Didática Geral

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Autores: Prof. Mário Destro Monteiro Prof. Wanderlei Sergio da Silva Profa. Ana Paula Mendietta José Colaboradora: Profa. Dra. Renata Viana de Barros Thomé Didática Geral

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Mateiral da Unip

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  • Autores: Prof. Mrio Destro Monteiro Prof. Wanderlei Sergio da Silva Profa. Ana Paula Mendietta JosColaboradora: Profa. Dra. Renata Viana de Barros Thom

    Didtica Geral

  • Professores conteudistas: Mrio Destro Monteiro/Wanderlei Sergio da Silva/Ana Paula Mendietta Jos

    Professor Mrio Destro Monteiro nasceu em So Paulo, onde vive e trabalha atualmente. Possui graduao em Educao Fsica e Tcnicas Desportivas Faculdades Integradas de Guarulhos e mestrado em Educao: Psicologia da Educao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Atualmente professor adjunto e coordenador de estgios em educao na da Universidade Paulista. Tem experincia na rea educacional, com nfase em didtica e psicologia escolar, atuando principalmente nos seguintes temas: didtica geral e especfica, psicologia educacional, psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem, educao fsica escolar, prtica de ensino, recreao e estrutura e funcionamento do ensino. Desde 2005, trabalha na Universidade Paulista lecionando disciplinas nas reas de educao e psicologia educacional, seu campo de interesse. Est ligado aos estudos da didtica, da psicologia e da educao, lecionando, produzindo materiais e pesquisas h mais de dez anos, principalmente sobre questes envolvendo a aplicao desses tpicos na relao professor-aluno nas escolas, a forma como trabalhar com os alunos produtivamente e respeitosamente, a compreenso sobre as necessidades de cada fase cuja qual os alunos possam estar inseridos, a resoluo de problemas de relacionamento em sala de aula, indisciplina, motivao etc.

    Professor Wanderlei Sergio da Silva, formado em Geografia pela Universidade de So Paulo USP, mestre em Cincias (Geografia Humana) pela Universidade de So Paulo USP e doutor em Geocincias e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho UNESP. Trabalhou durante quinze anos no Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do Estado de So Paulo IPT, em pesquisas relacionadas com as geocincias e o meio ambiente. Aps seu desligamento do IPT, atuou como consultor em trabalhos relacionados com o meio ambiente durante seis anos. No total, atuou em cerca de 100 projetos de pesquisa, muitos deles como coordenador de equipe. Em 2001, ingressou na Universidade Paulista UNIP, onde lecionou disciplinas relacionadas com geografia, meio ambiente e planejamento no curso de Turismo, bem como as disciplinas didtico-pedaggicas no curso de Psicologia (licenciatura), sendo ambos os cursos presenciais. Atualmente professor titular da UNIP, atuando como membro da Coordenadoria de Estgios em Educao, rgo da universidade responsvel pela orientao das disciplinas didtico-pedaggicas de todos os cursos de licenciatura, e como professor na UNIP Interativa, nos cursos de Letras e Matemtica, responsvel pelas disciplinas relacionadas com a Prtica de Ensino, Didtica Geral, Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica e Planejamento e Polticas Pblicas da Educao. autor de cinco livros e treze trabalhos de congresso, e foi entrevistado em programas de rdio e TV sobre a temtica ambiental.

    Professora Ana Paula Mendietta Jos, formada em Turismo pela Universidade Ibero-Americana de So Paulo UNIBERO, mestranda em Educao pela Universidade Cidade de So Paulo UNICID. Trabalhou durante treze anos em diversas reas do turismo em agncias de viagens, hotis, companhias areas e operadoras de viagem. Em 2001, ingressou na UNIBERO e na Universidade Paulista UNIP, onde lecionou disciplinas relacionadas com o turismo, e foi responsvel pela implantao da Agncia Experimental na UNIBERO, onde tambm lecionou as disciplinas Tcnicas em Agncias de Viagens e Planejamento Turstico. Durante cinco anos, foi responsvel pelo projeto de recreao, um evento social comunitrio realizado semestralmente na Universidade Paulista com crianas de creches, orfanatos e asilos. Atualmente, professora assistente da UNIP, atuando como membro da Coordenadoria de Estgios em Educao, rgo da universidade responsvel pela orientao das disciplinas didtico-pedaggicas de todos os cursos de licenciatura.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita da Universidade Paulista.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    M775 Monteiro, Mrio Destro

    Didtica geral. / Mrio Destro Monteiro; Wanderlei Srgio da Silva; Ana Paulo Medietta Jos. - So Paulo: Editora Sol.

    108 p . il.

    Nota: este volume est publicado nos Cadernos deEstudos e Pesquisas da UNIP, Srie Didtica, ano XVII, n. 2-069/11, ISSN 1517-9230

    1.Educao 2.Pedagogia 3.Didtica I.TtuloCDU 37.01

  • Prof. Dr. Joo Carlos Di GenioReitor

    Prof. Fbio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administrao e Finanas

    Profa. Melnia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitrias

    Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    Profa. Dra. Marlia Ancona-LopezVice-Reitora de Graduao

    Unip Interativa EaD

    Profa. Elisabete Brihy

    Prof. Marcelo Souza

    Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar

    Prof. Ivan Daliberto Frugoli

    Material Didtico EaD

    Comisso editorial: Dra. Anglica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Ktia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valria de Carvalho (UNIP)

    Apoio: Profa. Cludia Regina Baptista EaD Profa. Betisa Malaman Comisso de Qualificao e Avaliao de Cursos

    Projeto grfico: Prof. Alexandre PonzettoReviso: Andria Andrade

  • SumrioDidtica Geral

    APRESENTAO ......................................................................................................................................................7INTRODUO ...........................................................................................................................................................7

    Unidade I

    1 A DIDTICA E SEU CONTEXTO ......................................................................................................................91.1 Educao .................................................................................................................................................. 101.2 Pedagogia ................................................................................................................................................ 141.3 Didtica ................................................................................................................................................... 151.4 A instruo e o ensino ........................................................................................................................ 161.5 Aprendizagem ....................................................................................................................................... 181.6 Currculo escolar ................................................................................................................................... 20

    2 A FILOSOFIA, A SOCIOLOGIA E A PSICOLOGIA NA EDUCAO ..................................................... 212.1 A filosofia na educao...................................................................................................................... 232.2 A sociologia na educao ................................................................................................................. 24

    2.2.1 A viso sociolgica sobre a democratizao do ensino ......................................................... 252.3 A psicologia na educao ................................................................................................................. 32

    3 A DIDTICA COMO TEORIA E TCNICA DA INSTRUO E DO ENSINO: COMO A HISTRIA AJUDA NA COMPREENSO DO HOJE .................................................................. 334 AS TENDNCIAS DIDTICO-PEDAGGICAS .......................................................................................... 37

    4.1 Pedagogia liberal .................................................................................................................................. 394.1.1 Pedagogia liberal tradicional .............................................................................................................. 394.1.2 Pedagogia liberal renovada progressivista ................................................................................... 404.1.3 Pedagogia liberal renovada no diretiva ....................................................................................... 424.1.4 Pedagogia liberal tecnicista ................................................................................................................ 434.1.5 Pedagogia progressista ......................................................................................................................... 464.1.6 Pedagogia progressista libertadora ................................................................................................ 464.1.7 Pedagogia progressista libertria ..................................................................................................... 484.1.8 Pedagogia progressista crtico-social dos contedos .............................................................. 50

    5 OS OBJETIVOS, OS CONTEDOS E OS PROCEDIMENTOS DE ENSINO ......................................... 545.1 Os objetivos............................................................................................................................................. 545.2 Os contedos ........................................................................................................................................ 585.3 Os mtodos de ensino ........................................................................................................................ 61

    6 OS RECURSOS E A AVALIAO DO ENSINO ......................................................................................... 676.1 Os diferentes recursos ........................................................................................................................ 686.2 A questo da avaliao ...................................................................................................................... 72

  • 7 O PLANEJAMENTO ESCOLAR ...................................................................................................................... 797.1 O planejamento em seus vrios nveis ........................................................................................ 807.2 Planejamento escolar ......................................................................................................................... 807.3 Planejamento curricular .................................................................................................................... 817.4 Planejamento didtico ou de ensino............................................................................................ 817.5 Planejamento de curso ...................................................................................................................... 827.6 Planejamento de unidade didtica ............................................................................................... 837.7 O plano de aula ..................................................................................................................................... 83

    8 O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UMA DISCUSSO GERAL ................................. 848.1 A relao professor-aluno e o processo de ensino e aprendizagem ............................... 858.2 A questo do dilogo .......................................................................................................................... 878.3 A disciplina e a indisciplina .............................................................................................................. 878.4 Consideraes finais ............................................................................................................................ 90

  • 7APreSentAo

    Esta disciplina pretende proporcionar a capacidade de anlise da relao entre o homem e a sociedade dentro de um contexto cultural, social e econmico, buscando por meio desses conhecimentos uma concepo de educao. Ao estudar a trajetria histrica e cultural de formao da didtica como cincia da educao, teremos como pano de fundo as diferentes concepes de educao e ensino. Pretende-se que a anlise das diferentes perspectivas do processo de ensino e aprendizagem seja passvel de ser compreendida, enfocando: concepes de homem, de mundo, de conhecimento, de professor-aluno, de ensino-aprendizagem, de anlise do contexto da instituio escolar, seu espao poltico, sua estrutura e sua dinmica de funcionamento.

    Este texto foi elaborado em uma perspectiva crtica, tentando deixar claro o posicionamento social que deve ser adotado para a formao de uma sociedade mais democrtica e, por isso, mais justa e igualitria. Para isso, no podemos deixar de dizer que a consulta a outros materiais, principalmente os citados na bibliografia, se faz extremamente necessria como forma de criar um pensamento mais pluralizado e esclarecido sobre tudo que envolve a tarefa de ser professor.

    Objetivos da disciplina

    Os principais objetivos, em termos mais gerais, desta disciplina so: formar educadores que possam atuar em qualquer das especialidades em que venham a se licenciar; oferecer condies para a conscientizao, por parte dos futuros educadores, da realidade educacional brasileira; proporcionar aos futuros educadores fundamentao terica que os auxilie no seu preparo para uma ao educadora coerente com as necessidades da realidade em que atuaro; oferecer aos futuros educadores uma instrumentalizao terica que lhes possibilite uma ao educadora eficaz.

    Para isso, primeiramente ser preciso:

    1. compreender o objeto de estudo da didtica para possibilitar o embasamento terico-prtico das aes em sala de aula;

    2. entender o contexto do processo ensino-aprendizagem para a construo de sua prtica pedaggica;

    3. analisar o contexto da instituio escolar e o papel do professor.

    Dessa forma, a anlise crtica da teoria dever proporcionar condies de elevar a curiosidade e o interesse pela busca de aprofundamento terico, capaz de formar um professor crtico, sensvel s necessidades reais e nas condies oferecidas, engajado em um projeto de educao mais consistente, eficiente, eficaz e capaz de trabalhar de maneira didaticamente organizada.

    IntroDuo

    Este livro-texto foi elaborado com a inteno de tratar de maneira geral, porm sucinta, os assuntos que envolvem a didtica como cincia (teoria) e a prtica do professor, buscando de maneira didtica a

  • 8construo de um arcabouo terico bsico que instigue a curiosidade para uma busca mais aprofundada a respeito de tudo o que envolve a formao de um professor.

    Longe de esgotar o tema, que foi construdo durante um longo percurso histrico, pretendemos contribuir para uma viso geral, de maneira a situar o futuro educador sobre toda a complexidade das tarefas docentes e encoraj-lo a continuar suas pesquisas nessa temtica, de forma a no se limitar a uma nica viso, mas constru-la por vrias fontes disponveis que, com certeza, daro mais maturidade na construo terico-prtica da viso de professor.

    Para o incio do texto (captulo 2), foi necessrio definir tudo o que envolve a didtica, explicando os principais conceitos de palavras que so essenciais para compreend-la, como uma subrea da educao. So trabalhados os conceitos de educao, pedagogia, didtica, instruo, ensino, aprendizagem e currculo escolar.

    No captulo seguinte (captulo 3), desenvolvemos uma viso da relao entre a didtica e as outras cincias, que por sua vez so essenciais para a formao do educador, como formadoras da conscincia crtica, sensvel e pautada na realidade que a espcie nos coloca. Para isso, veremos como a filosofia, a sociologia e a psicologia se inter-relacionam com a educao e a didtica e como nos auxiliam na formao profissional como professores.

    No prximo captulo (captulo 4), vemos um pouco da histria da didtica e a formao das tendncias educacionais, para que o futuro professor possa formar sua prpria viso pautado no que j existe em termos de mtodos de ensino.

    Aps essa viso (no captulo 5), veremos alguns componentes do planejamento, os objetivos, os contedos e os mtodos de ensino. Veremos o que so, como devem ser trabalhados e sua estruturao, para que o professor possa organizar suas atividades de maneira sria e profissional.

    No captulo posterior (captulo 6), veremos o restante dos componentes do planejamento, os recursos e a avaliao, fechando com aquilo que faltava para a visualizao detalhada do que se utiliza para o aprimoramento das aulas e o que se faz para a verificao dos resultados obtidos.

    A seguir (captulo 7), veremos o planejamento de maneira mais aprofundada, aps ter conhecido seus principais componentes objetivos, contedos, mtodos, recursos e avaliao , visualizando tambm seus diversos nveis, desde o sistema educacional at o plano de aula, de maneira a compreender como todas essas modalidades de planejamento se articulam e fazem parte da realidade educacional.

    Por ltimo (captulo 8), veremos mais sobre tpicos essenciais do cotidiano docente, como a relao professor-aluno, o processo de ensino e aprendizagem, a questo do dilogo e sua importncia na relao didtico-pedaggica e a disciplina na sala de aula.

    Esperamos contribuir para sua aprendizagem, assim como esperamos que voc tenha um grande sucesso na rea educacional.

    Bons estudos!

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    1 A DIDtICA e Seu ConteXto

    Para que se possa discutir a didtica, antes de tudo, faz-se necessrio explicitar outros termos e conceitos que so inerentes a ela, pois esto totalmente interligados e fazem parte da realidade de todo professor. Trata-se dos conceitos de educao, de pedagogia como cincia, da prpria didtica e suas relaes, do que significa o termo ensino, o significado de instruo, explicar sobre a aprendizagem e outros fatores dos quais a mesma depende e um pouco sobre o currculo escolar.

    Figura 1 - O professor, antes de tudo, precisa dominar uma srie de conceitos para conseguir trabalhar didaticamente.

    Todos esses conceitos fazem parte de uma realidade maior para aqueles que trabalham na rea da educao. Alm disso, existe uma influncia de um para com os outros, determinando a forma de compreender o trabalho de professor e de instrumentalizar o posicionamento deste.

    O trabalho nas escolas requer o domnio dessa gama de conceitos, que possibilitam adotar uma postura educacional e escolher um jeito de pensar a educao dos alunos para que estes possam chegar a dominar tudo o que a sociedade exige que dominemos. Entretanto, somente compreendendo esse mecanismo terico possvel traar uma didtica coerente com os nossos princpios e tornar concreto um trabalho organizado, eficiente e eficaz.

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    Para comear, vamos compreender melhor o conceito e discutir mais sobre o que significa educao.

    1.1 educao

    Educao? Educaes: aprender com o ndio

    Carlos Rodrigues Brando (1989)

    Pergunto coisas ao buriti; e o que ele responde a coragem minha. Buriti quer todo o azul, e no se aparta de sua gua carece de espelho. Mestre no quem sempre ensina, mas quem de repente aprende.

    Joo Guimares Rosa/Grande serto - veredas

    Ningum escapa da educao. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos todos ns envolvemos pedaos da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com a educao. Com uma ou com vrias: educao? Educaes. E j que pelo menos por isso sempre achamos que temos alguma coisa a dizer sobre a educao que nos invade a vida, por que no comear a pensar sobre ela com o que uns ndios uma vez escreveram?

    H muitos anos nos Estados Unidos, Virgnia e Maryland assinaram um tratado de paz com os ndios das Seis Naes. Ora, como as promessas e os smbolos da educao sempre foram muito adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas aos ndios para que enviassem alguns de seus jovens s escolas dos brancos. Os chefes responderam agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde Benjamin Franklin adotou o costume de divulg-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa:

    ... Ns estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para ns e agradecemos de todo o corao. Mas aqueles que so sbios reconhecem que diferentes naes tm concepes diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores no ficaro ofendidos ao saber que a vossa ideia de educao no a mesma que a nossa... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa cincia. Mas, quando eles voltavam para ns, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. No sabiam como caar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa lngua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inteis. No serviam como guerreiros, como caadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora no possamos aceit-la, para mostrar a nossa gratido oferecemos aos nobres senhores de Virgnia que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens.

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    De tudo o que se discute hoje sobre a educao, algumas das questes entre as mais importantes esto escritas nessa carta de ndios. No h uma forma nica nem um nico modelo de educao; a escola no o nico lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar no a sua nica prtica e o professor profissional no o seu nico praticante.

    Em mundos diversos, a educao existe diferente: em pequenas sociedades tribais de povos caadores, agricultores ou pastores nmades; em sociedades camponesas, em pases desenvolvidos e industrializados; em mundos sociais sem classes, de classes, com este ou aquele tipo de conflito entre as suas classes; em tipos de sociedades e culturas sem Estado, com um Estado em formao ou com ele consolidado entre e sobre as pessoas.

    Existe a educao de cada categoria de sujeitos de um povo; ela existe em cada povo, ou entre povos que se encontram. Existe entre povos que submetem e dominam outros povos, usando a educao como um recurso a mais de sua dominncia. Da famlia comunidade, a educao existe difusa em todos os mundos sociais, entre as incontveis prticas dos mistrios do aprender; primeiro sem classes de alunos, sem livros e sem professores especialistas; mais adiante, com escolas, salas, professores e mtodos pedaggicos.

    A educao pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crena, aquilo que comunitrio como bem, como trabalho ou como vida. Ela pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber como armas que reforam a desigualdade entre os homens, na diviso dos bens, do trabalho, dos direitos e dos smbolos.

    A educao , como outras, uma frao do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenes de sua cultura, em sua sociedade. Formas de educao que produzem e praticam, para que elas reproduzam, entre todos os que ensinam-e-aprendem, o saber que atravessa as palavras da tribo, os cdigos sociais de conduta, as regras do trabalho, os segredos da arte ou da religio, do artesanato ou da tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar, todos os dias, a vida do grupo e a de cada um de seus sujeitos, atravs de trocas sem fim com a natureza e entre os homens, trocas que existem dentro do mundo social onde a prpria educao habita, e desde onde ajuda a explicar s vezes a ocultar, s vezes a inculcar de gerao em gerao, a necessidade da existncia de sua ordem.

    Por isso mesmo e os ndios sabiam a educao do colonizador, que contm o saber de seu modo de vida e ajuda a confirmar a aparente legalidade de seus atos de domnio, na verdade no serve para ser a educao do colonizado. No serve e existe contra uma educao que ele, no obstante dominado, tambm possui como um dos seus recursos, em seu mundo, dentro de sua cultura.

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    Assim, quando so necessrios guerreiros ou burocratas, a educao um dos meios de que os homens lanam mo para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do que isso, ela ajuda a cri-los, atravs de passar de uns para os outros o saber que os constitui e legitima. Mais ainda, a educao participa do processo de produo de crenas e ideias, de qualificaes e especialidades que envolvem as trocas de smbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades. E esta a sua fora.

    No entanto, pensando s vezes que age por si prprio, livre e em nome de todos, o educador imagina que serve ao saber e a quem ensina, mas, na verdade, ele pode estar servindo a quem o constituiu professor, a fim de us-lo, e ao seu trabalho, para os usos escusos que ocultam tambm na educao nas suas agncias, suas prticas e nas ideias que ela professa interesses polticos impostos sobre ela e, atravs de seu exerccio, sociedade que habita. E esta a sua fraqueza.

    Aqui e ali ser preciso voltar a estas ideias, e elas podem ser como que um roteiro daqui para a frente. A Educao existe no imaginrio das pessoas e na ideologia dos grupos sociais e, ali, sempre se espera, de dentro, ou sempre se diz para fora, que a sua misso transformar sujeitos e mundos em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros: ... e deles faremos homens. Mas, na prtica, a mesma educao que ensina pode deseducar, e pode correr o risco de fazer o contrrio do que pensa que faz, ou do que inventa que pode fazer: ... eles eram, portanto, totalmente inteis.

    No h como falar sobre educao sem citar esse texto do professor Brando, que de maneira expressiva e bem-humorada discute seu significado.

    Como vimos nesse trecho, a educao confunde-se com a cultura e a ela serve, pois tem sua formao com base em pessoas que se revestem de costumes, de uma moral e uma tica, de comportamentos estabelecidos etc. que so teis em cada regio particular.

    Segundo Libneo (1990), em sentido amplo, a educao se d simplesmente pelo fato de o sujeito existir socialmente, uma vez que ao conviver com a sociedade ele aprende e ensina, formando-a junto a outros membros dessa mesma sociedade. Ela ocorre em todos os campos, como na organizao econmica, poltica, religiosa, dos costumes etc. J em sentido estrito, ocorre em instituies especficas, escolares ou no, com a finalidade clara de instruo e ensino, de maneira organizada, planejada, o que no ocorre em sentido amplo.

    A educao, portanto, est em tudo e presente em todos os momentos de cada um de ns e forma a personalidade do sujeito socialmente falando, uma vez que envolve o desenvolvimento do mesmo na sociedade em que vive. Ocorre de maneira intencional e sistemtica nas escolas e organizaes como educao formal, que tem por fim explcito o ensino e a instruo (sentido estrito); e de maneira no intencional em todos os lugares como uma educao informal (sentido amplo).

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    Dessa forma, dizemos que a educao , portanto, um fenmeno social, pois est em tudo que a sociedade abrange. um processo social tambm, uma vez que determinada por sua poca e seu contexto histrico e social, que a modelam e a dirigem por fazerem parte do contexto que rege a vida dos atores participantes da vida em sociedade.

    Figura 2 - A educao, em sentido amplo, confunde-se com a cultura.

    Lembrete

    Educao formal = intencional e sistemtica. Ocorre nas escolas.

    Educao informal = ocorre de maneira no intencional e assistemtica em todos os lugares.

    A educao atua na formao da personalidade socialmente construda.

    O trabalho docente parte integrante do processo educativo mais global pelo qual os membros da sociedade so preparados para a participao na vida social. A educao ou seja, a prtica educativa um fenmeno social e universal, sendo uma atividade humana necessria existncia e ao funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formao dos indivduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades fsicas e espirituais, prepar-los para a participao ativa e transformadora nas vrias instncias da vida social. No h sociedade sem prtica educativa

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    nem prtica educativa sem sociedade. A prtica educativa no apenas uma exigncia da vida em sociedade, mas tambm o processo de prover os indivduos dos conhecimentos e experincias culturais que os tornam aptos a atuar no meio social e a transform-lo em funo de necessidades econmicas, sociais e polticas da coletividade (LIBNEO, 1990, p. 16-17).

    1.2 Pedagogia

    A pedagogia a cincia que estuda a educao (Piletti, 2010). Se como cincia ela estuda a educao, podemos dizer que tudo que envolve a educao como um fenmeno e um processo social deve ser estudado e compreendido pela pedagogia, ou seja, o que se deve fazer para educar as pessoas, o que pode ser ensinado, como deve ser ensinado, a quem deve ser ensinado, por quem ser ensinado etc.

    Tudo o que envolve a transformao da cultura social em forma de educao parte da pedagogia, como, por exemplo, a influncia dos processos produtivos pertencentes economia pode influenciar a vida social e a educao como fenmeno da sociedade, o desenvolvimento do sujeito pode interferir na maneira como o professor ensina e o aluno aprende, quais conjuntos de conhecimentos devem ser passados e captados pelas pessoas etc.

    Como a educao depende de muitos fatores, tudo isso, de alguma forma, deve ser investigado pelas cincias pedaggicas.

    Figura 3 - Ao educar, o professor seleciona determinados conhecimentos, capacidades e habilidades.

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    Deve-se dar destaque a um termo utilizado costumeiramente pelos professores: processo pedaggico. Mas qual o seu significado? Significa que, ao atuarmos como professores, estaremos elaborando um processo que leva o sujeito a uma determinada educao, de maneira processual. Portanto, ao educar estamos atuando pedagogicamente e tomando um determinado posicionamento educacional para certos conhecimentos, capacidades, habilidades e outras importantes coisas que devem ser incorporadas pelos alunos.

    Lembrete

    Se falarmos em atuar pedagogicamente, estamos dizendo que estaremos incumbidos de uma educao para com nossos alunos.

    1.3 Didtica

    Segundo Libneo (1990), a didtica o principal ramo de estudo da pedagogia. Aquele que investiga os fundamentos, as condies e as maneiras mais apropriadas de realizar a instruo e o ensino.

    Quando pensamos em como devemos fazer para ensinar algo a uma pessoa, nossa preocupao com a didtica que deve ser utilizada. Entretanto, no que se refere aos professores, toda forma de ensinar reflete uma busca educativa, pedaggica e, dessa maneira, pressupe uma relao entre aquele que ensina, os conhecimentos em si, o sujeito que aprende e a sociedade que ir acolh-lo.

    A profisso de professor to complexa justamente por isso, pois no basta ensinar uma simples habilidade, como a de escrever, por exemplo, para dizer que estamos educando. Se relacionarmos o ato de escrever com outras importantes habilidades, como ler, construir textos, organizar os pensamentos etc., estaremos didaticamente estruturando um ensino de maneira mais condizente com as necessidades que a vida social solicita.

    A maneira como algo ensinado reflete se facilitar ou no a aquisio do conhecimento do aluno. Imagine voc, por exemplo, explicando sobre a crise econmica para crianas da 5 srie com termos sofisticados e palavras que, talvez, grande parte da sala no conhea. Acresa a isso o fato de no colocar nenhuma figura, no dar chance de uma interlocuo por parte dos seus alunos (eles s escutam sua aula expositiva) e no traz-los para perto da realidade, de acordo com os conhecimentos que j possuem. Didaticamente, poderamos dizer que a aula seria, provavelmente, um verdadeiro fracasso, uma vez que os mtodos de ensino no dariam conta de serem aprendidos adequadamente.

    Por essa razo, a didtica deve ser muito bem estruturada antes do incio de um trabalho que se julga educativo.

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    A didtica o principal ramo da pedagogia. Ocupa-se em estudar os mtodos e as formas mais apropriados de praticar a instruo e o ensino.

    1.4 A instruo e o ensino

    Figura 4 - Pensar didaticamente se preocupar com a maneira mais apropriada de organizar o ensino para os alunos.

    Segundo Libneo (1990), a instruo ligada formao intelectual e ao desenvolvimento da capacidade de conhecer, de acordo com o domnio de certo nvel de conhecimentos sistematizados pelo professor. O ensino, por sua vez, corresponde s aes, aos meios e s condies para que se possa instruir e, dessa forma, est ligado instruo.

    A instruo no est livre, mas ligada de maneira subordinada educao, uma vez que se volta ao desenvolvimento da personalidade do sujeito durante sua atuao nas escolas. Ao instruir, o professor desenvolve conhecimentos, habilidades e capacidades que se tornam reguladores da ao do sujeito no mundo, por isso ocorre um processo pedaggico.

    Entretanto, apesar de interdependentes, possvel educar sem instruir e instruir sem educar. Podemos dizer aos alunos, por exemplo, que no se deve jogar lixo nas ruas (como forma de instruo) e, no entanto, isso no ser praticado da maneira como foi instruda instruo sem levar educao e, ao contrrio, podemos sair pegando lixo do cho junto com os alunos sem nada dizer educao sem instruo , o que pode dar melhores resultados em termos educativos.

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    Assim, ao planejar as aes de ensino e instruo, devemos ter em mente objetivos propriamente educativos, pois o ensino o principal meio que leva a uma educao (ainda que no seja a nica via educativa por existir o sentido amplo desta).

    Figura 5 - A instruo corresponde formao que o professor oferece. O ensino como o professor organiza a instruo.

    A instruo se refere ao processo e ao resultado da assimilao slida de conhecimentos sistematizados e ao desenvolvimento de capacidades cognitivas. O ncleo da instruo so os contedos das matrias. O ensino consiste no planejamento, organizao, direo e avaliao da atividade didtica, concretizando as tarefas da instruo; o ensino inclui tanto o trabalho do professor (magistrio) como a direo da atividade de estudo dos alunos. Tanto a instruo como o ensino se modificam em decorrncia da sua necessria ligao com o desenvolvimento da sociedade e com as condies reais em que ocorre o trabalho docente. Nessa ligao que a Didtica se fundamenta para formular diretrizes orientadoras do processo de ensino (LIBNEO, 1990, p. 23).

    , portanto, pela instruo que o desenvolvimento dos alunos se realiza, graas estruturao didtica que o professor elege para cumprir com seu trabalho educativo. Tudo isso guiado pela dinmica da sociedade, visto que a necessidade da educao a adaptao social do sujeito e as condies da sociedade mudam de tempos em tempos, de acordo com os fatores que a influenciam.

    Para instruir e ensinar, o professor necessita de preparao no apenas a que recebe em sua formao como professor licenciado, mas tambm aquela que garantida pela busca constante do conhecimento a que ele deve se submeter. A leitura e o estudo so as principais armas de um

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    bom educador, pois para se instruir necessrio possuir um bom nvel de conhecimento. S assim ser possvel escolher qual a forma didtica de ensino que ser adotada para o cumprimento dessa funo e saber de que maneira isso ser requisitado no contexto em que o aluno habita, com inteno pedaggica.

    Dizemos que o sujeito bem instrudo quando capaz de demonstrar conhecimentos e habilidades suficientemente capazes de resolver os problemas que a vida social demanda. Mas, para isso, o processo de ensino deve possibilitar esse processo de abastecimento para acompanhar as condies de aprendizagem da pessoa do aluno.

    observao

    A instruo ligada formao intelectual e ao desenvolvimento da capacidade de conhecer. O ensino corresponde s aes, aos meios e s condies para que se possa instruir; dessa forma, est ligado instruo.

    1.5 Aprendizagem

    Certa vez, um professor1 disse em um intervalo de aula:

    Nossa, hoje eu dei uma excelente aula!

    Em contrapartida, perguntei desta maneira a ele:

    Que bom! Mas o que foi que os alunos aprenderam?

    Para surpresa, a resposta do professor foi a seguinte:

    No estou falando dos alunos! Estou falando sobre a minha aula, foi muito boa!

    Com uma pitada de bom humor, essa histria ilustra muito bem o posicionamento encontrado no professorado atualmente, que se esquece, da mesma maneira que esse professor, do mais importante para um professor: fazer com que o aluno APRENDA!

    Segundo Schimitz (apud Piletti, 2010), a aprendizagem um processo de aquisio e assimilao, mais ou menos consciente, de novos padres e novas formas de perceber, ser, pensar e agir.

    Ao professor, compete atuar diretamente no comportamento dos alunos, garantindo sua aprendizagem de maneira suportada, eficiente e eficaz. De nada adiantaria um sujeito passar tantos anos frequentando uma escola no fosse pelo fato de seu comportamento, nos mbitos da percepo, da sua essncia, de seu pensamento e de seu agir, se modificar para algo qualitativamente melhor do que quando ingressou naquela escola.

    1 No ser identificado o tal professor por uma questo de respeito a sua pessoa e ao profissional que o mesmo o .

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    Figura 6 - A aprendizagem um processo de aquisio e assimilao, mais ou menos consciente,de novos padres e novas formas de perceber, ser, pensar e agir.

    Como vimos, a educao atua na personalidade socialmente necessria aos indivduos de cada cultura. Assim, o professor deve proporcionar um processo pedaggico planejado, de forma a colocar-se a instruir e ensinar de acordo com o estabelecido, modificando, assim, a aprendizagem e a capacidade de aprender de seus alunos.

    Um professor que se colocasse a falar, explanar, explicar e conduzir suas palavras desvinculado das capacidades dos alunos no estaria garantindo a aprendizagem deles. Seria como jogar seu tempo pela janela da sala de aula.

    Deve haver uma sintonia entre aquele que ensina e o sujeito que aprende, pois o mais importante de tudo no processo escolar so as aprendizagens feitas pelos alunos, que investiram seu tempo e sua dedicao em todo aquele processo de estudo.

    O professor aprende muito ao se aproximar dos alunos, colocar-se sua disposio e permitir a discusso, a discordncia e o debate em sala de aula.

    Ser sensvel realidade dos alunos de fundamental importncia para que se garanta um ambiente favorvel aprendizagem e o desenvolvimento de todos os envolvidos no processo educativo.

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    A principal funo do professor promover a aprendizagem do aluno. No se pode dizer que ensinou se o aluno no aprender!

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    1.6 Currculo escolar

    Segundo Piletti (2010), o currculo tem significado as matrias ensinadas na escola ou a programao de estudos. Atualmente, o termo tem sido utilizado em sentido mais amplo para se referir vida e a todo o programa da escola, inclusive s atividades extraclasse.

    Assim, podemos imaginar que todas as atividades que ocorrem na escola possuem uma funo didtica e pedaggica. Didtica porque se estruturam estrategicamente para dar condies de se realizarem de acordo com a melhor forma, para permitir melhor aproveitamento por parte dos alunos. Pedaggica porque pretendem ser formativas da personalidade do aluno, preparando-o para sua vida social. As caractersticas aprendidas por meio do currculo escolar sero teis para a vida social e profissional do sujeito.

    Geralmente, se recebemos um palestrante na escola, costumamos perguntar qual o currculo dele, em sentido semelhante ao que acabamos de explicar, pois se trata do conjunto de qualidades adquiridas em seu percurso de estudos, trabalho e qualificaes. Na escola, muito prximo disso, uma vez que se trata de todas as atividades formativas s quais se submetem os alunos.

    Cada experincia vivenciada no perodo escolar extremamente importante para formar esse repertrio de qualificaes. Por isso, cabe aos professores uma preocupao didtica e pedaggica que possibilite um aproveitamento satisfatrio por parte dos alunos, promovendo aprendizagem e desenvolvimento. E sempre respeitando as limitaes e potencialidades destes, sem que se limite participao imediata, mas a experincias que possam ser estendidas para fora da escola, uma vez que o trabalho l dentro serve para a vida social do indivduo fora das escolas.

    de extrema importncia mencionar um conceito de currculo oculto e o que ele expressa na vida dos professores. Segundo Piletti (2010), trata-se da transmisso de valores, normas e comportamentos que so passados simplesmente pela interao professor alunos.

    oculto porque, ao contrrio do anterior, perpassa muitas vezes pela falta de compreenso do que o professor est ensinando ao conviver com os alunos. Sem perceber, ele mostra a eles seus valores, as normas que julga importantes, sua conduta etc. No raro vermos alunos imitando o comportamento do professor ou reproduzindo frases que fazem meno a algum tipo de valorizao que o mesmo possui; dessa forma, oculto.

    Por isso, todo cuidado pouco para os professores, que so grandes exemplos para os alunos. Eles, os alunos, copiam boa parte do que o professor fala, faz e manifesta.

    Lembrete

    Todas as atividades da escola fazem parte do currculo oferecido. Por isso, ele deve ser estruturado didaticamente com muito cuidado!

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    A proposta de organizao do conhecimento, nos Parmetros Curriculares Nacionais, est em consonncia com o disposto no Artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases, que assim se pronuncia:

    Os currculos do ensino fundamental e mdio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas caractersticas regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela.

    Os diferentes pargrafos desse artigo apresentam as diretrizes gerais para a organizao dos currculos do ensino fundamental e mdio:

    devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da lngua portuguesa e da matemtica, o conhecimento do mundo fsico e natural e da realidade social e poltica, especialmente do Brasil;

    o ensino da arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis da educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos;

    a educao fsica, integrada proposta pedaggica da escola, componente curricular da educao bsica, ajustando-se s faixas etrias e s condies da populao escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos;

    o ensino da histria do Brasil levar em conta as contribuies das diferentes culturas e etnias para a formao do povo brasileiro, especialmente das matrizes indgena, africana e europeia;

    na parte diversificada do currculo ser includo, obrigatoriamente, a partir da quinta srie, o ensino de pelo menos uma lngua estrangeira moderna, cuja escolha ficar a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituio.

    2 A FILoSoFIA, A SoCIoLoGIA e A PSICoLoGIA nA eDuCAo

    Ao estudar a educao nos seus aspectos sociais, polticos, econmicos, psicolgicos, para descrever e explicar o fenmeno educativo, a Pedagogia recorre contribuio de outras cincias como a Filosofia, a Histria, a Sociologia, a Psicologia, a Economia. Esses estudos acabam por convergir na Didtica, uma vez que esta rene em seu campo de conhecimentos objetivos e modos de ao pedaggica na escola. Alm disso, sendo a educao uma prtica social que acontece numa grande variedade de instituies e atividades humanas (na famlia, na escola, no trabalho, nas igrejas, nas organizaes polticas e sindicais, nos meios de comunicao de massa etc.), podemos falar de uma pedagogia familiar, de uma pedagogia poltica etc. e, tambm, de uma pedagogia escolar. Nesse caso, constituem-se disciplinas propriamente pedaggicas, tais como a Teoria da Educao,

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    a Teoria da Escola, a Organizao Escolar, destacando-se a Didtica como Teoria do Ensino (LIBNEO, 1990, p. 16).

    Para que a pedagogia possa estudar e compreender a educao, esta precisa recorrer a outras cincias. As cincias, em geral, estudam sistematicamente algo que seja interessante para os seres humanos, para a vida de outros seres, para os ambientes que habitamos e tudo que possa ser, de alguma forma, relevante para ns.

    Um mdico estuda outras cincias, como o caso da biologia, da fsica, da qumica, da farmacologia, da psicologia etc. Ele assim o faz porque seria praticamente impossvel atender seus pacientes sem noes dessas reas, que possibilitam conhecer melhor os seres humanos em todas essas dimenses. Conhecimentos essenciais para quem precisa compreender como tudo est interligado de maneira complexa e interdependente.

    As inmeras pesquisas cientficas produzidas pelo mundo, em diversas reas, multiplicam-se, reas so criadas para dar conta de captar um pouco do que o mundo tem a oferecer, e muitos recortes da realidade so criados com rtulo de uma nova cincia. Ao se criar a pedagogia, por exemplo, o recorte se vincula a investigar apenas e, ao mesmo, totalmente o que envolve o fenmeno educativo na vida das pessoas, da sociedade em geral. Para isso, quase sempre so necessrios outros conhecimentos que se vinculam com os objetos de estudo dessa cincia, como, por exemplo, para educar algum, preciso saber o que exatamente a educao, o que a cultura, como so os homens e como se organizam socialmente, como se comportam, como deveriam se comportar, quais conhecimentos so importantes para a espcie humana, como o homem se desenvolve, como aprende etc.

    Mas por que tantas perguntas? Vejamos como a filosofia pode nos ajudar nessa questo.

    Figura 7 - Da mesma forma que um mdico deve estudar outras cincias para exercer sua profisso, o professor tambm recorre a cincias auxiliares.

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    2.1 A filosofia na educao

    Figura 8 - A filosofia uma cincia preocupada em chegar sabedoria. Utiliza o posicionamento crtico por meio de questionamentos da realidade.

    Segundo Lorieri e Rios (2004), a filosofia busca a compreenso, que diz respeito ao sentido, ao significado, ao valor. Ela se apresenta como uma maneira de pensar que tem contedo prprio: os aspectos fundamentais da realidade e da existncia humana. Eles dizem que a forma do pensamento filosfico pode ser expressa como forma de pensar reflexiva, crtica, profunda, metdica e abrangente, que busca contextualizar, ou colocar em unidades referenciais significativas mais amplas, os aspectos importantes ou fundamentais da realidade e da existncia humana.

    Com esforo de reflexo sobre este texto, importante imaginar o quo interligado isso est com a educao, uma vez que no refletir, questionar, analisar e tentar compreender com mais profundidade a educao pode incorrer em um ativismo precipitado, daquele que se passa a fazer sem compreender o que faz, o que acontece etc.

    A filosofia, interligada com a educao, questiona a mesma para que se chegue a um nvel de compreenso mais preciso e seguro antes de se colocar a execut-la nas escolas.

    Vejamos alguns importantes questionamentos e anlises decorrentes do carter filosfico inserido na educao:

    O que seria uma boa forma de educao?

    A qual tipo de vida ela conduziria?

    Que tipo de homem e de mundo estamos buscando?

    Que aes pedaggicas seriam capazes de levar aos seres humanos um comportamento melhor e mais til sociedade?

    Que posicionamento as pessoas da escola devem ter umas com as outras?

    Quais seriam as caractersticas importantes de uma pessoa passveis de ser ensinadas nas escolas? Como?

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    Esses so apenas alguns questionamentos que a filosofia nos ajuda a levantar para que possamos trabalhar melhor e mais conscientes de nossas responsabilidades.

    Convidamos o leitor para refletir sobre esses questionamentos, indo alm, visto que o que estamos oferecendo apenas um estmulo capacidade crtica e vivencial do futuro professor que est estudando com este material.

    Imaginar como seria um homem ideal um importante exerccio para que possamos organizar didaticamente as aes necessrias para chegar a esse homem. Talvez traar qualidades, comportamentos, caractersticas que possam ser valorizadas pela sociedade e sejam capazes de municiar suficientemente o sujeito que delas precisar para trabalhar, viver socialmente, ser feliz e produzir cultura.

    Mas e a sociedade, como funciona? De qual maneira devemos enxerg-la como educadores? Reproduzindo tudo o que j se fez at hoje ou transformando o mundo em algo diferente?

    Vamos ver como a sociologia, aplicada educao, pode contribuir para tentar responder a essas questes, assim como enxergar possibilidades educativas em uma perspectiva mais interessante para o professor, para os alunos e para o mundo.

    Exemplo de aplicao

    Reflita sobre as perguntas acima e, FILOSOFANDO, tente respond-las com hipteses que possam satisfazer voc como educador.

    Imagine a criao de um mundo ideal e se pergunte como seria possvel a educao, como fenmeno e processo social, ser capaz de construir esse mundo.

    Imagine e discuta com algum quais qualidades as pessoas deveriam ter para que pudessem ser felizes e fazer um mundo melhor no apenas para elas, mas para todas as pessoas.

    Por ltimo, pense na diferena entre uma postura crtica e, no extremo oposto, uma postura conformista e acomodada. Pense tambm na diferena entre ser crtico e ser o que as pessoas chamariam de chato ou pessimista.

    2.2 A sociologia na educao

    Sendo a filosofia uma cincia questionadora e crtica, serve de base para uma postura mais interessante, para aqueles que no se deixam levar pelas primeiras impresses. Graas a ela, como primrdio da cincia, vieram todas as outras importantes contribuies cientficas que permitem vislumbrar um mundo de possibilidades e uma busca incessante por respostas.

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    A sociologia emana dessa filosofia, questionando fatos da vida social que permitem aos homens assumir dadas posturas socialmente. A poltica, a cultura, os costumes, a economia etc. provm de uma organizao social, e a sociologia como cincia busca encontrar uma compreenso mais profunda sobre como tudo isso acontece, como se manifesta e a que consequncias.

    Vejamos o que diz Libneo (1990, p. 26) sobre a Sociologia da Educao:

    A Sociologia da Educao estuda a educao como processo social e ajuda os professores a reconhecerem as relaes entre o trabalho docente e a sociedade. Ensina a ver a realidade social no seu movimento, a partir da dependncia mtua entre seus elementos constitutivos, para determinar os nexos constitutivos da realidade educacional. A par disso, estuda a escola como fenmeno sociolgico, isto , uma organizao social que tem a estrutura interna de funcionamento interligada ao mesmo tempo com outras organizaes sociais (conselho de pais, associaes de bairros, sindicatos, partidos polticos etc.). A prpria sala de aula um ambiente social que forma, junto com a escola como um todo, o ambiente global da atividade docente organizado para cumprir os objetivos de ensino.

    Como vimos, a Sociologia da Educao preocupa-se mais especificamente em como as pessoas socialmente se organizam e como a educao se envolve com esse fator. necessrio um ambiente de criticidade, que garanta uma compreenso mais aprofundada do fenmeno que envolve a vida social, as condies de trabalho, as divises de classe, a ideologia etc.

    Esses conceitos so muito importantes para ultrapassar o senso comum e se aproximar da cincia, uma vez que durante muito tempo a educao esteve vinculada a interesses ideolgicos de uma minoria pertencente s elites da sociedade.

    Pela influncia de grandes teorias sociolgicas, temos noes de que a busca de uma sociedade democrtica, que defenda os interesses de toda a populao e no apenas de parte dela, faz-se imprescindvel.

    2.2.1 A viso sociolgica sobre a democratizao do ensino

    Segundo Libneo (1990), a educao socialmente determinada, pois os fins e as exigncias sociais, polticas e ideolgicas guiam todo o processo de funcionamento da sociedade, estabelecendo valores, normas e particularidades da estrutura social a qual a educao est subordinada. Isso, pois, desde o incio da existncia da espcie humana, os homens vivem em grupos e a vida de um est sempre vinculada e na dependncia da vida de outros. Por exemplo, a organizao atual, no Brasil, funciona com a existncia de um Estado que governa, e dele depende todo o futuro da nao. As aes do governo provocam um efeito cascata, influenciando no preo dos alimentos, no aumento ou na diminuio dos impostos, na oferta de empregos, na qualidade de vida das pessoas, na criminalidade etc. Essa forma de organizao, a diviso em classes sociais e o capitalismo, que hoje rege praticamente o mundo todo, vo configurando as aes prticas e concretas dos homens.

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    Libneo (1990) explica tambm que, desde quando passaram a viver socialmente, os homens comearam a travar relaes de reciprocidade diante da necessidade de organizar seu trabalho em conjunto e garantir a sobrevivncia. Essas relaes se transformaram, criando novas necessidades, novas maneiras de organizar o trabalho, conforme sexo, idade, ocupaes, de maneira que existisse uma distribuio das atividades entre todos os envolvidos nesse processo.

    O tempo e os interesses de uma parte da populao se encarregaram de manifestar as relaes de desigualdade econmica e de classe. Para os primitivos, as relaes davam igual aproveitamento do trabalho em comum. Contudo, nos momentos seguintes da histria da sociedade, cada vez mais aumentavam a distribuio desigual do trabalho e o aproveitamento que se tirava deste.

    Figura 9 - O trabalho, a diviso de classes e o sistema capitalista refletem diretamente em como se configura a escolarizao.

    A diviso do trabalho fazia com que os indivduos se rotulassem em sua ocupao da atividade produtiva. Vejamos as etapas descritas por Libneo (1990, p. 19):

    Sociedade escravista: os meios de trabalho e o prprio trabalhador (escravo) eram propriedade dos donos da terra.

    Sociedade feudal: os servos trabalhavam gratuitamente para os donos da terra ou lhes pagavam tributos.

    Sociedade capitalista: existe uma diviso entre os proprietrios privados dos meios de produo (empresas, mquinas, bancos, instrumentos de trabalho etc.) e os que vendem sua fora de trabalho para seu prprio sustento, vivendo de um salrio.

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    Assim, configurou-se a histria da organizao do trabalho at a formao atual da sociedade capitalista, fortemente marcada pela diviso de classes, em que capitalistas e trabalhadores ocupam lugares opostos e antagnicos no processo produtivo. Os proprietrios tirando seus lucros da explorao da classe trabalhadora a maioria da populao , que obrigada a se submeter s condies impostas pelos proprietrios para sobrevivncia; mas o salrio mal chega a cobrir as necessidades bsicas.

    Mas o que isso tem a ver com a educao? TUDO! Uma vez que a alienao econmica dos meios e dos produtos do trabalho dos trabalhadores, que ao mesmo tempo uma alienao intelectual, determina a desigualdade social, definindo no apenas as condies materiais de vida e de trabalho dos indivduos, mas tambm o acesso cultura mental e educao.

    O poder alcanado pelo detentor do capital influencia toda forma de fomento manuteno desse sistema, fazendo com que todos os agentes da vida social reproduzam esse modelo de vida. A ausncia de outra maneira de organizao social provoca no capitalismo tudo o que este precisa para se manter. O desemprego, por exemplo, um excelente mecanismo para fazer com que o trabalhador implore por um emprego, vendendo sua fora de trabalho por qualquer compensao financeira.

    Foi notria a diviso entre as escolas dos ricos, onde os professores ensinavam os alunos a pensar, a serem crticos e criativos, para continuar detendo os meios de acumulao de capital, e as escolas dos pobres, que focava no trabalho manual como maneira de formar para o trabalho e para a explorao, a fim de que os alunos no pensassem nem questionassem, para no colocar em risco o esquema da elite.

    Figura 10 - A ideologia dominante faz com que acreditemos que as condies so as mesmas para todos e que somente no prospera quem no se esfora.

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    Libneo (1990, p. 19) destaca as ideias, os valores e as prticas apresentados pela minoria dominante como se fossem representativos dos interesses de todas as classes sociais, o que se conhece pelo nome de ideologia. Ele cita alguns discursos como exemplo da verdade que a minoria dominante queria incutir nos trabalhadores.

    O governo sempre faz o possvel; as pessoas que no colaboram.

    Os professores no tm que se preocupar com poltica, o que devem fazer cumprir sua obrigao na escola.

    Nossa sociedade democrtica porque d oportunidades iguais a todos. Se a pessoa no tem um bom emprego ou no consegue estudar porque tem limitaes individuais.

    As crianas repetem de ano porque no se esforam; tudo na vida depende do esforo pessoal.

    Bom aluno aquele que sabe obedecer.

    Essas frases mostram ideias e valores que no so muito reais. como se o governo estivesse acima das desigualdades e dos conflitos entre as classes sociais, fazendo com que parecesse ser um problema de incompetncia das pessoas e que a escolarizao pudesse reduzir as diferenas sociais porque d oportunidades iguais a todos, o que sabemos no ser verdade. Assim, essas meias-verdades escondem os conflitos sociais e tentam passar uma ideia positiva da situao. Pessoas ingnuas acabam assumindo essas crenas, valores e prticas como se fizessem parte da normalidade da vida e acreditando que a sociedade boa, os indivduos que destoam.

    dentro desse jogo de relaes sociais que a escola se insere, os professores trabalham e os alunos se desenvolvem. No trabalho do professor, esto presentes interesses dos mais diversos, sociais, polticos, econmicos, culturais, que precisam ser bem compreendidos por ele! E tambm que esses interesses no so imutveis. As relaes sociais so dinmicas e passveis de transformaes pelos indivduos pertencentes sociedade.

    Por esse motivo, o reconhecimento do papel poltico do docente envolve a luta pela modificao dessas relaes de poder. Para quem lida com a educao, tendo em vista a formao de um ser humano, imprescindvel que desenvolva a capacidade de descobrir as relaes sociais implicadas em cada acontecimento, em cada situao da vida real e da sua profisso, em cada matria que ensina e em seu prprio discurso, nos meios de comunicao de massa, nas relaes das pessoas cotidianamente e no trabalho.

    Conforme Libneo (1990, p. 22):

    O campo especfico de atuao profissional e poltica do professor a escola, qual cabem tarefas de assegurar aos alunos um slido domnio de conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, de pensamento independente, crtico e criativo. Tais tarefas representam uma significativa contribuio para a transformao de cidados ativos, criativos e crticos, capazes de participar nas lutas pela

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    transformao social. Podemos dizer que, quanto mais a minoria dominante refina os meios de difuso da ideologia burguesa, tanto mais a educao escolar adquire importncia, principalmente para as classes trabalhadoras.

    Preparar crianas e jovens para a participao ativa na vida social o objetivo mais imediato da escola pblica. Esse objetivo atingido pela instruo e pelo ensino, tarefas bsicas do trabalho do professor. A instruo permite a conquista do domnio dos conhecimentos sistematizados e a promoo do desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos. O ensino est mais ligado ao que corresponde s aes indispensveis para se realizar a instruo, sendo a atividade conjunta do professor e dos alunos, cuja qual transcorre o processo de transmisso e assimilao ativa de conhecimentos, habilidades e hbitos tendo em vista a instruo e a educao.

    A didtica e as metodologias especficas das disciplinas, com uso dos conhecimentos pedaggicos e tcnico-cientficos, so disciplinas que do condies ao docente em situaes de vida real cujas quais se realiza o ensino.

    Figura 11 - Somente com o domnio de muitos conhecimentos os indivduos sero capazes de lutar pela transformao da sociedade.

    Libneo (1990) diz que, em relao ao tipo de escola que deveramos ter para o exerccio da docncia, para uma sociedade melhor, a escolarizao bsica constitui um instrumento indispensvel para a construo de uma sociedade mais democrtica. Precisamos dar a todos uma formao que permita o domnio da parcela de conhecimentos culturalmente acumulados e um entendimento crtico da realidade.

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    O professor dever utilizar o estudo das matrias escolares e o domnio dos mtodos pelos quais desenvolve suas capacidades de conhecimento e habilidades para elaborar independentemente os conhecimentos, a fim de que os alunos possam expressar de forma elaborada os conhecimentos que correspondem aos interesses majoritrios da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais para sua transformao.

    Entretanto, inmeros problemas surgem para isso; o poder pblico ainda deixa a desejar no cumprimento da manuteno do ensino obrigatrio e gratuito, os recursos parecem ser insuficientes e malgastos, muitas escolas funcionam precariamente por falta de recursos materiais e didticos, os professores so mal remunerados e os alunos no possuem muitos recursos, os quais ajudariam muito na misso de aprender e se desenvolver.

    Muitos ainda apontam para o grande nmero de reprovaes nas escolas e, decorrente disso, a desistncia (evaso escolar). Dizem que a funo educativa adaptarmos os alunos para a vida social. Nesse caso, estaramos oferecendo uma educao ajustadora, que faz com que os alunos apenas se ajustem s condies de vida oferecidas, adversas ou no. Quando um aluno no consegue aprender e se desenvolver, costuma abandonar a escola; o que podemos chamar de fracasso escolar. Alm disso, dentro da prpria escola existem diferenas no modo de conduzir o processo de ensino, conforme a origem social dos alunos, geralmente discriminando os mais pobres, que se ainda conseguem persistir e ficar na escola recebem uma educao e um preparo muito inferior dos demais.

    Contudo, se ficarmos presos a essa falta de condies e a utilizarmos como desculpa, essa situao nunca mudar. Acreditamos que deva ser feito exatamente o oposto, ao invs da acomodao, devemos lutar por um trabalho que d condies de formar pessoas aptas luta social, que pretenda reverter essas desigualdades e exija melhores condies de vida, de trabalho, de estudos etc.

    Para a garantia de uma escolarizao capaz de lutar pela democratizao da sociedade, segundo Libneo (1990), necessria a atuao em duas frentes: poltica e pedaggica. A poltica tem carter pedaggico, pois visa formar para a sociedade e para o envolvimento dos educadores nos movimentos sociais e sindicais, nas lutas organizadas em defesa da escola unitria, democrtica e gratuita; a pedaggica tem carter poltico, pois parte de representar interesses estratgicos de toda uma populao, e no apenas da elite.

    A escola deve ser unitria, porque tem que garantir uma base comum de conhecimentos slidos e consistentes a toda a populao nacional, de um saber sistematizado que d condies de uma compreenso mais ampla por parte do aluno a fim de form-lo criticamente em funo dos interesses da populao majoritria igualmente, sem discriminar por classe, cor de pele, poder aquisitivo etc.

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    Figura 12 - necessrio se garantir o acesso e a permanncia dos alunos nas escolas. A reprovao uma das causas da evaso escolar, denotando o que alguns chamam de fracasso escolar.

    A escola pblica deve ser democrtica, ou seja, todos devem ter acesso a ela. Alm disso, deve garantir a permanncia dos alunos, no mnimo, at o final da Educao Bsica (Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio) e oferecer um ensino de qualidade que leve em conta as caractersticas especficas daqueles que a frequentam. Deve ser democrtica inclusive nos mecanismos de gesto interna, ou seja, todos devem estar envolvidos e buscar participar do poder que decide os rumos que a instituio de ensino deve tomar. A gratuidade da escola pblica garantida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n 9394/962.

    Para finalizar, importante ser dito que deve haver um compromisso social e tico por parte dos professores, que nada mais do que seu permanente empenho na instruo e na educao dos alunos, dirigindo o ensino e as atividades de estudo de modo que estes dominem os conhecimentos

    2 Art. 4 O dever do Estado com educao escolar pblica ser efetivado mediante a garantia de:I - ensino fundamental, obrigatrio e gratuito, inclusive para os que a ele no tiveram acesso na idade prpria;II - progressiva extenso da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino mdio;III - atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente

    na rede regular de ensino;IV - atendimento gratuito em creches e pr-escolas s crianas de zero a cinco anos de idade;V - acesso aos nveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criao artstica, segundo a capacidade de cada

    um;VI - oferta de ensino noturno regular, adequado s condies do educando;VII - oferta de educao escolar regular para jovens e adultos, com caractersticas e modalidades adequadas s

    suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores as condies de acesso e permanncia na escola;

    VIII - atendimento ao educando, no ensino fundamental pblico, por meio de programas suplementares de material didtico-escolar, transporte, alimentao e assistncia sade;

    IX - padres mnimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mnimas, por aluno, de insumos indispensveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

    X vaga na escola pblica de educao infantil ou de ensino fundamental mais prxima de sua residncia a toda criana a partir do dia em que completar 3 anos de idade. (Redao dada pela Lei n 11.700, de 2008).

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    bsicos e as habilidades e desenvolvam suas foras, capacidades fsicas e intelectuais, tendo em vista equip-los para enfrentar os desafios da vida prtica no trabalho e nas lutas sociais pela democratizao da sociedade.

    2.3 A psicologia na educao

    A psicologia educacional preocupa-se em estudar como os aspectos fsico-motor, intelectual ou cognitivo, afetivo-emocional e social, desde o nascimento at a idade adulta, se desenvolvem e interferem na capacidade de aprender na pessoa do aluno, evitando uma atividade desvinculada das capacidades humanas e dos limites das possibilidades de cada pessoa.

    Tabela 1 - A preocupao da psicologia educacional volta-se para os conjuntos funcionais humanos (motor, afetivo e cognitivo)

    Aspecto cognitivo

    Formao do ser humano

    Aspecto motor

    Aspecto afetivo

    Os trs aspectos se articulam mutuamente

    Todos seencontram

    sempre

    O professor que negligencia alguns aspectos importantes das dinmicas de desenvolvimento e aprendizagem corre o risco de no apenas deixar de ensinar, como tambm de trazer problemas srios capacidade de aprender e se desenvolver dos alunos.

    Cada um de ns tem uma maneira de se comportar, em parte por conta da cultura, da influncia gentica, das nossas escolhas, incluindo as pessoas ao nosso redor, que nos influenciam a todo instante.

    Algumas regras de desenvolvimento j existem graas cincia moderna, da mesma forma isso ocorre na capacidade de os seres humanos aprenderem.

    Decorrente disso tudo, vm as questes: possvel aprender sem se desenvolver? Ou, do outro lado, possvel se desenvolver sem aprender?

    As respostas a essas perguntas esto nas interessantes teorias do desenvolvimento e da aprendizagem. Por serem perguntas complexas, as respostas tambm o so.

    O nico fato irrefutvel que seria leviano um professor no conhecer cientificamente como uma criana se desenvolve e aprende. Seria como aplicar uma atividade de ensino arriscando cometer erros que podiam ser evitados com o conhecimento terico.

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    Essa cincia, como subdiviso da psicologia e da pedagogia, como reas que se inter-relacionam, tem por objetivo fornecer um olhar pelas lentes da psicologia nos assuntos relacionados com o desenvolvimento da pessoa humana e de como a aprendizagem acontece decorrente de questes de ensino. O fim maior o de proporcionar ao professor uma familiaridade com as questes decorrentes do natural desenvolvimento que costuma ocorrer com seus alunos, assim como as implicaes com a aprendizagem, uma vez que para ensinar o professor deve conhecer a dinmica de desenvolvimento dos alunos, como eles pensam, sentem e agem diante das circunstncias da vida diria.

    Para se pensar sobre as questes didticas, como a forma de organizar as condies do ensino para os alunos e a interao entre a trade professor aluno conhecimento, a Psicologia Educacional oferece uma viso suficientemente boa para que tudo ocorra de forma muito natural, desde que respeitadas as caractersticas do desenvolvimento e da aprendizagem dos alunos como seres humanos.

    Para que os professores possam exercer sua atividade de ensino, eles precisam se inteirar de todas as variveis envolvidas nessa atividade, como, por exemplo, a forma de se desenvolver e aprender do aluno.

    3 A DIDtICA CoMo teorIA e tCnICA DA InStruo e Do enSIno: CoMo A HIStrIA AJuDA nA CoMPreenSo Do HoJe

    A histria da didtica explica como foi se configurando o aparecimento do ensino no decorrer do desenvolvimento da sociedade, da produo e das cincias, como forma de atividade sistematizada e planejada, intencional, dedicada instruo.

    Segundo Haydt (2002), desde a Antiguidade at por volta do sculo XIX, a prtica escolar predominante era do tipo passivo e receptivo. Aprender estava mais ligado ao que conhecemos como memorizar do que compreender. Considerava-se o ser humano mais como uma massa de modelar, e o professor tinha a possibilidade de transform-lo naquilo que quisesse. Desde a Grcia Antiga, com Aristteles, era processada essa concepo, semelhante ao que foi teorizado muito mais tarde, no sculo XVII, com a Teoria da Tbula Rasa.

    Para o filsofo ingls John Locke (1632/1704), todas as pessoas ao nascer o fazem sem saber de absolutamente nada, sem nenhuma impresso nem conhecimento. Ento todo o processo do conhecer, do saber e do agir aprendido pela experincia, pela tentativa e erro, o homem nasce como se fosse uma folha em branco.

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    Figura 13 - Filsofo John Locke

    Durante sculos, o estudo dos textos literrios, da gramtica, da histria, da geografia, das cincias fsicas e biolgicas caracterizou-se pela decorao. O importante era que o aluno reproduzisse palavras mecanicamente, sem se importar com a reflexo e a compreenso.

    Como primeiras manifestaes de ensino e didtica, no podemos deixar de citar a contribuio do filsofo Scrates (sculo V a.C.). Para ele, o saber no era algo que algum de fora (mestre) pudesse transmitir; era uma descoberta realizada pela prpria pessoa. A funo do mestre, segundo Scrates (apud Haydt, 2002), apenas ajudar o discpulo a descobrir, por si mesmo, a verdade. Ele, inclusive, comparava sua profisso de sua me, que era parteira, dizendo que ela no dava luz as crianas, as ajudava a nascer, como ele fazia com seus discpulos em relao ao conhecimento.

    Seu mtodo chamava-se ironia e funcionava em duas etapas. A primeira, chamada refutao, era o momento em que ele levantava objees sobre as opinies manifestadas pelos discpulos, at quando estes admitissem sua prpria ignorncia e se dissessem incapazes de definir o que anteriormente haviam dito conhecer to bem. A segunda, chamada maiutica, era o momento em que o discpulo admitia que nada sabia e, partindo do conhecido para o desconhecido, do mais fcil para o mais difcil, Scrates ia conduzindo, por meio de perguntas, um dilogo capaz de induzir para a descoberta do conhecimento pelo interlocutor. Conta-se que foi capaz de fazer com que um escravo descobrisse noes de geometria utilizando esse mtodo. Ele afirmava que os mestres deveriam ter pacincia com os erros e as dvidas de seus discpulos, pois a partir da que eles poderiam progredir.

    Quase dois mil anos depois, nascia o pai da didtica. Joo Ams Comnio (1592/1670), um pastor protestante que escreveu a primeira obra clssica sobre didtica, a Didactica Magna.

    Segundo Libneo (1990), Comnio foi o primeiro educador a formular a ideia da difuso dos conhecimentos e a criar princpios e regras de ensino. Ele desempenhou um papel importante no

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    apenas porque desenvolveu mtodos de instruo mais rpidos e eficientes, mas tambm porque queria que todos usufrussem dos benefcios do conhecimento.

    Figura 14 - Scrates. At hoje, muitos professores utilizam algumas partes de seu mtodo didtico.

    O sistema de produo capitalista j influenciava a organizao da vida social, poltica e cultural da poca. Sua didtica, com ideias avanadas e que no contrapunham as ideias conservadoras da nobreza e do clero, pautava-se nos seguintes princpios:

    A finalidade da educao conduzir a felicidade eterna com Deus. Todos os homens merecem a sabedoria, a moralidade e a religio, porque todos, por natureza, so parte dos desgnios de Deus. Assim, a educao um direito natural de todos.

    Por ser parte da natureza, o homem deve ser educado de acordo com seu desenvolvimento natural, dentro de suas capacidades de conhecimento. Portanto, a tarefa principal da didtica estudar tais caractersticas e os mtodos de ensino coerentes que correspondam a essas fases.

    A assimilao dos conhecimentos no se d instantaneamente. Por isso, o ensino tem um papel decisivo na percepo sensorial das coisas. O conhecimento deve ser adquirido a partir da observao das coisas e dos fenmenos, utilizando e desenvolvendo sistematicamente os rgos dos sentidos.

    O mtodo intuitivo consiste numa observao direta pelos rgos dos sentidos, das coisas, para o registro das impresses na mente do aluno.

    Primeiramente as coisas, depois as palavras. O planejamento de ensino deve obedecer ao curso da natureza infantil; por isso, as coisas devem ser ensinadas uma de cada vez, e somente o que a criana possa aprender, partindo do conhecido para o desconhecido.

    Apesar da grande novidade dessas ideias naquela poca, Comnio no escapou de algumas crenas comuns sobre o ensino. Mesmo partindo da observao e da experincia sensorial, manteve o carter da transmisso do ensino e, ainda que tenha tentado adapt-lo s fases de desenvolvimento infantil, o mtodo funcionava de forma nica com todos os alunos.

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    Outra coisa a supervalorizao da percepo sensorial. Sabemos que as percepes podem nos enganar e tambm que j existe uma gama de conhecimentos sensoriais que no necessitam ser reaprendidos.

    Contudo, Comnio teve um papel importantssimo no apenas porque se empenhou em desenvolver mtodos de instruo mais eficientes e rpidos, mas porque dava igual importncia a todos os alunos.

    Ainda assim, mesmo com essas excelentes contribuies possveis at aquele momento histrico, continuava-se a utilizar os mtodos da Idade Mdia, com ensino intelectualista, verbalista e dogmtico, de memorizao e repetio mecnica, em que as ideias dos alunos no interessavam.

    O contexto histrico de transio entre os meios de produo antigos (com o clero e a nobreza dominando) foi se enfraquecendo, e o capitalismo crescendo. Esse fato pedia uma importante mudana para a valorizao do desenvolvimento livre das capacidades e dos interesses individuais.

    O filsofo Jean Jacques Rousseau (1712/1778), interpretando bem essas aspiraes, props uma nova concepo de ensino, com base nas necessidades e nos interesses imediatos da criana. As ideias mais importantes de Rousseau, segundo Libneo (1990):

    So os interesses e as necessidades do aluno que determinam a organizao do estudo e seu desenvolvimento. Eles precisam despertar o gosto pelo estudo, e nada melhor do que a natureza, a experincia e o sentimento para essa conquista.

    A educao um processo natural que se fundamenta no desenvolvimento interior do aluno. As crianas so boas por natureza, tm uma tendncia natural para se desenvolver.

    Rousseau no elaborou propriamente uma teoria de ensino, nem colocou nada em prtica. Quem deu continuidade a essas primeiras influncias foi outro pedagogo suo, Henrique Pestalozzi (1766/1841), que trabalhou durante toda vida com a educao de crianas pobres em suas instituies. Ele atribuiu grande importncia ao ensino como meio de educao e desenvolvimento das capacidades do ser humano por meio do cultivo do sentimento, da mente e do carter.

    Pestalozzi, ao valorizar o mtodo intuitivo, levou muitos alunos a desenvolver o senso de observao, a anlise dos objetos, os fenmenos da natureza e a capacidade da linguagem, aquela capaz de expressar em palavras o resultado das observaes. Isso foi o que consistiu em uma educao intelectual, valorizando fortemente a psicologia da criana como base da compreenso do desenvolvimento infantil.

    As ideias dos gregos antigos, de Comnio, de Rousseau e de Pestalozzi influenciaram outros pedagogos. Podemos dizer que at hoje se encontram traos caractersticos dessas teorias nas prticas de alguns professores.

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    Depois desses pensadores, o pedagogo alemo Johann Friedrich Herbart (1766/1841) foi um dos que mais influenciaram a formao de uma corrente conservadora da educao. Deixou muitos discpulos e ideias que precisam de uma ateno especial, j que tiveram presena constante na histria da educao brasileira. Herbart formulou teoricamente sobre os fins da educao e da pedagogia como cincia, alm de desenvolver uma anlise do processo psicolgico-didtico de aquisio do conhecimento sob a direo do professor. Para ele, a moralidade o princpio maior da educao, que deve ser atingida mediante a prtica educativa. Ao homem, a instruo deve buscar que ele queira o bem, de modo que aprenda a comandar a si prprio. O professor auxilia nesse processo introduzindo ideias corretas na mente dos alunos, como um arquiteto da mente, trazendo a ateno dos alunos para as ideias desejadas pelo professor, controlando seus interesses. O mtodo consiste em provocar uma espcie de acumulao de ideias na mente da criana.

    Herbart buscou tambm a formulao de um mtodo de ensino nico, em conformidade com as leis psicolgicas do conhecimento. Estabeleceu quatro passos didticos que deveriam ser rigorosamente seguidos: apresentao e preparao da nova matria, que ele denominou de clareza; aps, seria o momento de associao entre o conhecimento antigo e o novo; o terceiro a sistematizao dos conhecimentos, visando generalizao para outras reas; por ltimo, chegado o momento do mtodo, como forma de aplicao e exerccios.

    Seus discpulos aperfeioaram essa proposta e desenvolveram uma verso com cinco passos: preparao, apresentao, assimilao, generalizao e aplicao, ainda utilizada por muitos professores no Brasil.

    O sistema pedaggico herbatiano trouxe contribuies vlidas para a organizao da prtica docente. Por exemplo: a necessidade de estruturar e ordenar o processo de ensino, a exigncia de compreenso dos assuntos estudados, e no apenas a memorizao, o significado educativo da disciplina na formao do carter.

    Contudo, o ensino era entendido como uma transferncia da mente do professor para a do aluno, com a necessidade de reproduo das ideias do professor pelo aluno. Com isso, tivemos uma aprendizagem mecnica, que no proporcionava nada melhor do que uma memorizao, sem reflexo, e muito menos o pensamento independente e criativo dos alunos.

    4 AS tenDnCIAS DIDtICo-PeDAGGICAS3

    Segundo Libneo (1985), verificam-se trs tipos de tendncias que interpretam o papel da educao na sociedade: a educao como redeno, a educao como reproduo e a educao como transformao da sociedade.

    Saviani (2003) chama de teorias no crticas o que Libneo (1985) chama de tendncias liberais de educao ou educao como redeno. Todos esses termos convergem para a crena ingnua de que a educao seria, por si s, suficiente como fator de ascenso social, sem que fosse necessrio adentrarmos nas questes sociopolticas que a determinam.

    3 A principal referncia, inclusive da estrutura de apresentao dessas tendncias, foi Libneo.

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    Esse tipo de reflexo indica a ausncia de uma criticidade sociolgica e encontra fatores de perpetuao da desigualdade ou determinantes de uma herana social que coloca a escola como reprodutora de uma sociedade injusta e antidemocrtica.

    Essas teorias visam trabalhar com propostas prticas e julgando-as como suficientemente capazes de tirar o sujeito de sua condio de desigualdade; entretanto, sem que haja uma ateno a todo o contexto socialmente montado, o que se configura numa falta de criticidade, ou numa ingenuidade total. So chamadas de liberais pois, ao defenderem a predominncia da liberdade e dos interesses individuais da sociedade, estabeleceram uma forma de organizao social baseada na propriedade privada dos meios de produo, tambm denominada sociedade de classes. A Pedagogia Liberal, portanto, uma forma de manifestao desse tipo de sociedade, que acaba por ser uma forma de justificao do sistema capitalista.

    Saviani (2003) chama de teorias crtico-reprodutivistas o que Libneo (1985) chamou de educao como reproduo. Elas so assim chamadas porque no apresentam uma proposta prtica; apenas se limitam a criticar sociologicamente toda a formao da reproduo social de classes, a ausncia de uma democracia. Colocam que a escola reproduz a desigualdade fora dela, mas no fazem nada para combater essa forma de desigualdade. Diferente das primeiras, que viam a educao como capaz de promover a mudana social, combatendo o fenmeno da marginalidade, o que sabemos ser ingenuidade, as teorias crtico-reprodutivistas so como diz o nome a elas dado: crticas; mas se limitam a criticar e nada fazer de concreto, no produziram nenhuma proposta de trabalho didtico-pedaggico.

    Por ltimo, segue o que Saviani (2003) chamou de teorias crticas da educao, e Libneo (1985) as denominou de educao como transformao da sociedade ou progressistas. Estas, como uma espcie de juno das duas primeiras, so crticas, como as crtico-reprodutivistas, por acreditarem nos determinantes sociais a que a escola se submete como fatores de reproduo da desigualdade existente na sociedade atual e na falta de uma democracia real e batalhadora de condies mais justas e igualitrias de vida; tambm so propostas prticas, como as liberais, por apresentarem uma forma de trabalho pedaggico que visa atuar dentro das escolas, mas no de forma ingnua, como as liberais, e sim buscando uma transformao da sociedade em algo mais justo e democrtico, combatendo a reproduo da desigualdade social.

    Dessas trs abordagens tericas, apenas a Pedagogia Liberal e as progressistas sero aprofundadas neste livro-texto, pois as teorias crtico-reprodutivistas no possuem uma aplicabilidade prtica, apesar de seu valor pelos apontamentos tericos que fazem.

    Saiba mais

    Leia o livro de Dermeval Saviani, Escola e democracia. Campinas: Autores Associados, 2003. E conhea mais sobre as teorias crtico-reprodutivistas.

    So elas: Teoria do Sistema de Ensino como Violncia Simblica, Teoria da Escola como Aparelho Ideolgico de Estado (AIE) e a Teoria da Escola Dualista.

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    A Pedagogia Liberal tambm tem a caracterstica de ser um tipo de educao ajustadora, uma vez que apenas ajusta o aluno para que este possa participar da reproduo da sociedade. Essa pedagogia possui muitas correntes tericas; entretanto, as que mais se destacaram e que iremos detalhar aqui so quatro: Tradicional, Renovada Progressivista, Renovada no diretiva e Tecnicista.

    No outro lado, temos a Pedagogia Progressista, que possui a caracterstica de uma educao transformadora, por dar condies de desenvolvimento aos alunos, permitindo que tenham capacid