Curso de Escrita Acadêmica-UERJ
-
Upload
luizinhocroset -
Category
Documents
-
view
398 -
download
0
description
Transcript of Curso de Escrita Acadêmica-UERJ
-
Sebastio Josu Votre
Vincius Carvalho Pereira
Volume nico
Redao de Textos Acadmicos
Apoio:
-
Material Didtico
V971Votre, Sebastio Josu. Redao de textos acadmicos. volume nico / Sebastio Josu Votre; Vincius Carvalho Pereira - Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2011. 37837p.; 19 x 26,5 cm.7
ISBN: 978-85-7648-709-8 1. Redao. 2. Gneros textuais I. Pereira, Vincius CarvalhoII. Ttulo.
CDD: 808.06
Referncias Bibliogrfi cas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Copyright 2010, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj
Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.
ELABORAO DE CONTEDOSebastio Josu VotreVincius Carvalho Pereira
COORDENAO DE DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALCristine Costa Barreto
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL E REVISO Cristiane Brasileiro
Fundao Cecierj / Consrcio CederjRua Visconde de Niteri, 1364 Mangueira Rio de Janeiro, RJ CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
PresidenteMasako Oya Masuda
Vice-presidenteMirian Crapez
Coordenao do Curso de LetrasUFF - Livia Reis
Departamento de Produo
2011.1
EDITORFbio Rapello Alencar
COORDENAO DE REVISOCristina Freixinho
REVISO TIPOGRFICACarolina GodoiCristina FreixinhoElaine BaymaRenata Lauria
COORDENAO DE PRODUORonaldo d'Aguiar Silva
DIRETOR DE ARTEAlexandre d'Oliveira
PROGRAMAO VISUALAlexandre d'OliveiraJanaina SantanaRicardo PolatoRonaldo d'Aguiar SilvaSanny Reis
ILUSTRAOJefferson Caador
CAPAJefferson Caador
PRODUO GRFICAVernica Paranhos
-
Universidades Consorciadas
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia
Governador
Alexandre Cardoso
Srgio Cabral Filho
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia
Governador
Alexandre Cardoso
Srgio Cabral Filho
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIROReitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho
UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Vieiralves
UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman
UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROReitor: Ricardo Motta Miranda
UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROReitor: Alosio Teixeira
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles
-
Aula 1 Gneros e tipos textuais _________________________________ 7 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 2 Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura _______ 39 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 3 Coeso textual _______________________________________ 65 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 4 Coerncia textual _____________________________________ 97 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 5 Argumentao ______________________________________ 127 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 6 Fichamento, resumo e resenha __________________________ 169 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 7 Projeto de pesquisa e relatrio __________________________ 197 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 8 Artigo cientfi co e monografi a __________________________ 247 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 9 Gneros textuais educacionais: ementa, programa de curso, prova escrita, apostila, manual e material para EAD _________ 295 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Aula 10 Reforma ortogrfi ca e regras da norma padro _____________ 335 Sebastio Josu Votre / Vincius Carvalho Pereira
Referncias ______________________________________________ 369
Redao de Textos Acadmicos
SUMRIO
Volume nico
-
objetivos1
Meta da aula
Apresentar os conceitos de gneros e tipos textuais.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
1. identifi car exigncias macro e microestruturais dos gneros e tipos textuais;
2. distinguir os conceitos de gneros e tipos textuais.
Gneros e tipos textuaisSebastio Josu Votre
Vincius Carvalho Pereira AULA
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
8 CEDERJ
Ler completa o homem.
Sir Francis Bacon (1562-1626)
INICIANDO O PERCURSO
Figura 1: Escrever bem um desafi o que percorre toda a nossa vida acadmica e profi ssional.
Fonte: http://www.sxc.hu/pic/s/r/ro/rolve/1115824_laptop_keyboard_2.jpg
Ol! Seja bem-vindo ao nosso curso de Redao de Textos
Acadmicos! Estamos agora comeando um percurso de leituras,
releituras e escritas dos diversos gneros textuais que fazem parte da vida
de quem estuda, d aulas ou simplesmente quer melhorar sua produo
escrita. Assim, nesta disciplina voc ganhar intimidade com o texto
acadmico e mais segurana para trabalhar com ele.
importante que voc perceba que o domnio das habilidades
de comunicao escrita fundamental para seu sucesso na universidade
e no mercado de trabalho. Ao corrigir uma prova, um professor no
avalia apenas o contedo que o aluno ps no papel, mas a forma como
isso foi feito: se o texto foi redigido com clareza, coeso, coerncia... Se
pensarmos bem, alis, veremos que s ao ganhar forma que o contedo
passa a existir diante do leitor. Alm disso, ao fi nal de muitos cursos de
graduao ou ps-graduao, preciso elaborar um trabalho de concluso,
apresentando um estudo um pouco mais longo e detalhado sobre um tema
de seu interesse. Muitos alunos, inclusive, temem essa etapa do curso
porque no se familiarizaram com a redao desse gnero de texto.
-
CEDERJ 9
Da mesma forma, no mercado de trabalho, formulrios, relatrios e
e-mails circulam o tempo todo, exigindo que o funcionrio esteja preparado
para se comunicar com efi cincia por escrito em cada situao, atendendo
s suas demandas especfi cas. J professores, mais especifi camente, so
chamados a produzir textos e publicar com frequncia, j que muito do
seu currculo se constri sobre esse tipo de atividade.
Por tudo isso, nesta disciplina, voc travar contato com vrias
formas de textos acadmicos, com foco nas particularidades de cada
um deles. Alm disso, em momentos oportunos, vamos discutir algumas
questes gramaticais que podem incomodar quem escreve, dando nfase
sempre ao que mais produtivo e recorrente na escrita universitria. O
objetivo, no entanto, no uma memorizao chata e pouco prtica.
Afinal, basta consultar qualquer gramtica ou site de busca para
encontrar a explicao de determinada exceo ou ponto gramatical
menos conhecido. Na era da informao, est mais bem preparado no
quem acumula um nmero maior de dados, mas quem sabe manipul-
los, interpret-los e apresent-los de forma mais clara e efi ciente. Assim,
queremos que voc seja um leitor e um redator cada vez mais efi ciente
e autnomo, capaz de encontrar, decodifi car, utilizar e comunicar as
informaes de que precisa ou que lhe so solicitadas.
Ento, mos obra?
Atende ao Objetivo 1
1. Observe os textos I, II e III, ao fi nal desta atividade, e responda s per-guntas subsequentes:
1.1 Apesar de todos esses textos falarem a respeito de um mesmo tema cogumelos , so bem diferentes entre si, pois foram produzidos em distintas situaes, com objetivos prprios. Identifi que, para cada um dos textos:
a) que categoria de textos ele pertence (propaganda, romance, receita, soneto, reportagem etc.)
ATIVIDADE
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
10 CEDERJ
b) sua fi nalidade central;
c) os principais leitores que se pretende alcanar.
1.2. Diferentes categorias de texto apresentam a informao de maneiras distintas, a depender de sua fi nalidade (didtica, informativa, persuasiva etc.). Isso faz com que as formas de l-los sejam tambm diferentes, variando de acordo com os objetivos do leitor. Observe os textos II e III, por exemplo. Eles pressupem formas semelhantes de leitura? O tipo de informao que seus respectivos leitores buscam o mesmo? Justifi que sua resposta.
1.3. Diferentes categorias de texto tambm apresentam escolhas lingusticas (palavras, construes sintticas, pontuao etc.) distintas. Observe agora os textos I e IV. As formas verbais que neles aparecem esto sendo empre-gadas no mesmo modo (indicativo, subjuntivo ou imperativo)? Relacione isso com as diferentes fi nalidades a que esses textos se propem.
Indicativo modo verbal geralmente usado quando o falante v como certa a ao expressa pelo verbo. Exemplo: Maria abriu a porta.
Subjuntivo modo verbal geralmente usado quando o falante v como hipottica a ao expressa pelo verbo. Exemplo: Talvez Maria abra a porta.
-
CEDERJ 11
Imperativo modo verbal geralmente usado quando o falante v como uma ordem ou um pedido a ao expressa pelo verbo. Exemplo: Maria, abra a porta!
Texto ISopa de creme de cogumelos
INGREDIENTESsalsa;1 kg de ossos para sopa;2 folhas de louro;1 colher (sopa) de gros de pimenta;125 g de cebolas pequenas e redondas;400 g de cogumelos frescos;30 g de manteiga;sal e pimenta;molho ingls;4 colheres (sopa) de cherry;
200 g de nata.
MODO DE PREPARO: Ferva os ossos, as folhas de louro, os gros de pimenta e metade dos cogumelos lavados em 1/2 litro de gua. Cozinhe em fogo brando durante 1/2 hora. Passe por um passador. Descasque as cebolas e pique-as fi no. Limpe o resto dos cogumelos e passe-os por gua corrente. Numa panela, frite a cebola em manteiga. Junte os cogumelos lavados e frite bem. Retire 1/3 dos cogumelos da panela e ponha-os de parte. Regue os cogumelos restantes com o caldo de carne passado (cerca de 1 litro) e cozinhe em fogo brando durante 15 minutos. Bata a sopa no liquidifi cador e tempere bem com sal, pimenta, molho ingls, cherry e nata. Acrescente os cogumelos fritos sopa e aquea-a bem. Polvilhe com salsa picada.
Texto II Cogumelos atraem turistas de todo o pas fazenda mostra diversas formas de cultivo e ensina produtores
Turistas e produtores rurais de todo o pas esto descobrindo a mais nova atra-o do Vale do Paraba, a Fazenda Guirra, mais conhecida como a Fazenda dos Cogumelos. Entre as maiores atraes do local, o cultivo de diversas qualidades de cogumelos atrai pela lucratividade, que representa mais do que o dobro do investido pelo produtor.Os cogumelos so iguarias apreciadas pelos gourmets mais exigentes, como os franceses, italianos, americanos, chineses, e claro, japoneses. No Brasil, o consumo de cogumelos est ganhando espao entre os restaurantes mais requintados. Para atender a demanda do mercado, produtores rurais esto abdicando de outras culturas e aprimorando-se na arte de cultivar cogumelos.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
12 CEDERJ
Na Guirra, os visitantes aprendem as tcnicas necessrias para garantir uma boa produo com baixos investimentos. Alm da teoria, eles aprendem na prtica como montar estufas, inocular as toras de eucaliptos, desenvolver compostos para o cultivo de outros gneros de cogumelos, alm de aproveitar os resduos em hortas orgnicas.Os cursos acontecem nos fi nais de semana e renem grupos de 60 a 70 pessoas. Segundo o proprietrio da fazenda e zootecnista, Carlos Abe, que ministra os cursos, o cultivo do cogumelo atraente devido ao baixo investimento e lucratividade.O shiitake, por exemplo, desenvolve-se em toras de eucaliptos. Cada tora produz praticamente 1 quilo do cogumelo e exige um investimento na ordem de R$ 8,00 cada. No mercado, o quilo do produto negociado a R$ 17 e repassado aos con-sumidores por at R$ 30.(...)Por ms, a Fazenda Guirra exporta duas toneladas de cogumelos para o Japo. Produtores da regio do Vale do Paraba e de outros estados do pas, que j passa-ram pelo local, j esto cultivando e comercializando os cogumelos alguns deles tambm exportam para outros pases.(...)
Texto IIISubstncias encontradas em 100 gramas de cogumelo-do-sol
Elementos determinados Valores encontrados
Umidade 9,67%
Lipdios 1,48%
Protenas 30,13%
Cinzas 9,37%
Fibra bruta 14,57%
Fsforo 0,87%
Potssio 2,34%
Clcio 0,07%
Magnsio 0,08%
Enxofre 0,29%
Cobre 61,88 mcg
Zinco 86,90 mcg
Ferro 79,13 mcg
Glicdios 34,78%
Fonte: http://www.unifenas.br/pesquisa/revistas/download/ArtigosRev2_99/pag169-172.pdf
-
CEDERJ 13
Texto IV Doenas fngicas e fungos competidores em cogumelos comestveis do gnero Agaricus
Leila Nakati Coutinho
Os cogumelos comestveis, apreciados em muitas dietas europeias e orientais, vm crescendo de importncia nos ltimos anos, j que o seu cultivo tem sido apontado como uma alternativa para incrementar a oferta de protenas s populaes de pases em desenvolvimento e com alto ndice de desnutrio. Sob o ponto de vista nutricional, considerando o elevado contedo proteico dos mesmos, isso possibi-lita reciclar economicamente certos resduos agrcolas e agroindustriais. A cultura considerada uma atividade de ambiente protegido e tem mostrado um notvel incremento em diversos pases.A literatura especializada cita aproximadamente cerca de 2.000 espcies potencial-mente comestveis, porm apenas 25 delas so normalmente utilizadas na alimen-tao humana e um nmero ainda menor tem sido comercialmente cultivado. No Brasil, a primeira espcie cultivada foi o champignon de Paris [Agaricus bisporus (Lange) Singer]. Segundo a literatura nacional, o incio do cultivo em escala comercial parece datar dos anos 50. No existe uma documentao segura que permita localizar no tempo o incio do cultivo dessa espcie no Brasil, sendo certo, no entanto, que a popularizao de seu hbito alimentar na regio centro-sul data de uns 40 anos.Ao que tudo indica, quem primeiro deu incio a estudos sobre o assunto no mbito da Secretaria da Agricultura do Estado de So Paulo, tratando principalmente de adaptar a tecnologia estrangeira s nossas condies, foi Jlio Franco do Amaral que trabalhou no Instituto Biolgico.Embora recentemente a farta divulgao tenha despertado grande interesse pelo cogumelo comestvel e j existam cultivos altamente especializados nos quais so empregados equipamentos sofi sticados no Estado de So Paulo, a maior parte dos cultivos so ainda hoje rudimentares e conduzidos por famlias chinesas provenientes de Taiwan. Os mtodos de plantio mais frequentemente utilizados so resultado de uma experincia herdada por muitas geraes, porm destitudos de aprimoramento tcnico em decorrncia da falta de conhecimentos cientfi cos mais aprofundados.
(...)
RESPOSTAS COMENTADAS
1.1.a.
Texto I: receita, pois o texto est dividido em ingredientes e modo
de preparo, ensinando o passo a passo para cozinhar uma sopa
de creme de cogumelos.
Texto II: notcia, pois o texto se estrutura em pargrafos breves e
informativos, que relatam as experincias e estratgias comerciais
da Fazenda Guirra.
Texto III: tabela nutricional, pois o texto se estrutura em duas colunas:
uma com os nutrientes, outra com suas porcentagens encontradas
em 100g de cogumelo-do-sol.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
14 CEDERJ
Texto IV: texto acadmico, pois o autor no se limita apresentao
dos fatos, dedicando-se a justifi c-los e/ou discuti-los e embasando
sua argumentao em literatura especializada.
1.1.b.
Texto I: ensinar ao leitor como preparar determinado prato.
Texto II: informar ao leitor o sucesso econmico do cultivo de cogu-
melos em determinada fazenda.
Texto III: apresentar ao leitor dados nutricionais sobre cogumelos.
Texto IV: informar ao leitor certa descoberta cientfi ca sobre cogu-
melos.
1.1.c.
Texto I: pessoas interessadas em culinria
Texto II: leitores em geral de peridicos
Texto III: pessoas que seguem regimes alimentares
Texto IV: leitores acadmicos
1.2. O texto II pressupe uma leitura menos compromissada, em que
o leitor geralmente l apenas uma vez o texto. O texto III, no entanto,
serve como material de consulta. Ao l-lo, o indivduo provavelmente
busca uma informao especfi ca, no variedades.
1.3. Como o texto I visa a ensinar algo ao leitor, dando-lhe regras
para que se execute determinado procedimento, h uma predomi-
nncia de verbos no imperativo. Por outro lado, como o texto IV visa
a informar ao leitor uma descoberta cientfi ca, calcada em fatos e
certezas, apresenta a maioria dos verbos no indicativo.
-
CEDERJ 15
CONHECENDO OS GNEROS TEXTUAIS
Figura 2: Os gneros textuais so defi nidos em funo das variadas situaes em que so usados.
Fonte (vegetais): http://www.sxc.hu/pic/m/t/to/toutouke/1234596_vegetables.jpg
Fonte (estetoscpio): http://www.sxc.hu/pic/m/b/ba/barky/1080262_stethoscope_2.jpg
Fonte (jornal): http://www.sxc.hu/pic/m/l/lu/lusi/1102355_my_daily.jpg
Ao realizar a atividade 1, voc pde observar um pouco da grande
diversidade de categorias de texto que circulam em nosso dia a dia.
Sem nos darmos conta, aprendemos na vida em sociedade como lidar
com cada um deles e quando e onde deve-se usar um ou outro. A essas
categorias de texto, defi nidas pela situao de uso, chamamos de gneros
textuais ou gneros discursivos. Um gnero textual est sempre inserido
em uma esfera de circulao, isto , em um conjunto de contextos sociais
em que ele produzido (escrito ou falado) e recebido (lido ou ouvido).
Assim, o gnero receita, como o texto I desta aula, pertence esfera da
culinria. J o gnero notcia, como o texto II desta aula, pertence
esfera jornalstica, enquanto o gnero tabela nutricional, como o texto
III desta aula, pertence esfera da sade.
importante que voc domine o maior nmero de gneros textuais
possvel, pois isso o ajudar nas diferentes esferas de comunicao com
as quais se defronta na vida cotidiana. Afi nal, saber falar, ouvir, escrever
e ler bem no se resume s regras de concordncia ou de regncia;
comunicar-se com efi cincia ser capaz de reconhecer as exigncias
de cada situao e adequar-se s expectativas daquele com quem voc
precisa interagir.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
16 CEDERJ
Nesta disciplina, voc aprender a comunicar-se em diversos
gneros textuais da esfera acadmica, a que, alis, pertence o texto IV da
Atividade 1, o qual um fragmento de artigo cientfi co. Selecionamos para
este curso os principais gneros da escrita acadmica, embora haja uma
quantidade enorme deles, a saber: artigos cientfi cos, relatrios cientfi cos,
notas de aula, dirios de campo, teses, dissertaes, monografi as, artigos
de divulgao cientfi ca, resumos de artigos, de livros, de conferncias,
resenhas, comentrios, projetos, manuais de ensino, bibliografi as, fi chas
catalogrfi cas, currculos vitae, memoriais, pareceres tcnicos, sumrios,
bibliografi as comentadas, ndices remissivos, glossrios etc.
Porm, antes de conhecer mais a fundo os gneros da esfera de
circulao acadmica, preciso que voc entenda que fatores determinam
as caractersticas de forma e contedo de um gnero textual:
Tempo
Um gnero textual surge sempre vinculado a um momento
histrico, em que determinada necessidade humana exigiu uma forma
especfi ca de comunicao. Na poca em que ainda no havia a internet,
muitas pessoas se comunicavam por meio do gnero carta, que, embora
mantenha algumas semelhanas com o gnero e-mail, apresenta certas
particularidades. Cartas costumavam ser mais longas do que e-mails,
porque o tempo entre uma correspondncia e outra, bem como o gasto
envolvido, era necessariamente maior. Assim, era preciso garantir que
todas as informaes necessrias fossem transmitidas com clareza logo
na primeira carta. Com e-mails, muitas vezes mandamos apenas frases
curtas, pois possvel trocar vrios deles ao longo do dia, literalmente
conversando por meio de textos desse gnero.
Alm disso, a questo do tempo envolve o momento em que a
mensagem escrita/falada e o momento em que lida/ouvida. Desse
modo, um gnero em que a produo e a recepo da mensagem
ocorram ao mesmo tempo costuma apresentar menos informaes para
contextualizar o receptor. Veja a seguir, por exemplo, uma transcrio
de dilogo entre duas mulheres.
-
CEDERJ 17
Transcrio
L1: De massa, eu adoro. Me pego sempre indo num restaurante
de massa ou num rodzio... No d pra ser magrinha assim, n?
L2: Sei... Tambm... (risos)
L1: Tambm adoro fazer... gosto de comer e fazer. Esse aqui, ,
timo... Receita que eu peguei da minha irm... Que ela adora
tambm, n?
L2: Nem fala...
L2: Que eu peguei quando ela tava casada. Olha a cor... Voc faz
um molho... um molho que leva vrios queijos...
L1: Hum...
L2: Voc coloca cebola pra dourar junto com manteiga. Com
manteiga ou margarina. A, voc acrescenta os queijos. Tambm
leva vinho... Vinho branco depois dos queijo derretido... S duas
colheres de sopa.
PEUL Programa de Uso da Lngua UFRJ
Observe que entre os interlocutores houve comunicao efi caz,
mesmo com o emprego de frases que, para voc, neste momento, sejam
difceis de entender plenamente, como Olha a cor. Como voc est
recebendo essa mensagem em um momento diferente de quando ela foi
produzida, no sabe a que cor o informante L2 se referia. No entanto,
como L1 ouviu essa frase no mesmo momento e no mesmo lugar onde
L2 estava, foi fcil saber de que cor L2 estava falando.
Como nesta disciplina voc vai aprender a redigir e ler textos
acadmicos, importante que voc perceba a importncia de, quando
redigir seus textos, pensar no seu leitor. Ele ter acesso mesma situao
em que voc escreveu o seu texto? Provavelmente, ele o ler em outro
momento; logo, fundamental que voc explicite as informaes que
no podero ser recuperadas a partir do contexto.
Lugar
Quando nos referimos a lugar, h dois fatores relevantes quanto
aos gneros textuais. O primeiro deles o lugar fsico da produo
e recepo dos textos (escola, escritrio, casa, empresa, mdia), que
defi ne boa parte das escolhas textuais. Um bilhete escrito em casa tem
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
18 CEDERJ
um formato diferente de uma circular no ambiente de trabalho, o que
envolve no s o grau de formalidade, como tambm as particularidades
dos assuntos discutidos em locais to distintos.
No lugar fsico da universidade, do laboratrio ou da empresa,
exige-se um grau maior de formalidade, tanto na comunicao oral
quanto na escrita. frequente, por exemplo, o insucesso em entrevistas
de emprego quando jovens falam muitas grias ou gesticulam de
forma exagerada, recursos comunicativos vlidos, mas no pertinentes
ao ambiente profissional. Nesse caso, melhor deix-los para a
comemorao com os amigos aps a entrevista, na qual voc deve se
portar de maneira mais reservada e dentro das normas de formalidade
que se espera do entrevistado.
Da mesma maneira, quando nos comunicamos por escrito em
situaes menos formais, como em bilhetes, e-mails entre amigos,
mensagens de texto em celulares ou softwares de mensagens instantneas,
preocupamo-nos menos com a forma e mais com a velocidade da
comunicao. No entanto, no ambiente acadmico a forma muito
importante. Assim, voc no deve descuidar de questes como a
concordncia, a pontuao, a ortografi a etc.
Outra questo para a qual voc tem de prestar ateno enquanto
escreve o fato de que muitas vezes o autor e o leitor no esto no mesmo
lugar quando interagem com o texto. Assim, ao redigir um relatrio sobre
um experimento, por exemplo, voc no deve escrever esta substncia
mudou de cor. Se o leitor ler o texto em outro lugar, possivelmente
longe da substncia de que voc est falando, no faz sentido a palavra
esta, que faz referncia a um local prximo. Seria melhor, portanto,
se voc redigisse a substncia analisada mudou de cor, pois no h
uma noo espacial atrelada expresso a substncia.
Alm do lugar fsico da produo e da recepo do texto, a
posio social do produtor e do receptor tambm infl uencia no gnero
textual e nas escolhas lingusticas. Desse modo, um texto escrito para um
colega diferente de um texto escrito para o professor ou para o patro.
Note, por exemplo, que o Manual de Redao Ofi cial da Presidncia da
Repblica recomenda diferentes formas de encerrar uma comunicao
ofi cial, a depender da hierarquia entre remetente e destinatrio. Assim,
de acordo com essas regras que normatizam os textos circulantes nos
rgos pblicos federais, um ofcio escrito para um superior deve conter
-
CEDERJ 19
a despedida respeitosamente (seguida de vrgula), enquanto um ofcio
escrito para algum de nvel hierrquico igual ou inferior deve apresentar
a forma atenciosamente (seguida de vrgula).
Porm, como as relaes de hierarquia dentro do mercado de
trabalho nem sempre so to claras ou devem ser to ressaltadas ,
sugerimos uma dica: o melhor seguir o padro adotado pelo remetente.
Se este formal mesmo em conversas de corredor ou e-mails, faa como
ele; por outro lado se voc recebe uma mensagem que se encerra por um
abrao, pode soar rude responder com o protocolar atenciosamente.
Nessas horas, deve prevalecer o bom senso. Por fi m, importante notar,
nessas situaes, que quem assiste a apresentaes desse tipo espera que
o expositor tambm saiba usar produtivamente a prpria voz como canal
de comunicao. Ademais, essa fala deveria se articular com os slides,
comentando e completando-lhe as informaes, e no repetindo-as.
Para se familiarizar ainda mais com as tcnicas de produo de slides, d uma olhada nestes sites:http://tecnologia.uol.com.br/especiais/ultnot/2006/01/16/ult2888u135.jhtmhttp://www.geocities.com/Athens/Marble/4925/aula1.htm
Canal
Falar/ouvir e ler/escrever so pares de habilidades muito
diferentes, que exigem competncias distintas. Os recursos de
comunicao so outros, as estruturas gramaticais que usamos s
vezes tambm mudam, bem como algumas palavras que usamos mais
na oralidade ou na escrita.
Um erro frequente de alguns alunos no prestar ateno a
essas diferenas, escrevendo como se fala, de modo a obedecer ao fl uxo
ininterrupto de ideias. Isso gera textos confusos, assim como algum que
fala como se estivesse escrevendo, pensando demais e usando construes
sintticas ou palavras muito complexas. por isso que um gnero
textual deve estar intimamente relacionado ao canal ou meio pelo qual
a mensagem ser comunicada.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
20 CEDERJ
Veja, por exemplo, que, ao fazer um seminrio, utilizam-se
comumente softwares para apresentaes em slides. Muitas dessas
apresentaes, no entanto, so malsucedidas porque seus elaboradores
no atentam para o fato de que slides e papel so canais diferentes,
exigindo maneiras tambm diversas de organizar as informaes a serem
expostas. Enquanto o papel fi ca na mo do leitor, que pode consult-lo
quantas vezes quiser, no seu prprio ritmo de leitura, um slide exposto
em superfcies planas distantes, por um curto espao de tempo. Assim,
no adianta pr muitos dados ou textos longos no slide, pois esse canal
no permite confortvel leitura por muito tempo consecutivo. prefervel
utilizar pequenos tpicos, fi guras e grfi cos e deixar para o papel textos
que exijam mais tempo e concentrao na leitura.
Objetivo da interao
A escolha do gnero textual deve levar em conta a intencionalidade
discursiva, isto , o objetivo que leva as pessoas a se comunicarem. Tais
objetivos podem estar explcitos ou implcitos no texto e devem ser
claramente percebidos por aquele que fala, pois diferentes objetivos
requerem estratgias discursivas diferentes.
Na rea de educao, por exemplo, comum que se exija dos
alunos a redao de textos de opinio, a fi m de que eles se posicionem
diante de algum tema polmico. Nesse caso, o objetivo do texto expor
um ponto de vista acerca de algo, o que exige estratgias discursivas
argumentativas e determinadas construes lingusticas, como conjunes
que expressam causa/consequncia, adjetivos avaliativos etc. No atentar
para esses fatores implicaria escrever um gnero textual diferente, o que
causaria problemas de comunicao.
O conjunto desses fatores externos ao texto defi ne caractersticas
internas dos gneros textuais, como a organizao das informaes, a
escolha de palavras, as construes lingusticas etc. Para ler e escrever
com propriedade qualquer gnero textual, preciso conhecer a
estrutura de cada um deles. Nas prximas aulas, voc ver quais so
as caractersticas macroestruturais e microestruturais dos principais
gneros acadmicos.
-
CEDERJ 21
Atende ao Objetivo 1
2. A seguir, h dois textos com a mesma temtica, mas pertencentes a gneros diferentes: o texto I um cartum, enquanto o texto II uma notcia. Leia-os atentamente para responder a estas perguntas:
2.1. O texto I pertence ao gnero cartum, semelhante tira em quadrinhos mas formado geralmente por uma nica cena, com carter humorstico. Levando em considerao que o humor est intimamente relacionado quebra de expectativas, em que reside o humor desse cartum?
2.2. Frequentemente, reduz-se o humor quilo que faz rir, como se seu nico objetivo fosse a comicidade. Levando em considerao o que voc aprendeu nesta aula sobre intencionalidade discursiva, pode-se dizer que o texto I visa exclusivamente a fazer o leitor rir? Justifi que sua resposta.
2.3. Chamamos de intertextualidade o fenmeno segundo o qual dois ou mais textos dialogam entre si, isto , tm um ponto em comum, no que diz respeito ao contedo. A partir desse conceito, responda:
a. Em que medida se aproximam os textos I e II?
b. Em que medida diferem os textos I e II?
2.4. Que interlocutores o autor do texto II demonstra que tinha em mente ao redigi-lo? Membros da comunidade acadmica? Leigos? Justifi que sua resposta com base na linguagem empregada no texto.
ATIVIDADE
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
22 CEDERJ
Texto I
Texto IIProibio de celular na escola vira polmica em SP
Lei aprovada na semana passada pela Assembleia bane os aparelhos das
salas de aula. Alm de conversar, estudantes usam os telefones para colar
nas provas.
Do G1, com informaes do Fantstico
Um projeto aprovado pela Assembleia Legislativa de So Paulo na semana passada est gerando polmica: ser que o celular deve ser banido das salas de aula? Hoje, em algumas escolas do estado, em cada carteira possvel encontrar um celular.Na teoria, o celular j proibido em algumas escolas estaduais de So Paulo, mas, na prtica, os alunos usam o telefone at para falar com a me durante a aula. Voc obrigada a parar a aula, chamar a ateno e, muitas vezes, ouve minha me! E eu digo: sua me no sabe que voc est na aula?, conta uma professora.Na semana passada, a Assembleia Legislativa de So Paulo aprovou um projeto de lei que probe pra valer esses aparelhinhos dentro das classes. Os alunos querem saber quais as punies e at mesmo se podem ser presos por descumprir a ordem.A nova lei quer evitar que os alunos se distraiam, que atrapalhem os colegas e pretende coibir tambm abusos como o caso de estudantes que usam o aparelho para colar nas provas. O professor no v o celular debaixo da mesa, no bolso. A gente vai passando cola, diz um deles.Eles usam mensagens de texto para passar cola com os celulares. Mas h at quem tire foto da prova ou de uma questo e mande para o amigo. A lei que probe celu-lares em sala de aula ainda no entrou em vigor, pois precisa ser aprovada pelo governador de So Paulo, Jos Serra.
-
CEDERJ 23
RESPOSTAS COMENTADAS
2.1. Ao ver no quadro-negro um aviso sobre celulares, o leitor do
cartum imagina que os alunos tenham consigo esses aparelhos, e
no itens de artilharia.
2.2. Alm de fazer o leitor rir, o texto II suscita refl exes no s sobre
o uso de celulares, mas sobre a relao professor-aluno.
2.3.
a. Ambos os textos apresentam a questo da proibio do uso
dos celulares em sala de aula e a reao dos alunos a essa inter-
dio.
b. No que diz respeito ao contedo, o texto I ironiza a reao nega-
tiva dos alunos, enquanto o texto II discute as questes legais em
torno dessa proibio. Tal diferena de certa forma, resultante da
distino das formas como esses textos foram escritos. Sendo o texto
I um cartum, estrutura-se de forma breve, com linguagem verbal e
no verbal, visando a efeitos humorsticos. J o texto II, sendo uma
notcia, tem comprometimento com os fatos e as justifi cativas das
aes relatadas, devendo se estender em explicaes e exemplos.
2.4. As escolhas lingusticas do autor, como as palavras empre-
gadas e as construes frasais, no exigem grau aprofundado de
conhecimento prvio sobre o assunto. Isso caracteriza os textos
escritos para o grande pblico, em que se usa s vezes at mesmo
a linguagem informal para se aproximar do leitor, como no trecho
probe para valer esses aparelhinhos. Assim, em vez do jargo
que s o especialista compreenderia, no texto II optou-se por uma
escrita acessvel ao leitor leigo.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
24 CEDERJ
CONHECENDO OS TIPOS TEXTUAIS
Figura 3: Os tipos textuais so defi nidos em funo das caractersticas internas do texto.Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/y/yw/ywel/948188_learning_with_pencil.jpg
At agora, voc viu nesta aula alguns gneros textuais, suas
caractersticas e os fatores externos que os defi nem. A partir de agora,
vamos estudar a relao dos gneros textuais com outro conceito
importante da Lingustica: os tipos (ou modos) textuais.
Um tipo textual envolve a seleo do carter da informao a ser
apresentada em um texto, bem como a maneira de faz-lo. Enquanto o
gnero condicionado por fatores externos, como tempo, lugar, canal
e objetivo, como voc viu anteriormente, o tipo textual defi nido a
partir das caractersticas internas do texto: os dados que ele veicula e
as palavras e frases que o constituem. preciso atentar, porm, para o
fato de que um gnero textual muitas vezes composto por mais de um
tipo textual. Como exemplo, observe o texto a seguir.
Desmatamento prejudica pssaros amaznicos
13 de janeiro de 2007
O desmatamento da Floresta Amaznica, que resulta em fragmen-
tos pequenos e isolados de habitats, tem efeitos consistentemente
negativos sobre vrias espcies de pssaros na fl oresta, sugere
estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores brasileiros
e que foi publicado na edio desta semana da revista Science.
Durante treze anos, Gonalo Ferraz, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amaznia, em Manaus, e seus colegas realizaram
-
CEDERJ 25
um estudo experimental de ampla escala no Projeto Dinmica
Biolgica dos Fragmentos Florestais, visando quantifi car os efeitos
do tamanho dos fragmentos e seu isolamento sobre 55 espcies de
pssaros da Amaznia Central. Originalmente, todos os 23 trechos
fl orestais analisados faziam parte de uma fl oresta contgua, porm
11 desses trechos eventualmente foram isolados por fazendas.
A metodologia separa os efeitos do tamanho e do isolamento,
e tambm leva em conta o fato de que espcies diferentes so
detectadas de forma diferente. Ferraz e seus colegas chegaram
concluso de que o tamanho do fragmento fl orestal tem efeito
negativo na ocorrncia das espcies, e que um menor nmero
de espcies de pssaros se mantm nos fragmentos de menor
tamanho. O isolamento desses fragmentos das reas maiores da
fl oresta geralmente tambm tem efeito negativo, porm tal efeito
varia consideravelmente dependendo da espcie. Os cientistas
preveem que, com a destruio ainda maior da fl oresta, h a
expectativa de que haja maior perda de espcies e que os efeitos
do isolamento sejam mais graves.
Como voc pde perceber, o texto citado se enquadra no gnero
notcia, tendo sido publicado no ano de 2007 e divulgado pela internet.
Como as notcias veiculam informaes para serem consumidas logo
aps sua produo, fi cando desatualizadas em muito pouco tempo,
geralmente so textos curtos, que possam ser lidos rapidamente. Seu
objetivo informar o leitor sobre eventos pontuais, no se estendendo a
refl exes mais profundas sobre o tema. Para isso, h o gnero reportagem,
composto por textos mais longos e refl exivos.
A notcia Desmatamento prejudica pssaros amaznicos
apresenta mais de um tipo textual em sua composio, podendo-se destacar
as sequncias narrativas e expositivas. Veja os trechos a seguir:
(...) estudo desenvolvido por uma equipe de pesquisadores brasilei-
ros e que foi publicado na edio desta semana da revista Science.
Durante treze anos, Gonalo Ferraz, do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amaznia, em Manaus, e seus colegas realizaram
um estudo experimental de ampla escala no Projeto Dinmica
Biolgica dos Fragmentos Florestais (...)
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
26 CEDERJ
Ferraz e seus colegas chegaram concluso de que o tamanho
do fragmento fl orestal tem efeito negativo na ocorrncia das
espcies (...)
Nessas passagens, o foco do contedo so as aes dos cientistas,
como se percebe na recorrncia a substantivos que se referem a esses
indivduos. A informao foi organizada de forma narrativa, em que se
enumeram atividades conduzidas pelos cientistas, como a publicao
de um texto, a realizao de um estudo e a chegada a uma concluso.
Para tanto, o autor da notcia empregou verbos no PRETRITO PERFEITO DO
INDICATIVO, tempo verbal frequente para descrever as aes passadas em
uma narrativa.
Porm, as aes dos pesquisadores no so o foco principal dessa
notcia. A maioria dos leitores desse texto est interessada nas concluses
da pesquisa, mais do que nos procedimentos adotados pelos cientistas.
Assim, embora o tipo textual narrativo esteja presente nesse texto, o tipo
textual predominante o expositivo, notado a partir do ttulo.
Para informar ao leitor como o desmatamento prejudica os
pssaros amaznicos, o autor se vale de frases com construes diferentes
das analisadas anteriormente. Observe:
O desmatamento da Floresta Amaznica, que resulta em fragmen-
tos pequenos e isolados de habitats, tem efeitos consistentemente
negativos sobre vrias espcies de pssaros na fl oresta (...)
(...) um menor nmero de espcies de pssaros se mantm nos
fragmentos de menor tamanho. O isolamento desses fragmentos
das reas maiores da fl oresta geralmente tambm tem efeito
negativo, porm tal efeito varia consideravelmente dependendo
da espcie.
Veja que, nesses trechos, a nfase no recai mais nos especialistas,
mas sim nos pssaros e na fl oresta, designados por diferentes estruturas
substantivas. Alm dessa diferena no plano do contedo, h tambm
mudanas no que diz respeito forma. Enquanto as sequncias narrativas
apresentavam verbos no pretrito do indicativo, a predominncia nas
sequncias expositivas de verbos no presente do indicativo, pois esse
tempo geralmente empregado para apresentar fatos atemporais, isto
, que so verdade a qualquer momento.
PRETRITO PERFEITO DO INDICATIVO
Tempo verbal que geralmente expressa aes terminadas no passado.
-
CEDERJ 27
A seguir, observe mais um texto, em que esto presentes outros
tipos textuais:
Instrues gerais para o trabalho no laboratrio
REGRAS DE SEGURANA
1- O laboratrio um lugar de trabalho srio. Trabalhe com
ateno, mtodo e calma;
2- Prepare-se para realizar cada experincia, lendo antes os
conceitos referentes ao experimento e, a seguir, leia o roteiro da
experincia;
3- Respeite rigorosamente as precaues recomendadas;
4- Consulte seu professor cada vez que notar algo anormal ou
imprevisto;
5- Use um avental apropriado;
6- No fume no laboratrio;
7- Faa apenas as experincias indicadas pelo professor. Experi-
ncias no autorizadas so proibidas;
8- Se algum cido ou qualquer outro produto qumico for derra-
mado, lave o local imediatamente com bastante gua;
9- No toque os produtos qumicos com as mos, a menos que
seu professor lhe diga que pode faz-lo;
10- Nunca prove uma droga ou soluo;
11- Para sentir o odor de uma substncia, no coloque seu rosto
diretamente sobre o recipiente. Em vez disso, com sua mo, traga
um pouco de vapor at o nariz.
12- No deixe vidro quente em lugar que possam peg-lo inadver-
tidamente. Deixe qualquer pea de vidro esfriar durante bastante
tempo. Lembre-se de que vidro quente tem a mesma aparncia
do vidro frio;
13- S deixe sobre a mesa o bico de Bunsen aceso quando estiver
sendo utilizado;
14- Tenha cuidado com reagentes infl amveis; no os manipule
em presena de fogo;
15- Quando terminar o seu trabalho, feche com cuidado as tor-
neiras de gs, evitando escapamento;
(...)
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
28 CEDERJ
PRINCIPAIS VIDRARIAS E ACESSRIOS LABORATORIAIS
- Anel para funil: usado como suporte de funis;
- Ala de platina: usada basicamente em microbiologia. Pode ser
usada para outros fi ns;
- Lmina: usada por vrios setores tcnicos e para diversos fi ns;
- Lamnula: usada por vrios setores e para diversos fi ns;
- Cmara de Neubauer: usada para contagem global de clulas
vermelhas e brancas; usada em sedimentoscopia urinria;
- Balo de destilao: usado em destilaes. Possui sada lateral
para condensao de vapores;
- Balo de fundo chato: usado para aquecimento e armazenamento
de lquidos;
- Balo de fundo redondo: usado para aquecimento de lquidos
e reaes de desprendimento de gases;
- Balo volumtrico: usado para preparar e diluir solues;
- Becker: usado para aquecimento de lquidos, reaes de preci-
pitao etc.
- Bico de Bunsen: usado para aquecimentos de laboratrio;
- Bureta: usada para medidas precisas de lquidos. Usada em
anlises volumtricas;
- Capilares: tubos de dimetro reduzido, usados em micropes-
quisas. So usados tambm em hematologia (hematcrito) e
bacteriologia;
- Condensador: usados para condensar os gases ou vapores na
destilao;
(...)
Prof Georgia Winkler
O texto que acabamos de citar pertence esfera de circulao
acadmica, enquadrando-se no gnero manual. Entretanto, como
voc sabe, esse gnero no exclusivo do meio universitrio, sendo
facilmente encontrado dentro das embalagens de quaisquer produtos
eletroeletrnicos.
-
CEDERJ 29
Ao redigir um manual, o autor do texto citado tinha intenes
muito claras: instruir seu leitor quanto s regras de uso do laboratrio e
seus principais instrumentos. Para tanto, optou por empregar dois tipos
textuais predominantes: o injuntivo e o descritivo.
O tipo textual injuntivo marcado pela determinao de regras
e procedimentos, os quais podem ser facilmente identifi cados na seo
Regras de segurana, do texto citado. Dessa seo, transcrevemos uma
breve passagem para fi ns de anlise. Observe:
1- O laboratrio um lugar de trabalho srio. Trabalhe com
ateno, mtodo e calma;
2- Prepare-se para realizar cada experincia, lendo antes os
conceitos referentes ao experimento e, a seguir, leia o roteiro da
experincia;
3- Respeite rigorosamente as precaues recomendadas;
4- Consulte seu professor cada vez que notar algo anormal ou
imprevisto;
5- Use um avental apropriado;
Veja que o objetivo do autor (instruir o leitor acerca das regras de
segurana no laboratrio) infl uencia a maneira de organizar a informao
dentro do texto. Em vez de pargrafos e frases longas, detalhando e
justifi cando cada um dos procedimentos, o autor escolheu usar frases
curtas e claras, que facilitassem a leitura e chamassem a ateno daqueles
a quem essas instrues se destinam. Tratando-se de regras que visavam
a assegurar a segurana dos alunos, era imprescindvel que estas fossem
apresentadas da maneira mais direta possvel.
Alm disso, como j vimos, o objetivo do autor defi ne tambm as
estruturas lingusticas do texto. Nesse caso, observe os verbos destacados
nas frases transcritas. Esto todos fl exionados no modo imperativo, a
fi m de ressaltar o carter de ordem/conselho que suas frases veiculam.
Tal caracterstica reincidente no tipo textual injuntivo.
Alm de ensinar algo, geralmente um manual descreve o
funcionamento de determinado produto. No caso do texto que estamos
analisando, o autor empregou o tipo textual descritivo para enumerar
alguns instrumentos importantes na prtica laboratorial, apresentando,
de forma bastante sucinta, suas principais caractersticas. Observe
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
30 CEDERJ
agora um trecho retirado da seo Principais vidrarias e acessrios
laboratoriais, no qual predomina a descrio:
- Balo de destilao: usado em destilaes. Possui sada lateral
para condensao de vapores;
- Balo de fundo chato: usado para aquecimento e armazena-
mento de lquidos;
- Balo de fundo redondo: usado para aquecimento de lquidos
e reaes de desprendimento de gases;
- Balo volumtrico: usado para preparar e diluir solues;
O tipo textual descritivo tambm infl uencia na forma de organizar
a informao. Enquanto a seo anterior do texto se compunha de regras,
esta uma longa enumerao de itens, ao lado dos quais se acrescentam
breves descries, para facilitar a identifi cao dos utenslios tpicos
de um laboratrio. Assim como o tipo textual descritivo determina a
maneira de organizar a informao, as estruturas lingusticas e a escolha
de palavras tambm so por ele marcadas. Veja, por exemplo, que no
trecho transcrito h a presena constante de construes (destacadas em
negrito) com valor de adjetivo, classe gramatical que atribui qualidades
aos substantivos. Dessa forma, os tipos de balo so identifi cados por
adjetivos simples, como volumtrico, ou por locues adjetivas, como
de destilao, de fundo chato e de fundo redondo.
Para concluirmos nosso estudo sobre os tipos textuais e sua relao
com os gneros textuais, leia agora o texto a seguir.
Normativas do IBAMA
Reginaldo Constantino (UnB)
A Constituio Federal de 1988 determina no seu artigo 218, par-
grafo primeiro, que: "A pesquisa cientfi ca bsica receber tratamento
prioritrio do Estado, tendo em vista o bem pblico e o progresso
das cincias". Esse preceito constitucional vem sendo ignorado por
vrios rgos do Governo Federal, que progressivamente vm criando
barreiras burocrticas que impedem os cientistas de estudar a nossa
biodiversidade.
-
CEDERJ 31
O IBAMA apresentou para consulta pblica novas propostas de
regulamentao de coletas e colees de material biolgico. So duas
Instrues Normativas, uma sobre coleta e outra sobre cadastro
de colees. Embora existam avanos em alguns pontos, a grande
novidade a criao do Cadastro Nacional de Colees ex situ, que
tenta colocar sob o controle do IBAMA todas as colees biolgicas
brasileiras.
A proposta inclui detalhes de como as colees devem ser organiza-
das e administradas, sempre com a clara preocupao de facilitar o
trabalho de controle e fi scalizao pelo IBAMA. obrigatria, por
exemplo, a identifi cao da licena de coleta na etiqueta do espci-
me e o envio de relatrios peridicos ao IBAMA sobre tudo o que
acontece com o acervo. As colees seriam classifi cadas em tipo A
e "tipo B", ambas com exigncias absurdas e fora da praxe existente
mesmo nas instituies com mais infraestrutura. Os curadores de
museus seriam reduzidos a meros burocratas com funo de manter
bancos de dados, preencher formulrios e escrever relatrios. Ensino,
pesquisa e extenso seriam atividades absolutamente irrelevantes.
Como as autorizaes de coleta fi cariam dependentes do credencia-
mento da respectiva coleo, quem no se submeter s exigncias do
credenciamento nunca mais coletar uma mosca.
A questo : quem deu ao IBAMA poderes para regulamentar ati-
vidades da rea de Cincia e Tecnologia e especifi camente sobre as
colees biolgicas? Nem o Ministrio da Cincia e Tecnologia e o
CNPq ousam dizer aos pesquisadores como administrar seus labo-
ratrios. Muitas colees so seculares e pertencem a instituies
muito mais antigas que o prprio IBAMA, como, por exemplo, o
Instituto Oswaldo Cruz. A misso institucional do IBAMA proteger
o meio ambiente, e no direcionar os caminhos da cincia nacional.
Essa proposta contraria frontalmente o artigo 218 da Constituio
apresentado no incio e obviamente segue a tendncia observada de
aumento da carga burocrtica sobre pesquisadores e do controle de
funcionrios burocrticos sobre as atividades de pesquisa.
(...)
O texto citado foi escrito com um propsito diferente do que regia
os dois outros anteriores, que, respectivamente, visavam a informar e
instruir o leitor. Tais diferenas nos objetivos da interao acarretam
estruturas e estratgias textuais tambm distintas entre os textos, como
uma rpida comparao capaz de identifi car.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
32 CEDERJ
Normativas do IBAMA pertence ao gnero artigo de opinio,
com o qual voc j deve estar familiarizado, pois frequente encontr-
lo em editoriais de revistas e jornais. Como o prprio nome indica,
esse gnero textual visa a apresentar o ponto de vista de algum acerca
de determinado assunto, de modo a convencer o leitor da pertinncia
da opinio do autor. Para atingir tal objetivo, esse gnero apresenta
predominantemente o tipo textual argumentativo.
Como marca caracterstica da organizao das informaes,
o tipo textual argumentativo apresenta sempre uma tese (ponto de
vista defendido) e os argumentos que a sustentam. No texto citado
anteriormente, essa tese fi ca bem clara na seguinte passagem:
Essa proposta contraria frontalmente o artigo 218 da Constituio
apresentado no incio e obviamente segue a tendncia observada de
aumento da carga burocrtica sobre pesquisadores e do controle de
funcionrios burocrticos sobre as atividades de pesquisa.
Alm disso, h pistas na prpria linguagem empregada pelo autor
que permitem a identifi cao do tipo textual a que pertence o texto.
Veja:
Ensino, pesquisa e extenso seriam atividades absolutamente irre-
levantes. Como as autorizaes de coleta fi cariam dependentes do
credenciamento da respectiva coleo, quem no se submeter s
exigncias do credenciamento nunca mais coletar uma mosca.
(...) Muitas colees so seculares e pertencem a instituies muito
mais antigas que o prprio IBAMA, como, por exemplo, o Instituto
Oswaldo Cruz. A misso institucional do IBAMA proteger o meio
ambiente, e no direcionar os caminhos da cincia nacional.
No trecho transcrito, as palavras destacadas servem para conectar
ideias e oraes: so as conjunes. Um texto argumentativo, para
defender um ponto de vista, precisa relacionar uma srie de argumentos,
expressando noes de causa, consequncia, comparao, oposio
etc. Assim, no texto citado, a palavra como mostra que o fato de
as autorizaes dependerem do credenciamento da coleo causa
da submisso s exigncias do credenciamento. Da mesma forma, a
expresso como, por exemplo introduz um exemplo de instituio mais
antiga do que o Ibama: o Instituto Oswaldo Cruz. Por fi m, a locuo e
no estabelece uma ideia de contraste entre a proteo ao meio ambiente
e o direcionamento dos caminhos da cincia nacional.
-
CEDERJ 33
Para tentar organizar de forma mais clara as informaes
apresentadas nesta seo, optamos por construir o quadro a seguir,
que relaciona os tipos textuais aos gneros em que cada um deles
predominante. No entanto, preciso perceber que no h gnero puro,
isto , um gnero textual que envolva apenas um tipo textual. Dessa
forma, uma reportagem envolve narrao e exposio, uma bula de
remdio envolve injuno e descrio, uma carta de reclamao envolve
narrao e argumentao...
Tipos de texto Gneros orais e escritos
Narrao Conto, fbula, lenda, mito, biografi a, romance, novela, piada, crnica, notcia, relato...
Argumentao Editorial, carta de leitor, assembleia, debate, resenha, ensaio, texto de opinio...
Exposio Artigo cientfi co, seminrio, palestra, verbete, reportagem, resumo, fi chamento...
Injuno Manual de instrues, receita de bolo, regulamento, regras de jogo, receita mdica...
Descrio Laudo, guia de viagem, perfi l em comunidade virtual, relatrio, texto publicitrio...
Quadro 1.1
Gneros & tipos: uma dica extra
O link a seguir se refere a um site em que se discutem as defi -nies de gnero textual e tipo textual, com as implicaes que esses conceitos acarretam na hora de ler e escrever um texto. Vale a pena conferir!http://www.algosobre.com.br/gramatica/genero-textual-e-tipologia-textual.html
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
34 CEDERJ
Atende ao Objetivo 2
3. Leia os dois textos a seguir e responda a estas questes:3.1. De que modo se estabelece uma intertextualidade entre os textos I e II?
3.2. Os objetivos que levaram os autores desses textos a redigirem-nos so aparentemente diferentes. Explique como esses textos diferem quanto intencionalidade discursiva.
3.3. Se os objetivos que norteiam a redao dos textos so diferentes, tambm o so os tipos textuais utilizados. Justifi que tal afi rmativa com base nos textos I e II, apontando exemplos de diferenas lingusticas resultantes das diferenas de tipologia textual.
MA R C A S D E I N T E R L O C U O
Construes lingusticas que usamos quando nos dirigimos a algum, para nos tor-narmos mais prximos do interlocutor (aquele que l/ouve).
Texto IRelacionamentos em redes sociais - o impacto das redes sociais na maneira como as pessoas se relacionam, na solido e na prpria sade social.As redes sociais na internet renem 29 milhes de brasileiros por ms. Oito em cada dez pessoas conectadas no Brasil tm o seu perfi l publicado em algum site de relacionamentos. Elas usam essas redes sociais para manter contato com os amigos e conhecer pessoas, tanto com objetivos de amizade, profi ssional, amoroso ou pura-mente sexual. Uma pesquisa do Ministrio da Sade revelou que 7,3% dos adultos com acesso internet fi zeram sexo com algum que conheceram online.Dentre as redes sociais, o Orkut a preferida dos brasileiros; agora, avanam sobre o Twitter e o Facebook. A audincia do primeiro quintuplicou neste ano e a do segundo dobrou. Juntos, essas duas redes sociais foram visitadas por seis milhes de usurios em maio, um quarto da audincia do Orkut. Para cada quatro minutos na rede, os brasileiros dedicam um a atualizar seu perfi l e a visitar o dos amigos,
segundo dados do IBOPE Nielsen Online.
(...)
ATIVIDADE
-
CEDERJ 35
Redes sociais aumentam ou reduzem a solido? Para responder, necessrio saber que existem dois tipos de solido: a emocional e a social. Este conceito foi apresen-tado por Roben Weiss, socilogo americano da dcada de 70. Weiss afi rma que a solido emocional o sentimento de vazio causado pela falta de relacionamentos profundos. A solido social o sentimento de tdio e marginalidade causado pela falta de amizades ou de um sentimento de pertencer a uma comunidade.Vrios estudos tm reforado a tese de que as redes sociais diminuem a solido social, mas aumentam signifi cativamente a solido emocional. como se os participantes das redes sociais estivessem sempre rodeados de pessoas, mas no pudessem contar com nenhuma delas para uma relao mais prxima. J se falou em solido a dois, agora estamos na era da solido a mil.(...)
Texto II
ORKUT: a febre, a praga e o recndito
Juliano Niederauer
13 de janeiro de 2005
O orkut (www.orkut.com) uma rede social que surgiu recentemente e mudou os hbitos de grande parte dos internautas, principalmente dos brasileiros. Por incrvel que parea, o Brasil representa mais de 50% dos usurios do orkut em todo mundo. Criado pelo engenheiro turco Orkut Buyukkokten, o site agora faz parte do imprio da Google, empresa proprietria do site de busca mais conhecido no mundo.Mas, afi nal, qual o diferencial do orkut? Por que ele est fazendo tanto sucesso, a ponto de atingir uma popularidade poucas vezes vista na Internet mundial? Os usu-rios o acessam de todas os lugares possveis, seja em casa, no trabalho, na escola ou na universidade. Se voc for a um cyber caf, um bar, uma casa noturna ou qualquer quiosque que possua acesso Internet, provavelmente ver algum acessando uma pgina de fundo lils, com vrias fotos de pessoas, comunidades etc. Do ponto de vista tcnico, percebemos rapidamente que se trata de um site bastante simples. No h nada de excepcional em termos de tecnologia. claro que se torna necessria uma superestrutura de rede e muitos servidores para suportar os milhes de acessos vindos de toda parte do mundo. Porm, em termos de programao, um desenvolvedor Web com certa experincia poderia fazer um site semelhante em poucas semanas. O fato que o sucesso do orkut no est na parte tcnica, mas sim na idia, somada estrutura que a Google colocou disposio para o projeto.(...)
Existem muitas comunidades com temas interessantes, onde realmente surgem debates proveitosos. No entanto, se voc navegar pelo orkut, comear a perceber algumas inutilidades, como por exemplo:
Comunidades gigantes: faz algum sentido voc fazer parte da comunidade Pla-neta Terra, que possui milhares de participantes? Pois acredite, no orkut existem vrias comunidades destinadas aos moradores do Planeta Terra.
Usurios em milhares de comunidades: j vi usurios cadastrados em mais de 5.000 comunidades. Porm, a verdade que as comunidades que escolhemos
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
36 CEDERJ
revelam um pouco de nossa identidade. Deveria haver um limite de comunidades por usurio, algo em torno de 40 ou 50.
Comunidades grotescas: voc gostaria de fazer parte da comunidade Amantes da Pastelina?. Pois , ela j tem mais de 3.000 membros! Voc se chama Maria-na? Que tal fazer parte da comunidades Marianas, que j possui mais de 6.000 membros? Ok, no orkut tudo vlido! Afi nal, o que alguns consideram inconveniente, outros consideram muito divertido. Quem nunca gostou do seriado Chaves ir odiar as dezenas de comunidades dedicadas a ele. Mas quem um chavesmanaco poder fi car horas dando risada ao relembrar as histrias do programa, contadas pelos membros da comunidade. Existem tambm as comunidades do tipo Eu odeio. Por exemplo, se voc no gosta do Galvo Bueno, saiba que existem mais de 20 comunidades do tipo Eu odeio o Galvo Bueno.Enfi m, o orkut virou uma febre. E junto com a febre, veio uma praga, que so os famosos spams. Felizmente, esse problema est sendo contornado com a desabi-litao do envio de mensagens para os membros das comunidades. No incio, ao acessar o orkut, o sistema exibia um aviso do tipo Voc tem 54 novas mensagens, sendo que 99% delas eram um verdadeiro lixo eletrnico, como correntes, propa-gandas etc. Atualmente, voc pode enviar mensagens somente aos seus amigos, e no para uma comunidade inteira. Outro problema que merece destaque no orkut a autenticidade das informaes. Navegando pelo site, voc ir se surpreender ao descobrir que o Ronaldinho tem o seu perfi l cadastrado, assim como o Romrio, a Xuxa, o J Soares, a Gisele Bndchen e o presidente Lula. Porm, a maioria desses perfi s so falsos, e foram criados por alguns usurios que no tinham nada mais importante para fazer. claro que existem alguns famosos com perfi s verdadeiros no orkut, como o cantor Lo Jaime, que tem milhares de amigos. Certa vez, a apresentadora Silvia Abravanel (fi lha de Silvio Santos) foi ao programa Show do Tom na Rede Record e falou ao vivo que estava no orkut. Em poucos minutos, seu perfi l recebeu centenas de scraps (recados deixados pelos usurios), o que demonstra a popularidade da rede social.
RESPOSTAS COMENTADAS
3.1. Sendo a intertextualidade o fenmeno de dilogo entre os textos,
pode-se dizer que I e II se aproximam quanto ao assunto abordado:
o texto I apresenta o impacto das redes sociais na maneira como
as pessoas se relacionam, enquanto o II fala dos pontos positivos e
negativos de uma rede social especfi ca (o Orkut).
3.2. Enquanto o texto I apresenta uma viso mais abrangente e
impessoal, analisando racionalmente o fenmeno das redes sociais,
o texto II veicula opinies pessoais do autor, que emprega exemplos
mais concretos e especfi cos para dizer o que pensa a respeito do
Orkut.
3.3. Sendo o texto I expositivo, apresenta um tom mais objetivo, o
que envolve uso de adjetivos com parcimnia e ausncia de marcas
verbais ou pronominais de 1 pessoa do singular (eu acho, eu
-
CEDERJ 37
penso, na minha opinio). J o texto II, por ser argumentativo e
visar ao convencimento do leitor acerca de algo, vale-se de recursos
expressivos como sinais de exclamao e interrogao, adjetivao
carregada e marcas de interlocuo, como pois , ok etc.
Nem s de palavras vivem os textos...
Alm de textos compostos exclusivamente por palavras, h tambm aque-les que so formados apenas por imagens e os que combinam palavras e imagens. Assim, dizemos que h textos verbais, no-verbais e mistos. Na vida acadmica, frequente o contato com textos que exigem a deci-frao de imagens em sua leitura, como no caso dos grfi cos. A seguir, veja os principais tipos de grfi cos e uma breve anlise de cada um deles: grfi cos em pizza (ou grfi cos em torta): apresentam a contribui-o de cada um dos elementos para a formao total (se quiser ver um exemplo, v para http://wikimmed.blogs.ca.ua.pt/index.php/Josp/Relat%C3%B3rio_ase); grfi cos em colunas agrupadas: possuem um eixo vertical e outro hori-zontal, com barras que defi nem informaes a partir do entrecruzamento dos dois eixos (se quiser ver um exemplo, v para http://www.actaorl.com.br/detalhe_artigo.asp?id=3); grfi cos de linha: tambm possuem um eixo vertical e outro horizontal, com uma linha traada para indicar a variao de determinados valores ao longo de um processo; o prprio ttulo do grfi co expressa a relao estabelecida entre os dois eixos (se quiser ver um exemplo, v para http://www.embrapa.br/programas_e_projetos/pac-embrapa/apresentacao-do-pac-embrapa/revitalizacao-do-orcamento-da-embrapa).
CONCLUSO
Esperamos que, nesta aula, voc tenha se familiarizado um pouco
mais com o trabalho com textos, desenvolvendo, inclusive, o prazer de
manipular palavras, frases, pargrafos... Essa uma habilidade essencial
s esferas acadmica e profi ssional, alm de permitir voos e refl exes
cada vez mais altos, no que diz respeito ao crescimento pessoal e ao
relacionamento com as outras pessoas.
AU
LA 1
-
Redao de Textos Acadmicos | Gneros e tipos textuais
38 CEDERJ
R E S U M O
Nesta aula, voc aprendeu que ler ou escrever no so atividades sempre iguais:
interagir com algum por meio de uma carta muito diferente de se comunicar
por meio de um artigo de jornal, de uma receita de bolo ou de um poema. Cada
situao de comunicao, com seu tempo, espao e canal especfi cos, junto com
a intencionalidade particular do locutor, demanda um gnero textual e uma
tipologia textual a serem empregados.
Enquanto o gnero textual defi nido por componentes internos e externos ao
texto, a tipologia textual tem a ver com as estruturas lingusticas predominantes
em um texto. No entanto, preciso perceber que no h gnero puro, isto , um
gnero textual que envolva apenas um tipo textual. Dessa forma, uma reportagem
envolve narrao e exposio, uma bula de remdio envolve injuno e descrio,
uma carta de reclamao envolve narrao e argumentao...
O mais importante voc perceber o que aprendeu nesta aula como dicas e
mecanismos para ajud-lo a redigir seus prprios textos, no como uma camisa de
fora. Escrever e ler so atividades mltiplas, que ativam diferentes conhecimen-
tos e mobilizam diversas habilidades, sendo impossvel (e incoerente) prescrever
regrinhas aprisionadoras.
INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
Na prxima aula, voc vai estudar uma das estruturas fundamentais na construo
de um texto: o pargrafo. Vamos discutir sua extenso, sugestes para delimit-lo,
organiz-lo e redigi-lo, de modo a tornar seus textos mais coerentes e coesos.
-
objetivos2
Meta da aula
Apresentar a estrutura geral do pargrafo e suas estratgias de escrita e de leitura.
Esperamos que, ao fi nal desta aula, voc seja capaz de:
1. identifi car as informaes principais e secundrias de um pargrafo;
2. elaborar diferentes tipos de pargrafos, de acordo com o objetivo da interao.
Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura
Sebastio Josu VotreVincius Carvalho Pereira A
ULA
-
Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura
40 CEDERJ
A leitura faz do homem um ser completo;
a conversa faz dele um ser preparado,
e a escrita o torna preciso.
Sir Francis Bacon (1562-1626)
INTRODUO
Figura 1: Cada texto formado por variados blocos de informao, que precisamos aprender a reconhecer e organizar!Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/p/ph/photodria/111161_building_blocks.jpg
Quando nos deparamos com textos escritos nos dias de hoje,
temos difi culdade para imaginar o longo percurso evolutivo que a escrita
seguiu at chegar sua forma atual. Na Grcia Antiga, os manuscritos
no apresentavam separao grfi ca entre as palavras, e os prprios sinais
de pontuao levaram algum tempo at se tornarem recursos expressivos
sistemticos. A esse respeito, importante dizer que o primeiro sinal de
pontuao de que se tem registro na histria da escrita o pargrafo,
que, no entanto, tinha uma forma bem diferente na sua origem. Nos seus
primrdios, o pargrafo consistia em um simples trao horizontal que
marcava o fi m de uma seo de texto (captulo ou subcaptulo), recebendo
o nome de para graphos (escrito margem, em grego).
Hoje em dia, o pargrafo um dos recursos de pontuao mais
importantes na composio de um texto, facilitando o processo de
leitura porque organiza de forma clara e separa em blocos lgicos as
-
CEDERJ 41
AU
LA 2
informaes. No entanto, muitos alunos encontram difi culdades na hora
de organizar suas ideias em pargrafos, pois no sabem como relacion-
las de forma clara, orden-las logicamente ou dividi-las em diferentes
pargrafos. Para comearmos a pensar um pouco sobre essas questes,
realize a atividade a seguir:
Atende ao Objetivo 1
1. Responda estas perguntas a partir do texto que se lhes segue:
1.1. O texto I, que mostraremos logo a seguir, composto por quatro pargrafos, que dividem em blocos lgicos as informaes apresentadas e facilitam a leitura. Para que um texto seja interpretado e compreendido de forma satisfatria, importante que o leitor seja capaz de, ao fi nal da leitura de cada pargrafo, abstrair sua ideia geral, em torno da qual as demais se articulam. Vamos treinar fazer isso? Veja, ento, os desafi os que formulamos:
a. Formule quatro frases que resumam de forma satisfatria cada um dos quatro pargrafos apresentados no texto I.
b. Indique como esses pargrafos se relacionam entre si, isto , se introdu-zem um exemplo do que foi dito antes, um contraste, uma comparao, uma causa etc.
1.2. Levando em considerao o gnero discursivo e o canal (a internet) em que foi divulgado o texto I, comente a extenso e a delimitao de seus pargrafos.
ATIVIDADE
-
Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura
42 CEDERJ
Texto I Educao e Tecnologia: uma aliana necessria (adaptado)
Juracy dos Anjos
Entendidas por especialistas e educadores como ferramentas essenciais e indispen-sveis na era da comunicao, as novas tecnologias ganham espao efetivo nas salas de aula. Computadores ligados internet, software de criao de sites, televiso a cabo, sistema de rdio e jogos eletrnicos. Estas so algumas das possibilidades existentes e que podem ser aproveitadas no ambiente escolar como instrumentos facilitadores do aprendizado.Entretanto, apesar de muitas escolas possurem estas tecnologias, as mesmas no so utilizadas como deveriam, fi cando muitas vezes trancadas em salas isoladas e longe do manuseio de alunos e professores. Existem, segundo estudos recentes, professores e escolas que no conseguem interligar estes instrumentos s atividades regulares. De acordo com o pedagogo Arnaud Soares de Lima Jnior, o acesso s redes digitais de comunicao e informao importante para o funcionamento e o desenvol-vimento de qualquer instituio social, especialmente para a educao, que lida diretamente com a formao humana. No entanto, ele ressalta que os modos de viver e de pensar a organizao da vida esto em crise. Est em curso uma mudana qualitativa, em virtude da rpida transmisso de informaes entre as sociedades, rompendo, com isso, as barreiras geogrfi cas dos pases. Por isso, cabe educao uma parcela de responsabilidade tanto na compreenso crtica do(s) signifi cado(s) desta transformao, quanto na formao dos indivduos e grupos sociais. Estes devem assumir com responsabilidade a conduo social de tal virada, provocada, entre outros fatores, pela revoluo nas dinmicas sociais de comunicao e de processamento de informao, analisa Arnaud.
RESPOSTAS COMENTADAS
1.1.
a. 1 pargrafo As novas tecnologias tornam-se cada vez mais
importantes nas salas de aula, dado seu papel preponderante na
era da comunicao.
2 pargrafo Apesar de muitas escolas possurem as novas tec-
nologias, estas so subutilizadas.
3 pargrafo O acesso s redes digitais de comunicao e infor-
mao importante para o funcionamento e o desenvolvimento de
qualquer instituio social, especialmente para a educao, apesar
das mudanas radicais que as sociedades vm sofrendo.
-
CEDERJ 43
AU
LA 2
4 pargrafo A educao deve estimular a compreenso crtica
do(s) signifi cado(s) desta transformao e seu impacto na formao
dos indivduos e grupos sociais.
b. O segundo pargrafo introduz uma oposio ao primeiro, na
medida em que diz no serem usadas em algumas escolas as to
importantes tecnologias vistas no pargrafo anterior. J o terceiro
pargrafo ratifi ca as informaes do primeiro, por meio da citao de
uma autoridade. Por fi m, o ltimo pargrafo estabelece uma relao
de concluso com tudo o que foi dito anteriormente.
1.2. O texto analisado nesta atividade foi escrito para ser lido na tela
do computador, por um leitor conectado internet, o que acarreta
caractersticas especiais na elaborao de seus pargrafos. No
que diz respeito extenso dos pargrafos, textos veiculados por
esse canal de comunicao costumam ser divididos em blocos no
muito grandes, para facilitar o processo da leitura. No entanto, por
tratar-se de texto informativo, os pargrafos no podem ser peque-
nos demais, pois isso impediria o aprofundamento necessrio das
informaes a serem apresentadas. Ademais, o fato de os pargrafos
terem tamanhos razoavelmente semelhantes sugere ao leitor uma
organizao balanceada da informao, com dosagem equilibrada
de informaes principais e auxiliares.
DELIMITANDO AS INFORMAES EM PARGRAFOS
Figura 2: Cada bloco de informao em seu lugar...Fonte: http://www.sxc.hu/pic/m/d/da/danzo08/338003_ml_x4.jpg
-
Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura
44 CEDERJ
Ao resolver a Atividade 1, voc elaborou um resumo do texto
com que trabalhava, pois sintetizou a ideia principal de cada pargrafo
e determinou como elas se conectam entre si. Ainda que nem sempre,
ao ler um texto, voc elabore um resumo escrito dele, mentalmente voc
reproduz os mesmos procedimentos de raciocnio que enfocamos na
atividade anterior: resumir e relacionar. Assim, para que um pargrafo
seja claro para o leitor e torne mais efi ciente a comunicao (lembre-se
de que, na maioria das vezes, o autor do texto no est fi sicamente pr-
ximo do leitor para sanar-lhe eventuais dvidas), h algumas estruturas
que podem ser seguidas, facilitando essas operaes mentais de sntese e
relao. Vale lembrar, no entanto, que destacamos o verbo podem na
frase anterior porque a pontuao e, consequentemente, a paragrafao
no seguem regras absolutas. Na verdade, trata-se de alguns dos aspectos
mais subjetivos da escrita, pois refl etem a forma como o autor organiza
em sua mente o contedo que deseja comunicar.
Quando voc for escrever seu prximo texto, deve levar em
conta que preciso dividir as informaes apresentadas em partes rela-
tivamente autnomas, mas que se relacionam entre si: os pargrafos.
Cada uma dessas partes deve constituir em si mesma um pequeno texto,
apresentando uma introduo, um desenvolvimento e uma concluso.
Lembre-se de que, se seu leitor precisar fazer uma pausa durante a leitura,
preferencialmente o far entre dois pargrafos, no no interior de um
deles, de modo a acompanhar a exposio de determinado ponto at o
fi nal. Para compreender melhor se duas informaes deveriam formar
um nico ou dois pargrafos, observe o trecho a seguir, retirado de uma
notcia veiculada na internet.
Pesquisa do Instituto Butantan usa saliva de carrapato-estrela contra cncer
Emilio SantAnna
Aps 42 dias, tumores de camundongos tiveram reverso completa.
Trabalho j dura 6 anos e tambm extrai anticoagulante da substncia
Da saliva do carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), a cincia
conhece apenas os efeitos nocivos. A febre maculosa, doena muitas vezes
fatal, transmitida pela picada do aracndeo. Da mesma substncia, porm,
podem sair novos medicamentos contra o cncer, alm de anticoagulantes. H
seis anos, pesquisadores do Instituto Butantan, em So Paulo, trabalham no
-
CEDERJ 45
AU
LA 2
desenvolvimento de uma droga que possa ser utilizada com as duas fi nalidades.
O prognstico animador.
A pesquisa ainda no publicada foi um dos destaques no 22 Con-
gresso Internacional da Sociedade de Trombose e Hemostasia, realizado em
Boston (EUA), em julho. Imaginvamos que a saliva do carrapato tivesse
algum componente que inibe a coagulao, pois, como hematfago, precisa
manter o sangue fl uindo para se alimentar, explica a farmacutica Ana Marisa
Chudzinski-Tavassi, coordenadora do estudo.
Partindo dessa suspeita, a pesquisadora analisou a sequncia de genes
da glndula salivar do carrapato, responsvel pela produo de uma protena
anticoagulante. Os resultados foram comparados ao de anticoagulantes
conhecidos como TFPI (presentes na saliva humana). A concluso foi que a
protena presente na saliva poderia ser produzida em laboratrio. Um pedao
do DNA analisado foi introduzido em bactrias Escherichia coli que passaram
a secretar a mesma protena. Elegemos esse clone e produzimos a protena
recombinante, explica Ana Marisa.
O resultado do estudo transformou-se em um pedido de patente, depo-
sitado em 2004, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). No
entanto, em pouco tempo, Ana Marisa descobriu que a pesquisa renderia mais
do que um futuro anticoagulante.
(...)
Tratando-se de um texto coeso e coerente, natural que todos
os pargrafos, de alguma forma, abordem ideias semelhantes, mas a
separao entre eles um refl exo da delimitao das diferentes aborda-
gens que essas ideias podem receber. Assim, embora todo o texto que
citamos gire em torno das pesquisas sobre a saliva do carrapato-estrela,
cada um dos seus pargrafos apresenta diferentes aspectos sobre essas
investigaes cientfi cas.
Nesse caso, o primeiro pargrafo do texto introduziu o que os
cientistas sabiam antigamente e o que j conhecem hoje sobre o pequeno
aracndeo. Logo depois, o segundo pargrafo revela um outro enfoque do
assunto, apresentando a hiptese inicial dos integrantes do projeto. Em
seguida, o terceiro pargrafo relata a metodologia da pesquisa empregada
para que se chegasse a determinados resultados. Veja, no entanto, que
o autor do texto optou por separar o segundo e o terceiro pargrafo,
provavelmente para evitar um bloco de informaes demasiado longo.
Se olharmos estritamente para o contedo de cada um dos pargrafos,
veremos que o segundo e o terceiro poderiam ter sido fundidos, forman-
-
Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura
46 CEDERJ
do uma unidade maior, visto que a ltima frase do segundo o que d
ensejo exposio do terceiro. Porm, ao dividir essas informaes em
dois pargrafos, o autor assegurou que o leitor interpretasse ambos os
dados a hiptese e a metodologia como importantes. Por fi m, o quarto
pargrafo indica o sucesso das pesquisas e a existncia de posteriores
desdobramentos de suas descobertas.
Perceba, pois, que a diviso em pargrafos, alm de organizar o
texto, d pistas para a forma como o leitor deve compreender suas infor-
maes, entendendo-as ora como unidades autnomas e centrais, ora
como unidades dependentes e perifricas. Alm disso, ao defi nir em que
ponto do texto precisa haver uma mudana de pargrafos, importante
que voc considere o gnero textual em que est escrevendo, visto que
diferentes gneros apresentam distintas caractersticas formais, como voc
viu na aula anterior. O texto Pesquisa do Instituto Butantan usa saliva
de carrapato-estrela contra cncer, por exemplo, enquadra-se no gnero
notcia, escrito para informar de modo simples e rpido leitores no espe-
cializados acerca de determinado assunto. Dessa maneira, seu autor optou
por pargrafos mais curtos e diretos, que do agilidade leitura e facilitam
a decodifi cao das informaes, embora de forma superfi cial.
Por outro lado, caso se tratasse de artigo sobre a pesquisa com
os carrapatos-estrela, a ser apresentado comunidade acadmica, seria
necessria uma exposio mais aprofundada das questes envolvidas
nesse estudo. Assim, se a notcia apenas exps as informaes da pesquisa,
o artigo cientfi co teria de apresent-las, justifi c-las e discuti-las, o que
exigiria pargrafos mais longos e carregados de informao.
-
CEDERJ 47
AU
LA 2
CONHECENDO O TPICO FRASAL
Figura 3: Vamos aprender a encontrar a ideia central de cada pargrafo?Fonte: http://www.sxc.hu/browse.phtml?f=download&id=245511
Na seo anterior, voc viu que a diviso de pargrafos, bem como
sua extenso, norteada por variados critrios, mas o mais importante
deles sempre a clareza do texto. Agora, voc vai conhecer a estrutura
geral que os pargrafos costumam apresentar, facilitando o processo
no s de escrita, mas tambm de leitura. Para tanto, leia atentamente
o trecho (adaptado) logo a seguir, retirado do artigo A insustentvel
leveza da complexidade, de Marcos Silveira Buckeridge.
A insustentvel leveza da complexidade
Marcos Silveira Buckeridge
(...)
O conhecimento cientfi co que dado nas escolas baseado principalmen-
te em explicaes lineares. Por exemplo, a terceira lei de Newton, que conhecemos
como o princpio de ao e reao, diz que a toda ao corresponde uma reao
igual e contrria. No se d nfase a eventos no-lineares em que uma pequena
modifi cao gera um grande efeito, como a hipottica formao de furaces
a partir do bater das asas de uma borboleta, um cenrio clssico previsto no
famoso efeito borboleta dentro da Teoria do Caos (SOUZA e BUCKENRIDGE,
2004). O aquecimento global fruto de uma srie de fatores naturais e produ-
zidos pelo homem que interagem de maneira no-linear, por isso as pessoas tm
difi culdade em entend-lo.
-
Redao de Textos Acadmicos | Estrutura do pargrafo: estratgias de escrita e de leitura
48 CEDERJ
O resultado dessa situao que, ao ler um artigo, assistir a uma repor-
tagem ou a um documentrio, o esforo para tentar compreender os mecanismos
de complexidade envolvidos nas mudanas climticas to grande que no vale
a pena prosseguir nessa tarefa. Ao desistir de entender um fenmeno, a mente
simplesmente no liga o que acaba de ler ou ouvir a um contexto maior. Prova-
velmente da que surge um processo de negao da realidade no mbito pessoal.
Se imaginarmos que toda a sociedade tem que trabalhar duro para viver com mil
afazeres dirios, entendemos o fenmeno chamado de negao coletiva.
No se trata de algo que ocorra por preguia do indivduo, mas um
processo de saturao de informaes que difi culta o processamento destas,
difi cultando to fortemente a compreenso de um fenmeno ou processo, que
a pessoa no consegue ir adiante (NICHOLSON-COLE, 2005; NORGAARD,
2003; THOMAS, 2006). Professores podem experimentar o processo de negao
em situaes em que apresentam aos seus alunos um grande nmero de conceitos
novos de uma nica vez. Por exemplo, se tentarmos explicar a mecnica quntica
a uma classe com crianas de 10 anos de idade, usando conceitos sofi sticados,
compreendidos com difi culdade em um curso de graduao. A negao coletiva
este mesmo fenmeno, que pode ocorrer com vrios indivduos da populao,
evitando que determinados conceitos sejam compreendidos durante algum tempo
(THOMAS, 2006).
No trecho mostrado, o autor apresenta uma hiptese para justifi car
a difi culdade que muitos indivduos tm de compreender a problemtica
do aquecimento global. Cada um dos seus pargrafos expe diferentes
informaes sobre o mesmo tema geral, mas h um padro estrutural
neles que voc pode seguir ao escrever. Para isso, observe novamente o pri-
meiro pargrafo, atentando agora para as informaes em destaque:
O conhecimento cientfi co que dado nas escolas baseado prin-
cipalmente em explicaes lineares. Por exemplo, a terceira lei de
Newton, que conhecemos como o princpio de ao e reao, diz
que a toda ao corresponde uma reao igual e contrria. No se
d nfase a eventos no-lineares em que uma pequena modifi cao
gera um grande efeito, como a hipottica formao de furaces
a partir do bater das asas de uma borboleta, um cenrio clssico
previsto no famoso efeito borboleta dentro da Teoria do Caos
(SOUZA e BUCKENRIDGE, 2004). O aquecimento global
fruto de uma srie de fatores naturais e produzidos pelo homem
que interagem de maneira no-linear, por isso as pessoas tm
difi culdade em entend-lo.
-
CEDERJ 49
AU
LA 2
A frase em destaque no excerto que acabamos de citar resume a
ideia geral em torno da qual se estrutura o pargrafo. Veja que as demais
funcionam apenas como introduo ou justifi cativas para ela, preparando
o leitor para a concluso expressa no ltimo perodo. Chamamos de
tpico frasal essa frase que sintetiza a ideia central de cada pargrafo,
servindo como guia tanto para quem l quanto para quem escreve.
Perceba, porm, que nem sempre o tpico frasal o ltimo perodo
do pargrafo, podendo aparecer em outras posies. Leia, ento, o
segundo pargrafo do trecho retirado do artigo A insustentvel leveza
da complexidade. Novamente, atente para as informaes destacadas
em itlico.
O resultado dessa situao que, ao ler um artigo, assistir a
uma reportagem ou a um documentrio, o esforo para tentar
compreender os mecanismos de complexidade envolvidos nas
mudanas climticas to grande que no vale a pena prosseguir
nessa tarefa. Ao desistir de entender um fenmeno, a mente
simplesmente no liga o que acaba de ler ou ouvir a um contexto
maior. Provavelmente da que surge um processo de negao da
realidade no mbito pessoal. Se imaginarmos que toda a sociedade
tem que trabalhar duro para viver com mil afazeres dirios,
entendemos o fenmeno chamado de negao coletiva.
No trecho citado, o pargrafo foi iniciado com o tpico frasal,
que delimita a informao central a ser discutida nesse bloco: a com-
plexidade do raciocnio no linear envolvido na compreenso dos fen-
menos climticos, que desestimula a refl exo sobre o assunto. As frases
subsequentes do exemplos ou reafi rmam o tpico frasal, expandindo
suas informaes, mas sempre se remetendo a ele.
Veja, agora, mais um exemplo, analisando o ltimo pargrafo do
trecho retirado do artigo A insustentvel leveza da complexidade:
No se trata de algo que ocorra por preguia do indivduo, mas
um processo de saturao de informaes que difi culta o proces-
samento destas, difi cultando to fortemente a compreenso de
um fenmeno ou processo, que a pessoa no consegue ir adiante
(NICHOLSON-COLE, 2005; NORGAARD, 2003; THOMAS,
2006). Professores podem experimentar o processo de negao em
situaes em que apresentam aos seus alunos um grande nmero
de conceitos novos de uma nica vez. Por exemplo, se tentarmos
explicar a mecnica quntica a uma classe com crianas de 10