Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR CARACTERIZAÇÃO DAS PROTEÍNAS MPPRI1 E MPPRIA DE MONILIOPHTHORA PERNICIOSA . RICARDO FIGUEIRÊDO PORTO ILHÉUS BAHIA BRASIL Agosto 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E

BIOLOGIA MOLECULAR

CARACTERIZAÇÃO DAS PROTEÍNAS MPPRI1 E MPPRIA DE MONILIOPHTHORA

PERNICIOSA.

RICARDO FIGUEIRÊDO PORTO

ILHÉUS – BAHIA – BRASIL

Agosto – 2012

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RICARDO FIGUEIRÊDO PORTO

CARACTERIZAÇÃO DAS PROTEÍNAS MPPRI1 E MPPRIA DE

MONILIOPHTHORA PERNICIOSA

Dissertação apresentada à

Universidade Estadual de Santa Cruz,

como parte das exigências para obtenção

do título de Mestre em Genética e Biologia

Molecular.

Área de concentração: Genética e

Biologia Molecular.

ILHÉUS – BAHIA – BRASIL Agosto – 2012

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RICARDO FIGUEIRÊDO PORTO

Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora

perniciosa.

Dissertação apresentada à Universidade

Estadual de Santa Cruz, como parte das

exigências para obtenção do título de

Mestre Genética e Biologia Molecular.

Ilhéus, 28 de agosto de 2012

BANCA EXAMINADORA

Dr. Carlos Priminho Pirovani Drª Virgínia Lúcia Fontes Soares

Drª. Andréa Miura da Costa Dr. Marcelo Santos Castilho

(UESC – Orientador)

(UESC)

(UFBA)

(UESC)

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ii

Aos meus pais, Helio e Lia, e aos meus irmãos, Helio e Helia, pelo amor e incentivo. Aos meus sobrinhos Thiago e Eloisa. Para aquele que me ensinou a perseverança, que Deus o guarde.

DEDICO

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iii

AGRADECIMENTOS

A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), pela oportunidade e a

CAPES, pela concessão da bolsa.

Ao meu orientador, Dr. Carlos Priminho Pirovani, pela confiança, aprendizado,

pela importante orientação, sempre disponível para socorrer e guiar os

perdidos.

A minha co-orientadora, professora Dra. Acássia Benjamim Leal Pires, pela

orientação, oportunidade e confiança, nesse relacionamento de longos anos

transformando um IC em candidato a mestre.

Aos técnicos e amigos do Centro de Biologia e Genética (UESC), pela

presença e ajuda, em especial Diana e Adriele.

À Fabrícia, secretária do PPGGBM, pela amizade e presteza.

À meus pais, Hélio e Lia, pelo exemplo de vida, pela força de vencer e se

tornar melhor a cada dia, por não medirem esforços para que eu pudesse ir a

busca dos meus sonhos.

A todos colegas e amigos do PPGGBM, pelos momento de troca de

conhecimento presteza, conquistas, apoios nos momentos de dificuldade e nos

momentos de descontração.

Aos amigos Sanderson, Gileno, Fabiana, Sara, Edson, Ana Camila, Luciana,

Day(s), Laiz, Livia, Amanda, Aurizângela, Cleverson, João Paulo, Robert e

Ivan, enfim, todas as pessoas que de alguma forma participaram desta

formação, torcendo, incentivando, apoiando e, principalmente, acreditando.

OS MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS

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iv

ÍNDICE

EXTRATO...........................................................................................................vi

ABSTRACT.......................................................................................................viii

LISTA DE FIGURAS............................................................................................x

LISTA DE TABELAS..........................................................................................xiii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS............................................................xiv

1.INTRODUÇÃO..................................................................................................1

2. REVISÃO DE LITERATURA............................................................................3

2.1 O cacaueiro (Theobroma cacao L.)...............................................................3

2.2 Moniliophthora perniciosa (Aime e Phillips-Mora, 2005)................................8

2.3 Ciclo de vida de Moniliophthora perniciosa.................................................14

2.4 Interação planta-patógeno...........................................................................17

2.5 Aegerolisinas...............................................................................................19

2.6 Dicroísmo circular........................................................................................23

3. MATERIAL E MÉTODOS..............................................................................28

3.1 Análises de sequências de nucleotídeos e aminoácidos.............................28

3.2 Desenho dos primers e amplificação dos segmentos.................................29

3.3 Coleta de material vegetal...........................................................................30

3.4 Preparo de cDNA.........................................................................................30

3.4.1 Extração de RNA de M. perniciosa...........................................................30

3.4.2 Tratamento com DNase I..........................................................................31

3.4.3 Síntese da primeira fita de cDNA alvo......................................................32

3.5 Clonagem e expressão dos genes MpPri1 e MpPria...................................32

3.5.1 Preparo dos insertos para clonagem........................................................32

3.5.2 Preparo do vetor de expressão pET-28a e ligação com os insertos........33

3.5.3 Transformação das bactérias Rosetta (DE3) TOP10 (DE3) com os

produtos das reações de ligação.......................................................................35

3.5.3.1 Preparo de células competentes...........................................................35

3.5.3.2 Transformação de bactéria....................................................................35

3.5.3.3 Diagnóstico de colônias transformantes por meio de PCR...................36

3.5.4 Expressão heteróloga em E. coli do gene de interesse............................36

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v

3.5.4.1 Indução da expressão em E. coli e purificação da proteína MpPRI1 e

MpPRIA..............................................................................................................36

3.6 Confirmação da identidade da proteínas recombinantes por espectrometria

de massas (MS/MS)..........................................................................................38

3.6.1 Preparação das bandas de gel para digestão com tripsina......................38

3.6.2 Digestão in gel e purificação dos peptídeos para espectrometria de

massas...............................................................................................................38

3.6.3 Análise dos resultados de Espectrometria de massas.............................39

3.6.4 Pesquisa nos bancos de dados e identificação das proteínas.................39

3.7 Dicroísmo Circular (CD)...............................................................................40

3.8 Ensaio de atividade hemolítica....................................................................40

3.8.1 Preparo de Hemácias: suspensão de eritrócitos......................................40

3.8.2 Teste hemolítico........................................................................................41

3.9 Produção de anticorpo.................................................................................42

3.9.1 Obtenção de antissoro para a proteína MpPRI1 E MpPRIA.....................42

3.9.2 Análise da reatividade dos soros coletados (Dot blot)..............................42

4. RESULTADOS...............................................................................................44

4.1 Sequências selecionadas de M. perniciosa.................................................44

4.2 Análise da sequência de MpPri1 e MpPria..................................................44

4.2.1 Análises de predições físico-química........................................................51

4.2.2 Análises de predição de modificações pós-traducionais .........................53

4.3 Expressão das proteínas MpPRI1 e MpPRIA em bactéria..........................57

4.3.1 Expressão da proteína recombinante.......................................................61

4.4 Confirmação da identidade da proteína recombinante................................62

4.5 Estrutura secundária por Dicroísmo Circular (CD)......................................63

4.6 Atividade hemolítica.....................................................................................64

4.7 Análise da reatividade dos soros coletados (Dot blot).................................67

5. DISCUSSÃO..................................................................................................68

6. CONCLUSÃO................................................................................................72

7. REFERÊNCIAS.............................................................................................73

Anexo I

Anexo II

Anexo III

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vi

EXTRATO

A doença vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Theobroma cacao L.),

causada pelo fungo basidiomiceto Moniliophthora perniciosa (Stahel) Singer (=

Crinipellis) é atualmente o maior problema fitopatológico das regiões

produtoras de cacau da Bahia. A complexidade do patossistema cacau – M.

perniciosa e os prejuízos causados pela doença motivaram estudos genômicos

e proteômicos do fungo e também dessa interação. O sequenciamento de

bibliotecas genômicas de M. pernicosa, de ESTs da interação T. cacao-M.

perniciosa e do desenvolvimento do fungo em sistema artificial permitiu a

identificação de genes importantes do patógeno e do hospedeiro. Entre os

genes identificados, encontram-se as sequências que codificam para

aegerolisinas do fungo. A família ‘aegerolisina’ é formada por proteínas que

compartilham o domínio de código PF06355 no banco de dados do Pfam.

Estas proteínas apresentam um aumento do número de transcritos

principalmente na fase do primórdio e da frutificação. As aegerolisinas

apresentam atividade citotóxica e hemolítica, destruindo as membranas através

da formação de poros, característica que as denomina também de

Hemolisinas, ainda que algumas não possuam esta atividade, mas apenas

afetam a permeabilidade das membrana. As aegerolisinas são de fato

encontradas em muitas espécies de fungos e outros organismos, apresentando

papel importante no desenvolvimento e formação de estruturas desses

organismos. Em trabalho prévio, numa biblioteca de cDNA representativa da

fase de frutificação do fungo foram identificadas aegerolisinas que foram

avaliadas quanto aos níveis de transcritos por qRT-PCR, apresentando

expressão elevada na fase de primórdio e frutificação. Por esses motivos, este

trabalho objetivou clonar, expressar e caracterizar duas aegerolisinas de M.

perniciosa identificadas em bibliotecas de cDNA do fungo. Para esta finalidade,

as sequências dos genes MpPri1 e MpPria foram analisados através de

ferramentas de bioinformática. O gene MpPri1 com uma ORF de 417 pb

codifica uma proteína de 138 aminoácidos (aa) com peso molecular (PM)

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estimado de 15,1 kDa e pI estimado de 6,4. MpPria com uma ORF de 501 pb

codifica uma proteína de 166 aa com PM estimado de 18 kDa e pI de 4,58.

Ambas as proteínas não apresentaram peptídeo sinal e apresentam perfil

hidrofílico. A estrutura secundária, predita pelo software PsiPred, é

predominantemente do tipo beta conformação para ambas as proteínas. As

sequências foram clonadas no vetor pET-28a para expressão das proteínas

heterólogas em E. coli. Após indução com IPTG, a análise dos extratos

proteicos em SDS-PAGE indicou a presença da proteína MpPRI1 na fração

insolúvel, e MpPRIA em fração solúvel do extrato bacteriano. Ambas as

proteínas heterólogas foram purificadas em colunas de cromatografia de

afinidade a Níquel, a partir da fração do extrato correspondente. A identidade

da MpPRIA e MpPRI1 heterólogas foi confirmada por espectrometria de

massas. Estas proteínas purificadas e concentradas por centrifugação em

membranas filtrantes foram utilizadas para os ensaios de Dicroísmo Circular

(CD), hemólise e imunização de coelho. O espectro da proteína MpPRIA no

CD, apresenta um pico negativo a 218 m, indicando a predominância de

estruturas beta em sua conformação, confirmando as predições com o PsiPred

para a conformação da proteína. Ambas as proteínas apresentaram atividade

funcional, produzindo hemólise em eritrócitos humanos. MpPRI1 e MpPRIA

com HU de 32,5 e 39,5 g.mL-1, respectivamente. Estas proteínas foram ainda

empregadas na imunização de coelhos, sendo realizadas coletas de sangue

para obtenção do soro. Em ensaio de “dot blot”, os soros coletados 21 dias

após a imunizção, diluído 1:1000 (DAI), em 1 min de reação, revelou sinal na

membrana para 80 e 16 g de proteína recombinante, para MpPRI1 e MpPRIA,

respectivamente. Estes soros tem potencial para análise de acúmulo das

respectivas proteínas em diferentes fases do ciclo do fungo. Portanto com as

análises realizadas e os resultados dos ensaios de hemólise e dicroísmo

caracterizam-se MpPRI1 e MpPRIA como duas proteínas hemolíticas de M.

perniciosa que apresentam domínio funcional aegerolisina. Estas proteínas

possuem potencial biotecnológico e para a intervenção no ciclo do patógeno.

Palavras-chave: Theobroma cacao, Moniliophthora perniciosa, aegerolisina,

clonagem e expressão, dicroísmo circular, atividade hemolítica.

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ABSTRACT

The witches’ broom disease of cacao (Theobroma cacao L.) caused by the

fungus basidiomycete Moniliophthora perniciosa (Stahel) Singer (= Crinipellis)

is currently the main phytopathological problem of Bahia State cacao

plantations. The complexity of the T. cacao – M. perniciosa pathosystem and

the damages caused by the disease led to the development of genomic and

proteomic studies of the fungus and its interaction. The sequencing of ESTs

genomic libraries from M. pernicosa and T. cacao - M. perniciosa interaction

and development of the fungus in artificial system allowed the identification of

important genes to the pathogen and host. Among the identified genes are

those coding Aegerolysin sequences. The family 'aegerolysin' is formed by

proteins that share the PF06355 domain in the Pfam database. These proteins

have an increased number of transcripts especially during developmental stage

of primordia and fruiting bodies. Citolytic and hemolytic activities are produced

by aegerolysin as they destroy membranes by forming pores, a common

characteristic that attributes them another group name: hemolysins, although a

few aegerolysin proteins don’t display the same activity but only affect the

permeability of the membrane. In previous work, a cDNA library representative

of the fruiting stage of the fungus were identified aegerolisinas that were

evaluated according to the levels of transcripts by qRT-PCR, high expression in

the primordia and fruiting stage was displayed. For these reasons, this study

aimed to clone, express and characterize two aegerolisinas identified in M.

perniciosa cDNA libraries. For this purpose, MpPri1 and MpPria genes were

analyzed by bioinformatics tools. The MpPri1 gene with 417 bp ORF encoding a

protein of 138 amino acids with estimated molecular weight of 15.1 kDa and pI

6.4. MpPria with 501 bp ORF encoding a protein of 166 aa with estimated

molecular weight of 18 kDa and pI of 4.58. Both proteins had no signal peptide

and exhibit hydrophilic profile. The secondary structure predicted by the

software PsiPred is predominantly of the beta type conformation to both

proteins. The sequences were cloned into the pET-28a vector for expression of

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heterologous proteins in E. coli. After induction with IPTG, the analysis of

protein extracts by SDS-PAGE indicated the presence of MpPRI1 protein in

insoluble fraction, and MpPRIA in soluble fraction. Both heterologous proteins

were purified on columns of Nickel affinity chromatography from the extract

fraction corresponding. These purified proteins were concentrated by

centrifugation and the membrane filters were used in hemolysis assays, Circular

Dichroism (CD) and rabbit immunization. Both proteins showed functional

activity, producing hemolysis in human erythrocytes. MpPRI1 and MpPRIA with

HU of 32.5 and 39,5 g.mL-1, respectively. The CD spectrum of the MpPRIA

protein, shows a negative peak at 218 m, indicating the predominance of beta

structures in its conformation, confirming the predictions with the PsiPred for

protein conformation. These proteins were also used to rabbits immunization

assay and blood samples collected to obtain serum. In Dot blot assay, serum

collected 21 days after immunization, diluted 1:1000 (DAI) in 1 min of reaction,

showed signal on the membrane for 80 and 16 g in recombinant protein

MpPRI1 and MpPRIA respectively. These serum has the potential for analysis

of protein accumulation in the respective fungus life cicle. The analyzes and

results of tests of hemolysis and dichroism MpPRI1 and MpPRIA characterized

as two hemolytic proteins of M. perniciosa presenting aegerolisina functional

domain. These proteins have biotechnology potential and for pathogen life

cycle intervention.

Key-words: Theobroma cacao, Moniliophthora perniciosa, aegerolysin, cloning

and expression, hemolytic activity.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Variedades de cacau............................................................................5

Figura 2. Produção de cacau do Brasil e da Bahia entre 1990 e 2008...............9

Figura 3. Sintomas da vassoura-de-bruxa em cacau........................................13

Figura 4. Ciclo de vida do basidiomiceto hemibiotrófico Moniliophthora

perniciosa...........................................................................................................16

Figura 5. Representação da polarização da luz................................................24

Figura 6 Espectrômetro de Dicroísmo Circular da Jasco modelo 815...............25

Figura 7. Espectro de CD característico de cada tipo de estrutura

secundária.........................................................................................................26

Figura 8. Sequência do gene MpPri1................................................................29

Figura 9. Sequência do gene MpPria................................................................29

Figura 10. Esquema de clonagem dos genes...................................................33

Figura 11. Mapa do vetor de expressão pET-28a.............................................34

Figura 12. Análise da sequência de MpPri1......................................................45

Figura 13. Análise da sequência de MpPria......................................................46

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xi

Figura 14. Resultados das buscas por Blastp em banco de dados públicos

utilizando as sequências das proteínas MpPRI1 e MpPRIA............................ 47

Figura 15. Alinhamentos de MpPRI1 e MpPRIA usando o ClustalW2............. 48

Figura 16. Analise filogenética de MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora

perniciosa...........................................................................................................49

Figura 17. Alinhamento das sequências e seus contigs....................................50

Figura 18. Análise de predição de peptídeo sinal e perfil hidropático...............51

Figura 19. Predição da posição dos sítios de fosforilação em MpPRI1.............54

Figura 20. Predição da posição dos sítios de glicosilação de MpPRI1.............55

Figura 21. Predição da posição dos sítios de fosforilação em MpPRIA............56

Figura 22. Predição da posição dos sítios de glicosilação de MpPRIA.............56

Figura 23. Mapa físico de restrição confeccionado com o programa NEB

cutter..................................................................................................................58

Figura 24. Amplificação dos genes MpPri1 e MpPria........................................59

Figura 25. Avaliação da transformação das células Rosetta (DE3)..................60

Figura 26. Análise da expressão das proteínas heterólogas MpPRI1 e

MpPRIA..............................................................................................................61

Figura 27. MpPRI1 identificada no banco de dados do NCBI (GenBank:

EEB90416), utilizando o software MASCOT.....................................................62

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xii

Figura 28. MpPRIA identificada no banco de dados do NCBI (GenBank:

EEB96271.1), utilizando o software MASCOT..................................................62

Figura 29. Perfil do CD da proteína MpPRI1 a temperatura de 26°C e 96°C....63

Figura 30. Perfil do CD da proteína MpPRIA a temperatura de 26°C e 96°C...64

Figura 31. Perfil do CD de Unfolding e Refolding de MpPRI1...........................64

Figura 31. Perfil do CD de Unfolding e Refolding de MpPRIA...........................65

Figura 33. Teste hemolítico de MpPRI1............................................................66

Figura 34. Teste hemolítico de MpPRIA............................................................66

Figura 35. Reatividade dos anticorpos Anti-MpPRI1 e Anti-MpPRIA................67

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Os países maiores produtores de cacau.............................................7

Tabela 2. Relação de biótipos e seus hospedeiros...........................................11

Tabela 3. Patótipos do biótipo C........................................................................11

Tabela 4. Distribuição de aegerolisinas por espécies........................................22

Tabela 5. Primers utilizados para amplificação do cDNA..................................30

Tabela 6. Composição aminoacídica das proteínas MpPRI1 e MpPRIA...........52

Tabela 7 Ponto isoelétrico (pI), Peso molecular (PM) estimados e número de

aminoácidos das proteínas MpPRI1 e MpPRIA.................................................53

Tabela 8. Aminoácidos de MpPRI1 em contexto provável para modificação por

fosforilação.........................................................................................................54

Tabela 9. Predição dos resíduos de aminoácidos da proteína MpPRI1

prováveis de sofrer glicosilação.........................................................................54

Tabela 10. Aminoácidos de MpPRIA em contexto provável para modificação

por fosforilação..................................................................................................55

Tabela 11. Predição dos resíduos de aminoácidos da proteína MpPRIA

prováveis de sofrer glicosilação.........................................................................56

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

[Θ] – Elipcidade molar

Ǻ – Angstrons

aa – Aminoácidos

ADP – Adenosina-5’-difosfato

ATP – Adenosina- 5’-trifosfato

Bip - Binding Protein

CaCl2 – Cloreto de cálcio

CD – Dicroísmo circular

cDNA – Ácido desoxirribonucleico complementar

CNPq – Conselho Nacional de Pesquisa

DAI – Dias após imunização

DNA – Ácido desoxirribonucleico

DO – Densidade óptica

FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo

GDP – Guanosina-5’- difosfato

GTP – Guanosina-5’- trifosfato

HU – Unidade Hemolítia

IPTG – Isopropil-tio-β-D-galactopiranosídeo

kDa - Kilodalton

LB – Luria Bertani

M – Molar

mM – milimolar

MS -= Espectrometria de Massas

MW – Peso molecular

g - Nanogramas

Ni-NTA – Coluna de níquel

ORF – Janela de replicação

pb – pares de bases

PCR – Reação da polimerase em cadeia

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PDB – Protein Data Bank

Pfam – Protein family database

pH – potencial hidrogeniônico

pI – Ponto isoelétrico

PR - Pathogenesis related

qRT-PCR – PCR por transcrição reversa quantitativa

SDS-PAGE – Eletroforese em gel de poliacrilamida com dodecil sulfato de

sódio

ThT – Thiflavin-T

Tris – [Tris(hidroximetil)aminoetano]

UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana

UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz

UFBA - Universidade Federal da Bahia

UNICAMP – Universidade de campinas

UV - Radiação Ultravioleta

ε – Coeficiente de extinção polar

λ – Comprimento de onda

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1. INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma planta de porte arbóreo nativa

da floresta tropical da Bacia Amazônica. O seu cultivo está relacionado ao

aproveitamento de suas sementes (amêndoas), essencialmente para a

produção de manteiga de cacau e chocolate. Sua polpa pode ser utilizada no

preparo de sucos e licores. O Brasil, em meados de 1980, se tornou o segundo

maior produtor mundial de cacau com aproximadamente 380 mil toneladas

anuais, sendo a Bahia sendo responsável por cerca de 80% da produção

nacional (GRAMACHO, 1992). Devido aos prejuízos causados pela doença

vassoura-de-bruxa, introduzida na Bahia em 1989, o Brasil passou da condição

de um dos maiores exportador de cacau para o de maior importador do produto

da América Latina (PEREIRA et al., 1996; PURDY; SCHMIDT, 1996). A doença

vassoura-de-bruxa é causada pelo fungo basidiomiceto Moniliophthora

perniciosa (AIME; PHILLIPS MORA, 2005), sendo o mais importante

fitopatógeno do cacau (GRIFFITH; HEDGER, 1994; PURDY; SCHMIDT, 1996;

ANDEBRHAN et al., 1999).

Por encontrar condições propícias ao desenvolvimento do fungo a

doença logo se tornou uma epidemia, com ampla dispersão, atingindo extensas

lavouras cacaueiras (SREENIVASAN; SABYDEEN, 1989). Fato que provocou

reduções drásticas na produtividade e, por conseguinte grave crise econômica,

social e ecológica na região cacaueira (PEREIRA et al., 1989; GRIFFITH et al.,

2003).

O M. perniciosa possui ciclo de vida hemibiotrófico, apresentando uma

fase biotrófica e outra saprofítica (GRIFFITH et al., 2003). A fase biotrófica

caracteriza-se pela infecção de basidiósporos em regiões meristemáticas

(talos, almofadas florais, flores simples e frutos maduros), o que leva a

hipertrofia dos tecidos infectados e proliferação de ramos axilares anormais,

denominados vassouras verdes (GRIFFITH et al., 2003). Na fase saprofítica,

há formação de basidiomas que esporulam sobre o material vegetal e

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2

observação de vassouras secas, que ocorrem devido à necrose dos

meristemas vegetativos infectados, bem como a necrose dos frutos, sendo

esses os sintomas mais característicos da doença (SILVA et al., 2002).

Diversas metodologias para o controle da doença foram empregadas, sendo as

mais frequentes: a poda fitossanitária, o controle químico (fungicidas) e o

melhoramento convencional, através do uso de variedades resistentes.

Em 2000, foi implantado o projeto Genoma do fungo M. perniciosa

envolvendo várias instituições públicas brasileiras (Cenargen, Ceplac, UESC,

Unicamp, UEFS, UFBA). Esse projeto tinha como objetivo estudar o

patossistema em questão e compreender os mecanismos utilizados pelo fungo

no processo de colonização na planta, desenvolvendo estudos genômicos e

proteômicos do fungo e da interação cacau – M. perniciosa. A partir do

sequenciamento genômico do M. perniciosa e de cDNAs de fases do

desenvolvimento fúngico em sistema artificial, identificou-se genes contendo o

domínio funcional das aegerolisinas. A família ‘aegerolisina’ é formada por

proteínas que compartilham da conservação do domínio da aegerolisina

PF06355 (código no banco de dados Pfam) (SEPČIĆ et al., 2004). Assim como

descrito para outros fungos (VIDIC et al., 2005, BERNE et al., 2007), as

aegerolisinas de M. perniciosa são altamente expressas na fase de frutificação

(PIRES et al., 2009). Estas aegerolisinas podem contribuir para o processo de

agregação de hifas (BERNE et al., 2007). Em M. perniciosa o nível de

transcritos para aegerolisinas é maior em fases anteriores à formação dos

primórdios, e na formação do basidiocarpo (PIRES et al., 2009). As

aegerolisinas são proteínas formadoras de poros em membranas, e são

encontradas em muitas espécies de fungos e outros organismos. Essas

proteínas apresentam papel importante no desenvolvimento destes organismos

e importância médica devido à sua atividade citotóxica e hemolítica. Diante da

importância dessa proteína o presente trabalho teve como objetivo clonar,

expressar e caracterizar dois genes de aegerolisinas identificados na biblioteca

de cDNA de M. perniciosa produzida e sequenciada por Pires et al., 2009. A

nossa hipótese é que as proteínas codificadas por esses genes apresentam

atividade hemolítica e, portanto, são funcionais.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 O cacaueiro (Theobroma cacao L.)

Quando os primeiros colonizadores espanhóis chegaram à América, o

cacau já era cultivado pelos índios. De acordo com os historiadores, o nome da

planta era cacahuati e o da bebida era chocoatl, que vem dos antigos Astecas,

no México, e dos Maias, na América Central. Esses povos aproveitavam a sua

polpa para preparar suco. As sementes torradas, moídas e misturadas à

farinha de milho deram origem a uma pasta comestível, que desidratada pode

ser armazenada para uso posterior, como bebida quente, aromatizada com

especiarias, muito apreciada até os dias de hoje (ALVARENGA et al., 1994).

Estes povos acreditavam que o cacaueiro era de origem divina e seu cultivo

era sempre acompanhado de solenes cerimônias religiosas. Esse significado

religioso, provavelmente, influenciou o botânico sueco Carolus Linneu (1707 –

1778), que denominou a planta de Theobroma cacao, chamando-a assim de

“manjar dos deuses” (CEPLAC - 2009). Os índios consideravam as sementes

de cacau tão valiosas que as usavam como moeda.

O cacaueiro é originário de regiões de floresta pluviais da América

Tropical, onde até hoje, é encontrado em estado silvestre, desde o Peru até o

México. Inicialmente classificado no gênero Theobroma, família das

sterculiaceae (CUATRECASAS, 1964), tendo sido reclassificado como

pertencente à família Malvaceae (ALVERSON et. al, 1999). Foi citado pela

primeira vez na literatura botânica por Charles de l’ Ecluse, que a descreveu

sob o nome de Cacao fructus. Em 1737, foi descrito como T. fructus por Linneu,

que em 1753 propôs o nome T. cacao, que permanece até hoje (GRAMACHO

et al., 1992).

O cacaueiro é uma árvore de porte médio que possui de cinco a dez

metros na sua fase adulta, muito ramificada, havendo registros de cacaueiros

de 50 a 75 m nas florestas de Belize (MOOLEEDHAR; MAHARAJ, 1995). O

Page 21: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

4

fruto pode medir, até 20 cm de comprimento, contendo várias filas de sementes

(com mais de 2 cm de comprimento) (VAINSENCHER, 2009). O cacaueiro

apresenta hábito arbóreo, perene e alógama, ou seja, apresenta fecundação

cruzada e necessita de agente dispersor. As sementes são envoltas por uma

polpa branca ou rósea (mucilagem) ácida e aquosa. Para se desenvolver

melhor, o cacaueiro exige solos profundos e ricos e clima quente e úmido, com

temperatura média de cerca de 25°C e precipitação anual entre 1.500 e 2.000

milímetros, sem períodos secos prolongados (CEPLAC, 2009).

O cacaueiro nativo das florestas tropicais úmidas das Américas do Sul e

Central tem como seu provável centro de origem as nascentes dos rios

Amazonas e Orinoco (GRAMACHO et al., 1992; CHEESMAN, 1994). Os

botânicos acreditam que o cacau é originário das cabeceiras do rio Amazonas,

originando dois grupos raciais importantes: o Crioulo e o Forasteiro (Figura 1).

O Crioulo, que se espalhou em direção ao norte, para o rio Orinoco,

penetrando na América Central e Sul do México, sendo cultivado na

Venezuela, na Colômbia e no Equador, produz frutos grandes, com superfície

enrugada. As suas sementes são grandes, com o interior branco ou violeta

pálido e produzem o chocolate de melhor qualidade (BARTLEY, 2005). Foi o

tipo de cacau cultivado pelos índios Astecas e Maias. O Forasteiro espalhou-se

bacia amazônica abaixo e em direção às Guianas. É considerado o verdadeiro

cacau brasileiro e se caracteriza por frutos ovoides, com superfície lisa,

imperceptivelmente sulcada ou enrugada. O interior de suas sementes é violeta

escuro ou, algumas vezes, quase preto (SOUZA; DIAS, 2001; MOTAMAYOR et

al., 2002) apresenta maior diversidade genética e melhor desempenho

agronômico (BARTLEY, 1967).

Page 22: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

5

Figura 1. Variedades de cacau. À esquerda, a variedade Crioulo e à direita, a variedade Forasteiro. Fonte: CEPLAC.

Existe também uma terceira variedade que é resultado do cruzamento

natural entre Crioulo e Forasteiro, ou seja, um híbrido que apresenta

características comerciais intermediárias (GRAMACHO et al., 1992). Cerca de

85% da produção mundial de cacau, provém do grupo Forasteiro.

Do fruto se extraem as sementes que passam por um processo de

fermentação, seguida por um processo de secagem com o intuito de reduzir

sua umidade transformando em amêndoas que podem ser utilizadas na

produção do cacau em pó, manteiga de cacau, polpa e licor. O chocolate é um

produto final derivado das amêndoas de cacau. Da polpa mucilaginosa, branca

e açucarada que envolve as sementes, se produz sucos, refrescos e geleias, a

própria polpa pode ser comercializada como produto final. A casca do cacau,

após transformação, pode ser utilizada como ração animal e fertilizante

orgânico. Assim, do fruto do cacau tudo é utilizado (CEPLAC, 2009).

O Brasil sempre se destacou na produção de cacau, chegando a ser

considerado o principal país produtor das Américas por volta da década de 90

(PURDY; SCHIMIDT, 1996). A partir de 1585 o produto começou a ser enviado

à Espanha e, à medida que o consumo aumentou na Europa, o cultivo

generalizou-se em várias regiões da América Central e do Sul, no Caribe, Ásia

e África (CUENCA; NAZÁRIO, 2004). À medida que o cacau ia ganhando

importância econômica com a expansão do consumo de chocolate, várias

tentativas foram feitas visando à implantação da lavoura cacaueira em outras

Page 23: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

6

regiões com condições de clima e solo semelhantes às do seu habitat natural.

Em consequência, as suas sementes foram se disseminando

gradualmente pelo mundo. Em meados do século XVIII, o cacau tinha atingido

o Sul da Bahia e, na segunda metade do século XIX, foi levado para a África.

As primeiras plantações africanas foram feitas por volta de 1855, nas ilhas de

São Tomé e Príncipe, colônias portuguesas ao largo da costa ocidental

africana (CUENCA; NAZÁRIO, 2004).

Oficialmente, o cultivo do cacau começou no Brasil em 1679, através da

Carta Régia que autorizava os colonizadores a plantá-lo em suas terras. Várias

tentativas feitas no Pará para concretizar essa diretriz fracassaram

principalmente por causa da pobreza dos solos daquela região. Apesar disso

por volta de 1780, o Pará produzia mais de 100 arrobas de cacau. O cultivo,

entretanto, não se estabeleceu naquele tempo e permaneceu uma simples

atividade extrativa até anos recentes (CEPLAC, 2009).

Em 1746 Antonio Dias Ribeiro, da Bahia, recebeu algumas sementes do

grupo Amelonado – Forasteiro do colonizador francês, Luiz Frederico Warneau,

e introduziu o cultivo na Bahia. O primeiro plantio nesse estado foi feito na

fazenda Cubículo, às margens do rio Pardo, no atual Município de Canavieiras.

Em 1752 foram feitos plantios no Município de Ilhéus (CEPLAC, 2009). O

desenvolvimento da cultura na região aconteceu, principalmente, depois da

implantação de variedades com maior produtividade, após 1907 (RAMALHO

2003). Após essa data a Bahia tornou-se o principal estado produtor do Brasil,

chegando a responder por 83,66 % da produção em 1990 (IBGE, 2009).

Naquela época, cerca de 90% de todo o cacau brasileiro é exportado, gerando

divisas para o país. No período 1975/1980, o cacau gerou 3 bilhões 618

milhões de dólares (CEPLAC, 2009).

A introdução na África iniciou em meados de 1822, pelos portugueses,

em São Tomé, Príncipe e Fernando Pó. Posteriormente, foi introduzido em

Gana, espalhando-se por diversos países como Nigéria, Costa do Marfim e

Malásia (SOUZA; DIAS, 2001). A cultura do cacau foi importante para a

economia da Bahia e do Brasil. Ilhéus tornou-se o maior pólo cacaueiro da

Bahia e o maior porto exportador de cacau do Brasil. O auge da cultura do

cacau foi no final do século XIX e início do século XX. O Brasil chegou a ser o

Page 24: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

7

maior exportador mundial de cacau. Sendo então considerado o fruto de ouro,

trazendo muita riqueza e poder aos produtores, e ajudou a construir cidades

como Ilhéus e Itabuna que se tornaram mundialmente conhecidas através dos

romances de Jorge Amado (CEPLAC, 2009). Até meados da década de 20, o

Brasil era o maior produtor de cacau do mundo. No final dos anos 80, ainda

ocupava o segundo lugar, perdendo apenas para a Costa do Marfim, na África.

Na safra de 2010 (Tabela 1) ocupou a 6ª colocação de produtor de cacau no

mundo, atrás da Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Indonésia e Camarões (ICCO

-2012).

Tabela 1: Os países maiores produtores de cacau. Fonte: ICCO -2012.

Continente/País Safra 2007/08 Safra 2008/09 Safra 2009/10

Africa 2692 71,8% 2518 69,9% 2458 68,0%

Camarões 185

227

190 5,3%

Costa do Marfim 1382

1222

1242 34,4%

Gana 729

662

632 17,5%

Nigeria 230

250

240 6,6%

Outros 166

158

154 4,3%

América 469 12,5% 488 13,5% 522 14,5%

Brasil 171

157

161 4,5%

Equador 118

134

160 4,4%

Outros 180

197

201 5,6%

Asia e Oceania 592 15,7% 599 16,6% 633 17,5%

Indonésia 485

490

535 14,8%

Papua Nova Guiné 52

59

50 1,4%

Outros 55

50

48 1,3%

Mundo 3753 100,0% 3605 100,0% 3613 100,0%

Page 25: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

8

2.2 Moniliophthora perniciosa (Aime e Phillips-Mora, 2005)

O fungo M. perniciosa (Stahel) Aime & Phillips-Mora (=Crinipellis

perniciosa) (AIME; PHILLIPS-MORA, 2005) é o agente causador da doença

vassoura-de-bruxa do cacaueiro, T. cacao L. Foi descoberto em 1915 pelo

patologista alemão Gerald Stahel, sendo inicialmente nomeado Marasmius

perniciosus, que o classificou como um basidiomiceto, pertencente à família

Marasmiaciae (HIBBETT et al., 2002) da ordem Agaricales, caracterizada pela

produção de estruturas macroscópicas denominadas basidiomatas que

abrigam as basídias (ALEXOPOULOS 1996). Em 1942, a nomenclatura foi

modificada para Crinipellis perniciosa, Família Tricholomataceae após revisão

do gênero Marasmius por Singer, (PURDY; SCHMIDT, 1996; GRIFFITH et al.,

2003). Em 2005 uma nova modificação alterando o gênero Crinipellis para

Moniliophthora foi feita baseada no sequenciamento do DNA (AIME; PHILLIPS-

MORA, 2005), sendo então a atual nomenclatura Moniliophthora perniciosa

(Stahel) Aime & Phillips-Moura. O fungo M. perniciosa (AIME; PHILLIPS-

MORA, 2005) é um basidiomiceto hemibiotrófico que afeta principalmente

cacaueiros, (Theobroma cacao, L.). O fungo penetra na planta causando

sintomas de epinastia e superbrotamento (SILVA et al., 2003) e posteriormente

torna-se saprofítico, invadindo as células e concluindo seu ciclo de vida com a

produção de esporos (MEINHARDT et al., 2008). O ciclo se completa quando

este micélio produz basidiomas, estruturas responsáveis pela produção de

esporos dando sequência na propagação do fungo e o reinício de seu ciclo de

vida. É o único patógeno do cacau que se desenvolve simultaneamente com o

hospedeiro (PURDY; SHIMIDT, 1996).

A “vassoura-de-bruxa” foi inicialmente observada por Ferreira, em 1785,

que devido às más formações observadas a denominou de “lagartão” (PURDY;

SCHMIDT, 1996). Mais de cem anos depois, a doença teve sua ocorrência

registrada no Suriname (1895), Guiana (1906), Colômbia (1917), Equador

(1921), Venezuela (1928) Trinidad (1928), Peru (1930), Tobago (1939),

Page 26: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

9

Granada (1948), São Vicente (1988), Panamá (1989) e no Estado da Bahia, no

Brasil (1989) (PURDY; SCHMIDT, 1996).

No Brasil, a doença vassoura-de-bruxa, foi primeiramente registrada na

região Sul do estado da Bahia no município de Uruçuca, em maio de 1989

(PEREIRA et al., 1989), e ainda outro registro seis meses depois no município

de Camacã. Através dos dados de dispersão e área com plantas infectadas

considera-se que a introdução se deu a princípio em Uruçuca e por intervenção

antrópica (ANDEBRHAN et al., 1999), possivelmente a partir da Região

Amazônica (ARDEBRHAN et al., 1999; PEREIRA et al., 1996; ROCHA et al.,

1993). A suscetibilidade dos cacaueiros cultivados no sul da Bahia e as

condições climáticas adequadas foram os principais agravantes para a

dispersão desse fungo que se dá principalmente com a ajuda do vento e da

chuva, tipicamente liberados a noite (PURDY; SCHMIDT, 1996; ALVES et al.,

2006). Causando assim progressivas perdas na produção de cacau (Figura 2)

e tornando-se um problema com reflexo social, econômico e ecológico para

toda a região produtora de cacau do Estado (ANDEBRHAN et al., 1999).

Figura 2. Produção de cacau do Brasil e da Bahia entre 1990 e 2008. Observa-se a forte

correlação entre a produção do Brasil com a Bahia. Fonte: IBGE 2009.

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

Ton

ela

das

/He

ctar

e

Gráfico de Produção

Brasil

Bahia

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10

Além de impactos econômicos diretos resultantes da menor produção de

cacau, outras mudanças ocorreram na região produtora da Bahia, como

alteração no uso da terra, venda de propriedades, nível de emprego e danos ao

meio ambiente (TREVIZAN, 1996). No passado, o Brasil chegou a ser o maior

exportador de cacau. No presente, porém, apesar de não estar mais no topo, o

país ainda se encontra entre os grandes produtores, ao lado da Costa do

Marfim, Gana, Nigéria, Camarões e Equador. Por outro lado, os maiores

importadores de cacau são os Estados Unidos, a Holanda, a França, a

Inglaterra e a Alemanha (VAINSENCHER, 2012).

Inicialmente havia se pensado ser restrito para plantas do gênero

Theobroma, no entanto além do cacaueiro, o M. perniciosa também é capaz de

infectar outras espécies e tem sido encontrado em associação com várias

plantas hospedeiras das famílias Malvaceae, Solanaceae, Bignoniaceae,

Bixaceae e Malpighiaceae. Atualmente, o M. perniciosa é classificado em

quatro diferentes biótipos: o biótipo C que infecta espécies de Theobroma e

Herrania (Malvaceae); o biótipo S, que afeta vários membros da família

Solanaceae; o biótipo L, que pode ser encontrado em Arrabidaea verrucosa

(Bignoniaceae); e, o biótipo H, recentemente identificado, infecta Heteropterys

acutifólia (Malpighiaceae) (MEINHARDT et al., 2008; BASTOS; EVANS, 1985;

GRIFFITH et al., 2003; RESENDE et al., 2000; EVANS, 1978; GRIFFITH;

HEDGER, 1994; HEDGER et al., 1987).

Contudo foi provado que o biótipo B isolado é geneticamente idêntico ao

biótipo C. Assim é apresentada uma reclassificação onde se têm M. perniciosa

com os biótipos diferentes (C, H, L e S) (MEINHARDT et al., 2008) (Tabela 2).

Em contraste com outros biótipos, o biotipo-L não causa sintomas da vassoura-

de-bruxa doença em seu hospedeiro, apresentando uma distribuição

geográfica muito restrita e um mecanismo de cruzamento multialélico

(GRIFFITH e HEDGER 1994a).

Destes o biótipo C é específico para o cacau (BASTOS; EVANS, 1985;

BASTOS; ANDEBRHAN, 1986; GRIFFITH; HEDGER, 1994b). A existência de

dois patótipos do biótipo C foi considerada: um, que é mais virulento, A, e está

presente na Bolívia, Equador e Colômbia, e o da forma menos virulenta B, que

Page 28: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

11

está presente no Brasil, Trinidad e Tobago e Venezuela (WHEELER e

MEPSTED 1988; PURDY e SCHIMIDT 1996) (Tabela 3).

Tabela 2. Relação de biótipos e seus hospedeiros (Fonte: MEINHARDT et al., 2008).

Biótipo Hospedeiro

Biótipo C Theobroma and Herrania spp. (Malvaceae)

Biótipo H Heteropterys acutifola (Malpighiaceae)

Biótipo L Arrabidaea spp. (Bignoniaceae)

Biótipo S Solanum spp. (Solanaceae)

Tabela 3. Patótipos do biótipo C. (Fonte: MEINHARDT et al., 2008).

Patótipos Virulência Local de ocorrência

A mais virulento Bolívia, Equador e Colômbia

B menos virulento Brasil, Trinidad e Tobago e Venezuela

Os sintomas da doença podem variar dependendo do órgão afetado

(Figura 3). Os basidiósporos de M. perniciosa são capazes de infectar o tecido

meristemático, como brotos vegetativos, almofadas florais e flores em

desenvolvimento de T. cacao (GRIFFITH et al., 2003). Os sintomas

característicos da doença são resultantes da hipertrofia e hiperplasia dos

tecidos infectados e da perda da dominância apical, levando a morte e

subsequente exploração saprofítica pelo patógeno (WHEELER, 1985). Nos

frutos os sintomas variam com a idade, o tamanho e o modo de infecção

(SILVA et al., 2002). Segundo Stahel (1915), existem dois tipos de infecção dos

frutos: indireta, por micélio, através do pedicelo de flores infectadas, e direta,

por basidiósporos, através da epiderme. Essa infecção direta afeta os frutos

jovens e desenvolvidos.

Em condições controladas, os tecidos necrosados produzem

basidiocarpos entre 6 e 12 semanas e preferencialmente em temperaturas

entre 20 e 25oC, 100 µE.m-2s-1 de iluminação e regime hídrico de 8 horas de

umidade e 16 horas de seca por dia (ROCHA; WHEELER, 1985). O micélio

Page 29: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

12

frutifica entre 3 e 8 meses após ser inoculado em meio apropriado e mantido

em condições controladas de umidade, luz e temperatura (GRIFFITH;

HEDGER, 1993; NIELLA et al., 1999). As condições mais favoráveis à

liberação de esporos são temperaturas em torno de 25 oC, 80% de umidade

relativa e iluminação em torno de 100 µE.m-2s-1 (ROCHA e WHEELER, 1985).

Por ser muito sensível a radiação UV-B e facilmente dessecados, perdendo a

sua capacidade de germinação, é muito improvável que estes possam se

dispersar a uma distância superior a 60 km (FRIAS et al., 1991; ANDEBRHAN

et al., 1993).

Além da “vassoura-de-bruxa”, causada pelo fungo M. perniciosa, várias

outras doenças acometem o cacaueiro, tais como a podridão-parda, morte-

descendente e monilíase causadas pelos agentes patogênicos Phytophthora

ssp, Oncobasidium theobromae e Moniliophthora roreri, respectivamente

(RIOS-RUIZ, 2001). Existe ainda a doença do “mal-do-facão” ou murcha-de-

ceratocystis, causada pelo Ceratocystis cacaufunesta, que ainda é pouco

documentada (SILVA et al., 2007).

Page 30: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

13

Figura 3. Sintomas da vassoura-de-bruxa em cacau. a – proliferação de vassouras

axilares e infecção nos ramos em formação (seta); b – infecção de gema axilar; c –

vassoura terminais, com intumescimento de pecíolos e pulvinos (setas); d – cancro do

pecíolo foliar, dando origem a vassoura axilar (seta); e – vassoura de almofada floral

composta; f – frutos morangos; g – frutos cenoura verde e seco preso a almofada floral; h

– infecção interna em fruto, com liquefação da mucilagem; i – produção de basidiomas em

vassouras penduradas. Figura extraída de Silva et al. (2002).

Page 31: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

14

2.3 Ciclo de vida de Moniliophthora perniciosa

O M. perniciosa, fungo causador da pior doença que as plantações de

cacau já enfrentaram no Brasil, é classificado como um fungo hemibiotrófico,

ou seja, durante o seu ciclo de vida ele apresenta dois tipos de nutrição:

biotrófica ou parasítica e saprofítica ou necrótrófica (GRIFFITH; HEDGER,

1994, PURDY; SCHMIDT, 1996). A nutrição biotrófica está relacionada à

expansão e infecção do fitopatógeno e a saprotrófica quando o tecido

hospedeiro morre e o basidioma produz esporos. Os basidiósporos, hialinos e

uninucleados, são as estruturas que infectam o cacaueiro, são produzidos em

lamelas na parte inferior do píleo do basidiocarpo. Sua liberação representa o

início do ciclo de vida deste fitopatógeno e está vinculada a um gatilho

ambiental, onde a umidade relativa do ar está próxima do ponto de saturação

(>99% de umidade relativa) e a temperatura variando entre 20 e 30 °C

(ROCHA; WHELLER, 1985).

A capacidade de germinação dos esporos é afetada por sua

sensibilidade ao dessecamento e a radiação UV, o que restringe sua dispersão

a uma distância inferior a 60 km (FRIAS et al., 1991; ANDEBRHAN et al.,

1993), a qual normalmente ocorre pela chuva e pelo vento (aerotransportadora)

e acontece principalmente durante períodos noturnos (MEINHARDT et al.,

2008). Outra via de disseminação é o transporte de mudas de sementes de

frutos infectados (ALVES 2002).

Na fase biotrófica (Figura 4) os basidiósporos aderem inicialmente à

superfície dos tecidos dos ramos em crescimento, normalmente partes jovens

das plantas como tecidos meristemáticos, gemas vegetativas ou florais, e os

frutos. Os basidiósporos germinam na superfície da planta e produzem tubos

germinativos que penetram no hospedeiro, pelos estômatos ou pelas bases

dos tricomas injuriados ou diretamente pela epiderme (PURDY; SCHMIDT,

1996; SILVA; MATSUOKA, 1999; SREENIVASAN; DABYDEEN, 1989). Alojam-

se em regiões bastante pobres em nutrientes do espaço entre as células jovens

do cacaueiro. A partir deste momento o cacaueiro detecta esta invasão e toma

Page 32: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

15

suas medidas de defesa. Há Liberação de substâncias com efeito

antimicrobiano como etileno, cafeína, teobromina e flavonóides, mas que não

apresentam eficiência na destruição do patógeno, que resiste a estas

investidas (MEINHARDT et al., 2008; MONDEGO et al., 2008).

A fase biotrófica do o fungo é caracterizada por ter micélio biotrófico

presente nos tecidos infectados verdes, e a hifa crescendo sem grampos de

conexão. Os ramos do cacaueiro que abrigam o fungo crescem

exageradamente, ocorre hiperplasia e hipertrofia dos tecidos, e

aproximadamente, um mês depois da infecção, formam-se a chamada

vassoura verde, denominando essa etapa inicial da doença (MEINHARDT et

al., 2008; MONDEGO et al., 2008). De oito até 12 semanas após a infecção, as

vassouras verdes começam a secar por fora e morrerem, enquanto o fungo

inicia o processo de dicariotização e o micélio entra na fase saprofítica (Figura

4). Nessa fase as hifas se fundem por anastomose e tornam-se dicarióticas,

apresentando os grampos de conexão (PURDY; SCHMIDT, 1996). A cada

nova geração a variabilidade genética se amplia bastante por causa da

abundância de genes saltadores conhecidos como transposons (MONDEGO et

al., 2008).

Depois de um período latente de três a nove meses, após o começo das

chuvas, as vassouras secas começam a produzir corpos de frutificação ou

basidiocarpos em tecidos mortos do hospedeiro infectado a partir do micélio

dicariótico (PURDY; SCHMIDT, 1996). Milhões de basidiósporos são

produzidos nos basidiocarpos, que infectam os tecidos de plantas sadias ou em

outras regiões da mesma planta, completando o ciclo de vida do M. perniciosa.

(PIRES et al., 2009). A formação de basidiocarpos e a produção de esporos a

partir de uma única vassoura seca podem acontecer repetidamente ao longo

de vários anos (MEINHARDT et al., 2008).

A doença pode ser reconhecida no cacaueiro tanto macroscopicamente,

pelos sintomas de necrose nas folhas e frutos, ou mesmo pela visualização

direta das estruturas do fungo, o basidiocarpo, como também em nível

microscópico, através de cortes anatômicos que revelem as hifas do micélio do

fungo.

Page 33: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

16

Figura 4. Ciclo de vida do basidiomiceto hemibiotrófico Moniliophthora perniciosa. As

partes azul e laranja correspondem, respectivamente, as fases biotrófica e saprofítica do

fungo durante a sua interação com o cacaueiro. Em verde, foi determinada a parte do ciclo

correspondente à interação com o cacau, em amarelo, a parte do ciclo acontecendo fora

do hospedeiro. De acordo com Lopes 2006 apud Silva et al., 2002, Scarpari et al., 2004,

Ceita et al., 2007, Streenivasan e Dabydeen 1989 e Silva e Matsuoka 1999. O circulo azul

determina a fase do ciclo de vida do fungo onde ocorre maior expressão das proteínas

aegerolisinas. Figura modificada de Streenivasan e Dabydeen (1989).

Page 34: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

17

2.4 Interação planta-patógeno

As interações entre plantas e patógenos são bastante estudadas pela

capacidade de microrganismos em infectar plantas e causar sérios danos e

perdas a agricultura. Em contraparte observa-se a presença de mecanismos de

defesa na planta em resposta a esses ataques, que contribuem com a

sobrevivência ao reconhecer os elicitores dos patógenos e desencadear as

respostas de defesa (FONDEVILLA et al., 2011).

Fungos fitopatógenos iniciam sua colonização pela invasão de tecidos

que se encontram previamente feridos, ou pela penetração nos tecidos

superficiais por ataque enzimático, ou ainda por orifícios naturais como

lenticelas e estômatos. Em muitos fungos observa-se um aumento de

transcritos em fases do ciclo de vida do patógeno, como no início da

compactação das hifas que irão formar o píleo ou na formação do corpo de

frutificação (BERNE et al., 2009). Sabe-se que o M. perniciosa secreta um

grande número de proteínas durante o processo de infecção e colonização do

hospedeiro (ALVIM et al., 2009). Este fitopatógeno possui duas atuações,

vinculadas ao seu ciclo de vida hemibiotrófico, primeiramente mantendo as

células do hospedeiro vivas, se beneficiando do metabolismo da planta, porém

com o avanço da doença promove a morte das células e completam seu ciclo

de vida (PURDY; SCHMIDT, 1996).

Na interface planta-hospedeiro que abrange o contato inicial entre o

patógeno e a planta, existe uma grande variedade de sinais físicos e químicos,

que dão origem a uma série de eventos de transdução de sinais capazes de

induzir a expressão de vários genes, tanto da planta quanto do patógeno,

levando a uma resposta de resistência ou suscetibilidade (KILARU;

HASENSTEIN, 2005; DAY; GRAHAM, 2007). Em T. cacao, um destes

mecanismos pode ser o aumento dos níveis de proteínas de ligação (Binding

Protein) que foi observado em meristemas de cacau tratados com um “pool” de

proteínas do secretoma de M. perniciosa (ALVIM et al., 2009).

Page 35: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

18

A identificação de fatores de transcrição (FT) diferencialmente expressos

na interação entre T. cacao – M. perniciosa é outro ponto bastante relevante,

pois FT são reguladores de genes envolvidos em cascatas sinalizadoras que

podem fazer parte da ativação de respostas de resistência da planta (LOPES et

al., 2010). Inicialmente a resposta de defesa da planta resulta na formação de

condições não favoráveis ao desenvolvimento e propagação do patógeno, esta

resposta imediata da planta ao ataque de patógenos é chamada de resposta

hipersensitiva, além desta, outras como a abertura dos canais de íons,

modificações nos estados de fosforização de enzimas e proteínas, alterações

nas vias de metabólitos secundários, acúmulo de ácidos salicílico e benzóico,

produção de etileno e ácido jasmônico e a síntese de glucanases e quitinases,

além da ativação de várias proteínas relacionadas a patogênese (pathogenesis

related - PR). Um exemplo é a PR10, identificada na interação T. cacao – M.

perniciosa sendo diferencialmente expressa, e possuindo atividade de RNase,

degradando o RNA fúngico (PUNGARTNIK et al., 2009).

A identificação e a análise de expressão de genes envolvidos na

interação planta-patógeno podem vir a elucidar fatores e ou mecanismos

associados ao patosistema, possivelmente abrindo um novo caminho para a

produção de variedades de plantas resistentes a partir da transformação

genética. A elucidação da participação destes genes e a identificação e estudo

funcional das proteínas codificadas por estes genes irão permitir não só um

completo entendimento dos mecanismos bioquímicos e morfológicos deste

fungo, mas também poderão vir a contribuir para uma solução definitiva no

combate e erradicação desta doença.

Page 36: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

19

2.5 Aegerolisinas

Diversos estudos com espécies diferentes de fungos mostram uma

correlação entre a presença de determinados genes e o surgimento de corpos

de frutificação. Algumas proteínas estão sendo identificadas especificamente

em primórdios e suas funções têm sido investigadas. Elas têm a capacidade de

formar poros transmembranas e de promover a lise de células com membranas

ricas em colesterol e esfingomielina (ZUZEK et al., 2006).

As aegerolisinas consistem em uma família de proteínas (Pfam:

PF06355; Inter- Pro: IPR 009413), encontradas tanto em bactéria quanto em

organismos eucariótico, fungos e plantas, com domínio funcional tipo

aegerolisina (BERNE et al 2005). As aegerolisinas estão relacionadas com o

desenvolvimento inicial da frutificação dos fungos, e são especificamente

expressas durante o primórdio e a formação do basidiomiceto (FERNANDEZ-

ESPINAR and LABARÈRE 1997; KAJIWARA et al., 1992; ENDO et al., 1994;

CRUZ SANTOS; LABARÈRE 1999; BERNE et al., 2002; SEPIC et al., 2003).

A primeira aegerolisina a ser caracterizada foi a Asp-hemolisina do fungo

patogênico Aspergillus fumigatus, saprófita presente no ar atmosférico e

habitante da mucosa das vias respiratórias, causador de um amplo espectro de

doenças graves, incluindo aspergilose. Sua ação é atribuída a uma série de

substâncias tóxicas (componentes da parede celular, alérgenos, pigmentos,

adesinas, enzimas e toxinas) que parecem agir de forma aditiva e/ou sinérgica

a Asp-hemolisina (BERNE et al., 2009). Uma série de outras proteínas com

sequências semelhantes foram descobertas.

A imunolocalização mostrou que elas estão concentradas nas regiões de

crescimento do basidiocarpo, especificamente no basídio e esporos (VIDIC et

al., 2005). Foi proposto que aegerolisinas estão envolvidas na compactação de

hifas durante a formação dos primórdios do corpo de frutificação

(FERNANDEZ-ESPINAR e LABARE 1997) e que as proteínas tipo hemolisinas

de Clostridium bifermentans estão relacionadas à esporulação bacteriana. No

Page 37: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

20

entanto, a exata função biológica das aegerolisinas continua a ser pesquisada

(BERNE et al., 2005).

As aegerolisinas são em sua maioria proteínas de baixo peso molecular,

algumas possuem atividade antitumorais, antiproliferativos e antibacteriano

(BERNE et al., 2009) e em sua grande maioria apresentam atividade citotóxica

e lítica as membranas celulares, sendo muitas delas amplamente

caracterizadas como hemolisinas, ou seja proteínas hemolíticas, que formam

um poro transmembrana, inclusive nas células sanguíneas (TOMITA et al.,

2004) e são importantes para a virulência de muitas bactérias patogênicas.

Algumas aegerolisinas como a aerolisina de Aeromonas hydrophila, não destrói

a integridade da membrana, mas causa aumento da permeabilidade o que

promove perdas significativas de íons e moléculas (ABRAMI et al., 1998).

Interação com lipídios e formação de poros são características de certas

aegerolisinas. Asp-hemolisina une-se especificamente com lisofosfatidilcolina,

um componente de lipoproteína de baixa densidade (EBINA et al., 1994; KUDO

et al., 2002). As hemolisinas, que são exotoxinas produzidas por bactérias que

provocam lise dos eritrócitos, foram isoladas de algumas espécies de

cogumelos, das quais se incluem Pleurotus ostreatus e Agrocybe cylindracea

(BERNE et al., 2002). A ligação e a atividade de formação de poros de

membrana das ostreolisinas são inibidas pela presença de glicerofosfatos e

lisofosfolipídeos insaturados (SEPČIĆ et al., 2003). A ostreolisina de Pleurotus

ostreatus é uma proteína formadora de poro, membro da família de proteínas

das aegerolisinas. À temperatura de 25°C e entre pH 6 e 9, ostreolisina adota

uma conformação monomérica e termodinâmica estável caracterizada por uma

rígida estrutura terciária (BERNE et al., 2005). Já a PlyA também de P.

ostreatus foi sugerida ser uma citolisina esfingomielina específica, atuando

como uma citolisina bi-componente, em congruência com pleurotolisina B

(PlyB) de 59 kDa. Nas membranas de eritrócitos, PlyA e PlyB montam um poro

transmembrana na forma de um anel com um diâmetro variando entre 3.8 e 5.0

m (TOMITA et al., 2004). Em contrate, ostreolisina sozinha forma poros com

aproximadamente 4.0 m de diâmetro (SEPČIĆ et al., 2003). Proteínas

formadoras de poros (toxinas, proteínas complementares e proteínas pró-

apoptóticas) são exemplos de proteínas com uma conformação nativa definida,

Page 38: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

21

a qual é alterada espontaneamente para permitir a formação de poros

transmembrana, mediante um mecanismo sinalizador, um gatilho ambiental. Os

poros são formados por várias proteínas monoméricas (GOUAUX, 1997).

Vários estudos sobre a frutificação de fungos basidiomicotas foram

realizados, a análise dos fatores ambientais (temperatura, luz, umidade,

concentração de CO2) e genéticos que controlam o processo de frutificação

também foram identificadas em alguns cogumelos (ESSER, MEINHARDT,

1977; ESSER et al., 1979; MEINHARDT, ESSER, 1981). Análise molecular

subsequente revelou uma acumulação de RNAs específicos durante o

desenvolvimento e frutificação do basidiocarpo em Schizophyllum comuna

(HOGE et al., 1982;. MULDER e WESSELs, 1986), Coprinus cinereus

(YASHAR e PUKKILA 1985) e Agrocybe aegerita (SALVADO e LABARÈRE

1991) e em M. perniciosa (PIRES et al., 2009). Neste último trabalho foi

identificada a expressão de algumas proteínas em diferentes fases do ciclo de

vida deste basidiomiceto apontando para sua importância no desenvolvimento

do mesmo. Os genes MpPri1 e MpPria foram identificados como sendo

expressos na fase de frutificação do fungo e sua análise in situ os caracteriza

como proteína de domínio funcional do tipo aegerolisinas.

No PFAM “protein database”, existem atualmente 101 sequências com o

domínio de proteína aegerolisina distribuídas em 44 espécies, das quais M.

perniciosa apresenta 6 sequências publicadas (Tabela 4). Em 2009 eram

apenas 21 espécies e 43 sequências publicadas, utilizando o Aa-Pri1

sequência de aminoácidos traduzida (O42717) de A. aegerita como consulta.

As proteínas da família aegerolisinas compartilham várias características

comuns. Todos eles têm pontos isoelétricos muito baixos e semelhantes pesos

moleculares.

Page 39: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

22

Tabela 4. Distribuição de aegerolisinas por espécies. A tabela representa a quantidade de

sepas ou variantes por espécie e o número de sequências codificantes de proteínas com

domínio funcional das aegerolisinas, separados por reinos. Observa-se que Selaginella

moellendorffii apresenta o maior número de sequências publicadas, Pseudomonas

aeruginosa apresenta o maior número de cepas de uma espécie e M. perniciosa apresenta

6 sequências, das quais 2 são caracterizadas neste trabalho. (Fonte:PFAM).

Eucariota

Nº de Espécies Espécie Nº de Sequências

1 Selaginella moellendorffii 19

1 Moniliophthora perniciosa 6

1 Agrocybe aegerita 1

1 Pleurotus eryngii 1

1 Pleurotus ostreatus 3

1 Coccidioides posadasii 1

3 Paracoccidioides brasiliensis 3

3 Ajellomyces dermatitidis 3

4 Ajellomyces capsulatus 4

1 Penicillium chrysogenum 5

2 Neosartorya fumigata 4

1 Neosartorya fischeri 1

1 Aspergillus flavus 4

1 Aspergillus niger 2

1 Aspergillus terreus 1

1 Aspergillus clavatus 1

1 Aspergillus oryzae 3

1 Emericella nidulans 1

1 Metarhizium anisopliae 2

1 Metarhizium acridum 1

1 Neurospora crassa 1

1 Chrysodeixis includens 1

1 Sordaria macrospora 1

Bactéria

Nº de Espécies Espécie Nº de Sequências

1 Spirosoma linguale 1

1 Burkholderia glumae 1

7 Pseudomonas aeruginosa 7

1 Bacillus thuringiensis 16

1 Clostridium cellulovorans 1

1 Clostridium bifermentans 2

Virus

Nº de Espécies Espécie Nº de Sequências

1 Trichoplusia ni ascovirus 2c 1

Page 40: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

23

2.6 Dicroísmo circular

A origem da palavra dicroísmo vem do grego dikhroos, cor-de-dois, e

refere-se a qualquer dispositivo ótico que possa dividir um feixe de luz em dois

feixes com diferentes comprimentos de onda. Esse fenômeno foi inicialmente

observado pelo austríaco Wilhelm Carl Ritter Von Haidinger em 1847 em

cristais de quartzo ametista. Posteriormente, esse fenômeno foi observado em

moléculas opticamente ativas, mais especificamente em soluções de tartarato

de cobre e cromo, pelo francês Aimé Cotton (RINALDO, 2010; BERTUCCI et

al., 2000).

O Dicroísmo Circular (CD) é um tipo de absorção espectroscópica que

pode dar informação sobre a estrutura de muitos tipos de macromoléculas

biológicas. A técnica envolve duas propriedades físico-químicas, a quiralidade

e absorção, que servem para determinações qualitativas e quantitativas,

respectivamente. Nas análises qualitativas, oferece espectro com característica

bem peculiar à molécula, já as análises quantitativas são realizadas com base

na medida da diferença de intensidade de absorção entre a luz circularmente

dextro-rotatória (R) e levo-rotatória (L) (RESENDE, 2008).

Moléculas que possuem centros quirais, como proteínas e peptídeos,

podem interagir com a luz incidente e alterar sua polarização. Assim, a técnica

de dicroísmo circular (CD) utiliza esse efeito para determinar a estrutura

secundária de proteínas, peptídeos e ácidos nucleicos (KELLY, et al., 2005). A

luz circularmente polarizada é composta por um componente que gira em

sentido anti-horário (L) e outra que gira no sentido horário R, as duas de

mesma magnitude (Figura 5). Quando essa luz passa pela amostra, poderão

ocorrer duas situações, as componentes L e R serão absorvidas na mesma

proporção ou não serão absorvidas e assim não será gerado nenhum sinal de

CD. Porém, quando existe uma diferença de absorção das duas componentes

L e R, gera uma resultante das componentes e um sinal será produzido

(KELLY et al., 2005) Um incremento na absorção relativa da luz polarizada à

Page 41: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

24

esquerda resulta em um sinal de CD positivo enquanto que o sinal negativo de

CD é devido a que a luz circularmente polarizada à direita foi mais absorvida.

Figura 5. Representação da polarização da luz. A – A luz polarizada apresenta a mesma

magnitude em ambos os componentes L (Esquerda) e R (direita), logo a resultante é nula,

não há sinal. B - Os componentes L e R apresentam diferença na absorção logo

apresentam uma resultante que gera um sinal no CD. Figura extraída e adaptada de kelly

et al.,2005.

O equipamento Jasco J-815 (Figura 6) mede a diferença de absorção

entre as duas componentes L e R. Alguns equipamentos apresentam os dados

em elipticidade dicroica ([o]), que é definida pela relação tan -1 (O = b/a), onde

a razão b/a é a relação ente o menor e o maior eixo da elipse (KELLY et al.,

2005). Os resultados de CD podem ser mostrados em função das diferenças

em absorbância dos componentes (ΔA= AL – AR) ou como elipticidade dicroica

(θ) sendo θ = tan -1 (b/a), onde b e a são os eixos maiores e menores da elipse

formada, respectivamente, e ainda elipticidade molar. Existe uma relação

numérica simples entre elipticidade dicroica e elipticidade molar que é θ =

32.98 ΔA.

Page 42: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

25

Figura 6. Espectrômetro de Dicroísmo Circular da Jasco modelo 815. Equipamento

instalado No CBG (Centro de Biotecnologia e Genética) da UESC-BA.

Diferentes estruturas secundárias existentes em moléculas quirais como

as proteínas, produzem diferentes tipos de espectro de CD, como representado

na figura 7. A linha preta representa a mioglobina com perfil

predominantemente de estrutura em alfa hélice, com dois picos negativos em

208 e 222 m e u pico positivo em 190 m. Uma estrutura em beta antiparalela

apresentada pela linha vermelha com um pico positivo em 195 m e um

negativo em 217 m, observada em LDH. Além dessas estruturas mais

conhecidas ainda existem estruturas estendidas, de tríplice hélice e

desnaturada representada pelo colágeno. A distribuição das bandas e a

proporção entre elas podem variar em dependência das cadeias laterais e de

fatores ambientais (KELLY et al., 2005).

Page 43: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

26

Figura 7. Espectro de CD característico de cada tipo de estrutura secundária. 1- linha

preta, estrutura rica em alfa hélice; 2 – linha vermelha, rica em beta antiparalela; 3 – linha

verde, estrutura desordenada; 4 – linha azul, rica em tripla hélice (colágeno) e 5 – linha

cyano, colágeno desnaturado. Extraída e adaptada de GREENFIELD, 2006.

Page 44: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

27

A técnica de Dicroísmo circular (CD) tem a vantagem de ser rápida

quando comparada com cristalografia ou MR. Precisa de poucas quantidades

de amostra e não destrutiva, pois utiliza as moléculas em solução permitindo

recuperar e reutilizar a amostra de proteína para múltiplas análises como as

mudanças na configuração de macromoléculas em função da variação de

temperatura, pH e tampão. O espectrômetro de CD modelo J-815 da JASCO,

oferece ainda uma vasta aplicabilidade como: estudos de estrutura de proteína;

estudos de conformação de proteína; interação DNA / RNA; cinética

enzimática; ensaio de pureza de substâncias opticamente ativas; análise

quantitativa de produtos farmacêuticos; química de produtos naturais;

bioquímica e macromoléculas; experimentos de varredura rápida (pelo tempo).

Page 45: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

28

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Análises de sequências de nucleotídeos e de aminoácidos

As sequências publicadas no NCBI por Mondego et al., 2008 (Figuras 8

e 9) foram submetidas a diferentes análises de bioinformática: busca de

homólogos em bancos de dados – BLAST

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST/); tradução das sequências de

nucleotídeos – Translate tool (http://au.expasy.org/tools/dna.html); alinhamento

de sequências – MultAlin (http://bioinfo.genopole-

toulouse.prd.fr/multalin/multalin.html) e ClustalW

(http://www.ebi.ac.uk/clustalw/); busca de ORF – ORF Finder

(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/gorf/gorf.html); predição da massa molecular e do

ponto isoelétrico teóricos – pI/MW (http://www.expasy.org/cgi-bin/pi_tool);

predição de peptídeo sinal – SignalP 3.0

(http://www.cbs.dtu.dk/services/SignalP/); busca por proteínas homologas em

outro organismos – BLASTp (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST/). Para

análise estrutural, os programas utilizados foram: NetPhos 2.0 do pacote de

programas ExPASy (http://www.expasy.org), para determinação de possíveis

sítios de fosforilação; NetGlycate 1.0 Server e OGPET v1.0

(http://www.geneinfinity.org/sp/sp_proteinptmodifs.html), para a determinação

de possíveis sítios de O-beta-GlcNAc e N-glicosilação; YinOYang 1.2

(http://www.cbs.dtu.dk/services/YinOYang/) e; PSIPRED

(http://bioinf.cs.ucl.ac.uk/psipred), para a predição de estrutura secundária.

Page 46: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

29

Figura 8. Sequência do gene MpPri1. (NCBI: gi 238581050).

Figura 9. Sequência do gene MpPria. (NCBI: gi 238601183).

3.2 Desenho dos primers e amplificação dos segmentos

Os genes MpPri1 e MpPria (Figura 8 e 9) identificados na biblioteca de

cDNA, publicada por Pires et al., (2009) e depositadas no NCBI (MpPri1 – gi

238581050 e MpPria – gi 238601183), foram escolhidos para estudo. Estes

genes apresentam um domínio característico de aegerolisina registrado no

Pfam (PF06355). Na tabela 5 estão apresentados os “primers” senso (F),

contendo o sítio NdeI e os “primers” antisenso (R), contendo o sítio XhoI. Essas

enzimas de restrição foram escolhidas a partir da análise das sequências

utilizando o programa WebCutter ORFfinder, visando a clonagem nos sítios

NdeI e XhoI do vetor pET-28a. As ORFs foram preservadas para a clonagem

no vetor pET-28a, sob o controle do promotor da T7 RNA Polimerase e do lac

operador. As temperaturas médias de fusão (Tm) foram calculadas pelo

fabricante (IDT).

Page 47: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

30

Tabela 5. Primers utilizados para amplificação do cDNA. Em azul, sítio de restrição para

NdeI. Em vermelho, sítio para Xho1.

Nome do primer Sequência Tm °C Amplicon

MpaaPri1Nde1F TACACTTCACCATATGGCTTACGCTCAATG 58

527 pb

MpaaPri1Xho1R CCAAAAGTTCTCGAGCCCACCTTAGTTGC

MpPriANde1F TTCTTTGTACCCATATGGAGAGCTTTAGCG 56

439 pb

MpPriAXho1R TTGAACTGCCTCGAGTGCTCACCTGGT

3.3 Coleta de material vegetal

Coletas de M. perniciosa foram realizadas nas instalações do Centro de

Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC) em Ilhéus, Bahia. A fase inicial

denominada primórdio e a fase de basidiocarpos já desenvolvidos foram

utilizadas para a extração de RNA, com base no trabalho de Pires et al.,

(2009), que detectou maior acúmulo de transcritos dos genes em estudo nestas

fases.

As amostras foram devidamente armazenadas, transportadas para a

UESC e mantidas a -80 °C em ultrafreezer até o momento da extração do RNA.

3.4 Preparo de cDNA

3.4.1 Extração de RNA de M. perniciosa

A extração de RNA total foi feita utilizando-se o RNeasy Midi Kit da

QIAGEN segundo as recomendações do fabricante. As amostras foram

maceradas em nitrogênio líquido e foram adicionados 5 mL de tampão RLT

(fornecido pelo fabricante, contendo guanidina tiocianato adicionado de β-

Page 48: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

31

mercaptoetanol na proporção de 10 μL para cada 1 mL de tampão RLT) às

alíquotas de 500 mg do macerado. A mistura foi homogeneizada

vigorosamente em vortex por 5 segundos e levada ao banho-maria a 56 ºC por

3 minutos. Em seguida a mistura foi centrifugada a 3.000g por 10 minutos. O

sobrenadante foi transferido para um novo frasco no qual foi adicionado meio

volume de etanol 96%, sendo imediatamente homogeneizado por vigorosa

agitação. A amostra foi então aplicada à coluna RNeasy midi spin, colocada em

um tubo de centrifuga de 15 mL e centrifugada a 5.000 g por 5 minutos. O

líquido foi descartado e foram adicionados à coluna 4 mL do tampão RW1

(fornecido pelo fabricante, contendo sais de guanidina e etanol). A coluna foi

centrifugada a 5.000 g por 5 minutos para lavagem. O líquido filtrado foi

descartado e 2,5 mL do tampão RPE (fornecido pelo fabricante e ao qual foi

adicionado 4 volumes de etanol 96%) foram adicionados à coluna. A coluna foi

centrifugada a 5.000 g por 2 minutos para uma nova lavagem; o líquido foi

descartado e mais 2,5 mL do tampão RPE foram adicionados à coluna que

novamente foi centrifugada a 5.000 g por 5 minutos para secar a membrana da

coluna. Para a eluição, a coluna foi transferida para um novo tubo de centrifuga

de 15 mL. Água livre de RNAse foi adicionada à coluna, que foi centrifugada a

5.000 g por 3 minutos. A eluição do RNA foi então repetida mais uma vez.

3.4.2 Tratamento com DNase I

Os RNAs totais de M. perniciosa foram tratados com DNAse I para

remoção de possíveis contaminantes de DNA genômico nas amostras. O

tratamento ocorreu adicionando 1X Reaction Buffer contendo MgCl2 25 mmol.L-

1 e 1U de desoxirribonuclease I (Fermentas) em 45 μL de RNA total. A reação

foi incubada a 37 ºC por 30 min.

Page 49: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

32

3.4.3 Síntese da primeira fita de cDNA alvo

Os cDNAs foram sintetizados utilizando a transcriptase reversa

RevertAid™ M-MuLV Reverse Transcriptase (Fermentas). As reações de

transcrição reversa foram feitas utilizando-se 10 μL de RNA total (previamente

tratado com DNAse I) como molde, 2,5 mmol.L-1 de cada dNTP, 20 U de

inibidor de RNAse, 0,5 μg de primer oligo (dT) e 200 U de RevertAid™ M-MuLV

Reverse Transcriptase. A reação foi incubada a 42°C por 60 minutos. A

transcriptase reversa foi inativada a 70°C por 10 minutos.

3.5 Clonagem e expressão dos genes MpPri1 e MpPria

3.5.1 Preparo dos insertos para clonagem

Os insertos de MpPri1 e MpPria foram amplificados por PCR a partir do

cDNA confeccionado. Foram utilizados os primers senso e antisenso descritos

na Tabela 5. Cada primer foi diluído da concentração estoque (100 μmol.L-1)

para uma concentração de uso (5 pmol.μL-1). Nesta reação, foi usado o Kit Mix

(Fermentas) e as amostras foram preparadas em um volume final de reação

igual a 50 μL. Em cada microtubo foi adicionado 5 μl do tampão 10X para a

Taq DNA polimerase; MgCl2 para a concentração final de 1,5 mmol.L-1; dNTPs

para 0,2 mmol.L-1; cada primer para 0,2 μmol.L-1, 0,05 U.μL-1 de reação da

enzima Taq DNA polimerase, além de aproximadamente 1 μL do cDNA. Para

os dois genes a reação de amplificação foi realizada utilizando as seguintes

etapas e temperaturas: uma etapa de desnaturação de 3 min à 94 ºC, seguidos

de 35 ciclos à 94 ºC (desnaturação) por 15 s, 62 ºC (anelamento) por 45 s e 72

ºC (extensão) por 1 min e 30 s. Ao término da amplificação, uma alíquota de

5,0 μL de cada reação de amplificação foi analisada em gel de agarose 1,0 %,

e as bandas observadas foram purificadas do gel, de agarose utilizando o DNA

Extraction Kit (Fermentas), de acordo com as recomendações do fabricante.

Todos os fragmentos amplificados e purificados foram clivados com as enzimas

Page 50: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

33

de restrição NdeI e XhoI (Fermentas), de acordo com as recomendações do

fabricante. Os produtos da clivagem (Figura 10) foram novamente purificados

com o DNA Extraction Kit.

Figura 10. Esquema de clonagem dos genes. O múltiplo sítio de clonagem está indicado

com os hifens de preto. O promotor é o da T7 RNA polimerase, situado entre as posições

773 e 1852.

3.5.2 Preparo do vetor de expressão pET-28a e ligação dos insertos

O vetor de expressão utilizado, pET-28a (Figura 11), foi digerido com as

enzimas apropriadas (NdeI e XhoI) por 3 h e desfosforilados com CIAP por 1 h

à 37°C. Em seguida, foi purificado com kit GFX (GeHealthCare), de acordo com

as recomendações do fabricante e eluído em água ultrapura autoclavada. 3 μl

de vetor e inserto preparado foram analisados em gel de agarose. Para ligação

do produto de amplificação no vetor, foram utilizados 3 μL do plasmídeo

previamente digerido com NdeI e XhoI, 10 μL do produto de amplificação

purificado e digerido com as mesmas enzimas de restrição (Relação molar

Page 51: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

34

entre vetor e inserto de aproximadamente 1:5), 1 μL da enzima T4 DNA ligase,

2 μL do tampão T4 DNA ligase 1X e 4 μL de água milli-Q.

Figura 11. Mapa do vetor de expressão pET-28a. O múltiplo sítio de clonagem está

indicado com a seta preenchida de preto. O promotor é o da T7 RNA polimerase, situado

entre as posições 773 e 1852.

Page 52: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

35

3.5.3 Transformação das bactérias Rosetta (DE3) e TOP10 (DE3) com os

produtos das reações de ligação

3.5.3.1 Preparo de células termocompetentes

As células competentes foram preparadas de acordo com Sambrook et

al., (1989). Células de E. coli TOP10 (DE3) e Rosetta (DE3) foram crescidas em

meio LB (Luria-Bertani) até atingirem uma absorbância a 600 m (OD600) de

~0,5. Em seguida, foram incubadas no gelo por 10 min, e concentradas cinco

vezes por centrifugação a 5.000 g à 4°C por 10 min, em MgCl2 100 mmol.L-1.

Após nova incubação no gelo por 10 min, as células foram ressuspendidas em

um volume de CaCl2 100 mmol.L-1, equivalentes a metade do volume original

do meio de cultura, e incubadas no gelo por 20 min. Em seguida, essas células

foram coletadas por centrifugação à 5.000 g à 4°C por 5 min, concentrada 10

vezes pela ressuspensão em CaCl2 100 mmol.L-1 e glicerol 15%, aliquotadas

em volume de 200 μL e armazenadas à -80°C até o uso.

3.5.3.2 Transformação de bactéria

Para a transformação, as células competentes foram retiradas do ultra-

freezer, mas mantidas no gelo até o completo descongelamento, para não

perderem a viabilidade. Após 5 min, 10 μL de cada reação de ligação foi

adicionada a uma alíquota de E. coli TOP10 (DE3) e Rosetta (DE3) e a

suspensão foi mantida no gelo por 30 min. Após um choque térmico de 1 min à

42 oC, foi adicionado 1 mL de meio LB sem antibiótico, seguido por incubação

à 37 oC, por 1 h em banho-maria. As células foram concentradas por

centrifugação (6.000 g por 4 min), ressuspendidas em 200 μL de meio LB,

espalhadas em placas contendo LB sólido e kanamicina (50 μg.mL-1) para

TOP10 (DE3) ou placas contendo kanamicina (50 μg.mL-1) e cloranfenicol (34

μg.mL-1) para Rosetta (DE3). As placas foram incubadas por 16 h à 37 ºC para

seleção de colônias transformadas.

Page 53: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

36

3.5.3.3 Diagnóstico de colônias transformantes por meio de PCR

Um total de 6 colônias crescidas nas placas de transformação foram

repicadas em placas preparadas (placas de réplica) conforme descrito no item

anterior e incubadas a 37 oC até crescimento visível. Reações de PCR foram

preparadas como descrito no item 3.5.1, exceto pela não adição do cDNA.

Células de E. coli das placas de réplica foram introduzidas nas reações de PCR

com o uso de ponteira estéril. As reações foram levadas ao termociclador com

o mesmo programa de amplificação descrito no item 3.5.1. Os produtos dessas

reações e de reações controle (contendo cDNA como molde) foram analisados

em gel de agarose 1%. Colônias consideradas positivas para a clonagem foram

crescidas em meio líquido e conservadas em estoque permanente a -80 oC.

3.5.4 Indução da expressão do gene de interesse em E. coli

3.5.4.1 Expressão heteróloga em E. coli e purificação da proteína MpPRI1

e MpPRIA

Para a indução das proteínas MpPRI1 e MpPRIA, identificadas na

biblioteca de Pires et al., (2009), foi feito, separadamente para cada uma, um

pré inóculo usando uma colônia de E. coli da estirpe Rosetta (DE3)

transformada com o vetor de expressão pET28a, (para MpPRI1: pET28a-

MpPri1 e para MpPRIA: pET28a-MpPria) em meio LB (Luria-Bertani) num tubo

falcon de 15 mL, contendo 3 mL de meio LB líquido com 34 μg.mL-1 de

cloranfenicol e 50 μg.mL-1 de kanamicina por aproximadamente 16 h à 37°C à

180 rpm.

Em seguida, a cultura foi rejuvenescida colocando os 3 mL que haviam

crescido, em 50 mL de meio LB líquido novo contendo 34 μg.mL-1 de

cloranfenicol e 50 μg.mL-1 de kanamicina e, então, crescidas à 180 rpm, sob

constante aeração, à 37°C por 16 h.

Após as 16 h de crescimento, dessa cultura foram retirados 12 mL e

adicionados em 300 mL de meio LB líquido novo contendo os respectivos

Page 54: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

37

antibióticos. Esta cultura foi inoculada à 37°C à 180 rpm até a cultura ter

alcançado a densidade ótica de (OD600 m) 0,4 – 0,6. Em seguida, foi

adicionado 0,4 mmol.L-1 de IPTG (isopropyl-β-Ŋ-thio-galactoside) e a cultura foi

cultivada sob agitação à 180 rpm durante 4 h. Uma cultura controle, sem

adição de IPTG (sem indução), também foi obtida sob as mesmas condições

de incubação.

Após 4 h de indução à 180 rpm, as células foram centrifugadas à 5000 g

por 10 min à 4°C. As células foram ressuspendidas em tampão de

lavagem/equilíbrio (50 mmol.L-1 de tampão fosfato e 300 mmol.L-1 de NaCl, pH

7,4), e posteriormente estocadas à -80°C. Para análise da indução da proteína,

as amostras (controle e induzidas) foram diluídas em tampão de amostra 1X

(Tris-HCl 12 mmol.L-1 pH 6,8, glicerol 5%, SDS 0,4%, 2-mercaptoetanol 2

mmol.L-1 e azul de bromofenol 0,02%) e aquecidas à 90 ºC durante 5 min. As

amostras foram centrifugadas por 2 min à 5000 rpm e aplicadas em gel SDS-

PAGE 15%. A voltagem aplicada para corrida foi de 150 V por 2 h e, ao final, o

gel foi corado com azul de comassie coloidal (NEUHOFF et al., 1988).

Para a purificação da proteína recombinante, os pellets estocados no

ultra-freezer foram ressuspendidos em tampão de lise (50 mmol.L-1 de tampão

fosfato pH 7,4, 300 mmol.L-1 de NaCl, 40 μl de Nonidet-P40 e 50 μl de lisozima

10 mg.mL-1) e mantidos em temperatura ambiente por 1 h. Em seguida, as

células foram sonicadas com 8 pulsos de 30 segundos com amplitude de 75%

em sonicador Ultrasonic (GEX 130, 130W) e centrifugadas à 11.000 g por 20

min. A fração insolúvel (corpos de inclusão) foi ressuspendida com tampão de

equilíbrio contendo uréia 6 mol.L-1 e incubada por 30 min à temperatura

ambiente para solubilização dos corpos de inclusão. A proteína foi purificada

utilizando-se de cromatografia de afinidade em coluna de níquel com resina

específica TALON® Metal Affinity Resins, de acordo com as instruções do

fabricante (Clontech Laboratories). As frações obtidas na purificação foram

analisadas em gel de SDS-PAGE.

Page 55: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

38

3.6 Confirmação da identidade da proteínas recombinantes por

espectrometria de massas (MS/MS)

3.6.1 Preparação das bandas de gel para digestão com tripsina

As bandas no SDS-PAGE dos clones pET-28a-MpPRI1 e pET-28a-

MpPRIA foram excisadas do gel com uso de bisturi, cortados em pedaços

menores e colocados em microtubos, em seguida foram descorados em 200 µL

NH4HCO3 contendo acetonitrila 50 %, sendo o sobrenadante descartado. Em

seguida adicionado 25 µL de NH4HCO3 contendo DTT, agitado rapidamente

em vortex e incubados a 56°C por 1 hora, o sobrenadante foi descartado e

adicionado 25 µL de Iodoacetamida a 55 mmol.L-1, agitado e deixado a

temperatura ambiente por 45 minutos, no escuro. O sobrenadante foi

descartado e novamente lavado 3x com 200 µL de NH4HCO3 contendo

acetonitrila a 50%. O excesso foi retirado e lavado com agua miliQ, o

sobrenadante foi descartado e adicionado 100 µL de acetonitrila a 100% sendo

incubada a temperatura ambiente por 5 minutos e o excesso foi descartado. As

amostras então foram secas a vácuo no Concentrador 5301 (Eppendorf) por 30

minutos.

3.6.2 Digestão “in gel" e purificação dos peptídeos para espectrometria de

massas

As amostras foram incubadas no gelo, e em seguida 8 µL de tampão de

digestão (0,0125 µg.µL-1 de tripsina em tampão bicarbonato de amônio 25

mmol.L-1, pH 7,8, contendo 5 mmol.L-1 de n-octoil-glicopiranosídeo) foram

adicionados e mantidas em repouso por 20 min. Em seguida, foi adicionado

tampão bicarbonato de amônio até a total cobertura do gel. As amostras foram

incubadas por 12 h a 37 °C, após este período, foram centrifugadas

brevemente.

Page 56: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

39

Os peptídeos foram recuperados dos fragmentos de gel por duas

eluições com 50 µL de acetonitrila a 50 % contendo ácido fórmico 0,1 %, sendo

agitados por 15 minutos no vórtex em cada lavagem. Em seguida, as amostras

foram concentradas a vácuo até atingirem o volume entre 10 e 15 µL.

3.6.3 Análise de MS

Os peptídeos foram resolvidos por cromatografia de fase-reversa no

nanoAcquity UPLC (WATERS) em duas colunas C18, sendo a primeira uma

coluna ‘‘trapping’’ de 5 µm, 180 µm x 20 mm e a segunda de 1,7 µm, 100 µm x

100 mm, sob um fluxo de 0,6 µL.min-1 em uma corrida de 50 minutos, onde

foram coletados 4 µL de cada amostra. Os peptídeos foram separados de

acordo com um gradiente de acetonitrila, sendo 1 % até 1 minuto, de 1 % a 50

% em 40 minutos, de 50 % a 85 % em 5 minutos, mantendo-se nessa

concentração por mais 2 minutos, voltando à concentração de 1 % em um

minuto e permanecendo nessa condição por 2 minutos, totalizando 50 minutos

de corrida. Os peptídeos separados foram ionizados em um capilar sob

voltagem de 3000 V (Micromass Q-TOFmicro), fragmentados no modo positivo

com seleção da intensidade relativa mínima de 10 counts, sendo analisados os

3 íons mais intensos por cada varredura de 1 segundo, com energia de colisão

variando entre 20 e 95 eV de acordo com a relação massa/carga (m/z) dos

peptídeos.

3.6.4 Pesquisa nos bancos de dados e identificação das proteínas

Os espectros foram analisados com o programa ProteinLynx Global

Server 4.2 (WATERS) e o programa MASCOT (PERKINS et al., 1999).

Comparando com o banco de dados do NCBI, banco genômico e bancos de

bibliotecas de cDNA do fungo, configurados para digestão tríptica, com 1 sítio

de clivagem perdida, cisteínas modificadas por carboxamidometilação e as

Page 57: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

40

possíveis modificações, como oxidação de metionina, erro tolerante de 30 ppm

e tolerância para erro de massa igual a 0,3 Da.

3.7 Dicroísmo Circular (CD)

As medições de CD foram realizadas em um espectropolarímetro

JASCO J-815, equipado com um controlador de temperatura e um suporte da

célula termostatizado em interfase com um banho termostático. O espectro de

UV-distante foi registrado em cubeta de quartzo de 0,1 mm de caminho ótico

com uma concentração de 5,2 mg.mL-1 para MpPRIA. As proteínas foram

diluídas em tampão PBS 1x (137 mmol NaCl, 2,7 mmol KCl, 1,4 mmol

NaH2PO4, 4,3 mmol K2HPO4).

O espectro final foi obtido da media de cinco varreduras consecutivas.

Os dados foram corrigidos com a contribuição do tampão (Branco). Foram

realizadas varreduras da proteína a 26°C e a 92°C, na faixa de comprimento de

ondas de 190 m a 240 m.

3.8 Ensaio de atividade hemolítica

3.8.1 Preparo de Hemácias: suspensão de eritrócitos

Inicialmente foi adquirida uma bolsa de sangue do banco de sangue de

Ilhéus-Ba. A partir deste sangue foi preparado uma suspensão de 1 a 2% de

hemácias a serem utilizadas no ensaio hemolítico. Para tanto, foi colocado em

tubos, 250 µL de sangue total ou concentrado de hemácias e resuspendido em

5 mL de solução fisiológica (NaCl 0,9%). Imediatamente após foi

homogeneizado e centrifugado a 3.000 rpm por 5 minutos; O sobrenadante foi

descartado. Este procedimento de lavagem foi realizado três vezes. Após a

Page 58: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

41

última lavagem o sobrenadante foi descartado completamente com o auxilio de

uma pipeta para evitar ressuspensão das hemácias e o pellet contendo as

hemácias lavadas foi ressuspendido em um volume de solução salina para a

concentração de 2%.

3.8.2 Teste hemolítico

O teste hemolítico quantitativo foi realizado em microplaca de ELISA. No

primeiro poço da microplaca foi colocado 30 µL da proteína na concentração de

1000 µg.mL-1, em seguida, foi adicionado 120 µL de solução salina

(concentração final de 200 µg.mL-1). As diluições foram feitas transferindo 50

µL em série do 1° poço para poços contendo 100 µL de solução salina. Este

procedimento foi refeito até o décimo segundo, descartando os últimos 50 µL.

Em seguida, foi adicionado 100 µL de suspensão de eritrócitos em cada poço.

Resultando em um volume final de 200 µL em cada poço. Para o valor de

referencia zero, colocou-se 20 µL de solução salina e 180 µL de suspensão de

eritrócitos no poço “Controle Negativo”. Para o valor de referencia 100% de

hemólise, colocou-se 20 µL de solução salina contendo 1% de Triton X-100 e

180 µL de suspensão de eritrócitos; Incubou-se a placa a 37° C durante 2

horas. Em seguida a placa foi centrifugada em uma centrífuga de placas

modelo 5804 (Eppendorf) a 3000 rpm durante 10 minutos, e o sobrenadante

transferido para uma nova placa, desta vez em fundo liso; Imediatamente, foi

feita a leitura de absorbância a 413 m no espectrofotômetro de microplacas

Versamax (Molecular Devices). O experimento foi realizado em triplicata e os

valores foram registrados pelo software Softmax Pro 4.0 (Molecular Devices) e

uma curva foi obtida em função da absorvância de cada poço. Estes valores

então foram plotados em uma planilha do excell e feita a conversão dos valores

de absorvânica para porcentagem com base no valor do controle de 100% de

hemólise.

Page 59: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

42

3.9 Produção de anticorpo

3.9.1 Obtenção de antissoro para a proteína MpPRI1 E MpPRIA

O imunógeno utilizado para imunização de coelhos foi a proteína

recombinante. Foram feitas três imunizações, com aproximadamente 500 μg de

proteína, em intervalos de 7 dias. Para a primeira imunização, a solução de

proteína foi homogeneizada com igual volume de adjuvante “Freund‟s”

completo (GIBCO/BRL) e para as imunizações posteriores, foi utilizado o

adjuvante “Freund‟s” incompleto (GIBCO/BRL). As imunizações foram feitas

por meio de injeções aplicadas nos músculos posteriores das patas traseiras

do animal. O soro normal (controle) foi coletado antes da primeira imunização e

as frações de antisoro foram coletadas a cada 7 dias a partir da primeira

imunização. As coletas foram feitas por pequenas incisões em vasos

sanguíneos marginais da orelha do coelho. O procedimento foi previamente

aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA-UESC), mediante

o protocolo No 25/09 de 14 de dezembro de 2009 (Anexo I).

3.9.2 Análise da reatividade dos soros coletados (Dot blot)

Foi preparado uma diluição seriada das proteínas de 2000 g.μL até

0,128 g.μL. Volumes iguais de cada diluição do extrato foram imobilizados em

membrana de nitrocelulose. As membranas foram bloqueadas com 50 mL de

leite em pó desnatado à 2,5 % em TBS-T 1X (Tris-HCl 10 mmol.L-1 pH 7,6,

NaCl 140 mmolL-1 e Tween 20 0,1% v/v) por 30 min. Logo após, lavadas uma

vez, por 15 min sob agitação, com TBS-T 1X. As Membranas cortadas cada

uma em 4 tiras foram tratadas por 1 h sob agitação com soro pré-imunizado e

soro imunizado, ambos diluídos 1:1000. Após, cada tira das membranas foram

lavadas 3 vezes, por 15 min sob agitação, com TBS-T1X e incubada por 1 h

com anticorpo secundário (Anti-IgG de coelho conjugado com fosfatase

alcalina, Zimed) diluído 1:10000. A atividade da fosfatase alcalina foi detectada

Page 60: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

43

usando-se o sistema de detecção NBT/BCIP (azul de nitrotetrazólio/5-bromo-4-

cloro-indolilfosfato) (GIBCO/BRL). Foram novamente lavadas 3x por 15 minutos

com TBS-T 1x. Em seguida foram incubadas por 15 minutos em 40 mL de

tampão de revelação (5 mmol de MgCl2, 100 mmol de NaCl, 100 mM de Tris-

HCl, pH 9,8). Logo após reveladas com NBT/BCIP, 30/15 L, respectivamente

em 10 mL de tampão de revelação.

Page 61: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

44

4. RESULTADOS

4.1 Sequências selecionadas de Moniliophthora perniciosa

As sequências escolhidas para caracterização, MpPri1 e MpPria

(gi215451800 e gi215465913) e seus contigs (Figuras 12 e 13), foram

publicadas no NCBI por Pires et al., 2009. Estas sequências apresentavam alta

expressão nas fases de primórdio e frutificação do basidiomiceto

Moniliophthora perniciosa, perfil que as integra juntamente com seu domínio

funcional às Aegerolisinas, família de proteínas que apresenta em sua maioria

atividade hemolítica.

4.2 Análise da sequência de MpPri1 e MpPria

As sequências proteicas preditas de MpPri1 e MpPria foram submetidas

ao BlastP buscando similaridade com proteínas de vários bancos de dados. Foi

encontrada um total de 100 sequências com significância estatística,

comprovando a existência de similaridade da sequência de aminoácidos

predita com sequências de proteínas de outros organismos, a Figura 14 ilustra

um grupo destas sequências para cada proteína. Para MpPri1 houve maior

similaridade com Aa-Pri1 de Agrocybe aegerita e maior similaridade para

MpPria com PriA de Pleurotus ostreatus (Figura 15).

Page 62: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

45

Figura 22. Análise da sequência de MpPri1. A – Sequência da aegerolisina de

Moniliophthora perniciosa e seu Contig de 1692 pb. B – Sequência com 417 nucleotídeos

de uma proteína predita de 138 aminoácidos, gerada com o programa Translate Tool.

Page 63: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

46

Figura 13. Análise da sequência de MpPria. A – Sequência da aegerolisina de

Moniliophthora perniciosa e seu Contig de 1804 pb. B – Sequência com 501 nucleotídeos

de uma proteína predita de 166 aminoácidos, gerada com o programa Translate Tool.

Page 64: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

47

Figura 14. Resultados das buscas por Blastp em banco de dados públicos utilizando as

sequências das proteínas MpPRI1 e MpPRIA. Sequências com significância estatística

mostrada após a submissão das proteínas ao programa Blastp (data base nr). A – MpPRI1

obteve maior similaridade com uma sequência de Aegerolysin Aa-Pri1 de Agrocybe

aegerita (e-value 4e-46) e MpPRIA obteve maior similaridade com uma sequência de PriA

de Pleorotus ostrestus (e-value 3e-46).

Page 65: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

48

Figura 15. Alinhamentos de MpPRI1 e MpPRIA usando o ClustalW2. O resultado mostra o

alinhamento das proteínas MpPRI1 e MpPRIA com as sequências de maior e-value

obtidas a partir de Blastp (data base nr) no NCBI. A – MpPRI1 obteve maior similaridade

com uma sequência de Aegerolysin Aa-Pri1 de Agrocybe aegerita (e-value 4e-66

) e

MpPRIA obteve maior similaridade com uma sequência de PriA de Pleorotus ostrestus (e-

value 3e-46

). Legenda: (*) indica regiões idênticas; (:) indica regiões de resíduos com

propriedades fortemente similares; (.) indica regiões de resíduos com propriedades

fracamente similares; (-) gaps.

Uma árvore filogenética foi construida utilizando sequências proteícas

obtidas a partir do blastp para MpPRI1 e MpPRIA (figura 16). Das 100

sequências obtidas, foram selecionadas as 30 primeiras com maior e-value. A

analise mostra que MpPRIA Moniliophthora perniciosa forma um grupo com

PriA Pleurotus ostreatus gi|18033194, erylysin A Pleurotus eryngii

gi|261857450 e ostreolysin Pleurotus ostreatus gi|60461919. Enquanto que

MpPRI1 se aproxima evolutivamente com outras 3 aegerolisinas de

Moniliophthora perniciosa, assim formando um grupo: MpPRI1 Moniliophthora

perniciosa gi|238581050, Moniliophthora perniciosa gi|238589753,

Moniliophthora perniciosa gi|238590651 e Moniliophthora perniciosa

gi|238598584. Este grupo, juntamente com o grupo formado por MpPRIA se

aproximam filogenéticamente de Aegerolysin Aa-Pri1 gi|24636240, a primeira

hemolisina a ser caracterizada e sequenciada.

Page 66: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

49

Figura 16. Análise filogenética de MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora perniciosa. As

duas preoteínas foram processadas juntamente com outras 28 sequências de maior e-

value do resultado do blastp no NCBI. A história evolutiva foi inferida usando o método de

Neighbor-Joining. O consenso do bootstrap foi feito em base a 1000 réplicas utilizando o

software MEGA5.

Page 67: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

50

Realizando alinhamentos das sequências de MpPri1 com 417 pb e

MpPria com 501 pb publicadas no NCBI com os Contig 16731 de 1692 pb e

Contig 8420 de 1804 pb respectivamente, foi detectado a presença de um

íntron de 63 pb na posição 107 no alinhamento de Aa-Pri1, enquanto que a

sequência de MpPria no genoma não possui íntrons. (Figura 17).

Figura 17. Alinhamento das sequências e seus contigs. A- Alinhamento da sequência da

ORF de MpPri1 de 417 pb com o Contig 16731 de 1692 pb, sendo detectado a presença

de um íntron de 63 pb, na posição 107 no alinhamento de MpPri1. B - Alinhamento da

sequência de MpPriA de 501 pb e o contig 8420 de 1804 pb, neste gene não há íntrons.

As proteínas MpPRI1 e MpPRIA foram analisadas com o uso dos

softwares SOSUI e SignalP 4.0 (Figura 18), que demonstrou não haver

peptídeo sinal para nenhuma das duas proteínas. Verifica-se também que as

proteínas como um todo são predominantemente hidrofílicas, contendo

pequenos núcleos hidrofóbicos.

Page 68: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

51

Figura 18. Análise de predição de peptídeo sinal e perfil hidropático. A e C – Análise das

proteínas MpPRI1 e MpPRIA respectivamente, para a presença de peptídeo sinal com o

programa SignalP-4.0. B e D – Perfil hidropático das proteínas MpPRI1 e MpPRIA

respectivamente, com o programa SOSUI. As regiões em que a curva em vermelho está

acima da linha Azul são hidrofóbicas e abaixo são hidrofílicas.

4.2.1 Análises de predições físico-química

A composição aminoacídica das proteínas MpPRI1 e MpPRIA foram

sistematizadas com o software ProtParam. A proteína MpPRI1 contém 17 aa

carregados negativamente (Asp + Glu), 20 aa carregados positivamente (Arg +

His + Lys) (Tabela 6) e um total de 2089 átomos. A fórmula química da proteína

é C664H1024N186O208S7. Apresenta também um índice alifático de 63,48 e

hidropacidade de - 0,610. Já a proteína MpPRIA contém 27 aa carregados

negativamente (Asp + Glu), 19 aa carregados positivamente (Arg + His + Lys)

(Tabela 6) e um total de 2478 átomos. A fórmula química da proteína é

C793H1208N212O258S7. Apresenta também um índice alifático de 72,17 e

hidropacidade de - 0,388. MpPRI1 possui 6 triptofanos e 3 cisteínas, MpPRIA

possui 4 triptofanos e 4 cisteínas.

Page 69: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

52

Tabela 6. Composição aminoacídica das proteínas MpPRI1 e MpPRIA.

MpPRI1 MpPRIA

Aminoácido Quantidade % Aminoácido Quantidade %

Ala (A) 6 4.3

Ala (A) 4 2.4

Arg (R) 2 1.4

Arg (R) 4 2.4

Asn (N) 10 7.2

Asn (N) 10 6.0

Asp (D) 11 8.0

Asp (D) 17 10.2

Cys (C) 3 2.2

Cys (C) 4 2.4

Gln (Q) 4 2.9

Gln (Q) 1 0.6

Glu (E) 6 4.3

Glu (E) 10 6.0

Gly (G) 17 12.3

Gly (G) 23 13.9

His (H) 4 2.9

His (H) 4 2.4

Ile (I) 7 5.1

Ile (I) 14 8.4

Leu (L) 5 3.6

Leu (L) 9 5.4

Lys (K) 14 10.1

Lys (K) 11 6.6

Met (M) 4 2.9

Met (M) 3 1.8

Phe (F) 3 2.2

Phe (F) 9 5.4

Pro (P) 3 2.2

Pro (P) 4 2.4

Pyl (O) 0 0.0

Pyl (O) 0 0.0

Sec (U) 0 0.0

Sec (U) 0 0.0

Ser (S) 10 7.2

Ser (S) 16 9.6

Thr (T) 8 5.8

Thr (T) 7 4.2

Trp (W) 6 4.3

Trp (W) 4 2.4

Tyr (Y) 3 2.2

Tyr (Y) 3 1.8

Val (V) 12 8.7

Val (V) 9 5.4

O ponto isoelétrico teórico, o número de amonoácidos e a massa

molecular das proteínas MpPRI1 e MpPRIA estão descritos na Tabela 7. O

software Theoretical pI/mW foi utilizado para estimar o ponto isoelétrico (pI) e o

peso molecular (PM). A proteína MpPRI1 com 138 aa apresentou pI e MW

estimados de 6,4 e 15,1 kDa, respectivamente. A proteína MpPRIA com 166 aa

apresentou pI e MW estimados de 4,58 e 18,0 kDa, respectivamente.

Page 70: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

53

Tabela 7 Ponto isoelétrico (pI), Peso molecular (PM) estimados e número de aminoácidos

das proteínas MpPRI1 e MpPRIA.

Proteína pI PM N° de Aminoácidos

MpPRI1 6,4 15.164,9 138

MpPRIA 4,58 18.064,0 166

4.2.2 Análises de predição de modificações pós-traducionais (MPT)

As análises referentes a modificações pós-traducionais (MPT) que

podem ocorrer em MpPRI1 e MpPRIA foram realizadas utilizando as

sequências aminoacídicas. Os resultados obtidos permitiram concluir que a

proteína MpPRI1 de Moniliophthora perniciosa contém 5 sítios de fosforilação

sendo três serinas e duas treoninas (Tabela 8). Enquanto que a proteína

MpPRIA de Moniliophthora perniciosa contém 12 sítios de fosforilação sendo

nove serinas, uma treonina e duas tirosinas (Tabela 10). A Figura 19 e Figura

21 mostram a distribuição dos sítios de fosforilação ao longo da cadeia proteica

de MpPRI1 e MpPRIA, respectivamente. A ocorrência de fosforilações podem

alterar a atividade catalítica da proteína madura.

Os prováveis sítios de glicosilação foram identificados com o software

YinOYang. Esse programa também usa os parâmetros do NetPhos 2.0 para

predizer quais resíduos podem sofrer ambas MPT (Tabela 9 e 11). Esses sítios

podem ser reversível e dinamicamente modificados por O-GlcNAc ou grupos

fosfato em momentos diferentes na célula. Para a proteína MpPRI1 na Figura

20, destaca-se em azul os aminoácidos da posição 68 e 69, acima do ponto de

corte para glicosilação e fosforilação. Os aminoácidos nas posições 61 e 65

devem sofrer apenas glicosilação. Já a proteína MpPRIA na Figura 22,

destaca-se em verde o aminoácidos da posição 129 e o aminoácidos da

posição 133, ambos acima do ponto de corte para glicosilação e fosforilação.

Page 71: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

54

Tabela 8. Aminoácidos de MpPRI1 com sitio provável para modificação por fosforilação.

Serina Treonina

Posição Sequêcia Score Posição Sequêcia Score

25 VKNVSLDWG 0.931 80 DLVDTKDGD 0.903

68 RSDASSGTE 0.667 86 DGDKTIRHC 0.894

69 SDASSGTEG 0.997

Figura 19. Predição da posição dos sítios de fosforilação em MpPRI1. Em azul: serina,

verde: treonina e, vermelho: tirosina.

Tabela 9. Predição dos resíduos de aminoácidos da proteína MpPRI1 prováveis de sofrer

glicosilação. * indica os resíduos prováveis de sofrer glicosilação e fosforilação.

Nome

da seq. Resíduo O-GlcNAc

Potencial

(O-GlcNAc)

Tresh.

(1)

Tresh.

(2)

Potencial

NetPhos

(Tresh.= 0,5)

YinOYang

MpPRI1 61 S + 0.4282 0.3887 0.4743

MpPRI1 65 S + 0.4103 0.3642 0.4413

MpPRI1 68 S* + 0.3627 0.3429 0.4126 0.667 *

MpPRI1 69 S* + 0.3540 0.3383 0.4064 0.997 *

Page 72: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

55

Figura 20. Predição da posição dos sítios de glicosilação de MpPRI1. Pontos acima da

linha azul indicam a posição dos resíduos a ser glicosilados. O círculo vermelho representa

a possibilidade de glicosilação e fosforilação.

Tabela 10. Aminoácidos de MpPRIA com sitio provável para modificação por fosforilação.

Serina Treonina Tirosina

Posição Sequência Score Posição Sequência Score Posição Sequência Score

5 MESFSDKDK 0.995 129 SETNTWDVS 0.667 53 SIGDYIFDG 0.693

37 FTVTSGKLH 0.561

73 DEDKYNGTV 0.959

47 EGESSISIG 0.926

49 ESSISIGDY 0.992

66 GDKDSDVDE 0.996

96 GSHPSGSSG 0.878

98 HPSGSSGKF 0.753

99 PSGSSGKFD 0.830

133 TWDVSGSNT 0.897

Page 73: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

56

Figura 21. Predição da posição dos sítios de fosforilação em MpPRIA. Em azul: serina,

verde: treonina, vermelho: tirosina.

Tabela 11. Predição dos resíduos de aminoácidos da proteína MpPRIA prováveis de sofrer

glicosilação. * indica os resíduos prováveis de sofrer glicosilação e fosforilação.

Nome

da seq. Resíduo O-GlcNAc

Potencial

(O-GlcNAc)

Tresh.

(1)

Tresh.

(2)

Potencial

NetPhos

(Tresh.= 0,5)

YinOYang

MpPRIA 129 T* + 0.4704 0.3887 0.4743 0.667 *

MpPRIA 133 S* ++ 0.5080 0.3884 0.4739 0.897 *

Figura 22. Predição da posição dos sítios de glicosilação de MpPRIA. Pontos acima da

linha azul indicam a posição do resíduo a ser glicosilado. O círculo vermelho representa a

possibilidade de glicosilação e fosforilação.

Page 74: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

57

4.3 Expressão das proteínas MpPRI1 e MpPRIA em bactéria

Com a finalidade de produzir as proteínas MpPRI1 e MpPRIA, por meio

de expressão em bactéria, primers específicos foram desenhados, visando a

clonagem de um fragmento no vetor de expressão pET-28a. Inicialmente, com

o programa NEB cutter 2.0, verificou-se quais sítios específicos haviam nas

sequências codificadoras das proteínas MpPRI1 e MpPRIA, e quais as enzimas

que não clivam aa sequências (Figura 23). A partir deste dado, os primers

foram desenhados contendo sítios de clivagem diferentes daqueles

encontrados dentro da sequência de interesse, mas compatíveis com os sítios

de restrição presentes no múltiplo sítio de clonagem do vetor pET-28a. As

características dos primers são descritas na Tabela 5. Assim, os primers senso

(F) e antisenso (R) contêm os sítios NdeI e Xho1, respectivamente, para

ambas as proteínas.

Page 75: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

58

Figura 23. Mapa físico de restrição confeccionado com o programa NEB cutter 2.0. Vários

sítios de restrição foram encontrados. O objetivo foi selecionar sítios que não se

encontram na sequência e se encontram no múltiplo sítio de clonagem do vetor pET-28a.

Verifica-se que as enzimas NdeI e XhoI não clivam os cDNAS.

Page 76: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

59

Os genes MpPri1 e MpPria foram amplificados a partir do cDNA de

Moniliphthora perniciosa, utilizando os primers (Tabela 5). O produto de

amplificação visualizado no gel de agarose 1% apresenta o tamanho esperado

de 501 pb para MpPri1e de 528 pb para MpPria (Figura 24).

Figura 24. Amplificação dos genes MpPri1 e MpPria. 1- Marcador molecular 1Kb

(Invitrogen). (seta: 500 pb); 2: produto de amplificação de MpPri1. 3: Marcador molecular

500pb (Invitrogen); 4: produto de amplificação de MpPria. Gel de agarose a 1% corado

com brometo de etideo.

Os plasmídeos recombinantes obtidos da ligação dos fragmentos de

MpPri1 no vetor pET28a ou do fragmento de MpPriA também no vetor pET28a

foram empregados na transformação de células competentes de E. coli Rosetta

(DE3). Os transformantes para MpPri1 e para MpPriA foram testados por PCR

com os primers específicos, e ambos mostraram a presença do inserto (Figura

25), com 501 e 528 pb, esperados para os respectivos cDNA.

Page 77: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

60

Figura 25. Avaliação da transformação das células Rosetta (DE3). A - MpPri1. 1: marcador

molecular 1Kb (Invitrogen); 2 – 6: amplificação por PCR de colônias aleatórias contendo os

insertos de interesse. B - MpPriA. 1: marcador molecular 1Kb (Invitrogen); 2 – 6:

amplificação por PCR de colônias aleatórias contendo os insertos de interesse.

Page 78: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

61

4.3.1 Expressão da proteína recombinante

MpPri1 e MpPria clonadas em vetor de expressão pET-28a foram

induzidas por IPTG em E.coli Rosetta (DE3). MpPRI1 apresentou expressão na

fração insolúvel com uma banda com bom sinal (Figura 26 – FI P1) e tamanho

esperado de 15 kDa, não havendo qualquer sinal de expressão na fração

solúvel (Figura 26 – FS P1). Enquanto que MpPRIA apresentou expressão na

fração solúvel (Figura 26 – FS PA), e também na fração insolúvel ainda que

nesta última com um sinal mais fraco (Figura 26 – FI PA). Ambas as proteínas

foram induzidas a 37°C por 4 horas com IPTG na concentração de 0,4 mmol.L-

1, apresentado mesmo perfil de expressão.

Figura 26. Análise da expressão das proteínas heterólogas MpPRI1 e MpPRIA. M -

Marcador GE; FI – Fração Insolúvel; FS – Fração Solúvel; C – Controle (plasmídeo sem o

inserto); P1 – MpPRI1; PA - MpPRIA.

Page 79: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

62

4.4 Confirmação da identidade das proteínas recombinantes

As proteínas MpPRI1 e MpPRIA expressas tiveram suas identidades

confirmadas por espectometria de massas após excisão da banda

diferentemente expressa no gel, com tamanho esperado para aegerolisina. Na

MpPRI1 os 8 peptídeos ms/ms (Figura 27 e anexo II) a partir da análise dos

produtos de clivagem tríptica cobriram 65 % da proteína com 100 % de

identidade. Enquanto que na MpPRIA os 10 peptídeos ms/ms (Figura 28 e

anexo III) a partir da análise dos produtos de clivagem tríptica cobriram 78 %

da proteína MpPRIA, com 100 % de identidade. Isso confirmou a clonagem

correta no vetor pET-28a, preservando a janela aberta de leitura dos genes.

Figura 27. MpPRI1 identificada no banco de dados do NCBI (GenBank: EEB90416), utilizando o software MASCOT. Os peptídeos alinhados com as setas numeradas de p1 a p8 correspondem aos produtos da digestão tríptica analisados por ms/ms (ver anexo II). O resultado indica uma cobertura da proteína de 65%.

Figura 28. MpPRIA identificada no banco de dados do NCBI (GenBank: EEB96271.1),

utilizando o software MASCOT. Os peptídeos alinhados com as setas numeradas de p1 a

p10 correspondem aos produtos da digestão tríptica analisados por ms/ms (ver anexo III).

O resultado indica uma cobertura da proteína de 78%.

Page 80: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

63

4.5 Estrutura secundária por Dicroísmo Circular (CD)

Com o objetivo de verificar se as proteínas heterólogas adquirem um

enovelamento e determinar a composição de estrutura secundária

experimentalmente utilizou-se a técnica espectroscópica de Dicroísmo Circular.

As figuras 29 e 30 mostram os espectros de CD no UV-distante e UV-próximo

das proteínas MpPRI1 e MpPRIA respectivamente a 26°C (linha cheia) e a

96°C (linha pontilhada). O espectro de CD das proteínas no UV distante

(esquerdo) apresenta um pico negativo na absorvância de 220 m e um pico

positivo na absorvância de 200 m.

Figura 29. Perfil do CD da proteína MpPRI1 a temperatura de 26°C e 96°C.

Page 81: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

64

Figura 30. Perfil do CD da proteína MpPRIA a temperatura de 26°C e 96°C.

A estabilidade das proteínas foi determinada com o teste Unfolding e

Refolding das proteínas MpPRI1 e MpPRIA respectivamente figura 31 e 32.

Figura 31. Perfil do CD de Unfolding e Refolding de MpPRI1.

Page 82: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

65

Figura 32. Perfil do CD de Unfolding e Refolding de MpPRIA.

4.6 Atividade hemolítica

O teste de hemólise com as proteínas heterólogas purificadas MpPRI1 e

MpPRIA, utilizando sangue humano, foi quantificado por leitor de microplaca. O

resultado fornecido em absorvância foi então convertido em porcentagem de

hemólise em função do controle positivo. Nas figuras 33 e 34 têm-se os

gráficos da porcentagem de hemólise em função da concentração de MpPRI1 e

MpPRIA respectivamente.

Page 83: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

66

Figura 33. Teste hemolítico de MpPRI1. Apresenta HU de 32,5 µg.mL-1

Figura 34 Teste hemolítico de MpPRIA. Apresenta Hu de 39,5 µg.mL-1

Para MpPRI1 na concentração de 100 µg.mL-1 apresenta uma taxa de

hemólise de aproximadamente 60% e para o HU, onde se obtêm a

concentração que causa 50% de hemólise em células, 32,5 µg.mL-1 de

proteína. Já a proteína MpPRIA na concentração de 100 µg.mL-1 apresenta

uma taxa de hemólise de aproximadamente 80% e para o HU, onde se obtêm a

concentração que causa 50% de hemólise em células, 39,5 µg.mL-1 de

proteína. Estes valores de HU a exemplo estão acima dos encontrados em

nigerelisina, uma hemolisina de Aspergilus niger, que apresentou um HU de

0,0037 µg.mL-1 em erotrócitos humanos (DONOHUE et al., 2006), enquanto

y = -3,8939x2 - 1,2313x + 67,569 R² = 0,9414

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

100,0 33,3 11,1 3,7

Concentração de proteína em µg/mL

Po

rcentagem

de h

emó

lise

y = 0,9064x2 - 31,347x + 108,63 R² = 0,9953

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100,0 33,3 11,1 3,7

Po

rcentagem

de h

emó

lise

Concentração de proteína em µg/mL

Page 84: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

67

que em Asp-Hemolisina de Aspergilus fumigatus a atividade citolitica em

leucocitos humanos apresentou HU de 500 µg.mL-1 (EBINA et al., 1994).

4.7 Análise da reatividade dos soros coletados (Dot blot)

As proteínas heteróloga purificadas por cromatografia de afinidade foram

utilizadas para produzir anticorpos em coelho. O dot blot da figura 35 mostra a

reatividade do soro controle (prévio as imunizações) e do soro coletado 7, 14 e

21 dias após imunização (DAI) para ambas as proteínas. A proteína heteróloga

MpPRIA ainda apresenta o resultado de uma segunda coleta para 21 DAI,

ambas as réplicas apresentando o resultados similares. Os soros pré-imune

não apresentaram reação cruzada, mesmo contra a massa de 2 g de proteína

heteróloga. Os soros coletados aos 21 DAI foram os que apresentaram maior

reatividade em 1 min de reação para ambas proteínas. O anti-MpPRI1 e o anti-

MpPRIA detectaram as proteínas até as massas de 80 e de 16 g,

respectivamente.

Figura 35. Reatividade dos anticorpos Anti-MpPRI1 e Anti-MpPRIA. Os números à

esquerda indicam a massa das proteínas heterólogas purificadas de E. coli expressando a

MpPRI1 e MpPRIA. Os números na parte superior indicam os tempos de coleta do soro

em dias após a imunização (DAI). Os soros foram utilizados na diluição 1:1000 e o tempo

de revelação foi de 1 minuto. C- Controle prévio a imunização

Page 85: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

68

5. DISCUSSÃO

As proteínas MpPRI1 e MpPRIA apresentam homologia com outras

aegerolisinas depositadas no NCBI. MpPRI1 apresenta 70 % de identidade

com Aa-PRI1 de Agrocybe aegerita, a primeira aegerolisina a ser estudada

(FERNANDEZ-ESPINAR e LABARE`RE 1997). A MpPRIA apresenta 49% de

identidade com a PriA de Pleoratus ostreatus. Na figura 15 observa-se ainda o

alinhamento de proteínas com domínio funcional das aegerolisnas com alto e-

value. MpPRI1 com Aa-Pri1 de Agrocybe aegerita (e-value 4e-66) e MpPRIA

com PriA de Pleorotus ostrestus (e-value 3e-46), ambas com alta similaridade

com seus respectivos alinhamentos. A analise filogenetica apresentada na

figura 16 demonstra a proximidade evolutiva das aegerelosinas estudadas

neste trabalho com outras aegerolisinas que também apresentam atividade

hemolitica como Aegerolysin Aa-Pri1, PriA Pleurotus ostreatus e erylysin A

Pleurotus eryngii.

As aegerolisinas apresentam importante função no desenvolvimento de

fungos ascomicotas e basidiomicotas, como visto em Berne et al.(2009.

Apresentam significativa expressão na fase de primórdios e na fase de

formação do corpo de frutificação (FERNANDEZ-ESPINAR and LABARÈRE

1997; KAJIWARA et al., 1992; ENDO et al., 1994; CRUZ SANTOS; LABARÈRE

1999; BERNE et al., 2002; SEPIC et al., 2003). Em M. perniciosa ocorre um

aumento do numero de transcritos para os genes MpPri1 e MpPria

(MONDEGO et al., 2008; PIRES et al., 2009), que são caracterizados neste

trabalho. M. perniciosa apresenta 6 sequências com domínio funcional das

aegerolisinas e ao todo em 2012, no PFAM, já foram registrados 101

sequências que codificam proteínas desta família (MONDEGO et al., 2008).

A proteína MpPRI1 com 138 aminoácidos apresentou pI e MW

estimados de 6,4 e 15,1 kDa, respectivamente. A proteína MpPRIA com 166

aminoácidos apresentou pI e MW estimados de 4,58 e 18,0 kDa,

respectivamente. MpPRI1 e MpPRIA são predominantemente hidrofílicas,

contendo pequenos núcleos hidrofóbicos, como visto no software SOSUI. Estes

Page 86: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

69

dados corroboram com o que tem sido observado para Aegerolisinas

caracterizadas para outros organismos (FERNANDEZ-ESPINAR e

LABARE`RE 1997), TOMITA et al., 2004, BERNE et al., 2002, SEPIC et al.,

2003.

As proteínas contém também um número elevado de resíduos

aromáticos com 6 Trp, 3 Tyr, 3 Phe para MpPRI1 e 4 Trp, 3 Tyr, 9 Phe para

MpPRIA, que ainda possuem 3 resíduos de cisteína e 4 resíduos de cisteína

respectivamente. Regiões ricas em triptofano têm sido indicadas em outras

proteínas formadoras de poros de membrana como sendo responsáveis pela

fixação inicial à membrana (BERNE et al., 2009; HONG et al., 2002 e

RAMACHANDRAN et al., 2002). Os resíduos aromáticos e os resíduos de

cisteína foram indicados como envolvidos na ligação com o esterol de toxinas

de bactérias formadoras de poro dependentes de colesterol (PALMER 2004).

Ainda em várias publicações resíduos de cisteína foram considerados

indispensáveis para a atividade hemolítica de proteínas como em Aspergillus

(KAMAGUSHI et al., 1979).

Ainda que a célula procariótica (E. coli) não possua os sistemas de

endomembranas e não realizem todas as modificações pós-transcricionais que

ocorrem nas células eucarióticas, à exceção de algumas fosforilações, foi

possível obter proteínas heterólogas funcionais. Nesse sentido, as Figuras 20 e

22 e as tabelas 8 e 10 mostram a predição de probabilidade de modificação por

fosforilização e glicosilação para MpPRI1 e MpPRIA.

Os resultados da expressão das proteínas heterólogas em sistema E.

coli visto na figura 26. Indicam que as proteínas são expressas tanto na fração

solúvel como na fração insolúvel, onde em MpPRI1 a uma maior acumulo na

fração insolúvel do extrato bacteriano, enquanto que a proteína MpPRIA

apresenta um maior rendimento na fração solúvel.

As Figuras 27 e 28 confirmam as identidades das proteínas heterólogas

MpPRI1 e MpPRIA, respectivamente, por espectrometria de massas. Os

peptídeos obtidos por ms/ms para as proteínas heterólogas apresentaram 100

% de identidade com a sequência de aminoácidos deduzida a partir da

sequência de nucleotídeos do gene. Isto confirma que as bandas

diferencialmente detectadas no extrato bacteriano e purificadas por

Page 87: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

70

cromatografia de identidade correspondem às aegerolisinas MpPRI1 e

MpPRIA, portanto a janela de leitura aberta dos genes foram preservadas

durante as clonagens. Além disso, não ocorreu alterações significativas da

sequência da região codificadora, durante as etapas de amplificação e

clonagem dos genes. O espectro do UV - distante e próximo das proteínas

MpPRI1 e MpPRIA a 26°C indica uma forte presença de estruturas beta, no

qual o perfil de CD desta proteína se enquadra, como visto nas figuras 27 e 28.

Onde a conformação desta aegerolisinas apresenta um pico positivo em 200

m e um negativo em 217 m como visto em outras proteínas ricas em folhas

beta (KELLY et al., 2005 e GREENFIELD et al., 2006). Ainda pode-se

determinar que a proteína MpPRI1 é estável a temperatura de 96°C, e MpPRIA

desnatura, perdendo sua atividade nesta mesma temperatura.

A estabilidade das proteínas e sua capacidade de se readquirir sua

conformação funcional após desnaturação é mostrado nas figuras 28 e 29,

onde MpPRI1 prova-se ser uma proteína estável e MpPRIA uma proteínas que

não recupera sua conformação após sofrer desnaturação.

O teste hemolítico utilizando eritrócitos humanos indicou atividade para

ambas as proteínas heterólogas. Nas figuras 33 e 34 observa-se que a

proteína MpPRI1 na concentração de 100 µg.mL-1 apresenta uma taxa de

hemólise de aproximadamente 60% e para o HU, onde se obtêm a

concentração que causa 50% de hemólise em células, 32,5 µg.mL-1 de

proteína. Já a proteína MpPRIA na concentração de 100 µg.mL-1 apresenta

uma taxa de hemólise de aproximadamente 80% e para o HU, onde se obtêm a

concentração que causa 50% de hemólise em células, 39,5 µg.mL-1 de

proteína. Essa atividade hemolítica é amplamente caracterizada em várias

aegeolisinas como visto em Berne et al., (2009).

O soro pré-imune não apresentou imunoreatividade contra as

aegerolisinas heterólogas de M. perniciosa. O antissoro (soro imune)

apresentou alta reatividade contra as proteínas heterólogas, uma vez que o

immunoblotting (Figura 35) revela reações para as concentrações proteicas

utilizadas onde foi detectado em até 80 g da proteína MpPRI1 e o soro para

MpPRIA detectou até 16 g de proteína no vigésimo primeiro dia após

imunização. Observa-se que houve reatividade para MpPRI1 em 14 DAI e em

Page 88: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

71

21 DAI, enquanto que para MpPRIA observa-se uma reação para 21 DAI.

Nesta proteína foi realizada uma duplicata da coleta de 21 dias, ambas

apresentando resultados similares. Esses resultados indicam uma boa resposta

a imunização dos coelhos e a possibilidade de se realizar ensaio de Western

blot com amostras de Moniliophthora perniciosa, visando a análise do acúmulo

da proteína em diferentes fases do ciclo de vida do fungo. Além disso, esses

anticorpos poderão ser empregados em ensaios histológicos e citológicos,

visando a caracterização funcional destas proteínas no patossistema cacau-M.

perniciosa.

Page 89: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

72

6. CONCLUSÃO

Neste trabalho podemos concluir que:

Os genes MpPri1 e MpPria apresentam o domínio funcional das

aegerolisinas e suas características físico-químicas preditas se enquadram

nesta família de proteínas.

Ambas as proteínas heterólogas MpPRI1 e MpPRIA possuem atividade

hemolítica e a proteína MpPRIA avaliada pelo dicroísmo circular apresenta

perfil compatível com uma estrutura rica em estruturas beta e MpPRI1 é uma

proteína termo estavel.

Os anticorpos policlonais produzidos contra as proteínas MpPRI1 e

MpPRIA heterólogas poderão ser empregados em ensaios imunológicos em

futuras análises das respectivas proteínas, uma vez que detectam nanogramas

das proteínas em dot blot.

Page 90: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

73

7. REFERÊNCIAS

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Page 103: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

86

ANEXO I

Page 104: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

87

ANEXO II

Peptideo 1

Peptideo 2

Page 105: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

88

Peptideo 3

Peptideo 4

Page 106: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

89

Peptideo 5

Peptideo 6

Page 107: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

90

Peptideo 7

Peptideo 8

Page 108: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

91

ANEXO III

Peptideo 1

Peptideo 2

Page 109: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

92

Peptideo 3

Peptideo 4

Page 110: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

93

Peptideo 5

Peptideo 6

Page 111: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

94

Peptideo 7

Peptideo 8

Page 112: Caracterização das proteínas MpPRI1 e MpPRIA de Moniliophthora ...

95

Peptideo 9

Peptideo 10