Dissertação

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PREÂMBULO: Neste capítulo introdutório, explicita-se a justificação da importância do estudo realizado, a estruturação da presente dissertação, bem como os objectivos que se pretendem atingir. São ainda referidos os métodos usados na sua consecução. INTRODUÇÃO O Algarve é, por excelência, um destino de férias de uma grande parte da população Portuguesa e de alguma população estrangeira. É assim necessário proceder-se a uma modificação da oferta turística, um mostrar de que para além da areia, do sol e da água do mar algumas praias e outros locais junto à costa têm muito mais para oferecer. Fala- se, obviamente, do património geológico e paleontológico que se pode encontrar na maioria das praias do Barlavento Algarvio. São inúmeras as paisagens que despertam o interesse turístico, tanto pela beleza cénica como pela facilidade de acesso e condições climáticas. O potencial turístico do País não se restringe apenas ao uso da paisagem para fins de lazer. Portugal também é privilegiado em feições geológicas que contam a história do meio físico, possibilitando a análise da dinâmica do meio ambiente, a qual reflecte a complexa interacção atmosfera-hidrosfera-litosfera-biosfera-Homem (Lobo, 2005). Recebendo a população quase diariamente informações geológicas e paleontológicas (muitas vezes mal transmitidas) do meio que as rodeia, torna-se pertinente uma abordagem científica menos formal para o esclarecimento da população acerca das características paleo-geológicas (ou seja o conjunto das características geológicas/paleontológicas) do meio onde está inserida. Mas para além da população em geral, pretende-se também chegar à população estudantil. A estruturação de uma 1

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Portugal geology

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PREMBULO: Nestecaptulointrodutrio,explicita-seajustificaodaimportnciadoestudo realizado,aestruturaodapresentedissertao,bemcomoosobjectivosquese pretendem atingir. So ainda referidos os mtodos usados na sua consecuo. INTRODUO O Algarve , por excelncia, um destino de frias de uma grande parte da populao Portuguesaedealgumapopulaoestrangeira.assimnecessrioproceder-seauma modificao da oferta turstica, um mostrar de que para alm da areia, do sol e da gua do mar algumas praias e outros locais junto costa tm muito mais para oferecer. Fala-se,obviamente,dopatrimniogeolgicoepaleontolgicoquesepodeencontrarna maioria das praias do Barlavento Algarvio.Soinmerasaspaisagensquedespertamointeresseturstico,tantopelabeleza cnicacomopelafacilidadedeacessoecondiesclimticas.Opotencialtursticodo Pas no se restringe apenas ao uso da paisagem para fins de lazer. Portugal tambm privilegiado em feies geolgicas que contam a histria do meio fsico, possibilitando aanlisedadinmicadomeioambiente,aqualreflecteacomplexainteraco atmosfera-hidrosfera-litosfera-biosfera-Homem (Lobo, 2005). Recebendoapopulaoquasediariamenteinformaesgeolgicase paleontolgicas(muitasvezesmaltransmitidas)domeioqueasrodeia,torna-se pertinente uma abordagem cientfica menos formal para o esclarecimento da populao acercadascaractersticaspaleo-geolgicas(ousejaoconjuntodascaractersticas geolgicas/paleontolgicas)domeioondeestinserida.Masparaalmdapopulao emgeral,pretende-setambmchegarpopulaoestudantil.Aestruturaodeuma 1atitudecientfica,baseadanocontactodirectocomosfenmenosgeolgicos, paleontolgicoseoambientenaturalondeestesocorremumadasfinalidades principais do ensino das cincias.AsGeocinciasrepresentam,pois,umaformainestimveldeestimulare desenvolveracuriosidadesobreomundofsicoemquevivemos,contribuindo igualmente de forma mpar para a cultura cientfica de qualquer cidado que se pretenda informado e participativo (Thompson, 1998; Mayer, 1998). assimessencialdesenvolvernosjovensascapacidadesparaobservar, experimentar e investigar, aproveitando para isso, a sua inata curiosidade e vontade de aprender. Mas a histria tem sempre duas faces. Sepor um lado o Barlavento Algarvio pode serusadocomomeiodesensibilizaodapopulaoparaaspectosgeolgicose paleontolgicos, por outro lado sofre cada vez mais os efeitos da ocupao antrpica.Nestadissertaoapresentam-sealgunslocaisondesereferenciamobjectose fenmenosgeolgicosepaleontolgicosvariados,dignoselementosdopatrimnio naturalportugus,quemereciamserprotegidosporlegislao,bemcomodefendidos dosefeitosdaactividadeantrpica.Grandepartedestainformaoapresentadaem anexosobaformadepropostasderoteirospaleo-geolgicos,osquaisapresentam tambmactividadesespecficasparacadaparagem,quepoderoserefectuadaspor quemdecidirrealizaressasada.Estasactividadesdeaprendizagemforampropostas tendoemcontaoscontedosprogramticosdosalunosdediferentesfaixasetrias. Assim,osdocentespodemutilizaroroteiropaleo-geolgicocomobasedepreparao para a estruturao de uma sada que pretendam realizar. A presente dissertao encontra-se dividida em trs partes principais: 2-primeiraparte:enquadramentodotrabalhodesenvolvidoaonveldidctico, geolgicoepaleontolgico(doslocaisobjectodeestudoparaosquaissepropemos roteiros); -segundaparte:abordagemdosdiferentesaspectosdepatrimniogeolgicoe paleontolgicodoslocaisemestudoeaexistnciaounodeprotecodesse patrimnio;-terceiraparte:anlisedosefeitosemanifestaesdaactividadeantrpica evidenciados nos locais objecto de estudo do presente trabalho; Anexadasdissertaoaparecemaspropostasderoteirospaleo-geolgicoscomo aspectogrficofinal.Inclui-seaquitambmaapresentaodaspropostasdepainis informativos para cada um dos locais a serem visitados. A escolha dos locais a abordar no desenvolvimento desta dissertao teve em conta asuaboalocalizaogeogrfica,boaacessibilidade,clarezadeexposiodos afloramentoseestruturasgeolgicas.Seguindoestesparmetros,seleccionaram-setrs locaisqueapresentamimportanteselementosparaesteestudo:apraiadaMareta,a praiadaSalema(ambaspertencentesaoconcelhodeViladoBispoeintegradasno ParqueNaturaldoSudoesteAlentejanoeCostaVicentina),apraiadePortodeMse Ponta da Piedade que pertencem ao concelho de Lagos. Dada a proximidade geogrfica destes dois ltimos locais optou-se por coloc-los no mesmo roteiro paleo-geolgico. Devido escassez de informao geolgica disponvel sobre estes locais, aliada ao factodeestaseencontrardispersaeconfinadaaosmeiosacadmicos,foiplaneadaa elaboraoderoteirospaleo-geolgicoscomaidentificaodosprincipaisaspectos geolgicos e paleontolgicos, que podero ser utilizados em duas vertentes. Osroteirospaleo-geolgicosqueaquiseapresentampermitemaosprofessores realizarumaplanificao,organizaoeconsecuocuidadadeumaauladecampo. 3Estes roteiros esto estruturados em diversas paragens e possuem elementos suficientes parapermitirefectuaroenquadramentogeolgicoepaleontolgicodoslocaisavisitar que,conjuntamentecomasactividadespropostas,auxiliaroosprofessoresa desenvolverem a aula de campo com os seus alunos. Osroteirospaleo-geolgicospermitemigualmentequeapopulao(mesmosem conhecimentos de Geologia) possa realizar visitas geolgicas e paleontolgicas, realizar asactividadespropostaseficarcomumavisomaisabrangentedoslocaisretratados nos roteiros. OBJECTIVOS Estadissertaotemcomoprincipalobjectivoaelaboraoderecursoseducativos para apoio realizao de visitas de estudo ou sadas de campo de cariz geolgico e paleontolgicoemalgunslocaisdoBarlaventoAlgarvio;tambmobjectivodeste trabalho:divulgarevalorizaropatrimniogeolgicoepaleontolgicoportugus, especialmenteodoBarlaventoAlgarvio;elaborarmateriaisquesirvamdebaseparaa preparaodeaulasdecampoorganizadasporprofessoresdoensinobsicoe secundrio; servir de orientao nesta matria a qualquer cidado interessado nos temas emestudo;proporacolocaodepainiscominformaogeolgicaepaleontolgica nos locais de visita; sensibilizar os diferentes pblicos para a necessidade de preservar o patrimnio natural (geolgico e paleontolgico).Pretende-seaindacontribuirparaaconsciencializaodapopulaoparaa necessidade de actuar na proteco do ambiente e na preservao do patrimnio natural edoequilbrioentrenaturezaesociedade,bemcomopromoverefomentara 4alfabetizaocientfica,nomeadamente,anvelformal(escolas)eanvelno-formal (passeios cientficos). MTODOS No existindo um cariz laboratorial, os mtodos utilizados na realizao desta dissertao podem ser divididos em duas partes: uma parte prtica com a realizao de sadas de campo e uma actividade de pesquisa e elaborao da dissertao. Trabalho de campo: oSeleco dos locais a serem estudados no desenvolvimento do trabalho; oRecolha de dados sobre os aspectos mais relevantes dos locais em estudo; oRecolha fotogrfica; oCaracterizao geolgica e paleontolgica das paragens, em cada um dos locais em estudo. Actividade de pesquisa e elaborao da dissertaooPesquisa e seleco bibliogrfica; oElaborao do enquadramento geolgico das reas em estudo; oTratamento dos dados fotogrficos oElaborao das propostas de roteiros; oElaborao das propostas de painis informativos dos locais em estudo 5 1. ENQUADRAMENTO 6Nestecaptuloabordam-seastrsgrandesvertentesdodesenvolvimentoda dissertao:oenquadramentodidctico(dotrabalhorealizado),geolgicoe paleontolgico dos diferentes locais em estudo. 1.1.DIDCTICO Um dos factores de xito da actividade do professor de Cincias passa pelo recurso a estratgias variadas e adequadas (Valadares, 2001).Deentreasestratgiasdetrabalhoadesenvolvercomosalunosdestacam-se,pela sua relevncia no ensino das Cincias, as de ndole prtica, onde se incluem as aulas de campo (Hodson, 2000). Aatribuiodeumpapelrelevantesaulasdecampoadvmdofactodeestas ocorrerem no ambiente natural. Na realidade, o trabalho de campo permite a aplicao concretadeconceitos,contribuiparaumaaprendizagemcientficaetecnolgicaque suscitenosalunosumamaiorconscincianatomadadedeciseseodesenvolvimento deatitudesevaloresnumaticaderesponsabilidade,sendoumaestratgia imprescindvel na formao dos alunos.O trabalho de campo assume uma importncia primordial na motivao dos alunos, oquepossibilitatraarumpercursoinvestigativocombasenaproblematizao.O contacto com o real permite desfazer a separao entre as aprendizagens escolares e os conhecimentosvivenciais,isto,tornapossvelutilizaralinguagemdoespaoescola no meio que faz parte do nosso dia a dia (Almeida et al., 2000). semelhana de outras actividades prticas, as aulas de campo tambm no devem ser vistas como actividades isoladas e complementares, mas antes como acontecimentos contextualizados e perfeitamente integrados nos curricula (Silva et al., 2000). 7Uma aula de campo deve ser precedida de um planeamento cuidadoso que comea na definio dos seus objectivos. Os problemas a investigar devem ser contextualizados de forma a circunscrever as aprendizagens aos contedos programticos. Deve facultar umentendimentoprivilegiadodosfenmenoseprocessosnaturais.Seforarticulada com outras tarefas a desenvolver, antes, durante e aps a mesma, permite a consecuo de objectivos pedaggicos fundamentais ao processo de ensino-aprendizagem. Naorganizaodassituaesdeaprendizagem,osobjectivoseestratgiasdevem serseleccionadosdeformaponderada:seforeminsuficientesou,pelocontrrio, demasiadoambiciosos,podemterconsequnciasnegativasnaaprendizagem;sebem escolhidos despertam o interesse e a participao dos alunos (Brusi, 1992). EducaremGeocinciasconstituiaindaanicaformadeincutir sensibilidadeto necessria preservao do patrimnio geolgico, levando, consequentemente, tomada de conscincia da geodiversidade (alicerce fundamental de qualquer ecossistema), algo que se enquadra harmoniosamente na perspectiva geral de valores em torno do respeito pela biodiversidade e pela diversidade cultural dos povos (Mateus, 2000). Prepararcidadosparaumaintervenosocialconscienteeesclarecidadeve representarumadasprioridadesdequalquersistemaeducativo.Daqui,emergea necessidadedeseprivilegiarodesenvolvimentodecapacidadesdeabstraco,anlise crticaepensamentosistemtico,independentementedospercursoseducativos empreendidosporcadaum.E,numquadrodemudanaemqueaescolaretoma,ou deveriaretomar,asuafunodeagentedinamizadordecultura,opapeldaeducao cientficaafigura-seinsubstituvel,porquantorevelaumpotencialinestimvelparaa criao de hbitos de problematizao, de reflexo, de pesquisa individual e em grupo, demodoatransformarinformaocoligidaemconhecimento,permitireestimularo 8questionamentodevaloresedeatitudes,especialmentequandoperspectivasscio-culturais se adicionam aos seus propsitos fundamentais (Pedrosa e Mateus, 2000). Os professores devem desenvolver estratgias de trabalho que permitam aos alunos aresoluoprticadeproblemas,combaseemconceitoseprocedimentosaprendidos nas aulas tericas, contribuindo assim para o aumento significativo da sua autonomia. A articulao entre os conceitos assimilados nas aulas e as investigaes realizadas nocampo,deveconstituirumciclodeaprendizagemcompleto,quepossibiliteaos alunosaconstruodoseuconhecimentoe,simultaneamente,acompreensoda natureza da Cincia. EnsinarCinciasnodeveserumatransmissopassivadeconceitos,massima criao de ambientes favorveis construo activa do saber e do saber fazer. 1.2.GEOLGICO AregioemestudoestinseridanumaprovnciageolgicadenominadaBacia Meso-Cenozica.Estabacia(tambmdesignadaBaciaAlgarvia)tem150kmde comprimentoe13a30kmdelarguraapresentaumaorientaoE-W.Atendendo diversidadegeo-paisagsticaeaocobertovegetalconsideram-setrsgrandesunidades fisiogrficas/geomorfolgicas:aSerra(formaesdoPaleozico),oBarrocal (formaesdoMesozico)eoLitoral(formaesMeso-Cenozicas)(Feio,1951, Oliveira, 1984, Almeida, 1985 e Manuppella et al, 1988). 9 JurssicoCretcico CenozicoTrisico A Bacia Algarvia apresenta formaes geolgicas com uma idade que engloba duas Eras da histria da Terra, so elas a Era Mesozica e a Era Cenozica (anexo I, figura 1). Figura1:MapageolgicosimplificadodaBaciaAlgarvia.AdaptadodeRibeiroeTerrinha (2006). AregiodoAlgarvecaracterizadaporacentuadoscontrastesmorfolgicos,que reflectem,muitasvezesdeformaevidente,alitologia,estruturaeevoluo paleogeogrficas e tectnicas do substrato (Marques, 1997). OregistoestratigrficodaBaciaAlgarviaenglobaformaesunidadescomidades desdeoTrisicoataoQuaternrio.EfectivamenteaBaciaMeso-Cenozica correspondeadoismomentosdistintosdesedimentao(Lopesetal,2000).Este registoestratigrficoapresentaimportanteslacunas,oquepodeserinterpretadocomo tendosidocausadopelavariaodonveldomar,fenmenosderiftingouainda subsidncia da margem da bacia (Terrinha et al, 2002). OsdepsitossedimentaresdoMesozicosocontemporneosdabaciaLusitnica (OrlaOcidental)eterosidodepositadosduranteaaberturadooceanodeTethyse Atlntico,sofrendoumainversodoregimetectnico,fenmenoesteinduzidopela coliso das placas Africana e Euro-asitica no Cretcico superior (Terrinha, 1998). 10AestruturageraldabaciaadeummonoclinalmuitoextensoinclinadoparaSul, afectadopornumarededefalhas,deorientaoNorte-Sul,eatravessadoporduas flexuras longitudinais, de direco varivel entre ENE-WSW a E-W (Correia, 1989). SegundoAlmeida(1985),osprimeirosdepsitosmesozicossodenatureza continental,aosquaissesobrepemcalcriosdolomticoseevaporitosqueindicamo inciodainvasodabaciapelomar.Apresenadeevaporitostestemunhaaextenso paraOestedomardeTethys,duranteofimdoTrisico(JansaeWade,1975in Almeida, 1985). Uma importante actividade gnea est relacionada com esta distenso e com o subsequente rifting do qual so testemunhos files, brechas e vulcanoclastitos. Acordilheiraresultantedaorogeniahercnicafoidesmanteladaporintensaeroso de que resultou uma vasta lacuna estratigrfica no Sul de Portugal, entre o Carbnico e oTrisicosuperior(Carvalho,1986).Comoconsequncia,asformaesdabasedo Mesozico,(porexemplooGrsdeSilves),assentamemdiscordnciasobreas formaesante-mezosicas,oucontactamcomelasporsuperfciesdefalha(Correia, 1989). AsubsidnciadaBaciaAlgarviapermitiuumaaberturaaomarcadavezmais acentuada,enoSinemuriano-Lias(Jurssicoinferior),abaciaconstituaumavasta plataforma continental onde se depositava um complexo carbonatado, que compreende, essencialmente,calcriosdolomticosedolomitos(Rocha,1976).Seguiu-seuma transgressoaqual,aocidente,desencadeouadeposiodecalcriosecalcrios margosos com amonides. DuranteoCarixianoLias(Jurssicoinferior),aBaciaAlgarviacomeoua diferenciar-se em trs sub-bacias (Terrinha, 1998), dando lugar a domnios sedimentares diversificados,caracterizadosporvariaesdefcies,porvezesmuitoacentuadas (Manuppella, 1992): 11- Sub-bacia ocidental - domnio sedimentar essencialmente hemiplgico durante o Lias (Jurssicoinferior)eoDogger(Jurssicomdio)(Rocha1979inManupella,1992). DuranteoMalm(Jurssicosuperior),asedimentaoadquirecaractersticasde plataformainterna,porvezesconfinada,massemprecomboasligaesaomar (Ramalho 1985 in Manupella, 1992); -AltofundodeBudens-Lagoa-estedomniocaracterizadoporumaplataformade sedimentaointerna,porvezesconfinadadurantetodooMesozico(Manuppella, 1992);-Sub-baciaoriental-localizadaentreLagoaeTavira,apresentaduranteoLisico, sedimentao deplataformainterna confinada,commarcadasubsidncia(Manuppella, 1992),aqueseseguiuumperododuranteoqualnoocorreusedimentaoequese prolongouatbasedoJurssicomdio(andarAaleniano),porumperododetempo de10Ma.NorestodoJurssicomdioverifica-seopredomniodasedimentao margo-carbonatadaemmarmaisaberto,emboracomsedimentaodescontnua, possivelmente associadas a regresses marinhas locais (Oliveira e Manuppella, 2000). Emtodasestassub-baciash,inicialmente,predomniodesedimentao carbonatada,associadaaplataformasdecirculaomarinharestringida,regime sedimentar este que perdurou durante o Sinemuriano (Jurssico inferior) (200 Ma a 194 Ma).ApartirdoLisico(Jurssicoinferior)mdioasedimentao,nestassub-bacias, sofreu variaes (Oliveira e Manuppella, 2000). SegundoRochaeMarques(1979),umaimportantelacunaestratigrficaseparao JurssicomdiodoJurssicosuperior,sendoaindapossvelevidenciaraexistnciade dois ciclos sedimentares. Verifica-se, na parte ocidental do Algarve, no Jurssico mdio, aexistnciadeformaesrecifais,asquaisseparamumdomniointernode sedimentao, de um domnio externo (Rocha, 1976). O Jurssico superior est apenas 12representadonoAlgarveocidentalporsedimentosdefcieslagunarcomalguns episdios de influncia continental (Correia, 1989). MovimentosorognicosnolimiteJurssico-Cretcicoestonaorigemde importantesvariaeslateraisdefciesedediversasdescontinuidadessedimentarese so,ainda,responsveispelaindividualizaodeumdomniodesedimentaono AlgarveorientalcomfciesdemaiorprofundidadeeoutronoAlgarvecentrale ocidentalcomfciesmenosprofunda(Rey,1983).Ouseja,aocontrriodoque acontececomoJurssico,oCretciconocontnuoemtodaaextensodaBacia Algarvia. As formaes cretcicas podero ser agrupados em trs conjuntos, de acordo com a sua distribuio geogrfica: - Algarve ocidental, constitudo pelas unidades de Zavial, da Salema e da Ponta deAlmdena-Burgau-PortodeMs,comumazonadetransio(proximidadede Porches) para o Algarve central. - Algarve central, formado pelas unidades de Algoz, de Sobral-Porches, de Mem Moniz, de Tunes, de Ferreiras e do Arrifo. -Algarveoriental,dequefazemparteasunidadesdeEsti-PoBranco,de Alfandanga-MarimedeMoncarapacho,comumazonadetransioparaoAlgarve central (Correia, 1989). No Algarve central e ocidental, o Cretcico est representado por fcies de carcter continentalenquantoquenoAlgarveoriental,verifica-seaocorrnciadevriosfcies continentais e marginolitorais a infralitorais (Cabral, 1995). Segundo Correia (1989), do ponto de vista estratigrfico, o Cretcico no Algarve est representado por terrenos cuja idadeseestendedoBerriasiano(inciodoCretcicoinferior)ataoAlbianosuperior 13(final do Cretcico inferior). O Cretcico inferior est representado por fcies calcrio-margosas, alternantes com fcies detrticas indicando estas alguns episdios regressivos. Naparteemersadoterritrioalgarvioverifica-seaausnciadeformaes sedimentaresdoCretcicosuperior,assimcomodabasedoPaleognico(Cenozico inferior), no tendo ainda sido encontrados argumentos que permitissem concluir se esta lacuna devida a uma ausncia de sedimentao, durante aquele intervalo de tempo, ou a uma eroso ante-miocnica (Correia, 1989). OPaleognico(Cenozicoinferior)aindaqueausentenareaemersafoi reconhecido em sondagens na rea imersa (Terrinha, 2005). O registo Cenozico deste sector est restrito : - Formao Carbonatada Lagos-Portimo de idade miocnica (Pais, 1982); -AreiasdaPraiadaFalsia/Faro-Quarteiradeidadepliocnica-quaternria(Mourae Boski, 1999); -Depsitosdepraia,levantados,doPlistocnico,dunasconsolidadas(doWrm,entre 30 000 a 10 000 anos) e as dunas mveis, recentes (Terrinha, 1998).AsformaesdoMiocnicoocupam,actualmente,umaextensorelativamente grande,emborainferiorqueteriamtidoinicialmente,aavaliarpelosnumerosos retalhos dispersos (Almeida, 1985).Segundo Correia (1989), os terrenos de idade miocnica afloram no Algarve junto costa, desde Sagres (a ocidente) at Cacela (a oriente), assentando discordantemente ou contactandoporfalha,quersobreoJurssicoquersobreoCretcico,constituindo arribas relativamente frequentes, sobretudo entre Lagos e Olhos de gua. No incio do Miocnico instalou-se no Algarve ocidental extensa plataforma litoral, comtendnciaparaasedimentaocarbonatada,comforteinflunciaterrgenadando origemFormaodeLagos-Portimo(Manuppella,1992).Umavariaomarinha 14regressivafoiresponsvelpelaerosoecarsificaodestaformaoque, posteriormente,foicobertaporumasriedenaturezadetrticadefciescontinental (Moura e Boski, 1999). OsdepsitosculminantesquecorrespondemaoQuaternriosoessencialmente detrticos (areias vermelhas, brancas e de duna, aluvies e terraos), apresentando a sua maior extenso geogrfica junto do litoral.A geologia especfica de cada um dos locais que foram objecto de estudo durante a realizao desta dissertao, est integrada e dependente da geologia da Bacia Algarvia. Nestapartedadissertaoseroapenassalientadososfenmenosrelevantesemcada um destes locais e que podero ser observados pelos alunos/pblico interessado. 1.2.1.PRAIA DA MARETA NasarribasdapraiadaMaretaencontram-seexpostasduassriesdeformaes diferentes:asriesedimentarquasecompletadoJurssicomdioepartedasrie sedimentardoJurssicosuperior(figura2).Estasduassriesencontram-seseparadas por uma discordncia erosiva, separando o Caloviano (Jurssico mdio) do Oxfordiano (Jurssico superior) (Terrinha e Santos, 2001). Aluvio Areias de PraiaQuaternrio Areias, cascalheiras e terraos Formao de Lagos-PortimoMiocnico Calcrios do Escarpo Kimmeridjiano aPortlandiano Calcrios da Praia do Tonel Oxfordiano Calcrios e margas da Praia da Mareta; Batoniano a Caloviano Margas e calcrios detrticos com Zoophycos da praia da MaretaBajociano Inferiror Figura 2:Mapa geolgico da regio de Sagres-Praia da Mareta. Adaptado de Manuppella, 1992. 15 16A Praia da Mareta situa-se na sub-bacia ocidental onde a sedimentao permaneceu contnuadurantetodooLisicomdioesuperior(Jurssicomdio),comfciesde plataformaabertamargo-carbonatada.ApsalacunaerosivadoAaleniano(Jurssico mdio), voltou a verificar-se sedimentao carbonatada no Bajociano (Jurssico mdio), (176a170Ma),masagoracomodesenvolvimentodeumapequenabarreirade construes recifais, que separava ambientes de fcies lagunares, a Norte, de ambientes francamente marinhos, a Sul (Oliveira e Manuppella, 2000).Afigura3permiteobservaraexistnciadefalhasnormaisqueapresentamuma rotao sobre uma maior falha oculta, o que evidencia que a extenso da Bacia Algarvia ocorreu durante o Bajociano superior (Jurssico mdio) (Terrinha, 1998). NapartesuperiordoJurssicomdio,asedimentaopassouamista pelticocarbonatada, generalizada a toda a sub-bacia, situao que perdurou por cerca de 10 Ma. No final do Caloviano (topo do Jurssico mdio), Houve uma eroso que trunca ossedimentossubjacentes,equemarcaumepisdioregressivodegrandeescala,que afectoutodaaPennsulaIbrica,emgrandeparterelacionadacommovimentos tectnicosepirognicos.Estasuperfcieerosivaestsublinhadaporumhorizonte conglomerticocomndulosfosfatadosefsseisremobilizadosdotopodoCaloviano (topo do Jurssico mdio) e base do Oxfordiano (Jurssico superior), o qual constitui o incio da sucesso estratigrfica do Jurssico superior (Oliveira e Manuppella, 2000).OCalovianorepresentativodeumregimedesedimentaomaisdistal,demaior profundidade,sobreoqualassentaemdiscordnciaoOxfordiano(figura4-e).So tambmnotveisnosnveismargososdoCalovianoasestruturasdeescorregamentos sin-sedimentares (slumps) (figura 5), (Terrinha e Santos 2001). Dopontodevistasedimentar,nasriedoJurssicomdio,salienta-seapassagem de fcies calciclsticas, ambiente de deposio de pouca profundidade, para fcies Figura3:InterpretaoestruturaldageologiadaPraiadaMareta.AdaptadodeTerrinha(1998).a,b,c,deecorrespondemafotografiasdesses fenmenos geolgicos. 17e abc d c ba de Figura 4: Fotografias representativas das formaes geolgicas assinaladas na figura 3: a-Contacto entre o Malm e o Batoniano/Bajociano; b-Contacto entre o Batoniano e o Bajociano; c-Falhas normais a mobilizar todas as estruturas at ao Batoniano; d-Bajociano superior com calcrios de Zoophycos e rotao dextrgira de falhas normais; e-Contacto discordante entre o Caloviano superior/ Oxfordiano mdio. hemiplgicasdeamonides,isto,ambientededeposiodemaraberto,demaior profundidade (Terrinha e Santos, 2001). Amega-sequnciadoMalm(Jurssicosuperior)estrepresentadaporsedimentos de fcies marinha interna. A partir do Oxfordiano inferior, (base do Jurssico superior), associado a uma segunda fase de rifting, d-se um perodo transgressivo e uma alterao bruscanascondiesdesedimentao,osquaisestaroligadosaosmovimentosde halocinese,contemporneosdosbasculamentosdoSotaventoAlgarvio(Manuppellaet al, 1988). Figura5:FotografiarepresentativadosslumpsnaPraiadaMareta.Adaptadode Ramalho (2004), in INETI. 18 Aindadopontodevistasedimentaregeomorfolgico,destacam-seasrampasde dunasconsolidadasdoQuaternrio,asquaisemergemdomareculminamna plataforma de abraso (Terrinha e Santos, 2001).As dunas consolidadas da costa ocidental do Algarve e da regio de Sagres assentam emformaesante-cenozicaspornveisfracamenteounoconsolidados, correspondentesadepsitoscoluviaisareno-argilosose(ou)depsitosdevertente (Marques, 1997). 1.2.2.PRAIA DA SALEMA A praia da Salema apresenta uma das trs manchas cretcicas do Algarve ocidental: oafloramentoapresentaboaexposioeformaasarribasquedelimitamestapraia (Correia, 1989). AsrochassedimentaresdapraiadaSalemapertencemaoCretcicoinferior,com idade aproximada entre os 145 e os 100 milhes de anos (figura 6). Figura 6: Localizao geolgica da praia da Salema. Adaptado da Carta Geolgica 52 - A de Portimo, escala de 1:50000, Servios Geolgicos de Portugal. 19 Esteafloramentoconstitudoporumasucessodebancadasdenatureza carbonatada,comalgumasintercalaesmargosasemargo-argilosascujascamadas inclinam em mdia, cerca de 10 para Oeste e de direco N 30E (Correia, 1989). Estasformaesdepositaram-seemambientessedimentaresconfinadoscomopor exemplo lagunares ou nas vizinhanas da zona intertidal, de baixa energia (Rocha et al., 1983). A praia da Salema tambm um excelente mostrurio do ponto de vista estrutural e tectnico. Segundo Correia (1989), este afloramento forma um compartimento limitado porfalhas,queraOeste,queraLeste,tendocomoterrenosencaixantesformaesdo Jurssico superior (Portlandiano-Kimmeridgiano). Noextremoocidentaldapraiaobserva-seadiscordnciaJurssicosuperior- Cretcico inferior (Terrinha e Santos, 2001). Osmelhoresexemplosdaextensocretcicapodemencontrar-senaspraiasda Salema e do Burgau (Terrinha, 1998). O Barremiano superior (Cretcico inferior) composto por 2,2 m de margas verdes eviolceassobrepostaspor3,5mdedolomiasgresosasvermelhas.Relativamenteao Aptiano(Cretcicoinferior)inferior,osarenitosecalcrioscomPalorbitolina lenticulariseNerineaalgarbiensisdepositaram-seemmeiomarinhoinfralitoral, frequentementeinterrompidopordescargasterrgenas.Estaformaocorrespondea umatransgressodomarrelativamenteaoBarremianoe,poroutrolado,indica actividade erosiva nas reas continentais (Rocha et al., 1983). 20 1.2.3.PRAIA DA PORTO DE MS/PONTA DA PIEDADE PRAIA DE PORTO DE MS RamalhoeRey(1981)estabelecemascondiesemquesegeraramasformaes de Porto de Ms, no Algarve Ocidental, considerando-as do Gargasiano-Clansayesiano (Aptiano-Cretcicoinferior)(figura7).Osautoresreferemumaimportanteacelerao dasubsidncianodecursodoAptiano, considerando-arelacionadacomofinaldafase de rifting durante a expanso ocenica do Atlntico Norte. Figura7:InterpretaoestruturaldapraiadePortodeMsrepresentadoasdiscordncias Aptiano-MiocnicomdioeMiocnicomdio-Quaternrio.Salientam-setambmostrs episdiosdecompresso:1-sin-sedimentarcomascamadasdoAptiano;2-pr-Miocnico (pr-FmCLP);3ps-Miocnico.FmCLP-FormaoCarbonatadaLagos-Portimo;FmF-Q-Areias de Faro-Quarteira (Adaptado de Terrinha, 1998). AunidadecalcriosemargasdoCretcicoter-se-formadosobcondies mariaisquevariavamentreomeiohiposalinoehipersalino(basedaformao)e 21condiesdesalinidadenormal(topodaformao).Aestaformaosobrepem-seos sedimentos de carbonatados do Neognico (Rey, 1986) (figura 8). Aptiano- Cretcico Miocnico marinho Areias vermelhas- Plio-Plistocnico Areias de Praia- Moderno Falha Figura 8: Localizao geolgica da praia de Porto de Ms e da Ponta da Piedade. Adaptado da Carta Geolgica 52 - A de Portimo, escala de 1:50000, Servios Geolgicos de Portugal. A oriente da praia Luz, a superfcie topogrfica inclinada para Sudeste, talhada em rochas areniticas cretcicas muito resistentes (Marques, 1997). Nostroossalientes,asarribassogeralmentedotipomergulhante,enquantoque nasreentrnciasdacosta,solimitadasinferiormenteporpequenaspraiasencaixadas ou depsitos de detritos resultantes de antigos desmoronamentos.desalientaraindaassub-escavaesdesopousapas(figura9),comorigem erosivavariada,mecnica,qumicaoubiolgica,formadasessencialmentenafaixa entre mar que provocam a instabilidade das arribas (Marques, 1997). Nosectoraquiconsiderado,aerosodasarribasocorreessencialmentepor deslizamento e queda de blocos. Estes movimentos induzem recuos generalizados deste troo costeiro, que se distribuem de modo no uniforme no tempo e no espao. 22 Figura9:ArribacomdesenvolvimentodesapasnapraiadePortodeMs.Zonade desenvolvimento das sapas; Blocos cados. A falha de Lagos (figura 10), de direco N-S, tem uma extenso cartogrfica de 8 Km e estende-se desde a praia de Porto de Ms at Portelas. Na praia de Porto de Ms, afalhaaflorasobaformadeumaestruturaemgraben,preenchidaporsedimentos miocnicos, evidenciando ter sido provavelmente reactivada durante o Plio-Quaternrio, pois aparenta afectar arenitos desta idade que assentam sobre as formaes miocnicas (Dias 2005). Figura 10: Aspecto da falha de Porto de Ms, visvel na estrada de acesso praia. Adaptado de Dias (2005). 23Ocontactoporfalha,quecorrespondeaobordoorientaldofossotectnico,bem visvelnotaludedaestradadeacessopraiadePortodeMs,juntodoparquede estacionamento(figura10).Notaludedaestradaobservam-secalcriosmiocnicos intensamentefracturadosecarsificados,comocarsopreenchidoporsedimentosPlio-Quaternrios,emcontactotectnicocomcalcriosemargasdoCretcico.Ocontacto por falha, de direco N-S, sub-vertical, parece afectar os sedimentos Plio-Quaternrios que preenchem o carso desenvolvido no Miocnico (Dias, 2005). NasarribasdapraiadePortodeMs,observa-seobordoocidentaldofosso tectnico,dedirecoN-S,estabelecendoumcontactosub-vertical,comum componentedecavalgamento,entrecalcriosemargasdoCretcicoeCalcrios LumachlicosdoMiocnico(FormaodeLagos-Portimo),eobordooriental,de orientaoN0,85E,estabelecendoumcontactotectnicosub-verticalentreas formaesdoCretcicoeoscalcriosLumachlicosdoMiocnico,aparentemente afectandotambmossedimentosPlio-Quaternriosquepreenchemcavidadescrsicas nestes calcrios (Dias e Cabral, 1995b; Dias, 2001 in Dias, 2005). 24PONTA DA PIEDADE Asarribassoessencialmenteconstitudasporbiocalcarenitos,comgrande abundnciadefsseis,macrofaunavariadadepectindeoscomavalvasconservada, gastrpodes,ostradeos,briozorioseequinodermes,pertencentesformao Carbonatada de Lagos-Portimo (figura 8) do Miocnico inferior (Rocha et al., 1983). Acarsificaoefracturaodestasformaesmiocnicasintensa,sendocomum encontrarem-seestruturascaractersticasdomodeladocrsico,nomeadamentealgares, grutaseleixes.ParanascentedaPraiadoCanavial,esensivelmenteatLagos,os terrenos miocnicos carsificados e parcialmente cobertos pelos depsitos arenosos Plio-Plistocnicos,estolimitadossuperiormenteporumasuperfciesituadaaumacotana ordem dos 40 m, que termina abruptamente junto ao litoral, cortada pelas arribas actuais (Marques, 1997). Figura11:PormenordasarribasnaPontadaPiedade.AntigoAlgar,Formao CarbonatadadeLagos-Portimo;Precipitaescalcrias;depsitosareno-argilosos,de cores avermelhadas. 25As cavidades crsicas, cujas paredes normalmente esto revestidas por precipitaes calcriascomresistnciabastantesuperiordasformaesmiocnicasencaixantes, estopreenchidaspordepsitosareno-argilosos,decoresavermelhadas,pouco resistenteserosomarinhaesub-area.Aerosorpidadocarsomotivaasua exumaonafaixacosteira,dandolugaraumcontornolitoralrendilhado(figura12), com perfuso de leixes destacados (Marques, 1997). Figura 12: Fotografia ilustrativa da costa da Ponta da Piedade com os leixes destacados bem visveis. 261.3.PALEONTOLGICO APaleontologiaeaGeologiasoduasCinciasquetmemcomumaprocurado conhecimentosobreopassado(figura13).Aanlisedosfsseiseasuarelaocom eventosgeolgicosvisamacompreensodaevoluodosseresvivosetambmdas condies ambientais existentes no passado. As provas da antiguidade do nosso planeta estoencerradasnasrochasqueconstituemacrostaterrestreenosfsseisqueelas contm (Silva 2005). Figura 13: Paleontologia: entre as cincias geolgicas e as biolgicas (Silva, 2005) Etimologicamente a palavra Paleontologia composta por trs razes gregas: palais () - antigo ntos () - o ser, o que lgos () - tratado, fundamento, razo. Emsentidoliteral,oseusignificadopodeserexpressopelafrase"Estudodos SeresAntigos".ComoCincia,aPaleontologiaenglobaaanlisedescritivae interpretativadavida,duranteosperodosgeolgicos,atravsdoestudodosfsseis (Cacho, 2004). 27APaleontologiahojeumaCinciatrazidaparaaordemdodia.Oestudodo passado sempre fascinou o Homem mas os media, em particular despoletados pelo livro ParqueJurssico,deMichaelCrichton,catapultaramparaaopiniopblicaomundo dos dinossurios, criando nos mais jovens uma legio de admiradores.Portugalumpasparticularmentericoemcontedospaleontolgicos,quepodem servistosemafloramentosderochasdequasetodasasErasGeolgicas.Estoj referenciadas em Portugal jazidas de enorme importncia de Norte a Sul: das Cruzianas deIdanhaaNovaspegadasdedinossuriosnaPraiadaSalema,dasTrilobitesde Valongo aos Clcarios Lumachlicos, da Formao Carbonatada de Lagos-Portimo, da Ponta da Piedade, dos fsseis vegetais de So Pedro da Cova ao recife de Coral da Praia da Mareta. Um fssil um objecto geolgico, mas com uma origem biolgica, mais ou menos remota,identificvel.Isto,umfssildevepoderseratribudoaumtxonedecariz biolgico.Assim,numfssil,tmdecoexistirumarealidadebiolgica(ainformao sobreumorganismopretritoidentificvel)eumarealidadegeolgica(omolde,a mineralizao,etc.,dorestooudovestgiobiolgico)numcontextogeolgico(Silva, 2005). Os registos fsseis podem dividir-se em dois tipos principais: os somatofsseis e os icnofssies.Ossomatofsseissoosfsseisderestossomticosintegrantesde organismos (so os fsseis dos dentes, das carapaas, das conchas, das folhas, etc.). Os icnofsseis(dogregoichnosquesingificamarca)soosfsseisdevestgiosde actividade vital produzidos em vida pelos organismos, como resultado de uma qualquer actividade biolgica deslocao, alimentao, reproduo, etc. (Silva, 2005). 28Paraqueumfssilseformenecessrioaocorrnciadedeterminadosprocessos fsicosequmicosespecficos,queresultamemtransformaesnosorganismos,ou vestgios da sua actividade, permitindo deste modo a sua fossilizao.Osprocessosfssil-diagenticossoosvriosmecanismosatravsdosquaisos restosdeorigemorgnica(somatofsseis)oumarcasouvestgiosdeactividade orgnica(icnofsseis)ficampreservadosnoregistogeolgico,isto,nasrochas(no necessariamente apenas em rochas sedimentares, pois algumas podem ser metamrficas de baixo grau; e.g. quartzitos e xistos) (Cacho, 2004). Muitas vezes os fsseis formam depsitos que so caracterizados pela sua riqueza e bom estado de conservao, constituindo assim jazidas fossilferas.Segundo Cacho (2004), o estudo de uma jazida fosslifera tem em vista vrios fins: i) Paleontolgicos sensu strito como, por exemplo, a recolha de um determinado fssildeesqueletodedinossurio,ouacaracterizaodaassociaofssilde braquipodes, amonites, ou trilobites de uma determinada regio e/ou idade (por exemplo); ii) Geolgico sensu lato como, por exemplo, o enquadramento da formao que contm um determinado contedo fossilfero, ou interpretao do paleoambiente que existia na altura; iii)Patrimonialcomo,porexemplo,olevantamentodoregistofssildeuma determinadaregiocomofimdeobterelementosoucomplementara classificao de determinada rea protegida ou reserva natural. 291.3.1.Praia da Mareta ApraiadaMaretaumexcelentelocalparaobservaodeaspectos paleontolgicos.Comoprincipaiselementosrepresentativosdestesaspectospodem considerar-seaspistasdeinvertebradosdotipoZoophycoseorecifedecoral fossilizado, no entanto, podem encontrar-se outros tipos de fsseis, ou vestgios da sua presena.Afigura14representaumfssilquecorrespondeaomoldeexternodeuma amonite. Figura 14: Molde externo de um fssil de amonite na praia da Mareta. Zoophycos OsZoophycosencontram-senaunidadeMargaseClcariosdetrticoscom Zoophycos da praia da Mareta, numa sequncia, com 25 metros de espessura, de idade Bajociano superior- Batoniano inferior (Jurssico mdio) (Rocha, 1976). Esta unidade geolgica encontra-se bem evidenciada na praia da Mareta e pode ser observadaemduasdasparagenssugeridasnoroteiropaleo-geolgicoelaboradopara este local (anexo VII). AspistasdeZoophycosapresentamumalargadistribuioestratigrfica,sendo muitofrequentesnassequnciascalciturbidticasdoJurssicomdiodasbacias Lusitnica e Algarvia (Carvalho e Rodrigues, 2003).30AspistasdeZoophycoscorrespondemavestgiosdeactividadedeorganismos invertebrados(figura15,16e17).Estesicnofsseissorastosdeantigosseresvivos que viviam nos fundos marinhos profundos. O organismo escavava um tnel para obter alimento e quando esse tnel j no servia regressava ao ponto central e recomeava um novo tnel. Os Zoophycos tm assim um aspecto de hlice. De uma sucesso de curvas que partem de um ponto central. AabundnciadeZoophycospareceestarassociadaaambientesdedeposio caracterizadosporumaalternnciadeperodosdesedimentaonulaouquasenulae perodosdegrandedeposiodesedimentosenriquecidospornutrientesprovenientes de nveis superficiais com maior produtividade orgnica (Oliveiro e Gaillard, 1996). ApartirdoToarciano(topodoJurssicoinferior)oprodutordeZoophycos abandonou progressivamente os ambientes costeiros a favor de profundidades maiores. O desaparecimento dos Zoophycos da plataforma continental parece ocorrer prximo do grandeeventodeextinodolimiteCretcicoTercirio(CarvalhoeRodrigues, 2003). Figura 15: Fotografia de Zoophycos existentes na praia da Mareta (vista horizontal). 31 Figura 16: Fotografia de Zoophycos existentes na praia da Mareta (vista vertical). Extrado de Carvalho e Rodrigues (2003). As pistas de Zoophycos apresentam-se constitudas por lminas de galerias em U do tipo (Rhizocorallium), desenvolvidas obliquamente e de modo centrpeto a partir de um eixo de enrolamento (Carvalho e Rodrigues, 2003). Eixo de enrolamento Lminas Lamelas Figura 17: Modelo de construo dos Zoophycos da praia da Mareta. As setas indicam os vectores de crescimento e a rotao refere-se ao sentido de enrolamento (Carvalho e Rodrigues, 2003). 32Recife de Coral Fossilizado SituadonazonacentraldaPraiadaMaretaestacpularecifalcorresponde segunda paragem sugerida no roteiro paleo-geolgico (anexo VII) (figura 18). Segundo a notcia explicativa da folha 51-B da Vila do Bispo, esta praia apresenta o nicocortegeolgicodoconjuntodasformaesBajocianas-Calovianas(Jurssico mdio) de fcies transrecifal. Figura18:Fotografiarepresentativadalocalizaoeaspectodacpularecifaldapraiada Mareta. Ocorporecifalconstrudoformadopornumerosospolipeiros,ramificadosou macios,emposiodevida(Rocha,1976)(figura19e20).SegundoOliveirae Manuppella (2000) este conjunto est englobado por calcrio micrtico esbranquiado. Figura 19: Aspecto dos corais ramificados na praia da Mareta. 33Oscalcarenitosdestelocalfornecemaindafsseisdeamonites,braquipodes, gastrpodes,restosdeequinodermesedeforaminferos,queindicamumaidade Bajociano superior (Jurssico mdio) (Oliveira e Manuppella, 2000). Figura 20: Seces de corais em pormenor. Figura 21 Aspecto do recife de coral carsificado. Este recife encontra-se in situ, ou seja, est na posio de vida dos corais e quando seformou,oclimaeraquenteeasguaspoucoprofundas.Estaformaorecifalfoi erodida, o que indicador de uma descida do nvel do mar ou uma emerso continental e exposio sub-area (o recife tem que ficar exposto para que se d a eroso).AidadedorecifeseguramenteanterioraoBajocianosuperior(Jurssicomdio), idade dos calcarenitos com Zoophycos que os recobrem, admitindo-se que possa ser do ToarcianoeacarsificaocontemporneadoAaleniano,perododuranteoqualse verificou emerso generalizada da rea deposicional (Rocha e Marques, 1979). possvelobservarnestascpulasevidnciasdecarsificao.Ascavidades observveispodemporvezesultrapassarmaisdeummetrodeprofundidade(Rocha, 1976) (figura 21). Ossedimentosqueseencontramnofundodascavidadessorelativamentemais grosseirosecontmclastosdecalcriosoolticos,calcrioscomcrinides,fragmentos de corais, etc. (Oliveira e Manuppella, 2000). 34 Figura 22: Aspecto geral da cpula de recife de corais na praia da Mareta.1- Limite da camada superior; 2- Caneluras finas e regulares; Segundo Rocha (1976) na parte final do Bajociano mdio deve ter-se produzido uma transgresso responsvel pela deposio dos primeiros sedimentos marinhos (figura 22). Estas primeiras camadas sobrepem-se aos afloramentos inferiores do recife (figura 23-1);acpulasuperior(figura23-4),pelocontrrioencontra-secobertapormargasdo Batoniano superior. 12 Figura23:EvoluoPaleogeogrficadorecifedaPraiadaMareta.1-FimdoBajociano mdio; 2- Fim do Bajociano superior 35 34 Figura 23(Cont.): 3- Fim do Batoniano inferior; 4- Batoniano superior. Adaptado de Rocha (1976). OscalcarenitospertencentesunidadeMargaseClcariosdetrticoscom Zoophycos da praia da Mareta que cobrem o recife apresentam estratificao (Oliveira e Manuppella, 2000) (figura 24). Figura24:EstratificaoapresentadapelaunidadeMargaseClcariosdetrticoscom Zoophycos da praia da Mareta. Aconstruorecifaldoladoorientalencontra-seaplanadaaonveldosoloe ponteadaporpequenasdepressescrsicas,sendovisveismanchasdeacumulaode xidosdeferroquemarcamaexistnciadeumhardground(figura25)separando duas fases distintas de evoluo do recife (Oliveira e Manuppella, 2000). 36 Figura 25: Cpula recifal vista do lado Leste e a presena de uma antiga superfcie submarina, cimentadaeendurecida,denominadahardground.AdaptadodeOliveiraeManuppella (2000). Emalgumascamadasverifica-sequeasedimentaonouniformeequeas bancadasapresentambioturbao.Defacto,aconcentraodegaleriasepistas,em determinados nveis ou camadas, com perturbao mais ou menos intensa das estruturas sedimentaresoriginaisdesedimentosinicialmenteincoerentesoucoesosconhecida por bioturbao (Cacho, 2004). Ossedimentosquecobremacpularecifalapresentamfigurassedimentares obliteradas,sendovisveispistashorizontais(figura26-A)etambmverticais(figura 26-B), que chegam a destruir completamente a estrutura interna dos leitos. AB Figura26Aspectodabioturbao.A-Bioturbaohorizontal.AdaptadodeOliveirae Manuppella (2000), B- Bioturbao em perfil vertical Estabioturbao,querhorizontalquervertical,oresultadodaremoodos sedimentos por organismos, em busca de alimento. 371.3.2.Praia da Salema ApraiadaSalemaumexcelentemostruriodopontodevistapaleontolgico, principalmenteaonveldapresenadeicnofsseisnomeadamentedepegadasde dinossurios. Oregistopaleontolgicodestapraianoseresumeaosicnitosdedinossurios, sendopossvelencontraroutrosfsseis,talcomoestreferidonaterceiraparagemdo roteiro paleo-geolgico proposto para esta praia (anexo VIII). OsdinossuriossurgiramnoTrisicosuperior,hcercade230Ma.Osmamferos surgirampoucodepois,tambmduranteoTrisicosuperior,haproximadamente220 M.a.Osdinossuriosno-avianoseosmamferoscoexistiramdurante160milhesde anos (figura 27), do Trisico superior ao final do Cretcico (Silva 2005). Figura 27: Geocronologia do Mesozico (Silva, 2005). Osrastosdedinossuriosoumaimportantefontedeinformaosobrea morfologiadospsemosdosanimaisqueosproduziram,asualocomoo,oseu 38comportamento individual e social, entre outros aspectos e complementam a informao obtida pelos estudos dos seus esqueletos (Leonardi, 1987; Thulborn, 1990). O estudo de uma pegada de forma individualizada permite, quando bem conservada, conhecer a morfologia e a anatomia do p/mo que a produziu, o seu modo de apoio no solo, a identidade do animal e, juntamente com a informao proporcionada pelo rasto, contribui para o clculo das suas dimenses (Moratalla, 1993). desalientar,todavia,queaimportnciadaPaleoicnologianoresidesna identificao dos autores das marcas ao nvel das espcies conhecidas, mas sim na vasta informao que proporciona sobre os organismos em vida e os ambientes onde viveram (Santos, 2003). Aanlisedeumasequnciadepegadasproporcionainformaodinmicasobreo animalvivo,nomeadamente,oseumododelocomoo,posturaecomportamento individual, velocidade de deslocao e rotao dos membros (Moratalla, 2000). Comomuitasdaspegadasdedinossuriodoregistoicnolgicoportugusse encontrambemconservadas,forneceminformaosobreospsemosdos dinossurios,enquantoqueaslongaspistastestemunhamomododelocomooe permitem estimar velocidades de deslocao. Aexistnciademuitaspistas,algumasparalelas,informasobreocomportamento social (gregrio) destes animais (Santos, 2003). Umanimalduranteasuaactividadeadoptadiferentesmodosdelocomoo (caminha,corre,saltaoucoxeia),quedefinemoseucomportamento,eoconjuntodas pegadasqueproduzreflecteestaatitude.Asproporesanatmicasdosanimaisque produziramtrilhossoestimadasapartirdasdimensesdaspegadas,dosvaloresdo passo,dapassada,dongulodepassoedalarguradapista,bemcomo,atravsde relaesmatemticasentreestesvaloreseasproporesanatmicasdosanimaisdo 39grupoaqueosicnofsseisseatribuem, e quesoconhecidasemesqueletosestudados (Santos, 2003). H dificuldades em estimar a altura de um membro, considerada desde o solo at ao acetbulo,apartirdeumapegada,devidoavriosfactoresqueintroduzem variabilidade.Noentantopossvelobterumaaproximaorazovelaosvaloresreais paraadeslocao,desdequeasmediessejamefectuadasempegadasbem conservadas e em trilhos suficientemente longos. Nadescriodetrilhosdeanimaisbpedes,almdasdimensesdaspegadas, consideram-se os valores do passo, da passada e do ngulo de passo (Leonardi, 1987). P PA C Figura28:Exemplosdemedidasquesedevemobterquandoseestudaumtrilhodeum dinossurio bpede. Adaptado de Folheto de Geologia de vero 2001- Pegadas de Dinossurios noBarlaventoAlgarvio.P-Passo;PA-Passada;C-Comprimentodapegada.ngulode passo. Passada(PA)distnciaentredoispontoshomlogosdeduaspegadas consecutivas, produzidas pelo mesmo p; Passo(P)distnciaentrepontoshomlogosdeduasmarcasconsecutivas, produzidas por ps alternos, ngulodepasso()nguloformadoentrepontoshomlogosdetrsmarcas consecutivas, deixadas por ps alternos; Comprimento da pegada (C) a maior distncia entre o contorno proximal e o distal do icnito (Santos, 2003). 40Osdinossuriossoclassificadosemsaursquioseornitsquios.Entreosprimeiros estoosterpodes,bpedescarnvoros,eossaurpodes,quadrpedesherbvoros. (tabela I). O grupo dos ornitsquios inclui bpedes herbvoros, os chamados ornitpodes (tabelaI),bemcomoumagrandediversidadedequadrpedesherbvoroscujaspistas no se conhecem em Portugal. TabelaI:Representaoesquemticadostrsgruposdedinossurioscujosvestgiosse conhecem em Portugal e respectivas pegadas. Adaptado de Santos e Cascalho (2007).

TERPODE SAURPODE ORNITPODE Osdinossuriosterpodes,todoselescarnvoros,erambpedese,emgeral, deixavamnosoloapenasasmarcasdostrsdedoscentraisdosps.Osdedoseram longosetinhamgarrasafiadas.Aspegadastridctilas,comtrsmarcasdededos,que fossilizaramso,poristo,normalmentemaislongasdoquelargaseasmarcasdos dedos so pontiagudas (em forma de V). Durante a deslocao, colocavam os ps quase umfrentedooutroeaspegadassurgemquasealinhadas(apresentamumngulode passo muito amplo) e ligeiramente rodadas para o interior da pista.41Ossaurpodeseramdinossuriosquadrpedeseherbvoros.Assuaspistas completasapresentammarcaspequenasemmeia-luadeixadaspelasmosemarcas ovais produzidas pelos ps, 2 a 6 vezes maiores que as das mos. Todas estas pegadas estorodadasparaforaporqueestesquadrpedescolocavamospseasmos ligeiramente virados para fora durante a locomoo.Conhecem-seemPortugalvestgiosdedinossuriosbpedesherbvoros,os ornitpodes,quetambmdeixavamemgeralmarcasdostrsdedoscentraisdosps. Estesdedoseramcurtoselargoseterminavamcomformaarredondada.Aspegadas tridctilas dos ornitpodes so quase to largas quanto compridas e as marcas dos dedos terminam em forma de U invertido ou de semicrculo. Sabe-se que podiam deslocar-se, tambm,demodoquadrpede,quandonecessitavam,porqueemalgumaspistasmuito bemconservadassedescobrirampequenasmarcasdosdedosdasmosfrentedas marcas dos ps (Leonardi, 1987; Moratalla, 1993) A grande maioria do conjunto de rastos de dinossurio em Portugal encontra-se em terrenosdaOrlaMesozicaocidental(figura29)deidadescompreendidasentreo Jurssico mdio (Bajociano-Batoniano) e o Cretcico superior (Cenomaniano mdio), o que representa um intervalo de tempo da ordem dos 80 Ma.Na Orla Mesozica Algarvia foram encontrados, at data, trs stios, um dos quais do Jurssico superior e dois do Cretcico inferior. Nestadissertaodadaumaatenoespecialaestetemaumavezqueomesmo conseguechamaraatenoedespertarointeressedapopulaoportemaspaleo-geolgicos. E se a populao est atenta, ento devemos tentar captar essa ateno para aprotecodessasedeoutrasestruturasnospaleontolgicascomotambm geolgicas. 42 Figura 29- Localizao geogrfica dos icntopos de dinossurio em Portugal, a estratigrafia e o tipo de pegadas presentes (Santos, 2003) OsprimeirosvestgiosdedinossuriosassinaladosnapraiadaSalemadatamde 1995eforamdescobertosporCarlosCoke(UniversidadedeTrs-os-MonteseAlto Douro).NaalturaforamidentificadaspegadastridctilasnumalajenazonaEsteda praia (sob o cerro denominado Lomba das Pias) figura 30-A. Em 1996, no decurso de uma visita organizada por Celestino Coutinho, foi localizado umtrilhodepegadas(sequnciadepelomenos3pegadasconsecutivas)tambm tridctilas (mas de registo morfolgico diferente do anterior) num estrato inferior ao j conhecido, quase horizontal e sujeito aco das ondas, na zona Oeste da praia (sob a Escola Primria da Salema) figura30-B. 43EstesdoisconjuntosdeicnitospertencemFormaodesignadaporMargas, dolomias e calcrios com Choffatella decipiens (Rocha et al., 1983). EstaformaodatadaporRey(1983)eRochaetal.(1983)comosendodo Barremiano (Cretcico inferior). AB Figura 30: Aspecto das pegadas de dinossurios da praia da Salema. A- pegadas na zona Este da praia; B- pegadas na zona Oeste da praia. Pegadas Este: Esteestratorevelavaseteimpressestridctilasdepequenasdimenses,cuja morfologia indica que se tratava de terpodes (Santos et al., 2000) (figura 31). A pegada que se assinala com o nmero 1 foi arrancada pela eroso. Estas pegadas tridctilas so maiscompridasdoquelargas,apresentamdedosdispostosdeformasimtricaque terminamcommarcaspontiagudasdegarras afiladas(emformadeV)(Santos,2003). As pegadas apresentam marcas de dedos finos e compridos. As pegadas 2 e 3 so muito 44similares.Tmumaformasemelhante,comprimentoelargurapraticamenteiguaisea mesma direco e sentido. As pegadas 1, 2 e 3 formam um trilho. 7 6 5 3 2 1 Figura31:EsquemarepresentativodaspegadasEste.AdaptadodeSantos(2003).A pegada nmero 1 j no est presente na laje. Apegada5semelhantespegadas2e3,comprimentoelargurasensivelmente iguais, e a forma simtrica.Aspegadas4e6,apesardeteremdimensessemelhantes,tmumaformaum pouco diferente e no tm o mesmo sentido. A pegada 7 parece no ter qualquer ligao com nenhuma das outras. A sua forma e tamanho so diferentes, no estando alinhada com nenhuma outra pegada.Na pegada 1 apenas so visveis as marcas de dois dedos. difcil saber a sua forma edimenso,poisestincompleta.Estaspegadasparecemsertodassubimpresses (Santos, 2003). 45Pegadas Oeste: Estetrilhoatribudoaumiguanodontdeocombasenamorfologiadasmarcas maisntidas.Aidadedestajazidaaindacompatvelcomapresenadotxone Iguanodontidae no Cretcico inferior europeu (Santos et al., 2000). O estado de conservao das pegadas muito varivel, devido constante abraso marinha ou, consoante a altura do ano, devido presenadealgassobrearochaemqueseencontram.No entantoalgumasmostramasimpressesdetrsdedoslargos, robustos, curtos e com terminao arredondada em forma de U, o queindica a ausncia de garras afiadas. A pista atribuda a um ornitpode. 8 7 6 5 4 3 2 1 SegundoSantos(2003)trsdaspegadassotridctilaseas restantessoarredondadasesemvestgiosdededos,embora tambmtenhamsidotridctilas,quasetolargascomo compridas,detalmodoquesepoderiamincluirnumcrculo (figura 32). O facto de algumas pegadas no registarem as marcas dosdedosdeve-seerosoaqueestasestosujeitas,umavez quesesituamnazonaentremars.Nestaperspectivapossvel demonstrarqueaspegadassubcircularesempistasde dinossuriosbpedes(caracterizadasporseremestreitase apresentarem elevado valor de ngulo de passo) que se conhecem noregistogeolgicopodemsersubimpressesoupegadasmal preservadas de ps de ornitpodes. Figura 32: Esquema representativo das pegadas Oeste na praia da Salema. Adaptado de Santos et al., (in prep).46Oestadodeconservaodaspegadasmuitovarivel,devidoconstanteabraso marinha ou, consoante a altura do ano, devido presena de algas sobre a rocha em que seencontram.Noentantoalgumasmostramasimpressesdetrsdedoslargos, robustos, curtos e com terminao arredondada em forma de U, o que indica a ausncia de garras afiadas. A pista atribuda a um ornitpode. SegundoSantos(2003)trsdaspegadassotridctilaseasoutrascincoso arredondadasesemvestgiosdededos,emboratenhamsidotridctilascomoas restantes,quasetolargascomocompridas,detalmodoquesepoderiamincluirnum crculo.Ofactodealgumaspegadasnoregistaremasmarcasdosdedosdeve-se erosoaqueestasestosujeitas,umavezquesesituamnazonaentremars.Nesta perspectivapossveldemonstrarqueaspegadassubcircularesempistasde dinossurios bpedes (caracterizadas por serem estreitas e apresentarem elevado valor de ngulodepasso)queseconhecemnoregistogeolgicopodemsersubimpressesou pegadas mal preservadas de ps de ornitpodes. Aspegadas1a8devemserconsecutivas,jqueotamanhodopassosempre muito uniforme. Para um comprimento mdio das pegadas na ordem dos 40 cm, o valor mdio da passada muito baixo. A simples observao da pista sugere uma deslocao muitolenta,comumapegadacolocadaquasefrentedaoutraaumacurtadistncia, praticamenteemlinharecta.Estapistademonstraqueodinossuriotinhalocomoo bpede e que rodava a anca para poder colocar um p frente do outro. 47Pistas de artrpodes AsequnciadecamadassedimentaresnazonaOestedapraiaapresentatambm bons exemplos de bioturbao resultantes da actividade de seres vivos no substrato que correspondia ao fundo ocenico quando estas camadas se formaram. Neste caso trata-se depistasougaleriasramificadascomumentranadotridimensional,horizontalou oblquo, atribuveis a artrpodes. Algunsseresviviamsobreosfundosmarinhos,sobresedimentosarenososou lodosos,ondesedeslocavamembuscadealimento.Porvezesasmarcasdasua actividade impressas nos sedimentos fossilizaram (icnofsseis), originando as pistas de artrpodes que observamos (figura 33). Figura 34: Aspecto de um bloco com pistas de artrpodes cado na praia da Salema. Figura33:Aspectodaarriba OestedapraiadaSalemaondese podemobservaraspistasde artrpodes na base das camadas. Ao longo da praia encontram-se tambm vrios blocos cados da arriba que apresentam essas pistas (figura 34). 48Estaspistasrepresentamgaleriastridimensionaishorizontais,oblquasouverticais entrecruzadas.Oexteriordasgaleriascaracterizadoporumatexturabolbosa,devido ao reforo da estrutura com bolas de sedimento; muitas das observaes correspondem a moldes internos (Corrales et al., 1977). 1.3.3.Praia de Porto de Ms/Ponta da Piedade PRAIA DE PORTO DE MS Segundo Rocha et al. (1983), as rochas presentes nesta praia pertencem formao Margo-CalcriosdePortodeMseasassociaesorgnicasqueapresentamtm reduzidovalorestratigrfico.Assim,aidadeestimadaparaestaformao(paraasua totalidadeoumaiorparte)corresponderaumaidadeAptianosuperior(Cretcico inferior) (anexo IX). Em1992foramencontradosnaPraiadePorto-de-Ms,porPedroTerrinha,restos osteolgicosdedinossurios.Noextremomaisocidental,foramlocalizadosdentese seces longitudinais de vrtebras fsseis (figura 35). A dureza do material no permitiu destacar as peas e a sua anlise preliminar baseia-se nos aspectos morfolgicos visveis em seco (Santos et al. 2000). Figura 35: Vrtebras de dinossurio, Praia de Porto de Ms, Maro 1992. 49tambmpossvelencontrarnestapraiapegadasdedinossurio(figura36).Uma vezquesopegadasisoladastorna-sedifcilprocederaoseuestudoparapoderobter informaoacercadocomportamentodoanimalemvida.Noentantopermitem, consoante a morfologia da pegada dizer qual o tipo de dinossurio que a produziu. 1 2 Figura 36: Pegada de dinossurio, encontrada na praiade Porto de Ms Figura 37: Arriba na zona Leste da praia de Porto de Ms. clara a sobreposio do Miocnico (1) sobre o Cretcico (2). Apegadarepresentadanafiguraanterior,pelamorfologiaqueapresenta,tersido produzida por um dinossurio terpode. SegundoRochaetal.(1983),oconjuntodasunidadescretcicasdestapraia sobreposto pelo Miocnico, um pouco discordante angularmente (figura 37 e 38). Figura38:AspectodeumacamadafossilferadaFormaoCarbonatadadeLagos-Portimo, na praia de Porto de Ms.50PONTA DA PIEDADE ApontadaPiedadeconstitudaporrochaspertencentesFormaoCarbonatada de Lagos-Portimo constituda por Calcrios Lumachlicos (anexo IX). Segundo Rocha etal.(1983),estaformaodataessencialmentedoBurdigaliano(Miocnicoinferior), ainda que os nveis mais baixos possam ser Aquitanianos (base do Miocnico inferior) e que os mais elevados possam atingir, talvez, o Langhniano (Miocnico mdio). Asarribassoessencialmenteconstitudasporbiocalcarenitoscomgrande abundncia de fsseis, com macrofauna variada de pectindeos com a valva conservada, gastrpodes,ostradeos,briozorioseequinodermes,pertencentesFormao Carbonatada de Lagos-Portimo, datada do Miocnico inferior (Rocha et al., 1983). 51 2.PATRIMNIO GEOLGICO/PALEONTOLGICO 52 actualmente aceite o conceito de patrimnio natural, bem como a noo de que a suaconservaodeveserumaprioridadeemqualquersociedadequeprocuregerirde formaconscientetudoaquiloqueanaturezalheproporcionaequeimportante preservar para as geraes futuras. Noentantooconceitodepatrimnionaturalmuitoamplopodendoserutilizado em relao a diversos elementos naturais como por exemplo a flora, a fauna, a gua, o solo, entre muitos outros, ou ser relacionado com a evoluo do Planeta, isto , o relevo easpaisagens,osafloramentosrochososeoseucontedoestratigrfico,tectnico, sedimentolgico e paleontolgico. Contrariamenteaoquesejulga,opatrimniogeolgico/paleontolgicobastante vulnervelestandosujeitoavriostiposdeameaasentreasquaisaacohumana, comoporexemplo,aimplantaodeinfra-estruturasrodoviriasouaocupao desregradadolitoral(Costa,1987).Torna-se,assim,pertinenteapreservaodo patrimniogeolgico/paleontolgicoportugus,procedendo-seaumasistematizaoe integraodestepatrimnioemtermosdeOrdenamentodoTerritrioeenfatizara obrigao iniludvel que tem um pas de divulgar, proteger e utilizar adequadamente os seusgeomonumentos(Muoz,1988).Sendoumgeomonumentoumaocorrncia geolgica,comvalordocumentalnoestabelecimentodahistriadaTerra,com caractersticasdemonumentalidade,grandiosidade,raridade,beleza,etc(Carvalho, 1998). Todos aceitamos naturalmente que uma catedral, um castelo, uma velha runa ou um vestgiopr-histricosejamvistoscomodocumentosdeumpassadomaisoumenos remoto. Do mesmo modo, as rochas na sua imensa diversidade e modos de ocorrncia, podemedevemserentendidoscomooutrostantosdocumentosdeumahistriabem maisantiga,que,emvezdesculosemilnios,sedesenrolouaolongodemilhese 53milhes de anos. Alm disso, a histria da Terra , em muitos casos, tambm, a histria da Vida (Carvalho, 1998). EmPortugal,segundoPereira(2004),das44reasprotegidasnoterritrio continental,apenas9foramclassificadastendoemvistaapreservaodevalores predominantementegeolgicos:umapaisagemprotegida,trsstiosclassificadose cinco monumentos naturais. Embora a rea emersa do territrio nacional seja relativamente reduzida grande a sua diversidade geolgica (geodiversidade) e o seu registo bastante completo (Ramalho, 2004). Com a aprovao em 2001 da Estratgia Nacional de Conservao da Natureza e da Biodiversidade(ENCNB)quereconheceanecessidadedesalvaguardaroselementos notveisdopatrimniogeolgico,geomorfolgicoepaleontolgicodonossopas (Pereira,2004),espera-sequemaisvaloresgeolgicos/paleontolgicossejam protegidos.Em Portugal, durante largos anos s os aspectos relacionados com a Biologia foram alvo de proteco atravs da criao de reas-protegidas, sendo actualmente poucas as excepes,talcomoporexemplooParqueNaturaldasSerrasdAireeCandeeirosao qualfoiatribudoumestatutodeproteconospelafaunaefloramastambm, devido ao patrimnio geolgico que o caracteriza. FoiprecisamentenoParqueNaturaldasSerrasdeAireeCandeeirosquepela primeira vez surgiu em Portugal, com carcter de lei (Dec. -Reg. n 12/96), um getopo stiocominteressegeolgico,nomeadamente,cientficoepedaggico(Carvalho, 1998), classificado como Monumento Natural. Tratava-se de um local onde funcionava, at ento, uma pedreira de extraco de calcrio e que revelou a existncia de centenas depegadasdedinossurio.Estegetopoinsere-senoconceitodepatrimnio 54paleontolgico(Silvaetal.,1998),oqual,dentrodopatrimniogeolgico,temmais impactoegozadeumamaiorsensibilidadeporpartedasautoridades,dacomunicao social e da opinio pblica. Foi descoberto em 1994 e rapidamente se tornou meditico pela quantidade e qualidade de informao fornecida. Em1998jtinhasidoapresentadaumapropostademusealizaoparaajazida (Carvalho,1998).AmesmaestaserimplementadasobtuteladoParqueNaturaldas SerrasdAireeCandeeirosedoInstitutodeConservaodaNatureza,coma participao de outros organismos. Umoutrocasodeprotecodopatrimniopaleontolgicoodaspegadasde Carenque.Oconjuntodepegadasdedinossurios,com95milhesdeanos,existente emPegoLongo/Carenque(Sintra)foiprotegido,hcercade10anos,pelaconstruo de um tnel que evitou que a CREL (Circular Regional Externa de Lisboa) destrusse as pegadas. Esta jazida foi classificada como Monumento Natural em 1997 pelo Dec.n19/97 de 5 de Maio. No entanto, pouco se conseguiu fazer para a preservao da jazida, desde a suaclassificaoataosdiasdehoje.Em2004foiassinadoumprotocolode cooperao entre o Museu Nacional de Histria Natural da Universidade de Lisboa e a CmaraMunicipaldeSintraquevisaconcretizaroprojectodemusealizaodajazida de Pego Longo/Carenque . EmPortugalasacesdeprotecodejazidaspaleontolgicastmaindaum carcterdeexcepopoisnofazempartedeumplanoglobalesistemticode definio, proteco e conservao do patrimnio paleontolgico Portugus (Cacho et al. 2003). Paraquetodasasacesdeprotecodopatrimniogeolgico/paleontolgico possamsergeridasdemodocoerenteesustentado,adefiniodoqueconstitui,de 55facto,patrimniotemobrigatoriamentequeassentarnaarticulaoequilibradaentrea investigaocientificadequalidadeeinternacionalmentereconhecida,adivulgao cientificajuntodograndepblicoeapublicaodelegislaoadequada(Cachoe Silva, 2004) (figura 39). Figura 39: O Patrimnio Natural e a investigao cientfica de qualidade, a divulgao dos conhecimentosjuntodograndepblicoeaconcretizaodemedidaslegislativaseficazes. Extrado de Cacho e Silva, 2004. EmPortugalumdosprimeirospassosdadosnatentativadelegislarsobrea protecodopatrimniogeolgico/paleontolgicofoioDecreto-Lei19/93de23de JaneiroquecriouafiguralegaldeMonumentoNatural.AanlisefeitaporCarvalho (1998),apontaumcertoalheamentodaproblemticageolgicaepaleontolgica,por parte do legislador, no entanto, o referido Decreto-Lei permite incluir na figura legal do MonumentoNaturalalgumasocorrnciasgeolgicas,autnticasrelquias,cujadefesa urge quando ameaadas pelo progresso. ActualmenteaLeiportuguesaconsagraepermiteaclassificaodopatrimnio geolgico/paleontolgicoe,emboranosejaespecficaparaosgeosstios,estes encontram-seincludosnosconceitosdepatrimniocultural,conservaoda natureza e bens naturais. Tal vem claramente expresso na Constituio da Repblica Portuguesa (Ramalho, 2004). 56Aindasegundoomesmoautor,aLeideBasesdoPatrimnioCulturalPortugus (Lein107/01)permite,entreoutros,aclassificaodebensnaturais,ambientais, paisagsticos, ou paleontolgicos o que, obviamente, inclui os bens geolgicos. Vrios foram j os projectos desenvolvidos no mbito da proteco e preservao do patrimniogeolgico/paleontolgico,queraonveldePortugalContinentalquerao nvel de Portugal Insular. NasceudesseesforoaassociaoProGEO-Portugal,quedesdedoano2000,tem comoprincipalobjectivoincentivaraConservaodoPatrimnioGeolgico (geoconservao)eaprotecodestiosepaisagensdeinteressegeolgico(os chamados getopos) em Portugal.AassociaoProGEO-PortugalfazpartedaassociaoProGEOEuropeiaparaa Conservao do Patrimnio Geolgico, criada em 1992.AProGEO-Portugaljefectuoualgumaslistasdelocaisdeinteressegeolgicoe paleontolgico.Outrosexemplosdegeo-concervaononossoPaspassampelacriaodegeo-roteiros (Praia do Magoito - Azenhas do Mar), parques (Parque Paleozico de Valongo e Geopark Naturtejo), passeios geolgicos (Foz do Douro), entre outros. SegundoRamalho(2004),paraquedeterminadoslocaissejamconsideradoscomo geosstiosougetopose,noscasosemqueasuaimportnciaexcepcional,sejam assumidos como geomonumentos, podem considerar-se os seguintes argumentos: - Por serem testemunhos do passado da histria da Terra, ocorrendo de forma particularmenteinteressanteepoucofrequenteouraraesendomuitasvezes, locais nicos. -Portereminteressecientfico,permitindooconhecimentoaprofundadodo passado da Terra, e, mais localmente, da evoluo do nosso territrio. 57- Por possurem interesse pedaggico, oferecendo aos alunos e ao pblico em geral, a exemplificao dos fenmenos geolgicos. -Porapresentareminteresseturstico, umavezqueoTurismodaNatureza uma componente com crescente interesse econmico. No obstante a importncia do conhecimento geolgico para estabelecer directrizes racionais de melhor utilizao do territrio e dos recursos naturais, as Cincias da Terra, actualmente,constituemfontesdeinteresseparaturistasdefaixasetriasdiversas.A incorporaodelocaisepaisagensaosroteirostursticospoderacarretarsua preservao (Lobo, 2005). 582.1.PRAIA DA MARETA ApraiadaMaretaestlocalizadanumareapertencenteaoParqueNaturaldo SudoesteAlentejanoeCostaVicentina,umadasreascosteiras(comumimportante patrimnio natural) mais bem preservada a nvel europeu (Balbino et al., 2004). Na praia est representada a sequncia completa desde do Malm (do Oxfordiano ao Kimmeridgiano),oquetornaestapraiamparemtermosgeolgicoselheconfere caractersticasespeciaisparaprotecoepreservao.Osaparelhosrecifaisqueaqui ocorremsoosmaisespectacularesqueseconhecememtodooterritrionacionale merecem por si s um estatuto de proteco. So ainda visveis, na praia, dunas consolidadas provavelmente contemporneas do final dos eventos glacirios do Quaternrio (figura 40). Figura40:AspectodadunafssilvisvelnapraiadaMareta.Estafotografiafoicaptadana Fortaleza de Sagres. A amarelo esto assinalados os limites da duna. SegundoBrilha(2005),areadeSagres,ondetambmestincludaapraiada Mareta a rea em todo o Algarve onde: 59i)o Jurssico inferior est bem exposto e preservado; ii)asrelaescrono-estratigrficasentreasunidadesdoJurssicosobem conhecidas e compreendidas; iii)as estruturas distensivas Trisico-Jurssico inferior podem ser observadas e datadas usando amonites; iv)estopresentesasevidnciasdosepisdioscompressivosdorifting Mesozico e o isolamento da fauna; v)a inverso tectnica do Cretcico superior at ao Paleognico; vi)amorfologiaeestratigrafia,doPliocnicoaoQuaternrio,mostram evidnciasdeumarecentesubidadonveldomaroudemovimentos crustais verticais. ApraiadaMareta,devidosuaimportnciageolgicaepaleontolgicajfoi designadaumgeosstio,estandoporissoinventariadanositedoINETI(Instituto NacionaldeEngenharia,TecnologiaeInovao).Tendosidoconsideradade importnciaregional,masmuitovulnervel,apraiadaMaretacaracterizadapor apresentar (figura 41): 1 - Pequenos bioermas constitudos por coralirios em posio de vida, associados a outrosfsseis,carsificados,cujascavidadesestopreenchidaspelossedimentos posteriores. Lateral e superiormente passam a uma brecha recifal. Podem ser observados junto praia. 2 - Superfcie de descontinuidade, ondulada e ferruginosa que faz a separao entre o Bajociano superior do Batoniano inferior (Jurssico mdio). 3 - Numerosos nveis com Zoophycos, bem conservados. 4 - Nvel com belas dobras sin-sedimentares (slumps), (Caloviano superior - final do Jurssico mdio). 60615 - Discordncia angular, associada a nvel conglomertico, com ndulos fosfatados contendo amonites do Oxfordiano mdio. Pelassuascondiesdeexposio,caractersticasfaciolgicaseaabundnciade amonites, este corte nico no Algarve, para o Jurssico Mdio. O interesse da sua classificao divide-se por cinco reas (tabela II): Tabela II: Interesse e importncia da praia da Mareta (anexo II). Fonte INETI (2005) INTERESSEIMPORTNCIAEstratigrficoExcepcional Sedimentolgico Elevada PaleontolgicoExcepcional DidcticoExcepcional PaisagsticoMdia Comomedidadeprotecosugeridointerditartodootipodeintervenoque prejudiqueaexposiodoafloramento(construes,aterros,consolidaodasarribas) (INETI, 2005). 62 - Unidade Margas e Calcrios detrticos com Zoophycos da praia da Mareta, onde se podem observar as pistas de invertebrados; - Cpula Recifal e Unidade Margas e Calcrios detrticos com Zoophycos da praia da Mareta; - Zona de Slumps (escorregamentos sin-sedimentares);

Figura 41: Vista parcial da praia da Mareta. - Discordncia Caloviano-Oxfordiano. 632.2.PRAIA DA SALEMA ApraiadaSalemaestlocalizadanumareapertencenteaoParqueNaturaldo SudoesteAlentejanoeCostaVicentina,oquejlheconfereumcertoestatutode proteco. Esta praia pode ser considerada um icntopo pois apresenta dois registos de icnitos em dois nveis diferentes do Cretcico inferior (Barremiano) (figura 42). O nvel Oeste representaumtrilhodepegadastridctilasdeumanimalbpede,cujamorfologia permite avanar que o autor das mesmas foi um iguanodontdeo. Este trilho representa a primeiraevidnciadepegadasdeiguanodontdeosemPortugal.OnvelEstedeste icntopoapresentapegadasdeumdinossurioterpode(SantoseRodrigues2003). Aindaanvelpaleontolgicohquerealartambmasmarcasdebioturbaonos depsitos cretcicos (Balbino et al., 2004).Aonvelgeolgicodereferirapresenadasdobrasedasespectacularesfalhas resultantes da tectnica da Bacia Algarvia. Poder-se-ia classificar esta praia como um local de importncia regional, mas muito vulnerveldadaapressoantrpicaaqueestsujeitaeexposiodosicntopos constanteacodasmars.Ointeressedasuaclassificao,podedividir-seportrs reas (tabela III): Tabela III: Interesse e importncia da praia da Salema (anexo III). INTERESSEIMPORTNCIAPaleontolgico Excepcional DidcticoExcepcional PaisagsticoMdia Comomedidadeprotecosugeridointerditartodootipodeintervenoque prejudique a exposio dos icntopos bem como os afloramentos (construes, aterros, consolidao das arribas). -Pegadastridctilasde iguanodontdeos -Pegadastridctilasde terpodes. Figura42:Vistadapraia da Salema. -Marcasdebioturbao, pistas de artrpodes. 64 A- Zona Oeste da Praia B- Zona Este da Praia - Dobras e Falhas 652.3.PRAIA DE PORTO DE MS/PONTA DA PIEDADE PRAIA DE PORTO DE MS Aolongodasarribasdestapraiapossvelfazerumcortegeolgicocamadaa camada, dadas as excelentes condies de observao. O corte inicia-se junto praia, na basedoMorrodaAtalaia,quecompostoporargilitos,calcriosearenitos,cujas dimensessocercade100mdealturapor700mdecomprimento;sobressaindoa belezadecores(observveisnaparteEste),quesedevealternnciadecamadas argilosas(avermelhadas,esverdeadasearroxeadas),bemcomoaoscalcriosdecor creme, mais resistentes eroso. Esta sequncia sedimentar rica em fsseis, tais como, ostracodos,foraminferos,carfitas,algasdasicladceas,plenes,entreoutros. Observam-se, igualmente, nveis de paleossolos, de "hard-grounds", argilas lateritizadas e nveis com bioturbao. Este conjunto corresponde s Margas da Luz e aos Margo-CalcriosdePortodeMs(Rey,1983),respectivamentecom110me133mde espessura, cujas camadas inclinam suavemente para Este. Nestes ltimos, encontram-se, tambm,restoslenhitosos,ostredeos,gastrpodes,equinodermesepequenosrudistas. Na Praia de Porto de Ms, a srie cretcica interrompida por uma falha que a separa dosnveismiocnicosdaFormaoCarbonatadadeLagos-Portimo,atribudaao Burdigaliano.Estaconstitudaporbiocalcarenitosfossilferos,comgastrpodes, briozorios, ostredeos, heterosteginas e outros (Rocha et al., 1983, INETI, 2005) Tendosidojconsideradacomoumgeosstiodeimportncianacional,asua vulnerabilidadeprende-secomaintensaocupaoantrpicaregistadanestesltimos dois anos (figura 43).-MargasdaLuzeaos Margo-CalcriosdePortode Ms -Discordnciaquesepara o Cretcico do Miocnico Figura43:Vistadapraiade Porto de Ms. 66 -FalhasnaunidadeMargo-Calcrios de Porto de Ms - Limite Cretcio-Miocnico A- Zona Oeste da Praia B- Zona Este da Praia O interesse da sua classificao, pode dividir-se por seis reas (tabela IV): TabelaIV:InteresseeimportnciadapraiadePortodeMs(anexoIV).FonteINETI (2005). INTERESSEIMPORTNCIAEstratigrficoExcepcional Sedimentolgico Excepcional PaleontolgicoElevada GeomorfolgicoElevada PaisagsticoExcepcional DidcticoElevada Como medida de proteco seria de evitar, do ponto de vista paisagstico, o aumento das construes nas vertentes das arribas. A falha que separa o Cretcico do Miocnico visvel no s na praia como tambm na barreira da estrada de acesso praia (figura 44), onde a falha aparece representada de forma espectacular, sendo por si s digna de ser designada como um getopo. Cretcico Miocnico Figura44:ContactoCretcio-Miocniconabarreira daestradadeacessopraiadePorto de Ms. Abril de 2006. 67Aintensapressodaocupaoantrpicaquesefazsentirnestazona,emparte, visvel na figura 45, o que confere a este local uma grande vulnerabilidade sendo a sua destruio iminente. Figura45:ContactoCretcio-MiocniconabarreiradaestradadeacessopraiadePorto de Ms. Janeiro de 2007 O interesse da sua classificao, pode dividir-se por seis reas (tabela V): Tabela V: Interesse e importncia do contacto Cretcico-Miocnico (anexo V). INTERESSEIMPORTNCIAEstratigrficoExcepcional Sedimentolgico Excepcional PaleontolgicoElevada GeomorfolgicoElevada PaisagsticoExcepcional DidcticoElevada Nosepodempropormedidasdeprotecoparaestaestruturageolgica,mas sugere-seacolocaodesinalticadescritivadoacidentetectnico,dadaasua importncia uma vez que, uma falha activa e permite explicar aspectos de sismologia. 68PONTA DA PIEDADE Calcriosargilososcarsificadosondesofrequentesasdolinaspreenchidaspor arenitosargilososvermelhos,doPlio-Quaternrio,queseprolongamdaPontada Piedade(figura46)atAlbufeira.Descendoenseada,observam-sedolinas,arcos.A plataforma de abraso est coberta por terraos quaternrios e tem uma altitude de cerca de40m.Estasrochasapresentam-sesub-horizontaisemostramterestadosujeitasa uma fase continental durante a qual se formaram as dolinas (INETI, 2005) Figura 46: Vista area da Ponta da Piedade. In http://www.dapfoto.com/index.php Tendosidojconsideradacomoumgeosstiodeimportnciaregional,asua vulnerabilidade prende-se com a presso antrpica existente. De facto, h um plano para a construo de uma urbanizao entre a Ponta da Piedade e a Praia de Porto de Ms e, por isso, este local deveria ser considerado muito vulnervel. O interesse da sua classificao pode dividir-se por seis reas (tabela VI): 69Tabela VI: Interesse e importncia da Ponta da Piedade (anexo VI). Fonte INETI (2005) INTERESSEIMPORTNCIAEstratigrficoElevado Sedimentolgico Elevado PaleontolgicoElevada GeomorfolgicoExcepcional PaisagsticoExcepcional DidcticoElevada Devemserinterditadasquaisquerintervenesquedescaracterizemasformas naturais da faixa costeira (INETI, 2005). 70 3. MANIFESTAES DE ACTIVIDADE ANTRPICA 71As zonas costeiras so sistemas altamente complexos, resultantes da intercepo da hidrosfera, da geosfera, da atmosfera e da biosfera. precisamente desta complexidade queresultamnoapenasaelevadavariabilidadequeapresentam,mastambmas grandes potencialidades que as caracterizam (Dias, 2005). Estadiversidadegeolgicaeclimticainfluenciouprofundamenteaformade ocupao e de utilizao do territrio, atravs da matria-prima disponvel (materiais de construo, minrios, solos) (Ramalho, 2004). OHomemdesdecedotevedificuldadesemsefixarnestalongafaixalitoral,de terras avessas agricultura. Do mar podia retirar parte da sua subsistncia e estabelecer contactoscomoutrasgentes,porm,datambmsurgiamosgrandesperigossoba formadeperigososcorsrios.Apesardisso,pequenascomunidadesforam-se estabelecendo ao longo da costa, umas na frente ocenica, outras abrigadas num interior prximo, mais frtil e seguro (ICN, 2006). AtfinaisdosculoXIX/inciodosculoXXosimpactesantrpicosnaszonas costeirasforamrelativamentepequenos.Aevoluodolitoralprocessava-sedeforma bastante natural,isto,respondendo principalmente aos constrangimentos climticose oceanogrficosnaturais,emboraasactividadeshumanasgeradorasdeimpactesno litoral se tenham progressivamente ampliado medida que os sculos foram decorrendo e a curva demogrfica foi, tendencialmente, de crescimento (Dias, 2005). Nasltimasdcadastem-seassistidoaumaumentodapressosobreolitoral algarvio.Porumladoocrescimentopopulacionaleporoutroafortepressosazonal exercidapelosveraneanteseturistas,sobretudoduranteapocaestival.Acrescente litoralizao do povoamento tem levado a um acrscimo da densidade populacional no litoral algarvio.72Oturismo,principalmenteapsoboomqueseverificounosanos60dosculo passado,estnabase,entreoutros,degravssimosproblemasdeordenamentodo territrio, da degradao de valores ambientais, estticos e histricos, e de grande parte da contaminao de guas balneares. A ocupao de zonas de risco, designadamente de riscomuitoelevado,est,infelizmente,vulgarizada,noexistindo,namaiorpartedos casos,estruturasquepermitamactuarcomeficciacasoessesriscosseconcretizem (Dias, 2003). Talcomoseverificanamaioriadascostasmundiais,olitoralportugusest actualmente sujeito a intensa eroso costeira, a qual induz um sistemtico recuo da linha de costa. Este recuo tem consequncias a nvel econmico-social que, manifestamente, tmatingidomaioramplitudenasltimasdcadaseque,muitoprovavelmente,se revestirodeaspectosbastantemaisgravosos,quepoderomesmoviraser catastrficos, no futuro prximo (Dias, 1993). Osproblemasdeerosocosteiranumdeterminadotroocosteirodevemser analisados em funo das taxas de recuo da linha de costa que a se fazem sentir, do tipo e intensidade de ocupao do litoral, e das causas prximas e remotas da eroso.Naanlisedestaproblemtica deve ter-se sempre presente que a eroso costeira s constituiumverdadeiroproblemaquandoexisteocupaodafaixacosteira(Dias, 1993). Efectivamente, quando um troo costeiro no est ocupado intensamente, o recuo da linhadecostainduzidopelanaturalerosocosteiranoafectasignificativamente ncleosurbanosqueeventualmenteexistamnaregio(desdequenoestejam implantadosexcessivamenteprximodolitoral),nemprovocadestruiesimportantes nopatrimnioconstrudo(poresteserinexistenteouraro).Mesmoque,numcaso destes,algummonumentooualgumascasassejamameaadas,semprepossvel 73considerarasuatransfernciaparastioseguro,oque,naprtica,noexequvel quando se trata da transferncia de cidades. Adinmicainerenteaossistemascosteirostemincompatibilizadoumpoucopor todo o mundo, a variabilidade da posio da linha de costa a todas as escalas (temporais ou espaciais), com a forma rgida e permanente com que o Homem tem ocupado esses espaoscosteiroseosrespectivosinvestimentosenvolvidosnasuafixao(Oliveira, 2005). Figura 47: O litoral do Algarve com indicao dos tipos de costa dominantes. 1- Arriba com menos de 50 m; 2- Arriba com mais de 50 m; 3- Costa arenosa. (Adaptado de Dias, 1988). O estudo da evoluo das arribas do Algarve tem sido desenvolvido essencialmente durantealtimadcada(figura47).Aevoluoactualdestasformaslitorais caracteriza-seporumrecuogeneralizado,aindaquecomvaloresdiferentesparacada troo costeiro (Nunes e Ferreira, 2004). A subida do nvel mdio das guas do mar (NMM), a diminuio da quantidade de sedimentosfornecidospelosrioseasalteraesantrpicasconstituemasprincipais causas do recuo da linha de costa (figura 48). 74 Figura48: Aerosocosteira,traduzidaemrecuomdioanualdalinhadecosta,emPortugal. Adaptado de Ferreira et al. (in press). Aszonascosteiraspodemcorresponderalitoraisdearribasrochosasoualitorais arenosos.importantedefiniroqueseentendeporcostarochosaeapresentaralguns dosrespectivoselementosmorfolgicos.SegundoSunamura(1992),costarochosa umacostaemarriba,compostapormaterialconsolidado,independentementedasua resistncia (figura 49). 75 Figura 49: Representao esquemtica dos quatro tipos principais de movimentos de massa:A-Queda;B-Tombar;C-Deslizamento;D-Fluxodedetritos(AdaptadodeSunamura, 1992). Quando as ondas escavam a base da arriba esta torna-se instvel devido ao aumento dedecliveeinstabilidadeprovocadapelosub-escavamento.Essainstabilidadeinduz movimentosdemassadediversostipos(quedadeblocos,deslizamentosefluxosde detritos). A forma e a intensidade desses movimentos depende muito do tipo de rocha e darespectivaestrutura,bemcomodoclimaquepodefacilitarounocertostiposde meteorizao (qumica nos climas tropicais, mecnica nos climas frios e ridos). O ataque das ondas base da arriba ocorre preferencialmente no Inverno e os blocos de material que caiem oferecem proteco efmera base, uma vez que so rapidamente removidos pelas ondas (Correia, 1996). evidentequeavulnerabilidadedasregiescosteiraserosodependedemuitos outros factores. Um dos mais decisivos tem a ver com o substrato geolgico. O processo deerosopotencialmentemuitomaisrpidoemarribasconstitudaspormaterial poucoconsolidadodoqueemarribasgranticasoudecalcriosmacios.Outro problemarefere-sespraiascujasareiasassentamsobredepsitosdofinaldo 76PleistocnicooumesmodoHolocnico(Neognico),muitopoucoconsolidados,que no oferecem uma resistncia significativa ao avano do mar. Tabela VII: Processos naturais/antrpicos responsveis pelo recuo das arribas (Dias e Neal, 1992) Eroso NaturalEroso induzida pelo Homem ProcessoControloProcessoControlo Eroso MarinhaLocal Ondas Correntes longilitorais Subida do NMM Temporais Mars Carga Vibraes escavamento Construo Infiltrao Escorrncia Cavidades/graffiti Eroso Sub-areaRegional Movimentos de Massa Diaclases Movimentos da Base guas subterrneas Vegetao Diminuiono fornecimentode sedimentos. Espores Paredes EscorrnciaChuva/VentoModificaode correntes MolhesSismos Outro factor a ter em conta tem a ver com a situao tectnica. Por muito lentos que sejamosmovimentostectnicos,ofactodeactuarememintervalosdetempomuito longos no deve fazer com que a sua influncia seja negligenciada (Arajo, 2002). A costa algarvia uma rea de elevada alterao antropognica, devido ao turismo e aodesenvolvimentourbansticoassociado.Oimpactodessasactividadesfacilmente observvelaolongodacostaprovocandomesmoemalgunslocaisumaumentoda eroso costeira (Magalhes et al., 2004). AsarribasdolitoraldoAlgarvesocortadasemvariadossuporteslitolgicos,que constituemacondicionanteprincipaldamorfologiaactualdasregiescosteiras.Com efeito,aslitologiasqueconstituemasarribascompreendem,basicamente,xistose grauvaques Paleozicos, arenitos e margas do Trisico-Hetangiano, dolomitos, calcrios dolomticos, calcrios e margas Jurssicos, alternncia de calcrios e de margas, margas earenitos,Cretcicos,rochascarbonatadaseareiasMiocnicas,areiassilto-argilosas PlioquaternriaseaindaarenitosQuaternrioscorrespondentessdunasconsolidadas (Marques, 1997). 773.1. PRAIA DA MARETA A Praia da Mareta est inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, criado pelo Decreto-Lei 241/88 de 7 de Julho. Pertence ao concelho de Vila do Bispo e encontra-se contemplada no Plano Director Municipal (PDM) desta Vila, o qualestorganizadodeacordocomoDecretoLein.69/90,de2deMaro,e aprovadonoDiriodaRepblicaISrieB,n.272/95comumprazomximode vigncia de 10 anos, pelo que est prevista a sua reviso. Segundo este decreto: - So proibidas aces/actividades, em determinadas arribas, que levem alterao das caractersticas naturais e/ou perturbem o meio; -Sointerditosloteamentoseempreendimentostursticos,exceptoconstruesde apoio que no ponham em risco a estabilidade das arribas; - interdita a abertura de novos acessos. OturismoumafontederendimentorelativamenterecenteparaoAlgarvee registou um forte incremento ainda mais notrio nos ltimos vinte anos. A actividade altamente sazonal sendo muito mais acentuada nos meses de Vero.Aparentemente,naPraiadaMaretaeespaoenvolvente,osimpactesambientais resultantes da utilizao turstica so (ainda) reduzidos. Salienta-seofactodeasarribasnoteremsido,ataosdiasdehoje,sujeitasa planos de urbanizao. Com base nas observaes efectuadas no local, e de acordo com osdadosdisponveis,parece-noslcitoconcluir que, de uma maneira geral, esto a ser cumpridos os requisitos estipulados pelo PDM, no que respeita s praias. No entanto, ressaltam vista alguns aspectos que podem ser questionveis: - A presso causada pelo elevado nmero de utilizadores da praia na poca balnear; 7879-Autilizaoindiscriminadadoparquedeestacionamentolocalizadoemcimada arriba; -Oincrementodousodeveculosmotorizadosparaarealizaodeactividades motonuticas;-Asinfra-estruturasdesaneamentoutilizadaspelospoucosestabelecimentos comerciais existentes nas proximidades da praia. - A existncia de uma ETAR que, apesar de no se encontrar na rea de estudo, est localizadanumaregioprxima,essencialmenteconstitudaporcalcrios,osquais manifestam uma elevada taxa de infiltrao. ApraiadaMaretasitua-senumlitoralrochosodearribasjurssicascujalitologia dominantecalcria,frequentementedolomtica,porvezesmargosa.Orecuodas arribasparecenosergrandeapesardodomniodaerosomarinhafaceerososub-area (Dias, 1988). possvel,noentantoencontrarnestapraiaexemplosdeocupaoantrpica desregrada de que so exemplo as fotografias seguintes (figura 50). 80 AB A- Construes quer no topo da arriba quer sobre a areia da praia. FalhaDeslocamento das camadas. B- Construo existente na praia, em cima de uma falha. Figura 50: Ocupao antrpica na praia da Mareta. 813.2. PRAIA DA SALEMA A praia da Salema, tal como a praia da Mareta, est inserida no Parque Naturaldo SudoesteAlentejanoeCostaVicentina,criado peloDecreto-Lei241/88de7deJulho. PertenceaoconcelhodeViladoBispoeencontra-secontempladanoPlanoDirector Municipal(PDM)destavila.Apesardeteromesmoestatutodeprotecoqueapraia daMareta,estasduaspraiassomuitodiferentesrelativamentepressoantrpicade quesoalvo,umavezquepraiadaSalemaestoassociadosumncleopiscatrioe uma forte presso turstica. DeacordocomoPlanoZonalAgro-AmbientaldoParqueNaturaldoSudoeste Alentejano e Costa Vicentina (2002) no concelho de Vila do Bispo, verifica-se que, das freguesiasabrangidaspeloParqueNaturaldoSudoesteAlentejanoeCostaVicentina, apenasBudens(freguesiaqualpertenceaSalema)apresentaumavariaoda populaoresidentepositiva,factoquepoderestarrelacionadocomasuamaior proximidade do fluxo turstico da regio. A praia da Salema situa-se num litoral rochoso de arribas talhadas em formaes de idadecretcica,essencialmentecarbonatada,frequentementemargosaougresosa.A eroso marinha de um modo geral superior sub-area (Dias, 1988). SegundooProt-Algarve(2004)naorlacosteiraentreoCabodeS.Vicentee Burgau,foramidentificadasreasdeelevadograudesensibilidadedossistemas naturaissituaesemqueseverificamalteraesprovocadasporocupaesurbano-tursticasnazonaequeaumentamascargassobreossistemaslitoraisoualteram significativamente a paisagem como o sector Burgau-Boca do Rio-Salema. 82 Figura 51: Vista geral da Praia da Salema. So visveis as construes recentes em cima da arriba. 833.3. PRAIA DA PORTO DE MS/PONTA DA PIEDADE PRAIA DA PORTO DE MS ApraiadePortodeMseaPontadaPiedade,noestointegradasnumPlano DirectorMunicipal(PDM),umavezqueoPDMdoconcelhodeLagosseencontra suspenso, devido a uma queixa apresentada no tribunal por uma empresa privada. AscaractersticasdaorlacosteiraentreBurgauePortodeMs,nomeadamentea lentaevoluodalinhadecostaeaocupaopoucodensa,levamconclusodeque nestesectornoseverificamproblemaslitoraisdeacentuadagravidade.Emsituao preocupanteencontra-seaarribaentreaspraiasdaLuzedePortodeMseazonaa poente da Ponta das Ferrarias (Prot-Algarve, 2004) ApraiadePortodeMsumazonacomaltoriscodedesmoronamentodaarriba associadaocupaointensa,humanaeedificada,dasreasadjacentes.Situa-senum litoralrochosodearribastalhadasemformaesdeidadeCretcica,essencialmente carbonatada, frequentemente margosa ou gresosa, tal como a praia da Salema. A eroso marinha de um modo geral superior sub-area (Dias, 1988). EsteumdossectorescosteirosdoAlgarveondeaocupaohumanamais intensa, sendo muito numerosos os casos de edificaes situadas junto ao bordo superior das arribas (Marques, 1997). 84 C AB D-Construonumazonadegrande fragilidade. Contacto Cretcio/Miocnico. DFigura 52: Vista geral da Praia de portoC-Pormenordeumazonadefragilidade na arriba da figura B. B- Ocupao antrpica da zona OesteA- Ocupao antrpica da zona Esteda Praia de Porto de Ms. da Praia de Porto de Ms. de Ms. PONTA DA PIEDADE A zona da Ponta da Piedade at data no apresenta construes que evidenciem a ocupaoantrpica,noentantoestprevistoaconstruodeumempreendimento,na arriba entre a Ponta da Piedade e Porto de Ms (figura 53 e 54). Estesectordolitoralalgarviofrequentementecondicionadopelaexistnciade antigomodeladocrsico.Estetipodemodelado,conjugadocomorecuodalinhade costa,oqualfacilitadopelapequenaconsistnciadomaterialquepreencheas depresses crsicas, responsvel pela existncia frequente de escolhos e leixes (Dias, 1988). AorientedePortodeMsataosOlhosdeguaalinhadecostatalhadaem rochas de idade miocnica, com litologia variada, nomeadamente calcrios calcarenitos e sltitos. Segundo Marques (1997), neste sector costeiro predominam troos de arribas vivas. 85Figura53:LocalizaodofuturoempreendimentoentreaPontadaPiedadeePortode Ms. Fotografia tirada ao cartaz exposto no local 86 A- Aspecto das arribas na Ponta da Piedade.B- Arcos e AlgaresC- Algares A BC Figura 54: Aspectos gerais do carso da Ponta da Piedade 4. ANLISE DO TRABALHO REALIZADO 87Opresentetrabalhoconsistiunoestudoenaapresentaodepropostasderoteiros paleo-geolgicosedepainisinformativosdealgunslocaiscominteressepaleo-geolgico.Estaopodetrabalhoprende-secomanecessidadededaraconhecer populao a histria da evoluo da Terra na zona envolvente sua rea de residncia ou ao local de turismo. Esta histria fica marcada, nas rochas, ao longo dos milhares de milhesdeanosdeexistnciadoPlanetaTerrae,comotaldeveserprotegida,da mesma forma que pretendemos proteger as construes histricas deixadas pelos nossos antepassados e que representam a histria de Portugal. Note-sequeanecessidadederesponsabilizarapopulaopelassuasacesser sempreumobjectivodasdiferentesreascientficasquerseestejaafalardepoluio, destruiodacamadadeozono,extinodeespcies,destruiodopatrimnio histrico, geolgico ou paleontolgico.Tendoemcontaque,umgeosstiopodeserconsideradocomoumaocorrncia geolgicacomparticularvalorcientfico,pedaggicoouturstico(Brilha,2006), sugere-se que o patrimnio geolgico/paleontolgico dos locais abordados nos roteiros paleo-geolgicosenospainisinformativosdevaserobjectodeprotecotalcomo todososlocais histricos.Por isso, no presente trabalho salientam-se geosstios que se considera devam ser alvo de proteco por parte das autoridades competentes.Casoapopulaoconheaorealvalordosgeosstiosqueexistemjuntodassuas casas,dosseushotis,talvezcompreendamasmedidasdeprotecoquedeveriamser tomadaspelospoderesgovernantes,outalvezexerampressojuntodasentidades competentesparaqueessesgeosstiossejamalvodeproteco.