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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO EDUCACIONAL ALFA
APOSTILA FILOSOFIA E POLÍTICAS
EDUCACIONAIS
MINAS GERAIS – 2012
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INTRODUÇÃO
Este é o nosso segundo módulo. É um prazer estar com vocês
novamente.
É com imenso prazer que oferecemos esse material didático para você.
Este foi escrito com muito carinho e dedicação, sendo realizadas várias
pesquisas em autores renomados para a construção do mesmo. Esperamos que
esta seja útil para a construção do conhecimento científico de todos vocês.
Por isso, escolham o melhor momento de estudar, visto que, na educação à
distância o aluno é gerenciador de suas atividades e do seu tempo empregado aos
estudos.
Deixamos claro que estamos abertos para sugestões, críticas
e dúvidas sobre este material.
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FILOSOFIA
A palavra "filosofia" (do grego) é uma composição de duas palavras: philos
(υίλος) e sophia (σουία). A primeira é uma derivação de philia (υιλία) que significa
amizade, amor fraterno e respeito entre os iguais; a segunda significa sabedoria ou
simplesmente saber. Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e
respeito pelo saber; e o filósofo, por sua vez, seria aquele que ama e busca a
sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
A tradição atribui ao filósofo Pitágoras de Samos (que viveu no século V a.C.)
a criação da palavra. Conforme essa tradição, Pitágoras teria cunhado o termo para
modestamente ressaltar que a sabedoria plena e perfeita seria atributo apenas dos
deuses; os homens, no entanto, poderiam venerá-la e amá-la na qualidade de
filósofos.
A palavra philosophía não é simplesmente uma invenção moderna a partir de
termos gregos; mas, sim, um empréstimo tomado da própria língua grega. Os termos
υιλοσουος (philosophos) e υιλοσουειν (philosophein) já teriam sido empregados por
alguns pré-socráticos (Heráclito, Pitágoras e Górgias) e pelos historiadores Heródoto
e Tucídides. Em Sócrates e Platão, é acentuada a oposição entre σουία e υιλοσουία,
em que o último termo exprime certa modéstia e certo ceticismo em relação ao
conhecimento humano.
O conceito de "filosofia" sofreu, no transcorrer da história, várias alterações e
restrições em sua abrangência. As concepções do que seja a filosofia e quais são os
seus objetos de estudo também se alteram conforme a escola ou movimento
filosófico. Essa variedade presente na história da filosofia e nas escolas e correntes
filosóficas tornam praticamente impossíveis elaborar uma definição universalmente
válida de filosofia. Definir a filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica. Em outras
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palavras, é fazer uma filosofia da filosofia. O sociólogo e filósofo alemão Georg
Simmel ressaltou esse ponto ao dizer que um dos primeiros problemas da filosofia é
o de investigar e estabelecer a sua própria natureza. Talvez a filosofia seja a única
disciplina que se volte para si mesma dessa maneira. O objeto da física não é,
certamente, a própria ciência da física, mas os fenômenos ópticos e elétricos, entre
outros. A filologia ocupa-se de registros textuais antigos e da evolução das línguas,
mas não se ocupa de si mesma. A filosofia, no entanto, move-se neste curioso
círculo: ela determina os pressupostos de seu método de pensar e os seus
propósitos através de seus próprios métodos de pensar e propósitos. Não há como
apreender o conceito de filosofia fora da
filosofia; pois somente a filosofia pode
determinar o que é a filosofia.
Platão e Aristóteles concordam em
caracterizar a filosofia como uma atividade
racional estimulada pelo assombro ou
admiração. Mas, para Platão, o assombro
é provocado pela instabilidade e
contradições dos seres que percebemos
pelos sentidos. A filosofia, no quadro platônico, seria a tentativa de superar esse
mundo de coisas efêmeras e mutáveis e apreender racionalmente a realidade
última, composta por formas eternas e imutáveis que, segundo Platão, só podem ser
captadas pela razão. Para Aristóteles, ao contrário, não há separação entre, de um
lado, um mundo apreendido pelos sentidos e, de outro lado, um mundo
exclusivamente captado pela razão. A filosofia seria uma investigação das causas e
princípios fundamentais de uma única e mesma realidade. O filósofo, segundo
Aristóteles, ―conhece, na medida do possível, todas as coisas, embora não possua
a ciência de cada uma delas por si‖. A filosofia almejaria o conhecimento universal,
não no sentido de um acúmulo enciclopédico de todos os fatos e processos que se
possam investigar, mas no sentido de uma compreensão dos princípios mais
fundamentais, dos quais dependeriam os objetos particulares a que se dedicam as
demais ciências, artes e ofícios. Aristóteles considera que a filosofia, como ciência
das causas e princípios primordiais, acabaria por identificar-se com a teologia, pois
Deus seria o princípio dos princípios.
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As definições de filosofia elaboradas depois de Platão e Aristóteles separaram
a filosofia em duas partes: uma filosofia teórica e uma filosofia prática. Como reflexo
da busca por salvação ou redenção pessoal, a filosofia prática foi gradativamente se
tornando um sucedâneo da fé religiosa e acabou por ganhar precedência em relação
à parte teórica da filosofia. A filosofia passa a ser concebida como uma arte de viver,
que forneceria aos homens regras e prescrições sobre como agir e como se portar
diante das inconstâncias do mundo. Essa concepção é muito clara em diversas
correntes da filosofia helenística, como, por exemplo, no estoicismo e no
neoplatonismo.
As definições de filosofia formuladas na Antiguidade persistiram na época de
disseminação e consolidação do cristianismo, mas isso não impediu que as
concepções cristãs exercessem influência e moldassem novas maneiras de se
entender a filosofia. As definições de filosofia elaboradas durante a Idade Média
foram coordenadas aos serviços que o pensamento filosófico poderia prestar à
compreensão e sistematização da fé religiosa. Desse modo, a filosofia passa a ser
concebida como ―serva da teologia‖ (ancilla theologiae); e vários teólogos
importantes buscam harmonizar a doutrina sagrada com o pensamento filosófico
pagão.
Os medievais mantiveram a acepção de filosofia como saber prático, como
uma busca de normas ou recomendações para se alcançar a plenitude da vida.
Santo Isidoro de Sevilha, ainda no século VII, definia a filosofia como ―o
conhecimento das coisas humanas e
divinas combinado com uma busca pela
vida moralmente boa.
Tanto na Idade Média como em
qualquer outra época da história
ocidental, a compreensão do que é a
filosofia reflete uma preocupação com
questões essenciais para a vida humana
em seus múltiplos aspectos. As
concepções de filosofia do
Renascimento e da Idade Moderna não
são exceções. Também aí as noções do que seja a filosofia sintetizam as tentativas
de oferecer respostas substantivas aos problemas mais inquietantes da época. O
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advento da era moderna fez ruir as próprias bases da sabedoria tradicional; e impôs
aos intelectuais a tarefa de encontrar novas formas de conhecimento que pudessem
restabelecer a confiança no intelecto e na razão. Para Francis Bacon - um dos
primeiros filósofos modernos - a filosofia não deveria se contentar com uma atitude
meramente contemplativa, como queriam os antigos e medievais; ao contrário,
deveria buscar o conhecimento das essências das coisas a fim de obter o controle
sobre os fenômenos naturais e, portanto, submeter à natureza aos desígnios
humanos.
Para Descartes, a filosofia, na qualidade de metafísica, é a investigação das
causas primeiras, dos princípios fundamentais. Esses princípios devem ser claros e
evidentes, e devem formar uma base segura a partir da qual se possam derivar as
outras formas de conhecimento. É nesse sentido, entendendo-se a filosofia como o
conjunto de todos os saberes e a metafísica como a investigação das primeiras
causas, que se deve ler a famosa
metáfora de Descartes: ―Assim, a
Filosofia é uma árvore, cujas raízes
são a Metafísica, o tronco a Física, e
os ramos que saem do tronco são
todas as outras ciências.
Após Descartes, a filosofia
assume uma postura crítica em relação
a suas próprias aspirações e
conteúdos. Os empiristas britânicos, influenciados pelas novas aquisições da ciência
moderna, dedicaram-se a situar a investigação filosófica nos limites do que pode ser
avaliado pela experiência. Segundo a orientação empirista, argumentos tradicionais
da filosofia, como as demonstrações da existência de Deus, da imortalidade da alma
e de essências imutáveis seriam inválidos, uma vez que as ideias com que operam
não são adequadamente derivadas da experiência. De maneira análoga, Kant, ao
elaborar sua doutrina da filosofia transcendental, rejeita a possibilidade de
tratamento científico de muitos dos problemas da filosofia tradicional, uma vez que a
adequada solução deles demandaria recursos que ultrapassam as capacidades do
intelecto humano.
O empirismo britânico e o idealismo de Kant acentuam uma característica
freqüentemente destacada na filosofia: a de ser um "pensar sobre o pensamento" ou
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um "conhecer o conhecimento". Essa concepção reflexiva da filosofia, do
pensamento que se volta para si mesmo, influenciará vários autores e escolas
filosóficas, tanto do século XIX como do século XX. A fenomenologia, por exemplo,
considerará a filosofia como um empreendimento eminentemente reflexivo. Segundo
Edmund Husserl - o fundador da fenomenologia - a filosofia é uma ciência rigorosa
dos fenômenos tal como nos aparecem, ou seja, tal como é a nossa consciência
deles. Para descrevê-los, o filósofo deve pôr entre parênteses todas as suas
pressuposições e preconceitos (até mesmo a certeza de que os objetos existem) e
restringir-se apenas aos conteúdos da consciência.
Com a virada lingüística do início do século XX, muitos filósofos passam a
considerar a filosofia como uma análise de conceitos. Para Wittgenstein, os
problemas filosóficos tradicionais são todos resultantes de confusões lingüísticas; e
a tarefa do filósofo seria a de esclarecer o modo como os conceitos são empregados
a fim de explicitar tais confusões. Numa abordagem mais positiva sobre a atividade
filosófica, Strawson considera que a filosofia é análoga à gramática: assim como os
estudiosos da gramática explicitam as regras que os falantes inconscientemente
empregam, a filosofia explicitaria conceitos-chave que, na construção de nossas
concepções e argumentos, adotamos sem ter plena consciência de suas
implicações e relações.
OS MÉTODOS DA FILOSOFIA
Os trabalhos filosóficos são realizados mediante técnicas e procedimentos
que integram os cânones do pensamento racional. Tradicionalmente, a filosofia
destaca e privilegia a argumentação lógica, em linguagem natural ou em linguagem
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simbólica, como a ferramenta por excelência da apresentação e discussão de
teorias filosóficas.
A argumentação lógica está associada a dois elementos importantes: a
articulação rigorosa dos conceitos e a correta concatenação das premissas e
conclusões, de modo que essas últimas sejam derivações incontestáveis das
primeiras.
Toda a ideia filosófica relevante é inevitavelmente submetida a escrutínio
crítico; e a presença de falhas na argumentação é frequentemente o primeiro alvo
das críticas. Desse modo, o destino de uma tese qualquer que não esteja amparada
por argumentos sólidos e convincentes será, freqüentemente, o da severa rejeição
por parte da comunidade filosófica.
Embora a reflexão sobre os princípios e métodos da lógica só tenha sido
realizada por Aristóteles, a ênfase na argumentação lógica e na crítica à solidez dos
argumentos é uma característica que acompanha a filosofia desde os seus
primórdios. A própria ruptura entre o pensamento mítico-religioso e o pensamento
racional é assinalada pela adoção de uma postura argumentativa e crítica em
relação às explicações tradicionais. Quando Anaximandro rejeitou as explicações de
seu mestre – Tales de Mileto – e propôs concepções alternativas sobre a natureza e
estrutura do cosmos, que provavelmente a seu juízo seriam mais corretas que as do
antigo mestre, o pensamento humano dava seus primeiro passos em direção ao
debate franco, público e aberto de ideias, orientado apenas por critérios racionais de
correção, como forma destacada de se aperfeiçoar o conhecimento; e abandonava,
assim, as narrativas tradicionais
sobre a origem e composição do
universo, apoiadas na autoridade
inquestionável da tradição ou em
ensinamentos esotéricos.
Mas não se podem restringir
os métodos da filosofia apenas à
ênfase geral na argumentação
lógica e na crítica sistemática às
teorias apresentadas. Nas grandes
tradições da história da filosofia, podem ser identificadas duas orientações bem
abrangentes, cujos objetivos e técnicas tendem a diferir radicalmente: existem as
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escolas que privilegiam uma abordagem analítica dos problemas filosóficos e
aquelas que optam por uma abordagem predominantemente sintética ou sinóptica.
A orientação analítica é exemplificada nos trabalhos filosóficos que se
dedicam à decomposição de um conceito em suas partes constituintes e ao exame
criterioso das relações lógicas e conceptuais explicitadas pela análise. O exemplo
clássico é a análise do conceito de conhecimento.
A reflexão sobre a natureza do conhecimento levou os filósofos a decompor a
noção de conhecimento em três noções associadas: crença, verdade e justificação.
Para que algo seja conhecimento é imprescindível que seja antes uma crença – em
outras palavras, o conhecimento é uma espécie diferenciada do gênero mais
abrangente da crença. A pergunta óbvia que essa primeira constatação sugere é: o
que diferencia, então, o conhecimento das demais
formas de crença? Nesse ponto, o exame do
conceito conduz a duas noções distintas.
Em primeiro lugar, chega-se à noção de
verdade. Intuitivamente sabemos que acreditar que
a Lua gira em torno da Terra é diferente de
acreditar que Papai Noel existe – a primeira crença
é verdadeira; a segunda, falsa. Portanto, para que
seja promovida à condição de conhecimento, a
crença deve ser verdadeira. Em segundo lugar,
chega-se à noção de justificação. Além de
sustentar uma crença verdadeira, o sujeito deve ser capaz de apresentar os meios
ou as fontes, consideradas universalmente legítimas, que lhe propiciaram chegar à
crença em questão. Feito esse exame, a conclusão é a célebre fórmula: o
conhecimento é crença verdadeira e justificada. Nesse e em muitos outros casos
envolvendo noções filosoficamente relevantes, o trabalho de análise é capaz de
explicitar pressupostos importantes implicitamente presentes no uso dos conceitos.
A outra orientação – a sintética – percorre o caminho oposto ao da análise.
Os adeptos dessa orientação buscam elaborar uma síntese de várias noções
relevantes e apresentá-las como um todo harmônico. Às vezes chamada de
―filosofia especulativa‖, essa orientação filosófica pretende revelar princípios
universais que possam reunir organicamente vários elementos díspares, que
aparentemente não guardam relações relevantes entre si. Um caso paradigmático
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dessa orientação é a filosofia hegeliana, cujo fito é integrar numa dinâmica panteísta
a evolução das mais diversas formas de manifestação da cultura humana – artes,
leis, governos, religiões, ciências e filosofias.
DISCIPLINAS FILOSÓFICAS
A filosofia é geralmente dividida em áreas de investigação específica. Em
cada área, a pesquisa filosófica dedica-se à elucidação de problemas próprios,
embora sejam muito comuns as interconexões. As áreas tradicionais da filosofia são
as seguintes:
Epistemologia ou teoria do conhecimento: é a área da filosofia que estuda a
natureza do conhecimento, sua origem e seus limites. Dessa forma, entre as
questões típicas da epistemologia estão: ―O que diferencia o conhecimento de
outras formas de crença?, ―O que podemos conhecer?, ―Como chegamos a ter
conhecimento de algo?
Ética ou filosofia moral: é a área da filosofia que trata das distinções entre o certo e
o errado, entre o bem e o mal.
Procura identificar os meios mais
adequados para aprimorar a vida
moral e para alcançar uma vida
moralmente boa. Também no
campo da ética dão-se as
discussões a respeito dos
princípios e das regras morais
que norteiam a vida em
sociedade, e sobre quais seriam as justificativas racionais para adotar essas regras
e princípios.
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Filosofia da Arte ou Estética: entre as investigações dessa área, encontram-se
aquelas sobre a natureza da arte e da experiência estética, sobre como a
experiência estética se diferencia de outras formas de experiência, e sobre o próprio
conceito de belo.
Lógica: é a área que trata das estruturas formais
do raciocínio perfeito – ou seja, daqueles
raciocínios cuja conclusão preserva a verdade
das premissas. Na lógica são estudados,
portanto, os métodos e princípios que permitem
distinguir os raciocínios corretos dos raciocínios
incorretos.
Metafísica: ocupa-se da elaboração de teorias sobre a realidade e sobre a natureza
fundamental de todas as coisas. O objetivo da metafísica é fornecer uma visão
abrangente do mundo – uma visão sinóptica que reúna em si os diversos aspectos
da realidade. Uma das subáreas da metafísica é a ontologia (literalmente, a ciência
do "ser"), cujo tema principal é a elaboração de escalas de realidade. Nesse sentido,
a ontologia buscaria identificar as entidades básicas ou elementares da realidade e
mostrar como essas se relacionam com os demais objetos ou indivíduos - de
existência dependente ou derivada.
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FILOSOFIA DO SÉCULO XX
No século XX, a filosofia tornou-se uma disciplina profissionalizada das
universidades, semelhante às demais disciplinas acadêmicas. Desse modo, tornou-
se também menos geral e mais especializada. Na opinião de um proeminente
filósofo: ―A filosofia tem se tornado uma disciplina altamente organizada, feita por
especialistas para especialistas. O número de filósofos cresceu exponencialmente,
expandiu-se o volume de publicações e multiplicaram-se as subáreas de rigorosa
investigação filosófica.
Hoje, não só o campo mais amplo da filosofia é demasiadamente vasto para
uma única mente, mas algo similar também é verdadeiro em muitas de suas
subáreas altamente especializadas.
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CONCEITUANDO POLÍTICAS EDUCACIONAIS
Na tentativa de esboçar uma definição de Políticas Educacional, devemos
considerá-la como ramo intermediário entre a Pedagogia e a Ciência Política
especializada na análise dos projetos governamentais no campo educativo ou ainda,
como a disciplina que se propõe a analisar e dar sentido ao conjunto de normas
reguladoras entre o Estado e a sociedade no campo educacional.
A Política Educacional gesta-se de “cima para baixo” quando é objetivo explicito
de governo, base constitucional e corresponde a um projeto de gestão do Estado
brasileiro. Por outro, professores, diretores e alunos são também agentes de
realização de Políticas Educacionais.
A defesa e explicitação de determinadas correntes de educação, a dominância
de determinadas perspectivas de ensino, a posição de organização não
governamentais frente àsações do Estado, tudo enfim faz parte do campo de análise
das Políticas Educacionais. Elas realizam-se plenamente no cotidiano da escola, nos
diferentes graus de ensino. Diríamos, assim, que há duas políticas educacionais:
uma, de “cima para baixo”, que faz com que um corpo de leis seja assimilado,
discutido e incorporado no meio escolar, e outro, “de baixo para cima” e que
corresponde a uma reapropriação, uma elaboração especifica, de cada instituição e
dos profissionais da escola. Entre ambos, um movimento circular e em espiral: não
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é pouco comum o governo ter de ceder ou realizar contra-ofensiva às iniciativas e
desejos do sociedade civil no campo educativo.
Políticas Educacionais é uma disciplina
em construção. Introduzida pelas sucessivas
reformas dos currículos de nossas universidades,
corresponde a um estágio avançado de análise e
interpretação da realidade político-educacional.
Resultado natural da evolução da análise dos
problemas educacionais contemporâneos, da
ampliação dos estudos e pesquisas produzidas
pelos Programas de Pós-graduação em
Educação e Política de norte a sul do País, revela-se como disciplina cada vez
sofisticada e com métodos e análises de investigação. Dedicando-se nos atores
educativos, na participação dos agentes governamentais na gestão das políticas da
educação, e na organização dos diversos setores organizados da sociedade ligados
a educação (sindicatos), tem apresentado resultados importantes para a luta pela
democratização da educação no Brasil.
Seu papel ainda é maior por que ao valorizar a ação da cultura do meio escolar,
do sistema de crenças, valores e idéias que orientam os professores e profissionais
de ensino (além de é claro, dos agentes de governo) na gestão das tarefas
educacionais, apresenta dimensões novas para a formulação de políticas
educacionais.
O enfoque da “escola como lugar político-cultural” marca a reflexão
contemporânea da disciplina de Políticas Educacionais, onde os dispositivos legais
são percebidos na relação com a cultura da escola. A análise institucional tradicional
não é descartada porque a escola é dessas instituições sólidas e sérias que cria
suas próprias regras de convívio e reação as atitudes governamentais. Finalmente, a
utilização do método estruturalista em parte de seus estudos, predominante nas
Ciências Sociais, não deixa de privilegiar a análise dos determinantes das estruturas
políticas do Brasil contemporâneo, seja das estruturas sócio-econômicas ou a
situação de dependência do país.
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O QUE É POLÍTICA?
Que imagem vem à cabeça da maioria das pessoas, quando ouve a palavra
“política”? Para muitos indivíduos, essa palavra evoca imagens de campanhas
eleitorais, partidos, propagandas, poluição visual às vésperas de eleição. Outros
podem lembrar-se da atuação de políticos profissionais, na maioria das vezes, de
maus políticos. Isto faz com que várias pessoas tomem aversão a tudo o que diz
respeito à política. Mas será que política é isso mesmo? Ou melhor, será que política
é só isso?
Este é um tema muito complexo para ser tratado com rapidez, pois seu uso
corrente está permeado uma multiplicidade de significados que foram construídos na
história da humanidade e por diferentes sentidos adquiridos na experiência de vida
de cada pessoa. Por isso, vamos voltar um pouco na história, para refletir sobre o
significado deste termo tão polêmico.
Em sua definição clássica, o termo política emana do adjetivo politikós,
originado de polis1, que se refere a tudo que se relaciona com a cidade, portanto ao
urbano, público, civil.
A obra de Aristóteles, A política, é considerada a primeira obra sobre este
tema, pois introduz a discussão sobre Estado e sobre as formas de governo.
1Polis - Termo grego que se refere à cidade, compreendida como a comunidade organizada, formada pelos
cidadãos, isto é, pelos homens nascidos no solo da Cidade, livres e iguais. Fonte: CHAUÍ, Marilena. Convite a
Filosofia, Editora Ática, 2003.
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Com o decorrer do tempo, política passou a designar “um campo dedicado ao
estudo da esfera de atividades humanas articulada às coisas do Estado”. Neste
sentido, refere-se, hoje, principalmente ao conjunto de atividades, que, de alguma
maneira são atribuídas ao Estado moderno, ou que dele emanam (SHIROMA,
MORAES e EVANGELISTA, 2002, p. 7).
Vale à pena, neste momento, nos
perguntarmos, então, sobre o que é
Estado? Qual sua função? Como
surgiu? A resposta a estas perguntas
não é muito simples. Podemos agrupar
as várias formas de responder a esta
pergunta em dois grandes grupos de
teorias:
Teorias com enfoque liberal:
baseam-se numa interpretação feita pela burguesia nos diferentes momentos
da história do capitalismo. Consideram que o Estado é neutro e está acima
dos interesses das classes sociais, pois tem como objetivo a realização do
bem comum e o aperfeiçoamento do organismo social no seu conjunto.
Teorias com enfoque marxista: fundamentam-se em uma concepção de
sociedade dividida em classes antagônicas, com interesses divergentes, o
que inviabiliza a idéia de um Estado neutro, voltado para o bem comum.
Segundo esse enfoque, o Estado é uma instituição política que representa os
interesses de uma classe social dominante, que prevalece sobre o conjunto
da sociedade. Apenas no nível aparente, estes interesses apresentam-se
como interesses universais, de todo o corpo social. Esse enfoque constituí-se,
deste modo, uma crítica ao enfoque liberal de Estado.
Três teóricos europeus são considerados os fundadores do pensamento
político e podem nos ajudar a compreender melhor a construção do conceito
burguês de Estado moderno: Thomas Hobbes (1588-1651), John Locke (1632-1704)
e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
Para Hobbes, teórico político e filósofo inglês, o Estado soberano significava a
realização máxima de uma sociedade civilizada e racional. Ele defendeu que, em
estado natural, sem o jugo político do Estado, os homens viveriam em liberdade e
igualdade segundo seus instintos. Somente o Estado, um poder acima das
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individualidades, garantiria segurança a todos, pois o egoísmo, a crueldade,a
ambição, naturais dos indivíduos, gerariam uma luta sem tréguas, levando-os
àruína. Para evitar este fim e promover o bem comum, os homens selariam um
pacto, um contrato, que evita a sua destruição. Hobbes atribui a este contrato social
a criação do Estado, de poder absoluto.
John Locke, foi um filósofo
predecessor do Iluminismo 2 tinha
como noção de governo o
consentimento dos governados
diante da autoridade constituída,
defendia a idéia de que o homem
seria livre no seu estado natural.
Para evitar que um homem
pudesse subjulgar o outro a seu
poder absoluto, os homens, por
meio de um contrato social,
delegaram poderes ao Estado, que deveria ter o papel de assegurar seus direitos
naturais, assim como, a sua propriedade. Enquanto que para Hobbes, o contrato
resulta num Estado Absoluto, para Locke, o Estado poderia ser feito e desfeito,
como qualquer contrato, caso o Estado ou o Governo não o respeitarem.
Para Jean-Jacques Rousseau, fundador da concepção democrática-
burguesa, a sociedade civil também nasceria por meio de um contrato social. Para
ele, porém, diferente de Locke, os homens são naturalmente bons, sendo a
sociabilização a culpada pela sua "degeneração". O Contrato Social para Rousseau
é um acordo entre indivíduos para se criar uma Sociedade, e, só então, um Estado,
isto é, o Contrato é um Pacto de associação, não de submissão. Os homens não
podem renunciar aos princípios da liberdade e igualdade, pois ao povo pertence a
soberania. Ele enfatizava que não há liberdade onde não existe igualdade. Ao
2Iluminismo ou Esclarecimento (em alemão Aufklärung, em inglês Enlightenment, em italiano Illuminismo, em
francês Siècle des Lumières, em espanhol Ilustración) designam uma época da história intelectual ocidental.
Iluminismo é um conceito que sintetiza diversas tradições filosóficas, correntes intelectuais e atitudes religiosas.
O uso do termo Iluminismo na forma singular justifica-se, contudo, dadas certas tendências gerais comuns a
todos os iluminismos, nomeadamente, a ênfase nas idéias de progresso e perfectibilidade humana, assim como a
defesa do conhecimento racional como meio para a superação de preconceitos e ideologias tradicionais.
O Iluminismo é, para sintetizar, uma atitude geral de pensamento e de ação. Os iluministas admitiam que os seres
humanos estão em condição de tornar este mundo um mundo melhor - mediante introspecção, livre exercício das
capacidades humanas e do engajamento político-social.
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contrário de Locke, Rousseau percebia no surgimento da propriedade a origem de
todos os males da humanidade3.
A teoria política desenvolvida por Karl
Marx (1818-1883) consiste em uma rejeição
categórica à concepção de Estado
burguesa, que o compreende como agente
da "sociedade como um todo". A teoria
marxista rejeita, também, a possibilidade da
existência de um "interesse nacional", pois,
para Marx, a base da sociedade, da sua
formação, das instituições e regras de
funcionamento, das idéias e dos valores são
as condições materiais, ou seja, as relações
sociais de produção.
Neste enfoque, o Estado é compreendido como uma estrutura de poder que
aglutina, sintetiza e coloca em movimento a força política da classe dominante. Para
ele, o Estado moderno é apenas um comitê para administrar os assuntos comuns da
burguesia, o que o torna um mecanismo destinado a reprimir a classe oprimida e
explorada.
No pensamento marxista, o Estado consiste, também, numa organização
burocrática, isto é, um conjunto de instituições e organismos, ramos e sub-ramos,
com suas respectivas burocracias, que exerce a dominação das classes exploradas,
por meio do jogo institucional de seus aparelhos. Deste modo, em condições
historicamente determinadas, o Estado desempenha a função de reprodutor das
relações econômicas e políticas de classe e de moldar aquilo que os liberais
chamam de sociedade.
Visto que não existe organização social sem Estado, pelo menos após a
divisão da sociedade em classes antagônicas, esse Estado é sempre aquele que
3Do Contrato social é a obra prima do suíço Jean-Jacques Rousseau, em ele expõe a sua noção de homem, de
Estado e de sociedade. Para obtê-la na Internet, acesse:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/contrato.pdf
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traduz o pensamento dos dominantes, ou seja, aquele que constrói as condições
para o máximo desenvolvimento daquelas classes4.
Para Antonio Gramsci5 (1891-1937),políticocomunista e anti-fascistaitaliano,
filósofo e cientista político marxista, é impossível, exceto nas ditaduras, a existência
do domínio bruto de uma classe social sobre a outra, por meio, apenas, do Estado-
coerção.
Uma classe dominante, para assegurar-se como dirigente, deve construir um
conjunto de alianças e obter o consenso passivo das classes e camadas dirigidas. A
classe dominante, muitas vezes, sacrifica parte dos seus interesses imediatos e
supera o horizonte corporativo, na busca de articular alianças e construir uma
hegemonia6 ética e política.
O Estado moderno, na
concepção gramsciana, não poderia
constituir-se, somente, como
instrumento de coerção a serviço da
classe dominante, pois para poder
manter-se, a força deve revestir-se
de consenso, isto é, combinar
coerção e hegemonia. Ao analisar
os mecanismos de construção desta
hegemonia, Gramsci elabora a um
conceito de Estado ampliado, que
compreende o Estado composto por dois segmentos distintos, a sociedade política e
a sociedade civil. Ambos atuam, porém, com a mesma finalidade: manter e
reproduzir a dominação da classe hegemônica. O conceito de sociedade civil e
4 Para compreender a concepção marxista de Estado, vale à pena ler o Manifesto do Partido Comunista,
disponível, no site: http://ateus.net/ebooks/geral/marx_manifesto_comunista.pdf
Ler os clássicos do pensamento ocidental o ajudará a compreender melhor as suas próprias idéias. 5Antonio Gramsci - Político,filósofo e cientista político, comunista e anti-fascistaitaliano, nascido em Ales, 22 de
janeiro de 1891 e falecido em Roma, 27 de abril de 1937.
A influência de Gramsci encontra-se associada, principalmente, aos mais de trinta cadernos de análise histórica e
filosófica que escreveu durante o período em que esteve na prisão, conhecidos como Cadernos do Cárcere, que
contêm o pensamento maduro de Gramsci sobre a História da Itália e o nacionalismo, bem como idéias sobre
teoria crítica e educacional que são freqüentemente associadas com o seu nome. 6Em política, o conceito de hegemonia foi formulado por Antonio Gramsci para descrever o tipo de dominação
ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente, da burguesia sobre o proletariado e outras classes
de trabalhadores.
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sociedade política7 é fundamental para compreendermos o que vem a ser políticas
educacionais e para situá-las interior das políticas públicas.
POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO CONTEXTO DAS
POLÍTICAS PÚBLICAS
De acordo com a teoria gramsciana, nas sociedades de tipo ocidental, como a
brasileira, a hegemonia (que se realiza nas diversas instâncias da sociedade civil)
não pode ser negligenciada pelos grupos sociais dominados, que pretendem
modificar sua condição e a assumir o comando do conjunto da sociedade. É
importante para as classes subalternas construir uma contra hegemonia,
articulando-se para interferir nos sindicatos, partidos políticos, meios de
comunicação, escolas e demais instituições que constroem a hegemonia ética e
política. É neste processo que as políticas educacionais são produzidas.
As políticas educacionais situam-se no âmbito das políticas públicas 8 de
caráter social e, como tal, não são estáticas, mas dinâmicas, ou seja, estão em
7Sociedade política consiste no Estado-coerção, formado pelos mecanismos que asseguram o monopólio da força
pela classe dominante, como a burocracia executiva e policial-militar.
Sociedade civil é composta pelo conjunto das organizações responsáveis pela elaboração e difusão das
ideologias: o sistema escolar, a Igreja, os sindicatos, os partidos políticos, as organizações profissionais, as
organizações culturais e os meios de comunicação e de massa.
Resumindo: o Estado seria a sociedade política gramsciana. A sociedade civil representa a nova determinação
apresentada por Gramsci, que no começo do Século XX, assume crescente grandeza com os partidos de massa,
sindicatos de trabalhadores e outras formas de organizações sociais. É após sua evolução histórica que a
sociedade civil pôde ser capturada teoricamente. Antes disso, o Estado-coerção era muito superior em sua base
material para se permitir tal percepção.
21
constante transformação. Para compreendê-las, é necessário entender o projeto
político do Estado, em seu conjunto, e as contradições do momento histórico em
questão.
Se compreendermos a política como a arte de administrar o bem público, toda
política deveria ser considrada pública ou social. Entretanto, nas sociedades em que
os meios de produção são apropriados por uma determinada classe social, o Estado
acaba por ser apropriado, também, por esta classe, a fim de gerir seus interesse
econômicos.
Deste modo, na sociedade capitalista, o Estado assume a função de
impulsionar a política econômica, tendo em vista a consolidação e a expansão do
capital, favorecendo, assim, interesses privados, em detrimento dos interesses da
coletividade, o que carateriza a política econômica pelo seu carater anti-social
(Saviani, 2007).
Os efeitos gerados por esta polítca econômica concentradora de riqueza,
contraditoriamente, ameçam a continuidade do sitema econômico capitalista. Para
contrabalancear estes efeitos, o Estado precisa promover políticas públicas ou
políticas sociais, nas áreas de saúde, habitação, assitência e previdência social,
cultura e educação.
Embora, nas sociedades capitalistas, o
Estado esteja submetido aos interesses gerais
do capital na organização e na administração
do público, as políticas públicas,
especialmente, as de cunho social, são
produto das lutas, pressões e conflitos entre
os grupos e classes que constituem a
sociedade. Em síntese, as políticas públicas
são o resultado de barganhas e conflitos,
consensos e embates entre os diferentes
grupos ou classes que compõem determinada
sociedade.
8Políticas públicas - Este é um conceito que comporta várias significações. Para alguns, pode parecer uma
redundância, visto que toda política, pela prórpia natureza etmológica da palavra é essencialmente pública. Este
termo pode referir-se a diferentes áreas ou campos de atuação governamental, por exemplo política econômica,
políticas sociais, ou ainda, ambientais. Pode remeter aos processos próprios da ação política, no que diz respeito
aos instrumentos, regras e organização das forças que se enfrentam ou se articulam no espaço dos embates. Pode
significar, ainda, as instituições políticas, como o Estado e suas normas, regras e marcos jurídicos.
22
As políticas educacionais emanadas do Estado, como qualquer outra política
pública, implicam em escolhas e decisões, que envolvem indivíduos, grupos e
instituições e, portanto, não são fruto de iniciativas abstratas, mas constroem-se na
correlação entre as forças sociais, que se articulam para defender seus interesses.
Deste modo, para entender como se elaboram as políticas públicas, em uma
determinada sociedade, é preciso analisar seus significados históricos.
Ao longo da História do Brasil, a educação redefiniu seu perfil, ao mesmo
tempo reprodutor e inovador da estrutura social, ou seja, ela consiste em uma das
maneiras que a sociedade estabelece para produzir e reproduzir suas formas de
organização do trabalho e da vida. A educação modela aptidões, comportamentos,
atitudes, valores, conceitos e preconceitos, que são necessários a cada forma de
organização social e a escola é um dos locais privilegiados para sua realização. Por
isso, o Estado brasileiro, à medida que foi, gradualmente, se organizando e se
fortalecendo, tomou para si a tarefa de instituir as bases da educação escolar
nacional.
As ações e orientações do
Estado interferem no cotidiano de
cada instituição educativa e dos
sujeitos que a constroem. Desde a
quantidade de dias letivos ao
conteúdo e à metodologia trabalhada
no interior de cada sala de aula
sofrem as determinações das
políticas públicas para a educação.
Compreender estas determinações e
como elas se construíram é
fundamental para que o professor
possa se posicionar criticamente
diante delas e participar efetivamente na construção de políticas educacionais que
sirvam para contribuir na superação das injustiças e a exclusão social a que está
submetida grande parte da população brasileira.
Se compreendermos que as políticas educacionais são construídas nos
embates da sociedade civil, concluímos que é impossível o professor se manter
neutro diante das lutas das entidades nas quais seus pares se articulam a fim de
23
conquistar melhores condições para a educação nacional, pois quem não se
posiciona a favor das forças de mudanças está contribuindo para a permanência da
situação injustiça e de desigualdade social, que marca a nossa sociedade e nossa
educação. Como ninguém é capaz de transformar o que não conhece, torna-se
fundamental o estudo das políticas educacionais, nos cursos de formação de
professores, que pretendem contribuir na preparação de profissionais críticos, que
sejam capazes de se posicionar diante das exigências da realidade social e
educacional.
A importância deste campo de conhecimento deve-se ao fato de contribuir
para a compreensão da vida educacional alicerçada nas dinâmicas sociais, políticas
e legais. Contempla temas como globalização, Estado, sociedade e educação;
legislação educacional, estrutura e funcionamento do ensino; políticas de
inclusão/exclusão; financiamento da educação; formação e profissionalização
docente; expansão e qualidade do ensino, dentre outros que afetam a vida cotidiana
das instituições educativas escolares e não escolares. É essencial para a formação
de um professor que saiba refletir e agir de forma coerente com suas opções éticas,
teóricas e políticas.
O ATO DE EDUCAR
Para o professor J. Carlos Libâneo, “educar (em latim, educare) é conduzir de
um estado a outro, émodificar numa certa direção o que é suscetível de educação.O
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ato pedagógico pode, então, serdefinido como uma atividade sistemática de
interação entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoalcomo no nível da
influência do meio, interação essa que se configura numa ação exercida
sobresujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes
que os tornem elementosativos desta própria ação exercida. Presume-se, ai, a
interligação no ato pedagógico de trêscomponentes: um agente (alguém, um grupo,
um meio social etc.), uma mensagem transmitida(conteúdos, métodos,
automatismos, habilidades etc.) e um educando (aluno, grupos de alunos,
umageração etc.)”
Diz ainda o professor Libâneo que o especificamente pedagógico está na
imbricação entre amensagem e o educando, propiciada pelo agente. Como instância
mediadora, a ação pedagógica tornapossível a relação de reciprocidade entre
indivíduo e sociedade. Conclui-se, então, que a educação nãopode ser
compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo a prática social o
ponto departida e o ponto de chegada da ação pedagógica.
No início do processo, o educando tem uma experiência social confusa e
fragmentada, que deve serlevada a um estádio de organização. Nesse sentido, o
professor Dermeval Saviani define educaçãocomo “um processo que se caracteriza
por uma atividade mediadora no seio da prática social global.
A fim de não confundir conceitos, convém estabelecer algumas nuança entre
educação, ensino edoutrinação.
Educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o processo de
desenvolvimento integraldo homem, isto é, de sua capacidade física,
intelectual e moral, visando não só a formação dehabilidades, mas também
do caráter e da personalidade social.
O ensino consiste na transmissão deconhecimentos, enquanto a doutrinação
é uma pseudo-educação que não respeita a liberdade doeducando, impondo-
lhe conhecimentos e valores. Nesse processo, todos são submetidos a uma
sómaneira de pensar e agir, destruindo-se o pensamento divergente e
mantendo-se a tutela e a hierarquia.
Ao contrário da doutrinação, a verdadeira educação tende a dissolver a
assimetria entre educador eeducando, pois, se há inicialmente uma
desigualdade, esta deve desaparecer à medida que se tornaeficaz a ação do
25
agente da educação. O bom educador é, portanto, aquele que vai morrendo
durante oprocesso.
Quanto aos dois primeiros conceitos, educação e ensino, não há como
separar nitidamente essesdois pólos que se completam. Como se poderia educar
alguém sem informá-lo sobre o mundo em quevive? É a partir da consciência de sua
própria experiência e da experiência da humanidade que ohomem tem condições de
se formar como um ser moral e político. Da mesma maneira, todainformação,
mesmo que fornecida sem a aparente intenção de formação, ao ser assimilada
peloeducando, interfere na sua concepção de mundo. Com freqüência, a informação
pretensamente neutraestá, na verdade, carregada de valores.
26
BIBLIOGRAFIA
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político de Antonio Gramsci. Disponível em: http://www.duplipensar.net/artigos/2006-
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Política educacional. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.
28
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
1- Ao abordar o problema da existência de ideias inatas, no Ensaio acerca do
entendimento humano (1690), o filósofo empirista John Locke (1632-1704) analisa a
origem dos princípios práticos (políticos, éticos, morais). Quanto a este problema, ele
argumenta que:
A) A virtude é geralmente aprovada não porque é proveitosa para o indivíduo e para
a sociedade, mas porque é inata.
B) As regras morais não necessitam de provas empíricas ou lógicas, sendo
consentidas tacitamente, portanto, elas não são inatas.
C) A regra moral é violada no caso de não ser conhecida, daí poder-se afirmar que
ela não é inata, do contrário, não haveria violação.
D) Princípios práticos não são inatos pois, do contrário, não haveria sociedades de
homens governadas por opiniões práticas e regras de conduta contrárias umas às
outras.
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2- Segundo Thomas Hobbes (1588-1679), "dado que a condição do homem (...) é
uma condição de guerra de todos contra todos", é um preceito ou regra geral da
razão: Que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha
esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as
ajudas e vantagens da guerra. Da regra geral da razão de Hobbes acima exposta
decorre que:
A) Não encontrar a paz ("e caso não a consiga...") é uma situação na sociedade
civil.
B) As vantagens da guerra não podem participar de uma regra da razão, pois são do
âmbito do instinto.
C) A lei primeira e fundamental de natureza é a afirmação de que o homem deve,
em primeiro lugar, procurar a paz e segui-la.
D) A paz só pode ser alcançada após a guerra, mesmo assim, é um estado sem
garantias de permanência.
3- Tendo em vista que a cidadania é considerada a finalidade síntese da Educação
Básica e que as finalidades da Filosofia no Ensino Médio (Artigo 35 da LDB) estão
diretamente associadas ao contexto geral das finalidades da Educação Básica
(Artigo 32), devemos tomar como ponto de partida para a elaboração dos programas
de filosofia do Ensino Médio uma compreensão da especificidade da Filosofia na
formação da cidadania. Conforme as Orientações para o Ensino Médio relativas à
filosofia, temos que:
A) Cabe-lhe o desenvolvimento da capacidade de análise, de reconstrução racional
e de crítica, a partir da compreensão de que tomar posições diante de textos
propostos de qualquer tipo e emitir opiniões acerca deles é um pressuposto
indispensável para o exercício da cidadania.
B) O estudo de textos filosóficos tem por objetivo específico incentivar os alunos a
formarem pontos de vista bem delimitados que lhes permitam escolher um
determinado partido político no qual se possam filiar conscientemente.
C) Cabe-lhe o desenvolvimento de técnicas, a partir de modelos tirados dos filósofos
ilustres, de produção mental e escrita de textos que se possam classificar como
notadamente filosóficos.
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D) Deve ter como objetivo último formar indivíduos capazes de integrar ou mesmo
criar escolas filosóficas que ponham em discussão os problemas que afligem as
populações, em especial, a juventude.
4- Alguns teóricos europeus são considerados os fundadores do pensamento
político e podem nos ajudar a compreender melhor a construção do conceito
burguês de Estado moderno, são eles, exceto:
A) Thomas Hobbes
B) Karl Marx
C) John Locke
D) Jean-Jacques Rousseau
5- Políticas Educacionais é uma disciplina em construção. Introduzida pelas
sucessivas reformas dos currículos de nossas universidades, corresponde a um
estágio avançado de análise e interpretação da realidade político-educacional.
Sobre a mesma, marque a alternativa incorreta:
A) Na gestão das políticas da educação, e na organização dos diversos setores
organizados da sociedade ligados a educação (sindicatos), tem apresentado
resultados importantes para a luta pela democratização da educação no Brasil.
B) Seu papel ainda é maior por que ao valorizar a ação da cultura do meio escolar,
do sistema de crenças, valores e idéias que orientam os professores e profissionais
de ensino (além de é claro, dos agentes de governo) na gestão das tarefas
educacionais.
C)Apresenta dimensões novas para a formulação de políticas educacionais.
D)A política educacional se preocupa com leis e regras, e não com a pratica da
educação.
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6- Diante da educação feita através dos meios de comunicação de massa, pouco
podem fazer as escolas e universidades. Quando muito, transmitir uma educação
humanista, destinada às classes dirigentes. Porque o trabalhador vai receber a
"cultura de massa", que é uma banalização e uma ridicularização da cultura
popular".
GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório - 11º
ed. - São Paulo: Cortez, 2000, pág. 138.
A leitura do texto apresenta a educação como transmissora de modelos sociais,
difusora de idéias e formadora de cidadãos que reproduzirão a sociedade.
Portanto, é CORRETO afirmar que a educação é:
A)redentora.
B) espontânea.
C) dialética.
D) política.
7- Cabe ao filósofo acompanhar reflexiva e criticamente a ação pedagógica, de
modo a promover a passagem "de uma educação assistemática (...) para uma
educação sistematizada (alçada no nível da consciência filosófica)". (...) O filósofo
indaga a respeito do homem que se quer formar, quais os valores emergentes que
se contrapõem a outros já decadentes e quais os pressupostos do conhecimento
subjacentes aos métodos e procedimentos utilizados. (...) A filosofia tem ainda
tarefas bastante específicas que não podem ser desprezadas."
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo. Editora
Moderna. 2000. p.108.
A respeito desta assertiva e de seus desdobramentos, é CORRETO afirmar:
A) A filosofia ajuda a pensar a educação do futuro, possibilita a desestruturação dos
antigos modelos e mantém os atuais fazeres pedagógicos.
B) A filosofia, mesmo analisando a preponderância de uma determinada ciência nos
fenômenos pedagógicos, não consegue evitar que a educação se transforme em
pseudo-educação.
C) A educação sistemática recupera uma das suas funções mais importantes - que é
a de não sucumbir à desrazão - entretanto, a filosofia colabora muito pouco nesse
processo.
D) A filosofia procede a análises antropológicas, axiológicas e epistemológicas, além
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de observar as dimensões ética e política que estão subjacentes ao processo de
educação formal integral das pessoas.
8- Para o professor J. Carlos Libâneo, “educar (em latim, educare) é conduzir de um
estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de
educação.Sobre esse assunto, marque a alternativa correta:
a) O ato pedagógico pode, então, ser definido como uma atividade sistemática
deinteração entre seres sociais, tanto no nível do intrapessoal como no nível da
influência do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre
sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar neles mudanças tão eficazes
que os tornem elementos ativos desta própria ação exercida.
b) Existe uma interligação no ato pedagógico de três componentes: um agente
(alguém, um grupo, um meio social etc.), uma mensagem transmitida
(conteúdos, métodos, automatismos, habilidades etc.) e um educando (aluno,
grupos de alunos, uma geração etc.)”.
c) Diz ainda o professor Libâneo que o especificamente pedagógico está na
imbricação entre a mensagem e o educando, propiciada pelo agente. Como
instância mediadora, a ação pedagógica torna possível a relação de
reciprocidade entre indivíduo e sociedade. Conclui-se, então, que a educação
não pode ser compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo
a prática social o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica.
d) Todas as respostas estão corretas.
9- A história da humanidade nos mostra o quão entrelaçadas estão à filosofia e a
ciência. Leia atentamente as afirmações que se seguem e, ao final, assinale a
alternativa que indica o grupo CORRETO delas.
I. Descartes, através de seu método para a prática da ciência, rejeita o pensamento
acumulador na tradição. Portanto, o filósofo deve isolar-se para obter a pureza do
pensamento advinda da razão.
II. Na doutrina positivista, a ciência passa por três estados: o teológico, o metafísico
e o positivo.
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III. A principal mensagem de Thomas Kuhn é a de que o trabalho científico é
condicionado por paradigmas, e estes ditam o método e os procedimentos possíveis
em um contexto histórico.
IV. Para Aristóteles, o critério de verdade decisivo para a ciência é a confrontação do
discurso com a experiência.
A) I e II, apenas.
B) I, II e III, apenas.
C) I, II e IV, apenas.
D) II, III e IV, apenas.
10 – O termo educação pode ser conceituado como:
A) Educação é um conceito genérico, mais amplo, que supõe o processo de
desenvolvimento integral do homem, isto é, de sua capacidade física, intelectual e
moral, visando não só a formação de habilidades, mas também do caráter e da
personalidade social.
B) A educaçãoconsiste na transmissão de conhecimentos, enquanto a
doutrinação é uma pseudo-educação que não respeita a liberdade do educando,
impondo-lhe conhecimentos e valores. Nesse processo, todos são submetidos a
uma só maneira de pensar e agir, destruindo-se o pensamento divergente e
mantendo-se a tutela e a hierarquia.
C) A educação tende a dissolver a assimetria entre educador e educando, pois,
se há inicialmente uma desigualdade, esta deve desaparecer à medida que se torna
eficaz a ação do agente da educação. O bom educador é, portanto, aquele que vai
morrendo durante o processo.
D) Todas estão corretas.