CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos...

150
CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA E NÍVEL DE ADOÇÃO DAS FERRAMENTAS DE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS POR EMPRESAS DE ALIMENTAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL BRASÍLIA 2006

Transcript of CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos...

Page 1: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER

IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA E NÍVEL DE ADOÇÃO DAS FERRAMENTAS DE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS POR EMPRESAS DE ALIMENTAÇÃO DO

DISTRITO FEDERAL

BRASÍLIA 2006

Page 2: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

ii

Universidade de Brasília Faculdade de Ciências da Saúde

Departamento de Nutrição Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana

CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER

IMPORTÂNCIA ATRIBUÍDA E NÍVEL DE ADOÇÃO DAS FERRAMENTAS DE SEGURANÇA DOS ALIMENTOS POR EMPRESAS DE ALIMENTAÇÃO DO

DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Nutrição Humana, Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília. Orientadora: Profa. Dra. Wilma M. C. Araújo

BRASÍLIA 2006

Page 3: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

iii

DISSERTAÇÃO APROVADA EM 06/11/2006

Membros da Banca Examinadora

_________________________________ Dra. Wilma Maria Coelho Araújo

Orientadora (NUT-UnB)

__________________________________ Dr. José Cezar Panetta

Membro Titular (FMVZ-USP)

______________________________ Dr. Celso Luiz Moretti

Membro Titular (NUT-UnB)

________________________________ Dra. Sandra Fernandes Arruda Membro Suplente (NUT-UnB)

Brasília 2006

Page 4: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

iv

Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura. Ao Maurício, pela carinhosa e doce condução dos nossos caminhos.

Tenser, Carla Márcia Rodrigues.

Importância Atribuída e Nível de Adoção das Ferramentas de Segurança dos Alimentos por Empresas de Alimentação do Distrito Federal./ Carla Márcia Rodrigues Tenser – Brasília, 2006. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília – Faculdade de Ciências da Saúde – Departamento de Nutrição – Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana Titulo em inglês: Importance and level of adoption of food security tools by food business in the Federal District of Brazil.

1. Alimento Seguro. 2. Boas Práticas. 3. Serviços de Alimentação. 4. Segurança Alimentar.

Page 5: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

v

Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos de minha vida com seu amor e ternura.

Ao Mauricio, pela carinhosa e doce condução dos nossos caminhos.

Page 6: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

vi

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Wilma Araújo, grande amiga e

companheira de trabalho, pela participação e apoio

inestimáveis.

À Núbia, diretora do Centro de Excelência em Turismo da

Universidade de Brasília, pela oportunidade de minha

atuação na gastronomia e no turismo.

Às colegas, em ordem alfabética: Alba e Deisy pela amizade

bonita e incondicional de tantos anos.

Ao Programa de Pós-Graduação em Nutrição Humana pela

oportunidade proporcionada.

Page 7: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

vii

Sumário

Lista de Figuras ................................................................................................. x

Lista de Quadros ............................................................................................... xi

Lista de Tabelas ................................................................................................ xii

Lista de Siglas ................................................................................................... xiii

Resumo ............................................................................................................. xv

Abstract ............................................................................................................. xvi

1. Introdução ..................................................................................................... 1

2. Revisão Bibliográfica .................................................................................... 6

2.1 Segurança Alimentar ........................................................................... 6

2.2 Evolução do Conceito de Segurança Alimentar no Brasil .................... 11

2.3 Abrangência do Conceito de Segurança Alimentar .............................. 20

2.4. A Importância da Garantia de Qualidade Sanitária e Nutricional dos Alimentos .............................................................................................

23

2.5 Doenças Veiculadas por Alimentos – DVAs ......................................... 27

2.6 Instrumentos Legais ........................................................................... 39

2.7 Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle – APPCC .............. 48

Page 8: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

viii

2.7.1 Princípios do sistema de análise de perigos e pontos críticos de controle .....................................................................

67

2.7.1.1 Análise de perigos ..........................................................

67

2.7.1.2 Pontos Críticos de Controle (PCC) ................................

68

2.7.1.3 Limites críticos ...............................................................

68

2.7.1.4 Monitoramento do PCC ..................................................

69

2.7.1.5 Ações corretivas .............................................................

70

2.7.1.6 Verificação ....................................................................

70

2.7.1.7 Documentação e manutenção de registros ...................

71

2.8 Boas Práticas de Fabricação – BPF ................................................... 72

2.8.1 Manual de Boas Práticas de Fabricação ..................................

75

2.9 Procedimentos Operacionais Padronizados – POPs .......................... 77

3. Objetivos ...................................................................................................... 80

3.1 Objetivo Geral ....................................................................................... 80

3.2 Objetivos Específicos ........................................................................... 80

Page 9: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

ix

4. Materiais e Métodos ..................................................................................... 81

4.1 Amostragem ......................................................................................... 81

4.2 Instrumento de Coleta de Dados............................................................ 82

4.3 Coleta de Dados in loco ........................................................................ 84

4.4 Tratamento dos Dados ......................................................................... 85

5. Resultados e Discussão ............................................................................... 86

6. Considerações Finais ................................................................................... 110

7. Referências .................................................................................................. 114

Apêndices ........................................................................................................

122

Apêndice A – Classificação e delineamento de pesquisa com base em levantamento de dados................................................................

122

Apêndice B – Solicitação à Abrasel/DF para obtenção da lista de empresas associadas ...................................................................................

127

Apêndice C - Instrumento para Coleta de Dados ...........................................

128

Page 10: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

x

Lista de Figuras

Figura 1 Freqüência de tipos de serviços oferecidos nas empresas

associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a

07/07/2006.................................................................................. 88

Figura 2 Freqüência da importância atribuída às BPF pelos

empresários ou gerentes das empresas associadas à

Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006

em relação à obrigatoriedade legal, à exigência do

consumidor, à produção de alimentos sem contaminação e à

redução do desperdício ............................................................. 91

Figura 3 Freqüência das principais dificuldades encontradas na

implantação das BPF nas empresas associadas à Abrasel/DF

pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 ...................... 98

Figura 4 Freqüência de distribuição entre presença de Responsável

Técnico e quem exerce a função de RT nas empresas

associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a

07/07/2006 ................................................................................. 99

Figura 5 Freqüência de distribuição de adoção dos POPs em relação

às quatro categorias preconizadas pela RDC n°216/04 nas

empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período

de 01/06 a 07/07/2006 .............................................................. 101

Figura 6 Freqüência de distribuição entre utilização de cartazes ou

outra sinalização visual para orientar a execução de todos, da

maioria ou de um POP e sua adoção, integral ou parcial, nas

empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período

de 01/06 a 07/07/2006............................................................... 103

Figura 7 Freqüência de distribuição entre exposição das instruções em

local visível e adoção integral ou parcial dos POPs nas

empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período

de 01/06 a 07/07/2006 ............................................................. 104

Figura 8 Freqüência de distribuição entre o número de treinamentos

realizados e quem os realiza nas empresas associadas à

Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 .... 108

Page 11: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

xi

Lista de Quadros

Quadro 1 Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por

bactérias ................................................................................. 52

Quadro 2 Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por

vírus......................................................................................... 56

Quadro 3 Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por

parasitas ................................................................................. 58

Quadro 4 Contaminações químicas associadas às doenças

veiculadas por alimentos ........................................................ 64

Quadro 5 Contaminação por toxinas biológicas .................................... 65

Page 12: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

xii

Lista de Tabelas

Tabela 1 Exemplos de perigos físicos, as lesões causadas e suas

fontes ........................................................................................ 66

Tabela 2 Freqüência de localização das empresas associadas à

Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 ... 87

Tabela 3 Freqüência de nível de prioridade atribuído aos onze itens da

BPF de acordo com a RDC n°216/04 pelas empresas

associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a

07/07/2006 ............................................................................... 94

Tabela 4 Freqüência de distribuição entre valor investido na

implantação das BPF e realização de alterações na

edificação e nas instalações nas empresas associadas à

Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 ... 96

Tabela 5 Freqüência de inclusão dos itens recomendados pela RDC

nº216/04 nos treinamentos realizados nas empresas

associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a

07/07/2006 ............................................................................... 106

Page 13: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

xiii

Lista de Siglas

ABRASEL NACIONAL Associação Nacional de Bares e Restaurantes

ABRASEL/DF Associação de Bares e Restaurantes do Distrito Federal

AÇÃO CIDADANIA Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida

ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária

APPCC Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle

BPF Boas Práticas de Fabricação

CAESB Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal

CDC Center for Disease Control

CNI Confederação Nacional da Indústria

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico

CNS Conselho Nacional de Saúde

CNSA Conferência Nacional de Segurança Alimentar

CNSAN Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

COEP Comitê de Entidades Públicas no Combate à Fome e pela

Vida

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar

DVA Doenças Veiculadas por Alimentos

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a

Alimentação

GMP Good Manufacturing Practices

HACCP Hazard Analysis of Critical Control Point

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

OMS Organização Mundial de Saúde

ONGs Organizações não Governamentais

OPAS Organização Pan-Americana da Saúde

PAS Programa Alimentos Seguros

PCC Ponto Crítico de Controle

Page 14: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

xiv

PEA População Economicamente Ativa

PIB Produto Interno Bruto

PIQ Padrão de Identidade e Qualidade

POF Pesquisa de Orçamentos Familiares

POPs Procedimentos Operacionais Padronizados

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNAN Política Nacional de Alimentação e Nutrição

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RT Responsável Técnico

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEBRAE/DF Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias Empresas

do Distrito Federal

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SENAR Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SESC Serviço Social do Comércio

SESI Serviço Social da Indústria

SINDHOBAR Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de

Brasília

SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

SVS Secretaria de Vigilância em Saúde

VE-DTA Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmitidas por

Alimentos

Page 15: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

xv

RESUMO

A implantação e implementação das ferramentas de segurança de alimentos objetiva minimizar a ocorrência de doenças veiculadas por alimentos e é conseqüência do crescimento do comércio internacional que determina padrões para produtos industrializados. No Brasil, o alinhamento às necessidades do mercado internacional se fez por meio de normas específicas para a indústria da transformação. No entanto, para atender às empresas que compõem os serviços de alimentação, segmento em contínua ascensão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabeleceu o cumprimento de regulamento específico. O presente estudo teve como objetivo investigar a importância atribuída e o nível de adoção das ferramentas de segurança de alimentos por empresas do setor de alimentação fora do lar do Distrito Federal. Foram entrevistadas 74 empresas e, dessas, 72 afirmaram considerar importantes e adotar essas ferramentas. Entretanto, os resultados apontaram dificuldades relacionadas a treinamento dos funcionários e a custos financeiros para adquirir equipamentos e alterar as instalações e a edificação, em atendimento à legislação. Observa-se então um ciclo vicioso em que os dados econômicos indicam tendência de expansão do setor; esse setor é composto predominantemente de micro e pequenas empresas; essas possivelmente apresentam dificuldades em aportar recursos financeiros para realizar os investimentos requeridos pelo sistema APPCC, principalmente em instalações e edificações, devido ao alto custo. Esses resultados levam ao questionamento sobre a qualidade dos alimentos consumidos fora do lar no Distrito Federal.

Palavras-chave: alimento seguro, boas práticas, procedimentos operacionais, serviços de alimentação, segurança alimentar.

Page 16: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

xvi

ABSTRACT

The implementation of food safety procedures aims to reduce contamination with foodborne diseases and is a result of the growth of international commerce which leads to the need of determining specific pattern for industrialized products. In Brazil, compliance with international market demand was achieved through the establishment of specific regulation applied to food industry. In turn, Agência Nacional de Vigilância Sanitária established specific regulation to respond to the needs of the food service sector continuous expansion. This study aimed at investigating how food service establishments in Distrito Federal use and recognize the importance of food safety tools. The survey was undertaken at 74 establishments and 72 affirmed that they adopt food safety procedures. Nevertheless, results indicate that there are difficulties in regard to staff training and understanding about the importance of adopting food safety tools; there are also difficulties in purchasing equipment and refurbishing physical installations to accomplish with law. Considering that economic data appoint to an expansion of the Brazilian food-service sector; that this sector is composed mainly by micro and small enterprises; that these enterprises possibly have difficulties to make investments required by law to comply with food safety regulation, especially building related investments. These results lead to inquiries about the quality of out-of-home-food in the Federal District.

Key-words: food safety, good manufacturing practices, operational procedures, food -service, food security.

Page 17: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

1

1. INTRODUÇÃO

O número de serviços de alimentação, especialmente o de restaurantes

comerciais do tipo auto-serviço1 (self-service) aumentou de maneira notável nos

últimos vinte anos. Esse crescimento se deve às alterações ocorridas na sociedade

moderna devido aos fenômenos da industrialização e da urbanização.

No Brasil, a chegada das grandes redes de hotéis, especialmente no final do

século XX, promoveu uma melhoria na qualidade dos serviços, fundamentada nos

conceitos de padronização, de eliminação de riscos e de aplicação dos princípios de

qualidade na produção, e referenciada nas diretrizes das modernas corporações

hoteleiras internacionais (ARAÚJO et. al., 2006).

Em geral, nas cozinhas industriais e no catering aéreo, é mais elevado o grau

de profissionalismo na produção de alimentos, incluindo o planejamento prévio das

instalações e a existência de responsável técnico pela produção, pela higiene do

estabelecimento, pelo treinamento dos funcionários e pela padronização dos

procedimentos (ARAÚJO et. al., 2006).

Em contrapartida, no setor de alimentação fora do lar2 é grande o número de

profissionais sem conhecimento específico que, acreditando que a variedade de

pratos e os preços competitivos são suficientes para manter a clientela, podem

comprometer o processo produtivo e oferecer aos consumidores alimentos com alto

potencial de contaminação.

Também nos shoppings e centros comerciais, nas praças de alimentação,

agrupam-se restaurantes cujas instalações são minúsculas e acomodam

1 Auto-serviço – tipo de serviço em restaurantes em que o cliente se serve a partir de um balcão onde os alimentos são expostos para consumo. 2 Setor de alimentação fora do lar – segmento que abriga a alimentação fora do lar em bares, restaurantes comerciais e institucionais, lanchonetes, cantinas e similares.

Page 18: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

2

simultaneamente manipuladores, equipamentos, utensílios, matérias-primas e

produtos pré-preparados, sem a estrutura e a organização necessárias para

assegurar a qualidade sanitária dos alimentos comercializados (ARAÚJO et. al.,

2006).

São inúmeros os tipos de serviços que podem ser oferecidos aos clientes,

desde opções mais econômicas como restaurantes caseiros e cafeterias até

unidades caras e sofisticadas, especializadas em alta culinária. À la carte, self-

service, fast-food, coffee-shop, pizzaria, cantina, bar, boteco, boate, choperia, todos

requerem gerenciamento específico e, no Brasil, esses diferentes tipos de serviços

de alimentação se encontram em estágios tecnológicos diferenciados de

desenvolvimento.

Esse cenário contribui para que o consumo de alimentos fora do lar tenha se

tornado fonte de preocupação para as autoridades governamentais, para os

empresários e para a sociedade civil, uma vez que a oferta de alimentos

contaminados pode afetar a saúde de milhões de consumidores e até mesmo

extrapolar as fronteiras do país – é crescente o número de surtos de doenças

veiculadas por alimentos (DVAs).

No Brasil, o alinhamento às necessidades do mercado internacional se fez por

meio de normas específicas para a indústria da transformação. No entanto, para

atender às empresas que compõem os serviços de alimentação, segmento em

contínua ascensão, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária estabeleceu o

cumprimento de regulamentos específicos.

O sistema APPCC e seus pré-requisitos – as BPF e os POPs – expressam

uma evolução no conceito de garantia da qualidade transformando o controle de

qualidade passivo ou estático – inspeção final – em proativo ou dinâmico, que

Page 19: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

3

permite a redução de custos, principalmente decorrentes de retrabalho, de perdas

de insumos e redução no número e na freqüência de análises, as quais passam a

funcionar como forma de monitoramento da qualidade pré-estabelecida.

Na produção de alimentos para consumo imediato, os benefícios em termos

de segurança de alimentos decorrentes desta mudança de postura são ainda

maiores do que na indústria, posto não haver tempo hábil para se obter os

resultados de análises antes da expedição do produto final.

O treinamento e a qualificação dos profissionais que atuam em empresas de

alimentação, especialmente dos manipuladores de alimentos, é fundamental para

garantir a segurança dos alimentos oferecidos aos clientes uma vez que, nessas

empresas, é imperativa a participação do elemento humano em todas as etapas do

processo produtivo.

O treinamento deve ser realizado de maneira contínua, do ingresso do

funcionário na empresa à implantação dos serviços, reafirmando sempre os

conceitos transmitidos e efetuando as alterações requeridas por eventuais

mudanças nos procedimentos de rotina. Deve permitir que os profissionais

aprendam como fazer e entendam o porque do como fazer e, assim, treinar deve ter

como objetivo não somente a aquisição de conhecimento mas a aceitação da

possibilidade de mudança de comportamentos, hábitos e/ou práticas culturalmente

internalizados. Ademais, os métodos de treinamento devem ser alinhados às

condições econômicas e sócio-culturais da sociedade onde aplicados.

Por sua vez, a legislação, se considerada como um conjunto de obrigações

impostas pelo Estado, não garante a implementação de medidas que visem à

inocuidade dos alimentos; deve sim ser vista como exigência de mercado, uma vez

intrínseca aos produtos, que traz benefícios para o consumidor, para o

Page 20: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

4

empreendedor – ao tornar-se mais competitivo – e para a sociedade como um todo

ao assegurar postos de trabalho e geração de renda. Também o papel da Vigilância

Sanitária é fundamental, sob atuação preventiva e corretiva, para assegurar o

cumprimento das normas e regulamentos referentes à manipulação e

comercialização dos alimentos.

No contexto, julgou-se relevante obter informações de proprietários e de

gerentes das empresas associadas à Associação de Bares e Restaurantes do

Distrito Federal (Abrasel/DF) sobre a importância atribuída e o nível de adoção das

ferramentas de segurança de alimentos preconizadas pela Resolução da Diretoria

Colegiada (RDC) n°216, de 15 de setembro de 2004, da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária (Anvisa) que dispõe sobre o Regulamento Técnico de Boas

Práticas para Serviços de Alimentação. Sabe-se que essas empresas procuram

oferecer serviços diferenciados, que um desses diferenciais é a qualidade sanitária

de seus produtos, e que as empresas participam do Programa Qualidade na Mesa

no Distrito Federal.

O trabalho se desenvolve a partir dos aspectos históricos da Segurança

Alimentar em nível internacional e apresenta a evolução do conceito, no Brasil, nos

últimos vinte anos, identificando instrumentos de política social para a superação dos

problemas ligados à Segurança Alimentar no país.

Discute sua abrangência e apresenta dados econômicos sobre o mercado de

alimentação, seu potencial de crescimento e o impacto que exerce na economia do

país. Apresenta ainda as principais doenças veiculadas por alimentos e dados

estatísticos nacionais e internacionais sobre as mesmas.

Em seguida, descreve os instrumentos legais que regulamentam a qualidade

higiênico-sanitária dos alimentos no Brasil bem como as ferramentas preconizadas

Page 21: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

5

por esta legislação: Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC); Boas

Práticas de Fabricação (BPF); e Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs).

Estende-se sobre o papel da Vigilância Sanitária em termos preventivos e corretivos

para assegurar a inocuidade dos alimentos.

À luz da RDC nº216/04 registra a utilização e a importância atribuída às

ferramentas de segurança de alimentos pelas empresas associadas à Abrasel/DF e

desenvolve considerações sobre os requisitos necessários à promoção efetiva da

segurança de alimentos para possibilitar o acesso da população a alimentos

inócuos.

Page 22: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

6

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SEGURANÇA ALIMENTAR

O termo Segurança Alimentar teve origem após a I Guerra Mundial, quando

se percebeu que o controle do fornecimento de alimentos poderia levar à dominação

dos países economicamente mais suscetíveis. Tratava-se de uma preocupação com

a segurança nacional que apontava para a idéia de que cada país deveria ser capaz

de produzir seus próprios alimentos e possuir estoques estratégicos, evitando assim

a vulnerabilidade a conflitos de natureza política ou militar (PARANÁ, 1998 e

MENEZES, 1998).

No início da década de 70, a quebra de safras de importantes países

produtores levou à escassez nos estoques mundiais de alimentos. Em 1974,

acordos estabelecidos durante a Ia Conferência Mundial de Alimentação, promovida

pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO),

ainda reforçavam o conceito de segurança alimentar como uma política de produção,

armazenamento estratégico e oferta segura de alimentos: o enfoque era dado ao

alimento e não ao direito de todo ser humano ter acesso a uma alimentação

saudável. Esse enfoque fortaleceria o discurso da indústria química em prol da

Revolução Verde3, que defendia o aumento da produção agrícola por meio do

emprego de insumos químicos (PARANÁ, 1998 e MENEZES, 1998).

Apesar dos níveis de produção prometidos pela Revolução Verde não terem

sido alcançados, o final dos anos 70 caracterizou-se pela recuperação da produção

agropecuária, cujos preços chegaram a ser inferiores àqueles praticados na década

3 Revolução Verde – transformação ocorrida na agricultura, a partir dos anos 50, por meio da introdução de tecnologia básica e de um conjunto de novas práticas e insumos agrícolas, que permitiriam o alcance de níveis elevados de produtividade.

Page 23: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

7

de 50. Ainda assim, a desnutrição e a fome continuariam atingindo gravemente uma

parcela importante da população mundial, levando à percepção de que, além da

produção e da disponibilidade de alimentos, a capacidade de acesso seria um fator

importante a ser considerado na elaboração de políticas de combate à fome e à

desnutrição (PARANÁ, 1998 e MENEZES, 1998).

Em 1983, a FAO introduz um novo conceito de Segurança Alimentar baseado

em três pilares: oferta adequada de alimentos; estabilidade da oferta e dos

mercados; e garantia de acesso aos alimentos ofertados (PARANÁ, 1998). Em 1986,

o Banco Mundial define Segurança Alimentar como o acesso por parte de todos, em

todo tempo, a quantidades suficientes de alimento para levar uma vida ativa e

saudável.

A partir de então, as discussões sobre a Segurança Alimentar, que até então

era vista somente sob a ótica da auto-suficiência em termos alimentares, passam a

pressupor o crescimento econômico, a garantia do poder aquisitivo da população, a

redistribuição de renda e a redução da pobreza como elementos a serem

incorporados ao conceito (PARANÁ, 1998).

No início dos anos 90, são incluídas as noções de alimento seguro sem

contaminação física, química ou biológica; de qualidade nutricional, biológica,

sanitária e tecnológica do alimento; de equilíbrio da dieta; de acesso à informação e

de hábitos alimentares4. Surge ainda a preocupação com o uso adequado e

sustentável dos recursos naturais e a discussão de sustentabilidade insere o direito

à alimentação no contexto do direito à vida, à dignidade, à autodeterminação e à

satisfação de outras necessidades básicas (PARANÁ, 1998).

Em meados dos anos 90, emerge um conceito ampliado do termo incluindo a

4 Hábitos Alimentares – experiências consolidadas através do tempo que se transformam em simbolismos e representações culturais.

Page 24: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

8

questão do direito humano básico à alimentação e à nutrição, que deve ser

assegurado por políticas públicas implementadas por agentes públicos e privados.

Esse conceito rompe com a tendência de oposição entre mercado e Estado,

proclamando a participação ativa da sociedade civil em um esforço em que cada

papel é exercido de maneira complementar e sinérgica (PARANÁ, 1998).

Em 1992, a Conferência Internacional de Nutrição, promovida pela FAO e

pela OMS, fortalece e humaniza o conceito, incorporando a assistência básica à

saúde (abastecimento de água, saneamento e saúde pública) e o cuidado no lar aos

membros da família – carinho, atenção no preparo do alimento, amamentação,

informação, educação – Segurança Alimentar Domiciliar (PARANÁ, 1998).

Para a FAO, a Segurança Alimentar é entendida como a garantia ao acesso

continuado, para todas as pessoas, a quantidades suficientes de alimentos seguros

que lhes assegurem uma dieta adequada para que possam atingir e manter o bem-

estar nutricional e de saúde. Deve promover um processo de desenvolvimento em

bases seguras sob o aspecto ambiental e socialmente sustentável, que contribua

para a melhoria na nutrição e na saúde, eliminando as epidemias e as mortes pela

fome (FAO, 1996).

Em 1996, a FAO e a OMS promovem a Primeira Cúpula Mundial de

Alimentação com o objetivo de discutir e sugerir medidas para viabilizar o alcance da

Segurança Alimentar para as gerações presentes e futuras. Mais de 180 países

subscrevem a Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial, listando

sete compromissos que os governos participantes assumiriam para elevar o nível de

Segurança Alimentar para a população como um todo (FAO, 1996):

• garantia de um ambiente político, social e econômico favorável à criação das

melhores condições possíveis para a erradicação da pobreza e uma paz

Page 25: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

9

durável, baseada na participação plena e eqüitativa de mulheres e de

homens, visando alcançar a Segurança Alimentar sustentável para todos;

• implementação de políticas que tenham como objetivo a erradicação da

pobreza e da desigualdade social, melhorando o acesso físico e econômico

de todas as pessoas, de forma contínua, a uma quantidade suficiente de

alimentos, nutricionalmente adequados e inócuos, promovendo a sua

utilização efetiva;

• promoção de esforços para a adoção de políticas e práticas participativas e

sustentáveis de desenvolvimento alimentar, agrícola, pesqueiro, florestal e

rural, em zonas de alto e baixo potencial, que sejam fundamentais para

assegurar um suprimento de alimentos suficiente e confiável para os níveis

familiar, nacional, regional e mundial, compreendendo também o combate às

pragas, à seca e à desertificação, considerando o caráter multifuncional da

agricultura;

• promoção de esforços para que as políticas de comércio alimentar e agrícola,

bem como de comércio em geral contribuam para o fomento da Segurança

Alimentar por meio de um sistema de comércio mundial leal orientado ao

mercado;

• promoção de esforços para prevenir e estar preparados para enfrentar as

catástrofes naturais e emergências de origem humana, atendendo às

necessidades transitórias e urgentes de alimentos, de maneira a fomentar a

recuperação, a reabilitação, o desenvolvimento e a capacidade para

satisfazer as necessidades futuras das populações atingidas;

• alocação e utilização ótimas dos recursos de investimentos públicos e

privados visando fortalecer os recursos humanos, os sistemas alimentares,

Page 26: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

10

agrícolas, pesqueiros e florestais sustentáveis, assim como o

desenvolvimento rural em zonas de alto e baixo potencial;

• aplicação, monitoramento e acompanhamento do Plano de Ação da Cúpula

Mundial da Alimentação, em todos os níveis, e em cooperação com a

comunidade internacional.

A Primeira Cúpula Mundial da Alimentação estabelece a meta de reduzir em

50% o número de desnutridos até o ano de 2015, levando a FAO a adotar uma

metodologia para acompanhamento da quantificação da fome no mundo (FAO,

1996). Da mesma forma, desde 1993 o Banco Mundial acompanha e publica dados

sobre a pobreza no mundo, por meio do Relatório sobre Desenvolvimento Mundial.

Por sua vez, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

também publica, anualmente e desde 1990, o Relatório de Desenvolvimento

Humano que, por meio do acompanhamento de indicadores sociais avalia o estado

de desenvolvimento humano mundial.

No ano 2000, a FAO divulga o documento Pobreza e Fome: Um Trágico

Vínculo, visando propor alternativas de combate à fome e estimular as discussões

sobre o tema. O documento indica que o ritmo do combate à fome no mundo deveria

ser alterado; caso contrário, a meta estabelecida na Primeira Cúpula Mundial de

Alimentação não seria atingida nem mesmo no ano 2030 (COELHO et. al., 2005).

A Segunda Cúpula Mundial de Alimentação, realizada em 2002, visa avaliar o

grau de cumprimento das ações propostas em 1996 e reavaliar o conceito de

Segurança Alimentar devido a sua importância política e estratégica no mundo atual.

A Segunda Cúpula reafirma os compromissos assumidos no encontro de 1996 e

convoca o estabelecimento de uma aliança internacional para acelerar os esforços

para eliminar a fome no mundo, incorporando ao conceito de Segurança Alimentar e

Page 27: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

11

Nutricional o respeito à diversidade cultural (VALENTE, 2002).

Em 2004, a FAO elege a biodiversidade a serviço da Segurança Alimentar

como tema do Dia Mundial da Alimentação5, buscando evidenciar sua importância

para o acesso da população aos alimentos de forma sustentável. O conceito de

sustentabilidade é então incorporado à Segurança Alimentar e Nutricional (COELHO

et. al., 2005).

2.2 EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE SEGURANÇA ALIMENTAR NO BRASIL

Segurança Alimentar e Nutricional é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis (CONSEA, 2004).

Para compreender a evolução do conceito de Segurança Alimentar no Brasil

será delineada uma análise histórica dos últimos anos.

As primeiras referências ao tema surgem no Ministério da Agricultura, em

1985, quando a noção de Segurança Alimentar era limitada à avaliação do controle

do estado nutricional dos indivíduos, sobretudo a desnutrição infantil, sob a égide da

Vigilância Alimentar e Nutricional. Constituiu-se uma proposta de Política Nacional

de Segurança Alimentar cujos objetivos principais eram atingir a auto-suficiência

nacional na produção de alimentos e suprir as necessidades alimentares da

população, além de contemplar a criação do Conselho Nacional de Segurança

Alimentar (Consea), idéia que viria a ser concretizada em 1993, juntamente com a

5 Dia Mundial da Alimentação – idealizado pela FAO, em 1981, visando conscientizar os governos e a população mundial sobre os problemas relacionados à Segurança Alimentar e Nutricional.

Page 28: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

12

elaboração do Plano Nacional de Combate à Fome e à Miséria (PARANÁ, 1998).

Em 1986, o assunto foi retomado a partir da realização da I Conferência

Nacional de Alimentação e Nutrição e o conceito de Segurança Alimentar foi

ampliado, incorporando as questões relativas ao acesso universal ao alimento, às

carências nutricionais e à qualidade dos alimentos. Iniciam-se as discussões sobre

Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2003).

Em 1991, essas discussões subsidiaram a elaboração do Plano Nacional de

Combate à Fome e à Miséria e a instalação do Consea, ambos em 1993,

contribuindo para a introdução definitiva da questão agroalimentar e da fome como

temas prioritários na agenda política nacional (PARANÁ, 1998).

Em 1994, foi realizada a I Conferência Nacional de Segurança Alimentar,

cujas resoluções levaram à discussão das diretrizes de uma Política Nacional de

Alimentação e Nutrição, baseadas em três eixos principais: ampliar as condições de

acesso à alimentação e reduzir seu peso no orçamento familiar; assegurar saúde,

nutrição e alimentação a grupos populacionais determinados; assegurar a qualidade

biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos e seu aproveitamento,

estimulando práticas alimentares e estilos saudáveis de vida (PARANÁ, 1998).

A I CNSA possibilita a consolidação do entendimento de que a garantia da

Segurança Alimentar e Nutricional deveria ser um dos eixos de uma estratégia de

desenvolvimento social para o Brasil e que sua implementação exigiria uma parceria

efetiva entre governo e sociedade civil, sem subordinação, onde houvesse respeito

mútuo e complementaridade de ações (PARANÁ, 1998).

O debate desenvolvido durante esse período situa o tema como prerrogativa

para a cidadania: com definição abrangente que além de valorizar hábitos

alimentares adequados, reportava-se às questões nutricionais, de acesso, de

Page 29: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

13

disponibilidade, de continuidade e de compatibilidade de preços com o poder

aquisitivo da população e de qualidade (PARANÁ, 1998).

Em 1995, é extinto o Consea e em 1996, preparando-se para participar da

Primeira Cúpula Mundial de Alimentação, é estabelecido um Comitê Técnico

Interministerial, com a participação da sociedade civil, para colaborar na elaboração

do documento brasileiro a ser levado à Cúpula (MALUF et. al., 1996). O conceito de

Segurança Alimentar já era considerado prerrogativa básica para a condição de

cidadania e abrangia a questão do acesso em termos de disponibilidade e de

suficiência; a noção do alimentar e do nutricional; a importância de alinhar preços

com o poder aquisitivo da população; a qualidade e a valorização de hábitos

alimentares adequados. Entretanto, o conceito de sustentatilidade ainda não era

contemplado (MENEZES, 1998).

Em 1999, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprova a Política Nacional de

Alimentação e Nutrição (PNAN), composta por um conjunto de políticas voltadas à

compreensão do direito humano universal à alimentação e à nutrição, com o objetivo

de assegurar a qualidade dos alimentos ofertados para o consumo no país; a

promoção de práticas alimentares saudáveis e a prevenção e o controle dos

distúrbios nutricionais; e a construção de uma política abrangente de Segurança

Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2003).

Em 2001, é apresentado o Projeto Fome Zero, com vistas a propor uma

política nacional participativa de Segurança Alimentar e de combate à fome. Sua

elaboração envolveu especialistas, movimentos sociais e Organizações não

Governamentais (ONGs). Atualmente, constitui-se em um programa do governo

composto por um conjunto de políticas e ações voltadas para assegurar o direito

humano à alimentação adequada, priorizando as pessoas com dificuldade de acesso

Page 30: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

14

aos alimentos. Está inserido na promoção da Segurança Alimentar e Nutricional

visando contribuir para a erradicação da extrema pobreza e para a conquista da

cidadania pela população mais vulnerável à fome (BRASIL, 2001).

Em 2003, o governo federal reinstala o Consea, agora Conselho Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional, instrumento de articulação entre governo e

sociedade civil na proposição de diretrizes para políticas e ações na área da

alimentação e nutrição. Em março de 2004, o Consea realiza a II Conferência

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, com vistas à mobilização nacional

pela erradicação da fome e à promoção da SAN. As deliberações da II CNSAN

consistem em propostas de ações estratégicas para uma política nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional, bem como de dezenove moções sobre diversas

questões relacionadas à Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil e no mundo

(CONSEA, 2004).

Durante a II CNSAN, são reafirmados seis princípios gerais que deveriam

estar associados à SAN e contemplados nas ações e políticas públicas voltadas

para promovê-la (CONSEA, 2004):

• adotar a ótica da promoção do direito humano à alimentação saudável,

situando a SAN como objetivo estratégico e permanente associado à

soberania alimentar;

• assegurar o acesso universal e permanente a alimentos de qualidade,

prioritariamente, por meio da geração de trabalho e renda e contemplando

ações educativas;

• buscar a transversalidade das ações por intermédio de planos articulados

intersetorialmente e com participação social;

• respeitar a eqüidade de gênero e etnia, reconhecendo a diversidade e

Page 31: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

15

valorizando as culturas alimentares;

• promover a agricultura familiar baseada na agroecologia, em conexão com o

uso sustentável dos recursos naturais e com a proteção do meio ambiente;

• reconhecer a água como alimento essencial e patrimônio público.

Um dos resultados da II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional é a construção de uma proposta de lei orgânica (em tramitação) de

Segurança Alimentar e Nutricional, em 2005, propondo a criação do Sistema

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) com vistas a assegurar o

direito humano à alimentação.

O Sisan deve ser regido pelos princípios de universalidade e eqüidade no

acesso a uma alimentação adequada; preservação da autonomia e respeito à

dignidade das pessoas; participação social na formulação, execução,

acompanhamento, monitoramento e controle das políticas e dos planos de

Segurança Alimentar e Nutricional, em todas as esferas de governo; e transparência

dos programas, ações e recursos públicos e privados, e dos critérios para sua

concessão (PROJETO DE LEI, 2005).

As diretrizes que o norteiam são a promoção da intersetorialidade das

políticas, programas e ações governamentais e não-governamentais; a

descentralização das ações e articulação, em regime de colaboração, entre as

esferas de governo; o monitoramento da situação alimentar e nutricional visando ao

planejamento das políticas e dos planos nas diferentes esferas de governo; a

conjugação de medidas diretas e imediatas de garantia de acesso à alimentação

adequada, com ações que ampliem a capacidade de subsistência autônoma da

população; a articulação entre orçamento e gestão; e o estímulo ao desenvolvimento

de pesquisas e à capacitação de recursos humanos (PROJETO DE LEI, 2005).

Page 32: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

16

A proposta mantém a definição de Segurança Alimentar e Nutricional

adotada pelo Consea (2004), ressaltando que o conceito deve abranger a questão

do acesso aos alimentos, envolvendo aspectos relacionados à produção, ao

abastecimento, ao comércio exterior e à geração de emprego e redistribuição de

renda; à conservação da biodiversidade e da utilização sustentável dos recursos; à

promoção da saúde, da nutrição e da alimentação da população, incluindo grupos

populacionais específicos e populações em situação de vulnerabilidade social; à

garantia da qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos,

bem como seu aproveitamento, estimulando práticas alimentares e estilos saudáveis

de vida que respeitem a diversidade étnica, racial e cultural da população; e a

produção de conhecimento e o acesso à informação (PROJETO DE LEI, 2005).

No contexto, de acordo com Burlandy (2006), a garantia da Segurança

Alimentar e Nutricional requer políticas públicas formuladas a partir dos seguintes

princípios diretivos: abrangência, intersetorialidade, equidade, participação social e

articulação entre medidas de caráter emergencial e estrutural.

• Abrangência: deve estar presente nos diversos campos de ação setorial –

produção, comercialização, controle de qualidade, acesso e utilização do

alimento (dimensão alimentar) – em nível comunitário, familiar ou individual.

Por se tratar de um dos quesitos fundamentais para o alcance da SAN, a

abrangência exige que as questões referentes à dimensão alimentar estejam

integradas àquelas relacionadas às práticas alimentares saudáveis e à

transformação do alimento pelo organismo (dimensão nutricional). Isto

significa que o componente da SAN deve estar inserido em cada ação setorial

em articulação com a dimensão nutricional, ou seja, que o modelo de

produção, comercialização e industrialização de alimentos adotado no país

Page 33: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

17

não estimule práticas alimentares de riscos à saúde (BURLANDY, 2006).

• Intersetorialidade: apesar da sociedade e dos diferentes setores de governo

terem metas e interesses específicos, o campo de atuação da SAN é

altamente especializado e exige ações integradas por se constituir em um

componente decisivo na construção de um projeto de desenvolvimento que

articule crescimento econômico, social e humano. Nesse sentido, a falta de

articulação setorial limita a construção de pactos nacionais mais amplos,

fundamentais para o enfrentamento de problemas complexos que exigem

ação integrada, como é o caso da SAN. Portanto, a intersetorialidade implica

no desafio da articulação e coordenação dos vários setores envolvidos

(saúde, educação, trabalho, agricultura, etc.) para o planejamento de ações

conjuntas, potencializando recursos, evitando superposição de ações e

identificando ações prioritárias que tenham impacto em diferentes dimensões

da SAN. Isso não implica somente na implementação de novas políticas mas

também na compilação de iniciativas já vigentes que, se articuladas, podem

subsidiar a redução efetiva da fome no país. As ações de apoio à produção

de pequeno e médio porte e à comercialização de seus produtos (escoando a

produção por meio de programas governamentais, como, por exemplo, a

merenda escolar), impactam as condições de trabalho, renda e saúde deste

grupo e simultaneamente possibilitam a aquisição de alimentos a um custo

mais baixo (BURLANDY, 2006). Assim, uma política efetiva de SAN requer

que sua construção seja feita de forma pactuada, ajustando diferentes lógicas

setoriais em torno de um objetivo mais amplo e de longo prazo.

• Equidade: é um dos atributos da disponibilidade agregada de alimentos

básicos devendo, portanto, subsidiar a implementação de medidas destinadas

Page 34: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

18

a reduzir desigualdades sócio-econômicas uma vez que, no Brasil, os

problemas de acesso aos alimentos não estão somente relacionados à

pobreza mas também à desigualdade de acesso a bens e serviços que têm

impacto sobre a Segurança Alimentar – água, esgoto, educação e saúde. As

desigualdades nutricionais resultam ainda da imposição de um padrão

alimentar inadequado que ameaça valores culturais da alimentação – o

consumismo, a praticidade e a competitividade, que podem contribuir para a

prevalência de transtornos alimentares, inclusive aqueles relacionados a

problemas psicológicos (depressão relacionada à obesidade); da mesma

forma, a disponibilidade de alimentos industrializados com alta concentração

de açúcares e de gorduras contribuem para as práticas alimentares não

saudáveis. Entretanto, os segmentos de mais baixa renda são os que têm

apresentando problemas nutricionais de forma cada vez mais significativa,

resultado das desigualdades sócio-econômicas que determinam menor

acesso aos recursos necessários para superá-los. (BURLANDY, 2006)

• Participação social: a complexidade da SAN, sua relação direta com valores

da sociedade e conflitos entre interesses de saúde, econômicos e sociais

tornam imprescindível a participação social no plano da formulação e

implementação de ações. O acesso à informação, instrumento básico para

aqueles mais vulneráveis à fome e desnutrição, é outro problema que ameaça

a Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, tornando necessária a atuação

de governos e da sociedade civil de forma articulada, proporcionando canais

de influência no processo decisório por parte dos grupos com menor acesso

aos bens e serviços públicos (BURLANDY, 2006). Assim, a descentralização

das políticas é importante para a obtenção da SAN uma vez que favorece a

Page 35: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

19

participação e o controle social das ações governamentais, principalmente em

países com a dimensão continental e as diferenças regionais apresentadas

pelo Brasil (MALUF et. al., 1996).

• Articulação entre medidas de caráter estrutural e emergencial: devem ser

adotadas para reverter as causas do quadro de insegurança alimentar

(estruturais) como aquelas relacionadas ao modelo econômico e ao sistema

produtivo de alimentos, uma vez que esses modelos geram desigualdades

sociais e contribuem para fortalecer práticas alimentares não saudáveis

(BURLANDY, 2006). Assim, as medidas de caráter emergencial devem ser

temporárias e articuladas a medidas permanentes que fortaleçam a

autonomia destes segmentos (MALUF et. al., 1996).

Em razão do exposto, uma política de Segurança Alimentar e Nutricional deve

ser ação estratégica prioritária de uma nação dado que abrange dimensões diversas

que integram a vida social e influenciam diferentes práticas e valores sociais. A

alimentação expressa a cultura dos povos e a abordagem integrada de seus

múltiplos determinantes pode contribuir, de maneira significativa, para sociedades

mais eqüitativas, justas e saudáveis, não só do ponto de vista biológico, como

também psicossocial (BURLANDY, 2006)

Para Belik et. al. (2001), as causas estruturais da insegurança alimentar

envolvem questões como a excessiva concentração de renda, salários baixos, altos

níveis de desemprego e baixos índices de crescimento econômico, um círculo

vicioso e perverso que leva ao aumento da fome no país. Portanto, torna-se

necessária uma intervenção que incorpore ao mercado de consumo de alimentos as

pessoas excluídas do mercado de trabalho e/ou que têm renda insuficiente para

garantir uma alimentação digna a suas famílias. Essa intervenção deve articular

Page 36: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

20

medidas de caráter permanente e emergencial que, respectivamente, privilegiem

mudanças no atual padrão de crescimento, diminuindo a extrema desigualdade de

renda existente no país; e promovam melhorias na renda das famílias, diminuição do

custo da alimentação, aumento da oferta de alimentos básicos e, simultaneamente,

o fornecimento emergencial de alimentos à população vulnerável à fome.

Entretanto, ainda de acordo com Belik et. al. (2001), um dos grandes

obstáculos à formulação e à implementação de políticas de Segurança Alimentar e

Nutricional refere-se à dificuldade de mensuração direta da fome. Em geral, as

metodologias são baseadas na mensuração indireta a partir da insuficiência de

renda monetária para possibilitar uma alimentação adequada, fenômeno

demominado vulnerabilidade à fome.

2.3 ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DE SEGURANÇA ALIMENTAR

A compreensão da abrangência da Segurança Alimentar avançou

significativamente a partir da década de 90, com o surgimento e a ampliação de

propostas e experiências de políticas no campo da acessibilidade alimentar,

mostrando que a complexidade do tema implica no entendimento de que a garantia

da Segurança Alimentar extrapola a garantia de acesso, podendo assumir

conteúdos distintos relacionados a problemas de insegurança alimentar.

O conceito de Segurança Alimentar pode ser interpretado a partir das

expressões inglesas food security e food safety, identificando, em linhas gerais, os

conteúdos a elas relacionados (BRASIL, 2002b):

Food security

• garantia da produção e da oferta agrícola, ligada ao problema de escassez da

Page 37: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

21

produção e da oferta de produtos alimentares, que pode ser alcançada por

meio de instrumentos de políticas agrícolas, seja pelo incentivo à auto-

suficiência da produção interna, seja pela via da autocapacidade de aquisição

de commodities no comércio internacional;

• garantia do direito de acesso aos alimentos, relacionado a sua distribuição

desigual. Este conteúdo está intimamente ligado ao caráter político e

institucional da acessibilidade alimentar no que se refere à superação da

pobreza, à redução das desigualdades sociais e à garantia dos direitos da

cidadania. Acentua a importância da implementação de políticas

redistributivas, estruturais ou compensatórias, universais ou residuais,

visando beneficiar a parcela da população excluída do mercado de trabalho

ou que não tem renda suficiente para assegurar o acesso ao alimento em sua

plenitude.

Food safety

• garantia de qualidade sanitária e nutricional dos alimentos consumidos pela

população. Revela a necessidade da implementação de políticas de

desenvolvimento industrial e tecnológico, visando ao desenvolvimento de

alimentos de qualidade, e a importância da definição de normas de controle

de qualidade dos alimentos bem como a implementação de legislação de

defesa dos direitos do consumidor. Remete à necessidade de políticas

voltadas para a educação nutricional e sanitária da população atingida por

problemas de desnutrição e de carência alimentar;

• garantia de conservação e controle da base genética do sistema

agroalimentar, que se refere tanto à conservação como à falta de acesso ou o

Page 38: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

22

monopólio sobre a base genética do sistema agroalimentar. Vincula a

Segurança Alimentar às preocupações ambientais e destaca a importância da

sustentabilidade da produção agrícola e da conservação da diversidade

biológica.

E ainda:

de modo geral, o primeiro e o terceiro conjunto de questões [...] constituem os temas dominantes das preocupações com a Segurança Alimentar nos países de economia avançada. Já a garantia de acesso permanece como tema central para grande parte dos países periféricos, onde as questões relacionadas à grande desigualdade distributiva podem estar vinculadas aos problemas de oferta e de qualidade. Por sua vez, os problemas ligados ao controle e acesso à base genética dizem respeito ao conjunto da comunidade global, avultando no caso a possibilidade dos países, isoladamente ou em conjunto, virem a enfrentar problemas agudos de acessibilidade à base genética (BRASIL, 2002b).

Considerando a amplitude do conceito de Segurança Alimentar, este trabalho

adota a expressão segurança de(os) alimentos para referir-se aos aspectos de

qualidade higiênico-sanitária e se propõe a estudá-la, apresentando um panorama

da importância do tema, das DVAs e das ferramentas de segurança dos alimentos.

Especificamente, a segurança dos alimentos é tanto mais preocupante ao se

considerar a suscetibilidade de grande parte da população à oferta insuficiente dos

mesmos que, aliada às precárias condições higiênico-sanitárias, representa maior

risco de problemas nutricionais e de doenças veiculadas por alimentos. Além disso,

as toxinfecções por alimentos ou por água contaminados causam consideráveis

prejuízos econômicos devido à paralisação produtiva, a gastos com tratamento

médico e ao desperdício de alimentos.

Page 39: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

23

2.4 A IMPORTÂNCIA DA GARANTIA DE QUALIDADE SANITÁRIA E

NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS

A globalização da economia e a urbanização das sociedades vêm provocando

profundas alterações nos padrões alimentares e dietéticos da humanidade e

conseqüentemente um aumento significativo na diversificação da cadeia alimentar e

no consumo de refeições fora do lar.

No Brasil, outro fator importante é a inserção da mulher no mercado de

trabalho que apresentou um crescimento acentuado nos últimos trinta anos: sua

participação na População Economicamente Ativa6 (PEA) passou de 29%, em 1976,

para 44,9% em 2004 (IBGE, 2004).

A tendência de crescimento do setor de alimentação fora do lar é evidente e é

impulsionada por diversos fatores como o aumento das distâncias nos centros

urbanos, a diminuição do tempo disponível para as relações familiares e o avanço

das relações trabalhistas, que fornecem subsídios para a alimentação fora do lar,

alternativa importante para uma parcela expressiva da população, e até mesmo uma

obrigatoriedade tendo em vista as condições atuais de vida e trabalho.

Para Pitte (1998) uma das instituições alimentares mais difundidas no mundo

é a do restaurante: um estabelecimento no qual, mediante pagamento, é possível

sentar-se à mesa para comer fora de casa. Restaurantes de variedades

diversificadas multiplicam-se em função da afluência dos segmentos sociais, do

crescimento das cidades e da desenvoltura da indústria do turismo e da

hospitalidade.

6 PEA – população de 10 anos e mais que, no período anterior à pesquisa (período de uma semana ou de 365 dias para a PNAD, ou de 365 dias para o Censo), estava exercendo trabalho remunerado, estava trabalhando sem remuneração em algumas atividades por mais de 15 horas semanais, ou não estava trabalhando, mas procurava trabalho (nos últimos 2 meses antes do Censo, ou no último mês antes da PNAD).

Page 40: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

24

A história do setor de serviços de alimentação do Brasil pode ser dividida em

três períodos. Até a década de 1950 predominaram os estabelecimentos com

estrutura familiar e serviço personalizado (à la carte), lanchonetes tradicionais,

cantinas e pensões (ABERC, 2003).

Durante a década de 1960, a especulação imobiliária e a implantação de

parques industriais, além da instalação de grandes montadoras automobilísticas e

shopping centers, levaram à rápida expansão de lanchonetes e pizzarias bem como

ao surgimento de restaurantes comerciais e outros estabelecimentos com estrutura

administrativa e operacional melhor organizada. Surgem então as primeiras cadeias

e grupos de lojas. A década de 1990 corresponde ao terceiro período e é

caracterizada pela chegada das grandes multinacionais do setor e pelo

profissionalismo na prestação dos serviços (ABERC, 2003).

No Brasil, o número de empreendimentos de alimentação e em especial, de

restaurantes comerciais do tipo auto-serviço tem crescido significativamente nos

últimos anos e as estatísticas apontam para um aumento do consumo de alimentos

preparados fora do domicílio (ABERC, 2003).

Na indústria de alimentação7, o faturamento líquido do segmento de produtos

alimentares, em 2005, foi de R$ 158,4 bilhões, frente a R$ 152,3 bilhões no ano de

2004, representando um crescimento de 4% (ABIA, 2006). Do total faturado em

2005, o food service8 foi responsável por R$ 38,5 bilhões, ou seja, 13% a mais em

relação a 2004 (CFN, 2006), crescimento mais de 3 vezes superior ao da indústria

7 Indústria de alimentação – definida pela Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia como o segmento de aplicação de métodos e técnicas para o preparo, armazenamento, processamento, controle, embalagem, distribuição e utilização dos alimentos. Por meio da tecnologia empregada, pretende-se que os alimentos se conservem pelo maior tempo possível, evitando as perdas decorrentes de um sistema de abastecimento deficiente e da sazonalidade. Em vista disso, o setor que mais se desenvolveu nesta área da ciência moderna foi o de métodos de conservação de alimentos. 8 Food service – segmento da indústria de alimentação que engloba a alimentação fora do lar e toda a aquisição de matérias-primas e ingredientes in natura, pré-preparados, processados, ou prontos para consumo, com valor agregado, e destinados a um público específico.

Page 41: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

25

da alimentação.

Ainda no ano de 2005, o food service empregou 5,2 milhões de pessoas

diretamente e sua participação relativa no PIB brasileiro foi de 2,4%, sendo

responsável por 26% dos gastos nacionais com alimentos, com previsão de

crescimento para 40% nos próximos 20 anos. Em países da Europa e nos Estados

Unidos a média de refeições fora do lar atinge entre 45% a 50% (CFN, 2006).

Esses números indicam que os hábitos alimentares do Brasil vêm se

alterando e a Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF9, realizada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2002/2003 confirma essa alteração.

Comparativamente a pesquisas anteriores, os dados revelam que, nos últimos 30

anos, os alimentos adquiridos para consumo no domicílio tiveram seu consumo

triplicado enquanto o consumo per capita de alimentos como arroz e feijão

apresentaram queda superior a 40%. Revelam ainda que, há três décadas, a

alimentação fora do lar representava 9,7% das despesas com alimentação

enquanto, atualmente, é responsável por 24% dessas despesas (IBGE, 2004).

Arbache et. al. (2004) desenvolveram pesquisa sobre a Economia Brasileira e

a Gastronomia10 e concluíram que, do ponto de vista econômico, o setor de

gastronomia é altamente integrado ao restante da economia e sua participação

relativa no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é significativa sugerindo que o setor

agrega, em média, relativamente mais valor que as demais atividades da economia

e pode ser caracterizado como setor-chave na economia brasileira. O trabalho indica

que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor de gastronomia totalizou, em 2002, cerca

9 POF – pesquisa desenvolvida pelo IBGE que visa mensurar as estruturas de consumo, dos gastos e dos rendimentos das famílias e possibilita traçar um perfil das condições de vida da população brasileira a partir da análise de seus orçamentos domésticos. Além disso, são investigadas várias características associadas às despesas e rendimentos dos domicílios e famílias (IBGE, 2004). 10 Os dados da pesquisa referem-se a dados do setor de alimentação fora do lar, que os autores denominam setor de gastronomia.

Page 42: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

26

de R$ 29 bilhões, representando mais de 2% do PIB da economia do Brasil.

Segundo a pesquisa, apenas uma pequena parcela do PIB da gastronomia é

destinada ao investimento e o fato de um pequeno investimento gerar um PIB

relativamente elevado sugere que a atividade é caracterizada por retornos

crescentes do investimento, o que a qualifica como setor com alto potencial de

geração de renda e emprego a baixo custo (ARBACHE et. al., 2004).

Outra característica importante é a elevada participação do rendimento da

mão-de-obra não-qualificada e semiqualificada no setor de gastronomia em relação

ao restante da economia sugerindo que, de maneira geral, o setor utiliza mão-de-

obra de baixa qualidade. A elevada participação dos trabalhadores conta-própria e

empregadores na distribuição da renda do setor revela que este é bastante

atomizado e composto por muitos microempreendimentos (ARBACHE et. al., 2004).

A mesma pesquisa analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostras de

Domicílio (PNAD/IBGE, 2002), demonstrando a distribuição da ocupação por

categoria. Observou-se que a maior parte da força de trabalho desse setor é

composta por trabalhadores de pouca ou média qualificação e por trabalhadores

conta-própria: juntos, eles representam mais de 80% da ocupação. A distribuição por

nível de qualificação mostra que, entre esses trabalhadores, 78% cursaram até o

ensino médio incompleto; destes, mais da metade tem apenas o ensino básico

incompleto, ou seja, são potencialmente analfabetos ou analfabetos funcionais

(ARBACHE et. al., 2004).

Esse perfil da ocupação sugere o estágio ainda incipiente de

profissionalização e a necessidade de se promover a qualificação da mão-de-obra

para elevar a agregação de valor. Tal fato pode ser explicado, em parte, pelo nível

de desemprego que levou um grande número de profissionais sem qualificação a

Page 43: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

27

montar seu próprio negócio – especialmente os restaurantes comerciais do tipo auto-

serviço – comprometendo muitas vezes o processo produtivo e a eficiência da

operação (ARBACHE et. al., 2004).

Os dados apresentados levam à reflexão acerca da necessidade de se

dimensionar a demanda e priorizar o treinamento dos profissionais que atuam na

manipulação de alimentos, abrangendo a alocação de recursos com enfoque no

sincronismo e na convergência entre as ações das esferas pública e privada. No

âmbito político e econômico, essas ações devem ter como fundamento a

conscientização sobre a saúde da população e sua relação com a qualidade

sanitária e a segurança dos alimentos, principalmente se for considerada a

amplitude do público atendido pelos serviços de alimentação.

2.5. DOENÇAS VEICULADAS POR ALIMENTOS

Na medida em que a qualidade do alimento constitui-se em fator

preponderante para o sucesso das empresas do setor de alimentação, a demanda

por alimentos cada vez mais seguros tem levado essas empresas e o público a

compreenderem a segurança dos alimentos como um componente inerente à

qualidade dos mesmos e não como um atributo diferencial, uma vez que a garantia

das propriedades nutricionais, tecnológicas e sanitárias dos alimentos beneficiam

tanto o consumidor como a indústria.

Akutsu et. al. (2005) afirmam que

dentro da perspectiva estadunidense, qualidade é aquilo que satisfaz o cliente e o controle de qualidade é a manutenção dos produtos e serviços dentro dos níveis de tolerância aceitáveis para o consumidor ou comprador. Desse modo, para avaliar a qualidade de um produto alimentar deve ser mensurado o grau em que o produto satisfaz os requisitos específicos, sendo que

Page 44: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

28

esses níveis de tolerância e requisitos se expressam por meio de normas, padrões e especificações.

As autoras consideram que a qualidade do alimento refere-se aos seus

aspectos intrínsecos (qualidade nutricional e sensorial), à segurança (qualidade

higiênico-sanitária), ao atendimento (relação cliente-fornecedor) e ao preço.

O processamento dos alimentos deve estar submetido ao controle de

qualidade tanto no que se refere ao aspecto da inocuidade como aos princípios de

uma alimentação saudável, uma vez que pode destruir qualidades naturais do

alimento, diferenciando-o fortemente de sua composição e dos aspectos originais (in

natura) ou podendo levar à alta concentração de elementos químicos prejudiciais à

saúde (CONSEA, 2004).

A manutenção da integridade sanitária da cadeia alimentar por meio da busca

contínua da qualidade em todas as etapas, desde a produção até o consumo,

representa um fator primordial na competição entre empresas deste mercado e, ao

mesmo tempo, um desafio a ser superado. Parâmetros importantes como a

qualidade da matéria-prima, a padronização do processamento, a manutenção das

temperaturas durante o processamento e o próprio serviço dos alimentos devem ser

observados mais atentamente para evitar a ocorrência das doenças veiculadas por

alimentos. Entretanto, muitas vezes estes parâmetros não são suficientes para

garantir a inocuidade alimentar (FELIX et. al., 2003), tornando antagônica a relação

do homem com o alimento – ao mesmo tempo em que este é necessário para

atender às necessidades nutricionais, pode provocar enfermidades e até mesmo a

morte. Apesar de muitas dessas enfermidades poderem ser evitadas, a

compreensão de como o alimento pode se tornar fonte potencial de perigo ainda se

coloca como uma barreira a ser transposta.

Page 45: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

29

O Glossário de Terminologias de Vigilância Epidemiológica - MERCOSUL11

define doença transmissível como qualquer doença causada por um agente

infeccioso12, ou por seus produtos tóxicos, ou pelos produtos tóxicos de outros

agentes biológicos, produzida pela transmissão desse agente ou seus produtos,

desde uma pessoa ou animal infectado ou de um reservatório a um hospedeiro

suscetível (BRASIL, 2005b).

Por sua vez, doenças veiculadas por alimentos são enfermidades de natureza

infecciosa ou tóxica causadas pelo consumo de alimento ou de água (OPAS/OMS,

1998).

De acordo com o Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos e

Zoonoses (INPPAZ), o Center for Disease Control and Prevention13 (CDC) define

surto de doenças veiculadas por alimentos como um episódio em que duas ou mais

pessoas apresentam, em um determinado período de tempo, doença semelhante

após ingerir o mesmo alimento e/ou água considerado como origem da doença por

evidência clínica – epidemiológica e/ou laboratorial (OPAS/INPPAZ, 2001). Um caso

não usual como o botulismo também constitui surto.

Entretanto, a identificação dos surtos nem sempre é tarefa fácil devido a sua

ocorrência dispersa, ao relativamente pequeno número de pessoas afetadas, ao

baixo nível de contaminação ou à subnotificação de casos.

Para Panetta (2004), o momento atual é pródigo em transformações, não só

tecnológicas, mas também de caráter sanitário: multiplicam-se as doenças por

microgranismos emergentes ou reemergentes; as doenças propagam-se

11 Glossário de Terminologias de Vigilância Epidemiológica - MERCOSUL – glossário elaborado para harmonizar a terminologia na área de vigilância epidemiológica com vistas a possibilitar a formação de um Sistema de Informações sobre o assunto. 12 Agente infeccioso – microrganismos ou parasitas capazes de produzir uma infecção ou doença infecciosa. 13 CDC – órgão operacional do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, principal agência do governo responsável pela proteção da saúde e segurança alimentar da população.

Page 46: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

30

rapidamente com os viajantes, particularmente aquelas de origem alimentar; são

incrivelmente mais numerosas as formas de contaminação das matérias-primas

alimentares, tanto de origem animal quanto de origem vegetal, mormente pela

precariedade do saneamento básico em algumas regiões; constata-se um

recrudescimento de algumas zoonoses de origem alimentar em decorrência das

condições sociais de vida das populações mais pobres; aumenta substancialmente o

risco de contaminação química dos alimentos, tanto em decorrência da

contaminação ambiental (defensivos agrícolas) como da necessidade de utilização,

pela indústria, de aditivos intencionais, que deve merecer rigoroso monitoramento.

Para Akutsu et. al. (2005), as doenças veiculadas por alimentos são um dos

principais fatores que contribuem para os índices de morbidade nos países da

América Latina e do Caribe. O Comitê OMS/FAO (2002) admite que as doenças

oriundas de alimentos contaminados são, provavelmente, o maior problema de

saúde no mundo contemporâneo.

Assim, cresce a preocupação com a segurança dos alimentos na medida em

que dados estatísticos demonstram que os serviços de alimentação têm se

destacado na prevalência da epidemiologia dos surtos de DVAs. No contexto, a

qualidade higiênico-sanitária tem sido amplamente estudada e discutida a partir da

identificação de surtos e doenças provenientes do consumo de produtos alimentícios

ou de água.

As DVAs podem ser classificadas em (OPAS/INPPAZ, 2001):

• infecção transmitida por alimentos, que resulta da ingestão de alimentos

contendo microrganismos vivos prejudiciais – bactérias, vírus, protozoários;

• intoxicação causada por alimento, que ocorre quando as toxinas ou os

venenos de bactérias ou bolores estão presentes no alimento ingerido.

Page 47: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

31

• infecção mediada por toxinas, que resulta da ingestão de alimento contendo

uma determinada quantidade de microrganismos patogênicos e capazes de

produzir ou liberar toxinas quando ingeridos.

Entretanto, apesar de a presença do patógeno ou de sua(s) toxina(s) no

alimento ser uma das condições para a ocorrência de uma DVA, outras condições

são também necessárias: a presença do patógeno em quantidade suficiente para

causar uma infecção ou para produzir toxinas; a capacidade do alimento de

sustentar o desenvolvimento dos patógenos; a permanência do alimento na zona de

perigo de temperatura por tempo suficiente para possibilitar a multiplicação do

organismo e/ou a produção de toxina (OPAS/INPPAZ, 2001).

Richards (2002) complementa que apesar de todas as pessoas estarem

sujeitas às doenças veiculadas por alimentos, alguns fatores podem predispô-las a

essas doenças:

• o estado geral de saúde que determina a concentração de microrganismos

que poderá causar ou não essas doenças;

• a gravidez, que afeta o sistema imunológico da mulher, o que é corroborado

por estudos que indicam serem essas mais suscetíveis a vírus e a bactérias

como a Listeria spp14;

• a idade, que afeta particularmente as crianças com até cinco anos e os

adultos após os 45 anos de idade;

• os fatores hereditários que podem transmitir a propensão a determinadas

doenças;

• as infecções que podem diminuir a capacidade de resistência a ataques de

14 Listeria spp – corresponde a um gênero de microrganismos em forma de bastão, Gram-positivo, não formador de esporos. Está amplamente distribuída no meio ambiente, principalmente no solo e em vegetais. É composto por várias espécies, entre as quais a Listeria monocytogenes é importante em alimentos e pode causar a listeriose em homens e animais.

Page 48: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

32

outros microrganismos como, por exemplo, os portadores de HIV;

• as condições médicas preexistentes que podem aumentar a possibilidade ou

gravidade de uma intoxicação alimentar.

Cardoso et. al. (2005) afirmam que os surtos geralmente se desenvolvem por

falhas múltiplas peculiares aos serviços de alimentos, incluindo: refrigeração

inadequada; preparo do alimento com amplo intervalo de tempo (maior que doze

horas) antes do consumo e manutenção em temperatura inadequada;

processamento térmico insuficiente (cocção ou reaquecimento); conservação

imprópria; alimentos contaminados; contaminação cruzada15; higienização

inadequada; utilização de sobras; uso de produtos clandestinos e manipuladores

infectados/contaminados.

O termo manipulador de alimentos é utilizado, de forma genérica, para referir-

se às pessoas que podem entrar em contato com parte ou com o todo da produção

de alimentos, incluindo os que colhem, abatem, armazenam, transportam,

processam ou preparam alimentos (ICMS/IAMS, 1997). Neste estudo, considera-se

manipulador de alimentos o indivíduo que pode entrar em contato, em parte ou no

todo, com a preparação e/ou o serviço de alimentos.

Os surtos, embora subestimados, principalmente nos países

subdesenvolvidos, têm prevalência elevada e decorrem da presença de

microrganismos como Salmonella spp, Staphylococcus aureus, Campylobacter

jejuni, Yersinia enterocolitica, Escherichia coli, dentre outros (CARDOSO et. al.

2005).

Dados da OMS apontam que, anualmente, ocorrem um bilhão e meio de

infecções de origem alimentar, ou seja, 25% da população mundial sofrem ao menos

15 Contaminação cruzada – contaminação de determinada matéria-prima, produto intermediário, produto a granel ou produto terminado com outra matéria-prima, produto intermediário, produto a granel ou produto terminado, durante o processo de produção.

Page 49: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

33

uma vez por ano de alguma doença transmitida por alimentos (SEBRAE NACIONAL,

2005).

Os alimentos envolvidos com mais freqüência nos surtos de DVAs são

aqueles de origem animal. No período de 1973 a 1987, nos EUA, em 48% dos

surtos em que o veículo foi identificado, os produtos envolvidos eram carne bovina,

frango, ovos, carne suína, pescados, moluscos, peru ou produtos lácteos

(OPAS/INPPAZ, 2001).

Sofos (2002), citado por Campos (2004), indica que somente nos Estados

Unidos as intoxicações alimentares registram anualmente cerca de 76 milhões de

casos, com 325 mil hospitalizações e 5 mil mortes.

Citado por Campos (2004), Garcia (2002) aponta o caso do azeite de colza16

desnaturado17 que, em 1981, resultou em cerca de 900 mortes e mais de 20.000

afetados na Espanha devido à introdução, no mercado, de milhões de litros deste

azeite para uso industrial.

Campos (2004) indica ainda outros casos como a Encefalopatia Espongiforme

Bovina (doença da vaca louca)18, detectada inicialmente em 1986 e posteriormente

em 1993 e 2000, no Reino Unido, quando causou cerca de 100 mortes na Europa; a

contaminação de rações animais com dioxinas19 que emergiu em 1999 e implicou na

retirada do mercado de produtos avícolas, de suínos e de bovinos (carne e leite)

16 Colza – segundo Houaiss, planta anual ou bianual de até 1m (Brassica napus), da família das crucíferas, provavelmente resultante do cruzamento da couve (Brassica oleracea) e do nabo (B. rapa), de flores amareladas, melíferas; túrnepo-amarelo. Do grupo Pabularia, com cultivares de folhas azuladas e crespas de cujas sementes são extraídos os óleos de canola e de colza. 17 Desnaturação - adulteração das propriedades de substância, produto, etc.

18 Encefalopatia Espongiforme Bovina – doença causada por um tipo de agente infeccioso denominado prion, derivado de uma proteína da membrana de células nervosas que quando modificada, provoca um quadro degenerativo crônico e transmissível do sistema nervoso central de bovinos. 19 Dioxina – refere-se a um grupo de mais de 200 compostos químicos tóxicos, subprodutos involuntários de processos químicos que envolvem o cloro. Também surgem quando produtos clorados são queimados acidentalmente ou em incineradores.

Page 50: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

34

procedentes da Bélgica; a febre aftosa20, na Argentina e no Brasil (2000/2001).

Outros exemplos são os casos fatais de listeriose21, doença que apresenta a

taxa de letalidade entre as mais altas de todas as infecções transmitidas por

alimentos bem como elevado potencial epidêmico e o vírus da gripe aviária22, que

ameaça tornar-se uma pandemia23 entre seres humanos. Também as infecções por

Salmonella que, segundo estimativas de Chalker & Blaser (1988), citados por

Loguercio et. al. (2002), somente nos Estados Unidos devem ocorrer, a cada ano,

entre 800 mil e 3,7 milhões de casos humanos.

Um exemplo recente, no Brasil, é a difilobotríase24, parasitose intestinal

causada por espécies do gênero Diphyllobothrium. O Centro de Vigilância

Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo notificou a

ocorrência de 27 casos autóctones, no município de São Paulo, no período de

março de 2004 a março de 2005, estando associados à ingestão de peixes crus ou

mal cozidos consumidos em restaurantes japoneses ou outros que servem a

culinária japonesa (BRASIL, 2005c). A infecção provocada pelo Diphyllobothrium é

20 Febre aftosa – causada por um vírus da família Picornaviridae, gênero Aphthovírus. Em geral, os sinais clínicos são severos em bovinos e suínos. Ovelhas e cabras geralmente desenvolvem infecções subclínicas. Hoje se faz presente de forma endêmica em algumas regiões da Ásia, América do Sul, África e no Oriente Médio. Os prejuízos são causados pelas perdas diretas devido aos sinais clínicos, com conseqüente queda na produção, e pelas perdas indiretas por meio dos embargos econômicos impostos pelos países importadores. É a enfermidade de animais que mais produz perdas econômicas. 21 Listeriose – doença infecciosa causada, em geral, pela ingestão de alimentos contendo a bactéria Listeria monocytogenes. Afeta principalmente mulheres grávidas, recém-nascidos e adultos com o sistema imunológico comprometido. 22 Gripe aviária – resultado da infecção das aves pelo vírus da influenza, cujas cepas são classificadas como de baixa ou de alta patogenicidade, de acordo com a capacidade de provocarem doença leve ou grave nesses animais. Os surtos de doença causados pelos vírus de alta patogenicidade representam risco para a saúde humana, em particular para os trabalhadores de granjas e de abatedouros dessas aves, pelo nível maior de exposição. Alguns subtipos do vírus de influenza aviária já foram diagnosticados em humanos, mas não causaram doença grave nem mortalidade em pessoas infectadas. 23 Pandemia – epidemia que alcança grandes extensões geográficas, de forma quase simultânea ou com deslocamento de um continente a outro. 24 Difilobotríase – infecção causada por um parasita de peixes, também conhecido como tênia dos peixes. A infecção é semelhante à da tênia solium e tênia saginata, cuja contaminação ocorre pela ingestão de carnes de gado e porco mal cozidas. O hospedeiro definitivo é o homem, porém outros mamíferos, como cães e gatos, que comem peixe cru podem servir de hospedeiro. Os parasitas adultos maduros que se alojam no intestino delgado atacam a mucosa intestinal. Desconforto abdominal, náusea, vômito e diarréia, perda de apetite e de peso, dor abdominal são alguns dos sintomas.

Page 51: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

35

comum em vários países, sobretudo do Extremo Oriente, na África, em certos países

da Europa e mesmo na América do Norte, onde sua ocorrência é endêmica porque o

consumo de peixe cru é parte dos hábitos alimentares de parcela importante dessas

populações.

Outro exemplo é a contaminação do caldo-de-cana pelo Trypanosoma cruzi

que levou à confirmação de 24 casos e três óbitos, decorrentes da Doença de

Chagas, em Santa Catarina, no ano de 2005 (ANVISA, 2005).

O botulismo é provocado pela bactéria Clostridium botulinum. Considerado

um problema de saúde pública devido a sua gravidade e alta letalidade, tem

distribuição mundial e acomete pessoas isoladas ou causa surtos familiares,

geralmente relacionados à produção e à conservação dos alimentos. Apesar da

gravidade, é uma doença pouco diagnosticada pelos profissionais de saúde. No

Brasil, até julho de 2002, somente quinze casos foram notificados. A toxina

botulínica atua sobre o sistema nervoso periférico bloqueando a transmissão

neuromuscular, atingindo as membranas pré-sinápticas, onde atua impedindo a

liberação da acetilcolina nas terminações nervosas, ocasionando a paralisia que se

instala de modo descendente. Não há alteração do nível de consciência e a doença

pode levar à morte. Nos casos provocados por ingestão de alimentos, a doença tem

manifestação súbita, podendo ocorrer em horas (FIGUEIREDO, 2006).

Com a finalidade de determinar a incidência dos surtos de DTAs25 no Brasil, a

Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde (MS) implantou no

final de 1999, a vigilância epidemiológica das DTAs (VE-DTA) em todas as

Secretarias Municipais de Saúde das capitais e nas Secretarias Estaduais de Saúde

das 27 Unidades Federadas (UF). Essas secretarias assumiram o compromisso de

25 DTA – doença transmitida por alimentos. Neste trabalho utiliza-se a sigla DVA (doença veiculada por alimento).

Page 52: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

36

implantar a VE-DTA em todos os seus municípios (BRASIL, 2004a).

A VE-DTA é um sistema que visa reduzir a incidência das DTAs no Brasil a

partir do conhecimento do problema e de sua magnitude, com vistas a subsidiar a

adoção de medidas adequadas de prevenção e controle, em tempo oportuno. Reúne

informações indispensáveis para conhecer o comportamento ou a história natural

dessas doenças, identifica os principais agentes etiológicos, alimentos envolvidos,

locais de ocorrência e fatores de risco para os surtos (BRASIL, 2004a).

Entretanto, estudo realizado por Carmo et. al. (2004b) para investigar o Perfil

Epidemiológico dos Surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos no Brasil realizou

análise descritiva dos surtos notificados à SVS no período de 1999 a 2004 e

concluiu que

a implantação da VE-DTA no Brasil ainda é muito heterogênea e as SES que implantaram a vigilância em seus municípios têm notificado mais surtos. Com as informações existentes, pode-se afirmar que a maioria dos surtos de DTA ocorre nas residências e são causados, principalmente, por alimentos preparados com ovos crus e por Salmonella spp. Devido à deficiência na investigação dos surtos, o que pode ser constatado pela análise da completude das informações, uma das prioridades do MS é o aperfeiçoamento da VE-DTA nas SES, visando ao aprimoramento da qualidade das investigações dos surtos e à recomendação da aplicação de estudos epidemiológicos que permitam identificar a fonte e o agente etiológico, bem como ampliar a utilização do diagnóstico laboratorial na confirmação clínica e bromatológica.

Para Germano (2004), no Brasil, os dados estatísticos disponíveis acerca das

DVAs não são precisos ou atualizados. Entretanto, alguns levantamentos mostram a

urgência de priorizar a questão, melhorando e sistematizando o registro de DVAs e

disponibilizando esses dados como parte de um processo educativo e de

conscientização acerca da importância da segurança dos alimentos na prevenção

dessas doenças. Esse processo educativo implica em informação e esclarecimento

Page 53: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

37

ao produtor, à indústria e ao distribuidor de alimentos, fornecendo o apoio técnico e

a instrumentação necessária para alcançar os parâmetros tecnológicos ideais. É

necessário conhecer, em detalhes, o fluxograma operacional de produção de cada

produto, identificando os perigos potenciais de cada etapa e a forma adequada de

evitá-los, resolvê-los ou monitorá-los.

O relatório da OPAS sobre a Saúde no Brasil (1998) indica que, em 1996

foram identificados 349 surtos em sete estados do país, com 11.341 casos

notificados. Foram investigados 24 surtos em Belo Horizonte e revelados como

agentes etiológicos, em ordem decrescente de prevalência: Staphyloccus aureus,

Salmonella spp e Clostridium perfringens. Os fatores determinantes desses surtos

foram matérias-primas inadequadas, falta de higiene, práticas incorretas de

manipulação, de cocção e de reaquecimento de alimentos, e conservação a

temperaturas inadequadas.

Santos et. al. (2003) apontam que, segundo o relatório da OPAS de 1999, na

América Latina, Salmonella spp foi a segunda causa de doenças bacterianas

veiculadas por alimentos no período de 1995 a 1998. Dos surtos causados por

bactérias, Salmonella spp foi responsável por 324 casos (33,4%), atrás apenas de

Staphylococcus spp, agente causal de 342 surtos (35,2%). Os autores afirmam que,

apesar do aparecimento de novos microrganismos no cenário das doenças

veiculadas por alimentos, a Salmonella ainda ocupa lugar de destaque nas

estatísticas epidemiológicas dessas doenças.

Levantamento realizado pelo Public Health Laboratory Service do Reino

Unido (1999), no período de 1992 a 1998, indica que Salmonella spp foi o

microrganismo mais freqüente, sendo responsável por 22% de um total de 4.012

surtos de doenças infecciosas intestinais ocorridas na Inglaterra e no País de Gales

Page 54: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

38

(SANTOS et. al. 2003).

Gelli et. al. (1998), citados por Santos et. al. (2003), verificaram que no

período entre 1985 e 1996, das cepas de Salmonella isoladas no Estado de São

Paulo, 34% eram provenientes de carnes vermelhas e derivados; 31,5% originadas

de aves e derivados; e 10,6% encontradas em ovos e derivados. As demais cepas

estavam presentes em diferentes alimentos

Jakabi et. al. (1999), citados por Santos et. al. (2003), constataram que no

período de 1994 a 1997, na Grande São Paulo, 72,2% do total relatado de doenças

veiculadas por alimentos foram causados por Salmonella spp. Das amostras de

alimentos ou de água relacionadas a estes surtos, 47% eram ovos e preparações à

base de ovos; 13%, carnes; 13%, água; 8,7%, grãos; 8,7%, leite reconstituído; 4,3%,

salgadinhos; e 4,3%, batata cozida.

Segundo Helson (1997), citado por Santos et. al. (2003), os alimentos mais

importantes na transmissão de Salmonella são aves e produtos à base de aves, e

ovos e produtos à base de ovos. A estratégia considerada mais eficiente para reduzir

ou eliminar a presença da bactéria nestes produtos é a irradiação e a aplicação do

sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.

A salmonelose figura como uma das mais importantes DVAs, de acordo com

a OMS, pelo número de pessoas afetadas, pelas complicações da doença, pela

quantidade de produtos alimentícios contaminados e pela perda econômica com

tratamento médico (OPAS/OMS, 1998).

Segundo dados do Center for Disease Control (2000), citados por Pereira &

Pereira (2005), nos Estados Unidos, entre os anos de 1993 e 1997, foram

notificados 42 surtos de intoxicação estafilocócica, aos quais 1.413 casos da doença

estiveram associados e dos quais um resultou em óbito. Com base em dados do

Page 55: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

39

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, 2002), os mesmos autores

mostram que a intoxicação alimentar estafilocócica corresponde a aproximadamente

4,5% das doenças alimentares de origem bacteriana, sendo responsável por 1.753

hospitalizações e duas mortes a cada ano. No Brasil, entre os anos de 1993 e 2000

foram notificados 68 surtos de intoxicação alimentar estafilocócica, correspondentes

a 1.287 casos da enfermidade e um óbito (SIRVETA, 2002 apud PEREIRA &

PEREIRA, 2005).

Esses dados justificam a crescente preocupação com a qualidade e a

segurança dos produtos alimentícios, especialmente em relação à eficiência e à

efetividade dos órgãos responsáveis pela saúde pública ao exercerem seu papel de

regulamentação, inspeção e orientação. São necessários programas de capacitação

bem estruturados e legislação adequada sobre a higiene sanitária dos alimentos,

que respondam às necessidades e aos desafios apresentados, devendo constituir-

se em prioridade dos governos, uma vez que a mediação da relação entre o setor

produtivo e o consumidor é responsabilidade do Estado, que deve estabelecer

normas e padrões para os produtores de alimentos e monitorar o cumprimento das

determinações, tanto do ponto de vista da saúde pública como dos aspectos

econômicos.

2.6 INSTRUMENTOS LEGAIS

A constituição da Comissão do Codex Alimentarius26, em 1962, deu início a

um programa conjunto da FAO e da OMS para estabelecer normas e padrões

alimentares a serem adotados internacionalmente e apresentados de maneira

26 Codex Alimentarius – comissão formada por países membros da FAO e da OMS que atuam na elaboração de um conjunto de padrões alimentares adotados internacionalmente.

Page 56: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

40

uniforme, com o objetivo de proteger a saúde do consumidor e garantir práticas

justas no comércio de alimentos. O Codex Alimentarius inclui padrões para todos os

alimentos – processados, semiprocessados ou crus – para distribuição ao

consumidor ou como matéria-prima, visando garantir ao consumidor um alimento

inócuo, saudável e livre de adulterações, corretamente rotulado e apresentado

(OPAS/INPPAZ, 2001).

Em especial, o Código de Práticas Internacionais Recomendadas em

Princípios Gerais de Higiene Alimentar (CAC/RCP 1-1969), reconhecido

mundialmente como fundamental para garantir a inocuidade e a segurança dos

alimentos consumidos, é o suporte para a elaboração de um sistema baseado na

Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle ou Hazard Analysis and Critical

Control Points (HACCP), para assegurar a ausência de contaminantes biológicos,

químicos ou físicos no produto final oferecido ao consumidor (OPAS/INPPAZ, 2001).

No âmbito internacional, o interesse e as questões relativas à Segurança

Alimentar ocupam lugar de destaque, especialmente nas discussões científicas e

tecnológicas que subsidiam a concepção de normas e regulamentos para o

comércio internacional. A segurança dos alimentos foi reconhecida pela OMS e por

seus estados membros como uma prioridade da saúde pública durante a 53ª World

Health Assembly, em maio de 2000. Desta reunião, resultou a elaboração de uma

estratégia global de segurança dos alimentos a fim de reduzir a incidência de

doenças transmitidas por alimentos (PERETTI, 2003).

Como país signatário do Codex27, o Brasil utiliza a regulamentação

internacional para subsidiar a elaboração das normas brasileiras referentes à

produção e à transformação de alimentos; o controle é executado em nível federal,

27 Codex – o termo é utilizado tanto para a comissão formada por países membros da FAO e da OMS quanto para as normas propriamente ditas.

Page 57: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

41

estadual e municipal. Entretanto, a maior parte da legislação pertinente aos

estabelecimentos de alimentação é gerada nos estados ou municípios, a partir de

diretrizes estabelecidas em nível hierarquicamente superior. Estados e municípios

possuem seu Código Sanitário28 que, em geral, orientam a implementação dos

regulamentos sanitários.

Fundamentado nas publicações do Codex Alimentarius e da OMS, visando

aperfeiçoar as condições higiênico-sanitárias no preparo de alimentos e adequar a

ação da Vigilância Sanitária, o Ministério da Saúde publicou, na década de 1990, a

Portaria n° 1428/93 que introduz o conceito das ferramentas de gestão de perigos:

Análise de Perigos por Pontos Críticos de Controle e Boas Práticas de Fabricação. A

Portaria aprova o Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos, as

Diretrizes para o Estabelecimento de Boas Práticas de Produção e de Prestação de

Serviços na Área de Alimentos e o Regulamento Técnico para o Estabelecimento de

Padrão de Identidade e Qualidade (PIQs)29 para Serviços e Produtos na Área de

Alimentos. A Portaria estabelece orientações para as atividades de inspeção

sanitária, de forma a avaliar as Boas Práticas para a obtenção de PIQs de produtos

e serviços na área de alimentos com vistas à proteção da saúde da população

(BRASIL, 1993).

Posteriormente, a Portaria n° 326/97 estabelece os requisitos gerais

(essenciais) de higiene e de Boas Práticas de Fabricação para alimentos

produzidos/fabricados para o consumo humano (BRASIL, 1997) e a RDC nº275/02

estabelece um roteiro para a inspeção de Boas Práticas de Fabricação e determina

28 Código sanitário – normas que disciplinam as questões relativas ao ambiente, aos produtos e aos serviços ligados ao alimento, desde a produção até a mesa, em relação às construções, aos procedimentos, à identidade e à qualidade dos produtos. 29 PIQs – padrões a serem adotados pelo estabelecimento referentes ao conjunto de atributos que identifica e qualifica o produto na área de alimentos.

Page 58: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

42

a obrigatoriedade de implantação de Procedimentos Operacionais Padronizados,

também pré-requisitos para a implantação do sistema APPCC (BRASIL, 2002a).

No âmbito de suas atribuições, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

adota a RDC nº216, de 15 de setembro de 2004, que estabelece procedimentos de

Boas Práticas de Fabricação para serviços de alimentação a fim de garantir as

condições higiênico-sanitárias do alimento preparado (BRASIL, 2004c), assegurando

a regulamentação específica para os serviços de alimentação.

A desobediência à Resolução configura infração de natureza sanitária,

sujeitando a empresa às penas previstas em lei que variam desde notificações até

multas e interdição do estabelecimento.

No Brasil, a promoção e a garantia da segurança dos alimentos vêm sendo

incorporadas aos planos estratégicos do governo e diversos estudos têm sido

realizados sobre as condições higiênicas, as práticas de manipulação e o preparo de

alimentos. O Ministério da Saúde e o Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento atuam, em cooperação técnica com a OPAS/OMS no Brasil, para

promover melhorias no controle higiênico-sanitário dos alimentos de origem

agropecuária, visando prevenir o risco de prevalência das doenças veiculadas por

alimentos e as barreiras higiênico-sanitárias ao comércio internacional de produtos

alimentícios do país. Esse trabalho de cooperação está voltado para o fortalecimento

da capacidade técnica dos profissionais nacionais para exercer e/ou fiscalizar a

vigilância sanitária nos estabelecimentos processadores de alimentos, por meio da

utilização de instrumentos técnicos – APPCC, BPF e POPs – bem como para

melhorar a vigilância epidemiológica das DVAs (OPAS, s/d).

No contexto, sensibilizada pela falta de informação e de uma sistemática para

implantação do sistema APPCC e de seus pré-requisitos, especialmente pelas micro

Page 59: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

43

e pequenas empresas, além da pressão cada vez maior do mercado externo por

alimentos seguros, a CNI/Senai30 e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (Sebrae Nacional) criaram o Projeto APPCC para as indústrias

de alimentos (PAS, 2006).

Com início em abril de 1998, e previsão de duração de um ano, o Projeto visa

levar as Boas Práticas e o sistema APPCC para as indústrias de alimentos, com o

objetivo de consolidar, em curto prazo, uma infra-estrutura (elaboração de manuais,

técnicos habilitados e recursos de suporte) para divulgar e capacitar empresas no

sistema APPCC, mobilizar empresários, e capacitar e apoiar as indústrias de

agronegócios na implantação das ferramentas, atuando nos segmentos de pescado,

carne, leite, sucos e vegetais (PAS, 2006).

Reconhecendo a importância do Projeto, no período de 2000 a 2002, outras

entidades – Embrapa31, Senar32, Sesi33, Senac34, Sesc35, Sebrae Nacional, Anvisa e

CNPq36 – aderem ao Projeto, que é expandido para os segmentos Campo (produção

primária) e Mesa (alimentos prontos para consumo), com a previsão de atuar em

toda a cadeia de produção de alimentos (PAS, 2006).

Em agosto de 2002, o Projeto APPCC passa a ser denominado Programa

Alimentos Seguros (PAS) em virtude de sua expansão e da natureza da atuação,

que não mostra um horizonte para seu término, já que a atividade de implantação é

demandada continuamente, devido ao grande número de empresas no país. Com o

foco cada vez maior na conscientização do consumidor e da sociedade, de modo

geral, o PAS é estruturado como um Programa de campo à mesa (PAS - Campo à

30 CNI/SENAI – Confederação Nacional da Indústria/ Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial 31 Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária 32 Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural 33 Sesi – Serviço Social da Indústria 34 Senac – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial 35 Sesc – Serviço Social do Comércio 36 CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Page 60: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

44

Mesa), sendo composto de seis projetos: PAS-Campo, PAS-Indústria, PAS-

Distribuição, PAS-Transporte, PAS-Mesa e PAS-Ações Especiais (PAS, 2006).

O PAS-Mesa, especificamente, justifica-se pela necessidade de atender aos

requisitos legais do país; por uma demanda do Ministério da Saúde para atuar no

segmento visando à melhoria do quadro; e pelo fato de os setores que atuam no

preparo e na distribuição de alimentos prontos para o consumo – cozinhas

industriais, restaurantes, bares e similares e panificadoras – estarem freqüentemente

envolvidos em surtos de toxinfecções alimentares (PAS, 2006).

Com o objetivo de aumentar a segurança no preparo de alimentos prontos

para consumo, visando à redução de surtos de toxinfecção alimentares, o Programa

desenvolve material técnico e de sensibilização para os segmentos de cozinhas

industriais, hospitalares, escolares, comerciais, bares e lanchonetes, lactários,

nutrição enteral, bancos de leite, alimentação transportada, quiosques, ambulantes,

catering, padarias e panificadoras; forma consultores – multiplicadores – para

disseminar a sistemática e apoiar sua implantação; difunde o Sistema por meio de

seminários para esses segmentos e apóia as empresas por meio de treinamento e

consultoria na implantação do Sistema, em todo país (PAS, 2006).

No âmbito do Programa Mesa, no Brasil, no período de 2002 a março de

2006, foram iniciadas 9.649 e concluídas 5.380 implantações em Boas Práticas de

Fabricação. Em relação ao APPCC, foram iniciadas 180 e concluídas 147

implantações (PAS, 2006).

Outra ação no mesmo sentido é o Programa Qualidade na Mesa, uma

iniciativa da Abrasel Nacional, em conjunto com o Ministério do Turismo e o Sebrae

Nacional que, iniciado em dezembro de 2005, inclui atividades a serem

desenvolvidas até 2007 (BRASIL, 2005a). Tem por objetivo impulsionar o

Page 61: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

45

desenvolvimento sustentável do Brasil, por meio da valorização da gastronomia

brasileira e do estímulo à responsabilidade social e à melhoria dos serviços

prestados, por meio da qualificação profissional (BRASIL, 2005a). A estimativa é de

que, no período de 2005 a 2007, sejam investidos cerca de R$16 milhões no

treinamento de aproximadamente 28 mil pessoas, sendo uma parte destes recursos

destinada à capacitação no quesito segurança de alimentos (ABRASEL, 2006).

Uma de suas ações relaciona-se às Boas Práticas, constituída de duas fases

que, apoiadas nas orientações da RDC nº216/04, fornecem meios de avaliar a

produção e os recursos disponíveis, estabelecendo normas e procedimentos a

serem seguidos, desde o cadastro de fornecedores, compras de matéria-prima,

instalações, layout da empresa, fluxo do processo, até o controle da água e limpeza

dos reservatórios, higiene do manipulador, e das instalações, equipamento e

utensílios (BRASIL, 2005a).

A primeira fase – treinamento teórico – visa qualificar dois colaboradores de

cada empresa em segurança de alimentos, por meio de treinamento teórico

contemplando os tópicos necessários para receber, armazenar, preparar, cozinhar e

servir alimentos adequadamente, além das orientações necessárias para a

implementação das boas práticas na empresa, incluindo a utilização dos materiais e

modelos de formulários propostos (BRASIL, 2005a).

A segunda fase – consultoria de implantação – é composta por uma etapa de

consultoria, abrangendo a área de produção principal da empresa, a partir de visitas

técnicas de um consultor especializado e de reuniões com os gerentes ou gestores e

com os dois colaboradores treinados na primeira fase, para análise e discussão dos

resultados.

Hoje, o Programa está presente em 23 estados da Federação e no Distrito

Page 62: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

46

Federal (DF), e a meta é atender 2.000 pessoas em cada fase proposta, até abril de

2007. Desde dezembro de 2005, foram atendidos 790 funcionários de 385 empresas

em 19 cidades brasileiras (BRASIL, 2005a).

Segundo Araújo (2004), a legislação brasileira de alimentos passou a existir

depois da segunda metade da década de 60, a partir do crescimento da

agroindústria e da indústria da alimentação, que levaram à regulamentação dos

produtos alimentícios. A democratização da saúde fortaleceu-se no movimento pela

reforma sanitária e organizou suas propostas na VIII Conferência Nacional de

Saúde, em 1986. Entretanto a vigilância sanitária tornou-se mais conhecida

somente após a ocorrência de acidentes como o de sucos e gelatinas contaminados

com excesso de conservantes, a tragédia com o césio em Goiânia, a importação de

alimentos contaminados na área do acidente radioativo Chernobil e o uso de

anabolizantes na pecuária de corte.

A proclamação da saúde como direito de todos e dever do Estado, pela

Constituição Federal (BRASIL, 1988) e a criação do Código de Defesa do

Consumidor, Lei no. 8.078 (BRASIL, 1990), dão início à sistematização de

mecanismos para regulamentar a comercialização de produtos alimentícios. O direito

à aquisição de alimentos seguros é garantido aos consumidores pelo artigo 6º do

Capítulo III do Código de Defesa do Consumidor:

são direitos básicos dos consumidores: I - a proteção à vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos (...).

Em 1999, a lei 9.782 cria e estabelece as competências da primeira agência

reguladora da área social no Brasil – Anvisa – que tem por finalidade institucional

promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da

Page 63: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

47

produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância

sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a

eles relacionados, bem como o controle de portos, aeroportos e de fronteiras,

devendo manter sistema de informações em vigilância sanitária, em cooperação com

os estados, o Distrito Federal e os municípios (BRASIL, 1999).

Para Piovesan (2002) pode-se compreender Vigilância Sanitária como um

conjunto de ações fundamentalmente técnicas, voltadas para a proteção e a

promoção da saúde da população, constituindo-se dever do Estado e direito

inalienável do cidadão. Segundo a autora, a dinâmica do processo de

desenvolvimento de um país e dos intercâmbios com outras sociedades são fatores

que influenciam as políticas de Vigilância Sanitária e, por tratar-se de uma atividade

inerente ao Estado, deve instrumentalizar princípios e políticas para o setor, em uma

dada conjuntura, descrevendo direitos e estabelecendo objetivos, mediante

processos de interação social, econômica e política.

No contexto, Araújo (2004) observa que:

É possível acompanhar por meio da legislação brasileira a crescente compreensão governamental da necessidade de medidas de segurança de alimentos no país. Mas, ainda que as ações de vigilância sanitária sejam competência exclusiva do Estado, cidadãos e profissionais de saúde não estão isentos do dever de envolverem-se ativamente na defesa do direito à informação e à qualidade de produtos, serviços e ambientes. A implantação e a implementação dessas ferramentas legais só fazem sentido quando se tem do produtor/fabricante a garantia de estar oferecendo alimentos seguros e do consumidor a exigência de que leis sejam cumpridas. Não é por mero acaso ou por boa vontade dos governos que a legislação brasileira sobre os alimentos vem se tornando cada vez mais rigorosa. Esse aperfeiçoamento é proporcional ao nível de conscientização da população quanto ao direito não só de consumir alimentos saudáveis como de ter informações precisas sobre o produto que está consumindo.

Page 64: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

48

2.7 ANÁLISE DE PERIGOS E PONTOS CRÍTICOS DE CONTROLE – APPCC

O sistema APPCC tem como base a aplicação de princípios técnicos e

científicos na produção e no manejo dos alimentos, desde o campo até a mesa do

consumidor, com o intuito de abranger os fatores de risco ou perigos potenciais à

inocuidade dos alimentos, sejam eles biológicos, químicos e físicos, que ocorrem de

forma natural no alimento, no ambiente ou decorrentes de erros no processo de

produção (ALMEIDA, 1998), devendo ser monitorados pelos órgãos da Vigilância

Sanitária em nível federal, estadual e municipal, com o objetivo de avaliar as Boas

Práticas de Fabricação dos estabelecimentos produtores de alimentos (IAMFES,

1991). Dessa forma, além do caráter corretivo, atua de maneira preventiva para

minimizar os riscos de ocorrência dos perigos, por meio do controle dos

procedimentos em determinados pontos críticos37, específicos, durante a produção

dos alimentos.

Trata-se de um sistema efetivo, racional, lógico e abrangente de controle de

perigos, baseado em dados registrados relativos às causas de DVAs, que considera

os ingredientes, o processo e o uso do produto (OPAS/INPPAZ, 2001).

Foi concebido para aplicação em todos os estágios da cadeia alimentar,

desde o plantio, cultivo, colheita, processamento, criação animal, fabricação,

distribuição e comercialização, até o preparo para consumo. É um sistema contínuo,

capaz de detectar os problemas antes ou no momento em que surgem, reduzindo a

necessidade de inspeção e de testes laboratoriais no produto final (OPAS/INPPAZ,

2001).

37 Ponto crítico – etapa ou procedimento operacional em um processo, método de produção, ou em uma formulação, que deve ser monitorado continuamente para verificação de necessidade de aplicação de controle.

Page 65: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

49

Por ser compatível com outros sistemas de controle de qualidade, um plano

APPCC delineado especificamente para uma empresa, possibilita uma abordagem

conjunta da inocuidade, qualidade e produtividade, aumentando a confiança do

consumidor e levando à produção de um produto comercialmente viável

(OPAS/INPPAZ, 2001).

O APPCC é reconhecido como um sistema de baixo custo que oferece

garantia na prevenção de problemas causados pela ingestão de alimentos e sua

utilização é a base fundamental para todas as atividades relacionadas à segurança

dos alimentos.

Para a Comissão do Codex Alimentarius, perigo é uma propriedade biológica,

física ou química, que pode tornar um alimento prejudicial para o consumo humano

(OPAS/INPPAZ, 2001). No sistema APPCC, perigo representa as condições ou as

contaminações que podem causar enfermidade ou dano à saúde do consumidor. Os

perigos microbiológicos, geralmente, representam o maior risco à inocuidade dos

alimentos visto serem os microrganismos importantes tanto sob o aspecto de saúde

pública como do desperdício.

Os perigos estão classificados em biológicos, químicos e físicos.

Perigos biológicos

Os perigos biológicos de origem alimentar incluem bactérias, vírus e parasitas

freqüentemente associados a manipuladores e produtos crus, semiprocessados ou

processados, contaminados em um estabelecimento. Incluem ainda fungos e toxinas

microbianas, determinadas plantas, cogumelos e peixes.

• Bactérias

As bactérias patogênicas são responsáveis pela maioria dos surtos e casos

de DVAs e estão presentes na maior parte dos alimentos crus. O

Page 66: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

50

armazenamento ou a manipulação inadequada de alimentos contribuem para

a presença de um número relevante de microrganismos em toda cadeia

produtiva. As principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por

bactérias estão listadas no quadro 1.

• Vírus

No homem, a transmissão dos vírus pode ocorrer por meio do consumo de

alimento, água ou de outras fontes. Entretanto, o alimento representa

somente um meio de transporte uma vez que os vírus não se reproduzem fora

de uma célula viva e, portanto, não se replicam nem sobrevivem por longos

períodos nos alimentos. As principais doenças veiculadas por alimentos

provocadas por vírus estão apresentadas no quadro 2.

• Parasitas

Em geral, o homem pode ser incluído no ciclo de vida dos parasitas, cujas

infestações estão associadas principalmente a produtos mal cozidos ou a

alimentos prontos para o consumo imediato. As principais doenças veiculadas

por alimentos provocadas por parasitas estão listadas no quadro 3.

• Fungos

São organismos indicadores que não representam, em si mesmos, um perigo

direto à saúde mas são utilizados para indicar a presença de um perigo

potencial, seja pela possível presença de patógenos ou de toxinas, ou pela

possibilidade de práticas inadequadas durante a produção, o processamento,

o armazenamento e a distribuição. Incluem bolores, leveduras e cogumelos

(OPAS/INPPAZ, 2001).

Campos (2004) assinala que os perigos microbiológicos ocupam lugar de

destaque uma vez que o risco associado à contaminação microbiológica de

Page 67: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

51

alimentos é 1.000 vezes maior que os riscos ocasionados por contaminantes meio-

ambientais que chegam à cadeia alimentar; 100.000 vezes maior que os riscos

devidos a agrotóxicos utilizados na agricultura; também 100.000 vezes maior que os

riscos dos aditivos alimentares utilizados como recursos tecnológicos.

Ainda segundo o autor, nos Estados Unidos, os custos anuais das infecções

alimentares por microrganismos é de US$6.777 milhões de dólares por bactérias;

US$337 milhões por vírus; US$625 milhões por parasitas; e US$33 milhões por

contaminação química.

Page 68: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

52

Quadro 1 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por bactérias (adaptado de IH, 2000)

Doenças Veiculadas por Alimentos (DVAs)

Envenenamento Alimentar Estafilocóccico (Enterotoxicose)

Enterite por Clostridium perfringens Gastroenterite por Bacillus cereus

Bactéria Staphylococcus aureus Clostridium perfringens Bacillus cereus

Tipo de Doenças Intoxicação Infecção mediada por toxina. Intoxicação emética;38infecção mediada por toxina

(diarréica).

Sintomas Náuseas, ânsia de vômito, cólicas abdominais,

diarréia, em casos graves: dor de cabeça,

câimbras, pressão arterial e pulsação irregulares.

Dor abdominal, diarréia, náuseas, desidratação

(febre, dor de cabeça e vômito em geral

ausentes).

Náuseas e vômitos, às vezes cólicas abdominais ou

diarréia (emética); diarréia aquosa, cólicas

abdominais, dor, náuseas (diarréica).

Período de Incubação 1 a 7 horas; em geral, 2 a 4 horas. 8 a 22 horas; em geral, 10 a 12 horas. 30 min. a 6 horas (emética); 6 a 15 horas (diarréica).

Duração 1 a 2 dias. Em geral 24 horas; pode durar de 1 a 2 semanas. Menos de 24 horas (emética); 24 horas (diarréia).

Fonte Pele, cabelos, narinas; garganta; feridas

infeccionadas; animais.

Humanos e animais (trato intestinal); solo; solo

contaminado com fezes.

Solo e poeira; cereais na colheita.

Alimentos Envolvidos nos Surtos

Alimentos reaquecidos; presunto e outras carnes;

aves; derivados de ovo e outros alimentos

protéicos; sanduíches; leite e laticínios; saladas de

batata; cremes e coberturas de produtos

confeitaria; molhos de salada.

Carne cozida, derivados de carne; aves,

ensopados; caldo de carne; feijões refrigerados

inadequadamente.

Derivados do arroz; alimentos amiláceos (batata,

massas e produtos com queijo); molhos; pudins;

sopas; pratos de forno; produtos de confeitaria;

saladas (emética); carnes; leite; hortaliças e peixe

(diarréicos).

Medidas Preventivas

Evitar contaminação por mãos não lavadas; praticar

boa higiene pessoal; afastar manipuladores com

infecções na pele da manipulação e da preparação

do alimento; refrigerar o alimento adequadamente;

congelar com rapidez alimentos preparados.

Controlar cuidadosamente o tempo e a

temperatura no resfriamento e no reaquecimento

de alimentos cozidos.

Controle do tempo e temperatura e métodos de

congelamento rápido dos alimentos; cozimento

adequado do alimento.

38 Intoxicação emética – que provoca vômito.

Page 69: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

53

Quadro 1 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por bactérias (adaptado de IH, 2000)

Doenças Veiculadas por Alimentos

Salmonelose (não-tifóide)

Shigelose Listeriose

Bactéria Salmonella spp. Shigella spp. Listeria monocytogenes

Tipo de Doença Infecção (possivelmente mediada por toxinas). Infecção mediada por toxina. Infecção

Sintomas

Cólicas abdominais, dor de cabeça, náuseas, febre, diarréia e, por vezes, vômitos; pode causar forte desidratação em crianças e idosos; pode provocar sintomas artríticos 3 a 4 semanas mais tarde.

Diarréia (pode haver sangramento), dor abdominal, febre, náuseas, cólicas, vômitos, calafrios, fadiga e desidratação.

Náuseas, vômitos, diarréias, dor de cabeça, febre persistente, calafrios, dor nas costas, meningite, encefalite septicemia, infecções intra-uterinas ou cervicais em mulheres grávidas, podendo levar ao aborto espontâneo ou parto de natimorto; maior ocorrência em fetos, bebês e mulheres grávidas.

Período de Incubação 6 a 48 horas; em geral, 12 a 36 horas. 12 a 50 horas; em geral, 1 a 3 dias. 3 a 70 dias; em geral, cerca de 3 semanas.

Duração 1 a 2 dias (às vezes, mais tempo). Em geral 4 a 7 dias; pode ser indefinido (depende do tratamento).

Indefinido (depende do tratamento); taxas altas de óbitos de pessoas com imunidade comprometida.

Fonte Água, solo, insetos, animais domésticos e selvagens. Trato intestinal humano especialmente quando portadores.

Trato intestinal humano; insetos voadores; com freqüência encontrado em água poluída por fezes.

Solo, água e ambientes lodosos; seres humanos, animais domésticos e selvagens, especialmente aves (trato intestinal).

Alimentos Envolvidos nos Surtos

Aves e saladas de carne de ave; carne e derivados; peixe; camarão; leite; ovos em casca e produtos à base de ovos, tais como cremes, molhos e enchimentos e coberturas de confeitaria; tofu e outros alimentos protéicos; melões e rodelas de tomate fatiados; brotos, vegetais crus e outras hortaliças frescas.

Saladas (batata, atum, camarão, frango, e macarrão); alface e hortaliças cruas; leite e laticínios, aves.

Leite e queijo não-pasteurizados; sorvete; iogurte congelado; hortaliças cruas; aves e carnes; peixes e frutos do mar; alimentos preparados e congelados prontos para consumo como queijo cremoso, alimentos de confeitaria, patês.

Medidas Preventivas

Evitar a contaminação cruzada; congelar o alimento; cozinhar aves cuidadosamente a pelo menos 74ºC por no mínimo 15s e cozinhar outros alimentos a temperaturas internas mínimas; resfriar corretamente carnes cozidas e derivados de carne dentro de 6h; assegurar a não contaminação do alimento e das superfícies de contato por meio da boa higiene pessoal dos manipuladores.

Evitar a contaminação cruzada; assegurar que os manipuladores pratiquem uma boa higiene pessoal; usar alimentos e fontes de água higienizados; controlar os insetos voadores; congelar os alimentos rapidamente.

Usar apenas leite e laticínios pasteurizados; cozinhar os alimentos nas temperaturas internas adequadas; evitar a contaminação cruzada; limpar e sanitizar as superfícies, manter as instalações limpas e secas. Monitorar as temperaturas de refrigeração.

Page 70: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

54

Quadro 1 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por bactérias (adaptado de IH, 2000)

Doenças

Veiculadas por

Alimentos

Botulismo Campilobacteriose Enterite Enterohemorrágico (EHEC) por E.

coli. 0157:H7

Bactéria Clostridium botulinum Campylobacter jejuni Escherichia coli 0157:H7

Tipo de Doença Intoxicação (botulismo) Infecção Infecção mediada por toxina

Sintomas

Vômito e constipação ou diarréia podem estar presentes no início; por ser uma toxina de ação neurotóxica, o quadro neurológico se instala com manifestações de cefaléia, vertigem, ptose palpebral, disartria, disfagia, paralisia facial bilateral, redução dos movimentos da língua e dificuldade para sustentar o pescoço. A paralisia se instala de modo descendente. Não há alteração do nível de consciência.

Diarréia (líquida ou com perda de sangue); febre, náuseas e vômitos; dor abdominal, dor de cabeça e dor muscular.

Diarréia (líquida, podendo vir a sangrar); fortes cólicas abdominais e dor; vômitos e pouca ou nenhuma febre; pode causar insuficiência renal em algumas pessoas; os sintomas são mais fortes nos mais jovens.

Período de Incubação

4 horas a 8 dias; geralmente, 12 a 36 horas. Em geral, 2 a 5 dias, numa escala de 1 a 10 dias.

3 a 8 dias; em geral, 3 a 4 dias.

Duração Vários dias até 1 ano. 2 a 5 dias, em geral não mais de 10 dias

(recaídas são comuns); autolimitante. 2 a 9 dias.

Fonte Está presente em quase todos os alimentos, seja de origem animal ou vegetal; solo; água.

Animais domésticos (carneiros, porcos, gado, aves e bichos de estimação); trato intestinal de animais selvagens.

Animais; especialmente encontradas no trato intestinal de gado e de seres humanos.

Alimentos

Envolvidos nos

Surtos

Alimentos processados de forma incompleta ou que foram armazenados em temperatura imprópria; alimentos enlatados de baixa acidez, produtos de alho e óleo não tratados, cebolas sauteé na manteiga; sobras de batata assada ou cozida; riscos potenciais para EAM (embalagem em atmosfera modificada) e produtos deterioráveis rapidamente cozidos.

Leite não pasteurizado e laticínios; carne crua de aves; água não clorada ou água contaminada por fezes.

Carne moída crua e mal passada; queijos importados; leite e suco de maçã não pasteurizados; carne assada tipo rosbife; salame seco; maionese comercial; alface; água não clorada.

Medidas

Preventivas

Não utilizar produtos em conserva caseiros; controle de tempo e temperatura para itens estabilizados, embalados a vácuo, rapidamente cozidos e para todos os alimentos grandes e volumosos; comprar somente misturas de alho e óleo acidificadas e mantê-las refrigeradas: preparar cebolas sauteé na medida das necessidades; congelar sobras rapidamente.

Cozinhar cuidadosamente o alimento nas temperaturas internas mínimas de segurança; pasteurizar o leite; usar água clorada; evitar a contaminação cruzada.

Cozinhar cuidadosamente a carne moída a, no mínimo, 68ºC por 15 segundos; evitar a contaminação cruzada; praticar uma boa higiene pessoal.

Page 71: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

55

Quadro 1 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por bactérias (adaptado de IH, 2000)

Doenças Veiculadas por Alimentos

Gastroenterite ou Septicemia por Vibrio spp. (não colérico) Yersiniose

Bactéria Vibrio parahaemolyticus e Víbrio vulnificus Yersinia enterocolitica

Tipo de Doença Infecção Infecção

Sintomas Diarréia, cólicas abdominais, náuseas, vômitos, dor de cabeça; casos graves de infecção por V. vulnificus incluem calafrios repentinos, febre, lesões vesicosas de epiderme, pressão sanguínea baixa e septicemia; alto índice de mortalidade causada por V. vulnificus em pessoas com imunidade comprometida.

Febre e forte dor abdominal (igual à da apendicite); possível diarréia, dor de cabeça, dor de garganta ou vômito.

Período de

Incubação

V. parahaemolyticus: 4 a 96 horas, geralmente, 12 a 24 horas; V. vulnificus, 12 horas a 7 dias, em geral, 38 horas.

1 a 11 dias, em geral 24 a 48 horas.

Duração V. parahaemolyticus: 1 a 8 dias; V. vulnificus: dias a semanas, morte em poucos dias de pessoas com imunidade comprometida.

Dias e semanas: crônica em determinados indivíduos.

Fonte Ostras e outros moluscos e crustáceos (camarões, lagostas, amêijoas, mexilhões e conchas), especialmente nas áreas sujeitas à descarga de esgoto urbano.

Porcos domésticos (reservatórios primários); solo; água; animais selvagens; roedores.

Alimentos

Envolvidos nos

Surtos

Ostras cruas ou parcialmente cozidas; peixes, moluscos e crustáceos malpassados (amêijoas, mexilhões e vieiras).

Carnes (porco, vaca, cordeiro); ostras; peixe; leite cru; leite pasteurizado contaminado; tofu, água não clorada.

Medidas

Preventivas

Evitar comer peixes e frutos do mar crus ou malpassados (particularmente ostras). Evitar a contaminação cruzada; o congelamento não elimina essas bactérias por completo.

Minimizar a contaminação cruzada oriunda da carne de porco; cozinhar os alimentos em temperaturas internas mínimas de segurança; garantir a sanitização adequada das instalações e dos equipamentos; seguir procedimentos adequados de armazenamento; usar somente suprimentos de água sanitizados e clorados.

Page 72: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

56

Quadro 2 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por vírus (adaptado de IH, 2000)

Doenças

Veiculadas por

Alimentos

Hepatite A Gastroenterite por Norwalk Vírus Gastroenterite por Rotavírus

Tipo de Doenças Infecção Infecção Infecção

Sintomas Afecção leve ou ausência de sintomas; surgimento súbito de febre, desconforto geral, fadiga, dor de cabeça, náuseas, perda de apetite, vômitos, dor abdominal e icterícia depois de alguns dias.

Náuseas, vômitos, diarréia, cólicas abdominais, dor de cabeça e febre branda.

Vômitos e diarréia, dor abdominal e febre branda (doença mais comum em crianças do que em adultos).

Período de

Incubação

10 a 50 dias Em geral, 1 a 2 dias; varia de 10 a 50 horas. Em geral, 1 a 3 dias.

Duração 1 a 2 semanas; casos severos podem durar muitos meses. Em geral, 1 a 3 dias Em geral, 4 a 8 dias.

Fonte Tratos intestinal e urinário de seres humanos e água contaminada.

Trato intestinal humano e água contaminada. Trato intestinal humano; água contaminada.

Alimentos

Envolvidos nos

Surtos

Água; gelo; mariscos; saladas; frios e sanduíches; frutas e sucos de frutas; leite e derivados; hortaliças, qualquer alimento que não receba tratamento adicional de calor.

Água; mariscos e frutos do mar em concha (especialmente crus ou cozidos a vapor); hortaliças cruas; frutas frescas e saladas; água contaminada.

Água e gelo; alimentos crus e prontos para o consumo, tais como saladas, frutas e acepipes; água contaminada.

Medidas

Preventivas

Adquirir mariscos de fontes aprovadas; evitar contaminação cruzada pelas mãos; garantir que os manipuladores de alimento pratiquem boa higiene pessoal; limpar e sanitizar as superfícies de contato com o alimento; usar fontes de água limpa.

Adquirir mariscos de fontes aprovadas; evitar a contaminação cruzada pelas mãos; garantir que os manipuladores de alimento pratiquem boa higiene pessoal; cozinhar os alimentos nas temperaturas internas mínimas de segurança; usar água limpa, clorada.

Garantir que os manipuladores de alimento pratiquem boa higiene pessoal; cozinhar bem os alimentos em temperaturas internas mínimas de segurança; usar água limpa, clorada.

Page 73: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

57

Quadro 2 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por vírus (adaptado de IH, 2000)

Doenças Veiculadas por Alimentos

Triquinose Anisakiase Giardiase

Características dos Parasitas

Trichinella spiralis Nematelmintos Anisakis simplex Nematelmintos Giárdia duodenalis (antes G. lambia). Protozoários.

Tipo de Doenças Infecção Infecção Infecção

Sintomas

Náuseas, diarréia, dor abdominal, vômito ocasional, inchação em volta dos olhos, febre; depois, dor muscular, sede, suor excessivo, calafrios, hemorragia (sangramento) e fadiga.

Sensação de ardência ou comichão na garganta, expulsão de vermes no vômito ou na tosse; em casos graves, cólicas e dores abdominais severas, vômito e náuseas.

Fadiga, náuseas, gases intestinais, fraqueza, perda de peso e cólicas abdominais.

Período de

Incubação 2 a 28 dias, depende do número de larvas ingeridas. Poucas horas a 2 semanas. 3 a 25 dias; em geral, cerca de 7 a 10 dias.

Duração Vários dias a mais de 30 dias; depende do tratamento e do estado de saúde do indivíduo.

Até 3 semanas. Em geral 1 a 2 semanas; a infectividade pode durar meses.

Fonte Porcos domésticos; animais de caça. Peixes de mar, especialmente os que se

alimentam no fundo do mar. Animais selvagens, animais domésticos (cães e gatos); trato intestinal de seres humanos.

Alimentos

Envolvidos nos

Surtos

Carne de porco ou de caça mal passada; lingüiça de carne de porco ou não (a carne moída pode ser contaminada por moedores de carne).

Peixes e frutos do mar crus, malpassados ou inadequadamente congelados, especialmente bacalhau, hadoque, linguado, salmão do Pacífico, arenque, solha, cação e peixes usados nos sashimi.

Água; gelo; saladas; (possivelmente) outras hortaliças cruas.

Medidas

Preventivas

Cozinhar a carne de porco e outras carnes a temperaturas mínimas de cozimento interno; para eliminar as larvas congelar produtos de carne de porco com menos de 15 cm de espessura a -15ºC por 30 dias ou -34ºC por 12 dias; lavar, enxaguar e sanitizar equipamentos como moedores de lingüiça e utensílios usados na preparação do porco cru e de outras carnes.

Adquirir peixes e frutos do mar apenas de fontes certificadas; congelar o peixe adequadamente; evitar comer peixe, moluscos e crustáceos crus ou malpassados; para ser comido cru o peixe deve ser congelado ou a -20ºC ou menos por 7 dias no congelador, ou a -35ºC ou menos por 15 horas numa torre de resfriamento; os parasitas Anisakis não são eleminados no escabeche.

Usar suprimentos de água clorada; garantir que os manipuladores de alimento pratiquem boa higiene pessoal; lavar os produtos agrícolas crus com cuidado.

Page 74: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

58

Quadro 3 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por parasitas (adaptado de IH, 2000)

Doenças

Veiculadas por

Alimentos

Toxoplasmose Criptoesporidiose Intestinal Ciclosporiose

Características

dos Parasitas

Toxoplasma gondii Protozoário; não transmitido diretamente de pessoa a pessoa.

Cryptosporidium parvum Protozoário; os esporocistos são resistentes à maioria dos desinfetantes químicos.

Cyclospora cayetanensis Protozoário

Tipo de Doenças Infecção Infecção Infecção

Sintomas

Em muitos casos, não há sintomas. Quando ocorrem, incluem nódulos linfáticos inchados na cabeça e no pescoço; fortes dores de cabeça; forte dor muscular; erupções cutâneas; pessoas com sistema imunológico comprometido: infectadas pelo HIV – mulheres grávidas e seus fetos são as mais atingidas.

Diarréia líquida severa; pode não haver sintomas.

Diarréia líquida, perda de apetite, perda de peso, inchação, gases, cólicas abdominais, náuseas, vômitos; dores musculares, febre branda ou ausente; fadiga.

Período de Incubação 5 a 20 dias; depende do sistema imunológico do indivíduo. 1 a 12 dias; a média é de 7 dias. Dias a semanas; em geral cerca de 1 semana.

Duração Depende do tratamento (recaídas comuns). 4 dias a 3 semanas; indefinida e com perigo de

vida para pessoas com sistema imunológico comprometido.

Alguns dias a 1 mês, ou mais tempo; em geral, várias semanas (recaídas estendendo-se de 1 a 2 meses são comuns.

Fonte

Fezes de animais (especialmente felinos), mamíferos, pássaros.

Trato intestinal de seres humanos, gado e outros animais domésticos; beber água potável contaminada por esgoto de fazendas ou matadouros.

Trato intestinal de seres humanos; suprimentos de água contaminada.

Alimentos

Envolvidos nos

Surtos

Carne crua ou mal passada contaminada por este parasita, especialmente a de porco, carneiro, veado e carne de hambúrguer.

Água; saladas e hortaliças cruas; leite, alimentos crus, como a cidra de maçã; alimentos prontos para consumo.

Água; peixe do mar; leite cru; produtos agrícolas crus.

Medidas

Preventivas

Evitar carnes cruas ou mal passadas; cozinhar cuidadosamente as carnes à temperatura interna mínima; lavar adequadamente as mãos que entram em contato com o solo, carne crua, fezes de gato, ou hortaliças cruas.

Assegurar-se de que os manipuladores de alimento pratiquem boa higiene pessoal; lavar bem os produtos agrícolas; usar água potável clorada.

Assegurar-se de que os manipuladores de alimento pratiquem boa higiene pessoal; lavar bem os produtos agrícolas; usar água potável clorada.

Page 75: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

59

Quadro 3 - Principais doenças veiculadas por alimentos provocadas por parasitas (adaptado de IH, 2000)

Doenças

Veiculadas por

Alimentos

Cisticercose Cisticercose Miiase Intestinal

Características

dos Parasitas

Taenia saginata (Solitária dos Bovinos) Taenia solium ( Solitária dos Suínos) Dípteros de várias espécies (Mosca doméstica).

Tipo de Doenças Infecção, parasitose Infecção Infecção

Sintomas

Vagos ou ausentes. Nervosidade, insônia, fome, anorexia, perda de peso. Dores abdominais e outros dependendo de onde se aloje. Náuseas, vômito, cólicas e diarréia às vezes ocorrem. Pode provocar a morte.

Vagos ou indefinidos. Nervosidade, insônia, fome, anorexia, perda de peso. Dores abdominais e outros dependendo de onde se aloje. Náuseas, vômito, cólicas e diarréia às vezes ocorrem. Pode provocar a morte.

Vômitos, diarréia, dores abdominais, convulsões e outros. A maioria das larvas de mosca não continuam se desenvolvendo no trato digestivo, causando apenas pseudomiíase.

Período de

Incubação

3 a 6 meses, superior a 72 horas 3 meses, dor no local do desenvolvimento do cisticerco.

Duração Depende do tratamento e onde se aloje. Depende do tratamento e de onde aloje. Depende do tratamento e onde se aloje.

Fonte Carne bovina e fezes humanas. Ingestão de carne contaminada com ovos ou larvas.

Porcos domésticos, animais silvestres como javali; fezes humanas; ingestão de carne contaminada com ovos ou larvas.

Ingestão de carne contaminada com larvas.

Alimentos

Envolvidos nos

Surtos

Principalmente carne crua ou mal passada. Principalmente carne crua ou mal passada. Qualquer alimento contendo larva de moscas.

Medidas

Preventivas

Cozinhar a carne nas temperaturas mínimas internas de cozimento; eliminar as larvas por congelamento a -15ºC por 30 dias ou -34ºC por 12 dias; lavar, enxaguar, e sanitizar equipamentos como moedores, moedores de lingüiça e utensílios usados na preparação das carnes. Lavar as mãos após usar o banheiro.

Cozinhar a carne nas temperaturas mínimas internas de cozimento; eliminar as larvas por congelamento a -15ºC por 30 dias ou a -34ºC por 12 dias; lavar, enxaguar e sanitizar equipamentos como moedores, moedores de lingüiça e utensílios usados na preparação das carnes. Lavar as mãos após usar o banheiro.

Proteger os alimentos da mosca doméstica, praticando saneamento de forma adequada. Combater as moscas domésticas.

Page 76: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

60

Perigos químicos

Os perigos químicos também podem ocasionar DVAs mas, ao compará-los

aos perigos biológicos, provavelmente atingem um menor número de indivíduos.

Incluem agrotóxicos, herbicidas, contaminantes tóxicos inorgânicos, antibióticos,

promotores de crescimento, aditivos alimentares tóxicos, lubrificantes, tintas,

desinfetantes, toxinas naturais (OPAS/INPPAZ, 2001).

Os contaminantes químicos em alimentos podem ser naturais, adicionados

durante o processamento ou provenientes de alterações químicas que podem

ocorrer no processamento, podendo a contaminação química acontecer em qualquer

etapa da cadeia produtiva. Os compostos químicos têm sido associados a DVAs,

sendo responsáveis por enfermidades crônicas ou agudas dependendo da

concentração de substância química ingerida. Desta forma, os perigos potenciais

para a saúde do consumidor aumentam quando os químicos não são controlados ou

as proporções recomendadas de uso são excedidas (OPAS/INPPAZ, 2001).

Exemplos desses perigos são as substâncias utilizadas na produção de

embutidos cárneos, como o nitrato e o nitrito39, que podem ser tóxicas e causar

enfermidades em função de seu consumo. Faria, Felício, Neves et. al. (2001),

citados por Oliveira (2005), relatam que efeitos benéficos observados pelo emprego

de nitrato, como fixação da cor, ação antimicrobiana e contribuição para

desenvolvimento de sabores e aromas nos produtos em que são incorporados, se

contrapõem à formação de nitrosaminas, aminas secundárias consideradas

potencialmente cancerígenas40, que podem ainda ser mutagênicas41 e

39 Nitrato e nitrito – a literatura relata que esses compostos levam à formação de nitrosaminas, aminas secundárias consideradas potencialmente cancerígenas. Podem ser ainda mutagênicas e teratogênicas. 40 Carcinogenicidade – efeito mutagênico que ocorre no organismo já formado. 41 Mutagenicidade – efeito que ocorre em nível de DNA no feto entre o 3º e o 4º mês de gravidez.

Page 77: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

61

teratogênicas42, além de exercer uma possível influência sobre os micronutrientes.

Evangelista (2000), citado por Oliveira (2005) relata que o nitrito é tóxico e a nitração

das aminas secundárias e terciárias, em condições ácidas, formando nitrosaminas

secundárias, é um dos fatores que aumenta a incidência de câncer no homem. A

literatura registra que os conservantes com estas características são as substâncias

de maior potencialidade carcinogênica observadas nas duas últimas décadas

(FENNEMA, 1993 apud OLIVEIRA, 2002). Silvestre e Glória (1989), citados por

Oliveira (2002), revisando vários trabalhos sobre a presença de nitrosaminas em

alimentos, ressaltam as atividades mutagênicas e teratogênicas desses compostos.

Também o tucupi, molho produzido a partir da extração da farinha de

mandioca, deve ter uma cocção apropriada porque o ácido cianídrico pode produzir

toxidade43 aguda.

Há de se considerar ainda, dentre inúmeras outras substâncias, o aspecto

tóxico de componentes provenientes da decomposição dos óleos utilizados

repetidamente para a fritura de alimentos. O calor provoca alterações físico-químicas

nos óleos, como a oxidação e a hidrólise, levando à produção de compostos tóxicos,

como a formação de peróxidos e de radicais livres, além de alterações de sabor, cor

e odor. A rancidez oxidativa é a principal responsável pela deterioração de óleos, por

originar sabores e odores indesejáveis conhecidos como ranço. Outro fator relevante

é a possível formação de ácidos graxos trans, no óleo, em temperatura elevada.

Esses ácidos graxos aumentam os teores de lipoproteína de baixa densidade (LDL)

e reduzem o de lipoproteína de alta densidade (HDL); tais efeitos são potenciais

fatores de risco para a saúde cardiovascular. Os compostos formados pela

42 Teratogenicidade – distúrbio grave com geração de monstruosidades. 43 Toxicidade – quociente entre a quantidade de uma substância necessária para matar um animal e o peso do mesmo, expresso em quilogramas.

Page 78: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

62

decomposição de ácidos graxos insaturados durante o processo de fritura afetam a

disponibilidade dos ácidos graxos essenciais, linoléico e a-linolênico, responsáveis

pela biossíntese dos ácidos araquidônico, eicosapentaenóico e docosahexaenóicos,

substâncias que participam da regulação de importantes processos bioquímicos

como o controle da pressão arterial, freqüência cardíaca, resposta imunológica, dos

processos da coagulação sangüínea e do funcionamento do sistema nervoso central

(BORGO et. al., 2005).

Alguns componentes químicos de interesse para a saúde são: a) as

substâncias tóxicas inevitáveis necessárias para a elaboração do produto alimentício

ou não passíveis de eliminação pela aplicação das Boas Práticas, caso em que deve

ser estabelecido um nível de tolerância para a substância; b) aditivos alimentares

diretos, que representam o maior grupo de químicos adicionados intencionalmente

ou incorporados diretamente no processamento de alimentos; c) aditivos alimentares

indiretos, que incluem os químicos que migram de superfícies de contato para o

produto alimentício, tornando-o impróprio ao consumo, como lubrificantes e

sanificantes, tintas e outros banhos usados para a manutenção do equipamento e

instalações de processamento de alimentos; d) metais pesados como o cobre ou

chumbo de canos ou soldas, bem como materiais de embalagem que podem

contaminar o alimento causando intoxicação por metal pesado; e) agrotóxicos, que

devem obedecer os limites específicos quanto ao modo e condição de aplicação,

concentrações permitidas, tipo de organismo a ser controlado, restrições de uso e

exigências para a distribuição e recipientes; f) resíduos de medicamentos em

alimentos, tais como antibióticos utilizados no tratamento de animais, que podem

causar reações alérgicas em pessoas sensíveis ao produto; g) substâncias naturais

vegetais, que incluem os produtos tóxicos de plantas que, em sua maioria, podem

Page 79: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

63

ser eliminados pelos métodos de preparo. É o caso da solanina em batatas ou dos

cianógenos presentes nas sementes e caroços (geralmente descartados) de frutas;

h) componentes químicos derivados do processamento, que incluem aqueles

originados quando o produto é excessivamente submetido a um processo de cocção

como, por exemplo, a carne grelhada sobre o carvão quente em que a gordura e o

óleo são aquecidos por muito tempo, formando uma crosta na superfície da mesma;

i) os alérgenos, responsáveis por reações adversas a componentes encontrados em

alimentos – devem estar indicados no rótulo como o caso do glúten para os celíacos;

j) perigos nutricionais que comprometem a qualidade e a expectativa de vida, uma

vez que o estado de saúde é importante na prevenção de enfermidades e depende,

em parte, de uma dieta nutricional e balanceada (OPAS/INPPAZ, 2001).

Outros químicos são as toxinas biológicas naturais associadas aos alimentos,

em especial, aos pescados, mariscos, alguns tipos de queijos e fungos. Algumas

contaminações químicas e contaminações por toxinas biológicas, associadas às

DVAs, estão apresentadas nos quadros 4 e 5, respectivamente.

Page 80: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

64

Quadro 4 - Contaminações químicas associadas às doenças veiculadas por alimentos (adaptado de IH, 2000)

Produto Químico Tóxico

Fonte Alimentos Associados Medidas Preventivas

Metais Tóxicos

Utensílios e equipamentos contendo metais potencialmente tóxicos como o chumbo, cobre, latão, bronze, zinco, antimônio e cádmio.

Qualquer alimento, em especial alimentos ácidos como chucrute, tomates e produtos cítricos; a acidez natural desses alimentos pode fazer com que os íons do metal sejam dissolvidos nos fluidos. Bebidas gaseificadas; a água gaseificada usada para a produção da bebida pode fazer com que íons de cobre dos canos de cobre sejam dissolvidos na água.

Usar apenas embalagens de armazenagem e de grau alimentício. Usar embalagens de metal e de plástico apenas para o uso indicado. Usar somente no alimento escovas para trabalho com alimento; não usar pincéis nem escovas de arame. Não usar utensílios de ferro esmaltado, que podem lascar e expor o metal subjacente. Não cozinhar alimento com alta acidez em utensílios de metal. Não usar equipamento ou utensílios feitos de materiais que contenham chumbo (como os utensílios feitos de estanho) na preparação do alimento. Não usar equipamento ou utensílios com cobertura de zinco (galvanizados) na preparação de alimentos. Usar mecanismo de prevenção de refluxo para evitar que a água gaseificada dos refrigerantes da máquina de venda de bebidas volte ao sistema de fornecimento de água.

Produtos Químicos

Produtos de limpeza, polidores, lubrificantes e saneantes.

Todos os alimentos Seguir as instruções dos fabricantes para armazenagem e uso descritos na rotulagem. Armazenar em locais separados produtos alimentícios, utensílios, equipamentos, embalagens, produtos químicos, detergentes, desinfetantes. Jamais reutilizar embalagens de produtos químicos Se os produtos químicos tiverem que ser transferidos para embalagens menores ou para os aplicadores, etiquetar cada embalagem e equipamento adequadamente. Usar apenas lubrificantes ou óleos de grau alimentício em equipamento ou utensílios de cozinha.

Pesticidas

Usados em cozinhas, nas áreas de preparação e de armazenagem de alimentos para controle de pragas, como roedores e insetos.

Todos os alimentos Lavar frutas e hortaliças antes do preparo ou consumo. A aplicação de pesticidas deve ser feita apenas por profissional treinado Ao usar inseticidas nos serviços de alimentação deve-se contratar empresa especializada e os produtos utilizados devem ter registro nos Ministérios da Saúde e da Agricultura.

Page 81: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

65

Quadro 5 – Contaminação por toxinas biológicas (Adaptado de IH, 2000)

Toxinas Biológicas

Fonte de Contaminação Alimentostos Associados Medidas Preventivas

Toxinas de Frutos do Mar Toxina Ciguatera

Peixes que comeram algas que contenham as toxinas.

Peixes predadores tropicais de recifes, como olho de boi, olhete, barracuda, garoupa e o vermelho.

O cozimento não elimina essas toxinas; adquirir peixes tropicais de recife somente de fornecedores aprovados.

Toxina Escombrídea (Histamina)

Histamina produzida por bactérias em peixes não conservados em temperatura adequada.

Ocorre principalmente no atum, enchova, na cavalinha, dourado, marlim, sardinhas; também já foram implicados no envenenamento histamínico.

O cozimento não elimina a histamina; como a inadequação da relação tempo-temperatura no processo de pesca pode resultar num peixe perigoso, é importante adquiri-lo de fornecedores de boa reputação.

Toxinas de Mariscos e Moluscos

Mariscos que ingeriram um tipo de alga que contém a toxina

Mariscos, especialmente moluscos, tais como mexilhões, amêijoas, berbigões e vieiras.

O cozimento pode não eliminar essa toxina; adquirir esses frutos do mar de fornecedores aprovados que possam certificar sua pesca em águas seguras.

Toxinas Sistêmicas de Peixe

Toxinas que são parte natural de alguns peixes.

Baiacus, moréias, enguias e vairões de água doce.

O cozimento pode não eliminar as toxinas sistêmicas de peixe; o baiacu deve ser manipulado e preparado por cozinheiros adequadamente treinados.

Toxinas de Plantas

Toxinas que são parte natural de algumas plantas

Folhas de ruibardo, estramônio, cicuta e sementes de abricó; mel de abelhas que colheram o néctar de loureiro da montanha; leite de vacas que comeram serpentária, estramônio, e outras plantas tóxicas.

O cozimento pode não eliminar essas toxinas; evitar essas espécies de plantas e também os produtos preparados com elas.

Toxinas de Fungos

Toxinas que fazem parte da composição natural de algumas variedades de fungo.

Variedades venenosas de cogumelos e de outros fungos

O cozimento não elimina essas toxinas. Não usar cogumelos selvagens. Adquirir cogumelos somente de fornecedores aprovados.

Page 82: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

66

Perigos físicos

São objetos estranhos, presentes no alimento, resultantes de

contaminação e/ou práticas deficientes em vários pontos da cadeia produtiva,

que podem causar enfermidades ou lesões. Apresentam-se na forma de

fragmentos de vidro, metal e madeira ou outros objetos que possam causar

dano físico ao consumidor – feridas na boca, dentes quebrados ou outro tipo de

lesão que necessite de intervenção médica para retirar o agente do organismo

(Tabela 1).

Em ordem de freqüência, são o vidro, o metal, o plástico, pedras,

cristais/cápsulas, caroços, madeira e papel. Esses perigos podem ser

controlados por inspeção cuidadosa e técnicas de vigilância aplicadas pelo

produtor e pelo consumidor.

Tabela 1 - Exemplos de perigos físicos, lesões causadas e suas fontes (OPAS/INPPAZ, 2001)

Material Lesão potencial Fontes

Vidro Corte, sangramento; pode exigir cirurgia para encontrar ou remover os fragmentos

Garrafas, jarras, lâmpadas, utensílios, proteção de medidores, etc.

Madeira Corte, sangramento; pode exigir cirurgia para encontrar ou remover os fragmentos

Produção primária, engradados, caixas, material de construção, utensílios

Pedras Engasgo, quebra de dente Campo, construção

Metal Corte, infecção; pode exigir cirurgia para remover os fragmentos

Máquinas, campo, arames, funcionários

Isolamento Engasgo; de longa duração, em caso de isolamento de amianto

Material de construção

Ossos Engasgo, lesões cortantes Processamento inadequado

Plástico

Engasgo, corte, infecção: pode exigir cirurgia para remover os fragmentos

Embalagem, engradados, equipamentos

Objetos de uso pessoal

Engasgo, corte, quebra de dentes: pode exigir cirurgia para remover

Funcionários

Page 83: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

67

2.7.1 Princípios do sistema de análise de perigos e pontos críticos de

controle

O APPCC baseia-se em sete princípios, aplicados de maneira

organizada e sistemática, na seqüência apresentada a seguir:

2.7.1.1 Análise de perigos

Essa etapa é elemento-chave no desenvolvimento do plano APPCC,

uma vez que dela dependem as tarefas envolvidas na aplicação dos outros

princípios. Visa coletar e avaliar as informações sobre perigos significativos que

podem ocorrer durante a produção ou o uso de um determinado produto

alimentar, incluindo o monitoramento contínuo de parâmetros como:

temperatura do produto; tempo/temperatura de cozimento, pasteurização e

outras formas de processamento; pH do produto durante o processamento e

também do produto acabado; Aw44; e tamanho dos recipientes utilizados para

conservar alimentos; pressão, espaço superior, ventilação, adequação do

fechamento do recipiente ou temperaturas iniciais. Essa avaliação é seguida

por uma avaliação de risco, para estimar a ocorrência provável de perigos para

a saúde e a gravidade de seus efeitos, considerando as matérias-primas e os

ingredientes, o tipo e a duração do armazenamento, o método de distribuição e

o uso esperado do produto final pelo consumidor. Cada processo, na indústria

ou nos serviços de alimentação, demandará o controle de acordo com as

especificidades da matéria-prima, dos ingredientes, do produto final e da forma

44 Aw – atividade de água, quantidade de água livre no alimento disponível para o crescimento de microrganismos. Os alimentos potencialmente perigosos têm valores de atividade de água (Aw) igual ou acima de 0,85.

Page 84: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

68

de consumo (OPAS/INPPAZ, 2001).

Em seguida, devem-se caracterizar as medidas preventivas

correspondentes a cada risco para evitar ou eliminar um perigo à inocuidade do

alimento, incluindo a necessidade de mudanças de um processo ou de uma

etapa de um processo. Essa informação subsidia a identificação de Pontos

Críticos de Controle (PCCs), a partir da definição dos passos operacionais do

alimento desde a matéria-prima até o produto acabado (FELIX et. al., 2003).

2.7.1.2 Pontos Críticos de Controle (PCC)

As diretrizes do Codex definem PCC como uma etapa em que se pode

aplicar um controle e que seja essencial para evitar ou eliminar um perigo à

inocuidade do alimento ou para reduzi-lo a um nível aceitável (OPAS/INPPAZ,

2001). De acordo com Felix et. al. (2003) no caso de um perigo ser identificado

em uma etapa para a qual não exista qualquer medida de controle em termos

de inocuidade, o produto ou o processo deve ser modificado naquela etapa, ou

em um estágio anterior ou posterior, para assegurar a inclusão de medida de

controle para este perigo.

2.7.1.3 Limites críticos

Limites críticos devem ser estabelecidos para cada medida preventiva

monitorada dos PCCs e correspondem a um valor máximo e/ou mínimo de

parâmetros biológicos, químicos ou físicos que assegure o controle do perigo

estabelecido. Devem estar associados a medidas como temperatura, tempo

Page 85: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

69

(período de exposição mínima), dimensões físicas do produto, atividade de

água, nível de umidade, acidez, pH, resíduos de antibióticos (FELIX et. al.,

2003). Devem também atender às exigências estabelecidas por regulamentos

oficiais e/ou padrões da empresa e/ou dados científicos (OPAS/INPPAZ, 2001).

Limites operacionais são aqueles que se situam nas faixas estabelecidas

dos limites críticos e referem-se à ação dos operadores antes de evitar a perda

de controle de um PCC, ou seja, são estabelecidos em um nível que é atingido

antes que o limite crítico seja violado. Por exemplo, se o limite crítico de um

processo de acidificação se caracteriza por um valor de acidez (pH) igual a 4,6,

o limite operacional estabelecido é para um valor de acidez (pH) igual a 4,3

(OPAS/INPPAZ, 2001).

2.7.1.4 Monitoramento do PCC

As diretrizes do Codex Alimentarius para a aplicação do sistema APPCC

definem monitoramento como o ato de realizar uma seqüência planejada de

observações ou medidas de parâmetros de controle para avaliar se um PCC

está sob controle (OPAS/INPPAZ, 2001). Os objetivos do monitoramento

abrangem a medição do nível de desempenho da operação do sistema no

PCC; a determinação de quando o nível de desempenho do sistema leva a

uma perda de controle do PCC; e o estabelecimento de registros que reflitam o

nível de desempenho da operação do sistema do PCC para cumprir o APPCC

(OPAS/INPPAZ, 2001).

Para Felix et. al. (2003), o monitoramento determina, em cada PCC, se

os limites críticos estão sendo respeitados e os procedimentos de

Page 86: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

70

monitoramento devem detectar qualquer perda de controle de um PCC em

tempo de evitar a produção de alimento potencialmente perigoso ou de

interrompê-la. Desta forma, o monitoramento é uma ferramenta que confirma a

aplicação adequada do APPCC.

2.7.1.5 Ações corretivas

As diretrizes para aplicação do sistema APPCC do Codex Alimentarius

definem ação corretiva como qualquer ação a ser tomada quando os resultados

do monitoramento do PCC indicarem uma perda de controle (OPAS/INPPAZ,

2001). A perda de controle é considerada um desvio do limite crítico de um

PCC e uma rápida resposta diante da identificação de um processo de perda

de controle é uma das principais vantagens do sistema APPCC. As ações

corretivas devem ser adotadas no momento ou imediatamente após a

identificação dos desvios, devendo ser registradas e estes registros

arquivados. Devem ser feitos ajustes no processo quando os resultados do

monitoramento indicarem uma tendência à perda de controle de um PCC.

Também a causa que gerou os desvios deve ser identificada e eliminada para

que não volte a ocorrer (FELIX et. al., 2003).

2.7.1.6 Verificação

De acordo com as diretrizes do Codex, verificação é a aplicação de

métodos, procedimentos, testes e outras avaliações, além do monitoramento,

para determinar o cumprimento do plano APPCC (OPAS/INPPAZ, 2001).

Page 87: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

71

A verificação abrange métodos de auditoria45, procedimentos e testes,

inclusive amostras aleatórias e análises, e é necessária para avaliar a

eficiência de um determinado plano de APPCC, permitindo que as medidas de

controle sejam testadas e assegurando a presença de controle suficiente para

todas as possibilidades. O procedimento de verificação deve especificar o que

será feito, como será feito, o responsável pela realização do procedimento e

sua periodicidade (FELIX et. al., 2003).

2.7.1.7 Documentação e manutenção de registros

Os registros são provas escritas que documentam um ato e são

fundamentais para revisar a adequação do plano APPCC e sua capacidade de

garantir a inocuidade dos alimentos. Mostram o histórico do processo, o

monitoramento, os desvios e as ações corretivas aplicadas a um determinado

PCC, uma vez que todo mecanismo utilizado para avaliar se um PCC e/ou

perigo está sob controle deve ser registrado (OPAS/INPPAZ, 2001).

Os registros podem ter diversos formatos, como um quadro de

processamento, um registro escrito ou eletrônico e são documentos que

comprovam que os procedimentos e processos do plano APPCC estão sendo

cumpridos (OPAS/INPPAZ,2001). Os documentos são o próprio plano APPCC,

o Manual de Boas Práticas de Fabricação, os Procedimentos Operacionais

Padronizados e outras fontes de informação usadas para garantir a inocuidade

dos alimentos (FELIX et. al., 2003).

45 Auditoria – processo organizado e formal de coleta de informações necessárias para verificar a eficiência de um sistema de BPF, que permite a avaliação total de uma planta industrial. Pode ser realizada por equipe interna, não vinculada à área auditada, ou externa, por autoridades governamentais de países importadores ou autoridades de saúde pública.

Page 88: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

72

Registros completos, atualizados, corretamente arquivados e precisos

são imprescindíveis dado que, na possibilidade de suspeita de algum desvio ou

no momento da verificação de um plano APPCC, constituem a fonte de

informação no processo de auditoria (OPAS/INPPAZ, 2001).

2.8 BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO

As Boas Práticas de Fabricação ou Good Manufacturing Practices

(GMP) foram criadas a partir de problemas que surgiram com a segurança dos

medicamentos nos Estados Unidos, identificados pelo Food and Drug

Administration – FDA. Em 1962, foi publicado o Drug Amendments,

abrangendo as Current Good Manufacturing Practice Regulations que

estabeleceu padrões de instalações, manutenção, controle de qualidade,

dentre outros itens com a finalidade de prevenir erros e acidentes que

pudessem afetar os consumidores. Em 1969, o conceito das GMP foi

expandido para a área de alimentos por meio de uma Ação Regulatória,

incluindo-as como parte do código de regulamentações federais (CFSAN,

2003).

Para Peretti (2003), a gestão da segurança de alimentos e bebidas é

desempenhada principalmente pelo Estado e pelo setor produtivo, uma vez que

os consumidores, embora também devam participar desta gestão por meio do

controle social, não dispõem ainda de conhecimento suficiente sobre os riscos

no consumo de alimentos e bebidas.

As BPF são normas que definem procedimentos para se atingir um

determinado Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) de um produto e/ou

Page 89: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

73

serviço na área de alimentos incluindo bebidas, utensílios e materiais em

contato com os mesmos. Estes procedimentos introduzem mudanças nos

métodos de produção; no projeto e no uso de equipamentos; nos

procedimentos de higienização; nos edifícios e instalações; e no controle de

pragas e no manejo de resíduos. Implicam em mudanças comportamentais dos

funcionários envolvidos na produção e na distribuição dos alimentos. A adoção

das BPF promove alterações no sistema de gestão uma vez que este passa a

utilizar rotinas de inspeção e registros documentados de controle.

A fundamentação científica da RDC n°216/04 – que estabelece normas a

serem seguidas por comerciantes e produtores de alimentos, com o objetivo de

garantir a segurança e a qualidade de produtos e serviços comercializados – se

sustenta nos princípios da higiene alimentar e sua gestão é realizada por meio

da aplicação das ferramentas de segurança de alimentos. A inocuidade dos

alimentos é assegurada principalmente pelo controle da matéria-prima; pelo

monitoramento das etapas de produção; pela aplicação das boas práticas de

fabricação e de higiene em toda cadeia produtiva; e pela aplicação dos POPs e

da análise de perigos e pontos críticos de controle (ARAÚJO, 2006).

A higiene alimentar corresponde ao conjunto de medidas necessárias

para garantir a inocuidade dos alimentos desde sua produção até o consumo

final. Os princípios gerais de higiene alimentar do Codex Alimentarius

recomendam práticas de higiene referentes à manipulação – produção e

colheita, preparo, processamento, embalagem, armazenagem, transporte,

distribuição e venda – de alimentos para consumo humano para garantir um

produto seguro, inócuo e saudável; fornecem uma base para estabelecer

códigos de práticas de higiene para produtos que tenham exigências

Page 90: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

74

específicas quanto à higiene alimentar.

A RDC n°216/04 determina o controle de cada etapa do processo de

produção para prevenir a contaminação dos alimentos e abrange

principalmente os seguintes pontos: a) definição dos termos relevantes

pertinentes às boas práticas; b) normas referentes às instalações, incluindo a

sua construção, ventilação, iluminação, manutenção das áreas externas e

controle de vetores e pragas; c) requisitos gerais para equipamentos,

favorecendo sua limpeza e manutenção; d) uso e armazenamento de produtos

químicos (incluindo substâncias sanitizantes para higienização das edificações

e dos equipamentos; e) abastecimento de água, encanamentos e coleta de

lixo; f) saúde e higiene dos manipuladores, matérias-primas, ingredientes e

embalagens; g) armazenamento, exposição ao consumo e transporte do

alimento preparado, incluindo documentação e registro (BRASIL, 2004c).

Em linhas gerais, essas mudanças preconizam que, em temos de

edificação, instalações, equipamentos, móveis, utensílios e manipulação, as

empresas priorizem projetos que possibilitem um fluxo ordenado e sem

cruzamentos em todas as etapas da preparação de alimentos; que facilitem as

operações de manutenção, limpeza e desinfecção; e que possibilitem o acesso

às instalações, de forma controlada, independente e não comum a outros usos.

Quanto à higienização de instalações, equipamentos, móveis e

utensílios, os procedimentos devem manter as unidades em condições

higiênico-sanitárias apropriadas. Assim, as operações de higienização devem

ser realizadas por funcionários capacitados e com uma freqüência que garanta

a manutenção dessas condições e minimize o risco de contaminação do

alimento. O controle integrado de vetores e pragas urbanas deve prever um

Page 91: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

75

conjunto de ações eficazes e contínuas para impedir a atração, o abrigo, o

acesso ou a proliferação dos mesmos. A água para manipulação de alimentos

sempre potável e o reservatório submetido a controles periódicos. O manejo

dos resíduos também deve ser controlado periodicamente para assegurar a

manutenção das condições de higiene ambiental (BRASIL, 2004c).

Atenção especial deve ser destinada aos manipuladores uma vez que

são os principais responsáveis pelas DVAs. As matérias-primas, os

ingredientes e as embalagens devem estar em condições higiênico-sanitárias

adequadas e em conformidade com a legislação específica e, para tanto, o

controle de fornecedores é fundamental. O armazenamento e o transporte do

alimento preparado devem manter a qualidade na cadeia produtiva, assim

como sua exposição à comercialização e ao consumo.

A avaliação das BPF deve ser sistemática e utilizar métodos,

procedimentos, testes e auditorias para avaliar a eficiência da implementação e

manutenção de seus princípios e práticas. Objetiva uniformizar os

procedimentos de fiscalização e de controle sobre os estabelecimentos

alimentícios em todo o país e garantir as condições higiênico-sanitárias do

alimento preparado.

2.8.1 Manual de Boas Práticas de Fabricação

O Manual deve conter, de acordo com a Portaria MS n°1.428/93, os

Padrões de Identidade e Qualidade a serem adotados; as condições do

ambiente de trabalho, incluindo as áreas interna e externa e os procedimentos

de controle sanitário desses locais; as instalações e saneamento que incluem

Page 92: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

76

os materiais de revestimento, instalações elétricas e hidráulicas, serviços e

recursos básicos de saneamento; as formas de utilização adequada de

equipamentos e utensílios nos processos de produção, manipulação,

manutenção e limpeza; a descrição do processo de seleção, capacitação e de

ocupação dos recursos humanos, bem como os controles de saúde pessoal;

informações sobre a tecnologia usada para a obtenção do padrão de

identidade e qualidade adotado; procedimentos, métodos e técnicas adotados

no controle do processo, bem como a organização, operacionalização e

avaliação da qualidade oferecida; informações sobre os procedimentos

utilizados para armazenagem e transporte dos alimentos; aqueles utilizados

para desinfecção e desinfestação visando ao controle integrado de pragas,

além dos procedimentos normais de limpeza e higienização; as normas de

comercialização dos produtos e as informações fornecidas aos consumidores

para orientá-los quanto a melhor forma de utilizá-los (BRASIL, 1993).

Em conformidade com a RDC n°216/04, aplicável especificamente aos

serviços de alimentação, o Manual de Boas Práticas de Fabricação é o

documento que descreve as operações realizadas pelo estabelecimento,

incluindo, no mínimo, os requisitos higiênico-sanitários dos edifícios; a

manutenção e higienização das instalações, dos equipamentos e dos

utensílios; o controle da água de abastecimento; o controle integrado de

vetores e pragas urbanas; a capacitação profissional; o controle da higiene e

saúde dos manipuladores; o manejo de resíduos; e o controle e garantia de

qualidade do alimento preparado (BRASIL, 2004c). Cada estabelecimento deve

elaborar e manter atualizado seu próprio Manual com base na regulamentação

e nas especificidades de suas operações.

Page 93: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

77

2.9 PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRONIZADOS

Os POPs são provenientes da necessidade de se estabelecer uma

política de gerenciamento mais efetiva, por parte dos estabelecimentos

produtores de alimentos, dos riscos a que os alimentos são submetidos durante

o processo de produção e dos procedimentos corretos a serem adotados em

cada etapa da mesma. Ou seja, decorrem da necessidade de se criar

mecanismos de operacionalização dos procedimentos descritos no Manual de

Boas Práticas.

Os POPs são considerados parte das Boas Práticas e devem constar no

Manual. Devem ser aprovados, datados e assinados pelo responsável técnico,

responsável pela operação, responsável legal e/ou proprietário do

estabelecimento, firmando o compromisso de implementação, monitoramento,

avaliação, registro e manutenção dos mesmos. A freqüência das operações e o

nome, o cargo e/ou função dos responsáveis por sua execução devem estar

especificados em cada POP. Os funcionários devem ser devidamente

capacitados para executar as atividades descritas. Quando aplicável, os POPs

devem relacionar os materiais necessários para a realização das operações

assim como os equipamentos de proteção individual. Além disso, devem estar

acessíveis aos responsáveis pela execução das operações e às autoridades

sanitárias (BRASIL, 2002a).

No Brasil, a RDC nº275/02 tornou obrigatória a implantação dos

seguintes POPs: higienização das instalações, equipamentos, móveis e

utensílios; controle da potabilidade da água; higiene e saúde dos

manipuladores; manejo dos resíduos; manutenção preventiva e calibração de

Page 94: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

78

equipamentos; controle integrado de vetores e pragas urbanas; seleção das

matérias-primas, ingredientes e embalagens; e programa de recolhimento de

alimentos (BRASIL, 2002a).

Posteriormente, a RDC n°216/04 estabeleceu os seguintes POPs

especificamente para os serviços de alimentação (BRASIL, 2004c):

• Higienização de instalações, equipamentos e móveis;

Devem conter informações sobre a natureza da superfície e o método de

higienização da mesma; o princípio ativo selecionado e sua

concentração; o tempo de contato dos agentes químicos e ou físicos

utilizados na operação de higienização; temperatura e outras

informações necessárias. Quando aplicável, os POPs devem contemplar

a operação de desmonte dos equipamentos.

• Controle integrado de vetores e pragas urbanas

Devem contemplar as medidas preventivas e corretivas para impedir a

atração, o abrigo, o acesso e/ou a proliferação de vetores e pragas

urbanas. No caso de controle químico, o estabelecimento deve

apresentar comprovante de execução de serviço fornecido pela empresa

especializada contratada, contendo as informações estabelecidas em

legislação sanitária específica.

• Higienização do reservatório

Devem especificar as mesmas informações relativas às operações de

higienização de instalações, equipamentos e móveis, mesmo quando se

tratar de empresa terceirizada e, neste caso, deve ser apresentado o

certificado de execução do serviço.

• Higiene e saúde dos manipuladores

Page 95: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

79

Devem contemplar as etapas, a freqüência e os princípios ativos usados

na lavagem e antissepsia das mãos dos manipuladores, assim como as

medidas adotadas quando os manipuladores apresentarem lesão nas

mãos, sintomas de enfermidade ou suspeita de problema de saúde que

possa comprometer a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos.

Devem-se especificar os exames aos quais os manipuladores de

alimentos são submetidos, bem como a periodicidade de sua execução.

O programa de capacitação dos manipuladores em higiene deve ser

descrito, incluindo a carga horária, o conteúdo programático e a

freqüência de sua realização, mantendo-se em arquivo os registros da

participação nominal dos funcionários.

Os requisitos impostos pela legislação no que se refere ao APPCC, às

Boas Práticas de Fabricação, ao Manual de Boas Práticas e aos POPs atendem

aos princípios da preservação e da conservação de alimentos que se

fundamentam na prevenção (retardamento) da decomposição microbiana por

meio da manutenção de alimentos livres de microrganismos – por sua remoção

ou eliminação; pela inibição do desenvolvimento e da atividade microbiana; pela

prevenção ou retardamento da autodecomposição; pela destruição ou

inativação de enzimas; e pela prevenção ou retardamento de reações químicas.

Page 96: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

80

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

O objetivo da pesquisa foi avaliar se as empresas do setor de

alimentação fora do lar associadas à Abrasel/DF adotam e consideram

importantes os procedimentos estabelecidos pelas ferramentas de segurança

de alimentos, em conformidade com a RDC n°216/04.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Caracterizar as empresas associadas à Abrasel/DF em relação ao tipo de

serviço oferecido;

• Caracterizar essas empresas em relação ao número de funcionários

empregados;

• Verificar se as empresas conhecem as ferramentas de segurança de

alimentos aplicáveis aos serviços de alimentação;

• Investigar se as empresas consideram importantes essas ferramentas;

• Verificar se as empresas adotam as ferramentas;

• Verificar se os recursos humanos envolvidos no processo de manipulação

de alimentos recebem treinamento específico em relação à implementação

das ferramentas de segurança de alimentos.

Page 97: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

81

4. MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo é de natureza transversal e descritiva, realizado por meio de

levantamento de dados in loco, a partir de entrevistas com os responsáveis

pelas empresas que constituem a amostra, utilizando-se formulário construído

especificamente para esse fim. Mediante análise quantitativa, obtiveram-se as

conclusões correspondentes aos dados coletados. O referencial teórico

utilizado para classificar e delinear a pesquisa com base em levantamento de

dados encontra-se no Apêndice A.

4.1. AMOSTRAGEM

O universo delimitado foi o das empresas associadas à Abrasel/DF,

devido à diversidade de tipos de serviço praticados e ao fato de a associação

fomentar, promover e colaborar para o aprimoramento dos recursos humanos

do setor, mediante ações próprias ou convênios com órgãos e

estabelecimentos de ensino e outras entidades. Nesse sentido, a Abrasel/DF

participa do Programa Qualidade na Mesa, que abrange ações relacionadas à

implantação das Boas Práticas de Fabricação.

Ademais, a Abrasel/DF é uma das seccionais da Abrasel Nacional46,

associação representante de um setor que congrega hoje cerca de 700 mil

empresas no Brasil e que assume a missão de promover o setor de

46 Abrasel Nacional – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos que, observadas as exigências legais e estatutárias, pode atuar em todo o território do Estado representando empresas legalmente constituídas que atuam no segmento de restaurantes, gastronomia, entretenimento, lazer, bares e similares, entidades e empresas afins comprovadamente relacionadas ao setor, ou que sejam associadas às associações congêneres, denominadas regionais, que figurarão em seus quadros como associadas efetivas.

Page 98: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

82

restaurantes, bares e empresas de entretenimento, por meio da organização,

integração e aprimoramento das empresas associadas.

Para obtenção de lista contendo o nome, o endereço e o telefone das 84

empresas associadas à Abrasel/DF, foi enviada solicitação formal (Apêndice B)

à sua diretoria. Entretanto, essa lista não está anexada ao presente trabalho

porque foi assegurado o anonimato das empresas entrevistadas.

Todas as associadas seriam entrevistadas constituindo-se, desta forma,

uma amostra censitária. Entretanto, 74 das 84 empresas participaram da

pesquisa. Dez estabelecimentos foram excluídos porque dois haviam

encerrado suas atividades comerciais e oito não estavam disponíveis para a

entrevista.

4.2 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Para coleta e consolidação de dados, foi elaborado um formulário

(Apêndice C), contendo 41 perguntas fechadas e duas abertas. As perguntas

foram construídas com base na RDC n°216/04. Para as perguntas fechadas,

utilizaram-se 33 respostas de alternativas dicotômicas e 8 múltiplas,

hierarquizadas ou não.

As perguntas foram agrupadas em seis seções:

Seção 1 – situa as empresas associadas à Abrasel/DF quanto ao tipo de

serviço prestado e ao porte das mesmas, este último com base no número de

funcionários.

Seção 2 – investiga as empresas em relação ao conhecimento e à

importância atribuída às ferramentas de segurança de alimentos relacionadas à

Page 99: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

83

RDC n°216/04, bem como o estágio em que se encontram quanto a sua

implantação.

Seção 3 – identifica o grau de conhecimento e importância atribuídos

aos diversos requisitos dessas ferramentas, incluindo alguns dos principais

itens a serem considerados durante sua adoção; as atribuições e o perfil do

Responsável Técnico (RT); como a empresa lida com o Manual de Boas

Práticas de Fabricação; dentre outros.

Seção 4 – refere-se à aplicação dos Procedimentos Operacionais

Padronizados e visam identificar se as empresas os conhecem e/ou adotam

durante a produção de alimentos.

Seção 5 – aplica-se às empresas que não utilizam as ferramentas da

RDC n°216/04. Procura investigar os motivos que levam à não utilização e se a

empresa adota outra ferramenta.

Seção 6 – refere-se ao treinamento dos manipuladores de alimentos e

às especificidades desses treinamentos.

Para validar o formulário, utilizou-se a técnica de juízes em que foram

escolhidos três nutricionistas, um médico-veterinário e um engenheiro de

alimentos para analisar e fazer sugestões acerca das perguntas formuladas.

Todos receberam o formulário por correio eletrônico e foram convidados a

sugerir modificações ou questionar informações incompletas ou ambíguas,

visando imprimir clareza e facilidade para a compreensão das questões. Todos

os juízes retornaram o formulário com sugestões e críticas, que foram

integralmente acatadas devido a sua contribuição para o aperfeiçoamento do

instrumento.

O instrumento foi então submetido ao pré-teste para assegurar que as

Page 100: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

84

respostas pretendidas fossem obtidas. O próprio pesquisador entrevistou cinco

representantes de empresas para avaliar a clareza e a precisão dos termos; a

quantidade, a forma e a ordem das perguntas; e a introdução proposta. Todas

as sugestões foram discutidas e acatadas devido a sua pertinência. O tempo

máximo de preenchimento do instrumento foi de 25 minutos, de acordo com a

prova feita no pré-teste.

4.3 COLETA DE DADOS IN LOCO

Para a realização das entrevistas, foram selecionados e treinados dez

alunos do Curso de Nutrição da Universidade de Brasília. O treinamento

abrangeu o estudo e a análise da RDC n°216/04 bem como a leitura detalhada

do formulário; a orientação para conduzir as entrevistas de maneira adequada,

incluindo informações e discussões sobre os objetivos da pesquisa e a

importância de se formular as perguntas tal qual estavam redigidas; a

orientação para não discutir, em qualquer circunstância, as opiniões emitidas,

registrando as respostas com precisão.

As empresas foram contatadas por telefone, pelos entrevistadores, para

explicar a razão da pesquisa e agendar a data e o horário das entrevistas.

Todas as visitas ocorreram no período de 01 de junho a 07 de julho de 2006 e,

dessa forma, o tempo de coleta de dados foi de 37 dias.

A inclusão dos respondentes – proprietários ou gerentes das empresas –

foi definida no momento do agendamento da entrevista, em função da

disponibilidade para responder ao formulário.

Nos dias agendados, os entrevistadores foram recebidos pelo gerente

Page 101: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

85

ou proprietário do estabelecimento para a realização da entrevista. Apesar de

terem sido feitas diversas tentativas de agendamento por telefone, oito

empresas foram visitadas e entrevistadas sem agendamento prévio.

4.4 TRATAMENTO DOS DADOS

Os formulários recebidos foram numerados seqüencialmente e

tabulados no pacote estatístico SPSS47. A limpeza dos dados incluiu as

seguintes etapas:

• as respostas duplas para questões que requeriam somente uma

resposta não foram computadas no grupo de respostas válidas;

• os itens que deveriam ser deixados em branco, de acordo com as

instruções do instrumento, foram codificados como 9, a fim de

discriminar itens deixados deliberadamente sem resposta daqueles em

que a resposta do participante não era requerida;

• a inspeção de erros de digitação e tabulação;

• a construção dos itens de múltipla resposta para as análises descritivas.

Os procedimentos de análise dos dados incluíram estatísticas descritivas

para cada questão, individualmente, e análises de distribuição condicional,

considerando cruzamentos entre questões de interesse.

47 Statistical Package for the Social Sciences – pacote estatístico para análise de dados quantitativos comumente utilizados nos estudos realizados pelas diferentes ciências sociais.

Page 102: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

86

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 84 empresas associadas à Abrasel/DF, 74 se dispuseram a

participar da pesquisa; a amostra corresponde a 88% da população estudada.

Inicialmente, os dados foram analisados por categoria de respondentes:

15 proprietários e 59 gerentes das empresas responderam às perguntas.

Entretanto, essa categorização em função de quem eram os respondentes não

se mostrou útil para o entendimento da adoção das ferramentas de segurança

de alimentos por parte das empresas participantes. Portanto, as análises

desconsideraram o cargo do respondente na empresa.

Os resultados consolidados estão descritos por freqüência simples de

respostas e por cruzamento entre duas ou mais variáveis, em que foram

considerados somente os casos válidos; o número de respondentes está

indicado por “n” e as perdas de respostas não ocorreram em número elevado.

Em relação à localização das empresas entrevistadas, verificou-se que

84% concentram-se em localidades de reconhecido potencial aquisitivo

(Tabela 2).

Dados do Governo do Distrito Federal (GDF, 2006) apontam que o

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)48 - Renda por Região Administrativa

do Distrito Federal, no ano de 2000, é o mais elevado no Lago Sul (1,000),

seguido do Lago Norte (0,978) e de Brasília (0,948).

48 O IDH varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total). IDH entre 0 e 0,499, é considerado baixo. IDH entre 0,500 e 0,799 é considerado médio. IDH entre 0,800 e 1, é considerado alto.

Page 103: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

87

Tabela 2 – Freqüência de localização das empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=74)

Localização Número de empresas

Asa Sul 36%

Asa Norte 16%

Lago Sul 5%

Lago Norte 1%

Sudoeste 4%

Taguatinga 3%

Shoppings e centros comerciais

Asa Sul 8%

Asa Norte 5%

Lago Sul 8%

Sudoeste 9%

Hotéis e clubes

Lago sul 5%

Total 100%

• Porte das empresas pesquisadas

A categorização das empresas em relação ao porte não foi realizada com

base em receita bruta para evitar um possível índice elevado de não

respondentes devido à natureza confidencial da resposta requerida. Assim,

adotou-se o critério baseado no conceito de pessoas ocupadas. Da amostra,

92% das empresas possuíam de 1 a 49 funcionários; eram micro e pequenas

empresas, de acordo com critério do Sebrae Nacional para o comércio e

serviços (SEBRAE NACIONAL, s/d); 5% eram empresas de médio porte (de 50

a 99 funcionários) e 3% possuíam mais de 100 funcionários, sendo

consideradas de grande porte.

Page 104: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

88

• Tipo de serviço oferecido ao cliente

A caracterização da amostra em relação aos tipos de serviços oferecidos

foi feita por meio de pergunta de múltipla resposta em que o respondente

poderia assinalar mais de um item. Considerando que as empresas poderiam

oferecer mais de um tipo de serviço no mesmo dia, obteve-se um total de 120

respostas (Figura 1).

Outros8%

Pizzarias12%

Auto-serviço24%

À la carte49%

Cafeteria2%

Bar5%

Figura 1 – Freqüência de tipos de serviços oferecidos nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=120)

Os resultados mais representativos referiram-se ao serviço à la carte,

auto-serviço (buffet e self-service)49 e pizzarias. A categoria “outros”

correspondeu a tipos de serviços não discriminados no formulário, tais como

boate, choperia, congelados, petiscos, rodízio, entre outros.

Em relação à oferta de alimentos seguros, observa-se que nos sistemas

buffet e self-service é grande a probabilidade de contaminação alimentar devido

49 As expressões self-service e buffet foram adotadas para diferenciar as empresas que cobram os seus serviços por quilo ou a preço fixo por pessoa, respectivamente. Entretanto, em ambos os casos, trata-se de auto-serviço.

Page 105: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

89

ao contato dos clientes com os alimentos expostos e também, muitas vezes,

pela reposição dos alimentos, realizada sobre aqueles já expostos em balcão.

Estudo realizado na cidade de São Paulo para avaliar os riscos

associados ao consumo de alimentos oferecidos em restaurantes do tipo self-

service no período entre 14h e 15h, identificou que 79,55% dos alimentos

disponíveis nos 20 locais pesquisados estavam impróprios para consumo. Estes

resultados sugerem que muitos alimentos já saem contaminados da cozinha

devido à inadequada manipulação e, por ficarem expostos a temperaturas

impróprias, sofrem elevada multiplicação bacteriana pelo longo tempo de

exposição (QUEIROZ et. al., 2000).

Pesquisa realizada para avaliar a ocorrência de surtos de doenças

veiculadas por alimentos na cidade do Rio de Janeiro mostra a relação entre o

tipo de estabelecimento e a ocorrência de surtos. Apesar dos restaurantes

comerciais e similares, bem como as residências, terem sido os locais

responsáveis pela maior ocorrência de surtos (58,5%), o número de pessoas

envolvidas foi maior em instituições públicas como creches, escolas, hospitais e

cozinhas industriais, correspondendo a 61,6% do total de pessoas.

Provavelmente porque, nas residências e nos estabelecimentos comerciais, os

alimentos preparados são mais variados e consumidos por um número menor

de pessoas, contrariamente ao que ocorre nos outros serviços de alimentação

(Fernandez et. al., 2003).

• Importância atribuída às Boas Práticas de Fabricação

Das 74 empresas pesquisadas, duas não conheciam as BPF e, portanto,

Page 106: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

90

constituíram o universo das respondentes da Seção 5 do questionário, cujos

resultados não foram analisados por tratar-se de amostra não representativa.

Além disto, uma dessas empresas não respondeu a todas as perguntas e,

portanto, não havia elementos suficientes para análise.

As outras 72 empresas afirmaram conhecer e considerar as BPF

importantes, resultado possivelmente relacionado a sua participação nas ações

relacionadas às Boas Práticas no âmbito do Programa Qualidade na Mesa.

Estudo realizado em 50 estabelecimentos produtores de alimentos, da

região de Brasília, Distrito Federal, avaliou o cumprimento dos itens

imprescindíveis do formulário anexo à RDC n°275/02 para verificar a

implantação das Boas Práticas de Fabricação de alimentos. As análises

revelaram que dos restaurantes comerciais, 33,3% foram classificados no

grupo que apresentou de 30% a 69,9% de cumprimento dos itens e 66,7% no

grupo com menos de 30% de cumprimento. Os resultados evidenciaram que os

restaurantes comerciais obtiveram o pior resultado quando comparados às

demais unidades analisadas no trabalho (AKUTSU et. al., 2005).

Makiya e Rotondaro (2002), citados por Peretti (2003), ressaltam que se

observa a falta de conhecimento sobre as ferramentas de segurança de

alimentos, especialmente as BPF, por parte dos empresários e técnicos da

grande maioria de empresas de médio porte, e pela quase totalidade das

empresas de pequeno porte e microempresas.

Passados treze anos da introdução dos princípios da segurança dos

alimentos na legislação sanitária brasileira, a partir da Portaria nº1.428/93, a

incorporação dos mesmos ao setor produtivo ainda não atingiu níveis

satisfatórios (PERETTI, 2003).

Page 107: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

91

É possível que a discrepância entre os dados da literatura e os

resultados obtidos na presente pesquisa seja porque a mesma foi realizada por

meio de entrevista, e não de verificação in loco, o que poderia gerar respostas

baseadas na percepção dos respondentes que, não necessariamente,

participavam ou estavam diretamente envolvidos nas operações de rotina de

produção de alimentos.

Os resultados relacionados ao grau de importância que os respondentes

conferiam às BPF em relação aos aspectos obrigatoriedade legal, exigência do

consumidor, produção de alimentos sem contaminação e redução de

desperdício são apresentados na figura 2.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Muitoimportante

Importante Poucoimportante

Importância atribuída às BPF

Percentual de empresas

Produção de alimentos semcontaminação

Redução de desperdício

Obrigatoriedade legal

Exigência do consumidor

'

Figura 2 – Freqüência da importância atribuída às BPF pelos empresários ou gerentes das empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 em relação à obrigatoriedade legal, à exigência do consumidor, à produção de alimentos sem contaminação e à redução do desperdício (n=72)

O aspecto produção de alimentos sem contaminação foi considerado

muito importante por 93% das empresas, o que pode evidenciar o grau de

conscientização sobre a estreita relação entre as Boas Práticas e a

contaminação de alimentos. Outro item que apresentou resultado expressivo

Page 108: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

92

(72%) foi redução de desperdício, podendo denotar uma possível preocupação

com o gerenciamento e a utilização adequada dos produtos e, no contexto, as

BPF aplicadas à manipulação dos alimentos podem subsidiar o atendimento do

padrão de qualidade estabelecido e reduzir o desperdício.

Principalmente no caso das microempresas, antes da aquisição de um

equipamento de maior custo ou de outras providências mais onerosas,

trabalhar a higiene e ajustar a relação de matérias-primas e produtos é

iniciativa que minimiza o desperdício, os riscos ao consumidor e em médio

prazo possibilita realizar as mudanças estruturais necessárias.

• Implantação das BPF

Em relação à implantação das BPF, 65% das empresas afirmaram que

estas estavam integralmente implantadas; em 20%, as BPF estavam em fase

de implantação. As empresas restantes (15%) afirmaram que as Boas Práticas

são um processo contínuo, sinalizando a possibilidade de que, apesar do

reconhecimento da importância das BPF, ainda haja dificuldade por parte dos

empresários e gerentes em compreender que a garantia de produção de

alimentos seguros requer a continuidade de um processo integralmente

aplicado, o qual, ao final, aporta benefícios tanto para a empresa como para o

consumidor, evitando sua exposição a riscos de contaminação e os prejuízos

econômicos gerados pelas perdas e pelo desperdício de produtos alimentícios.

Destaque-se que no questionário a pergunta formulada poderia ter mais

de um item respondido, ou seja, o fato das BPF estarem implantadas ou em

fase de implantação não excluiria a compreensão de que as mesmas deveriam

Page 109: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

93

ser tratadas como um processo contínuo.

Em 60% das empresas, as BPF estavam implantadas há menos de um

ano, resultado já esperado uma vez que o Programa Alimentos Seguros no

Distrito Federal começou a ser implantado nas empresas associadas à

Abrasel/DF a partir de dezembro de 2005.

• Prioridade atribuída aos itens das BPF

A freqüência da distribuição do nível de prioridade atribuído a cada um

dos onze itens que devem ser considerados durante a implantação das BPF,

de acordo com a RDC nº216/04, está indicada na tabela 3. Para fins de

análise, os itens estão dispostos em ordem decrescente de prioridade.

Das 72 empresas, 95% atribuíram alta prioridade aos itens 1 e 2,

demonstrando um considerável grau de conscientização sobre a estreita

relação entre as Boas Práticas, os manipuladores e a preparação dos

alimentos. Se essa conscientização estiver relacionada às orientações da RDC

n°216/04, que estabelece que o responsável pelas atividades de manipulação

dos alimentos deve ser comprovadamente submetido a capacitação,

abordando, no mínimo, os itens referentes à manipulação higiênica dos

alimentos e às Boas Práticas, é possível que, ao longo do tempo, a

implementação integral das Boas Práticas possa ser assegurada pela inclusão

de outros itens obrigatórios, cada vez mais abrangentes, na formação dos

responsáveis pelas atividades de manipulação de alimentos.

Page 110: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

94

Tabela 3 – Freqüência de nível de prioridade atribuído aos onze itens da BPF de acordo com a RDC n°216/04 pelas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=72) Alta

prioridade

Média

prioridade

Baixa

prioridade

Não

responderam

1. Manipuladores 95% 1% 0% 4% 2. Preparação do alimento 95% 1% 0% 4% 3. Higienização das instalações, equipamentos, móveis e utensílios 92% 4% 0% 4% 4. Controle integrado de vetores e pragas urbanas 88% 8% 0% 4% 5. Matérias-primas, ingredientes e embalagens 83% 13% 0% 4% 6. Exposição ao consumo do alimento preparado 84% 4% 8% 4% 7. Armazenamento e transporte do alimento preparado 79% 14% 1% 6% 8. Documentação e registro 79% 10% 6% 5% 9. Manejo de resíduos 75% 18% 3% 4% 10. Abastecimento de água 70% 18% 4% 8% 11.Edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios 60% 36% 0% 4%

O item 5 – matérias-primas, ingredientes e embalagens – foi

considerado alta prioridade por 83% das empresas. Entretanto, o Brasil é um

dos líderes mundiais no desperdício de alimentos. Dados da literatura indicam

que nos grandes centros o desperdício de alimentos atinge índices muito

elevados. Da matéria-prima que chega às indústrias, 15% são perdidos no

processo de industrialização. A perda é similar entre os produtos não

industrializados; mais de 10% dos produtos frescos – frutas, hortaliças, leite,

ovos, carnes – que chegam ao fornecedor final estragam-se no manuseio ou

amadurecem antes de serem adquiridos (VELLOSO, 2002).

Mas o atacadista parece ser o setor que mais contribui para o

desperdício de alimentos. Estudos indicam que 37kg de hortaliças por

Page 111: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

95

habitante são desprezados anualmente, contra um consumo de alimentos

equivalente a 35kg anuais por habitante. Também se deve considerar que os

produtos que chegam à cozinha dos consumidores não são totalmente

aproveitados estimando-se um desperdício em torno de 20% do que é

adquirido no ambiente doméstico (INSTITUTO ETHOS, 2005).

Em relação aos itens 6 e 7 – exposição ao consumo, e armazenamento

e transporte do alimento preparado – alta prioridade foi atribuída por 84% e

79% das empresas, respectivamente.

Silva Jr. (1995) relata que falhas na cadeia do frio50; a conservação de

alimentos em temperaturas entre 30-45ºC; o preparo com antecedência,

seguido de inadequado armazenamento; o uso de matéria-prima contaminada

e/ou de má procedência; o cozimento ou reaquecimento insuficientes; as

contaminações cruzadas; e a utilização de água não potável são fatores

determinantes na prevalência das doenças veiculadas por alimentos.

O autor aponta pesquisa realizada no município de São Paulo em 1991,

para avaliar as principais causas de surtos de doenças veiculadas por

alimentos e indica que a conservação deficiente (70%), os manipuladores

(25%), a matéria-prima inadequada (14%), o tratamento térmico impróprio

(12%), o acondicionamento inadequado (11%), a higiene deficiente de

instalações, equipamentos e utensílios, e a contaminação cruzada (5%) foram,

em ordem decrescente, os fatores mais relevantes (SILVA JR., 1995).

Apesar de não ter sido considerado baixa prioridade por nenhum dos

respondentes, é possível que o item 11 – edificação, instalações,

equipamentos, móveis e utensílios – tenha sido a menor freqüência (60%)

50 Cadeia do frio - consiste em resfriar o produto desde a sua produção e mantê-lo frio ao longo de toda a seqüência até o consumo final, incluindo o transporte.

Page 112: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

96

entre as altas prioridades, devido ao custo de investimento demandado para

estar em conformidade com esse item.

• Investimentos realizados para a implantação das BPF

Em relação aos investimentos realizados para a implantação das BPF

(Tabela 4), 58% das empresas afirmaram ter investido até R$9.999,99 e 35%

dessas promoveram alterações nas edificações e instalações. Das empresas

(18%) que investiram valores superiores a R$10 mil, a quase totalidade (17%)

efetuou essas alterações. Das 72 empresas, 24% não responderam.

Tabela 4 – Freqüência de distribuição entre valor investido na implantação das BPF e realização de alterações na edificação e nas instalações nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=72)

Edificação e instalações alteradas para implantar as BPF

Valor investido na implantação das BPF

Sim

Não

Não

responderam Total

Até R$ 9.999,99 35% 23% - 58%

Mais de R$10.000,00 17% 1% - 18%

Não responderam - - 24% 24%

Total 52% 24% 24% 100%

De acordo com Silva Jr. (1995), empresários do setor relatam que as

modificações em sua cozinha estão sendo feitas passo a passo com a

orientação dos profissionais da vigilância sanitária, que apontaram os itens a

serem modificados prioritariamente. Que essas mudanças foram caras, do

Page 113: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

97

ponto de vista econômico, mas que valeram a pena porque trazem inovações

positivas e que podem inclusive reduzir os custos, se bem entendidas.

Também observa que o setor considera que as primeiras modificações – e

mais caras – são aquelas relativas às instalações físicas das cozinhas, onde é

necessária a construção de lavatórios e vestiários.

Essas informações são corroboradas por estudo de VALEJO et. al.

(2003), que realizaram vistoria em 52 estabelecimentos comerciais incluindo

restaurantes, lanchonetes, panificadoras, sorveterias, docerias e rotisserias, na

cidade de Presidente Prudente - SP, classificando-os de acordo com os

critérios estabelecidos pela Vigilância Sanitária Municipal para verificar sua

adequação aos requisitos das Boas Práticas. Os autores concluíram que,

apesar de a maioria ter sido considerada adequada, as inadequações referiam-

se, em maior número, àquelas relacionadas à edificação, instalações sanitárias

e utensílios e equipamentos.

Silva Neto (2006) indica que altos índices de não conformidade no

quesito edificações e instalações levam à possibilidade de riscos de

contaminação dos alimentos pelas dificuldades que essa não conformidade

impõe aos procedimentos de limpeza e desinfecção do local de produção.

• Dificuldades encontradas na implantação das BPF

Das empresas, 58% afirmaram que as principais dificuldades

encontradas na implantação das BPF eram relacionadas aos funcionários,

como a resistência em aplicar os conhecimentos adquiridos, a falta de

conscientização sobre a importância das BPF, dentre outros. As demais

Page 114: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

98

dificuldades (32%) mencionadas foram distribuídas entre custos elevados;

inviabilidade técnica da implantação ou problemas com edificação; instalações,

equipamentos, móveis e utensílios que não permitem ou dificultam a

implantação. Das 72 empresas, 10% não encontraram dificuldades (Figura 3).

Sem dificuldades10%

Funcionários58%

Custos, inviabilidade

técnica, edificação,

equipamentos, outros32%

Figura 3 – Freqüência das principais dificuldades encontradas na implantação das BPF nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=72)

Em geral, as dificuldades dos manipuladores adotarem uma nova forma

de trabalho estão relacionadas a tradições culturais e sua conscientização

sobre a importância da mudança de postura requer instrução e supervisão

contínua.

• Responsável Técnico (RT)

Apesar da RDC n°216/04 não prever a contratação de um RT nos

moldes da Portaria n°1.428/93, exige que o responsável pelas atividades de

manipulação dos alimentos seja o proprietário ou funcionário designado,

devidamente capacitado.

Neste estudo, a expressão Responsável Técnico foi utilizada para

Page 115: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

99

designar a pessoa responsável pelas atividades de manipulação de alimentos,

devidamente capacitada.

Das 72 empresas, 20% não possuíam RT. Dentre aquelas que possuíam

RT, 32% trabalhavam com consultores externos, 26% com funcionários das

próprias empresas e 22% com outros profissionais (Figura 4).

Não possui RT20%

Outros profissionais

22%Funcionários das empresas

26%

Consultores externos

32%

Figura 4 – Freqüência de distribuição entre presença de Responsável Técnico e quem exerce a função de RT nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=72)

Na categoria “outros profissionais”, 75% desses eram ligados à área de

Nutrição. Esse resultado indica uma possível expansão no campo de atuação

dos nutricionistas, representando uma oportunidade de ingresso em um setor

altamente intensivo em mão-de-obra, com participação expressiva no PIB da

economia e também com elevado potencial de crescimento. Além disso, a

atuação de profissionais de nutrição em restaurantes é aspecto importante para

agregar valor à produção de alimentos seguros e nutricionalmente adequados.

Entre os Responsáveis Técnicos, 71% possuíam ensino superior

incompleto ou completo; 19% ensino médio e 2% ensino fundamental, o que

indica um elevado nível de escolaridade dos RT; 8% não responderam.

Page 116: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

100

• Manual de Boas Práticas de Fabricação

Das 72 empresas que conheciam as BPF, 96% afirmaram saber que a

legislação exige um Manual de Boas Práticas; dessas, 91% afirmaram possuir

o Manual e 9% não possuí-los.

Nas empresas que possuíam o Manual, em 76% esses eram elaborados

por consultores externos, em 9% por funcionários das próprias empresas e em

15% por outros.

Das empresas, 71% declararam atualizar seus Manuais e dessas, 39%

não haverem feito nenhuma atualização até o momento da entrevista. 29% não

responderam.

O fato de 20% das empresas não possuírem RT e 39% não terem

atualizado o Manual de Boas Práticas pode indicar que o conhecimento das

bases legais que disciplinam a matéria não seja suficiente, apontando para a

necessidade de se buscar o efetivo engajamento das empresas e de seus

gestores, no sentido de implementar outras estratégias na busca da produção

de alimentos seguros, ligadas à capacitação dos profissionais, à

conscientização sobre a importância da insegurança alimentar, não só em

atendimento à legislação pertinente mas em busca de benefícios da própria

empresa, como a redução do desperdício e outros.

• Adoção dos POPs

Das empresas entrevistadas, 72 afirmaram conhecer os POPs; destas,

65% afirmaram adotar todos os POPs, 27% alguns POPs e 8% não

Page 117: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

101

responderam.

A freqüência de distribuição de adoção dos POPs em relação às quatro

categorias determinadas pela RDC nº216/04 está representada na figura 5.

3%18%

25%26%

28%Não responderam

Higienização do reservatório

Higienização das instalações,equipamentos, móveis e utensílios

Higiene e saúde dosmanipuladores

Controle integrado de vetores epragas urbanas

Figura 5 – Freqüência de distribuição de adoção dos POPs em relação às quatro categorias preconizadas pela RDC n°216/04 nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=72)

O procedimento de menor atendimento (18%) referiu-se à higienização

do reservatório o que pode ser explicado porque, tanto nos shoppings como

nos estabelecimentos de quadras comerciais do Plano Piloto visitados, não há

reservatório individual e a água é fornecida pelo condomínio. Ainda que a

legislação especifique que a higienização das caixas d'água deva ser feita a

cada 6 meses, foge ao controle dessas empresas a monitoração da qualidade

da água utilizada. Com exceção dessa categoria, os demais POPs são

adotados em percentuais bastante próximos.

Dados laboratoriais de amostras de água para consumo humano

distribuída pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal

(Caesb) e analisadas no mês de julho de 2006 indicam que o percentual de

amostras com ausência de Coliformes Totais, indicador para avaliar as

Page 118: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

102

condições higiênico-sanitárias foi acima de 95%. Para os Coliformes

Termotolerantes (fecais), que sugerem a possível ocorrência de bactérias de

origem animal, o percentual de ausência foi de 100% (REGO, 2006).

Rego (2006) analisou 83 amostras de água para consumo humano

utilizada nas unidades de alimentação e nutrição hospitalares da rede pública

do Distrito Federal. Identificou que todas as amostras atenderam aos padrões

de potabilidade requeridos pela legislação e que essas unidades hospitalares

monitoram a qualidade da água para consumo humano distribuída nos pontos

destinados à higienização das mãos, dos alimentos e dos utensílios utilizados

como recipientes dos mesmos, além das fontes de água destinadas ao preparo

de alimentos na cozinha geral e na cozinha dietética, na confeitaria e no local

para preparo da colação. Tais resultados justificam os escassos números sobre

a ocorrência de surtos de doenças veiculadas pela ingestão de água

contaminada no DF e possibilitam estimar que não somente as unidades

hospitalares possuem um controle satisfatório sobre a qualidade da água

utilizada, mas que a água consumida pela população já foi submetida a

processo de tratamento eficiente capaz de eliminar ou de controlar a população

de microrganismos potencialmente patogênicos.

• Sinalização visual para orientar a execução dos POPs

Das 72 empresas, 78% afirmaram utilizar cartazes ou outra sinalização

visual para orientar a execução dos POPs; em 42%, os funcionários seguiam

integralmente as instruções dos POPs e em 36% eles o faziam parcialmente

(Figura 6). Das empresas restantes, 12% afirmaram não utilizar sinalização

visual e 10% não responderam.

Page 119: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

103

17%22%

3%14%

8%14%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

de todos osPOPs

da maioria dosPOPs

de um POP

Empresas utilizam sinalização visual para orientar a execução dos POPs

Percentual de empresas

POPs adotadosintegralmente

POPs adotadosparcialmente

Figura 6 – Freqüência de distribuição entre utilização de cartazes ou outra sinalização visual para orientar a execução de todos, da maioria ou de um POP e sua adoção, integral ou parcial, nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=56)

Os dados indicam que a utilização de cartazes ou outra sinalização

visual para a maioria dos POPs leva a maior adoção integral quando

comparada à utilização de sinalização visual para todos os POPs. Isso pode

denotar que, apesar da reconhecida importância desses instrumentos na

produção de alimentos seguros, na prática, a sinalização da maioria é mais

efetiva do que a sinalização de todos os POPs, talvez devido ao excesso de

informações a serem apreendidas.

Por outro lado, a sinalização de um POP indica sua baixa adoção, tanto

integral como parcialmente, evidenciando a importância da sinalização visual.

Sabe-se que todos os POPs são necessários porque estão relacionados

à qualidade higiênico-sanitária dos alimentos mas sabe-se também que as

condições operacionais nem sempre viabilizam o atendimento integral da

legislação. As operações são muitas e, em momentos de elevada produção, os

próprios gerentes e/ou proprietários afirmaram, nas entrevistas, ser impossível

Page 120: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

104

executar todos os POPs requeridos na rotina operacional.

A sinalização visual para orientar a adoção dos POPs era exposta em

local visível em 78% das empresas e todas afirmaram que os funcionários

seguiam as instruções da sinalização, integral ou parcialmente, na mesma

proporção. Nas empresas (14%) que não expunham a sinalização em local

visível, os POPs eram menos adotados, tanto integral (8%) como parcialmente

(6%) (Figura 7). As empresas restantes (8%) não responderam.

39%

8%

39%

6%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

Sim NãoInstruções expostas em local visível

Número de empresas

POPs adotadosintegralmente

POPs adotadosparcialmente

Figura 7 – Freqüência de distribuição entre exposição das instruções em local visível e adoção integral ou parcial dos POPs nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=56)

Os resultados demonstram que a exposição de sinalização visual é

estratégia importante para auxiliar na compreensão de como executar os POPs

e subsidiar sua utilização.

O nível de escolaridade dos profissionais que atuam no setor de

gastronomia é baixo (ARBACHE, 2004) e, portanto, as sinalizações visuais são

mais facilmente acessadas e compreendidas por um público com esse perfil.

Analogamente, a mesma estratégia é utilizada pelos restaurantes fast-food

Page 121: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

105

para oferecem sua comida: geralmente não possuem cardápios e os pratos são

anunciados em grandes luminosos ilustrados, capazes de serem entendidos

por pessoas de qualquer nível de escolaridade.

De acordo com Rodrigues (2002), a atenção visual seleciona as

informações mais relevantes do estímulo e o reconhecimento classifica os

objetos de uma imagem a partir de informações previamente conhecidas ou

aprendidas. O processo de aprendizagem se dá quando o indivíduo é capaz

de, a partir de exemplos, reconhecer os objetos de uma imagem e transformá-

los em prática.

Esse processo é de fundamental importância na capacitação e

treinamento de profissionais de baixo nível de escolaridade porque permite a

transmissão de conhecimentos por meio de códigos visuais que serão

posteriormente associados e utilizados no desenvolvimento do trabalho.

• Treinamento dos funcionários

Uma falha metodológica da pesquisa é a ausência de definição do

conceito de treinamento, que pode suscitar questionamento acerca da precisão

das respostas. Assim, para fins de análise, será considerado treinamento

qualquer ferramenta de capacitação implementada durante qualquer período

de tempo, em qualquer periodicidade.

Das empresas, 86% afirmaram que os funcionários eram treinados em

segurança dos alimentos e 83% forneceram informações sobre o número de

treinamentos já realizados: 50% haviam realizado de 1 a 5; 30%, mais de 6 e

3% não haviam realizado nenhum treinamento até o momento da entrevista.

Page 122: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

106

Em relação à inclusão, nos treinamentos, dos itens recomendados pela

RDC nº216/04, nas empresas respondentes (86%), os itens – doenças

veiculadas por alimentos e controle de temperatura no preparo,

armazenamento e distribuição dos produtos – obtiveram menor freqüência,

revelando uma possível falta de conscientização sobre os problemas

relacionados ao binômio tempo x temperatura e à contaminação cruzada

decorrente do armazenamento e da distribuição dos produtos (tabela 5).

Tabela 5 – Freqüência de inclusão dos itens recomendados pela RDC nº216/04 nos treinamentos realizados nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=72)

Itens Freqüência de inclusão

Freqüência de não

inclusão

Não responderam

Manipulação higiênica dos alimentos 86% 0% 14%

Higiene pessoal 86% 0% 14%

Higiene do ambiente 86% 0% 14%

Higiene de utensílios e equipamentos 86% 0% 14%

Contaminantes alimentares 85% 1% 14%

Higiene da matéria-prima 85% 1% 14%

Uso de produtos de higiene e sanitização 83% 3% 14%

Doenças veiculadas por alimentos 82% 4% 14%

Controle de temperatura no preparo, armazenamento e distribuição dos produtos

82% 4% 14%

Ao avaliar o uso de ferramentas de segurança na produção de alimentos

nas cozinhas hospitalares públicas e privadas de Brasília, Silva Neto (2006)

identificou que apenas 66,7% dos equipamentos de conservação dos alimentos

(refrigeradores, congeladores, câmaras frigoríficas, dentre outros) possuíam

medidor de temperatura localizado em local apropriado e em adequado

funcionamento. Também, somente metade das unidades (50%) apresentou

planilhas de registro de temperatura preenchidas e conservadas em local

Page 123: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

107

adequado para verificação. O mesmo índice foi observado em relação à

manutenção preventiva e à calibração dos equipamentos de conservação dos

alimentos.

Para Silva Neto (2006), o descaso com o monitoramento da temperatura

dos alimentos produzidos é preocupante uma vez que grande parte dos surtos

de toxinfecção alimentar advém da não observação rigorosa da temperatura de

segurança em que os alimentos devem estar armazenados, estando prontos ou

não para consumo. O autor afirma que o binômio tempo x temperatura e a

contaminação cruzada são responsáveis por 80% e 10%-15%,

respectivamente, dos casos de contaminação alimentar.

Muitas vezes, embora os manipuladores tenham informações sobre as

necessidades de higiene no local de trabalho, não conhecem a relação entre a

temperatura de cozimento e de armazenamento e o controle de perigos

microbiológicos. Também não têm a percepção de que intoxicações

alimentares podem ser causadas por alimentos com aparência, cheiro e sabor

normais.

• Quem realiza os treinamentos em segurança dos alimentos

Os consultores do Serviço Brasileiro de Apoio às Pequenas e Médias

Empresas do Distrito Federal (Sebrae-DF) eram responsáveis pela realização

de treinamentos em 52% das empresas; 18% realizavam seus próprios

treinamentos, 15% utilizavam outros instrutores e 15% não responderam.

Em relação à distribuição entre o número de treinamentos realizados e

quem os realiza (Figura 8), as empresas que utilizavam consultores do Sebrae-

Page 124: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

108

DF realizavam 50% dos treinamentos; as empresas que realizavam os seus

próprios treinamentos representavam 17% e as que contratavam outros

instrutores 15%, denotando a importância da atuação do Sebrae-DF em

contribuir para a produção de alimentos seguros. As 18% empresas restantes

não responderam.

11%10%

0% 0%

36%

3%7% 7%

8%

0%

10%

20%

30%

40%

Mais de 6treinamentos

De 1 a 5treinamentos

Nenhumtreinamento

Número de treinamentos realizados

Quem realiza os treinamentos

Consultor do SebraePrópria empresaOutros instrutores

Figura 8 – Freqüência de distribuição entre o número de treinamentos realizados e quem os realiza nas empresas associadas à Abrasel/DF pesquisadas no período de 01/06 a 07/07/2006 (n=59)

Entretanto, se o treinamento dos manipuladores é elemento central de

um sistema de segurança de alimentos, o proprietário ou gerente do

estabelecimento também exercem função de grande responsabilidade pois o

reconhecimento da importância da capacitação para assegurar a qualidade dos

alimentos depende das medidas gerenciais por eles implementadas. Além de

conhecer integralmente os procedimentos das boas práticas de fabricação, é

necessário que esses atores tenham o controle de todas as operações que

ocorrem dentro e fora do ambiente de trabalho: seleção e controle da saúde do

pessoal, escolha e aquisição de matéria-prima, armazenamento, calibragem

Page 125: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

109

dos equipamentos, treinamento dos manipuladores, controle integrado de

pragas, dentre outros. Dessa forma, os treinamentos realizados por consultores

externos somente serão eficientes se houver também a conscientização dos

proprietários ou gerentes sobre a importância de se buscar processos que

assegurem a produção de alimentos seguros.

Em relação à formação de quem realiza os treinamentos, os

nutricionistas compunham 40% do perfil dos instrutores; os engenheiros de

alimentos 12%; os profissionais de outras áreas de atuação 13%. As empresas

que não souberam informar foram 35% da amostra. Assim como no caso do

Responsável Técnico, a atuação como instrutor em segurança de alimentos e

em outras áreas relacionadas à produção e transformação de alimentos

representa uma oportunidade de expansão do mercado de trabalho para

profissionais de nutrição.

A verificação de adoção das BPF era feita diariamente em 58% das

empresas, semanalmente em 21% e em outra freqüência em 7% das

empresas; 14% das empresas não responderam.

Em 76% das empresas os funcionários eram incentivados a aplicar os

conhecimentos adquiridos. Entretanto, 28% dessas empresas afirmaram que o

incentivo era feito por meio de cobrança e fiscalização dos funcionários,

podendo sugerir que a pergunta tenha sido mal formulada ou que, na visão

desses gestores, a cobrança seja uma forma de motivação.

Page 126: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

110

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diferentemente de outros trabalhos de investigação que verificam, na

prática, por meio da utilização de checklist, a aplicação das ferramentas de

segurança de alimentos, este estudo teve como objetivo principal investigar a

importância atribuída e o nível de adoção dessas ferramentas pelas empresas

associadas à Abrasel/DF, a partir das informações colhidas junto aos

proprietários e gerentes desses estabelecimentos.

Para a análise dos resultados deste trabalho, deve-se considerar que a

entrevista, em oposição à verificação in loco, gera respostas baseadas na

percepção dos entrevistados e portanto de natureza subjetiva.

A pergunta da pesquisa baseou-se na elevada repercussão, na mídia,

das ocorrências envolvendo casos de toxinfecção alimentar e no número

crescente de trabalhos publicados abordando a questão da inocuidade dos

alimentos.

Das 74 empresas pesquisadas, 97% afirmaram reconhecer a

importância e adotar os procedimentos estabelecidos pela RDC n°216/04.

Considerando que seus pré-requisitos – as BPF e os POPs – estariam sendo

aplicados, essas empresas, de acordo com os resultados, estariam preparadas

para iniciar a implementação do sistema APPCC.

Se por um lado os resultados evidenciam que as empresas associadas à

Abrasel/DF procuram oferecer um diferencial aos seus clientes, representado

na qualidade sanitária do alimento preparado, por outro podem ser reflexo da

necessidade das empresas fornecerem respostas politicamente corretas,

aderentes à legislação. Apesar da segunda hipótese não ser passível de

confirmação devido à ausência de dados nessa pesquisa, deve-se destacar

Page 127: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

111

que apenas 15% dos respondentes situaram as BPF como processo contínuo,

não evidenciando a conscientização dos gerentes e proprietários em relação à

importância de se utilizar esse conjunto de ferramentas de forma sistemática.

A compreensão de que as ferramentas de segurança de alimentos

devem ser vistas sob a ótica de processo contínuo implica em que a mesma

seja partilhada em todos os níveis da empresa, pressupondo o envolvimento e

a conscientização dos atores dos diferentes segmentos que a constituem. Para

tanto, capacitação e treinamento são elementos-chave no sentido de fornecer-

lhes visão crítica sobre as rotinas e sobre a conscientização da necessidade de

aperfeiçoamento específico, de forma continuada.

Especificamente em relação aos manipuladores de alimentos –

principais agentes do processo de produção – o treinamento deve enfatizar a

promoção de sua saúde e os aspectos de higiene pessoal, itens essenciais

para o desenvolvimento de programas que visem à inocuidade dos alimentos.

Seu conteúdo deve ser estruturado com base em outras variáveis que não

unicamente o grau de escolaridade dos indivíduos, incluindo a caracterização

do trabalhador do setor, a observação de suas práticas de higiene pessoal

durante as atividades de trabalho e o conhecimento de suas concepções de

higiene pessoal.

Também, comprovando a literatura, os resultados desta pesquisa

apontam dificuldades em relação aos funcionários e demonstram a vinculação

das empresas do Distrito Federal a profissionais externos, especialmente do

Sebrae/DF, para implementar as ferramentas de segurança de alimentos;

apontam também dificuldades relacionadas a custos financeiros.

Assim, pode-se traçar um ciclo vicioso em que os dados econômicos

Page 128: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

112

indicam tendência de expansão do setor; esse setor é composto

predominantemente de micro e pequenas empresas; essas possivelmente não

dispõem de recursos financeiros suficientes para realizar os investimentos

requeridos pelo sistema APPCC, principalmente em edificações e instalações.

No contexto, sem a efetiva conscientização dos proprietários e gerentes

das empresas sobre a importância de capacitar seus funcionários, quais

poderão ser as expectativas dos consumidores em relação à segurança dos

alimentos quando cessarem os subsídios para o treinamento de pessoal?

Quais as alternativas para que as empresas possam investir efetivamente na

implementação do sistema APPCC?

Dados do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de

Brasília (SINDHOBAR, 2006) indicam que, no Distrito Federal, existem hoje

aproximadamente 10.000 estabelecimentos de alimentação que empregam

100.000 pessoas. Esses números, a crescente procura por refeições fora do lar

e os resultados da pesquisa levam a refletir sobre a importância da

conscientização sobre a prevenção dos problemas ligados à qualidade

higiênico-sanitária dos alimentos.

Diante dessas questões, pode-se sugerir revisão e reforço da legislação

mediante estudos que incluam a verificação periódica do estágio em que as

empresas se encontram em relação à segurança de alimentos bem como de

sua capacidade de atendimento das exigências daí decorrentes. Ainda, o

quanto a Vigilância Sanitária está preparada para orientar e fiscalizar, enfim,

cumprir o papel para o qual foi concebida.

Propõe-se então o aprofundamento dessas questões e o

aperfeiçoamento da legislação que, embora reconhecidamente abrangente,

Page 129: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

113

volte-se, de fato, para a capacidade operacional de atendimento às demandas

para a produção de alimentos seguros, considerando que:

• na ótica do legislador, é imperiosa a normatização racional,

sincronizada às diversidades regionais e segmentada por área de

atuação, sob o entendimento de que a implementação das ferramentas

de controle do Estado deve sempre respeitar uma relação custo-

benefício que permita sua aplicabilidade;

• na visão do empreendedor, a adoção do ferramental disponível, em

atendimento à legislação e aos princípios norteadores do próprio

negócio, deve ocorrer em equilíbrio financeiro, não superando em

custos os próprios riscos a serem cobertos;

• na perspectiva do manipulador, as ações de rotina compreendidas pelas

ferramentas associadas às Boas Práticas e aos POPs, por si, não são

suficientes para eliminar completamente os riscos mas, se conjugados

com a manutenção de comportamentos, práticas e procedimentos –

pessoais, na empresa e na sociedade – podem se traduzir em conceito

mais amplo de saúde alimentar.

Page 130: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

114

7. REFERÊNCIAS

ABERC. Associação Brasileira de Refeições Coletivas. História e Mercado. Disponível em: <http://www.aberc.com.br>. Acesso em: 14 mar. de 2003. ABIA. Associação Brasileira da Indústria da Alimentação. Economia e comércio exterior: indicadores. 2006. Disponível em: <http://www.abia.org.br/visit/ecoserv.asp.> Acesso em: 08 set. 2006. ABRASEL NACIONAL. Portal da Associação Brasileira de Restaurantes e Empresas de Entretenimento. Disponível em: <http://www. Abrasel.com.br.> Acesso em: 06 jun. 2006 AKUTSU, R. Metodologia científica: planejamento e técnicas. Apostila da disciplina de metodologia científica de pós-graduação do Centro de Excelência em Turismo. Universidade de Brasília. 2005. AKUTSU, R. de C.; BOTELHO, R. A.; CAMARGO, E. B.; SÁVIO, K. E. O.; ARAÚJO, W. C. Adequacy of good manufacturing procedures in foodservice establishments. Revista de Nutrição. Campinas, v.18, n.3, p.419-427, maio/jun., 2005. ALMEIDA, C. R. O sistema HACCP como instrumento para garantir a inocuidade dos alimentos. Revista Higiene Alimentar, São Paulo, v.14, n.72, p.35-46, maio, 1998. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informes Técnicos Institucionais. Plantando saúde: resolução estabelece normas de higiene para alimentos e bebidas à base de vegetais. Revista de Saúde Pública. São Paulo, 39(5): p. 861-864, 2005. ARAÚJO, W. M. C. Segurança Alimentar. 2006. A ser editado pela Editora Senac/DF, 2007. ARAÚJO, W. M. C. Segurança alimentar e vigilância sanitária. In: Artigo. Centro de Excelência em Turismo. Universidade de Brasília, 2004. Disponível em <http://www.unb.br/cet/artigos/artigo_2004_08_17_01.htm.> Acesso em: 23 jun. 2006. ARBACHE, J. S.; TELES, V.; SILVA, N. A economia brasileira e a gastronomia. In: ARAÚJO, W.M.C. & TENSER, C.M.R. (org) Gastronomia: Cortes e Recortes. Brasília: Editora Senac/DF, 2006. p.115 – 126. BELIK, W.; SILVA, J.G. da; TAKAGI, M. Políticas de combate à fome no Brasil. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v.15, n.4, p.119-129, 2001. BORGO, L.A.; ARAÚJO, W.M.C. Mecanismos dos processos de oxidação lipídica. Revista Higiene Alimentar. S.Paulo, v.19, n.130, p. 50-58, abril, 2005.

Page 131: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

115

BRASIL. Ministério do Turismo. Portal Brasileiro do Turismo. MTur, Abrasel e Sebrae lançam programa Qualidade na Mesa. 06 de dezembro de 2005a. Disponível em: <http://institucional.turismo.gov.br/mintur/parser/imprensa/noticias/item.cfm?id=0635DD21-E07D-D342-82A767E0940286C2.> Acesso em: 14 set. 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n° 2.259/GM, de 23 de novembro de 2005b. Aprova a Resolução nº 33/05 do Grupo Mercado Comum (GMC) intitulada “Revogação das Resoluções GMC nºs 53/99 e 06/00 - Glossário de Terminologia de Vigilância Epidemiológica MERCOSUL”. Disponível em: http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2005/GM/GM-2259.htm. Acesso em: 08 set.2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Alerta e recomendações referentes a casos de Difilobotríase no município de São Paulo. 06 de abril de 2005c. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/peixe_cru.pdf.> Acesso em: 19/06/2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Centro Nacional de Epidemiologia. Gerência Técnica de Vigilância Epidemiológica das Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar. Manual Integrado de Prevenção e Controle de Doenças Transmitidas por Alimentos. [2004a] Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ManuaVEDTA.pdf? Acesso em 18 set. 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Vigilância em Saúde. Perfil epidemiológico dos surtos de doenças transmitidas por alimentos no Brasil, 1999 – 2004. (2004 b). CARMO. G. M. I.do; ALVES, R. M. de S.; ALMEIDA, M. G. de; DIMECH, C. P. do N.; OLIVEIRA, A. A. e CARMO, E. H. Recebido por meio eletrônico de [email protected].

BRASIL, Anvisa. RDC n°216, de 15 de setembro de 2004c. Dispõe sobre Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Disponível em: <http://e-legis.bvs.br/leisref/public/showAct.php?id=12546.> Acesso em: 28 jan. 2006. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. 2.a edição revista. Série B. Textos básicos de saúde. Brasília, 2003. Disponível em: <http://www.mesabrasil.sesc.com.br/Artigos/PNAN.pdf.> Acesso em: 20 jun. 2006. BRASIL. Anvisa. RDC nº275, de 21 de outubro de 2002a. Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Procedimentos Operacionais Padronizados aplicados aos Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos e a Lista de Verificação das Boas Práticas de Fabricação em Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm.> Acesso em: 28 jun. 2005.

Page 132: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

116

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Escola Nacional de Ciências Estatísticas. Departamento de Ensino e Pesquisa. A experiência brasileira em políticas públicas para a garantia do direito ao alimento. Por Pessanha, L. D. R. Rio de Janeiro. 2002b. Disponível em: <http://www.ence.ibge.gov.br/publicacoes/textos_para_discussao/textos/texto_5.pdf> Acesso em: 17 mai. 2006. BRASIL. Instituto Cidadania. Projeto Fome Zero. Uma Proposta de política de segurança alimentar para o Brasil. Outubro, 2001. Disponível em: <http://www.fomezero.gov.br/download/livro_projeto%20fome.pdf.> Acesso em: 19 jun. 2006. BRASIL. LEI Nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Disponível em <http://www.lei.adv.br/9782-99.htm.> Acesso em: 10 jul. 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria SVS nº 326, de 30 de julho de 1997a. Aprova o Regulamento Técnico sobre "Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos". Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/alimentos/bpf.htm.> Acesso em: 28 jun. 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1428, de 26 de novembro de 1993. Aprova, na forma dos textos anexos, o "Regulamento Técnico para Inspeção Sanitária de Alimentos", as "Diretrizes para o Estabelecimento de Boas Práticas de Produção e de Prestação de Serviços na Área de Alimentos" e o "Regulamento Técnico para o Estabelecimento de Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ´s) para Serviços e Produtos na Área de Alimentos". Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br.> Acesso em: 28 jun. 2006. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.in.gov.br.> Acesso em: 02 jul. 2006. BRASIL. Constituição Federal, 1988. BRASÍLIA. Secretaria Nacional da Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida Cartilha para ajudar a formar comitês. 1993. BURLANDY, L. Segurança Alimentar e Nutricional e Intersetorialidade. II Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais. Políticas Públicas de Segurança Alimentar e Nutricional: realizando o direito humano à alimentação. Caderno de Textos. Pg 12- 16. CONSEA – MG, Belo Horizonte, 2003. BURLANDY, L. Segurança Alimentar e Nutricional. In: ARAÚJO, W. M. C.; TENSER, C. M. R. (org.) Gastronomia: Cortes e Recortes. Brasília: Editora Senac/DF, 2006. p.157-161.

Page 133: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

117

CAMARGO, R.; FONSECA, H.; PRADO FILHO, L. G. B.; ANDRADE, M. O.; CANTARELLI, P. R.; OLIVEIRA, A. J.; GRANER, M.; CARUSO, J. G. B.; NOGUEIRA, J. N.; LIMA, U. A.; MOREIRA, L. S. Tecnologia dos produtos agropecuários - alimentos. São Paulo: Nobel, 1984. 298 p. CAMPOS, R. M. L. de C. Rastreabilidade e Segurança da Carne Bovina na Espanha. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.18, n.126/127, p.19, nov./dez.,2004. CARDOSO, R. de C. V.; SOUZA, E. V. A. de; SANTOS, P. Q. dos. Food and nutrition units at the Federal University of Bahia campuses (Brazil): a study from the food safety perspective. Revista de Nutrição. Campinas. v.18, n. 5, p.669-680, set./out., 2005. CFN. Conselho Federal de Nutricionistas. Alimentação fora do lar aumenta no Brasil. Disponível em: <http://www.cfn.org.br/variavel/ultimas/nutricao_midia/nutri_midia1173.htm.> Acesso em: 01 ago. 2006. CFSAN. Center for Food Safety & Applied nutrition – FDA. Overview and history. 2003. Disponível em: <http://www.cfsan.fda.gov>. Acesso em: 10 jun. 2006. COELHO, A. I. M.; CAMPOS, M. T. F. de S.; LOPES, M. L. M.; NOVAES, J. F. de. World Food Day: two decades of struggle against the world's food problems. Revista de Nutrição, Campinas, v.18, n.3, p.401-418, mai./jun., 2005. CONSEA. II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Relatório Final. CONSEA. Brasília. 2004. Disponível em: <http://www.fomezero.gov.br/documentos/documentos-1/?searchterm=II%20conselho%20nacional%20de%20segurança%20alimenta> Acesso em: 04 abr. 2006. CONSEA. I Conferência Nacional de Segurança Alimentar. Relatório final. CONSEA. Brasília. 1995. Disponível em: <http://www4.prossiga.br/fome/publicacoes/Consea.pdf.> Acesso em: 04 fev. 2006. FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Cúpula Mundial da Alimentação. Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar e Nutricional e Plano de Ação da Cimeira Mundial da Alimentação. Novembro 1996. Roma. Disponível em: <http://www.fao.org/documents/show_cdr.asp?url_file=/docrep/003/w3613p/w3613p00.htm.> Acesso em: 26 abr. 2006. FELIX. J. C; VICENTINI, N. M.; ZÜGE, R. M. A certificação como ferramenta para a promoção da segurança alimentar. In: II Congresso de Metrologia. 2003. Setembro 01-05, 2003. Recife. Anais Eletrônicos. Pernambuco. Brasil. Disponível em: <http://www.metrologia2003.org.br/anais_congresso/MA0452.pdf.> Acesso em: 08 jun. 2006.

Page 134: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

118

FERNANDEZ, A. T.; FORTES, M. de L. M.; ALEXANDRE, M. H.da S.; BASTOS, C. S. P.; VIANNA, E. P. L. Ocorrência de surtos de doenças transmitidas por alimentos da cidade do Rio de Janeiro. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.17, n.111, p.58-63, ago., 2002. FIGUEIREDO, M. A. A.; DIAS, J.; LUCENA, R. Comments on two cases of botulism in the State of Bahia, Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Minas Gerais. v.39, n.3, p. 289-291, mai/jun., 2006. GERMANO, M. I. de S. Eros e Tanatos e a Segurança dos Alimentos. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.18, n.126/127, p.12, nov./dez., 2004. GERMANO, P. M. L.; GERMANO, M. I. de S. Higiene e Vigilância Sanitária de Alimentos. São Paulo: Varela, 2001. 629p. GIL, A.C. Como elaborar projetos e pesquisa. 4. ed. São Paulo; Atlas, 2002. GÓES, J.A.W. Proteção e defesa do consumidor: cidadania versus consumo. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.14, n.75, p.33-35, ago., 2000. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL – GDF. Portal Oficial. 2006. Índice de Desenvolvimento Humano - Distrito Federal. Disponível em: <http://www.distritofederal.df.gov.br/005/00502001.asp?ttCD_CHAVE=1621#3> Acesso em nov.15, 2006. GUNTHER, H.; Gouveia, V. V. Taxa de resposta em levantamento de dados pelo correio: O efeito de quatro variáveis. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Brasília. 11:2. 1995. IAMFES – International Association of Milk, Food and Environmental Sanitarians. Guia de Procedimentos para Implantação do Método de Análises de Perigos em Pontos Críticos de Controle. Trad. De Gillian Arruda et. al.. São Paulo: Ponto Crítico, 1991. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: pesquisa de orçamento familiar - POF. 2004. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 19 mai. 2004. ICMS/IAMS- APPCC na Qualidade e segurança microbiológica de alimentos – São Paulo, Varela, p.125 – 136, 1997. Instituto Ethos/ABRASEL. A Prática da Responsabilidade Social Empresarial no Apoio Fome Zero – Associação de Apoio a Políticas de Segurança Alimentar. CCJ aprova Estatuto do Bom Samaritano. Disponível em: <http://www.apoiofomezero.org.br/site/index.asp?Fuseaction=Conteudo&ParentID=45&Menu=45&Materia=119>. Acesso em: 27 jul. 2005. LIMA, S.A.O. O descaso com a alimentação no país. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.16, n.95, p.99, abril, 2002.

Page 135: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

119

LOGUERCIO, A. P.; ALEIXO, J. A. G.; VARGAS, A. C. De; COSTA, M. M. da. Elisa indireto na detecção de Salmonella spp. em lingüiça suína. Ciência Rural. Santa Maria, v.32, n.6, p.1057-1062, 2002. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de Marketing: uma orientação aplicada. 3 ed. São Paulo: ARTMED, 1999. MALUF, R. S.; MENEZES, F.; VALENTE F. L. - Contribuição ao tema da Segurança Alimentar no Brasil. Revista Cadernos de Debate. Campinhas, São Paulo. Vol. IV, 1996, p.66-68. MARCONI, M de A.; Lakatos, E. M. Fundamentos da metodologia científica. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. MENEZES, F. Segurança Alimentar e Nutricional. Panorama atual da segurança alimentar no Brasil. 1998. Disponível em: <http://perso.wanadoo.fr/amar-bresil/documents/secual/san.html.> Acesso em: 24 mar. 2006. OLIVEIRA, M. J. de; ARAÚJO, W. M. C.; BORGO, L. A. Parâmetros físico-químicos em lingüiça do tipo frescal e avaliação das informações apresentadas nos rótulos. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.19, n.129, p.47-56, mar. 2005. OPAS - Organização Pan Americana da Saúde. HACCP: Instrumento Essencial para a Inocuidade de Alimentos. Buenos Aires, Argentina: OPAS/INPPAZ, 2001. 333p. OPAS/OMS – Organização Pan-Americana de Saúde. Escritório de Representação no Brasil. A saúde no Brasil. Nov. 1998. Disponível em <http://www.opas.org.br/sistema/arquivos/SAUDEBR.PDF.> Acesso em: 08 jun. 2006. OPAS/OMS – Organização Pan-Americana de Saúde. Escritório de Representação no Brasil. Prevenção e Controle de Enfermidades. s/d. Disponível em: <http://www.opas.org.br/prevencao/temas.cfm?id=28&Area=Conceito&pag_atual=1&direcao=posterior.> Acesso em: 08 jun. 2006. PANETTA, José Cezar. Editorial Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.18, n.126/127, p. 5, out. 2004. PAS – Programa Alimentos Seguros. Ações do PAS - Indústria e PAS-Mesa. Resultados alcançados. Disponível em: <http://www.alimentos.senai.br/.> Acesso em: 14 set. 2006. PARANÁ (Estado). Secretaria do Estado de Trabalho, Emprego e Promoção Social. Segurança Alimentar nos anos 90. [1998?] Disponível em: <http://www.setp.pr.gov.br/setp/conselhos/Consea/index.php?id=10.> Acesso em: 21 mar 2006.

Page 136: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

120

PEREIRA, K. S. e PEREIRA, J.L. Estafilococos coagulase negativa: potenciais patógenos em alimentos. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.19, n.129, p.32-34, mar. 2005. PERETTI, A. P. de R. Certificação de qualidade na cadeia produtiva de alimentos: cenário e garantia ao consumidor. Brasília. 2003. 1v. 200 p. Mestrado. Universidade de Brasília. Faculdade de Ciências da Saúde. PIOVESAN, M. F. A construção política da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Rio de Janeiro. 2002. 1v. 102 p. Mestrado. Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública. Disponível em: <http://portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_chap&id=00009801&lng=pt&nrm=iso.> Acesso em: 08 set. 2006. PITTE, J. R. Nascimento e Expansão dos Restaurantes. In: FLANDRIN, J. L.; MONTANARI, M., História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. PLANETA ORGÂNICO. Saúde e Nutrição. Indústria de Transformação de Alimentos. Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br/saudnut2.htm.> Acesso em: 03 set. 2006 PNUD Brasil – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Desenvolvimento Humano e IDH. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/idh.> Acesso em: 20 jun. 2006. PROGRAMA QUALIDADE NA MESA. Qualidade na Mesa. Programas e Ações. Boas Práticas. s/d. Disponível em: <http://www.qualidadenamesa.com.br/ap_interna_in.asp?menu_cd_menu=84.>Acesso em: 14 set. 2006. Projeto de Lei. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 06/10/2005. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/legislacao/projeto_lei_msg680-05.PDF.> Acesso em: 05 mai. 2006. QUEIROZ, A. T. A.; RODRIGUES, C. R.; ALVAREZ, G. G.; KAKISAKA, L. T. Boas Práticas de Fabricação em restaurantes self-service a quilo. Revista Higiene Alimentar. São Paulo. v.14, n.78/79, p.45-48, nov/dez. 2000. RICHARDS, N. S. P. S. Segurança Alimentar: como prevenir contaminações na indústria. Food Ingredients, São Paulo, v. 18, p. 16-30, 2002. RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1985. RÊGO, F. M. Qualidade higiênico-sanitária das águas utilizadas em áreas de produção de alimentos de cozinhas hospitalares da rede pública do Distrito federal. Brasília. 2006. Mestrado. Universidade de Brasília. Faculdade de Ciências da Saúde.

Page 137: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

121

RODRIGUES, F. A. Localização e reconhecimento de placas de sinalização utilizando um mecanismo de atenção visual e redes neurais artificiais. Campina Grande. Paraíba. 2002. 1v. 124 p. Mestrado. Universidade Federal de Campina Grande. Ciência da Computação. SANTOS, A. F., VIZEU, D. M., DESTRO, M. T. Determinação da dose de radiação gama para reduzir a população de Salmonella spp. em carne de frango. Ciênc. Tecnol. Aliment. Campinas. v.23, n.2, p.200-205, mai./ago. 2003. SEBRAE NACIONAL. Agência Sebrae de Notícias. Celeiro do mundo: ONU reúne em SP 80 especialistas em segurança alimentar. 08/07/2005. Disponível em: <http://asn.interjornal.com.br/site/busca.kmf?buscar=1&novabusca=1&assunto=celeiro+do+mundo&tipo_assunto=1&canal=0&dia1=01&mes1=07&ano1=2005&dia2=10&mes2=07&ano2=2005> Acesso em: 04 jun. 2006. SEBRAE NACIONAL. Estudos e Pesquisas: critérios de classificação do porte de empresas. s/d. Disponível em: <http://www.Sebrae.com.br/br/aprendaSebrae/estudosepesquisas.asp.> Acesso em: 23 jan. 2006. SILVA JR., E. A. da. Manual de controle higiênico-sanitário em alimentos. São Paulo 1ª edição, Livraria Varela, 1995, p.347. SILVA NETO, M. Diagnóstico situacional da utilização das ferramentas de segurança na produção de alimentos nas cozinhas das unidades de alimentação e nutrição dos hospitais de Brasília. Brasília. 2006. 114 p. Mestrado. Universidade de Brasília. Faculdade de Ciências da Saúde. TEIXEIRA, S. M.F. G.; OLIVEIRA, Z. M. C.; REGO J. C.; BISCONTINI, T. M. B. Administração aplicada a unidades de alimentação e nutrição. São Paulo: Atheneu; 1990. Valente, F. L. S. A Política de Insegurança Alimentar e Nutricional no Brasil de 1995 a 2002. 2002. Disponível em: <http://www.fomezero.gov.br/download/pol_inseg_alimentar_Flavio_Valente.pdf.> Acesso em: 05 de mai. 2006. VALEJO, F. A. M., ANDRÉS, C. R., MONTAVAN, F. B., RISTER, G. P., SANTOS, G. D. Vigilância Sanitária: Avaliação e Controle da Qualidade dos Alimentos. Revista Higiene Alimentar. v.17, n.106, p.16-21, mar. 2003. Velloso, R. Comida é que não falta. Fonte: Superinteressante - Março 2002 Responsável: JAM. Disponível em: <http://www.brasilnews.com.br/News3.php3?CodReg=4769&edit=Geral&Codnews=999>. Acesso em: 15 mai 2006.

Page 138: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

122

APÊNDICES

Apêndice A

Classificação e delineamento de pesquisa com base em

levantamento de dados

De acordo com Gil (2002), os estudos de natureza descritiva têm como

objetivo principal traçar as características de determinada população ou

fenômeno, ou estabelecer relações entre variáveis, sendo uma de suas

características a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. A

coleta de dados pode ser efetuada por meio de pesquisa bibliográfica e de

pesquisa documental, em que os dados são obtidos a partir do “papel”; ou por

meio de pesquisa experimental, ex-post facto, levantamento e estudo de caso,

em que os dados são fornecidos por pessoas.

As pesquisas realizadas por meio de levantamento de dados

caracterizam-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se

deseja conhecer para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se

as conclusões correspondentes aos dados coletados (GIL, 2002).

Para Gil (2002) as principais vantagens dos levantamentos de dados

são: o conhecimento direto da realidade uma vez que os próprios entrevistados

fornecem a informação requerida; economia e rapidez, a partir da possibilidade

de se obter grande quantidade de informações em curto espaço de tempo e;

quantificação a partir de agrupamento dos dados e da análise estatística dos

mesmos. Entretanto, dentre as limitações dessa técnica, destacam-se a ênfase

nos aspectos perceptivos, já que estes são subjetivos e o entrevistado

Page 139: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

123

responderá às perguntas com base em sua própria percepção do tema; a

pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais, uma vez

que os fenômenos sociais são determinados, sobretudo, por fatores

interpessoais e institucionais e os levantamentos obtêm grande quantidade de

dados somente sobre os indivíduos; e a limitada apreensão do processo de

mudança, uma vez que o levantamento, de modo geral, proporciona visão

estática do fenômeno estudado, oferecendo uma espécie de fotografia de

determinado problema, sem indicar suas tendências à variação ou possíveis

mudanças estruturais.

Ainda segundo Gil (2002), a coleta de dados, em levantamentos,

abrange as seguintes técnicas de interrogação: entrevista, questionário e

formulário. A entrevista pode ser entendida como a técnica que envolve duas

pessoas numa situação “face a face” em que uma delas formula questões e a

outra responde. O questionário apresenta um conjunto de questões que são

respondidas por escrito pelo pesquisado. O formulário é a técnica em que o

pesquisador formula questões previamente elaboradas e anota as respostas.

Para o referido autor, a realização de entrevistas de pesquisa é

complexa porque a pessoa escolhida não é a solicitante e, portanto, o

entrevistador é a única fonte de motivação adequada e constante para o

entrevistado. A entrevista pode ser parcialmente estruturada, quando é guiada

por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador explora ao longo

do seu desenvolvimento. A entrevista totalmente estruturada se desenvolve a

partir de uma relação fixa de perguntas, podendo então ser confundida com o

formulário, caso da presente pesquisa.

Os questionários podem ser classificados de acordo com o tipo de

Page 140: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

124

perguntas feitas aos entrevistados e com o modo de aplicação do mesmo. Em

relação ao tipo de pergunta, os questionários podem ser de perguntas abertas

ou fechadas. As perguntas abertas devem ser utilizadas quando o pesquisador

pretende estudar um tema pontual, mas os resultados são de difícil codificação

e mais complexos para serem respondidos (RICHARDSON, 1985). É uma

ferramenta que fornece maior liberdade de expressão ao entrevistado.

As perguntas fechadas são aplicadas quando se deseja obter respostas

fixas, com alternativas dicotômicas (sim – não; verdadeiro – falso), tricotômicas

(sim – não – não sabe) ou alternativas múltiplas, hierarquizadas (nunca – às

vezes – sempre) ou não. Esse tipo de pergunta facilita o preenchimento do

questionário mas não deve ser utilizado para avaliar opiniões, fatores, motivos

(RICHARDSON, 1985).

O questionário pode ser aplicado por contato direto, por correio, pela

internet, pelo telefone, dentre outros. O método de contato direto consiste na

aplicação pelo entrevistador ou pessoas treinadas por ele e permite esclarecer

dúvidas do entrevistado. No método indireto (correio, internet), o questionário e

as instruções são enviados para as pessoas previamente selecionadas

permitindo, portanto, incluir um maior número de pessoas de diferentes pontos

geográficos (GIL, 2002).

Enquanto técnica de coleta de dados, o formulário situa-se entre a

entrevista e o questionário, devendo, portanto, atender às recomendações

pertinentes às condições da entrevista e à elaboração do questionário (GIL,

2002).

O formulário é uma lista formal, catálogo ou inventário destinado à coleta

de dados, cujo preenchimento é feito pelo próprio investigador. Caracteriza-se

Page 141: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

125

pelo contato direto entre pesquisador e informante e possui a vantagem de

poder ser aplicado em qualquer segmento da população uma vez que o

pesquisador está presente para esclarecer dúvidas e elucidar significados

(AKUTSU, 2005).

De acordo com Gil (2002), é uma das técnicas mais práticas e eficientes

de coleta de dados, por ser aplicável aos mais diversos segmentos da

população, possibilitando a obtenção de dados facilmente tabuláveis e

quantificáveis. Entretanto, tem alcance limitado porque não possibilita a

obtenção de dados com maior profundidade, não assegura o anonimato do

entrevistado e exige treinamento de pessoal (entrevistadores).

Uma vez elaborado, é necessário dar validade científica ao instrumento

de avaliação podendo-se, para tal, utilizar a técnica de juízes. Para Akutsu

(2005), a técnica não prevê um número fixo de integrantes, mas recomenda um

mínimo de cinco pessoas. Segundo Malhotra (1999), as análises e sugestões

de um pequeno grupo de pessoas que atuam naquele universo e que podem

descrever problemas de interesse para o pesquisador, permitem que a técnica

de análise de juízes amplie o que se deseja obter de respostas.

O pré-teste, que é a aplicação prévia do formulário a um grupo

representativo das características da população a ser pesquisada, tem por

finalidade refinar o instrumento e testar a compreensão dos termos utilizados

no questionário (RICHARDSON, 1985).

Gil (2002) afirma que, após o pré-teste,

procura-se verificar se todas as perguntas foram respondidas adequadamente, se as respostas dadas não denotam dificuldade no entendimento das questões, se as respostas correspondentes às perguntas abertas são passíveis de categorização e de análise, enfim, tudo o que

Page 142: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

126

puder implicar a inadequação do questionário enquanto instrumento de coleta de dados.

Como os levantamentos podem abranger um grande universo, é comum

trabalhar-se com parte dos elementos que compõe o universo, ou seja, uma

amostra que, quando rigorosamente selecionada, leva à obtenção de

resultados bastante próximos daqueles que seriam obtidos a partir de todo o

universo (GIL, 2002).

Após a coleta dos dados junto à amostra delineada, os mesmos são

verificados e analisados por meio de procedimentos como a codificação das

respostas, a tabulação dos dados e os cálculos estatísticos. A interpretação

dos dados consiste, fundamentalmente, em estabelecer a ligação entre os

resultados obtidos com outros já conhecidos, derivados de teorias ou de

estudos realizados anteriormente (GIL, 2002).

A apresentação dos resultados, última fase de um levantamento, é

geralmente feita mediante a elaboração de um relatório cujo formato varia em

função dos objetivos da pesquisa (GIL, 2002).

Page 143: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

127

Apêndice B Solicitação à Abrasel/DF para obtenção da lista de empresas associadas

Universidade de Brasília Faculdade de Ciências da Saúde

Departamento de Nutrição Projeto: Importância atribuída e nível de adoção das ferramentas de segurança dos alimentos por empresas de alimentação do Distrito Federal. Pesquisador responsável: Carla Márcia Rodrigues Tenser

Pela presente, solicito a colaboração da Abrasel/DF no sentido de

fornecer a lista dos estabelecimentos de alimentação associados para fins de

realização da pesquisa sobre a importância atribuída e o nível de adoção das

ferramentas de segurança de alimentos.

A pesquisa será realizada por meio de entrevista de proprietários ou

gerentes desses estabelecimentos, com o preenchimento do questionário pelo

próprio entrevistador.

Os resultados serão utilizados para elaboração de dissertação de

Mestrado e as empresas entrevistadas NÃO serão identificadas na tabulação e

análise dos resultados.

Brasília, _____ de ________________ de ________.

Page 144: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

128

Apêndice C

Instrumento para coleta de dados

Seção 1

Esse questionário é parte de uma pesquisa de Mestrado da Universidade de Brasília que tem como objetivo verificar se as empresas associadas à ABRASEL/DF utilizam e consideram importantes as ferramentas de segurança de alimentos. As empresas entrevistadas NÃO serão identificadas na tabulação e na análise dos resultados.

Dados da empresa

1.1 Tipo de serviço

( ) Self-service (preço por quilo)

( ) Buffet (preço fixo por pessoa)

( ) À la carte

( ) Pizzaria

( ) Cafeteria

( ) Bar

( ) Outros (especificar)

1.2 Número de funcionários que trabalham na empresa

( ) 1 a 49 funcionários

( ) 50 a 99 funcionários

( ) mais de 100 funcionários

Page 145: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

129

Seção 2

Restaurante: Endereço: Identificação de quem respondeu o questionário: ( ) Proprietário ( ) Gerente

Boas Práticas de Fabricação e/ou Produção (BPF)

2.1 A empresa conhece as Boas Práticas

de Fabricação - (BPF)?

( ) sim ( ) não

(vai para 2.2, 2.3 e 2.4 ) (vai para 2.4)

2.2 A empresa considera as BPF

importantes?

( ) sim ( ) não

2.3 Numere os itens ao lado de 1 a 3,

indicando em que aspectos as BPF são

importantes.

1 – pouco importante

2 – importante

3 – muito importante

( ) devido à obrigatoriedade legal

( ) por exigência do consumidor

( ) para produzir alimentos sem contaminação

( ) para reduzir o desperdício

( ) outros – especificar

2.4. Qual a situação da empresa em

relação à BPF?

( ) as BPF estão implantadas (vai para Seção 3)

( ) as BPF estão em fase de implantação (vai para Seção 3)

( ) a implantação das BPF é processo contínuo (vai para Seção 3)

( ) as BPF não estão implantadas (vai para Seção 5)

Page 146: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

130

Seção 3

Boas Práticas de Fabricação (BPF) implantadas ou em fase de implantação

3.1 A empresa adota as BPF? ( ) integralmente ( ) parcialmente

3.2 Há quantos meses foi iniciada a

implantação das BPF?

( ) meses

3.3 Numere os itens ao lado de 1 a 3,

indicando a prioridade de cada item durante a

implantação das BPF.

1 – baixa prioridade

2 – média prioridade

3 – alta prioridade

( ) abastecimento de água ( ) manejo de resíduos ( ) manipuladores ( ) preparação do alimento ( ) edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios ( ) higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios ( ) controle integrado de vetores e pragas urbanas ( ) matérias-primas, ingredientes e embalagens ( ) armazenamento e transporte do alimento preparado ( ) exposição ao consumo do alimento preparado ( ) documentação e registro

3.4 Quanto a empresa investiu na

implantação das BPF?

( ) até R$ 4.999,99 ( ) de R$ 5.000,00 a R$ 9.999,99 ( ) de R$ 10.000,00 a R$ 14.999,99 ( ) mais de R$ 15.000,00

3.5 A edificação e as instalações foram

alteradas para implantar as BPF?

( ) sim ( ) não

3.6 Indique as principais dificuldades encontradas na implantação das BPF.

A seguir, a expressão Responsável Técnico é utilizada para designar a pessoa responsável pelas

atividades de manipulação de alimentos, devidamente capacitada.

3.7 A empresa tem um Responsável Técnico

para garantir o cumprimento das BPF?

( ) sim ( ) não

(vai para 3.8 e 3.9) (vai para 3.10)

Page 147: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

131

3.8 Quem exerce a função de Responsável

Técnico?

( ) consultor externo ( ) funcionário da empresa treinado para esse fim ( ) outros – especificar

3.9 Qual o grau de instrução do Responsável

Técnico?

( ) ensino fundamental ( ) ensino médio ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior completo

3.10 A empresa sabe que a legislação exige

um Manual de Boas Práticas?

( ) sim ( ) não

3.11 A empresa possui o Manual?

( ) sim ( ) não

(vai para 3.12) (vai para Seção 4)

3.12 Quem elaborou o Manual de Boas

Práticas?

( ) funcionário da empresa treinado para esse fim ( ) consultor externo ( ) responsável técnico ( ) outros – especificar

3.13 Quem atualiza o Manual de Boas

Práticas

( ) funcionário da empresa treinado para esse fim ( ) consultor externo ( ) responsável técnico ( ) outros – especificar

3.14 Quantas atualizações foram feitas até o

momento?

( ) 0 atualizações ( ) 1 - 3 atualizações ( ) 4 - 6 atualizações ( ) mais de 7 atualizações

Page 148: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

132

Seção 4

Procedimentos Operacionais Padrão (POPs)

4.1 A empresa conhece os POPs?

( ) sim ( ) não

(vai para 4.2) (vai para Seção 6)

4.2 A empresa adota os POPs?

( ) integralmente

( ) parcialmente

4.3 Assinale os POPs adotados.

( ) Higienização das instalações, equipamentos, móveis

e utensílios

( ) Controle integrado de vetores e pragas urbanas.

( ) Higienização do reservatório

( ) Higiene e saúde dos manipuladores

4.4 A empresa usa cartazes ou outra

sinalização visual para orientar a execução dos

POPs?

( ) de todos os POPs

( ) da maioria dos POPs

( ) de um POP

( ) de nenhum POP

4.5 As instruções estão expostas em local

visível?

( ) sim ( ) não

4.6 Os funcionários seguem as instruções dos

POPs?

( ) integralmente

( ) parcialmente

( ) não seguem as instruções

Page 149: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

133

Seção 5

As BPF não estão implantadas. Assinale os itens que se aplicam à empresa.

5.1 A empresa desconhece as BPF ( ) sim ( ) não

5.2 A empresa conhece as BPF mas não sabe como implantar ( ) sim ( ) não

5.3 Os funcionários foram treinados em BPF mas o resultado não foi satisfatório ( ) sim ( ) não

5.4 Falta equipe especializada para executar as BPF ( ) sim ( ) não

5.5 Os recursos financeiros para esse fim são limitados ( ) sim ( ) não

5.6 Outros motivos. Especificar

5.7 A empresa adota outra ferramenta para

garantir a qualidade e a segurança do alimento?

( ) sim ( ) não

(vai para 5.8) (vai para Seção 6)

5.8 Numere os itens ao lado de 1 a 3, indicando

a prioridade de cada item para garantir a

segurança do alimento oferecido ao cliente

1 – baixa prioridade

2 – média prioridade

3 – alta prioridade

( ) higienização de instalações, equipamentos, móveis e utensílios ( ) controle integrado de vetores e pragas urbanas. ( ) edificação, instalações, equipamentos, móveis e utensílios ( ) abastecimento de água ( ) manejo de resíduos ( ) manipuladores ( ) matérias-primas, ingredientes e embalagens ( ) preparação do alimento ( ) armazenamento e transporte do alimento preparado ( ) exposição ao consumo do alimento preparado ( ) preparação e registro

Page 150: CARLA MÁRCIA RODRIGUES TENSER - core.ac.uk · iv Dissertação (Mestrado) – Aos meus filhos Bruno e Márcia, que aquecem todos os momentos da minha vida com seu amor e ternura.

134

Seção 6

Treinamento de Manipuladores

6.1 Os funcionários são treinados em

segurança dos alimentos?

( ) sim ( ) não

6.2 Quantos treinamentos foram

realizados até o momento?

( ) 0 treinamento ( ) 1 – 2 treinamentos ( ) 3 – 5 treinamentos ( ) mais de 6 treinamentos

Se a resposta à pergunta acima for “não”, a entrevista termina aqui. Caso contrário, continua a partir do

item 6.3.

6.3 Assinale os itens incluídos no

treinamento:

( ) contaminantes alimentares ( ) doenças veiculadas por alimentos ( ) manipulação higiênica dos alimentos ( ) higiene pessoal ( ) higiene de matéria-prima ( ) higiene do ambiente ( ) higiene de utensílios e equipamentos ( ) controle de temperatura no preparo, armazenamento e distribuição dos produtos ( ) uso de produtos de higiene e sanitização

6.4 Quem realiza(ou) o(s) treinamento(s)? ( ) a própria empresa ( ) consultor do Sebrae ( ) outros instrutores

6.5 Qual a formação de quem realiza(ou) o

treinamento?

( ) nutricionista ( ) engenheiro de alimentos ( ) outros – especificar ( ) não sei

6.6 As BPF são adotadas após o

treinamento?

( ) integralmente ( ) parcialmente ( ) as BPF não são adotadas

6.7 Com que freqüência a empresa

verifica se as BPF são adotadas?

( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) mensalmente ( ) outros – especificar

6.8 O funcionário é incentivado a aplicar seus conhecimentos no trabalho?

( ) sim ( ) não

6.9 De que maneira?