David Murray - Adoração Reformada
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Transcript of David Murray - Adoração Reformada
Transcrição da palestra proferida por Dr. David Murray na Sala de Leitura da CLIRE e do Projeto Os Puritanos em Recife e repetida no Simpósio Os Puritanos em
Maragogi/AL/2009 http://ospuritanos.blogspot.com.br/2011/02/adoracao-reformada-dr.html
Diagramado por
Fabio Martins
Imagem de capa: http://www.wallconvert.com/wallpapers/nature/sunrise-over-the-mountains-8255.html
Brasil – 2015
ADORAÇÃO REFORMADA
João 4:21-24: “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste
monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem
dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em
verdade. ”
I. A REFORMA DA ADORAÇÃO BÍBLICA
Quando os reformadores redescobriram o evangelho bíblico, eles também perceberam a
necessidade da redescoberta da adoração bíblica. Quando perceberam a salvação em termos
de glorificar a Deus, nos termos da centralidade de Deus, então perceberam que a adoração
resultante disso também deve ser uma adoração centrada em Deus e que glorifique a Deus.
Eles viam tantas coisas e acréscimos humanos colocados na adoração a Deus como os altares,
vestimentas, velas, outros sacramentos, incensos, etc. e para retornar a uma adoração
centrada em Deus eles tinham de jogar fora todos aqueles acréscimos humanos. Martinho
Lutero iniciou este processo. Zuínglio, Martin Bucer e Calvino continuaram depois dele.
Cada um deles ia jogando fora mais e mais aquilo que pertencia à imaginação humana e
trazendo mais e mais aquilo que era centrado em Deus. Eles entenderam que nesta área da
adoração, a melhor forma de se centralizar em Deus era se centrando na Palavra. Quando
eles jogaram fora tudo que era feito pelo homem, isso deixou um vácuo a ser preenchido.
Dentro deste vácuo eles tinham de colocar a adoração centrada na Palavra de Deus.
Vamos inicialmente focalizar esta área dos cânticos de louvor. A Reforma passou por dois
estágios na reforma dos cânticos na Igreja. Em primeiro lugar, Lutero foi o pai do cântico
congregacional. Ele viu que por mais de mil anos na Igreja os cânticos estavam nas mãos dos
corais, dos monges e das freiras e não nas mãos do povo de Deus. Uma das primeiras coisas
que Martinho Lutero fez em 1524 foi introduzir na Igreja o uso do hinário. Lutero deu de
volta ao povo de Deus o cântico congregacional. Eles não precisavam mais vir ao culto vendo-
o apenas como uma forma de performance, mas eles vinham para participar. A segunda
etapa foi com Calvino. Lutero restaurou o louvor congregacional, mas Calvino restaurou a
cântico bíblico. Calvino via que na igreja primitiva, início do Novo Testamento, a igreja
cantava os salmos. Ele percebeu que o coração não apenas deve ser guiado pela Bíblia, mas
que a adoração deve ser repleta de Bíblia e que o cântico na adoração bíblica não precisa
apenas ser guiado pelos princípios bíblicos, mas deveria ser cheio de conteúdo bíblico. Então,
Calvino reintroduziu o saltério na igreja de Cristo. Para Calvino a adoração a Deus deveria
ser o encontro com a Palavra, a leitura da Palavra, a pregação da Palavra, o cântico da
Palavra. Tudo tinha de ser centralizado na Palavra de Deus. Esta é uma breve história da
reforma do culto bíblico.
II) A REGULAMENTAÇÃO DA ADORAÇÃO BÍBLICA
Todo cristão tem alguma regulamentação acerca da adoração. Todo crente coloca uma “linha”
(limite) em algum lugar no culto. De um lado da linha há uma adoração aceitável e do outro
lado da linha uma que é inaceitável. Todos nós estamos de acordo que existem algumas
coisas que são boas para o culto e outras que não devem existir no culto. A única questão é:
Como e onde vamos colocar esta “linha” demarcatória? Qual a regra que vamos seguir para
saber qual é o aceitável e o inaceitável? Deixe-me dar algumas regras que são usadas em
nossos dias. Todos nós temos alguma destas regras.
a) O Passado. “Sempre foi assim!”. E se foi suficiente para as pessoas do passado, será bom
para nós também hoje. Nossos pais adoraram assim então nós adoraremos assim. Dessa
forma o passado é a regra para o presente.
b) A Preferência. É a regra do que eu gosto, do que eu quero e do que eu acho agradável. Eu
gosto assim; eu me sinto bem com isso; isso está de acordo com minha personalidade. É a
minha preferência.
c) Pragmatismo. Funciona, atrai pessoas e é popular? Então, vamos fazer assim! Não fazer
de outra forma porque isso não seria popular e não atrairia as pessoas. Assim, nossa regra é
o pragmatismo: o que funciona.
d) Proibição. Tudo é permitido desde que não seja explicitamente proibido na Palavra de
Deus. Esse foi o princípio que Lutero usou. Ele basicamente disse: Se a Bíblia não proíbe as
velas, então podemos usá-las e assim por diante. Então, se não houver uma clara proibição,
podemos fazer. A Bíblia não proíbe em nenhum lugar a dramatização no culto, então pode-
se usar o drama, o teatro e assim por diante.
Eu diria que estas são as quatro regras mais usadas hoje pelas pessoas para saber o que
devem fazer no culto. Mas a pergunta a ser feita é: isso é Bíblico? A resposta é: Não! Então,
qual é a regra bíblica? É a regra usada por Calvino que a descobriu na Palavra de Deus:
Somente aquilo que é ordenado na Bíblia deve ser permitido no culto a Deus. Verdadeira
adoração é adoração ordenada nas Escrituras conforme a vontade de Deus. Se não for
ordenado, não é autorizado. A Bíblia ordena dramatização, teatro, no culto? Não. A Bíblia
ordena o uso de velas? Não. A Bíblia ordena o uso de vestimentas clericais? Não. Então,
temos aqui a regra mais radical de todas. É o Princípio Regulador. Mas, de certa forma nós
podemos dizer que todas aquelas regras são “princípios reguladores”. Todas elas regras
regulam o culto. Então, todos nós temos algum tipo de princípio regulador. Então a pergunta
é: Será que este nosso princípio regulador é o Princípio Regulador da Bíblia? O Princípio
Regulador bíblico, como podemos demonstrar, é a prescrição. Somente aquilo que foi
ordenado é permitido. Quando estamos considerando nossa adoração, é esta a pergunta que
devemos fazer: Deus ordenou isso? Não devemos perguntar: Ele proibiu isso? Isso foi
sempre feito assim? Gostamos disso? Também não devemos perguntar, “isso funciona?”. E
assim por diante.
Por que Deus fez assim com oculto? Em parte é porque temos corações pecaminosos e
corruptos. Nossos corações não são confiáveis! E não podemos confiar em nossos corações
para acharmos a forma correta de adorar a Deus. Por isso Deus nos deu direcionamento
suficiente para que sigamos. E este direcionamento é uma direção externa a nós. Deus tem
o direito de decidir como Ele mesmo quer que seja adorado. Pense no presidente do Brasil.
É ele que decide como funciona seu governo, como as pessoas devem se aproximar dele. Ele
decide o cerimonial para receber as pessoas. Se nós desejamos agradá-lo, então vamos seguir
tudo aquilo que ele determinou. E se os governadores humanos fazem assim, quanto mais o
Rei dos Reis e o Senhor dos Senhores. De onde tiramos isso na Bíblia?
Vejamos em Levítico 10. 1-3:
“Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles
fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o
que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e
morreram perante o SENHOR. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR disse:
Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado
diante de todo o povo. Porém Arão se calou”.
Vejamos aqui a frase-chave, no final do v. 1: “o que lhes não ordenara”.
Estes homens eram religiosos e adoradores; tinham boas intenções e provavelmente eram
sinceros, mas fizeram o que não havia sido ordenado por Deus.
E também em 1 Crônicas 15.13:
“Pois, visto que não a levastes na primeira vez, o SENHOR, nosso Deus, irrompeu
contra nós, porque, então, não o buscamos, segundo nos fora ordenado”.
Lembramos que aqui Davi e o povo de Israel tentaram levar a arca da aliança e isto era uma
coisa boa; estavam com muita sinceridade, tinham boa motivação. Mas eles não fizeram
segundo as ordenanças de Deus. Por isso, quando Uzá tentou tocar na arca, Deus o matou.
Assim eles disseram: “não o buscamos, segundo nos fora ordenado”. Podemos ver a mesma
coisa com o Rei Jeroboão e o Rei Uzias que foram castigados por terem adorado a Deus de
uma forma que Ele não tinha ordenado. Deus tem nos dado muitas advertências sobre o que
Deus nos fará se não respeitamos aquilo que Ele tem definido. Quando nós realmente
abraçamos este princípio de que somente aquilo que Deus tem ordenado é legítimo no culto,
o que sobra?
A Confissão de Fé de Westminster inclui estes dois versículos citados, no 2º
Mandamento da Lei e no Capítulo XXI, I (Do Culto e do Dia de Repouso) afirma:
“Mas a forma aceitável de cultuar o Deus verdadeiro é instituída por sua própria
vontade revelada, de modo que ele não pode ser cultuado segundo as imaginações e
invenções humanas, nem segundo as sugestões de Satanás, sob alguma
representação visível, ou por qualquer outra forma não prescrita na Sagrada
Escritura” (CFW).
Veja o que lemos aqui. Nós não podemos adorar a Deus usando ídolos ou qualquer outra
forma não ordenada na Palavra. Mas alguém poderia dizer; “Eu nunca iria adorar a Deus
com ídolos”, mas aqui a Confissão de Fé de Westminster reúne o ensino bíblico sobre este
assunto e diz que qualquer adoração que não encontra prescrição ordenada por Deus na
Palavra, é idolatria. Não é que você está adorando ao Deus errado, mas a questão é que você
está adorando a Deus de forma errada; de uma forma não ordenada nas Sagradas Escrituras.
Então, podemos usar isso também na área do louvor, nos cânticos, porque podemos aplicar
este princípio a todas as áreas do culto. Do início até o fim, Deus tem ordenado esta área ou
aquela; Ele ordena isto e aquilo. E nos cânticos de louvor, o que Deus nos ordenou a usar?
Segundo o pensamento dos reformadores, Deus nos ordenou o cântico dos Salmos. No Velho
Testamento temos exemplos dos Salmos sendo cantados, mas também no Novo Testamento.
Por exemplo, Colossenses 3:16 ― “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo;
instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com
salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” e Efésios 5:19. À
primeira vista, vendo estes versículos você pode dizer: “Então eu posso cantar não apenas
Salmos, mas outros cânticos também”. Temos duas coisas a dizer em resposta a esta
afirmação:
1) Os títulos dos Salmos do Velho Testamento
Primeiro, vejamos os títulos dos Salmos do VT. Eles são traduzidos em grego (na Septuaginta)
usando estes três títulos colocados nestes versículos citados. Quando Paulo está falando
deste cantar os “salmos, cânticos e hinos espirituais”, ele está se referindo ao livro de Salmos
que contém “salmos, hinos e cânticos espirituais”. Esta expressão, “cânticos espirituais”,
significa cânticos do Espírito Santo ― Cânticos inspirados pelo Espírito Santo. Pelos títulos
dos Salmos, nós entendemos que Paulo está dizendo: “Salmos, Salmos e mais Salmos”.
2) Exemplo do Novo Testamento
A segunda coisa é o exemplo que temos no NT. Por exemplo, Mateus 26.30: “E, tendo
cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras”. Veja: “... tendo cantado um
hino”. Aqui Jesus estava sentado com seus discípulos na última Ceia Pascal e na primeira
mesa da Santa Ceia.
Mais uma vez hino, no grego, significa Salmo. Naquela época, esta era uma prática bem
conhecida na igreja judaica. Quando os judeus estavam celebrando a páscoa, eles cantavam
os hinos pascais. Esses hinos pascais nós os encontramos dos Salmos 113 ao 118. Jesus
cantou com seus discípulos estes hinos. Um comentarista disse que o canto destes Salmos
de Hallel, por Cristo e seus discípulos na noite da Sua traição, marca o momento no qual o
saltério passa da antiga dispensação para a nova dispensação, porque acompanhou a última
celebração da páscoa e a primeira celebração da Santa Ceia do Senhor. Neste versículo Jesus
está dizendo que estes mesmos Salmos do Antigo Testamento são adequados e suficientes
no Novo Testamento.
Então, como vimos antes, no Velho Testamento nós temos prescrição e exemplo. Mas
também no Novo Testamento nós temos prescrição e exemplo. Vemos, portanto, como os
reformadores restauraram o Princípio Regulador do culto. Sendo assim, o culto precisa ser
algo ordenado hoje.
Recentemente li uma citação de Ray Lanning que é um perito reformado neste assunto de
culto e ele dizia: “Das muitas mudanças implementadas pelos reformadores, nenhuma foi
mais dramática do que a mudança do culto público”. Calvino disse: “Todo serviço a Deus
que é inventado pelo cérebro do homem na religião de Deus sem o Seu expresso
mandamento é idolatria”. Estas palavras são bem sérias.
III) AS RAZÕES DO CULTO BÍBLICO
Por que tudo isso é importante? Por que estamos enfatizando estas coisas? Por que Deus
deseja assim?
1º) Primeiro, porque seguindo este padrão bíblico, conseguiremos ter simplicidade.
Todas as decisões sobre o que deve existir no culto se tornam tão simples. Não importa
quantas pessoas, sejam elas jovens ou velhas, cheguem dizendo: “Esta é uma ideia ótima
para o culto”. Nós não precisamos consultar o passado, não precisamos perguntar se isso
vai ser popular, não precisamos perguntar se isso vai funcionar, não é necessário procurar
na Bíblia para ver se há uma provisão, mas simplesmente perguntar: “Isso foi ordenado?
Isso é requerido?”. Simplicidade! Realmente isso iria simplificar de forma impressionante
os cultos de adoração nas igrejas.
2º) Uma segunda razão é a espiritualidade. A igreja Católica Romana chegou a ter um
sistema de culto tão complexo que o povo ficava vendo apenas aquilo que é externo na
adoração. Eles esqueceram que Deus quer ver nosso coração e que é necessário que o culto
seja espiritual. Quanto mais tornamos complexo nosso culto, mais externo, mais exterior ele
se torna. Mas se tiramos tudo que apela aos nossos olhos e nossos sentidos, nossa visão,
nosso tato, então chegarem a ter algo bem simples. Assim podemos no focar no coração e
não naquilo que está lá fora. Por isso os reformadores pintaram de cal todas as igrejas, por
dentro e por fora. Tiraram todas as janelas com seus vitrais coloridos; aboliram todas as
vestimentas clericais; todos os incensos e sinos; tudo que impressionava os olhos. “Vamos
simplificar”, eles disseram “para que o povo possa novamente adorar de coração. Isso
melhora a espiritualidade”. Já participei de reuniões onde a adoração foi tão extravagante,
impressionante aos olhos e aos ouvidos. De fato isso tem sido demasiado para ser provado,
vivenciado. Nestas adorações os sentidos têm sido tão estimulados que nos faz perguntar se
aqui está sendo realizado um culto que parte do coração.
3º) A terceira razão é a unidade. Qual é a consequência quando as pessoas estão
seguindo várias regras quanto ao culto? A consequência é a divisão da igreja de Cristo! Cada
igreja faz aquilo que agrada aos seus próprios olhos. Um dia você entra em uma igreja, outro
dia em outra igreja, e percebe uma diferença enorme entre elas. Uma diferença tão grande,
que estas igrejas nunca chegarão a se reunir para adorar juntas. Todas aquelas regras não
bíblicas têm levado a Igreja às chamadas guerras litúrgicas. Imaginemos se todas as igrejas
no Brasil fechassem as suas portas e tivessem uma reunião a portas fechadas. Dissessem:
“Vamos abrir a Bíblia e, baseados na Palavra de Deus, vamos decidir o que Deus ordena
para estar presente em nossos cultos; se acharmos alguma coisa que é ordenada na Bíblia,
isso estará presente; se não acharmos uma ordenança para determinada coisa, isso fica
fora”. Não temos dúvida de que muitas coisas seriam colocadas fora. Mas, imaginemos se
depois dessa decisão as portas fossem abertas e todos se reunissem para adoração uma
conjunta. Todos eles estariam na “mesma página”. Talvez isso requeresse algum tempo, mas
todos chegariam ao mesmo ponto. Isso uniria as igrejas de forma extraordinária e
impressionante. Impressionaria o mundo, também. Isso impactaria o mundo mais do que
nossas divisões estão fazendo.
4º) Uma quarta razão é a glória de Deus. Se nós dissermos: “Nós não somos confiáveis
para dizer o que é apropriado para o culto; só Deus tem o direito de dizer o que é legítimo
na adoração e eu me submeto a tudo aquilo que Ele ordena”. O que isso diz? Diz que Deus
esteja em seu trono e eu esteja no pó! Isso dá a Deus o seu direito e nos torna seus servos.
Assim Deus é glorificado.
Mais uma vez vamos nos focar apenas nos Salmos.
1) Podemos cantar os Salmos a Cristo. Quando lemos a palavra “Deus” ou “Senhor”
ou “Rei”, nos Salmos, podemos cantar estas coisas a Cristo o Senhor, Cristo o Rei. Seus
títulos e seus nomes se acham em todos os Salmos. Cristo o Criador, Cristo o Provedor, Cristo
o Guia, Cristo o Defensor, e assim por diante... Então cantaremos estes Salmos de uma forma
trinitariana.
2) Em segundo lugar podemos catar os Salmos de Cristo (acerca de Cristo).
Quantos salmos estão profetizando sobre a vinda de Cristo a este mundo? Fiz uma lista
rápida. Veja o Salmo 45:6 que fala da divindade de Cristo; Salmo 2:7 que diz que Ele é o
Filho eterno; Salmo 8:5 que fala da encarnação de Cristo; os ofícios de Cristo como
mediador, Salmo 40:9-10 e Salmo 110:4; Salmo 41:9, que fala da traição do Senhor; o
julgamento de Cristo, Salmo 35:11; a rejeição de Cristo, Salmo 22:6; o sepultamento e
rejeição de Cristo, Salmo 16: 9-11; a ascensão de Cristo, Salmo 47:5; a segunda vinda de
Cristo, Salmo 50:3-4. Mas de fato Cristo não está nos Salmos, não é? Está ou não está?
Muitos têm a vista curta. Todos os Salmos que estamos entoando, cantam Cristo. Nós
cantamos a Cristo e nós cantamos de Cristo.
3) Em terceiro lugar cantamos por meio de Cristo. Quando estamos oferecendo um
culto a nosso Deus, devemos oferecê-lo pela mediação de Cristo.
4) Em quarto lugar cantamos com Cristo. Que hinário Cristo usava quando neste
mundo? Ele usava o livro de Salmos. Isso era o maná da Sua alma. Esses foram os salmos,
os cânticos que sua mãe o ensinou a cantar. Foram os cânticos que Ele tinha na memória
quando estava na Sinagoga; foram estes os cânticos que gradativamente lhe revelavam todas
as implicações do seu trabalho como Mediador. Portanto, vemos que em momentos críticos
e importantes de sua vida, estes Salmos surgem em seu coração. Estes Salmos edificavam
sua própria alma. O primeiro Salmo que uma mãe judaica ensinava a seu filho era aquele
que dizia: “Em tuas mãos entrego o meu espírito”. Quais foram as últimas palavras que
saíram da boca de Jesus? Veja o salmo 22 e o 69. Eles nos revelam tudo que estava se
passando na mente e no coração de Jesus quando ele estava morrendo. Os Evangelhos nos
revelam e relatam muitas coisas dos sofrimentos externos de Cristo, mas não chegam a nos
informar aquilo que estava se passando no seu coração. Mas os Salmos nos informam disso.
Mil anos antes do evento da morte de Jesus estes Salmos profetizam e nos predizem os
pensamentos, temores e desejos que encheram o coração de Jesus. Então, quando estamos
cantando os Salmos guardemos em nossas mentes o fato de que Cristo cantava estes Salmos,
meditava neles. Onde e quando Cristo cantou estes Salmos? Como Ele cantou estes Salmos?
Você não teria muito prazer e gozo em ouvir o próprio Cristo cantando estes Salmos? Por
exemplo, não seria prazeroso ouvi-lo cantando as palavras do Salmo 118.17-19?
“Não morrerei, mas viverei; e contarei as obras do SENHOR. O SENHOR me castigou
muito, mas não me entregou à morte. Abri-me as portas da justiça; entrarei por elas,
e louvarei ao SENHOR”.
Veja o Salmo 69. 19-21:
“Tu conheces a minha afronta, a minha vergonha e o meu vexame; todos os meus
adversários estão à tua vista. O opróbrio partiu-me o coração, e desfaleci; esperei
por piedade, mas debalde; por consoladores, e não os achei. Por alimento me deram
fel e na minha sede me deram a beber vinagre”.
São palavras muitíssimo emocionantes. Procure pensar em Cristo cantando estes cânticos
no culto doméstico e em particular. Lemos de Cristo saindo à noite para o deserto para orar
e clamar a seu Pai. Não teria Ele usado destas palavras em seus lábios santos? Não teria
cantados todos estes cânticos com todo sentimento e paixão? Jesus cantava aquilo que Ele
mesmo iria experimentar. Como Ele os cantou? Quando Ele os cantou? Ele era o salvador
dos Salmos. Que privilégio podermos tomar estes mesmos cânticos em nossos lábios e
podermos cantar com Cristo como Ele cantou. Ele cantou assim e nós cantamos também.
Nós cantamos a Ele, nós cantamos Dele, cantamos por meio Dele e com Ele.
Deixe-me encerrar com algumas colocações finais:
1) Por que fazemos o que fazemos? Qualquer que seja o modo de nosso culto é preciso
que entendamos o porquê estamos fazendo assim. Não é suficiente dizermos que sempre foi
feito assim ou que todo mundo faz assim ou que nos agrada fazer assim, porque isso não é
uma defesa contra a corrupção do nosso coração. A única defesa contra a corrupção do nosso
culto é o seguinte: Isto Deus tem nos ORDENADO! Segure, entenda, examine e aplique este
princípio e seja capaz de defender toda a parte da sua adoração à luz deste princípio.
2) Adore de verdade. Uma coisa é dar uma palestra sobre adoração. Uma coisa é lermos
muitos livros sobre adoração, e pode se tornar até um perito no assunto de adoração. Mas
você sabe adorar? Você se dobra a Deus? Em sua vida há uma adoração real, de coração a
coração, ao seu amado Salvador?
3) Vamos ter a coragem de fazer uma reforma em nosso culto se assim for
necessário. Lembram-se do que Jesus disse em Mateus 15.8-9: “Este povo se aproxima de
mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.
Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”. Notem que
não são os preceitos de Deus, mas de homens. Ele diz: “em vão me adoram”. Então, vamos
ter a coragem de fazer uma reforma na adoração.
4) Vamos tentar persuadir outras pessoas. É esta a palavra correta: PERSUADIR.
Mas não vamos agir de forma a destruir igrejas, mas vamos usar de gentileza, de forma sábia,
gradativa, tentando ganhar as pessoas, tendo paciência com elas porque por muitas vezes
elas foram abençoadas com outros hinos e corinhos em suas vidas. Você não deve esperar
que de uma forma súbita elas entendam tudo isso, mas de uma forma gradativa,
introduzindo mais e mais um culto bíblico. Um puritano, William Romaine, disse: “Eu
sei que esta adoração é um ponto que dói, por isso eu vou tocar nele de uma forma muito
delicada, com a maior gentileza que eu posso, na esperança de fazer algum bem”. Ninguém
se achega a um ferimento para traumatizá-la no intuito de curar. Mas vai como uma mãe ou
uma amável enfermeira, com muita habilidade e cuidado limpando e cuidando lentamente.
Mantenha sempre na mente o grande propósito: Não apenas uma igreja pura e purificada,
mas uma igreja unida e cheia de amor.
Existem duas formas eficazes para se persuadir e que são muito melhores do que todas as
palestras que você possa dar: (1) Cante os Salmos com alegria no coração. (2) Se você
é pastor pregue os Salmos. Se olhar para trás, para a história do culto bíblico, a época
quando os Salmos caíram em desuso, essas épocas também coincidiram com o momento
quando não se tinha a pregação de Cristo nos Salmos. Quando você estiver pregando Cristo
nos Salmos será muito mais fácil persuadir o povo a cantar os Salmos para Cristo.
5) Em último lugar. Toda nossa adoração deve ser uma antecipação do céu. Deve
ter um sabor do céu vindouro. Esse é o grande fim da adoração, nos levar ao céu e até trazer
o céu até nós. Naquele dia quando não haverá mais nenhuma divisão e nenhum argumento
restará e todo propósito da adoração aqui na terra deve ser para nos dá um pequeno sabor
do céu vindouro. Esperamos e oramos que esta seja nossa experiência.
PERGUNTAS E RESPOSTAS FEITAS APÓS A PALESTRA EM RECIFE.
1ª Pergunta: Na Bíblia existem outros cânticos. O de Maria, o de Ana, o de Simeão, nas
cartas de Paulo, em Apocalipse e outros locais. Muitos argumentam contra Salmodia
exclusiva afirmando que estes hinos eram cantados, e não eram Salmos. O que dizer deste
argumento?
Resposta: É sempre bom, em todas as áreas da vida, começar com um princípio e depois
tratar dos casos mais difíceis. Por exemplo, o caso do aborto. Muitas pessoas começam este
tema com os casos mais difíceis como incesto e estupro e concluem que devemos praticar
aborto livre. Eles não começam com o princípio e, à luz do princípio, olhar para os casos
mais difíceis. Então, a primeira pergunta é: Isto é um princípio bíblico? Se for, então
devemos começar por isto e depois olhar tudo à luz deste princípio, olhar os casos mais
difíceis à luz deste princípio. Não devemos olhar para os casos difíceis e jogar fora o princípio.
Como nós devemos ver estes cânticos que as pessoas alegam serem cânticos das Escrituras
e que não são Salmos? Primeiro, eu acho que muitos dos cânticos que as pessoas alegam
serem cânticos nem são cânticos. Por exemplo, em Filipenses 2, nada indica que seja um
cântico, apenas os comentaristas dizem que é um cântico. Em segundo lugar, o cântico de
Maria e o cântico de Simeão, foram realmente cânticos de louvor inspirados, mas nunca
foram usados no louvor público a Deus. O princípio do qual estamos mencionando fala do
culto público, onde Deus é adorado de uma forma organizada e formal. Este princípio não
diz que as pessoas, em seus momentos devocionais particulares, não possam cantar cânticos
de louvor a Deus que surgem de seus próprios corações. Não há evidência de que os cânticos
de Maria e Simeão tenham sido usados de uma forma geral na igreja primitiva. Há uma ou
duas evidências do uso do cântico de Maria na literatura da igreja primitiva, mas
considerando a grande quantidade de literatura existente, isso não é considerado como
menção.
2ª Pergunta: O que dizer de pastores que usam o livro de Apocalipse e o louvor no céu
como modelo de louvor para nós hoje na igreja? Apocalipse é um princípio que devemos
usar?
Resposta: Aqui há uma diferença grande. Há uma diferença entre o céu e nós. Isso é um
pecado. O que é seguro para ser permitido no céu, talvez não seja seguro para ser permitido
aqui na terra. Se no céu só existe santos perfeitos e glorificados, é muito mais seguro dar a
eles liberdade para cantar o que eles desejam. É muito mais seguro dar liberdade a eles no
céu do que a nós na terra. Se nos for dada esta liberdade a nós que temos corações
pecaminosos, veremos exatamente o que é evidente no mundo inteiro. Esta é uma diferença
muito grande e sem paralelo.
3ª Pergunta: Qual o princípio que está por trás do uso de trechos da Escritura para fazer
cânticos de louvor? Devemos ver isso como fogo estranho?
Resposta: Tenho duas respostas que desejo dar a este tipo de pergunta. Em primeiro lugar,
a Bíblia contém cânticos que Deus nos deu para que cantemos. E todo o resto está lá para
lermos e pregarmos. Mas o preceito, tanto no VT como NT, é o cântico dos salmos. Então,
se apenas algumas partes das sagradas Escrituras nos foram dadas para cantarmos, isso não
significa que todas as partes das sagradas Escrituras nos foram para cantarmos. Então, é
fogo estranho cantarmos o cântico de Maria no culto público? Acho que devemos ver as
coisas de uma forma escalonada (gradação). Por exemplo. Vejamos o caso do homicídio.
Matar alguém é errado. Mas se você mata cem pessoas, isso é bem pior e matar mil pessoas
é mais grave ainda. Aos olhos de Deus algumas coisas são vistas de forma mais grave do que
outras. Vejamos nossas roupas. Umas das recomendações da Bíblia é a modéstia no trajar.
Vejamos uma escala. De um lado da escala há uma pessoa que se veste perfeitamente
modesta, e do outro lado da escala há alguém que nem vestiu qualquer roupa, mas entre
estas duas pessoas há alguém que está no meio. Vendo isso, vamos considerar a questão do
culto. De um lado há um culto perfeito e nenhum de nós chegou a este ponto nesta terra.
Então, vamos na direção da escala da perfeição. Mas do outro lado temos o bezerro de ouro
ou o lado de Nadabe e Abiú: fogo estranho.
Há um espectro muito grande entre os dois extremos. Todos nós estamos em algum lugar
nesta escala e estamos tentando nos aproximar mais e mais do culto perfeito. O fato de você
não chegar do lado perfeito da escala, isso não significa que seja fogo estranho. Eu teria
muita relutância em usar esta terminologia. Mas onde eu teria uma preocupação a enfatizar
é que se você realmente souber o que é errado e mesmo assim faz e continua a fazer, isso é
muito grave. Muitas pessoas estão, por ignorância, não tão adiantadas nesta escala e eu não
devo me aproximar destas pessoas e dizer: é fogo estranho. Devemos de uma forma gentil,
sábia, num primeiro tempo, tentar empurrar no sentido da perfeição e chamar outros a fazer
o mesmo. Há casos difíceis. Se eu tivesse dado esta palestra na Escócia ou nos Estados
Unidos eu teria recebido as mesmas perguntas.
Todos nós sabemos quais os casos difíceis. Mas não devemos deixar estes casos difíceis nos
desviar a atenção da necessidade maior de aplicar os princípios bíblicos.
4ª Pergunta: Quando nos convidam a visitar uma igreja que tem um culto que não é bíblico,
do que devemos participar? Como participar dos hinos, das orações e leitura da Palavra?
Resumido, quando nos convidam a visitar uma igreja e esta é uma chance que temos de levá-
las à nossa igreja como retribuição à nossa visita, como devemos participar deste culto não
bíblico?
Resposta: Esta é uma pergunta difícil. Depende de onde estamos e onde eles estão na escala.
Vinte anos atrás eu passei um período de um ano no leste europeu. Eu estava ajudando o
pastor numa congregação bem remota na Hungria. Um grupo de garotas estava chegando
para um retiro em um convento católico romano, perto dali. Estas jovens disseram que
poderiam participar do nosso culto naquele dia se no outro dia nós participássemos na
adoração com elas. Nossos jovens e eu pensamos: “Isso parece ser muito bom”. À noite elas
participaram conosco no culto e durante todo o culto pregamos a graça de Deus. Nenhuma
obra, nenhuma obra, nenhuma obra...! Somente Cristo... Somente Cristo...! Estávamos ali
martelando estas verdades. Mas no outro dia, ao amanhecer, logo pensamos: “Puxa, temos
hoje de ir à capela católica romana”. Então, todos nós fomos lá e nunca vou me esquecer da
sensação que tive logo ao entrar, porque eu tinha de pregar debaixo de um enorme crucifixo
dourado. Havia imagem de Maria, de José e, em todo lugar, havia uma imagem de um santo.
Percebi que havia tomado a decisão errada, pois a Bíblia nos diz que devemos fugir da
idolatria. Então todos devemos nos perguntar: Será que podemos chegar a este nível de ser
assim tão ofensivo a Deus?
Há um versículo que acredito ser relevante aqui: Mateus 15:8-9 – “Este povo se aproxima
de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de
mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”. Veja
que há duas coisas erradas com este culto. Um culto que não tem coração e não tem
ordenanças (prescrições) divinas. Eles tinham adoração somada às ordenanças dos homens.
Deus está dizendo aqui: “Era melhor fecharem suas bíblias e voltarem para casa porque sua
adoração é vã”. Esta pergunta deve estar sempre em nossas mentes: “Como isto pode parecer
a mim algo muito bom ou lindo?”. Esta não é a pergunta correta e sim: “Isto é bom aos olhos
de Deus?”.