Cosmologias Afroindigenas en La Amazonia

31
 Projeto História, São Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 197 COSMOLOGIAS AFROINDÍGENAS NA AMAZÔNIA MARAJOARA  AGENOR SARRAF PACHECO *  RESUMO Dialogando com historiografias dos contatos indígenas e africanos na Amazônia, imagens de inscrição da arte nativa em cerâmica marajoara, cachimbos, altar barroco e narrativas literárias, que reconstituem marcas de culturas indígenas e seus intercâmbios com culturas africanas na Amazônia Marajoara a partir do século XVII, o ensaio procura visualizar práticas “decoloniais” em territórios de  índios, negros e afroindígenas entre campos e florestas na região. A perspectiva central do estudo é demonstrar que cosmologias de grupos de tradições orais, explicativas das múltiplas expressões de seus modos de vida praticados e compartilhados na Amazônia, apesar de pouco exploradas pelos estudiosos da diáspora, agenciaram significados de lutas culturais estabelecidas astuciosamente contra a dominação de suas artes, corpos e pensares por grupos no poder no contexto colonial. Em tempos contemporâneos, essas cosmologias vêm sendo continuamente reafirmadas por meio da recriação de saberes, danças, cantos, religiosidades e outras sociabilidades como expressões de patrimônio material e imaterial afroindígena neste portal da Amazônia. PALAVRAS-CHAVE: Cosmologias; Afroindígena; Decolonialidades; Amazônia Marajoara.  ABSTRA CT In dialogue with historiographies of contacts with Indians and Africans at  Amazon, registration images of native art in ceramic, pipes, baroque altar and literary narratives, which reconstruct remarks of indigenous cultures and their exchanges with African cultures in the Marajoara Amazon from the seventeenth century, this essay tries to visualize practices "decoloniais" in territories of "colonial difference" experienced by Indians, blacks and afroindians between countries and forests in the region. The study central perspective relays on demonstrate that cosmologies of oral tr adition groups are explaining of the many expressions of their ways of life practiced and shared in the Amazon, though little explored by scholars of the diaspora, operated established cultural meanings of struggles cunningly against the domination of their arts, bodies and thinking for groups in power in the colonial context. In contemporary times, these cosmologies have been continually reaffirmed through the recreating of knowledge, dances, chants, religiosity, and other expressions of sociability as tangible and intangible afroindian heritage in this Amazon portal.  KEYWORDS: Cosmologies; Afroindian; Decolonialidades; Marajoara Amazon.  

description

Muestra la relacion profunda entre afroamericanos e indigenas, en el plano cosmologico.

Transcript of Cosmologias Afroindigenas en La Amazonia

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 197

    COSMOLOGIAS AFROINDGENAS NA AMAZNIA MARAJOARA

    AGENOR SARRAF PACHECO * RESUMO Dialogando com historiografias dos contatos indgenas e africanos na Amaznia, imagens de inscrio da arte nativa em cermica marajoara, cachimbos, altar barroco e narrativas literrias, que reconstituem marcas de culturas indgenas e seus intercmbios com culturas africanas na Amaznia Marajoara a partir do sculo XVII, o ensaio procura visualizar prticas decoloniais em territrios de ndios, negros e afroindgenas entre campos e florestas na regio. A perspectiva central do estudo demonstrar que cosmologias de grupos de tradies orais, explicativas das mltiplas expresses de seus modos de vida praticados e compartilhados na Amaznia, apesar de pouco exploradas pelos estudiosos da dispora, agenciaram significados de lutas culturais estabelecidas astuciosamente contra a dominao de suas artes, corpos e pensares por grupos no poder no contexto colonial. Em tempos contemporneos, essas cosmologias vm sendo continuamente reafirmadas por meio da recriao de saberes, danas, cantos, religiosidades e outras sociabilidades como expresses de patrimnio material e imaterial afroindgena neste portal da Amaznia. PALAVRAS-CHAVE: Cosmologias; Afroindgena; Decolonialidades; Amaznia Marajoara. ABSTRACT In dialogue with historiographies of contacts with Indians and Africans at Amazon, registration images of native art in ceramic, pipes, baroque altar and literary narratives, which reconstruct remarks of indigenous cultures and their exchanges with African cultures in the Marajoara Amazon from the seventeenth century, this essay tries to visualize practices "decoloniais" in territories of "colonial difference" experienced by Indians, blacks and afroindians between countries and forests in the region. The study central perspective relays on demonstrate that cosmologies of oral tradition groups are explaining of the many expressions of their ways of life practiced and shared in the Amazon, though little explored by scholars of the diaspora, operated established cultural meanings of struggles cunningly against the domination of their arts, bodies and thinking for groups in power in the colonial context. In contemporary times, these cosmologies have been continually reaffirmed through the recreating of knowledge, dances, chants, religiosity, and other expressions of sociability as tangible and intangible afroindian heritage in this Amazon portal. KEYWORDS: Cosmologies; Afroindian; Decolonialidades; Marajoara Amazon.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 198

    1. A escrita da histria em questo

    As mesclas intertnicas no cenrio da Amaznia Marajoara,1 entre ndios

    e negros,2 e a composio identitria oriunda desses encontros, bem como suas

    trocas e emprstimos culturais em torno de cosmologias, expresses de seus

    modos de vida praticados e compartilhados em ambientes de campos e

    florestas, agenciaram significados de lutas culturais estabelecidas astuciosamente

    contra a dominao de suas artes, corpos e pensares por grupos no poder no

    contexto colonial. Em tempos contemporneos, essas cosmologias vm sendo

    continuamente reafirmadas por meio da recriao de saberes, danas, cantos,

    religiosidades e outras sociabilidades como expresses de patrimnio material e

    imaterial afroindgena neste portal da Amaznia.

    Tal temtica ainda pouco estudada, tanto pela historiografia clssica

    quanto pela mais recente sobre a Amaznia, apesar das perspectivas abertas

    pela Nova Histria Francesa com seus novos sujeitos, temas, fontes e

    problemas, que tem alcanado forte ressonncia nos departamentos de ensino

    da regio, incentivando pesquisadores a desafiarem convenes e tradies. A

    escrita da histria indgena e das disporas africanas em contexto colonial

    versou, quase sempre de modo individual, pela temtica da religiosidade ou do

    mundo do trabalho e suas diferentes atividades. Igualmente mergulhou nas

    relaes de poder e nas formas de resistncia agenciadas por essas populaes

    que deram existncia e movncia s fronteiras coloniais.

    Intelectuais de ponta e de peso como Manuel Nunes Pereira,3 Arthur

    Cezar Ferreira Reis,4 Vicente Salles,5 Marcos Carneiro de Mendona,6 Antonio

    Carreira,7 Anaza Vergolino-Henry e Arthur Napoleo Figueiredo,8 Rosa

    Elizabeth Acevedo Marin,9 primeiros estudiosos da presena negra na

    Amaznia Paraense, e depois Flvio dos Santos Gomes10 e Rafael

    Chambouleyron11 centraram suas preocupaes em visibilizar o

    enegrecimento das paisagens humanas12 nesta parte norte do Brasil. Esses

    intelectuais, duvidando do vazio humano africano,13 enfrentaram percepes

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 199

    apressadas e restritas de estudiosos nacionais e internacionais que procuraram

    reforar o mito da Amaznia: Terra de ndio e paraso isolado e parado no

    tempo,14 por no se enquadrar no modelo da plantation verificada no centro-sul

    do Brasil.

    preciso focalizar de antemo que a especificidade da escravido no

    Gro-Par, com a existncia de uma agropecuria voltada para o mercado,

    estruturada na agricultura comercial, fazendas de gado,15 roas de farinha,

    matas com drogas-do-serto, com caractersticas afroindgenas, fundada em

    uma sociedade paternalista, diferenciou-se dos centros tradicionais da

    escravido no Brasil,16 o que revelou experincias singulares nos processos de

    ocupao portuguesa na Amaznia.

    Dados da populao marajoara de 1823, encontrados em Baena,

    reforam desconstrues da inexistncia africana na regio.

    Em Muan dos 3524 habitantes, 503 eram escravos e 3021 livres no identificados; Cachoeira 3463 habitantes, 130 brancos, 531 escravos, 2802 livres no identificados; Chaves 1853 habitantes, 44 brancos, 447 escravos, 1362 livres no identificados; Monsars 857 habitantes, 88 brancos, 249 escravos, 190 ndios, 130 mestios, 200 livres no identificados; Monforte 664 habitantes, 33 brancos, 124 escravos, 367 ndios, 140 mestios; Salvaterra 497 habitantes, 46 brancos, 31 escravos, 296 ndios, 124 mestios; Soure 366 habitantes, 26 brancos, 155 escravos, 44 ndios, 141 mestios e Breves 227 habitantes, 80 escravos, 147 livres no identificados e Melgao 5.719 habitantes, distribudos entre 1.021 brancos, 1.140 escravos, 1.440 ndios e 2.118 mestios.17

    Quando a retina do olhar investigativo dilata-se para a disseminao do nmero de mestios presentes nessas estatsticas populacionais e no fica restrita pureza de uma cor negra, a percepo de um modo de vida afroindgena, na conformao histrica e cultural amaznica, amplia-se.18

    Por mais que esses encontros e emprstimos culturais tenham sido silenciados, todos ns, quer nos identifiquemos como branco, ndio, negro, quer nos identifiquemos como europeu, judeu, rabe, americano, amaznida, caboclo, ribeirinho, ou qualquer outro adjetivo, para marcar o lugar social de

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 200

    onde falamos, remetemos-nos a zonas de contato. Se habitamos na Amaznia, somos alinhavados em nossas cosmologias cotidianas pelos conhecimentos do mundo indgena e africano em profundas interconexes.

    Todos ns, de modo indistinto, estamos com um p na aldeia e outro na senzala ou no quilombo. Ou melhor, se os quilombos e mocambos foram quase sempre afroindgenas, como possvel concluir a partir do denso levantamento documental realizado por Gomes, nossos corpos e mentes esto nesse espaos de liberdade, mesmo que vivamos em constante vigilncia. A compreenso desse processo, contudo, no negar as tradicionais identidades culturais com as quais os habitantes da regio operam para falar de si, de sua histria e cultura, mas abrir brechas nos discursos essencialistas19 e guetizadores sobre identidade. E ao mesmo tempo, chamar a ateno que muitos habitantes da regio tem sua rvore genealgica erigida pelas matrizes africanas e indgenas, podendo assumir, entre suas muitas identidades, tambm a de afroindgenas, j que, formaram-se culturalmente nos cdigos afroindgenas que sustentam o tecido histrico-social da regio. Apostamos na existncia de uma dico afroindgena, assim como em performances, vocbulos, culinrias, estticas, crenas, costumes e tradies que diferenciam a constituio de homens, mulheres e crianas amaznidas, quando se apresentam em ambientes intersticiais.

    Em sntese, a escolha por captar esses intercmbios visa dar visibilidade a esses dois grupos sociais que sustentaram, com sua fora, sabedorias e crenas as fronteiras Amaznicas e, hoje, pelas polticas de desigualdade social implementadas e continuamente reafirmadas pelos grupos no poder, compem mais de 40% da populao pobre da regio, batizada pelo IBGE de modo arbitrrio como pardos.20

    Sobre a temtica da mestiagem, que em nossa perspectiva revela-se como afroindgena, pois no se trata de uma questo apenas tnica ou racial, mas expressa um conjunto de elementos que urdem uma complexa cosmologia de grupos sociais em simbioses, Bezerra Neto comenta:

    Na Amaznia, o processo de mestiagem ocorreu de forma multifacetada, envolvendo os grupos indgenas em suas diversas formas de contato com os conquistadores europeus e com os seus

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 201

    escravos africanos compulsoriamente introduzidos na regio. (...) a mestiagem envolvia diversos segmentos sociais e tnicos da Colnia. A constituio de mocambos formados por ndios, africanos, colonos brancos e mestios de todos os tons constituiu-se exemplo desta realidade.21

    Vicente Salles, em rico levantamento emprico, antropolgico e

    historiogrfico foi mais longe do que Vergolino-Henry e Figueiredo. Mapeou o negro em muitas de suas expresses: trabalho, moradia, lazer e religiosidade. Porm, pouco atentou, em seu vasto estudo, para trnsitos, mediaes e negociaes culturais, especialmente em termos de cosmologias e saberes forjados gregariamente.22

    Transcrio do Jornal Treze de Maio, de 1845, sobre o negro Jos Victorino, mestre ferreiro, de estatura regular, gordo, nariz chato, tem grandes entradas o que o faz parecer calvo; toca viola bem e tem a mania de se intitular paj, recuperado e apresentado por esse polivalente estudioso, indica apenas que viola e violo foram particularmente estimados pelos negros e ficaram associados vadiao dos escravos. 23 Que concepes de vida, trabalho, lazer e religiosidade estruturavam cosmologias de comunidades de fugitivos esparramadas pelos diferentes cantos e encruzilhadas amaznicas? Certamente no fazia parte da cosmoviso desses sujeitos histricos o acmulo de riqueza, a crena em um nico Deus supremo, a diviso entre trabalho e lazer.

    Flvio Gomes, com sua Hidra e os pntanos, mesmo tendo apreendido a dinmica e o carter multifacetado e multitnico das fugas e suas redes de contato, solidariedades, negociaes e conflitos, esteve muito mais preocupado com as relaes de fora entre poderes constitudos no controle da mo de obra indgena e africana.24 Apesar de ter trabalhado, exaustivamente, dinmicas da vivncia material dessas populaes em luta por liberdade frente aos ardis da dominao colonialista, sua pesquisa no objetivou examinar a organizao do modo cultural de ser e estar no mundo dessas populaes em deslocamentos.

    Em outra linha de interesse para explorar sentidos das disporas africanas ao Estado do Maranho e Gro-Par, destacamos a importante e atual pesquisa desenvolvida por Chambouleyron que, centrando suas anlises na especificidade do trfico negreiro para o Maranho no sculo XVII e incio do sculo XVIII, focalizou ateno nas epidemias, delicada situao da Fazenda

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 202

    real e os problemas decorrentes do uso de trabalhadores indgenas 25 como aspectos importantes para se compreender a tecitura de uma rota escrava para aquela regio.

    Sem desvalorizar a importncia e o lugar destas pesquisas frente ao modelo tradicional de escrita do saber histrico, pois representaram grandes descobertas sobre a histria da Amaznia e contriburam, sobremaneira, para recolocar a regio nas rotas de contatos intertnicos, neste artigo exploraremos outras memrias escritas, visuais e gestuais para visibilizar prticas decoloniais em territrios de diferena colonial experienciadas por ndios, negros e afroindgenas.26

    A leitura da realidade histrica onde se encontraram ndios, portugueses, negros e outras naes europeias, ultrapassa concepes que colocam sujeitos e grupos em permanente dicotomia. No vislumbramos no terreno sociocultural apenas dois grupos em continua oposio. Muitos so os sujeitos, assim como diversos so os interesses. Dependendo da cosmologia com a qual operavam, poderiam criar provisrias ou duradoras alianas. Reflexes contemporneas de Stuart Hall adensam essa compreenso das experincias passadas:

    (...) Na atualidade, essa luta continua e ocorre nas linhas complexas da resistncia e da aceitao, da recusa e da capitulao, que transformam o campo da cultura em uma espcie de campo de batalha permanente, onde no se obtm vitrias definitivas, mas onde h sempre posies estratgicas a serem conquistadas e perdidas.27

    Assim, em lutas desiguais, descontnuas28 e vivendo na contramo da colonialidade do saber29 e do poder,30 mas tambm estabelecendo acordos e contaminando-se muitas vezes na lgica do colonizador, ndios e negros cotidianamente romperam fronteiras culturais, recriaram caminhos em busca de liberdade, orientados por vises de mundo e perspectivas de vida e trabalho, que no os desconectavam de crenas ancestrais de suas tradies. Essa compreenso no nega o poder do epistemicdio cometido contra inmeras naes indgenas por portugueses e colonos e nem as dores, agonias, assassinatos e suicdios que negros das fricas, em travessias para as Amricas, foram forados a enfrentar; contudo preciso ultrapassar leituras individuais para se alcanar momentos em que cosmologias indgenas e africanas

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 203

    misturaram-se e adensaram os modos de viver na Amaznia. Neste diapaso, interessa refletir com assinaturas de Bhabha:

    O que teoricamente inovador e politicamente crucial a necessidade de passar alm das narrativas de subjetividades originrias e iniciais e de focalizar aqueles momentos ou processos que so produzidos na articulao de diferenas culturais. Esses entre-lugares fornecem o terreno para a elaborao de estratgias de subjetivao singular ou coletiva que do incio a novos signos de identidade e postos inovadores de colaborao e contestao, no ato de definir a prpria ideia de sociedade.31

    A teoria das mediaes culturais que fundamenta teoricamente nossa compreenso dos processos socioculturais valoriza encontros, cooptaes, confrontos e trocas culturais entre diferentes grupos sociais. Em torno dessa questo, apreendemos epistemologias diferenciadas. Documentos coloniais trabalhados pela historiografia regional e narrativas literrias, com as quais temos interagido, indicam momentos em que ndios e negros se encantaram pelos discursos do poder colonial e situaes em que a lgica oficial contaminou-se pela esttica das linguagens dos modos de ser afroindgena. Nessa direo, Antonacci a partir da valorizao que vem fazendo do poder que insurgentes tradies orais africanas ardilosamente exercem na disputa com sistemas de organizao da vida em sociedade letradas ocidentais, assinala:

    Modernidade e colonialidade, face e contra face de dinmicas de expanso e disperso de povos e culturas nunca antes conectados, projetaram imaginrios do homem europeu submetendo, a malhas administrativas de Estados nacionais, outras histrias e memrias, lnguas e escritas. Mutilando costumes e redes simblicas, agentes da ordem europeia usufruram de ofcios e saberes de povos estigmatizados como primitivos ou brbaros e atrasados.32

    Se a influncia europeia dimenso constituinte de lugares e edificaes

    amaznicas, reelaboraes, ressignificaes e outros usos pautados na cosmologia local tambm plasmam a cultura material regional. Belm ou Soure, por exemplo, para alm de sua arquitetura fsica de traos franceses continuamente redesenhada por uma cartografia sensvel que visibiliza modos de morar, festejar e fazer usos da cidade por filhos de culturas afroindgenas.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 204

    Deste modo preciso dizer que no contexto colonial Amaznico, poderes locais e metropolitanos, para fazer valer seus interesses econmicos e polticos, empreenderam prticas de explorao, perseguio e extermnio contra populaes nativas e diaspricas. Com o af de enfrentar e resistir a esses doloridos mecanismos de controle e submisso, ndios, negros, afroindgenas e brancos pobres recriaram, em outras fronteiras coloniais, redes de solidariedades e mediaes culturais, tecidas luz de suas cosmologias e saberes ancestrais.

    Assim, a resistncia no era apenas uma questo de resoluo imediata para o difcil cotidiano de vida que sujeitos histricos precisavam encontrar. Resistir era uma dimenso da especfica cosmologia ou epistemologia prpria com a qual esses amerndios e africanos operavam para marcar seus espaos na diferena do territrio conquistado e em colonizao pelos portugueses. A partir de agora, explorando aspectos dessa cosmologia em desenho de arte marajoara, acompanharemos possveis sentidos de representaes estticas amerndias em sua maneira de explicar a vida. Em seguida, realizaremos um breve sobrevoou pela literatura regional, para visualizar rostos, saberes, fazeres e estilos de vida afroindgena na Amaznia Marajoara.

    2. Linguagens da histria em inscries marajoaras

    Populaes amerndias marajoaras utilizaram diferentes instrumentos de

    sua cultura material para inscrever cosmovises e sabedorias, enquanto modos de ser, pensar, crer e viver relaes socioculturais, desde os tempos mais longnquos. Na imagem abaixo, extrada de uma urna funerria marajoara pr-colombiana, apresenta-se animal hibridamente composto, cujo destaque encontra-se na parte superior enorme cabea, olhos, nariz, lngua e ouvidos em formato de longas cobras, sustentados por mos e ps que lembram instrumentos de arar a terra.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 205

    Arquivo concedido por Denise Pahl Schaan, 2007.

    Este animal pode ser interpretado como um camaleo ou um macaco, por apresentar longos braos e orelhas. A parte inferior assemelha-se a um sapo, expressando ambientes da terra e da gua, assim como habilidades e destrezas constituintes nas vivncias de populaes marajoaras de matrizes orais.33 Outra possibilidade de ler essa representao visual assemelh-la com um animal do sexo feminino em arte de parir.

    A relao mulher/homem e animal, cultura e natureza, terra e gua, visvel nesta inscrio, expe concepes de equilbrio e respeito homem/mulher e meio ambiente, ensinamentos deixados pelas primeiras comunidades humanas que viveram na Amaznia antes do contato com o mundo europeu. Tais prticas, hoje se encontram em conflitos, dada a excludente expanso da pecuria, dos suicidas projetos de industrializao, modernizao e globalizao insensivelmente instalados na regio.

    Por serem herdeiros de um modo de vida pautado na tradio oral, esses guardies das matas e dos rios recriaram e deixaram ver, em objetos de uso

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 206

    domstico e, especialmente, cerimonial, como suas culturas estavam assentadas numa sensibilidade e espiritualidade dos sentidos, traduzida no tato, audio, viso, paladar(falar) e olfato.34 Da, a grande importncia atribuda a esses rgos que permitiram transmitir, socializar e preservar narrativas orais, hbitos e costumes entre si e com outros grupos humanos de contatos.

    Se no imaginrio cristo-ocidental a cobra representa o pecado e a condenao do homem, no universo indgena este animal sinnimo de fertilidade e de vida. No por acaso, inscries de objetos de cermica trazem, frequentemente, ventres maternos que resguardam cobras. Em galante teoria para sinalizar o mito de origem dos rios amaznicos, recuperada pelo naturalista portugus Alexandre Rodrigues Ferreira e narrada por um sobrevivente dos ndios sacacas, que habitava Joanes, no sculo XVIII, ficamos sabendo que no princpio a ilha no tinha aquele labirinto de rios. Ali vivia apenas uma infinidade de cobras. Obrigadas pelas secas, os ofdios corriam do centro para a costa em busca do precioso e sagrado lquido.

    No percurso realizado, devido ao peso e grandeza de seus corpos, deixavam impressas, na terra, suas figuras tortuosas. Estas fendas tornavam-se inicialmente regatos com a queda de guas das chuvas, que, a partir da invaso do oceano para dentro do mar, engrossaram e transformaram-se no grande rio Amazonas.35 J em passagem do romance Trs Casas e Um Rio, do romancista marajoara e modernista, Dalcdio Jurandir (1909-1979), a queixa do rio cobra que o abandona e o deixa sem vida, reafirma esse ancestral sentido e importncia do animal na vida dos antigos habitantes da Amaznia Marajoara.36

    Entrelaados nesta cosmologia, povos amerndios reinventaram e reafirmaram suas culturas, identidades, saberes e crenas, em corpos de animais anfbios que, evidenciando ps e, especialmente, mos como guardies da memria e arrimo do corpo, deram visibilidade tradio oral, um dos canais reveladores da imortalidade da alma e prolongamento da histria, assim como instrumento contra o esquecimento, a perda e a destruio da ancestralidade de um modo de viver sui generis, combatido com o vir a ser dos incertos, indeterminados e difceis novos tempos da conquista das Amaznias em seus Marajs de campos e florestas.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 207

    Dentro deste entendimento, inscries e desenhos em peas e cacos da cermica marajoara tornaram-se, portanto, suporte vivo da cultura material amerndia. Com esse conjunto de fragmentos do passado pr-colonial, presente na colnia e em ressonncias contemporneas, o historiador tem em suas mos forte indcio para interpretar todo um modo de vida e de luta37 dessas populaes atvicas que, apesar do extermnio da maioria de seus integrantes pela voraz ganncia de poderes colonialistas, legaram para a posteridade outras memrias, crenas, costumes, ensinamentos, comportamentos e vises de mundo.38

    Tratam-se de vivncias, cuja racionalidade assenta-se em outras epistemologias que, por tornaram-se incompreensveis para lgicas cartesianas e iluministas europeias, pois no separam o homem da natureza e da dimenso csmica,39 foram desrespeitadas e desqualificadas como primitivas e irracionais. Tal discurso justificou formas de domesticao de seus corpos, artes e mentes, resultando em epistemicdios40 dessas ancestrais populaes amaznicas ainda em contexto colonial. Todavia, suportes materiais como objetos de uso domstico e cerimonial, bem como o conjunto de narrativas orais, falares, fazeres, danas, cantos rasgaram os tempos da colonizao, fossem pela boca daqueles que resistiram, fosse pela prpria boca dominante contaminada pelos contatos com essas memrias.

    A tradio oral como um modo de ser amaznico, que legou aos tempos contemporneos a presena e persistncia desse rico patrimnio da cultura material e imaterial originria, ganhou consistncia e vivncia em outras formas de registro. Este ensaio destaca a partir de agora a importncia da literatura nessa luta contra o esquecimento de nossas tradies nativas e das novas tradies deixadas e sustentadas pelas disporas africanas a partir de 1644, quando negros bantu e sudaneses passaram a interagir, resistir, negociar e socializar-se, em solo amaznico, com indgenas, brancos pobres, poderes eclesisticos e agentes polticos coloniais.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 208

    3. Narrativas Literrias Decoloniais Eu no pensava nos reinos encantados/ Que h nos livros caros dos meninos ricos/ Quando que eu conhecia os contos de Perrault./ (...)/ Quando que eu pensava nas fbulas de La Fontaine./(...)/ Eu tinha a Sabina, cria de casa, para me ensinar a linguagem dos bichos marajoaras./ Infncia, tempo de menino,/ Sucurij te levou pro fundo das guas/ Com todas as histrias da Sabina (...)/ por isto que com o meu velho dicionrio/ Leio os contos de Perrault/ E compreendo a fala dos bichos de La Fontaine.41

    Dalcdio Jurandir,42 literato marajoara do sculo XX, ao reconstituir em

    cdigos escritos, poticas e estticas do cotidiano da vida regional Amaznica, em cenas da experincia contempornea, permite reencontrar memrias de populaes de matrizes orais que, atravessando tempos coloniais, fizeram-se ver com todo seu arcabouo sociocultural.

    Assim, enquanto outros literatos, a exemplo de Silvia Helena Tocantins, filha de um fazendeiro do Maraj dos Campos43 que inspirou suas poesias, contos e romances em lembranas da infncia e adolescncia vividas no tempo escolar entre Maraj e Vigia, Jurandir desenvolveu compreenso mais ampla dos sentidos da escrita romanesca. A viso que eu tive era que a realidade social feita de lutas. De forma que eu tomei uma posio poltica. Meu romance um romance poltico. (...) Os temas vm do meio daquela quantidade de gente das canoas, dos vaqueiros, dos colhedores de aa.44

    Em vrias passagens de seus depoimentos, Dalcdio Jurandir sempre procurou marcar o lugar social de onde, com quem, para quem e por quem fala. Em tese de doutoramento elegemos como epgrafe uma passagem capaz de sintetizar essas questes e revelar qual o tipo de literatura o maior romancista das cosmologias e saberes da Amaznia Marajoara esforou-se, durante toda sua vida, em produzir e compartilhar.

    Modstia a parte, se me coube um pouco do Dom de escrever, se no fiquei por l, pescador, barqueiro, vendedor de aa no Ver-O-Peso, o pequenino dom eu recebo com privilgio, uma responsabilidade assumida, para servir aos meus irmos de igap e barranca. As poucas letras que me cabem, fao tudo por merec-las. Entre aquela gente to sem nada, uma pequena vocao literria coisa que no se bota fora. Se posso tocar a viola, mesmo de orelha, tenho de tocar com ou por eles. A

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 209

    eles tenho que dar conta do encargo, bem ou mal, mas com obstinao e verdade.45

    A escrita literria resguarda a magia de jogar e embaralhar tempos histricos, aparentemente difceis de serem desembaraados, quando lida ao p da letra. Se cotejada outras informaes, sem esquecer o cho e a trajetria de vida de quem a produziu,46 permite alar importantes voos e desvendar rostos, vozes e cotidianos de povos quase sempre camuflados em outros gneros textuais, especialmente narrativas oficiais. Segundo Kramer, a histria cultural tem ensinado aos historiadores a reconhecer o papel ativo da linguagem, dos textos e das estruturas narrativas na criao e descrio da realidade histrica.47

    Nos versos que abrem a segunda parte deste ensaio, surpreendem-se vozes de filhos das fricas em paisagem nativa capaz de sussurrar e fazer desadormecer outras narrativas. Dalcdio recupera a negra Sabina, contadora de histrias do universo mtico-lendrio en el corazn de la Amazona,48 traz ainda imaginrio local e a presso vivida por populaes amaznicas para escrever suas tradies e sabedorias pelos cdigos do mundo ocidental letrado. Nos romances e contos de Helena Tocantins tambm emergem negros da fazenda de seu pai, produtores, cantadores e tocadores de chulas. Homens e mulheres, filhos das disporas africanas que suplantados em terras marajoaras disseminaram formas de artes e estticas de vida diversas e se apropriaram daquelas compartilhadas por suas alteridades.

    Memrias de Tocantins, ainda que com desejo de folclorizao de materialidades e sabedorias, apresentam aspectos da cultura gastronmica afroindgena praticada e consumida na Amaznia Marajoara. O aa tomado na cuia pitinga49 que a tapuia amassava no alguidar de barro. E as artes da mestra de fogo, Jovelina, a me-preta, com seus beijus de tapioca e mandioca. O caf torrado com erva-doce. A canjica, broinhas, mungunzs, pamonhas e cuscuz. O queijo de manteiga e a coalhada. Os refrescos de cupuau, muruci, tapereb, inaj, tucum, bacuri. O pato no tucupi e as caranguejadas. O arroz com marreco, as moquecas, a galinha cabidela, a carne de sol, os assados na brasa, peixadas, guisado de espinhao de boi, as fritadas de camaro.50

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 210

    Dialogando com outras expresses dessa consistente e renitente presena negra na regio, passagem do romance Maraj amplia percepes.

    O aa de nh Benedita trazia o sabor do antigo tempo quando havia escravos em Ponta de Pedras, que fim levaram Catarina, Margarida, Maria de Nantes, netas de escravas? Batiam algodo na madrugada com dois maos de palmeira caran sobre um almofado. Torcido e fiado saa o algodo para os velhos e rsticos teares em que as negras trabalhavam fazendo redes. Era a batio, como um rumor de tambor surdo nas palhoas, acordando a vila nas madrugadas.51

    Dalcdio Jurandir explora, nesse excerto, lembranas de tempos coloniais

    vividos por um de seus principais personagens do romance Maraj, Missunga, o filho do todo poderoso coronel Coutinho. Neste enredo recompe prticas culturais de populaes originrias e diaspricas em suas lutas cotidianas pelo sustento, reatualizao e defesa de valores e necessidades diante das fragilidades de ser e estar no mundo impostas pelas foras provinciais e metropolitanas. Apanhar e amassar o aa, bater algodo, tecer redes, ritmadas pelas performances do corpo interconectadas a sintonias csmicas,52 so experincias sociais tradutoras de cosmologias de grupos de tradies orais que desde o perodo da Amaznia Portuguesa sustentaram s fronteiras coloniais e, ao mesmo tempo, s desestabilizaram.

    Em Maraj, Dalcdio ainda faz ouvir vozes isoladas no tempo e no espao, mas fortemente ligadas a traos e experincias de culturas diaspricas. S Roslia, de negros braos, cozinheira, partideira de lenha, trabalhava sempre cantando. Apelidava as galinhas, conversava com os carneiros, colocava nome nos bichos, ralhava e batia o p com o vento que, mexendo nas mangueiras, vinha tirar a roupa das cordas.53 Nh Benedita, preta doceira, amassadeira de aa. Quando trabalhava, seus quartos se mexiam, peitos, braos indo e vindo no velho alguidar. Quando jovem, suas cadeiras de almofada buliam e rebuliam no tempo do lundu, do coco. J idosa, tinha a boca torta de cachimbo. Guardava no oratrio atrs da imagem de S. Benedito a carta de alforria que o coronel Coutinho, muito nova ainda, lhe dera quando a escrava ia ter o Elesbo, filho dele, morto aos 12 anos.54

    A preocupao em registrar essas habilidades de fazeres, estilos vibrantes de vida, tticas para romper correntes da escravido, por parte de determinados

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 211

    literatos comprometidos com a escuta, valorizao e democratizao de saberes locais, como o caso de Dalcdio Jurandir, ajuda o historiador a no apenas ampliar o escopo da erudio histrica para as margens da orientao tradicional da escrita da histria,55 conforme aponta Kramer, mas a construir narrativas textuais que, desestruturando velhos padres de escrita acadmica, interrogam a clssica tradio que formou o historiador no ocidente.

    Utilizando-se, com virtuosidade, de uma linguagem, cujas marcas da oralidade regional so retrabalhadas, traz tona dimenses de vivncias de diferentes grupos sociais, em suas desiguais maneiras de viver as contraditrias dimenses de misria social, riqueza e esbanjamento. As histrias, aventuras e desventuras da regio so contadas a partir da valorizao de aes e reaes de personagens do seu mundo real, consentindo-lhes o direito de falar, gritar, reclamar e deixar conhecer seus sofrimentos, conquistas, intrigas, projetos, em meio a uma natureza peculiar que precisa ser compreendida em suas dinmicas, regimes, regras e mistrios.

    Os textos deste literato remontam s trs primeiras dcadas do sculo XX, poca em que alguns municpios da regio apenas comeavam a interagir com a presena da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Pelos indcios das informaes levantadas ao longo da pesquisa para a escrita da tese de doutorado, com exceo de Chaves e Afu, que eram atendidos por padres pertencentes Prelazia de Santarm, o restante dos municpios marajoaras estavam sob a recomendao da arquidiocese de Belm.

    Vivendo perto e longe de controles de poderes locais (igrejas, administraes municipais, rgos de justia), descendentes de ndios e negros, como apontam Jurandir e Tocantins, persistiram em batalhas declaradas ou simblicas por suas crenas, costumes e tradies. Essa teimosa presena, que a historiografia mais clssica fez questo de negligenciar dos estudos amaznicos, emerge de fontes no convencionais como a literatura marajoara, costurando com negros da terra, brancos, nordestinos e outros grupos humanos, uma rede de inextrincveis relacionamentos e mesclas diversas.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 212

    4. Outros Patrimnios e Paisagens Afroindgenas Entre os fios desse enredo, ganha destaque a praia do Jambeiro, nas

    margens da cidade de Melgao, stio histrico onde Ams Moraes de Souza recolheu diferentes tipos de objetos da cultura material de povos tributrios dos contatos com o antigo povoado. Este nato caador da histria recuperou, entre cacos, areias e barros, diferentes tipos de cachimbos que trazem fortes traos e expressivas marcas da presena afroindgena na constituio da paisagem cultural marajoara.

    Coleo de artefatos pertencente ao acervo pessoal de Ams Moraes. Arquivo da Pesquisa, 2008.

    Os diversos cachimbos dispostos na imagem foram confeccionados por tcnicas e estticas diferenciadas. Todos eles expressam incises de traos presentes na artesania de vrios povos e naes. A forma de imprimir desenhos, no entanto, pode revelar especificidades e sentidos prprios em cada cultura, uma espcie de comportamento tnico56 ali possvel de ser rastreado. A historiadora e arqueloga Camilla Agostini investiu esforo para estudar esse smbolo que fortemente marcou a cultura africana no Brasil em tempos de escravido. De acordo com sua compreenso, o cachimbo pode ser interpretado como uma arma alternativa da resistncia negra.57

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 213

    No seio das culturas indgena e africana, esse artefato assume grande importncia. O horrio do fumo sagrado, pois nesse momento tem-se a possibilidade de prosear com o outro, socializar experincias, refletir sobre a existncia e planejar novas atividades. Conta-se a distncia pelas cachimbadas, assim como o tempo para o descanso de uma jornada de trabalho.

    Segundo Marques, entre grupos indgenas, como os Mby-Guarani por ela estudados, usa-se o fumo em diferentes ocasies, tanto cotidianas como em rituais. Para entrar em transe e conectar-se com o sagrado, o xam utiliza o cachimbo de forma ritual, em curas, cantos e danas.58 J Camilla Agostini, em anlise de amostras arqueolgicas de cachimbos cermicos pertencentes a escravos do Rio de Janeiro, no sculo XIX, aponta que o horrio de fumar tornava-se uma brecha para resistir pesada labuta do cotidiano.59

    No Par, a memria social cabana, a partir de 1836, quando o movimento espraiou-se por cantos e recantos do interior da regio, tem sustentado que muitos daqueles revolucionrios foram ndios, negros, afroindgenas e brancos pobres. Alguns possuam, inclusive, habilidades para desenvolver diferentes ofcios, como os de arteso, pintor, escultor, carpinteiro, ferreiro.

    Em Melgao, por exemplo, tradies orais e documentos escritos contam que o altar-mor da Igreja de So Miguel Arcanjo, padroeiro do municpio, esculpido em estilo barroco, teria sido obra desses exmios filhos das fricas em parcerias com ndios e afroindgenas. A respeito do tempo em que foram construdos os altares com arte sacra na Igreja matriz de Melgao, memrias escritas deixaram indicaes.

    Um grupo de revoltosos rechaado na refrega aqui veio refugiar-se. (...) Com a chegada de novos habitantes, entre 1832 e 1836, voltou Melgao a sua rotina de atividades de trabalho produtivo, quando foi erigida (ou melhor) restaurada a antiga capelinha de So Miguel, em estilo barroco, com seus altares ornamentados em desenho artstico, (arte portuguesa). Antes, a antiga capela era muito pequena e no tinha ainda seus altares de cedro do Lbano bordados artisticamente, o que at esta data no foram modificados.60

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 214

    Altar-mor de da Igreja de So Miguel Arcanjo em Melgao-PA, 2009. Arquivo da Pesquisa.

    Na ecloso dos tempos da borracha, a partir de 1850, e com maior expresso nos idos de 1870, a chegada de nordestinos fugidos da seca e em busca de melhores vivncias ou recuperao de sonhos tragados pelas adversidades da vida, enlaou mais uma vez a regio marajoara nas malhas de experincias de culturas negras. Vicente Salles relata que em meados do sculo XIX, o Maraj dos Campos enfrentava diferentes dificuldades. Os fazendeiros, na iminncia de entrarem em colapso com a produo do gado dirigiam-se com seus escravos e fmulos para os seringais vizinhos. Abandonavam as fazendas porque o produto dela no cobria menos de um tero da enorme despesa que se fazia.61 Conta, ainda, o pesquisador que um morador de Cachoeira no queria mais criar gado, por ser o preo muito baixo e pelas vantagens auferidas em curto espao de tempo na extrao e preparao do ltex.

    Esses trabalhadores do gado e da borracha marcaram identidades e prticas de povos das guas marajoaras, com suas formas de trabalhar, alimentar, vestir, falar, relacionar e compreender o mundo. Prticas de leitura e escuta em literatura oral de cordel, por exemplo, atualmente em desuso em espaos urbanos marajoaras, mas ainda vivas nas lembranas de moradores rurais, perfazem indcios da presena, expanso e atualizao do imaginrio de

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 215

    tradies orais afroindgenas em universos mentais e cotidianos de campos e florestas.62

    Os tempos cabanal e da borracha modificaram a fisionomia da vila So Miguel de Melgao. Gabriel Severiano de Moura, procurando reunir documentos da velha Intendncia municipal, redigiu em papis datilografados, comentrios e anlises das condies fsicas e sociais pelas quais passou Melgao. Em meio histria contada de gracejos sobre botijas de dinheiro enterrado, localiza-se em espaos de Melgao, um engenho de cana-de-acar, tangido a junta-de-bois para fabrico de acar mascavo, cachaa, rapadura e mel, que utilizou esforos de escravos negros e ndios. Deixando perceber marcas de culturas vocais africanas, crenas e imaginrios sociais, sequncia da narrativa do memorialista caricaturaram falares de negros trabalhadores de lavouras do velho coronel Gabriel. Nesta passagem do texto, preconceitos elaborados, em Melgao, quanto cor e modos de comunicao de povos da dispora, revelam-se sutilmente.

    Apesar de exerccios excludentes frente a prticas de negros e antigos escravos, que passaram a habitar o Maraj das Florestas e se mesclar com naes Nheengaba, Mamaian, Chapouna, expresses de culturas afroindgenas enraizaram identidades e se expressam, ainda hoje, de variadas formas. possvel considerar que os Marajs esto enroscados com viveres e saberes africanos e amerndios em seu jeito de comunicar, danar, cultuar santos ou entidades do rio e da floresta, acreditar em narrativas fantsticas, realizar festejos juninos, pressentir a vida e a morte.

    Em Melgao, no tempo das disporas nordestinas para os seringais do Maraj das Florestas, duas manifestaes artsticas passaram a fazer parte do cotidiano de vida dos moradores da vila. Tratam-se do cordo do Japiim e do Boi Estrela, preparados para apresentaes no perodo junino, em espetculos de teatro popular de rua. Esses dois folguedos podem ser lidos como marcas das cosmologias afroindgenas nas formas de representar a vida social, seus conflitos, contradies, derrotas e vitorias.63

    Denominar essas manifestaes culturais como folclricas, j expressa outros preconceitos e discriminaes, pois no tempo em que eram organizadas pelos moradores da vila, como trabalhadores rurais do rio e da terra, idosos,

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 216

    adultos e crianas, homens e mulheres, o imaginrio social do dia-a-dia estava investido e representado por percepes de povos e culturas orais em encontros.

    Danar o japiim e o boi no era uma questo apenas de entretenimento, passa-tempo, mas um momento em que o mundo do trabalho assumia facetas e papis sociais diferenciados dos normalmente vividos, criando outras possibilidades de construir caminhos de vida.64 A histria do Boi Estrela de Melgao, contada por um morador, no identificado por Leonel, expressa-se no seguinte enredo:

    (...) Existia um fazendeiro, o amo que tinha uma fazenda muito grande e muitos trabalhadores. Ele tinha muito gado e tinha uma filha, a Dona Maria, que tinha um boi, o Boi Estrela. Ela gostava muito desse boi. Na fazenda tinha um capataz, o negro Chico que casado com Dona Catirina que est grvida. Um dia, Catirina pede para o marido matar um boi que ela desejava comer a lngua. Ento o negro Chico chama alguns homens e eles saem para matar o boi. E ento matam o Boi Estrela. Quando o amo descobre que o Boi Estrela foi morto, chama os empregados e pede para irem atrs do negro Chico que foge e se esconde. Quando eles conseguem prender nego Chico, o amo ordena que ele ressuscite o boi. Ento, vrios personagens so chamados para tentar dar vida ao boi. Vem o caboclo guerreiro, chefe dos ndios que tenta curar o boi. Ento o caboclo comea os trabalhos para tentar curar o boi e no consegue. A chamam o doutor que, quando chega, procura fazer o trabalho at que o boi comea a se mexer e se levanta, eles curam o boi e mandam o boi urrar e o boi urra l debaixo...65

    Representados por personagens comuns em outros folguedos de bois,

    dispersos em localidades paraenses e brasileiras, com verses semelhantes em relao ao amo, dono da fazenda, dona Maria, filho do amo, o nego Chico, capataz da fazenda, dona Catirina, esposa do capataz e responsvel pela matana do boi, ndios, doutor, paj, entre outros, o Boi Estrela de Melgao permite entrever a complexa teia de relaes cotidianas estabelecidas entre diversos sujeitos histricos.

    Sobre sentidos dessas performances de matriz africana e oral, que alcanaram corpos amerndios na Amaznia, Antonacci assinala: Memorizadas e repassadas, de gerao a gerao, em presena de corpos ritmados em danas

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 217

    de roda, com volume e densidade , tradies orais em dispora materializaram-se em diferentes gneros no-verbais de comunicao e expresso no Brasil.66

    De acordo com Vicente Salles, a farsa do boi possivelmente o folguedo brasileiro de maior significao esttica e social.67 O registro mais antigo data de 22/02/1834, citado em um jornal de Recife, de propriedade do padre Miguel do Sacramento Lopes Gama, intitulado o que he o bumba meu boi. Da explicao do padre, ficamos sabendo desde logo que era um folguedo de negros escravos constitudo com figuras, bailados e enredos merecedores de censura, por que perturbadores da ordem, incomodando no pouco pela algazarra que faziam.68

    Stiras, escrnios, pilherias compem atitudes dos personagens que vivem o espetculo do boi bumba. No por acaso foram instaladas, em diferentes partes do Brasil, guerras contra donos de bois e seus brincantes. Em bairros pobres de Belm, assinala Augusto Leal seus moradores, em grande maioria negros, incomodavam as elites por causa de suas prticas culturais, que iam de encontro aos valores estticos defendidos para uma cidade moderna.69

    Rastreando outros bois com diferentes historias cantadas e danadas de rosto voltado para a ventania do Atlntico, no Maraj dos Campos, surpreendemos, em narrativas literrias produzidas sobre a vida na regio, tonalidades de manifestaes populares, envolvendo crenas e prticas culturais em meio a sociabilidades e conflitos. Rica de detalhes da cultura material e sensvel de povos oriundos de fortes contatos interculturais, a literatura Dalcidiana deixa flagrar momentos em que relampejares de culturas africanas em mesclas com culturas indgenas, expressavam encenaes populares festivas, recompondo sinais da permanente luta de valores e vises de mundo entre culturas da voz e culturas letradas.70

    Antonacci, estudando o poema pastoril O Rabicho da Geralda, na recolha de Jos de Alencar, em Nosso Cancioneiro, jornal O Globo, de 1874, permite compreender que sagas de boi, cantadas por vozes negras em regies dos diferentes Brasis, constroem relaes frica/Brasil, destacando a presena e significado do gado na vida de povos bantu.

    Incorporando ancestrais tradies e experincias de cativeiro, narradores de muitos tempos imprimiram em cantos e folguedos o tema do boi, que

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 218

    transita em imaginrios do Brasil, subjacente s pressionadas andanas de nossos povos e culturas. Cunhadas oralmente, na complexidade de moventes relao oral/escrito, diferentes expresses permitem entrever, para alm de documentos e verses oficiais, quo longos e espraiados foram os confrontos no fazer escravo de africanos vendidos em portos das fricas e comprados em portos brasileiros.71

    Rememorando prticas de trabalho em fazendas de gado, existentes no somente no lado dos campos marajoaras, mas tambm em regies de terra firme, onde domina a floresta densa, a histria da morte e ressurreio do Boi Estrela de Melgao, narrada e cantada por moradores, durante as dcadas de 1940 a 1980, ficou registrada na memria local como criao do afroindgena Luciano Ferreira, filho de pai negro e me ndia, exmio poeta popular, tambm responsvel por tirar de cabea as folias de So Miguel Arcanjo, padroeiro do municpio, cantadas no tempo da festa na mata.72

    Na perspectiva de potencializar essas prticas culturais, fazendo-as alcanar o presente, esse arteso da memria inspirou-se em suportes comunicacionais de um viver regional, em que tradies de oralidade forjaram circuitos por onde povos de campos e florestas transmitiram e procuraram atualizar variados costumes e modos de vida rural na Amaznia Marajoara.

    Palavras Finais

    Dialogar com essas evidncias histricas captadas pela sensibilidade,

    sabedoria e experincias concretas de literatos regionais, permite sondar experincias sociais vivenciadas por grupos sociais historicamente marginalizados em tempos da Amaznia colonial e nos correntes tempos contemporneos. As imagens e narrativas podem ser interpretadas como memrias que procuraram perenizar modos de vida, especialmente de agentes histricos, cujas formas de registro de seus saberes, fazeres, religiosidades, foram negligenciadas pela escrita de documentos oficiais. Se em relatrios e correspondncias de presidentes de provncias essas vozes do passado so quase inaudveis ou requerem do pesquisador grande habilidade para captar o popular na pena do dominante, na escrita literria elas so recompostas com toda sua riqueza e complexidade.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 219

    A profuso e inesgotabilidade dessas narrativas orais inscritas em suportes imagticos, literrios e escrituras historiogrficas, cujas representaes expem trocas e mediaes culturais vividas por populaes de matrizes multitnicas, agenciando novas identidades culturais em territrios da diferena colonial, demonstra que precisamos desadormecer nossas sensibilidades para interagir com cosmologias afroindgenas em outros indcios do passado. Certamente valorizar, enfrentar e tentar dialogar com fontes alternativas da histria para captar sentidos de prticas socioculturais desses grupos de tradies orais no tarefa das mais simples para inexperientes nessas temticas. Apesar de nossos limites, acreditamos ter realizado esforo para reconfigurar ambientes nos quais outros cdigos, linguagens e expresses comunicativas e comunitrias pudessem ser lidas como manifestaes de sutis e astuciosas resistncias, gestadas por filhos dos encontros afroindgenas, em contraposio negao de seus cdigos comunicacionais pela racionalidade ocidentalmente letrada, hegemnica e globalizante.

    NOTAS

    * Doutor em Histria Social pela PUC-SP. Professor Adjunto da Universidade Federal do Par [email protected] 1 Desde as pesquisas para o Mestrado em Histria Social desenvolvido na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), que resultou no livro Margem dos Marajs: cotidiano, memrias e imagens da cidade-floresta Melgao-PA. Belm: Paka-Tatu, 2006, temos problematizado os restritos, excludentes e homogneos sentidos que o termo Ilha de Maraj carrega para falar do maior arquiplago flvio-marinho do mundo, regio que desde o chamado perodo pr-colombiano tornou-se importante frente de encontro com outros lugares de e alm-fronteiras. Nesse sentido, temos interrogado imagens e discursos historicamente confeccionados sobre a ideia de ilha, interpretada quase sempre como uma parte de terra recortada e cercada por guas, isolada, cuja paisagem fsica, extica e nica invisibiliza suas diversas populaes conformadas em diferentes matrizes tnico-raciais e seus contatos interculturais. Se geograficamente no mais possvel falar em ilha, pois cada um dos 16 municpios da regio conformado em muitas ilhas, historicamente o uso do termo reafirmou isolamentos e formas de dominao de suas paisagens e

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 220

    populaes. Para continuar com a proposta de ler trajetrias de municpios marajoaras, valorizando diferenas, especificidades, sem esquecer semelhanas, operamos ao longo da escritura do ensaio com o termo Amaznia Marajoara, Marajs ou Maraj das Florestas e Maraj dos Campos, seguindo orientaes do olhar poltico (SARLO, Beatriz. Paisagens Imaginrias: intelectuais, arte e meio de comunicao. So Paulo: EDUSP, 1997), que ao interrogar convenes e discursos de tradio oficial, muitas vezes incorporados por habitantes de fora e de dentro da regio, abre possibilidades para reconhecer a estratgica importncia assumida pelos Marajs em seus diferentes tempos histricos, com destaque para a produo de alimentos, mo-de-obra e artesanias diversas que sustenta parte da vida e da cultura amaznica. Para saber mais ler: PACHECO, Agenor Sarraf. En el Corazn de la Amazona: identidades, saberes e religiosidades no regime das guas marajoara. (Tese) Doutoramento em Histria Social, PUC-SP, 2009; Uma apresentao desse conceito Amaznia Marajoara encontra-se ainda em SILVA, Joel Pantoja da, NEVES, Ivnia dos Santos e PACHECO, Agenor Sarraf. A Floresta em Mediaes: mdias, discursos e recepes pelos Marajs. Memento, vol. 02, n. 02, agosto/dezembro de 2011, pp. 27-42; SILVA, Joel Pantoja da, PACHECO, Agenor Sarraf e NEVES, Ivnia dos Santos. Pelo caminho do jabuti e do veado: memrias em pelejas na Amaznia Marajoara. E-scrita, Nilpolis, v. 2, Nmero 6, Setembro e Dezembro de 2011, pp. 249-260. 2 Os termos ndio e negro, no contexto da colonialidade do poder, foram, conforme Quijano citado por Mignolo, identidades forjadas para homogeneizar e apagar a diversidade das identidades ndia e negra. MIGNOLO, Walter. Histrias Locais/Projetos Globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Traduo de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 85. 3 O primeiro estudioso da temtica africana na Amaznia o etnlogo maranhense Manoel Nunes Pereira com seu Negros Escravos na Amaznia. Essa pesquisa foi publicizada no X Congresso Brasileiro de Geografia, realizado no Rio de Janeiro em 1944, com parecer do renomado estudioso amazonense Arthur Csar Ferreira Reis, que no somente recomendou Comisso do evento para que publicasse a tese na ntegra, nos Anais do Congresso, que saram em 1952, como lhe conferiu voto de louvor. Depois desse trabalho inaugural, Nunes Pereira escreveu A Casa das Minas: contribuies ao estudo das sobrevivncias daomeanas no Brasil. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Antropologia, 1947 e A Ilha de Maraj: estudo econmico-social. Rio de Janeiro: Ministrio da Agricultura, 1956 (Srie Estudos Brasileiros, n. 8). Vergolino-Henry e Figueiredo, comentando as primeiras pesquisas de Nunes Pereira assinalaram: curioso observarmos que, no momento em que a Antropologia refora o discurso sobre esse vazio, exatamente um etnlogo maranhense iniciado no Tambor de Mina, o primeiro a desmontar a dominante percepo sobre a regio amaznica e suas populaes. 4 REIS, Arthur Cezar Ferreira. O negro na empresa colonial dos portugueses na Amaznia. Actas do Congresso Internacional de Histria dos Descobrimentos.

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 221

    Lisboa, Comisso Executiva das Comemoraes da Morte do Infante Dom Henrique, v. V, II parte, 1961, pp. 347-53. 5 SALLES, Vicente. O negro no Par sob o regime da escravido. 3 ed. Rev. Ampl. Belm: IAP; Programa Razes, 2005. A primeira edio data de 1971 e foi publicada pela Fundao Getlio Vargas em convnio com a Universidade Federal do Par. 6 MENDONA, Marcos Carneiro de (1894-1988). A Amaznia na era pombalina: Correspondncia do Governador e Capito-General do Estado do Gro-Par e Maranho, Francisco Xavier de Mendona Furtado: 1751-1759. Rio de Janeiro: IHGB, 1963. A segunda edio foi publicada pela Editora do Senado Federal, Conselho Editorial, 2005. 7 CARREIRA, Antonio. As Companhias Pombalinas de navegao e comrcio e o trfico de escravos entre a Costa Africana e o Nordeste Brasileiro. Porto, Imprensa Portuguesa, 1969. 8 VERGOLINO-HENRY, Anaza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleo. A Presena Africana na Amaznia Colonial: Uma notcia histrica. Belm: Arquivo Pblico do Par, 1990. 9 ACEVEDO MARIN, Rosa Elizabeth. Du travail esclave au travail libre: le Par (Bresil) sous le regime colonial et sous lEmpire (XVIIe-XIXe siecles). Paris: Ecole de Hautes Etudes en Sciences Sociales, 1985. Tese de Doutorado. E dois anos depois publicou: Trabalho escravo e trabalho feminino no Par. Cadernos do Centro de Filosofia e Cincias Humanas da UFPA. Belm, n 12, abril/jun.1987, pp. 53-84. 10 GOMES, Flvio dos Santos. A hidra e os pntanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil (Sculos XVII-XIX). So Paulo: Ed. UNESP: Ed. Polis, 2005. 11 CHAMBOULEYRON, Rafael. Escravos do Atlntico equatorial: trfico negreiro para o Estado do Maranho e Par (sculo XVII e incio do sculo XVIII). Revista Brasileira de Histria, vol. 26, n. 52, 2006, pp. 79-114. 12 Inspirao em construes de GOMES, Flvio dos Santos. Op. Cit. 13 VERGOLINO-HENRY, Anaza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleo. Op. Cit., p. 31. 14 SALLES, Vicente. Op. Cit.; VERGOLINO-HENRY, Anaza & FIGUEIREDO, Arthur Napoleo.Op. Cit. 15 BEZERRA NETO, J. M. Escravido negra no Gro-Par (scs. XVIII-XIX). Belm: Paka-Tatu, 2001, p. 18. 16 RICCI, Magda. Prefcio. In: BEZERRA NETO. Idem, p. 08. 17 BAENA, Antnio Ladislau Monteiro (1782-1850). Ensaios corogrficos sobre a Provncia do Par. Par: Tipografia de Santos & menor, 1839, pp. 353-372. 18 Napoleo Figueiredo baseando-se em estudos de Carreira, Dias e Vergolino e Silva, aposta na tese, hoje consolidada pelas novas pesquisas sobre disporas africanas para a Amaznia, de que foi mais de 53.000 o nmero de escravos africanos entrados e distribudos no/a partir do porto de Belm. Importados diretamente da Guin Portuguesa, pelos portos de Bissau, Cacheu, Cabo Verde, Cabinda e Angola e indiretamente passando pelo Maranho, Pernambuco, Bahia e outros destinos brasileiros, alm de grupos de fugitivos das Guianas instalados

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 222

    em terreno brasileiro, naes africanas imiscuram-se como mo-de-obra escrava em diferentes ofcios na cidade de Belm e cercanias. Mulheres negras cozinheiras, costureiras, amas-secas, criadas de servir, amassadeiras de aa ou vendedora de tacac; homens negros pedreiros, ferreiros, sapateiros, carpinteiros, escultores, torneiros, alfaiates e teceles integrantes de bandas marciais, porteiros do legislativo, calafates, oleiros, servios urbanos diversos, alm de agricultores e pescadores. FIGUEIREDO, Napoleo. Presena africana na Amaznia. Afro-sia, n 12, 1976, pp. 145-60. 19 Diferentes estudiosos tm procurado romper com as buscas pelo essencialismo quando se discute processos identitrios em comunidades humanas. Essas identidades so hoje mescladas, compsitas, fundidas no corpo-a-corpo de infinitos contatos e relaes socioculturais. Entre estes estudiosos, ainda que em outro contexto, ver: GILROY, Paul. O Atlntico negro: modernidade e dupla conscincia. Traduo Cid Knipel Moreira. So Paulo: Ed. 34; Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiticos, 2004; HALL, Stuart. Da Dispora: identidades e mediaes culturais. Traduo Adelaine La Guardi Resende... [et. al]. Belo Horizonte: Editora UFMG; Braslia: Representao da UNESCO no Brasil, 2003. 20 Maiores exemplificaes para aprofundar compreenses desse debate podem ser consultados em: PACHECO, Agenor Sarraf. Astcias da Memria: identidades afroindgenas no corredor da Amaznia. Tucunduba, Arte e Cultura em Revista, UFPA, v. 01, 2011, pp. 40-51; PACHECO, Agenor Sarraf. Os Estudos Culturais em Outras Margens: identidades afroindgenas em "zonas de contato" amaznicas. Fnix (UFU. Online), 2012 (Artigo aceito para publicao). 21 BEZERRA NETO, J. M. Op. Cit., p. 45. 22 Sobre formas de mediao e negociao culturais entre distintos grupos e sujeitos histricos, ver: HALL, Stuart. Op. Cit.; BHABHA, Homi K. O local da cultura. Traduo de Myriam vila, Eliana Loureno de Lima Reis e Glucia Renate Gonalves. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. 23 SALLES, Vicente. O Negro na Formao da Sociedade Paraense (Textos Reunidos). Belm: Paka-Tatu, 2004, p. 170-1. 24 GOMES, Flvio dos Santos. Op. Cit. 25 CHAMBOULEYRON, Rafael. Op. Cit. 26 Prticas decoloniais constituem movimento mental e epistemolgico de crtica e rompimento com ordens coloniais, concepes de vida eurocntricas e discursos de modernidade que excluram grupos sociais indgenas e africanos na Amrica. Sobre essa compreenso Cf. CSAIRE, Aim. Discurso sobre el colonialismo. Madrid: Akal Ediciones, 2006; MIGNOLO, Walter D. Op. Cit.; SANTOS, Boaventura de Souza e MENEZES, Maria Paula (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edies Almedina, 2009. 27 HALL, Stuart. Op. Cit., p. 255. 28 SARLO, Beatriz. Cenas da vida ps-moderna: intelectuais, arte e vdeo-cultura na Argentina. Traduo Srgio Alcides. So Paulo: Editora UFRJ, 1997. 29 Conforme Porto-Goncalves, a colonialidade do saber para alm do legado de desigualdades e injustias sociais profundos do colonialismo e do imperialismo, j assinalados pela teoria da dependncia e outros, h um legado epistemolgico

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 223

    do eurocentrismo que nos impede de compreender o mundo a partir do prprio mundo em que vivemos e das epistemes que lhes so prprias. PORTO-GONALVES, Carlos Walter. Apresentao da edio em portugus. In: LANDER, Edgardo (Org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e cincias sociais perspectivas latino-americanas. Traduo de Jlio Casarin Barroso Silva. Buenos Aires: CLACSO, 2005, p. 10. 30 QUIJANO, Anibal. Colonialidad del poder, cultura y conocimiento en Amrica Latina. Vol. IX, n 09. Lima: Anuario Mariateguiano, 1997. Para Mignolo, colonialidade o lado escuro da modernidade. (...) A partir da emergncia e consolidao do circuito comercial do Atlntico, j no possvel conceber a modernidade sem a colonialidade(...). MIGNOLO, Walter D. A colonialidade de cabo a rabo: o hemisfrio ocidental no horizonte conceitual da modernidade. LANDER, Edgardo. Op. Cit., p. 10. 31 BHABHA, Homi. Op. Cit., p. 20. 32 ANTONACCI, Maria Antonieta. Decolonialidade de corpos e saberes: ensaio sobre a dispora do eurocentrado. In: Memrias Ancoradas em Corpos Negros. So Paulo: Educ, 2012 (No prelo). 33 Sobre culturas da voz, entre outros, vale a pena conferir.: ERIC, Havelock. A musa aprende a escrever: a oralidade e a literatura da antiguidade ao presente. Lisboa, Gradiva, 1996; ZUMTHOR, Paul. Introduo poesia oral. So Paulo, Hucitec, 1997. Para a realidade brasileira, ler: ANTONACCI, Maria Antonieta. Tradies de oralidade, escritura e iconografia na literatura de folhetos: nordeste do Brasil, 1890/1940. Projeto Histria 22. So Paulo: PUC-SP/EDUC, junho, 2001, pp. 105-138. 34 A respeito de pesquisas arqueolgicas e possibilidades de interpretar sentidos dos usos da cultura material ancestral na Amaznia Marajoara, destacamos: SCHAAN, Denise P. A linguagem iconogrfica da cermica marajoara: um estudo da arte pr-histrica na Ilha de Maraj, Brasil (400-1300AD). Porto Alegre: EdiPUCRS, 1997. (Coleo Arqueologia, 3); A ceramista, seu pote e sua tanga: identidade e papis sociais em um cacicado marajoara. Revista de Arqueologia, v. 16, 2003, pp. 31-45; Cultura Marajoara. Edio trilngue: portugus, espanhol, ingls. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2009. 35 FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Notcia Histrica da Ilha de Joanes ou Maraj. Revista do Livro, ano VII, n 26, Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1964, p. 147. 36 JURANDIR, Dalcdio. Maraj. 3 ed. Belm: CEJUP, 1992. 37 WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro, Zahar Editora, 1979; THOMPSON, E. P. A Formao da classe operria inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 38 GLISSANT, douard. Introduo a uma potica da diversidade. Traduo de Enilce do Carmo Albergaria Rocha. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005. 39 ANTONACCI, Maria Antonieta. Corpos Negros: desafiando verdades. In: BUENO, Maria Lucia & CASTRO, Ana Lcia (org.). Corpo territrio da cultura. So Paulo, Annablume, 2005, pp. 27-62. 40 A expresso foi formulada por Boaventura de Sousa Santos para quem o genocdio que pontuou tantas vezes a expanso europia foi tambm um

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 224

    epistemicdio: eliminaram-se formas de conhecimento estranho porque eram sustentadas por prticas sociais e povos estranhos. (...) Esse processo ocorreu sempre que se pretendeu subalternizar, subordinar, marginalizar, ou ilegalizar prticas e grupos sociais que podiam constituir uma ameaa expanso capitalista. (...) O esmagamento de saberes e fazeres de grupos indgenas e africanos significou um empobrecimento irreversvel do horizonte e das possibilidades de conhecimento, que a humanidade precisou operar em tempos futuros. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mo de Alice: o social e o poltico na ps-modernidade. 6. ed. So Paulo: Cortez, 2001, pp. 328-9. 41 JURANDIR, Dalcdio. Tempo de menino. Revista Terra Imatura, Belm, n. 8, mar. 1939. 42 Nascido no seio de Marinatambalo, nome indgena da Ilha de Maraj, em 10 de janeiro de 1909, na vila de Ponta de Pedras, Dalcdio Ramos Pereira foi filho de Alfredo Pereira, portugus e Margarida Ramos, marajoara. Viveu em diferentes lugares, vindo a falecer em 16 de junho de 1979, no Rio de Janeiro. Migrou para a Vila de Cachoeira do Arari, um ano depois do nascimento, local onde o pai exercia o cargo de Secretrio da Intendncia Municipal. Passou a infncia vivenciando o movimento das guas, das enchentes e vazantes do Corao da Amaznia, fenmeno que aparece com muita intensidade em toda sua narrativa. Seu envolvimento com os cdigos do mundo letrado vieram da intensa relao com sua me afrodescendente, fazendo-se, da em diante, um frequentador assduo do acervo do pai. 43 O Maraj dos Campos constitudo pelos municpios de Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Chaves, Ponta de Pedras e Muan e o Maraj das Florestas compem-se dos municpios de Afu, Gurup, Anajs, Breves, Melgao, Portel, Bagre, Curralinho e So Sebastio da Boa Vista. O uso dos termos ultrapassa a ideia da paisagem predominante nestes dois lados da regio. Sua diviso realizada em perspectiva geopoltica para marcar diferenas histricas e culturais na constituio da regio de campos e florestas, pois em termos fsicos esses ambientes esto presentes em toda a Amaznia Marajoara. 44 TORRES, Antnio e GALVO, Haroldo Maranho. Um escritor no purgatrio Entrevista com Dalcdio Jurandir. Asas da Palavra. Revista do Curso de Letras. Belm: Unama, n 04, junho de 1996, p. 29. 45 NUNES, Benedito, PEREIRA, Ruy & PEREIRA, Soraia R. Dalcdio Jurandir: Romancista da Amaznia Literatura e Memria. Belm: SECULT; RJ: Fundao Casa de Rui Barbosa/Instituto Dalcdio Jurandir, 2006, p. s/n. 46 Tornam-se frgeis e difceis de contextualizaes, argumentos histricos elaborados a partir do olhar literrio sem entender o autor no seu tempo, sua percepo de vida e sociedade, os circuitos por onde caminhou, os enfrentamentos polticos e literrios estabelecidos, enfim, seu projeto de vida frente realidade cartografada, recriada e analisada. Sobre essa questo, Cf. ELEUTRIO, Maria de Lourdes. Um desafio irrecusvel: A contribuio da literatura para os estudos da histria. Projeto Histria 20. So Paulo: Educ/Fapesp/Finep, abril de 2000, p. 235. Ainda vlido conferir: SEVCENKO, Nicolau. Literatura como Misso: tenses sociais e criao cultural na Primeira Repblica. 2 ed. Revista e Ampliada. So Paulo: Cia. das Letras,

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 225

    2003; CHALHOUB, Sidney e PEREIRA, Leonardo Affonso de M. (Orgs.). A histria contada: captulos de Histria Social da Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998; CHALHOUB, Sidney. Machado de Assis Historiador. So Paulo: Cia. das Letras, 2003; LIMA, Luiz Costa. Histria. Fico. Literatura. So Paulo: Cia. das Letras, 2006. 47 KRAMER, Lloyd. Literatura, crtica e imaginao histrica: o desafio literrio de Hayden White e Dominick Lacapra. In: HUNT, Lynn. A Nova Histria Cultural. Traduo Jeferson Luiz Camargo. 2. Ed. So Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 132. 48 Em El Corazn de la Amazona foi a metfora elaborada pelos padres agostinianos para falar da grande importncia da ilha de Maraj para a existncia e vivncia da Amaznia. A ilha o msculo cardaco que desempenha as funes de bomba aspirante e impelente, j que introduz nas profundidades do oceano Atlntico as guas barrentas, que han circulado por las venas amplias purificadas por las artrias de los rios inmensos de gua limpia. Como El corazn con aurculas y ventrculos tiene tambin dos partes: derecha e izquierda, en comunicacin contnua. T. C. La Prelaca de Maraj cumpli cincuenta aos. In: Boletin de la Provncia de Santo Tomas de Villanueva da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Ano LIX, enero-febrero de 1979, num. 494, p. 29. 49 Cuia com inscries artesanais em forma de variados riscos. 50 TOCANTINS, Sylvia Helena. No tronco da Sapopema. Belm: IOEPA, 1998, p. 12. 51 JURANDIR, Dalcdio. Maraj. 3 ed. Belm: CEJUP, 1992, pp. 47-8. 52 ANTONACCI, Maria Antonieta. 2005, Op. Cit. 53 JURANDIR, Dalcdio. Op. Cit., p. 10. 54 Idem, p. 47. 55 KRAMER, Lloyd. Op. Cit., p. 132. 56 AGOSTINI, Camilla. Cultura material e a experincia africana no sudeste oitocentista: cachimbos de escravos em imagens, histrias, estilos e listagens. Topoi, v. 10, n. 18, jan.-jun., 2009, p. 39-47. 57 AGOSTINI, Camilla. Resistncia Cultural e Reconstruo de Identidades: um olhar sobre a cultura material de escravos do sculo XIX. Revista de Histria Regional, vol. 3, n 02, Inverno 1998, p. 115. 58 MARQUES, Roberta Prto. Cachimbo Guarani: uma interpretao etnoarqueolgica. Monografia de Concluso do Curso de Licenciatura Plena em Histria. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009, p. 04. 59 AGOSTINI, Camilla. 2009. Op. Cit., p. 43. 60 MOURA, Gabriel S. de. Melgao por dentro (1770-1976). Documentrio escrito, Melgao, 1976, p. 14. 61 SALLES, Vicente. 2005, p. 155. 62 Sobre cosmologias de populaes de tradies orais na produo e disseminao da literatura de cordel no nordeste no Brasil, ver: ANTONACCI, Maria Antonieta. 2001. Op. Cit. Para o caso Amaznico, acessar: LACERDA, Franciane Gama; MENEZES NETO, Geraldo Magella. Ensino e pesquisa em histria: a literatura de cordel na sala de aula. Outros Tempos, v. 7, 2010, pp. 217-236; MENEZES NETO, Geraldo Magella. Por uma histria da leitura no

  • Projeto Histria, So Paulo, n. 44, pp. 197-226, jun. 2012 226

    Par: o caso da Guajarina, editora de folhetos de cordel (1914-1949). Dissertao (Mestrado em Histria Social da Amaznia) - Universidade Federal do Par, 2012. 63 LEONEL, M C. et al. Entre homens, arcanjos e encantados: (re)visitando Melgao. Belm: Unama, 2002, pp. 58-69. 64 Thompson discutindo o sentido do uso do tempo em sociedades camponesas da Inglaterra assinala: na comunidade em que a orientao pelas tarefas comum parece haver pouca separao entre trabalho e vida. THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. Traduo Rosaura Eichemberg. So Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 271. 65 LEONEL, M C. et al. Op. Cit. 66 ANTONACCI, Maria Antonieta. frica/Brasil: Corpos, Tempos e Histrias Silenciadas. Revista Tempo e Argumento, v. 1, 2009, p. 54. 67 SALLES, Vicente. 2004. Op. Cit., p. 194. 68 Idem. 69 LEAL, Luiz Augusto Pinheiro. Capoeira, boi-bumb e poltica no Par republicano (1889-1906). Afro-sia (UFBA), Salvador, v. 32, 2005, pp. 241-269. 70 Maiores detalhes sobre a dana do boi na obra de Jurandir, ler: PACHECO, Agenor Sarraf. Histria e Literatura no Regime das guas: prticas culturais afroindgenas na Amaznia Marajoara. Amaznica - Revista de Antropologia, Vol. 1, n 02, 2009, p. 406-441. 71 ANTONACCI, Maria Antonieta. Corpos Negros. Op. Cit., p. 67. 72 Sobre os rituais da festa na mata e na cidade, consultar: PACHECO, Agenor Sarraf. "Cidade-Floresta" na cadncia da Festa: Reverncia a So Miguel nas margens dos "Marajs-PA. Projeto Histria 28, 2004, pp. 195-228. No que concerne presena de negros e escravos na regio de Breves, no contexto da de 1850 a 1880, consultar: SILVA, Lidiane Sanches da. Trabalho e natureza na regio dos furos de Breves. Trabalho de Concluso de Curso (Graduao em Histria). Belm, UFPA, 2011. Data de envio: 19/04/2012

    Data do aceite: 22/05/2012