DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · possa trocar ideias, possibilite a autonomia na...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
GENIRA PILOTI VAN HELDEN
ARTIGO FINAL
CASCAVEL - PR
2011
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE DO OESTE DO PARANÁ - UNIOESTE
TECNOLOGIAS E MÍDIAS NO CONTEXTO ESCOLAR
Autora: Genira Piloti van Helden – Professora/PDE1
Orientador: Fabio Lopes Alves – Orientador/UNIOESTE2
Resumo
Para que a sociedade midiatizada seja uma sociedade plural, inclusiva e
participativa, hoje mais do que nunca, é necessário oferecer a todos os cidadãos,
principalmente aos jovens estudantes, condições para saber compreender as
informações, ter o distanciamento necessário à análise crítica a todo tipo de
mensagem. Esta pesquisa tem como objetivo básico despertar nos educandos
maneiras para que tenham uma formação para ler, selecionar, criticar, refutar e
reelaborar o conhecimento a partir da realidade vivida e pelas informações trazidas
pela mídia, tornando-se sujeitos autônomos, com uma visão estética, técnica,
política e ética da realidade.
Palavras chave: Mídia, educação, sociedade
1 Introdução
Recentes estudos afirmam a necessidade de mudanças na escola. Essa
mudança advém do fato de que ela não é mais o único espaço de desenvolvimento
1 Especialista em Educação Especial na Educação Inclusiva pela Faculdade DOM BOSCO de Cascavel e Arte e Educação pela Faculdade INTEGRADAS DO VALE DO IVAI. Graduada em Pedagogia pela Faculdade Assis Gurgacz – FAG. Professora concursada lotada no Colégio Estadual José de Anchieta – Ibema - Paraná, pertencente ao NRE – Núcleo Regional de Educação – Cascavel, tendo como mantenedora SEED – Secretaria de Estado da Educação. 2 Doutorando em Ciências Sociais. Professor Assistente na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Autor do livro “Noites de cabaré: prostituição feminina, gênero e sociabilidade na zona de meretrício.
do saber, pois os recursos tecnológicos de ponta e a mídia fazem com que o
conhecimento deixe de ter espaço e tempo determinados para estarem disponíveis
no simples aqui e agora para um número cada vez maior de pessoas.
A criação e a produção de tecnologias transformam as condições de
existência dos homens, tanto para facilitar a vida de alguns, suprindo necessidades,
quanto para exclui outros tantos.
O avanço tecnológico, entendido como um processo social, causa impacto
sobre as instituições sociais como educação, comunicação, trabalho, lazer, relações
pessoais e familiares, cultura, imaginário e identidades, etc. Impacto esse que tem
sido muito forte, embora percebido de modos diversos e estudado a partir de
diferentes abordagens.
Nesse sentido, a presença dos recursos tecnológicos na escola pública, além
de possibilitar o acesso democrático a todos os grupos, também amplia as opções
didáticas que propiciam o ensino e a aprendizagem e contribuem para que o aluno
adquira uma postura crítica, desenvolva a curiosidade, a observação e a análise,
possa trocar ideias, possibilite a autonomia na aprendizagem e na busca pelo
próprio conhecimento. A aprendizagem permanente é que possibilita ao homem
acompanhar as transformações sócio-culturais, cientificas e econômicas.
Nesse contexto cabe analisar alguns dilemas. Dentre eles, como fazer uma
reflexão sobre o fato da mídia televisiva, computadorizada e as principais mídias
impressas serem socializadoras do saber e terem o poder de disseminar bens
culturais, simbólicos, imagens e sons, tornando-se comum a toda a população.
Guareschi (2006, p. 139) afirma que “quem detém a comunicação constrói
uma realidade de acordo com seus interesses, justamente para poder garantir o
poder. E esse poder é manifestado de muitas maneiras”, o que também pode se
afirmar nas palavras de Kenski (2007) sobre as tecnologias serem tão antigas
quanto a espécie humana, que o homem, através do raciocínio, garante um
processo crescente de inovações. O domínio das tecnologias e linguagens tem
gerado poder – dominação diante dos demais.
De acordo com essa afirmação, na escola as novas necessidades passam a
ser: alfabetização audiovisual, democratização de acesso ao conhecimento, domínio
crítico da linguagem tecnológica e midiática (desmistificação, manuseio,
interpretação e criação), formação para a cidadania, compreensão para a não
dominação.
De acordo com Kominek (2000), a linguagem se torna importante na medida
em que há transformações de hábito e comportamentos sociais, também haja
mudanças de crenças e valores, os quais constituem a estrutura cultural da
sociedade e essas mudanças são perceptíveis na linguagem. Consequentemente,
para refletir sobre educação tecnológica, é preciso compreender seu contexto
cultural e social, ou seja, a linguagem. A linguagem apresenta duas estruturas, a
primeira é a performativa, aquela que comunica e a segunda é a proposicional. A
comunicação é apenas um meio para um determinado fim. De acordo com (Teruya
2006, p.113) “isto significa reconhecer, no processo histórico dos meios de
comunicação e informação, a ideologia produzida e amplamente difundida no
mundo”.
A escola e os professores têm um grande desafio em relação à mídia na
escola e para a escola e é necessário buscar “compreender os processos das
mensagens da mídia para desenvolver intervenções da leitura crítica e educativa”
(Melo e Tosta, 2008, p. 23). Nesse sentido, os mesmos autores sugerem que o
professor “deve exercer seu papel de mediador na elaboração crítica de critérios de
leitura das formas simbólicas ofertadas pelos meios de comunicação e tecnologias
impressas e digitais”.
A expressão "Tecnologia na Educação" abrange, além da Informática na
Educação, também ao uso da TV, vídeo, rádio, cinema, telefone, fotografia,
computador, internet, etc. O termo "tecnologia" aqui se refere a tudo aquilo que o ser
humano inventou, tanto em termos de artefatos como de métodos e técnicas, para
estender a sua capacidade física, sensorial, motora ou mental, assim facilitando e
simplificando o seu trabalho, enriquecendo suas relações interpessoais e
intrapessoais, ou simplesmente dando-lhe prazer.
No ambiente escolar, o uso de alguns recursos tecnológicos vem sendo feito
com o estrito objetivo de ocupar o tempo da aula, principalmente o vídeo, deixando a
relação dialógica mídia/conteúdo geralmente superficial, no nível de enredo e não do
contexto. Quanto ao uso e pesquisa na internet, prevalece a cópia. Isso tem gerado
insatisfação e angústia nos professores, alunos e pais.
Esta discussão se mostra importante, pois acreditamos que a função da
educação vai além da transmissão de conhecimentos científicos e técnicos,
coincidindo com o que disse Paulo Freire que o ato de ensinar vai além da ideia de
transferir conhecimento. O que está em jogo é uma educação para a formação do
indivíduo, que pense e aja diante dos problemas da sociedade atual e seja um
agente de transformação dessa, trabalhando em prol de uma sociedade mais justa e
igualitária.
A tecnologia que está presente e evoluindo cada dia e deve ser posta diante
dos alunos, através do professor, como um instrumento para entender o contexto
social na medida em que se apresente como potencializadoras a ajudar na
resolução de problemas.
O propósito deste estudo é compreender as relações que se estabelecem
entre os diferentes tipos de mídias e as contribuições que essas podem trazer para o
desenvolvimento das capacidades de observação, análise, reflexão, autonomia e
organização e exposição do pensamento, características exigidas para os
educandos e educadores na contemporaneidade. Que demandas são necessárias
para a formação de um leitor crítico das mídias, compreendendo que essas são um
conjunto de meios que têm a função de transmitir informação, opinião,
entretenimento, publicidade e propaganda.
Nestes termos é necessário nos perguntarmos, como o público em formação
e consumidor se relaciona com os diferentes elementos midiáticos – personagens,
procedimentos técnicos, formas de linguagem, modos de pensar e perceber o
mundo? Como constroem seus conhecimentos e seus valores éticos e estéticos,
face a essas mediações? A educação escolar com apoio dos recursos tecnológicos,
através do trabalho do professor/mediador pode desenvolver um processo
educacional que dê conta da formação de um leitor crítico das mídias,
compreendendo que essas são um conjunto de meios que têm a função de
transmitir informação, opinião, entretenimento, publicidade e propaganda. E que
nesse sentido é um espaço de força, poder e sociabilidade, capaz de atuar na
formação da opinião pública em relação a valores, crenças e atitudes, tanto positivas
quanto negativas.
Referencial Teórico
Os recursos tecnológicos e as mídias estão mudando todo o contexto social
em termos de meios e também de conceitos, o que determina uma nova conduta
tanto educacional quanto social. Nesse contexto o educador pode contribuir para
uma conduta mais crítica diante das visões alienadas e dos preconceitos
disseminados, possibilitando o desenvolvimento das capacidades de observação,
análise, reflexão, autonomia e organização e exposição do pensamento,
características exigidas para os educandos e educadores na contemporaneidade,
cultivando os embriões de uma nova geração de indivíduos humanos mais criativos.
Não se trata necessariamente de produzir um novo conhecimento, mas, conhecer a
produção humana, no sentido de abrir horizontes do saber que permitam criar e
inovar, utilizando-se do conhecimento acumulado no processo histórico de
desenvolvimento do homem.
Teruya (2006) diz que o acúmulo de conhecimentos científicos e tecnológicos
gerou uma sociedade altamente informatizada. Esse fator faz com que as famílias
de baixa renda vivam à margem, absorvendo apenas as informações veiculadas
pelos meios de comunicação de massa e da própria escola. Sendo assim, projetar
um mundo melhor significa democratizar a ciência e a tecnologia por meio de
políticas educacionais que garantam o acesso ao saber nas escolas públicas.
Essa necessidade fica evidente no texto da Lei que regulamenta a educação,
pois de Acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB
9394/96, no seu artigo 36, alínea I, deixa claro que o Ensino Médio em seu Currículo
“destacará a educação tecnológica básica” e ainda,
§ 1º, os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre: I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna.
Ou seja, faz-se necessário que a escola esteja atenta aos avanços científicos
e tecnológicos, que esteja aberta a novas metodologias e práticas educativas e que
reconheça no aluno o cidadão consciente de seu papel na sociedade. Afinal,
Educação e cidadania caminham juntas, são indissociáveis, pois, quanto mais
Educação, mais capazes terão de lutar e exigir seus direitos e de cumprirem seus
deveres.
Neste prisma cabe citar as palavras de Moran quando afirma que a
Televisão e vídeo são sensoriais, visuais, linguagem falada, linguagem musical e escrita. Linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas, não separadas. Daí a sua força. Atingem-nos por todos os sentidos e de todas as maneiras. Televisão e vídeo nos seduzem, informam, entretém, projetam em outras realidades (no imaginário), em outros espaços e tempos. Televisão e vídeo combinam a comunicação sensorial-cinestésica, com audiovisual, a intuição com a lógica, a emoção e a razão. Integração que começa pelo sensorial, pelo emocional pelo intuitivo, para atingir posteriormente o racional (2000, p. 38).
As diversas linguagens com as quais convivemos, denominadas não-escolar,
dizem respeito aos nossos modos de ser, viver, sentir e agir no mundo e, por isso
mesmo, é preciso considerar os meios como instâncias com papel estratégico no
terreno da cultura.
Na escola, usar os recursos da mídia como metodologia de ensino, torna-se
uma possibilidade positiva na formação dos educandos, quando o professor agir
com transparência, coerente com a própria concepção de educação, estar munido
de consciência critica em relação aos problemas socioeconômicos, culturais e
políticos brasileiros.
E a curiosidade como exercício tende desenvolver a imaginação, a intuição,
as emoções, a capacidade de prever, de comparar, na busca de compreender o
objeto de estudo e a finalidade deste na sociedade. Sendo assim,
a escola precisa oferecer situações de problematizações, fazendo refletir sobre a realidade, para que os alunos aprendam a administrar conflitos, pensamentos divergentes, respeitar a opinião dos outros, saber contra-argumentar sem que este processo seja de luta, agressão e competitividade (BEHRENS, Apud Moran, 2000, p. 82).
A mídia viabiliza a expressão criativa e a inserção nos processos de produção
e circulação de bens culturais. E por meio deles educa, privilegiando o uso dos
diversos sentidos: visão, audição e tato, ou seja, articula, sobrepõe e combina
diferentes linguagens. Assim, imagem e palavra juntas têm mais força que somente
a palavra.
Operando com estas diferentes lógicas, tanto a mídia quanto a escola
ensinam, a primeira de forma multifacetada dissemina valores ideológicos, enquanto
que a escola, de maneira multidisciplinar, precisa despertar no educando meios para
a elaboração do conhecimento a partir da realidade vivida e pelas informações
trazidas pela mídia, imprimindo novos sentidos, percebendo que a coerção afetiva e
ideológica realizada pela mídia tem como objetivo divulgar verdades que interessam
aos sistemas de domínio, além do consumo, lucro, pois vivemos num mundo
capitalista. Pois, como diz Guareschi,
a força da mídia não esta apenas no que ela apresenta: está também, e muito, no que deixa de apresentar. Se algo não é colocado na mídia, não é discutido pelas pessoas. Isso significa que se pode deixar de fora da discussão nacional um tema que possa incomodar a determinados grupos, ou governos. E de outro lado, se quisermos que algo exista, e exista com a valorização que queremos, é fácil: é só apresentá-lo, fazê-lo notícia. Ele passa a existir e as pessoas passam a falar dele. (2006, p. 139)
Ou seja, passam a se verdades instituídas por interesses de determinados
grupos.
De acordo com Melo e Tosta, Educação significa “a ação e o efeito de educar-
se” (p. 15, 2008), que por meio de preceitos e ou preceitos doutrinários tem objetivo
de aperfeiçoar e desenvolver o indivíduo moral e intelectualmente. Assim, com estas
reflexões, este trabalho aborda às inovações tecnológicas e como o ensino e
aprendizagem podem ser dinamizados e compreendidos pelos alunos para atender
às novas exigências da sociedade.
Segundo Valente (1993), “o computador não é mais o instrumento que ensina
o aprendiz, mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo e, portanto, o
aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do
computador” (p.13).
Quando o próprio aluno faz, administra sua produção, decidindo o que melhor
para solucionaria seu problema, torna-se um sujeito ativo de sua aprendizagem. Ou
seja, ao manipular o computador o indivíduo constrói e reconstrói o conhecimento,
tornando a aprendizagem uma descoberta. Sendo assim, quando a informática é
utilizada a serviço da educação emancipadora, o aluno ganha em qualidade de
ensino e aprendizagem.
Para isso, é necessário mobilizar e sensibilizar o aluno para o conhecimento
escolar, com atividades desafiadoras, estabelecendo relação entre o conteúdo e a
vida, daí a necessidade do aluno compreender sua prática social e que relações
sociais estabelece, na escola, no trabalho, no lazer, na família, na religião, etc.
A partir deste ponto de vista percebemos que o educador necessita de
atualização para o trabalho docente, uma vez que é co-responsável na produção e
reprodução desses novos conhecimentos.
Neste contexto Sampaio (2008) descreve a alfabetização tecnológica do
professor como um processo em construção para o uso da tecnologia como meio de
ensino. Para isso se faz necessário compreender a mesma como:
• produto e produtora da subjetividade humana;
• caráter dialético da relação homem/tecnologia;
• ferramenta do ato humano de pensar;
• ferramenta para o trabalho do professor e orientador da construção do
pensamento e conhecimento dos alunos;
A partir desta compreensão, as características necessárias para o aluno e o
docente passam a ser: o desenvolvimento de habilidades, o pensar criticamente, a
comunicação, o resolver problemas e contextualizar, a aprendizagem cooperativa e
a aproximação com a escola.
O desafio aos educadores é entender a mídia como produtora de cultura,
conhecer as linguagens e reconhecê-las como elemento constituinte da prática
pedagógica. Além disso, Freire nos questiona sobre
como enfrentar o extraordinário poder da mídia, da linguagem da televisão, de sua “sintaxe” que reduz a um mesmo plano passado e o presente e sugere que o que ainda não há já está feito. Mais ainda, que diversificada temáticas no noticiário sem que haja tempo para a reflexão sobre os variados assuntos (1996, p. 157).
Para ter uma atitude ativa diante dos diálogos necessários com a mídia e a
sociedade, educadores necessitam atualizar suas práticas em face das mudanças
nos modos de produzir e socializar o conhecimento e uma das possibilidades é o
diálogo mídia-educação proposto por Belloni em O que é mídia-educação. Sendo
assim, para que ocorra o aprendizado é necessário desenvolver algumas
características no homem do novo tempo, entre elas: “dinamismo, capacidade
multifuncional, autônoma e envolvente” (SANTOS, 2003 p.13). E prossegue a autora
escrevendo que a “interatividade não se encerra em si, mas leva o aprendiz a uma
dimensão que gera elemento fundamental de comunicação: a conexão com o
mundo.
Teruya, (2006, p.24) descreve as transformações ocorridas em decorrência da
tecnologia, dizendo que
o conhecimento foi ampliado em todos os campos de aplicação e confunde-se com o universo de informações. Os indivíduos são obrigados a se adaptarem às novas configurações do mundo técnico, nas quais as informações digitais de códigos e mensagens substituem muitas atividades cognitivas no campo da linguagem escrita, leitura de voz; capacidade de armazenamento, combinação de símbolos; criação e produção sonora em todos os estilos musicais, sensibilidade dos sensores, elaboração e captação de imagens, visualização e controle do tempo
Tendo o conhecimento todas estas implicações, também há implicações
quanto à metodologia de trabalho escolar, principalmente quando se trata do uso
dos recursos midiáticos, os quais, de acordo com Teruya, poderão contribuir
positivamente na formação dos educandos se o educador tiver “uma atuação
transparente, coerente com a própria concepção de educação e estar munido de
uma consciência critica em relação aos problemas socioeconômicos, culturais e
políticos da sociedade brasileira”, (2006, p. 12)
Dessa forma, para desenvolver esta pesquisa, o modelo de pedagogia mais
apropriado para o processo ensino-aprendizagem foi a Pedagogia Histórico- Crítica
Social dos Conteúdos. Gasparin descreve que a construção do conhecimento dá-se
no movimento entre o conhecimento empírico, visão desordenada do todo, com a
qual o educando chega na escola e o conhecimento científico sistematizado,
proporcionado pelo ambiente escolar. Este fazer pedagógico envolve a esfera
escolar e sua intencionalidade ultrapassa eminentemente a técnica, abrangendo um
cunho sociopolítico revolucionário para toda a sociedade. Portanto, teoria e prática
andam juntas, num movimento e contradição, e essa concepção é a mais adequada
para se trabalhar à educação escolar hoje.
Este momento de conscientização foi mediado pelo professor que, “a partir da
explicitação da Prática Social Inicial, toma conhecimento do ponto de onde deve
iniciar sua ação” (GASPARIN, 2002, p.20). A partir da leitura do cotidiano, tomada
como um objeto de estudo, é o momento de problematizar o que os alunos
vivenciam.
Segundo Gasparin (2003), o primeiro passo da Pedagogia Histórico-Crítica
diz respeito ao nível de desenvolvimento real do educando; prática social inicial; o
segundo, constitui o elo entre a prática social e a instrumentalização, é a
problematização; o terceiro, relaciona-se às ações didático-pedagógicas para a
aprendizagem; instrumentalização; o quarto, a expressão elaborada da nova forma
de entender a prática social; cartase; e o quinto e último, ao nível de
desenvolvimento atual do educando; prática social final. Sendo que os três passos
intermediários compõem a zona de desenvolvimento imediato ou proximal do
educando, de acordo com Vygotsky (1991), reforçando a idéia de que os sujeitos
aprendem na interação com seus pares, pois estes são produtos das relações
sociais.
Independente de qualquer das situações citadas, por muito tempo ainda as
tecnologias serão consideradas desafios, pois tratam problemas a serem resolvidos.
Para que dê certo o uso das tecnologias na educação é necessário que as
instâncias que decidem o uso e quem as vai usar, discutam juntas para
compreender a complexa relação, bem como professor e aluno entendam porque o
uso do diálogo favorece a aprendizagem, na medida em que favorece o consenso.
De acordo com (Guareschi, 2006 p. 108) é nas contradições que surgem as
possibilidades de diálogo e o mesmo afirma que para
O diálogo ser verdadeiro tem de se dar em igualdade de posição. Isto é, o verdadeiro diálogo exige que um esteja do lado do outro e não que um se coloque em posição de superioridade, como é o caso do professor que “está convencido” de que sabe. O diálogo exige respeito total ao mundo do outro, exige verdadeira democracia. [“...] nessa reciprocidade, na provocação de um para com o outro, dá se o verdadeiro diálogo que leva ao crescimento mútuo”. E diz mais “o diálogo supõe amor” (p. 158)
Os problemas do uso das tecnologias residem na falta de conhecimento do
professor sobre o uso pedagógico da tecnologia e da falta de adequação da
tecnologia ao conteúdo que vai ensinar e o propósito do ensino de determinado
conteúdo.
O papel da escola na atualidade é preparar cidadãos conscientes que saibam
analisar criticamente o excesso de informações, a fim de compreender e lidar com
as sucessivas transformações do conhecimento.
Metodologia
O trabalho foi desenvolvido na Escola Estadual José de Anchieta – Ensino
Fundamental e Médio, de Ibema, pertencente ao Núcleo Regional de Educação de
Cascavel, Paraná. Realizado de forma interdisciplinar na disciplina de filosofia,
especificamente nos conteúdos: Teoria do Conhecimento para a 1ª série, Ética para
a 2ª série e Estética para a 3ª série do Ensino Médio noturno, totalizando (96)
noventa e seis alunos de ambos os sexos, com idades entre 15 e 21 anos. O
encaminhamento foi sempre através do diálogo e explicações, pois sempre há a
necessidade de uma interpretação crítica destes conteúdos com o intuito de
estimular a vontade de investigar, de reproduzir e criar, tendo como apoio a revisão
bibliográfica e oficinas de estudos sobre mídias. Para desenvolver este trabalho
foram usados os três grandes passos do método dialético de construção do
conhecimento: prática-teoria-prática, descritos por Gasparin.
Partindo desse pressuposto, a pesquisa realizada, através de questionário
aberto, a partir do conhecimento empírico, serviu para identificar como esses alunos
pensam o arsenal midiático da escola e como os usam, refletindo sempre na
potencialidade de uma melhor apropriação dos recursos na práxis pedagógica e das
leituras possíveis sobre os temas veiculados. O desenvolvimento do conteúdo
filosófico Estética, Ética e Teoria do Conhecimento usando as mídias: textos (livros
de filosofia, internet – hipermídia), vídeos (documentários, vídeo-aula, fragmentos de
filmes) músicas e slides produzidos a partir de conceitos e imagens, obedeceram
aos seguintes passos:
1 - Poblematizando: Moran diz que na mídia normalmente a imagem mostra,
a palavra explica, a música sensibiliza, o ritmo entretém. Mas as funções mudam, se
intercambiam, se superpõem. Como pudemos perceber todos os sentidos são
acionados, o nosso ser como um todo é atingido, não só a inteligência, mas também
as emoções. Daí a sua força. Um fato mostrado com imagem e palavra tem mais
força que se somente é mostrado com palavra. Muitas situações importantes do
cotidiano perdem força por não terem sido valorizadas pela imagem-palavra como é
o caso da televisão, que é o caso da escola quando trabalha apenas com livros,
explicações e/ou quadro-negro. Quais recursos tecnológicos são usados na escola?
Você conhece a todos eles? O que são mídias? O que é propagado por elas
interfere nas relações sociais? As mídias exercem influência sobre o individuo,
como? Na escola, a utilização de elementos de multimídia (imagens, vídeo, som,
animações) aumenta o interesse pela aula e facilita seu aprendizado? A TV
especificamente exerce influência sobre a aprendizagem, de que maneira? Como e
o que se aprende por meio das mídias?
Com base neste pressuposto e nas respostas das questões abertas, propiciar
um distanciamento, para tomar ciência do funcionamento das mídias, tanto de seus
conteúdos como da contextualização dos sistemas nos quais elas evoluem.
2- Sistematizando: nessa fase do trabalho o diálogo é dirigido sobre os
conteúdos apresentados com intervenção mediada pelo professor, a respeito dos
fatores conceituais filosóficos e ideológicos sobre os conteúdos: teoria do
conhecimento; conhecimento e a mídia, ética; a ética na e da mídia, estética;
conceito de belo e a determinação do gosto pela mídia, fundamentado com base nos
textos do Caderno Temático. MÍDIAS: RECURSOS TECNOLÓGICOS E
MEDIAÇÕES PEDAGÓGICAS, produzido como atividade do PDE, sob a orientação
do professor Fabio Lopes Alves. Permeado pelos Vídeos aula com o objetivo de
demonstrar os recursos multimidiáticos.3
3 - Produzindo – os alunos conceituaram ética, teoria do conhecimento e
estética mediante pesquisa4 .
Nesse momento, outras atividades realizadas foram à formação de grupos
para análise crítica dos textos midiáticos (verbal e não-verbal), com produção de
material multimídia: Ilustrar os conceitos com imagens e fragmentos de filmes,
músicas que dêem conta de exemplificar os conceitos. Através de História em
3 http://ghiraldelli.pro.br/. O que é ética http://www.youtube.com/watch?v=oFtjZ7b4NNg. Existencialismo despertando para a vida http://www.youtube.com/watch?v=SqK_WWr9Vek,. O belo em Kant http://www.youtube.com/watch?v=l8AaPND8NAA. O que é o conhecimento http://www.youtube.com/watch?v=oc-aGTCvwb0&feature=related, Vídeos do you tube: teoria do conhecimento real, http://www.youtube.com/watch?v=pS2BFvKYqRs&feature=related . O poder da mídia na atualidade 1 e 2, http://www.youtube.com/watch?v=PPCTCAFy42k, http://www.youtube.com/watch?v=FMIoEN9eY0g. Manipulação em massa http://www.youtube.com/watch?v=VErI0EQFtyI.
Para a fundamentação teórica usou-se uma coletâneas de textos que foram selecionados para discutir: O que é ética? O que é o conhecimento? Quando o belo veio a nos ficamos feios. Fonte citada nas referências. Além dos texto de filosofia de Ubaldo Nicola: Todo conhecimento é uma recordação, Platão, pág. 64, tema 28. A virtude está no justo meio, Aristóteles, pág. 97, tema 42. Um furacão é belo? Não, é sublime, Kant, pág. 335, tema 142. e os textos para compreender como a mídia influencia e induz os quais serviram de base para a interpretação e construção de conceitos reelaborando-os e comparando-os aos conceitos que possuía antes com os novos conceitos a partir da leitura crítica fundamenta em: “Os meios de comunicação: sua influência sobre a sociedade”. Publicado no Folhas código 3253, site diaadiaeducacao.pr.gov.br da disciplina de Sociologia que trata do conteúdo básico “Conceitos de Ideologia” exemplifica a maneira como a mídia nos manipula e induz.
4 Internet, http://Ghiraldelli.pro.br/, livro folhas, Antologia ilustrada de Filosofia: das origens a idade moderna.
Quadrinhos e charges, oratória e textos resumindo e explicando o que é a mídia,
quais são os elementos, a influência que exerce e como analisá-la.
Todas as atividades realizadas foram socializadas e a apresentação pelos
grupos, feita para toda a classe com as considerações e intervenção do grupo e do
professor, de acordo com as produções dos educandos que foram publicados na
mídia (Internet/blog).
4 - A avaliação – A avaliação foi realizada de forma processual, retomando
conceitos e procedimentos, analisando a reação do educando na seleção,
elaboração e apresentação do material produzido, da interação no diálogo e da
participação e envolvimento no grupo. Além da produção escrita individual e a da
auto-avaliação, os alunos foram avaliados a partir de observação direta na
participação e contribuições nos debates promovidos ao longo do desenvolvimento
do trabalho. Também através de entrevista e relatórios realizados no final da aula,
demonstrando como os participantes se envolvem no trabalho e suas contribuições
ao grupo.
Nesse sentido, foram analisadas também as consequências da divulgação
científica e sua implicação no pensar, necessariamente sobre a presença do
conhecimento institucionalizado, aquele apresentado nos livros didáticos e divulgado
pela escola. Além desse conhecimento dito científico na sociedade, mas também a
mídia que é o outro meio pelo qual o ele é divulgado.
O domínio do saber, que se constrói segundo requisitos constituídos
historicamente, está afetado, de um lado, pela ação das políticas científicas, e, de
outro, pela mídia, na medida em que esta se coloca como mediadora entre ciência,
escola e sociedade.
Resultados
Os resultados obtidos no desenvolvimento do trabalho se iniciam com a
pesquisa que mostra como os alunos das três séries do Ensino Médio noturno
pensam sobre os modos de funcionamento do atual espaço de produção e
divulgação da mídia.
Ao serem questionados se
conheciam ou não todos os recursos
tecnológicos existentes na escola, a
pesquisa aponta que apesar de 26%
terem dito sim, 46% terem dito não e
28% dizerem que conhecem apenas
alguns. Todos eles citaram os
mesmos recursos. A TV, o
computador, o laboratório de
informática, foram os mais citados.
Outros ainda citaram aparelhos de som, TVmultimídia. Com exceções, alguns raros
alunos citaram a biblioteca, livros, revistas, jornais como tipos de recurso
tecnológico. Com essas informações ficam claro quais são os recursos mais usados
na sala de aula pelos professores para transmitir uma informação determinada.
A metodologia usada para o processo, além de mostrar as possibilidades das
tecnologias, também tinha a necessidade de expor em que a mídia atinge a pessoa.
Cabe aqui retomar as palavras de Moran quando este diz que normalmente a
imagem mostra, a palavra explica, a música sensibiliza e o ritmo entretém. Mas
também sabemos e percebemos que as funções mudam se intercambiam, se
superpõem na medida em que as analisamos. Ou seja, todos os sentidos são
acionados, o nosso ser, como um todo, é atingido, tanto a inteligência quanto os
sentimentos, principalmente a emoção. Daí a sua força. Um fato mostrado com
imagem e palavra tem mais força que somente mostrado com palavra. Muitas
situações importantes do cotidiano perdem força por não terem sido valorizadas pela
imagem-palavra como o caso da TV, como é o caso da escola quando trabalha
apenas com livros e explicações e em alguns casos apenas o quadro-negro.
Considerando que a mídia está relacionada à indústria dos bens simbólicos,
acionada por redes tecnológicas, pertencentes à esfera pública, mas que funcionam
sob a gestão privada. Esta é uma fonte de poder, pois aciona a indústria que a
mantém e nutrindo se ao mesmo tempo em que influencia a opinião pública.
Como aponta a figura 2, no processo de avaliação individual, a percepção e a
compreensão do aluno mostram que a influência maior está sobre o consumo, que é
a que propõem a mídia quando se trata do lucro, consumo, usando de todos os
figura 1
meios simbólicos de convencimento.
Nas palavras também da aluna (A.S.) “Com o poder de influência que a mídia
possui, não impulsiona os jovens para os valores
que mantêm sua dignidade, porque se eles
tomassem consciência do quanto são manipulados,
o mercado não teria para quem vender seus
produtos. A mídia captura sua vontade para que ele
consuma uma falsa identidade, operando no desejo
e, sobretudo, no inconsciente. A que ponto
chegamos? Em uma fase da humanidade em que
se diz existir a liberdade de escolha, a mídia
manipula a mente dos jovens para que estes
comprem o produto do anunciante. E vai mais além, tornando isso uma regra, um
código de conduta e inclusão. Censura não é a solução, mas conscientização é a
palavra. Deve-se mostrar ao jovem que ele não precisa de tudo o que é anunciado e
fazê-lo perceber que a inclusão em um grupo não deve depender de aquisições da
moda, mas da afinidade de gostos e idéias. Idéias próprias, não as concepções pré-
fabricadas da mídia. Fazer uso da mídia, instrumento que como qualquer outro,
interfere nas relações humanas, faz parte do processo de formação e
desenvolvimento do sujeito e pode ser algo muito positivo desde que este ato de
consumir o que é proposto por ela sem questionamentos não se torne um hábito
nocivo. Esta acomodação do expectador-consumidor é o que faz as classes
trabalhadoras continuarem como tais, pois segundo Marx, só o conhecimento é
capaz de libertar o homem. Podemos concluir com esta pesquisa que o homem é
influenciado pela mídia, mesmo que em sua maioria ele não perceba ou não
reconheça. A mídia influencia na política, nos hábitos, no consumo e no
"desconhecimento" de determinados fatos que são importantes para a processo de
libertação do homem.
As figuras 3, 4 e 5 mostram como ocorre a influência nos costumes, hábitos e
vontade na percepção dos alunos. Esta compreensão foi possível mediante o
diálogo, a mediação, ou seja, a relação feita entre leitura e explicação das
mensagens midiáticas e a realidade que os cerca ou nos cerca.
Figura 2
Portanto, o objetivo é compreender que o consumo faz parte da vida das
pessoas. Por isso a necessidade de filtragem, encontrar uma forma de organizar a
mensagem reconstituindo a realidade, tanto como proteção quanto para fazer uma
crítica, causando uma transformação e ainda o entendimento de que proibir ou
condenar o consumo não é o mais adequado, embora a falta de crítica possa ser
suplantada pela celebração.
As figuras reforçam que o que foi discutido é a idéia de quando o consumo se
transforma em consumismo, e quais são os valores subjacentes a esse
comportamento, os quais ficaram claros para os alunos, apesar do curto período em
que se desenvolveu o trabalho.
A leitura crítica tratou pedagogicamente a questão do prazer que a
publicidade desperta, não uma abordagem de fundo moralista que, de certa forma,
tende a despertar uma rejeição por parte do estudante e, assim, poderia acabar
reforçando o suposto poder desse veículo de comunicação.
Figura 4
Figura 3
Figura 5
O ensino da mídia, claramente, precisa ser fundamentado numa profunda
compreensão desde a experiência infantil até os adultos com esses meios - uma
experiência que a noção mais simplista de “influência” não explica adequadamente,
além da necessidade de compreender também as linguagens por ela usadas. O
ensino sobre mídia deve ser baseado na visão que concebe os humanos como
produtores ativos de significados, e que essa produção de significado é,
fundamentalmente, uma atividade social.
Sendo assim, para que ocorresse o aprendizado foi necessário discutir com
os educandos a possibilidade em desenvolver algumas características no homem do
tempo histórico em que vive, como as descritas por Santos, entre elas: “dinamismo,
capacidade multifuncional, autônoma e envolvente” (2003 p.13). E continua a autora,
a “interatividade não se encerra em si, mas leva o aprendiz a uma dimensão, que
gera elemento fundamental de comunicação: a conexão com o mundo”.
E em conformidade com Santos, assim se expressa Guareschi, 2006, p.158,
“penso que não seria demais dizer que uma escola que não pratique a comunicação,
não leve os educandos a serem sujeitos de comunicação, é uma escola fracassada.
Forma robôs, autônomos, mas não sujeitos. Numa era como a nossa, em que a
comunicação faz a realidade, em que quem detém a comunicação detém o poder,
ninguém pode prescindir desse direito. E o que se diz aqui da escola, vale para a
família, para os grupos religiosos, para os sindicatos, etc.” Para concluir, nada mais
apropriado que a ideia de Belloni (2009) que diz que devemos ensinar a ler as
mídias da mesma forma que ensinamos literatura.
Considerações Finais
Iniciamos esta conclusão dizendo que para entender a mídia é preciso buscar
e compreender detalhes significativos, tanto na foram quanto no conteúdo.
Assim, para que juntos, professores e alunos, se deixem envolver pela arte da
mídia e encontrem, por meio de fundamentação teórica, meios para analisá-la e
compreender seus mecanismos, construindo um processo de alfabetização para as
mídias, e possam contribuir para a formação de consciência critica a respeito dos
meios de comunicação, como também da informação veiculada.
Julgamos que este trabalho é importante porque a mídia é muito mais
abrangente que aquilo que aqui foi abordado. Da mesma forma que se lê um texto
dos livros públicos para fazer provas, também precisamos ter a ciência de ler todas
as mídias, para conhecer, ficar informado, aprimorar a sensibilidade estética, para
fantasiar, para imaginar. Lê-se principalmente para criticar, criticas que possam
contribuir para a resolução de problemas educacionais e sociais.
Finalmente, esperamos que, por meio da inserção da mídia na sala de aula,
tanto professores quanto alunos possam perceber não somente o sentido, mas
também a significação do uso da mídia. Muito mais que uma decifração de códigos,
a significação sugere uma transformação nas ações da vida. Dessa forma, a mídia
implicará uma acolhida de novas idéias, novas percepções e uma reflexão sobre as
atitudes e, principalmente, uma compreensão intelectual e sensível da existência.
Ensinar a olhar, contemplar o mundo à nossa volta, faz parte da tarefa do
educador mediador, o qual deve oferecer uma interpretação crítica dos conteúdos
veiculados para estimular a vontade de investigar, reproduzir e criar.
Muitas vezes, ao fazer o que acredita ser, a análise das mídias deve contribuir
para que os educandos percebam que desde a escrita em pedras aos mais
avançados mecanismo multimidiáticos, estes são imprescindíveis para registrar e
transmitir a produção tecnológica cientifica na história da humanidade.
Diante da pesquisa realizada e ter-me deparado com a realidade de que
muitas vezes a escola falhou em seu processo de ensino, pelo despreparo do
professor, pela falta de investimentos dos sistemas de educação, ou ainda porque os
alunos não demonstram mais interesse pela escola ou pelo ensino. Cabe-nos
decidir se queremos renunciar a capacidade de sonhar, de desejar, de ansiar pela
mudança e pela transformação ou se “permitimos um mundo burguês que substitui a
utopia pela adaptação [...] criando um mundo medíocre e fechado, do qual as
grandes avenidas que se abrem para a perfeição estão excluídas” (HOBSBAWM,
2003, p.143). Enquanto possibilidade de utopia está a proposta de trabalhar de
forma conjunta, na construção de uma ideia de colaboração, discussão,
aprendizagem e envolvimento de todas as instâncias que compõem a escola, pois a
mesma aparece como essencial quando se trata em edificar uma educação de
qualidade para as diferentes culturas.
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