Condicionantes e Objetivos do Investimento em Esporte: o … · Condicionantes e Objetivos do...
Transcript of Condicionantes e Objetivos do Investimento em Esporte: o … · Condicionantes e Objetivos do...
Condicionantes e Objetivos do Investimento em Esporte: o Caso do Futebol Chinês Contemporâneo
Alunos: Daniel Sander Costa
Lucas de Almeida Nogueira da Costa
Professora: Isabela Nogueira
Motivação
Pequim sediou as Olimpíadas de 2008, onde a China bateu os EUA ao conquistar 51 medalhas de ouro. Em 2022 Pequim sediará os Jogos Olímpicos de Inverno, apesar de não ter tradição na maioria dos esportes de inverno. Em 2016 foi lançado o “Plano de Desenvolvimento do Futebol a Médio e Longo Prazo”, visando os três sonhos da Copa: voltar a participar, sediar e conquistar a Copa do Mundo. Apesar desse movimento e do aumento do investimento, os clubes e a seleção chinesa de futebol são considerados grandes fracassos.
Questões e Objetivos
• Quais são os objetivos do governo chinês ao promover a estratégia de desenvolvimento do futebol?
• Qual o contexto desse plano de médio e longo prazo?
• Quais são os principais desafios desse planejamento?
Para isso foram feitas diversas análises de artigos sobre as condições geopolíticas e econômicas da China, além de artigos sobre como a China enxerga o esporte como ferramenta política.
Estrutura
Primeira seção: Marcos econômicos e geopolíticos. Segunda seção: Estratégias Olímpicas e a trajetória do futebol na China. Terceira seção: Objetivos e desafios do investimento em futebol.
Marcos Econômicos e Geopolíticos
• A Motivação Geopolítica e Soft Power • Nova Estratégia de Crescimento
• Crescimento da Renda per Capita
• Cadeias Globais de Valor
Estratégia Olímpica
Novo planejamento olímpico no contexto das “Quatro Modernizações”, visando quebrar com a estratégia vigente da Revolução Cultural.
• Foco no esporte de elite e mudança do slogan “Amizade Primeiro, Competição Segundo” para o slogan “Competição!”.
• Recuperar a autoestima e o orgulho nacional, fortalecendo a imagem de nação poderosa.
Sucesso nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, faz o governo intensificar ainda mais o investimento no esporte de elite.
• Objetivo era amplificar os resultados geopolíticos e sociais do sucesso olímpico.
• O governo deixava claro a importância política desse sucesso.
Fracasso nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988, levantando críticas e questionamentos sobre a Estratégia Olímpica.
• Muitas críticas eram direcionadas à preferência do desenvolvimento do esporte de elite sobre o esporte de massa.
• Governo admite a necessidade de reforma.
Jugou Tizhi
O novo planejamento esportivo nos anos 90 ainda é baseado no esporte de elite, porém elabora-se um sistema muito mais sustentável.
• Maior combinação entre o planejamento esportivo e o setor educacional – inclusive para atletas aposentados.
• Melhores estruturas físicas e administrativas. • Planejamento ao esporte de massa, como política esportiva e de saúde pública. • Maior participação do setor privado, dado o contexto das reformas vigentes na China.
Desempenho crescente entre as Olimpíadas de 1992 e 2000 faz a China alcançar o terceiro lugar em Sidney.
• Jiang Zemin reconhece oficialmente o Jugou Tizhi: “O país inteiro apoia o sistema do esporte de elite”, deixando claro o valor político do sucesso esportivo.
Pequim é eleita sede dos Jogos Olímpicos em 2001, o que intensificou ainda mais o investimento esportivo, com o objetivo de superar a hegemonia americana.
Jugou Tizhi
Em 2008, a China, enfim, supera a hegemonia americana ao conquistar 51 medalhas de ouro.
Esperava-se que, após seu sucesso, o Jugou Tizhi perdesse seu protagonismo, onde o esporte não teria a mesma importância política. Porém, os líderes chineses decidem por continuar e fortalecer esse Sistema, objetivando a agenda nacionalista de restauração da “Grande Civilização Chinesa”.
Fonte: CEIC apud Durnin (2017)
A Profissionalização do Futebol
A reforma no Sistema de Esporte de Elite, no início dos anos 90, é o cenário em que se dá a profissionalização do futebol na China.
• Criação de uma liga nos moldes das ligas europeias. • Protagonismo do setor privado na administração dos clubes e comercialização do futebol. • CFA responsável pela organização da liga e pelo fomento das categorias de base.
Nos primeiros anos a primeira divisão da liga alcançou relativo sucesso de popularidade e financeiro.
• A Divisão A teve uma média de público de 20 mil pessoas no primeiro ano. • As rendas de bilheteria, propaganda, patrocínio, direitos de transmissão permitiram que os
times obtivessem certa autonomia financeira. • Em 4 anos a China passou de 20 times profissionais para 360, e de mil jogadores registrados
para 30 mil.
A Crise do Futebol Profissional
Porém, os bons resultados não foram verificados nas competições internacionais. • O time sub-23 não se classificaram para as Olímpiadas de 1996 e de 2000. • A seleção principal fracassou nas competições asiáticas e nas qualificações de 1998.
A insatisfação dos fãs e da CFA era cada vez mais evidente com os resultados das reformas. • Criticava-se o aumento do salário dos jogadores sem contra partida na qualidade do futebol. • A liga estava falhando em promover a categoria de base chinesa.
Após os péssimos resultados, começaram a eclodir os diversos escândalos de corrupção em todas as esferas do futebol chinês.
• Estima-se que, em 2003, metade das partidas do campeonato chinês não tinha qualquer credibilidade.
• Os escândalos fizeram a liga perder seu valor de mercado e, consequentemente, sua relevância.
Apenas em 2011 as ações de combate à corrupção começaram a ser efetivas, levando à prisão desde jogadores e árbitros até o vice-presidente da CFA, envolvidos em esquemas de aposta e venda de jogos.
O Boom do Investimento no Futebol
0
100
200
300
400
500
600
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Mil
hões
de €
Gasto em Transferência Valor de Mercado
Fonte: Elaboração própria a partir de TransferMarket.
Após 2011, as medidas punitivas do governo chinês surtiram efeito e a Super Liga Chinesa começou a ganhar relevância internacional.
• Explosão dos investimentos e crescimento do valor de mercado dos elencos. • Guangzhou Evergrande conquistou dois torneios continentais. • Em 2017, as transferências da SLC superaram as da LaLiga.
O Perigo da Bolha
As taxas explosivas de crescimento do investimento em futebol e da dívida dos times chineses começaram a preocupar a CFA e o governo. • Gasta-se como na Europa, mas se arrecada muito menos.
Em 2016 foi decretado que, a partir da temporada 2017/2018, a compra de jogadores acima de um teto seria taxada pela CFA.
• Transferências acima de 5,9 milhões de euros passaram a ser taxadas em 100%. • Queda de 68% no valor das transferências. • Criação de um fundo de apoio às categorias de base do futebol na China.
O Plano de Desenvolvimento do Futebol
O “Plano de Desenvolvimento do Futebol a Médio e Longo Prazo” foi anunciado em 2016 com o objetivo final dos três sonhos da Copa: voltar a disputar, sediar e ganhar a Copa do Mundo até 2050. O Plano está focado principalmente nas categorias de base e no esporte de massa.
• Criação de 20 mil escolas de futebol e 70 mil campos até 2020. • De 30 a 50 milhões de jovens praticando regularmente o esporte até 2020.
Ligação direta do Plano com a regulação da Super Liga Chinesa e com o investimento privado.
• Política de taxação das transferências. • Controle do número de atletas estrangeiros. • Incentivo aos atletas sub-23 na SLC.
O Investimento Externo
Time Participação Valor (€) Ano
Atlético de Madrid 20% 45 Milhões 2015
Espanyol 56% 17.8 Milhões 2015
City Football Group 13% 354 Milhões 2015
Granada 99% 45 Milhões 2016
Inter de Milão 70% 240 Milhões 2016
Birmingham City 60% ??? 2016
Aston Villa 100% 88 Milhões 2016
Wolverhampton 100% 353 Milhões 2016
Hull City 100% 317 Milhões 2016
OGC Nice 85% 65 Milhões 2016
Milan 100% 740 Milhões 2017
Fonte: Adaptação a partir de Izzo & Belpassi (2018).
A partir de 2015 um outro movimento ganha força: o investimento chinês em clubes estrangeiros. • Rentabilidade dos investimentos. • Formação de know-how e desenvolvimento das categorias de base.
Xi Jinping é um grande fã do futebol Porém a escolha pelo esporte não é arbitrária!
China: Mercado esportivo de US$813 bilhões até 2025.
Futebol:
• 43% do market-share esportivo
• Entre R$455 bilhões e R$577 bilhões anuais
• Esporte mais popular do mundo! => Soft Power • Coerente com a nova estratégia de acumulação chinesa
Ampliar Soft Power -> Esporte mais popular do mundo!
Objetivo diplomático, como em experiências anteriores: • Possível aliança comercial entre China e Irã
=> Importante parceiro para a Nova Rota da Seda
Objetivo de sediar e ganhar uma Copa do Mundo:
• Oportunidade de reafirmar a posição chinesa de potência global! • Atrai atenção de parceiros comerciais, investidores estrangeiros, turistas, etc
Coerente com o novo padrão de acumulação
Subida na Cadeia Global de Valor: • Amplifica atividades e serviços que adicionam maior valor na produção
=> Marketing e Branding => Direitos Televisivos
• Muitos times da SLC estão ligados a empresas produtivas chinesas
=> Importância do futebol para valorização de suas marcas e marketing
=> Importante que clubes chineses se tornem potências mundiais
Coerente com o novo padrão de acumulação
Aumento da renda per capita e importância dada ao consumo doméstico: • Não são fatores determinantes -> criam condições favoráveis ao investimento
=> É necessário fomentar uma cultura do futebol => Futebol é um bem de luxo: famílias precisam ter renda suficiente
Compra de times internacionais -> Coerente com a “nova normal”:
• Taxas de crescimento mais baixas => Empresas estão procurando fontes alternativas de renda
(serviços, tecnologia e inovação). Futebol tem um pouco dos três. => Times europeus possuem rentabilidade muito maior que os chineses
Entretanto, essa nova empreitada não é trivial! Superar hegemonia de nações europeias vai além de investimento e planejamento:
• Necessário fomentar a cultura do futebol => Futebol como objetivo coletivo e nacional
Exemplo da Islândia:
• 335 mil habitantes • Quartas de final da Eurocopa e classificação para Copa do Mundo 2018
• Principal fator para o recente sucesso é a combinação do caráter amador e profissional do esporte.
=> Profissionalismo: desenvolvimento e aperfeiçoamento de atletas
=> Prática amadora: paixão, companheirismo e orgulho de representar nação
Caminho de maior sucesso:
• Desenvolvimento do esporte de massa => Criação ou fortalecimento de uma cultura do esporte
(Basquete nos EUA, futebol no Brasil, etc)
Cultura do futebol e seus desafios
Mesmo com relativo fracasso na criação da liga anos 90 e 2000, o período proporcionou:
• Crescimento da popularidade do esporte
• Crescimento da presença nos estádios para fãs mais assíduos
Porém, estudo empírico mostra que há grande resistência de crianças chinesas na prática do futebol:
• Acham chato; • Acham muito profissional.
Importante Trade Off:
• Investimento pesado dos times é importante para popularização do futebol, para ter uma liga de qualidade e competindo com times europeus
• Porém, pode subjugar o desenvolvimento e a promoção dos atletas chineses
=> Importante a regulação dos investimentos para não afetar objetivos de médio e longo prazo.
Cultura do futebol e seus desafios
Popularização e criação de uma cultura do futebol: • Plano de Desenvolvimento do Futebol promove criação de 20 mil escolas e 70 mil campos
de futebol até 2020. • Subordinação do investimento no futebol europeu à contrapartida de desenvolvimento
de categorias de base chinesas.
Muitos desafios a serem enfrentados:
• Possível bolha no futebol chinês
• Dificuldade de criação de uma cultura do futebol • Competição com nações hegemônicas
Porém, coordenação e regulação parecem corretas:
• Promoção do esporte de massa e da cultura do esporte
• Investimento no exterior promove Soft Power e possui contrapartidas para desenvolvimento do futebol na China
• Regulação da SLC objetiva ganhos de qualidade, sem negligenciar o desenvolvimento de atletas locais
Enquanto isso, no Brasil...
Medida Provisória 841 "Não podemos concordar com a decisão de retirar recursos
como os direcionados aos clubes formadores de atletas
olímpicos e paralímpicos e às entidades que fomentam o
esporte escolar e universitário.”
Nota do ministro do Esporte, Leandro Cruz.
“A MP é desastrosa para o esporte brasileiro e está unindo todo o
seguimento. Nunca vi tamanha união, que poderá fazer a diferença (...)
Prevenção a violência. Educação digna, esporte e cultura. O esporte
tem maior capacidade de influência no jovem. Equívoco histório, crime
de lesa pátria. Estamos vislumbrando a falência múltipla do esporte
brasileiro.” Lars Grael, ex-atleta.
"É uma medida provisória totalmente insensata, que busca resolver o
problema da Segurança Pública retirando dinheiro do Esporte e da
Cultura. Qual tipo de educação a gente quer promover para nossos
jovens? Que formação queremos para o futuro do nosso país?"
Gustavo Kuerten, ex-atleta.
FIM
muito obrigado a todos!