CONTO. O conto é uma obra de ficção que cria um universo de seres e acontecimentos, de fantasia...
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CONTO
O conto é uma obra de ficção que cria um universo
de seres e acontecimentos, de fantasia ou
imaginação. Como todos os textos de ficção, o conto
apresenta um narrador, personagens, ponto de vista
e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela
sua pequena extensão. Mais curto que a novela ou o
romance, o conto tem uma estrutura fechada,
desenvolve uma história e tem apenas um clímax.
Num romance, a trama desdobra-se em conflitos
secundários, o que não acontece com o conto. O
conto é conciso.
“QUEM CONTA UM CONTO, AUMENTA UM
PONTO.”
Foi dessa forma que esse tipo de texto surgiu. Não
sendo por acaso seu nome, o conto teve início junto
com a civilização humana. As pessoas sempre
contaram histórias, reais ou fabulosas, oralmente ou
através da escrita. O conceito de conto, hoje em dia,
foi ampliado em relação a este citado acima.
Isto se dá porque escritores passaram a adotar esse
tipo de texto como uma forma de escrever, e essa
tentativa tem sido promissora. Além de utilizar uma
linguagem simples, direta, acessível e dinâmica o
conto é a narração de um fato inusitado, mas possível,
que pode ocorrer na vida das pessoas embora não
seja tão comum.
SE ASSIM É, ASSIM SERÁ?
Tudo era bem normal lá em Santantônio da Lamparina.
As crianças iam para a escola enquanto os pais trabalhavam.
Todos riam, se divertiam e às vezes ficavam bem tristes também.
Tomavam banho, soltavam pum e tinham coceira no pé, como
toda gente em qualquer parte.
Só tinha um detalhe, mínimo, insignificante, que deixava tudo
com cara de esquisito e diferente: lá, o dia era escuro como a
noite, e quando era noite era noite também.
Os moradores estavam acostumados. Viviam à sombra da Lua,
estudavam à luz de abajur, sabiam brincadeiras de escuro:
gato-mia, cabra-cega, detetive...
Os mais velhos diziam que lá sempre foi assim e que,
se é assim, assim será até o fim. Sentiam-se
cansados de imaginar como seria viver num lugar
claro e diferente. Os mais jovens sonhavam e diziam
que conhecer o Sol era o maior desejo que tinham no
mundo, no universo. Um desejo infinito.
Por que ninguém pensava em se mudar dali? Porque lá
havia o mais lindo luar e o mais delicioso banho de mar e
um povo com um sonho em comum. Às vezes, coisas assim
são suficientes para nos fazer ficar.
Num dia noite, chegou um, chegaram dois e mais três ou
cinco equilibristas. Era uma família de artistas! Enquanto
uns tocavam, os outros faziam lances incríveis, coisa de
especialista!
Há muito tempo o vilarejo não recebia visita tão animada. Os
equilibristas estavam acostumados a se apresentar até o Sol
raiar e estranharam: já se sentiam cansados e nada de o dia
clarear.
- O Sol não vai aparecer?
E foi assim que souberam que em Santantônio da Lamparina o
dia era tão escuro como a noite e que já estavam acordados
fazia dois dias e meio.
- Daí o nome da cidade?
- Daí o nome.
- Mas por que é assim?
- Diz meu avô que o avô dele dizia que o seu tataravô
ensinou que é assim porque sempre foi assim e assim
será até o fim!
Os artistas acharam aquela explicação meio fraquinha,
de quem já cansou de procurar solução. Avisaram que
por cinco dias escuros e quatro noites noites
treinariam um novo número exclusivo e então
voltariam para o espetáculo de despedida!
Voltaram.
Voltaram com o número mais arriscado e sensacional
de equilíbrio, coragem e precisão já visto em toda a
história da humanidade!
Precisaram de muita concentração. Foram subindo,
um sobre o outro e sobre o outro e sobre o outro e
sobre outro ainda... Até que o menino equilibrista mais
levinho e muito craque, com o braço bem esticado,
atingiu o céu. Com a ponta do dedo fez um picote. Um
pequeno rasgo no céu, por onde passou um facho de
luz.
Era mínimo, mas suficiente para iluminar de alegria e
expectativa cada santantonio- lamparinense. Podiam saber
como era o Sol, a luz e o calor que vinham do céu.
Devagar o rasgo foi aumentando, sozinho, como furo de meia
velha, que vai crescendo até virar um rombo...
E um dia, Santantônio da Lamparina amanheceu toda e
completamente iluminada! Os moradores, que nem tinham
venezianas e cortinas, acordaram sobressaltados com tanta
luz.
Festejaram até o Sol raiar outra vez.
Até hoje, não se cansam de ver o Sol nascer e depois o Sol se
pôr e de novo o Sol nascer e mais uma vez o Sol se pôr.
Acham graça, agradecidos.