Competencias Gerais Gerenciamento Enf Hospital

5
349 COMPETÊNCIAS GERAIS PARA O GERENCIAMENTO EM ENFERMAGEM DE HOSPITAIS* Elizabeth Bernardino 1 , Vanda Elisa Andres Felli 2 , Aida Maris Peres 3 RESUMO: As mudanças na área da saúde demandam dos profissionais enfermeiros um perfil mais flexível e adaptativo, sendo necessário mobilizar novas competências. O presente artigo faz uma reflexão sobre as competências gerais necessárias ao gerenciamento em enfermagem considerando as mudanças tecnológicas e gerenciais observadas em hospitais. Apresentam-se os novos cenários gerenciais e alguns aspectos necessários à aquisição de competências como o conhecimento, atitudes e oportunidades. Considera-se que o enfermeiro gerente tem a responsabilidade de proporcionar um ambiente de aprendizado onde os trabalhadores possam adquirir novas competências e exercê-las livremente. PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem; Prática profissional; Administração hospitalar. GENERAL COMPETENCES FOR NURSING MANAGEMENT IN HOSPITALS ABSTRACT: The changes in the health area demand more flexible and adaptive profile from the nurses, and the necessity to develop new competences. This article reflects on the general competences required for nursing management considering the technological and managerial changes observed in hospitals. It presents the new managerial scenarios and some aspects that are necessary to acquire this competence, such as knowledge, attitudes and opportunities. It is considered that the nurse manager has the responsibility to provide a learning environment where workers can acquire new competences and exercise them freely. KEYWORDS: Nursing; Professional practice; Hospital administration. COMPETENCIAS GENERALES PARA EL GERENCIAMIENTO DE ENFERMERÍA EN HOSPITALES RESUMEN: Las mudanzas en el área de la salud demandan de los profesionales enfermeros un perfil más flexible y adaptativo, siendo necesario movilizar nuevas competencias. El presente artículo hace una reflexión sobre las competencias generales necesarias al gerenciamiento en enfermería considerando las mudanzas tecnológicas y gerenciales observadas en hospitales. Se presentan los nuevos escenarios gerenciales y algunos aspectos necesarios a la adquisición de competencias como el conocimiento, actitudes y oportunidades. Se considera que el enfermero gerente tiene la responsabilidad de proporcionar un ambiente de aprendizaje donde los trabajadores puedan adquirir nuevas competencias y ejercerlas libremente. PALABRAS CLAVE: Enfermería; Práctica profesional; Administración hospitalaria. *Artigo extraído da Tese de Doutorado “Mudança de modelo gerencial em hospital de ensino: a reconstrução da prática de enfermagem” apresentada ao Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo-EERP-USP. 1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná-UFPR. Professora Associada da Université Laval, Canadá. 2 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Livre Docente da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo-EEUSP. 3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFPR. Autor correspondente: Elizabeth Bernardino Universidade Federal do Paraná Rua Padre Camargo, 120 - 80060-240 - Curitiba-PR, Brasil E-mail: [email protected] Recebido: 04/08/09 Aprovado: 30/11/09 Cogitare Enferm. 2010 Abr/Jun; 15(2):349-53

description

As mudanças na área da saúde demandam dos profissionais enfermeiros um perfil mais flexível e adaptativo,sendo necessário mobilizar novas competências.

Transcript of Competencias Gerais Gerenciamento Enf Hospital

  • 349

    COMPETNCIAS GERAIS PARA O GERENCIAMENTO EM ENFERMAGEM DEHOSPITAIS*

    Elizabeth Bernardino1, Vanda Elisa Andres Felli2, Aida Maris Peres3

    RESUMO: As mudanas na rea da sade demandam dos profissionais enfermeiros um perfil mais flexvel e adaptativo,sendo necessrio mobilizar novas competncias. O presente artigo faz uma reflexo sobre as competncias gerais necessriasao gerenciamento em enfermagem considerando as mudanas tecnolgicas e gerenciais observadas em hospitais.Apresentam-se os novos cenrios gerenciais e alguns aspectos necessrios aquisio de competncias como oconhecimento, atitudes e oportunidades. Considera-se que o enfermeiro gerente tem a responsabilidade de proporcionarum ambiente de aprendizado onde os trabalhadores possam adquirir novas competncias e exerc-las livremente.PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem; Prtica profissional; Administrao hospitalar.

    GENERAL COMPETENCES FOR NURSING MANAGEMENT IN HOSPITALS

    ABSTRACT: The changes in the health area demand more flexible and adaptive profile from the nurses, and the necessityto develop new competences. This article reflects on the general competences required for nursing management consideringthe technological and managerial changes observed in hospitals. It presents the new managerial scenarios and someaspects that are necessary to acquire this competence, such as knowledge, attitudes and opportunities. It is consideredthat the nurse manager has the responsibility to provide a learning environment where workers can acquire new competencesand exercise them freely.KEYWORDS: Nursing; Professional practice; Hospital administration.

    COMPETENCIAS GENERALES PARA EL GERENCIAMIENTO DEENFERMERA EN HOSPITALES

    RESUMEN: Las mudanzas en el rea de la salud demandan de los profesionales enfermeros un perfil ms flexible yadaptativo, siendo necesario movilizar nuevas competencias. El presente artculo hace una reflexin sobre las competenciasgenerales necesarias al gerenciamiento en enfermera considerando las mudanzas tecnolgicas y gerenciales observadasen hospitales. Se presentan los nuevos escenarios gerenciales y algunos aspectos necesarios a la adquisicin decompetencias como el conocimiento, actitudes y oportunidades. Se considera que el enfermero gerente tiene laresponsabilidad de proporcionar un ambiente de aprendizaje donde los trabajadores puedan adquirir nuevas competenciasy ejercerlas libremente.PALABRAS CLAVE: Enfermera; Prctica profesional; Administracin hospitalaria.

    *Artigo extrado da Tese de Doutorado Mudana de modelo gerencial em hospital de ensino: a reconstruo da prtica de enfermagemapresentada ao Programa Interunidades de Doutoramento em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidadede So Paulo-EERP-USP.1Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paran-UFPR.Professora Associada da Universit Laval, Canad.2Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Livre Docente da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo-EEUSP.3Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da UFPR.

    Autor correspondente:Elizabeth BernardinoUniversidade Federal do ParanRua Padre Camargo, 120 - 80060-240 - Curitiba-PR, BrasilE-mail: [email protected]

    Recebido: 04/08/09Aprovado: 30/11/09

    Cogitare Enferm. 2010 Abr/Jun; 15(2):349-53

  • 350

    INTRODUO

    A rea de servios de sade, sobretudo hospitais,tem sido afetada pelas mudanas no mundo do trabalho,que se devem, em parte, reformulao do modeloassistencial proposto para o Brasil pelo Sistema nicode Sade. Esta dinamicidade destaca-se pelo seuimpacto tecnolgico associado insero de novossaberes necessrios ao exerccio das diferentes profis-ses da sade, exigindo de todos os profissionais darea da sade, sobretudo dos enfermeiros, um perfilmais adaptativo e flexvel.

    Ao assumir novos papis frente s novasexigncias, os enfermeiros necessitam mobilizarcompetncias. O presente artigo tem como objetivorefletir sobre as competncias gerais necessrias aogerenciamento em enfermagem considerando asmudanas tecnolgicas e gerenciais observadas emhospitais.

    COMPETNCIAS GERAIS

    A rea de gesto de pessoas passa, atualmente,por trs principais mudanas: a alterao no perfil daspessoas, exigida pela empresa; o deslocamento do focoda gesto de pessoas por meio do controle para o focopor meio do desenvolvimento; e a maior participaoda pessoa no sucesso da empresa(1).

    Os hospitais procuram se adequar, inspirados naindstria, usando novas ferramentas gerenciais como obalanced scorecard, a gesto do conhecimento, dainformao e das competncias, a liderana coach eas unidades de negcios. Nesta nova conformao, ascompetncias que o indivduo possui passam a ter valor,pois o qualificam no exerccio profissional(1).

    Como consequncia, a questo da competnciapassa a ser central nas discusses que tratam do desen-volvimento de pessoas, para o alcance de objetivos,sejam eles quais forem. Para a Enfermagem, porexemplo, a busca por competncia, do ponto de vistados pressupostos tericos que a fundamentam, esttradicionalmente mais ligada ao ensino, e instituda pelaLei de Diretrizes e Bases(2).

    No entanto, alguns autores afirmam que acompetncia advm de um movimento irreversvel, estno cerne de toda a ao humana, individual ou coletiva,e est presente tanto na produo como no ensino(3-4).

    O termo competncia no novo e tem sidousado sob vrias concepes. No mundo do trabalho,prevalece o entendimento do saber subordinado ao

    interesse econmico, produo mais rpida e eficaz,mais adequada ao mercado consumidor(5). Esta ideia corroborada por outro autor(6), que diz que o conceitode competncia teve uma conotao funcionalista,tanto quando interpreta a competncia na perspectivada razo emancipatria, ou como um instrumental deregime capitalista.

    Com relao formao, a lgica do mercadoprima por mo-de-obra capacitada, para dar conta dadimenso tecnolgica, e no privilegia a formao crtico-reflexiva, capaz de provocar melhorias sociais locais amdio e longo prazos(4). Assim, procura-se umaadequao deste modelo formao da fora detrabalho, s recentes exigncias do setor produtivo,flexibilizando e unificando o sistema de qualificaoprofissional(7).

    As Diretrizes Curriculares para os Cursos deGraduao em Enfermagem em vigor tentam orientarpara competncias gerais a serem alcanadas pelofuturo enfermeiro, como a ateno sade, a tomadade deciso, a comunicao, a liderana, a administraoe gerenciamento e a educao permanente(8). Das seiscompetncias apontadas, cinco podem sercaracterizadas como competncias gerenciais(4).

    O ensino da Administrao, no que diz respeito proposta do Ministrio da Educao para odesenvolvimento de competncias e habilidades,favorece a aptido para o processo de trabalho degerenciamento. Tal fato explicado pela necessidadede preparar responsveis pela evoluo dos quadrosda prpria Enfermagem enquanto profisso(9).

    Essas diretrizes mostram-se coerentes, noapenas com a expectativa de um novo profissional crticoe reflexivo, capaz de responder as exigncias colocadaspelo contexto de contnuas mudanas sociais, mastambm com o olhar voltado para o desenvolvimentoda cidadania(5,10). As Diretrizes deixam claro que estenovo perfil deve ser construdo a partir de competnciase habilidades que tm a pesquisa como eixo integradorda formao acadmica(9).

    Ao contrrio, em relao s competnciasgerais a serem adquiridas, permanece a cultura domodelo nico, ainda que debilitado pela generalidadeinconsistente, tanto na perspectiva terica, comoprtica(6). Esta proposta, sem espao de criao, semidentidade, reitera um distanciamento das macropolti-cas, cujas repercusses prenunciam despreparo einsero perifrica nos mundos da formao e dotrabalho(6,11).

    Na busca de acompanhar as mudanas sociais,

    Cogitare Enferm. 2010 Abr/Jun; 15(2):349-53

  • 351

    ensinar exige reflexo crtica sobre a prtica, em ummovimento dinmico e dialtico entre o fazer e o pensarsobre esse fazer, que propicie ao aluno experinciasjunto prtica gerencial do enfermeiro e discussesterico-prticas com os professores(3,12). O ensinopautado em competncias deve superar o saber fazere o aprender a conhecer e, necessariamente, deveabarcar as dimenses que tm sido esquecidas aprender a ser e aprender a conviver(9).

    muito difcil encontrar um consenso ouexplicaes de que o modelo terico por competncias apropriado, tanto para a formao quanto para o trabalho.No entanto, a prtica gerencial em modelos inovadorescertamente exige outras competncias in loco.

    No sentido de refletir sobre o modelo porcompetncias, interessante avanar na afirmaode que, neste tempo de mudanas constantes everdades instveis, as competncias devem ser umaferramenta de reorganizao da formao paraatender as demandas(5). A prtica educacional nomodelo por competncias precisa atentar para aformao de profissionais que provoquem e sustentemas mudanas no mundo do trabalho, e no apenas seadaptem a elas.

    Assim, a noo de competncia sucede dequalificao, como conceito organizador das relaesde trabalho e de formao no processo de reestrutura-o produtiva(7,11). Neste modelo, o indivduo passa dalgica de ter uma qualificao, de ter conhecimento,para uma lgica de ser competente, ser qualificado(11).

    A abordagem das competncias consideradacomo uma questo de continuidade, porque faz partedo processo de evoluo do mundo (adaptao sdiferenas e s mudanas), e ao mesmo tempo deruptura, porque rompe com aquela pedagogia que noprepara o indivduo para enfrentar situaes reais(3).Neste sentido, competncia pode ser definida como acapacidade de agir eficazmente em um determinadotipo de situao apoiada em conhecimentos, mas semlimitar-se a eles(3), ou como um conjunto decapacidades, prticas e conhecimentos organizadospara realizar um conjunto de tarefas, satisfazendoexigncias sociais precisas(5).

    Para a construo de uma competncia,recursos cognitivos so mobilizados, entre eles: ossaberes, as capacidades ou habilidades e outrosrecursos mais normativos(3). Saberes so os conheci-mentos declarativos (fatos, leis, constantes ou regulari-dades da realidade), os conhecimentos procedimentaisou processuais (saber como fazer, aplicativo de

    mtodos e tcnicas), os conhecimentos condicionantes(saber quando intervir de uma determinada maneira)e as informaes, que so os saberes locais(3).

    A competncia tambm pode ser classificadasob o ponto de vista pessoal competncias essenciais relacionadas ao indivduo, equipe e ao seudesenvolvimento, e do ponto de vista empresarial competncias organizacionais relacionadas sestratgias corporativas(13).

    O trabalho de enfermagem, como parte doprocesso de trabalho em sade, caracteriza-se emsubprocessos de trabalho, denominados de cuidar ouassistir, administrar ou gerenciar, pesquisar e ensinar(14).

    Nas instituies hospitalares, ainda que ossubprocessos pesquisar e ensinar existam, asatividades de enfermagem so predominantementemarcadas pelos subprocessos cuidar e gerenciar(15).

    As mudanas no processo (ou nos subprocessoscuidar e gerenciar) de trabalho da enfermeira nohospital foram ocasionadas por uma sucesso deeventos: o modelo assistencial influenciou ou impulsio-nou a adoo de novos modelos gerenciais, que, porsua vez, demandaram outros perfis no cuidado (maisampliado e em rede), no gerenciamento (novas formasde organizao do trabalho), nas relaes (maiscooperativas, menos subordinadas) e na posio poltica(modelos descentralizados, mudana na amplitude dogerenciamento).

    As polticas de sade, as relaes de poder, deagir e de saber entre os diversos profissionais de sade,o aumento da complexidade tecnolgica e do cuidadoexigem cada vez mais que o enfermeiro assuma suaatribuio especfica de gerenciamento do cuidado(16).Neste sentido, a dimenso da pesquisa possui papelde sustentao do trabalho gerencial do enfermeirono mbito hospitalar, ao fortalecer a formao e odesenvolvimento de suas competncias gerenciais.

    Neste mundo em mutao, de modelos hbridos j que os modelos ainda esto em construo exige-se uma capacidade adaptativa muito grande por partedos enfermeiros que trabalham em hospitais. Apontam-se alguns dificultadores, sendo o primeiro deles sabera quem cabe a conduo deste momento de incertezas,no qual confrontam-se a formao do enfermeiro e asnecessidades de novos perfis profissionais que exigemquase uma desconstruo do enfermeiro formadona escola tradicional; e o segundo, saber comoabstrair, processar estas mudanas de formao,quando o cenrio j mudou.

    Nesse contexto fragilizado da profisso, a

    Cogitare Enferm. 2010 Abr/Jun; 15(2):349-53

  • 352

    Cogitare Enferm. 2010 Abr/Jun; 15(2):349-53

    Enfermagem elabora a sustentao terica para atingiros patamares de uma profisso autnoma, e reconhe-cida nas suas competncias, mas no a aplica, pois seencontra atrelada vivncia com o poder disciplinador.A Enfermagem est pouco, ou at des-instrumentali-zada, para defender-se e reconstruir os espaosalmejados(6).

    No servio de enfermagem, o contedo deconhecimento est aumentando e a competncia temsido intimamente ligada ao conhecimento. Possuirconhecimento necessrio, porm no suficiente paraque as competncias existam de fato(6). Por outro lado,formar uma competncia no significa descartar oconhecimento, e tampouco uma competncia o prprioconhecimento. As competncias utilizam, integram oumobilizam o conhecimento em situao de ao(3).

    Com mais conhecimento adquirido pelosprofissionais de enfermagem, a expectativa de queeles realizem aes diferentes, mais qualificadas epautadas na competncia. Nesta linha, o conhecimentoorganizacional tambm constitui-se em ativo invisvel,pois fundamentado nas competncias essenciais daorganizao, uma vez que ele pertence ao seu capitalhumano, existindo exclusivamente no crebro daspessoas(17). As competncias essenciais configuram-se por ser conjuntos de conhecimentos tcitos ecoletivos resultantes da aprendizagem, e produzindovantagem competitiva para a organizao(18).

    No caso do enfermeiro, exige-se conhecimento(que conhea o que faz), habilidades (que faacorretamente) e que tenha atitudes adequadas paradesempenhar seu papel, objetivando resultadospositivos(1). Porm, alm de ser competente no quefaz, o enfermeiro deve garantir competncia por partede sua equipe(19).

    Esta dupla responsabilidade, ser competente egarantir competncia por parte de sua equipe, favorecida pelo fato de que, na organizao hospitalar,a posio da enfermeira no exerccio da gernciaintermediria a situa na esfera central de processos deaprendizagem. Essa posio tambm a situa noprocesso de desenvolvimento do conhecimento,necessrio e fundamental para a aquisio e odesenvolvimento de competncias, o que lhe confereuma atuao frente ao cruzamento dos fluxos verticale horizontal de informaes, um elo de ligao entre aalta gerncia e os trabalhadores da linha de frente(17).

    So quatro as dimenses inerentes atividadegerencial do enfermeiro no hospital. A dimensotcnica diz respeito aos aspectos mais gerais e

    instrumentais do prprio trabalho; a dimenso poltica aquela em que se articula o trabalho gerencial aoprojeto que se tem a empreender; a dimenso comuni-cativa diz respeito ao carter da negociao; e adimenso do desenvolvimento da cidadania toma agerncia como uma atividade que contm e est contidaem uma perspectiva de emancipao dos sujeitossociais(10).

    Autores apontam a necessidade de uma culturade compartilhamento de aprendizagem com vistas acompetncias para o cuidado do paciente. Oenfermeiro, em posio de liderana, atento aosaspectos tcitos e explcitos do conhecimento, passaa enfatizar o processo de integrao e criao doconhecimento(17).

    A competncia no um estado, um processoque pode ser construdo a partir de trs componentes.O primeiro refere-se a uma mesma situao, de ummesmo tipo, com uma mesma estrutura; o segundosupe a utilizao de recursos cognitivos relativamenteespecficos, no havendo competncia se todos osrecursos tiverem de ser construdos, se todos os saberestiverem de ser aprendidos, se todas as capacidadestiverem de ser desenvolvidas e se todas as informaespertinentes tiverem de ser coletadas. O ltimo passapor uma espcie de treinamento no sentido de mobilizare adaptar tais recursos para que seja possvel decidire agir corretamente(3).

    A construo de competncias inseparvel daformao de esquemas de mobilizao dosconhecimentos, com discernimento, em tempo real, aservio de uma ao eficaz. Estes esquemas constroem-se ao sabor de um treinamento de experincias renova-das, ao mesmo tempo redundantes e estruturantes,treinamento esse tanto mais eficaz, quando associado auma postura reflexiva(3).

    CONSIDERAES FINAIS

    A imposio de novos perfis profissionaisdemanda a aquisio de novas competncias, queconsidera os conhecimentos acumulados, moldados emuma perspectiva dinmica, com potencial adaptativo. possvel a construo de competncias, que surgema partir de uma necessidade concreta, pelo aprendizadoem situaes de mobilizao de conhecimentos, desdeque sejam acompanhadas de uma reflexo crtica.

    imperativo buscar novas competncias, tantopara o enfermeiro assistencial frente s novastecnologias quanto para o enfermeiro gerente, seja ele

  • 353

    Cogitare Enferm. 2010 Abr/Jun; 15(2):349-53

    gerente de um servio de enfermagem ou de umaequipe multidisciplinar. Ter competncia gerencialsignifica assumir e proporcionar um ambiente deaprendizado onde os trabalhadores possam adquirircompetncia e exerc-la livremente.

    REFERNCIAS

    1. Cunha ICKO, Ximenes Neto FRG. Competnciasgerenciais de enfermeiras: um novo velho desafio?Texto Contexto Enferm. 2006;15(3):479-82.

    2. Brasil. Ministrio da Educao. Lei n. 9.394, de 20 dedezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases daeducao nacional. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 20dez 1996. Seo 1:27.

    3. Lucchese R, Barros S. Pedagogia das competncias:um referencial para a transio paradigmtica no ensinode enfermagem. Uma reviso de literatura. Acta PaulEnferm. 2006;19(1):92-9.

    4. Peres AM, Ciampone MHT. Gerncia e competnciasgerais do enfermeiro. Texto Contexto Enferm.2006;15(3):492-9.

    5. Faustino RLH, Moraes MJB, Oliveira MAC, Egry EY.Caminhos da formao de enfermagem: continuidadeou ruptura?. Rev Bras Enferm. 2003;56(4):343-7.

    6. Domenico EBL. Referenciais de competncias segundonveis de formao superior em enfermagem: a expressodo conjunto [tese]. So Paulo (SP): Universidade deSo Paulo; 2003.

    7. Witt RR, Almeida MCP. O modelo de competncias e asmudanas no mundo do trabalho: implicaes para aenfermagem na ateno bsica no referencial dasfunes essenciais de sade pblica. Texto ContextoEnferm. 2003;12(4):559-68.

    8. Ministrio da Educao (BR): Conselho Nacional deEducao, Cmara de Educao Superior. ResoluoCNE/CES n. 3 de 09 de novembro de 2001. Dispe sobreDiretrizes Curriculares para os cursos de Graduao emEnfermagem. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 9 nov.2001. Seo 1:37.

    9. Nimtz MA, Ciampone MHT. O significado decompetncia para o docente de administrao emenfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2006;40(3):336-42.

    10. Mishima SM, Villa TCS, Silva EM, Gomes ELR, AnselmiML, Pinto IC, et al. Organizao do processo gerencial

    no trabalho em sade pblica. In: Almeida MCP, RochaSMM, organizadores. O trabalho de enfermagem. SoPaulo: Cortez; 1997. p. 251- 96.

    11. Ramos MN. Qualificao, competncias e certificao:viso educacional. Formao. 2001;1(2):17-21.

    12. Rothbarth S, Wolff LDG, Peres AM. O desenvolvimentode competncias gerenciais do enfermeiro naperspectiva de docentes de disciplinas deadministrao aplicada enfermagem. Texto ContextoEnferm. 2009;18(2):321-9.

    13. Brando HP, Guimares TA. Gesto de competncias egesto de desempenho: tecnologias distintas ouinstrumento do mesmo constructo? RAE. 2001;41(1):8-15.

    14. Silva VEF. O desgaste do trabalhador de enfermagem: arelao trabalho de enfermagem e sade do trabalhador.[tese]. So Paulo (SP): Universidade de So Paulo; 1996.

    15. Hausmann M, Peduzzi M. Articulao entre asdimenses gerencial e assistencial do processo detrabalho do enfermeiro. Texto Contexto Enferm.2009;18(2):258-65.

    16. Massaro M, Chaves LDP. A produo cientfica sobregerenciamento em enfermagem hospitalar: uma pesquisabibliogrfica. Cogitare Enferm. 2009;14(1):150-8.

    17. Shinyashiki GT, Trevizan MA, Mendes IAC. Sobre acriao e a gesto do conhecimento organizacional. RevLatino-Am Enfermagem. 2003;11(4):499-506.

    18. Fleury MTL, Oliveira Junior MM, organizadores. Gestoestratgica de conhecimento: integrando aprendizagem,conhecimento e competncias. So Paulo: Atlas; 2001.

    19. Marquis BL, Huston CJ. Administrao e liderana emenfermagem. 2 ed. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul;1999.