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  • Universidade de So Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Caracterizao e distribuio espacial dos sedimentos depositados numa zona ripria reflorestada

    Renata Santos Momoli

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Agronomia. rea de concentrao: Solos e Nutrio de Plantas

    Piracicaba 2006

  • Renata Santos Momoli Engenheiro Agrnomo

    Caracterizao e distribuio espacial dos sedimentos depositados numa zona ripria reflorestada

    Orientador: Prof. Dr. MIGUEL COOPER

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Agronomia. rea de concentrao: Solos e Nutrio de Plantas

    Piracicaba 2006

  • Da d o s I n t e r n a c i o n a i s d e Ca t a l o g a o n a Pu b l i c a o ( CI P)

    DI VI SO DE BI BL I OT ECA E DOCUMENT AO - ESAL Q/ USP

    Momoli, Renata Santos Caracterizao e distribuio espacial dos sedimentos depositados numa zona ripria

    reflorestada / Renata Santos Momoli. - - Piracicaba, 2006. 107 p. : il.

    Dissertao (Mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2006.

    1. Degradao do solo 2. Distribuio espacial 3. Eroso 4. Mata ciliar 5. Sedimento I. Ttulo

    CDD 634.9

    Pe r mi t i d a a c p i a t o t a l o u p a r c i a l d e s t e d o c u me n t o , d e s d e q u e c i t a d a a

    f o n t e O a u t o r

  • 3

    A meus pais Odila e Antnio,

    que com muito esforo

    f izeram de mim o

    que sou hoje,

    OFEREO

    minha fi lha Giovanna, que com sua pequenez,

    me ensina todos os dias, o valor do trabalho

    silencioso e perseverante.

    DEDICO

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Ao Prof. Dr. Miguel Cooper, pela orientao, pacincia, disposio e bom

    humor constantes que foram fundamentais na realizao deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Pablo Vidal-Torrado pela confiana, amizade e apoio nos

    momentos difceis.

    "Gloriosa" Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queirz", que acolhe,

    prepara e distribui seus fi lhos pelo pas e mundo afora.

    Aos membros do Conselho de Ps-Graduao do Programa de Solos e

    Nutrio de Plantas, pela oportunidade de reingresso ao meio acadmico.

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior -

    CAPES, pela bolsa concedida.

    Usina Iracema, pela concesso da rea de estudo, e aos Engenheiros

    Cristiano Estevo, Leandro e Caio Fortes, pelas informaes e fotografias

    da regio da Microbacia do Ribeiro Cachoeirinha.

    Aos colegas do Departamento de Solos, Carlos Eduardo, Brivaldo, Raul,

    Selene e Dend pelo valioso auxl io, tanto nas atividades prticas, quanto

    na troca de idias e experincias.

    Aos colegas da ps-graduao Guilherme, Sady, Cissa, Camila, Henrique,

    Oton e demais que fizeram dos encontros ps-almoo, o nosso happy-

    Rucas, momentos de descontrao e f i losofias.

    Aos funcionrios Dorival Grisotto, Jaque e Nancy pela prestimosa ajuda

    em campo e no campus.

    Aos tcnicos Luiz Silva, Bete e Anderson pelo auxl io e assistncia s

    anlises realizadas.

    s amigas Jse e Luciana, pelo apoio de todas as horas e sincera

    amizade.

    todos aqueles que de alguma forma participaram e colaboraram para a

    realizao de mais um importante projeto de vida.

  • 7

    Ns no herdamos a terra de nossos pais,

    ns a tomamos emprestada de nossos fi lhos.

    (Autor desconhecido)

  • 9

    SUMRIO RESUMO 11

    ABSTRACT 13

    1 INTRODUO 15

    2 DESENVOLVIMENTO 19

    2.1 Reviso bibliogrfica 19

    2.1.1 Eroso e degradao do solo 19

    2.1.2 Zona ripria e f loresta ribeirinha 21

    2.1.2.1 Zona ripria: Definio e caractersticas 21

    2.1.2.2 Floresta r ibeir inha 22

    2.1.3 Florestas r iprias e controle da eroso 23

    2.1.4 Eventos extremos de precipitao 24

    2.1.5 Transporte e deposio de sedimentos 26

    2.1.5.1 Aspectos fsicos e geomorfolgicos 26

    2.1.5.2 Solos 28

    2.1.5.3 Sedimentos 30

    2.1.5.4 Origem, tamanho e grau de seleo dos gros 31

    2.1.5.5 Impactos da sedimentao 33

    2.2 Material e mtodos 35

    2.2.1 Localizao 35

    2.2.2 Histrico da rea 36

    2.2.3 Clima 39

    2.2.4 Relevo 39

    2.2.5 Uso da terra 40

    2.2.6 Geologia 41

    2.2.7 Solos 42

    2.2.8 Vegetao 42

    2.3 Metodologia 44

    2.3.1 Caracterizao morfolgica e distribuio bi-dimensional dos

    sedimentos e horizontes 44

    2.3.2 Coleta de solos 45

  • 10

    2.3.3 Granulometria 46

    2.3.4 Micromorfologia e anlise de imagens 47

    2.4 Resultados e discusso 50

    2.4.1 Caracterizao morfolgica e distribuio dos sedimentos 50

    2.4.2 Micromorfologia 54

    2.4.2.1 Anlise de imagens das amostras 55

    2.4.3 Granulometria 61

    2.4.3.1 Granulometria das trincheiras 61

    2.4.3.1.1 Disperso em Hexametafosfato de Sdio NaOH 61

    2.4.3.1.2 Disperso em gua 64

    2.4.3.2 Granulometria das tradagens 70

    2.4.3.2.1 Tradagens no canavial 70

    2.4.3.2.2 Tradagens na zona ripria 71

    2.4.3.3 Anlises estatst icas da frao areia 75

    2.4.3.3.1 Distribuio de freqncias acumuladas 75

    2.4.3.3.2 Distribuio de freqncias relativas 78

    3 CONCLUSES 87

    REFERNCIAS 89

    ANEXOS 97

  • 11

    RESUMO

    Caracterizao e distribuio espacial dos sedimentos depositados numa zona ripria reflorestada

    As atividades agrcolas no Estado de So Paulo, foram responsveis pela supresso da cobertura vegetal original do solo e, sua conseqente degradao. A vegetao nativa foi gradativamente substituda por culturas como caf, pastagem, citros e cana-de-acar, durante sculos de ocupao e uso da terra. A recomposio da cobertura f lorestal auxil ia na preveno da eroso do solo e na reduo dos impactos causados. A f loresta ripria retm os sedimentos resultantes do desprendimento do solo montante e transportados pela enxurrada. A deposio de sedimentos na zona ripria est relacionada pluviosidade, s feies geomorfolgicas, ao material de origem e manejo da rea montante. O padro de distribuio de sedimentos na zona ripria reflete a dinmica da deposio e os provveis processos ocorridos. Para inferir sobre os processos de deposio ocorridos, foram realizadas anlises macro e micromorfolgicas e, tambm anlises granulomtricas apoiadas na interpretao estatstica dos parmetros de Folk & Ward (1957). As amostras de solo foram dispersas em Hexametafosfato de Sdio e tambm em gua, para simular as condies de campo, seguindo a metodologia de Camargo (1986). Os resultados obtidos atravs da anlise granulomtrica, foram reforados pelas anlises de imagens e porosidade em amostras indeformadas. Os atributos do solo enterrado e dos sedimentos depositados, evidenciam um padro de deposio irregular e desuniforme, que sugere a ocorrncia de eventos erosivos de grande intensidade (f luxo turbulento). Essa irregularidade e desuniformidade da deposio est relacionada alterao do uso da terra. A implantao do reflorestamento na zona ripria de Iracema B deslocou a deposio de sedimentos, 25m montante na encosta. Palavras-chave: Eroso, sedimentos, f loresta ripria, granulometria, anlise de imagens.

  • 13

    ABSTRACT

    Sediment morphology and distribution in a reforested riparian zone Agricultural pratices in the state of So Paulo - Brazil, are directly responsible for the suppression of the natural vegetation cover and soil degradation. The natural vegetation was substituted by coffee, pastures, citrus and sugar-cane crops, over centuries of occupation and land use. The native forest recuperation prevents soil erosion and reduces environmental impacts. Riparian forest traps sediments transported by "splash" and runoff. Sediments deposit ion in riparian zone depends on rainfall , geomorphology, original soil characteristics and management. Sediment distribution paths in riparian zones reflect the deposit ion dynamics and the type of deposit ion event. In order to study the deposit ion processes in a riparian forest located in the county of Iracemapolis-state of So Paulo, macro and micromorphological analyses, as well as particle size distribution using Folk & Ward (1957) parameters, were done. Soil samples were dispersed with sodium hexametaphosphate and water. This last technique was done to simulate f ield transport condit ions. The particle size distribution results together with the f ield and laboratory morphological analyses showed an irregular and non-uniform sediment deposit ion. This deposit ion process suggests the occurrence of high intensity erosive events that produce high amount of sediments and runoff characterized by a turbulent f low. Land use changes signif icantly affect this type of deposit ion. The recuperation of the natural forest dislocated sediment deposit ion inside the riparian forest 25 m upslope. Keywords: Erosion, sediments, r iparian forest, particle size distribution, image analysis.

  • 15

    1 INTRODUO

    A conservao dos ecossistemas est diretamente relacionada ao

    uso da terra. A busca pelo uso racional da terra tenta equacionar as

    necessidades de preservao dos recursos naturais e, as necessidades

    de produo de alimentos e energia. Este desafio tem motivado

    pesquisadores (CORRELL, 1997; DOUGLAS, 1990; LAL, 1998a;

    RODRIGUES, 2000; SPAROVEK, 2001) na difuso de conceitos e

    tcnicas de conservao e manejo, que adotadas adequadamente visam

    reduzir os impactos sobre os ecossistemas. A recomposio das matas

    ci l iares uma proposta que engloba a proteo do solo, da gua e de

    vrios organismos que habitam as zonas riprias.

    Uma das causas mais relevantes na degradao dos recursos

    naturais a eroso do solo, que provoca impactos negativos intrnsecos

    (dentro da rea ou bacia em questo) e extrnsecos (alm ou fora da rea

    de origem da eroso). Dentre os impactos intrnsecos esto perda de

    solo, gua e fert i l izantes durante a enxurrada e, reduo da qualidade do

    solo atravs da reduo da profundidade disponvel ao enraizamento,

    reduo da capacidade de reteno de gua, reduo no contedo de

    carbono orgnico do solo e exposio da camada subsuperficial de solo

    menos frt i l com caractersticas fsicas menos favorveis. Os impactos

    extrnsecos da eroso afetam a produtividade agrcola atravs das

    inundaes que podem ocorrer nas zonas mais baixas do relevo, devido

    ao acmulo de sedimentos, das mudanas na profundidade do solo, do

    soterramento do solo superficial, estes impactos podem afetar tambm a

    qualidade das guas e do ar atravs da eutrofizao, da contaminao,

    do aumento da quantidade de sedimentos nas guas e; do aumento da

    concentrao de partculas em suspenso e emisso de gases na

    atmosfera, h ainda os efeitos deletr ios nas estruturas da construo

    civi l , como o assoreamento e reduo da capacidade de armazenamento

    hdrico dos reservatrios (LAL, 1998a).

  • 16

    Sendo assim, o alcance dos efeitos negativos da eroso vai muito

    alm da rea de origem dessa eroso cobrindo extensas reas e afetando

    de maneira muitas vezes irreversvel a qualidade das guas e do solo.

    Mesmo nas ocasies onde os impactos so reversveis, comumente os

    custos de recuperao das reas se tornam onerosos e inviveis. Sob

    este ponto de vista, torna-se claro que a melhor forma de prover a

    conservao dos recursos naturais no-renovveis como gua e solo a

    correta avaliao dos impactos intrnsecos e extrnsecos da eroso com o

    objetivo de impedir que esta se desenvolva desde o incio do processo.

    Diversas tcnicas de controle da eroso do solo existem e tem

    como objetivo proteger este recurso natural no-renovvel e

    imprescindvel na produo de alimentos. Tcnicas de controle mecnicas

    e vegetativas atuam de formas diversas, interferindo em diferentes etapas

    do processo erosivo. De um modo geral, tcnicas mecnicas como a

    construo de terraos, controlam a velocidade da enxurrada e tcnicas

    vegetativas como por exemplo, o plantio direto evitam o desprendimento

    do solo atravs da ao protetora da cobertura vegetativa do solo.

    O manejo de ecossistemas riprios atua de maneira eficaz na

    reduo dos impactos negativos da poluio agrcola no-pontual.

    Servindo como um fi l tro ou agente tampo, os ecossistemas riprios bem

    estruturados podem reduzir os impactos das fontes no-pontuais de

    poluio, f i l trando o escoamento superf icial desde o campo de cult ivo at

    os cursos de gua (DELONG; BRUSVEN, 1991). Os sedimentos e

    poluentes l igados aos sedimentos carreados durante a enxurrada so

    depositados tanto nas f lorestas riprias como na vegetao herbcea

    existente ao longo dos canais de drenagem (NAIMAN; DCAMPS, 1997).

    Nos lt imos anos, esforos conjuntos dos municpios, produtores

    rurais, legisladores e comits de bacias hidrogrficas tm sido

    mobil izados com o intuito de rever alguns parmetros fundamentais para

    a conservao do solo e da gua, dentre eles um dos mais controversos

    a definio da largura ideal das zonas riprias.

  • 17

    Atualmente no Cdigo Florestal vigente, Lei no 4771, de 15 de

    setembro de 1965 modificada pelas Leis no 7803/89 e 7875/89,

    estabelece legalmente, uma faixa de rea que deve ser protegida ao

    redor dos corpos de gua e nascentes. Essa faixa de rea varia de

    acordo com a largura dos rios e engloba as matas ci l iares. A largura

    mnima de proteo s florestas e demais formas de vegetao natural,

    situadas ao longo dos cursos de gua, consideradas como reas de

    Preservao Permanente (APP's) de 30 m (para cursos de gua com

    largura de at 10 m) e, nas nascentes, ainda que intermitentes, e nos

    "olhos-d'gua", em um raio de 50 m (MACHADO et al, 2003), No entanto

    atualmente existe uma preocupao maior com esse assunto, e dessa

    forma estudos, como aquele apresentado por Simes (2001), apontam

    que essa faixa de mata ci l iar deve ser determinada de acordo com as

    caractersticas morfolgicas da bacia, como a declividade e comprimento

    de rampa do terreno, com a classe de solo predominante e suas

    caractersticas fsico-qumicas, entre outras (FERREIRA; DIAS, 2004;

    SPAROVEK et al., 2001).

    No estudo de caso da zona ripria reflorestada da Represa de

    Iracema - Iracempolis - SP sero verif icadas algumas hipteses, 1) a

    instalao da mata ci l iar favoreceu o processo de deposio de

    sedimentos na zona ripria, 2) o reflorestamento recente na zona ripria

    alterou a dinmica de deposio de sedimentos, 3) a dinmica de

    deposio de sedimentos na mata ci l iar segue um padro turbulento e

    no laminar ordenado. O objetivo do presente trabalho caracterizar a

    morfologia e a distribuio dos sedimentos oriundos de uma rea sob

    cult ivo de cana-de-acar e retidos na zona ripria.

  • 19

    2 DESENVOLVIMENTO 2.1 Reviso bibliogrfica

    2.1.1 Eroso e degradao do solo

    O solo resultante dos cinco fatores de formao, segundo Jenny

    (1941): cl ima, relevo, organismos vivos, material de origem e tempo,

    reflete sua histria pedolgica desde o primeiro instante da sua formao

    at o presente, onde fenmenos fsicos, qumicos e biolgicos ocorrem

    no material de origem, motivando progressivas transformaes que

    interferem na sua morfologia e nos seus atributos fsicos, qumicos,

    biolgicos e mineralgicos (OLIVEIRA, 1992). Desta forma, cada solo vai

    ter um conjunto de atributos que influenciam decisivamente na sua

    susceptibi l idade eroso e que interferem no movimento da gua no

    solo, na distribuio de foras erosivas e na resistncia ao

    desprendimento de partculas de solo (BRYAN, 2000).

    A degradao do solo pode ocorrer naturalmente ou devido s

    atividades antropognicas (LAL, 1998a). O processo de modificao da

    superfcie das bacias hidrogrficas por atividades antropognicas

    remonta pr-histria, atravs do uso do fogo como ferramenta de

    manejo local pela populao original da maioria dos continentes

    (CORRELL, 1997). Essas queimadas no apenas expuseram o solo

    eroso mecnica, mas tambm liberaram sais prontamente solveis

    contendo nutrientes, dessa maneira contribuindo para a degradao da

    ferti l idade do solo (DIEMBLEBY, 1974).

    Uma rpida, macia e profunda alterao no solo, foi produzida pela

    expanso da agricultura e o uso intensivo da terra pelas grandes

    civi l izaes agrrias (Correll,1997). A agricultura mecanizada homogeniza

    a superfcie do solo, reduz a macroporosidade e cria camadas

    compactadas; estas perturbaes alteram o movimento da gua no solo,

  • 20

    as caractersticas hidrolgicas da bacia durante eventos chuvosos, e a

    freqncia de recorrncia de alguns processos erosivos (BRYAN, 2000).

    Com base nos dados apresentados por Lal (1998b) 1 bilho de ha

    de solo no planeta so degradados por causa da eroso hdrica. Isto

    totaliza um prejuzo de U$ 400 bilhes dlares/ano, entre planos de

    recuperao de reas degradadas, perdas na produtividade agrcola,

    entre outros fatores. A sedimentao em reservatrios um processo indesejvel, porm

    inevitvel e, nos EUA quase 2 milhes de toneladas de sedimentos.ano-1

    se acumulam nos reservatrios (DOUGLAS, 1990; ZACHAR, 1982).

    Maiores transformaes na geoqumica global so inevitveis, mas muitos

    dos atuais problemas da eroso e sedimentao poderiam ser reduzidos

    com o manejo mais criterioso do solo (DOUGLAS, 1990).

    O povoamento e a ocupao do territrio brasileiro tm-se

    verif icado com caractersticas muito peculiares, dadas s suas condies

    geogrficas e ecolgicas. Enquanto algumas reas foram rapidamente

    ocupadas e inteiramente desenvolvidas dentro dos melhores padres

    tecnolgicos, outras permanecem intocadas em seus recursos naturais

    (BERTONI, 1990).

    H uma tendncia geral dos agricultores brasileiros em considerar

    como inesgotveis as riquezas e a fert i l idade original de suas terras. Isso

    tem feito com que eles conduzam sua agricultura com um sentido

    extrativista. E, dessa forma, valendo-se da vastido de novas reas a

    explorar, os agricultores brasileiros tm caminhado descuidadamente

    rumo ao oeste, esbanjando a integridade produtiva das novas terras e

    deixando s suas costas um melanclico caminho percorrido por morros

    desnudos e campos afetados pela eroso de solos exauridos (MARQUES, 1966 apud BERTONI, 1990).

  • 21

    2.1.2 Zona ripria e floresta ribeirinha

    Dentre as diversas prticas (mecnicas, edficas e vegetativas) de

    conservao do solo, a existncia de cobertura f lorestal promove

    benefcios que atingem diferentes componentes ecolgicos do bioma local

    e podem refletir alm da bacia hidrogrfica de origem.

    2.1.2.1 Zona ripria: Definio e caractersticas

    Existem diversas definies e conceitos para zona ripria, porm a

    que a define funcionalmente como zonas tridimensionais de interao

    direta entre os ecossistemas aquticos, terrestres e atmosfricos, onde

    os l imites da zona ripria se estendem alm dos l imites da rea inundada

    e acima do dossel da vegetao adjacente ao canal, consegue abranger

    de maneira mais complexa as relaes existentes entre os ecossistemas

    (GREGORY et al., 1995). Em suma trata-se da poro de terra

    imediatamente adjacente aos cursos dgua, lagos e guas superficiais e,

    seus l imites so graduais e pouco definidos (KLAPPROTH; JOHNSON,

    2000).

    Vrios fatores afetam o funcionamento e a qualidade da zona ripria

    e, eles podem ser endgenos/geomrficos, como por exemplo: atributos

    fsicos e qumicos do solo, declividade dentro da zona ripria; ou

    exgenos: rea e gradiente da bacia, mineralogia e textura do solo, t ipo e

    profundidade da rocha-me, volume e composio das guas

    subterrneas, morfologia dos canais (CORRELL, 1997). Tambm atuam

    tanto de maneira exgena quanto endgena, os fatores de controle

    cl imtico como alguns componentes do ciclo hidrolgico: precipitao,

    runoff e evapotranspirao (CORRELL; WELLER, 1989).

    Muitas das caractersticas das zonas riprias, como composio das

    espcies vegetais e os processos geoqumicos (por exemplo,

    desnitr if icao e reduo de Fe e Mn), requerem que o solo seja

  • 22

    anaerbio ou apresente valores baixos de Eh - potencial de xido-

    reduo. Algumas das reaes mais importantes que ocorrem na zona

    ripria so: reduo dos ons Mn, desnitr if icao, reduo do Fe, reduo

    do sulfato e metanognese. Elas ocorrem nessa ordem como resultado de

    reaes termodinmicas e nenhuma dessas reaes pode ocorrer na

    presena de oxignio molecular; s depois do O2 ter sido totalmente

    consumido nos processos de respirao, oxidao da amnia e dos

    sulf itos, ento ocorre a reduo do manganato; aps todo o manganato

    ser reduzido, ou no existir em determinado local, que se d o incio do

    processo de desnitr i f icao. A reversibil idade destas reaes l imitada

    pela produo de compostos f inais volteis ou pela alterao do pH

    (CORRELL, 1997).

    2.1.2.2 Floresta ribeirinha

    Um importante componente do ecossistema riprio a vegetao

    que independente da sua composio, f lorestal ou herbcea, retm boa

    parte dos sedimentos e poluentes l igados aos sedimentos carreados com

    a enxurrada, impedindo que estes alcancem os canais de drenagem e

    reservatrios de gua (COOPER, 1987; NAIMAN; DCAMPS, 1997).

    Considerando tambm os componentes biticos da bacia

    hidrogrfica, a cobertura f lorestal desempenha a funo de "corredor

    ecolgico" que favorece a manuteno da biodiversidade tambm

    propiciando um ambiente sombreado e venti lado nos canais, ajudando a

    manter temperaturas mais amenas nas pocas mais quentes do ano, o

    que favorece a biota local (CORRELL, 1997).

    Existe uma grande diversidade de sistemas riprios f lorestais

    seriamente ameaados pela expanso da agricultura e que so

    protegidos pela legislao por sua reconhecida importncia na

    preservao dos recursos hdricos (SPAROVEK et al., 2001).

  • 23

    A restaurao de formaes ci l iares certamente tem suas

    possibil idades de sucesso ampliadas, quando inserida no contexto de

    bacia hidrogrfica, principalmente quando a restaurao tem suas

    justif icativas na questo hdrica, com conseqente adequao do uso dos

    solos agrcolas do entorno e da prpria rea a ser recuperada, a

    preservao da interl igao de remanescentes naturais, a proteo de

    nascentes e olhos dgua (RODRIGUES, 2004).

    Com o objetivo de determinar uma largura tima para a zona-

    tampo, que proteja e garanta a integridade do ecossistema riprio e ao

    mesmo tempo permita o cult ivo das reas agrcolas, muitos pesquisadores

    vm relacionando os processos riprios em funo da distncia dos

    canais de drenagem (FENNESSY; CRONK, 1997; LOWRANCE, 1985,

    MACHADO, 2003; NAIMAN; DCAMPS, 1997). O estabelecimento de uma

    largura ideal para manter o funcionamento do ecossistema riprio

    depende de muitos fatores incluindo, condies cl imticas locais,

    topografia, geologia e vegetao. Larguras definidas arbitrariamente e de

    forma estanque no se ajustam s condies e processos especficos que

    ocorrem localmente (LEDWITH, 1996).

    2.1.3 Florestas riprias e controle da eroso

    Faixas de vegetao ao longo dos cursos dgua tm sido usadas

    h muito tempo como ferramenta de manejo na proteo dos ambientes

    riprios contra os efeitos adversos da agricultura (LEDWITH, 1996). Alm

    das faixas de vegetao, outros elementos da paisagem tambm podem

    funcionar como fi ltros e compreendem estruturas fsicas como valetas,

    drenos e terraos. A eficincia total das zonas-tampo ou fi l tros, na

    paisagem depende da velocidade de transporte radial ou direcional de

    partculas erodidas, da densidade e t ipo de vegetao, da sua

    distribuio espacial e da resposta saturao dos f i l tros, e da sua

    regenerao em funo do tempo (PENING DE VRIES et al., 1998).

  • 24

    O fluxo superficial lateral pode ser f i l trado na zona-tampo ripria

    f lorestada quando chega na forma de fluxo laminar, proveniente de reas

    relativamente pequenas com declividades de 5% ou menos (PETERJOHN;

    CORRELL, 1984) mas, quando as reas so maiores e o f luxo se torna

    concentrado podem se formar canais, sulcos de eroso mesmo atravs da

    zona ripria (JORDAN et al., 1993). O aumento da rugosidade na

    superfcie do solo pode reduzir a velocidade do fluxo e

    conseqentemente favorecer a sedimentao das partculas. A vegetao

    ripria e a camada orgnica que ela deposita na superfcie do solo so

    eficientes na reduo da velocidade das guas superficiais. Somado a

    isto, a associao de radicelas concentradas na superfcie ou prxima

    dela, e comunidades microbiolgicas, permite a reteno e assimilao

    de nutrientes presentes nas guas superficiais que poderiam alcanar os

    cursos hdricos (PETERJOHN; CORRELL, 1984).

    2.1.4 Eventos extremos de precipitao Durante os eventos chuvosos muitas partculas de solo so

    desprendidas e carreadas vertente abaixo sendo retidas pelas plantas,

    rvores ou qualquer outro obstculo situados a jusante da vertente. Uma

    parte dos sedimentos pode ser depositada na prpria vertente levando

    formao de depsitos coluviais. Uma outra parte pode alcanar os

    cursos dgua e podem ser redepositados novamente em outra parte da

    plancie de inundao ou em reservatrios hdricos.

    Todo o conhecimento cientf ico sobre os processos erosivos da

    superfcie terrestre e sedimentao sugere que os eventos extremos

    possam ser a causa principal da remodelagem da paisagem. Os registros

    de carga fluvial de sedimentos exibem considervel variao de ano para

    ano, o que reala o signif icativo papel dos eventos extremos (DOUGLAS,

    1990).

  • 25

    Adversamente a maioria dos geomorflogos concorda que a eroso

    mais importante se produz com fenmenos de moderada freqncia e

    intensidade, porque os fenmenos extremos ou catastrficos so

    demasiados infreqentes para contribuir apreciavelmente para a

    quantidade de solo erodido quando se consideram longos perodos de

    tempo (MORGAN, 1997). Intensidade e freqncia so os conceitos

    estudados por Wolman e Mil ler (1960) em estudos de transporte de

    sedimentos pelos rios. Estes autores comprovaram que o fenmeno

    pluviomtrico dominante, o principal responsvel pela eroso era um

    fenmeno com perodo de retorno entre 1,33 a 2 anos, com maior

    intensidade do que o fenmeno mais freqente, o que no quer dizer que

    seja um fenmeno extremo. Ainda que, a maior parte da eroso nas

    encostas e, o transporte de sedimentos pelos rios seja decorrente de

    fenmenos de moderada intensidade, ainda assim os efeitos de um

    fenmeno extremo podem ser muito dramticos (MORGAN, 1997).

    Existem atualmente inmeros estudos (BAUDRY, 1997; LAL, 1998a;

    MORGAN, 1997; REID, 1996) sobre a hidrologia das bacias hidrogrficas,

    efetividade das prticas agrcolas, efeitos do manejo nas caractersticas

    fsicas e qumicas do solo, eroso sob diferentes t ipos de cult ivo, mas as

    condies climticas e suas relaes com as prticas conservacionistas

    bem sucedidas ou no, no foram bem examinadas ainda.

    Os dados obtidos por Wischmeier (1962) em canteiros de

    experimentao de 45 estaes de pesquisa de 23 estados nos EUA

    foram reunidos na Universidade de Purdue. Estes dados eram compostos

    de mais de 250.000 eventos erosivos isolados e medidas de perda de

    solo; e mostraram claramente que alguns poucos eventos extremos foram responsveis pela maior parte da eroso. Num estudo de 28 anos

    envolvendo nove bacias hidrogrficas, os trs mais expressivos eventos

    extremos foram responsveis por mais de 50% da perda de solo medida

    no perodo (EDWARDS, 1991). Neste mesmo trabalho, este autor afirma

    que o nvel de manejo conservacionista ditado pela mdia das

  • 26

    precipitaes pode suprir adequadamente o controle da eroso na maior

    parte do tempo. Porm, quantidades inaceitveis de perda de solo podem

    ser esperadas devido ocorrncia dos eventos extremos. Para serem

    bem sucedidas por longos perodos de tempo, as prticas de controle da

    eroso, segundo Edwards (1991) devem ser eficazes tambm em

    controlar a eroso gerada durante os eventos extremos.

    Cada processo erosivo gera uma distribuio granulomtrica dos

    sedimentos caracterstica e particular, geralmente a eroso laminar

    carrega apenas as partculas mais f inas presentes na superfcie do solo,

    enquanto movimentos de massa pouco profundos removem a coluna do

    solo inteira e produzem sedimentos com a mesma distribuio

    granulomtrica existente no perfi l do solo (REID, 1996).

    2.1.5 Transporte e deposio de sedimentos 2.1.5.1 Aspectos fsicos e geomorfolgicos

    O desprendimento do solo pelo impacto da gota de chuva e a

    enxurrada so agentes ativos na eroso e respondem por pelo menos

    cinco sub-processos: salpicamento, suspenso de partculas, f luxo

    laminar, sulcamento e "pipping"; sendo que cada um deles pode participar

    isoladamente, seqencialmente ou simultaneamente, porm todos atuam

    ativamente na vertente (BRYAN, 2000).

    De acordo com os estudos de Guerra e Cunha (1995), devido complexidade dos processos de eroso e sedimentao, existe a

    necessidade do intercmbio de informaes de outras reas como

    mecnica de solos, geologia, geomorfologia, etc para uma mais ampla

    compreenso dos fenmenos ocorrentes e sua intrincada rede de inter-

    relaes. Como vm ocorrendo em todas as reas, estimular a

    cooperao interdisciplinar fundamental para aprimorar e fazer avanar

    o conhecimento na interpretao dos processos e formas de relevo.

  • 27

    Estudos minuciosos acerca das caracterst icas dos sedimentos so

    necessrios para a gerao de dados quantitativos fundamentais que

    informaro a respeito do tamanho, composio mineralgica, textura

    superficial e orientao dos gros, estas caractersticas esto

    relacionadas a fatores fsicos e qumicos do ambiente de deposio

    (JONG VAN LIER; VIDAL-TORRADO, 1992). A interao de fatores como material de origem, t ipo de solo,

    posio no relevo e pluviosidade regem a dinmica da deposio dos

    sedimentos erodidos das encostas. A declividade, por exemplo, interfere

    na deposio visto que o f luxo de sedimentos derivados do impacto da

    gota de chuva, do arraste de partculas, o coeficiente de runoff e as taxas

    de eroso, aumentam com o aumento da inclinao da vertente (FULLEN

    et al., 1996; SUTHERLAND ,1996). Numa vertente menos inclinada existe

    a seleo de material mais f ino sendo erodido preferencialmente a frao

    argila e depois sil te, dependendo da erosividade da chuva (FULLEN et

    al., 1996).

    A forma e comprimento das vertentes tambm relevante, uma vez

    que numa vertente longa, existe uma maior contribuio da quantidade de

    enxurrada e sua velocidade, causando uma maior eroso do solo, e

    conseqentemente uma maior quantidade de sedimentos potencialmente

    carreveis. Este efeito pode ser alterado pela rugosidade superficial com

    reas convexas pontuais e trajetos com alta capacidade de infi l trao,

    onde a sedimentao pode ocorrer. (PENING DE VRIES et al., 1998).

    Os estudos de Cooper (1987) confirmaram esta estreita relao

    entre sedimentao e relevo local. O autor observou que em

    profundidade, houve um acmulo de sedimentos de espessura varivel

    entre 15 e 50 cm no l imite entre a rea de cult ivo e a f loresta ripria,

    enquanto que na plancie aluvial a espessura dos sedimentos no chegou

    a alcanar 5 cm. Avaliando a distribuio ao longo da encosta Cooper

    (1987) constatou que 80% dos sedimentos foram depositados acima da

    plancie aluvial, sendo que 50% dos sedimentos f icaram retidos nos

  • 28

    primeiros 100 metros de distncia do l imite da rea de cult ivo e da borda

    da floresta ripria e a frao areia prevaleceu na deposio prximo

    borda da mata enquanto altas porcentagens de silte e argila ocorreram na

    plancie de inundao.

    As foras erosivas que atuam sobre o solo dependem das condies

    hidrolgicas locais (BRYAN, 2000). Este autor cita que a propriedade do

    solo que mais interfere nas caractersticas do fluxo superficial da gua

    a rugosidade do solo e que a profundidade da lmina dgua depende do

    balano entre pluviosidade, enxurrada e infi l trao. Esses fatores variam

    durante o evento chuvoso, porm a profundidade da lmina normalmente

    aumenta com a intensidade e durao do evento chuvoso, gerando

    mudanas temporais sistemticas de rugosidade para condies de

    uniformizao do terreno (BRYAN, 2000).

    2.1.5.2 Solos

    Os tipos de solos que aparecem nas zonas riprias possuem grande

    variabil idade espacial, principalmente porque resultam da combinao de

    solos intemperizados no local, de depsitos de sedimentos originados por

    eventos chuvosos e acmulo de resduos orgnicos (LOWRANCE, 1985).

    Os atributos do solo que influenciam na qualidade da gua incluem

    profundidade do lenol fretico, permeabil idade, textura, contedo de

    matria orgnica e propriedades qumicas (U.S. E.P.A. Chesapeake Bay

    Program Forestry Work Group 1993). Tais atributos afetam a direo e a

    intensidade com que a gua flui sobre e atravs da zona ripria, a

    extenso da gua superficial que fica em contato com as razes de

    plantas e partculas de solo e o grau de anaerobiose do solo. Florestas

    riprias com solos orgnicos possuem grande potencial na melhoria da

    qualidade da gua, por f i l trar grande parte da enxurrada, adsorver

    nitrognio e outros contaminantes e, por suprir com carbono a

  • 29

    necessidade dos processos microbianos (U.S. E.P.A. Chesapeake Bay

    Program Forestry Work Group 1993; U.S.D.A. A.R.S. 1995).

    A eroso no a mesma em todos os solos. As propriedades

    fsicas, principalmente estrutura, textura, permeabil idade e densidade,

    assim como as caractersticas qumicas e biolgicas do solo exercem

    diferentes influncias na eroso. A textura, ou seja, o tamanho das

    partculas, um dos fatores que influem na maior ou menor quantidade

    de solo arrastado pela eroso (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990).

    Num experimento de simulao de chuva em laboratrio sobre

    Oxisol em diferentes declividades (5, 10, 20), Sutherland (1996)

    demonstrou que o tamanho dos agregados mais facilmente desprendidos

    pelo impacto da gota de chuva girava entre 500 e 1000m, ou seja

    agregados do tamanho da frao areia grossa, porm a frao mais

    facilmente arrastada pela gua era composta por agregados com

    dimetro geomtrico mdio bem menor do que o dimetro dominante na

    matriz do solo.

    A distribuio granulomtrica presente na gua de enxurrada

    depende diretamente da distribuio granulomtrica do solo original. Os

    resultados obtidos em experimento realizado por Syversen e Borch (2005)

    mostraram que, a argila f ina e mdia foram retidas na zona ripria

    possivelmente na forma de agregados, porque transportadas como

    partculas primrias devem ser muito pequenas para serem depositadas

    nessa regio. As partculas de argila grossa so retidas na zona ripria

    independente da sua largura, enquanto as fraes silte e areia foram

    preferencialmente depositadas na parte superior (montante) da zona

    ripria. O fsforo seguiu o mesmo padro descrito para as partculas de

    argila, confirmando assim a importncia do P adsorvido na frao argila

    do solo.

  • 30

    2.1.5.3 Sedimentos

    Sedimento o solo desprendido, pulverizado da sua matriz durante

    um evento erosivo ou chuvoso (RITTER; SHIRMOHAMMADI, 2001).

    Deposio se refere quantidade de sedimento acumulado num

    determinado perodo de tempo (t), que no ultrapassou os l imites de uma

    dada rea em questo. Para que haja tal deposio deve haver transporte

    ou movimento descendente de gua e slidos em suspenso, atravs de

    sulcos ou do fluxo laminar nas reas entressulcos (RITTER;

    SHIRMOHAMMADI, 2001). Essa deposio segmentada, com parte dos

    sedimentos sendo levados pelos cursos dgua, parte depositados

    prxima fonte de sedimentos e tambm uma parte redistribuda em uma

    grande extenso da plancie aluvial da bacia jusante (COOPER, 1987;

    DOUGLAS, 1990).

    A distribuio granulomtrica dos sedimentos erodidos muda com o

    tempo durante um evento chuvoso. Este confere energia cintica ao

    processo induzindo o movimento das partculas do solo atravs da

    l iquefao que acarreta a transformao temporria da areia ou silte em

    uma suspenso muito concentrada. A concentrao da frao mais f ina

    dos sedimentos aumenta medida que a intensidade da chuva e o

    gradiente de declividade diminuem e, a cobertura de superfcie e

    rugosidade aumentam, por causa da reduo na capacidade de transporte

    do f luxo laminar. Os sedimentos gerados a partir da eroso em sulcos

    possuem uma maior proporo de agregados maiores do que os gerados

    a partir da eroso entressulcos, por causa da remoo intensa da matriz

    do solo pelo f luxo concentrado. A tendncia l iquefao maior em

    areias f inas de gros arredondados e em siltes grossos do que em areias

    grossas ou pedregulhos (RITTER; SHIRMOHAMMADI, 2001; GUIDICINI;

    NIEBLE, 1984).

    Os fluxos de sedimentos podem ser de dois t ipos: f luxo de areia ou

    fluxo de lama, onde diferenas na intensidade das foras de coeso

  • 31

    ocasionam os diferentes t ipos de movimentos. (SUGUIO, 1973). O

    decrscimo da resistncia ao cisalhamento produzido pelo movimento

    inicial varia ao redor de 20% para areias pouco soltas e argilas de

    pequena sensibil idade, atingindo at 90% para areias saturadas muito

    soltas e argilas moles de grande sensibil idade, o que implica em movimentos muito rpidos para estes lt imos materiais (GUIDICINI;

    NIEBLE, 1984).

    2.1.5.4 Origem, tamanho e grau de seleo dos gros

    De acordo com Folk (1951) so definidos quatro estdios de

    maturidade textural dos sedimentos, estabelecidos pela ocorrncia de

    trs eventos em seqncia: a) remoo de argila, b) seleo da frao

    arenosa, c) arredondamento dos gros arenosos de quartzo. A textura

    quando focada para a definio dos estdios acima, pode ser considerada

    sob dois pontos de vista: i) variao da granulometria (mdia e

    extremos), i i) maturidade textural expressa em termos de contedo de

    argila, seleo e arredondamento dos gros. A passagem de um

    sedimento inicialmente argiloso, pobremente selecionado e com gros

    angulares para uma areia completamente matura, arredondada e

    selecionada marcada por etapas sucessivas, que permitem reconhecer

    quatro estdios de maturidade textural: 1) Estdio imaturo - o sedimento

    contm considervel quantidade de argila e mica fina, a poro no-

    argilosa pobremente selecionada e os gros so angulares. Quando

    uma boa parte da argila eliminada, o estdio 2 atingido, 2) Estdio

    submaturo - o sedimento contm pouca ou nenhuma argila, mas a poro

    no-argilosa ( si lte, areia e cascalho) ainda pobremente selecionada e

    os gros so angulares. To logo os sedimentos se tornem bem

    selecionados, o estdio 3 atingido, 3) Estdio maturo - o sedimento

    contm argila e os gros de areia so bem selecionados, mas ainda

    subangulares. Quando os gros se tornam bem arredondados, o estdio 4

  • 32

    atingido, 4) Estdio supermaturo - o sedimento no contm argila, a

    frao arenosa bem selecionada e os gros so bem arredondados.

    Este o lt imo estdio textural, e nenhuma modificao possvel aps

    este ciclo (SUGUIO,1973).

    O grau de seleo pode depender consideravelmente do modo de

    transporte do sedimento. Tem sido sugerido que a seleo aumenta com

    o transporte dos sedimentos, mas isto ocorre provavelmente como

    conseqncia do decrscimo dos dimetros mdios dos gros com o

    transporte (JONG VAN LIER; VIDAL-TORRADO, 1992).

    Segundo Inman (1949) a seleo pode se processar pela ao de

    trs t ipos de mecanismos diferentes: a seleo local (durante a

    deposio) e seleo progressiva (durante o transporte), ou ambas ao

    mesmo tempo. Valores de curtose muito altos ou muito baixos podem

    sugerir que um tipo de material foi selecionado em uma regio de alta

    energia e ento transportado sem mudanas de caractersticas para um

    outro ambiente, onde ele se misturou com outro sedimento, em equilbrio

    com as diferentes condies, possivelmente de baixa energia. A

    assimetria e a curtose so os melhores parmetros para diferenciao

    dos ambientes de deposio, estes parmetros sugerem que existe um

    processo agindo no sentido de alterar as caudas das (JONG VAN LIER;

    VIDAL-TORRADO, 1992).

    A pu lve r i zao do so lo e a depos io de sed imentos causada

    pe la e roso h d r i ca e pe las operaes de cu l t i vo em duas reas ,

    ambas em so los s i l tosos , porm com re levos d ive rsos , fo ram

    de ta lhadas por Ampontuah e t a l . (2005) no que se re fe re

    g ranu lomet r ia do so lo super f i c ia l . Es tes au to res a f i rmam que a

    d is t r ibu io g ranu lomt r i ca e as re laes en t re o re levo e as vr ias

    f raes sugerem o desprend imento e um mov imento p re fe renc ia l das

    f raes s i l te g rossa a mu i to g rossa (16-63m), que so

    pos te r io rmente encon t radas na sua ma io r ia no sop da encos ta e

    tambm nas depresses do te r reno . As amos t ras co le tadas na

  • 33

    poro super io r da encos ta possuem ma io r quan t idade de s i l te f i no

    (

  • 34

    que atinge mais rapidamente os cursos de gua (RITTER;

    SHIRMOHAMMADI, 2001; YOUNG, 1996).

    O transporte da frao fina do solo aumenta em relao frao

    grosseira medida que a intensidade da chuva e o gradiente de

    declividade diminuem e, a cobertura de superfcie e rugosidade

    aumentam (RITTER; SHIRMOHAMMADI, 2001). Estes autores explicam

    este fenmeno pela reduo na capacidade de transporte do fluxo laminar

    que consegue carregar relativamente menor quantidade de sedimentos

    maiores e mais pesados. No mesmo artigo eles mostram que os

    sedimentos gerados a partir da eroso em sulcos possuem uma maior

    proporo de agregados maiores do que os gerados a partir da eroso

    entressulcos por causa da remoo intensa da matriz do solo pelo f luxo

    concentrado. Portanto, um enriquecimento considervel pode ocorrer

    atravs dos processos de transporte e deposio.

    A transferncia e deposio de sedimentos, dentro da rede de

    drenagem influencia as caractersticas da rede hdrica. As mudanas

    decorrentes deste processo podem alterar a geometria dos canais de

    drenagem e, conseqentemente, a natureza e a localizao da eroso e

    da deposio (COOKE; DOORNKAMP, 1990).

  • 35

    2.2 Material e mtodos 2.2.1 Localizao

    A rea de estudo situa-se na zona ripria da Represa de Iracema,

    municpio de Iracempolis SP, nas coordenadas 2235 de Latitude S e

    4731 de Longitude W. A transeo estudada est localizada na

    microbacia do Ribeiro Cachoeirinha, onde o plantio da cana-de-acar

    ocupa as encostas das colinas , enquanto um reflorestamento com

    espcies nativas de 18 anos de idade ocupa uma parte da rea ripria

    situada entre o plantio da cana e a represa de abastecimento pblico de

    Iracempolis - SP.

    Esta microbacia integra a Bacia Hidrogrfica do Rio Piracicaba

    inserida na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos (UGRHI) 5.

    Esta foi uma das microbacias selecionadas pela CATI para compor o

    Programa Estadual de Microbacias Hidrogrficas e onde foi feito o Plano

    Diretor de Uso e Manejo desta microbacia (ESTEVO et al., 2006).

    Figura 1 - Local izao do ref lorestamento na Bacia do Ribeiro Cachoeir inha

  • 36

    2.2.2 Histrico da rea

    A microbacia do Ribeiro Cachoeirinha j sofreu vrias alteraes

    no uso da terra, passando por sucessivos ciclos de cult ivo intensivo. At

    1962 a cultura do caf ocupava a maior parte das encostas, associada

    muitas vezes s pastagens nas vertentes mais ngremes. Com a

    decadncia dos cafezais, o cult ivo da cana-de-acar foi ganhando cada

    vez mais espao, sendo que a partir de 1978 j ocupava grande parte das

    terras agricultveis.

    Em 1987, j com seus 9 mil habitantes o municpio de Iracempolis

    enfrentava grave crise de abastecimento de gua. As matas nativas

    presentes na bacia foram suprimidas para dar lugar a cultura de cana de

    acar e pastagem para o gado, nem mesmo a mata no entorno das

    nascentes foi poupada. Num perodo de estiagem que durou vrios meses,

    neste ano, o problema de abastecimento pblico se agravou obrigando os

    cidados a conviver com a falta de gua. Assentada em local pobre de

    mananciais aquticos, os poos da cidade possuam vazo insuficiente,

    no solucionando o problema do municpio, oportunamente o governo

    municipal contou com a colaborao de inmeros profissionais e tambm

    com o recm criado Programa Estadual de Microbacias Hidrogrficas

    (PEMBH) para elaborar o Plano Diretor de Uso e Manejo da Microbacia do

    Ribeiro Cachoeirinha. Devido a esse esforo conjunto, propostas foram

    elaboradas e foi realizado o alteamento da represa municipal alm da

    recomposio florestal ao redor da represa, com 10.800 mudas de plantas

    nativas e frutferas (ESTEVO et al., 2006).

  • 37

    Figura 2 - Var iao temporal do uso da terra

    FOTO AREA DA REA

    1978

    ReflorestamentoselecionadoTransecto 3 - Iracema CTransecto 4 - Iracema B

    1962

    1995Sistema de coordenadas lat/longDatum de referncia WGS 84

  • 38

    Estudos recentes (ESTEVO et al., 2006) nessa microbacia

    revelaram que apesar do cuidado do Plano Diretor em estabelecer e

    preservar reas de mananciais, as represas que armazenam a gua

    uti l izada pelo municpio vm sofrendo uma diminuio do seu nvel,

    devido a um processo de assoreamento decorrente de eroso na rea da

    bacia (Figuras 3 e 4).

    Figura 3 - Eroso na rea de cul t ivo da cana-de-acar e sua or igem (dreno da

    Rodovia SP-151)

    Figura 4 - Assoreamento da Represa de I racempol is

  • 39

    2.2.3 Clima A regio possui cl ima mesotrmico mido subtropical de inverno

    seco, em que a temperatura do ms mais fr io inferior a 18oC a do ms

    mais quente ultrapassa os 22oC, classif icado como Cwa segundo

    Keppen. Segundo os registros pluviomtricos do posto meteorolgico de

    Limeira do IAC Instituto Agronmico de Campinas, o ndice

    pluviomtrico mdio anual varia entre 1.200 e 1.300mm, e indicam

    Janeiro como o ms mais mido, com uma mdia de 237 mm, e o total de

    precipitao para os meses de inverno de menos 30 mm (BELLINAZZI et

    al., 1987). O regime trmico dos solos hipertrmico (OLIVEIRA et al.,

    1976).

    2.2.4 Relevo No contexto geomorfolgico a rea em questo est inserida na

    Depresso Perifrica que percorre a zona central do estado de So

    Paulo, na Sub-regio do mdio Tiet que apresenta o relevo suave

    ondulado a ondulado, com a presena de colinas, morros e morrotes,

    inseridos numa superfcie de dissecao que drena para a Bacia do Rio

    Paran (Figura 5).

    Figura 5 - Aspecto do relevo local

  • 40

    2.2.5 Uso da terra O uso atual da terra o cult ivo de cana-de-acar, como ocorre

    intensamente na regio. Graas ao alto nvel tecnolgico empregado

    pelas usinas de acar e lcool e a crescente preocupao com o

    ambiente, o Plano Diretor desenvolvido em conjunto com a Prefeitura

    Municipal de Iracempolis visa, entre outros objetivos, o controle da

    eroso e proteo dos mananciais e recursos hdricos, e envolve a

    participao dos legisladores; pequenos, mdios e grandes produtores;

    empresas e comunidade.

    Segundo relatos de trabalhadores da Usina Iracema, outras prticas

    de manejo esto sendo util izadas visando aumento do nvel de matria

    orgnica no solo: colheita mecanizada, uso do bagacilho e da vinhaa e

    uso de adubao verde na reforma do canavial. O nmero de operaes

    no preparo do solo bastante reduzido e so uti l izados equipamentos de

    dentes ao invs de discos, pois assim, evita-se a pulverizao superficial

    do solo, permitindo maior infi l trao de gua no perfi l , todas estas

    prticas constam no plano e como observado so realizadas (Figura 7)

    (ESTEVO et al., 2006).

    Figura 7 - Colhei ta mecanizada da cana-de-acar

  • 41

    2.2.6 Geologia

    A l i tologia ocorrente na regio predominantemente composta de

    diabsio da Formao Serra Geral (JKsg). Ocorrendo tambm os silt i tos,

    argil i tos e folhelhos slt icos e pirobetuminosos da Formao Irati (Pi),

    alm dos folhelhos e argil itos f inamente laminados, em alternncia com

    silt itos e arenitos muito f inos da Formao Teresina (Pt) (Figura 8).

    Figura 8 - Detalhe do mapa geolgico na regio de Iracempolis (Fonte: Convnio DAEE/UNESP,

    Escala 1:250.000)

  • 42

    2.2.7 Solos O levantamento pedolgico semidetalhado realizado pelo IAC

    permitiu a identif icao de cinco grupos de solos na rea da bacia do

    ribeiro Cachoeirinha: LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO Distrfico

    hmico, Unidade Camarguinho; LATOSSOLO VERMELHO Eutrfico,

    Unidade Ribeiro Preto; LATOSSOLO VERMELHO Distrfico argisslico,

    Unidade Baro Geraldo; NITOSSOLO VERMELHO Eutrfico, Unidade

    Estruturada; e ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrfico abrptico,

    Unidade alva. Foram observadas algumas incluses de solos distintos

    nessas classes, entre elas, a incluso de LATOSSOLO VERMELHO-

    AMARELO fase arenosa, no LATOSSOLO VERMELHO Distrfico.

    Margeando os cursos dgua, em reas muito reduzidas so encontrados

    os solos hidromrficos (BELLINAZZI et al., 1987).

    2.2.8 Vegetao

    As polt icas do governo do Estado de So Paulo, voltadas ao

    incentivo do cult ivo de cana-de-acar, a partir da dcada de 80,

    agravaram ainda mais o processo de devastao da cobertura f lorestal,

    sendo que, existem atualmente menos de 5% da cobertura natural. Essa

    configurao impediu o levantamento f itossociolgico das reas com

    vegetao remanescente na Bacia do Ribeiro Cachoeirinha, devido ao

    grau de perturbao e ao tamanho reduzido destas reas, que no

    permitiram uma suficincia estatstica para os clculos dos parmetros

    f i tossociolgicos necessrios. A escolha das espcies para a instalao

    do reflorestamento, foi baseada num levantamento f lorstico das reas

    marginais remanescentes mais prximas e, em trabalhos de levantamento

    f lorsticos e f i tossociolgicos de matas ci l iares da regio (GIBBS; LEITO FILHO, 1978; KAGEYAMA, 1986; SALES; JOLY, 1987).

  • 43

    A combinao de espcies uti l izadas no reflorestamento (ANEXO C)

    do entorno da Represa de Iracempolis, foi baseada nas caractersticas

    biolgicas e morfolgicas das espcies nativas, misturando espcies de

    diferentes estgios de sucesso, que permitem um desenvolvimento

    harmnico da formao florestal e resulta numa comunidade estvel num

    menor espao de tempo (RODRIGUES et al., 1987).

    O reflorestamento da rea do entorno da represa de Iracempolis

    com espcies nativas, foi instalado em 1987 e possui uma largura mdia

    de 50m de vegetao que encontra-se atualmente em avanado estgio

    de desenvolvimento (Figura 9). Durante as operaes de preparo do solo

    para a instalao do reflorestamento, foi construdo um terrao de

    drenagem com um desnvel de 2%o, para conduzir o excesso de gua

    para a represa (BELLINAZZI et al., 1987)

    Reflorestamento Iracema B

    Figura 9 - Locao do reflorestamento Iracema B uma faixa de 50m de largura ao redor da Represa de

    Iracempolis

  • 44

    2.3 Metodologia

    Para caracterizar e avaliar a distribuio dos sedimentos dentro da

    mata ci l iar, foram realizados estudos morfolgicos detalhados dos solos

    assim como uma caracterizao fsica completa dos sedimentos e solos.

    Estes estudos foram realizados sobre uma transeo previamente

    definida como representativa dos solos, do processo erosivo e de

    deposio ocorrentes.

    Partindo de uma escala de trabalho mais ampla para uma mais

    detalhada foram realizados os seguintes estudos: 1) anlise estrutural,

    que descreve a geometria dos horizontes e camadas de sedimento na

    transeo estudada, 2) anlise micromoforlgica de amostras

    indeformadas para estudo de porosidade e estruturas, e 3) anlise

    granulomtrica detalhada principalmente da frao areia.

    2.3.1 Caracterizao morfolgica e distribuio bi-dimensional dos sedimentos e horizontes

    A distribuio bi-dimensional dos horizontes e sedimentos da

    transeo localizada no reflorestamento riprio de Iracema B foi realizada

    seguindo a metodologia proposta por Boulet (1982). Foram executadas

    tradagens exploratrias com a finalidade de locar tr incheiras em trs

    locais representativos dos solos e sedimentos depositados dentro da

    mata ci l iar. Descries morfolgicas completas foram realizadas para

    cada trincheira segundo Lemos e Santos (2002) e a determinao da cor

    e textura, nas tradagens. Foram realizadas tradagens intermedirias

    entre as tr incheiras com a f inalidade de desenhar a distribuio bi-

    dimensional dos horizontes sobre o corte topogrfico levantado uti l izando

    clinmetro, metro e trena.

  • 45

    2.3.2 Coleta de solos

    Nas mesmas trincheiras e tradagens uti l izadas para o estudo da

    distribuio dos horizontes e sedimentos foram coletadas amostras

    deformadas de solo. A coleta de amostras nas tradagens foi realizada

    nas profundidades de 0-5, 0-10, 10-20, 20-40, 40-60, 60-80 e 80-100 cm,

    e nas trincheiras seguindo a distribuio dos horizontes determinada na

    caracterizao morfolgica. As amostras de solo foram acondicionadas

    em sacos plsticos, identif icadas quanto profundidade da camada

    coletada e nome do perfi l. Amostras indeformadas dos sedimentos e dos

    solos foram tambm coletadas nas tr incheiras.

    Na rea sob cult ivo de cana, montante da zona ripria, tambm

    foram feitas duas coletas de amostras de solo, nas profundidades 0-20

    cm, uma na cana, a 5m de distncia do carreador que separa o

    reflorestamento riprio do canavial, e outra a 20m de distncia (Figura

    10).

    Figura 10 - Esquema dos pontos de coleta de amostras na vertente

  • 46

    2.3.3 Granulometria Para compreender melhor a dinmica da vertente e os processos

    que nela ocorrem, necessrio conhecer a distribuio das diversas

    fraes granulomtricas que compem os sedimentos.

    As amostras deformadas coletadas em trincheiras e nas tradagens

    foram secas em estufas a 105C por 24 horas, depois modas em moinho

    mecnico e peneiradas em malha de 2mm. Uma vez homogeneizadas, as amostras foram dispersas em soluo

    base de NaOH e Hexametafosfato de Sdio, seguindo a metodologia

    proposta por Camargo et al. (1986). Para simular as condies de

    disperso pela gua da chuva e transporte de sedimentos no campo pela

    enxurrada, estas mesmas amostras tambm foram dispersas em gua.

    A determinao das fraes si l te e argila foram realizadas atravs

    do mtodo do densmetro adaptado por Camargo et al. (1986), no Laboratrio de Fsica do Solo do Departamento de Cincia do Solo da

    ESALQ/USP, onde 50g de material de cada amostra foram agitadas

    mecanicamente durante 16 horas, depois transferidas para provetas de

    1.10-3m3 e este volume foi completado com gua. Aps agitao manual

    por 40s procederam-se s leituras com o hidrmetro ou densmetro

    (Soiltest, Inc.), aps 40s do incio da decantao e depois de 2h, a

    primeira leitura informa sobre quantidade de silte e argila e a segunda

    sobre os teores de argila.

    A frao areia, tanto nas amostras dispersadas com NaOH, como

    nas amostras dispersadas em gua, foi separada com peneira 0,053 mm,

    lavada e seca em estufa por 48 horas. Aps a secagem as areias foram

    separadas em 10 fraes uti l izando-se peneiras de lato U.S. STANDARD

    SIEVE SERIES de nmeros 18, 20, 40, 60, 80, 100, 140, 200, 400 mesh.

    A anlise estatstica da distribuio granulomtrica das areias,

    usando os parmetros de Folk e Ward (1957) tm sido ti l na

    investigao da uniformidade do material de origem dos solos (JONG

  • 47

    VAN LIER; VIDAL-TORRADO, 1992). Para a anlise estatstica da

    granulometria de um sedimento, construiu-se uma curva de distribuio

    cumulativa percentual de classes por tamanho (na escala em ), obtendo-

    se os parmetros estatsticos de Folk e Ward, que caracterizam a curva

    quanto sua tendncia central (mdia grfica), grau de disperso

    (desvio-padro, I), grau de assimetria e grau de agudez dos picos

    (curtose). Essa quantif icao das caractersticas da curva de distribuio

    granulomtrica possibil i ta estabelecer comparaes precisas entre

    sedimentos e/ou camadas de solos, permitindo inferir a natureza de

    microambientes de deposio e possveis descontinuidades l itolgicas.

    As anlises estatst icas referentes distribuio granulomtrica da frao

    areia foram realizadas uti l izando o programa PHI proposto por Jong Van

    Lier e Vidal-Torrado (1992).

    2.3.4 Micromorfologia e anlise de imagens

    O conhecimento da morfologia dos sedimentos e dos poros

    possvel atravs da anlise microscpica de lminas delgadas e blocos

    impregnados com resina obtidos a partir de amostras de solo

    indeformadas.

    Tais amostras indeformadas foram retiradas dos horizontes

    selecionados esculpindo-se um bloco de solo na forma de caixa de papel-

    carto de 120 x 70 x 40 mm. Ento o bloco foi cuidadosamente separado

    da matriz do solo com faca, indicando local da coleta, profundidade e

    orientao vertical ascendente.

    Para observar as caractersticas micromorfolgicas dos solos, a

    primeira etapa consiste na impregnao das amostras com resina. Os

    materiais usados so: Resina Cristal 2120 (200 ml), Monmero de

    estireno (400 ml), Pigmento f luorescente marca UVITEX OB (2 g),

    Endurecedor Perxido Orgnico 5.2 (3 gotas), que colocados nesta

    ordem, num bquer e misturados sero lentamente adicionados amostra

  • 48

    indeformada de solo dentro de um recipiente que torne possvel a total

    cobertura da amostra.

    O processo de impregnao da amostra, endurecimento do bloco

    at chegar ao ponto de corte do mesmo levou aproximadamente 15 dias.

    O corte dos blocos foram feitos usando serra de diamante e uma das

    faces foi polida sobre camada abrasiva em disco rotatrio, adicionando

    inicialmente carbureto de sil cio preto, de granulao mais grosseira (220

    mesh, com gros de 53-62m) e em seguida pelo carbureto de si l cio

    verde, mais f ino (600 mesh, gros de 18-22m), mantendo a amostra

    sempre mida em contato com o material abrasivo (JUHSZ, 2005).

    Depois de cortado, l ixado e polido o bloco est pronto para ser

    analisado micromorfologicamente.

    O espao poroso foi quantif icado uti l izando-se o programa de

    anlise de imagens Nosis VISILOG 5.4. Em torno de dez sub-reas de

    12 x 15mm (180m2) foram escolhidas por amostra para a aquisio das

    imagens. Esta aquisio foi realizada uti l izando uma lupa binocular com

    polarizador (Zeiss), e uma cmera fotogrfica digital (Sony, modelo

    DFW-X700), em sistema "charged couple device" (CCD) acoplada e luz

    ultra-violeta (comprimento de onda de 660 nm). As imagens obtidas foram

    binarizadas para ressaltar as diferenas entre forma e tamanho dos poros

    e da matriz do solo. Um artifcio de programao (macros) permit iu gravar

    procedimentos em seqncia para se obter rapidamente dados

    quantitativos, tais como tamanho, forma e classif icao dos poros a partir

    das imagens binarizadas. Dois ndices de forma (Equaes 1 e 2) foram

    uti l izados na programao das macros para determinar a forma e a rea

    dos porides (COOPER, 1999; JUHASZ, 2005).

  • 49

    =

    jF

    iI

    jDn

    iNmI

    )(1

    )(1

    2

    O ndice (I1) (Eq.1) separa poros arredondados de alongados

    (HALLAIRE; CONTEIPAS, 1993):

    (1)

    API4

    2

    1 =

    P = permetro do poride A = rea ocupada pelo poride

    A equao (Eq.2) para o clculo do ndice de forma (I2), que resulta

    numa classif icao adequada entre porides alongados e complexos,

    expressa por:

    (2)

    m = nmero de direes i nas quais calculado o nmero de

    interceptos NI, ( i = 0, 45, 90 e 135)

    n = nmero de direes j nas quais so calculados os dimetros de

    Fret DF , ( j = 0 e 90).

    Tabela 1 - Definio das classes de forma dos porides

    ndices de forma Forma de Poros I1 I2

    Arredondados I1 5 Alongados 5 < I1 25 2,2 Complexos I1 > 5 > 2,2

    As classes de dimetro foram definidas a partir do dimetro

    equivalente (Deq), segundo Pagliai; La Marca e Lucamante (1983) para os

    porides arredondados e complexos (Eq. 3). Para os porides alongados

    foi definida a largura (L) (Eq. 4) de acordo com Pagliai et al. (1984).

  • 50

    ADeq = 2 (3)

    Em que Deq = dimetro equivalente do poride (m) e A = rea do

    poride (m2).

    ( )APPL = 1641 2 (4)

    Em que L = largura (m), P = permetro (m) e A = rea do poride

    (m2).

    2.4 Resultados e discusso 2.4.1 Caracterizao morfolgica e distribuio dos solos e sedimentos

    medida que as tradagens iam revelando semelhanas e

    diferenas entre os pontos amostrados na transeo, se definia a

    configurao bidimensional do solo e sedimentos da vertente ripria. As

    tr incheiras abertas forneceram informaes acerca de atributos como

    textura, estrutura e cor que so fundamentais na caracterizao

    morfolgica do solo. Assim podemos inferir sobre as transformaes que

    ocorrem no solo e nos sedimentos, tanto em profundidade como ao longo

    da transeo.

  • 51

    Figura 11 - Geometr ia dos hor izontes do solo e camadas de sedimentos da rea de

    estudo local izada na zona r ipr ia ref lorestada em Iracempol is - SP No incio da zona ripria reflorestada observa-se a presena de uma

    espessa camada de sedimentos que afina jusante, iniciando com 0,60m

    de espessura na Tr1 (ponto de tradagem n 1, a 2 metros de distncia do

    carreador que l imita a borda da mata) e quase desaparecendo na

    Trincheira T2, a 10m de distncia da borda da mata (Figura 1). Entre 10m

    e 20m de distncia da borda da mata, a camada de sedimento

    desaparece, sendo que ao redor dos 20m de distncia, o sedimento

    superficial volta a se acumular. Este segundo sedimento aumenta a sua

    espessura progressivamente, alcanando sua expressividade mxima na

    Tr6 a 27m de distncia da borda da mata, quando chega a 0,40m,

    jusante a espessura do sedimento reduz um pouco, mantendo uma

    espessura mdia de 0,28m at o lt imo ponto de tradagem - Tr8, situado

    a 33m de distncia da borda da mata. Uma particularidade deste

    sedimento foi observada na anlise morfolgica, onde diferenas de cor e

    estrutura entre as camadas de 0-0,07m e 0,07-0,32m evidenciaram duas

    camadas de sedimentos diferentes (ANEXO A).

    A descrio morfolgica realizada nas trs tr incheiras estudadas

    mostrou uma clara distino entre o solo enterrado e o sedimento

    Floresta ripria - Iracema B

    Distncia (m)0 5 10 15 20 25 30 35

    Altit

    ude

    (m)

    600

    602

    604

    606

    608

    610SedimentoHorizonte II AHorizonte II BwHorizonte II Bg

    Tr1

    Tr2 T2Tr3

    Tr6Tr7Tr8

    Tr4 Tr5 T3

    T1

    DETALHE

  • 52

    depositado na superfcie (ANEXO A). A espessa camada de sedimentos

    encontrada na T1 caracterizada pela sua estrutura granular e blocos

    subangulares, de tamanho pequeno e grau fraco, contrastando com o

    horizonte IIA (enterrado) que possui uma estrutura em blocos angulares

    de tamanho mdio e grau forte e com consistncia f irme. A transio

    entre o sedimento e o horizonte IIA abrupta. O horizonte B

    caracterizado por uma estrutura em blocos subangulares de tamanho

    mdio pequeno e grau moderado a forte, e textura argilosa, apresenta

    baixa relao textural e cerosidade comum moderada. A estrutura de

    grau forte e a consistncia f irme do horizonte IIA so evidncias de um

    horizonte compactado herdado da poca quando esta rea era cult ivada

    com cana-de-acar.

    Na T2 os sedimentos tambm se diferenciam do solo enterrado,

    apesar da pouca espessura, principalmente quanto estrutura, passando

    de blocos subangulares de grau fraco e consistncia mida frivel no

    sedimento prismticos de grau forte e consistncia mida f irme, no

    horizonte IIA. A textura dos sedimentos em relao ao solo tambm

    importante diferencial entre as duas camadas, sendo que os sedimentos

    se apresentam com textura mais arenosa do que os horizontes do solo. O

    horizonte B possui estrutura em blocos subangulares de tamanho mdio e

    grau moderado forte, textura argilosa a muito argilosa e, apresenta

    cerosidade comum moderada, com transio abrupta.

    Os sedimentos da T3 apresentam uma peculiaridade, que a

    deposio de dois t ipos distintos de materiais. No sedimento

    avermelhado, mais superficial (camada de 0-0,07m) a estrutura granular

    de tamanho mdio a pequeno, grau moderado e cor 10R 3/4. Logo abaixo

    deste sedimento (0,07-0,32m) houve a deposio de um outro, com

    estrutura em blocos subangulares de tamanho mdio pequeno, grau

    fraco e cor 2,5YR 3/4, nesta camada foi observada a presena de seixos

    arredondados pequenos. O horizonte enterrado IIA apresenta estrutura em

    blocos angulares de tamanho mdio e grau moderado e cor 7,5YR 3/4.

  • 53

    Observa-se a existncia de um horizonte de transio IIAB que possui

    estrutura em blocos subangulares, tamanho pequeno mdio, grau

    moderado e cor 7,5YR 4/4 e, contrasta com o horizonte B que apresenta

    alteraes de cor (5YR 4/6) e cerosidade comum a moderada. A partir de

    1,0m de profundidade aparece um horizonte com caractersticas de

    hidromorfismo, que difere do horizonte sobrejacente por possuir estrutura

    de grau fraco, no possuir cerosidade e apresentar um mosqueado tpico

    de solos em processo de gleizao.

    O horizonte IIA apresenta-se compactado, com estrutura em blocos

    angulares de grau forte e consistncia f irme em toda a encosta ripria.

    Foi observada a presena de cerosidade no horizonte B de todas as

    tr incheiras e uma baixa relao textural que junto com os atributos fsico-

    qumicos (Anexo 2), classif ica estes solos como Latossolos Vermelhos

    Distrficos argisslicos. Apesar de aparecerem sinais de hidromorfia a

    partir de 1,0m na trincheira T3, manteve-se a mesma classif icao que as

    demais tr incheiras devido a uma falta de enquadramento deste solo no

    Sistema Brasileiro de Classif icao de Solos (EMBRAPA, 1999).

    Sobre o horizonte A, depositou-se uma camada de sedimentos de

    espessura varivel evidenciando a eficincia da floresta ripria na

    reteno de partculas de solo erodidas da rea de plantio da cana-de-

    acar. Diversos autores (AMPONTUAH et al., 2005; BAUDRY, 1997;

    BERTONI, 1990; CORRELL, 1997; IZIDORIO et al., 2005; KLAPPROTH;

    JOHNSON, 2000; LOWRANCE, 1985; MORGAN, 1997) tm comprovado

    esta eficincia e funo de fi l tro, em diferentes ambientes e usos da

    terra. Em seus experimentos Cooper (1987) observou que em

    profundidade, houve um acmulo de sedimentos de espessura varivel

    entre 0,15 e 0,50 m no l imite entre a rea de cult ivo e a f loresta r ipria,

    enquanto que na plancie aluvial a espessura dos sedimentos no chegou

    a alcanar 5 cm. Os resultados deste autor contrastam com os

    encontrados em Iracema B que concentrou sedimentos prximo borda

    da mata com uma espessura com cerca de 30cm, e tambm na plancie

  • 54

    aluvial com profundidade semelhante, sendo que na zona intermediria a

    deposio foi nula.

    O hiato de deposio existente na zona mdia da vertente e as duas

    camadas de sedimentos observadas a partir dos 20m da borda da mata,

    mostram que ali haveria trs momentos de deposio. Num primeiro

    momento, a deposio se concentrava na plancie aluvial, pois toda a

    rea era cult ivada com cana e os sedimentos no encontravam nenhuma

    resistncia antes de atingirem o leito da represa. Um segundo momento

    ocorreria entre o plantio e a cobertura total do solo pelo reflorestamento

    onde o solo f icou exposto e processos erosivos poderiam ter transportado

    sedimentos at essa posio do relevo. Aps do estabelecimento do

    reflorestamento, a reteno de sedimentos passou a se dar no primeiro

    tero da zona ripria (parte mais alta), havendo prximo T1 uma outra

    concentrao de sedimentos. A mudana no uso da terra montante do

    nvel da represa marca a mudana no local preferencial de deposio,

    que no canavial era a plancie aluvial e aps o desenvolvimento da

    f loresta passou a ser no primeiro tero da zona ripria.

    2.4.2 Micromorfologia

    A estrutura do solo constituda pela fase slida (gros minerais e

    agregados) e pelos poros, cuja forma, tamanho e arranjo podem ser

    classif icados. De acordo com Bullock et al. (1985) mesoporos tm

    dimetros entre 50 a 500m e os macroporos, de 500 a 5000m, classes

    que so de maior interesse, pois representam as classes de dimetros

    que podem ser contabil izadas pelas anlises de imagens.

    A anlise de imagens das amostras indeformadas permitiu a

    comparao de parmetros como classes de dimetro, forma e tamanho

    dos poros, para a correta avaliao do espao poroso.

  • 55

    2.4.2.1 Anlise de imagens das amostras

    Algumas imagens binarizadas foram selecionadas para i lustrar a

    distribuio da porosidade e da fbrica do solo, principalmente nas

    camadas correspondentes aos sedimentos acumulados.

    O sedimento na regio da tr incheira T1 (Figura 12), possui 35,96%

    de porosidade total, decorrente da estrutura granular, onde predominam

    agregados pequenos e de grau forte. No horizonte IIA subjacente (0,26-

    0,38m), observamos uma reduo na porosidade para 20% e, a estrutura

    do solo bastante modificada passando a apresentar blocos angulares de

    tamanho mdio e grau forte. Esse adensamento provocou uma

    signif icativa reduo na quantidade de poros complexos. O horizonte B,

    na camada de 0,46-0,58m de profundidade, possui uma porosidade muito

    baixa (5,83%), tendo havido eliminao da maior parte dos poros

    complexos. Isso se reflete numa estrutura em blocos subangulares,

    pequenos mdios de grau moderado forte. Numa camada mais

    profunda (0,70-0,82m) do mesmo horizonte B, a porosidade sobe para

    9,33%, com pequeno aumento na quantidade de poros complexos e

    arredondados, sendo que sua estrutura semelhante da camada

    superior.

  • 56

    Figura 12 - Distr ibuio quant i tat iva e morfolgica das amostras indeformadas da T1

    Na T2 (Figura 13), os sedimentos possuem 30,45% de porosidade

    total e, como na T1, representada na maior parte por poros complexos.

    Este arranjo complementado pela estrutura em blocos subangulares, de

    tamanho mdio e grau forte. O horizonte IIA (camada 0,15-0,27m)

    apresenta signif icativa reduo na porosidade total, que cai para 11,34%,

    onde os poros suprimidos em maioria foram os complexos. A estrutura

    5000

    5000

    5000

    5000

    T1_0-0,12_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10 20 30 40

    T1_0,26-0,38(inf)_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10 20 30 40

    T1_0,70-0,82_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10 20 30 40

    PT=35.96%

    PT=20.00%

    PT=9.33%

    T1_0,46-0,58_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10 20 30 40

    PT=5.83%

    P M G

    Distribuio da Porosidade Imagem do Bloco

  • 57

    correspondente a este novo arranjo, se transformou em blocos angulares

    e prismticos de grau forte, e com grande reduo na quantidade de

    poros complexos. No horizonte B (camada 0,40-0,52m) encontramos uma

    porosidade um pouco maior que no horizonte superior (15,5%), havendo

    um equilbrio na proporo de poros complexos e arredondados. Este

    horizonte possui estrutura em blocos subangulares de tamanho mdio e

    grau forte.

    Figura 13 - Distr ibuio quant i tat iva e morfolgica das amostras indeformadas da T2

    Na T3, foram encontrados dois t ipos de sedimentos diferentes

    (Figura 14) . O mais superficial e avermelhado (T3_0-7) possui 34,25% de

    P M G

    5000

    5000

    5000

    T2_0,15-0,27_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10

    20

    30

    40

    T2_0,40-0,52_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10

    20

    30

    40

    PT=30.45%

    PT=11.34%

    PT=15.55%

    T2_0-0,12_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.010

    20

    30

    40

    Distribuio da Porosidade Imagem do Bloco

    PT=30.45%

  • 58

    porosidade, representada basicamente pelos poros complexos (Figura

    15). Sua estrutura granular com agregados pequenos e mdios e grau

    moderado. O depsito de sedimentos inferior possui outro t ipo de

    estrutura, em blocos subangulares pequenos e mdios, e de grau forte e

    porosidade reduzida para 18,38%. Os poros que sofreram maior

    supresso foram os complexos. No horizonte IIA (camada 0,35-0,47m), a

    porosidade cai ainda mais (9,35%), novamente com maior diminuio dos

    poros complexos. A estrutura do solo neste horizonte formada por

    blocos angulares, mdios de grau moderado a forte. O horizonte B

    (camada 0,70-0,82m), no apresentou variaes signif icativas em relao

    porosidade do horizonte sobrejacente e, a estrutura passa a blocos

    subangulares, mdios de grau moderado.

    Figura 14 - Esquema da distr ibuio dos sedimentos na T3

    Horiz A Incipiente

    Sedimento Vermelho

    Sedimento Bruno

    0 cm

    2 cm

    7 cm

    32 cm

  • 59

    Figura 15 - Distr ibuio quant i tat iva e morfolgica das amostras indeformadas da T3

    50005000

    5000

    5000

    5000

    5000

    T3_0-0,07_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0 10

    20

    30

    40

    T3_0,07-0,32_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10

    20

    30

    40

    T3_0,35-0,47_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0

    10

    20

    30

    40

    T3_0,70-0,82_Iracema_B_10x

    Arr. Alon Comp.0 10

    20

    30

    40

    PT=34.25%

    PT=18.38%

    PT=9.35%

    PT=10.93%

    P M G

    Distribuio da Porosidade Imagem do Bloco

  • 60

    A porosidade ao longo da transeo, no apresenta grandes

    variaes. Os sedimentos, em geral, possuem ao redor de 30% de

    porosidade total (exceto o sedimento enterrado da T3_7-32), sendo

    composta, preferencialmente por poros complexos. Nos horizontes IIA,

    existe uma signif icativa reduo na porosidade total, onde os poros

    complexos foram os mais afetados. As camadas mais profundas,

    correspondentes ao horizonte B, possuem baixa porosidade (~ 10%) e,

    apresentam equilbrio entre poros arredondados, alongados e complexos.

    Os sedimentos depositados na transeo apresentam variaes

    quanto ao t ipo, tamanho e grau de estrutura, sendo comum a porosidade

    total em torno de 30% e a predominncia de poros complexos. No sop da

    encosta, os sedimentos variam tambm, entre si. As camadas subjacentes

    porm, so mais homogneas quanto estrutura e porosidade. A reduo

    da porosidade nos horizontes IIA se deu uniformemente, pois toda a

    vertente r ipria foi submetida sucessivas operaes mecanizadas

    durante a poca do cult ivo da cana. Isto caracteriza uma compactao do

    antigo horizonte Ap, evidenciada pela menor porosidade em relao ao

    horizonte inferior. As anlises baseadas tanto na morfologia quanto na

    micromorfologia, no demonstraram haver uma deposio estratif icada e

    uniforme, decorrente de um processo de deposio por f luxo laminar

    constante e uniforme. Pelo contrrio, a anlise micromorfolgica mostrou

    uma deposio desuniforme e sem estratif icao. Este t ipo de deposio

    poderia ser resultado de um processo turbulento de entrada de

    sedimentos na mata ci l iar ocorrido em um ou mais eventos erosivos de

    alta energia, capazes de transportar grandes quantidades de sedimentos

    de uma s vez. A presena de seixos rolados pequenos na T3, indica a

    ocorrncia de um ou mais eventos erosivos de grande competncia no

    transporte de material mais grosseiro desprendido da matriz do solo.

  • 61

    2.4.3 Granulometria

    Os objetivos da anlise granulomtrica do solo e dos sedimentos

    foram conhecer a participao relativa das trs fraes areia, si l te e

    argila, definir o grau de seleo das partculas presentes na frao areia

    do substrato e caracterizar a distribuio espacial dos sedimentos

    depositados.

    As amostras coletadas nas tr incheiras e nas tradagens foram

    dispersas seguindo a metodologia de rotina proposta por Camargo et al.

    (1986) para obteno da participao relativa das fraes. Como em

    condies de campo, a gua da chuva e da enxurrada so os agentes

    dispersantes das partculas de solo, foram feitas tambm disperses em

    gua para tentar simular o fenmeno de eroso pela enxurrada e o

    transporte de partculas em suspenso.

    Para a anlise da frao areia dos sedimentos foi uti l izado o

    programa PHI (JONG VAN LIER; VIDAL-TORRADO, 1992) que avalia

    parmetros estatsticos como mdia, desvio-padro, curtose e simetria.

    Estes parmetros geram os dados de grau de seleo dos sedimentos

    depositados, necessrios para a compreenso do processo erosivo e

    deposicional na zona ripria de Iracema B.

    2.4.3.1 Granulometria das trincheiras 2.4.3.1.1 Disperso em Hexametafosfato de Sdio + NaOH

    A distribuio de partculas determinada uti l izando-se como

    dispersante o Hexametafosfato de Sdio e NaOH pode ser observada nas

    Figuras 16 a,b e c.

    A granulometria mostra um solo bastante homogneo ao longo da

    transeo. Este solo possui textura argilosa nos perfis das trs

    tr incheiras analisadas. Os sedimentos depositados tambm no

  • 62

    apresentam, entre si, diferenas signif icativas nos teores de argila, si lte e

    areia.

    Observou-se que a porcentagem de argila nos perfis aumenta em

    profundidade, porm a baixa relao textural no permite caracterizar

    estes solos como Argissolos. A presena de cerosidade constatada na

    descrio morfolgica (ANEXO A) sugere que existe um processo de

    translocao da argila para os horizontes subsuperficiais. Esse pequeno

    acmulo de argila caracteriza o incio do processo de formao de um

    horizonte B textural.

    A relao textural destes solos aumenta tambm ao longo da

    transeo, evidenciando o processo de transformao dos horizontes Bw

    em Bt.

    Os sedimentos depositados na zona ripria reflorestada de Iracema

    B possuem textura argilosa e uma distribuio granulomtrica muito

    semelhante aos horizontes subjacentes. Essa homogeneidade contraria

    os estudos sobre deposio em florestas riprias (FULLEN; BRANDSMA,

    1996), onde se espera encontrar maior concentrao da frao argila no

    sop das encostas e mais longe da fonte de sedimentos. Esse

    comportamento pode ser explicado, pelo material de origem, que

    essencialmente argiloso, gerando assim, sedimentos de granulometria

    semelhante (AMPONTUAH et al., 2005; SYVERSEN; BORCH, 2005) e,

    reforado pelo processo de deposio preferencial. Este processo de

    deposio preferencial decorrente da instalao do reflorestamento que

    alterou a dinmica de deposio. Como discutido anteriormente no estudo

    da distribuio dos sedimentos, a deposio de sedimentos inicialmente

    ocorria na plancie de inundao, na poca do cult ivo da cana e antes da

    plena cobertura do solo pelo reflorestamento. Com o desenvolvimento

    das espcies do reflorestamento e conseqente incremento na reteno

    dos sedimentos, a zona de deposio se deslocou para a poro superior

    da zona ripria, passando a haver deposio de sedimentos de textura

    argilosa semelhante ao solo original nesta posio.

  • 63

    Figura 16 -Distr ibuio granulomtr ica do sedimento e solo subjacente nas tr incheiras

    T1, T2 e T3, com disperso em Hexametafosfato de Sdio + NaOH

    T3 - NaOH

    %

    0 20 40 60 80

    Prof

    undi

    dade

    (cm

    )

    0-7

    7-32

    32-52

    50-63

    63-10

    0

    100-1

    20+

    120-1

    40

    140-1

    60

    ArgilaSilteAreia

    Sd - SedimentoSdV - Sedimento vermelhoII A - Horizonte A enterradoII AB - Horizonte de transio A/B enterradoII Bw - Horizonte B latosslicoII Bg - Horizonte B gleizadoII Bg - Horizonte B gleizado

    T2 - NaOH

    %

    0 20 40 60 80

    Prof

    undi

    dade

    (cm

    )

    0-2

    2-33

    33-42

    42-80

    T1 - NaOH

    %

    0 20 40 60 80

    Prof

    undi

    dade

    (cm

    )0-2

    8

    28-57

    57-11

    2+

    a

    b

    Sd

    II A

    II Bw

    II A

    Sd

    II Bw

    II Bw

    c

    SdVSdII A

    II AB

    II Bw

    II BgII Bg

    II Bw

  • 64

    2.4.3.1.2 Disperso em gua

    A distribuio granulomtrica destes solos determinada em gua

    mostrou uma tendncia geral de diminuio da quantidade de argila e

    aumento das fraes areia e si l te quando comparadas com os resultados

    obtidos com a disperso em NaOH. A observao da frao areia destes

    solos aps a disperso mostrou uma grande quantidade de agregados de

    argila do tamanho da areia mdia e f ina nesta frao (Figura 17). Este

    fato explicaria a mudana na distribuio das fraes granulomtricas em

    funo do dispersante uti l izado.

    Os valores percentuais de argila, silte e areia esto relacionados na

    Tabela 2, que tambm apresenta valores resultantes da diferena entre

    as disperses em NaOH e gua para cada frao granulomtrica (NaOH- H2O, coluna 6). Os valores posit ivos de argila correspondem diferena

    entre a porcentagem encontrada na disperso em NaOH, que quantif icou

    o total de argila existente na amostra e, a porcentagem encontrada na

    disperso em gua, que quantif icou o total de argila dispersa. O resultado

    dessa diferena corresponde frao de argila que se encontra sob a

    forma de agregados (% argila total = % argila dispersa + % argila em

    agregados). Os valores posit ivos representam a argila f loculada (coluna

    7) e os valores negativos indicam o aporte ou migrao dos agregados de

    argila para as fraes silte (coluna 8) e areia (coluna 9).

    O comportamento homogneo observado na disperso de rotina

    com NaOH, se repete na disperso em gua (Figuras 16 e 17). A

    disperso em gua revela que grande parte da argila (cerca de 50% do

    total das fraes), que aparecia dispersa quando foi determinada com

    soluo de Hexametafosfato e NaOH, continuou floculada e foi agregada

    s fraes si l te e areia. A pequena parcela de argila que aparece

    dispersa referente s partculas primrias (2% do total das fraes)

    (Tabela 2).

  • 65

    Figura 17- Distr ibuio granulomtr ica do sedimento e solo subjacente nas tr incheiras

    T1, T2 e T3, com disperso em gua, e v isual izao dos agregados de

    argi la nos sedimentos na disperso em gua

    T1_0-28 (NaOH) T1_0-28 ( gua)

    T2_0-2 (NaOH) T2_0-2 ( gua)

    T3_0-7 (NaOH) T3_0-7 ( gua)

    T3_7-32 (NaOH) T3_7-32 ( gua)

    T1 - gua

    %

    0 20 40 60 80

    Prof

    undi

    dade

    (cm

    )

    0-28

    28-57

    57-11

    2+

    ArgilaSilteAreia

    a

    T3 - gua

    %

    0 20 40 60 80

    Prof

    undi

    dade

    (cm

    )

    0-7

    7-32

    32-52

    50-63

    63-10

    0

    100-1

    20+

    120-1

    40

    140-1

    60

    Sd - SedimentoSdV - Sedimento vermelhoII A - Horizonte A enterradoII AB - Horizonte de transio A/B enterradoII Bw - Horizonte B latosslicoII Bg - Horizonte B gleizadoII Bg - Horizonte B gleizado

    T2 - gua

    %

    0 20 40 60 80

    Prof

    undi

    dade

    (cm

    )

    0-2

    2-33

    33-42

    42-80

    b

    Sd

    II A

    II Bw

    Sd

    II A

    II Bw

    II Bw

    c

    SdVSd

    II AII AB

    II Bw

    II BgII Bg

    II Bw

  • 66

    Tabela 2 - Distr ibuio granulomtrica das tr incheiras e diferenas quantitat ivas entre as duas diperses ( NaOH - H2O)

    Amostras Argila Silte Areia Disp. NaOH- H2O Argila Silte AreiaIb_T1_0-28 58 10 32 NaOH Ib_T1_0-28 54 -28 -26Ib_T1_28-57 52 12 36 NaOH Ib_T1_28-57 50 -28 -22Ib_T1_57-112+ 62 8 30 NaOH Ib_T1_57-112+ 36 -20 -16Ib_T1_0-28 4 38 58 gua Ib_T1_28-57 2 40 58 gua Ib_T1_57-112+ 26 28 46 gua

    NaOH- H2O Argila Silte AreiaIb_T2_0-2 51 11 38 NaOH Ib_T2_0-2 25 3 -28Ib_T2_2-33 51 11 38 NaOH Ib_T2_2-33 51 -29 -22Ib_T2_33-42 65 9 26 NaOH Ib_T2_33-42 33