Canção do exílio intertextualidade
-
Upload
jasonrplima -
Category
Education
-
view
982 -
download
1
description
Transcript of Canção do exílio intertextualidade
GONÇALVES DIAS
Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite – Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá..
OUTRAS VERSÕES
Carlos Drummond de AndradeNOVA CANÇÃO DO EXÍLIO
Um sabiá na palmeira, longe.Estas aves cantam um outro canto.O céu cintila sobre flores úmidas.Vozes na mata, e o maior amor.Só, na noite,seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe.Onde é tudo belo e fantástico, só, na noite, seria feliz.(Um sabiá, na palmeira, longe.)Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe.
Oswald de AndradeCANTO DE REGRESSO À PÁTRIA
Minha terra tem palmaresOnde gorjeia o marOs passarinhos daquiNão cantam como os de láMinha terra tem mais rosasE quase tem mais amoresMinha terra tem mais ouroMinha terra tem mais terraOuro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu morraSem que volte pra São PauloSem que eu veja a rua 15E o progresso de São Paulo
Murilo Mendes – CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem macieiras da CalifórniaOnde cantam gaturamos de Veneza
Os poetas da minha terraSão pretos que vivem em torres de ametista,
Os sargentos do exército são monistas, cubistas,Os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormirCom os oradores e os pernilongos
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.Eu morro sufocado
Em terra estrangeira.Nossas flores são mais bonitas
Nossas frutas são mais gostosasMas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdadeE ouvir um sabiá com certidão de idade !
Jô Soares – CANÇÃO DO EXÍLIO ÀS AVESSAS
Minha Dinda tem cascatas onde canta o curióNão permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueiros
Da ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiam, não fazem cocoricó.
O meu céu tem mais estrelasMinha várzea tem mais cores.
Este bosque reduzidoDeve ter custado horrores.E depois de tanta planta,
Orquídea, fruta e cipóNão permita Deus que eu tenha
De voltar pra Maceió.
Minha Dinda tem piscina,Heliporto e tem jardim
Feito pelas Brasil’s GardenNão foram pagos por mim.Em cismar sozinho à noite
Sem gravata e paletóOlho aquelas cachoeiras
Onde canta o curió.No meio daquelas plantas
Eu jamais me sinto só.Não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió.
Pois no meu jardim tem lagoOnde canta o curió
E as aves que lá gorjeiamSão tão pobres que dão dó.
Minha Dinda tem primores de floresta tropicalTudo ali foi transplantado
Nem parece naturalOlho a jabuticabeira
Dos tempos da minha avó.Não permita Deus que eu tenha de voltar pra Maceió.
Até os lagos das carpasSão de água mineral.
Da janela do meu quartoRedescubro o Pantanal
Também adoro as palmeirasOnde canta o curió
Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.
Finalmente, aqui na Dinda,Sou tratado a pão-de-lóSó faltava envolver tudo
Numa nuvem de ouro em pó.E depois de ser cuidado
Pelo PC com xodó,não permita Deus que eu tenha de voltar pra
Maceió.