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CLEVELÂNDIA/PR E A CULTURA DA MADEIRA: UM OLHAR DIFERENTE SOBRE EXTRATIVISMO VEGETAL E HISTÓRIA

Alice Kachuki1

Jó Klanovicz2

Resumo

O objetivo deste trabalho foi proporcionar aos alunos um olhar diferente sobre extrativismo vegetal e História, ou seja, discutir, sobre a “cultura da madeira” em Clevelândia/PR, tendo em vista a permanência de uma atividade extrativa já há um século e a grande convergência de mão de obra ainda vinculada a essa atividade no município. A metodologia de pesquisa utilizada foi a pesquisa bibliográfica e qualitativa. A pesquisa bibliográfica foi realizada para a fundamentação teórica a respeito da relação entre os humanos como seres bio – históricos e o que não é humano (micróbios, bactérias, plantas e animais), já que carregam em si a demarcação da natureza a partir das elaborações culturais; qualitativa, pois foi coletada informações através de entrevistas semi-estruturadas e utilizados documentos como fotos antigas e atuais disponíveis na comunidade para a coleta de informações pertinentes. A utilização das fotografias como documento de análise oportunizou aos alunos discutir, de um ponto de vista socioambiental, cultural, político e econômico, a “madeira” como símbolo de um município. Nesta perspectiva, conclui-se que as ações pedagógicas que utilizam análises de documentos proporcionam uma dinâmica interativa do sujeito com a história. Palavras-chave: Extrativismo vegetal; madeira; cultura.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este artigo tem por finalidade apresentar o desenvolvimento das

atividades realizadas durante o Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), turma de 2012, sendo a implementação pedagógica realizada no

município de Clevelândia- PR, no Colégio Estadual Abílio Carneiro – EFMP,

sito à Rua Barão do Rio Branco, 643 pertencente ao Núcleo Regional de

Educação (NRE) da cidade de Pato Branco-PR.

1 Professora, Alice Kachuki – Rede Pública – Clevelândia, Paraná.

2 Professor, Doutor, Orientador – UNICENTRO - Guarapuava, Paraná.

Esta proposta didática apresenta a seguinte análise: A História é uma construção onde os sujeitos se constituem a partir de

suas relações sociais, bem como a partir de suas relações com o que não é

humano (micróbios, bactérias, plantas, animais). Os humanos, como seres bio-

históricos, carregam em si a demarcação da natureza a partir de elaborações

culturais, mas também são limitados em sua cultura pelas ofertas de recursos

naturais que o ambiente lhes impõe (BUELL, 2002).

Sob essa perspectiva observando a história do município de

Clevelândia, no sudoeste do Paraná, percebe-se que seu povoamento foi-se

efetivando econômica e ecologicamente a partir da exploração de recursos

naturais, especialmente o extrativismo de madeiras. A inserção dessa região

no mercado internacional capitalista deu-se na primeira metade do século 20,

especialmente por meio da extração de Araucária (Araucaria angustifolia), e a

atividade madeireira em toda a Mata Atlântica com florestas de araucária

representou o quase que aniquilamento total desse ecossistema em pouco

mais de 50 anos (KLANOVICZ, 2007).

Em diversos municípios historicamente ligados à atividade extrativista de

madeira, diversas empresas acabaram reinventando a atividade, não mais com

araucária, mas com outras essências florestais, nativas ou alienígenas, como é

o caso do uso de Pinus Elliottis e Pinus Taeda, desde as décadas de 1950 e

1960, quando o governo federal brasileiro passou a incentivar o florestamento e

o reflorestamento com o que juridicamente foi intitulado de “florestas

homogêneas”, ou seja, florestas acima de 10 mil plantas de uma mesma

variedade.

Em certa medida, essa política desenvolvimentista de plantio, operada

por órgãos como o Instituto Nacional do Pinho (INP), depois Instituto Nacional

de Desenvolvimento Florestal (IBDF), serviu ao apoio a elites econômicas

regionais e locais, interessadas em manter seus lucros por meio da exploração

de recursos naturais. Contudo, a manutenção, por gerações, da atividade

extrativista de madeira em regiões como Clevelândia/PR, até hoje, representou

também um efeito cultural desses processos encabeçados com uma

proposição econômica.

Nesse sentido, a ideia desta proposta de intervenção foi discutir, com

estudantes, uma “cultura da madeira” em Clevelândia/PR, considerando 1) a

permanência de uma atividade extrativa já há um século; 2) a grande

convergência de mão de obra ainda vinculada a essa atividade no município; 3)

o número significativo de alunos que são filhos ou netos de operários que

foram ou estão ligados ao setor madeireiro; 4) a oportunidade de discutir, sob o

aspecto socioambiental, cultural, político e econômico, a “madeira” como

símbolo de um município, revivido por meio da presença de casas, mobília,

muros que estilizam pinheiros, e outros elementos que fazem da extração de

árvores uma poderosa ideia ecológica ainda persistente na cidade.

As Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná para a área de História

(DCEs) têm como um de seus conteúdos estruturantes as relações culturais, e

entende que a cultura é aquela que permite conhecer os conjuntos de

significados que os homens conferiram à sua realidade para explicar o mundo.

Em certa medida, mesmo que essas diretrizes ignorem pressupostos maiores

elencados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de História, ou

ainda, não leve em conta a efetiva interdisciplinaridade que a História pode

aproveitar, é importante ressaltar o apelo social de sua proposta, baseada

numa “consciência histórica”, ou seja, “uma condição da existência do

pensamento humano, pois sob essa perspectiva os sujeitos se constituem a

partir de suas relações sociais, em qualquer período e local do processo

histórico, ou seja, a consciência histórica é inerente à condição humana em sua

diversidade. Em outras palavras, as experiências históricas dos sujeitos se

expressam em suas consciências” (THOMPSON, 1978). Nesse sentido,

interpretar e discutir as construções que são feitas por estudantes de suas

próprias relações com o que não é humano, pode conferir peso à discussão

das consciências históricas.

No mundo em que vivemos, o estudo do ambiente é de máxima

relevância, pois a sustentabilidade servirá em primeira instância à vida;

entretanto abordar estudos sobre a formação de cidades baseadas no

extrativismo não promoverá mudanças de atitude frente ao processo. Contudo,

como a função da história ambiental é refletir sobre esses problemas, acredita-

se que se faz necessário compreender a estrutura e perceber no que isso

influencia a vida dos moradores.

De acordo com Regina Horta Duarte:

Por intermédio do estudo da história, é possível perceber que não há uma única atitude das sociedades humanas em relação ao meio natural. É óbvio que os homens sempre tiraram dali a sua sobrevivência, seu alimento, sua água, o fogo para se aquecer do frio, os materiais para seus instrumentos. Mas eles o fizeram de formas muito diferentes, com perspectivas e valores muito diversos. (...) (DUARTE, 2005)

O Colégio Estadual Abílio Carneiro (EFMP) abrange uma população dos

bairros periféricos e da zona rural de Clevelândia/PR, sendo que a atividade

econômica das famílias dos alunos é proveniente, em grande medida, do setor

madeireiro. Nesse sentido buscamos estabelecer relações entre o processo de

formação do município e o extrativismo da madeira, e seus reflexos

socioambientais e culturais. Pretendemos oportunizar aos alunos o estudo

dos processos históricos e a significação atribuída aos sujeitos, e às relações

entre humanos e não humanos, tendo ou não consciência dessas ações

(DCEs, 2008, p.46).

Compreendendo assim, que é necessário que a História Ambiental

esteja presente no estudo dos processos históricos para que se possa

entender os fatos, suas causas e consequências.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nas diversas leituras da história ambiental das relações entre humanos

e não humanos em torno da atividade extrativista são necessários percorrer as

trajetórias das tensões entre a modernização da agricultura, a economia da

madeira, a agro ecologia dessas plantas, as consequências do uso de recursos

naturais para as cidades, para reposicionar alguns humanos exemplarmente no

coletivo que os aproxima a não humanos.

Isso significa, em certa medida, percorrer alguns desafios da própria

área de conhecimento da História. Christof Mauch e Helmut Trischler (2010),

ao pensarem as relações, o papel e a contribuição da História no trato de

questões ambientais, afirmam que a natureza ainda representa, contudo, um

desafio cultural para historiadores e historiadoras. A questão ambiental não tem

fronteiras nacionais, nem regionais, muito menos uma identidade local. Isso

porque se os problemas ambientais apresentam uma dimensão global, as

respostas e o engajamento sempre são locais (MAUCH e TRISCHLER, 2010).

Há inúmeros caminhos que podem ser percorridas pela História

Ambiental, tais como (1) Uso de recursos e conservação, que compreende

reações sociais e individuais à diminuição de recursos vitais, as percepções

sobre essas transformações, as regras, práticas e discursos desenvolvidos

para dialogar ou ignorar essas mudanças; (2) Desastres naturais e cultura de

risco, compreendendo percepções culturais sobre o risco, sobre fatores sociais

e ecológicos; (3) Imperialismo ecológico, que incorpora questões sobre como

regimes coloniais deixaram não apenas as sociedades coloniais em escassez,

mas com problemas ambientais; (4) Transformação das paisagens, altamente

voltada à história agrária e de transformação dos regimes agrícolas e urbanos;

(5) Ética ambiental, voltada ao entendimento das concepções únicas de grupos

com relação ao uso da natureza; (6) Conhecimento e sociedades do

conhecimento, marcados pela a emergência do conhecimento sobre natureza,

as implicações ecológicas da pesquisa científica acerca da própria temática

ambiental, o debate sobre a comodificação da natureza (MAUCH e

TRISCHLER, 2010).

É no debate sobre a comodificação da natureza, ou seja, no processo de

transformação do mundo natural em espaço de produção e riqueza humana,

que este projeto insere-se, propondo uma redução de escala da leitura da

intensificação da atividade madeireira do sul do país para um município

especificamente. Reduzir a escala de leitura na história ambiental, uma vez que

os problemas globais têm reações e sentidos locais, pode oferecer valiosos

insights como as sociedades e ambientes alteram a si mesmo e entre si

(MOSLEY, 2006). Conforme Mosley, “na história ambiental, o estudo centrado

no lugar tem-se tornado a principal força para a inovação em pesquisa: e sua

modesta escala e relativas maneabilidades das fontes podem conduzir ao

desenvolvimento de abordagens híbridas socioambientais.” Nesse sentido,

ainda é que R. W. Sandwell (2008) afirma que uma leitura em menor escala

proporciona um foco por meio do qual é possível interpretar de maneira mais

apropriada a série diária e complexa de relações envolvendo humanos e

natureza. A redução de foco não significa, contudo, particularizar em demasia

determinada narrativa de vida, ou evento. Enquanto a história dada nessa

escala reduzida permite experimentar as atitudes diárias de uma pessoa com

um lugar, com um inseto, com uma floresta, a história ambiental voltada às

grandes relações entre humanos e não humanos permite aumentar o

entendimento das relações entre pessoas e lugares por meio da atenção às

particularidades do mundo físico.

Para esta pesquisa, foram utilizados documentos, especialmente

fotografias que os estudantes têm à disposição, a aplicação de entrevistas

semi-estruturadas para a coleta de algumas informações pertinentes, e, além

desse instrumento, caminhadas pela cidade. As caminhadas têm sido cada vez

mais discutidas pela História Ambiental, como método de obtenção de

informações, na medida em que aproximam os indivíduos coletores de

documentos a documentos que aparecem apenas através de elaborações

dadas na esfera de uma ginástica do olhar. (CLAVAL, 1999).

3. IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA: ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Essa pesquisa foi realizada com o intuito de discutir com os alunos do 1º

ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Abílio Carneiro – EFMP de

Clevelândia/PR, turno matutino, faixa etária entre 14 e 16 anos, o estudo dos

processos históricos e a significação atribuída aos sujeitos, e às relações entre

humanos e não humanos, tendo ou não consciência dessas ações (DCEs,

2008, p.46), contando com a participação de 35 alunos. Ainda relacionado ao

Tema, observaremos o trabalho com fontes históricas, no caso específico, a

fotografia foi utilizada para que o aluno investigasse e identificasse a madeira

na formação econômica e cultural da cidade relacionando a temporalidade, a

simultaneidade e as permanências da atividade madeireira.

A metodologia de pesquisa utilizada foi a de pesquisa bibliográfica e

qualitativa. Durante a implementação do projeto CLEVELÂNDIA-PR E A

CULTURA DA MADEIRA: UM OLHAR DIFERENTE SOBRE EXTRATIVISMO

VEGETAL E HISTÓRIA, foram desenvolvidas atividades em cinco etapas,

sendo:

3.1 PRIMEIRA ETAPA: APRESENTAÇÃO DO TEMA

Foram utilizadas projeção de slides com um breve histórico do município

e evidenciado a relevância do tema para o desenvolvimento da implementação.

Após, os alunos realizaram pesquisas na internet e aplicaram entrevistas semi-

estruturadas para a coleta de informações sobre a atividade madeireira na

história do município.

3.2 SEGUNDA ETAPA: ENTREVISTAS

As entrevistas procuraram saber como os moradores se estabeleceram

no município e concluíram que a grande maioria da população veio em busca

de trabalho e no auge da extração da Araucária o objetivo era emprego nas

madeireiras. Na atualidade verificaram que a atividade permanece como base

da economia do município, porém, de forma estagnada e voltada a exportação

não proporcionando desenvolvimento econômico ou melhoria da qualidade de

vida dos trabalhadores. Inquiridos como a atividade se mantém há tanto tempo,

foi verificada que houve tempos de extensiva extração com as arrecadações

sendo escoadas para fora do município o que não gerou riqueza interna nem

desenvolvimento. Quanto ao tipo de trabalhador contratado para a atividade

que na atualidade se destina a produção de compensados de madeira, foi

observado que há homens e mulheres trabalhando, porém como mão de obra

sem especialização o que não contribui para uma melhoria socioeconômica.

Perceberam que a atividade madeireira está inserida no cotidiano como

rotineira, pois muitos caminhos do município em áreas de bastante circulação

de pessoas estão localizadas próximo às indústrias madeireiras. Verificaram

que é percebida na vegetação típica da região a Araucária, mas que mesmo

sendo reconhecida como um símbolo do município não se percebe a

necessidade da preservação, veem como fornecedor de madeira e no período

de colheita do pinhão serve como uma fonte de renda para os catadores que

adentram as matas, geralmente em propriedades privadas para colher e vender

o fruto em barracas improvisadas ao longo da BR que corta a cidade ou nos

mercados e pequenas mercearias. Questionados sobre atividades

diversificadas oriundas da atividade extrativa concluíram não existir, ou seja, a

estagnação econômica é mantida através da extração da madeira como

matéria-prima. Na atualidade a extração se faz através de reflorestamentos de

Pinus Elliottis e Pinus Taeda provenientes de outras regiões do Estado e do

país, que popularmente é chamado de “pinheiro americano”. Quanto aos

elementos naturais e culturais relacionados com o Pinheiro Araucária relataram

perceber construções de madeira antigas ainda presentes no município citando

a antiga Igreja Matriz que ao ser substituída por uma de pedra, foi instalada

num bairro periférico denominando-se Igreja dos Remédios, sua base estrutural

é a mesma da época em que ocupava a praça central nos primórdios do

município. Na vida cotidiana citaram perceber a atividade madeireira ao passar

por trabalhadores uniformizados nos pontos de ônibus, na estação do inverno

quando a lenha é queimada nos fogões, sendo que esta, não é pinheiro e sim

outras espécies como Guamirim (Eugenia glazioviana) e Bracatinga (Mimosa

scabrella Benth), citaram também os móveis que ornamentam as moradias e o

consumo do pinhão. Reconheceram a importância da Araucária em relação a

sua utilidade, mas não manifestaram preocupação com a preservação dos

espaços de mata nativa.

3.3 TERCEIRA ETAPA: PALESTRAS

Antigos moradores do município, trabalhadores da indústria madeireira e

proprietários de indústrias madeireiras explanaram em palestras a história do

município com base no extrativismo vegetal e de que maneira se viam como

sujeitos no processo histórico.

3.4 QUARTA ETAPA: COLETA DE FOTOS ANTIGAS

A coleta de fotos antigas foi realizada com base na relação da atividade

madeireira e o que é observado na atualidade na constituição do município,

através de roteiro de análise, procurou-se observar o que permaneceu na

toponímia do município que remonta o período áureo da atividade extrativista

de madeira. Em seguida foi organizada uma exposição fotográfica com as fotos

coletadas e referenciadas nas fichas de análise relatando o resultado em

banners com exposição aberta ao público (estudantes e comunidade em geral).

3. 5 QUINTA ETAPA: EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA

O projeto foi finalizado com a projeção dos slides de toda pesquisa

desenvolvida para os alunos, professores e direção do Colégio, sendo que

estes foram reproduzidos em banners com posterior exposição e doação à

Biblioteca Pública Municipal para o acervo da memória local do município.

4. DISCUSSÕES NO GRUPO DE TRABALHO EM REDE – GTR – PDE

Os Grupos de Trabalho em Rede – GTR constituem uma atividade do

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, que se caracteriza pela

interação virtual entre os Professores PDE e os demais professores da Rede

Pública Estadual. O GTR constitui uma das estratégias utilizadas pelo

programa para socializar, com os demais Professores da Rede, os estudos que

os Professores PDE realizam no Programa. Além disso, as produções

apresentadas e discutidas no GTR constituem mais uma possibilidade

pedagógica que os Professores poderão utilizar em suas práticas. O GTR

Turma PDE 2012 teve início em 19 de março de 2013 e término em 06 de maio

de 2013, num total de 60 horas, no 3º período do programa, conforme

instruções da SEED; o material trabalhado foi desenvolvido pelo professor PDE

com seu orientador da IES considerando as etapas do plano de trabalho.

Num primeiro momento houve orientações de como trabalhar com a

plataforma por meio de curso com a equipe da CRTE (Coordenação Regional

de Tecnologia na Educação do Núcleo Regional de Educação) os quais,

colocaram a maneira de como deveria ser formatado o curso, os

encaminhamentos para cada módulo e como se comunicar com os integrantes

da rede.

O Grupo de Trabalho em Rede possibilitou a troca de conhecimentos

entre professores de todo o Estado. Houve quinze inscritos, sendo que treze

concluíram todos os módulos propostos, a troca de experiências foi

enriquecedora para a práxis pedagógica de todos os cursistas.

As atividades propostas foram todas postadas dentro dos prazos. As

mesmas com qualidade e aprofundamento oriundos das consultas feitas pelos

cursistas a documentos disponíveis e pela sua própria vivência dos temas

abordados.

As interações demonstraram entendimento das leituras feitas e

propiciaram discussões satisfatórias.

Na temática 1 foi apresentado o projeto CLEVELÂNDIA-PR E A

CULTURA DA MADEIRA: UM OLHAR DIFERENTE SOBRE EXTRATIVISMO

VEGETAL E HISTÓRIA onde procurou-se discutir e socializar se nas regiões

onde há predominância da atividade extrativa madeireira, pode ser reconhecida

uma “cultura da madeira”, ou seja, após o ciclo extrativista voltado a atender as

necessidades do mercado capitalista, ou o enriquecimento individual do

madeireiro, a cidade guarda ou preserva uma memória do período, as

madeireiras atuantes se preocupam com a questão ambiental e a segurança de

seus operários, o que pode ser observado na cidade que referencie o período

inicial da atividade e o que permanece inserido no cotidiano da população.

Segundo a participação do professor MARTIN LUIS BERNO “para a maioria da

população, o modelo da economia implantado em determinado local acaba se

tornando essencial para a sua sobrevivência, e por isso, a ideia de "certo" ou

"errado" passa bem longe de sua análise. Para ele, o que vale é ter o trabalho,

sem muita reflexão sobre prejuízos ou qualquer outra consequência.”.

Quanto à pertinência do tema deste GTR para a Escola Pública, com

foco na viabilidade de implementação na Escola os participantes declararam

estar adequado, pois citaram a necessidade de subsídios e materiais que

norteiem a história ambiental. Os objetivos, portanto, foram esclarecedores e

concisos.

Na temática 2 foi apresentada a Produção Didático Pedagógica

elaborada enquanto estratégia metodológica para ser analisada, discutida e

gerar contribuições.

Sendo que a cidade de Clevelândia possui atividade extrativa madeireira,

e grande parte das famílias tem sua renda econômica proveniente dessa

indústria, podemos discutir, de um ponto de vista socioambiental, cultural,

político e econômico, a "madeira" como símbolo do município? Os participantes

concordaram que sim, salientando que qualquer atividade pode contribuir para

a história de um lugar, o professor MARCELO MAIA VICENTE observou que

“concordo com a firmação que todas as atividades econômicas marcam seu

contexto próximo e além, mas se mostrou preocupado com a construção de

símbolos que possam expressar um momento, uma faceta cultural que traz

consigo mesmo uma condição de diminuição, exploração e empobrecimento

cultural dos sujeitos no processo e em seu entorno. Um símbolo se cristaliza e

conceitua, reduzindo o conceituado a uma possível interpretação e tira de sua

condição primeira a dinâmica transformadora de todas as coisas em contínuo

movimento”. Já a professora SONIA APARECIDA CENCI resaltou que “A

madeira como destaque na região sudoeste do Paraná pode embasar outras

fontes de estudo. No aspecto socioambiental, a organização da cidade bem

como suas novas apresentações geográficas naturais dos reflorestamentos em

seus distintos estágios. No aspecto cultural, as heranças familiares advindas da

atividade extrativa ao longo desse processo, seus reflexos sociais e demais

relações. É nítido o nosso papel enquanto educador destacar a função da

história ambiental bem como sua influência na vida dos moradores como um

desafio cultural, já que produzimos a partir de experiências e relações sociais,

uma nova realidade. No aspecto político, o interesse das elites econômicas na

manutenção da soberania regional e local onde redefine o aspecto econômico,

já que, a maioria dos alunos é familiar de operários da indústria madeireira que

vem atrelado à economia da madeira com destaque a grande mão de obra

envolvida nesse processo.”.

A Proposta Didática Pedagógica tem como intuito trabalhar um aspecto

importantíssimo da constituição sócio-histórico regional, em sintonia com a

realidade dos alunos, qual seja, a economia regional de Clevelândia-Pr,

ancorada no extrativismo e a inclusão dessa problemática no conteúdo de

História que, na atualidade prescinde da incorporação da temática ambiental.

As atividades desenvolvidas com os alunos visam provocar uma reflexão

utilizando coleta de fotos antigas e passeios pela cidade reconhecendo

elementos que possam ser associados com o período máximo do extrativismo

vegetal e o que resta na atualidade desse processo, o professor MARTIN LUIS

BERNO citou “os passeios com fins informativos são extremamente

enriquecedores, uma vez que muitas crianças (e até adultos) muitas vezes

passam todo dia diante de determinado local, determinada construção ou

monumento, sem sequer saber qualquer informação sobre o mesmo, e com um

simples passeio, tudo aquilo pode adquirir significado para ele. Já a professora

MARINES MONTEIRO KLEINUBING declarou” A temática é de grande

importância, pois ao apoiar esses princípios, promoverá a formação de hábitos

coletivos estimulando os educandos na conscientização e preservação da

história local. Esses valores contribuem para que construam suas identidades

como cidadãos e que sejam protagonistas de suas ações de forma solidária e

autônoma. Este trabalho requer que o professor se disponha além de suas

práticas em sala de aula, proporcionar aos alunos passeios na cidade para que

possam observar espaços públicos, verificar a presença de ações deixadas

pelo homem e que demonstrem atitudes ambientais relevantes na memória da

população local, entrevistar pessoas mais velhas, conversar com lideranças,

registrar documentos e fotos, visitar madeireira para saber que atitudes são

tomadas para a preservação do meio ambiente, conversar com alunos que são

trabalhadores nessas empresas, fazer debates, com a turma, produzir textos,

maquetes, apresentação de trabalhos, murais, convidar algumas pessoas da

comunidade para assistir, gravar vídeos para que outros professores possam

usar em suas práticas etc. Uma educação escolar cidadã reflete diretamente na

vida das pessoas e da sociedade, no exercício dos princípios e valores

culturais locais regionais possibilitando o resgate da dignidade humana.

Na temática 3 foi socializado a aplicabilidade das ações de

Implementação do Projeto de Intervenção na Escola onde as atividades

desenvolvidas com os alunos buscaram resgatar a memória da história do

município e da história individual dos próprios alunos que tem suas famílias

retirando o sustento nas madeireiras. Os participantes procuraram demonstrar

sua satisfação em estar participando de um GTR que os motivou a refletir sobre

o enfoque do extrativismo vegetal no viés cultural.

No item VIVENCIANDO A PRÁTICA, os participantes deveriam

baseados nas ações de Implementação do Projeto de Intervenção na Escola

escolher uma ação e aplicar na sua escola ou relatar uma experiência

relacionada a uma das ações da proposta de implementação, ou ainda, sugerir

uma atividade a ser desenvolvida e os objetivos pretendidos. Os participantes

se posicionaram relatando suas práticas e observamos que foram várias

sugestões muito interessantes que complementariam muito bem o projeto.

Foram propostas atividades com produção de textos, cartazes, slides e

confecção de jornais sobre o enfoque da atividade madeireira, trabalhos

realizados com alunos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e da EJA.

Verificamos que ao socializar o projeto CLEVELÂNDIA-PR E A

CULTURA DA MADEIRA: UM OLHAR DIFERENTE SOBRE EXTRATIVISMO

VEGETAL E HISTÓRIA, no GTR, o professor PDE percebe através das

discussões, sugestões recebidas e ideias trocadas a importância do mesmo no

processo de implementação da Produção Didática na Escola.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de formação do município de Clevelândia/PR, através da

atividade madeireira, originou a formação de uma cultura da madeira que

atinge todas as esferas da vida cotidiana do município na atualidade e sendo

esta a proposta desta implementação, ao término da mesma concluímos que a

discussão, a pesquisa, a coleta de fotografias e a apresentação do projeto

tiveram uma acolhida satisfatória por parte da comunidade escolar e órgãos

institucionais do município.

Observamos que em relação aos desafios da Educação Básica foi

discutida a economia regional ancorada na atividade do extrativismo e a

incorporação da temática ambiental baseada nas experiências e construções

socioculturais decorrente de uma realidade que excede a esfera do econômico.

Ao desenvolver este trabalho, foi possível verificar a realização de um

resgate da memória local do município através das fotos antigas coletadas e

que os estudantes carecem de um reconhecimento da história da formação do

município, para que seja construída e preservada uma identidade da história

local.

Foram sugeridas discussões acerca do tema abordado com outras

vertentes de análise, com a doação dos banners do resumo do projeto ao

acervo histórico do município espera-se que novos estudos e possibilidades

possam contribuir para a manutenção da memória local do município.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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