DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL: OS CASOS LOJAS...
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DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL:
OS CASOS LOJAS AMERICANAS E MESBLA
Eduardo Medeiros Rodrigues
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto Coppead de Administração
Mestrado em Administração
Orientadora: Denise Fleck, Ph.D.
Rio de Janeiro – Brasil
2005
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DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL:
OS CASOS LOJAS AMERICANAS E MESBLA
Eduardo Medeiros Rodrigues
Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto COPPEAD de Administração,
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.).
Aprovada por:
___________________________ - Orientadora
Prof. Denise Lima Fleck, Ph.D. (COPPEAD, UFRJ)
___________________________
Prof. Adriano Proença, D.Sc. (DEI, UFRJ)
___________________________
Prof. Letícia Moreira Casotti, D. Sc. (COPPEAD, UFRJ)
Rio de Janeiro – Brasil
2005
iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Rodrigues, Eduardo Medeiros.
Desafios para a longevidade saudável: os casos Lojas Americanas e Mesbla / Eduardo Medeiros Rodrigues. Rio de Janeiro, 2005.
427f.: il.
Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Instituto COPPEAD de Administração, 2005.
Orientadora: Denise Lima Fleck
1. Estratégia Empresarial. 2. Crescimento da Firma. 3. Comércio Varejista. – Teses. I. Fleck, Denise Lima (Orientadora). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título.
iv
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais pelo fato de terem dedicado suas vidas para que
eu tivesse a melhor educação possível. Sem o amor e o exemplo deles nada disso
teria sido realizado.
Dedico também à minha futura mulher Mônica e ao seu filho Matheus, que me
apoiaram com muito amor durante essa longa caminhada.
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AGRADECIMENTOS
Esta dissertação não poderia ter sido concluída sem o apoio incondicional de dezenas
de pessoas. Agradeço aos meus pais George e Telma por tudo, à minha futura mulher
Mônica não só pela paciência, mas pelos contatos que me proporcionaram entrevistas
indispensáveis para este estudo, e ao meu irmão Alexandre (“Índio”) pelos livros e
contatos dentro do COPPEAD.
À minha orientadora Denise Fleck por ter me ajudado a escolher um tema que me
proporcionou um grande aprendizado. Além disso, a dedicação, seriedade e rigor com
que orientou este trabalho contribuíram decisivamente para o meu crescimento
pessoal e profissional.
Aos meus companheiros “estrategistas” Alexandre Chaves e Luís Mauro Jabour por
terem dividido comigo a experiência “arqueológica” de encontrar informações
financeiras anteriores à década de 1990. Além disso, nossa constante troca de
informações durante o processo contribuiu para melhorar a qualidade do estudo.
Aos funcionários da biblioteca e secretaria do COPPEAD que com seu conhecimento
e profissionalismo me ajudaram a encurtar caminhos de pesquisa e entender os
procedimentos da instituição.
Aos funcionários da Comissão de Valores Mobiliários, do Arquivo Nacional, da Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro, da Bolsa de Valores de São Paulo e da Biblioteca
Nacional por terem me ajudado a buscar as informações históricas indispensáveis
para a confecção do estudo.
À empresa Ceras Johnson por ter concedido a bolsa de estudos que me apoiou
durante boa parte do curso de mestrado.
Aos alunos do COPPEAD, não só os que ingressaram nos cursos de estratégia, mas a
todos que, pela diversidade de experiências, me mostraram mais uma vez como é
importante respeitar e aprender a partir das diferenças de cada um.
Agradecimentos especiais a Agrícola Bethlem, Frederico Derzié Luz, Gabriela Goulart,
Luiz Antonio Secco, Marcelo Cavalheiro, Mônica Ferreira, Ricardo de Oliveira e Victor
Almeida pelas informações valiosas acerca do mercado varejista brasileiro.
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RESUMO
RODRIGUES, Eduardo Medeiros. DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL:
OS CASOS LOJAS AMERICANAS E MESBLA. Orientadora: Denise Fleck. Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2005. Dissertação (Mestrado em Administração).
O ambiente econômico e político brasileiro passou por diversos períodos de
instabilidade durante os últimos 50 anos. Os altos índices inflacionários e as
mudanças de moeda somente foram contidos com a entrada em vigor do Plano Real,
em 1994. Nesse período de instabilidade, a população brasileira urbana superou a
população rural, sendo este um dos fatores que contribuíram para a expansão do
comércio varejista nas grandes capitais (IBGE, 2003).
Neste contexto, a Mesbla e a Lojas Americanas, fundadas respectivamente em 1912 e
1929, desenvolveram uma trajetória contínua de crescimento até 1990, mantendo-se
sempre entre as dez maiores empresas do varejo nacional (MELHORES E MAIORES,
1976 a 1990). A partir de então, um novo ambiente competitivo caracterizado pela
abertura de mercado, redução das margens e busca pela eficiência operacional,
originou novos desafios para as duas empresas. O ciclo de crescimento foi substituído
por processos de reestruturação e apenas a Lojas Americanas resistiu, passando a
dividir o mercado com novos competidores.
Essa dissertação teve como objetivo entender a trajetória de crescimento da Mesbla e
Lojas Americanas, através de uma análise longitudinal da história de ambas. A
pesquisa histórica serviu como base para a análise das respostas organizacionais aos
desafios do crescimento, utilizando os conceitos presentes no modelo de Arquétipos
de Sucesso e Fracasso Organizacional proposto por Fleck (2005). Os conceitos
apresentados por Penrose (1959), Chandler (1977) e Selznick (1957), presentes no
modelo de Fleck, também foram utilizados neste processo.
A pesquisa identificou que a Mesbla e a Lojas Americanas encararam de forma
diferente os desafios de integração e coordenação das atividades da firma. Na
Americanas, as iniciativas de integridade, controle e coordenação se intensificaram
quando da aquisição da empresa por sócios de um banco de investimentos em 1981.
A Mesbla, por sua vez, apresenta uma suposta ausência dos mecanismos de controle
e coordenação, fatores aparentemente fundamentais para operar em um ramo de
margens reduzidas.
vii
ABSTRACT
RODRIGUES, Eduardo Medeiros. DESAFIOS PARA A LONGEVIDADE SAUDÁVEL:
OS CASOS LOJAS AMERICANAS E MESBLA. Orientadora: Denise Lima Fleck. Rio
de Janeiro: UFRJ/COPPEAD, 2005. Dissertação (Mestrado em Administração).
During the last 50 years, the Brazilian economic and political environment underwent
several periods of instability. High inflation rates and the currency changes were
controlled only in 1994, when the Plano Real was established. Apart from that, the
Brazilian population became more urban than rural, and this fact contributed for the
expansion of the retailing in the major Brazilian cities (IBGE, 2003).
In this context, Mesbla and Lojas Americanas, retailing companies founded in 1912
and 1929 respectively, performed a continuous growth path until 1990, and were
always listed among the top ten retail companies in Brazil (MELHORES E MAIORES,
1976 a 1990). However, after 1990, under a new competitive environment
characterized by the opening of the economy, decrease of retailing margins and search
for the operational efficiency, new challenges arose. The growth cycle was replaced by
restructuring processes and only Lojas Americanas survived, but was forced to share
the same market with new competitors.
This study sought to understand the growth path of Mesbla and Lojas Americanas, by
performing a longitudinal analysis of the history of both of firms. This historical research
provided the background for the analysis of the organizational responses to growth
challenges, based on the concepts advanced by Fleck (2005) in her Archetypes of
Organizational Success and Failure model. The concepts proposed by Penrose (1959),
Chandler (1977) and Selznick (1957), were also extensively used in this study.
The findings suggest that Mesbla and Lojas Americanas faced the challenges related
to integration and coordination of the firm in quite different ways. While Lojas
Americanas stressed the integration, control and coordination initiatives after the
company was acquired by partners of an investment bank in 1981, Mesbla has
apparently made use of weak mechanisms of control and coordination, factors
important to successfully run low-margin retailing operations.
viii
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráficos
Gráfico 1.1 – Investimento Estrangeiro Direto no Brasil (US$ Milhões), 1970 a 2004... 1
Gráfico 1.2 – Classificação Mesbla e Lojas Americanas no grupo das 500 maiores
empresas brasileiras......................................................................................................... 3
Gráfico 1.3 – Mesbla x Lojas Americanas: Tamanho da Firma, 1968 a 2004 ................ 3
Gráfico 4.1 – No. de Shopping Centers e Tx. de Crescimento (EUA), 1970 a 2004... 60
Gráfico 4.2 – Evolução do Setor de Comércio e Serviços, 1980 a 2003...................... 65
Gráfico 4.3 – Salário mínimo brasileiro em R$ corrigidos, 1960 a 1980 ....................... 75
Gráfico 4.4 – Perfil de Composição da População Brasileira (IBGE, 2001) ................. 91
Gráfico 4.5 - Inflação Anual (IGP-DI), 1947 a 1960....................................................... 92
Gráfico 4.6 – Mesbla - Composição das Vendas, 1967 a 1972 .................................... 97
Gráfico 4.7 – Mesbla: % lucro líquido sobre vendas, 1970 a 1980............................. 105
Gráfico 4.8 – Número de Funcionários, 1967 a 1986.................................................. 118
Gráfico 4.9 – Inflação Anual (IGP-DI), 1980 a 1990.................................................... 122
Gráfico 4.10 – Mesbla: Indic. de Liq. Corrente e Endividamento, 1959 a 1997.......... 140
Gráfico 4.11 – Crescimento da cadeia Lojas Americanas, 1929 a 1960 .................... 147
Gráfico 4.12 – Lojas Americanas: Produtividade por Empregados, 1974 a 1979 ...... 156
Gráfico 4.13 – Lojas Americanas: Produtividade por Área de Vendas, 1974 a 1979. 156
Gráfico 4.14 – Lojas Americanas: Produtividade por No. de Lojas, 1974 a 1979 ...... 157
Gráfico 4.15 – Lojas Americanas: Produtividade por Loja, 1984 a 1994.................... 190
Gráfico 4.16 – Lojas Americanas: Perfil de Faixa Etária de Associados .................... 206
ix
Gráfico 5.1 – Fase 2: 1946 a 1968 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
...................................................................................................................................... 228
Gráfico 5.2 – Fase 2: 1946 a 1968 - Mesbla: Rentabilidade ....................................... 229
Gráfico 5.3 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Indicadores de Tamanho e
Performance................................................................................................................. 236
Gráfico 5.4 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Rentabilidade..................... 236
Gráfico 5.5 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Produtividade..................... 238
Gráfico 5.5 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
...................................................................................................................................... 242
Gráfico 5.6 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Rentabilidade ....................................... 244
Gráfico 5.7 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Produtividade ....................................... 245
Gráfico 5.8 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Indicadores Tamanho e
Performance................................................................................................................. 251
Gráfico 5.9 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Rentabilidade..................... 252
Gráfico 5.10 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Abertura de Lojas ............ 252
Gráfico 5.11 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
...................................................................................................................................... 258
Gráfico 5.12 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Rentabilidade ..................................... 260
Gráfico 5.13 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Produtividade ..................................... 260
Gráfico 5.14 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Liquidez Corrente............................... 261
Gráfico 5.15 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Indicadores de Tamanho e
Performance................................................................................................................. 272
Gráfico 5.16 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Rentabilidade ................... 273
x
Gráfico 5.17 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Índice de Liquidez Corrente
...................................................................................................................................... 274
Gráfico 5.18 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Produtividade................... 276
Gráfico 5.19 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
...................................................................................................................................... 286
Gráfico 5.20 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Rentabilidade ..................................... 288
Gráfico 5.21 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Rentabilidade e Resultado Financeiro /
Receita Bruta ................................................................................................................ 288
Gráfico 5.22 – Mesbla – Índice de giro de estoques,1986 a 1993.............................. 289
Gráfico 5.23 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Produtividade ..................................... 291
Gráfico 5.24 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Indicadores de Tamanho e
Performance................................................................................................................. 304
Gráfico 5.25 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Abertura de Lojas ............ 305
Gráfico 5.26 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Rentabilidade e Resultado
Financeiro / Receita Bruta ............................................................................................ 305
Gráfico 5.27 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Rentabilidade ................... 306
Gráfico 5.28 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Índice de Liquidez Corrente
...................................................................................................................................... 308
Gráfico 5.29 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Produtividade e Número de
Funcionários ................................................................................................................. 309
Gráfico 5.30 – Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
...................................................................................................................................... 320
Gráfico 5.31 – Mesbla – Resultado Financeiro / Receita Bruta, 1986 a 1997 ............ 320
Gráfico 5.32 – Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Produtividade ..................................... 322
Gráfico 5.33 – Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Rentabilidade ..................................... 322
xi
Gráfico 5.34 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Indicadores de Tamanho e
Performance................................................................................................................. 329
Gráfico 5.35 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Rentabilidade ................... 330
Gráfico 5.36 – Fase 6: 1994 a 2004 - Lojas Americanas: Produtividade e Número de
Funcionários ................................................................................................................. 333
Gráfico 6.1 – Produtividade: Mesbla x Lojas Americanas ........................................... 349
Gráfico 6.2 – Número de Lojas de Departamento: Mesbla x Lojas Americanas ........ 350
Gráfico 6.3 – Performance: Mesbla x Lojas Americanas ............................................ 350
Figuras
Figura 2.1 – Motor de Co-Evolução (Fleck, 2003a) ....................................................... 22
Figura 2.2 – Motor de Co-Evolução e Crescimento Contínuo (Fleck, 2003a) .............. 23
Figura 3.1 – Modelo de análise das respostas aos desafios do crescimento............... 51
Figura 4.1 – Cadeia Produtiva Varejo ............................................................................ 56
Figura 4.2 – Operações mais comuns na cadeia produtiva varejo ............................... 62
Figura 5.1 – Sistema de Estudo ................................................................................... 213
Figura 6.1 – Resumo da análise das respostas aos desafios..................................... 341
Quadros
Quadro 1.1 – Classific. dos 10 maiores grupos varejistas em vendas (1975 a 2003).... 2
Quadro 2.1 – Respostas estratégicas para processos institucionais (Oliver, 1991) .... 27
Quadro 2.2 - Fatores institucionais e as respostas previstas por Oliver (1991) ........... 29
Quadro 2.3 – Conceitos para a análise do crescimento da firma (FLECK, 2005)........ 33
Quadro 3.1 – Relação das entrevistas realizadas ......................................................... 41
xii
Quadro 3.2 – Relação das publicações e órgãos consultados ..................................... 49
Quadro 3.3 – Exemplo da classificação da tipologia do desafio por evento................. 52
Quadro 3.4 – Critérios utilizados para classificação de Tipologia de Desafios ............ 53
Quadro 4.1 – Tipos de serviços no comércio varejista e principais características ..... 55
Quadro 4.2 – Maiores varejistas mundiais, em termos de vendas (2000).................... 58
Quadro 4.3 – Atividades as quais os consumidores gostariam de dedicar mais tempo
(EUA, 1983) .................................................................................................................... 59
Quadro 4.4 – Mesbla: evolução das modalidades de pagamento ................................ 95
Quadro 4.5 – Mesbla: unidades de negócio em 1986................................................. 117
Quadro 4.6 – Mesbla: resultados consolidados por divisão, normalizados pelo Dólar
Comercial, 1985 a 1989 ............................................................................................... 129
Quadro 4.7 – Lojas Americanas: Alteração da Participação Acionária, 1979 a 1980 162
Quadro 4.8 – Lojas Americanas: Formas de Pagamento de Clientes ........................ 201
Quadro 4.9 – Lojas Americanas: Diferenças entre Lojas Tradicionais e Lojas “Express”
...................................................................................................................................... 207
Quadro 5.1 - Escala de Avaliação dos Desafios ......................................................... 214
Quadro 5.2 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Motivação do Crescimento................. 218
Quadro 5.3 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Gestão de Mudança........................... 219
Quadro 5.4 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Gestão de Diversidade ....................... 220
Quadro 5.5 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Gestão de Complexidade................... 221
Quadro 5.6 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais...... 221
Quadro 5.7 – Fase 1: 1910 a 1945 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento223
Quadro 5.8 – Fase 1: 1910 a 1945 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança.......... 224
xiii
Quadro 5.9 – Fase 1: 1910 a 1945 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade...... 225
Quadro 5.10 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Motivação do Crescimento............... 230
Quadro 5.11 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Mudança......................... 231
Quadro 5.12 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Diversidade..................... 232
Quadro 5.13 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Complexidade................. 233
Quadro 5.14 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais.... 234
Quadro 5.15 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
...................................................................................................................................... 238
Quadro 5.16 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade.... 239
Quadro 5.17 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Complexidade................. 240
Quadro 5.18 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais ..................................................................................................................... 240
Quadro 5.19 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Motivação do Crescimento................ 245
Quadro 5.20 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Gestão de Mudança......................... 247
Quadro 5.21 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Gestão de Diversidade..................... 248
Quadro 5.22 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Gestão de Complexidade................. 249
Quadro 5.23 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais.... 249
Quadro 5.24 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
...................................................................................................................................... 254
Quadro 5.25 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança........ 255
Quadro 5.26 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade.... 255
Quadro 5.27 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade 256
xiv
Quadro 5.28 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais ..................................................................................................................... 257
Quadro 5.29 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Motivação do Crescimento............... 262
Quadro 5.30 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Mudança......................... 264
Quadro 5.31 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Diversidade..................... 266
Quadro 5.32 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Complexidade................. 268
Quadro 5.33 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais.... 270
Quadro 5.34 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
...................................................................................................................................... 276
Quadro 5.35 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança........ 279
Quadro 5.36 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade.... 280
Quadro 5.37 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade 281
Quadro 5.38 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais ..................................................................................................................... 283
Quadro 5.39 – Mesbla: Resumo do investimento no Makro, 1987 a 1993................. 290
Quadro 5.40 – Mesbla: resultados consolidados por divisão em US$ mil .................. 292
Quadro 5.41 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Motivação do Crescimento............... 292
Quadro 5.42 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Mudança......................... 297
Quadro 5.43 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Diversidade..................... 299
Quadro 5.44 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Complexidade................. 300
Quadro 5.45 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais.... 302
Quadro 5.46 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
...................................................................................................................................... 309
xv
Quadro 5.47 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança........ 313
Quadro 5.48 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade.... 314
Quadro 5.49 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade 316
Quadro 5.50 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais ..................................................................................................................... 317
Quadro 5.51 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Motivação do Crescimento............... 323
Quadro 5.52 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Mudança......................... 324
Quadro 5.53 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Diversidade..................... 324
Quadro 5.54 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Complexidade................. 326
Quadro 5.55 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
...................................................................................................................................... 333
Quadro 5.56 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança........ 335
Quadro 5.57 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade.... 336
Quadro 5.58 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade 338
Quadro 5.59 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais ..................................................................................................................... 339
xvi
SUMÁRIO E LISTA DE ANEXOS
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
2.1. Objetivo do estudo e estruturação do trabalho ......................................................... 5
2.2. Contribuições do estudo............................................................................................ 6
2.3. Organização do estudo ............................................................................................. 6
2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 8
2.1. Evolução do pensamento estratégico e estudos de gestão no Brasil...................... 9
2.1.1. Considerações sobre gestão em empresas familiares .................................................11
2.1.1.1. Sucessão....................................................................................................................................................... 13
2.1.1.2. Forma de gestão.......................................................................................................................................... 14
2.1.1.3. Dinâmica de crescimento............................................................................................................................ 15
2.2. Estudo estratégico e a perspectiva institucional ..................................................... 16
2.3. Crescimento da firma e mudança organizacional................................................... 19
2.3.1. Motivações para o crescimento..................................................................................19
2.3.2. Motores de crescimento.............................................................................................21
2.3.3. Crescimento, estrutura e competências organizacionais ..............................................23
2.3.4. Respostas às mudanças organizacionais ...................................................................27
2.4. Arquétipos de sucesso e fracasso organizacional.................................................. 30
2.1.2. Serviços Empreendedores .........................................................................................34
2.1.3. Motivações de Crescimento.......................................................................................35
2.1.4. Gestão de Mudança ..................................................................................................36
2.1.5. Gestão de Diversidade ..............................................................................................36
2.1.6. Gestão de Complexidade ..........................................................................................37
xvii
2.1.7. Provisão de Recursos Gerenciais...............................................................................38
3. METODOLOGIA DE PESQUISA.............................................................................. 39
3.1. Definição do Tema e Empresas a Serem Estudadas............................................. 39
3.2. Método de Pesquisa................................................................................................ 40
3.3. Indicadores de Crescimento e Financeiros............................................................. 42
3.4. Série Histórica do Produto Interno Bruto (PIB)....................................................... 43
3.5. Dados de Financeiros das Empresas ..................................................................... 45
3.6. Informações Sobre a Economia, Empresas e o Setor Varejista ............................ 48
3.7. Organização e Síntese............................................................................................ 49
4. O SETOR E AS EMPRESAS.................................................................................... 55
4.1. O Setor de Varejo .................................................................................................... 55
4.2. Características do ambiente brasileiro.................................................................... 64
4.2.1. Conjuntura político-econômica ...................................................................................65
4.2.1.1. Fase 1: 1910 a 1945 – Os primeiros passos para a industrialização.................................................. 65
4.2.1.2. Fase 2: 1946 a 1968 – Acelera-se a industrialização e urbanização.................................................. 69
4.2.1.3. Fase 3: 1969 a 1973 – O “Milagre” brasileiro.......................................................................................... 74
4.2.1.4. Fase 4: 1974 a 1985 – Da Crise do Petróleo à redemocratização...................................................... 74
4.2.1.5. Fase 5: 1986 a 1993 – Moratória, instabilidade e atraso...................................................................... 76
4.2.1.6. Fase 6: 1994 a 2004 – Uma nova realidade............................................................................................ 79
4.2.2. Atraso tecnológico.....................................................................................................80
4.2.3. Crédito ao consumidor...............................................................................................82
4.3. A história do Grupo Mesbla ..................................................................................... 86
4.3.1. Da fundação até a década de 1940 – Nascimento e crescimento da empresa ..............86
xviii
4.3.2. Da década de 1950 até a década de 1970 – A ascensão dos Magazines .....................91
4.3.3. A década de 1980 - Perdida para o Brasil, porém de expansão para o Grupo Mesbla . 104
4.3.4. Os Anos 90 – Prejuízo, Concordata e Colapso.......................................................... 126
4.4. A história da Lojas Americanas............................................................................. 145
4.4.1. Da fundação até 1932 – Da oportunidade até a primeira crise.................................... 145
4.4.2. Da Revolução de 1930 e a troca de comando em 1932 até os anos 70 ...................... 146
4.4.3. Os Anos 80 – A Entrada do Garantia ........................................................................ 158
2.1.1.4. O Grupo Garantia.......................................................................................................................................165
4.4.4. Os Anos 80 – O estilo Garantia ................................................................................ 169
4.4.5. Os Anos 90 – Crescimento e reestruturação ............................................................. 180
4.4.6. Os Anos 2000 – Maior foco na operação .................................................................. 202
5. ANÁLISE.................................................................................................................. 212
5.1. Questão do estudo ................................................................................................ 212
5.2. Definição do Sistema de Estudo ........................................................................... 212
5.3. O mecanismo......................................................................................................... 213
5.4. O ambiente e as forças sociais ............................................................................. 215
5.5. Análise das respostas aos desafios: Mesbla e Lojas Americanas....................... 215
5.5.1. Fase 1: 1910 a 1945 – Os primeiros passos para a industrialização ........................... 216
5.5.2.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 1ª Fase......................................................................216
5.5.2.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 1ª Fase....................................................222
5.5.2. Fase 2: 1946 a 1968 – Acelera-se a industrialização e urbanização ........................... 227
5.5.2.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 2ª Fase......................................................................227
5.5.2.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 2ª Fase....................................................235
xix
5.5.3. Fase 3: 1969 a 1973 – O “Milagre” brasileiro............................................................. 242
5.5.3.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 3ª Fase......................................................................242
5.5.3.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 3ª Fase....................................................251
5.5.4. Fase 4: 1974 a 1985 – Da Crise do Petróleo à redemocratização............................... 258
5.5.4.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 4ª Fase......................................................................258
5.5.4.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 4ª Fase....................................................272
5.5.5. Fase 5: 1986 a 1993 – Moratória, instabilidade e atraso ............................................ 285
5.5.5.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 5ª Fase......................................................................285
5.5.5.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 5ª Fase....................................................304
5.5.6. Fase 6: 1994 a 2004 – Uma nova realidade.............................................................. 319
5.5.6.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 6ª Fase......................................................................319
5.5.6.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 6ª Fase....................................................329
6. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 341
6.1. Análise comparativa das respostas ...................................................................... 341
6.1.1. Decisões Críticas – Mesbla...................................................................................... 342
6.1.2. Decisões Críticas – Lojas Americanas ...................................................................... 345
6.1.3. Comparação das decisões críticas ........................................................................... 347
6.1.3.1. Serviços Empreendedores .......................................................................................................................347
6.1.3.2. Motivação do Crescimento.......................................................................................................................349
6.1.3.3. Gestão de Mudança..................................................................................................................................352
6.1.3.4. Gestão de Diversidade..............................................................................................................................352
6.1.3.5. Gestão de Complexidade.........................................................................................................................353
6.1.3.6. Provisão de Recursos Gerenciais ...........................................................................................................354
6.2. Conclusões gerais ................................................................................................. 355
xx
6.3. Limitações do estudo............................................................................................. 356
6.4. Hipóteses e sugestões para novos estudos ......................................................... 356
6.5. Sugestões para novos estudos ............................................................................. 357
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 362
8. ANEXOS.................................................................................................................. 379
Anexo 1 – Histórico das alterações da moeda nacional e fator de conversão para o
Real............................................................................................................................... 379
Anexo 2 – Valores correntes do PIB entre 1901 e 2004 ............................................. 380
Anexo 3 – Número de Shopping Centers e Taxa de Crescimento (EUA / 1970 a 2004)
...................................................................................................................................... 381
Anexo 4 – Mesbla: 1ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 382
Anexo 5 – Mesbla: 2ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 383
Anexo 6 – Mesbla: 3ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 385
Anexo 7 – Mesbla: 4ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 387
Anexo 8 – Mesbla: 5ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 390
Anexo 9 – Mesbla: 6ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 393
Anexo 9 – Mesbla: 6ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos
desafios......................................................................................................................... 393
Anexo 10 – Lojas Americanas: 1ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 395
xxi
Anexo 10 – Lojas Americanas: 1ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 395
Anexo 11 – Lojas Americanas: 2ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 396
Anexo 12 – Lojas Americanas: 3ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 397
Anexo 13 – Lojas Americanas: 4ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 398
Anexo 14 – Lojas Americanas: 5ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 401
Anexo 15 – Lojas Americanas: 6ª Fase - Principais eventos e classificação das
respostas aos desafios................................................................................................. 404
1
1. INTRODUÇÃO
Entre 1970 e 2000 ocorreram muitas alterações no cenário político e econômico
brasileiro. Os brasileiros presenciaram o fim de uma ditadura militar, uma conturbada
volta ao regime democrático e, mais recentemente em 2002, a ascensão à presidência
de um representante da classe operária nacional.
Foram realizadas profundas modificações na economia, que culminaram com a
modernização do parque industrial brasileiro na década de 1990, em virtude do novo
quadro de competição instaurado, e a estabilização da moeda, que permitiu uma
dinâmica de entrada de capital estrangeiro no país. O Gráfico 1.1 mostra a evolução
do Investimento Estrangeiro Direto no Brasil, de 1970 a 2004, e o presidente do país
em cada período. Percebe-se um salto de um patamar de US$ 1,2 bilhões em 1975
para outro de US$ 20 bilhões em 2004, tendo atingido um pico de quase US$ 33
bilhões em 2000.
Gráfico 1.1 – Investimento Estrangeiro Direto no Brasil (US$ Milhões, 1970/2004)
(Fonte: Banco Central do Brasil - Boletim/BP, 2005)
Esse aumento no fluxo de capital estrangeiro direto no Brasil coincidiu com a
entrada definitiva de grupos multinacionais em setores cujas empresas nacionais não
haviam modernizado suas técnicas de gestão e operação e, dessa forma, não
estavam devidamente preparadas para uma competição internacional.
2
O varejo nacional foi um destes setores onde a atuação das firmas internacionais
e a competição se intensificaram após a abertura da economia, a partir de 1990.
Empresas que obtinham recursos para suas operações a partir de ganhos financeiros
passaram a competir com empresas multinacionais mais preparadas para uma
economia de mercado.
Anualmente, desde 1972, a Revista Exame publica o anuário Melhores e
Maiores contendo informações financeiras de grande parte das principais empresas
brasileiras. A partir dos dados de faturamento publicados no período compreendido
entre 1975 e 2003, foram identificados os dez maiores grupos varejistas nacionais,
entre lojas de departamentos, supermercados, lojas de eletro-eletrônicos e cadeias de
vestuário. Os resultados, detalhados no Quadro 1.1, mostram o fortalecimento de
grandes grupos nacionais e internacionais, percebido pelas posições ocupadas pelo
Pão de Açúcar, pelo Carrefour (França), pela Casas Bahia, pela SONAE (Portugal),
Bompreço (Grupo Ahold, Holanda) e Wal-Mart (EUA).
Além disso, verifica-se que redes como Paes Mendonça, Disco (Argentina \
Holanda) e Casas da Banha simplesmente desapareceram da listagem, sendo
incorporadas a essas grandes redes varejistas ou definitivamente abandonando o
negócio. Em cerca de 30 anos, apenas o Pão de Açúcar, a Sendas e a Lojas
Americanas figuraram constantemente entre os dez maiores varejistas do Brasil. 1
Quadro 1.1 – Classificação dos dez maiores grupos varejistas em vendas, 1975 / 2003
(Fonte: MELHORES E MAIORES, 1976 a 2004)
A listagem também mostra o resultado da mudança do ambiente para as lojas de
departamentos. Em 1975, a Mesbla, a Lojas Americanas, o Mappin e a Sears
apareciam na lista das maiores empresas em faturamento no varejo. Em 2003, apenas
a Lojas Americanas, mais conhecida por ser uma loja de descontos e conveniência,
manteve-se na listagem, com um oitavo lugar. O Gráfico 1.2 mostra a trajetória da
1 Em 1999, o Grupo Pão de Açúcar adquiriu a rede Paes Mendonça.
Em 2003, o Grupo Pão de Açúcar adquiriu a rede Sendas.
3
classificação das duas empresas, segundo o critério de Receita Bruta de Vendas da
publicação Melhores e Maiores, no período de 1975 a 2003. Percebe-se que,
enquanto a Mesbla entrou em concordata em 1995, a Lojas Americanas caiu diversas
posições na referida listagem, mas manteve-se no cenário varejista nacional.
Classificação na listagem das 500 maiores empresas brasileirasExame Melhores e Maiores (1975 a 2003)
75
18
66
104
2029
32
5452 45
24
50
0
20
40
60
80
100
1201975 1980 1985 1990 1995 2000 2003
Ano
Pos
ição
Mesbla Lojas Americanas
Gráfico 1.2 – Classificação Mesbla e Lojas Americanas no grupo das 500 maiores
empresas brasileiras
(Fonte: MELHORES E MAIORES, 1976 a 2004)
Independentemente do destino de cada uma das firmas, é possível identificar a
queda da representatividade do seu faturamento no grupo das 500 maiores empresas
brasileiras. O Gráfico 1.3 demonstra, através de um indicador de tamanho da firma, o
tamanho das companhias ao longo de quase quatro décadas de história. 2
Mesbla e Lasa - Tamanho da Firma
0,00%
0,10%
0,20%
0,30%
0,40%
0,50%
0,60%
0,70%
0,80%
0,90%
1,00%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% R
ecei
ta B
ruta
/ P
IB
Lojas Americanas Mesbla
Gráfico 1.3 – Mesbla x Lojas Americanas: Tamanho da Firma, 1968 a 2004
2 Tamanho da Empresa, proposto por Fleck (2001): Receita Bruta ÷ PIB em moeda corrente para um determinado ano.
4
Neste contexto, por que ambas não tiveram o mesmo destino? Por que, apesar
da evidente redução de tamanho entre 1995 e 2003 (Gráfico 1.3), a Lojas Americanas
conseguiu evitar o declínio do qual a companhia Mesbla não foi capaz de escapar?
Por que a Mesbla, que em grande parte de sua trajetória foi maior do que a Lojas
Americanas, sucumbiu às mudanças do ambiente e faliu? Por que a Americanas, cujo
tamanho chegou a superar o conglomerado De Botton, sofreu uma grande contração
mas ainda assim conseguiu sobreviver às mudanças?
As respostas para esses questionamentos talvez residam no fato de que
algumas firmas nacionais não desenvolveram as capacitações ou mecanismos que lhe
proporcionassem uma posição de competitividade frente ao cenário que lhes foi
imposto.
Devemos aprender também com os fracassos
O presente estudo estratégico em administração tem como objetivo realizar uma
análise sobre as empresas através do conhecimento de sua trajetória de crescimento.
Além disso, pretende também discutir um caso de fracasso, como fomentador de
novos insights para os administradores brasileiros.
É comum associar casos de fracasso às mudanças no ambiente institucional,
não previstas pelos administradores. Os indícios encontrados durante a pesquisa
parecem apontar para um outro caminho. Embora o componente externo tenha grande
influência nas decisões da empresa, a Lojas Americanas aparentemente desenvolveu
características que não estavam presentes nas operações da Mesbla. Frente aos
desafios impostos pela recessão de 1990, por exemplo, a comparação entre os
Relatórios de Administração das duas firmas mostra como cada uma delas percebia o
desafio que estavam enfrentando:
5
Mesbla
Relatório Anual 1990
Lojas Americanas
Relatório Anual 1990
A análise do desempenho da companhia,
através dos seus diversos segmentos de
atuação, indica o acerto da polít ica de
diversificação [...] um ano particularmente
difícil para o varejo [...] em parte, compensado
pelo desempenho favorável das áreas de
Veículos, Instituições Financeiras e Náutica
do Grupo Mesbla.
Acreditamos que a empresa, reestruturada e
com melhores sistemas de informação e
operacionais, está apta a atravessar o ano de
1991 com o volume de vendas e resultados
compatíveis com sua presença de destaque
no cenário varejista.
As razões para nossa queda de volume e
resultados, não foram, como muitos podem
imaginar, a recessão ou a mudança da moeda
com um congelamento sem deflação dos
ativos e passivos ou quaisquer outras
alterações na economia implantadas pelo
governo, mas a incapacidade da
administração da companhia de prever, e
mesmo após os acontecimentos, de
rapidamente reagir adaptando-se à nova
realidade.
No entanto, podemos afirmar que destes fatos
tiramos lições importantes, que estão sendo
postas em prática, levando a profundas
alterações na estrutura da Administração,
visando flexibilizar a operação e dar mais
margem à criatividade de nossos associados.
2.1. Objetivo do estudo e estruturação do trabalho
Essa dissertação tem como objetivo verificar:
“Por que algumas firmas, diante dos desafios de crescimento em um
mesmo ambiente, declinam e desaparecem, enquanto outras mantêm uma
trajetória de longevidade saudável?”
Através de um estudo longitudinal, identificaram-se características desenvolvidas
por ambas as empresas quando estas passaram por eventos considerados críticos
(Selznick, 1957). A partir dessas características pretende-se identificar um conjunto de
capacitações que podem fortalecer a posição da firma diante dos desafios do
crescimento e contribuir para a sua longevidade saudável.
6
2.2. Contribuições do estudo
A análise da trajetória das duas empresas e a comparação das respostas aos
desafios do crescimento no ambiente brasileiro pode fornecer mais insumos para a
compreensão das práticas de administração utilizadas no Brasil. Considerando o
comércio varejista como o segmento de estudo, pretende-se aplicar um modelo
conceitual em desenvolvimento (Fleck, 2005) aliado a estudos clássicos no campo da
administração.
Ao realizar o estudo em duas empresas simultaneamente, são buscadas
evidências de características que possam contribuir para a longevidade saudável de
companhias no setor de comércio e serviços, durante o seu processo de crescimento.
Foram sugeridas e agregadas novas idéias para o desenvolvimento de uma teoria de
crescimento da firma, realizando a aplicação direta do modelo em questão.
2.3. Organização do estudo
Este estudo está organizado em seis capítulos. O primeiro capítulo consiste em
uma introdução onde são explicitadas as motivações, objetivos de estudo, as
contribuições esperadas e a estrutura.
Em seguida, o segundo capítulo apresenta uma revisão de literatura com os
conceitos utilizados para a confecção do trabalho. Esta seção está dividida em três
partes: a primeira delas apresenta um panorama da pesquisa gerencial em empresas
brasileiras, dando ênfase à contribuição de Bethlem (1989 e 2003). Na segunda parte
são examinados conceitos associados ao crescimento da firma, com destaque às
perspectivas de Chandler (1977), Penrose (1959), Selznick (1957) e Oliver (1991). A
última parte descreve o modelo utilizado para análise, os Arquétipos de Sucesso e
Fracasso Organizacional, proposto por Fleck (2005).
O terceiro capítulo detalha a metodologia utilizada, as fontes de dados, o
processo de entrevistas e a metodologia de análise dos dados coletados.
No quarto capítulo foram apresentadas características do setor de atuação das
empresas, o comércio varejista, e a história das duas empresas. Neste capítulo
realiza-se uma narração dos principais eventos da economia brasileira, entre 1910 e
2004, como uma forma de prover o estudo de informações relevantes sobre o
7
ambiente institucional, necessárias para uma análise isenta de suposições, baseada
em fatos reais.
O quinto capitulo apresenta a análise da trajetória de crescimento das duas
empresas. Inicialmente são apresentados os elementos utilizados na análise e a
estruturação desta em etapas. Em seguida, para cada etapa, foram analisadas as
decisões das duas empresas, tendo como base conceitual o modelo proposto por
Fleck (2005).
A conclusão do estudo, apresentada no sexto capítulo, reúne uma síntese da
trajetória das duas empresas, as principais conclusões e propostas para estudos
futuros, lançando questionamentos específicos para o setor varejista e a administração
de empresas nacionais.
8
2. REVISÃO DE LITERATURA
A pergunta central deste estudo busca verificar por que firmas, expostas a um
mesmo ambiente institucional, têm diferentes trajetórias de crescimento – enquanto
umas declinam e desaparecem, outras atingem a longevidade saudável. Dessa forma
são revisitadas diferentes perspectivas de mudança e alocação de recursos
organizacionais, de modo a compreender como uma companhia se prepara para os
desafios do crescimento.
Além disso, pelo fato de as duas empresas estarem inseridas no ambiente
brasileiro de negócios, tornou-se importante entender a evolução do pensamento
estratégico no Brasil, sob uma perspectiva histórica. Para esta tarefa foram utilizadas
as pesquisas de Bethlem (1989, 2003) e as análises de Lethbridge (1997), Andrade et
al. (2001) e Villalonga (2004) sobre empresas de administração familiar. Dessa forma,
a primeira parte desta revisão de literatura aborda aspectos da gestão empresarial em
empresas brasileiras.
Em seguida, explica-se a perspectiva institucional adotada no presente trabalho.
Essa perspectiva está ancorada principalmente nas idéias de Selznick (1957), que
aborda a organização como uma entidade social imbuída de valores, resultante das
experiências e eventos pelos quais passou em toda sua história. Esse conceito torna
necessária a análise longitudinal dos fatos vivenciados pela organização, justificando a
escolha do método do caso como forma de entendimento da evolução de um
empreendimento. Diante dessa abordagem, outros autores são citados de forma a
complementar a visão de estratégia como um processo.
Algumas das principais idéias relacionadas com o crescimento e mudança
organizacional foram organizadas na seção seguinte, como uma forma de identificar
os estudos já realizados neste assunto. Inicialmente, são discutidas as motivações
para o crescimento. Este tópico está ligado principalmente aos trabalhos de Chandler
(1977) e Penrose (1959), sob a perspectiva do aproveitamento dos recursos de uma
organização. Em seguida, são expostos conceitos ligados à dinâmica de crescimento,
com os motores de crescimento contínuo e co-evolução propostos por Fleck (2003a).
O desenvolvimento da estrutura e competências organizacionais, durante o processo
de crescimento, são temas explorados por Mintzberg (1998), Teece (1997) e Ghoshal
e Mintzberg (1994).
9
A gestão das mudanças pelas quais uma organização passa no seu processo de
crescimento é abordada logo em seguida e tem como foco principal as idéias
propostas por Oliver (1991), que relaciona as respostas organizacionais para as
pressões institucionais com a capacidade de a empresa lidar com os desafios do
ambiente onde ela está inserida.
Por fim é apresentado o modelo de arquétipos de sucesso e fracasso
organizacional proposto por Fleck (2005) e aplicado neste estudo para a análise da
trajetória das duas empresas. Ressalta-se o fato de que o modelo integra as principais
idéias de alguns dos autores que contribuíram com conceitos relacionados com o
crescimento da firma. O modelo é apresentado como um passo em direção à
construção de uma teoria de crescimento da firma e espera contribuir com insights
para a evolução dos estudos sobre o tema.
2.1. Evolução do pensamento estratégico e estudos de gestão no Brasil
Não é objetivo deste estudo analisar a fundo aspectos sociológicos ou
antropológicos do povo brasileiro, apenas ressaltar constatações e implicações que
foram importantes para entender a trajetória das empresas estudadas.
Segundo Bethlem (1989), o estudo da administração no Brasil vem sendo há
muito influenciado pela literatura estrangeira sobre o tema, ainda que o quadro político
e econômico nacional fornecesse subsídios para o desenvolvimento de um
conhecimento próprio por parte dos brasileiros. Dessa forma, embora admitisse a
importância das informações lecionadas, clamava pelo desenvolvimento de um corpo
de conhecimento nacional, mais próximo à realidade de atuação do gestor brasileiro.
Entre as dificuldades apontadas para o estudo na área de gestão estratégia,
Bethlem (1989) indicou a ausência de estatísticas nacionais em períodos anteriores à
década de 1940 e a escassez de publicações nacionais de negócios, que poderiam
prover dados para comparação entre empresas nacionais, publicadas a partir da
década de 1970.
Ainda assim, Bethlem (2003) identificou quatro fases de evolução do
pensamento estratégico nacional:
- 1ª Fase: início do século XX até os primeiros anos da década de 1970;
- 2ª Fase: meados da década de 1970 até a década de 1980;
- 3ª Fase: a década de 1980;
10
- 4ª Fase: a partir da década de 1990.
A primeira fase consistia em uma incipiente indústria de substituição de
importações. Descobria-se um produto importado “substituível”, que proporcionasse
um bom volume de vendas, investia-se em estoque para se proteger da inflação (“o
dinheiro apodrecia, as mercadorias não”) e aproveitava-se o mercado “de boca
aberta”, onde a demanda superava por muito a oferta. As margens eram altíssimas e
permitiam o autofinanciamento para crescimento dos negócios. A posição competitiva
era garantida por tarifas alfandegárias, que podiam chegar a 300%, sonegação,
subsídios governamentais, inexistência de organizações sindicais e cópia de
tecnologia.
Era muito importante a rede de contatos políticos, para evitar a burocracia,
perseguição fiscal e garantir recursos governamentais. As barreiras eram inúmeras
aos novos entrantes. Uma geração de empresários se formou neste ambiente, incapaz
de preparar-se para situações diferentes, de alta competição.
As primeiras firmas nacionais eram representadas por pequenos negócios
familiares que, diante desse cenário, cresceram e assumiram posições dominantes na
economia.3
A segunda fase teve como característica o fim da substituição de importações, a
demanda por produtos mais modernos e a entrada de competidores internacionais,
que viam no Brasil a possibilidade de obterem economias de escala. Os antigos
gestores foram obrigados a começar a pensar estrategicamente, formulando e
implementando as definições para cenários futuros. Neste momento os serviços de
consultoria expandiram muito sua atuação, auxiliando a estruturação do planejamento
estratégico. Bethlem (2003) constatou que parte das empresas deu seqüência ao
trabalho de “refino” da gestão, em nível operacional e corporativo, enquanto outras
abandonaram ou não mudaram significativamente a forma pela qual trabalhavam.
Durante a terceira fase presenciou-se um aumento dos competidores no
mercado brasileiro, embora houvesse características protecionistas como a “reserva
de mercado” e a repressão à “concorrência predatória”, sem falar na persistência do
poder da rede de contatos. Ainda assim, as margens começaram a declinar
mundialmente, com a concorrência de produtos japoneses e os avanços tecnológicos
3 Um negócio familiar pode ser definido como uma empresa em que uma família, em geral a do fundador, possui influência significativa ou controle dos negócios, até mesmo de forma independente da participação acionária (ANDRADE et al., 2001)
11
que aumentavam cada vez mais a produtividade das empresas estrangeiras. No
Brasil, sem a capacidade de levantar recursos no fraco mercado de capitais, sem o
know-how necessário para enfrentar o novo ambiente, os gestores passaram a utilizar
fórmulas estrangeiras de administração, com aplicações malsucedidas de conceitos
não aplicáveis ao cenário brasileiro, o que gerou uma reação à atividade de
planejamento.
Finalmente, a quarta fase decretou o fim definitivo da substituição de
importações e trouxe à tona toda a ineficiência das empresas nacionais, incapazes de
enfrentar a concorrência internacional. Foram muitas as empresas de tecidos,
brinquedos e eletromecânicas que sucumbiram diante do novo quadro, mesmo que
tivessem bons produtos. Sua estrutura de custos era incapaz de resistir a um cenário
internacionalizado evidenciando que a demora para sair das fases anteriores
acarretaria enormes desvantagens competitivas (BETHLEM, 2003).
2.1.1. Considerações sobre gestão em empresas familiares
O estudo sobre a gestão familiar de companhias é um campo em
desenvolvimento e conta com linhas de estudo específicas como a Family-Controlled
Corporation Program da Wharton School University of Pennsylvania. É possível
encontrar trabalhos publicados e working papers no site Universia Knowledge at
Wharton (http://wharton.universia.net/), com discussões sobre administração, casos e
performance das firmas de gestão familiar. Lethbridge (1997) indica que há
basicamente três formas de classificação de empresas familiares:
- tradicional: é o estereótipo clássico de empresa familiar - capital fechado, havendo
pouca transparência administrativa e financeira, e a família exerce um domínio
completo sobre os negócios;
- híbrida: embora tenha capital aberto, a família detém o controle e admite uma maior
transparência e participação na administração por profissionais não-familiares;
- empresas de influência familiar: a família detém participação acionária significativa,
mas a maioria das ações está em poder do mercado. A família mantém-se afastada do
dia-a-dia da empresa, mas exerce influência estratégica.
Conforme identificado por Bethlem (2003), as empresas familiares brasileiras
expandiram-se em uma economia de elevadas barreiras alfandegárias e caracterizada
pelo atendimento às demandas reprimidas da população. Além disso, pelo fato de o
12
mercado de capitais ser pouco desenvolvido, tanto o crescimento diversificado quanto
as formas de financiamento destas empresas tornaram-se objetos comuns do
desenvolvimento empresarial. Há fatores positivos na ação das empresas familiares,
principalmente em países onde o mercado de capitais não é desenvolvido, como é o
caso brasileiro. Ao crescerem, elas oferecem aos investidores em mercados
emergentes uma alternativa à manutenção de ações sem liquidez ou com grande
volatilidade de empresas de capital aberto pouco conhecidas (ANDRADE et al., 2001).
Lethbridge (1997) constatou, porém, que essas características, associadas à
manutenção de sua “pureza” familiar, foram determinantes para a construção de
impérios de baixa eficiência operacional, quando comparadas às empresas de capital
aberto.
Evidências empíricas, levantadas pela firma de consultoria McKinsey, indicam
que menos de 15% dos negócios de família sobrevivem sob controle familiar mais de
três gerações. Em geral, a figura mais comum é que a primeira geração, a do
fundador, constrói a empresa, a segunda, mantém e a terceira esbanja os recursos. A
governança é realizada de forma informal, feita para cumprir requisitos legais e
possibilitar que o negócio atenda às preocupações e necessidades da família. Assim,
decisões sobre sucessão podem ser adiadas, uma vez que inexiste o desprendimento
às tradições e bens da família (ANDRADE et al;, 2001).
Um estudo desenvolvido por Villalonga et al. (2004), entretanto, mostrou que as
empresas de administração familiar se constituem no negócio mais seguro para todos
os acionistas, desde que o fundador da empresa se mantenha como CEO ou
presidente; ao ser dirigida por um descendente de um dos fundadores, a empresa
perde parte do seu valor.
Villalonga et al. (2004) convencionaram como familiares as empresas da lista
Fortune 5004, presentes entre 1994 e 2000, em que o fundador ou membro da familiar
ocupasse o cargo de CEO, diretor ou fosse dono de, no mínimo, 5% das ações da
empresa individualmente ou em grupo. Algumas empresas com essas características:
Wal-Mart, Home Depot, Heinz, Rubbermaid e Black & Decker. Entre as descobertas
desta pesquisa:
4 Lista das 500 maiores companhias sediadas nos Estados Unidos, divulgada todos os anos pela revista Fortune.
13
- As firmas possuem como característica a presença de um fundador de visão e
competência administrativa capaz de instilar ânimo pelo negócio nos funcionários;
- Quando descendentes assumem o cargo de CEO, o valor da companhia diminui;
- O conflito clássico entre gestão e propriedade é mais oneroso em firmas de
administração não-familiar do que o conflito entre acionistas familiares e não-familiares
em firmas onde o CEO é o fundador;
- Para este último caso, quando o CEO passa a ser um descendente, o conflito entre
acionistas familiares e não-familiares torna-se o mais oneroso de todos.
De fato, a lógica do imperativo da administração profissional em empresas
familiares parece ser desmentida por dados em diversas pesquisas sobre o assunto.
Em 1995, o Institute for Family Enterprise, da Universidade de Atlanta na Geórgia,
Estados Unidos, apurou que empresas familiares tradicionais ou aquelas de capital
aberto nas quais a família fundadora mantém uma influência significativa são
responsáveis por 59% do emprego e 78% dos empregos novos. Sob um âmbito
mundial, empresas controladas e administradas por familiares são responsáveis por
mais da metade dos empregos e, dependendo do país, geram de metade a dois terços
do PIB. Nos países emergentes, tais empresas são de grande porte e diversificadas,
enquanto que nos países industrializados são pequenas e médias, atuando
principalmente em nichos (LETHBRIDGE, 1997).
De uma forma geral, os desafios das empresas brasileiras concentraram-se no
tripé sucessão, forma de gestão e dinâmica de crescimento (LETHBRIDGE, 1997).
2.1.1.1. Sucessão
Os estudiosos de empresas familiares consideram que uma empresa só se torna
efetivamente familiar quando ocorre a passagem de controle da primeira para a
segunda geração. Entretanto, esse movimento vem se mostrando bastante difícil. Em
1996, uma pesquisa do Centre for Family Enterprise, que estuda empresas familiares
da Comunidade Européia, mostrou que 30% venciam esta etapa e que metade destas
alcançava uma terceira geração. Apesar da aparente gravidade da situação, apenas
metade das empresas vinham fazendo um planejamento detalhado sobre a sucessão.
A preocupação existe também no Brasil: dados da Fundação Armando Álvares
Penteado (Faap) indicam que 30% dos seus formandos em marketing, finanças e
administração são herdeiros (LETHBRIDGE, 1997).
14
Lethbridge (1997) identificou uma questão histórica brasileira especial presente
no final da década de 1990 e início dos anos 2000. A geração que fundou empresas
nos anos 50 está se aposentando e a dificuldade de implementar um processo de
sucessão fez com que o número de empresas familiares vendidas passasse de 52 em
1990, para 330 em 1994 e 400 em 1995.
2.1.1.2. Forma de gestão
Algumas das grandes empresas brasileiras mantiveram-se por muito tempo sob
controle e gestão de uma estrutura familiar. Lethbridge (1997) sugere que pequeno
desenvolvimento do mercado acionário e, conseqüentemente, dos meios para obter o
controle das empresas tenham favorecido a manutenção do controle familiar.
A onda de internacionalização da década de 1990, citada anteriormente, fez com
que grupos estrangeiros, com maior capacidade de capital e dotados de uma gestão
preparada para competição, ingressassem em mercados outrora protegidos, causando
grande mudança às firmas nacionais. Algumas faliram, como a Mesbla, outras
realizaram profundas reestruturações para sobreviver, como o Unibanco e a
Votorantim, obtendo bons resultados (ANDRADE et al., 2001).
Lethbridge (1997) constatou que o aumento da profissionalização tornou-se
necessário para empresas de qualquer porte e composição de capital. O autor cita,
entretanto, a experiência do grupo familiar Empesca para comprovar que a adoção de
técnicas modernas de gestão pode reduzir a percepção de risco por parte dos
investidores: após a contratação de um executivo para assumir o seu comando, a
empresa, que fatura R$ 360 milhões, conseguiu alongar o perfil de sua dívida em R$
105 milhões, reduzindo à metade a parcela que era de curto prazo.
Outra crença normalmente difundida e questionada por Lethbridge (1997) é a
obrigatoriedade de separar a gestão familiar da gestão profissional. É possível
observar casos de sucesso, como os grandes conglomerados sul-coreanos, os
chaebols, onde 31% dos executivos são membros das famílias controladoras e
possuem, em sua maioria, formação em MBAs nos Estados Unidos. Mas
características como o desejo de manter o negócio original e um apego à tradição
podem contribuir negativamente para a inovação e busca por investimentos
alternativos. Sugere-se que a empresa será vítima do próprio sucesso, sem conseguir
se adaptar às novas condições impostas pelo crescimento.
15
A necessidade de a família manter a “pureza” na linhagem de executivos da
firma, principalmente no tocante ao financiamento do crescimento da empresa, exige a
criação de um consenso entre os membros da família que com o passar dos anos vai
se tornando mais fraco, na medida em que a visão do fundador vai sendo diluída pelas
novas gerações (LETHBRIDGE, 1997).
Andrade et al (2001) sugerem algumas abordagens para melhorar a governança
das empresas familiares, normalmente a associação ou venda de grupos locais a
grandes redes internacionais, como foi o caso da venda de 50% do grupo Pão de
Açúcar ao grupo francês Casino, em 2005.
2.1.1.3. Dinâmica de crescimento
Tradicionalmente, as empresas familiares são muito diversificadas, uma vez que
as práticas protecionistas, restrições cambiais e a investimentos tornaram a
diversificação local a única maneira de crescer. A estrutura muitas vezes informal
dessas firmas facilita decisões rápidas em um ambiente em mudança, além de
permitir, através da visão do fundador, manter um espírito de lealdade em seus
funcionários. Adicione-se o fato de que essas firmas, por estarem muitas vezes
sozinhas em um mercado, conheciam as particularidades da demanda (ANDRADE et
al., 2001).
Essas constatações aparecem em consonância com as indicações de Lethbridge
(1997), que relacionou ainda outro fator: a necessidade de manter as relações de
confiança que lhe dariam sua vantagem competitiva.
Lethbridge (1997) identificou também diferenças nas estratégias de crescimento
das empresas de países em desenvolvimento e dos países industrializados. Enquanto
que no primeiro grupo as empresas preferem se aproveitar de ramos inexplorados,
ainda que não relacionados5 com suas atividades correntes, mas com elevados
potenciais de lucratividade (algumas vezes incentivada pelo governo), as companhias
de países industrializados buscam movimentos de diversificação relacionados visando
5 O termo diversificação relacionada e não-relacionada refere-se às atividades empreendidas por uma companhia, conforme definição proposta por Rumelt (1974). Se as atividades podem compartilhar recursos ou know-how, em busca de ganhos de escala ou escopo, sugere-se que as atividades são relacionadas. Caso contrário, ou seja, se a empresa precisar desenvolver capacitações ou realizar novos investimentos, sem aparente ganhos de escopo ou escala, considera-se a diversificação como não-relacionada.
16
a minimização de custos de transação, uma vez que as taxas de lucratividade tendem
a ser próximas.
Em geral, uma empresa diversificada de países emergentes investe os lucros
obtidos em cada segmento em um promissor nicho de mercado, a partir do
esgotamento do segmento explorado anteriormente. A alocação de recursos
funcionaria como um mercado de capitais privado, seguindo uma estratégia
corporativa.
2.2. Estudo estratégico e a perspectiva institucional
O processo de crescimento das empresas Lojas Americanas e Mesbla foi
estudado de acordo com uma abordagem longitudinal, tomando como base os
acontecimentos ao longo da história das duas empresas. Dessa forma, antes de
serem abordadas as diversas perspectivas sobre crescimento organizacional, é
importante introduzir os conceitos relacionados com a análise de uma organização
através de uma perspectiva institucional. Para este fim, as idéias de Selznick (1957)
serão utilizadas como base para a conceituação de tal perspectiva.
Selznick (1957) estabelece dois tipos diferentes de empresas. O primeiro deles
define a organização como um instrumento racional; o segundo tipo leva em conta
todos os valores presentes na organização, moldados de acordo com a sua história,
estabelecendo o conceito de instituição.
Em termos funcionais, uma organização pode ser considerada como um
instrumento para que os indivíduos possam direcionar seus esforços e coordenar
recursos produtivos em torno de um objetivo comum. Dessa forma, as tarefas são
alocadas, a autoridade é delegada e os canais de comunicação são estabelecidos,
sob a tutela de mecanismos de coordenação e disciplina.
Por sua vez, a instituição é apresentada como uma entidade social orgânica,
com uma configuração resultante das pressões e necessidades sociais, internas e
externas, exercidas pelos atores dependentes. Esses atores, personificados nas
figuras dos seus dirigentes, funcionários, acionistas, clientes e demais stakeholders,
podem definir as possibilidades de escolha de uma determinada organização, pelo fato
de possuírem, em muitos dos casos, interesses incompatíveis uns com os outros
(DOYLE, 1994).
17
Assim, os objetivos oficiais da empresa podem ser relegados a um segundo
plano, pela proliferação de objetivos não-oficiais, sustentados pelas coalizões. O
processo de formação das coalizões dentro de uma organização está relacionado com
a institucionalização dos valores cultivados pelos seus membros durante toda sua
existência (DOYLE, 1994). A perspectiva institucional, dessa forma, consiste em
analisar uma firma levando em consideração aspectos de sua história e como ela foi
influenciada pelas forças sociais.
A trajetória de uma empresa é repleta de decisões que ora irão influenciar o seu
destino, ora irão influenciar o seu dia-a-dia. Selznick (1957) classifica essas decisões
como críticas e rotineiras, respectivamente. As decisões rotineiras, de curto prazo, não
têm influência direta no direcionamento da empresa e não alteram o seu "caráter". As
decisões críticas, por sua vez, são as que definem o caminho futuro da empresa e não
podem ser dissociadas das decisões passadas sem que ocorra um choque. Ou seja,
as decisões críticas são as que podem afetar as necessidades e alterar as
expectativas dos diversos stakeholders.
Dessa forma, na medida em que cresce e atinge a longevidade, a organização
tem grandes chances de institucionalizar normas, procedimentos, anseios e
obrigações. A institucionalização pode ser encarada como uma completa incorporação
dos valores da empresa pelos stakeholders. Se por um lado isso garante estabilidade,
perde-se flexibilidade. A estabilidade é importante para a preservação do que Selznick
(1957) define como integridade organizacional, ou seja, os valores, competências e
papéis assumidos e definidos por uma organização a longo de toda a sua história. Isso
ocorre porque os objetivos globais passam a prevalecer sobre os individuais. A
ausência de integridade organizacional favorece o aparecimento de problemas como o
comportamento paroquial, conflitos interdivisionais e competição interna.
Os problemas da longevidade e institucionalização foram identificados por
diversos autores. Pfeffer e Salancik (1978) afirmam que a sobrevivência da
organização está relacionada com a capacidade de elas serem eficientes na gestão
das demandas de diferentes grupos de interesses. O destino de uma organização não
é, entretanto, função apenas da sua estrutura, liderança e procedimentos
operacionais, mas também conseqüência da ação do ambiente. Para entender a
dinâmica do ambiente que norteia a empresa, os autores sugerem a utilização de
sistemas de informação que possam diagnosticar e preparar a empresa para situações
diversas.
18
Para atingir este objetivo, a companhia não deve medir esforços para coletar
dados e aprender com suas decisões. Esse comportamento sistemático irá definir de
uma forma mais clara quais as possibilidades e restrições enfrentadas pela empresa,
em conjunção com as suas competências centrais. A utilização de dados e métodos
racionais de análise contribui para uma melhor quantificação de objetivos e ameaças,
tornando possível a tarefa de agregar os diversos grupos de interesse em direção a
um mesmo objetivo.
Meyer e Zucker (1989) apontam o perigo da institucionalização para a
longevidade saudável de uma empresa. Em seus estudos, os autores sugerem o
conceito de Permanently Failing Organizations, organizações que se mantêm
longevas, mesmo apresentando resultados abaixo dos aceitáveis. Essas empresas
escapam de sua extinção pela pressão institucional do ambiente e os exemplos
narrados por Meyer e Zucker (1989) em seu trabalho demonstram uma face perigosa
da institucionalização de valores: incapazes de aceitarem uma mudança conjuntural e
aplicar as alterações necessárias, os indivíduos sujeitam-se a suportar uma
companhia em estado de falência crônica, insistindo em soluções de curto prazo e
pouco eficientes, ao invés de soluções radicais e duradouras. Embora admitam que a
possibilidade de extinção da empresa diminua com a sua idade, os autores concluem
que sua performance não melhora da forma correspondente.
Sull (1999) detalha mais especificamente o problema de que companhias que
tiveram sucesso no passado estão sujeitas a dificuldades de adaptação a um novo
ambiente. O autor sugere que o processo de tomada de decisão é diretamente afetado
pelos métodos utilizados em experiências anteriores, que tornam a empresa incapaz
de estabelecer transformações radicais, frente a um novo cenário.
Selznick (1957) identificou que as empresas possuem características tanto de
organizações quanto de instituições. O mecanismo de funcionamento de companhias
surge como algo muito complexo, resultante do comportamento do ser humano nas
organizações. A dualidade organização x instituição agrega visões até certo ponto
complementares, com a conjugação dos processos sociais de uma instituição com a
estrutura formal e estruturada de uma organização.
19
2.3. Crescimento da firma e mudança organizacional
2.3.1. Motivações para o crescimento
A perspectiva de recursos da firma, sugerida por Penrose (1959), relaciona-se
diretamente com as motivações para o crescimento da firma. Para a autora, o
crescimento é fruto do aproveitamento dos recursos produtivos de uma companhia.
Recursos podem ser entendidos como um conjunto potencial de serviços à disposição
de uma companhia. As pessoas, as instalações e o capital investido são exemplos de
recursos com potencial de aproveitamento. Os mais importantes formam o que
Penrose classifica como serviços empreendedores: criatividade, ambição, capacidade
de julgamento das opções de aplicação de recursos e capacidade de obter recursos
para o crescimento (fund raising). A criatividade exerce papel fundamental na medida
em que pode proporcionar a entrada da firma em atividades de maior lucratividade e a
adoção de métodos de maior produtividade. Para implementar as iniciativas de
crescimento, a autora identificou os serviços gerenciais, responsáveis pela execução e
coordenação das atividades.
No cerne dos conceitos propostos por Penrose (1959) está a propensão de um
gestor assumir riscos compatíveis com a estrutura de recursos que possui. Um gestor
pode ter metas mais ou menos ambiciosas, a partir dos mesmos recursos. O objetivo,
em cada um dos casos, está exposto na busca por uma maior eficiência e
lucratividade que pode proporcionar aos gestores um maior prestígio, satisfação
pessoal e melhores posições executivas, além de um melhor relacionamento com
acionistas através da distribuição de maiores dividendos. Essa visão foi compartilhada
por Starbuck (1965) que indicou, no nível do indivíduo, as seguintes motivações para
uma firma empreender seu processo de crescimento: busca por auto-realização, risco,
prestígio, salários mais altos, lucros, diminuição de custos, ganhos de mercado, poder
monopolístico, estabilidade e longevidade da firma.
A dinâmica de crescimento envolve o grau no qual os recursos produtivos são
aproveitados. Uma vez que os recursos citados anteriormente estão disponíveis em
quantidades discretas e os movimentos empreendedores tornam a utilização destes
recursos mais eficiente, existe uma força que impulsiona a expansão, sob a forma de
recursos disponíveis para novas expansões, sejam elas objetivando ganhos de escala
ou ingresso em novos ramos.
20
Se as metas de crescimento, entretanto, expõem a firma a um risco
demasiadamente exagerado, Penrose sugere que podem haver falhas na capacidade
de julgamento do gestor. Da mesma forma, metas pouco ambiciosas reduzem a
possibilidade de os recursos serem utilizados em todo seu potencial e minam a
capacidade de a empresa estabelecer uma dinâmica de crescimento, uma vez que
lucros menores limitam a capacidade de reinvestimento da companhia. A redução da
incerteza e conseqüente melhora na capacidade de julgamento do gestor envolve a
sistematização do processo de planejamento, com a alocação de recursos específicos
para tal finalidade.
O crescimento, na visão de Penrose, pode também ser fomentado por
necessidade de o gestor expandir um "império", utilizando de forma pouco produtiva
os recursos disponíveis para o crescimento. Esse comportamento coloca a
longevidade saudável da empresa em perigo, uma vez que compromete os recursos
da firma com atividades pouco lucrativas ou pouco eficientes.
A perspectiva de recursos e, principalmente, a busca pelo aumento da eficiência,
teve seqüência com Chandler (1977), em sua obra intitulada The Visible Hand, na qual
analisou o crescimento das ferrovias nos Estados Unidos. Chandler verificou a
existência de dois tipos de motivação para a expansão de um empreendimento:
produtivas e defensivas. Os movimentos produtivos buscavam economia de escopo e
escala, a partir de uma utilização mais eficiente dos recursos já existentes. Um
exemplo de movimento produtivo seria a expansão de uma cadeia de lojas que,
efetuando compras centralizadas, poderia obter ganhos de escala em relação aos
seus fornecedores.
Já um movimento defensivo era caracterizado por uma decisão de proteção ao
empreendimento, como a internalização de operações que poderiam ser realizadas
por outras companhias de forma que o suprimento de serviços não fosse interrompido
por razões externas: produção de matéria-prima, estrutura de distribuição e
financiamento de clientes. Em resumo, seria como se a empresa controlasse toda a
cadeia de operações necessária para a expansão dos seus negócios, mas não
obtivesse vantagens de escala ou escopo ao realizar tais movimentos. Segundo
Chandler, os movimentos de motivação produtiva tinham maior probabilidade de
garantir vantagens e recursos para impulsionar o crescimento da firma.
As expansões produtivas definidas por Chandler (1977) e a expansão de
“império” definida por Penrose (1959) podem ser associadas aos conceitos de
21
diversificação relacionada e não-relacionada, respectivamente. As diversificações
relacionadas compreendem o ingresso em um negócio no qual a companhia já possui
uma competência estabelecida; existem possibilidades de sinergia e ganhos de
escala. As diversificações não-relacionadas, por sua vez, englobam a entrada em
atividades onde a empresa não possui know-how específico ou possibilidade de
aproveitamento das competências já adquiridas. A entrada em um novo ramo pode ser
realizada por meio de uma expansão interna ou aquisição de outra companhia.
O aumento da eficiência vinha também da uniformização de processos e adoção
de padrões por uma determinada indústria. Um exemplo dessa constatação foi a
uniformização dos trilhos no território americano, que possibilitou a expansão nacional
das ferrovias. Apesar de proporcionarem o aumento de eficiência, a padronização
reduziu a diferenciação dos serviços oferecidos e aumentou a competição entre
firmas.
Assim como Penrose (1959), que identificou os serviços gerenciais como parte
importante do processo de crescimento, Chandler (1977) ressaltou o fato de que o
crescimento dos empreendimentos ferroviários teve como pilar de sustentação uma
sistemática coleta de dados e implantação de mecanismos de controle financeiros e
operacionais.
2.3.2. Motores de crescimento
Para o entendimento de um processo é importante que seja identificado o seu
mecanismo de funcionamento. Dessa forma, a elaboração de motores para o processo
de crescimento visa a buscar uma representação e sistematização dessa dinâmica,
através da constatação das relações de necessidade nos seus processos
organizacionais.
Fleck (2003a) efetuou uma minuciosa análise sobre o trabalho de Chandler, The
Visible Hand (1977), e propôs um motor de crescimento com base na co-evolução de
firmas e indústria. A Figura 2.1 mostra o Motor de Co-evolução proposto por Fleck:
22
Cooperação:Voluntária ouCompulsória
Padronização:Tecnologia, Produtos
e/ou Processos
Homogeneização:Ofertas de Produtos
e/ou Serviços
Competição:Recursos escassos
Crescimento:ViabilizadoIndústria
Firmas
CondiçãoNecessária
CondiçãoNecessária
+
+
Figura 2.1 – Motor de Co-Evolução (Fleck, 2003a)
Inicialmente, uma firma ou um conjunto de firmas estabelece um padrão
operacional, de forma voluntária ou compulsória. O padrão pode ser fruto de uma
evolução tecnológica ou um ganho de escala proveniente da disseminação de
determinada técnica. Ao se tornar o padrão da indústria, essa tecnologia, produto ou
processo torna-se condição necessária para o crescimento, uma vez que é
responsável pelo aumento de eficiência de uma determinada indústria. A
padronização, no entanto, reduz a diferenciação entre os diversos concorrentes da
indústria, ocasionando uma maior competição. O ciclo é novamente iniciado quando
um novo padrão operacional ou tecnológico é descoberto.
Este motor foi proposto para a indústria de microcomputadores, com a
padronização representada pela adoção do PC-IBM como modelo a ser seguido. Ao
compararmos com a evolução do setor de varejo, percebe-se que o crescimento só foi
possível quando, por exemplo, o tamanho de peças de vestuário foi uniformizado, os
produtos codificados para um melhor controle e o sortimento de produtos, de uma
forma geral, racionalizado. A conseqüência do Motor de Co-Evolução é um desafio
contínuo para os gestores pois, ao uniformizar métodos e procedimentos, as
vantagens competitivas desaparecem entre os concorrentes do mercado.
Fleck (2003a) propôs ainda o Motor de Crescimento Contínuo, baseando suas
observações no trabalho de Chandler (1977) e Penrose (1959). A base de sua
observação é o fato de que os recursos de uma firma, por serem indivisíveis, estão
sempre subutilizados, ocasionando um desequilíbrio natural. Cabe ao gestor utilizar
produtivamente tais recursos, promovendo a expansão do empreendimento. A Figura
2.2 agrega os motores de Co-Evolução e Crescimento Contínuo como fomentadores
do processo de crescimento de uma firma.
23
Cooperação:Voluntária ouCompulsória
Padronização:Tecnologia, Produtos
e/ou Processos
Homogeneização:Ofertas de Produtos
e/ou Serviços
Competição:Recursos escassos
Crescimento:Viabilizado
Indústria
Firmas
CondiçãoNecessária
CondiçãoNecessária
+
+
DesequilíbrioOperacional
Reinvestimento naexpansão produtiva
Recursossubutilizados etransferíveis
+ +
Mo
tor
de C
o-
Evo
luçã
oM
oto
r d
e C
resc
imen
toC
on
tín
uo
Figura 2.2 – Motor de Co-Evolução e Crescimento Contínuo (Fleck, 2003a)
De uma forma objetiva, o motor de crescimento contínuo é responsável por um
processo que produz mais crescimento, sob a forma de constantes inovações. Na
medida em que esse crescimento passa do nível da firma para o nível da indústria,
ocorre o estímulo para o motor de Co-evolução. As duas abordagens fortalecem a
"noção de que o crescimento deve ser estudado como processo e não como evento"
(FLECK, 2003a).
2.3.3. Crescimento, estrutura e competências organizacionais
O processo de crescimento envolve não somente a utilização eficiente de
recursos produtivos, mas também a adequação da estrutura organizacional para o
aumento da complexidade das operações executadas pela firma. Entende-se estrutura
organizacional como o desenho de como a empresa é administrada, o que engloba os
níveis hierárquicos e o fluxo de informações entre eles. Á função da estrutura
organizacional é administrar atividades e recursos de grande porte (CHANDLER,
1962).
Esse foi o objeto de estudo de Chandler (1962), em seu trabalho entitulado
Strategy and Structure. Neste estudo o autor busca o entendimento sobre o processo
de mudança estrutural de uma empresa a partir do seu crescimento. O crescimento,
resultante da utilização de recursos de uma forma mais produtiva diante de
determinadas condições ambientais – mudanças demográficas, tecnológicas ou de
24
renda – exige uma nova estratégia ou uma nova estrutura, de forma que a companhia
possa se manter eficiente no uso dos seus recursos. Suas conclusões apontam para o
fato de que normalmente a estrutura demora a se adequar a uma nova estratégia.
Chandler ressalta a importância do papel do executivo nas decisões de curto e
longo prazo. Quando os gestores se encontram sobrecarregados em atividades
operacionais, oriundas do processo de crescimento, e se mostram incapazes de
aprender novas técnicas e procedimentos, há indícios de falhas na estrutura
organizacional e conseqüente perda da capacidade de empreender novos negócios
que podem fomentar o crescimento contínuo da firma. Segundo Chandler, crescer sem
a estrutura adequada normalmente implica em ineficiência econômica.
Ao analisar firmas como DuPont, GM, Standard Oil e Sears, Chandler identificou
as primeiras companhias a adotarem estruturas descentralizadas e o autor não
constatou evidências de que elas tenham imitado umas às outras: cada uma delas
buscou a solução que lhe parecia mais apropriada. A descentralização veio como uma
resposta à crescente complexidade das operações da empresa, desde a produção,
passando pelo transporte, até a venda final.
De acordo com a função realizada, Chandler identificou estruturas funcionais em
cada uma das empresas estudadas e as classificou da seguinte forma, em ordem
decrescente de atuação corporativa: 6
- Administração Central (General Office) – coordenação, avaliação, planejamento de
metas e políticas da empresa e alocação de recursos; estratégia abrangente e
voltada para novos negócios, com uma visão de longo prazo;
- Divisão (Division) – responsável pela gestão de uma linha de produto,
normalmente bastante ligada à administração central; a visão de longo prazo é
influenciada pela administração central, mas a maioria das decisões nesse nível é
de cunho tático ou operacional;
- Administração de Departamento (Department headquarters): coordena e planeja a
operação de unidades de campo;
- Unidades de Campo (Field units): unidade operacional como uma fábrica, escritório
de vendas ou laboratório; decisões afetam o dia-a-dia e a operação em si.
6 Chandler (1962) ressalta o fato de que estas estruturas não precisam coexistir em um determinado empreendimento. Na verdade cada companhia deve adequar sua estrutura de acordo com o seu crescimento.
25
A expansão geográfica de um empreendimento determina modificações em
como a firma gere suas divisões. Segundo Chandler, algumas dinâmicas foram
identificadas: (1) a administração melhora com a especialização; (2) a administração
central torna-se necessária com a expansão geográfica e entrada em novos
segmentos (integração vertical) e; (3) novas linhas de produto ou crescimento em
escala nacional trazem consigo a necessidade de uma estrutura multidivisional
(diversificação).
Chandler credita à autonomia e especialização da gestão multidivisional, além do
papel da administração central, grande parte do crescimento e desenvolvimento das
empresas estudadas. Para o autor, o crescimento é resultado da capacidade em
perceber as oportunidades e necessidades de forma a aplicar ou expandir os recursos
da forma mais lucrativa e eficiente possível, de acordo com a demanda e tecnologia
em questão.
A necessidade de a empresa gerir diversos ramos de negócio originou linhas de
estudo a fim de verificar quais estruturas empresariais e formas de gestão eram mais
adequadas para administrar múltiplos ramos de atuação e se a diversificação estava
relacionada com a performance da companhia. Mintzberg (1998) identificou
perspectivas de estudo em estratégias corporativas. Durante a década de 1960 e
1970, houve o crescimento das estruturas multidivisionais “chandlerianas”, com o
aparecimento do conceito das Unidades de Negócio (SBU). Os gestores tinham
dificuldades em gerir as SBU como unidades autônomas pois não havia como
maximizar a alocação de recursos para cada uma delas.
Essa dificuldade fez com que surgissem novos métodos de gestão corporativos.
Um deles é a Matriz Crescimento / Mercado proposta pelo Boston Consulting Group,
utilizada para gestão de portfólio de negócios. A matriz tentava realizar um cruzamento
entre o potencial de crescimento (geração de caixa) e a participação de mercado de
um determinado negócio. Entre as críticas à gestão por portfólio de negócios podem
ser citadas: (1) assume como premissa o fato de que as empresas se auto-financiam;
(2) ignora o relacionamento entre os diferentes negócios; (3) não identifica como a
companhia irá obter valor de negócios completamente não-relacionados
(MINTZBERG, 1998).
Dessa forma, as limitações da gestão por portfólio estimularam o
desenvolvimento da gestão pelo conceito de valor adicionado, uma vez que era
necessário identificar se a unidade de negócio estava gerando algum tipo de
26
remuneração para o acionista da empresa. Surgiram então métodos para o cálculo do
valor econômico adicionado (EVA) por cada atividade realizada pela companhia,
levando em consideração o custo de capital da referida atividade (MINTZBERG,
1998).
Na década de 1990 passou a ser desenvolvido o conceito de competências
centrais. As competências centrais desenvolvem um papel de integração na
companhia, além de serem fontes de vantagens competitivas. Hamel e Prahalad
(1990) indicam que muitas firmas possuem potencial para desenvolver competências
centrais, mas o fato de a gerência de topo perceber a empresa como um conjunto de
negócios independentes impede o desenvolvimento de um diferencial competitivo.
Quando a organização é concebida dessa forma, nenhuma SBU se considera
responsável por manter a unidade organizacional nem ao menos desenvolver uma
competência central, o que ocasiona a falta de compartilhamento de recursos e
limitação do aprendizado. A capacidade de a empresa adaptar-se a situações de
mudança e desenvolver capacitações a partir de suas competências centrais é tida
como parte importante do processo de crescimento e sustentação das vantagens
competitivas. Barney (1991) afirma que uma determinada empresa só será detentora
de vantagem competitiva caso desenvolva características únicas e difíceis de serem
copiadas, tais como a integridade organizacional (SELZNICK, 1957).
Ghoshal e Mintzberg (1994) indicaram que a unidade organizacional de uma
empresa diversificada deve ser estimulada pela gerência de topo. Esse estímulo deve
ser realizado pelo constante monitoramento, por sistemas formais de controle
baseados em performance e pela construção de mecanismos que valorizem o
comportamento empreendedor das diversas unidades de negócio. A metáfora
proposta pelos autores é a de um pião: a gerência de topo é responsável pelo
movimento de rotação e o pião ganha corpo na medida em que as unidades de
negócio “giram” em uma mesma direção. Para isso, os autores indicam que os pontos
fundamentais são: (1) o planejamento de alocação de recursos; (2) o processo de
troca e compartilhamento de recursos entre as unidades. O compartilhamento de uma
mesma visão favorece a adaptabilidade da corporação às mudanças e garante uma
integridade nos objetivos da firma em consonância com os objetivos individuais. Na
medida em que a firma mantém-se fiel a esses princípios, o crescimento pode ser
estimulado sem que a longevidade da firma seja colocada em risco.
27
2.3.4. Respostas às mudanças organizacionais
As mudanças que ocorrem no ambiente onde as firmas estão inseridas não são
facilmente previstas. Dessa forma, o planejamento estratégico pode ser encarado
como uma forma de as companhias exercitarem sua capacidade de prever e se
preparar para situações inesperadas. O fato de algumas empresas utilizarem a prática
de confecção de cenários fez com que desenvolvessem a capacidade de aprender e
responder rapidamente a situações novas (ACKOFF, 1983).
O processo de aprendizado e adaptação foi discutido por Teece (1997) quando
apresentou o conceito de Dynamic Capabilities. Esse conceito exprime a capacidade
de uma empresa desenvolver um processo de aprendizado gerencial. Através dessa
dinâmica, as competências da empresa vão sendo moldadas ao longo de sua história,
de acordo com o aprimoramento das suas práticas operacionais e de gestão.
Além de monitorar e adaptar-se ao ambiente onde está inserida, a organização
pode exercer outros tipos de resposta. Oliver (1991) apresentou cinco estratégias de
respostas às mudanças ambientais, sob uma perspectiva institucional. O Quadro 2.1
resume as estratégias em questão:
Estratégia Tática Exemplos
Consentir Hábito Seguir normas “invisíveis”, aceitas como padrão
Imitação Copiar modelos institucionalizados
Cumprir Obedecer regras e aceitar normas
Buscar soluções Equilíbrio Equilibrar as expectativas de diversos stakeholders
de compromisso Pacificar Aceitar e “acomodar” elementos institucionais
Barganhar Negociar com stakeholders
Evitar Omissão Omitir a desconformidade
Proteção Desprender-se de compromissos institucionais
Fuga Mudar metas, atividades ou domínio de atuação
Desafiar Desvio Ignorar normas e valores explícitos
Desafio Contestar regras e requerimentos
Ataque Atacar as fontes de pressão institucional
Manipular Cooptar Conseguir apoio de elementos influentes
Influência Moldar valores e critérios
Controle Dominar elementos institucionais e processos
Quadro 2.1 – Respostas estratégicas para processos institucionais (Oliver, 1991)
28
A seguir serão detalhadas as estratégias definidas por Oliver (1991):
Consentir: determina o quanto uma empresa segue regras pré-estabelecidas,
baseadas em fórmulas de sucesso, tomando essas fórmulas como sua linha de
atuação. Uma firma que apenas imita ou segue o caminho traçado por ela mesmo ou
outras, reduz sua capacidade de moldar o ambiente e aprender com os próprios erros.
Outra característica é a incorporação de valores da sociedade como uma forma de
ganhar legitimidade no ambiente onde a firma está inserida, fortalecendo sua posição
competitiva.
Buscar soluções de compromisso: as firmas possuem diversos stakeholders e
interesses internos, cabe à sua direção equilibrar os direitos e deveres de cada um
deles. Se a companhia falha nessa medida, limitará as opções no seu processo de
tomada de decisão, desfavorecendo sua longevidade saudável.
Evitar: significa o quanto a empresa consegue fugir de pressões institucionais, regras
ou deveres. Como por exemplo, elaborar planos ou procedimentos formais, mesmo
sabendo que eles jamais serão implementados, ou mudar a localização de uma
instalação para locais onde a legislação não é tão rigorosa, em busca de maior
legitimidade. Assim, a organização tenta reduzir a sua exposição às entidades
externas e, conseqüentemente, às pressões externas sofridas.
Desafiar: pode ser definido como o grau pelo qual uma organização ignora regras
institucionais. Por exemplo, quando a lei ou nenhuma entidade externa é capaz de
punir suas atitudes, uma empresa pode adotar uma política de preços baixos,
eliminando concorrentes. Pelo fato de oferecer uma ampla gama de produtos a um
preço menor para a população, ganha apoio de um importante elemento institucional
que fortalece sua posição frente aos demais concorrentes. A forma mais agressiva
pode ser percebida quando uma organização tenta criar novos valores, utilizando a
racionalidade em ambientes onde o custo da perda é pequeno.
Manipular: é um componente ativo, onde a organização tenta influenciar e reduzir as
pressões e indefinições externas. Suas ações podem englobar, por exemplo, a
inclusão de uma autoridade no seu conselho diretor ou divulgando e apoiando
iniciativas governamentais. A realização de lobby e busca da opinião pública de seus
clientes frente a uma alteração na legislação são outros exemplos. Essas ações
29
podem ocorrer também internamente na empresa, por meio de pressões internas e
divulgação maciça de informações.
As estratégias relacionadas por Oliver (1991) seguem um espectro de uma
postura passiva para outra mais ativa. Hipóteses formuladas pela autora sugerem que
as respostas organizacionais para as pressões institucionais dependerão da origem
das pressões e como elas são exercidas. Influenciam também os mecanismos de
controle e o contexto. O Quadro 2.2 indica os fatores institucionais e as respostas
previstas por Oliver (1991) em cada caso:
Fator Preditivo Respostas Estratégicas
Consentir
Buscar
soluções de
compromisso
Evitar Desafiar Manipular
Causa
Legitimidade Alta Baixa Baixa Baixa Baixa
Eficiência Alta Baixa Baixa Baixa Baixa
Constituintes
Multiplicidade Baixa Alta Alta Alta Alta
Dependência Alta Alta Moderada Baixa Baixa
Conteúdo
Consistência Alta Moderada Moderada Baixa Baixa
Restrição Baixa Moderada Alta Alta Alta
Controle
Coerção Alta Moderada Moderada Baixa Baixa
Difusão Alta Alta Moderada Baixa Baixa
Contexto
Incerteza Alta Alta Alta Baixa Baixa
Inter-relação Alta Alta Moderada Baixa Baixa
Quadro 2.2 - Fatores institucionais e as respostas previstas por Oliver (1991)
Causa: quanto menor o grau de legitimidade em atender as pressões institucionais,
maiores as reações a essas pressões. Quanto menores os ganhos econômicos ao
ceder às pressões institucionais, maiores as reações à essas pressões.
30
Constituintes: componentes institucionais (governo, funcionários, acionistas) impõem
restrições à organização, sob a forma de regras, leis e expectativas dos diversos
stakeholders. Quanto maior a multiplicidade de constituintes, maiores as reações às
pressões; se a dependência desses constituintes for pequena, a resistência
organizacional às pressões tende a aumentar.
Conteúdo: relaciona as metas da empresa ao seu caráter institucional. Se as metas
estão inconsistentes com os valores difundidos pela empresa, a resistência
organizacional a pressões externas tende a ser maior. Da mesma forma, se as
restrições ambientais forem grandes, a resistência às pressões institucionais é maior.
Controle: se o ambiente institucional estabelece normas de forma coercitiva, a
resistência será maior. Uma menor difusão voluntária das normas e procedimentos
aceitos também favorece a resistência às pressões institucionais.
Contexto: a incerteza ambiental leva as organizações a exercerem resistência aos
processos institucionais. Sob esse mesmo aspecto, fracas relações
interorganizacionais favorecem a resistência a fatores institucionais.
Pelo fato de os conceitos relacionados com o crescimento da firma estarem
dispostos no trabalho de diversos autores, alguns deles citados neste capítulo, Fleck
(2005) sintetizou parte destes conceitos em um modelo em que propõe arquétipos de
sucesso e fracasso organizacional. Este modelo, em processo de evolução, foi
utilizado para análise das empresas no presente estudo e será detalhado na próxima
seção.
2.4. Arquétipos de sucesso e fracasso organizacional
A perspectiva de Fleck (2005) relaciona respostas organizacionais a seis
desafios identificados no processo de crescimento da firma. O modelo tenta identificar
características organizacionais que podem favorecer o desenvolvimento de
competências que auxiliem a construção de uma trajetória de longevidade saudável
para organizações.
Os arquétipos têm como base o conceito de traços organizacionais,
desenvolvido por Fleck (2003b) através de um estudo longitudinal das histórias das
companhias americanas General Electric (GE) e Westinghouse (WH). O traço
organizacional “é um comportamento consistente que a organização exibe ao longo do
tempo, podendo ser visto como o tipo de resposta da empresa a um desafio gerencial
31
associado ao processo de crescimento organizacional. Dependendo de como a
empresa responde ao desafio, aumentará a organização sua propensão à
autoperpetuação ou à autodestruição” (FLECK, 2003b).
Foram identificados sete traços organizacionais e a constatação era de que
estes desenvolviam-se nas primeiras décadas da existência de uma firma. Quatro
desses traços relacionavam-se à gestão interna da organização e os três restantes
aos negócios nos quais a empresa atuava.
Traços de Orientação Interna: (1) Organização, (2) Alocação de recursos, (3)
Resolução de problemas, (4) Formação de hierarquia gerencial.
Traços de Orientação Externa: (1) Empreendedorismo, (2) Motivações para
expansão, (3) Gestão de mudança.
Os desafios associados aos traços de ordem interna envolvem a gerência de um
conjunto de atividades cuja diversidade aumenta na medida em que a firma cresce. As
pressões organizacionais direcionam a firma para integração ou fragmentação, em
configurações onde as semelhanças ou as diferenças são enfatizadas,
respectivamente.
Os conflitos de prioridade na disputa por recursos também aumentam. A
resposta organizacional poderá ser a alocação just-in-time de recursos ou
antecipativa. Enquanto a primeira prima pelo imediatismo e visão de curto prazo, a
segunda envolve a melhoria do processo de alocação de recursos, a busca por
compartilhamento e desenvolvimento de capacitação. É um trade-off entre a resolução
imediata e a antecipada. Daí surge a necessidade de desenvolver métodos de
aprendizado e recursos gerenciais capazes de lidar com o processo de transformação.
Os traços de orientação externa relacionam-se com o desafio de fomentar o
crescimento, tendo como base os Serviços Empreendedores definidos por Penrose
(1959). A capacidade de conciliar metas ambiciosas com riscos compatíveis tornaria a
gestão mais eficiente em promover o crescimento. Riscos exagerados colocariam a
longevidade da companhia em risco.
A dinâmica do crescimento, no que diz respeito às motivações de expansão,
pode ser representada pelos movimentos de expansão produtivos e defensivos
(CHANDLER, 1977). Segundo Fleck, outros dois motivos para expansão podem ser
identificados, combinando os tipos existentes: Híbrido e Nulo. As expansões híbridas
garantem ganhos de produtividade ao mesmo tempo em que protegem a posição da
32
companhia. Os movimentos nulos não são produtivos nem defensivos. Fleck indica
que movimentos produtivos e híbridos aumentam a probabilidade de a empresa
estabelecer um processo de crescimento continuado.
A gestão de ambiente compreende a capacidade de a empresa moldar o
ambiente onde está inserida, favorecendo-se das pressões institucionais ou reduzindo
a influência destas no seu negócio. Iniciativas inovadoras aumentam a probabilidade
da autoperpetuação enquanto que a adaptação ou imitação limita o potencial de
crescimento das firmas.
Dessa forma, Fleck (2003b) constatou que o conjunto de respostas, na medida
em que institucionalizavam o comportamento da companhia, contribuiriam para
direcionar a empresa para um pólo de autodestruição ou autoperpetucação.
Os conceitos propostos neste trabalho foram reorganizados e utilizados para a
definição dos arquétipos de sucesso ou fracasso organizacional (FLECK, 2005). Neste
trabalho, Fleck associou a noção de sucesso organizacional à longevidade saudável
uma vez que, na história, foram identificados muitos casos de empresas que iniciaram
uma trajetória de sucesso, mas sucumbiram às mudanças institucionais e
fracassaram.
Fleck (2005) definiu dois pólos “ideais”: um deles apontando para a longevidade
e autoperpetuação, outro para a autodestruição. Dependendo das respostas das
empresas a cada desafio enfrentado, sua condição de sucesso ou fracasso transita
entre cada um dos pólos. É importante notar que, na maioria das vezes, as empresas
tendem a operar em um estado intermediário. O Quadro 2.3 estrutura os conceitos
propostos por Fleck (2005).
33
Quadro 2.3 – Conceitos para a análise do crescimento da firma (FLECK, 2005)
Os desafios do crescimento foram organizados em dois grupos: Crescimento
Contínuo e Existência Contínua. O primeiro grupo, em acordo com as constatações de
Fleck (2003b), relaciona-se com a Renovação e Crescimento e o segundo grupo
consiste em fatores ligados à Preservação da Integridade Organizacional.
As características associadas à autoperpetuação foram compostas por: (1) alto
empreendedorismo associado a riscos compatíveis; (2) expansões de motivação
produtiva ou híbrida; (3) capacidade de influenciar e adaptar-se ativamente ao
ambiente; (4) manutenção da integridade organizacional; (5) resolução sistemática de
problemas com ênfase em promoção do aprendizado; (6) desenvolvimento antecipado
dos recursos gerenciais para expansão.
34
Podem levar uma empresa à autodestruição: (1) baixo empreendedorismo com
riscos exagerados; (2) expansões defensivas ou nulas; (3) adaptação e passividade às
mudanças ambientais; (4) promoção de fragmentação organizacional; (5) resolução
casuística de problemas, limitando o aprendizado; (6) ausência de desenvolvimento
antecipado de recursos gerenciais para a expansão.
Serão detalhados cada um dos seis desafios identificados por Fleck (2005) de
forma a relacionar as diferentes fontes de conceitos utilizadas pela autora.
2.1.2. Serviços Empreendedores
Os elementos propostos por Penrose (1959) são a base deste desafio.
Compreende a propensão de a empresa em assumir riscos e os mecanismos
utilizados por ela para avaliar os riscos de um empreendimento. Quatro fatores
principais foram identificados pela autora:
Ambição: a medida pela qual a organização está disposta a assumir riscos, em busca
de novos mercados, sendo um compromisso sério com o desenvolvimento de
produtos e busca pela eficiência, pode determinar características que auxiliam a
perpetuação do empreendimento. Se, entretanto, o crescimento está apoiado em
expansão pura e simples de mercado, sem ênfase no crescimento sustentado,
ingressando em ramos que aparentemente são rentáveis, a visão de curto-prazo
permeará esse empreendimento e poderá contribuir para a sua destruição.
Criatividade / Visão / Imaginação: envolve a medida em que as idéias do gestor são
plausíveis e ousadas. Gestores impõem limitações ao crescimento frente à restrições
de demanda e outros fatores externos. A versatilidade tem papel fundamental na
expansão de uma companhia quando desenvolve novos mercados ou determina
novas possibilidades produtivas.
Fund-raising: conseguir acesso a capital para o empreendimento é considerado como
uma característica vital para a empresa. Depende da capacidade de o empreendedor
criar confiança e realizar os objetivos pretendidos, honrando os compromissos
firmados. Falhas nesse processo reduzem a disponibilidade de recursos e dificultam a
longevidade saudável da companhia.
Capacidade de julgamento: quanto mais uma organização souber da atividade e do
ambiente onde está inserida, maiores as probabilidades de ela ter sucesso. Se a firma
35
tem a capacidade de avaliar as conseqüências e os riscos de um empreendimento, as
chances de que um evento coloque toda a organização em perigo são menores.
2.1.3. Motivações de Crescimento
Utiliza-se das idéias de Chandler (1977), Penrose (1959) e Fleck (2003b).
Chandler (1977) afirma que as expansões de motivação produtiva têm maior
propensão de produzir o crescimento contínuo do que os defensivos. Fleck (2003b)
adicionou considerações sobre as motivações do tipo híbrido e nulo. Enquanto as
primeiras também estimulam o crescimento, as do tipo nulo não provêm incremento à
eficiência ou à defesa do negócio, remetendo à idéia de expansão de “império” de
Penrose (1959).
Híbrido: expansões relacionadas e que protegem os negócios já existentes. Podem
ser representadas pelos avanços tecnológicos protegidos por patentes: garantem
aumento de eficiência e impedem a proliferação das novas técnicas aos demais
concorrentes.
Produtivo: expansões que resultam em um melhor aproveitamento dos recursos já
instalados por uma determinada empresa. Compreende, por exemplo, a expansão de
uma cadeia para ganhos em escala ou a prestação de serviços para aproveitar a
capacidade ociosa de uma instalação fabril.
Defensivo: ligado à proteção do negócio existente, geralmente não possibilita ganhos
de escopo ou escala. Pode assumir diferentes formas: aquisição de um concorrente,
fornecedor ou nova atividade por parte da empresa. O objetivo principal é impedir que
a atividade produtiva seja interrompida, mas não coloca em ação o motor de
crescimento contínuo. Se uma firma industrial necessita de uma matéria-prima rara, ao
adquirir um fabricante da matéria-prima em questão, ela estaria fazendo um
movimento defensivo.
Nulo: são expansões que em nada remetem às operações anteriormente realizadas
pela empresa. Não proporcionam oportunidades de sinergia e de compartilhamento de
recursos, implicando em uma gestão de portfólio de negócios que raramente coloca
em ação o motor de crescimento contínuo.
36
2.1.4. Gestão de Mudança
A perspectiva de Oliver (1991), sobre as respostas às pressões institucionais, é
o ponto principal sobre o qual se apóiam as considerações relacionadas com o desafio
de Gestão de Mudança.
Monitorar (Desafio Percebido): indica como a organização interpreta o ambiente
onde está inserida e quais recursos são utilizados para isso. Uma leitura correta do
ambiente pode prover a firma de uma maior capacidade de elaboração de cenários e
se preparar para eventos críticos.
Consentir; buscar soluções de compromisso; evitar; desafiar; manipular:
baseado nas respostas institucionais propostas por Oliver (1991), representam o grau
com que a concentração de respostas nos modos desafiar e manipular proporciona
oportunidades de influenciar o ambiente de modo favorável à firma, contribuindo para
direcioná-la no sentido do pólo da autoperpetuação. Já a concentração de respostas
no modo consentir e buscar compromisso direciona a firma no sentido do pólo da
autodestruição.
2.1.5. Gestão de Diversidade
A visão institucional de Selznick (1957) e o desenvolvimento das habilidades
gerenciais proposto por Chandler (1977) se configuram na base para o desafio de
gestão de diversidade. A falha em lidar com a diversidade ocasiona a fragmentação
das operações e a ausência de um sentido de unidade por parte da organização.
Integridade: o crescimento da firma faz com que os valores, objetivos, mitos e
procedimentos assumam formas distintas de quando a companhia ainda é um
pequeno empreendimento. A entrada de novos membros, linhas de produtos ou
criação de uma unidade de negócio faz com que a cultura da empresa seja moldada
conforme o consenso de uma maioria; essa cultura, esses valores, podem auxiliar a
empresa na busca dos seus objetivos ou podem impedir que novos direcionamentos
sejam tomados. A empresa que através de mitos, procedimentos, comunicação ou
eventos mantém a integridade da firma, ou pelo menos, da visão que os seus
funcionários têm dela, aumenta suas chances de alcançar a longevidade saudável;
Heterogeneidade: na medida em que a firma cresce, a empresa pode agregar
atividades as mais diversas, que exijam diferentes recursos e capacitações para seu
37
gerenciamento e desenvolvimento. A busca por recursos faz com que surjam conflitos
e rivalidade na organização;
Compartilhamento: o aumento das atividades, seja pela aquisição de uma empresa,
seja pela ampliação de uma linha de produtos, exigirá a aplicação de recursos para o
desenvolvimento e crescimento dessas atividades; uma vez que os recursos são
limitados, há de se estabelecer processos para compartilhamento de recursos e, se
possível, ganhos de escala;
Coordenação: a empresa necessita coordenar as diversas atividades ou mesmo as
diversas operações de forma que atendam o objetivo final da empresa. Chandler
(1977) identificou o desenvolvimento da capacidade gerencial e coordenação como
um dos fatores determinantes para o crescimento de empresas no início do Século
XIX. A coordenação não envolve a extinção da heterogeneidade mas sim o uso
construtivo de elementos distintos e o estímulo à cooperação entre os membros da
organização.
2.1.6. Gestão de Complexidade
Pfeffer e Salancik (1978) mostraram a importância do comportamento
sistemático de coleta de informações para o auxílio na tomada de decisões. Chandler
(1977) identificou o controle e análise de dados como fomentadores do crescimento. O
desafio de Gestão de Complexidade envolve o grau no qual uma empresa, ao adotar
mecanismos sistemáticos de coleta de informações, transforma esse processo como
uma forma de aprendizado por parte da empresa.
Processos sistemáticos: processos sistemáticos de coleta, análise, implementação
de atividades e tomada de decisão denotam uma propensão ao aprendizado. O
crescimento da empresa faz com que surjam problemas cada vez mais complexos.
Sem um procedimento sistemático, as experiências anteriores não servem como base
de conhecimento para novas implementações e o processo de aprendizado tem o seu
escopo limitado, assim como as chances de sucesso tornam-se reduzidas.
Experiências bem sucedidas de processos sistemáticos proporcionam a descoberta de
erros e problemas na sua formação, evitando desperdício de recursos.
Casuístico: soluções de curto prazo, imediatistas, realizadas sem a devida análise da
situação têm pouca possibilidade de agregar conhecimento à empresa. A inexistência
38
de uma sistemática de acompanhamento mina o processo de aprendizado, da mesma
forma em que coloca a organização em risco uma vez que compromete recursos
produtivos para solução de problemas imediatos, em detrimento do longo prazo.
2.1.7. Provisão de Recursos Gerenciais
Chandler (1977) e Penrose (1959) classificam os recursos gerenciais como vitais
para que a empresa atinja longevidade saudável. Entre os desafios relacionados com
a Provisão de Recursos Gerenciais estão: (1) antecipar; (2) formar; (3) reter; (4)
desenvolver; (5) renovar. Empresas que não possuem os recursos gerenciais no
momento apropriado, estarão perdendo oportunidades de expansão e enfraquecendo
a integridade organizacional, na medida em que necessitam buscar os recursos em
empresas no mercado.
Procedimentos como a construção de centros de treinamento, a preparação de
executivos para sucessão e a elaboração de programas de trainees e estágio,
aumentam a probabilidade de que os recursos adequados estejam disponíveis no
momento necessário. A retenção desses talentos também precisa ser estimulada por
participação em resultados e uma política de recompensa justa.
Quando uma empresa busca constantemente os recursos necessários para a
sua expansão no mercado, a integridade organizacional é afetada na medida em que
os valores, credos e procedimentos institucionalizados ainda não são imediatamente
absorvidos pela nova gestão.
39
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
3.1. Definição do Tema e Empresas a Serem Estudadas
Voltando à pergunta principal deste estudo:
“Por que algumas firmas, diante dos desafios de crescimento em um
mesmo ambiente, declinam e desaparecem, enquanto outras mantêm uma
trajetória de longevidade saudável?”
Percebe-se que para chegar às respostas desejadas seria necessário investigar
a história das empresas e as particularidades do ambiente onde estavam inseridas. A
visão longitudinal, atrelada a uma abordagem histórica, que encarasse os eventos
como resultados de um processo, indicava a opção de estudo de caso como método.
De acordo com Yin (1989), o método do caso pode contemplar duas visões
complementares: a de um estudo de caso em si e a de um estudo histórico. Ambas
auxiliam a compreensão dos acontecimentos reais pois permitem uma análise
abrangente das evidências encontradas.
Dessa forma seria possível verificar, além da história das empresas, suas
decisões, seus líderes e mitos. Entre os motivos que comumente reforçam a idéia de
que o método de caso é a forma ideal para este tipo de estudo: (1) o fato de que os
primeiros estudos nessa área foram realizados nesse formato; (2) a natureza prática e
aplicada do tema estimularam o desenvolvimento de uma literatura empírica sobre o
tema (SNOW & THOMAS, 1994).
Mas como uma condição necessária, uma empresa somente apresentará
condições para um rico estudo caso sejam encontradas diversas fontes de informação
e eventos que contribuam para a teoria de administração. Em resumo, os atributos
considerados para a escolha das empresas a serem estudadas:
- Empresas deveriam ser longevas, com mais de cinqüenta anos de atividades;
- Empresas deveriam possuir capital aberto, com demonstrações financeiras
publicadas em veículos de informação há mais de cinqüenta anos;
40
- Empresas cujas informações pudessem ser encontradas em publicações de
negócio, jornais e sites oficias da Internet;
- A história das empresas devia possuir características particulares, que
favorecessem o estudo estratégico;
- Empresas que existam ou deixaram de existir há pouco tempo, cerca de quinze
anos, para que fosse possível entrevistar funcionários ou ex-funcionários.
Após um processo de depuração de possíveis escolhas, entre empresas de
serviços ou manufatura, que desenvolviam tecnologia ou não, foram escolhidas duas
empresas de varejo, a Mesbla e a Lojas Americanas. Muito embora sejam
parcialmente comparáveis apenas, o estudo da trajetória de duas empresas de um
mesmo setor sugeria oportunidades de elucidações de aspectos de sucesso e
fracasso de longo prazo.
A pesquisa sobre informação de duas empresas teria como vantagem adicional
o uso de múltiplas fontes de evidências. Utilizar múltiplas fontes de evidências
possibilita o conhecimento de um espectro mais amplo de eventos e interpretação dos
acontecimentos, possibilitando a convergência de informações aparentemente
desconexas (YIN, 1989).
3.2. Método de Pesquisa
Foi realizada uma pesquisa de campo, por meio de entrevistas e análise de
publicações, arquivos e estudos anteriormente realizados. A utilização de entrevistas
tem como principal função o conhecimento de eventos que o pesquisador não pôde
observar diretamente ou mesmo obter em fontes secundárias (SNOW & THOMAS,
1994). Nessas entrevistas, que podem ser realizadas com ex-funcionários,
fornecedores, clientes ou até mesmo concorrentes da empresa, os entrevistados
foram estimulados a refletir sobre suas carreiras, sobre eventos críticos pelos quais
passaram e cenários alternativos para determinadas situações.
Inicialmente, foi definido um conjunto de perguntas relacionado com as histórias
das empresas. As perguntas não seriam efetivamente utilizadas nas entrevistas, mas
seriam um guia para o entrevistador que deveria ter também em mente os eventos
considerados críticos. Esse primeiro conjunto foi reduzido, fazendo com que estas
perguntas guias ficassem mais objetivamente relacionadas com o estudo estratégico
41
em questão. Assim, em cada entrevista, três perguntas “mestre” eram propostas para
o entrevistado. Coube ao entrevistador realizar as intervenções que achou pertinente:
- Qual a sua experiência profissional, incluindo a Lojas Americanas / Mesbla
(período, áreas, situações, alegrias, tristezas)?
- Em uma perspectiva histórica, o que você não mudaria na Lojas Americanas /
Mesbla?
- O que acha que poderia ter sido feito diferente?
Ao final do projeto, seis entrevistas foram realizadas, conforme o Quadro 3.1 a
seguir, tendo sido ouvidos profissionais de diversos níveis e períodos diferentes da
história das empresas estudadas.
Empresa Nome Período em que trabalhou na empresa
Cargo Data da Entrevista
Mesbla Entrevistado 4 1975 Estagiário 26/abr/05
1977 a 1978 Gerente de Loja Campinas (SP)
1978 a 1979 Gerente de Loja Méier (RJ) 1979 a 1982 Gerente de Loja Vitória (ES) 1983 a 1984 Diretor MLD 1985 a 1993 Vice-Presidente MLD Entrevistado 1 1988 a 1989 COESA - Construção Lojas 1/mar/05 1989 a 1990 COESA - Área
administrativa e TI
1991 Gerente Loja NEXT 1991 Chefe de Departamento -
Loja Passeio Público
1991 a 1992 Assistente Compras 1992 a 1995 Comprador Entrevistado 3 1993 a 1996 Chefe Contas a Pagar 12/abr/05
1980 a 1982 Chefe do Departamento de Distribuição (RJ e SP)
1983 a 1985 Chefe do Departamento de Operações Comerciais
Lojas Americanas
Entrevistado 6
1986 a 1996 Diretor do Departamento de Operações Comerciais
18/mai/05
Entrevistado 2 1992 a 1996 Comprador 5/abr/05 Entrevistado 5 1998 Estagiário 10/mai/05
Quadro 3.1 – Relação das entrevistas realizadas
42
3.3. Indicadores de Crescimento e Financeiros
A análise longitudinal das empresas necessitava de dados concretos e fatos
para que as conclusões pudessem ser obtidas de forma racional e não simplesmente
fossem um conjunto de inferências. Para isso, foram selecionados indicadores que
pudessem mostrar os resultados das decisões dos gestores e o crescimento das
firmas. O tamanho da empresa foi calculado através do seguinte indicador, sugerido
por Fleck (2001):
Tamanho da Empresa ano i = Receita Bruta ano i ÷ Produto Interno Bruto ano i
Não existe um indicador certo ou errado, ou ainda definitivo. Este indicador
mostra, em termos percentuais, o quanto as vendas e serviços prestados por uma
empresa representaram quando comparados com toda a riqueza produzida (valor
adicionado) em um determinado ano. Caso a empresa tenha, de um ano para o outro,
um crescimento neste percentual, significa que suas vendas cresceram mais rápido do
que a própria economia onde está inserida cresceu.
Entretanto, esta medida não mostra se a empresa está sendo rentável ou tendo
um bom desempenho. Por exemplo, se a empresa estiver apresentando prejuízo,
apesar do faturamento crescente, não será possível observar de imediato o efeito no
indicador, apenas nos seus valores dos anos seguintes, caso a empresa entre em
uma espiral de insucessos. Sendo assim, um indicador complementar foi utilizado,
representando o desempenho da firma:
Desempenho da Empresa ano i = Lucro Líquido ano i ÷ Produto Interno Bruto ano i
Como pôde ser percebido, estes indicadores exigiram que fossem levantadas as
séries históricas de PIB, do faturamento bruto e do lucro líquido de cada empresa
pesquisada.
Para complementar a análise e prover um melhor entendimento do setor
varejista, buscaram-se indicadores contábeis relevantes para o setor de varejo de
forma a entender o crescimento ou retração em um determinado ano. Após a definição
de uma listagem bastante abrangente, consultou-se um analista de empresas de
varejo, especialista em índices contábeis, que ajudou a determinar uma seleção mais
específica com os seguintes índices (GITMAN, 1997; BRIGHAM et al., 2001;
STICKNEY et al., 2001; MARQUES, 2002):
43
- Índice de liquidez corrente = ativos circulantes ÷ passivos circulantes: retrata a
capacidade de a empresa honrar suas obrigações de curto prazo;
- Índice de Endividamento = Total do Exigível ÷ Total dos Ativos: retrata o nível de
capital de terceiros que financia a operação da empresa;
- Índice de Rentabilidade sobre Vendas = Lucro Líquido ÷ Receita Bruta: retrata a
margem obtida com a atividade;
- Produtividade7 = (Receita Bruta / PIB) ÷ Número de Funcionários: retrata o grau de
aproveitamento de recursos
Mais uma vez, a construção destes índices exigiu a busca de dados de balanços
e demonstrativos de resultados das duas empresas em um horizonte de vinte a trinta
anos de forma a identificar as alterações das companhias frente ao cenário econômico
que enfrentavam.
As demonstrações financeiras da década de 1980 e início da década de 1990
continham valores na Legislação Societária e Correção Integral para a Controladora e
o resultado Consolidado. No caso da Lojas Americanas e Mesbla foram utilizados
dados do Consolidado, sempre da Legislação Societária. Não foram utilizadas as
informações corrigidas pois simplesmente distorceriam a análise.
3.4. Série Histórica do Produto Interno Bruto (PIB)
A série histórica do Produto Interno Bruto, necessária para o cálculo dos
indicadores de tamanho e desempenho das empresas, foi objeto de pesquisa de
trabalhos anteriores no COPPEAD, de forma que foi possível obter informações
bastantes precisas sobre a estatística. Grigorovski (2004) realizou uma extensa
verificação dos valores estatísticos oficiais, tendo consultados professores de
economia e profissionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
órgão responsável pelo cálculo do PIB, considerado o principal agregado das Contas
Nacionais e que tem como objetivo refletir o resultado da atividade econômica total do
país. A série histórica utilizada foi baseada nos dados obtidos por Grigorovski (2004),
inicialmente no período de 1957 a 2003.
7 Acrescentou-se o PIB no denominador de forma a retirar a influência da inflação e trocas de moedas no indicador.
44
O Produto Interno Bruto passou a ser computado oficialmente a partir de 1947,
pela Fundação Getúlio Vargas embora Grigorovski (2004) tenha identificado cálculos
anteriores ao período realizados por diversos pesquisadores. Em 1987, o IBGE
assumiu a tarefa de cálculo do PIB. A metodologia passou por diversas alterações,
razão pela qual os especialistas do IBGE sugerem que pesquisadores utilizem sempre
os valores divulgados mais recentemente que, em teoria, refletem com maior
fidelidade as alterações na metodologia.
Além disso, a forma de divulgação dos dados exige que o pesquisador busque
os dados mais atualizados: ao publicar o relatório de Contas Nacionais, o valor do PIB
para o ano n-1 é lançado em sua versão preliminar; o ano n-2 é lançado em sua
versão semi-definitiva; o ano n-3 é lançado de forma definitiva. Ou seja, o pesquisador
só terá o dado definitivo do PIB de 2005 no ano de 2008. Dessa forma, foi necessário
buscar o dado para 2004 (valor preliminar, no relatório de contas de 2005), atualizar os
dados para os anos de 2002 (definitivo) e 2003 (semi-definitivo). As estatísticas mais
recentes foram obtidas no site do IBGE, na seção Sistemas de Contas Nacionais
Trimestrais, onde encontram-se os relatórios desde o ano 2000.8
Com a intenção de complementar a listagem para os anos anteriores a 1957,
foram obtidos dados divulgados pelo IBGE na sua publicação Estatísticas do Século
XX, que continha os valores do PIB, em reais, desde 1947. De 1901 a 1947 foi
levantada uma série estimada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão
oficial do governo brasileiro.
Feita a coleta dos dados de 1901 a 2004, em reais, era necessário converter os
dados para as moedas correntes, pois foi como o faturamento e lucro das empresas
estudadas foram obtidos. A tabela de conversão de reais para qualquer moeda de
períodos anteriores da economia brasileira foi objeto de pesquisa de Grigorovski
(2004) e pode ser encontrada no site do IBGE.9 A tabela, exposta no Anexo 1, foi
formulada pelo Banco Central do Brasil e divulgada pelo departamento de pesquisas
do IBGE. A listagem completa do PIB, em moeda corrente para cada ano até 2004,
encontra-se no Anexo 2.
8 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/contasnacionais/2003/default.shtm 9 http://www2.ibge.gov.br/pub/Informacoes_Gerais_e_Referencia/Historia_das_Moedas_do_Brasil/
45
3.5. Dados de Financeiros das Empresas
Foram utilizadas diversas fontes para obtenção das informações financeiras da
Mesbla e da Lojas Americanas. A obtenção de qualquer dado que completasse a série
histórica era um verdadeiro motivo para comemorações.
Inicialmente foi realizada uma consulta aos arquivos on-line da Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) no site www.cvm.org.br. Estes arquivos estão disponíveis
para o público, assim como os programas necessários para visualizá-los. Existem dois
programas, um para ambiente DOS (siscon.exe) e outro para Windows (divext.exe). O
primeiro visualiza arquivos mais antigos, em geral até 1998, enquanto que o segundo
visualiza os arquivos atuais. O usuário interessado deve baixar separadamente cada
relatório (Demonstrações Financeiras Padronizadas, Informações Anuais ou
Informações Trimestrais) e pode consultá-lo quando quiser. Essas informações eram
insuficientes para o trabalho, o que gerou a necessidade de uma visita à sede da CVM
no Rio de Janeiro, na Rua Sete de Setembro 111, Centro.
A sede da CVM no Rio de Janeiro funciona das 10:00 às 16:00 e possui, no 2º
andar, um arquivo em papel das últimas demonstrações financeiras (1993 a 2004) e é
possível tirar cópias. As cópias custam R$ 0,10 cada e demoram cerca de dez dias
úteis. Os funcionários do local entram em contato com os usuários quando as cópias
ficam disponíveis. É possível realizar uma consulta in loco, um usuário de cada vez,
mas o espaço não é muito apropriado para tal. No 5º andar da instituição há uma
biblioteca onde é possível consultar e tirar cópias de publicações como Melhores e
Maiores da Exame, Balanço Anual da Gazeta Mercantil e Conjuntura Econômica.
Os dados referentes aos anos 80 não se encontravam arquivados na CVM, pois
foram transferidos para o Arquivo Nacional, na Rua Azeredo Coutinho, 77, Rio de
Janeiro. Esta instituição funciona das 10:00 às 18:00 e os pesquisadores precisam
efetuar um cadastro para acessar as instalações. O Arquivo Nacional inaugurou um
novo prédio em 2005 e os procedimentos citados neste estudo podem ter sido
alterados, uma vez que as consultas foram realizadas, na sua maioria, em 2004.
Os dados financeiros encontram-se em papel ou microfilme. Para saber qual
arquivo solicitar, o pesquisador deve procurar os livros da Coleção CVM, no período
desejado, e realizar uma busca pela empresa, por ordem alfabética. As
demonstrações de 1983 a 1988, em geral, encontram-se em microfilmes; as de
46
períodos posteriores em papel. Após se cadastrar, o pesquisador poderá solicitar o
material. É possível tirar cópias, que custam R$ 0,08 e demoram entre dez a quinze
dias úteis para ficar prontas. É necessário monitorar o serviço contratado, ligando
periodicamente para o Arquivo Nacional, para verificar se as cópias estão prontas. O
material em microfilme está em bom estado, embora as páginas nem sempre estejam
numeradas. A falta de numeração faz com que as solicitações de cópias de microfilme
necessitem de uma descrição bem detalhada do material desejado pelo requisitante,
uma vez que, pelo próprio conselho dos funcionários do Arquivo Nacional, “o pessoal
que tira cópias precisa de tudo muito bem detalhado, porque não conhece o material
sendo copiado”.
De posse destas informações, já era possível ter um bom panorama das duas
empresas, embora fosse um universo de apenas vinte anos. A busca de informações
financeiras anteriores à década de 1980 voltou-se para publicações da época. As
empresas abertas precisam publicar suas demonstrações em jornais e revistas de
grande circulação. Na biblioteca do COPPEAD existem três publicações onde elas
foram encontradas: a revista Conjuntura Econômica, da FGV, a revista Bolsa,
publicada pela antiga Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e a revista Melhores e
Maiores da Exame, publicada pela Editora Abril.
A revista Conjuntura Econômica, encontrada entre os anos 1945 e 2000,
apresenta índices da economia e balanço dos anunciantes da época. A Mesbla era
uma das empresas que publicava seus relatórios anuais e balanços. Sendo assim, foi
realizada uma consulta nestas revistas, no período em que a empresa publicava seu
balanço e uma grande gama de informações antes da década de 1980 foi coletada.
A Lojas Americanas não publicava seus balanços na Conjuntura Econômica,
mas sim na revista Bolsa. A biblioteca do COPPEAD possui a revista Bolsa desde
1971 até 1989, período em que ela foi publicada pela Bolsa de Valores do Rio de
Janeiro, apresentando matérias sobre ações e empresas abertas da época. Nas
publicações foram encontrados balanços desde 1970 até 1983, período necessário
para formar um horizonte de quase quarenta anos de análise. Cabe um registro a
respeito das duas publicações: a partir de 1986 ambas tornam-se mais voltadas para
análise setoriais, sem matérias especificas sobre empresas. Ou seja, a partir desta
época, não foram encontrados balanços publicados em suas páginas. Os números
47
400 e 450 da Revista Bolsa possuem um índice remissivo por empresa, que facilitam a
busca por informações financeiras e reportagens.
Para complementar as informações necessárias para a pesquisa, foram visitadas
mais três instituições: a Biblioteca Nacional, a Bolsa de Valores do Estado do Rio de
Janeiro e a Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro (JUCERJA).
As duas últimas, apesar de solicitarem formalmente um pedido de pesquisa por
parte da equipe de pesquisadores, pouco ajudaram no processo, pois não houve
retorno positivo. No caso da Bolsa de Valores, o atendimento foi muito atencioso mas
não se traduziu em auxílio efetivo, pois muitas das informações foram transferidas
para a Bolsa de Valores de São Paulo.
A tentativa de consulta ao arquivo da JUCERJA foi interrompida por problemas
burocráticos. Foi enviada uma solicitação formal de pesquisa à presidência e a
resposta foi a seguinte:
“Prezados Senhores,
Em atenção ao e-mail encaminhado a esta Junta Comercial em 17 de março próximo
passado, através do qual solicitam meios para pesquisar informações a respeito das
empresas LOJAS AMERICANAS S/A, MESBLA S/A e SÃO PAULO ALPARGATAS
S/A, temos a informar que, como tal pesquisa não poderá ser realizada nos arquivos
desta Junta Comercial, à guisa de colaboração, sugerimos que as informações
desejadas poderão ser obtidas via Certidão de Inteiro Teor, isto é, a cópia do próprio
ato arquivado (um balanço, por exemplo).
Atenciosamente, Gabinete – Presidência”
As visitas à Biblioteca Nacional obtiveram resultados positivos. A busca por
informações foi realizada em duas etapas. Na primeira, no início de 2005, foram
consultados os microfilme de jornais da época, onde eram publicados os balanços das
empresas. A segunda etapa, realizada em agosto do mesmo ano, após o fim da greve
que impediu a continuação da primeira etapa, teve como objetivo a busca por
informações no sistema de arquivos da Biblioteca, uma vez que a instituição possui
um sistema de consultas informatizado de seu acervo físico, para obras originais e
microfilme. O usuário pode consultar pelo nome da empresa e verificar a existência de
Relatórios da Diretoria e publicações internas arquivadas na biblioteca.
48
A pesquisa em microfilmes do Jornal do Commercio proporcionou a obtenção
dos Relatórios da Diretoria da Lojas Americanas, para os anos de 1965, 1966, 1967,
1968 e 1969.
A pesquisa nos sistemas da biblioteca, realizada em um segundo momento,
indicou que não há arquivos ou publicações da Lojas Americanas no acervo da
Biblioteca Nacional. Entretanto, foi possível identificar a existência de Relatórios da
Diretoria da Mesbla para os anos de 1964, 1965, 1970, 1977, 1978 e 1981. Além
desses documentos, foram encontrados exemplares da publicação própria da
empresa, a revista Mesbla Notícias, para os anos de 1947 a 1956, 1980 e 1981.
Infelizmente, por motivos de obras, nenhuma publicação estava disponível para
consulta no período dessa segunda visita.
3.6. Informações Sobre a Economia, Empresas e o Setor Varejista
Paralelamente à busca de informações financeiras foi realizada uma busca por
informações sobre a economia brasileira, notícias sobre as empresas e o setor
varejista. Essa busca foi realizada em publicações especializadas, informes setoriais,
sites e estudos anteriores. Um resumo das publicações, órgãos responsáveis
consultados e as informações obtidas encontram-se listadas no Quadro 3.2.
Os fatos narrados por estas publicações, estatísticas e avaliações setoriais
foram levados em consideração para a realização da análise. Os principais
acontecimentos como as crises políticas e os planos econômicos brasileiros, as crises
econômicas internacionais (Crise de 1929, Argentina, México, Países Asiáticos) e as
guerras de amplitude mundial foram incluídos em uma tabela síntese para auxiliar o
entendimento das conjunturas nacional e internacional da época.
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Tema Publicação / Órgão de Consulta
História e
Economia
Balanços Anuais – Gazeta Mercantil; Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea do Brasil; Exame – MELHORES E MAIORES; IBGE –
Estatísticas do Século XX; Teses e Dissertações; Fundação Getúlio Vargas (FGV);
CPDOC: Governo de São Paulo.
Setor Varejista
(inclui automação
comercial)
Análise Setorial Gazeta Mercantil; Análises Setoriais BNDES; Associação Brasileira
de Supermercados; Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento
e Investimento; Dados e Idéias (Revista da Gazeta voltada para tecnologia); EAN
Brasil; IBGE - Pesquisa Anual de Comércio; International Council of Shopping
Centers Research; Stores; NRMA Retail Control; Supermercado Moderno; The
Economist.
Reportagens e
informações sobre
as empresas
A Notícia OnLine; América Economia; Central Brasileira de Casos (RJ); Conjuntura
Econômica; Exame; Exame OnLine; Folha de São Paulo; Gazeta Mercantil; HSM
Management; Investidor Profissional; Jornal do Brasil; Jornal do Commercio; Jornal
O Globo; Revista Bolsa; Revista Época; Revista Veja; Site Institucional GP
Investimentos; Site Institucional Lojas Americanas; Teses e Dissertações.
Supply Chain Artigos do Centro de Estudos de Logística da COPPEAD; Revista Tecnologística.
Quadro 3.2 – Relação das publicações e órgãos consultados
3.7. Organização e Síntese
Para organizar as informações obtidas, o material pesquisado foi sendo
sistematicamente inserido em uma planilha de eventos, ordenados por data,
inicialmente sem qualquer tentativa de análise. A busca por informações foi iniciada
entre agosto e setembro de 2004, tendo sido finalizada em meados de 2005, quando a
análise se tornou prioritária. Na medida em que os eventos iam sendo obtidos e
agrupados, ficava mais claro que a tarefa de análise necessitaria de uma etapa de
depuração dos dados de acordo com a metodologia de análise escolhida.
Os eventos, sempre separados por empresa, foram classificados como
relevantes e não relevantes. Os eventos considerados relevantes foram selecionados
para debate nas entrevistas. Representavam situações de crise, uma alteração na
direção da empresa, a introdução de uma nova linha de produto ou a descontinuidade
de um negócio, por exemplo.
50
Após a depuração de eventos e da realização das primeiras entrevistas,
começou a ser elaborada uma tabela "síntese" com as informações julgadas
necessárias para o estudo: ambiente internacional, ambiente nacional e principais
decisões e eventos para cada empresa.
A trajetória das duas empresas foi dividida em etapas, uma formatação que,
segundo Langley (1999), auxilia a compreensão das decisões tomadas pelos gestores
em um determinado momento. Ao estruturar dados aparentemente desconexos, é
possível examinar como ações em um período afetaram a organização em situações
subseqüentes. No caso da Mesbla, os períodos determinados foram:
(1) 1912 a 1949: da fundação até a década de entrada no segmento varejista (1952);
(2) 1950 a 1979: do ingresso no varejo (1952) até o ano considerado como início da
implantação da estrutura de holding;
(3) 1980 a 1989: ciclo de consolidação e expansão da estrutura de holding, já com
André de Botton como o principal executivo, sendo um período caracterizado por uma
grande diversificação nos negócios;
(4) 1990 a 1997: período caracterizado pelas tentativas de reestruturação e iniciativas
de desinvestimento, necessárias a partir do novo cenário de negócios brasileiro;
concordata e perda de comando por parte da família do fundador (1995 a 1997).
É interessante perceber que a Mesbla só foi considerada efetivamente falida em
2000. O período retratado neste estudo engloba o estudo das ações realizadas até
1997 para tentar manter a longevidade saudável do empreendimento original. A
empresa, após ser comprada por um investidor em 1997, guardou poucas
características do negócio inicial, passando a ser apenas uma cadeia de lojas de
departamentos. Além disso, o empreendimento teve vida curta, tornando-se
inapropriado para o estudo histórico em questão.
As divisões da Lojas Americanas compreendem as mudanças em seu processo
de crescimento. Inicialmente percebe-se uma dinâmica lenta e moderada;
posteriormente o crescimento é agressivo mas sem alterações estruturais nas
operações; a última fase compreende a reestruturação operacional completa do
processo de distribuição de produtos:
51
(1) 1929 a 1932: da fundação até a falência e perda de controle em 1932;
(2) 1933 a 1979: a trajetória de crescimento da cadeia de lojas, saindo de um âmbito
estadual (eixo RJ-SP), passando por um âmbito regional, atingindo uma escala
nacional; todos os movimentos realizados sem grandes alterações ou mudanças
estratégicas perceptíveis;
(3) 1980 a 1989: período de tomada de controle pelos acionistas do Grupo Garantia
(efetivado em 1981) e ciclo de crescimento acelerado;
(4) 1990 a 1999: período de reestruturação e crescimento; em 1999 a empresa finaliza
a implantação de sua estrutura logística;
(5) 2000 a 2004: período em que a empresa passa a utilizar uma estrutura
descentralizada de operações, aumentando gradativamente a velocidade do
crescimento.
A partir dessa configuração, percebeu-se a necessidade de classificar cada
evento de acordo com o framework de estudo, ou seja, as respostas aos desafios do
crescimento, proposto por Fleck (2005) e resumido simplificadamente na Figura 3.1.
CrescimentoContínuo
Integridade daFirma
Autoperpetuaçãoou Autodestruição
EstímuloAmbiente
Gestão deDiversidade
Gestão deComplexidade
Provisão deRecursos Gerenciais
ServiçosEmpreendedores
Motivação doCrescimento
Gestão de Mudança
Figura 3.1 – Modelo de análise das respostas aos desafios do crescimento
Para a análise de cada entrevista foram separados em uma tabela os fatos
citados pelos entrevistados e as principais opiniões pessoais. Os fatos e opiniões
foram agregados à história e análise da trajetória das empresas, como uma forma de
ilustrar as situações e, em algumas vezes, fortalecer um ponto de vista.
Foi realizada uma nova depuração, já utilizando os dados obtidos nas
entrevistas, e a última listagem de eventos foi gerada. Cada evento foi classificado de
52
acordo com a tipologia dos seis desafios ao crescimento. Um evento poderia estar
associado a mais de um desafio simultaneamente. O Quadro 3.3, mostrado a seguir,
ilustra alguns exemplos da classificação realizada:
Ano Fato Tipo de Desafio
1994 Foi dada mais autonomia aos compradores de lojas de supermercados
Gestão de diversidade
1994 Mantidos programas trainees e, estagiários, mas o convênio COPPEAD foi momentaneamente interrompido
Provisão de recursos gerenciais
1994 Para ajuste interno da companhia, cancelou viagens de executivos ao exterior
Gestão de mudança Gestão de diversidade
Quadro 3.3 – Exemplo da classificação da tipologia do desafio por evento
Para realizar a análise, foi necessário estabelecer critérios de graduação das
respostas aos desafios. A análise das respostas tentou ao máximo se basear em
dados referentes ao contexto político e econômico da época pois, o que atualmente
poderia soar como um grande erro, era perfeitamente lógico em uma situação
diferente. As respostas foram classificadas em uma escala de “fraco” até “forte”. O
Quadro 3.4 detalha, para cada tipologia de desafio, quais os critérios utilizados para
classificar uma resposta como fraca, média ou forte.
53
Quadro 3.4 – Critérios utilizados para classificação de Tipologia de Desafios
Um conjunto de respostas fracas indicava uma propensão de a empresa
caminhar para o pólo da autodestruição. As respostas fortes direcionavam a empresa
para a longevidade saudável. Respostas médias podiam ser interpretadas como
indefinidas: a empresa poderia continuar sua existência mas estaria sujeita a
mudanças no ambiente onde estava inserida; caso o ambiente fosse “benevolente”, a
empresa poderia continuar sua trajetória; caso contrário, poderia sucumbir e
desaparecer.
A partir desses critérios foi necessário definir a forma como a análise seria
realizada. A história de cada empresa havia sido dividida em fases de acordo com
54
seus eventos críticos. As fases coincidiam em apenas metade dos casos. Optou-se
então por realizar a análise de acordo com as fases da economia brasileira. Sendo
companhias do varejo, ambas eram imediatamente afetadas por medidas políticas e
econômicas que afetavam o consumo da população e o direcionamento industrial.
A história do Brasil foi dividida em seis fases , de acordo com eventos políticos ou
econômicos de grande impacto nos períodos subseqüentes:
(1) 1910 a 1945: início do século até a Segunda Guerra Mundial;
(2) 1946 a 1968: da Segunda Guerra, passando pelo governo desenvolvimentista de
Juscelino Kubitschek, o aumento inflacionário e o ano do Ato Institucional Número 5,
que dava poderes supremos ao presidente da República;
(3) 1969 a 1973: do “Milagre Brasileiro” à instituição de uma política monetária
financista e recessiva frente ao primeiro choque do petróleo;
(4) 1974 a 1985: início da abertura política, aumento inflacionário e retorno à
democracia;
(5) 1986 a 1993: período caracterizado pelas tentativas de ajuste na economia e
conivência com a hiperinflação;
(6) 1994 a 2004: estabilização econômica, baixos índices inflacionários, altas taxas de
juros e competição globalizada.
A divisão da história do Brasil em fases homogeneizou o período de análise para
cada empresa, de forma que seria possível entender como empresas diferentes
interpretaram e responderam ao mesmo ambiente a que estavam submetidas.
55
4. O SETOR E AS EMPRESAS
4.1. O Setor de Varejo
O IBGE (SAAB, 2000) classifica o varejo como parte do setor de comércio e
serviços, contemplando uma grande variedade de atividades. Santos et al. (1997)
indicam que o comércio varejista é tradicionalmente classificado em dois grandes
segmentos, alimentos e não alimentos; ou, ainda mais comumente, bens de consumo
duráveis, semiduráveis e não duráveis. As duas classificações compreendem diversas
categorias de lojas, sendo que a última inclui a venda de veículos e autopeças e
material de construção. Sendo assim, para fins de estudo, classificação e mensuração
de resultados, o comércio varejista e de serviços pode ser classificado conforme o
Quadro 4.1:
Quadro 4.1 – Tipos de serviços no comércio varejista e principais características
56
Há que se considerar também o comércio realizado por venda direta,
caracterizada pela “comercialização de bens de consumo ou serviço através de
contato direto vendedor-comprador - classificadas em: venda domiciliar, venda pessoal
e venda porta a porta” (SANTOS et al., 1997, p.5). Esse segmento é representado por
companhias como Avon, Natura, Tupperware e Amway.
A cadeia produtiva das operações do varejo compreende as relações entre
fornecedores, distribuidores, varejistas e consumidores, conforme a figura 4.1:
Cadeia Produtiva - Varejo
Fornecedores(Produtores) u
Distribuidores(Atacadistas) u
Varejistasu
Consumidores
Figura 4.1 – Cadeia Produtiva Varejo
Os consumidores, em geral, estão separados dos fornecedores e distribuidores
pela ação de varejistas. O comércio tradicional efetua a solicitação de compras para
fornecedores ou atacadistas. Nas décadas de 60 e 70, os fornecedores e atacadistas
exerciam predominância sobre os varejistas, que ainda não tinham se organizado em
grandes redes. Em certas ocasiões nem mesmo o preço era definido pelo varejista,
tamanha era a pressão exercida pelos elos anteriores da cadeia produtiva (REID,
1995).
A partir da década de 1980, devido ao início de um processo de concentração e
formação das grandes cadeias varejistas, verificou-se um fortalecimento de grandes
grupos de comerciantes frente aos pequenos fornecedores e outros varejistas de
menor porte, que não tinham como competir frente ao porte e poder de barganha
desses grandes grupos. Alguns dados reforçam essa idéia: entre 1980 e 1994 o
número de falências no setor varejista americano mais que triplicou, elevando-se de
5.000 falências para 17.500 (REID, 1995).
O crescimento das cadeias no nível regional e nacional alterou também o
sortimento de produtos oferecidos, incentivando a competição e elaboração de novas
marcas e embalagens. A lógica “empurrada” que persistia no período anterior, foi
substituída pela “puxada”, como uma forma de atender as necessidades dos clientes.
Essas alterações tiveram como conseqüência o aumento da complexidade das
57
operações no comércio varejista. Em 1985, por exemplo, as cervejarias brasileiras
ofereciam um único sabor (pilsen) numa única embalagem (a garrafa de 600 ml).
Atualmente oferecem diversos sabores (bock, draft, light) em outros tipos de
embalagem (lata, long neck). Tornaram-se comuns as associações e alianças entre
varejistas e fornecedores, tentando estabelecer parcerias "ganha-ganha" (FLEURY,
2000).
Como uma forma de aplacar a competição instaurada e obter maiores margens,
os varejistas começaram a investir em marcas próprias, que propiciavam, em algumas
situações, o aproveitamento da ociosidade do fornecedor com a produção de bens que
garantiam uma maior margem ao varejista. Na Inglaterra, por exemplo, enquanto que
os produtos convencionais ofereciam margens de lucro de 1% a 2%, os produtos de
marca própria podiam oferecer até 8%, uma vez que dispensavam os vultosos
investimentos em marketing (REID, 1995).
A crescente competição nos mercados americano e europeu fez com que
grandes empresas varejistas passassem a atuar em mercados diferentes de seu país
de origem. A expansão internacional, todavia, iniciou-se no princípio do século: a
Woolworth, uma empresa americana, abriu a sua primeira loja fora dos Estados
Unidos em Liverpool, em 1909. A C&A, cadeia de roupas holandesa, iniciou suas
operações na Alemanha em 1911 e na Inglaterra nos anos 20. Mas essa tendência
acentuou-se a partir da década de 1980, com o início da estagnação dos principais
mercados mundiais até então – EUA e Europa – e o início do processo de abertura
econômica dos países em desenvolvimento (REID, 1995).
Na década de 1990, a expansão atingiu os países da Europa Oriental (a Tesco,
da Inglaterra, iniciou operações na Hungria e a Ahold da Holanda abriu lojas na
República Tcheca) e o território asiático. Na Europa Ocidental há restrições para a
instalação de grandes grupos, como uma forma de proteção ao pequeno varejista
(REID, 1995). Na América do Sul, destaca-se a atuação do grupo Carrefour, um dos
primeiros a se instalar na região.
Uma pesquisa realizada pela Pricewaterhousecoopers Global Retail Intelligence
System, utilizando informações públicas de redes varejistas mundiais, indicou os cem
maiores varejistas de classe mundial, em 2000. As quinze maiores empresas do
mundo, em termos de vendas, podem ser verificadas no Quadro 4.2 a seguir.
58
Percebe-se que alguns deles são grupos que iniciaram sua expansão internacional
nos últimos anos.
1. Wal-Mart Stores, Inc. $163,532.0
2. Carrefour Group $52,196.1
3. The Kroger Co. $45,352.0
4. Metro AG $44,163.4
5. The Home Depot, Inc. $38,434.0
6. Albertson's, Inc. $37,478.0
7. ITM Enterprises SA $36,762.5
8. Sears, Roebuck and Co. $36,728.0
9. Kmart Corporation $35,925.0
10. Target Corporation $33,702.0
11. J. C. Penney Company, Inc. $31,503.5
12. Royal Ahold $31,222.2
13. Safeway Inc. $30,801.8
14. Rewe-Gruppe $30,578.0
15. Tesco PLC $30,404.4Fonte: PricewaterhouseCoopers LLP Aug-00
Maiores VarejistasVendas em Dólares ($Mil)
Quadro 4.2 – Maiores varejistas mundiais, em termos de vendas (2000)
Um fator que chamou atenção na lista foi a constatação de que entre as dez
primeiras companhias, sete têm base nos Estados Unidos. Dessas, apenas duas
possuem presença fora da América do Norte (Wal-Mart e JC Penney). Por sua vez, as
empresas européias (as francesas Carrefour e Metro AG) têm uma presença mais
global. Isso demonstra que, com exceção do mercado norte-americano e do japonês,
alcançar ganhos de escala atuando em apenas um mercado não é uma tarefa simples.
O aumento da complexidade das operações e dos produtos oferecidos trouxe
consigo a necessidade de compreensão do comportamento do consumidor. Dessa
forma os estudos nesse campo se multiplicaram, o que resultou em diversas formas
de segmentar os clientes, com base nas suas preferências. As análises sociais,
econômicas e demográficas eram a base para que as lojas determinassem o
sortimento de produtos oferecidos, além das promoções e tendências do mercado
(WESTMACOTT, 1983).
Além disso, a própria sociedade foi modificando sua base de valores e
preferências. Estudos realizados, principalmente nos Estados Unidos, indicaram que
59
os consumidores desejavam gastar cada vez menos tempo em compras, preservando
seu tempo livre para outras atividades. A realização de compras é, reconhecidamente,
uma tarefa que consome muito tempo. Uma pesquisa sobre comportamento do
consumidor norte-americano, em 1983, perguntou a que atividades as pessoas
gostariam de dedicar mais tempo (WESTMACOTT, 1983). O resultado está no Quadro
4.3:
Atividade Percentual de Consumidores
Esportes 31,9
Atividades pessoais 17,8
Atividades sociais 17,4
Atividades da casa 2,0
Viajar 5,1
Compras 0,1
Nenhuma 22,1
Quadro 4.3 – Atividades as quais os consumidores gostariam de dedicar mais tempo
(EUA, 1983)
Já em 1983, percebia-se uma tendência irreversível, na qual os consumidores
passariam a pesar não somente os produtos e preços oferecidos, mas a comodidade
encontrada ao se realizar compras (REID, 1995).
Na medida em que o mercado consumidor se modificava, o varejo deveria se
adaptar. A inovação no varejo é caracterizada pela criação de novos modelos de
negócio e adoção de técnicas que estimulem e atendam à demanda do mercado ou
segmentos de mercado. As inovações em sua maioria culminam na possibilidade de o
varejista reduzir os preços praticados em suas mercadorias, com ganho na margem.
Estudos realizados sobre este tema se mostraram inconclusivos a respeito de
como este processo de inovação é realizado. Nem sempre os grandes varejistas são
responsáveis pela inovação; ao mesmo tempo, os pequenos empreendedores afetam
sua lucratividade quando realizam um movimento nessa direção. Esses mesmos
estudos reconhecem que o retorno pela introdução de uma inovação pode ser
bastante compensador. Entre os métodos utilizados estão a centralização e
padronização das compras, o corte de serviços, transferindo-os para o consumidor
(auto-serviço) e focar em um determinado segmento de mercado (DICKINSON, 1983).
60
Algumas das inovações mais importantes incluem os shopping centers, as lojas
especializadas, os category killers, as lojas de conveniência, as lojas de desconto e as
lojas do-it yourself,
Acredita-se que o primeiro shopping center criado no mundo foi o Southdale
Mall, em Minneapolis, no meio-oeste dos Estados Unidos. Sendo uma região de clima
rigoroso no inverno e muito quente no verão, a instalação foi construída para proteger
os consumidores do clima desconfortável da cidade (REID, 1995).
Os shopping centers tiveram a sua "Era de Ouro" nos Estados Unidos, na
década de 1970. A partir da década de 1980 o crescimento se tornou mais moderado
e atualmente o crescimento é baixo e constante, a uma taxa de 1,5% de novos
estabelecimentos ao ano. O Gráfico 4.1 mostra, da década de 1970 até 2004, o
número de shopping centers e a taxa de crescimento em relação ao ano anterior, nos
Estados Unidos. No Anexo 3 podem ser encontrados os dados utilizados para a
construção do Gráfico 4.1.
Número de Shopping Centers e Taxa de Crescimento (EUA / 1970 a 2004)
-
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
Ano
Nú
mer
o d
e S
ho
pp
ing
s
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
Taxa
de
Cre
scim
ento
Número de Shoppings Taxa de Crescimento
Gráfico 4.1 – Número de Shopping Centers e Taxa de Crescimento (EUA, 1970/ 2004)
(Fonte: National Research Bureau, 2005)
A evidente redução no ritmo de crescimento dos shopping centers indica uma
saturação do mercado neste tipo de empreendimento, de forma que os
empreendedores de novos shoppings estão preferindo melhorar as atrações dos
61
existentes a investir em novos lançamentos. Afinal, já em 1993 existiam 18,5 m2 de
shoppings por habitante; em 1980 esse índice era de 13,1 m2, um acréscimo de 41%.
No Brasil, o Shopping Center Iguatemi, em São Paulo, foi o primeiro
empreendimento deste tipo a ser inaugurado, em 1966. O setor atingiu o seu pico de
desenvolvimento entre os anos de 1985 e 2001 e mantém uma grande concentração
de shoppings na Região Sudeste – 41,1%, em 2004 (GOMES et al., 2004).
Intimamente ligado à redução do crescimento dos shopping centers está o
aparecimento dos chamados category killers. Category killers são redes de lojas
especializadas que vendem uma grande variedade de produtos a um preço baixo,
utilizando para isso uma estrutura de custos absolutamente pequena. São exemplos
deste tipo de comércio os Outlet Centers, utilizados por fabricantes para venda de
produtos fora do padrão ou moda (WESTMACOTT, 1983).
Outro setor atingido pelo crescimento dos category killers foi o de lojas de
departamentos, que também tiveram parte de sua decadência associada ao
crescimento das lojas de desconto. As lojas de desconto tiveram sua eclosão após a
Segunda Guerra Mundial, nos EUA. Na época, ocorreu um aumento de renda e
explosão demográfica. As famílias americanas, maiores, passaram a ter uma maior
necessidade de vestuário, alimentação e educação, tornando os consumidores mais
racionais na aquisição de produtos e bens. Essa fórmula favoreceu a criação das lojas
de desconto, que ofereciam produtos mais baratos, acessíveis para o orçamento de
grandes famílias (WESTMACOTT, 1983).
Outro ponto verificado por estudiosos do varejo foi o aparecimento das lojas do-it
yourself, sendo um exemplo desse modelo a Home Depot. O fato de a mão-de-obra
ser cara nos EUA, atrelada à necessidade de oferecer preços mais competitivos,
estimulou essa forma de comercialização que é caracterizada pela transferência dos
serviços prestados pela loja (montagem e instalação de móveis, por exemplo) para o
próprio cliente (WESTMACOTT, 1983).
Há uma peculiaridade na questão das inovações no setor varejista. Como muitas
das inovações estão relacionadas com o modelo de vendas, elas não podem ser
patenteadas. Não há direito de propriedade nas promoções realizadas, nem na
tecnologia utilizada na operação. Os modelos são passíveis de cópia, o que torna o
62
setor bastante competitivo. Exceções ocorrem para modelos complexos, como as
operações da Wal-Mart.
Acompanhando este processo de inovação e aumento da complexidade do
varejo está a questão da automação dos procedimentos e processos, além do
desenvolvimento do conceito de Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain
Management) e logística. A Figura 4.2 detalha algumas das operações mais comuns
na cadeia produtiva do varejo:
Fornecedor(Manufatura)
Distribuidor(Atacadista)
Varejista
Operações Recepção de matérias-primas Recepção de produtos Coleta de dados (PDV)Produção Armazenagem / Palletização Definição do mix de produtosEmbalagem Controle de Pedidos Definição de preçosExpedição Expedição Previsão de demandaControle de estoque Gerenciamento de Frota Política de promoçõesControle de pagamentos Carregamento Controle de PedidosControle de recebimentos Entrega Recebimento em Armazéns (CDs)
Controle de estoque Expedição em Armazéns (CDs)Controle de pagamentos Gerenciamento de FrotaControle de recebimentos Recebimento em Lojas
Arrumação das LojasControle de estoqueControle de pagamentosControle de recebimentosServiço de pós-venda ao cliente
Figura 4.2 – Operações mais comuns na cadeia produtiva varejo
Dados alguns fatores citados anteriormente, como a formação de grandes
grupos varejistas e a segmentação do mercado consumidor, as operações comerciais
tornaram-se maiores e mais complexas. Percebe-se que o desenvolvimento da Gestão
da Cadeia de Suprimentos está diretamente relacionada à tecnologia aplicada na
operação. Sem o advento de novas técnicas de coleta de dados e controle, práticas
como ECR (Efficient Consumer Response) e VMI (Vendor-Managed Inventory) não
atingiriam bons resultados.
Além da ECR e VMI, as empresas implantaram técnicas de integração entre
fornecedores e comerciantes. Entre os mais importantes podem ser citados:
Continuous Replenishment Programme (CRP), Collaborative Planning, Forecasting
and Replenishment (CPFR), Quick Response (QR), Just-in-Time II (JIT II) e Enterprise
Resource Planning (ERP). As maiores vantagens da implantação destes processos
eram: aumentar a disponibilidade do produto; reduzir o tempo de ciclo do pedido
(tempo entre pedido e recebimento do produto); consistência e menores prazos de
entrega; flexibilidade (tratamento de exceção, agilidade de resposta às alterações de
63
demanda) e; controle de informações da cadeia (status do pedido, nível de estoques)
(RIBEIRO, 2003; WANKE, 2003b).
O movimento de automação das cadeias varejistas intensificou-se no final da
década de 1970, em países Europeus e nos Estados Unidos. As livrarias americanas e
supermercados europeus – Ahold (Holanda) e Migros (Suíça) - instalaram os primeiros
Electronic Points-of-Sale (EPOS) nesta época. As economias emergentes passaram
pelo mesmo processo mais recentemente, em meados dos anos 90 (REID, 1995).
Esses primeiros instrumentos permitiam a gravação dos dados da venda através
de um scanner laser, já utilizando a tecnologia de código de barras e leitura, facilitando
o processo de contabilização do estoque. Essa tecnologia se espalhou pelas principais
empresas do ramo, possibilitando ganhos de eficiência e controle jamais vistos. O
código de barras foi utilizado pela primeira vez em 1972 sendo um identificador
padronizado de fornecedores e produtos. A padronização reduz erros durante o
processo e possibilita correção de rotas e quantidade de pedidos (REID, 1995).
A segunda grande revolução está relacionada com o crescimento da rede
varejista de descontos Wal-Mart. Criada em 1969, a empresa inovou com um sistema
logístico que diminuía sua dependência em relação aos fornecedores e garantia,
através dos pedidos em larga escala, um menor custo que o dos rivais. Esse sistema
foi sendo aprimorado com a introdução de práticas de Electronic Data Interchange
(EDI) com os fornecedores em meados da década de 1980. Essa prática possibilitava
a troca constante de informações entre a central do varejista e seus principais
fornecedores, garantindo ressuprimento just-in-time e análise do consumo de forma
muito detalhada (REID, 1995).
Há atualmente dezenas de ferramentas de coleta de dados utilizando meios de
operação ópticos, magnéticos, eletromagnéticos (rádio freqüência), biométrica, touch
based e Smart Card. Dentre todas essas tecnologias o código de barras ainda é o
mais difundido, sendo utilizado normalmente em conjunto com a radiofreqüência para
a transmissão de dados de recebimento de mercadorias, reconhecimento de cargas,
endereçamento de pallets em armazéns e em prateleiras de lojas
(TECNOLOGÍSTICA, 1996).
No início dos anos 2000, a Wal-Mart iniciou o desenvolvimento da tecnologia de
Radio Frequency Identification (RFID). O RFID, ao contrário das tecnologias
64
anteriores, não necessita que um leitor seja posicionado para a leitura do código de
barras; ele consiste em um sistema onde um chip especialmente codificado, com
dezenas de informações sobre a carga, pode ser consultado em diversos pontos da
cadeia, como no caminhão que o transporta ou no armazém que o recebe. Além disso,
essa técnica permite a leitura simultânea de várias cargas diferentes (BOWERSOX,
2002).
A Internet vem sendo utilizada como um canal de vendas tanto para o
consumidor final (Business to Consumer – B2C) quanto para outras empresas
(Business to Business – B2B). O crescimento de usuários da Internet possibilitou o
desenvolvimento de tecnologias para troca de informações entre os participantes da
cadeia de suprimentos. Além da comunicação, a Internet descentraliza a estrutura de
consulta de informações e padroniza protocolos de trocas de informações e arquivos,
tornando os custos para implantação destes sistemas bem menores do que as opções
utilizadas anteriormente. É possível notar a proliferação de portais de empresas
industriais e comerciais pela “grande rede” (BOWERSOX, 2002).
4.2. Características do ambiente brasileiro
O setor de comércio e serviços brasileiro foi caracterizado pela instabilidade no
ritmo de crescimento, principalmente na década de 1980, e pela redução do
crescimento a partir da década de 1990. O Gráfico 4.2 mostra que a participação do
setor no PIB vem decrescendo desde a década de 1980. Outro dado mostrado por
esse gráfico é a variação de vendas das maiores empresas do setor. Percebe-se que
estas empresas, as mais importantes do setor tiveram, até 1996, taxas de crescimento
de vendas muito instáveis, resultado da instabilidade política e econômica brasileira.
65
Comércio e Serviços - % no PIB e Crescimento das Maiores Empresas (1980 a 2003)
8,5%
10,9%
7,7%7,8%9,3%
8,4%9,1%
11,7%
10,63%
7,5%
33,4%
-12,7%
31,3%
-22,0%
31,5%
-15,4%
1,7%-1,5%
0,00%
2,00%
4,00%
6,00%
8,00%
10,00%
12,00%
14,00%
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Ano
Par
ticip
ação
no
PIB
(%
)
-30,00%
-20,00%
-10,00%
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
Tax
a d
e C
resc
imen
to V
end
as (%
)
Participação no PIB Crescimento de Vendas das Maiores Empresas
Gráfico 4.2 – Evolução do Setor de Comércio e Serviços, 1980 a 2003
(Fonte: Participação no PIB - IBGE / Sistema de Contas Nacionais Consolidadas;
Vendas das Maiores Empresas – Melhores e Maiores Exame, 1981 a 2004)
Em 2003, além da retração das vendas das maiores empresas, a participação de
comércios e serviços no PIB nacional atingiu a marca de 7,7%, um índice menor do
que o apontado há vinte anos, em torno de 10%. A evolução das exportações, com o
aumento da participação do agronegócio na economia brasileira, e a redução das
margens praticadas no varejo, em virtude do aumento da competição, estão entre os
motivos dessa queda.
Como uma forma de compreender as oscilações e desafios da economia
nacional, os principais eventos políticos e econômicos da conjuntura nacional de 1910
a 2004 são apresentados na seção a seguir.
4.2.1. Conjuntura político-econômica
4.2.1.1. Fase 1: 1910 a 1945 – Os primeiros passos para a industrialização
A história econômica brasileira do século XX foi repleta de acontecimentos que
influenciaram diretamente a trajetória das empresas nacionais, algumas vezes
66
beneficiando seu desenvolvimento, outras vezes limitando as possibilidades de
crescimento.
Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Brasil era um país
essencialmente agrícola, baseado na exportação de produtos primários, como açúcar,
fumo, borracha, cacau e café, sendo que o cenário político era dominado pelos barões
do “café com leite”, os grandes produtores de São Paulo e Minas Gerais. Neste
período ocorreram as primeiras tentativas de urbanização das principais cidades
brasileiras, como o Rio de Janeiro. A atividade industrial era pequena, porém mostrava
grande crescimento: em 1910 o Brasil possuía cerca de 3.500 indústrias. Dez anos
mais tarde já eram treze mil estabelecimentos industriais (CONHECIMENTOS
GERAIS, 2005).
A Primeira Guerra dificultou o comércio internacional, o que acarretou na
desvalorização do café. Como uma forma de proteção aos produtores, o governo
interveio e comprou o excedente, de forma que o preço não caísse no mercado
interno. Entretanto, sem os recursos da atividade cafeeira, as divisas nacionais foram
minadas para o pagamento das obrigações da dívida externa. Como conseqüência, foi
necessário controlar as importações, já prejudicadas devido à guerra, e promover a
produção nacional de artigos industrializados. Estima-se que a produção industrial
brasileira tenha crescido a uma taxa anual de 8,5% durante os anos de conflito. Já em
1924, o país produzia 99% dos sapatos consumidos internamente, 90% dos móveis e
86% dos têxteis. A indústria de alimentação foi a que mais cresceu e chegou a
representar 40% dos estabelecimentos industriais do país (CONHECIMENTOS
GERAIS, 2005).
O incremento da atividade econômica atraiu investidores estrangeiros, dos quais
destacaram-se os frigoríficos Wilson, Armour, Swift e Anglo na indústria de carnes, a
companhia ferroviária Pullman (EUA), a Ford e a General Motors (ambas dos EUA) na
indústria automobilística e a Companhia Belgo-Mineira (Bélgica e França) na
siderurgia. Todavia, de 1924 até 1929, ocorreu um processo de desaceleração na
produção industrial, em virtude da retomada do fluxo de importações em função da
taxa de câmbio favorável (FGV, 2005).
No governo de Washington Luís (1926-1930) foram realizados investimentos
para modernização da infra-estrutura de transportes, saneamento e serviços públicos,
67
favorecendo a ampliação da ação de empresas como a anglo-canadense Light &
Power e a norte-americana Bond and Share (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O ciclo de crescimento foi definitivamente interrompido pela Crise de 1929, com
a quebra da Bolsa de Nova Iorque. O preço do café teve uma queda brusca no
mercado internacional e, associado a uma produção brasileira recorde, levou inúmeros
fazendeiros à ruína. As emissões de moeda por parte do governo brasileiro
deterioraram a situação econômica e enfraqueceu a oligarquia do “café com leite”,
marcando o aparecimento da classe média no cenário político. A indicação de Júlio
Prestes, representante do “café”, pelo ex-presidente Washington Luís, quebrando o
acordo existente entre as oligarquias paulista e mineira, fez com que eclodisse a
Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas, ex-ministro da Fazenda, ao poder, à
frente do governo provisório (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O governo de Getúlio Vargas foi caracterizado pelo aumento da intervenção do
Estado na economia e, em termos políticos, pela centralização do poder e
autoritarismo, com o “tenentismo” imposto logo no início do governo provisório. De
1930 a 1934, Vargas enfrentou forte oposição do grupo paulista que havia sido
“deposto” pela Revolução de 1930. Esse grupo desencadeou a Revolução
Constitucionalista de 1932, com três meses de conflito entre forças rebeldes e forças
legalistas. A revolução teve apoio de amplos setores da sociedade paulista:
intelectuais, industriais, estudantes e outros segmentos das camadas médias, políticos
ligados à República Velha ou ao Partido Democrático. O que os movia era
principalmente a luta antiditatorial contra os “tenentes” (Conhecimentos Gerais, 2005).
A revolta paulista alertou o governo que era chegado o momento de pôr um fim ao
caráter revolucionário do regime, pois não havia mais condições de continuar
mantendo à margem do poder importantes grupos políticos regionais que
demonstravam explicitamente o seu descontentamento. Foi o que ocorreu em maio do
ano seguinte, quando finalmente foram realizadas as eleições para a Assembléia
Nacional Constituinte, que prepararia a Constituição de 1934, para desespero dos
“tenentes” de Vargas (FGV, 2005).
Neste momento, a crise econômica continuava, eclodiam greves e
manifestações contra a fome em importantes cidades, ao mesmo tempo em que
crescia a ação sindical. A instabilidade política, gerada por eventos como Intentona
Comunista de 1935, foi utilizada por Vargas como motivo para que adquirisse poderes
68
supremos ao decretar Estado de Guerra. Suas articulações políticas garantiram o
apoio de forças militares, o que culminou no Golpe de Estado de 1937, instaurando o
Estado Novo, e abriu caminho para a elaboração de uma nova Constituição
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Seguiu-se um período de populismo, repressão e censura. Em 1939 foi criado o
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura aos meios
de comunicação, pela propaganda do governo e pela produção do programa Hora do
Brasil. Vargas ampliou suas bases populares recorrendo à repressão e cooptação dos
trabalhadores urbanos: interveio nos sindicatos, sistematizou e ampliou a legislação
trabalhista. Os opositores do governo tentaram, por meio da força, desarticular a
presidência (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Neste cenário, eclodiu a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Este evento
acabou beneficiando o Brasil pois, em um primeiro momento, o preço dos produtos
agrícolas subiu, garantindo maiores divisas para os compromissos da dívida externa.
Mais uma vez, a dificuldade de realizar a importação de produtos gerou um ciclo de
crescimento industrial, amparado por emissões e pela expansão de crédito do Banco
do Brasil, além de acordos bilaterais com os EUA, como o Plano Sousa Costa, que
garantiu redução da dívida e pagamento de juros, em troca do apoio brasileiro aos
“Aliados” (FGV, 2005).
O Estado foi assumindo a produção de alguns insumos básicos e a
conseqüência dessa política foi a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (1941),
Companhia Vale do Rio Doce (1942), Companhia Nacional de Álcalis e Fábrica
Nacional de Motores (1943) e Companhia Hidrelétrica do São Francisco (1954) (FGV,
2005). Todos esses investimentos foram apoiados pelos EUA, como uma forma de
financiar a aderência do Brasil à sua doutrina (BNDES, 2002).
A partir de 1942, Vargas instaurou um processo de abertura política, que
contemplava também a validação da Constituição de 1937. O que se viu foi o
crescimento da oposição, com articulações políticas, greves e movimentos estudantis.
Os militares começavam a ganhar maior importância, como fonte de apoio dos
partidos oposicionistas. Novos partidos políticos surgiram, como a União Democrática
Nacional (UDN), maior opositor, o Partido Social Democrático (PSD), beneficiário da
máquina política do Estado Novo, e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O aumento
da pressão fez com que Vargas, em 1945, estabelecesse eleições diretas ao mesmo
69
tempo em que mantinha grande concentração de poder. Os opositores, apoiados por
militares, não esperaram até as eleições e depuseram Getúlio em outubro de 45. Em
janeiro do ano seguinte, Eurico Gaspar Dutra assumiria a presidência, iniciando a
chamada 2ª República (1946 a 1964) (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
4.2.1.2. Fase 2: 1946 a 1968 – Acelera-se a industrialização e urbanização
Logo após assumir, Dutra promulgou uma nova Constituição devolvendo a
autonomia dos Estados e municípios e restabelecendo a independência dos três
poderes. Economicamente, o governo Dutra promoveu uma queima de divisas obtidas
no período da guerra. Entre os motivos estava a liberação das importações de
produtos supérfluos: casacos de peles, ioiôs, goma de mascar, comida para cachorro
e até mesmo aparelhos de televisão, numa época em que não havia emissoras no
Brasil (FGV, 2005).
A importação descontrolada de bens de consumo assinalava a vitória do
American way of life. O fluxo de investimentos norte-americano cessou, pois o final da
Segunda Guerra Mundial os recursos de investimentos foram desviados para a
reconstrução da Europa. A Guerra da Coréia, em 1949, também limitou o fluxo de
investimentos norte-americanos na América do Sul, uma vez que a influência
comunista na região era considerada pequena, no pós-guerra (BNDES, 2002).
Ainda em 1949, o governo brasileiro elaborou um plano para incentivar o
desenvolvimento econômico (Plano Salte) e, com as restrições no fluxo de capital
estrangeiro, o Brasil teria que realizar o possível com recursos próprios. O Banco do
Brasil passou então a financiar empreendimentos industriais em setores considerados
chave (BNDES, 2002). Embora limitada, a política se mostrou positiva e nos últimos
anos do governo Dutra, o Produto Nacional Bruto apresentava bons índices de
crescimento: 6% ao ano.
O regime caminhou com relativa estabilidade política e as eleições de 1950
foram marcadas pela volta de Getúlio Vargas ao poder. Mais uma vez Vargas teve
uma plataforma populista e nacionalista, mantendo a intervenção do Governo na
economia. Em 1952, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi
criado para fomentar o desenvolvimento industrial. Outro fato de destaque foi a criação
da Petrobrás em 1953. O monopólio do petróleo e da exploração dos outros recursos
70
naturais desagradou os EUA, que cancelaram acordos de transferência de tecnologia
estabelecidos com o Brasil (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Militares e imprensa continuavam a protestar abertamente contra Getúlio Vargas
e a pressão aumentou quando um dos seus maiores críticos, Carlos Lacerda, foi alvo
de um atentado supostamente executado pelo guarda-costas de Getúlio. Encurralado
politicamente, Vargas suicidou-se em 1954. Seguiu-se uma série de governos
provisórios até que Juscelino Kubitschek assumiu a presidência em 1956, sob um
clima de grande instabilidade política, contornada habilmente pelo novo dirigente
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
A política desenvolvimentista de Vargas foi acelerada por Juscelino, que
estimulou a indústria nacional e, ao mesmo tempo, abriu o mercado brasileiro para o
capital estrangeiro sob a forma de empréstimos ou de investimentos diretos. Sua
política foi baseada no Plano de Metas, com o slogan "Cinqüenta anos em cinco", que
estimulou o crescimento e diversificação da economia. O aumento nas vendas de
bens de consumo foi de tal magnitude que deu início à era das feiras de produtos: a
Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), a Feira de Utilidades Domésticas (UD) e o
Salão do Automóvel (BNDES, 2002). Juscelino transferiu a capital do país para
Brasília, no Planalto Central, em 21 de abril de 1960 (CONHECIMENTOS GERAIS,
2005).
Já em meados da década de 1950, a indústria havia ultrapassado a agricultura
na composição do Produto Nacional Bruto. O pensamento político dividia-se na defesa
do desenvolvimento autônomo, centrado no crescimento do mercado interno conforme
queriam os nacionalistas enquanto que a oposição queria ampliar a industrialização
pela maior abertura do mercado ao capital internacional. Uma das medidas mais
importantes desse período foi a isenção de impostos às importações de máquinas,
equipamentos e a todo capital estrangeiro que aqui se estabelecesse, desde que em
associação com o capital nacional. Siderúrgicas e hidrelétricas foram construídas e em
1960 um empréstimo de US$ 47,7 milhões foi obtido junto ao FMI (FGV, 2005).
A população urbana superou a rural e a migração campo-cidade se intensificou.
O principal pólo de atração era a região centro-sul, onde se concentrava o parque
industrial do país (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005). Nessa época, as cidades da
região metropolitana de São Paulo, Santo André, São Bernardo, São Caetano,
71
Diadema, Guarulhos e Osasco, começaram a fazer parte do mapa econômico nacional
(BNDES, 2002).
Como resultados, entre 1955 e 1959 os lucros na indústria cresceram 76% e a
produtividade, 35%.10 Os salários, entretanto, subiram apenas 15%. Em 1961, das
sessenta e seis empresas com maior concentração de capital, trinta e duas eram
estrangeiras e apenas dezenove pertenciam a grupos privados nacionais. O capital
estrangeiro controlava 99,8% da indústria de tratores, 98% da indústria
automobilística, 85% do setor de cigarros, 88% das indústrias farmacêuticas, 82% do
setor de eletricidade, 70% das indústrias de máquinas e 76% das indústrias químicas.
Os índices de inflação subiram: em 1960 era de 25% ao ano, 43% ao ano em 1961,
55% ao ano em 1962 e a 81% ao ano em 1963. A dívida externa aumentou US$ 1,5
bilhão, chegando a um total de US$ 3,8 bilhões. O FMI passou a condicionar a
concessão de novos empréstimos a uma política austera de estabilidade da moeda. A
queda das exportações de produtos agrícolas, o pagamento de elevados fretes e
seguros para os produtos importados e as remessas de lucros das empresas
internacionais eram os principais fatores de desequilíbrio (CONHECIMENTOS
GERAIS, 2005).
A conclusão era de que a estrutura financeira do país, na qual predominavam os
bancos comercias de crédito a curto prazo, não estava preparada para atender às
demandas de financiamento exigidas pelo setor industrial (BNDES, 2002).
Em 1961, o legado para o sucessor Jânio Quadros, candidato da UDN, e o vice-
presidente João Goulart, herdeiro político de Vargas, era um país em processo de
acelerado de concentração de renda e inflação crescente. A reação, de forma a
cumprir os requisitos do FMI, foi a restrição de crédito e congelamento de salários,
desagradando o movimento popular e empresários. Com uma política externa de
apoio a Fidel Castro no episódio da Baía dos Porcos, o governo passou a ser
pressionado também pelo EUA, em um mundo dominado pela Guerra Fria
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Jânio renunciaria sete meses após assumir, dando lugar a João Goulart, seu
vice, o que desagradava os setores militares. A UDN e a cúpula das Forças Armadas
tentaram impedir a posse de Goulart, que estava na China, considerado perigoso por
10 Produtividade: índice calculado pela razão dos índices da produção industrial e a população ocupada na indústria de transformação (IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego).
72
sua ligação com o movimento trabalhista. Seguiram revoltas organizadas para o
cumprimento da Constituição, destacando-se Leonel Brizola no Rio Grande do Sul. A
solução foi implantar, pela primeira vez na história do Brasil, uma República
Parlamentarista, com João Goulart assumindo sem os poderes de um presidente em
1961. Um plebiscito popular em 1963 traria de volta o presidencialismo
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O governo brasileiro tentou manter uma política econômica alinhada com FMI,
de forma a garantir as taxas de crescimento e a inflação sob controle. O Plano Trienal,
uma tentativa de se realizar as reformas de base (reforma agrária, educacional e
bancária), foi logo repelido pelos opositores. Algumas medidas do governo
contribuíram para a redução da popularidade do presidente frente a empresários e
empresas multinacionais: limitação da remessa de lucros para o exterior,
nacionalização de empresas de comunicações e revisão das concessões para
exploração de minérios. Em retaliação, o governo e empresas privadas norte–
americanos cortaram créditos para o Brasil e interromperam a renegociação da dívida
externa (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
A situação insustentável de João Goulart foi definitivamente selada com o Golpe
de 1964, uma reação à sua política e às últimas medidas que buscavam a
nacionalização das refinarias privadas de petróleo e desapropriação, para fins de
reforma agrária, de propriedades às margens de ferrovias, rodovias e zonas de
irrigação dos açudes públicos. Militares utilizaram o combate ao comunismo como
uma forte razão para a tomada do poder (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O Período Militar durou de 1964 a 1985 e ficou marcado pelo autoritarismo,
supressão dos direitos constitucionais, perseguição policial e militar, prisão e tortura
dos opositores e pela imposição de censura prévia aos meios de comunicação.
Economicamente, esse período significou uma rápida diversificação e modernização
da indústria e serviços, sustentada por mecanismos de concentração de renda,
endividamento externo e abertura ao capital estrangeiro. A inflação foi
institucionalizada através de mecanismos de correção monetária e passou a ser uma
das formas de financiamento do Estado, ao mesmo tempo em que contribuía para
acentuar as desigualdades e injustiças sociais.
Os mecanismos utilizados pelos militares para legalizar ações políticas não
previstas e mesmo contrárias à Constituição eram os Atos Institucionais, sendo que o
73
mais abrangente e autoritário deles foi o AI-5, de 1968, que reforçava os poderes
ditatoriais do regime e concedia ao Executivo o direito de determinar medidas
repressivas específicas, como decretar o recesso do Congresso, das assembléias
legislativas estaduais e das câmaras municipais. O governo poderia censurar os meios
de comunicação, eliminar garantias de estabilidade do Poder Judiciário e suspender a
aplicação do habeas-corpus em caso de crimes políticos. O ato ainda cassava
mandatos, suspendia direitos políticos e cerceava direitos individuais
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O AI-5 só foi revogado em 1979, como uma continuidade do processo de
abertura, comumente associado ao mandato de Ernesto Geisel, sob a tutela do
ministro-chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva (CONHECIMENTOS GERAIS,
2005).
No plano econômico, o Período Militar buscou reduzir a inflação e estimular o
crescimento do país, amparado em uma política econômica recessiva e monetarista,
representada pelo Programa de Ação Econômica do Governo (Paeg), elaborado pelos
ministros da Fazenda, Roberto de Oliveira Campos e Octávio Gouvêa de Bulhões
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Foi um período difícil para as empresas, pois a fim de sanear a economia, o
governo impôs uma política recessiva, diminuindo o ritmo das obras públicas, cortando
subsídios, principalmente ao petróleo e aos produtos da cesta básica e dificultando o
crédito interno. Em paralelo, os setores exportadores tiveram incentivos ampliados e
as remessas de lucro para o exterior foram garantidas por lei (CONHECIMENTOS
GERAIS, 2005). Foram adotadas medidas de contenção de crédito, os salários foram
congelados e a emissão de moeda foi limitada.
Entre 1964 e 1968, o ajuste permitiu a retomada de crescimento, amparado pela
exportação de produtos agrícolas e da pecuária, indústrias da construção civil e de
bens de consumo duráveis voltados para classes de alta renda, como automóveis e
eletrodomésticos. Os bens de consumo não-duráveis, como calçados, vestuário,
têxteis e produtos alimentícios destinados à população de baixa renda tiveram
crescimento reduzido ou até negativo (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
74
4.2.1.3. Fase 3: 1969 a 1973 – O “Milagre” brasileiro
Entre 1969 e 1973 o Brasil viveu o período do “Milagre Brasileiro”, quando o
Produto Nacional Bruto cresceu a taxas de 10% ao ano, com a aposta na aplicação
dos recursos de exportação para importar máquinas, equipamentos e matérias-primas.
O mundo viveu um ciclo de crescimento, o que beneficiou a economia brasileira, sob
um modelo de exportação com subsídios por parte do governo. O crescimento da
indústria de bens de consumo foi estimulada pela expansão do crédito ao consumidor
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Por trás dos números de crescimento, existiam problemas. O desempenho
industrial baseava-se na existência de uma enorme capacidade ociosa. Em 1967, a
capacidade produtiva ocupada era apenas 75% do que fora em 1961. A propaganda
militar e os índices econômicos positivos passavam a impressão de grande evolução
(BNDES, 2002).
A partir de 1970, o governo brasileiro criou os Planos Nacionais de
Desenvolvimento, com o intuito de estabelecer as diretrizes sob as quais o
crescimento seria mantido. O I Plano Nacional de Desenvolvimento, cujas iniciativas
deveriam ser implementadas de 1972 a 1974, previa um crescimento do PIB em torno
de 8% a 9% ao ano, uma inflação anual abaixo dos 20% e um aumento das reservas
cambiais em pelo menos US$ 100 milhões, com foco no desenvolvimento do setor
automobilístico, siderurgia e setor petroquímico. Estruturalmente, houve investimento
no setor energético (Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo) e estradas nacionais
(BNDES, 2002).
A Crise do Petróleo, em 1973, não impediu que o Brasil, um dos maiores
importadores de petróleo na época, continuasse os investimentos, que duraram
enquanto as reservas cambiais resistiram. Seguindo os planos do II PND, o governo
decidiu intensificar o programa de substituição de Importações. O programa de energia
alternativa, com o consumo do álcool combustível seria criado apenas em 1979
(BNDES, 2002).
4.2.1.4. Fase 4: 1974 a 1985 – Da Crise do Petróleo à redemocratização
A política econômica “expansionista” gerou efeitos colaterais, como o
crescimento da miséria, a concentração de renda e explosão da inflação. No final da
75
década de 1970 a inflação chegou a 94,7% ao ano. Em 1980, 110% ao ano e, em
1983, 200%. Nesse ano, a dívida externa ultrapassou os US$ 90 bilhões e 90% da
receita das exportações era utilizada para o pagamento dos juros da dívida. O Brasil
mergulhou em nova recessão e sua principal conseqüência foi o desemprego. Em
agosto de 1981 havia 900 mil desempregados nas regiões metropolitanas do país e a
situação se agravaria nos anos seguintes (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005). O
Gráfico 4.3 indica o valor do salário mínimo em reais constantes, de 1960 a 1980 e
demonstra uma perda de cerca de 40% no valor real no período:
Salário Mínimo (1960 a 1980)
0
100
200
300
400
500
600
1960 1
2
1961 1
2
1962 1
2
1963 1
2
1964 1
2
1965 1
2
1966 1
2
1967 1
2
1968 1
2
1969 1
2
1970 1
2
1971 1
2
1972 1
2
1973 1
2
1974 1
2
1975 1
2
1976 1
2
1977 1
2
1978 1
2
1979 1
2
1980 1
2
Ano / Mês
Val
or e
m R
$ C
orrig
idos
Gráfico 4.3 – Salário mínimo brasileiro em R$ corrigidos, 1960 a 1980
(Fonte: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2005) 11
Em 1982, a fim de apoiar programas de alimentação, habitação popular, saúde,
educação e amparo ao pequeno agricultor, o governo Figueiredo criou o Fundo de
Investimento Social (Finsocial) e passou a cobrar mais impostos sobre a renda, de
forma a minimizar as carências sociais do país. Ainda em 1982, a moratória mexicana
gerou desconfiança em relação aos países em desenvolvimento, o que agravou as
dificuldades brasileiras com credores e investidores estrangeiros. Em 1983, o PIB
decresceu 5%, o pior desempenho desde que se criara a contabilidade da renda
nacional, e a renda per capita declinou 7,3% (BNDES, 2002).
11 Série em reais (R$) constantes do último mês, elaborada pelo IPEA, deflacionando-se o salário mínimo nominal pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, a partir de mar. 1979. Para períodos anteriores, o deflator utilizado foi o Índice do Custo de Vida (ICV-RJ) da FGV.
76
A passagem de poder do último presidente militar, João Batista Figueiredo, para
o primeiro presidente civil após dezoito anos de ditadura não poderia ser mais
conturbada. Eleito indiretamente, Tancredo Neves faleceu sem ao menos assumir o
cargo, fazendo com que José Sarney, então Vice-Presidente, fosse empossado como
Presidente do Brasil. Apesar do crescimento realizado na década anterior, Sarney teria
que lidar com heranças indesejadas: um Estado centralizado e demasiadamente
grande; inflação crescente e sem controle; um país com crescimento negativo; setores
oligopolizados e protegidos por barreiras alfandegárias; e crescimento de uma
população maior do que a capacidade de o país gerar empregos (CONHECIMENTOS
GERAIS, 2005).
4.2.1.5. Fase 5: 1986 a 1993 – Moratória, instabilidade e atraso
O primeiro plano de estabilização foi implementado em março de 1986, chamado
de Plano Cruzado. Em 1985, embora o crescimento do Produto Interno Bruto tenha
chegado a 6% e o consumo aumentado, a inflação chegara a 255,16%. O plano previa
a criação de uma nova moeda, o Cruzado, cortando três zeros nos preços, e definiu
congelamento de preços e salários, pelo valor médio dos últimos seis meses acrescido
de um abono de 8%. Estabeleceu também o instrumento conhecido pelo “Gatilho
Salarial”, um reajuste automático nos salários toda a vez que a inflação ultrapassasse
os 20%. Para avaliar melhor os efeitos da inflação, o Plano instituiu o Índice de Preços
do Consumidor, para corrigir a poupança e aplicações financeiras superiores a um
ano. Era o fim da correção monetária (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
A sociedade teve quatro meses de euforia, com ganho real do poder de compra
e atuação na fiscalização de preços (os “Fiscais do Sarney”). Após este período,
diante da incapacidade de a indústria atender à demanda e a cobrança de ágio por
parte de fornecedores e varejistas, os produtos começaram a desaparecer dos
estabelecimentos comerciais e a inflação voltou a subir (RUIZ, 2003).
Essas conseqüências forçaram o governo a lançar em novembro de 1986 o
Plano Cruzado 2, que descongelou os preços de produtos e serviços, liberou os
preços dos aluguéis para serem negociados entre proprietários e inquilinos e alterou o
cálculo da inflação, que passou a ser medida com base nos gastos das famílias com
renda de até cinco salários mínimos. O efeito na economia foi crítico: inflação cresceu
como nunca e a população perdeu a confiança no governo. As exportações caíram
77
enquanto as importações aumentavam, esgotando as reservas cambiais
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005). A medida mais dura veio em 20 de janeiro de
1987, quando o Brasil decretou moratória, suspendendo o pagamento da dívida
externa. Assim, o custo do financiamento no Brasil aumentou, e impôs-se um prêmio
de risco nos juros externos e domésticos. As conseqüências dessa decisão
repercutem até hoje na economia brasileira (BNDES, 2002). Coube ao novo ministro,
Luís Carlos Bresser Pereira, tentar reorganizar a economia.
Em junho de 1987, o Plano Bresser tentou conter a explosão inflacionária, com o
congelamento de preços, aluguéis e salários por três meses. Mas o governo gastava
mais do que arrecadava e o déficit público passou a ser um adversário de peso na luta
contra a inflação. A contenção do déficit foi tentada através da eliminação do subsídio
ao trigo e adiamento de grandes obras públicas já planejadas, como a ferrovia Norte-
sul, o pólo petroquímico do Rio de Janeiro e o trem-bala entre São Paulo e Rio de
Janeiro. Ao mesmo tempo, o governo retomou as negociações com o FMI. Os
resultados foram fracos, e a inflação atingiu 366% no final de 1987. Maílson da
Nóbrega seria o próximo ministro da fazenda a tentar estabilizar a economia
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Sem medidas drásticas durante o ano de 1988, Maílson implantou uma política
de “convivência com a inflação”. Mas em janeiro de 1989, foi lançado o Plano Verão,
que cortava mais três zeros e estabelecia uma nova moeda, o Cruzado Novo. O plano
era ambicioso e atacava gastos do governo: previa a privatização de diversas estatais
e anunciava vários cortes nos gastos públicos, como a exoneração dos funcionários
contratados sem concurso nos últimos cinco anos. Sem apoio, os cortes não foram
feitos pelo governo e a inflação atingiu níveis históricos: de fevereiro de 1989 a
fevereiro de 1990, chegou a 2.751% (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
As eleições diretas de 1989, colocaram no poder o mais jovem Presidente da
República, Fernando Collor de Melo, eleito pelo desconhecido Partido da
Reconstrução Nacional. O Governo Collor ficaria conhecido pela abertura do mercado,
implantação do projeto de privatização, grande recessão e denúncias de corrupção
que acabariam determinando o seu processo de impeachment. Logo após sua posse,
Collor anunciou o Plano Brasil Novo, ou Plano Collor I, que reintroduziu o Cruzeiro
como moeda e, em uma medida surpreendente, bloqueou por dezoito meses os
saldos das contas correntes, cadernetas de poupança e demais investimentos
78
superiores a Cr$ 50.000,00, que seriam liberados primeiramente para grandes grupos
empresariais. Para controlar a inflação, além de coibir o consumo, definiu tabelamento
e liberação gradual dos preços (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O Plano Collor I estabeleceu aumento de impostos e tarifas, criou novos tributos
e suspendeu incentivos fiscais não garantidos pela Constituição. Anunciou corte nos
gastos públicos e redução da máquina do Estado pela demissão de funcionários e
privatização de empresas estatais. O plano também previa a abertura do mercado
interno, com a redução gradativa das alíquotas de importação (CONHECIMENTOS
GERAIS, 2005).
O efeito foi traumático: o nível de produção caiu e, em abril de 1990, já era 26%
inferior ao de abril de 1989. As empresas reduziam a jornada de trabalho e os salários
ou simplesmente demitiam funcionários. Em São Paulo ocorreram mais de 170 mil
demissões nos primeiros seis meses de 1990, número recorde desde a crise do início
da década de 1980. O Produto Interno Bruto caiu de US$ 453 bilhões em 1989 para
US$ 433 bilhões em 1990 (CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
A inflação voltou a subir já em meados de 1990. Em janeiro de 1991, um novo
pacote: o Plano Collor II. Este plano teve como iniciativa conter os ganhos do mercado
financeiro de curto prazo (overnight), aumentou o Imposto sobre Operações
Financeiras e manteve uma política de altas taxas de juros. Foi iniciada a redução das
alíquotas de importação, para incentivar a concorrência no setor industrial
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
O ano de 1991 indicou uma tendência de queda da inflação e já em 1992 alguns
efeitos positivos foram percebidos. As empresas nacionais, obrigadas a competir com
produtos importados de melhor qualidade, investiram em automação e melhores
técnicas de gestão. Infelizmente, ocorreu uma redução na estrutura das empresas, em
todos os níveis, gerando desemprego e aumento do comércio informal. A inflação não
estacionou e o ano de 1992 registrou um índice acumulado de cerca de 1.100%
(CONHECIMENTOS GERAIS, 2005).
Collor não completaria o terceiro ano de mandato. Repleto de denúncias de
corrupção, o então Presidente renunciaria no final de 1992, levando seu vice, Itamar
Franco, ao gabinete presidencial em dezembro daquele ano. A economia mostrou
sinais de recuperação e em 1993 o Produto Interno Bruto cresceu 4,1%. O melhor
79
setor foi o bancário, com incremento de 9,5%, graças aos efeitos da inflação. Em maio
de 1993 Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda e elaborou um
plano de estabilização da economia, anunciado em dezembro de 1993, que ficaria
conhecido como Plano Real. O foco do plano era a contenção do déficit público, até
mesmo gastos em serviços essenciais, como educação e saúde (RUIZ, 2003).
4.2.1.6. Fase 6: 1994 a 2004 – Uma nova realidade
O plano consistia na criação de uma unidade monetária chamada Unidade Real
de Valor (URV), onde todos os produtos ficariam desvinculados da moeda vigente, o
Cruzeiro Real. Uma URV valeria o mesmo que um dólar americano. O sucesso do
plano, já no final de 1993, abriu caminho para implantação de uma nova moeda, o
Real, em 1994. A nova moeda, graças a uma política cambial rígida, ficou mais forte
do que o dólar americano. As importações de matérias-primas e máquinas ficaram
mais fáceis e tinham seus custos reduzidos. Os produtos importados chegavam para o
Brasil com os preços abaixo dos produtos similares nacional. A inflação chegou ao
nível mais baixo em toda a sua história, fortalecendo o consumo da população e
favorecendo o reaquecimento da abalada economia (RUIZ, 2003).
Seguiu então o processo de privatização de parte da estrutura estatal, com
destaque para o setor de telecomunicações. A economia baseava-se em uma política
de contenção de gastos públicos e manutenção de elevadas taxas de juros, tornando
o mercado atraente aos investimentos estrangeiros, embora tornasse o custo de
capital mais alto para as empresas brasileiras. As crises do México (1994), Argentina
(1995), Tigres Asiáticos (1997) e Rússia (1999), abalaram a confiança dos investidores
estrangeiros e exigiram a utilização de grande parte das reservas nacionais. Em 1999,
após quase quatro anos de paridade próxima ao dólar, o governo brasileiro adotou o
câmbio flutuante, que possibilitou a retomada das exportações, em virtude da cotação
favorável.
A transição do governo Fernando Henrique Cardoso para o de Luis Inácio Lula
da Silva, em 2002, foi tida como uma das mais transparentes na história da
democracia mundial e contribuiu para que, salvo alguns anos como 2003, o Brasil
tivesse um crescimento lento, porém sem grandes sobressaltos.
80
4.2.2. Atraso tecnológico
A primeira loja de auto-serviço brasileira foi registrada em 1953
(SUPERMERCADO MODERNO, 2003), sendo que o setor se desenvolveu
rapidamente com a urbanização brasileira. Em 1965 esses estabelecimentos eram
825. Em 1980, o número girava em torno de 14.000 (MONTES, 1976) e chegou a
71.000 estabelecimentos em 2003, geradores de 740 mil empregos diretos
(ABRASNET, 2005).
A utilização de técnicas modernas de gestão da operação e controle de
mercadorias só foi implementada nas cadeias varejistas nacionais em meados da
década de 1990. Nos países onde a atividade comercial era mais desenvolvida, como
nos EUA e na Europa, essa revolução começou na década de 1970, o que mostra o
grande atraso com o qual o varejo nacional conviveu, com técnicas antiquadas e
métodos de controle manuais.
Na década de 1970, estavam sendo levadas as primeiras discussões sobre a
automação do setor de supermercados no Brasil. Enquanto nos EUA, nessa época, o
check-out com leitura eletrônica já era utilizado, no Brasil essa inovação era vista com
ressalvas. Donos de supermercados acreditavam que os custos para implantação
exigiriam uma “clientela de primeiríssima classe”. De fato, nos EUA a automação veio
substituir uma mão-de-obra mais cara que a brasileira. No Brasil, além de o setor
pagar baixos salários, os equipamentos deveriam ser importados, o que tornaria o
investimento muito grande.
A mentalidade dos empresários não parecia muito direcionada para mudar esse
quadro. No final da década de 1980 muitos processos de atendimento englobavam
produtos não empacotados que necessitavam de um empregado para fazê-lo. Na
opinião dos donos de supermercado, automação realmente custaria caro e seria
possível apenas para lojas e butiques localizadas em zonas de alto poder aquisitivo,
como a zona sul do Rio de Janeiro ou bairros nobres de São Paulo. As pequenas
margens praticadas, principalmente no setor de supermercados, davam pouca
margem para os investimentos em tecnologia.
Já nessa época, as multinacionais começavam a entrar no mercado nacional
mas, segundo os varejistas, se as condições de mercado se mantivessem iguais, as
empresas estrangeiras não iriam exercer qualquer influência sobre o ramo, embora
81
admitissem a maior disponibilidade de capital por parte delas. A opinião geral era:
quando se trata da venda em supermercado, os brasileiros não precisavam de mais
nada em termos de know-how (MONTES, 1976).
Esse cenário começou a ser alterado em meados da década de 1980, quando a
explosão inflacionária obrigou as empresas a terem uma gestão de estoques mais
eficiente, de forma a não incorrer em altos custos de financiamento. Em 1986, postos
de gasolina, lojas de departamentos, supermercados e revendedores de automóveis
implantaram os primeiros projetos para utilizar o pagamento eletrônico e automatizar a
administração das informações financeiras. Cerca de dois mil estabelecimentos já
utilizavam a transferência eletrônica de fundos, em 1985. As companhias pioneiras
foram Mappin, Mesbla, Casas Pernambucanas e J.H. Santos.
Nessa época, graças à reserva de mercado, a importação de equipamentos se
tornava muito onerosa, embora fabricantes como a Telemática, Diginet e Tecnodata já
se colocassem como fornecedoras de equipamentos de leitura de códigos de barras.
Os comerciantes não poderiam repassar os custos da automação para as suas
mercadorias, sob pena de perder clientes.
Um ponto decisivo para o processo de automação citado anteriormente ocorreu
em 1984 quando o Brasil adotou um Sistema de Codificação Nacional de Produtos,
adotando o padrão europeu EAN. Para se ter uma idéia do atraso brasileiro, em 1983,
95% dos produtos nos EUA e Canadá já se encontravam codificados. Na Alemanha,
Inglaterra e Holanda, os índices eram de 89%, 80% e 88% respectivamente
(ALMEIDA, 1985).
Como já citado anteriormente, a escalada inflacionária, a partir de 1986, fez com
que os estabelecimentos comerciais buscassem formas para reduzir seus custos. As
primeiras implantações da automação comercial proporcionaram reduções
significativas no investimento em estoques. Ainda assim, o custo com equipamentos e
software assustava os pequenos e médios varejistas. Além disso, a Secretaria
Especial de Informática barrava, de todas as formas possíveis, a importação de
tecnologia de scanners internacional. Os membros dessa secretaria informavam que
os equipamentos não eram tão sofisticados que não pudessem ser feitos no Brasil e
que o principal benefício, na opinião da SEI, seria a redução do tempo em fila, o que
não justificaria a abertura, sem falar no risco da perda de empregos (MAGALHÃES,
1986).
82
A falta de senso de urgência fez com que os principais fornecedores nacionais
demorassem a oferecer um produto confiável e de qualidade. Outro problema era a
falta de demanda para os produtos: sem escala, o custo era alto; o alto custo
inviabilizava a proliferação da tecnologia nos estabelecimentos comerciais (AQUINO,
1987).
Tudo começou a mudar com a abertura econômica de 1990 e a posterior
estabilização da economia em 1994. Em 1990, as alíquotas de importações
diminuíram e possibilitaram a compra de sistemas de automação a um custo mais
acessível do que o do produto nacional, uma vez que a tecnologia já se encontrava
muito mais difundida no mercado internacional. Além disso, a chegada de grupos
varejistas multinacionais como a Wal-Mart, JC Penney e o Grupo Casino, acirrou a
concorrência que até então era restrita a empresas nacionais, mas de caráter muito
mais regional. Os novos concorrentes viam grandes oportunidades no mercado
brasileiro, um verdadeiro “santuário do atraso”.
Como uma alternativa para vultosos investimentos, algumas redes varejistas
abriram seu capital, como o Pão e Açúcar em 1995, ou foram ao mercado de capitais
buscar financiamento para modernizarem, de forma mais rápida, seus pontos de
venda (VASSALLO, 1995). A redução dos custos dos equipamentos, permitiu que as
grandes cadeias nacionais automatizassem suas operações, melhorando seus
controles, possibilitando uma melhor gestão do seu negócio. Seguiram grandes
implementações como o investimento da Lojas Americanas em um sistema de
comunicação por satélite, avaliado em US$ 35 milhões, em 1995.
Sendo assim, a partir do ano 2000, as grandes empresas, em sua maioria,
passaram a ter sistemas integrados de gestão e promoveram, em certos casos,
projetos-piloto com novas tecnologias. Em 2004, por exemplo, o Grupo Pão de Açúcar
testou em suas operações um sistema com etiquetas RFID, que promete revolucionar
a gestão de informações na cadeia de suprimentos. Além do Pão de Açúcar, apenas a
Wal-Mart (EUA), a Tesco (Inglaterra) e a Metro (Alemanha) realizaram testes com a
etiqueta inteligente (SUPERMERCADO MODERNO, 2004).
4.2.3. Crédito ao consumidor
O Crédito Direto ao Consumidor (CDC) é uma cessão de crédito financeiro ao
consumidor, sendo normalmente utilizado para a aquisição de veículos,
83
eletroeletrônicos, eletrodomésticos e móveis. Este financiamento é concedido por
financeiras e bancos com carteira de crédito, financiamento e investimento e, em
algumas ocasiões, pelas empresas de varejo (DADALTO, 2001). A Associação
Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI) indica
que em 2005 existiam cinqüenta e seis financeiras independentes que operavam
exclusivamente com CDC.
A primeira instituição de crédito brasileira foi a Sociedade de Crédito e
Investimento (SCI), registrada em 1940. O fortalecimento dessas instituições veio com
o Plano de Metas, na década de 1950, pois a estrutura de financiamento existente
estava voltada para vultosos investimentos de fins produtivos ou comerciais. O SCI
passou a oferecer crédito ao varejo, para estimular o consumo de bens duráveis. Com
o passar do tempo, as financeiras passaram a realizar essas operações, mas as
empresas de varejo, sempre que possível, realizavam a cessão de crédito diretamente
ao cliente, para não incorrerem nos custos e riscos de concederem o financiamento. A
regulação oficial para o setor veio somente em 1966, com a resolução número 45 do
Banco Central (LEITE, 1979).
Na época do milagre econômico, durante a década de 1970, a inflação e as
medidas monetárias, como a criação da correção monetária, fizeram com que as
instituições financeiras tivessem um grande desenvolvimento. Os recursos do sistema
financeiro foram direcionados para o financiamento de bens de consumo duráveis,
mesmo os de baixo valor como pequenos eletrodomésticos, o que propiciou aos
consumidores com menor poder aquisitivo acesso a esses bens (LEITE, 1979).
Já no final da década de 1970, numa tentativa de conter a escalada inflacionária,
o governo adotou medidas que restringiam o crédito e, conseqüentemente, o consumo
de bens e serviços. Esse direcionamento, associado a um cenário de instabilidade
econômica, com altas taxas de juros, diminuiu a demanda pelo CDC, uma vez que os
consumidores não estavam dispostos a aceitar menores prazos de pagamentos e as
financeiras obtinham melhores resultados nas operações de floating e mercado
interbancário.
Em 1982, com o país em uma profunda recessão, o governo tentou estimular o
consumo ampliando o prazo de financiamento de doze para vinte quatro meses. Três
anos mais tarde, em 1985, esse prazo voltaria a ser de doze meses pois a inflação,
embora estivesse sob controle, estava em um patamar alto e voltava a ameaçar a
84
estabilidade econômica. O Plano Cruzado, em 1986, proporcionou um aumento real
da renda da população, que pressionou a demanda por serviços de crédito, uma vez
que a inflação e as taxas de juros encontravam-se baixas. A inflação não tardaria a
voltar, fazendo com que o governo novamente restringisse o crédito ao consumidor.
De 1987 a 1994, a taxa de inflação gerava ganhos às instituições bancárias que
o mercado de crédito ao consumidor não conseguia oferecer. A estabilidade
econômica fez com que os ganhos de repasse de recursos não fossem mais
possíveis. O Plano Real, em conjunto com a redução das taxas de juros e o aumento
do prazo de financiamento para quarenta e oito meses, fez com que as atividades de
CDC voltassem a representar um papel importante no comércio nacional.
O CDC se tornou uma das modalidades mais procuradas pelos consumidores,
ainda que o Banco Central tentasse coibir o consumo exagerado, com o recolhimento
compulsório sobre os depósitos bancários, redução dos prazos e a posterior proibição
de os bancos fazerem operações de crédito com empresas de factoring e
financiamento do capital de giro das administradoras de cartões de crédito. Eventos
como a explosão da inadimplência, em 1997, as crises cambiais e dos países em
desenvolvimento, entre 1995 e 1998 geraram uma dinâmica de aumento das
operações de crédito pessoal, como uma alternativa ao CDC.
As firmas varejistas se relacionam com as instituições de crédito por meio de um
contrato. Esse contrato define as condições de financiamento das compras realizadas
pelos clientes nas lojas de referida rede varejista e, em muitas vezes, determina a
instalação de um ponto de venda da financeira na própria loja. Não há restrições para
o número de financiadoras que podem ser instaladas em um mesmo estabelecimento
de venda. Na verdade, essa tendência é muitas vezes estimulada, pois estabelece a
concorrência pela comissão cobrada sobre o valor do bem financiado.
Há casos em que a própria empresa de varejo passa a oferecer os serviços de
financiamento. Neste caso, a estrutura de atendimento ao cliente em busca de crédito
é montada na própria loja. Essa operação fica responsável pela análise de crédito e
geração dos carnês de pagamento, que normalmente devem ser pagos na loja onde
foi emitido. Dessa forma, os varejistas tentam fazer que o cliente adquira outros bens
toda vez que for pagar uma prestação de seu empréstimo.
85
É interessante perceber que os estabelecimentos comerciais reagiram às
restrições impostas ao sistema de crédito ao consumidor criando redes de cartão de
crédito próprias. A maior vantagem dos cartões de crédito frente outros tipos de
financiamentos é não haver um limite estabelecido para expansão do crédito,
bastando apenas que o cliente comprove a possibilidade de pagamento. O cartão de
crédito chegou ao Brasil em 1957, com o Diners Club, e o primeiro cartão nacional foi
o da rede de roupas masculinas Tavares, que permitia o uso apenas nas lojas da
cadeia (THOMÉ, 1983).
Normalmente os cartões de crédito pertencem a bancos ou firmas
especializadas, associadas a instituições financeiras, que conseguem, mesmo com
elevados custos operacionais, obter bons resultados financeiros. A instituição que
financia a operação de cartões precisa de uma boa gestão financeira de forma a
possuir os recursos necessários para “emprestar” aos milhares de clientes. Muitas
empresas de cartão de crédito faliram na década de 1980 por não terem seguido essa
regra.
86
4.3. A história do Grupo Mesbla
4.3.1. Da fundação até a década de 1940 – Nascimento e crescimento da
empresa
A origem do grupo Mesbla remonta ao ano de 1912 quando foi fundada uma filial
da empresa Etablissements Mestre et Blatgé com sede na rua da Assembléia, no Rio
de Janeiro, a exemplo do que fizera em Buenos Aires, na Argentina. Essa primeira loja
foi instalada em um sobrado de duas portas e inicialmente a empresa se dedicou à
venda de faróis de acetileno e outras peças importadas para automóveis, com apenas
seis funcionários. A Mestre et Blatgé chegou ao Brasil no mesmo momento em que
chegavam os primeiros automóveis, disposta a conquistar o nascente mercado de
acessórios. Em 1913 a empresa já realizava importantes negócios, como
representações comerciais de fabricantes de equipamentos pesados.
A gestão desta filial passou por uma mudança com a chegada de um jovem
gerente francês chamado Louis La Saigne em 1916, que foi enviado ao Rio de Janeiro
pela matriz francesa de modo a verificar a condição financeira da pequena filial, com
autorização para fechá-la se achasse que a continuidade não valeria a pena.
Entretanto, em aqui chegando, entusiasmou-se e decidiu ampliar o empreendimento.
La Saigne demonstrou sua força no comando no negócio quando os seis funcionários
quiseram impor-lhe um aumento geral sob ameaça de greve. Após tentar inutilmente
convencê-los de que a melhor forma de pagar-lhes um aumento era conhecer
primeiramente o trabalho que cada um realizava, o gestor francês demitiu a todos,
com exceção de um assistente de caixa. Em seguida, criou nove seções e contratou
mais empregados para atender um número cada vez maior de consumidores.
Em cerca de dois anos, La Saigne realizou transformações na empresa,
proporcionando novos negócios que sustentariam um primeiro crescimento do
empreendimento. A Etablissements Mestre et Blatgé passou a representar os carros
franceses Léon Bollé e Brasier, e mais tarde incluiu em suas prateleiras peças para
bicicletas e ferramentas em geral.
Durante a Primeira Guerra Mundial, a empresa sofreu com a dificuldade de
importação de carros e passaria a se dedicar, nos anos subseqüentes, às atividades
de venda por atacado de máquinas, ferramentas, material elétrico e de pintura, peças
87
e acessórios de carros, além de artigos de cine-foto. Em 1917 incorporou a venda dos
carros Chandler e Chevrolet, passando a comercializar também os carros Cadillac e
Buick no ano seguinte.
Em 1919, Silvano dos Santos Cardoso ingressou na empresa como vendedor.
Silvano, que seria o segundo presidente da empresa, tornou-se homem de confiança
de Louis La Saigne na gestão do negócio, após passar pela chefia de mecânica e
gerência de armazém da matriz do Rio de Janeiro, tendo assumido a Diretoria
Comercial em 1931.
O crescimento da filial exigiu que a empresa procurasse um novo prédio na
cidade do Rio de Janeiro. O ponto escolhido foi um edifício na Rua do Passeio, na
época considerado um local impróprio por estar ao lado da boemia da Lapa, porém
com grandes perspectivas de movimento. La Saigne acreditava que o Rio de Janeiro
se expandiria rumo à zona sul, o que efetivamente ocorreu. Com o lema “bem servir a
freguesia e manter sempre em dia os seus variados estoques”, a Mestre et Blatgé
prosperou de forma acelerada. Dentro desse conceito, a empresa comercializou os
primeiros aparelhos de rádio em 1922 e geladeiras elétricas três anos mais tarde.
A companhia passou a ser organizada em seções e neste período foi elaborado
o primeiro catálogo da empresa, denominado “F”, de especialidades para carros Ford.
Em paralelo, foram iniciadas vendas através de visitas, principalmente para a região
Sul do Brasil.
Em 1923, a empresa possuía cerca de cem empregados nas diversas seções e
contava com representantes de vendas por todo o país. O ano seguinte foi marcado
pela nacionalização da empresa com a razão social “Sociedade Anônima Brasileira
Estabelecimentos Mestre & Blatgé”. Neste ano de 1924, aproveitando-se de uma
grande baixa no franco, La Saigne antecipou o pagamento de todas as
responsabilidades assumidas pela sociedade brasileira em favor da antiga matriz,
passando a ter o controle do empreendimento. Na época o patrimônio consistia de
quatro prédios localizados na Rua do Passeio, na Rua das Marrecas e na Rua
Senador Vergueiro, onde se encontravam duas oficinas.
A Mestre et Blatgé passou a intensificar a campanha em prol da construção de
estradas em 1926, através de uma publicação própria sobre assuntos automobilísticos
chamada “Mesbla Notícias”. Apoiada na disposição de o governo de Washington Luiz
88
construir uma malha rodoviária para ligar as cidades centro-sul, foi aberta uma filial em
Porto Alegre. Neste momento, circulavam setenta mil automóveis no Brasil, o que
representava a 13ª frota do mundo. A Ford chegara ao Brasil em 1919 e a General
Motors abriu sua fábrica no bairro de Ipiranga em São Paulo no ano de 1925
(HISTÓRIA..., 2004). A Mesbla contava com 275 empregados, uma oficina mecânica
na Avenida Oswaldo Cruz, seis vendedores viajantes que percorriam o Brasil, além de
sua primeira loja de vendas instalada em Porto Alegre. Em 1929 seria aberta uma filial
em São Paulo.
Em 1933 um incêndio praticamente destruiu o prédio da Rua do Passeio e boa
parte dos estoques, em uma quarta-feira de cinzas. Este evento proporcionou o
ingresso da empresa nos ramos de ferragens, armas, munições e cutelaria, uma vez
que Louis e seus colaboradores contornaram a situação adquirindo o estoque da filial
carioca das Casas Reunidas Armbrust Laport, operando na Rua da Alfândega de
forma provisória – “com tabuleiros armados na rua e em bancos do passeio público” –
continuando a divulgação dos novos produtos que estavam sendo comercializados.
Neste momento, a revenda de automóveis era o seu negócio principal. Neste mesmo
ano, foi aberta a primeira filial em Belo Horizonte e, no ano seguinte, seria inaugurada
a filial de Niterói.
Henrique de Botton, um português que havia chegado ao Brasil em 1929, vindo
da Grécia, e que trabalhava para uma empresa concorrente, a Cirb S/A, ingressou na
Mestre et Blatgé em 1935. Henrique acabaria se casando com Jacqueline La Saigne,
filha de Louis La Saigne e única herdeira do gestor francês.
A nova sede da empresa, um prédio de quinze andares construído no local onde
ocorrera o incêndio de 1933, ficou pronta em 1936. Em 1938, a empresa estava
presente em quatro estados com filiais, escritórios de vendas, representações de
artigos exclusivos e 680 empregados, vinte e sete deles viajantes especializados
percorrendo o país.
Em 1939, no dia 10 de abril, as casas Mestre et Blatgé transformaram-se
formalmente na Mesbla S/A e neste mesmo ano agregou uma nova atividade: a
representação dos famosos aviões McDonnell Douglas. Em 1940 a empresa importou
os primeiros seis aviões adquiridos pelo exército brasileiro. Neste mesmo ano,
Henrique de Botton foi eleito diretor-secretário da empresa.
89
A empresa passou a se dedicar também à comercialização de itens militares,
tendo organizado e instalado a fábrica de pára-quedas Switlik do Brasil S/A. Segundo
o livro de comemoração de 50 anos da Mesbla, este pára-quedas era “o tipo mais
moderno e perfeito até então já produzido” (ROMERO, 1994).
Ao final da década de 1930, a Mesbla tinha filiais em São Paulo, Belo Horizonte,
Niterói e Porto Alegre. A principal forma de venda era através de catálogos, que
comercializavam automóveis (além de peças e acessórios), aviões e embarcações
(BETHLEM, 1994).
O restante da década de 1940 foi marcado por dificuldades de reabastecimento
ao setor de comércio em virtude da 2ª Guerra Mundial. Mas ainda assim a companhia
empreendeu, entre 1942 e 1943, a abertura de mais duas filiais (Pelotas e Recife),
elevando o número de funcionários a 1.243. Na segunda metade da década ocorreu a
entrada da empresa no setor bancário.
Engajada junto ao governo na campanha pela mecanização da agricultura,
através de folhetos e prospectos que informavam sobre as novidades no setor, a
empresa atingiu um patamar de vendas recorde: Cr$ 238 milhões em 1945, 20%
acima do esperado. O fluxo de recursos originou então a criação da atividade
bancária, que foi dividida em quatro seções: depósitos, cobranças, cauções e
descontos. As operações de crédito aos clientes seriam realizadas com recursos do
Banco Mesbla.
A relação entre a Mesbla e representantes do governo se dava também através
do seu Restaurante Mesbla, no prédio da Sede no Passeio Público. Considerado um
restaurante de classe internacional, o empreendimento tinha como público cativo
membros do governo brasileiro.
Neste momento, a empresa passava a ter uma certa variedade de negócios e a
diretoria julgou conveniente a criação de um Conselho Consultivo para estudo e
orientação dos problemas comerciais que considerasse mais relevantes. Henrique de
Botton passou a fazer parte da Diretoria Comercial em 1946.
A constituição definitiva do Conselho Consultivo foi realizada em 1948, sendo
formado por Guilherme Guinle (Presidente), José Carlos de Macedo (Vice-Presidente),
Rodrigo Otávio Filho (Secretário) e Ernesto Fontes, Jules Verlest, Raymundo de
90
Castro e Paul Van Zeeland (Conselheiros). O ano marcou o início das vendas de
televisores e distribuição dos produtos da Companhia Siderúrgica Nacional, Belgo
Mineira e Cimento Mauá.
Ao final da década de 1940, os principais executivos da firma eram Louis La
Saigne (Presidente), Silvano dos Santos Cardoso (Diretor Comercial), Arthur Santos
(Diretor Secretário) e Alberto Sabbá (Diretor Tesoureiro). Embora a presidência tivesse
bastante influência sobre a filial do Rio de Janeiro, o crescimento dos negócios e a
abertura de novos escritórios em outros Estados fizeram com que La Saigne desse
uma relativa autonomia de operação às diretorias regionais, órgãos responsáveis pela
operação fora do Rio. Francisco Bordalo, que ingressara na empresa em 1947 e foi
executivo da Mesbla entre os anos 1980 e 1983, afirmou:
As comunicações eram difíceis na época, os meios de transporte
ainda estavam em vias de desenvolvimento e por isso o acesso às
cidades do interior era dificultoso. Assim sendo, cada filial teria que
cuidar dos escritórios abertos nas cidades do interior do seu
respectivo Estado, para atender as demandas do mercado [...]
Contudo, a casa matriz tomaria decisões sobre investimentos e
planos de expansão, tendo controle sobre os resultados das filiais.
(ROMERO, 1994, p.65)
Ou seja, a estrutura da empresa foi descentralizada no nível das filiais, menos no
Rio de Janeiro, que ficou sob a condução da Diretoria Geral, órgão responsável pelas
decisões estratégicas sobre investimentos, expansão e captação de recursos. La
Saigne realizava visitas sistemáticas às filiais e convocava reuniões periódicas com
seus Diretores. Este processo de gestão acabou gerando iniciativas como a
centralização das compras no Rio de Janeiro. Este departamento deveria pesquisar e
fornecer a todas as filiais informações sobre fontes de abastecimento, preços e
condições de fornecimento. Pouco depois, esta central de compras foi instalada
oficialmente em São Paulo, por causa da proximidade com as indústrias. A
centralização das compras determinava melhores condições de barganha em relação
aos fornecedores.
Alguns departamentos regionais continuaram a ter autonomia de compras para
produtos da chamada linha básica (cama, mesa e banho, malha branca – independem
da moda ou estação) mas, gradativamente, viram as verbas para o Departamento
91
Central de Compras serem aumentadas pela direção. A razão desta migração de
recursos foi que algumas filiais menores (como as do interior da Bahia) solicitavam
poucas peças aos seus fornecedores, tornando os custos bastante altos.
Os vendedores viajantes passaram a ter o papel de prospecção de novas
oportunidades: levantavam as necessidades do mercado, traziam idéias sobre novos
pontos de venda para cada Diretor Regional. A comunicação à Direção Geral da
empresa ocorria nas visitas periódicas de La Saigne a cada uma das filiais ou nas
reuniões supracitadas.
No final da década de 1940 acelerou-se o processo de industrialização brasileiro,
apoiado pelo governo, e a progressiva substituição das importações por produtos
nacionais. Essa alteração de contexto enfraqueceria a atividade atacadista da
empresa, uma vez que as indústrias poderiam dispensar o intermediário e distribuir
seus produtos na rede varejista nacional. Adicionalmente, iniciou-se o processo de
urbanização brasileiro, favorecendo a abertura de estabelecimentos varejistas nas
capitais brasileiras. O Gráfico 4.4 mostra a participação da população urbana e rural
em relação à população total brasileira da década de 1940 até os anos 2000:
Composição da População Brasileira - Urbana x Rural(1940 a 2000)
36%
56%
68%76%
69%64%
55%
81%
45%
31%
19%24%
32%
44%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Década
% T
otal
População urbana População rural
Gráfico 4.4 – Perfil de Composição da População Brasileira (IBGE, 2001)
4.3.2. Da década de 1950 até a década de 1970 – A ascensão dos Magazines
A transição de uma empresa atacadista para varejista iniciou-se em 1952. O
varejo foi considerado como mais uma das diversificações da empresa, não um
caminho definitivo para o futuro, de forma que não ocorreu uma mudança radical ou
92
ruptura nas práticas da companhia. A necessidade de redução de estoques começava
a se acentuar, pois a inflação havia subido de um patamar de 8% a.a. em 1948 para
12% a.a, em 1952, conforme o Gráfico 4.5. A migração para o varejo possibilitaria a
negociação de menores quantidades de mercadorias e uma redução nos níveis de
estoque do atacado.
Inflação (IGP-DI)
2,74
7,97
12,15
6,95
39,44
30,46
24,3820,51
25,87 24,57
12,72
12,3412,4112,29
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1955 1956 1957 1958 1959 1960
IGP
-DI (
% a
.a.)
Inflação (IGP-DI)
Gráfico 4.5 - Inflação Anual (IGP-DI), 1947 a 1960
(Fonte: IPEA - FGV / Conjuntura Econômica, 2005)
Neste ano de 1952 foi inaugurado o primeiro magazine, no Rio de Janeiro, com
quarenta e quatro departamentos dedicados ao homem, mulher, à criança e ao lar.
Uma gerência e uma sub-gerência específicas foram criadas para cuidar do
empreendimento. Simultaneamente a empresa acelerou sua expansão para o interior
do país.
Em 1956, mais uma operação nova na empresa: Credi-Mesbla. Esse
instrumento de vendas a prazo, criado em virtude da retração do consumo, foi
oferecido primeiramente na filial de Vitória, com um projeto-piloto. Essa iniciativa
ajudou a manter o crescimento da empresa, mesmo com o aumento do custo de vida
da população, ocasionado pelo desenvolvimento desbalanceado dos “50 anos em 5”
de Juscelino Kubitschek.
Em 1959 mais dois magazines foram abertos: em Curitiba e em Novo Hamburgo.
A Divisão Magazine havia aumentado suas vendas em 36%. A expansão da empresa
seguia um ritmo moderado, principalmente porque mantinha uma política de
“constituição de reservas e uso moderado de crédito”, tendo a Diretoria limitado o
93
programa de crescimento que havia previsto, diante de uma conjuntura de aumento
inflacionário e escassez cambial (RELATÓRIO ANUAL, 1959).
Tentando manter a estratégia de sempre atender as necessidades de novos
mercados, a Mesbla abriu sua filial em Brasília em 1960, ano da inauguração da nova
Capital Federal. A migração do governo brasileiro do Rio de Janeiro para Brasília fez
com que a empresa perdesse um público cativo de seu restaurante, os dirigentes
políticos, mas a empresa optou pela manutenção do empreendimento (RELATÓRIO
ANUAL, 1959).
A expansão da empresa obrigou a contratação de cerca de oitocentos novos
funcionários. Simultaneamente, foi realizada uma tentativa de criar procedimentos e
regulamentos para os empregados, sem sucesso. A razão: o ambiente era demais
informal.
Mas a expansão não esperaria por procedimentos e regulamentos. O atacado
ainda representava, em 1959, mais da metade do faturamento da empresa e
experimentou um crescimento inesperado antes de ser definitivamente abandonado,
em 1972, com o estímulo à importação de máquinas e equipamentos no governo de
Juscelino Kubitschek. Este crescimento “surpresa” demandou a criação de novos
escritórios no interior, principalmente do Estado de São Paulo. A diversidade de
clientes e tamanho de pedidos encareceu as operações da empresa, tornando a
manutenção das duas atividades – atacado e varejo - bastante onerosa.
Neste processo de crescimento a filial de São Paulo, mais centrada em atacado,
começou a ganhar status como a mais importante da empresa. Dessa forma, o
gerente da filial paulista passou a ter maior influência do que os demais, sendo
beneficiado nos processos de promoções posteriores. Outra mudança significativa na
estrutura da empresa foi uma maior autonomia da filial do Rio de Janeiro, com a
Diretoria assumindo uma posição mais corporativa, para orientar as demais filiais.
Em janeiro de 1961, aos 75 anos, Louis La Saigne faleceu e foi substituído por
Silvano dos Santos Cardoso, então Vice-Presidente. Henrique de Botton, antigo
Diretor Comercial, passou a ocupar a Vice-Presidência. O novo presidente teve como
desafio guiar uma empresa cada vez mais direcionada para o varejo. Os
departamentos de vendas dos magazines eram compostos por gerentes, vendedores
e técnicos próprios, que possuíam autonomia nas operações das lojas. A ligação com
94
a diretoria se dava com o Subdiretor de Vendas, responsável pela pesquisa,
lançamento e acompanhamento das novas linhas de produtos, além da distribuição
por todo o Brasil. O interior contava com agências e representantes locais, além dos
viajantes. As propagandas eram emitidas pela oficina gráfica própria na matriz do Rio.
Existiam ainda equipes responsáveis pela contabilidade, crédito, licenças, consultoria
jurídica e legal, cadastro e cobrança centralizados em cada filial.
O ano de 1961 foi decisivo para o futuro dos negócios de magazine. Os
excelentes resultados deste ano impulsionaram a instalação de magazines em Niterói,
Volta Redonda e Rio Grande. O número de funcionários cresceu para cerca de oito
mil. Desses, 944 tinham mais de dez anos de Mesbla. Nos anos seguintes, a empresa
experimentou aumento de vendas e expansão para outros ramos. Suas afiliadas eram
o Banco do Rio (conhecido anteriormente como Banco Mesbla), a companhia de pára-
quedas Switlik do Brasil S/A, a Brazfabril, a Mesbla Imobiliária, o Restaurante Mesbla
e o Teatro Mesbla. Enquanto isso, o atacado sofreria uma de suas últimas
modificações, concentrando-se nas filiais de maior porte administrativo, reduzindo
seus custos e expandindo-se através de escritórios de vendas.
Em 1962 foi constituída a União Mesbla, entidade associativa de pessoal, de
âmbito nacional, de forma a incorporar as várias sociedades e associações
anteriormente criadas pelas Filiais. A União Mesbla concedeu benefícios diretos aos
funcionários e administrava serviços diversos como Colônias de Férias, Cooperativas,
Refeitórios e Serviços Médicos. Como parte importante de sua atuação estaria o
custeamento de Grêmios e Sociedades esportivas de diversas filiais (RELATÓRIO
ANUAL, 1963/1964). A Mesbla possuía sedes recreativas para os seus funcionários
em Paquetá (RJ), Pelotas (RS), Guarujá (SP), Recife (PE) e Salvador (BA).
Neste mesmo exercício a Diretoria elaborou e encaminhou às filiais uma série de
recomendações administrativas e financeiras de forma a mantê-las em contato com as
conseqüências do aumento inflacionário e habilitá-las a adotar as medidas
necessárias.
Em 1963, a Mesbla aproveitou a política governamental de estímulo a
exportações e criou uma subsidiária chamada Exportbrás S/A que incorporou a
Companhia de Pára-Quedas Switlik.
95
A necessidade de controle e as operações cada vez mais diversas fizeram com
que a empresa instalasse em 1965 um computador eletrônico para auxiliar a coleta de
dados para a tomada de decisões, informava o Relatório Anual de 1966. O
responsável por essa implantação foi o Sr. Francisco Bordalo, que se tornaria
executivo da empresa na década de 1980. Esse sistema realizava o controle de
crediário das dezoito lojas, a folha de pagamento, o controle de vendas e serviços de
ações e dividendos.
Em 1966 a Mesbla contratou a empresa Verbo Propaganda Ltda., para executar
e orientar os planos publicitários da empresa. No ano seguinte, os serviços da
empresa foram elogiados no Relatório Anual.
O período entre 1966 e 1967 foi bastante conturbado política e economicamente,
instabilidade que culminaria na ampliação dos poderes ditatoriais do governo militar
brasileiro. Essa época foi caracterizada pelo enfraquecimento do mercado de ações e
o encarecimento dos recursos para financiamento. A Mesbla reagiu à situação
reduzindo o seu capital de giro, privilegiando itens de maior rotatividade, de forma a
depender menos de recursos para financiamento de suas operações. O crédito ao
consumidor também privilegiou operações de curto prazo. O Quadro 4.4 mostra a
evolução da participação de pagamento à vista, entre 1962 e 1967, nas atividades da
empresa.
Modalidade 1962 / 1963 1963 / 1964 1965 / 1966 1966 / 1967 1967 / 1968
Público - a dinheiro 15% 14% 24% 26% 28%
Público - a prestação 35% 36% 30% 30% 19%
Público - FDC 0% 0% 0% 0% 16%
Revendedores - Praça 15% 15% 26% 27% 10%
Revendedores - Interior 30% 30% 13% 12% 22%
Repartições Públicas 5% 5% 6% 6% 5%
Total 100% 100% 100% 100% 100%
Quadro 4.4 – Mesbla: evolução das modalidades de pagamento
(Fonte: Relatórios Anuais, 1962 a 1968)12
A morte de Silvano dos Santos Cardoso em 1968 levou à presidência da
empresa o português Henrique de Botton. De Botton manteve a estratégia de
crescimento dos magazines e reduziu as operações do atacado. Essa área, que havia
12 FDC – Financiamento direto ao consumidor, modalidade de pagamento à prazo.
96
passado por uma reestruturação, concentrando-se nas filiais mais rentáveis, passaria
em 1971 a operar somente em São Paulo.
Os resultados do primeiro exercício com Henrique na presidência (1967/1968)
foram expressivos: aumento de vendas em 50%. Além disso, o percentual de vendas à
vista atingiu 51,8% do total. Entre magazines, instalações de atacado e agências de
automóveis, a rede totalizava quarenta e cinco lojas (RELATÓRIO ANUAL 1968/1969).
Neste ano, a Fundação Luiz La Saigne, entidade sob o controle da União
Mesbla, passou a exercer um papel que desempenharia por toda a existência da
empresa, fornecendo bolsas de estudo para funcionários e filhos de funcionários, para
cursos de instrução média.
Em 1970 a Mesbla constituiu a Gráfica Verbo Ltda., para auxiliar na produção do
material promocional veiculado nas campanhas produzidas pela empresa Verbo
Propaganda.
Com a expansão das lojas de departamentos, a Mesbla passou a investir na
melhoria das operações e, em 1971, adquiriu caixas registradoras modernas para
todas as suas lojas. Além disso, criou um departamento de Planejamento e Expansão
dedicado exclusivamente à pesquisa de mercados para implantação de novas lojas.
Em 1972, a Divisão Atacado foi definitivamente descontinuada. Neste momento,
ela representava 8% do faturamento da Mesbla, conforme o Gráfico 4.6. Inicialmente,
tentou-se aproveitar as instalações de vendas no atacado para criar novos magazines.
Mas esta idéia não vingou pois as instalações encontravam-se em áreas pouco
nobres. Aproveitaram-se apenas as instalações com algum potencial de efetuar
operações de varejo; as demais foram vendidas e outras completamente
transformadas.
97
Mesbla - Composição das Vendas (1967 a 1972)
59%
0%
52%47%47%47%
16%
8%
22%23%26%26%
17%
14%
26%
11%15%
15% 15%13%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1967/1968 1968/1969 1969/1970 1970/1971 1971/1972
Par
ticip
ação
nas
Ven
das
Magazine Atacado Autos Linhas Técnicas
Gráfico 4.6 – Mesbla - Composição das Vendas, 1967 a 1972
(Fonte: Relatórios Anuais, 1967 a 1972)13
Na opinião de Francisco Bordalo, uma das maiores dificuldades deste processo
de transformação foi a resistência dos funcionários, afinal, os cento e dez escritórios
de venda espalhados pelo país operavam com o atacado desde a fundação da
empresa (ROMERO, 1994). A corporação tinha uma cultura atacadista e Henrique
demitiu onze de seus doze gerentes de filiais. Os dirigentes e funcionários que ficaram
foram retreinados nos métodos do novo negócio. O processo, segundo o ex-executivo,
foi doloroso e levou cerca de oito anos para ser finalizado. De Botton realizava viagens
ao exterior (EUA e França), onde vislumbrava modelos varejistas europeus e norte-
americanos. Mesmo as dificuldades citadas anteriormente não impediram o
investimento na diversificação das atividades de varejo, que em 1972 representavam
59% do faturamento.
Nesta época, algumas medidas operacionais promoveram alguma diferenciação
nos serviços oferecidos pela Mesbla: foi criado o processo de controle de qualidade
para que os clientes conseguissem encontrar roupas adequadas aos seus tamanhos.
Os números das roupas variavam de confecção para confecção e a empresa realizou
a padronização das medidas das roupas.
13 Linhas Técnicas: vendas por representação de máquinas para agricultura, equipamentos e itens de grande porte.
98
Com o fim do atacado e a nova expansão, Henrique promoveu uma nova divisão
da empresa, reestruturando a Mesbla em Magazines, Veículos e Máquinas &
Equipamentos, proporcionando autonomia para cada uma das três unidades, com
serviços comuns nas regionais subordinadas à Direção Geral. Não existia mais o
conceito de filial como antes. Em pouco tempo os departamentos de serviços comuns,
que ficavam no Rio de Janeiro, estavam sem orientação clara de como deveriam
proceder e ficaram “à deriva” em relação às suas tarefas e hierarquia, exigindo um
esforço de organização e realocação. As três divisões, na disputa pela imagem da
empresa Mesbla, começaram a competir entre si na procura de melhores resultados.
A estrutura de topo da empresa contava com o Presidente e Vice-Presidente,
além do Diretor Geral. A Direção Geral formulava políticas gerais e normas da
sociedade, cuidava da imagem da empresa e das relações públicas, decidia
investimentos e política ocupação de cargos executivos. Foi instituída a Comissão
Executiva da Direção Geral, comandada pelo Diretor Geral e cujos membros eram os
Diretores Executivos, Gerente Financeiro e Assistente de Planejamento (secretário),
que se reunia mensalmente para tratar assuntos gerais da empresa.
Existia ainda a Direção Executiva, que atuava em conjunto com a Direção Geral,
e a Direção Comercial, sob a chefia de André de Botton, filho de Henrique, que
ingressara na Mesbla em 1962, como vendedor em uma de suas concessionárias.
André se destacou na Divisão Veículos tendo assumido a gerência de uma das filiais
de vendas. A loja da Rua do Passeio, por estar localizada no térreo da sede da
empresa, era cada vez mais considerada uma loja à parte da organização. Assim,
essa loja passou a ter uma estrutura diferenciada: foram criados os cargos de Chefe
da loja Passeio, subordinado ao Gerente Comercial, e Chefe de Operações do
magazine, subordinado à gerencia geral.
A expansão da empresa, no setor varejista, causou impactos sensíveis nas suas
operações. A necessidade de controle era latente. Funcionários que presenciaram a
transformação indicaram que:
[...] a preocupação maior da empresa era com a venda, mais do que
com o custo [...] vantagens como economia de escala eram
freqüentemente desperdiçadas. O importante, para a empresa, era ter
o produto na prateleira [...] embora às vezes tivesse pouca
rentabilidade, permanecendo muito tempo nos estoques". Outro
99
elemento citado era o inchaço organizacional: "existia duplicação de
funções e a comunicação informal foi acentuada [...] eu era designado
para realizar uma tarefa que meu chefe também fazia". Os sistemas
de controle aparecem como ineficientes pois "a informação chegava
com atraso [...] por exemplo tínhamos um sistema contábil chamado
Marcon cujo objetivo era realizar uma gestão de estoques oportuna,
contudo, o produto que era comprado era catalogado e contabilizado
em moeda (cruzeiros e dólares) e não em quantidades, facilitando o
controle financeiro, porém não o de estoques. Muitas vezes existia um
controle paralelo manual para saber quanto de cada produto existia.
Isto levava muito tempo, considerando-se a enorme variedade de
itens que eram adquiridos. (ROMERO, 1994, p.79)
Em 1973 a empresa criou o seu cartão de crédito, o Cartão Mesbla, fornecendo
a seus clientes uma nova modalidade de pagamento. No ano seguinte, o número de
usuários já era de 200.000. Neste mesmo ano, as lojas começaram a ser
automatizadas: a empresa comprou as primeiras caixas automáticas da Sweda, com
concentradores da Data General. A companhia iniciou também a instalação de uma
rede Telex, para facilitar a troca de informações entre as filiais.
Foi criado e distribuído um manual de operações comerciais, indicando os
principais conceitos relacionados com a operação. O manual descrevia de forma
detalhada todos os cargos de todas as divisões da empresa, suas funções e posições
hierárquicas. A introdução do manual continha uma cartilha de como um funcionário
da Mesbla deveria proceder, dando orientações sobre publicidade, giro de vendas,
controle, gestão de pessoas e diversas questões relacionadas com as operações da
empresa. A exemplo do que ocorrera na inauguração da filial Brasília, a Mesbla
manteve uma estratégia de acompanhar as exigências do mercado, para onde ele
crescia. As filiais foram divididas conforme suas áreas de vendas e seguiam o plano
básico definido pela Diretoria, que delimitou políticas de aprovação de valores,
aumento de quadro de pessoal e alteração de layout de lojas.
A Mesbla ingressou no setor de publicidade com a criação da Central de
Propaganda, que passou a executar as iniciativas de comunicação da empresa. Esse
órgão seria transformado posteriormente na House Agency Provarejo.
Estruturalmente, destacou-se a consolidação da Central de Compras,
organizada para prover a empresa de uma melhor capacidade de negociação,
100
pesquisa e controle de qualidade. Outra alteração foi a transformação do
Departamento de Viagens na empresa coligada Mesblatur Viagens e Excursões Ltda.
A postura conservadora da empresa podia ser verificada pela sua preocupação
com o capital de giro. Segundo a empresa, a expansão acelerada somente seria
possível com o fortalecimento do mercado acionário que ainda não havia encontrado
“meios de restabelecer a confiança dos investidores, apesar da solidez e lucratividade
da maioria das empresas”. A obtenção de financiamento de longo prazo também não
era viável pois “somente seria de se considerar se existissem esquemas financiadores
de ativos fixos capazes de assegurar viabilidade econômica aos projetos de expansão”
(RELATÓRIO ANUAL, 1972/1973).
Em 1974 foi criado, dentro da área comercial da Divisão Magazine, o órgão de
Planejamento, com três analistas, sendo um deles profissional de finanças. Este órgão
era responsável pelo orçamento de capital e pela formulação do planejamento
estratégico; realizava estudos de viabilidade econômica, pesquisas de mercado,
prestava apoio às filiais na implantação dos planos de expansão anuais, em um
horizonte de cinco anos.
Outra decisão importante foi o estabelecimento de um relacionamento com
Universidades de forma a investir na capacitação dos seus executivos. Esse
relacionamento se traduziu em turmas participantes de MBA especializado em varejo
no Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da UFRJ - COPPEAD. A
turma era exclusiva e o curso patrocinado pela própria Mesbla.
O processo de expansão foi um fator determinante para que a National Retail
Merchants Association, associação de varejistas norte-americanos, concedesse à
Mesbla o prêmio de melhor empresa no mercado fora dos Estados Unidos. Segundo o
Relatório Anual de 1975:
[...] só nos últimos dez anos a Mesbla tinha triplicado o volume de
suas operações a par da diversificação das atividades, operando
simultaneamente a maior cadeia de lojas de departamentos, a maior
rede de concessionárias de veículos e uma das mais fortes
distribuidoras de equipamentos industriais e agrícolas no território
nacional. (RELATÓRIO ANUAL, 1975)
101
Foi também neste ano que André de Botton finalizou seu Advanced Management
Program (AMP), um curso para executivos que almejavam a administração de topo,
em Harvard, como parte de sua preparação para a sucessão. Na ocasião do retorno,
André trouxe consigo o conceito de lojas de departamentos, que viria a substituir o que
até então chamavam de magazines. A diferença era tênue e difícil de ser
compreendida: enquanto este último era definido pela empresa como "uma
organização de varejo autônoma que compreende departamentos especializados nos
quais eram oferecidos artigos de uso pessoal, doméstico, esporte, brinquedos entre
outros", as lojas de departamentos deveriam "fornecer de tudo o que o consumidor
precisa em não-alimentos".
Ainda em 1974, ficaria claro que a empresa considerava as três divisões
(Magazines, Veículos e Máquinas e Equipamentos) como unidades independentes,
com a seguinte afirmação no Relatório Anual daquele ano: “É, realmente, nosso
desejo que as três Divisões Comerciais se apresentem nos respec tivos mercados com
o porte e grau de especialização de empresas autônomas”. Os investimentos na
Divisão Magazine contemplaram a ampliação da frota de entrega e renovação dos
equipamentos de lojas e depósitos.
Como uma forma de prover unidade corporativa, a empresa estabeleceu
encontros e reuniões entre gerências e chefias, possibilitando trocas de informações
sobre a conjuntura e o próprio comportamento da firma. As reuniões entre a Central de
Compras, a Central de Propaganda e os gerentes de lojas eram realizadas
mensalmente, para apresentação de novos artigos e planejamento de campanhas
promocionais. Os gerentes de filial e membros da Diretoria se reuniam semanalmente.
Em 1975, como uma forma de colher melhores informações do mercado, foi
realizado um desdobramento da Central de Compras, sendo criado um Departamento
de Pesquisa, que tinha como objetivo identificar as necessidades do consumidor. Foi
criado também um órgão de treinamento, que se dedicaria à preparação de cursos e
formação de pessoal especializado. A Central de Propaganda transformou-se
oficialmente na House Agency Provarejo.
Entre 1975 e 1976 a Mesbla iniciou um processo de fusão de algumas filiais de
pequeno porte com outras de maiores dimensões, de modo a reduzir os custos
operacionais e efetuar ganhos de escala. As lojas de Marília, Pelotas e Vitória
102
passaram a se subordinar às filiais de São Paulo, Porto Alegre e Niterói,
respectivamente.
Neste período, as revendas de automóveis passaram a oferecer cada vez mais
serviços de manutenção, uma vez que as vendas, abaladas pelo aumento dos preços
dos carros e combustíveis, apresentaram queda. Na Divisão Máquinas e
Equipamentos, a empresa implantou operações informatizadas para apoio às
atividades de venda.
Acompanhando o ritmo de crescimento da economia brasileira, a Mesbla
introduziu, em 1977, a venda de automóveis por consórcio, que impulsionaram os
resultados da divisão Veículos. Para este fim, criou-se a sociedade coligada Unicar –
Administração Nacional de Consórcios Ltda.
Internamente, constituiu-se formalmente o Comitê Executivo e André de Botton
foi eleito Vice-Presidente e Diretor Geral. Claudia Quaresma tornou-se chefe do setor
de planejamento. Foi criada a Assessoria de Recursos Humanos, com a tarefa de
delinear os recursos necessários e realizar a avaliação de desempenho dos
funcionários.
O processo de automação comercial continuava na filial Passeio e todas as
caixas registradoras foram trocadas por terminais de ponto de venda. Ligados a um
computador, os equipamentos davam baixa nos produtos vendidos no estoque da loja
ao mesmo tempo em que registravam as compras, enviavam a nota para o
departamento do controle de cartões de crédito e calculavam a comissão do vendedor.
Um outro fato importante na Divisão Magazine foi a orientação para a venda de
produtos da linha “mole”, aproximando o sortimento de produtos das lojas do conceito
de “Moda” presente nos Magazines franceses.
Neste período o segmento shopping centers acelerou o seu crescimento no país ,
com grandes perspectivas para o varejo. As lojas de departamentos, como verificado
na análise do setor, passaram a atuar como âncoras e a Mesbla, com sua estratégia
expansionista e atenta à tendência mundial, esteve presente no Shopping Ibirapuera,
em São Paulo, e Iguatemi, em Salvador, no ano de 1978. Nos anos seguintes seriam
abertas lojas em shopping centers de Belo Horizonte, do Rio de Janeiro e de Goiânia.
103
Em 1978 a empresa realizou mudanças na sua política de recursos humanos.
Foi iniciado um plano de pesquisa salarial sistemático e um vasto projeto de
treinamento. A idéia era levar esse treinamento a todos os níveis de pessoal, com
cursos voltados exclusivamente para as necessidades da empresa. Esse plano
contaria com a assessoria de especialistas e, periodicamente, funcionários seriam
selecionados para cursos no país e no exterior, buscando as práticas utilizadas nos
centros comerciais mais desenvolvidos. Como parte do plano, foi instituído um
programa de estágio formal, com a entrada de cento e seis estagiários de nível
universitário. O objetivo era prepará-los para assumir cargos de chefia nas lojas
existentes e nas que estavam previstas para os próximos exercícios.
Em paralelo, a empresa implantou parcialmente um projeto para agrupar lojas e
agências sob a administração de Gerências Regionais. Os resultados foram
considerados satisfatórios e o projeto foi finalizado no ano seguinte.
A Divisão Máquinas & Equipamentos implantou uma moderna fábrica para
centralização da montagem de grupos geradores, conjunto de solda, quadros de
comando manuais e automáticos para telecomunicações, que seriam vendidos na
rede de agências da divisão.
Em 1979 a empresa foi escolhida pela Revista Exame a melhor empresa do
país, segundo os dados de 1978. Curiosamente, a Mesbla apresentou em 1979 a
maior queda de vendas do setor. A reação da organização começou com a
centralização do Departamento Central de Compras no Rio de Janeiro. O
Departamento estava anteriormente situado em São Paulo e a decisão teve como
objetivo agrupar os principais órgãos de decisão comercial. Neste mesmo período, os
Recursos Humanos foram centralizados na matriz carioca.
O processo de ajuste seguiu com o término do projeto de vendas por catálogo,
um investimento superior a 150 milhões de cruzeiros, o equivalente, em 1979, ao
custo de instalação de uma loja em um shopping center. Projetada para atingir um
público de dois milhões num prazo de cinco anos, a primeira edição do catálogo
(quarenta e oito páginas com uma linha de 2.400 produtos) não chegou a circular.
Pouco antes do seu lançamento, a diretoria da Mesbla resolveu desativá-lo,
temporariamente. Segundo a diretoria, as altas taxas de inflação e a morosidade no
reembolso das vendas acabaram inviabilizando o negócio. Segundo André de Botton:
104
"Precisávamos de um aporte financeiro muito grande para lançar a nova estrutura, que
só garantia um retorno noventa dias depois de vendida a mercadoria" (EXAME, 1983).
A diversificação da empresa continuava: a VT Center, produtora de televisão, foi
criada para produzir as campanhas lançadas pela Provarejo. Além disso, foi definida a
criação de uma financeira para trabalhar com o Cartão Mesbla, com o objetivo de
fechar o Banco Mesbla. A empresa passaria a operar com a Mesbla Distribuidora de
Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), cuja carta patente seria efetivamente adquirida
em 1981 (RELATÓRIO ANUAL, 1981).
Durante este último exercício, a Mesbla inaugurou quatro lojas, preparou a
abertura de outras sete, instalou diversos pontos de vendas de máquinas e
equipamentos, abriu lojas para a atividade de náutica e inaugurou sua primeira
agência Honda. Foi criada a Autofácil, revenda de automóveis, para comercializar
veículos Fiat e Alfa Romeo.
Neste ano de 1979 a Mesbla anunciou um amplo plano de expansão, buscando
novas praças, com grandes investimentos na abertura de lojas e na construção de
depósitos, além do aumento de participação nos mercados onde já atuava.
4.3.3. A década de 1980 - Perdida para o Brasil, porém de expansão para o
Grupo Mesbla
Os últimos anos da década de 1970 haviam demonstrado que a estrutura da
empresa não se mostrava flexível para lidar com o acelerado crescimento dos
negócios planejados. Antes mesmo do início da década de 1980, a direção da
companhia estudava idéias para reestruturar a administração do grupo, com a ajuda
de serviços de consultoria externa, e a estrutura de holding foi escolhida. As divisões
ficariam organizadas como unidades de negócio, conceito amplamente difundido nas
grandes corporações da época. De 1970 a 1980 a empresa havia experimentado um
decréscimo de mais de 50% na relação lucro líquido sobre o total de vendas, conforme
o Gráfico 4.7. Em 1970, representava 6,1% das vendas. Em 1980, apenas 2,3%.
105
Mesbla - Lucro Líquido / Vendas (1970 a 1980)
4,3%4,6%
2,3%
6,1%
2,5%
4,9%
3,7%
4,4%
3,4%4,1%4,2%
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
7%
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
Ano
% E
m R
elaç
ão à
s V
end
as
Gráfico 4.7 – Mesbla: % lucro líquido sobre vendas, 1970 a 1980
(Fonte: Relatórios Anuais, 1970 a 1980)
A diversificação e aumento da complexidade dos serviços e produtos oferecidos
trouxeram a necessidade de uma maior autonomia, ao mesmo tempo em que
deveriam ser definidos os mecanismos de controle e avaliação. No ano de 1979 foi
realizado um projeto preliminar para a Divisão Magazines. Esta contaria com seis
diretorias, cada uma com um executivo: Lojas, Merchandising (Compras e Marketing),
Recursos Humanos, Administração, Financeiro e Imobiliário. Aprovada, a proposta foi
expandida para as demais divisões, que compartilhariam as áreas de Recursos
Humanos, Administração, Financeiro e Imobiliário.
Para uniformizar as rotinas administrativas, foi elaborado o Manual de
Administração de Pessoal, reduzindo o número de formulários existentes e a
burocracia dos departamentos de pessoal.
Caberia à holding questões corporativas, sendo um órgão normativo e
controlador, estabelecendo contatos com o ambiente, procurando sinergia entre os
vários negócios. O Conselho de Administração determinaria as grandes normas da
empresa sendo que o Conselho Diretor Deliberativo seria responsável pela
operacionalização das políticas estabelecidas. A Divisão Magazine, em expansão,
teve sua capacidade de supervisão aumentada com a criação de Vice-Diretorias e
Gerências Regionais.
Os anos 80 iniciaram-se sob uma forte perspectiva inflacionária e alta de taxas
de juros, mas a Mesbla manteve seu vigoroso projeto de expansão. Nesta época o
faturamento das lojas de departamentos equivalia a cerca de 75% das vendas, o que
106
fez com que a empresa reforçasse seu programa de investimentos nos magazines.
Ainda assim, foram criadas a Mesbla Náutica e a Trading Company Mesbla Comércio
Internacional, todas com administração independente, sendo que a Náutica era
administrada pelo irmão de André de Botton, Henrique La Saigne de Botton. As
vendas por representação nacionais ganharam fôlego com inauguração de depósitos
de mercadorias em Fortaleza e Vitória, além da ampliação da unidade de Belém. A
Divisão Máquinas & Equipamentos foi reestruturada, com a desativação da
comercialização de tratores e implementos agrícolas, que representavam 30% das
vendas da divisão em 1979. A aposta da empresa era de que a economia se
recuperaria.
O Relatório do Primeiro Trimestre de 1981, trazia uma queda substancial de
33,1% nos lucros, comparando com o ano anterior. Segundo o mesmo relatório: "como
era de se esperar, os resultados foram afetados pela inusitada elevação dos custos
financeiros". A Mesbla procurou minimizar esses efeitos adotando sistemas
promocionais de vendas, nos quais oferecia prazos mais atraentes com base em
dilatação de prazos concedidos pelos seus fornecedores.
Este ano seria marcado pelo redirecionamento da estratégia comercial da
empresa. A Mesbla estabeleceu que o segmento de mercado era o consumidor final.
Sendo assim, desativou as operações da Divisão Máquinas e Equipamentos,
responsáveis por 6,7% do faturamento, e que exigiam grandes somas de capital para
sustentar vendas a prazo a juros baixos. Os recursos liberados foram direcionados
para abertura de mais seis lojas de departamentos e três revendas de motocicletas. O
pessoal que atendia a esta divisão, cerca de dois mil funcionários, foi absorvido em
outras atividades em expansão.
Na Divisão Magazine, mais uma mudança estrutural: foram criadas duas
Gerências Centrais, sob a chefia da Vice Diretoria de Vendas. Uma gerência cuidaria
das operações de lojas (atendimento ao cliente no magazine) e outra de vendas
técnicas (mercadorias que exigiam montagem e instalação).
A recessão na economia brasileira se estenderia até 1983, o que trouxe severas
conseqüências à empresa. Administrativamente a empresa decidiu centralizar as
contas a pagar no Rio de Janeiro, o que, no início, provocou descompassos
107
administrativos. Com isso, pela primeira vez na sua história a Mesbla teve de honrar
títulos em cartório.
André de Botton passou a declarar, publicamente, que o comércio deveria
funcionar aos domingos. Segundo o gestor, que acompanhava o mercado varejista
Europeu e Norte-Americano, "Não trabalhar aos domingos é um tabu que não pode
ser mantido [...] O segundo melhor dia de comércio é o domingo". Sendo assim, tentou
negociar com sindicatos e associações comerciais a modificação dessa “regra”, em
vão. Abertura do comércio aos domingos só aconteceria dez anos mais tarde, em
1992.
Esses fatos e o alto nível de endividamento da empresa (o exigível para com
instituições financeiras a curto prazo foi 200% superior à mesma posição um ano
antes), aliado ao fato de a Mesbla não possuir um canal de comunicação estruturado
com o mercado, produziram o rumor de que a companhia estivesse próxima de uma
concordata. Nem mesmo assim, os investimento pararam. Para se ter uma idéia da
expansão realizada, entre 1979 e 1983 a empresa abriu dez lojas de departamento,
aumentando em mais de 100% sua área de vendas, que passou a totalizar 248.034
m2. Some-se a isto a abertura de diversos depósitos, ampliação de lojas já existentes
e inauguração de agências de motos e náutica. Neste ano a coligada Mesbla Motos
Ltda. foi criada para comercializar o ramo de motocicletas e gerir as quatro agências já
existentes.
A Financiadora Mesbla entrou em atividade em 1982. Com isso, as operações
de crédito direto ao consumidor, que eram totalmente financiadas por diversas
empresas financeiras, passaram a ser financiadas pela nova coligada. Entre as
operações realizadas pela subsidiária, estaria a realização de todas as vendas a prazo
pelo Sistema Diretíssimo. Sob esse sistema todas as vendas se convertiam em
recursos à vista, favorecendo a liquidez. Outra forma de melhoria da liquidez ocorria
com o leaseback de imóveis próprios. A Mesbla recebia o montante correspondente ao
ativo e continuava ocupando-o através de um aluguel, sendo que recompraria o imóvel
ao final do contrato de locação. Segundo André de Botton, vice-presidente:
O leaseback é uma operação vantajosa para nós. Ele nos permite
transformar empréstimos de curto prazo em médio prazo, em
condições de repagamento altamente benéficas. (ESTRATÉGIA...,
1983, p.32)
108
O Relatório Anual de 1982, publicado em janeiro de 1983, mostrou um
significativo aumento de vendas em suas principais divisões, resultante da expansão
dos anos anteriores. As lojas de departamentos alcançaram 104% a mais em vendas;
veículos apresentaram um acréscimo de 142,9% em vendas; a Presta Administradora
de Cartão de Crédito cresceu 250,2% e era líder em número de usuários entre todos
os administradores de cartões do país. Neste mesmo Relatório o presidente Henrique
de Botton justificou diretamente que: "A Mesbla dedicou-se, nos últimos três anos, a
preparar a empresa para formar um grande conglomerado na área de varejo".
Ocorria que nesta fase a Divisão de Lojas de Departamentos já era encarada
informalmente como holding das demais companhias controladas. Já foi ressaltado
anteriormente que ela respondia por 75% do faturamento e recebia nesta época
volumosos investimentos para o prosseguimento da expansão. Com dezesseis
empresas controladas, a estrutura de um conglomerado estava cada vez mais
próxima. Algumas áreas da companhia viraram empresas independentes. Na prática,
cada ramo de atividade era responsável por seus pontos-de-venda, normalmente
localizados em áreas distintas. Cada unidade de negócio, como na proposta original
da estrutura de holding, atuava com um marketing específico, segundo a empresa
"mais agressivo e menos vulnerável aos eventuais efeitos negativos de uma atividade
que não fosse bem" (RELATÓRIO ANUAL, 1982). Além da área de lojas, veículos e
financeira, a Mesbla mantinha contratos de representação que garantiam a venda de
aviões, locomotivas e tratores no território brasileiro, além da Trading Company que
exportava artigos de cama mesa e banho para a África do Sul, pedras preciosas para
as Ilhas Canárias, artesanato para o Japão e sapatos e toalhas de praia para o
Canadá e EUA.
Segundo André de Botton, a ocupação de mercados era um pilar fundamental na
expansão da empresa:
É uma oportunidade estratégica que nós ou aproveitamos ou
certamente deixamos passar para a concorrência [...] Ocupar os
espaços em shoppings é um entrincheiramento para a Mesbla [...]
quando ele chegar, nós já temos uma base maior, um nome mais
conhecido, uma tradição. (ESTRATÉGIA, 1983, p.31)
109
A administração financeira, o processamento de dados, a área de contabilidade
e as pesquisas de mercado continuaram na estrutura da empresa-mãe, a Mesbla S/A,
centralizadas na matriz.
O controle de estoques neste período era realizado por dois sistemas, um deles
direcionado para móveis e eletrodomésticos de grande porte (ramo duro ou hard) e
outro para têxtil (ramo mole ou soft). O processo para produtos hard era garantido por
um minicomputador Cisco 8000 ligado a dezoito terminais espalhados pelas sete lojas
que comercializavam esses produtos. De posse do pedido, o vendedor consultava o
estoque sobre a existência do produto desejado e dava baixa em caso de venda. O
computador emitia nota fiscal e coordenava a distribuição dos produtos pelos
caminhões racionalizando seus itinerários.
Para o soft era necessário controlar as trinta e quatro lojas de departamentos.
Mapas de estoque eram emitidos semanalmente (às quartas-feiras) e reuniam dados
sobre todas as lojas. As informações consolidadas de estoques permitiram a
centralização da decisão de compra, antes submetida à avaliação das gerências das
lojas, e garantiam agilidade nas operações de transferência de mercadorias em
estoque entre lojas. Os pedidos aos fornecedores eram de acordo com a tendência do
mercado consumidor nas diferentes cidades e eram realizados por um computador
central Burroughs 6900, também responsável pelo processamento de dados da
empresa.
O plano de automação era ter todas as lojas do grupo automatizadas com
dispositivos de ponto de venda (PDV) até 1985 (JORNAL DO BRASIL, 1984). As
limitações enfrentadas por causa da reserva de mercado eram muitas. Os
equipamentos eram caros e os fornecedores restritos. A Mesbla chegou a comprar
500 terminais da brasileira Tecnodata, mas não conseguia decidir sobre o computador
que controlaria o sistema. A empresa queria formar uma rede com sessenta e quatro
terminais para cada loja e analisava a possibilidade de utilizar um micro de dezesseis
bits. A questão era a viabilidade da arquitetura, pois o desejo da empresa era ter um
sistema integrado aos bancos comerciais e aos caixas do sistema de crediário. A
compatibilidade entre os sistemas era um imperativo para tal desafio, para que não
fosse necessário instalar junto a cada caixa um terminal de cada banco.
Em paralelo a este projeto, Antonio Galvão, Gerente de Sistemas da Mesbla e
presidente da Associação Brasileira de Automação Comercial (ABAC) realizava
110
reivindicações junto à Secretaria Especial de Informática (SEI) e a Associação
Brasileira da Indústria de Computadores e Periféricos (Abicomp) por definições para
que fosse instituído o código de barras, cujo terminal de leitura ainda não era fabricado
no Brasil.
Os primeiros resultados do exercício de 1983 mostravam que a economia não se
recuperaria da forma como a Mesbla esperava. A competição começava também a
incomodar, uma vez que o quadro econômico recessivo não deixava espaço suficiente
para todas as empresas. A Sears, diretamente, a Lojas Americanas e a Lojas
Pernambucanas, em alguns segmentos, começaram a roubar pequenas fatias de
mercado da Mesbla, embora ainda não representassem uma ameaça à liderança da
empresa. Outra frente que começava a aparecer era a de lojas especializadas e
gigantes multinacionais como a C&A, que investiam em operações no Rio de Janeiro e
em São Paulo, justamente no ramo de maior margem: moda e confecção. Os
shopping centers, que haviam atuado como "trampolim" para a expansão da Mesbla
no início da década, passaram também a ser uma ameaça pois ofereciam de tudo,
com muita variedade, em um mesmo ambiente. Os resultados do primeiro trimestre
não foram animadores: Um aumento de vendas nominal de 126% em relação ao
mesmo período no ano anterior se traduziu em um lucro menor. A justificativa para a
redução dos lucros em 1983 foi que durante o mesmo período no ano anterior haviam
sido feitas operações de vendas de imóveis, que não se repetiram no ano corrente.
Para André de Botton, entretanto:
A Mesbla se encontra em uma situação particularmente feliz, isto
porque nos coloca hoje numa posição de enorme potencial de
crescimento daqui para a frente [...] Mesmo sem investir, a
capacidade de crescimento da Mesbla não está tolhida pois tem área
disponível. (ALENCAR, 1983, p.33)
Frente à recessão e sem indícios de melhora da economia a empresa começou
uma reestruturação da oferta dos seus produtos e aproveitamento do espaço de
vendas. A tendência de ênfase no soft, de maior margem e giro, foi intensificada. O
hard, além de exigir grandes quantias em dinheiro, comprometia espaço útil de vendas
com o estoque de suas mercadorias nas lojas. Na opinião de André de Botton:
Qual a competência que eu posso apresentar ao comprador na venda
de uma geladeira Brastemp? O produto do concorrente é o mesmo, a
111
garantia é a mesma, o acabamento igual - só o preço pode ser
diferente. Mas para apresentar competência no preço, eu teria que
cortar custos, como ar condicionado e escada rolante. Então se eu
quero ter bons serviços, ambiente agradável, bom atendimento, tenho
que procurar desenvolver linhas de produtos em que a minha
competência possa se demonstrar. (ALENCAR, 1983, p. 33)
Dessa forma, a Mesbla Lojas de Departamentos (MLD) realizou um estudo
preparando-se para o descarte das linhas de produto que ocupavam cerca de 15% a
25% de espaço das lojas e pouco acrescentavam à rentabilidade: móveis, estantes e
armarinhos; cortinas, tapetes e iluminação; e toda a linha branca, geladeira, fogão,
máquina de lavar e ar condicionado. Uma outra fonte de recursos viria da eliminação
da estrutura de armazenamento e distribuição de móveis e produtos da linha-branca.
Para desenvolver o soft, atacado pelas butiques especializadas, a empresa
passou a investir na melhoria do produto, tanto na qualidade quanto na moda,
tentando oferecer preços razoáveis e diversidade em apenas um local. Em relação ao
atendimento das lojas, foi intensificado o treinamento de seus vendedores. Os próprios
treinadores iam até o balcão para entender as necessidades dos clientes. A meta de
André de Botton frente às lojas especializadas era "ter uma loja de departamento que
atendesse melhor que ela" (ALENCAR, 1983, p. 33).
O ano de 1984 marcou o início da recuperação da economia e de resultados
expressivos da empresa. Mesmo apontando que o ano de 1983 tinha sido bastante
fraco, a empresa divulgou que o lucro de 1984 foi 227% superior ao do ano anterior,
com vendas aumentando em 119% e uma tendência de redução de despesas que
completava o seu terceiro ano. O novo direcionamento com ênfase no soft parecia
estar dando bons resultados.
A empresa implantou um sistema de controle de qualidade, de forma a oferecer
produtos que pudessem competir com as lojas especializadas. Este processo cobria
70% dos quarenta mil itens comprados. A aceitação de um novo fornecedor se dava
por meio de uma inspeção que atingia desde as instalações da fábrica até a
personalidade dos administradores. Essa avaliação era graduada e o fornecedor
classificado como classe A, B ou C. Os compradores poderiam negociar livremente
com os fornecedores classificados como A ou B. Já com os de classe C era
necessária a aprovação da diretoria. A avaliação era revista duas vezes por ano,
112
quando os inspetores da Mesbla realizavam visitas surpresa às instalações. A
empresa possuía 2.500 fornecedores ativos. Os testes finais eram feitos em um
laboratório no oitavo andar do prédio da Matriz, no Passeio Público do Rio de Janeiro,
equipado com conjunto de manequins padronizados, máquinas de lavar e secar;
balança eletrônica de alta precisão.
Em paralelo, a linha branca de eletrodomésticos foi definitivamente abandonada,
expandindo o setor de vestuário, que apresentava margens de lucratividade quase
sempre acima de 20%. A venda de equipamentos de som e vídeo foi mantida.
Outra mudança foi a retirada definitiva de móveis das lojas de departamentos,
tendo sido inaugurada a empresa Depósito de Móveis Mesbla (futura Hipermóveis
Mesbla), baseada no modelo da Home Depot americana. A Hipermóveis, com baixa
estrutura de custos, aproveitava as instalações dos depósitos da empresa para vender
linhas exclusivas de móveis com preços até 20% menores que a concorrência,
liberando área de vendas nas lojas de departamento. Essa nova configuração exigiu
reformas no layout das lojas e a contratação de novos funcionários.
A empresa passou a investir no segmento de marcas próprias. A primeira delas,
a Tucano, tinha como público-alvo adultos e seu lançamento foi apoiado por uma
grande campanha publicitária.
Os Relatórios Anuais da empresa, a partir de 1984, sofreram grande alteração
em relação à forma como eram apresentados anteriormente. Antes de o conceito
holding ser estabelecido, a comunicação sobre as empresas coligadas era realizada
por pequenas citações, sendo a maior parte do documento destinada a uma análise da
conjuntura e resultados. Após 1984, sistematicamente, os relatórios apresentariam os
resultados de uma forma mais qualitativa, por divisão, com menos análises sobre
despesas, nunca detalhando ou comentando o lucro das divisões, focando
principalmente no resultado consolidado de vendas de um ano para o outro.
Em 1985, com a economia mostrando sinais de recuperação, empresa entrou no
ramo de lojas especializadas, tentando competir com as butiques de roupas. As redes
Ponta em Conta (loja de descontos) e Folia (roupas infantis) iniciaram suas operações
tentando atingir um segmento de mercado que a direção considerava não atendido
pelas lojas de departamento, tentando mesclar preços baixos e qualidade. A Ponta em
Conta, que comercializava itens de saldo de exportação, também iniciou suas
113
operações. Cabe o registro de que o nome Mesbla estaria somente associado à
imagem da loja de departamentos, para que, segundo a diretoria, as pequenas
cadeias de lojas especializadas ocupassem seu próprio espaço junto ao consumidor.
Estruturalmente, José Paulo Ferraz do Amaral, Diretor Comercial, deixou a MLD para
atuar na empresa concorrente Lojas Americanas, tendo sido substituído por Luiz
Antonio Secco.
Para gerir essas lojas especializadas, a Mesbla criou uma unidade de negócios
com o mesmo nome, sob a direção de Paulo Fernando Bittencourt. Posteriormente
seriam criadas as lojas Next (roupa jovem). A autonomia e independência em relação
à Sede era total. Fisicamente, a sede da unidade de negócio localizava-se em uma
casa no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Estava isolada do prédio do Passeio
Público e foi formando uma cultura própria ao longo dos anos. A Mesbla não atuava
nem em processos de legalizações de loja, acompanhamentos fiscais ou contato com
órgãos públicos, como o Corpo de Bombeiros.
A estratégia de abertura de lojas foi agressiva: houve eventos de abertura de
onze lojas simultaneamente por todo o Brasil. O investimento realizado foi
considerável. Foram relacionados alguns depoimentos em relação à esse processo de
crescimento:
Por que isso tudo? É claro que tinha o impacto do marketing, aquela
coisa toda. Mas o dinheiro que era gasto era um absurdo, como a
inflação era galopante [...] e falava para o meu gerente “A gente tem
condição de fazer uma loja com uns US$ 60 mil ou 70 mil dólares” e a
resposta “O orçamento é de US$ 100 mil dólares, até lá você pode
gastar". [...] Então não era importante [...] existia uma cultura ainda
que obviamente era uma cultura desenvolvimentista, uma cultura de
expansão só que não existia uma cultura [...] de você contar cada
grãozinho de arroz.14
A mercadoria era boa, a da Folia principalmente, e dava uma certa
confusão com os compradores da MLD que ficavam com ciúmes, que
agora tinha roupa infantil e de menino nos shopping centers nos
14 Depoimento do Entrevistado 1
114
lugares mais legais porque orçamento para abrir loja Next e Folia
tinha muito. 15
Outras marcas próprias para peças de vestuário foram criadas: Mr. e Mrs. Baby
(bebês), Bazooka (crianças de três a dez anos) e Alternativa (jovens entre quinze e
vinte e cinco anos). A empresa assinou um contrato de exclusividade por dez anos
com o estilista francês Daniel Hechter para a comercialização de uma linha de roupas
esportivas para mulheres.
A Mesbla surpreendeu o mercado publicitário ao lançar uma campanha com a
nova linha de roupas em revistas de grande circulação nacional, como a Veja. Com
modelos fotografados por JR Duran e com os preços das peças de roupas exibidos,
essa foi a primeira campanha veiculada por uma empresa de varejo que movimentou
vinte páginas de uma só vez numa revista semanal. Segundo Luiz Antonio Secco,
Diretor de Compras e Marketing, sobre o episódio:
Eram necessárias duas coisas para tomar uma decisão dessas:
criatividade e muito dinheiro. Nós temos estes dois quesitos [...] A
classe média está interessada em qualidade e bom preço, e não em
etiquetas caras [...] para a nossa imagem foi completamente
fantástico, completamente. (PUBLICIDADE..., 1985)
A campanha contou ainda com uma inserção de sessenta segundos na
televisão, no intervalo do programa Fantástico, da Rede Globo. O aumento das
vendas foi atribuído também à mudança de comportamento do consumidor, que
passou a consumir moda da loja de departamentos depois que atrizes populares (Eva
Wilma, Glória Menezes e Terezinha Sodré) passaram a usá-la (PUBLICIDADE...,
1985).
Esse movimento e esforço de vendas fizeram com que o peso de vestuário no
resultado total da Mesbla atingisse, em 1986, 46% do total. Dez anos antes, essa
proporção era de 20%. O aumento considerável nos itens de vestuário fez com que a
empresa reestruturasse seu setor de compras, de forma a obter melhores negociações
no custo das mercadorias. O Departamento de Compras, centralizado no Rio de
Janeiro, contratou mais duzentos compradores, totalizando 250, sendo que a empresa
tentou manter um perfil homogêneo para toda a equipe. O longo prazo era planejado
15 Depoimento do Entrevistado 5
115
pelo Diretor de Compras e Marketing, além de três Vice-Presidentes. Os gerentes, em
número de doze, respondiam pelas noventa e duas seções existentes nas lojas de
departamentos. A verba era estipulada mensalmente e o desempenho medido
regularmente no final do mês.
Os compradores eram responsáveis pelo plano de marketing, pelas margens
praticadas e pelo sortimento. O plano semestral era apresentado para a Diretoria. A
linha soft demandava um planejamento superior à linha hard, pois o comprador
precisava apresentar a sua coleção para o ano seguinte. A avaliação era realizada por
vendas e margem, sendo os compradores considerados "donos" dos negócios que
englobavam seus departamentos. Os compradores iam às feiras no exterior em busca
de novidades e novos fornecedores, um movimento que ficaria ainda mais intenso
após 1990.
A empresa valorizava a autonomia e independência dos compradores, mas por
uma razão bastante prática: havia diversos níveis de chefia e para que a empresa não
parasse em decisões burocráticas, eram estabelecidos os limites (alçadas) de atuação
para cada cargo. Neste momento, um comprador possuía uma equipe de assistentes
de compras e estava subordinado a um superintendente. Cada superintendente
poderia cuidar de seis ou sete compradores. Acima do superintendente estavam os
diretores da MLD e o Vice-Presidente da divisão.
O reconhecimento pela melhoria dos resultados veio com a premiação
concedida pela revista MELHORES E MAIORES da Exame, em 1986, quando a
Mesbla foi agraciada como a Empresa do Ano, pelo seu desempenho em 1985, sendo
a primeira vez que uma firma de varejo havia alcançado este posto.
O biênio 1985-1986 marcou a implementação definitiva da estrutura de holding
buscada pela empresa desde 1979, sendo que este processo levou a executiva
Marluce Dias à Diretoria Geral da empresa, como uma das responsáveis pela
constituição da estrutura. Já em 1985, o setor de planejamento da Divisão Magazine
elaborara os objetivos a serem alcançados em termos de atendimento, serviços,
vendas, retorno e qualificação, para a própria divisão. As demais áreas seguiram o
mesmo caminho. Três áreas da empresa estavam, dessa forma, assumindo uma visão
mais corporativa, participando ativamente na direção estratégica da empresa:
planejamento, recursos humanos e sistemas (BETHLEM, 1994) .
116
Parte importante desse processo foi que a divisão de planejamento passou a ter
status de diretoria e sua Vice-Diretoria criou um serviço de consultoria interna com o
objetivo de levar o planejamento estratégico e o desenvolvimento organizacional a
cada uma das empresas da Holding. Assim, cada empresa poderia criar métodos de
avaliação do seu negócio, sendo que era esperado que cada unidade desenvolvesse
áreas de planejamento autônomas nos anos seguintes. A base do planejamento na
Mesbla era apoiada sobre o conceito do Plano de Gestão Empresarial, que
determinava como as decisões e o aprendizado fluiriam por toda a organização
(BETHLEM, 1994).16
A informalidade, no entanto, parecia se firmar como parte importante do
mecanismo de funcionamento da empresa. Na sede do Passeio ainda existia o
Restaurante Mesbla, onde os executivos da Holding e das empresas do grupo se
encontravam. Na hora do almoço, diretores de cada unidade de negócio e
superintendentes se comunicavam, trocando importantes informações sobre a
companhia. Além disso, André de Botton promovia cafés da manhã com todos os seus
executivos, periodicamente.
No Relatório Anual de 1986 a companhia orgulhava-se da estrutura e porte da
corporação:
A Mesbla é uma sociedade anônima de capital privado com setenta e
cinco anos de atividades [...] Através de suas controladas e coligadas
está voltada fundamentalmente para o comércio varejista, onde, com
mais de duzentos pontos-de-venda em trinta e sete cidades, dedica-
se aos segmentos de lojas de departamentos, lojas especializadas,
veículos, náutica, serviços, instituições financeiras e alimentos.
(RELATÓRIO ANUAL, 1986)
Na mensagem do presidente Henrique de Botton aos acionistas, uma menção à
descentralização:
Essa estruturação se tem mostrado bastante eficaz na medida em
que tem permitido maior especialização nos diversos segmentos e
sedimentado bases autônomas para calcar o desenvolvimento do
grupo. (RELATÓRIO ANUAL, 1986)
16 Para maiores detalhes a respeito da implantação da Área de Planejamento da Mesbla, ver: Betlhem, Agrícola. Caso Mesbla (A), Central Brasileira de Caso. 1994
117
Assim a empresa foi definitivamente dividida em seis grandes unidades de
negócio, conforme o Quadro 4.5 a seguir:
Unidade de Negócio % Faturamento do Grupo
Lojas de Departamentos 65,60%
Veículos 22,30%
Autofácil
Cacic Veículos e Peças
Cibramar
Cidix Autopeças
Consórcio Nacional Mesbla
Crisauto
Crismoto
Mesbla Distribuidora de VeículosMesbla Motos
Mesbla Moto Peças
Mesbla Movimentação de Carga
Mesbla Veículos
Provenda
Cibracar
Serviços 4,80%
Trading (Alimentos frescos, congelados e industrializados, insumos e bens de consumo e capitais)
Propaganda e Produções
Turismo (Mesblatur)
Aviação e Equipamentos (helicópteros, equip. aeroportos, forças armadas; mineração, locomotivas e equip. ferroviários, portos, exploração e produção de petróleo)
Processamento Dados (STA)
Lojas Especializadas 3,20%
Folia e Cia
Ponta em Conta
Hipermóveis Mesbla
Náutica 2,40%
Mesbla Náutica
Nivesa
Promar Provela
Chirs Boat
Instituições Financeiras 1,70%
Financiadora Mesbla
Mesbla DTVM
Mesbla Corretora de Seguros
Presta Adm. de Cartão de Crédito
Efetiva Cobrança e Prestação de Serviços
Quadro 4.5 – Mesbla: unidades de negócio em 1986
(Fonte: Relatório Anual 1986)
118
De fato, a grande corporação atraía talentos e impressionava pela política de
capacitação. As pessoas enxergavam a Mesbla como uma empresa sólida, tão estável
quanto uma estatal. Sua cultura informal também era motivo de admiração:
"[...] a gente sempre procurava uma empresa grande de forma a ficar
a vida inteira e a Mesbla era uma dessas empresas em que as
pessoas entravam e ficavam lá por 20 e 30 anos [...] Não era um
Banco do Brasil porque não era estatal e ao mesmo tempo era uma
coisa interessante pois tinha muito treinamento. Tinha uma política de
transparência total, as pessoas tinham acesso às pessoas, era uma
coisa muito informal, uma cultura muito informal que passava para a
satisfação dos clientes. [...] A Mesbla era muito “carioca” nesse
sentido pois ela tinha uma coisa muito espontânea. 17
A realidade era que de 1967 a 1986 a companhia jamais tinha feito um processo
de demissão em massa. Pelo contrário, excetuando alguns anos, só fez crescer o
corpo de empregados, conforme o Gráfico 4.8. Nota-se também que de 1979 para
1980 a empresa praticamente havia dobrado de tamanho, por haver apostado na
recuperação da economia.
Número de Funcionários (1967 a 1986)
6.758 6.4207.401 8.400 9.050
10.58512.078
13.144
21.191
24.074 24.31621.99322.45922.27621.922
12.204
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986
Ano
Núm
ero
Fun
cion
ário
s
Gráfico 4.8 – Número de Funcionários, 1967 a 1986
(Fontes: Relatórios Anuais, 1967 a 1986; MELHORES E MAIORES, 1977 a 1986)
O ano de 1986 foi marcado por grandes investimentos por parte da empresa no
setor de lojas de departamentos e especializadas: mais três lojas de departamentos –
Manaus, Campinas e Brasília – foram inauguradas e as redes Folia e Cia (moda
17 Depoimento do Entrevistado 1
119
infantil), Ponta em Conta (saldos) e Hipermóveis expandiram em mercados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Paraíba, Maranhão e Pernambuco. O
faturamento em dólares do grupo teve um aumento de 34% em relação ao ano
anterior e o lucro líquido, utilizando a moeda americana, deu um salto de quase 200%.
Outro evento importante foi O acordo para aquisição de 20% do capital do Makro
no Brasil, marcando a entrada da Mesbla no setor de alimentos. A diretoria apostava
no crescimento deste setor, ao mesmo tempo em que reconhecia a falta de know-how
para montar uma operação. O acordo firmado previa a aquisição de mais 20% do
capital em um prazo de até dezoito meses.
Nos demais setores, nem a expansão nem os resultados foram significativos. O
setor de veículos, por exemplo, foi prejudicado pela limitações impostas pelo governo
ao setor automotivo, no intuito de inibir a demanda por carros, em explosão devido à
euforia do Plano Cruzado. Na Divisão de Instituições Financeiras, a Presta
Administradora de Cartões aparecia como destaque por possuir uma carteira de um
milhão e meio de clientes ativos, realizando implantações de projetos de cartões
externos, como OS do Shopping Iguatemi de Campinas e Salvador.
Neste exercício a empresa fundou a STA – Sistemas e Técnicas de Automação
LTDA. Esta empresa, controlada pelo grupo, funcionava como prestadora de serviços
de Processamento de Dados e Desenvolvimento de Sistemas. A STA daria
continuidade ao processo de automação comercial da Mesbla, considerada uma das
pioneiras nessas iniciativas, com a instalação de vinte e oito terminais de ponto de
venda na loja do Shopping Ibirapuera, que permitiam a administração on-line de toda a
loja (MAGALHÃES, 1986).
A STA teria grande importância no papel de downsizing dos sistemas da Mesbla.
Até o final da década de 1980, apesar dos avanços obtidos nas lojas, a estrutura de
processamento de dados da Mesbla era baseada em mainframes. A STA iniciou suas
operações trabalhando dessa forma, atendendo as demandas das diversas divisões
como relatórios e alterações nos sistemas de interface. Seus funcionários participavam
de treinamentos específicos em microinformática de forma a saberem quais as
possibilidades dentro do cenário brasileiro. 18
18 Depoimento do Entrevistado 1
120
O Programa Mandev, um programa internacional de treinamento destinado aos
profissionais de vendas, foi consolidado em 1986. A Mesbla possuía exclusividade
deste programa no Brasil. Neste mesmo ano a Mesbla Lojas de Departamentos
patrocinou o Projeto Mesbla de Natação, formando equipes para competições
nacionais e internacionais, tendo enviado dez nadadores e um técnico aos Estados
Unidos para aperfeiçoamento.
A fase de consumo iniciada com o Plano Cruzado começou a mostrar sinais de
derrocada já no início de 1987. Durante o primeiro semestre, a empresa apresentou
resultados menores do que em 1986. O resultado anual, em dólares, foi semelhante
ao do ano de 1986. A aquisição das ações do Makro foi efetivamente realizada pela
Serprasa S/A, controlada integral da Mesbla, tornando-se parte importante do
programa de expansão da controladora SHV no Brasil.
A estrutura da empresa sofreu uma nova alteração com a transferência das
funções de administração e desenvolvimento de recursos humanos da Holding para as
unidades de negócio (chamadas também de sub-holdings). A diretoria considerou esta
ação um esforço para eliminar a burocracia e os controles improdutivos.
Embora o resultado do grupo tenha sido semelhante ao do ano anterior, as lojas
de departamento apresentaram quedas em vendas em relação ao ano de 1986. Os
esforços de descentralização da estrutura não se concretizaram em resultados reais.
Novas iniciativas de automação comercial foram realizadas: a empresa SID-
Informática foi contratada para que num curto prazo todas as lojas fossem
automatizadas. Esse plano demonstrou que o planejamento anterior, de automatizar
todas as lojas até 1985, não fora alcançado. As novas lojas, quatro no total, foram
inauguradas em shopping centers, sendo três delas no interior de São Paulo. Os
planos para o ano de 1988 não eram quantitativamente claros, mas a empresa
mostrava a intenção de expandir a rede e ampliar as lojas existentes. A campanha de
Natal da empresa ganhou o prêmio Profissionais do Ano, escolhida pela Rede Globo,
como a melhor do ano.
As lojas especializadas - Ponta e Conta, Folia e Hipermóveis - praticamente não
realizaram movimentos de expansão, tendo sido fechadas lojas antigas e abertas
novas lojas. A Mesbla considerou a conjuntura econômica como um fator complicador
para a realização do movimento de crescimento. A empresa realizou uma pesquisa
121
junto aos clientes para mudar o nome da rede Ponta e Conta, que acabou se tornando
a rede de lojas Maxx.
Das demais atividades da empresa, a Divisão Veículos teve um ano de quedas
reais em vendas (embora tenha aumentado sua participação no mercado nacional) em
virtude das restrições impostas pelo governo em relação à produção automobilística.
Novas revendas foram abertas e o plano de expansão continuava em vigor. A rede
Náutica encolheu: de trinta e três para vinte e nove pontos de venda. As operações da
Corretora de Seguros Mesbla foram iniciadas, sendo que a empresa passou a fornecer
produtos para os clientes que compravam veículos nas concessionárias Mesbla,
embora tivesse planos para oferecer serviços externos, em 1988.
A STA estabeleceu um planejamento de automação comercial que compreendia
vários projetos: Automação Comercial, Sistemas e Informações de Varejo, Revendas
de Veículos, Lojas de Náutica, RH, Instituições Financeiras, Marketing / Clientes,
Treinamento. Outro foco de sua atuação seria o aumento da disponibilidade de
terminais para consultas on-line.
A empresa de informática, porém, não agradava os seus principais clientes, ou
seja, as demais divisões da empresa:
[...] Essas informações, como tinha um mainframe, existia todo um
processo, não funcionava. [...] E foram brigas homéricas [...] porque
eu não conseguia conceber a grana que a unidade de negócios
pagava por um serviço que não existia. [...] Os compradores recebiam
as informações com um mês de atraso sobre o que tinha sido
vendido. Infelizmente as informações eram mais no olho do que em
relatórios, você não podia tomar decisão nenhuma em cima de
indicadores, era tudo muito passado e aí a gente começou a fazer
algo em cima da microinformática, que era uma novidade.19
Foi firmado um convênio com a COPPEAD para a criação do primeiro curso de
especialização em comércio varejista no Brasil, em se tratando de uma pós-
graduação. Seguiu-se um aperfeiçoamento no Processo de Gestão Empresarial
(PGE), sistema que envolvia todos os executivos da Holding e demais empresas na
monitoração do ambiente externo e interno, na clara definição de objetivos
19 Depoimento do Entrevistado 1
122
estratégicos e políticas empresariais (BETLHEM, 1994). Ao mesmo tempo deu-se
continuidade ao programa de trainees.
Em 1988 a Mesbla apresentou resultados superiores a 1987, que havia sido
considerado um ano muito fraco não só para o varejo, mas para toda a economia
brasileira. O poder aquisitivo da classe média caiu e os investimentos foram
direcionados para aplicações financeiras de curtíssimo prazo (BETHLEM, 2003).
Houve uma elevação dos índices inflacionários e, conforme o Gráfico 4.9, que mostra
a evolução do IGP-DI. Em 1988 este índice chegou a mais de 1000% a.a., com uma
tendência de alta que só pararia em 1990.
Inflação Anual (IGP-DI) - 1980 a 1990
65,04
1037,53
415,95
110,23 95,20 99,73211,02 223,81 235,13
1782,85
1476,71
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990
Ano
Infla
ção
(% a
.a.)
Gráfico 4.9 – Inflação Anual (IGP-DI), 1980 a 1990
(Fonte: IPEA - FGV / Conjuntura Econômica, 2005)
Dentro deste ambiente conturbado, a Mesbla manteve seu programa de
expansão: uma loja de departamentos foi inaugurada e mais quarenta lojas
especializadas foram abertas, com inauguração da cadeia Next, que visava atingir
homens e mulheres da classe média e média alta com moda esportiva básica. A
cadeia Folia, com vinte e nove lojas, não havia apresentado resultados positivos após
três anos em operação.
Nesta época, a Divisão de Lojas de Departamentos teve o seu logotipo alterado
para um design mais moderno. A alteração era parte de um plano para diferenciar a
123
MLD das outras atividades da empresa. A MLD deveria estar relacionada com moda,
sofisticação e produtos de qualidade, nunca com as demais atividades do grupo. 20
No ramo de alimentos foi firmada uma opção formal para aumento da
participação acionária no Makro, que estava trazendo bons resultados para a
empresa, segundo o Relatório Anual.
Embora o cenário político e econômico demonstrasse certa instabilidade, a
Mesbla não abandonou seu processo de expansão. Os planos incluíam a abertura de
cinco lojas de departamentos, mais quarenta lojas especializadas, reformas,
ampliações e continuidade nos projetos de automação comercial. O passo mais
ambicioso era a entrada da empresa no mercado paulista, onde a presença da Mesbla
era caracterizada por poucas lojas, sendo que algumas delas em má localização.
Neste ano a companhia buscou alternativas para o financiamento de sua
expansão. Ao invés de sucessivas subscrições de ações via mercado de capitais,
conseguiu linhas de financiamento abertas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, sob o Programa de Operações Conjuntas (POC) e o Programa de
Capitalização da Empresa Privada Nacional, além de outras linhas operadas pela
Caixa Econômica Federal. Com vinte e cinco mil funcionários, 1.400 a mais que o ano
anterior, a empresa utilizava a capacidade de a atividade varejista gerar empregos
para abertura destas linhas de crédito.
Uma preocupação que começava a ser mencionada pela empresa era a questão
de diferenciar as lojas de departamentos de um conjunto de lojas especializadas
agrupadas em um mesmo ambiente. Os segmentos de mercado em que a empresa
atuava passaram a ter maior destaque nas lojas. Isso obrigou a empresa realizar
reformas em diversas de suas lojas e reforçar a publicidade veiculada em suas marcas
próprias, além do lançamento de novas marcas e modelos de calçados e bolsas
exclusivos. A campanha Outono / Inverno da empresa foi premiada pela Retail
Advertising Conference (RAC) dos Estados Unidos. Em um ano que marcava os 80
anos da imigração japonesa no Brasil, todas as lojas foram decoradas com temas
japoneses e muitos eventos foram realizados.
Em relação à automação das lojas, esperava-se que até dezembro de 1989
todas as lojas de departamento estivessem informatizadas. A preocupação era
20 Depoimento do Entrevistado 4
124
verificada também na Divisão de Veículos e nas cadeias de lojas especializadas, onde
o processo encontrava-se incompleto. A pressão exercida pelas unidades de negócio
sobre a STA fez com que sua estrutura fosse mudada. Um novo diretor foi nomeado,
Antônio Flórido e uma consultoria, Boucinhas e Campos, foi contratada para auxiliar a
migração da estrutura do mainframe para microinformática.
As instituições financeiras da empresa passaram a oferecer diversos produtos
para aumentar as operações de crédito pessoal e a disponibilidade de capital de giro.
Alguns exemplos eram os fundos de ações e renda fixa, aplicações em Letras do
Tesouro, além da venda de seguros de vida e acidentes pessoais em todas as lojas de
departamentos do grupo e de automóveis para as unidades da Mesbla Veículos.
Em termos estruturais, a área de recursos humanos foi totalmente
descentralizada para as sub-holdings e foi decidido que o mesmo seria feito com a
área de sistemas. O PGE e o curso de Pós-Graduação com o COPPEAD foram
mantidos e, segundo a empresa, melhorados.
A descentralização da área de sistemas, se por um lado agilizou as decisões de
cada uma das empresas, por outro lado desperdiçou oportunidades de ganhos de
escala e uniformização de plataformas diferentes do mainframe. Consultorias que
foram contratadas na época venderam sistemas diferentes para as diversas divisões
da empresa.21
O cenário econômico brasileiro não se tornou mais amigável em 1989, pelo
contrário, ocorreu a disparada da inflação (IGP-DI), que chegou a 1.782,85% ao ano e
deteriorou ainda mais o poder aquisitivo da população. Esta conjunção de fatores
estimulava as empresas do varejo a obterem vantagens no mercado financeiro,
negociando prazos mais longos com fornecedores, cobrando os juros à vista dos
clientes. Politicamente, o Brasil viveu um ano de eleições diretas depois de quase
trinta anos imerso em um regime militar. A queda do regime socialista e de símbolos
como o “Muro de Berlim” sinalizavam que os anos 90 seriam marcados por mudanças
em níveis mundiais. Foi nesse contexto que a Mesbla assumiu a sua forma mais
grandiosa: eram 28.765 empregados em mais de trinta empresas, entre controladas,
coligadas e participações.
21 Depoimento do Entrevistado 3
125
Nesse período a empresa voltou a expandir suas operações e contou com o bom
desempenho da economia até setembro para apresentar resultados superiores a
1988. Nem todas as operações foram bem: o carro-chefe lojas de departamento e as
lojas especializadas, por exemplo, não apresentaram bons desempenhos, registrando
altos níveis de estoque devido às quedas nas vendas. O grupo deveu “o segundo
melhor resultado de sua história” à área de veículos e alimentos, onde sua
participação no Makro, agora aumentada para 32%, vinha gerando bom retorno.
A política expansionista, apesar do cenário instável, não pararia. A empresa já
tinha programado duas operações para subscrição de novas ações e debêntures no
começo de 1990 a fim de obter recursos para mais três lojas de departamentos, em
Natal, Sorocaba e São Paulo. Em 1989, como já mencionado, o desempenho das
redes de lojas não foi bom, principalmente nos últimos meses do ano. A empresa
“culpou” a aceleração da inflação, redução dos prazos de pagamentos de
fornecedores, o que a obrigou a financiar grande parte dos estoques com recursos
próprios. O foco que a empresa vinha direcionando ao setor de vestuário também
resultou em problemas: os artigos de confecção foram colocados a preços muito
elevados, o que afastou seus consumidores e manteve no estoque grande parte da
coleção de Verão.
As lojas especializadas, apesar de apresentarem resultados percentualmente
pequenos no faturamento global da empresa e de não se mostrarem lucrativas,
receberam novos investimentos, tendo sido inauguradas mais quarenta e cinco lojas
entre as cadeias Hipermóveis, Folia, Maxx e Next. Para auxiliar a administração das
cadeias, duas subsidiárias foram criadas: a Lojesa, que cuidava das cadeias Maxx e
Hipermóveis, e a Coesa, responsável pela Folia e Next.
O setor de veículos, que vinha apresentando bons resultados ano após ano, foi
bastante afetado pelo congelamento de preços dos automóveis, greves de montadoras
e “quedas-de-braço” com fornecedores de autopeças até a metade do ano. A queda
nas vendas foi de 13,4% e seis revendas e concessionárias foram fechadas.
O cenário de instabilidade político-econômica e a aposta na hiperinflação fez
com que a Mesbla terminasse o ano de 1989 com um grande investimento em
estoques na sua estrutura de mais de trezentos pontos de vendas. Ocorreu que, com
o Plano Collor no início de 1990, a empresa estaria frente a uma recessão que
agravaria de forma determinante a sua posição de liquidez e de solvência.
126
4.3.4. Os Anos 90 – Prejuízo, Concordata e Colapso
Durante setenta e sete anos consecutivos a Mesbla havia sido considerada pelo
mercado, salvo em alguns momentos no início da década de 1980, como uma
empresa sólida e próspera. O ano de 1990 marcaria para sempre a empresa como
sendo a primeira vez em que ela apresentaria prejuízo em seu Relatório Anual, que
desencadeou uma reestruturação no seu quadro de funcionários e ações estruturais
para enfrentar a crise.
Segundo o Relatório Anual, o mau desempenho das lojas de departamentos e
especializadas foi compensado pelo desempenho favorável das áreas de veículos,
Financeiras e Náutica. O grande problema era que, quando somados, os resultados
destas divisões eram insuficientes para compensar as perdas das lojas, que
respondiam por mais da metade do faturamento do grupo. Em dólares, as vendas
brutas caíram de US$ 1.969 milhões em 1989 para US$ 1.757 milhões em 1990, cerca
de 10%.
A hiperinflação esperada pela diretoria não aconteceu, uma vez que o confisco
de recursos proporcionado pelo Plano Collor reduziu drasticamente o consumo e o
poder aquisitivo do brasileiro, principalmente o da classe média, reconhecido como
sendo o cliente-alvo da Mesbla. Some-se a isso uma diminuição da flexibilidade de
fornecedores frente aos prazos de pagamento, que aumentou a necessidade de
capital de giro pela empresa de forma a conseguir honrar as suas obrigações de curto
prazo.
Um duro golpe às operações da empresa, bastante apoiada na venda à crédito,
foi a proibição imposta às instituições financeiras em financiar as vendas dos clientes.
Assim, essa tarefa foi transferida da Financiadora Mesbla para a Mesbla Loja de
Departamentos, que passou a tomar recursos emprestados no mercado para o
financiamento de seus clientes.
Uma das formas de a empresa buscar maior liquidez foi o aumento da
amortização mínima do Cartão Mesbla, de 25% do valor da fatura para 75%. A reação
dos consumidores foi imediata e as vendas através do Cartão Mesbla caíram
bruscamente.
127
Com prejuízos acumulados até o último semestre do ano a Mesbla tentou
algumas saídas para que o bottom-line do exercício fosse positivo. De outubro a
dezembro a empresa realizou uma venda dos seus estoques com uma grande
redução de margem, por entender que o custo de ter este capital parado era maior do
que tê-lo girando a valores mais baixos.
Os investimentos em informática, cada vez mais prioritários nos relatórios anuais
da empresa, continuaram em ritmo acelerado, mas não estavam completados: das
quarenta e sete lojas de departamentos, trinta e quatro estavam automatizadas. As
expansões foram adiadas, porque muitas obras em shopping centers foram
paralisadas, e iniciou-se a terceirização de serviços de limpeza e manutenção. Duas
lojas de departamentos – Marília e Campinas – foram fechadas em função da baixa
rentabilidade.
As cadeias Next e Folia, assim como a subsidiária Coesa, foram
descontinuadas. Das sessenta e nove lojas fechadas, vinte e seis foram transformadas
em Maxx, a cadeia de moda a preços populares. As marcas Next e Folia passaram a
ser comercializadas dentro das lojas de departamentos. Como parte do programa da
reestruturação e necessidade de retenção de custos, 9.551 funcionários foram
demitidos, cerca de 33% de sua força de trabalho. A empresa não demitiu nenhum
diretor da Holding ou Sub-holdings. Esse processo de fechamento das cadeias e
demissão em massa causou surpresa para os funcionários:
[...] o clima da Mesbla... receber uma carta de demissão para as
pessoas era algo inimaginável. Porque as pessoas tinham um
sentimento da Mesbla de uma coisa quase que invencível, não vamos
dizer arrogante, que não era isso. A Mesbla era uma grande família.
[...] Era uma grande empresa...o sujeito entrava e...era emprego para
toda a vida. [...] Como experiência foi inesquecível: de uma hora para
outra você recebe uma cartinha dizendo que estão todos demitidos. E
a loja aberta. Todos recebem as cartas simultaneamente. Alguns
pedem para sair e tomar uma água e não voltam, outros
desaparecem. [...] E aí ficamos até o fechamento, fazer liquidação de
fechamento, mandar todo mundo embora...22
22 Depoimento do Entrevistado 1
128
Executivos da Divisão Lojas de Departamentos e da Holding foram obrigados a
realizar cortes em suas equipes, reconhecendo que haviam agido muito lentamente:
Chegamos a ter 30.000 funcionários [...] na primeira vez que eu vi a
confusão, infelizmente, demiti 8.000 funcionários. Uma vergonha isso,
a gente passou de 20.000 para 12.000 na MLD. E o resto da Holding
também demitiu porque a gente viu o tamanho do problema. Mesmo
assim fomos lentos, a Holding era gigantesca, demorou a ser
diminuída. 23
Operações de leaseback com imóveis não-operacionais e operacionais da firma
ajudaram a levantar mais US$ 46 milhões. Ao final do ano a empresa realizou
aumento de capital via bolsa de valores. Rumores indicavam que este movimento era
uma forma de a empresa financiar o seu prejuízo e tentar apresentar um lucro ao final
do ano, fato que era negado publicamente pelo diretor de relações com o mercado
Leonardo Brunet. Mas nem o ingresso de US$ 32 milhões foi capaz de mudar o
resultado negativo. Embora alongassem o perfil da dívida, estas operações de
financiamento dependeriam de uma melhora no quadro geral das operações da
empresa para que seus compromissos pudessem ser honrados e os juros não
acabassem com todos os resultados obtidos pela empresa.
Os investimentos considerados estratégicos foram mantidos. A participação no
grupo Makro, que também sofreu certa retração em 1990, foi elevada para 36%, ao
invés dos 40% planejados anteriormente, num investimento de US$ 10 milhões.
Segundo a empresa a redução do crescimento da cadeia do Makro fez com que o
aporte da Mesbla fosse menor do que o planejado. Nenhuma loja de departamento foi
inaugurada, do plano de abertura de três lojas em 1990, apenas a loja do Shopping
Center West Plaza em São Paulo foi mantida, com abertura prevista para 1991. As
duas outras foram adiadas temporariamente, conforme citado anteriormente, pela
paralisação das obras dos shoppings onde seriam construídas. Nenhuma outra
expansão foi prevista para 1991.
A Mesbla iniciou as operações com um Armazém Geral em São Paulo, tentando
obter maior eficiência no controle e manuseio de mercadorias. O investimentos nas
marcas próprias e exclusivas continuaram – Daniel Hechter, Tucano, Bazooka,
23 Depoimento do Entrevistado 4
129
Alternativa, M&B, Mr. & Mrs. Baby, Folia, Next e Atrium – numa tentativa de reforçar a
diferenciação dos produtos da empresa.
Embora tenham gerado resultados positivos, as demais divisões também foram
bastante atingidas pela crise. Veículos, considerada a divisão mais sadia da empresa
em seu relatório anual, apresentou queda de vendas de 16% e redução das margens,
pelo congelamento de preços. Oito revendas e lojas foram fechadas neste ano. Nem
as operações de financiamento de veículos, realizadas pela Financiadora Mesbla,
foram capazes de reverter a situação.
O Quadro 4.6 mostra resultados consolidados, entre 1985 e 1989, normalizados
pelo dólar comercial de cada ano (IPEA – Dados do Banco Central, 1985 a 1989), das
seis divisões da empresa.
Lucro Líquido em US$ mil 1985 1986 1987 1988 1989
Veículos 8.850 14.963 12.721 6.254 20.182
Lojas de Departamentos 2.439 29.086 6.936 22.418 (8.967)
Lojas Especializadas (53) 1.302 (1.320) (190) (2.243)
Serviços Financeiros 4.432 4.254 7.160 3.702 8.571
Náutica 396 1.961 (683) (670) 3.113
Serviços 2.244 17.993 (1.533) 75 24.440
Quadro 4.6 – Mesbla: resultados consolidados por divisão,
normalizados pelo Dólar Comercial, 1985 a 1989
(Fonte: Relatórios Anuais, 1985 a 1989; Banco Central do Brasil, 1985 a 1989)
Percebe-se que a divisão de lojas especializadas apresentava seguidos
resultados negativos e que já em 1989 as lojas de departamentos haviam apresentado
prejuízo. Ainda assim os investimentos foram mantidos, conforme citado
anteriormente.
O ambiente brasileiro para o ano de 1991 foi tomado pela incerteza em relação
ao cenário político e econômico. Na verdade, o panorama não foi muito bom para o
varejo e a Mesbla seguiu suas tentativas de ajuste. A grande estrutura de atividades
diversificadas ainda era considerada pela diretoria como um acerto, declaração
estampada nas primeiras páginas do Relatório Anual. Isso porque apesar de mais um
ano de fraco desempenho das lojas de departamentos e especializadas, a Divisão
Veículos e de Serviços Financeiros, segundo a companhia, apresentaram bons
resultados. A empresa entendia que era necessário posicionar o foco das suas
130
atividades varejistas. Os números do Relatório Anual de 1991 não foram tão
detalhados quanto os de anos anteriores.
As lojas de departamentos começaram uma estratégia de redução no preço das
mercadorias, de forma a aumentar o giro e depender menos do financiamento de
clientes para realizar as vendas. Duas lojas consideradas de baixa rentabilidade foram
fechadas em São Paulo, tendo sido abertas mais uma em shopping centers em São
Paulo e duas em Belo Horizonte.
O destaque da Divisão Veículos, além do aumento de vendas, foi o acerto para
que a distribuidora Provenda passasse a representar os carros Mazda no Brasil.
A vice-presidência da Divisão Lojas de Departamentos, que durante muitos anos
havia ficado a cargo de Luis Antonio Secco, passou para Sérgio Rutowitsch, agora
com cargo de Diretor Superintendente. Secco passaria a integrar o Comitê Executivo.
No nível corporativo, Marluce Dias deixou o Comitê Executivo e passaria para o
Conselho de Administração, assim como Jacques La Saigne de Botton.
A empresa iniciou uma redução na sua estrutura: a cadeia Maxx fechou vinte e
quatro das suas cinqüenta e oito lojas; a Cidix Autopeças e a Mesbla Aviação e
Equipamentos foram vendidas; as empresas de turismo foram incorporadas pela
Divisão de Serviços Financeiros. O número de funcionários ficou praticamente estável:
de 19.214 para 19.056.
A Mesbla manteve sua iniciativa com a COPPEAD, entendendo que a
capacitação dos seus executivos seria fundamental para sair da crise. Foi implantado
um Programa de Opção de Compra de Ações para todos os executivos do grupo.
Os esforços de ajuste e aportes de capital fizeram com que a empresa tivesse
um lucro de Cr$ 6,329 bilhões, ou 0,8% das vendas já com a correção monetária e
2,1% de retorno sobre o patrimônio líquido, considerado baixo pelo mercado mas que,
segundo a diretoria, marcaria uma tendência de recuperação dos lucros da empresa.
O resultado financeiro da companhia foi negativo pelo segundo ano consecutivo,
impactando diretamente o resultado operacional com despesas de juros.
Ao mesmo tempo, a necessidade de reestruturar as lojas de departamentos do
grupo trouxe à tona alguns dos problemas que seriam enfrentados pela empresa no
ambiente recessivo. As lojas mais antigas do grupo, como a Loja do Passeio Público,
131
tinham um sistema de comissionamento de vendas variável para os diferentes
departamentos. Dessa forma, o sindicato dos vendedores não via com bons olhos o
remanejamento de vendedores de um departamento que pagava uma comissão maior
para outro de comissão menor:
Um dos grandes problemas que a gente tinha lá da loja do Passeio,
era o problema do sindicato [...] Dentro das lojas de departamentos no
Passeio, não nas lojas novas, só nas antigas, existiam várias
comissões diferentes, dependendo do departamento. Todo dia tinha
um tablóide na Mesbla. Então, tendo tablóide na seção de CD – a
Mesbla era o maior vendedor de CDs junto com a Lojas Americanas
na época – você não podia pegar um vendedor da seção de
Utilidades Domésticas e transferir para a venda de CDs porque eram
comissões diferentes. E não topava e tinha que ser feito acordo com
os sindicatos que não queriam nem saber. Ou então tinha que mandar
todo mundo embora...imagina. Quando eu entrei na Mesbla do
passeio tinha 600 funcionários. Depois foi reduzindo, reduzindo até
uns 200. Iriam mandar todos embora? Não existe isso. 24
A Mesbla completou 80 anos em 1992 e, frente a um novo prejuízo, o tom do
seu Relatório Anual foi marcado por declarações sobre a reestruturação e
perspectivas de melhora para 1993. A crise que atingia o país, o retorno da inflação e
a instabilidade política, com o aparecimento dos escândalos envolvendo o presidente
Collor que resultariam no seu impeachment em setembro, acabaram por dificultar a
tarefa de recuperação da empresa, ainda com uma estrutura grande e onerosa.
O ano marcou, fundamentalmente, a adoção de uma postura mais conservadora
por parte da companhia, tanto nos planos quanto nas declarações de seus executivos.
Os planos de ajuste contemplavam novas iniciativas de informatização, terceirização
de atividades, renegociação de contratos de locação, aumento do giro de mercadorias
e melhor avaliação das atividades. A empresa deixou de se dedicar “a atividades que
não estão no foco do grupo ou a negócios nascentes cuja contribuição para o
faturamento era, na sua totalidade inferior a 5%” (RELATÓRIO ANUAL, 1992).
Dentro deste conceito a empresa fechou a loja de departamentos do Shopping
Ibirapuera, em São Paulo, pois não conseguiu chegar a um acerto no novo valor de
24 Depoimento do Entrevistado 1
132
locação de suas instalações, passando a contar com suas quarenta e sete lojas
restantes. A empresa diminuiu o tíquete médio de suas mercadorias e conseguiu um
aumento no volume de transações. Houve expansão somente na Divisão Veículos,
com a abertura de nove revendas de carros Mazda, e na de Serviços Financeiros, com
a entrada em operação dos Cartões de Crédito Makro e Paes Mendonça.
A agência Provarejo foi desativada e uma agencia de publicidade foi contratada
para prestar serviços para todo o grupo. As empresas Hipermóveis e Náutica foram
redimensionadas e a cadeia Maxx definitivamente fechada. Para esta última rede, a
Mesbla alegou que os níveis de sonegação e o crescimento do comércio informal
foram os responsáveis pela pequena capacidade de competição do negócio.
Uma operação financeira inédita no Brasil foi realizada pela Divisão de Serviços
Financeiros, como uma forma de obter recursos a uma taxa de juros mais atraente do
que a oferecida no mercado. Foi uma operação de securitização de recebíveis de
cartões de crédito. Como nenhuma empresa brasileira jamais havia realizado esse tipo
de operação, a CVM autorizou a empresa a emitir títulos lastreados nas contas de
cartões de crédito ainda não pagas pelos seus clientes. A Mesbla trabalhou
ativamente na imprensa e junto ao Banco Central para viabilizar essa operação que
poderia ajudar a alterar o perfil das suas dívidas financeiras que começavam a
apresentar números crescentes.
Dentro desse cenário, a empresa apresentou alguns problemas administrativos,
que dificultavam o gerenciamento da operação das suas lojas:
Eu me lembro um dia que deu um problema de sistemas na folha de
pagamento. Então os vendedores do meu andar...engraçado que só
foi no meu andar...eles receberam a mais as comissões do mês
anterior. E reclamaram com a área de recursos humanos que falou
que estava tudo certo. [...] Chegou o mês seguinte, alguns
vendedores receberam contracheque negativo...ou seja não
receberam nada! [...] E eu lembro do líder sindical que a gente tinha lá
no Passeio virou para mim “Chefe, o negócio é o seguinte: tem
vendedor devendo à Mesbla e...não dá, o pessoal tem filho...
precisamos de uma solução rápida senão...” E começa a aparecer
vendedor desesperado e quando você vê o cliente está lá, à parte do
que está acontecendo e o problema salarial levando os funcionários à
greve. [...] Aí reuni todo mundo no estoque, metade do pessoal, subi
133
em uma cadeira e falei “Eu vou resolver isso, em três horas. Se em
três horas eu não resolver meu problema, eu peço a minha
demissão”. E aí todo mundo “Peraí, não é assim!”. Mas foi a única
maneira de eu segurar o pessoal porque senão eu ia dançar. [...]
Então desceu o pessoal do Recursos Humanos, começou aquele
desespero que aí eu falei “Vou pro andar mais alto desse prédio
colocar a boca no trombone que o meu emprego está realmente em
jogo”. E graças a Deus consegui resolver. Como era uma época de
inflação altíssima os empregados até saíram ganhando porque a
solução negociada por se o sujeito tinha recebido, por exemplo, 400
reais a mais, ele iria receber novamente o mesmo valor “emprestado”
e iria pagar nos meses subseqüentes, sem juros, 100 reais por mês.
Era um ganho para os funcionários tremendo.25
A inflação também era uma grande inimiga da empresa, pois obrigava que as
lojas tivessem os mais diversos processos operacionais. Um chefe de departamento
da loja do Passeio, por exemplo, afirmou que tinha que trocar sua tabela de preços
três vezes ao dia: de manhã, no almoço e à noite. A tabela continha os códigos das
mercadorias, que não eram marcadas com preços. Além disso, pelo fato de operarem
com cartão de crédito, as lojas de departamentos eram obrigadas a proibir a utilização
do cartão sempre que a inflação atingia um patamar pré-definido pela diretoria
financeira da divisão.
Apesar dos resultados negativos a empresa recebeu da National Retail
Federation dos Estados Unidos o prêmio de Varejista Internacional do Ano, atribuído à
atuação de André de Botton junto ao órgão, em que ocupava o cargo de chairman, no
que diz respeito à defesa da livre-concorrência e globalização do varejo internacional.
Mas o prêmio recebido não alterou os resultados da empresa, que apresentou
novo prejuízo no exercício de 1993. A reação foi realizar diversas alterações
estruturais e novas alienações. Uma nova redução de quadro foi realizada e funções
terceirizadas, negócios foram reposicionados e operações financeiras realizadas para
alongar o perfil das dívidas. Os investimentos em automação e modernização das
instalações atingiram US$ 10,3 milhões. Das diversas divisões do grupo, a
participação acionária no Makro continuava a render bons resultados, segundo o
relatório anual.
25 Depoimento do Entrevistado 1
134
Por acreditar na expansão da comercialização dos carros Mazda no Brasil e na
cadeia de móveis, a Mesbla efetuou investimentos na rede de revendas da marca,
assim como nas operações da Hipermóveis, agora com vinte e seis lojas. A Divisão
Veículos voltou a incorporar as operações da Mesbla Náutica, já que eram tidas como
empresas de afinidade estratégica, em busca de redução de custos. Um ponto
importante começou a chamar a atenção dos executivos: a venda de carros populares
mostrava grande crescimento e impactava diretamente as margens da divisão. O
processo de automação foi completado em três das quarenta e sete lojas de veículos.
As dívidas começaram a ter peso decisivo nos resultados da empresa, neste ano
um prejuízo de US$ 24,9 milhões. Segundo o Relatório Anual de 1993:
Este resultado se deve essencialmente às despesas financeiras
relacionadas a perdas de exercícios anteriores, despesas estas
especialmente elevadas em função das taxas de juros de 1993. Sem
esse componente de despesas, o resultado líquido seria positivo.
(RELATÓRIO ANUAL, 1993)
O resultado financeiro, despesas de CR$ 54 bilhões, correspondeu a 39% da
receita líquida da empresa, acima da margem bruta praticada pelo varejo, cerca de
33%. Novas operações de financiamento foram realizadas via mercado financeiro,
mas nada que pudesse fazer com que a empresa melhorasse seus indicadores
operacionais. Nem o aporte de US$ 14,2 milhões referentes a diferenças de alíquotas
do Finsocial, obtidas em uma ação da empresa frente ao Governo Federal, reverteu o
prejuízo.
As lojas de departamentos passaram por uma nova reestruturação. Como uma
forma de combater as filas, aumentar o giro e reduzir a ociosidade dos vendedores, foi
criada a figura do vendedor-caixa. A Mesbla criou uma ilha de caixas sem operadores,
onde o vendedor-caixa, após ter atendido a um cliente, ingressava a sua senha,
registrava a venda e entregava o produto ao cliente.
A gestão de estoques foi definitivamente reconhecida pela diretoria como um
duro golpe às suas operações. Foi finalizada a implantação do Sistema de Gestão de
Mercadorias, que permitiu que a defasagem na administração dos itens em estoque
passasse de quinze dias para somente um dia. De 1990 até 1993, 65% dos
investimentos da empresa foram direcionados à informatização. O foco: sistemas
abertos, processamento distribuído e descentralizado, uso intensivo de tecnologia de
135
ponta em telecomunicações e automação. Uma rede privativa de telefonia nacional foi
implantada, assim como uma aliança com a Embratel para serviços de rede privada de
transmissão de dados (VPN). As quarenta e sete lojas encontravam-se completamente
atendidas pelos serviços de automação.
A informação era muito importante nesse momento decisivo para a Mesbla. Os
executivos, compradores e gerentes de loja precisavam estar em constante
comunicação para que erros operacionais não ocorressem. Mas a utilização de
sistemas não conseguia substituir o padrão de operação estabelecido informalmente:
O meu sistema de informações, na verdade, uma das maneiras que
me diferenciava na verdade, e na época tínhamos em torno de
quarenta compradores, era que eu ligava para todos os gerentes de
loja, os chefes de seção eram todos meus parceiros, do Brasil inteiro.
[...] Eu falava com todo mundo quase que todo o dia. Toda semana eu
falava pelo menos duas vezes com todos os chefes de seção por todo
o Brasil. Era a maneira que eu tinha de gerenciar sem informação de
qualidade. No final a informação começou a ficar melhor, mas eu já
tinha pego aquele sistema e você como comprador era dono do
negócio – responsável pelas vendas e pela rentabilidade da sua
seção.26
A área financeira da empresa adotou um moderno sistema de controle de contas
a pagar. Foi adquirido um pacote Oracle, instituindo uma arquitetura nova,
abandonando o mainframe. O processo de digitação de faturas, até então manual, foi
totalmente automatizado e a área paulatinamente reduzida.
Com a abertura do mercado nacional aos produtos importados – principalmente
brinquedos do oriente – estes passaram a ter um grande peso no faturamento e a
empresa entendeu que a realização de bons negócios com fornecedores
internacionais era um caminho a ser seguido.
A estrutura operacional de distribuição foi alterada para três Armazéns Gerais,
que teoricamente deveriam otimizar o fluxo de mercadorias por todas as lojas. O que
ocorreu na realidade foi um colapso operacional que prejudicou as vendas no Dia das
Crianças e no final do ano, períodos críticos para a empresa. 27
26 Depoimento do Entrevistado 1 27 Idem
136
A empresa Booz Allen Hamilton foi contratada para a elaboração de um plano de
“revisão do foco, formato, mix de mercadorias, sistemas operacionais e estruturas
organizacionais”. As alternativas seriam implantadas entre 1994 e 1996. Já como
resultado de análise preliminares, a diretoria da MLD foi reduzida de dez para seis
membros. A Holding reduziu seu quadro de duzentos e vinte e oito para cento e
quarenta e seis funcionários.
A área de serviços financeiros apresentou evolução no número de clientes de
cartões de crédito (de 3,2 milhões em 1992 para 4 milhões em 93) e alavancava seus
resultados com financiamento de venda de veículos.
A capacitação dos executivos continuava como medida prioritária na empresa. A
quarta turma do MBA-Varejo na COPPEAD finalizou seu curso, totalizando cento e
doze alunos diplomados desde 1989. Além disso, três executivos foram enviados para
a Babson School of Executive Education, nos EUA, para participarem do curso
“Strategic Planning and Management in Retailing”. O programa de trainees e cursos
internos, de curta duração, continuavam a ser aplicados.
Alguns concorrentes começaram a ameaçar de forma mais decisiva as posições
de liderança da Mesbla. A Casa & Vídeo, em ferramentas, e a Lojas Americanas, em
compact discs e brinquedos, eram concorrentes difíceis de serem batidos, pois
possuíam uma estrutura de custos mais enxuta que a da Mesbla:
(Opinião sobre a Casa & Video) E o esquema de venda deles na
verdade era um esquema onde as pessoas já iam para as lojas
compradas – ela anunciava todo fim de semana, às vezes até todo
dia, dependendo do humor dele, anunciando a furadeira Bosch. Em
lojas de departamento, a furadeira só vende em pilhas. O consumidor
sente autoridade quanto vê a exposição do produto, sente o preço, é
todo um conjunto de ações e eu me lembro que eu brigava
diariamente na loja de departamentos: “Furadeira vende em pilhas, no
meio da loja” e o pessoal do marketing “Não pode porque a imagem
da empresa, veja bem”... e faziam aqueles climas maravilhosos para
vender roupa...mas ferramenta eu vendo em pilha! Essas brigas...e eu
vendo a Casa & Vídeo crescendo com um letreiro do tamanho do da
Mesbla. 28
28 Depoimento do Entrevistado 1
137
A publicação do Relatório Anual da empresa de 1993 ocorreu após o
falecimento, em janeiro de 1994, de Henrique de Botton, que estava no cargo de
Presidente de Honra. Henrique esteve durante cinqüenta e quatro anos na Mesbla, há
vinte e cinco como presidente e foi considerado um dos responsáveis pela expansão
das atividades de varejo da empresa, anteriormente dedicada ao atacado.
Henrique de Botton não presenciaria a entrada do Plano Real e o início da
estabilidade econômica brasileira em 1994. Também não presenciaria um ano de mais
mudanças na empresa que ajudara a crescer. Antes mesmo de o ano começar, André
de Botton anunciou o afastamento de quatro diretores das áreas de compras e
marketing: Leila Loria, Sum Nim Kum (conhecido como Tommy), Luiz David Mecer e
Luiz Godoy. O comando executivo da Mesbla Loja de Departamentos, a principal
divisão do grupo, passaria a ser de Cláudia Quaresma, funcionária do grupo há
dezessete anos e que acompanhara de perto o trabalho dos consultores da Booz Allen
Hamilton, embora não tivesse experiência direta no varejo. Dos dois mil e quinhentos
funcionários de staff, oitocentos foram demitidos. No plano de curto prazo, as
seguintes iniciativas seriam implantadas: adoção de estilo de sala comum, estilo
Banco Garantia, para os diretores; reforma de várias lojas; foco nos itens onde a
empresa tivesse expressiva participação de mercado: roupas, perfumes, presentes e
artigos de cama; 100% das mercadorias expostas com código de barras (na época
eram 60%); compras seriam centralizadas, baseadas nos três Centros de Distribuição;
compradores se reportariam diretamente à Cláudia Quaresma para ter mais poder de
decisão; importações seriam aumentadas de 6% para 10%.
Apesar da adoção do esquema de sala comum (open-office) algumas situações
mostraram que nem todos os executivos estavam confortáveis com o novo estilo,
como mostra o depoimento do chefe de contas a pagar na época:
Eles dividiam já naquela época a mesma sala, já era um open-office
para os diretores. E aí ficava um alfinetando o outro...”Ah, mas esse
negócio não vai dar certo” e o Carlos Eduardo, que era de sistemas,
ficava muito estressado, e eu com o cara de sistema, nos dávamos
hiper bem, porque eu tinha formação na área. [...] aí vinham e
descarregavam, cada um dos diretores dava bronca no seu gerente
respectivo e só atrapalhava. Um dia eu me lembro que eu fui lá e
disse “Cadu, preciso falar contigo [...]. A gente está se entendendo
aqui, eu e o pessoal de sistemas. Está tudo certo. Não se preocupe.
138
Não adianta vocês dois ficarem duelando porque aí é que não vai
mesmo”. E eram diretores que realmente tinham aquela cabeça de
parar e pensar “É realmente o cara tem razão, deixa ele tocar”. 29
Os primeiros resultados indicavam um aumento na eficiência das operações,
com a diminuição da cobertura de estoque de cinqüenta e seis para quarenta dias,
considerado um bom índice por analistas de mercado. A Mesbla começou a implantar
um sistema de Just-in-Time via Electronic Data Interchange com a Phillips. Caso
funcionasse, seria expandido a todos os fornecedores até o ano 2000. As compras
com o Cartão Mesbla começaram a ser feitas em qualquer caixa da loja. Antes disso,
o cliente precisava deslocar-se a pontos específicos dos estabelecimentos.
Outra mudança estrutural foi a integração de profissionais para compor o
Conselho de Administração, substituindo pessoas de confiança de André de Botton.
Chegaram para compor o Conselho junto com Marluce Dias da Silva e Hamilton Prisco
Paraíso, Daniel Dantas (vindo do Icatu), Tomás Zinner (Unibanco), Paulo de Carvalho
Lacombe (Paranapanema) e Geraldo Hess (ex-diretor da CVM). Antigos membros,
afastados, foram incluídos no Conselho Consultivo.
A verdade era que a empresa havia chegado a uma situação crítica. Sua divisão
principal, as Lojas de Departamentos, vinha apresentando maus resultados desde
1989. O resultado do grupo vinha sendo mantido pela participação no Makro, pela
Divisão Veículos e de Serviços Financeiros. A Mesbla, na tentativa de melhorar sua
solvência, passou a alienar bens e negócios destas divisões, de forma a tentar sanear
e obter recursos para a reestruturação do ramo principal. Um prédio da Mesbla
Veículos em São Paulo, por exemplo, foi vendido por US$ 6 milhões para um grupo de
investidores estrangeiros. Nesta época a empresa tentou uma associação com a JC
Penney, gigante de varejo norte-americana. A venda do Makro, seu “ativo” mais
valioso, era motivo de divergência dentro da direção, sendo que alguns achavam que
o investimento nunca valera a pena:
29 Depoimento do Entrevistado 3
139
Foi uma péssima idéia. O Makro não dava lucro praticamente, a gente
empatou muito dinheiro! [...] Não, o Makro dava US$ 6 milhões, US$ 2
milhões de dólares por ano de lucro, e isso não era nada! E chegou
uma hora, [...] eu era conselheiro do Makro. O Makro era um fiasco
em operações.30
As lojas náuticas, já incorporadas pela Divisão Veículos, praticamente cessaram
suas operações. A diretoria comercial entendeu que "Está havendo uma mudança: de
empresa varejista com pequenas atividades na importação e distribuição de produtos,
a Mesbla passa a ser importadora com um braço no varejo" (O GLOBO, 1994). Assim,
quinze das dezoito lojas foram fechadas e o foco passou ser a representação das
marcas Mercury e Mercruiser.
Em meio a essas alterações a Mesbla lançou um serviço de vendas de veículos
à domicílio. O vendedor recebia um telefonema, visitava o cliente e mostrava as
alternativas chegando a uma proposta final. Se o cliente quisesse poderia fechar o
negócio na hora.
Em novembro de 1994, o Jornal do Brasil (2/11/1994) noticiava que, apesar do
maciço investimento em compras e publicidade para o Natal, “apenas um milagre
tornará o resultado anual positivo”. Novos pedidos de emissões de títulos e até mesmo
notas promissórias foram enviados para a CVM. Após o primeiro trimestre do Plano
Real, o resultado da empresa foi o pior entre as cadeias Mappin, Lojas Americanas e
Ponto Frio.
Diversas matérias na imprensa passaram a veicular a informação de que André
de Botton estaria negociando a venda da Mesbla para a cadeia JC Penney. A revista
Exame publicou, em 16/8/1995, que a corretora Goldman Sachs já cuidava deste
processo desde 1994. Na ocasião, os executivos da rede americana visitaram a
Mesbla, mostraram certo interesse, mas André de Botton “viu esperança na melhoria
da economia e recolheu os planos”, pois a JC Penney só compraria a empresa caso
De Botton saísse do comando.
Após cinco anos de resultados negativos, o ano de 1995 não reservaria boas
conseqüências para a empresa. O resultado da empresa em 1994, um prejuízo de R$
69 milhões, sendo que R$ 57 milhões somente de despesas financeiras, agravou-se
30 Depoimento do Entrevistado 4
140
no ano seguinte. O Gráfico 4.10 a seguir mostra, historicamente, a queda progressiva
do índice de liquidez da empresa enquanto que seu endividamento apresenta uma
tendência de alta a partir da década de 1980, explicado pelo processo de expansão.
Indicadores- Liquidez Corrente e Endividamento
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Índices de Liquidez Corrente = Ativo Circulante / Passivo Circulante Índice de Endividamento = Total do Exigível ÷ Total dos Ativos
Gráfico 4.10 – Mesbla: Indicadores de Liq. Corrente e Endividamento, 1959 a 1997
(Fonte: Balanço Patrimonial, 1958 a 1997)
A Mesbla Loja de Departamentos não reagiu conforme esperado. As mudanças
implementadas por Cláudia Quaresma, entre elas a demissão de três mil funcionários,
redução do número de diretores, foco em vestuário e fim da linha de eletrodomésticos,
não geraram resultados suficientes para cobrir o alto endividamento de 1995. Ela
pediria demissão do cargo em outubro daquele ano. Curiosamente, Cláudia ocuparia o
cargo de conselheira da JC Penney para a América Latina.
A empresa não conseguiu obter o capital necessário para o pagamento de seus
compromissos com antigos credores e recuperar o seu giro. No dia 02/08/1995 cinco
empresas do grupo entraram oficialmente em concordata. A Mesbla (Holding), a
Mesbla Loja de Departamentos, a Brazfabril, a Mesbla Móveis e a Presta
Administradora. A dívida da empresa era cerca de US$ 330 milhões, com juros de
30% a.a., sendo que as lojas de departamentos apresentavam uma dívida de R$ 125
milhões, grande parte com cerca de 1.680 fornecedores. Duas semanas antes da
concordata, André de Botton buscou o Banco Garantia, inutilmente, para obter um
aporte ou vender a empresa. Tentou também uma composição com as Lojas Renner,
numa associação com o Icatu, em mais uma tentativa frustrada de obtenção de
recursos.
141
Outras saídas, como a alienação dos imóveis que não estavam em leaseback,
foram tentadas, mas sem a possibilidade de que fossem levantados os recursos
necessários. Quando a empresa decidiu a venda de sua participação no Makro, no
final de 1994, ocorreu a Crise do México, gerando o que ficou conhecido como “Efeito
Tequila”, diminuindo de US$ 130 milhões para US$ 80 milhões os recursos levantados
com a venda.
A concordata permitiria a companhia negociar suas dívidas em um período de
dois anos, com juros baixos a todos os seus credores. A primeira parcela da
concordata, 40% da dívida, deveria ser paga em agosto de 1996. Os investimentos
foram todos paralisados, com exceção das lojas no Nova Shopping (Nova Iguaçu) e
Shopping Pátio Brasil (Brasília), cujos contratos já haviam sido assinados. O processo
exigiria que a empresa guardasse registro de todos os fornecedores que a empresa
não havia pago, o que aumentou consideravelmente a complexidade da operação.
Não houve treinamento específico para a área de contas a pagar, mas advogados
orientaram os funcionários da área.
O período que sucedeu a concordata foi complicado para a empresa, tanto pela
urgência na recuperação da liquidez quanto pelas alterações na diretoria e critérios de
pagamento. O depoimento do chefe de contas a pagar na época indicava a pressão
pela qual todos passavam:
Mas foi uma época muito complicada e turbulenta, e tinha horas que
as pessoas estavam completamente perdidas e eu me lembro que
uma vez eu estava nessa sala da diretoria e eu dizia “Tem que pagar
isso, tem que pagar aquilo e tal...” e uma determinada hora eu estava
passando a responsabilidade para eles decidirem. Então veio a
Cláudia Quaresma, colocou a mão em mim e disse: “Agora é você
que sabe. Você é o cara que sabe melhor do que a gente o que fazer.
Faz o que você achar mais certo.” Era muita responsabilidade, foi a
única vez na minha vida em que eu tive pressão alta, fui parar numa
clínica dessas aí porque era muita pressão. 31
A área financeira da Holding, então, passou a atuar muito mais firmemente sobre
as operações das demais divisões, principalmente as que estavam no processo de
concordata. Foram contratados especialistas para verificarem os processos utilizados
31 Depoimento do Entrevistado 3
142
e algumas descobertas mostraram que a direção da empresa não conhecia alguns dos
próprios procedimentos:
Teve um negocio de importação, eram coisas de um valor muito
expressivo, que a tesouraria, que era um departamento que estava
embaixo de mim, efetuou o pagamento dessa importação. Aí o
pessoal da Holding veio para cima de mim, querendo matar porque o
pagamento tinha sido feito [...] No caso de importação, como é uma
coisa completamente diferente, quem autorizava era a área financeira
da Holding. Então quando ele veio para cima de mim, de uma forma
hiper agressiva querendo me culpar por esse pagamento, eu falei
“Olha só, o pagamento é feito pela tesouraria, mas a aprovação é
dada pela sua área!”. Quem autorizou no fundo? Alguém que
trabalhava com ele! “Foi você quem autorizou”. Quando ele foi rever o
processo e viu que era assim mesmo, o cara “caiu do cavalo”. Isso foi
uma situação ruim...32
Um outro episódio foi a descoberta de que mercadorias eram pagas sem que
toda entrega do pedido fosse confirmada. O que os processos da empresa não
englobavam era a relação de informalidade que existia entre alguns compradores e
seus fornecedores. Essa prática muitas vezes era uma flexibilidade oriunda de
reciprocidades entre comprador e fornecedor e seu controle era feito por meio de
memorandos. Aprovação era dada pelos diretores da MLD, a cada evento, já que o
contas a pagar exigia, por escrito, a solicitação de aprovação por parte do comprador
e a aprovação em si por parte dos diretores.
As empresas do grupo que não entraram em concordata passaram por períodos
de indefinição e desprendimento da organização original. A Mesbla Serviços
Financeiros, por exemplo, esteve avaliada em R$ 90 milhões. Sua carteira de clientes
na administração de cartões de crédito, era uma das maiores do país, com mais de
três milhões de titulares. Mas operações de financiamento mal-feitas na Divisão
Veículos ocasionaram perdas de cerca de US$ 50 milhões. Em novembro de 1995,
quando não havia mais interessados na compra da empresa, os serviços de captação
de recursos para financiar a venda dos clientes foram terceirizados. No ano seguinte,
a Mesbla Serviços Financeiros seria extinta e incorporada como um departamento
dentro da estrutura do grupo.
32 Depoimento do Entrevistado 3
143
O processo de reestruturação, a partir da concordata, coordenado pelo Banco
Graphus, buscou novos cortes e racionalização administrativa. A Mesbla Veículos, por
exemplo, teve reduzido o número de concessionárias de vinte e seis para dez. O
comando do processo, por parte da Mesbla, ficou com Leonardo Brunet, antigo
responsável pelas Relações com Investidores, e João Sá, que trabalhava como
controller. André de Botton estava definitivamente afastado do dia-a-dia da empresa,
embora integrasse o Conselho de Administração até que a empresa fosse recuperada.
O número de executivos da Holding caiu de trinta para sete, consolidando todas
as áreas de negócios em apenas uma, gerando uma economia anual de US$ 15
milhões. Do corpo de funcionários, mais duas mil pessoas foram demitidas.
Reportagens da época indicavam que a empresa gastara cerca de R$ 20 milhões com
indenizações de demissões, sendo que o processo foi considerado traumático, pela
proporção e rapidez. As compras foram reduzidas e os prazos de pagamento a
fornecedores foram ampliados de sessenta para noventa dias. Os fornecedores
começaram a se tornar mais complacentes, pois o risco de não receberem nenhum
montante em relação às dívidas antigas seria grande caso a Mesbla não conseguisse
se recuperar.
O novo diretor de compras, Alexandre Pagliano, estabeleceu para o Natal de
1995 uma estratégia agressiva que envolveu R$ 8 milhões de compras em produtos
chineses. O giro deveria ser privilegiado e a empresa trabalhou para que 80% dos
itens, provenientes da Coréia e China, chegassem ao consumidor com preço máximo
R$ 29,00. Paralelamente, a diretoria pediu à agência DM9 que criasse uma campanha
com o novo perfil de preços. O Cartão Mesbla passou a financiar compras sem
entrada e parceladas em trinta e sessenta dias. Segundo Pagliano, o planejamento de
compras de 1995 foi melhor que o de anos anteriores, pois as encomendas haviam
sido feitas em janeiro e não no segundo trimestre. Os produtos de Natal estariam
disponíveis ao consumidor em novembro.
Os últimos meses do ano chamaram a atenção pela falta de mercadorias nas
prateleiras da empresa. Contudo, na visão de João Sá, os resultados da campanha de
Natal haviam sido excepcionais e, por essa razão, o estoque acabou ficando 30%
abaixo do que haviam previsto. Na verdade, os consumidores iam até as lojas da
cadeia e muitas vezes não encontravam produtos.
144
Das empresas do grupo, tiveram resultado positivo a Divisão Veículos e a
Corretora de Seguros. O faturamento das lojas de departamento surpreendeu pois
chegou a US$ 750 milhões em 95, quando muito menos era esperado. Os gastos
encolheram US$ 80 milhões. As comemorações de confraternização de fim de ano, na
sede do Passeio, com todos os funcionários que resistiram à reestruturação pareciam
indicar dias melhores.
Mas em junho de 1996 a Mesbla divulgou os resultados de 1995, que indicaram
um prejuízo três vezes maior que o de 1994: R$ 255 milhões. A administração da
empresa, sob a direção de Leonardo Brunet e João Sá, tentou soluções como adoção
do crediário para clientes, no nível operacional, e venda da companhia para grupos
nacionais ou internacionais. Não houve venda ou melhoria nos negócios. A primeira
parcela da concordata não conseguiu ser paga e a empresa caminhava em passos
largos para sua falência. A reestruturação, comandada no final de 1996 por José
Paulo Amaral, e a compra da cadeia por Ricardo Mansur, em 1997, foram o ponto final
na história da empresa, cuja falência foi oficialmente decretada em fevereiro de 2000.
145
4.4. A história da Lojas Americanas
4.4.1. Da fundação até 1932 – Da oportunidade até a primeira crise
A Lojas Americanas foi fundada em 1929, pelos americanos John Lee, Glenn
Matson, James Marshall e Batterson Boger que partiram dos Estados Unidos em
direção a Buenos Aires com o objetivo de abrir uma loja no estilo Five and Ten Cents
(lojas que vendiam mercadorias a cinco e dez centavos, na moeda americana). A idéia
era lançar uma loja com preços baixos, no modelo que já fazia sucesso nos Estados
Unidos e na Europa no início do século. No navio em que viajavam, conheceram os
brasileiros Aquino Sales e Max Landesman que os convidaram para conhecer o Rio de
Janeiro.
Na visita ao Rio de Janeiro, os americanos perceberam que havia muitos
funcionários públicos e militares com renda estável, porém com salários modestos, e a
maioria das lojas não era destinada a esse público. As lojas existentes, em geral,
vendiam mercadorias caras e especializadas, o que obrigava uma dona de casa a ir a
diferentes estabelecimentos para fazer as compras. De forma a aproveitar esse
segmento de mercado, lançaram uma loja de preços baixos que vendia vários tipos de
mercadorias. Nascia então, em 1929, a primeira Lojas Americanas, localizada em
Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, com 300 m2. Seu slogan: “Nada além de 2 mil
réis”. A aceitação do público foi boa e durante o primeiro ano, a empresa inaugurou
mais três lojas, duas no Rio de Janeiro e uma em São Paulo. No total, havia sete
acionistas e um capital social de mil contos de réis. A experiência dos norte-
americanos no comércio varejista dos EUA influenciou decisivamente o estilo adotado
pela companhia.
Essas primeiras lojas contavam com uma inovação: não possuíam vendedores.
Os consumidores levavam os produtos aos caixas para poderem efetuar a compra. O
mix de produtos era grande, em sua grande maioria produtos baratos, reforçando a
importância do preço na publicidade do empreendimento. Caso um cliente entrasse
em uma loja do grupo no início do século, encontraria desde bombons e confeitos até
artigos de armarinho, escritório e cozinha, passando por brinquedos e peças de
vestuário. O preço baixo era tido como uma “defesa” contra o hábito de as pessoas
regatearem o preço das mercadorias (“pechincha”).
146
Um outro ponto bastante ressaltado pela própria empresa foi a atitude de a
primeira loja ter empregado várias mulheres. A ação – inédita no varejo – tinha como
objetivo atrair as donas-de-casa para o consumo. Até mesmo o nome “loja” foi
considerado uma novidade: até então os estabelecimentos de comércio eram
chamados de “casas”.
4.4.2. Da Revolução de 1930 e a troca de comando em 1932 até os anos 70
O ano de 1932 trouxe uma mudança no controle da empresa. Durante a
Revolução Constitucionalista, o fluxo de mercadorias entre São Paulo e Rio de Janeiro
foi prejudicado devido à uma greve de ferroviários paulistas (ALMANAQUE..., 2001) e
ao direcionamento das indústrias paulistas para a fabricação de material de guerra,
como granadas, máscaras contra gases, lança chamas, capacetes para os revoltosos
paulistas, o que acabou se refletindo em uma crise financeira na Lojas Americanas.
Poucos detalhes sobre este evento foram encontrados, mas, de acordo com ex-
funcionários e profissionais que conheciam a história da empresa, acreditava-se que
os fundadores não se mostravam interessados em perpetuar o negócio.33 A fragilidade
da diretoria diante do ocorrido fez com que um grupo de acionistas liderados pelo
Barão de Saavedra, Julio Latif, Richard Momsen e Henrique Kerti assumisse a
administração do empreendimento.
Em 1940, Lojas Americanas abriu o seu capital, de forma a captar no mercado
acionário os recursos para implementar seu programa de expansão de lojas. Durante
décadas a empresa foi tida como um exemplo de “democratização” de capital, por
possuir um capital bastante pulverizado. A obtenção de novos recursos possibilitou o
crescimento da empresa nas décadas seguintes, para mercados fora do eixo Rio-São
Paulo. Acompanhando o Gráfico 4.11, verifica-se que na década de 1930 a empresa
abriu onze lojas e nas décadas posteriores esse ritmo foi mais lento, com uma média
de cinco lojas abertas por década.
33 Depoimento do Entrevistado 6
147
Crescimento Lojas Americanas - 1929 a 1945
11
46 5
2621
15
0
5
10
15
20
25
30
1929 a 1939 1940 a 1949 1950 a 1959 1960 a 1969Período
Núm
ero
de L
ojas
Lojas Abertas Total de Lojas
Gráfico 4.11 – Crescimento da cadeia Lojas Americanas, 1929 a 1960
(Fonte: Relatórios Anuais e Informações Anuais Lojas Americanas)
Os anos do pós-guerra foram marcados pela introdução de novos produtos e
serviços. Nos estabelecimentos da Lojas Americanas, neste momento, havia
lanchonetes, algo inédito no Brasil. Essas lanchonetes contribuíram para a atração de
clientes e foram berço para algumas novidades no lanche do brasileiro: o sorvete
Kibon, o hambúrguer (apelidado de sanduíche Vitória pelo término da II Guerra), o
cachorro-quente, o sundae, a banana-split e a Coca-Cola. Todos esses produtos
foram comercializados primeiramente no Brasil pela Lojas Americanas. A loja da Rua
do Ouvidor, inaugurada em 1930, foi a primeira a contar com uma lanchonete
(GOMES, 1979a).
Durante a década de 1960, a Lojas Americanas efetuou constantes aumentos de
capital, com o objetivo de financiar o seu processo de expansão. Em 1965, o Capital
Social foi aumentado de Cr$ 2.000.000.000 para Cr$ 5.000.000.000; em 1966, para
Cr$ 8.000.000.000; em 1967, para NCr$ 10.000.000 e em 1968 para NCr$ 15.000.000.
Como resultado, a empresa inaugurou lojas em Madureira (RJ), Londrina (PR) e São
Paulo (SP), tendo transferido suas operações de armazenagem para um novo
armazém em São Paulo.
A política moderada de expansão (menos de uma loja inaugurada por ano),
financiada com recursos próprios, foi explicada no Relatório Anual de 1965:
A diretoria continua envidando esforços e investigando a instalação de
novas lojas. Não é demais salientar, todavia que os imóveis situados
em locais comercialmente vantajosos requerem inversões maciças,
148
de grande vulto, de recursos próprios da sociedade. Esta é uma das
razões primordiais da retenção de parte do lucro líquido apurado que,
afinal, é sempre empregado com essa finalidade e, portanto, em
benefício dos próprios acionistas. (RELATÓRIO ANUAL, 1965)
A loja de São Paulo, foi inaugurada no Shopping Center Iguatemi, tido como o
primeiro shopping center instalado no território brasileiro, em novembro de 1966. A loja
existe até hoje e funciona como uma das âncoras do empreendimento.
A empresa mantinha acompanhamento sobre a performance de suas lojas,
buscando formas alternativas de melhorar a lucratividade: em 1966, uma loja
localizada na Rua da Carioca (Loja 2), no Rio de Janeiro, foi fechada por apresentar
um fraco desempenho financeiro, tendo sido o seu terreno trocado por uma área que
proporcionaria a expansão da loja localizada na Rua da Uruguaiana (Loja 10), também
no Rio de Janeiro.
A partir de 1967 a Lojas Americanas iniciou esforços para instalar um Centro de
Processamento de Dados, que ocuparia um andar da Sede Social. O processamento
eletrônico já vinha sendo gradativamente adotado nas operações da companhia, junto
com um programa de treinamento e desenvolvimento do pessoal executivo.
Foram promovidos também cursos de aprimoramento para empregados novos e
antigos, lecionados pelos próprios funcionários da empresa, uma prática que se
tornaria parte da cultura da companhia.
O Relatório Anual de 1969 ressaltava o “resultado favorável de uma orientação
de maior expansão e agressividade que a empresa vem imprimindo em seus negócios
confirmando a boa orientação administrativa sem dispensar a sua produtividade”.
Destacou também a inauguração de mais uma loja, no bairro da Lapa, em São Paulo,
além da introdução do Plano de Avaliação de Cargos e Salários para seus 6.046
empregados.
A expansão geográfica, no entanto, foi efetivamente o ponto mais importante: se
em 1930 a empresa estava presente no Rio de Janeiro e São Paulo, ao final da
década de 1960 a Lojas Americanas contemplava operações em cinco Estados: São
Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
149
O quadro dos principais executivos era o seguinte: (1) Carlos Hue Jr.,
presidente; (2) John Davies, 1º vice-presidente; (3) Thomas Leonardos, 2º vice-
presidente; (4) Raul Freitas de Oliveira, 3º vice-presidente; (5) Max Landesmann,
diretor administrativo; (6) Franklin Gemmel, 1º diretor comercial; e (7) Donald C. Best,
2º diretor comercial.
O início década de 1970 foi marcado pela expansão da empresa para a região
Centro-Oeste brasileira. Foram inauguradas lojas em Goiânia, Brasília, Taguatinga e
Campo Grande. Posteriormente, a entrada no nordeste (Salvador, Fortaleza, Maceió e
Recife) e a expansão no Sul, com lojas em Londrina e Maringá, ampliou o espectro de
operações e a dimensão nacional do empreendimento. Um evento importante ocorreu
em 1971: a empresa inaugurou sua sede Administrativa, na Rua Sacadura Cabral, no
bairro Saúde, próximo ao Centro do Rio de Janeiro.
Em 1973 a empresa utilizava dois depósitos para armazenagem dos seus
produtos: um deles localizava-se no Rio de Janeiro e outro em São Paulo. O número
de empregados era 7.456. Neste ano, Thomas Leonardos, um dos vice-presidentes da
empresa, assumiu a presidência do Conselho de Administração da Lojas Americanas.
Thomas permaneceria na função até o início da década de 1980.
Este processo de crescimento veio sendo acompanhado por um Departamento
de Desenvolvimento de Pessoal, que promovia cursos de formação e aperfeiçoamento
de Assistentes de Vendas, Administrativos, Encarregadas e Chefes de Departamentos
de Lojas. Em 1973 este departamento iniciou Cursos de Gerência de Lojas. Ao longo
da década foram promovidos cursos de Chefia e Liderança e até mesmo cursos de
aperfeiçoamento para funcionários das lanchonetes.
Quanto aos investimentos em novas lojas e obras de ampliação e reforma das
lojas existentes, a Lojas Americanas evitava um alto endividamento. O Relatório Anual
do exercício finalizado em junho de 1973 mais uma vez destacava essa premissa:
A Diretoria da Sociedade prossegue envidando esforços para a
constante e permanente expansão de sua cadeia de Lojas, o que,
necessariamente, implica em vultosos investimentos, a serem feitos,
tanto quanto possível, com recursos próprios. (RELATÓRIO ANUAL,
1972/1973)
150
Em relação à gestão de informações, a empresa, nesta época, demonstrava
uma preocupação com processos contábeis e operacionais: estavam inteiramente
implantados os serviços de contabilidade, cadastro geral de todas as mercadorias,
emissão de pedidos a fornecedores e um departamento para fornecer informações aos
acionistas. Seguiram processos de microfilmagem de informações e a implantação de
uma rede de teleprocessamento em 1975, para ligação de todas as lojas à
Administração Central.
Os principais executivos da empresa eram, além do presidente Thomas
Leonardos, o vice-presidente John Davies, os diretores Franklin L. Gemmel (gerente),
Donald C. Best (comercial), Raul Freitas de Oliveira (financeiro), Carlos Augusto
Vieira, Olivar Fontenelle de Araújo e Jorge de Souza Hue.
Em 1974 a Lojas Americanas se antecipou à maioria das empresas brasileiras
com ações na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro e passou a divulgar relatórios
trimestrais, conforme decreto governamental, no formato padrão estabelecido pelo
Banco Central. Segundo Raul Freitas e Oliveira, diretor financeiro:
O objetivo primordial da divulgação desses demonstrativos trimestrais
é aprimorar o relacionamento entre esta sociedade e o público
investidor em geral, além de possibilitar um acompanhamento mais
atento e atualizado do comportamento por parte das autoridades
ligadas ao Mercado de Capitais. (O EXEMPLO..., 1974)
O movimento em direção à reestruturação dos sistemas de informação atingiu
grande parte das empresas, de forma que pudessem atender às exigências
governamentais (O EXEMPLO..., 1974).
Para acompanhar a performance das suas vendas, a empresa utilizava em seus
relatórios anuais comparações entre o crescimento das vendas e do lucro líquido com
o índice de custo de vida do Rio de Janeiro. Essa comparação fornecia ao acionista
um parâmetro de avaliação da performance da empresa em relação à inflação e o
comportamento dos lucros em relação às suas vendas. As análises do desempenho
da companhia na época destacavam a boa rentabilidade do empreendimento, acima
da inflação. Além disso, ressaltavam a política de distribuição de dividendos, bastante
constante, na base de 25% do lucro líquido. Uma reportagem da revista Bolsa, em
1975, destacava:
151
É inevitável reconhecer a estabilidade e o equilíbrio com que se
desenvolve o crescimento da empresa. O desempenho e o
crescimento da empresa não se alteram com as oscilações da
desvalorização da moeda. (VARGAS, 1975)
Para obter resultados operacionais que conseguissem suplantar a inflação, a
empresa negociava os menores preços e melhores prazos de pagamento com seus
fornecedores. As vendas, sempre à vista, eram estimuladas através da autonomia
fornecida às lojas. Gerentes e supervisores buscavam uma participação nos lucros,
cujo valor era baseado em uma avaliação sistêmica da competição entre as próprias
lojas.
No exercício de 1975 a Lojas Americanas manteve sua política de não se
endividar para financiar seu crescimento. Assim sendo, aumentou seu capital social
em 50%. Neste ano a empresa acertou a instalação de mais lojas em shopping
centers: uma no Shopping Center Ibirapuera, em São Paulo, e outra no Shopping
Iguatemi, na Bahia.
No ano de 1976, faleceu o diretor-gerente Franklin Lewis Gemmel, que estava
na empresa desde a sua fundação em 1929. Gemmel foi substituído por Henrique de
Affonseca Kerti no Conselho de Administração. Neste ano a empresa iniciou os
esforços para a implantação de um novo depósito em São Paulo, para ampliar a
capacidade de armazenagem da empresa, com melhores equipamentos e instalações
que o anterior. O depósito antigo não seria substituído. Os resultados, mais uma vez,
foram superiores aos do exercício anterior.
Durante esses anos de crescimento moderado, porém contínuo, a Lojas
Americanas desenvolveu, além do bom desempenho, uma boa comunicação com
seus nove mil acionistas, através do seu Departamento de Acionistas. Esse fato foi
reconhecido pelo mercado através do Prêmio Mauá. Instituído em 1976 pelo Jornal do
Brasil e pela Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, o prêmio destacou a Lojas
Americanas em sua primeira edição, classificando-a em segundo lugar. A empresa
não tinha grupos majoritários e sua administração recebia o apoio de todos os seus
acionistas na expansão do empreendimento, julgando ser a única maneira de a
empresa se proteger da desvalorização da moeda. Neste ano, Murillo Telles foi eleito
diretor-administrativo com a função de cuidar pessoalmente do relacionamento com os
acionistas.
152
A nova Lei das S/A, aprovada em 1975, não afetaria a política de dividendos da
empresa: enquanto a lei indicava um pagamento mínimo de 25% do lucro líquido, a
Americanas pagava em média 30% aos seus acionistas, sendo que as suas ações
estavam entre as dez mais negociadas em Bolsa.
O diretor-financeiro Raul Freitas de Oliveira ressaltava em entrevista que o
crescimento da empresa era mantido com um baixo nível de endividamento. A atitude
conservadora garantia um ritmo constante e a remuneração dos acionistas. Um
crescimento baseado em recursos de terceiros, poderia ser limitado pela necessidade
de pagamento de juros. Segundo Raul, a expansão da empresa tinha como limitação
os altos preços de terrenos. Instalar lojas em bairros nobres do Rio de Janeiro, como
Leblon e Ipanema, era inviável. Ele citou o fato de que com praticamente o mesmo
valor do terreno de um desses bairros, seria totalmente construída a loja de
Laranjeiras, a maior do Estado. Além disso, a escolha do local envolvia sempre o
estudo da cidade, embora Raul tenha admitido que o fator ocasião também fazia parte
do processo. A expansão das lojas existentes era uma alternativa utilizada pela
empresa para enfrentar a inflação (MATTOS et al., 1976).
Neste momento, a empresa atingia uma grande escala de compras e era a
cliente número um de fornecedores como os brinquedos Estrela, Gessy Lever e
fabricantes de perfumaria em geral, departamentos que registravam maior movimento
de vendas.
Entre as realizações para o exercício de 1977 (jul/76 a jun/77) estava prevista a
abertura de quatro lojas, mas apenas duas foram finalizadas. A empresa passou a
investir recursos no novo depósito de São Paulo, e as lojas seriam abertas no
exercício seguinte. Este exercício teve como ponto negativo o crescimento dos lucros
em uma proporção menor do que as vendas. A Lojas Americanas divulgou que a
razão de tal diminuição foi um programa de aposentadoria realizado com antigos
funcionários que prestavam serviços desde os primeiros anos da empresa. Segundo o
Relatório Anual, o processo “concorreu para saudável rejuvenescimento de seus
quadros administrativos”, embora a empresa tenha incorrido em custos em função dos
acordos trabalhistas.
Neste mesmo ano a empresa já divulgara o relatório trimestral contendo os
resultados até março de 1977, com resultados aquém dos esperados.
153
O treinamento do pessoal de lojas era exaltado pela empresa, por abranger todo
o país e contar com pedagogas encarregadas da formação, supervisão, avaliação de
pessoal e assessoramento de gerentes. A contribuição dos próprios funcionários – que
em alguns casos lecionavam esses cursos – era tida de grande valia para o processo.
A preocupação com a nova geração de gerentes parecia grande: foram ministrados
cursos gerenciais, administrativos e comerciais para os futuros gerentes. Henrique
Kerti, diretor da empresa, ressaltava o papel dos gerentes na operação:
Nossos gerentes são especialmente instruídos para realizarem,
periodicamente, levantamento dos preços praticados pelo comércio
existente na área de influência de cada loja.
Essa configuração garantia certa autonomia ao gerente, quando era necessário
alterar os preços dos produtos frente a um movimento da concorrência (GOMES,
1977).
Em 1976 a empresa conquistou o segundo lugar no Prêmio Mauá, mas em 1977
a Lojas Americanas foi considerada a melhor empresa em termos de comunicação
com seus acionistas, em uma premiação realizada em conjunto pela Bolsa de Valores
do Rio de Janeiro, o Jornal do Brasil e a recém-criada Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).
Na cerimônia de premiação, mais uma vez seus dirigentes ressaltaram a
pulverização do capital. Segundo Raul Freitas de Oliveira, a empresa não era apenas
de capital aberto: “Ela própria é aberta para os acionistas, intermediários e dirigentes
do mercado de ações, praticando com mania de perfeição o full-disclosure”. Se fossem
excluídos os investidores institucionais (de acordo com a lei vigente na época, nenhum
deles poderia possuir mais do que 5%), nenhum acionista tinha mais de 2% do total
(GOMES, 1977).
No exercício de 1978 (jul/77 a jun/78) a Lojas Americanas voltou a apresentar
um crescimento de lucro maior do que o crescimento das vendas, ambos com índices
superiores ao Custo de Vida do Estado do Rio de Janeiro. Neste exercício a empresa
manteve sua expansão, inaugurando as duas lojas que haviam ficado pendentes no
ano anterior (Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e Fortaleza, no Ceará), além de inaugurar
a loja de Belém, chegando a quarenta estabelecimentos, em doze Estados brasileiros,
mais o Distrito Federal. O novo depósito de São Paulo também foi inaugurado: sua
154
área era de 24.000 m2, com expansão prevista para 35.000 m2. O aparelhamento
seria feito ao longo dos meses seguintes.
O desempenho da loja de Laranjeiras (“loja 46”) foi medido de perto pela
empresa, que publicou matérias exaltando o boa performance da loja nos primeiros
dias de funcionamento. Raul Freitas, diretor da empresa, indicava que era “um
resultado bastante satisfatório e que confirma, antecipadamente, as nossas
perspectivas”, durante uma reunião com a Associação Brasileira dos Analistas do
Mercado de Capitais, no Rio de Janeiro (GOMES, 1977).
A empresa adaptou-se à nova Lei das S/A instituindo o cargo de conselheiro em
seu quadro de administração, ampliando o número de executivos. Assim, aos antigos
executivos Thomas Leonardos (Presidente), John Davies, Donald C. Best (Vice-
Presidentes), Raul Freitas (Secretário), Henrique Kerti, Murilo Telles, Antonio Joaquim
Neto, Carlos Augusto Vieira, Oliver Fontenelle e Jorge Souza Hue (Conselheiros) se
juntaram Virgílio da Silva Bastos e Jorge Diehl, que atuavam como Conselheiros. A
diretoria era formada por Raul Freitas, Henrique Kerti, Murillo Telles e Antonio Joaquim
Neto.
O desempenho deste ano foi elogiado por publicações especializadas, indicando
que a empresa vinha enfrentando as sucessivas ondas de desvalorização da moeda
com um crescimento gradual e contínuo. Algumas publicações chegavam a compará-
la a “um atleta remador que tem forças para ganhar distância remando contra as
marés”. O desempenho da empresa e a constância pela qual remunerava seus
funcionários e os acionistas continuavam dando um grande destaque à Americanas.
Entretanto, houve uma significativa queda na distribuição de dividendos: no exercício
anterior, os dividendos totalizaram 34,1% do lucro líquido; em 1978, o percentual foi
reduzido para 29,05%. Vale ressaltar que ambos estiveram acima dos 25%
estipulados pela Lei das S/A. (VARGAS, 1978).
A boa performance deste exercício fez com que a empresa planejasse uma
expansão um pouco mais agressiva para o ano seguinte. Nos últimos cinco anos, a
empresa tinha aberto em média duas lojas por ano. Seus planos para 1979
englobavam a abertura de quatro lojas, além do aparelhamento do novo depósito São
Paulo. No final de 1978, a diretoria realizou uma nova busca de recursos no mercado,
aumentando seu capital social de Cr$ 1.750 milhões para Cr$ 2.250 milhões.
155
Os resultados do relatório semestral, em dezembro de 78, mostraram um
crescimento no faturamento e nas despesas com impostos, resultante do aumento de
ICMS, em relação ao mesmo período no exercício anterior. O lucro também foi
superior, em 40,8%.
Neste momento, ao final da década de 1970, estimava-se que cerca de 750 mil
clientes visitavam as lojas da empresa diariamente, em todo o Brasil. No dia 2 de maio
de 1979 a empresa comemorou seus cinqüenta anos de existência com uma Missa de
ação de graças na Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro e uma conferência do
presidente do Conselho, Thomas Leonardos, na reunião semanal do Conselho Diretor
da Associação Comercial do Rio de Janeiro.
O número de acionistas chegou a doze mil, com a mesma composição do início
da década: nenhuma pessoa jurídica possuía mais de 5% do total das ações (que
eram todas ordinárias) e nenhuma pessoa física possuía mais de 2%. Os investidores
estrangeiros representavam apenas 2,86% do capital total e a administração se
orgulhava de dirigir uma empresa quase 100% nacional. A empresa nunca havia sido
do tipo familiar.
A Lojas Americanas era a maior empresa de comércio em termos de capital. Sua
ação era bastante negociada na Bolsa de Valores, perdendo somente para o volume
de negociação da Petrobrás, Banco do Brasil, Brahma e Acesita.
A capacitação dos empregados continuava como ponto focal do
empreendimento. Cerca de quinhentos cursos de treinamento para os funcionários
eram oferecidos anualmente. Raul Freitas, diretor, afirmava:
Temos em nossa sede uma verdadeira universidade do varejo –
criada, dirigida e operada pelos nossos principais gerentes e
executivos, possibilitando a formação de mão-de-obra especializada.
(GOMES, 1979a)
O Relatório Anual do exercício finalizado em junho de 1979 indicou o adiamento
da expansão planejada, de quatro lojas. Apenas uma loja foi efetivamente inaugurada,
sendo que três ficariam como parte dos planos para o exercício seguinte. A essas três,
se juntaria uma loja em Maringá, no Paraná, totalizando quatro. A empresa ressaltou o
completo aparelhamento do depósito de São Paulo (“conclusão da primeira etapa”),
com a instalação de prateleiras metálicas, porta pallets e empilhadeiras. Mais duas
156
áreas (“3 e 4”) estavam sendo previstas para construção em 1980, garantindo uma
área de armazenagem total de 41.000 m2.
Uma análise dos últimos seis anos (1974 a 1979) indicava um aumento das
vendas em maior proporção do que o aumento de números de empregados, área de
vendas e número de lojas. Mas ao realizar essa análise em relação ao indicador
Vendas / PIB, que elimina os efeitos da inflação, percebe-se que a produtividade das
operações somente vinha declinando, conforme os Gráficos 4.12 a 4.14:
Produtividade - Número de Empregados (1974-1979)
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
1974 1975 1976 1977 1978 1979Ano
No
Em
pre
gad
os
0,000%
0,002%
0,004%
0,006%
0,008%
0,010%
0,012%
0,014%
0,016%
Pro
du
tivi
dad
e
Número de Empregados (Vendas/PIB)*1000 / Empregados
Gráfico 4.12 – Lojas Americanas: Produtividade por Empregados, 1974 a 1979
(Fonte: Relatórios Anuais e Informações Anuais Lojas Americanas)
Produtividade - Área Vendas (1974-1979)
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
1974 1975 1976 1977 1978 1979
Ano
Áre
a d
e V
end
as (m
2)
0,0000%
0,0005%
0,0010%
0,0015%
0,0020%
0,0025%
0,0030%
Pro
du
tivi
dad
e
Área de Vendas (Vendas/PIB)*1000 / Área de Vendas
Gráfico 4.13 – Lojas Americanas: Produtividade por Área de Vendas, 1974 a 1979
(Fonte: Relatórios Anuais e Informações Anuais Lojas Americanas)
157
Produtividade - Lojas (1974-1979)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
1974 1975 1976 1977 1978 1979
Ano
No
Lo
jas
0,0000%
0,0005%
0,0010%
0,0015%
0,0020%
0,0025%
0,0030%
0,0035%
0,0040%
Pro
du
tivi
dad
e
Número de Lojas (Vendas/PIB) / Lojas
Gráfico 4.14 – Lojas Americanas: Produtividade por Número de Lojas, 1974 a 1979
(Fonte: Relatórios Anuais e Informações Anuais Lojas Americanas)
A empresa entrou nos anos 80 com uma base instalada de quarenta e uma lojas
espalhadas por todo o país, um contingente de cerca de quatorze mil funcionários e
um bom relacionamento com seus doze mil acionistas.
As operações da empresa, nessa época, eram bastante descentralizadas e
amparadas no conhecimento tácito e na autonomia concedida aos gerentes de lojas.
Havia dois processos de compra na companhia, um executado pelo Departamento de
Distribuição, outro executado pelo Departamento de Compras, por solicitação de cada
loja. O abastecimento das lojas poderia ser feito a partir de produtos estocados nos
armazéns ou produtos comprados diretamente pelas lojas. Os pedidos realizados para
os armazéns, tanto para o Rio de Janeiro quanto para São Paulo, passavam pela
Sede basicamente para serem processados.34
Quando um pedido era realizado para o armazém de São Paulo, era necessário
que a nota fiscal, que funcionava como o documento oficial de separação de itens,
fosse enviado da Sede, no Rio de Janeiro, para São Paulo via caminhão. Então um
pedido que fosse atendido pelo armazém de São Paulo demorava de um a dois dias
para simplesmente iniciar sua separação. Como havia dias de folga, o tempo de
atendimento e entrega das mercadorias poderia chegar até uma semana.
Os gerentes de loja decidiam o sortimento mais apropriado para sua loja, que
dependia de fatores como localização e poder aquisitivo da população na região. Uma
de suas tarefas era comparar a venda de um determinado dia do ano com a venda do
34 Depoimento do Entrevistado 6
158
ano anterior, em termos monetários. O controle de pedidos era realizado pelo
“Caderno de Contagens e Pedidos”, um instrumento pelo qual o gerente e o supervisor
da loja realizavam a contagem dos itens em estoque e decidiam quanto de
determinado item seria solicitado tanto ao Depósito quanto para o Departamento de
Compras. Compras cadastrava e emitia o pedido e entregava aos fornecedores.
Posteriormente, as próprias lojas cadastravam a compra e o Departamento de
Compras apenas emitia o pedido para o fornecedor.
O Departamento de Compras era formado basicamente por pessoas que tinham
sido vendedoras ou supervisoras de lojas, geralmente mulheres, e que tinham
trabalhado com os gerentes de loja diretamente. Essa configuração estimulava a
integração entre as áreas e fortalecia o poder decisório do gerente, uma vez que era
ele quem indicava as compradoras para trabalharem na Sede.
Neste período, final da década de 1970, início dos anos 80, a Lojas Americanas
iniciou trabalhos para melhorar aspectos da sua operação, entre eles a adoção de
métodos de racionalização e controle de estoques, uma vez que a economia, com o
aumento da inflação, passou a exigir uma operação melhor do que era realizada até
então. O desafio era enorme: na época, os controles eram muito manuais e, em geral,
poucos eram os funcionários acostumados com técnicas estatísticas ou modelos
matemáticos. A empresa utilizava controles da relação estoque / vendas, mas que
eram capazes de identificar apenas as conseqüências do problema, não as causas.
4.4.3. Os Anos 80 – A Entrada do Garantia
O primeiro exercício dos anos 80 (jul/79 a jun/80) foi marcado por uma alteração
na forma como as ações da Lojas Americanas eram avaliadas. Foi eliminado o valor
nominal das ações, método que viria a ser adotado pelas demais empresas do
mercado de ações. Na prática, a extinção do valor nominal fez com que as novas
subscrições da empresa fossem realizadas de acordo com o preço de mercado por
ocasião do lançamento. A empresa tinha como objetivo reduzir temporariamente a
quantidade de ações em circulação, o que se traduziu em uma decisão de não efetuar
nenhuma bonificação de capital ou chamada de capital, ao contrário dos anos
anteriores. O impacto dessa medida era imediato para os acionistas: uma maior
remuneração estaria garantida.
159
Murillo Telles, diretor administrativo, comentou na ocasião: “Queremos
caracterizar as ações da Lojas Americanas como um papel de renda, e não um papel
que se preste, apenas, a ganhos de capital” (GOMES, 1979b).
Os planos de expansão da empresa não paravam e, além das reformas e
ampliações, a Lojas Americanas planejava abrir em 1980 uma loja em um shopping
que estava sendo construído na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Era a origem
daquela que seria uma de suas principais lojas, localizada no Barrashopping. Analistas
de mercado indicavam que a não realização de subscrição de capital indicava que a
empresa já possuía os recursos necessários para sua expansão.
Os resultados preliminares deste exercício de 1980 já indicavam melhorias dos
índices da empresa, embora fosse perceptível um incremento nas despesas
operacionais. As vendas aumentaram em uma proporção maior do que os custos no
semestre finalizado em dezembro de 1979.
A expansão prevista, de quatro lojas, foi concluída com duas novas lojas em
shoppings (Shopping Center Belo Horizonte, em Belo Horizonte, Minas Gerais, e
Shopping Center Iguatemi, em Campinas, São Paulo), uma loja em Maringá e outra
em Maceió, totalizando 88.992 m2 em área de vendas. As áreas “3 e 4” do novo
Depósito São Paulo , em Barueri, foram concluídas.
A empresa não destacava, em seu Relatório Anual, qualquer preocupação com o
ambiente econômico nacional, mantendo sua política de abertura moderada de lojas
nas principais cidades nacionais. Além de reformas em diversas lojas, preparava a
abertura de mais duas lojas no exercício seguinte.
Estudos realizados no armazém da empresa em meados de 1980 mostraram
que a companhia precisaria melhorar o seu sortimento de produtos. Um estudo foi
realizado com um produto que aparentemente não deveria demonstrar uma
sazonalidade muito grande: papel higiênico. A empresa trabalhava com dezenove
marcas diferentes de papel higiênico, desperdiçando oportunidades de economia de
escala. A racionalização reduziu o número de fornecedores a oito, com seis deles
englobando fornecedores de marcas de média e alta qualidade e apenas dois deles
com marcas de baixa qualidade. Dessa forma segmentava-se as compras e os
produtos oferecidos. Para os produtos de baixa qualidade, as vendas seriam
160
concentradas e melhores negociações seriam feitas com os fornecedores. Sendo
assim, os onze produtos preteridos foram retirados do sistema de compras.35
A estrutura informal da empresa, baseada no relacionamento entre gerentes de
lojas, supervisores e compradoras, reagiria à mudança pois, como o modelo era muito
descentralizado, muitas lojas não queriam trabalhar apenas com os itens definidos
pela equipe do armazém. Pressionados pela demanda, os gerentes de loja pediam às
compradoras que cadastrassem os itens preteridos no sistema, de forma que as lojas
pudessem realizar os seus pedidos conforme o sortimento anterior à mudança. As
compradoras não eram avaliadas pelos produtos que compravam ou pelo resultado da
loja. Dessa forma, continuava a prática de existirem produtos concorrentes nas
compras do Armazém e das Lojas.
O exercício iniciado em julho de 1981 reservou algumas surpresas para a
administração da empresa. Em agosto de 1980 a diretoria encontrava-se surpresa
com um repentino aumento no volume de negócios com ações da Lojas Americanas.
Os especialistas indicavam que possivelmente existia um raider no mercado, ou seja,
um investidor cuja atividade era adquirir um número substancial de ações de uma
determinada empresa e depois tentaria negociar, diretamente com os controladores, o
lote de papéis adquiridos. Curiosamente, semanas antes, a mesma dinâmica havia
sido verificada com a Brahma.
Em meio a esses acontecimentos, o Governo brasileiro entrava em cena com
uma mudança na política de correção monetária, o que desviava a atenção e causava
grande confusão às análises de mercado (ARCHER, 1980).
Independente da presença do raider ou da agitação do mercado, o fato era que o
mercado esperava que o faturamento da empresa aumentasse 100% em relação ao
ano anterior, em valores nominais. Isso porque a diretoria decidiu reduzir os estoques
das lojas, concentrando as compras nos Armazéns de Rio de Janeiro e São Paulo.
Assim, cada loja teria seu espaço para vendas aumentado. A empresa era
considerada atraente aos investidores e possuía, como já explicitado antes, um capital
bastante pulverizado.
Para realizar a diminuição das lojas, alguns dos departamentos da Lojas
Americanas deveriam ser totalmente transferidos para os armazéns, que passariam a
35 Depoimento do Entrevistado 6
161
ser conhecidos como Centros de Distribuição. Nesse momento, o Departamento de
Distribuição verificou quão difícil seria a tarefa: sem um processo estruturado de
análise do sortimento de produtos, a seleção de mercadorias foi feita com base na
opinião de supervisoras das lojas e as compradoras:
[...] pegamos esse caderno de contagem e fomos tentar “dar uma
limpada” nele, para tirar muitos itens e deixar ele mais equilibrado
com as necessidades da loja. [...] Então fizemos essa limpeza na
lista...mas foi uma limpeza assim completamente intuitiva, tabela na
mão, isso fica, isso não fica, não tinha número nenhum. Isso vende,
isso não vende...e transferi mais da metade dos departamentos.36
Produtos para os quais os fornecedores possuíam uma estrutura de atendimento
às lojas, como vestuário masculino, comestíveis em geral e bomboniére, continuaram
com a reposição pela loja. Os demais passariam a ser comprados e controlados pelo
Departamento de Distribuição que, através do histórico de pedidos e menor
sortimento, esperava conseguir a racionalização do processo de fornecimento às lojas.
As transações entre loja e centros de distribuição eram todas rastreadas por
computador, o que permitia a visualização da quantidade atendida pelo armazém
diante do pedido das lojas. Um evento, entretanto, chamou atenção dos funcionários
da distribuição: a loja da Tijuca, uma das principais da rede, começava a apresentar
queda no nível de serviço. Uma análise detalhada indicou que a compradora da loja
havia tirado férias e uma funcionária inexperiente estava pedindo itens que não
existiam mais no armazém e, se as quantidades totais dos seus pedidos tivessem sido
atendidas, a loja da Tijuca teria estoque, em termos monetários, para os próximos
quatro anos. Erros como esses, poderiam colocar o modelo adotado em perigo. Um
paper escrito pelo Departamento de Distribuição alertou a diretoria sobre esses
eventos e os problemas com sortimento. Na época, poucas empresas nacionais
realmente realizavam um trabalho de sortimento, sendo a Mesbla uma das pioneiras
no setor. O trabalho, na Lojas Americanas, era bastante intuitivo e pouco científico.
Em meio a esse processo, entre agosto de 1980 e setembro de 1981, as ações
ordinárias da empresa sofreram investidas de diversos investidores. O Grupo Garantia
já havia iniciado suas compras de ações no mercado, em meados 1980. No entanto,
36 Depoimento do Entrevistado 6
162
sua fatia de participação não chegava a 1%. Mas a composição de capital sofreu
grande alteração, como pode ser comprovado no Quadro 4.7 a seguir (VERDINI,
1988):
Alteração da Participação Acionária - Lojas Americanas (1979 / 1980)
jun/79 Part. Acionária set/80 Part. Acionária
Fundo Crescinco 157 10,00% Fundo Bradesco 157 25,34%
Fundo Bradesco 157 6,00% Unibanco 157 21,72%
Itaú Investimentos 5,00% Itaú 157 18,26%
Itaú 157 3,30% Fundo Nacional 6,27%
Fundo Real 2,10% Fundo Real 6,27%
Oli Fontenelle de Araújo 1,50% Grupo Garantia 0,90%
Outros 72,10% Outros 21,24%
Quadro 4.7 – Lojas Americanas: Alteração da Participação Acionária, 1979 a 1980
(Fonte: VERDINI, 1988)
A movimentação das ações da Lojas Americanas no mercado tinha também
outras fontes: Mário Slerca Júnior, Eugênio Stalb (Gradiente) e a Sul América de
Seguros, eram grandes investidores que atraíram a atenção da diretoria da empresa.
Como “defesa” ao processo de compra das suas ações ordinárias, a Lojas
Americanas transformou suas ações em escriturais, de forma a identificar os
compradores das ações, reportando a estrutura acionária periodicamente para o
mantenedor Bradesco.37
O mercado de capitais no Brasil, em 1980, já previa a figura do raider, mas não
possuía nenhuma legislação específica sobre tal atuação. Os analistas da Bolsa e
investidores consideraram este movimento saudável ao mercado de capitais brasileiro,
pelo fato de o raider ser uma figura comum nos Estados Unidos.
Em meio a esse movimento, a companhia encerrou o exercício de julho de 1980
a junho de 1981, tendo executado seu plano de abertura de duas lojas, estabelecendo
dessa forma uma rede de quarenta e sete unidades nos seguintes Estados: Rio de
Janeiro (treze lojas), São Paulo (treze), Minas Gerais (quatro), Paraná (três), Distrito
Federal (duas), Rio Grande do Sul (duas), Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Goiás,
37 Ações Escriturais: ações nominativas, cujo controle da posição dos titulares é feito por instituições financeiras especificamente autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM para a prestação do serviço de ações escriturais. CVM, 2005
163
Mato Grosso do Sul, Ceará, Pará, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte (todos com
uma loja cada).
O faturamento foi 86% maior do que o ano anterior e o número de funcionários
chegou a 13.200. Entre os planos da empresa, além da continuidade da expansão,
estava a construção de uma nova sede, na Barra da Tijuca, de forma que as áreas
administrativas, que estavam espalhadas por quatro prédios sem possibilidade de
expansão, ficassem em um mesmo local. O trabalho de melhoria de sortimento, agora
auxiliado por supervisores designados especialmente para a tarefa nas lojas, ainda
não tinha surtido o efeito desejado, supostamente pelo envolvimento destes com a
cultura existente na empresa.
Em setembro de 1981, um telex enviado pela própria Lojas Americanas à Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro trazia uma notícia surpreendente para o mercado: o
Grupo Garantia era o novo acionista majoritário da empresa, com 21% do capital
votante. O Garantia havia adquirido de forma gradual e discreta, nos últimos quatro
meses, todo o capital necessário para assumir o controle acionário. Durante todo esse
período os sócios do Garantia pouco se pronunciaram sobre o assunto e especulou-
se, na época, que o novo controlador havia adquirido 8% do capital da empresa do
investidor Mário Slerca Júnior, que teria vendido sua participação com razoável lucro.
O restante, supunha-se, poderia ter sido adquirido do Fundo Crescinco.
Os diretores da empresa não consideraram a aquisição das ações pelo Garantia
como uma transferência do controle acionário. Os analistas de mercado não tinham
dúvida: “Se há um ano o Banco Garantia não tinha nenhuma posição no capital da
empresa e hoje reúne 20% de suas ações, é óbvio que ele visa conquistar o controle”
(LOBATO, 1981).
O Garantia se aproveitou da legislação vigente, que não obrigava os investidores
a prestar informações ao mercado toda vez que pretender adquirir uma grande
quantidade de ações de uma determinada empresa. Nos EUA, esse procedimento
devia ser feito sempre que o investimento superasse 5% do capital disponível de uma
companhia.
Seguiu-se então um certo suspense até a Assembléia dos Acionistas, que foi
realizada no dia 14 de outubro de 1981. A diretoria da Lojas Americanas tentou
impedir a entrada de acionistas que haviam adquirido títulos nas duas semanas
164
precedentes à Assembléia, e até mesmo a presença dos representantes da Bolsa do
Rio de Janeiro e da imprensa foi inicialmente vetada. Mas o que alguns periódicos
chamaram de "encenação" não gerou maiores problemas. Em quarenta minutos, com
a presença de 250 pessoas representativas de 401 acionistas (69% do capital), a
reunião não passou de um ritual para confirmar acordos feitos pela diretoria.
O Grupo Garantia passou a ocupar um lugar no Conselho de Administração
através de Carlos Alberto da Veiga Sicupira, diretor do Garantia, além do
representante de outro acionista importante, Sérgio Ribeiro, do Grupo Sul América de
Seguros, que detinha 1% do capital. Para abrigar os antigos ex-conselheiros, o
fundador Donald Charles Best e Carlos Augusto Vieira, a Lojas Americanas criou um
Conselho Consultivo. A empresa decidiu, na mesma reunião, adiar o pagamento de
bonificação aos acionistas.
O conturbado processo gerou diversas conseqüências ao mercado acionário
brasileiro. O então presidente da CVM encaminhou projetos para regulamentar a
aquisição de controle via Bolsa e melhorar o processo de transparência das ações
escriturais.
Durante o exercício seguinte, julho de 1981 a junho de 1982, já com Carlos
Alberto Sicupira e Sérgio Augusto Ribeiro no Conselho, tendo sido mantidos na
Diretoria Raul Freitas de Oliveira, Henrique Kerti e Antonio Joaquim Neto, a Lojas
Americanas constituiu uma sociedade para gerir os seguros da companhia, a Lasa
Corretora de Seguros S/A.
A empresa havia passado pelo início da década de 1980 sem grandes
problemas, mesmo com a retração do consumo e a restrição do crédito desta época.
Os salários desgastados com a alta inflação não foram um fator de contenção de
compra dos produtos populares negociados pela companhia.
O ano de 1981 foi particularmente rigoroso com as firmas do comércio, uma
conseqüência do período entre 1977 e 1979, que havia sido caracterizado pela
restrição de crédito, bem como pela correção incompatível da massa salarial. As
tentativas de controle da inflação ocasionaram um desestímulo às atividades
industriais, aumentando os índices de desemprego e, conseqüentemente, reduzindo o
poder de compra da população.
165
A companhia abriu mais uma loja, no recém inaugurado Barrashopping, no Rio
de Janeiro, mantendo seu plano inicial de expansão. As obras de construção do
Centro Administrativo da Barra da Tijuca, no entanto, foram adiadas. A razão: a atual
conjuntura econômico-financeira do país e o alto volume de recursos que deveriam ser
despendidos para tal empreendimento. Os planos para o exercício seguinte envolviam
a abertura de apenas mais uma loja e a reforma e ampliação de três outras.
A antiga diretoria não seria responsável pelo Relatório Anual de 1983. O
Conselho de Administração da empresa apresentava os novos dirigentes da empresa:
Carlos Alberto da Veiga Sicupira (Presidente), Alcir Teixeira de Lima, que ingressou
como o novo diretor financeiro, Jayme Leivas Bastian Pinto, Jorge Paulo Lemann,
José Rodrigues Pinto e Marcel Herrmann Telles. Na Diretoria estavam Sicupira (diretor
superintendente e relações com o mercado), Alcir Teixeira de Lima e Sérgio Giorgetti.
Estava completa a tomada de controle por parte do Grupo Garantia.
2.1.1.4. O Grupo Garantia
O Grupo Garantia (atualmente conhecido como GP Investimentos) tinha como
pilares as figuras dos seus sócios principais: Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto
Sicupira, Marcel Herrmann Telles e Cláudio Haddad. Mas Lemann é o executivo que
melhor personifica o Grupo desde sua fundação até 2004, quando deixou a GP.
Lemann foi um dos poucos empresários brasileiros que tiveram acesso a empresários,
executivos e personalidades internacionalmente famosos, como o mega-investidor
Warren Buffett, o japonês Matsushita e Jim Collins.
Nascido em 1944 no Rio de Janeiro, filho de pai suíço, Lemann formou-se em
Economia em Harvard e fez pós-graduação na Suíça. Durante a adolescência e
juventude, dedicou-se ao tênis, tendo se sagrado campeão carioca e brasileiro. Em
meados da década de 1960, Lemann ingressou no mercado de capitais, operando
uma financeira. O empreendimento não funcionou como esperado e, poucos anos
após a abertura, foi à falência. No empreendimento seguinte, uma corretora chamada
Libra, Lemann desentendeu-se com os sócios e vendeu sua participação. Antes disso,
entre 1967 e 1971, o empresário escreveu uma coluna semanal sobre o mercado de
ações no Jornal do Brasil, com o título de "Nos Bastidores da Bolsa".
Lemann não abandonou o setor e acabou criando, em 1972, a Corretora
Garantia, que logo depois seria transformada em banco de investimentos com uma
166
atividade batizada de private equity, na qual foi pioneiro no Brasil. O banco era de
característica atacadista. Aos poucos, o Grupo foi formando uma rede de
investimentos, principalmente na década de 1980. Entre as empresas adquiridas estão
a Lojas Americanas (varejo), a Artex (indústria têxtil de Santa Catarina) e, talvez sua
maior realização, a Companhia Cervejaria Brahma, em 1989. Com uma reestruturação
radical, a cervejaria foi transformada rapidamente em uma empresa modelo e hoje
domina o mercado de cerveja no Brasil, tendo atingido seu ponto alto com a criação da
AmBev, a partir da incorporação da rival Antarctica. Mais recentemente, em 2004, a
AmBev realizou uma fusão com a cervejaria belga Interbrew, dando origem à Interbev,
a maior empresa cervejeira do mundo em termos de volume de produção.
A história de negócios do Garantia mostra sucessos e fracassos. O investimento
na Artex foi problemático. US$ 10 milhões foram investidos e três aumentos de capital
de US$ 50 milhões realizados. Hoje, a empresa vale menos do que o investido. O
problema mais sério acabou ocorrendo com o próprio Banco Garantia. Depois de anos
de bom desempenho e liderança de mercado, a instituição não resistiu aos estragos
provocados pela Crise da Ásia, em 1996, e moratória Russa, em 1998. Os sócios
foram obrigados a vendê-lo para o Credit Suisse First Boston.
Os executivos do Grupo Garantia sempre adotaram uma postura discreta em
relação aos seus empreendimentos e vida pessoal. Lemann talvez seja o maior
exemplo desse comportamento, tendo realizado poucas aparições em público e dado
poucas entrevistas. Internamente, os executivos não usavam ternos nem possuíam
secretárias particulares; trabalhavam em salas coletivas e muitas vezes em mesas
coletivas. A comunicação interna era igualmente informal, sem obstáculos, pois não
havia paredes nem divisórias. A revista Exame publicou, em 1991, quando a Brahma
ganhou o prêmio de empresa do ano, que se quisesse conseguir um bom lugar para
seu carro no estacionamento, o presidente da empresa, Marcel Telles, teria que
chegar antes que os outros. Não havia vagas demarcadas.
O foco nos empreendimentos e busca de talentos fez com que o Garantia
obtivesse no mercado a fama de formador de pessoas. Jorge Paulo Lemann dava
especial importância ao desenvolvimento pessoal:
Durante 27 anos eu atuei principalmente como banqueiro de
investimentos, fui considerado um financista. Mas, na realidade eu era
um administrador de talentos: procurava jovens excepcionais, tentava
167
orientá-los, dar-lhes oportunidades, desenvolvê-los. Fiz isso até 1998
[...] Eu ainda faço essa parte de acompanhar as pessoas, mas isso
era muito mais intenso na época do banco, com trezentos associados,
quando entrevistávamos oitocentos por ano para contratar vinte. O
banco atraía o que tinha de melhor no mercado e, mesmo assim, só
atrair os melhores não era suficiente. Além de atrair, você tem de
reter, estimular, orientar e dar oportunidades para as pessoas.
(NETO, 2001, p.11)
Entre os “mandamentos” pregados por Lemann estavam: ética, proatividade,
aprendizado contínuo, trabalho em equipe e compartilhamento de conhecimento. Para
isso, o Garantia implementou no próprio banco e nas empresas administradas
sistemas de avaliação e sociedade com os funcionários. Na AmBev, por exemplo,
estavam presentes várias características que antes eram particularidades do banco:
os funcionários eram avaliados regularmente, participavam de um programa de bônus
e tinham a possibilidade de comprar ações (stock options). Segundo Lemann uma boa
remuneração estaria amparada no tripé salário bom, bônus e stock options. Os
processos de seleção para as empresas do Grupo buscavam, segundo Lemann,
“pessoas competitivas, que queiram andar para frente, que tenham certa
agressividade, que rodem sozinhas. Não existe isso de tocar um negócio
utopicamente como se fosse um clube de amigos, só fazendo coisas agradáveis.”
O Grupo Garantia tinha como praxe utilizar benchmarking de forma a definir as
metas de performance das empresas que operavam. Alguns exemplos dessa prática:
o banco Garantia com a Goldman Sachs, a Brahma com a Anheuser-Busch e a Lojas
Americanas com a Wal-Mart. A visão do ganho no curto prazo era substituída por uma
política de ajuste e valorização das empresas, onde o foco era construir algo
duradouro.
Como valorizava o desenvolvimento pessoal dos sócios, novos negócios do
Garantia eram entregues aos executivos considerados mais talentosos por Lemann.
Foi assim quando Sicupira assumiu a Lojas Americanas em 1983 e com Marcel Telles,
“o brilhante chefe da mesa de operações do Banco Garantia” (JARDIM, 1996), quando
este assumiu a presidência da Brahma, adquirida em 1989. Posteriormente, em 1993,
Sicupira assumiu a recém-criada GP Investimentos. É importante ressaltar: a Lojas
Americanas e a Brahma foram compradas pelos sócios principais do Garantia na
168
época (Lemann, Sicupira, Telles e Cláudio Haddad) e não eram, portanto, ativos do
banco.
A GP Investimentos não deve ser confundida com o Banco Garantia. A GP,
criada em 1993, é uma empresa de investimentos, independente do banco e cujos
sócios são investidores institucionais estrangeiros. A companhia compra e administra
empresas para um fundo de investimentos. Em 1996, eram US$ 500 milhões
aplicados, o que o tornava o maior fundo do país no gênero.
A venda do Banco Garantia em 1998, somada ao prejuízo da Lojas Americanas,
em 1996 e 1997, e à problemática Artex, abalaram a lenda criada em torno do Grupo,
de que sempre entrava em negócios lucrativos. Nesse momento pesou a ausência de
uma política de relações públicas do Grupo, que ficou sujeito a uma série de boatos. A
reação foi, além da divulgação de informações na imprensa, a adoção de uma postura
mais moderada em seus negócios, tornando-se definitivamente um administrador de
recursos de terceiros para investimentos em empresas, sobretudo as de alta
tecnologia. Além disso, passou a utilizar parceiros nestes novos empreendimentos,
após análises mais criteriosas sobre a viabilidade dos negócios. Esses parceiros
oferecem um aporte de capital na empresa adquirida em troca de uma participação
acionária, entre 20% e 50%. Esses recursos iniciais são utilizados para acelerar o
crescimento das operações. Posteriormente, o grupo utiliza sua rede de parceiros para
novos aportes de capital.
Recentemente a empresa tem investido em companhias de Internet (o site de
vendas Submarino.com) e infra-estrutura, com a aquisição de parte da Rede
Ferroviária Federal e a criação da empresa América Latina Logística (ALL). Em 2004,
Lemann, Marcel e Sicupira deixaram a GP, mantendo suas participações na Lojas
Americanas e AmBev. Em agosto de 2004, a empresa era administrada por treze
sócios, entre eles Carlos Medeiros, Alexandre Behring, Octavio Lopes, Fersen
Lambranho, Antonio Bonchristiano e Nelson Rozental. As bases da administração,
entretanto, continuam as mesmas: meritocracia, simplicidade, copiar o que há de
melhor no mercado, ênfase em processos bem montados, obsessão com o custo e
entusiasmo (GRINBAUM, 2004).
169
4.4.4. Os Anos 80 – O estilo Garantia
Algumas histórias, posteriores à tomada de controle da empresa realizada em
1982, davam a medida exata do que o Garantia pretendia para as operações da Lojas
Americanas. Logo depois da efetivação de Sicupira no Conselho da empresa ele e
Jorge Paulo Lemann, sócio-fundador do Garantia, visitaram a sede da Wal-Mart, em
Bentonville, no Estado de Arkansas, Estados Unidos. Foram recebidos por Sam
Walton, então presidente da empresa. Os sócios procuraram aprender com o fundador
e dono da maior rede varejista do mundo o máximo sobre a atividade comercial.
Lemann tornou-se amigo pessoal de Walton, pois tinham em comum, além da
agressividade nos negócios, a prática do tênis.
Ao utilizar a Wal-Mart como benchmarking, a Lojas Americanas direcionou seus
esforços para o controle de custos, de forma a passar qualquer ganho na negociação
com o fornecedor ou economia para o consumidor. O objetivo não era aumentar a
margem repassando custos para o cliente, mas reduzir os custos de forma que,
utilizando a mesma margem, a empresa poderia oferecer um preço melhor que o da
concorrência.
Logo após assumir o controle da companhia, a nova diretoria imprimiu uma
pressão financeira sobre o nível de estoques. A área de Distribuição, que lidava com
problemas desde o final da administração antiga, passou a responder com maior
freqüência pelos problemas encontrados. Entre as medidas para melhorar a
organização de informações entre as unidades da operação estava a adoção da
codificação de produtos segundo a associação internacional de comércio National
Retail Mutual Association (NRMA).
Os funcionários da companhia ficaram inseguros, com medo da pressão
exercida pelos novos controladores. A nova administração teve como foco entender a
operação das lojas, buscando o que poderia ser melhorado “de fora para dentro”, e
diminuir o tamanho da estrutura, em um período em que a economia brasileira
começava a dar mostras de recuperação.38
38 Depoimento do Entrevistado 6
170
A nova administração, sob o ponto de vista de funcionários, era muito atuante.
Em reuniões com a antiga diretoria, ao contrário, percebia-se um comportamento
hesitante e tímido:
A administração anterior era muito hesitante. Você entrava numa
reunião, colocava os pontos, [...] aí discute dali, discute daqui, o cara
diz que não é bem assim e no final você não sabia direito o que era
para fazer. 39
O ano de 1982 trouxe mudanças organizacionais para a empresa com
transferência do Departamento de Distribuição, que ficava alocado no Depósito em
Parada de Lucas, para a Sede na Rua Sacadura Cabral, no Centro do Rio de Janeiro.
A intenção era unir esse departamento ao Departamento de Operações Comerciais,
em busca da racionalização das operações e reduzir funções duplicadas.
O trabalho de sortimento, no entanto, demorou a ser iniciado. Havia poucas
pessoas interessadas em iniciar um trabalho de análise dentro da Lojas Americanas.
Ainda nessa época, a cultura anterior, que valorizava a descentralização e a intuição
do gerente de loja, era muito forte e, quem quer que desejasse racionalizar o
processo, iria encontrar bastante resistência e dificuldades. Ainda assim, o trabalho
começou a ser realizado pela área de Operações Comerciais, com apoio de Sicupira,
ainda que sem a experiência ou know-how necessários para que bons resultados
fossem alcançados. O problema mais grave era a integração das operações
comerciais com o pessoal de compras. 40
Em 1983, em um esforço para trazer know-how para a Lojas Americanas, a
empresa constituiu uma nova controlada, a Tecnologia de Varejo S/A, com a finalidade
de prestar serviços de assessoria econômica, comercial, de marketing e de
arquitetura. A primeira ação da empresa foi a contratação de um especialista em
apresentação visual das lojas, para homogeneizá-las e tentar reduzir a diversidade da
oferta.
O Departamento de Compras foi oficialmente integrado ao Departamento de
Operações Comerciais. Era uma tentativa de os funcionários do departamento de
compras aceitarem e entenderem as análises que vinham sendo realizadas pelo
39 Depoimento do Entrevistado 6 40 Idem
171
Departamento de Operações Comerciais. Essa iniciativa se mostraria acertada
futuramente. Assim, o chefe do Departamento de Compras ficou exclusivamente
focado nas negociações e o chefe de Operações Comerciais ficou responsável pelo
planejamento e gerenciamento do sortimento, até mesmo pela contratação de novas
pessoas para o departamento.
O novo departamento, em conjunto com o pessoal de compras, implantou alguns
procedimentos para que os estoques fossem reduzidos e iniciou o desenvolvimento de
novos sistemas operacionais. A política de preços tornou-se mais agressiva e, em
outubro de 1983, com o exercício social alterado, ocorreu um aumento no faturamento
da Americanas. Em paralelo a esse processo, parte de seu quadro de funcionários foi
dispensado: em 1981, eram 13.200 empregados; em 1984, totalizavam 11.468.
Neste momento a empresa contava com quarenta e nove lojas e competia
diretamente com a Lojas Brasileiras S/A e, em alguns departamentos, com a Mesbla e
com a Sears. Não realizava concorrência direta a supermercados, no tocante a
comercialização de alimentos.
O Relatório Anual de 1984 ressaltava o fato de que a empresa estava crescendo
em um ritmo maior do que o da inflação. Mesmo assim não deixava de indicar que
tanto a própria inflação quanto o achatamento dos salários havia tornado o quadro
nacional do varejo bastante crítico.
Apesar do resultado positivo, a diretoria demonstrou preocupação com suas
operações:
Apesar de considerarmos o resultado satisfatório acreditamos que
poderia ter sido melhor já que durante cinco meses a companhia
trabalhou com estoques superiores ao que consideramos necessário,
tendo essa situação sido corrigida a partir de julho. (RELATÓRIO
ANUAL, 1983/1984)
Outro ponto importante foi o desenvolvimento, pela própria empresa, de um
protótipo para as novas lojas, já com a atuação da Tecnologia do Varejo. Segundo o
Relatório Anual, estas lojas teriam novos conceitos, e o protótipo estava em operação
desde março de 1984. A empresa passou a ter metas um pouco mais audaciosas do
que anteriormente. Ao invés de planejarem a abertura de uma ou duas lojas
172
anualmente, os novos administradores planificaram a abertura de quatro novos
estabelecimentos em um mesmo ano.
Um movimento começou a ganhar força no Departamento de Operações
Comerciais: a contratação de compradores e assistentes de compra com curso
superior, que contrastava com o perfil de funcionários da área que até então era
formada por pessoas com experiência de loja, sem formação acadêmica superior.
Seguindo uma tendência de abertura de novas empresas controladas, a Lojas
Americanas constituiu a Direta Propaganda S/A, uma subsidiária responsável pela
publicidade e propaganda do Grupo.
A Americanas ingressou no setor de Crédito ao Consumidor ao adquirir a
Universal Financeira - Crédito, Financiamentos e Investimentos S/A, em associação
com o Banco de Investimentos Garantia. O objetivo era oferecer, no curto prazo,
serviços financeiros aos clientes da Lojas Americanas.
Apesar do cenário econômico-político instável, com quedas de 5,1% nas vendas
do setor varejista (EXAME MELHORES E MAIORES, 1985), a Lojas Americanas foi,
segundo a revista MELHORES E MAIORES da Exame, a maior empresa do varejo em
crescimento de vendas e a que apresentou o maior lucro, tendo sido agraciada com o
título de melhor empresa do setor na edição de 1985 da pesquisa, à frente de
concorrentes como Mesbla, Casas Pernambucanas, Hermes Macedo, Mappin e Casas
Bahia.
Sicupira ressaltou que o ganho de 1983 para 1984, em termos reais, não havia
sido grande, mas enquanto as demais firmas do varejo tiveram problemas com a lenta
recuperação da economia, a Americanas havia realizado estudos sobre suas linhas de
produtos, concentrando as compras nos itens mais consumidos pelos clientes. Outro
ponto ressaltado foi o repasse de uma média de 6% do lucro aos funcionários com
mais de um ano de empresa e a avaliação de desempenho realizada semestralmente
(EXAME MELHORES E MAIORES, 1985).
Em 1985, a Universal Financeira teve sua razão social alterada para Facilita
Crédito, Financiamento e Investimento S/A, nome pelo qual a empresa é conhecida
atualmente, passando a integrar a seção de investimentos do Relatório Anual da Lojas
Americanas. Neste mesmo ano, uma nova empresa controlada foi formada: a Lojas
173
Americanas da Amazônia S/A. Esta empresa tinha como objetivo o comércio interno e
internacional de produtos primários, manufaturados e semi-manufaturados. O ano de
1985 havia sido caracterizado por uma alta inflação e pela volta de um governo civil
após vinte anos de ditadura.
No início do exercício de 1986, de janeiro até dezembro daquele ano, a empresa
constituiu mais duas companhias: a rede Só Brinquedos, especializada em
brinquedos, e a Pacto S/A, com as lojas de desconto de vestuário “Mais por menos”.
O clima de otimismo inicial do Plano Cruzado, fez com que o varejo tivesse um
ano atípico, em relação aos anteriores. Logo o otimismo foi substituído pelo
pessimismo, uma vez que o congelamento de preços e o desabastecimento de
mercadorias colocaram a tentativa de estabilização da economia em cheque.
As vendas reais da empresa não apresentaram grande variação: um aumento de
2,24%. Mais uma vez o descontentamento da diretoria foi expresso no Relatório Anual,
que classificou os resultados como “insatisfatórios” (RELATÓRIO ANUAL, 1986).
Neste ínterim, a empresa reagiu à crise posterior ao Plano Cruzado da seguinte
forma:
- cancelou promoções de forma a se proteger das indefinições da política
governamental de preços;
- descontinuou os produtos cujo custo liquido ultrapassou os preços congelados ou
tabelados.
A diretoria da empresa não poupou críticas às próprias falhas operacionais.
Entre os mais problemáticos estava o setor de compras e reposição de mercadorias.
Com uma estrutura descentralizada, a companhia perdeu oportunidades de
comercialização por falta de mercadorias, no momento em que o consumo
encontrava-se aquecido, logo após o Plano Cruzado. Posteriormente, a falta de
mercadorias impossibilitou uma melhor performance no final do ano. Oportunidades de
realizar promoções foram desperdiçadas “principalmente por falhas de planejamento e
logística”. Em resposta a essa deficiência, a Lojas Americanas colocou como
prioridade para o ano seguinte a implementação da nova estrutura da área de
compras e de planos de sortimento mais balanceados, além da implantação de novos
sistemas de controle. As compras e a reposição de mercadorias seriam centralizadas.
174
Este cenário contribuiu para que o lucro líquido representasse 7,47% das vendas
líquidas, proporção inferior à de 1985. As despesas operacionais e financeiras caíram
pelo terceiro ano consecutivo, em relação às vendas líquidas, indicando uma
constante preocupação com estes itens.
A Lojas Americanas realizou novos investimentos em 1986. Além da Só
Brinquedos e da Pacto, a empresa efetuou a construção de dois Strip Centers.41 Esses
pequenos shoppings possuíam quarenta lojas de propriedade da Americanas. Essas
lojas eram selecionadas de forma a complementar a operação da loja âncora. Os
primeiros Strip Centers foram lançados em Joinville e Presidente Prudente.
Foi um ano de consolidação das primeiras operações da Facilita. A empresa
constituiu, após uma fase de testes, operações de crédito em dez Lojas Americanas,
em quinze coligadas e nos Strip Centers. Mais uma loja foi adicionada à rede da Só
Brinquedos, totalizando cinco estabelecimentos.
José Paulo Ferraz do Amaral, antigo executivo da Mesbla, ingressou na Lojas
Americanas no exercício de 1986 e assumiria, seis anos depois, a superintendência
executiva da companhia. Zé Paulo, como era conhecido, pôde agregar todo o know-
how que havia adquirido na empresa concorrente no processo de melhoria do
sortimento. Apesar de ter conseguido avanços, o Departamento de Operações
Comerciais não contava com uma experiência anterior, tendo aprendido com os
próprios erros e visitas a varejistas no exterior (Wal-Mart e Sears).
A filosofia de controle de custos, começava a apresentar resultados: entre 1984
e 1986 a participação das despesas gerais e administrativas na receita bruta foi
reduzida, em média, 3% ao ano. Era muito importante a inspiração no modelo da Wal-
Mart. Desde a entrada de Sicupira, os funcionários eram chamados de “associados”,
assim como na rede norte-americana. A entrada social da Sede era para os
fornecedores. Todos os funcionários, sem exceção, entravam pelos fundos do edifício,
por um elevador de carga onde existiam placas como “Entrada dos associados” ou
“Você que é associado...”:
41 Strip Center - consiste em um pequeno shopping center ancorado por uma Lojas Americanas. (Relatório Anual, 1986)
175
Nessa época nosso contato com a Wal-Mart era muito grande; a
inspiração do Wal-Mart para a gente era muito grande. E a Wal-Mart
sempre foi muito focada em operação de baixo custo.42
Zé Paulo acelerou o processo de melhoria no sortimento da Lojas Americanas e
passou a ser o principal responsável pelo destino comercial da companhia, com o
fortalecimento de conceitos como “oferecer pela perspectiva do cliente” e a
centralização da compra. Apesar de Sicupira ser o presidente da empresa, todo o
know-how e estilo de Zé Paulo foram importantes ferramentas para o crescimento da
companhia.
Inicialmente, Zé Paulo realizou uma pesquisa para descobrir de fato quem era o
cliente da Lojas Americanas. A pesquisa apontou que o público freqüentador era
formado pelas classes C, D e E, e o consumo era realizado principalmente pelas
classes B e C. A lógica, então, passou a ser atrair a freqüência das classes B e C que,
com maior poder aquisitivo, poderiam alavancar as vendas da empresa.43
Dessa forma, a Lojas Americanas começou a atuar, mais firmemente, em
mercados que eram dominados por firmas varejistas que, aparentemente, possuíam
custos operacionais maiores do que os dela. Ou seja, produtos que não exigiam
diferenciação, como brinquedos, compact discs, parafusos, fraldas descartáveis ou
papel higiênico, tinham grande possibilidade de serem comercializados a um preço
menor do que o dos concorrentes, abrindo um enorme potencial de crescimento para a
firma. A homogeneização das lojas e do sortimento estavam tornando a Lojas
Americanas mais focada no seu público alvo.
Ao mesmo tempo, o processo de renovação de recursos humanos no
departamento de compras continuava, com a contratação de profissionais com nível
superior.
Ao longo do ano de 1987, a Americanas apresentou resultados trimestrais
sempre inferiores aos do ano anterior. Os primeiros trimestres do ano foram
influenciados pelo congelamento dos preços e um reajuste salarial por parte do
governo. Essa estratégia de combate à inflação estimulou a demanda de produtos, ao
mesmo tempo em que os fornecedores tinham dificuldades em efetuar o
42 Depoimento do Entrevistado 6 43 Idem
176
abastecimento das lojas no ritmo desejado. Resultado: os custos de fornecimento
subiram, mas os preços congelados impediram que esse valor fosse repassado aos
consumidores.
A alta inflacionária, que não foi reduzida com o Plano Bresser, diminuiu o poder
de compra dos consumidores, resultando na queda do consumo. Neste cenário
conturbado, o setor varejista viu-se obrigado a reduzir suas margens, sem que
houvesse um aumento no volume de vendas.
As subsidiárias Facilita, Só Brinquedos e Direta Propaganda apresentaram bons
resultados, impactando positivamente o resultado da equivalência patrimonial no
balanço da empresa. Neste ano, a Americanas foi classificada como a segunda maior
empresa do varejo em vendas, pela revista Melhores e Maiores da Exame.
Em 1988, a empresa passou a apresentar resultados melhores do que nos anos
anteriores. Mais uma vez foi agraciada pela Melhores e Maiores da Exame como a
melhor firma do varejo nacional, na edição publicada em agosto de 1989. Entretanto o
Relatório Anual confirmava o descontentamento da diretoria: “Uma melhoria na gestão
de estoques e uma redução em nossas despesas estão longe de significar uma marca
de eficiência”. Das quatro lojas planejadas, apenas duas foram inauguradas. As outras
foram adiadas para 1989.
Os investimentos na infra-estrutura operacional da empresa começaram a ser
um tema de importância no Relatório. Em 1988 foi iniciado o processo de automação
das áreas de apoio das lojas, beneficiando controle de estoque e o balanceamento de
sortimento.
A Facilita implantou operações de crédito automotivo em sessenta lojas e a rede
Só Brinquedos consolidou a sua rede, que já contava com vinte lojas.
Os planos para o exercício seguinte demonstravam uma postura mais agressiva
da empresa. A previsão era de realizar a abertura de quatorze lojas e remodelar cinco.
A automação das lojas era prioridade. Para desenvolver um corpo de funcionários
capaz de responder a essa expansão a Lojas Americanas elaborou um plano para
implementar um programa de trainees.
A expansão seria realizada com recursos próprios. A diretoria considerava de
suma importância manter uma situação financeira de baixo comprometimento. As
177
palavras finais deste Relatório reforçavam a idéia de que a situação nacional não
serviria de desculpa para um mau desempenho:
[...] é responsabilidade da Administração evitar que a crise à espera
de dias melhores permeie nossa organização. A crise que tememos é
a da incompetência, de falta de confiança e entusiasmo, e da
acomodação. (RELATÓRIO ANUAL, 1988)
Essa situação financeira de baixo comprometimento era sustentada por uma
estrutura enxuta, mas que enfrentava um processo de crescimento. A direção da
empresa, apesar dos bons resultados e premiações, mantinha uma política de
austeridade, informalidade e ausência completa de mordomias para os diretores. A
parceria com os fornecedores, baseada em um bom relacionamento mesmo em
períodos de crise, era apontada como fundamental, principalmente porque a empresa,
neste momento, vendia apenas à vista, aplicando no mercado financeiro os ganhos
obtidos até o prazo final de pagamento com seus fornecedores (EXAME MELHORES
E MAIORES, 1989).
Os compradores passaram a ser cada vez mais cobrados para visitar e
desenvolver esses fornecedores. Estreitar a relação com os fornecedores permitiria o
entendimento das suas limitações, verificar as possibilidades de desenvolvimento de
novos produtos e embalagens, planejar promoções em conjunto, aproveitando-se da
descontinuidade de uma determinada linha de produtos, e garantir a prioridade na
entrega de pedidos urgentes.
Mas em 1989, somente dez lojas das quatorze previstas foram efetivamente
inauguradas. Essa expansão possibilitou um crescimento real de cerca de 30% nas
vendas da empresa. A rede Só Brinquedos foi ampliada para trinta e uma lojas, mas a
Facilita teve suas operações reduzidas “por razões conjunturais”.
O programa de trainees foi efetivamente implementado, incorporando à empresa
profissionais de nível universitário que pudessem ocupar posições de liderança na
Americanas.
Uma reestruturação societária colocou sob o controle da Tecnologia de Varejo
S/A as subsidiárias Direta Propaganda S/A, a Só Brinquedos, a Facilita e a
Empreendimentos São Carlos S/A A São Carlos foi criada neste mesmo exercício para
178
realizar a administração dos Strip Centers em Joinville e Presidente Prudente, além de
fomentar a construção de novos centros comerciais de pequeno e médio porte.
Apesar da alta inflação e da incerteza política relacionada com as eleições de
1989, a primeira após os anos de regime militar, a Lojas Americanas manteve seu
plano de expansão, com a previsão da ampliação e reforma das lojas, sempre com
recursos próprios.
É importante ressaltar o destaque dado pela companhia aos investimentos em
processamento de dados e nas experiências de técnicas no Centro de Distribuição de
São Paulo.
Nesta época, a Lojas Americanas estava iniciando a implementação de um
modelo de previsão de vendas, baseado no comportamento da demanda de todos os
seus produtos. O modelo de vendas previa a criação de uma Curva de Sazonalidade
para cada produto, que serviria de guia para o planejamento de vendas ao longo do
ano. Este modelo foi desenvolvido pelo então Diretor Financeiro Jose David Villela
Ubá e especialistas externos em simulação.44
Outro ponto marcante foi a constituição de um sistema de avaliação que envolvia
toda a estrutura de compra e vendas da companhia. Anualmente, os compradores,
seus superintendentes diretos, a diretoria e o diretor-superintendente definiam metas a
serem alcançadas no ano seguinte. Existiam metas quantitativas, como um aumento
de venda percentual para toda a empresa, metas qualitativas, como a introdução de
um novo produto ou desenvolvimento de um novo fornecedor, e metas específicas de
crescimento para cada Departamento de Produtos. A introdução de produtos novos no
sortimento era obrigatória.
Nunca vi metas tranqüilas. [...] Claro que isso servia de ranking. O
ideal era que você estivesse vendendo mais, atingindo ou de
preferência superando a previsão de vendas, que você tivesse
resultado na margem, no efeito financeiro e que não tivesse quebra
de estoque. [...] E um produto novo? Nossa isso era muito
valorizado. 45
44 Depoimento dos Entrevistados 2 e 6 45 Depoimento do Entrevistado 2
179
O resultado total da empresa era formado pelo resultado geral da margem, das
vendas e do efeito financeiro, obtido através da aplicação do montante no momento da
venda até o prazo de pagamento acordado com os fornecedores.46
Os gerentes de lojas também tinham metas de vendas. Apesar de não terem a
autonomia de outrora, ainda eram peças importantíssimas no sistema de vendas da
empresa. O layout das lojas e alterações de preços, dentro de certos limites,
continuavam a ser executados pelos gerentes, assim como a reposição de itens que
estavam nos estoques das lojas (mais reduzidos do que antigamente) para a área de
vendas.
A diretoria deixou claro que os compradores eram executivos, que precisavam
mostrar o resultado dos seus departamentos, e essa visão foi se tornando cada vez
mais forte. Cada departamento precisava apresentar resultado em relação à meta
estabelecida e era classificado em rankings de margem, vendas, resultado financeiro e
resultado total, sendo que o comprador era avaliado por performance. O foco da
avaliação de cada comprador, em determinado momento, poderia estar mais voltado
para a margem, vendas ou efeito financeiro, dependendo do direcionamento da
empresa.
A influência do corpo de executivos na operação era direta. Mensalmente os
compradores precisavam apresentar os resultados do seu departamento, em uma
reunião em que também estavam presentes todos os gerentes de lojas da empresa.
Era nessa reunião em que os compradores tinham a oportunidade de apresentar suas
estratégias para vendas de produtos que figurariam em encartes. Os executivos
avaliavam o plano e sugeriam alterações, conforme as experiências colhidas em
situações anteriores. Para produtos novos ou que estivessem sob a influência de uma
moda passageira, as apostas eram feitas em conjunto.
[...] eventualmente até o próprio encarte não vendia. Mas, tudo lá era
avaliado. [...] Quando um produto do seu departamento entrava em
um encarte, você apresentava seu plano, antes de efetuar a compra
das mercadorias, para a diretoria de compras.[...] A quantidade era
baseada nas compras dos últimos encartes.47
46 Depoimento do Entrevistado 2 47 Depoimento do Entrevistado 2
180
4.4.5. Os Anos 90 – Crescimento e reestruturação
A retração econômica de 1990, conseqüência do Plano Collor, foi utilizada como
pretexto para que muitas empresas colocassem no ambiente nacional a culpa por
maus resultados. O Relatório Anual da Lojas Americanas, entretanto, mostrou o outro
lado da questão:
As razões para nossa queda de volume [...] não foram como muitos
podem imaginar, a recessão ou a mudança da moeda [...] mas a
incapacidade da administração da companhia de prever, e, mesmo
após os acontecimentos, de rapidamente reagir adaptando-se à nova
realidade. (RELATÓRIO ANUAL, 1990)
Foi dessa forma que Carlos Alberto Sicupira justificou o prejuízo de Cr$ 391
milhões (ou 0,3% da venda líquida) do exercício de 1990. O nível de vendas declinou
em 19,5%. Apesar de as despesas terem se mantido em um patamar constante em
relação ao faturamento, a competição instalada após o período do Plano Collor,
pressionando as margens em um universo menor de consumidores, diminuiu a
rentabilidade do setor. No início do ano seguinte, o jornal O Globo, realizaria uma
matéria com as principais empresas de varejo brasileiras e “apesar dos números
confirmando o mau desempenho das Lojas em 1990 a Diretoria da empresa se
recusou a falar com O Globo sobre o assunto” (O GLOBO, 1991).
Das dez lojas previstas, apenas seis foram inauguradas. Os outros planos, com
exceção do investimento em informática e treinamentos, foram adiados para 1991.
Neste ano a Lojas Americanas reconheceu pela primeira vez um prejuízo na sua
operação da Só Brinquedos, o que fez com que a companhia fechasse duas lojas da
rede. Envolta em uma política governamental de restrição de crédito, a Facilita foi
obrigada, mais uma vez, a restringir as suas operações. As inaugurações de
shoppings centers, sob a administração da São Carlos, foram todas adiadas.
A justificativa para o adiamento dos investimentos foi a falta de recursos gerados
pelas operações. Mantendo a política de preservar a saúde financeira da empresa, a
Lojas Americanas não realizou empréstimos de capital com terceiros. Os planos para
1991 não foram divulgados.
181
Estruturalmente, a Direta Propaganda foi desassociada da Tecnologia de Varejo
S/A, passando a fazer parte da própria Americanas. A Tecnologia de Varejo teve sua
razão social alterada para Lasa Trading S/A.
A recessão fez com que o mercado consumidor se retraísse. A Lojas
Americanas passou a sofrer concorrência mais direta de hipermercados, justamente
nas mercadorias que eram vistas como commodities, onde as margens eram menores.
A reação frente ao cenário adverso foi reter investimentos, cortar custos e buscar
alternativas de comercialização: a Lojas Americanas cortou 15% da folha de
pagamento; de quinze lojas previstas, abriu apenas seis; estudou a possibilidade de
estender o funcionamento dos seus pontos comerciais nos shoppings para suprimir
um turno por dia; teceu acordos agressivos com fornecedores - publicou um anúncio
nos jornais em que comunicava estar disposta a comprar de seus fornecedores
qualquer produto, desde que com descontos que chegassem a 50%.
Os resultados foram positivos em 1991 e, se não houve um resultado
extraordinário, a empresa começava a se ajustar a uma nova realidade. O lucro foi de
Cr$ 6.299 milhões, ou 1,07% da receita líquida, considerado baixo pela própria
companhia. A Só Brinquedos obteve mais um ano de resultados negativos. A
empresa, assim como todas as redes de varejo, estava sentindo os efeitos da
recessão provocada pelos planos econômicos do governo Collor.
Durante o ano, ficou claro que a empresa estava diante de um novo cenário de
vendas. O primeiro trimestre de 1991 teve vendas inferiores ao primeiro trimestre de
1990 em 9,8%. Há de se ressaltar que em 1990 a Páscoa, época que concentra uma
boa parte das vendas da empresa, havia sido comemorada no segundo trimestre, ao
passo que em 1991 o evento ocorrera no primeiro trimestre. Ou seja, essa queda de
vendas poderia ter sido ainda maior. A queda de vendas no segundo trimestre foi de
35,4% em relação ao mesmo período no ano anterior, que havia contemplado a
Páscoa (INFORMAÇÕES TRIMESTRAIS, 1º e 2º Trimestres 1991).
Uma observação importante sobre este período foi que a Lojas Americanas não
realizou demissão dos seus funcionários, mas sim um programa de reorganização de
métodos de trabalho, de forma que os empregados entendessem a importância de a
companhia ter um giro de mercadorias maior. Sicupira e José Paulo Ferraz do Amaral
realizaram reuniões e palestras com todos os executivos e gerentes de lojas, como
182
uma tentativa de reverter a situação. Os efeitos dessa ação foram positivos: embora a
companhia tenha sofrido uma queda de 33,2% nas vendas, entre 1989 e 1991, suas
despesas administrativas diminuíram em cerca de 43% (O Globo, 1992).
Neste ano de 1991 a Lojas Americanas passou a publicar suas demonstrações
financeiras consolidando os resultados das seguintes companhias: Direta Propaganda
S/A, Empreendimentos Imobiliários São Carlos S/A, Lasa Corretora de Seguros S/A,
Lasa Trading S/A, Lojas Americanas da Amazônia S/A, Multilar Comércio e
Representações S/A, Só Brinquedos S/A e Ultrade Company S/A. Cinco outras
empresas não entrariam nesta consolidação: Agro-Lasa Comércio Ltda, Facilita,
Crédito, Financiamento e Investimento S/A, Facilita Serviços S/A, Lasa Táxi Aéreo S/A
e Lasa Tecnologia de Varejo S/A.
Em 1992 a empresa constatou o terceiro ano consecutivo de queda de vendas
em valores reais. Mais uma vez o lucro do exercício foi baixo, Cr$ 116.058 milhões, ou
1,63% da receita líquida, mas indicava uma tendência de ascensão, após dois anos
bastante críticos.
Com a criação da GP Investimentos, do Grupo Garantia, Carlos Alberto Sicupira
deixou o comando da empresa e José Paulo Ferraz do Amaral, executivo oriundo da
Mesbla, assumiu efetivamente o cargo de Diretor Superintendente. José Paulo já fazia
parte do conselho da Lojas Americanas desde 1986, tendo sido um dos grandes
responsáveis pela implantação de um melhor sortimento nas lojas da rede.
A Lojas Americanas, em 1992, converteu em lucro um prejuízo de US$ 10
milhões no primeiro semestre. Mais uma vez a chave para realizar a “virada” esteve na
ação da diretoria próxima ao corpo de funcionários. Ao realizar o fechamento dos
valores no primeiro semestre, que realmente é um semestre mais fraco para o varejo,
José Paulo Amaral realizou um grande esforço para divulgar os números por toda a
empresa, além das conseqüências de um ano com prejuízo para a Lojas Americanas.
Neste esforço, a diretoria gravou videotapes que foram exibidos pelas então oitenta e
três lojas espalhadas pelo país. Além disso, Amaral visitou loja por loja, falou
pessoalmente com cada um dos gerentes. Uma parcela de 6% do lucro final,
correspondente a US$ 10,4 milhões, foi distribuída entre os empregados.
Neste episódio, o “Estilo Garantia”, que valorizava o despojamento e a falta de
privilégios dos executivos, mostrou-se eficiente, pois facilitou a comunicação entre as
183
diversas áreas da empresa. José Paulo, por exemplo, trabalhava na mesma sala em
que trabalhavam outros oito diretores e dividia quatro secretárias, atendendo qualquer
funcionário que ligasse para o seu ramal:
O Zé, qualquer comunicado, além das reuniões mensais, era na área
de compras, que era a que sentia mais rapidamente os reflexos. [...]
Qualquer noticia que fosse mais emergencial, simplesmente o Zé se
levantava [...] ia para o meio do salão, pois era uma área totalmente
sem divisórias. Uma pessoa em pé no meio do salão era vista e
ouvida por todos. [...] o Zé ressaltava “Departamento tal, dá uma
olhada nesse item ou nessa loja” – normalmente algo de importância.
Ele ia lá e falava o motivo da preocupação para que os compradores
pudessem agir rápido [...] no final a gente conseguiu reverter e teve
um resultado bom e antes mesmo de apresentar os resultados
oficiais, assim que começou a demonstrar isso, o Zé correu lá, fez
uma reunião rápida e falou “Vocês estão de parabéns, os resultados
indicam a recuperação das vendas. A gente tinha estimado um
patamar de vendas e a gente acabou de atingir a meta do mês”. E aí
todo mundo vibrava. E ele era um cara extremamente carismático...48
Um fato ressaltado pela empresa no Relatório Anual foi que, apesar do
decréscimo das vendas, o número de clientes da empresa havia aumentado, o que
indicava uma redução no tíquete médio de transação.
A redução das vendas, atrelada ao aumento dos salários de seus funcionários,
começou a pressionar a estrutura de custos e tornou cada vez mais prioritários, no
ponto de vista da empresa, os investimentos em informatização das lojas e em
funcionários mais capacitados.
Foi neste mesmo ano que a primeira turma de trainees, de nível universitário e
de pós-graduação, ingressou na empresa. O programa previa a passagem destes
trainees nas lojas do grupo, por um período de três meses em tempo integral. As
áreas alvo deste processo eram o Departamento de Compras e a área de
Administração e Finanças. O objetivo era “reciclar as posições mais importantes da
Companhia”, como uma continuidade do processo iniciado no final da década de 1980.
Os anúncios sobre o processo de seleção publicados nos jornais indicavam que o
48 Depoimento do Entrevistado 2
184
candidato precisava ser formado, preferencialmente em carreiras ligadas à
matemática, como economia, engenharia e administração, e não exigia nenhuma
experiência prévia no varejo. A seleção foi realizada através de provas e entrevistas.
Cerca de vinte pessoas foram contratadas, sendo que três deles com pós-
graduação.49
Em fevereiro de 1992, a Lojas Americanas promoveu um convênio com o
COPPEAD / UFRJ, com uma turma de dezoito executivos no Curso de Pós-
Graduação em Administração de Empresas. Essa primeira turma completaria seu
curso em 1993.
Uma outra iniciativa foi a implementação de um programa de treinamento para
recém-formados, com o objetivo de prepará-los para ocuparem cargos de gerência de
lojas.
Como forma de os executivos estarem em contato com tendências mundiais de
varejo, a empresa empreendeu a realização de visitas ao exterior e participação dos
principais funcionários em seminários específicos para a atividade varejista. A
companhia distribuiu entre seus funcionários o livro autobiográfico de Sam Walton,
fundador da Wal-Mart que falecera em 1992.
Os efeitos da retomada de 1992 foram sentidos também no ano de 1993. Os
resultados financeiros foram superiores aos do ano anterior: o lucro líquido foi
equivalente a 4,33% da receita líquida, em um exercício onde houve simultaneamente
aumento de vendas e do tíquete médio de transação.
Neste ano o crescimento da empresa foi retomado de forma agressiva: se em
1992 apenas três lojas haviam sido abertas, em 1993 sete lojas foram inauguradas, no
Rio de Janeiro (duas lojas), em Niterói, em Vitória, em Aracaju, em Belém e em
Blumenau. Uma observação importante: as sete lojas foram inauguradas no último
semestre de 1993.
O programa de trainees atingiu seu segundo ano, com uma nova turma de
funcionários “com formação acadêmica completa” para ocuparem, tão logo
terminassem o tempo de aprendizados nas lojas, cargos executivos no departamento
de compras (RELATÓRIO ANUAL, 1993).
49 Depoimento do Entrevistado 2
185
Um corpo de trainees estava se formando na empresa, assumindo os cargos de
compradores no lugar dos antigos assistentes de compras, que possuíam formação no
varejo, mas não a formação acadêmica desejada pela empresa. Esse processo gerou
um choque entre funcionários antigos e a nova geração de compradores pois era claro
para todos que, enquanto os novos compradores tinham o caminho aberto para a
carreira na empresa, os assistentes de compra, estariam estagnados em suas
posições:
A maioria dos assistentes eram assistentes de dez a doze anos de
casa. Alguns não, já eram mais recentes. Aquele choque natural
quando acontece um processo de renovação de pessoas com outro
patamar. Então os assistentes antigos, muitos deles não tinham
terceiro grau, não falavam outro idioma, tinham algumas limitações
[...] obviamente teve aquela situação de essas pessoas saberem que
a gente estava chegando ali para aprender um pouco do que eles
faziam e ter até mesmo maiores chances de sermos promovidos que
alguns deles, que sabiam que poderiam até continuar como
assistentes de compra, serem ótimos assistentes de compras, mas
que jamais seriam compradores.50
Não havia um treinamento específico para os trainees que, além de passarem
três meses nas lojas, aprendiam a lidar com o sistema de compras e a terminologia da
empresa – sortimento, departamentos, códigos de lojas e armazéns – antes de
efetivamente assumirem seus cargos como assistentes ou compradores. O
conhecimento tácito ainda era muito importante. 51
O convênio com o COPPEAD foi mantido, sendo que a segunda turma de
dezoito alunos iniciou suas atividades em 1993. A primeira turma, que ingressara no
curso em 1992, concluiu sua etapa de treinamento. Em paralelo, a firma ofereceu para
um dos executivos da empresa a participação no Programa de Administração de
Varejo da Universidade de São Paulo. O programa de estágio, oferecendo cinqüenta
vagas a estagiários de nível universitário, também foi mantido. No nível das lojas, a
empresa também realizou treinamentos, com os seus gerentes.
A automação das operações da empresa encontrava-se em seu estágio inicial.
De todas as oitenta e nove lojas, apenas uma delas estava completamente
50 Depoimento do Entrevistado 2 51 Idem
186
informatizada no que diz respeito aos processos de recebimento, venda e reposição,
através de leitores de códigos de barras. A loja do Barrashopping (Rio de Janeiro) foi a
escolhida para esta implantação e seria posteriormente considerada como uma loja
modelo para a empresa, utilizada para vários outros pilotos. A loja de Ipanema (Rio de
Janeiro), em fase experimental, implantou o novo sistema apenas para as suas
vendas. Controles financeiros e de entrada de mercadorias computadorizados foram
instalados em retaguardas de dezessete lojas. O plano era ter a automação da
retaguarda de 95% das lojas da rede até o ano seguinte, além da continuidade da
informatização da administração das lojas.
Processos como transferências de mercadorias ainda eram manuais, na base do
memorando, e o sortimento de produtos, apesar de estar cada vez mais homogêneo,
variava de loja para loja, dependendo do público que a freqüentava. Alguns
fornecedores mantinham entregas descentralizadas nas lojas, o que exigia uma
estrutura de atendimento a fornecedores em cada estabelecimento. Em situações
emergenciais, como um aumento repentino da procura de produtos, as lojas
acertavam diretamente com o fornecedor, para posteriormente emitir o pedido de
compra através da Sede. 52
As informações sobre estoques estavam disponíveis no próprio sistema de
compras, mas tinham um atraso de cerca de uma semana. As lojas preenchiam
planilhas com os dados de seus estoques a partir de uma contagem realizada pelo
gerente ou supervisor de loja e enviavam essa planilha para uma área de controle na
Sede, o que algumas vezes ocasionava “erros de contagem”.
Essa área de controle, que neste momento era composta por um grande número
de funcionários, efetuava a atualização dos dados de estoque utilizados pelos
compradores. O controle era financeiro, ou seja, era conhecido o valor em
mercadorias e não a quantidade de cada item. A área de controle era responsável
também pela liberação de novas compras e, caso um departamento tivesse
ultrapassado, em compras e estoque, o valor estabelecido como limite pela diretoria,
era necessária a liberação por parte do diretor-superintendente.
52 Depoimento do Entrevistado 2
187
Essa área de controle quando eu entrei era muito grande (1992),
enorme, pois atendia a todos os departamentos e eram nossos
“xerifes” mesmo.53
Além do acompanhamento financeiro, por meio das alçadas estabelecidas, dos
resultados e da relação estoque / venda, a diretoria visitava as lojas em todo o Brasil.
Para essa tarefa, a Lojas Americanas possuía um jato que levava compradores e
membros da diretoria (Zé Paulo, Fersen Lambranho ou Frederico Derzié Luz) para as
lojas que estivessem apresentando resultados aquém dos esperados ou localizadas
em cidades onde iria ocorrer um evento regional (Festa do Peão Boiadeiro, Festa de
Parintins). O crescimento da rede de lojas pelo interior do Brasil aumentou a
freqüência desses eventos nas operações da empresa.
Assim, os compradores cujos departamentos estivessem em um momento
importante, como papelaria na “volta às aulas” ou brinquedos no Dia das Crianças,
iriam sempre nessas visitas programadas. Da mesma forma, se um determinado
departamento não estivesse vendendo bem ou com margens baixas na loja a ser
visitada, o comprador responsável seria chamado.
A tarefa de monitorar concorrência era parte da função do supervisor de loja,
mas o comprador também era cobrado por conhecer os principais concorrentes
regionalmente. As viagens eram uma oportunidade para os executivos, que tinham
sua base no Rio de Janeiro, conhecerem a concorrência em cada cidade onde a Lojas
Americanas atuava e olharem de perto como o seu departamento estava sendo
gerenciado pelo pessoal de loja:
Poderia ocorrer uma loja com cem mil de estoque, um valor normal
para ela, mas quando você visitava a loja descobria que ela estava
cheia de caixa de isopor e não tinha cadeira ou barraca de praia. Às
vezes estava no estoque da loja e não estava exposto, porque a
sazonalidade mudava a geografia da loja. 54
Existia concorrência entre os compradores por espaço nas prateleiras das lojas e
esse era um tema de discussões nas reuniões que se sucediam aos dias de visitas.
Embora a maioria entendesse que a valorização de uns produtos em detrimento de
outros tinha como causa a sazonalidade da atividade varejista, as alterações
53 Depoimento do Entrevistado 2 54 Idem
188
influenciavam o resultado dos departamentos e, como toda avaliação na Lojas
Americanas era baseada em performance em relação às metas, o bônus que cada
comprador recebia dependeria dos seus resultados.
O bônus era oferecido através de um programa de opção de compra de ações.
O percentual de compra de opções disponibilizado era variável, dependendo do
rendimento do executivo. Então, independentemente de o ano ter sido bom para a
empresa, se as metas de um departamento tivessem sido batidas, o bônus era
concedido. As promoções seguiam o mesmo conceito, privilegiando os funcionários
com melhor rendimento em relação às suas metas.
Neste momento, os departamentos da empresa englobavam os seguintes
produtos: utilidades domésticas, lazer, farmácia, brinquedos, supermercado, compact
discs, pequenos eletrodomésticos e vestuário. A diretoria da empresa começou a
empreender ações no sentido de ampliar as áreas de vestuário, além de diferenciar
melhor as lojas que possuíam áreas de alimentos, classificando em lojas de
conveniência ou supermercados.
A área da linha de vestuário, ou linha soft, exigia dos compradores um
conhecimento de moda e estilo. Assim, ainda que os compradores também tivessem
formação superior, seu planejamento estava mais voltado para fatores qualitativos do
que propriamente para análises científicas de demanda, embora também utilizassem o
conceito da Curva de Sazonalidade. Dessa forma, os compradores da linha soft
tinham um perfil de comunicação e não de engenharia, economia ou administração,
como eram os demais. Isso gerava algumas diferenças nas reuniões de apresentação
de sortimento. Enquanto que os compradores das linhas hard apresentavam um
trabalho mais analítico, fruto da sua atuação e formação, os compradores da linha soft
baseavam-se mais em conceitos de moda e estação, de linha de produtos e qualidade
dos fornecedores. Em geral, as pessoas que haviam trabalhado em soft não
trabalhavam na linha hard e vice-versa. Se por um lado no hard era necessário um
perfil mais analítico para análise e racionalização dos produtos commoditizados, para
atuar na soft era preciso desenvolver conceitos de moda e bom-gosto, associado a um
custo compatível.
A Americanas começou sua operação com cartão de crédito, operando com
bandeira própria. Até então a rede só vendia produtos à vista ou com cheque pré-
aprovado. As primeiras atividades com cartões de crédito foram implementadas nas
189
praças de Recife (PE) e Ribeirão Preto (SP) e a tendência era de que essa forma de
pagamento se tornasse mais comum em toda as lojas na medida em que a prática
fosse aperfeiçoada. Esse movimento foi realizado em função da necessidade de
ampliar o crédito aos seus clientes, uma decisão da empresa que ia ao encontro da
estratégia de aumento do tíquete médio, que estava realmente ocorrendo.
A diminuição das alíquotas de importação por parte do Governo Collor fez com
que as empresas de varejo passassem a importar mais itens, principalmente dos
países asiáticos. Com a Americanas não foi diferente. As visitas aos fornecedores do
extremo oriente eram freqüentes e o direcionamento da diretoria foi o aumento da
importação desses itens, que passaram a ter um peso cada vez maior no sortimento
das lojas.
O ano de 1994 foi um divisor de águas para a economia brasileira, ainda mais
para o setor varejista, que teve suas práticas operacionais e seus controles
diretamente afetados pelo final da inflação. Diversas empresas foram pegas de
surpresa com a estabilização e, com a Americanas, não foi diferente: “talvez por
incapacidade de prever melhor, não imaginávamos que a queda da inflação nos
obrigasse a tantas e tão profundas modificações” (RELATÓRIO ANUAL, 1994).
Nos últimos dez anos a cadeia havia se expandido de cinqüenta e duas lojas em
1984 para noventa e uma lojas em 1994. A área de vendas havia quase triplicado: de
109.499 m2 para 246.176 m2. As vendas por loja, neste mesmo período, descontando
os efeitos da inflação através do indicador Vendas / PIB, mostravam que a
produtividade por loja vinha crescendo até a estabilização da moeda, quando teve
uma brusca queda. O Gráfico 4.15 a seguir mostra a série de evolução da
produtividade normalizada em relação ao número de lojas.
190
Produtividade - Lojas (1984-1994)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994Ano
No
Lo
jas
0,0000%
0,0020%
0,0040%
0,0060%
0,0080%
0,0100%
0,0120%
Pro
du
tivi
dad
e
Número de Lojas (Vendas/PIB) / Lojas
Gráfico 4.15 – Lojas Americanas: Produtividade por Loja, 1984 a 1994
(Fonte: Relatórios Anuais, 1984 a 1994)
Essa diminuição de produtividade se refletiu nos resultados da empresa. Apesar
de ter apresentado lucro no exercício, a Lojas Americanas experimentou uma perda de
rentabilidade, mesmo com o aumento do tíquete médio por transação. De qualquer
forma, a companhia, com crescimento nas vendas de 56,06%, teve o melhor
desempenho entre Mesbla, Mappin e Ponto Frio (O GLOBO, 1994).
A meta de automação da retaguarda das lojas (recebimento de mercadorias) foi
quase cumprida, pois cerca de 90% das lojas já estavam preparadas para a fase
seguinte de informatização que possibilitaria o controle on-line da venda item a item,
loja por loja. Para a empresa, esse investimento ainda não havia sido refletido na
produtividade.
A área de vendas para o vestuário foi aumentada em cerca de 50% das lojas e
uma maior autonomia foi dada aos compradores da área de supermercados. Essa
autonomia, segundo a diretoria, possibilitaria a exploração de oportunidades locais e
uma melhor disposição de mercadorias. Além disso, lojas pequenas, com tamanho
inferior à média (2.500 m2), teriam suas operações com alimentos abandonadas, no
intuito de oferecer uma maior área de vendas aos demais departamentos.
O programa de treinamento de jovens universitários foi expandido, passando a
ser realizado com quarenta recém-formados. O programa de trainees e de estagiários
também foram mantidos. O curso em convênio com o COPPEAD formou a segunda
turma de executivos, mas não foi criada uma nova turma. A iniciativa seria retomada
em 1995.
191
A necessidade do acompanhamento do impacto do Plano Real nas operações,
fez com que as viagens de executivos e a presença em seminários fossem limitadas,
sendo que a diretoria não descartou a possibilidade de retomar tal prática em
exercícios futuros. Uma área de suporte de TI passou a apoiar os compradores na
tarefa de converter as tabelas de preços de fornecedores de Cruzeiros Reais para
URV e posteriormente para o Real.
Em 1993 a Americanas havia criado as primeiras iniciativas do programa que
ficaria conhecido como Qualidade Total Americanas (QTA). Este programa,
oficialmente implementado em 1994, visava estabelecer métodos para solução de
problemas em equipes, através de Programas de Gestão pelo Método de Solução de
Problemas (PDCA), tendo sido oferecido um treinamento específico para 2.800
associados.
O fato considerado mais importante pela empresa em 1994 foi o acerto de uma
Joint Venture com a Wal-Mart, considerado o maior grupo varejista do mundo. Esse
empreendimento, batizado de Wal-Mart Brasil S/A, tinha 40% de participação da Lojas
Americanas e 60% de participação da Wal-Mart Stores Inc. A Americanas empenhou
R$ 20 milhões no negócio, que visava gerar os recursos para a implantação de lojas
Sam’s Club e Wal-Mart Supercenter no Brasil.
As operações da Facilita vinham apresentando bons resultados, mas a Só
Brinquedos, a Direta Propaganda, a Lasa Corretora e a Lojas Americanas da
Amazônia apresentaram em prejuízo conjunto da ordem de R$ 3 milhões.
Apesar da queda da produtividade e um ambiente econômico novo para a
empresa, os planos de expansão para 1995 eram audaciosos: oito novas lojas, como
parte de uma meta de a empresa alcançar duzentas lojas até o ano 2000, o que
significaria a abertura de vinte e uma lojas por ano, entre 1996 e 2000. Na pauta de
estudos da empresa estava a análise das operações dos dois Centros de Distribuição,
de forma que a Americanas pudesse implantar alterações já em 1995.
O resultado de 1995 foi, em termos financeiros, um pouco maior do que o de
1994 (5% se corrigidos os valores de 1994). A diretoria indicava que “estamos
desapontados por não termos conseguido alcançar o lucro que estabelecemos como
meta para o ano passado” (RELATÓRIO ANUAL, 1995).
192
Um dos grandes motivos pela empresa ter tido um resultado abaixo do esperado
foi uma gestão ruim de estoques que, segundo o próprio Relatório Anual, estiveram
acima do nível ideal em boa parte do exercício. O prejuízo de R$ 16,5 milhões da Wal-
Mart Brasil, no seu primeiro ano de operação, também contribuiu para o resultado.
Esse resultado foi considerado normal, embora tenha sido o investimento que mais
consumiu recursos da empresa.
Neste exercício foi descontinuada uma das lojas mais antigas da cadeia: a
pequena loja da Rua dos Andradas, em Porto Alegre. Enquanto em média as lojas da
rede possuíam cerca de 2.500 m2, esse antigo estabelecimento tinha apenas 980 m2.
Seguiram outras alterações em lojas, sendo a mais importante a gradual retirada das
áreas de alimentos, que foram mantidas em dezessete das noventa e sete lojas.
A São Carlos Empreendimentos, empresa do grupo responsável pela construção
e administração de shoppings centers, inaugurou o Barretos Shopping Center, em São
Paulo, com sessenta e oito lojas e uma Americanas como âncora, além de ter
adquirido uma participação do Rio Claro Shopping Center.
O processo de automação das lojas teve prosseguimento com a substituição de
3.200 caixas registradoras por pontos de venda com leitura ótica de código de barras e
a interligação, via satélite, de todas as lojas e os dois centros de distribuição da rede.
Foi implantado um processo de troca eletrônica de dados com fornecedores como Tec
Toy e Tilibra e prestadores de serviços, como o Unibanco, que administrava o contas a
pagar da empresa (GAZETA MERCANTIL, 1997).
A capacitação dos quinze mil funcionários continuava como prioridade, sendo
que todos os funcionários de compras foram submetidos a cursos de quarenta horas.
O convênio com o COPPEAD foi retomado, com a abertura de uma nova turma com
dezoito executivos. O programa de trainees teve uma nova expansão. A Lojas
Americanas traçou um plano para formar cento e trinta e cinco trainees em 1995,
ampliando mais cinqüenta vagas por semestre até atingir duzentos e trinta e cinco em
dezembro de 1996, “para formação de futuros gerentes” (RELATÓRIO ANUAL, 1995).
A estrutura organizacional foi modificada de forma a suportar o crescimento: foi
criado o cargo de Diretor de Tecnologia, devido ao aumento das operações de
automação e informática. As lojas foram divididas em dois grupos, com diretorias
193
distintas, por natureza dos produtos que compunham o sortimento: as lojas com áreas
de supermercados e as lojas sem áreas de supermercados (conveniência).
A Lojas Americanas, em agosto de 1995, passou a ter suas ações negociadas
no mercado norte-americano através de American Depositary Receipt (ADR), nível 1,
tendo como banco depositário americano o Bank of New York. Essa seria mais uma
fonte de financiamento de recursos para seu processo de expansão.
Mas 1996 seria um ano turbulento para a Americanas. O resultado do grupo,
negativo em R$ 24 milhões, indicava a dificuldade de a empresa se adaptar à nova
ordem econômica brasileira. Foi a segunda vez na história da empresa em que a
companhia apresentou prejuízo, todas nos anos 90. Neste ano, Fersen Lamas
Lambranho substituiu José Paulo Ferraz do Amaral na direção da empresa. Fersen
estava na empresa há dez anos, tendo passado pelos cargos de analista de
investimentos, gerente de planejamento e controle na Facilita, superintendente
financeiro e diretor da Lojas Americanas.
As vendas tiveram um crescimento inferior à inflação no mesmo período. Uma
parte do resultado foi explicada pela retirada dos itens de mercearia de lojas “não
supermercados”. Desde 1993 a Lojas Americanas vinha lidando, com certa
dificuldade, com uma divisão interna que por um lado achava que a firma tinha
condições de competir com hipermercados e outra que entendia que a firma devia
investir na questão da conveniência e não brigar por um mercado de margens tão
reduzidas como o de alimentos.
Mais crítico, porém, foi o fato de a empresa ter realizado promoções de vendas
com cheques pré-datados no final de 1995. Resultado: com o aumento da
inadimplência, a companhia experimentou um prejuízo até ter suas operações de
checagem de situação financeira devidamente implementadas.
A adoção de pré-datados havia sido uma resposta da companhia à concorrência
no setor de varejo, no final de 1995, sem cobrar encargos financeiros. O total da
inadimplência chegou a R$ 17 milhões, sendo que o índice de inadimplência foi de 1%
sobre as vendas líquidas, cerca de dez vezes superior ao historicamente registrado.
Somente a partir de setembro a empresa introduziu um sistema automatizado de
checagem de CPF dos clientes nos pontos de venda. A partir deste momento, a taxa
de encargos começou a ser equilibrada pela perda por inadimplência e, já no último
194
semestre, foi registrado um ganho nessas operações, mas insuficiente para cobrir o
prejuízo inicial (GAZETA MERCANTIL, 1997).
Ocorreram outros reveses em 1996, além do problema da inadimplência. Um
novo canal de vendas foi implantado e descontinuado neste exercício. A
Teleamericanas iniciou as suas operações, realizando vendas diretas pela TV, através
de uma programação com três aparições diárias de trinta minutos de duração. A nova
operação tinha administração independente e tentaria se aproveitar da economia de
escala da Americanas. Os resultados, no primeiro exercício, foram negativos em R$
5,1 milhões, e as operações foram encerradas em setembro de 1996 (RELATÓRIO
ANUAL, 1996).
Sob nova administração, a Lojas Americanas se preparou para uma iminente
reestruturação do grupo: foram contabilizadas provisões para gastos de reestruturação
como ações trabalhistas, perdas nas operações e alienações de imóveis. Já neste
exercício uma loja em São Paulo foi fechada e a rede Só Brinquedos foi vendida.
A política de investimentos em pessoal continuou, mesmo sob a pressão dos
maus resultados. Foi realizado treinamento com trezentos e trinta gerentes de loja, o
programa de trainees manteve o fluxo de captação de cinqüenta recém-formados e a
terceira turma COPPEAD finalizou seu curso, totalizando cinqüenta e quatro
executivos formados desde 1992.
O posicionamento da empresa frente aos problemas que enfrentou em 1996 foi
de retração: a desistência do plano “200 lojas no ano 2000” e um investimento na
melhoria das operações, com a elaboração de um plano para melhoria da logística da
rede. Seriam estudadas as operações de recebimento e estocagem. Enquanto no
momento esse trabalho era todo feito nas lojas, no futuro seriam realizados nos
Centros de Distribuição. Os investimentos em novas lojas seriam mantidos, mas de
forma mais moderada, de acordo com a estrutura e controle disponíveis no momento.
Outra ação, tomada por José Paulo Amaral antes de deixar o comando da
empresa, foi a demissão de cem funcionários da área administrativa. A estrutura de
compras ficou mais enxuta: os compradores passaram a fazer o papel de seus
superintendentes de compras, ou seja, se tornaram responsáveis por um número
maior de departamentos do que anteriormente; o grupo de assistentes, já totalmente
renovado, fazia o papel que anteriormente era dos compradores. Assim,
195
departamentos foram consolidados e compradores demitidos. Os sistemas, mais
robustos, forneciam informações rapidez e acurácia, demandando menos trabalho
manual. A área de controle, os antigos “xerifes” dos compradores, foi extinta. Aos
compradores cabiam as tarefas de definição do sortimento, visitas às lojas e análises
dos resultados de mais departamentos.55
A situação não era nada confortável para a Lojas Americanas. Analistas de
mercado não acreditavam no modelo da companhia: “O mercado anda meio sem
paciência com a empresa. A palavra de ordem dos diretores é, eternamente, estamos
resolvendo esse problema, só que os resultados não aparecem e surge a
desconfiança". Apesar dos problemas enfrentados pelo setor varejista na época, como
no caso da Mesbla e do Mappin, algumas redes souberam superar mais rapidamente
os obstáculos da nova realidade, como as Lojas Renner, a Arapuã e a Globex, donas
de lucros consideráveis no primeiro semestre de 1996 (JARDIM, 1996).
Um ponto fraco apontado pelos analistas da empresa era o processo de
distribuição de produtos, embora a diretoria afirmasse que o índice de falta de
produtos era baixo, estava na faixa de 20%, enquanto que na Wal-Mart, o
benchmarking da empresa, não passava dos 3% (JARDIM, 1996).
Outro problema era o mix de produtos. Como a rede estava priorizando itens de
baixa margem, quando o volume de vendas apresentou quedas, o prejuízo tornou-se
iminente, principalmente quando algumas lojas da empresa passaram a figurar no
setor de supermercados.
Assim, para 1997 a empresa planejara a operação, em caráter experimental, de
processos de centralização do estoque de algumas linhas de produtos, além da
automação dos depósitos. Para melhorar a margem do seu sortimento de produtos,
passou a dar uma maior atenção a itens de vestuário e contratou cinco executivos da
C&A para auxiliar no crescimento do setor.
Os recursos para esses investimentos, muito vultosos, não conseguiam mais ser
obtidos da própria operação. Sendo assim a Lojas Americanas efetuou uma emissão
internacional de Eurobônus em julho de 1996, obtendo US$ 146,5 milhões, com
vencimento em 2004. Outro grande aporte foi conseguido junto ao International
Finance Corporation (IFC), entidade ligada ao Banco Mundial para financiamento ao
55 Depoimento do Entrevistado 2
196
setor privado, no valor de US$ 53 milhões. O IFC declarou que foi a primeira operação
de financiamento dessa natureza para uma firma de varejo brasileira.
O período de investimentos iniciado em 1997 continuou em 1998. Neste
exercício a empresa acumulou prejuízos ainda maiores do que os do ano anterior: R$
37 milhões. Ao longo do ano diversas iniciativas foram realizadas com o objetivo de
melhorar as operações da empresa.
O depósito de Barueri, em São Paulo, foi totalmente automatizado. Os novos
depósitos de Recife e Rio de Janeiro, previstos para inauguração em 1998 e 1999,
respectivamente, foram organizados segundo um novo projeto de layout. Dentro deste
novo conceito de operações, fornecedores e transportadoras foram homologados. Um
projeto piloto de centralização de estoques nos Centros de Distribuição foi realizado
para quinze das cento e dez lojas. Os investimentos em logística, distribuição e
tecnologia chegaram a R$ 16,8 milhões. Foi elaborado um manual de operações para
o novo Centro de Distribuição, com processos racionalizados para linhas hard e soft.
A Americanas realizou também uma pesquisa de mercado em todas as suas
lojas, para estudar o perfil dos seus consumidores. A conclusão deste estudo foi que
muitas vendas eram perdidas por falta de estoque. O investimento em logística seria
uma resposta para esses problemas. Curiosamente, o nível de estoques esteve acima
do nível do ano anterior, impactando o resultado financeiro e indicando um
desbalanceamento na distribuição das mercadorias pelas lojas da rede: enquanto
umas tinham excesso de produtos, outras pecavam pela falta.
Para se proteger dos danos da inadimplência, a Lojas Americanas direcionou
suas operações para o seu cartão de crédito. A redução do risco se dava na medida
em que tanto os recursos quanto o funding da operação de crédito pertenciam a uma
instituição financeira.
Neste mesmo ano a Lojas Americanas se desfez do seu investimento mais
vultoso e problemático: a Wal-Mart Brasil. Ciente de que necessitaria concentrar todos
os recursos organizacionais e financeiros da companhia no próprio negócio, a
Americanas vendeu sua participação por um valor R$ 8 milhões abaixo do que o
investimento estava avaliado. A vantagem de tal negociação foi a liberação de cerca
de R$ 122 milhões que estavam comprometidos no empreendimento, além de
melhorar o resultado da participação em controladas.
197
O empreendimento com o maior varejista americano foi um episódio bastante
conturbado. Teoricamente, a participação de 40% da Lojas Americanas deveria
garantir aos negócios brasileiros da Wal-Mart informações sobre o mercado brasileiro.
Mas a administração da multinacional do varejo não deixou muito espaço para os
executivos brasileiros e a adoção de produtos, técnicas e formas de venda válidos
apenas no território norte-americano, pôs o lançamento brasileiro em uma posição
fraca (VASSALLO, 1996).
A abertura de oito Lojas Americanas com grandes áreas de vendas, em média
3.150 m2, manteve a política de crescimento mais moderada da empresa.
Simultaneamente, três lojas foram fechadas, uma decisão baseada no resultado
financeiro insatisfatório dos estabelecimentos.
Neste cenário de reestruturação da empresa, Fersen Lambranho saiu do
comando da empresa, indicando Cláudio Galeazzi, executivo com um histórico de
sucesso em gestão de mudanças, como o novo Diretor Superintendente. No início da
década de 1990, Galeazzi ajudara na recuperação da Cecrisa, fabricante de
revestimentos cerâmicos de Santa Catarina. Trabalhou também na reestruturação da
Mococa, empresa paulista de laticínios vendida em 1997 para a holandesa Royal
Numico. Outras empresas pelas quais passou foram a Vila Romana e a Artex, que
também pertencia ao grupo GP. Galeazzi era o terceiro presidente da Americanas em
três anos. Fersen passaria a fazer parte do Conselho de Administração (VASSALLO,
1999).
Até este momento a empresa não tinha realizado grandes cortes de pessoal.
Mas no ano de 1998, o processo foi inevitável, uma vez que a direção tomaria
decisões que reduziriam o número de lojas da rede. Em 1997 a rede de lojas era
composta por cento e dez lojas, sendo que vinte e três delas eram consideradas lojas
“supermercados”. Todas essas lojas “supermercados” foram vendidas, liberando
recursos da ordem de R$ 219 milhões, com a venda da participação da Americanas
para a rede francesa Comptoirs Modernes, empresa integrante do grupo Carrefour.
Em Joinville, a Lojas Americanas promoveu queima de estoques dos mais variados
produtos, a preços abaixo do custo, sem alarde, nem divulgação na mídia. A atitude
contrariava a política agressiva de marketing, característica da empresa, com
freqüente veiculação de anúncios na tevê e jornal (LOETZ, 1998).
198
Segundo a companhia, a venda da divisão supermercados foi por uma questão
puramente estratégica e não um sinal de que a empresa encontrava-se com
problemas de liquidez (AMÉRICA ECONOMIA, 1999).
Existia nessa época uma Equipe de Prevenção de Perdas, com base na Sede,
que estabelecia processos de segurança, metas de perdas e como se daria o
processo de checagem das perdas tanto para as lojas quanto para os Centros de
Distribuição. Alguns itens, como camisetas, não tinham a totalidade dos produtos
“marcados” contra roubo ou dano; o percentual de peças roubadas ou danificadas era
obtido por amostragem. 56
A implementação do sistema de logística da companhia partiu de um
investimento de US$ 20 milhões e obteve avanços como a centralização de estoques
para quarenta e uma lojas, já com um sistema experimental de reposição automática,
e a construção do Centro de Distribuição de Recife. Com a construção do Centro de
Distribuição do Rio de Janeiro, planejada para 1999, a empresa passaria a centralizar
o estoque de todas as suas lojas nos seus depósitos. Um pacote SAP seria
implantado a partir do ano seguinte, sendo migrados os sistemas atuais.
Paralelamente, o número de fornecedores foi reduzido de 3.600 em 1995 para 1.600
em 1998.
Como forma de tentar alcançar a fidelidade do cliente, a Lojas Americanas
iniciou uma associação com outros grandes grupos empresariais, constituindo o Smart
Club. Apesar de reconhecer o crescimento do comércio virtual, a Americanas ainda
não havia implantado um sistema de vendas pela Internet.
Um dado importante: até 1998, enquanto o comércio eletrônico triplicava de
tamanho a cada ano, as vendas da Lojas Americanas haviam caído quase pela
metade desde o início do Plano Real. Redes como o Ponto Frio e o Pão de Açúcar já
vendiam pela Internet. Nos últimos anos, a GP havia investido na compra de empresas
digitais, entre elas a provedora Mandic e a Booknet, na época o maior site de venda
de livros. Marcelo Ballona, ex-diretor do Yahoo! no Brasil, foi contratado para sondar
oportunidades de negócios na web. Antigos executivos da Lojas Americanas foram
convocados para trabalhar no projeto de vendas eletrônicas, o que vinha sendo
56 Depoimento do Entrevistado 5
199
interpretado pelo mercado como uma forma de a empresa “correr atrás do tempo
perdido” (VASSALLO, 1999).
Uma das lojas mais antigas da rede, fundada em 1929 e localizada no Méier, Rio
de Janeiro, teve suas operações encerradas pelos maus resultados financeiros que
impediam que a loja atingisse seu ponto de equilíbrio. Os planos para 1999, bem
moderados, incluíam a abertura de três novas lojas. O Projeto Focus foi criado para
melhorar o sortimento de mercadorias e layout das lojas.
Os esforços para o ajuste renderam, após dois anos de prejuízo, um lucro de R$
175 milhões, distorcido em função da venda da Wal-Mart e da divisão de
supermercados. O resultado operacional da empresa foi negativo em R$ 35 milhões e
superior em 100% ao de 1997.
O Jornal Folha de São Paulo passou a efetuar, em 1998, uma pesquisa com os
consumidores para identificar as marcas mais lembradas entre empresas de vários
setores, entre eles o comércio varejista, que concedia o prêmio “Top of Mind”. Apesar
das dificuldades, a Lojas Americanas obteve o primeiro lugar nessa pesquisa, sendo a
primeira empresa a ser lembrada por 7% dos cinco mil brasileiros entrevistados em
todos os Estados e Distrito Federal. Na disputa também apareciam com destaque as
lojas C&A, Casas Bahia e Casas Pernambucanas.
O ano de 1999 marcou o fim dos investimentos na estrutura dos centros de
distribuição e a definitiva consolidação das operações como foco do negócio e a
empresa apresentou um lucro de R$ 50 milhões, mas que era efeito, basicamente, do
ganho cambial.
Os estoques de todas as lojas foram centralizados nos três centros de
distribuição. Agora a estrutura contava, além do antigo depósito de São Paulo, em
Barueri, com modernos Centros de Distribuição em Recife (PE) na estrada BR-101, e
no Rio de Janeiro, na Rodovia Presidente Dutra. A adoção da nova estrutura
operacional tinha objetivos bem definidos pela administração: melhor reabastecimento
de mercadorias; redução na falta de mercadorias; implantação da reposição
automática para os itens mais vendidos por loja; liberação de área (70.000 m2) antes
designada aos estoques das lojas. A liberação das áreas de estoques poderia gerar
maiores áreas de vendas ou economia no pagamento de aluguéis, com a devolução
dessas áreas para os antigos proprietários.
200
O plano de expansão foi retomado, mas de uma forma moderada, com cinco
lojas sendo inauguradas e seis reformadas, segundo os conceitos do Projeto Focus.
Este projeto previa uma melhor diferenciação entre os “mundos” das lojas: Infantil, Lar,
Beleza, Confecção, Lazer e Alimentos de Conveniência. Este último “mundo”
contemplava a venda de produtos como: pães, iogurtes, frios e laticínios, bebidas,
sorvetes e produtos de mercearia. A padaria e a cafeteria, presentes nessa seção,
visavam o consumo de produtos no local ou para viagem, com o objetivo de atender
compras emergenciais ou produtos para preparo de refeições rápidas. Mais uma loja
foi fechada, por não ter atingido seu equilíbrio econômico: a loja do Ribeirão Shopping,
em Ribeirão Preto, São Paulo.
Outro fato marcante foi a segregação do negócio imobiliário, a São Carlos
Empreendimentos e Participações. A Lojas Americanas teve seu capital reduzido em
R$ 493 milhões, que era o investimento na coligada, e os acionistas receberam ações
da São Carlos na mesma proporção que detinham na empresa principal (LASA).
Em 1999 a empresa ingressou no comércio virtual, colocando em funcionamento
o site de compras de produtos e serviços Americanas.com. Ainda em termos de
tecnologia, os módulos financeiros e contábeis do software de gestão SAP foram
implantados e 78% das compras junto aos fornecedores estavam sendo realizadas
através de Electronic Data Interchange (EDI), operando o pagamento de quase todos
esses fornecedores também de forma eletrônica. Em 2000, a Lojas Americanas
planejava finalizar a implantação dos módulos de Recursos Humanos e de Gestão
Comercial do SAP. Em paralelo, a empresa preparava-se para implantar a avaliação
dos seus negócios com base no modelo do Economic Value Added (EVA).
Neste ano a empresa conseguiu um patamar de vendas muito próximo ao de
1998, com menores despesas operacionais, o que resultou em uma margem bruta
maior, uma evolução de 1,6% em relação ao ano anterior. Segundo dados do
Relatório Anual, a redução em despesas operacionais chegou a R$ 13 milhões.
Um outro ponto importante foi o fato de que a empresa buscou priorizar formas
de pagamentos que evitassem o risco da inadimplência, que havia causado grandes
prejuízos no final de 1995. O Quadro 4.8 indica, para os anos de 1997 a 1999, como a
participação de cada forma de pagamento evoluiu no total das receitas da firma:
201
Ano 1997 1998 1999
Dinheiro 44,0% 55,0% 55,0%
Cartão LASA 10,0% 5,0% -
Cartão de Crédito 16,0% 28,0% 34,0%
Cheque à Vista 22,0% 12,0% 9,0%
Cheque Pré 8,0% - 2,0%
Quadro 4.8 – Lojas Americanas: Formas de Pagamento de Clientes
(Fonte: Relatórios Anuais, 1997 a 1999)
É interessante notar que a participação de cheques pré-datados e à vista veio
diminuindo ao longo dos anos, como uma forma de a empresa se proteger da
inadimplência, que em 1999 atingia 1,5% dos pré-datados.
Em relação ao site de vendas Americanas.com, a firma começou a operá-lo, sob
uma administração independente, no dia 15 de novembro de 1999, em fase
experimental, na cidade de Curitiba. Para entrar em operação, a Americanas.com
abriu seu capital, conseguindo captar US$ 40 milhões no mercado acionário. A
empresa on-line era propriedade de um conjunto de parceiros do mercado financeiro:
JP Morgan Partners, Flatiron Partners, Next International, Global Bridge Ventures
(Vectis Group) e AIG Capital Partners.
O projeto-piloto em Curitiba serviu para que a empresa adequasse suas rotinas e
processos de forma a poder expandir suas operações nacionalmente no ano seguinte.
Os resultados mostraram que as compras na web eram diferentes daquelas realizadas
nas lojas tradicionais, com um ticket médio cinco vezes superior ao da loja.
O lançamento em rede nacional ocorreu em fevereiro de 2000. Para este
empreendimento a empresa selecionou um sortimento de produtos semelhante ao das
lojas, agregando algumas linhas de maior margem, de forma a otimizar o potencial de
vendas. O site começou a operar com 6.000 produtos e tinha como meta comercializar
cerca de 20.000 já no final de 2000. O prazo máximo de entrega era de sete dias,
privilegiando os compradores da Grande São Paulo, onde a entrega era realizada em
vinte e quatro horas. Segundo Pedro Donda, presidente da nova empresa, "Até o fim
do ano queremos ser o principal destino de compras na web nacional e, em breve, na
América Latina" (A NOVA..., 2000).
202
Entre os objetivos explicitados pela companhia a respeito de suas operações na
Internet estavam: a utilização de uma marca forte; a possibilidade de contar com o
suporte e toda a infra-estrutura de armazenagem e distribuição da Lojas Americanas;
maior poder de negociação com os fornecedores devido ao volume de compras; a
possibilidade de troca de produtos e a comunicação física dos clientes nas lojas;
ganhos em escala em propaganda e promoções.
Em 1999 a Americanas realizou a abertura de sua loja no Passeio Público,
centro do Rio de Janeiro. Este prédio, que durante anos havia sido sede de outra
cadeia varejista e grande concorrente da empresa, a Mesbla, que faliu em 1997,
passou a ser ocupado por uma loja de 4.900 m2, uma das maiores da rede.
4.4.6. Os Anos 2000 – Maior foco na operação
Em 2000, a Americanas deu por concluído o seu programa de reestruturação.
Neste ano, Cláudio Galeazzi trabalhou na formação do seu sucessor, de forma que
Miguel Gutierrez, então responsável pelas operações da empresa, assumisse o cargo
de Diretor Superintendente. Galeazzi foi considerado pelo mercado como um dos
grandes responsáveis pela recuperação da Americanas, tendo sido escolhido como
um dos maiores executivos de empresas latino-americanas em 2000, pela revista Latin
Trade (DEMPSEY, 2001).
Miguel tinha um histórico de controle desde que ingressou na Lojas Americanas
em 1993, como chefe do departamento financeiro. Em 1995, assumiu o cargo de
Superintendente de Operações para que, dois anos depois, se tornasse o Diretor
Executivo de Logística. A indicação de Miguel para o cargo mostrava que as
operações assumiam um papel definitivamente primordial na gestão do negócio.
O novo diretor tinha metas claras para o negócio: recuperar o prestígio junto aos
analistas de investimentos, que já haviam deixado de recomendar as ações da
companhia, e conferir à Americanas uma imagem de modernidade.
Este ano foi marcado por mais um prejuízo nos resultados da empresa, da
ordem de R$ 19 milhões. A companhia vendeu mais do que no ano anterior, cerca de
7,8%, mas a margem bruta apresentou uma queda de 1,2%, impactando
negativamente o resultado final, sendo que, em 2000, não houve os mesmos ganhos
cambiais obtidos em 1999. Alguns dados, entretanto, mostravam uma melhoria na
203
gestão de estoques da empresa, sem comprometer a presença de mercadorias na
loja. Enquanto que em 1999 os estoques de mercadorias totalizavam R$ 194 milhões,
com 74% em lojas, em 2000 os estoques diminuíram para R$ 162 milhões, sendo 60%
nas lojas.
A expansão manteve seu ritmo moderado: quatro lojas foram inauguradas no
exercício de 2000, uma no Ceará, uma em Minas Gerais, uma no Rio de Janeiro e
uma no Rio Grande do Sul. A região Sudeste do Brasil, concentradora de 63% do
Produto Interno Bruto nacional, segundo os dados do IBGE (RELATÓRIO ANUAL,
2000) na época, contava com 61% das lojas da rede.
Mais sete lojas foram reformadas segundo o conceito de “mundos”, totalizando
vinte e duas lojas no novo padrão estabelecido pelo Projeto Focus, sendo que em
dezenove delas foi implantado o sistema padaria / cafeteria.
O primeiro ano de operações da Americanas.com mostrou que o comércio virtual
ainda precisava de ajustes: um prejuízo de R$ 45,4 milhões, incluindo-se os
investimentos. As causas deste prejuízo foram, além do investimento inicial, as
despesas logísticas, cuja estrutura mostrou-se despreparada para o aumento do
número de pedidos. O número de clientes passou de 98.000 no terceiro trimestre para
175.000 no último trimestre de 2000. As operações do site, porém, obtiveram
premiações importantes junto à Associação de Mídia Interativa (Melhor Site de
comércio eletrônico no Brasil) e à revista especializada em tecnologia InfoExame, da
Editora Abril (Melhor Site no Brasil 2000 e Melhor Loja On-line no Brasil 2000). A
reestruturação das operações tinha como objetivo alcançar o ponto de equilíbrio em
2002.
No que diz respeito à gestão e recursos da empresa, foi selecionada uma nova
turma de trainees, com dezessete novos membros escolhidos entre 10.000
candidatos. O módulo de recursos humanos do sistema SAP foi definitivamente
implantado, mas o comercial teve implantação adiada para 2001. O EVA começou a
ser utilizado para definição das metas e orçamento de 2001, sendo planejada a
disseminação do conceito entre os executivos.
Neste ano, a empresa continuou tentando aprimorar suas operações. Um
exemplo dessas iniciativas ocorreu na loja de Ipanema, no Rio de Janeiro. Em
conjunto com fornecedores de cabides, a empresa passou a organizar um programa
204
de “encabidamento” no fornecedor. O processo de colocar as roupas no cabide e levar
até a área de vendas era trabalhoso e exigia espaço. Ao transferir essa tarefa para o
fornecedor, a Americanas reduziu o tempo em que uma mercadoria chegava à loja e ia
para a exposição de quinze dias para poucas horas. Na loja onde o novo processo foi
implantado foram instalados uma lanchonete e um estande de venda de compact
discs, na mesma área onde ficava o departamento de “encabidamento” (COSTA,
2000).
Era importante para a empresa melhorar a sua lucratividade pois possuía
compromissos a honrar nos anos seguintes. Para efetuar a implantação das novas
operações e dos sistemas de informação, além da expansão e reforma das lojas, a
Americanas havia emitido, a partir de 1995, títulos de longo prazo, em um total de US$
300 milhões, que começariam a vencer a partir de 2001, sendo que em 2004, o
principal do Eurobônus emitido em 1996 deveria ser quitado.
No ano de 2001 a empresa obteve um lucro de R$ 57,1 milhões e um resultado
operacional positivo de R$ 28,2 milhões. As despesas financeiras diminuíram seu
impacto e a Americanas.com apresentou melhores resultados do que no ano anterior.
O lucro operacional foi de R$ 71,2 milhões, contra R$ 22,7 milhões obtidos em 2000.
O crescimento, mais uma vez, foi moderado: quatro lojas, três delas no Rio de
Janeiro e uma em Santa Catarina, sendo que havia a previsão de apenas mais duas
lojas, todas no Rio. As lojas reformadas com o novo conceito de “mundos” totalizaram
trinta e duas. Neste ano a empresa deixou de operar com cheques pré-datados.
As operações da Americanas.com indicavam uma melhoria nos resultados da
empresa virtual. Cerca de 300.000 clientes estavam cadastrados no site de vendas
que contava com 35.000 produtos, alguns deles não presentes nas lojas “físicas”. Em
2001 a empresa implantou o serviço de Televendas, uma vez que muitos clientes não
tinham como efetuar compras pela Internet, e instalou quiosques da loja virtual nas
lojas tradicionais, como uma forma de divulgar e “educar” os consumidores. A venda
bruta do conjunto triplicou, atingindo a marca de R$ 80,8 milhões em vendas, ou 4,3%
da receita líquida total da Lojas Americanas. O prejuízo no exercício foi de R$ 13,6
milhões, bastante inferior aos R$ 45,4 milhões de 2000.
A financiadora Facilita, que vinha consistentemente aumentando sua rede de
cento e trinta e um pontos de venda, lançou o Cartão Facilita no Rio de Janeiro, após
205
seu lançamento em São Paulo, em setembro de 2000. O objetivo da empresa
continuava sendo fornecer empréstimos a clientes ou financiar bens de consumo.
Como principais realizações nos modelos de gestão e recursos da empresa
estavam: a definitiva adoção do EVA, que a partir de 2002 seria utilizado para avaliar
os resultados gerenciais das lojas e departamentos comerciais, tendo sido oferecidos
treinamentos para os executivos; a implantação definitiva do SAP Retail em todas as
lojas da rede, sendo que os demais departamentos teriam o novo sistema implantado
em 2002; contratação de mais quinze recém-formados via programa de trainees;
manutenção do Programa de Estágio.
No exercício de 2002 a Lojas Americanas apresentou resultados positivos em
todos os seus indicadores, sendo o mais importante deles um aumento de 80% no
lucro líquido, em relação ao ano de 2001: R$ 103,1 milhões. Os resultados positivos,
já avaliados através do método EVA, resultaram em uma distribuição de dividendos
classificada como “recorde” pela empresa: R$ 89,2 milhões.
A Americanas.com “decolou”: vendeu 106% a mais em relação à 2001, um
volume total de R$ 166,4 milhões, com uma margem bruta 3,6% maior do que a do
ano anterior. Foi a primeira empresa de e-commerce a apresentar resultados positivos,
com um lucro líquido de R$ 2,1 milhões. O processo de construção desse resultado
exigiu um elevado controle de custos e cortes de pessoal. A cúpula da empresa,
formada inicialmente por dez diretores, foi reduzida a quatro. Projetos como a criação
de um portal de cosméticos voltado para o público feminino e serviços destinados ao
mercado corporativo, foram arquivados, com previsão de retomada no ano seguinte.
Apesar de 2002 ter sido iniciado em um clima de incerteza, devido às eleições
presidenciais, o último semestre foi particularmente benéfico ao varejo nacional. A
Americanas beneficiou-se da grande penetração de suas lojas e do crescimento do
comércio eletrônico para obter resultados superiores aos esperados. A empresa
considerou, em seu Relatório Anual, que havia uma grande possibilidade de
crescimento do varejo em não-alimentos e virtual.
A rede da Americanas atingiu o número de cento e cinco lojas, bastante
concentrada no Sudeste, e a companhia realizou mais quatro reformas, totalizando
quarenta e duas lojas no formato “mundos”. A Facilita finalizou a implantação do seu
Cartão Facilita que, além de permitir ao cliente acesso a produtos como empréstimo
206
pessoal, crédito ao consumidor, financiamento e pagamento de contas, passou a
efetuar saques em dinheiro na rede de Banco 24 Horas, além de compras parceladas
nas Lojas Americanas e Americanas.com. Os serviços de financiamento
representavam 1,6% da receita bruta do grupo.
A Lojas Americanas efetuou uma grande redução de pessoal, em 2002, em virtude da
implantação dos sistemas de gestão e novos procedimentos operacionais. Mais de
2.000 funcionários foram demitidos. O perfil dos 7.633 associados, como eram
chamados, concentrava pessoas entre dezoito e trinta anos, conforme pode ser
verificado no Gráfico 4.16.
52
1494
2287
1246
857601
443 331188 134
< 18anos
18 a 22 22 a 26 26 a 30 30 a 34 34 a 38 38 a 42 42 a 46 46 a 50 > 50anos
Faixa Etária 67,2%
19,9%
6,6% 2,7% 2,3% 1,3%
até 5 5 a 10 10 a15
15 a20
20 a25
acimade 25
Anos de Companhia
Gráfico 4.16 – Lojas Americanas: Perfil de Faixa Etária de Associados
(Fonte: Relatório Anual, 2002)
Por meio do programa de trainees, em 2002 a empresa contratou doze recém-
formados e, associado ao programa de estagiários, eram os principais programas de
contratação de novos funcionários na empresa. Como uma forma de melhorar a
comunicação entre as áreas, a Intranet da empresa, antes restrita à Sede, passou a
estar acessível a todas as unidades. Outra iniciativa para melhorar a interação entre
as diversas áreas da empresa foi o retorno dos encontros entre os Gerentes
Comerciais e os Supervisores de lojas com a Diretoria. Esses encontros eram
realizados em diferentes cidades e promoviam a discussão dos resultados da empresa
e elaboração de metas de vendas, além de aproximar a diretoria do nível de comando
intermediário.
Por trás dos bons resultados de 2002 estava o controle na distribuição de
produtos, principalmente a boa integração da teia logística das lojas tradicionais com
as operações da Americanas.com. O maior desafio era manter o grau de sortimento e
atender aos pedidos nacionais e internacionais. A variedade de produtos era garantida
207
por meio de parcerias com fornecedores de renome. Esses fornecedores mantinham
30% do estoque da Americanas.com, sendo que o restante encontrava-se no CD de
Barueri. Caso um cliente efetuasse a compra de um produto guardado por terceiros,
este produto seria encaminhado até o CD de Barueri, onde seguiria o processo normal
de entrega de um produto que era armazenado pela própria Americanas. Para Pedro
Donda: "Pode parecer ilógico, mas se não fizermos isso não há como centralizar a
operação e monitorar a entrega até as mãos do cliente". As entregas eram feitas por
cinco parceiros que se dividiam por todo o Brasil e apenas um, a Federal Express,
atendia aos pedidos internacionais (REBOUÇAS, 2002).
A firma passou a registrar, em seus relatórios anuais, um resumo de suas
iniciativas sociais, como uma forma de realizar merchandising social e prestar
informações sobre os programas que financiava.
Para o ano de 2003 a diretoria da empresa planejava investir em um conceito
novo: as lojas de “vizinhança”, chamadas de “Americanas Express”. Essas lojas teriam
uma área de vendas entre 300 m2 e 600 m2, oferecendo um sortimento reduzido em
locais onde os custos e disponibilidade de terrenos eram fatores críticos. Outras
diferenças em relação às lojas tradicionais podiam ser apontadas, conforme o Quadro
4.9:
Modelo Tradicional Modelo Express
1 Área de vendas: aprox. 1.500 m2 1 Área de vendas: aprox. 500 m2
2 Localização (target): 2 Localização (target):
- Shoppings / locais de grande circulação - “lojas de vizinhança”
- Lojas em rota de distribuição / boa localização
3 Empregados: 50-60 funcionários/loja 3 Empregados: 10 funcionários/loja
4 Logística: Reposição diária 4 Logística: “Just-in-Time”
5 Sortimento: cerca de 50.000 itens 5 Sortimento: aprox. 15.000 itens
Quadro 4.9 – Lojas Americanas: Diferenças entre Lojas Tradicionais e Lojas “Express”
(Fonte: Lojas Americanas S/A - Apresentação aos Acionistas, 4º Trim. de 2004)
A rede de lojas convencionais continuaria seu ritmo de expansão, um pouco
menos moderado, com a abertura de cinco lojas, além da possibilidade de mais cinco
serem abertas.
No exercício de 2003, então, a empresa publicou resultados ainda melhores do
que os de 2002: um lucro líquido de R$ 115,9 milhões, com um crescimento em
208
vendas líquidas de 12,6%, sem considerar as dezesseis novas lojas inauguradas. A
distribuição de dividendos foi igualmente alta: R$ 86,5 milhões. Como uma informação
importante, a Lojas Americanas completou em dezembro de 2003 sete trimestres
consecutivos com margem EBITDA acima do patamar de 8,0% sobre a receita líquida
e seu resultado operacional foi 62,2% maior que o de 2002.
Um fator importante para esses resultados tão positivos foi o controle do nível de
despesas gerais e administrativas, mesmo com a expansão de dezesseis lojas. As
despesas diminuíram em relação ao ano de 2002, possibilitando a melhoria da
margem líquida.
O número de funcionários da rede não havia aumentado significativamente: a
diferença do número de associados entre dezembro de 2002 e dezembro de 2003 foi
de apenas 189 novos funcionários.
O conceito de lojas de “vizinhança”, que havia sido formado em 2002, foi
efetivamente implementado, em duas lojas no Rio de Janeiro, nos bairros de
Copacabana e Tijuca, e em uma loja na cidade de Niterói. Segundo a empresa: “São
lojas compactas, com sortimento selecionado, mas com os mesmos padrões de
qualidade e preço que diferenciam a atuação de Lojas Americanas” (RELATÓRIO
ANUAL, 2003).
A estrutura logística, alterada nos anos anteriores, receberia mais um grande
investimento até o ano seguinte pois a empresa planejava inaugurar um novo Centro
de Distribuição (CD) em Jandira, São Paulo, para substituir o antigo CD de Barueri.
Este novo CD faria a distribuição dos produtos para o Estado de São Paulo e para a
Região Sul do Brasil, além de parte da Região Centro-Oeste.
Outra mudança estrutural, que não havia sido explicitada nos Relatórios
anteriores da companhia, foi que a Americanas.com transferiu suas operações de
marketing, comercial e administrativa de São Paulo para a sede da Lojas Americanas
no Rio de Janeiro. O objetivo seria “melhorar a sinergia entre as duas Companhias,
que passam a atuar em conjunto na prospecção de clientes, definição de prioridades
para aumento de vendas e maior geração de receita em serviços” (RELATÓRIO
ANUAL, 2003). A mudança não traria, contudo, nenhuma alteração societária ou tiraria
a autonomia operacional da empresa “.com”.
209
Pode-se dizer que 2003 foi um ano de extrema valorização da empresa. Essa
valorização foi percebida pelo mercado de ações, já que suas ações preferenciais
encerraram o exercício cotadas a R$ 30,51, com uma valorização acumulada de 239%
superior ao índice da Bolsa de Valores de São Paulo. A empresa manteve o processo
de recompra de ações iniciado em 2000.
A fim de garantir uma melhor qualidade e agilidade aos processos de
recrutamento e capacitação, a Lojas Americanas criou as “Centrais de Recursos
Humanos”, que funcionavam no Rio de Janeiro, mas seriam implantadas em São
Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Curitiba e Porto Alegre. Mais uma vez os
programas de estágio e trainees estavam entre as prioridades da empresa.
Os encontros regionais entre Diretores, principais executivos da Companhia e as
equipes de Gerentes Comerciais e Supervisores de todo o Brasil, retomados em 2002,
foram novamente realizados. Somado à RENAEX, Reunião Nacional de Executivos,
realizada trimestralmente, este evento melhorava o processo de avaliação do
desempenho e resultados das equipes, além de prover a discussão dos principais
avanços estratégicos, alinhamento e definição de metas.
A tendência de crescimento da empresa acentuou-se em 2004, acompanhando
a retomada do crescimento para diversos setores da economia brasileira. Segundo
pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na comparação com
2003, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 9,25%. O lucro líquido da
empresa, no entanto, foi menor do que o de 2003: R$ 64 milhões contra R$ 115
milhões no ano anterior. A causa deste resultado foi a liquidação do Eurobônus, que
respondia por parte dos recursos utilizados para implantação da nova rede logística e
expansão da rede de lojas, além de novos investimentos, como a conclusão do novo
Centro de Distribuição em São Paulo.
Trinta e cinco lojas foram inauguradas em 2004. Cinco delas correspondiam ao
modelo de lojas de “vizinhança”, as Lojas Americanas Express. Dessas cinco lojas,
quatro foram abertas em São Paulo. As demais, no formato considerado convencional
pela empresa, possuíam área de vendas de 1.240 m2, enquanto que as antigas lojas
da rede possuíam em média 2.500 m2. Dessa forma embora a expansão da cadeia em
número de lojas tenha sido de 23%, sua área de vendas cresceu apenas 13% e o
número de empregados, 9%.
210
A Americanas.com apresentou um grande crescimento em vendas, 62,2% em
relação ao ano anterior, com oferta de 110 mil produtos e um cadastro de mais de três
milhões de clientes. Uma decisão judicial, no entanto, determinou que a empresa
retirasse qualquer publicidade veiculada na loja eletrônica que indicasse a operação
conjunta das duas empresas (“Americanas.Com - A Lojas Americanas em sua casa”)
ou que as lojas físicas passassem a efetivamente se responsabilizar pelo atendimento
ao consumidor que adquiriu bens pelo site. Essa decisão foi motivada porque uma
consumidora, que havia adquirido um produto com defeito no site Americanas.com,
procurou uma das lojas físicas da rede para troca, mas foi informada de que a
empresa não tinha qualquer vínculo com a que vende produtos pela Internet.
Atualmente, o site da empresa não possui mais o antigo slogan e o procedimento de
trocas e devoluções (com restituição do montante em dinheiro) está explícito no site,
sem realizar nenhuma referência às lojas físicas, apenas à Central de Atendimento da
Americanas.com.
A Facilita atingiu o número de cento e setenta e seis pontos de venda, sendo
cento e cinqüenta e seis deles em Lojas Americanas e vinte em lojas próprias. Obteve
um crescimento de 9% nos financiamentos para pessoa física em relação à 2003.
A Lojas Americanas chegou ao ano de 2005 com uma estrutura logística que
proporcionou a redução dos seus estoques, devido à sua centralização nos três CDs,
e uma grande rede de lojas de desconto e de financiamento dos seus clientes. A
companhia empreendeu, ao longo da última década, esforços para entender o perfil
dos seus clientes e qual avaliação eles tinham da empresa. Os relatórios anuais
continham, por exemplo, informações sobre índice de insatisfação na fila (pesquisa de
campo). Na pesquisa “Top of Mind”, da Folha de São Paulo, a Americanas passou a
figurar em terceiro lugar, atrás da Casas Bahia e da C&A, que realizaram fortes
campanhas de marketing nos últimos anos.
A Americanas coloca-se hoje como uma empresa de descontos que comercializa
artigos para o lar, lazer, beleza, infantil, confecção e alimentos de conveniência,
atendendo a um público de maioria feminino (77%) das classes A, B e C, nas grandes
cidades brasileiras. O tíquete médio de transação nas lojas convencionais chegou ao
patamar de R$ 22,74 e o da Americanas.com, levando em consideração transações
com pessoas físicas e jurídicas, chegou a R$ 300,00.
211
Para o exercício de 2005, a empresa apostava na expansão da sua rede de
lojas, priorizando a abertura de estabelecimentos de 1.500 m2. Estavam previstas mais
dez lojas: uma em Goiânia, uma no Rio Grande do Sul, uma no Rio Grande do Norte,
uma na Paraíba, uma Express em Niterói, duas em Minas Gerais e mais cinco em São
Paulo.
212
5. ANÁLISE
5.1. Questão do estudo
Esta análise buscou respostas para uma série de questionamentos relacionados
com o crescimento de firmas. De uma forma geral, dado um mesmo ambiente, a
principal questão a ser respondida é:
“Por que algumas firmas, diante dos desafios de crescimento em um mesmo
ambiente, declinam e desaparecem, enquanto outras mantêm uma trajetória de
longevidade saudável?”
O estudo envolve a análise da trajetória das duas empresas, através de uma
perspectiva institucional (SELZNICK, 1957).
5.2. Definição do Sistema de Estudo
As trajetórias das duas empresas, detalhadas no capítulo 4, serviram como base
para a aplicação do arcabouço teórico que permitiu uma reflexão sobre as respostas
das empresas frente aos desafios enfrentados nessa trajetória. Segundo Bunge
(1999), o entendimento de um sistema passa obrigatoriamente pela compreensão do
seu mecanismo de funcionamento.
No seu entender, uma firma é parte de um sistema social e deve ser analisada
com base nos seus componentes (composition), o ambiente onde ela está inserida e
sua estrutura. Estrutura pode ser entendida como o conjunto de relações entre os
componentes do sistema e destes com os componentes do ambiente. Teoricamente,
um problema de uma companhia pode ser identificado se essas três partes forem
examinadas com detalhe. Normalmente, os mecanismos estão escondidos e precisam
ser conjecturados a partir da observação empírica.
Qualquer instabilidade que atue sobre um sistema pode ser conseqüência de
uma força social que altera, modifica e molda uma nova configuração. O entendimento
dessas forças sociais, de origem econômica, política ou cultural, é crucial para a
determinação das causas da instabilidade.
213
Utilizando como referência o modelo de respostas a desafios, proposto por Fleck
(2005), e a perspectiva sistêmica de Bunge (1999), a Figura 5.1 resume, para os
casos Mesbla e Lojas Americanas, qual o mecanismo, as forças sociais e as
características do ambiente identificados que serviram como referência para a análise.
Sistemas Lojas AmericanasMesbla
Aprendizado
MecanismoCrescimento contínuono comércio varejistabrasileiro
ForçasSociais Intervenção do Estado Urbanização Industrialização
Instabilidade político-econômica Fornecedores ConcorrentesClientes Sindicatos Fraco Mercado de Capitais Atraso tecnológico
Características doAmbiente Nacional
Características doAmbiente Internacional
Ambiente
Shopping Centers Investimento Direto Estrangeiro Lojas EspecializadasAutomação Comercial Internacionalização
CrescimentoContínuo
Integridade daFirma
Autoperpetuaçãoou Autodestruição
EstímuloAmbiente
Gestão deDiversidade
Gestão deComplexidade
Provisão deRecursos Gerenciais
ServiçosEmpreendedores
Motivação doCrescimento
Gestão de Mudança
Figura 5.1 – Sistema de Estudo
Cada firma é parte de um sistema que possui seu próprio mecanismo de
crescimento contínuo dentro do comércio varejista brasileiro. Para isso, cada empresa
efetua a comercialização e oferta de bens de consumo ou capital. Entretanto, ambas
estavam condicionadas ao mesmo ambiente, embora tenham tido trajetórias
diferentes. O sistema que compreende as duas empresas, a Mesbla e a Lojas
Americanas, foi chamado de Sistema de Estudo, mas vale ressaltar que a análise foi
feita separadamente.
5.3. O mecanismo
O funcionamento dos processos corresponde fundamentalmente à forma como a
empresa responde aos desafios do crescimento e o seu aprendizado a cada desafio
enfrentado, a fim de manter uma trajetória de crescimento contínuo através da
214
comercialização e oferta de bens de consumo ou bens de capital que atendessem à
demanda do mercado consumidor.
Os desafios podem ser divididos em dois grupos: um deles está mais
diretamente relacionado com o crescimento contínuo e outro com a integridade da
firma. O Quadro 5.1 detalha os critérios utilizados para cada desafio, dentro da escala
de fraco para forte, e os autores cujos trabalhos serviram de base para análise de
cada fator. Há que se ressaltar que tanto a escala quanto a classificação definida para
cada empresa estão sujeitas a subjetividade da análise, que utilizou como base fatos e
evidências.
Quadro 5.1 - Escala de Avaliação dos Desafios
215
O conjunto de desafios do crescimento contínuo engloba os que estão
relacionados com serviços empreendedores, a forma ou motivação do crescimento e
gestão de mudança. Os desafios de gestão de diversidade, gestão de complexidade e
provisão de recursos gerenciais estão relacionados com a integridade da firma. As
relações, entretanto, não são independentes e os dois grupos podem ser influenciados
mutuamente.
Para a análise, foram definidos critérios para avaliação das respostas a cada
desafio. Respostas consideradas fortes contribuem para a longevidade saudável e
autoperpetuação da empresa. Respostas consideradas fracas fragilizam a posição
competitiva da empresa e contribuem para sua autodestruição.
5.4. O ambiente e as forças sociais
Tanto a Mesbla quanto a Lojas Americanas estavam inseridas em um mesmo
ambiente. As empresas varejistas nacionais sofreram influência da atuação das
grandes redes mundiais, da concentração de fornecedores, das mudanças
tecnológicas, da conjuntura político-econômica, dos concorrentes e do mercado
consumidor.
Segundo Bunge (1999), as forças sociais são parte fundamental para o
funcionamento do mecanismo. É algo que não se controla, pode ter causas diversas
(econômicas, políticas ou culturais). A história contemporânea do Brasil, desde a
Primeira República até a redemocratização, apresentou algumas forças sociais como
a urbanização da sociedade e conseqüente demanda por bens de consumo, uma
constante intervenção governamental na economia e a adoção de padrões de
consumo norte-americanos, com a vitória do American Way of Life.
5.5. Análise das respostas aos desafios: Mesbla e Lojas Americanas
Uma vez identificado que os eventos do ambiente exerceram grande influência
no varejo nacional, a análise foi dividida em etapas, conforme a evolução da economia
brasileira dentro do cenário mundial. Em cada etapa foram discriminados eventos
críticos e rotineiros (SELZNICK,1957), que exigiram respostas das empresas, os quais
foram avaliados à luz do mecanismo anteriormente apresentado.
216
5.5.1. Fase 1: 1910 a 1945 – Os primeiros passos para a industrialização
Ambiente Internacional: 1ª Guerra Mundial (1941-1918); Revolução Russa (1917);
fim da Idade do Ouro; início da utilização do cartão de crédito; Crise de 1929; 2ª
Guerra Mundial (1939-1945); ascensão dos EUA como potência hegemônica.
Ambiente Nacional: Modelo exportador de produtos primários; necessidade de
importação de equipamentos; criadas as primeiras rodovias; adoção de um modelo de
substituição de importações; início da urbanização das principais cidades;
concentração de poder econômico em São Paulo e Minas Gerais; Revolução de 1930;
Revolta Integralista de 1932; Golpe do Estado Novo em 1937; Getúlio Vargas proíbe a
importação de veículos montados e cria obstáculos à importação de peças.
5.5.2.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 1ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 1ª Fase da Mesbla encontram-se no
Anexo 4.
a) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
Dois eventos que ocorreram neste primeiro período parecem estar relacionados
com a ambição do fundador Louis La Saigne. Em 1916, logo após sua chegada na
filial carioca, o gestor francês enfrentou uma ameaça de greve e a resposta foi demitir
todos os funcionários que tentavam lhe impor as reivindicações de aumento de salário.
Oito anos mais tarde, La Saigne aproveitou-se de uma queda na cotação do
Franco e assumiu o controle da firma. Em ambas as situações percebe-se a
necessidade de controle por parte de La Saigne que, em toda essa primeira fase
realizou a introdução de produtos novos e efetuou a primeira expansão da firma.
Respostas classificadas como médias
A primeira fase da história da Mesbla indica que La Saigne e seus
representantes de venda buscavam sempre oportunidades de expansão de suas
atividades (1923). Inicialmente expandiram as operações de importação de
automóveis, verificando as oportunidades do crescente mercado brasileiro. Os
resultados financeiros não são conhecidos mas, como se tratava de um ambiente
217
propício a esta comercialização, a extensão de linhas poderia resultar em um
empreendimento de retornos satisfatórios e riscos compatíveis.
A Mesbla, cuja abertura de capital ocorreu em 1924, foi uma das primeiras
empresas a ter ações negociadas na Bolsa do Rio de Janeiro. Esse fato parece indicar
um direcionamento à obtenção de recursos, que pode ser avaliado como um serviço
empreendedor.
Além da expansão da representação de carros importados, outros eventos
indicaram a repetição do comportamento de expansão de operações ao longo deste
período: a alteração no sortimento de produtos quando da impossibilidade de importar
carros durante a 1ª e 2ª Guerras e a abertura do Banco Mesbla, em 1945, para
aproveitar o excesso de caixa gerado com a comercialização de bens e prover
operações de crédito aos clientes.
Da mesma forma, em um ambiente em urbanização e crescimento da indústria
de bens de consumo, a comercialização desses bens era um empreendimento que
aparentemente apresentava riscos baixos, pois com uma estrutura mínima era
possível implementar o negócio, haja visto o episódio do incêndio na Sede, quando a
Mesbla operou adquirindo estoques de outras lojas na própria calçada da Rua do
Passeio.
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar de La Saigne ter apresentado uma forte ambição, fator
considerado determinante para o crescimento da firma no entender de Penrose
(1959), a Mesbla realizou sua expansão em um ambiente propício para o crescimento
do negócio de automóveis, primeiramente, e de bens de consumo, nos anos de
guerra. Nesses primeiros anos notou-se uma influência decisiva do fundador e o início
da formação de uma estrutura organizacional que valorizava a autonomia dos
representantes de venda.
b) Motivação do Crescimento
O Quadro 5.2 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
218
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Amplia importação de
linhas de automóveis (Déc.
30/40) þ
Ganhos em escala, embora não haja registro
de exclusividade na importação de uma
determinada marca de carros, que poderia
conferir algum diferencial para a Mesbla.
Expansão dos escritórios
de representação pelo
Brasil (Déc. 30/40)
þ
Expandia a marca Mesbla pelo Brasil,
aproveitando vantagens de escopo e escala.
Inicia representação dos
aviões McDonnell Douglas
(1939)
þ
Aproveita-se da estrutura para ampliar linha
de produtos.
Durante as guerras, inicia
comercialização de outros
bens (Déc. 20/40)
þ
Movimento de defesa do negócio existente,
uma vez que as guerras impediam a
continuidade da atividade original.
Abre oficinas para realizar
serviços nos carros
vendidos (Dec. 30)
þ
No nascente mercado de automóveis,
estabelecer uma oficina significava uma
proteção e poderia “fidelizar” clientes.
Abertura do Banco Mesbla
(1945)
þ
Aplicação do excesso de recursos no pós -
guerra, iniciando operações de crédito aos
clientes. Não há indicação de que
aumentaram a eficiência dos negócios
existentes .
Organizou e instalou a
fábrica de pára-quedas
Switlik do Brasil S/A (1940)
þ
Nenhuma relação com as operações já
existentes.
Abertura do Restaurante
Mesbla (Déc. 40) þ
Nenhuma relação com as operações já
existentes.
Quadro 5.2 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: Os movimentos de expansão seguiram uma dinâmica de defesa e
expansão do mercado que explorava, com a venda de automóveis e máquinas
importados. A constituição de escritórios de venda em capitais brasileiras representava
um ganho de escopo e escala: a marca se estabelecia e os negócios poderiam ser
multiplicados por todo o país. A firma, entretanto, iniciou sua trajetória de expansão de
219
negócios não-relacionados: o Restaurante e a fábrica de pára-quedas pouco
beneficiavam as demais operações da empresa, sendo que este último tinha como
foco ganhos de curto prazo com a continuidade da 2ª Guerra Mundial.
c) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): não foram encontrados documentos ou depoimentos
que pudessem indicar com clareza qual o desafio percebido pela empresa. A análise
da história sugere que, neste momento, a firma empenhou-se em aproveitar as
oportunidades de mercado relacionadas com a importação dos primeiros automóveis e
equipamentos agrícolas. Supõe-se que a empresa percebia como desafio crescer
nacionalmente em um ambiente em industrialização, com expansão da atividade
econômica nas principais cidades nacionais devido ao incentivo a expansão da malha
rodoviária e períodos de incentivo à produção industrial substitutiva de importações.
O Quadro 5.3 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Intensificou campanha em prol
das estradas - Revista “Mesbla
Notícias” (1926)
Desafiar,
Manipular
Apoiou investimentos governamentais e opinião pública em
benefício de sua atividade.
Realizou campanha em prol da
mecanização da agricultura
com folhetos e prospectos
(1938)
Desafiar,
Manipular
Apoiou investimentos governamentais e opinião pública em
benefício de sua atividade.
Construiu Sede no bairro
boêmio da Lapa (1936) Desafiar
Apesar de localizada em um local considerado impróprio, a
instalação da Sede impulsionou o comércio no Centro do Rio de
Janeiro.
Quando as importações de
carros diminuíram por causa
da 1ª e 2ª Guerras, iniciou
venda por atacado de outros
produtos (Déc. 20/40)
Consentir,
Adaptar-se
Impossibilitada de exercer a sua função, a Mesbla adotou um
modelo de vendas que permitisse sua sobrevivência em um
ambiente inapropriado para sua atividade de comercialização.
Quadro 5.3 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Gestão de Mudança
220
Conclusão: Forte
Comentário: Apesar de as informações sobre o período serem escassas, as decisões
da firma mostram uma aproximação de autoridades federais, fato que poderia facilitar
a percepção do contexto político-econômico. Percebem-se fatos que indicam uma
postura ativa por parte da empresa. O suposto desafio percebido é bastante
semelhante ao cenário que ocorreu no período, mostrando que a empresa estava
preparada para aproveitar as oportunidades que pudessem surgir.
d) Gestão de Diversidade
Durante a Fase 1 a Mesbla cresceu moderadamente, muito centrada na figura
de Louis La Saigne. O Quadro 5.4 indica eventos e suas conseqüências para a gestão
de diversidade:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Representantes tinham
autonomia para buscar novos
negócios
La Saigne realizava reuniões
periódicas com representantes
Medida que feria a integridade da firma, mas necessária para a
exploração das oportunidades regionais brasileiras.
Manteve o senso de controle e determinava diretrizes para
expansão.
Compartilhamento N/A N/A
Heterogeneidade Ampliou linha de produtos Ampliou linha de produtos dentro do negócio de importação,
aproveitando a estrutura existente, mas aumentou a diversidade.
Coordenação La Saigne demitiu funcionários
que o ameaçavam com greve
Impôs a linha de atuação para os funcionários que desejavam
continuar no empreendimento. Demonstração de controle por
parte do gestor.
Quadro 5.4 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Gestão de Diversidade
Conclusão: Médio
Comentário: Neste momento, La Saigne era a figura mais da empresa, uma vez que,
apesar da expansão regional, sua presença ainda era muito forte. Os mecanismos de
integração existiam, mas os mitos ou credos da empresa ainda não estavam formados
e as comunicações dificultavam a integração dos diversos representantes. O fato de a
empresa se dedicar à importação de produtos facilitava a homogeneidade do
processo, mesmo quando uma nova linha de produto era adicionada.
221
e) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.5:
Eventos Avaliação
La Saigne realizava visitas sistemáticas às filiais e convocava reuniões periódicas
com seus Diretores
Sistemático
Quadro 5.5 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: Neste período as operações da empresa consistiam na atividade dos
representantes de venda, que ficavam alocados nos diversos Estados onde a Mesbla
atuava. A expansão em si era um processo de repetição de algo já realizado
anteriormente. As visitas de Louis La Saigne às filiais aparentam um comportamento
sistemático de análise dos negócios realizados por cada filial. Mas como as distâncias
e as comunicações eram incipientes, sugere-se que a troca e o aprendizado ficassem
restritos às próprias filiais, já que não foram encontradas evidências de registros ou
sistemática de coleta de dados que pudessem conferir às novas unidades parâmetros
para as suas operações, por exemplo.
f) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.6 resume os principais eventos relacionados com o desafio
provisão de recursos gerenciais.
Dimensão Eventos
Formar, Desenvolver Os escritórios de representação tinham bastante autonomia, dando oportunidade
aos gerentes regionais de se desenvolverem como “donos” do negócio
Quadro 5.6 – Fase 1: 1910 a 1945 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais
Conclusão: Médio
Comentário: Não há registro de que a empresa preparava seus representantes de
venda para atuar como tal. O fato era que eles eram responsáveis pelo
desenvolvimento da representação em si. As visitas realizadas por Louis La Saigne
tinham como objetivo, além da coordenação, a orientação dos representantes
222
regionais. Da mesma forma não há registro de formação tardia de recursos, uma vez
que o mercado estava se desenvolvendo.
5.5.2.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 1ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 1ª Fase da Lojas Americanas encontram-
se no Anexo 10.
a) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
A introdução de produtos como hot-dog, hambúrguer, Coca-cola, sundae e
banana-split na alimentação do brasileiro associou uma imagem de inovação à
empresa e, embora o setor de alimentos não fosse seu foco de atuação, essa
inovação foi um grande diferencial da rede, uma tradição que perdura até hoje. O auto-
atendimento nas lojas, também foi considerado uma inovação mas, infelizmente para a
empresa, poderia ser adotado pelos concorrentes, não configurando em uma
vantagem competitiva duradoura.
Respostas classificadas como médias
A abertura do empreendimento, realizada de forma emergente em 1929,
aparentemente foi efetuada sem muitas análises e ambições, uma vez que os
fundadores estavam viajando em direção a Buenos Aires. Dessa forma, não parecem
ter realizado uma avaliação real do risco do empreendimento. Ao mesmo tempo
utilizaram um modelo comercial adaptado das lojas Five and Ten Cents, introduzindo
diversas inovações como o auto-atendimento e funcionárias do sexo feminino.
Posteriormente, em 1932 com a troca de controle, a firma assumiu uma postura
moderada de crescimento, com um direcionamento claro de utilizar recursos da
operação e capital próprio, com baixo nível de endividamento.
A abertura de capital, em 1940, mostrou que os novos donos estavam
interessados em expandir as operações da firma, sendo que o financiamento via
mercado de capitais era uma opção mais barata e menos arriscada para tal expansão.
Com a urbanização do território brasileiro, o varejo começava a ganhar força e estar
presente em vários estados, como foi o caso da Lojas Americanas, garantia vantagem
223
de entrante e ganhos de escala. De 1929 a 1949, quinze lojas foram abertas,
concentrando-se nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.
Respostas classificadas como fracas
A falência da empresa, no seu quarto ano de vida, sugere que os fundadores
não estivam preparados para os riscos do cenário político brasileiro. A empresa foi
criada durante um período de grande depressão mundial (Crise de 1929), às vésperas
da Revolução de 1930, e foi à falência em 1932, quando da Revolução
Constitucionalista.
Conclusão: Médio
Comentário: As poucas evidências indicam que, após a falência de 1932, os novos
donos assumiram uma postura moderada de crescimento, seguindo a tendência
nacional de urbanização no eixo Sudeste-Sul. A abertura de capital proporcionou os
recursos para tal crescimento, que aproveitou o crescimento do mercado de bens de
consumo para ampliação das atividades.
b) Motivação do Crescimento
O Quadro 5.7 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Expansão da rede lojas
Sudeste e Sul (Déc. 30/40) þ
Ganhos de escopo e escala, porém limitados
pela autonomia das lojas.
Instalação de lanchonetes
nas lojas (Déc. 30/40) þ
Apesar de as lanchonetes atraírem clientes,
consistia em um negócio não relacionado
com a venda de miudezas.
Quadro 5.7 – Fase 1: 1910 a 1945 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: A empresa seguiu uma receita de crescimento moderado com baixo
nível de endividamento. Tomando como base depoimentos colhidos na década de
1970 e 80 a respeito das operações da empresa, sugere-se que os gerentes de lojas
224
tinham muita autonomia e eram responsáveis pelo sortimento de produtos nas lojas,
reduzindo os ganhos em escala. As lanchonetes se configuraram, primeiramente, em
um diferencial para atração do público, mas não garantiam nenhum ganho de escala e
poderiam ser facilmente implantadas pelos demais varejistas.
c) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): os fundadores da empresa vislumbraram uma
grande oportunidade para crescer em um ambiente onde funcionários públicos e
militares possuíam renda estável porém baixa. O desafio nesse momento era,
comercializar produtos a preços baixos, em um ambiente em urbanização, favorável
ao crescimento do empreendimento.
O Quadro 5.8 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Abriu lojas de descontos,
copiando modelo Five and Ten
Cents (1929)
Consentir,
Desafiar
Ao copiar um modelo já estabelecido, reduziu riscos e introduziu
uma nova forma de vendas, o auto-atendimento.
Primeira loja empregou
mulheres para estimular
consumo das donas-de-casa
(1929)
Desafiar
Estimulou – com sucesso, segundo os relatos – a presença de
donas-de-casa nas lojas.
O preço baixo era tido como
uma “defesa” contra o hábito
de as pessoas regatearem o
preço das mercadorias
(“pechincha”) (1929)
Desafiar
Enfrentou uma “regra” no comércio tradicional, estabelecendo
uma nova forma de precificar os produtos.
Iniciou a venda de hot-dog,
hambúrguer, Coca-cola,
sundae e banana-split em suas
lojas (1930)
Desafiar
Estimulou tanto a visita às lojas da rede quanto o consumo
destes produtos pelos clientes.
Quadro 5.8 – Fase 1: 1910 a 1945 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança
Conclusão: Forte
Comentário: Ao adotar uma imagem inovadora e agressiva, logo na sua fundação, a
Americanas contribuiu para mudar alguns hábitos na vida do consumidor brasileiro, o
225
principal deles relacionado com o fim da “pechincha” no comércio formal. A
companhia, que posteriormente adotou uma estratégia mais moderada, tentou
influenciar, com algum sucesso, o comportamento dos seus fregueses e esse fato foi
fundamental para estabelecer a marca Americanas no comércio varejista nacional.
d) Gestão de Diversidade
Na Fase 1 a Lojas Americanas enfrentou os seguintes desafios relacionados à
Gestão de Diversidade:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Inovações de métodos e
produtos
Falência e troca de controle
Empresa sem “dono”
Associa Imagem moderna à empresa. As lanchonetes e os
novos produtos fazem parte da memória dos funcionários.
A nova diretoria impôs um ritmo mais lento de crescimento, que
vai moldar a trajetória da companhia até os anos 80.
Nessa época, a empresa começa a formar uma imagem de
exemplo de “democratização” de capital.
Compartilhamento N/A
Heterogeneidade Expansão da cadeia de lojas no
eixo Sudeste – Sul
Lojas Americanas manteve suas operações focadas no varejo,
facilitando a homogeneidade de processos e recursos. Ao
mesmo tempo, garantia autonomia aos gerentes de loja.
Coordenação N/A
Quadro 5.9 – Fase 1: 1910 a 1945 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
Conclusão: Médio
Comentário: Os eventos indicam a criação de uma cultura de modernidade, pelo fato
de a empresa ter introduzido novas práticas e produtos. A integridade da firma era
mantida de forma natural, pois a expansão seguiu uma dinâmica de abertura de lojas
lenta e gradual pelo território brasileiro. A abertura de capital teve como conseqüência
a pulverização do capital votante da companhia e essa característica seria
fundamental para o futuro da companhia. A autonomia concedida aos gerentes de loja
consistia no maior desafio à integridade da firma e não foram encontradas evidências
de que houvesse iniciativas de integração.
226
e) Gestão de Complexidade
Não foram encontrados eventos relacionados com a Gestão de Complexidade
para este período.
f) Provisão de Recursos Gerenciais
Não foram encontrados eventos relacionados com a Provisão de Recursos
Gerenciais para este período.
227
5.5.2. Fase 2: 1946 a 1968 – Acelera-se a industrialização e urbanização
Ambiente Internacional: Início da Guerra Fria; Criada a Comunidade Econômica
Européia (1957); Revolução Cubana (1959); Criada OPEP (1960); Erguido Muro de
Berlim (1961); Expansão de Cartões de Crédito; Guerra do Vietnã (1964-1975).
Ambiente Nacional: Política substitutiva de importações enfraquecida no pós-guerra;
vitória do American Way of Life; acúmulo e gasto de reservas cambiais; a primeira
emissora de televisão da América do Sul foi inaugurada no Brasil (1950); descoberta
de petróleo na Bahia; Plano Salte; criado Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico; Plano de Metas (JK) - Cinqüenta anos em cinco; inflação em alta;
investimento indústrias automobilística (carros populares), naval e pesada; Instituição
do Fundo de Mecanização da Lavoura e a criação da Carteira de Colonização;
favorecimento de investimentos estrangeiros no país; aumento nas vendas de bens de
consumo; era das feiras de produtos; Golpe Militar (1964); crescem a poupança, a
compra de ações na Bolsa e os consórcios; período de crescimento, conciliando
expansão industrial, facilidade de crédito e política salarial contencionista; controle da
inflação no final da década.
5.5.2.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 2ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 2ª Fase da Mesbla encontram-se no
Anexo 5.
a) Indicadores Financeiros
Não foram obtidos os dados financeiros que pudessem representar a totalidade
da Fase 2 para a Mesbla, mas os dados obtidos indicaram uma redução em vendas
(tamanho) e do lucro líquido (performance) em relação ao PIB, conforme o Gráfico 5.1.
Este período coincidiu com a entrada da empresa no setor varejista, através da
abertura de magazines, sendo que a Mesbla não conseguiu aproveitar suas
instalações de atacado para operar no varejo. Além disso, o início da década de 1960
foi marcado por uma escalada inflacionária, que obrigou o governo a adotar medidas
de restrição de crédito que reduziram o poder de compra da população.
228
Fase 2: 1946 a 1968 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,090%
-0,070%
-0,050%
-0,030%
-0,010%
0,010%
0,030%
0,050%
0,070%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.1 – Fase 2: 1946 a 1968 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
A autonomia dada aos representantes de venda e vendedores viajantes, na
prospecção de novos negócios fornecia um impulso de crescimento para a empresa,
nos ramos em que já atuava.
Respostas classificadas como médias
As poucas evidências encontradas nesse período indicam um crescimento
moderado da companhia, realizando, até 1952, expansão das atividades de atacado
através da instalação de escritórios de representação por todo o Brasil. Essa dinâmica
reduzia os riscos da expansão, embora não demonstrasse metas ambiciosas por parte
da organização.
O Gráfico 5.2 demonstra que de 1958 a 1968 houve um decréscimo na
rentabilidade do empreendimento, que pode ser atribuído à dificuldade de a empresa
mudar o seu foco de uma rede atacadista de equipamentos para o varejo e também a
uma conjuntura de retração de consumo e escalada inflacionária. A diretoria da
empresa mostrou sua capacidade de evitar riscos exagerados quando, em 1959,
limitou o programa de expansão “por motivo de prudência” (RELATÓRIO ANUAL
1959/1960).
229
Fase 2: 1946 a 1968 - Mesbla: Rentabilidade
4%16%
9%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%19
59
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Gráfico 5.2 – Fase 2: 1946 a 1968 - Mesbla: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
A migração para o varejo, a partir de 1952, foi vista como uma diversificação da
empresa, não um caminho definitivo. Amparada pela crescente urbanização das
grandes cidades brasileiras, foram sendo criadas condições propícias para instalações
de redes varejistas, fato aproveitado pela Mesbla quando migrou para o segmento de
Magazines. Uma vez que o mercado ainda se encontrava com poucos concorrentes
em um ambiente propício ao crescimento, interpreta-se esse movimento como pouco
ambicioso e de riscos compatíveis. A expansão da rede lojas foi lenta pela orientação
de a empresa não atingir um alto nível de endividamento, em um cenário de
instabilidade política e econômica no Brasil.
A outra oportunidade de crescimento explorada pela empresa nesse período foi
a exportação de produtos nacionais, com a constituição da Exportbrás, aproveitando a
política de incentivos do governo. Assim, a Mesbla entrou em um novo ramo contando
com as vantagens do ambiente institucional.
Conclusão: Médio
Comentário: As evidências encontradas e a análise de períodos posteriores apontam
que a Mesbla não realizou nenhuma expansão ambiciosa ou traçou caminhos
diferentes movidos por metas ambiciosas baseadas em julgamento minucioso das
oportunidades. Aparentemente, a empresa aproveitou as oportunidades do mercado e
obteve vantagens de primeiro entrante. Assim, embora a Mesbla tenha conseguido
230
recursos para manter o seu crescimento moderado, não houve ganhos acima do
normal (fato evidenciado pelo indicador de rentabilidade).
c) Motivação do Crescimento
O Quadro 5.10 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Centralização da Diretoria
de Compras no Rio de
Janeiro (1948)
þ
Motivação para ganhos de escala.
Reage à recessão: reduz
endividamento e privilegia
itens de maior giro (1967)
þ
Aumentos reais em vendas e giro de
mercadorias.
Ingresso no varejo, com a
abertura de Magazines
(1952) þ þ
Movimento direcionado para o promissor
negócio, mas que inicialmente não garantia
ganhos de escala. Posteriormente, com a
expansão da rede, obteve ganhos de escala.
Criada a Exportbrás S/A
(1963) þ
Explorar ganhos com o apoio da política de
exportações do governo, mas não obteve
ganhos de escala nas suas operações
originais.
Criação do Credi-Mesbla
(1956) þ
Instrumento de crédito que ajudou a manter
o crescimento da empresa, mesmo com o
aumento do custo de vida da população.
Quadro 5.10 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar de motivações produtivas nos movimentos de expansão, a
Mesbla não apresentou evolução em seus indicadores financeiros (Gráficos 5.1 e 5.2).
O segmento de varejo começava a sua trajetória de expansão e ainda não se traduzia
em resultados reais para a empresa como um todo, dado que a conjuntura econômica
para o setor, até 1968, foi desfavorável. O início das operações da Exportbrás, apesar
de contar com o apoio do Governo às exportações, não se configurava em uma
atividade que gerasse ganhos de escala às demais atividades da firma. As iniciativas
231
produtivas estiveram ligadas a uma melhor organização do departamento de compras
e melhoria do sortimento das lojas, buscando itens de maior giro.
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): os relatórios anuais da empresa no período indicam
uma excessiva preocupação com o cenário político e econômico e como a situação da
empresa poderia ser afetada. As decisões indicam uma cautela excessiva para novos
investimentos. Supõe-se então que a Mesbla considerava a operação rentável e que a
sobrevivência da empresa era um desafio suficientemente grande dentro do contexto
nacional.
O Quadro 5.11 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Ingresso no varejo, com a
abertura de Magazines (1952) Consentir,
Adaptar-se
Analisando a política governamental de estímulo à produção, La
Saigne prevê a redução do atacado e importação. A migração
para o varejo coincide com o processo de urbanização no Brasil.
Limita programa de
investimento, devido ao quadro
inflacionário (1959)
Adaptar-se
Adequou comprometimento de recursos à situação recessiva.
Contratou a empresa Verbo
Propaganda Ltda. para
anunciar produtos da empresa
(1966)
Adaptar-se
Crescimento das atividades varejistas (e concorrentes nacionais)
fez com que a empresa contratasse uma empresa para anunciar
seus produtos.
Reage à recessão reduzindo
endividamento e privilegiando
itens de maior giro (1967)
Consentir,
Adaptar-se
Adapta o sortimento de produtos para uma situação recessiva.
Quadro 5.11 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: O grande diferencial da Mesbla nesse período foi a adoção de uma
postura conservadora frente a um cenário político e econômico instável e pouco
propício para as operações comerciais. As suas respostas, entretanto, formaram um
conjunto de adaptações a um novo cenário, não foram encontradas evidências de uma
postura ativa de influência no ambiente.
232
e) Gestão de Diversidade
A Fase 2 trouxe novos desafios para a Mesbla, a partir de 1952, com o início
das atividades varejistas:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Ação dos vendedores viajantes
para novos negócios
Criada União Mesbla
Ingresso no varejo
Filial São Paulo começou a
ganhar status como a mais
importante da empresa
Fundação Luiz La Saigne
fornecia bolsas de estudo para
funcionários e seus filhos, para
cursos de instrução média
Aumenta a fragmentação e autonomia na empresa; distantes
da matriz, vendedores eram os responsáveis pelo negócio.
Mecanismo de integração e senso de unidade.
Cultura atacadista era muito forte, a entrada no varejo não foi
facilmente aceita pelos funcionários da empresa.
Favorecimento de promoções para gerentes de São Paulo
criava competição que minava a integridade da firma.
Mecanismo de criação do mito Louis La Saigne construindo
uma imagem positiva da Mesbla perante seus funcionários.
Compartilhamento Estrutura atacadista
incompatível com varejista
Não foi possível aproveitar estrutura existente, foi necessário
criar lojas e contratar novos profissionais.
Heterogeneidade Ingresso no varejo
Reduz operações de atacado
Tentativa de criar
procedimentos e regulamentos
para os empregados
Novas operações, um novo conceito, exigiu contratação e
demissão de funcionários.
Reduziu atividades que eram o foco de operação da empresa,
até abandoná-la (em 1972), reduzindo a heterogeneidade.
Instrumento não foi implantado porque a empresa era informal
demais.
Coordenação Criação do Conselho Consultivo
Centralização da Diretoria de
Compras no Rio de Janeiro
Enviou às filiais diretrizes de
operação no ambiente
inflacionário
Órgão de coordenação e orientação geral, que discutia e
delineava as premissas estratégicas com a direção geral, que
as permeava para o restante da organização.
Coordenação para ganhos de escala e exploração de melhores
oportunidades de compras.
Demonstra iniciativas de orientação, uniformização e repasse
de conhecimento.
Quadro 5.12 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Diversidade
233
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar dos esforços de integração, a firma baseava o seu crescimento
na autonomia dada aos representantes e vendedores viajantes, estratégia que teve
como conseqüência a ascensão da filial São Paulo em detrimento das demais. Com a
entrada no varejo, o desafio foi maior: migrar uma cultura atacadista para a varejista,
com os magazines. Relatos indicam que o processo foi longo e doloroso, pois o
atacado, embora tenha sido paulatinamente abandonado, durante duas décadas ainda
fez parte dos negócios da Mesbla. Ao manter as duas operações, a Mesbla aumentou
bastante a heterogeneidade de sua atividade comercial. Mas como o foco em varejo
foi explicitado para toda a empresa e foi fortemente representado pela demissão de
boa parte dos gerentes de filial percebe-se uma tentativa de criar uma nova cultura
associada à nova atividade.
f) Gestão de Complexidade
O Quadro 5.13 relaciona os eventos de gestão de complexidade:
Eventos Avaliação
Criação do Credi-Mesbla, oferecido na filial de Vitória, como um projeto piloto Sistemático
Enviou recomendações às filiais em virtude do quadro de aumento da inflação Sistemático
Instalação de um computador eletrônico para controle das transações Indefinido
Tentou criar procedimentos padrão, sem sucesso Indefinido
Quadro 5.13 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Forte
Comentário: Das quatro evidências encontradas neste período, duas apontam para
um comportamento sistemático da empresa, privilegiando o aprendizado e
compartilhamento de informações. Aparentemente, por estar realizando uma
expansão lenta e gradual em um ambiente em mudanças, La Saigne e,
posteriormente, Silvano Cardoso, tiveram uma postura contida e investiram tempo e
recursos para melhoria das informações para tomada de decisão. A instalação de um
computador central não foi considerada como uma resposta sistemática pois não
foram encontradas evidências de que as informações geradas auxiliaram no processo
234
de melhoria ou crescimento das atividades ou até mesmo no processo de tomada de
decisão. A tentativa de criar procedimentos padrão, de forma sistematizar as
operações da empresa, denota uma preocupação em administrar o aumento de
complexidade das operações, mas não se transformou em um ganho efetivo.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.14 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Desenvolver Vendedores viajantes passaram a ter o papel de prospecção de novas
oportunidades
Reter Criada a União Mesbla
Fundação Luiz La Saigne, entidade sob o controle da União Mesbla, passou
fornecer bolsas de estudo para funcionários e filhos de funcionários, para cursos
de instrução média
Formar Louis La Saigne faleceu e Silvano Cardoso, vice-presidente, foi eleito o novo
presidente
Silvano Cardoso faleceu e Henrique de Botton, vice-presidente, foi eleito o novo
presidente
Renovar Substituição de funcionários que não se adaptaram à mudança para o varejo, os
quais foram demitidos
Quadro 5.14 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais
Conclusão: Médio
Comentário: O processo de migração de uma cultura atacadista para o varejo foi
traumático e demorado, segundo depoimentos da época. De 1952 a 1972, quando o
atacado foi definitivamente abandonado, muitos funcionários foram demitidos e os que
ficaram tiveram que ser retreinados. Talvez esse seja um bom indicador de que a
Mesbla não antecipou suas necessidades para a migração definitiva para o varejo.
Como o mercado estava em desenvolvimento, essa crise acabou não colocando a
empresa em risco. A alocação de vendedores-viajantes para prospecção de novas
oportunidades tampouco teve indicativos de que estes foram treinados para tal
missão.
235
As sucessões dos dois presidentes, La Saigne e Silvano Cardoso, foram feitas de
forma previsível, indicando uma estrutura formal de substituição dos executivos.
Silvano havia se tornado o “braço direito” do fundador, explicando sua ascensão à
presidência quando da morte do empresário francês e Henrique de Botton já era vice-
presidente quando Silvano faleceu, tendo prestado serviços à diretoria comercial
anteriormente. Essa estrutura garantiu uma continuidade no crescimento moderado da
empresa e na migração da cultura atacadista para varejista. Aparentemente, eram as
opções mais viáveis, não tendo sido encontradas evidências de que ambos haviam
sido preparados para ocupar o cargo de dirigente máximo da firma.
Henrique de Botton iniciou um processo de valorização da figura de Louis La Saigne
com a criação da Fundação Louis La Saigne. A criação da União Mesbla parece
sugerir um mecanismo de retenção e valorização de uma cultura da companhia.
5.5.2.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 2ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 2ª Fase da Lojas Americanas encontram-
se no Anexo 11.
a) Indicadores Financeiros
A amostra de dados para a 2ª fase da Lojas Americanas compreendeu apenas
os dados dos anos 1965 a 1968, conforme o Gráfico 5.3. Percebe-se, entretanto,
crescimento nos indicadores de tamanho e performance da empresa. Apesar do
período particularmente complicado para o varejo nacional, a companhia começou a
empreender seu crescimento nacional, com incremento no nível de performance, para
esses quatro últimos anos do referido período.
236
Fase 2: 1946 a 1968 - LASA: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
0,900%
1,000%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,010%
-0,003%
0,004%
0,011%
0,018%
0,025%
0,032%
0,039%
0,046%
0,053%
0,060%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.3 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas:
Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
Foi registrada a abertura de uma loja no primeiro shopping center brasileiro, o
Shopping Center Iguatemi, em São Paulo, no ano de 1966. Além disso, a cadeia
expandiu sua presença para o Sul do país, com a primeira loja de Londrina.
A rentabilidade do empreendimento também evoluiu no período, conforme o
Gráfico 5.4. Apesar da queda entre os anos de 1967 e 1968, percebe-se uma
mudança de patamar de rentabilidade do empreendimento.
Fase 2: 1946 a 1968 - LASA: Rentabilidade
5%
7%
3%
4%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta Entrada do
Grupo Garantia
Gráfico 5.4 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
237
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
Ao inaugurar uma loja no primeiro shopping center construído no país, em 1966,
a Lojas Americanas estava apostando em um novo modelo de comercialização no
Brasil. Embora essas experiências já ocorressem nos Estados Unidos desde os anos
50, mostrava uma postura ambiciosa por parte da empresa, atrelada ao fato de que os
shoppings reduziam alguns dos riscos de um empreendimento de rua, na medida em
que os custos eram repartidos entre os diversos estabelecimentos.
Respostas classificadas como médias
A expansão de lojas foi realizada de uma forma moderada, na base de uma loja
por ano. Essa dinâmica se perpetuou ao longo do período, pois a Lojas Americanas
indicou diversas vezes em seus Relatórios Anuais que a expansão se daria mediante
um baixo nível de endividamento, primordialmente utilizando capital próprio. As
constantes emissões de capital foram exemplo dessa política.
Conclusão: Médio
Comentário: A Lojas Americanas ingressou no setor de shopping centers como uma
das empresas pioneiras e isso poderia contribuir para associar cada vez mais a
imagem de modernidade à companhia – fato evidenciado quando da introdução de
diversas novidades para o consumidor brasileiro. Seus recursos eram também
aplicados na expansão de sua rede de lojas de rua, de forma muito lenta. Assim, a
empresa dividia seus recursos em novos empreendimentos mas garantia a expansão
do modelo existente, fazendo “mais do mesmo”, de uma forma pouco arriscada. Nesse
momento, a ausência de concorrentes de peso era um facilitador para a entrada em
novos segmentos.
c) Motivação do Crescimento
O Gráfico 5.5 mostra que o nível de produtividade da Lojas Americanas
manteve-se praticamente estável ao longo dos quatro últimos anos da Fase 2.
238
Fase 2: 1946 a 1968 - LASA: Produtividade
20%
21%19%
19%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%19
65
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% (R
ecei
ta B
ruta
/ P
IB) /
Núm
ero
Fun
cion
ário
s
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.5 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Produtividade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Nesse período a empresa inaugurou três lojas e um novo armazém para os
crescentes estoques da rede, em São Paulo. Os índices indicam, dessa forma, que as
novas estruturas não trouxeram ganhos à produtividade da Lojas Americanas.
O Quadro 5.15 resume a análise de cada expansão realizada pela companhia no
período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Expansão da rede lojas
Sudeste e Sul (Déc. 40 a
60)
þ
Ganhos de escala não verificados nos
indicadores financeiros, supostamente
limitados pela autonomia das lojas.
Inauguração de um novo
depósito em São Paulo þ
Adoção de uma nova área, para os
crescentes estoques não se configurou em
um aumento de produtividade.
Quadro 5.15 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: A Lojas Americanas seguiu um ritmo lento e gradual de expansão de
atividades e não há evidências de que a empresa tenha realizado movimentos que lhe
conferissem uma grande vantagem competitiva ou ganhos de escala. Supõe-se que,
ao expandir suas operações concentrando-se nas regiões Sudeste e Sul, a companhia
239
não obteve grandes ganhos de escala, uma vez que a autonomia concedida aos
gerentes de lojas gerava uma grande quantidade de itens de sortimento.
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): os relatórios anuais obtidos para o período em
questão demonstram que a empresa considerava o ambiente institucional instável,
mas as principais observações das publicações ressaltavam resultados e alterações
internas à empresa.
A Lojas Americanas foi uma das primeiras empresas que atuaram como âncoras
de shopping centers, tendo auxiliado no estabelecimento e crescimento do setor. Da
mesma forma como os métodos inovadores de comercialização influenciaram o
ambiente na fase anterior (fim da prática de “pechincha”), o apoio ao desenvolvimento
dos shopping centers foi considerado um componente ativo no ambiente.
Conclusão: Forte
Comentário: Ao apoiar o desenvolvimento dos shopping centers, a Lojas Americanas
ajudou a desenvolver um setor que, mais tarde, teria cada vez mais importância para o
comércio varejista nacional.
e) Gestão de Diversidade
O Quadro 5.16 mostra os eventos relacionados com a Gestão de Diversidade:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Promovidos cursos de
aprimoramento para
empregados novos e antigos,
lecionados pelos próprios
funcionários da empresa
Os cursos promovidos por funcionários homogeneizavam os
métodos e disseminavam conhecimento pela empresa.
Quadro 5.16 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
Conclusão: Eventos insuficientes para concluir se a empresa realizava uma gestão de
diversidade eficaz.
f) Gestão de Complexidade
O Quadro 5.17 relaciona os eventos de Gestão de Complexidade.
240
Eventos Avaliação
Loja da Rua da Carioca foi fechada por apresentar problemas de performance
financeira
Sistemático
O processamento eletrônico já vinha sendo gradativamente adotado nas operações
da companhia
Sistemático
Lojas Americanas iniciou o processo de implantação de um Centro de
Processamento de Dados
Indefinido
Quadro 5.17 – Fase 2: 1946 a 1968 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: Não há indícios de um processo formal de aprendizado por parte da
empresa, mesmo tendo efetuado decisões aparentemente embasadas em processos
sistemáticos. O efetivo acompanhamento financeiro do resultados das lojas
aparentemente era uma realidade e proporcionou o fechamento de um
empreendimento deficitário. A adoção de processos informatizados mostra a
preocupação da empresa em melhorar o controle das operações, mas não há fatos
que comprovem a utilização de dados como fonte de aprendizado.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.18 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Desenvolver Firma empreendeu treinamento para o pessoal executivo
Formar, Renovar Promovidos cursos de aprimoramento para empregados novos e antigos,
lecionados pelos próprios funcionários da empresa
Quadro 5.18 – Fase 2: 1946 a 1968 – Lojas Americanas:
Provisão de Recursos Gerenciais
Conclusão: Médio
Comentário: os cursos oferecidos pela companhia buscavam preparar os novos
funcionários e os antigos. Além disso, a capacitação dos executivos era valorizada
pela empresa, segundo informações dos Relatórios Anuais de 1965 a 1968. Dessa
241
forma a empresa realizava uma preparação antecipada de recursos, mas o fato de não
ter sido encontrada evidências de um programa formal de capacitação, como um
programa de estagiários ou trainees, sugere que o componente tardio na provisão de
recursos gerenciais ainda era muito grande.
242
5.5.3. Fase 3: 1969 a 1973 – O “Milagre” brasileiro
Ambiente Internacional: Guerra do Vietnã (1964-1975); Crise do Petróleo (1973);
aproximação dos EUA aos países em desenvolvimento, para evitar a “Ameaça
Comunista”; crescimento mundial de 17% ao ano (até 77).
Ambiente Nacional: Conjuntura internacional favorável; o PNB cresce, em média,
10% ao ano entre 1968 e 1973; alta da construção civil; ampliação produção industrial:
automobilístico, siderúrgico, petroquímico e mineração; CIP/SUNAB realiza controle de
preços; expansão do crédito ao consumidor; migração campo-cidade fica mais intensa.
5.5.3.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 3ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 3ª Fase da Mesbla encontram-se no
Anexo 6.
a) Indicadores Financeiros
Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
19
58
19
59
19
60
19
61
19
62
19
63
19
64
19
65
19
66
19
67
19
68
19
69
19
70
19
71
19
72
19
73
19
74
19
75
19
76
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,090%
-0,070%
-0,050%
-0,030%
-0,010%
0,010%
0,030%
0,050%
0,070%
Lucr
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.5 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
O período do Milagre Brasileiro, quando o Brasil cresceu cerca de 8% ao ano,
não foi propriamente um período de crescimento nos resultados da Mesbla (Gráfico
5.5). Enquanto que o indicador de tamanho indicava um ligeiro aumento, o indicador
de performance apontava uma tendência à queda.
243
Os indicadores refletem a migração definitiva do atacado para o varejo. Em 1972
a Divisão de Atacado foi descontinuada, o que explica a queda em vendas entre 1972
a 1973. Antes disso, a empresa já havia concentrado as operações de atacado em
São Paulo, reduzindo seu escopo de atuação. Além disso, foi um período de pequeno
crescimento da atividade de varejo, quando apenas duas lojas foram abertas.
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
A Mesbla valorizava a independência das divisões de negócio, oficializada na
separação funcional de 1972. Essa independência vinha acompanhada de um
incentivo à procura de novos negócios, sendo um valor muito forte para os
funcionários da empresa.
Respostas classificadas como médias
A firma buscou concentrar esforços de crescimento em atividades comerciais
(lojas de departamento e veículos) e reduzir a divisão de Máquinas & Equipamentos. A
lenta expansão da cadeia de lojas sugere que a Mesbla manteve uma política
conservadora de crescimento, baseada em recursos próprios e baixo endividamento.
Além do crescimento da cadeia de lojas, a Mesbla iniciou operações ligadas a
publicidade e serviços de turismo, também sob a forma de empresas independentes,
mas que não conferiam ganhos efetivos para a organização.
A criação do Cartão Mesbla (1973) veio em um momento em que a população
brasileira consumia cada vez mais bens de consumo, em virtude do Milagre Brasileiro.
Assim, a empresa beneficiou-se de sua posição dominante e aproveitou o mercado de
crédito ao consumidor, que era estimulado pelo governo.
O Gráfico 5.6 mostra que a relação Lucro Líquido / Receita Bruta diminuiu,
indicando que tanto a expansão da rede de lojas quanto os novos serviços não vinham
contribuindo para uma melhoria do resultado da empresa. Os executivos, compradores
e representantes da empresa deveriam buscar atividades ou produtos que pudessem
melhorar a margem de vendas.
244
Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Rentabilidade
4%6%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%19
59
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Gráfico 5.6 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Conclusão: Médio
Comentário: A Mesbla passou pelo período de maior crescimento da economia
brasileira investindo na expansão da sua cadeia de lojas, de forma lenta e gradual.
Apesar de não assumir riscos, a companhia não aproveitou o momento de expansão
do mercado de bens de consumo para geração de ganhos efetivos para sua operação.
c) Motivação do Crescimento
O índice de produtividade da Fase 3, mostrado no Gráfico 5.7, apresentou uma
queda devido à expansão de operações não relacionadas com as atividades
comerciais da empresa.
A Mesbla manteve a prática de internalizar serviços que, pelo menos em teoria,
poderiam ser realizados por firmas especializadas e não conferiam vantagem
competitiva alguma para a empresa. Alguns exemplos: Central de Propaganda,
Gráfica Verbo e Mesblatur. Supostamente, a empresa poderia conseguir ganhos nos
custos de transação em cada uma destas atividades, mas em nenhum documento
oficial ou reportagem obtida foi constatada a análise financeira entre as opções de
contratar esses serviços de uma firma externa ou montar toda uma estrutura para o
atendimento interno, ou mesmo se existia escala para justificar tal decisão.
Há, dessa forma, alguns indícios de que a Mesbla estivesse realizando uma
expansão de atividades não-relacionadas, utilizando os seus recursos de maneira
245
improdutiva, caracterizando o que Penrose (1959) classifica como “expansão de
império”.
Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Produtividade
36%
29%
39%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% (
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
) / N
úmer
o F
unci
onár
ios
Gráfico 5.7 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Produtividade
(Fonte: Relatórios Anuais)
O Quadro 5.19 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Expansão da cadeia de
lojas (Déc. 70) þ
Ganhos de escopo e escala.
Criação do Cartão Mesbla
(1973) þ
Manter o ritmo de vendas e fidelizar clientes
diante de um quadro de crescimento.
Criada Central de
Propaganda, departamento
interno para publicidade
(1973)
þ
Internalizou uma função do fluxo de
comercialização de mercadorias, sem
necessidade pois havia, na época, firmas
especializadas no serviço.
Criada Gráfica Verbo Ltda.
(1970) þ
Nenhuma relação com a atividade de venda
de mercadorias; poderia ser realizada por
uma empresa contratada.
Quadro 5.19 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Motivação do Crescimento
(Cont.)
246
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Transformação do
Departamento de Viagens
na empresa coligada
Mesblatur Viagens e
Excursões Ltda. (1973)
þ
Nenhuma relação ou ganho com as
atividades de comercialização existentes.
Quadro 5.19 – Fase 3: 1969 a 1973 - Mesbla: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: Em sua maioria, os movimentos não proporcionaram ganhos de escala
ou operações que pudessem se configurar em ganho expressivo de margem. Os
índices financeiros mostram manutenção dos níveis de lucro, queda da produtividade,
apesar do incremento em vendas. A criação da Central de Propaganda somente não
foi considerado um movimento nulo pelo fato de estar ligado às práticas de publicidade
da empresa, necessárias para comercialização dos bens. Seu caráter parece indicar
mais um movimento defensivo, no sentido em que a empresa internalizou uma função
importante do processo de comercialização de bens e mercadorias, que é a
publicidade. A Gráfica Verbo e a Mesblatur não se mostraram relacionadas com
nenhum negócio que a Mesbla possuía até então, sendo uma estrutura montada
exclusivamente para atender as demandas internas da firma.
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): nos anos que precederam a Fase 3, a Mesbla havia
trilhado um caminho de crescimento lento e gradual, sem endividamento ou
comprometimento de recursos fundamentais para a longevidade da empresa, uma vez
que o ambiente se tornara muito instável. Na Fase 3, com o crescimento da economia,
o desafio da empresa passou a ser expandir as operações, de forma moderada,
aproveitando o cenário positivo. Nessa época, Henrique de Botton manteve-se
informado sobre modelos de comercialização Europeus e Norte-Americanos, tentando
aplicá-los no seu empreendimento nacional.
O Quadro 5.20 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
247
Evento Tipo de Gestão Observação
Criado processo de controle
para uniformizar tamanhos de
roupas (1972)
Manipular
Introduz padronização de produtos de vestuário, reduzindo
diversidade e complexidade da operação, influenciando demais
firmas do varejo.
Henrique de Botton realizava
viagens ao exterior (EUA e
França), onde vislumbrava
modelos varejistas europeus e
norte-americanos (1972)
Consentir,
Adaptar-se
Os Magazines Mesbla vão formando um sortimento de produtos
mais próximo ao das Lojas de Departamentos norte-americanas,
tentando manter o glamour dos Magazines franceses.
Atividade de vendas por
atacado passou a concentrar-
se somente em São Paulo
(1971)
Adaptar-se
Reduz operações do atacado, uma vez que a importação de
máquinas e equipamentos tornava-se cada vez menor devido à
industrialização da economia.
Dirigentes e funcionários foram
retreinados nos métodos do
novo negócio (1972)
Adaptar-se
Preparação de recursos internos para mudança no foco das
operações da empresa.
Quadro 5.20 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: A postura de crescimento moderada da Mesbla indica uma gestão de
mudança mais adaptativa do ativa. Apesar de ter sido encontrada uma evidência de
manipulação do ambiente, na questão da uniformização dos tamanhos de roupas, as
vantagens obtidas seriam aproveitadas também pelas demais firmas do varejo.
Internamente, a redução gradual das atividades atacadistas mostrava que o
direcionamento varejista da empresa seria um processo sem volta. O conhecimento de
modelos comerciais norte-americanos e europeus por parte da empresa lhe garantia
maiores opções de formas de comercialização, embora se tratasse da aplicação de
uma fórmula que talvez não fosse totalmente replicável no Brasil.
248
e) Gestão de Diversidade
O Quadro 5.21 relaciona os desafios da Gestão de Diversidade para a Fase 3:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Criadas divisões autônomas
Magazines, Veículos e
Máquinas & Equipamentos
As três divisões passam a
competir pela marca “Mesbla”
A Mesbla institucionaliza a independência de cada divisão,
valorizando a autonomia de cada uma delas.
Excesso de autonomia reduzia a noção de corporação para os
membros das unidades.
Compartilhamento Instalação de rede de telex Divulgação e troca de informações.
Heterogeneidade Criada Gráfica
Descontinuidade das vendas
por atacado
Criado processo de controle
para uniformizar tamanhos de
roupas
Acrescentou atividade não relacionada, aumentando diversidade.
Reduziu a heterogeneidade de operações e recursos na
empresa.
Reduziu variabilidade no processo, reduzindo necessidade de
recursos para operação com vestuário.
Coordenação Definido que a Direção Geral
teria um papel corporativo
Instalação de rede de telex
Mecanismo de coordenação que determinava e explicitava o
direcionamento da firma.
Divulgação e troca de informações para tomada de decisão.
Quadro 5.21 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Gestão de Diversidade
Conclusão: Médio
Comentário: A Mesbla enfrentou um grande desafio, a partir de 1952, quando da
migração das suas atividades para o varejo. O período de 1969 a 1973 representou a
consolidação definitiva do varejo como força motriz da companhia. Sob a
administração de Henrique de Botton desde 1968, houve forte resistência às
mudanças por parte dos antigos funcionários. A Mesbla implantou alguns mecanismos
de integração, como a Fundação Louis La Saigne, e buscou reduzir a
heterogeneidade. A autonomia das divisões, fruto da diversidade das três operações –
máquinas e equipamentos, veículos e magazines – reduzia o senso de união da
corporação, apesar da atuação da Direção Geral.
249
f) Gestão de Complexidade
O Quadro 5.22 relaciona os eventos de gestão de complexidade:
Eventos Avaliação
Criado Departamento de Planejamento e Expansão dedicado exclusivamente à
pesquisa de mercados para implantação de novas lojas
Sistemático
Empresa tinha sistema de controle de estoque em valores, mas não em
quantidades de cada mercadoria, e isso dificultava o planejamento
Indefinido
Instalação das primeiras caixas automáticas Indefinido
Quadro 5.22 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: Os eventos encontrados apontam um direcionamento maior para o
controle, mas em nenhum momento foram identificadas evidências de que essas
informações eram utilizadas para fomentar o aprendizado. A criação do Departamento
de Planejamento e Expansão, que no ano seguinte seria transformado no
Departamento de Planejamento das Lojas de Departamento, mostra um movimento
em direção ao estudo de oportunidades e ameaças de crescimento, sendo uma
resposta positiva ao desafio de Gestão de Complexidade.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.23 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Antecipar, Formar,
Desenvolver
Criado Departamento de Planejamento e Expansão dedicado exclusivamente à
pesquisa de mercados para implantação de novas lojas
Formar, Desenvolver Dirigentes e funcionários foram retreinados nos métodos do novo negócio
Formar, Desenvolver, Renovar André de Botton assumiu a chefia da Diretoria Comercial
Reter União Mesbla e Fundação La Saigne mantiveram suas atividades
Quadro 5.23 – Fase 3: 1969 a 1973 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais
250
Conclusão: Forte
Comentário: Ao criar um departamento para planejar sua expansão, a Mesbla, em
teoria, poderia antecipar-se às demandas do crescimento e se preparar para cenários
futuros, sendo um movimento positivo. Posteriormente, esse departamento seria
transformado na área de planejamento propriamente dita. Com a definitiva saída do
atacado, em 1972, a Mesbla retreinou os funcionários que não foram demitidos para
atuarem no varejo, indicando uma preocupação com a continuidade. A preparação de
André de Botton para suceder seu pai na administração da Mesbla estava sendo
trabalhada de forma positiva pois, após passar por uma concessionária de veículos,
assumiu a diretoria comercial da empresa.
251
5.5.3.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 3ª Fase
Os principais fatos relacionados com a Lojas Americanas na 3ª Fase encontram-
se no Anexo 12.
a) Indicadores Financeiros
Assim como no caso da Mesbla, o período do “Milagre Brasileiro” não se
converteu em um ganho muito expressivo para a Lojas Americanas, segundo os
indicadores de tamanho e performance no Gráfico 5.8:
Fase 3: 1969 a 1973 - LASA: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
0,900%
1,000%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,010%
-0,003%
0,004%
0,011%
0,018%
0,025%
0,032%
0,039%
0,046%
0,053%
0,060%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (%
)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.8 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas:
Indicadores Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
Nesse período a Lojas Americanas expandiu suas operações para o Centro-
Oeste do país, mas suas vendas ficaram praticamente em um mesmo patamar. Ou
seja, a Lojas Americanas estava acompanhando o crescimento da economia.
Entretanto, a expansão física das lojas estava proporcionando melhoria em
outros índices de resultado. De 1969 a 1973, a rentabilidade aumentou de 6% para
10%. Em se tratando de varejo, era uma marca bastante favorável. O Gráfico 5.9
detalha o índice em questão:
252
Fase 3: 1969 a 1973 - LASA: Rentabilidade
10%
8%
6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.9 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Sendo assim, apesar de a empresa estar crescendo no mesmo ritmo que a
economia, a parcela de lucro em relação à receita estava maior, gerando recursos
para financiar o crescimento do empreendimento. Os Relatórios Anuais da companhia
realizavam uma comparação do crescimento de vendas e do lucro com o índice de
custo de vida da cidade do Rio de Janeiro, sendo que os resultados estavam sempre
superiores à inflação.
O Gráfico 5.10 mostra que, de 1969 a 1973, a Americanas inaugurou poucas
lojas por ano:
Lojas Americanas: Abertura de Lojas - 1969 a 1973
1 1
2
1
2
-
1
2
3
1969 1970 1971 1972 1973
Ano
Lo
jas
Ab
erta
s
Gráfico 5.10 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Abertura de Lojas
(Fonte: Relatórios Anuais, 1969 a 1973)
253
Esses dados confirmam a postura moderada adotada pela firma, mesmo frente
ao período do “Milagre Brasileiro”. Não foram colhidas evidências da introdução de
inovações ou ingresso em novos negócios.
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como médias
A Lojas Americanas manteve seu ritmo moderado de expansão, não realizando
inovações ou trazendo maiores novidades ao mercado varejista. Essa postura garantiu
um crescimento contínuo da empresa com um baixo nível de endividamento. A
vantagem da empresa estava no ganho em escala e crescimento da rede em caráter
nacional, o que consolidava a marca Lojas Americanas como uma das principais
firmas do varejo. Nessa época, ocorreu a expansão de suas operações para o Centro-
Oeste, mantendo-se o direcionamento de autonomia dos gerentes de loja.
Conclusão: Médio
Comentário: Percebe-se uma constante, porém lenta, dinâmica de crescimento, com
expansão da rede para regiões ainda não exploradas. Ao assumir poucos riscos, a
firma protegia-se de eventualidades e efetuava um ganho em escala no processo de
compra de suas mercadorias.
c) Motivação do Crescimento
Os dados colhidos para a Fase 3 da Lojas Americanas indicaram que a
produtividade da empresa57 em 1969 era de 19% e quatro anos mais tarde, 16%.
Embora não tenha sido possível obter dados entre 1970 e 1972, torna-se difícil
defender a idéia de que a expansão nacional do empreendimento estivesse
explorando de forma produtiva os recursos da empresa, garantindo ganhos de escopo
e escala. Nenhuma diversificação foi identificada no período.
O Quadro 5.24 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
57 Produtividade = % (Receita Bruta / PIB) / Número de Funcionários
254
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Inauguradas lojas na
Região Centro-Oeste (Déc.
70) þ
Expansão da cadeia poderia conferir ganhos
de escopo e escala. Aparentemente, esses
ganhos eram limitados pela autonomia
conferida às lojas.
Operação com dois
depósitos próprios, um em
São Paulo e outro no Rio
de Janeiro
þ
Armazenagem em depósitos e lojas era
“proteção” da empresa contra a inflação.
Quadro 5.24 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: As evidências coletadas indicaram uma expansão da rede e tentativas
de ganho em escala. Entretanto, a já citada autonomia concedida às lojas e o fato de
os estoques serem descentralizados nas estruturas das próprias lojas, e não nos
armazéns, reduzia os ganhos oriundos do aumento das operações. A utilização da
estrutura de estoques era uma proteção contra a instabilidade inflacionária e não uma
iniciativa para se obter ganhos de escala ou impulsionar o crescimento.
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): não foram encontradas evidências ou registros
oficiais sobre como a empresa interpretava o ambiente em que estava inserida, mas a
citação “indicando o acerto da nossa política de marketing” era freqüente nas análises
da empresa. Isso parece sugerir que a empresa interpretava o ambiente como propício
ao crescimento lento e gradual da sua cadeia de lojas.
O Quadro 5.25 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
255
Evento Tipo de Gestão Observação
Implantado departamento de
relação com investidores
(1973) Consentir,
Adaptar-se
Lojas Americanas exaltava a sua imagem como um exemplo de
democratização de capital. A implantação do referido
departamento em 1973, além de reforçar essa imagem,
adaptava a empresa às necessidades constantes de
comunicação com o mercado, já que tinha uma das ações mais
negociadas na bolsa.
Quadro 5.25 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar da postura ativa na questão do relacionamento com seus
acionistas, isso não se configurava em uma vantagem efetiva para a empresa.
Aparentemente, a Lojas Americanas tinha uma postura moderada de crescimento pelo
fato de considerar o ambiente propício a um crescimento lento. Ou seja, os planos de
expansão não eram ambiciosos e o fato de a empresa estar crescendo com a
economia tornava a necessidade de influenciar ou manipular o ambiente muito
pequena.
e) Gestão de Diversidade
Os seguintes eventos relacionados com a gestão de diversidade foram
identificados para a Fase 3:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Os próprios funcionários
ministram cursos de varejo, sob
orientação de pedagogo
Crescimento da rede baseado
em lojas, com autonomia dos
gerentes
Iniciativa molda a cultura da empresa em torno das práticas de
varejo consideradas corretas e instala o termo “universidade de
varejo” sobre a Lojas Americanas pelos seus dirigentes.
Dificulta a integridade de práticas na medida em que cada
gerente de loja tem autonomia para aproveitar as
oportunidades locais.
Compartilhamento N/A
Heterogeneidade Introduz plano de avaliação de
Cargos e Salários
Essa decisão auxiliaria na homogeneização da sua estrutura de
cargos, além de planejar o longo prazo de seus funcionários.
Coordenação Inaugura Sede na Sacadura
Cabral, Rio de Janeiro
A Lojas Americanas passou a ter a sua coordenação e áreas
de apoio administrativo em apenas uma localidade.
Quadro 5.26 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
256
Conclusão: Médio
Comentário: Percebe-se certa heterogeneidade na gestão da cadeia de lojas e alguns
mecanismos de integração, que conferiam certas características à empresa, como
“universidade do varejo” e o “capital democratizado”. A Sede na Sacadura Cabral, na
verdade um grande galpão com escritórios administrativos, seria utilizado futuramente
como símbolo de austeridade para a empresa.
f) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.27:
Eventos Avaliação
Criado Departamento de Desenvolvimento de Pessoal passa a gerir cursos de
forma a capacitar os funcionários para o crescimento
Sistemático
Introduz plano de avaliação de Cargos e Salários Indefinido
Implantados processos: contabilidade, cadastro geral de mercadorias, emissão de
pedidos a fornecedores
Indefinido
Quadro 5.27 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: As iniciativas implantadas neste momento seriam de fundamental
importância para a melhoria das rotinas da empresa na década de 1980, mas até o
momento eram meros instrumentos de controle da operação, não foram colhidas
evidências de um processo estruturado de aprendizado. O cadastro geral de
mercadorias ou o processo de emissão de pedidos para os fornecedores não eram
utilizados, segundo as evidências encontradas, para uma melhoria da operação ou
maior conhecimento das atividades da empresa.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.28 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
257
Dimensão Eventos
Formar, Antecipar,
Desenvolver
Criado Departamento de Desenvolvimento de Pessoal passa a gerir cursos de
forma a capacitar os funcionários para o crescimento
Desenvolver, Reter, Renovar Instituído Plano de Cargos e Salários
Formar, Desenvolver Próprios funcionários ministram cursos de varejo
Renovar Thomas Leonardos assumiu a presidência do Conselho de Administração da Lojas
Americanas (1973)
Quadro 5.28 – Fase 3: 1969 a 1973 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais
Conclusão: Médio
Comentário: Foram encontradas algumas evidências para o desafio de Provisão de
Recursos Gerenciais, ligados à formação dos funcionários da empresa e da efetiva
formalização da hierarquia gerencial, necessária por causa do processo de
crescimento. A ascensão à presidência de Thomas Leonardos foi um movimento
previsível, já que ocupava anteriormente um cargo de segundo vice-presidente da
empresa. Percebe-se ausência de iniciativas formais de renovação e retenção do
quadro de funcionários, prejudicando a capacidade de a empresa renovar suas
práticas ou desenvolver capacitações a partir de experiências próprias.
258
5.5.4. Fase 4: 1974 a 1985 – Da Crise do Petróleo à redemocratização
Ambiente Internacional: Crise do Petróleo (1973); Guerra do Vietnã (1964-1975);
crescimento mundial de 17% a.a. até 1977; crise e moratória no México (1982);
varejistas nos EUA já utilizam check-outs com leitura eletrônica; Japão é o país mais
avançado tecnologia de varejo.
Ambiente Nacional: abertura política a partir de 1975; diminuição da poupança;
diminuição do crescimento; alta inflacionária; CIP/SUNAB realiza controle de preços;
criação do Proálcool; construção de usinas nucleares; expansão do crédito ao
consumidor; migração campo-cidade mais intensa; iniciado Projeto Cobra, para
desenvolver tecnologia nacional; os metalúrgicos de São Paulo e Guarulhos, na
Grande São Paulo, iniciam greve em 29 de outubro de 1979; fim da Ditadura (1985).
5.5.4.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 4ª Fase
Os principais fatos da 4ª Fase da Mesbla encontram-se no Anexo 7.
a) Indicadores Financeiros
Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,090%
-0,070%
-0,050%
-0,030%
-0,010%
0,010%
0,030%
0,050%
0,070%
Lucr
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.11 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
O Gráfico 5.11 indica que a empresa aumentou suas vendas em relação ao PIB
mas não melhorou seu lucro, utilizando o mesmo referencial. A expansão da empresa
não se traduziu em um ganho de rentabilidade. Em 1974, a Mesbla tinha 9.050
259
funcionários e vinte e seis lojas de departamentos. Em 1985 eram trinta e nove lojas e
22.459 funcionários distribuídos em seis unidades de negócio.
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
A empresa continuava a estimular a autonomia dos seus funcionários, como na
MLD, onde os compradores eram os “donos” dos seus departamentos e os gerentes
responsáveis pela qualidade do atendimento de suas lojas. No nível das unidades de
negócio, a independência era tida como uma grande fórmula para evitar processos
demorados de tomada de decisão.
Respostas classificadas como médias
A Mesbla instalou lojas-âncora em shopping centers, porque a firma entendia
que o novo negócio poderia propiciar bons resultados à empresa, uma vez que
acompanhava o sucesso de tal empreendimento nos EUA, tendo apoiado o
movimento no Brasil. Os resultados obtidos não se traduziram em um incremento
considerável na margem ou lucro, mas eram fruto de um investimento de baixo risco.
Em relação à obtenção de recursos para o crescimento, a Mesbla realizou
operações de subscrição de capital, comuns a empresas com ações na Bolsa de
Valores, e leaseback de imóveis que não operacionais.
Respostas classificadas como fracas
Sob a direção de André de Botton, a Mesbla duplicou seu tamanho no período,
conforme depoimento de um ex-executivo da empresa:
Foi o André que teve uma grande expansão, na década de 80, mais
que dobra a empresa, ficou uma coisa enorme. O Sr. Henrique, o La
Saigne eu não conheci [...] com o La Saigne foi tudo muito
lento...todos muito conservadores, menos o André. O La Saigne foi
uma coisa lenta, de atacado. O Sr. Henrique, na década de 60,
resolveu ir para varejo, e foi difícil quebrar o culturalmente DNA da
Mesbla Atacado.58
58 Depoimento do Entrevistado 4
260
O grande problema foi que esse crescimento não se traduziu em resultados. Os
Gráficos 5.12 e 5.13 mostram que a rentabilidade ficou praticamente inalterada e a
produtividade decresceu.
Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Rentabilidade
3%3%3%4%3%
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Gráfico 5.12 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Produtividade
16%
26%27%
15%
13%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% (
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
) / N
úmer
o F
unci
onár
ios
Gráfico 5.13 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Produtividade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Sendo assim, a ambição que guiou a empresa neste momento de sua história
não pareceu orientada para os riscos do crescimento, podendo ser classificada como
“expansão de Império” (PENROSE, 1959). Existiu uma agressiva busca por ocupar
261
nichos de mercados, principalmente durante o período recessivo de 1980 a 1982,
quando muitas empresas do varejo foram à falência.
A Mesbla esteve exposta a esse risco, com uma queda nos seus níveis de
liquidez, por causa de seu projeto de expansão, conforme o Gráfico 5.14 a seguir:
Fase 4 - 1974 a 1985 - Mesbla: Índice de Liquidez Corrente
1,20
1,03
1,211,321,35
-
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
Ano
Gráfico 5.14 – Fase 4: 1974 a 1985 - Mesbla: Liquidez Corrente
(Fonte: Relatórios Anuais)
Ainda faz parte deste período da história da empresa uma mal-sucedida volta às
vendas por catálogo. Aparentemente, verificando o exemplo da Sears, a Mesbla
elaborou um projeto bastante oneroso – o custo de uma nova loja de departamento –
para que, na ocasião de seu lançamento, cancelasse o empreendimento sob a
alegação de que o ambiente era demais instável.
Conclusão: Fraco
Comentário: Aparentemente a Mesbla estipulou metas ambiciosas, assumindo riscos
exagerados que proporcionaram resultados não muito diferentes dos que estava
conquistando anteriormente. Como agravante, o conjunto de decisões colocou, em
1982, a situação financeira da empresa em risco. A valorização do empreendedorismo
aparentemente não estava acompanhada de uma eficiente capacidade de julgamento
dos riscos.
262
c) Motivação do Crescimento
O Quadro 5.29 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Lojas de Departamentos
aumentam linha soft (1977) þ
As margens da linha soft, superiores as da
linha hard, melhoraram as vendas por m2.
Criadas Marcas Próprias
(1984)
þ
A Mesbla aproveitou-se de sua posição no
mercado, suas lojas e direcionamento para
moda e passou a comercializar marcas
diferenciadas, aumentando suas vendas por
área de loja.
Expansão das Lojas de
Departamentos em
shopping centers (1978) þ
A instalação de lojas em shoppings garantia
a expansão da rede sem tantos custos
operacionais quanto as lojas de rua, oferecia
ganhos de escala e fortaleciam a imagem da
empresa.
Divisão Veículos inicia
venda por consórcios e
aumenta vendas (1977) þ
Vendas de veículos aumentam pela
introdução do novo serviço, mas não
garantem vantagem competitiva (pode ser
utilizada pelas demais empresas do ramo).
Expande frota de veículos
e estrutura de
armazenagem (1974) þ
Apesar de visar aumentar as vendas, o
crescimento da estrutura onera a operação
com serviços que poderiam ser realizados
por empresas terceirizadas.
Criada Financiadora
Mesbla (1982)
þ
O Ministro Delfim Netto expandiu as
facilidades para crédito ao consumidor. Em
busca das margens, a empresa ingressou no
ramo, embora já existissem empresas para
realizar a atividade.
Criada Mesbla Motos
(1982) þ
Revendas de motos não aproveitaram as
lojas de veículos, impedindo ganhos de
produtividade ou economia em escala.
Quadro 5.29 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Motivação do Crescimento
(cont.)
263
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Criadas Lojas
Especializadas (1985) þ
Foram criadas empresas independentes
para competirem com as butiques de
shopping centers. Não havia ganho de
escala com compras ou marketing.
Criada Central de
Propaganda Provarejo
(1975)
þ
Não era necessária a criação da Central, a
Mesbla já havia trabalhado com empresas
externas antes e já existia oferta no
mercado. Uma conta de publicidade como a
da Mesbla seria disputada por grandes
empresas, o que provavelmente daria
vantagem para a rede varejista na
negociação.
A Divisão Máquinas &
Equipamentos implantou
uma moderna fábrica para
componentes (1978)
þ
Momento de grande industrialização no
Brasil, aparentemente não havia
necessidade da implantação de tal fábrica.
Criada VT Center,
produtora de televisão
(1979)
þ
O serviço existia no mercado, não era
necessário criar uma empresa apenas para
atender a Provarejo.
Criada Mesbla Náutica
(1980) þ
Pequena, porém rentável, a operação não
oferecia ganhos de escala à atividade da
empresa.
Criada Trading Company
Mesbla (1980) þ
A Mesbla já realizava importação de itens,
desde sua origem, e a criação desta
empresa não trouxe qualquer ganho à
operação.
Quadro 5.29 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: Conclui-se que a maioria das expansões da empresa não trouxe ganhos
efetivos em produtividade, fato confirmado pelos indicadores financeiros. Na ambição
de conquistar mercados e expandir os pontos de venda, a empresa desperdiçou
oportunidades de economia de escala como integrar as vendas de motos às de
veículos e considerar a comercialização e importação de produtos náuticos e as
atividades da Trading Company como um negócio único.
264
Não foi possível apurar os motivos da realização de tamanha expansão. Alguns
indícios de interferência de interesses familiares foram colhidos, mas se mostraram
insuficientes para gerar qualquer conclusão sobre o fato. Por exemplo, sobre o
episódio da criação da Mesbla Náutica, um ex-executivo da companhia afirmou:
[...] quem tocava a náutica era o irmão do André, o Henrique de
Botton, então tinha uma coisa familiar também, deram para ele um
negócio para ele tocar, era uma pessoa que...aquilo ele tocava, se
não tivesse o Henrique não sei se a Mesbla teria...a Mesbla era
completamente dominante em náutica. 59
d) Gestão de Mudança
Desafio Percebido: Como verificado nos períodos anteriores a Mesbla indicava, em
seus Relatórios Anuais, extrema cautela em relação ao ambiente de instabilidade
brasileiro, comportamento verificado na sua lenta expansão de lojas de departamento.
Então o desafio percebido era crescer, moderadamente, em um ambiente de
instabilidade político-econômica. A partir da década de 1980, após a efetiva entrada de
André de Botton na direção da empresa, a Mesbla passou a investir na expansão de
suas atividades e no desenvolvimento de recursos gerenciais, o que pode ter gerado
um excesso de confiança na equipe de executivos. Apesar da instabilidade econômica
– que quase levou a empresa à falência em 1982 – o ambiente era visto propício para
o crescimento, aproveitando o espaço deixado pelos demais concorrentes. A criação
da Diretoria de Planejamento, em teoria, deveria tornar o processo de monitoramento
e construção de cenários uma prática da empresa.
O Quadro 5.30 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Entrada no segmento de
shopping centers Adaptar-se,
Consentir
Essa decisão estava amparada pelos resultados obtidos por
lojas de departamentos nos EUA, que tinham operações em
shoppings. A Mesbla tornou-se presença certa nos maiores
shoppings nacionais, auxiliando o desenvolvimento do setor.
Quadro 5.30 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Mudança
(cont.)
59 Depoimento do Entrevistado 4
265
Evento Tipo de Gestão Observação
Criada Área de Planejamento Adaptar-se,
Consentir
Época de ouro para o planejamento estratégico, a Mesbla seguiu
uma tendência mundial e implantou sua área.
Divisão Veículos passou a dar
ênfase em serviços após
choque do petróleo e aumento
de preços de automóveis
Adaptar-se
Adapta-se internamente para enfrentar mudança no perfil do
consumo de carros.
Abandonou definitivamente
venda de linha branca Adaptar-se
Adapta-se internamente para buscar maiores margens.
Entra no ramo de lojas
especializadas Adaptar-se
Pressionada pelos novos concorrentes, cria as cadeias de lojas
especializadas.
Iniciada a estruturação da
holding Adaptar-se
Com o crescimento da estrutura, criou mecanismo que dessem
autonomia e mais rapidez às decisões.
Atuação junto a SEI e ABAC
em prol do código de barras Desafiar
A Mesbla era uma das empresas com capital para investimento
em tecnologia. Entretanto, a reserva de mercado tornava muito
cara a importação de equipamentos. Além disso, o Brasil ainda
não adotara sistema de codificação de produtos.
Atuação junto a Associações
Comerciais e Sindicatos para
abertura de c omércio aos
domingos
Desafiar
Pressionada no início da década de 1980, a Mesbla tentou, sem
sucesso, iniciar as vendas nos domingos, prática inimaginável
até então no Brasil.
Mesbla veicula campanhas
fortalecendo o conceito de
moda
Manipular
Consumo de moda da loja de departamentos aumenta depois
que atrizes populares (Eva Wilma, Glória Menezes e Terezinha
Sodré) passaram a consumir os produtos da Mesbla.
Quadro 5.30 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: A Mesbla tentou estabelecer um papel ativo de gestão de mudanças,
mas que pouco se concretizou em resultados favoráveis para a empresa. Tanto a ação
para implantação de código de barras quanto a abertura do comércio aos domingos
poderiam dar vantagem competitiva para a companhia. Os relatórios anuais indicavam
uma boa percepção do ambiente, uma vez que a empresa identificava ameaças ao
seu impulso expansionista. A criação da Diretoria de Planejamento, com legitimidade
para realizar serviços de consultoria interna, deveria ajudar a empresa a planejar
cenários de longo prazo mas, a partir de depoimentos de ex-consultores que
266
trabalharam para a Mesbla, soube-se que em algumas situações a área de
planejamento apenas corroborava decisões do grupo de executivos, liderados por
André de Botton. Nas demais iniciativas percebe-se uma postura adaptativa, sendo um
comportamento recorrente nas reações da empresa. Um exemplo é o início da
estruturação da holding, uma resposta às pressões internas por mais autonomia e
rapidez nas decisões.
e) Gestão de Diversidade
A Fase 4 foi um período de grande expansão da Mesbla, com introdução de
novas linhas de produtos (marcas próprias) e unidades de negócios. O Quadro 5.31
indica eventos e suas conseqüências para a gestão de diversidade.
Dimensão Eventos Observação
Integridade Agressivo programa de
expansão
Programas de treinamento
exclusivos para funcionários
da Mesbla (COPPEAD)
Ampliação dos Clubes de
Funcionários
Valorização da iniciativa e
autonomia
Ênfase no glamour das lojas
de departamento (campanhas,
marcas próprias)
Recursos direcionados para
lojas especializadas são
invejados por antigos
compradores da MLD
Restaurante Mesbla
estimulava encontro de
executivos
Realizou movimento de expansão como nunca havia sido feito
antes pela empresa, que dobra de tamanho.
Formação de uma cultura que valorizava a capacitação e o
aprendizado.
Mecanismo de integração.
Embora tivesse uma estrutura pesada, o comportamento
empreendedor e autônomo era estimulado.
Motivo de orgulho e admiração para os funcionários.
Lojas especializadas da Mesbla vendiam roupa infantil nos
shopping centers nos melhores pontos e o orçamento para abrir
lojas Next e Folia era volumoso.
Estimulava troca de informações e coordenação entre executivos
de diferentes divisões.
Compartilhamento N/A
Quadro 5.31 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Diversidade
(cont.)
267
Dimensão Eventos Observação
Heterogeneidade Desativou as operações da
Divisão Máquinas e
Equipamentos
Criação Provarejo, VT Center,
Náutica, Financeira e Trading
Company
Mesbla possibilitava carreira
lateral em lojas
Elaborado o Manual de
Administração de Pessoal
Redução de diversidade de operações e recursos, com foco no
consumidor final.
Acrescentou atividades não relacionadas, aumentando
diversidade.
Aumenta diversidade de funções, cargos e salários na empresa.
Reduz diversidade de procedimentos e rotinas.
Coordenação Centralização do
Departamento Central de
Compras da MLD no Rio de
Janeiro
Órgão de Planejamento
obteve status de diretoria
Departamento de Recursos
Humanos centralizado na
Sede
Promove reuniões entre a
Central de Compras, a Central
de Propaganda e os gerentes
de lojas mensalmente
Lojas e Agências agrupadas
sob a administração de
Gerências Regionais
Promoção de encontros entre
gerências e chefias
Necessidade de coordenação para os compradores da MLD.
Um planejamento ativo que pudesse ajudar a definir metas
claras, melhoraria a capacidade de coordenação da empresa.
Mecanismo de coordenação para alocação de recursos.
Estimulava troca de informações e coordenação entre membros
da organização.
Forma de prover unidade nos objetivos da companhia e melhorar
a coordenação das atividades.
Estimulava troca de informações e coordenação entre áreas da
organização.
Quadro 5.31 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Diversidade
Conclusão: Médio
Comentário: Este período foi particularmente desafiador para a Mesbla por dois
motivos: sob a direção de André de Botton, a empresa definiu que o foco de atuação
era o cliente final e que a companhia se transformaria em um grande conglomerado de
atividades comerciais. Esses dois movimentos, de uma vez, desafiaram a integridade
268
da empresa, na medida em que durante toda sua existência o seu crescimento havia
sido feito de forma moderada e pouco arriscada. As iniciativas de coordenação, que se
intensificaram nesse período, aparentemente não surtiram o efeito desejado, pois a
autonomia das unidades, a independência e informalidade dos funcionários,
sobrepunham essas tentativas de coordenação. Outro ponto que chama a atenção é a
ausência de mecanismos de compartilhamento de recursos. As evidências apontam
para uma constante comunicação (algumas vezes informal) entre executivos, mas
poucas iniciativas de busca por sinergia ou ganhos de escala.
f) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.32:
Eventos Avaliação
Criado oficialmente o órgão de Planejamento Sistemático
Empresa promoveu reuniões entre a Central de Compras, a Central de Propaganda
e os gerentes de lojas mensalmente
Sistemático
Criado o Departamento de Pesquisa, como um desdobramento da Central de
Compras
Sistemático
Implantado sistema de controle de qualidade para linha soft Sistemático
Implantados dois sistemas de controle de estoques, um para o soft, um para o hard Sistemático
Empresa promoveu encontros e reuniões entre gerências e chefias Indefinido
Término do projeto de vendas por catálogo, um investimento superior a 150 milhões
de cruzeiros
Casuístico
Quadro 5.32 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: Os eventos indicam um direcionamento para pesquisas e criação de
uma estrutura que aproveitasse as facilidades dos sistemas de informação que,
embora incipientes, existiam. As reuniões entre as centrais de compra, propaganda e
gerentes de loja, mensais, sugerem uma troca de conhecimento e experiências, que
poderia auxiliar o aprendizado de uma forma geral. Essa dinâmica pode ter resultado
na ênfase na linha soft que, segundo relatos, foi desenvolvida a partir de estudos do
269
giro de mercadorias. Um outro evento, entretanto, pareceu ter sido resultado de uma
sistemática de análise pobre: o lançamento e imediato cancelamento do projeto de
vendas por catálogo. Caso a empresa tivesse uma sistemática de análise de novas
oportunidades, talvez a Mesbla não tivesse gasto tantos recursos em um
empreendimento inviável. Esse desprendimento da questão financeira tornou a Mesbla
vulnerável a eventos como esse, pois há poucas evidências de que a análise
sistemática era realizada contemplando todas as informações possíveis. Sobre essa
época, segue um depoimento de um ex-executivo da MLD:
Uma outra deficiência que eu vejo, quase eterna, é que a Mesbla
tinha uma péssima gestão financeira. Pessoal da área financeira não
era tão bom quanto os das outras empresas e quanto os dos
concorrentes. [...] Então isso também na hora que a gente precisava
ser criativo na área financeira, como conseguir opções de
financiamento mais baratas, conseguir gerar uma tesouraria melhor, a
gente não tinha gente boa para isso e certamente eu não era essa
pessoa. Eu era marketing, comercial, produto, gente. 60
Embora retrate a opinião de um executivo, essa afirmação evidencia que havia
uma aparente deficiência na conjunção e análise das informações da principal divisão
da empresa. Além disso, mostra que havia um desprendimento do marketing e vendas
da área de controle, fato que poderia colocar em risco a realização de uma promoção
ou mesmo a estratégia de vendas da Mesbla.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
Nos anos de 1974 a 1985 a Mesbla investiu grande soma de recursos em
capacitação e treinamento, programas de estágio e na preparação de André de Botton
para suceder Henrique de Botton no comando da empresa. O depoimento de um ex-
executivo indicava que a empresa parecia ter bastante preocupação com a preparação
de seus empregados:
Na década de 80, com investimentos em RH, e o André era muito
bom nisso, a gente contratou gente boa, a gente tinha uma “garotada”
muito boa e nós fizemos um estrago no mercado.[...] o primeiro MBA
de varejo fomos nós que fizemos na COPPEAD e nós bancamos... só
60 Depoimento do Entrevistado 4
270
tinha alunos nossos. [...] Por que a gente acreditava em ensinar, todo
mundo viajava, a gente investia, tanto que até hoje, eu saí da Mesbla
há doze anos, e até hoje tem excelentes executivos por aí afora que
vieram da Mesbla, de tão bom que era o treinamento. Eu vejo, em
tudo que é lugar, varejo pequeno, médio, outras empresas, encontro
pessoas em cargos de chefia, que estão em plena flor de atividade
porque são preparadas.61
O Quadro 5.33 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais:
Dimensão Eventos
Antecipar, Formar,
Desenvolver
Criado órgão de Planejamento
Empresa promoveu encontros e reuniões entre gerências e chefias
André de Botton, que havia dirigido uma concessionária Mesbla, finalizou seu
Advanced Management Program (AMP) e assumiu a Diretoria Comercial e,
posteriormente, a Vice-presidência
Reter, Formar, Desenvolver Firmado Convênio COPPEAD
Formar, Desenvolver, Renovar Mesbla tinha programa de estágio informal (1976)
Criado oficialmente o programa de estágio (1978)
Mesbla possibilitava carreira lateral em lojas
Antecipar, Reter Criada a Assessoria de RH
Foi iniciado um plano de pesquisa salarial sistemático e um vasto projeto de
treinamento
Reter José Paulo Amaral, diretor da divisão magazine, deixa a empresa para ocupar a
superintendência da Lojas Americanas
União Mesbla e Fundação La Saigne ampliaram suas atividades
Quadro 5.33 – Fase 4: 1974 a 1985 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais
Conclusão: Forte
61 Depoimento do Entrevistado 4
271
Comentário: Aparentemente a Mesbla estava realizando seu plano de capacitação de
recursos seguindo um manual à risca, preparando-se para a expansão. Para a
sucessão de Henrique de Botton, seu filho André estava sendo preparado, tendo
passado pela área de veículos e assumido a diretoria comercial.
O órgão de planejamento, recém-criado, tinha como objetivo planejar e realizar,
em conjunto com a assessoria de recursos humanos, um extensivo plano de formação
de talentos, que daria origem ao PGE – Programa de Gestão Empresarial.
A informalidade da empresa, se por um lado tornava o desenvolvimento
profissional algo meio desordenado, contribuía para que profissionais conhecessem
diversas atividades da empresa e o mercado das diferentes lojas de departamentos.
Como uma forma de reter e desenvolver seus funcionários, a Mesbla acertou um
convênio com a COPPEAD: seria responsável por uma turma exclusiva de MBA
Marketing na instituição. Como incentivo ao desenvolvimento e retenção de
funcionários, o plano era bastante bem sucedido, pois era oferecido a funcionários de
diversas áreas da empresa e considerado de muito boa qualidade. Em paralelo, a
União Mesbla, com os clubes de funcionários, ampliava seu escopo de atuação. Neste
período, um fato que chamou a atenção foi a saída de José Paulo Ferraz do Amaral
para ser diretor superintendente da Lojas Americanas, empresa concorrente (em
alguns departamentos) que começava a impressionar pelos resultados obtidos após
sua aquisição por um banco de investimentos. Não foram encontradas evidências ou
depoimentos que justificassem a sua saída.
272
5.5.4.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 4ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 4ª Fase da Lojas Americanas encontram-
se no Anexo 13.
a) Indicadores Financeiros
O período pós-“Milagre Brasileiro” ocasionou queda no poder de consumo da
população e uma escalada inflacionária. Para a Lojas Americanas foi um período
marcado pela tomada de controle da empresa por parte dos sócios do Grupo Garantia.
Nesse cenário, a Lojas Americanas manteve sua trajetória de crescimento lenta
e contínua. Os indicadores de tamanho e performance, mostrados no Gráfico 5.15,
indicam, até 1981, uma tendência de queda.
Fase 4: 1974 a 1985 - LASA: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
0,900%
1,000%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%
)
-0,010%
-0,003%
0,004%
0,011%
0,018%
0,025%
0,032%
0,039%
0,046%
0,053%
0,060%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.15 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas:
Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
A partir de 1982, percebe-se uma elevação do Lucro Líquido e Receita Bruta em
relação ao PIB, que coincidiu com a lenta recuperação da economia brasileira no início
da década de 1980. Foi um momento em que a rede de lojas foi expandida para o
Nordeste e foram iniciadas as operações da LASA Corretora de Seguros (1982), da
Direta Propaganda SA (1984) e Lojas Americanas da Amazônia S/A (1985).
273
A rentabilidade decresceu violentamente, fruto da alta inflacionária, do controle
de preços pela CIP/SUNAB e retração do consumo. O Gráfico 5.16 mostra que a
razão só voltou a se recuperar a partir de 1983, quando a economia brasileira tornou a
crescer.
Fase 4: 1974 a 1985 - LASA: Rentabilidade
2%
11%
4%
2%
7%
10%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.16 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Esta etapa foi representada pela entrada de uma nova diretoria e a formação de
uma cultura mais orientada para análises e resultados. Os desafios para o crescimento
foram inúmeros.
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
A tomada de controle da empresa pelos acionistas do Garantia, em 1981,
aproveitando o fato de que o capital da Americanas era muito pulverizado, foi uma
repetição da tentativa que havia ocorrido semanas antes com a Companhia Cervejaria
Brahma (adquirida definitivamente pelo Garantia em 1989). O Grupo Garantia
mantinha uma prática de adquirir empresas, com o objetivo de melhorar suas
operações (utilizando benchmarkings de classe mundial), valorizar seu valor de
mercado e obter lucro com uma possível venda a investidores interessados. Para isso,
a empresa avaliava negócios em potencial, tendo obtido um know-how específico de
análise de empresas brasileiras. Não é conhecida a verdadeira motivação da
aquisição da Lojas Americanas pelos acionistas do Garantia. Supõe-se que a intenção
274
era a de valorização e venda; somente este fato já configuraria um plano ambicioso,
direcionado para o crescimento e aumento da produtividade da firma.
Os serviços empreendedores também eram verificados, em grande escala, na
figura do gerente de loja. A estrutura operacional da Lojas Americanas conferia um
grande poder de decisão aos seus gerentes de loja, tanto no que diz respeito às
compras quanto ao sortimento das lojas. Assim, o sucesso e crescimento do
faturamento de uma loja residia no quão bem sucedido um gerente de loja conseguia
ser em um determinado empreendimento.
Respostas classificadas como médias
Em 1978, com a economia em franca retração, a antiga diretoria anunciou um
plano de expansão da rede e para isso emitiu ações na bolsa de valores. O plano
previa, além de uma expansão mais agressiva de lojas, a construção de uma sede na
Barra da Tijuca. Possivelmente, com a retração da economia, os custos de construção
de uma nova sede seriam fatais para a empresa, em virtude da sua posição de
liquidez. O Gráfico 5.17 mostra que o índice de liquidez corrente da firma atingiu, em
1982, o nível mais baixo do período, tornando fraca a condição de solvência de dívidas
de curto prazo. Com cancelamentos de investimentos, a partir de decisões da nova
diretoria, a ameaça foi afastada e o ousado plano de investimentos, jamais foi
implementado.
Fase 4: 1974 a 1985 - LASA: Índice de Liquidez Corrente
1,32
1,66
1,19
2,25
2,04
-
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.17 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Índice de Liquidez Corrente
(Fonte: Relatórios Anuais)
275
Até o ano de 1985, mesmo depois da entrada do Garantia, a cadeia de lojas se
expandiu lentamente, seguindo a tendência identificada nos períodos anteriores, com
exceção do ano de 1980, quando quatro lojas foram abertas. Mais uma vez percebe-
se uma aversão ao risco, principalmente se for levado em consideração que parte
dessas lojas foram inauguradas em shopping centers, tornando o investimento menos
suscetível a riscos.
A criação da Lojas Americanas da Amazônia foi uma forma de aproveitar os
incentivos à exportação de produtos brasileiros e importação, via Zona Franca. Outras
firmas de varejo nacionais realizaram este movimento, sendo um negócio que
garantiria retorno satisfatório e riscos compatíveis.
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar da entrada de uma nova diretoria, a Lojas Americanas manteve
uma postura moderada de investimentos, aproveitando a recuperação da economia
em 1983. Para esta avaliação, contribuiu positivamente o cancelamento do ousado
plano de investimentos planejado em 1979 pela antiga diretoria, que poderia ter
colocado a longevidade da corporação em risco. A entrada em no ramo de seguros
pode ser associada à entrada dos sócios do Garantia no negócio, já que o grupo
possuía gestão de recursos financeiros.
c) Motivação do Crescimento
As publicações especializadas em negócios da época indicavam que a Lojas
Americanas era, no final da década de 1970, uma das melhores empresas do Brasil,
sendo um negócio que apresentava crescimento a cada ano e que possuía ações
entre as mais negociadas nas bolsas de valores. É interessante verificar que. quando
analisado o Gráfico 5.18, a produtividade da empresa encontrava-se em declínio
desde 1973. É certo que a economia brasileira passava por um período de
desaceleração, mas é apenas um exemplo de como a escalada inflacionária poderia
esconder deficiências das empresas nacionais.
276
Fase 4: 1974 a 1985 - LASA: Produtividade
10%8%9%
11%13%
15%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% (
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
) / N
úmer
o F
unci
onár
ios
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.18 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Produtividade
(Fonte: Relatórios Anuais)
O Quadro 5.34 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido:
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Inauguradas lojas na
Região Nordeste (Déc. 70) þ
Ganhos de escopo e escala limitados pela
autonomia das lojas.
Inauguradas lojas em
shopping centers (1975) þ
Expansão e consolidação da marca em
empreendimentos onde custos eram
rateados.
Início da centralização de
estoques, liberando área
nas lojas (1981)
þ
Buscou aumentar as vendas por área de
loja.
Aquisição da Universal
Corretora (futura Facilita)
(1984) þ
Aproveitou-se da estrutura varejista e know-
how do Grupo Garantia, mas foi um
movimento para auxiliar as vendas no
momento da retomada do crescimento
(proteção).
Quadro 5.34 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
(cont.)
277
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Implantação de novo
depósito em São Paulo
(1978)
þ
Há poucas evidências que esta instalação
trouxe ganhos de escala, pois o sistema era
muito descentralizado, nem mesmo a
iniciativa de centralização iniciada em 1981
teve resultados imediatos. Além disso, com
a inflação, a armazenagem era vista mais
como uma proteção.
Criação da Tecnologia do
Varejo S/A (1983) þ
Essa empresa era utilizada para contratar
profissionais especializados em operações
de varejo, em uma tentativa de melhorar a
operação da Americanas.
Criação da Direta
Propaganda S/A (1984) þ
Movimento defensivo, na medida em que
internalizava uma função que poderia ser
realizada por outras companhias.
Criação da LASA Corretora
de Seguros (1982) þ
Estrutura criada para gerir os seguros da
companhia, não conferia ganhos de escopo
ou escala.
Frente ao incentivo dado
às exportações, foi criada
Lojas Americanas da
Amazônia S/A (1985)
þ
Não há evidencias de ganhos de escopo ou
escala, sendo uma operação independente.
Quadro 5.34 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
Conclusão: Médio
Comentário: Percebe-se que a partir da gestão dos sócios do Garantia a Americanas
passou a atuar em novos ramos que não somente a cadeia de varejo. Entretanto, as
operações descentralizadas da empresa limitavam qualquer expansão produtiva,
ainda nesta época. Isso porque o sortimento de produtos ainda era uma decisão
pessoal de gerentes de loja. Essa situação limitava as iniciativas de centralização de
estoques. Interessante notar a atuação da Tecnologia do Varejo. Embora não
proporcionasse ganhos de escopo ou escala para a empresa, era por meio dos
serviços contratados por essa empresa que o sortimento e o layout das lojas estavam
sendo replanejados.
278
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): a administração antiga da Lojas Americanas
demonstrou uma pequena capacidade de monitorar a ameaça de perda de controle.
Ao contrário, os dirigentes enfatizavam a pulverização do capital, sem que
percebessem que estavam alimentando uma fraqueza no que diz respeito ao controle
do empreendimento. Pode-se concluir que, até 1982, quando os sócios do Garantia
assumiram, a Lojas Americanas não realizava um monitoramento das ameaças de
forma sistemática, o que custou o controle do empreendimento.
Foi muito perceptível a mudança de enfoque do Relatório Anual quando
comparadas as administrações nova e antiga. Até 1981 o Relatório era repleto de
afirmações do tipo “acerto na nossa política de marketing” ou “Agradecendo aos
nossos empregados [...] ajudaram-nos a conduzir a empresa ao prestígio e pujança
atuais”. Já a partir da entrada dos acionistas do Garantia a opinião sobre o
desempenho da companhia era mais dura e focada nos problemas operacionais, como
em 1984: “Apesar de considerarmos o resultado satisfatório acreditamos que poderia
ter sido melhor já que durante cinco meses a companhia trabalhou com estoques
superiores ao que consideramos necessário.”
A partir da nova administração percebeu-se uma nítida mudança nos métodos
da companhia. Vale lembrar o depoimento de um ex-funcionário, indicando que a
administração anterior era muito hesitante, pouco objetiva. O desafio percebido pela
empresa, a partir da nova diretoria era: melhorar as operações, em um ambiente
instável (“o pior período atravessado pela economia brasileira”) de forma a garantir o
crescimento saudável do empreendimento.
O Quadro 5.35 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991). Neste período, destaca-se o choque
com a entrada da filosofia Garantia nas operações da Lojas Americanas:
279
Evento Tipo de Gestão Observação
Foi a primeira empresa a
apresentar um relatório
trimestral, adaptando-se à
nova determinação do Banco
Central (1974)
Manipular
Tenta reforçar a imagem de transparência, obrigando às demais
empresas do mercado a se adaptarem à nova regra do Banco
Central, e solidificar a imagem de “exemplo de democratização
de capital”. Ganhou Prêmio Mauá em 1977.
Lojas Americanas paga
dividendos de 30% sobre o
lucro, superior aos 25%
imposto pela Lei das SA
(1976)
Buscar soluções
de compromisso
Mantém política de remuneração agressiva de seus acionistas,
como forma de manter confiança e facilitar novas subscrições.
Com a economia em
desaceleração, reduz
distribuição de dividendos em
relação ao ano anterior (1978)
Buscar soluções
de compromisso,
Adaptar-se
É obrigada a alterar sua política de remuneração de acionistas,
causando descontentamento em parte deles.
Grupo Garantia cancela
investimentos (1981) Adaptar-se, Evitar
Frente à crise e iniciando a administração, o Garantia cancela
compromissos firmados pela administração antiga.
Departamento de Operações
Comerciais começa a contratar
pessoas de curso superior ou
com perfil mais técnico (1984)
Adaptar-se
Prepara-se, internamente, para a adoção de métodos mais
analíticos de gestão do empreendimento.
Quadro 5.35 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: A Gestão de Mudança da Lojas Americanas em nenhum momento
moldou ou influenciou o ambiente em que estava inserida, mesmo após a entrada da
nova direção. O posicionamento foi, como uma conseqüência direta das decisões
passadas, realizar adaptações às mudanças estruturais brasileiras, aproveitando as
oportunidades, retraindo os investimentos quando necessário.
e) Gestão de Diversidade
Os seguintes eventos relacionados com a gestão de diversidade foram
identificados para a Fase 4:
280
Dimensão Eventos Observação
Integridade Empresa comemorou seus
cinqüenta anos de existência
com uma Missa de ação de
graças na Igreja da Candelária
Capital pulverizado possibilita a
tomada de controle por parte do
Garantia
Expansão para atividades
distintas do varejo
Cerca de quinhentos cursos de
treinamento para os
funcionários eram oferecidos
anualmente
Começaram iniciativas de
centralização de estoques
Pressão sobre resultados deixa
funcionários inseguros -
Implantada avaliação de
desempenho semestral
Realizadas demissões de
funcionários (1982 e 1984)
Departamento de Operações
Comerciais começou a contratar
pessoas de curso superior ou
com perfil mais técnico
Wal-Mart adotado como
benchmarking
Estimula senso de unidade da empresa.
O que era uma virtude da empresa foi o ponto fraco para a
perda de controle. A partir desse momento, o Garantia jamais
deixou de possuir a maioria absoluta das ações ordinárias.
Expansão começou a mudar a configuração da empresa,
embora mantivesse certo foco no varejo.
Esses cursos eram ministrados pelos próprios funcionários, o
que colaborava com a integridade da empresa.
Feriam a cultura da empresa e sofreram resistência dos
funcionários antigos.
Métodos de trabalho, supervisão e avaliação mudaram e
feriram conceitos estabelecidos na empresa.
O processo de reestruturação, empreendido pela nova gestão,
demitiu 13% dos funcionários e, desde 1973, a Lojas
Americanas só havia aumentado seus quadros.
Mudança do perfil de compradores gerou incerteza e conflitos
na equipe de compras.
Valores como austeridade e “associados” passaram a ser
difundidos, assim como o mito Wal-Mart
Compartilhamento Instalação de Rede de
Teleprocessamento (1975)
Compartilhamento de informações.
Heterogeneidade Modelo descentralizado
favorecia diferentes métodos
nas lojas
Impedia uniformidade do sortimento e métodos de avaliação de
resultados.
Quadro 5.36 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
(cont.)
281
Dimensão Eventos Observação
Coordenação Nova diretoria foi considerada
bastante atuante, ao contrário
da anterior
Departamento de Compras
oficialmente integrado ao
Departamento de Operações
Comerciais
Mudança de percepção sobre as decisões tomadas, percepção
de um management mais ativo.
A conjunção dos dois departamentos indicou que a empresa
estava buscando melhorar as operações comerciais.
Quadro 5.36 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
Conclusão: Forte
Comentário: Este foi um momento de passagem de uma realidade para outra. A nova
gestão começou a mudar características que até então eram parte da história da
empresa: (1) descentralização de poder; (2) capital pulverizado; (3) perfil “de carreira”
para perfil técnico para profissionais de compra; (4) foco exclusivo no varejo e; (5)
estabilidade. As respostas ao desafio foram classificadas como fortes pois a nova
direção da Lojas Americanas instalou mecanismos baseados em performance para
que a firma caminhasse na direção do crescimento, tornou evidente o novo modelo e
não mediu esforços para alterar a antiga cultura da companhia, tendo adotado a Wal-
Mart como benchmarking.
f) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.37:
Eventos Avaliação
Processo de escolha do local para implantação de uma nova loja envolvia sempre o
estudo da cidade, embora o fator ocasião também pudesse fazer parte do processo
Sistemático
Uma das tarefas do gerente de lojas era comparar a venda de um determinado dia
do ano com a venda do ano anterior, em termos monetários
Sistemático
O controle de pedidos era realizado pelo “Caderno de Contagens e Pedidos” Sistemático
Quadro 5.37 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade
(cont.)
282
Eventos Avaliação
O Departamento de Compras era formado basicamente por pessoas que tinham
sido vendedoras ou supervisoras de lojas, geralmente mulheres, e que tinham
trabalhado com os gerentes de loja diretamente
Sistemático
Lojas Americanas inicia um processo de estudo e racionalização de estoques Sistemático
As primeiras análises para racionalização de estoques foram intuitivas Casuístico
As transações entre loja e centros de distribuição eram todas rastreadas por
computador
Sistemático
Sócios do Garantia visitam Wal-Mart para aprender sobre o modelo de operação,
adotando a rede de varejo como benchmarking
Sistemático
Criação da Tecnologia do Varejo SA - Iniciados projetos para melhoria do
sortimento e layout de lojas - protótipos de novas lojas lançados
Sistemático
Quadro 5.37 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade
Conclusão: Forte
Comentário: Ao assumir o controle da operação, a nova administração empreendeu
esforços para entendimento das operações comerciais. Como no depoimento de um
ex-funcionário:
[...] O Garantia na medida em que foi entrando, foi muito para as lojas,
corretamente, porque você vem do cliente para dentro, e começou a
colocar racionalidade da operação das lojas e a tentar diminuir o
tamanho dessas estrutura toda”. 62
Aparentemente foi realizado um esforço para que, no curto prazo, os dados que
estavam disponíveis na operação fossem transformados em informações reais. Ou
seja, antes da entrada do Garantia, já existia um comportamento sistemático, mas
pouco aprendizado era obtido da coleta de dados, conforme o depoimento de um ex-
funcionário que participou do processo de racionalização do sortimento da empresa,
assim que os acionistas do Grupo Garantia assumiram o controle.
62 Depoimento do Entrevistado 6
283
[...] pegamos esse caderno de contagem e fomos tentar “dar uma
limpada” nele, para tirar muitos itens e deixar ele mais equilibrado
com as necessidades da loja. [...] Então fizemos essa limpeza na
lista... mas foi uma limpeza assim completamente intuitiva, tabela na
mão, isso fica, isso não fica, não tinha número nenhum. Isso vende,
isso não vende... e transferi mais da metade dos departamentos. 63
A partir da nova direção, a racionalização passou a fazer parte do dia-a-dia da
empresa, que cobrava resultados do Departamento de Operações Comerciais. A
adoção da prática de benchmarking também mostra um comportamento sistemático
de comparação com a principal rede de varejo, que na época já apresentava um
grande crescimento.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.38 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Renovar Henrique de Affonseca Kerti substitui Franklin Lewis Gemmel no conselho (1976)
Criado programa de aposentadoria para funcionários antigos (1977)
Acionistas do Garantia assumem controle da empresa
Departamento de Operações Comerciais começa a contratar pessoas de curso
superior ou com perfil mais técnico
Desenvolver Programa de treinamento institucionalizado entre funcionários
Desenvolver, Reter Implantada uma avaliação de desempenho realizada semestralmente, com
remuneração em opções de compras de ações
Quadro 5.38 – Fase 4: 1974 a 1985 – Lojas Americanas:
Provisão de Recursos Gerenciais
Conclusão: Médio
Comentário: Percebe-se que mesmo antes da entrada dos sócios do Garantia a
empresa tinha iniciado um programa de aposentadoria voluntário, o que mostrava
63 Depoimento do Entrevistado 6
284
certa preocupação em renovar os recursos da companhia. Além disso, as iniciativas
de desenvolvimento de pessoal eram abundantes, mas todas baseadas no modelo
antigo, que não primava pela racionalização dos processos.
A partir da entrada do Garantia, ficou mais forte o movimento de renovação com
o início da contratação de compradores e assistentes de compras com perfil mais
analítico e nível superior. Mas até 1985 esse movimento não tinha gerado resultados,
pois a empresa não possuía um direcionamento claro de desenvolvimento nos novos
métodos e não havia recursos internos para realizar essa mudança. Os que eram
convocados por Sicupira, o novo presidente, simplesmente recusavam o pedido, por
limitações diversas.
285
5.5.5. Fase 5: 1986 a 1993 – Moratória, instabilidade e atraso
Ambiente Internacional: Queda do Muro de Berlim (1989); Guerra do Golfo (1991);
Fim do Pacto de Varsóvia (1991); Fim da URSS (1991); idéia de “Estado mínimo” e
nova ordem mundial com o término da Guerra Fria, conceituada como neoliberal; Crise
do México (1994).
Ambiente Nacional: Plano Cruzado (1986) – congelamento e correção de salários,
expansão do consumo, incapacidade industrial, ágio e volta da inflação; iniciada
expansão da microinformática brasileira; Plano Cruzado II (1986) – libera preços e
inflação dispara, alto déficit da balança comercial; Moratória (1987); Plano Bresser
(1987) – novo congelamento e tentativa de controlar déficit público; Plano Verão
(1989) – tentativa de diminuir gastos do governo, em vão; Plano Brasil Novo (1990) –
bloqueio de recursos, retração de consumo, esmagamento da classe média e retração
da inflação; corte incentivos fiscais, aumento impostos, privatização e abertura
mercado; Plano Collor II (1991) – acaba com overnight, reduz tarifas de importação e
aumenta impostos sobre operações financeiras; empresas brasileiras sofrem com o
atraso e investem em automação; alta inflacionária; a volta do movimento estudantil e
impeachment (1992); implantada a URV (1993).
5.5.5.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 5ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 5ª Fase da Mesbla encontram-se no
Anexo 8.
a) Indicadores Financeiros
A Fase 5 foi marcada por uma grande instabilidade política e econômica que se
refletiu nos resultados da Mesbla, como pode ser verificado no Gráfico 5.19. É
interessante notar que o indicador de performance, entre 1986 e 1990, apresenta uma
variação semelhante a do indicador de vendas. Ou seja, o ganho em volume de
vendas não se traduziu em nenhum momento em ganho de lucratividade.
286
Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,090%
-0,070%
-0,050%
-0,030%
-0,010%
0,010%
0,030%
0,050%
0,070%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.19 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
Após 1990, com a redução dos ganhos no overnight e a taxação de serviços
financeiros, o desempenho da Divisão de Serviços Financeiros foi prejudicado. Outro
ponto relevante foi a proibição da realização de consórcios, uma forma de venda
bastante utilizada pela Mesbla Veículos. Para finalizar, a recessão e retração do
consumo, principalmente da classe média, fez com que as vendas da principal divisão
da empresa, a MLD, caíssem de forma vertiginosa, sem que sua estrutura fosse
alterada até meados de 1990, quando oito mil empregados foram demitidos. Os
processos de demissão, que atingiram funcionários que tinham muitos anos de
trabalho pela Mesbla, também foram onerosos para a empresa que não demitiu
nenhum membro da sua diretoria até 1993.
b) Serviços Empreendedores
Respostas consideradas como fortes
A Mesbla trabalhou de forma positiva a questão de levantamento de recursos,
exatamente quando mais precisava. A autorização obtida para realizar a securitização
de recebíveis de cartão de crédito proporcionou recursos financeiros a um custo de
capital menor do que se a empresa realizasse subscrições de ações via bolsa de
valores ou obtivesse empréstimos em bancos. Esse episódio indicou uma boa
capacidade de levantar recursos, embora a empresa dependesse do pagamento dos
287
cartões por parte dos clientes para que fosse um sucesso. Uma onda de inadimplência
poderia ocasionar o fracasso da operação.
A obtenção de financiamentos junto à Caixa Econômica Federal e o BNDES
também mostrou a capacidade de a firma levantar recursos junto às principais
instituições de crédito no ambiente brasileiro. Para isso, utilizou o potencial de geração
de empregos da sua operação.
Um outro fator positivo era que a empresa continuava valorizando a autonomia
das suas unidades de negócio, em busca de novas oportunidades. Em um nível mais
detalhado, a autonomia e poder de decisão dos compradores era real, quebrando
estruturas hierárquicas e buscando formas de melhorar o sortimento de produtos.
Respostas consideradas como médias
A comercialização dos carros Mazda, em 1991 pode ser considerada como uma
variação da atividade de comercialização de carros, iniciando o ramo de
concessionárias de carros importados. Neste ano, entretanto, a classe média, principal
público da Mesbla, encontrava-se cada vez mais pressionada. Os ganhos para a
atividade trariam resultados não mais que satisfatórios.
Respostas consideradas como fracas
No período de 1986 a 1993, a continuação da epopéia de expansão da empresa
não se traduziu em ganhos na margem, o que deveria ter sido interpretado pela
empresa como um indicador de que os recursos para investimentos, em algum
momento, poderiam começar a se tornar escassos.
Um aspecto importante relacionado com os serviços empreendedores é a
medida na qual um gestor, após ter analisado uma situação, toma decisões que
podem colocar em risco a empresa, movido pela sua ambição (PENROSE, 1959).
Aparentemente não houve o equilíbrio apropriado entre os riscos e os resultados
desejados pela Mesbla.
A Mesbla realizou diversas apostas, arriscadas, da mesma forma como
procedera no início da década mas, como pode ser visto no Gráfico 5.20, a
rentabilidade sobre vendas não melhorou. Em 1982 a empresa quase faliu, mas a
recuperação da economia fez com que a companhia mantivesse sua estratégia de
288
crescimento. Até 1989, essa estrutura garantiu uma grande vantagem para o
empreendimento, dado que havia a possibilidade de obter ganhos financeiros nas
negociações de prazo com os fornecedores.
Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Rentabilidade
-70%
-60%
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Gráfico 5.20 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
O Gráfico 5.21 mostra esse comportamento recorrente na empresa, no sentido
de assumir riscos exagerados. Entre 1978 e 1982 a Mesbla aumentou
consideravelmente o peso de suas despesas financeiras. O mesmo ocorreu em 1988
e 1989. A diferença foi que, no segundo caso, a recuperação da economia foi muito
mais lenta e as altas taxas de juros reduziram a capacidade solvência da empresa.
Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Rentabilidade e Resultado Financeiro / Receita Bruta
-40%
-35%
-30%
-25%
-20%
-15%
-10%
-5%
0%
5%
10%
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
Ano
Rentabilidade Resultado Financeiro / Receita Bruta
Gráfico 5.21 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla:
Rentabilidade e Resultado Financeiro / Receita Bruta
(Fonte: Relatórios Anuais)
289
A fórmula só funcionaria se o giro de mercadorias crescesse. Em 1989 esse
procedimento demonstrara certa fragilidade, pois a Mesbla apostou na hiperinflação e
investiu em estoques. O Gráfico 5.22 mostra a evolução do giro de estoques da
Mesbla no período:
Mesbla - Índice do giro de estoques (1986 a 1993)
9,43
8,33
6,005,19
10,66
7,55
8,73
7,21
-
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
Ano
Ven
das
Bru
tas
/ Est
oque
Gráfico 5.22 – Mesbla – Índice de giro de estoques,1986 a 1993
(Fonte: Relatórios Anuais, 1986 a 1993)
As vendas de 1989 foram mais baixas do que o esperado, prejudicando o giro, e
a recessão de 1990 reduziu drasticamente o consumo. Para não arcar com os custos
financeiros, a Mesbla “queimou” estoque em 1990, justificando o crescimento do
índice, em detrimento da margem. O prejuízo foi inevitável.
Percebe-se que o choque de 1982 não foi suficiente para que a empresa
adotasse uma postura mais moderada, quando dos problemas enfrentados após a
derrocada do Plano Cruzado em 1986 e a moratória brasileira de 1987. O plano de
investimentos em cadeias de lojas especializadas, expansão das lojas de
departamento, participação acionária no Makro e revendas de veículos só foi alterado
em 1991. Sendo assim, sugere-se que a empresa tenha adotado uma postura
arriscada, sem uma apropriada visão do que poderia ocorrer, por exemplo, em 1990
com um novo presidente. Com certeza, o ambiente instável no Brasil da década de
1980 não dava margens para muitas previsões, o que de uma certa forma sugeriria
uma atitude mais conservadora por parte da empresa que, com uma estrutura muito
grande, poderia ter problemas no caso de uma nova recessão como a de 1982.
290
A entrada no ramo de alimentos, com a criação da Serprasa, que administrava a
aplicação de recursos no Makro, não foi exatamente um empreendimento de grande
retorno, pelos recursos investidos. O Quadro 5.39 mostra um resumo do investimento
realizado pela Mesbla através da sua coligada Serprasa:
Ano 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
Moeda Cz$ mil Cz$ mil NCz$ mil Cr$ mil Cr$ mil Cr$ mil CR$ mil
Lucro Líquido 14.850,00 2.127.501,00 141.026,00 N/A 535.714,00 17.549.717,00 2.865.762,00
Valor Investimento 855.851,00 14.799.174,00 470.610,00 N/A 40.325.076,00 512.888.961,00 15.801.133,00
LL / Valor Investimento
1,74% 14,38% 29,97% N/A 1,33% 3,42% 18,14%
Fator Conversão Moeda / US$
72,00 761,00 11,00 N/A 1.069,00 12.387,00 326,00
Lucro Líquido (US$) 206,25 2.795,66 12.820,55 N/A 501,14 1.416,79 8.790,68
Valor Investimento (US$)
11.886,82 19.447,01 42.782,73 N/A 37.722,24 41.405,42 48.469,73
Quadro 5.39 – Mesbla: Resumo do investimento no Makro, 1987 a 1993
(Fonte: Rel. Anuais 1987 a 1993; Cotação do dólar comercial, Banco Central do Brasil)
A Mesbla nunca obteve um retorno estável para este investimento. Os ganhos
eram variáveis e recursos da ordem de milhões de dólares ficavam comprometidos.
Esses recursos poderiam servir para fortalecimento das operações de varejo. Na
verdade, quando a empresa conheceu efetivamente as operações do Makro,
mundialmente, verificou que a empresa holandesa tinha sucesso em mercados pouco
competitivos, mas quando havia concorrência, sua operação não possuía diferencial
algum, pelo contrário, apresentava maus resultados.
Conclusão: Fraco
Comentário: Apesar da boa capacidade de levantar recursos e valorização da
autonomia, as decisões da Mesbla colocaram, a exemplo de 1982, a longevidade da
empresa em risco. Percebe-se uma postura agressiva demais frente a um ambiente
absolutamente instável. A recessão foi longa e rigorosa, os compromissos de
expansão assumidos anteriormente iriam "cobrar as contas" em um momento em que
a empresa não teria os recursos para honrá-los.
c) Motivação do Crescimento
Uma forma apropriada para analisar os movimentos de crescimento da Mesbla
nesse período é verificar qual foi sua evolução em produtividade. O Gráfico 5.23 indica
291
que no período de 1986 a 1989 a empresa apresentou crescimento de vendas em
relação ao aumento de sua estrutura. Mas, já em 1989, esse crescimento mostrava
sinais de desaceleração, tendência que se manteve até 1992.
O comportamento dessa curva pode ser explicado pelos investimentos
realizados pela Mesbla na fase anterior, de 1980 a 1985. A companhia comprometeu
muitos recursos na expansão de lojas de departamento, lojas especializadas e
revendas de veículos.
Em 1992, os efeitos da reestruturação iniciada em 1990 começaram a ser
verificados: os oito mil funcionários demitidos da MLD (cerca de 40% de sua força de
trabalho) mostraram que a estrutura da empresa estava pesada, com muita folga em
seus quadros. O ganho de produtividade, aparentemente, não estava relacionado com
a realização de movimentos produtivos, mas no "enxugamento" da estrutura existente.
Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Produtividade
26%
22%
18%
20%
15%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% (R
ecei
ta B
ruta
/ P
IB) /
Núm
ero
Fun
cion
ário
s
Gráfico 5.23 – Fase 5: 1986 a 1993 - Mesbla: Produtividade
(Fonte: Relatórios Anuais)
O Quadro 5.40, já apresentado na história da empresa, mostra resultados
consolidados, entre 1985 e 1989, normalizados pelo dólar comercial de cada ano
(Banco Central, 1985 a 1989), das seis divisões da empresa. Percebe-se uma clara
instabilidade no faturamento de cada divisão e, no segmento de Lojas Especializadas,
uma predominância de resultados negativos.
292
Lucro Líquido em US$ mil 1985 1986 1987 1988 1989
Veículos 8.850 14.963 12.721 6.254 20.182
Lojas de Departamentos 2.439 29.086 6.936 22.418 (8.967)
Lojas Especializadas (53) 1.302 (1.320) (190) (2.243)
Serviços Financeiros 4.432 4.254 7.160 3.702 8.571
Náutica 396 1.961 (683) (670) 3.113
Serviços 2.244 17.993 (1.533) 75 24.440
Quadro 5.40 – Mesbla: resultados consolidados por divisão em US$ mil
(Fonte: Rel. Anuais, 1985 a 1989; Cotação Dólar Comercial: Banco Central do Brasil)
O Quadro 5.41 mostra as principais decisões relacionadas com crescimento da
empresa e uma análise do impacto de cada uma delas:
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Aumento da cadeia de
lojas de departamento
(Déc. 80/90)
þ
A expansão das lojas proporcionava ganhos
de escala ao setor de compras.
Financeira amplia
operações de crédito ao
consumidor (1988) þ
A extensão dos serviços de crédito ao
consumidor garante maior ganho no giro da
Financeira e um aumento de vendas nas
lojas de departamento.
Aumentam cadeias de
lojas especializadas (até
1991)
þ
As cadeias não ofereciam ganhos de
produtividade, apenas tentavam defender a
Mesbla das butiques.
Criada Mesbla Corretora
de Seguros (1986) þ
Seguros para compradores de carros, uma
“venda casada”, mas que não se convertia
em um diferencial para a Mesbla.
Criada Provenda - carros
Mazda (1991) þ
Não oferecia ganhos de escala.
Criada STA - Sistemas e
Téc. de Automação (1986) þ
A Mesbla não desenvolvia know-how em
tecnologia, os serviços de processamento de
dados poderiam ser terceirizados.
Aquisição de participação
no Makro Brasil (1989 /
1990) þ
Pode ser considerado um investimento, mais
do que uma expansão. Pouco influenciava
na produtividade da empresa e comprometia
recursos das demais operações.
Quadro 5.41 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Motivação do Crescimento
293
Conclusão: Médio
Comentário: A partir de 1991, a Mesbla realizou movimentos de expansão mais
moderados e manteve ênfase na melhoria e "enxugamento" das operações. As
expansões, entretanto, foram realizadas, em sua maioria, sem garantir ganhos em
eficiência ou aproveitar estruturas já existentes. As expansões de lojas de
departamentos e operações de crédito, embora tivessem potencial para contribuir
positivamente, foram prejudicadas pela recessão. As demais aparentemente
consumiram recursos de investimentos sem o retorno apropriado.
d) Gestão de Mudança
Desafio Percebido: A análise dos Relatórios Anuais da empresa, entre 1986 e 1993,
indicou que a companhia considerava acertada a diversificação de atividades em um
ambiente de instabilidade, uma vez que o mau desempenho de uma divisão era
compensado pelo bom resultado de outra, o que justificou a continuidade dos
investimentos. A crise era vista como uma oportunidade para a empresa crescer;
curiosamente, era considerada a principal responsável pelo desempenho ruim da
companhia a partir de 1990, quando a Mesbla insistentemente esperou por uma
melhora na economia que não ocorreu. Apenas em 1993 a Mesbla explicitou
preocupação com sua política de controle de estoques e operações. Foram colhidas
algumas afirmações, contidas nos Relatórios Anuais, para cada ano do período em
questão, de forma a ilustrar os comentários realizados:
Relatório Anual 1986
Sobre as unidades autônomas: [...] índices de desempenho bastante satisfatórios. [...] Essa
estruturação se tem mostrado bastante eficaz na medida em que tem
permitido maior especialização nos diversos segmentos e
sedimentado bases autônomas para calcar o desenvolvimento do
grupo.
294
Relatório Anual 1987
Sobre o ambiente: [...] diversidade de cenários políticos e econômicos que mais uma vez
permitiram destacar a vitalidade da nossa empresa e sua capacidade
de adaptação. [...] esperamos que o arcabouço institucional definido a
partir da nova Constituição valorize a liberdade ,e estimule a iniciativa
e crie um ambiente favorável ao trabalho e ao desenvolvimento.
Sobre os resultados: [...] resultados menores que no ano anterior, mas por outro lado,
podíamos sentir a companhia perfeitamente ajustada para uma nova
fase que se iniciava. [...] 11% sobre o PL [...] representa um número
bastante satisfatório em relação ao desempenho médio do setor ao
longo do tempo. [...] A crise vivida pelo comércio varejista em 1987 fez
a empresa fechar o ano com uma queda de vendas em relação à
1986.
Relatório Anual 1988
Sobre os resultados: A Mesbla obteve em 1988 resultados satisfatórios considerando a
conjuntura econômica que atravessa o nosso país. [...] dará
continuidade aos seus planos de expansão em 1989. [...] a companhia
continuou acreditando no potencial da economia brasileira ao gerar,
num único ano, mais de 1.400 empregos diretos.
Relatório Anual 1989
Sobre os resultados: [...] segmentos foram mais ou menos penalizados [...] veículos
apresentou desempenho favorável A análise desses resultados
permite constatar o acerto da estratégia de diversificação do grupo
Mesbla, pois como se pode observar, mesmo com o resultado obtido
pelas Lojas de Departamento, o grupo atingiu o segundo melhor
resultado de sua história [...] o grupo Mesbla é também afetado por
essas dificuldades [...] acredita nas potencialidades da economia
brasileira e na sua capacidade de superar os atuais percalços.
295
Relatório Anual 1990
Sobre os resultados: A análise do desempenho da companhia, através dos seus diversos
segmentos de atuação, indica o acerto da política de diversificação
[...] um ano particularmente difícil para o varejo [...] em parte,
compensado pelo desempenho favorável das áreas de Veículos,
Instituições Financeiras e Náutica do Grupo Mesbla.
Sobre a MLD: Acreditamos que a empresa, reestruturada e com melhores sistemas
de informação e operacionais, está apta a atravessar o ano de 1991
com o volume de vendas e resultados compatíveis com sua presença
de destaque no cenário varejista.
Relatório Anual 1991
Sobre o ambiente: [...] segundo ano consecutivo de significativa queda de vendas no
comércio varejista [...] abertura da economia, o esforço de
reintegração na comunidade financeira internacional [...] nos deixam
confiantes quanto a uma consistente retomada da economia e do
desenvolvimento do país.
Sobre os resultados: Adaptamos a companhia à nova realidade econômica e temos sido
incansáveis na busca de maior eficiência. [...] reagimos à crise sem
abrir mão da continuada construção do futuro. [...] acerto da política
de diversificação em diversas áreas comerciais [...] encaramos os
problemas enfrentando positivamente a conjuntura.
Relatório Anual 1992
Sobre o ambiente:
[...] 1992 foi o terceiro ano consecutivo de acentuadas quedas de
vendas no comércio. [...] a concorrência com os que sonegam tem
sido um dos maiores, senão o maior dos obstáculos com que se
depara o comércio organizado no Brasil. [...] Temos consciência de
que subestimamos o aprofundamento da recessão em 1992 e,
somente em meados do ano, intensificamos as medidas
296
complementares àquelas tomadas desde há dois anos e que agora
começam a mostrar resultados. [...] temos forte razões para nos
comprometer com resultados significativamente melhores em 1993.
Sobre os resultados:
As lojas de departamentos têm sido o nosso negócio mais afetado [...]
não estamos satisfeitos com os resultados ora apresentados.
Relatório Anual 1993
Sobre o ambiente: A estabilização econômica do país trará enormes benefícios para
todos os ramos, mas de forma especial para o comércio. [...] o
mercado será crescentemente caracterizado por novos desafios
competitivos, decorrentes da abertura do País [...]
Sobre os resultados:
Nossos esforços [...] ainda não se traduziram integralmente nos
resultados financeiros obtidos. Fechamos o ano com um resultado
negativo de US$ 24,9 milhões, representando mesmo assim um
progresso em relação ao ano anterior.
Sobre a MLD: [...] continua sendo, no entendimento da companhia, o principal foco
do prejuízo do grupo, basicamente pelo alto custo de seu
endividamento e por uma gestão de estoques ainda insuficiente para
alcançar o nível de rentabilidade adequado. [...] O negócio de lojas de
departamentos [...] É um negócio muito vulnerável à provável entrada
no mercado de concorrentes do exterior [...] No exterior, após um
período de consolidação e fusões, as lojas de departamentos
voltaram a ser respeitadas como segmento rentável e de grande
potencial de crescimento. No Brasil [...] temos oportunidades
significativas de consolidar nossa posição de dominância no
segmento.
Sobre a Divisão Veículos: O resultado final da divisão foi negativamente afetado pela diminuição
persistente das margens em função do grande peso de carros
populares.
297
As declarações mostradas anteriormente indicam que a Mesbla percebia e
acompanhava as modificações no ambiente onde estava inserida e até mesmo no
exterior. A percepção da instabilidade, entretanto, não era transformada em ações
concretas de adaptação, uma vez que aparentemente as operações da empresa não
tinham sido foco de melhoria até 1992, quando a empresa efetivamente "percebeu"
que a recessão perduraria mais tempo do que esperava.
O Quadro 5.42 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Mesbla veiculou campanhas
fortalecendo o conceito de
moda; atrizes consomem
marcas da Mesbla
Desafiar
Investe em diferenciação e moda. A percepção do público
externo muda e os bons resultados das marcas próprias
fortalecem a imagem da Mesbla para os próprios funcionários.
Manteve programa de
investimentos até 1991, depois
cancelou investimentos
Consentir /
Adaptar-se
A Mesbla manteve o mesmo direcionamento de crescimento que
havia funcionado entre 1983 e 1986, fazendo uso da
diversificação de atividades, como um modelo de portfólio que
mostrou-se ineficiente já em 1989.
Adaptação em 1991: demissão
na MLD, queima estoques e
fecha lojas pouco rentáveis ou
deficitárias
Adaptar-se
A empresa adotou uma postura reativa em relação aos seus
empreendimentos: a eliminação de lojas deficitárias foi realizada
somente após 1991, quando na verdade deveriam ter sido
avaliadas há mais tempo.
Adaptação em 1991: Cidix
Autopeças e a Mesbla Aviação
e Equipamentos vendidas;
Mesbla Turismo incorporada
por Serviços Financeiros
Adaptar-se
São mais exemplos de adaptação ao ambiente, indicando que a
firma poderia ter realizado alterações estruturais antes de
enfrentar a crise de 1990-1993.
Orientação para melhorar
operações (1992) Adaptar-se
Os investimentos anteriores em automação não se
concretizaram em aumento de produtividade e eficiência. A
orientação para melhoria das operações surgiu de uma
necessidade de adaptação e não um impulso de melhora.
Adaptação em 1992: fechada
Provarejo; Náutica e
Hipermóveis reduzem
operações.
Adaptar-se
São mais exemplos de adaptação ao ambiente, indicando que a
firma poderia ter realizado alterações estruturais antes de
enfrentar a crise de 1990-1993.
Quadro 5.42 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Mudança
(cont.)
298
Evento Tipo de Gestão Observação
A empresa deixou de se
dedicar “a atividades que não
estão no foco do grupo ou a
negócios nascentes cuja
contribuição para o
faturamento era, na sua
totalidade inferior a 5%”
Consentir
Utilizou de estratégias aplicadas em grandes corporações na
época, como a General Electric, sem evidências de que estudos
profundos de viabilidade tenham sido realizados. É interessante
notar que o parâmetro de avaliação de atratividade de um
negócio era o faturamento, e não a rentabilidade.
Aposta na disparada da
inflação e acumula estoques
(1989 / 1990) Consentir
A crença de que a instabilidade política e econômica continuaria
fez com que a empresa realizasse uma aposta que ocasionou
um grande prejuízo, entre 1989 e 1990. Essa era uma percepção
do mercado em geral e a Mesbla a seguiu.
A Mesbla trabalhou ativamente
na imprensa e junto ao Banco
Central para viabilizar
operação de Securitização
(1992)
Manipular
Lobby junto ao Banco Central para obter um financiamento de
longo prazo com uma menor taxa de juros.
Quadro 5.42 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Mudança
Conclusão: Fraco
Comentário: A Mesbla realizou medidas de adaptação ao ambiente, tratando as
conseqüências, mais do que as causas. Embora a empresa realizasse um
monitoramento da situação política e econômica, as ações foram tardias, e
comprometeram a longevidade da empresa neste período. As ações positivas (o
fortalecimento do conceito de moda e a ação para a aprovação da securitização de
recebíveis) não foram capazes de garantir vantagens competitivas duradouras para
Mesbla.
e) Gestão de Diversidade
A fase de 1986 a 1993 compreendeu duas etapas dissonantes: até 1990 a
empresa investiu em crescimento e diversificação. Após 1991, a Mesbla, como outras
empresas na época, reduziram seu foco de operação, realizaram processos de
reengenharia em suas operações e terceirizaram atividades. O Quadro 5.43 resume
os eventos relacionados com a gestão de diversidade:
299
Dimensão Eventos Observação
Integridade Manteve pós-graduação em
varejo com a COPPEAD e
cursos no exterior eram
oferecidos
Investe nas lojas
especializadas
Prejuízo, reestruturação e
demissão em massa
Vendedores passaram a fazer
o papel de vendedores-caixa
Aumentou amortização
mínima do Cartão Mesbla de
25% da fatura para 75%
Diminuiu o tíquete médio,
dando ênfase a importados
Formação de uma cultura que valorizava a capacitação e o
aprendizado.
Recursos direcionados para lojas especializadas são invejados
por antigos compradores da MLD.
Quebra da crença de que a Mesbla era imbatível, “uma grande
família” ou “quase uma estatal”.
Mudança na forma de atendimento dos magazines.
Busca liquidez, mas perde confiança de clientes em um
poderoso instrumento de vendas.
Empresa confunde clientes e funcionários, atraindo público de
classes C e D, ao invés de A e B como era desejado.
Heterogeneidade Mudança do logo da MLD
Vende Cidix Autopeças,
Mesbla Aviação, Lojas
Especializadas, Provarejo
Empresa de turismo
incorporada à Divisão de
Serviços Financeiros
Lojas antigas conviviam com
problemas de diferenças de
comissão de vendedores
Desvincular MLD de qualquer outra atividade.
Reduz estrutura e operaç ões não relacionadas com as lojas de
departamentos.
Reduz estrutura e operações não relacionadas com as lojas de
departamentos.
Realocar vendedores de uma loja para outra, até mesmo de uma
seção para outra, causava problemas com o sindicato pois as
comissões eram diferentes.
Compartilhamento N/A
Coordenação Transferiu administração e
desenvolvimento de recursos
humanos da Holding para as
unidades de negócio
Implantado sistema de gestão
de mercadorias
Órgão que poderia auxiliar na coordenação da corporação foi
descentralizado no nível das unidades de negócio, que estavam
sendo descontinuadas.
O sistema deveria fornecer informações gerenciais para os
compradores e superintendentes, que na verdade preferiam seu
canal de comunicação informal com gerentes de lojas.
Quadro 5.43 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Diversidade
300
Conclusão: Fraco
Comentário: A partir de 1990 a Mesbla passou a sentir os efeitos de sua política de
gestão de portfólio de negócios. Até 1989 as divisões que apresentavam resultados
ruins tinham seus resultados compensados pelas demais e isso era percebido pela
empresa como algo normal e uma estratégia acertada. O prejuízo de 1990 fez com
que a empresa tivesse que efetuar uma demissão em massa, algo inimaginável para
seus funcionários. Não foram identificados mecanismos fortes de coordenação; o que
se viu foi uma descontinuidade de negócios não relacionados e um corte de 40% na
estrutura de pessoal.
A autonomia dada aos seus compradores, valor considerado altamente positivo
para a firma, não estava acompanhada dos mecanismos de controle apropriados,
conforme o depoimento de um ex-comprador:
Com a autonomia que eu tinha, poderia dar um prejuízo monstruoso,
que um gerente de uma loja não consegue dar. Precisa de muita
gente nas lojas para dar um grande prejuízo. O comprador não, ele
com uma assinatura...tudo bem que tinha alçada, na época ainda não
tinha um controle tão forte assim. O fornecedor botava a fabrica para
funcionar apenas com a palavra do comprador da Mesbla, assim
como a do Superintendente e do Diretor. 64
f) Gestão de Complexidade
O Quadro 5.44 mostra os eventos relacionados com a gestão de complexidade:
Eventos Avaliação
Orientação maior à informatização, terceirização de atividades, renegociação de
contratos de locação, aumento do giro de mercadorias e melhor avaliação das
atividades (1992)
Sistemático
Mesbla contrata Booz Allen Hamilton para elaboração de plano de revisão de foco,
formato e mix de mercadorias (1993)
Sistemático
Quadro 5.44 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Complexidade
(cont.)
64 Depoimento do Entrevistado 1
301
Eventos Avaliação
Efetuou investimentos em automação e microinformática (Déc. 80 / 90) Indefinido
Finalizada a implantação do Sistema de Gestão de Mercadorias (1993) Indefinido
Implantação de sistema plataforma baixa Oracle para contas a pagar (1993) Indefinido
Implantação de código de barras em todas as lojas (1993) Indefinido
MLD queima estoques - baixa margens e aumenta giro (1990) Casuística
Para melhorar liquidez, aumentou a amortização mínima do Cartão Mesbla de 25%
do valor da fatura para 75% (1990)
Casuística
A empresa diminuiu o tíquete médio de suas mercadorias e conseguiu um aumento
no volume de transações (1992)
Casuística
Quadro 5.44 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: Este momento coincidiu com o período mais instável da história
econômica nacional. Curiosamente, foi quando a direção da Mesbla percebeu que,
diante de um quadro de grande instabilidade, seus mecanismos de controle não
seriam de grande valia. A STA, empresa do grupo responsável pelos sistemas,
aparentemente não realizou um trabalho de geração de informações gerenciais para
compradores, como confirma o depoimento de um ex-comprador que trabalhou na
Mesbla de 1991 a 1995:
[...] existia uma empresa do grupo que era a STA, que fazia toda a
parte da informática. [...] Essas informações...como tinha um
mainframe, existia todo um processo, não funcionava. [...] eu não
conseguia conceber a grana que a unidade de negócios pagava por
um serviço que não existia. [...] eram doze metros de altura de
relatórios que tinham todos um mês de atraso. E não adiantava
absolutamente nada para os compradores. [...] O meu sistema de
informações, na verdade, uma das maneiras que me diferenciava na
verdade, [...] era que eu ligava para todos os gerentes de loja, os
chefes de seção eram todos meus parceiros, do Brasil inteiro. [...] Eu
falava com todo mundo quase que todo o dia. Toda semana eu falava
pelo menos duas vezes com todos os chefes de seção por todo o
Brasil. Era a maneira que eu tinha de gerenciar sem informação de
302
qualidade. No final a informação começou a ficar melhor, mas eu já
tinha pego aquele sistema e você como comprador era dono do
negócio – responsável pelas vendas e pela rentabilidade da sua
seção.65
Ou seja, apesar de os controles terem melhorado ao longo do tempo, percebe-se
que houve pouca, senão nenhuma, utilização dessas informações para geração de
conhecimento para a empresa. Uma constatação efetuada a partir das entrevistas
parece indicar que o conhecimento ficava retido no nível do comprador: muitos deles,
ao saírem da Mesbla, abriram negócios próprios, com os contatos que haviam
estabelecido na época em que trabalhavam na empresa.
As ações da companhia, em momentos de crise, pareciam estar orientadas
exclusivamente para o curto prazo: aumentar a amortização do cartão de crédito,
baixar os preços para eliminar o estoque. Apenas em 1992, com a terceirização de
atividades, e 1993, com a contratação da consultoria Booz Allen Hamilton, foi que a
Mesbla realizou um trabalho de redefinição do foco e melhoria do sortimento. Mas
naquele momento, a pressão dos custos financeiros e sua ineficiência operacional
tornaram qualquer planejamento de longo prazo um desafio muito maior.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.45 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Reter União Mesbla e Fundação La Saigne continuavam suas atividades
Reter, Desenvolver Oficializou pós -graduação em varejo com a COPPEAD
Três executivos foram enviados para a Babson School of Executive Education, nos
EUA, para participarem do curso “Strategic Planning and Management in Retailing”
Antecipar, Formar Mesbla contrata Booz Allen Hamilton para elaboração de plano de revisão de foco,
formato e mix de mercadorias e Cláudia Quaresma, diretora de planejamento, era
uma das responsáveis pelo projeto, tendo assumido posteriormente a diretoria da
MLD
Quadro 5.45 – Fase 5: 1986 a 1993 – Mesbla: Provisão de Recursos Gerenciais
65 Depoimento do Entrevistado 1
303
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar de promover a unidade da empresa e a capacitação de seus
funcionários, de 1990 a 1993 a Mesbla precisaria de pessoas capazes de gerenciar
crises e cenários de instabilidade. As decisões deveriam ter sido realizadas de forma
dura, sem levar em contas os comprometimentos pessoais. O depoimento ilustra o
sentimento de um ex-executivo sobre esta época:
O André de Botton [...] ele não conseguiu... era pressão de tudo
quanto era lado, uma empresa gigantesca, ele era a terceira geração
tinha um compromisso enorme para com a família, com os acionistas,
tinha ações na Bovespa e tudo e não conseguia resolver lá com os
quadros que a gente tinha. [...] A gente foi muito agressivo sob a
liderança do André. Então ele fez isso tudo, ele expandiu para várias
outras coisas, empresa do ano e depois ter que regredir...
emocionalmente era difícil. [...] com o sucesso dos anos 80 a Mesbla
tinha crescido demais em estrutura. Em vendas e em estrutura. [...]
Na época que a gente estava indo bem, isso era ótimo, quando a
curva infletiu de repente a gente tinha uma Holding gigantesca - a
gente passou, sei lá, de 20 diretores para 80 diretores no grupo - tinha
uma carga enorme e a gente ficou muito lento. [...] e havia essa coisa
de que ia dar tudo certo, como MLD dava e como veículos dava, e foi
expandindo sem a menor vergonha de abrir lojas em Taubaté (SP),
em qualquer lugar abria lojas, dessas pequenas empresas. Então
esse foi um erro grande [...] A Mesbla com certeza era muito
arrogante nessa fase que estava dando tudo certo. 66
Os mecanismos de formação de recursos para o momento em questão
inexistiam, uma vez que o sucesso dos anos 80 parecia ter tornado o corpo executivo
da empresa míope às mudanças necessárias. Dessa forma, a Mesbla não se adaptou
adequadamente para a crise que enfrentou a partir de 1990. A nomeação de Cláudia
Quaresma, em 1994, para direção da MLD foi decidida porque ela havia participado do
projeto de reestruturação com a Booz Allen Hamilton e tinha um histórico na área de
planejamento. Entretanto, os depoimentos da época e sua experiência indicavam que
Cláudia não tinha conhecimento da atividade varejista em si, colocando em dúvida se
ela era realmente a melhor profissional para o momento de crise.
66 Depoimento do Entrevistado 3
304
5.5.5.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 5ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 5ª Fase da Lojas Americanas encontram-
se no Anexo 14.
a) Indicadores Financeiros
A Lojas Americanas passou por uma fase de diversificação de seus negócios e
esse movimento teve como conseqüência uma grande variabilidade nos indicadores
de tamanho e performance, conforme o Gráfico 5.24.
Fase 5: 1986 a 1993 - LASA: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
0,900%
1,000%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%)
-0,010%
-0,003%
0,004%
0,011%
0,018%
0,025%
0,032%
0,039%
0,046%
0,053%
0,060%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (%
)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.24 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas:
Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
A partir de 1986, a Lojas Americanas inaugurou a cadeia de brinquedos Só
Brinquedos, as lojas de desconto de vestuário Mais por Menos, iniciou
empreendimentos imobiliários (Strip Centers, em 1986), abriu lojas no interior do
Brasil, com áreas de supermercado, e iniciou operações com cartões de crédito
(1993).
O ritmo de abertura de lojas tornou-se mais intenso, conforme o Gráfico 5.25 e
justificam picos nos anos de 1989 e 1993, anos em que as maiores empresas do setor
tiveram um crescimento de vendas de 31,3% e 31,5%, respectivamente (EXAME
MELHORES E MAIORES, 1990 e 1994):
305
Fase 5: 1986 a 1993 - Lojas Americanas: Abertura de Lojas
6
2 2
10
6
1
3
7
-
2
4
6
8
10
12
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
Ano
Loja
s A
bert
as
Gráfico 5.25 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Abertura de Lojas
(Fonte: Relatórios Anuais)
Outra observação pôde ser feita quando comparados os ganhos financeiros da
empresa com a rentabilidade (Gráfico 5.26). De 1986 a 1989 esses ganhos atingiram
níveis altos, que foram interrompidos com as medidas do Plano Collor I, quando foram
limitados os ganhos de curto prazo e aumentados os impostos sobre operações
financeiras:
Fase 5: 1986 a 1993 - LASA: Rentabilidade e Resultado Financeiro / Receita Bruta
-10%
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Rentabilidade (Lucro Líquido / Receita Bruta) Resultado Financeiro / Receita Bruta
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.26 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas:
Rentabilidade e Resultado Financeiro / Receita Bruta
(Fonte: Relatórios Anuais)
Ao analisar isoladamente a rentabilidade (Gráfico 5.27) percebe-se uma queda
significativa entre 1986 a 1993, separadas pelo pico de 1989, ano de expressivos
306
ganhos financeiros e crescimento do varejo. O ano de 1993, por sua vez, parecia
indicar uma tendência de aumento, que não se confirmou pois de 1994 a 1996 a
participação do Lucro Líquido em relação à Receita Bruta apenas decresceu.
Fase 5: 1986 a 1993 - LASA: Rentabilidade
1%
3%
4%
15%
8%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta Entrada do
Grupo Garantia
Gráfico 5.27 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
A ampliação da rede de lojas, de forma acelerada e mais concentrada no interior
de São Paulo parece indicar uma forte ambição de os novos controladores expandirem
a cadeia de lojas em busca de novos mercados e ganhos de escala. O período em
questão representou a passagem de uma operação intuitiva para uma que utilizava
métodos de previsão de vendas mais científicos, de forma a garantir que a empresa
estava assumindo riscos compatíveis com sua expansão.
Outro ponto importante foi a implantação de um sistema de avaliação de
performance para todos os funcionários da companhia, que se refletia em bonificações
ao final do ano, dependendo dos resultados. Esse sistema de performance previa a
introdução de novos produtos e desenvolvimento de fornecedores por parte de
compradores, além de uma gestão eficiente das lojas. Na verdade, a autonomia e
criatividade passaram a ser cobradas também dos compradores, ao passo que nos
períodos anteriores essas tarefas eram exclusividade dos gerentes de loja.
307
Respostas classificadas como médias
Com a expansão do segmento de shopping centers, a Lojas Americanas, além
de abrir mais lojas em shoppings, iniciou um empreendimento de construção de Strip
Centers, um empreendimento imobiliário, sendo uma área anteriormente não
explorada pela empresa. O problema deste tipo de negócio era assumir riscos de
implantação de um pequeno shopping, normalmente em cidades do interior do Brasil,
e não conseguir alugar toda a área disponível para outros lojistas. Entretanto, ao
controlar a composição das lojas presentes no estabelecimento, a Americanas reduzia
o risco de canibalização da sua atividade e impedia a instalação de concorrentes
diretos à atividade da empresa (outras lojas de descontos ou lojas de departamentos).
Em 1990, frente à recessão, a diretoria cancelou investimentos, mostrando
prudência para a preservação da companhia.
A adoção de cartões de crédito, em 1993, além do objetivo de aumentar as
vendas, mostrava que a diretoria percebia que o modelo de pagamento à vista ou
cheque pré-datado necessitava de mudanças. Embora tenha escolhido utilizar um
cartão próprio, ao realizar implantações piloto em Recife e Ribeirão Preto, os riscos de
tal implantação foram minimizados.
Respostas classificadas como fracas
Neste período a Americanas inaugurou uma cadeia de lojas especializadas em
brinquedos, a Só Brinquedos S/A e uma cadeia de lojas especializadas em roupas, a
Mais por Menos. Embora pudesse aproveitar-se da escala de compras da Americanas,
o empreendimento competia com a própria cadeia de lojas originais, por um mercado
que, aos poucos, se tornava mais competitivo.
O resultado das ações realizadas pela empresa na Fase 5, em determinado
momento, tornou sua capacidade de honrar compromissos de curto prazo muito baixa,
o que poderia se constituir em um problema grave caso a situação de crise econômica
brasileira perdurasse. Em 1990, essa posição ficou bastante deteriorada, por causa da
recessão, mas a empresa mostrou uma recuperação nos anos seguintes.
308
Fase 5: 1986 a 1993 - LASA: Índice de Liquidez Corrente
1,26
1,34
0,981,12
1,29
-
0,50
1,00
1,50
2,00
2,5019
65
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.28 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Índice de Liquidez Corrente
(Fonte: Relatórios Anuais)
Conclusão: Médio
Comentário: Grande parte das ações realizadas pela Lojas Americanas na Fase 5
foram bastante positivas para o crescimento da organização. Entretanto, o ingresso no
ramo imobiliário e no segmento de lojas especializadas fez com que a empresa
enfraquecesse sua posição de liquidez de curto prazo, gerando uma ameaça à sua
longevidade. O fato de serem especialistas em um rede de varejo não garantiria a
capacidade de avaliar apropriadamente os riscos destes novos empreendimentos.
c) Motivação do Crescimento
A Lojas Americanas manteve um ritmo de crescimento compatível com o aumento de
sua estrutura. De 1986 a 1993, embora o quadro de funcionários tenha, em geral,
crescido, sua produtividade foi aumentando até mesmo em momentos de crise. O
Gráfico 5.29 mostra a evolução do número de funcionários da Lojas Americanas,
comparado com a sua produtividade em cada ano:
309
Fase 5: 1986 a 1993 - LASA: Produtividade e Número de Funcionários
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Pro
du
tivi
dad
e
-
3.000
6.000
9.000
12.000
15.000
18.000
21.000
Nú
mer
o d
e F
un
cio
nár
ios
Produtivdade Número de Funcionários
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.29 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas:
Produtividade e Número de Funcionários
(Fonte: Relatórios Anuais, 1986 a 1993)
O Quadro 5.46 resume a análise de cada expansão realizada pela empresa no
período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Criou Strip Centers com
Lojas Americanas como
"âncoras" (1986)
þ
Normalmente localizados em cidades do
interior, possuíam como âncora apenas uma
Lojas Americanas: ganha escopo e escala.
Expansão da rede Facilita þ Ganhos em escopo e escala.
Abertura de lojas toma um
ritmo mais agressivo (1988
/ 1989) þ
Junto ao esforço de automação de lojas,
foco de mercado, melhoria e concentração
de sortimento, visava ganhos de escopo e
escala.
Importados passam a ter
maior peso na composição
do sortimento (1993)
þ
Produtos conferiam maior giro, aumentando
a produtividade e ganhos no efeito
financeiro.
Criadas lojas Só
Brinquedos e Pacto S/A
(Mais por Menos) (1986)
þ
Defesa contra as lojas especializadas, que
cresciam no mercado.
Quadro 5.46 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
(cont.)
310
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Lojas de cidades menores
iniciam operações de
“supermercado” (1990)
þ
Tenta aproveitar a estrutura para oferecer
linha completa de produtos em regiões onde
não existiam grandes hipermercados.
Inicia operação com cartão
de crédito, em Recife e
Ribeirão Preto (1993)
þ
Internaliza operação de cartões, como uma
forma de aumentar as vendas.
Quadro 5.46 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
Conclusão: Forte
Comentário: A Lojas Americanas efetuou um conjunto de movimentos híbridos,
produtivos e defensivos que proporcionaram um real aumento dos índices de
produtividade da empresa. Embora esses ganhos possam ter sido aumentados pelo
efeito inflacionário, a empresa investiu recursos de forma a aumentar a escala das
suas operações (fato evidenciado pelo aumento do ritmo das expansões). Os
movimentos defensivos que envolveram a criação das lojas especializadas - Só
Brinquedos e Mais Por Menos – não comprometeram os resultados do grupo. Os Strip
Centers aparecem com destaque pois ao mesmo tempo em que aumentam a escala
da Americanas, protegem o empreendimento, já que é a própria administração da
companhia que define as empresas a serem instaladas no referido shopping. Um
problema ainda era o modelo de estoques: demasiadamente descentralizado no nível
de lojas, privava a empresa de ganhos de escala ainda maiores.
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): a Fase 5 foi um período de grande aprendizado para
a Lojas Americanas e este processo começou em 1986, quando José Paulo Amaral,
assim que assumiu o cargo de superintendente, realizou uma pesquisa para entender
qual o público atendido pela Lojas Americanas. Dessa pesquisa, foi possível entender
que, apesar de o público comprador da Lojas Americanas ser de classes C e D, muitos
clientes da classe B freqüentavam as lojas, mas não consumiam, e esse fato
potencializava as oportunidades da empresa, que passou a atuar em mercados onde
empresas com uma estrutura de custo maior que a da Americanas teriam dificuldades
em competir por preço.
311
O ambiente era monitorado e considerado instável pela empresa mas,
principalmente durante o governo Collor, um momento de recessão e retração de
vendas, a empresa jamais “culpou” a instabilidade econômica ou política pelos
resultados negativos. As falhas eram de gestão e a mensagem era de que a diretoria
estaria atuando para uma constante melhoria de operações. Foram selecionados
alguns trechos de Relatórios Anuais da companhia, para ilustrar como a gestão
percebia os desafios:
Relatório Anual 1986
Sobre o ambiente: Indefinições quanto à política governamental de preços
Sobre os resultados: Tivemos um crescimento [...], resultados que consideramos
insatisfatórios mesmo levando em conta [...] fatores independentes da
companhia. [...] Os fatores internos devem-se principalmente aos
nossos sistemas descentralizados de compra e reposição de
mercadorias que se mostraram ineficientes, principalmente numa
conjuntura na qual convivemos que não primou pela abundancia de
mercadorias. [...] Outro fato que prejudicou a nossa performance foi a
baixa atividade promocional da companhia durante o ano, motivado
principalmente por falhas de planejamento e logística.
Informações Anuais 1987
Sobre o ambiente: O ano de 1987 caracterizou-se por sucessivas ondas de instabilidade
na economia, afetando profundamente o setor varejista.
Relatório Anual 1988
Sobre os resultados:
Uma melhoria na gestão de estoques e uma redução em nossas
despesas estão longe de significar uma marca de eficiência. [...] A
nossa confiança em realizar estes investimentos, assim como seu
retorno, baseia-se exclusivamente em nós, os associados das Lojas
Americanas, e é responsabilidade da Administração evitar que a crise
a espera de dias melhores permeie nossa organização. A crise que
tememos é a da incompetência, de falta de confiança e entusiasmo, e
da acomodação.
312
Relatório Anual 1989
Sobre os resultados: Em 1989, mais alguns passos na direção de nossos objetivos,
melhorando a operação houve reflexos nos resultados o que nos
possibilitou a manutenção dos planos de expansão. [...] Só a nossa
própria geração de lucros é que pode oferecer reais oportunidades a
nós mesmo. Tudo depende exclusivamente de nós e de como
tratamos nossos clientes.
Relatório Anual 1990
Sobre o ambiente:
Recessão, mudança da moeda com um congelamento sem deflação
dos ativos e passivos [...] implantadas pelo governo [...] Queda
generalizada de venda no varejo [...]
Sobre os resultados: As razões para nossa queda de volume e resultados, não foram,
como muitos podem imaginar, a recessão ou a mudança da moeda
com um congelamento sem deflação dos ativos e passivos ou
quaisquer outras alterações na economia implantadas pelo governo,
mas a INCAPACIDADE DA ADMINISTRACAO DA COMPANHIA DE
PREVER, e mesmo após os acontecimentos, de rapidamente reagir
adaptando-se à nova realidade.
Relatório Anual 1992
Sobre os resultados: O ano de 1992 talvez tenha sido um dos mais interessantes e
vibrantes vividos por esta Companhia [...] depois de um primeiro
semestre em que tivemos um resultado negativo [...] mostramos que,
apesar do fraco desempenho da economia brasileira, pudemos mais
uma vez reagir e exclusivamente graças ao esforço, criatividade e
empenho de nossos associados [...] Desde meados do ano fomos
mais eficientes na administração de estoques e mais agressivos no
alcance das vendas, não se podendo justificar o fato de não o termos
feito desde o inicio.
313
Relatório Anual 1993
Sobre os resultados: Acho que podemos admitir algum êxito nesta estratégia, sem, no
entanto, deixar de reconhecer que poderíamos ter feito ainda melhor.
Sendo assim, o desafio percebido pela companhia era expandir suas operações,
de forma produtiva, em um ambiente de instabilidade, onde o sucesso do
empreendimento estava relacionado mais com a eficiência do que propriamente com a
espera de um ambiente estável.
O Quadro 5.47 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Após o Plano Cruzado (1986),
cancelou promoções e
descontinuou produtos cujo
custo ultrapassou os preços
congelados ou tabelados
Adaptar-se
Reação à restrição do ambiente.
Lojas Americanas começou a
atuar em mercados dominados
por firmas que tinham uma
estrutura de custos muito mais
pesada que a dela (1987)
Desafiar
Americanas passa a ser dominante em mercados de produtos
sem diferenciação e estabelece referência para a competição.
Após Plano Collor (1990).
adiou investimentos Adaptar-se
Reação à restrição do ambiente.
Com a abertura da economia
realizou visitas a fornecedores
externos e aumentam a
participação de importados no
sortimento (1993)
Adaptar-se,
Consentir
Reação à restrição do ambiente, seguindo modelo de compras
adotado pelas demais empresas do ramo.
Quadro 5.47 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: A Americanas trabalhou de forma positiva a percepção dos desafios do
ambiente e das suas capacitações. Esse fato proporcionou o crescimento da firma em
mercados cujos produtos competiam por preço. Entretanto, a maioria de suas ações
314
se configurava em uma postura adaptativa, reduzindo sua capacidade de influenciar o
ambiente.
e) Gestão de Diversidade
Os seguintes eventos relacionados com a gestão de diversidade foram
identificados para a Fase 5:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Após pesquisa realizada em
1986, definido o foco de
atuação da empresa
Ênfase na eficiência é cada vez
mais forte
A direção da empresa, apesar
dos bons resultados e
premiações, mantinha uma
política de austeridade,
informalidade e ausência
completa de mordomias
Durante crises, expôs
problemas e buscou soluções,
compartilhando resultados com
os “associados”
Lojas Americanas separou lojas
de "conveniência" e
"supermercados"
Durante a crise (90 a 93), não
demite funcionários
Distribuiu entre seus
funcionários o livro
autobiográfico de Sam Walton,
fundador da Wal-Mart que
falecera em 1992
Choque trainees x assistentes
de compras
Missão e objetivos mais claros para os compradores, que
passavam a ter papel ativo no destino comercial da companhia.
Amparado no sistema de avaliação de performance, a filosofia
Garantia estava implantada.
“Exemplo” para os demais funcionários, mostrando que o
importante era que cada ganho fosse repassado ao cliente,
com redução no preço (assim como no modelo Wal-Mart).
Criou sentido de unidade, utilizando para isso uma liderança
voltada para resultados e carismática.
Diferença entre sortimento de lojas feria integridade da firma.
Após ajuste de 1989 para 1990, busca soluções com o quadro
que possuía.
Tentativa para fortalecer o mito criado em torno do
benchmarking utilizado pela companhia.
Ao investir em pessoas de nível superior, ocasionou choque
com os antigos funcionários “de carreira”.
Quadro 5.48 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade (cont.)
315
Dimensão Eventos Observação
Integridade Diferenças de qualificações
entre hard e soft - era raro
ocorrer trocas
Crescimento da cadeia em um
ritmo maior
Apesar de entenderem a particularidade dos mercados,
compradores percebiam métodos diferentes de avaliação entre
eles.
Estilo agressivo da gestão passa a ser aplicado na dinâmica de
expansão.
Compartilhamento Mudança na geografia da área
de vendas, dependendo da
época do ano
Compradores competiam pelo espaço limitado de vendas. O
sistema de avaliação de performance de vendas, que previa
uma bonificação pelo resultado geral da companhia, era a
forma de coibir conflitos originados desta limitação.
Heterogeneidade Modelo cada vez menos
descentralizado no nível de
lojas
Concentração do sortimento
Poder e autonomia na definição do sortimento transferido para
o Departamento de Operações Comerciais.
Redução de itens no sortimento, reduziu diversidade de
controle.
Coordenação Criada São Carlos
Empreendimentos Imobiliários,
para cuidar do negócio de Strip
Centers.
Sistemática de avaliação de
performance que ligava
superintendentes, compradores,
supervisores e gerentes de loja
Cada comprador apresentava,
anualmente, os seus resultados,
planos e sortimento de vendas
para o ano seguinte para a
diretoria
Existia uma área de controle
responsável pelo orçamento de
cada comprador
Diretores visitavam
constantemente as lojas,
utilizando o jato da companhia
Coordenação específica para os negócios imobiliários da
empresa.
O sistema de performance obrigava que todos os elos da
cadeia estivessem em constante comunicação, pois disso
dependia o resultado final da empresa. Para isso, muito
contribuía o ambiente informal.
Evidência de que diretores ficavam próximo às operações e
compartilhavam as decisões de sortimento e promoções.
Apesar da autonomia concedida aos compradores, existia uma
área criada exclusivamente para o controle.
Presença dos diretores nas lojas de toda a rede mantinha a
coordenação próxima à operação.
Quadro 5.48 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
Conclusão: Forte
316
Comentário: Apesar de alguns problemas de integração, percebe-se que o sistema
de avaliação de performance e bonificação implantado, a atitude da diretoria, próxima
à operação, sem regalias, eram fortes instrumentos de unidade para a empresa. Além
disso, a reverência às operações da Wal-Mart, benchmarking da empresa, favorecia a
proliferação da influência mítica da rede de varejo americana. A redução no
sortimento, mudança do perfil dos compradores e valorização de análise matemáticas
(para o hard) vinham ao encontro da estratégia de crescimento. Neste período a
empresa ingressou no setor de supermercados, quebrando o foco do conceito de
"conveniência".
f) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.49:
Eventos Avaliação
Utilização de pesquisas para definição do foco de atuação Sistemático
Gradual centralização das atividades de compras Sistemático
Implantação do conceito de “Curva de Sazonalidade” Sistemático
Realização de projetos-piloto Sistemático
Identificação de falhas na estrutura de compras e implantação de um sistema de
avaliação por performance, com metas definidas pela diretoria
Sistemático
Reuniões mensais para apresentação e avaliação de resultados dos compradores Sistemático
Reuniões anuais para redefinição de metas e sortimento dos departamentos Sistemático
Existência de área de controle de orçamento para cada departamento de compra Sistemático
Diretoria próxima à operação, com visitas sistemáticas às lojas Sistemático
Investimento em automação comercial Indefinido
Quadro 5.49 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade
Conclusão: Forte
Comentário: A orientação por resultados por parte da diretoria se refletia nos métodos
de trabalho implantados. Foram criadas ferramentas de previsão e análise de vendas.
317
O Departamento de Operações Comerciais estabeleceu uma sistemática de avaliação
e definição de metas que, associado ao processo de visita às lojas, mantinha um
constante monitoramento dos resultados. Em 1992, por exemplo, foi possível reverter
todo um prejuízo no primeiro semestre pelo fato de a companhia conhecer seus
resultados a priori. Além disso, ao estabelecer um órgão de controle do orçamento de
departamento de compras, a Americanas evitava “surpresas”: compras acima do
orçamento deveriam ser aprovadas pelo superintendente e a estrutura informal fazia
com que essa aprovação fosse realizada sem burocracia.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.50 resume os principais eventos relacionados com a Provisão de
Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Antecipar, Renovar, Formar,
Desenvolver
Criado oficialmente o programa de trainees e estágio.
Substituição de profissionais “de carreira” por jovens de curso superior.
Mesmo na crise, manteve programas e, após 1990, não demitiu funcionários.
Executivos de compras viajavam ao exterior para conhecer novos fornecedores e
técnicas de varejo.
Renovar, Desenvolver Contratado José Paulo Ferraz do Amaral, que se tornou oficialmente
superintendente em 1992, substituindo Carlos Alberto Sicupira. José Paulo teve
papel fundamental no destino comercial da empresa após sua entrada.
Reter, Formar Convênios com COPPEAD/UFRJ e USP.
Reter Estabeleceu programa de bonificações por meio de compra de opções de ações
da companhia.
Quadro 5.50 – Fase 5: 1986 a 1993 – Lojas Americanas:
Provisão de Recursos Gerenciais
Conclusão: Forte
Comentário: A Americanas antecipou-se às suas necessidades de crescimento,
substituindo profissionais que tinham uma carreira de varejo, mas não tinham o
conhecimento técnico e matemático para a implantação dos métodos que queriam, por
funcionários com um perfil técnico. Para a implantação de um melhor sortimento, a
318
Americanas identificou que não possuía os recursos ideais para realizar tal mudança.
Até mesmo os profissionais de operação recusavam-se a iniciar o processo de
alteração dos métodos de sortimento, receosos da reação do pessoal de lojas. Ao
estabelecer um novo processo de avaliação de performance e estabelecer um
processo de bonificação por resultados, a empresa abriu caminho para as mudanças
que desejava implementar.
319
5.5.6. Fase 6: 1994 a 2004 – Uma nova realidade
Ambiente Internacional: Crise nos países em desenvolvimento: México (1994), Ásia
(1997), Rússia (1998) e Argentina (2001); atentados 11 de Setembro (2001); Guerra
do Iraque (2003-2004); expansão de grupos varejistas internacionais.
Ambiente Nacional: Estabilização da moeda (1994); “choque” na indústria nacional,
levando a uma crescente automação em diversos setores; expansão da importação de
produtos asiáticos; aceleração da privatização de empresas estatais; vendas a crédito
aumentam com estabilização da economia; retomada do crescimento; aumento do
consumo para classes C e D; falência de grandes empresas do varejo: Mesbla,
Mappin, Casas Pernambucanas e Arapuã; adoção do câmbio flutuante (1999); Brasil
supera a crise Argentina, indicando sua auto-suficiência em relação à região;
expansão do agronegócio; crise energética; estagnação do sistema logístico brasileiro;
investida de grandes grupos internacionais de varejo; crescimento dos hipermercados.
5.5.6.1. Mesbla – Análise dos desafios e respostas na 6ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 6ª Fase da Mesbla encontram-se no
Anexo 9.
a) Indicadores Financeiros
Durante a Fase 6 a Mesbla enfrentou a pior crise de toda a sua história e não foi
capaz de reverter o quadro. Durante todo o período foram realizadas vendas de
negócios do grupo, como a cadeia de lojas náutica e a participação no Makro, além da
demissão de grande parte de seus funcionários.
A cadeia de lojas de departamentos foi reduzida de quarenta e nove para
quarenta e quatro estabelecimentos; a Mesbla Veículos reduziu o número de
concessionárias de vinte e seis para dez; as demais divisões sofreram reestruturação
e diminuição de quadro. Assim, a queda de faturamento foi inevitável. Esperava-se
que a redução das despesas e o foco das operações pudessem contribuir com o
retorno dos resultados positivos. O Gráfico 5.30, no entanto, indica que os resultados
não foram os desejados.
320
Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%
)
-0,090%
-0,070%
-0,050%
-0,030%
-0,010%
0,010%
0,030%
0,050%
0,070%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Gráfico 5.30 – Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
O Gráfico 5.31, por sua vez, mostra que as despesas financeiras vinham
pesando no resultado da empresa desde 1989, tendo atingido um nível crítico em
1993, quando estas despesas representaram 34% da Receita Bruta e,
conseqüentemente, reduziram drasticamente o lucro.
Mesbla - Resultado Financeiro / Receita Bruta (1986 a 1997)
-6%
-20%
-34%
-4%
-13%
-30%
-18%
-7%
1%3%
2%
-3%
-40%
-35%
-30%
-25%
-20%
-15%
-10%
-5%
0%
5%
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
Ano
Gráfico 5.31 – Mesbla – Resultado Financeiro / Receita Bruta, 1986 a 1997
(Fonte: Relatórios Anuais)
321
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como médias
A expansão das atividades de importação foi facilitada pela redução das
alíquotas de importação.
Respostas classificadas como fracas
As características mais exigidas dos gestores da Mesbla na Fase 6 foram a
criatividade na busca de novas alternativas de comercialização e a capacidade de
levantar recursos de forma que a dívida da empresa conseguisse ser negociada.
As tentativas conhecidas, no entanto, se mostraram frustradas: (1) passou a
alienar bens e negócios das divisões Veículos e Serviços Financeiros, levantando
recursos insuficientes para a recuperação; (2) venda da participação no Makro, por um
valor cerca de 40% menor do que o avaliado, em função da Crise do México (1994);
(3) fracassado acordo com o Grupo Garantia e; (4) fracassada composição com as
Lojas Renner, do Banco Icatu.
A análise dos fatos sugere que a figura da família De Botton no comando da
empresa não era mais vista como apropriada para a situação do Grupo Mesbla.
Reportagens da época sugeriram que acordos poderiam ter sido fechados, desde que
a família saísse efetivamente do comando da empresa.
Outro ponto fundamental foi que a empresa não conseguiu encontrar soluções
radicais e criativas, como entrar em ramos de maior rentabilidade. Os compromissos
assumidos com o modelo anterior fizeram com que a Mesbla, mesmo depois da
reestruturação, ficasse impossibilitada de reagir à situação.
O novo controlador do grupo Ricardo Mansur, em 1997, tampouco tomou
medidas direcionadas para a efetiva recuperação da empresa.
Conclusão: Fraco
Comentário: Sem credibilidade para levantar os recursos necessários para manter a
longevidade da empresa e operações que estavam comprometidas com um passivo
de anos anteriores, a Mesbla teve seus serviços empreendedores reprimidos,
concentrando-se na sobrevivência de curto prazo e não na longevidade saudável.
322
c) Motivação do Crescimento
Entre 1994 e 1997 o indicador de produtividade apresentou decréscimo e a
rentabilidade sobre vendas apresentou valores negativos e queda, com redução do
prejuízo apenas em 1997 (Gráficos 5.32 e 5.33, respectivamente).
Percebe-se que as medidas tomadas pela empresa não foram eficazes em
aumentar a eficiência de utilização de recursos, necessária para a sua recuperação.
Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Produtividade
18%
22%
27%
33%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% (R
ecei
ta B
ruta
/ P
IB) /
Núm
ero
Fun
cion
ário
s
Gráfico 5.32 – Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Produtividade
(Fonte: Relatórios Anuais)
Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Rentabilidade
-40%
-61%
-21%
-5%
-0,70
-0,60
-0,50
-0,40
-0,30
-0,20
-0,10
0,00
0,10
0,20
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta
Gráfico 5.33 – Fase 6: 1994 a 1997 - Mesbla: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
323
O Quadro 5.51 relaciona os principais movimentos de expansão no período
referido:
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Foco nos itens onde a
empresa tinha expressiva
participação de mercado
(1994)
þ
A queda em vendas e as dificuldades
financeiras impediram ganhos em
produtividade efetivo com essa decisão.
Expansão de cadeia de
lojas de departamento em
shoppings centers (1994)
þ
Embora tenha mantido pontos de venda e
aberto lojas em shoppings , o ganho em
escala foi minado pela redução em vendas.
Expansão das atividades
de importação (1994) þ
Tentativa de privilegiar o giro ao invés de da
margem, que foi minada pela queda de
vendas.
Mesbla lançou um serviço
de vendas de veículos à
domicílio. (1994)
þ
Criado um novo canal, que necessitava de
uma estrutura própria, não oferecendo
ganhos de escala.
Quadro 5.51 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Motivação do Crescimento
Conclusão: Fraco
Comentário: Embora houvesse movimentos de expansão com motivações produtivas,
a queda nas vendas minou os possíveis benefícios de cada uma delas, tornando-os,
independentemente do objetivo original, ineficientes.
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): a estabilização da moeda, em 1994, foi um desafio
adicional para a Mesbla que, em um curto espaço de tempo, precisava adaptar
mecanismos de controle e operação para uma nova realidade. O desafio percebido
era: recuperar a empresa, em um ambiente de negócios completamente novo.
O Quadro 5.52 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
324
Evento Tipo de Gestão Observação
Reestruturação geral –
operações, diretoria e quadro
de funcionários (1994)
Buscar soluções
de compromisso,
Adaptar-se
Atendeu às pressões externas que demandavam medidas
radicais para recuperação da empresa.
Venda das divisões náutica,
serviços financeiros e
alimentos (1994)
Adaptar-se
Pressionada, a empresa alienou seus ativos para obter os
recursos para a recuperação.
André de Botton foi
definitivamente afastado do
dia-a-dia da empresa (1995)
Buscar soluções
de compromisso
Diante do quadro de crise, a Mesbla fez o que o mercado
sugerira, af astar a família de Botton do comando.
Quadro 5.52 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Mudança
Conclusão: Fraco
Comentário: A Mesbla sucumbiu à pressões de todos os tipos, que influenciaram
decisivamente esta última etapa da empresa. O novo ambiente econômico, associado
à necessidade de recuperação imediata, obrigou a empresa a tomar ações no curto
prazo, mas o comprometimento com as decisões do passado e as obrigações do
presente diminuíram a margem de manobra da companhia. As mudanças estruturais,
como a adoção do open-office, a integração de profissionais do mercado para o
conselho de administração e redução da cadeia de lojas foram tentativas de a Mesbla
se adaptar internamente às pressões do ambiente. Mas nem mesmo o novo
controlador conseguiu adaptar a empresa a uma nova realidade.
e) Gestão de Diversidade
Os principais eventos de Gestão de Diversidade estão listados no Quadro 5.53:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Continuação das demissões
Adoção de estilo de sala
comum, estilo Banco Garantia,
para os diretores
A Mesbla passou a ser vista como uma empresa “que estava
mandando muita gente embora”.
Os diretores, acostumados com independência e regalias,
aumentaram o nível de conflito entre si.
Quadro 5.53 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Diversidade
(cont.)
325
Dimensão Eventos Observação
Integridade Integração de profissionais
para compor o Conselho de
Administração, substituindo
pessoas de confiança de
André de Botton
André de Botton foi afastado
do dia-a-dia da empresa
A Mesbla perdeu a característica marcante de sua direção, ou
seja, a estrutura familiar.
A troca de comando indicava o fim da era "De Botton" no
comando da Mesbla.
Compartilhamento N/A
Heterogeneidade Náutica praticamente cessa
suas operações,
concessionárias de veículos
são fechadas, a participação
no Makro vendida e imóveis
são alienados.
Empresa foca cada vez mais em suas lojas de departamentos.
Coordenação A área financeira da Holding
passou a atuar muito mais
firmemente sobre as
operações das demais
divisões
Esse fato indica que a coordenação de questões financeiras,
antes da crise, era no mínimo distante das áreas funcionais.
Quadro 5.53 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Diversidade
Conclusão: Fraco
Comentário: A nova direção da Mesbla tentou impor mudanças organizacionais que
feriam fortemente a integridade da firma. Adotar salas comuns aos diretores e
estabelecer uma supervisão mais rígida das questões financeiras feria a
independência e autonomia que eram vistas como virtude em toda a sua história. O
momento exigia medidas radicais – que deveriam ter sido tomadas antes – mas não
foram encontradas evidências de que a Mesbla tenha trabalhado a questão da
longevidade da firma junto aos seus funcionários. Um movimento radical frente a uma
crise precisaria ter sido feito de forma a unir as pessoas em torno de um objetivo
comum, que era a recuperação da empresa.
f) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.54:
326
Eventos Avaliação
Foco nos itens onde a empresa tinha expressiva participação de mercado: roupas,
perfumes, presentes e artigos de cama
Sistemático
A Mesbla começou a implantar um sistema de Just-in-Time via Electronic Data
Interchange com a Phillips
Sistemático
Investimento em operações, passando a terceirizar a distribuição de produtos Indefinido
Definição de prioridades de pagamento pós -concordata Casuístico
Quadro 5.54 – Fase 6: 1994 a 1997 – Mesbla: Gestão de Complexidade
Conclusão: Médio
Comentário: Apesar da crise, a Mesbla continuou seguindo a orientação do período
anterior, sugerindo um aprendizado de métodos e continuidade de soluções adotadas.
Entretanto, dado a urgência por bons resultados, a empresa foi obrigada a realizar
grandes transformações operacionais em um curto espaço de tempo. Ocorreu, por
exemplo, uma traumática substituição da estrutura logística própria para uma firma
externa, ligada à Philips do Brasil. O depoimento de um ex-comprador indica o
resultado do processo:
A idéia era fazer um CD em São Paulo, um mega CD tipo Casas
Bahia, fazendo transferências diárias para as lojas, algo que até a
Wal-Mart já estava fazendo. Só que teve mercadoria demorando
quinze dias para ir de São Paulo para o Rio e o meu Dia das Crianças
foi muito ruim naquele ano porque grande parte da mercadoria
chegou depois do Dia das Crianças. [...] Aquele Natal foi inesquecível,
a mercadoria não chegava. E eu avisei “Já perdi meu Dia das
Crianças, o meu Natal eu não perco de jeito nenhum”. [...] e começou
a atrasar... o final do ano foi chegando. Sabe aquela transferência que
foi planejada para ser feita rapidamente “Vai estar tudo pronto com
dois meses de antecedência em relação ao Natal” e não ficou tudo
pronto. Foi um caos.67
Outro problema foi a gestão da empresa pós-concordata. Na medida em que a
operação não conseguia melhorar sua eficiência, a questão financeira foi se tornando
67 Depoimento do Entrevistado 1
327
cada vez mais crucial, sem que houvessem os mecanismos adequados de controle.
Sobre esta época, segue um depoimento sobre o ex-chefe do contas a pagar da MLD:
E começaram a ser criados uma série de critérios, não pela gente, a
gente só executava. Então era “esse aqui tem um giro maior, então
vamos comprar e pagar” [...] e quando veio a concordata [...] você tem
que manter um arquivo para cada fornecedor que você não pagou,
com todos os documentos dele. Era um negócio super complexo.
Então a gente começou a controlar porque você continua vendendo, e
o que você vende a partir da concordata, você pode pagar. Mas o que
caiu dentro da concordata você não pode pagar a ninguém.
Mas foi uma época muito complicada e turbulenta, e tinha horas que
as pessoas estavam completamente perdidas e eu me lembro que
uma vez eu estava nessa sala da diretoria e eu dizia “Tem que pagar
isso, tem que pagar aquilo e tal...” e uma determinada hora eu estava
passando a responsabilidade para eles decidirem. Então veio a
Cláudia Quaresma, colocou a mão em mim e disse: “Ricardo, agora é
você que sabe. Você é o cara que sabe melhor do que a gente o que
fazer. Faz o que você achar mais certo.” Era muita responsabilidade,
foi a única vez na minha vida em que eu tive pressão alta, fui parar
numa clínica dessas aí porque muita pressão. 68
Então, apesar de os sistemas terem melhorado, de as informações terem se
tornado mais acuradas, a empresa demonstrava uma grande falta de capacidade de
gerenciar melhorias e mudar a forma como operava, o que acabou tornando-se
inviável após a sua concordata.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
De 1994 a 1997 poucas informações foram encontradas sobre Provisão de
Recursos Gerenciais. Sabe-se que Leonardo Brunet, antigo executivo de relações com
o mercado, assumiu a direção da empresa. Brunet tinha um background financeiro, e
sua formação varejista não era apropriada para o momento em que a empresa se
encontrava. Sua nomeação, foi resultado da pressão para que um executivo de
finanças assumisse o comando no lugar de um membro da família De Botton. O
número de executivos da Holding caiu de trinta para sete, consolidando todas as áreas
68 Depoimento do Entrevistado 3
328
de negócios em apenas uma. Ou seja, a partir da concordata, cessaram todas as
atividades de treinamento e os antigos executivos foram demitidos.
A contratação de profissionais do mercado para compor o grupo de diretores
também pode ser vista como uma ameaça à integridade da empresa. Não foram
colhidas evidências da atuação desses diretores.
A nova estrutura gerencial pouco pôde fazer para mudar o quadro, uma vez que
as operações estavam sendo, pouco a pouco, descontinuadas. O retorno de José
Paulo Amaral, em 1996, foi suficiente para adiar os compromissos da dívida, mas em
1997, já com Ricardo Mansur, diante da pequena perspectiva de melhora, a falência
foi decretada.
Conclusão: Fraco
329
5.5.6.2. Lojas Americanas - Análise dos desafios e respostas na 6ª Fase
Os principais fatos relacionados com a 6ª Fase da Lojas Americanas encontram-
se no Anexo 15.
a) Indicadores Financeiros
Durante a Fase 6 a Lojas Americanas talvez tenha passado pelo período mais
crítico de sua história. Até os eventos tratados na Fase 5 a companhia vinha em um
processo contínuo de aprendizado e aprimoramento dos seus métodos de operação.
Os ganhos financeiros da empresa já haviam sido reduzidos bastante pelas medidas
do novo governo Collor e os ganhos com as operações, ainda com sistema de estoque
descentralizado, atingiram o seu limite. O mercado, mais competitivo pela ação cada
vez mais agressiva dos hipermercados, fez com que as margens de comercialização
fossem reduzidas. O Gráfico 5.34 mostra o comportamento dos Indicadores de
tamanho e performance.
Fase 6: 1994 a 2004 - LASA: Indicadores de Tamanho e Performance
0,000%
0,100%
0,200%
0,300%
0,400%
0,500%
0,600%
0,700%
0,800%
0,900%
1,000%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
(%
)
-0,010%
-0,003%
0,004%
0,011%
0,018%
0,025%
0,032%
0,039%
0,046%
0,053%
0,060%
Lucr
o Lí
quid
o / P
IB (
%)
Tamanho (Receita Bruta / PIB) Performance (Lucro Líquido / PIB)
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.34 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas:
Indicadores de Tamanho e Performance
(Fonte: Relatórios Anuais)
Curioso verificar que neste período houve um crescimento de vendas no setor
varejista, considerando as maiores empresas do ramo. Só que este crescimento foi
concentrado nas redes que vendiam eletrodomésticos como Casas Bahia, Ponto Frio
e alguns hipermercados. A Americanas já havia abandonado a linha branca e grandes
eletrodomésticos (EXAME MELHORES E MAIORES, 1993 a 1996).
330
Dessa forma, o período foi particularmente crítico para a empresa que viu sua
fatia de mercado diminuir e nem mesmo o processo de automação de suas lojas
conseguia melhorar a rentabilidade do empreendimento, conforme Gráfico 5.35:
Fase 6: 1994 a 2004 - LASA: Rentabilidade
3%3%
2%
5%
-2%
9%
2%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ R
ecei
ta B
ruta Entrada
do Grupo Garantia
Gráfico 5.35 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Rentabilidade
(Fonte: Relatórios Anuais)
O ganho em 1998 foi resultado da venda das vinte e três lojas que
comercializavam produtos de supermercados. O indicador começou a melhorar a partir
de 2000 com a centralização de estoques e a implantação de uma rede de distribuição
interligada com toda a cadeia de lojas.
b) Serviços Empreendedores
Respostas classificadas como fortes
Em 1996 e 1997 a Lojas Americanas apresentou prejuízo em seus resultados
anuais e muitos analistas de mercado apostavam no seu ocaso. Neste momento a
companhia utilizou toda sua capacidade de obter recursos para renovar as operações
da empresa e recuperar o espaço no mercado.
Em 1995, lançou ADR na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Em 1996 a Lojas
Americanas emitiu US$ 146,5 milhões em Eurobônus, com vencimento em 2004, e
obteve um aporte de US$ 53 milhões junto ao International Finance Corporation (IFC),
entidade ligada ao Banco Mundial para financiamento ao setor privado. Esses
recursos possibilitaram o investimento em projetos de consultoria, implantação de
sistemas e três modernos centros de distribuição que tornaram a companhia
novamente lucrativa em 2001.
331
Além disso, a diretoria cancelou o plano de “200 lojas no ano 2000”, vendeu a
participação na Wal-Mart do Brasil e suas lojas de supermercados. Eram três planos
que poderiam colocar a longevidade da companhia em risco e possibilitaram a
liberação de recursos para os novos investimentos.
Em 2003 a Americanas obteve um dos melhores resultados dos últimos anos e
realizou, em 2004, uma expansão de mais de trinta lojas, mostrando uma grande
ambição para reconquistar o mercado perdido, confiando no modelo de lojas menores,
mais próximas a uma loja de conveniência, e na sua estrutura de distribuição
centralizada.
Respostas classificadas como médias
Em 2001, quando a empresa finalmente voltou a apresentar um nível de
resultados que poderia sustentar suas operações, a Americanas retomou o
crescimento da cadeia de lojas, de forma moderada. Além disso, iniciou operações
com o modelo Express e com o site de vendas Americanas.com. Nestes dois últimos
empreendimentos, a firma tentou buscar ganhos de escopo e escala, sempre
implantando projetos-piloto para os novos negócios.
Outro empreendimento foi o lançamento da Teleamericanas para o segmento
vendas pela TV, 1996. Apesar de não colocar em risco a longevidade da Americanas,
sua implantação foi reconhecida como um erro, já que a companhia não possuía
know-how neste tipo de operação.
Respostas classificadas como fracas
Em 1995, José Paulo Amaral anunciou um plano ambicioso: “200 lojas no ano
2000”. Isso significaria a abertura de vinte e uma lojas por ano, de 1996 a 2000. A
Lojas Americanas, entretanto, havia aumentado demais sua estrutura de lojas, sem o
apropriado apoio operacional de uma rede de distribuição. Os custos de uma
expansão exagerada de lojas seriam maiores do que a Americanas poderia realizar a
partir de recursos gerados pela própria operação.
Em períodos anteriores, quando os ganhos financeiros eram possíveis, talvez
estes planos pudessem ser realizados sem prejuízos latentes para a empresa,
financiados pelos prazos obtidos junto aos fornecedores. Mas em um ambiente de
restrição de ganhos e redução dos prazos de pagamento, efetuar essa expansão
332
compreendia riscos exagerados para o empreendimento. A saída de José Paulo
Amaral foi uma resposta apropriada da empresa, pois instaurou uma seqüência de
gestores que reestruturaram a companhia de acordo com as necessidades de um
novo ambiente.
Conclusão: Forte
Comentário: A disposição de a empresa assumir os riscos do financiamento para
implantar um ambicioso projeto de remodelagem de suas operações e assim voltar a
crescer foi um fator fundamental para que a Americanas voltasse a ser reconhecida
como uma empresa saudável. A troca de comando realizada em 1996 trouxe à tona
uma característica importante para o empreendimento, mas que era ausente na
liderança de José Paulo Ferraz Amaral. Essa característica era o conhecimento de
operações de distribuição e logística, know-how tão bem desenvolvido pelo
benchmarking Wal-Mart, mas que a Americanas demorou a reconhecer como sendo
essencial para o seu crescimento, com o fim dos ganhos financeiros. O domínio das
operações em conjunto com a melhoria do sortimento realizada nas fase anteriores,
proporcionaram um crescimento acelerado para a Americanas, tornando a executar
planos ambiciosos de crescimento.
c) Motivação do Crescimento
As modificações operacionais implantadas pela empresa no período de 1998 a
1999 começaram a mostrar resultados a partir de 2000. Antes disso, em 1998, Cláudio
Galeazzi realizou uma grande reestruturação na empresa, demitindo oito mil
funcionários e descontinuando as lojas “supermercados”. O Gráfico 5.36 mostra que
essa queda não se refletiu em um incremento significativo na produtividade. O ajuste
seguiu até 2002, quando a empresa tornou a crescer.
333
Fase 6: 1994 a 2004 - LASA: Produtividade e Número de Funcionários
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% (
Rec
eita
Bru
ta /
PIB
) / N
úmer
o de
F
unci
onár
ios
-
3.000
6.000
9.000
12.000
15.000
18.000
21.000
Núm
ero
de F
unci
onár
ios
Produtividade Número de Funcionários
Entrada do Grupo Garantia
Gráfico 5.36 – Fase 6: 1994 a 2004 - Lojas Americanas:
Produtividade e Número de Funcionários
(Fonte: Relatórios Anuais)
Se o índice de produtividade em relação ao PIB não apresentou melhora em
relação aos períodos passados, os índices de rentabilidade da Americanas, de 1998 a
2003, excetuando-se o prejuízo de 2000, apresentaram uma significativa melhora,
operando sempre acima da média do setor (EXAME MELHORES E MAIORES, 1998 a
2003). Em 2003, a razão Lucro Líquido em relação ao Patrimônio Líquido atingiu a
expressiva marca de 54,9%.
Sob esta ótica, o Quadro 5.55 resume a análise de cada expansão realizada
pela empresa no período referido.
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Aumento da área de
vendas para vestuário
(1994)
þ
Ganhos em rentabilidade.
Instala rede de três
Centros de Distribuição e
centraliza estoques (1998
a 2000)
þ
Ganhos em produtividade.
Quadro 5.55 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
(cont.)
334
Tipo
Evento
Nulo Defensivo Produtivo
/ Híbrido
Observação
Criação da
Americanas.com (1999) þ
Primeira “.com” brasileira a apresentar lucro,
em 2002. Ganhos de escopo e escala.
Crescimento acelerado da
rede de lojas e cadeia
Express (2003 / 2004)
þ
Ganhos em escopo e escala.
Crescimento moderado da
rede de lojas e cadeia
Express (até 2002)
þ
Movimentos lentos, direcionados a manter a
posição da empresa, em um período de
reestruturação.
Cria Teleamericanas
(1996) þ
Um novo canal de vendas que não
aproveitou oportunidades de escopo ou
escala.
Cria SMART CLUB (1999)
þ
Movimento defensivo para combater a
entrada de novos varejistas no comércio
nacional.
Associação e
investimentos com a Wal-
Mart (1994)
þ
Não foram identificados ganhos com essa
associação.
Quadro 5.55 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Motivação do Crescimento
Conclusão: Forte
Comentário: Apesar de a firma estar operando em um nível de produtividade inferior
ao obtido no passado, resultado da descontinuidade de operações como as lojas
“supermercados”, a rede Só Brinquedos e a Teleamericanas e o início das atividades
da Americanas.com, a evolução nos últimos cinco anos evidencia o direcionamento
produtivo das medidas implantadas, principalmente a centralização de estoques e a
nova estrutura de distribuição de produtos. A criação da Americanas.com, em 1999,
pôde aproveitar a marca Lojas Americanas e a estrutura de armazenagem, gerando
ganhos novos com a mesma estrutura. O fato de a Americanas.com ter sido a primeira
empresa virtual a apresentar lucro em suas atividades sugere o sucesso da decisão e
da implantação.
335
d) Gestão de Mudança
Monitorar (Desafio Percebido): de 1994 a 2004, a Lojas Americanas teve quatro
presidentes: José Paulo Amaral, até 1996; Fersen Lambranho, entre 1996 e 1997;
Cláudio Galeazzi, de 1998 a 2000; Miguel Gutierrez, a partir de 2001. O ponto mais
marcante desse processo de sucessão foi quando, da entrada de Fersen, o Relatório
Anual de 1996 estampava:
O ano de 1996 encerra um ciclo na vida de Lojas Americanas. Este
ciclo teve como característica principal a crença de que a nossa
flexibilidade, agilidade e capacidade de reação superariam todas as
adversidades. [...] Fomos vítimas do nosso próprio sucesso ao longo
dos últimos 14 anos.
O prejuízo de 1996 se converteu em uma série de iniciativas ligadas à melhoria
da operação, como a alocação de engenheiros e consultorias para o projeto de
construção da estrutura de distribuição. A Lojas Americanas, com certo atraso,
percebeu que o desafio do crescimento havia mudado, e que os ganhos operacionais
só poderiam ser obtidos a partir da alteração da sua malha de distribuição.
O Quadro 5.56 mostra a avaliação realizada para eventos e respostas da
empresa utilizando os conceitos de Oliver (1991).
Evento Tipo de Gestão Observação
Investimento em automação
(PDV), integrou via satélite
todas as lojas e os CDs (1995)
Adaptar-se,
Consentir
Automatiza lojas, mas não busca eficiência na operação como
um todo.
Desistência do plano "200 lojas
no ano 2000" (1996)
Adaptar-se,
Consentir
Empresa concentra esforços em melhorar suas operações antes
de crescer.
Inicia projeto de modificação
da logística (1996)
Adaptar-se,
Consentir
Adota uma solução completa e consagrada em outras firmas do
varejo para garantir a longevidade do empreendimento.
Mais de 1.000 funcionários
foram demitidos (1998) Adaptar-se
Adaptação e reestruturação.
Crescimento foi retomado de
forma moderada (1998) Adaptar-se
Após ajuste operacional, a Americanas reinicia lentamente o seu
processo de crescimento.
Quadro 5.56 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança
(cont.)
336
Evento Tipo de Gestão Observação
Americanas.com associou um
canal de Televendas e criou
quiosques nas lojas (2001)
Desafiar
Tentativa de influenciar a utilização da Internet para execução de
compras na loja, como uma forma de “educar” os consumidores.
Mais de 2.000 funcionários
foram demitidos (2002) Adaptar-se
Adaptação e reestruturação.
Relatórios Anuais passam a
registrar um resumo de suas
iniciativas sociais (2002)
Buscar soluções
de compromisso
Tentativa de atingir e atender às expectativas de diversos
stakeholders.
Quadro 5.56 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Mudança
Conclusão: Médio
Comentário: De 1994 a 1996 a Americanas continuou utilizando métodos aplicáveis
ao antigo cenário brasileiro, de instabilidade e ganhos financeiros. A partir de 1996,
diante do desafio de se adaptar ou sucumbir às novas demandas do ambiente, a
Americanas elaborou sua reação baseando-se no ambicioso projeto de estruturação
logística. Este fato mostra que, pelo fato de ser uma atividade que opera com margens
reduzidas, o varejo exige adaptações rápidas, sob a pena de amargar grandes
prejuízos. Em nenhum momento verificou-se uma influência ativa da Americanas
sobre o ambiente. Internamente, percebe-se que a empresa trabalhou para melhorar
sua estrutura antes de retomar um ritmo acelerado de crescimento.
e) Gestão de Diversidade
Os seguintes eventos relacionados com a gestão de diversidade foram
identificados para a Fase 6:
Dimensão Eventos Observação
Integridade Empresa mantém programas de
treinamento, trainees e estágio
De 1998 a 2001, mais de dez
mil funcionários foram demitidos
Garante continuidade de processos que estavam
institucionalizados.
Redução drástica de corpo de funcionários feriu a integridade
da firma.
Quadro 5.57 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
(cont.)
337
Dimensão Eventos Observação
Integridade A firma passou a registrar, em
seus relatórios anuais, um
resumo de suas iniciativas
sociais (2000)
Ênfase na eficiência continua,
com a adoção do EVA
Empresa honra Títulos do
Eurobônus que venceriam em
2001 e 2004
Americanas.com transferiu
operações de marketing,
comercial e administrativa para
a sede no Rio de Janeiro
Molda a imagem de empresa “Socialmente Responsável”.
Explicita, por meio de uma ferramenta de avaliação, uma
característica da firma, a valorização da performance.
Consolida recuperação da empresa, remunera acionistas e
funcionários.
Ao conciliar as atividades da empresa ".com" em sua Sede,
fortalece a integridade e a necessidade de sinergia entre as
duas operações.
Compartilhamento Adota programa de Qualidade
Total Americanas - métodos
para solução de problemas em
equipes
Troca de informações e busca por soluções em conjunto.
Heterogeneidade Venda da participação na Wal-
Mart Brasil
Foi dada mais autonomia aos
compradores de lojas de
supermercados (1994)
Venda de lojas
“supermercados” (1998)
Venda da rede Só Brinquedos
Criadas "Centrais de RH"
Projeto Focus: remodelou lojas
com o conceito de Mundos
Criadas Americanas Express
Separação da São Carlos
Empreendimentos
Concentrou esforços e recursos na recuperação da sua cadeia
de varejo.
Aumentou heterogeneidade e desafiou a integridade da firma.
Concentrou esforços e recursos na recuperação da sua cadeia
de varejo.
Concentrou esforços na recuperação da sua cadeia de varejo.
Iniciativa para agilizar e homogeneizar métodos de contratação
e desenvolvimento em cada Estado.
Homogeneização do sortimento.
Adicionaram heterogeneidade à operação.
Concentrou esforços e recursos na recuperação da sua cadeia
de varejo.
Quadro 5.57 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
(cont.)
338
Dimensão Eventos Observação
Coordenação Integração via satélite de lojas e
depósitos
Implantação de pacotes SAP
(RH e comercial)
Promovidos encontros regionais
entre Diretores e Reunião
Nacional de Executivos
Implantada estrutura para prover dados de toda a rede.
Implantada estrutura para prover dados comerciais e dos
recursos alocados.
Coordenação e comunicação das diretrizes gerais da
organização.
Quadro 5.57 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Diversidade
Conclusão: Forte
Comentário: Diante de um desafio decisivo para a longevidade da empresa, a Lojas
Americanas empreendeu esforços para que a nova estratégia fosse implementada,
reduzindo a diversidade de suas operações e concentrando as iniciativas em melhorar
a operação de suas lojas. Durante quatro anos, de 1997 a 2000, a empresa reduziu o
ritmo de crescimento, criando a estrutura que pudesse torná-la capaz de competir em
um novo ambiente. Entre as principais decisões foram identificadas a descontinuidade
das lojas supermercados, a implementação do Projeto Focus e a venda da
participação da Wal-Mart e da Só Brinquedos. Internamente, a empresa passou a
utilizar o EVA, uma evolução do conceito anterior de avaliação por performance.
f) Gestão de Complexidade
Os eventos relacionados com a gestão de complexidade foram listados no
Quadro 5.58:
Eventos Avaliação
Adoção do programa QTA Sistemático
Elaborou manuais de operação para linhas hard e soft nos Centros de Distribuição Sistemático
Homologou fornecedores, de acordo com os processos definidos para os novos
Centros de Distribuição
Sistemático
Estoques são gradualmente centralizados Sistemático
Quadro 5.58 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade
(cont.)
339
Eventos Avaliação
Implantados processos de prevenção contra perdas Sistemático
Implantou EVA como método de avaliação de resultado Sistemático
Inicia Americanas.com e Americanas Express, sempre utilizando projetos-piloto Sistemático
Adotou cheque pré-datado com poucos mecanismos de checagem das condições
de solvência e previu um nível de inadimplência abaixo do real (1995)
Casuístico
Posteriormente ao problema da inadimplência, empresa melhorar previsão do índice
de inadimplentes, automatiza consulta de CPF e estimula utilização de cartão de
crédito
Sistemático
Quadro 5.58 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Gestão de Complexidade
Conclusão: Forte
Comentário: A utilização de pré-datados em 1995 foi uma reação frente à ação da
concorrência. O processo, entretanto, foi falho em suas estimativas e ocasionou um
grande prejuízo, realizado em 1996. Entretanto, a partir desse episódio percebe-se
uma série de eventos que valorizaram a implantação gradual de inovações, com
destaque aos projetos-piloto da Americanas.com e Americanas Express. Há indícios
de que a Americanas tenha desenvolvido uma rede de conhecimento, capaz de
implantar novos projetos e julgar sua continuidade ou finalização.
g) Provisão de Recursos Gerenciais
O Quadro 5.59 resume os eventos de Provisão de Recursos Gerenciais.
Dimensão Eventos
Renovar José Paulo Amaral foi substituído por Fersen, em 1996, que por sua vez indicou
Cláudio Galeazzi como executivo capaz de recuperar a empresa.
Mantidos os programas de trainees e estágio.
Desenvolver, Formar, Renovar Compradores e assistentes de compra assumiram funções de seus superiores,
resultando em uma redução de quadro de executivos.
Quadro 5.59 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas:
Provisão de Recursos Gerenciais
(cont.)
340
Dimensão Eventos
Antecipar, Formar No seu último ano, Galeazzi trabalhou na formação de Miguel Gutierrez, que já era
o Diretor de Operações da companhia.
Antecipar Contratação de engenheiros e consultorias para desenvolvimento do projeto de
logística de distribuição.
Antecipar Criadas "Centrais de RH" em vários estados
Desenvolver Promovidos encontros regionais entre Diretores e Reunião Nacional de Executivos
Reter A recuperação da empresa, no período de 2001 a 2003, rendeu bonificações aos
funcionários.
Quadro 5.59 – Fase 6: 1994 a 2004 – Lojas Americanas: Provisão de Recursos
Gerenciais
Conclusão: Forte
Comentário: A Lojas Americanas realizou um grande esforço para transformar a
empresa em uma eficiente companhia de distribuição de produtos e esse processo
demandou diversas iniciativas simultâneas que aparentemente tiveram sucesso. A
política de remuneração de funcionários com bônus por performance ajuda a reter
talentos e a empresa manteve seu programa de trainees e estágio mesmo em
períodos de crise. O grande mérito da Americanas foi alocar um executivo
exclusivamente para a reestruturação, sem compromisso com grupos que já existiam
na empresa. A contratação de consultorias e especialistas na implantação do sistema
logístico também foi uma ação acertada, principalmente levando-se em conta a
urgência em que a firma necessitava atingir a sua recuperação. Ao longo desse
processo, os recursos para a nova operação foram desenvolvidos. Era necessária
uma nova empresa e não foram poupados esforços para que isso ocorresse.
341
6. CONCLUSÃO
6.1. Análise comparativa das respostas
A Figura 6.1 resume a classificação, por tipo de resposta aos desafios, para
cada uma das empresas, dividida por fases de análise:
Figura 6.1 – Resumo da análise das respostas aos desafios
O resumo exposto na Figura 6.1 foi uma interpretação a partir dos fatos e
depoimentos colhidos. É importante salientar que uma empresa pode ter obtido a
avaliação "forte" em um determinado período tendo apresentado respostas fracas e
fortes. Na avaliação final, prevaleceu a resposta mais marcante, cujas conseqüências
foram notadas em períodos posteriores.
Dessa forma, se em um mesmo período uma empresa passou por uma situação
de crise, mas conseguiu se recuperar e evoluiu a partir do quadro de emergência,
essa dinâmica não estaria expressa na representação gráfica ou mesmo na
classificação final das respostas relacionadas com um dos desafios.
Esse foi o caso da Americanas na Fase 6 (1994 a 2004). Até 1996, a empresa
enfrentou situações de risco e problemas internos, com a divisão estratégica
342
"conveniência x supermercados" e planos de crescimento mais ambiciosos do que
poderiam ser implantados pela empresa. Assim, em 1997, a empresa caminhava para
a autodestruição. Mas suas respostas, a partir deste ano, prevaleceram sobre os
problemas enfrentados e a constância com que novos desafios foram ultrapassados
indicaram um fortalecimento da sua estrutura, um foco maior em conveniência e a
busca de sinergia entre as novas atividades.
Sendo assim, para cada empresa, foram selecionados eventos que
representassem o conceito de decisões críticas proposto por Selznick (1957). As
decisões críticas são as que definem o “caráter organizacional” e, dessa forma, afetam
a capacidade de a organização controlar o seu próprio futuro.
6.1.1. Decisões Críticas – Mesbla
a) Adoção de um modelo descentralizado (Década de 1930 / 1940)
Uma limitação do ambiente fez com que a Mesbla, desde o princípio de sua
existência, adotasse um modelo descentralizado de representação de vendas, com
grande valorização da autonomia. Esse modelo evoluiu, posteriormente, para a figura
do vendedor-viajante. Apesar dos esforços de coordenação de Louis La Saigne, essa
caracterís tica seria perpetuada por toda a história da organização.
b) Migração para o varejo (1952)
Esta decisão modificou bastante o perfil da empresa, tendo sido “lenta e
dolorosa”, segundo relatos, aparentemente interferindo na integridade da firma.
Inicialmente era mais uma diversificação da empresa, posteriormente se tornou o
caminho definitivo. A autonomia agora se dava nas figuras do gerente de loja e do
comprador.
c) Sucessão familiar (1961, 1968 e 1977)
Aparentemente, a estrutura do poder decisório se tornou concentrada em poucos
membros, pertencentes ao círculo de atenção da Família De Botton. Durante o estudo,
foi colhida a opinião de um consultor que havia trabalhado com o corpo diretivo da
Mesbla e a percepção era que decisões estratégicas eram tomadas com base nas
opiniões de Henrique e André de Botton. Simon (1979) analisou o comportamento
administrativo e concluiu que as decisões do administrador não podem ser
343
cientificamente avaliadas, uma vez que a racionalidade em cada alternativa
selecionada está sujeita ao sistema de valores sob o qual esta decisão foi tomada.
Entretanto, o autor constatou que a utilização de diversas fontes de informação,
representadas pelo processo de decisão em grupo, reduz o viés em cada evento
decisório. “Ao exercer autoridade, o superior não procura convencer o subordinado,
mas visa apenas obter sua aquiescência. Na realidade, pode-se dizer que na prática a
autoridade mistura-se com a sugestão e a persuasão” (SIMON, 1979). A concentração
do poder decisório parece ter tido papel importante na trajetória da Mesbla.
d) Descontinuidade do atacado e criação de estrutura divisional (1972)
Mais um período de instabilidade na organização. A estrutura divisional
perpetuou o modelo de gestão descentralizado, com o início da formação de um
conglomerado comercial.
e) Preparação de um grande plano de expansão (1979)
A Mesbla quase duplicou o número de funcionários, entre 1979 e 1980. Esses
recursos foram sendo alocados nas lojas que iam sendo inauguradas (a área de
vendas, em 1982, era 100% superior à de 1979) e nos diversos ramos de negócios em
que a Mesbla ingressava. Essa expansão comprometeu recursos e trouxe a
necessidade de uma nova estrutura organizacional. Além disso, a empresa jamais
havia realizado uma grande expansão, sua trajetória de crescimento havia sido lenta e
gradual.
f) Criação da estrutura de Holding (1979-1985)
A Mesbla classificou sua nova estrutura como holding, pois um órgão central era
responsável pelas diretrizes estratégicas. Na prática, a Holding institucionalizou a
separação divisional, pois as unidades de negócio tinham autonomia para suas ações.
Uma vez estabelecidas as “ilhas”, o gerenciamento era responsabilidade do gestor da
divisão. O modelo fragmentado e autônomo estava oficializado.
g) Diversificação agressiva e gestão por modelo de portfólio de negócios (1980-
1991)
A estrutura divisional, com uma fraca atuação corporativa, expandiu-se na
década de 1980, quando a Mesbla ingressou no ramo de lojas especializadas,
344
alimentos e serviços financeiros. A Mesbla tornou-se, pela primeira vez na sua história,
uma empresa agressiva em investimentos. As análises de resultados, presentes nos
Relatórios Anuais, repetiam a cada ano que o fraco desempenho de uma determinada
unidade era compensado pelo bom desempenho de outra. Não houve evidência de
ações preventivas para aumento de rentabilidade de unidades deficitárias. Os
depoimentos colhidos sugerem a criação de unidades de negócio por razões familiares
(Mesbla Náutica) e de amizade (Lojas Especializadas), mas não há evidências
suficientes para afirmar que esses foram os principais motivadores das decisões. Foi
verificado que até 1991 não existiram ações para descontinuar negócios que não
atingiam um determinado nível de rentabilidade pré-definido. A gestão e avaliação
financeira de cada negócio era, aparentemente, muito deficiente.
h) Manteve compromisso de crescimento em ambiente instável (1987 a 1990)
Neste quadro onde havia pouca integração entre as divisões da empresa, muita
autonomia e controle ineficiente, a avaliação dos riscos do crescimento ficava bastante
prejudicada. O comportamento agressivo, de 1987 a 1990, foi uma repetição do que
acontecera entre 1979 e 1982. A má avaliação dos riscos de se possuir (1) uma
estrutura onerosa; (2) fracos mecanismos de controle; (3) fracos mecanismos de
integração; (4) operações complexas; (5) investimentos em um ambiente instável; e (6)
pouca adaptabilidade a mudanças fez com que a Mesbla assumisse compromissos
que não seria capaz de cumprir.
i) Tentativa de reestruturação sem os recursos apropriados (1991 a 1995)
A direção da Mesbla, diante da crise de 1990-1991, não sofreu alterações até
1992. Mesmo depois, os executivos que tentaram recuperar a empresa foram os
mesmos que participaram do seu crescimento na década de 1980. A estrutura de topo
da empresa (“o André não conseguiu resolver com o quadro de pessoas que ele tinha” 69) estava comprometida com um modelo de gestão que não se aplicava mais. Era
necessária uma alteração radical, que ocorreu tardiamente em 1994.
A demissão de 8.000 empregados em 1990 quebrou uma relação de confiança,
justamente com os funcionários que estavam presentes no dia-a-dia da empresa, na
linha de frente. Essa relação havia sido construída sobre um passado de crescimento
69 Depoimento do Entrevistado 4
345
lento, onde não faltava nada aos funcionários: capacitação, benefícios, colônias de
férias, bons salários e poucas demissões.
6.1.2. Decisões Críticas – Lojas Americanas
a) Após falência de 1932, assume postura moderada de crescimento e realiza
abertura de capital
A rede varejista, nos seus primeiros oitenta anos, manteve uma postura
moderada de crescimento. O modelo adotado valorizava a autonomia dos gerentes de
loja e era pouco científico. Quando um gerente de loja mudava de localização, tentava
replicar o sucesso anterior no novo estabelecimento.
b) Valoriza a transparência na relação com os acionistas e o rótulo “exemplo de
democratização de capital”
Apesar de possuir um conselho de administração com membros das famílias dos
fundadores, a Americanas considerava-se um exemplo de democratização de capital,
pelo fato de "nenhuma pessoa jurídica possuir mais de 5% do total das ações". A
empresa valia-se dessa característica para ressaltar sua política de boas relações com
o mercado.
c) Acionistas do Grupo Garantia assumem o controle e trabalham para
implantar nova filosofia (1981-1985)
Aproveitando-se justamente da pulverização do capital votante, os acionistas do
Grupo Garantia assumiram o controle da empresa. Imediatamente romperam valores
estabelecidos, passaram a ter uma gestão mais atuante, iniciaram a mudança do perfil
de funcionários, adotaram Wal-Mart como benchmarking e implantaram sistema de
remuneração por resultado. Esse movimento está exposto na Figura 6.1 com o
fortalecimento das iniciativas de integração e coordenação durante a Fase 4.
d) Estabelece foco em performance, informalidade e melhoria das operações
das lojas (1985-1996)
Iniciou um sistemático trabalho de aprendizado sobre o segmento de atuação da
Lojas Americanas, com a introdução de métodos científicos e matemáticos. Contratou
especialistas em sortimento e criou uma cultura varejista própria, herdando valores
346
presentes nas empresas do Grupo Garantia. Transferiu poder e autonomia dos
gerentes de lojas para o Departamento de Operações Comerciais (Compras) e
implantou um sistema de avaliação e remuneração que favorecia a integridade da
firma. Mantinha o controle da equipe de compradores através de uma rigorosa gestão
financeira. Em resumo, a nova direção alterou a forma de gerir o negócio baseando-se
nas práticas utilizadas em bancos de investimentos.
e) Cancelou investimentos ambiciosos sempre que o ambiente era instável
(1987 e 1990)
Somente após estruturar métodos de controle e operação, a Lojas Americanas
iniciou sua expansão, assumindo riscos compatíveis com a sua capacidade
operacional. Os ganhos financeiros, até 1989, garantiam uma segurança ao giro das
operações.
f) Perde foco em conveniência e intensifica crescimento (1992-1996)
A complexidade das lojas “supermercados”, o investimento na Wal-Mart Brasil e
o crescimento acelerado feriram a capacidade de gerenciamento e integridade da
firma, tornando o modelo inapropriado para o ambiente brasileiro. Os ganhos
financeiros foram reduzidos, por determinações do ambiente. A Americanas enfrentou
um sério risco financeiro entre 1996 e 1997 pois suas operações seriam incapazes de
sustentar um modelo descentralizado de comercialização. A ambição exagerada e o
choque "supermercados x conveniência" fizeram com que a empresa saísse do rumo
que estava traçando.
g) Institucionaliza foco em performance, prioriza conveniência e melhoria das
operações da rede logística (1996-2004)
Americanas assumiu uma postura “mudar ou morrer”. Trocou executivos e
trabalhou na construção de uma cultura de operações logísticas. Descontinuou todos
os negócios não relacionados com as lojas de desconto de conveniência, captou os
recursos necessários para sua reestruturação, implantou mecanismos mais apurados
de avaliação de performance (EVA), recuperou a credibilidade de investidores e
remunerou funcionários e acionistas quando atingiu resultados positivos. A Lojas
Americanas trabalhou ativamente em direção à longevidade saudável do seu
empreendimento.
347
6.1.3. Comparação das decisões críticas
As respostas aos desafios, sob a forma de decisões críticas, foram avaliadas
caso a caso, de acordo com a situação que melhor reproduzia o ambiente decisório no
momento analisado. Esta etapa tentou identificar, em uma perspectiva histórica e
institucional, como estas respostas diferiram para a Mesbla e Lojas Americanas.
Existiam diferenças nos modelos de negócio de cada uma delas, mas alguns aspectos
da gestão de ambas puderam ser colocados frente à frente.
6.1.3.1. Serviços Empreendedores
Ambição e Capacidade de Julgamento: ambas as empresas tiveram metas
ambiciosas, em momentos diferentes. Até meados dos anos 70, com o crescimento da
população urbana e a presença de poucos competidores diretos, as duas companhias
seguiram uma trajetória lenta e gradual de crescimento. A Mesbla, entre 1979 e 1985,
empreendeu uma expansão muito grande nos seus negócios. Essa expansão,
considerada um sucesso, fez com que os planos para a década de 1990 continuassem
da mesma forma. Ou seja, sugere-se que o sucesso e compromissos do passado
tenham influenciado a capacidade de julgamento da direção da empresa. A gestão por
um modelo de portfólio de negócios acabou por permitir prejuízos consecutivos de
algumas divisões, sem que nenhuma decisão radical fosse verificada. A Lojas
Americanas, por sua vez, sob nova direção, em 1981, cancelou investimentos que
poderiam comprometer a saúde financeira da empresa, como a sede na Barra da
Tijuca. A companhia passou a ter metas mais ambiciosas somente a partir de 1992,
quando os ajustes considerados necessários pela nova direção já estavam em
funcionamento. Antes disso, apesar de imprimir um ritmo mais ousado no crescimento
da cadeia de lojas, as metas não eram tão ambiciosas quanto se tornaram
posteriormente. O plano “200 lojas no ano 2000”, entre 1995 e 1996, poderia ter
colocado a longevidade da empresa em risco. Ao contrário da Mesbla, a direção
conseguiu evitar a sua continuidade, substituindo imediatamente a direção de topo da
empresa. Foram colhidas evidências de que a Lojas Americanas realizava projetos-
piloto, em uma freqüência maior do que a Mesbla, e isso ajudava a melhorar a
capacidade de julgamento de um novo negócio.
Criatividade / Visão / Imaginação: a Mesbla, na primeira fase de sua história,
enfrentou os problemas ligados às limitações do ambiente (comunicações incipientes,
348
Guerras Mundiais, expansão nacional) com bastante competência. A autonomia
conferida aos vendedores-viajantes garantia a obtenção de novos negócios e
consolidação da marca. A mudança para o varejo também foi uma forma de fugir de
uma limitação do ambiente que levaria ao provável fim do atacado. Já nas décadas de
1970 e 1980 a empresa efetuou expansões para segmentos que estavam sendo
ocupados por competidores, uma vez que o mercado brasileiro estava se tornando
cada vez mais atrativo. No setor de shopping centers, por exemplo, a Mesbla não foi
uma primeira entrante. Quando passou a sofrer concorrência das butiques destes
shoppings, abriu lojas especializadas, dispersando o foco do seu empreendimento
principal. Dessa forma, as soluções encontradas pela diretoria, não foram versáteis o
suficiente para promover vantagens competitivas para a empresa. No caso da Lojas
Americanas, percebe-se uma orientação à inovação, na primeira fase da sua história.
A partir da entrada dos acionistas do Garantia, nota-se uma preocupação em se
comparar as práticas da empresa com benchmarkings do setor, como o Wal-Mart. Isso
significou um comportamento com poucas inovações até 1999, quando implantou um
sistema de distribuição considerado indispensável para o empreendimento. Antes
disso, porém, a empresa buscou melhorar o seu sortimento. Esse processo permitiu à
empresa conquistar um mercado que estava ao seu alcance, mas nunca fora
dominado: os produtos sem diferenciação. Quando esses ganhos atingiram níveis que
proporcionavam apenas aumentos incrementais, a Americanas efetuou a entrada no
ramo de supermercados, buscando impulsionar o seu faturamento. Esse acabou
sendo um empreendimento frustrado, porque a empresa tinha know-how em
conveniência, não em supermercados, mas mostrou a constante busca por novas
oportunidades. Posteriormente, percebe-se, com a criação da Americanas.com e das
Lojas Americanas Express, que a companhia passou a buscar um aumento do tíquete
médio, com variações do seu modelo de conveniência.
Fund-raising: tanto a Mesbla quanto a Lojas Americanas tinham ações na bolsa e
isso conferia uma boa fonte de recursos para as duas empresas. Entretanto, algumas
diferenças foram notadamente fundamentais para o destino das duas companhias. Em
primeiro lugar, os acionistas do Garantia, como gestores de um banco de
investimentos, tinham acesso ao mercado de capitais e alternativas de investimentos.
Seus administradores eram empresários de prestígio no mundo de negócios e
possuíam uma carteira de empresas brasileiras. Quando a Lojas Americanas
necessitou dos recursos para reconstruir suas operações, entre 1998 e 2000, a
capacidade de obtê-los aparentemente foi alavancada pela credibilidade possuída
349
pelos os acionistas do Garantia. No caso da Mesbla, a situação foi diferente. O
mercado interpretava a gestão “familiar” da empresa como uma ameaça, segundo
publicações da época. Tanto que, em 1994 e 1995, quando os rumores da concordata
ficaram mais fortes, os grupos internacionais interessados na compra da empresa
exigiam a saída de André de Botton do comando do empreendimento. Da mesma
forma, os grupos nacionais evitaram acordos com a Mesbla, o que parece ser um sinal
de que os administradores da companhia não tinham mais credibilidade para honrar
compromissos futuros.
6.1.3.2. Motivação do Crescimento
Para analisar os movimentos de expansão das duas empresas, o Gráfico 6.1,
que compara a produtividade das duas firmas, foi traçado:
Mesbla e Lasa - Produtividade
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
1958
1959
1960
1961
1962
1963
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
% (R
ecei
ta B
ruta
/ P
IB)
/ Núm
ero
de F
unci
onár
ios
Lojas Americanas Mesbla
Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5 Fase 6
Gráfico 6.1 – Produtividade: Mesbla x Lojas Americanas
É interessante notar que até 1985 a produtividade da Mesbla foi superior à da
Lojas Americanas, embora apresentasse uma queda superior à da empresa
concorrente. De 1979 a 1985 a Mesbla empreendeu seu processo de diversificação
enquanto que, a partir de 1981, a Americanas estabeleceu um processo contínuo de
melhoria de operações.
Outro ponto importante foi o crescimento da cadeia de lojas de cada companhia.
A Mesbla efetuou a abertura de lojas com maior intensidade no período de 1979 a
1985, conforme Gráfico 6.2. A Americanas efetuou uma expansão mais acelerada a
350
partir de 1985. Associada à melhoria do sortimento, essa expansão proporcionou
efetivos ganhos na sua produtividade.
Mesbla e Lasa - Número de Lojas de Departamento
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1965
1966
1967
1968
1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Ano
Núm
ero
de L
ojas
Lojas Americanas Mesbla
Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5 Fase 6
Gráfico 6.2 – Número de Lojas de Departamento: Mesbla x Lojas Americanas
A produtividade, entretanto, não pode ser analisada separadamente do
desempenho, representado no Gráfico 6.3.
Mesbla e Lasa - Performance
-0,10%
-0,08%
-0,06%
-0,04%
-0,02%
0,00%
0,02%
0,04%
0,06%
0,08%
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
Ano
% L
ucro
Líq
uido
/ P
IB
Lojas Americanas Mesbla
Fase 2 Fase 3 Fase 4 Fase 5 Fase 6
Gráfico 6.3 – Performance: Mesbla x Lojas Americanas
É interessante verificar que o desempenho dos dois empreendimentos era muito
semelhante. A diferença era que enquanto a Mesbla precisava administrar um
351
conjunto de negócios, a Lojas Americanas tinha um foco maior. O Quadro 6.1
relaciona as expansões das empresas:
Motivação das Expansões Mesbla Lojas Americanas
Produtiva ou Híbrida 1ª Fase: expansão da linha de carros
importados; expansão escritórios de
representação; expansão dos produtos
importados (aviões).
2ª Fase: centraliza departamento de
compras; privilegia itens de maior giro.
3ª Fase: expansão cadeia de lojas.
4ª Fase: expande linha soft; marcas
próprias; lojas em shopping centers
5ª Fase: expansão cadeia de lojas.
6ª Fase: foco em itens onde a empresa
tinha maior participação; expansão da
cadeia em shoppings .
1ª Fase: expansão da rede de lojas.
2ª Fase: expansão da rede de lojas.
3ª Fase: expansão da rede de lojas.
4ª Fase: expansão da rede de lojas;
lojas em shopping centers ; centraliza
estoques.
5ª Fase: Strip Centers; expansão
rede de lojas e Facilita; importados
mais peso no sortimento.
6ª Fase: foco em vestuário; instala
três centros de distribuição; cria
Americanas.com; expande rede de
lojas.
Defensiva 1ª Fase: diversifica produtos durante
guerras; oficinas; Banco Mesbla.
2ª Fase: ingresso no varejo;
Exportbrás; Credi-Mesbla.
3ª Fase: Cartão Mesbla; Central de
Propaganda.
4ª Fase: vendas por consórcios;
expande estrutura de distribuição;
Financiadora Mesbla; Mesbla Motos;
Lojas Especializadas; Provarejo;
fábrica componentes.
5ª Fase: amplia crédito ao consumidor;
aumenta cadeias de lojas
especializadas; Mesbla Corretora de
Seguros; Provenda.
6ª Fase: importados como forma de
melhorar giro; vendas de carros à
domicílio.
1ª Fase: N/A
2ª Fase: novo depósito SP.
3ª Fase: ampliação depósitos RJ e
SP.
4ª Fase: Facilita; novo depósito SP;
Tecnologia do Varejo; Direta
Propaganda.
5ª Fase: Só Brinquedos; Mais por
Menos; supermercados; cartão de
crédito.
6ª Fase: Lojas Express;
Teleamericanas; Smart-Club.
Nula 1ª Fase: fábrica Switlik; Restaurante
Mesbla.
2ª Fase: N/A
3ª Fase: Gráfica Verbo; Mesblatur.
4ª Fase: VT Center; Mesbla Náutica;
Trading Company.
5ª Fase: STA; Makro.
6ª Fase: N/A
1ª Fase: lanchonetes.
2ª Fase: N/A
3ª Fase: N/A
4ª Fase: Lasa Corretora de Seguros;
LASA Amazônia S/A.
5ª Fase: N/A
6ª Fase: investimento no Wal-Mart.
Quadro 6.1 – Expansões: Mesbla x Lojas Americanas
352
A perda de rentabilidade e produtividade na Fase 4 da Mesbla pode ser atribuída
ao comprometimento de recursos com o seu vigoroso processo de diversificação.
Houve uma concentração de atividades classificadas como expansão Nula nesse
período. A Americanas, por sua vez, concentrou suas ações entre movimentos
produtivos e defensivos, priorizando os ganhos de escala, embora expansões não
relacionadas tenham sido encontradas.
6.1.3.3. Gestão de Mudança
A análise do mercado varejista indicou que, a despeito do desenvolvimento de
técnicas para a melhoria de sortimento e entendimento do comportamento do
consumidor, as empresas varejistas em geral são usuárias de avanços tecnológicos.
São pequenas as chances de elas mesmas desenvolverem uma nova tecnologia.
Normalmente, as inovações relacionadas com os métodos de venda, logística de
operações e financiamento podem ser copiadas pelos concorrentes. Dessa forma,
tornou-se difícil para cada uma delas influenciar o ambiente onde estavam inseridas.
Entretanto, na primeira fase da vida de cada uma delas, as empresas realizaram
uma gestão ativa, introduzindo inovações (no caso da Americanas) e incentivando o
consumo de seus produtos (no caso da Mesbla).
Com o passar do tempo, e crescimento do número de competidores, as
vantagens comparativas diminuíram e a influência ao ambiente só foi novamente
verificada na década de 1970, quando ambas impulsionaram o setor de Shopping
Centers.
Em relação ao monitoramento do ambiente externo, a leitura dos documentos
oficiais e relatos apontaram que a Mesbla efetuava uma leitura do ambiente muito
ativa, mas não transformava em ações apropriadas de adaptação, principalmente em
momentos de crise. A Americanas, embora não registrasse em seus relatórios anuais
a impressão da diretoria em relação ao ambiente, mostrou-se proativa, tentando
buscar eficiência para enfrentar problemas que pudessem ocorrer.
6.1.3.4. Gestão de Diversidade
Tanto a Mesbla quanto a Lojas Americanas exaltavam a autonomia de seus
funcionários. A Mesbla com seus vendedores-viajantes e, posteriormente, seus
353
compradores e a Lojas Americanas com seus gerentes de lojas e, posteriormente,
seus compradores.
A princípio, parece haver convergência nas respostas das duas empresas a esse
desafio. Na verdade, pelo fato de a Mesbla ter assumido uma estrutura funcional, a
heterogeneidade das operações foi bastante ressaltada, fato que impedia ganhos de
escala, como no exemplo citado dos sistemas de informática: cada divisão tinha o seu
padrão.
Na Americanas o poder do gerente de lojas, uma ameaça à integridade
organizacional, foi sendo paulatinamente passado para os compradores, que recebiam
um direcionamento claro por parte da diretoria.
Outro fator importante foi a constância com que a Lojas Americanas trabalhou a
sua imagem, após a aquisição pelo Garantia. O espelhamento nas operações da Wal-
Mart, a ação dos executivos, próxima do dia-a-dia e a austeridade das operações se
tornaram marca registrada. Assim como se tornou marca da empresa a sua política de
preços baixos e repasse de qualquer ganho para o cliente.
A Mesbla proporcionou benefícios e bons salários aos seus funcionários e
sempre cultivou a imagem de diferenciação junto à clientela. A crise dos anos 90,
entretanto, obrigou a empresa a demitir um grande número de funcionários, algo que
jamais havia ocorrido. Além disso, a companhia precisou mudar seu foco, oferecendo
produtos mais baratos, para classes diferentes das que eram atendidas anteriormente.
Essa perda de identidade se refletiu também na forma como os seus próprios
funcionários percebiam a Mesbla.
6.1.3.5. Gestão de Complexidade
A Lojas Americanas iniciou a instalação dos seus primeiros sistemas
informatizados em meados da década de 1960. A Mesbla efetuou um movimento
similar no mesmo período. Ou seja, ambas estavam agindo simultaneamente no
processo de informatização do processamento de dados.
Na década de 1980, a Mesbla assumiu um importante papel de incentivo à
microinformática, mas seus esforços foram minados pelas limitações impostas pela
reserva de mercado e pela Secretaria Especial de Informática. As evidências colhidas
mostraram que os processos de informatização acabavam sempre parcialmente
354
implantados e que a STA, firma da empresa especializada em processamento de
dados, não conseguia prover a organização com informações gerenciais apropriadas a
partir dos dados colhidos.
A Lojas Americanas, por sua vez, assumiu uma postura de seguir tendências e
implantou PDVs eletrônicos somente em meados da década de 1990. Não foram
colhidas evidências de que tenha realizado investimentos infrutíferos, como a empresa
rival.
Quanto ao aprendizado, parte importante do desafio de Gestão de
Complexidade, percebeu-se que o esforço de informatização da Lojas Americanas
serviu como mola propulsora de um processo de contínua melhoria do sortimento.
Com os sistemas de compra centralizados e um melhor controle da estrutura de
distribuição, a Lojas Americanas passou a gerenciar de uma forma melhor os itens
anunciados em encartes, por exemplo. Não foram colhidas evidências de que o
processo de automação comercial por parte da Mesbla tenha gerado os ganhos
esperados. Ao contrário, os depoimentos indicam que a intuição e as comunicações
informais continuavam prevalecendo sobre os processos formais .
6.1.3.6. Provisão de Recursos Gerenciais
A Mesbla foi realmente uma boa escola para os profissionais que nela
trabalharam? Os fatos indicaram uma preocupação muito grande com o desafio de
provisionamento de recursos gerenciais. A empresa tinha um programa de estágio
formal antes de a Lojas Americanas efetivá-lo; existia o programa de trainees; os
cursos existiam e eram abundantes; André de Botton estimulava o aprendizado por
parte dos seus funcionários. Hoje, existem muitos ex-executivos ou ex-compradores
da Mesbla como donos de negócios ou ocupando cargos executivos em firmas do
varejo como City Shoes e Richards. O fato era que a empresa, com a autonomia
concedida aos executivos, proporcionava um crescimento profissional e pessoal que
outras firmas não conseguiam oferecer.
O problema foi que no momento de crise, a empresa não alocou os recursos
necessários para realizar alterações drásticas nas operações das empresas. André de
Botton havia sido preparado para dirigir a empresa, não para reestruturá-la.
355
No caso da Lojas Americanas, após a tomada de controle por sócios do
Garantia, percebeu-se uma preocupação em alocar os recursos gerenciais para cada
situação. A contratação de José Paulo Amaral, por exemplo, foi fundamental para o
processo de melhoria de sortimento; posteriormente, Cláudio Galeazzi conseguiu
promover a reestruturação necessária; atualmente, Miguel Gutierrez é um profissional
de operações no posto mais alto de uma firma que necessita de uma grande eficiência
do seu processo de distribuição.
Antes disso, porém, a empresa renovou o quadro de compradores e executivos,
instaurando uma nova cultura, voltada para performance. Esse processo fez com que
práticas matemáticas de previsão de demanda fossem implantadas na companhia,
melhorando o controle e formando um perfil de profissional necessário para o trabalho
na empresa.
6.2. Conclusões gerais
A realização de um estudo estratégico comparativo entre duas empresas
contemporâneas foi uma oportunidade para entender pontos de vista e reações
distintas, baseados na percepção de diferentes gestores sobre o mesmo ambiente.
Os casos Mesbla e Lojas Americanas podem contribuir para o entendimento da
influência do ambiente sobre as organizações, seja por ações políticas, seja por ações
econômicas. O que tornou os destinos das empresas tão diferentes não foi o fato de
reconhecerem as adversidades causadas pela instabilidade política, mas sim as
reações que cada uma das firmas poderia realizar. Por ter iniciado uma administração
nova que valorizava a racionalidade e métodos sistemáticos em 1981, a Lojas
Americanas pôde agregar uma dinâmica de aprendizado das suas operações, que se
perpetuou mesmo em momentos de crise. Na Mesbla, com uma história de 80 anos e
compromissos com a autonomia e informalidade, controle e integridade foram
relegados a um segundo plano, tornando o aprendizado mais difícil para a
organização. Ou seja, a Mesbla reduziu suas possibilidades de respostas a partir de
compromissos assumidos em períodos anteriores.
É importante entender “compromissos” como resultado de um longo processo
institucional pelo qual uma organização passou, moldado pelos eventos críticos
vivenciados por ela. No momento em que necessitava gerir uma situação de crise, sua
gestão não pôde realizar as alterações necessárias. Os compromissos envolviam a
356
autonomia, a fragmentação, os fracos mecanismos de controle e a “cegueira”
ocasionada pelo sucesso de períodos anteriores.
A Lojas Americanas, por sua vez, esteve próxima de um processo semelhante
até 1981, pois a organização adquirida pelos sócios do Garantia pecava pela ausência
de racionalização de suas operações. O grande mérito dos novos donos foi, a partir de
um modelo descentralizado, conseguir aproveitar efetivamente os ganhos de escopo e
escala. A Americanas, com sua rede de lojas espalhadas por todo o país, poderia
obter um grande poder de barganha frente a diversos fornecedores, desde que fossem
aprimoradas as práticas de comercialização.
O processo de melhoria da operação comercial estimulado pelos novos
controladores produziu um efeito positivo: os funcionários que se envolviam nos
projetos de melhoria descobriam novas oportunidades de aprimoramento operacional.
Na medida em que o trabalho de sortimento foi sendo realizado, novas descobertas
foram sendo realizadas e o processo comercial foi sendo paulatinamente melhorado. A
introdução de um sistema de avaliação por performance mostrou a influência dos
sócios de um banco de investimentos em um empreendimento comercial.
Mas nem mesmo o fato de terem atingido uma boa operação comercial fez com
que não tivessem problemas. Nesse ponto, mais uma vez citando a ausência de
compromisso com o passado, a solução foi a substituição da diretoria e reestruturação
radical do empreendimento.
Foi interessante comparar empresas tão distintas. Enquanto na Mesbla eram
visíveis as aplicações de métodos de gestão como o portfólio de negócios e a
segmentação de mercado, na Americanas o processo foi mais artesanal, sendo
moldado na medida em que especificidades da operação iam sendo conhecidas.
6.3. Limitações do estudo
Este estudo efetuou a aplicação de um modelo ainda em construção, os
arquétipos de sucesso e fracasso organizacional (Fleck, 2005). Apesar de
proporcionar um framework apropriado para o estudo de gestão estratégica, alguns
fatores tornaram o trabalho mais desafiador.
Em primeiro lugar, a dificuldade em se estabelecer uma escala de avaliação para
cada desafio. Foi utilizada uma escala de três níveis: alto, médio e fraco. Em
357
determinados momentos da avaliação percebeu-se que o interessante seria
estabelecer cinco níveis. Escala entre a autodestruição e a autoperpetuação deve
possuir mais pontos intermediários, para que o movimento para cada um dos pólos
seja efetivamente percebido. No presente estudo, por exemplo, houve uma grande
concentração de classificações no pólo indefinido, o que obviamente prejudica a
análise. Caso mais dois níveis tivessem sido convencionados, talvez a variação de
uma empresa entre os dois pólos poderia ser notada de uma forma melhor.
Outro ponto que precisa ser aprimorado é justamente a resultante das diversas
ações dentro de um mesmo desafio. Para o desafio de Motivação do Crescimento, por
exemplo, em muitas ocasiões foram verificados movimentos produtivos, defensivos e
nulos, em um mesmo período. A resultante acabou sendo a soma “qualitativa” de cada
uma das respostas, levando em consideração os fatores do ambiente. Estudos futuros
devem estabelecer pesos, não somente para as respostas aos desafios, mas também
à influência do ambiente.
Por fim, qual o peso de cada desafio em cada fase analisada? Se o ambiente
institucional sofre alterações, é alterado também o grau de dificuldade de cada desafio
para as empresas. Em um período inicial da empresa, por exemplo, os serviços
empreendedores devem contar mais do que a gestão de complexidade, uma vez que
as operações estão apenas se iniciando? Essa análise foi realizada de forma
qualitativa, mas é necessário estabelecer formas quantitativas de mensuração da
importância de cada desafio e da influência do ambiente nas respostas
organizacionais.
6.4. Questionamentos e sugestões para novos estudos
Os casos explorados por este estudo contemplaram duas redes de varejo que
conviveram com um dos ambientes empresariais mais instáveis da história brasileira.
Apenas uma delas sobreviveu. Alguns questionamentos foram levantados a respeito
dos dois casos, que devem ser devidamente explorados em estudos futuros:
a) Para crescer no mercado varejista ou em atividades de margens reduzidas, os
desafios da integridade organizacional devem ser trabalhados de uma forma
mais elaborada do que os desafios do crescimento contínuo?
358
O questionamento levantado surgiu do fato de que, na maioria dos casos, a
competição no setor varejista está ligada ao ganho de escala e melhoria da logística
das operações. O modelo de vendas pode ser imitado, pois não há proteção industrial
para as técnicas empregadas. As margens são baixas, ou seja, qualquer deslize pode
colocar a organização em risco.
A Wal-Mart, por exemplo, tem como diferencial a sua estrutura logística e
integração entre toda sua cadeia de suprimentos. Esse diferencial é, com certeza,
difícil de ser imitado e garante um maior giro de mercadorias à companhia. A
organização desse sistema está diretamente relacionada com os desafios de controle
e integridade, pois há uma massiva preocupação com a manutenção de uma cultura
de austeridade, controle e de solução sistemática de problemas.
A Americanas tentou em 1980 e 1996, sob a administração antiga e nova,
respectivamente, realizar a expansão da rede sem os adequados mecanismos de
controle e operacionais. No primeiro caso a posição financeira da firma foi deteriorada
e em 1996 determinou-se a completa reestruturação da logística.
Para o caso Mesbla, percebeu-se que a empresa esmerou-se nos desafios do
crescimento contínuo, com poucas evidências de que tenha trabalhado as dimensões
da integridade organizacional. Aparentemente, essa foi uma das razões para sua
derrocada.
b) Para uma empresa de gestão familiar, em um ramo que oferece pequenas
margens e exige rápida adaptação, os riscos do crescimento são maiores?
As evidências indicam que a gestão familiar, no caso da Mesbla, pode ter
influenciado suas decisões no momento de crise. Entretanto, sugere-se que o sucesso
de um empreendimento tenha uma relação maior com a capacidade de o gestor definir
uma sistemática que reduza a influência do viés pessoal. A introdução de
procedimentos sistemáticos de análise de oportunidades e resultados deve ocorrer em
conjunto com um processo de crescimento que crie os mecanismos apropriados de
manutenção da integridade organizacional.
Dessa forma, não é possível indicar que a gestão familiar, em si, foi uma das
responsáveis pela queda da Mesbla, mas sim as relações formadas ao longo da
história da empresa e a organização das unidades de negócio. Os fracos mecanismos
359
de controle e a fragmentação minavam as possibilidades de o aprendizado se
perpetuar por toda a organização. Estudos futuros devem também analisar a influência
da gestão familiar em empreendimentos de sucesso.
c) Quais os desafios atuais e futuros para a Lojas Americanas?
A análise indicou que a Lojas Americanas trilhou um caminho em direção à
autoperpetuação. Esse caminho não garante que o futuro da companhia será
desprovido de desafios à sua longevidade saudável. Alguns pontos de atenção foram
selecionados, como possíveis temas de estudos futuros.
Primeiramente, o ambiente varejista nacional apresenta particularidades como o
comércio informal e os produtos "pirata". A Americanas, por ser uma empresa de
capital aberto e possuir uma operação de proporção nacional, estará concorrendo com
comerciantes que não pagam impostos e praticam formas ilícitas de comercialização.
Ainda que não seja possível para a empresa coibir este tipo de prática, seria no
mínimo interessante que passasse a apoiar campanhas contra pirataria e sonegação
de impostos. Como a maior rede vendedora de compact discs, por exemplo, a
opressão à pirataria só traria vantagens à Americanas. Na verdade, essa iniciativa
estaria procurando aprimorar a capacidade da empresa influenciar o ambiente onde
está inserida. A análise da trajetória trouxe à tona uma grande dificuldade de as
empresas do varejo influenciarem o ambiente de forma a obterem vantagens
competitivas para si.
Outra questão importante é que redes de varejo internacional estão
definitivamente operando no território brasileiro. A própria Wal-Mart, após uma
fracassada tentativa de entrada no Brasil, está apostando na compra de pequenas
redes e ampliando sua base de atuação. Além disso, a empresa pode captar recursos
para investimentos de forma barata através da sua empresa matriz. Não há nenhuma
proteção ao mercado em que a Americanas atua, a empresa deve-se manter fiel à sua
imagem de menores preços e conveniência. Expandir a cadeia de lojas "Express" é
uma defesa interessante, pois essas lojas atingem áreas onde os hipermercados não
conseguem atuar.
Ainda sobre a expansão de lojas menores, cabe um desafio de controle e
coordenação. No ano de 2004, a Americanas realizou a abertura de mais de trinta
lojas, algo jamais realizado pela empresa em um mesmo ano. As lojas são menores
360
do que as tradicionais e indicam que a opção pela conveniência vem realmente
ganhando cada vez mais força. Ao que parece, a companhia preparou-se
operacionalmente para esse salto, mas o desafio seria o constante monitoramento das
atividades das novas lojas de forma a descontinuar operações deficitárias e manter o
crescimento em áreas de maior potencial. A Americanas deve evitar a concorrência
direta aos hipermercados. O foco da companhia, mais do que anteriormente, deve ser
o controle e o tratamento sistemático das informações.
Em dezembro de 2005, rumores indicavam a possível aquisição do grupo Ponto
Frio pela Lojas Americanas, por cerca de R$ 1,5 bilhão (RAMIRO, 2005). Esse
movimento significaria o ingresso da empresa no ramo da linha branca, segmento de
mercado dominado pelas Casas Bahia, empresa que oferece aos seus clientes as
mais diversas opções de financiamento para compras. Como um complemento ao
sortimento de produtos da empresa, o movimento é ambicioso e contempla alguns
riscos. Isso por que o segmento de linha branca exige vultosos investimentos tanto em
estoques quanto em recursos financeiros, para financiamento de vendas a clientes.
Além disso, a rede Ponto Frio vem perdendo força no varejo nacional e será
necessário investir na expansão da rede, reforço da marca e adequação dos
mecanismos de controle.
Concluindo, em um segmento de mercado onde há poucas possibilidades de
defesa, com exceção da escala obtida, a Americanas deve buscar formas de
maximizar o lucro no segmento de mercado onde atua. Isso significa ampliar seu
market-share oferecendo não somente variedade de produtos e preços baixos, mas
também formas para estimular o consumo por parte dos seus clientes, através de
recursos financeiros captados a juros baixos. Além disso, a empresa deve aprimorar
constantemente sua capacidade de controle operacional e manter ênfase em
performance, fatores que podem ajudar a fortalecer uma marca construída desde
1929.
d) O modelo de Arquétipos de Sucesso e Fracasso Organizacional (2005) é
apropriado para o estudo estratégico?
A utilização dos arquétipos propostos por Fleck (2005) como uma forma de
analisar empresas provê uma grande oportunidade para o estudo de administração.
Apoiado em um esforço para reunir informações sobre o passado das corporações, o
361
desenvolvimento da linha de estudo pode auxiliar a identificar quais desafios são mais
determinantes, dependendo do ramo em que uma empresa está inserida.
Sendo assim, uma linha de estudo a ser seguida concentraria a análise de um
determinado conjunto de empresas, com enfoque exclusivo em parte dos desafios,
sejam eles direcionados para o crescimento contínuo, sejam eles direcionados para a
integridade organizacional. Some-se isso à oportunidade de desenvolver uma
quantificação das respostas aos desafios, atribuindo os pesos correspondentes a cada
fator considerado importante para a análise.
Uma outra oportunidade de estudo seria, através de depoimentos de executivos,
entender as motivações para o crescimento. As entrevistas realizadas para o presente
estudo contribuíram de forma muito positiva para evidenciar o fato de que os gestores
levam para a administração das suas empresas muitas de suas características e
convicções pessoais. Assim, sugere-se uma sistemática coleta de depoimentos de
executivos, explorando sua lógica de resposta aos desafios, de forma que seja
possível identificar as reais motivações para o crescimento.
Espera-se que o estudo apresentado tenha contribuído para fortalecer o conjunto
de conceitos relacionados com o crescimento da firma e que possa ter ampliado as
oportunidades de estudo no campo em questão.
362
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31/jan/1981. Rio de Janeiro, 1981.
______. Relatório anual de atividades para o exercício de 30/jan/1981 a
31/jan/1982. Rio de Janeiro, 1982.
______. Relatório anual de atividades para o exercício de 30/jan/1984 a
31/dez/1984. Rio de Janeiro, 1985.
______. Relatório anual de atividades para o exercício de 01/jan/1986 a
31/dez/1986. Rio de Janeiro, 1987.
______. Relatório anual de atividades para o exercício de 01/jan/1987 a
31/dez/1987. Rio de Janeiro, 1988.
______. Relatório anual de atividades para o exercício de 01/jan/1988 a
31/dez/1988. Rio de Janeiro, 1989.
______. Relatório anual de atividades para o exercício de 01/jan/1989 a
31/dez/1989. Rio de Janeiro, 1990.
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31/dez/1990. Rio de Janeiro, 1991.
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31/dez/1991. Rio de Janeiro, 1992.
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7. ANEXOS
Anexo 1 – Histórico das alterações da moeda nacional e fator de conversão para o Real
PLANO ECONÔMICO
MOEDA
VIGENTE
SÍMBOLO
PERÍODO DE
VIGÊNCIA
EQUIVALÊNCIA
- Real R Período colonial até 7/10/1833
R 1$2000 = 1/8 de ouro de 22K.
- Mil Réis Rs 8/10/1833 a 31/10/1942
Rs 2$500 = 1/8 de ouro de 22K.
- Cruzeiro Cr$ 1/11/1942 a 30/11/1964
Cr$ 1,00 = Rs 1$000 (um cruzeiro corresponde a mil-réis)
- Cruzeiro (eliminados os
centavos)
Cr$ 1/12/1964 a 12/02/1967
Cr$ 1 = Cr$ 1,00
- Cruzeiro Novo (volta dos centavos)
NCr$ 13/02/1967 a 14/05/1970
Ncr$ 1,00 = Cr$ 1.000
- Cruzeiro
Cr$ 15/05/1970 a 14/08/1984
Cr$ 1,00 = NCr$ 1,00
- Cruzeiro (eliminados os
centavos)
Cr$ 15/08/1984 a 27/02/1986
Cr$ 1 = Cr$ 1,00
Cruzado I - Fev 86 Cruzado II - Jun 87
Cruzado (volta dos centavos)
Cz$ 28/02/1986 a 15/01/1989
Cz$ 1,00 = Cr$ 1.000
Verão I - Jan 89 Verão II - Maio 89
Cruzado Novo NCz$ 6/01/1989 a 15/03/1990
NCz$ 1,00 = Cz$ 1.000,00
Color I - Mar 90 Color II - Jan 91
Cruzeiro Cr$ 16/03/1990 a 31/07/1993
Cr$ 1,00 = NCz$ 1,00
Transição para o Real Ago 93
Cruzeiro Real CR$ 1/08/1993 a 30/06/1994
CR$ 1,00 = Cr$ 1.000,00
Real - Jul 94 Real R$ Desde 1/07/1994 R$ 1,00 = CR$ 2.750,00
FONTE: Banco Central e IOB - Informações Objetivas.
380
Anexo 2 – Valores correntes do PIB entre 1901 e 2004
Ano Moeda Corrente PIB em Valor Corrente Ano Moeda Corrente PIB em Valor Corrente
1901 Contos de Réis 3.073.135.288,64 1953 Cruzeiros 489.500.000.000,00 1902 Contos de Réis 2.823.036.207,18 1954 Cruzeiros 671.200.000.000,00 1903 Contos de Réis 2.933.195.760,45 1955 Cruzeiros 814.699.999.980,00 1904 Contos de Réis 3.152.856.017,98 1956 Cruzeiros 1.028.900.000.000,00 1905 Contos de Réis 2.918.261.849,72 1957 Cruzeiros 1.249.500.000.000,00 1906 Contos de Réis 4.008.613.026,08 1958 Cruzeiros 1.555.000.000.000,00 1907 Contos de Réis 3.832.305.032,93 1959 Cruzeiros 2.320.000.000.000,00 1908 Contos de Réis 3.794.706.716,50 1960 Cruzeiros 3.182.000.000.000,00 1909 Contos de Réis 4.111.360.879,45 1961 Cruzeiros 4.653.000.000.000,00 1910 Contos de Réis 4.400.572.789,70 1962 Cruzeiros 7.452.000.000.000,00 1911 Contos de Réis 4.760.006.435,81 1963 Cruzeiros 13.376.000.000.000,00 1912 Contos de Réis 5.474.992.230,10 1964 Cruzeiros 26.214.000.000.000,00 1913 Contos de Réis 4.997.307.988,66 1965 Cruzeiros 42.662.000.000.000,00 1914 Contos de Réis 5.082.685.194,11 1966 Cruzeiros 62.789.000.000.000,00 1915 Contos de Réis 5.776.963.856,11 1967 Cruzeiros Novos 82.783.000.000,00 1916 Contos de Réis 7.050.656.415,67 1968 Cruzeiros Novos 115.171.000.000,00 1917 Contos de Réis 8.392.535.576,51 1969 Cruzeiros Novos 151.400.000.000,00 1918 Contos de Réis 8.906.812.842,52 1970 Cruzeiros 194.315.303,82 1919 Contos de Réis 10.455.660.717,87 1971 Cruzeiros 258.296.115,42 1920 Contos de Réis 13.993.300.936,38 1972 Cruzeiros 346.580.797,18 1921 Contos de Réis 12.077.520.085,08 1973 Cruzeiros 511.834.251,18 1922 Contos de Réis 14.204.347.217,02 1974 Cruzeiros 745.136.153,84 1923 Contos de Réis 20.069.123.322,07 1975 Cruzeiros 1.049.517.572,08 1924 Contos de Réis 22.588.601.063,92 1976 Cruzeiros 1.633.963.079,80 1925 Contos de Réis 26.744.903.659,68 1977 Cruzeiros 2.492.977.884,18 1926 Contos de Réis 23.043.088.054,21 1978 Cruzeiros 3.617.245.645,79 1927 Contos de Réis 24.970.043.249,79 1979 Cruzeiros 5.961.236.012,98 1928 Contos de Réis 31.043.382.019,23 1980 Cruzeiros 12.507.806.000,00 1929 Contos de Réis 30.255.004.289,47 1981 Cruzeiros 24.015.788.000,00 1930 Contos de Réis 25.946.812.698,66 1982 Cruzeiros 48.680.718.000,00 1931 Contos de Réis 22.355.695.980,73 1983 Cruzeiros 109.386.334.000,00 1932 Contos de Réis 23.690.062.762,43 1984 Cruzeiros 347.886.015.000,00 1933 Contos de Réis 25.282.508.781,32 1985 Cruzeiros 1.307.718.616.000,00 1934 Contos de Réis 29.347.835.063,32 1986 Cruzados 3.502.630.801.000,00 1935 Contos de Réis 31.679.227.080,75 1987 Cruzados 11.103.965.772.000,00 1936 Contos de Réis 36.080.612.174,44 1988 Cruzados 80.782.983.199.000,00 1937 Contos de Réis 41.287.910.445,90 1989 Cruzados Novos 1.170.387.103.582,00 1938 Contos de Réis 44.526.534.141,28 1990 Cruzeiros 31.759.184.999,88 1939 Contos de Réis 46.552.491.444,71 1991 Cruzeiros 165.786.498.000,00 1940 Contos de Réis 49.174.793.287,79 1992 Cruzeiros 1.762.636.611.000,00 1941 Contos de Réis 56.845.962.691,10 1993 Cruzeiros Reais 38.767.064.000.000,00 1942 Cruzeiros 64.271.523,41 1994 Real 349.204.679.000,00 1943 Cruzeiros 81.310.546,99 1995 Real 646.191.517.000,00 1944 Cruzeiros 105.513.119,16 1996 Real 778.886.727.000,00 1945 Cruzeiros 125.114.080,28 1997 Real 870.743.034.000,00 1946 Cruzeiros 160.012.901,38 1998 Real 914.187.877.000,00 1947 Cruzeiros 178.500.000.000,00 1999 Real 963.868.538.000,00 1948 Cruzeiros 207.400.000.000,00 2000 Real 1.086.699.881.000,00 1949 Cruzeiros 241.900.000.000,00 2001 Real 1.198.736.000.000,00 1950 Cruzeiros 281.500.000.000,00 2002 Real 1.346.028.000.000,00 1951 Cruzeiros 348.800.000.000,00 2003 Real 1.556.182.000.000,00 1952 Cruzeiros 410.200.000.000,00 2004 Real 1.769.202.000.000,00
Fontes:
1901 – 1946 – Ipea
1947 – 1956 – IBGE:Estatísticas do Século XX
1957 – 2001 – Dissertação Paulo Grigorovski (2004)
2002 – 2004 – IBGE: Relatório de Contas Nacionais Trimestrais (2004)
381
Anexo 3 – Número de Shopping Centers e Taxa de Crescimento (EUA / 1970 a 2004)
Ano Número de Shoppings Taxa de Crescimento
1970 11.011 6,00% 1971 11.895 8,00% 1972 13.174 10,80% 1973 14.403 9,30% 1974 15.074 4,70% 1975 15.481 2,70% 1976 17.458 12,80% 1977 18.418 5,50% 1978 19.201 4,20% 1979 21.061 9,70% 1980 22.050 4,70% 1981 22.688 2,90% 1982 23.304 2,70% 1983 24.046 3,20% 1984 25.508 6,10% 1985 26.553 4,10% 1986 28.496 7,30% 1987 30.641 7,50% 1988 32.563 6,30% 1989 34.683 6,50% 1990 36.515 5,30% 1991 37.975 4,00% 1992 38.966 2,60% 1993 39.543 1,50% 1994 40.274 1,80% 1995 41.145 2,20% 1996 42.041 2,20% 1997 42.853 1,90% 1998 43.546 1,60% 1999 44.309 1,80% 2000 45.005 1,60% 2001 45.709 1,60% 2002 46.325 1,30% 2003 46.989 1,40% 2004 47.718 1,60%
Fonte: National Research Bureau
382
Anexo 4 – Mesbla: 1ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Fase Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
I 1916 Demissão de funcionários que ameaçavam realizar uma greve.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade
x x
I 1916 Passou a representar os carros franceses Léon Bollé e Brasier.
Motivação do crescimento x
I 1917 Incorporou a venda dos carros Chandler e Chevrolet.
Motivação do crescimento x
I 1918 Passou a comercializar os carros Cadillac e Buick.
Motivação do crescimento x
I 1918 Quando as importações de carros diminuíram por causa da 1a Guerra, iniciou venda por atacado de outros produtos.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x x x
I 1920 Mesbla possuía oficinas que realizavam serviços nos carros vendidos.
Motivação do crescimento x
I 1923 Criados novos escritórios com autonomia para os representantes.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x x
x
I 1924 Louis La Saigne antecipou obrigações frente à Matriz, aproveitando-se de queda no Franco, e assumiu o negócio.
Serviços empreendedores x
I 1924 Empresa abriu seu capital na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.
Serviços empreendedores x
I 1926 Intensificou campanha em prol das estradas - Revista “Mesbla Notícias”.
Gestão de mudança x
I 1933 Após incêndio na Sede, adquiriu estoque em outra loja e manteve operações provisórias .
Serviços empreendedores x
I 1936 Construiu nova sede no bairro da Lapa, recanto da boemia carioca.
Gestão de mudança x
I 1938 Realizou campanha em prol da mecanização da agricultura com folhetos e prospectos .
Gestão de mudança x
I 1939 Iniciou a representação dos aviões McDonnel Douglas.
Motivação do crescimento x
I 1940 Organizou e instalou a fábrica de pára-quedas Switlik do Brasil S.A.
Motivação do crescimento x
I 1940 La Saigne realizava visitas sistemáticas às filiais e convocava reuniões periódicas com seus Diretores.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x
x
I 1945 Abertura do Restaurante Mesbla. Motivação do crescimento x
I 1945 Abertura do Banco Mesbla. Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x x
383
Anexo 5 – Mesbla: 2ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1948 Criação do Conselho Consultivo.
Gestão de diversidade x
1948 Centralização da Diretoria de Compras no Rio de Janeiro.
Motivação do crescimento Gestão de diversidade
x x
1948 Vendedores viajantes passaram a ter o papel de prospecção de novas oportunidades .
Serviços empreendedores Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
x
1952 Ingresso no varejo, com a abertura de Magazines .
Serviços empreendedores Motivação do crescimento Gestão de mudança Gestão de diversidade
x
x x x
1956 Criação do Credi-Mesbla, oferecido primeiramente na filial de Vitória, com um projeto-piloto.
Motivação do crescimento Gestão da complexidade
x x
1959 Limita programa de investimento, devido ao quadro inflacionário.
Gestão de mudança x
1960 Tentativa de criar procedimentos e regulamentos para os empregados, sem sucesso. A razão: o ambiente era demais informal.
Gestão de complexidade X
1960 Filial São Paulo começou a ganhar status como a mais importante da empresa.
Gestão de diversidade X
1961 Louis La Saigne faleceu e Silvano Cardoso, vice-presidente, foi eleito o novo presidente.
Provisão de rec. gerenciais x
1961 Concentrou atividades de atacado nas filiais mais rentáveis (SP, principalmente).
Gestão de diversidade x
1961 Funcionários que não se adaptaram à mudança para o varejo, foram demitidos.
Provisão de rec. gerenciais x
1962 Enviou às filiais uma série de recomendações em virtude do quadro de aumento da inflação.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x
1962 Criada a União Mesbla. Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1962 Instalação de um computador eletrônico para controle das transações .
Gestão da complexidade x
1963 Criada a Exportbrás S/A para realizar exportação de produtos brasileiros e aproveitar política de incentivo do governo.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x x
1966 Contratou a empresa Verbo Propaganda Ltda para anunciar produtos da empresa.
Gestão de mudança x
384
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1967 Reage à recessão reduzindo endividamento e privilegiando itens de maior giro.
Motivação do crescimento Gestão de mudança
x
x
1967 Adota postura cada vez mais moderada de crescimento.
Gestão de mudança x
1968 Silvano Cardoso faleceu e Henrique de Botton, vice-presidente, foi eleito o novo presidente.
Provisão de rec. gerenciais x
1968 Criada Fundação Louis La Saigne.
Gestão de diversidade x
1968 Fundação Luiz La Saigne, entidade sob o controle da União Mesbla, passou fornecer bolsas de estudo para funcionários e filhos de funcionários, para cursos de instrução média.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
385
Anexo 6 – Mesbla: 3ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1970 Criada Gráfica Verbo Ltda. Serviços empreendedores Motivação do crescimento Gestão de diversidade
x
x x
1971 Criado Departamento de Planejamento e Expansão dedicado exclusivamente à pesquisa de mercados para implantação de novas lojas.
Gestão da complexidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1971 Atividade de vendas por atacado passou a concentrar-se somente em São Paulo.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1972 Atividade de vendas por atacado foi definitivamente descontinuada.
Gestão de diversidade x
1972 A descontinuidade do atacado causou a demissão de 11 dos 12 gerentes de filiais.
Gestão de diversidade x
1972 Dirigentes e funcionários foram retreinados nos métodos do novo negócio.
Gestão de mudança Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x x
1972 Henrique de Botton realizava viagens ao exterior (EUA e França), onde vislumbrava modelos varejistas europeus e norte-americanos .
Gestão de mudança x
1972 Criado processo de controle para uniformizar tamanhos de roupas .
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1972 Criadas divisões autônomas Magazines, Veículos e Máquinas & Equipamentos.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade
x
x
1972 Direção Geral passa a ter papel cada vez mais corporativo.
Gestão de diversidade x
1972 Divisões passaram a disputar pela imagem da empresa, competindo entre si por melhores resultados.
Gestão de diversidade x
1972 André de Botton assumiu a chefia da Diretoria Comercial.
Provisão de rec. gerenciais x
1972 Empresa tinha sistema de controle financeiro, mas não de quantidade.
Gestão da complexidade x
1973 Criação do Cartão Mesbla. Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x x
1973 Instalação das primeiras caixas automáticas.
Gestão da complexidade x
1973 Instalação de rede de telex . Gestão de diversidade x
1973 Transformação do Departamento de Viagens na empresa coligada Mesblatur Viagens e Excursões Ltda.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x
x
386
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1973 Criada Central de Propaganda, departamento interno para publicidade.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x x
1973 Cadeia de Lojas de Departamentos expande-se em quatro lojas.
Motivação do crescimento x
387
Anexo 7 – Mesbla: 4ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1974 Criado órgão de Planejamento. Gestão de mudança Gestão da complexidade Provisão de rec. gerenciais
x x x
1974 Firmado Convênio COPPEAD. Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1974 André de Botton finalizou seu Advanced Management Program (AMP) .
Provisão de rec. gerenciais x
1974 Empresa promoveu encontros e reuniões entre gerências e chefias.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade Provisão de rec. gerenciais
x
x x
1974 Empresa promoveu reuniões entre a Central de Compras, a Central de Propaganda e os gerentes de lojas mensalmente.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x
x
1974 Os investimentos na Divisão Magazine contemplaram a ampliação da frota de entrega e renovação dos equipamentos de lojas e depósitos .
Motivação do crescimento x
1975 Criado o Departamento de Pesquisa, como um desdobramento da Central de Compras.
Gestão da complexidade x
1975 Central de Propaganda foi oficialmente transformada na Provarejo.
Motivação do crescimento x
1976 Mesbla tinha programa de estágio informal.
Provisão de rec. gerenciais x
1976 Divisão Veículos passou a dar ênfase em serviços após choque do petróleo e aumento de preços de automóveis.
Gestão de mudança x
1977 Divisão Veículos iniciou a venda de veículos por meio de consórcios.
Motivação do crescimento x
1977 Criado Comitê Executivo. Gestão de diversidade x
1977 Criada a Assessoria de RH. Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1977 Órgão de Planejamento obteve status de diretoria.
Gestão de diversidade x
1977 Mesbla possibilitava carreira lateral em lojas.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1977 Lojas de Departamento passaram a dar ênfase à linha soft.
Motivação do crescimento Gestão de diversidade
x
x
1978 Com a expansão dos shopping centers, entra como âncora e sócia de diversos empreendimentos.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento Gestão de mudança
x x
x
388
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1978 Foi iniciado um plano de pesquisa salarial sistemático e um vasto projeto de treinamento.
Provisão de rec. gerenciais x
1978 Lojas e Agências agrupadas sob a administração de Gerências Regionais.
Gestão de diversidade x
1978 Criado oficialmente o programa de estágio.
Provisão de rec. gerenciais x
1979 Centralização do Departamento Central de Compras no Rio de Janeiro.
Gestão de diversidade x
1979 Criada VT Center, produtora de televisão, para atender as campanhas da Provarejo.
Motivação do crescimento Gestão de diversidade
x
x
1979 Iniciada a estruturação da holding, em busca de autonomia e mais rapidez nas decisões.
Serviços empreendedores Gestão de mudança
x
x
1978 A Divisão Máquinas & Equipamentos implantou uma moderna fábrica para componentes.
Motivação do crescimento x
1979 Recursos Humanos foram centralizados na sede.
Gestão de diversidade x
1979 Término do projeto de vendas por catálogo, um investimento superior a 150 milhões de cruzeiros .
Serviços empreendedores Gestão da complexidade
x x
1979 Para uniformizar as rotinas administrativas, foi elaborado o Manual de Administração de Pessoal.
Gestão de diversidade x
1980 Planejou um vigoroso aumento de operações- Criadas a Mesbla Náutica e a Trading Company Mesbla Comércio Internacional.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento Gestão de diversidade
x x x
1981 Definiu que o segmento de mercado era o consumidor final e desativou as operações da Divisão Máquinas & Equipamentos.
Gestão de diversidade x
1981 Diante da crise, André de Botton passou a declarar, publicamente, que o comércio deveria funcionar aos domingos e tentou negociar com sindicatos e associações comerciais a modificação dessa “regra”, em vão.
Gestão de mudança x
1982 Manteve programa de investimentos e alto endividamento - criada Mesbla Motos.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x x
1982 Criada Financiadora Mesbla - operações de crédito direto ao consumidor, que eram totalmente financiadas por diversas empresas financeiras, passaram a ser financiadas pela nova coligada.
Motivação do crescimento x
1982 Realizadas operações de leaseback.
Serviços empreendedores x
389
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1983 Implantados dois sistemas de controle de estoques, um para o soft, um para o hard.
Gestão da complexidade x
1983 Atuou junto à SEI e ABAC para permitir liberação da importação de equipamentos de leitura código de barras .
Gestão de mudança x
1984 Criou e investiu em marcas próprias.
Motivação do crescimento Gestão de diversidade
x
x
1984 Abandonou definitivamente venda de linha branca.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1984 Implantado sistema de controle de qualidade para linha soft.
Gestão da complexidade x
1985 Criou as próprias lojas especializadas.
Motivação do crescimento Gestão de mudança
x x
1985 Restaurante Mesbla estimulava encontro de executivos.
Gestão de diversidade x
1985 José Paulo Amaral, diretor da divisão magazine, deixa a empresa para a superintendência da Lojas Americanas .
Provisão de rec. gerenciais x
390
Anexo 8 – Mesbla: 5ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1986 Recursos direcionados para lojas especializadas são invejados por antigos compradores - "agora tinha roupa infantil e de menino nos shopping centers nos lugares mais legais porque orçamento para abrir loja Next e Folia tinha muito".
Gestão de diversidade x
1986 Mesbla veicula campanhas fortalecendo o conceito de moda, atrizes consomem marcas da Mesbla.
Gestão de mudança x
1986 Transferiu administração e desenvolvimento de recursos humanos da Holding para as unidades de negócio.
Gestão de diversidade x
1986 Realizou investimentos em automação e microinformática.
Gestão da complexidade x
1986 Criada a STA - Sistemas e Técnicas de Automação LTDA .
Motivação do crescimento x
1986 Criada Mesbla Corretora de Seguros.
Motivação do crescimento x
1987 Adquiriu 20% capital do Makro no Brasil, US$ 13,5 milhões.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x
x
1987 Oficializou pós -graduação em varejo com a COPPEAD.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1987 Manteve programa de investimentos, apesar da alta inflacionária.
Serviços empreendedores x
1988 Obteve recursos no mercado acionário, linhas do BNDES e CEF, utilizando o potencial gerador de empregos do varejo.
Serviços empreendedores x
1988 Financeiras aumentaram operações de crédito pessoal.
Motivação do crescimento x
1988 Efetuou mudança do logo dos Magazines, reformas nas lojas e lançamento de novas marcas para diferenciar das demais atividades do Grupo.
Gestão de diversidade x
1989 Participação no Makro aumentada para 32%.
Motivação do crescimento x
1989 Manteve programa de investimentos, apesar da alta inflacionária.
Serviços empreendedores x
1989 Apostou na disparada da inflação e acumulou estoques .
Serviços empreendedores Gestão de mudança
x x
1990 Frente à recessão, adiou plano de expansão.
Gestão de mudança x
391
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1990 MLD demitiu 9.000 funcionários. Gestão de mudança Gestão de diversidade
x
x
1990 MLD queima estoques - baixa margens e aumenta giro.
Gestão de mudança Gestão da complexidade
x
x
1990 Para melhorar liquidez, aumentou a amortização mínima do Cartão Mesbla de 25% do valor da fatura para 75%.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x
1990 Participação no Makro aumentada para 36%.
Motivação do crescimento x
1990 MLD - Lojas pouco rentáveis ou que davam prejuízo foram fechadas .
Gestão de mudança x
1991 Empresa Provenda criada para representar carros Mazda.
Serviços empreendedores Motivação do crescimento
x x
1991 Reduz número de lojas da cadeia Maxx.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1991 Cidix Autopeças e a Mesbla Aviação e Equipamentos foram vendidas.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1991 Empresas de turismo foram incorporadas pela Divisão de Serviços Financeiros .
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1991 Lojas antigas conviviam com problemas de diferenças de comissão de vendedores.
Gestão de diversidade x
1992 Empresa adota postura mais moderada - retenção de investimentos.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1992 A empresa deixou de se dedicar “a atividades que não estão no foco do grupo ou a negócios nascentes cuja contribuição para o faturamento era, na sua totalidade inferior a 5%” .
Gestão de mudança x
1992 A empresa diminuiu o tíquete médio de suas mercadorias e conseguiu um aumento no volume de transações .
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x
x
1992 Orientação maior à informatização, terceirização de atividades, renegociação de contratos de locação, aumento do giro de mercadorias e melhor avaliação das atividades .
Gestão de mudança Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x
x
1992 Agência Provarejo foi desativada.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1992 As empresas Hipermóveis e Náutica foram redimensionadas e a cadeia Maxx definitivamente fechada.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1992 Pleiteia junto ao Banco Central e obtém regularização da Securitização de recebíveis de cartão de crédito.
Gestão de mudança x
1993 Investe no crescimento das revendas Mazda.
Motivação do crescimento x
392
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1993 Finalizada a implantação do Sistema de Gestão de Mercadorias.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x
1993 Implantação de sistema plataforma baixa Oracle para contas a pagar.
Gestão da complexidade x
1993 Implantação de código de barras em todas as lojas.
Gestão da complexidade x
1993 Vendedores passam a fazer o papel de vendedores-caixa.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x
x
1993 Mesbla contrata Booz Allen Hamilton para elaboração de plano de revisão de foco, formato e mix de mercadorias e Cláudia Quaresma, diretora de planejamento, era uma das responsáveis pelo projeto, tendo assumido posteriormente a diretoria da MLD.
Gestão da complexidade Provisão de rec. gerenciais
x
x
1993 A quarta turma do MBA-Varejo na COPPEAD finalizou seu curso, totalizando 112 alunos diplomados desde 1989.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x
x
1993 Três executivos foram enviados para a Babson School of Executive Education, nos EUA, para participarem do curso “Strategic Planning and Management in Retailing”.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x
x
393
Anexo 9 – Mesbla: 6ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1994 André de Botton trocou equipe de executivos da MLD.
Gestão de mudança x
1994 No Grupo Mesbla, dos 2.500 funcionários de staff, 800 foram demitidos.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1994 Adoção de estilo de sala comum, estilo Banco Garantia, para os diretores .
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x
x
1994 Foco nos itens onde a empresa tinha expressiva participação de mercado: roupas, perfumes, presentes e artigos de cama.
Motivação do crescimento Gestão da complexidade
x x
1994 Compradores se reportariam diretamente à Claúdia Quaresma para ter mais poder de decisão.
Gestão de diversidade x
1994 Expansão das atividades de importação. Motivação do crescimento x
1994 A Mesbla começou a implantar um sistema de Just-in-Time via Electronic Data Interchange com a Phillips.
Gestão da complexidade x
1994 Integração de profissionais para compor o Conselho de Administração, substituindo pessoas de confiança de André de Botton.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x
x
1994 A Mesbla, na tentativa de melhorar sua solvência, passou a alienar bens e negócios das divisões Veículos e Serviços Financeiros, de forma a tentar sanear e obter recursos para a reestruturação do ramo principal (MLD).
Serviços empreendedores Gestão de diversidade
x x
1994 Mesbla lançou um serviço de vendas de veículos à domicílio.
Motivação do crescimento x
1994 André de Botton estaria negociando a venda da Mesbla para a cadeia JC Penney, intermediado pela Goldman Sachs, mas a JC Penney só compraria a empresa caso De Botton saísse do comando.
Serviços empreendedores x
1994 Investimento em operações, passando a terceirizar a distribuição de produtos .
Gestão de mudança Gestão da complexidade
x x
1994 Definição de prioridades de pagamento pós-concordata.
Gestão da complexidade x
1994 Náutica praticamente cessa suas operações; 15 das 18 lojas foram fechadas e o foco passou ser a representação das marcas Mercury e Mercruiser.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
394
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1994 Venda da participação no Makro, por um valor cerca de 40% menor do que o avaliado, em função da Crise do México (1994).
Serviços empreendedores Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
x
1995 André de Botton buscou o Banco Garantia, inutilmente, para obter um aporte ou vender a empresa.
Serviços empreendedores x
1995 André de Botton tentou uma composição com as Lojas Renner, numa associação com o Icatu, em mais uma tentativa frustrada.
Serviços empreendedores x
1995 Empresa entra em concordata. Gestão de diversidade x
1995 Leonardo Brunet passa a ser o responsável pela direção da empresa.
Provisão de rec. gerenciais
1995 Os investimentos foram todos paralisados, com exceção das lojas no Nova Shopping (Nova Iguaçú) e Shopping Pátio Brasil (Brasília), cujos contratos já haviam sido assinados .
Motivação do crescimento Gestão de mudança
x x
1995 A área financeira da Holding passou a atuar muito mais firmemente sobre as operações das demais divisões, principalmente as que estavam no processo de concordata.
Gestão de diversidade x
1995 A Mesbla Veículos teve reduzido o número de concessionárias de vinte e seis para dez .
Gestão de mudança x
1995 André de Botton foi definitivamente afastado do dia-a-dia da empresa, integrando o Conselho de Administração até que a empresa fosse recuperada.
Gestão de mudança Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x
x
1995 O número de executivos da Holding caiu de trinta para sete, consolidando todas as áreas de negócios em apenas uma.
Gestão de mudança Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1996 Mesbla não consegue honrar os compromissos da concordata.
Gestão de diversidade x
395
Anexo 10 – Lojas Americanas: 1ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1929 Abriu lojas de descontos, copiando modelo Five and Ten Cents (auto-atendimento), observando existência de pessoas com renda estável mas salários modestos .
Serviços empreendedores Gestão de mudança
x x
1929 Primeira loja empregou mulheres para estimular consumo das donas-de-casa.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1929 A experiência dos norte-americanos no comércio varejista dos EUA influenciou decisivamente o estilo adotado pela companhia.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1929 O preço baixo era tido como uma “defesa” contra o hábito de as pessoas regatearem o preço das mercadorias (“pechincha”).
Gestão de mudança Gestão de diversidade
x x
1930 Iniciou a venda de hot-dog, hamburger, Coca-cola, sundae e banana-split em suas lojas.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento Gestão de mudança Gestão de diversidade
x
x x x
1932 Dificuldades diante da Revolução de 1930 fazem a empresa ir à falência. Firma adota ritmo moderado de crescimento.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade
x x
1940 Abertura de capital para financiar expansão.
Serviços empreendedores x
1945 Cadeia de lojas concentrava-se nas Regiões Sudeste e Sul, com autonomia para gerentes de loja.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento Gestão de diversidade
x
x x
1945 A empresa era tida como um um exemplo de “democratização” de capital.
Gestão de diversidade x
396
Anexo 11 – Lojas Americanas: 2ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Fase Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
II 1960 Expansão moderada da cadeia de lojas em cinco Estados - São Paulo (capital e interior), Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x
II 1960 Empresa efetuou aumento do capital social para financiar a expansão.
Serviços empreendedores x
II 1965 Inaugurou um novo depósito em São Paulo.
Motivação do Crescimento x
II 1966 Instalou uma loja âncora no primeiro shopping center do Brasil.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento Gestão de Mudança
x x x
II 1966 Loja da Rua da Carioca foi fechada por apresentar problemas de performance financeira.
Gestão da complexidade x
II 1967 Lojas Americanas iniciou o processo de implantação de um Centro de Processamento de Dados.
Gestão da complexidade x
II 1967 O processamento eletrônico já vinha sendo gradativamente adotado nas operações da companhia.
Gestão da complexidade x
II 1967 Firma empreendeu treinamento para o pessoal executivo.
Provisão de rec. gerenciais x
II 1967 Promovidos cursos de aprimoramento para empregados novos e antigos, lecionados pelos próprios funcionários da empresa.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
397
Anexo 12 – Lojas Americanas: 3ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1969 Introduziu plano de avaliação de Cargos e Salários.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x
1971 Inaugura sede na Sacadura Cabral, Rio de Janeiro.
Gestão de diversidade x
1973 Thomas Leonardos assumiu a presidência do Conselho de Administração da Lojas Americanas .
Provisão de rec. gerenciais x
1973 Criado Departamento de Desenvolvimento de Pessoal passa a gerir cursos de forma a capacitar os funcionários para o crescimento.
Gestão da complexidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1973 Próprios funcionários ministram cursos de varejo.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1973 A expansão é realizada somente com recursos próprios, mantendo baixo nível de envididamento - foram inauguradas lojas em Goiânia, Brasília, Taguatinga e Campo Grande.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento Gestão de diversidade
x
x x
1973 Implantados processos: contabilidade, cadastro geral de mercadorias, emissão de pedidos a fornecedores.
Gestão da complexidade x
1973 Implantado departamento de relação com investidores .
Gestão de mudança x
1973 Lojas Americanas possuía dois depósitos próprios, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
Motivação do Crescimento x
398
Anexo 13 – Lojas Americanas: 4ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1974 Foi a primeira empresa a apresentar um relatório trimestral, adaptando-se a nova determinação do Banco Central.
Gestão de mudança x
1975 Instalação de rede de teleprocessamento.
Gestão de diversidade x
1975 Lojas Americanas valoriza autonomia dada aos gerentes de loja.
Serviços empreendedores x
1975 Crescimento lento para o Nordeste (Salvador, Fortaleza, Maceió e Recife).
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1975 Apostando no segmento de shopping centers abre lojas em São Paulo e Bahia.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1976 Henrique de Affonseca Kerti substitui Franklin Lewis Gemmel no conselho.
Provisão de rec. gerenciais x
1976 Lojas Americanas paga dividendos de 30% sobre o lucro, superior aos 25% imposto pela Lei das AS.
Gestão de mudança x
1976 Processo de escolha do local para implantação de uma nova loja envolvia sempre o estudo da cidade, embora o fator ocasião também pudesse fazer parte do processo.
Gestão da complexidade x
1977 Ganha Prêmio Mauá. Gestão de mudança x
1977 Criado programa de aposentadoria para funcionários antigos.
Provisão de rec. gerenciais x
1977 Programa de treinamento institucionalizado entre funcionários que em alguns casos lecionavam os cursos .
Provisão de rec. gerenciais x
1978 Implantação de um novo depósito em São Paulo.
Motivação do Crescimento x
1978 Com a economia em desaceleração, reduz distribuição de dividendos em relação ao ano anterior.
Gestão de mudança x
1978 Mesmo com economia em desaceleração, empresa estipula um plano mais agressivo de expansão e lança ações na bolsa.
Serviços empreendedores x
1979 Apenas uma das quatro lojas previstas é inaugurada.
Serviços empreendedores x
1979 Empresa comemorou seus cinqüenta anos de existência com uma Missa de ação de graças na Igreja da Candelária.
Gestão de diversidade x
399
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1979 Cerca de quinhentos cursos de treinamento para os funcionários eram oferecidos anualmente.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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1980 As operações da empresa, nessa época, eram bastante descentralizadas e amparadas no conhecimento tácito e na autonomia concedida aos gerentes de lojas.
Gestão de diversidade x
1980 Havia um processo de compra executado pelo Departamento de Distribuição e outro executado pelo Departamento de Compras, por solicitação de cada loja.
Gestão de diversidade x
1980 Os gerentes de loja decidiam o mix mais apropriado para sua loja, que dependia de fatores como localização e poder aquisitivo da população na região.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade
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1980 Uma das tarefas do gerente de lojas era comparar a venda de um determinado dia do ano com a venda do ano anterior, em termos monetários.
Gestão da complexidade x
1980 O controle de pedidos era realizado pelo “Caderno de Contagens e Pedidos”.
Gestão da complexidade x
1980 O Departamento de Compras era formado basicamente por pessoas que tinham sido vendedoras ou supervisoras de lojas, geralmente mulheres, e que tinham trabalhado com os gerentes de loja diretamente.
Gestão da complexidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1980 Lojas Americanas inicia um processo de estudo e racionalização de estoques e enfrenta resistência dos gerentes de lojas.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1981 Início da centralização de estoques nos armazéns, liberando estoque das lojas - a seleção de mercadorias foi feita com base na opinião de supervisoras das lojas e as compradoras .
Motivação do Crescimento Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1981 As transações entre loja e centros de distribuição eram todas rastreadas por computador.
Gestão da complexidade x
1981 Antiga diretoria era vista como pouco atuante.
Gestão de diversidade x
1981 Acionistas do Garantia assumem o controle com 21% das ações ordinárias.
Serviços empreendedores Gestão de mudança Gestão de diversidade
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1981 Após obter o controle da empresa, Grupo Garantia cancela investimentos vultosos como a Sede na Barra da Tijuca.
Serviços empreendedores Gestão de mudança
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1981 Grupo Garantia vistoria as operações de lojas para entender o que precisava ser melhorado.
Gestão da complexidade x
400
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1981 Nova diretoria passou a exercer forte pressão sobre os custos financeiros dos estoques .
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1982 Sócios do Garantia visitam Wal Mart para aprender sobre o modelo de operação, adotando a rede de varejo como benchmarking.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1982 Os funcionários da companhia ficaram inseguros, com medo da pressão exercida pelos novos controladores.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
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1982 A terminologia "associados" passou a fazer parte do cotidiano da empresa.
Gestão de diversidade x
1982 Adoção da codificação de produtos segundo a associação internacional de comércio National Retail Mutual Association (NRMA).
Gestão da complexidade x
1982 800 funcionários foram demitidos.
Gestão de diversidade x
1982 Criação da LASA Corretora de Seguros.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
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1982 Não houve interessados em realizar internamente o trabalho de sortimento em conjunto com o Departamento de Operações Comerciais.
Gestão de diversidade x
1983 Criação da Tecnologia do Varejo S/A.
Motivação do Crescimento Gestão da complexidade
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1983 Departamento de Compras oficialmente integrado ao Departamento de Operações Comerciais.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1984 1.000 funcionários são demitidos. Gestão de diversidade x
1984 Iniciados projetos para melhoria do sortimento e layout de lojas - protótipos de novas lojas lançados (Tecn. Varejo).
Gestão da complexidade x
1984 Departamento de Operações Comerciais começa a contratar pessoas de curso superior ou com perfil mais técnico.
Gestão de mudança Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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x
1984 Implantada uma avaliação de desempenho realizada semestralmente, com remuneração em opções de compras de ações .
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
x x
1984 Criação da Direta Propaganda AS.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1984 Aquisição da Universal Corretora (futura Facilita).
Motivação do Crescimento x
1985 Frente ao incentivo dado às exportações, foi criada Lojas Americanas da Amazônia S/A.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x
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401
Anexo 14 – Lojas Americanas: 5ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1986 Criadas lojas Só Brinquedos e Pacto S/A (Mais por Menos).
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1986 Empresa contrata José Paulo Ferraz do Amaral da Mesbla.
Provisão de rec. gerenciais x
1986 José Paulo realizou uma pesquisa para descobrir de fato quem era o cliente da Lojas Americanas.
Gestão de mudança Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x x
1986 Empresa identifica falhas no planejamento e logística, ocasionadas pela estrutura descentralizada.
Gestão da complexidade x
1986 Criou Strip Centers com Lojas Americanas como "âncoras".
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x
1986 Após o Plano Cruzado, cancelou promoções e descontinuou produtos cujo custo ultrapassou os preços congelados ou tabelados.
Gestão de mudança x
1987 Lojas Americanas começou a atuar, mais firmemente, em mercados que eram dominados por firmas varejistas que, aparentemente, tinham uma estrutura de custos muito mais pesada que a dela.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
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1987 Processo de renovação do Departamento de Operações Comerciais continuou.
Provisão de rec. gerenciais x
1988 Empresa passa a investir em automação comercial, inicialmente no apoio da lojas.
Gestão da complexidade x
1988 Empresa ocupa "espaços" deixados por concorrentes e amplia rede de lojas.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1988 Criado programa de trainees . Provisão de rec. gerenciais x
1988 A direção da empresa, apesar dos bons resultados e premiações, mantinha uma política de austeridade, informalidade e ausência completa de mordomias para os diretores.
Gestão de diversidade x
1989 Criada São Carlos Empreendimentos Imobiliários, para cuidar do negócio de Strip Centers.
Motivação do Crescimento Gestão de diversidade
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1989 Empresas Direta Propaganda S/A, Só Brinquedos, a Facilita e Empreendimentos São Carlos S/A São colocadas sob controle da Tecnologia do Varejo.
Gestão de diversidade x
1989 Programa de trainees oficialmente implantado.
Provisão de rec. gerenciais x
1990 Iniciou o estudo e aplicação de curvas de sazonalidade.
Gestão da complexidade x
1990 Existia uma sistemática de avaliação de performance que ligava compradores, supervisores e gerentes de loja.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x x
1990 Anualmente, compradores, seus superintendentes diretos, a diretoria e o diretor-superintendente definiam metas a serem alcançadas no ano seguinte.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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402
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1990 Mensalmente os compradores precisavam apresentar os resultados do seu departamento, em uma reunião em que também estavam presentes todos os gerentes de lojas da empresa.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1990 Expôs problemas de gestão, adiou investimentos mas os programas de trainees , automação e treinamento foram mantidos.
Serviços empreendedores Gestão de mudança Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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1990 Lojas Americanas possuía lojas de "conveniência" e "supermercados".
Motivação do Crescimento Gestão de diversidade
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1991 Empresa não demite, realiza melhoria de processos e reúne funcionários para solução problemas.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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1992 Carlos Alberto Sicupira deixa a empresa e José Paulo Amaral, que já fazia parte do Conselho desde 1986, assume superintendência.
Provisão de rec. gerenciais x
1992 No terceiro ano de queda de vendas no varejo, José Paulo Amaral antecipa divulgação de prejuízo semestral e consegue com que a empresa reverta resultado.
Gestão de diversidade x
1992 O bom resultado, em 1992, transformou-se em um bôus de 6% sobre o lucro para todos os funcionários.
Gestão de diversidade x
1992 Programa de trainees foi institucionalizado e promovido convênio com o COPPEAD / UFRJ.
Provisão de rec. gerenciais x
1992 Executivos de compras viajaram ao exterior para conhecer novos fornecedores e técnicas de varejo.
Provisão de rec. gerenciais x
1992 Distribuiu entre seus funcionários o livro autobiográfico de Sam Walton, fundador da Wal-Mart que falecera em 1992.
Gestão de diversidade x
1992 Dependendo da época do ano, alguns departamentos eram privilegiados nas lojas, ganhando áreas de vendas .
Gestão de diversidade x
1993 Choque trainees x assistentes de compras.
Gestão de diversidade x
1993 Abertura de lojas toma um ritmo mais agressivo.
Motivação do Crescimento Gestão de diversidade
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1993 Promovido convênio com a USP. Provisão de rec. gerenciais x
1993 Iniciou investimento de integração e automação de toda a cadeia de lojas, utilizando a loja do Barrashopping como piloto.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
x x
1993 Adotou operação com cartão de crédito, inicialmente em Recife e Ribeirão Preto.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento Gestão da complexidade
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1993 Produtos importados passaram a ter maior peso na composição do sortimento.
Motivação do Crescimento Gestão de mudança
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1993 Existia uma área de controle responsável pelo orçamento de cada comprador.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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403
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1993 Diretores visitavam constantemente as lojas, utilizando o jato da companhia.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1993 Funcionários ganhavam bônus por performance, opções de compra de ações da companhia.
Gestão de diversidade x
1993 Diferenças de qualificações entre hard e soft - era raro ocorrer trocas .
Gestão de diversidade x
404
Anexo 15 – Lojas Americanas: 6ª Fase - Principais eventos e classificação das respostas aos desafios
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1994 Aumento da área de vendas para vestuário, que tinham maior margem.
Motivação do Crescimento x
1994 Foi dada mais autonomia aos compradores de lojas de supermercados .
Gestão de diversidade x
1994 Mantidos programas trainees e, estagiários, mas o convênio COPPEAD foi momentaneamente interrompido.
Provisão de rec. gerenciais x
1994 Para ajuste interno da companhia, cancelou viagens de executivos ao exterior.
Gestão de mudança x
1994 Adota programa de Qualidade Total Americanas - métodos para solução de problemas em equipes.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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1994 Associação e investimentos com a Wal-Mart, criando a Wal-Mart Brasil, um investimento de R$ 20 milhões.
Motivação do Crescimento x
1995 Abre 8 lojas em um só ano e anuncia o plano "200 lojas no ano 2000", ou 21 lojas por ano.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1995 Investimento com a Wal-Mart resultam em prejuízo.
Serviços empreendedores x
1995 Investimento em automação (PDVs), sistema de integração via satélite de todas as lojas e os CDs.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
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1995 Ampliados programas trainees, estagiários e convênio COPPEAD.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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1995 Criado o cargo de Diretor de Tecnologia. Provisão de rec. gerenciais x
1995 Lançamento de ADR na NYSE. Serviços empreendedores x
1996 José Paulo Amaral deixa a empresa e Fersen Lambranho, que havia sido da área financeira e controle, assume superintendência.
Provisão de rec. gerenciais x
1996 Adota cheque pré-datado com poucos mecanismos de checagem das condições de solvência e prevê um nível de inadimplência baixo.
Gestão da complexidade x
1996 Automatiza consulta de CPF no final do ano.
Gestão da complexidade x
1996 Cria Teleamericanas, com administração independente, para o segmento vendas pela TV.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
1996 Desistência do plano "200 lojas no ano 2000" e plano de melhoria da logística.
Serviços empreendedores Gestão de mudança
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1996 Manutenção da política de investimentos em pessoal.
Provisão de rec. gerenciais x
405
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1996 Reestruturação, com compradores e assistentes assumindo funções de seus superiores, resultando em uma redução de quadro de executivos .
Provisão de rec. gerenciais x
1997 Maior ênfase em vestuário e contratação de executivos da C&A.
Motivação do Crescimento Provisão de rec. gerenciais
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1997 Emissão de Eurobônus (a serem pagos em 2004) e aporte junto ao IFC (Banco Mundial).
Serviços empreendedores x
1997 Manutenção da política de investimentos em automação (CD Barueri automatizado).
Gestão da complexidade x
1998 Elaborados manuais de operação para os Centros de Distribuição para linhas hard e soft.
Gestão da complexidade x
1998 Passou a homologar fornecedores, de acordo com os processos definidos para os novos Centros de Distribuição.
Gestão da complexidade x
1998 8.000 funcionários foram demitidos. Gestão de diversidade x
1998 Estoques são gradualmente centralizados - quinze lojas em 1997.
Gestão da complexidade x
1997 Venda da participação na Wal-Mart Brasil.
Serviços empreendedores Gestão de diversidade
x x
1997 Fersen Lambranho deixa a empresa e Cláudio Galeazzi assume controle para reestruturar a Americanas .
Provisão de rec. gerenciais x
1997 Para coibir o uso de pré-datados, enfatiza e promove compra com cartão de crédito próprio.
Gestão da complexidade x
1997 Empresa realiza uma pesquisa de mercado em todas as suas lojas, para estudar o perfil dos seus consumidores.
Gestão da complexidade x
1998 Venda de lojas supermercados . Serviços empreendedores Gestão de diversidade
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1998 Novo Centro de Distribuição de Recife inaugurado.
Motivação do Crescimento Gestão da complexidade
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1998 Estoques são gradualmente centralizados - quarenta e uma lojas em 1998.
Motivação do Crescimento Gestão da complexidade
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1999 Novo Centro de Distribuição do Rio de Janeiro inaugurado.
Motivação do Crescimento Gestão da complexidade
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x
1999 Estoques de todas as lojas estão centralizados .
Motivação do Crescimento Gestão da complexidade
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x
1999 Implantados processos de prevenção contra perdas .
Gestão da complexidade x
1999 Implantados processos experimentais de reposição automática.
Gestão da complexidade x
1999 Cria, em associação com outras empresas, o SMART CLUB.
Motivação do Crescimento x
1999 Retomou crescimento de forma moderada.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento Gestão de mudança
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406
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
1999 Remodelou lojas com o conceito de Mundos (Projeto Focus): Infantil, Lar, Beleza, Confecção, Lazer e Alimentos de Conveniência.
Gestão de diversidade x
1999 A São Carlos Empreendimentos e Participações foi separada da empresa.
Gestão de diversidade x
1999 Obtenção de parceiros para lançamento do portal Americanas.com: JP Morgan Partners, Flatiron Partners, Next International, Global Bridge Ventures (Vectis Group) e AIG Capital Partners.
Serviços empreendedores x
1999 Início de vendas pela WEB, com um projeto-piloto para entrega em Curitiba. Planos para expansão na América Latina.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
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2000 Implantação do Pacote SAP - Recursos Humanos.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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2000 Cláudio Galeazzi deixa a empresa, Miguel Gutierrez, que havia acompanhado a reestruturação, assume superintendência.
Provisão de rec. gerenciais x
2000 Crescimento moderado, com a abertura de 4 lojas.
Serviços empreendedores Motivação do Crescimento
x x
2000 Programa de trainees mantido. Provisão de rec. gerenciais x
2000 Americanas.com tem prejuízo, mas empresa identificou e expôs falhas no processo logístico.
Gestão da complexidade x
2001 Empresa honra Títulos do Eurobônus que venceriam em 2001.
Gestão de diversidade x
2001 2.500 funcionários foram demitidos. Gestão de mudança Gestão de diversidade
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2001 A empresa passou a organizar um programa de “encabidamento” no fornecedor.
Gestão da complexidade x
2001 As lojas da rede foram paulatinamente remodeladas sob o conceito de "Mundos".
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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2001 Empresa deixou de operar com cheques pré-datados .
Gestão da complexidade x
2001 Para estimular consumo na Americanas.com, associou um novo canal de Televendas e criou quisoques nas próprias lojas .
Gestão de mudança x
2002 2.100 funcionários são demitidos. Gestão de mudança Gestão de diversidade
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2002 Implantou EVA como método de avaliação de resultado.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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2002 Implantado Pacote SAP - Gestão Comercial.
Gestão de diversidade Gestão da complexidade
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2002 Mais de 2.000 funcionários foram demitidos.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
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2002 Programa de trainees mantido Provisão de rec. gerenciais x
407
Classificação Ano Fato Tipo de Desafio Fraco Médio Forte
2002 Americanas.com: lucro, número de executivos reduzido, adiamento da criação de portais específicos (cosméticos).
Serviços empreendedores x
2002 Abertura de lojas convencionais em ritmo moderado e início do modelo "express".
Motivação do Crescimento x
2002 A firma passou a registrar, em seus relatórios anuais, um resumo de suas iniciativas sociais.
Gestão de mudança Gestão de diversidade
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2003 Testes no modelo "express" - conveniência de bairro - duas lojas no primeiro ano.
Serviços empreendedores Gestão da complexidade
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2003 Americanas.com transferiu suas operações de marketing, comercial e administrativa de São Paulo para a sede da Lojas Americanas no Rio de Janeiro.
Gestão de diversidade x
2003 Programa de trainees mantido e criadas "Centrais de RH" em vários estados .
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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2003 Promovidos encontros regionais entre Diretores e Reunião Nacional de Executivos.
Gestão de diversidade Provisão de rec. gerenciais
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2004 Após 5 anos, a empresa volta a contratar: 600 funcionários .
Gestão de diversidade x
2004 Crescimento acelerado - abertura de 30 lojas convencionais e 5 "express".
Motivação do Crescimento Gestão de diversidade
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2004 Empresa honra Títulos do Eurobônus que venceriam em 2004.
Gestão de diversidade x
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