CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO...

23
CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL (1930 1980) Dinorá Baldo de Fáveri [email protected] - Udesc José Ernesto de Fáveri [email protected] - Unidavi Marilei Kroetz [email protected] - Udesc Tatiane Warmling [email protected] - Unidavi Resumo: Este trabalho tem por objetivo, mostrar como o setor madeireiro contribuiu para a crescimento de Rio do Sul, no período entre 1930 e 1980. Para tal, foram realizadas pesquisa em materiais bibliográficos que relatam a formação econômica do estado de Santa Catarina e da cidade de Rio do Sul, bem como foram consultadas as bases de dados dos censos industriais realizados pelo IBGE. Constatou-se com a pesquisa que a indústria da madeira existia em quase todos os municípios catarinenses e, que direta e indiretamente beneficiou muitas pessoas e a economia das cidades. A madeira passou por escassez a partir da década de 60, ocasionando fechamento de serrarias e empresas ligadas ao setor madeireiro que, de forma geral impactou o desenvolvimento de várias cidades e regiçoes do estado. O ramo madeireiro se segmentou em três importantes gêneros, o papel e celulose, mobiliário e a própria madeira, onde atuam até os dias atuais em diversos municípios e são referencias no mercado estadual e nacional. O município de Rio do sul foi um dos muitos beneficiados com o comércio da madeira. Palavras chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento econômico, Rio do Sul. 1 Introdução A extração da madeira em Santa Catarina aconteceu com maior intensidade a partir da década de 30. Desde o inicio da exploração madeireira as regiões que mais se destacaram foram o Planalto de Lages, a região do Alto Vale do Rio do Peixe, Planalto Norte e, por alguns anos, até serem inseridas outras indústrias, as microrregiões de Chapecó e São Miguel do Oeste. A região do Alto Vale do Itajaí também se destacou em atividades do setor madeireiro, remetendo madeiras de alta qualidade para o mercado. Entretanto, o ciclo madeireiro enfraqueceu a partir da década de 80, obrigando a região a diversificar as atividades econômicas para culturas agrícolas e para o setor industrial. O estado de Santa Catarina possuia muita disponibilidade de matéria-prima para ser explorada, com isso, vieram as grandes indústrias madeireiras para se instalarem em diversas regiões do estado. Porém, a exploração da matéria-prima não foi acompanhada de reposição das

Transcript of CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO...

Page 1: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL

(1930 – 1980)

Dinorá Baldo de Fáveri

[email protected] - Udesc

José Ernesto de Fáveri

[email protected] - Unidavi

Marilei Kroetz

[email protected] - Udesc

Tatiane Warmling

[email protected] - Unidavi

Resumo: Este trabalho tem por objetivo, mostrar como o setor madeireiro contribuiu para a crescimento de Rio do

Sul, no período entre 1930 e 1980. Para tal, foram realizadas pesquisa em materiais bibliográficos que relatam a

formação econômica do estado de Santa Catarina e da cidade de Rio do Sul, bem como foram consultadas as bases

de dados dos censos industriais realizados pelo IBGE. Constatou-se com a pesquisa que a indústria da madeira

existia em quase todos os municípios catarinenses e, que direta e indiretamente beneficiou muitas pessoas e a

economia das cidades. A madeira passou por escassez a partir da década de 60, ocasionando fechamento de serrarias

e empresas ligadas ao setor madeireiro que, de forma geral impactou o desenvolvimento de várias cidades e regiçoes

do estado. O ramo madeireiro se segmentou em três importantes gêneros, o papel e celulose, mobiliário e a própria

madeira, onde atuam até os dias atuais em diversos municípios e são referencias no mercado estadual e nacional. O

município de Rio do sul foi um dos muitos beneficiados com o comércio da madeira.

Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento econômico, Rio do Sul.

1 Introdução

A extração da madeira em Santa Catarina aconteceu com maior intensidade a partir

da década de 30. Desde o inicio da exploração madeireira as regiões que mais se destacaram

foram o Planalto de Lages, a região do Alto Vale do Rio do Peixe, Planalto Norte e, por alguns

anos, até serem inseridas outras indústrias, as microrregiões de Chapecó e São Miguel do Oeste.

A região do Alto Vale do Itajaí também se destacou em atividades do setor madeireiro,

remetendo madeiras de alta qualidade para o mercado. Entretanto, o ciclo madeireiro

enfraqueceu a partir da década de 80, obrigando a região a diversificar as atividades econômicas

para culturas agrícolas e para o setor industrial.

O estado de Santa Catarina possuia muita disponibilidade de matéria-prima para ser

explorada, com isso, vieram as grandes indústrias madeireiras para se instalarem em diversas

regiões do estado. Porém, a exploração da matéria-prima não foi acompanhada de reposição das

Page 2: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

áreas desmatadas, isso propiciou o rápido esgotamento das florestas. Quando começaram as

primeiras crises no setor madeireiro, a matéria-prima era escassa. As serrarias acabavam

fechando ou mudando de cidade e os problemas sociais acompanhavam o ritmo de

desaquecimento das economias, enfraquecidas pelo fim do ciclo da madeira. A falta de emprego

e a falta de dinâmica econômica dos municípios, levaram à busca de novas atividades

econômicas para compensar a queda na exploração do setor madeireiro.

A exploração da madeira se fundiu em segmentos que, com o passar dos anos,

apresentaram maior participação no mercado, são eles: papel e papelão, celulose, o ramo

mobiliário e a própria madeira. Esses segmentos não estavam presentes em todos os municípios

em que havia o comércio da madeira, mas em regiões onde a oferta de matéria-prima era maior e

cointinham outros fatores como mão-de-obra barata e transporte.

O município de Rio do Sul não ficou alheio ao ciclo da madeira. Teve participação

efetiva na indústria da madeira e o setor contribuiu para que a cidade acompanhasse o ritmo de

desenvolvimento que o estado vinha apresentando. Muitos foram os benefícios que a população

do Alto Vale do Itajaí receberam nos anos 70, fruto dos resultados da extração e comercialização

da medeira, dentre os quais pode-se destacar as estradas, os meios de comunicação e os

incentivos do governo para indústrias.

Com a vinda da indústria madeireira, a cidade de Rio do Sul passou a ser conhecida

nos mercados interno e externo. No período em que ocorria somente a extração, o mercado da

madeira da cidade era restrito ao mercado regional e estadual. Serrarias de outras regiões

passaram a se instalar em Rio do Sul, devido a oferta de matéria-prima. Não foi somente a

madeira que foi extraída, houve também a extração de óleos, principalemente o de sassafrás,

utilizados como essências de perfumes.

Neste contexto, este artigo tem por objetivo demonstrar a contribuição do ciclo da

madeira para o crescimento econômico da cidade de Rio do Sul no período entre 1930 e 1980.

Para tal, divide-se este trabalho em cinco seções, iniciando-se por esta introdução. Na seção 2,

apresenta-se o histórico do setor madeireiro no estado de Santa Catarina; na seção, ressalta-se a

expansão do setor madeireiro no estado de Santa Catarina; na seção 4, destaca-se a importância

da atividade madeireira para a cidade de Rio do Sul; por fim, na seção 5, faz-se a conclusão.

Page 3: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

2 O Histórico Do Setor Madeireiro Em Santa Catarina

Segundo Goularti Filho (2002), [...] em 1905, as indústrias madeireiras apresentavam

baixos índices de produção, cerca de 5,64%, onde a empregabilidade no setor representava

6,04%. [...] o censo industrial de 1920 mostra claramente que os setores citados aumentaram a

participação no valor da produção: a madeira salta de 5,64% em 1905 para 17,32% em 1920 e a

têxtil de 3,77% para 14,28%, respectivamente. A indústria alimentar passou de 30,82% para

34,83%. Os três setores eram responsáveis, em 1920, por 69,87% da força de trabalho

empregada na indústria.

As regiões onde a extração da madeira passou a ser inicialmente explorada foi no

litoral e as colônias do Vale do Itajaí, pois houve a necessidade de desmatamento para o início de

culturas agrícolas. Como não tinha energia elétrica para tocar as serrarias, muitas se instalavam

nas proximidades de rios, onde escoavam as toras pelo rio até o porto de Itajaí.

As primeiras serrarias que vieram se instalar eram de colonos imigrantes que se

instalaram e aos poucos foram transformando seu comércio em indústrias, acabavam comprando

madeira serrada e revendiam em seus estabelecimentos.

Conforme Goularti Filho (2002), a colonização capitalista no oeste, organizada pelas

companhias colonizadoras a partir do inicio do século, tinha o objetivo econômico de explorar

dois recursos; a terra e a madeira, fonte de acumulação rápida e disponível. A araucária começou

a ser explorada na faixa que fica no centro da região oeste e próxima à divisa com o Rio Grande

do Sul. Como o maior mercado consumidor era a Argentina, a única via de transporte disponível

na época era a fluvial, por meio do rio Uruguai.

Ainda, para Goularti Filho (2002), com a construção da Estrada de Ferro Santa

Catarina entre Blumenau e Hammonia em Ibirama, a madeira teve outra forma de ser

transportada até seu destino, representando 39,5% de produto transportado em 1913.

Embora as regiões do Vale do Itajaí, Alto Vale do Itajaí e Litoral tenham explorado a

madeira, as regiões do Planalto Norte, Planalto Serrano e Oeste também tiveram exclusiva

dedicação quanto a exploração da madeira, pois exportavam ao mercado argentino, uruguaio por

meio de balsas, por ter fácil acesso junto ao Rio Uruguai. A região que se estendia de Caçador a

Lages permaneceu mais tempo no mercado, pois possuia reservas florestais e quando foi

Page 4: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

acabando a madeira, passou a produzir produtos oriundos de madeira, como pasta mecânica,

papel e celulose.

Na região Oeste, até o final da década de 40, a madeira era a principal fonte de renda.

Porém, este ciclo não apresentou vida longa, isto devido ao fim das reservas florestais e a

redução das importações argentinas, além de iniciativas na indústria alimentar que puderam

aproveitar de renda provida da madeira e da agricultura de subsistência.

Nos anos de 1915 e 1929, com o inicio da colonização no Meio Oeste catarinense e

do Vale do Rio do Peixe, o setor madeireiro aumentou em 22 vezes seu comércio, passou a ser

exportada a matéria–prima para Argentina, Rio de Janeiro e para a construção da ferrovia que

ligava São Paulo ao Rio Grande do Sul (GOULARTI FILHO, 2002).

Quando se falava das indústrias de transformação, para Cunha (1992), a indústria da

madeira fugia à regra pois sua representatividade na oferta brasileira em 1939 já atingia 8,3% e

obteve significativos avanços na década de 50, alcançando 17,3% em 1959.

No Quadro 1 que segue, pode-se ver o número dos estabelecimentos da indústria da

madeira e seus segmentos. Houve em todos os gêneros um significativo aumento da produção e o

valor da transformação industrial que estava em pleno auge no mercado. Foi nesse período do

censo que as indústrias estavam trabalhando em ritmo acelerado para atender a demanda pelos

produtos catarinenses.

ESTABELE

CIMENTOS

EM 01-01-

50

CENSO DE 1950 ANO

DE 1949 ESTABELE

CIMENTOS

EM 31-XII-

1959

CENSO DE 1960 ANO DE

1959

CLASSE E

GÊNERO

VALOR DA

PRODUÇÃO

(CR$)

VTI (CR$)

VALOR DA

PRODUÇÃO

(CR$)

VTI (CR$)

MADEIRA 1 547 485 121 312 808 2 167 4 925 448 3 032 958

MOBILIÁRIO 116 40 595 22 536 455 565 954 358 015

PAPEL E

PAPELÃO 28 51 130 28 728 68 1 340 019 780 465

TOTAIS 4 753 2 519 969 1 316 856 61 517 26 334 875 13 033 605

Quadro 1 – Confronto dos resultados dos censos de 1950 e 1960.

FONTE: IBGE, Censos Industriais de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, 1960.

Page 5: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Confrontando as informações dos censos de 1950 e 1960, é nítido como o volume

das indústrias aumentou suas vendas, a madeira aumentou de CR$312.808 para CR$3.032.958.

Viu-se que a indústria mobiliária teve maior presença a partir da década de 40, pois em 1950 o

valor de transformação industrial (VTI) estava em CR$ 22.536 e para o censo de 1960 o setor um

aumento muito significante, mostrando como o já estava ativo no mercado global, portanto

passou para CR$358.015.

O setor papel e celulose já estava ativo no mercado, pois para o censo de 1950

constava CR$ 28.728 de valor de transformação industrial , sendo que também alavancou para

CR$ 780.465 o seu VTI.

Com base nos resultados e nas demais informações extraídas dos censos, percebe-se

como foram importantes o segmentos que a madeira se fundiu, embora tenha perdurado poucas

indústrias até os dias atuais, mas olhando seu histórico, sabe-se que seu início foi dificultoso mas

o sucesso foi alcançado durante muitos anos.

A demanda interna dos produtos industrializados catarinense colaborou para que a

indústria desse um salto a partir da década de 1940, pois passou a fornecer madeiras para outras

capitais, a princípio os vínculos eram com Paraná, Rio de janeiro e Rio Grande do Sul, mais

tarde passou a ter ligações com o mercado de São Paulo.

Os eixos da região Serrana e do Planalto norte, representavam 55,4% do valor da

transformação industrial dos gêneros madeira, mobiliário, papel e papelão, ainda em 1970 a

madeira serrada representava 61,6% do total vendido no estado (GOULARTI FILHO, 2002).

A madeira sem dúvida foi um intermediador do estado com o mercado do país, sendo

um atrativo para que novos colonizadores passassem a se instalar em diversas regiões do estado e

que novos capitais ingressassem em forma de investimentos. Muito dos investimentos que Santa

Catarina recebia era de capital interno, poucos investimentos vieram do exterior.

O setor madeireiro se classificava com indústrias de transformação e os gêneros

como mobiliário, papel e papelão e a própria madeira, até a década de 60, tiveram grande

participação na transformação industrial do estado, conforme pode-se observar no Quadro 2.

Analisando o Quadro 2, pode-se perceber que houve uma queda no setor madeira

nos períodos apresentados, pois em muitas regiões a extração já estava se encerrando devido à

escassez da matéria-prima e o mobiliário apresentava altas taxas de crescimento em função dos

bens de consumo duráveis. Os dados do primeiro período, foi perceptível como o setor de

Page 6: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

transformação contribuiu para o desenvolvimento industrial que teve seu impulso a partir da

década de 40, já no segundo período, o grupo transformação foi o setor que mais sofreu queda na

industrialização.

CLASSE E GÊNERO 1949 /1959 1959/1965

Madeira 8,2 % 3,5%

Mobiliário 11,9% 5,2%

Papel e Papelão 19,0% -0,6%

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 8,2% 5,8%

Quadro 2 – Taxas de crescimento dos principais gêneros industriais – 1949 – 1959 e 1959 – 1965 (%).

Fonte: CUNHA, 1992.

Percebe-se na primeira década de estudo, o gênero que teve maior desempenho foi o

papel e papelão, apresentando 19,0% de crescimento. Embora nos anos de 1959 e 1965, os

gêneros tenham sofrido uma queda, devido ao declínio na oferta de matéria-prima em certas

regiões, os setores mantiveram-se forte na indústria.

Segundo Cunha (1992), “o desenvolvimento industrial de 1945 a 1963 esteve ligado

ao comportamento dos gêneros da madeira, têxtil e alimentar”, já era perceptível a influência de

novos empreendimentos indústrias dos diversos ramos na indústria catarinense.

As indústrias de transformação eram os gêneros que mais empregavam mão-de-

obra, sendo que as categorias que mais e destacaram de 1940 a 1959, foram o mobiliário,

metalúrgica e papel e papelão. As atividades madeireiras representavam juntas cerca de ¼ da

força de trabalho no estado, conforme pode-se verificar no Quadro 3, abaixo.

CLASSE E GÊNERO 1940 1950 1959

INDÚSTRIAS TRADICIONAIS 83,7 79,8 76,2

Madeira 26,7 27,0 26,8

Mobiliário - 3,5 5,6

DINÂMICAS 16,3 20,2 23,8

GRUPO A 14,1 17,0 19,8

Papel e Papelão 1,2 2,5 3,9

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO 100,0 100,0 100,0

Quadro 3 – Pessoal Ocupado na Indústria de Transformação, segundo os principais gêneros de indústria –

1940 – 1950 -1959 (%)

Fonte: CUNHA, 1992.

Page 7: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

O ramo madeireiro demandava muita mão-de-obra, sendo que no início os

madeireiros faziam os serviços tudo manualmente, quando vieram as primeiras serras, aos

poucos as máquinas iam substituindo a força humana, mas em outros casos como o ramo

mobiliário e de papel e papelão, existia um nível cada vez maior de empregados devido as

grandes demandas de materiais industrializados, fazendo com que as indústrias continuassem

com suas máquinas mas com auxilio do homem.

Embora o auge do comércio da madeira no estado tenha sido entre os anos de 1940 e

1960, muitas regiões ainda tinham-na como principal fonte de renda, abasteciam o mercado

interno e exportavam. Conforme Cunha (1992, p. 81),”Santa Catarina vendia para o exterior

madeira de pinho em toras e serradas, a qual contribuía, em 1960, com 72% das transações

externas do Estado, subindo para 88% em 1963.” Sem dúvidas que a madeira foi um dos

importantes impulsos industriais e contribuiu para o desenvolvimento de muitas regiões.

3 A Expansão Do Setor Madeireiro

A indústria madeireira teve forte desempenho, contribuiu para o impulso econômico

e industrial do estado de Santa Catarina. Mas com o passar dos anos, algumas regiões tiveram

que se reestruturar, pois as reservas florestais estavam se esgotando. Foi onde alguns segmentos

relacionados a madeira começaram a se destacar, ganharam espaço no mercado interno e

externo, são eles: papel, celulose, mobiliário e madeireiro.

Devido à oferta de madeira nas regiões do planalto norte e serrano e Alto Vale do

Rio do Peixe, foi que os setores segmentados da madeira se instalaram, mas com o passar dos

anos, conforme a oferta minimizava, faziam com que empresas do setor migrassem para as

regiões de maior oferta de matéria-prima.

3.1 Papel e celulose

Conforme obra de GOULARTI FILHO (2002), os setores de papel, papelão e pasta

mecânica surgiram a partir do desdobramento do capital acumulado na extração de madeira. Até

Page 8: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

1960, estas atividades expandiram-se em regiões de grande oferta de matéria-prima,

especialmente nas cidades de Lages, Caçador, Rio do Sul, Joaçaba e Rio Negrinho. No caso da

produção da pasta mecânica, as empresas foram fundadas por pequenos madeireiros que

colonizaram o Planalto Norte e o Oeste Catarinense. A acumulação gerada com a extração e

beneficiamento da madeira estendeu-se para a pasta mecânica (celulose). O crescimento deste

segmento foi representativo. Em 1959, a produção catarinense encontrava-se em patamar

próximo daquele apresentado pelo Paraná e São Paulo e São Paulo que eram os maiores

produtores de celulose do país. Em estágio inicial, o setor da pasta mecânica foi formado,

sobretudo, por pequenos produtores locais, entretanto, as empresas detinham porte médio.

A produção que o estado gerava de papel em 1970, segundo Goularti Filho (2002),

era de 88.785 toneladas e representava 8,1% da produção nacional. Em 1980, chegou a 428.156

toneladas, ou seja, um aumento de 370% numa década, passando a representar 12,4% da

produção nacional. Esse aumento é explicado não somente pela expansão da economia nacional,

mas também pela reestruturação patrimonial, pelos novos investimentos – sobretudo com a

entrada da Klabin e da Rigesa – e pelo crédito fornecido pelos bancos locais de fomento.

No Quadro 4 abaixo, pode-se ver para o ano de 1959 o segmento de papel e papelão,

o número de estabelecimentos, pessoal ocupado, valor da produção e da transformação industrial

(VTI), ainda os grupos que fecham esse segmento.

CLASSE GÊNERO E

GRUPO INDÚSTRIA

EM 31-XII - 1959 ANO DE 1959

Estabelecimentos Média mensal dos

operários ocupados

Valor da

produção

(CR$)

Valor da

transformação

industrial

(CR$)

Papel e papelão 68 2 136 1 340 019 780 465

Celulose e pasta mecânica 43 486 328 677 361 996

Papel, papelão e cartolina

(inclusive artefatos

associados a fabricação)

14 1 483 924 156 475 042

Artefatos de papel 2 14 6 543 3 481

Artefatos de papelão,

cartolina, pasta de madeira

ou fibra prensada

9 153 80 641 39 946

Quadro 4 – Classe, gênero e grupo de indústria – 1960.

Fonte: IBGE, Censo Industrial do estado de Santa Catarina, 1960.

Page 9: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Os dados mostram o desdobramento da madeira em papel e papelão e, dentro desse

item temos demais atividades que dela originou. O total da indústria de papel e papelão

constituía 68 estabelecimentos, 2.136 como média do pessoal ocupado, valor da produção em

CR$1.340.019 e o valor da transformação industrial cerca de CR$.780.465.

A celulose e pasta mecânica foi um dos itens que teve maior participação na

indústria, dentro do setor de papel e papelão, estava representada por 43 estabelecimentos

indústriais, 486 pessoas foi a média de pessoal ocupado do segmento, valor da produção em

CR$ 328.677 e valor da transformação industrial em CR$361.996.

Papel, papelão e cartolina representavam 14 dos 68 estabelecimentos do segmento,

onde 1.483 era a média do pessoal ocupado, valor da produção CR$ 924.156 e valor da

transformação industrial CR$ 475.042.

Os itens artefatos de papel e artefatos de papelão, cartolina, pasta de madeira ou fibra

prensada, representavam outros 11 estabelecimentos industriais, juntos somavam 167 a média do

pessoal ocupado, valor da produção CR$ 87.184 e ambos totalizavam CR$ 43.427 do valor da

transformação industrial.

Com o crescimento e desdobramento das atividades madeireiras que foram se

fortalecendo ao longo da década de 40 até 1960, criaram uma base de sustentação para que o

setor viesse se destacar em diversos segmentos. As contribuições das atividades madeiras a partir

da década de 40, engendrarem forças para que as atividades mantivessem forças mesmo com as

crises que o setor madeireiro passou, após os anos de 1970, onde a industrialização no Estado já

estava em processo mais avançado.

Em 1969 existiam 142 fábricas de pasta mecânica no estado, já em 1973, havia 16

fábricas de papel, 18 de pasta mecânica e sete de celulose. O setor passou a ganhar investimentos

no final de 1960 e inicio de 1970, onde vieram grandes grupos estrangeiros e nacionais. A

primeira indústria de papel foi instalada em 1958, atual Igaras e após oito anos a segunda

indústria de papel e celulose, grupo Klabin, situando-se em Lages.

3.2 Mobiliário

Page 10: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Até os anos 40, as marcenarias atendiam ao mercado da região, mas após a Segunda

Guerra Mundial, marcenarias de pequeno e médio porte passaram a se instalar no estado, onde

conquistaram o mercado do país e do exterior, todos em estilo dos anos 60 e 70.

Na década de 40 o mercado mobiliário ainda não tinha muita representatividade,

mas [...] aumentou sua representatividade de 2,2 em 1949, para 8,5 em 1980, sem que exercesse,

ainda, um papel saliente no âmbito estadual, salvo na microrregião onde se concentrava

(CUNHA, 1992).

Dentro de ramo mobiliário pode-se destacar as classes que segue no Quadro 5, onde

através do Censo Industrial de Santa Catarina para 1960, temos o gênero mobiliário com total de

455 estabelecimentos industriais, a média mensal dos operários ocupados totalizava 3.158

pessoas, o valor da produção que o setor mobiliário gerava era de CR$ 566.954 e de valor da

transformação industrial CR$ 358.015.

CLASSE GÊNERO E

GRUPO INDÚSTRIA

EM 31-XII - 1959

ANO DE 1959

Estabelecimentos

Média mensal dos

operários ocupados

Valor da

produção CR$

Valor da

transformação

industrial CR$

Mobiliário 455 3 158 566 954 358 015

Móveis de madeira, vimes,

junco e similares para

residências

414 1 373 377 401 232 236

Móveis de madeira para

escritórios, escolas, casas de

espetáculo e auditórios

7 1 201 166 326 112 079

Móveis de Metal - - - -

Artigos de Colchoaria

(exclusivo de espuma de

borracha)

31 78 21 917 12 651

Outros artigos mobiliários 3 6 1 310 1 049

Quadro 5 – Classe, gênero e grupo de indústrias -1960.

Fonte: Censo Industrial de Santa Catarina, 1960.

O grupo móveis de madeira, vimes, junco e similares para residência é o item que

têm maior representatividade dentro desse segmento, 414 estabelecimentos industriais, ocupava

Page 11: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

como média de pessoal ocupado 1.373 pessoas, valor da produção CR$ 377.401 e, o valor da

transformação industrial CR$ 232. 236.

Os demais itens que compõem a tabela, juntos somam 41 estabelecimentos

industriais, 1285 média mensal de pessoas ocupadas no ramo, n o valor da produção CR$

189.555 e na transformação industrial CR$125.779.

O setor mobiliário não contribuiu apenas no desenvolvimento econômico, mas no

social, segundo CUNHA (2002, p.138), “os gêneros de indústrias que apresentaram maior grau

de concentração geográfica no território estadual foram s de: matérias plásticas; material de

transporte; metalúrgica e mecânica (Joinville), e material elétrico ( Jaraguá do Sul), vestuário e

têxtil (Blumenau); mobiliário ( São Bento do Sul) e papel e papelão (Lages).”

A indústria moveleira do estado, especialmente a concentrada no Planalto Norte, teve

os anos 80 como marco para uma nova e decisiva fase em seu desenvolvimento. Isso, em função

da retração do mercado interno, da necessidade de mudança de matéria-prima (esgotamentos das

madeiras nobres e consolidação do pínus), e do redimensionamento para o mercado

internacional. Nesse ínterim, deslocou a ênfase da produção de móveis coloniais para outros

tipos de móveis residenciais e conquistou espaço no mercado internacional (GOULARTI

FILHO, 2002).

3.3 Madeira

Com base nos dados do Censo Industrial de Santa Catarina, para o ano de 1960,

conforme vê-se no Quadro 6, o setor madeireiro constituía 2.167 estabelecimentos, onde 61.588

era a média dos operários ocupados que atuavam na área, o valor da produção correspondia e

CR$ 4.925.448,00 e o valor da transformação industrial que correspondia ao valor da produção

industrial subtraídos as importâncias despendidas com o emprego de matéria-prima, material de

embalagens e acondicionamento, combustíveis, lubrificantes, energia elétrica adquirida, e com

serviços contratados incluídas as importâncias pagas a trabalhadores em domicílio; em seguida

representando o valor acrescido aos da matéria-prima e do material consumido na produção pelo

trabalho industrial executado no estabelecimento, enfim, correspondia a CR$3.032.958, tendo

como total do segmento madeira.

Page 12: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Com os vários segmentos que o ramo madeireiro se fundiu, temos a madeira

desdobrada, compensada, chapas prensadas com total de 1.898 estabelecimentos, 10.649 média

do pessoal ocupado, gerando valor da produção industrial em CR$ 3.623.479 e um VTI de CR$

2.239.856.

As peças e estrutura de madeira emparelhada totalizavam 210 estabelecimentos dos

1.898 ligados a madeira, com média de 2.744 do pessoal ocupado, produção em CR$ 1.134.136 e

o valor da transformação industrial apresentado em CR$ 673.681.

Os artigos de tanoaria tinham 15 estabelecimentos industriais, tendo como média do

pessoal ocupado 27, valor da produção CR$ 8.245 e apresentou CR$ 3.787 no valor da

transformação industrial.

CLASSE GÊNERO E

GRUPO INDÚSTRIA

EM 31-XII - 1959

ANO DE 1959

Estabelecimentos

Média mensal dos

operários ocupados

Valor da

produção

(Cr$ 1000)

Valor da

transformação

industrial

(CR$)

Madeira 2 167 61 588 4 925 448 3 032 958

Madeira desdobrada,

compensada e chapas

prensadas

1 898 10 649 3 623 479 2 239 856

Peças e estrutura de madeira

emparelhada

210 2 744 1 134 136 673 681

Artigos de tanoaria 15 27 8 245 3 787

Artefatos de cortiça - - - -

Outros artefatos de madeiras

e produtos afins

44 940 160 588 115 634

Quadro 6 – Classe, gênero e grupo de indústrias – IBGE 1960.

Fonte: Censo Industrial de Santa Catarina, 1960.

E outro grupo classificado como artigos de madeira e produtos afins, compunha 44

estabelecimentos dos 1.898 do total da madeira, abrigando uma média de pessoal ocupado de

940, valor da produção CR$ 160.588, tendo como valor da transformação industrial CR$

115.634.

Page 13: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Segundo Goularti Filho, [...] dos cem estabelecimentos industriais que havia em

Caçador em 1955, 44 eram de extração e beneficiamento de madeira e o valor da produção

industrial chegava aos 209 milhões de cruzeiros, enquanto em Lages, dos 166 estabelecimentos,

122 eram ligados à ligados atividade madeireira e o valor total da produção era de 337 milhões

de cruzeiros ( IBGE, 1959). Em 1960, Caçador tinha apenas 22,6 mil habitantes e Lages 120,8

mil, no entanto, proporcionalmente, a economia de Caçador era mais diversificada do que a de

Lages, como mostram os dados do Cadastro Industrial de 1965.

Segundo CUNHA (2002, p 153), “no ramo madeireiro, entre 1970 e 1980, ocorreu

queda de mais 10 pontos percentuais na presença das serrarias, e incremento das atividades de

chapas de madeira compensada e prensada e, num menos nível, da fabricação de esquadrias”.

Esse fenômeno estava relacionado ao esgotamento das reservas de matéria-prima (matas

naturais).

4 A Indústria Da Madeira Em Rio Do Sul E A Contribuição Para O Desenvolvimento

Local

Com a vinda dos imigrantes para a região de Rio do Sul, que tinha como subsistência

a agricultura, tiveram que extrair a madeira para em seguida fazer o processo de cultivo da terra,

onde aproveitavam a madeira para vendê-la. A madeira era abundante. Em 1915 foi publicado

um documento, conforme relata uma coluna de Victor Lucas “[…] se negociava a dúzia de

madeira de canela em pé, bem assim o cedro e peroba, todas madeiras de primeiríssima

qualidade, ao preço de um mil réis (Cr$ 1,00) a dúzia.”

Em 1915, “[...] surge à primeira serraria, sendo administrada por Frederico

Feldmann.”. Anos mais tarde já na década de 40, em função da abundante matéria-prima

encontrada na região e sendo de grande qualidade “[...] a força madeireira está concentrada no

município de Rio do Sul – com cerca de 140 serrarias, 13 fábricas de beneficiamento de madeira,

móveis, etc. e uma pasta de madeira” (KLUG e DIRKSEN, 1999, p. 160 e 164).

Como já se era percebido, a cidade estava em destaque na região , o que aponta

trecho da obra de KLUG e DIRKSEN (1999), “Graças aos recursos provenientes da madeira, a

cidade se desenvolve como eixo prestador de serviços regionais”.

Page 14: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Após Rio do Sul ter acesso a Estrada de Ferro Santa Catarina na década de 30,

viabilizou-se o escoamento da produção de madeira para as demais cidades no Estado assim

como, o transporte até o porto de Itajaí que seguia a outros estados e países.

A estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) que se estendeu até Rio do Sul pôde

facilitar o comércio na região assim como as serrarias que “[...] se encontravam localizadas na

sede do município. O restante, as que se encontravam no interior do município, tinham como

finalidade atender á demanda local. O motivo era a longa distância em relação a EFSC, ficando o

transporte muito caro e dificultoso”( KLUG e DIRKSEN ,1999, p. 164)

Com oferta de matéria-prima, conforme KLUG e DIRKSEN (1999, p.164) , Rio do

Sul tinha como maiores compradores de madeira e produtos derivados, várias localidades do

Estado de Santa Catarina, o Estado do Rio de Janeiro, e países como a Alemanha e Estados

Unidos.

O extrativismo se fundiu mesmo a partir de 1930 onde até 1940 e não se pensava que

essa matéria-prima pudesse se esgotar, pois o comércio da madeira era a principal fonte de renda

para o município e de modo geral o comércio estava interligado.

Em 1954 através de estatística municipal, publicada no jornal Rio do Sul em Marcha

(1954), haviam cerca de 89 serrarias legalizadas, onde trabalhavam com equipamentos

modernos, grande capacidade produtiva e tinham participação da produção e exportação de

madeira bruta. Entre as espécies de madeiras, a canela era a mais popular, conhecida no território

nacional como “Canela de Santa Catarina”, devido a sua dureza e durabilidade,

indiscutivelmente a madeira de mais aplicações nas maiores e mais luxuosas construções das

nossas cidades e capitais (RIO DO SUL EM MARCHA, 1954).

Desta forma, segundo Kroetz (2006), observa-se que a constituição da base

econômica da região do Alto Vale do Itajaí está diretamente associada à atividade de extração da

madeira. Assim como nas demais regiões do estado de Santa Catarina, a venda de madeira não

beneficiada serviu de base para acúmulo de capital que, mais tarde, foi sendo deslocado para

atividades ligadas ao desdobramento da madeira como marcenarias, fábricas de caixas, de

esquadrias e papel, papelão e pasta mecânica (celulose) e setores complementares. Essas

mudanças aconteceram, principalmente, para atender as necessidades da construção civil e

indústrias dos centros urbanos do estado e do país.

Page 15: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Na região do Alto Vale do Itajaí, onde situam-se a cidade de Rio do Sul, muitos

imigrantes europeus tiveram a oportunidade de investir em pequenos comércios que ao passar

dos anos, tendo lucratividade, foram investindo um indústriais. Como cita em seu livro Hering

(1987, p.200), “[...] foi justamente na localização do caminho para o planalto que a Família

Odebrecht, filho de desbravador, fundou a primeira fábrica de esquadrias para exportação, em

Rio do Sul.”

Mudanças na cidade puderam ser vistas:

“[...] a partir da década de 30 e com o desenvolvimento acelerado de extração de

madeira entre 40 e 50 o centro se estabelece no seu local atual. No ritmo de serrarias, de

transporte e de boa localização geográfica, e estando por volta de 1940 já adiantada a

economia extrativista, até a década de 50, bem como daí por diante, Rio do Sul

experimentará sua consolidação como pólo regional.” KLUG e DIRKSEN (1999, p.

133)

Nos anos sessenta as reservas de madeira tiveram grande redução, devido a suas

intensas extrações, a madeira deixou de ser a principal atividade econômica e fonte de renda do

município onde a economia do município teve que ser reestruturada. Em função disto, muitas

empresas buscaram outras formas de atividade e de investimentos.

Mesmo fazendo o plantio de novas árvores para posterior extração, o processo

levaria mais de 20 anos. O que não foi feito na região de Rio do Sul, pois havia muita madeireira

de qualidade e que era de difícil plantio, mas teve destaque o planalto catarinense, com o plantio

de pinus, onde a extração e o beneficiamento ainda permanecem.

O Quadro 7, a seguir, apresenta o valor de transformação industrial (VTI) que está

separado por setor de atividades. Conforme pode ser visto, os setores que apresentam maior

representatividade são os que incorporam os gêneros tradicionais – madeira e produtos

alimentares, que elevaram sua participação na indústria de CR$ 8.901 e CR$ 8.300 em 1970,

para CR$ 1.430.846, e CR$ 751.269 em 1980. Em meados nos anos 70, a indústria da madeira

ainda atuava com força no Alto Vale, embora não atuando com tanta força em alguns

municípios, mas em outros, a indústria apenas de fortaleceu.

Outro ramo da indústria tradicional que teve sua participação elevada foi o

mobiliário, que em 1970 estava em CR$ 1004 passou para CR$ 119.725 em 1980. Já o setor da

indústria dinâmica, o papel e papelão estava sem atuação na indústria em 1970, teve um salto em

1980 para CR$72.252.

Page 16: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

1970 1980

Gêneros da indústria VTI VTI

Extração de minerais O 1015

Produtos de Minerais não-metálicos 1448 229018

Metalúrgica 1869 123718

Mecânica 2406 163140

Material elétrico e de comunicações 590 0

Material de transporte 1081 46636

Madeira 8091 1430846

Mobiliário 1004 119725

Papel e papelão 0 72252

Borracha 0 0

Couro e peles e produtos similares 0 0

Química 10170 0

Produtos farmacêuticos e veterinários 0 0

Perfumaria, sabões e velas 552 0

Produtos de matérias plásticas 0 0

Têxtil 0 0

Vestuário, calçados e artefatos de tecidos 129 30105

Produtos alimentares 8300 751269

Bebidas 0 0

Fumo 0 31777

Editorial e gráfica 268 23049

Diversas 548 80362

Unid. Aux. de apoio (utilidades) e de serv. De Nat. Ind 0 0

Unid. Aux. Administrativas (3) 0 0

Quadro 7 - Participação dos grupos no valor de transformação industrial do Alto Vale do Itajaí – 1970 e

1980.

Fonte: IBGE. Censos Indústriais do Estado de Santa Catarina para 1970 e 1980.

A partir dos anos 80, a cidade começou a sofrer com crise econômica, pois o

comércio da madeira que era principal fonte de renda havia terminado. Conforme descrito por

Klug e Dirksen (1999):

“[...] Era urgente a adequação da economia a algum novo ramo de produção. Constata-

se que, apesar da crise, o número de indústrias era elevado para uma cidade de pequeno

porte. Dados estatísticos indicam 113 indústrias em Rio do Sul no ano de 1986. No

entanto, a beleza e o encanto da cidade começaram a declinar já durante a década de 70,

quando tem início a crise da indústria madeireira, pois a cidade não possuindo uma

produção de grande escala, não tinha como amortizar o investimento em capital fixo

necessário.” KLUG e DIRKSEN (1999, p, 143).

4.1 O Desenvolvimento Da Cidade E As Dificuldades Encontradas Com O Declínio Do

Setor Madeireiro

Page 17: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Com o crescimento do comércio da madeira que era responsável pela geração de

empregos no município e região, houve também o surgimento de empresas de diversas

variedades, principalmente com a industrialização de produtos agrícolas. “O aumento de

empreendimentos na indústria manufatureira influiu sensivelmente no comércio de Rio do Sul,

também porque começou a se tornar o pólo do Alto Vale” (ZANELLA, 2006, p 31).

A inauguração, em 1934, da estrada de ferro, permitiu uma nova fase de

desenvolvimento econômico, pois os produtos fabricados em Rio do Sul começaram a ser

escoados para os centros maiores. Nesse período também os industriais do Alto Vale exportavam

fumo, madeira e outros produtos para Europa, situação que ficou comprometida com a eclosão

da Segunda Guerra Mundial [...] as indústrias continuaram com a produção para atender o

comércio interno e a movimentação industrial e comercial era tão intensa que, em 12 de agosto

de 1945, foi fundada a Associação Comercial e Industrial de Rio do Sul (ZANELLA, 2006, p

32).

O Censo do IBGE, publicado em 1959, demonstrava que a cidade de Rio do Sul,

contava com 114 estabelecimentos industriais, onde 32 estavam ligados a madeira e 15 ao setor

mobiliário. O recenseamento geral do IBGE realizado no ano de 1980, que abrangia as

microrregiões e os municípios por setores industriais, constatou que Rio do Sul, tinha 143 de

estabelecimentos industriais, sendo que para o setor madeireiro se tinha 39 indústrias e 12

estabelecimentos industriais ligadas ao mobiliário, conforme Quadro 8, a seguir.

MICRORREGIÕES,

MUNICÍPIOS E

GENÊROS

INDUSTRIAIS

ESTABELECIMENTOS

ANO DE 1980

MÉDIA DO

PESSOAL

OCUPADO

VALOR DA

PRODUÇÃO

(%)

VALOR DA

TRANSFORMAÇÃO

INDUSTRIAL (%)

COLONIAL DO

ALTO ITAJAÍ

554 7711 14,4 15,1

RIO DO SUL 143 3 115 6,47 6,3

MADEIRA 39 656 10,78 17,63

MOBILIÁRIO 12 119 2,56 1,47

TOTAL 11 371 271 208 100 100

Quadro 8: Recenseamento Geral 1980

Fonte: IBGE, 1980.

Foram feitas análises, comparando com o total do Estado apenas o valor da produção

e o valor da transformação industrial, cada um totalizava 100%, a então Colônial do Alto Vale

do Itajaí representava 14,4% do Estado como seu valor da produção, já para a transformação

Page 18: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

industrial, representava 15,10%. Para a cidade de Rio do Sul, usou-se o mesmo método, a

produção de Rio do sul representava 6,47% do Estado e no VTI 6,30%.

O segmento da madeira contava com 39 estabelecimentos indústriais, onde para o

estudo se usou o total da madeira, dividida pelo total do valor da produção de Rio do Sul,

representando 10,78% da produção gerada no município e o valor da transformação industrial

representava 17,63%. A madeira que Rio do Sul industrializava representava no Alto Vale 4,83%

do valor da produção e para o VTI 7,36%.

O mobiliário contava com 12 estabelecimentos indústrias no município,

representando no valor da sua produção 2,56 da renda gerada pela produção e no VTI, 1,47%.

Abrangendo o Alto Vale, a produção mobiliária representava 1,15% e no valor da transformação

industrial 0,6%, significando que o a produção atendia a demanda local.

A cidade já usufruía dos benefícios que a exploração da madeira e demais setores que

da economia proporcionava, vinha Rio do Sul se destacando nos meios de comunicação como a

um dos municípios de maior desenvolvimento em todo o país, conforme constata em trechos da

Revista do Sul “O Vale do Itajaí” (08/1962, n.14):

“Tivemos uma agradável surpresa, quando da visita feita a Rio do Sul, a bela capital do

Alto Vale do Itajaí. E um dos municípios de maior desenvolvimento em nosso país,

sendo notável o surto industrial nesses últimos anos.

Têm o município na extração e no beneficiamento da madeira e na produção da fécula

de mandioca seus principais fatores de vida econômica. Várias indústrias contribuem

para o desenvolvimento econômico do município.

Na parte referente às finanças, em 1961, a arrecadação estadual foi de Cr$

123.503.504,10, a federal de Cr$ 58.451.687,20, e a municipal de Cr$ 26.290.573,10,

estando este ano orçada em Cr$ 32.500.000,00, podendo-se prever uma arrecadação

municipal em cerca de 40 milhões de cruzeiros.

O clima e magnífico e o povo hospitaleiro e educado da um colorido especial a bela

cidade, que possui intensa vida social, bons cinemas, além de pontos interessantes como

atração turística. E uma cidade que se deve visitar e a melhor oportunidade serão

brevemente, com a realização de importante exposição industrial”.

Entretanto, esse cenário durou pouco tempo. Já no final da década de 60, a região

sentia os efeitos do declínio das atividades no setor madeireiro. Além das dificuldades

específicas do setor madeireiro, o país começou a passar por mudanças a partir da década de 60,

[...] aliado ao fato de que o ciclo da madeira chegava ao seu final, a política do governo

inviabilizou o transporte ferroviário, substituindo-o pelo transporte rodoviário. Como

conseqüência, a Estrada de Ferro Santa Catarina acabou fechando, em 13 de março de 1971.

Page 19: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Diminuiu sensivelmente o incentivo a agricultura e, por força dessa circunstância, começou o

êxodo rural para as grandes cidades.”( ZANELLA, 2006, p 34).

Sabe-se que com o fim gradativo do comércio da madeira, a economia do município

passou e enfrentar uma crise econômica, que foi vivenciado por muitos riossulenses. O Senhor

Viegand Eger, através de resenha histórica gravada em março de 2006 por Zanella, se manifestou

sobre o período que a cidade passava:

“A partir da segunda metade da década de 50, rio do Sul e o Alto Vale entraram

numa fase de depressão econômica e por conseqüência também atingindo duramente o aspecto

social das comunidades. A economia da região estava alicerçada na extração da madeira nativa,

em abundancia na região”.

Registre-se que até meados da década de 50, Rio do Sul e Alto Vale dispunham

aproximadamente de 150 serrarias que exportavam a madeira nativa da região,

principalmente a canela, a peroba, a imbuia e o sassafrás, que era transformado em óleo

para exportação. Eram indústrias extrativistas, cujos proprietários nunca se preocuparam

em fazer um reflorestamento. E quando chegamos a princípios de década de 60

realmente foi um desastre. A maioria absoluta destas empresas madeireiras, as

chamadas serrarias, fecharam as suas portas por falta de matéria-prima. A economia de

Rio do Sul e do Alto Vale girava em torno de recursos advindos da madeira.

Dispúnhamos de uma economia considerável, estava entre as cinco primeiras economias

do estado de Santa Catarina. Mas o baque foi repentino e total ( ZANELLA,2006,

p.36).

Nesta fase, no início da década de 60, os proprietários destas fábricas madeireiras

que ganharam dinheiro, se aproveitaram desta economia extrativista, simplesmente

desapareceram da região. Foram investir em outros centros, em outras cidades. E Rio do Sul

ficou realmente paralisado e acima de tudo indefinido, indeciso para que rumo que nos iremos

tomar. Não havia lideranças preparadas para fazer esta condução para uma nova alternativa

(ZANELLA, 2006, p 36).

Outra entrevista de suma importância para resgatar a historia, foi do Senhor Horst

Bremer, realizada em 15 de março de 2006 por Zanella: “Se nós olharmos para Rio do Sul que

bom foi que proibiram cortar as nossas madeiras antigas. Devia ter sido proibido há muito mais

tempo. Eu lembro exatamente quando nos tínhamos a extração da madeira, tínhamos empresas

que vendiam tratores, serrarias,era todo mundo preocupado com a extração do óleo de sassafrás,

trituravam-se arvores com mais de oitenta anos, tiravam óleo e jogavam o casco dentro do rio.

Page 20: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Esse absurdo nos fazíamos no passado. Então proibiram o corte da nossa floresta. Isso veio dar

uma condição muito desfavorável na época para nossa região”( ZANELLA, 2006, p. 37 e 38).

Quando os madeireiros perceberam que o comércio da madeira estava ficando ruim,

passaram a investir em outros centros mais industrializados. Foi o momento em que a economia

local tomou o baque. Se faziam necessárias medidas urgentes para reestruturar a economia,

porém não havia capital e pessoas disponíveis para reverter o quadro em um período de curto

prazo.

Muitos dos empresários que aqui permaneceram, tiveram que readaptar seus

estabelecimentos e um deles foi o próprio Horst Bremer, “ a nossa empresa, assim como outras

que estavam estabelecidas aqui com prestação de serviços na área de manutenção mecânica, com

a extinção das serrarias, passaram por enormes dificuldades. Quem quis sobreviver teve que

arrumar outra alternativa ” (ZANELLA, 2006, p 38).

Segundo Zanella (2006), as serrarias começaram a ser substituídas por esquadrias e

beneficiamento de madeiras e nasceram as primeiras metalúrgicas. No comércio, surgiram

estabelecimentos de venda de tecidos em geral, de material de construção, de gêneros

alimentícios e concessionárias de automóveis. O aumento das indústrias e estabelecimentos

comerciais se fez sentir, de forma sensível, na década de 70, principalmente o desenvolvimento

no setor da metalúrgica, artigos de vestuário e têxtil e a indústria alimentícia.

5 Conclusão

Desde o início da exploração da madeira essa atividade possibilitou diferentes níveis

de comércio, diferentes tamanhos de empresas, oportunidades de trabalho e desenvolvimento nas

regiões onde existia maior demanda por produtos oriundos da madeira e abundante oferta de

matéria – prima.

Não se tinha incentivos por parte do governo para implantações de comércios e

empresas no Estado. A maior parte do capital que que foi investido na indústria originou-se da

iniciativa dos próprios empresários. Estes investimentos propiciaram o crescimento das

Page 21: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

economias regionais, fortemente alavancado pela extração, beneficiamento e comercialização da

madeira.

O processo de desenvolvimento foi evoluindo pouco a pouco. As regiões passavam a

ganhar proprietários de terras que, por sua vez, iniciavam o processo de derrubada das árvores

para então construir suas casas. Aproveitavam as sobras da madeira para vender. Em muitos

casos, o lucro da venda da madeira era utilizado para quitar suas propriedades rurais.

No centro das vilas que estavam se formando foram surgindo comércios. Conforme

a população das comunidades iam aumentando, os comércios lucravam e aproveitavam para

fazer negócios entre si. A partir de 1930, pequenas indústrias começam a marcar presença,

fazendo com que a pequena economia da comunidade se desenvolvesse lentamente.

A partir dessas atividades incipientes, desenvolveu-se grande parte da estrutura

econômica do do estado de Santa Catarina. O desenvolvimento do Estado era visível ao longo

das décadas e o grupo tradicional da indústria da madeira foi um importante impulso para que

novos segmentos industriais surgissem. Comércios e pequenas indústrias passavam a trabalhar

em conjunto com as serrarias que demandavam equipamentos para o processo de transformação

da madeira.

Diversas regiões e cidades no Estado passaram a ter forte concentração das suas

atividades econômicas, nas décadas de 40, 50 e 60, na indústria da madeira. Isto gerou fortes

impactos nas bases sócioeconômicas destes lugares quando os primeiros sintomas da crise do

setor madeireiro começaram a se fazer presentes. Toda a economia, tanto dos municípios mais

dependentes da exploração da madeira, como o estado de SantaCatarina sofriam, pois estavam

direta ou indiretamente interligados aos resultados dessa atividade econômica.

A desenfreada exploração da madeira teve seus resultados. Madeireiros tinham que

buscar fontes de matéria-prima cada vez mais distantes, encarecendo e impossibilitando a

permanência no ramo. A solução encontrada foram os reflorestamentos, porém estes não supriam

a necessidade de madeira no curto prazo, uma vez que seu ciclo de crescimento e

amadurecimento é longo. Vieram os reflorestamentos, forma das indústrias madeireiras serem

auto geradoras de matéria-prima. O pinnus, madeira exótica vinda do Canadá se adaptou bem as

regiões do Planalto do Estado, muito utilizada por indústrias de papel e celulose, ramo de móveis

entre outros, além da própria madeira bruta.

Page 22: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Esta adaptação da espécie pinnus incentivou o desdobramento das atividades do setor

madeireiro para outros gêneros, tais como: o papel e celulose, pasta mecânica, mobiliário e a

própria madeira bruta. Estes contribuíram contribuíram para que a economia se diversificasse,

gerando novas aberturas comerciais.

O Alto Vale do Itajaí não ficou de fora do ciclo da madeira. Várias cidades

aproveitaram a abundância da matéria-prima para explorar atividades relacionadas ao setor,

especialmente a extração e venda da madeira em tora. A cidade de Rio do Sul se destacou nas

atividades econômicas relacionadas à exploração da madeira. Além de ter madeiras de excelente

qualidade, possuia a canela-sassafrás, elemento importante para a produção de óleos utilizados

em produtos cosméticos e em produtos de higiene e limpeza doméstica.

O impulso dado pela extração da madeira e seus derivados serviu de estímulo para a

implantação de infraestrutura básica como energia elétrica, rodovias e a ferrovia. A construção

de Estrada de Ferro de Santa Catarina possibilitou que a matéria-prima da região atendesse a

demanda nacional e mais tarde internacional. A existência de serviços básicos e a demanda

trazida pelas atividades madeireiras impulsionaram o surgimento de outras atividades

econômicas, tais como indústria alimentícia, indústria de máquinas e equipamentos, comércios e

prestação de serviços.

Assim como o restante do estado, o declínio da atividade madeireira impactou

fortemente a economia do município de Rio do Sul. Os reflexos foram sentidos durante

praticamente duas décadas. A partir de meados dos anos 60 até início da década de 80, a cidade

perdeu espaço na dinâmica econômica do estado de Santa Catarina. Isso porque precisou de um

período longo de tempo para reestruturar suas bases de produção.

As dificuldades impostas pelo fim do ciclo da madeira exigiram o direcionamento

dos investimentos para outras atividades econômicas. Esse processo de redirecionamentos dos

capitais foi lento, uma vez que havia se quebrado a base de geração do fluxo de capitais, ou seja,

com o fim do ciclo da madeira a fonte de exploração e geração de riqueza havia se esgotado.

Com isso, a reestruturação do sistema produtivo se tornou dependente dos capitais escassos dos

empresários da região.

Aos poucos, a dinâmica econõmica foi se voltando para atividades nos setores têxtil e

vestuário, metalmecânica, indústrias de beneficiamento da madeira e para a indústria alimentícia.

Juntamente com essas atividades cresceram o comércio e a prestação de serviços.

Page 23: CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O … · CICLO DA MADEIRA: CONTRIBUIÇÃO PARA O CRESCIMENTO DE RIO DO SUL ... Palavras –chave: setor madeireiro, ciclo da madeira, crescimento

Cabe ressaltar que o ciclo da madeira proporcionou desenvolvimento não só para a

cidade de Rio do Sul, mas fez com que grandes empresas se instalassem em cidades pequenas,

gerando emprego, repassando impostos aos municípios, atraindo mão -de - obra, fazendo com

que a dinâmica econõmica ocorresse.

6 Referências

CUNHA, I. J. O salto da indústria catarinense: um exemplo para o Brasil. Florianópolis:

Paralelo 27, 1992.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Superintendência de

Estatísticas Primárias. Censo industrial Paraná, Rio Grande Do Sul, Santa Catarina 1960.

RJ:IBGE, vol. 3 Tomo 7. 1966

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (FIBGE). Superintendência de

Estatísticas Primárias. Censo industrial de Santa Catarina 1980. RJ:IBGE, vol. 3 Tomo 2,

parte 1, n. 21, 1984.

GOULARTI FILHO, A. Formação econômica de Santa Catarina. Florianópolis: Cidade

Futura, 2002.

HERING, Maria Luiza Renaux. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: o Modelo

Catarinense de Desenvolvimento. Blumenau: Editora da FURB, 1987.

KLUG, João; DIRKSEN, Valberto. Rio do Sul: uma história. Florianópolis: Editora da UFSC,

1999.

KROETZ, Marilei. A Mudança de paradigma e seus impactos sobre o desenvolvimento

industrial de Santa Catarina. 2006. 128 f. Dissertação (Mestrado)- Universidade Estadual de

Maringá, Paraná, 2006.

PELUSO, Vitor. Rio do Sul: Monografia Estatístico – descritiva. Florianópolis: Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, s/d.

PELUSO, Vitor. Rio do Sul. Publicação n.26.

REVISTA DO SUL. O Vale do Itajaí. N.14.Ano XVII.1962.

ZANELLA, Fiorelo. A conquista de um sonho UNIDAVI (1966 – 2006): consolidando novos

caminhos.Blumenau: Nova Letra, 2006.