Dialogia Do Riso - Um Novo Conceito Que Introduz Alegria - MATRACA; WIMMER; CREMONINI.

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ARTIGO ARTICLE 4127 1 Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos, Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz). Av. Brasil 4365, Manguinhos. 21040-360 Rio de Janeiro RJ. [email protected] 2 Gerente da Clinica Saúde da Família Cantagalo, Pavão e Pavãozinho, Secretária Municipal de Saude e Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro - SMSDC/RJ Dialogia do riso: um novo conceito que introduz alegria para a promoção da saúde apoiando-se no diálogo, no riso, na alegria e na arte da palhaçaria. Dialogy of Laughter: a new concept introducing joy for health promotion based on dialogue, laughter, joy and the art of the clown Resumo Apresentamos e debatemos a Dialogia do Riso, um conceito baseado na prática da educação popular em saúde desenvolvida com alegria. Saúde entendida como um recurso para a vida e não como um objetivo de viver; promoção da saúde como uma reação positiva que leva a uma percepção ampliada, integrada, complexa e intersetorial: ar- ticula ambiente, educação, pessoas, estilo e quali- dade de vida. O riso pode então ser incorporado como ferramenta de promoção da saúde, tese que defendemos. Para isso apresentamos considerações sobre o diálogo, o riso, a alegria e o palhaço, con- ceituando a Dialogia do Riso. O diálogo, fala entre duas ou mais pessoas para entendimento de algu- ma ideia mediada pela comunicação, é uma meto- dologia de reflexão conjunta, que visa melhorar a produção de novas ideias e compartilhar signifi- cados, essência da comunicação. O riso é um fenô- meno universal, condicionado a aspectos da cul- tura, da filosofia, da história e da saúde; é dialógi- co, porque, através do humor nos deparamos com a comédia e o escárnio que existe por traz de cada riso, um código de comunicação inerente à natu- reza humana. Arrolamos argumentos para defen- der a alegria como estratégia para a promoção da saúde, e adotamos o palhaço, e usamos sua arte como ferramenta educacional que pode ser inte- grada como tecnologia social. Palavras-chave Dialogia do riso, Promoção da saúde, Alegria, Palhaço Abstract The Dialogy of Laughter – a concept based upon the praxis of general health education performed with joy – is presented and discussed. Health is seen as a resource for life rather than a goal in life and promotion of health is a positive reaction leading to a broader, integrated and com- plex perception linking the environment, educa- tion, people, quality and style of life. Laughter can then be incorporated as a tool in health pro- motion as defended here. Considerations on dia- logue, laughter, joy and the clown giving rise to the Dialogy of Laughter concept are presented. Dialogue, namely an exchange between two or more persons for the comprehension and transfer of ideas, is a methodology for joint thinking to produce new ideas and to share meaning, which is the essence of communication. Laughter is a universal phenomenon linked to aspects of cul- ture, philosophy, history and health. It is dialog- ic, since through humor the comedy and the wit contained in each laugh, which is a communica- tion code inherent to human nature, are revealed. Joy as a strategy for health promotion is high- lighted and the art of the clown, using this art as an educational tool that can be integrated as a social technology, are adopted. Key words Dialogy of laughter, Promotion of health, Joy, Clown Marcus Vinicius Campos Matraca 1 Gert Wimmer 2 Tania Cremonini de Araújo-Jorge 1

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1 Laboratório de Inovaçõesem Terapias, Ensino eBioprodutos, InstitutoOswaldo Cruz (Fiocruz).Av. Brasil 4365,Manguinhos. 21040-360Rio de Janeiro [email protected] 2 Gerente da Clinica Saúde daFamília Cantagalo, Pavão ePavãozinho, SecretáriaMunicipal de Saude e DefesaCivil do Estado do Rio deJaneiro - SMSDC/RJ

Dialogia do riso: um novo conceito que introduz alegriapara a promoção da saúde apoiando-se no diálogo,no riso, na alegria e na arte da palhaçaria.

Dialogy of Laughter: a new concept introducing joy for healthpromotion based on dialogue, laughter, joy and the art of the clown

Resumo Apresentamos e debatemos a Dialogia doRiso, um conceito baseado na prática da educaçãopopular em saúde desenvolvida com alegria. Saúdeentendida como um recurso para a vida e não comoum objetivo de viver; promoção da saúde comouma reação positiva que leva a uma percepçãoampliada, integrada, complexa e intersetorial: ar-ticula ambiente, educação, pessoas, estilo e quali-dade de vida. O riso pode então ser incorporadocomo ferramenta de promoção da saúde, tese quedefendemos. Para isso apresentamos consideraçõessobre o diálogo, o riso, a alegria e o palhaço, con-ceituando a Dialogia do Riso. O diálogo, fala entreduas ou mais pessoas para entendimento de algu-ma ideia mediada pela comunicação, é uma meto-dologia de reflexão conjunta, que visa melhorar aprodução de novas ideias e compartilhar signifi-cados, essência da comunicação. O riso é um fenô-meno universal, condicionado a aspectos da cul-tura, da filosofia, da história e da saúde; é dialógi-co, porque, através do humor nos deparamos coma comédia e o escárnio que existe por traz de cadariso, um código de comunicação inerente à natu-reza humana. Arrolamos argumentos para defen-der a alegria como estratégia para a promoção dasaúde, e adotamos o palhaço, e usamos sua artecomo ferramenta educacional que pode ser inte-grada como tecnologia social.Palavras-chave Dialogia do riso, Promoção dasaúde, Alegria, Palhaço

Abstract The Dialogy of Laughter – a conceptbased upon the praxis of general health educationperformed with joy – is presented and discussed.Health is seen as a resource for life rather than agoal in life and promotion of health is a positivereaction leading to a broader, integrated and com-plex perception linking the environment, educa-tion, people, quality and style of life. Laughtercan then be incorporated as a tool in health pro-motion as defended here. Considerations on dia-logue, laughter, joy and the clown giving rise tothe Dialogy of Laughter concept are presented.Dialogue, namely an exchange between two ormore persons for the comprehension and transferof ideas, is a methodology for joint thinking toproduce new ideas and to share meaning, whichis the essence of communication. Laughter is auniversal phenomenon linked to aspects of cul-ture, philosophy, history and health. It is dialog-ic, since through humor the comedy and the witcontained in each laugh, which is a communica-tion code inherent to human nature, are revealed.Joy as a strategy for health promotion is high-lighted and the art of the clown, using this art asan educational tool that can be integrated as asocial technology, are adopted.Key words Dialogy of laughter, Promotion ofhealth, Joy, Clown

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Introdução

Dizia o poeta Vinicius de Moraes1: a vida é a artedo encontro, apesar de tanto desencanto e de-sencontro. Diversas redes sociais e movimentosvirtuais promovem encontros para dialogar ecompartilhar experiências no campo da saúde,construindo estratégias e articulando questõesreferentes à qualidade de vida. Essa prática po-tencializa virtudes como a solidariedade humanae supera gradualmente o modelo biomédico as-sistencialista e privatista, para uma efetiva pro-moção da saúde coletiva. Dentre estas estratégi-as, observam-se movimentos de valorização doriso no campo da saúde, tendo como principalreferência os palhaços de hospital2,3.

O sorriso é a distância mais curta entre duaspessoas, nos afirma a frase de Borge na chargeque ilustra o trabalho do Ministério da Saúdesobre Educação Popular4. Entretanto, para Valia-te e Tozzi3, o riso como ferramenta dialógica épouco difundido entre os profissionais e os usu-ários dos serviços de saúde. Ele é importante paraa construção de vínculos com a população nosserviços de saúde, pois desarma, aproxima, que-bra barreiras e estimula a capacidade de reflexão.

Temos desenvolvido trabalhos com a arte dapalhaçaria, promovendo saúde por meio do riso5.Práticas realizadas pelo Palhaço Matraca foramdocumentadas nos curtas metragens Matraca e oPovo Invisível6 e Na Pista7, nos quais a palhaçariasubverte e promove uma divertida interação coma população de rua e com profissionais do sexo.Em nossa publicação sobre essas experiências5

relatamos que o riso é libertador, subverte e burlaa ordem das coisas, para que o expectador ador-ne-se com a arte de rir da sua própria condição,transmutando assim sua realidade.

Desse modo, o riso ajuda a contrapor a ideiade saúde como simples ausência de doença ouum completo bem-estar, tese defendida inicial-mente como conceito universal da saúde pelaOMS desde 19468. Em 1986, a Carta de Ottawa9

firmou-se como um marco na construção doconceito de Promoção da Saúde. Neste documen-to, saúde é entendida como um recurso para avida e não como um objetivo de viver. Desta for-ma, a Promoção da Saúde para Lefevre10, é umareação “positiva” (positivo de positividade e nãode positivismo), que conduz para uma percep-ção ampliada, integrada, complexa, intersetori-al, relacionando saúde com ambiente, educação,pessoas, estilo e qualidade de vida, dentre outros.Neste sentido, o riso é um elemento que pode serincorporado como ferramenta de Promoção da

Saúde, premissa que buscamos sustentar teori-camente neste trabalho.

O Sistema Único de Saúde (SUS) nasce emmeados dos anos 70, em meio à consciência revo-lucionária dos pesquisadores, militantes sociais,políticos, artistas e representantes comunitários.Seus preceitos demonstram a preocupação comuma ética social traduzida pela universalidade,equidade, integralidade, descentralização – mu-nicipalização, regionalização – hierarquização eparticipação popular. Segundo Rodrigues e San-tos11, o SUS, em menos de duas décadas, trans-formou-se no maior projeto público de inclusãosocial do mundo, no qual 110 milhões de pessoassão atendidas por agentes comunitários de saúdeem 95% dos municípios do Brasil, e 87 milhõessão atendidos por 27 mil equipes de saúde da fa-mília por todo o país. A concepção de saúde comodireito social encontra-se na Constituição Fede-ral de 198812, Art. 196: “A saúde é direito de todose dever do Estado, garantido mediante políticassociais e econômicas que visem à redução do ris-co de doenças e de outros agravos e ao acessouniversal e igualitário às ações e serviços para suapromoção, proteção e recuperação”.

O processo dialógico - ou simplesmente o diá-logo - entre o indivíduo e as coletividades é indis-pensável nos espaços de atuação do SUS, potenci-alizando uma práxis em saúde que não valorizaapenas a manutenção ou a recuperação do esta-do de saúde, posto que este é dinâmico: ao enve-lhecer não se tem mais nem menos saúde, masuma saúde diferente. A saúde, portanto, não éausência de doença e, deste modo, amplia-se oolhar da saúde sobre as condições de vida da po-pulação, quando se deseja ir além da prestação deserviços clínico-assistenciais. Neste contexto, nosunimos a Sicoli e Nascimento13 na proposição deações inter-setoriais que envolvam tecnologiaseducativas e sociais, construídas dialogicamente.

As dimensões éticas e culturais são essenciaispara o cuidado da saúde dos indivíduos e dosgrupos populacionais. A adoção do universo lú-dico como instrumental para a promoção dasaúde é uma tecnologia inovadora que está sen-do investigada no meio acadêmico, tal como vemocorrendo com o projeto Saúde e Brincar14, umprograma de atenção integral à criança hospita-lizada que, desde 1994, desenvolve atividades lú-dicas nas enfermarias e ambulatórios do Institu-to Fernandes Figueira/Fiocruz. O programa temcaráter interdisciplinar e funciona nas áreas deassistência, ensino e pesquisa, atuando nas en-fermarias e nos ambulatórios. Crianças e seusacompanhantes são convidados a brincar, favo-

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recendo as relações entre os usuários e a equipede saúde.

Dentre centenas de exemplos, encontram-setrabalhos sobre o “capital social” das crianças15,a prescrição de música para tratamento de ansi-edade crônica16, brincar e aprender17, saúde depessoas em situação de rua18, e o projeto Saúde eAlegria19 . Visto que o campo da saúde é muitomais amplo do que o da doença, propomos edefendemos neste trabalho o conceito de Dialo-gia do Riso como ferramenta de interação e gera-ção de conhecimento, entendendo que a práticada saúde pode acontecer em qualquer espaçosocial. Promover saúde com alegria fortalece oexercício da cidadania: compartilhando conheci-mento, brincando e harmonizando-se com seusemelhante, pois na “na saúde ou na doença”somos todos um.

Interlude

De inicio cabe esclarecer que não é a propostadeste artigo – e nem temos a pretensão de – dis-correr longamente sobre o surgimento dos con-ceitos que serão apresentados. Queremos apre-sentar pontos importantes sobre o diálogo, o riso,a alegria e o palhaço, que consideramos essenci-ais para a reflexão conceitual da Dialogia do Riso.

O diálogo

Segundo o dicionário Houaiss20, a palavra“diálogo” do grego dialogos, significa fala entreduas ou mais pessoas na busca do entendimentode alguma ideia mediada pela comunicação, ob-jetivando a solução de problemas e sua harmo-nia. O diálogo é a essência da comunicação hu-mana, sempre com um locutor, que apresentaum tema discursivo, e um interlocutor, que per-cebe, reage, responde e constrói sentidos com odiscurso emitido.

O diálogo também pode ser uma atividadede reflexão e observação da experiência vivida.Imaginemos que a práxis dialógica seja um jogocom normas iniciais e sua continuidade dependaapenas dos participantes. Mariotti21 ressalta quenão devemos confundir normas operacionaiscom receitas, bem como o uso exagerado de téc-nicas e métodos com normas operacionais. Atemperança que o autor nos apresenta para aprática dialógica é: a) ouvir para aprender algode novo e não para conferir com crenças prévias;b) respeitar as diferenças e a diversidade; c) refle-tir sem julgar; d) ter sempre em mente que oobjetivo é criar e aprender, e não “ter razão” e sair

vencedor. O diálogo é uma metodologia de refle-xão conjunta, que visa melhorar a produção denovas ideias e compartilhar significados.

Nesta perspectiva ao afirmarem que “o cami-nho se faz caminhando” Myles Horton e PauloFreire22, defendem a construção da práxis dialó-gica usando como ponto de partida a realidadeobservada. Esta práxis deve ser híbrida, agregan-do diversos olhares e saberes, tendo como bússo-la metodológica a promoção de encontros e diá-logos. Horton afirmou que custou a compreen-der que não precisava saber, mas sim ter visão, ouapenas deixar as situações se desenvolverem utili-zando sempre o conhecimento acumulado e dis-ponível na construção coletiva do saber. Cami-nhando é possível acreditar na realização de en-contros e na construção de uma práxis dialógicaem prol da vida humana. Segundo Deleuze23, oimaginário humano jamais seria capaz de conta-bilizar as possibilidades geradas pelo encontro.

Segundo Paulo Freire24, o diálogo não impõe,não maneja e não domestica. Portanto, atravésdo diálogo cria-se uma importante ferramentade vínculo, fluxos, sentidos e informações neces-sárias que colaboram nas ações de promoção dasaúde. Esta tarefa não se limita à esfera de poderdo Estado, centros de pesquisa, empresas médi-cas e organizações comunitárias. A práxis da pro-moção da saúde depende da participação coletivae de estratégias que envolvam micro-políticas lo-cais, sem perder de vista a necessidade de se man-ter em rede25. E a geração de encontros facilita aconstrução compartilhada de conhecimentos notrabalho em saúde26.

Na pedagogia de Paulo Freire o diálogo é abor-dado como uma ação essencialmente humana,um ato de amor, coragem, liberdade e confiançano próximo. Freire define que o pensamento crí-tico se constitui a partir do diálogo e molda oconceito de “dialogia”. Na pedagogia do oprimi-do24, o diálogo apresenta-se como a horizontali-zação da relação entre A e B, gerando uma matrizcrítica e comunicativa. Na relação inversa encon-tramos a antidialogia, onde a relação entre A e Bocorre de forma vertical, gerando o comunicadoe não a comunicação. Freire nos afirma que asustentabilidade da teoria antidialógica se alimen-ta da conquista e dominação do outro, da manu-tenção e divisão das classes sociais, onde o opri-mido é imerso em uma realidade de manipulaçãoe padrões sociais que freiam sua criatividade ini-bindo a sua expansão. Ele acentuou a necessidadede uma revolução no processo pedagógico paraefetivamente rompermos com a educação bancá-ria que forma os seres em série, para pactuarmos

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com a pedagogia da liberdade, que potencializa aprática da autonomia do ser e do diálogo.

Mikhail Bakhtin27,28 defende que a comuni-cação só existe na reciprocidade do diálogo, sen-do fator fundamental na produção comunicati-va, ou seja, só é possível com prática. O pensa-dor russo afirma que em primeiro lugar está alinguagem direta, a linguagem patética, a lingua-gem no sentido próprio, aquela que é utilizadasem distanciamento, sem refração, sem consci-ência linguística explícita, utilizada por figurassólidas como os bufões27. Para Bakhtin, a dialo-gia ocorre quando a interação entre os sujeitosfavorece a construção coletiva do saber, constru-indo uma relação horizontal. Em suas palavras:“O diálogo inconcluso é a única forma adequa-da de expressão verbal de uma vida autêntica”28.O indivíduo é percebido como sujeito coletivoque, por intermédio do diálogo, atua no mundo,relacionando suas informações anteriores comsuas experiências, dialogando e contextualizan-do sua realidade com seus pares. Para este artigoadotamos o conceito de dialogia, que para o au-tor russo é tratado enquanto diálogo entre inter-locutores através da interação comunicativa.

Neste sentido, a criação de mecanismos dediálogo e encontros favorece a mediação de sa-beres entre agentes de promoção da saúde e apopulação. Trabalhados em diálogos coletivos,os saberes científicos e populares sobre saúde edoença se hibridizam e poderão embasar a cons-trução de políticas públicas comprometidas comos direitos sociais e humanos.

O riso

O riso, é um fenômeno universal que desper-ta interesse por ser transversal e dialógico. Trans-versal por ser condicionado a aspectos da cultu-ra, da filosofia, da história, da saúde, entre ou-tros. Dialógico porque, ao trilharmos os sentidosdo humor, nos deparamos com a comédia e oescárnio que existe por traz de cada riso, um códi-go de comunicação inerente à natureza humana.O riso e o humor são mutantes, assim como oscostumes e as correntes de pensamento.

Todos sabem que o ser humano nasce cho-rando, mas algumas horas após o rito de passa-gem do nascimento, depois de adormecer e des-cansar, logo começa a sorrir. Talvez por um ins-tinto natural, ou um código de defesa, que desdea infância o acompanhará na construção da suahistória de vida. Mas o que é o riso? Para Alber-ti29 é um enigma no pensamento ocidental. En-contrar a essência do que nos faz rir despertou o

interesse do filósofo Platão, defensor da tese deque quando rimos experimentamos um falsoprazer nos afastando da verdade e do bem.

No clássico “O nome da rosa”, Umberto Eco30

ilustra o riso como o oposto da verdade, um sig-no da loucura, um ato irracional, segundo a lógi-ca de vigiar e punir. Nesta trama o monge Jorge éo protagonista principal na ocultação do conhe-cimento e, na sua cegueira e fanatismo, envenenaas páginas da segunda parte da poética de Aristó-teles, que é justamente dedicada à comédia. Ironi-camente todos os que entram em contato com ossegredos do cômico falecem. As estórias e as fic-ções são caricaturas das histórias do cotidianohumano, permeado pela manipulação ideológi-ca. Na compreensão deste processo dialético oriso aparece como uma ferramenta que desarti-cula o poder, a autoridade e o intocável, pois todaforma de rigidez possui comicidade.

Frequentemente na sua construção histórica,o riso é provocado por pessoas que apresentamalgum estigma ou posição de inferioridade frenteao seu grupo social. Esta teoria é defendida porTomas Hobbes, tal como descrito em Skinner31,destacando que o riso se assemelha ao sarcásti-co, à soberba, à honra, à uma efêmera sensaçãode superioridade (sudden glory). Quem ri sem-pre vê o objeto do riso de cima e, por algumpadrão, julga o outro inferior. Uma das causasdeste tipo de comportamento é o que chamare-mos aqui de ideologia da seriedade.

Para Neves32, a “ideologia da seriedade”, comoqualquer ideologia, não é ingênua nem seus efei-tos são benéficos a todos; impõe um antagonis-mo absoluto entre seriedade e comicidade, àmedida que qualifica positivamente a primeira edesqualifica a segunda, colocando-a em oposi-ção ao saber. Esta mesma ideologia evoca para sio status de teoria científica e, portanto, genérica everdadeira. Enuncia: “O saber sou eu”, mas nãonos revela as condições que tornaram possíveltal afirmação, não denunciando o controle socialdo saber, nem seus laços institucionais e políti-cos. Tal saber atende aos interesses de quais for-ças sociais? Confunde arrogância e sisudez comseriedade e responsabilidade para melhor recal-car o poder libertador e corrosivo que a comici-dade traz. Neste contexto o riso e o cômico sãomanipulados e distribuídos em conceitos comoa inconsequência, a irresponsabilidade, a irrele-vância, o revés da seriedade. Mas para o Palhaçorusso Karandash33: “O riso não é um objetivo, éum meio que leva a ideia até o entendimento”.

Em sua obra “História do Riso e Escárnio”,Georges Minois34 nos diz que o riso é um caso

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muito sério para ser deixado apenas nas mãosdos cômicos. A ideologia da seriedade, que pormeio da coação permite que riamos do que éinofensivo ou descontraído, sem mensagem ounegação, elege o humor da moda, apresentadonas mais variadas mídias, para que em seguidanos esqueçamos de quem somos, exercendo defato, uma opressão sobre as formas mais oumenos veladas de análise e de crítica social.

Vamos destacar também a “ironia”, presentena obra de Reali35 sobre a história da filosofia.No pensamento de Friedrich Schlegel, a ironia écentral para a indagação do infinito, no qual sechega com a filosofia ou com a arte. Em ambosos campos lidamos com meios finitos e o desafioé encontrar o canal para o infinito com os meiosfinitos. A “ironia”, para o autor, indica uma ati-tude espiritual que tende a superar e a dissolverprogressivamente a inadequação em relação àinfinitude de todo ato ou fato do espírito huma-no, e nele tem um papel decisivo como elemento“espirituoso” ou brincalhão do humor35. Assim,a ironia se coloca como possibilidade dialética delidar com a limitação de recursos e capacidadeshumanas de forma leve, estimulando o riso so-bre si mesmo.

A partir da segunda metade do século XIX einicio do XX o conceito do riso ganhou forte pro-jeção na produção acadêmica, principalmente nocampo da psicologia, com investigações volta-das para a descrição e a fisiologia do riso. Nomesmo período Henri Bérgson36 lança um dosmais completos estudos sobre o riso. Para ele oriso é um fenômeno puramente social e os gru-pos que partilham este fenômeno necessitam deafeto e celebração, sendo que qualquer movimen-to de controle social rígido, age negativamentepara a sociedade gerando uma reação coercitiva.O riso opera de forma dialética na superação doopressor, atuando no íntimo de cada sujeito co-letivo. O autor nos deixa claro que o riso é umafonte de prazer inesgotável; entretanto, é tam-bém uma prática de poder, sendo utilizado inclu-sive para manipulação de pessoas enquanto ma-rionetes, processo este consagrado pela expres-são “pão e circo”36.

Quase um século depois o conceito volta aocenário científico e intelectual. Grupos multidis-ciplinares publicam revistas especializadas, taiscomo o Corhum na França, que edita semestral-mente o Humoresques37. O periódico Internati-onal Journal of Humor Research38 é publicadotrimestralmente nos Estados Unidos, com índicede impacto já apurado em 0,41 e com conteúdo“on line” há oito anos. Todos buscam a compre-

ensão deste fenômeno natural que, apesar de tan-ta investigação, vive um antagonismo em relaçãoao assunto. O riso está em todos os lugares, nosprogramas humorísticos, livros de autoajuda,blogs virtuais, bem como na vida cotidiana; po-rém, rimos cada vez menos apesar da chancelacientífica sobre as vantagens de uma boa garga-lhada. Para ilustrar este paradoxo, de acordo coma pesquisa elaborada pela Organização Mundialde Saúde39, diariamente três mil pessoas come-tem suicídio no mundo, somando 1,1 milhão desuicidas a cada ano, sendo a depressão um dosfatores predisponentes (com o cuidado para nãoconfundir depressão com tristeza: a primeira éum estado patológico que provoca sintomascomo desânimo e falta de interesse por qualqueratividade; a segunda é um fenômeno normal quefaz parte da vida psicológica de todos, e que nãonos impede de reagir com alegria se algum estí-mulo agradável surgir). Esta pesquisa concluiuque o suicídio não pode continuar sendo um fe-nômeno-tabu, ou um resultado aceitável de cri-ses pessoais ou sociais, mas sim uma questão desaúde pública. O suicídio é um reflexo de umasociedade tolhida de sonhos, uma sociedade rígi-da, onde assumimos o papel de engrenagem namáquina do capital, os tempos modernos anun-ciados por Charles Chaplin.

Na comédia A Vida é Bela40, Roberto Benigniprotagoniza o personagem judeu italiano Guido,que na segunda guerra mundial é encaminhadopara um campo de concentração junto com seupequeno filho Josué. Guido é um homem brin-calhão, afetuoso, inteligente e com suas brinca-deiras consegue burlar a rigidez da ideologia daseriedade. Para proteger e poupar Josué do holo-causto nazista Guido cria uma realidade parale-la, uma gincana no campo de concentração ondeambos participavam. As regras do jogo para osjudeus eram as seguintes: esconder-se, manter-se em silêncio e não pedir por comida, somandoassim, um determinado número de pontos paraganhar o prêmio - um tanque de guerra. Em con-fluência com a poesia desta estória, o psicólogoViktor FrankI41 relata que sabia de antemão quemconseguiria sobreviver no campo de concentra-ção, pela simples observação da capacidade decada um de rir diante daquele horror. Frankl de-fendia o riso como sinônimo da arte de viver.Nas charges da Bienal Internacional de Humor42,que expõem trabalhos produzidos para provo-car o riso, também há um claro convite à refle-xão e à tomada de atitude em relação à AIDS e aoutras doenças sexualmente transmissíveis e apolíticas públicas.

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Para comprovar fisiologicamente que o risofaz bem para a saúde, Berk43 investigou as mo-dulações neuroimunológicas durante e depoisdos pacientes terem sido submetidos a progra-mas associados ao riso. Experiências hilárias fo-ram monitoradas para entender o que aconteceno corpo, no coração, na musculatura e no cére-bro de uma pessoa que ri. Conclui-se que o risoe o bom humor têm efeitos benéficos para a saú-de, e no final das contas uma coisa é certa: pro-move saúde com alegria. Defendemos o risocomo ferramenta dialógica, numa postura depactuação cotidiana frente à vida. A saúde quedesejamos trabalha com a ideia de alegria.

A alegria

Para muitos filósofos a alegria foi considera-da uma das paixões da alma, podendo levar qual-quer mortal para o “céu e inferno”. Como disse ocompositor Caetano Veloso44: “cada um sabe ador e a delícia de ser o que é”. Ferrater Mora45

abre sua argumentação sobre esse conceito naseguinte lógica: a alegria se contrapõe à tristeza,porém, não necessariamente à dor, como a tris-teza se contrapõe à alegria, mas não necessaria-mente ao prazer. Muitos pensadores relaciona-ram a alegria como a posse de alguma coisa, umbem material ou sua representação; outros comoum êxtase, um relaxamento, um estado ético, onirvana. Sabemos que a alegria pode ser concebi-da de maneiras muito distintas e, sendo assim,ficamos com a do poeta1 que recita: é melhor seralegre que ser triste.

Na obra “As Paixões da Alma”, René Descar-tes investiga os sentidos das paixões, incluindo aalegria e a tristeza, considerando que há um bempresente que excita em nós a alegria, e o mal atristeza, quando é um bem ou um mal que nos érepresentado como nosso46. Apesar de estarmoscondenados a sentir as memórias e as fraquezasda pele, o filósofo alerta que podemos ter con-trole e domínio, sendo tudo uma questão demétodo, pois o que é para alma uma paixão,para o corpo é uma ação. Em suas reflexões Des-cartes define a tristeza como “um langor desa-gradável no qual consiste a incomodidade que aalma recebe do mal, ou do defeito que as impres-sões do cérebro lhe apresenta como lhe perten-cendo”46. E no corpo age da seguinte forma: ‘opulso é fraco e lento, e sentimos em torno docoração como laços, que apertam, e pedaços degelo que o gelam e comunica a fragilidade docorpo”46. No caso da alegria o autor define como:“uma agradável emoção da alma, na qual con-

siste o gozo que ela frui do bem que as impres-sões do cérebro lhe representam como seu [...]; aalegria é uma paixão que chega a alma pela exclu-siva ação da alma”46. E para a carne: “o que exci-tou na alma a paixão da alegria e fez, ao mesmotempo, com que os orifícios do coração se abris-sem mais do que de costume e que os espíritoscorressem, abundantemente”46. No art. 104 diz:na alegria não são tantos os nervos do baço, dofígado, do estômago ou dos intestinos que atu-am, mas os que existem em todo o corpo, e par-ticularmente aquele que fica em torno do cora-ção46. As reflexões que Descartes realizou no sec.XVI não se distanciam daquelas, apresentadasanteriormente sobre os benefícios do riso e ale-gria no corpo humano agora já no sec. XXI. Noúltimo artigo46 (art. 121) da sua tese, Descartesrelata que a sabedoria é a senhora de todas aspaixões, e que saber manejá-las com destreza éuma arte para suportar a existência; ele concluique no final o que vale mesmo é tirar uma certaalegria de todas as situações.

Por outro ângulo, a alegria foi também umtema do trabalho do filósofo holandês Baruchde Espinosa47, um jovem de origem judaica, quedesde cedo chamava atenção por seus dotes inte-lectuais e intuitivos, sendo iniciado precocemen-te no universo da cabala e filosofia. Seu momen-to mais difícil na vida, excomungado pela sina-goga, abandonado pela família, polindo e fabri-cando lentes para obter sua renda, é o marco dasua generosa produção intelectual. Para o filóso-fo, o ser humano se relaciona com três formascentrais de paixões que não são boas nem más,são naturais e originais: a alegria, a tristeza e odesejo; as demais derivam desta matriz. Da ale-gria nascem: o amor, a esperança, a ética, o con-tentamento; da tristeza: o ódio, a inveja, o orgu-lho, o medo; no caso do desejo podemos ter aspaixões tristes que geram a crueldade, a ambiçãoe a avareza, ou a alegria promovendo a gratidão,a pacificação e a ética48. Na proposição XXI daÉtica - III, o autor afirma que aquele que imaginaque ama afetado de alegria ou de tristeza seráigualmente afetado de alegria ou de tristeza; eambas essas afeições serão maiores ou menoresnaquele que ama, conforme o forem na coisaamada48 e, a alegria não é diretamente má, massim boa; a tristeza, pelo contrario é diretamentemá48. Espinosa pontua que uma paixão triste nosenfraquece e nos deixa cada vez mais passivos,diferente da paixão alegre que potencializa e for-talece nossa capacidade de agir e ser.

Descartes estava interessado no desenvolvi-mento ou descoberta de um método racional

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para o domínio das paixões, ao contrário de Es-pinosa, que direcionava suas investigações paraa compreensão de como viver bem, dando ale-gria e sentido à existência humana. Apesar deanalisarem o mesmo conceito de formas e vivên-cias distintas, ambos concordam que a promo-ção da alegria melhora a qualidade de vida hu-mana – portanto, a saúde, e suas relações soci-ais. Segundo Boff49, na oração de São Franciscode Assis há a seguinte afirmação: Onde houvertristeza, que eu leve alegria. Não estamos falandoda alegria fetichista, fruto de uma sociedade in-dividualista que vende a mercadoria da moda, oproduto sintético, o botox envolto por vícios epaixões que iludem o ser humano na roda doconsumo e do descarte, mas da alegria criativa,do compartilhamento, da construção coletiva,dos esportes, da cultura, das artes, das relações,enfim, das paixões alegres.

Uma das marcas da alegria é seu caráter tota-litário, do tudo ou nada onde, não há alegriasenão total ou nula, pois o seu êxtase é geral per-mitindo o ser humano ficar alegre pelo simplesfato de ser. Clemente Rosset50, fala da “alegriacom todas as alegrias” que não se distingue, demodo algum, da alegria de viver, do simples pra-zer de existir50. Para ele, a alegria de viver consisteem uma comoção à vida, pela qual ela renuncia aqualquer pretensão de duração, em contraparti-da das alegrias efêmeras que se pode obter daexistência50. Mesma alegria que Paulo Freire re-lata a Moacir Gadotti51, quando nos seus 67 anosde idade, de que continuava engajado numa pe-dagogia boêmia, tropical, uma pedagogia do riso,da pergunta, da curiosidade, uma pedagogia daalegria, do amanhã pelo hoje, focada na promo-ção de encontros e diálogos.

Um exemplo prático do que falamos é o pro-jeto Saúde e Alegria19, que atua no baixo Amazo-nas desde 1987, em comunidades extrativistas dosrios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, localizadasna zona rural do município de Santarém e agre-gados. Sua equipe interdisciplinar pesquisa e apli-ca tecnologias sociais52. Partindo da realidadelocal, das necessidades mais prementes, e da con-trapartida dos “mocorongos”, buscam-se solu-ções simples e adaptadas que tragam benefíciosà população e que sirvam como referências detecnologias sociais apropriadas, demonstrativase replicáveis, sobretudo através das políticas pú-blicas. Quem nasce em Santarém é “mocoron-go”, palavra indígena que significa gente humildee receptiva, bem diferente do sentido pejorativoque toma em outras regiões do país. A escolhado nome foi proposital, valorizando seu sentido

original, sendo sinônimo de desenvolvimento,educação e participação comunitária. O projetoutiliza a linguagem circense para envolver todosos segmentos e faixas etárias, lideranças comuni-tárias, produtores rurais, agentes de saúde, par-teiras tradicionais, mulheres, professores, jovense crianças, capacitando-os como multiplicado-res e estimulando a autogestão.

Partindo desta discussão, propomos maisações promotoras de saúde, que trabalhem coma arte, ciência e cultura para o exercício do diálo-go. Desejamos compartilhar com nossos inter-locutores saberes e novas experiências para aconstrução de uma agenda política propositiva,embasada na ética da alegria, na participaçãoautônoma, crítica e coletiva para o fortalecendoo Sistema Único de Saúde. Nesta lógica, acredi-tando que não há saúde sem celebração e mani-festação de identidades culturais, o Coletivo Hu-maniza SUS/MS53 promoveu o espaço culturalna 13ª Conferência Nacional de Saúde em 2007,com objetivo de promover momentos de refle-xão, diálogo e alegria. Portanto, a Dialogia doRiso é um conceito plenamente aplicável à Políti-ca de Humanização do SUS53, assim como as tec-nologias educacionais e sociais associadas a esseconceito.

E o palhaço o que é?

Para Lecoc54 é uma profissão de fé, uma to-mada de posição perante a sociedade, um estadode aceitação, é mostrar-se tal como realmente é.Sentimos um vivo interesse naquilo que o Palha-ço não sabe fazer ou não faz direito, lá onde seusestigmas são ridicularizados. Sua indumentáriapotencializa o imaginário coletivo sobre o quetenta esconder. Quem nunca riu dos seus sapa-tos? São grandes por que não teve dinheiro paracomprar o seu número; Quem nunca riu do na-riz? É vermelho por que toda hora se esfrega paraesquentar do frio, da cachaça ou da poeira.Quem nunca riu dos seus adereços? Chapéu fu-rado, calça remendada ou cueca rasgada. E quemnunca chorou quando o Palhaço é maltratado,segregado ou perde sua bailarina? Estamos fa-lando do nariz vermelho, um código de liberta-ção do espírito.

Na sua longa tradição, os trabalhadores damilenar arte da palhaçaria são conhecidos em di-versos grupos sociais do planeta, tais como Ho-txuá (índios Krahô/ Brasil), Vidusaka (India),Bufão (Itália), Danga (Egito), dentre tantos no-mes e projeções personificados ao longo da suaconstrução histórica. No ocidente este profissio-

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nal é conhecido também como “clown” (palavrainglesa) que quer dizer rústico, rude, torpe, quemcom artificiosa torpeza faz o público rir. Palhaçovem do italiano paglia (palha), material usado norevestimento de colchões e sua indumentária eraum tecido listrado e grosso, afofado com palhanas partes mais salientes do corpo, fazendo docômico um verdadeiro colchão ambulante55. Exis-tem grupos como o Lume56 e o Grupo Tempo57,que realizam pesquisas sobre a diferença prática econceitual entre o clown e o palhaço. Em nossasinvestigações optamos por trabalhar com o Pa-lhaço, tão popular na cultura brasileira5-7.

Os palhaços estão em todos os lugares de-nunciando os mandos e desmandos de qualquerregime totalitário, como o Bobo da Corte, umparadoxo no contexto social, pois se trata de umser grotesco, muitas vezes com deformações físi-cas, mas alguém que fala verdades como falou oZaratrustra de Nietzche58: uma luz se acendeupara mim, não é ao povo que deve falar Zara-trusta, mas a companheiros! Não deve Zaratrustatornar-se pastor e cão de um rebanho. Verdadesque não podem ser ditas por qualquer mortal,mas por alguém que possua uma subjetividadedescentrada, que não tenha pátria, seja digno deriso e repulsa, alguém estranho à corte.

O Bobo da Corte, como não faz parte daaristocracia e nem mais do seu grupo de origemsocial, vive como um coringa dentro da estrutu-ra. No baralho o coringa pode entrar em quasetodos os jogos, pode ocupar quase todas as po-sições desde que não rompa a hierarquia, na qualnão se situa, mas faz parte. Pode ser descartadodo jogo a qualquer momento sem impedir suacontinuidade; porém, é de extrema importânciaquando se faz presente. Para Neves32 o Bobo dacorte é um louco guerreiro lúcido palhaço, ines-perado e alegre, amoral porque exibe a morali-dade, integrado e outsider, crítico e bajulador,subversivo e enquadrado, irônico e reformador,sem estirpe e vivendo em palácios. Como estásolto, o Palhaço não porta o sectarismo socialpodendo denunciar antagonismos e rivalidadesmais ou menos veladas, mas latentes, na vidados palácios. Apesar de muitos Palhaços teremsido decapitados neste jogo, o ofício sempre teveadeptos, talvez por proporcionar ser ator e co-diretor de um espetáculo que denuncia a cristali-zação repressiva de qualquer época ou reino.

O Palhaço é um agente secreto social prontopara a revolução, tendo como estratégias o riso ea alegria. Sua história é a de um herói às avessasque, de forma criativa, encontra sempre solu-ções para sua arte, indo onde o povo está, de vila

em vila, de cidade em cidade, de reino em reino,estando disponível ao encontro e aprendizadoda cultura com a qual entra em contato. Suamatéria básica para criar são os costumes locais,o idioma, como os principais traços folclóricos eculturais, construindo o maior espetáculo da terra,que geralmente denuncia as diferenças e desigual-dades do local visitado. Esta é a visão de palhaça-ria adotada para este trabalho, identificada pornós também em trabalhos como os de PalhaçosPatch Adams (EUA), Hugo Possolo (Brasil) e LéoBassi (Espanha), dentre outros.

O Palhaço tem a capacidade de inverter o sen-tido das representações. O cômico ri das suasfraquezas. Transculturando sua realidade, ultra-passa os limites da sua condição social por uminstinto de sobrevivência e tira sabiamente pro-veito da tragédia. Com seu porte atlético invisí-vel, num topete conversível, ele prepara o ser-mão, pra tratar do mundo cão, colocando a vidaem perigo, por amor à profissão59. O Palhaço éeste ser que estremece as barreiras entre sonhos erealidades, desmascarando assim o opressor pormeio do riso.

No jogo da palhaçaria temos duas figurasclássicas: o Branco e o Augusto. Para Burnier60 oBranco é a elegância, a inteligência, a lucidez, amoral, as divindades indiscutíveis. Eis que emseguida surge o aspecto negativo da questão: oAugusto, a criança que faz sujeira, se revolta antetanta perfeição, se embebeda, rola no chão e naalma, numa rebeldia perpétua. Esta dupla podeser o gordo e o magro, o professor e o aluno, osanto e o demônio, o rico e o pobre, o médico e opaciente, o homem e a mulher, o normal e o pa-tológico, Apolo e Dionísio, como um jogo emque quanto mais autoritária for a intenção, maiso outro se mostrará reticente e desajeitado. Umjogo de verdades e mentiras como disse Nietzs-che58: como aceitar uma verdade cuja enunciação(Palhaço Branco) não se fez acompanhar de ne-nhuma risada (Palhaço Augusto)?

No filme Clowns, Fellini61 exalta o Palhaçocomo uma criatura fantástica, sem pudor, o ladoirracional do homem, a parte do instinto, o re-belde a contestar a ordem superior que há emcada um de nós. No documentário, enquantoentrevista e filma os melhores palhaços da Euro-pa, apresenta também um jogo cênico entre oBranco, sempre com o traje mais luxuoso na lutados figurinos e o Augusto, um tipo único quenão muda nem pode mudar de roupa, como omendigo, o menino de rua ou o esfarrapado. Suabeleza está na total falta de seriedade, incluindo opróprio Diretor, no papel de um pretensioso di-

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retor que com sua equipe, tenta fazer um docu-mentário sobre a relação dos palhaços Branco eAugusto com personagens da vida cotidiana.Questionado se era palhaço, Fellini61 responde:...creio que sou um Augusto. Mas também umclown Branco ou, talvez, o diretor do circo. Omédico de loucos que, por sua vez, enlouqueceu.

Larrosa62 afirma que o Palhaço é um absur-do, um personagem irreal, claramente fora dolugar. Mas às vezes, por um momento, é a pró-pria estabilidade da situação dialógica, a solidez eseriedade do real cenário que ele denuncia, comoo coringa que pode assumir diversas personifi-cações. Um exemplo é o próprio Patch Adams,que em entrevista concedida ao programa RodaViva63 revelou que seu Palhaço é um adulto comSíndrome de Down. Adams relata que ao enve-lhecer o portador desta síndrome potencializa oamor incondicional e seu estado brincante. Quemdera se a humanidade vivesse uma fração da in-teligência emocional de um Down.

Patch Adams2 riu e questionou os métodosutilizados pela comunidade médica, assim comoo Zaratrusta de Nietzsche ante a sociedade. Ada-ms o fez adotando a Arte da Palhaçaria na pro-moção da alegria com saúde. Usou a arte paraquestionar a estrutura normativa das escolas demedicina norte-americanas, num momento im-pulsionado pela contracultura, movimento demobilização e contestação política e social dosanos 60. Sua indagação gerou um sonho chama-do Instituto Gesundheit onde a práxis é baseadana lógica da Humorização (grifo nosso): sua equi-pe promove saúde na direção da integralidadehumana, usando ferramentas como a gentileza,a brincadeira, o encontro, o diálogo, o riso rumoà alegria.

Como Nietzsche58 disse que não há fatos eter-nos e nem verdades absolutas, o Palhaço podesair das ruas, circos e cortes para ocupar algunscampos da estrutura social como as ciências, asaúde e as artes. Atualmente no Brasil temos diver-sas redes que promovem fóruns virtuais sobre otema, como o site Pindorama Circus64 e encon-tros internacionais de palhaços como os Anjosdo Picadeiro65, sendo possível constatar como aarte ocupa diversos espaços e gêneros. No entan-to, no campo da saúde os palhaços têm sua pre-dominância nos hospitais, como a trupe baianaTerapêutas do Riso66 no complexo das Obras So-ciais Irmã Dulce, atingindo mais de mil leitos, le-vando arte e humanização com alegria, ou a En-fermaria do Riso67, na qual palhaços atuam emhospitais universitários e de ensino a partir dotrabalho de uma escola de teatro.

Estamos falando de uma arte que vai para arua, para o hospital, para o circo, cooperandopró-ativamente nas mudanças de realidades,como uma pedagogia profana. Não ao contrá-rio de sagrado, mas uma pedagogia do humorque questiona o caráter moral e moralista dodiscurso pedagógico. Segundo Larrosa62, a aus-teridade dos museus impede o riso contrapon-do-se ao que pretende enquanto uma “Cultura”com “C” maiúsculo. O palhaço polemiza e, entraem contato com o sério, a partir do riso. O risodesmascara uma linguagem canonizada e aceita,que não duvida de si mesma, retira-a de seu lu-gar, de seus esconderijos, a expõe enquanto ideiacristalizada e não universal, uma casca vazia62.Nossa percepção e a boa receptividade das pes-soas a essa arte, nos faz constatar de que se tratade uma “linguagem patética”, com forte poten-cial pedagógico para a construção de tecnologiassociais, que promove encanto, encontro, alegriae, portanto, saúde.

Últimas gargalhadas

Em nossa investigação, tanto prática comoteórica, concluímos que a Arte da Palhaçaria éuma ferramenta para a Dialogia do Riso. Nanobre arte temos o diálogo, o riso, a alegria, ecomo foi dito, este é apenas um exemplo dosmuitos que o conceito de Dialogia do Riso podeagregar. O saber sobre saúde e alegria evocado eapresentado pelo Palhaço, mobiliza a emoçãopositiva e sua potencia de transformação, sem-pre presente na sua figura milenar. Entendendoque saúde é um conceito que se aproxima da ale-gria, dependendo do contexto em que é reconhe-cido, este texto tem a intenção de provocar a de-fesa da construção de mais ações que dialoguemcom a população e com os próprios trabalhado-res no sentido de gerar as “paixões alegres” deEspinosa. Defendemos aqui que o conceito desaúde hegemônico, centrado na técnica, não sócontribuiu para a medicalização da vida comodistanciou os profissionais de saúde do conheci-mento popular e da alegria.

A partir destas percepções, propomos a cons-trução de um novo paradigma embasado na ideiade que saúde não pode ser vista como algo cris-talizado, que é nocivo à saúde por gerar a angús-tia por nunca ser atingido. Vivemos todos noplaneta Terra e seu futuro está totalmente interli-gado à preservação e à sustentabilidade da vida.Compartilhamos a tese de Guattari68: não se tra-ta mais de fazer funcionar uma ideologia unívo-ca, mas sim promover o debate e o encontro para

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Colaboradores

Todos os autores trabalharam na concepção ena redação final do artigo. MVC Matraca foi oautor e TC Araújo-Jorge foi a orientadora daTese de Doutorado que originou este artigo: Ale-gria para Saúde: A Arte da Palhaçaria como Pro-posta de Tecnologia Social Para o Sistema Únicode Saúde (15/5/2009).

Agradecimentos

Os autores agradecem aos Palhaços do mundo,e a Francisco Romão Ferreira, Eduardo Stotz,Dário Pasche e Rosa Mitre, que atuaram comoavaliadores na banca de Doutorado de MVCM,por diversas sugestões incorporadas no texto. Apesquisa foi financiada pela Fiocruz/InstitutoOswaldo Cruz e Coordenação de Aperfeiçoamen-to de Pessoal do Ensino Superior- Capes/MEC

decisões contextualizadas e mutáveis, pois comodizia Chico Science69, dando um passo à frente jánão estamos mais no mesmo lugar.

Propomos, portanto, a Dialogia do Riso en-quanto ferramenta para a formação de vínculos,ao invés da lógica de restrições e obrigações.Como foi descrito no presente artigo, mudançasna prática de vários profissionais estão ocorren-do no Brasil e no mundo. Desejamos Saúde, Ale-gria e Prosperidade para o SUS, com profissio-nais disponíveis ao encontro, para efetivamentejuntos construirmos uma saúde pública e coleti-va, promotora da VIDA com ALEGRIA.

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