CONTANDO HISTÓRIAS COM CAIXAS: RELATO DA EXPERIÊNCIA ... · Eixo temático 08: Educação...
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CONTANDO HISTÓRIAS COM CAIXAS: RELATO DA EXPERIÊNCIA
DESENVOLVIDA NO CELLIJ
Luana Silva Neves
Juliane Francischeti Martins Motoyama
Renata Junqueira de Souza
Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho” Campus de Presidente Prudente
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Financiamento: Programa dos Núcleos de Ensino da Unesp
Eixo temático 08: Educação Infantil e Ensino Fundamental
TELLING STORIES WITH BOXES: REPORT OF DEVELOPED
EXPERIENCE CELLIJ
Resumo: A literatura e contação de histórias são de suma importância na vida das
crianças, por isso, o Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil “Maria
Betty Coelho Silva” (CELLIJ) localizado na Universidade Estadual Paulista “Júlio
Mesquita Filho” na cidade de Presidente Prudente- SP, sob a coordenação da Profª Drª
Renata Junqueira de Souza, trabalha para atender crianças, tanto da rede pública como
particular, da cidade e de seu entorno. As ações desenvolvidas buscam envolver os
pequenos no mundo mágico da fantasia, onde as histórias são apresentadas de maneira
lúdica e interativa. O presente artigo tem o propósito de discutir a relevância da
contação de histórias na vida das crianças, preparando para formar futuros leitores,
capazes de exercerem um pensamento crítico reflexivo, a partir do prazer e gosto pela
leitura literária. Para tanto, apresentamos a proposta de uso de diferentes caixas
literárias para contar histórias na Educação Infantil. Seguido de um relato de
experiência com a caixa de contação da história “A Galinha que Criava um Ratinho” da
autora Ana Maria Machado (2010) que foi desenvolvido durante o mês de março de
dois mil e quinze.
Palavras-chave: Educação Infantil, Contação de histórias, Caixas Literárias.
Abstract: Literature and storytelling are very important in children's lives, so the Study
Centre in Reading and Children's and Youth Literature "Maria Betty Coelho Silva"
(CELLIJ) located at the Universidade Estadual Paulista "Julio Mesquita Filho" in the
city Presidente Prudente SP, under the coordination of Prof. Dr. Renata Junqueira de
Souza, works to meet children, both public and private, of the city and its surroundings.
The actions seek to involve small in the magical world of fantasy, where the stories are
presented in a playful and interactive way. This article aims to discuss the importance of
storytelling in children's lives, preparing to form future readers, able to exercise a
reflective critical thinking, from the pleasure and taste for literary reading. Therefore,
we present the proposed use of different literary boxes to tell stories in kindergarten.
Followed by an account of experience with the story-box story "The Hen created a
Mouse" the author Ana Maria Machado (2010) which was developed during the month
of March two thousand fifteen.
Key words: Early Childhood Education, Storytelling, Literary Boxes.
Introdução
A contação de histórias é uma prática milenar que acompanha os seres humanos
desde os primórdios da criação. Mesmo aqueles que dizem não saber como contar
histórias, narram fatos de seu cotidiano ou mesmo “fofocas” pela vizinhança, dando
sequência a uma teia de narrativas que se estende pelo universo. O objetivo deste texto é
retratar aos leitores como se dá o uso de caixas para a contação de histórias, assunto
pouco discutido nos textos que estudam a apresentação da literatura infantil e juvenil
para os pequenos.
Esse diálogo sobre contar histórias e técnicas que podem ser utilizadas para este
fim é importante porque através da literatura é possível para a criança compreender o
mundo, viajar a lugares inimagináveis, sendo as diferentes caixas de contação de
histórias um meio pelo qual podemos auxiliar os infantes a adentrar em um mundo
lúdico com a visualização.
Acreditando nessas concepções, o Centro de Estudos em Leitura e Literatura
Infantil e Juvenil (CELLIJ) vem há mais de vinte anos desenvolvendo diferentes ações
para a formação do leitor com base em experiências orais. Os resultados demonstram
que, após a mediação desenvolvida pelo contador de histórias entre a narrativa oral e os
ouvintes, muitos pequenos passam a interessar-se mais pelo universo literário. Sendo
assim, esse estudo apresenta a técnica de contar histórias tendo como principal recurso
uma caixa para desenvolver ao nosso público o interesse pela leitura.
Os procedimentos metodológicos utilizados para a construção deste relato foram
a pesquisa bibliográfica em diferentes fontes como Silva (1986) e Souza et. al. (2015)
que abordam a importância da leitura e contação de histórias para a formação do leitor.
Além disso, debruçamo-nos sobre uma análise mais pontual sobre a prática de contar
histórias com caixas que pode ser definida como estudo de caso no qual se discute o uso
desses materiais na formação de leitores na educação infantil, tendo como cenário as
atividades desenvolvidas no CELLIJ durante o mês de março de dois mil e quinze.
Caixas que contam histórias
Uma lenda muito antiga conta que nos primeiros tempos, não haviam histórias
na Terra, pois Nyame, o Deus do Céu, as guardava todas para si em um grande e
precioso baú. Desejando compartilhar desse tesouro, Ananse subiu até o céu através de
uma teia de aranha que ele construiu e intercedeu junto a Nyame que lhe propôs um
desafio: se o homem aranha trouxesse Osebo, o leopardo de dentes terríveis, Mmboro, o
marimbondo que pica como fogo e Moatia, a fada que nenhum homem nunca viu, as
histórias lhes seriam dadas. Ananse cumpriu a missão e ganhou o direito de ser o
portador das histórias, mas ao recebê-las não guardou para si, abriu o baú e as deixou
voarem pelos ares chegando a todos os homens.
Desde a conquista de Ananse, todos os homens são capazes de contar histórias.
Inicialmente, as histórias eram contadas a beira do fogo em um círculo, talvez na calada
da noite, usando apenas a voz e a expressão do contador. Mas o homem é um ser em
desenvolvimento e como tudo aprimora, aprimorou também os modos de contar. No
decorrer do tempo, novos acessórios foram incorporados a contação, novas ideias foram
surgindo e a arte da narrativa foi se remodelando e sobrevivendo a passagem dos
séculos.
A contação de histórias é uma das formas de humanizar as pessoas, pois mexe
com as emoções e trabalha no fundo da alma. Para realizá-la existem diversos recursos.
Os mais conhecidos e utilizados segundo Silva (1986) são: a simples narrativa, a
narrativa com o auxílio do livro, o uso de gravuras ou história ampliada, flanelógrafo,
desenhos e a narrativa com interferências do narrador e dos ouvintes. No presente
artigo, mencionaremos algumas dessas técnicas já apresentadas por Silva (1986), mas
nos ateremos mais profundamente na apresentação da caixa de contação de histórias
uma dessas novidades que os contadores do século XXI trouxeram para incrementar a
arte.
A contação de histórias encanta as crianças, assim como adultos, por que faz
parte da oralidade, uma característica nata dos seres humanos, enquanto que a escrita é
uma ferramenta criada pela humanidade, mas que deve ser ensinada e adquirida ao
longo dos anos, portanto, necessita de maior esforço para aprendizagem. Basta observar
os primeiros anos de vida dos indivíduos para percebermos que as primeiras
experiências da vida humana seguem o seu percurso e se pautam na oralidade, sendo o
sujeito constituído inicialmente pela linguagem que o auxilia na abstração e
compreensão, assim como na formação do pensamento concreto. Os Contos de Fadas,
por exemplo, estão ligados a tradição oral da humanidade, por este motivo são tão
aceitos pelos pequenos e fruem tão bem na oralidade.
[...] uma arte extremamente envolvente e que pede participação: a arte
de ler oralmente e de contar histórias. As histórias refletem a
expressão artística e o imaginário de uma pessoa, uma comunidade ou
um povo. Assim ler e contar oral e expressivamente são artes
próximas do teatro. Atraem crianças, sobretudo, mas também nos
adultos. Têm o poder de sair do fato local para o universal. Criam
intercâmbios entre as pessoas de realidades e nacionalidades
diferentes. (SOUZA, GIROTTO 2009 p. 21).
Portanto a contação de histórias recebe o status de arte por ser uma ação singular
e complexa que mexe com os que contam e com aqueles que o assistem de modo
profundo e único. Contar histórias é mais que apresentar uma narrativa, é dizer sobre
um povo e sua constituição, mais ainda, é dizer sobre um povo e sua vida de modo
mágico.
Existem diversos tipos de recursos diferentes para se contar histórias, cabe ao
contador selecionar qual a técnica com que ele se sente mais confortável e seguro. O
circuito literário, por exemplo, é uma delas. Nesta dinâmica, as crianças tem
participação direta, auxiliando o personagem principal a avançar durante todo o
processo da narrativa, assim como em um grande jogo de damas, no qual o tabuleiro
não é quadrado e sim circular. Segundo Ribeiro (2015), essa técnica é adequada para a
contação de histórias longas como, por exemplo, Alice no País das Maravilhas
(CARROLL, 2015).
O teatro de sombras, por sua vez, consiste em uma técnica milenar chinesa, que
consiste em manipular os personagens da história sob um fundo branco e contra a luz,
projetando uma sombra (SOUZA, 2015a). O uso desse método é adequado para
histórias com poucos cenários e personagens, mas com algum movimento para que a
criança possa visualizar nas sombras o desenrolar da narrativa.
Segundo autoras que estudam a contação de histórias como Silva (1986) e, mais
recentemente, Santos (2015), a simples narrativa é uma técnica utilizada desde a
antiguidade, isso porque, ela é uma forma acessível de transmissão de narrativas orais,
pois pode ser utilizada em qualquer lugar, e para pessoas de todas as idades, sem
requerer outros tipos de recursos e instrumentos a não ser a voz. Essa técnica é
adequada para narração de contos do folclore popular ou contos de fadas.
A contação com o flanelógrafo é uma técnica que consiste na audição e
visualização da história que esta sendo contada. Ela se dá em um objeto produzido de
madeira ou papelão duro, com uma face coberta de flanela ou feltro, de modo que, os
personagens da narrativa possam ser manuseados e afixados em sua superfície. Os
objetos que serão utilizados como personagens e cenários podem ser confeccionados
pelo próprio contador, requerendo planejamento e organização antes do momento de
usá-lo (SILVA, 1986). Todavia, o flanelógrafo é pouco indicado para contações com
muitos cenários e/ou personagens, pois isso pode trazer desconforto e atrapalhar o
narrador no momento de realizar a troca de figuras da superfície.
Parente do já conhecido flanelógrafo, o tapete de contação de histórias é um
material que funciona bem quando se tem uma pequena quantidade de crianças ou
espectadores, não é recomendado para espaços onde se encontram muitos ouvintes, pois
não garante a visualização das ações que estarão transcorrendo no chão (FERREIRA;
MOTOYAMA, 2015). Assim como no flanelógrafo, é preciso estar atento ao número de
personagens e cenários para que eles possam ser expostos no tapete de modo coerente.
Esse recurso é indicado para contação de histórias circulares.
Por fim, a caixa literária é uma técnica de contação de histórias que consiste na
interação e visualização dos ouvintes, a partir da mediação de uma caixa que pode
assumir as mais distintas formas, sua produção se faz com uma caixa de papelão (que
pode variar o tamanho, desde uma caixa de sapato até algo de maior dimensão) de modo
que, as faces da caixa abriguem cenários e outras surpresas para os ouvintes.
Segundo Lima e Girotto (2007, p.07),
Essa maneira de contar histórias é uma alternativa metodológica para
que a criança seja efetivamente envolvida na atividade, sobretudo, por
buscar mobilizar o uso de capacidades mentais essenciais ao seu
desenvolvimento cultural: a memória, a atenção e a percepção
voluntárias, a imaginação, a linguagem oral, o pensamento, as
emoções, a função simbólica da consciência, a vontade.
Existem diferentes modelos de caixas para contar histórias, o modelo 1, foi
construído a partir de uma caixa de papelão grande (geralmente aquelas em que se
compra papel sulfite). No caso da caixa aqui apresentada, ela traz a história “A Galinha
que Criava um Ratinho” de Ana Maria Machado (2010).
Para construí-la, utilizamos diversas folhas coloridas de EVA, escolhemos os
principais cenários da história e reproduzimos nas faces da caixa, ou seja, quatro
cenários, conforme se pode observar nas figuras 1 e 2. O primeiro é a casinha no alto do
morro, parte inicial da narrativa que vai apresentar o espaço como um todo; a segunda
face é a reprodução da sala de estar da família, local onde ocorrem os principais fatos da
narrativa; a terceira é o bosque por onde os personagens precisam passar para chegar ao
rio, cenário da quarta face da caixa. Os personagens também são construídos em EVA e
sustentados por palitos de madeira.
Figura 1: Faces da caixa
Fonte: As autoras Figura 2: Outras faces da caixa
Fonte: As autoras
Do lado de dentro da caixa mantém-se todos os instrumentos (personagens,
objetos citados no livro como, por exemplo, um bolo de milho) que iremos utilizar
durante a contação da história, conforme se pode observar na figura 3. Conforme as
ações vão transcorrendo na narrativa, o contador vai retirando os objetos da caixa e
mostrando para os ouvintes. Os cenários também devem ser mudados, para isso, basta
girar a caixa de posição. Para contar com esse tipo de caixa, as crianças devem sempre
estar à frente do narrador, pois assim, o contador pode escolher a face que deve ser vista
pelos ouvintes e manter as demais fora de cena para não confundir os expectadores.
Esse material pode ser utilizado desde a educação infantil até o ensino fundamental,
alterando-se apenas a história que será contada.
Figura 3: Interior da Caixa
Fonte: As autoras
No entanto, existem caixas que se misturam com os livros. Neste caso, as caixas
são menores que a que foi apresentada anteriormente. O mais adequado neste caso é
fazer uso de uma caixa de sapatos com a tampa fixa. Encapa-se a caixa com tecido e
faz-se a reprodução do livro através de xerocopiadora ou de EVA. O livro é então
afixado na tampa da caixa ficando o texto visível para o contador e as imagens para os
ouvintes. No interior da caixa, fica sempre um objeto ou figura que remeta a história
que foi contada.
A caixa abaixo representada foi construída pela equipe da Faculdade de Filosofia
e Ciência, Unesp, Campus de Marília, para a contação da história “A Colcha de
Retalhos” (SILVA;SILVA, 2010). O livro foi xerocopiado as imagens foram recortadas
em E.V.A e destacadas com cola em auto relevo, assim as crianças podem visualizar e
também tocar as figuras, conforme a figura 4 mostra. Dentro da caixa, na figura 5, está
um coração com a palavra saudade, por ser este um sentimento central na história que
será narrada. Antes da contação, o professor abre a caixa e pergunta quem sabe o que é
saudade e conversa com as crianças se elas conseguem entender o que aquele
sentimento tem haver com a história que será narrada. Após a narrativa, as crianças irão
compreender o objeto perdido no interior da caixa e checar se suas hipóteses estavam
corretas.
Figura 4: Faces da caixa
Fonte: As autoras Figura 5: Interior da caixa
Fonte: As autoras
Outras caixas são mais interativas e lembram uma tv, pois trazem as páginas dos
livros com as cenas impressas em suas laterais. A caixa literária da história “Quem
soltou o PUM?” (FRANCO; LOLLO, 2010) é toda revestida de EVA, com os cenários
principais que contém na narrativa, com cenários do banheiro, de uma personagem
fazendo o sinal de NÃO, dando sentido duplo ao título “quem soltou o PUM?”,
podemos visualizar conforme as figuras 6 e 7.
Figura 6: Faces da caixa
Fonte: As autoras Figura 7: Outras faces da caixa
Fonte: As autoras
No interior da caixa, conforme mostra a figura 8, se encontra o objeto chave para
compreensão da história (o animal PUM), assim após a contação as crianças se
envolvem com o objeto de pelúcia, brincando e fazendo a reconstrução da história.
Figura 8: Interior da caixa
Fonte: As autoras
Não importa o formato da caixa escolhida pelo docente, o importante é que por
meio desta técnica de contação de histórias é possível que as próprias crianças, com a
ajuda do professor, recriem e reinventem a sua caixa de contação, com a história que
preferir.
O professor é o sujeito mediador e criador de mediações entre a
criança e a cultura historicamente elaborada e com possibilidade de
introduzir os pequenos e as pequenas no mundo da fantasia, dos bens
culturais e da apropriação de conhecimentos necessários ao seu
desenvolvimento pleno. (LIMA, GIROTTO, 2007, p.07)
Neste sentido, conta-se histórias para crianças para proporcionar prazer às
mesmas, formar leitores, espalhando pelos cantos a leitura, assim como faz os pássaros
com as sementes, brotando flores e formando florestas. Neste sentido, a hora do conto é
de suma importância na rotina da educação infantil. Quanto às caixas de contação, além
do fato da caixa ser de material reciclável cabe na mesma a imaginação, usar a arte
manual a seu favor para encantar as crianças.
Contando Histórias com Caixas: um relato de experiência
O presente relato trará a experiência desenvolvida no CELLIJ, com crianças da
educação infantil, durante o mês de março de dois mil e quinze com o uso da história “A
Galinha que Criava um Ratinho" (MACHADO, 2010). Essa narrativa traz a história de
um casal de aves, galo e galinha, que não tinham nenhum pintinho, e então resolveram
pegar um ratinho para criar, cuidavam muito bem do ratinho, um dia a mamãe galinha
antes de sair avisou ao papai galo e ao ratinho para tomarem cuidado, pois a raposa
estava pelas redondezas, mas o papai preguiçoso nem deu ouvidos ao que a mamãe
falou, e quando bateram na porta ratinho a abriu e no mesmo instante a raposa viu
aquele ratinho e não interessava, ela gostava mesmo era de animais grandes e com
penas, engoliu o papai galo em uma bocada só. Mas a mamãe galinha é muito esperta,
ao invés de arrancar as penas da cabeça toma atitudes para livrar a sua família da mira
da raposa para sempre.
O contar histórias não é apenas colocar a narrativa para os pequenos. É preciso
um preparo por parte do docente para que as crianças possam passar por experiências
que sejam enriquecedoras e que formem o seu repertório leitor, por isso, é muito
importante a conversa antes e depois da contação.
Esse antes da contação é denominado por Matos e Sorsy (2005) como
“aquecimento”, pois prepara a criança para adentrar no mundo da imaginação. O
aquecimento pode ser uma atividade lúdica como música ou brincadeiras diversas, mas
precisa estar sempre relacionado à temática que será abordada no caso da contação da
história “A Galinha que Criava um Ratinho" (MACHADO, 2010) com a técnica da
caixa de contação usamos o aquecimento da concentração para adentrarmos no mundo
da fantasia.
A brincadeira da concentração consiste em, pedir para que as crianças adivinhem
o que é necessário para se ouvir histórias, então damos uma dica e dizemos que esta a
palavra que eles precisam adivinhar começa com a letra “C”, após um momento de
tentativas e erros, eles adivinham e falam “CONCENTRAÇÃO”. O passo seguinte é
tentar pegar a concentração com as mãos, em uma espécie de meditação, depois
perguntamos as crianças em qual lugar do corpo que iremos passá-la, os pequenos
dizem que é preciso passar na boca, para não conversar durante o momento da contação,
nos ouvidos, para ouvir bem, brincamos com eles e dizemos que sempre é preciso
passar concentração nos pés, para não ficar com cheiro de chulé, e no bumbum, para
não soltar pum, todos acham engraçado e riem.
Após o aquecimento, as crianças já estão calmas e podemos realizar a introdução
da história (MATOS; SORSY, 2005). Esse é o momento que pontua para a criança que
a história já vai começar como o famoso “Era uma vez” dos contos de fadas. No caso da
história “A Galinha que Criava um Ratinho" (MACHADO, 2010) a introdução já vem
pronta no texto escrito, bastando ao contador decorá-la:
Lá em cima daquele morro tem uma casinha branca, com teto de sapê.
É tão pequenina que nem dá para ver daqui. Mas eu sei que tem,
porque quando eu era pequena, assim que nem você, minha mãe me
disse que tinha, e me contou a história que tinha acontecido nessa
casa. Uma história que minha avó contou pra ela e eu vou contar pra
você (MACHADO, 2010, p. 02)
A contação de histórias com a caixa consiste em colocar os diferentes objetos
que serão evocados durante a narrativa em uma caixa de papelão grande e de fácil
visualização para as crianças e, conforme se narra a história, esses objetos vão sendo
apresentados. Por exemplo, no trecho em que o narrador explica como a galinha e o
galo cuidavam de seu ratinho “davam comida, banho gostoso, contavam história,
cantavam música, inventavam brincadeira, davam beijo (de bico), abraço (de asa) e
faziam cafuné (do jeito bom que você imaginar)” (MACHADO, 2010, p. 05) o narrador
vai apresentando as ações, dando mamadeira para o ratinho, fingindo jogar água no
ratinho com o regador, assim por diante, como vemos na figura 9.
Figura 9: Contando história com a caixa
Fonte: As autoras
Neste caso, “a palavra contada não é simplesmente fala. Ela é carregada dos
significados que lhe atribuem, o gestual, o ritmo, a entonação, a expressão facial e até o
silêncio que, entremeando ao discurso, integra-se a ela” (MATOS; SORSY 2005 p.4),
portanto, a caixa confere um elemento a mais para enriquecer a compreensão e
visualização do ouvinte.
Após a contação, realizamos a finalização (MATOS; SORSY, 2005) para
pontuar o fim da narrativa para os ouvintes, no caso dessa história, utilizamos a frase
“essa história entrou por uma porta e saiu pela outra quer souber que conte outra”.
Todavia, o uso da caixa de contação não se esgota com o trabalho do
professor/contador. A riqueza do material está em sua versatilidade, pois é possível o
reconto da história por parte das crianças, espalhando a arte de contar histórias por onde
quer que passemos.
Quando utilizamos a caixa literária para contar a história “A Galinha que Criava
um Ratinho” (MACHADO, 2010) as crianças aparentaram estar com vergonha. Essa
timidez se deu por conta de ser a primeira vez em que nos encontramos com as crianças
e o ambiente do CELLIJ era algo totalmente novo para elas, mas bastou a história
começar que logo essa situação se modificasse e as crianças começassem a interagir.
Fizemos uma brincadeira espontânea devido a timidez das crianças, que a raposa
(personagem da história) não havia engolido somente o papai galo (personagem), mas
também a língua das crianças, tirando assim risadas das mesmas. Esse tipo de
intervenção na educação infantil funciona bem porque as crianças possuem uma
imaginação fértil e sempre acabam acreditando e visualizando as coisas que são
colocadas pelos contadores.
Houve uma turma em que havia dois alunos, C. e S., que se soltaram mais,
interagindo conosco e com a história, fizeram conexão com a história de “Chapeuzinho
Vermelho”, no momento em que a mamãe galinha (personagem) corta a barriga da
raposa para retirar o papai galo e coloca pedras no lugar. Essas crianças, por possuírem
maior proximidade com outros textos literários, foram capazes de estabelecer conexões
coerentes entre textos literários (SOUZA; GIROTO, 2010).
Através do uso da caixa, foi possível perceber que as crianças compreendiam
melhor o que estava sendo apresentado para elas, pois já possuíam acesso ao material
imagético e focavam-se no que estava sendo narrado. Assim, as conexões entre o texto
lido e outros já conhecidos foram construídas, pois os pequenos tiveram espaço não
apenas para participar da atividade como também refletir sobre o texto.
A caixa literária foi uma novidade para todos, tanto para as crianças, que tinham
curiosidade em questão dos objetos que saiam do interior da caixa, quanto para nós, que
contamos pela primeira vez com esta técnica de contação de histórias, mas a experiência
foi muito gratificante.
Considerações Finais
A apresentação e o relato que foram apresentados neste texto se fazem
importantes, pois podem auxiliar os professores e contadores de histórias na formação
do futuro leitor. De tudo que aqui foi apresentado, o mais importante é compreender o
poder das histórias na formação dos pequenos, pois as contações de histórias com
diversos recursos podem levar os ouvintes à outra dimensão, a da fantasia, espaço onde
tudo é possível se você se deixar levar pelas histórias.
A caixa de contação de história mostrou-se uma importante ferramenta não apenas para
aproximar as crianças do texto, mas também para trabalhar estratégias de leitura com a
organização sequencial do texto, o desenvolvimento da visualização, construção de
inferências e a possibilidade de criar conexões entre diferentes narrativas conhecidas
pelos pequenos. Neste sentido, é importante que sejam sempre oferecidas atividades
como essas para o enriquecimento do repertório dos leitores.
Referências
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LIMA, Elieuza Aparecida de; GIROTTO, Cyntia Graziella Simões. Leitura e leituras
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