DESENVOLVIMENTO HUMANO: a identidade do psicólogo que … · 2014. 5. 2. · DESENVOLVIMENTO...
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UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ Alissandra Calderaro Soares da Silva
DESENVOLVIMENTO HUMANO: a identidade do psicólogo que atua junto a famílias em
contexto de vulnerabilidade social
Taubaté – SP 2012
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Alissandra Calderaro Soares da Silva
DESENVOLVIMENTO HUMANO: a identidade do psicólogo que atua junto a famílias em
contexto de vulnerabilidade social
Dissertação apresentada como parte do processo para obtenção do Título de Mestre pelo Curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: Desenvolvimento Humano, Políticas e Práticas Sociais. Orientadora: Profª Drª Marilza Terezinha Soares de Souza
Taubaté – SP 2012
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Ficha Catalográfica elaborada pelo SIBi – Sistema integrado de Bibliotecas – UNITAU
S586d Silva, Alissandra Calderaro Soares da Desenvolvimento humano: a identidade do psicólogo que atua junto a famílias em contexto de vulnerabilidade social./Alissandra Calderaro Soares da Silva.- 2012.
132f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade de Taubaté, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, 2012.
Orientação: Profª Drª. Marilza Terezinha Soares de Souza, Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.
1. Identidade profissional. 2. Formação acadêmica em Psicologia. 3. Contexto de vulnerabilidade social. 4. Desenvolvimento humano. 5. Sistema Único de Assistência Social - SUAS. I. Título.
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ALISSANDRA CALDERARO SOARES DA SILVA
DESENVOLVIMENTO HUMANO:
A IDENTIDADE DO PSICÓLOGO QUE ATUA JUNTO A FAMÍLIAS EM CONTEXTO DE VULNERABILIDADE SOCIAL
Dissertação apresentada como parte do processo para obtenção do Título de Mestre pelo Curso de Mestrado em Desenvolvimento Humano: Formação, Políticas e Práticas Sociais da Universidade de Taubaté. Área de Concentração: Desenvolvimento Humano, Políticas e Práticas Sociais.
Data:________________________
Resultado:____________________
BANCA EXAMINADORA
Profª Drª Marilza Terezinha Soares de Souza Universidade de Taubaté/SP
Assinatura _____________________________________
Profª. Drª. Edna Maria Querido de Oliveira Chamon Universidade de Taubaté/SP
Assinatura _____________________________________
Profª. Drª. Ceneide Maria de Oliveira Cerveny Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo/SP
Assinatura _____________________________________
Profª. Drª. Maria Aparecida Campos Diniz de Castro Universidade de Taubaté/SP
Assinatura _____________________________________
Profª. Drª. Marianne Ramos Feijó Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo/SP
Assinatura _____________________________________
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Dedico este trabalho a:
Meu grande e amado Avô Aparício – homem de fibra –, pelo estímulo ao estudo e à
superação de meus desafios.
Meus irmãos, tios e primos, que me fizeram vivenciar as diferenças e semelhanças,
ensinaram-me a reflexão, o compartilhamento, interação e articulação, proporcionando-me
pensar o interdisciplinar.
Meus pais, Neda e Luiz, pelo apoio e retaguarda com os meus filhos durante esta jornada...
E todas as outras em minha vida.
Meu esposo, Marcos Aurélio, e filhos, Marcos Augusto e
Gustavo, por me ensinarem que a persistência e a
determinação superam qualquer obstáculo.
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AGRADECIMENTOS
À Profª Drª Marilza Terezinha Soares de Souza, pela habilidade, dedicação e paciência na
orientação desse trabalho.
Aos professores do Mestrado que contribuíram na construção do meu pensar nesta trajetória.
Aos colegas de trabalho que participaram de minhas angústias, entenderam minhas ausências
e contribuíram em minha reflexão sobre a difícil arte de caminhar junto a famílias em
vulnerabilidade social.
Às assistentes sociais, Fátima Farhat de Araújo, no importante auxílio com as transcrições das
entrevistas, e Mariza Aparecida de Assis, coordenadora do Centro Especializado de
Assistência Social (CREAS), pelo apoio, incentivo e liberação para dedicação a este estudo.
À psicóloga Profª Drª Vera Lúcia Bonato, modelo profissional, que acompanhou meu
nascimento, sentar, engatinhar e andar na Psicologia, durante a formação acadêmica e
construção profissional, e, neste momento, apoiou-me, acolhendo e incentivando este vôo tão
desejado.
Aos psicólogos, colegas nesta jornada na Assistência Social, que construíram uma história
profissional nessa área e contexto tão peculiar e que possibilitaram, com muita
disponibilidade, a coleta de dados necessária.
À Secretaria de Desenvolvimento Social e à Fundação Hélio Augusto de Souza, da Prefeitura
Municipal de São José dos Campos, que permitiram a realização desse estudo com seus
profissionais.
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Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que
lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos
anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida
e estes são imprescindíveis.
Bertold Brecht
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RESUMO
Este estudo teve por objetivo investigar e compreender o desenvolvimento da identidade
profissional do psicólogo que atua na área da Assistência Social junto a famílias em contexto
de vulnerabilidade social. Os conceitos de vulnerabilidade social, resiliência,
interdisciplinaridade e sua relação com contextos que influenciam a formação identitária do
psicólogo são abordados e analisados com o auxílio da Teoria Bioecológica do
Desenvolvimento Humano. Trata-se de pesquisa qualitativa com o uso da entrevista
semiestruturada para coleta de dados. Participaram desta pesquisa, 12 psicólogos que atuam
na área da Assistência Social, inseridos no Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e que
atendem famílias em contexto de vulnerabilidade social. A análise do material coletado foi
realizada por meio da Teoria Fundamentada nos Dados. Os resultados demonstraram que o
psicólogo, ao iniciar na área da Assistência Social, depara-se com diversos desafios
relacionados, tanto ao conteúdo teórico acadêmico, por ele considerado insuficiente diante à
prática, quanto ao trabalho com a equipe de profissionais que a área exige; experiência essa
que não obteve em sua formação acadêmica. O desenvolvimento de sua identidade
profissional é caracterizado por um processo com fases permeadas pela sensação de choque
no contato inicial com a prática na assistência, seguida por crises, desafios e superação,
utilizando, como recursos para enfrentamento, a aquisição de conhecimentos teóricos
diversos, bem como o desenvolvimento de novas estratégias de atuação no trabalho em
equipe. O contato com a vulnerabilidade social desencadeia a revisão de seus valores
pessoais, de sua prática e formação, numa espiral crescente no desenvolvimento profissional,
levando-o à contínua busca por formação.
Palavras-chave: Identidade profissional. Formação acadêmica em Psicologia. Contexto de
vulnerabilidade social. Desenvolvimento humano. Sistema Único de Assistência Social
(SUAS).
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ABSTRACT
HUMAN DEVELOPMENT:
Psychologist identity assisting families in social vulnerability context This paper aimed to investigate and to comprehend the development of the psychologist
professional identity who works in social work area assisting families in social vulnerability
context. The social vulnerability and resilience concepts, and their relation to
interdisciplinary contexts as well, that influences the identity development of the
psychologist are discussed and analyzed with support of Bioecological of Human
Development Theory. It is a qualitative study using semistructured interviews for gatering the
data. The participants were 12 psychologists workers of social assistance area, all of them
included in the Social Assistance Unique System – SUAS and assisting families in social
vulnerability context. The data were analyzed with support of Grounded Theory
Methodology. The results showed that the psychologist who begins working into social
assistance area, faces with several challenges, as regarding to theorical academic knowledge,
which is considered insufficient for the practice, as regarding to the work with a
professional team that the area require, and this one also is an experience not approached in
his undergraduation years. The development of his professional identity is caracterized by a
process with phases, with a chock sensation in his initial contacts into de assistance pratice,
following by crises, challenges and overcoming experiences, using as copping resources the
acquisition of theorical knowledge and the development of new teamwork strategies as well.
The contact with social vulnerability triggers the review of his personal values, his practice
and background academic, making an upward spiral in professional development, leading
him to the search for a continuous education.
Keywords: Professional identity. Education in Psychology. Social vulnerability context.
Human development. Social Assistance Unique System (SUAS).
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Dados sociodemográficos da amostra .................................................................... 77
Quadro 2 – Categorias, subcategorias, códigos ou conceitos e segmentos ilustrativos das entrevistas ........................................................................................................ 85
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Fluxograma de categorias e subcategorias emergidas das entrevistas .................... 84
Figura 2 – Processo de desenvolvimento de identidade do Psicólogo “X” .............................. 92
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12
1.1 Objetivos ......................................................................................................................... 15
1.1.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 15
1.1.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 15
1.2 Organização do Trabalho ................................................................................................ 15
2 IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO ........................................................ 17
2.1 Histórico e evolução do conceito de identidade ............................................................. 17
2.2 A Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano e as implicações para o estudo proposto ............................................................................................................... 25
2.2.1 O estudo proposto à luz da Teoria Bioecológica...................................................... 30
2.2.2 A identidade do psicólogo e sua relação com o macrossistema ............................... 32
3 IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL.............................................. 36
3.1 Identidade profissional .................................................................................................... 36
3.2 Formação acadêmica: A experiência formal/empírica na identidade profissional do psicólogo .................................................................................................................... 41
4 A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NO ATUAL CONTEXTO DA POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL .......................................................... 52
4.1 A interdisciplinaridade no contexto da assistência social e a equipe de trabalho ........... 57
4.2 Contexto de atuação com famílias: vulnerabilidade e resiliência ................................... 65
4.2.1 Vulnerabilidade ........................................................................................................ 65
4.2.2 Resiliência ................................................................................................................ 69
5 MÉTODO .............................................................................................................................. 75
5.1 Participantes .................................................................................................................... 75
5.2 Instrumento de coleta de dados ....................................................................................... 78
5.3 Procedimento .................................................................................................................. 78
5.3 Análise dos dados ........................................................................................................... 79
6 RESULTADOS ..................................................................................................................... 84
6.1 Memorial Circunstancial do Psicólogo “X” ................................................................... 93
6.1.1 A formação inicial .................................................................................................... 93
6.1.2 O ingresso no trabalho na área da Assistência Social .............................................. 93
6.1.3 As primeiras experiências ........................................................................................ 94
6.1.4 O período de adaptação ............................................................................................ 94
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6.1.5 O fortalecimento profissional ................................................................................... 96
6.1.6 A leitura sobre minha formação acadêmica na graduação ....................................... 97
7 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 99
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 110
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 116
APÊNDICE A - MODELO DE ENTREVISTA .................................................................... 127
ANEXO A – Declaração do Comitê de ética em pesquisa..................................................... 128
ANEXO B - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ....................... 129
ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ....................... 131
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1 INTRODUÇÃO
Na área da Assistência Social, com o advento do Sistema Único de Assistência Social
– SUAS (BRASIL, 2005), as intervenções técnicas do psicólogo passaram a ser normatizadas
e regulamentadas. Um campo legitimado se despontou como política pública e área de
intervenção profissional. Assim, intervenções subsidiadas teórica e tecnicamente são
fundamentais na construção de novos parâmetros para a categoria. Como retrata Chamon
(2003, p.25), “a identidade profissional é uma identidade social ancorada nas representações,
práticas e saberes profissionais, que depende do contexto de exercício profissional”.
As intervenções acima citadas caracterizaram novos aspectos da identidade
profissional do psicólogo e as relações entre os diversos profissionais atuantes na área da
Assistência Social, tais como assistentes sociais, advogados, pedagogos e outros.
O espaço que se abriu nessa política nacional ofereceu amplo campo de pesquisa e
objeto de estudo. No que tange à formação da identidade dos profissionais, a ação
interdisciplinar que surge na área e nas características da população abordada possibilitou
alterações na demanda de suas ações cotidianas.
A partir da experiência profissional dessa pesquisadora em projetos e serviços da
Assistência Social, no município de São José dos Campos, identificou-se a necessidade de
investigar como se constrói a identidade profissional do psicólogo, tanto na relação com
assistentes sociais e outros profissionais afins, quanto na intervenção junto às famílias em
contexto de vulnerabilidade social.
Esse interesse decorreu de desafios pessoais encontrados em atividades na área, o que
possibilitou constatar que o aporte e formação acadêmica em Psicologia eram insuficientes
para atender as demandas pertinentes a essa inserção profissional. A formação acadêmica
permitia a leitura subjetiva da dinâmica e conteúdos psicológicos observados nas famílias e
indivíduos, mas não instrumentalizava, de fato, a ação/prática, no contexto social de
vulnerabilidade, ou seja, a formação acadêmica não se adequava ao contexto da prática.
Corroborando a escolha dessa linha de pesquisa, a opção pessoal sempre esteve focada
na prática. Escolhas por cursos, seminários e aprimoramentos sempre estiveram relacionadas
às questões específicas inseridas no contexto da Assistência Social com uma ação qualificada.
A prática reflexiva esteve presente, no entanto, pouco aprofundada na construção teórica e na
pesquisa sobre os desafios dos profissionais nesse local de trabalho.
Ademais, em reuniões para discussão sobre a prática do psicólogo com os demais
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profissionais do município, inseridos na rede de proteção social1, os questionamentos e
reflexões sobre essa prática eram recorrentes e perpassavam pelas questões sentidas
individualmente. Os profissionais de outras áreas sempre esperavam e solicitavam que os
psicólogos fizessem o atendimento clínico, buscando suprir a falta na rede pública, sem
conseguir compreender a dimensão mais abrangente da atuação de um psicólogo no contexto
da Assistência Social.
Outro ponto que reforçou o interesse nesse estudo foi referente às dúvidas e incertezas
sobre a atuação do profissional de psicologia diante da Política Nacional de Assistência Social
– PNAS (BRASIL, 2004a), observadas nas discussões mensais do grupo de trabalho sobre
psicologia e assistência social, formado pelo Conselho Regional de Psicologia – Subsede Vale
do Paraíba e Litoral Norte2. Participar dessas discussões possibilitou a percepção de que os
profissionais têm sofrido os mesmos questionamentos daqueles encontrados no
microambiente de trabalho, ou seja, a experiência pessoal se configurava idêntica às
experiências dos diversos profissionais que desenvolvem seus trabalhos nos demais
municípios da região. Com essa oportunidade, reacende-se o desejo de aprofundar os
conhecimentos, embasar teoricamente a prática pessoal, construir referências profissionais,
enfim, contribuir na construção de conhecimentos na área.
Vale ressaltar que, nesse processo de inserção e descoberta pessoais de caminhos na
Assistência Social, o trabalho sempre foi permeado pela ação com outros saberes
profissionais, cujas atuações foram marcadas por momentos multidisciplinares e
interdisciplinares.
Desde 1995, início da atuação na área da Assistência Social, componho equipes com
profissionais de outras formações fora da Psicologia, principalmente com assistentes sociais,
mas, na maior parte desse período, as ações eram bem diferenciadas para cada profissional:
uma mesma equipe, com ações estanques. Em experiência que se estendeu de setembro de
2002 a início de 2007, foi possível compreender o significado empírico de
interdisciplinaridade. Nesse serviço, ocorreu o compartilhar do conhecimento, com reflexões
sobre as ações de todos e as respectivas contribuições para o desenvolvimento do
acompanhamento familiar, em busca do desenvolvimento humano. Foi essa vivência que
consistiu, de fato, as primeiras experiências de ações interdisciplinares: a compreensão das
especificidades profissionais, as interfaces, as interlocuções, as interações, as articulações
1 Conforme a Política Nacional de Assistência Social - PNAS (BRASIL, 2004a), entende-se por proteção social as formas institucionalizadas que as sociedades constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros [...] 2 Nota da autora: Esse Grupo de Trabalho está sob minha coordenação desde setembro de 2008.
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entre as áreas do saber.
Nessa perspectiva cabe aqui ponderar sobre o conceito mencionado por Fazenda et al.
(2009, p. 47) que discute a interdisciplinaridade e que também reflete a experiência
profissional pessoal:
A interdisciplinaridade é um movimento que se aprende praticando, vivendo, não se ensina; portanto exige-se um novo posicionamento diante da prática educacional e da vida, pois a interdisciplinaridade é o motor de transformação, de mudança social, em que a comunicação, o diálogo e a parceria são fundamentais para que ela ocorra. (FAZENDA et al., 2009, p.47).
Essa forma de atuação se estende, até hoje, na vivência profissional pessoal, passando
a ser um fator importante na construção da atuação do profissional que é influenciado e
permeado por outros saberes, que a diferenciam, mas que também podem aproximar essa
mesma atuação dos demais, na busca da sua identidade profissional.
Esse período propiciou o fortalecimento da importância de uma formação acadêmica
voltada para a peculiaridade da Assistência Social e do trabalho em equipe. Assim, questões
que envolvem formação acadêmica, dificuldades contextuais e valores profissionais merecem
estudo e análise, podendo contribuir na construção dos novos parâmetros de atuação dos
profissionais na área da Assistência Social. Essa reflexão mostra-se pertinente ao disposto
pelo Conselho Nacional de Educação/Conselho de Ensino Superior (CNE/CES), por meio da
Resolução nº8/2004 (BRASIL, 2004b), em seu artigo 12, que permite flexibilidade curricular,
na direção de recortes inovadores no campo da atuação.
Este estudo pode, no contexto apresentado, contribuir para adequações e apontamentos
quanto à direção da formação acadêmica dos profissionais psicólogos e identificar possíveis
lacunas dessa formação ou até contribuir para o surgimento de outros fatores diagnósticos das
dificuldades encontradas para a atuação na área da Assistência Social.
A realização deste estudo compõe uma importante dimensão para a produção e
sistematização de conhecimentos por meio de um olhar diferenciado pela prática profissional,
indicando subsídios para a atuação do psicólogo na área da Política Nacional de Assistência
Social, contribuindo para suprir lacuna existente entre a formação acadêmica e a prática
profissional, com o estudo da atuação desse profissional na área e sistematização dos dados
coletados, além da divulgação dos resultados encontrados.
Assim, este estudo propõe compreender a construção da identidade profissional, que
será analisada à luz dos processos de resiliência e desenvolvimento bioecológico,
vislumbrando uma atuação qualificada e que proporcione desenvolvimento humano junto às
famílias em contexto de vulnerabilidade social.
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1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo Geral
Investigar e compreender como se constrói a identidade profissional do psicólogo que
atua na área da Assistência Social junto a famílias em contexto de vulnerabilidade social.
1.1.2 Objetivos Específicos
• Investigar a influência da formação acadêmica, sob a perspectiva do profissional,
como instrumento para sua atuação.
• Identificar quais desafios o profissional encontra em sua atuação na área da
Assistência Social.
• Identificar os recursos externos e os recursos internos (processo de resiliência) que o
profissional precisa desenvolver para atuar junto a famílias em contexto de
vulnerabilidade social.
• Analisar se há interferências do contexto de vulnerabilidade social e da relação
estabelecida com a família atendida na formação da identidade profissional.
• Examinar se a interdisciplinaridade influencia neste processo de formação da
identidade profissional.
1.2 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
Este trabalho foi organizado em oito capítulos na construção das ideias que delimitam
o estudo realizado. A Introdução apresenta o estudo proposto e comporta a justificativa e
delimitação do estudo, problema de pesquisa, objetivo geral e objetivos específicos e a
organização do trabalho. A revisão de literatura foi subdividida em três partes. Na primeira,
abordam-se a identidade e o desenvolvimento humano, apresentando o histórico e a evolução
do conceito de identidade e a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento, bem como sua
relação com o estudo proposto. Na segunda, serão discutidos a identidade e o
desenvolvimento profissional, apresentando o conceito de Identidade Profissional, a formação
acadêmica do psicólogo e a construção da identidade. Na terceira parte, apresentam-se a
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inserção do psicólogo no atual contexto da Política Nacional de Assistência Social, os
conceitos de interdisciplinaridade, vulnerabilidade e resiliência e a relação com o processo de
identidade profissional do psicólogo. No capítulo Método, será apresentado o caminho
utilizado pelo pesquisador para alcance dos objetivos propostos pela pesquisa, seguido pela
apresentação dos resultados, discussão dos dados e considerações finais.
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2 IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO HUMANO
2.1 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE IDENTIDADE
Para a questão da pesquisa e seu objeto de interesse a ser retratado, é de suma
importância que se conheçam as discussões acerca da questão da identidade, visando
identificar os fatores que influenciam na atuação profissional. Será também importante
abordar o conceito de identidade e como ele norteia nosso estudo. Assim, ao se tratar de
identidade, serão estudadas as concepções de seu conceito e seu desenvolvimento histórico.
As considerações sobre identidade são encontradas desde os povos primitivos,
entretanto, o conceito de identidade é mais novo, sendo originário da filosofia, em que,
segundo Bauer e Mesquita (2007), o atributo de ser idêntico a si e diferente dos demais foi
descrito.
Com base em Hall (2001), que discute a identidade moderna e seu caráter de
fragmentação, apresentar-se-á uma abordagem da evolução histórica das concepções de
identidade.
• A identidade do sujeito no iluminismo, caracterizada como uma identidade centrada e
unificada em si, em que o sujeito é racional, dotado de razão e consciência, e sua
identidade é a mesma ao decorrer de sua evolução individual. A identidade é
considerada como essência.
• A identidade do sujeito sociológico advém da relação com os outros significativos,
formada a partir da interação e do reconhecimento do outro, e o espaço entre o mundo
pessoal e o mundo público. Surge de uma crítica da Sociologia à concepção
individualista do sujeito. É uma concepção interativa da identidade do Eu. É um
encontro entre o sujeito e os mundos sociais e culturais que ocupa.
• A identidade do sujeito pós-moderno faz referência à sua fragmentação, na medida em
que nesta nova sociedade o sujeito precisa possuir várias identidades, formadas e
transformadas ininterruptamente. Perde-se a noção de identidade essencial ou
permanente, tornando-se estratégica e proposicional.
Lopes (2002), em artigo intitulado “Os caminhos da Identidade nas Ciências Sociais e
suas metamorfoses na Psicologia Social”, apresenta um rico levantamento sobre a categoria
identidade, com identificação de seus fundamentos no desenvolvimento teórico-histórico.
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Esse levantamento passa pelo que o autor denomina “pré-história” dessa categoria, chegando
ao período propriamente histórico de formação da categoria identidade. Encontra na fase
Histórica da categoria da identidade seu surgimento simultâneo “na Antropologia e na
Psicologia, como corpus teóricos que emergem num determinado momento histórico com
respostas diferenciadas à problemática do agir humano.” (LOPES, 2002, p.7). A Psicologia,
centrada na figura psicológica do indivíduo, teria, no comportamento, as elucidações das
ações humanas, enquanto a Antropologia procuraria esclarecimentos no estudo do
conhecimento da pessoa, especialmente por se deter ao conhecimento das sociedades ditas
primitivas ou tradicionais, na qual se acreditava que as noções de indivíduo e de sujeito
(histórico) estavam ausentes ou diluídas nas manifestações coletivas. Lopes (2002) aponta
que:
[...] por trás dos registros da consciência humana [...] que produzem a caracterização da pessoa, do indivíduo ou do sujeito, encontram-se contextualizadas identidades, pensadas respectivamente pelos vínculos ético-moral, ideológico e histórico-cultural- este último pensado na razão de um projeto social de classe (LOPES, 2002, p.18).
Lopes (2002) afirma ainda a necessidade de um diálogo de saberes, interdisciplinar na
categoria identidade, o que permitiria atravessar vários campos do saber, sem se firmar às
especificidades de algum deles; necessitando das suas contribuições para se tornar universal,
sem singularidades inerentes a cada ciência em que se manifesta.
Oliveira (2003) menciona que o conceito de identidade abarca diversas “áreas do
saber, como a sociologia, a antropologia, a filosofia, a psicologia, a psicopatologia e a
psicanálise.” (p.50). Esse autor também aponta o caráter bidimensional do conceito, sendo um
de ordem individual e outro de ordem coletiva, inter-relacionados, sendo o primeiro de
interesse da Psicologia e o segundo de interesse de sociólogos e/ou antropólogos.
Machado (2003), Oliveira (2003), Lima (2007), Bauer e Mesquita (2007), Ewald e
Soares (2007) abordam o estudo do conceito identidade sob dois níveis: a identidade pessoal,
que está ligada a uma construção individual do conceito de si, e a identidade social, que
aborda o conceito de si na vinculação da pessoa a grupos.
Portanto, as discussões envolvem a constituição da identidade pessoal e da identidade
social ou coletiva. Assim, observa-se que o que demarca a identidade é a ambiguidade entre o
individual e o coletivo – do que é igual e diferente, do que é próprio e do que é do outro.
Segundo Chamon (2003, p.25), “[...] a noção de identidade está associada tanto à
similitude, concordância, uniformidade quanto à singularidade e individualidade”. Cabe aqui
mostrar a construção da identidade, em suas dimensões subjetivas (identidade pessoal) e
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intersubjetivas (identidade cultural do grupo de pertencimento), bem como suas zonas de
interseções, na formação da identidade do sujeito, conforme assinalam Ewald e Soares (2007).
Assim, a identidade pessoal traz a singularidade das experiências de cada sujeito e a forma
que a subjetiva, dando-lhe um significado único. A identidade social surge do sentimento de
pertencimento aos grupos aos quais está inserido, dando-lhe significado na relação e no
contexto, que é genérico ou grupal. O sucesso da construção da identidade se mostra na
capacidade do sujeito de impor sua diferença na relação com o outro.
Assim, observa-se que a definição de identidade pessoal está sendo vista como
decorrente de uma construção psicológica, individual do conceito que cada sujeito edifica de
si. A identidade pessoal caracteriza-se por uma busca contínua de unidade por parte do
indivíduo. Preenche expectativas do outro sobre sua própria conduta e constitui um desafio
constante na busca de equilíbrio entre o que se é e o que os outros esperam que ele seja.
Considera que o processo de socialização constitui referencial na formação das identidades
por meio de processos de identificação e internalização dessas identificações, o que se traduz
em noção de si num processo dinâmico e múltiplo.
Com isso, conclui-se que a singularidade das experiências e a forma como são
subjetivadas produzem um significado que é único, a partir de sua internalização,
caracterizando a identidade pessoal.
A identidade social vem sendo caracterizada por Machado (2003), Oliveira (2003),
Lima (2007), Bauer e Mesquita (2007), Ewald e Soares (2007) como uma representação do
sujeito de si mesmo, por pertencimento a um grupo. Segundo Machado (2003), é um processo
social dinâmico, continuamente evolutivo, que se constrói por semelhança e oposição. Assim,
a identidade social também se caracteriza pela oposição aos grupos pelos quais o indivíduo
não pertence. O sentimento de pertencer e a autopercepção como membro do grupo
fortalecem e orientam a ação e a participação no grupo, e são as bases da identidade social.
Pode-se entender que esses sentimentos de pertencimento aos grupos, nos quais se está
inserido, dão o significado do indivíduo na relação e no contexto, genérica ou grupal, e,
portanto, marcam a identidade social. Essa identidade social emerge de categorias e os
indivíduos procuram sua contextualização buscando fortalecer suas identidades. Tais
categorias identitárias podem ser diferentes, dependendo do contexto ao qual se está inserido,
tais como: trabalho, escola, grupos específicos dos quais faz parte.
Bauer e Mesquita (2007) apresentam a identidade como processo de identificação,
“uma noção intuitiva do significado da identificação remete ao ato de identificar, que significa
marcar ou destacar algo” (BAUER; MESQUITA, 2007, p.19). A identidade, como relação,
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pode emergir pelo contraste com o diferente ou pela oposição ao antagonista, o que implica
uma relação que significa reconhecer a importância do outro na composição de si mesmo,
pois é só através desse outro, do diferente, que a identidade pode ser concebida como
singular. A identidade, como construção social, afirma que a construção da identidade “se dá
a partir da nossa socialização, como indivíduos, pela família, pela escola e por todas as
instituições agregativas” (BAUER; MESQUITA, 2007, p.21). Estes autores concluem que
“ambas as dimensões da identidade, dimensão individual e dimensão social, se imbricam.”
(BAUER; MESQUITA, 2007, p.21).
Conforme Lima (2007), a identidade é um conceito amplamente discutido na
atualidade, está no centro dos debates, sendo de extrema importância e destaque. O autor
considera que, no atual contexto histórico, o conceito de identidade possui abordagem de
teóricos de tradições filosóficas, científicas e políticas diversas.
Encontram-se, na literatura científica, concepções que variam desde as tradicionais até
as pós-modernas, como a apresentada por Costa (1989, apud COUTINHO, KRAWULSKI E
SOARES, 2007) de tradição psicanalista, que desenvolve uma concepção de identidade e que
reconhece a dimensão dialética entre o indivíduo e a sociedade, em que um se identifica e se
transforma a partir do outro. Segundo Ciampa (1989), são as denominadas identidades
metamorfoses, frutos do atual contexto histórico e que determinam o indivíduo a uma
constante construção e desconstrução de sua identidade, no dia a dia do convívio social e na
multiplicidade das experiências vividas.
Dubar (1997), referindo-se a Durkheim, apresenta a socialização como uma educação
moral, basicamente como transmissão do espírito da disciplina, garantida pelo
constrangimento, apoiada na ligação com os grupos sociais e na interiorização, a partir da
autonomia da vontade. Sua perspectiva de socialização é baseada historicamente no
constrangimento e na conformidade natural aos modelos sociais. O reconhecimento da
individualização aumenta na medida em que, na vida social, as trocas se desenvolvem e se
complexificam, sempre impostas pelo grupo, derivando sua identidade.
Dubar (1997) concorda com Berger e Luckmann (1985), que aprofundam estudos de
Mead (1952, apud BERGER; LUCKMANN, 1985), ao distinguir a socialização primária e a
socialização secundária, dando grande importância a última, como fator de mudança social.
Esses autores ressaltam a problemática da construção social da realidade, numa perspectiva de
mudança social e não somente reprodução da ordem social. Subjetivamente, eles consideram
a mudança social como inseparável da transformação das identidades. Berger e Luckmann
(1985) também sinalizam que foi Mead (1952, apud BERGER; LUCKMANN, 1985) quem
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primeiro abordou, de forma coerente, a socialização como construção de uma identidade
social, na e pela interação com os outros.
Dubar (1997) apoia suas conclusões em Berger e Luckmann (1985) ao afirmar a
ligação entre a sociologia do conhecimento e o pensamento de Mead (1952), que sugere uma
troca entre essas vertentes do conhecimento como uma “[...] possibilidade sociológica, isto é,
uma psicologia que deriva suas perspectivas fundamentais da compreensão sociológica da
condição humana” (BERGER E LUCKMANN, 1985, p.243). Berger e Luckmann (1985)
buscam, com isso, uma complementaridade entre o conhecimento do individuo e a Sociologia,
estabelecendo a dialética entre o que denominaram de realidades estruturais e a disposição
humana no desenvolvimento histórico da realidade.
Grigorowitschs (2008) destaca que os processos de socialização, segundo Berger e
Luckmann, constituem-se ao se estabelecer correspondência entre a realidade objetiva/mundo
social e a realidade subjetiva/identidade pessoal. Existe uma concepção de que as crianças são
socializadas por outros que lhes são impostos, filtrando o mundo social para elas e
encarregando-se de sua socialização. Na vida adulta, esses indivíduos experienciam uma
socialização secundária que os insere nos novos setores sociais que ainda desconhecem, sendo
sua socialização primária a base para a socialização secundária; isso ocorre na medida em
que, quanto maior a interação na primeira, maior são a percepção e interação com o outro
generalizado. Há, aqui, uma ênfase no caráter infindável do processo de socialização, que
perdura a vida toda. Relata-se também que as compreensões de como tais processos ocorrem
na infância nos permitem entender o desenvolvimento do self, identidades individuais e o
“outro”.
Berger e Luckmann (1985) objetivam demonstrar como a sua concepção de Sociologia
do conhecimento compreende a realidade humana como uma realidade socialmente
construída, provocando que a Sociologia ocupe espaço junto a ciências do homem, enquanto
homem, considerando a “sociedade como parte de um mundo humano, feito pelos homens,
habitados por homens e, por sua vez, fazendo homens, em um contínuo processo histórico”
(BERGER; LUCKMANN, 1985, p 247).
Discutindo as ideias de Mead3, Grigorowitschs (2008) aponta que os processos de
socialização e individuação são dimensões correspondentes que tornam possível o
desenvolvimento da identidade. O interagir social com o outro é algo que precisa ser
desenvolvido, observando que crianças pequenas não possuem o mesmo grau de percepção de
3 Mead (1952), citado por Grigorowitschs (2008).
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suas interações com “o outro” que crianças maiores. Assim, a forma pela qual essa percepção
se desenvolve é por meio do próprio interagir. Para compreender os processos de socialização
na infância, é preciso entender como as crianças desenvolvem seu self, suas identidades
individuais e o papel do ”outro” nesses processos. Dois elementos são fundamentais para o
desenvolvimento do self, o I (identidade pessoal, única) e o Me (identidade social, imagem
que tenho de como os outros me veem). O I permite/garante continuidade do Eu e o Me a
unidade de diferentes sistemas de papéis que precisam ser desempenhados simultaneamente.
Assim, identidade individual e mundo social estabelecem uma relação de interdependência e
referencialidade mútua. O self é entendido como uma identidade unificada entre estes dois
elementos, o que permite autovaloração e orientações do agir flexíveis, mas que é individual
na interação e comunicação com coisas e pessoas. O self (composto por I e Me) é quem entra
em comunicação com o “outro”, pois é um arranjo interindividual fundado em processos de
interpretação ativos. É uma construção subjetiva do agir, em que a relação entre os selves do
grupo social e o self individual, na construção/contestação de condutas e estruturas
pertencentes ao grupo social (GRIGOROWITSCHS, 2008).
De acordo com Dubar (1997), Habermas, retomando Hegel, discute o processo de
socialização como unidade dialética, com três modelos de valor comparável: a representação
simbólica, o processo de trabalho e a interação baseada na reciprocidade. Esse
reconhecimento recíproco produz a intersubjetividade, resultante de um processo social.
Identidade, portanto, seria o resultado de um reconhecimento recíproco, em que a identidade
do Eu só é possível em função da identidade do outro que me reconhece, independente do
meu próprio reconhecimento. É uma identidade do universal, pois revela o que é da espécie e
do singular, ao reconhecer o que é de si próprio. Desenvolve essa mediação pela e na
linguagem, colocando-a como estruturante da identidade. A socialização, aos seus olhos,
situa-se na esfera, portanto, do trabalho e da troca; situa-se na raiz da identidade e da
institucionalização do reconhecimento recíproco nas sociedades modernas.
Em Silva (2000), encontra-se uma reflexão sobre identidade e diferença: como aquilo
que é e aquilo que não é – tendo como referência a si própria, autocontida e autossuficiente;
como criatura de linguagem – são criações sociais e culturais, criadas por meio da linguagem;
não podem ser compreendidas fora dos sistemas de significação nos quais adquirem sentido.
Identidade e diferença compõem uma estrutura indeterminada e instável; como o poder de
definir e traduzem desejo de diferentes grupos sociais em acesso privilegiado a bens sociais.
O processo de identidade oscila entre fixação e estabilização, sua tendência é para a fixação,
ao mesmo tempo em que se mostra uma impossibilidade. Há uma tendência de subverter e
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complicar a identidade ligada à ideia de movimento, deslocamento.
Para subsidiar este estudo, empregar-se-á o conceito de identidade na concepção de
Erik H. Erikson (1987), e para compreender sua visão de desenvolvimento humano,
[...] em termos psicológicos, a formação de identidade emprega um processo de reflexão e observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento mental, pelo qual o individuo se julga a si próprio à luz daquilo que percebe ser a maneira como os outros julgam, em comparação com eles próprios e com uma tipologia que é significativa para eles; enquanto que ele julga a maneira como eles o julgam, à luz do modo como se percebe a si próprio em comparação com os demais e com os tipos que se tornaram importantes para ele. Este processo é, felizmente (e necessariamente), em sua maior parte, inconsciente – exceto quando as condições internas e as circunstâncias externas se combinam para agravar uma dolorosa ou eufórica consciência de identidade. Além disso, o processo descrito está sempre mudando e evoluindo; na melhor das hipóteses, é um processo de crescente diferenciação e torna-se ainda mais abrangente à medida que o indivíduo vai ganhando cada vez maior consciência de um circulo, em constante ampliação, de outros que são significativos para ele – desde a pessoa materna até a humanidade (ERIKSON, 1987, p.21).
Portanto, Erikson (1987) enfoca a relação de troca entre o indivíduo e o contexto que o
circunda, a importância de usar capacidade de transitar entre esse lugar que é social e que se
mantém em constante mudança, e a forma como esse local é capaz de integrar o individuo em
seu sistema de crenças, valores e metas com os quais deve estar engajado. O outro marca a
diferença e as similaridades existentes, dando condições de estruturar a identidade. Clarifica
que o processo é hegemonicamente inconsciente, embora possa tornar-se consciente mediante
situações específicas vividas pelo indivíduo que deflagram tal consciência. Abarca um
processo que muda e evolui constantemente, gradualmente diferenciando-se com o
desenvolvimento do indivíduo. Tal processo ocorre individualmente e em nível universal.
A identidade, na concepção de Erikson (1987), sob um ponto de vista psicanalítico,
apresenta um olhar ampliado, podendo, assim, ser observada em seus escritos:
[...] pois estamos tratando de um processo ‘localizado’ no âmago do indivíduo e, entretanto, também no núcleo central de sua cultura coletiva, um processo que estabelece, de fato, a identidade dessas duas identidades (ERIKSON, 1987, p.21).
Em termos psicológicos, a formação da identidade se dá num processo de reflexão e
observação simultâneas, um processo que ocorre em todos os níveis do funcionamento
mental, pelo qual o indivíduo se julga da forma como se percebe em comparação a como os
outros o julgam. Assim, a construção da identidade é pessoal e social, ocorre de maneira
interativa, através de trocas entre indivíduo e o meio em que está inserido. Tem um caráter
não-estático e mutável, que lhe protege a personalidade em sua estabilidade, mas é algo em
constante desenvolvimento.
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Para Erikson (1971), o desenvolvimento psicossocial do ser humano ocorre em oito
estágios:
1. Confiança básica versus desconfiança básica.
2. Autonomia versus vergonha e dúvida.
3. Iniciativa versus culpa.
4. Indústria versus inferioridade.
5. Identidade versus confusão de identidade.
6. Intimidade versus isolamento.
7. Produtividade versus estagnação.
8. Integridade versus desesperança.
Os quatro primeiros estágios ocorrem na primeira infância e meninice, o quinto ocorre
na adolescência e os três últimos ocorrem a partir da maturidade. Deve-se considerar que
esses estágios consecutivos não são determinados cronologicamente e Erikson (1971, 1987)
confere grande valor ao período da adolescência, por servir de transição para a vida adulta.
Cada estágio contribui para a formação da personalidade total e referem-se às qualidades do
Ego básicas.
De acordo com Hall e Lindzey (1984), na concepção de desenvolvimento psicossocial
de Erikson, os estágios de vida da pessoa, do nascimento à morte, sofrem influências sociais
na interação com um organismo em amadurecimento físico e psicológico. Hall e Lindzey
(1984) afirmam que o agente interno ativador da identidade é o Ego em seus aspectos
consciente e inconsciente. Sua concepção de Ego é muito socializada e histórica, em
acréscimo aos fatores genéticos, fisiológicos e anatômicos, que ajudam a determinar a
natureza do Ego do indivíduo. Para ele, as pessoas devem procurar suas identidades nos
potenciais de suas sociedades, enquanto seu desenvolvimento implica as requisições da
sociedade ou sofre sua influência.
Aznar-Farias, Silvares e Schoen-Ferreira (2003) apontam que a identidade para
Erikson é entendida como “uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e
metas com os quais o indivíduo está solidamente comprometido” (AZNAR-FARIAS;
SILVARES; SCHOEN-FERREIRA, 2003, p.107). Assim, a construção da identidade envolve
a definição de quem é a pessoa, bem como os valores e direções que busca para a vida.
Dessa forma, conclui-se que, para Erikson (1987), a construção da identidade é
pessoal e social; não é estática ou imutável; está em constante desenvolvimento, dependendo
das condições que atravessa em cada estágio, e ocorre na interação e no intercâmbio entre o
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indivíduo e o meio ao qual está inserido. Ainda segundo Erikson (1987), esse processo está
em evolução contínua, acontece em diferenciação gradual, tornando-se mais abrangente
através da troca com seu meio significativo.
Para concluir, cabe salientar que são encontrados, nos autores apresentados, aspectos
comuns no estudo sobre identidade, como o caráter individual e o caráter social de sua
formação, variando a interferência e o modo como ocorre, dependendo do aspecto que cada
abordagem considera mais importante. Alguns afirmam os aspectos individuais, a partir dos
quais desenvolvem seu conceito, outros abordam os aspectos coletivo e social, com os quais
defendem a estruturação da identidade. Para este estudo, como já mencionado, a concepção de
identidade será a de Erikson, na qual existe uma relação entre a identidade pessoal e a
identidade social e ambos os aspectos são importantes para a construção da identidade do
indivíduo, a partir de preceitos e regras sociais e com implicação de seu desenvolvimento
psicossocial.
2.2 A TEORIA BIOECOLÓGICA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E AS
IMPLICAÇÕES PARA O ESTUDO PROPOSTO
Falar de formação, identidade e identidade profissional significa tratar de conceitos e
contextos variados que se inter-relacionam e interferem diretamente na sua construção. Nessa
perspectiva, a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano vem nos auxiliar na
compreensão de como os ambientes podem interagir e influenciar esse processo que acontece
ao longo de um período da vida e que se mantém em constante mudança.
Para Cole (1996), na Teoria Bioecológica, cujo autor é Bronfenbrenner (1996), existe
uma
[...] preocupação em especificar o que as pessoas fazem, de uma maneira que possa ser generalizada além dos contextos da nossa observação. Ele enfatiza a importância crucial de estudarmos os ambientes nos quais nós nos comportamos, para podermos abandonar descrições particularísticas e processos sem conteúdo (COLE, 1996, p.xiii).
Assim, esses contextos influenciadores perpassam pela família de origem, escola,
valores e crenças pessoais, formação profissional específica, trabalho, política de serviços,
processo de resiliência, equipe de trabalho, entre outros fatores. O contexto de vulnerabilidade
social da população atendida na construção dessa identidade também foi abordado neste
estudo.
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Bronfenbrenner (1996) assim descreve:
A Ecologia do desenvolvimento humano envolve o estudo científico da acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano ativo, em desenvolvimento, e as propriedades em mudança dos ambientes imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo é afetado pelas relações entre esses ambientes e pelos contextos mais amplos em que estão inseridos (p.18).
Ao pensar em tal referência verifica-se a relação existente entre o estudo proposto e a
Teoria Bioecológica, os contextos de formação vivenciados por cada pessoa em sua família,
comunidade, escola, ambiente de trabalho e a política social vigente. Assim, o momento
histórico vivido e a forma como cada espaço propicia a potencialização de suas capacidades e
de seu desenvolvimento possibilitam, ao sujeito, enfrentar obstáculos e desafios que o
desenvolvimento impõe e deixa uma marca na sua atuação profissional, interferindo
diretamente em sua construção identitária.
Na Teoria Bioecológica, o desenvolvimento ocorre de forma dinâmica e inter-
relacionada, pensado a partir de quatro níveis: Pessoa, Processo, Contexto e Tempo (modelo
PPCT). Existe nessa perspectiva um resgate do papel ativo, interativo e protagônico do
indivíduo como agente de mudança e núcleo do processo.
Martins e Szymanski (2004) apontam que, nas duas últimas décadas, Bronfenbrenner
vem modificando e reformulando sua abordagem, fortalecendo a bidirecionalidade existente
em relação à pessoa e ao ambiente em que ela atua. Assim, deu-se mais importância às
características biopsicológicas da pessoa em desenvolvimento, fazendo com que o modelo de
estudo passasse de ecológico para bioecológico.
A pessoa é compreendida em suas características individuais, que propulsionam o
desenvolvimento, tais como: crenças diretivas, nível de atividade, índole, objetivos e
motivações; seus recursos – experiências, inteligência e habilidades, e suas demandas, que são
características de estímulo pessoal como idade, cor da pele e gênero.
O Processo proposto nessa teoria pode ser entendido como motor do desenvolvimento,
oferecendo possibilidades de interações entre o organismo ativo em evolução e as pessoas,
objetos e símbolos em seu ambiente imediato. Aos poucos essas interações tornam-se mais
complexas e se diferenciam, a partir das características pessoais de cada indivíduo e das
características dos contextos, nos quais o indivíduo está inserido. Polonia, Dessen e Silva
(2005) esclarecem que a interação caracteriza-se como processo proximal, de natureza
bidirecional e que aparece através das formas de interação entre a pessoa e o seu ambiente
físico, psicológico ou social. Os processos proximais – enquanto mecanismos primários de
desenvolvimento – ocorrem através do tempo.
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O conceito de processos proximais, no modelo bioecológico, conforme Martins e
Szymanski (2004) descrevem, tem um sentido bastante específico, sendo seu processo de
desenvolvimento mediado por influências em ambas às direções, havendo graus de
reciprocidade com pessoas, objetos e símbolos.
O contexto é traduzido “pelo conjunto de estruturas concêntricas, na quais cada uma
abarca progressivamente a outra. Estas estruturas são chamadas de micro, meso, exo, macro e
cronossistema” (POLONIA, DESSEN E SILVA, 2005, p. 77). Assim, esses ambientes
oferecem possibilidades de desenvolvimento ao indivíduo e intermediam-se mutuamente,
permeando valores, crenças, práticas, recursos e identidade, permitindo a compreensão das
influências de tais ambientes no desenvolvimento. Os microssistemas são os mais próximos
do indivíduo, tais como: família, escola, grupo de amigos e comunidade. À medida que se
distanciam vão se caracterizando como meso e exo, tais como: políticas públicas, sistema
econômico, até alcançar o macrossistema, mais remoto, caracterizado pela cultura.
Esses sistemas se arranjam num sistema que ocorre por toda a vida e que caracterizam
o quarto nível deste modelo teórico – o Tempo. O cronossistema marca o tempo histórico e os
acontecimentos vividos pelo indivíduo. Seus eventos são fortes influenciadores do
desenvolvimento humano. É no cronossistema que todo o desenvolvimento ocorre e nele
percebe-se a ação e influência dos demais ambientes e relações proximais ocorridas. Como
apontam Polonia, Dessen e Silva (2005), o tempo compreende dois sentidos: um processo
microgenético de interação entre o indivíduo em desenvolvimento e aqueles que com ele
convivem e a passagem do tempo histórico, que dimensiona e estrutura os diferentes sistemas
culturais.
Para Bronfenbrenner (1996), os efeitos principais estão na interação, e as explicações
sobre aquilo que será feito serão encontradas nas interações entre as características das
pessoas e seus ambientes, passados e presentes. Ao entender o desenvolvimento humano
nesse conjunto de sistemas, também se vê a pessoa capaz de ser influenciada e os influenciar,
determinando e, ao mesmo tempo, sendo determinada pelas mudanças que neles ocorrem.
Nesse modelo, o desenvolvimento humano é visto como ligado à estabilidade e
mudança dos seres humanos durante seu percurso de vida e também através das gerações, na
medida em que sofrem e produzem influência sobre o macrossistema nas interações com os
demais.
A diversidade do ambiente ou contexto ecológico e suas inter-relações, não se
caracterizam apenas pelos aspectos diretos, mas também pelos aspectos indiretos que exercem
sobre o indivíduo.
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O microssistema é assim denominado, pois se caracteriza pelo ambiente mais
próximo, imediato ao indivíduo. De acordo com Polonia, Dessen e Silva (2005), constitui-se
por padrões de atividades, papéis e relações interpessoais experienciados pelos indivíduos
num dado ambiente em que suas características físicas, sociais e simbólicas particulares
funcionam de maneira a estimular ou inibir as relações interpessoais. Com o passar do tempo,
tais interações se complexificam, a partir das influências da natureza desse meio ambiente.
No microssistema, constituem-se as atividades molares e as atividades moleculares. As
primeiras têm como característica a persistência temporal e a significância para os indivíduos
envolvidos no ambiente e expressam o mecanismo interno e as manifestações externas do
crescimento psicológico, capacidade que cada indivíduo tem de invocar objetos, pessoas e
eventos que não estejam no ambiente imediato – ecologia da vida mental. São os aspectos
mais importantes, imediatos e significativos no processo evolutivo da pessoa. As segundas
são atividades menos significantes e de pequena duração para o desenvolvimento da pessoa.
Outro elemento do microssistema são as relações interpessoais, em que precisa haver
afetividade, equilíbrio de poder e reciprocidade. Ocorrem sempre que uma pessoa presta
atenção ao que a outra está realizando ou quando compartilha atividades num dado ambiente.
Podem ocorrer através de uma díade – sistema de duas pessoas, bidirecional; pode ser
observacional e de atividade conjunta, assim gerando reciprocidade equilíbrio de poder e
relação afetiva.
Os papéis no microssistema representam o comportamento típico de um indivíduo em
relação a alguma profissão ou posição social; é entendido como sendo seu papel perante a
sociedade e caracterizam um “conjunto de expectativas, atividades e atitudes esperadas
socialmente a respeito da atuação da pessoa no seu espaço de relações” (POLONIA;
DESSEN; SILVA, 2005, p. 80).
Conforme Bronfenbrenner (1996), as mudanças de papel ou ambiente, ou ambos,
ocorrem durante toda a vida (transições ecológicas), a capacidade de uma díade de servir
como um contexto de mudança efetivo para o desenvolvimento humano depende da presença
e participação de uma terceira pessoa. Se essa parte é ausente ou desempenha um papel
perturbador, em vez de apoiador, o processo desenvolvimental, como um sistema, se
interrompe. Assim, a importância das transições ecológicas está no fato de envolverem
mudança de papel, ou seja, de expectativas de comportamento associados a determinadas
posições na sociedade. Esse mesmo princípio se aplica às relações entre os ambientes,
fazendo com que a capacidade de um ambiente de funcionar efetivamente como um contexto
para o desenvolvimento dependa da existência e natureza das interconexões sociais entre os
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ambientes, incluindo a participação conjunta, a comunicação e a existência de informações de
cada ambiente a respeito do outro.
O mesossistema compreende participação multiambiental, ligações indiretas,
comunicação e conhecimento. Está marcado pelas “inter-relações entre dois ou mais
ambientes em que a pessoa em desenvolvimento está inserida e participa de maneira ativa”
(POLONIA; DESSEN; SILVA, 2005, p.80). Ele estabelece as relações entre microssistemas.
Para Bronfenbrenner (1996, p.21), o mesossistema é “um sistema de microssistemas. Ele é
formado e ampliado sempre que a pessoa em desenvolvimento entra num novo ambiente”.
No mesossistema existe sempre uma transição ecológica quando a pessoa se envolve
num determinado ambiente pela primeira vez, ou seja, passa de ambiente familiar a um
desconhecido. Bronfenbrenner (1996) propõe quatro tipos possíveis de interligações entre os
ambientes: 1) Participação Multiambiente: participação em múltiplos ambientes diferentes,
assumindo papel ativo, criando rede de relações diretas e um vínculo primário de relações
face a face e vínculos secundários ou suplementares, criados pela participação de outras
pessoas no ambiente não-frequentes e sem serem sujeitos de atividades molares; 2) Ligação
Indireta, quando a inter-relação entre os ambientes é garantida pela presença de uma terceira
pessoa, com um vínculo denominado intermediário entre os participantes de dois ambientes;
3) Comunicações Interambiente: comunicações entre ambientes, quando as informações são
transmitidas de um ambiente para outro por via direta, comunicados telefônicos ou impressos,
ou indiretamente, através de componentes da rede social, de modo bilateral ou unilateral; 4)
Conhecimento Interambiente: caracteriza-se por informações, experiências, percepções,
expectativas que existem de um ambiente em relação ao outro, que apresentam fontes diversas
de comunicação.
O exossistema é caracterizado como um ou mais ambientes que não envolvem a
pessoa em desenvolvimento como um participante ativo, mas os eventos que acontecem
nesses ambientes afetam ou podem ser afetados pelo que acontece no ambiente em que se
encontra a pessoa em desenvolvimento. Segundo Polonia, Dessen e Silva (2005), o
exossistema é composto pelas influências dos cenários externos nos demais ambientes que a
pessoa tem contato.
O macrossistema é constituído por um conjunto de valores e crenças de uma cultura ou
subcultura, envoltos em um cabedal de conhecimento, recursos materiais, costumes, modo de
vida, estrutura de oportunidades, barreiras e escolhas ao longo da vida. Nesse nível,
produzem-se impactos culturais referentes ao desenvolvimento moral, valores educacionais,
gênero, construção de identidade e traços de personalidade. Para Polonia, Dessen e Silva
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(2005), o macrossistema representa a cultura, em que os grupos são os promotores do
desenvolvimento. Conforme Bronfenbrenner (1996):
O macrossistema se refere à consistência, na forma e conteúdo de sistemas de ordem inferior (micro, meso e exo) que existem, ou poderiam existir, no nível da subcultura como um todo, juntamente com qualquer sistema de crença ou ideologia subjacente a essas consistências (BRONFENBRENNER, 1996, p. 21).
No modelo bioecológico, encontra-se a noção de pessoa não apenas com
características idiossincrásicas, mas estimuladas ao desenvolvimento, por meio de sua
subjetividade, que é composta por crenças valores, nível de atividade, traços de personalidade,
temperamento, objetivos de vida, motivações e outros. Essas características são formadas por
três elementos que lhe dão consistência e forma, modificando as interações entre o organismo
e o ambiente, durante o percurso de vida. São: disposições, recursos bioecológicos e
demandas, que moldam o desenvolvimento futuro da pessoa, expandem e integram a pessoa
aos sistemas, que se acomodam e ajustam-se do micro ao macrossistema. (POLONIA,
DESSEN E SILVA, 2005).
Para Bronfenbrenner (1996):
O desenvolvimento humano é o processo através do qual a pessoa desenvolvente adquire uma concepção mais ampliada, diferenciada e válida do meio ambiente ecológico, e se torna mais motivada e mais capaz de se envolver em atividades que revelam suas propriedades, sustentam ou reestruturam aquele ambiente em níveis de complexidade semelhante ou maior de forma e conteúdo (p. 23).
Para concluir, é importante refletir sobre as contribuições de Bronfenbrenner e seus
estudos para o desenvolvimento humano. Conforme apontamentos de Polonia, Dessen e Silva
(2005), Bronfenbrenner amplia as investigações sobre o processo de desenvolvimento
humano em toda sua complexidade e dinamismo; focaliza o conteúdo das interações, assegura
uma unidade diádica aos comportamentos da pessoa, amplia o ambiente para uma dimensão
social ou de outros ambientes mais remotos, abrange as atividades molares e os efeitos de sua
complexidade e de seu desenvolvimento psicológico da pessoa; agrega a dimensão temporal
do desenvolvimento, que a trajetória de modo bilateral ou unilateral da pessoa deve ser
compreendida pelas mudanças ocorridas no seu desenvolvimento, associadas às
transformações advindas do seu contexto histórico e social.
2.2.1 O estudo proposto à luz da Teoria Bioecológica
Pensar sob o viés da Bioecologia do Desenvolvimento Humano na formação da
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identidade profissional de psicólogos que atuam na perspectiva da Política Nacional de
Assistência Social, considerando sua formação acadêmica e os contextos que permeiam tal
construção identitária, é o objetivo desta seção. Esses contextos de formação e
desenvolvimento devem ser considerados, conforme aponta Koller (2004), na interação
sinérgica de quatro níveis inter-relacionados: Processo, Pessoa, Contexto e Tempo, nos quais
os processos psicológicos passam a ser propriedades dos sistemas descritos no modelo de
estudo. Assim, faz-se necessário o desafio de transportar esse modelo para a compreensão de
como isso acontece na formação profissional do psicólogo.
Alguns contextos são mais significativos e influentes no desenvolvimento do
indivíduo e sua identidade profissional: o contexto familiar, o contexto comunitário, o
contexto educacional, o contexto profissional, o contexto político-social vigente, o contexto
histórico-cultural vivenciado, entre outros. A forma de interação nesses ambientes marca a
formação e atuação do profissional.
A pessoa, em seu papel ativo, interativo e produtor de mudança, é o núcleo do
processo. Para Koller (2004), ela é produtora e produto do desenvolvimento; influencia a
forma, a força, o conteúdo e direção dos processos proximais, e é, ao mesmo tempo, resultado
de interação conjunta dos elementos que se referem ao Processo, Pessoa, Contexto e Tempo.
Conceitos a partir dos quais serão relacionados os demais.
A identidade como base da formação profissional e as influências e interações de sua
formação são grandes propulsoras de desenvolvimento. De acordo com Erikson (1971; 1987),
há, na formação da identidade, uma adaptação mútua entre o indivíduo e o ambiente, o que
implica definir quem a pessoa é; quais são seus valores, e quais as direções que deseja seguir
pela vida. Trata-se de uma concepção de si mesmo, composta de valores, crenças e metas,
com os quais o indivíduo está solidamente comprometido.
Como indivíduos que vivem, marcam e são marcados pela sociedade, os seres
humanos recebem e exercem interações, além dos microssistemas, que precisam de
regularidade, do mesossistema – que apresentam efeitos cumulativos para resultados
significativos. Segundo Koller (2004), podemos nos transportar para as escolhas profissionais,
partindo do conhecimento que temos socialmente das profissões e que interferem em nossa
escolha (exossistema). Compreender essa relação não é suficiente para que possamos
desenvolver condições de atuação profissional; é preciso observá-la, inserida em outros
microssistemas e influenciadas pelo exo e macrossistemas.
O macrossistema é delineado por uma cultura nacional em que as diferenças são
marcantes, e que, segundo Koller (2004), abarca expectativas e eventos de mudança dentro da
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sociedade através de gerações. O profissional formado para atuar como psicólogo tem, em seu
contexto de formação, uma direção para o atendimento das situações e das complexidades que
se diferenciam no atendimento às famílias em contexto de vulnerabilidade social. A realidade
em seu contexto histórico-social vivido, o microcontexto do profissional e sua formação, o
microcontexto das famílias com as quais trabalhará se diferenciam muito, embora os
ambientes estejam inseridos no mesmo macrossistema. Essa interação também é marcada pelo
exossistema que se configura pela política social vigente.
Os sistemas apresentam-se dinâmicos, ativos, interagindo mutuamente e
proporcionando mudanças entre si. Além disso, o trabalho em equipes interdisciplinares
também sofre e exerce os mesmos movimentos, transformando-se em novos sistemas (meso e
exossistemas). Essa complexidade de inter-relações, interações, acontece ao longo do ciclo de
vida e influenciam a trajetória dos indivíduos.
O conteúdo das interações assegura um significado ao desenvolvimento do indivíduo,
ampliando sua compreensão e intervenção nos ambientes ao qual está inserido. Isso é
fundamental numa atuação profissional que promove desenvolvimento humano e, por isso,
deve e precisa manter inter-relação com os contextos de vulnerabilidade social, no qual está
inserido, requerido pelo seu papel social representado profissionalmente. Tal atuação merece
zelo e um olhar expandido para que tenha um significado pessoal e social, possibilitando seu
desenvolvimento psicológico e o desenvolvimento humano da população atendida.
Ainda cabe ressaltar, conforme explica Koller (2004) – que traduz nossa intenção
nesta leitura teórica –, que esse modelo contextualista e interacionista destaca que os
processos ocorrem sempre dentro de contextos, através de interações em diversos níveis e
sistemas. Há uma constante interação entre os aspectos da natureza e o ambiente, em que os
hereditários influenciam e são influenciados pelo ambiente.
Dessa forma, este referencial teórico mostra a importância do contexto e da interação
existente na formação da identidade profissional do psicólogo. Da mesma maneira, torna-se
relevante conhecer a Política Nacional de Assistência Social, a caracterização e seu contexto
de criação.
2.2.2 A identidade do psicólogo e sua relação com o macrossistema
Na perspectiva deste estudo faz-se necessária a inserção do contexto socioeconômico e
político na leitura do macrossistema, que marca a construção identitária do psicólogo. Temos
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que considerar que estamos inseridos num contexto histórico multifacetado, com várias
dimensões, tais como: psicológica, antropológica e, sobretudo, a dimensão do trabalho. Ao
longo do tempo (cronossistema), várias facetas da interação ocorrem de forma constante, que
influenciam as escolhas profissionais e as interfaces e serviços desenvolvidos, como
mencionam Ludke e Boing (2004). Como o processo de trabalho e a produção de capital
influenciam e são influenciados pelos ambientes micro, meso, exo e macro, é fundamental
compreender o desenvolvimento, tanto das profissões, quanto das identidades dos indivíduos.
Na história da humanidade, o trabalho surgiu como uma forma de inter-relação no
atendimento às necessidades imediatas da sobrevivência, mas sofreu, durante os últimos
séculos e decorrente de circunstâncias históricas específicas, uma gradual mudança, tornando-
se criador de riquezas, associado à econômica. Isso impôs dificuldades no que tange os
processos de identificações por seu intermédio e a construção das identidades profissionais,
bem como na organização da sociedade como um todo.
A Revolução Burguesa tratou de deslocar o processo de exploração, de diferenciação entre classes, do domínio divino-hereditário para o plano da livre concorrência- o poder herdado cede terreno ao poder adquirido. A trama econômico-social passa a depender da capacidade de apropriação do trabalho alheio, a mais-valia se dá então, na proporção do controle, na medida em que os ditames de sangue são substituídos pelos ditames da produção (CODO, 1989, p. 149).
Assim, sob a perspectiva do capitalismo, a natureza do trabalho, modos de
organização e gestão são alterados, assim como as relações interpessoais que os trabalhadores
estabelecem nesse contexto.
Nesse macrocontexto, a Psicologia nasce com o aparecimento da divisão social do
trabalho no sistema capitalista e no ideário liberal. Os conhecimentos psicológicos surgem
pela necessidade capitalista/burguesa de defesa da desigualdade e de domínio do corpo social,
com métodos ajustados a ideologia liberal e a serviço da reprodução da ordem social. Dessa
forma, seu conhecimento está atrelado ao interesse vigente no momento histórico vivido.
Pode-se exemplificar, lembrando como assinala Patto (1990), que a Psicologia
nascente teve como principal papel social descobrir os mais e os menos aptos ao sucesso na
vida social. Para isso, utilizou-se da Psicologia Científica, através de explicação e mensuração
das diferenças individuais pela psicometria, para apontar quem era “normal ou anormal”,
quem tinha habilidades para “isso ou aquilo”, servindo, assim, para justificar o que era de
interesse ao sistema vigente.
A Psicologia nacional está inserida no contexto ocidental, fortemente influenciada por
psicólogos europeus e norte-americanos. Assim, o macrossistema internacional, marcado pela
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globalização, exerce influência também no contexto de formação identitária do profissional
no contexto nacional.
Observa-se que as ações da Psicologia no Brasil acompanham o contexto mundial e,
ao mesmo tempo, o desenvolvimento da Psicologia como Ciência (macrossistemas)
acompanha o processo de instauração do capitalismo e sua ideologia. Assim, independente do
local ou do sujeito, o processo histórico-político-social interfere diretamente com as ideias e
representações na identidade profissional. Dessa forma, também é possível pensar que o
currículo das universidades e a formação do psicólogo estão vinculados a esse processo
permeado pela globalização, mediada pelo capitalismo.
Com isso, em nível mundial (macrossistema), esse sistema histórico-político-social,
durante seu desenvolvimento (cronossistema), passou por momentos de crise, que
desencadearam uma reestruturação produtiva do trabalho, cujas consequências foram:
aumento do desemprego, precarização das relações de trabalho, mudanças na inserção dos
membros da família no mercado de trabalho e diminuição da renda familiar. Tal
reestruturação produziu e produz alterações na relação família-trabalho que estão relacionadas
às transformações das atividades econômicas, que, possivelmente, influenciaram as mudanças
das relações familiares e as condições de sua sobrevivência. Segundo Montali (2000), a
ausência de políticas de emprego e de proteção social teve como consequências a precarização
das relações de trabalho e a deterioração da renda familiar.
Com o empobrecimento crescente das famílias, em consequência dessa forma de
organização histórico-político-social, observam-se: crescente informalização do trabalho;
redução do assalariamento e emprego industrial; diminuição do cumprimento dos seus papéis
historicamente desempenhados; aumento da vulnerabilidade da família e dos riscos que seus
membros são expostos, demandando novas intervenções de políticas públicas. Ainda de
acordo com Montali (2000), alguns autores afirmam que o desemprego elevado e a
precarização das relações do trabalho resultam da orientação macroeconômica, ou seja, fazem
parte da estratégia de estruturação da política econômica vigente (macrossistema) que
desconsidera as consequências sociais para a população (microssistema). A população dos
países periféricos são as que mais sofrem as marcas dessa exclusão histórico-político-social e
entender tal processo interfere diretamente na atuação junto às mesmas, no sentido de
compreender a estruturação de sua forma de vida e de promover suas possibilidades de
desenvolvimento.
Entendendo essa perspectiva e considerando que essas mudanças e reflexões podem
ser uma via para a leitura deste trabalho, realizou-se um recorte e optou-se pela Teoria
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Bioecológica do Desenvolvimento Humano, como viés para utilização nesta pesquisa, pois
essa teoria dá condições para uma discussão na amplitude do estudo proposto.
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3 IDENTIDADE E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
3.1 IDENTIDADE PROFISSIONAL
A identidade integra uma identidade individual e uma identidade social. A identidade
social, que apresenta diversas facetas, contém o necessário para se compreender a identidade
profissional de um indivíduo. Os autores já citados concordam que a identidade social
referencia a construção da identidade profissional, como uma das formas de relação com
grupos específicos do coletivo/social, nesse caso relacionado ao desenvolvimento de uma
atividade laboral. Alguns autores desenvolveram a discussão sobre identidade profissional e
sua constituição.
Machado (2003) relata que a socialização dos indivíduos no mundo do trabalho
acontece como consequência das relações de poder, experienciada no contexto produtivo, que
originam regras coletivas de comportamento e possibilitam a construção de uma identidade no
trabalho.
Segundo Gomes (2007), independentemente do local ou do sujeito, o processo
histórico-político-social interfere diretamente com suas ideias e representações na identidade
profissional. O autor aponta que, no que concerne à identidade profissional dos professores,
ela sofre interferências do contexto em três situações: concepção de profissão que a nação
tem; criação de mecanismos capazes de monitorar a identidade profissional, por meio do
discurso oficial, e a identidade profissional se constitui como manobra a favor dos interesses
sócio-político e históricos vigentes. Dessa forma, conclui-se que, nas demais profissões, o
processo aconteça de forma similar.
Para Gomes (2008, p.5), “[...] a identidade profissional é uma das identidades
assumidas pelos sujeitos sociais” e afirma que tal identidade só pode ser caracterizada através
do adjetivo profissional, o que envolve as atividades desenvolvidas e os interesses que
marcam o exercício do trabalho de um grupo específico, entre outros.
Coutinho, Krawulski e Soares (2007) resgatam que, na história da humanidade, o
trabalho surgiu como uma forma de interlocução no atendimento das necessidades imediatas
da sobrevivência, mas sofreu uma gradual mudança, durante os últimos séculos, decorrente de
circunstâncias históricas específicas. O trabalho torna-se o criador de riquezas, com conotação
econômica. Isso impôs dificuldades aos processos de identificações e à construção das
identidades profissionais.
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Assim, Coutinho, Krawulski e Soares (2007) defendem que “[...] sob a lógica
capitalista, modificam-se a natureza do trabalho, seus modos de organização e de gestão e,
principalmente, as relações interpessoais que os trabalhadores estabelecem no contexto
laboral” (COUTINHO, KRAWULSKI E SOARES, 2007, p.34).
Coutinho, Krawulski e Soares (2007) concebem uma mútua determinação entre
trabalho e identidade, o primeiro como parte integrante e constituinte da identidade social do
sujeito, e concomitantemente, a identidade profissional resultado da vinculação do ser
humano a uma atividade laborativa, considerada no contexto e especificidade que interferem
no sistema identitário discutido.
A identidade profissional, para Chamon (2003), apresenta duas dimensões:
1. a do Eu Profissional, caracterizado como um processo interativo e conflitual, produto
da imagem que os outros recebem do sujeito “[...] Seria a imagem que o profissional
construiu de si mesmo, na interação profissional, dentro de contextos profissionais”
(CHAMON, 2003, p.25);
2. a da Identidade Profissional, caracterizada “[...] como modelo (visto como conjunto de
valores e opções adotadas) do ‘bom profissional’ que o indivíduo quer vir a ser”
(CHAMON, 2003, p.25).
Concluindo, Chamon (2003) sugere que, no campo da identidade profissional, podem
ocorrer rompimentos identitários, quando as realizações e potencialidades do Eu Profissional
não são respaldadas pelo grupo de significantes ao qual está inserido (no caso, profissional),
contradizendo a imagem que o indivíduo tem de si.
Bock (1999) defende que uma identidade em movimento, em constante mudança
(metamorfose), produz uma identidade profissional que acompanha tal movimento da
realidade e que, portanto, nunca estará pronta e nunca terá uma definição, estará sempre em
construção.
Rosa (1990) aborda que a “[...] identidade psicológica de um indivíduo está
intimamente ligada à da escolha de uma profissão (p.116)” e que essa escolha são processos
interligados de modo interessante, sem que se possa dizer qual é causa e qual é efeito. Além
disso, Rosa (1990) relata que o ajustamento pessoal e social do indivíduo, bem como seu
futuro, depende da escolha adequada da profissão. Todo processo de ajustamento emocional e
social do homem é consequência da forma como ocorre sua adaptação à realidade do trabalho.
Com base nos estudos de Erikson, Rosa (1990) postula que a identidade pessoal deve
ser definida em termos de realidade social. Assim, a escolha por uma profissão pelo indivíduo
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ocorrerá em decorrência da “forma de ser na sociedade e como afirmação de seu lugar no
mundo criativo do trabalho e da produtividade” (ROSA, 1990, p.114).
Existe, para Erikson (1971; 1987), uma relação entre a identidade pessoal e a
identidade social, que se constrói na interação com os preceitos e regras sociais, mas com
implicação em seu desenvolvimento psicossocial. Portanto, a construção de sua identidade
profissional está fortemente influenciada pelo contato que estabelece com o meio em que
vive. Assim, num processo proximal, a identidade e a identidade profissional são construídas
num contexto de complexificação e diferenciação das características pessoal e contextual, ao
qual o indivíduo está inserido.
Nesse processo os ambientes/sistemas micro, meso, exo e macro interagem e mostram
sua marca nessa formação identitária. Família, comunidade e escola caracterizam-se como
ambientes próximos que influenciam as escolhas dos indivíduos. Conforme observa
Bronfenbrenner (1996), esse processo ocorre nessa interação ao longo do ciclo de vida.
A forma como cada pessoa vivencia a interação com esses ambientes potencializa suas
capacidades de desenvolvimento e pode favorecer o modo como enfrenta os obstáculos e os
desafios que lhe são interpostos, no decorrer de sua vida. Dessa forma, essa interação entre
pessoa e ambientes influencia sua capacidade de respostas ao meio, podendo contribuir para a
superação dos obstáculos que encontrará frente ao desenvolvimento profissional.
Cabe aqui aprofundar como a construção da identidade para Erikson (1971) se
relaciona a identidade profissional. Em sua teoria de desenvolvimento psicossocial, Erikso