Curriculo Cap 2
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Os Professores e o Currculo: Percepes e Nveis de Interveno
dos Professores do Ensino Bsico no Desenvolvimento Curricular
Isabel Lacerda Ferreira
Lisboa, Novembro de 2010
Departamento de Educao e Ensino a Distncia Mestrado em Superviso Pedaggica
-
ii
Mestrado em Superviso Pedaggica
Os Professores e o Currculo: Percepes e Nveis de Interveno
dos Professores do Ensino Bsico no Desenvolvimento Curricular
Isabel Lacerda Ferreira
Dissertao apresentada para obteno de Grau de Mestre em Superviso Pedaggica
Orientadora: Professora Doutora Maria Ivone Gaspar
Lisboa, Novembro de 2010
-
i
Agradecimentos
Prof. Doutora Maria Ivone Gaspar pelas orientaes cientficas sempre
pautadas por um rigor e exigncia exemplares. Pelo seu apoio e motivao constantes,
pelo incentivo nos muitos momentos de desnimo, fazendo-me acreditar na
concretizao deste projecto.
Porque sem o seu profissionalismo e amizade este trabalho no teria sido possvel,
o meu profundo e sentido agradecimento.
Ao Lus e ao Francisco a quem dedico este trabalho.
-
ii
Resumo
Centramos este projecto de investigao na relao do professor com o
desenvolvimento curricular procurando identificar o modo como esta se processa na
prtica docente. Pretendemos, desta forma, conhecer o modo como interpretado o
currculo por parte dos professores do Ensino Bsico bem como a que nvel se processa
a sua participao no desenvolvimento curricular.
As opes metodolgicas desta investigao passaram por um estudo de caso
qualitativo privilegiando a abordagem descritiva e analtica. Para o inqurito por
questionrio a amostra correspondeu a todos os docentes que leccionaram as disciplinas
de Lngua Portuguesa, Matemtica e Cincias da Natureza do 3 ciclo do Ensino Bsico
das escolas seleccionadas e para o inqurito por entrevista a amostra incluiu os
coordenadores dos departamentos curriculares e os Presidentes dos Conselhos
Executivos dessas escolas.
No que diz respeito ao conceito de currculo, os contedos programticos
assumem um papel de destaque sendo, frequentemente, associado ideia de plano de
estudos.
A participao dos professores nas diferentes fases de desenvolvimento dos
projectos curricular e educativo de escola praticamente inexistente sendo apontadas
diversas razes para o justificar, nomeadamente o carcter obrigatrio e burocrtico dos
mesmos, a desmotivao, a dificuldade em existir um trabalho colaborativo entre os
professores e o facto de considerarem que estes projectos nada acrescentam e/ou
melhoram a sua prtica docente.
Parece-nos haver ainda um longo caminho a percorrer no sentido da valorizao
destes projectos e do envolvimento efectivo dos docentes nos processos de deciso,
assumindo o seu papel de gestor curricular.
Palavras-Chave: currculo, desenvolvimento curricular, projecto educativo, projecto
curricular, participao
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iii
Abstract
We focused this investigation project in the relationship between the teacher and
the curriculum development, trying to identify how this happens in the teacher practice.
This way, we intent to know how the curriculum is understood by the 7th to 9th grade
teachers, as also in which level their participation in the curriculum development is
proceeded.
The methodological options of this investigation went through the study of a
qualitative case, privileging the analytical and descriptive approach. To the inquiry by
questionnaire, the sample included all the teachers who taught the subjects of
Portuguese Language, Mathematics and Sciences of Nature from 7th to 9th grade of the
selected schools and for the questionnaire by interview the sample included the
Curriculum Department's Coordinators and the Headmasters of the School Board.
In what concerns the concept of curriculum, the programmatic contents take a
very important role being many times associated with the idea of studying schedules.
The participation of teachers in the different phases of development of curriculum
and educational school projects is nearly non existent, being several reasons pointed out
to justify that, namely the obligatory and bureaucratic way of them, the lack of
motivation, the difficulty in achieving a collaborative work among teachers and the fact
that they consider these projects add nothing and/or don't improve their teaching
practice.
It seems to us that there is still a long way to go in order to value these projects
and to achieve the effective development of teachers in the decision taking processes,
assuming their role of the curriculum manager.
Keywords: curriculum, curriculum development, educational project, curriculum
project, participation.
-
iv
ndice Geral:
INTRODUO. .........................................................................................................................1
CAPTULO 1: Perspectivas evolutivas da administrao educativa: do nvel central ao
nvel local........................................................................................................................5
1.1. Da administrao central escola como organizao. .......................................................6
1.1.1. A evoluo do percurso. .............................................................................................8
1.1.2. Descentralizao, autonomia e participao ..............................................................10
1.1.3. De uma cultura de homogeneidade a uma cultura de diversidade ..............................11
1.2. Da ideia de projecto construo de projectos: do projecto educativo de escola
ao projecto curricular.....................................................................................................13
CAPTULO 2: O currculo: diversidade de perspectivas conceptuais ........................................17
2.1. O conceito ......................................................................................................................17
2.2. Evoluo curricular ........................................................................................................24
2.2.1. Reorganizao curricular do ensino bsico: enquadramento histrico .......................28
2.3. Desenvolvimento curricular no mbito do sistema educativo portugus..........................36
2.4. A escola - comunidade educativa e a construo das componentes curriculares
regionais e locais (CCRL)..............................................................................................42
2.5. Entre o paradigma uniformista e o paradigma da diferenciao curricular: a
interveno e o papel dos professores no desenvolvimento curricular. ...........................44
2.5.1. Participao e desenvolvimento curricular ................................................................45
2.5.2. A relao do professor com o currculo.....................................................................48
2.5. 3. Integrao das Componentes Curriculares Regionais e Locais, CCRL, nas
propostas programticas das diferentes disciplinas.........................................................56
CAPTULO 3: Metodologia......................................................................................................61
3.1. Natureza da investigao. Procedimentos metodolgicos................................................61
3.2. Caracterizao do estudo ................................................................................................66
3.3. A Populao-alvo ...........................................................................................................68
3.4. Tcnicas e Instrumentos de Recolha de dados.................................................................70
-
v
3.4.1. O inqurito por questionrio .....................................................................................71
3.4.1.1. A estrutura do questionrio. ..............................................................................73
3.4.1.2. A testagem do questionrio. ..............................................................................74
3.4.1.3. A aplicao do questionrio. .............................................................................74
3.4.2. O inqurito por entrevista. ........................................................................................77
3.4.2.1. A estrutura das entrevistas.................................................................................82
3.4.2.2. A testagem das entrevistas ................................................................................82
3.4.2.3. A aplicao das entrevistas................................................................................83
CAPTULO 4: Discusso e anlise dos resultados.....................................................................85
4.1. Inquritos por entrevista. ................................................................................................85
4.1.1. Conceito de currculo................................................................................................87
4.1.2. Participao dos docentes na concepo, gesto e avaliao do Projecto
Educativo de Escola e Projecto Curricular de Escola. ....................................................92
4.1.2.1. Projecto Educativo de Escola. ...........................................................................93
4.1.2.2. Projecto Curricular de Escola ..........................................................................120
4.1.3. Constrangimentos e possveis solues para uma participao efectiva dos
professores no desenvolvimento curricular (questes 16 a 19). ....................................144
4.2. Inqurito por questionrio.............................................................................................165
4.2.1. Caracterizao pessoal e profissional ......................................................................166
4.2.2. O conceito de currculo...........................................................................................167
4.2.3. Participao no Projecto Educativo de Escola. ........................................................174
4.2.4. Nveis de deciso curricular. ...................................................................................181
4.2.5. Anlise Estatstica. .................................................................................................185
CONCLUSES ......................................................................................................................194
Referncias Bibliogrficas: .....................................................................................................201
Legislao Referenciada: ........................................................................................................207
ANEXOS.....................................................................................................................................i
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vi
ndice de Figuras e Grficos:
Figura1: tringulo de foras da prtica pedaggica ... 53
Grfico 1: Distribuio da pontuao obtida pelos diferentes elementos do
currculo . 173
Grfico 2: Participao dos docentes na elaborao/reformulao do PEE 174
Grfico 3: Razes apontadas pelos docentes para a no participao no PEE 176
Grfico 4: Modo de participao docente no PEE .... . 178
Grfico 5: Razes apontadas pelos docentes para a participao na
elaborao/reformulao do PEE .. 179
Grfico 6: Contributo docente na elaborao do Projecto Educativo de
Escola . 180
Grfico 7: Trabalho desenvolvido ao nvel do departamento e grupo
Disciplinar ... 182
Grfico 8: Participao docente em aces desenvolvidas no contexto
Turma .. 184
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vii
ndice de Quadros:
Quadro 1: Sistematizao adaptada de M. C. Roldo ........ 57/8
Quadro 2: Caracterizao pessoal e profissional dos entrevistados .. 86
Quadro 3: Caracterizao pessoal e profissional dos inquiridos por questionrio 166/7
Quadro 4: Relao entre o conceito de currculo e a tomada de medidas no
mbito do Departamento e/ou grupo disciplinar . 186
Quadro 4.1: Relao entre o conceito de currculo e a planificao e adequao
do plano de estudos .. 186
Quadro 4.2: Relao entre o conceito de currculo e a adopo de medidas de
gesto flexvel dos currculos .. 187
Quadro 4.3: Relao entre o conceito de currculo e a identificao de
necessidades de formao dos docentes . 187
Quadro 5: Relao entre o conceito de currculo e a tomada de medidas
no mbito do grupo turma .. 188
Quadro 6: Relao entre o tipo de formao inicial e a tomada de medidas
no mbito do Departamento e/ou grupo disciplinar .. 190
Quadro 7: Relao entre o tipo de formao inicial e a tomada de medidas
no mbito do grupo turma .. 190
Quadro 8: Relao entre o tipo de formao especializada e a tomada de
medidas no mbito do Departamento e/ou grupo disciplinar 191
Quadro 9: Relao entre o tipo de formao especializada e a tomada
de medidas no mbito do grupo turma 191
Quadro 9.1: Relao entre as variveis tipo de formao especializada
e tomada de medidas ... 192
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viii
ndice de Tabelas:
Tabela1: distribuio da percentagem de coordenadores de acordo com os
valores atribudos, numa escala de 1 a 10 114
Tabela 2: distribuio da percentagem de PrCE de acordo com os valores
atribudos numa escala de 1 a 10 ... 116
Tabela 3: distribuio da percentagem de coordenadores de acordo com
os valores atribudos numa escala de 1 a 10 ... 116
Tabela 4: distribuio da percentagem de PrCE de acordo com os
valores atribudos numa escala de 1 a 10 139
Tabela 5: distribuio da percentagem de coordenadores de acordo
com os valores atribudos numa escala de 1 a 10 .. 139
Tabela 6: distribuio da percentagem de PrCE de acordo com os
valores atribudos numa escala de 1 a 10 144
Tabela 7: distribuio da percentagem de coordenadores de acordo
com os valores atribudos numa escala de 1 a 10 ... 145
Tabela 8: distribuio da frequncia e percentagem de inquiridos de
acordo com a definio apresentada do conceito de currculo ... 167
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ix
Lista de Siglas:
CCRL Componentes Curriculares Regionais e Locais
CE Conselho Executivo
CEF Curso de Educao e Formao
CT Conselho de Turma
DCN Departamento de Cincias Naturais
DEB Departamento do Ensino Bsico
DLP Departamento de Lngua Portuguesa
DM Departamento de Matemtica
DM/CN Departamento de Matemtica e Cincias Naturais
EB 2,3 Escola Bsica com 2 e 3 ciclos
L1 Escola 1 de Lisboa
L2 Escola 2 de Lisboa
L3 Escola 3 de Lisboa
LBSE Lei de bases do Sistema Educativo
ME Ministrio da Educao
PALOP Pases Africanos de Lngua Oficial Portuguesa
PCA Percurso Curricular Alternativo
PCE Projecto Curricular de Escola
PCT Projecto Curricular de Turma
PEE Projecto Educativo de Escola
PIEF Programa Integrado de Educao e Formao
PrCE Presidente do Conselho Executivo
Q1,2, Questionrio 1, 2,
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
TIC Tecnologias da Informao e Comunicao
V1 Escola 1 de Viseu
V2 Escola 2 de Viseu
V3 Escola 3 de Viseu
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1
Introduo.
No domnio da investigao sobre as questes curriculares, cresce a discusso em
torno de conceitos como a descentralizao, autonomia, participao, responsabilidade
dos actores e elaborao de projectos, pelo que se tem vindo a assistir a um movimento
progressivo de transferncia de poderes e funes do nvel nacional e regional para o
nvel local, reconhecendo-se a escola como um lugar central de gesto e concedendo-se
um aumento de participao da comunidade educativa no processo de deciso. Impe-se
o papel da escola como geradora e executora de projectos bem como na procura
constante de uma resposta curricular adequada a diferentes realidades, pblicos e
situaes com que se depara.
Neste contexto, as novas exigncias que a escola tem enfrentado, nos ltimos
anos, tm contribudo para que o currculo tenha sido alvo privilegiado da ateno de
autoridades, polticos, professores, especialistas e organizaes vrias, envolvidos no
acto de educar bem como para a aquisio de uma maior consistncia e visibilidade
(Leite, 2005: 81).
Entendemos que um protagonismo maior das escolas, em relao ao currculo,
exige um trabalho cooperativo entre os diferentes actores educativos no que diz respeito
ao desenvolvimento do currculo na escola.
Zabalza (2003: 46) refere que os papis curriculares da Escola e do Professor
cruzam-se e complementam-se considerando a escola como uma unidade bsica de
referncia para o desenvolvimento do currculo esboando as linhas gerais de
adaptao do currculo s exigncias do contexto social, institucional e pessoal, e
definindo as prioridades. Ser, porm, o professor a concretizar com a sua actuao
prtica essas previses. E s ele poder adoptar as decises j antes referidas realizando
a sntese do geral (programa), do situacional (programao escolar) e do contexto
imediato (o contexto da aula e os contedos especficos ou tarefas).
As escolas, e em particular os professores, tornam-se protagonistas na adequao
do currculo nacional s realidades locais, o que emerge da necessidade de assumirem o
papel de investigadores, decisores curriculares na concepo, desenvolvimento e
avaliao de projectos intervindo de forma construtiva crtica e activa.
-
2
Reconhecendo a necessidade de um maior envolvimento por parte dos professores
nas tomadas de deciso no processo de planificao e operacionalizao do currculo,
isto , o seu desempenho no desenvolvimento curricular, parece-nos importante
conhecer as percepes dos docentes acerca do conceito de currculo e desenvolvimento
curricular e as implicaes, caso existam, que essas interpretaes tm na sua prtica
lectiva. Por outro lado, parece-nos tambm pertinente conhecer o envolvimento dos
docentes na construo das componentes locais do currculo e/ou o que os separa de
uma participao efectiva.
A nossa investigao centra-se na relao do professor com o desenvolvimento
curricular procurando identificar o modo como esta se projecta na prtica docente.
Pretende-se, desta forma, conhecer o modo como interpretado o currculo por parte
dos professores do Ensino Bsico bem como a que nvel se processa a sua participao
no desenvolvimento curricular.
A fim de possibilitar a sua viabilizao, este estudo ser delimitado aos docentes
do 3 ciclo do Ensino Bsico que leccionam as disciplinas de Matemtica, Portugus e
Cincias Naturais no ano lectivo de 2007/2008, uma vez que reconhecemos a
impossibilidade de abranger os docentes de todos os ciclos do Ensino Bsico bem como
de todas as disciplinas e reas disciplinares. Assim, seleccionmos os docentes de trs
escolas da regio de Lisboa e trs escolas do distrito de Viseu, abrangendo um total
aproximado de sessenta inquiridos. Parece-nos ser importante incluir as disciplinas de
Matemtica e Portugus por serem as nicas que so objecto de avaliao externa por
parte do Ministrio da Educao, podendo-se-lhes atribuir a caracterstica de
nuclearidade. A disciplina de Cincias Naturais foi seleccionada por ser parte integrante
da rea de formao cientfica da investigadora.
Tendo em conta os pressupostos enunciados, procuramos identificar as
concepes e percepes que os docentes apresentam sobre currculo bem como os
nveis de interveno no desenvolvimento curricular das disciplinas que leccionam.
Formulmos uma questo central para o nosso estudo: Quais so as concepes de
currculo defendidas pelos docentes do 3 ciclo do Ensino Bsico das disciplinas de
Portugus, Matemtica e Cincias da Natureza e quais os nveis de interveno no
respectivo desenvolvimento curricular?
Decorrente desta questo de investigao, enuncimos duas hipteses relativas aos
docentes:
-
3
- o nvel de interveno no desenvolvimento curricular est relacionado com o
tipo de formao inicial recebido;
- o conceito de currculo que expressam est de acordo com o respectivo nvel de
interveno no desenvolvimento curricular.
Definida desta forma a problemtica da investigao e tendo em conta o campo de
estudo em que se situa, a grande finalidade deste trabalho verificar o confronto do
professor na escola com o currculo (determinado conceito de currculo) pelo que
enunciamos os principais objectivos a prosseguir:
- Identificar as percepes dos professores do 3 ciclo do Ensino Bsico sobre o
conceito de currculo;
- Verificar os nveis de interveno/participao docente no Desenvolvimento
Curricular;
- Identificar problemas e possveis solues para uma participao efectiva dos
professores na operacionalizao/implementao do currculo.
Com estes objectivos procuramos investigar um grupo de professores quanto ao
seu entendimento sobre o conceito de currculo, o seu posicionamento no
desenvolvimento curricular e o papel que desempenham relativamente a este processo.
Propomo-nos efectuar uma reviso da literatura visando a abordagem da
problemtica conceptual de currculo, a evoluo do percurso da imagem da escola
como organizao, bem como as questes relativas ao conceito e forma de participao,
relativamente ao desenvolvimento curricular, tendo sempre presente a respectiva
contextualizao na organizao curricular do terceiro ciclo do ensino bsico em
Portugal.
Tendo em conta estas consideraes, a presente dissertao compreende um
primeiro captulo onde analisamos os conceitos de autonomia, descentralizao,
participao e projecto inseridos no percurso evolutivo da escola como organizao.
No captulo dois abordada a diversidade de perspectivas conceptuais do
currculo, analisando-se a reorganizao curricular do ensino bsico e procurando-se
integrar os conceitos referenciados anteriormente. Abordamos, tambm neste captulo,
as componentes que consubstanciam o processo de desenvolvimento curricular, os
diferentes contextos de deciso e os agentes que neles interferem.
No captulo trs, apresentamos os propsitos e objectivos deste estudo, bem como
os pressupostos que nortearam a metodologia da investigao, descrevendo-se a
-
4
metodologia utilizada, a natureza da investigao, a caracterizao do contexto e a
populao do estudo, a tcnica e os instrumentos de recolha de dados, bem como o
processo de anlise de dados. No quarto captulo tratamos da apresentao e discusso
dos resultados em articulao com a reviso da literatura.
Conclumos, tendo como referncia as questes e os objectivos que presidiram
investigao, sugerindo algumas recomendaes para futuras reflexes ou eventuais
estudos.
-
5
CAPTULO 1: Perspectivas evolutivas da administrao educativa: do nvel
central ao nvel local.
Tem surgido nas duas ltimas dcadas um fenmeno de redescoberta da escola e
do seu desenvolvimento organizacional, da escola enquanto unidade organizacional,
alterando significativamente o papel do Estado nos processos de deciso poltica de
administrao da educao.
Com efeito, tem vindo a assistir-se a um movimento progressivo de transferncia
de poderes e funes do nvel nacional e regional para o nvel local, reconhecendo-se a
escola como um lugar central de gesto e concedendo-se um aumento de participao da
comunidade educativa no processo de deciso.
Assim, tem-se verificado o esbatimento do centralismo burocrtico e
progressivamente vai-se delineando um movimento de deslocalizao de competncias
do centro para a periferia, fenmeno, por uns, globalmente chamado de descentralizao
da educao (Costa, 1997) e, por outros, de desconcentrao territorial (Sarmento, 1999;
Barroso, 1999b).
Este movimento consubstanciado num novo regime de autonomia,
administrao e gesto dos estabelecimentos da educao pr-escolar e dos ensinos
bsico e secundrio (Dec.-Lei 115-A/98, de 4 de Maio, alterado pela Lei 24/99, de 22 de
Abril e Dec.-Lei 75/2008, de 22 de Abril), propondo uma organizao da administrao
da educao assente na descentralizao e no movimento de processos de construo da
autonomia das escolas.
A autonomia de escola passa pela capacidade da mesma se identificar e, por isso
mesmo, de se diferenciar daquilo que a envolve. Mas, esta capacidade de se diferenciar
implica que seja capaz de se relacionar e interagir com o meio que a envolve.
Autonomia no significa independncia, mas sim interdependncia, pelo que a
construo de identidade prpria pressupe a participao de todos os actores que
interagem entre si. Esta nova significao da escola e do papel dos seus elementos e da
comunidade onde se encontra inserida acompanhada pela identificao do conceito de
currculo no s com os programas mas tambm com a ideia de projecto e de processo
interactivo de construo.
-
6
O projecto educativo, como consequncia desta evoluo, surge como a expresso
da identidade da escola. Ao possuir uma identidade prpria e ao relacionar-se com o
meio envolvente, a escola tem de ter capacidade para responder aos problemas e
desafios que advm dessa mesma relao. Por isso, como refere Carvalho et al. (1994),
falar de projectos, evocar o projecto , nos nossos dias, nos discursos em geral e no
discurso pedaggico em especial, uma constante e quase um inevitvel. Deste modo, no
presente captulo vamos procurar encontrar, com base em diversos autores, um suporte
para a compreenso e anlise de toda a temtica que envolve o estudo em referncia, a
participao dos diversos elementos da comunidade educativa na construo das
componentes regionais e locais do currculo. Assim, traamos uma perspectiva do papel
da escola, enquanto organizao inserida no sistema educativo e o seu enquadramento
no sistema administrativo portugus, tendo por pano de fundo os pilares da
descentralizao, da autonomia, participao e projecto.
1.1. Da administrao central escola como organizao.
Tanto no nosso pas como noutros pases europeus, o sistema educativo foi alvo
do controlo poltico por parte do Estado. Este concentrava em si todas as
responsabilidades relativas educao, criando um sistema fortemente centralizado em
que toda a organizao escolar era decidida centralmente, desde o nvel macro deciso
quanto s grandes finalidades e ideais educativos a prosseguir nacionalmente, at ao
nvel micro controle sobre o contedo programtico, organizao de grupo, tempos,
espaos, mtodos e tcnicas a cumprir na sala de aula.
Esta imagem de escola uniforme, monoltica porque padronizada e programada
centralmente, entra em coliso com a grande diversidade e heterogeneidade de pblico
escolar, designadamente com os seus interesses, expectativas, necessidades e vivncias.
A crise da educao surgiu, essencialmente, do efeito perverso da massificao
sobre a original vontade poltica e social de implementao de uma escola de massas,
assente sobre duas ideologias de educao, a desenvolvimentista e a igualitarista (Pires,
1988).
Segundo este autor, a realidade veio demonstrar que, devido grande expanso
dos sistemas de ensino motivado por estes dois pilares, desenvolvimentista e
igualitarista, o ideal de educao para todos passa, por efeitos no desejveis, a
-
7
significar a mesma educao para todos. Uma educao uniforme, torna-se o caminho
mais vivel para a necessidade crescente de atender ao crescimento exponencial dos
sistemas educativos, mais pensados como sistemas de ensino.
Numa tentativa de controlar o crescimento da organizao escolar, o poder
poltico, numa rigidez institucional, passa a regular o sistema atravs de normas,
concentrando os poderes atravs de um funcionamento administrativo burocratizado,
controlando a escola atravs dos currculos uniformes (Azevedo, 2000).
Esta organizao burocrtica, de cariz weberiana, caracterizada por uma forte
centralizao onde o Estado, por meio dos seus servios centrais e exteriores, assegura
todas as misses administrativas e onde todas as decises so tomadas ao nvel dos
servios centrais. Os servios locais do Estado tm como nica tarefa executar as ordens
ou instrues vindas do centro.
Esta constatao conduziu ao desenvolvimento de formas de reestruturao da
administrao central, numa perspectiva de mudana para a territorializao das
polticas educativas e no numa desresponsabilizao do Estado em termos de
interveno reguladora dessa mudana. Ou seja, a interveno do Estado, continuando a
ser central, na criao de competncias igualizadoras de superviso e de regulao deve,
contudo, tornar-se desconcentrada na forma de se articular com uma administrao local
mais contextualizada, utilizando processos que se fundamentam numa perspectiva de
lgica de desenvolvimento local, atravs de uma aprendizagem pessoal e organizacional
desta lgica, por todos os actores educativos intervenientes (Sarmento, 1999).
Como consequncia desta alterao das polticas educativas, o estabelecimento de
ensino tem vindo, nos ltimos anos, a adquirir uma visibilidade social crescente e a
conquistar uma cada vez maior autonomia no seio do sistema educativo. Como afirma
Brrios (1999: 86), na actualidade parece existir um movimento que, quer em termos
de investigao educacional, quer em termos de polticas e prticas educativas, valoriza
as dimenses ecolgicas e contextuais, concebendo a escola-organizao como um
espao privilegiado de formao, aprendizagem, desenvolvimento e inovao.
A valorizao da escola-organizao implica a elaborao de uma nova teoria
curricular e o investimento dos estabelecimentos de ensino como lugares dotados de
margens de autonomia, como espaos de formao participada, como centros de
investigao e de experimentao (Nvoa, 1995), passando pela criao de condies
estruturais mais adequadas aos interesses, necessidades e expectativas da comunidade,
-
8
numa gesto mais democrtica de uma escola para todos, com todos e de todos
concretizadas tanto na disponibilizao de recursos, como no modo de interveno
educativa, interagindo com o meio social (Barroso et al., 2000: 84).
1.1.1. A evoluo do percurso.
Desde os finais da dcada de 80 que se tem assistido em vrios pases a uma
alterao significativa do papel do Estado nos processos de deciso poltica e de
administrao da educao.
De um modo geral pode dizer-se que a alterao vai no sentido de transferir
poderes e funes do nvel nacional e regional para o nvel local, constituindo este um
parceiro essencial na tomada de deciso. Esta alterao afecta pases com sistemas
polticos bastante distintos e tem no reforo da autonomia da escola uma das expresses
mais significativas. So apresentados como argumentos a favor deste movimento
progressivo de descentralizao e de delegao de poderes na sociedade (i) a maior
eficcia (tanto em matria de definio de necessidades como de gesto de recursos) na
resoluo de problemas, na medida em que, confiada esta tarefa s instituies locais,
pela proximidade, elas possuem um melhor conhecimento da situao e esto em
condies de encontrar solues rpidas, (ii) a maior participao dos cidados e (iii)
uma melhor adequao entre a organizao do sistema e as particularidades locais e
regionais.
Barroso (1991) afirma que as caractersticas da administrao das escolas so
fortemente influenciadas pelo maior ou menor grau de centralizao ou descentralizao
da administrao do sistema, pelo que, apesar dos rgos serem muitas vezes
semelhantes, quer na sua composio, quer nas suas funes genricas, as suas
atribuies, competncias e modalidades de funcionamento podem ser bastante
diferentes. Isto tanto mais pertinente quando se procede a uma anlise comparativa da
administrao das escolas dos pases anglo-saxnicos1 com a dos pases da Europa
central e do sul.
De facto, na Europa confrontam-se, desde a instaurao dos modernos sistemas
educativos, duas orientaes bsicas da orientao educativa: os sistemas
administrativos anglo-saxnico e escandinavo, onde predomina uma forte 1 De notar que esta anlise assenta em estudos que analisam os dados at ao incio da dcada de 90, devendo-se ter presente que a Inglaterra tem sofrido uma alterao, no sentido inverso, a partir dessa data.
-
9
descentralizao local e cujos exemplos mais paradigmticos so a Inglaterra e a
Dinamarca, e o sistema administrativo continental existente nos pases latinos e noutros
pases germnicos onde predomina a centralizao (Fernandes, 1995).
Barroso (1999a: 132) refere que, em termos formais, este movimento iniciou-se
com as reformas da educao na Austrlia, no Reino Unido e na Nova Zelndia que
instituram, entre os finais dos anos 80 e os meados dos anos 90, um sistema de gesto
das escolas conhecido pela designao de self-management school ou local
management school.
As alteraes, verificadas na Unio Europeia (UE), no domnio da administrao
dos sistemas educativos permitem referenciar um movimento progressivo de
descentralizao e de delegao de poderes na sociedade. Num estudo sobre as reformas
do ensino obrigatrio entre 1984 e 1994 (Eurydice, 1997), nos pases da EU e da
EFTA/EEA (Islndia, Lichtenstein e Noruega), constata-se que quase todos os pases
abrangidos introduziram novas regulamentaes que deslocam o poder de deciso do
Estado central para as autoridades regionais, locais ou municipais e destes para os
estabelecimentos de ensino e, ao mesmo tempo, observa-se um aumento da participao
da comunidade educativa no processo de deciso.
De acordo com o referido estudo (1997: 29), em matria de autonomia escolar, a
maior parte dos pases parecem propensos a delegar cada vez maiores responsabilidades
administrativas, ou outras, s escolas. o que, por vezes, se chama gesto local da
escola ou direco a partir da escola. Mais concretamente, nos ltimos anos foram
introduzidas, em quase todos os sistemas educativos, medidas mais ou menos radicais
destinadas a aumentar a autonomia decisional das escolas.
Pode-se concluir que a diversidade das polticas de gesto local da educao e de
reforo da autonomia das escolas oscila entre uma autonomia dura, de iniciativa de
governos conservadores, com o objectivo expresso de introduzir a lgica do mercado na
organizao e funcionamento da escola pblica, e uma autonomia mole em que as
iniciativas so sectoriais e limitadas ao estritamente necessrio para aliviar a presso
sobre o Estado, preservando o seu poder, organizao e controlo (Barroso, 1999b: 13).
nesta autonomia mole que se situam pases como Portugal, em que essas
polticas se inserem no quadro de processos mais vastos de descentralizao, com
transferncia de poderes e recursos para as colectividades locais, aumento limitado de
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competncias e remodelao dos rgos de gesto das escolas, elaborao de projectos
educativos e instaurao de mecanismos de avaliao e prestao de contas.
1.1.2. Descentralizao, autonomia e participao
No quadro da administrao do sistema educativo portugus, a descentralizao
assume um princpio de raiz constitucional que retomado pela Lei de Bases do
Sistema Educativo LBSE Lei n. 46/86, de 14 de Outubro (Costa, 1997) e na qual se
estabelece a descentralizao e a desconcentrao como princpios que esto na base da
distribuio de competncias pelos diferentes nveis da administrao. De facto, so
definidos como nveis de administrao do sistema educativo estruturas de mbito
nacional, regional e local, que asseguram a sua articulao com a comunidade, mediante
a participao de professores, alunos, famlias, autarquias, entidades representativas de
actividades sociais, econmicas culturais e cientficas (LBSE, art. 43). Para Fernandes
(1995), este artigo pressupe a existncia de trs tipos de colectividades de mbito
progressivamente mais restrito (a comunidade nacional, a comunidade regional e a
comunidade local) que, para alm de servios, tambm so intervenientes activos. Na
opinio do referido autor, estas comunidades distinguem-se entre si pelo mbito
geogrfico e pelos projectos educativos que suportam j que, no mesmo artigo da
LBSE, se considera que as estruturas administrativas regionais e locais devem adoptar
formas orgnicas de desconcentrao e descentralizao.
Fernandes (1988: 107-113) de opinio que o modo como a LBSE aplica aqueles
princpios no seu articulado permite distinguir quatro tipos de distribuio de poderes:
- autonomizao institucional da funo administrativa do Estado, isto , a
separao entre funes polticas (da competncia dos rgos polticos) e
funes administrativas (da competncia dos rgos administrativos);
- descentralizao funcional, isto , a transferncia de determinadas tarefas (de
funes especficas) a organismos especializados;
- descentralizao territorial, isto , transferncia de poderes para rgos de
administrao do sistema educativo territorialmente localizados, dotados de
autonomia e de competncias prprias (no dependentes hierarquicamente do
poder poltico central) (Costa, 1997: 39);
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11
- desconcentrao administrativa, isto , forma limitada de distribuio de
poderes (pois as decises localmente tomadas carecem de autonomia
relativamente ao poder central), cujas vantagens se situam basicamente ao
nvel tcnico (Costa, 1997).
Pelo que, conclui, ser o nvel administrativo regional o principal beneficirio da
descentralizao consignada na LBSE. Em seu entender, a concepo de administrao
da educao introduzida na LBSE assenta na descentralizao territorial das
competncias (Fernandes, 1988: 111).
O reconhecimento de que o nvel central no , nem pode ser, o nico quadro para
pensar e decidir a educao (Macedo, 1999), denota uma nova concepo e
posicionamento dos estabelecimentos de ensino enquanto organizaes dotadas de
maior autonomia e com capacidade de deciso e inovao educativa, reforando, assim,
o entendimento da escola enquanto unidade organizacional (Costa, 1997: 42).
Barroso (1999b: 13) considera que, para que se possa devolver escola pblica o
sentido cvico e comunitrio, torna-se necessrio que ao nvel da administrao central
do Estado, do poder local e das escolas se criem estruturas, modos de organizao e de
gesto que permitam e induzam uma aliana entre o Estado, os professores, os pais dos
alunos e restante comunidade e o equilbrio da sua interveno.
1.1.3. De uma cultura de homogeneidade a uma cultura de diversidade
A eroso do paradigma do Estado Educador, o desenvolvimento de relaes
horizontais de interdependncia entre instituies educativas e os parceiros locais e os
movimentos para uma maior descentralizao das competncias, num contexto europeu
e no apenas portugus, para as instituies locais (Fernandes, 1999), tem conduzido,
cada vez mais, a uma conjugao de esforos de todos os parceiros societais do
territrio nos processos educativos.
A retrica da participao da comunidade educativa e da autonomia das escolas
traduz-se, na prtica, pela existncia de estruturas, mecanismos e prticas participativas
que integram professores, alunos, pais, pessoal no docente, elementos da autarquia e,
eventualmente, elementos representantes das actividades de carcter cultural, artstico,
cientfico, econmico e ambiental.
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No obstante esta tendncia, parecem existir algumas dificuldades da escola face
participao externa, naquilo que consideram ser o domnio prprio do exerccio
profissional. Num estudo efectuado por Cabrito et al. (1995), ao identificarem as
relaes da escola com o meio, nomeadamente, com outras instituies de ensino, com
os agentes econmicos, com a Cmara Municipal e com os rgos descentralizados do
poder central, encontram trs lgicas diferentes de relacionamento: (i) isolamento entre
os vrios estabelecimentos de ensino em que se privilegiam as trocas unilaterais com o
meio; (ii) dependncia face aos rgos do poder central e local de quem dependem
hierarquicamente e, por outro lado, face aos actores sociais a quem atribuem a
capacidade para resolver os problemas decorrentes da gesto quotidiana do universo
escolar e (iii) cooperao nas relaes entre a escola e o espao local, que ganha forma
em torno de iniciativas comuns.
Recentemente, com a implementao do novo regime de autonomia,
administrao e gesto das escolas e agrupamento de escolas (Dec.-Lei 115-A/98)
sustenta-se o favorecimento da dimenso local das polticas educativas e da partilha de
responsabilidade (Prembulo do Dec.-Lei). 2
neste sentido que se orientam alguns princpios que norteiam a administrao
das escolas, nomeadamente quando se fala em democraticidade e participao de todos
os intervenientes no processo educativo e representatividade dos rgos de
administrao e gesto das escolas, garantida pela eleio democrtica de representantes
da comunidade educativa (Dec.-Lei 115-A/98, art. 4), o que estabelece um maior
envolvimento dos parceiros sociais na gesto dos estabelecimentos escolares e na
concepo dos respectivos projectos educativos.
Da flexibilizao do sistema de ensino pblico atravs da afirmao de propsitos
de descentralizao e autonomia dos estabelecimentos de ensino, espera-se que se
desenvolvam intervenes educativas assentes, quer nas iniciativas individuais, quer em
parcerias e pactos de cooperao de mbito local entre escolas, municpios e entidades
privadas (Fernandes, 1999), possibilitando a emergncia de uma efectiva cultura de
diversidade.
2 De notar que, com a publicao do Dec.-Lei n. 75/2008, de 22 de Abril, criada a figura do director da escola, rgo unipessoal, que concentra grande parte da responsabilidade da execuo das polticas educativas locais.
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1.2. Da ideia de projecto construo de projectos: do projecto educativo de
escola ao projecto curricular
Um projecto educativo de escola pode ser identificado como um alvo estratgico,
uma ambio, uma viso do futuro assente em princpios, valores e polticas que se
aplicam na aco educativa e pedaggica com os alunos, e cuja construo obriga
existncia de consensos entre os diferentes elementos que constituem a escola,
compatibilizando-se as normas nacionais e os projectos individuais e de grupo.
Neste sentido, o projecto educativo de escola dever significar, antes de mais, a
passagem de uma lgica estatal para uma lgica comunitria, uma construo da
autonomia, uma atitude face ao futuro, um processo de planeamento e a existncia de
lideranas capazes de coordenar a aco e gerir conflitos e divergncias, no quadro de
uma gesto participativa. Para tornar possvel esta ideia de projecto necessrio que os
elementos que constituem a organizao-escola se identifiquem com um conjunto de
princpios, valores e polticas capazes de mobilizarem a aco da escola e orientem a
tomada de deciso para a resoluo de problemas (Barroso, 1993: 23).
Estes princpios, valores e polticas que definem o projecto de escola so
delimitados pela natureza e especificidade do acto educativo, organizado numa
instituio concreta, no existindo em abstracto, sendo, deste modo, resultado de uma
reflexo colectiva sobre o que a escola, quais as suas funes, os seus problemas e a
forma de os solucionar, ou seja, uma reflexo orientada para o diagnstico e a aco.
Ainda de acordo com Barroso (1993), por se tratar de um processo de construo
de consensos o projecto educativo no dever ser desenvolvido pelo chefe do
estabelecimento de ensino, ou pelo conselho executivo, ou por um grupo de professores
ainda que com a colaborao de grupos de alunos, pessoal no docente, pais, etc. Antes,
dever constituir um processo que atinja a globalidade da escola-organizao e
comprometa todos os seus elementos, no se limitando a ser construdo atravs de
processos de participao indirecta ou imposto hierarquicamente.
Como afirma Antoine Prost (1985: 132) citado por Barroso (1993: 24), no h
projecto sem consenso, pelo menos parcial, e no h consenso sem debate. Para que um
projecto de escola seja vivel, preciso que obtenha um mnimo acordo por parte de
todos os parceiros: professores, pessoal administrativo, pais e alunos. preciso portanto
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que resulte de uma ampla discusso: a aprovao formal no conselho de escola
necessria mas no suficiente. A elaborao do projecto exige a implicao do conjunto
dos parceiros.
Como todos reconhecem, esta construo do projecto educativo afigura-se
complexa, sendo necessria a existncia de uma gesto participativa, o exerccio de uma
liderana efectiva, informao e comunicao permanente e a formao de
competncias para a sua elaborao e execuo, ou seja, para que se efective a
construo de um verdadeiro projecto educativo de escola necessitamos de trs
condies essenciais: querer, poder e saber (Barroso, 1993).
A ausncia de participao nos projectos educativos de escola permite, segundo
Costa (2003), tipificar alguns cenrios. Assim, poderemos estar em presena de um
projecto-plgio sempre que este resulta de uma transposio e apropriao por
determinada escola do projecto desenvolvido por outra organizao, do projecto do
chefe como sendo um projecto da responsabilidade do rgo de gesto e no sujeito a
discusso e negociao participada dos vrios elementos da comunidade educativa ou,
por ltimo, do projecto sectrio se estivermos perante um projecto que se concentra
apenas numa parte diminuta do todo, quer se trate de uma actividade ou de um grupo.
Por sua vez, o projecto curricular define os objectivos, as actividades, as
estratgias, os recursos e os processos de avaliao considerados adequados
apropriao do conhecimento e realizao de novas aprendizagens, em domnios
especficos, facilitadores do desenvolvimento global do aluno (Macedo, 1995: 110).
O projecto curricular de escola, tal como o plano anual, o regulamento interno e
os planos curriculares de turma, constituem documentos de planificao operatria que
se destinam a concretizar o projecto educativo de escola. Como tal, ele deve
desempenhar trs papis fundamentais: (i) traduzir num modelo de interveno
didctica a concepo de educao assumida no projecto educativo da escola, (ii)
confrontar o currculo prescrito com o projecto educativo da escola, fazendo a
adequao daquele s caractersticas do contexto em que vai decorrer a aco educativa
e (iii) dar unidade e coerncia s prticas curriculares na escola e garantir a interaco
das actividades lectivas e no-lectivas (Carvalho et al., 1994: 87).
Como consequncia, Zabalza in Canrio (1992) defende que o currculo adquire a
sua expresso mais prxima do trabalho escolar atravs dos projectos curriculares da
escola que representam a adaptao do programa oficial s caractersticas particulares
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de cada escola, estabelecendo uma conexo entre currculo e projecto, sendo o primeiro
encarado como um projecto formativo geral e a programao como um projecto
curricular de escola.
impensvel continuar a perceber o currculo de uma forma esttica, apenas
como um plano, imutvel nos seus contedos, organizao e modelos de trabalho, a
partir de um nico padro centralmente definido. neste sentido que a lgica de
projecto curricular se deve sobrepor lgica da administrao nacional do currculo,
equacionando-se vias diferenciadas dentre de fronteiras nacionalmente definidas e
controladas, que conduzem a um maior sucesso ao nvel das aprendizagens curriculares
(Roldo&Gaspar, 2007).
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CAPTULO 2: O currculo: diversidade de perspectivas conceptuais
O currculo, sendo um conceito polissmico encerrando alguma ambiguidade, tem
sido encarado, ao longo do tempo, de formas diferentes em funo do contexto social,
econmico e cultural das diversas sociedades a que se destina. Como consequncia,
assistimos emergncia de uma elevada diversidade de definies propostas
influenciadas por mltiplos factores que vo desde a existncia de diferentes
concepes de Homem e de Educao e assumpo de determinados paradigmas
cientficos em detrimento de outros, at tenso terico-prtica entre currculo real e
currculo oculto e no coincidncia efectiva entre o currculo real e o currculo
prescrito ou formal.
Assim, ao longo deste captulo iremos procurar sistematizar diferentes concepes
de currculo dentro de um quadro de evoluo desse mesmo conceito, associado a
diferentes concepes tericas. Abordaremos, de igual modo, questes relativas ao
desenvolvimento curricular no sistema educativo portugus e a respectiva participao
dos docentes, a reorganizao curricular no ensino bsico e a construo de
componentes curriculares locais.
2.1. O conceito
O termo currculo tem sido usado com diferentes significados. Pacheco (1996),
numa tentativa de enquadrar a diversidade de conceptualizaes deste termo, apresenta
duas perspectivas. Na primeira, o currculo identificado com um plano estruturado e
organizado de acordo com determinados objectivos, contedos e actividades consoante
a natureza das disciplinas, cuja elaborao segue duas regras fundamentais: a previso e
a preciso de resultados. O currculo corresponde, assim, a um plano geral que se
pretende que seja posteriormente implementado respeitando as suas intenes iniciais.
Na segunda perspectiva, o currculo representa o conjunto de experincias educativas
vividas pelos alunos, possuindo, por isso, um elevado grau de indeterminao,
identificando-se com a ideia de projecto, de edifcio em permanente construo e
reformulao. Deste modo, o currculo, embora inclua um plano de aco pedaggica
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previamente definido, permanece em aberto e dependente das condies da sua
aplicao, no correspondendo a uma estrutura determinada.
Segundo Pacheco (1996), a primeira perspectiva enquadra-se na tradio latino-
europeia do currculo, sendo este termo usado como sinnimo de programa, por vezes
de forma muito restrita, no sentido de uma simples listagem de contedos a tratar pelo
professor. Parece ter sido esta a noo de currculo que marcou, at h relativamente
pouco tempo, a lgica curricular no nosso pas. Apesar disso, segundo Ponte, Matos e
Abrantes (1998), mantm-se a tendncia em identificar currculo com programa, no seu
sentido mais restrito de listagem de contedos a leccionar pelo professor num
determinado ano ou ciclo. Segundo os mesmos autores, esta tendncia corresponde a
uma viso de currculo muito limitada e redutora (p. 18), sendo desejvel que os
documentos curriculares contemplem, de forma articulada, os objectivos, os contedos,
os mtodos e a avaliao.
Na tradio anglo-saxnica, a segunda perspectiva de currculo alm de incluir o
plano ou o programa, abrange tambm todo o conjunto de experincias educativas
vividas pelos alunos (Pacheco, 1996).
Esta definio de currculo, mais abrangente que a noo de programa, inclui
orientaes sobre o ensino e indicaes para a sua implementao na prtica,
contemplando objectivos, contedos, sugestes metodolgicas para o professor,
materiais e formas de avaliao, tendo em conta o contexto do ensino e aprendizagem.
Tambm parece ser nesta perspectiva, mais abrangente, que Roldo (1999) define
currculo. Situando o conceito num quadro histrico-cultural, para esta autora o
currculo consiste no conjunto de aprendizagens que, por se considerarem socialmente
necessrias num dado tempo e contexto, cabe escola garantir e organizar (p. 24).
Segundo Roldo (1999: 45), o programa constitui apenas um instrumento do
currculo, ao definir e prever o seu desenvolvimento, a sua organizao e mtodos de
aprendizagem, que podem ser alterados no sentido de se alcanarem as finalidades
curriculares que lhes deram origem. O programa constitui, assim, apenas um meio de
operacionalizao do conjunto de aprendizagens consideradas fundamentais por uma
determinada sociedade. Esta noo de currculo delega escola a responsabilidade de
organizar e assegurar o conjunto de aprendizagens que engloba, no s as decises
tomadas ao nvel das estruturas polticas, como as decises ao nvel das estruturas de
base do sistema educativo. Para Roldo (1999: 44), o currculo consiste num projecto
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que reconstrudo e apropriado pela escola de acordo com o contexto, tendo em conta
as grandes linhas definidas em termos nacionais. Para Pacheco (1996), mais do que um
projecto, o currculo deve ser visto como uma construo permanente de prticas,
resultante da interaco e confluncia de vrias estruturas (polticas, administrativas,
econmicas, culturais, sociais, escolares...) na base das quais existem interesses
concretos e responsabilidades compartilhadas (p. 20).
So vrios os autores que defendem a existncia de mltiplas interpretaes para o
conceito de currculo (Gimeno, 1998; Vilar, 1994; Pacheco, 1996; Roldo, 1999, 1999a;
Roldo & Gaspar, 2007). Pacheco (1996), partindo do timo latino da palavra currculo,
currere, vai analisando ideias de vrios autores de modo a chegar a um conceito mais
elaborado do termo. Assim, ao termo currere, que significa caminho, jornada,
trajectria, percurso a seguir, associa duas ideias fundamentais, sequncia ordenada e
totalidade de estudos. Deste modo, o termo currculo poder ser entendido como o
projecto que procura cumprir propsitos bem definidos.
Por outro lado, a partir do conjunto das diversas concepes do termo, este autor
identifica duas definies que se assumem como as mais comuns. Uma de carcter
formal, que identifica currculo como plano previamente planificado a partir de fins e
finalidades e uma outra informal que o descreve como processo decorrente da aplicao
do referido plano.
Na primeira perspectiva, o currculo identificado como um conjunto de
contedos a ensinar e como um plano de aco, correspondendo, deste modo, a um
plano de estudos ou a um programa, estruturado e organizado a partir de objectivos,
contedos e actividades e de acordo com a natureza de cada disciplina. Esta definio,
identifica currculo com programa e considera que o currculo deve ser algo de bem
planificado e implementado de acordo com as intenes previstas.
Na segunda perspectiva, no obstante se continuar a considerar o currculo como
um plano, este assume propsitos flexveis e refere-se ao conjunto de experincias
educativas vividas pelos alunos no contexto escolar. Esta noo de currculo, bastante
presente na tradio anglo-saxnica, engloba as decises ao nvel das estruturas
polticas e ao nvel das estruturas escolares. Assim, importante a ideia de adaptao do
propsito global do currculo ao contexto em que ele desenvolvido, valorizando o
papel dos actores educativos e tendo em conta a importncia de considerar as suas
experincias, saberes, atitudes e crenas.
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20
Pacheco (1996) salienta que a sistematizao do significado de currculo passa
sempre por analisar se ele deve representar:
- o que se deve ensinar ou o que os alunos devem aprender;
- o que se deve ensinar e aprender ou o que de facto se ensina e aprende na
prtica;
- o que se deve ensinar e aprender ou tambm o modo de o fazer (metodologias,
mtodos e processos de ensino);
- algo de preciso, especificado e acabado ou, pelo contrrio, algo aberto que se
precisa e delimita ao longo da sua implementao.
Considerando diferentes nveis de abrangncia para precisar o sentido em que
usado o termo currculo, Ponte, Matos e Abrantes (1998) identificam um sentido
restrito, em que o currculo entendido como a sequncia de disciplinas que integram
um curso e, eventualmente, os contedos de cada uma dessas disciplinas, um sentido
um pouco mais amplo, em que o currculo, para alm do aspecto anterior inclui ainda a
definio das metodologias a adoptar, um sentido mais amplo em que o currculo pode
ser considerado como o conjunto das aces educativas planeadas pela escola. Neste
caso, o currculo um plano elaborado de acordo com o contexto em que ocorre e com
os saberes, atitudes e valores de todos os intervenientes e, por ltimo, o entendimento de
currculo como tudo o que os alunos aprendem, formal ou informalmente.
Por outro lado, alternativamente procura do entendimento do significado de
currculo como algo que deve conter determinadas caractersticas ou em que se torna
necessrio precisar o nvel de sentido em que utilizado, pode ser mais relevante
acentuar a ideia de que se trata de uma estratgia de aco educativa. Tal como refere
DAmbrsio (1994: 22), o ponto crtico a passagem de um currculo cartesiano [que
ilustra por meio de uma representao cartesiana tridimensional em que os eixos so os
objectivos, os contedos e os mtodos]... a um currculo dinmico que reflecte o
momento scio-cultural e a prtica educativa nele inserida. No entanto, pode ainda
considerar-se que o modo como essa estratgia concebida, interpretada e praticada,
constitui ainda uma caracterstica fundamental do que o currculo. Assim, chega-se
ideia de currculo como praxis:
Conceber o currculo como uma praxis significa que muitos tipos de aco intervm em sua configurao, que o processo ocorre dentro de certas condies concretas, que se configura dentro de um mundo de interaces
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culturais e sociais, que um universo construdo no natural, que essa construo no independente de quem tem poder para constru-la (Gimeno, 1998: 21).
Em consequncia, o currculo define-se a partir da actividade de mltiplos actores,
com competncias e caractersticas de interveno diversa e que dispem de
mecanismos de aco e deciso prprios. Alm disso, o currculo configura-se e precisa-
se em diferentes nveis que no guardam dependncias estritas uns dos outros. So
instncias que actuam convergentemente na definio da prtica pedaggica com poder
distinto e atravs de mecanismos peculiares (Gimeno, 1998: 101).
Vrios nveis de currculo, apresentados por vrios autores, clarificam esta forma
de entender o currculo:
- currculo enunciado: os documentos oficiais que supostamente traduzem as
intenes dos autores;
- currculo implementado: o modo como se concretizam as indicaes oficiais;
- currculo adquirido: aquilo que de facto os alunos aprendem.
Gimeno (1998) apresenta uma outra distino diferente desta anterior e que ajuda
a clarificar sobre os diferentes tipos de decises e prticas que intervm em cada nvel
de objectivao do currculo. Assim, este autor considera:
- o currculo prescrito, concebido como o conjunto de prescries ou orientaes
gerais definidas a nvel oficial;
- o currculo apresentado aos professores, ou seja, o conjunto de materiais que
so elaborados com o objectivo de traduzir para os professores o significado e os
contedos do currculo prescrito;
- o currculo moldado pelos professores, no sentido do modo como cada professor
molda, com base na sua cultura profissional, as directivas oficiais e o currculo
apresentado nos diversos materiais, guias e livros de texto;
- o currculo em aco, ou seja, a concretizao curricular que ocorre na prtica
da sala de aula;
- o currculo realizado que diz respeito aos efeitos da prtica lectiva e que se
traduz, principalmente, nas aprendizagens realizadas pelos alunos;
- o currculo avaliado, ou seja, os aspectos do currculo que so avaliados. Estes,
por diversas razes, tendem muitas vezes a incidir sobre determinadas
componentes em detrimento de outras, condicionando o ensino do professor e a
aprendizagem dos alunos.
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22
O currculo , pois, uma prtica que se constri a partir de um processo contnuo
de deciso que no pode ser separado dos contextos em que ocorre e dos actores
educativos que nele intervm.
Numa tentativa de sintetizar o que atrs foi referido, a partir de uma definio que
inclua os vrios elementos que integram o significado de currculo, salientamos a que
proposta por Pacheco (1996: 20):
O currculo, embora apesar das diferentes perspectivas e dos diversos dualismos, define-se como um projecto, cujo processo de construo e desenvolvimento interactivo; que implica unidade, continuidade e interdependncia entre o que se decide ao nvel do plano normativo, ou oficial, e ao nvel do plano real, ou do processo de ensino-aprendizagem. Mais ainda, o currculo uma prtica pedaggica que resulta da interaco e confluncia de vrias estruturas (polticas, administrativas, econmicas, culturais, sociais, escolares...) na base das quais existem interesses concretos e responsabilidades compartilhadas.
Roldo (2003: 15) adopta uma perspectiva triangular do currculo que procura
fazer interagir pelo menos estes trs nveis de abordagem do conceito: como facto, no
seu formato prescritivo, que num dado momento traduz e corporiza o equilbrio possvel
dos factores que nele intervm; como praxis, apropriada reflexivamente pelos seus
actores, que se actualiza em prticas que o constroem e constantemente reformulam
gerando novas tenses de forma interactiva; como interaco entre o explcito prescrito
(facto) e o vivido (praxis), mediada pelas prestaes, reflexo e representaes dos seus
actores, interaces que, por sua vez, se constitui ela prpria em objecto curricular.
Tendo em conta o nfase colocado nas mltiplas concepes de currculo, Gaspar
& Roldo (2007) apresentam uma sntese em torno de quatro grandes caractersticas
contributivas para a construo do conceito de currculo. Assim, este conceito aparece
centrado nos resultados da aprendizagem, nos contedos a ensinar, nos processos de
aprendizagem e nos meios ou materiais para a aprendizagem.
O conceito de currculo centrado na primeira destas caractersticas remete para
uma listagem de enunciados de finalidades e objectivos a atingir pela escola (Gaspar &
Roldo, 2007: 27), implicando uma funo de medio procurando atingir fins
mensurveis e dar visibilidade ao produto, constituindo-se, deste modo, como uma
sequncia de objectivos com acentuao nos resultados obtidos.
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23
No segundo conceito o currculo associado com a ideia de matria a leccionar ou
contedo programtico, consistindo num plano de estudos com carcter permanente.
Segundo as mesmas autoras anteriormente citadas, o currculo, de acordo com esta
perspectiva, consistir ento no conjunto de conhecimentos que faculta, capacidades e
aptides que promove e desenvolve, competncias que proporciona e at valores que
incute (2007: 27), sendo entendido como um programa de aprendizagem, uma lista do
que necessrio aprender, assumindo-se como um plano para a aco. Assim, a sua
funo predominante consistir na produo de saberes, no incremento da formao de
perfis e na acumulao de cultura.
No conceito de currculo associado aos processos de aprendizagem constatamos
que ele igualmente um programa mas coloca em destaque os processos de
aprendizagem, tendo como referente a experincia possibilitada pela aprendizagem
desenvolvida que dever pressupor a que fora anteriormente adquirida (ibidem: 8)
correspondendo ideia de um projecto que se constri e reconstri tendo como funes
bsicas o desenvolvimento de caractersticas pessoais, a promoo de relaes sociais e
o aparecimento de vivncias efectivas.
Por ltimo, o quarto conceito remete-nos para o conjunto de materiais de estudo a
utilizar para a aprendizagem. Nesta concepo o manual aparece como o material
privilegiado a utilizar, tornando-se, a par de outros materiais, o meio que possibilita a
visibilidade e aplicabilidade do currculo, cuja funo predominante , ento, o controle
do conhecimento e da experincia.
a partir do conceito de currculo centrado nestas quatro caractersticas,
resultados da aprendizagem, contedos a ensinar, processos de aprendizagem e meios
ou ambientes para a aprendizagem, que iremos definir a categorizao da anlise de
contedo dos inquritos por questionrio e das entrevistas que faro parte dos nossos
instrumentos de recolha de dados do presente estudo de investigao.
Temos abertura para vrias conceptualizaes do currculo, assumindo o conceito
plural integrado por estes quatro referentes que se cruzam entre si.
Assim, aceitando essa diversidade de conceptualizaes do currculo, assumimos
a proposta de Roldo e Gaspar (2007: 29), as quais defendem que o currculo ,
sobretudo, um plano, completado e reorientado por projectos, que resulta de um modelo
explicativo para o que deve ser ensinado e aprendido, compe-se ento de: o que, a
quem, porqu e quando vai ser oferecido, como e com que oferecido.
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24
2.2. Evoluo curricular
Mas no basta mudar os currculos para inovar em educao. importante partir
da anlise dos problemas que afectam as prticas curriculares de modo a conseguir
propor alternativas para a inovao. No caso do nosso pas, so particularmente
relevantes os seguintes quatro aspectos problemticos: (1) viso do currculo como
programa a cumprir, tendo o manual escolar como o mediador todo-poderoso que o
interpreta; (2) tendncia da escola para intervir por meio de prticas uniformes e
homogneas; (3) viso do professor como executor acrtico e consumidor de currculo; e
(4) tendncia para que a escola seja uma instituio fechada e desligada das
necessidades e problemas do meio. Algumas alternativas para a inovao passam por
ampliar o conceito de currculo, entendido como um projecto integrado que articula e
fundamenta as actividades promovidas pela escola, atravs da participao dos
professores em processos de desenvolvimento curricular e pelo maior protagonismo e
responsabilizao da escola na construo e adequao do currculo (Alonso, 1994).
A necessidade de repensar o modo como se entende o currculo foi reconhecida
pelo prprio Ministrio da Educao que durante o ano lectivo 1996/97 lanou o
Projecto Reflexo Participada sobre os Currculos do Ensino Bsico. Nos documentos
discutidos no mbito deste projecto (Ministrio da Educao, 1996) defende-se uma
concepo de currculo mais abrangente, entendendo-o como um projecto de promoo
de aprendizagens participado pelos seus gestores e agentes os professores (Ministrio
da Educao, 1996: 6). Integrando-se nas tendncias tericas de currculo defendidas
em vrios pases ocidentais, tambm em Portugal comeou a ganhar fora um conceito
de currculo oficial como um documento de referncia mais do que como documento
normativo e uma viso do professor como o principal responsvel pela gesto e
desenvolvimento do currculo. Anteriormente procurou-se apresentar um conjunto de ideias que
progressivamente confluram numa definio de currculo que salienta os aspectos que
intrinsecamente esto contidos e constituem o significado deste conceito. Neste ponto,
uma vez que consideramos que a compreenso de determinado conceito est igualmente
ligada ao conhecimento do modo como ele evoluiu, apresentamos uma breve
caracterizao da evoluo do currculo ao longo das ltimas dcadas.
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Nesta breve apresentao da evoluo do conceito de currculo teremos em conta
um conjunto de factores de natureza diversa que a influenciaram destacando-se, entre
estes, os de ordem social, poltica, os relacionados com a construo dos saberes
cientficos, bem como os que se prendem com as diversas teorias educativas.
Foi com naturalidade que assistimos, no incio do sculo passado, ao
estreitamento das relaes entre as questes curriculares e o desenvolvimento social,
contribuindo para que as instituies escolares respondessem, em grande parte por meio
do currculo que propem, aos valores e necessidades sociais, econmicos e polticos de
um determinado contexto social. Deste modo, compreende-se que estes factores de
natureza social e poltica sejam considerados com importante relevncia, influenciando
a evoluo curricular. Um outro factor que naturalmente influencia o currculo escolar
a evoluo dos saberes cientficos, influncia esta que se consubstancia, embora no
necessariamente de uma forma imediata, na introduo de novos contedos, noutras
formas de abordar contedos j inseridos no currculo, na menor nfase dada a alguns
dos que eram habitualmente trabalhados ou na recomendao de privilegiar novas
metodologias.
Por ltimo, todo o conjunto de aspectos que compreendem o objecto das teorias
educativas, isto , o que se conhece acerca do modo como o aluno aprende e como pode
estruturar a sua aprendizagem, constituindo-se, igualmente, como factores que
influenciam a evoluo curricular. De facto, as diferenas que se verificam entre uma
perspectiva que encara o aluno como um sujeito passivo a quem se transmite
conhecimento e uma viso que o encara como um sujeito activo e responsvel pela
construo do seu prprio saber, coloca em evidncia o modo como este aspecto pode
assumir-se como um importante factor da evoluo curricular.
O conceito de currculo evidencia um conjunto de relaes que o vo moldando e
fazendo evoluir, relaes do currculo com a sociedade e os seus valores inerentes e
ainda com as concepes de homem, mundo e informao (Pacheco, 1996: 18).
No entanto, para caracterizarmos, em termos gerais, a evoluo curricular ao
longo do sculo passado, consideramos fundamentalmente a prevalncia da influncia
dos factores sociedade, saberes cientficos e teorias educativas. Deste modo, podemos
afirmar que, nas primeiras dcadas do sculo anterior, sobretudo nos Estados Unidos, se
viveu um perodo em que ao nvel curricular se verificava uma incidncia nas prticas e
em que se valorizavam os princpios de formao integral do aluno, salientando-se a
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importncia do desenvolvimento das capacidades e competncias dos alunos, a
preocupao em proporcionar um ambiente de aprendizagem assente na auto-descoberta
e na auto-construo do seu prprio conhecimento dando-se maior nfase ligao da
aprendizagem s necessidades prticas da vida de todos os dias. Esta tendncia
curricular assentava, em grande parte, nas ideias de John Dewey e visava ultrapassar as
concepes tradicionais de escola do sculo anterior com o objectivo de a modernizar
compatibilizando-a com uma sociedade marcada por grandes clivagens e diversidades
(Roldo, 1999a).
Em meados do sculo, a tnica curricular deslocou-se para o paradigma do
racionalismo acadmico, para a dimenso dos saberes que emerge em parte como
reaco alegada insuficincia de preparao acadmica oferecida pelas escolas de
inspirao progressista, e em larga medida pela agudizao da competio cientfico-
tecnolgica, onde a organizao do currculo se centrava nas disciplinas.
Ao nvel curricular destacada a valorizao dos saberes cientficos, cabendo
escola e aos professores um papel, fundamentalmente, de transmissores de saberes e de
preparao para a vida futura. Esta perspectiva geral entendida de modo muito
diferente por duas correntes. Para uma primeira corrente, associada ao New Academic
Reform Movement dos anos 60 e 70 e em que desempenhou um papel importante o
trabalho de Jerome Bruner, os currculos deviam ser actualizados de forma a integrar os
recentes desenvolvimentos cientficos. Uma segunda corrente, de cariz behaviorista,
seguiu uma linha muito diferente, introduzindo ao nvel do currculo uma grande
tecnicidade na planificao e avaliao do ensino (Roldo, 1999a). As ideias de Tyler,
em que se destaca a valorizao dos objectivos educacionais e a sua introduo no
design e na implementao do currculo, so suportadas pelo trabalho desenvolvido por
Bloom relativo taxionomia dos objectivos educacionais (Freitas, 2000) e enquadram-
se numa concepo behaviorista do ensino.
A partir dos finais dos anos sessenta, verificamos o afastamento do pndulo do
paradigma do racionalismo acadmico com valorizao da dimenso do saber e das
questes tcnicas relacionadas com a aprendizagem, colocando-se o foco no aluno e nos
seus interesses. Assim, preconiza-se uma grande flexibilidade e abertura do currculo,
que deve centrar-se em temas de interesse dos alunos e de actualidade social,
defendendo-se uma abordagem integradora do conhecimento focada em problemas reais
(Roldo, 1999a).
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Nos finais dos anos setenta, tendo em conta o baixo nvel de conhecimentos
supostamente causado pelos currculos baseados na relevncia para os alunos dos temas
abordados, o pndulo volta a deslocar-se para os saberes, verificando-se a necessidade
de garantir, por meio do currculo, o domnio de conhecimentos bsicos e defendendo-
se uma aprendizagem mais sistematizada.
No final do sculo, podemos observar que a evoluo curricular marcada por
influncias que integram elementos de vrias correntes no domnio do currculo, onde
podemos identificar uma linha de pensamento baseada nas ideias de Dewey (defesa de
um currculo centrado no aluno como pessoa e como cidado), outra com a perspectiva
do Academic Reform Movement (salientando a importncia dos saberes enquanto
preparao cientfica e prtica que permita fazer frente s exigncias da sociedade
actual) e, por outro lado, podemos igualmente observar a influncia das ideias de Bruner
e dos Behavioristas uma vez que se valoriza o mtodo de descoberta e a importncia de
compreender e usar o mtodo cientfico bem como se verifica a integrao de tcnicas
baseadas na perspectiva estmulo-resposta (Roldo, 1999a).
Para Roldo (1998), esta perspectiva abrangente abarca diversas correntes e marca
a evoluo do currculo nas sociedades ocidentais no final do sculo passado. Comporta
necessariamente vrias contradies entre as quais se destacam a ambivalncia do
currculo escolar decorrente da necessidade de se ajustar a mudanas sociais
extremamente rpidas e, em simultneo, ser um factor de coeso e identidade social, a
tenso entre um currculo enquanto percurso scio-cultural e enquanto percurso
individual de desenvolvimento e crescimento. Por ltimo, constata-se a necessidade de,
por um lado, indicar um conjunto de intenes e metas que no se esgotam em nenhum
corpus curricular e, por outro, considerar o nvel de eficcia, traduzido na necessidade
de garantir resultados teis para os indivduos e para as sociedades.
Este mesmo autor, caracterizando as polticas curriculares do final do sculo XX
em Portugal, sintetiza:
As mudanas sociais, culturais e polticas da ltima dcada do sculo XX vieram confrontar os sistemas educativos com a necessidade de responder de forma diferente diversidade de pblicos, expanso da escolaridade e presso social para um aumento de eficcia educativa. neste contexto que se situam as mudanas nas polticas curriculares ocorridas em muitos pases na dcada em causa, caracterizadas no essencial por uma gesto da aco curricular e educativa centrada nas escolas, mais autnoma, mais estratgica
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e mais adequada aos contextos. Nesta linha se insere, em Portugal, a Reorganizao Curricular do Ensino Bsico (Roldo, 2005)
2.2.1. Reorganizao curricular do ensino bsico: enquadramento histrico
O acesso generalizado ao ensino em Portugal, durante o final do sculo XX,
esteve directamente associado evoluo econmica, cultural e sociopoltica, como
alis o esteve noutros pases, se bem que com alguns anos de antecedncia. Roldo
(2000) afirma que deste acesso generalizado de todos, cultural e socialmente diferentes,
a uma escola que estruturalmente se mantm idntica, decorrem problemas de
reprovao e abandono. A situao piora medida que cada vez maior a miscigenao
de culturas, etnias, lnguas, etc., com os seus cdigos culturais e de comunicao
especficos. Com o desenvolvimento da sociedade dita da informao torna-se
necessria uma revoluo face aos tradicionais acessos, construo e circulao de
saberes, face a uma globalizao econmica, cultural e poltica que acentuou as tenses
e clivagens sociais.
Deste modo, a dialctica entre unidade/diversidade, entre projecto comum e
variabilidade, complexidade e pluralismo das realidades e necessidades educativas
torna-se assim o grande desafio da escola bsica actual (Alonso, 2000a: 37). Sobre o
que aconteceu na dcada 1985-1995 em Portugal, Afonso (1998) argumenta que aponta
mais no sentido de um neoliberalismo educacional mitigado, resultante das presses
contraditrias exercidas por diferentes grupos e classes sociais que participaram, directa
ou indirectamente, na definio da poltica educativa, do que no sentido da assuno
inequvoca de todos os traos e dimenses que, em outros pases, tm sido considerados
expressivos e definidores das polticas da nova direita (ibidem: 232). As primeiras
tentativas de mudana da situao caracterizaram-se pela acomodao, se as
metodologias tentavam orientar-se para os interesses dos alunos, tambm se exigia
menos quanto aos chamados contedos, em favor das dimenses processuais e
atitudinais, exigindo-se um desempenho menos elevado (da a introduo dos objectivos
mnimos, apoio pedaggico acrescido, etc.).
Do reconhecimento efectivo de que os currculos uniformes no podem dar
resposta a estes problemas (Freitas et al., 2001), de que o papel das escolas tem de ser
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reforado no plano curricular e organizacional e de que necessria a diferenciao
curricular ao nvel dos contedos, dos processos e dos mtodos de ensino, depende o
modo como se procede ao reforo da profissionalidade dos professores, assumidos
como verdadeiros especialistas de ensino, detentores de competncias profissionais de
anlise e reflexo fundamentada sobre as situaes concretas de cada aprendente,
possuidores e produtores de saber que sustenta decises contextualizadas e permite
reexaminar a aco, para agir e interagir com cada situao de aprendizagem o mais
adequadamente possvel (Roldo, 2000: 130-131). A Lei de Bases do Sistema
Educativo (Lei n. 46/86, de 14 de Outubro) e o Decreto-Lei n. 286/89 (acompanhado
pelo Despacho Normativo n. 98-A/923 de 20 de Junho, alterado pelo Despacho
Normativo n. 644-A/94 de 13 de Setembro) pareciam ser portas abertas mudana nas
escolas (Alonso, 1998), mas o currculo continua a ser entendido como o programa das
diferentes disciplinas apesar das tentativas da rea-Escola que ficaram aqum do
esperado, levando a um crescente questionamento do insucesso da reforma curricular
que assentou numa perspectiva tecnicista, compartimentada e voluntarista que a
informou e que estava sustentada numa viso determinista da mudana, e numa lgica
de separao entre concepo e execuo (Alonso, Peralta & Alaiz, 2001: 13).
De facto, no rompeu com os modelos curriculares assentes em racionalidades
tcnico-cientficas, nem conseguiu distanciar-se do paradigma do currculo pronto a
vestir de tamanho nico (Formosinho, 1987), um dos dilemas organizacionais da
escola de massas (Costa, Ventura & Dias, 2002). O Livro branco da Comisso
Europeia sobre a educao e a formao (1995) chama a ateno para a mundializao
da economia e das mudanas, a sociedade da informao e comunicao e o
desenvolvimento de uma civilizao cientfica e tcnica, e o Relatrio da UNESCO
sobre a educao para o sculo XXI Educao, um tesouro a descobrir (Delors,
1996) que coloca a educao durante toda a vida (life-long learning) no centro das
atenes da sociedade, organizando-se em torno de quatro grandes pilares: o aprender a
conhecer, o aprender a fazer, o aprender a viver em comum e o aprender a ser. O Pacto
Educativo para o Futuro (de Maio de 1996), apresentado pelo Ministrio da Educao 3 Que introduz a avaliao aferida sobre a qual Afonso (1998: 232) argumenta, Num momento em que, sobretudo no discurso poltico, as referncias ao profissionalismo e profissionalidade docente parecem fazer crer na sua existncia real, quando, de facto, ainda no podem ser consideradas etapas socialmente consolidadas, nem dimenses identitrias suficientemente interiorizadas que garantam a sua irreversibilidade, a presena da avaliao aferida no deixa de poder constituir-se como um factor constrangedor da autonomia profissional.
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Portugus, assume essas mesmas linhas como prioritrias. neste contexto que surge a
discusso generalizada proporcionada pelo Departamento da Educao Bsica durante o
ano lectivo de 1996/97, Reflexo Participada sobre os Currculos do Ensino Bsico,
levando o debate s escolas e aos professores. Desta discusso surgiu a necessidade da
construo do currculo nacional apoiada na articulao do desenvolvimento de
competncias de sada do ensino bsico com os saberes de referncia. O Relatrio do
projecto reflexo participada sobre os currculos do ensino bsico afirma a necessidade
de que a mudana curricular desejvel s pode realizar-se com a plena
responsabilizao de docentes e escolas pela gesto do currculo o que no tem sido
prtica na tradio e cultura do sistema educativo portugus, nem na experincia
profissional da classe docente (Roldo et al., 1997: 89).
De facto, h que gerir o medo de se ser responsvel e autnomo (Freitas et al.,
2001), caso contrrio, em nome da autonomia relativa de que dispe e que sempre
dispuseram, alguns professores a possam utilizar justamente para inviabilizar esta
autonomia, recusando, sob as mais subtis formas de actuao e de argumentao,
praticar uma verdadeira cultura de gesto curricular e uma cultura interdisciplinar
atravs do trabalho colaborativo (Vieira, 2001: 21).
Foram, aps o diagnstico, implementadas medidas de combate excluso,
nomeadamente os currculos alternativos, a constituio de territrios educativos de
interveno prioritria e os cursos de educao e formao profissional inicial; em
simultneo foram lanados o Programa de Expanso e Desenvolvimento da Educao
Pr-Escolar e o novo regime de autonomia, administrao e gesto das escolas. Neste
contexto de maior capacidade de deciso relativamente ao desenvolvimento e gesto das
diversas componentes do currculo e a uma maior articulao entre elas, com o
Despacho 4848/97 (de 7 de Julho) foi lanado s escolas o desafio de poderem
experimentar os seus prprios caminhos no mbito da Gesto Flexvel do Currculo,
inscrita no regime de autonomia das escolas Decreto - Lei n. 115-A/98 , confirmado
atravs do Despacho 9590/99 de 14 de Maio que revogou o anterior.
Deste modo, na base da orientao das polticas educativas mais recentes,
sobressai um modelo descentralista-centralista que, por um lado, perspectiva as escolas
como locais de (re)construo do currculo e, por outro, reafirma o papel da
administrao central na sua configurao (Pacheco, 2000: 28). So criados espaos
destinados integrao de saberes, aquisio de diferentes processos de trabalho,
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aquisio de valores e atitudes, nomeadamente com o Projecto Interdisciplinar, o Estudo
Acompanhado e a Educao para a Cidadania. O Ministrio da Educao refere que
estas medidas educativas [DEB (1999), Gesto flexvel do currculo], visam
nomeadamente:
(1) promover uma nova prtica curricular, assumida, gerida e avaliada pelas
escolas, no contexto de um currculo nacional que enquadre as competncias
essenciais;
(2) incentivar a adopo de estruturas de trabalho em equipa entre professores de
diferentes reas disciplinares e de diferentes ciclos;
(3) contribuir para o desenvolvimento profissional dos professores, alargando e
reconhecendo a sua capacidade de deciso em reas chave do currculo;
(4) encorajar a reflexo sobre a natureza e funes das diversas tarefas escolares.
Mais frente, o mesmo documento afirma que os professores tm um papel
decisivo na estruturao e operacionalizao do processo de gesto de gesto flexvel do
currculo. Um elemento essencial da aco dos professores a sua capacidade para
trabalharem de modo colaborativo, valorizando as estruturas de gesto curricular da
escola e intervindo em diversas instncias (p. 6), nomeadamente os Conselhos de
Turma, enquanto Director de Turma em articulao com os restantes professores, nos
Departamentos Curriculares e na articulao com a Comunidade Educativa.
No que diz respeito aos professores, o Documento orientador das polticas para o
ensino bsico educao, integrao, cidadania (ME, 1998), referindo-se ao papel da