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35 Rev. paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.3, p.35-54, 2000 CDD. 20.ed. 152.3 DESENVOLVIMENTO MOTOR: PADRÕES EM MUDANÇA, COMPLEXIDADE CRESCENTE Edison de Jesus MANOEL * RESUMO O presente ensaio visa discutir a natureza do desenvolvimento motor considerando que em todo sistema desenvolvimentista há dois aspectos que necessitam ser explicados: permanência e mudança. A identificação de seqüências de desenvolvimento pode dirigir a atenção do pesquisador para a permanência. Em que pese a importância desse aspecto, ele é insuficiente para explicar a mudança que ocorre num dado estado do sistema. Transições foram negligenciadas, com freqüência, no estudo de desenvolvimento motor. Quando foram objeto de atenção, elas foram tratadas de forma linear e finita com mudanças de um estado imaturo para um estado maduro e final. Transições ocorrem em estados estáveis e de forma contínua. Assim a estabilidade é relativa, sendo caracterizada por estados dependentes do tempo, ou seja, neles convivem ordem e desordem, imaturidade e maturidade, variabilidade e consistência. Será argumentado que a noção de ordem hierárquica é fundamental para abordar a dinâmica do desenvolvimento motor. O conceito de restrição (“constraint”) será discutido com referência a seu papel no desenvolvimento. Entre os vários elementos do sistema, a intenção será apresentada como uma restrição essencial na formação de padrões. As idéias apresentadas serão ilustradas com resultados de pesquisa sobre o desenvolvimento de habilidades motoras manuais em situações naturais e experimentais. UNITERMOS: Desenvolvimento motor; Habilidade motora, comportamento motor. INTRODUÇÃO * Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. O estudo do desenvolvimento motor ganhou grande interesse a partir dos anos 70 com a publicação do livro Mechanisms of motor skill development (Connolly, 1970a). Como é colocado por Clark & Whitall (1989), esse trabalho inaugura a chamada etapa Orientada ao Processo na evolução da área. Nessa etapa, os pesquisadores voltaram-se para a identificação dos possíveis mecanismos subjacentes às mudanças no desenvolvimento. Connolly (1970b) resume essa transição assim: o estudo do desenvolvimento motor esteve sempre voltado para as questões “o que muda ?” e “quando muda?”, entretanto, agora é preciso perguntar “como muda?”. Essas colocações levaram a contraposições entre produto e processo, descrição e explicação no estudo do desenvolvimento motor. Nelas residia o perigo de uma vez mais se criarem novas dicotomias que obscurecem o entendimento do fenômeno ao invés de desvelá-lo. Hinde (1970) em comentário à colocação de Connolly, manifestava essa preocupação. Hinde argumentava que a Etologia é um exemplo de uma área na qual descrição e explicação sempre caminharam juntas. Num certo sentido, a distinção entre elas, como reconheceu Connolly (1970b), é apenas relativa. A observação é guiada por um modelo da realidade que seleciona o que vai ser descrito e o que não vai.

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DESENVOLVIMENTO MOTOR:PADRÕES EM M UDANÇA, COMPLEXIDADE CRESCENTE

Edison de Jesus MANOEL*

RESUMO

O presente ensaio visa discutir a natureza do desenvolvimento motor considerando que emtodo sistema desenvolvimentista há dois aspectos que necessitam ser expli cados: permanência e mudança. Aidentificação de seqüências de desenvolvimento pode dirigir a atenção do pesquisador para a permanência.Em que pese a importância desse aspecto, ele é insuficiente para explicar a mudança que ocorre num dadoestado do sistema. Transições foram negligenciadas, com freqüência, no estudo de desenvolvimento motor.Quando foram objeto de atenção, elas foram tratadas de forma linear e finita com mudanças de um estadoimaturo para um estado maduro e final. Transições ocorrem em estados estáveis e de forma contínua. Assima estabili dade é relativa, sendo caracterizada por estados dependentes do tempo, ou seja, neles convivemordem e desordem, imaturidade e maturidade, variabili dade e consistência. Será argumentado que a noção deordem hierárquica é fundamental para abordar a dinâmica do desenvolvimento motor. O conceito derestrição (“constraint” ) será discutido com referência a seu papel no desenvolvimento. Entre os várioselementos do sistema, a intenção será apresentada como uma restrição essencial na formação de padrões. Asidéias apresentadas serão ilustradas com resultados de pesquisa sobre o desenvolvimento de habili dadesmotoras manuais em situações naturais e experimentais.

UNITERMOS: Desenvolvimento motor; Habili dade motora, comportamento motor.

INTRODUÇÃO

* Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo.

O estudo do desenvolvimento motorganhou grande interesse a partir dos anos 70 coma publicação do li vro Mechanisms of motor skilldevelopment (Connolly, 1970a). Como é colocadopor Clark & Whitall (1989), esse trabalhoinaugura a chamada etapa Orientada ao Processona evolução da área. Nessa etapa, os pesquisadoresvoltaram-se para a identificação dos possíveismecanismos subjacentes às mudanças nodesenvolvimento. Connolly (1970b) resume essatransição assim: o estudo do desenvolvimentomotor esteve sempre voltado para as questões “oque muda ?” e “quando muda?” , entretanto, agoraé preciso perguntar “como muda?” . Essas

colocações levaram a contraposições entre produtoe processo, descrição e explicação no estudo dodesenvolvimento motor. Nelas residia o perigo deuma vez mais se criarem novas dicotomias queobscurecem o entendimento do fenômeno ao invésde desvelá-lo. Hinde (1970) em comentário àcolocação de Connolly, já manifestava essapreocupação. Hinde argumentava que a Etologia éum exemplo de uma área na qual descrição eexplicação sempre caminharam juntas. Num certosentido, a distinção entre elas, como reconheceuConnolly (1970b), é apenas relativa. A observaçãoé guiada por um modelo da realidade queseleciona o que vai ser descrito e o que não vai.

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Isto não está muito distante de um modelo quebusca explicar a natureza.

Em síntese, podemos dizer que aetapa Orientada ao Processo marca uma mudançaprofunda na área caracterizando o que Kuhn(1970) denominaria de crise paradigmática. Ouseja, passamos por uma mudança de paradigma noestudo do desenvolvimento motor (Manoel, 1989).A visão tradicional que explicava odesenvolvimento como um processoexclusivamente maturacional passou a serquestionada, as distinções entre movimentosnaturais e culturais, antes tão claras, tornaram-serelativas. As duas décadas que se seguiram forammarcadas pela busca de novos referenciaisteóricos. Com eles buscou-se explicar dadosantigos que descreviam vários aspectos dodesenvolvimento motor. Ao mesmo tempo, novosestudos foram conduzidos com o propósito dedescrever o comportamento em ambientes econtextos variados. Com a constatação de que amaturação não é o único mecanismo atuante nodesenvolvimento, as características do ambiente eda tarefa numa dada execução motora ganharamespecial atenção nos novos estudos. A introduçãodo conceito de habili dade, até então ausente doestudo do desenvolvimento motor, teve papelimportante (cf. Connolly, 1970b; Kay, 1970). Aidéia de habili dade ajudou na compreensão dosignificado da interação indivíduo - ambiente.Uma das características dos estudos iniciais sobreo desenvolvimento motor foi a pouca preocupaçãocom os mecanismos subjacentes aocomportamento. Com a abordagem Orientada aoProcesso o desenvolvimento motor passou a servisto como desenvolvimento do controle motor(Keogh, 1977).

NATUREZA DO DESENVOLVIMENTOMOTOR

As descrições clássicas dodesenvolvimento motor publicadas nos anos 30 e40 foram importantes na medida em que elasidentificaram os padrões que o pesquisador deveexplicar. Esses padrões levaram à proposição deum dos princípios básicos do desenvolvimento: oda seqüência. Gesell e McGraw nodesenvolvimento motor, Piaget nodesenvolvimento cogniti vo, entre outros,

trouxeram uma grande contribuição para área aoidentificarem as etapas pelas quais o indivíduopassaria em sua vida, em direção à maturidade.Por exemplo, no desenvolvimento motor referenteaos primeiros doze meses de vida um dos estadosfinais esperados é o andar bípede (cf. McGraw,1945). No desenvolvimento cogniti vo, o estágio deoperações simbólicas é considerado como o maisavançado.

A seqüência de desenvolvimentoteria como características básicas a universalidadee intransiti vidade (Pinard & Laurendeau, 1969). Aseqüência é universal se todos os indivíduospassarem por ela. A intransiti vidade da seqüênciasignifica que todos os indivíduos irão passar pelamesma seqüência na mesma ordem. Com apreocupação em identificar seqüências com essasduas características acabou-se dando muita ênfaseà permanência, consistência e estabili dade. Adefinição de etapas ou estágios nodesenvolvimento envolve a identificação deaspectos que permanecem, são consistentes eestáveis no comportamento. Aqui entra em jogo aprópria concepção de desenvolvimento. Como foicolocado por Bertalanffy (1960), a concepção dedesenvolvimento por estágios assume que esse éum processo em que se busca apenas aestabili dade. Prigogine (1961) faz uma distinçãoentre dois tipos de sistema que é pertinente a esseproblema. Prigogine diferencia os sistemas emestados independentes do tempo dos sistemas emestados dependentes do tempo. Os primeiros sãosistemas abertos que buscaram estabili dade e aoatingi-la tentam mantê-la para evitar o aumento daentropia. Como o ambiente em que o sistematransita não é estático, e de fato está em mudança,a tendência é a de que a manutenção daestabili dade torne o sistema obsoleto com apassagem do tempo. Ou seja, esses sistemascomeçam a se aproximar do equilíbriotermodinâmico. O segundo sistema de Prigoginetambém é aberto, mas neles a estabili dade érelativa, é temporária, pois o sistema busca semprenovos estados. Essa característica seria maisapropriada para um sistema desenvolvimentista.Em sistemas biológicos ou vivos, num sentido lato(cf. Mill er, 1978), vamos encontrar característicasde ambos como coloca Bertalanffy (1977) ao sereferir às regulações primárias – típicas desistemas com estados dependentes de tempo – e às

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regulações secundárias – típicas de sistemas comestados independentes de tempo.

Assim, o desenvolvimento é umprocesso com características contrastantes masainda assim complementares: permanência emudança, estabili dade e instabili dade, rigidez eflexibili dade, consistência e variabili dade. O fatode modelos científicos terem sempre negligenciadoesse aspecto dinâmico do desenvolvimento sedeveu em grande parte à limitação do próprioconhecimento científico para lidar com acomplementaridade de modos de descriçãocontrastantes e com o indeterminado na natureza(Yates, 1978). O reconhecimento da funçãocriativa da dimensão temporal nos fenômenos foi opasso necessário para o lançamento de uma nova

abordagem para o desenvolvimento motor(Manoel, 1989). Vários dos fenômenos descritosenvolvem a mudança de um estado ordenado paraum estado desordenado como exempli fica Haken(1983) com trocas irrerversíveis de calor, expansãoirrerversível de gases ou difusão de nuvens. Nodesenvolvimento motor, temos a mudança de umestado de relativa desordem para um estado deordem como pode ser observado na produçãográfica de uma criança aos dois anos e meio deidade e a mesma criança aos quatro anos de idade(FIGURA 1). Aos dois anos e meio, os traços sãorepetiti vos, com pouca variação e pobre interaçãoentre eles. Já aos quatro anos, observa-se umaumento da diversificação na produção dos traçosalém de uma maior interação entre eles.

FIGURA 1 - Habili dade gráfica de uma criança aos 2,5 anos (desordem) e quatro anos deidade (ordem).

A investigação do desenvolvimentoteve um longo caminho marcado pelas maisvariadas idéias como as expressas pelo pré-determinismo, pré-formacionismo eambientali smo (Manoel, 1996, 1998a). Oreconhecimento das bases biológicas dodesenvolvimento levou à crença de que seriapossível, a partir do gene, controlar o própriocomportamento e seu desenvolvimento. De outrolado, viu-se o ambiente como o elemento paraexercer papel similar. Gottlieb (1992) resume osesforços de vários pesquisadores ao longo de

século XX no sentido de mostrar que a chave paraa compreensão do desenvolvimento não estavanem de um lado nem de outro. Como foi colocadopor Weiss (1967), é preciso entender que há umahierarquia de elementos do gene até o ambienteexercendo influências recíprocas ao longo de todoos níveis. Connolly (1986) procurou sintetizaressas idéias ao estabelecer perspectiva similar parao estudo do desenvolvimento motor. Ocomportamento motor é originado tanto porheranças genéticas quanto por “heranças”ambientais. Como foi colocado recentemente por

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Valsiner (1997), o curso do desenvolvimento é“ indeterminado deterministicamente” , onde umasérie de restrições sistêmicas constituem a basepara surpresas numa seqüência que no geral ésimilar nos indivíduos da mesma espécie. Numaversão próxima à da epigênese probabilí stica deGottlieb (1992), temos que esse indeterminismolimitado (cf. Valsiner, 1997) garante odesenvolvimento tornando-o um fenômeno ondeconvivem os contrários como: estabili dade einstabili dade, continuidade e mudança e rigidez eflexibili dade. Talvez, Lewontin (1997) resumaessa concepção de forma mais direta e simplesquando ele diz que todos os filhotes de leão irãotornar-se leões ferozes mas isto não significa quetodos os leões são iguais.

No desenvolvimento motor, vemos anecessidade de se encarar os estados estáveis dosistema como sendo relativos. Em relação aopassado, um dado estado presente pode ser estável,mas em relação ao futuro ele é instável (Manoel &Connolly, 1997). Tal propriedade é a base para seestabelecer uma visão integrada dodesenvolvimento e da aprendizagem nocomportamento motor. O sistema apresentaestados estáveis que são temporários seconsiderarmos como Tani (1987) que há umahierarquia de novos objetivos motores a seremalcançados no ambiente. Uma vez que os objetivossão alcançados, novos são estabelecidos, numprocesso que tende a ser contínuo.

A SEQÜÊNCIA DE DESENVOLVIMENTOMOTOR

O fato do desenvolvimento ser vistocomo um fenômeno caracterizado por umindeterminismo limitado não exclui a idéiaclássica de que as mudanças são ordenadas numaseqüência. Os caminhos podem variar de umestado a outro, algumas etapas podem não seratingidas ou plenamente estabelecidas(estabili zados), mas a seqüência não deixa deexistir. Além de tudo ela é um instrumentoheurístico que nos ajuda a levantar questões sobrecomo se dá o processo de desenvolvimento.

Mas o que se quer dizer comseqüência no desenvolvimento ? Há pelo menostrês aspectos para responder a essa questão: a) háuma ordem de eventos no eixo temporal do ciclo

de vida ; b) há interdependência entre oseventos;(c) cada nova etapa envolve a emergênciade novas propriedades que não são encontradas naetapa anterior. É interessante notar que váriosmodelos de seqüência (e.g. Gallahue & Ozmun,1995; Seefeldt,1980) são descritos sem que anatureza do processo que tal representação implicaseja explorada. Desenvolvimento implica aintegração de padrões de comportamento(Connolly, 1986). A seqüência de desenvolvimentorefere-se, portanto, a um processo dedesenvolvimento hierárquico (cf. Bruner,1970;Connolly, 1970b, 1973; Elli ott & Connolly,1974,Manoel, 1988, 1989, 1993; Manoel & Connolly,1997; Tani, 1987; Tani, Manoel, Kokubun &Proença,1988).

Há várias formas de representaçãohierárquica (cf. Mesarovic, Macko & Takahara,1970; Salthe,1985). A maneira como a hierarquiaé representada leva a assunções sobre como acomplexidade aumenta ao longo do tempo.Embora seja comum representar a seqüênciaatravés de um modelo de hierarquia estratificadasão raras as tentativas de descrever e explicar oprocesso a partir dessa concepção. Mesmo que talmodelo seja considerado, é importante lembrar queele é mais apropriado para tratar de estruturas jáexistentes. Quando temos o desenvolvimento emfoco há a formação contínua de níveis, onde adistinção estrutura e função é relativa (cf.Connolly & Manoel, 1991). Em suma, ahierarquia que nos interessa é aquela do processo(Bertalanffy , 1952; Scholz, 1982).

Se os modelos de seqüência vão teralgum valor heurístico para a compreensão dodesenvolvimento é essencial que noções sobre odesenvolvimento hierárquico sejam consideradasno estudo do desenvolvimento motor. Uma dessasnoções básicas refere-se à de “constraint” ’ (Allen& Starr, 1982). A idéia básica de “constraint” ’ ourestrição refere-se a algum tipo de controle daacão. Um “constraint” age na redução dos graus deliberdade de um sistema, mas ao fazer isso ele dáliberdade a esse mesmo sistema (Koestler, 1969).Como é ilustrado por Allen & Star (1982), dentrodas poderosas restrições impostas pelas regras dafuga, o compositor clássico Bach tornou-se li vrepara escrever qualquer fuga de sua escolha.

Lorenz (1971) argumenta que emqualquer processo de desenvolvimento a restriçãoé necessária, pois sem uma redução nos graus de

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liberdade um sistema não pode se tornar ordenado.Lorenz enfatiza, no entanto, a necessidade de umequilíbrio entre a manutenção das restrições e oseu relaxamento .

Koestler (1969) considera que arestrição não pode reduzir drasticamente os grausde liberdade, do contrário o sistema nãoconseguiria se adaptar a novas situações. Ou seja,liberdade e restrição, vistos freqüentemente comoantagônicos, atuam de forma complementar emsistemas abertos. Valsiner (1997) sugere que asrestrições no desenvolvimento desempenhamvários papéis como por exemplo, de reguladordinâmico temporário cuja natureza pode serinterna, do próprio organismo, ou externa (vejaManoel, 1998a).

A ordem no comportamento motortem sido considerada como sendo resultante derestrições referentes às propriedades biofísicas doorganismo, da tarefa e do ambiente (Newell , 1986;Thelen,1986). Entretanto, outra fonte de restriçãopode ser relacionada à intenção e ao programa deação. Bruner (1970) e Connolly (1973) têmargumentado que a intenção em atingir umobjetivo no ambiente constitui-se num fatordecisivo para a emergência do comportamentovoluntário em contraposição às idéias quecolocaram os reflexos como origem dessescomportamentos. Thelen et alii (1993) reconhecemque a intenção exerce um papel essencial naredução dos graus de liberdade do sistema naemergência do alcançar e agarrar em bebês. Asevidências acumuladas por estudos deneurofisiologia também corroboram o importantepapel exercido pela intenção. Requin (1992)identifica o estabelecimento da meta como umpotente fator que condiciona os processosposteriores da preparação da resposta. Ele nãodetermina as vias neurais que levam à produção domovimento, mas certamente as condiciona (vertambém para mais detalhes Jeannerod (1996).

A capacidade para movimento éinerente a todo sistema vivo, unicelular oupluricelular. O indivíduo já apresenta um ricorepertório motor no período pré-natal. Prechtl(1997) argumenta que os movimentos fetaisdesempenham um papel crucial na regulação dodesenvolvimento do próprio sistema nervoso. Aquivemos a complexidade do fenômeno que sepretende explicar: o sistema efetor influencia odesenvolvimento do regulador (sistema nervoso)

do seu próprio desenvolvimento (Trevarthen,1987). A espontaneidade dos movimentos fetais éequiparada aos movimentos rítmicos observadosno primeiro ano de vida (cf. Thelen, 1981). Todosesses movimentos são aparentemente sempropósito o que não significa que eles sejamdesordenados ou sem um padrão característico.Aliás, tais padrões podem ser modificados eassociados a diferentes conseqüências ambientais(Manoel, 1998a).

A noção de reflexo não é menoscontroversa. Touwen (1984) prefere argumentarque tais respostas são um artifício de um sistemaorganizado para se mover. Elas refletemcomportamentos estáveis e não automáticos paraque o recém-nascido consiga interagir no meioambiente. Isto explicaria a sua flexibili dade, aindaque limitada, bem como sua variação deintensidade e freqüência devidas tanto ao estado deativação do sistema como alterações físicas doorganismo (cf. Thelen & Fischer, 1983).

O acoplamento entre intenção,padrões de movimento e conseqüências ambientaisconstitui-se numa etapa crucial nodesenvolvimento. É como se a partir desseacoplamento houvesse uma passagem de padrõesde movimentos espontâneos e reativos para açõesmotoras habili dosas. Com esse acoplamentohaverá inicialmente a reali zação de funçõesmotoras básicas como locomoção, manipulação eestabili dade. Gradualmente, essas atividades vãosendo orientadas ao contexto no qual o indivíduovive. Isto significará que a seleção, a adaptação e arealização de ações serão cada vez mais diversasentre indivíduos quanto mais diverso for ocontexto em que eles vivem. Neste sentido, pode-se conceber um processo de desenvolvimentohierárquico do comportamento motor (FIGURA 2)onde os elementos básicos para a ação surgem apartir de padrões de movimentos espontâneos(movimentos fetais e rítmicos) e reativos(movimentos reflexos). Com o acoplamento entreintenção , padrões de movimento e conseqüênciasambientais há um salto qualitativo marcante.Nesse nível haverá a contínua elaboração dasrelações meio-fim nas funções de controlepostural, de locomoção e de manipulação. Há, nonível seguinte, uma crescente variação no contextolevando a diferentes oportunidades de reali zaçãomotora.

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FIGURA 2 – Desenvolvimento hierárquico no comportamento motor.

INDETERMINISMO LIMITADO NODESENVOLVIMENTO MOTOR: ADINÂMICA DAS RELAÇÕESMACROSCÓPICA – MICROSCÓPICA NOCOMPORTAMENTO

Uma das máximas mais bemconhecidas sobre a abordagem sistêmica é a frase:“o todo é maior do que a soma das partes” .Entretanto, como diz Simon (1981), o todo émaior do que a soma das partes não num sentidometafísico, mas com um sentido pragmáticoimportante: dadas as propriedades das partes e dasleis de suas interações , não é nada trivial inferiras propriedades do todo.

Weiss (1969), na mesma linha depensamento, colocou de forma objetiva a seguinteequação:

Sw < S1 + S2 + S3 + ... + Sn

Onde Sw = a variância do todoS1,S2,S3,... Sn = variância das partes

A variância do todo é menor do quea variância das partes, ou seja, os elementos de umsistema são relativamente li vres para variarem,pois a interação entre eles leva a um todo bemdefinido, com pouca variabili dade. A essacaracterística de sistemas vivos Weiss denominoude determinância macroscópica e indeterminânciamacroscópica .

A interação dinâmica de elementosleva à formação de um padrão característico quetende a se manter (determinância macroscópica).Os elementos são li vres para variarem dentro decertos limites (indeterminância microscópica).Essa liberdade para variação é essencial para que osistema modifique o padrão de interação a nívelmacroscópico (Koestler, 1967, 1969; Weiss,1967). Em outros trabalhos já nos dedicamos afalar sobre as implicações dessas idéias para as

AÇÕES ORIENTADAS ao

CONTEXTO

ACOPLAMENTO entreINTENÇÃO e PADRÃO DE

MOVIMENTO

PADRÕES DE MOVIMENTOESPONTÂNEOS e REATIVOS

OcupacionaisVida diáriaEsportivasDança, etc.

Funções Motoras: posturalocomoção manipulação

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questões relativas ao estudo do comportamentomotor (Manoel, 1993; Manoel & Connolly, 1995,1997; Tani, Connolly & Manoel, 1998) .

As relações macro-micro podem servistas de várias formas no estudo docomportamento motor. Uma forma coloca arelação entre a intenção e a meta como definindo opadrão geral da ação, ou seja, a sua macro-estrutura. Os meios para reali zá-la variam, pois hávários padrões de movimento que levam a um

mesmo estado final. Esse é o aspecto referente àmicro-estrutura. A abordagem do desenvolvimentoé interessante, pois a mesma macro-estrutura comolocomoção irá ser reali zada por diferentes meiosao longo dos 24 meses de vida como rolar sobre opróprio corpo, rastejar, engatinhar, andar, saltitar,etc. A diversificação dos meios de soluçãocorresponde à seqüência inter-tarefa dodesenvolvimento (FIGURA 3).

FIGURA 3 – Relações macro-micro na seqüência inter-tarefa da locomoção.

Macro

Intenção Meta

Micro

movimentos

Locomoção

RolarEngatinharAndarCorrerGalopar, etc

SeqüênciaInter-tarefa

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A estrutura de um dado programa deação leva à segunda forma com que as relaçõesmacro/micro podem ser vistas. Por exemplo, apreensão de uma xícara de chá necessita de umprograma de ação que envolve os componentesalcançar, apreender, transportar e locali zar. Aseqüência na qual esses elementos são ordenadosexpressa as interações entre eles, referindo-seportanto à macro-estrutura do programa (FIGURA4). Por exemplo, a, b e c podem referir-se ao“timing” relativo entre os componentes. A formacomo cada componente pode ser executado emtermos cinéticos e cinemáticos refere-se à micro-estrutura do programa. Por exemplo, o alcançarpode variar em termos de trajetória, com diferentes

padrões de aceleração e desaceleração. A preensãopode variar em termos do tempo de abertura dopolegar e indicador. Se pensarmos na reali zaçãodessa tarefa pelo bebê, o resultado será desastroso.O bebê não conseguirá alcançar a xícara ou se ofizer, o seu padrão de preensão será poucoeficiente para manipulá-la sem que o conteúdo daxícara seja derrubado. Aos dois anos de idade, oresultado ainda pode ser desastroso. Já aos cincoanos, a criança pode reali zar a tarefa. O que seobserva ao longo desse tempo é a gradualemergência de uma macro-estrutura bem definidae consistente, sem que os componentes se tornemrígidos.

FIGURA 4 – Relações macro-micro no programa de ação de uma habili dade de manipulaçãode instrumento, como pegar uma xícara de chá.

Temos considerado que o programade ação é desta forma uma organizaçãohierárquica caracterizada por uma macro-estrutura(ordem e consistência) e micro-estrutura(desordem e variabili dade). Ao estudar odesenvolvimento do uso da colher no bebê,Connolly & Dalgleish (1989) apresentam umexemplo da emergência de um programa de ação(FIGURA 5). Na tarefa em estudo há quatrofunções básicas: colocar a colher na tigela,remover a colher da tigela, colocar a colher naboca e retirar a colher da boca. A primeira etapa,de ações repetiti vas, parece caracterizar umexemplo em que os elementos da ação estãopresentes mas eles variam independentemente.Assim, o bebê movimenta a colher na tigela ou aexplora na boca. Na etapa seguinte, ação

seqüencial, vemos que o comportamento doselementos é restringido de tal forma que eles já sãocolocados numa seqüência. A macro estruturacomeça a emergir passando a restringir a ação doscomponentes. A partir daí o programa de açãopassará por novas elaborações como reflete a etapada função incorporada. Nela, o bebê já procurautili zar a colher como um instrumento detransporte da comida. Finalmente, a última etapa éatingida na qual o programa se torna flexívelgraças aos vários circuitos de correção. Nestaetapa a macro-estrutura já está bem estabelecida.A criança pode alimentar-se com substâncias quevariem em consistência e forma ou com novosinstrumentos. A seqüência descrita por Connolly& Dalgleish (l989) caracteriza, dentro desseentendimento, a formação de um padrão.

Alcançar Apreender Transporte Localizaçãoa b c

Macro

R1R2,..Rn

G1G2,..Gn

T1T2,..Tn

L1L2,..Ln

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Ações Repetiti vas Ação Seqüencial Função Incorporada Loops de Correção

Colher na Colher na tigela Colher na tigela Controle da colhertigela

Remover a Encher a Colher naRemover a colher da colher tigelacolher da tigela

tigelaRemover a Tigela fixa

Elevar colher daa colher tigela

EncherColher na a colher

boca Colher na ElevarBoca a colher

Remover aRemover colher dacolher Remover a Colher na tigelada boca colher da boca

bocaVerificar se

Esvaziar a a comida écolher Suficiente

Remover a Elevar acolher da boca colher

Colher naboca

Colher vazia

Remover acolher da

boca

Verificar sea colher está

vazia

Apanhar acomida

Derrubada

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FIGURA 5 – Desenvolvimento do uso da colher na alimentação (adaptado de Connolly, 1980;Connolly & Dalgleish, 1989).

Na contínua elaboração de umprograma de ação há uma interação dinâmica narestrição e liberação dos graus de liberdade demovimento. A idéia original de Bernstein (1967)sobre o problema dos graus de liberdade foiretomada por Turvey, Fitch & Tuller (1982).Segundo eles, o desenvolvimento envolveriainicialmente restrição dos graus de liberdade demovimento seguido de uma gradual li beraçãodesses graus. Essa idéia é ilustrada com os estágiosde desenvolvimento do arremesso por cima doombro descrita inicialmente por Wild (1937).

Bruner (1970), também influenciadopor Bernstein, destacou a importância do domíniosobre os graus de liberdade não de movimento,mas na elaboração de um programa de ação. Aimposição de restrições sobre os graus de liberdadede movimento pode implicar numa ampliação dosgraus de liberdade a nível central, ou seja, naelaboração do programa.

O estudo do desenvolvimento dehabili dades motoras manuais oferece alguns dados

que podem ilustrar a relação entre graus deliberdade e elaboração de programas de ação. Aoapreender um objeto ou instrumento é precisodefinir de que forma isso será feito – qual o tipode preensão será utili zado? – e como ele serámanipulado – quais os padrões de movimento aserem utli zados? A manipulação envolverámovimentos dos dígitos, também denominados demovimentos intrínsecos, e também movimentosdas articulações do punho, do cotovelo, do ombro,etc., também denominados de movimentosextrínsecos.

Connolly (1973), Connolly &Dalgleish (1989) e Connolly & Elli ott (1972)reali zaram uma série de estudos identificandoquais tipos de padrões de preensão são utili zadosna primeira infância. Manoel & Connolly (1998),por sua vez identificaram os movimentosintrínsecos utili zados na manipulação de umobjeto. A FIGURA 6 apresenta uma síntese dasinformações sobre o desenvolvimento dos padrõesde movimento observados.

FIGURA 6 - Padrões de manipulação.

PADRÕES DE MANIPULAÇÃO

PREENSÃO MANUAL

• PREENSÃO ADULT AADULTA CERRADA

• PREENSÃO PALMARTRANSVERSA

VENTRALDIGITAL

• PREENSÃO DIGITALTRANSVERSA

INTERDIGITAL

MM OOVVII MM EENNTTOOSS II NNTTRRÍÍ NNSSEECCOOSS

• PADRÕES SIMULT ÂNEOSSINERGIA SIM PLES

SINERGIA RECÍPROCA

• PADRÕES SEQÜENCIAIS

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Desenvolvimento motor

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Ao longo de processo de solução deproblemas motores, bebês e crianças vãoselecionando e elaborando meios variados em suaeficácia. Como observaram Connolly & Dalgleish(1989), algumas das soluções serão utili zadas umaou duas vezes e serão deixadas de lado por seremanti-econômicas. Outras soluções passarão o testeda eficácia e serão mantidas. Observa-se, assim,um processo de aumento da diversificação depadrões seguido de um aumento na estabili dade dealguns desses padrões.

Manoel (1993) reali zou um estudolongitudinal onde crianças de 2,5 anos e quatroanos de idade tinham que apreender uma barracom diâmetro aproximado ao de uma canetaesferográfica e, em seguida, deveriam transportá-la e inseri-la num orifício no topo de uma caixa àsua frente. A forma da barra foi manipulada demaneira a criar demandas diferentes no momento

da inserção. A barra circular apresentava baixarestrição (LC) pois a mesma seria inserida comqualquer orientação. A barra semi-circular exigiauma orientação particular no momento da inserçãoe por isso foi considerada como sendo de altarestrição (HC). Tomando como referencial onúmero dos diferentes tipos de preensão utili zadosna solução, pode-se ver que não houve grandesmudanças nos dois grupos ao longo de dois meses,entretanto, o grupo de quatro anos é menosvariável que o grupo de 2,5 anos (FIGURA 7). Já,se considerarmos a freqüência de movimentosintrínsecos diferentes, o quadro é outro.Novamente não há grandes variações ao longo dedois meses, sendo o grupo de quatro anos o maisvariável (FIGURA 8). Outro aspecto que mereceatenção diz respeito ao efeito das demandas deorientação.

FIGURA 7 – Variabili dade nos padrões de preensão manual ao longo de dois meses nosgrupos com idade média de 29 meses (Young) e 45 meses (Old), nas condiçõesbaixa restrição (LC) e alta restrição (HC).

Na condição de maior restrição(HC), os dois grupos apresentaram maiorvariabili dade nos padrões de preensão e demovimentos intrínsecos. A variabili dade é

qualitativamente diferente nos dois grupos, alémde ser utili zada com mais ênfase na condição commaior dificuldade. Os dois grupos, ao enfrentaremuma situação nova e mais difícil , procuraram

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soluções usando diferentes padrões ao invés demostrar um comportamento mais estereotipado. Ascrianças mostram comportamentos nos quais osgraus de liberdade são explorados ao invés deserem restringidos. A descrição mais fiel é a deque houve uma relação dinâmica entre restringir eliberar os graus de liberdade de movimento. Esse

processo deve estar associado à importantemudança na forma de elaboração do programa deação como é evidenciado pelas diferenças entre osdois grupos. Os estudos sobre o desenvolvimentode habili dade manipulativas ilustram o aumentoda diversificação do comportamento.

FIGURA 8 – Variabili dade nos padrões de movimentos intrínsecosl ao longo de dois mesesnos grupos com idade média de 29 meses (Young) e 45 meses (Old), nascondições baixa restrição (LC) e alta restrição (HC).

Outro aspecto do desenvolvimentorefere-se ao aumento da complexidade docomportamento. Esse processo pode ser estudadoatravés de mudanças estruturais na mesmahabili dade (e.g. Choshi, 1988; Choshi & Tani,1983; Tani, 1989; Tani, Connolly & Manoel,1996, 1997) ou a partir da formação de unidades esua combinação em novas unidades. Na segundaforma de investigação, uma idéia inicial foi a demodularização apresentada por Bruner (1970) eConnolly (1970b, 1973). Uma das dificuldadespara o desenvolvimento da proposta está ligada àdefinição do que é unidade numa habili dade.Manoel (1989) argumentou que a unidade modularera vista de forma estática pois só se enfatizava oseu aspecto consistente e invariável.Posteriormente, Manoel (1993) propôs que essa

unidade seria consistente e variável ao mesmotempo, ou seja, ela apresentava macro-estruturaconsistente e micro-estrutura variável. Como já foicolocado anteriormente, a macro-estrutura refere-se ao padrão geral do comportamento, à interaçãodos componentes e é orientada à ordem. A micro-estrutura refere-se ao comportamento individualdos componentes, à variação de cada um deles e éorientada à desordem.

Tani, Connolly & Manoel (1998)apresentaram uma proposta de investigação naqual habili dades gráficas são utili zadas naidentificação de unidades organizadashierarquicamente em macro- e micro-estruturas.Os resultados favoráveis a essa concepçãoencontrados por Tani et alii (1998) abrem aperspectiva da investigação da unidade e de sua

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suposta modularidade. Utili zando-se de umasituação experimental similar, Manoel (1998b)investigou exatamente essa questão. Os sujeitospraticaram a figura critério (FIGURA 9 a) na fase

de aquisição. Na fase seguinte, era soli citada aprática de uma figura mais complexa que continhaa figura critério (FIGURA 9b).

(a) (b)

FIGURA 9 - Figura critério (a) praticada na Fase de Aquisição e figura complexa praticadanas Fases de Transferência e Retenção (b), as letras indicam como cada traço foiidentificado pelo programa que efetuou a análise da execução.

Um dos indicativos demodularização diz respeito à capacidade daunidade em resistir à perturbação que pode sercausada pela tarefa mais complexa. Por exemplo,um aumento drástico do tempo total de execuçãoda unidade seria uma evidência contrária à idéiade modularização. A FIGURA 10 apresenta acurva de desempenho de três indivíduos cuja aidade sugere que eles estejam em diferentesestados de desenvolvimento, um de 4,5 anos, um

de 10 anos e um de 24 anos de idade. Apenas odesempenho da criança de 4,5 anos (FIGURA 10a)parece ter sido afetado na tarefa mais complexa.Assim, a modularização foi mais efetiva para osindivíduos de 10 e 24 anos (FIGURA 10b). Apróxima questão é verificar se esse processo teriaocorrido com base na formação de unidadeshierarquicamente organizadas, com macro-estrutura consistente e micro-estrutura variável.

a

b

c

d

e

f

h

g

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(a)

(b)

FIGURA 10 – Tempo total de execução nas fases de Aquisição (B1 a B10), Transferência (T1e T2) e Retenção (R1 e R2) para a criança de 4,5 anos (a) e a criança de 10anos e adulto de 24 anos (b).

Deve-se ressaltar que a identidade daunidade só é mantida caso a macro-estrutura nãoseja alterada de forma significativa, i.e., comopouca variabili dade. Uma medida de macro-estrutura é dada pela variabili dade do “timing”relativo (FIGURA 11). A criança de 4,5 anosapresenta maior flutuação no timing relativo do

que os outros indivíduos. Com a introdução datarefa mais complexa, o indivíduo adultodemonstra maior grau de manutenção da estruturatemporal do que as crianças. A ordem com que ostraços da figura são efetuados, ou seja, oseqüenciamento, é outra medida de macro-estrutura.

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 T1 T2 R1 R2

Tem

po to

tal m

édio

de

exec

ução

(m

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)

Criança 1 (4,5 anos)

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300

400

500

600

700

B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 T1 T2 R1 R2

Tem

po to

tal m

édio

de

exec

ução

(m

seg.

)

Criança 2 (10 anos) Adulto (24 anos)

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FIGURA 11 - Variabili dade do timing relativo na Fase de Aquisição (B1 a B10) e nas Fasesde Transferência (T1 e T2) e Retenção (R1 e R2). Os dados referentes aos doisprimeiros blocos da Fase de Aquisição do criança 1 foram perdidos.

A diminuição da variabili dade doseqüenciamento ao longo da prática reflete aformação de um padrão na interação entre oselementos do programa. A criança de 4,5 anosapresenta maior variabili dade no seqüenciamentoque diminui até o final da prática (FIGURA 12).

Já os indivíduos de 10 e 24 anos apresentam maiorvariabili dade apenas no início da prática. Com atarefa mais complexa há pouca perturbação doseqüenciamento para as crianças de 4,5 anos e de10 anos ou nenhuma para o indivíduo adulto.

FIGURA 12 - Variabili dade do seqüenciamento nas Fases de Aquisição (B1 a B10),Transferência (T1 e T2) e Retenção (R1 e R2). Os dados do primeiro esegundo blocos da Fase de Aquisição da criança 1 foram perdidos.

0

2

4

6

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B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 T1 T2 R1 R2

Des

vio

padr

ão d

o tim

ing

rela

tivo

(%)

Criança 1 (4,5 anos) Criança 2 (10 anos) Adulto (24 anos)

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B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 T1 T2 R1 R2

Var

iabi

lidad

e do

seq

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Criança 1 (4,5 anos) Criança 2 (10 anos) Adulto (24 anos)

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A perturbação causada pela tarefamais complexa seria contrabalançada peloaumento de variabili dade na micro-estrutura. Avariabili dade do tempo total de movimento podeser considerada como um indicativo da micro-

estrutura. A criança de 4,5 anos mostrourealmente um aumento de variabili dade na tarefamais complexa (FIGURA 13a). Os outrosindivíduos não mostraram aumentos devariabili dade (FIGURA 13b).

(a)

(b)

FIGURA 13 – Variabili dade do tempo total de execução nas fases de Aquisição (B1 a B10),Transferência (T1 e T2) e Retenção (R1 e R2) para a criança de 4,5 anos (a) ea criança de 10 anos e adulto de 24 anos (b).

Um dado qualitativo relevanterefere-se ao seqüenciamento mais utili zado pelosindivíduos. O QUADRO 1 apresenta a moda doseqüenciamento para os três indivíduos em cadafase do experimento. A criança de 4,5 anos alterou

o seqüenciamento nos dois últimos traços. Acriança de 10 anos manteve o seqüenciamento,embora tenha mostrado sinais de maiorperturbação também nos últimos traços. Noconjunto, os dados apresentados permitem concluir

0

200

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B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 T1 T2 R1 R2

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Criança 1 (4,5 anos)

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B1 B2 B3 B4 B5 B6 B7 B8 B9 B10 T1 T2 R1 R2Des

vio

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Criança 2 (10 anos) Adulto (24 anos)

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que o indivíduo adulto, teoricamente maisavançado em termos de desenvolvimento, foi o quemais mostrou evidências de reali zar a tarefa maiscomplexa utili zando a unidade modularhierarquicamente organizada. As crianças de 4,5anos e 10 anos mantiveram parcialmente aestrutura da unidade. Esses dados permitem inferirque a perturbação da estrutura ocorreu no ponto

em que pode estar ocorrendo a preparação para atransposição de uma figura para a outra.Evidentemente que os dados apresentados sãopreliminares. De qualquer forma, é possível dizerque a abordagem metodológica é promissora noestudo da formação e reorganização de programasde ação.

QUADRO 1 - Moda do seqüenciamento nas três fases do experimento.

SUJEITOS FASE DEAQUISIÇÃO

FASE DETRASNFERÊNCIA

FASE DERETENÇÃO

CRIANÇA 1 (4,5 anos) ADCBE ADCEB1 ADCBECRIANÇA 2 (10 anos) ADCBE ADC*B*E

*ADC*B*E

*ADULTO (24 anos ) ADCBE ADCBE ADCBE

* Componentes mais perturbados no seqüenciamento.1 Componentes alterados de uma fase para outra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente ensaio não se propôs auma revisão exaustiva da área de DesenvolvimentoMotor. Nossa intenção foi levantar algumas idéiasbásicas para o estudo do desenvolvimento motor.Buscou-se ilustrar essas idéias com dados depesquisas reali zadas recentemente dentro denossas linhas de pesquisa.

A área de Comportamento Motoresteve grandemente envolvida com o duelo deabordagens na chamada controvérsia motora-ação(cf. Meijer & Roth, 1988). Em embates dessanatureza é comum pesquisadores assumirem umcampo ou outro de batalha e dedicarem-se aapontar apenas as diferenças entre as abordagens,como se elas fossem de fato irreconcili áveis (cf.

Manoel, 1998c). O perigo dessa situação está noentrave que se estabelece entre pontos de vista quelevam, freqüentemente, à uma perda do foco dofenômeno em questão. É também com freqüênciaque vemos pesquisadores atribuírem aoconhecimento por eles produzido um poderilimit ado na explicação, negligenciando afalibili dade e os limites de qualquer conhecimentocientífico (cf. Yates, 1978).

Apesar da diversidade de dadosapresentados no presente ensaio, a nossa lente paraver o fenômeno do comportamento motor foisempre a mesma. Nossa preocupação é comaqueles problemas da chamada complexidadeorganizada cuja necessidade de investigação éconhecida a pelo menos 50 anos (cf. Bertalanffy,1952; Weaver, 1948).

ABSTRACT

MOTOR DEVELOPMENT: CHANGING PATTERNS, GROWING COMPLEXITY

In the present essay we discuss the nature of motor development considering that in everydevelopmental system we must account for permanence and change. Developmental sequences drive one’sattention to the permanence. However important this may be, it fall s short of explaining change in a givenstate. Transitions were often overlooked and indeed when they were considered, change was refereed tobeing linear and finite, from immature to mature and final states. Transitions occur in stable states and in a

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continuous manner. These states are time dependent which means that they comprise order and disorder,immaturity and maturity, variabilit y and consistency. We argue that the notion of hierarchical order isessential to approach the process of motor development in a dynamic mode. The concept of constraint will bediscussed in regard to its role in motor development. Among many different system’s components intentionwill be presented as an essential constraint in the emergence of new patterns. This idea will be ill ustratedwith data from developmental studies of manual motor skill s in natural and experimental settings.

UNITERMS: Motor development; Motor skill; Motor behaviour.

NOTA

O autor contou com a Bolsa de Produtividade emPesquisa (PQ), no. do processo 300310/96-0 do CNPqdurante a condução de algumas das pesquisas cujosresultados são relatados no presente artigo.

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