DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · bulimia, anorexia e outros tantos transtornos como déficit...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
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PERCEPÇÕES SOBRE AÇÕES E RELAÇÕES AFETIVAS NA FAMÍLIA, SOBRE
O PAPEL DA ESCOLA E REPERCUSSÕES NA VIDA ESTUDANTIL DOS FILHOS
Autor: Marlene das Graças Hoffmam Silva1
Orientadora: Helga Loos2
Resumo
Este estudo objetivou o aprofundamento de reflexões sobre a relação participativa entre a escola e a família, com o fim de fundamentar o papel das duas instituições e melhor compreender a situação atual que as envolve. Contou com uma pesquisa bibliográfica e uma pesquisa de campo, a qual teve como finalidades: conhecer as percepções de alunos de 7ª série do Ensino Fundamental de um colégio estadual da região de Curitiba acerca de suas interações familiares e do papel dos pais em seu desenvolvimento psicológico; coletar a opinião dos pais destes mesmos alunos acerca das relações família-escola; e investigar junto a professores procurando conhecer o nível de participação dos pais na vida escolar dos filhos. Foram utilizados como instrumentos uma escala padronizada e questionários elaborados especificamente para a presente pesquisa. Partiu-se do princípio que a tendência da escola é atribuir parte do fracasso escolar do aluno ao modo de participação dos pais, afirmando que os pais pouco se interessam pela vida escolar de seus filhos, por acreditarem que a escola é que deve incumbir-se de tal tarefa. O estudo foi realizado respeitando-se a realidade da comunidade e com a finalidade de aprofundar o conhecimento sobre o que pensam os pais e professores sobre as interações em questão, suas expectativas quanto à educação escolar, e como melhor atuar para atender às necessidades dos filhos/alunos na sociedade atual, buscando o sucesso no desenvolvimento destes. Os resultados demonstraram a existência de interações predominantemente positivas e um bom nível de participação dos pais na vida dos filhos, tanto afetiva quanto estudantil. Apesar disso, entende-se que esse nível deve melhorar ainda mais, e para tanto algumas estratégias de aproximação entre a família e a escola foram propostas.
Palavras-chave: família; escola; educação; afetividade; parceria.
1 INTRODUÇÃO
1 Professora Pedagoga.
2 Graduada em Psicologia, Mestre em Psicologia, Doutora em Educação pela UNICAMP. Professora do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação e da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná.
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O presente trabalho apresenta o tema Percepções sobre Ações e Relações
Afetivas na Família, sobre o Papel da Escola e Repercussões na Vida Estudantil dos
Filhos, realizando algumas reflexões sobre a relação entre escola e família.
Entende-se que essa parceria é fundamental para o sucesso do desenvolvimento da
criança, em que o respeito por sua herança cultural como modo de vida e a certeza
de que nenhuma cultura é superior a outra formará indivíduos capazes de mudar
positivamente o futuro de sua própria realidade.
O desenvolvimento infantil é um processo global. É evidente que as
dificuldades de aprendizagem estão relacionadas tanto às características próprias
da criança, quanto às atitudes inadequadas da família e da escola.
Tendo em vista que a sociedade está em pleno e contínuo desenvolvimento
e passa, hoje, por um processo acelerado de mudanças e valores,
consequentemente as necessidades das famílias e da escola requerem maior
interação e comprometimento de ambas as partes, de maneira que as crianças
sintam-se amadas, protegidas e respeitadas em seus desejos, curiosidades,
ansiedades, necessidades físicas e emocionais, em suas especificidades e
diversidades, e para que possam avançar em sua caminhada, exercitando sua
cidadania e autonomia.
Nessa perspectiva, como educadores, sentimos a necessidade de um
estudo reflexivo e atualizado sobre a percepção dos pais frente às ações e relações
afetivas na família, sobre o papel da escola e as repercussões na vida estudantil dos
filhos. Buscamos conhecer como os pais participam da rotina escolar dos filhos
frente às ações de suporte oferecidas pela escola.
O presente estudo buscou um maior conhecimento da temática através de
pesquisa bibliográfica, em um primeiro momento, e, em um segundo, por meio da
aplicação de vários instrumentos em uma pesquisa empírica. A primeira etapa da
pesquisa de campo foi dirigida a alunos da 7ª série do Ensino Fundamental de um
colégio estadual do município de Curitiba; já a segunda etapa envolveu os pais
destes mesmos estudantes e, uma terceira etapa, professores da escola. Após a
consolidação da pesquisa e da análise dos resultados, investiu-se na criação de
mecanismos que aproximem a participação familiar, de maneira mais ativa e efetiva
no ambiente escolar, buscando fomentar uma relação de parceria que venha a
repercutir positivamente na qualidade da aprendizagem e do desenvolvimento dos
alunos.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No advento atual da globalização que, para muitos, se confunde com uma
nova era, a era do conhecimento, a educação é tida como maior recurso de que se
dispõe para enfrentar essa nova estruturação do mundo.
As dificuldades geradas pelo processo de globalização atingem direta e
indiretamente o indivíduo, o cidadão, que padece com as desigualdades sociais,
cada vez mais profundas.
Nesse contexto, Ianni (1997) afirma que:
Na perspectiva de diminuir essas dificuldades, o investimento no fator humano é de suma importância, visto que, nas sociedades subdesenvolvidas, somente tem acesso à propriedade os indivíduos qualificados tecnicamente, ou seja, em condições de competir no mercado de trabalho, cada vez mais especializado. O acesso à propriedade tende a diminuir o desnível social e os problemas da miséria e da violência. (p. 61).
O mecanismo que gera as condições para formar indivíduos competitivos
inicia-se necessariamente com uma educação de base, por meio de um sistema de
ensino comprometido verdadeiramente em formar cidadãos.
Com a velocidade com que acontecem as mudanças ligadas ao processo
de globalização, a estrutura familiar também sofre modificações e muda seu padrão
tradicional de organização.
Diante desse panorama, Boechat (2003) afirma que o homem esqueceu
sua natureza:
O homem conquistou tudo o que sonhou e vive assustado com a dimensão da própria obra. A sociedade necessita de alfabetizadores emocionais, urgentemente. É necessário ensinar ao homem desta era, que ousa brincar tão ardentemente de Deus, a ler, interpretar e administrar as próprias emoções. Procuram-se digitadores da informática humana, técnicos capazes de ensinar a auto-estimulação dos hormônios que formam o padrão químico do bem estar. (p. 40).
Neste momento, estamos em uma encruzilhada evolutiva e o individualismo
é capaz de por fim à espécie humana, ao contrário da conduta que privilegia o bem-
estar comum e a construção de um futuro melhor para todos.
A evolução do homem decorre da interação com o outro, pois precisamos do
outro para nossa sobrevivência. Por isso, o desafio de nosso tempo é investir no
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próprio homem, descobrir a alegria e a realização de manter relacionamentos
interpessoais produtivos. Nesse sentido, não basta que se avance em termos de
conhecimento científico e tecnológico, mas que o homem também reflita acerca de
seu espaço no mundo: é tempo de conscientização, de abertura, para que o século
XXI seja considerado, de fato, a era da humanização. Portanto, faz-se necessário
reavaliar conceitos de forma a permitir uma vivência humanizada, com a utilização
de descobertas em benefício do próprio homem – nesse sentido é necessário avaliar
o que é realmente benefício para o homem – e da sociedade.
Percebe-se o quanto o homem sente-se perdido ante a imensidão do que
conquistou. A relação familiar também se vê perdida diante de inúmeras inovações
sociais, morais e físicas, e, a cada dia, torna-se mais frágil e superficial, provocando
a transferência da responsabilidade dos pais a outros como: escola, professores,
babás, entre outros. Assim cria-se – na família – um ambiente hostil onde as
pessoas não se conhecem, apenas dividem um espaço físico (a casa), mas não se
complementam, não se ajudam ou expressam amor umas pelas outras. De acordo
com Boechat, “quem se perdeu não foi o jovem, foi o adulto que não está
conseguindo ler a modernidade e a confunde com frieza, distanciamento, solidão,
perdas.” (BOECHAT, 2003, p. 42).
Não se pode negar que a modernidade causa muitas mudanças em nossas
vidas, inclusive na rotina das famílias, mas tal realidade não isenta a instituição
familiar de seu papel educador, primordial ao desenvolvimento e integração da
criança à sociedade.
De acordo com Kaloustian (1988), a família é:
[...] o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais. (p. 22).
A educação familiar é um importante fator na formação da personalidade da
criança, desenvolvendo sua criticidade, ética e cidadania, o que reflete diretamente
no processo de escolarização.
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Depois do convívio inicial com a família, é na escola que as crianças
permanecem mais tempo, e as expectativas em relação ao seu desempenho escolar
aumentam, assumindo maior importância na vida em família. A responsabilidade dos
pais na supervisão escolar dos filhos é extremamente importante para o
desenvolvimento da criança. A própria lei garante a participação familiar no processo
de ensino-aprendizagem de seus filhos; todavia, nem sempre as famílias se dispõem
a esta participação. O dever da família com o processo de escolaridade e a
importância da sua presença no contexto escolar é publicamente reconhecido na
legislação nacional e nas diretrizes do Ministério da Educação.
Um passo importante para a construção de uma parceria entre a escola e a
família é, sem dúvida, a identificação desta como instituição educadora,
reconhecendo que tem sempre o que transmitir e o que aprender. É como
argumenta Freire (1987): “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.” (p. 68).
2.1 Educando pela emoção
Muito se fala da conturbada fase da adolescência. Realmente é um período
difícil para os jovens. Dúvidas, procura da identidade, medos, culpas, desejo de
liberdade, hormônios “a mil”, emoções desordenadas. Sem dúvida, um coquetel para
apavorar qualquer adulto menos avisado.
Porém, nada disso seria tão relevante e angustiante se vivêssemos numa
época mais tranquila, sem tanta informatização, sem tantos recursos tecnológicos,
num mundo menos violento. A questão é que não podemos mudar o que já existe.
Vivemos sim, num mundo diferente do que conhecíamos como tranquilo e seguro.
Um mundo de medos, guerras, inseguranças, onde a palavra limite é muita exaltada,
mas pouco empregada corretamente. Nós, adultos, questionamo-nos: Como
“controlar” nossos filhos ou nossos alunos? Sabemos que precisam de liberdade,
mas até onde devemos deixá-los ir? Temos consciência que eles necessitam
construir sua identidade e para isso vão contestar tudo o que lhes é imposto, mas,
quando devemos reprimi-los? Ou, será que devemos? Onde colocamos os limites?
Perguntas que nos fazem pensar e, muitas vezes, nos desesperam.
Podemos ainda adicionar a impressionante quantidade e variedade de casos de
adolescentes com dificuldades escolares, depressão, fobias das mais variáveis,
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bulimia, anorexia e outros tantos transtornos como déficit de atenção, dislexia, déficit
no processamento auditivo. Diagnósticos muitas vezes pertinentes que exigem uma
intervenção mais adequada. Mas o que está por trás de tudo isso? O mundo mudou
e a família, como modelo conhecido, também não é mais a mesma. Por que há
tantos pais e professores “perdidos”, sem saber o que fazer com seus filhos e
alunos?
A resposta para essas indagações é simples: emoções.
Infelizmente, ninguém ensina que aprendemos pelas emoções, elas são o
nosso GPS (sistema de posicionamento global) na vida. Precisamos nos sentir bem
para que tudo flua tranquilamente. Porém, nossos jovens conseguem manter suas
emoções organizadas? Será que eles têm noção do quanto elas, desarmonizadas,
influenciam seu aprendizado, não só na escola, mas em tudo que diz respeito ao
seu universo?
Emoções desorganizadas geram caos, doenças, medos, culpas, fracassos,
inseguranças e sentimentos de incapacidade perante os desafios da vida. E a
situação piora na escola, quando chegam as notas baixas.
Pais e professores deveriam ler boletins com um novo olhar, ou seja, para as
notas dos sentimentos. Notas baixas dizem que: “Minhas emoções estão
atrapalhadas, o que faço?” Alguns adultos e até os próprios jovens acreditam que:
”Ah, eu não estudei mesmo, fui folgado”. É importante refletirmos que mesmo aquele
aluno que se julga “folgado” está com suas emoções desequilibradas. Diante deste
emaranhado, devemos proporcionar reflexões que favoreçam a organização desse
“caos emocional”, minimizando as dificuldades e encontrando soluções conjuntas de
maneira que favoreçam seu aprendizado.
É importante que o jovem consiga perceber e priorizar seus sentimentos.
Qual o incomoda mais e por que. É fundamental que identifique suas fraquezas e
seus pontos fortes, investindo no que é bom.
Faz-se necessário alguém que escute seus anseios, suas dúvidas, suas
angústias e, sobretudo, seus pedidos constantes de limites. Precisa conhecer o que
os deixam felizes e a partir daí, poderemos contar com jovens centrados e focados
nos seus propósitos.
A família precisa olhar seus filhos e a escola seus alunos. Ambos precisam
construir uma relação harmoniosa entre sentimentos / emoções e intelectualidade
para que tenhamos adultos saudáveis e fortes psiquicamente, onde as palavras
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como culpa e medo, que juntas, acarretam desajustes emocionais sérios, não sejam
uma constante em seus vocabulários.
2.2 É tempo de humanização, de investir nas relações interpessoais
Estudiosos da Psicologia e de algumas outras ciências humanas se
debruçam na análise das relações interpessoais, avaliando pessoas que mantém
relações bem sucedidas e outras cujos relacionamentos são breves e, muitas vezes,
conflitivos. O que os diferencia depende em grande parte do aprendizado, ou seja,
das situações vividas e de como as experiências de vida dessas pessoas promovem
o desenvolvimento de habilidades que facilitam o convívio em sociedade. Agir
diferentemente é abrir um novo caminho. Quando uma nova estrada está em
construção, a tarefa é árdua, requer persistência e dedicação. É o que acontece na
área das relações interpessoais.
Desenvolver habilidades requer abertura para o outro, deixar de lado uma
posição centrada apenas em si e observar o mundo ao redor. Em vez de apenas
esperar que os outros apoiem, é preciso abrir-se para os outros, tentando, a cada
momento, promover o bem-estar e a harmonia do contexto. A ação é exatamente
oposta à “Lei de Gerson”, que já esteve em voga, dizendo que as pessoas deveriam
procurar levar vantagem em tudo.
A pessoa socialmente habilidosa tem muito mais chances de ser feliz, já que
consegue dizer o que pensa e sente de forma apropriada para si e para os outros.
Consegue manejar seus relacionamentos com maior tranquilidade e objetividade,
despertando afetos positivos nos demais.
Portanto, sempre há tempo de começar um novo caminho, refletir e fazer
diferente, investindo na qualidade das relações humanas.
2.3 O sucesso na aprendizagem constitui-se de vários fatores que fortalecem a
criança e o jovem para a vida
Estudos na área da Psicologia e da Sociologia também estão desafiando a
velha ideia de que os traumas e riscos levam necessariamente ao desenvolvimento
de doenças mentais ou emocionais. Com certeza existem aqueles que têm
dificuldade de se recuperar e se deixam destruir pelos acontecimentos ruins. Por
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outro lado, todos nós conhecemos pessoas que aprenderam a lidar com a
adversidade e até se tornaram mais fortes depois de uma situação dolorosa. São
indivíduos que sabem tirar das experiências negativas vividas algum aprendizado.
As ciências humanas estão chamando essa capacidade de “sacudir a poeira
e dar a volta por cima” de resiliência. Trata-se de um termo originalmente utilizado
na Física para descrever a capacidade que alguns corpos apresentam de retornar à
forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica.
Segundo Pinheiro (2004), aplicada ao indivíduo humano a resiliência pode ser
definida como “a capacidade que um ser humano, uma família ou um grupo social
tem de se recuperar psicologicamente quando é submetido a adversidades,
violências, enfrentando-as, sendo transformados por elas, e no fim, superando-as.”
De acordo com Junqueira e Deslandes (2003), ainda pode ser entendida como “a
possibilidade de superação por meio da ressignificação do problema, isto é, lidar
com as adversidades sem submeter-se às mesmas.”
Na literatura se identificam três dimensões do conceito de resiliência: a
acadêmica, a social e a emocional, todas apresentando fatores e mecanismos de
proteção.
• Resiliência acadêmica – caracteriza-se pela construção do conteúdo
acadêmico de forma saudável e funcional, podendo ser observada pelo bom
desempenho escolar, pelo interesse da escola e do estudante em construir e
implementar novas estratégias de ensino-aprendizagem e de resoluções de
problemas relacionados à aprendizagem.
• Resiliência social – caracteriza-se pela construção saudável de aspectos
interativos como amizades, aspectos morais e competência social e pode ser
identificada no bom relacionamento interpessoal, na capacidade de empatia e
no senso de pertencimento dos indivíduos, por exemplo.
• Resiliência emocional – caracteriza-se pelo sentimento de autoeficácia,
autonomia, autoestima, confiança em suas potencialidades e o conhecimento
de suas limitações, estando presente na resolução de situações de conflito
íntimo ou social.
Ensinar a criança e o jovem a ter uma postura positiva e se recobrar diante de
situações difíceis talvez devesse ser um dos objetivos mais importantes da escola e
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da família. Essa meta será atingida mais facilmente se ambas as instituições forem
capazes de proporcionar experiências bem sucedidas de aprendizagem, aliando
demonstração de afeto e amor.
Educar para a resiliência não é inventar programas especiais ou assistenciais,
é fazer bem o que a família e a escola têm de fazer: ensinar em clima de
acolhimento e confiança. Assim, crianças e jovens encontrarão aquilo de que mais
precisam, vivenciando experiências de sucesso que lhes mostrem o quanto são
capazes. Dosar confiança com prestação de contas e acolhimento com autonomia
pode ser difícil, mas não impossível.
Na escola, uma atitude bastante eficaz é investir nos vínculos interpessoais, o
que significa relacionar-se melhor com os alunos e abrir possibilidades para que eles
cresçam entre laços de amizade. Vale a pena inserir, no currículo, a aprendizagem
não apenas de conhecimentos, mas também de atitudes que são necessárias para a
vida, como a cooperação. A ação positiva para a resolução de conflitos e de
problemas, a postura firme de resistência e de segurança para a tomada de
decisões.
Para isso devemos, enquanto educadores, criar oportunidades para que todos
participem com responsabilidade, pois, com o estabelecimento de expectativas
realistas de desempenho, respeito à capacidade individual e do grupo, todos
conseguirão ir além. Para tanto, devemos usar todas as chances que tivermos para
oferecer apoio e encorajamento às crianças e jovens em formação.
Entre os elementos que contribuem para o sucesso na aprendizagem,
destacam-se as redes de proteção (família, escola) e os fatores pessoais
(autoconceito, autoestima, autoconfiança), onde devem ser valorizados aspectos
saudáveis com a significação de experiências positivas e protetivas. Porém, não se
deve esquecer que a proteção deve ser oferecida na medida certa, com acordos de
regras e direcionamento de limites com a supervisão dos adultos.
Faz-se necessário ainda mencionar que alguns fatores de risco podem
influenciar no desenvolvimento global e positivo dos jovens contemporâneos, como
o baixo nível socioeconômico com o qual interagem, evidenciando a possibilidade de
problemas de manutenção e sobrevivência na família, experiências de violência,
alcoolismo, drogadição, entre outros. Apesar de se apresentarem como indicadores
de risco, não é seguro e fidedigno afirmar que estes fatores necessariamente irão
promover indivíduos desajustados. E como se explicariam os que não convivem com
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esses problemas e também apresentam desvios de comportamento? Trata-se de um
complexo conjunto de interações entre diversos aspectos.
Portanto, os desafios são muitos e a educação comprometida deve focar nos
fatores de risco, que podem e devem ser modificados, bem como nos fatores de
proteção, que podem e devem ser fortalecidos, dentro de um enfoque preventivo e
respeitando cada etapa evolutiva do desenvolvimento humano.
3 METODOLOGIA
3.1 Participantes
O presente trabalho foi realizado com a finalidade de aprofundar o
conhecimento acerca das relações entre escola e família. Da pesquisa de campo
participaram 81 estudantes, na faixa etária entre 12 e 14 anos, alunos das 7ª séries
do Ensino Fundamental de um colégio estadual do município de Curitiba. Também
foram participantes da pesquisa 99 pais destes mesmos estudantes, sendo 65 mães
e 34 pais, e ainda 11 professores que também lecionam nesta série.
3.2 Instrumentos e procedimentos:
Os alunos foram informados e tiveram explicações sobre os objetivos da
pesquisa. Como são menores, levaram um Termo de Consentimento aos pais ou
responsáveis, explicando a estes acerca da pesquisa e solicitando a autorização
para a participação do aluno no projeto.
Foram aplicados três instrumentos (uma escala padronizada e dois
questionários) em datas programadas. A aplicação desses instrumentos foi
individual em situação coletiva, em sala de aula, sem a presença dos professores.
Os mesmos foram aplicados na ordem apresentada a seguir:
1. Alunos – percepção do(a) filho(a) em relação aos pais.
2. Pais – integração familiar com a escola.
3. Professores – relação dos professores com os pais.
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O instrumento 1 foi uma escalas padronizada denominada EQIF (Escala de
Qualidade na Interação Familiar) de Weber, Salvador e Brandenburg (2009) que
acessa aspectos de interação familiar por meio do relato dos filhos, os quais
respondem separadamente a aspectos relativos ao seu pai e à sua mãe. São 40
questões em sistema Likert de cinco pontos, que apresenta as seguintes
alternativas: nunca, quase nunca, às vezes, quase sempre e sempre. As questões
são agrupadas em nove subescalas, ou dimensões, sendo que seis delas abordam
aspectos da interação familiar considerados “positivos”: envolvimento, regras e
monitoria, comunicação positiva dos filhos, clima conjugal positivo, modelo parental
e sentimentos dos filhos. As outras três referem-se aos aspectos considerados
“negativos” das interações familiares: comunicação negativa, punição corporal e
clima conjugal negativo.
Os instrumentos 2 e 3 foram questionários elaborados especificamente para a
presente pesquisa, sendo um para os pais, e outro para os professores. O
questionário dos pais contou com 19 perguntas fechadas, com o objetivo de
investigar a percepção destes em relação à escola. O questionário apresentou três
alternativas de resposta: nunca, às vezes e sempre. A última questão foi aberta para
que os pais colocassem demais observações que julgassem necessárias. Já o
questionário aplicado aos professores teve por objetivo investigar a relação dos
professores com as famílias. Foram elaboradas 18 perguntas fechadas, com cinco
alternativas de resposta: nunca, quase nunca, às vezes, quase sempre e sempre,
contendo duas questões abertas para o registro de observações adicionais, caso os
participantes desejassem. Ambos os instrumentos foram testados previamente em
um estudo piloto.
Contou-se ainda, no decorrer do trabalho, com a integração e reflexões
colaborativas dos professores do Grupo de Trabalho em Rede – GTR.
3.3 Análise dos dados
Buscou-se relacionar os resultados obtidos de maneira a comporem um
perfil de relação aluno/família/escola, relativo à amostra em questão. Os dados
coletados sofreram análises predominantemente quantitativas, frequenciais, dentro
dos parâmetros estatísticos previstos pelo programa SPSS (Statistical Package for
Social Sciences), utilizando-se gráficos para a demonstração dos resultados.
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4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
4.1 EQIF dos alunos
Os dados coletados referentes aos alunos tiveram, como objetivo principal,
demonstrar a percepção dos filhos em relação à qualidade da interação familiar
vivenciada por eles. As figuras a seguir apresentam histogramas que demonstram a
relação obtida entre a quantidade de participantes, representada pelo eixo da
vertical e os escores alcançados por eles em cada subescala ou dimensão,
representados no eixo horizontal:
Figura 1 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 2 – Percepção do filho em relação ao pai
As Figuras 1 e 2 apresentam gráficos que demonstram a dimensão
“Envolvimento” da EQIF. A média obtida foi de 30,9 pontos (escore mínimo 8 e
escore máximo 40) para mães e 30,7 pontos para pais. Percebe-se que grande
parte dos alunos sente que as mães e os pais estão presentes em suas vidas,
demonstrando amor, carinho e interesse por eles, embora existam alguns alunos
que avaliaram seus pais de maneira negativa.
Com base nos parâmetros de escore mínimo e máximo para cada dimensão,
foram calculados os percentis 40 e 60 para cada uma das subescalas,
categorizando-se os resultados obtidos em “baixo”, “médio” e “alto”. Nesta dimensão
os valores ficaram classificados da seguinte forma: escore igual ou abaixo de 16,
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considerado baixo, entre 17 e 24, como médio e acima de 24 como alto. Assim
sendo constatou-se, de forma geral, um alto envolvimento dos pais na vida dos
filhos.
As Figuras 3 e 4 apresentam gráficos em que se demonstra como os filhos
percebem seus pais relativamente à maneira como definem o que seus filhos devem
fazer e se supervisionam o cumprimento dessas regras, monitorando as atividades
dos filhos.
Figura 3 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 4 – Percepção do filho em relação ao pai
Na dimensão “Regras e Monitoria” (escore mínimo 4 e máximo 20) se obteve
a média de 15,05 pontos para as mães e 15,85 pontos para os pais. Nesta dimensão
os percentis calculados foram: menor ou igual a 8 considerado baixo, entre 9 e 12
considerado médio e acima de 12 considerado alto. Portanto, esta classificação
sugere que, de acordo com a percepção dos participantes, os pais estão atentos aos
seus filhos.
Já as Figuras 5 e 6 apresentam gráficos que demonstram se os pais punem
seus filhos fisicamente:
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Figura 5 – Punição física - mãe Figura 6 – Punição física - pai
Na dimensão “Punição Física” (escore mínimo 3 e máximo 15), o resultado
obtido foi de 8,59 pontos para mães e 5,8 pontos para pais, sendo que os percentis
calculados foram: menor ou igual a 6, considerado baixo, entre 7 e 9, considerado
médio e acima de 9, considerado alto. Constata-se que as mães punem fisicamente
seus filhos como medida disciplinar (classificação limítrofe entre os níveis médio e
alto), mais do que os pais (classificação limítrofe entre os níveis baixo e médio).
As Figuras 7 e 8 dizem respeito à percepção dos alunos quanto à
comunicação positiva de seus pais com eles, ou seja, se existe um diálogo
construtivo na família e se os filhos se sentem à vontade para falarem de si para
seus pais:
Figura 7 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 8 – Percepção do filho em relação ao pai
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Na dimensão “Comunicação Positiva” (escore mínimo 3 e máximo 15) se
percebe que as mães obtiveram 9,28 pontos e que os pais obtiveram 8,74 pontos,
tendo sido os percentis calculados e classificados da seguinte maneira: menor ou
igual a 6 - baixo, entre 7 e 9 - médio e acima de 9 – alto. Observou-se, assim, que a
comunicação positiva entre os pais e os filhos é média, com uma diferença mínima
entre mães e pais.
A seguir, aparecem as Figuras 9 e 10, em que os gráficos demonstram o
nível de “Comunicação Negativa” dos pais para com os seus filhos. Essa subescala
tem o objetivo de investigar se os pais costumam falar inadequadamente com seus
filhos, ou seja, se xingam, ameaçam, gritam.
Figura 9 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 10 – Percepção do filho em relação ao pai
A dimensão “Comunicação Negativa” (escore mínimo 5 e máximo 25) contou
com seus respectivos percentis calculados e categorizados em: menor ou igual a 10,
sendo considerado baixo, entre 11 e 15, médio e acima de 15, alto. As mães
obtiveram 12,09 pontos e os pais 11,86, percebendo-se a existência de um nível
médio de comunicação negativa dos pais em relação aos seus filhos (gritos,
xingamentos, ameaças), o que sugere necessidade de intervenção para minimizar
tais comportamentos, que são considerados de risco.
As Figuras 11 e 12, por sua vez, apresentam gráficos em que se pode
observar como é a percepção dos filhos em relação ao clima conjugal dos pais, em
seus aspectos positivos.
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Figura 11 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 12 – Percepção do filho em relação ao pai
Nesta dimensão (escore mínimo 5 e máximo 25), com percentis calculados e
classificados em menor ou igual a 10, sendo baixo, entre 11 e 15, médio e acima de
15, alto, a avaliação das mães obteve 15,89 pontos de média, enquanto a dos pais
16,17 pontos. Tais escores sugerem que, conforme a avaliação geral dos alunos
participantes da pesquisa, o clima conjugal entre seus pais é predominantemente
positivo, isto é, que o casal se relaciona bem.
Com os próximos gráficos, que constam nas Figuras 13 e 14, se pode
confirmar a constatação que o clima conjugal percebido é predominantemente
positivo, já que para a dimensão “Clima Conjugal Negativo” se obteve 9,49 pontos
de média para as mães e 8,77 pontos para os pais (escore mínimo 4 e máximo 20),
com percentis calculados em: menor ou igual a 8, baixo, entre 9 e 12; médio e acima
de 12, alto. Os escores indicam que os pais foram posicionados, em relação a esta
dimensão, no limite entre os níveis baixo e médio, o que pode ser considerado um
bom indício.
Figura 13 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 14 – Percepção do filho em relação ao pai
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A dimensão “Modelo” é avaliada a seguir, nas Figuras 15 e 16,
demonstrando se os filhos percebem seus pais como modelo de vida para eles:
Gráfico 5 – Punição física Gráfico 6 – Punição física Figura 15 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 16 – Percepção do filho em relação ao pai
Nesta dimensão (escore mínimo 3 e máximo 15), a média obtida foi de 11,9
pontos para mães e 11,75 pontos para pais. Os percentis foram calculados e
classificados em: menor ou igual a 6, baixo, entre 7 e 9, médio e acima de 9, alto.
Assim, constata-se por meio da pontuação obtida, que os filhos vêem seus pais
como modelos a ser seguidos, que são exemplos positivos, que se comportam de
maneira coerente com o que ensinam aos seus filhos.
Finalmente temos a dimensão “Sentimentos dos Filhos”, representados
pelos gráficos contidos nas Figuras 17 e 18, apresentados a seguir:
Figura 17 – Percepção do filho em relação à mãe Figura 18 – Percepção do filho em relação ao pai
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Na dimensão “Sentimentos dos Filhos” se obteve uma média de 20,01
pontos (escore mínimo 5 e máximo 25) para as mães e 20,57 pontos para os pais,
com percentis calculados e classificados em: menor ou igual a 10, sendo baixo,
entre 11 e 15, médio e acima de 15, alto. Constata-se que os sentimentos dos filhos
em relação a seus pais, expressos por meio dos itens desta escala, são bastante
positivos, classificando-se em um nível alto e quase atingindo a pontuação máxima
possível de ser alcançada nesta dimensão.
Com base nos dados coletados, confirma-se a importância atribuída pelos
adolescentes desta amostra às interações familiares e ao papel dos pais em suas
vidas. Confirma-se que não compete apenas à escola a função de educar, mas à
família em primeiro lugar. E, mesmo que hoje exista a sobrecarga da vida moderna,
é importante lembrar que o que vale não é somente a quantidade de tempo que se
passa junto com os filhos, mas a maneira como se estabelecem as relações
familiares. Os resultados apresentados sugerem um relativo equilíbrio entre as
várias dimensões avaliadas pela escala.
4.1.1 Fator de proteção e fator de risco
Outra possibilidade de análise é se calcular, através da somatória dos
escores de todas as dimensões positivas, o que se denomina Total Positivo (TP) e,
através da somatória de todas as dimensões negativas, o que se chama total
Negativo (TN). Utilizando-se os valores de referência indicados pelas autoras da
EQIF (WEBER; SALVADOR e BRANDENBURG, 2009), foi possível analisar o nível
dos fatores de proteção e dos fatores de risco aos quais estão expostos os alunos
em função de suas interações familiares. As famílias protetivas são aquelas que
apresentam escores altos nas práticas positivas e escores baixos nas negativas e as
famílias de risco são as que apresentam escores baixos nas escalas positivas e
altos nas negativas. Adolescentes com fatores de proteção são aqueles que
apresentarem TP igual e maior que 227 e TN igual e menor que 42, e adolescentes
com fatores de risco, aqueles que apresentarem TP igual e menor que 205 e TN
igual e maior que 50. Assim, foi possível diagnosticar tais fatores, considerando-se
as percepções dos alunos em relação a suas interações familiares. Na Figura 19
podem-se visualizar os fatores de proteção e de risco da amostra em questão:
19
0
10
20
30
40
50
60
F. PROT. F. RISCO
TN
TP
Figura 19 – Níveis de fator de proteção e fator de risco
Percebe-se a predominância de aspectos positivos e índices menores de
aspectos negativos nas interações entre pais e filhos, bem como entre o casal.
Pode-se considerar que o grupo pesquisa caracteriza-se por famílias protetivas, que
podem influenciar no desenvolvimento global e positivo de seus filhos. No entanto,
faz-se necessária atenção por parte da escola aos casos em que isso não acontece,
pois cada adolescente exposto predominantemente a fatores de risco apresenta
grandes chances de vir a ser influenciado negativamente em seu desenvolvimento.
Além de buscar atuar diretamente junto a estas famílias, deve-se procurar reforçar
os recursos psicológicos destes alunos e suas capacidades resilientes.
4.2 Questionário dos pais
Conforme mencionado anteriormente, o questionário aplicado às mães e aos
pais contou com 19 questões fechadas e duas questões abertas, versando sobre a
qualidade percebida da interação entre a escola e as famílias. Na Figura 20 pode-se
visualizar um gráfico que representa todas as questões com as respectivas
respostas dadas por mães e pais, conforme as alternativas disponíveis de resposta:
nunca, às vezes e sempre.
As respostas sugerem que as mães são as mais presentes na relação
família/escola, comparativamente aos pais, o que talvez possa ser, em parte,
explicado pela nossa cultura, que atribui prioritariamente às mães o cuidado com os
20
filhos, inclusive no que diz respeito à vida escolar. Apesar disso, os pais também
alegam participar da vida estudantil dos filhos.
Considerando-se a prevalência das respostas “sempre” e da não expressiva
quantidade de respostas “nunca”, pode-se supor que maioria das mães e pais
participantes da amostra está em razoável sintonia com as solicitações e medidas
adotadas pela escola.
0
10
20
30
40
50
60
70
NUNCA ÀS VEZES SEMPRE NUNCA ÀS VEZES SEMPRE
OPINIÃO DAS MÃES OPINIÃO DOS PAIS
Presença solic itada
Presença devido problemas
Acompanhamento ativ idades
Conversa cotidiano escolar
Satis fação com professores
Satis fação desenvolv. f ilhos
Comunicados da escola
A tendimento equipe pedagógica
Relacionamento direção-pais
Esclarecimentos com profes.
Resolução de conf litos
Estado das instalações escola
Incentivo às decisões da escola
Respeito e afeto profs-alunos
Estímulo ao aprendizado
Conf iança na escola
Concordância com a avaliação
Partic ipação nos Cons. Classe
Conhecimento do PPP
Figura 20 – Opinião dos pais quanto aos aspectos da relação família/escola
21
4.3 Questionário dos professores
O questionário aplicado aos professores também foi destinado a coletar
impressões sobre a relação entre a escola e as famílias, como mostra a Figura 21:
OPINIÃO DOS PROFESSORES EM RELAÇÃO A INTERAÇÃO FAMÍLIA
0
2
4
6
8
10
12
NUNCA QUASE NUNCA ÀS VEZES QUASE SEMPRE SEMPRE
acompanhamento dos estudos pelospais
comparecimento à escola
regras e limites
bom relacionamento família-escola
contato por dif iculdades deaprendizagem
contato por problemas decomportamento
contato por atividades extra-curriculares
realização de eventos
participação dos pais nas decisões
clareza critérios avaliativos
conversa cotidiano alunos
expressão sentimentos dos alunos
comentários família
demonstração afetividade doprofessor
conversa entrega boletins
conversas informais com pais
interesse escola participação dasfamílias
atividade inserção das famílias
Figura 21 – Opinião dos professores em relação à interação da família com a escola
22
Esse gráfico representa a opinião dos onze professores das 7ª séries da
escola pesquisada, por meio do qual se pode perceber o perfil de relação entre a
escola e as famílias, de acordo com sua percepção. Nota-se que nas 18 perguntas
formuladas, a maioria das respostas se concentrou nas alternativas “positivas” de
resposta, sugerindo que os pais participam da busca de integração escola-família.
Olhando-se com mais cuidado, no entanto, pode-se perceber que em muitos itens a
resposta “às vezes” foi a predominante. Também, que há uma grande oscilação nas
barras do gráfico, o que indica que alguns quesitos são mais “atendidos” pelos pais
do que outros. Isso pode ser um indicativo de que algum trabalho ainda deva ser
investido por parte da escola no sentido de aproximar as famílias, formando de fato
uma parceria na educação destes jovens.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve o objetivo de averiguar e demonstrar a importância
da relação participativa entre escola e família, identificando a visão dos alunos, dos
pais e professores em relação ao tema. Partiu-se da tese comum de que os pais
pouco se interessam pela vida escolar de seus filhos, provavelmente por
acreditarem que a escola deve incumbir-se de tal tarefa, pouco participando do
processo educativo, ao passo que a própria instituição escolar normalmente não
lhes permite participar em sentido pleno. O estudo foi realizado respeitando-se a
realidade da comunidade e com a finalidade de conhecer como os estudantes
adolescentes percebem suas interações familiares e o papel de seus pais no seu
desenvolvimento psicológico, o que pensam os pais sobre as ações da escola, e as
percepções de professores relacionadas a como a família e a escola podem interagir
para atender às necessidades dos jovens na sociedade atual, buscando a melhoria
dos processos de ensino-aprendizagem e, consequentemente, o sucesso no
desenvolvimento dos filhos/alunos.
A pesquisa, que teve um enfoque quantitativo, foi realizada através da
aplicação de escalas e questionários, envolvendo alunos, pais e professores das 7ª
séries do Ensino Fundamental de um colégio estadual da região de Curitiba.
Selecionou-se esta faixa etária (de 12 a 14 anos) entre os estudantes porque se
entende que nesta etapa da vida são demandados cuidados educativos redobrados,
já que os adolescentes estão passando por uma fase intensa de transição. Nesse
23
período, muitos deles apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem e de
adaptação ao ambiente escolar, necessitando da supervisão de adultos que os
estimulem, que se interessem por seus estudos, que verifiquem suas tarefas, que
reforcem sua autoestima e sua autoconfiança e os levem a perceber a importância
de aprender e de se sentir bem estudando.
A necessidade de se construir uma relação constante entre escola e família
deve ocorrer para planejar, estabelecer compromissos e acordos mínimos para que
o aluno/filho tenha uma educação com qualidade, tanto em casa quanto na escola.
A relação escola-família deve ser pautada pelo respeito mútuo. Isso significa
complementar o papel dos pais e da escola, para que sejam garantidas as
possibilidades de contribuir para o desenvolvimento saudável dos jovens. Isso deve
ocorrer preferencialmente por meio da exploração das opiniões de todas as partes
envolvidas, que todos possam ser ouvidos sem receio de serem avaliados ou
criticados, em uma verdadeira troca de experiências.
A comunicação entre a escola e família é indispensável para que se
construa uma parceria, com papéis bem definidos, onde não se pratique a exigência
e sim a proposta, o acordo. Respeitadas as especificidades da família e da escola,
essas instituições podem estabelecer parcerias produtivas a favor do êxito escolar.
Acredita-se que os principais objetivos deste trabalho de pesquisa e
aprofundamento teórico foram alcançados, embora se constate ser esta a etapa
inicial de um trabalho mais abrangente. Esclareceram-se alguns aspectos
concernentes à forma de ver a família por parte dos alunos e muitos pontos
importantes dessa prática. Também, coletaram-se percepções acerca da relação
família-escola dentro desta comunidade escolar. Mas este é um estudo abrangente
e merece ser mais bem aprofundado, pois foi investigada apenas a amostragem em
questão.
Observando os resultados obtidos, nota-se haver certo equilíbrio entre o que
pensam os filhos sobre os seus pais e o comprometimento dos pais na vida afetiva e
estudantil dos filhos, e que os professores pesquisados sentem o envolvimento
positivo da família na escola. Como estímulo à participação efetiva dos pais na vida
estudantil dos filhos, sugere-se como intervenção junto à escola:
(1) Que haja maior envolvimento dos órgãos colegiados como a APMF
(Associação de Pais Mestres e Professores), o Conselho Escolar e o
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Grêmio Estudantil no intuito de promover um trabalho entrosado e
harmonioso;
(2) Promoção de encontros regulares que incentivem a participação das
famílias na escola, onde sejam acolhidas e valorizadas;
(3) É necessário que tanto a escola como a família acreditem no sucesso do
aluno/filho, que conta com o comprometimento de todos os envolvidos
nas tarefas educativas.
Portanto, construir uma escola com qualidade social vai muito além das
medidas legais e governamentais que a constituem; pressupõe o envolvimento de
todos: escola – pais – comunidade. Tal fato exige que todos revejam seus
paradigmas e estejam abertos para a construção de novas possibilidades e possam
garantir o sucesso educacional de nossos alunos. É preciso perceber que aprender
e ensinar envolve a razão, a inteligência, mas também – e sobretudo – a emoção, a
afetividade e o querer bem, pois é nesta esfera que regulamos nossas interações
com o outro e, consequentemente, encontramos soluções e resultados interessantes
para nossas ações.
REFERÊNCIAS
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FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. São Paulo, Paz e Terra, 1987.
IANNI, O. A era do globalismo. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997. JUNQUEIRA, M.P., DESLANDES, S.F. Resiliência e maus tratos à criança. Caderno de Saúde Pública, v.19, n.1, p.227-335, 2003.
KALOUSTIAN, S.M. (Org.). Família brasileira, a base de tudo. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 1988.
PINHEIRO, D.P.N. A resiliência em discussão. Psicologia em Estudo (Maringá), v.9, n.1, p.67-75, 2004.
WEBER, L.N.D., SALVADOR, A.P.V.; BRANDENBURG, O.J. Escalas de Qualidade na Interação Familiar – EQIF. In: L.N.D. WEBER; M.A. DESSEN (Orgs.), Pesquisando a Família: instrumentos para coleta e análise de dados (p.57-68). Curitiba, Juruá, 2009.
________. Medindo e promovendo qualidade na interação familiar. In: H. Guilhardi; N. Aguirre (Orgs.). Sobre comportamento e cognição: expondo a variabilidade, v.18 (p.25-40). Santo André: ESEtec, 2006.
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