Capitulo 1 jordan bruno - ufpi

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CAPÍTULO 1: A CRÔNICA NAS CRÔNICAS DE A. TITO FILHO Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade. Rubem Braga Com muito farás pouco 1 Muitas abordagens diferentes marcam o estudo da crônica, mas algumas características são mais presentes e alguns aspectos se repetem em diferentes autores. De certa forma, ela ganha contornos específicos de acordo com o momento estudado, bem como os objetivos estabelecidos. Para Afrânio Coutinho, a crônica surge como desdobramento do ensaio, gênero tradicional entre os britânicos. 2 É gênero específico, estritamente ligado ao jornalismo. A crônica pode tornar-se um poderoso agente de correção dos costumes, ainda que tenha “ares de um passatempo frívolo”. Numa classificação dos cronistas brasileiros bem como das temáticas relacionadas ao estudo da crônica no Brasil, aponta dentre outras a relação entre a crônica e a reportagem: a crônica que não seja meramente noticiosa, é uma reportagem disfarçada, ou antes, uma reportagem subjetiva e às vezes mesmo lírica, na qual o fato é visto por um prisma transfigurador. O fato que é para o repórter em geral um fim, para o cronista é um pretexto: para divagações, comentários, reflexões do pequeno filósofo que nele exista. 1 Referência a uma passagem de artigo de Carlo Ginzburg presente em A micro-história e outros ensaios: “Os pombos abriram os olhos: conspiração popular na Itália do século XVII”. No texto, Ginzburg apresenta um estudo acerca de sujeitos que ele identifica como “mediadores culturais”: figuras que conseguem fazer a passagem de temas da cultura erudita para a cultura popular e vice- versa. A frase “com pouco conseguirás muito” é uma espécie de referência que o autor faz a pouca documentação apresentada no artigo. Penso que trabalhar com crônicas tem a ver com o que ele aponta: o cronista é uma espécie de mediador cultural, já que está entre o leitor e o cotidiano. Não sei se isso ficou claro no texto, mas de qualquer forma eu queria explicar o título da seção. Além disso, como a professora Teresinha Queiroz chamou-me à atenção, no que diz respeito à A. Tito Filho poderíamos mesmo dizer: “com muito farás pouco!”. Ver: GINZBURG, Carlo. Os pombos abriram os olhos: conspiração popular na Itália do século XVII. In: A micro-história e outros ensaios. Tradução de António Narino. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 131-141. 2 COUTINHO, Afrânio. Ensaio e crônica. In: A Literatura no Brasil: volume 6 – parte 3 – Relações e Perspectivas (Conclusão). 7. ed. São Paulo: Global, 2004. p. 117-143.

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CAPÍTULO 1: A CRÔNICA NAS CRÔNICAS DE A. TITO FILHO

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Rubem Braga

Com muito farás pouco1

Muitas abordagens diferentes marcam o estudo da crônica, mas algumas

características são mais presentes e alguns aspectos se repetem em diferentes

autores. De certa forma, ela ganha contornos específicos de acordo com o momento

estudado, bem como os objetivos estabelecidos. Para Afrânio Coutinho, a crônica

surge como desdobramento do ensaio, gênero tradicional entre os britânicos.2 É

gênero específico, estritamente ligado ao jornalismo. A crônica pode tornar-se um

poderoso agente de correção dos costumes, ainda que tenha “ares de um

passatempo frívolo”. Numa classificação dos cronistas brasileiros bem como das

temáticas relacionadas ao estudo da crônica no Brasil, aponta dentre outras a

relação entre a crônica e a reportagem: a crônica que não seja meramente noticiosa,

é uma reportagem disfarçada, ou antes, uma reportagem subjetiva e às vezes

mesmo lírica, na qual o fato é visto por um prisma transfigurador. O fato que é para o

repórter em geral um fim, para o cronista é um pretexto: para divagações,

comentários, reflexões do pequeno filósofo que nele exista.

1 Referência a uma passagem de artigo de Carlo Ginzburg presente em A micro-história e outros ensaios: “Os pombos abriram os olhos: conspiração popular na Itália do século XVII”. No texto, Ginzburg apresenta um estudo acerca de sujeitos que ele identifica como “mediadores culturais”: figuras que conseguem fazer a passagem de temas da cultura erudita para a cultura popular e vice-versa. A frase “com pouco conseguirás muito” é uma espécie de referência que o autor faz a pouca documentação apresentada no artigo. Penso que trabalhar com crônicas tem a ver com o que ele aponta: o cronista é uma espécie de mediador cultural, já que está entre o leitor e o cotidiano. Não sei se isso ficou claro no texto, mas de qualquer forma eu queria explicar o título da seção. Além disso, como a professora Teresinha Queiroz chamou-me à atenção, no que diz respeito à A. Tito Filho poderíamos mesmo dizer: “com muito farás pouco!”. Ver: GINZBURG, Carlo. Os pombos abriram os olhos: conspiração popular na Itália do século XVII. In: A micro-história e outros ensaios. Tradução de António Narino. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. p. 131-141. 2 COUTINHO, Afrânio. Ensaio e crônica. In: A Literatura no Brasil: volume 6 – parte 3 – Relações e Perspectivas (Conclusão). 7. ed. São Paulo: Global, 2004. p. 117-143.

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Veremos mais a frente, na crônica sobre os jogos de azar em Teresina, como

A. Tito Filho se utiliza do texto jornalístico para trabalhar uma série de elementos

referentes à crônica, para fazer do texto uma abordagem pessoal da realidade onde

o leitor é conduzido “como que pela mão” para uma peregrinação noturna aos

espaços da cidade onde a jogatina era praticada. Além disso, o texto possui um forte

caráter dialógico, onde o autor a todo o momento tenta imprimir a marca de uma

conversação que tem como base a observação direta do que é descrito. Quanto ao

caráter apontado por Afrânio Coutinho acerca da “correção dos costumes”, veremos

também a forma como A. Tito Filho cobra medidas enérgicas das autoridades.

Observaremos também como essa característica é bem mais acentuada nas

crônicas publicadas no jornal O Dia,3 sobretudo ao abordar uma série de temas que

vão do carnaval à política nacional.

Para Jorge de Sá, a crônica torna os fatos efêmeros mais concretos. Essa

concretude lhes assegura a permanência, impedindo que caiam no esquecimento, e

lembra aos leitores que a realidade – conforme a conhecemos ou como é recriada

pela arte – é feita de pequenos lances. Essa estratégia estabelece o principio básico

da crônica: registrar o circunstancial.4 Para ele, o cronista é uma espécie de

narrador-repórter, que relata o fato não mais a um só receptor privilegiado, mas a

muitos leitores que formam um público determinado. Assim como Afrânio Coutinho,

reafirma a relação que a crônica mantém com o jornalismo e a literatura: ela seria

uma soma das duas. A crônica surge primeiramente no jornal, herdando a sua

precariedade, esse seu lado efêmero que nasce no começo de uma leitura e morre

antes que se acabe o dia. O jornal, portanto, nasce, envelhece e morre a cada 24

horas. A crônica também assume essa transitoriedade dirigindo-se, sobretudo, a

leitores apressados. Sua elaboração também assume essa urgência: o cronista

dispõe de pouco tempo para produzir seu texto. Não é a toa que a falta de tempo, ou

mesmo de assunto, é tema recorrente nas crônicas de vários autores. Outra

característica marcante da crônica é o coloquialismo do texto, que marca a intenção

do cronista em elaborar um diálogo com o leitor. Esse dialogismo equilibra o

coloquial e o literário, permitindo que o lado espontâneo e sensível permaneça como

o elemento provocador de outras visões do tema e subtemas tratados nas crônicas.

3 As crônicas estudadas aqui e ao longo da pesquisa estão disponíveis na internet no endereço: < www.acervoatitofilho.blogspot.com >. Acesso em: 01 abril 2013. 4 SÁ, Jorge de. A crônica. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 06.

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O cronista busca, assim, o circunstancial. Este é o pequeno acontecimento

cotidiano do dia a dia, que poderia passar despercebido ou relegado a

marginalidade por ser considerado insignificante. Com seu toque de lirismo reflexivo,

o cronista capta esse instante brevíssimo que também faz parte da condição

humana e lhe confere (ou lhe devolve) a dignidade de um núcleo estruturante de

outros núcleos, transformando a simples situação no diálogo sobre a complexidade

das nossas dores e alegrias. A pressa de viver desenvolve no cronista uma

sensibilidade especial, que o predispõe a captar com maior intensidade os sinais da

vida que diariamente deixamos escapar. Sua tarefa, então, consiste em ser nosso

porta-voz, o intérprete aparelhado para nos devolver aquilo que a realidade não-

gratificante sufocou: a consciência de que o lirismo no mundo atual não pode ser a

simples expressão de uma dor de cotovelo, mas acima de tudo um repensar

constante pelas vias da emoção aliada à razão.5 Além disso, o cronista não perde de

vista que a situação particular só conta para o leitor na medida em que funciona

como metáfora de situações universais, o que permite que façamos da leitura uma

forma de catarse e empatia. Recompor a própria história individual é uma forma de o

cronista nos ensinar a compor a nossa história na condição de pessoas ligadas a

tantas e tantas heranças culturais. É importante que o cronista se defina num

determinado tempo e espaço, compondo uma cronologia nunca limitadora, mas

sempre esclarecedora da sua/nossa relação com os seres e com os objetos.

Essas ideias serão importantíssimas para compreendermos, no primeiro

capítulo, de que forma o autor se utilizou da crônica para biografar a vida de autores

e intelectuais piauienses do passado (e alguns do presente). Não as escrevia

apenas com o intuito de prestar homenagens, mas para tornar visíveis figuras o “que

os piauienses desconhecem”,6 ou porque são figuras que “infelizmente, o Piauí

ignora os filhos que o honraram e enalteceram nos domínios da inteligência”.7 A

crônica, dotada daquela concretude que assegura a permanência, ajudava o autor a

assegurar a visibilidade necessária para vencer o circunstancial. Os biografados por

A. Tito Filho, ainda que (para ele) ignorados pelos piauienses, poderiam por meio

das crônicas ganharem a visibilidade que a permanência necessita. Além disso, ao

analisarmos suas biografias, poderemos perceber até que ponto (e como) A. Tito

5 SÁ, Jorge de. A crônica. 3. Ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 11-13. 6 TITO FILHO, A. Caçador. O Dia, Teresina, 10 março 1988, p. 4. 7 TITO FILHO, A. João Alfredo. O Dia, Teresina, 08 abril 1988, p. 4.

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Filho elaborou esses textos para também se inserir entre os intelectuais sobre os

quais escreve. Ao escrever sobre os intelectuais piauienses ele também escreve

sobre sua própria trajetória de intelectual. Portanto, o objetivo será saber como ele

buscou dar sentido a sua própria trajetória de intelectual e também como essa

escrita nos permite conhecer aspectos da vida literária do Piauí.

O cronista, portanto, também é um escritor, também deseja escrever algo que

fique para sempre. A crônica é uma tenda de cigano enquanto consciência da nossa

transitoriedade; no entanto é casa, quando reunida em livro, onde se percebe com

maior nitidez a busca de coerência no traçado da vida. Quando o cronista fala de si

mesmo, é a vida que está sendo focalizada por uma câmera disposta a alcançar um

amplo raio de ação. Ao narrar o mundo, o cronista narra a si mesmo, e assim vence

a passagem do tempo.8

Já para Chalhoub et al, as crônicas são textos surgidos ao acaso, da

espontaneidade de uma conversa – uma de suas características primeiras é a

leveza. Elas surgem da tensão entre a elaboração narrativa e o dever de dialogar de

forma direta com os temas e questões de seu tempo, definindo-se o perfil de um

gênero que teria importância central na produção literária brasileira a partir de

meados do século XIX.9 Dentre as características que marcam o gênero, apontam a

cumplicidade construída entre o autor e o leitor quanto aos temas e questões a

serem discutidos. Ao estabelecer essa espécie de acerto de contas com o presente,

a crônica teria como uma de suas marcas esse caráter de intervenção na realidade,

com a qual interagia. As formas pelas quais os cronistas brasileiros buscaram

realizar tal intento foram variadas. Em comum, no entanto, estava o cuidado

demonstrado na delimitação de um perfil próprio para suas séries, que torna um

tanto mais complexo o tipo de intervenção caracterizado pelas crônicas.

Outra característica é a indeterminação, sobretudo a natureza de sua

indeterminação. O cronista está sempre sujeito ao imponderável do cotidiano, que

lhe fornece temas e problemas com os quais discutir, quanto modifica e redireciona

suas opções iniciais. Os autores também reforçam a estreita ligação da crônica com

a imprensa. Essa ligação vincula a crônica e o cronista ao jornal em que se

publicam, e também permite o aparecimento de colunas especializadas. Por último,

8 SÁ, Jorge de. A crônica. 3. Ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 17-22. 9 CHALOUB, Sidney et al. Apresentação. In: CHALOUB, Sidney; NEVES, Margarida de Sousa; PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. História em cousas miúdas: capítulos de história social da crônica no Brasil. Campinas: UNICAMP, 2005. p. 11.

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apontam que da aparente contradição entre a leveza e a cuidadosa elaboração de

suas séries, da tensão entre a tarefa de comentar a realidade e o intuito de

transformá-la; e da variedade de formas e temas por elas assumidos, define-se

enfim um perfil para a crônica.10

Ainda que façam questão de apontar essas características como mais

frequentes na produção dos autores brasileiros da segunda metade do século XIX e

da primeira metade do século XX, e mesmo que algumas das características sejam

contestáveis – como a (suposta) indeterminação presente nas crônicas –, a

característica referente à elaboração de séries será fundamental para entendermos

como A. Tito Filho construiu em suas crônicas um conjunto delas. As crônicas

referentes aos intelectuais piauienses, por exemplo, constituem a série a ser

trabalhada no segundo capítulo.

Outro conjunto é a série referente à história contemporânea do Brasil e do

Piauí, que é abordada por Tito Filho nas crônicas estudadas no terceiro capítulo:

desde a Independência do Brasil à abolição da escravatura no Piauí; do povoamento

(“desbravamento”) do Piauí ao Estado Novo no Piauí. Nelas, o autor busca

caracterizá-las como textos que historiam,11 portanto marcadas pelo conceito antigo

de crônica, ou seja, textos que procuram zelar pela memória dos acontecimentos

importantes. O cronista almeja, “pondo em crônica”, organizar cronologicamente

histórias existentes ou organizar do ponto de vista da memória (portanto, um ponto

de vista subjetivo) fixando aquilo que um dia aconteceu, que um dia foi presente.

A ambição do cronista é justamente escrever algo que fique num espaço que é

feito para as pessoas lerem e se esquecerem do que foi lido.12 Além das temáticas

citadas anteriormente, outras marcam presença em seus textos, e também podem

ser tomadas como séries: a história do Teatro 4 de Setembro, sobre o qual também

escreveu um livro;13 do Liceu Piauiense (onde foi professor e diretor); o Brasil

Republicano, sobretudo a trajetória constitucional do poder executivo e o momento

10 CHALOUB, Sidney et al. Apresentação. In: CHALOUB, Sidney, Margarida de Sousa; PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. História em cousas miúdas: capítulos de história social da crônica no Brasil. Campinas: UNICAMP, 2005. p. 17. 11 LOPES, Telê Porto Ancona. A crônica de Mário de Andrade: impressões que historiam. In: Candido, Antonio [et al]. A Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. p. 165-188. 12 LOPES, Telê Porto Ancona. A crônica de Mário de Andrade: impressões que historiam. In: Candido, Antonio [et al]. A Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. p. 165-66. 13 TITO FILHO, A. Praça Aquibadã, sem número. Teresina: Governo do Estado do Piauí, 1975.

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mais presente da chegada de Fernando Collor ao poder; e alguns textos que

abordam autores (e historiadores) piauienses, onde fez questão de deixar marcada

uma abordagem da história e do cotidiano de Teresina (e do Piauí) a partir de

leituras de obras literárias que considerava importantes (a literatura piauiense como

lugar de produção historiográfica?), como por exemplo: Benedita,14 Malhadinha,15

Um Manicaca16 e Contos do Sertão do Piauí.17

Um problema importante que surge a partir dessas séries é saber que

motivações o autor teve para a produção destas crônicas sobre a história do Brasil e

do Piauí. Além disso, o porquê de uma atenção tão grande dada à literatura do

Piauí, sobretudo se levarmos em conta que os livros citados acima têm em comum

uma intensa vontade de não apenas narrar uma história, mas ao mesmo tempo

retratar (fielmente) uma realidade. O primeiro problema poderia ser pensado a partir

do estudo de aspectos relativos ao processo de redemocratização do Brasil: seria a

necessidade de atualizar a história do Brasil e do Piauí por conta de uma

demanda?18 Uma preocupação do autor em fazer da história do Piauí parte da

história nacional?19 Quanto à atenção dada à literatura piauiense, poderíamos

relacioná-la ao fato de que nessas crônicas A. Tito Filho buscou construir para si

uma identidade de leitor, que aprendeu sobre a história do Piauí a partir do hábito da

leitura que cultivou desde a infância.20 No terceiro capítulo, veremos como o autor se

utilizou da crônica para fazer uma leitura da história do Brasil e do Piauí, e ao

mesmo tempo lidar com dois problemas: inserir a história do Piauí na História do

Brasil e construir para si uma identidade de leitor.

14 PACHECO, Edson. Benedita: a pureza que emergiu do lodo. Brasília: Gráfica do Senado Federal, 1983. 15 RÊGO, José Expedito. Malhadinha. Teresina: Academia Piauiense de Letras, 1990. 16 NEVES, Abdias da Costa. Um Manicaca. 5. ed. Teresina: CORISCO, 2012. 17 GAMEIRO, Alvina. Contos dos Sertões do Piauí. Teresina: Academia Piauiense de Letras/Projeto Petrônio Portella, 1988. 18 MONTEIRO, Charles. Porto Alegre e suas escritas: história e memórias da cidade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. p. 25. 19 TITO FILHO, A. Independência no Piauí. O Dia, 05 abril 1990, p. 4. Disponível em: < http://migre.me/cwvWn >. Acesso em: 20 dezembro 2012. 20 TITO FILHO, A. Leitura. O Dia, 26 abril 1990, p. 4. Disponível em: < http://migre.me/cww1M >. Acesso em: 20 dezembro 2012.

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Passadas essas abordagens, algumas ideias foram apontadas ao longo do

texto e serão fundamentais para entendermos a forma como A. Tito Filho elaborou

os temas que perpassam os capítulos desta dissertação: a intenção do cronista em

atuar como uma espécie de “agente de correção” do costumes, apontada por Afrânio

Coutinho; a relação entre efemeridade e concretude, a crônica como o registro do

circunstancial; e por último, a construção de séries (temáticas) ao longo da trajetória

do cronista, apontada por Chalhoub et al. De certa forma, elas estão presentes em

todos os capítulos. Mas no quarto capítulo elas aparecem com muito mais

intensidade, onde veremos como o tema mais presente nas crônicas de A. Tito

Filho, a cidade de Teresina, é trabalhado. Ela é tema de uma de suas obras mais

conhecidas21 e espaço central de uma série de temas que marcaram, sobretudo,

seus textos publicados em livros: os carnavais de Teresina, a história do Teatro 4 de

Setembro, episódios relativos à fundação da cidade, bem como personagens que

marcaram a história da cidade ou que o cronista considerava importantes e julgava

esquecidos – muitos dos quais ele conheceu pessoalmente. Assim, o objeto das

crônicas é o cotidiano construído pelo cronista através da seleção que o leva a

registrar alguns aspectos e eventos e abandonar outros.22

As crônicas chamam a atenção por serem correspondentes, em seu estilo, à

própria dinâmica do momento vivido. Através das crônicas procuramos perceber de

que forma um determinado presente é entendido ou vivido.23 Assim, pensamos o

cronista como alguém que está como que vivendo entre o passado e o futuro. A

intenção é justamente mostrar que a forma como ele observa o cotidiano24 da cidade

(e estabelece diálogos com o cotidiano nacional, já que boa parte dos textos

também trata de temas relativos ao Brasil, sobretudo a cultura brasileira) se dá em

termos extemporâneos,25 ou seja: o que vai de encontro ao espírito da época, o que

a ele se contrapõe. O extemporâneo é aquele que adota duas posturas básicas: o

combate e a distância. Põe-se à distância do que ocorre à sua volta, para alterar o

21 TITO FILHO, A. Teresina meu amor. Teresina: COMEPI, 1973. 22 NEVES, Margarida de Sousa. Uma escrita do tempo: memória, ordem e progresso nas crônicas cariocas. In: Candido, Antonio [et al]. A Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992. p. 75-92. 23 BERBERI, Elizabeth. Impressões: a modernidade através das crônicas no início do século em Curitiba. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1998. 115 p. 24 MATOS, Maria Izilda Santos de. Cotidiano e cultura: história, cidade e trabalho. Bauru: EDUSC, 2002. 25 MARTON, Scarlett. Por que sou um extemporâneo. In: Extravagâncias: ensaios sobre a filosofia de Nietzsche. 2. ed. São Paulo: Discurso Editorial/UNIJUÍ, 2001. p. 19-49.

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ponto de vista; afastando-se do desenrolar dos acontecimentos, coloca-se em outro

ângulo de visão. Assim, se condiciona a combater a cultura de seu tempo, para dizer

a (sua) verdade. A todo o momento, veremos como A. Tito Filho procura estabelecer

contrastes e paralelos entre a Teresina do presente e a do passado. Por exemplo,

em uma de suas crônicas podemos ler que

[...] a criança vive entregue a própria sorte. A rua simboliza o lar – pois as nossas crianças moram na rua, ou porque não têm lar ou porque apenas conhecem a casa da moradia – a casa em que os membros da família se encontram para o repouso madrugadino.26

Para ele, que fala sobre o momento presente da cidade, as mulheres são as

culpadas por esta situação de abandono das crianças, já que sua entrada no

mercado de trabalho as retirou do espaço doméstico e o resultado se vê “no

abandono dos filhos pequenos, que se criam sem carinho e sem afeto”. O mesmo

tipo de reflexão aparece em seus textos sobre os carnavais de Teresina, em que o

autor despreza os carnavais da cidade do presente, como na passagem abaixo:

Na terça-feira fui ver a carnavalescação da avenida Frei Serafim. Mau gosto generalizado. Frescura muita. No meu tempo de rapaz, só havia de baitola o animado Bernardo Alfaiate, que sempre saía de baiana cheia de enfeites, de vistosos adornos na cabeça, mas sem peitos. Aplaudidíssimo. Agora o carnaval se faz com veados e bumbuns. Cada maricas de seios e salamaleques que dá gosto. As fêmeas de traseiros à mostra e algumas até de boi de cara preta de ninguém botar defeito. Não vi exibição de beleza feminina, mas simples e veemente pornografia.27

A essa imagem, o autor contrapõe a de um carnaval do passado, um carnaval

das letras,28 sobretudo pela presença marcante de intelectuais, políticos e pessoas

ligadas à cultura, o que podemos observar em Carnavais de Teresina e na série de

textos que foram publicados no jornal O Dia:

O carnaval valia uma festa de graça, de bom humor e de contagiante alegria. Em tempos mais remotos, quando a folia se iniciava, depois que se proibiu a estúpida brincadeira do entrudo, ainda no século passado, o carnaval se fazia nos bailes dos clubes sociais e nas ruas - e nessa época mais antiga a máscara era a principal fantasia no reino de Momo. E a evolução para melhor se processou ano por ano, apareceram os ranchos, os cordões, os blocos, cheios de entusiasmo, que percorriam as ruas e prestigiavam as danças nos salões. Uma beleza, momentos de efusivas manifestações de

26 TITO FILHO, A. As pobres vítimas. O Dia, 19 outubro 1987, p. 4. Disponível em: < http://migre.me/cww3v >. Acesso em: 20 dezembro 2012. 27 TITO FILHO, A. Carnavalescação. O Dia, 07 março 1989, Teresina, p. 4. Disponível em: < http://migre.me/cww5D >. Acesso em: 20 dezembro 2012. 28 LAZZARI, Alexandre. Coisas para o povo não fazer: carnaval em Porto Alegre (1870-1915). Campinas: Editora da Unicamp/CECULT, 2001. – (Coleção Várias Histórias).

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pândega. Que dizer das saudosas batalhas de confete e lança-perfume nas praças animadas de inesquecíveis sambas e marchas executadas pelas bandas militares? O automóvel e o caminhão fizeram o corso gostoso. Percorriam-se ruas previamente escolhidas e veículos, marcha vagarosa, lotados de moças e rapazes, se enfeitavam e de um para outro jogava-se colorida serpentina. Muita cantiga bonita e movimento de corpo. Pelas vias públicas desfilavam homens fantasiados. Muito bom humor em tudo. Raras brigas se verificavam. Nos grandes centros registrava-se as vezes um crime de morte. Governos federais, estudais e municipais nada gastavam nessa ruidosa brincadeira nacional.29

Essa carnavalescação30 do cotidiano, onde mães viram trabalhadoras, homens

viram baitolas (sic), o carnaval vira pornografia e não uma face da vida literária é

justamente o que se pretenderá abordar no quarto capítulo: a visão do cronista é

marcada pela lógica da inversão (onde ele vê as coisas e os valores invertidos), mas

ao mesmo tempo uma visão que não se deixa escapar da ambivalência,31 afinal de

contas o cronista é uma figura que possui muitas máscaras e muito do que ele diz

não necessariamente correspondia ao que ele fazia.32 O presente da cidade, o

presente da escrita do autor, é aquele referente ao contemporâneo: aquele que,

graças a uma diferença, uma defasagem ou um anacronismo, é capaz de captar seu

tempo e enxergá-lo. Por não se identificar com o presente, cria um ângulo (de

visão) do qual é possível expressá-lo. O escritor contemporâneo parece estar

motivado por uma grande urgência em se relacionar com a realidade histórica,

estando consciente, entretanto, da impossibilidade de captá-la na sua especificidade

atual, em seu presente. Essa escrita é marcada, portanto, por uma necessidade de

vingar-se:

Dois argumentos se juntam aqui: uma escrita que tem urgência, que realmente ‘urge’, que significa, segundo o Aurélio, que se faz sem demora, mas também que é eminente, que insiste, obriga e impele, ou seja, uma escrita que se impõe de alguma forma. Ao mesmo tempo, trata-se de uma escrita que age para ‘se vingar’, o que também pode ser entendido, recuperando-se o sentido etimológico da palavra ‘vingar’, como uma escrita que chega a, atinge ou alcança seu alvo com eficiência. O essencial é observar que essa escrita se

29 TITO FILHO, A. Quase no fim. O Dia, 07 março 1989, p. 4. Disponível: < http://migre.me/cww7Y >. Acesso em: 20 dezembro 2012. 30 DISCINI, Norma. Carnavalização. In: BRAIT, Beth (Org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2008. p. 53-93. 31 “A ambivalência é a imagem viva da dialética (da contradição)”. Ver: BENJAMIN, Walter. Paris, capital do século XIX. Tradução de Maria Cecília Londres. In: A Teoria da Literatura em suas fontes, vol. 2. 3. ed. Organização de Luiz Costa Lima. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. P. 689-706. 32 BORGES, Jorge Luis. everything and nothing. In: Antologia Pessoal. Tradução de Josely Viana Baptista. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 136-139.

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guia por uma ambição de eficiência e pelo desejo de chegar a alcançar uma determinada realidade, em vez de propor como uma mera pressa ou alvoroço temporal.33

A urgência é a expressão sensível da dificuldade de lidar com o mais próximo e

atual, ou seja, a sensação, que atravessa alguns escritores, de ser anacrônico em

relação ao presente, passando a aceitar que a “realidade” mais real só poderá ser

refletida na margem e nunca enxergada de frente ou capturada diretamente.

Por último, pretendo ressaltar também que uma das máscaras utilizadas pelo

cronista é a do narrador: é dela que Tito Filho se utilizou para escrever, por exemplo,

sobre os fundadores e personagens da cidade. O narrador é aquele que consegue

fazer de sua escrita um intercâmbio de experiências. A experiência que passa de

pessoa para pessoa é a fonte a que recorrem todos os narradores. O narrador,

portanto, é aquele que retira da experiência o que ele conta: suas próprias

experiências ou as experiências relatadas por outros. 34 É o que podemos perceber,

com mais ênfase, em obras como Gente e Humor, Sermões aos Peixes e

Teresinando em Cordel.

Essa postura do narrador, que também traz em si a marca do historiador, é

perceptível, sobretudo, nos textos sobre personagens como o Conselheiro Saraiva,

o frei Serafim de Catânia e espaços como a Igreja de São Benedito (outrora Igreja

do Alto da Jurubeba) e a Praça Pedro II (outrora Praça Aquibadã). A história de

Teresina estaria marcada, portanto, pela atuação de figuras centrais que dirigiram o

processo desde sua fundação e de espaços que marcaram a história e

desenvolvimento de todas as cidades – como a criação de praças e igrejas de onde

a cidade se irradia.

Até aqui, imagino que já ficou claro que pretendo abordar a crônica e como a

entendo; como pretendo tomar o autor como cronista e como se dava sua atuação

enquanto tal, e por último, como esse gênero permitiu ao autor tratar de uma série

de temas e ao mesmo tempo falar de si. As crônicas permitem ao autor fixar

posições, construir conteúdos e sentidos, fazer aparecer um arranjo cultural, extratos

de vivências, modos de pensar e sensibilidades; além disso, elas operam com

33 SCHØLLHAMMER, Karl Erik. Que significa literatura contemporânea? In: Ficção brasileira contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 9-19. Grifos do autor. 34 BENJAMIN, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. p 197-221.

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estratégias, tentando aproximar-se do imaginário de uma época.35 São ricas de

significados, pois externam fatos e conflitos existentes, tanto no espaço privado

quanto no espaço público. São resultados de vivências e de interlocuções do

cronista com o social, com o seu lugar de discurso, utilizando uma das várias formas

de “dizer”, mas que pela riqueza de detalhes tornam-se um meio essencial e

importante de análise histórica.36 Além disso, também poderia apontar a

possibilidade de pensarmos a obra do autor como um espaço de construção de

identidades, como a de intelectual37 ou mesmo como um espaço de construção de

uma escrita de si, o que significa dizer que as crônicas podem ser tomadas como

uma escrita autoreferencial: a necessidade e a relevância que o cronista têm de

dotar o mundo que o rodeia de significados especiais relacionados com sua própria

vida, para efetuar uma escrita de si.38

Além disso, cabe apontar que todos esses movimentos que o cronista é capaz

de efetuar, todas as características apontadas até aqui, são possíveis a partir da

percepção de que a crônica pode ser tomada como gênero literário de fronteira,

entre a literatura e a história, estabelecendo uma reflexão sobre se o autor ao

escrever a crônica está a fazer uma história de seu tempo.39 Me interessa apontar

aqui, a partir da análise de Sandra Jatahy Pesavento, que as crônicas podem referir-

se há outro tempo, no passado. São elas narrativas memorialísticas, quase sempre

baseadas, na maioria dos casos, na experiência e nas recordações de alguém que

viveu, viu e ouviu outro tempo. Tais crônicas são especialistas em assinalar a

diferença entre o tema/objeto da recordação tal como era no passado e o tempo da

narrativa, o presente onde se realiza o ato de rememorar. Não raro esta diferença no

tempo é qualificada, é julgada, como perda.

35 Essa frase eu não sei se faz sentido aqui, faz? 36 BRANDIM, Ana Cristina Meneses de Sousa. Entre letras e papéis: a crônica como vestígio da cidade de Teresina. In: ADAD, Sarah Jane Holanda Costa; BRANDIM, Ana Cristina Meneses de Sousa; RANGEL, Maria do Socorro (Orgs). Entre Línguas: movimento e mistura de saberes. Fortaleza: UFC, 2008. p. 28-32. 37 BRANDIM, Ana Cristina Meneses de Sousa. Escrita dos movimentos interiores: escrita de si e construção de uma trajetória de intelectualidade e distinção em A. Tito Filho (1971-1992). / Ana Cristina Meneses de Sousa Brandim. Recife: UFPE, 2012. Tese (Doutorado em História do Norte-Nordeste do Brasil). UFPE. 2012. 38 GOMES, Angela de Castro. Lapidação de si, escrita da História: a título de prólogo. In: GOMES, Angela de Castro (Org.). Escrita de Si, Escrita da História. Rio de Janeiro: FGV, 2004. p. 7-24. 39 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Crônica: fronteiras da narrativa histórica. In: História UNISINOS, volume 8, nº 10, julho/dezembro, 2004, p. 61-80 – Disponível em: < http://bit.ly/JLDlkb >. Acesso em: 21 maio 2012.

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De um modo geral, concordo que a crônica é um gênero de fronteira, se

tomarmos fronteira como o espaço entre tempos: essa intensa circulação de

temporalidades que o cronista consegue fazer funcionar no espaço do texto.

Interessa-me apontar com mais intensidade a forma como o cronista consegue fazer

funcionar no espaço do texto uma circulação de temas – aí, já é o momento de

tomarmos fronteira como o espaço entre perspectivas. Para Pesavento, a crônica é

a fronteira pela qual o cronista passa do presente para o passado, de volta para o

presente, ou mesmo para o futuro. No caso deste trabalho, pretendo apontar como a

crônica é a fronteira que o cronista utiliza para fazer passar a si mesmo enquanto

escreve sobre seus temas, ou fazer passar seus temas enquanto escreve sobre si

mesmo. Fiquemos de acordo que ela é um gênero de fronteira, mas a forma como

ele (o cronista) atravessa e com que intenções podem variar. Para Pesavento, as

crônicas intensificam a temporalidade, para mim elas intensificam uma perspectiva.

Pretendo, enfim, elaborar uma abordagem da produção escrita de A. Tito Filho,

sobretudo suas crônicas (sem, é claro deixar de lado alguns de seus livros), partindo

das vidas literárias abordadas no segundo capítulo; depois, no terceiro capítulo,

analisar as temáticas de história do Brasil e do Piauí, bem como da literatura

piauiense presentes em suas crônicas; e por último, sua perspectiva acerca da

história de Teresina, que parte de temáticas relativas à história da cidade, sobretudo

ao narrar sua fundação e retratar personagens que considera centrais e que vão

desde intelectuais, como o Conselheiro Saraiva, até figuras do cotidiano, como

Maria Preá, chegando a uma série de temáticas que marcaram presença em seus

textos: como os carnavais de Teresina, as mulheres, os cabarés, a política, enfim,

seu cotidiano.

Teresina, cidade da perdição

Para termos uma noção mais claro do que foi apontado acima, vejamos como

texto o cronista, no texto Cidade sem Lei,40 publicado no jornal Resistência,41 lidava

com os problemas da cidade de Teresina. Nele, A. Tito Filho compara a cidade a um

40 TITO FILHO, José de Arimathéa. Cidade sem lei. Resistência, Teresina, 05 novembro 1949, p. 5-6. 41 Resistência foi um jornal de caráter político (pode-se mesmo considerá-lo um órgão político) dirigido por Francisco Luís Almeida, destinado a combater o governo de José da Rocha Furtado, que era da União Democrática Nacional (UDN). Ver: PINHEIRO FILHO, Celso. História da Imprensa no Piauí. 2. ed. Teresina: COMEPI, 1988. p. 96.

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filme também chamado Cidade sem lei,42 em exibição no Cine Rex. Segundo o

autor, qualquer um que tivesse visto o filme observaria o que estava se passando

em Teresina, e, no que dizia respeito à insegurança e à ordem pública dos cidadãos,

era ela também “uma cidade sem lei.” No perímetro urbano e suburbano, davam-se

freqüentes roubos e furtos; a jogatina campeava em todos os recantos da cidade,

“enfestada” por legiões de mendigos (alguns verdadeiros e outros falsos) que

invadiam lares, cafés e restaurantes. Era possível ver até loucos falando sozinhos e

“soltando pinotes”, perambulando pela praça Rio Branco.

No texto, A. Tito Filho também traça um painel noturno: das oito da noite em

diante a praça Rio Branco se transforma “em cabaré ao ar livre”, já que na mesma

se aglomeravam dezenas de meretrizes. E finaliza apontando a indiferença (para ele

criminosa) das autoridades, sobretudo o governador Rocha Furtado,43 diante de tais

fatos humilhantes e vergonhosos. A. Tito Filho se utiliza do espaço para produzir um

texto que expõe suas impressões (sua indignação) diante do que observa no

cotidiano da cidade. Mas é importante perceber também que o espaço do jornal era

utilizado para atingir o governador: o jornal Resistência, como o próprio nome já

indica, era um espaço de contestação ao governo do interventor federal.44

Pensando a crônica a partir do contexto do autor, percebe-se que sua escrita é

marcada pelas disputas políticas do momento: a imprensa escrita piauiense foi uma

das ferramentas mais utilizadas pelo poder político e partidário em suas propostas e

campanhas. Geralmente os jornais pertenciam a políticos ou grupos políticos aliados

42 A. Tito Filho provavelmente está se referindo ao filme San Antonio, lançado em 1945 e dirigido por David Butler, que contava a história de Jeanne Starr (Alexis Smith), uma dançarina de salão que trabalhava para o chefe do crime local e que acaba se apaixonando pelo “mocinho” Clay Harden (Errol Flynn). 43 José da Rocha Furtado (União, 24-02-1909) governou o Estado do Piauí no período de 1947 a 1951 e faleceu em Fortaleza (CE) no dia 27 de fevereiro de 2005, aos 96 anos de idade, por conta de problemas cardíacos. Primeiro governador eleito após o fim do Estado Novo, formou-se em medicina na Universidade do Rio de Janeiro (escola da Praia Vermelha) em 1932. Voltou a Teresina em 1933 e tornou-se diretor dos serviços de cirurgia e pronto-socorro do Hospital Getúlio Vargas, logo após a inauguração do hospital em 1941. Após o fim do governo Vargas em 1945, surgiram vários partidos políticos, mas os dois mais fortes eram o Partido Social Democrático (PSD) que aglutinou simpatizantes das interventorias – e a União Democrática Nacional (UDN) que reuniu setores contrários ao governo federal e estadual. Rocha Furtado elegeu-se governador pela UDN, mas seu governo ficou marcado por graves divergências do Poder Executivo com o Legislativo e o Judiciário, chegando inclusive a sofrer uma tentativa de impeachment pela maioria da Assembléia Legislativa. Ver: bibliografia do livro CEPRO; TITO FILHO, A. Governadores do Piauí: Capitania – Província – Estado. 3. ed. Rio de Janeiro: Artenova, 1978. p. 55. 44 Para uma leitura ainda mais ríspida da forma como o autor lidava com a situação política de Teresina sob o governo de Rocha Furtado ver: TITO FILHO, A. A sifilização rochista. Resistência, Teresina, 14 novembro 1948, p. 1.

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ao poder (ou contra ele) para atingir fins político-eleitorais.45 É também o próprio

autor, em crônica que relembra sua trajetória profissional, que nos possibilita

compreender o contexto:

Já no Piauí, eleito Rocha Furtado, estive alguns meses na orientação do órgão O Piauí, que circulava nos dias de quinta e domingo, e me foi confiado por Eurípedes de Aguiar. Posteriormente, fiz parte da redação de outras folhas, sempre partidárias, sob a responsabilidade de governistas ou oposicionistas.46

Na crônica A vaca e o Hotel,47 publicada no jornal O Dia na década de 1960, A.

Tito Filho aborda novamente os problemas da cidade, mas dessa vez já

conseguimos identificar alguns elementos que vão além da crítica política:

São 6 horas da tarde de 13 de abril: não há luz. Já comprei, para hoje, 2 pacotões de velas por Cr$ 80,00. O IAEE pagará essa despesa? O IAEE já pagou Cr$ 600.000,00 de lenha que deve ao amigo Edison Parente? Até quando o IAEE martirizará um povo, o povo teresinense? Minha cozinheira afirma que lenha é coisa de civilização primária. Até quando o IAEE entende que o Piauí deva viver nesse primitivismo de civilizações? Quantas industrias, nesta terra, necessitam de energia? Quantos processos de vida estão sendo sufocados pelo IAEE? Atesta a LBA, em oficio, que o deve mandar desobstruir fossas dos meninos das Ilhotas. Para isto que serve o IAEE? As turbinas vivem de lenha, primariamente. Energia que vem das turbinas. Quanto deve o IAEE aos fornecedores de lenha para movimentar as turbinas? Verdade é que o IAEE só tem sido útil aos ladrões noturnos e ao comercio de velas. A mais ninguém. Graças a Deus de cá dos meus domínios ladrão leva o que se leva da vida: nada. Mas tenho padecido muito, sem defunto em casa, com compra diária de pacotões. Cr$ 40,00 cada um. Pior que eu só o correto Edison Parente: compra pacotão e não recebe o dinheiro da lenha que vendeu ao IAEE.

Aqui são perceptíveis elementos que diferenciam este texto do anterior, já que,

como vimos, o contexto da escrita do autor era marcado pelas disputas políticas

daquele momento. Apontar a lenha como algo pertencente às civilizações primárias

nos dão pistas, indícios, de que há uma elaboração discursiva que tenta organizar a

cidade, apontar seus defeitos, os culpados e, conseqüentemente, as soluções.48

45 Ver: LIMA, Nilsângela Cardoso. Relações de poder e práticas jornalísticas na campanha político-partidária nas emissoras de rádio de Teresina (1948-1962). In: LIMA, Frederico Osanan Amorim; ARAÚJO, Johny Santana de (Orgs.). História: entre fontes, metodologias e pesquisa. Teresina: EDUFPI, 2011. p. 41-54. 46 TITO FILHO, A. Um pouco de jornalismo. O Dia, Teresina, 22 dezembro 1990, p. 4, grifos do autor. 47 TITO FILHO, A. A Vaca e o Hotel. O Dia, Teresina, 17 abril 1960, p. 1-2, grifos do autor. 48 Ver: GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história. 2. ed. Tradução de Federico Carotti – São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 145-179.

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Assim, a falta de luz só pode mesmo ser algo absurdo, coisa de país (ou cidade)

atrasada. Ela atrasa os “processos de vida” e as necessidades das indústrias.

Portanto, o Instituto de Águas e Energia Elétrica (IAEE)49 atrasava o progresso da

cidade. Seria possível para A. Tito Filho, se contentar apenas em querer organizar a

cidade? Pesquisando os textos do autor, sobretudo aqueles publicados no jornal O

Dia, percebemos que organizar a cidade é apenas uma etapa do processo. É

preciso dar conta das pessoas também, ou melhor, da sociedade.

Em outra crônica, da década de 1940, percebe-se como o autor lidou com a

questão dos jogos de azar em Teresina, sobretudo o jogo do bicho. Ora, se é do

interesse do autor organizar a cidade, civilizá-la, deparar-se com algo tão

complicado como o jogo – considerado naquele momento como crime – era

insuportável. Na crônica (na verdade uma crônica-reportagem) Jogo muito Jogo,50 A.

Tito Filho fala sobre o problema do jogo em Teresina:

Despe, leitor amigo, a roupagem vistosa com que te apresentas ante as frivolidades da sociedade e vem comigo, lado a lado, para uma peregrinação noturna nos antros da jogatina. São oito horas da noite, é cêdo, a cidade toda mergulhou na sonolencia, depois do trabalho exaustivo de seus habitantes. Arrulham ainda poucos casais nos bancos de praça, mocinhas acabam de cansar as batatas da perna volteando na pista da Pedro II. Daqui a pouco tudo dorme. Apenas funciona o jogo, a terrível chaga social – sorvedouro da honra de muitos, desgraça de tantos lares, causa de inumeras tragedias. Funciona o jogo, leitor amigo, no centro da antiga Chapada do Corisco – nos clubes, nos bares, em casas particulares, em toda a parte. Desaparecem, no torvelinho medonho da jogatina, o pão, a roupa, o livro, a educação de muitas crianças teresinenses. Esposas aflitas rezam no recesso de residencias humildes, chupando muitas vezes a carie de um dente, ou, em cima de três pedras, preparam um ralo mingau de farinha com que entupir o bucho das crianças famintas, enquanto o marido, no covil da jogatina, descarta-se do dinheiro, do relogio e da aliança de casamento para alimentar o terrível vicio – fumando e bebendo, dores nas costas, debruçado na mesa fatídica, ou avido, nervoso, espiando a roda de roleta, atento ao ruído da palheta, ou, ainda, ouvido apurado, marcando numeros, á espera de que lhe dêem, no víspora, a pedra boa ...

JOGO, MUITO JOGO

- Cinqüenta e cinco ... numero oito ... noventa ... É a voz arrastada do chamador, anunciando as pedras do víspora, uma a uma, os viciados, palidos e pigarrentos, marcam os cartões,

49 O IAEE foi o órgão antecessor da Águas e Esgotos do Piauí S.A. (AGESPISA) criada através das leis estaduais n.º 2.281, de 27 de julho de 1962 e 2.387, de 12 de dezembro de 1962 e das Centrais Elétricas do Piauí S.A. (CEPISA) que foi criada em 08 de agosto de 1962. 50 TITO FILHO, A. Jogo muito Jogo. O Piauhy, Teresina, 11 abril 1948, s/p.

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entre baforada de um cigarro quando estes desgraça os restos de pulmões e o trago de aguardente que lhes corroe as tripas ... Reino da batota e do deboche – a comunidade de caras mal dormidas se expande, depois do ultimo rateio, no linguajar de calão, parabenizando os felizardos da noite e consolando, com uma palmada nas costas, so companheiros de desgraça e desventura. Um pouco mais adiante, leitor amigo, o croupier anuncia, com gosto infinito, o ultimo lance da roleta miserável: - Deu 15, jacaré ... Cercado com dois mil reis. O desgraçado, mãos nos bolsos, coçando os ultimos tostões do ordenado ou as ultimas economia do pé de meia, lembra-se do sonho de tres dias atras, soma, multiplica, subtrai, divide por dez – e verifica, após maldizer a sorte ingrata, que o bicho era mesmo o jacaré.

Além das questões relativas à cidade e seus problemas, é possível perceber

nesta crônica boa parte das características do gênero apontadas pelos autores

citados na primeira parte deste capítulo: a leveza do texto, elaborado num formato

espontâneo, como uma conversa; a cumplicidade entre autor e leitor, sobretudo

quando A. Tito Filho assume a responsabilidade de levar o leitor (como que pela

mão) pelos caminhos tortuosos e perigosos da cidade e que poucos (provavelmente)

conhecem; a intervenção na realidade, sobretudo na riqueza dos detalhes e das

descrições; os apelos feitos aos devidos responsáveis para que medidas fossem

tomadas, além do conteúdo da crônica em si: o problema dos jogos de azar. Na

crônica Teresina, cidade da perdição,51 pouco mais de um ano depois, o autor,

agora sob o pseudônimo de PERTINAX e escrevendo para outro jornal da cidade,

volta a abordar o tema, no que ele diz ser a primeira de uma série de reportagens

sobre o assunto.

É o único texto identificado na pesquisa em que A. Tito Filho aborda o tema.

Poderíamos, portanto, afirmar que a crônica foi marcada pela indeterminação.

Apesar do que o autor informou, perece ter sido a única reportagem sobre o

assunto. Pesquisando nos jornais dos dias e meses seguintes, outras reportagens

não apareceram. Por quê? Dificílimo apontar algum motivo. Pressões por parte de

autoridades e de políticos para que novas reportagens não fossem realizadas, já que

elas não só apontavam os problemas do cotidiano da cidade, mas também

apontavam a incompetência e negligência destes, ou mesmo simplesmente

apareceram temas que o autor considerou mais importante abordar, podem ser

tomadas como hipóteses. De qualquer forma, fica claro no texto a preocupação do

51 PERTINAX. Teresina, cidade da perdição. A Resistência, Teresina, 7 ago 1949, p. 5-6.

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autor com o jogo. Ele aponta que o jogo de azar campeia livremente nas ruas da

capital teresinense, que o considera uma afronta a Nação inteira (!) e às leis que

governam a sociedade, como que desafiando as autoridades, fazendo com que se

duvide até que por trás dos bastidores políticos existam pressões interessadas e

coniventes com a situação (tida como criminosa).

Para A. Tito Filho, o jogo se enfileirava dentre as piores coisas que poderiam

acorrer na cidade, seguido da prostituição (desenfreada), do alcoolismo (sem

repressão), da mentalidade sem auxilio prático e resoluto do Governo e da infância

delinqüente e abandonada. O jogo se sobrepõe a qualquer outro problema porque

derruba instituições, degrada a mente e abre caminho para o crime. O jogo era

considerado o início do fim: quando, numa nação ou Estado, as pessoas procuram

no vício do jogo um motivo para sua degradação moral, o que existe de mais puro

nelas estará perdido.

Interessante também observar como o autor descreve o próprio trabalho de

reportagem:

O nosso objetivo era atingir o covil do jogo. Vê-lo de perto. Sentir as sensações que ele nos oferece para podermos pintar o quadro real para os nossos leitores. Dez ou mais cambistas ali estavam localizados. De momento a momento, as poules eram arrancadas dos talões e os centavos e os cruzeiros dos incautos caiam em seus bolsos como o maná do Céu no Sermão da Montanha. Mas, não era ali o Quartel General do jogo do bicho. Não seriam, também, o ‘Bar do Carvalho’ e o ‘Restaurante Cairú’, os pontos de reuniões dos transgressores da lei!52

A espeficifidade de um tema como o jogo, para um leitor de hoje, apresenta a

necessidade de uma cuidadosa tarefa de interpretação para compreendermos os

termos do cronista. Só assim será possível relacionar com sucesso esses textos à

realidade que é ao mesmo tempo a matéria-prima e o horizonte de intervenção do

cronista. Longe de refletir ou espelhar um momento da história de Teresina, o que A.

Tito Filho tenta fazer é conhecê-la da forma mais aprofundada possível, indo aonde

seja necessário para transformá-la. Para isso, se utiliza de um tom leve, que atrai o

leitor, combinado com o alcance possibilitado pelo trabalho na imprensa. Assim, ele

também consegue traçar um perfil para suas séries, tornando a crônica uma forma

de trabalho ainda mais complexa de se lidar enquanto fonte.

52 TITO FILHO, A. Jogo muito Jogo. O Piauhy, Teresina, 11 abril 1948, s/p.

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Portanto, para atingir os objetivos propostos nesta dissertação, será preciso

traçar um perfil das crônicas, que nos ajudará a perceber de que forma A. Tito Filho

se utilizou dessa ferramenta53 para tratar de uma série de temáticas (relacionadas à

história do Piauí e de Teresina) bem como de conteúdos que surgiam a partir de sua

relação com o presente mais imediato. Ainda que a identidade do autor enquanto

cronista só tenha se fixado décadas após os textos citados acima, quando da

publicação de obras como Sermões aos Peixes e Teresina Meu Amor, o que procuro

deixar marcado aqui é que de certa forma a crônica já estava presente na obra

(jornalística) do autor mesmo quando seu campo de atuação ainda era aquele

relacionado ao jornalismo, sobretudo um jornalismo de forte caráter político, seu

principal espaço de atuação durante as décadas de 1950 e 1960.54

Quando mantinha uma coluna diária no Jornal do Piauí, ainda na década de

1970, o autor já se debatia acerca das dificuldades relacionadas ao gênero:

A crônica é gênero dificílimo. Tomar os pequenos como os grandes episódios do dia-a-dia da vida, penetrar-lhe a sutileza, o poético, o trágico, interpretá-los com sensibilidade, alcançar de cada um a essência para projetá-la na inteligência do leitor – tudo isto é tarefa de muita nobreza intelectual. A crônica deve ser precisa e natural. De redação artística. De índole diversa, mas sempre de interêsse geral. A razão de ser do cronista está no esforço de FAZER VIVER, de TORNAR VIVOS os pormenores, as cousas, os seres, os pedaços de natureza.55

Assim, percebo que ao longo da carreira do autor a crônica teve presença

constante, ainda que na forma de reportagens e o cronista aparecesse na forma de

jornalista. Nas crônicas citadas acima, penso que começa a aparecer (melhor seria

53 O que implica não percebê-las como meio. Ver: RORTY, Richard. A contingência da linguagem. In: Contingência, ironia e solidariedade. Tradução de Vera Ribeiro. São Paulo: Martins Fontes, 2007 – (Coleção Dialética). p. 25-55. 54 A. Tito Filho atuou em diversos órgãos de imprensa do Piauí (chegou inclusive a criar alguns) a partir de 1948, quando retornou à Teresina vindo do Rio de Janeiro, local onde realizou sua formação em direito e jornalismo. Ainda no Rio de Janeiro, fundou o jornal Libertação, em parceria com Luís Costa, Virmar Soares, Vinícius Soares e Tibério Nunes. Redigido e impresso no Rio de Janeiro, onde os fundadores eram estudantes, o jornal era transportado de avião para Teresina e teve apenas três números. A. Tito Filho também atuou (ou dirigiu) outras publicações (algumas eram revistas) como O Pirralho (1948), Jornal do Piauí (1951), A Luta (1952), Crítica (1952), Panóplia (1953), Folha da Manhã (1958), Cidade de Teresina (1959), Folha do Nordeste (1962), Voz do Piauí (1964) e Jornal de Bolso (1966). Seus espaços de atuação na imprensa que podemos considerar como os mais “fixos” foram: jornal O Dia, onde trabalhou em boa parte da década 1960, depois retornando no período abordado por esta pesquisa, de 1987 à 1992, ano de seu falecimento; no Jornal do Piauí, onde era publicada sua coluna Caderno de Anotações, de 1970 à 1982; passagens pelo jornais O Estado e Jornal do Comércio ao longo da década de 1980. Além disso, publicou dezenas de texto e discursos em revistas como Presença, Almanaque da Parnaíba e Revista da Academia Piauiense de Letras. Ver mais em: PINHEIRO FILHO, Celso. História da Imprensa no Piauí. Teresina: COMEPI, 1972. p. 79-99. 55 TITO FILHO, A. Caderno de Anotações. Jornal do Piauí, Teresina, 03 dezembro 1971, p. 6.

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dizer, forjar-se) a identidade que marcaria a obra (e mesmo a vida) de A. Tito Filho: a

do cronista da cidade amada.56

56 Ver: MOURA, Francisco Miguel de. Tito Filho – namorador-mor de Teresina. In: TITO FILHO, A. Cronista da cidade amada. Seleção de textos de Cineas Santos e M. Paulo Nunes. Teresina: Prefeitura Municipal de Teresina, 1992.