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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

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OFICINAS PEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO ESTRATÉGIA PARA AÇÃO INTERDISCIPLINAR

Rosmari Gatto 1  Solânia Durman 2

Resumo

O enfoque deste artigo é educação, saúde no contexto escolar e suas repercussões na  comunidade.  Abordar  educação  em saúde   como  projeto  educativo,   requer   o desenvolvimento   do   pensar   crítico/reflexivo,   permitindo   desvelar   a   realidade enquanto sujeito histórico e social capaz de opinar nas decisões de saúde para o auto­cuidado.   Têm   como   objetivo   investigar   os   conteúdos   do   Projeto   Político Pedagógico, nas disciplinas curriculares, referentes à saúde e favorecer a troca de conhecimentos   entre   os   docentes   do   ensino   médio   e   profissional,   buscando elementos  que subsidiem a prevenção da gravidez na adolescência.  Teve como palco o Colégio Estadual Dario Vellozo ­ Ensino Fundamental, Médio e Profissional do  município  de  Toledo,  durante  o  ano  de  2010.  O  procedimento  metodológico adotado   foi   às   oficinas   pedagógicas   com   dinâmicas   de   interação   social, fundamentada nos conceitos de Freire (1996).  Como resultados, obtiveram­se os relatos  dos  participantes  das  oficinas   (docentes);   as  discussões  produzidas  nos encontros com o grupo de apoio (docentes e profissionais da escola) que emergiram propostas   de   mudanças   no   PPP   (Projeto   Político   Pedagógico),   nas   Propostas Curriculares dos Cursos Técnicos e no Plano de Trabalho Docente. Além do convite da pesquisadora em participar na (re) elaboração do PPGA (Projeto de Prevenção de Gravidez na Adolescência),   formando  jovens facilitadores em informações, do Município de Toledo.

Palavras­chave: Adolescentes; Escola; Educação em Saúde.

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1 Enfermeira. Especialista em Administração dos Serviços de Saúde. Professora da Rede Estadual de Educação   do   Paraná   –   Área   PDE:   Disciplinas   Técnicas.   Coordenadora   do   Curso   Técnico   em Enfermagem do Colégio Estadual Dario Vellozo, NRE: Toledo.2  Enfermeira.   Docente.   Mestre   em   Assistência   de   Enfermagem   pela   UFSC/UFPR,   docente   do Colegiado de Curso de Enfermagem da Unioeste/Cascavel/PR.ABSTRACT 

This article focus is the education, the health in the school context and its impact on the community. To deal with health education as an educational project, requires the development of critical thinking / reflective, allowing to reveal reality as historical and social subject able to think in the health decisions for self­care. Their objective is to investigate   the   contents   of   the  Educational  Policy  Project,   in   curricular   subjects, relating   to   health   and   to   promote   exchange   of   knowledge   among   high   school teachers and professional  searching elements that contribute to  the prevention of teenage pregnancy. It was staged at the State College Dario Vellozo ­ Elementary School, Middle and Professional in Toledo during the year 2010. The methodological approach followed were as dynamic educational workshops with social interaction, based on the concepts of Freire (1996). As results we obtained the reports of the workshop participants (teachers), the discussions produced in the encounters with the  support  group  (teachers  and school  personnel)   that  emerged   from proposed changes in the PPP (Educational Policy Project), the Technical Proposals Curriculum Courses and Plan of Teaching Work. In addition to the invitation for the researcher's to participate in the redesigning of the PPGA (Project for the Prevention of Teenage Pregnancy), forming youth facilitators of information, the City of Toledo. 

Key­words: Adolescents; School, Health Education.

1 Introdução

As transformações sociais, políticas e econômicas desencadeadas a partir 

da globalização exigem hoje um indivíduo participativo, consciente, capaz de intervir 

na   sociedade   de   forma   crítica,   criativa,   cabe   a  educação,   prepará­lo   para   este 

desafio.

As mudanças sociais que buscamos são possíveis, se forem garantidas pelo 

Estado, por meio das leis onde os serviços de saúde e educação se destacam como 

conquistas organizadas das Políticas Públicas.

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Com  o   intuito   de   implementar  mudanças   se   faz  necessário   desenvolver 

ações   de   prevenção   com   caráter   educativo,   que   promova   e   previna   doenças, 

mantenha a saúde, que o indivíduo tenha conhecimento e autonomia para garantir 

vida  saudável.  A  proposta  de  uma  educação  participante  e   formadora   tem sido 

apontada como fundamental para se obter mudanças de comportamento (FREIRE, 

1996).

Este é  o diferencial  que possibilita tanto educadores quanto adolescentes 

estabelecerem uma relação em que o conhecimento seja um construtor de ambos.

O jovem que constrói sua relação com o mundo pelo diálogo é um jovem 

crítico, sabe o que pode fazer criar e transformar (FREIRE, 1996).

Cabe   a   educação   instrumentalizar   os   educandos   com   conhecimento, 

habilidades tecnológicas, capacidade de fazer escolhas e de se auto­desenvolver. 

Neste   sentido,   quando   encontram­se   escolas,   educadores   e   adolescentes   que 

buscam   na   participação   das   diversas   atividades   pedagógicas   ou   extraclasse   a 

possibilidade de  exercício  da  cidadania,  acredita­se  que  neste  momento  está­se 

contribuindo   para   a   construção   de   uma   relação   de   homens   livres,   criativos   e 

preparados para o exercício de escolhas mais conscientes. Para Freire (2000), o ser 

humano é histórico, está submerso em condições espaços­temporais, e quanto mais 

refletir de maneira crítica sobre sua existência, mais poderá influenciar­se e tornar­

se mais livre.

A metodologia utilizada nesse trabalho, baseia­se nos conceitos deste autor, 

anteriormente   citado,   sendo:   problematização   supõe   ação   transformadora,   é 

inseparável  do  ato  cognoscente  e  de  situações concretas  e  conteúdo elaborado 

refere­se ao contexto, às situações vividas e possibilita que o educador chame o 

educando a refletir sobre a realidade de forma crítica diálogo é conteúdo da forma 

de ser  próprio  à  existência  humana.  A educação e  comunicação,  visto  que não 

significa transferir saber e conhecimento e, sim, encontro de sujeitos interlocutores 

que buscam a significação dos significados; liberdade pode ser definida como uma 

conquista e exige busca permanente, existindo apenas no ato responsável de quem 

a faz; conscientização é uma inserção crítica na história, na qual o homem assume 

uma posição de sujeito capaz de transformar o mundo (FREIRE, 2000).

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Neste   contexto,  o  enfoque  na  educação  em saúde,  na  doença,   leva  ao 

fortalecimento do conhecimento para adoção de atitudes que beneficiam a saúde, à 

dependência e a cronicidade das doenças que reforçam a subordinação do sujeito 

aos serviços.

Atualmente,  a  preocupação  de pais  e  educadores,  diante  do  número de 

gestações na adolescência, a que se aliou um aumento do risco de contaminação 

pelo vírus da AIDS, mobilizou­se e estimulou o avanço das iniciativas de orientação 

na área da sexualidade.  A mais  recente proposta do Governo Federal  propõe a 

Orientação Sexual nas escolas.

A gravidez na adolescência vem sendo identificada como um dos grandes 

problemas de saúde pública, com conseqüente impacto na vida do adolescente e da 

sociedade. A problemática da gravidez vem se agravando no Brasil assim como em 

outros países. Para Vitiello (1993), este fato acentuou­se, a partir dos anos de 1960, 

em razão da liberação de costumes e a substituição de valores morais vigentes na 

época.

No entanto, diversos estudos sobre o impacto de programas de saúde aos 

adolescentes,   vêm   demonstrando   que   as   estratégias   de   prevenção   não   estão 

surtindo efeito, visto que estas não retardam a iniciação sexual, não aumentam o 

uso   de   preservativos   (masculino   e   feminino)   e   métodos   contraceptivos,   nem 

reduzem a gravidez na adolescência. Diante desta situação, pergunta­se: as práticas 

pedagógicas  aplicadas  de  educação  em saúde  que  permeiam os  currículos,   as 

disciplinas,   os   conteúdos   e   projetos   no   ensino   médio/profissional   realizam   com 

efetividade ações de prevenção e promoção da saúde no ambiente escolar?   

O presente projeto teve por  finalidade instrumentalizar os professores em 

relação  à   abordagem de  educação  em saúde/sexualidade,  por  meio  de  oficinas 

pedagógicas.   Este   foi   idealizado   a   partir   de   relatos   realizados   pelos 

professores/alunos, após estágios curriculares nas disciplinas de Saúde Coletiva, 

Assistência de Enfermagem à  saúde da mulher; da criança e do adolescente, do 

Curso   Técnico   em   Enfermagem,   depara­se   com   um   número   expressivo   de 

adolescentes grávidas e bebês prematuros, em determinado bairro, do município de 

Toledo, o índice de gestantes adolescentes chegou a 30% no ano de 2006.   

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Pensou­se num projeto que busque primeiro conhecer as necessidades do 

cotidiano, onde os adolescentes estão inseridos. Esta busca pelo saber, despertada 

pela   curiosidade  e  pelo   desafio   de   transformar   a   realidade,   gera  mudanças  na 

organização dos conhecimentos escolares. Para que o projeto tenha viabilidade e 

adesão de toda a comunidade escolar, foi construído de forma coletiva, professores, 

equipe pedagógica, direção, colaboradores e principalmente dos alunos.

Assim,   compreender   as   correlações   éticas,   políticas   e   científicas   da 

sexualidade, colaborar para que outros educadores e cidadãos também alcancem 

para tratar pedagogicamente da abordagem da sexualidade.

Neste   sentido,   as   exigências   educacionais   contemporâneas   demandam 

novas   trajetórias   de  docentes,   de  profissionais   da  educação  e  da   saúde,   como 

também da família quanto à maneira de compreenderem a educação sexual como 

processo educacional.

Constatou­se que ao  incentivar o  trabalho  interdisciplinar  e estabelecer  a 

necessidade da criação de espaços coletivos para “trocas” de experiências entre os 

professores   e   construção   de   saberes,   resultou   na   (re)   elaboração   da   práxis 

pedagógica. 

2 Educação em Saúde: prática pedagógica interagindo na escola

Saúde e Educação são direito de todos e dever do Estado, mas a realidade 

continua mostrando que nem todos têm acesso da mesma forma a esses serviços 

de má qualidade, pois não visualizada um produto final de qualidade, nem tampouco 

um olhar responsável nesse resultado indesejado. O sujeito esta dividido em partes: 

ao   buscar   assistência   médica,   é   tratado   a   dor,   os   sintomas,   o   sujeito   não   é 

percebido, na educação o que importa é  seu entendimento na disciplina, não há 

interação entre a sua historia de vida, sua realidade que lhe permita compreender e 

situar­se no mundo.

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Quando se fala em educação e saúde, se fala em qualidade, para Pimenta a 

escola de qualidade será aquela na qual:

[...] os alunos consigam compreender o quanto e como a apropriação do conhecimento científico tem­se dado contra os interesses da humanidade como   um   todo   e   o   quanto   o   conhecimento   tem   sido   apropriado   como condição dos privilégios dominantes [...]. O que deixa saltar isso aos nossos olhos é um exemplo bem simples. O avanço que podemos indicar hoje na Medicina é um avanço de conhecimento gigantesco, a ponto de realizar um transplante de órgãos, por exemplo. Isto requer um conhecimento altamente sofisticado e elaborado. No entanto, ao lado deste avanço do conhecimento cientifico da área da medicina, temos a maioria das crianças e da população brasileira morrendo de doenças para as quais essa ciência  já  encontrou remédio   há   muito   tempo.   Este   exemplo   mostra   claramente   o   uso   do conhecimento   em   favor   de   interesses   dominantes   (SANTOS,   2000, p.54­55).

 

Educar o indivíduo é deixá­lo apto a participar da sociedade, com condições, 

com autonomia de buscar   realizar­se como profissional,   indivíduo e cidadão que 

busca sua integralidade e que exige também uma assistência que veja como um 

todo, um conjunto de experiências e vivencias que se moldam como pessoas.

É o processo educativo de construção de conhecimento em Saúde que visa 

à apropriação do tema pelos indivíduos em geral. É também o conjunto de práticas 

do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado. A 

Educação em Saúde potencializa o exercício da participação popular e do controle 

social  sobre as políticas e serviços de saúde,  no sentido de que  respondam às 

necessidades da população. A Educação em Saúde deve contribuir para incentivo à 

gestão   social   da   saúde.   A   Educação   Popular   em   Saúde   tem   como   objetivo 

promover, na sociedade civil, a educação em saúde, abrangendo a formação e a 

produção de conhecimentos sobre a gestão social das políticas públicas de saúde, o 

direito à saúde, a organização do sistema e os deveres das três esferas de gestão 

do SUS.

E neste aspecto que a Saúde deve romper os estreitos limites da assistência 

curativa em busca do equilíbrio com o meio, o que pode ser alcançado educando­se 

o indivíduo, e principalmente a mulher, a qual pesquisas apontam que quando a mãe 

tem instrução maior os efeitos nos indicadores de saúde. Em um levantamento do 

Banco Mundial em 25 países, chegou à conclusão que a mãe que tenha freqüentado 

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a escola por um período de três anos assegurou por si só uma redução de 15% na 

mortalidade infantil.

Esta   relação   saúde/educação/comunidade   que   buscamos   perceber   e 

entender. Como os educadores trabalham com educação em saúde, portanto, no 

processo de aprendizagem que se quer incorporado na comunidade, a qual possui 

uma experiência de vida que deve ser valorizada e transformada em conhecimento 

útil à qualidade de vida.

É este saber popular, que o sujeito tem do funcionamento do corpo, de como 

e  porque  as  doenças  acontecem   e   suas   formas   de  prevenção   fazem  parte   do 

universo ou da idéia de construção social.

Só   iremos   superar   essa   postura   de   querer   libertar   dominando,   quando 

entendermos que não estamos sozinhos no mundo e que o processo de libertação 

não é obra de uma só pessoa ou grupo, mas sim de todos nós. Para isso é preciso 

saber ler a nossa vida, isto é, procurar agir e refletir sobre a ação (FREIRE, 1983).

Esse é o ganho social que Paulo Freire chama de unir teoria com a prática, 

pois   somente   quando   profissionais   de   saúde,   que   atuamos   no   ensino 

profissionalizante, pensar às próprias ações, é que estarão auto reconhecendo­se 

como sujeitos da história e assim mobilizando, compartilhando saberes, tornando o 

espaço que atuam como o de uma escola, onde existe busca do aprendizado.

De acordo com Morin (2005), a inadequação entre saberes fragmentados e 

delimitados em disciplinas enquanto os problemas são multidimensionais, globais, e 

que necessário se faz uma nova forma de educação, que permita a organização dos 

saberes dispersos e lhes de sentido.

Nesta   cumplicidade,   a   comunicação   e   os   educadores   têm   papel 

preponderante para o sucesso da educação. Educar para a compreensão humana, é 

missão espiritual  da educação, condição e garantia da solidariedade  intelectual e 

moral da humanidade (MORIN, 2005). Como também  a comunicação não garante a 

compreensão e  informação, se for transmitida e compreendida, traz inteligibilidade, 

condição necessária, mas não suficiente para a compreensão. Para o autor  há duas 

formas   de   compreensão:   a   intelectual   ou   objetiva,   que   significa   apreender   em 

conjunto,   abraçar   junto.   E   a   compreensão   humana   ou   intersubjetiva,   que   é   o 

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conhecimento   de   sujeito   a   sujeito.   O   outro   é   um   sujeito   com   o   qual   nos 

identificamos, é um processo de empatia, de projeção que pede abertura, simpatia e 

generosidade.

Este deve ser um dos objetivos dos profissionais de saúde e da comunidade 

escolar,   compromisso   mútuo   em   prol   da   luta   por   melhores   condições   de   vida, 

saneamento,  assistência  médica,  medicamentos,   orientações  para  prevenção  de 

doenças, acompanhamento voltado às particularidades que cada indivíduo necessita 

quando debilitado. 

Pensou­se   num   projeto   que   busque   primeiro   conhecer   as   necessidades 

onde estamos inseridos, esta busca pelo saber, despertada pela curiosidade e pelo 

desafio   de   transformar   a   realidade,   gera   mudanças   até   na   organização   dos 

conhecimentos escolares. Para que o projeto tenha viabilidade e adesão de toda a 

comunidade escolar, deverá ser construído de forma coletiva, professores, equipe 

pedagógica, direção, colaboradores e principalmente dos alunos.

O presente trabalho é o relato de experiência junto à comunidade escolar na 

implementação do Projeto “Educação em Saúde: Prática pedagógica interagindo na 

Escola” deu­se por meio de vivências: 1­ Oficinas Pedagógicas com docentes do 

ensino   médio   e   profissional;   2­   Grupo   de   Suporte   Pedagógico   envolvendo 

(profissionais da educação, funcionários do quadro administrativo e de apoio).

Partiu­se   do   pressuposto   que   a   prevenção   e   promoção   da   saúde   do 

adolescente, não se limita a área da saúde, mas envolve a integração das ações 

desenvolvidas   por   diferentes   programas   e   projetos,   criando   uma   cultura   de 

promoção a saúde entre os adolescentes e suas famílias. Tem­se a convicção que 

Escola   e   o   Sistema   de   Saúde   precisam   trabalhar   juntas,   como   parceiras   para 

enfrentar os desafios educacionais contemporâneos (drogas e violência; gênero e 

diversidade sexual; educação sexual e sexualidade).

Nesse   contexto,   o  Ministério   da  Saúde  e  o  Ministério   da  Educação,   na 

perspectiva de ampliar as ações de saúde aos alunos da Rede Pública de Ensino 

Instituem, em âmbito nacional, o Programa Saúde na Escola (PSE), por meio do 

decreto presidencial Nº. 6.286, de 05 de dezembro de 2007. Esta proposta pretende 

contribuir   para   o   fortalecimento   de   ações   que   vinculem   saúde   e   educação, 

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facilitando   o   enfrentamento   das   vulnerabilidades   que   comprometem   o   pleno 

desenvolvimento de crianças e jovens brasileiros.     Cada uma das ações previstas 

no PSE deve ser desenvolvida na escola de modo articulado possível, aproximando 

e integrando os profissionais entre si, com os educandos e a comunidade.  

Segundo   as   definições   da   literatura   de   promoção   da   saúde,   a   Escola 

Promotora  de  Saúde  é   aquela  na  qual  alunos,  professores,   funcionários,  pais  e 

familiares atuam em conjunto para melhorar a qualidade de vida da comunidade 

escolar,   com  estímulo   à   ações   locais,   relações   harmônicas   e   solidárias   para   a 

construção de um meio ambiente saudável (SILVA, 2003).

           As ações voltadas para a implantação da Escola Promotora de Saúde devem 

garantir a participação da comunidade escolar: desde o levantamento das principais 

necessidades,   identificação   das   prioridades   e   a   elaboração   de   estratégias   para 

desenvolver ações local e participativa na comunidade escolar.

                   Segundo a OMS (1979), (Organização Mundial da Saúde) as escolas que 

fazem   diferença   e   contribuem   para   a   promoção   da   saúde,   são   aquelas   que 

conseguem assegurar as seguintes condições:

Reconhecem   que   os   conteúdos   de   saúde   devem   ser   incluídos   nas diferentes áreas curriculares;  Valorizam a promoção da saúde na escola para   todos   que   estudam   e   nela   trabalham;   Têm  uma   visão   ampla   dos serviços de saúde voltados para o escola Reforçam o desenvolvimento de estilos saudáveis de vida; Favorecem a participação ativa dos educadores na elaboração do projeto pedagógico da educação para a saúde (BRASIL, 1998, p.260).

Desenvolveu­se inicialmente avaliação diagnóstica no sentido de identificar 

os questionamentos dos profissionais da educação. Para tal, realizamos entrevistas 

com profissionais da educação na temática de saúde e sexualidade. A partir  daí 

surgiram temas básicos para iniciarmos as discussões e elegermos caminhos que 

reforçam a promoção e prevenção da saúde escolar.

Com os adolescentes utilizou­se uma caixa  lacrada,  que permaneceu na 

biblioteca   por   um   mês,   na   qual   os   adolescentes   deixaram   por   escrito,   sem   a 

necessidade de se identificarem, questionamentos e sugestões de trabalho para o 

projeto Educação em Saúde: prática pedagógica interagindo na escola. As dúvidas 

identificadas   estavam   relacionadas   às   questões   de   gênero,   corpo,   atração   e 

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relacionamento sexual, DST, AIDS, direitos e deveres ligados à sexualidade. Estes 

questionamentos   foram   repassados  para  o  Grupo  de  Apoio  pedagógico,   o   qual 

respondeu   os   questionamentos   e   com   a   colaboração   de   jovens   facilitadores, 

divulgaram­se as respostas aos educandos da escola, de forma a contribuir com sua 

saúde sexual e reprodutiva.

2.1 Oficinas pedagógicas: motivando a equipe docente

               

No cotidiano da escola, os profissionais das mais diversas áreas do ensino, 

vivem situações embaraçosas, frente ao adolescente e sua sexualidade.   Um dos 

desafios educacionais está na formação de agentes de prevenção/educador sexual, 

para   atuarem   na   escola/comunidade   com   um   tema   que   é   ainda   polêmico   na 

sociedade: a sexualidade.    

Diante destas circunstâncias,  foi  proposto a constituição de um grupo de 

professores do ensino médio e profissional, os quais discutiram as múltiplas facetas 

que correspondem a diversos modos de abordarem a educação em saúde/educação 

sexual, onde, com a participação nas diversas oficinas planejadas, as quais foram 

úteis para o planejamento e realização de ações pedagógicas.

Oficinas aplicado à educação, refere­se ao lugar onde se aprende fazendo junto com os outros, [...] a oficina é um âmbito de reflexão e ação no qual se pretende   superar   a   separação   que   existe   entre   teoria   e   prática,   entre conhecimento e trabalho e entre a educação e a vida (OMISTE et al, 2000, p.177).

As oficinas para o professor/educador, foi espaço propício para discussão 

das   práticas,   para   reelaboração   de   situações   e   para   a   construção   de   novas 

estratégias de ação na abordagem da Educação em saúde/ educação sexual com 

os alunos.

A   realização   de   ações   pedagógicas   efetivou­se   por   meio   da   estratégia 

didático­pedagógica  de  dinâmicas de grupo,  aulas   interativo­dialógicas  e  oficinas 

pedagógicas,  projeção de  filmes,  dramatizações,  dinâmicas  lúdicas,  entre  outras, 

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com o intuito de suscitar discussões sobre educação em saúde, sexualidade e suas 

implicações na escola.

Para fins didáticos apresenta­se uma seqüência de cinco unidades, as quais 

contemplam   várias   oficinas,   organizadas   em   torno   de   situações   e   temas 

relacionados   à   educação   em   saúde,   especificamente   para   trabalhar   com   os 

adolescentes/jovens na educação sexual.

UNIDADES OFICINAS PARA EDUCADORESI Práticas Educativas: Educação em Saúde na Escola (8 horas)

Trabalho Coletivo ­ “fio condutor”Processo de Construção da SaúdeA promoção à saúde e a interdisciplinaridade.Qual educação para qual Saúde?

II A adolescência como uma das etapas da vida do ser humano(8 horas)

Saúde do adolescenteIdentidade e estimaVulnerabilidades na fase da adolescênciaEducação em Saúde da (o) adolescente

III Saúde sexual e saúde  reprodutiva (12 horas)

Educar para a sexualidadeDoenças sexualmente transmissíveis e AIDSA construção social dos gênerosDiversidade sexual

IV Planejamento de AçõesPedagógicas na escola (8 horas)

Redefinindo a prática pedagógicaConstruindo a prática educativaDemocratização da informação/educação em Saúde

Tabela 1 – Unidades complementares para atividades com adolescentes.

As oficinas aconteceram às quintas­feira das 19:30h às 21:30h, durante o 

segundo   semestre do ano de 2010, com média de   12 professores presentes em 

cada uma delas. Porém contou­se com 23 professores estiveram participando das 

oficinas,   significando   80%  dos  docentes   do  ensino   médio  e  profissional.   Foram 

abordados   temas   referentes   à   prevenção   e   à   promoção   da   saúde   sexual   e 

reprodutiva de  jovens e adolescentes, prevenção à  gravidez na adolescência, às 

DST/Aids, e também as relações entre os gêneros e a diversidade sexual no espaço 

escolar.

Dentre as inúmeras estratégias de ensino, consideramos essenciais àquelas 

que estimulam os alunos em grupo, permitirem a  troca de experiências e a  livre 

expressão   de   sentimentos,   aquelas   que   garantem   oportunidades   da   práxis   e 

aquisição de habilidades.  Destaca­se a seguinte oficina.

Oficina 1 ­ Saúde do Adolescente

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Objetivo: Identificar as características físicas, psicossociais do adolescente; 

Analisar os fatores que colaboram e prejudicam a qualidade de vida do adolescente; 

Reconhecer   os   agravos   à   saúde   dos   adolescentes,   com   vistas   à   promoção   e 

proteção da sua saúde, bem como seu acompanhamento na escola. Apresentar a 

Caderneta de saúde do adolescente.

Tempo de duração: +­ 2 horas

Sugestão para o encaminhamento da oficina

1º   Passo:   O   facilitador   apresenta   o   tema   da   oficina   e   solicita   aos 

participantes que individualmente, reflitam: Quais as necessidades dos adolescentes 

de hoje? Como são interpretadas as necessidade oriundas dos adolescentes? O que 

a escola pode lhes oferecer? Perguntar aos participantes (professores/alunos). Que 

mudanças físicas e emocionais fazem parte da adolescência?Como estas mudanças 

interferem   na   qualidade   de   vida   do   adolescente?   Qual   a   faixa   etária   da   pré­

adolescência e adolescência propriamente dita? Fazer a relação do estirão pondo­

estatural  e  o  aumento  considerável  das  necessidades de  energia  e  de  diversos 

nutrientes; discutir alimentação e obesidade na adolescência.

Sintetizar   as   discussões,   considerando   esta   fase   do   desenvolvimento 

humano,   como   transição   entre   a   infância   e   vida   adulta,   marcada   pelas 

transformações biológicas da puberdade e relacionada à maturidade biopsicossocial, 

que são apresentadas como cruciais na vida dos indivíduos. Isto leva a identificar a 

adolescência como um período “crítico”, momento de definição sexual, profissional, 

de valores e sujeito a crises, muitas vezes tratadas como doenças. Lembrar que no 

desejo de um referencial que dê sentido a seu existir, se tornam disponíveis e que 

esta disponibilidade deve ser utilizada na promoção de ações comprometidas com a 

qualidade de vida das comunidades.

2º  Passo  Refletir   acerca  da  saúde  do  adolescente,   compreendendo  que 

neste  período  da  vida,  as  questões  clínicas  não  se  apresentam em quantidade 

expressiva como ocorre com as crianças e os idosos.

As questões que afligem a saúde do adolescente apontam para a violência, 

homicídios,   depressão,   acidentes   de   trânsito,   violência   doméstica,   doenças 

sexualmente   transmissíveis   e   o   uso   de   drogas   (cigarro,   álcool,   substâncias 

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psicoativas). Estes problemas de saúde culminam muitas vezes com uma gravidez 

não planejada.

3º Passo: Reconhecer a importância do acompanhamento do adolescente 

na escola e perguntar aos participantes se na sua área de atuação, conhecem o 

índice de evasão escolar, se percebem a existência de adolescentes nas ruas da 

cidade e no mercado de trabalho.

Refletir com o grupo, que as questões relativas ao contexto social de nosso 

país afetam a saúde do adolescente: os altos índices de evasão escolar e a precoce 

presença   no   mundo   do   trabalho,   principalmente   informal,   que   não   respeita   as 

cláusulas  de  proteção  ao  desenvolvimento   físico  e   intelectual  dos  adolescentes, 

previstas em lei.

Considerar   ainda,   que   o   crescente   índice   de   violência   e   pobreza   na 

sociedade,   faz  com que  muitos  adolescentes   fiquem abandonados  nos  espaços 

público das ruas. Na tabela 2 pode­se visualizar a freqüência de nascimentos no 

período de 2006 a 2010 no município de Toledo. 

Faixa etária 2006 2007 2008 2009 2010

10­14 anos 13 10 10 07 1015­19 anos 262 230 252 264 248

20­29 anos 778 704 813 769 85630­39 anos 380 338 381 430 46440­49 anos 40 33 35 34 3350 e + anos 00 00 00 01 00

Total  1.463 1.365 1.491 1.505 1.611

Tabela 2 ­ Freqüência por Ano de Nascidos Vivos por Faixa Etária da Mãe ­ ToledoFonte: SISNAC, 2011 – Vigilância Epidemiológica.

Ainda   é   importante   lembrar   que   para   atingi­los   em   seus   espaços   de 

convivência  e   inserção,   significa  atingir  o  meio  social   em que  vivem,   como  por 

exemplo, a família em seu caráter de formação, a escola como espaço de formação 

e preparação profissional e até mesmo a rua, como espaço de lazer e moradia.

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É importante a implementação de ações em um contexto de exclusão social 

e a necessidade de promoção da cidadania.

Refletir sobre o convívio familiar saudável: relações familiares, resolução não 

violenta de conflitos, dentre outros.

Parte B

O facilitador apresenta e distribui aos participantes as Cadernetas de saúde 

do (a) adolescente, BRASIL (2009).

Uma  das  ações  desenvolvidas  na  escola,   após   realizarmos  as  oficinas  e 

discussões no grupo de apoio,   foi  a   implantação da caderneta de  saúde do  (a) 

adolescente,  aos  alunos das as  5ª,  6ª  e  7ª  séries num  total  de  245 alunos(as), 

receberam esclarecimentos a respeito de seu crescimento físico e desenvolvimento 

psicossocial e sexual. Onde enfatizou­se a importância de se tornarem ativamente 

participantes nas decisões pertinentes aos cuidados de sua saúde, contribuindo para 

sua   autonomia.   Como   proposta   obteve­se   a   implementação   do   PPGA,   alunos 

multiplicadores   de   informações   em   prevenção   de   gravidez   na   adolescência, 

adequação   do   laboratório   de   enfermagem,   transformando­o   em   uma   unidade 

permanente de educação em saúde na escola, proposta contemplada no Projeto 

Político Pedagógico.      

             As atividades foram construídas coletivamente a partir da realidade concreta 

da  escola,  da  situação   real   vivida  no  seu   cotidiano.  A   filosofia  pedagógica  que 

respaldou as ações foi aquela proposta por Paulo Freire, que valoriza a organização 

de   experiências   pedagógicas   em   formas   e   práticas   sociais   que   dialogam   para 

desenvolver   modos   de   aprendizagem   e   de   luta  mais   críticos,   questionadores   e 

coletivos.   Os   professores   vivenciam   momentos   de   síntese   do   processo   de 

aprendizagem, e relatam:

“Foi   uma   capacitação   aberta,   excelente   oportunidade   para   novos conhecimentos, integração e trabalho em equipe. A metodologia favoreceu o envolvimento, crescimento e mudanças na prática pedagógica” (A1)“Oportunidade de formação continuada, quanto às estratégias de ação no relacionamento   com   os   alunos,   onde   nós   educadores   desenvolvemos postura para defender o adolescente no atendimento de suas necessidades básicas de educação, saúde e proteção familiar” (A2).

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A Educação em Saúde constitui estratégia fundamental às transformações 

do trabalho no setor escolar para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva, 

propositiva, compromissada e tecnicamente competente.

Parte C

Grupo de apoio à implementação do projeto “Educação em Saúde: prática 

pedagógica interagindo na escola”, composto por vinte participantes (professores, 

equipe pedagógica, profissionais da educação e alunos do quarto período do Curso 

Técnico   em   Enfermagem),   do   Colégio   Estadual   Dario   Vellozo   do   município   de 

Toledo­PR. O conteúdo programático está elencado a seguir, com as referidas datas 

e atividades 

As atividades foram desenvolvidas por meio de dinâmicas de grupo, relatos 

de experiências, estudo dirigido, leituras, filmes e dramatizações. Como referencial 

teórico – Caderno Sexualidade SEED (2008).

Etapa Data Atividades1ª Etapa 11/09/2010 A busca de novos caminhos para uma vida  feliz   ­  Felicidade  Interna 

Bruta (FIB).2ª Etapa 25/09/2010 Políticas Públicas de educação e Saúde;  Determinantes do Processo 

Saúde­Doença.3ª Etapa 02/10/2010 Educação em Saúde no contexto escolar ­ O Programa Saúde na Escola 

(PSE).4ª Etapa 09/10/2010 Atenção Integral à Saúde de adolescentes e jovens.

5ª Etapa 16/10/2010 Educação   Sexual   no   cotidiano   escolar.   Sexualidade   Humana, Interdisciplinaridade e Saúde Sexual.

6ª Etapa 30/10/2010 Trabalho Pedagógico, planejando atividades de promoção e prevenção para Semana Cultural Dario – Estação Saúde.

7ª Etapa 20/11/2010 O   impacto   da   gravidez   na   realização   do   sonho   de   vida   da   (o) adolescente.

8ª Etapa 27/11/2010 Os   profissionais   da   educação   como   atores   e   suas   trajetórias   como agentes de prevenção.

Tabela 3 ­ Educação em Saúde: Prática Pedagógica Interagindo na Escola

Constatou­se uma boa receptividade por parte dos docentes e profissionais 

da   educação   no   planejamento   de   ações   e   atividades,   destacando   a   6ª   etapa. 

Realizaram a programação de oficinas e vivências para o evento, Estação Saúde. 

Este evento oportunizou aos profissionais da educação, os educandos (do ensino 

médio e profissional) da escola, a desenvolverem diferentes atividades pedagógicas 

no estabelecimento de ensino no qual estão vinculados, além do turno escolar; como 

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também   viabilizar   o   acesso,   permanência   e   participação   dos   educandos   em 

atividades pedagógicas de seu interesse. 

Na busca pela construção do conhecimento escolar, professores/alunos do 

ensino médio (disciplinas de educação física e artes) do ensino profissional através 

dos   professores/alunos   dos   cursos   técnicos   de:   Enfermagem,   Segurança   no 

Trabalho, Agentes Comunitários de Saúde e Cuidados com a Pessoa Idosa e dos 

profissionais   de   educação   integrantes   deste   grupo,   efetivaram   com   sucesso   o 

evento estação saúde. Uma proposta de construção coletiva, com atividades ao ar 

livre,   com   atividades   lúdicas   como:   jogos   educativos,   painéis,   desenhos, 

dramatizações, danças circulares, oficinas, simulações, músicas e trabalhos. Para a 

adoção  de   valores  que   integram a   relação   ‘ser  Humano  Natureza’,   de  maneira 

saudável e responsável.

Dentre as ações previstas destacaram­se: Oficinas:­ Qualidade de Vida, ­ 

Virando do Avesso, ­ Cinco sentidos (DST/AIDS), Adolescência: vida e consciência 

(Saúde   Reprodutiva),   Plantas   Medicinais   e   Germinação   e   Cultivo   de   Brotos; 

Atividades/tendas:  Educação  em Saúde  Vida  Saudável   ­  Alimentação  Saudável, 

verificação   do   IMC   (índice   de   massa   corporal),   Saúde   Bucal,   Prevenção   de 

Acidentes   Domésticos   e   Infantis,   Primeiros   Socorros,   Educação   no   Trânsito, 

Higienização das mãos, Plantas Medicinais Condimentares e Aromáticas, Saúde do 

Homem ­ Combate ao tabagismo e ao álcool e Educação Ambiental.

Observou­se o engajamento dos professores nas ações de promoção da 

saúde escolar, as quais foram pautadas na integralidade do cuidado e na educação 

em saúde, promovendo assim, adoção de hábitos e atitudes de vida mais saudáveis. 

Definiu­se que esta experiência de Educação em Saúde no contexto escolar, deverá 

manter­se   na   modalidade   de   educação   permanente,   sob   a   coordenação   desta 

professora   PDE   com   apoio   dos   profissionais   que   fazem   parte   deste   grupo   de 

estudos e com a colaboração dos alunos do curso técnico em Enfermagem.

2.2 A inter­relação entre educação e educação para a saúde

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Na educação para a saúde o papel mais  importante do professor é  o de 

motivador que introduz os problemas presentes, busca informação e materiais de 

apoio, problematiza e facilita as discussões por meio da formulação de estratégias 

para o trabalho escolar.

Nesse   processo,   espera­se   que   os   alunos   reflitam   sobre   as   situações, levantem   hipóteses,   desenvolvam   soluções   comprometidas   com   a promoção e a proteção da saúde pessoal e coletiva, que possam estruturar e   fortalecer   comportamentos   e   hábitos   saudáveis,   tornando­se   sujeitos capazes  de   influenciar  mudanças que   tenham repercussão em sua  vida pessoal e na qualidade de vida da coletividade (BRASIL, 1998, p. 261).

A tarefa da escola então é de reelaborar o saber que está fragmentado em 

saber  progressivo,   integral,  que dê  subsídios  para que o aluno  faça uma  leitura 

crítica   da   realidade,   a   educação   como   prática   de   libertação,   é   um   ato   de 

conhecimento, de reflexão sobre o mundo que leva a tomada de decisão e a ação 

(FREIRE, 1970).

A partir da adolescência, o jovem busca sua identificação no grupo, muitas 

vezes expondo­se  a   riscos  só  para  ser  aceito,  nega seus valores  em busca de 

modelos   exteriores,   fora   da   família,   mas   ao   amadurecer,   retoma­os   e   identifica 

novos modelos de referência, muitos construídos durante a  infância, como os de 

familiares e professores.

O aluno deve ser capaz de entender a história natural das doenças e os 

determinantes  econômicos,  culturais,  ecológicos,  biológicos,  psicossociais  e  seus 

efeitos sobre o organismo humano, principalmente compreender as inter­relações 

entre o agente/sujeito/ambiente, e que são passíveis de interferência e fundamentais 

para as ações de prevenção e proteção do indivíduo.

O valor dado à vida, à saúde deve ser destaque na formação do indivíduo, 

onde aprende a ser responsável pela manutenção de sua saúde, é  sujeito ativo, 

participativo que sabe exigir seus direitos e da comunidade.

                           Mas não podemos esquecer que a escola que tem o compromisso de 

formar o cidadão consciente, participativo é parte de um sistema público, político que 

determina as prioridades de seu governo, baseado nos interesses que defende.   E 

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os profissionais que ali  atuam, apesar destas  influências,  têm o compromisso de 

educar crianças e jovens possibilitando a leitura crítica da realidade.

Na visão de Gramsci a escola por seu caráter contraditório (reprodução do 

aparelho ideológico dominante e de transformação das desigualdades sociais), pode 

assumir   o   desfio   de   possibilitar   acesso   ao   saber   cientifico   e   leitura   critica   da 

realidade, elementos importantes de organização da pratica social. A escola é um 

aparelho privado de hegemonia, responsável pela formação intelectual e moral, para 

a construção de uma práxis transformadora e libertadora.

O proletariado necessita de uma escola desinteressada. Uma escola em que seja dada à criança a possibilidade de se formar, de se fazer homem, de   adquirir   os   critérios   gerais   que   servem   para   o   desenvolvimento   do caráter [...] uma escola que não hipoteque o futuro da criança e constranja a sua   vontade,   a   sua   inteligência,   a   sua   consciência   em   formação   á movimentar­se sobre dois trilhos com estação pré­estabelecida. Uma escola de  liberdade  e de  livre   iniciativa  e  não uma escola  de escravidão e de mecanicidade.  Os  filhos do proletariado devem ter   também à  sua  frente todas as possibilidades, todos os campos livres para poderem realizar a sua individualidade da melhor  maneira,  e,  por  conseguinte,  de maneira  mais produtiva para eles e para a coletividade. A escola profissional não deve se transformar   em   uma   incubadora   de   pequenos   monstros   aridamente instruídos em função dum oficio, sem idéias gerais, sem cultura geral, sem alma, tão somente como olho infalível e mão firme [...] É um problema de direito e força (GRAMSCI, 1989, p. 68).

No entendimento de Paulo Freire a função da escola e dos professores, que 

representam   à   ideologia   dominante,   percebendo­se   ou   não   como   representante 

deste poder dominante, deve mostrar visibilidade do real à sociedade.

A tarefa fundamental da escola não pode ser outra senão a reprodução da sua ideologia, o de preservar o  status quo,  esta tarefa não esgota o que fazer  da  escola.  É  que  há  outra  a  ser  cumprida  pelos  educadores  cujo sonho é  a transformação da sociedade burguesa: a de desocultar o real (FREIRE, GADOTTI e GUIMARÃES, 1986, p. 37).

Os mesmos autores ainda citam que o problema é  mostrar essa relação 

dialética entre o subsistema educacional em qualquer sociedade e o sistema global, 

que gera esse subsistema. 

Para mostrar que ele não é apenas a reprodução da ideologia dominante, mas que também possibilita, ou melhor,  que dentro dele é  possível uma contraposição.   Se   o   que   a   classe   dominante   espera   da   escola   é   a preservação do status quo [...], a escola se dá também, independentemente 

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do   querer   dominante,   a   outra   tarefa   que   contradiz   aquela.   Tarefa   do desvelamento do real (FREIRE, GADOTTI e GUIMARÃES, 1986, p. 78).

De acordo com Gramsci   (1989),  a escola  tenha a  função de converter a 

guerra  de   classes  em   luta  de   classes,   por  meio  da   relação  entre   pedagogia  e 

política,   isto  é,   a   escola  prepara  o   individuo  para  conhecer  a   realidade  e  para 

interferir nela e o educador tem papel essencial na superação existente entre o fazer 

(trabalho) e o pensar (teoria).

A escola é  reprodutora dos valores dominantes, e só  se transformará  em 

novos valores [...] “a partir do momento em que seus educadores assumirem a sua 

tarefa política com clareza de princípios e de organicidade em torno dos interesses 

políticos” (SANTOS, 2000, p. 41).

Para Gramsci  é  papel  do educador  ser   facilitador  na construção entre  o 

saber científico e o saber popular.

Sua transformação de “peça de engrenagem” ideológica mantenedora dos interesses antipopulares em intelectuais comprometidos com a sociedade democrática é   fundamental,  pelo fato de ser ele um elemento do Estado junto a sociedade. É  sua mudança de postura que confere o caráter  de dialeticidade à   relação Estado [...]e  escola.  Até  mesmo pelo  domínio  do saber e pela possibilidade de reconstruir este mesmo saber a partir da ótica popular (SANTOS, 2000, p. 41).

                              

Segundo   a   Pedagogia   Libertadora,   de   Freire,   a   educação   e   a   escola 

“colaboravam   com   a   situação   de   mutismo   do   povo.   A   escola   oficial,   além   de 

autoritária, estaria a serviço de uma estrutura burocrática e anacrônica, incapaz de 

colocar­se ao lado dos oprimidos” (GHIRALDELLI JR., 1990, p.69).

Gramsci (1989), já dizia que é responsabilidade do Estado garantir o acesso 

de todos à educação, garantindo a qualidade do ensino e provendo as condições 

(matérias, equipamentos, estrutura física e professores qualificados) necessárias ao 

aprendizado, a fim de garantir o desenvolvimento da sociedade.

A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade   da   função   intelectual   nos   vários   Estados   pode   ser objetivamente medida pela qualidade de escolas especializadas e pela sua hierarquização:   quanto   mais   extensa   for   à   área   escolar   e   quanto   mais numerosos forem os “graus verticais” da escola, tão mais complexo será o mundo cultural, a civilização, de um determinado Estado. Pode­se ter um termo de comparação na esfera técnica industrial: a industrialização de um 

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país se mede pela sua capacidade de construir maquinas e instrumentos que construam máquinas, etc. O país pode possuir a melhor capacitação para   construir   instrumentos   para   os   laboratórios   dos   cientistas   e   para construir   instrumentos que fabriquem estes  instrumentos,  este país pode ser   considerado   o   mais   complexo   no   campo   técnico­industrial,   o   mais civilizado. Do mesmo modo ocorre na preparação dos  intelectuais e nas escolas destinadas a tal preparação; escolas e instituições de alta cultura são   similares.   Neste   campo   igualmente,   a   quantidade   não   pode   ser destacada da qualidade. À mais refinada especialização técnico­industrial não pode deixar de corresponder a maior ampliação possível da difusão da instrução   primaria   e   a   maior   solicitude   no   favorecimento   dos   graus intermediários ao maior numero (GRAMSCI, 1989, p.10).

A escola   tem o  papel   fundamental  de  por  meio  da   integração  áreas  do 

saber,   abordarem   dentro   das   varias   disciplinas   as   questões   de   promoção   e 

preservação   da   vida,   promovendo   ações   conscientes,   desenvolvimento   do   ser 

integral, que faz uma analise critica do momento, que transforma comportamentos e 

atitudes e cria uns novos ‘SER’ íntegros, éticos, critico e espiritualizado.

A dogmatização do conhecimento, a distancia, a relação inexistente entre sujeito  e  objeto,  a  quantificação   e   a   racionalidade  que   só   servem  para afastar ainda mais as classes populares deste conhecimento dito detentor da verdade, deste conhecimento que se diz o único capaz de compreender e explicar os fenômenos naturais. Por exemplo, o ensino do corpo humano é trabalhado linearmente, numa complexificação crescente  –  porém segmentada­  que vai  do estudo das células   e   tecidos   até   os   sistemas.   Mas   não   vemos   quase   nunca   uma relação entre estes assuntos e a vida dos alunos e até mesmo as nossas vidas,   já   que  cada   parte  do  corpo  é   trabalhada   isoladamente,   sem ser relacionada nem contextualizada.Outro   exemplo   é   a   saúde,   tratada   de   um   ponto   de   vista   totalmente higienista, dissociada de uma visão mais ampla que leve em conta outros aspectos   da   vida   –   culturais,   sociais,   econômicos,   ambientais.   A interdependência  do corpo é  posta  de  lado  em nome da especialização cientifica.   A   mente   (ou   alma,   espírito)   não   é,   em   nenhum   momento, mencionada como parte   integrante  deste  conjunto  o  qual  chamamos de corpo.O   conhecimento   científico   é   um   elemento   que   passa   por   suas   vidas [...]gerando um outro conhecimento misto do cientifico e do popular. O ideal seria que pudéssemos organizar um conhecimento válido para as camadas populares. Mas a realidade que vemos é um sistema de ensino que não leva em conta o saber dos alunos  [...]  nem professoras  [...],  e que  reafirma o discurso cientifico como único conhecimento válido e verdadeiro (VALLA, 2000, p. 98­99).

Não só na educação a valorização do biológico e do cientifico predominam, 

a   saúde   também   valoriza   o   conhecimento   cientifico   como   forma   de   educar   a 

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população, como se o individuo tendo conhecimento da ação dos microorganismos, 

bastaria para evitar a doença, entendido como a capacidade do sistema imunológico 

resistir ao ataque destes, quando o detrimento da saúde dependem de vários fatores 

externos e internos, incluindo­se o acesso ao emprego, alimentação, saneamento e 

lazer.

Pesquisas   realizadas   comprovam,   que   os   profissionais   de   saúde   e   os 

professores   que   conseguem   entender   a   realidade   vivenciada   pelos   alunos   e 

população, que valoriza seus saberes, tem maior facilidade para ensinar, sua “fala” 

tem   maior   impacto   e   uma   maior   aceitação   do   profissional   como   orientador, 

mediador.

Verifica­se que os encaminhamentos realizados pelas escolas aos serviços 

de   saúde,   encontra­se   crianças   rotuladas   como   excepcionais,   muitas   vezes 

encaminhadas à psicólogos e psiquiatras, são na realidade crianças que fogem aos 

padrões   considerados   normais   na   sociedade,   mais   atenção   ou   aulas   mais 

dinâmicas, pois não se ajustam aos padrões usados .Isto se reflete nas estatísticas 

da saúde, criando demanda e espera para atendimento de seis à doze meses, para 

estes   especialistas.   Enquanto   isso   as   crianças   permanecem   na   escola,   sendo 

rotuladas, discriminadas por colegas e professores.

Educar para a saúde é ajudar na busca da compreensão das raízes dos problemas e de suas soluções.  Percebemos como que o saber popular, antes de ser um saber atrasado, é um saber bastante elaborado, com ricas estratégias de sobrevivência e com grande capacidade de explicar parte da realidade.  Ao mesmo  tempo esta  cada vez mais  claro  que o  saber dos cientistas   e   dos   técnicos;   esta   encharcado   dos   interesses   das   classes dominantes, e ainda muito limitado para explicar toda a realidade. Assim, só cabe   entender   educação   em   saúde   como   uma   educação   baseada   no dialogo,   ou   seja,   na   troca   de   saberes.   Um   intercambio   entre   o   saber cientifico e o popular em que cada um tem muito a ensinar e a aprender. (VASCONCELOS, 1989, p.20).

O diálogo é o método ou ainda, a consciência que se manifesta pela voz e 

reproduz sua intencionalidade.

Este diálogo deve ser critico libertador e transformador, tem que ser feito para e com os oprimidos, para que seja possível libertá­los. Assim eles iam tomando consciência de como a boca é um órgão de expressão muito maior 

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do que pensamos e que em geral, temos pudor, preguiça de usar (FREIRE, 1996, p.45).

Disseminar verdades e regras de como viver bem são práticas comuns aos 

profissionais de saúde e professores, que assim cumprem seu papel de reproduzir 

/reafirmar o discurso político reforçando as injustiças e diminuído as possibilidades 

de mudanças e de indignação da comunidade.

Peregrino citado por Valla (2000), buscando desvendar as dificuldades da 

escola em descrever os saberes escolares questiona:  a) porque o conhecimento 

escolar   esta   sempre   tão   desconectado   da   realidade?   b)   Porque   os   conteúdos 

presentes nos currículos tendem para a neutralidade e abstração? c) Qual o sentido 

político dos currículos escolares?

Ao   responder   estas   indagações,   retrocede   na   história   da   humanidade, 

destacando o surgimento das escolas como instituições voltadas ao ensinamento da 

disciplina. As descobertas científicas, o avanço da economia capitalista, dos modos 

de produção, da conquista por novos espaços e novos saberes,  legitimam­se no 

período do Renascimento.

A escola e o professor devem ser instrumentos facilitadores, que auxiliam o 

aluno a construir o conhecimento, que não seja um ouvinte sem historia, mas com 

saberes significativos, que interferem na valorização da aprendizagem e, portanto, 

buscando legitimar o conhecimento através desta instituição.

“Se   a   escola   se   configura   como   instituição   de   prescrição   de   saberes 

moralizantes  para  a   formação  dos   “novos  homens”  a  ciência  se   institui   como o 

discurso e o instrumento desta produção” (VALLA, 2000, p.74).

Minayo (1989), refere que as instituições de saúde e de educação continuam 

disseminando a proposta higienista, de valorização de hábitos saudáveis, de regras 

e   normas   a   serem   observadas   para   a   manutenção   da   saúde.   Por   meio   desta 

prescrição de normas acreditam estar cumprindo seu papel e realizando o processo 

de educação em saúde. Aborda também as dificuldades que estas instituições tem 

para apreender qual é a definição de saúde das populações que pretendem educar; 

e que não se pode entender a saúde fora do contexto social em que foi construída.

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             Se a educação existe, é como um conjunto de condições partilhadas, como 

pratica   coletiva   de   decisões   discutidas,   como   possibilidade   de   construção   e 

reconstrução  continua  da  sociedade  por   seus  membros,  como vida  comum que 

avança,  que  não  é   contida,  estancada,   reprimida.  Estas  condições  supõem não 

somente   novas   propostas   de   educação   para   saúde,   mas   novas   instituições   de 

educação  e  novas   instituições  de   saúde,   que  partam de  uma  visão  positiva  de 

saúde.

A conscientização dos profissionais é a base para a ação reflexiva, como diz 

Freire,  capazes de atuar e perceber,  de saber e recriar o conhecimento e assim 

inverter o que as instituições tem em sua prática, assim descrita abaixo:

Nós decidimos por eles aqueles conteúdos que eles devem saber. Ocorre ai que   nós   impedimos   suas   (deles)   práticas   de   conhecimento.   Roubamos autonomia ao processo deles de saber e aprender. E receitamos conteúdos que serão colocados sobre os corpos deles. Quando isto ocorre estamos reproduzindo a dominação sobre eles. Estaremos impondo nosso método de   conhecimento   por   cima   da   inteligência   deles.   E   fazemos   pacotes. Transposição de ideologias; (FREIRE; NOGUEIRA,1983, p.26).

                       Ao se referir as instituições disciplinadoras dos saberes  Valla (2000), se 

refere à normatização e hierarquização dos saberes como caminho para atingirem a 

legitimidade   científica,   que   resultará   no   saber   escolar,   neutro,   ascético,   e   sem 

história,   gerando   na   escola   dificuldades   de   relacionar   teoria   e   prática,   saberes 

científicos e processos sociais; ou a resistência de re­conhecer e experimentar as 

formas culturais da população, exijam primeiro da comunidade escolar descobrir­se 

cidadã.

Freire (1970), sustentou sua luta por uma educação libertadora, política, na 

qual   a   constate   troca   de   saberes   entre   educador­educandos,   possibilitasse   a 

libertação do primeiro e a atuação democrática do segundo, a fim de que os dois se 

tornem   agentes   de   mudanças   na   construção   de   uma   sociedade   mais   justa   e 

democrática. No dia a dia da escola podemos observar que a formação de uma 

população  crítica,   consciente  da  dominação  e  da  necessidade  de  buscar  novas 

maneiras de aprender e ensinar na faz parte das discussões da comunidade escolar.

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Segundo   Freire   (1996,   p.19),   “é   muito   importante   quando   se   fala   em 

dominação pensarmos em três níveis:   ideológicos, o societário,  o político” o que 

possibilita   perceber   a   reprodução   da   sociedade   de   classes   não   apenas   na 

educação, mas também em outras instancias da sociedade civil. A disseminação do 

poder   entre   as   instancias   da   sociedade   classista   (especificamente   a   instancia 

educacional), acentua a dissonância entre o que é proposto pela escola e o que é 

vivido pela classe trabalhadora. Nesse embate a escola, justamente por ser palco 

dessas lutas, que são de classes, apresenta­se conflituosa e contraditória, podendo 

desempenhar um importante papel político na formação das camadas populares.

Acreditamos   que   uma   proposta   de   educação   publica   voltada   para   os interesses da maioria da população brasileira não poderá ser construída por iniciativa   desse   Estado,   cujas   medidas   governamentais,   contrárias   aos interesses   e   necessidades   populares,   denunciam   o   alto   grau   de comprometimento com a classe dominante do país. [...] Daí a importância de resgatar historicamente o processo de organização política de alguns segmentos, como a caminhada dos educadores e sua luta pela expansão e melhoria da educação pública (FREIRE; NOGUEIRA,1983, p.20).

A   escola   tem   os   elementos   necessários   para   provocar   as   mudanças   e 

superar os limites externos e internos, das normas e dos pareceres, pois tem em 

suas mãos o elemento principal para que estas modificações se realizem, o aluno. A 

coragem   de   eliminar   a   neutralidade   dos   conteúdos,   discutindo   a   realidade,   os 

problemas sociais, as formas de produção de saber popular, permitirão uma maior 

aproximação com comunidade, com suas experiências, necessidades, possibilitando 

maior   clareza  do  caminho  a  ser   percorrido  pela   escola  para   tornar­se  um  local 

significativo para a sociedade, espaço necessário para que as mudanças sociais que 

se fazem urgentes realmente aconteçam e no qual os professores são a essência na 

condução deste processo.

2.3 Projeto Político Pedagógico e Proposta Pedagógica Curricular

Muitas   críticas   são   feitas   à   escola   tradicional,   considerada   mera 

transmissora de conteúdos prontos, acabados, estáticos e desconectados de suas 

finalidades sociais. Porém, é importante lembrar que esta mesma escola é fruto do 

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momento histórico vivido. Ela participa de um contexto social e por sua vez reflete 

este meio em que se encontra. Se por muito tempo a aprendizagem dos conteúdos 

era   requisito   para   tirar   uma   boa   nota   e   ser   promovido,   hoje   surge   uma   nova 

dimensão a ser considerada: qual a finalidade social dos conteúdos escolares?

O Colégio Estadual Dario Vellozo ensino Fundamental Médio e Profissional, 

quer fomentar identidade de trabalho integrado no qual professor e alunos são co­

autores do processo de aprendizagem. Desafio para o mestre e ao mesmo tempo 

para os discentes.  Juntos terão que descobrir  a  finalidade social  dos conteúdos­

científicos culturais propostos pela escola.

Assim, o objetivo fundamental é que o conteúdo sistematizado, responda às 

indagações e anseios dos alunos e do próprio professor, que passa a ser agente de 

formação e transformação do meio em que vive.

Nesta nova perspectiva, o conteúdo de todas as áreas deverá ser trabalhado 

de forma contextualizada e significativa a partir da realidade vivida pelos alunos e 

comunidade.  Portanto,  cada  fragmento do conhecimento só  adquire  sentido num 

todo maior. E, o privilégio será o da contradição, da dúvida, do questionamento e 

que se interroguem os “conhecimentos” advindos do senso comum.

Nesta  escola  encontra­se  em  funcionamento  quatro  cursos  de  educação 

profissional, sendo: Técnico em Enfermagem, Técnico em Agente Comunitário de 

Saúde,  Técnico em Cuidados com a Pessoa  Idosa e Técnico em Segurança do 

Trabalho,   neste   sentido,   realizamos   uma   discussão   na   temática   Diretrizes   da 

Educação Profissional: fundamentos políticos e pedagógicos (SEED, 2006).

O   documento   considera   imprescindível,   na   formação   continuada,   a 

atualização, o aprofundamento, a reflexão sobre a prática educativa, num processo 

constante de auto­avaliação e construção contínua de competências profissionais, 

atendendo   as   necessidades   de   atuação.   Como   resultado,   o   recorte   abaixo,   foi 

escolhido para integrar o PPP do Colégio.

O projeto de Educação Profissional que se consubstancia no compromisso 

com a cidadania dos  trabalhadores por meio da garantia  da Educação Básica e 

Profissional, pública e de qualidade, integrada às políticas de geração de emprego e 

renda, que segue as seguintes etapas:

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a)  Como o  processo  de   formação  humana,  a  Educação  Profissional   se refere   ao   desenvolvimento   da   pessoa   humana   como   integralidade,   não podendo ficar restrita à dimensão lógico­formal ou às funções ocupacionais do  trabalho;  ela se dá  ao entrecruzamento das competências cognitivas, comportamentais   e   psicomotoras   que   se   desenvolvem   por   meio   das dimensões pedagógicas das relações sociais e produtivas, com a finalidade de produzir as condições necessárias à existência;b) A Educação Profissional é um processo que se dá ao longo da vida, pela articulação das experiências e conhecimentos que são construídos ao longo das   relações   sociais   e   produtivas.   A   Educação   Profissional,   como qualificação social, não pode ser tomada como construção teórica acabada ou produto de ações individuais; por conseqüência, deve ser compreendida no   âmbito   das   concepções   de   trabalhador   coletivo   e   de   educação continuada;c)   O   processo   da   Educação   Profissional   não   é   apenas   racional;   nele intervêm afetos e valores, percepções e intuições que, embora sejam fruto das   experiências,   inscrevem­se   nas   emoções,   ou   seja,   no   campo   do sentido,   do   irracional.   Assim,   o   ato   de   conhecer   resulta   do   desejo   de conhecer, derivado de amplas e distintas motivações e é  profundamente significativo e prazeroso como experiência humana; d) A Educação Profissional  deve articular os conhecimentos oriundos da prática social (tácitos e populares) e conhecimento científicos, de modo a relacionar   ciência,   tecnologia,   cultura   e   sociedade   nos   processo   de construção e difusão do conhecimento;e)   A   Educação   Profissional   deve   articular   conhecimento   básico   e conhecimento específico a partir  dos processos de  trabalho e da prática social,  concebidos como  “lócus”  de definição dos conteúdos que devem compor o programa e contemplar as diversas áreas cujos conhecimentos contribuem   para   a   formação   profissional   e   cidadã   derivada   do   perfil profissional;f)  A Educação profissional  dele  articular  conhecimentos que permitam a participação   no   trabalho   e   nas   relações   sociais   e   privilegiar   conteúdos demandados pelo exercício da ética e da cidadania, os quais se situam nos terrenos da economia, da política, da história, da filosofia, da ética, e assim por diante;g)   A   Educação  Profissional   deve   articular   conhecimentos   do   trabalho   e conhecimentos das formas de gestão e organização do trabalho, de modo a preparar   o   aluno   para   a   efetiva   participação   nas   decisões   relativas   a processos e produtos e para a atuação competente nos espaços político e sindical;h) A Educação profissional deve articular conteúdo e método, de modo a contemplar   os   processos   por   meio   dos   quais   o   conhecimento   a   ser apropriado   foi   construído,  promovendo ao mesmo  tempo o  domínio  dos processos metodológicos e de seus produtos;i)   A   Educação   Profissional   deve   articular   os   diferentes   atores   para   a construção   das   propostas   pedagógicas:   professores,   especialistas, empresários,  trabalhadores, representantes do poder público e assim por diante (SEED, 2006, p. 35­36).

 

Encontra­se, no PPP (projeto político pedagógico) os seguintes projetos que 

são desenvolvidos na escola, que em nossa avaliação, favorecem as relações que 

se estabelece na vida cotidiana e com a  temática de educação em saúde: Anti­

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Tabagismo;  Xadrez:  Festival  de  Danças e expressão corporal;  Tênis  de  quadra; 

Futsal;   Basquetebol;   Incentivo   a   leitura;   Anti   Furto;   Sou   Mais   Dario:   Escola 

Iluminada; Ambiental;  Resgate histórico do Colégio 40 anos;   Incentivo a Leitura  e 

Concurso  Literário;  Prevenção de Gravidez na  Adolescência   (PPGA);  Orientação 

profissional.   Por   outro   lado,   desenvolvem­se   palestras   e   ações   educativas   de 

promoção à saúde nos quatro bimestres do ano letivo, com temas variados.

Na   tabela   4   pode­se   visualizar   os   índices   de   adolescentes   grávidas, 

registrados na série histórica de gravidez na adolescência, segundo dados da 20ª 

Regional de Saúde de Toledo, Estado do Paraná.

MUNICIPIO 2006 2007 2008 2009

NUM.  % NUM.  % NUM.  % NUM %Assis Chat. 89 25,50 91 24 100 25 83 21

Diamante 30 37,90 22 34 19 27 23 28Entre Rios 6 11,50 11 23 11 21 12 22Guaíra 116 26,60 147 30 135 25 92 22Marechal C.R 84 18,40 104 18 109 19 85 15Maripá 8 15,30 7 14 12 21 9 17Mercedes 8 20 11 19 9 13 10 13Nova St. Rosa 26 25,40 12 13 19 20 19 19Ouro Verde 23 32,30 24 29 20 29 17 22Palotina 75 20,32 86 23 75 20 65 17Pato Bragado 9 16,36 9 17 18 22 10 17Quatro Pontes 7 17 6 20 3 8 5 20Santa Helena 93 28,90 64 21 80 23 63 21São José 8 26,60 14 34 18 37 14 27São Pedro 31 39,20 26 32 18 30 23 23Terra Roxa 64 29,90 32 16 56 8 39 18Toledo 374 24,30 309 21 341 22 253 16Tupãssi 32 30,40 23 22 30 26 5 8TOTAL 1082 23,10 999 22 1077 23 828 18

Tabela 4 ­ Série histórica de gravidez na adolescênciaFonte: Setor de Epidemiologia  ­ 20a Regional de Saúde, 2009.

A   busca   de   parcerias   entre   áreas   afins   é   um   dos   meios   utilizados   no 

município de Toledo no Estado do Paraná, para amenizar algumas expressões da 

questão social, como por exemplo, a gravidez na adolescência. Observa­se que a 

taxa de nascidos vivos de mães adolescentes tem tido uma leve redução, porém 

com poucas variações ano a ano. Acreditamos que esta redução está relacionada 

ao   Programa   de   Prevenção   da   Gravidez   na   Adolescência   (PPGA),   implantado 

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oficialmente a partir de 2002, no município de Toledo. Este programa é desenvolvido 

em   parceria   com   o   Núcleo   Regional   de   Educação,   20ª   Regional   de   Saúde, 

Secretaria   Municipal   de   Saúde   e   Ecoclube   Cidadão   Ambiental,   onde   os 

adolescentes são os protagonistas.  Esse programa visa o acompanhamento dos 

adolescentes em escolas e grupos de convivência, que se tornarão facilitadores em 

informação sobre prevenção da gravidez na adolescência, não abordando assuntos 

apenas relativos à prevenção da gravidez, mas também sobre conceitos e valores 

relativos   à   vida.   Num   constante   vigiar   epidemiológico   do   planejamento   familiar, 

saúde reprodutiva e gestação de alto risco. O Projeto de Formação de Facilitadores 

em Informação sobre Prevenção da Gravidez na Adolescência tem influenciado a 

compreensão   entre   os   alunos   facilitadores   do   programa   a   intensificar   possíveis 

dificuldades   para   o   repasse   dessas   informações   (NRE   e   20ª   REGIONAL   DE 

SAÚDE, 2009).      

Considera­se que muitas ações devem ser repensadas, que novas ações 

devem ser incluídas, outras excluídas, ou seja, é um processo dinâmico que exige 

uma postura de transformar, de experimentar, e principalmente de acreditar que é 

possível   diferenciar   e   melhorar   a   educação   em   nosso   país.   As   estruturas 

pedagógicas referem­se, fundamentalmente às interações políticas, às questões do 

ensino­aprendizagem   e   às   de   currículo.   Nas   estruturas   pedagógicas   incluem­se 

todos os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho educacional.  

Constatou­se que os conteúdos de saúde estão presentes nas disciplinas de 

Ciências/   Biologia   e   Educação   Física,   as   demais   disciplinas   do   núcleo   comum 

abordam   o   tema   esporadicamente.   No   entanto,   nas   disciplinas   da   Educação 

Profissional nos cursos técnicos do eixo tecnológico: Ambiente, Saúde e Segurança, 

Enfermagem,   Cuidados   com   a   Pessoa   Idosa,   Agente   comunitário   de   Saúde   e 

Segurança do Trabalho, de acordo com análise das ementas o tema saúde aparece 

nas   disciplinas   específicas.   Assim,   ações   de   promoção   da   saúde   ocorrem   no 

ambiente   escolar   com   os   alunos   da   educação   profissional,   possibilitando   aos 

educandos   maior   integração   na   comunidade   escolar,   fazendo   a   interação   com 

colegas, professores e comunidade.

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A disciplina de Ciências aborda mais as questões do meio ambiente,  do 

universo,   somente   na   7ª   série   é   que   os   conteúdos   são   voltados   para   o 

desenvolvimento e as transformações que estão ocorrendo nesta fase da vida dos 

alunos. Na disciplina de educação física é que as questões de saúde são abordadas 

com maior freqüência. As demais disciplinas só abordam o tema de forma pontual, 

esporádica,   faltando   à   concretização   da   interdisciplinaridade   colocada   como   o 

integrador dos temas transversais.

Atividades  Pedagógicas  de  Complementação  Curricular   ocorrem  como  o 

projeto   FERA   e   Com   Ciência   os   quais   são   da   SEED,   o   primeiro   voltado   as 

manifestações regionais de artes, danças e cultura e o segundo para participação 

dos alunos em experiências nas áreas de ciências, geografia, química e matemática.

Diante   das   Diretrizes   Curriculares   da   Educação,   e   da   Organização   das 

Propostas   Pedagógicas;   que   integram   o   Sistema   Estadual   de   Ensino,   os 

estabelecimentos   de   ensino   devem   ofertar   uma   educação   integral   visando   o 

desenvolvimento integral do aluno, nos aspectos emocionais, físicos, psicológicos, 

intelectuais   e   sociais,   complementada   com   ações   na   família   e   na   comunidade, 

considerando o adolescente como um ser íntegro em desenvolvimento e levando em 

consideração a diversidade social e cultural da sociedade.

Busca­se, em especial, a (re) construção dos saberes profissionais a partir 

das necessidades de  revisão dos currículos,  articulados às novas  tendências da 

formação tecnológica.

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3 Conclusão 

           

A função docente exige do professor uma série de condutas que o farão 

reconhecido como alguém que transforma o seu saber e o seu poder em recursos 

para o bem da coletividade com que trabalha,   fazendo bem o que  lhe compete. 

Exige, além disso, determinadas virtudes, qualidades, que poderão auxiliá­lo no dia­

a­dia, como a humanidade, a curiosidade, a coragem, a capacidade de decidir e de 

colocar limites, comprometendo­se na busca dos objetivos a que se propõe.

Do ponto de vista ético, é fundamental que, ao planejar atividades que serão 

trabalhadas com os alunos, os professores selecionem conteúdos que explicitem e 

despertem a curiosidade pelas diferentes formas de organização social  e cultural 

existentes no mundo e pelos diferentes valores que sustentam o convívio, na escola 

e fora dela.

O professor e os adultos que convivem com o aluno na escola precisam 

estar atentos, especialmente para os aspectos que envolvem as relações pessoais 

no interior do processo de ensino­aprendizagem. A atenção, a afeição, a amizade, o 

distanciamento e a omissão contribuem para a formação de atitudes desejáveis ou 

não. Ao longo de sua vivência na escola, o aluno desenvolve uma série de idéias 

sobre o papel dos adultos, posicionando­se frente a esse papel de acordo com as 

respostas   que   recebe   nas   diversas   situações.   O   comportamento   dos   adultos 

funciona,   muitas   vezes,   como  modelo,   afirmado   ou  negado  pelos  alunos.  Se   o 

objetivo do trabalho com o tema transversal Ética é a formação de atitudes de bem 

viver em comunidade, é importante que haja uma atenção especial com a qualidade 

das relações que se pretende viver na escola.

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Quando a escola assume o projeto e o inclui na sua proposta pedagógica, a 

responsabilidade passa a ser de todos e não apenas de uma pequena equipe que 

se dedica ao tema. E aí é possível obter o apoio necessário da direção e do corpo 

docente para que a escola fale a mesma linguagem e compartilhe de uma visão 

comum sobre a sexualidade humana. Afinal, trabalhar o corpo erótico e reprodutivo 

visando ao legítimo direito ao prazer, à busca de relações de gênero com eqüidade, 

à prevenção da gravidez na adolescência e à prevenção das doenças sexualmente 

transmissíveis/AIDS, tem que ser propostas da escola como um todo, não de um ou 

outro professor.

A   construção   da   integração   entre   escola   e   a   comunidade   auxiliam   na 

descompartimentalização das disciplinas no dia­ a­ dia da escola, fomentando nos 

alunos  o  desejo  de   transformar  as   informações  que   recebem em conhecimento 

aplicável. Quanto aos professores, à necessidade de resgatar o sentido humano, de 

valorização   da   vida   e   do   saber   do   outro,   de   trabalhar   os   conteúdos   de   modo 

interdisciplinar,   auxilia   na   integração   das   várias   disciplinas   e   suas   interfaces 

facilitando a formação de uma visão estratégica para desenvolver este projeto.

Os docentes pouco conseguiram avançar na superação da visão moralista, 

repressiva e biologista, o que se consolida pela formação inadequada dos docentes 

para abordarem esse tema tão necessário como à educação sexual especialmente 

em tempos de globalização, e de avalanche precoce, banal e hedonista do sexo, 

especialmente difundida pela internet e pela mídia.

Considerou­se   também   a   necessidade   de   romper   a   dissociação   da 

sexualidade apenas aos seus aspectos negativos como as informações referentes 

às práticas preventivas de DSTs, gravidez não planejada, ao pecado ou como um 

desejo vergonhoso, que precisa ser profundamente controlado, silenciado, pois, ao 

silenciar o prazer, a potencialidade afetiva e de realização plena, de relacionamento 

com   o   outro,   do   encontro,   a   escola   e   a   sociedade   reforçam   uma   sexualidade 

procriativa,   utilitarista,   banal   e   consumista.     Nesse   sentido,   a   sexualidade   é 

aprendida em todas as interações da criança, do adolescente e do adulto com a sua 

cultura.  Não é  possível   tratar  a  sexualidade como uma matéria  escolar  ou  uma 

disciplina  através da  qual  o  sujeito  aprende a  ser  homem, mulher,  bissexual  ou 

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homossexual;  aprende a reproduzir;  aprende a amar; ou aprende a relacionar­se 

com pessoas que lhe complementarão sexualmente.   

A   educação   sexual   ocorre   desde   quando   o   indivíduo   nasce   e   continua 

sofrendo influência de outras instituições, como, por exemplo, a escola. Na escola, 

essa   educação   não   se   processa   somente   nas   salas   de   aula.   Todos/as   os/as 

profissionais da escola são educadores/as em suas respectivas funções.

No contexto escolar, o indivíduo sentir­se­á bem e aberto à aprendizagem, 

no momento em que o clima emocional da Escola se manifesta com: boa qualidade, 

respeito   mútuo,   se   respirar   liberdade,   se   o   relacionamento   for   marcado   pela 

amizade/amor, quando se compreender que o ser humano é único. Entende­se que 

esta  intervenção pedagógica pressupõe além de disposição pessoal,  um espírito 

investigativo  que  busque   chegar   até   os   valores  que  envolvem a  Sexualidade  e 

Educação Sexual.

Ressalta­se que é preciso fazer um trabalho pedagógico nas escolas para 

reduzir   os   índices   de   gravidez   na   adolescência   e   de   doenças   sexualmente 

transmissíveis (DST). “De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde cerca de 

20% das crianças nascidas vivas, no Paraná, são filhas/os de mães adolescentes, 

em idade escolar. Além disso, o número de casos de Aids tem se concentrado mais 

nas mulheres jovens”.  

Neste sentido, a educação em saúde é uma estratégia fundamental para a 

prevenção e promoção da saúde, visando atuar sobre o conhecimento das pessoas, 

para que elas desenvolvam a capacidade de intervenção sobre suas vidas e sobre o 

ambiente, criando condições para sua própria existência. 

Como  docente  do  Programa  de  Desenvolvimento  Educacional  –  PDE,  a 

atuação na formação de educadores na temática educação, Saúde e sexualidade, 

utilizando­se   das   oficinas   pedagógicas   como   instrumento   de   ação/reflexão/ação, 

possibilitou­me  contextualizar  o   trabalho  pedagógico  e   revitalizar   os   vínculos  de 

amizade, respeito e solidariedade entre os profissionais da educação e comunidade 

escolar.

Estudos mais especializados devem ser desenvolvidos para acompanhar o 

trabalho do professor, bem como repensar estratégias de capacitação profissional, 

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no sentido de prepará­los técnica e politicamente para a sua função e vislumbrar 

novos caminhos para a Educação Sexual que possibilitem ao educando construir 

sua identidade em meio à  crise de valores éticos que a sociedade globalizada e 

tecnológica vem sofrendo.  

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICASE PROGRAMAS EDUCACIONAIS

COORDENAÇÃO ESTADUAL PDE – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

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OFICINAS PEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO ESTRATÉGIA PARA AÇÃO INTERDISCIPLINAR

PROFESSORA PDE: ROSMARI GATTO

ORIENTADORA: IES ­ Msc. SOLÂNIA DURMAN

Cascavel

2011

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