CAPÍTULO 04: Propriedades da Madeira para Projetos...
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Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 65
CAPÍTULO 04: Propriedades da Madeira para
Projetos Estruturais
As características da madeira, convenientemente divididas em físicas e
mecânicas, são fortemente influenciadas por numerosos fatores, podendo ser
citados entre eles as diferentes condições de temperatura, composição e umidade
do solo no local de crescimento da árvore, densidade do povoamento e tipo de
manejo a ele aplicado, posição da árvore no talhão, incidência de chuvas. Tais
fatores provocam variações significativas na madeira formada, mesmo tratando-se
de árvores da mesma espécie. São diferenças na espessura das camadas de
crescimento e de material crescido nas diversas estações do ano, por exemplo.
Outros aspectos seriam a geometria dos anéis de crescimento, a idade das
diferentes camadas, o nível de lenhificação das paredes dos elementos anatômicos,
a posição da amostra em relação à altura da árvore ou ao seu diâmetro, a maior ou
menor incidência de nós e de fibras reversas, conforme registram autores como
KARLSEN [5], KOLLMANN [7], BODIG e JAYNE [2], MATEUS [9]. Além disto, a
umidade, o número e as dimensões dos corpos-de-prova ensaiados também
introduzem variabilidade nas propriedades da madeira, sejam físicas ou mecânicas.
Em suma, para uma dada espécie, os valores numéricos das propriedades da
madeira variam com a região de origem da árvore; dentro da região, com as
peculiaridades do povoamento; dentro do povoamento, com a árvore; dentro desta,
com as singularidades da amostra ensaiada.
Nos itens a seguir são feitos comentários a respeito das propriedades físicas
mais relevantes para a elaboração de projetos, ou seja, da umidade, da densidade
(massa específica) e da estabilidade dimensional da madeira. Outras
características, tais como as propriedades térmicas, elétricas e acústicas, também
são registradas, porém, não são objeto de discussão nestas Notas de Aula.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 66
4.1 Propriedades físicas
4.1.1 Umidade
A presença da água na madeira pode ser mais facilmente entendida partindo-
se de alguns aspectos relacionados à fisiologia da árvore. Esta, por intermédio de
seu sistema radicular, absorve água e sais minerais do solo, compondo a solução
denominada seiva bruta que, através do alburno, em movimento vertical
ascendente, se desloca até as folhas. Das folhas até as raízes circula a seiva
elaborada, constituída de água e das substâncias elaboradas a partir da
fotossíntese. Daí decorre que a madeira das árvores vivas ou recém abatidas
apresenta elevada porcentagem de umidade. Nas citadas condições, as moléculas
de água estão presentes nos lúmens das células que formam os elementos
anatômicos, bem como no interior das respectivas paredes.
Exposta ao meio ambiente, a madeira de uma árvore abatida perde umidade,
inicialmente pela evaporação das moléculas de água do interior dos elementos
anatômicos, denominada água livre ou de água de capilaridade. Concluída esta
parte do processo, diz-se que a madeira atingiu o ponto de saturação das fibras ou,
simplesmente, o ponto de saturação (PS), definido como a condição na qual
mantêm-se, na madeira, as moléculas de água localizadas no interior das paredes
celulares, a água de impregnação ou água de adesão, conforme explicações de
GALVÃO e JANKOWSKI [3].
A evaporação das moléculas de água livre ocorre mais rapidamente, até ser
atingido o PS, em geral correspondente ao um teor de umidade entre 20 e 30%.
Registra-se que a NBR 7190/1997 – Projeto de Estruturas de Madeira [1] adota
convencionalmente a umidade de 25% para o PS.
A saída da água livre não interfere na estabilidade dimensional nem nos
valores numéricos correspondentes às propriedades de resistência e de
elasticidade. A partir do PS, a evaporação vai prosseguindo com menor velocidade
até alcançar o nível de umidade de equilíbrio (UE) que é função da espécie
considerada, da temperatura (T) e da umidade relativa do ar (URA). A NBR
7190/1997 trabalha com UE = 12%, condição que é atingida com T = 20C e URA =
65%. Porcentagens de umidade inferiores à UE somente são conseguidas em
estufas ou câmaras de vácuo.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 67
A madeira pode, ainda, apresentar água sob a forma de vapor. Esta parcela é
quantitativamente desprezada, à vista da baixa densidade do vapor, em
comparação com a da substância no estado líqüido.
Denomina-se de secagem ao processo de evaporação das moléculas de
água livre e água de impregnação. Conforme já foi mencionada, a madeira, em
árvores recém cortadas, pode conter altíssimos teores de umidade, que vão sendo
gradativamente reduzidos enquanto é aguardado o desdobro. Depois desta fase, a
umidade continua a diminuir, com velocidade que sofre a influência da espécie, das
condições ambientais, das dimensões das peças e do tipo de empilhamento
adotado. O processamento final somente deve ser efetuado a níveis de umidade
inferiores ao PS.
A evaporação da água reduz a densidade da madeira e isto acaba por baixar
o custo de seu transporte. Além disto, a transformação da madeira bruta em
produtos próprios para uso nas mais diversas aplicações requer prévia secagem por
muitas razões, das quais são destacadas:
a)redução da movimentação dimensional, permitindo a obtenção de peças cujo
desempenho, nas condições de uso, será potencialmente mais adequado;
b)possibilidade de melhor desempenho de acabamentos como tintas, vernizes e
produtos ignífugos, aplicados na superfície das peças;
c)redução da probabilidade de ataque de fungos;
d)aumento da eficácia da impregnação da madeira contra a demanda biológica;
e)aumento dos valores correspondentes a propriedades de resistência e de
elasticidade.
4.1.1.1 Umidade pelo método da secagem em estufa
O método da secagem em estufa é o recomendado pela NBR 7190/1997
para a determinação da umidade da madeira. As amostras a serem empregadas
devem ter seção transversal retangular, com dimensões nominais de 2 cm x 3 cm, e
comprimento (ao longo da direção das fibras) de 5 cm. Determinada a massa inicial
do corpo-de-prova, em balança de sensibilidade 0,01 g, o mesmo é colocado na
câmara de secagem (estufa) com temperatura de, no máximo, 103 ± 2ºC. Durante a
secagem, a indicação normativa é que “a massa do corpo-de-prova deve ser medida
a cada seis horas, até ocorrer, entre duas medidas consecutivas, variação menor ou
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 68
igual a 0,5% da última massa medida. Esta massa será considerada como a massa
seca.”
Convém ser observado que, para temperaturas da ordem de 100ºC, corpo-
de-prova das dimensões citadas necessitam de aproximadamente quarenta e oito
horas até atingirem a massa seca. Para facilitar o processo, sugere-se que o corpo-
de-prova seja mantido em estufa por quarenta e oito horas e, na continuação, seja
avaliado, a cada seis horas, se o processo de secagem foi completado.
O teor de umidade da madeira (U), em porcentagem, corresponde à razão
entre a massa da água nela contida e a massa da madeira seca, dada pela
expressão 2.1,
100m
mmU(%)
s
si
.................................................4.1
onde:
im : massa inicial da amostra, g;
sm : massa da madeira seca, g.
Com base na expressão 4.1 é possível, além de determinar a umidade de
uma amostra, fazer outros cálculos necessários à adequada condução de um
processo de secagem, conforme tratado nos exemplos de aplicação, item 4.1.1.4.
4.1.1.2 Umidade da madeira através de medidores elétricos
Em diversas situações práticas, em especial na indústria de produtos
derivados da madeira e nas providências para o recebimento, em obras, de lotes de
peças estruturais, é necessária uma estimativa expedita do teor de umidade da
madeira. Isto pode ser conseguido através dos chamados medidores elétricos de
umidade, equipamentos que fornecem as respostas a partir da resistência da
madeira à passagem de corrente elétrica, propriedade também influenciada pela
umidade. Esses equipamentos são usualmente calibrados para duas faixas. Uma
delas corresponde ao intervalo entre 5 e 25% de umidade (inferiores ao PS) onde a
resistência é altamente afetada pela umidade. A outra se refere a valores acima de
25% de umidade, onde a resistência elétrica é bem menos influenciada pela
umidade, o que leva a uma redução da precisão das estimativas.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 69
4.1.13 Indicações da NBR 7190/1997 em relação à umidade da madeira
A NBR 7190/1997 estabelece, em seu item 6.1.5, que nos projetos estruturais
o dimensionamento das barras deve ser feito admitindo-se uma das classes
especificadas em sua tabela 7, a seguir transcrita.
Tabela 4.1 Classes de umidade. Classe de
umidade
Umidade relativa do ambiente
– Uamb
Umidade de equilíbrio da
madeira – Ueq 1 65% 12%
2 65% Uamb 75% 15%
3 75% Uamb 85% 18%
4 Uamb 85% por longos períodos 25%
Fonte: NBR 7190/1997 [1].
4.1.14 Exemplos de aplicação
a) Deseja-se determinar a porcentagem de umidade de uma peça estrutural
de Cambará (Erisma uncinatum). Dela se retira uma amostra, de acordo com as
recomendações da NBR 7190/1997. A massa inicial da amostra é 30,63 g. A massa
seca é 20,54 g. Qual é o valor da umidade procurada (U)?
Trata-se de uma situação onde a aplicação da expressão 2.1 é imediata.
100m
mmU(%)
s
si
10054,20
54,2063,30U
→ %1,49U
b) Uma peça de madeira para emprego estrutural tem massa de 6148 gramas
a U% de umidade e deve ser submetida à secagem até atingir 12%, condição na
qual será utilizada. Sabendo-se que uma amostra retirada da referida peça, nas
dimensões indicadas pela NBR 7190/1997, pesou 34,52 g (a U% de umidade) e
25,04 g (massa seca), pede-se estimar o peso da peça em questão quando for
atingida a umidade de 12%.
De início, é necessário admitir que a amostra apresenta a mesma
porcentagem de umidade da peça (U%). Assim:
100m
mmU(%)
s
si
10001,25
01,2552,34U
→ %0,38U
A massa seca da peça estrutura é determinada por:
100m
mmU(%)
s
si
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 70
100U
m100m i
s
1000,38
6148100ms
= 4455 g
Pode-se, então, estimar a massa da peça estrutural a 12% de umidade
(m12):
100
)100U(mm s
12
g4990100
)10012(4455m12
Deste modo, é possível admitir que a peça estrutural, ao atingir 4990 gramas,
estará com umidade de 12%.
4.1.2 Densidade (massa específica)
A densidade é uma das propriedades físicas fundamentais para definir as
espécies com potencial mais promissor para emprego estrutural. O conceito físico
indispensável à compreensão do assunto é o da quantidade de massa contida um
uma unidade de volume. Considerando a natureza típica da madeira, decorrente de
sua estrutura anatômica, é complicada a aplicação dos conceitos de densidade
absoluta e de densidade relativa. Seu caráter higroscópico combinado com usa
porosidade, suas singularidades fisiológicas associadas à sua permeabilidade,
requerem uma abordagem particular da densidade à madeira.
4.1.2.1 Algumas definições
Para um melhor entendimento do material, algumas definições,
principalmente no que diz respeito à densidade, devem ser registradas. Entre elas,
destacam-se:
a)Densidade real: trata-se da relação entre a massa da madeira contida na amostra
considerada e o volume efetivamente ocupado por ela, descontados os vazios
internos ocupados pela água e pelo ar. A determinação da densidade real não
integra a rotina experimental para a caracterização da madeira, mas se constitui
num procedimento esclarecedor de sua natureza e do seu comportamento. Mesmo
sem discutir os procedimentos experimentais adotados pelo autor, menciona-se que
HELLMEISTER [4] estudou doze espécies de madeira e obteve o resultado de
1,53±0,3 g/cm³ para os respectivos valores da densidade real.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 71
b)Densidade básica ( bas ): convencionalmente é definida pela razão entre a massa
seca da amostra considerada e o respectivo volume nas condições de total
saturação, ou seja, tendo todos os seus vazios internos preenchidos por água.
sat
sbas
V
m (g/cm³)...............................................(4.2)
O volume saturado é determinado pelas dimensões finais do corpo-de-prova
submerso em água, até que atinja massa constante ou, no máximo, com variação
de 0,5% em relação à medida anterior. A massa seca pode ser determinada em
estufa, conforme recomendação da NBR 7190/97 – Anexo B.
c)Densidade aparente ( ap ): convencionalmente é definida pela razão entre a
massa e o volume de corpos-de-prova com U% de umidade. No caso particular da
NBR7190/1997, a densidade aparente se refere a amostras com umidade de 12%.
Deste modo, tem-se:
12
1212
V
m (g/cm³).................................................(4.3)
4.1.2.1 Influência da umidade na densidade aparente da madeira
A porcentagem de umidade tem grande influência na densidade aparente da
madeira. Um dos mais conhecidos procedimentos para quantificar esta variação foi
proposto por Kollmann, em 1934, conforme relatam KOLLMANN e COTÊ [6]. Em
sua pesquisa, Kollmann trabalhou com espécies típicas de clima temperado. O
diagrama final do referido estudo é apresentado na figura 2.
Figura 2 – Diagrama de Kollmann
Recentemente, LOGSDON [8], empregando espécies crescidas no Brasil,
propôs a seguinte expressão para representar a influência da umidade na
densidade aparente da madeira:
100
)U12()1( VUU12 ......................................(4.4)
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 72
sendo:
U
VV
e 100
V
VVV
s
sU
onde:
12 densidade aparente à umidade de 12%, g/cm³;
U densidade aparente à umidade de U%, g/cm³;
U = umidade da madeira no instante do ensaio, %;
V coeficiente de retratibilidade volumétrico (ver item 2.3.2);
V = retração volumétrica, para umidade variando entre U e 0% (ver item...);
UV volume do corpo-de-prova com umidade de U%, cm³;
sV volume do corpo-de-prova com umidade de 0%, cm³.
Tanto o diagrama elaborado por Kollmann quanto a expressão sugerida por
Logsdon podem ser usadas para corrigir o valor da densidade aparente de um
corpo-de-prova para o teor de umidade de 12%. Esta necessidade se evidencia pois
é praticamente impossível condicionar uma amostra a exatamente 12% de umidade,
para obter sua densidade, bem como as demais propriedades requeridas para o
desenvolvimento de projetos estruturais. Deve ser lembrado que a NBR 7190/1997
não faz qualquer indicação a respeito dos procedimentos a adotar visando corrigir a
densidade aparente para a umidade de referência de 12%, adotado pelo
mencionado documento normativo.
4.1.2.2 Exemplos de aplicação
a) Utilizando o diagrama de Kollmann, estimar a densidade aparente, a 12%
de umidade, de uma amostra de madeira para a qual ap = 0,80 g/cm³ a 19% de
umidade.
Pelo referido diagrama, obtém-se 12 = 0,78 g/cm³.
b) Utilizando a expressão proposta por Logsdon, estimar a densidade
aparente a 12% de umidade, de uma amostra de madeira para a qual ap = 0,80
g/cm³ a 19% de umidade. Dado: V = 0,48, informação retirada do Boletim 31 do
IPT [10].
Pela expressão 4.4 tem-se:
100
)U12()1( VUU12 .→
100
)1912()48,01(80,080,012 →
12 0,77 g/cm³
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 73
4.1.3 Estabilidade dimensional da madeira
Na madeira, a estabilidade dimensional é caracterizada pelas propriedades
de retração e de inchamento. Em razão da ortotropia, estes fenômenos são
referidos às direções axial ou longitudinal, radial e tangencial. A estabilidade
dimensional está diretamente relacionada à presença da água no interior da
madeira. É fundamental lembrar que o aumento ou a diminuição do número de
moléculas de água livre não influi na retração e no inchamento, que se manifestam
em níveis de umidade inferiores ao PS, condições nas quais a diminuição ou o
aumento da quantidade de água de impregnação provoca aproximação ou
afastamento das cadeias de celulose e das microfibrilas, ocasionando as
correspondentes variações dimensionais. As múltiplas implicações práticas
decorrentes da retração e do inchamento da madeira enfatizam a relevância do seu
estudo. Às vezes, espécies com grande disponibilidade numa determinada região
não podem ser indicadas para as aplicações nas quais a estabilidade dimensional
seja um dos requisitos prioritários. Entretanto, o conhecimento das características
de movimentação da madeira acabam viabilizando o aproveitamento de espécies
menos estáveis para a produção de chapas de fibras, de compensado e outras.
4.1.3.1 Ortotropia e causas das diferentes variações dimensionais
Dadas as condições de formação da madeira, as peculiaridades de sua
estrutura anatômica, a retração e o inchamento acontecem em diferentes
proporções, nas direções principais de ortotropia, sendo praticamente desprezíveis
na direção longitudinal, mais acentuados na direção radial e máximos na direção
tangencial. A retração e o inchamento volumétrico são calculados a partir dos
valores correspondentes às direções principais. Na tabela 4.1, a seguir, estão
apresentados os valores numéricos das retrações dimensionais, de acordo com a
direção considerada e da retração volumétrica. É significativa a variação observada
para a retração total, entendida como a que ocorre no intervalo de umidade
compreendido entre o ponto de saturação e 0%.
TABELA 4.2 – Porcentagens de retração
Direção Retração Total (%)
Longitudinal (L) 0,1 a 0,9
Radial (R) 2,4 a 11,0
Tangencial (T) 3,5 a 15,0
Volumétrica (V) 6,0 a 27,0 Fonte: Galvão e Jankowski [3]
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 74
Para a totalidade das essências já estudadas, a relação entre as retrações
totais nas direções radial e tangencial é superior a 1. Valores médios situam-se ao
redor de 2. A razão mais forte para explicar este fato é a presença dos raios
medulares, embora outros aspectos ligados à anatomia possam ser evocados,
segundo STAMM [14]. As células que compõem os raios medulares se orientam,
horizontalmente, da casca para a medula. Nesta direção, sua retração é baixíssima,
pois é aceita a hipótese de que as células do raio têm as microfibrilas dispostas de
modo análogo às células das fibras e vasos, no caso das Dicotiledôneas, e dos
traqueídes, no caso das Coníferas. Em última análise, os raios impõem restrição à
movimentação dimensional na direção radial. Como na direção tangencial não há
predominância de qualquer elemento anatômico, a respectiva movimentação
dimensional é mais elevada. A diferença entre as retrações radial e tangencial é um
dos fatores que originam trincas, rachaduras e empenamentos e outros defeitos no
transcurso dos processos de secagem.
As espécies com baixa relação R/T e baixos valores absolutos de T e R são
as de melhor desempenho relativamente à estabilidade dimensional. Na tabela 4.2,
a seguir, pode ser observado que isto acontece com o Cedro, o Mogno, a Tatajuba e
a Sucupira. No caso do Ipê, e do Eucalipto Citriodora, embora ambos tenham T/R
=1.5, o primeiro é mais estável. Das espécies mencionadas, Cambará e Goiabão
são as mais instáveis.
TABELA 4.3 – Variação dimensional de algumas espécies brasileiras.
Espécie T (%) R(%) Relação (R/T)
Angelim Pedra 4,3 7,0 1,6
Cambará 3,6 8,7 2,4
Castanheira 4,7 9,4 2,0
Cedro 4,0 5,3 1,3
Cupiúba 4,3 7,1 1,7
Eucalipto Citriodora 6,5 9,6 1,5
Eucalipto Tereticornis 7,3 16,7 2,3
Freijó 6,3 11,7 1,9
Goiabão 8,9 18,8 2,1
Ipê 5,1 7,8 1,5
Jatobá 3,6 6,9 1,9
Louro Preto 4,2 8,0 1,9
Mandioqueira 4,7 9.3 2,0
Mogno 3,0 4,1 1,4
Sucupira 5,9 7,3 1,2
Tatajuba 4,1 5,9 1,4
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 75
As informações contidas na tabela 4.3 foram retiradas de publicações de
Galvão e Jankowski [3], Souza [13], Melo, Carvalho e Martins [11], Robles e Rocco
Lahr [12].
4.1.3.2 Determinação das porcentagens de retração/inchamento
A variação dimensional nas direções principais da madeira é calculada em
relação às dimensões iniciais. Para o cálculo das porcentagens de retração, as
dimensões iniciais se referem à amostra com umidade igual ou superior ao PS. No
caso do inchamento, as porcentagens são calculadas a partir das dimensões das
amostras secas.
A NBR 7190/1997 indica a expressão a seguir (4.5), para a determinação das
porcentagens de retração total ou deformações específicas de retração ( j,r ), com j
= 1 para a direção longitudinal; j = 2 para a direção radial e j = 3 para a direção
tangencial.
100L
LL
asec,i
asec,isat,i
j,r
.............................................(4.5)
onde:
sat,iL dimensão linear, para umidade igual ou superior ao PS;
asec,iL dimensão linear, para umidade = 0%.
As expressões 4.6 e 4.7, a seguir, são indicadas pela NBR 7190/1997 para a
determinação das porcentagens de inchamento total ou deformações específicas de
inchamento ( j,i ), tendo j os mesmos significados anteriores.
100L
LL asec,isat,i
j,i
.............................................(4.6)
Pode-se, também, determinar a variação volumétrica V em função das dimensões
do corpo-de-prova com umidade igual ou superior ao PS ( satV ) e com umidade de
0% ( asecV ), utilizando a expressão 4.7:
100V
VVV
asec
asecsat
...............................................(4.7)
onde:
sat,3sat,2sat,1sat LLLV
asec,3asec,2asec,1asec LLLV
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 76
Os corpos-de-prova para o estuda da estabilidade dimensional da madeira
devem ser, de acordo com a NBR 7190/1997, seção transversal nominal de 2 cm
(na direção tangencial) x 3 cm (na direção radial. O comprimento é de 5 cm
(medidos ao longo da direção das fibras). As dimensões iL se constituem na média
de pelo menos três medidas em cada lado do corpo-de-prova. Devem ser
desconsideradas as amostras que apresentarem defeitos durante o processo de
secagem.
Também tem interesse prático o chamado coeficiente de retratibilidade ( v ),
principalmente nos procedimentos de correção da densidade aparente da madeira
para a umidade de referência de 12%, conforme fixa o documento normativo
brasileiro. Define-se v como a razão entre a retração volumétrica e a umidade
correspondente ao PS da espécie. Trata-se, então, de um parâmetro que exprime a
porcentagem de retração que se verifica para cada um por cento de umidade, para
teores abaixo do PS.
4.2 Propriedades mecânicas (resistência e rigidez)
As propriedades da madeira são grandemente influenciadas pelo arranjo de
seus elementos anatômicos, que lhe conferem características ortotrópicas.
Em conseqüência da ortotropia da madeira, ocorrem diferenças significativas
entre os valores das propriedades correspondentes à direção paralela às fibras dos
correspondentes à direção normal às fibras. Por esta razão, é indispensável se
proceder à caracterização mecânica (resistência e rigidez) das madeiras a empregar
na construção de estruturas, o que deve ser efetuado seguindo-se os métodos de
ensaio especificados no Anexo B da NBR 7190/1997. De acordo com tais métodos,
o mesmo documento normativo estabelece três alternativas para se proceder à
caracterização da resistência e da rigidez das espécies de madeira a serem
empregadas na construção de estruturas, isto é, caracterização completa (para
espécies desconhecidas), caracterização mínima (para espécies pouco conhecidas)
e caracterização simplificada (para espécies bem conhecidas).
As propriedades de resistência (entendida como a aptidão da matéria
suportar tensões) são determinadas convencionalmente pela máxima tensão que
pode ser aplicada a corpos-de-prova isentos de defeitos, até que se manifestem
fenômenos particulares de comportamento, como os de ruptura e de deformações
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 77
excessivas, além dos quais existirá restrição para o emprego estrutural. De maneira
geral, pode-se obter as seguintes propriedades:
*Resistência à compressão paralela às fibras (fc,0);
*Resistência à tração paralela às fibras (ft,0);
*Resistência à compressão normal às fibras (fc,90);
*Resistência à tração normal às fibras (ft,90);
*Resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fv,0);
*Resistência ao embutimento paralelo às fibras (fe,0);
*Resistência ao embutimento normal às fibras (fe,90).
A rigidez é quantificada pelo valor médio do módulo de elasticidade
longitudinal, determinado na fase de comportamento elástico-linear, obtidos em
ensaios de compressão paralela (Ec0,m) e normal (Ec90,m) às fibras.
4.2.1 Condições de referência
Os valores das propriedades de resistência e de rigidez a serem utilizados na
elaboração de projetos estruturais são os correspondentes à umidade de 12%,
escolhida como referência. Como, na realização dos ensaios previstos no Anexo B
da NBR 7190/1997, nem sempre se consegue condicionar os corpos-de-prova
exatamente na umidade de 12%, são usadas as expressões dadas a seguir para
corrigir os valores das propriedades de resistência e de rigidez quando sua
determinação experimental se verificou a partir de corpos-de-prova com umidade no
intervalo de 10 a 20%.
100
12%31%12
Uff U .........................................(4.8)
100
12%21%12
UEE U .........................................(4.9)
onde:
*f12% - resistência a 12% de umidade;
*fU% - resistência à porcentagem de umidade 20%U12 ;
*E12% - módulo de elasticidade longitudinal a 12% de umidade;
*EU% - módulo de elasticidade longitudinal à porcentagem de umidade 20%U12 ;
*U% - umidade do corpo-de-prova.
Entretanto, as condições ambientais nos locais onde as estruturas são
construídas podem levar a porcentagens de umidade de equilíbrio ao ar, diferentes
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 78
de 12%. Por esta razão, a NBR 7190/1997 especifica quatro classes de umidade,
das quais uma é escolhida como a que escreve as condições adequadas ao projeto
em elaboração, ver tabela 4.3.
TABELA 4.3 Classes de umidade
Classe de umidade Umidade relativa do ambiente
(Uamb)
Umidade de equilíbrio da madeira
(Ueq)
1 65% 12%
2 65% Uamb 75% 15%
3 75% Uamb 85% 18%
4 Uamb 85% por longos períodos 25% Fonte: NBR 7190/1997 [1].
4.2.2 Classes de resistência para a madeira
As classes de resistência foram introduzidas no texto da NBR 7190/1997 com
o objetivo de incentivar o emprego de madeiras com propriedades padronizadas,
orientando a escolha das espécies a indicar para a elaboração dos projetos
estruturais.
TABELA 4.4 – Classes de resistência para as coníferas
CONÍFERAS – Valores da condição de referência U=12%
Classes fc0,k (MPa) fv0,k (MPa) Ec0,m (MPa) bas (kg/m³) 12 (kg/m³)
C20 20 4 3.500 400 500
C25 25 5 8.500 450 550
C30 30 6 14.500 500 600 Fonte: NBR 7190/1997 [1]
Tabela 4.5 – Classes de resistência para as dicotiledôneas
DICOTILEDÔNEAS – Valores da condição de referência U=12%
Classes fc0,k (MPa) fv0,k (MPa) Ec0,m (MPa) bas (kg/m³) 12 (kg/m³)
C20 20 4 9.500 500 650
C30 30 5 14.500 650 800
C40 40 6 19.500 750 950
C60 60 8 24.500 800 1000 Fonte: NBR 7190/1997 [1]
Nestas tabelas, tem-se:
*fc0,k;fv0,k - valor característico da resistência à compressão e ao cisalhamento
paralelo às fibras, respectivamente;
*Ec0,m - valor médio do módulo de elasticidade na compressão paralela às fibras;
*bas; 12 - densidade básica e aparente (12%), respectivamente.
O enquadramento de espécies ou de lotes de madeira nas classes de
resistências especificadas nas tabelas 4.4 e 4.5, é feito com base nos valores
característicos da resistência à compressão paralela às fibras.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 79
4.2.3 Valores representativos
Assim como as ações nas estruturas são tratadas por intermédio dos valores
representativos, o mesmo ocorre com as propriedades de resistência e de rigidez da
madeira a serem empregadas nos projetos estruturais, determinadas a partir dos
valores médios, dos valores característicos e dos valores de cálculo.
4.2.3.1 Valores médios
O valor médio (fm;Em) de uma propriedade de resistência ou de rigidez
necessária na elaboração de projetos estruturais, é determinado pela média
aritmética dos valores obtidos nos ensaios para a caracterização correspondente.
4.2.3.2 Valores característicos
Dada a variabilidade das propriedades de resistência e de rigidez da madeira,
seus valores numéricos podem ser descritos por algumas distribuições de
probabilidade, entre elas a distribuição de Gauss (ou normal) e a distribuição de
Weibull. À vista da maior simplicidade de tratamento, a distribuição de Gauss é a de
emprego mais generalizado.
O valor característico inferior (fk,inf ou Ek,inf) é aquele que tem apenas 5% de
probabilidade de não ser atingido em um dado lote do material. Enquanto o valor
característico superior (fk,sup ou Ek,sup) é aquele que tem apenas 5% de
probabilidade de ser ultrapassado em um dado lote de material.
De modo geral, salvo recomendação explícita ao contrário, entende-se que o
valor característico adotado na determinação dos valores de cálculo para uma dada
propriedade da madeira seja o valor característico inferior.
4.2.3.3 Valores de cálculo
O assunto tratado neste item está baseado nas recomendações contidas na
NBR 7190/1997 – Projeto de Estruturas de Madeira. Na respectiva elaboração, de
acordo com os conceitos do método dos estados limites, além do estabelecimento
dos valores de projeto para as solicitações (Sd), a partir dos respectivos valores das
ações consideradas, é necessário determinar os valores de projeto para as
propriedades da madeira (Rd), especialmente as referentes à resistência e à rigidez,
uma vez que as condições gerais a serem obedecidas no dimensionamento dos
elementos estruturais são dadas pela expressão:
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 80
dd RS .....................................................(4.10
As resistências de cálculo (Rd) são determinadas pela expressão 4.6 a seguir:
w
k
id
RkR
mod, ..............................................(4.11)
Sendo,
*w- coeficiente de minoração das propriedades da madeira;
*Kmod - coeficientes de modificação, considerando influências não cobertas por w .
4.2.3.3.1 Valores de “w”
a)Estados limites últimos
O coeficiente de minoração (ou ponderação) para estados limites últimos, no
caso de compressão paralela às fibras, tem o valor w=1.4. Na tração paralela às
fibras, adota-se w=1.8. Para o cisalhamento paralelo às fibras, w=1.8.
b)Estados limites de utilização
O coeficiente de ponderação (ou minoração) para os estados limites de
utilização assume o valor w=1.
4.2.3.3.2 Valores de “Kmod”
Os coeficientes de modificação afetam os valores de cálculo das
propriedades da madeira em função de alguns parâmetros não abrangidos pelo
coeficiente de minoração (ou ponderação). O texto atual da NBR 6123/1997 adota
três coeficientes de modificação para levar em conta a classe de carregamento da
estrutura, a classe de umidade admitida e do eventual emprego de madeira não
classificada como isenta de defeitos. Desta forma, tem-se:
3mod,2mod,1mod,mod, KKKK i .......................................(4.12)
Ainda não são objetos da adoção de coeficientes de modificação pela NBR
7190/1997 as influências nas propriedades de resistência da madeira provadas, por
exemplo, pelas temperaturas elevadas às quais as estruturas podem estar sujeitas;
pelos processos de tratamento preservativo aplicado às peças estruturais,
especialmente nos casos de espécies de reflorestamento, com elevadas taxas de
crescimento anuais.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 81
a)Valores de “Kmod,1”
O coeficiente de modificação “Kmod,1” leva em consideração a classe de
carregamento das ações e o tipo de material empregado na construção da estrutura.
Seus valores estão apresentados na tabela 4.6.
TABELA 4.6 – Valores do coeficiente de modificação “Kmod,1”
Tipos de material
Classe de carregamento Madeira serrada, laminada
colada e compensada Madeira recomposta
Permanente 0,60 0,30
Longa duração 0,70 0,45
Média duração 0,80 0,65
Curta duração 0,90 0,90
Instantânea 1,10 1,10 Fonte: NBR 7190/1997 [1].
b)Valores de “Kmod,2”
O coeficiente de modificação “Kmod,2” leva em consideração a classe de
umidade e o tipo de material empregado na construção da estrutura. Seus valores
estão apresentados na tabela 4.7.
TABELA 4.7 – Valores do coeficiente de modificação “Kmod,2” Tipos de material
Classe de umidade Madeira serrada, laminada
colada e compensada Madeira recomposta
(1) e (2) 1,0 1,0
(3) e (4) 0,8 0,9 Fonte: NBR 7190/1997 [1].
c)Valores de “Kmod,3”
O coeficiente de modificação “Kmod,3” leva em consideração se a madeira é de
primeira ou de segunda categoria.
No caso das dicotiledôneas, se as peças forem de primeira categoria,
Kmod,3=1.0; se de segunda categoria, Kmod,3=0.8. A condição de madeira de primeira
categoria somente pode ser admitida se todas as peças estruturais de um
determinado lote forem classificadas como isentas de defeitos, por intermédio de
método visual normalizado e submetidas a uma classificação mecânica que garanta
a homogeneidade da rigidez das peças. Não é permitido classificar como de
primeira categoria as peças de madeira submetidas apenas pelo método visual de
classificação.
No caso das coníferas, em quaisquer casos Kmod,3=0.8. Isto se deve ao fato
de que, nas coníferas, é significativo o risco da presença de nós no interior das
peças estruturais, não detectáveis pela inspeção visual.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 82
4.3 Outras considerações para as resistências características
Os valores das resistências características podem ser determinados em duas
situações: para espécies já caracterizadas em laboratório e para lotes a serem
empregados em construções específicas.
4.3.1 Para espécies conhecidas
Para as espécies já investigadas por laboratórios idôneos, das quais tenham
sido apresentados os valores médios das resistências e dos módulos de
elasticidade, os mesmos devem ser corrigidos para a umidade de referência de 12%
empregando-se, para tal, as expressões 4.3 e 4.4. Nestas circunstâncias, para os
cálculos de projeto, admite-se a seguinte relação entre as resistências característica
(fk,12) e média (fm,12):
12,12, 7,0 mk ff ....................................................(4.13)
4.3.2 Para lotes homogêneos
Para a investigação direta da resistência da madeira, cada lote considerado
homogêneo não deve ter volume superior a 12 m³.
Se a opção for a caracterização simplificada, deve ser extraída uma amostra
de pelo menos seis exemplares, retirados de modo aleatório do lote, para ensaio de
corpos-de-prova na compressão paralela às fibras. Para a caracterização mínima,
de cada lote serão ensaiados pelo menos doze corpos-de-prova, para cada uma das
resistências a serem determinadas.
Os valores experimentais obtidos nos ensaios devem ser corrigidos pelas
expressões 4.3 e 4.4. O valor característico da resistência deve ser estimado pela
expressão:
1,1
12
...
22
12
21
n
n
k fn
fff
f .....................................(4.14)
onde os resultados devem ser colocados em ordem crescente n21 f...ff ,
desprezando-se o valor mais alto se o número de corpos-de-prova for ímpar. Não se
tomará para fk valor inferior a f1 nem a 0,7 do valor médio.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 83
4.3.3 Estimativas para os valores característicos das resistências
Não se disponde de informações experimentais, permite-se adotar as
seguintes relações para os valores característicos das resistências:
77,0,0
,0
kt
kc
f
f; 0,1
,0
,
kt
ktM
f
f; 25,0
,0
,90
kc
kc
f
f; 0,1
f
f
k,0c
k,0e ; 25,0
f
f
k,0c
k,90e
Para as coníferas: 15,0f
f
k,0c
k,0v , e para as dicotiledôneas: 12,0
f
f
k,0c
k,0v .
4.4 Estimativa dos parâmetros de rigidez
Nas verificações dos estados limites últimos ou de utilização que dependem
dos parâmetros de rigidez da madeira, o módulo de elasticidade longitudinal deve
ser tomado com o valor efetivo, expresso por:
mcefc EKKKE ,03mod,2mod,1mod,,0 .........................................(4.15)
O módulo de elasticidade transversal pode ser estimado por:
20
,0 efc
ef
EG ......................................................(4.16)
4.5 Exemplo de aplicação
Determinar o valor de cálculo da resistência da madeira à compressão
paralela às fibras da espécie Cupiúba (Goupia glabra). São dados: valor médio da
resistência à compressão paralela às fibras da espécie, determinado em laboratório
idôneo, igual a 54MPa; carregamento de longa duração; peças estruturais de
madeira serrada não classificada; classe de umidade 4.
O valor característico da resistência à compressão paralela é dada pela
expressão:
w
kc
dc
fKKKf
,0
3mod,2mod,1mod,,0
*Compressão paralela às fibras, 4,1w .
*Carregamento de longa duração e madeira serrada, tem-se Kmod,1=0.7;
*Classe de umidade 4 e madeira serrada, Kmod,2=0.8;
*Peças estruturais não foram classificadas, Kmod,3=0.8;
*Valor médio da resistência à compressão paralela foi determinado em laboratório
idôneo. Assim:
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 84
38547,07,0 ,0,0 xff mckc MPa
Com estes valores, chega-se a:
124,1
388,08,070,0,0 xxxf dc MPa
4.6 Referências bibliográficas
1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1997). NBR 7190 –
Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro.
________(1984). NBR 8681 – Ações e segurança nas estruturas. Rio de Janeiro.
2. BODIG, J.; JAYNE, B.A. Mechanics of wood and wood composites. New York,
Van Nostrand Reinhold Company, 1982, 712p.
3. GALVÃO, A. P. M.; JANKOWSKI, I. P. Secagem racional da madeira. São Paulo,
Nobel, 1985, 112p.
4. HELLMEISTER, J. C. Sobre a determinação de características físicas da madeira.
São Carlos, 1973, 161p. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, 1973.
5. KARLSEN, G. G. Wooden Structures. Moscou, Mir Publishers, 1967, 682p.
6. KOLLMANN, F.; COTÊ, W. A. Principles of wood science and technology.
Germany, Springer Verlag, 1968, 592p.
7. KOLLMANN, F. Tecnologia de la madera y sus aplicaciones. Madrid, Instituto
Forestal de Investigaciones y Experiencias y Servicio de la Madera, 1959, v.1,
496p.
8. LOGSDON, N. B. Influência da umidade em propriedades da madeira. São
Carlos, USP, 1998, 174p. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, 1998.
9. MATEUS, T. J. E. Bases para o dimensionamento de estruturas de madeira.
Lisboa, LNEC, 1961, 436p.
10. MAINIERI, C. Identificação das principais madeiras de comércio no Brasil. São
Paulo, IPT, Boletim 31, 1956, 62p.
11. MELO, J. E.; CARVALHO, G. M.; MARTINS, V. A. Espécies de madeira
substitutas do mogno. Brasília, IBAMA, 1989, 16p.
Capítulo 4 – Propriedades da madeira para projetos estruturais 85
12. ROCCO LAHR, F. A.; ROBLES, D. G. Characteristics of alternative wood
species for employing in civil construction. In: International Symposium on
Natural Polymers and Composites, 2. Atibaia, SP, Brasil, 1997. Anais. Atibaia,
USP – UNESP – EMBRAPA, v.1, p.115-118.
13. SOUZA, M. H. Incentivo ao uso de novas madeiras para a fabricação de móveis.
Brasília, IBAMA, 1997, 70p.
14. STAMM, M. H. Wood and cellulose science. New York, Ronal Press, 1964, 549p.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
CAPÍTULO 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.1 Introdução
Neste capítulo serão abordadas as principais ações atuantes em
estruturas de madeira para coberturas.
2.2 Aspectos gerais das ações em estruturas de madeira
De acordo com o documento normativo ANBT NBR 6120:1980,
apresenta-se os valores das ações permanentes e variáveis (uso e ocupação)
atuantes em estruturas de edificações. Os esforços causados pela ação
variável, oriunda dos efeitos do vento, são determinados pela ABNT NBR
6123:1988. Da NBR 8681:2003, tem-se que, as ações são definidas como
sendo as causas que provocam esforços e deformações nas estruturas.
Segundo os documentos normativos mencionados, as ações são classificadas,
segundo sua variabilidade no tempo, em três categorias: permanentes, variáveis
e excepcionais. A seguir, apresentam-se tais ações:
a) Ações permanentes - são aquelas com valores constantes ou de
pequena variação em torno da média, ao longo de toda a vida da
construção. São divididas em:
*Diretas: peso próprio dos elementos estruturais e dos elementos
construtivos não estruturais;
*Indiretas: forças de protensão; recalques de apoio e
retração/expansão de material.
b) Ações variáveis – são aquelas com valores que apresentam
variações significativas em torno da média, durante a vida da
construção. São divididas em:
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
*Normais: cargas acidentais verticais (atuam nas construções em
função da utilização – pessoas, mobiliário, veículo, etc); cargas de
impacto vertical e lateral; forças de frenação/aceleração; força
centrífuga; variação de temperatura; atrito devido aos aparelhos de
apoio; efeito do vento.
*Especiais: cargas sísmicas.
c) Ações excepcionais – são aquelas com duração extremamente curta
e baixa probabilidade de ocorrência durante a vida de construção.
Neste caso, consideram-se aquelas oriundas das seguintes causas:
explosões; choque de veículos; incêndios e enchentes.
Particularmente, para a elaboração de projeto de estruturas usuais de
madeira, devem ser consideradas as seguintes ações:
2.2.1 Ações permanentes
É constituída pelo peso próprio do conjunto estrutural, das partes fixas
não estruturais e de equipamentos fixos permanentes.
Nas estruturas de madeira destinadas às coberturas, a avaliação dos
valores característicos do peso próprio dos elementos estruturais e não-
estruturais se dá com o emprego das dimensões nominais e do peso específico
dos mesmos. Particularmente, em relação às estruturas de madeira, a definição
do peso próprio (estrutural e não-estrutural) é obtida a partir do peso específico,
considerando umidade de referência igual a 12%.
Em relação ao peso próprio dos equipamentos fixos (permanentes), em
geral, são obtidos a partir de informações fornecidas pelo fabricante.
Vale registrar que, o peso específico dos referidos materiais são obtidos a
partir da ABNT NBR 6120:1980, conforme apresentado na Tabela 1.1.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
TABELA 2.1 – Peso específico dos materiais de construção
Fonte: ABNT NBR 6120:1980
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.2.2 Ações acidentais verticais
São consideradas como ações de longa duração e fixadas pelas normas
brasileiras NBR 6120:1980 - “Cargas para o cálculo de estruturas de edificações
- Procedimento”. Veja a tabela abaixo:
TABELA 2.2 – Valores mínimos das cargas verticais
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Fonte: ABNT NBR 6120:1980
As ações variáveis de uso e ocupação atuantes em elementos estruturais
de coberturas e de edifícios de concreto armado são obtidas de acordo com a
tabela acima.
2.2.3 Impacto vertical
Considerando o acréscimo de solicitações decorrente do impacto vertical
nas pontes, oriundo do trem-tipo, os valores característicos das cargas móveis
verticais devem ser multiplicados pelo coeficiente de impacto, dado por:
1
40 L................................................(2.1)
Onde,
*L: é o vão teórico do tramo da ponte, no caso de vigas ou o menor de seus
vãos teóricos, no caso de placas, em metros;
*=50, no caso de pontes ferroviárias;
*=20, pontes rodoviárias com soalho de madeira;
*=12, pontes rodoviárias com soalho revestido de concreto ou asfalto.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Não se considera o impacto vertical nos encontros, nos pilares maciços,
nas fundações e nos passeios das pontes, como, detalhadamente, exposto na
ABNT NBR 7187:1986 - “Projeto e execução de pontes de concreto armado e
protendido - Procedimento”.
Outros documentos normativos relevantes: NBR 7188:1984 - “Carga
móvel em ponte rodoviária e passarela de pedestres - Procedimento”, e NBR
7189/1985 - “Cargas móveis para projeto estrutural de obras ferroviárias -
Procedimento”.
2.2.4 Impacto lateral
Somente será considerado nas pontes ferroviárias. É equiparado a uma
força horizontal perpendicular ao eixo da linha e atuando no topo do trilho como
carga móvel concentrada.
2.2.5 Força longitudinal
Será considerada na projeto de pontes rodoviárias e de pontes
ferroviárias. Nas pontes rodoviárias, a força longitudinal terá o valor
característico convencional equivalente ao maior dos seguintes valores: 5% do
carregamento total do tabuleiro com carga móvel uniformemente distribuída, ou,
para cada via de tráfego, 30% do peso do caminhão-tipo. Esta força será
aplicada, sem impacto, a 2 metros acima da superfície de rolamento. Nas
pontes ferroviárias, a força longitudinal terá o valor característico convencional
equivalente ao maior dos seguintes valores: 15% da carga móvel (para
frenação) ou 25% do peso total sobre os eixos motores (para aceleração). Esta
força será aplicada, sem impacto, no centro de gravidade do trem, suposto
localizado a 2,4 metros acima do topo dos trilhos.
2.2.6 Força centrífuga
Trata-se de uma ação de curta duração a ser considerada nos casos de
pontes rodoviárias e ferroviárias em curva. Dada a remota possibilidade de
ocorrência deste tipo de estrutura em madeira, não serão feitos comentários
sobre o assunto. Mais detalhes, encontram-se na NBR 7190:1997, item 5.5.7.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.2.7 Carga em guarda-corpo
É considerada ação de curta duração em pontes, admitindo-se que possa
atuar como uma força horizontal uniformemente distribuída, com valor
característico nominal de 1kN/m.
2.2.8 Carga em guarda-roda
É considerada ação de curta duração em pontes rodoviárias, e seus
valores são estabelecidos pelas normas brasileiras correspondentes.
2.2.9 Vento
A ação do vento sobre as estruturas será considerada de acordo com a
NBR 6123:1987 - “Forças devidas ao vento em edificações”. Por hipótese, agirá
com seu valor característico e, em princípio, trata-se de uma ação de curta
duração.
As ações acidentais verticais e seus efeitos dinâmicos, como o impacto
vertical, o impacto lateral, as forças longitudinais e a força centrífuga, são
admitidas componentes de uma mesma ação variável.
Para considerar a boa resposta da madeira para ações de curta duração,
a solicitação nas peças estruturais decorrentes aos efeitos do vento (somente
na combinação de ações de longa duração, quando assume o valor da ação
variável principal), do impacto vertical, do impacto lateral, das forças
longitudinais e da força centrífuga, poderão ser multiplicadas pelo fator 0,75,
quando da verificação da segurança em relação a estados limites últimos. Nas
peças metálicas não será considerada tal redução.
As ações acidentais verticais e a ação do vento devem ser consideradas
ações variáveis de naturezas diferentes, sendo muito baixa a probabilidade de
ocorrência simultânea de ambas e, são adotados com seus respectivos valores
característicos.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.3 Ações em estruturas de madeira para cobertura
Nas edificações correntes (ginásios, barracões comerciais e industriais,
edifícios, entre outras), bem como em seus elementos estruturais (vigas, pilares,
elementos estruturais de cobertura, etc), destacam-se a incidência das
seguintes ações: permanentes estruturais e não estruturais, acidentais verticais
e vento. Tais ações serão apresentadas a seguir com maiores detalhes.
2.3.1 Ação permanente estrutural
O termo estrutural tem como objetivo principal explicitar a ação
permanente oriunda do peso próprio de cada elemento, cuja função principal é
resistir às solicitações.
Em particular, nas estruturas treliçadas de cobertura, além do peso
próprio, atuam-se as seguintes cargas permanentes:
*Telhado cerâmico e de ”concreto” - considerar as ripas, caibros e terças;
*Telhado de fibro-cimento, de aço e de alumínio - considerar as terças.
*Estrutura de contraventamento - adotar de 5 a 10%;
*Dispositivos de ligação (pregos, parafusos, chapas de ligação, etc) - considerar
3 a 5% do peso próprio inicial da treliça;
Dentre as dimensões (em centímetros) de peças de madeira utilizadas
estruturalmente, algumas são apresentadas a seguir:
*Ripas: (1,5 a 2,5x5,0);
*Caibros: (5,0x5,0) e (5,0x7,0);
*Vigotas: (5,0x11,0) e (5,0x15,0);
*Pranchas: (4,0x20,0) e (4,0x25);
*Tábuas: (2,0 a 3,0x11,0); (2,0 a 3,0x15); (2,0 a 3,0x20,0)
2.3.2 Ação permanente não-estrutural
O termo não-estrutural tem como objetivo principal explicitar a ação
permanente oriunda do peso próprio dos elementos cuja função principal não é
de resistir às solicitações, mas sim, contribuir com a composição da estrutura.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Nas estruturas de cobertura, o telhado (cerâmico, fibro-cimento, aço,
alumínio, etc) é a principal ação não-estrutural. Alguns tipos de telhas são
mostrados a seguir.
a)Telha cerâmica
Dentre as telhas cerâmicas, com maior ou menor utilização, destacam-se
as telhas de encaixe e capa-canal. Veja a figura 2.1.
FIGURA 2.1 - Telhas cerâmicas
A seguir, são apresentadas algumas características relevantes ao cálculo
estrutural, referentes às telhas citadas anteriormente.
TABELA 2.3 - Características das telhas cerâmicas Telhas de encaixe Telhas capa/canal
Características Francesa Romana Duplana Colonial Paulista Plan
Inclinação
(graus) 18 a 22 17 a 25 17 a 25 11 a 14 11 a 14 11 a 17
Declividade
(%) 32 a 40 32 a 47 32 a 47 20 a 25 20 a 25 20 a 30
No de telhas
(por m2)
15 16 15 23 26 26
Peso próprio
(kN/m2)
0,45 a 0,54 0,48 a 0,58 0,54 a 0,65 0,65 a 0,78 0,69 a 0,83 0,72 a 0,86
b)Telha de “concreto”
As telhas de concreto devem ser assentadas com uma inclinação mínima
de 30%, mas em geral, são empregados valores entre 35 a 40%,
correspondendo aproximadamente de 20 a 22º, respectivamente. São adotadas
de 10 a 11 telhas/m², com uma massa em torno de 46 kg (telha seca) a 50 kg
(saturada), considerando uma absorção máxima de 10%.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
FIGURA 2.2 - Telhas de “concreto”
c)Telha de fibro-cimento
Para telhados de fibro-cimento de uma ou duas águas, as chapas
onduladas são as mais utilizadas.
Para garantir a estanqueidade e evitar a percolação de água entre as
telhas, devem-se realizar recobrimentos longitudinal e transversal/lateral
(remonte das chapas no sentido da sua largura). Outras informações são
encontradas nos catálogos dos fabricantes.
FIGURA 2.3 - Telha de fibro-cimento
d)Telha de aço e de alumínio
As principais características destas telhas, tais como especificações,
recobrimentos (longitudinal e lateral), peso próprio, entre outras, encontram-se
nos catálogos dos fabricantes.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.3.3 Ações variáveis - Acidental vertical
De forma geral, segundo a ABNT NBR 6120:1980 E ABNT NBR
7190:1997 e, além disso, considerando o processo construtivo para todos os
elementos de madeira, isolados, destinados às coberturas (ripas, caibros,
terças), deve-se considerar uma força de 1,0 kN na posição mais desfavorável
do elemento estrutural, considerando vãos que exceda 70 centímetros. Ainda,
para as estruturas de madeira destinadas às coberturas comuns, não
submetidas a carregamentos atípicos e sem especificação em contrário, deve-
se prever uma sobrecarga de valor característico mínimo, igual a 0,25 kN/m²
(projeção horizontal), para considerar possíveis instalações (elétrica; hidráulica;
isolamento térmico e acústico; pequenos equipamentos adicionais; entre
outros).
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.3.4 Ações variáveis – efeito do vento
A pouco tempo atrás, no final da década de 70, as normas referentes ao
cálculo do efeito do vento em edificações eram simples. Os acidentes ocorriam,
porém, com menos frequência, pois as estruturas correntes até então,
contavam, principalmente, com sua rigidez decorrente do excessivo peso
próprio. Com a evolução das mesmas e, consequentemente, a redução do peso
próprio, os efeitos dinâmicos passaram a ser mais relevantes, tornando
necessária a evolução dos documentos normativos. Desta forma, o assunto
tratado neste item está baseado nas recomendações contidas na NBR
6123:1988 - “Forças devidas ao vento em edificações”. Sua apresentação tem o
objetivo de registrar alguns dos conceitos mais importantes sobre o tema, a
serem utilizados no oportuno desenvolvimento do projeto de uma estrutura de
cobertura.
2.3.4.1 Vento “na natureza”
De um modo sumário e simplificado, é possível considerar o vento como
sendo a movimentação das massas de ar em razão das diferenças de pressão e
de temperatura na atmosfera. É possível, também, definir o vento como um fluxo
de ar, denominadas rajadas ou turbulências. Estas rajadas apresentam
velocidade do ar superior à média e são responsáveis pelas forças que atuarão
nas edificações. Como estimativa, pode-se adotar a Tabela de Beuafort, que
relaciona a velocidade do vento com os efeitos produzidos.
TABELA 2.4 - Valores do fator “S2”.
Grau
Velocidade do vento Descrição do
vento Efeitos devidos ao vento Intervalo (m/s)
Média (km/h)
0 0,0-0,5 1 Calmaria ----------
1 0,5-1,7 4 Sopro Fumaça sobe na vertical
2 1,7-3,3 8 Brisa leve Sente-se o vento nas faces
3 3,3-5,2 15 Brisa fraca Movem-se as folhas das árvores
4 5,2-7,4 20 Brisa moderada Movem-se pequenos ramos e as bandeiras se estendem
5 7,4-9,8 30 Bisa viva Movem-se ramos maiores
6 9,8-12,4 40 Brisa forte Movem-se arbustos
7 12,4-15,2 50 Ventania fraca Dobram os galhos fortes
8 15,2-18,2 60 Vent. moderada Difícil de caminhar, galhos quebram-se e troncos oscilam
9 18,2-21,5 70 Ventania Objetos leves são deslocados, quebram-se arbustos e
galhos grossos
10 21,5-25,5 80 Ventania forte Árvores são arrancadas e postes são quebrados
11 25,5-29,0 90 Vent. destrutiva Avarias severas
12 >29,0 105 Furacão Calamidades
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Um outro aspecto caracteriza a ação do vento: o caráter aleatório de sua
intensidade, de sua direção e de sua duração, o que deverá ser levado em
consideração na elaboração de projetos estruturais. Quando se procura
quantificar as forças devidas à ação do vento nas edificações, sabe-se que um
dos parâmetros mais importantes é a velocidade com a qual o vento estará
atuando. Diversas variáveis têm influência na velocidade do vento, podendo-se
destacar entre elas: a posição geográfica onde será situada a edificação; a
altura da edificação e a sua projeção em planta; aspectos topográficos: local em
aclive, local plano, terreno em fundo de vale ou em encostas de montanhas; a
rugosidade do terreno, ou seja, disposição e altura média dos obstáculos
existentes à passagem do vento. Segundo Davenport (1961), a referida
velocidade varia em função destes fatores até atingir a altura gradiente (zg -
altura da camada-limite da atmosfera, entre 250 e 600 metros), sendo neste
patamar, definida a velocidade gradiente (160 km/h). Também afirma que,
quanto maior a rugosidade do terreno, maior a altura gradiente, conforme
apresentado na figura a seguir.
FIGURA 2.4 – Perfis da velocidade média do vento (km/h), em função da rugosidade do terreno
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Como sugestão, Davenport (1961) apresenta uma expressão para
determinar à velocidade média do vento (vz) para uma altura qualquer (z),
limitada a altura gradiente. Tem-se:
(
)
................................................(2.2)
Onde “α” depende da rugosidade do terreno.
Para a engenharia estrutural, além da velocidade média do vento, é
necessário determinar as flutuações (rajadas). As rajadas são efeitos localizados
e de curta duração, por isso atingem valores superiores à velocidade média.
Tais efeitos são os mais empregados em estruturas usuais, porém serão
avaliados através de ações estáticas equivalentes, ao contrário das estruturas
mais esbeltas (por exemplos: torres, pontes, etc), onde os efeitos dinâmicos são
mais preponderantes e a velocidade média torna-se mais crítica.
Intuitivamente, é possível imaginar que o vento ao incidir sobre uma
edificação irá exercer uma ação sobre a mesma e, consequentemente, terá sua
trajetória modificada. A visualização desta trajetória pode ser representada
esquematicamente através das linhas de fluxo, conforme a figura abaixo.
FIGURA 2.5 - Linhas de fluxo para um edifício com cobertura de duas águas
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Para entender este efeito, considera-se que a duração da rajada seja
suficiente para abranger todo o campo aerodinâmico no entorno da edificação
em estudo, considerando sua extensão na horizontal e na vertical. Para tanto,
idealizou-se um modelo simplificado, no formato de uma cápsula (turbilhão),
atuando ao redor da edificação, conforme figura abaixo.
FIGURA 2.6 – Dimensões de um turbilhão em relação a uma edificação
É cabível registrar que, quanto mais veloz a rajada, menor será seu
tempo de atuação na edificação e menor o turbilhão formado. Sabendo-se que
os anemógrafos ou anemômetros em uso no Brasil só medem velocidades de
rajadas até três segundos e, considerando que, os efeitos de curta duração são
críticos para determinar as pressões locais (postes, painéis, estruturas isoladas)
e em pequenas edificações (coberturas em geral), a NBR 6123:1988 adotou
este tempo de rajada como referência. Vale observar que, para edificações
maiores, o mesmo documento normativo considera tempos de rajadas de maior
duração (5 e 10s) e, por conseguinte, menores valores da velocidade média.
Estes e alguns outros fatores necessários à quantificação das forças
devidas ao vento são discutidos com mais detalhes nos itens a seguir, partindo-
se das prescrições contidas na NBR 6123:1988.
2.3.4.2 Velocidade básica do vento (V0)
É um parâmetro diretamente relacionado às circunstâncias em que são
feitas as medidas da velocidade do vento. Os equipamentos para tais medidas
(anemômetros/anemógrafos) e as condições para sua instalação são
padronizados, tais como: localizados em terrenos planos e posicionados a 10
metros de altura; sem obstruções que venham a interferir na velocidade do
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
vento; leitura da velocidade média do vento, sobre três segundos. Assim sendo,
fica estabelecido o padrão de referência, a partir do qual são feitas as
necessárias correções para cada caso específico de edificação. A partir das
informações obtidas, a NBR 6123:1988, através do “gráfico de isopletas”, indica
as velocidades básicas do vento, considerando as seguintes premissas: valores
de rajadas com duração de três segundos; período de retorno da rajada mais
crítica é de 50 anos; 63% de probabilidade de exceder a rajada mais crítica, no
período de retorno considerado.
Figura 2.7 – Gráfico das isopletas. Fonte NBR 6123:1988
As velocidades apresentadas no gráfico da figura 2.12 foram
determinadas a partir do tratamento estatístico aplicado aos dados obtidos em
49 estações meteorológicas espalhadas por todas as regiões do país, conforme
registrado no Anexo C da NBR 6123:1988.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
2.3.4.3 Velocidade característica do vento (Vk)
A determinação deste parâmetro se verifica a partir da velocidade básica
do vento e dos seguintes aspectos:
*Topografia do local da obra: condições específicas que podem provocar
alterações significativas na velocidade do vento, como aclives e fundos de vale,
por exemplo;
*Rugosidade do terreno: leva em conta a existência ou não de obstáculos
(naturais ou artificiais), sua altura e sua disposição no entorno da obra, os quais
podem modificar a velocidade do vento;
*Dimensões da edificação: são variáveis importantes uma vez que o tempo da
rajada será diretamente proporcional às mesmas;
*Tipo de ocupação da edificação a ser construída: trata-se de um parâmetro
(estabelecido convencionalmente) que leva em consideração os riscos de vida
existentes no caso de ocorrer ruína da edificação.
Portanto, a velocidade característica do vento “Vk”, dada em m/s, é:
(2.3)
a)Fator (S1): Topografia
O fator “S1“ leva em consideração as variações do relevo do terreno as
quais conduzem ao aumento ou à diminuição da velocidade básica do vento. A
NBR 6123:1988 considera basicamente três situações: terreno plano ou pouco
ondulado (ponto A), vales profundos protegidos do vento (ponto C) e taludes e
morros (ponto B).
FIGURA 2.8 – Alteração das linhas de fluxo devido a topografia
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Para estas situações, a NBR 6123:1988 recomenda os seguintes valores:
*Terreno plano ou fracamente acidentado: S1 10 , (Pontos “A” e “C” da figura
2.9 e Ponto “A” da figura 2.8);
*Vales protegidos do vento: S1 0 9 , (Ponto “C” da figura 2.8);
*Taludes e morros: “S1“ é determinado a partir do ângulo () de inclinação do
talude ou do morro, da altura (z) medida a partir da superfície do terreno no local
da construção e da diferença de nível (d) entre a base e o topo do talude ou
morro (Pontos B da figura 2.9). “S1” é determinado pelas expressões:
1a Situação: para 3 1001S` ,
2a Situação: para 6 17 10 2 5 3 100 01
0
S
z
dtg, , ,
3a Situação: para
45 10 2 5 0 31 100
1Sz
d, , , ,
FIGURA 2.9 – Taludes e morros
Para valores entre 3 e 6 e entre 17 e 45, o valor de “S1” é determinado
por interpolação linear.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
b)Fator (S2): Rugosidade do terreno e dimensões da edificação
O fator “S2” considera os aspectos particulares de uma determinada
edificação no que tange às suas dimensões e à rugosidade do terreno onde será
construída. Veja a tabela abaixo.
TABELA 2.5 Valores do fator “S2”.
Fonte: NBR 6123:1988.
A NBR 6123/1988 estabelece cinco categorias para a rugosidade dos
terrenos, conforme transcrição a seguir, sendo que para cada edificação é
necessário adotar uma categoria para a definição do fator “S2”:
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
*Categoria I
São as superfícies lisas de grandes dimensões, com mais de cinco
quilômetros de extensão, medidos na direção e no sentido do vento incidente.
Exemplos: mar calmo; lagos e rios; pântanos sem vegetação.
*Categoria II
São os terrenos abertos em nível ou aproximadamente em nível, com
poucos obstáculos isolados, como árvores e edificações baixas. Exemplos:
zonas costeiras planas; pântanos com vegetação rala; campos de aviação;
pradarias; fazendas sem sebes ou muros.
*Categoria III
São os terrenos planos ou ondulados com obstáculos, como sebes e
muros, poucos quebra-ventos de árvores, edificações baixas e esparsas.
Exemplos: granjas e casas de campo; fazendas com sebes e muros; subúrbios a
considerável distância do centro das cidades, com casas baixas e esparsas. A
cota média do topo dos obstáculos é considerada igual a 3 metros.
*Categoria IV
São os terrenos cobertos por obstáculos numerosos e pouco espaçados
em zona florestal, industrial ou urbanizados. Exemplos: parques e bosques com
muitas árvores; cidades pequenas e arredores; subúrbios densamente
construídos de grandes cidades; áreas industriais plena ou parcialmente
desenvolvidas. A cota média do topo dos obstáculos é igual a 10 metros.
*Categoria V
São os terrenos cobertos por obstáculos numerosos, de grande altura e
pouco espaçados. Exemplos: florestas com árvores altas de copas isoladas;
centros das grandes cidades; complexos industriais bem desenvolvidos. Nesta
categoria, a cota média do topo dos obstáculos é considerada igual a 25 metros.
Na definição de “S2” também devem ser consideradas as dimensões da
edificação. A NBR 6123:1988 define três classes para as edificações e seus
elementos, conforme transcrição a seguir:
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
*Classe A
Pertencem a esta classe todas as unidades de vedação, seus elementos
de fixação e as peças individuais de estruturas sem vedação; toda as
edificações ou suas partes nas quais a maior dimensão horizontal (planta) ou
vertical (superfície frontal) não exceda 20 metros.
*Classe B
Pertencem a esta classe todas as edificações ou suas partes nas quais a
maior dimensão horizontal (planta) ou vertical (superfície frontal) esteja
compreendida no intervalo entre 20 e 50 metros.
*Classe C
Pertencem a esta classe todas as edificações ou suas partes nas quais a
maior dimensão horizontal ou vertical (superfície frontal) exceda 50 metros.
Na tabela 2.5 estão apresentados os valores de “S2” para algumas alturas
de edificações. Nesta tabela, “z” representa a altura, em metros, medida a partir
da superfície do terreno.
c)Fator (S3): Estatístico
O fator “S3” é baseado em conceitos estatísticos, levando em
consideração a vida útil esperada para a edificação e o grau de segurança
requerido. De acordo com definição anterior, a velocidade básica do vento
apresenta um período de recorrência médio de cinqüenta anos. A probabilidade
de que tal velocidade seja igualada ou excedida é de 63%. Estes dois
parâmetros são considerados adequados para edificações usuais, tais como as
destinadas a moradias, hotéis, escritórios, entre outras (Grupo 2). A partir desta
consideração e na ausência de outros documentos específicos, adotam-se os
valores convencionais do fator “S3” dado pela NBR 6123:1988, conforme os
grupos de edificações:
*Grupo 1
São as edificações cuja ruína total ou parcial pode afetar a segurança ou
a possibilidade de socorro a pessoas após tempestades destrutivas, como é o
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
caso de hospitais, quartéis de bombeiros e de forças de segurança, centrais de
comunicação. Nesta condições, S3 110 , .
*Grupo 2
São as edificações para hotéis, residências; edificações para comércio e
indústria com alto fator de ocupação. Nestas condições, S3 100 , .
*Grupo 3
São as edificações e instalações industriais com baixo fator de ocupação.
Ex: depósitos, silos, construções rurais. Nestas condições, S3 0 95 , .
*Grupo 4
São as vedações (as telhas, os vidros, os painéis). Assim, S3 0 88 , .
*Grupo 5
Edificações temporárias; edificações dos grupos 1 a 3 durante a fase de
construção. Nestas condições, S3 0 83 , .
Para outros níveis de probabilidade de ocorrência e períodos de
recorrências (TR), consulta-se o Anexo “B” da NBR 6123:1988.
2.3.4.4 Pressão de obstrução ou Pressão dinâmica do vento (q)
No âmbito da NBR 6123:1988, pressão de obstrução é aquela exercida
pela velocidade característica do vento, nas condições normais de temperatura e
pressão. Portanto, o valor da pressão dinâmica do vento é expresso por:
q Vk 0 613 2, (N/m2) ou 1000
613,0 2
kVq (kN/m2).....................(2.4)
A pressão de obstrução será considerada sempre perpendicular à
superfície da estrutura.
2.3.4.5 Efeitos estáticos do vento
O efeito do vento é sempre considerado como ação dinâmica, pois a
velocidade do mesmo varia, temporalmente, de intensidade. Como ilustração, a
figura 2.10 mostra os efeitos do vento nas aberturas a barlavento e a sotavento.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
FIGURA 2.10 – Efeito do vento em função das aberturas (barlavento e sotavento).
Para a maioria das situações, o efeito do vento pode ser analisada
estaticamente, a partir dos coeficientes de pressão (externo e interno), de forma,
de força e de torção.
a)Coeficientes de pressão (cpe) e de forma (Ce), externos
Estes coeficientes foram definidos através do Teorema de Bernoulli
(fluído incompressível e escoamento (fluxo de ar) em regime permanente), ou
seja, a soma das pressões dinâmicas, estática e piezométrica é constante. Veja:
(2.5)
Onde,
*P: pressão estática;
*v: velocidade do ar;
*g: aceleração da gravidade;
*z: cota do ponto considerado;
*: massa espécifca do ar.
Para ações do vento em edificações é possível desprezar o efeito da
pressão piezométrica. Portanto,
(2.5a)
A partir da expressão (2.5a) e dos resultados dos ensaios de protótipos
realizados em túnel de vento pelo Professor Joaquim Blessmann, considerando
várias formas de edificações, foram cruciais para determinar os coeficientes (cpe)
e (Ce) explicitados pela NBR 6123/1988 - item 6 (Tabelas 4 e 5). Vale ressaltar
que, o parâmetro “Ce” é utilizado para direções do vento (0º e 90º), enquanto o
“cpe” é empregado para quaisquer direções do vento em relação a superfície.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
b)Coeficiente de força (Cg)
A força global que atua em uma estrutura é igual a soma vetorial de todas
as forças (forças: arrasto; sustentação; lateral; horizontal) que atuam em uma
edificação, conforme a figura abaixo.
FIGURA 2.11 – Forças aerodinâmicas sobre uma edificação
Desta forma, o Coeficiente de Força Global (Cg) é calculado,
(2.6)
A partir da decomposição da força global, tem-se:
b1)Coeficiente de arrasto (Ca)
É definido Força de Arrasto (Fa) como sendo a componente da Força
Global (Fg) na direção do vento. Sendo assim, determina-se o Coeficiente de
Arrasto (Ca),
(2.7)
b2)Coeficiente de sustentação (Cs)
É definido Força de Sustentação (Fs) como sendo a componente da Força
Global (Fg), perpendicular ao plano do horizonte. Sendo assim, determina-se o
Coeficiente de Sustentação (Cs),
(2.8)
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
b3)Coeficiente Lateral (Cl)
É definida a Força Lateral (Fl) como sendo a componente da Força Global
(Fg) na direção perpendicular ao vento, contida no plano horizontal. Sendo
assim, determina-se o Coeficiente Lateral (Cl),
(2.9)
b4)Coeficiente Horizontal (Ch)
É definido Força Horizontal (Fh) como sendo a resultante das Força de
Arrasto e Lateral, contida no plano horizontal. Sendo assim, determina-se o
Coeficiente Horizontal (Ch),
(2.10)
c)Coeficiente de pressão interna (Cpi)
Na condição ideal onde uma edificação fosse totalmente impermeável ao
ar, a pressão no interior da mesma seria invariável no tempo, qualquer que fosse
a velocidade da corrente de ar na parte externa. Entretanto, nas muitas
situações reais, as paredes ou a cobertura das edificações, mesmo
consideradas fechadas, permitem a passagem do ar, evidenciando que as
situações idealizadas não se repetem usualmente na prática. Por isso o
coeficiente de pressão interna está diretamente relacionado com as possíveis
aberturas onde vento possa adentrar.
Para as situações previstas na NBR 6123/1988, a pressão interna é
considerada uniformemente distribuída no interior da edificação. Por isso, em
superfícies internas planas, tem-se .
Diante disto, a NBR 6123/1987 admite, convencionalmente, que são
impermeáveis os seguintes elementos construtivos e vedações: lajes e cortinas
de concreto armado ou protendido; paredes de alvenaria, de pedra, de tijolos, de
blocos de concreto e similares, sem portas, janelas ou quaisquer outros
aberturas. Os demais elementos construtivos e vedações são considerados
permeáveis, devendo-se a respectiva permeabilidade à presença de aberturas
tais como: juntas entre painéis de vedação e entre telhas; frestas em portas e
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
janelas; aparatos para permitir a ventilação em telhas e panos de telhados; vãos
abertos de portas e janelas; chaminés e lanternins.
O índice de permeabilidade de uma parte da edificação é definido como a
relação entre a área das aberturas e a área total desta parte. Como indicação
geral, o índice de permeabilidade corrente de uma edificação para moradia ou
escritório, com todas as janelas e portas fechadas, está compreendido entre
0,01 e 0,05%. Entende-se por abertura dominante aquele cuja área é igual ou
superior à área total das outras aberturas que constituem a permeabilidade
admitida sobre toda a superfície externa da edificação.
Portanto, para o cálculo da força interna, a NBR 6123/1988 define alguns
valores para o coeficiente de pressão interna “cpi”, considerando a direção do
vento e da localização das aberturas.
1o)Para edificações com paredes internas permeáveis, a pressão interna é
considerada uniforme, adotando-se para o os valores dados a seguir:
a)Edificações com duas faces opostas igualmente permeáveis, as outras faces
impermeáveis:
*Vento perpendicular a uma face permeável:
*Vento perpendicular a uma face impermeável:
b)Edificações com quatro faces igualmente permeáveis
Considerar o mais nocivo entre os valores: ou
c)Edificações com abertura dominante em uma face, as outras com igual
permeabilidade:
c.1)Abertura dominante na face de barlavento
*Parâmetro “k1” indica a proporção entre a área da abertura
dominante e a área total das aberturas em todas as faces submetidas a
sucções externas,
TABELA 2.6 Coeficientes “Ci”
k1 Ci
1,0 +0,1
1,5 +0,3
2,0 +0,5
3,0 +0,6
6,0 ou mais +0,8
Adaptada da NBR 6123:1988
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
c.2)Abertura dominante na face de sotavento
*Adotar , correspondente à referida face (tabela 2.4);
c.3)Abertura dominante em face paralela ao vento, fora das regiões com
alta sucção externa (aquelas hachuradas nas tabelas 2.4 e 2.5)
*Adotar, correspondente à referida face (tabela 2.4);
c.4)Abertura dominante em face paralela ao vento, em região com alta
sucção externa (aquelas hachuradas nas tabelas 2.4 e 2.5)
*Parâmetro “k2” indica a proporção entre a área da abertura
dominante e a área total das outras aberturas situadas em todas as faces
submetidas a sucções externas,
TABELA 2.7 Coeficientes “Ci”
k2 Ci
0,25 -0,4
0,50 -0,5
0,75 -0,6
1,0 -0,7
1,5 -0,8
3,0 ou mais -0,9
Adaptada da NBR 6123:1988
2o)Para edificações efetivamente estanques e com janelas fixas, com
probabilidade desprezível de serem rompidas por acidente, adotar para o
coeficiente de pressão interna “Cpi” o mais nocivo entre os valores dados a
seguir:
a)Considerar: ou
Em resumo, o coeficiente de pressão interna é positivo quando ocorre
sobrepressão interna e negativo quando ocorre sucção interna.
2.3.4.6 Coeficientes de pressão e de forma: aplicação em edifício de
planta retangular e telhado de duas águas
Através dos ensaios, observaram-se que em regiões juntos às arestas
das paredes e do telhado, denominadas zonas de altas sucções, ocorrem
valores diferenciados dos coeficientes “Ce”. Tais valores, obtidos ponto a ponto,
levariam a um cálculo extremamente complicado. Para facilitar, as normas
técnicas recomendam valores médios.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
A figura 2.12 mostra esquematicamente a variação dos valores, do
referido coeficiente, obtidos em laboratório, bem como os valores médios
recomendados por norma.
FIGURA 2.12 - Esquema da variação dos valores dos coeficientes “Ce”
No caso de superfícies em que ocorrem variações consideráveis de
pressão, as mesmas foram subdivididas e os coeficientes são dados para cada
uma das partes. Notou-se também que, em situações onde ocorra a incidência
inclinada do vento (geralmente 45 graus), tais coeficientes são ainda maiores.
Veja a figura 2.13.
....
FIGURA 2.13 - Região de elevados valores de pressão (coeficientes “cpe”)
Convém lembrar que a NBR 6123:1988 considera o vento a zero grau
atuando paralelamente à maior dimensão em planta (retangular), enquanto o
vento a 90 graus atua perpendicular à maior dimensão em planta (retangular).
Para o dimensionamento (telhas, caixilhos, elementos estruturais, etc), a
NBR 6123/1988 define o “cpe” (coeficiente de pressão) para as regiões de
elevados valores de pressão (zona de sucção) e o coeficiente de forma “Ce” para
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
as demais regiões da edificação. As tabelas (2.8) e (2.9), apresentam tais
valores.
TABELA 2.8 – Coeficientes de pressão e de forma, externos, para telhados com duas águas, simétricos, em edificações de planta retangular (Fonte: NBR 6123:1988)
...........
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Outras observações em relação à tabela 2.8 são apresentadas na NBR
6123:1988.
TABELA 2.9 - Coeficientes de pressão e de forma, externos, para paredes de edificações de planta retangular.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Outras observações em relação à tabela 2.9 são apresentadas na NBR
6123:1988.
2.3.4.7 Pressão efetiva ou resultante
A ação do vento em um ponto qualquer da edificação, introduz pressões
nas superfícies interna e externa. Este efeito é traduzido, através da NBR
6123/1988, por pressão efetiva (p),
............................................(2.11)
Sendo,
* : pressão efetiva externa e interna, respectivamente.
Pode-se reescrever a expressão (2.11) através da definição dos
coeficientes de pressão externa
e interna
, ou seja,
( ) (2.11a)
Valores positivos para pressão efetiva indicam o sentido de uma
sobrepressão na superfície e negativos indicam uma sucção na superfície.
2.3.4.8 Força devida ao vento – estruturas de cobertura
A força “F” devida ao vento que atuará nas estruturas ou nos
componentes da edificação depende da pressão dinâmica do vento “q” e da
diferença de pressão nas faces opostas da parte da edificação em estudo
(cobertura ou vedação, por exemplo). Assim sendo, tal força é dada pela
multiplicação entre a pressão efetiva e a área na qual ocorre a incidência do
vento,
( ) (2.12)
Sendo,
*F: força externa à edificação, agindo na superfície plana de área “A”;
*Ce; Ci: coeficiente de forma externo e interno;
*q: pressão de obstrução.
Capítulo 02: Ações em Estruturas de Madeira
Desta maneira, os valores positivos para “F” indicam que esta força atua
para o interior (sobrepressão) e valores negativos indicam que esta força atua
para o exterior (sucção) da edificação.
Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1988). NBR 6123 – Forças devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1980). NBR 6120 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2003) NBR 8681 – Ações e segurança nas estruturas. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2013). NBR 7188 – Cargas móveis rodoviárias e de pedestre em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (2013). NBR 7187 – Projeto e execução de pontes de concreto armado e protendido. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1986). NBR 8800 – Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios. Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1997). NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeira. Rio de Janeiro.
CALIL Jr., C; ROCCO LAHR, F.A.;.DIAS, A.A. Dimensionamento de elementos estruturais de madeira. Ed. Manole, 2003, 152p.
PFEIL, W.; PFEIL, M. Estruturas de madeira. Ed. LTC, 6ª edição, 2003, 224p.
PITTA, J.A.A. Ações devidas vento em edificações. Série Apontamentos. Universidade Federal de São Carlos, EdUFSCar, Reimpressão, 2013, 47p.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 1
CAPÍTULO 03: Introdução ao Método dos Estados
Limites
3.1 Introdução
Neste capítulo, que abre as discussões voltadas à elaboração de projetos
estruturais de aço e de madeira, serão apresentadas algumas definições
relacionadas aos fundamentos do método dos estados limites. Tal método foi
desenvolvimento na Rússia entre 1947 e 1949, sendo aprovado em 1955 e
introduzido na engenharia civil em 1958. No Brasil, especificamente nas estruturas
de aço e de madeira, começou a ser empregado em 1986 e 1997, respectivamente.
Também são objetos de estudos as discussões referentes as ações
estabelecidas pelas normas brasileiras NBR 8800/1986 - "Projeto e execução de
estruturas de aço de edifícios" e NBR 7190/1997 - "Projeto de estruturas de
madeira" para a elaboração de projetos, as combinações recomendadas na
avaliação dos estados limites últimos e de utilização, bem como os respectivos
valores de cálculo das ações. As ações relatadas nestes documentos normativos
seguem as recomendações prescritas nas normas brasileiras designadas por NBR
6120 - “Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. - Procedimento”, NBR
6123 - “Forças devidas ao vento em edificações - Procedimento” e NBR 8681 -
“Ações e segurança nas estruturas”.
O objetivo principal deste método é disciplinar as especificações das ações e
promover a análise da segurança, atendendo os critérios de ruína e às condições de
utilização. Para facilitar a compreensão da terminologia atualmente utilizada na
elaboração de projetos estruturais, é necessário registrar algumas definições
básicas, entre elas, os estados limites de uma estrutura (último e de utilização), bem
como as ações atuantes.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 2
Os estados limites de uma estrutura são estados ou circunstâncias a partir
dos quais a estrutura passa a apresentar desempenho incompatível com as
finalidades de projeto e construção. Os estados limites a considerar nos projetos
estruturais dependem dos materiais empregados e devem ser especificados pelas
normas correspondentes. Na elaboração dos projetos são feitas as verificações
referentes aos chamados estados limites últimos e aos estados limites de utilização,
conforme apresentado a seguir:
a)Estados limites últimos: são estados que, pela sua ocorrência, definem o limite
acima do qual a paralisação total ou parcial do uso da construção seja necessária.
Nos projetos estruturais devem ser considerados os estados limites últimos
caracterizados por: perda de equilíbrio, parcial ou global, da estrutura, admitida
como um corpo rígido (tombamento e deslizamento); instabilidade, parcial ou global,
da estrutura; ruptura ou deformação plástica excessiva dos materiais; transformação
da estrutura, no todo ou em parte, em um sistema hipostático; instabilidade por
deformação; instabilidade dinâmica (ressonância); fadiga, entre outros.
b)Estados limites de utilização: são estados ou circunstâncias que pela sua
ocorrência, repetição ou duração, provocam efeitos estruturais que extrapolam as
condições estabelecidas para o uso normal da construção, ou que são indícios
claros de comprometimento da sua durabilidade, funcionalidade e estética. No
período de vida útil das estruturas devem ser considerados os estados limites de
utilização caracterizados por: danos ligeiros ou localizados que comprometam o
aspecto estético da construção; danos ligeiros ou localizados que comprometam a
durabilidade da estrutura (corrosão do aço, ataques por organismos xilófagos à
madeira); deformações excessivas que afetem a utilização normal da construção ou
sua estética, prejudiquem o funcionamento de equipamentos, danifiquem
instalações ou materiais de acabamento ou partes não estruturais da construção;
vibrações de amplitude excessiva que causem desconforto ao usuário ou danos à
construção ou a seu conteúdo
As ações podem ser entendidas como causas que provocam a ocorrência de
esforços ou deformações nas estruturas. Do ponto de vista prático, as forças e as
deformações impostas pelas ações são consideradas como se fossem as próprias
ações. As forças são chamadas de ações diretas, enquanto as deformações
impostas são designadas por ações indiretas.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 3
3.2 Verificações de Projeto
O assunto tratado neste capítulo está baseado nas recomendações contidas
na NBR 7190/1997. Na respectiva elaboração, de acordo com os conceitos do
método dos estados limites, além do estabelecimento dos valores de projeto para as
solicitações (Sd), a partir dos respectivos valores das ações consideradas, é
necessário determinar os valores de projeto para as propriedades da madeira (Rd),
especialmente as referentes à resistência e à rigidez, uma vez que as condições
gerais a serem obedecidas no dimensionamento dos elementos estruturais são
dadas pela expressão,
S Rd d ...................................................(1.1)
Em outras palavras, o intuito principal é verificar se as solicitações (Sd) não
ultrapassam as resistências (Rd) dos materiais estruturais.
As solicitações (Sd) de projeto são obtidas a partir da expressão abaixo,
S Sd f k .................................................(1.2)
Sendo,
*Sk: solicitação característica;
*f: fator de majoração das ações.
Este fator é quantificado a partir da combinação dos seguintes coeficientes:
-f1:considera a variabilidade das ações;
-f2 (o): fator de combinação (considera a probabilidade de ocorrência
simultânea das ações);
-f3: considera os possíveis erros da avaliação dos efeitos das ações, devido
à problemas construtivos ou deficiência do método.
A resistência de cálculo (Rd) é determinada pela expressão (1.3),
R KR
dk
m
mod .............................................(1.3)
Para,
*Rk: resistência característica;
*Kmod: coeficiente de modificação;
*m: fator de ponderação das resistências.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 4
3.3 Solicitações de projeto
De maneira geral, as solicitações de projeto são obtidas a partir das seguintes
ações: permanentes(diretas e indiretas), variáveis(normais e especiais) e
excepcionais.
3.3.1 Classificação das ações
As ações permanentes são aquelas que ocorrem com magnitude constante
ou de pequena variação ao redor da média, durante praticamente toda a vida útil da
construção. Consideram-se ações permanentes diretas os pesos próprios dos
elementos da estrutura e de todos os elementos construtivos permanentes, os
pesos dos equipamentos fixos e os empuxos devidos ao peso próprio de terras não
removíveis e, em situações específicas, os empuxos hidrostáticos. As ações
permanentes indiretas são a protensão, os recalques de apoio e a retração dos
materiais com que as estruturas são construídas.
Como ações variáveis definem-se as que ocorrem com magnitude
significativamente variável ao redor da média, durante a vida útil da construção. São
consideradas ações variáveis as cargas acidentais, que atuam nas construções em
função de seu uso. Alguns exemplos: sobrecarga de utilização, força de frenagem,
de impacto, força centrífuga, efeitos do vento, da variação de temperatura, do atrito
nos aparelhos de apoio, pressões hidrostáticas e pressões hidrodinâmicas.
Recebem designação de ações variáveis normais aquelas cuja probabilidade de
ocorrência seja suficientemente elevada, de modo a tornar-se obrigatória sua
consideração no projeto de um determinado tipo de estrutura. Ações decorrentes de
sismos ou cargas de natureza ou intensidade não usuais são chamadas de ações
variáveis especiais.
As ações excepcionais têm baixíssima probabilidade de ocorrência e duração
muito curta. Considera-se como tais aquelas oriundas de explosões, choques de
veículos ou embarcações, enchentes, incêndios, entre outras.
3.3.2 Valores representativos da ações
As ações são quantificadas numericamente por seus valores representativos,
que podem ser os valores característicos, os valores característicos nominais, os
valores reduzidos de combinação, os valores convencionais excepcionais, os
valores reduzidos de utilização e os valores raros de utilização.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 5
3.3.2.1 Valores representativos: estados limites últimos
a)Valores característicos
São denotados por “Fk” e definidos em função da variabilidade de suas
intensidades. De acordo com a NBR 8681/1984, para quantificar as ações variáveis
admite-se um período convencional de referência, em geral de cinqüenta anos,
ajustando o valor característico da ação em função desse período. Os “Fk”,
estabelecidos consensualmente, são valores com 25 a 35% de probabilidade de
serem ultrapassados no período de referência considerado.
Os valores característicos das ações permanentes correspondem à
variabilidade constatada num conjunto de estruturas semelhantes. Quando as ações
permanente produzem efeitos desfavoráveis na estrutura, o valor característico se
refere ao quantil de 95% da respectiva distribuição de probabilidade (valor
característico superior). Para as ações permanentes que produzem efeitos
desfavoráveis, o valor característico corresponde ao quantil de 5% de suas
distribuições (valor característico inferior). As ações variáveis que produzem efeitos
favoráveis não devem ser consideradas atuando sobre a estrutura.
b)Valores característicos nominais
No caso de ações cuja variabilidade não é expressa convenientemente por
distribuições de probabilidade, “Fk” são substituídos por valores nominais escolhidos
consensualmente. Para as ações com pouca diferença entre os valores
característicos inferior e superior, adotam-se para “Fk” os valores médios das
respectivas distribuições.
c)Valores reduzidos de combinação
São denotados por “0Fk” e empregados nas condições de segurança
relativas a estados limites últimos quando existem ações variáveis de diferentes
naturezas. Os valores de “0Fk” consideram a baixa probabilidade de ocorrência
simultânea dos valores característicos de duas ou mais ações variáveis de
naturezas diversas. Simplificando a abordagem, admite-se um único “0” para cada
ação considerada no projeto, conforme registrado nas tabelas 1.1 e 1.2.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 6
d)Valores convencionais excepcionais
São valores arbitrados para as ações excepcionais, em comum acordo entre
o proprietário da construção, os engenheiros por elas responsáveis e as autoridades
governamentais que nela tenham interesse.
3.3.3.2 Valores representativos: estados limites de utilização
a)Valores reduzidos de utilização
Em casos de ações freqüentes ou de média duração, a verificação da
segurança em relação a estados limites de utilização é expressa por “1Fk”. Os
valores freqüentes caracterizam-se por inúmeras repetições ou por atuarem em
mais de 5% da vida útil da estrutura.
Para ações de longa duração ou quase-permanente, emprega-se a
expressão “2Fk”. Tais ações caracterizam-se por atuar em um período de
aproximadamente 50% da vida útil da estrutura.
Os valores de “1” e “2” estão registrados nas tabelas 1.1 e 1.2.
b)Valores raros de utilização
Quantificam as ações que podem levar a estados limites de utilização,
mesmo que atuem sobre a estrutura num intervalo de tempo de duração muito
curta.
3.3.3.3 Fatores de combinação e de utilização (i)
Os valores estabelecidos pela NBR 7190/1997 referentes aos fatores de
combinação e de utilização “i“ estão apresentados nas tabelas 1.1 e 1.2.
Tabela 1.1 - Coeficientes “ i ” para ações em estruturas de madeira.
Ações em estruturas de correntes 0 1 2
Variações uniformes de temperatura em relação à média anual 0,6 0,5 0,3
Pressão dinâmica do vento 0,5 0,2 0
Cargas acidentais em edifícios 0 1 2
Locais em que não haja predominância pesos de equipamentos fixos ou de elevadas concentrações de pessoas
0,4 0,3 0,2
Locais onde há predominância de pesos de equipamentos fixos ou de elevadas concentrações de pessoas
0,7 0,6 0,4
Bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6
Cargas móveis e seus efeitos dinâmicos 0 1 2
Passarelas para pedestres 0,4 0,3 0,2
Pontes rodoviárias 0,6 0,4 0,2
Pontes ferroviárias (ferrovias não especializadas) 0,8 0,6 0,4
Fonte: NBR 7190/1997
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 7
Os valores dos coeficientes ““ estabelecidos pela NBR 8800/1986, voltados
às estruturas de aço, estão apresentados na tabela 1.2.
Tabela 1.2 - Coeficientes ““ para ações em estruturas de aço.
Fatores de combinação
Variações uniformes de temperatura em relação à média anual 0,6
Pressão dinâmica do vento 0,6
Sobrecarga em pisos de bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens; Conteúdo de Silos e reservatórios
0,75
Cargas de equipamentos, incluindo pontes rolantes e sobrecargas em pisos diferentes dos anteriores
0,65
Fonte: NBR 8800/1986
Os coeficientes ““ devem ser tomados iguais a “1,0 (um)” nas seguintes
situações:
*para as ações variáveis não citadas na tabela 1.2;
*para as ações variáveis citadas na tabela 1.2, quando forem de mesma natureza da
ação variável principal.
3.3.4 Combinações de ações. Carregamentos
Um carregamento é especificado pelo conjunto das ações com probabilidade
não desprezível de ocorrência simultânea. Em cada tipo de carregamento as ações
devem ser combinadas de modo a serem obtidos os efeitos mais desfavoráveis para
cada elemento constituinte da estrutura. Neste procedimento, as ações incluídas em
cada carregamento são combinadas considerando-se seus valores representativos,
multiplicados pelos respectivos coeficientes de ponderação das ações (ver mais
detalhes sobre este assunto no item 1.3.6), bem como pelos fatores de combinação
ou utilização.
Um carregamento engloba, na grande maioria dos casos, pelo menos ações
permanentes e ações variáveis. As ações permanentes devem figurar em todas as
combinações e são consideradas em sua totalidade. Das ações variáveis, como já
foi mencionado, são consideradas apenas as parcelas que produzem efeitos
desfavoráveis para a segurança estrutural. As ações variáveis devem, sempre, ser
consideradas atuando nas posições que produzam as condições mais desfavoráveis
para a segurança. A aplicação de ações variáveis sobre uma estrutura pode ser feita
seguindo-se eventuais regras simplificadoras, estabelecidas em documentos
normativos que levem consideração particularidades de determinados tipos de
construção. Em cada combinação relativa a um estado limite último, uma das ações
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 8
variáveis é considerada como a principal, admitindo-se que ela atue com seu valor
característico “Fk”; as demais ações variáveis são designadas secundárias, atuando,
por hipótese, com seus valores reduzidos de combinação “0Fk”.
Quando ocorrer um ação variável especial, esta deve ser considerada com
seu valor representativo e as demais ações variáveis com valores correspondentes
a uma probabilidade não desprezível de atuação simultânea com a ação variável
especial. No caso de uma ação variável excepcional, esta deve ser considerada
com seu valor representativo e as demais ações variáveis com valores
correspondentes a uma grande probabilidade de atuação simultânea com a ação
variável excepcional.
Na avaliação dos estados limites últimos serão consideradas as seguintes
combinações de ações: últimas normais, últimas especiais, últimas excepcionais e
últimas de construção; para os estados limites de utilização, as combinações: de
longa duração, de média duração, de curta duração e de duração instantânea. No
item 3.7 são encontrados outros detalhes referentes às combinações de ações.
3.3.4.1 Classes de carregamento
A NBR 7190/1997, item 5.1.4, define a classe de carregamento de qualquer
combinação de ações pela duração acumulada prevista para a ação tomada como a
variável principal na combinação considerada. As classes de carregamento estão
especificadas na tabela 1.3, transcrita do citado documento. Nesta tabela a coluna
“A” representa a duração acumulada da variável principal da combinação e a coluna
“B” representa a ordem de grandeza da duração acumulada da ação.
Tabela 1.3 Classes de carregamento. Fonte: NBR 7190/1997 [7].
Classe de carregamento A B
Permanente Permanente Vida útil da construção
Longa duração Longa duração Mais de seis meses
Média duração Média duração De uma semana a seis meses
Curta duração Curta duração Menos de uma semana
Duração instantânea Instantânea Muito curta
Fonte: NBR 7190/1997
3.3.4.2 Tipos de carregamento
Os carregamentos também podem ser classificados de acordo com as ações
às quais a estrutura estará sujeita durante seu período de vida em serviço.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 9
a)Carregamento normal
Abrange apenas as ações decorrentes do uso previsto para a construção.
Admite-se que um carregamento normal corresponda à classe de carregamento de
longa duração, equivalente ao período de referência da estrutura. Será sempre
considerado na verificação da segurança, quer em relação aos estados limites
últimos quer aos estados limites de utilização. Um recomendação importante da
NBR7190/1997 diz respeito ao fato que, em um carregamento normal, se estiverem
incluídas ações de curta ou média duração, seus valores atuantes serão reduzidos
para que a resistência da madeira possa ser considerada como correspondente
apenas às ações de longa duração. Isto é explicado pelo desempenho mais
satisfatório da madeira quando solicitada a ações de pequena duração, aspecto que
será discutido mais detalhadamente nos próximos capítulos.
b)Carregamento especial
Inclui ações variáveis de natureza ou intensidade especiais, cujos efeitos
superam em magnitude os produzidos pelas ações consideradas em carregamentos
normais. Os carregamentos especiais são transitórios, com duração muito pequena
em relação ao período de referência da estrutura. São considerados apenas na
verificação da segurança em relação aos estados limites últimos. A cada
carregamento especial corresponde uma única combinação especial de ações. Nos
projetos, admite-se que um carregamento especial corresponda à classe definida
pela duração acumulada estimada para a ação variável especial considerada (ver
tabela 1.3).
c)Carregamento excepcional
Inclui ações excepcionais que podem provocar danos catastróficos. Devem
ser considerados apenas em determinados tipos de construção, para os quais a
ocorrência de ações excepcionais não possa ser evitada ou desprezada, bem como
na concepção estrutural, não seja possível tomar medidas que anulem ou atenuem
a gravidade dos efeitos danosos dessas ações. Nos projetos, admite-se que um
carregamento excepcional corresponda à classe de duração instantânea.
d)Carregamento de construção
Trata-se de uma circunstância de caráter transitório, necessitando ser
avaliada em cada caso específico onde haja risco de ocorrência de estados limites
últimos já durante o período de construção ou içamento da estrutura. Podem ser
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 10
considerados na verificação da segurança os estados limites últimos e os estados
limites de utilização. Nos projetos, admite-se que um carregamento de construção
corresponda à classe definida pela duração acumulada da situação de risco.
3.3.5 Coeficientes de ponderação das ações (f)
Os valores de cálculo das ações “Fd” a serem utilizados na elaboração de
projetos de estruturas de madeira são obtidos a partir dos valores representativos
das ações, multiplicando-os, nas diferentes combinações, pelos respectivos
coeficientes de ponderação, denotados genericamente por “f”. Para situações onde
ocorra mais que duas ações variáveis, deve-se considerar os fatores de combinação
ou de utilização.
Quando são analisados os estados limites últimos, os coeficientes de
ponderação “f” levam em consideração a variabilidade das ações e os possíveis
erros de avaliação dos efeitos das ações, em decorrência de problemas construtivos
ou por deficiência do método de cálculo adotado.
Na análise dos estados limites de utilização, adota-se f=1, a menos que
exista alguma recomendação em contrário, expressa em normas especiais.
3.3.5.1 Coef. de ponderação das ações permanentes: estados limites últimos
Os coeficientes de ponderação das ações permanentes, designados por “g”,
majoram os valores representativos das ações permanentes que provocam efeitos
desfavoráveis e minoram os valores representativos que provocam efeitos
favoráveis para a segurança da estrutura. Para uma dada ação permanente, todas
as parcelas que a compõem são ponderadas pelo mesmo coeficiente “g”, não
sendo admitido que algumas de suas componentes sejam majoradas e outras
minoradas. Os coeficientes de ponderação “g” para as ações permanentes que
figuram nas combinações referentes aos estados limites últimos, salvo indicação ao
contrário expressa em norma relativa ao tipo de construção ou ao material
considerado, devem ter seus valores tomados conforme as indicações a seguir.
a)Ações permanentes de grande variabilidade
São definidas como de grande variabilidade as ações constituídas pelo peso
próprio do conjunto estrutural, dos elementos construtivos permanentes não
estruturais e dos equipamentos fixos (todos considerados globalmente), nas quais o
peso próprio da estrutura não supera 75% da totalidade dos pesos permanentes
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 11
citados. Os valores dos coeficientes “g” empregados nas estruturas de aço e de
madeira são apresentados na abaixo.
Tabela 1.4 - Coeficientes “g“ - ações permanentes de grande variabilidade
Combinações Efeitos desfavoráveis Efeitos favoráveis
Normais 1,4 0,9
Especiais e de construção 1,3 0,9
Excepcionais 1,2 0,9
Fonte:NBR 7190/1997
b)Ações permanentes de pequena variabilidade
São definidas como de pequena variabilidade as ações permanentes na
situação onde o peso próprio da estrutura supera 75% da totalidade dos pesos
permanentes. Os valores dos coeficientes “g” empregados nas estruturas de aço e
de madeira são apresentados abaixo.
Tabela 1.5 - Coeficientes “g“ - ações permanentes de pequena variabilidade
Combinações Efeitos desfavoráveis Efeitos favoráveis
Normais 1,3 1,0
Especiais e de construção 1,2 1,0
Excepcionais 1,1 1,0
Fonte:NBR 7190/1997
c)Ações permanentes indiretas
Para as ações permanentes indiretas, como os efeitos de recalque de apoio e
de retração dos materiais em estruturas de aço e de madeira, adotam-se os
coeficientes de ponderação, designados por ““, dados na tabela abaixo.
Tabela 1.6 - Coeficientes ““ - ações permanentes indiretas
Combinações Efeitos desfavoráveis Efeitos favoráveis
Normais 1,2 0
Especiais e de construção 1,2 0
Excepcionais 0 0
Fonte: NBR 7190/1997
3.3.6.2 Coef. de ponderação das ações variáveis: estados limites últimos
Os coeficientes de ponderação das ações variáveis, denotados por “q“,
majoram os valores representativos das ações variáveis que provocam efeitos
desfavoráveis para a segurança estrutural. As ações variáveis que provocam efeitos
favoráveis não são consideradas nas combinações de ações, admitindo-se que
sobre a estrutura atuam somente as parcelas que produzam efeitos desfavoráveis.
Os coeficientes de ponderação “q“ para as ações variáveis que figuram nas
combinações referentes aos estados limites últimos, salvo indicação ao contrário,
devem ter seus valores tomados conforme as indicações das tabelas a seguir.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 12
Tabela 1.7 - Coeficientes “q “ - ações variáveis (estruturas de madeira)
Combinações Ações variáveis incluindo as
cargas acidentais móveis
Efeitos da
temperatura
Normais 1,4 1,2
Especiais e de construção 1,2 1,0
Excepcionais 1,0 0
Fonte: NBR 7190/1997
As ações decorrentes do uso incluem as sobrecargas em pisos e coberturas,
cargas de pontes rolantes, cargas de outros equipamentos, entre outras.
3.3.6 Valores de cálculo (ou de projeto) das ações em estruturas de madeira
Na elaboração dos projetos de estruturas de madeira, os valores de cálculo
das ações “Fd” devem ser obtidos para cada combinação de ações referentes aos
estados limites últimos e aos estados limites de utilização. As combinações
recomendadas pela NBR 7190/1997 estão citadas no item 1.3.4, e as expressões
para a determinação dos respectivos valores de “Fd” são registradas a seguir.
3.3.6.1 Combinações de ações: estados limites últimos
a)Combinações últimas normais
F F F Fd g gi
m
q q qj
n
i i k k j j k
, , ,
10
21
...........................(1.4)
onde “Fgi k,” representa o valor característico das ações permanentes, ”Fq1,k
” o valor
característico da ação variável considerada principal para a combinação em questão
e “0 j jFq ,k
” os valores reduzidos de combinação das demais ações variáveis,
conforme tabelas 1.1 e 1.2. Em alguns casos especiais, é necessário que sejam
consideradas duas combinações: numa delas admite-se que as ações permanentes
sejam desfavoráveis e, na outra, que sejam favoráveis à segurança.
b)Combinações últimas especiais e de construção
F F F Fd g gi
m
q q qj
n
i i j ef j
,k ,k , ,k
10
21
...........................(1.5)
onde “Fgi k,” representa o valor característico das ações permanentes, ”Fq1,k
” o valor
característico da ação variável considerada principal para a situação transitória,
“0 j ef,” é igual ao fator “ 0 j
” adotado nas combinações normais, exceto quando a
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 13
ação principal “Fq1,k” tiver um tempo de atuação muito curto, situação em que “0 j ef,
”
pode ser tomado com valor equivalente ao “ 2 j” dado nas tabelas 1.1 e 1.2.
c)Combinações últimas excepcionais
F F F Fd g g qi
m
q qj
n
i i k exc j ef j k
, , ,
10
1
...........................(1.6)
onde “Fqexc” é o valor da ação transitória excepcional e os demais termos
representam valores efetivos já definidos anteriormente.
3.3.6.2 Combinações de ações: estados limites de utilização
Nas combinações de utilização consideram-se todas as ações permanentes,
incluindo as deformações impostas e as ações variáveis correspondentes a cada um
dos tipos de combinações, conforme as indicações a seguir.
a)Combinações de longa duração
Estas combinações, também denominadas quase-permanentes, são
consideradas no controle usual das deformações das estruturas e dos elementos
que a integram. Nas combinações de longa duração, todas as ações variáveis
atuam com os valores correspondentes à classe de longa duração.
F F Fd gi
m
qj
n
i j j
,k ,k
12
1
....................................(1.7)
onde os coeficientes “ 2 j” estão especificados nas tabelas 1.1 e 1.2.
b)Combinações de média duração
F F F Fd gi
m
q qj
n
i j j j
,k ,k ,k
11 2
2
....................................(1.8)
As combinações de média duração, também denominadas freqüentes, são
consideradas quando o controle das deformações é especialmente importante, por
exemplo, no caso de existirem materiais frágeis não estruturais ligados à estrutura.
Nestas condições, a ação variável principal “Fq1,k” atua com o valor correspondente à
classe de média duração e as demais ações variáveis atuam com os valores
correspondentes à classe de longa duração. Os coeficientes “1” e “2 ” estão
especificados nas tabelas 1.1 e 1.2.
Capítulo 03: Introdução ao Método dos Estados Limites 14
c)Combinações de curta duração
As combinações de curta duração, também designadas por combinações
raras, devem ser consideradas quando, para a construção da estrutura, for
especialmente importante impedir defeitos decorrentes das deformações. Nestas
combinações, a ação variável principal “Fq1,k” atua com o valor característico e as
demais ações variáveis atuam com seus valores correspondentes à classe de média
duração.
F F F Fd gi
m
q qj
n
i j j j
,k ,k ,k
11
2
....................................(1.9)
onde os coeficientes “1” estão especificados nas tabelas 1.1 e 1.2.
d)Combinações de duração instantânea
As combinações de duração instantânea consideram a ocorrência de uma
ação variável especial “FqESPECIAL” de duração instantânea. As outras ações variáveis
são consideradas com os valores que, na realidade, possam existir
simultaneamente com a carga especial definida para esta combinação. Não
havendo outro critério, podem ser admitidas com seus valores de longa duração.
F F F Fd gi
m
q qj
n
i ESPECIAL j j
,k , ,k
12
1
....................................(1.10)
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 81
CAPÍTULO 05: Dimensionamento:
Estados Limites Últimos
Segundo a NBR 7190/97, cujas prescrições estão embasadas no Método dos
Estados Limites, para que as peças estruturais de madeira destinadas ao emprego
estrutural tenham a segurança garantida, devem ser submetidas à duas formas de
análises, isto é:
*Verificação da resistência da seção transversal devido às solicitações normais e
tangenciais;
*Verificação da estabilidade lateral devido às solicitações normais.
5.1 Solicitações normais - verificação da resistência
Considerando uma peça estrutural, as tensões normais atuantes em uma
seção transversal qualquer pode ser originada com base em vários efeitos físicos,
principalmente, em decorrência das ações axiais (paralelas às fibras) e das ações
distribuídas ao longo do vão. Em alguns casos devem ser considerados os efeitos
decorrentes de forças atuantes na direção perpendicular às fibras.
Vale registrar que, nas estruturas hiperestáticas, as ações permanentes
indiretas (recalques de apoio e variações de temperatura) provocam mudanças nos
níveis de tensões, porém, em peças de madeira estes efeitos são desconsiderados.
Portanto, a condição de segurança é dada através da relação entre a tensão
atuante e a resistência correspondente à solicitação.
5.1.1 Ações axiais
Com o respaldo da Teoria da Elasticidade, admiti-se algumas simplificações e
considera-se que, os elementos solicitados por forças axiais geram tensões
uniformemente distribuídas em toda a área da seção transversal. Entretanto, os
efeitos produzidos podem ser de diferentes naturezas, ora provocando tensões de
tração, ora provocando tensões de compressão. Tais tensões, quando estão
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 82
inclinadas em relação às fibras da madeira com valor superior a seis graus,
considera-se a redução da resistência de acordo com a Fórmula de Hankinson,
f
f f
f f
0 90
02
902sen cos
.........................................(5.1)
Onde,
*f: resistência inclinada em relação às fibras da madeira;
*f0: resistência paralela às fibras da madeira;
*f90: resistência perpendicular às fibras da madeira;
*: inclinação entre a posição das fibras da madeira e o eixo longitudinal da peça.
5.1.1.1 Peças submetidas à tração paralela às fibras
A verificação da segurança estrutural para as peças de madeira solicitadas à
tração paralela às fibras estará garantida quando a tensão atuante (t0,d) for menor
ou igual a resistência de cálculo da referida solicitação (ft0,d), ou seja,
t tf0 0,d ,d ...................................................(5.2)
É conveniente salientar que para uma eventual inclinação com valor superior
a seis graus (arctg () = 0,10) entre a posição das fibras da madeira e o eixo
longitudinal da peça, torna-se necessário a consideração da redução da resistência.
Para tanto, emprega-se como referência a Fórmula de Hankinson, fazendo-se
então,
t d t df0, , ...................................................(5.3)
Como exemplo desta solicitação, pode-se mencionar algumas barras que
compõem as estruturas treliçadas, bem como as peças das estruturas de
contraventamento.
5.1.1.2 Peças submetidas à tração perpendicular (normal) às fibras
Conforme as prescrições indicadas na NBR 7190/97, a condição de
segurança na ruptura para as peças estruturais de madeira não devem depender
diretamente da resistência à tração perpendicular às fibras. Quando as tensões
atuantes puderem alcançar valores significativos, utilizam-se dispositivos, cujo
objetivo principal é impedir a ruptura das mesmas.
Mesmo sabendo que este efeito deve ser evitado, tal solicitação poderá
ocorrer em algumas situações, por exemplo:
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 83
*Ligações entre peças de estruturas treliçadas.
FIGURA 5.1 - Ligações entre peças de estruturas treliçadas
*Regiões de apoios indiretos, ou seja, ligações entre vigas, principalmente se a viga
de apoio possuir maior rigidez.
FIGURA 65.2 - Regiões de apoios indiretos
5.1.1.3 Peças curtas submetidas à compressão paralela às fibras
De acordo com as definições apresentadas no texto da NBR 7190/97, as
peças de madeira são consideradas curtas quando o valor do índice de esbeltez ()
é menor ou igual a 40, isto é
40 .......................................................(5.4)
Considerando,
L
iMIN
0, para i
I
AMINMIN
.......................................(5.5)
Sendo,
*iMIN: raio de giração mínimo;
*IMIN: momento de inércia à flexão mínimo;
*A: área da seção transversal;
*L0: comprimento teórico de referência.
P
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 84
O valor do comprimento teórico de referência é concebido com base nos tipos
de vinculações (figura 5.3) em que estão submetidas as peças estruturais. Desta
maneira, a quantificação é dada da seguinte forma:
*Elemento com extremidade livre e a outra engastada - L L0 2 ;
*Elemento com ambas as extremidades articuladas - L L0 .
Onde,
*L: comprimento efetivo de comprimento.
Para determinar os valores de "L0", considera-se os tipos de vinculações,
FIGURA 5.3 - Comprimentos teóricos de referência
Para elementos cujas extremidades sejam indeslocáveis a flexão, isto é,
quando se tem peça contínua com mais de dois apoios, a NBR 7190/97 não
considera qualquer acréscimo de rigidez em virtude da continuidade da mesma.
Neste caso, o mesmo documento normativo recomenda que o comprimento teórico
de referência seja igual ao comprimento efetivo da peça em questão, isto é, L L0 .
Em situações de projeto onde as peças curtas são admitidas como solicitadas
somente por compressão axial, a condição de segurança estará verificada quando
as tensões atuantes (c0,d) não ultrapassarem a resistência de cálculo à compressão
paralela às fibras (fc0,d). Tal condição é expressa por,
c d c df0 0, , ...................................................(5.6)
Quando o ângulo da inclinação das fibras ultrapassar 6 (arctg () = 0,10) em
relação ao eixo longitudinal da peça, verifica-se a segurança estrutural das peças
submetidas à compressão paralela às fibras da seguinte forma,
c d c df0, , ...................................................(5.7)
L
P P
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 85
Este tipo de solicitação ocorre principalmente em pilares (estruturas de
cobertura, viadutos, pontes, passarelas, etc.), barras de estruturas treliçadas, entre
outras.
5.1.1.4 Peças submetidas à compressão perpendicular (normal) às fibras
Entende-se por compressão normal, quando a direção das solicitações for
perpendicular às fibras da madeira. Portanto, a verificação da condição de
segurança para as peças de madeira submetidas a tais solicitações é garantida
através da seguinte expressão
c d c df90 90, , ...................................................(5.8)
Onde,
*c90,d: tensão atuante à compressão perpendicular às fibras da madeira.
Cabe ressaltar que a resistência à compressão perpendicular às fibras (fc90,d)
é determinada conforme a equação a seguir,
f fc n c90 00 25,d ,d, ..............................................(5.9)
O coeficiente "n" leva em consideração a extensão da aplicação da carga,
medida da direção paralela às fibras da peça solicitada. Os valores deste coeficiente
são expostos na tabela abaixo.
TABELA 5.1 - Valores de “n”
Extensão da carga normal às fibras,
medida paralelamente as mesmas (cm) “n”
1 2,00
2 1,75
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
10 1,10
maior ou igual a 15 1,00
Fonte: NBR 7190/97
De acordo com os valores apresentados na tabela acima, a resistência à
compressão perpendicular às fibras será acrescida, se somente se, a extensão da
carga aplicada for inferior a 15cm e estiver afastada de pelo menos 7,5cm da
extremidade da peça solicitada. Para os demais casos, adota-se n 100, .
Esse tipo de verificação é comumente empregado nas regiões de apoio dos
sistemas estruturais pilar-viga, bem como nas posições de locação das barras de
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 86
protensão transversal, caso das pontes laminadas-protendidas. Tal verificação é
válida para os casos das arruelas, tomando-se como extensão de carga a dimensão
do seu diâmetro ou lado.
5.1.2 Ações aplicadas ao longo do vão
Em geral, as peças solicitadas por ações externas aplicadas
perpendicularmente ao longo do vão, estarão sujeitas à flexão e ao cisalhamento.
Tais efeitos ocorrem na maioria dos elementos que compõem os mais variados tipos
estruturais, por exemplo, estruturas de cobertura, pontes, passarelas, assoalhos,
entre outros.
Em algumas casos, principalmente em estruturas de cobertura, é comum
aparecer o efeito simultâneo da flexão em duas direções perpendiculares entre si,
definindo-se como flexão oblíqua. Nos demais casos, ou seja, em peças fletidas em
relação a um eixo, dá-se o nome de flexão reta ou normal.
Convenientemente, neste item será abordado apenas o caso de flexão
simples (normal ou reta e oblíqua), deixando os demais estudos para uma
abordagem posterior.
5.1.2.1 Flexão simples reta (normal)
Por definição, entende-se por flexão simples reta como sendo aquela na qual
a direção das ações seja perpendicular ao eixo longitudinal da peça e o vetor
momento coincida com um dos eixos principais de inércia.
Com este tipo de carregamento aplicado ao longo do vão do elemento
estrutural, podendo ser discreto (cargas concentradas) ou contínuo (cargas
distribuídas), tem-se em uma seção transversal qualquer o aparecimento do
momento fletor. Na realidade, este esforço solicitante é a resultante das tensões
normais atuantes. Para o comportamento elasto-linear do material, considera-se
que, a tensão normal seja linearmente distribuída ao longo da altura da seção
transversal, ocasionado compressão de um lado da linha neutra e tração do outro.
Segundo a NBR 7190/97, independentemente das propriedades
anisotrópicas da madeira, admite-se que a linha neutra contenha o centro de
gravidade da seção transversal. A partir daí, conforme a Teoria da Elasticidade, tem-
se a coincidência com um dos eixos principais de inércia e, conseqüentemente,
perpendicular ao plano de cargas.
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 87
Conforme o mesmo documento normativo, adotar-se-á um vão teórico igual
ao menor entre os seguintes valores:
*Distância entre os eixos dos apoios;
*Vão livre acrescido da altura da seção transversal da peça no meio do vão,
desconsiderando aumento maior que 10cm.
Para analisar a segurança estrutural de uma peça sujeita à flexão simples
reta, deverá ser verificado se as tensões normais atuantes de cálculo nas bordas
comprimidas e tracionadas não ultrapassam as resistências à compressão e tração,
respectivamente. Para tanto, os cálculos de ambas as tensões são dados pelas
expressões:
*Borda comprimida: c cf1 0,d ,d
..........................................(5.10)
*Borda tracionada: t d t df2 0, ,
Onde,
*fc0,d e ft0,d: resistência à compressão e à tração, definidas nos itens 5.1.1.3 e
5.1.1.1, respectivamente;
*c1,d e t2,d: tensões atuantes de cálculo nas bordas mais comprimida e tracionada,
respectivamente.
As tensões atuantes são calculadas da seguinte forma:
c dd
c
M
Iy1 1,
............................................(5.11)
t dd
t
M
Iy2 2,
Sendo,
*Md: momento fletor atuante de cálculo na seção transversal considerada;
*I: momento inércia da seção transversal em relação ao eixo principal de inércia
perpendicular ao plano de ação do momento fletor;
*yc1 e yt2: distância da linha neutra até a fibra mais comprimida e tracionada,
respectivamente.
As peças fletidas, oriundas da flexão simples reta, ocorrem principalmente em
peças dispostas horizontalmente. Como exemplo, têm-se alguns componentes das
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 88
estruturas de telhado; dos tabuleiros de pontes, passarelas e viadutos, bem como
dos elementos estruturais de piso em geral.
5.1.2.2 Flexão simples oblíqua
A flexão simples oblíqua é definida como sendo aquela situação onde a
direção das cargas externas encontra-se perpendicular ao eixo longitudinal da peça,
porém, não coincide com nenhum dos eixos principais de inércia. Para simplificar o
cálculo, decompõem-se as cargas nas duas direções principais e,
consequentemente, determina-se dois valores de momento fletor. É fato que, desta
maneira evidencia mais explicitamente os efeitos da flexão. Para verificar a
segurança dos elementos estruturais submetidos à flexão simples oblíqua,
considera-se a contribuição das duas parcelas do momento fletor atuando nas
situações mais críticas, isto é, no pontos mais comprimido e tracionado da seção
transversal. Tal segurança é quantificada através da expressão mais rigorosa,
Mx d
wdM
My d
wdfK
f
, , 1
..........................................(5.12)
Kf fM
Mx d
wd
My d
wd
, , 1
Onde,
*Mx,d e My,d: tensões atuantes máximas de projeto, devidas às componentes de
flexão segundo os eixos principais "x" e "y", respectivamente;
*fwd: resistência de cálculo de tração ou de compressão, conforme a borda
verificada. Para situações onde a inclinação das fibras em relação ao eixo axial da
peça for superior a 6, utiliza-se a resistência "fwd" reduzida, de acordo com a
fórmula de Hankinson;
*KM: coeficiente de correção em função da geometria da seção transversal:
-para seções transversais retangulares - KM=0,5
-demais seções transversais - KM=1,0
Vale ressaltar que este caso de solicitação é muito comum nas terças
(componente de estruturas de cobertura).
5.1.3 Ações combinadas
Para os elementos estruturais aqui abordados, serão mencionados os efeitos
combinados da flexão reta ou oblíqua com as ações axiais, seja de compressão ou
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 89
de tração. Da ação conjunta destas solicitações pode originar a flexo-tração reta ou
oblíqua, a flexo-compressão reta ou oblíqua, bem como a flexão composta reta ou
oblíqua. Tais efeitos podem ocorrer em algumas peças estruturais, por exemplo,
pilares de pontes, de passarelas, de viadutos e de estruturas de cobertura, bem
como em terças, caibros, entre outros.
5.1.3.1 Flexo-tração (reta ou oblíqua)
De acordo com a Teoria da Elasticidade, define-se a flexo-tração como sendo
uma solicitação combinada entre o esforço normal de tração e o momento fletor,
porém, com esforço cortante nulo. Cabe ressaltar que nesta situação pode ocorrer
flexão reta ou oblíqua.
Para as citadas solicitações, a verificação da condição de segurança é dada
pela mais rigorosa das expressões abaixo:
Nt d
t d
Mx d
t dM
My d
t df fK
f
,
,
,
,
,
,0 0 0
1
.....................................(5.13)
Nt d
t dM
Mx d
t d
My d
t dfK
f f
,
,
,
,
,
,0 0 0
1
Onde,
*Nt,d: valor de cálculo da tensão normal atuante devido à força axial de tração.
5.1.3.2 Flexo-compressão (reta ou oblíqua)
A flexo-compressão é definida como sendo uma solicitação combinada entre
o esforço normal de compressão e o momento fletor, contudo, tem-se o esforço
cortante nulo. Assim como na flexo-tração, poderá ocorrer flexo-compressão reta ou
oblíqua. Os elementos estruturais submetidos aos esforços de flexo-compressão
terão sua segurança verificada de acordo com a mais crítica dentre as expressões:
Nc d
c d
Mx d
c dM
My d
c df fK
f
,
,
,
,
,
,0
2
0 0
1
.................................(5.14)
Nc d
c dM
Mx d
c d
My d
c dfK
f f
,
,
,
,
,
,0
2
0 0
1
Sendo,
*Nc,d: valor de cálculo da tensão normal atuante devido à força axial de
compressão.
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 90
5.1.3.3 Flexão composta (reta ou oblíqua)
A definição de flexão composta é embasada nos tipos de esforços solicitantes
atuantes, isto é, esforço normal, esforço cortante e momento fletor. A condição de
segurança para peças submetidas à flexão composta reta ou oblíqua é obtida da
seguinte maneira:
*Para elementos solicitados por esforço normal de tração, emprega-se as
expressões do item 5.1.3.1;
*Para elementos solicitados por esforço normal de compressão, emprega-se as
expressões do item 5.1.3.2.
As peças que estejam solicitadas por flexo-tração, flexo-compressão e flexão
composta, onde o ângulo de inclinação das fibras for superior a seis graus (arctg ()
= 0,10), os valores das resistências "fco,d" e "fto,d", deverão ser substituídos por "fc,d"
e ft,d", respectivamente.
Segundo a NBR 7190/97, as peças solicitadas à flexão simples e composta,
cujas seções transversais sejam formadas por elementos solidarizados
continuamente por pinos (pregos) e interligados por conectores metálicos (anéis
metálicos) serão consideradas peças maciças, desde que haja reduções no valor do
momento de inércia. Desta forma, o momento de inércia reduzido empregado para
peças fletidas é dado por,
I Ired r teor .............................................(5.15)
Onde,
*Ired: momento de inércia reduzido;
*Iteor: momento de inércia teórico resultante da composição da seção transversal;
*r: coeficiente de redução.
a)Solidarização por pregos - seção "T", "I", "caixão" e “duplo T”
Para os casos apresentados na figura 5.4, têm-se os valores de “r”:
*Seções transversais tipo “T” - r=0,95;
*Seções transversais tipo “I” e “caixão”- r=0,85.
As seções transversais tipo “duplo T” não são mencionadas nas
recomendações da NBR 7190/97, porém, GESUALDO [2] sugere r=0,85.
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 91
FIGURA 5.4 - Seções compostas por elementos solidarizados continuamente
b)Solidarização por anéis metálicos - seção retangulares e circulares
Para os casos apresentados na Figura 6.5, têm-se os valores de “r”:
*Seções transversais com dois elementos superpostos (retangulares/circulares) -
r=0,85;
*Seções transversais com três elementos superpostos (retangulares/circulares) -
r=0,70.
FIGURA 5.5 - Seções compostas por elementos interligados
c)Peças compostas com alma em treliça ou de chapa de compensado
Para o dimensionamento à flexão simples e composta, considera-se
exclusivamente a contribuição dos banzos comprimido e tracionado, sem redução
do momento de inércia. Pode-se observar que a alma das peças fletidas não
contribuem para o cálculo da rigidez, porém, suas ligações com os respectivos
banzos (superior e inferior) devem ser dimensionadas ao cisalhamento,
considerando a seção transversal maciça.
d)Peças compostas por lâminas de madeira colada
As peças de madeira laminada colada devem ser formadas por lâminas de
primeira categoria, conforme as exigências normativas, com espessuras não
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 92
superiores a 30 milímetros, sendo dispostas com seus planos médios paralela ou
perpendicularmente ao plano das cargas. Devem ser coladas com adesivos à prova
d’água, à base de fenol-formaldeído sob pressão, em processo industrial adequado
que solidarize permanentemente o sistema estrutural. Em lâminas adjacentes com
espessuras “t”, as emendas deverão estar afastadas entre si dos seguintes valores:
*Distância não inferior a vinte e cinco vezes sua espessura;
*Distância não inferior a altura “h” da viga.
Para uma viga, cujas emendas estão contidas em um comprimento não
superior a altura “h”, considera-se como se todas estivessem na mesma seção
transversal resistente. As lâminas emendadas terão suas seções transversais
resistentes reduzidas dos seguintes valores:
*Emenda dentada (finger joints): r=0,90;
*Emenda em cunha com incliunação de 1:10: r=0,85;
*Emendas de topo: r=0.
Assim sendo, a seção transversal reduzida é dada por,
A Ared r teor .............................................(5.16)
Onde,
*Ared: seção transversal reduzida;
*Ateor: seção transversal teórica;
*r: coeficiente de redução.
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 93
5.2 Solicitações normais - verificação da estabilidade local
De modo geral, as peças solicitadas à compressão ou flexo-compressão
estarão sujeitas ao estado limite último devido perda da resistência, bem como à
perda da estabilidade.
Em princípio, admite-se uma excentricidade acidental para os elementos
estruturais com índice de esbeltez superior a 40, que na situação de projeto são
considerados solicitados somente à compressão. Tal valor é conseqüência das
imperfeições geométricas das peças e das excentricidades inevitáveis dos
carregamentos. Será considerado a contribuição de outra excentricidade para
situações onde for evidenciada a distância entre o ponto de aplicação da carga axial
e o centro geométrico da seção transversal. Desta forma, surgirá o efeito de um
momento fletor, proporcionando uma condição de flexo-compressão. Além disso,
poderá haver um acréscimo na excentricidade total, em virtude dos efeitos da
fluência da madeira.
5.2.1 Parâmetros geométricos
Na verificação da estabilidade de peças comprimidas e flexo-comprimidas,
impõem-se algumas exigências relativas à esbeltez das mesmas, definida pelo
índice de esbeltez ().
Para os elementos estruturais de madeira, o “” é dividido em faixas de
valores, tais como:
*Peça curta: 40 ;
*Peça medianamente esbelta: 40 80 ;
*Peça esbelta: 80 140 .
As peças curtas submetidas na situação de projeto, à compressão simples e
à flexo-compressão, são dispensadas da verificação da estabilidade lateral. Porém,
para as peças medianamente esbeltas e esbeltas, a NBR 7190/97, conforme seus
itens 7.5.4 e 7.5.5, respectivamente, recomenda a verificação da segurança em
relação ao estado limite último de instabilidade.
5.2.2 Ações axiais
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 94
5.2.2.1 Peças com seção transversal retangular
5.2.2.1.1 Compressão de peças medianamente esbeltas
As peças medianamente esbeltas, definidas pelo índice de esbeltez
40 80 , são comumentes encontradas em pilares, em peças de estruturas
treliçadas, principalmente, em barras do banzo superior e diagonais, barras de
contraventamento, entre outras. Para estes elementos, considera-se atendida a
segurança relativa ao estado limite último de instabilidade, se no ponto mais
comprimido da seção for respeitada a condição
Nd
c
Md
cf f0 0
1,d ,d
..............................................(5.17)
Esta equação deve ser aplicada isoladamente para os planos de rigidez
mínima e máxima da peça. Tal verificação torna-se desnecessária quando o
correspondente índice de esbeltez for menor ou igual a 40.
Vale lembrar que, para as peças submetidas na situação de projeto à flexo-
compressão, decorrentes dos esforços de cálculo “Nd” e “Mx,d” e/ou “My,d”, além da
condição aqui mencionada, deve-se verificar a segurança estabelecida no item
5.1.3.2.
Nesta verificação considera-se,
*Nd: valor de projeto da tensão normal, oriundo do esforço normal “Nd”;
*Md: valor de projeto da tensão normal gerada pelo momento fletor “Md”, oriundo da
combinação dos efeitos das excentricidades (apresentadas a seguir).
O momento fletor “Md” é calculado pela expressão,
M N ed d d ...................................................(5.18)
Onde,
e eF
F NdE
E d
1 ..............................................(5.19)
Sendo,
e e ei a1 , considerando FE I
LE
c 2
0
02
,ef........................(5.20)
Para,
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 95
eM
N
M M
Nid
d
g q
d
1 1 1,d ,d, considerando e
L ha
0
300 30..............(5.21)
Tem-se,
*h: dimensão da seção transversal da peça, medida perpendicularmente ao plano
de flexão em que se verifica a condição de segurança;
*ei: excentricidade inicial de primeira ordem, devido à presença do momento fletor
“M1d”;
*ea: excentricidade acidental mínima, proveniente das imperfeições geométricas e
das excentricidades inevitáveis dos carregamentos;
*FE: carga crítica de Euler;
*I: momento de inércia da seção transversal da peça, relativo ao plano de flexão em
que se verifica a condição de segurança;
*Eco,ef: módulo de elasticidade longitudinal à compressão paralela às fibras,
E K Ec c m0 0,ef mod , ............................................(5.22)
*M1g,d e M1q,d: valores de cálculo, na situação de projeto, dos momentos fletores
devidos às cargas permanentes e variáveis, respectivamente.
O valor do momento fletor “M1d” é obtido quando na situação de projeto, a
barra estiver solicitada por flexo-compressão. Neste caso, a excentricidade “ei” não
será nula e, adotar-se-á no mínimo o seguinte valor:
eh
i 30..........................................................(5.23)
Vale observar que em quaisquer outras situações de projeto, admite-se “M1d”
nulo, ou seja, considera-se apenas a atuação do esforço normal “Nd”. Cabe ressaltar
que, as tensões normais serão calculadas através das expressões,
NddN
A e Md
dM
Iy ....................................(5.24)
5.2.2.1.2 Compressão de peças esbeltas
Neste caso, assim como nos elementos medianamente esbeltos, encontram-
se em pilares, em peças de estruturas treliçadas (barras do banzo superior e
diagonais), em barras de contraventamento, etc, principalmente, considerando o
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 96
plano de menor rigidez e o comprimento das peça. Nas peças esbeltas definidas
pelo índice de esbeltez 80 140 , considera-se atendida a segurança relativa ao
estado limite último de instabilidade, se no ponto mais comprimido da seção
transversal for respeitada a condição,
Nd
c
Md
cf f0 0
1,d ,d
...................................................(5.25)
Esta equação deve ser aplicada isoladamente para os planos de rigidez
mínima e máxima da peça. Tal verificação torna-se desnecessária quando o
correspondente índice de esbeltez for menor ou igual a 40.
Assim como no item anterior, as peças submetidas na situação de projeto à
flexo-compressão, decorrentes dos esforços de cálculo “Nd” e “Mx,d” e/ou “My,d”, além
da condição aqui mencionada, deve-se verificar a segurança estabelecida no item
5.1.3.2.
Neste caso, considera-se,
M N eF
F Nd dE
E d
1,ef ...........................................(5.26)
Verifica-se que o valor de “Md” é calculado em função da excentricidade
efetiva de primeira ordem (e1,ef) definida como:
e e e e e ec i a c1 1,ef .....................................(5.27)
Onde,
*ei; ea: definidas anteriormente;
*ec: excentricidade suplementar de primeira ordem, decorrente da fluência da
madeira.
A excentricidade “ec” é calculada de acordo com a expressão,
e e ec ig a
K
, para
KN N
F N N
g k q k
E g k q k
, ,
, ,
1 2
1 2
1.............(5.28)
sendo 1 2 1
Para,
*Ng,k e Nq,k: valores característicos da força normal devidos às cargas permanentes
e variáveis, respectivamente;
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 97
*1 e 2: fatores de utilização, definidos no item 5.4.6 (tabela 2) da NBR 7190/97;
*eig: excentricidade inicial de primeira ordem devida ao momento fletor “M1g,d”,
eM
Nig
g
d
1 ,d
................................................(5.29)
*: coeficiente de fluência, conforme o item 7.5.5 (tabela 15) da NBR 7190/97.
TABELA 5.2 - Coeficiente de fluência
Classes de carregamento Classes de umidade
(1) e (2 ) (3) e (4)
Permanente ou de longa duração 0,8 2,0
Média duração 0,3 1,0
Curta duração 0,1 0,5
Fonte: NBR 7190/97
Assim como no item 5.2.2.1.1, quando se tem “M1d” nulo, considera-se o
elemento solicitado apenas por esforço normal de compressão. Da mesma forma,
as tensões normais serão calculadas de acordo com as equações (5.24).
5.2.2.2 Peças com seção transversal múltipla
Os elementos estruturais submetidos na situação de projeto por compressão
ou flexo-compressão, com seção transversal múltipla, isto é, formada por duas ou
três peças com seção transversal retangular solidarizadas descontinuamente,
devem ter sua segurança verificada em relação ao estado limite último de
instabilidade global. Tais peças são freqüentemente projetadas para pilares, bem
como para elementos de treliças.
A composição destas peças dá-se através de espaçadores interpostos ou por
chapas laterais de fixação, ambos os casos, solidarizados por pregos ou parafusos.
Conforme a Figura 6.6, a formação da seção transversal múltipla deve respeitar
algumas restrições normativas, são elas:
*Distância entre elementos longitudinais (a): espaçadores interpostos - a distância
entre as faces internas das peças que compõem a nova seção deve ser no máximo
igual a três vezes a espessura (b1) do elemento de seção retangular, ou
seja,( a b 3 1); chapas laterais - tal distância não deve superar seis vezes a
espessura (b1) do elemento de seção retangular, ou seja, ( a b 6 1).
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 98
*Distância entre eixos dos elementos de fixação (L1): ao longo do comprimento “L”
da peça estrutural, os elementos de fixação (espaçadores interpostos e chapas
laterais) devem estar igualmente espaçados.
FIGURA 5.6 - Peças solidarizadas descontinuamente por espaçadores
A fixação dos espaçadores interpostos aos elementos longitudinais é
permitida através do emprego de apenas dois parafusos ajustados e dispostos na
direção axial da peça. Para tanto, algumas recomendações são impostas:
*Espaçamento mínimo (na direção longitudinal) entre eixos de parafusos deve ser
de quatro vezes o diâmetro dos parafusos em questão;
*Espaçamento mínimo (na direção longitudinal) entre o eixo do parafuso e as bordas
do espaçador deve ser de sete vezes o diâmetro do parafuso em questão.
Nessa verificação, as condições recomendadas nos itens 5.2.2.1.1 e
5.2.2.1.2, são representadas por,
N
A
M I
I W
M
a An
I
If
d d
y
d
yc d
2
2 1 1
202
1,ef ,ef
, .......................(5.30)
Onde,
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 99
*W2: módulo de resistência à flexão,
WI
b22
1
2
......................................................(5.31)
*Nd e Md: foram definidos nos itens 6.2.2.1.1 e 6.2.2.1.2.
Os demais parâmetros são definidos com auxílio da Figura 5.7.
FIGURA 5.7 - Parâmetros para seção transversal múltipla (dois e três elementos)
De acordo com a figura 5.7, tem-se os valores correspondentes aos
parâmetros geométricos das seções transversais isoladas:
A b h1 1 1
.............................................(5.32)
Ib h
11 1
3
12 ; I
b h2
13
12
De acordo com a Figura 6.7, tem-se os valores correspondentes aos
parâmetros geométricos das seções transversais múltiplas:
A nA 1
..........................................(5.33)
I nIx 1 e I nI a Ay 2 12
12
Para,
*b1 e h1: dimensões da seção transversal;
*A1: área da seção transversal do elemento isolado;
*I1 e I2: momento de inércia da seção transversal do elemento isolado, relativo aos
eixos “1-1” e “2-2”, respectivamente;
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 100
*n: número de elementos que compõem a seção transversal;
*A: área total da seção transversal;
*Ix e Iy: momento de inércia relativo aos eixos “x” e “y”, respectivamente;
O valor para o momento de inércia de cálculo em relação ao eixo “y” deverá
ser corrigido através do coeficiente “I”,
I Iy I y,ef , sendo
I
y y
I m
I m I
22
22
e mL
L
1
.................................(5.34)
Onde,
*m: número de intervalos em que foi dividido o comprimento total (L);
*L1: espaçamento entre eixos dos elementos de fixação;
*y: coeficiente de redução do momento de inércia, em função do tipo de elemento
de fixação, ou seja, espaçadores interpostos (y=1,25) e chapas laterais (y=2,25).
A redução do momento de inércia “Iy” dá-se em função da possível perda de
rigidez devido as uniões entre as peças longitudinais e os elementos de fixação.
Neste caso, vale observar que o valor do momento de inércia reduzido “Iy,ef” não
poderá ser inferior ao valor do momento de inércia da peça isolada “I2”, ou seja,
I Iy,ef 2 ..................................................(5.35)
Em resumo, a verificação deve ser feita como se a peça fosse maciça de
seção transversal “A” e momentos de inércia “Ix” e ”Iy,ef”.
A segurança relativa dos espaçadores estarão verificadas de acordo com a
condição abaixo,
V Fd 1,d ...................................................(5.36)
considerando, V A fL
ad v d 1 01
1, e F
Nd
d1 150,
Sendo,
*Vd: valor de projeto do esforço cortante;
*A1 e L1: valores definidos anteriormente;
*a1: distância perpendicular medida a partir do eixo da peça isolada até o eixo “y” da
seção transversal múltipla;
*fv0,d: valor de projeto da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras da madeira;
*Nd e n: definidos anteriormente;
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 101
*F1,d: valor convencional da força atuante no ponto de travamento da peça de seção
transversal múltipla;
A segurança relativa às ligações com as peças estruturais longitudinais
estarão verificadas de acordo com a condição abaixo:
Espaçadores interpostos:
F Fy d d, ..................................................(5.37
sendo, F f Ay d y d s, , , considerando ff
y d
y k
s,
,
(s=1,10)
para, F xd , tomando-se F M
I
s
red
1,d
Tem-se,
*Fy,d: valor de projeto da carga para cada seção de corte do pino metálico;
*fy,d: valor de projeto da resistência de cada parafuso;
*fy,k: valor característico da resistência de cada parafuso;
*s: coeficiente de minoração da resistência do parafuso;
*As: área da seção transversal de cada parafuso;
*Fd: valor de projeto da carga atuante na ligação entre os espaçadores e as peças
estruturais longitudinais;
*: fluxo de cisalhamento;
*x: dimensão medida na direção do eixo longitudinal do elemento estrutural
(considerando a dimensão do espaçador ou o espaçamento entre pinos metálicos);
*Ms: momento estático da área da seção transversal do elemento estrutural
longitudinal, onde se deseja calcular o fluxo de cisalhamento;
*Ired e F1,d: definidos anteriormente.
Chapas laterais:
FF
ny d
d
p,
,
1..................................................(5.38)
Onde,
*Fy,d e F1,d: definidos anteriormente;
*np: número de seções de corte.
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 102
De acordo com a NBR7190/97, a estabilidade local dos elementos de
comprimento “L1” estará garantida se for respeitada a seguinte limitação,
9 181 1 1b L b ...........................................(5.39)
5.2.2.3 Peças com seção transversal composta
Por definição, as peças com seção transversal composta são aquelas
formadas a partir de elementos isolados, cuja solidarização entre eles é dada de
maneira contínua, através de pinos metálicos (pregos e parafusos), cavilhas, etc.
Desta forma é possível obter seções transversais do tipo “I”, “T”, duplo “T”, caixão,
entre outras. Tais peças são muito empregadas em pilares e em barras de treliça,
principalmente, quando o nível dos esforços solicitantes são mais elevados.
A verificação resistência e da estabilidade das peças com seção transversal
composta solicitadas à compressão ou flexo-compressão, deve ser feita de acordo
com o exposto nos itens 6.2.2.1.1 e 6.2.2.1.2, referentes às peças medianamente
esbeltas e esbeltas, respectivamente, porém, a rigidez das peças deverão ser
consideradas conforme descrito no item 6.1.3.3.
Além das verificações intrínsicas já mencionadas, deve-se dimensionar os
elementos de ligação, de modo a assegurar o comportamento da viga como peça
única, ou seja, seção transversal solidarizada.
Tal dimensionamento não é abordado explicitamente pelo atual documento
normativo, NBR 7190/97. Portanto, na ausência de informações específicas, sugere-
se o emprego do conceito de fluxo de cisalhamento, dado através da seguinte
condição,
pn Fy
*,d
................................................(5.40)
tomando-se F M
I
s
red
1,d
Para,
*p: passo (espaçamento) entre os dispositivos de fixação, medido na direção do eixo
longitudinal da elementos estrutural;
*n*: número de fileiras de dispositivos de fixação em cada face onde atua o fluxo de
cisalhamento;
*Fy,d, F1,d, Ms, Ired e : definidos anteriormente.
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 103
5.2.3 Ações aplicadas ao longo do vão
5.2.3.1 Peças com seção transversal retangular
Nas vigas fletidas, as fibras solicitadas à compressão ficam sujeitas à perda
de estabilidade lateral. Portanto, além das verificações referentes às condições de
resistência da seção transversal (tensões normais e de cisalhamento), deve-se
verificar a condição de segurança relativa ao estado limite último de instabilidade
lateral. Segundo a NBR 7190/97, tal verificação é desnecessária quando forem
satisfeitas as condições descritas a seguir:
1a - Vinculações:
Os apoios de extremidade da viga impedem a rotação de suas seções
transversais extremas em torno do eixo longitudinal da peça.
2a - Travamento lateral (1
a situação):
De acordo com a NBR 7190/97, define-se o comprimento “L1” como sendo a
distância entre os eixos dos elementos de travamento lateral ao longo do
comprimento da viga. Esta distância deve ser tal que impeça a rotação da seção
transversal ao redor do eixo longitudinal e, para tanto, deve ser verificada a seguinte
condição:
L
b
E
f
c
M c
1 0
0
,ef
,d................................................(5.41)
Onde o coeficiente “M” é dado por,
ME
f
h
b
h
b
1
0 260 63
32
12,
,
...................................(5.42)
Os valores para “M” são apresentados pela NBR 7190/97, item 7.5.6 (tab.16)
TABELA 5.3 - Coeficiente de correção
h/b M h/b M
1 6 11 41,2
2 8,8 12 44,8
3 12,3 13 48,5
4 15,9 14 52,1
5 19,5 15 55,8
6 23,1 16 59,4
7 26,7 17 63,0
8 30,3 18 66,7
9 34,0 19 70,3
10 37,6 20 74,0
Fonte: NBR 7190/97
Capítulo - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 104
Para obtenção dos valores da tabela acima, considera-se f=1,4 e E=4.
3a - Travamento lateral (2
a situação):
Se o elemento estrutural não se enquadra na situação anterior, ou seja,
L
b
E
f
c ef
M c d
1 0
0
,
,..............................................(5.43))
a condição de segurança em relação ao estado limite último de instabilidade lateral
é aceitável, desde que a tensão normal na borda mais comprimida (c1,d), oriunda da
flexão, não seja superior a seguinte condição,
c
c
M
E
L
b
1
0
1,d
,ef
.............................................(5.44)
5.2.3.2 Peças com seção transversal diferente da retangular
Segundo a NBR 7190/97, item 7.7.2, na ausência de verificação específica da
segurança em relação a estabilidade da alma das peças com seção transversal
diferente da retangular (“T”, “I” ou “caixão”), recomenda-se a utilização de
enrijecedores localizados perpendicularmente ao eixo longitudinal da viga, com
espaçamento não superior a duas vezes a altura total da mesma. Vale lembrar que,
para estes tipos de seções transversais, deve-se considerar a redução do momento
de inércia, conforme apresentado anteriormente neste capítulo.
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 105
5.3 Solicitações tangenciais - verificação da resistência
5.3.1 Ações aplicadas ao longo do vão
5.3.1.1 Elementos estruturais sob efeitos da flexão
Para elementos estruturais solicitados à flexão, cujo esforço cortante não seja
nulo, dá-se origem às tensões de cisalhamento ou tangenciais. Em conseqüência da
validade do "Teorema de Cauchy", a tensão de cisalhamento pode ser entendida
como um esforço distribuído em planos longitudinais (direção paralela às fibras da
madeira) e perpendiculares às ações externas.
Esse efeito é mais significativo em elementos fletidos, onde a relação entre o
vão da peça e a altura da seção transversal seja inferior a 21, principalmente na
faixa entre 5 e 14.
A condição de segurança para as tensões tangenciais é verificada através da
comparação entre a tensão de cisalhamento atuante e a resistência ao
cisalhamento paralelo às fibras, conforme a seguinte expressão,
d v df 0, ...............................................(5.45)
Sendo,
dd sV M
bI ..............................................(5.46)
Onde,
*d: valor de projeto da máxima tensão de cisalhamento atuando no ponto mais
solicitado da peça;
*Vd: valor de projeto do esforço cortante;
*MS: momento estático (momento de primeira ordem);
*b: espessura da seção transversal no ponto considerado;
*I e fv0,d: definidos anteriormente.
Esta expressão é utilizada para seções transversais posicionadas nas regiões
centrais das peças fletidas. Os trechos próximos aos apoios diretos, localizadas até
uma distância igual a duas vezes a altura da seção transversal, medida a partir do
eixo do apoio, considera-se que o efeito do cisalhamento transforma-se em tensão
de compressão perpendicular às fibras. Este efeito é conseqüência da alta
concentração de tensões, provocado pelas reações de apoio. Portanto, o cálculo da
tensão de cisalhamento pode ser feito com um esforço cortante reduzido de valor,
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 106
V Va
hred d d, 2
, sendo 0 2 a h ........................(5.47)
Sendo,
*a: distância considerada para a redução do esforço cortante;
*h: altura da seção transversal.
FIGURA 5.8 - Trecho de redução do esforço cortante
No caso de peças fletidas com reduções bruscas da altura da seção
transversal devidas a entalhes, deve-se aumentar o valor de cálculo da tensão de
cisalhamento na seção enfraquecida. O fator multiplicador é dado de acordo com a
relação entre a altura da seção transversal (h) e a altura reduzida (h1). Assim sendo,
o valor da tensão de cisalhamento na seção transversal reduzida (*d) é expressa da
seguinte forma,
d d
h
h*
1
...............................................(5.48)
O valor do entalhe deve respeitar a restrição h1>0,75h.
FIGURA 5.9 - Seções transversais com redução brusca da altura Caso a condição anterior não seja respeitada, a NBR 7190/97 prescreve no
item 7.4.3 a seguinte recomendação: "..deve-se empregar parafusos verticais
dimensionados à tração axial para a totalidade da força cortante a ser transmitida..".
a
h
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 107
FIGURA 5.10 - Seção transversal reforçada com parafuso
Outra possibilidade do emprego do entalhe é a utilização de mísulas, ou seja,
promover uma redução gradativa da altura da seção transversal, figura 5.11.
FIGURA 5.11 - Seção transversal com redução gradativa da altura
Esta situação deve respeitar as condições a seguir:
h10,5h e a*3(h-h1)
Para,
*a*: trecho de redução gradativa da altura da seção transversal.
5.3.1.2 Elementos estruturais sob efeitos da torção
As peças estruturais submetidas aos efeitos da torção devem ser evitadas em
virtude da possibilidade do "descolamento" entre as fibras, caracterizando assim, a
ruptura por tração normal.
Entretanto quando o momento torçor for essencial para o equilíbrio do
sistema estrutural, deve-se respeitar a condição
T d v df, 0, ...........................................(5.49)
Onde,
*T,d: valor de projeto da tensão de cisalhamento devido ao momento torçor (Td).
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 108
O valor desta tensão “T,d” é calculado através das expressões da Teoria da
Elasticidade, sob as ações das solicitações “Td”.
5.3.2 Ações axiais
As solicitações que atuam paralelamente às fibras da madeira e provocam
tensões de cisalhamento, ocorrem principalmente nas estruturas treliçadas de
cobertura (tesouras triangulares), mais especificamente nas regiões das ligações
entre peças dos banzos superior e inferior. Tais tensões surgem quando a união
entre as citadas barras são executadas por meio de entalhes, popularmente
denominadas por "dentes".
Assim como apresentado no item 5.3.1.1, a condição de segurança é
verificada quando o valor de projeto da tensão de cisalhamento atuante for no
máximo igual a resistência ao cisalhamento paralelo às fibras, isto é, d v df 0, .
Porém, considera-se,
d
dN
bf
cos.................................................(5.50)
Tem-se,
*f: folga, distância medida a partir do entalhe até a extremidade da barra;
*Nd: valor de projeto do esforço normal na barra entalhada;
*: ângulo entre o banzo superior e inferior;
*b: espessura da barra entalhada.
A figura (5.12) ilustra a situação mencionada acima.
FIGURA 5.12 - Detalhe de apoio (entalhe)
b f
Nd
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 109
5.4 Verificação da estabilidade global - contraventamento
Todo sistema estrutural esbelto, cujos planos de maior rigidez estejam
dispostos paralelamente entre si, solicitado parcial ou totalmente à compressão,
deve ser contraventado por elementos estruturais posicionados perperdicularmente
aos primeiros, de modo a impedir deslocamentos transversais excessivos, bem
como garantir a estabilidade global das estruturas principais.
O dimensionamento do contraventamento deve ser tal que, em suas análises,
considere as imperfeições geométricas das peças, as excentricidades inevitáveis de
carregamentos, assim como os efeitos de segunda ordem decorrentes das
deformações das peças fletidas. Na ausência de valores específicos que
considerem a influência dos fatores retratados acima, a NBR 7190/97 recomenda a
avaliação de duas situações:
1a) Verificação da resistência ou estabilidade
Se os elementos de contraventamento forem solicitados por forças de
compressão, os mesmos deverão ter sua resistência ou estabilidade verificada
conforme as prescrições relatadas no item 6.1 ou 6.2. Para tanto, emprega-se uma
força “F1d”, na situação de cálculo, em cada ponto de contato entre o sistema
principal e a estrutura de contraventamento, cuja direção seja ortogonal às
estruturas principais. Admite-se que tal força tenha um valor mínimo de,
FN
dd
1 150 ................................................(5.51)
Esta verificação poderá ser dispensada se a peça principal for travada
segundo as duas faces laterais opostas, fazendo com que os elementos de
contraventamento cumpram sua função, sendo solicitados apenas por esforços
axiais de tração em um de seus lados. O dimensionamento das ligações com a
estrutura principal, bem como as possíveis emendas dos elementos das estruturas
de contraventamento, deverão ser realizadas para resistirem às forças “F1d”.
2a) Verificação da rigidez
Conforme as propriedades geométricas e de elasticidade, os elementos de
contraventamento devem ter tal rigidez, de modo a verificar a seguinte expressão:
k kELEM br min , ,1 .............................................(5.52)
Para,
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 110
kE I
Lbr min m
c ef
, ,
,
1
20 2
132
, considerando
m
m
1 cos ...........(5.53)
TABELA 5.4 - Valores de “m”
m 2 3 4 5
m 1 1,5 1,7 1,8 2
Fonte: NBR 7190/97
Os parâmetros acima são definidos da seguinte forma:
*L1: distância entre elementos de contraventamento;
*m: números de intervalo de comprimento “L1” entre as (m-1) linhas
contraventamentos ao longo do comprimento total “L” da peça principal;
*Ec0,ef: módulo de elasticidade efetivo à compressão paralela às fibras da madeira
da peça contraventada (conforme NBR 7190/97, item 6.4.9);
*I2: momento de inércia da seção transversal da peça principal, para flexão no plano
de contraventamento.
Segundo a NBR 7190/97, esta rigidez deve garantir que a eventual
instabilidade teórica da barra principal comprimida corresponda a um eixo
deformado constituído por “m” semi-ondas de comprimento “L1” entre nós
indeslocáveis. Tais parâmetros são mostrados na figura abaixo:
FIGURA 5.13 - Parâmetros para verificação da estabilidade lateral
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 111
Considerando o comportamento elasto-linear dos elementos de
contraventamento, a rigidez “kELEM” pode ser determinada a partir da “Lei de Hooke”,
ou seja,
Ec ef0, ..................................................(5.54)
A partir da definição de tensão e deformação e, desconsiderando o peso
próprio da peça, bem como a variação da seção transversal ao longo do
comprimento, tem-se,
F
AE
L
L
d
c ef
1
0
,
,
F
L
E A
L
d c ef1 0, ,
, sabendo se que k
F
LELEM
d
1,
Assim sendo,
kE A
LELEM
c ef
0,............................................(5.55)
Sendo,
*: tensão normal oriunda de esforço axial;
*: deformação longitudinal oriunda de esforço axial;
*A: área da seção transversal da peça;
*L: comprimento total da peça;
*L: variação do comprimento total da peça.
Obs.: os demais parâmetros foram definidos anteriormente.
5.4.1 Contraventamento de peças comprimidas
Para os elementos de contraventamento das peças estruturais com
articulações fixas em ambas as extremidades, submetidas na situação de cálculo
por forças de compressão “Nd”, o dimensionamento deve-se dar segundo as duas
situações expostas anteriormente, ou seja, análises de resistência ou estabilidade e
de rigidez.
5.4.2 Contraventamento do banzo comprimido de peças fletidas
O dimensionamento dos elementos de contraventamento das barras do
banzo comprimido de estruturas treliçadas ou de vigas fletidas, dá-se conforme já
especificado.
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 112
A verificação da resistência ou estabilidade será dada com base no valor
especificado para “F1d”; força calculada de acordo com o seguinte valor de Nd:
*Banzo comprimido de estruturas treliçadas - adota-se o maior entre os valores das
resultantes das tensões de compressão referentes às barras adjacentes ao nó
contraventado;
*Banzo comprimido de vigas fletidas - adota-se o valor da resultante das tensões de
compressão atuantes neste banzo.
Para o caso das vigas fletidas, tais hipóteses serão válidas se as rotações
das seções transversais extremas, em torno do eixo longitudinal da peça, forem
impedidas.
5.4.3 Contraventamento de elementos estruturais em paralelo
Qualquer estrutura composta por vários elementos estruturais planos
paralelos entre si, cuja estabilidade lateral individual requeira contraventamento,
deverá ser contraventada transversalmente.
Para o caso particular de estruturas de cobertura, a NBR 7190/97-item 7.6.4,
recomenda que, na ausência de uma análise estrutural rigorosa, permite-se
considerar uma estrutura de contraventamento formada a partir da seguinte
composição:
*Treliças verticais dispostas perpendicularmente aos elementos das estruturas
principais;
*Treliças dispostas perpendicularmente aos elementos das estruturas principais,
posicionadas no plano horizontal (junto ao banzo inferior) e no plano de cobertura
(junto ao banzo superior e paralelo ao telhado).
Tais estruturas devem ser colocadas nas extremidades da construção, bem
como em posições intermediárias. Estas estruturas devem estar posicionadas em
pelo menos um de cada três vãos definidos pelas estruturas principais, desde que o
espaçamento entre elas não seja superior a 20 metros.
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 113
Para que haja transferências de esforços entre os sistemas de
contraventamento adjacentes e, conseqüentemente promova o contraventamento
global, deve-se ter barras longitudinais contínuas que liguem, de uma extremidade a
outra da edificação, os nós homólogos dos banzos superior e inferior do sistema
estrutural principal.
Em geral, as estruturas de contraventamento posicionadas na parte interna
do sistema global, têm nas terças as barras longitudinais responsáveis pela união
entre os nós no banzo superior, enquanto no banzo inferior, empregam-se caibros
de madeira ou barras de aço com seção transversal circular para a mesma
finalidade. Este esquema é mostrado nas figuras abaixo.
FIGURA 5.14 - Esquema geral da estrutura de contraventamento do banzo inferior
FIGURA 5.15 - Esquema geral da estrutura de contraventamento do banzo superior
Estrutura principal
Terças
Tirantes
Tirantes
Terça
Estrutura principal
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 114
FIGURA 5.16 - Esquema geral da estrutura de contraventamento vertical
Para os elementos que compõem as estruturas de contraventamento das
extremidades, verifica-se as seguintes condições:
FIGURA 5.17 - Esquema geral da estrutura de contraventamento de extremidade
Estruturas principais (Banzo inferior)
Tirantes
Estruturas principais (Banzo superior)
Capítulo 5 - Dimensionamento: Estados Limites Últimos 115
1o Condição - Resistência ou Estabilidade
Nesta verificação, deve-se considerar a atuação de uma força “Fd” em cada
um dos nós com o seguinte valor,
F nFd d2
3 1, ....................................................(5.56)
Onde,
*n: número de estruturas existentes no trecho a ser estabilizado pela estrutura de
contraventamento considerada.
2o Condição - Rigidez
A rigidez deve ser tal que o seu nó mais deslocável atenda à exigência de
rigidez mínima, ou seja,
k nkELEMExtr
br min2
3 1, , ....................................................(5.57)
Onde,
*kELEMExtr : rigidez do elemento da estrutura de contraventamento de extremidade.
A rigidez “kELEMExtr ” pode ser calculada de acordo com a expressão (5.55).
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 116
5.5 Ligações
A madeira por ser um material de origem natural, nem sempre permite a
obtenção de peças com dimensões e formas geométricas desejadas, de modo que
possibilite utilizá-las estruturalmente. Por isso, a ligação entre elementos estruturais
é um dos aspectos que mais ocupa a atenção dos projetistas de estruturas de
madeira, pois, trata-se de um dos pontos de partida para a concepção da geometria
da estrutura.
De acordo com as prescrições da NBR 7190/97, as ligações mecânicas entre
elementos de madeira podem ser feitas segundo três tipos de dispositivos, isto é,
pinos metálicos (pregos e parafusos), cavilhas (pinos de madeira torneados) e
conectores metálicos (anéis metálicos e chapas com dentes estampados).
Conforme o mesmo documento normativo, a ligação também poderá ser executada
com cola, porém, com algumas restrições (ver a seguir).
Além das ligações entre peças de madeira, a NBR 7190/97 permite a união
entre madeira e aço, porém, a segurança dos elementos de aço deve ser verificada
de acordo com a NBR 8800/86 - “Projeto e execução de estruturas de aço de
edifícios.
Para que a ligação seja segura e, conseqüentemente, haja continuidade entre
elementos estruturais de madeira, deve-se evitar o estado limite último por
deficiência do material. Para tanto, verifica-se a resistência do elemento estrutural
de madeira, bem como dos dispositivos de ligação. Em geral, o dimensionamento da
ligação deve obedecer a seguinte condição de segurança,
S Rd d .................................................(5.58)
Onde,
*Sd: valor de cálculo das solicitações;
*Rd: valor de cálculo da resistência dos elementos de ligação considerados.
5.5.1 Ligações com pinos
5.5.1.1 Ligações com pinos metálicos
Segundo as recomendações normativas, não deve-se empregar apenas um
pino metálico na ligação entre elementos estruturais. Tal fato se deve à segurança e
a uma melhor distribuição de esforços na região da ligação. Visando ainda promover
maior segurança, a NBR 7190/97 prescreve em seus itens 8.3.2 e 8.3.3, a
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 117
obrigatoriedade da pré-furação da peça de madeira em casos de ligações pregadas
e parafusadas, respectivamente.
Nas ligações pregadas, o diâmetro da pré-furação (d0) deve-se respeitar as
condições de segurança a seguir,
*Coníferas: d def0 0 85 , ;
*Dicotiledôneas: d def0 0 98 , .
Onde,
*def: diâmetro efetivo dos pregos.
Nestas ligações, o objetivo principal da pré-furação é diminuir o risco de
ocorrência de fendilhamento. Em estruturas provisórias, permite-se a execução de
ligações com pregos sem que haja uma pré-furação da peça. Para isso, é
necessário verificar as seguintes condições:
*espécie de madeira com densidade aparente não superior a 600 kg/m3;
*diâmetro efetivo (def )do prego menor ou igual a 1/6 da espessura da madeira mais
delgada;
*espaçamento mínimo de 10 vezes o diâmetro efetivo (def).
Os elementos estruturais de madeira ligados através de parafusos também
devem ser previamente furados, porém, diferentemente das uniões pregadas. Este
procedimento tem o intuito de facilitar a colocação dos disposotivos e, para tornar a
ligação menos deformável, a pré-furação deve respeitar a condição a seguir,
d d mmef0 0 05 , .........................................(5.59)
5.5.1.1a Resistência dos pinos metálicos
Geralmente, a análise das ligações é dada em função da resistência de
embutimento (few,d) das peças de madeira interligadas e da resistência de
escoamento (fy,d) do pino metálico.
De acordo com a NBR 7190/97, a resistência total da ligação entre duas
peças de madeira ou entre uma peça de madeira e outra de aço, cuja quantidade de
pinos metálicos não seja superior a oito e estejam dispostos em linhas paralelas aos
esforços atuantes, é calculada pela soma algébrica das resistências de cada um dos
pinos. Porém, para uma ligação com um número de dispositivos superior ao
especificado anteriormente, admite-se que os pinos metálicos suplementares devem
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 118
ser considerados com apenas 2/3 de sua resistência. Neste caso, considera-se um
número convencional (n0) de pinos para o cálculo da resistência da ligação,
n n0 82
38 .............................................(5.60)
Para,
*n: número efetivo de pinos metálicos.
Obviamente, a resistência total da ligação no que diz respeito aos pinos
metálicos, depende da quantidade e do diâmetro dos mesmos.
Conforme as prescrições da NBR 7190/97, os pinos metálicos empregados
estruturalmente devem ser feitos de aço e respeitarem as seguintes condições:
a)Pregos
Resistência característica ao escoamento (fy,k) - valor não inferior a 600 MPa;
Diâmetro - valor mínimo de 3 milímetros.
b)Parafusos
Resistência característica ao escoamento (fy,k) - valor não inferior a 240 MPa;
Diâmetro - valor mínimo de 10 milímetros.
O valor da resistência ao embutimento dos elementos de madeira são
determinados através de ensaios padronizados especificado no Anexo B, da NBR
7190/97. Na ausência de valores experimentais específicos, a mesma norma admite
a utilização das expressões a seguir, para que tais valores sejam quantificados.
Veja:
f f
f f f
e d c d
e d c d c d e
0 0
90 90 00 25
, ,
, , ,,
..............................(5.61)
Tendo,
*fe0,d; fe90,d: valor de cálculo da resistência ao embutimento paralelo e normal às
fibras da madeira, respectivamente;
*fc0,d; fc90,d: valor de cálculo da resistência à compressão paralela e normal às fibras
da madeira, respectivamente;
*e: coeficiente que varia em função do diâmetro do pino metálico.
Os valores do coeficiente “e” são apresentados na tabela XX.
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 119
TABELA 5.6 - Valores do coeficiente “e” Diâmetro do pino
(cm) 0,62 0,95 1,25 1,6 1,9 2,2 2,5 3,1 3,8 4,4 5 7,5
Coeficiente “e” 2,5 1,95 1,68 1,52 1,41 1,33 1,27 1,19 1,14 1,1 1,07 1
Fonte: NBR7190/97
Com referência aos elementos de madeira que compõem as ligações, deve-
se considerar a resistência acima mencionada, bem como uma espessura
convencional (t), tomando-a como sendo a menor dentre aquelas das peças unidas.
Para situações onde as ligações entre elementos estruturais são efetuadas
entre chapas de aço e peças de madeira, a determinação da resistência referente
ao contato do pino e a peça de aço deverá ser feita de acordo com os critérios
prescritos na NBR 8800/86.
De posse dos conceitos básicos, o dimensionamento das ligações
parafusadas e pregadas entre peças estruturais de madeira é realizado, tomando-se
como referência o valor de cálculo da resistência de um pino metálico,
correspondente a uma única seção transversal de corte. Para tanto, tal valor é
determinado conforme o parâmetro,
t
def
.................................................(5.62)
Sendo,
*t: espessura convencional (adotar a menor espessura das peças de madeira
interligadas);
*def: diâmetro nominal do dispositivo de ligação (pino metálico).
Como referência, estabelece-se um valor limite, ou seja,
lim
,
,
, 125f
f
y d
ew d
...........................................(5.63)
Tomando ff
y d
y k
s,
,
, sendo s 110,
Para,
*fy,k; fy,d: valor característico e de cálculo da resistência ao escoamento do pino
metálico, respectivamente;
*s: coeficiente de ponderação da resistência;
*few,d: valor de cálculo da resistência ao embutimento.
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 120
Observação: o valor de (few,d) deverá ser considerado em função da posição do
esforço atuante em relação às fibras, ou seja, paralelo, normal ou inclinado. Para o
último caso, emprega-se a fórmula de Hankinson.
O objetivo principal do coeficiente (lim) é quantificar teoricamente os efeitos
provocados nos componentes das ligações, ou seja, interpretar separadamente o
comportamento dos pinos metálicos e dos elementos de madeira. Em outras
palavras, tenta-se explicitar a ocorrência do embutimento na peça de madeira ou a
flexão dos pinos, decorrente da introdução de esforços. Para exemplificar, tem-se os
seguintes casos:
1o Caso
Considerando uma ligação com pino metálico de pequeno diâmetro (prego de
3 milímetros ou parafuso de 10 milímetros) e madeira com elevada resistência ao
embutimento (Ipê, Jatobá, Maçaranduba, Sucupira, Tatajuba, Angelim Ferro,
algumas espécies de Eucalipto, entre outras), verifica-se a tendência da flexão do
pino metálico.
2o Caso
Considerando uma ligação com pino metálico de grande diâmetro (prego de
6,4 milímetros ou parafuso de 16 milímetros) e madeira com baixa resistência ao
embutimento (pinho do Paraná, Quarubarana, Cedro Doce, algumas espécies de
Eucalipto, Pinus spp, entre outras), verifica-se a tendência de embutimento na
madeira.
Portanto, com base em tais parâmetros, isto é, os coeficientes () e (lim),
calcula-se o valor de cálculo da resistência de um pino (Rvd,1), correspondente a
uma seção de corte. De acordo com as condições abaixo, tem-se,
1a Condição - Embutimento na madeira (lim)
Rt
fvd ew d, ,,1
2
0 40
.......................................(5.64)
2a Condição - Flexão no pino metálico (lim)
Rd
fvd y d,lim
,,1
2
0 625
com lim ...........................(5.65)
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 121
Para situações onde há ligações entre elementos estruturais de madeira e de
aço, deve-se fazer duas verificações:
a)Considerar o efeito do pino metálico na madeira, seguindo as mesmas condições
estabelecidas anteriormente;
b)Considerar o efeito do pino metálico na chapa de aço, seguindo as
recomendações da NBR 8800/86.
Assim sendo, o valor de cálculo da resistência (Rvd,1) de um pino metálico,
correspondente a uma seção de corte entre uma peça de madeira e uma de aço, é
determinada pela menor entre os dois valores obtidos, conforme as verificações
acima mencionadas.
Para os casos de ligações entre peças de madeira e pinos metálicos
submetidos a corte duplo, como mostrado na figura (21), aplicam-se os mesmos
critérios anteriores.
FIGURA 5.19 - Ligação com pinos metálicos em corte simples
FIGURA 5.20 - Ligação com pino metálico entre peça de madeira e chapa de aço
“t” é o menor valor entre “t1”
e “t2”
Parafusos (“t” 2def) Pregos (“t4” 12def)
“t” é o menor valor entre “t1”
e “t2” (“t4” < “t2”) “t” é o menor
valor entre “t1” e “t2”
(“t4” = “t2”)
Parafusos (“t” 2def)
Pregos
(“t4” 12def) ou
(“t4” = “t2”)
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 122
Para tanto, considera-se a espessura convencional (t) como sendo o menor
valor dentre a condição a seguir:
t
t
t
t
1
2
3
2..................................................(5.66)
Segundo a NBR 7190/97, algumas recomendações construtivas devem ser
respeitadas:
a)Ligações parafusadas
-O diâmetro nominal (def) do parafuso não deve ser superior à metade da
espessura convencional (t), isto é, dt
ef 2;
b)Ligações pregadas
-O diâmetro nominal (def) do prego não deve ser superior à 1/5 da espessura
convencional (t), isto é, dt
ef 5
-Será permitido adotar a relação dt
ef 4, desde que, o diâmetro da pré-furação (d0)
seja igual ao diâmetro efetivo do prego, ou seja, d def0 ;
-Em ligações localizadas, a penetração (p) da ponta do prego na peça de madeira
mais distante de sua cabeça deve ser no mínimo doze vezes o seu diâmetro ou
igual à espessura desta peça,
p def 12 ou p t 2 ........................................(5.67)
(“t4” < “t3”) (“t4” = “t3”)
FIGURA 5.21 - Ligação com pinos metálicos em corte duplo
Parafusos (“t” 2def)
Pregos
(“t4” 12def)
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 123
-Em ligações corridas, esta penetração pode ser igual ao valor de (t1), ou seja,
p t 1 .
5.5.1.2 Ligações com pinos de madeira (cavilhas)
Cavilhas são elementos de ligação feitos de madeira torneada e devem ter
resistência compatível à classe C-60. Tais dispositivos, porém, podem ser
executadas com madeiras com densidade aparente não superior a 600 kg/m3,
desde que haja a impregnação das mesmas. O efeito da impregnação deve
proporcionar o acréscimo da resistência das cavilhas, de tal modo que atinjam
valores equivalentes aquelas pertencentes à classe C-60.
De acordo com a NBR 7190/97, admite-se para o emprego estrutural,
somente as cavilhas com diâmetros de 16, 18 e 20 milímetros.
Conforme especificado para as ligações com pinos metálicos, o
posicionamento das cavilhas é feito a partir da pré-furação das peças de madeira e,
tais furos devem ter o mesmo diâmetro nominal das cavilhas, isto é, d def0 .
5.5.1.2.a Resistência dos pinos de madeira (cavilhas)
O valor de cálculo da resistência (Rvd,1) de uma cavilha, correspondente a
uma seção de corte entre duas peças de madeira, é determinada com base nos
valores a seguir:
*Resistência à compressão normal às fibras (fc90,d) da cavilha, considerando o efeito
do esmagamento;
*Resistência à compressão paralela às fibras (fc0,d) da cavilha, considerando o efeito
da flexão.
Além da dependência das propriedades de resistência, é de fundamental
importância o conhecimento de duas grandezas geométricas, isto é, o diâmetro
nominal (def) das cavilhas e a espessura convencional (t) das peças de madeira
interligadas. Entre as duas espessuras, (t1) e (t2), adota-se o menor valor.
Vale ressaltar que, segundo as recomendações da NBR 7190/97, as cavilhas
em corte simples podem ser utilizadas apenas em ligações secundárias. Desta
forma, implicitamente, permite-se o emprego destes dispositivos somente em corte
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 124
duplo. Neste caso, para a obtenção da espessura convencional (t), aplica-se as
mesmas considerações apresentadas na equação (5.66).
Portanto, a resistência de cálculo (Rvd,1) da cavilha, considerando apenas
uma seção transversal de corte, é dada conforme duas condições:
1a Condição - Esmagamento da cavilha (lim)
Rt
fvd c d cav, , ,,1
2
900 40
....................................(5.68)
2a Condição - Flexão na cavilha (lim)
Rd
fvd c d cav,lim
, ,1
2
0040
com lim ......................(5.69)
Sabendo-se que,
*: coeficiente que relaciona a espessura convencional (t) e o diâmetro nominal (def)
da cavilha;
*lim: valor que define teoricamente o efeito de esmagamento ou flexão sobre as
cavilhas e, determina-se conforme a expressão abaixo,
lim
, ,
, ,
f
f
c d cav
c d cav
0
90
.............................................(5.70)
Tendo,
*fc0,d,cav; fc90,d,cav: valor de cálculo da resistência à compressão paralela e normal às
fibras da cavilha, respectivamente.
FIGURA 5.22 - Ligação com cavilhas
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 125
5.5.1.3 Espaçamentos em ligações com pinos (pregos com pré-furação,
parafusos e cavilhas)
Os espaçamentos(e) mínimos recomendados pela NBR 7190/97 são:
a)Distância entre o centro de dois pinos situados em uma mesma linha paralela à
direção das fibras:
-Pregos, parafusos ajustados e cavilhas: espaçamento não inferior a seis
vezes o diâmetro efetivo dos pinos, isto é, e def 6 ;
-Parafusos (com folga): espaçamento não inferior a quatro vezes o diâmetro
efetivo dos pinos, isto é, e def 4 .
b)Distância entre o centro do último pino à extremidade de peças tracionadas:
-Pregos, parafusos ajustados, parafusos (sem folga) e cavilhas: espaçamento
não inferior a sete vezes o diâmetro efetivo dos pinos, isto é, e def 7 .
c)Distância entre o centro do último pino à extremidade de peças comprimidas:
-Pregos, parafusos ajustados, parafusos (sem folga) e cavilhas: espaçamento
não inferior a quatro vezes o diâmetro efetivo dos pinos, isto é, e def 4 .
d)Distância entre o centro de dois pinos situados em duas linhas paralelas à direção
das fibras, medida perpendicularmente às fibras:
-Pregos, parafusos ajustados, parafusos (sem folga) e cavilhas: espaçamento
não inferior a três vezes o diâmetro efetivo dos pinos, isto é, e def 3 .
e)Distância entre o centro de qualquer pino à borda lateral da peça, medida
perpendicularmente às fibras, quando o esforço atuante for paralelo às fibras da
madeira: espaçamento não inferior a uma e meia vez o diâmetro efetivo dos pinos,
isto é, e def 15, .
f)Distância entre o centro de qualquer pino à borda lateral da peça, medida
perpendicularmente às fibras, quando o esforço atuante for normal às fibras da
madeira, do lado onde atuam tensões normal de tração: espaçamento não inferior a
uma e meia vez vez o diâmetro efetivo dos pinos, isto é, e def 15, .
g)Distância entre o centro de qualquer pino à borda lateral da peça, medida
perpendicularmente às fibras, quando o esforço atuante for normal às fibras da
madeira, do lado onde atuam tensões normal de compressão: espaçamento não
inferior a quatro vezes o diâmetro efetivo dos pinos, isto é, e def 4 .
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 126
5.5.1.4 Cuidados especiais
No decorrer da elaboração dos cálculos e dos detalhes construtivos, certos
cuidados devem ser tomados, de modo a não comprometer a vida útil da estrutura.
A seguir, relata-se os mais importantes:
a)No dimensionamento das ligações não é permitido considerar o acréscimo de
resistência introduzido pelo atrito entre os pinos e as paredes dos furos e nem pela
possível presença de grampos, braçadeiras ou estribos;
b)A pré-furação, bem como os espaçamentos especificados pelo documento
normativo vigente, devem ser rigorosamente respeitados, com a finalidade de evitar
o fendilhamento da madeira em virtude da ação dos dispositivos de ligação;
c)Para evitar a ruptura por tração normal às fibras em regiões de ligações
localizadas, faz-se a seguinte verificação:
v b tfd e v d2
3 0, .............................................(5.71)
Onde,
*Vd: esforço cortante fictício determinado por
V V F1 2 sen
*be: distância do eixo do pino mais afastado até a borda do lado da solicitação,
bh
e 2
Pregos, parafusos ajustados e cavilhas
(n=6)
Parafuso (com folga) (n=4)
FIGURA 5.23 - Espaçamentos em ligações com pinos
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 127
*t; h: espessura e altura da peça solicitada à tração normal às fibras
respectivamente;
*fv0,d: valor de cálculo da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras da madeira;
*: ângulo formado entre a linha de ação da força (F) e a direção das fibras.
d)Quando ocorrer ligações excêntricas, deve-se considerar as seguintes tensões:
-tensões decorrentes dos esforços axiais nas peças unidas;
-tensões devidas aos binários atuantes no plano da ligação, oriundos das
excentricidades existentes entre os eixos mecânicos das peças interligadas e o
centro de rotação da união.
5.5.2 Ligações com conectores metálicos
5.5.2.1 Ligações com anéis metálicos
Tais conectores, são elementos ocos de aço com formato cilíndrico,
semelhantes a um pedaço de tubo (cano), denominados por anéis metálicos. Desta
forma, os parâmetros que os caracterizam são o comprimento, o diâmetro e a
espessura da parede. As verificações inerentes aos dispositivos de ligação são
submetidos as recomendações da NBR 8800/86.
De acordo com as recomendações da NBR 7190/97, admite-se o emprego
estrutural para os anéis metálicos que possuem as seguintes dimensões:
a)Dispositivos com diâmetro interno de 64 milímetros (acompanhados com um
parafuso central de montagem de 12 milímetros de diâmetro) e espessura não
inferior a 4 milímetros;
b) Dispositivos com diâmetro interno de 102 milímetros (acompanhados com um
parafuso central de montagem de 19 milímetros de diâmetro) e espessura não
inferior a 5 milímetros.
FIGURA 5.24 - Detalhe - verificação para evitar tração normal às fibras
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 128
O parafuso inserido no furo central é usado na execução e, não é
considerado como elemento resistente para o dimensionamento da ligação.
5.5.2.1.a Resistência dos anéis metálicos
A resistência da ligação entre duas peças de madeira projetada por um anel
metálico, considerando uma seção de corte, é determinada em função da
resistência ao cisalhamento longitudinal (fv0,d) das peças interligadas. Portanto, o
valor de cálculo da resistência ao cisalhamento é dado pelo menor dos valores a
seguir,
Rd
fanel v d, ,1
2
04
e R tdfanel c d, ,2 ...................(5.72)
Tendo,
*t: profundidade de penetração em cada elemento de madeira;
*d: diâmetro interno do anel;
*fc,d: valor de cálculo da resistência à compressão inclinada às fibras da madeira.
5.5.2.1b Espaçamentos em ligações com anéis metálicos
Os espaçamentos mínimos (e) recomendados pela NBR 7190/97 são os
seguintes:
a)Distância entre o centro de anéis na direção das fibras: espaçamento não inferior
a uma e meia vez o diâmetro efetivo dos anéis, isto é, e d 15, .
b)Distância entre o centro de qualquer anel à extremidade de peças tracionadas
paralelamente às fibras: espaçamento não inferior a uma e meia vez o diâmetro
efetivo dos anéis, isto é, e d 15, .
FIGURA 5.25 - Ligação com anéis metálicos
Anel metálico
Parafuso de montagem
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 129
c)Distância entre o centro de qualquer anel à extremidade de peças comprimidas
paralelamente às fibras: espaçamento não inferior a uma vez o diâmetro efetivo dos
anéis, isto é, e d 1 .
d)Distância entre o centro de qualquer anel à borda lateral: espaçamento não
inferior a três-quartos o diâmetro efetivo dos anéis, isto é, e d 0 75, .
e)Distância entre o centro de qualquer anel à borda lateral da peça, medida
perpendicularmente às fibras, quando o esforço atuante for normal às fibras da
madeira, do lado onde atuam tensões normal de tração: espaçamento não inferior a
uma vez o diâmetro efetivo dos anéis, isto é, e d 1 .
f)Distância entre o centro de qualquer anel à borda lateral da peça, medida
perpendicularmente às fibras, quando o esforço atuante for normal às fibras da
madeira, do lado onde atuam tensões normal de compressão: espaçamento não
inferior a três-quartos o diâmetro efetivo dos anéis, isto é, e d 075, .
FIGURA 5.26 - Espaçamentos em ligações com anéis metálicos
5.5.2.2 Ligações com chapas com dentes estampados
As chapas com dentes estampados (CDE) são peças de aço com dentes
estampados perpendicularmente ao seu plano médio e, são fixados em ambos os
lados do elemento estrutural.
Tais chapas, atualmente, são muito empregadas e consagradas em
quaisquer tipos de estruturas treliçadas para cobertura, em particular nos países da
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 130
Europa, na América do Norte e na Austrália. No Brasil, devido à falta de pesquisas e
de divulgação das mesmas, sua utilização ainda não atingiu os mesmos níveis dos
parafusos de aço.
Atualmente no Brasil, sabe-se que existe estudos sobre tal assunto, porém,
não há documentos normativos que regulamentem o dimensionamento de ligações
com CDE. De maneira geral, pode-se dizer que as premissas básicas para o cálculo
destas ligações são dadas através da eficiência de cravação dos dentes das chapas
na madeira e da resistência à tração e ao cisalhamento das chapas de aço.
Para exemplificar, PINHEIRO & ROCCO LAHR (1998), verificaram que tais
dispositivos possibilitam a adoção de seções transversais mais leves e, em alguns
casos, consegue-se uma redução em até 30% no consumo total de madeira.
Quanto ao nível tecnológico, este tipo de ligação facilita a montagem e possibilita a
pré-fabricação de estruturas de madeira.
5.5.3 Ligações com cola
Segundo a NBR 7190/97, as ligações com cola devem seguir as seguintes
recomendações:
a)O emprego de cola nas ligações deve obedecer as prescrições técnicas
comprovadas e tidas como satisfatórias;
b)É permitido o uso apenas em juntas longitudinais de madeira laminada colada,
desde que a madeira tenha o teor de umidade controlado, ou seja, seca em estufa
ou ao ar livre;
c)Ao ser executada a colagem, a resistência na junta colada deve ser maior ou igual
a resistência ao cisalhamento longitudinal da madeira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (1997). NBR - 7190 -
Projetos de estruturas de madeira. Rio de Janeiro.
GANG-NAIL DO BRASIL. - Dados técnicos , 1994.
GESUALDO, F. A.R. Estruturas de madeira. Uberlândia, Universidade Federal de
Uberlândia, 1998.
Capítulo 5 - Dimensionamento : Estados Limites Últimos 131
PINHEIRO, R. V. Emprego da madeira do gênero Pinus na construção de estruturas
de cobertura. São Carlos, 1996. 163p. Dissertação (Mestrado) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo.
PINHEIRO, R. V.; BARROS, O. Jr. ;ROCCO LAHR, F. A. Racionalização e avaliação
do consumo de madeira em estruturas de cobertura, quanto ao nível
tecnológico. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE MADEIRA E ESTRUTURAS DE
MADEIRA, 6., Florianópolis, 1998. Anais. Florianópolis, Universidade Federal de
Santa Catarina, 1998. v.3, p.229-234.
PINHEIRO, R. V.; ROCCO LAHR, F. A. Emprego de espécies de madeiras
alternativas em estruturas de cobertura para construções rurais. In: II
CONGRESO INTERNACIONAL/IV CONGRESO ARGENTINO DE INGENIERÍA
RURAL, 4., Neuquem/Argentina, 1996. Anais. Neuquem/Argentina, Facultad de
Ciencias Agrarias, Universidad Nacional del Camahue, 1996.
UJVARI, W. Z. Ligações em madeira, feitas com conectores dentados “Gang-Nail”.
In: ENCONTRO BRASILEIRO DE MADEIRA E ESTRUTURAS DE MADEIRA, 1.,
São Carlos, 1983. Anais. São Carlos, Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, 1983. Ligações p.01-25.
Capítulo 6 - Verificação: Estados Limites de Utilização 132
CAPÍTULO 06 - Verificação:
Estados Limites de Utilização
Além das considerações feitas no capítulo 5, ou seja, verificações referentes
aos estados limites últimos (ruína), deve-se também analisar a segurança das
estruturas de madeira quanto ao estado limite de utilização.
A norma brasileira, NBR 7190/97, de acordo com as recomendações
explicitadas no item 9.1.1, caracteriza os estados limites de utilização conforme o
descrito a seguir:
a)Deformações excessivas, que afetam a utilização normal da construção ou seu
aspecto estético;
b)Danos em materiais não estruturais da construção em decorrência de
deformações da estrutura;
c)Vibrações excessivas.
De modo geral, para verificar a segurança em relação ao citado estado limite,
compara-se o valor do efeito causado pelas ações (Sd,uti) com o quantil limite (Slim)
estabelecido pelo documento normativo vigente. Em outras palavras, o valor de
(Sd,uti) deve ser sempre menor ou igual ao limite (Slim), ou seja,
S Sd uti, lim ............................................(6.01)
6.1 Estados limites de deformações
6.1.1 Deformações limites para as construções correntes
O intuito principal desta verificação é impedir a deformação excessiva de toda
a estrutura ou de parte dela. A ocorrência deste efeito pode vir a afetar a utilização
normal da estrutura, bem como o aspecto estético.
De modo a realizar as verificações necessárias e cabíveis para o estado limite
de utilização, deve-se determinar os máximos valores das ações atuantes. Assim
sendo, quantifica-se os deslocamentos (medidos na direção das ações externas)
Capítulo 6 - Verificação: Estados Limites de Utilização 133
oriundos das deformações dos elementos estruturais através da expressão definida
no item 3.7.2 (Capítulo 3). Veja:
1a)Utilizar a expressão referente às combinações de ações de longa duração, isto é,
F F Fd uti Gi k j Qj kj
n
i
m
, , ,
211
...............................(6.02)
Observa-se que, neste caso, os coeficientes de majoração das ações (f)
assumem valores iguais a 1.0 (um), enquanto os fatores de utilização (1 e 2) são
obtidos nas Tabelas 3.1, 3.2 e 3.3 do mesmo capítulo.
Para simplificar a expressão acima, adota-se,
u u uef G Q , considerando
u F
u F
u F
ef d uti
G Gi ki
m
Q j Qj kj
n
,
,
,
1
21
................(6.03)
Sendo,
*uef: flecha total, devida a soma das parcelas oriundas das cargas permanentes e
variáveis;
*uG: flecha oriunda das cargas permanentes;
*uQ: flecha oriunda das cargas variáveis.
Observação: os demais parâmetros já foram definidos anteriormente.
2a)Empregar a rigidez efetiva (Ec0,efIred), dada por,
E K K K Ec ef c m0, 1 2 3 0, mod mod mod e I Ired r teor ...........(6.04)
Observação: os parâmetros citados acima já foram definidos anteriormente.
De acordo com a NBR 7190/97, item 9.2.1, os deslocamentos (flechas) totais
não devem ultrapassar os seguintes valores:
*Elementos biapoiados:
u uL
ef lim 200..................................................(6.05)
*Elementos em balanço:
u uL
ef lim 100..................................................(6.06)
Vale lembrar que, o cálculo das flechas pode ser feito por qualquer processo
da Mecânica das Estruturas, por exemplo, Método da Integração (Equações da
Capítulo 6 - Verificação: Estados Limites de Utilização 134
Linha Elástica), Princípios dos Trabalhos Virtuais (Processo da Carga Unitária) ou
até mesmo pelo método da Energia da Deformação.
O mesmo documento normativo, através de contra-flechas (u0) dadas na
construção, permite compensar parcialmente as flechas devidas às ações
permanentes. Neste caso, para a verificação da segurança, os deslocamentos
devidos às ações permanentes podem ser reduzidos de (u0), porém, não considerar
reduções superiores a 23 uG . A figura 6.1 ilustra melhor tal fato.
FIGURA 6.1 - Verificação das deformações limites
Os elementos estruturais que forem executados com contraflecha, estas
devem ser distribuídas de forma parabólica ao longo do vão.
Nas estruturas submetidas à flexão oblíqua, a verificação da condição de
segurança será feita isoladamente para cada um dos planos de flexão, conforme os
critérios mencionados anteriormente. Cabe ressaltar que não é necessário efetuar
quaisquer tipos de composições vetoriais para determinação da flecha resultante.
6.1.2 Deformações limites para as construções com materiais frágeis não
estruturais
As construções que têm materiais frágeis unidos à estrutura, como divisórias,
forros e pisos, deve-se fazer a verificação da segurança em relação aos estados
limites de deformações, a fim de evitar danos aos materiais não estruturais. Tal
procedimento é essencial quando não for possível impedir fissurações através de
detalhes construtivos adequados. Esta situação deve ser verificada de acordo com a
segurança pretendida e, para isto, emprega-se as combinações de ações de média
e curta duração, NBR 7190/97.
Com base nas combinações mencionadas acima, as flechas totais, incluindo
a fluência (deformação lenta), não deve superar os seguintes valores:
uG
3
uG
uQ
u0
uefulim
Capítulo 6 - Verificação: Estados Limites de Utilização 135
*Elementos biapoiados:
u uL
ef lim 350..................................................(6.07)
*Elementos em balanço:
u uL
ef lim 175..................................................(6.08)
Entretanto, as flechas oriundas das ações variáveis (uQ) devem respeitar as
condições a seguir:
*Elementos biapoiados:
u
L
mmQ
300
15
.....................................................(6.09)
*Elementos em balanço:
u
L
mmQ
150
15
.....................................................(6.10)
6.1.3 Deformações limites para construções especiais
As deformações limites para construções especiais, ou seja, formas para
concreto estrutural, cimbramentos, escoramentos, torres, entre outras, devem ser
estabelecidas pelo construtor ou por documento normativo especial.
6.2 Estados limites de vibrações
Geralmente, para as estruturas submetidas à fontes de vibração (por
exemplo, pisos estruturais de escritórios, residências, etc.), deve-se adotar
disposições construtivas, cujo objetivo principal é evitar vibrações excessivas que
possam trazer desconforto aos usuários.
Baseado nas recomendações da NBR 7190/97, a freqüência natural
permitida para elementos estruturais de piso não deve ser inferior a 8 Hertz.
Em termos práticos, para construções correntes, admite-se tal situação como
satisfeita se a aplicação do carregamento correspondente à combinação de ações
de curta duração, conforme o item 3.7.2, não provocar flecha imediata superior a 15
milímetros, considerando o módulo de elasticidade longitudinal definido no item 4.7
(Capítulo 4).