. Solos muito argilosos provocam rachaduras nas
porções emersas dos taludes.
Para obter o PI Tipos de Solos para aqüicultura, foi usada como base a
carta digitalizada do CD do CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2001, Geologia do
81
Estado do Rio de Janeiro. A carta em formato Corel Draw® (CDR) foi inicialmente
transformada no Photoshop® em TIF e importada para o IDRISI® e posteriormente
recortada (Window) e ajustada (Resample) à imagem de trabalho e redigitalizada
(figura 29).
Figura 29 - PI ‘Tipos de solo da região do baixo São João’. Fonte: CPRM, 2001. Na bacia do baixo Rio São João, verifica-se uma grande variação dos
solos. Nas cotas próximas ao nível do mar são verificados solos com fortes
influências das marés aparecendo solos com salinidade e tiomorfismo, pertencendo
a diferentes ordens, vide tabela 11, onde estão apresentadas as unidades do mapa
de solos e divididos em classes conforme a aptidão para a aqüicultura. Os critérios
adotados para o estabelecimento e subdivisão das classes de solos e simbologia
estão de acordo com as normas estabelecidas em EMBRAPA (1988, 1999) e
SANTOS et al., (1996).
P = potzólico L = Latossolo G = Gley H =hidromorfo
82
Tabela 11 - Identificação dos tipos de solos da região do baixo São João e seu peso dado de acordo com a sua plasticidade, granulometria e composição adequada para a construção de viveiros escavados. Tipo Descrição Classes
GPS1
GLEI POUCO HÚMICO SALINO SOLÓDICO ou não, argila de atividade alta, textura moderada e média argilosa + GLEI HÚMICO SOLÓDICO ou não eutrófico argila de atividade baixa e alta, húmico ou chernozênico argiloso ou muito argiloso + GLEI HÚMICO TIOMÓRFICO, argila de atividade baixa e alta, húmico ou proeminente argiloso ou muito argiloso.
4
GPa2 GLEI POUCO HÚMICO ÁLICO ou DISTRÓFICO textura moderada argilosa + GLEI HÚMICO ÁLICO ou DISTRÓFICO, argila de atividade baixa, húmico ou proeminente muito argiloso ou argiloso.
3
PVa4
PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO ÁLICO ou DISTRÓFICO, textura média e muito argilosa + LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO ou DISTRÓFICO, textura média e muito argilosa
2
PVd4 PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO DISTRÓFICO ou ÁLICO, não abrupto ou abrupto , moderado a médio argiloso e muito argiloso 2
HPd1 PODZOL HIDROMÓRFICO DISTRÓFICO ou ÁLICO, textura arenosa 2
LVa4 LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO, textura moderada argilosa a muito argilosa 2
PAa2 PODZÓLICO AMARELO ÁLICO ou DISTRÓFICO textura média argilosa ou textura média e muito argilosa + PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO ÁLICO textura médio argiloso
1
PEe1 PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO EUTRÓFICO, textura média argilosa + CAMBISSOLO DISTRÓFICO, textura média argilosa, fase rochosa 1
De acordo com a tabela acima, a figura tipos de solo foi reclassificada,
obedecendo ao critério de classes quanto ao tipo do solo: 4 - excelente; 3 - muito
bom 2 - bom e 1 – regular. Os solos argilosos (GPS1 e GPa2) são os que
apresentam maior facilidade de serem trabalhados, de serem modelados com
melhor compactação dos diques ou barragens, assentamento e compactação do
fundo dos viveiros. Apresenta maior plasticidade, (facilidade em ser modelado-
moldável), com fácil acomodação do material, resistência à erosão, percolação de
água e rachaduras, com menor capacidade de conduzir a água pelos seus poros,
(capilaridade), retendo-a, além de apresentar maior coesão entre suas partículas,
facilitando o trabalho de compactação. Os latossolos e podzólicos (PVa4,LVa4,
PVd4), com muito argila apresentam restrições, por serem mais pesados, liguentos,
e quando secam se partem, racham e ficam muito duros. O solo com textura
arenosa (HPd1) dificulta a retenção de água e não apresentam textura para a
construção de viveiros. O solo podzólico vermelho e amarelo álico e o cambissolo
83
distrófico são solos pedregosos e rochosos e não servem para a aqüicultura
(PÁDUA, 2003; ONO & KUBITZA, 2002), vide figura 30.
Figura 30 - PI ‘Aptidão do terreno para construção de viveiros escavados’, na região de estudo.
6.3.4 Aptidão agrícola
Para criar o PI ‘Aptidão agrícola’ foi usada como base a carta digitalizada
do CD do CPRM – Serviço Geológico do Brasil, 2001, Geologia do Estado do Rio de
Janeiro. A carta em formato Corel Draw® (CDR) foi inicialmente transformada no
Photoshop® em TIF e importada para o IDRISI® e posteriormente recortada
(Window) e ajustada (Resample) à imagem de trabalho e redigitalizada (figura 31).
Figura 31 - PI ‘Aptidão agrícola da região do baixo São João’. Fonte: CPRM, 2001.
84
As unidades são classificadas de acordo com o grau de limitação ao uso
(BOHRER, 2000), vide tabela 12.
Tabela 12 - Identificação da aptidão agrícola da região do baixo São João e suas classes dadas de acordo com as suas características físico-químicas apropriadas para a agricultura.
Tipo Descrição Classes
2(b)c LAVOURAS - regular 4
3(bc) LAVOURAS - restrita 3
5(n) SILVICULTURA e/ou PASTAGEM natural 2
6 SEM APTIDÃO AGRÍCOLA - preservação da flora e fauna 1
Usando a classificação da tabela acima, o PI ‘Aptidão agrícola’ foi
reclassificado, seguindo critério do peso quanto ao tipo do solo: 4 - excelente; 3 -
muito bom; 2 - bom e 1 – regular. Terras do tipo 2(b)c e 3(bc) fazem parte as terras
que apresentam poucas ou limitações moderadas para serem utilizadas como
lavouras, observando a condição de manejo considerada. As limitações reduzem a
produtividade ou os benefícios, elevando a necessidade de insumos de forma a
aumentar as vantagens a serem obtidas do uso. Terras com aptidão restrita para
lavouras e boa para pastagem plantada e silvicultura, 5(n), sem limitações
significativas para a produção sustentada com essa prática agrícola mas possuem
limitações fortes para lavouras. Terras sem aptidão agrícola (6) apresentam
condições que excluem a produção sustentada. São as terras que apresentam
limitações muito fortes ao uso agrícola, como solos hidromórficos ou por declives
acentuados. Essas terras têm como alternativa serem indicadas para a preservação
da flora e da fauna, (figura 32).
85
Figura 32 - PI reclassificado ‘Aptidão agrícola’ na área de estudo.
6.3.5 Recursos Hídricos - Captação de água Outro fator de importância para o desenvolvimento da aqüicultura é a
distância do ponto de captação de água, doce ou do mar, observando os critérios da
perenidade, de modo a minimizar os custos de energia com o bombeamento.
Antes da implantação de qualquer sistema de cultivo torna-se importante
uma avaliação quantitativa e qualitativa dos recursos hídricos disponíveis,
PROENÇA & BITTENCOURT (1994). O fator quantitativo refere-se ao volume de
água necessário para suprir os viveiros durante todo o período de criação.
Normalmente a captação d’água é feita utilizando-se bombas de
preferência diretamente do rio (sem correr o risco de secar o leito) e dos grandes
canais, para ser distribuída nos viveiros de forma independente, através de
tubulações e canais de abastecimento, por gravidade. A proximidade do ponto de
captação de água é importante para atender todo o sistema hídrico da fazenda como
o preenchimento dos viveiros, a compensação de perdas por percolação e
evaporação e uso emergencial. Portanto, quanto mais próximo dos locais potenciais
para captação, melhor.
ANGELL (1998), utilizou o critério de distância dos corpos d’água para
classificar as áreas com aptidão ao cultivo de camarões. Desta forma, neste estudo
foram consideradas como ainda viáveis as áreas com distância inferior a 3.000 m
dos corpos d’água, Foi atribuído peso 0 às áreas com distância superior a 3.000 m
86
(área imprópria). As áreas de 2.600 a 3.000 m receberam peso 1, de 2.000 a 2.600
peso 2, de 1.100 a 2.000 peso 3 e 0 a 1.100 m receberam peso 4. Estas classes,
estão representadas nas áreas “buffers” de largura na tese de (BELTRAME, 2003 ).
Baseados em ANGELL (1998) e BELTRAME, (2003), foram dados pesos
de acordo com a distância dos pontos de captação ao empreendimento: Rio São
João, devido ao seu volume e profundidade, que possibilita a captação da água
durante todo o ano e o seu bombeamento a longa distância devido à pouca
declividade da região de estudo, com desnível de 4,5m da barragem à foz (CUNHA,
1995); e dos canais e valas, restritos, pois dependem da amplitude da maré e de
bombeamento, portanto, quanto mais alto seu peso (4) quanto mais indicado seria o
local, enquanto que os pesos menores à distância dos pontos dos empreendimentos
tanto menos indicado seria o local, (tabela 13). Através do Macro Modeler do
IDRISI® foi usado o módulo Distance e Reclass. Para o PI ‘Distância de captação de
água doce’ usou-se o módulo Overlay: maximum (figura 33).
Tabela 13 - Captação de água doce: classe x distância, onde: 4- excelente; 3 - muito bom; 2 - bom e 1 – regular.
Rio São João (m) Canais e valas (m) Classes 0 – 1.000 0 - 500 4
1.000 - 3.000 500 – 1.000 3 3.000 - 6.000 1.000 - 1.500 2
Acima de 6.000 Acima de 1.500 1
87
Figura 33 - PI ‘Distância de captação de água doce’ para aqüicultura: a) dos principais tributários e o próprio rio São João na área de estudo; b) dos canais com ligações com rio São João, na área de estudo. Um pré-requisito básico para o desenvolvimento da carcinicultura com
sucesso é a disponibilidade de água salgada, onde a estação de bombeamento deve
ficar muito próxima do ponto de captação de água. Neste estudo as áreas em
potencial foram limitadas a uma distância de 9 km, baseados em observação em
campo.
Para gerar o PI ‘Captação de água salgada’, seguiu-se o critério dos
resultados das análises de água e da salinidade ideal para a espécie L. vannamei
baseado na literatura, BOYD (1990) e (NUNES, 2001), Tabela 14, e figura 34.
88
Tabela 14 - Captação de água salgada: classe x distância, onde: 4 - excelente; 3 - muito bom; 2 - bom e 1 – regular.
mar (m) Classes
0 – 1.000 4
1.000 - 4.000 3
4.000 - 6.000 2
6.000 - 9.000 1
Figura 34 - PI ‘Distância de captação de água salgada’, na área de estudo. 6.3.6 Vias de acesso
A distância das vias de acesso terrestre foi considerada um fator
importante uma vez que a presença de estradas principais e vicinais facilita o
escoamento da produção bem como da manutenção das estruturas. A via principal
de serviços à região é a Rodovia Amaral Peixoto, RJ 106, as secundárias, as
rodovias municipais que dão acesso à Agrisa, à Barragem da Represa de Juturnaíba
à localidade Professor Souza e as vias vicinais que dão acesso às unidades
funcionais dispersas como aos assentamentos e as fazendas ao longo dos taludes
das principais valas e canais, figura 35.
89
Figura 35 - PI ‘Vias de acesso’, na área de estudo.
Neste estudo foi arbitrada a distância máxima aceitável de um
empreendimento aqüicola para as vias de acesso principal e secundário de 15 km.
Foram divididos em classes de acordo com a estrutura e distância da via de acesso
ao empreendimento: Acesso primário – estrada Estadual ou Municipal que
possibilitam o tráfico de veículos pesados em qualquer condição de tempo e as
estradas secundárias ou vicinais restritas devido à sua fragilidade, portanto quanto
mais alto seu peso (4) quanto mais indicado seria o local, enquanto que os pesos
menores à distância dos pontos dos empreendimentos tanto menos indicado seria o
local, (tabela 15). Para tal foram usados os módulos Distance e Reclass. Para o PI
‘Distâncias das vias de acesso’ usou-se o módulo Ovelay: maximum (figura 36).
Tabela 15 - Adequação da área em função da distância para as vias de acesso primário, secundários e vicinais, na área de estudo.
Acesso Primário e secundário (m) Acesos Vicinais (m) Classes
0 - 2.500 0 - 300 4 2.500 - 5.000 300 - 600 3 5.000 - 15.000 600 - 1.000 2
Acima de 15.000 Acima de 1.000 1
90
Figura 36 - PI ‘Distância das vias de acesso’ a) acesso primário; b) acesso secundário, na área de estudo.
6.3.7 Áreas de restrições
Foram consideradas áreas de restrições àquelas de acordo com as
características ambientais, as imposições legais e os aspectos técnicos que
envolvem empreendimentos de aqüicultura.
6.3.7.1 Relevo
Por razões econômicas, o terreno deve apresentar baixas cotas
altimétricas, com uma topografia plana ou com um leve declive de até 2% e no
máximo 3%. A declividade do terreno deve ser suficiente apenas para permitir o total
esvaziamento de água dos viveiros e situar-se em um plano de forma a requerer o
mínimo de investimento em termos de captação e elevação de água por
bombeamento, (NUNES et al., 2004). Terrenos com altas elevações, acima de 5%
devem ser evitados, pois demanda muita movimentação de terra, o que pode ser
bastante oneroso (COELHO et al., 1982). Inclinações inferiores a 5% evitam grandes
deslocamentos de terra para a construção dos viveiros e facilita também o
91
abastecimento e drenagem dos viveiros. Áreas planas sujeitas à inundação devem
ser evitadas (CAVALCANTI et al., 1986).
Para que uma área tenha aptidão ao cultivo de camarão é importante que
esteja 1 a 2 m acima do nível da maré e que tenha acesso aos mananciais de água
salobra. Já para as áreas que se encontram ao nível de influência da maré será
necessária a utilização de sistemas de bombeamento tanto para a drenagem como
para o abastecimento dos viveiros. Atualmente encontramos projetos de cultivo de
camarões em áreas com altitude de até 10 m do nível da maré. Este critério torna-se
bastante restritivo. A topografia é um fator importante para a implantação das
fazendas de cultivo de camarões marinhos. As áreas descritas como viáveis são
aquelas que apresentam topografia com declividades inferiores a 2% (levemente
inclinado) e uma diferença altimétrica em relação ao nível médio da maré inferior a
6m (BELTRAME, 2003).
A partir da análise de imagem de radar SRTM, na escala 1:250.000 com
aproximadamente 90 metros de resolução espacial - Projeto Radam Brasil
(MIRANDA, 2005), foi realizado uma interpretação para identificação e
caracterização das formas de relevo de curvas de nível de metro em metro. A
imagem foi recortada no modo Window e no modo Reclass reclassificada, conforme
tabela 16, onde o peso 4 representa planimetria mais recomendada, de acordo com
BELTRAME (2003), gerando o PI Planimetria (figura 37).
Tabela 16 - Classificação de adequação de solos para construção de viveiros escavados em função da planimetria, na área de estudo.
Faixa (m) Classes
0 – 6 4
6 – 10 3
10 – 15 2
Acima de 15 1
92
Figura 37 - PI ‘Planimetria da região do baixo São João’, na área de estudo.
A figura 37 ilustra o resultado da reclassificação utilizando a tabela 16. Foram
consideradas como áreas viáveis, as áreas planas com declividade inferior a 5%,
excluindo todas às elevações maiores como morros e montanhas.
O PI Planimetria foi reclassificado onde a área plana teve valor 1 e as
elevações acima de 5% zero (figura 38)
Figura 38 - PI ‘Restrição declividade’ acima de 15m, na área de estudo.
93
6.3.7.2 Áreas de preservação ambiental Na proposta de zoneamento da APA do rio São João foram criadas áreas
de proteção como às zonas de proteção de vida silvestre (ZPVS), as matas e
vegetação arbustivas para a criação dos corredores biológicos e as áreas de
mangue que fazem parte da Mata Atlântica, protegidas por lei. Foi incluído como
área restrita a REBio Poço das Antas, (figura 39).
Estas áreas foram reclassificadas, onde as restritas tiveram valor zero e
as aptas 1. Foram juntadas todas as áreas pelo módulo Overlay: first + second
sucessivamente (figura 40).
Figura 40 - PI ‘Áreas de preservação’ Reserva Biológica Poço das Antas (REBio) e as áreas de preservação de acordo com o Plano de Manejo da APA do Rio São João: mangue, matas e vegetação arbustiva, na área de estudo.
94
Figura 39 – Proposta de zoneamento da APA do rio São João. Fonte: IBAMA Reserva Biológica Poço das Antas.
95
6.3.7.3 Faixa ciliar
De acordo com a Lei No 4771 de 15/09/65 que institui o Código Florestal e
a Portaria No 324 de 28/08/04, SERLA, que define a base legal para estabelecimento
da largura da FMP, a faixa marginal varia de acordo com a largura do rio: A – 30 m
rios com menos de 10 m de largura; B – 50 m rios com largura entre 10 e 50 m; e C
– 100 m rios com largura entre 50 e 200 m e, ainda estabelece uma faixa de
proteção de 100 m em torno dos manguezais.
De modo a excluir estas faixas marginais de proteção foi criado uma faixa
de amortecimento, de acordo com sua largura. Todos os rios foram reclassificados
para um mesmo padrão: zero e 1. Para cada categoria foi criada uma faixa de
acordo com a Lei usando o módulo Buffer do IDRISI® e finalmente somados pelo
módulo Overlay: first + second sucessivamente resultando na figura 41.
Figura 41 - PI ‘Faixa marginal de proteção dos rios’ de acordo com a Lei No 4771, na área de estudo.
6.3.7.4 Margem de segurança – canais e vias de acesso Estipulou-se neste trabalho uma zona de segurança de 60 m de ambos os
lados das vias de acesso, canais e valas, para minimizar o assoreamento e manter
a integridade dos canais e vias de acesso secundários sobre os taludes. Para ambos
os PIs foram utilizados os módulos, Buffer e Overlay: first + second sucessivamente
do IDRISI® (figura 42).
96
Figura 42 - PI ‘Margem de segurança’ de 60 m nas vias de acesso e nas margens nos canais e valas do baixo São João, na área de estudo.
Esta margem de segurança também está prevista no zoneamento da APA
da Bacia Hidrográfica do rio São João como faixa de proteção.
6.3.7.5 Áreas urbanas Foi considerada área urbana e de expansão urbana o 5º Distrito de
Casimiro de Abreu, Barra de São João e os assentamentos Sebastião Lan I e II. Foi
criado um PI, arbitrando uma zona de segurança de 1 km, usando o módulo Buffer
do IDRISI® e, reclassificada onde a área apta teve valor 1 e as restritas zero (figura
43).
Figura 43 - PI ‘Áreas urbanas’ com área de amortecimento de 1.000 m a partir da área de expansão urbana nos distritos de Unamar e Barra de São João e, nos assentamentos.
97
6.3.7.6 Fontes poluidoras
A instalação das estruturas para um empreendimento aqüícola não deve
ser muito distante dos centros urbanos para facilitar o escoamento da produção,
porém deve-se tomar precaução quanto à descarga de poluentes.
Na foz do rio São João, na desembocadura do rio Guarguá e da vala dos
Medeiros foram observado índices elevados de coliformes fecais durante todo o
período de coleta, devido ao despejo de esgoto nesta região cercada pela área
urbana, vide Tabela 08, Página 75. De modo a evitar que estas áreas fossem
incluídas nas áreas viáveis do estudo, foi criada arbitrariamente uma zona de
amortecimento de 2 km em torno dos três pontos amostrados e de outra de 3 km em
torno das lagoas de decantação de vinhoto da indústria de álcool. Assim, estas
áreas sob influência de fontes poluentes identificadas foram excluídas das áreas
propícias para a aqüicultura, (figura 44)
Figura 44 - PI ‘Fontes poluidoras’ com área de amortecimento de 2.000 m em torno dos pontos de alto índice de coliformes fecais e amortecimento de 3.000 m em torno das lagoas de decantação de vinhoto da indústria de álcool local.
6.3.7.7 Malha hídrica
Considerando que o estudo em pauta é apenas para a aqüicultura
baseada em terra, em viveiros escavados, de modo a excluir todas as áreas
cobertas por recursos d’água (rios, canais, valas, a represa de Juturnaíba e o mar),
foi criada esta ‘máscara’ conforme figura 45.
98
Figura 45 – PI ‘Malha hídrica’: rios, canais, valas, represa de Juturnaíba e mar, na área de estudo.
6.3.8 Modelagem
Foi utilizado o módulo Overlay primeiro PI mais o segundo PI,
sucessivamente, para somar todos os PI’s de restrições, (figura 46).
Figura 46 - PI ‘Somatória de todas as áreas restritas’, na área de estudo.
99
Para facilitar o procedimento usou-se o Macro Modeler, uma interface
gráfica que permite utilizar quase todos os comandos do IDRISI® para rodar modelos
mais complexos (figura 47).
Figura 47 - Diagrama sintético do Macro Modeler ilustrando os passos seguidos no modelo para determinação da somatória das áreas restritas.
100
6.3.9 Parâmetros físico-químicos
Foram gerados os PI’s para os 4 parâmetros físico-químicos (salinidade,
temperatura, pH e oxigênio dissolvido, utilizando-se os arquivos .txt e o módulo
Interpol do IDRISI® e posteriormente reclassificados de acordo com o ideal para
cada espécie, L. vannamei, O. niloticus e M. rosenbergii, (tabela 17; figuras, 48, 49,
50,51, 52 e 53).
Figura 48 - PI ‘Adequação da salinidade para cultivo de L. vannamei‘, na região do baixo São João.
Figura 49 - PI ‘Adequação da salinidade para o cultivo de M. rosenbergii e O. niloticus’, na região do baixo São João.
101
Figura 50 - PI ‘Adequação da temperatura para L. vannamei, M. rosenbergii e O. niloticus’, na região do baixo São João.
Figura 51 - PI ‘Adequação do pH para L. vannamei, M. rosenbergii e O. niloticus’, na região do baixo São João.
Tabela 17 – Classificação da adequação da área em função da variação de parâmetros abióticos, onde: 4 - excelente; 3 - muito bom; 2 - bom e 1 – regular.
Espécie Salinidade Temperatura pH O2 ClasseL. vannamei 25 – 35 25– 31 7 – 7,5 8 - 10 4
18 - 25 e 35 - 40 23 – 25 e 31 - 33 6,5 - 7 e 7,5 - 8 5 - 8 3 5 – 18 e 40 - 50 21 – 23 e 33 - 37 5,5 – 6,5 e 8 – 8,5 4 - 5 2 < 5 e > 50 < 21 e > 37 < 5,5 e > 8,5 3 - 4 1
M. rosenbergii e 0 - 1 28 - 31 7 – 7,5 7 - 10 4 O. niloticus 1 - 2 22 – 28 e 31 - 33 6,5 - 7 e 7,5 - 8 5 - 7 3
2 - 10 18 – 22 e 33 - 37 5,5 – 6,5 e 8 – 8,5 4 - 5 2 > 10 < 18 e > 37 < 5,5 e > 8,5 3 - 4 1
102
Figura 52 - PI ‘Adequação de oxigênio dissolvido para L. vannamei’, na região do baixo São João.
Figura 53 - PI ‘Adequação de oxigênio dissolvido para M. rosenbergii e O. niloticus ‘, na região do baixo São João.
6.3.10 Cruzamento das informações
O passo seguinte para a decisão consistiu na atribuição de pesos para
os critérios de fatores. Neste trabalho foi utilizado um método de atribuição de pesos
apresentado por SAATY (1977, 1980, 1987), o qual se baseia na comparação de
fatores par a par, (figura 54). A função Weight calcula o peso de cada um dos fatores
e uma razão de consistência, permitindo ajustes à comparação, caso necessário.
103
Figura 54 – Escala contínua, par a par, de nove pontos de importância relativa do módulo Weight do IDRISI®. Fonte EASTMAN (2001)
O módulo Weight do menu Analysis / Decision Support do Idrisi, utiliza a
comparação, de acordo com a importância relativa entre pares de fatores, cuja
somatória total de um conjunto de pesos é 1.0, (EASTMAN, 2001). Este módulo
requer que sejam indicadas as importâncias relativas de cada fator relativamente a
cada um dos outros fatores face ao objetivo estipulado. O indicador de consistência
assinala inconsistências que possam ter ocorrido no processo de comparação dois a
dois dos fatores. O indicador de consistência deve ser menor que 0,10.
As matrizes resultantes foram então utilizadas no módulo MCE, do IDRISI,
realizando uma avaliação multi-criterial atribuindo novamente graus de importância
com relação ao PI da somatória de todas as áreas com restrições dando origem aos
PI’s finais, mostrando as áreas excelentes, muito boas, boas e regulares.
6.3.10.1 Decisão multi-critério uso da terra – áreas planas
O módulo Weight foi aplicado para analisar o uso da terra ideal para a
aqüicultura, onde foram dados pesos para cada tipo de uso (tabela 18), ou graus de
importância a cada fator em relação ao outro, em ordem de 1/9 (extremamente
menos importante) até 9 (extremamente mais importante) para cada tipo de solo.
Tabela 18 – Matriz de comparação entre pares para uso da terra. Razão de consistência = 0,03
pasto canavial agricultura Peso pasto 1 0,48
canavial 1/5 1 0,11
agricultura 1 3 1 0,41
104
Para a avaliação multi-criterial da terra utilizou-se a importância relativa
0,48 para pasto, 0,11 para canavial e 0,41 para agricultura, com o PI ‘Somatória de
todas as áreas restritas’, resultando na figura 55.
Figura 55 - PI ‘MCE uso da terra’ na região plana do baixo São João, na área de estudo.
Assim, a expressão para o submodelo: Aptidão de uso da terra = (Pastos * 0,48 + Canaviais * 0,11 + Agricultura * 0,41)
6.3.10.2 Decisão multi-critério solo
Para a construção de viveiros o ideal são os solos com baixo índice de
permeabilidade (baixa perda de água por percolação). Segundo CAVALCANTI et al,
(1986), três tipos de solos são identificados, sob o ponto de vista granulométrico,
como propícios à implantação de viveiros, em função de suas propriedades de
retenção de água: argilosos, sílico-argilosos ou aqueles constituídos por uma mistura
de areia, argila, silte e matéria orgânica. Solos arenosos podem ser eventualmente
utilizados, impermeabilizando-os com argila, que resulta em elevação de custos. Os
solos argilosos são aqueles com 35% ou mais de argila, enquanto os solos arenosos
são aqueles com 14% ou menos de argila. Os solos intermediários são considerados
como médios.
Quanto ao aspecto químico, não devem apresentar pH muito baixo
(menor que 4,5), principalmente nos solos sulfatados e turfosos.
105
Os solos orgânicos também chamados de turfosos podem atingir
profundidades de mais de 1m de uma camada escura, com fibras orgânicas, sendo
menos estáveis, de difícil compactação e resistentes ao deslizamento, portanto não
recomendados para a aqüicultura. A remoção da camada resulta em elevação de
custos.
Solos ácido-sulfáticos são originários dos depósitos de aluviões em áreas
de inundação, com acúmulo de material orgânico vegetal encharcado, (raízes,
folhas, galhos e frutos), que vão se decompondo, depositados em condições de
ausência de oxigênio, onde determinadas bactérias redutoras de enxofre se
desenvolvem. Ocorrem em áreas de densa vegetação, como alagados de
nascentes, pântanos e mangues, com formação de sulfetos pela ação das bactérias
anaeróbias, acumulando gás sulfídrico-H2S ou dissulfeto de ferro-FeS, que quando
drenados e secos, em contato com o ar formam o ácido sulfúrico- H2SO4, reduzindo
em muito o pH do solo. Estas áreas devem ser evitadas (PÁDUA, 2003).
Na avaliação da aptidão do solo, são utilizados mapas de unidades de
manejo das terras, caracterizados inicialmente pelos seus atributos físicos, e
posteriormente avaliadas pela aptidão de uso. O delineamento das unidades de
mapeamento baseou-se nos atributos considerados de relevância permanente para
o uso, como declividade, tipo de rocha e de solo. Subdivisões foram realizadas de
acordo com a vegetação e o tipo e grau de erosão. Cada unidade foi avaliada de
acordo com a sua capacidade para o uso sustentado, de acordo com as limitações
físicas, demandas de manejo e a necessidade de conservação do solo.
O módulo Weight foi usado para analisar o solo ideal para a
aqüicultura, onde foram dados pesos para cada tipo de solo para os PI’s Tipos de
Solos (tabela 19) e Aptidão Agrícola (tabela 20), ou graus de importância a cada
fator em relação ao outro, em ordem de 1/9 (extremamente menos importante) até 9
(extremamente mais importante) para cada tipo de solo.
106
Tabela 19 – Matriz de comparação entre pares para tipos de solo. Razão de consistência = 0,00
Gps1 Gpa2 Podzólico vermelho podsolo Peso
Gps1 1 0,39
Gpa2 1 1 0,42
Podzólico vermelho 1/3 1/3 1 0,14
podsolo 1/7 1/9 1/3 1 0,05
Tabela 20 – Matriz de comparação entre pares para aptidão agrícola. Razão de consistência = 0,04
2bc 3bc 5n 6 Peso 2bc 1 0,57
3bc 1/3 1 0,28
5n 1/5 1/3 1 0,11
6 1/9 1/9 1/3 1 0,04
Para a avaliação multi-criterial do solo utilizou-se a importância relativa
0,60 da matriz Aptidão do Solo e 0,40 da matriz Tipos de Solo, resultando na figura
56.
Figura 56 - PI ‘MCE solos’ na área de estudo.
Assim, a expressão para o submodelo: Aptidão de solos = (Geologia * 0,40 + Aptidão agrícola* 0,60) 6.3.10.3 Decisão multi-critério água
107
O módulo Weight foi aplicado para as espécies L. vannamei (tabela 21) e
M. rosenbergii com O. niloticus (tabela 22), onde foram dados pesos a cada fator em
relação ao outro, conforme descrito acima, com relação às médias de fundo dos
parâmetros físico-químicos (salinidade, temperatura da água, oxigênio dissolvido e
pH).
Tabela 21 - Matriz de comparação entre pares dos parâmetros físico-químicos para L. vannamei. Razão de consistência = 0,03
Tabela 22 - Matriz de comparação entre pares dos parâmetros físico-químicos para M. rosenbergii e O. niloticus. Razão de consistência = 0,05
Para a avaliação multi-criterial da adequação do terreno para o cultivo da
espécie L. vannamei utilizou-se a importância relativa 0,58 para salinidade, 0,15
temperatura, 0,11 pH e 0,16 oxigênio dissolvido, conforme calculado no módulo
Weight. Somando com o PI das somatórias das áreas restritas, resultando na figura
57.
salinidade temperatura ph oxigênio Peso Salinidade 1 0,58
temperatura 1/3 1 0,15
ph 1/5 1 1 0,11
oxigênio 1/5 1 2 1 0,16
salinidade temperatura pH oxigênio Peso salinidade 1 0,06
temperatura 9 1 0,35
ph 3 1 1 0,27
oxigênio 7 1 1 1 0,32
108
Figura 57 - PI ‘MCE L. vannamei x parâmetros físico-químicos da água’, na área de estudo. Assim, a expressão para o submodelo: Aptidão de Água = (‘Salinidade’ * 0,58 + ‘Temperatura’ * 0.15 + ‘pH’ * 0.11 + Oxigênio dissolvido* 0,16) L. vannamei
A avaliação multi-critério da adequação do terreno para o cultivo das espécies O.
niloticus e M. rosenbergii, utilizou-se a importância relativa 0,06 para salinidade, 0,35
temperatura, 0,27 pH e 0,32 oxigênio dissolvido, conforme calculado no módulo
Weight, resultando na figura 58.
Figura 58 - PI ‘MCE O. niloticus e M. rosenbergii x parâmetros físico-químicos da água’ na área de estudo. Assim, a expressão para o submodelo: 6
Aptidão de Água = (‘Salinidade’ * 0,06 + ‘Temperatura’ * 0.35 + ‘pH’ * 0.27 + Oxigênio dissolvido* 0,32) M. rosenbergii e O. niloticus
109
6.3.10.4 Decisão multi-critério recursos hídricos
Na avaliação multi-criterial para a captação de água usou-se a
importância relativa: L. vannamei – água doce 0,05 e distância do mar 0,95, figura
59; O. niloticus e M. rosenbergii, utilizou-se a importância relativa 0,90 água doce e
0,10 distância do mar, figura 60.
Figura 59 - PI ‘MCE para captação de água para a espécie L. vannamei’, na área de estudo.
Assim, a expressão para o submodelo:
Aptidão recursos hídricos = (Captação de água doce * 0,05 + Distância do mar * 0,95) L vannamei
Figura 60 - PI ‘MCE para captação de água para as espécies M. rosenbergii e O. niloticus’, na área de estudo. Assim, a expressão para o submodelo:
Aptidão recursos hídricos = (Captação de água doce * 0,90 + Distância do mar * 0,10) M.rosenbergii e O. niloticus
110
6.3.10.5 Decisão multi-critério vias de acesso (infraestrutura)
Para a avaliação multi-criterial vias de acesso utilizou-se a importância
relativa 0,70 para o acesso primário e 0,30 e acesso secundários, resultando na
figura 61.
Figura 61 - PI ‘MCE para vias de acessos’, na área de estudo.
Assim, a expressão para o submodelo:
Aptidão infra-estrutura = (Estradas pavimentadas * 0,70 + Estradas secundárias * 0,30)
6.3.10.6 Decisão multi-critério fatores ambientais
Para a avaliação multi-criterial meio ambiente utilizou-se a importância
relativa 0,35 solos e 0,65 qualidade da água para L. Vannamei (figura 62) e 0,50
solos e 0,50 para qualidade água para M. rosenbergii e O. niloticus, resultando na
figura 63.
111
Figura 62 - PI ‘MCE fatores ambientais para L. vannamei’, na área de estudo. Assim, a expressão para o submodelo: Fatores ambientais = (Solos* 0,35 + qualidade da água* 0,65) L vannamei
Figura 63 - PI ‘MCE fatores ambientais para M. rosenbergii e O. niloticus’, na área de estudo.
Assim, a expressão para o submodelo: Fatores ambientais = (Solos* 0,50 + qualidade da água* 0,50) M.rosenbergii e O. niloticus
112
6.3.10.7 Decisão multi-critério fatores de produção
Para a decisão multi-critério fatores de produção para as espécies em
questão, foi usado o módulo Weight para L. vannamei (tabela 23) e O. niloticus com
M. rosenbergii (tabela 24), onde foram dados pesos a cada fator em relação ao
outro, com relação ao uso da terra – áreas planas, vias de acesso, recursos hídricos
e fatores ambientais. Os PI’s resultantes com a indicação das áreas mais viáveis
estão ilustrados nas figuras 64 e 65.
Tabela 23 - Matriz de decisões utilizada pelo módulo Weight para obter os pesos relativos aos fatores de produção para L. vannamei.
Figura 64 - PI ‘MCE das áreas mais viáveis para L. vannamei’, na área de estudo. Assim, a expressão para o submodelo: Aptidão para Aqüicultura = (Uso do solo * 0,06 + Fatores ambientais * 0.07 + Recursos hídricos * 0,72 + Infraestrutura * 0,15) * Restrições L. vannamei.
Uso da terra
Vias de acesso
Recursos hídricos
Fatores ambientais
Peso
Uso da terra 1 0,06
Vias de acesso 1 1 0,07
Recursos hídricos 9 9 1 0,72
Fatores ambientais 5 2 1/8 1 0,15
113
Tabela 24 - Matriz de decisões utilizada pelo módulo Weight para obter os pesos relativos aos fatores de produção para M. rosenbergii e O. niloticus.
Uso da terra
Vias de acesso
Recursos hídricos
Fatores ambientais
Peso
Uso da Terra 1 0,06
Vias de Acesso 1 1 0,07
Recursos hídricos 8 9 1 0,67
Fatores ambientais 5 3 1/5 1 0,20
Figura 65 - PI ‘MCE das áreas mais viáveis para M. rosenbergii e O. niloticus’, na área de estudo. Assim, a expressão para o submodelo: Aptidão para Aqüicultura = (Uso do solo * 0,06 + Fatores ambientais * 0.07 + Recursos hídricos * 0,67 + Infraestrutura * 0,20) * Restrições M. rosenbergii e O. niloticus. Os modelos com os pesos atribuídos para cada critério e os sub-modelos de
produção que resultaram nos mapas temáticos das áreas mais viáveis para a
espécie L. vannamei e para as espécies M. rosenbergii e O. niloticus estão ilustrados
nas figuras 66 e 67 respectivamente.
114
Figura 66 - Modelo do potencial do cultivo de L. vannamei, no baixo São João.
115
Figura 67 – Modelo do potencial do cultivo de M. rosenbergii e O. niloticus, no baixo São João.
116
Para calcular as áreas ideais para as três espécies utilizou-se os modelos
abaixo usando os módulos Group, Reclass e Área do IDRISI®. Estas operações
foram automatizadas usando-se o Macro Modeler que mantém um registro dos
passos utilizados (figuras 68 e 69).
Figura 68 - Diagrama sintético do Macro Modeler ilustrando os passos seguidos no modelo para determinação do potencial para cultivo de Litopenaeus vannamei.
Figura 69 - Diagrama sintético do Macro Modeler ilustrando os passos seguidos no modelo para determinação do potencial para cultivo de Oreochromis niloticus e Macrobrachium rosenbergii.
117
6.3.11 Áreas viáveis
No PI da somatória total das áreas restritas foi utilizado o módulo Área, na
unidade de km2 e posteriormente para hectare, portanto, a área remanescente apta
para a atividade da aqüicultura corresponde a 20,41% sobre a área total com os
seus 55,79 km2, (figura 70).
Figura 70 – PI ‘Área total viável’ 55,79 km2, que corresponde a 20,41% sobre a área total estudada de 273,33 km2.
6.3.11.1 Litopenaeus vannamei
Os estudos realizados neste trabalho, dos dados levantados in loco e SIG,
fundamentaram o zoneamento das áreas aptas para a atividade da carcinicultura
marinha de acordo com o Plano de Zoneamento da APA do rio São João, que está
sendo elaborado pelo IBAMA, localizadas próximo ao estuário do rio São João.
Através do levantamento do perfil salinidade observou-se salinidade muito
baixa na superfície ao longo do período de estudo, quando se levou em conta com o
critério em consideração a influência da maré e da vazão enchente sobre a calha do
rio. A aptidão também levou em conta a declividade do terreno e o tipo de solo,
sendo a aptidão mais restrita a solos complexos (organosolos) que dependem de
sondagem em campo, não havendo restrições quanto aos solos areno-argilosos e
argilosos.
Considerando a sobreposição dos PI’s de aptidão quanto à salinidade e o
local de captação, relevo, tipo de solo e desconsiderando as áreas de preservação
permanente, manguezais a faixa ciliar e, obedecendo a proposta do zoneamento da
118
APA da Bacia do Rio São João, o SIG identificou uma área total de 763,47 ha, para
o cultivo de camarão marinho. No entanto, para a finalidade deste estudo,
convencionou-se que a viabilidade de empreendimentos desta natureza
(carcinicultura) deveria ser em áreas com no mínimo 15 ha. Portanto, o total de área
disponível para o cultivo de L. vannamei é de 667 ha, consideradas muito boas 180
ha e boas 487 ha, (figura 71).
Figura 71 - PI ‘Áreas adequadas para cultivo de L. vannamei’, no baixo curso do rio São João, totalizando 667 ha, excluindo manchas menores que 15 ha.
6.3.11.2 Macrobrachium rosenbergii e Oreochromis niloticus
A aptidão para os cultivos das espécies eurihalinas foi levado em conta a
proximidade de captação de água doce dentro dos padrões aceitáveis e descritas na
Resolução CONAMA 357/2005, a declividade do terreno e o tipo de solo,
principalmente os solos areno-argilosos e argilosos. Os solos mais complexos como
organosolos e solos turfosos dependem de sondagem em campo e uma avaliação
mais criteriosa. O somatório das áreas restritas totalizou 5.413,59 ha.
Desconsiderando manchas de áreas viáveis para cultivo de M.
rosenbergii, menores que 15 ha, o modelo identificou 3.819 ha classificadas como
excelentes e 878 ha classificadas como muito boas, totalizando 4.697 ha (figura 72).
119
Figura 72 - PI ‘Áreas adequadas para cultivo de M. rosenbergii’ totalizando 4.697 ha, excluindo manchas menores que 15 ha. Para O. niloticus, descontando manchas menores de 1ha ficou disponível
4.905 ha, classificada como excelente 3.843 ha e muito boa, 1.062, (figura 73).
Figura 73 - PI ‘Áreas adequadas para cultivo de O. niloticus’, totalizando 4.905 ha, excluindo manchas menores que 1 ha.
120
7 DISCUSSÃO
A planície do baixo curso do rio São João compreende 32.000 ha de
várzeas hidromórficas e, segundo BINSZTOK (1993), é um dos últimos segmentos
contínuos da fronteira agrícola em condições de incorporar-se ao processo produtivo
com vantagens comparativas, seguindo um modelo de desenvolvimento agrícola de
bases nitidamente industriais. Um dos fatores que evidencia seu potencial é o eixo-
viário litorâneo, formado pela BR-101 e suas variantes localizadas em território
fluminense, e a disponibilidade de recursos naturais. Em suma, pode-se melhorar o
déficit de alimentos e matérias primas agrícolas do Estado do Rio de Janeiro a partir
da preconização do vale do rio São João como objeto de intervenção para produção
agrícola.
Este estudo buscou investigar a existência de áreas viáveis para o
desenvolvimento da aqüicultura estuarina utilizando um SIG e Sensoriamento
Remoto como ferramentas. Dados ambientais e bióticos podem servir como
indicadores que em conjunto integrados em um SIG podem responder a hipótese
inicial, diagnosticando o potencial da região em questão.
Para complementar a escassez de dados ambientais sobre o rio São
João, efetuou-se o levantamento de dados físico-químicos quinzenalmente da foz à
jusante da represa, incluindo nos seus principais tributários e canais, com o intuito
de ter um diagnóstico atual da qualidade da água e da influência da maré sobre o rio
e comparar os resultados com a resolução CONAMA No 357 de 2005, para
desenvolver planos de informação independentes, a serem integrados em um SIG
compondo modelos específicos para as três espécies em questão. Uma simulação
busca as áreas que atendam às melhores condições e que satisfaçam os critérios
determinados para a implantação de empreendimentos aqüícolas.
A escolha correta pode influenciar na viabilidade econômica na
determinação do capital e custos, a sua sustentabilidade, produtividade e
mortandade, (PÉREZ et al., 2003).
Foram consideradas as seguintes espécies:
121
• O camarão marinho exótico Litopenaeus vannamei, a espécie mais cultivada
em todas as latitudes do Brasil ao longo de sua costa.
• O gigante da Malásia Macrobrachium rosenbergii, uma espécie exótica
introduzida no Brasil na década de 80, com grande potencial econômico e,
• A tilápia, Oreochromis niloticus, uma espécie amplamente difundida em todo o
território brasileiro;
7.1 DADOS FÍSICO-QUÍMICOS
No Brasil é adotado como padrão de referência para fins de critério de
qualidade de água a Resolução CONAMA No 357 de 2005. Para a atividade da
aqüicultura é permitida para as classes 1 e 2 água doce, 5 água salobra e 7 água
salgada, (CONAMA, 2005).
De acordo com SIPAÚBA TAVARES (1994), as variáveis físico–químicas,
mais apropriadas à qualificação da água de viveiros são: oxigênio dissolvido, pH,
dióxido de carbono livre, alcalinidade total, dureza, condutividade elétrica,
temperatura, transparência e nutrientes.
A tabela 25 resume os principais parâmetros e sua importância para a
aqüicultura, abordados neste trabalho.
Tabela 25 – Parâmetros físico-químicos: de importância para a aqüicultura.
A temperatura da água é um dos fatores mais importantes no controle dos
fenômenos químicos e biológicos existentes em um viveiro. Cada espécie tem uma
temperatura na qual melhor se adapta e se desenvolve, sendo essa temperatura
Parâmetros Importância
Temperatura A temperatura interfere diretamente no metabolismo dos animais, acelerando ou retardando o seu desenvolvimento. Variações bruscas podem provocar o surgimento de doenças.
Salinidade A salinidade afeta não apenas a regulagem osmótica, mas também influencia a concentração de íons não-ionizados de amônia.
Oxigênio Dependendo da espécie, o excesso de oxigênio dissolvido pode provocar a morte dos peixes por embolia e a falta por asfixia.
pH Atua no desenvolvimento dos organismos.
122
chamada de temperatura ótima. As temperaturas acima ou abaixo do ótimo
influenciam de forma a reduzir seu crescimento. Em caso de temperaturas extremas,
podem acontecer mortalidades.
A faixa ideal das espécies tropicais está entre 20 e 30oC, sendo o nível
ótimo para a maioria entre 25 e 28ºC. MEROLA & SOUZA (1988), constataram a
influência negativa sobre o crescimento e ganho de peso dos peixes devido à queda
brusca da temperatura. A temperatura também influi na concentração de oxigênio,
respiração, digestão, reprodução, alimentação, etc. Temperaturas baixas os peixes
tornam-se suscetíveis a doenças, temperatura elevadas duplicam o efeito de
substâncias tóxicas.
Organismos aquáticos possuem limites de tolerância térmica superior e
inferior, temperaturas ótimas para o seu desenvolvimento. Os dados de temperatura
da água obtidos apontam um ciclo anual nítido, com valores mínimos de 20oC no
inverno e máximos de 29oC no fim do verão (jul-05/06 e fev/mar-06), o que
caracteriza um ambiente tropical e, portanto dentro dos níveis descrito por MEROLA
& SOUZA (1988), vide figura 18 e Anexo I. Observou-se ausência de estratificação
térmica da coluna d’água durante o ciclo anual, principalmente no trecho retificado.
O rio São João a jusante da barragem recebe águas dos afluentes da
margem esquerda, que descem do relevo acidentado, com regime de água durante
todo o ano, (rios Aldeia Velha, Indaiaçú, Lontra e Dourado) trazendo grande aporte
de água principalmente nas chuvas de verão. Os rios da margem direita, que
nascem em relevo de baixa altitude, apresentam uma contribuição hídrica
insignificante. O principal aporte de água vem pela represa que é alimentada pelos
rios São João, Bacaxá, Capivari e d’Ouro, cujos caudais máximos ocorrem entre os
meses de novembro a fevereiro, quando normalmente se observa a água verter pelo
vertedouro em zigue-zague da barragem e através de duas comportas laterais,
também descritos por CUNHA, (1995), vide fotografias no Anexo VII.
Pelo que foi constatado in loco, a cunha salina não chega a ultrapassar o
primeiro terço do canal retificado, e a sua penetração depende da amplitude de
maré, da vazão do rio São João e da direção do vento. As maiores amplitudes de
marés astronômicas foram de 1,2 a 1,4m (tabela 7). BENIGNO, E. et al., (2003), em
seu estudo preliminar, observaram que, na época de estiagem, a dinâmica do rio é
123
controlada pela maré e concluíram que as variações de maré observadas até a
represa de Juturnaíba são atribuídas à maré dinâmica e, não ocorre estratificação da
salinidade na coluna d’água. Pelo que foi constatado neste trabalho, existe uma
estratificação significante de salinidade na medida em que se afasta da foz. Na
estação I, junto à foz, a salinidade de superfície e fundo é praticamente homogênea,
sem estratificação, devido a pouca profundidade e agitação constante de marolas,
vide figuras 19 a 22 e Anexo II.
De acordo com CHANG & OUYANG (1988), em dias claros a taxa
fotossintética aumenta, elevando a demanda de oxigênio à noite pela respiração das
algas, acarretando num déficit desse gás pela manhã. Sua concentração também
depende da temperatura.
Durante o período de estudo, 79,5% das amostras apresentaram teor de
oxigênio dissolvido maior ou igual a 6 mg.l-1; e no conjunto das amostras com teores
inferiores a 6 mg.l-1 62,5% foram provenientes das estações com as maiores
profundidades: II e III com 7,5m e IV 6,4m, exceto a estação Q com 3,3m de
profundidade próximo a desembocadura do rio Indaiaçú onde foi detectado o mais
baixo índice: 1,8 mg.l-1, vide figura 24 e Anexo IV. Portanto podemos dizer que no
período de estudo as condições de oxigenação foram satisfatórias, e a ausência de
estratificação térmica na coluna d’água, fez com que a mesma apresentasse uma
distribuição quase homogênea na concentração de oxigênio dissolvido, exceto nas
estações acima citadas, onde a profundidade prejudica a sua homogeneização.
Inúmeros fatores interferem na qualidade da água, o que exige a
realização de estudos detalhados dos processos físicos, químicos e biológicos que
ocorrem tanto em sistemas naturais quanto em artificiais, destacando-se a
importância dos ciclos biogeoquímicos para o entendimento do ecossistema
aquático (CARMOUZE, 1994).
O pH ótimo para o cultivo de peixes tropicais, segundo CECCARELLI et
al. (2000), deve permanecer entre 7,0 e 8,0, destacando que grandes concentrações
de vegetais, algas e fitoplâncton provocam acidificação do meio aquático à noite.
Entretanto, GRAEF et al., (1987) e MEROLA & SOUZA (1988), obtiveram bons
resultados cultivando peixes com pH variando de 4,9 a 8,3.
124
O pH é um indicador de transformação química, física e biótica da água.
Poluentes e lixiviação de solos ácidos podem alterar o pH da água e causar
mortandade dos animais e da vegetação aquática (MATOS, 2005). Altas
temperaturas e pH elevado da água o íon amônio se transforma em amônia (NH3
livre, gasoso), que pode ser tóxica aos organismos (TRUSSEL, 1972; PEREIRA &
MERCANTE, 2005). Em áreas em que os ecossistemas aquáticos continentais são,
em diferentes graus de intensidade, influenciados pelo mar (recebem grandes
contribuições dos íons alcalinos) apresentam elevados valores de pH, o que foi
constatado durante o período de estudo, nas estações I, II e III, exceto no período
prolongado de chuvas. No velho curso do rio São João, na estação IV e,
principalmente nas valas e canais de sua margem direita, foi constatado pH ácido,
principalmente na água de fundo, que deve estar relacionado ao acúmulo de
material orgânico proveniente das margens onde a mata ciliar ainda se encontra
bem preservada e da lixiviação do solo que coincide com a época das chuvas, vide
figura 23 e Anexo III. Verifica-se através da média global nos pontos de coleta em
estudo que o índice está dentro das especificações estabelecidas para os índices de
pH, conforme a resolução do CONAMA No 357 de 2005 (classificação das águas
doces, salobras e salinas do território nacional) que estabelece para águas de classe
1, 2 e 3 uma faixa com índices de pH entre 6,0 e 9,0.
Os baixos valores da transparência pelo disco de Secchii podem ser
atribuídos ao seston biogênico, representado basicamente pelo fitoplâncton, e
abiogênico. No curso original do rio São João, na Estação IV, observou-se baixa
transparência, provavelmente relacionados à presença de águas escuras, devido às
elevadas concentrações de compostos orgânicos dissolvidos (substâncias húmicas),
vide Anexo V.
As bactérias do grupo coliforme (Escherichia coli) são os indicadores mais
precisos do grau de contaminação das águas por dejetos humanos e animais de
sangue quente. Segundo o Conselho Nacional de Meio Ambiente, (CONAMA 357,
2005), o teor máximo de coliformes fecais para contato primário é 1000cf/100ml para
águas salobras e salinas classes 5 e 7 e, 1000cf/100ml a 4000cf/100ml para água
doce classes 1 e 2 respectivamente. Os pontos de análises para coliformes fecais
foram excluídos, e criando um PI de área restrita pontual com zona de
125
amortecimento de 2 km, devido ao alto índice de coliformes fecais junto à foz, que é
incompatível com a atividade de aqüicultura, vide Tabela 8 e figura 44.
O clima é considerado adequado quando a temperatura média anual, nos
meses mais frios, é igual ou superior a 20oC, com ventos moderados e constantes,
portanto não constitui fator impeditivo à atividade aqüícola. Como na área estudada
não foram observadas isoietas e a média está dentro das condições ideais para as
espécies em questão, não foi feito nenhum PI específico de temperatura ambiental e
precipitação. CUNHA (1995) descreve detalhadamente as características da
precipitação, temperatura e do balanço hídrico da bacia do Rio São João desde
1968, dados obtidos de diversas estações meteorológicas, vide figura 25.
O índice de precipitação no ano de 2005 manteve-se dentro da
expectativa conforme descrito por CUNHA (1995) e BARBIERI, (1999). As condições
pluviométricas devem ser consideradas para o planejamento de cultivo. É sabido
que períodos mais prolongados de chuvas ou a intensa precipitação afetam a
salinidade dos ecossistemas estuarinos como também incrementa a poluição nas
bacias hidrográficas através do seu potencial erosivo e da lixiviação de material das
margens a montante, vide figura 26.
7.2 AS ESPÉCIES CONSIDERADAS
O L. vannamei apresenta grande valor de mercado e é hoje a espécie
mais produzida no Brasil com grande demanda para o mercado interno e externo. A
sua produção em viveiro escavado requer um critério diferenciado na escolha de
áreas para o seu cultivo, principalmente quanto à captação de água salgada e a sua
qualidade. Neste trabalho foram realizadas análises físico-químicas quinzenalmente
durante o período de dois anos para a identificação da entrada da cunha salina e a
sua influência na área de estudo. Através do SIG foram identificadas áreas,
próximas à foz, determinadas como muito boas e boas totalizando 667 ha, vide
figura 71.
O gigante-da-Malásia foi introduzido nesta região em meados da década
de 80, onde pequenos e médios produtores realizaram a sua engorda. Hoje somente
a Fazenda Santa Helena ainda produz esta espécie comercialmente. A sua
larvicultura por depender de água salobra, requer que o laboratório esteja situado
126
em região estuarina ou depender do transporte de água salgada ou artificial o que
eleva bastante o custo. A engorda pode ser realizada nas mesmas áreas escolhidas
para a tilápia (SANTOS & VALENTI, 2002), como também foi proposto neste
trabalho.
A fazenda Santa Helena é a única remanescente na região com a
produção comercial de M. rosenbergii que lentamente vem ampliando a sua área de
produção. O mesmo grupo deu entrada na FEEMA no processo de licenciamento
para a implantação de uma instalação de maior porte na Fazenda Tosana. Foi
demonstrado neste trabalho que existem áreas propícias no total de 4.697 ha para
M. rosenbergii, vide figura 72.
A espécie favorita para o cultivo intensivo e extensivo, é a tilápia,
(SUGUNAN, 1997). Na região da bacia hidrográfica do rio São João, no Estado do
Rio de Janeiro, o município de Casimiro de Abreu vem incentivando a aqüicultura
familiar com tilápia, produzindo alevinos, inclusive para os municípios adjacentes,
utilizando o filé de peixe para a merenda escolar. Com isso o pequeno agricultor tem
acesso aos alevinos e ao mercado local. É uma espécie robusta e hoje também
cultivada em água salobra, (MENA-HERREA, 2001). O Município de Casimiro de
Abreu é hoje o principal centro de produção de alevinos de tilápia híbrida para
abastecer a região pelo potencial em áreas disponíveis para a aqúicultura dulcícola.
Neste trabalho foram identificadas no total 4.905 ha de áreas ideais para o cultivo de
O. niloticus, vide figura 73.
Foi demonstrada a viabilidade de policultivo entre Oreochromis niloticus e
Macrobrachium rosenbergii, (VALENTI, 2002 e SANTOS & VALENTI, 2002), pois
ambas as espécies toleram água de baixa qualidade e exigências de temperatura
similares, (ROUSE & KAHN, 1998). Neste trabalho, através do SIG, as áreas
determinadas, favorecem o cultivo para ambas as espécies.
127
7.3 SIG
Existe uma carência generalizada de conhecimento sobre o meio físico da
zona costeira para subsidiar os tomadores de decisão e os órgãos de controle no
direcionamento do desenvolvimento da aqüicultura, principalmente no seu
planejamento de curto e médio prazo.
Para análise das áreas viáveis para as três espécies consideradas
seguiu-se o modelo descrito por SCOTT & ROSS (1998) e SCOTT, (2003), com
proposta de uma metodologia de avaliação espacial para a localização de áreas
potenciais para a aqüicultura. O objetivo dos trabalhos acima foi oferecer um mapa
das áreas com potencial para o cultivo de moluscos de valor comercial na Baía de
Sepetiba, Rio de Janeiro, buscando a integração de vários parâmetros como
salinidade, oxigênio dissolvido, temperatura da água, batimetria, clorofila-a, linha de
costa, imposição de restrições seja por uso de navegação, pesca, uso militar, malha
viária e localização de cidades. Estes critérios foram transformados em planos de
informações espaciais. Esta base de dados foi processada num SIG, apresentando
como resultado um mapa com a localização e quantificação das áreas disponíveis
para a prática da maricultura. A mesma metodologia aplicada neste trabalho,
seguindo os mesmos critérios e etapas do SIG, (SCOTT, 2003), resultou em mapas
que também localizaram áreas disponíveis para a aqüicultura, com a diferença da
microregionalidade.
SEIFFERT (2003) utilizou o SIG para criar um modelo de gestão para a
carcinicultura marinha. Utilizando o software ArcView, e uma metodologia similar a
utilizada neste trabalho, chegou a resultados semelhantes, porém o seu estudo vai
além, com o objetivo de integrar os dados obtidos na pesquisa com a incorporação
de dados futuros e, através de monitoramento contínuo do meio ambiente e das
fazendas de carcinicultura já existentes, entender a inter-relação destas atividades
podendo modelar a expansão de novas áreas de cultivo de camarão aumentando
assim a produtividade na região.
MEADEN et al., (1991) e ALI et al., (1991) sugerem alguns critérios para
seleção e avaliação de áreas para o desenvolvimento de aqüicultura com base em
SIG. Os fatores considerados relevantes foram: qualidade e quantidade de água,
temperatura da água, disponibilidade de água do lençol freático, altimetria,
128
precipitação, proximidade dos recursos e dos cursos de água, custo da terra, acesso
a rodovias e proximidades aos mercados, (BELTRAME, 2003). A esta lista podem-se
acrescer outros fatores tais como o tipo de solo, acesso à disponibilidade de
sementes e ou alevinos, riscos de inundação entre outros. No presente trabalho
alguns fatores não foram considerados como a disponibilidade de lençol freático
devido à extensa malha hídrica na área de estudos e de rios perenes durante todo o
ano; e o custo da terra.
Uma síntese sobre a aplicação do SIG em aqüicultura foi elaborada por
KAPETSKY et al., (1987) da aplicação do SIG em aqüicultura em um ensaio
aplicado ao litoral da Costa Rica. Cita as vantagens no uso de combinação de
informações espaciais para o monitoramento de áreas onde a aqüicultura já se
encontra implantada ou para a determinação de seleção de novas áreas. Estes
sistemas permitem o relacionamento entre os planos de informação (por exemplo:
precipitação, topografia, solo, temperatura da água, salinidade, etc.) de forma a se
obter uma análise integrada dessas variáveis. KAPETSKY et al., (1988), utilizaram
um SIG para realizar inventário das áreas viáveis para o cultivo de bagre, na
Louisiana, baseando-se nas características fisico-geográfico.
POPULUS et al., (1995) realizou trabalho sobre avaliação ambiental
relacionando mapas de uso do solo e imagens de satélite para determinar as áreas
de maior aptidão para implantação de atividade de aqüicultura na zona costeira. Este
procedimento possibilitou uma rápida identificação das áreas de melhor viabilidade
para o desenvolvimento da aqüicultura. Neste trabalho a estruturação do SIG
possibilitou a integração dos dados de produção aos parâmetros ecológicos e
ambientais e as informações colhidas permitiram a aplicação de análises estatísticas
e relacioná-las com as representações espaciais. Na escala regional, do baixo curso
do rio São João, foi possível identificar eficientemente as unidades da paisagem
viáveis à aqüicultura.
Uma dificuldade encontrada neste trabalho foi a falta de dados da região
de estudo, pela falta de informações pretéritas dos ambientes aquáticos e
ecossistemas costeiros que são imprescindíveis para o manejo adequado das
variáveis que fazem parte do sistema de produção aqüícola.
129
Como o sensoriamento remoto oferece uma visão espacial das grandes
áreas, necessita da verdade terrestre para que as interpretações possam ser
validadas, (BONETTI FILHO, 1996). No presente trabalho foram realizados mais de
25 excursões em campo para validar as interpretações das imagens e o
georeferenciamento de pontos específicos quanto ao mapa de cobertura e uso do
solo. Foi registrado in loco fazendas já existentes e em planejamento nas áreas
indicadas como boa e muito boa no modelo empregado neste estudo.
O potencial da aqüicultura da área de estudo está expressa na Tabela 26
a seguir, que trata dos resultados obtidos neste trabalho das áreas propícias, dos
produtos aqüícolas das espécies em questão, de sua produtividade média e preços
de atacado mínimos encontrados.
Tabela 26 – Capacidade de produção da região do baixo São João com relação à produtividade das espécies e das áreas adequadas disponíveis.
Produto Produtivi-
dade kg/ha/ano
Área apta 1 disponível
em ha
Capaci-dade de
produção (ton)
Caract. produto
Preço atacado Mínimo
kg
Receita anual
estimada R$
L. vannamei 5.458* 667 3.640 Inteiro resfriado 8,50 2 30.940.000
M. rosenbergii 2.100*** 4.697 9.864 Inteiro
resfriado 9,00 4 88.776.000
Inteiro 3,50 3 97.856.500
tilápia 5.700** 4.905 27.959 filetado 6,00 3 167.754.000
*ROCHA & RODRIGUES, 2003
**SCOTT et al., 2002
*** VALENTI, 2002 1 somatória das áreas: excelente, muito bom e bom aptas para a aqüicultura das espécies
em questão 2 CEASA 3 Cooperativa Casimiro de Abreu
4 Fazenda Sta. Helena
130
Como o consumo médio per capita de pescado no Brasil é de 6,8 kg/ano (FAO,
2002), a região estudada teria capacidade de cobrir com mais de meio milhão de
pessoas com camarão branco, 1,4 milhões com pitu e mais de 4 milhões com tilápia,
podendo gerar em torno de 9.300 empregos diretos e 9.100 empregos indiretos.
131
8 CONCLUSÃO
No Estado do Rio de Janeiro a aqüicultura ainda continua muito aquém do
seu real potencial em comparação com o sul e principalmente o nordeste e região
norte do país. A falta de profissionais especializados e, principalmente o excesso de
burocracia dos órgãos licenciadores, no que se refere à produção de espécies
exóticas, paralisam o setor aqüícola no Estado apesar do interesse empresarial. As
espécies mencionadas neste estudo, L. vannamei, M. rosenbergii e O. niloticus, são
espécies exóticas introduzidas há décadas no Brasil e hoje totalmente consolidadas,
sendo cultivadas principalmente na região Nordeste e Sul do Brasil, devido à sua
alta produtividade, colocando o nosso país entre os maiores produtores do mundo.
O presente trabalho proporcionou o contato direto com os mais diversos
tipos de dados da bacia hidrográfica do rio São João, e que com o auxílio de
técnicas de geoprocessamento, possibilitaram uma análise consistente que possam
subsidiar posteriores decisões sobre estratégias de gestão e avaliação da
aqüicultura e de outras atividades, de maneira sustentável respeitando as limitações
e os potenciais do meio ambiente.
Quanto ao objetivo da influência do mar sobre o rio, principalmente quanto
à penetração da cunha salina no trecho retificado e do velho Rio São João, concluiu-
se, através dos resultados físico-químicos, que o mar tem influência até na região
que compreende o primeiro terço do rio São João, onde a língua salina ainda pode
ser detectada nas marés altas até 14 km da foz, tanto na porção retificada como no
velho São João, na porção mais funda do leito do rio. Nesta região ainda podemos
observar remanescentes de formas vegetais e animais típicos de região estuarinas.
Foi demonstrado também, que ocorre uma estratificação bem definida na medida em
que se afasta da foz e em áreas mais profundas do leito do rio.
Através dos resultados de análises, cedidas pelos CILSJ, foram
identificadas as principais fontes poluidoras e os pontos de ocorrência de coliformes
fecais, próximo à foz, principalmente entre o trecho da vala dos Medeiros e o rio
Guarguá.
O objetivo da avaliação do potencial para a aqüicultura do baixo curso do rio
São João, foi possível através dos dados obtidos em levantamentos em campo e
132
O objetivo da avaliação do potencial para a aqüicultura do baixo curso do rio
São João, foi possível através dos dados obtidos em levantamentos em campo e
aqueles adquiridos através de Sensoriamento Remoto, após a integração e análise
por meio de técnicas de geoprocessamento que constituíram uma base eficiente
para a seleção de áreas adequadas para aqüicultura com base dos seguintes
critérios: possibilidades de captação de água salgada e doce, tipos de solo, aptidão
agrícola, topografia, vegetação e uso atual do solo, e das áreas de restrições
naturais e legais. O processamento dos dados em ambiente de SIG permitiu
integrar as variáveis, mantendo a relação de peso entre elas, e demonstrou ser um
recurso adequado para a classificação das áreas com maior ou menor aptidão para
aqúicultura das espécies eurihalinas L. vannamei, M. rosenbergii e O. niloticus no
baixo curso do rio São João.
A eficiência dos resultados deste trabalho e da metodologia em SIG
utilizado pode ser comprovada in loco, da fazenda de engorda de L. vannamei já
existente no local e do pedido de licenciamento de novos projetos aqüícolas para a
região, vide fotografias no Anexo VII.
A aplicação das técnicas de geoprocessamento contribuiu de forma
significativa para as análises e identificação de áreas propícias para a aqüicultura. A
integração de diversos tipos de dados, como aqueles oriundos de sensores remotos
(satélites), de digitalização de produtos cartográficos e de levantamentos em campo,
mostrou-se como uma ferramenta bastante eficiente e precisa que permita a
localização espacial de áreas propícias e viáveis para o cultivo das espécies
propostas.
As imagens utilizadas neste trabalho do Satélite LANDSAT 7-ETM+
permitiram o mapeamento do uso da terra da bacia de maneira rápida, de acordo
com a proposta inicial deste trabalho.
O SIG IDRISI® mostrou-se uma ferramenta eficiente, rápida e confiável
em constatar, por meio de seus diferentes módulos para georeferenciamento,
classificação digital do uso da terra e modelo matemático, das áreas propícias para a
aqüicultura e de outros planos de informações.
133
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10 - GLOSSÁRIO Carta - É a representação de uma porção da superfície terrestre no plano, geralmente em escala média ou grande, oferecendo-se a diversos usos, como por exemplo, a avaliação precisa de distâncias, direções e localização geográfica dos aspectos naturais e artificiais. São documentos mais complexos e detalhados. Geoprocessamento - Conjunto de tecnologias voltadas a coleta e tratamento de informações espaciais para um objetivo específico. Essas atividades são executadas por sistemas chamados de Sistemas Cartográficos de Informações. Eles são destinados ao processamento de dados georeferenciados desde a sua coleta até a geração de produtos como mapas, relatórios e arquivos digitais. Georeferenciamento – refere-se à localização de um plano no espaço definida por um sistema de referênciamento de coordenadas. GPS - Global Positioning System / Sistema Global de Posicionamento - Constelação de satélites desenvolvidos pelo Departamento de Defesa dos EUA, utilizada em levantamentos geodésicos e outras atividades que necessitem de posicionamento preciso. Os satélites transmitem sinais que podem ser decodificados por receptores especialmente projetados para determinar com precisão, posicionamento no mar, no ar e sobre a superfície terrestre. Imagem - Registro permanente em material fotográfico de acidentes naturais, artificiais, objetos e atividades obtidos por sensores como infravermelho pancromático e o radar de alta resolução. Imagens de radar - Imagens resultantes da combinação de processos fotográficos e técnicas de radar. Impulsos elétricos ou microondas são emitidos (antena) e usados para fornecer imagens registradas em filme ou fitas magnéticas. Imagens multiespectral - Imagem de múltiplas bandas, isto é, obtida por múltiplos sensores que detectam a energia em bandas de diferentes comprimentos de onda. Importância relativa - importância relativa de cada fator é uma comparação aos
pares entre os fatores. A combinação aos pares é um processo de análise de
hierarquia baseada no trabalho de Saaty (1977), acerca de um método de
prioridades em estruturas hierárquicas.
Informações georeferenciadas - Dados alfanuméricos geograficamente referenciados às informações gráficas de um mapa. Landsat - Um dos programas americanos de imageamento da superfície terrestre por satélites, iniciado pela NASA em meados dos anos 70. Também usado para designar um ou mais satélites do programa (landsat 4, Landsat 5) e os dados (imagens) por eles enviados.
147
Latitude e longitude - Componente de um sistema de coordenadas geográficas, no qual as posições são expressas em função de medidas angulares feitas sobre o elipsóide terrestre. Levantamento aerofotogramétrico - Método de levantamento fotográfico que utiliza como sensor uma câmera fotogramétrica instalada em aeronaves, para fotografar a área de interesse de forma sistemática compondo faixas de fotos aéreas com especificações que permitam a construção de modelos esteroscópicos. Mapa - Desenho ou representação visual que mostra diversos lugares e seus relacionamentos. Um mapa também simboliza as feições e condições desses lugares. Mapa plani-altimétrico – Mapa com informações sobre relevo. Mapas temáticos - Trata-se de documentos em quaisquer escalas, em que, sobre um fundo geográfico básico, são representados os fenômenos geográficos, geológicos, demográficos, econômicos, agrícolas, etc., visando ao estudo, à análise e à pesquisa dos temas, no seu aspecto especial. Um mapa temático geralmente contém dados generalizados ou informações simplificadas para torna-lo mais fácil de ler. Mosaico - Conjunto de fotografias aéreas, superpostas, recortadas artisticamente e montadas pelos detalhes comuns. Permite uma visão contínua da superfície fotografada Peso – é um valor consensual para um determinado critério. Plano de Informação - é um mapa (isto é verdade para as Categorias Imagem, Numérico, Cadastral. Temático e Redes). Cada Plano de Informação é uma instância direta da Categoria a que pertence, p. ex.: “MapaBasico” da Categoria “Mapa solos”. Raster – a representação gráfica das feições e os atributos que elas possuem são fundidos em arquivos de dados unificados. Sensoriamento remoto – Conjunto bastante complexo de técnicas que utiliza sensores na captação e no registro da energia refletida ou emitida pela superfície da Terra, com o objetivo de obter informações, imagens e/ou sinais elétricos, para o estudo do ambiente terrestre. SIG - Sistema de informação que permite ao usuário coletar, manusear, analisar e exibir dados referenciados espacialmente. Um SIG pode ser visto como a combinação de hardwares, sofwares, dados, metodologias e recursos humanos, que operaram de forma harmônica para produzir e analisar informação geográfica.
148
Vetorial – uma representação vetorial os limites ou o curso das feições são definidos
por uma série de pontos que, quando unidos com linhas retas, formam a
representação gráfica de cada feição. Os pontos são representados por um par de
números representando as coordenadas X e Y em um sistema como
latitude/longitude ou a grade de coordenadas Universal Transversa de Mercador.
149
11 - ANEXOS
ANEXO 1 – TEMPERATURA em oC
Estações Fixas: I foz do rio São João Estações Pontuais: A área oceânica costeira B rio Guarguá C vala dos Medeiros II jusante vala dos Medeiros D canal dos Meros E vala fazenda São João F vala da Pedra III jusante captação de água Fazenda Tosana G canal captação faz. Tosana H canal do Jacaré I I canal do Jacaré II IV velo São curso do São João J vala do Consórcio K rio Dourado L vala Fazenda Carioca V primeiro terço do canal retificado M rio Cangurupí N rio Lontra O Agrisa I VI jusante do Rio Indaiaçú P Agrisa II Q rio Indaiaçú R rio da Aldeia Velha VII jusante da Barragem Juturnaíba
150
ANEXO II - SALINIDADE
Estações Fixas: I foz do rio São João Estações Pontuais: A área oceânica costeira B rio Guarguá C vala dos Medeiros II jusante vala dos Medeiros D canal dos Meros E vala fazenda São João F vala da Pedra III jusante captação de água Fazenda Tosana G canal captação faz. Tosana H canal do Jacaré I I canal do Jacaré II IV velo São curso do São João J vala do Consórcio K rio Dourado L vala Fazenda Carioca V primeiro terço do canal retificado M rio Cangurupí N rio Lontra O Agrisa I VI jusante do Rio Indaiaçú P Agrisa II Q rio Indaiaçú R rio da Aldeia Velha VII jusante da Barragem Juturnaíba
151
ANEXO III – pH
Estações Fixas: I foz do rio São João Estações Pontuais: A área oceânica costeira B rio Guarguá C vala dos Medeiros II jusante vala dos Medeiros D canal dos Meros E vala fazenda São João F vala da Pedra III jusante captação de água Fazenda Tosana G canal captação faz. Tosana H canal do Jacaré I I canal do Jacaré II IV velo São curso do São João J vala do Consórcio K rio Dourado L vala Fazenda Carioca V primeiro terço do canal retificado M rio Cangurupí N rio Lontra O Agrisa I VI jusante do Rio Indaiaçú P Agrisa II Q rio Indaiaçú R rio da Aldeia Velha VII jusante da Barragem Juturnaíba
152
ANEXO IV – OXIGÊNIO DISSOLVIDO em mg/L
Estações Fixas: I foz do rio São João Estações Pontuais: A área oceânica costeira B rio Guarguá C vala dos Medeiros II jusante vala dos Medeiros D canal dos Meros E vala fazenda São João F vala da Pedra III jusante captação de água Fazenda Tosana G canal captação faz. Tosana H canal do Jacaré I I canal do Jacaré II IV velo São curso do São João J vala do Consórcio K rio Dourado L vala Fazenda Carioca V primeiro terço do canal retificado M rio Cangurupí N rio Lontra O Agrisa I VI jusante do Rio Indaiaçú P Agrisa II Q rio Indaiaçú R rio da Aldeia Velha VII jusante da Barragem Juturnaíba
153
ANEXO V – SECCHII em m
Estações Fixas: I foz do rio São João Estações Pontuais: A área oceânica costeira B rio Guarguá C vala dos Medeiros II jusante vala dos Medeiros D canal dos Meros E vala fazenda São João F vala da Pedra III jusante captação de água Fazenda Tosana G canal captação faz. Tosana H canal do Jacaré I I canal do Jacaré II IV velo São curso do São João J vala do Consórcio K rio Dourado L vala Fazenda Carioca V primeiro terço do canal retificado M rio Cangurupí N rio Lontra O Agrisa I VI jusante do Rio Indaiaçú P Agrisa II Q rio Indaiaçú R rio da Aldeia Velha VII jusante da Barragem Juturnaíba
154
ANEXO VI – Resumo da metodologia utilizada para o SIG
754
752
457
432
542
obs. in loco digitalização
Estações de coleta; Result. Análises: salinidade pH temperatura O2 dissolvido
uso da terra
Recursos hídricos
Vias de acessos
Fatores ambientais
O. niloticus
L. vannamei
M. rosenbergii
Mosaico imagens aéreas
Mapa da proposta zoneamento APA Rio São João
Imagens satélite Landsat 7-ETM+ Bandas: 1,2,3,4,5 e 7
Mapas da EMBRAPA
Tipos solo
Aptidão agrícola
Mapa relevo SRTM
155ANEXO VII – Fotografias da área de estudo
156TABELA VII – Fotografias da área de estudo – continuação
157TABELA VII – Fotografias da área de estudo - continuação