Coniunctio - Revista de Psicologia e Religião
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CONIUNCTIO Revista Cientfica de Psicologia e Religio | Ichthys Instituto | Curitiba - PR
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Ano 2 | nmero 2 | 2013
Edio Atual 74 pginasCuritiba | Ano 2 | N. 2 | 2013 | ISSN Requerido
Copyright 2013 by autores
Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida,desde que citada a fonte.
E-mail: [email protected]
Editores: Sonia LyraJubal Srgio Dohms
Comisso editorial
Sonia Regina LyraJairo FerrandinJuarez Francisco da Silva
Adriano Holanda
Conselho editorial
Dra. Sonia Regina Lyra
Dr. Jairo FerrandinDr. Enio Paulo GiacchiniDr. Luiz Felipe PondDr. Gilvan Luiz FogelDr. Nilo Agostini
Diagramao: Dohms ComunicaoReviso: Enio Paulo GiachiniIlustraes: Rogrio Borges e Jubal S. Dohms
Dados internacionais de catalogao na fonte
Bibliotecria responsvel: Angela M. S. K. Cherobim CRB 9 R/605______________________________________________
CONIUNCTIO Revista de Psicologia e Religio - v.2, n.2, Curitiba: Ichthys Instituto, 2013
Semestral
1. Psicologia - Peridicos 2. Religio Peridicos 3. Filosofia Peridicos 4. Arte Peridicos
5. Teologia Peridicos._______________________________________________
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SUMRIO | CONTENTS
Editorial | 4
Sonia Regina LyraImaginao Ativa e Bruxismo | 5
Viktor D. SalisAlgumas reflexes comparativas sobre as tradies religiosas judaicas,
proto-crists e gregas arcaicas | 13
Regina Maria Grigorio e Sonia Regina LyraAspecto religioso do processo de individuao | 16
Albertina LauferO percurso para a stima morada | 30
Ana Luisa Testa e Sonia Regina LyraA assimilao psicolgica do mal| 41
Marcos Aurlio FernandesO confronto de So Boaventura com a filosofia nas conferncias de Paris
sobre os dez mandamentos e sobre os sete dons do Esprito Santo | 51
Resenhas |Reviews
Jos Luiz NauiackO Desespero Humano | 68
ngelo Vieira da SilvaO que Religio? | 70
Murilo Augusto DiorioZaratustra em anlise: Uma leitura viva sobre a morte de Deus | 72
Chamada para publicao e normas para colaborao | 73
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Ano 2 | nmero 2 | 2013
Coniunctio Revista de Psicologia e Religio um peridico cientfico, eletr-nico, semestral, criado e mantida pelo ICHTHYS INSTITUTO DE PSICOLOGIAE RELIGIO, em 2012, com o objetivo de publicar pesquisas, artigos, resenhas,crticas e entrevistas que contenham temas relacionados Psicologia (Psicologiageral, Psicologia analtica e especialmente Psicologia da religio) e Religio,em dilogo com reas afins: filosofia, arte, mitologia, teologia, sociologia, etc. Aideia fomentar a rea de pesquisa em Psicologia da Religio esta filha maisnova da psicologia, no Brasil na contemporaneidade.
Neste ano de 2013 o ICHTHYS INSTITUTO em parceria com a UNIPAR CampusCascavel realizou a primeira pesquisa cientfica em IMAGINAO ATIVA aplica-
da rea do BRUXISMO, tendo excelentes resultados e apresentando tambmpela primeira vez a possibilidade de cura para este sintoma. Intitulado The ActiveImagination Technique for Bruxism Treatment, o artigo foi apresentado Co-munidade Cientfica Internacional, em Berlin Alemanha, em maio de 2013 epublicado no WASET: World Academy of Science Engineering and Technology noDepartamento de Psicologia e Psiquiatria. Sua reproduo em lngua portuguesaest sendo feita pela primeira vez no Brasil em nossa revista Coniunctio. Outrosprojetos de pesquisa encontram-se em andamento, nas reas de Autismo, Psora-se e Sndrome do Pnico.
Aproveitamos essa oportunidade para convidar pesquisadores(as) e professores(as)a contriburem com a Coniunctio. A publicao ou no do material enviado serdefinida pela Comisso de Redao a partir dos critrios propostos pelo ConselhoEditorial, integrado por professores/as e especialistas de vrias Universidades eCentros de Estudos.
As propostas para publicao devem ser originais, no tendo sido publicadas emqualquer outro veculo do pas. Publicam-se artigos em quatro lnguas: portu-gus, espanhol, italiano e francs. Todos os nmeros so divulgados por meiosdigitais, estando disponveis onlinepela Internet.
Os editores
EDITORIAL
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CONIUNCTIO Revista Cientfica de Psicologia e Religio | Ichthys Instituto | Curitiba - PRAno 2 | nmero 2 | 2013
A Tcnica da Imaginao Ativano Tratamento do Bruxismo
The Active Imagination Technique for Bruxism Treatment
Sonia Lyra, pesquisadora e divulgadora da tcnica de Imaginao Ativa, foi Europaapresentar os resultados cientficos (estatsticos) do trabalho pioneiro com a ImaginaoAtiva, intitulado The Active Imagination Technique for Bruxism Treatment comuni-dade cientfica internacional, como conferencista em Psiquiatria e Psicologia no WorldAcademy of Science, Engineering and Technology, em Berlim, em maio de 2013. A pes-
quisa desenvolveu-se graas a uma parceria entre o ICHTHYS Instituto e a UniversidadeParanaense (UNIPAR Curso de Odontologia Cascavel-PR) e tambm contou coma participao da Profa. Daniela Ceranto F. Boleta, PhD, e da Odontloga Tnia MariaBremm Zaura.A tcnica da Imaginao Ativa corresponde a uma forma particular de lidar com oinconsciente. Foi desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875-1961) e busca a compreen-so do smbolo, tendo como modelo os escritos de santo Incio de Loyola. Sonia Lyra a nica profissional no pas a promover regularmente cursos de Imaginao Ativa e adesenvolver pesquisas com o uso da mesma.Este artigo, que CONIUNCTIO aqui publica, tambm pode ser acessado no original
(World Academy of Science, Engineering and Technology Vol:76 2013-04-25 ), emingls, em http://waset.org/Publications/the-active-imagination-technique-for-bruxism-treatment/15181
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A tcnica da Imaginao Ativano tratamento do bruxismo
The Active Imagination Technique for Bruxism Treatment
1. Introduo
O sistema mastigatrio possui vrias ati-
vidades, divididas em funcionais e parafuncio-
nais. A funcional ou fisiolgica inclui os atos de
mastigar, falar e deglutir que so controlados por
reflexos protetores e msculos. Dentre as pa-
rafuncionais, inclui-se o bruxismo, relacionadocom a hiperatividade muscular, que pode pro-
Sonia Lyra*, Tnia Maria Bremm Zaura**e Daniela Ceranto F. Boleta***
* Lyra, S. R. Ph.D. in
Cincias da Religio,
Pontifcia Universidade
Catlica de So Paulo
** Zaura - Bremm
T. Cirurgi Dentista -
Clnica particular - Terra
Roxa Paran - Brasil
*** Boleta - Ceranto D.
C. F. Cirurgi Dentista,
Mestre e Doutora em
Odontologia - Fisiologia
Oral UNICAMP
vocar desgastes dentais, leses nas estruturas de
suporte [1], desordens da articulao temporo-
mandibular (ATM) e cefaleias [2].
Adquirida de forma inconsciente, ocorre
durante perodos diurnos, mas mais frequente
durante o sono [3].
A consequncia mais frequente do bruxis-mo a fadiga, que a incapacidade de resistir
A tcnica da Imaginao Ava no tratamento do bruxismo | Sonia Lyra, Tnia Maria Bremm Zaura e Daniela Ceranto F. Boleta | 06 - 11
Resumo
O objetivo do presente trabalho foi avaliar o efeito da tcnica da Imaginao Ativa para o tratamento debruxismo. Este projeto foi apreciado e aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa em Seres Humanos(CAAE: 05619512.9.0000.0109). Concluram a pesquisa 21 voluntrios. Inicialmente eles preencheram umquestionrio a respeito de sua condio referente ao bruxismo, composto por questes objetivas sobre sinaise sintomas. Na sequncia foram submetidos a uma nica sesso, de cerca de 1h de durao, de ImaginaoAtiva com uma profissional habilitada (psicloga), realizada nas dependncias da Universidade Paranaense
Uniparcampus Cascavel (Brasil). Aps 15 dias, os voluntrios preencheram novamente o mesmo questio-nrio inicial. Os resultados dos dois questionrios foram comparados e demonstraram que a grande maioriados participantes teve a sintomatologia dolorosa, a dificuldade de abertura bucal, dor mastigao, reduzidasaps a sesso de Imaginao Ativa, alguns dos participantes abandonaram o uso da placa durante o perodoavaliado. Conclui-se que a tcnica pode ser utilizada no tratamento do bruxismo. Os resultados parecem serpromissores e demonstram a necessidade de a tcnica ser considerada por sinalizar a possibilidade de curado bruxismo e isto no tem precedente.
Palavras-chave:Imaginao Ativa, Bruxismo, Dor orofacial.
Abstract
e research purpose was to evaluate the effect of Active Imagination Technique (AIT) for bruxism treatment.is project was approved by the Ethics Committee on Human Research (CAAE: 05619512.9.0000.0109).Twenty-one volunteers using interocclusal splint completed the study. Initially they filled in a question-naire about their condition, composed of objective questions on signs and symptoms. Following they wereunderwent a single session of AIT. After 15 days, the volunteers met again the same initial questionnaire.e results were compared and showed that the vast majority had pain symptoms, diffi culty opening themouth, pain when chewing, reduced, some of the participants abandoned the interocclusal splint duringthe evaluate period. It is concluded that the technique can be used in bruxism treatment. Results seem tobe promising and demonstrate the need of highlighting Active Imagination Technique since it points apossibility of bruxism cure and that is unprecedented.
Keywords:Active Imagination, bruxism, orofacial pain, treatment.Referncias
1| PONTES DG; et al. Arelao entre bruxismodental e implantes ends-seos. Rev. bras. odontol.v.60, n. 2, p. 99-102,2003.
2| MOLINA OF. Placas demordida na terapia oclu-sal. So Paulo: Pancast.1997. p. 37-59.
3| PAIVA HJ. Ocluso:noes e conceitos
bsicos. So Paulo: Santos,1997.
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durante um tempo determinado a um esforo
sustentado sem que sinais e sintomas de dor e
desconforto se tornem aparentes [2]-[4]-[5]-
[6]. A musculatura postural, localizada na regio
cervical da coluna vertebral, pode manifestar
dores crnicas e alteraes permanentes futuras
[2].
O Estresse e as variveis psicolgicas so
comumente relacionados ao Bruxismo, porm
alguns estudos comprovam falhas nesta relao.
Parece que os bruxmanos tm como caracte-
rstica serem focados em realizar atividades com
um forte objetivo de alcanar o sucesso quando
comparados aos indivduos controles e no um
distrbio de ansiedade [6].
O importante determinar quais fatores,
especificamente, esto envolvidos em cada pa-
ciente, para a escolha de um tratamento adequa-
do dentre as diversas modalidades teraputicas
existentes, ou mesmo a associao de dois ou
mais tratamentos [7].
Devido ao carter multifatorial do Bruxis-mo, vrias linhas de tratamento tm sido pro-
postas como tratamentos alm da odontolgica:
a farmacolgica e a psicolgica.
Na rea odontolgica, a forma mais uti-
lizada para o tratamento do bruxismo so as
placas de mordida interoclusais estabilizadoras
(mio relaxantes). So frequentemente usadas
como um dispositivo para diagnstico e/ou tra-
tamento, de grande importncia para o clnico.
A placa oclusal um aparelho removvel
geralmente confeccionado com resina acrlica
incolor, qumica ou termicamente ativada, que
recobre a superfcie oclusal/incisal dos dentes
em um dos arcos, criando um contato oclu-
sal adequado com os dentes antagonistas e um
melhor relacionamento cndilo disco [8]. Pro-
porciona ao paciente um maior conforto, impor-tante para a proteo dos elementos dentrios,
relaxamento dos msculos hipertrofiados, pre-
venindo tambm sobrecargas para a ATM [9].
Importante salientar que as placas tambm po-
dem agir apenas como paliativas, quando outros
fatores, alm dos oclusais estiverem envolvidos.
O tratamento deve ser direcionado cau-
sa quando este envolver problemas psicolgicos
como estresse, ansiedade e depresso. Atual-
mente, h um grande interesse em tcnicas psi-
colgicas, dentre as quais uma pouco utilizada
a Imaginao Ativa, desenvolvida por C.G.Jung
(1875-1961), a qual trata de um percurso inte-
rior que implica em tornar consciente o incons-
ciente com a ajuda de sonhos, fantasias e imagi-
nao [10].
Essencialmente um dilogo a ser tra-
vado com as diferentes partes de ns mesmos
que vivem no inconsciente, buscando descobrir
e transformar as causas psquicas das doenas,
atravs das quatro etapas da tcnica.
II. Objetivo
O objetivo do presente trabalho foi ava-
liar a eficcia da tcnica psicolgica Imaginao
Ativa para o tratamento de bruxismo em pa-
cientes portadores da patologia e que neste caso,
utilizam a placa miorelaxante para o alvio dos
sintomas.
III. Metodologia
Este projeto foi apreciado e aprovado pelo
Comit de tica em Pesquisa em Seres Huma-nos (CAAE: 05619512.9.0000.0109). Conclu-
ram a pesquisa 21 voluntrios. Eles preenche-
ram um questionrio a respeito de sua condio
referente ao bruxismo, composto por questes
objetivas sobre sinais e sintomas expressos em
forma numrica, na forma de uma escala anal-
gica visual, tal questionrio comparado com os
dados preenchidos aps a terapia. Na sequncia
foram submetidos a uma nica sesso, de cercade 1h de durao, de Imaginao Ativa com uma
4| OKESON JP. Trata-mento das desordenstemporomandibulares eocluso. 4. ed. So Paulo:
ArtesMdicas, 2000.p.126-325.
5| ORLANDO S. O Bru-xismo est solta. Rev.bras.odontol. v. 57, n. 5,p. 308-311, 2000.
6| MACEDO CR. PlacasOclusais para Tratamentodo Bruxismo do Sono:Reviso Sistemtica deCohrane. USP So Paulo,Escola de Medicina, Tesede mestrado em Cincias,2007.
7|ZUANON ACC, et al.Bruxismoinfantil. Odontol.Clin. v. 9, n. 1, p. 41-43,1999.
8| PRIMO PP; MIURA CSN;BOLETA-CERANTO DCF.Consideraes fisiopato-lgicas sobre bruxismo.Arq. Cinc. Sade UNIPAR,Umuarama, v. 13, n. 3, p.263-266, set./dez. 20096|MACEDO CR. Placas Oclu-sais para Tratamento doBruxismo do Sono: RevisoSistemtica de Cohrane.USP So Paulo, Escola deMedicina, Tese de mestradoem Cincias, 2007.
9| OLIVEIRA ME; CARMOMRC. Placa de mordidainteroclusal para trata-mento de bruxismo. Rev.do CROMG. v. 7, n. 3, p.183-186, 2001.
10| KAST V. Dinmicados smbolos(a) - fun-damentos da psicotera-
piajunguiana. So Paulo:Loyola, 1997.
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profissional habilitada (psicloga), realizada nas
dependncias da Universidade Paranaense Uni-
par campus Cascavel (Brasil). Aps 15 dias, os
voluntrios responderam novamente as mesmas
perguntas.
O resultado de ambos os questionrios fo-
ram comparados e expressados estatisticamente.
QUESTIONRIOAPLICADOAOSPACIEN-
TESANTESEDEPOISDE15 DIASDATERAPIA
COMATCNICADAIMAGINAOATIVA.
Nome
Data:___/_____/_____ Sexo:
( ) F ( ) M Idade:____ anos
Nascimento: ____/____/____
1- Voc tem dificuldades, dor ou ambas
ao abrir a sua boca, por exemplo, ao bocejar?
( ) sim ( ) no
2- Sua mandbula fica presa, travada
ou sai do lugar? ( ) sim ( ) no
3- Voc tem dificuldades, dor ou ambas
ao mastigar, falar ou usar seus maxilares?
( ) sim ( ) no
4- Voc percebe rudos na articulao de
seus maxilares? ( ) sim ( ) no
5- Seus maxilares ficam rgidos, aperta-
dos ou cansados com regularidade?
( ) sim ( ) no
6- Voc tem dor nas ou ao redor das
orelhas, tmporas ou bochechas.
( ) sim ( ) no
7- Voc tem dores de cabea, dores no
pescoo ou nos dentes com frequncia?
( ) sim ( ) no
Onde: a ( ) dor de cabea b ( ) dores
no pescoo c ( ) dores nos dentes
8- Voc sofreu algum trauma recente na
cabea, pescoo ou maxilares?
( ) sim ( ) no
9- Voc percebeu alguma alterao re-
cente na sua mordida? ( ) sim ( ) no10- Voc fez algum tratamento recente
para problema no identificado no articular
mandibular? ( ) sim ( ) no
11- Usou algum aparelho?
( ) sim ( ) no qual:
_________________________
12 Sente que seus dentes desgastaram
nos ltimos tempos? ( ) sim ( ) no13 - Usa placa de mordida?
( ) sim ( ) no H quanto tempo?
______________________
14- Aps iniciar o uso da placa as dores
reduziram? ( ) sim ( ) no
15- Pode indicar em um nmero seu n-
dice de ansiedade de 0 a 10 (0 mnimo e 10
mximo)?16- O que sente quando fica/ficou sem
usar a placa? __________________
Os voluntrios selecionados para a pesqui-
sa eram pacientes bruxomanos cujos sinais e sin-
tomas foram abrandados pelo uso da placa mio
relaxante, usada principalmente noite quando
durante o sono o bruxismo se manifesta commaior incidncia.
Todos os voluntrios foram informados
sobre a metodologia a ser empregada e dos be-
nefcios que teriam na possibilidade da reduo
da sintomatologia e em deixarem assim de ter de
usar a placa mio relaxante oclusal para dormir e
ento assinaram o termo de consentimento.
IV. Resultados
Dos 21 voluntrios, 18 (85,7%) eram do g-
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nero feminino e 3 (14,28%)do gnero masculino.
Dos 21 voluntrios, 18 (85,7%) eram do
gnero feminino e 3 (14,28%)do gnero mascu-
lino.Quando questionados sobre dificuldades,
dor ou ambas ao abrir a sua boca, os resultados
esto expressos na Fig. 1 (a). Referente ao fato
de a mandbula ficar presa, travada ou sair do
lugar, as respostas expressas na Fig. 1 (b).
Sobre dificuldades, dor ou ambas ao mas-
tigar, falar ou usar seus maxilares, as respostas
foram expressas na Fig. 2 (a). Quanto a presenade rudos na articulao dos maxilares, as res-
postas esto expressas na Fig.2 (b)
50,00 % _
40,00 % _
30,00 % _
20,00 % _
10,00 % _
0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 1 B42,45 %
23,80 %
35,00 % _
30,00 % _
25,00 % _
20,00 % _ 15,00 % _
10,00 % _
5,00 % _
0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 1 A33,33 %
19,04 %
Fig. 1(a)A dificuldade, dor ou ambas para abrir a bocaantes e depois do tratamento (b) o fato de a mandbula ficarpresa,travada ou fora do lugar antes e depois do tratamento
Referente aos maxilares ficarem rgidos,
apertados ou cansados com regularidade, as
respostas foram expressas na Fig. 3 (a). Sobrea presena de dor nas ou ao redor das orelhas,
tmporas ou bochechas, as respostas esto na
Fig. 3 (b).
Fig. 2(a)Dificuldade, dor ou ambas ao falar,mastigar ouusando os maxilares (b)a presena de rudo na articulaodo maxilar antes e depois do tratamento
90,00 % _
80,00 % _
70,00 % _
60,00 % _
50,00 % _
40,00 % _
30,00 % _
20,00 % _
10,00 % _ 0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 3 A85,71 %
28,57 %
80,00 % _
70,00 % _
60,00 % _
50,00 % _
40,00 % _
30,00 % _
20,00 % _
10,00 % _
0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 3 B71,42 %
33,33 %
Fig. 3(a)Sobre os maxilares ficarem rigidos, cansados ouapertados com regularidade antes e depois do tratamento(b)a presence de dor nas ou em torno das orelhas, tempo-ras e bochechas antes e depois do tratamento.
Quando perguntados sobre trauma recen-
te com cabea, pescoo, articulaes, ningum
referiu tal evento. Quando perguntados sobre
o uso da placa mio relaxante, todos respon-
deram que usavam o aparato oclusal antes dotratamento por perodos que variaram entre os
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45,00 % _
40,00 % _
35,00 % _
30,00 % _
25,00 % _
20,00 % _
15,00 % _
10,00 % _
5,00 % _
0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 2 A42,45 %
28,57 %
80,00 %_
70,00 % _
60,00 %_
50,00 %_
40,00 %_
30,00 %_
20,00 %_
10,00 % _
0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 2 B76,19 %
33,33 %
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participantes. Um ms depois da terapia, apenas
33,33% dos participantes ainda usavam a placa
mio relaxante.
Referente a presena de dores de cabea,pescoo ou dentes, as respostas esto expressas
na Fig. 4.
sintomas psicossomticos. A ansiedade, a tenso,
emoes negativas e frustraes causam aumen-
to da hiperatividade muscular, reduo da taxa
de secreo salivar durante o sono e viglia e
consequente aumento de episdios de ranger dedentes durante o sono. Esta caracterstica mais
prevalente em pacientes adultos que vivem sob
tenso emocional, que so hiperativos, agressivos
ou que apresentam uma personalidade compul-
siva [11].
No caso deste trabalho, os pacientes se-
lecionados para participar da pesquisa haviam
sido tratados com a terapia odontolgica e fa-
ziam uso da placa mio relaxante. O retorno dos
sintomas e sinais aps a descontinuidade do uso
da placa oclusal foi o que motivou a participa-
o dos voluntrios na pesquisa. O vislumbre da
possibilidade destes pacientes ficarem livres do
aparato oclusal noturno, abordando os ncleos
emocionais inconscientes relacionados ao bru-
xismo, atravs da Imaginao Ativa, foi o que
motivou a elaborar uma pesquisa cientfica,
avaliando a eficcia da Tcnica da ImaginaoAtiva na remisso do bruxismo e consequen-
temente dos seus sinais e sintomas. A Tcnica
da Imaginao Ativa: por Sonia Regina Lyra:
JUNG (1875-1961) tomando a hermenutica
como solo especfico da psicologia analtica,
desenvolve uma tcnica psicolgica para a busca
e compreenso do smbolo que denominou ima-
ginao ativa, tendo como modelo os escritos de
santo Incio de Loyola. Para o psiclogo suofaltava nos exerccios a resposta que poderia ser
dada pelas figuras que surgiam do inconscien-
te. Amplamente difundido em suas obras com-
pletas, mas no sistematizado, o conceito veio
a ser revisto nos anos 80 por Robert Johnson e
publicado no livro: A chave do reino interior
INNER WORK (1987) [12]. Johnson ampliou
o mtodo baseado em sua prpria experincia e
que agora, com inovaes devido s novas expe-rincias tambm ns ampliamos a tcnica.
Quando questionados sobre o que senti-
ram ao ficar sem usar a placa oclusal apos a tera-
pia, as respostas esto expressas na Fig. 5
100,00 % _
90,00 % _
80,00 % _
70,00 % _
60,00 % _
50,00 % _
40,00 % _
30,00 % _
20,00 % _
10,00 %_
0,00 % _
Before Treatment After Treatment
FIGURE 495,23 %
47,61 %
FIGURE 5
pain
disconfort
clenching
asymptomatic
click
lingual pressing
33,33 %
4,70 %4,70 %
9,40 %
9,40 %42,85 %
V. Discusso
O diagnstico clnico do Bruxismo re-
alizado avaliando os sinais e sintomas presen-
tes. Na odontologia o tratamento recomendado
alm de ajustes oclusais, restauraes, ortodon-
tia, o uso de dispositivos intra-orais, usados
pelos pacientes por longo prazo [11].
Em se tratando dos aspectos psicolgicos,
os portadores do bruxismo so mais vulnerveisa ansiedade ao estresse e ao desenvolvimento de
Fig. 4A presena de cefalias, dores no pescoo ou nosdentes antes e depois do tratamento.
Fig. 5Sentimentos aps a terapia
A tcnica da Imaginao Ava no tratamento do bruxismo | Sonia Lyra, Tnia Maria Bremm Zaura e Daniela Ceranto F. Boleta | 06 - 11
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Imaginao Ativa essencialmente, um
dilogo a ser travado com as diferentes partes
de ns mesmos que vivem no inconsciente. Voc
fala com as imagens e elas respondem. Essas
imagens que surgem so de fato smbolos vivose a essncia dessa tcnica a participao cons-
ciente do indivduo na experincia imaginativa.
A finalidade principal da tcnica propor-
cionar a comunicao entre o ego e as partes do
inconsciente das quais geralmente nos desliga-
mos e que aparecem na vida diria em forma de
sintomas, preocupaes, fantasias passivas, etc.
Quando se pratica a Imaginao Ativa ascoisas mudam na psique, os sintomas so alte-
rados, os desequilbrios entre as atitudes do ego
e os valores do inconsciente so remediados e
os opostos complementares podem ser reuni-
dos, porque a funo especfica do smbolo a
transformao da energia psquica. Por exemplo,
temos algo vago que nos incomoda, um conflito,
uma irritao ou um sintoma que aparece como
se fosse fsico-biolgico. Claro, nenhum sinto-
ma deixa de ser tambm fsico-biolgico, mas
em sua grande maioria estes so expresses de
complexos conflitos da psique. Um exemplo li-
terrio de Imaginao Ativa A divina Com-
dia de Dante [13]; ou Answer to JOB [14] e
no cinema o filme Duas Vidas (ttulo original:
Disneys e kid [15].
VI. Concluso
Os resultados dos dois questionrios fo-
ram comparados e demonstraram que a grande
maioria dos participantes teve a sintomatologiadolorosa, a dificuldade de abertura bucal, dor
mastigao, reduzidas aps a sesso de Imagina-
o Ativa, muitos dos participantes abandona-
ram o uso da placa durante o perodo avaliado.
Conclui-se que a tcnica psicoterpica da
Imaginao Ativa pode ser utilizada no trata-
mento do bruxismo. Os resultados parecem ser
promissores visto que neste trabalho o sucesso
foi evidente, mesmo sendo feita apenas uma ses-so de uma hora para cada participante.
Salientamos que o tratamento odontolgi-
co do paciente bruxomano deve ser levado em
considerao como parte do procedimento, para
o correto restabelecimento da funo mastigat-
ria. No critrio de avaliao dos pacientes o tra-
tamento farmacolgico deve, em determinados
casos ser considerado.
Este trabalho demonstrou a necessidadeda tcnica da Imaginao Ativa ser considerada
como tratamento para o bruxismo e por sinalizar
a possibilidade de cura isto no tem precedente.
11| ALOE F; GONAL-VES LR; AZEVEDO A;BARBOSA RC. Bruxismodurante o Sono. Rev.Neurocncias. v.11, n.1,p. 4-17, 2003.
12|JOHNSON, R. In-nerWork. A chave do reinointerior. So Paulo: Ed.Mercuryo, 1989.
13|ALIGHERI D. A DivinaComdia, vols I e II, 4 ed.Belo Horizonte Itatiaia1984.
14|JUNG, C.G. Answerto Job,Princeton UniversityPress,Vol. XI of the Collec-ted Works 1952
15| DISNEYS THE KIDS;Movie Comedy. DisneyProductions; Director JonTurteltaub, Distributor:Buena Vista, 2002
16| FRANZ, V.M.L.Psycotherapy. ShambhalaPublications, Incorporates,1993.331p.
A tcnica da Imaginao Ava no tratamento do bruxismo | Sonia Lyra, Tnia Maria Bremm Zaura e Daniela Ceranto F. Boleta | 06 - 11
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Algumas reflexes comparativassobre as tradies religiosas judaicas,proto-crists e gregas arcaicas.Viktor D. Salis
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Imagem:reproduo
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CONIUNCTIO Revista Cientfica de Psicologia e Religio | Ichthys Instituto | Curitiba - PRAno 2 | nmero 2 | 2013
*Viktor D. Salis
Psiclogo pela
PUC SP, doutor
pela Universidade
de Salzburg ( A
fenomenologia
dos Mitos) e pela
Universidade deGenve (Epistemologia
Gentica pela
Universidade de
Genve). Professor
PUC SP, Universidade
de Mogi das Cruzes,
Faculdade de Medicina
de Jundia, Faculdades
Metropolitanas Unidas,
Faculdade Catlica de
Santos.([email protected])
Algumas reflexes comparativassobre as tradies religiosas judaicas,
proto-crists e gregas arcaicas
Num primeiro olhar, pode parecer-nos quea nica coisa em comum que estas duas tradi-es tm a sua antiguidade, sendo que a gregapertence s chamadas religies desaparecidas en-quanto culto e a judaica sobrevive galhardamente
h milnios e milnios. Na verdade, um examemais atento revela notveis pontos em comum, demodo que vale a pena apont-los e descreve-los.
Comecemos pela prpria etimologia dapalavra religio: significa literalmente re-ligar,ou seja, unir o homem novamente a Deus. Emambas encontramos um lugar mtico onde pode-remos nos dirigir aps a morte. So o conhecidoparaso do judasmo e os campos Elseos da re-ligio grega antiga. Mas a questo fundamental
em ambas as tradies que prope ao homemum caminho, aqui na terra e enquanto em vida,para alcanar esta reunio csmica. Mais ainda,encontramos em ambos os profetas, verdadeirosenviados de Deus, para iluminarem nosso ca-minho: Moiss para o judasmo e Orfeu para aantiguidade grega- cujo nome significa aqueleque veio curar pela luz. Estes mensageiros tra-zem para a humanidade as leis necessrias para seviver, mesmo longe do paraso, mas que faam os
homens imita-lo aqui na terra. Vale recordar deque fomos expulsos do paraso porque a humani-dade cometeu uma falta fundamental tambmchamada de pecado original. E qual seu verda-deiro significado; e ser que somente os nossosantepassados a cometeram, ou ser que se trata dealgo que continuaremos a praticar para sempre,afastando-nos assim cada vez mais do divino?
Comemos o fruto da rvore do conheci-
mento na tradio judaica; Prometeu roubouo fogo dos deuses para d-lo aos homens, mas
Viktor D. Salis*
no quis dar aos homens a medida de seu uso e
desde ento os homens no so mais governados
pelas leis dos deuses, mas pelo seu desvario. Em
ambas as tradies, o divino se afasta dos homens
por sua impiedade, porque privilegiaram as con-
quistas do conhecimento e no a medida de seuuso. Agora est clara a metfora bblica e Greco-
arcaica: O conhecimento por si s um risco para
a vida e para a criao, pois facilmente pode des-
truir tudo a sua frente. Eis o homem do sec. XXI.
Abrem-se agora as duas grandes questes
da condio humana perante a existncia: tica
e Verdade. Comecemos por defini-las em seu sig-
nificado original:
tica no conduta moral- esta se refereaos costumes- mas sim o estado de alma que
aproxima o homem de Deus; e este estado so-
mente pode ser alcanado quando ele O imita (o
homem o instrumento de Deus). Na tradio
judaica isto s pode ser alcanado cumprindo
suas leis (os dez mandamentos) que so a medi-
da do uso do saber para a criao e no para a
destruio. J na tradio grega, vemos na Ilada
o ensinamento da lei sagrada de nascer, viver e
morrer com dignidade e honra para ser aplica-da por todos os mortais; e prossegue exaltando o
jovem a imitar os deuses tornando-se criador se-
gundo as leis divinas da vida. sempre oportuno
recordar a fala de Antgona de Sfocles, quando
interrogada pelo rei Creonte, porque desobede-
cera a suas ordens de abandonar o corpo de seu
irmo aos ces, insepulto:
No de ontem, no de hoje que estas
leis existem, (nascer, viver e morrer com dignida-de) e ningum seu autor, nem mesmo outro rei.
Algumas reflexes comparavas sobre as tradies religiosas judaicas, proto-crists e gregas arcaicas | Viktor D. Salis |13 - 14
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So dos deuses e entre desobedecer a suas leis e
as de um rei, a elas me entrego, mesmo que isto
possa me custar a morte. Ademais, sigo-as espa-
lhando a vida e o amor, pois esta sua lei maior.
No vim aqui para semear o dio e a morte. E noserei eu a julgar meu irmo pelos seus atos isto
tarefa dos deuses. A mim, como irm, compete
o sagrado dever de dar-lhe uma morte digna e
honrada.
Semelhante grandeza encontramos nos en-
sinamentos do rei Salomo e em Davi e Golias,
para citarmos somente alguns exemplos da tradi-
o judaica. que a fora extraordinria, tanto na
helnica como na judaica, reside no fato de seremreligies que celebraram a vida e a criao como
seu fundamento tico inabalvel.
Vejamos agora o segundo conceito fun-
damental: a Verdade. Mas o que isto? Ser
simplesmente a confirmao dos fatos ou a de-
monstrao cientfica? Nada disso! A verdade nas
tradies arcaicas simplesmente a iluminao
interior, que advm da certeza de sermos exata-
mente aquilo que somos, de no enganarmos nem
ao outro e nem a ns mesmos, e muito menos
impormos a nos mesmos ideais quimricos pois
a tantos custaram sua sade e integridade. A ver-
dade reside em bastar-se no que se , em reco-
nhecer que isto modesto e grandioso ao mesmo
tempo e procurar evoluir, de modo a podermos
partir desta vida mais plenos e aperfeioados do
que chegamos.
Lemos na Tbua das Esmeraldas, atribu-
da a Hermes Trimegisto o deus dos caminhosna tradio helnica: O corpo, que os deuses tederam, foi feito para ser completamente gasto mas gaste-o bem para tua evoluo e para servir
a criao. Serve os deuses e lembre-se de que ariqueza um bem destinado ao uso; seu acmu-lo uma coisa v e tola. No te esqueas de quenada eterno aqui e de que tudo aqui deixars-at mesmo teu corpo e teu nome ters de devolveraos deuses. Tudo aqui emprestado e somente tuaalma te pertence e podes cultivar ou abandonar- tua a escolha e se assim , busca os mestres para teguiar de volta para a eternidade.
No diverso o ensinamento encontradona tradio judaica, quando pede ao homem parano passar desta vida sem ter um filho, escreverum livro e plantar uma rvore. De modo sim-ples e preciso, pede-nos para servirmos a Deus,do modo que pudermos mas com esforo e de-sapego, por favor!
H muitos outros pontos de encontro en-tre estas duas belssimas tradies, mas o espa-o no nos permite aqui abord-los. Cito apenas
o nmero doze, to importante na Caballa e natradio helnica: Doze so as tribos de Israel;doze so os deuses da tradio grega: doze soos signos do Zodaco; doze so os trabalhos deHrcules; doze so os meses do ano e as horas;doze so os apstolos; doze o nmero sacro daspirmides. Precisa mais para entender de que nose trata de simples coincidncia? Quem sabe emoutra oportunidade trataremos do assunto com aateno que ele merece.
Algumas reflexes comparavas sobre as tradies religiosas judaicas, proto-crists e gregas arcaicas | Viktor D. Salis |13 - 14
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Uno e trino: a viso de Deus de Nicolau de Cusa O amor uma essncia ternria | Sonia Lyra |11 - 20
Regina Maria Grigorio e Sonia Regina Lyra
Aspecto religioso do processode individuao
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Ilustrao:RogrioBorges
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Aspecto religioso do processode individuao
Introduo
Carl G. Jung, em (seus estudos) suas pes-quisas, realizou experincias e fez investigaes arespeito do inconsciente, suas estruturas indivi-duais e coletivas e acerca da linguagem simblicapela qual se exprime (1967, p. 15).
Este trabalho de pesquisa tem como fina-
lidade propor uma reflexo sobre o aspecto reli-gioso do processo de individuao, associando-o
Regina Maria Grigorio*e Sonia Regina Lyra**
* Regina Maria Grigorio
Ps-graduanda em
Psicologia Analtica eReligio Oriental e Oci-
dental FAVI Faculdade
Vicentina - Curitiba - PR.
Polo: Guara PR
** Sonia Regina Lyra
Doutora em Cincias
da Religio; Analista
Junguiana. Orientadora
de TCC([email protected])
prtica da psicoterapia e sua importncia nocomportamento do indivduo.
Constata-se que o smbolo, na obra de Jung,surge como a possibilidade de evocar o arqutipoe que por meio dele se contempla a individuao.
Uma vez compreendida a importncia dossmbolos produzidos pelo inconsciente, resta o
problema da interpretao. Jung levou em contatodos os acontecimentos relacionados sua vida,
Resumo
Atravs deste trabalho procura-se oferecer uma introduo s consideraes de Carl G. Jung sobre o aspecto
religioso do processo de individuao, tendo como objetivo conhecer o comportamento religioso do ser hu-mano em seus aspectos ticos e psicolgicos, usando como metodologia o estudo de bibliografias que tratamdesse assunto. A observao emprica demonstra que atravs da religiosidade que o homem se encontra asi mesmo e vivencia o amor maior, o amor sem medida: que foi designado por alguns autores como o amorde Deus pela humanidade. Inicia-se o trabalho discorrendo sobre a persona, adentrando-se a estrutura dapsique atravs de outros conceitos fundamentais como: inconsciente, si-mesmo, processo de individuaoe outros de igual importncia para o desenvolvimento desta proposta.Palavras-chave: Bem-aventurana,felicidade, contentamento, terceira margem.
Palavras-chave: Inconsciente, si-mesmo, Jung, processo de individuao, religiosidade.
Abstract
rough this study we aimed to provide an introduction to considerations of Carl G. Jung on the religiousaspect of the individuation process, aiming to meet the religious behavior of human beings in their ethicaland psychological aspects, using methodology as the study of bibliographies that address this matter. Empi-rical observation shows that it is through religion that man finds himself and experiences the greatest love,love without measure, which was designated by some authors as the love of God for humanity. It beginstalking about the concept of persona, into the structure of the psyche through other fundamental conceptssuch as unconscious, self, individuation process and others of equal importance for the development of thisproposal.
Keywords:Unconscious, Self, Jungs individuation process, and religiousness
Aspecto religioso do processo de individuao | Regina Maria Grigorio e Sonia Regina Lyra | 16 - 28
Conhea todas as teorias, domine todas as tcnicas,
mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana
(Carl Jung).
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das profundezas da psique. J naquela poca a re-ligio comeava a ser substituda pelos inmeros
afazeres, e diante disso questionava: O que fazerpara proporcionar realidade viva ao nosso si-mes-
mo? Para que direo nos move o fluxo da vida?(JUNG, 1978, p. 163).
Nesse sentido, o processo de individuaoseria como uma forma de o ser humano alcanar o
mximo de sua unicidade, a qual se pode entendercomo a mais ntima e profunda expresso do ser,atravs de um processo de crescimento, acompa-nhado por um intenso sentimento de busca por simesmo, que oportuniza a transformao interior.
1. A Persona e a SombraPersona era o nome que se dava mscara
usada no teatro grego. Definia os papis caracte-
rsticos de personagens. Na psicologia, serve tam-bm como proteo contra caractersticas inter-nas consideradas indesejveis e, portanto, dignasde serem ocultas.
Ao considerar a persona constituda porgrande parte pelos materiais coletivos, portanto,
Jung descreve:A persona uma imago do sujeito, constituda em
grande parte de materiais coletivos como a ima-
go do objeto. Quanto persona, um produto de
compromisso com a sociedade: o eu identifica-se
mais com apersonado que com a individualidade.
Quanto mais o eu identifica-se com a persona,
tanto mais o sujeito aquele que aparenta. O eu
desindividualizado (JUNG, 2003, p. 153).
No entanto, a persona tambm um instru-
mento precioso para a comunicao. Ela pode de-sempenhar, com frequncia, um papel importanteno desenvolvimento positivo. medida que se
comea a agir de determinada maneira, a desem-penhar um papel, o ego se altera gradualmentenessa direo (JUNG et al., 2008, p. 158).
Portanto, necessrio que ocorra uma di-ferenciao entre o ego e a persona no decorrerdo desenvolvimento psicolgico. Isso significa
tomar conscincia de si-mesmo, desenvolvendoum senso de responsabilidade e capacidade de
tais como intuies, sonhos, fantasias, seus inte-resses pelos fenmenos psquicos e seus questio-namentos sobre a origem e a finalidade da vida.Desenvolveu estudos sobre apersona,face externa
da psique, considerada como sendo a mscara oufachada aparente do indivduo para facilitar a co-municao com o mundo externo, com a sociedadeonde ele vive, e os papis que desempenha para seraceito pelo grupo social ao qual pertence. Essesfatores inconscientes devem sua existncia auto-nomia dos arqutipos (JUNG et al., 2008, p. 104).
Sombra e anima/animus so tambm con-ceitos que vm conscincia e contribuem para amaturidade do psiquismo. O significado e a fun-o dos sonhos fizeram com que Jung percebesse,a partir da observao de um grande nmero depessoas e do estudo dos seus prprios sonhos, queesses dizem respeito, em grau variado, vida dequem sonha. Quando buscava o conhecimento desi mesmo e o significado da vida, percebeu queo nico objetivo da psique era o encontro comseu prprio centro, ento chamou esse movimen-to de processo de individuao, acrescentando,porm, que: o processo de individuao s realse o individuo estiver consciente dele (JUNG etal., 2008, p. 213).
O smbolo atua como uma ao mediadora,que auxilia o processo de transformao interno,que leva totalizao, sem que, de modo algum,isso signifique individualismo.
O processo de individuao uma realiza-o criativa e est ligado busca de si mesmo.A individuao um processo lento e gradativode transformao e aponta para a possibilidadeda nossa unicidade, ltima e irrevogvel. Trata-seda realizao do si-mesmo, no que tem de maispessoal e de mais rebelde a toda comparao. Po-der-se-ia, pois, traduzir a palavra individuaoporrealizao de si-mesmo, realizao do si-mesmo
[1]. Em seus estudos sobre religio, Jung per-cebeu que a cultura do sculo XX perdera a suaalma, no momento em que perdeu o contato com
suas profundezas. Ele acreditava que toda expe-rincia religiosa apareceria na conscincia, a partir
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julgamento, os quais podem ser idnticos ou no
aos padres e expectativas externas e coletivas.
o caminho de uma busca consciente de um auto-
conhecimento.
Segundo Jung, citado por Samuels, a som-
bra aquilo que no se quer ser. A questo sobre
o conhecimento da sombra fator importante no
processo de autodescobrimento, pois possibilita a
percepo dos aspectos desconhecidos da perso-
nalidade e daqueles que no so desejados, que
so, portanto, negados. A sombra como uma
companheira, da qual se deve tomar cincia de
seus traos e de suas caractersticas (1988, p. 38).
A sombra se revela no ser humano toda vezque ele se aventura a passar uma imagem distorci-
da de si mesmo. O ser humano sempre temeu sua
prpria sombra, pois nela pressente a presena de
tudo que, na verdade, desejaria esquecer ou fingir
que nunca existiu.
A mscara usada pelo indivduo em res-
posta sua necessidade de desenvolver caracters-
ticas bsicas de adaptao social. o arqutipo da
adaptao. Ela exibida de maneira a facilitar acomunicao com o mundo externo e a sociedade.
Para Samuels, a sombra representa o que
consideramos de mal e no nos damos conta de
que nos pertence, fazendo parte de ns tanto
quanto o bem. parte de si mesmo que deve se
tornar consciente, colocando-a a servio da pr-
pria evoluo espiritual, sem que seus aspectos
aversivos tomem a personalidade. A pessoa repre-
senta a mscara que deve utilizar em sua adaptao vida social cotidiana (1988, p. 204). So todos
aqueles aspectos da personalidade com que os in-
divduos se adaptam ao mundo exterior.
Em geral a sombra contm valores neces-
srios conscincia, mas que existem sob uma
forma que torna difcil a sua integrao na vida
de cada um.
O conflito entre o que se e o que se deseja ser
encontra-se no mago da luta humana. A dualidade,na verdade, est no centro da experincia humana.
Ao definir a sombra, Jung deixa claro em
suas afirmaes que esto includas as variadas e
repetidas referncias sombra, o lado negativo
da personalidade, a soma de todas as qualidades
desagradveis que o indivduo quer esconder, olado inferior, sem valor, e primitivo da natureza
do homem, a outra pessoa em um indivduo, seu
prprio lado obscuro (1978, p. 128).
Destacando o lado positivo da sombra,
constata-se que a mesma nasceu conosco para
proteger todo o material interno com o qual ns
somos incapazes de lidar ou incapazes de aceitar.
O ego negativo diz: No seja autntico,
seja aceitvel. No se exceda, seja normal. Nofaa nada de novo ou diferente. A sombradiz:
Olhe para dentro, v fundo. Isto o que voc tem
que encarar para ser autntico. atravs de mim
(sombra) que se chega mudana, transforma-
o para um ser pleno e livre (SAMUELS et al.,
1988, p. 204).
Neste sentido, o indivduo ter invariavel-
mente a companhia da sombra em sua viagem
evolutiva rumo individuao.Para Johnson, citando Jung, o caminho
para a conscincia comea quando se aprende a
quebrar a unidade primordial da inconscincia
original (1989, p. 49). Inicia-se o processo de
classificar em opostos no s os fenmenos ex-
ternos que atingem o ser humano, mas, inclusi-
ve, suas prprias personalidades e caractersticas,
suas sombras.
A sombra amedronta, pois ameaa a ima-gem ideal que o ser humano faz de si mesmo.
O fator essencial que uma parte do si-
mesmo foi separada. Depois de separado, o frag-
mento ruim perde contato com a essncia do
si-mesmo, a parte que consideramos boa, por
conta de sua aparente ausncia de violncia, raiva
e medo. Esse o si-mesmo adulto, o ego que se
adaptou to bem ao mundo e s outras pessoas
(CHOPRA Et Al., 2010, p. 24).
O desenrolar do processo de individuao
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comea em geral com uma tomada de conscincia
da sombra, isto , de um componente da perso-nalidade que, ordinariamente, apresenta sintomasnegativos. Nesta personalidade inferior est con-
tido aquilo que no se enquadra ou no se ajustasempre s leis e regras da vida consciente.
O desafio maior para se adquirir equilbrio
emocional tomar conscincia da sombra, o queleva a uma viso mais clara e eficiente da perso-nalidade e do si-mesmo, que na verdade a tota-
lidade (JOHNSON, 1989, p. 62).
1.1 A Realizao da Sombra
Este item tratar do desenvolvimento da
sombra e sua influncia no processo de individu-ao.
A sombra, segundo Jung, faz com que igno-remos as prprias fraquezas e as projetemos nos
outros; esse processo se d por meio de mecanis-mos inconscientes, afastando a pessoa de si mes-ma. Quando o inconsciente se manifesta de for-
ma negativa ou positiva, depois de algum temposurge necessidade de readaptar da melhor forma
possvel a atitude consciente aos fatores incons-cientes, aceitando o que parece ser uma crtica(2008, p. 222).
por meio dos sonhos que se passa a co-
nhecer aspectos da personalidade que por vriasrazes se optou por no olhar mais de perto. o que Jung chamou de realizao da sombra
(2008, p. 222).
Dessa maneira, percebe-se o emprego do
termo sombrapara a parte inconsciente da perso-nalidade, porque ela sempre aparece nos sonhos
sob uma forma personificada:
Depende muito de ns a nossa sombra tornar-
se nosso amigo ou inimigo. s vezes uma deci-
so heroica pode alcanar o mesmo efeito, mas
esse esforo sobre-humano s possvel quando
o Grande Homem dentro de ns (o Self) ajuda
o individuo a realiz-lo. Se a pessoa se enche de
raiva quando algum lhe aponta um defeito, ai
que se encontra parte da sua sombra, da qual notem conscincia, faz-se necessrio a auto-obser-
varo e a conscientizao das projees, para se
poder compreender verdadeiramente a sombra:
A sombra no consiste de omisso. Apresenta-se
muitas vezes como um ato impulsivo ou inadver-
tido. Antes de se ter tempo para pensar, irrompe aobservao maldosa, comete-se a m ao, a deci-
so errada tomada, confrontando-nos com uma
situao que no tencionvamos criar consciente-
mente ( JUNG et al., 2008, p. 223).
A plenitude supera a sombra ao absorv-la.O mal e o malfeito j no esto isolados. Mas,conforme a postura se modifica, descobrimos queo ecossistema est to-talmente interligado. Oscomportamentos de todas as pessoas afetam a to-
dos. No h parte alguma do planeta que possa serisolada, como se fosse imune aos danos ecolgicoscausados por outras partes. A plenitude modificatoda perspectiva (CHOPRA et al., 2010, p. 71).
A descoberta da sombra supe um impor-tante processo de autoconhecimento. Conquistara sombra no significa lutar contra ela e sim atranscender, quando se transcende, vai-se alm.
1.2 O crescimento psquico
A personalidade, como expresso da totali-dade do homem, foi circunscrita por C. G. Jungcomo sendo o ideal do adulto, cuja realizaoconsciente por meio da individuao representao marco final do desenvolvimento humano parao perodo situado alm da metade da existncia(2006, p. 64). Somente pode tornar-se persona-lidade aquele que capaz de dizer um sim cons-ciente ao poder da destinao interior que se lheapresenta.
Apesar de muitos problemas humanos seremsemelhantes, eles nunca so perfeitamente idnti-cos. Como se pode analisar na observao de Jung:
Todos os pinheiros so muito parecidos (ou no
os reconheceramos como pinheiro), e, no entan-
to, nenhum exatamente igual ao outro. Devi-
do a esses fatores de semelhana e disparidade,
torna-se difcil resumir as infinitas variaes do
processo de individuao. O fato que cada pes-
soa tem que realizar algo de diferente, exclusiva-mente seu (2008, p. 216).
Aspecto religioso do processo de individuao | Regina Maria Grigorio e Sonia Regina Lyra | 16 - 28
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Por essa razo, constata-se que importantepermanecer em estado de alerta, no no sentidoque pressupe ansiedade, mas, sim, estar cons-ciente, focando a ateno naquilo que ocorre in-
teriormente a cada momento.
A totalidade deve ser equiparada sade.Como tal, tanto um potencial como uma capa-cidade. Ao nascer, o ser humano possui uma to-talidade fundamental, porm, na medida em quecresce, esta entra em colapso e se reorganiza emalgo mais diferenciado. Expressa deste modo, arealizao da totalidade consciente pode ser con-siderada como o objetivo ou o propsito da vida( JUNG et al., 2008, p. 212).
Os conceitos de totalidade observados nosestudos junguianos direcionam-se para o melhorentendimento da personalidade e do si-mesmo.
Por vezes, sentimos que o inconsciente nos est
guiando, de acordo com um desgnio secreto.
como se algo estivesse nos olhando, algo que no
vemos, mas que nos v talvez seja o Grande
Homem que vive em nosso corao e que, atra-
vs dos sonhos, nos vem dizer o que pensa a nos-
so respeito ( JUNG et al., 2008, p. 214).
intil observar o outro furtivamente paraver como qualquer outra pessoa vai realizando oseu processo de desenvolvimento, pois cada um dens tem uma maneira particular de autorrealizao.
Jung chamou de individuao ao processopaulatino de expresso da singularidade, isto , aMarca de Deus; o ato de talhar a individualidade,aquele ser distinto e nico que est latente den-
tro de cada ser. Na individuao, o critrio certo/errado substitudo por algumas perguntas: con-vm ou no? Quero ou no quero? Serve ou noserve? Necessito ou no necessito? (OLIVEIRA,2007, p. 26).
1.2.1 Jung e o inconsciente
Jung usa o termo inconscientetanto para des-crever contedos mentais que so inacessveis aoego, como para delimitar um lugar psquico com
seu carter, suas leis e funes prprias. Assimcomo o inconsciente um conceito psicolgico,
tambm seus contedos, como um todo, so de
natureza psicolgica, no importa que conexo
suas razes possam ter com o instinto. Imagens,
smbolos e fantasias podem ser designados como
a linguagem do inconsciente. O inconsciente oresponsvel pelas escolhas e aes, assim como a
adaptao no mundo, equipara esse processo de
adaptao ao mundo. Ou seja, o inconsciente no
esttico e rgido, formado pelos contedos que
so reprimidos pelo ego. Ao contrrio, o incons-
ciente dinmico, produz contedos, reagrupa os
j existentes e trabalha numa relao compensa-
tria e complementar com o consciente (JUNG
et al., 2008, p. 25).
Verifica-se que na concepo de Jung, para
se contemplar uma conscincia integrada e des-
perta, necessrio envolver a unio, a integrao
do inconsciente e do consciente. O indivduo
passa pelo processo de individuao, onde vai
ocorrendo essa integrao, ou seja, contedos in-
conscientes so incorporados e integrados cons-
cincia (OLTEN, 2002, p. 27).
fato que o inconsciente pode encerrar
impulsos e desejos que nunca foram conscientes,
isto , nunca foram percebidos pela pessoa, ou,
ento, que, tendo chegado ao nvel consciente em
algum momento, foram censurados e voltaram ao
inconsciente.
O mundo da conscincia caracteriza-se sobre-
maneira por certa estreiteza; ele pode apreender
poucos dados simultneos num dado momento.
Enquanto isso, tudo o mais inconsciente ape-
nas alcanamos uma espcie de continuidade, deviso geral ou de relacionamento com o mundo
consciente atravs da sucesso de momentos
conscientes. A rea do inconsciente imensa e
sempre contnua, enquanto a rea da conscincia
um campo restrito de viso momentnea. [...]
Coloco o inconsciente como um elemento ini-
cial, do qual brotaria a condio consciente. As
funes mais importantes de qualquer natureza
instintiva so inconscientes, sendo a conscincia
quase que um produto dessas grandes reas obs-curas (JUNG, 1972, p. 24-25).
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mas anatmicas do passado longnquo) tambm
acontece na formao do psquico:
um processo que percorre um caminho evo-
lutivo, originando-se da inconscincia, passando
pela semiconscincia num momento de sim-
biose com a me (e com o pai) at atingir o
estgio de uma conscincia mais ampliada. A
criana se desenvolve a partir de um estado ini-
cial inconsciente e semelhante ao do animal, at
atingir a conscincia: primeiro a primitiva e, gra-
dativamente, a civilizada (2006, p. 57).
Este caminho se desenvolve de forma natu-
ral e segmentada. Aps a aquisio da conscin-
cia, surge o perodo onde preciso se diferenciar
dos pais, se relacionar com o mundo e lidar com
os prprios desejos. Este desenvolvimento esta-
belece vnculos fortes entre o eu e os processos
psquicos at ento inconscientes, e tambm os
separa nitidamente do inconsciente. Deste modo
emerge a conscincia a partir do inconsciente,
como uma ilha aflora sobre a superfcie do mar
(JUNG, 2006, p. 56).
importante salientar que o fato de Jung
relacionar Deus manifestao inconsciente:
[...] no implica que aquilo que se chama in-
consciente venha a ser idntico com Deus ou
a ocupar o lugar de Deus. O inconsciente so-
mente o meio do qual parece brotar a experin-
cia religiosa. Tentar responder qual seria a causa
mais remota desta experincia fugiria s possibi-
lidades do conhecimento humano, pois o conhe-
cimento de Deus um problema transcendental
(2011, p. 55).
Dessa forma, sabe-se que conscincia, por
um lado, e conscincia do eu, por outro, campo
de registros, um campo de acesso pelo eu. Esse
campo varia para cada indivduo, de acordo com
suas capacidades evolutivas.
2 Anima: o elemento feminino
Uma das maiores contribuies de Jung foi
a demonstrao de que o ser humano andrgi-
no, o que significa que combina em si os elemen-tos masculino e feminino.
Atravs da compreenso do que seja o cons-ciente e o inconsciente, Jung mostra o quo signi-ficante a frao de inconsciente que impera deforma ainda pouco conhecida pelo ser humano.
O inconsciente possui uma linguagem pr-pria, tem sentimentos fortes e quer express-los( JOHNSON, 1989, p. 11) muitas vezes fala atra-vs de metforas; por essa razo, difcil se chegar compreenso da importncia de suas aes noprocesso psicolgico pelo ser humano.
Smbolos so observveis em cada fase, aolongo da existncia humana. Fundamentadosnestas observaes, que os psiclogos admitem
a existncia de uma psique inconsciente:Um smbolo vivo s quando para o obser-
vador a expre sso melhor e mais plena possvel
do pressentido e ainda no consciente. Nestas
condies operacionaliza a participao do
inconsciente. Tem efeito gerador e promotor de
vida. O smbolo vivo formula um fator essen-
cialmente inconsciente e, quanto mais difundido
este fator, tanto mais geral o efeito do smbolo,
pois faz vibrar em cada um a corda afim (JUNG,
2011, p. 489).Os smbolos podem ser vistos na infncia,
na puberdade, na adolescncia, na iniciao se-xual, na vida profissional, na relao com o di-nheiro, nas doenas vividas, nas companhias quese atrai, nas atividades de lazer preferidas, den-tre outras. As fortes e especficas experincias esuas circunstncias, em cada uma dessas fases emomentos da vida, acrescentadas aos eventos queas marcaram, merecem adequadas e compreen-
sivas leituras. Durante, e principalmente apsessas fases, podem ser observados caminhos oupercursos que denunciam certa ordem implcitaou suprahumana, propondo algo alm do que aconscincia deseja e percebe. Saber decodificaros sinais e smbolos da vida pode se tornar im-portante recurso para o encontro consigo mesmoe com o sentido da prpria existncia (NOVAES,2005, pp. 81, 91).
Para Jung, o que acontece, a partir dessa lei,na formao do corpo (passar por todas as for-
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ou em aspectos diferentes da pessoa; ela surge,
portanto, em inumerveis imagens de figuras
femininas ou at mesmo em figuras de animais,
como gato, cobra, cavalo, vaca, pomba, coruja
que a mitologia atribui a certas divindades femi-ninas (DOWNING, 1991, p. 27).
Como padro de comportamento,
o arqutipo da anima representa os elementos
impulsivos relacionados com a vida, como vida,
como um fenmeno natural, no premeditado,
espontneo, com a vida da carne, com a vida da
concretude, da Terra, da emotividade, dirigida
para as pessoas e para as coisas. Como padro
de emoo, a anima consiste nos anseios incons-
cientes do homem, em seus estados de esprito,
aspiraes emocionais, ansiedades, medos, infla-
es e depresses, assim como em seu potencial
para a emoo e o relacionar-se (DOWNING,
1991, p. 27).
A anima est associada a tendncias psi-
colgicas femininas na psique masculina, como
os estados de humor instveis, irracionalidade, a
capacidade de amar, a sensibilidade, e ao relacio-
namento com o inconsciente, entre outras.Portanto, a anima a personificao de
todas as tendncias psicolgicas femininas na
psique do homem os humores e sentimentos
instveis, as intuies profticas, a receptividade
ao irracional, a capacidade de amar, a sensibilida-
de natureza e, por fim, mas nem por isso menos
importante, o relacionamento com o inconsciente
( JUNG et al., 2008, p. 234).
Dentre alguns dos aspectos positivos refe-rentes a anima, Jung destaca:
, por exemplo, responsvel pela escolha da
esposa certa. Outra funo sua igualmente re-
levante: quando o esprito lgico do homem se
mostra incapaz de discernir os fatos escondidos
em seu inconsciente, a animaajuda-o a identifi-
c-los. Mais vital ainda o papel que represen-
ta, sintonizando a mente masculina com os seus
valores interiores positivos, abrindo assim cami-
nho a uma penetrao interior mais profunda. como se um rdio interno fosse sintonizado em
Os conceitos de anima/animus (Anima =alma, em latim) partem da noo de comple-mentaridade entre a conscincia e o inconsciente.Para Jung, o homem tem uma alma feminina
a anima - e a mulher, uma alma masculina oanimus. Para Jung, o que caracteriza a feminili-dade da anima o sentimento, enquanto que oanimus est ligado predominantemente ao pen-samento racional, essencialmente masculino. Noprocesso de individuao, integrar a animaparaos homens e o animus para as mulheres umadas etapas fundamentais, vindo logo depois daintegrao da sombra e imediatamente antes darealizao do si-mesmo (2008, p. 235).
Nesse sentido, o inconsciente se torna par-ceiro nos anseios peculiares aos seres humanos
em processo de busca do si-mesmo:
O objetivo secreto do inconsciente ao provocar
toda essa complicao forar o homem a de-
senvolver e amadurecer o seu prprio ser, inte-
grando melhor a sua personalidade inconsciente
e trazendo-a realidade da sua vida (JUNG et
al., 2008, p. 241).
O interesse de Jung pelas imagens arquet-
picas reflete sua nfase na forma do pensamento
inconsciente, em lugar da nfase no seu contedo.
Nossa capacidade de responder s experincias
na qualidade de criaturas geradoras de imagens
herdada, nos outorgada pela nossa prpria con-
dio de humanos (DOWNING, 1991, p. 8).
O animus e a anima, devidamente reconhe-
cidos e integrados ao ego, contribuiro para a ma-
turidade do psiquismo.
Podendo ser descrita ainda como imagemnuminosa, isto , como imagem afetiva esponta-
neamente produzida pela psique objetiva, a anima
representa o eterno feminino, em qualquer um e
em todos os seus quatro aspectos possveis e suas
variantes e combinaes como me, hetaira, ama-
zona e mdium.
Ela aparece como a deusa da natureza, Dea Na-
turae, e a Grande Deusa da Lua e da Terra, que
me, irm, amada, destruidora, bela feiticeira,bruxa feia, vida e morte. Tudo em uma s pessoa
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uma onda que exclusse as interferncias inopor-
tunas e captasse a voz do Grande Homem. Esta-
belecendo esta recepo radiofnica interior, a
animaassume um papel de guia, ou de mediador,
entre o mundo interior e osi-mesmo. Como nocaso da iniciao dos xams; como surge no pa-
pel da Beatriz, do Parasode Dante, e tambm no
da deusa sis, ao aparecer em sonhos a Apuleius,
o famoso autor de O asno de ouro, iniciando-o
em uma forma de vida mais elevada e espiritual
(2008, p. 241).
Cabe salientar que, atravs das projees de
anima e animus, encontram-se respostas para as
simpatias e antipatias sem razo de ser. A anima e
o animus so os mediadores entre o ego e o mun-do interno, para tanto:
Se um homem quiser alcanar a serenidade e
aquela harmonia interior que, para Jung, passou
a ser meta suprema da vida, ele dever redesco-
brir aqueles aspectos de si mesmo que tinham
sido negligenciados; e, para consegui-lo, exige-se
o sacrifcio parcial da prpria funo ou atitu-
de que o serviu bem e lhe acarretou sucesso nos
anos anteriores. Assim, tanto o indivduo cioso
de poder como o intelectual precisam corrigir oseu desenvolvimento unilateral (STORR, 1973,
p. 84).
Uma das chaves para a individuao est
justamente no dinamismo dessas foras psquicas
entre masculino e feminino, animus/anima, atu-
ando como um espelho que sirva de referencial
de auto-observao.
2.1 Animus: o elemento
masculino interiorAlguns arqutipos tm grande importn-
cia na formao da personalidade e do com-
portamento, de modo que Jung dedicou-lhes
uma especial ateno. Dentre esses arqutipos,
cita-se o animus:
Existem tantos arqutipos quantas as situaes
tpicas na vida. Uma repetio infinita gravou es-
tas experincias em nossa constituio psquica,
no sob a forma de imagens saturadas de conte-do, mas a princpio somente como formas sem
contedo que representavam apenas a possibili-
dade de certo tipo de percepo e ao (JUNG,
Apud HALL, 1993, p. 34).
Diante do complexo mundo arquetpico fe-
minino, Jung ressalta que a analogia da situaomitolgica com a vida comum est na ateno
consciente que uma mulher tem de dar aos pro-
blemas de seu animus e que toma muito tempo eenvolve muito sofrimento:
Mas se ela se der conta da natureza deste animus
e da influncia que ele exerce sobre sua pessoa,
e se enfrentar esta realidade em lugar de se dei-
xar possuir por e la, o animus pode se tornar um
companheiro interior precioso que vai contem-
pla-la com uma srie de qualidades masculinas
como a iniciativa, a coragem, a objetividade e a
sabedoria espiritual ( JUNG et al., 2008, p. 258).
O animus, tal como a anima, apresenta
quatro estgios de desenvolvimento: o primeiro personificao da fora fsica. No estgio se-
guinte, o animus possui iniciativa e capacidade
de planejamento; no terceiro torna-se o verbo, na
quarta manifestao, o animus a encarnao do
pensamento (JUNG et al., 2008, p. 258).Numa colocao mais interior, Jung cha-
mou este arqutipo de imagem da alma, por suacapacidade de nos colocar em contato com nossas
foras inconscientes; muitas vezes, ele a chave
para revelar a nossa criatividade (FADIMAM;FRAGER, 2004, p. 103).
No animus, em seu aspecto positivo, sob a
forma de pai, se expressam no somente opinies
tradicionais, mas tambm aquilo que se chamaesprito, e de modo particular certas concepes
filosficas e religiosas universais, uma vez que oanimusna sua forma mais desenvolvida, relacio-na a mente feminina com a evoluo espiritual,
tornando-as assim mais receptivas a novas ideias
criadoras (JUNG et al., 2008, p. 259).
2.2 O self- smbolo da totalidade
Uma vez que o processo de individuao
no se confunde com o que se chama de perfei-o, a construo da personalidade se caracteriza
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como um constante processo de reorganizao do
inconsciente, ou seja, busca-se ter uma identidade
psicolgica.
O Self representa o ser em sua totalidade etambm o centro organizador, autorregulador e
integrador, ao que se complementa ao estudar
obras de Jung, onde o conceito de si-mesmo
oferecia a melhor explicao que era possvel ofe-recer para um dos mistrios centrais da psique, a
criatividade aparentemente milagrosa, sua din-
mica centralizadora e suas estruturas profundas
de ordem e coeso ( JUNG et al., 2008, p. 212).
Dessa forma, chama-se a este centro de self,
sendo descrito como a totalidade absoluta da psi-que, para diferenci-lo do ego, que constitui ape-
nas uma pequena parte da psique (JUNG et al.,
2008, p. 212).
Com relao ao self,pode tambm ser de-
finido como um fator de orientao ntima, di-
ferente da personalidade consciente e, atravs da
investigao dos sonhos, mostra como essa perso-nalidade provocada para um constante desen-
volvimento e amadurecimento, mas o quanto
vai evoluir, depende do desejo do ego de ouvir ou
no as suas mensagens, pois o ego que iluminao sistema inteiro permitindo que ganhe consci-
ncia e, portanto, que esse self se torne realizado
( JUNG et al., 2008, p. 213).
A partir do momento em que o ser parteem busca de sua verdadeira essncia e a encontra,
depara-se com sua totalidade, ou o seu si-mesmo,
pois para ser ntegro necessrio que abranja a
totalidade do ser:
Os smbolos do selfpossuem uma numino-
sidade e conduzem a um sentimento de necessi-
dade que lhes d uma prioridade transcendente
na vida psquica. Um self primrio ou original
postulado como existente no comeo da vida.Esse self primrio contm todos os potenciais
arquetpicos, inatos, que podem receber expres-
so de uma pessoa. Em um meio ambiente apro-
priado, esses potenciais iniciam um processo deintegrao emergente do integrado inconsciente
original. Buscam correspondncias no mundo ex-
terno. O acoplamento resultante de um potencial
arquetpico de um beb ativo, com as respostas
reativas da me, ento reintegradopara se tornar
um objeto internalizado. O processo de integra-o/reintegrao continua por toda a vida (BON-
FATTI, 2012, p. 1).
O self no est inteiramente contido na
nossa experincia consciente de tempo (na nossa
dimenso espao-tempo), mas , no entanto, si-
multaneamente onipresente. Alm disso, aparece
com frequncia sob uma forma que sugere esta
onipresena de uma maneira toda especial; isto ,
manifesta-se como um ser humano gigantesco esimblico que envolve e contm o cosmos inteiro
( JUNG et al., 2008, p. 266).
Para Jung, toda realidade psquica interior
de cada indivduo orientada, em ltima instn-
cia, em direo a este smbolo arquetpico do si-
mesmo.
Em termos prticos, isto significa que a existn-
cia do ser humano nunca ser satisfatoriamente
explicada por meio de instintos isolados ou de
mecanismos intencionais como a fome, o poder,
o sexo, a sobrevivncia, a perpetuao da espcie
etc. Isto , o objetivo principal do homem no
comer, beber etc., mas ser humano. Acima e alm
destes impulsos, nossa realidade psquica interior
manifesta um mistrio vivente, que s pode ser
expresso por um smbolo; e para exprimi-lo o in-
consciente muitas vezes escolhe a poderosa ima-
gem do Homem Csmico (2008, p. 270).
Todo ser humano vislumbra sonhos e/ouimagens de forma impessoal, que o levam rumo
busca da realizao do si-mesmo.
O self, muitas vezes, simbolizado por um ani-
mal que representa a nossa natureza instintiva e
a sua relao com o nosso ambiente. ( por isto
que existem tantos animais bondosos e presti-
mosos nos mitos e contos de fada.) Esta relao
do selfcom a natureza sua volta e mesmo com o
cosmos vem, provavelmente, do fato de o tomo
nuclear da nossa psique estar, de certo modo, in-terligado ao mundo inteiro, tanto interior como
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exteriormente. Todas as manifestaes superio-
res da vida esto, de certa maneira, sintonizadas
com o contnuo espao-tempo (JUNG et al.,
2008, p. 275).
A partir das reflexes acima citadas, cons-tata-se, segundo Jung, que: Quando um homem
segue as instrues do seu inconsciente, pode re-
ceber e aplicar este dom que permite, de repen-
te, fazer da sua vida, at ento desinteressante e
aptica, uma aventura interior sem fim, repleta de
possibilidades criadoras (2008, p. 265), e, quanto
mulher, este potencial pode surgir sob a forma
de dons sobrenaturais.
Todo esse processo de busca do si-mesmono significa chegar perfeio, mas sim ter en-
tendimento de que o progresso interior algo a
ser trabalhado durante toda a vida, pois novos
desafios surgiro o tempo todo durante nossa
existncia.
3. A individuao como experincia
religiosa
Um dos conceitos centrais de Jung a indi-
viduao, termo usado por ele para designar umprocesso de desenvolvimento pessoal que envolve
o estabelecimento de uma conexo entre o ego e
o si-mesmo.
Citando Sonia Lyra, segundo Jung, invoca-
do ou no invocado, Deus est presente (LYRA,
2001, p. 54), e, apesar de suas constantes fugas, a
busca fundamental do ser humano encontrar-
se. Eis o que sua invocao, consciente ou no,
implica, a saber, conhecer, compreender, mesmoo que lhe parea momentaneamente inacessvel,
pois em sua essncia sabe quo terrvel o medo
da solido, de saber estar distante de sua essncia.
O processo de individuao , na verdade,
mais que um simples acordo entre a semente
inata da totalidade e as circunstncias externas
que constituem o seu destino. Sua experincia
subjetiva sugere a interveno ativa e criadora de
alguma fora suprapessoal (JUNG et al., 2008,p. 214).
A imagem onrica pode nos iludir, devido a pro-
jees, ou dar-nos uma informao objetiva. Para
se descobrir qual a interpretao correta, ne-
cessria uma atitude honesta e atenta e um cui-
dadoso raciocnio. Mas como acontece em todoprocesso interior, o self que, em ltima instn-
cia, ordena e regula nosso relacionamento huma-
no, desde que o ego consciente se d ao trabalho
de detectar estas projees irreais, ocupando-se
delas no seu ntimo, e no exteriormente. as-
sim que pessoas que tm afinidades espirituais
e uma mesma orientao descobrem-se umas s
outras, criando um novo grupo, que se sobrepe
s organizaes e estruturaes sociais comuns.
Tal grupo no entra em conflito com outros;
apenas diferente e independente. O processo deindividuao conscientemente realizado muda,
assim, as relaes humanas do indivduo ( JUNG
et al., 2008, p. 295).
O ego deve ser capaz de ouvir atentamentee de entregar-se, sem qualquer outro propsito ou
objetivo, ao impulso maior do crescimento.
Segundo Jung, o verdadeiro processo deindividuao significa a harmonizao com o
prprio centro interior (o ncleo psquico) ouself, que em geral comea infligindo uma leso personalidade, acompanhada do consequente
sofrimento. Este choque inicial uma espciede apelo, apesar de nem sempre ser reconhecidocomo tal. Ao contrrio, o ego sente-se tolhido nassuas vontades ou desejos e geralmente projeta estafrustrao sobre qualquer objeto exterior (JUNGet al., 2008, p. 219).
Todo indivduo necessita passar pelo pro-
cesso de crescimento e maturao, para Jung, oprocesso de individuao. Como pregava SantoIncio de Loyola, em obra organizada por Guil-lermou; nesta obra, por exemplo, ele ensina que,com a prtica dos seus exerccios espirituais, o in-divduo desenvolver suas potencialidades e res-
ponsabilidades humanas luz da reflexo, sobresua prestao de contas final perante seu Criador,E assim cita:
Organizar a disciplina do corpo relativamentefcil: o asceta pode estabelecer o que ser a sua
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alimentao, sua bebida, o tempo de sono; isso
tudo ento um simples problema de vontade.
No acontece o mesmo na disciplina do espri-
to: como impedir a imaginao de vagar como
um voo desordenado de mosquitos (1973, pp.62, 63).
O desafio maior da transcendncia ativar
a necessidade que cada ser humano possui de se
autoconhecer, indo alm de suas sombras e seus
arqutipos. A glria da existncia humana no
est nas coisas que nos tornam nicos. est no
fato de podermos nos unir inteligncia csmi-
ca; cada um de ns se torna uma parte conscien-
te do todo. Quando isso acontece, ganhamos um
mundo que nem chega a ser imaginado pelospensamentos e sentimentos da vida cotidiana.
Quando mais criativa e imaginativa se tornar a
mente consciente do ser humano, tanto menos
inclinada ao julgamento. Mas, para que surja
qualquer um desses benefcios, temos de expe-
rimentar o que a plenitude realmente (CHO-
PRA et al., 2010, p. 77).
A individuao uma exigncia psicol-
gica imprescindvel, a individualidade o nicocaminho que a pessoa tem para escapar do cole-
tivo. Na psique coletiva perde-se justamente de
vista o seu ser mais profundo. Para Santos, ao
definir o termo religio, Jung no se preocupou
com os credos e rituais das religies, mas com
as experincias religiosas originais que decorrem
por meio do indivduo em relao prtica re-
ligiosa. A religio, para ele, no precisa ter seu
apoio na tradio e nem na f, mas sua verdadei-
ra origem encontra-se nos arqutipos; por isso,ele entende que religareexpressa a essncia da
religio (2006, p. 30).
Na seguinte citao de Jung, vemos como o
mesmo discute a respeito da individualidade es-
piritual: A individualidade assim chamada espi-
ritual tambm uma expresso da corporalidade
do indivduo, ambas so, por assim dizer, idnti-
cas. Aps ter explicado como funciona o aparelho
psquico, em Jung, no qual o processo de indi-viduao ocorre como algo natural e necessrio
para levar ao crescimento, seu desfecho ltimoconsiste em atingir o estado de Self, no sentido
da centralidade da personalidade (2002, p. 149).Para alcanar esta centralidade, faz-se necessrio
romper com o arqutipopersonae sombra, com ointuito de viver o processo de individuao. Comovem sendo dito, sombra epersonaatrapalham no
processo de individuao. A religio entra nessecontexto, como um fator que favorece ao processo
de individuao, quando bem trabalhado.
A definio de individuao aparece ainda
em outra citao de Jung, onde ele a define comoum processo religioso que exige atitude religiosa
correspondente: a vontade do eu de submeter-seao si mesmo (2002, p. 432).
No desenvolvimento do processo de indivi-duao, ocorre uma expanso do mundo interior,
do qual resulta uma nova personalidade, menosfragmentada.
A nova conscincia que emerge nas so-ciedades humanas e tenta conciliar o padro do
medo que norteou o comportamento humanonesses ltimos duzentos anos e que separou ci-ncia de religiosidade, trabalho de alegria, sexo de
afeto, e Deus do mundo, cede lugar ao paradigmado amor, que a energia de criao, manuteno
e recriao da vida.
Goldbrunner chama a ateno para o fato
de que a individuao um processo espiritualde formao da personalidade (1961, p. 138).
Segue dizendo que seus caminhos so to va-riados quanto so os indivduos existentes, po-
rm trata-se de uma experincia intima e muitopoucos conseguem transportar-se para a dispo-
sio de esprito de outrem e experimentar seussentimentos.
O ser humano se fortalece ao experienciara busca pelo si-mesmo. De acordo com Jung, [...]
todos os momentos da vida individual em que
as leis gerais do destino humano rompem com
as intenes, as expectativas e concepes da
conscincia pessoal so, ao mesmo tempo, eta-pas do processo de individuao, que a re-
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alizao espontnea do homem total. Quanto
mais o homem se torna consciente do seu eu
pessoal, mais se distancia do homem coletivo,
que ele prprio, criando com isso uma opo-
sio. No entanto, como o si-mesmo tendesempre para a totalidade, a atitude unilateral
da conscincia corrigida e compensada, e o
ego chamado a se integrar a uma personali-
dade mais ampla ( JUNG, Apud ARMANDO,
2006, p. 77).
Apesar de fazer parte da mesma sociedade
e do mesmo processo civilizatrio, quanto mais o
ser se submete ao processo de individuao, mais
ele se diferenciar em sua conduta em relao s
normas, padres, regras, costumes e valores cole-tivos. O ser representa, ento, uma combinao
nica dos potenciais existentes no coletivo. Tudo
o que uma pessoa aprende como resultado de
experincias influenciado pelo inconsciente co-
letivo, que exerce ao orientadora no incio da
vida. Sendo assim, o ser nasce com predisposio
para pensar, sentir, perceber, de maneiras especfi-
cas. O desenvolvimento dessas predisposies vai
depender das experincias vividas pelo ser. Quan-
to maior o nmero de experincias, maiores soas chances de essas imagens latentes tornarem-
se manifestas, e um ambiente rico em oportuni-
dades necessrio ao processo de individuao
(TOLEDO, 2006, p. 63).
Com clareza intensa, Goldbrunner retrata
essa sensao nica, onde somente pessoas capa-
zes de ser verdadeiras em sua busca interior so
capazes de experimentar
a convergncia de todas as suas energias e ins-tintos da alma para um ponto central, enquanto
o ego passa a ocupar uma condio perifrica. A
partir de ento, se d seu efeito sobre a perso-
nalidade, e dessa transformao experimenta-se
o novo centro da psique, e assim se pode sen-
tir o quanto a vida pura, a energia psquica
pura, esse sentimento todo peculiar pode apa-
recer como smbolo na representao pictorial
do sonho ou da viso. Na qualidade de smbolo
transcende toda compreenso racional, pois aexpresso da atividade criadora. Sob esse aspecto,
o smbolo unificador representa a experincia de
Deus (1961, p. 173).
Consideraes finais
Espera-se ento que ocorra um amadure-cimento no processo de desenvolvimento psico-lgico. Isso significa tomar conscincia de nsmesmos, desenvolvendo um senso de responsa-bilidade e capacidade de julgamento, que poderoser idnticos ou no aos padres e expectativasexternas e coletivas, ou seja, ter conhecimento desi mesmo. Isso verdadeiramente o processo deindividuao.
Este processo corresponde ao decorrer na-
tural de uma vida, na qual em que o indivduo setorna o que sempre foi. E porque o homem temconscincia, um desenvolvimento desta espcieno decorre sem dificuldades; muitas vezes, ele um processo diversificado e perturbado, porque aconscincia se desvia sempre de novo da base ar-quetpica instintual, pondo-se em oposio a ela(JUNG, 2002, p. 49).
Todo processo de organizao psquica,
desde o nascimento (organizao do ego, comple-xos etc.), tem como objetivo o desenvolvimentodo individuo ou, mais precisamente, do que mais prprio de cada individuo.
Conclui-se, portanto, que a tomada deconscincia por parte do homem aparece comoo resultado de processos arquetpicos predeter-minados em linguagem metafsica, como umaparte do processo vital divino. Em outros termos:Deus se manifesta no ato humano de reflexo
(JUNG, 1979, p. 234).
A individuao direciona o ser humano
para a realizao do si-mesmo, no se importandoem