Descobrindo o "gauchês"

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- Meu nome é Rodrigo Cambará. Como é a sua graça? - Juvenal Terra. - Mora aqui no povo? - Moro. - Criador? O outro sacudiu a cabeça negativamente. - Faço carreteadas daqui pro Rio Pardo e de lá pra cá.

- Meu nome é Rodrigo Cambará. Como é a sua graça? - Juvenal Terra. - Mora aqui no povo? - Moro. - Criador? O outro sacudiu a cabeça negativamente. - Faço carreteadas daqui pro Rio Pardo e de lá pra cá.

Juvenal explica que faz carreteadas, ou seja, transporta gado, não sendo

criador de animais, como pensa, inicialmente, Rodrigo.

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E quando ergueu a cabeça para encarar o capitão, deu com aqueles olhos de ave de rapina. - Ou três horas... - completou Rodrigo. - Mas por que é que o amigo diz isso? - Porque vosmecê tem um jeito atrevido. Sem se zangar, mas com firmeza, Rodrigo retrucou: - Tenho e sustento o jeito. - Por aqui hai também muito homem macho.

E quando ergueu a cabeça para encarar o capitão, deu com aqueles olhos de ave de rapina. - Ou três horas... - completou Rodrigo. - Mas por que é que o amigo diz isso? - Porque vosmecê tem um jeito atrevido. Sem se zangar, mas com firmeza, Rodrigo retrucou: - Tenho e sustento o jeito. - Por aqui hai também muito homem macho.

Em português, seria “há”, do verbo haver. O

trecho mescla espanhol ao português, mas

sem y (o certo é dizer hay, em vez de hai).

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Agora Juvenal alisava a palha com a lâmina da faca, pachorrento. Seus olhos continuavam ainda postos no estranho, avaliando-o. Achava engraçada aquela combinação de bombacha e casaco de soldado. Implicava um pouco com o lenço vermelho. Aquele violão a tiracolo também lhe inspirava desconfiança. Nunca tivera simpatia por homem que vive gauderiando. Enfim, é preciso haver de tudo um pouco neste mundo - concluiu.

Agora Juvenal alisava a palha com a lâmina da faca, pachorrento. Seus olhos continuavam ainda postos no estranho, avaliando-o. Achava engraçada aquela combinação de bombacha e casaco de soldado. Implicava um pouco com o lenço vermelho. Aquele violão a tiracolo também lhe inspirava desconfiança. Nunca tivera simpatia por homem que vive gauderiando. Enfim, é preciso haver de tudo um pouco neste mundo - concluiu.

Bombacha é uma espécie de calça usada pelos gaúchos. Gauderiando vem do verbo gauderiar, ou seja, viver à toa,

vagabundear.

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Juvenal sacudia a cabeça devagarinho. Não sabia que opinião formar daquele homem, nem até que ponto podia acreditar no que ele lhe contava. Precisava levantar-se e ir embora. (...) Havia, porém, algo que o impedia de mover-se. Ele se interessava pelo que o outro dizia (...). - Pois o povo compreendeu que o triunvirato estava mas era marombando pra não jurar a Constituição. Nesse ponto estourou a revolta não só do povo como também das tropas e, claro! lá estava o tenente Rodrigo Cambará no meio do fandango.

Juvenal sacudia a cabeça devagarinho. Não sabia que opinião formar daquele homem, nem até que ponto podia acreditar no que ele lhe contava. Precisava levantar-se e ir embora. (...) Havia, porém, algo que o impedia de mover-se. Ele se interessava pelo que o outro dizia (...). - Pois o povo compreendeu que o triunvirato estava mas era marombando pra não jurar a Constituição. Nesse ponto estourou a revolta não só do povo como também das tropas e, claro! lá estava o tenente Rodrigo Cambará no meio do fandango.

Deveria ser usada a palavra “mais”. O uso de “mas” vem do castelhano “más”, enfatizando o jeito de falar do personagem.

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Que tal tentar “traduzir” os trechos seguintes? Reveja o link do “dicionário de gauchês” da aula ou faça buscas em:http://cantogauderio.com.br/

index.php/costumes-dos-gauchos/dicionario-

gauderio.html

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Depois que tomamos a Banda Oriental a situação do nosso charque e do nosso gado melhorou, e eu ganhei um bom dinheiro fazendo tropa. Mas quando ouvi falar de novo em revolução eu, que já andava cansado de lidar com boi, vaca e cavalo, comecei a limpar a espada e azeitar as pistolas... Andavam prendendo muito militar e eu senti que a coisa estava para estourar...

Depois que tomamos a Banda Oriental a situação do nosso charque e do nosso gado melhorou, e eu ganhei um bom dinheiro fazendo tropa. Mas quando ouvi falar de novo em revolução eu, que já andava cansado de lidar com boi, vaca e cavalo, comecei a limpar a espada e azeitar as pistolas... Andavam prendendo muito militar e eu senti que a coisa estava para estourar...

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Em 1827 eu estava com as tropas do Marquês de Barbacena. Nunca vi tanta miséria. Soldados de pé no chão, sem uniforme, alguns quase nus, só cobertos pelo poncho. Eram uns diabos piolhentos e sujos mas, justiça seja feita, na hora de brigar esqueciam a fome, o frio, tudo, e chegavam a pelear se rindo e gostando.

Em 1827 eu estava com as tropas do Marquês de Barbacena. Nunca vi tanta miséria. Soldados de pé no chão, sem uniforme, alguns quase nus, só cobertos pelo poncho. Eram uns diabos piolhentos e sujos mas, justiça seja feita, na hora de brigar esqueciam a fome, o frio, tudo, e chegavam a pelear se rindo e gostando.

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- Me juntei com a cavalaria dos dois Bentos. Aquilo é que é gente, amigo. Barbaridade! Que cavaleiros! Levamos a castelhanada a grito e a ponta de lança até a fronteira. Depois tivemos umas escaramuças mais, até que veio a paz.

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- Me juntei com a cavalaria dos dois Bentos. Aquilo é que é gente, amigo. Barbaridade! Que cavaleiros! Levamos a castelhanada a grito e a ponta de lança até a fronteira. Depois tivemos umas escaramuças mais, até que veio a paz.