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Desafios emocionais ligados ao atendimento odontológico do
paciente com necessidade especiais - Relato de Caso
Laryssa Macêdo Bittencourt Henriques ¹, Nayara Neves de Morais2, Claudia Cristiane Baiseredo de Carvalho3 Resumo Devido a pluralidade de pacientes que adentram os consultórios odontológicos diariamente, lidar com portadores de necessidades especiais é uma realidade cada vez mais frequente para os cirurgiões-dentistas, o presente estudo relata paciente portadora de transtorno do Espectro Autista que apresentou severas dificuldade interativas, causando transtornos e dificuldades no atendimento, que se tratava de uma simples avaliação onde foi feita a profilaxia e também foi constatada a necessidade de aplicação de Verniz Fluoretado (Duraphat) no dente 36, enfatiza-se que as expectativas técnicas e ansiedades dos profissionais precisaram ser superadas, sendo feito portanto, o atendimento possível respeitando as limitações da paciente. A pouca colaboração da mesma e as constantes estereotipias ocorridas no consultório evidenciaram alguns desafios emocionais enfrentados pelos cirurgiões-dentistas em atendimentos assim, buscou-se por tanto se ater além da necessidade de atenção às famílias de indivíduos que possuam necessidades especiais e a atenção ao próprio indíviduo, constatando a necessidade de maior atenção ao despreparo dos profissionais para atuar nesses casos e ainda aos desafios pessoais, psicológicos, morais e éticos que os mesmos enfrentam. Palavras- chave: Atendimento Humanizado; Desafio Emocional; Autismo. 1Graduanda no curso de Odontologia da
Universidade Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central
(FACIPLAC)
2Graduanda no curso de Odontologia da
Universidade Faculdades Integradas da
União Educacional do Planalto Central
(FACIPLAC)
3Especialista em Endodontia, Mestre em
Terapia Intensiva, Habilitação em
Laserterapia e Odontologia Hospitalar
Intensiva- CEMOI, Professora de
Estomatologia, Emergências Médicas e
Odontologia Hospitalar no Centro
Universitário Faciplac.
- Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias citados nesse artigo. Categoria: Relato de Caso Clínico Área: Atendimento odontológico a portadores de Necessidades Especiais INTRODUÇÃO
O profissional de odontologia
enfrenta desafios além dos técnicos, sendo
ela uma área da saúde que lida com uma
grande diversidade de pacientes, ele
ocasionalmente vai se deparar com
pacientes cujo atendimento pode
apresentar certas dificuldades. Tendo em
vista que o autismo, segundo a APAE (2017)
¹, atinge 2 milhões de pessoas hoje no Brasil,
ou seja, a cada 104 pessoas 1 apresenta
autismo, pode-se dizer que eventualmente
uma dessas cruzará a porta de um
consultório odontológico e a questão é,
saber se o profissional estará apto para
prestar esse tipo de atendimento.
O autismo é, como definido por
Bandim (2017) ² um transtorno que afeta
máxime o desenvolvimento afetivo, social e
cognitivo da criança, sendo ele uma das
síndromes mais destrutivas no que tange ao
desenvolvimento infantil do indivíduo.
Devido a tais restrições no desenvolvimento
e nas interações desses indivíduos,
pacientes portadores deste transtorno
tendem a colaborar pouco ou quase nada
com o cirurgião-dentista na hora dos
procedimentos necessários.
De maneira geral portadores de
necessidades especiais, sejam elas quais
forem, sofrem ainda determinado descaso
da sociedade que demonstra despreparo,
preconceito e principalmente uma
inaptidão para realizar atendimento a
necessidades básicas destes indivíduos³. Tal
afirmativa é reforçada na atualidade e
também mais especificada ás crianças nos
estudos de Fonseca (2010)4 e de Santos
(2011)5 que mostraram que as crianças
portadores de necessidades especiais (PNE)
ainda vem sofrendo preconceitos
decorrentes de suas limitações, o que
culmina em pais ou responsáveis receosos
que não seguem ou não procuram um
atendimento odontológico, ou até de
outras áreas da saúde, a fim de proteger
essas crianças de tais preconceitos.
Em contrapartida, Jorge et al. (2017)6
ressaltam que crianças portadoras de
necessidades apresentam maior
vulnerabilidade a doenças bucais quando
comparadas ao restante da sociedade, isso
se dá em decorrência de suas limitações
físicas e/ou mentais, que é um fator
determinante para o então crescente
aparecimento dessas crianças em
consultórios odontológicos.
Considerando-se os estudos de
Bonato et al (2012)7 os cursos superiores de
formação em odontologia no Brasil deixam
a desejar no que diz respeito a capacitação
desses profissionais para atendimentos
especiais. Nas 221 instituições de nível
superior com curso de odontologia
existentes no país, a disciplina de
“odontologia para PNES” é ofertada em
apenas 56 o que corresponde a 27,86%
sendo que em 8 dessas instituições a
matéria não estava disponível no momento
do estudo, a mesma é obrigatória em
apenas 34 dessas faculdades, sendo
optativa nas outras 14.
Pode-se dizer portanto que, em
suma, a categoria não está apta a esse
atendimento. Sendo assim deve se levar em
conta o desafio emocional que o cirurgião-
dentista enfrentará nesta situação. O
presente estudo tem por objetivo
identificar tais desafios, exemplificando-os
por meio de um relato de caso, para assim
expô-los à comunidade acadêmica e
também à profissional a fim de que se
atenham os olhos à essa questão.
Revisão da literatura
Visando abordar as dificuldades
emocionais encontradas pelo profissional
de odontologia no mercado atual, no que
tange a pessoas portadoras de
necessidades especiais (PNE) aborda-se a
seguir o autismo que atinge hoje, segundo a
ONU (2015)8, 70 milhões de pessoas em
todo o mundo, o que culmina no
aparecimento de portadores desse
transtorno cada vez mais nos consultórios
de odontologia. O atendimento
odontológico a portadores de necessidades
é também um conteúdo de interesse para o
presente estudo visto que as técnicas e
abordagens teóricas desse atendimento são
de importância para o presente relato.
- Autismo
O autismo é conhecido por causar
diversos problemas no que diz respeito a
interações sociais, comportamentais e de
comunicação, o transtorno pode afetar
cada indivíduo de uma forma diferente se
tornando delicado e de difícil
acompanhamento tanto médico quanto
familiar, em muitos casos os pacientes
podem apresentar pouco ou nenhum
interesse em estabelecer relações sociais
com outras pessoas.
Segundo Schwartzman, (2003)9,
(2011)10 o Transtorno do Espectro Autista
(TEA) é um distúrbio de desenvolvimento
neurológico que causa mudanças na
qualidade e quantidade de interação social,
comportamental e comunicativa, podendo
ter diferentes níveis de gravidade.
O transtorno é desenvolvido
enquanto criança e pode ser diagnosticado
nos primeiros meses de vida. De acordo
com o Ministério da Saúde (2014)11 , a partir
dos doze aos vinte e quatro meses já é
possível observar os primeiros sintomas
relacionados ao TEA, sendo, dificuldade no
desenvolvimento da fala, ou atraso na
evolução da linguagem, podendo até
mesmo em casos mais graves apresentar
retrocesso.
O Ministério da Saúde (2014)11
informa que em algumas ocasiões pode-se
notar a existência de duas ou mais doenças
no mesmo paciente, podendo ser
deficiência intelectual, causado pela falta
ou pouca interação social, ou déficit
cognitivo e adaptativo podendo conter
também alterações comportamentais e
estereotipias.
Segundo Cadman et al.(2012) 12,
familiares ou pessoas responsáveis pelos
cuidados de pacientes diagnosticados com
TEA podem apresentar taxas elevadas de
estresse com relação às famílias de pessoas
que possuem desenvolvimento regular, ou
seja, pessoas que não possuem o
transtorno, esse fator pode influenciar na
qualidade de vida familiar.
Assumpção e Sprovieri (2001)13
relata que o comportamento da família
perante a doença pode influenciar a
aceitação, interpretação e também o modo
como o paciente encara os desafios
propostos pelos familiares e cuidadores.
Um bom funcionamento psicológico e social
garante um bom quadro de satisfação de
harmonia e adaptabilidade. Ou seja, uma
boa capacidade de adequação da família
frente as situações potencialmente
estressantes.
Atendimento Odontológico a Portadores
de Necessidades Especiais.
Portadores de deficiências, e
necessidades especiais têm, de maneira
geral, maiores possibilidades de serem
acometidos por doenças bucais14. Isso se dá
por terem uma coordenação
comprometida, pelo consumo de
medicamentos que contém sacarose ou
ainda pela falta de diligência dos pais ou
responsáveis na realização da higiene
bucal6. Ruas et al., (2016)15 ressaltam que
outros fatores que levam a negligência aos
cuidados da saúde bucal dos PNEs são a
precariedade nos serviços odontológicos
prestados aos mesmos, o despreparo dos
profissionais da área, o preconceito sofrido
por eles e muitas vezes sentido pelos
familiares e também as condições
financeiras.
Quando se fala em despreparo de
profissionais para essa especialidade ou
ainda nos preconceitos sofridos por
pacientes e familiares de pacientes PNEs,
deve se levar em conta o que foi dito por
Castilho et al.(2014)16 , que este tipo de
tratamento requer do cirurgião-dentista
habilidades que vão além do conhecimento
específico da área da odontologia.
Em atendimentos a PNE’s, é de
fundamental importância que o cirurgião-
dentista se atenha aos aspectos emocionais
dos pacientes e familiares, levando em
conta o risco de segregação e o sentimento
de rejeição que eles sentem17.
Sabendo que a Humanização do
Atendimento pressupõe em uma
valorização do potencial humano, uma
humanização nesse tipo de atendimento se
faz imensuravelmente necessária, pois, são
esses casos que permitem ao cirurgião-
dentista, adquirir “sensibilidade social”
retirando-o da frieza dos métodos e
permitindo que este profissional seja
induzido a atender respeitando limites,
condições especiais e ainda vise o
atendimento integral18. (Castilho et al.
2014)16.
A recepção é um passo introdutório
primordial para que o indivíduo e seus
familiares, sintam confiança nos
procedimentos que se seguirão ao longo do
tratamento odontológico. Isso é
fundamental, já que inúmeras vezes, para
que o tratamento seja realizado, é
necessária uma estabilização física e/ou
química e é necessário que a família esteja
informada e segura o suficiente da real
necessidade dos usos de tais técnicas. 16
Martins et. Al. (2013)19 ressaltam ainda que
em alguns casos se faz necessário até o
encaminhamento para anestesia geral, uma
vez que tenham sido exploradas todas as
tentativas ambulatoriais.
Silva et al. (2005)20 observam que
essas contenções físicas ou químicas,
podem aparentar de certa forma medidas
muito radicais ou agressivas, mas que as
são fundamentais para a correta efetuação
do tratamento odontológico. Entretanto é
sabido que a maioria dos em questão tenha
conhecimento científico bem como técnico
para lidar com possíveis intercorrências21.
Relado de Caso Clínico
Traz-se o relato do caso cuja
paciente apresentou-se à clínica
odontológica (FACIPLAC) para uma
avaliação e, se possível, a realização de um
tratamento, sendo ela portadora de
necessidades especiais (PNE). As técnicas e
abordagens utilizadas nos procedimentos
que se seguiram, tiveram por base artigos e
pesquisas especializadas no atendimento
humanizado e voltado a pacientes (PNEs)
que foram consultados pelos estudantes da
graduação, no papel de cirurgiões-dentistas
do caso, ao longo do processo de adaptação
da paciente que teve duração de 6 meses.
Paciente C. P. A, 13 anos, sexo
feminino, apresentando bom estado de
saúde, nunca tenha sido hospitalizada.
Portadora de autismo, realizando
tratamento de maneira regular com
Psiquiatra e fazendo o uso contínuo de
Risperidona.
(Figura 1) – Fotos da paciente, no
dia da consulta.
O autismo da paciente teve início
aos 3 anos de idade, após o abuso sexual, o
que justifica o avançado nível em que se
encontra atualmente. Sabendo que o
autismo se apresente de formas e níveis
diferentes, é importante ressaltar que no
em questão a paciente apresenta uma
grande variedade de sintomas, ou seja , a
mesma evita olhar nos olhos, não responde
quando é chamada, aparenta estar sempre
“no mundo dela”, não fala, ou quando fala
o faz de maneira muito vaga, não faz uso de
gestos para facilitar a comunicação e nem
mesmo entende o gesto de apontar, a
paciente apresenta também estereotipias
como sacudir as mãos, não interage com
outras crianças e quando contrariada age
com histeria batendo as mãos na cabeça,
isso se dá porque a mesma sofre de autismo
nível 3, isto é , autismo grave cujas
alterações sociais e comportamentais se
mostram em graus mais limitantes.
Tais sintomas tiveram influência
direta na resistência da paciente quanto ao
atendimento odontológico sabendo que a
avaliação que seria realizada consiste
basicamente em I -Anamnese; II- Exame
clínico; III- Instruções de higiene oral; IV-
Exame radiográfico e início do tratamento
específico. Processos estes que exigiam
determinada colaboração da paciente, que
era relutante a qualquer aproximação física,
sendo assim, muitos dos sintomas
supracitados foram observados ao longo
dessas tentativas, como por exemplo
tentativas de deserção da clínica, reações
exageradas a qualquer tentativa de
comunicação e/ou aproximação.
Dados os fatos, diversas formas de
abordagem foram estudadas e testadas na
paciente a fim de obter êxito no
atendimento, e para tanto primordialmente
foi realizado um questionário de saúde
minucioso com a mãe, que nesse caso é a
responsável e era a acompanhante da
paciente, levando em conta que, como dito
por Silva OMP (2004)22 o paciente especial
se diferencia dos outros pacientes, porém,
não pelo estado de saúde bucal, e sim por
ter outras doenças, fora da área de atuação
de odontologia. Ter o conhecimento de
quais doenças seriam essas pode facilitar o
atendimento.
Após esse questionário e a
interação do caso da paciente, para o
atendimento priorizou-se a realização de
consultas curtas visando a harmonização da
paciente com o ambiente e conforme as
necessidades vinham surgindo tentou-se
fazer uso de técnicas odontopediátricas
dentre eles pode-se ressaltar a técnica
estabelecida por Addelston em 1959 que
englobou vários conceitos da teoria da
aprendizagem, nomeada “diga-mostre-
faça” (DMF) que consiste basicamente em
realizar esses três comandos
respectivamente23. A técnica foi aplicada no
condicionamento conforme apresentado na
(Figura 2) , e durante todas as consultas fez-
se o uso também comandos claros, curtos e
simples.
(Figura 2); Condicionamento sendo
feito com aplicação da técnica DMF.
Não se pode dizer que tais técnicas
foram eficazes como o
esperado, ressaltando que as mesmas eram
constante e intercaladamente utilizadas,
mas a persistência dos estagiários, teve
grande impacto nas respostas positivas
durante esse processo, inclusive levando
em conta que os mesmos fizeram também
uso de técnicas não convencionais como
por exemplo a utilização de vídeos com
desenhos animados como forma de
interação com a paciente e distração da
mesma a fim de que ela se sentisse mais à
vontade no recinto.
Como exposto no Gráfico 1, a
evolução do atendimento, e
consequentemente da aproximação, à
paciente não foi rápida e nem fácil, mas se
apresenta em um padrão satisfatório, visto
que em alguns casos no meio odontológico
nem sempre se consegue fazer o
atendimento a portadores de TEA.
Como visto, a evolução foi
relativamente gradual. Após o 6º mês, o
atendimento foi efetuado como se pôde,
sendo que foi feita a Instrução de Higiene
Oral, juntamente com a mãe, levando em
conta que em se tratando de PNEs é de
fundamental importância ser dada aos pais
ou responsáveis tais instruções quanto a
manutenção da higiene bucal, conforme
ressalta Gonçalves (2012)17 . E ainda foi feita
uma análise a fim de buscar alterações
bucais, que pode ser visto na Figura 3 foi
identificado apenas uma cárie inativa no
dente 36, nos demais dentes, não foi
encontrado nenhuma alteração.
(Gráfico 1) Gráfico do êxito no atendimento.
Consulta 1 Consulta 2 Consulta 3 Consulta 4 Consulta 5
Gráfico do êxito no atendimento
Radiografia e início dotratamento
Aplicação de Verniz
Profilaxia
Exame Clínico
Contato Físico
Interação
(Figura 3); Análise de alteração
bucal.
Sendo assim foi feita também a
profilaxia e sequencialmente a aplicação de
flúor mousse, constatou-se a necessidade
de aplicação de Verniz Fluoretado
(Duraphat) no dente 36, a mesma foi
efetuada tranquilamente, porém quanto ao
exame radiográfico, que no procedimento
ideal de avaliação seria feito, este foi
suprimido. Pois como foi dito por Fonseca
et. Al. (2010)4 , o profissional terá que ser
flexível pois no atendimento a PNE muitas
vezes pode não ser possível a realização do
procedimento ideal, mas sim do que é viável
fazer, ou seja, o tratamento real.
(Figura 4); Realização da profilaxia.
Discussão
Os autores deixam bem claro que
em casos de atendimento odontológico a
portadores de necessidades especiais a
colaboração e o relacionamento dos
profissionais com os pais ou responsáveis
fazem toda a diferença21 e ressaltam a
importância do estabelecimento desse
vínculo entre os profissionais-pais-
crianças24. Sabendo disso um dos desafios
emocionais que os profissionais
enfrentaram é o relacionamento com a mãe
uma vez que ela restringia as informações
ou se mostrava incomodada quando
solicitada a responder, prioritariamente
qualquer coisa sobre os citados abusos
ocorridos nos primeiros anos de vida da
paciente, fazendo com que se questionasse
a veracidade do fim dos mesmos, o que
projeta no psicológico do profissional a
possibilidade da continuidade desses
abusos e por que não dizer também da
possibilidade da conivência da mãe com tais
atos. Tendo como agravante para tais
projeções o fato de que desde as primeiras
tentativas de aproximação com a paciente a
mesma fazia gestos e sinais com explicitas
conotações sexuais.
O arcabouço teórico muito defende
que o emocional da família deve ser levado
em conta quando se trata de atendimento
odontológico para PNEs17, pois como dito
por Camera (2011)25 , esse profissional
precisa se ater que essas famílias sofrem,
mudanças na rotina, no andamento do lar e
ainda constantes dúvidas desde o
recebimento do diagnóstico, ou seja, há
uma série de fatores que vão além da
higiene bucal que leva-os a ter
comportamentos de superproteção ou
quiçá rejeição. Porém o presente artigo
acrescenta que o emocional do profissional
também deve ser priorizado.
Constantemente apresentou-se as
dificuldades dos cirurgiões-dentistas em
realizar atendimentos a PNEs, mas uma
unanimidade entre os profissionais foi que
pacientes portadores de TEA são os que
apresentam mais resistência e dificuldades
no atendimento, isso se dá muito
possivelmente devido ao autismo ser
definido basicamente por limitações
qualitativas de comunicação, interações
sociais e afins. E em algumas narrações
transcritas por profissionais pode-se se
notar um sofrimento psíquico por parte do
cirurgião-dentista4.
Há de se considerar que desde o
acolhimento até o fim do tratamento
muitas são as atribuições do cirurgião-
dentista, tanto no que tange a criação de
um vínculo com os pais, quanto nas
expectativas para o atendimento, geradas
em si e no paciente, o que pode gerar uma
sobrecarga emocional nesse profissional.
Havendo ainda para contribuição dessa
sobrecarga especificidades desses casos, já
que neles as expectativas são também
divididas com os responsáveis, há
preocupações com as técnicas
odontológicas sendo suprimidas, por vezes
até cansaço físico, ansiedades geradas
antes da consulta devido a frustrações
anteriores com o paciente ou com outros
portadores do mesmo transtorno, dentre
outros fatores no caso em questão ainda
permeiam questões de ordem ética, moral
e psicológica que muito afetaram os
profissionais.
Por se tratar de um relato de caso
os desafios aqui apresentados limitam-se ao
caso específico, no entato o tema é de suma
importância para a academia e deve ganhar
atenção em estudos posteriores mais
aprofundados e de maneira mais
abrangente. Visto que o estudo de Fonseca
(2010)4, aqui citado apenas expõe a
dificuldade que os mesmos têm em
reconhecer que são humanos, com
problemas pessoais, ansiedades e que
também geram expectativas quantos aos
seus atendimentos. Descrevendo, porém
não se atendo devidamente aos desafios
enfrentados pelos cirurgiões-dentistas
nesse atendimento especializado, nem em
como minimiza-los a fim de presar pelo
psicológico do profissional.
Muito deve ser discutido para suprir
as necessidades dos pacientes com TEA nos
serviços odontológicos, porém é fatídico
que estudos em prol do enfrentamento
desses desafios emocionais bem como
reconhecimento das dificuldades e
limitações pessoais por parte dos
cirurgiões-dentistas. Nesses casos, precisa
ser feito e devidamente tratado afim de que
se tenham profissionais cada vez mais
preparados a suprir essas demandas.
Conclusão
O caso relatado evidenciou desafios
emocionais, que os profissionais da
odontologia enfrentam diariamente em
atendimentos a portadores de
necessidades especiais, desafios que não
estão tendo a devida atenção, vê-se,
portanto, que esses precisam ser
explorados a fim de minimizar influências
dos mesmos no bom funcionamento de um
atendimento especializado a portadores de
TEA, como no caso, lidar com esses desafios
que afligem os cirurgiões-dentistas
proporcionaria melhor interação com a
família pois qualquer insegurança do
profissional pode ser sentida pelos
familiares já muito sensibilizados devido as
condições limitantes do PNE. Profissionais
preparados emocionalmente em um
sistema que se preocupa com o psicológico
deles resultaria num atendimento de maior
sucesso a tais pacientes.
Abstract Due to the multiplicity of patients entering dental offices every day, deal with people with special needs is an increasingly frequent reality for dental surgeons. The present study reports a patient with Autism Spectrum Disorder who presented severe interactive difficulties, which caused disorders during patient care. The procedure was a simple evaluation from where the prophylaxis was done and also the necessity of Fluoride Varnish’s (Duraphat) application on tooth 36. It’s emphasized that the technical expectations and anxieties of the professionals must be overcome, to ensure the best possible service, in a way that respects the limitations of the patient. The low collaboration of hers and the constant stereotypes occurred in the clinic evidenced some emotional challenges faced by the dental surgeons in this kind of situation. It was sought to focus beyond the need of attention to the families of individuals who have special needs and the attention, to also note the need of giving greater attention to the professionals who are unpreparedness to act in these types of cases and to the personal, psychological, moral and ethical challenges that they face. Key-words: Humanized Service; Emotional Challenge; Autism.
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