Ciberculturas No Irc. Uma pesquisa sobre as ferramentas de comunicação dos anos 90 no Brasil

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RESUMOA partir da década de 1990 a cibercultura começa a se estruturar no Brasil. Com o objetivo de aumentar a rede de relacionamentos, aproximar amigos e familiares, as pessoas passam a utilizar ferramentas da Internet colocando as comunidades virtuais em uma dimensão fundamental para o desenvolvimento dessa emergente cultura virtual: a cibercultura. Partindo deste contexto, esta pesquisa objetiva compreender o papel das comunidades virtuais na construção da cibercultura no início da Era Digital no Brasil, a partir da análise dos usos do Internet Relay Chat(IRC), ou Conversa Retransmitida pela Internet. Metodologicamente, empreendeu-se um estudo de caso procurando identificar as principais ferramentas de comunicação do Grupo Zero na Internet, buscando comparar suas semelhanças e diferenças, observar os principais usos que os atores envolvidos faziam delas e classificar as principais interações mediadas por computador do grupo.

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  • CIBERCULTURAS NO IRCUma pesquisa sobre as ferramentas de comunicao

    dos anos 90 no Brasil

    Pedro Hiraoka

  • FACULDADE ESTCIO DO PAR

    CURSO DE COMUNICAO SOCIAL PUBLICIDADE

    PEDRO CARVALHO HIRAOKA

    CIBERCULTURAS NO IRC

    Uma pesquisa sobre as ferramentas de comunicao dos anos 90 no Brasil

    BELM

    2011

  • PEDRO CARVALHO HIRAOKA

    CIBERCULTURAS NO IRC

    Uma pesquisa sobre as ferramentas de comunicao dos anos 90 no Brasil

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado banca Examinadora do Curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Estcio do Par, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Bacharel em Comunicao Social, com Habilitao em Publicidade e Propaganda. Orientador: Prof. Msc. Fabrcio Santos de Mattos.

    Belm

    2011

  • Hiraoka, Pedro.

    CIBERCULTURAS NO IRC: Uma pesquisa sobre as ferramentas de

    comunicao dos anos 90 no Brasil. Belm do Par: Estcio/FAP, 2011.

    82 p.

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado banca Examinadora do

    Curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Estcio do Par Estcio

    FAP, como exigncia parcial para obteno do ttulo de Bacharel em

    Comunicao Social, com Habilitao em Publicidade e Propaganda.

    1. Novas Mdias. 2. Cibercultura. 3. IRC. 4. Sociabilidade. 5. Ferramentas

    de Comunicao. I Ttulo.

  • PEDRO CARVALHO HIRAOKA

    CIBERCULTURAS NO IRC

    Uma pesquisa sobre as ferramentas de comunicao dos anos 90 no Brasil

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    como exigncia parcial para obteno do ttulo de

    Bacharel em Comunicao Social com

    Habilitao em Publicidade e Propaganda da

    Faculdade Estcio do Par.

    Aprovado em Dezembro de 2011.

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________________________________________

    Prof. Msc. Fabrcio Santos de Mattos (orientador)

    ESTCIO FAP FACULDADE DO PAR

    ________________________________________________________________________

    Prof. Esp. Pedro Henryque Paes Loureiro de Bragana

    ESTCIO FAP FACULDADE DO PAR

    ________________________________________________________________________

    Prof. Esp. Daniel Luiz de Souza da Silva

    ESTCIO FAP FACULDADE DO PAR

    Belm

  • Este trabalho foi construdo por vrias discusses e muito esforo. Dedico a minha famlia,

    amigos e parceiros que tornaram possvel o desenvolvimento desta pesquisa.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a meus pais, Vnia Carvalho e Natsuo Hiraoka, pelos apoios em vrios momentos.

    A meu orientador Prof. Msc. Fabrcio Mattos, por ter acreditado em mim e no meu tema, proporcionando orientaes fundamentais para aperfeioar este trabalho. Obrigado pelas discusses importantes que foram necessrias para a construo desta pesquisa, alm da pacincia e do incentivo no desenvolvimento deste trabalho.

    Agradecimento especial para meu irmo Rafael, minha irm Nina e minha medrasta Ara, por toda ajuda e energia transmitida.

    Agradeo a minha namorada, Adriana Chagas, por ter ajudado bastante neste trabalho, revisando e discutindo comigo vrios tpicos importantes. Obrigado pelas energias e ensinamentos.

    Agradeo a Profa. Msc. Vivianne Menna, por ter sugerido que eu trabalhasse com o tema do IRC devido eu ter familiaridade com o assunto e por ser um tema nostlgico para muitos.

    Agradeo o Prof. Msc. Brahim Darwich Filho, por ter ajudado nos momentos iniciais deste trabalho, criando a base para o desenvolvimento desse estudo. Obrigado por todo apoio e incentivo.

    Agradeo a minha tia Tunica, que sempre incentivou meus estudos.

    Agradeo novamente a minha me, que por possuir graduao em Cincias Sociais pela UFPA, contribuiu para a formao de boas ideias deste trabalho.

    Aos meus amigos, que se preocuparam e me enviaram boas energias em vrios momentos, Anna, Jero, Bgt, Renan, Igor, Luana, Felipe, Rodolpho, Jorge, Ron, Gabi, Helena, Tatika, Bambo, Dudu, Dnis, Davis, Lili, Piui, Marbeg, Beth, Azeir, Fabinho, Akio, Lion, Barienovisk, Manicoba e outros. Em especial ao meu amigo Tiago Begot, mestre bilogo, que foi fundamental para a construo deste trabalho acadmico e mostrou funes que abriram minha mente no Word, ensinamento hacker que levarei pra minha vida. Ao meu amigo Rodrigo Leo, que ajudou na reviso do meu resumo em ingls.

    A todos os usurios do IRC que aceitaram responder, quase instantaneamente, meu questionrio web.

    A minha banca de defesa do TCC, Prof. Msc. Pedrox e Prof. Msc. Daniel, por terem participado gentilmente e pelas importantes consideraes feitas sobre este trabalho. Obrigado pelas palavras sinceras.

    A todas as pessoas que ajudaram a desenvolver este trabalho, diretamente e indiretamente. A todos que no puderam ajudar, mas pensaram em contribuir, um obrigado tambm, o que vale a inteno.

  • A formao de redes uma prtica humana muito antiga, mas as redes

    ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em redes de informao

    energizadas pela internet.

    Manuel Castells

  • RESUMO

    A partir da dcada de 1990 a cibercultura comea a se estruturar no Brasil. Com o objetivo de aumentar a rede de relacionamentos, aproximar amigos e familiares, as pessoas passam a utilizar ferramentas da Internet colocando as comunidades virtuais em uma dimenso fundamental para o desenvolvimento dessa emergente cultura virtual: a cibercultura. Partindo deste contexto, esta pesquisa objetiva compreender o papel das comunidades virtuais na construo da cibercultura no incio da Era Digital no Brasil, a partir da anlise dos usos do Internet Relay Chat (IRC), ou Conversa Retransmitida pela Internet. Metodologicamente, empreendeu-se um estudo de caso procurando identificar as principais ferramentas de comunicao do Grupo Zero na Internet, buscando comparar suas semelhanas e diferenas, observar os principais usos que os atores envolvidos faziam delas e classificar as principais interaes mediadas por computador do grupo. Quanto tcnica de coleta de dados, o estudo de caso foi realizado a partir de questionrios aplicados aos membros do Grupo Zero e aos demais usurios do IRC. A anlise dos dados permitiu visualizar o perfil dos integrantes do IRC e do Grupo Zero, as principais interaes sociais na rede e suas ferramentas. Desse modo conclumos que o surgimento da cibercultura no IRC serve de estrutura para sociabilizao dos indivduos no ciberespao e estimula as relaes sociais fora da internet, permitindo novos usos da comunicao por meio de computadores. Por fim, a pesquisa conclui que o uso das ferramentas do IRC contribuiu significativamente para a formao da cibercultura da Gerao Y. Palavras-chave: Novas Mdias; Cibercultura; IRC; Sociabilidade; Ferramentas de Comunicao.

  • ABSTRACT

    Since the 1990s the cyberculture begins to take shape in Brazil. With placing the objective to expanding the network of relationships people started to use Internet tools virtual communities in a fundamental dimension to the development of this emerging virtual culture: the cyberculture. Given this context, this study aims to understand the role of virtual communities in construction of cyberculture at the beginning of the digital age in Brazil, from the analysis of the uses of Internet Relay Chat (IRC). Methodologically, was undertaken a case study seeking to identify the main communication tools of the Zero Group on the Internet, comparing its similarities and differences, observing the main uses of the actors involved and classifying the main computer interactions mediated of the group. As to the technique of data collection, the case study was conducted from questionnaires answered by members of the Zero Group and to by users IRC. Data analysis allowed them to visualize the profile of members of the Zero Group, the main social interactions in the network and its tools. Thus we conclude that the emergence of cyberculture in IRC serves as structure for socialization of individuals in cyberspace and stimulates social relations outside the Internet, enabling new uses of computer-mediated communication. Finally it concludes that the use of IRC tools contributed significantly to the formation of the cyberculture of Generation Y. Keywords: New Medias; Cyberculture; IRC; Sociability; Communications Tools.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 NAVEGADORES MAIS UTILIZADOS NA INTERNET, 2008-2011............................30

    Figura 2 PERCENTUAL DE PREFERNCIA DAS REDES SOCIAIS NA INTERNET..............32

    Figura 3 PROGRAMA MIRC..........................................................................................................37

    Figura 4 TELA DO CANAL #BRASIL DA REDE BRASIRC.ORG, 2011....................................42

    Figura 5 CLASSIFICAO DOS ENTREVISTADOS, 2011.........................................................52

    Figura 6 USO DA INTERNET PELOS ENTREVISTADOS, 2011................................................53

    Figura 7 FAIXA ETRIA DOS ENTREVISTADOS, 2011............................................................54

    Figura 8 CLASSIFICAO SEXUAL DOS ENTREVISTADOS, 2011........................................54

    Figura 9 DADOS SOBRE A OCUPAO DOS ENTREVISTADOS NOS ANOS 90, 2011........55

    Figura 10 DADOS SOBRE A EDUCAO ESCOLAR DOS ENTREVISTADOS (ANOS 90)..56

    Figura 11 - DADOS SOBRE A EDUCAO ESCOLAR ATUAL DOS ENTREVISTADOS........56

    Figura 12 DADOS SOBRE OS MOTIVOS QUE LEVARAM O ACESSO AO IRC.....................57

    Figura 13 VOC SE CONSIDERA UM VIRCIADO?, 2011..........................................................58

    Figura 14 DADOS SOBRE O TEMPO DE USO DO IRC, 2011.....................................................59

    Figura 15 DADOS ESCOLARES DOS INTEGRANTES DO GRUPO ZERO (ANOS 90)...........59

    Figura 16 - DADOS ESCOLARES ATUAIS DOS INTEGRANTES DO GRUPO ZERO, 2011......60

    Figura 17 VOC TEM MAIS AMIGOS VIRTUAIS OU REAIS?, 2011........................................61

    Figura 18 DADOS SOBRE INTERAES EM ENCONTRO DO GRUPO ZERO, 2011.............61

    Figura 19 QUAIS ENCONTROS VOC PARTICIPAVA MAIS?.................................................62

    Figura 20 FREQUNCIA DE PARTICIPAO DOS ENTREVISTADOS EM ENCONTROS..63

    Figura 21 DADOS SOBRE A HIERARQUIA NO IRC, 2011.........................................................63

    Figura 22 PRINCIPAIS FERRAMENTAS DE INTERAO DO IRC, 2011................................64

    Figura 23 COMPETNCIAS EM FERRAMENTAS DE COMUNICAO, 2011.......................65

    Figura 24 COMO ESSAS COMPETNCIAS FORAM ALCANADAS, 2011............................66

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ARPA Advanced Research Projects Agency (Agncia de Projetos de Pesquisa Avanados)

    ARPANET Advanced Research Projects Agency Network (Rede da Agncia de Projetos de

    Pesquisa Avanados)

    ASP Active Server Pages (Pginas do Servidor Ativo)

    BBS Bullet Board System (Sistema de Quadro de Avisos)

    CMC Comunicao Mediada por Computador

    CSS Cascading Style Sheets (Folhas de Estilo em Cascata)

    HTML HyperText Markup Language (Linguagem de marcao de hiper texto)

    ICQ I Seek You (Eu procuro voc)

    INTERNET International Network (Rede Internacional)

    IP Internet Protocol (Protocolo de Interconexo)

    IRC Internet Relay Chat (Conversa Retransmitida pela Internet)

    MSN Microsoft Network (A Rede Microsoft)

    PC Personal Computer (Computador Pessoal)

    PHP HyperText Preprocessor (Preprocessador de hiper texto)

    TCP Transmission Control Protocol (Protocolo de Controle de Transmisso)

    TIC Tecnologia da Informao e Comunicao

    WWW World Wide Web (Rede de alcance mundial)

  • SUMRIO

    INTRODUO ...................................................................................................................... 13 CAPTULO 1 INTERNET E A SOCIEDADE CONTEMPORNEA .......................... 19 1.1 Histrico da Internet ............................................................................................... 19 1.1.1 A Infraestrutura do Ciberespao .................................................................... 21 1.2 Cibercultura ............................................................................................................. 24 1.3 O advento das Redes Sociais e os elementos que as estruturam .......................... 25 1.3.1 Atores ................................................................................................................. 26 1.3.2 Interao, relao e laos sociais ..................................................................... 27 1.4 Ferramentas de Comunicao Mediadas por Computador ................................ 28 1.4.1 Correio Eletrnico ............................................................................................ 28 1.4.2 BBS ..................................................................................................................... 29 1.4.3 Bate-papo ........................................................................................................... 29 1.4.4 Navegador ......................................................................................................... 29 1.4.5 Weblog e microblogging .................................................................................... 30 1.4.6 Website de rede social ....................................................................................... 31 CAPTULO 2 REDES SOCIAIS NA INTERNET ........................................................... 33 2.1 Comunidade virtual ................................................................................................. 33 2.2 Comunicao Mediada por Computador .............................................................. 34 2.3 Ciberespao .............................................................................................................. 34 2.4 O IRC ........................................................................................................................ 35 2.4.1 Linguagem no IRC ........................................................................................... 39 2.4.2 As redes do IRC ................................................................................................ 40 2.5 O Grupo Zero ........................................................................................................... 40 2.5.1 A hierarquia virtual e real ............................................................................... 41 2.6 Relaes Sociais ........................................................................................................ 43 2.6.1 IRContros e a formao dos laos sociais ....................................................... 44 2.6.2 Formas de Controle Social ............................................................................... 45 2.6.3 Disputas e conflitos entre grupos .................................................................... 46 2.6.4 Semelhanas e diferenas nas ferramentas das mdias sociais ..................... 46 CAPTULO 3 ANLISE DE RESULTADOS DA PESQUISA ...................................... 52 3.1 Perfil dos usurios do IRC ...................................................................................... 52 3.2 Perfil do Grupo Zero ............................................................................................... 57 3.3 Sociabilidade no IRC ............................................................................................... 60 3.4 Anlise das ferramentas e seus usos ....................................................................... 64 CONCLUSES E SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................ 67 GLOSSRIO .......................................................................................................................... 69 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................. 72 SITES VISITADOS ................................................................................................................ 74

  • 13

    INTRODUO

    A internet tem um papel fundamental na estruturao da comunicao da sociedade

    contempornea. Ela serve de infraestrutura para a construo das redes sociais e estimula

    relaes sociais desta vez mediadas por computador. As novas tecnologias permitiram

    inovaes na forma de se comunicar da sociedade, pois foi com o advento das Tecnologias de

    Informao e Comunicao (doravante apenas TIC), a partir dos anos 90, que houve o

    surgimento das ferramentas de comunicao e a construo da cibercultura no Brasil.

    possvel afirmar que na dcada de noventa a sociedade tinha uma grande demanda por se

    comunicar, inclusive virtualmente1.

    No entanto, nem todos tinham habilidades tcnicas ou mesmo bons motivos para

    aderir nova tecnologia. Foram essas ciberculturas emergentes os pilares estruturais da

    comunicao do final da dcada de 90. Ou seja, trata-se do perodo de aprendizado dessa

    gerao que no nasceu com cultura virtual e acabou estruturando uma cibercultura prpria.

    Minha iniciao na Internet aconteceu por volta dos 14 anos de idade, com a chegada

    do meu primeiro computador pessoal, em meados de 1996. No sabamos bem o que fazer

    com as inovaes tecnolgicas, ento programas que permitiam que outras pessoas se

    comunicassem por meio de computadores comearam a surgir na rede de forma exponencial,

    por esse motivo a utilizao de chats foi bastante natural. Na poca, existiam poucos

    provedores de acesso internet em Belm do Par, minha cidade natal e ambiente das

    interaes analisadas neste trabalho.

    Em meados dos anos 90 os provedores instalavam os seus chamados Kits de Acesso

    nos computadores dos seus clientes, com programas de comunicao que serviam para

    interaes pela internet. O programa popular entre os instalados, era o mIRC, que me

    aprofundarei melhor no decorrer deste trabalho. Minha experincia emprica sobre

    ciberculturas paraenses foi construda no decorrer desses 15 anos, por isso posso afirmar que

    o mIRC foi o palco da maioria das interaes virtuais da dcada de noventa em Belm.

    Participei das interaes do IRC desde o seu incio, vi a rede crescer e presenciei, com

    muito pesar, o seu declnio. A participao nesse ambiente virtual tambm faz parte da minha

    histria pessoal, na qual experimentei vrios tipos de relaes, de conhecer pessoas, de

    estabelecer novos laos, a sensao de liberdade que a Internet dava no seu incio, de fazer 1 O fenmeno do desenvolvimento da Internet configura-se hoje como uma realidade emergente no mundo todo. No Brasil seu crescimento foi exponencial: em 1996, considerado o primeiro ano da Internet no Brasil, o nmero de usurios cresceu de 110 mil em janeiro para mais de 1 milho em dezembro, o que representa um acrscimo superior a 900% (SILVA, 1997, on-line).

  • 14

    amigos verdadeiros, conhecidos, reencontrar os amigos e familiares. Pensando nisso decidi

    aproveitar essas experincias para desenvolver este trabalho. Essa perspectiva necessria

    tambm para a prpria compreenso da pesquisa, pois permite ter uma viso geral do

    ambiente escolhido e da cultura virtual do pesquisador, que se faz importante para delimitar a

    sequncia de apresentao das informaes aqui contidas. Os conceitos abordados so

    parciais, entretanto, fazem parte da minha experincia que, de certa maneira, acredito que

    pode contribuir para as pesquisas de ciberculturas e suas interaes mediadas por

    computadores no Brasil.

    Nesse contexto, esta pesquisa ir desenvolver o tema das relaes sociais na Internet,

    surgidas em Belm do Par no incio da Era Digital no Brasil, a partir do processo de

    interao do Grupo Zero2.

    Nesse sentido, o objeto de estudo do trabalho a construo da cibercultura no incio

    da era digital no Brasil, a partir do Internet Relay Chat. O presente estudo busca colaborar

    com o debate sobre as redes sociais e suas ferramentas de comunicao mediadas por

    computador. Assim, o estudo mapeia as principais relaes sociais virtuais no Estado do Par

    na dcada de noventa tendo como objetivo principal compreender o papel das ciberculturas

    no incio das redes sociais na internet, resgatando suas principais ferramentas de

    comunicao mediadas por computador, a partir do estudo de caso das interaes do

    Grupo Zero na rede IRC.

    Portanto os objetivos especficos desta pesquisa sero:

    Identificar as principais ferramentas de Comunicao Mediadas por Computador e construir o histrico de cada uma delas;

    Comparar semelhanas e diferenas entre as principais ferramentas de Comunicao Mediadas por Computador da dcada de noventa com as atuais;

    Analisar os principais usos que o Grupo Zero fazia dessas ferramentas; Classificar e analisar os tipos de interaes sociais do Grupo Zero.

    A comunidade virtual estudada parte da chamada Gerao Y, tambm conhecida

    como gerao millennials ou Gerao da Internet. Para Kullock (2011, on-line), entende-se

    2 Grupo Zero ou Canal #Zero, fundado em 1998 e que utilizava o Internet Relay Chat (IRC) ou Conversa Retransmitida pela Internet como ferramenta de comunicao digital, em Belm do Par.O grupo em si era formado por vrios usurios do IRC que se conheceram ou eram frequentadores do canal Zero (#Zero) no IRC. No decorrer do segundo captulo ser aprofundada a histria do grupo Zero.

  • 15

    como integrantes da Gerao Y os jovens nascidos entre 1980 e meados de 1990. A

    especialista refora dizendo que essa gerao tem muito acesso inovao e s tendncias a

    partir da possibilidade de busca pela internet. Por esse motivo, para realizar o questionrio,

    fez-se necessria construo de uma metodologia prpria para esta pesquisa, utilizando

    inclusive mecanismos virtuais na aplicao e coleta de dados.

    1.2 Metodologia

    A dcada de noventa foi o ambiente das inovaes da comunicao da cibercultura em

    formao no Brasil. Este trabalho pesquisar os processos sociais iniciais da Era Digital,

    como se davam as comunicaes a partir da formao do Grupo Zero. A inteno identificar

    os principais usos das redes sociais na internet pelo grupo e as principais ferramentas ao longo

    das inovaes das TICs.

    A presente pesquisa pode ser caracterizada, quanto ao seu objetivo geral, como uma

    pesquisa explicativa que utiliza o estudo de caso e tem como tcnica de coleta de dados o

    questionrio respondido virtualmente. possvel delimitar a pesquisa explicativa como um

    tipo de pesquisa que busca compreender e analisar os fenmenos sociais. Segundo a

    classificao proposta por Antnio Carlos Gil, a pesquisa explicativa aquela que:

    Tm como preocupao central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrncia dos fenmenos. Esse o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razo, o porqu das coisas (GIL, 2002, p. 46).

    Assim, pode-se considerar a pesquisa como explicativa, j que entre os seus objetivos

    esto compreender o papel das ciberculturas no incio das redes sociais na internet em um

    perodo determinado (a dcada de 90) no Brasil.

    Nesse contexto, a pesquisa pode ser tipificada como um estudo de caso, pois busca

    analisar em profundidade o fenmeno de emergncia das ciberculturas no Brasil, atravs do

    estudo do Grupo Zero, formado em Belm nos anos 90. Segundo Young (1960, p.269, apud

    GIL, 1996, p. 59) o estudo de caso pode ser definido como:

    Um conjunto de dados que descrevem uma fase ou a totalidade do processo social de uma unidade, em suas vrias relaes internas e nas suas fixaes culturais, quer seja essa unidade uma pessoa, uma famlia, um profissional, uma instituio social, uma comunidade ou uma nao.

  • 16

    A comunidade virtual analisada surgiu em um contexto singular e por elementos

    nicos. Tambm por esse motivo, usaremos a tcnica de estudo de caso neste trabalho, que

    segundo Chizzotti (1995, p. 102) estudo de caso a pesquisa para coleta e registro de dados

    de um ou vrios casos, para organizar um relatrio ordenado e crtico ou avaliar

    analiticamente a experincia com o objetivo de tomar decises ou propor ao

    transformadora. J Yin (2005, p. 24) diz que o referido estudo constitui tcnica apropriada

    para as situaes em que o pesquisador precisa responder s questes como e por que.

    Quanto coleta de dados realizada na pesquisa, fez-se necessria para a aplicao dos

    questionrios on-line, utilizando mecanismos virtuais como os navegadores web.

    Escolhemos o ambiente da Internet, pois pretendemos tornar gil e organizada a coleta

    de dados dos questionrios deste trabalho. Alm disso, como um dos objetivos da pesquisa

    compreender os usos da internet, um questionrio preparado no ambiente virtual demonstra

    tambm o grau de compreenso e uso das ferramentas da Web j no preenchimento dos

    questionrios. Essa tcnica se mostrou muito eficiente em sua aplicao, adquirindo um timo

    tempo de retorno (feedback), cerca de 40% dos questionrios foram respondidos em 24 horas.

    Por isso, utilizamos a metodologia on-line para formular o Questionrio Web.

    Segundo, Dillman (1998), o processo de concepo de questionrios web pode ser dividido

    em muitos aspectos, que vo de decises sobre quais informaes devem aparecer em cada

    tela e quais ferramentas sero utilizadas para isso.

    Dillman (1998) reitera que na hora da produo de questionrio web devemos iniciar

    com uma tela de boas vindas motivacional para contextualizar as respostas e instruir os

    entrevistados sobre o processo de concluso da pesquisa. Para a autora, importante tambm

    fornecer instrues especficas para o entrevistado sobre como ele deve se comportar no

    momento de responder a pesquisa.

    Exibimos na parte superior do questionrio um resumo com um texto que explica

    como funciona o processo de concluso das perguntas. Usamos smbolos grficos para

    demonstrar para o entrevistado em que momento ele est do processo, estimulando a

    permanncia at a concluso do questionrio aplicado.

    As anlises dos dados coletados pelo questionrio web desenvolvido para esta

    pesquisa esto organizadas no decorrer do terceiro captulo deste trabalho, em que so

    apresentados e discutidos os resultados da pesquisa.

    Os dados desta pesquisa foram gerados por 79 questionrios web a partir de 37

    perguntas aplicadas na internet no perodo de 24 de outubro a 05 de novembro de 2011. O

    tempo mdio de concluso dos questionrios pelos entrevistados foi de cinco a quinze

  • 17

    minutos, dado que mostra o timo tempo de feedbacke um timo domnio das ferramentas

    web de preenchimento da pesquisa.

    Para a aplicao do Questionrio Web utilizamos a ferramenta Wufoo3, que permite

    ser acessada por qualquer pessoa e testada gratuitamente por sua pgina oficial na internet.

    Segundo informao oficial da ferramenta, o Wuffo uma aplicao on-line de construo

    de formulrios web. Por isso, utilizando este conceito, pretendemos estudar as interaes

    sociais humanas no ambiente virtual com a mediao do computador.

    Neste sentido, este trabalho procura contribuir no debate sobre o ciberespao, um

    ambiente de interao que torna possvel vrias maneiras e espaos de aprendizagem, onde as

    pessoas podem comunicar, interagir, compartilhar, divulgar informaes, construir novas

    abordagens e novos conhecimentos.

    Este projeto pode contribuir para a compreenso do papel social das TICs para o

    futuro dos usos da internet, suas ferramentas e de suas relaes sociais. Segundo Recuero

    (2009, p. 23), uma rede uma metfora para observar padres de conexo de um grupo

    social, a partir das conexes estabelecidas entre os diversos atores.

    Por esse motivo, a pesquisa ter enfoque nas ciberculturas paraenses, em especfico o

    grupo Zero, fundado em 1996, que utilizava o IRC4 ou conversa retransmitida pela internet

    como ferramenta de comunicao no incio da Era Digital5. Assim, este trabalho aborda

    tambm a questo geracional e como estes atores que passaram pela transio de uma era

    predominantemente analgica e com um contexto miditico mais passivo (ligado recepo

    da televiso e do rdio, por exemplo) para uma era digital, de contexto miditico mais ativo e

    interativo.

    Por fim, importante ressaltar que ser possvel neste texto identificar situaes e

    realidades ainda atuais e, no mesmo momento, perceber na leitura uma obsolescncia, como

    se os fatos fossem muito antigos. possvel, portanto, inferir que a relao entre o novo e o

    antigo, para estes atores sociais, foi profundamente alterada pelo uso que se faz da

    tecnologia. A obsolescncia da Internet mais rpida para aqueles que se apropriam dela.

    3 Endereo oficial do website da ferramenta Wufoo. Disponvel em: . Acesso em: 20 outubro 2011. 4 Internet Relay Chat (IRC) ou Conversa Retransmitida pela Internet um protocolo ou linguagem de comunicao utilizada na Internet. Ele utilizado basicamente como bate-papo (chat) em modo texto e troca de arquivos, permitindo a conversa em grupo ou privada de forma sncrona, ou seja, que se realiza ao mesmo tempo SNCRONO = SIMULTNEO (PRIBERAN, 2011). 5 Era da Informao (tambm conhecida como Era Digital) o nome dado ao perodo que vem aps a Era Industrial, mais especificamente aps a dcada de 1980 embora suas bases tenham comeado no princpio do sculo XX e, particularmente, na dcada de 1970, com invenes tais como o microprocessador, a rede de computadores, a fibra ptica e o computador pessoal.

  • 18

    Esta pesquisa uma busca por situar como houve estas mudanas e o que foi

    fundamental nesse processo de aproximao e apropriao da internet para essa gerao de

    transio.

  • 19

    CAPTULO 1 INTERNET E A SOCIEDADE CONTEMPORNEA

    Os primeiros computadores surgiram na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1945. Por

    muito tempo foram utilizados pelos militares para clculos cientficos, s estatsticas dos

    Estados e das grandes empresas ou para tarefas pesadas de gerenciamento, como, por

    exemplo, as folhas de pagamento do governo (LVY, 1999, p. 31).

    As redes de telecomunicaes e os computadores constituem os alicerces tecnolgicos

    das Comunicaes Mediadas por Computador (doravante apenas CMC). A Rede um

    termo informal para redes de computadores interligadas, utilizando a tecnologia de CMC para

    conectar pessoas.

    Com relao leitura, Lvy (1999, p. 32) diz que as tecnologias digitais surgiram,

    ento, como infraestrutura do ciberespao, novo espao de comunicao, de sociabilidade, de

    organizao e de transao, mas tambm novo mercado da informao e do conhecimento.

    Ainda para Lvy (1999), as tecnologias digitais, em particular a internet, surgiram como

    pilares estruturais do ciberespao criando novos canais de comunicao para as sociedades

    contemporneas.

    O conceito de Sociedade da Informao surgiu com esse novo modelo de comunicao

    interativa. Para Jambeiro (2009, p. 21), as redes interativas de computadores cresceram e

    continuam crescendo em quantidade e extenso, favorecendo a criao de novos canais de

    sociabilidade, de expresso cultural, de participao social e poltica, e de operaes

    econmicas e financeiras.

    Silva (1996, on-line) refora que isto advm da capacidade que as Redes de

    Comunicao Mediada por Computador (RCMC) possuem de imitar/simular essas formas

    tradicionais, alm da ideia elencada acima sobre o ciberespao ser um elemento no

    dissociado da vida real dos usurios, mas algo que McLuhan (1969) chamaria de extenso do

    homem.

    1.1 Histrico da Internet

    A Internet surgiu em 1969, nos Estados Unidos. Sua estruturao aconteceu no

    perodo que se estende da dcada de 60 at a dcada de 80, antes de servir e se popularizar no

    espao acadmico. Segundo Rheingold (1996, p. 91), no decorrer da dcada de 80 as

    universidades passaram a dispor de um poder computacional significativo; todas as pessoas,

  • 20

    j no apenas os estudantes de programao de cincias ou engenharia, comearam a utilizar

    computadores pessoais ligados em rede como parte integrante do seu trabalho intelectual. Em

    sua dissertao, Recuero (2002, p. 16) refora dizendo que por muitos anos a internet foi de

    domnio acadmico, s em 1994 que foi liberada para o uso comercial. (RECUERO, 2002)

    Depois que a Internet comeou a ser comercializada a sua popularizao foi rpida.

    Por esse motivo Recuero afirma que:

    No incio da dcada de 80, a rede comeou a espalhar-se pelo mundo atravs de redes menores, que eram incorporadas, e aperfeioou atravs do desenvolvimento de ferramentas e servios para seu uso, tanto por parte daquelas que utilizavam a Rede, quanto daqueles que eram oficialmente, seus desenvolvedores. (RECUERO, 2002, p. 16).

    De acordo com Recuero (2002, p. 16), redes menores comearam a surgir com

    ferramentas e servios mais adequados para a formao e desenvolvimento de redes digitais

    virtuais, que ligam pessoas e grupos, independente de tempo e espao, conectados pela

    tecnologia da CMC.

    A Internet uma abreviao de International Network, ou seja, Rede Internacional. A

    Rede um conjunto de servidores conectando vrios computadores entre si. O computador de

    um usurio comum conecta em um provedor de acesso a internet, que se conecta a outro

    servidor, de uma forma sincrnica, permitindo que os computadores interconectados se

    comuniquem.

    A criao e o desenvolvimento da Internet uma aventura humana extraordinria. Mostra a

    capacidade das pessoas de transcender as regras institucionais, superar barreiras burocrticas e

    subverter os valores estabelecidos no processo de criao de um novo mundo (CASTELLS,

    2001, p. 23)6.

    A popularizao do computador pessoal e a facilidade de acesso internet consolidou,

    a partir do ano 2000, a cibercultura de massa contempornea. Segundo dados da pesquisa dos

    indicadores-chave das TIC para os pases desenvolvidos e em desenvolvimento e do mundo,

    existiam 394 milhes de usurios de internet no ano 2000 e em 2010 j se passou dos 2

    bilhes de internautas (ANEXO A).

    6 No original La creacin y desarrollo de Internet es una extraordinaria aventura humana. Muestra la capacidad de las personas para trascender las reglas institucionales, superar las barreras burocrticas y subvertir los valores establecidos en el proceso de creacin de un nuevo mundo (CASTELLS, 2001, p. 23).

  • 21

    1.1.1 A Infraestrutura do Ciberespao

    Os elementos essenciais do surgimento das primeiras redes foram criados por

    indivduos que acreditavam, pretendiam e inventaram formas de utilizar o computador para

    ampliar o pensamento e comunicao. A ideia inicial era dar condies para o nmero maior

    de pessoas com o menor custo possvel (RHEINGOLD, 1996, p. 89).

    A primeira rede de computador de longa distncia foi a ARPANET, que entrou em

    funcionamento em 1 de setembro de 1969 (CASTELLS, 1999, p. 82). A Advanced Research

    Projects Agency Network, ou Rede da Agncia de Projetos de Pesquisa Avanada (doravante

    apenas ARPANET), foi financiada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos na

    dcada de 60. A ARPANET inicialmente conectava mquinas da Universidade da Califrnia

    (campus Los Angeles e campus Santa Barbara) e a Universidade de Utah, e foi desenvolvido

    para facilitar a pesquisa nesses sites. Junto ideia de compartilhar dados eletrnicos surgiu a

    ideia de comunicao entre usurios. ARPANET originalmente permitiu dois mtodos de

    comunicao entre os usurios: e-mail e notcias (REID, 1991, on-line)7.

    Nos anos 60 e 70 a Agncia de Projetos de Pesquisa Avanada (ARPA) financiou a

    reformulao do processo de operao dos computadores. Segundo Rheingold (1996, p. 89):

    Com o auxlio de teclados, ecrs, e grficos, os indivduos podiam interagir

    diretamente com os computadores, em vez de se submeterem ao moroso e arcaico

    ritual dos cartes perfurados e das respostas em papel.

    De acordo com Castells (1999, p. 83), a certa altura tornou-se difcil separar a pesquisa

    voltada para fins militares das comunicaes cientficas e das conversas pessoais. Em 1983

    houve uma diviso na rede entre ARPANET, dedicada a fins cientficos, e a MILNET, para

    fins militares. Contudo, todas as redes usavam a ARPANET como espinhal dorsal do sistema

    de comunicao.

    Segundo Castells (1999, p. 83) a rede das redes que se formou durante a dcada de 80

    chamava-se ARPA-INTERNET, depois passou a chamar-se INTERNET.

    7 No original The first of these 'long-haul' networks was the ARPANET, which came into existence in 1969. This project was funded by the Advanced Research Projects Agency, an arm of the United States Department of Defence. ARPANET initially connected machines at the University of California (Los Angeles and Santa Barbara campuses) and the University of Utah, and was intended to facilitate research at those sites. Along the idea of sharing electronic data went the idea of communication between users. ARPANET originally allowed two methods of communication between users - email and news. (REID, 1991).

  • 22

    Tendo-se tornado tecnologicamente obsoleta depois de mais de vinte anos de servios,

    a ARPANET encerrou atividades em 28 de fevereiro de 1990 (CASTELLS, 1999, p. 83).

    O advento da internet mudou o processo de comunicao da sociedade. Entre as

    mudanas, a mais significativa, para este trabalho, a possibilidade de expresso e

    socializao atravs das ferramentas de Comunicao Mediada por Computador (CMC).

    Essas ferramentas permitiram que os atores pudessem interagir e se comunicar com outros

    atores (RECUERO, 2009, p. 24). Para Castells (2003, p. 8), a internet um meio de

    comunicao que permite, pela primeira vez, a comunicao de muitos para muitos, num

    momento escolhido, em escala global.

    Para existir uma comunicao enquanto conectados uns aos outros, os computadores

    precisam ter uma linguagem comum. O idioma ou linguagem de computadores principal na

    rede o protocolo8 TCP/IP, desenvolvido nos anos 70 na ARPA e usado pela primeira vez em

    1983 na ARPANET, segundo Lemos (2002, p. 118). De acordo com Castells (1999, p. 84), o

    protocolo TCP/IP resultante tornou-se o padro de comunicao entre computadores nos EUA

    em 1990. Castells (2003, p. 15) continua afirmando que o TCP/IP o padro segundo o qual

    a Internet continua operando at hoje. De acordo com Ercilia e Graeff (2008, p. 13),

    Esse protocolo uma coleo de instrues que diz aos computadores conectados na internet como as informaes devem ser trocadas para que os outros computadores possam entende-las. como se fosse a lngua falada por todos os computadores que fazem parte da rede.

    At a dcada de 80 a comunicao na Internet acontecia apenas de forma assncrona9

    de e-mails e notcias, ou seja, a comunicao no era simultnea ou sincronizada. Apesar

    disso, encontrar programas que permitiam que dois usurios digitassem diretamente para as

    telas dos outros, de uma forma simultnea, conversando em tempo real, era comum. Este

    mtodo de comunicao , no entanto, bastante limitado, pois, apenas duas pessoas podem

    interagir entre si. Foi em resposta s limitaes dos programas de comunicao sncrona, que

    Jarkko Oikarinen decidiu escrever um programa de computador que permitia que vrios

    utilizadores se comunicassem de forma simultnea atravs da rede. Este projeto ficou

    8 Na cincia da computao, um protocolo uma conveno ou padro que controla e possibilita uma conexo, comunicao ou transferncia de dados entre dois sistemas computacionais. Protocolo de Internet (em ingls: Internet Protocol, ou o acrnimo IP) um protocolo de comunicao usado entre duas ou mais mquinas em rede para encaminhamento dos dados. 9 Que no se realiza ao mesmo tempo. ASSINCRNICO SIMULTNEO (PRIBERAN, 2011).

  • 23

    conhecido como o Internet Relay Chat (doravante apenas IRC), ou Conversa Retransmitida

    pela Internet (REID, 1991)10. Silva (1997, on-line) esclarece que:

    O IRC sigla para Internet Relay Chat (Conversa Retransmitida pela Internet). Foi originalmente escrita por Jarkko Oikarinen em 1988. Desde o seu comeo na Finlndia j tem sido usado em mais de 60 pases pelo mundo. O IRC um sistema de conversa multiusurio, onde as pessoas encontram se em "canais" (salas, locais virtuais, geralmente com um certo tpico de conversao) para conversar em grupos, ou privadamente. Nele no existe restries em relao ao nmero de pessoas que podem participar em uma conversao, ou o nmero de canais que podem ser formados no IRC.

    Essas caractersticas tornaram o IRC um dos protocolos de comunicao mais

    populares da rede. O finlands Jarkko, dentro da Universidade de Oslo, lanou o mIRC, a

    primeira verso do programa cliente original do IRC, em agosto de 1988.

    No perodo da dcada de 80 e o incio dos anos 90, a rede aperfeioada e comeam a

    surgir os servios que do Internet sua feio atual. Segundo Castells (1999, p. 87), um

    novo salto tecnolgico permitiu a difuso da internet na sociedade em geral: a criao de um

    novo aplicativo, a teia mundial (World Wide Web WWW).

    Conforme Castells (1999, p. 88), a inveno da Web11 deu-se em 1990, na Europa, no

    Centre Europen Recherche Nucleaire (CERN) em Genebra, um dos principais centros de

    fsicas do mundo. Com a Web, a Internet se populariza entre os usurios de computador,

    sendo a principal estrutura da comunicao contempornea.

    At esse momento a Web ainda continuava tediosa. Buscando dar uma Web a face

    grfica, rica em meios de comunicao que faltava, Marc Andreessen, estudante universitrio

    do National Center for Supercomputer Application (NCSA) disponibilizou o Mosaic

    gratuitamente na Web em 1993. Mosaic foi o primeiro navegador grfico da Web rodado

    originalmente no sistema operacional Unix, mas que foi desenvolvido para rodar no

    Macintosh e Microsoft Windows posteriormente. Mais tarde Andreessen e sua equipe foram

    convidados por um lendrio empresrio do Vale do Silcio, Jim Clark, a juntos fundarem a

    Netscape Communications Corporation, que produziu e comercializou o primeiro navegador

    10 No original The most heavily used forms of inter-user communication on the Internet are still the asynchronous forms of email and news. On most computers on the Internet synchronous communication is possible using a program that enables two users to type directly to each other's screens, thus having a real-time electronically mediated conversation. This method of communication is, however, fairly limited - only two people can 'talk' to each other at once. It was in response to the limitations of the synchronous communication programs in existence that Jarkko Oikarinen decided to write a computer program that would enable multiple users to engage in synchronous communication across a network. This project was known as Internet Relay Chat. (REID, 1991, on-line).11 A World Wide Web (que em portugus significa, "Rede de alcance mundial"; tambm conhecida como Web e WWW) um sistema de documentos em hipermdia que so interligados e executados na Internet.

  • 24

    digno de confiana e tornou-se um dos principais navegadores da dcada de noventa

    (CASTELLS, 1999, p. 89).

    Aps a Internet ser liberada para o uso comercial em 1994, de acordo com Recuero

    (2002), os usurios que queriam se comunicar uns com os outros, se conectavam por meio da

    linha telefnica nos provedores que os permitiam ter acesso Internet.

    No incio dos anos noventa muitos provedores de servios da Internet construram suas

    prprias redes e estabeleceram suas prprias portas de comunicao em bases comerciais.

    Desde aquela poca, a Internet cresceu rapidamente como uma rede global de redes de

    computadores. Sob estas condies, foi possvel expandir a rede com a adio de novos ns e

    reconfiguraes infinitas da rede para acomodar necessidades de comunicao (CASTELLS,

    2001, p. 26)12.

    Segundo Castells (2001), o espao e o tempo do ciberespao depois das inovaes

    tecnolgicas foram ajustados pela cibercultura em formao, onde a comunicao comeou a

    acontecer de muitos para muitos e a localizao geogrfica por hora foi dispensada.

    Baudrillard (1994, p. 1 apud CARVALHO, 2006 p. 5) aponta que, (...) a acelerao da

    modernidade, da tecnologia, dos acontecimentos e dos meios de comunicao, de todas as

    trocas econmicas, polticas e sexuais - propeliu-nos a uma velocidade de escape, com a

    qual voamos livres da esfera referencial do real e da histria.

    A internet a espinha dorsal da comunicao global mediada por computadores, a

    rede que liga maior parte das redes (CASTELL, 1999, p. 431). A internet deixa de ser uma

    ferramenta apenas de uso dos acadmicos e militares para se transformar em uma verdadeira

    rede internacional.

    1.2 Cibercultura

    A cibercultura o espao social criado pela sociedade contempornea a partir do

    advento das TICS. Lvy (1999, p. 17) conceitua a cibercultura como o conjunto de tcnicas

    (materiais e intelectuais), de prticas, de atitudes, de modos, de pensamento e de valores que

    se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespao. Ainda de acordo com Lvy

    12 No original A principios de los noventa, una serie de proveedores de servicios Internet (Internet Service Providers) construyeron sus propias redes y establecieron pasarelas (gateways) propias con fines comerciales. A partir de ese momento, Internet comenz a desarrollarse rpidamente, como una red global de redes informticas, desarrollo propiciado por el diseo original de ARPANET, basado en una arquitectura descentralizada de varias capas (layers) y protocolos abiertos de comunicacin. En estas condiciones, se pudo ampliar la red gracias a la incorporacin de nuevos nodos e infinitas reconfiguraciones de la misma para ir acomodndola a las necesidades de comunicacin (CASTELLS, 2001, p. 26).

  • 25

    (1999, p. 147) os mundos virtuais podem eventualmente ser enriquecidos e percorridos

    coletivamente. Tornam-se, nesse caso, um lugar de encontro e de meio de comunicao entre

    seus participantes.

    A cultura tecnolgica que envolve a sociedade, a interao entre seus atores e o

    domnio de uma tcnica so caractersticas de uma cultura ciberntica. As relaes mediadas

    por computador difundiram-se a ponto de acreditarmos que a humanidade adquiriu uma nova

    cultura, a cibercultura.

    Segundo Lemos (2002, p. 109), a sociedade contempornea vai aproveitar o potencial

    comunicativo, associativo, ou simplesmente agregador dessa nova tecnologia. Se os radicais

    que criaram os microcomputadores na dcada de 70 propunham a informtica para todos, os

    internautas da dcada de noventa propem a conexo generalizada. A microinformtica, bero

    da cibercultura, surge na sinergia da qual falvamos entre a sociedade e as tecnologias

    digitais.

    Ainda refora Lemos (2002, p. 110) dizendo que a interface grfica e as novas formas

    de interao homem-mquina foram decisivas para a apropriao social dos

    microcomputadores.

    Lemos (2003, p. 11) afirma que "podemos entender a cibercultura como a forma

    sociocultural que emerge da relao simbitica entre a sociedade, a cultura e as novas

    tecnologias de base microeletrnica que surgiram com a convergncia das telecomunicaes

    com a informtica na dcada de 70".

    Castells (2003, p. 7) conclui dizendo que se a tecnologia da informao hoje o que a

    eletricidade foi na Era Industrial, em nossa poca a Internet poderia ser equiparada tanto a

    uma rede eltrica quanto ao motor eltrico, em razo de sua capacidade de distribuir a fora

    da informao por todo o domnio da atividade humana.

    1.3 O advento das Redes Sociais e os elementos que as estruturam

    A partir das inovaes das TICS e o advento das redes sociais na internet que vrias

    comunidades virtuais na dcada de noventa foram fundadas.

    As redes sociais na sociedade contempornea so definidas como agrupamentos

    criados a partir das interaes dos seus atores no ambiente virtual. De acordo com Castells

    (2003, p. 7) uma rede um conjunto de ns interconectados. A formao de redes uma

    prtica humana muito antiga, mas as redes ganharam vida nova em nosso tempo

    transformando-se em redes de informao energizadas pela internet (...).

  • 26

    Uma rede uma metfora para observar os padres de conexo entre os diversos

    atores. Recuero (2009, p. 24) destaca que:

    Uma rede social definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas,

    instituies ou grupos; os ns da rede) e suas conexes (interaes ou laos sociais)

    (Wasserman e Faust, 1994, Degenne e Fors, 1999 apud RECUERO, 2009, p. 24).

    As redes sociais na internet possuem elementos caractersticos, que servem como base

    para as comunicaes (RECUERO, 2009, p. 25). Esses elementos so fundamentais para a

    formao de redes sociais na internet.

    1.3.1 Atores

    Os primeiros elementos das redes sociais so os atores, representados como os ns (ou

    nodos). So pessoas que fazem parte do sistema e atuam de forma a moldar as estruturas

    sociais, atravs da interao e da constituio de laos sociais (RECUERO, 2009, p. 25).

    Ainda para Recuero (2009), por causa do distanciamento entre os envolvidos na interao

    social, principal caracterstica da CMC, os atores no so imediatamente discernveis e por

    isso so constitudos de maneira diferente. Por esse motivo, os atores sociais so analisados a

    partir das suas representaes virtuais, ou com construes identidrias no ciberespao. Ou

    seja, um ator pode ser representado por um nickname, por um weblog13, por um perfil no

    Twitter ou mesmo por um perfil em websites de redes sociais. O perfil uma caracterstica

    importante. Hoje os textos das identidades so muito mais explicativos, o que no existia

    antes.

    Essas construes identidrias no so os atores sociais, mas representaes desses

    atores sociais. So como para Recuero (2009, p. 25), espaos de interao, lugares de fala,

    construdos pelos atores de forma a expressar elementos de sua personalidade ou

    individualidade. A autora refora dizendo que esse o primeiro passo para a formao da

    expresso pessoal ou pessoalizada na Internet. Sibilia e Lemos (2003, 2004 e 2002b apud

    RECUERO, 2009, p. 26), por exemplo, demonstraram como alguns weblog trabalham

    aspectos da construo de si e da narrao do eu. Como isso, podemos dizer que essa

    representao virtual o espao do outro no ciberespao. 13 Weblog ou dirio da Web um site cuja estrutura permite a atualizao rpida a partir de acrscimos dos chamados artigos, ou posts. Estes so, em geral, organizados de forma cronolgica inversa, tendo como foco a temtica proposta do weblog, podendo ser escritos por um nmero varivel de pessoas, de acordo com a poltica do blog.

  • 27

    Assim, entender como os atores constroem esses espaos de expresso tambm

    essencial para compreender como as conexes so estabelecidas.

    Se os atores representam os ns da rede, em termos gerais, as conexes so

    constitudas dos laos sociais formados atravs da interao social entre esses atores. De

    acordo com Recuero (2009, p. 30), essas interaes, na internet, so percebidas graas

    possibilidade de manter os rastros sociais dos indivduos que permanecem ali.

    Um comentrio em um weblog, por exemplo, uma forma de rastro social. Ele

    permanece ali at que algum o apague ou o weblog seja desativado, como acontece na maior

    parte das interaes na mediao do computador.

    1.3.2 Interao, relao e laos sociais

    A interao, as relaes e os laos sociais so os elementos de conexo das redes

    sociais. A interao seria como matria prima das relaes e laos sociais. Recuero (2009)

    explica que a interao depende da reao do outro e h orientao com relao s

    expectativas. Na conversao, por exemplo, onde a ao de um ator social depende da

    percepo do que o outro est dizendo ou transferindo. Ou seja, a interao necessita sempre

    de uma reciprocidade entre os envolvidos.

    A interao social na internet pode dar-se de forma sncrona, como o IRC, ou

    assncrona, como o e-mail. Os canais de chat ou os programas de mensagens instantneas so

    exemplos de ferramentas sincrnicas. O e-mail um exemplo de comunicao assncrona,

    pois a expectativa de resposta no imediata. Ressalta Recuero (2009, p. 36):

    (...) a interao mediada por computador tambm geradora e mantenedora de relaes complexas e de tipos de valores que constroem e mantm as redes sociais na Internet. Mas do que isso, a interao mediada pelo computador geradora de relaes sociais que, por sua vez, vo gerar laos sociais.

    Recuero (2009) explica que essas interaes mediadas por computadores so os laos

    sociais que geram as relaes criadas na Internet. Primo (2011, p. 117) confirma dizendo que

    os relacionamentos so construdos e modificados socialmente atravs das aes recprocas

    dos membros relacionais. Rogers (1998, p. 79 apud PRIMO, 2011, p 117) tambm defende

    afirmando que relacionamentos so definidos como estruturaes sociais emergentes criadas

    conjuntamente pelos membros no processo mutuamente influente, inter-relacionado de

    comunicao.

  • 28

    O ambiente virtual permite interao e compartilhamento de informaes com vrios

    usurios da rede. Nesse sentido, desenvolvedores criaram ferramentas de CMCs e

    compartilharam na Internet como suporte para interaes on-lines, que facilitavam a relao

    dos usurios com a Web e permitiam que laos sociais se formassem.

    1.4 Ferramentas de Comunicao Mediadas por Computador

    As ferramentas de comunicao mediadas por computador so, como para Mcluhan

    (1969), extenses do homem. Sem a mediao humana as ferramentas e a prpria internet

    seriam desnecessrias. As ferramentas de CMC foram inventadas para servirem a vontade dos

    seus utilizadores.

    A tecnologia de comunicao mediada por computador oferece uma alternativa a estas

    comunicaes que usam computadores e redes de telecomunicaes para compor, armazenar,

    entregar suas informaes (REID, 1991, on-line)14. Essas ferramentas de comunicao, ou

    instrumentos comunitrios, so, segundo Lemos (2002, p. 147), (...) instrumentos que

    ajudam a criar formas de agregaes sociais nas redes (...).

    As inovaes tecnolgicas modificaram e modificam as ferramentas de comunicao

    no decorrer dos anos. importante descrever algumas das principais ferramentas de CMC

    para entender sua importncia para a comunicao da sociedade contempornea.

    1.4.1 Correio Eletrnico

    No podemos imaginar um mundo sem o popular e-mail. Ter uma conta de e-mail

    nesse ciberespao se tornou obrigatrio. O fluxo de mensagens pelo correio eletrnico j

    superou o correio tradicional (LEMOS, 2002, p. 147).

    O electronic mail ou correio eletrnico (doravante apenas e-mail) o servio mais

    usado no ciberespao, permitindo a troca de informao escrita (e tambm envio de arquivos,

    imagens, vdeos, softwares etc.) cuja transmisso mais rpida do que o correio tradicional

    (LEMOS, 2002, p. 147).

    Para Lvy (1999, p. 97) cada pessoa ligada a uma rede de computadores pode ter uma

    caixa postal eletrnica identificada por um endereo especial, receber mensagens enviadas por

    14 No original The technology of computer-mediated communication offers an alternative to this. Computer-mediated communications systems (CMCS's) use computers and telecommunications networks to compose, store, deliver and process communication. (REID, 1991, on-line).

  • 29

    seus correspondentes e enviar mensagem a todos aqueles que possuam um endereo

    eletrnico acessvel atravs de sua rede.

    1.4.2 BBS

    Os Bulletin Board System (doravante apenas BBS), ou Sistema de Quadro de Avisos,

    so redes de computadores comunitrias e independentes de uma grande rede telemtica,

    foram criados na dcada de 70, interligando computadores com uma velocidade de

    transferncia da ordem de 100 bits15 por segundo. Ento Lemos (2002, p. 149) refora

    dizendo que os BBSs so redes independentes que unem, pela linha telefnica e atravs de

    um modem, computadores.

    Para Castells (1999, p. 87), os BBSs no precisavam das redes sofisticadas de

    computadores, s de PCs, modems e linha telefnica. Assim, tonaram-se os fruns eletrnicos

    de todos os tipos de interesses e afinidades, criando o que Howard Rheingold chamava de

    comunidades virtuais.

    1.4.3 Bate-papo

    Os chats ou bate-papos, por exemplo, o IRC, so uma tcnica de comunicao que

    permite o dilogo direto, em tempo real, sincrnico, entre usurios.

    A comunicao sncrona modificou o processo de comunicao do ciberespao. Antes,

    na forma assncrona, as informaes chegavam ao receptor em qualquer momento, sem existir

    uma sincronia entre ambos, ou seja, a espera do feedback era dispensvel. Como o caso do

    e-mail, o seu emissor no espera a resposta do receptor logo em seguida do envio da

    mensagem.

    1.4.4 Navegador

    Um navegador ou browser (doravante apenas navegador) um programa que permite

    seus usurios interajam com documentos HTML16 hospedados em um servidor Web.

    15 Bit (simplificao para dgito binrio ou binary digit) a menor unidade de informao que pode ser armazenada ou transmitida. Um bit pode assumir somente 2 valores, por exemplo: 0 ou 1, verdadeiro ou falso. Atualmente a velocidade de transmisso da Internet no Brasil de at 200.000 bits (20 mbps) por segundo. 16 HTML uma linguagem de marcao utilizada para produzir pginas na Web. Documentos HTML podem ser interpretados por navegadores. A tecnologia surgiu da fuso dos padres HyTime e SGML.

  • 30

    Os navegadores mais populares atualmente so: Mozilla Firefox, Google Chrome,

    Internet Explorer, Safari, entre outros (Figura 1).

    Figura 1 NAVEGADORES MAIS UTILIZADOS NA INTERNET, 2008-2011.

    StatCounter Global Stats, 2011.

    O uso de navegadores para facilitar a usabilidade da Internet consolidou o segmento e

    sua aplicao se tornou comum nos computadores mundiais.

    1.4.5 Weblog e microblogging

    Os weblogs17 e os microbloggings18 so uma forma de expresso baseadas nas trocas

    sociais constantes realizadas pela interao social e pela conversao atravs da mediao do

    computador. Essas redes sociais na internet so classificadas como do tipo emergentes por se

    formarem a partir das interaes entre os atores sociais. Segundo RECUERO (2009, p. 94),

    essa forma seria caracterizada pela construo do grupo atravs da interao, por exemplo,

    nos comentrios de um weblog ou Fotolog. Recuero (2009, p.95) diz tambm que uma rede

    s classificada como emergente quando ela constantemente construda e reconstruda 17 Um blog um website cuja estrutura permite a atualizao rpida a partir de acrscimos dos chamados artigos, ou posts. Estes so, em geral, organizados de forma cronolgica inversa, tendo como foco a temtica proposta do blog, podendo ser escritos por um nmero varivel de pessoas, de acordo com a poltica do espao. 18 Micro-blogging uma forma de publicao de blog que permite aos usurios que faam atualizaes breves de texto (geralmente com menos de 200 caracteres) e public-las para que sejam vistas publicamente ou apenas por um grupo restrito escolhido pelo usurio. Estes textos podem ser enviados por uma diversidade de meios tais como SMS, mensageiro instantneo, e-mail, MP3 ou pela Web. O servio de micro-blogging mais popular chama-se Twitter, lanado em 2006.

    Internet Explorer; 40,50%

    Firefox; 25,90%

    Chrome; 25,26%

    Safari; 5,95% Opera; 1,73%

  • 31

    atravs das suas trocas sociais. Essas redes so normalmente de volume menor, pois a

    quantidade de comentrios recprocos concentrada em poucos ns, tanto pelo custo de

    investimento, quanto pelo tempo necessrio para que as trocas sociais aconteam.

    Os sistemas de weblogs e microblogging mais populares atualmente so: Twitter,

    Wordpress, Blogger e outros (Figura 1).

    Segundo Recuero (2009, p. 95), essas redes so mantidas pelo interesse dos atores em

    fazer amigos e dividir suporte social, confiana e reciprocidade.

    Alguns sistemas de criao e edio de blogs dispensam o conhecimento de HTML

    disponibilizando ferramentas prprias para publicao e interao com seus visitantes. A

    construo desses laos de certa forma estabelecida pelo tempo disponvel do criador do

    weblog para as interaes.

    1.4.6 Website de rede social

    Os websites de redes sociais so classificados como softwares sociais, que seriam

    softwares com aplicao direta para a comunicao mediada por computador.

    Os sistemas de redes sociais baseados nos navegadores, conhecidos como websites de

    redes sociais, so ferramentas que identificam seus usurios pelos seus perfis. O acesso a esse

    tipo de sistema normalmente possvel com um login e senha que so vinculados ao perfil

    (RECUERO, 2009, p. 28).

    As interaes pblicas que aconteciam no IRC foram substitudas por interaes

    privativas, que seus atores para se relacionarem com pessoas, moderam o acesso das suas

    informaes compartilhadas. Os perfis exibem as informaes que o usurio pretende

    compartilhar e permite o ajuste da profundidade da interao que eles procuram nessas redes.

    Esses ajustes so chamados de opes de privacidade, item fundamental para a segurana dos

    usos dessas ferramentas pela sociedade contempornea.

    O surgimento de ferramentas mais especializadas para interaes sociais na internet

    permitiu que formas mais complexa de expresso dos atores emergissem. Segundo Recuero

    (2009. p. 29), um perfil no Orkut, por exemplo, mais complexo em termos de representao

    do que um nickname no IRC.

    O website de rede social mais popular da Internet atualmente o Facebook, seguido

    do Twitter, Youtube e outros (Figura 2).

  • 32

    Figura 2 PERCENTUAL DE PREFERNCIA DAS REDES SOCIAIS NA INTERNET, 2009-2011.

    StatCounter Global Stats, 2011.

    O surgimento da Internet trouxe diversas inovaes para a sociedade. A mais

    significativa para este trabalho foi a adaptao rpida desses atores com essa tecnologia que

    possibilitou a interao entre ferramentas e pessoas no ambiente virtual, permitindo assim,

    que relacionamentos slidos fossem criados e mantidos.

    A infraestrutura que permitiu o surgimento da Internet, a formao da cibercultura, os

    elementos que estruturam as redes sociais e suas ferramentas, so fundamentais para o

    entendimento geral do propsito deste trabalho assim como ajuda a contextualizar as

    interaes demonstradas nos prximos captulos.

  • 33

    CAPTULO 2 REDES SOCIAIS NA INTERNET

    Muitos autores ressaltam a importncia da comunicao mediada por computador e

    como ela est afetando a sociedade e a vida das pessoas. A CMC modificou o espao e o

    tempo da comunicao contempornea e alterou as relaes entre as vrias partes da

    sociedade, transformando a ideia de comunidade. Por isso, muitos autores definem as novas

    comunidades, criadas inseridas nas CMC por comunidades virtuais (REID, 1991,

    RHEINGOLD, 1996, LVY, 1999, CASTELLS, 1999, JOHNSON, 2001, LEMOS, 2002,

    RECUERO, 2009, entre outros).

    Para Recuero (2009, p. 24) a principal mudana da sociedade contempornea a

    possibilidade de expresso e sociabilizao atravs das ferramentas de Comunicao Mediada

    pelo Computador (CMC).

    2.1 Comunidade virtual

    Comunidade virtual o termo utilizado para os agrupamentos humanos que surgem

    no ciberespao, atravs da comunicao mediada por computador. De acordo com Rheingold

    (1996, p.18 apud RECUERO, 2009, p. 137), um dos primeiros autores a utilizar o termo

    comunidade virtual, define-a como os agregados sociais surgidos na rede, quando os

    intervenientes de um debate o levam por diante em nmero e sentimento suficientes para

    formarem teias de relaes pessoais no ciberespao.

    Para Rheingold (1996), as comunidades virtuais so os agrupamentos de usurios

    surgidos na internet, utilizando dos laos sociais criados no ciberespao para constituir suas

    relaes sociais virtuais.

    Para se formar uma comunidade virtual so necessrios elementos principais, como as

    discusses pblicas, o tempo das interaes e o sentimento agregador. Esses elementos,

    combinados no ambiente do ciberespao, podem ser formadores de redes de relacionamentos

    (redes sociais) na internet, constituindo-se em comunidades virtuais (RHEINGOLD, 1995).

  • 34

    2.2 Comunicao Mediada por Computador

    A Comunicao Mediada por Computador (daqui por diante referida como CMC) a

    forma que permite os computadores interagirem entre si utilizando a internet como canal de

    comunicao.

    De acordo com Reid (1991, on-line apud RECUERO, 2002, p. 14), a Comunicao

    Mediada por Computador represente uma grande quebra de paradigma da comunicao

    contempornea:

    Apesar das inovaes recentes do rdio e das telecomunicaes, tericos da comunicao e da linguagem fazer uma profunda distino entre a palavra escrita e a falada. Esta distino baseada na percepo de tempo e espao, no caso de comunicao falada, e na distncia, no caso da comunicao escrita.19

    Para Reid (1991, on-line) o paradigma da linguagem oral a proximidade fsica entre

    seus interlocutores. Na viso de Reid (1991), o telefone e as cartas so elementos apenas

    complementares da comunicao face-a-face. Ainda para Reid (1991), o contato pessoal

    uma parte essencial da comunicao entre as pessoas e do estabelecimento das relaes dela

    derivadas (RECUERO, 2002, p. 15).

    A CMC oferece uma alternativa a essa prerrogativa. O rompimento da barreira de

    espao e de tempo da comunicao, oral e escrita, formou um novo tipo, hbrido, de

    comunicao. Os bate-papos so um exemplo dessa hibridizao, como demostraremos neste

    trabalho.

    2.3 Ciberespao

    O ciberespao o espao onde acontecem as interaes que originaro a comunidade

    virtual. O espao virtual constituiu-se como um novo espao de sociabilidade (RECUERO,

    2002, p. 17). Segundo Rheingold (1993, on-line) computadores, modems, e redes de

    comunicao fornecem a infraestrutura tecnolgica da CMC. O ciberespao o espao

    conceitual onde as palavras e as relaes humanas, dados, prosperidade e poder so

    manifestados pelas pessoas usando a tecnologia da CMC.20

    19 No original Despite the recent innovations of radio and telecommunications, communication and language theorists make a sharp distinction between the spoken and the written word.(REID, 1991). 20 No original Computers, modems, and communication networks furnish the technological infrastructure of computer-mediated communication (CMC); cyberspace is the conceptual space where words and human

  • 35

    De acordo com Lvy (1999, p. 94) o ciberespao definido como o espao de

    comunicao aberto pela interconexo mundial dos computadores e das memrias dos

    computadores. Ainda para Lvy (1999, p. 17) o termo ciberespao especifica no apenas a

    infraestrutura material da comunicao digital, mas tambm o universo ocenico de

    informaes que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse

    universo.

    Os conceitos de Lvy e Rheingold colocaram o ciberespao como um lugar de

    circulao de informao, um espao de comunicao mediada por computador. Essas ideias

    so fundamentais para os estudos de redes sociais na internet, uma vez que as comunidades

    virtuais, por surgirem no ciberespao, funcionam como um aglomerado de informaes, uma

    grande quantidade de trocas comunicativas individuais (RECUERO, 2002, p. 20).

    A ideia de Lemos (2002, p. 127) para ciberespao como um conjunto de redes de

    telecomunicaes criadas com o processo digital de circulao das informaes.

    O termo ciberespao foi inventado pelo escritor de fico cientifica William Gibson no

    seu livro titulado como Neuromancer, um clssico cyberpunk. Editado em 1984, o livro fala

    do futuro, que uma rede internacional, a Matrix, que o ambiente de interao dos homens e

    programas de computador. Gibson (1984) refora dizendo que o ciberespao um ambiente

    no fsico ou territorial, composto por um conjunto de redes de computadores atravs das

    quais todas as informaes circulam (LEMOS, 2002, p. 127).

    2.4 O IRC

    O Internet Relay Chat (doravante apenas IRC) ou Conversa Retransmitida pela

    Internet um conjunto de espaos de sociabilidade na contemporaneidade, onde o tempo e o

    espao no so fundamentais, onde a identidade no obrigatria, lugar de interaes no

    ambiente virtual. De acordo com Recuero (2009, p. 177), o IRC foi um dos protocolos de

    comunicao mais populares da rede na dcada de 90.

    Foi em 1988 que Jarkko Oikarinen, dentro da Universidade de Oslo, escreveu o

    programa original do IRC, uma ferramenta multiusurio de comunicao em tempo real, em

    modo sncrono, desenvolvida para trabalhar usando a internet (RHEINGBOLD, 1996, p. 222).

    Segundo Rheingold (1996, p. 222-223), o primeiro teste do programa foi efetuado com

    uma comunidade local de vinte utilizadores, sendo instalado a seguir progressivamente em

    relationships, data and wealth and power are manifested by people using CMC technology. (RHEINGOLD, 1993, on-line).

  • 36

    toda a rede finlandesa e, por fim, na parte escandinava da Internet. O IRC tanto o software

    propriamente dito como a sua fama comeou a propagar-se por toda a Internet em finais de

    1988. No incio da dcada de noventa existiam j centenas de canais e milhares de indivduos

    a conversar atravs da rede, vinte e quatro horas por dia. Para Lemos (2002, p. 151), os

    usurios do IRC seguem regras, rituais e estilos de comunicao que os constituem como uma

    verdadeira cultura, um fenmeno social inegvel.

    A ideia de canais no IRC tornou possvel que as pessoas interagissem a discusses

    especficas, dentro de canais especficos. As discusses atravs do IRC fazem uso do conceito

    de trilha de conversao (canais, chats, sala de bate-papo, etc.), onde mensagens aparecem nas

    telas dos computadores dos usurios conectados nas redes do IRC de forma sncrona. De

    acordo com Recuero (2009, p. 177), por se tratar de um servio que permite uma

    comunicao simultnea entre dois ou mais usurios independentemente da localizao

    geogrfica, o IRC, criado por Oikarinen, se popularizou na maioria dos computadores

    pessoais da poca com internet, proveniente do Kit de Acesso21 distribudo pelos provedores

    de acesso e os downloads do seu programa no site oficial.

    Ao longo dos anos noventa muitos servidores22 de IRC surgiram com o conceito de

    agrupar usurios buscando se comunicar no ciberespao, os principais servidores de IRC so:

    BrasIRC, BrasNET, Efnet, entre outros. Os servidores permitem a qualquer pessoa que

    controle um computador com linha telefnica e modem, acesso a rede. A diviso de redes se

    dava por seus interesses e interessados, as regras estabelecidas em cada servidor limitavam os

    seus utilizadores. Por volta de 1995 foram fundadas por usurios brasileiros os primeiros

    servidores de IRC, criando a infraestrutura para as ciberculturas em formao.

    No final dos anos 1990 e incio dos anos 2000, o IRC ficou to popular que se tornou

    o principal meio de bate-papo da internet, conectando milhares de usurios diariamente.

    Existiram tentativas de se criar o mesmo sistema em Java, mas sua capacidade de

    gerenciamento e a forma como os usurios interagiam mostrava o IRC como insupervel.

    O IRC no foi especificamente projetado para um ambiente de negcios, usa utilidade

    decidida por aqueles que o usam (REID, 1991, on-line)23. As discusses que se formam no

    ciberespao so criadas de maneiras variadas. Basta procurar o tema de interesse e acessar o

    seu canal especializado. De acordo com Rheingold (1996, p. 221), as milhares de pessoas

    21 Kit de Acesso internet era um composto pr-instalado pelos provedores autorizados contendo as principais ferramentas de acesso comunicao digital da poca. 22 Em informtica, um servidor um sistema de computao que fornece servios a uma rede de computadores. 23 No original IRC was not specifically designed for a business environment - the use to which it is put is entirely decided by those who use it. (REID, 1991, on-line)

  • 37

    conectadas simultaneamente no IRC ou em um determinado canal, distribuem uma

    diversidade de tpicos do erudito ao obsceno.

    O cliente24 de IRC mais popular o mIRC, sendo amplamente utilizado por ser

    simples de manipular e tem uma interface fcil para iniciantes, sendo de fcil aprendizado

    pelas mentes jovens da dcada de noventa.

    Figura 3 PROGRAMA MIRC.

    Elaborao do autor.

    Por ter suporte linguagem de scripts25, o mIRC permite que programadores criem

    variaes do software26. Existem variaes j traduzidas para o portugus e com recursos que

    visam facilitar o uso dos usurios brasileiros. Por sua facilidade, surgiram tambm muitos

    jogos em canais do IRC, de enquetes e jogo da forca via texto, mais uma forma de

    entretenimento e interao.

    24 Um Cliente de IRC um programa responsvel por ligar um computador cliente a um servidor de IRC, permitindo assim que o utilizador possa usar facilmente o protocolo IRC. O mais conhecido cliente de IRC o mIRC. 25 Linguagem de script (tambm conhecido como linguagem de scripting, ou linguagem de extenso) so linguagens de programao executadas do interior de programas e/ou de outras linguagens de programao, no se restringindo a esses ambientes. 26 O Software uma aplicao, um programa do computador, que permite executar uma determinada tarefa.

  • 38

    Seu pice se deu no Brasil por volta de 2001, onde suas redes concorrentes, BrasIRC e

    BrasNET, j superavam-se com recorde de usurios conectados ativos.

    Sua decadncia se deu por volta de 2003, quando os Mensageiros Instantneos (IMs)

    j eram comuns nos computadores dos usurios da internet, permitindo conversas particulares,

    entre outros recursos que o IRC no suportava. O Messenger (doravante apenas MSN), cliente

    de comunicaes da Microsoft, foi o concorrente direto do IRC, pois permitia

    videoconferncias via webcams e voz, integrando automaticamente o e-mail do Hotmail,

    games do portal MSN e grupos de sala de bate-papos com recursos mais inovadores.

    Com o lanamento da ferramenta de rede social Orkut, o IRC foi perdendo adeptos por

    todo o mundo, enfraquecendo os servidores de IRC brasileiros. A partir disso, o Orkut veio

    com um novo conceito, perfis audiovisuais, que permitia que seus utilizadores se renussem

    em comunidades de interesses particulares e acesso totalmente via Web, sem necessitar de um

    cliente instalado em cada computador. O surgimento do MSN somado com o do Orkut findou

    a Era IRC no Brasil e desde 2004 seu uso se faz por especialistas, empresas que trabalham

    com ambientes de cdigo aberto, servidores com poucos usurios etc.

    J no exterior, os maiores concorrentes diretos do IRC foram os fruns baseados na

    linguagem de programao PHP, apesar do IRC atualmente ter relevncia em outros pases.

    Os usurios trocavam informaes nos fruns via web e batiam papo via Messenger27. O

    mIRC passa a ser uma ferramenta ultrapassada de comunicao digital. Atualmente o IRC

    detm milhares de redes ativas por todo mundo. O uso do IRC se restringiu a fins mais

    especficos, como os canais de IRC que realizam transferncia de arquivos entre usurios,

    semelhantes ao conceito do peer-to-peer28. Muitas variaes do sistema operacional Linux29

    utilizam o IRC para dar suporte aos seus consumidores, como a Ubuntu, RedHat, Debian,

    Slackware, Fedora, etc.

    O IRC foi desenvolvido para facilitar a comunicao da Gerao Y em formao.

    Apesar de criado no incio da Era Digital como instrumento facilitador, o IRC era to

    completo como ferramentas de comunicao que se mostrava muito tcnico em alguns

    aspectos, com isso, seu uso total, de certa forma, era impossvel e desnecessrio. Ercilia e

    Graeff (2008, p. 62) reforam dizendo que o IRC o tipo de bate-papo mais antigo da

    Internet.

    27 MSN Messenger um programa de mensagens instantneas criadas pela Microsoft Corporation. 28 Peer-to-Peer (do ingls: par-a-par), entre pares (ponto a ponto), a troca de informaes entre dois pontos. 29 Linux um sistema operacional, programa responsvel pelo funcionamento do computador, que faz a comunicao entre hardware (impressora, monitor, mouse, teclado) e software (aplicativos em geral).

  • 39

    Hoje, a maior rede de IRC do mundo, em volume de usurios, a Quakenet, seguida

    pela IRCNet, Undernet, EFnet e Freenode segundos dados de servios de estatsticas30 de

    servidores. A Freenode, por exemplo, foi criada para abrigar projetos de software livre. Existe

    mais de meio milho de usurios ativos de IRC no mundo atualmente, nmero relevante, por

    se tratar, na sua maioria, de esforos privados. Todos estes dados foram retirados no endereo

    eletrnico http://irc.netsplit.de/networks/.

    2.4.1 Linguagem no IRC

    Os usurios do IRC possuem uma cultura prpria, com vrios tipos de formas para

    aperfeioar a comunicao e evitar falhas de interpretao no decorrer da conversa. Como a

    comunicao do IRC acontece em tempo real, igual uma conversa cara-a-cara, todos os

    participantes procuram passar a mensagem de forma compacta usando o menor volume de

    caracteres.

    De acordo com Primo (2011, p. 123) a recorrncia de eventos, portanto, contribui

    para a sincronia interativa. Isso lembra aqueles grupos de parceiros em um canal de IRC que

    por interagirem com muita frequncia j desenvolveram um linguajar todo prprio. Essa

    afirmao demonstra como era alta a sincronia dos integrantes do grupo que foi desenvolvida

    atravs da frequncia de encontros na rede IRC.

    A CMC transforma os bate-papos em laboratrios de desenvolvimento de linguagem,

    simbologia e significao da internet. Isso porque ali a linguagem precisa ser dinmica para

    que a comunicao se efetue com sucesso, pois o bate-papo simula uma conversao real,

    simultnea (RECUERO, on-line).

    O IRC, protocolo de comunicao analisado aqui neste trabalho, possibilita um

    sistema de comunicao sncrono, onde permitido conversar em de modo pblico ou

    privado, com uma ou vrias pessoas, em determinados canais.

    30 Ranking dos principais servidores do IRC ordenados pelo nmero de usurios. Disponvel em: . Acesso em: 08 novembro 2011, 00:41:23.

  • 40

    2.4.2 As Redes do IRC

    O Brasil possui redes de IRC31. Redes de IRC so aglomeradas de pequenas redes

    interligadas entre si para formar uma rede maior e completa. Pode-se dizer que as redes so os

    ambientes bsicos das interaes dos usurios, pois elas permitem que vrios usurios se

    comuniquem, sem a necessidade de se conectar atravs do mesmo servidor. Em 1996, o IRC

    surgiu no Brasil com trs redes distintas: a BrasIRC, a BRASnet e a RedeBrasil.

    A cibercultura formada no ambiente do IRC serviu de base para os agrupamentos de

    pessoas na internet. Essa cibercultura ou cultura da internet, como esclarece Castells (2003),

    possibilitou a capacidade de interao por redes sociais de todos os tipos e levou formao

    de comunidades on-line que reinventaram a sociedade e, nesse processo, expandiram

    espetacularmente a comunicao mediada por computadores em seu alcance e em seus usos.

    Esses usurios pioneiros da Internet utilizaram a rede para suas vidas pessoais, em vez

    de praticar a tecnologia pela tecnologia, isso acontece por que essa gerao adotou valores

    tecnolgicos, e se apoiaram em uma crena hacker no valor da liberdade, na comunicao

    mediada por comutador e na conexo interativa (CASTELLS, 2003, p. 53).

    No incio do sculo XXI o IRC era o meio de comunicao mediado por computador

    mais popular da rede. Em 2001 as redes do IRC estavam funcionando com fora total,

    usurios conectavam para interagir diariamente. Os problemas comearam com as constantes

    falhas dos servidores (netsplits), normalmente por conta de ataques hackers, os usurios

    acabavam solitrios e perdidos no canal. Procurando por uma soluo os usurios do IRC

    comearam a usar o MSN para descobrir informaes dos servidores do IRC. No incio, essa

    era a funo do mensageiro instantneo, dar suporte para as redes do IRC basicamente. Com o

    passar do tempo, a facilidade do MSN aliada a segurana aumentou a popularidade dos

    mensageiros instantneos.

    2.5 O Grupo Zero

    A formao de agrupamentos de pessoas no ciberespao depende, basicamente, de

    ferramentas que facilitem a comunicao e o interesse por se comunicar. O Grupo Zero ou

    Canal #Zero, fundado na dcada de noventa que utilizava o IRC como ferramenta de

    comunicao digital, em Belm do Par.

    31Segundo dados do site SearchIRC as redes do Brasil so as maiores da Amrica do Sul.

  • 41

    A dcada de 90 foi marcada pelas inovaes tecnolgicas das mdias e os usos dados

    para as novas ferramentas. Em 1995 foi lanado um filme titulado Hackers - Piratas de

    Computador, onde um adolescente conhecido como Zero Cool (Jonny Lee Miller) uma

    lenda entre os hackers, pois com apenas 11 anos ele inutilizou 1507 computadores em Wall

    Street. Influenciado por esse ambiente de liberdade e acesso a tecnologia o conceito do Zero

    foi criado. ramos como hackers atrs das telas dos computadores nos comunicando com

    outras telas por todo o mundo apenas usando a linha telefnica.

    Fazamos o uso do nickname ZeroCool, porm esse uso era muito requisitado na rede

    por vrios usurios, no permitindo existir um identidade slida. A busca por um codinome

    singular levou o criador do grupo Zero ao nickname ZeroNinja. O filme Hackers foi

    bastante popular, deixando uma legio de utilizadores do seu nickname, onde permitiu

    identificar outras variaes do codinome ZeroCool na rede.

    A ideia de formar um grupo nasceu quando cursvamos o primeiro ano do ensino

    mdio. Dentro de uma sala de aula foram apresentados dois Zeros, que at ento no eram

    de nem um grupo especfico: ZeroNinja (este pesquisador) e ZeroDegree. Inicialmente o

    grupo Zero foi formado por estudantes em busca de contato com familiares e/ou amigos.

    Nesse perodo, a forma de comunicao mais popular era a televiso, seguido do celular e a

    novidade: a internet.

    A rede permitiu que vrios laos fossem estabelecidos. O encontro de jovens na

    Internet ficou popular criando vrios grupos, o Zero um desses grupos criados nos beros da

    cibercultura emergente. O Grupo Zero foi fundado pelos usurios ZeroNinja, ZeroDegree e

    ZeroKos. O canal tinha como masters e usurios operadores como o ZeroVodka,

    ZeroSamuray, ZeroRenatinha, ZeroAnnaCarla, ZeroBambole e outros, que tinham a funo

    de manter a ordem no canal e organizar os encontros de usurios. Com isso surgiu os Zeros

    na rede do IRC.

    Com o surgimento do grupo se tornou fundamental ter um ambiente prprio criando a

    necessidade de se registrar um canal na rede IRC. O canal criado foi o #Zero. Utilizando os

    cdigos do IRC para entrar em um canal, digita-se /join #Zero. Esse canal do IRC se tornou

    o ambiente das interaes virtuais do Grupo Zero.

    2.5.1 A hierarquia virtual e real

    As hierarquias nos canais do IRC so uma forma de controle das atividades dos canais

    e seus utilizadores. As categorias hierrquicas do IRC so:

  • 42

    a) Usurios Proprietrios So os usurios que criaram o canal ou recebeu o

    status de outro usurio. Neles detm todos os poderes para fazer qualquer coisa no canal que

    ele fundador, ou founder, como conhecido no IRC.

    b) Usurios Operadores Os operadores ou apenas OP, so os usurios que

    tem funes delegadas pelos fundadores dos canais. Seu status representado por um sinal

    @ no lado esquerdo do nick. Esses usurios possuem privilgios para manter a ordem no

    canal, podendo kickar e banir usurios do canal, transferir status temporrios de operador,

    trocar o tpico de canal e outros.

    c) Usurios Comuns Todos os utilizadores do canal que no so destacados

    com algum smbolo no nick, so considerados usurios comuns. Eles no possuem privilgios

    dentro do canal, se limitando s interaes sociais e no gerenciais.

    d) Usurios com Voice O voice ou voz no tem qualquer privilgio gerencial

    dentro dos canais do IRC e representado por um sinal de + ao lado esquerdo do nick. Esse

    sinal indica quais usurios esto interagindo mais no canal, quando o usurio recebe esse

    status de um operador o mesmo considerado como um usurio ativo.

    De acordo com Reid (1991, on-line apud RHEINGOLD, 1996, p. 225), verificou-se

    que os usurios operadores (OPS), que administram canais, e os IRCops da rede IRC,

    responsveis pela continuidade do servio na Rede, possuem poderes especiais que permitem

    executar aes com os outros usurios.

    Figura 4 TELA DO CANAL #BRASIL DA REDE BRASIRC.ORG, 2011.

    Elaborado pelo autor.

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    Estando conectadas em uma determinada rede, antes de entrar nas salas, as pessoas

    devem escolher um nickname atravs do qual interagiro com as demais pessoas da rede.

    Tambm se deve escolher um canal dentre os vrios que j existem, como tambm o sistema

    permite criar seus prprios canais. As conversas so mediadas por operadores, que podem

    expulsar as pessoas que estejam incomodando a conversao alheia. Os operadores so

    escolhidos pelos masters ou os proprietrios de cada canal em funo do seu comportamento

    e conhecimento tcnico. (SILVA, 1997, on-line).

    Segundo Recuero (2002), ainda existem duas categorias de usurios do IRC que detm

    na rede privilgios globais que abrange um universo maior que um canal. O IRCop, que se

    define em um usurio que tem a funo de manter a paz na rede do IRC. Seus poderes vos

    alm do ambiente e usurios dos canais. Um usurio com privilgio de IRCop pode banir um

    usurio comum do servidor e no apenas de um canal especfico. O Administrador de Rede,

    ou NetAdmin, o usurio que detm o maior nvel na rede do IRC. normalmente o fundador

    da rede.

    2.6 Relaes Sociais

    A existncia de laos entre os usurios do IRC evidenciada quando algum entra em

    um canal e sada e imediatamente saudado por seus conhecidos. Outra forma de evidenciar

    as relaes dos usurios observando os encontros off-lines de usurios do IRC.

    Ao lado da convivncia virtual, em muitos canais h regularmente IRContros, isto ,

    reunies de usurios, em churrascos, na sada de colgios ou na casa de algum dos

    frequentadores, onde todos se encontram e se conhecem pessoalmente. Dessa forma, as

    relaes iniciadas no ciberespao podem se consolidar na vida real. (SILVA, 1997, on-line).

    Os encontros de usurio do IRC so relaes permanentes e fundamentais no ambiente