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Te agradeço, mãezinha, o gesto impensado, Que então abriu-me portas para novo porvir,Quero viver, sonhar, chorar, cantar, sorrir,Liguei-me ao óvulo tão logo fecundado.

Não te condeno o ato, o prazer, o deleiteQue os teus verdes anos hoje prodigalizam,Pois tais recordações as almas eternizam,E as rememorarão... é mister que as aceite.

O entendimento só chega com os anos,És tão jovem, ingênua, tola, pueril,Compreenderás melhor quando, já senil,Desfolharem-te aos olhos tantos desenganos.

Eu soube, com pesar, de teu nefando intentoDe livrar-se de mim, nas mãos de um cureteiro.É crime, minha mãe! Melhor pensar primeiro,Pois tal culpa te causará ressentimento.

Peço-te apenas para ter-me em teu regaçoEnquanto se vai formando este meu corpinho.Já tenho perna, braço, mão, pulso, dedinho.Sabe mamãe? Eu não ocupo tanto espaço!

Mas, por que não suster a vida de quem veioTão prenhe de esperanças pela nova vida?Foram tantos anos de expectação contida...Por que tu queres apartar-me do teu seio?

Dá-me teu útero para que ali eu façaDois bracinhos gentis, a boca sorridenteQue sugará teu peito tão avidamente,E dois olhos vivos que te encherão de graça.

Permita-me nascer. Não me mates agoraSob alegação de que’ inda não sou ninguém.É tão triste ser-se rejeitado por quemA gente espera amor por uma vida afora.

Oh! Mãezinha querida, esquece as aparênciasQue te conduzem a praticar o aborto.Não queiras Ter teu filho não nato e já morto,Apenas pra compor ditas conveniências

Lembra Maria, a virgem mãe engravidada,E que manteve ao ventre o Filho do Senhor?Se ela não tivesse contido o seu pudorO Evangelho de Cristo hoje seria nada...

Enfim, cheguei... Obrigado, mamãe!Estamos, de novo, juntos!

Seu bebè

Telmo de Albuquerque Mello Zio

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