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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CAMILA CAMPANHÃ
Gênero e Empatia como moduladores dos processos de decisão social no
Ultimatum Game – um estudo comportamental e eletrofisiológico
São Paulo
2014
CAMILA CAMPANHÃ
Gênero e Empatia como moduladores dos processos de decisão social no
Ultimatum Game – um estudo comportamental e eletrofisiológico
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio
São Paulo
2014
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como
requisito parcial para obtenção do
título de Doutor.
C186g Campanhã, Camila.
Gênero e empatia como moduladores dos processos de
decisão social no Ultimatum Game: um estudo comportamental e
eletrofisiológico / Camila Campanhã. – 2014.
250 f. ; 30 cm.
Tese (Doutorado em Distúrbios do Desenvolvimento) -
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.
Referências bibliográficas: f. 234-246.
1. Confiança. 2. Empatia. 3. Gênero. 4. Tomada de
decisão social. 5. Punição altruísta. 6. Potenciais cognitivos. I.
Título.
CDD 153
CAMILA CAMPANHÃ
Gênero e Empatia como moduladores dos processos de decisão social no
Ultimamtum Game – um estudo comportamental e eletrofisiológico
Aprovada em:____________
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. André Mascioli Cravo
Universidade Federal do ABDC
Prof. Dr. João Sato
Universidade Federal do ABDC
Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Profa. Dra. Ana Osório
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como
requisito parcial para obtenção do
título de Doutor.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente quero agradecer imensamente ao meu orientador pela paciência,
compreensão, dedicação e por todas as oportunidades proporcionadas não somente de
aprendizado mas também de desenvolvimento profissional e pessoal ao longo destes oito
anos. Sou eternamente grata por tudo que aprendi e vivenciei nestes anos de laboratório, anos
de riquíssimo aprendizado e de grande crescimento.
Aos meus queridos amigos do laboratório que sempre me apoiaram e me ajudaram
sempre durante todos estes anos. Aprendi muito com cada um e todos tornaram possível, de
forma direta ou indireta, a realização dos meus sonhos e projetos ao longo destes anos.
Também sou muito grata a todos pelo carinho, paciência e companheirismo sempre.
Em especial, quero agradecer as minhas companheiras de pós inseparáveis desde o
mestrado, o Big 5! Sem vocês tudo seria muito mais difícil e não teria sido tão prazeroso e de
riquíssimo aprendizado sem vocês. Sempre me apoiando e me socorrendo minha eterna
gratidão!
Aos meus pais que sempre me apoiaram, me deram todo o suporte ao longo destes
anos de dedicação a pesquisa. Minha eterna gratidão por todo carinho, paciência e incentivo
tornando possível que eu chegasse até aqui. Assim como meus avós que muito me ajudaram
sempre.
A Fapesp, sou eternamente grata pela excelente oportunidade que me proporcionou
em poder me dedicar exclusivamente a pesquisa desde o meu mestrado, também sou
eternamente grata.
Agradeço ao mackPesquisa por possibilitar a compra de materiais para o estudo.
Agradeço a Global Mind Screen pela parceria que possibilitou a triagem de um grande
número de voluntários de forma mais objetiva e prática.
Também sou eternamente grata ao CAISM, especialmente agradeço ao diretor o Dr.
Quirino Cordeiro, pela parceria e os atendimentos aos vluntários que preencheram critérios
clínicos.
Foram anos maravilhosos e com certeza devo a todos vocês tudo que sei e tudo que
sou. Sou uma pessoa privilegiada por ter tido a oportunidade rara e única de conviver com
pessoas tão especiais e inteligentes. Agradeço a Deus por ter colocado tantas pessoas
maravilhosas ao meu lado, anjos que me ajudaram a vencer os obstáculos da vida e a chegar
neste momento tão sonhado e esperado.
Obrigada por tudo!
Camila Campanhã
“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”
O pequeno Príncipe – Antonie Sainty-Exupéry
RESUMO
Por vivermos em sociedade, constantes escolhas estão relacionadas não somente aos nossos
interesses pessoais. A diferença na percepção de injustiça em função da Amizade em estudos
utilizando o jogo Ultimatum Game (UG) introduz uma nova questão com relação ao conceito
amplamente aceito de punição altruística. Dessa forma, a punição altruísta e o impacto dos
fatores gênero e nível de empatia como moduladores da percepção de injustiça precisam ser
investigadas nas relações interpessoais. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo
(i) investigar o impacto da empatia e do gênero como fatores moduladores do comportamento
na tarefa Ultimatum Game (UG) na interação com uma pessoa de confiança (um amigo) e um
desconhecido; (ii) investigar o comportamento caracterizado como punição altruísta no UG
adaptado em dois contextos diferentes de interação (com ou sem custos pessoais envolvidos).
Para isso, foi realizado 2 experimentos. O experimento 1, semelhante ao estudo anterior, os
participantes jogaram o UG com o amigo e um desconhecido como os propositores. Mas com
o controle de nível de empatia (alto e baixo) e gênero. No experimento 2, além do controle do
gênero e do nível de empatia, os participantes tinham que decidir se aceitavam ou rejeitavam
propostas de divisão de R$120,00 entre três pessoas: o propositor, o participante e um terceiro
(“dummy”) que parte do jogo foi o amigo e outra parte do jogo um desconhecido, na primeira
parte do jogo. Na segunda parte, os participantes apenas decidiam se aceitavam ou rejeitavam
no lugar do amigo ou de desconhecidos não tendo ganhos e nem perdas envolvidos. Como
resultados, foi observado maior taxa de rejeite de propostas injustas realizadas pelo
desconhecido do que pelo amigo e estes foram julgados como mais justos. Também foi
observado que homens rejeitaram mais propostas realizadas por um desconhecido e os
participantes com alto nível de empatia rejeitaram mais propostas realizadas por um
desconhecido. Em relação aos potenciais cognitivos, os participantes com alto nível de
empatia apresentaram a amplitude do MFN mais negativa para o desconhecido e amplitude
positiva para o amigo. Homens com alto nível de empatia apresentaram amplitude mais
negativa do MFN para o desconhecido. Já no segundo experimento os participantes rejeitaram
mais propostas injustas para ambos. A amplitude do MFN foi mais negativa quando as
propostas foram injustas para ambos, assim como para as Mulheres e para as pessoas com alto
nível de empatia. Na segunda parte do experimento 2 os participantes beneficiaram mais o
amigo. A amplitude do MFN foi mais negativa para homens na interação desconhecido
propondo para o amigo. As mulheres apresentaram maior amplitude do P300 na interação
desconhecido propondo para o amigo. Tais resultados apontam para o impacto da empatia e
do gênero quando o amigo está envolvido. Além disso, o envolvimento pessoal de ganhos e
perdas também foi um fator importante na percepção de justiça. O presente estudo corrobora
com estudos prévios de que a confiança modula a percepção de justiça e que a empatia e o
gênero são fatores com maior ou menor impacto dependendo do contexto e do grau de
confiança para com o outro.
SUMÁRIO
1. Introdução...................................................................................................... 14
2. Teoria da Mente, Empatia e Confiança......................................................... 16
2.1 Teoria da Mente e Empatia ......................................................................... 16
2.2 Confiança ................................................................................................... 21
2.3 Altruísmo .................................................................................................... 23
3. Tomada de Decisão Social............................................................................. 25
3.1. Teoria dos Jogos....................................................................................... 26
3.2. Teoria da Utilidade................................................................................... 29
3.3. Preferência Social.................................................................................... 31
3.1.2. Jogos mais Utilizados da Teoria dos Jogos........................................... 35
3.1.2.1. Os Jogos na Tomada de Decisão Social............................................. 39
4. Bases Neurobiológicas da Tomada de Decisão Social ................................. 55
5. Eletroencefalografia e Potencias Cognitivos ................................................ 71
5.1. Potenciais Cognitivos................................................................................ 74
5.2. Potenciais Cognitivos e Tomada de Decisão Social................................. 77
6.Objetivos........................................................................................................ 90
6.1.Experimento 1-Empatia e Gênero................................................................ 90
6.1.1. Objetivo Específico............................................................................. 90
6.2. Experimento 2-Punição Altruísta................................................................ 91
6.2.1. Objetivo Específico............................................................................. 91
7. Método.......................................................................................................... 92
7.1. Participantes................................................................................................ 92
7.1.2. Critérios de Inclusão e Exclusão.......................................................... 92
7.2. Instrumentos ............................................................................................... 93
7.2.1.Instrumentos para Caracterização da Amostra.......................................... 93
7.2.2. Jogo de Tomada de Decisão Social (versões adapatadas do Ultimatum
Game para os experimentos 1 e 2) ....................................................................
94
7.2.2.1. Experimento 1....................................................................................... 94
7.2.2.2. Experimento 2....................................................................................... 97
7.3. Equipamento .............................................................................................. 100
7.4. Procedimentos ........................................................................................... 100
7.5. Aspectos Éticos .......................................................................................... 101
7.6. Análise Estatística dos Resultados.............................................................. 102
8. Resultados e Discussão....................................................................................... 104
8.1. Resultados do Experimento 1...................................................................... 104
8.1.1. Caracterização da Amostra...................................................................... 104
8.1.2. Ultimatum Game...................................................................................... 107
8.1.2.1. Taxa de Aceite e Rejeite no Ultimatum Game...................................... 107
8.1.2.2. Tempo de Reação.................................................................................. 114
8.1.2.3. VAS Notas............................................................................................ 117
8.1.3. Análise dos Potenciais Relacionados a Eventos...................................... 118
8.1.3.1. Potencial Medial Frontal Negativity..................................................... 118
8.1.3.2. Potencial P300....................................................................................... 123
8.1.3.3. Potencial Late Positivity Complex........................................................ 131
8.1.4. Discussão do Experimento 1.................................................................... 136
8.1.4.1. Ultimatum Game................................................................................... 136
8.1.4.2. Potenciais Relacionados a Eventos....................................................... 142
8.1.4.2.1. Media Frontal Negativity................................................................... 142
8.1.4.2.2. P300.................................................................................................... 146
8.1.4.2.3. Late Positivity Complex..................................................................... 149
8.2. Resultados do Experimento 2...................................................................... 152
8.2.1. Caracterização da Amostra...................................................................... 153
8.2.2. Resultados do Tree-Person Ultimatum Game adaptado.......................... 156
8.2.2.1. Taxa de Aceite e Rejeite no Tree-person Ultimatum Game adaptado-
Parte1..................................................................................................................
156
8.2.2.2. Tempo de Reação.................................................................................. 158
8.2.2.3. Análise dos Potenciais Relacionados a Eventos................................... 164
8.2.2.3.1. Potencial Medial Frontal Negativity.................................................. 164
8.2.2.3.2. Potencial P300.................................................................................... 169
8.2.2.3.3. Potencial Late Positivity Complex..................................................... 174
8.2.2.4. Discussão dos Resultados – Parte1....................................................... 178
8.2.2.4.1. Tree-Person Ultimatum Game adaptado............................................ 178
8.2.2.4.2. Potenciais Relacionados a Eventos.................................................... 183
8.2.2.4.2.1. Medial Frontal Negativity............................................................... 183
8.2.2.4.2.2. P300................................................................................................. 186
8.2.2.4.2.3. Late Positivity Complex.................................................................. 187
8.2.3. Resultados do Ultimatum Game adaptado – Parte 2................................ 188
8.2.3.1. Taxa de Aceite e Rejeite do Ultimatum Game adaptado – Parte 2....... 188
8.2.3.2. Tempo de Reação.................................................................................. 191
8.2.3.3. VAS Notas............................................................................................ 193
8.2.3.4. Total Dinheiro Acumulado no UG........................................................ 194
8.2.3.5. Análise dos Potenciais Relacionados a Eventos................................... 195
8.2.3.5.1. Potencial Medial Frontal Negativity.................................................. 195
8.2.3.5.2. Potencial P300.................................................................................... 200
8.2.3.5.3. Potencial Late Positivity Complex..................................................... 207
8.2.4. Discussão dos Resultados – Parte 2......................................................... 213
8.2.4.1. Ultimatum Game Adaptado – Parte 2................................................... 213
8.2.4.2. Potenciais Relacionados a Eventos....................................................... 216
8.2.4.2.1. Medial Frontal Negativity.................................................................. 216
8.2.4.2.2. P300.................................................................................................... 221
8.2.4.2.3. Late Positivity Complex..................................................................... 223
9. Discussão Geral.............................................................................................. 225
10. Conclusão..................................................................................................... 232
11. Referências Bibliográficas........................................................................... 234
12. ANEXOS...................................................................................................... 247
12
Apresentação
O ser humano é essencialmente social. Sem grandes comportamentos coletivos não
seria possível à existência de cada componente de nossa civilização (ADOLPHS, 2009). A
convivência em grupos foi selecionada na medida em que aumenta a probabilidade de
sobrevivência (LIEBERMAN e EISENBERGER, 2009; ARONSON, WILSON e AKERT,
2002). No entanto, as relações inter-individuais são moduladas por fatores como o status
social. Estudos têm mostrado que quando o status social é baixo, ou menor poder e controle,
melhores habilidades empáticas são observadas ao passo que quanto maior o status social
menores habilidades empáticas são observadas (KRAUS, PIFF e KELTNER, 2009; PIFF et
al, 2010; CÔTÉ et al, 2011; STELLAR et al, 2012). É interessante notar que ao se inverter a
posição de poder e status, as habilidades empáticas também mudam e aqueles que eram mais
empáticos com baixo status passam a ser menos empáticos (PIFF et al, 2010). Por trás dessas
correlações, uma possível explicação é a de que quanto menor o poder e status, maior é a
dependência do outro. Mas quanto maior o status e poder, menor é a dependência do outro,
consequentemente, menor atenção com o outro (MUSCATEL et al, 2012; PIFF et al, 2010).
Estudos como estes apontam para a importância do outro para a sobrevivência do ser humano
e como diferentes contextos modulam nossa percepção sobre o outro e sobre nós mesmos.
Festinger em 1954 apresentou a teoria da Comparação Social, um mecanismo
psicológico importante que influencia nossas experiências, nossos julgamentos e
comportamento (CORCORAN, CRUSIUS, & MUSSWEILER, 2011) e a nossa satisfação na
auto-avaliação que se dá pela necessidade Humana de ser “gregário”, ou seja, de pertencer a
grupos que pensem, que tenham opiniões e habilidades semelhantes as nossas (FESTINGER,
1954).
13
A comparação entre o Eu e o Outro tem impacto no auto-conhecimento e na
manutenção de auto-imagem positiva, além de permitir perceber características sobre o outro
e suas ações com o grupo (CORCORAN, CRUSIUS, & MUSSWEILER, 2011; FESTINGER,
1954). Os estudos na área levaram a compreensão de que o grupo exerce influências
normativas levando ao comportamento de maior conformidade com este devido a necessidade
humana em ser aceito e pertencer ao grupo, principalmente se o grupo é importante para o
indivíduo. (ARONSON, WILSON e AKERT, 2002).
O comportamento de ajudar também tem sido estudado e, segundo os psicólogos
evolucionistas, é um comportamento inerente ao ser humano, principalmente quando
familiares estão envolvidos – uma forma evolutiva de garantir a sobrevivência da genética
familiar (ARONSON, WILSON e AKERT, 2002; KRUGER, 2003). Contudo, os
comportamentos pró-sociais nem sempre estão relacionados a familiares. Ajudar um
desconhecido também seria parte deste patrimônio genético selecionado pelo comportamento
adaptativo de ajudar e, assim, aumentar as chances de sobrevivência do grupo (ARONSON,
WILSON e AKERT, 2002). Mais ainda, a evolução teria criado uma tendência para os
Humanos ajudarem aqueles que sentem emocionalmente próximos e com aqueles que sentem
um dever em ajudar. Ou seja, as pessoas estariam mais propensas a responder em função do
tipo de relacionamento do que pelo grau de relação genética (KORCHMAROS e KENNY,
2006).
A ajuda ao outro sem interesses pessoais tem sido relacionada a habilidade de se
colocar no lugar do outro e sentir as dores e angústias do outro, de acordo com a hipótese da
empatia-altruísmo de Daniel Batson (1991). O altruísmo, por tanto, seria o comportamento
de ajudar o outro mesmo que isso tenha um custo a si próprio (ARONSON, WILSON e
AKERT, 2002). Assim, nem sempre o comportamento de ajudar o outro está relacionado a
um interesse próprio ou a esperança de um benefício mútuo, mas no mais puro desejo de
14
promover o bem-estar do outro. É interessante notar que tal comportamento parece levar o
indivíduo que ajuda a sentir-se bem consigo mesmo (ARONSON, WILSON e AKERT,
2002).
Além da psicologia social, estes fenômenos sociais vem sendo estudados por diversas
áreas como a economia e, mais recentemente, a neurociência cognitiva e social que vem
contribuindo para a melhor compreensão das bases neurobiológicas dos comportamentos na
interação social.
Muitas perguntas ainda permanecem abertas acerca dos fatores que modulam o
comportamento humano na interação social. Entre eles, a confiança, o gênero e a empatia
parecem ter um impacto importante nas interações sociais. Apesar do grande avanço no
conhecimento acerca do comportamento humano na interação social, ainda não é claro o
impacto desses fatores na tomada de decisão social e o quanto modulam a percepção de
justiça, o comportamento de acordo com as normas sociais e o altruísmo.
Dessa forma, o presente estudo, utilizando-se dos conhecimentos das áreas da
psicologia social, evolutiva, economia e da neurociência, teve como objetivo investigar o
impacto da confiança na tomada de decisão tendo como o gênero e a empatia como fatores
moduladores
15
1. INTRODUÇÃO
Uma parte importante do comportamento social decorre de mecanismos
neurobiológicos e psicológicos (ADOLPHS, 2009). Estudos recentes têm voltado à atenção
para a mente humana e as bases biológicas das habilidades sociais e sua evolução
(OSCHSNER e LIEBERMAN, 2001).
A psicologia social vem estudando o comportamento humano nas interações sociais e
como este afeta o comportamento do outro, contudo os aspectos neurológicos não eram
integrados e perguntas começaram a surgir como, por exemplo, sobre como o outro percebe
as emoções e que processos cognitivos poderiam estar envolvidos na percepção das emoções.
Estudos sobre lesões cerebrais e comportamentos sociais começaram a observar que
determinadas áreas cerebrais estariam relacionadas às habilidades sociais surgindo assim a
teoria do Cérebro Social (FRITH e FRITH, 2010; OSCHNER e LIEBERMAN, 2001). A
partir disso iniciam-se os estudos sobre Cognição Social que está relaciona ao estudo dos
processos cognitivos como a percepção, memória, atenção e os substratos neuronais das
habilidades sociais visando compreender de que forma o pensar sobre o outro envolve
processamentos motivacionais e emocionais.
Este tema vem crescendo e faz parte dos estudos da Neurociência Cognitiva Social
(ADOLPHS, 2009; ADOLPHS, 2006), uma área interdisciplinar por natureza unindo estudos
na área de psicologia cognitiva, social e da neurociência. Segundo Oschsner e Lieberman
(2001), a Neurociência Cognitiva Social tem como ênfase a integração dos níveis sociais, que
são os comportamentos motivados por contextos pessoalmente relevantes, cognitivos, que são
os mecanismos do processamento das informações que dão origem a esses fenômenos, e
neuronais, que são os sistemas e áreas cerebrais envolvidos nesses processos.
16
A Neurociência Cognitiva Social seria um subdomínio da Neurociência Social
(ADOLPHS, 2009), uma grande área que estuda a relação entre processos sociais e neuronal
incluindo o componente processamento de informação e operações em ambos os níveis de
análise: neuronal e computacional. A Neurociência Social se desenvolveu através dos
trabalhos em neurociência, da ciência cognitiva e das ciências sociais (CACIOPPO e
BERNTSON, 2002).
Sendo assim, as habilidades sociais estão sendo estudas através de várias áreas visando
à melhor compreensão do comportamento social humano e das relações interpessoais.
Estudos com animais têm demonstrado que estes também apresentam algumas habilidades
sociais cognitivas como, por exemplo, os Chimpanzés que são mais adaptadas a competição
do que à cooperação (GINTIS et al, 2003 apud ADOLPHS, 2009), mas não são tão
sofisticadas como no ser humano que desenvolveu a linguagem, a cultura e a civilização com
a capacidade de compreender o outro. Essa capacidade se dá através de uma habilidade típica
do ser humano e muito importante para a sociedade humana que é a capacidade de “ler a
mente” do outro (ADOLPHS, 2009).
Sendo assim, a capacidade de “ler a mente” do outro seria um aspecto da cognição
social denominado Teoria da Mente (ToM). Esta habilidade nos distinguiria de outros
primatas e reforça nossa habilidade em sentirmos empatia, cooperar, compreender a
comunicação não-verbal e linguagem corporal do outro, prever comportamentos do outro com
precisão com bases em seus desejos e crenças como se tivéssemos “lendo a mente” do outro
(GALLAGHER e FRITH, 2003; FRITH e FRITH, 2010).
Contudo, ainda não é claro a importância e o impacto da Teoria da Mente em alguns
fenômenos sociais, como na tomada de decisão social. Perguntas como “A Teoria da Mente
modula o comportamento decisório na interação com pessoas que confiamos, como um
amigo?”, como “A Teoria da Mente seria um fator importante na diferença entre gêneros no
17
comportamento decisório, uma vez que estudos têm mostrado que mulheres apresentam maior
habilidade empática do que os homens?” e no comportamento altruísta, “A Teoria da Mente
seria um fator importante na motivação das pessoas para o altruísmo?”.
Perguntas como estas permanecem em aberto, mas com algumas evidências de que
estes fatores têm um papel importante no comportamento decisório. Assim, o presente estudo
investigou o impacto destes fatores como moduladores do processo decisório social
apresentando os principais autores e conceitos sobre Empatia, Teoria da Mente, Confiança,
Tomada de Decisão social, bem como suas bases neurobiológicas e os potencias cognitivos
relacionados a evento (ERPs) estudados e que foram investigados no presente estudo.
2. Teoria da Mente, Empatia, Confiança e Altruísmo
2.1 Teoria da Mente e Empatia
Segundo Banaji (2006), o pensar e agir, de forma consciente ou não, sobre nós
mesmos, sobre o outro, ou sobre grandes grupos sociais é um dos atos mais frequentes
realizados pelo ser humano. A forma como tais atos mentais ocorrem é um importante aspecto
a ser investigado, dada a sua relevância fundamental para a convivência em sociedade. Por
isso, a Neurociência Social tem como preocupação investigar de que maneira os seres
humanos influenciam e são influenciados por outros seres humanos (BANAJI, 2006).
Sendo assim, as habilidades sociais estão sendo estudas através de várias áreas visando
à melhor compreensão do comportamento social humano e das relações interpessoais. Essa
capacidade de inferir sobre as emoções e pensamentos do outro se dá através de uma
habilidade típica do ser humano e muito importante para a sociedade humana que é a
capacidade de “ler a mente” do outro (ADOLPHS, 2009).
18
A habilidade cognitiva de compreensão dos estados mentais do outro, o que o outro
sente, pensa é denominada de “mentalização”, habilidade cognitiva de “ler a mente” do outro
estuda pela Teoria da Mente - ToM (SINGER, 2009; FRITH e FRITH, 1999; FRITH e
FRITH, 2010). Esta habilidade é uma inferência natural, implícita e espontânea sobre desejos
e crenças que nos permite colocarmos no “lugar” do outro e assim poder fazer inferências
sobre as emoções do outro.
Dessa forma, permite prever e explicar o comportamento do outro sendo um dos
mecanismos importantes para podermos nos comunicar e prever as ações do outro, julgar o
que o outro sabe, o que gostaria de fazer em uma determinada situação, fazer suposições
sobre si e sobre o outro (DEN OUDEN et al, 2005; SAXE, CAREY e KANWISHER, 2004;
GRICE, 1989 apud FRITH e FRITH, 2010; NICKERSON, BUTLER e CARLIN, 2009).
Contudo, a habilidade de mentalização não leva ao envolvimento afetivo, mas sim a
compreensão do estado afetivo do outro. A capacidade de envolver se afetivamente está
relacionada a empatia (SINGER, 2009).
A empatia é um aspecto muito importante do relacionamento humano que nos
possibilita uma comunicação genuína. A empatia seria um processo natural e espontâneo de
sincronização com as ideias e pensamentos do outro sendo que para sentirmos empatia “é
necessário que tenhamos consciência de como os outros nos vêem” (BARON-COHEN, 2003,
p. 37).
Segundo Baron-Cohen (2003) a ToM é divida em duas habilidades principais: i. a
habilidade cognitiva, que seria a habilidade de mentalização, de conseguir compreender os
sentimentos do outro, prever o comportamento e estado mental do outro. Além disso, a
habilidade de manter uma distinção sobre si mesmo e o outro também é uma habilidade que
faz parte da habilidade cognitiva da ToM; e ii. a habilidade afetiva, que seria a habilidade de
responder emocionalmente de forma adequada aos pensamentos e estado emocional do outro
19
e implica na habilidade de dividir experiências afetivas com o outro, ou seja, uma ressonância
emocional que pode ou não ser consciente (BARON-COHEN, 2003; SINGER e LAMM,
2009; PFEIFER e DEPARETTO, 2009).
Apesar de diferentes definições da empatia, de acordo com Lamm, Batson e Decety
(2007) existe uma concordância entre as definições existentes em três componentes primários:
i. uma resposta afetiva para com a outra pessoa, com uma partilha emocional; ii. uma
capacidade cognitiva de se colocar na perspectiva do outro; e iii. alguns mecanismos que
monitoram a origem dos sentimentos, ou seja, se é do próprio sujeito ou do outro.
Segundo Singer (2009), a empatia é diferente de simpatia ou compaixão. A principal
diferença entre empatia e simpatia ou compaixão está no sentimento eliciado: na empatia
dividiríamos o mesmo sentimento do que o outro, mas na simpatia ou compaixão não se sente
necessariamente o mesmo sentimento que o outro. De acordo com a autora, outra diferença
está na ação diante o outro: quando empatizamos não necessariamente haveria a motivação
para fazer algo pelo outro, mas quando simpatizamos ou temos compaixão somos motivados
tentar aliviar a angústia, aflição do outro ou tentar deixa-lo mais feliz, por exemplo.
Contágio emocional também é diferente de empatia. No contágio emocional haveria
uma divisão de emoções de forma indireta, ou seja, dividiria a emoção sem perceber que a
emoção do outro desencadeou tais emoções, como os bebês que choram quando outro chora,
por exemplo (SINGER, 2009).
As habilidades de empatia e mentalização têm sido mostrada como diferentes entre os
gêneros (MESTRE et al, 2009; BARON-COHEN, 2003; LAWSON, BARON-COHEN e
WHEELWRIGH, 2004; GOLDENFELD, BARON-COHEN e WHEELWRIGHT, 2005;
WRIGHT e SKAGERBERG, 2012; PRETI et al, 2011). Estudos têm apontando que mulheres
decodificam melhor mudanças sutis, são mais sensíveis as expressões faciais, decodificam
com mais precisão a comunicação não-verbal permitindo com que apliquem tais informações
20
à qualificação de caráter. Sendo mais empáticas do que sistematizadoras, tais habilidades
foram importantes no processo evolutivo permitindo uma melhor qualidade nos cuidados
maternais (compreender as necessidades e sentimentos da criança), amizade, mobilidade
social e maior compreensão do parceiro (BARON-COHEN, 2003). Mulheres seriam mais
preocupadas com as relações sociais (VIGIL, 2007) e apresentam maior facilidade para a
compreensão da intenção do outro, desejos e sentimento do outro (MESTRE et al, 2009).
Os homens seriam mais Sistematizadores (LAWSON, BARON-COHEN e
WHEELWRIGH, 2004; GOLDENFELD, BARON-COHEN e WHEELWRIGHT, 2005;
WRIGHT e SKAGERBERG, 2012; PRETI et al, 2011), habilidade que permite boa
localização visuo-espacial, entender e prever os sistemas naturais e, devido ao baixo impulso
para a socialização, os homens apresentam maior tolerância à solidão o que contribui para a
concentração em tarefas de invenção de ferramentas, por exemplo. Estas habilidades foram
importantes no processo evolutivo (BARON-COHEN, 2003).
Alterações nestas habilidades são observadas, por exemplo, em pacientes com
psicopatia (SINGER, 2009; PFABIGAN et al, 2011; KOENIGS, KRUEPKER e NEWMAN,
2010; OSUMI e OHIRA, 2010) e pacientes com autismo (FIRTH, 2004; BARON-COHEN,
2009; HADJIKHANI et al, 2006; WAKABAYASHI et al, 2007; BARON-COHEN e
WHEELWRIGHT, 2004). Em relação a quadros psiquiátricos como a psicopatia, estudos tem
apontado que estes pacientes tem baixa empatia, mas boa habilidade de metalização e, por
isso, são bons manipuladores por conseguirem entender as crenças e intenções do outro, mas
com pouquíssimo engajamento afetivo (SINGER, 2009).
Em relação ao autismo, um distúrbio neurológico do desenvolvimento caracterizado
pela deficiência e três principais aspectos: i. na interação social, apresentam grande
dificuldade de entender a intenção do outro, de entender o contexto social; ii. comunicação
verbal e não-verbal, com atraso ou ausência na aquisição da linguagem, dificuldade de
21
compreender ironia; e iii. repertório de atividades e interesses restritos, apresentando muitas
vezes movimentos repetitivos e estereotipados, ou o interesse em um único objeto ou assunto,
como tudo sobre dinossauros (FRITH, 2004; HADJIKHANI et al, 2006). Parte dos prejuízos
apresentados pelos autistas na interação social está relacionado à prejuízos nas habilidades
empáticas chamada de “Cegueira da Mente” (FIRTH, 2004; BARON-COHEN, 2009).
A Teoria da Cegueira da Mente propõe que as crianças com Autismo ou Síndrome de
Asperger teriam um atraso no desenvolvimento da Teoria da Mente. As crianças do espectro
autista, como consequência desse atraso, acham que os comportamentos de outras pessoas são
confusos, imprevisíveis e às vezes até mesmo assustador (BARON-COHEN, 2009).
Essas crianças tendem a inferir que todo mundo diz sempre a verdade e ficam chocados
com a ideia de que outras pessoas podem não dizer o que elas realmente pensam (BARON-
COHEN,1992, 2007a apud BARON-COHEN, 2009). Em um estudo com adultos com
Síndrome de Asperger foi possível observar que estes não apresentavam antecipação
espontânea às ações do outro em uma tarefa não verbal reforçando a idéia de que adultos com
a Síndrome de Asperger possuem um persistente prejuízo na habilidade de mentalização
(SENJU et al, 2009).
Segundo Baron-Cohen (1995 apud BARON-COHEN, 2003), os autistas não são
insensíveis como os psicopatas que desejam o sofrimento do outro. Defendem aqueles que
consideram injustiçados e reagem emocionalmente quando percebem que magoaram alguém
inadvertidamente, mas não conseguem entender o porquê o outro ficou magoado. Ou seja,
apresentam dificuldade de perceber e prever comportamentos, ideias e sentimentos do outro
(cegueira da mente).
Os autistas apresentam grande interesse por coisas repetitivas e que podem ser
sistematizadas. Devido a este interesse, a facilidade para a sistematização e a baixa
capacidade de empatia, pesquisadores têm associado estas características com o
22
funcionamento extremo do cérebro masculino, pois apresentam escores da escala de empatia
muito mais baixos do que os homens, que já apresentam escores mais baixos do que as
mulheres. (BARON-COHEN et al, 2003 apud BARON-COHEN, 2003).
Os autistas de alto desempenho e Asperges apresentam prejuízos na empatia e são
mais sistematizadores (FIRTH, 2004; BARON-COHEN, 2009; HADJIKHANI et al, 2006;
WAKABAYASHI et al, 2007; BARON-COHEN e WHEELWRIGHT, 2004) e, por isso,
apresentam grandes dificuldades na interação social, inclusive na tomada de decisão social
(CHIU et al, 2008; DE MARTINO, 2008; BORIA et al, 2009).
Devido a importância da empatia e da mentalização na interação social, estudos têm
buscando compreender o papel e o impacto destas habilidades em diferentes comportamentos
sociais tais como a confiança e o altruísmo.
2.2 Confiança
A confiança é um aspecto importante nas relações sociais e pode ser considerada como
um “lubrificante da vida social” (KOSFELD et al, 2005; NOWAK e SIGMUND, 2005).
Segundo Krueger et al (2007) a confiança é um processo social crítico que nos ajuda a
cooperar com os outros e está presente em algum grau em toda a interação humana. Na
confiança corre-se sempre um risco devido à imprevisibilidade das intenções do outro em
uma relação social sendo que a confiança é construída dentro das decisões tomadas na
interação e que deve contar com a boa vontade de um e, ao mesmo tempo, com o risco de
mudança de posicionamento do outro a qualquer momento. Para isso, os parceiros devem
aprender que eles podem contar um com o outro (FEHR e FISCHBACHER, 2003;
KRUEGER et al, 2007).
O grau de confiança em outra pessoa se dá por crenças e expectativas sobre a
honestidade, justiça e benevolência deste outro e a confiança de que este outro irá agir em
23
benefício mútuo. Mas sempre correrá algum risco de vir a ser prejudicado caso este não se
comporte de acordo com o esperado (LONG, JIANG e ZHOU, 2012). Pelo fato da pessoa que
confia ficar vulnerável para as ações do outro, a confiar também é influenciado pela
disposição individual em confiar e pela preferência ao risco individual (RIEDL e JAVOR,
2012).
A confiança é um dos fatores muito importante na vida humana e permeia todos os
domínios da sociedade desde a Idade das Pedras, quando saber em quem confiar era crucial
para a sobrevivência e, caso confiasse na pessoa errada poderia resultar na morte em muitas
situações (RIEDL e JAVOR, 2012).
A confiança, cooperação, reciprocidade, altruísmo fazem parta da Tomada de Decisão
Social, pois somos seres que dependem de redes de cooperação e contratos sociais como
forma de proteção contra riscos (VIGNEMONT e SINGER, 2006; TUCKER e FERSON,
2008). Segundo van den Bos et al. (2009), a cooperação depende muito da confiança no outro
sendo um dos principais componentes da interação social para a obtenção de benefícios
mútuos.
A empatia tem sido apontada como importante fator na interação social por gerar a
motivação para o comportamento de cooperação e altruísmo. Contudo, a empatia não parece
ser suficiente para a promoção do comportamento pró social por si (DE VIGNEMONT e
SINGER, 2006). Muitos outros fatores estão envolvidos no comportamento pró social. Mas as
habilidades de se colocar no lugar do outro e de se empatizar em conjunto tem grande
contribuição para uma melhor previsão da ação do outro. Porém, ainda não é muito claro o
papel de cada habilidade na motivação do comportamento em diferentes situações (SINGER,
2009).
Estudos têm mostrado o impacto da confiança no grupo leva a mudança de opinião ou
decisão quando esta era incongruente da apresentada pelo grupo em que o participante
24
pertence (FOURAGNAN et al, 2013; KLUCHAREV et al, 2009; STALLEN, SMIDTS e
SANFEY, 2013). O comportamento de conformidade com o grupo tem sido relacionada não
somente a confiança, mas também a importância afetiva e a experiência recompensadora para
com este, resultado em maior conformidade do que com outros grupos que não pertence
(STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; FARERI, CHANG e DELGADO, 2012;
DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005; FOURAGNAN et al, 2013; KLUCHAREV et al,
2009). A necessidade de confiarmos e cooperarmos uns com os outros tem sido apontada
como comportamentos evolutivos que levaria a maior vantagem de sobrevivência (SIMON,
1990). Nesse sentido, a empatia e mentalização são habilidades importantes na compreensão
dos desejos, crenças e pensamentos do grupo.
Além disso, outros comportamentos sociais como o comportamento de ajuda e
altruísmo também seriam comportamentos evolutivos e importantes na sobrevivência de
nossa espécie (ARONSON, WILSON e AKERT, 2002).
2.3 Altruísmo
Batson (2012) propõe que a preocupação empática produz uma motivação altruísta
produzindo maior sensibilidade ao cuidado para aqueles que precisam, aumenta atitudes e
ações em favor a membros de grupos estigmatizados, aumenta a cooperação em situações
competitivas. Contudo, as pessoas podem apresentar comportamentos altruístas por
motivações egoístas como evitar a punição.
O comportamento altruísta teria três formas que pode ocorrer, de acordo com Frans de
Waal (2008): Impulso altruístico, que seria o comportamento espontâneo e desinteressado que
busca reduzir a angústia ou dor do outro; Altruísmo Aprendido, que é o comportamento de
ajuda condicionado que foi reforçado positivamente; e Altruísmo Intencional, que é o
comportamento de ajudar está relacionado a uma possibilidade de vir a ser recíproco no
25
futuro, ou seja, ter algum benefício. Neste caso, a intenção seria egoísta por buscar beneficiar
a si mesmo no futuro (DE WAAL, 2008). A combinação da habilidade de pensar sobre a
perspectiva do outro e da empatia pode levar ao comportamento altruísta (BATSON, 1991).
Contudo, outros fatores estão envolvidos como o contexto, nível de interação interpessoal,
expectativa, entre outros fatores, que desencadeariam diferentes motivações e,
conseqüentemente, diferentes intenções no altruísmo.
Um estudo recente mostrou que o nível de empatia parece interferir no tipo de reação
do sujeito quando se observa uma injustiça: pessoas com alto nível de empatia decidiram
compensar a vítima ao passo que as pessoas com baixo nível de empatia decidiram punir o
ofensor (LELIVID, VANDIJK e VANBEEST, 2012). Interessante observar que ambas as
opções de ação envolviam um custo para o participante (que não sofreu a ação). Por isso,
pode-se considerar ambas as ações como altruístas: não envolviam benefícios para o
participante a tinha um custo para estes. Os autores também observaram que os grupos com
baixo e alto nível de empatia não diferiram na percepção de justiça e discutem que os
participantes com baixo nível de empatia se preocupam com a injustiça, mas não
considerariam sua responsabilidade reduzir a injustiça, o que foi observado mais nos
participantes com alto nível de empatia (LELIVID, VANDIJK e VANBEEST, 2012).
Outro estudo mostrou que pessoas com escolhas utilitárias em uma tarefa de
julgamento moral são menos empáticas (matariam uma pessoa para salvar muitas pessoas por
serem menos emocionalmente envolvidas do que as pessoas com alto nível de empatia) do
que as pessoas não-utilitárias (GLICHGENCHT e YOUNG, 2013).
Os resultados destes estudos em conjunto apontam para o impacto da empatia em
comportamentos altruístas, bem como na diferença do comportamento nos diferentes níveis
de empatia em relação ao contexto. Outras áreas como a economia, também tem se debruçado
no estudo do papel desses aspectos na interação social e a empatia por meio de modelos
26
econômicos de forma empírica com a utilização da Teoria dos Jogos (KRUEGER et al, 2007;
KIRMAN e TESCHL, 2010; FEHR e CAMERER, 2007; SANFEY, 2007; LEE, 2008;
RILLING, KING-CASAS e SANFEY, 2008), por exemplo, e, mais recentemente, com as
novas tecnologias da neurociências. Tais estudos tem auxiliado na compreensão do
comportamento humano na tomada de decisão social e suas bases neurobiológicas.
3. Tomada de Decisão Social
O ser humano está constantemente julgando, avaliando e tomando decisões. Durante o
dia realizamos incontáveis decisões desde situações corriqueiras (como “Levo uma blusa de
frio hoje?”) a situações mais complexas (como “Devo me casar com essa pessoa?”). Dessa
forma, estamos sempre em constantes tomadas de decisões e escolhas que podem ter menor
ou maior impacto (SANFEY, 2007).
A Tomada de Decisão (TD) requer uma variedade de comportamentos, envolve
considerações de múltiplas alternativas, possibilidades, e a dedução das possíveis
conseqüências futuras das escolhas (CRONE et. al., 2004). Algumas pessoas necessitam altas
recompensas para balancear a possibilidade de riscos mínimos, enquanto outros assumem
riscos importantes mesmo quando a possibilidade de benefícios é pequena.
Por vivermos em sociedade, estas constantes escolhas estão relacionadas não só aos
nossos interesses pessoais. A interação social tem um importante papel, pois o outro faz parte
de um ambiente de contexto social altamente complexo que avaliamos para tomarmos
decisões de acordo com o permitido e com as vantagens da escolha. Em muitos momentos
decidimos considerando a contribuição que o outro pode dar para o nosso interesse pessoal e,
muitas vezes, nossas decisões dependem da decisão concomitantes de outros. É no contexto
das interações sociais que muitas das nossas decisões mais importantes acontecem (FRITH e
27
SINGER, 2008; FEHR e CAMERER, 2007; LEE, 2008; SANFEY, 2007).Dessa forma,
podemos definir as decisões sociais como decisões que não somente afetam a nós mesmos,
mas também com capacidade de afetar o outro e estão relacionadas com as preferências do
outro e a nossa (FEHR e CAMERER, 2007).
Devido à complexidade e a relevância que a TD têm em nossa vida a TD vem sendo
investigada por diferentes áreas de estudo, desde a psicologia até a economia.Visando uma
melhor compreensão dos mecanismos envolvidos nos processos decisórios na interação social
pesquisadores têm se utilizado da Teoria dos Jogos (TJ). Por meio da TJ é possível
investigar as estratégias utilizadas pelo grupo para maximizar os próprios ganhos durante os
processos de TD envolvendo interação social (LEE, 2008). Nesse sentido, a Tomada de
Decisão Social (TDS) vem sendo estudada através da TJ, Neurociência Cognitiva Social,
Neuroeconomia e Neuroeconomia Social (CAMERER, LEWENSTEIN e PRELEC, 2005;
LOWENSTEIN, RICK e COHEN, 2008; OCHSMAN e LIBERMAN, 2001; LIEBERMAN,
2007) buscando compreender os mecanismos de interação social, motivação, confiança,
empatia e cooperação, tanto em sujeitos saudáveis (FEHR e GÄCHTER, 2002; SANFEY,
2007; VAN’T WOUT e SANFEY, 2008; FRITH e SINGER, 2008; FEHR e CAMERER,
2007; KNOCK et al., 2006; VANT`T WOUT et al., 2006), como naqueles com lesões
cerebrais (KOENIGS e TRANEL, 2007; WALTON, DELVIN e RUSHWORTH, 2004;
KRAJBICH et al, 2009) e também naqueles com diferentes patologias como o autismo (DE
MARTINO et al, 2008; SALLY e HILL, 2006; CHIU et al, 2008).
3.1 Teoria dos Jogos
A Teoria dos Jogos (TJ), fundada por John von Neumann e Morgenstern, em 1928
com o estabelecimento dessa área com a publicação de “Theory of Games e Economic
Behavior” em 1944, vem demonstrando que eventos sociais podem ser estudados com o uso
de modelos de jogos de estratégias. Trata-se de uma teoria de Tomada de Decisão que procura
28
entender como as pessoas tomam decisões em situações mais complexas, nas quais as
escolhas não são os únicos fatores operantes, ou seja, situações que implicam interação
estratégica (DAVIS, 1983; FIANI, 2006). Segundo Camerer, Ho e Chong (2001), a TJ é um
sistema matemático que tem como objetivo analisar e predizer como o ser humano se
comporta em situações estratégicas.
Na TJ o Jogo é um modelo formal com regras preestabelecidas que permitem uma
análise de situações estratégicas em que Agentes ou Jogadores(que são quaisquer pessoas ou
grupos com possibilidade de decisão) interagem entre si. Os modelos dos jogos são
representação mais simplificada, pois a realidade será sempre mais complexa. Por isso, o
modelo “serve como um guia na compreensão dos fenômenos da vida econômica, empresarial
e social.” (FIANI, 2006, p. 43). Para a TJ o jogador é considerado racional, se baseia em
evidências empíricas com imparcialidade para julgar os fatos excluindo qualquer avaliação
moral e pressupondo um padrão de comportamento ético agindo sempre visando alcançar os
melhores resultados do seu objetivo (FIANI, 2006; DAVIS, 1983).
Na interação, que são ações dos jogadores consideradas de forma individual, mas que
afetam os demais jogadores, o jogador se utiliza de estratégias que são tomadas de decisões
que, como resultado, levaria a obtenção de um resultado, seja uma recompensa ou uma
punição, para cada jogador. Para isso, o jogador precisa levar em consideração as decisões do
outro jogador, as cosequencias de suas decisões e das decisões do outro. Assim, as decisões
do jogador dependerão do que ele acredita no que o outro jogador irá fazer e vice-versa
(DAVIS, 1983; FIANE, 2006; CAMERER, 2009).
Sendo assim, a TJ utiliza a Teoria da Escolha Racional, que considera que os
jogadores escolhem de acordo com suas preferências e, portanto, afirma que as escolhas são
racionais. Contudo, quando os jogadores não dispõem de todas as informações, o contexto
social e a cultura podem influenciar em suas decisões, ou seja, nem sempre a hipótese da
29
racionalidade basta para determinar a ação dos jogadores. A racionalidade, algumas vezes, só
é “exercida em um dado contexto de regras sociais ou de valores culturais” fazendo com que
seja necessária a consideração do contexto social e cultural em que os jogadores estão
inseridos para ser possível a análise do seu comportamento (FIANI, 2006, p.31).
Outro aspecto que a TJ trás em relação ao jogador é que este teria preferências e
tomada de decisão seria baseada nas preferências. As preferências se dariam pela utilidade de
cada resultado e pode ser inferida pela decisão tomada, ou seja, pode se dizer que a escolha de
uma pessoa “mostra” a sua preferência (RUSTICHINI, 2009; CAMERER, 2009). A
preferência é uma das variáveis geradoras de conflito na TD.
A análise das preferências dos jogadores é estudada através do grande axioma da
Teoria da Utilidade. Segundo Davis (1983), antes de tomar uma decisão é necessário saber
qual é o objetivo desejado. Para o autor, a Teoria da Utilidade, portanto, busca compreender
através de equações matemáticas quais as preferências dos jogadores em relação às situações
possíveis de ocorrer. As preferências, na teoria, teriam sempre o objetivo de maximizar os
ganhos (expectativa de recompensa). Entretanto, na vida real, nem sempre isto ocorre, uma
vez que pessoas diferentes desejam coisas diferentes (DAVIS, 1983).
Assim, a Teoria da Utilidade (TU) deve ser uma função simples para quantificar as
preferências das pessoas em função de certos objetivos (DAVIS, 1983). Deve ser uma medida
de preferências do comportamento observado (FEHR e CAMERER, 2007). As decisões
estão relacionadas às preferências e as conseqüências destas estão relacionadas à percepção de
situações futuras de cada indivíduo. Por isso, a preferência é pessoal e intransferível
(GARCIA, 2007). Algumas teorias vêm tentando compreender como se dão as preferências
em diferentes situações de tomada de decisão, que serão abordadas com mais detalhes no
próximo tópico.
30
3.2 Teoria da Utilidade
As preferências dos jogadores apresentam alguns aspectos importantes segundo a TU,
descrita por Morton Davis (1983) embasado nos critérios de Luce e Riffa descritos em 1957:
i. tudo pode ser comparado podendo-se preferir uma possibilidade a outra, ou ser indiferente
entre duas possibilidades fortemente desejadas; ii. a preferência é transitiva, assim como a
indiferença entre duas opções fortemente desejadas; e iii. em jogos de soma-zero (dois
jogadores não podem perder simultaneamente) os interesses entre os dois jogadores devem
ser opostos. De acordo com o autor, a preferência também varia ao longo do tempo.
Nos estudos sobre decisão de risco, a Teoria da Utilidade Esperada (TUE), proposta pela
primeira vez por Daniel Bernoulli em 1738 (LOEWENSTEIN, RICK e COHEN, 2008) e
desenvolvida posteriormente por von Neumann e Morgenstern (1944 apud GARCIA, 2007),
era a mais utilizada como um modelo normativo de escolha racional. Contudo, também pode
ser considerada como descritiva por partir do comportamento humano no processo de decisão.
A TUE presume que o jogador possui uma ordem de preferência e que a escolha da
melhor alternativa terá como base a ponderação das probabilidades de que as consequências
de sua decisão ocorram escolherá, portanto, a alternativa cuja consequência tenha a maior
probabilidade de ocorrência e maior utilidade. Este processo de avaliação por ponderação de
probabilidade de consequências faz uso de modelos matemáticos para buscar as preferências
do jogador (GARCIA, 2007).Sendo assim, TUE utiliza-se do modelo do homem econômico,
competitivo, com decisões embasadas na racionalidade (GARCIA, 2007).
Este modelo foi questionado por Simon (1947 apud GARCIA, 2007) que trás o
modelo do homem administrativo que buscaria sempre o satisfatório, o razoável e não o
melhor. O homem administrativo teria a racionalidade limitada, baseando suas decisões em
31
parte das informações do mundo real, pois não seria possível para homem de avaliar todas as
informações e possibilidades possíveis para fazer uma escolha (GARCIA, 2007).
Baseado no modelo se Simon, Kahneman e Tversky, ganhadores do prêmio Nobel,
formularam a Teoria do Prospecto (TP) em 1979. A grande mudança no modelo proposto
pelos autores está nos estudos do “efeito certeza”. Os decisores apresentam comportamentos
diferentes durante as situações de escolha nas quais apresentam certeza de ganho ou perda,
levando o sujeito a apresentar aversão ao risco nas situações de ganhos certos, e a buscar
escolhas de risco em situações de perdas certas. (KAHNEMEM e TVERSKY, 1979 apud
GARCIA, 2007).
Uma crítica realizada pelos estudos da psicologia é o fato da capacidade explicativa,
tanto em situações de decisões mais complexas quanto em situações coletivas, estarem
limitadas (GARCIA, 2007).
Em situações mais complexas como na TDS em que a utilidade do resultado não
depende somente no próprio resultado absoluto, mas também considera o resultado absoluto
do outro uma vez que para maximizar os resultados do jogador é preciso levar em
consideração o que o outro considera importante na interação (HANDGRAAF, VAN DIJK e
DE CREMER, 2003).Portanto, a preferência na interação social tem sido baseada no modelo
da Utilidade Social (US) que leva em consideração o nível de satisfação como uma função do
resultado pessoal e do outro (LOEWENSTEIN, BAZERMAN e THOMPSON, 1989). Na US
o componente resultado absoluto (o resultado individual independente do outro) e o
componente comparativo (o resultado individual na comparação com o resultado do outro)
gerariam a utilidade na decisão de um resultado (HANDGRAAF, VAN DIJK e DE
CREMER, 2003). Loewenstein, Bazerman e Thompson (1989) observaram que na
comparação as pessoas preferem uma distribuição justa sendo esta uma preferência pela
equidade. Fehr e Schimidt (1999) trazem o modelo de equidade como uma aversão a
32
inequidade, ou seja, haveria uma preferência para o equilíbrio entre as duas partes que é
baseada em uma referência para ser julgada como justa, na comparação social.
A preferência pela equidade na interação seria a preferência social que é considerada
uma característica do comportamento de um indivíduo ou motivação que está relacionado
com a preocupação deste com o bem estar ou a recompensa do outro, ou seja, uma pessoa que
leva em consideração o bem-estar do doutro (FEHR, 2009). Nesse sentido, muitos estudos
tem buscado compreender na interação a preferência social e modelos de preferência sociais
vêm sendo discutido como será apresentado na próxima secção.
3.3 -Preferência Social
Os modelos da Preferência social visam compreender como a preferência ocorre na
interação social em diferentes situações. Na preferência social não haveria somente a
preocupação com a própria recompensa, mas também se preocupa com a recompensa do
outro que seja relevante, o bem estar deste (FEHR, 2009; LEE, 2008; FEHR e GÄCHTER,
2007) e na comparação entre o que cada um entende como sendo justa (FEHR e SCHIMIDT,
1999; LOEWENSTEIN, BAZERMAN e THOMPSON, 1989; LOEWNSTEIN, RICK e
COHEN, 2008).
De acordo com Fehr e Schimidt (1999), a percepção de justiça se dá pela comparação
tendo uma recompensa como referência sendo esta um resultado de um complexo processo de
comparação. Além disso, os autores trazem que a intenção é outro fator importante neste
processo que leva a considerar uma situação justa ou injusta. Para Rabin (1993), em contraste
com o modelo de Fehr e Schimidt (1999), a intenção percebida explicitamente pela ação
levaria a percepção de justiça e injustiça sendo que a divisão igual da recompensa é uma ação
considerada justa tendo como intenção a gentileza, bondade e a divisão desigual da
33
recompensa uma ação com intenção de hostilidade. Já Fehr e Schimidit (1999) consideram
tanto a intenção implícita como a explícita importante na percepção de justiça e equidade.
O modelo de Rabin (1993) da preferência pela justiça e equidade traz que as pessoas
tendem a serem recíprocas tanto quando recebem uma gentileza sendo gentis com esta pessoa
como também são motivadas a magoar aquele que as magoou. Entretanto, nem todas as
pessoas então preocupadas com a recompensa do outro ou o seu bem estar. Estudos têm
apontado que apesar de uma boa parte das pessoas serem motivadas por considerações de
justiça e equidade, outra parte dos estudos indica que seríamos motivados completamente
pelo interesse pessoal (FEHR e SCHIMIDIT, 1999; FEHR e GÄCHTER, 2000). Segundo o
modelo de Fehr e Schimidit (1999) existe uma parcela da população que teria também uma
motivação para a consideração de justiça e equidade sendo esta parcela aversiva a iniquidade.
Este modelo de aversão à iniquidade seria auto-centrado, ou seja, tanto pessoas com
motivações de reciprocidade e cooperação quanto às pessoas competitivas e não cooperativas
se preocupariam com a desigualdade entre a própria recompensa e a recompensa do outro.
Fehr e Fischbacher (2002) agrupam a preferência social em alguns subtipos de acordo
com estudos prévios: reciprocidade, aversão à injustiça ou iniquidade, altruísmo puro e
pessoas com preferências invejosas ou rancorosas. O primeiro tipo, a preferência pela
reciprocidade, está relacionada à percepção do indivíduo em relação à ação do outro sendo
que esta ação pode ser percebida como gentil ou hostil. A percepção da ação como uma
bondade ou maldade depende tanto da intenção quanto a consequência desta ação (FEHR e
FISCHBACHER, 2000; FALK e FISCHBACHER, 2006). Além disso, autores consideram a
reciprocidade como negativa ou positiva, ou seja, um comportamento recíproco positivo seria
quando este é cooperativo e reciprocidade negativa quando este é retaliatório sem a
expectativa de ganhos materiais futuros (FEHR e GÄCHTER, 2000). Segundo Fehr e
Fischbacher (2005) a combinação de punição altruísta e recompensa altruísta seria uma forte
34
reciprocidade onde a punição para a violação das normas sociais e a recompensa em resposta
a um resultado justo teriam um custo sem recompensa individual para aquele que age com
grande reciprocidade.
Outro tipo de preferência que Fehr e Fischbacher (2002) apresentam é a aversão à
iniquidade, proposta no modelo de Fehr e Schimidit em 1999 em que pessoas com esta
preferência agiriam de forma altruísta para igualar os ganhos entre participantes e se irritariam
quando o outro recebe maior recompensa do que ele mesmo.
Em muitos momentos, as pessoas com motivação a reciprocidade agiriam de forma
similar às pessoas com preferência a aversão à iniquidade (FEHR e FISCHBACHER, 2002).
Entretanto, Falk e Fischbacher (2006) mostram em seu modelo que a recompensa também é
decisiva da mesma forma que a intenção da ação sendo esta comparável entre as pessoas.
Além disso, estudos têm mostrado que mesmo pessoas egoístas podem passar a
contribuir e a cooperar quando estas são punidas por pessoas motivadas pela reciprocidade da
mesma forma que pessoas egoístas (free ride) podem levar pessoas motivadas à reciprocidade
a agirem de forma egoísta dependendo do contexto (FEHR e GÄCHTER, 2000; FEHR e
SCHIMIDIT, 1999).
O altruísmo puro seria um comportamento de gentileza incondicional e este
comportamento teria um custo para o altruísta para aumentar a recompensa do outro sendo
que este comportamento independe das ações prévias do beneficiado (CAMERER e FEHR,
2002; FEHR e FISCHBACHER, 2002). A diferença entre altruísmo e reciprocidade é que na
reciprocidade o comportamento é guiado pelas ações prévias do outro agente (CAMERER e
FEHR, 2002).
Não existem sociedades humanas sem normas sociais. Esta é uma das características
mais marcante da espécie humana: a capacidade de desenvolver e fazer cumprir as normas
sociais (Fehr e Fischbacher, 2004).As normas sociais surgem através da interação em grupos
35
e são definidas como comportamentos regularizados pelo grupo baseados nas crenças de
como se deve comportar em determinadas situações e que estas crenças desencadeiam meios
informais para o cumprimento destas sendo que todos devem seguir as normas sociais e fazer
cumprir estas normas mesmo que tenha um custo imediato para aquele que impõem o
cumprimento destas por meio de sanções sociais (FEHR e GÄCHTER, 2000; BERNHARD,
FEHR e FISCHBACHER, 2006).
Segundo Fehr e Fischbacher (2004), membros de um grupo obedeceriam às normas
sociais naturalmente uma vez que estas estejam de acordo com os seus objetivos pessoais.
Quando os seus objetivos pessoais diferem das normas sociais, estes serão forçados a seguir
as normas por meio de punições quando houver violação destas normas. Por isso, muitas
vezes as normas são cumpridas devido ao medo da punição caso haja violação destas (FEHR
e FISCHBACHER, 2004a,b). Este tipo de cooperação é chamado de cooperação condicional
(FEHR e FISCHBACHER, 2002).
Estudos têm apontado que a punição altruísta é um dos mecanismos para reforçar e
manter as normas social sendo esta uma das consequências importantes da reciprocidade e a
reciprocidade seria, portanto, um dispositivo que incentiva as pessoas que não cooperam a
cooperarem de alguma maneira (FEHR e GÄCHTER, 2000, 2002; FEHR e SCHIMIDIT,
1999). Dessa forma, a cooperação, lealdade e altruísmo são ensinados pelo grupo por meio de
punição e recompensa fazendo com que os sujeitos levem em consideração o bem estar do
outro. Portanto, quando deixamos nossosinteresses pessoais pensando no bem estar do outro é
devido à incorporação da preferência social (LEE, 2008; FEHR e GÄCHTER, 2007). Além
disso, os estudos reforçam a idéia de que a preferência social por rejeição a ofertas injustas,
confiança em outros e punição para aqueles que violaram as normas sociais, são expressões
genuínas da preferência (FERH e CAMERER, 2007).
36
A preferência social tem sido estudada por meio de jogos baseados na TJ. A seguir
serão apresentados os principais jogos utilizados nos estudos da TDS.
3.1.2 Jogos mais Utilizados da Teoria dos Jogos
Os jogos visam simular situações reais de tomada de decisão na interação social de
forma simplificada envolvendo situações econômicas. O jogo Dilema do Prisioneiro (The
Prisioner Dilema Game - PDG), o jogo de Confiança (The Trust Game - TG), o jogo
Ultimato (Ultimatum Game – UG), o jogo Bens Públicos (The Public Goods Game – PG), o
jogo Terceira-Parte (Third-Party Game – TPG) e o jogo de Três Pessoas no Ultimato (Three-
Person Ultimatum Game – TPUG) são os principais jogos utilizados nos estudos da TDS e
cognição social.
O jogo The Prisioner Dilema Game (PDG), um dos jogos mais populares na TJ, visa
analisar cooperação e reciprocidade. Neste jogo dois suspeitos de um roubo são isolados em
salas separadas pela polícia, que faz a cada um deles uma proposta: Caso um deles confesse o
roubo e o outro não, o que confessou será libertado devido a sua cooperação, porém o seu
parceiro ficará quatro anos na penitenciária estadual. A situação inversa ocorre igualmente: se
ele não confessar e o seu parceiro confessar, este último será libertado enquanto aquele ficará
detido por quatro anos. Mas se ambos confessarem o valor da cooperação de um dos suspeitos
é perdido, levando os dois há enfrentarem dois anos na prisão. Entretanto, os prisioneiros
sabem que se nenhum deles confessar, eles serão soltos após um ano de detenção, por motivo
de vadiagem (FIANI, 2006). Estudos observaram que a cooperação mútua ocorre em torno de
50% das vezes. (SANFEY, 2007; RILLING et al, 2008).
O jogo utilizado para analisar a punição altruísta, por sua vez, é o Public Goods Game
(PG). O jogo consiste em investimentos simultâneos de qualquer proporção para projetos
públicos ou privados. Se investir em bens públicos há um aumento dos ganhos para o grupo.
37
Contudo, se investir em bens particular o ganho individual será maior. Estudos tem observado
punição aos que não investem ou investem muito pouco em bens públicos pelos que realizam
investimento. Tais punições levam ao maior investimento destes jogadores em bens públicos
após a punição (FHER e GÄCHTER, 2002; FEHR e CAMERER, 2007).
Já em relação confiança, traição social e iniquidade, pesquisadores têm utilizado o
jogo The Trust Game (TG). O primeiro jogador começa doando uma parte do valor que tem
para o outro jogador e este valor é dobrado para quem o recebe. Pode-se então observar o
comportamento de devolver a doação (retribuir a confiança) ou ficar com o montante
(desertor) de quem recebeu a doação. Como o experimentador dobra o dinheiro investido
quando há uma doação e quando há retorno desta doação, a confiança e reciprocidade leva
para a melhor situação para ambos do que ficarem com os montantes iniciais. Estudos tem
observado uma retribuição ao investimento em alguma proporção (FEHR e CAMERER,
2007; VAN‘T WOUT E SANFEY, 2008). Segundo Fehr (2009) a preferência social
influência na interação em que envolve confiança. Aqueles que preferem a reciprocidade tem
maior tendência a retribuir a confiança.
Estudos que investigam o interesse pessoal envolvendo empatia e cooperação, relação
entre recompensa e punição, têm utilizado o jogo Ultimatum Game (UG), criado por Güth et
al. (1982), que consiste na divisão de um valor entre dois jogadores. O participante deve
aceitar ou não uma proposta financeira feita por outro jogador (podendo este ser um ser-
humano ou um computador). A proposta financeira é a apresentação da divisão de um
montante total de dinheiro. Quem promove a divisão oferece uma das partes ao outro jogador
(que deve aceitar ou recusar a proposta) e fica com a outra parte para si. Assim, aquele que
recebe a proposta, estará decidindo o quanto quer ganhar e o quanto o outro ganhará. A
proposta oferecida tanto pode ser justa (uma divisão em duas porções de iguais) como pode
ser injusta (divisão desigual para que o propositor fique com a maior parte, caso o outro
38
jogador aceite). Neste jogo, quando a proposta é recusada, ninguém recebe nada, mas quando
é aceita, os valores recebidos são aqueles oferecidos no momento da divisão. (SANFEY,
2007; FRITH e SINGER, 2008; FEHR e CAMERER, 2007; KNOCK et al., 2006). No UG
ocorre apenas uma única interação confidencial com desconhecidos em que a barganha ou o
estabelecimento de reputação não consegue explicar os achados comportamentais, entre eles,
a rejeição irracional da proposta uma vez que a teoria prevê que qualquer valor é melhor do
que nada. Porém, mais da metade das propostas injustas são rejeitadas: propostas abaixo de
30% - 20% do valor total tem 50% de chances de ser rejeitadas (SANFEY et al, 2006;
VANT`T WOUT et al., 2006; CHANG e SANFEY, 2009; FEHR, 2009; SHIV e
COLABORADORES, 2005; CHANG e SANFEY, 2009; SANFEY et al, 2006; KOENIGS e
TRANEL, 2007, van‘t WOUT et al, 2006; BOKESEN e CREMER, 2010). Por isso, a
rejeição provavelmente deve ser motivada pela preocupação com a equidade na comparação
entre resultados, pouco se deveria ao interesse pessoal (HANDGRAAF, VAN DIJK e DE
CREMER, 2003) uma vez que este não irá interagir novamente com aquele propositor. Dessa
forma, a punição seria altruísta por gerar um custo e não trazer benefícios para quem a realiza
(STROBEL et al, 2011; FEHR e GÄCHTER, 2002; FEHR e FISCHBACHER, 2004).
A teoria da preferência social prevê que os sujeitos preferem punir comportamentos
injustos a punir comportamentos de deserção (observados em jogos como Public Good Game,
Prisioner Dilema Game e Ultimatum Game). O que ocorreria devido ao fato de atos injustos
serem associados a não punição, levando à percepção de impunidade, que é associada à não-
utilidade e, por isso, a punição seria preferível ao ato de barganhar o custo da punição em
atitudes justas (FHER e CAMERER, 2007). Segundo Fehr, Fischbacher e Kosfeld (2005), a
punição em jogos como Social Dilemma não é irracional e que deve ser compreendida como
um comportamento racional de pessoas com preferências sociais correspondentes.
39
O Third-Party Game e o Three-Person Ultimatum Game são jogos que permitem
investigar o comportamento de punição altruísta. O TPG jogo consiste na divisão de um valor
monetário entre dois jogadores sendo que quem recebe a proposta de divisão não tem direito
de decisão, ou seja, não pode manifestar sua posição sobre a proposta (não pode rejeitar) e um
terceiro observa a divisão. Este terceiro recebe um montante que pode ficar apenas para ele ou
pode ser utilizado para punir ou recompensar o propositor. Estudos têm mostrado que a
maioria pune em alguma proporção àqueles que fazem divisões injustas mesmo que tenha um
custo e não tenha nenhuma recompensa ou vantagem para estes observadores (BERNHARD,
FEHR e FISCHBACHER, 2006; FEHR e FISCHBACHER, 2004a, b).
Já o TPUG foi criado por Güth e van Damme (1998), segue o modelo do UG sendo
que, neste caso, a divisão de um valor é proposta para três jogadores e um deles não tem
direito de aceitar ou rejeitar a proposta (chamado pelos autores de “dummy”). O jogador deve
aceitar ou rejeitar a proposta não somente pensando em seus próprios ganhos, mas também
deve considerar as desvantagens e vantagens para o terceiro jogador (o chamado “dummy”).
Segundo Güth, Scimidt e Sutter (2007) o TPUG é uma das ferramentas mais apropriada para
estudar as motivações do comportamento quando está envolvida a consideração por injustiça
e equidade. Os estudos mostraram que as pessoas se preocupam com o jogador menos
favorecido propondo e escolhendo mais as propostas justas (GÜTH, SCIMIDT e SUTTER,
2007; PFISTER e BÖHM, 2012).
Por fim, para a investigação de aspectos como cooperação, altruísmo, confiança e
lealdade, os jogos mais utilizados são: The Trust Game e The Ultimatum Game (SANFEY,
2007; LEE, 2008). Esses jogos envolvem decisões econômicas com base na divisão/partilha
de valores monetários que, para serem acumulados dependem da interação com o outro, i.e, o
jogador baseará suas decisões no comportamento de uma outra pessoa e os pontos ganhos ao
40
longo do teste estão vinculados à essa interação e integração de informações provenientes do
outro.
Por meio dos jogos apresentados acima e suas variações, vêm sendo investigado o
impacto das emoções, da confiança e reciprocidade, empatia, diferença entre gênero, punição
altruísta, entre outros fatores por diversas áreas. Estudos com voluntários saudáveis e com
pacientes tem mostrado o impacto dessas varáveis na TDS com grandes contribuições para a
compreensão dos processos decisórios, como será apresentado a seguir alguns dos principais
estudos.
3.1.2.1 Os Jogos na Tomada de Decisão Social
As reações emocionais observadas nos estudos de TDS tem se mostrado um fator
importante na interação social. Um dos primeiros estudos a observar o impacto das emoções
negativas na tomada de decisão social foi Pilluta e Murnighan (1996) com o modelo de
orgulho ferido/irritação que predeceriam a raiva. Estas emoções seriam geradas pela
percepção de que a injustiça das propostas injustas do UG serem dirigidas de forma pessoal
de acordo com os autores. Outro estudo mais recente utilizando o UG investigaram as
reações emocionais durante jogo utilizando a condutância da pele (que se refere ao grau de
fluxo de corrente permitido pela pele que está relacionado ao grau de solução eletrolítica
secretada pelas glândulas sudoríparas (suor) (NAQVI e BECHARA, 2006). Neste estudo os
participantes jogaram parte com pessoas e parte com um computador. Os autores observaram
maiores amplitudes para a rejeição de propostas injustas quando estas eram feitas por
humanos e variações não significativas da amplitudes quando as propostas eram realizadas
pelo computador. Em relação a rejeição das propostas, as propostas injustas foram mais
rejeitadas quando eram realizadas por pessoas do que por computadores. O estudo em questão
41
sinaliza o papel da relação interpessoal nos processos decisórios e aponta para a importância
da modulação dos aspectos afetivos.
Em outro estudo Civai, Corradi-Dell‘Acqua, Gamer e Rumiati (2010) investigaram o
impacto das emoções utilizando o mesmo jogo, UG, mensurando a condutância da pele
durante o teste. A diferença do jogo neste experimento, é que em alguns momentos o jogador
poderá decidir por uma terceira pessoa, se aceita ou rejeita a proposta. Foram excluídas as
situações de propostas extremas no caso deste experimento. Como controle da interação
social, os participantes realizaram uma tarefa Free-win-task, que consistia em aceitar
propostas feitas pelo computador.
Os pesquisadores observaram que o número de rejeições foi muito maior no jogo UG
do que no FW, ou seja, baixas ofertas foram mais rejeitadas no UG do que no jogo FW. Com
relação às emoções, foi observado que tanto as emoções negativas quanto as positivas foram
relatadas como mais fortes nas condições em que respondiam por eles mesmos do que nas
situações em que respondiam por uma terceira pessoa. Também observaram que as emoções
negativas foram maiores quando os sujeitos rejeitavam ofertas injustas do que quando
respondiam por eles mesmos.
Além disso, observaram que a amplitude da condutância da pele era maior no jogo do
UG do que no FW. Nas situações em que houve rejeição de propostas injustas a amplitude de
condutância da pele foi maior quando a rejeição foi respondida por eles mesmos do que por
uma terceira pessoa. Os pesquisadores sugerem que nem sempre as emoções negativas estão
relacionadas às respostas de rejeição e que novas pesquisas precisam ser realizadas para a
melhor compreensão deste fenômeno.
Bies (1987 apud PILLUTA e MURNIGHAN, 1996) levanta a questão de haver mais
do que um julgamento cognitivo nas situações de injustiça com violação de normas sociais e
42
situações que provoquem danos pessoais, trazendo a influência das emoções na percepção de
injustiça.
Um estudo recente questiona se a rejeição a propostas injustas seria guiada apenas
pelas emoções negativas ou seria guiada também cognitivamente. Ma et al (2012) realizaram
um estudo com duas versões adaptadas do UG: “Informed Impunity Game” (situação pública)
e “Non-Informed Impunity Game” (condição privada) na condição experimental e anônima.
Como resultado foi observado diferença apenas na condição anônima tendo maior taxa de
rejeição na condição não-informada do que na informada. Os autores trazem que tais
resultados se devem ao impacto das emoções negativas na rejeição das ofertas injustas uma
vez que a preocupação com a reputação não estaria envolvida nesta condição (ninguém
saberia, nem mesmo o experimentador, qual seria a resposta do participante). Já na condição
experimental a taxa de rejeição foi maior para as condições públicas do que na condições
privadas, resultado que, de acordo com os autores, pode estar relacionado ao processamento
cognitiva em relação a consequência do comportamento de quem responde, ou seja, a rejeição
em uma situação publica poderia ter implicações positivas como proteger a sua reputação e
que pode beneficiar a cooperação na interação social.
A expectativa também tem um papel importante na tomada de decisão. Sanfey (2009)
investigou no UG o impacto da expectativa e, para isso, criou três condições: a condição de
alta expectativa, em que um grupo de participantes recebeu a informação de que os
propositores que iriam interagir costumavam fazer propostas mais igualitárias; a condição de
baixa expectativa, em que outro grupo de voluntários recebeu a informação de que os
propositores que iriam interagir tipicamente faziam propostas mais desiguais; e a condição
sem expectativa, em que outro grupo de voluntários recebeu somente as instruções sobre o
jogo e não teve nenhuma indução de expectativa em relação aos propositores. Como resultado
foi observado que o grupo com alta expectativa aceitou menos propostas do que o grupo com
43
baixa expectativa e sem expectativa. Tais resultados sugerem que o impacto negativo foi
maior quando a expectativa era maior de receber propostas mais justas devido a uma violação
da norma social.
De acordo com os estudos anteriormente descritos, o impacto das emoções tem
implicações importantes no comportamento decisório e um regulamento adequado das
emoções é essencial na interação social (Van’t Woult, Chang e Sanfey, 2010). Dessa forma,
uma questão pode ser levantada: qual seria o comportamento diante a propostas injustas se
fosse solicitado o controle das reações emocionais?
Van’t Woult, Chang e Sanfey (2010) investigaram o impacto da regulação das
emoções na tomada de decisão com o UG. Os autores criaram duas condições: neutra e
regulação da emoção. Todos os participantes jogaram a condição neutral ou antes ou depois
da condição de regulação das emoções. Na condição de regulação das emoções os
participantes recebiam instruções para dois diferentes tipo de regulação em momentos
diferentes: no primeiro momento o grupo de participantes foi orientado a suprimir as emoções
e não expressá-las ou deixá-lo influenciá-lo durante a visualização das propostas (condição
supressão); no segundo momento o grupo foi orientado a tentar ficar neutro e buscar tentar
encontrar uma razão do porquê aquela pessoa fez aquela oferta (condição de reavaliação). No
final os participantes deram notas de quanta raiva sentiram quando viram as propostas injustas
nas duas condições de regulação das emoções e na condição controle (neutra).
Como resultado os autores observaram um aumento na aceitação de propostas na
condição de reavaliação de ofertas injustas em relação a condição supressão e neutral.
Quando os participantes foram propositores, estes fizeram propostas mais altas depois de
terem participado na condição de reavaliação. Os autores apontam para a modificação do
comportamento na interação social quando há uma reavaliação da situação ao tentar buscar
44
uma razão para o comportamento do outro gerando uma regulação das emoções negativas
mais efetiva do que a supressão.
A punição altruísta também seria um comportamento gerado por emoções negativas
por pessoas que apresentam preferência social (aversão a inequidade, por exemplo). Fehr e
Gächter (2002), utilizaram o jogo The Public Goods Game para investigar o engajamento do
ser humano na punição altruísta e como este comportamento pode induzir a manter e sustentar
a cooperação. Para isso, 240 estudantes participaram deste jogo que consistia em duas
condições: a com possibilidade de punição e outra sem possibilidade de punição. No final, os
participantes recebiam 4 cenários hipotéticos para avaliar o sentimento de raiva/irritação de
(1=nenhum e 7=muito).Os autores observaram que a punição aumentava a quantidade de
dinheiro investida pelos que não-cooperavam. Além disso, o investimento foi maior na
condição de punição do que na condição de não-punição mostrando que a punição leva ao
aumento da cooperação. Em relação aos cenários, foi observado no cenário 3, onde a
diferença entre os que cooperaram era maior do que o que pouco cooperou, tiveram notas
mais altas de expectativa de sentimento de raiva pelos outros integrantes do grupo do que nos
cenários onde a diferença entre os investimentos era menor. Para investigar melhor o impacto
das emoções negativas por aqueles que não-cooperam, 33 voluntários que não participaram
do jogo responderam os mesmos cenários. Como resultado verificou-se os mesmos
sentimentos que os 240 participantes do estudo anterior apresentaram, ou seja, os
participantes que não-cooperam (os mais egoístas) geram maiores sentimento de
raiva/irritação e este sentimento é esperado pelos outros mostrando que a punição altruísta
seria motivado por emoções negativas e que este comportamento seria efetivo para elevar o
nível de cooperação dentro do grupo (FEHR e Gächter, 2002).
Os resultados desse estudo vão de encontro com a teoria de que a punição altruísta
seria eliciado não somente por emoções negativas, mas também pela aversão a inequidade
45
uma vez que foi observado aumento no sentimento de raiva quando as diferenças entre os
valores investidos pelo grupo eram maiores do que quando estes valores eram menores. Além
disso, a diminuição do nível de cooperação na condição de não-punição também está de
acordo com estudos prévios que trazem a influência dos jogadores no grupo. Em outras
palavras, quando o grupo tem mais jogadores que cooperam este comportamento indica ao
grupo que a norma é a cooperação e esta deve ser seguida. Contudo, se alguns violam a norma
existiria a permissão para outros a violem também (FEHR e FISCHBACHER, 2004). Dessa
forma, a punição altruísta, apesar de ter um custo para quem a realiza e não ter nenhum
retorno para esta pessoa, tem se mostrado uma importante ferramenta para impor a adesão as
normas sociais (BENHARD, FERH e FISCHBACHER, 2006) e aumentar a cooperação entre
o grupo.
A intenção também teria impacto nas emoções e na tomada de decisão. Falk, Fehr e
Fischbacher, 2003) observaram em uma versão reduzida do UG que a intenção também
motivaria ao comportamento de punição e não somente a recompensa. Em estudo recente,
Pfister e Böhm (2012), realizaram uma versão modificada do UG, o Three-Player UG. Só que
nesta versão (também conhecida como Güth e van Dame Ultimatum Game ou Three-Person
Ultimatum Game) o participante que responde tem três opções de resposta: aceitar, rejeitar
Tipo 1 (o jogador que responde e o propositor não ganha nada, mas o terceiro jogador ganha a
sua parte da divisão proposta) e a rejeição Tipo 2 (nem quem responde e a Terceira parte
ganha nada, mas o propositor fica com a sua parte proposta) em dois experimentos. No
primeiro, os autores encontraram maior taxa de aceitação quando as propostas eram justas não
somente para quem responde, mas também para a terceira parte. Além disso, as rejeições
foram maiores para o Tipo 1 devido ao impacto da proposta injusta. Com relação ao
julgamento de justiça está de acordo com estudo prévio que mostra que tanto valores baixos
46
quanto valores mais altos em relação ao outro são considerados como (van den Bos et al,
1998).
Em relação a satisfação observou se maior nível tanto para propostas justas quanto
para rejeição de propostas injustas. Já no Segundo experimento, com a diferença que jogaram
com pessoas reais na condição de terceira parte e quem responde e com manipulação de
intenção com propostas sugerindo altruísmo á malicia, observaram mais propostas de divisões
mais altas e se a divisão para o terceiro era igual. Com relação as emoções, a raiva teve nível
maior quando as ofertas injustas eram dadas para ele independente da divisão proposta para o
terceiro. Com relação a inveja teve maior nível em comparação a proposta da Terceira parte
na comparação com os valores menores para quem responde. Além disso, verificaram que a
pontuação para o sentimento de raiva foi desencadeado pela comparação com o propositor e
inveja pela comparação com a Terceira parte. Por fim, verificaram como os jogadores
estavam se sentindo e observaram que estavam se sentindo melhor depois de aceitarem
propostas e um pouco melhor depois de rejeitarem propostas. Os autores discutem que o
comportamento de punição teve impacto das emoções e da inferência sobre a intenção do
propositor e que a percepção de justiça seria holística e não somente focada em quem
responde.
A consideração pela justiça no UG foi investigada por Radke, Gürog˘ lu e Bruijin
(2012) visando uma melhor compreensão sobre o impacto do contexto e da intenção na
tomada de decisão e observaram maior rejeição de propostas injustas pareadas com justas
quando realizadas por uma pessoa e menor taxa de rejeição quando as propostas injustas eram
realizadas pelo computador. O mesmo comportamento foi observado na condição não-
controlada. Os resultados mostram que a consideração por justiça foi sensível tanto para o
contexto quanto para a intenção e que a intenção moderou o contexto quando a injustiça era
explicita.Tais estudos mostram o impacto das emoções na tomada de decisão apontando para
47
o papel destas no direcionamento do comportamento e ações novas para sejam adequadas ao
contexto, podendo contribuir para o bem estar ou para o sofrimento do indivíduo. Dessa
forma, entender as emoções do outro e tentar inferir o que o outro está pensando e sentindo é
fundamental para que as reações e comportamentos sejam adequados ao contexto (BARON-
COHEN, 2004; BARON-COHEN, 2009). Assim, a empatia e a habilidade de mentalização
tem sido de crescente interesse para a melhor compreensão das decisões na interação social.
Estudos tem buscado compreender o papel destas habilidades nos processos decisórios
envolvendo interação social. Estudos sobre o desenvolvimento destas habilidades em crianças
tem auxiliado na melhor compreensão sobre o impacto destas na TDS. Em um estudo recente,
visando compreender a relação entre o desenvolvimento da ToM na TD com crianças,
colocaram crianças 68 pré-escolares jogaram uma versão do jogo Ultimatum Game face-a-
face onde uma criança propunha a divisão de balas com outra criança e o teste “Sally-Anne
task”, uma tarefa que avalia a percepção de “falsa crença”, para verificar a relação com o
desenvolvimento da ToM e a TDS. Os pesquisadores observaram que as crianças que
passaram na tarefa de “falsa crença” realizaram propostas mais justas (5 balas) e até hiper
justas (mais de 5 balas) para os respondedores. Já as crianças que não passaram na tarefa
realizaram mais propostas injustas e de maneira mais egoísta, sendo que apenas 36%
realizaram propostas justas. Com relação as crianças que responderam, 50% que rejeitaram as
propostas injustas não passaram na tarefa (TAKAGISHI et al, 2010).
No mesmo estudo os pesquisadores realizaram uma tarefa suplementar onde pré-
escolares tinham que dizer o que outra criança sentiria se recebesse uma propostas de 2 balas
para ela e 8 para outro. Para isso deveriam apontar para um cartão com uma carinha feliz ou
triste e o “Sally-Anne task” foi aplicado. Como resultado, observaram que as crianças que
passaram na tarefa conseguiram compreender a outra criança apontando mais para o cartão
com o rosto triste do que as crianças que não passaram na tarefa. Os autores concluem que o
48
desenvolvimento da ToM esta relacionado ao aumento do comportamento justo e de
equidade. Entretanto, crianças que não passaram no teste podem ter aprendido o
comportamento de justiça e podem ter realizado a tarefa pensando mais na expectativa dos
adultos (os pesquisadores presentes) do que na outra criança. As rejeições dos pré-escolares
para as propostas injustas parecem estar relacionada a aversão a inequidade, que pode ser uma
regra mais importante para os pré-escolares do que entre os adultos (TAKAGISHI et al,
2010).
Sendo o desenvolvimento da ToM um aspecto importante para a TD, investigações
sobre alterações na habilidade de mentalização e empatia são importantes para a compreensão
do quanto tais habilidades estão envolvidas neste processo. De Martino et al. (2008)
investigaram a dificuldade de pacientes com autismo na incorporação dos estímulos
emocionais no processo de tomada de decisão e verificaram um aumento nos comportamentos
de maior racionalidade, o que pode estar relacionado a comportamentos de inflexibilidade. Os
pesquisadores utilizaram medidas de condutância da pele para mensurar as reações
emocionais durante uma tarefa econômica de risco nesses indivíduos com autismo de QI
normal ou acima da média comparando-os com sujeitos saudáveis. Os sujeitos com autismo
não apresentaram variações significativas na condutância da pele nas situações de perda ou
ganho; já para os sujeitos saudáveis, essas alterações foram observadas. Tais achados
sinalizam que os autistas falham na integração das emoções no processo decisório e, com
isso, sofrem menor influência do contexto e da situação.
Sally e Hill (2006) realizaram um estudo com crianças com o transtorno do espectro
autista em comparação a crianças saudáveis de 6 a 10 anos sobre a habilidade de mentalização
e a cooperação através de três jogos de estratégia: Prisioner Dilema (PD), Ditactor Game
(DG) e o Ultimatum Game (UG). Primeiramente, todos os sujeitos realizaram o teste Sally-
Anne e a tarefa de falsas crenças usando “Birthday Puppy story”. As crianças jogaram no
49
mesmo laptop, uma ao lado da outra. Os autores observaram que as crianças do espectro
autista tiveram um desempenho inferior comparado às crianças de desenvolvimento típico.
No PD as crianças acreditaram jogar parte com o computador e parte com um humano
e partes foram encorajadas a cooperarem ganhando mais pontos quando escolhiam
igualmente. No DG e no UG também jogaram do lado do parceiro e a diferença entre os jogos
é que no UG tinha a opção de aceitar ou rejeitar as propostas. Como resultados os autores
observaram que no jogo PD as crianças com desenvolvimento normal, e que passaram no
teste de falsa crença, o desempenho foi positivamente correlacionado com a probabilidade de
cooperação. No UG essas crianças realizaram ofertas mais justas. Já as crianças do espectro
autista aceitaram muito mais as propostas injustas do que as outras crianças. Mas não viram
diferença no nível de cooperação no PD entre os grupos. Neste jogo as crianças autistas foram
mais competitivas quando jogaram com o computador.
Em estudo recente, Izuma et al. (2011) investigou o impacto da reputação em um jogo
de doação financeira (donation task) em autistas com duas situações (em ordem
contrabalanceada): sozinhos na sala e com uma pessoa desconhecida sentada atrás deles
(observando e anotando suas respostas para assegurar que seus dados estão sendo registrados
- história contada para os participantes depois de um problema, proposital, no computador
para justificar sua presença na sala). Os participantes podiam aceitar ou rejeitar as propostas
de transferência financeira. Como tarefa controle, realizaram um teste de comparação sem
aspectos socais.
Em comparação com o grupo controle foi observado que tanto os sujeitos do espectro
autista quanto o grupo controle na condição sem observador realizaram a tarefa de acordo
com o esperado baseando suas doações em quanto perderiam e quanto a instituição ganharia.
Já condição com observador houve um aumento nas doações por parte do grupo controle, mas
para o grupo do espectro autista houve uma redução não significativa das doações. Em
50
relação a tarefa controle foi observado melhor desempenho em ambos os grupos na presença
de um observador.
Na escala de Desejabilidade Social não houve diferença entre os grupos e não teve
correlação com presença ou ausência do observador para os dois grupas na tarefa. Izuma et al.
(2011) sugerem que tais resultados apontam para uma preservação no efeito de perceber a
presença de outras pessoas no grupo do espectro autista, mas o fato de perceberem a presença
não leva a modificação do comportamento. Ou seja, o prejuízo nas habilidades empáticas e de
mentalização faz com que estes sejam imunes ao efeito da observação de um terceiro e por
isso não haveria preocupação com a sua reputação (com o que o outro pensaria sobre o seu
comportamento). Outra hipótese que os autores levantam a respeito dos resultados seria uma
diferença no tipo de recompensa. A reputação social não seria recompensadora e por isso não
desencadearia nenhum efeito neste grupo. Os resultados deste estudo, segundo Frith e Frith
(2011), enfatiza a convicção de que as pessoas dos espectro autista são transparentemente
confiáveis.
Esta idéia vai de encontro com resultados interessantes encontrados em um estudo
anterior de Chiu et al (2008) realizado com autistas e grupo controle interagindo em um jogo
envolvendo confiança, o The Trust Game. Na confiança, outro aspecto importante da
interação social no cotidiano, também está relacionado as habilidades da ToM uma vez que a
confiança é considerada um comportamento baseado na inferência sobre a confiabilidade do
outro (RILLING e SANFEY, 2001). Ou seja, na crença de que aquela outra pessoa irá
cooperar ou ser reciproca.
No estudo de Chiu et al. , (2008), foi observado que os autistas apresentam prejuízo
em apenas uma fase da interação neste jogo que é no momento que deveriam fazer o
investimento. Em relação a retribuição do investimento, os autistas apresentaram
comportamento adequado. A dificuldade deste grupo na fase do investimento pode estar
51
relacionada à falha na habilidade de se colocar no lugar do outro para tentar inferir suas
intenções e crenças, uma habilidade mais complexa do que a fase de retribuição da confiança
devido a ação já ter ocorrido (FRITH e FRITH, 2011). Portanto, a construção da reputação
exige uma habilidade muito mais complexa do que a fase de retribuição da confiança, uma
vez que o investimento já foi dado e, na fase de investimento, seria necessário tentar inferir
quais as possíveis conseqüências de sua ação para cada possibilidade de investimento para,
assim, poder construir a sua reputação.
Tais resultados em conjunto (IZUMA et al, 2011; CHIU et al, 2008) apontam para a
existência da habilidade de mentalização e empatia em algum grau em pessoas do espectro
autista de alto desempenho, mas com prejuízo importante na automatização destas habilidades
(FRITH e FRITH, 2011).
Além disso, a diferença entre gênero na TDS também vem sendo investigada uma vez
que estudos têm apontado que mulheres apresentam mais habilidades empáticas e de
mentalização do que os homens que seria mais sistematizadores (BARON-COHEN, 2004).
Solnick (2001) observou durante o UG que tanto os homens quanto as mulheres realizaram
propostas menores quando o jogador era uma mulher e homens recebiam propostas maiores;
além disso, os homens ganharam mais dinheiro do que as mulheres.
Um estudo de revisão recente observou que as mulheres tendem a ser mais igualitárias
do que os homens e também são mais sensíveis ao contexto nas negociações. Além disso, as
mulheres tendem a pedir menos e aceitar menos nas negociações prejudicando o resultado
final sugerindo que elas seriam mais cautelosas e investigam mais antes de definir o que está
acontecendo na negociação (ECKEL, OLIVEIRA e GROSSMAN, 2008).
Outros estudos têm mostrado que as mulheres realizam divisões iguais ou de valores
maiores, ou seja, são mais generosas do que os homens (GÜTH, SCIMIDT e SUTTER, 2007;
COX e DECK, 2006; ECKEL e GROSSMAN, 1998; SAAD e GILL, 2001; KROMER e
52
BAHÇEKAPILI, 2010). As mulheres também seriam mais altruístas e levam mais em
consideração a equidade do que os homens (ANDREONI e VESTERLUND, 2001;
KROMER e BAHÇEKAPILI, 2010; GÜTH, SCIMIDT e SUTTER, 2007).
Contudo, há controvérsias a respeito da diferença de gênero na cooperação. Baillet et
al (2011) realizaram uma meta-análise para investigar a diferença de gênero em dilemas
sociais. Ao contrário do que alguns estudos vinham mostrando, os autores não encontraram
diferença de gênero na cooperação, mas verificaram que a diferença entre gênero se daria na
interação em diferentes contextos. Os homens cooperam mais quando interagem com pessoas
do mesmo gênero e em jogos de interação sucessivas. Já as mulheres seriam mais
cooperativas em jogos com interação com os dois gêneros. Em outras palavras, a diferença
entre gênero na cooperação depende do contexto sendo que, no geral, haveria uma tendência
para que ambos os gêneros se cooperem de forma semelhante.
Já em relação ao comportamento altruísta as habilidades da ToM também tem um
papel importante e estudos tem encontrado não somente a importância do altruísmo na
interação social como também a diferença entre gênero. Fehr e Fischbacher (2004b)
observaram relação entre o julgamento das propostas como injustas e a punição,
comportamento desencadeado por emoções negativas devido a violação das normas sociais.
Além disso, a punição altruísta do terceiro jogador no TPG mostrou ser um poderoso meio de
reforçar e manter as normas sociais.
Em relação ao gênero, Andreoni e Vesterlund (2001) observam que, quando o custo é
baixo, os homens são mais altruístas do que as mulheres. Mas quando o custo é alto, as
mulheres são mais altruístas do que os homens. Contudo, de maneira geral, a mulher se
preocupa mais com a igualdade das ofertas do que os homens. Assim, os autores
consideraram os homens mais flexíveis do que as mulheres no comportamento altruísta.
53
Em relação a grupos, Bernhard, Ferh e Fischbacher(2006) observaram no TPG em
duas tribos pequenas da Papua Guiné (tribos que vivem somente sobre as normas sociais e,
por isso, considerados pelos autores grupos interessantes para a investigação da punição
altruísta e o as normas sociais) diferenças quando o ditador era do grupo e quando era de
outro grupo apontando para um favoritismo na relação dentro do grupo do que fora uma vez
que os ditadores violaram menos vezes as normas sociais quando transferiam dinheiro para
outra pessoa do mesmo grupo.
Marlowe et al (2011) observaram que estruturas sociais maiores, mais complexas, tem
maior engajamento na punição na condição de terceiro do que em sociedades menores, menos
complexas. Os autores sugerem que o maior engajamento no comportamento de punição da
terceira parte em grupos sociais maiores e mais complexos se deva a maior dificuldade de
controle do grupo e o aumento da possibilidade de comportamentos mais egoístas. Por isso,
seria necessária a existência de punição por terceiros, como os policiais, para poder controlar
o grupo e, assim, aumentar a cooperação e reforçar as normas sociais. O que não seria
necessário em pequenos grupos onde a cooperação é maior por serem sociedades mais
igualitárias.
Os estudos anteriores trazem evidências de que a punição altruísta realizada por um
terceiro é importante para manter a norma social e que haveria, por tanto, uma preocupação
com a recompensa do outro. Mas nestes estudos, apesar de ter um custo para quem pune, este
não está envolvido na interação. O que levanta questões sobre o conflito entre o próprio
interesse e a do outro quando este está diretamente envolvido na interação social. Güth e van
Dame (1998) criaram uma nova versão do UG para investigar a punição altruísta quando a
proposta é uma divisão de um valor para três pessoas e quem decide sobre ela assim o faz
tendo que pensar no outro que não tem possibilidade de decidir por si. Como sua decisão teria
conseqüências não somente entre ele e o propositor, mas para este terceiro (o chamado
54
“dummy”) o jogador assim é forçado a buscar inferir o que o outro pensaria e como se sentiria
diante aquelas ofertas e sua decisão. Por meio deste jogo, Güth, Schimiditt e Sutter (2007)
observaram que há uma preocupação com a divisão para o terceiro jogador e não somente
com a divisão para o próprio jogador na aceitação e rejeição de propostas. Além disso,
observou se diferença entre gênero: mulheres buscam ser mais igualitária na posição de
propositoras do que os homens.
Os resultados destes estudos em conjunto sugerem que a punição altruísta ocorre
mesmo quando o jogador está envolvido na interação e, por isso, pode se dizer que há uma
preocupação com o bem-estar deste outro. Mas o papel da empatia e da mentalização nesta
forma de interação ainda não é muito clara.
Recentemente buscou-se compreender melhor o impacto da empatia na punição
altruísta. Leliveld, Van Dijk e Vanbeest (2012) mostraram que diferentes níveis de empatia
levaram a diferentes formas de punição: apesar de não haver diferença na percepção de justiça
entre pessoas de baixo e alto nível de empatia, observaram uma preferência para compensar a
vítima por pessoas com alto nível de empatia e uma preferência pela punição altruísta para o
propositor por pessoas com baixo nível de empatia. Os autores levam a hipótese para a
preferência em ajudar por pessoa com alta empatia do que punir por se preocupar mais com o
outro. Já a escolha de punir por pessoas com baixa empatia talvez esteja relacionado a
percepção de injustiça, mas não uma preocupação direta com a vítima. Ainda não é claro o
quão importante estas habilidades são na interação social.
Entretanto, outro aspecto da interação social que precisa ser considerado é a confiança.
De acordo com Chang et al. (2010), a confiança seria uma inferência de risco da
probabilidade de que o outro irá cooperar por meio de uma inferência implícita, a princípio,
suscetível a alterações de acordo com as atualizações que a experiência trás. Ou seja, na
confiança se faz uma inferência a respeito do nível de confiabilidade do outro baseando em
55
sinais sociais (RILLING e SANFEY, 2011; CHANG et al, 2010) como faces e a primeira
impressão (VAN’T WOUT e SANFEY, 2008; CHANG et al, 2010).
Faces que desencadearam a inferência como confiáveis levaram a maiores
investimentos no jogo TG na primeira impressão, mas os investimentos só continuaram a ser
maiores quando a experiência da interação mostrou que estes eram recíprocos freqüentemente
e investiam menos para aqueles que eram recíprocos com menor freqüência. Os resultados
deste estudo mostram que há uma interação dinâmica entre a primeira impressão e a
experiência na interação (CHANG et al, 2010). Resultados que vão de encontro com estudo
prévio que mostrou que a primeira impressão sobre a face como confiável seria um sinal
social importante na percepção de confiança levando ao maior investimento para faces
consideradas confiáveis do que as faces consideradas não confiáveis (VAN’T WOULT e
SANFEY, 2008).
Neste estudo, van‘t Wout e Sanfey (2008) observaram no jogo TG que o investimento
teve forte relação com o julgamento de confiança nos parceiros realizando maior investimento
financeiro naqueles considerados como confiáveis do que em outros. Além disso, observaram
que o valor investido sofria influência de experiências entre os parceiros ao decorrer do jogo
reduzindo ou diminuindo o investimento conforme sofria abusos ou se a confiança era
retribuída. Com relação à memorização das faces, os sujeitos lembraram melhor das faces que
retribuíram a confiança do que as faces que abusaram da confiança. As faces que foram
avaliadas subjetivamente como confiáveis também foram melhor reconhecidas do que as que
foram julgadas como não confiáveis.
O impacto da confiança também vem sendo investigada no UG. Nguyen et al (2011)
observaram que pessoas com alto nível de confiança no outro e prosociais aceitavam mais
qualquer tipo de oferta do que as pessoas que apresentavam emoções negativas, que
rejeitavam mais as propostas injustas. Os autores sugerem que talvez a aceitação por qualquer
56
valor proposto para o grupo de alta confiança se deva pelo fato de não perceberem as
propostas com intenções hostis e, por isso, não considerariam como injustas. Outra
possibilidade que os autores sugerem para explicar o comportamento deste grupo seria a
percepção de que é vantajoso aceitar qualquer tipo de proposta.
Em relação às emoções negativas, a rejeição de ofertas injustas pode estar relacionada
à maior sensibilidade deste grupo a frustração e por isso puniriam mais. Tais resultados
apontam para o impacto da personalidade e das emoções na variabilidade individual na
interação social.Contudo, os autores consideram tais resultados como exploratórios e que
futuro estudos precisam ser realizados para a melhor compreensão do impacto da confiança e
das emoções negativas.
Assim, os estudos utilizando jogos da TJ vêm auxiliando na compreensão do
comportamento na interação social em diversos contextos. Entretanto, muitos aspectos da
interação social ainda não estão muito claros baseados apenas nos estudos comportamentais e,
por isso, investigações acerca das bases neurobiológicas dos processos decisórios na interação
social começaram a apontar para novas direções e aprofundar o conhecimento acerca das
motivações para os comportamentos observados nos estudos comportamentais como será
apresentado a seguir.
4. Bases Neurobiológicas da Tomada de Decisão Social
A psicologia social e a neurociência cognitiva começaram a integrar recentemente as
novas tecnologias desenvolvidas pela neurociência cognitiva com os estudos da psicologia
social visando aumentar a compreensão acerca do comportamento social investigando as
bases neurobiológicas envolvidas nestes processos. Dessa união surgiu a Neurociência Social,
uma área interdisciplinar que busca compreender os fenômenos relacionados a complexas
57
interações que envolve fatores sociais e sua influência no comportamento e os mecanismos
neurológicos e hormonais nos processos cognitivos (SINGER, 2009; OCHSNER e
LIEBERMAN, 2001). Mas não somente a neurociência social tem buscado compreender
aspectos complexos do comportamento social. A Neuroeconomia, uma área também
interdisciplinar, também vêm buscando compreender as bases neurobiológicas dos processos
decisórios na interação social por meio dos jogos da TJ. Dessa forma, ambas as áreas tem
contribuído para a melhor compreensão desses processos (SINGER, 2009) por meio de
modelos econômicos, das técnicas da neurociências e o conhecimento do comportamento
humano pela psicologia cognitiva e social.
Procurando uma melhor compreensão sobre comportamentos como a rejeição de
ofertas injustas, a punição altruísta, a confiança entre outros aspectos na TDS, estudos com
ressonância magnética funcional, estimulação cerebral não invasiva e eletroencefalografia de
alta densidade tem sido utilizado em diversos estudos em conjunto com os jogos da TJ e
situações de interação social permitindo uma análise integrada dos mecanismos neuronais
subjacentes.
Por meio de técnicas de estimulação cerebral não-invasiva como a Estimulação
Transcrania por Corrente Contínua (ETCC) e a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT)
o papel do CPFDL na TDS tem sido investigado utilizando o UG. Knoch et al (2006)
aplicaram a EMTr de baixa freqüência (inibitória) no CPFDL direito ou esquerdo ativa ou
placebo e observaram maior número de respostas de aceite para propostas injustas quando
receberam a estimulação no CPFDL direito, mas não no grupo que recebeu no lado esquerdo
e no grupo placebo. Além disso, não houve diferença significativa no julgamento sobre o
quão justo era cada proposta, ou seja, valores baixos foram considerados injustos igualmente
entre os grupos. Assim, os resultados sugerem que o CPFDL direito estaria relacionado ao
controle dos impulsos mais egoístas na tomada de decisão.
58
Estudos posteriores investigaram por meio da EMTr (Estimulação Magnética
Transcraniana repetitiva) de baixa freqüência (1Hz, freqüência que inibe a área estimulada
gerando uma “lesão virtual”) no CPFDL no UG para melhor investigar o papel desta área na
TDS.Van ’t Wout, et al. (2005) utilizaram duas versões adaptadas do Ultimatum Game e
aplicaram a EMTr de 1Hz no CPFDL direito e placebo durante 12 minutos. Os autores
também observaram maior aceitação de propostas injustas. Além disso, o tempo de reação foi
maior para a rejeição de propostas injustas após a estimulação no CPFDL direito. Segundos
os autores, os resultados deste estudoseriam fortes indícios do papel do CPFDL direito na
tomada de decisão estratégica.
Utilizando a mesma técnica e o mesmo teste, Knoch e Fehr (2007) aplicaram a EMTr
inibitória no CPFDL direito, esquerdo ativo ou placebo. Como resultado, encontraram efeito
significativo na estimulação no CPDFL direito com aumento da taxa de aceite de propostas
injustas mesmo apresentando julgamento de justiça iguais entre os grupos de estimulação nas
diferentes propostas realizadas.Sendo assim, os pesquisadores sugerem que a inibição desta
área levou a uma redução da capacidade de resistir à tentação de aceitar as propostas injustas
por esta área estar relacionada ao interesse pessoal. Dessa forma, a inibição desta área pode
ter levado a um controle top-down gerando uma redução do auto-controle para os interesses
pessoais, ou seja, na aceitação de propostas visando o interesse econômico mais do que o
aspecto moral, o que exigiria uma inibição do interesse pessoal.
Ao aplicar a ETCC durante o UG, Knoch et al. (2007) também observaram que a
estimulação catódica no CPFDL direito com a estimulação anódica na área supraorbitral
esquerda um maior número de aceite das propostas injustas em comparação com o grupo
placedo. Resultados que estão de acordo com os estudos anteriormente descritos. De acordo
com os autores, a inibição desta área estaria relacionada ao comportamento voltado para o
59
interesse pessoal, lealdade aos objetivos e ao controle dos impulsos para um comportamento
adequado.
Com relação à diferença entre as propostas injustas feitas por homens e pelo
computador no UG, Sanfey et al (2003), com o uso da ressonância magnética funcional
(RMf) observaram grande ativação do Córtex Pré-Frontal Dorsolateral (CPFDL), insula
anterior bilateral e do Córtex Cingulado Anterior (CCA), área relacionada a detecção de
conflito, quando as propostas injustas foram feitas por um ser humano. Também foi
observado que os participantes que apresentaram a ativação na insula para as propostas
injustas rejeitaram uma grande proporção dessas propostas. A ativação da insula estaria
relacionada a emoções negativas gerado pelas propostas injustas mostrando que a hipótese
das emoções negativas guiaria a tomada de decisão. Em relação à ativação do CPFDL Sanfey
et al (2003) levantam a hipótese de que talvez sua ativação esteja relacionada ao controle
cognitivo e o aspecto cognitivo de manter o objetivo do jogo em acumular dinheiro.
Em outros estudos com neuroimagem e UG, foi observado maior ativação do CPFDL,
do córtex orbitrofrontal e do núcleo caudado como importantes na avaliação da ameaça de
punição. Além disso, essa região parece estar relacionada também ao controle de respostas
impulsivas pessoais e a lealdade ao objetivo do jogador (LEE, 2008; KNOCH et al., 2006).
Quervain et al (2004) encontraram maior ativação do núcleo caudado em situações de
punição altruísta ao jogador que abusou da confiança intencionalmente e sua ativação foi
maior quando houve maior custo para a punição deste jogador. Os autores sugerem que a
ativação desta área estaria relacionada à satisfação em punir aqueles que violam a normas
sociais.
Visando uma melhor compreensão da ativação do núcleo caudado na punição altruísta
Strobel et al (2011) utilizaram uma versão adaptada do Ditactor Game (DG – na versão
original o ditador divide um valor com outro jogador que não poder de decisão). Nesta versão
60
o jogador que recebe a proposta do ditador pode puni-lo e esta punição pode ser de alta
efetividade (uma forte punição com redução importante no montante do ditador) ou de baixa
efetividade (uma punição mais fraca com uma redução marginal no montante do ditador).
Uma parte do jogo os participantes jogaram na posição de quem recebe a proposta do ditador
e outra parte do jogo os participantes assistiram a interação entre dois jogadores tendo metade
dos trials a oportunidade de punir o ditador de forma intensa e outra metade uma fraca
punição. Além de observarem as áreas ativadas durante o jogo, os autores também buscaram a
relação entre a variação na função dopaminérgica e a variação da ativação neuronal durante a
punição altruísta selecionando os participantes que apresentavam o COMT, um único
polimorfismo nucleotídeo no gene que codifica a enzima degradante de dopamina, a catecol-
O-metiltransferase.
Como resultado os autores não observaram diferença no investimento da punição
altruísta entre a fraca e a intensa punição com maior punição na condição de terceiro jogador
(na observação da interação) do que na interação direta. Mas encontraram uma correlação
entre a punição na condição de terceira pessoa com a pontuação da escala de Altruismo do
NEO Personality Inventoryrevisado. Áreas como o CPFDL, Giro do Cíngulo bilateral, insula,
núcleo caudado e núcleo accumbens foram observadas com maior ativação quando os
participantes puniram. A ativação da insula estaria relacionada as emoções negativas devido a
violação das normas sociais e a ativação do CCA estaria relacionado ao monitoramento do
conflito do comportamento resultando na ativação do CPFDL para o controle cognitivo do
comportamento gerando a decisão de punir. Também encontraram maior ativação do núcleo
accumbens no lado direito quando a punição foi realizada na condição de interação direta e
maior ativação do núcleo caudado quando a punição foi mais efetiva (punição mais intensa)
apontando para a ativação dessas áreas envolvidas na punição em si e que a punição poderia
ser considerada uma recompensa. A ativação quase igualmente forte na condição de terceira
61
pessoa e interação direta aponta para a sensibilidade dessas áreas não somente para o interesse
pessoal na punição altruísta estando relacionado tanto as emoções negativas quanto ao prazer
da vingança.
Com relação ao fator genético, os autores pontuam que os resultados devem ser
entendidos como preliminares uma vez que a amostra molecular foi pequena. Mas foi
possível observar uma correlação entre a ativação do núcleo accumbens na punição e o alelo
COMT Met que está associado ao aumento de dopamina disponível na fenda sináptica.
Em outro estudo a ativação do núcleo caudado e do sistema dopaminérgico mesolímbico
tem sido observada na predição de erros sociais que guiam decisões sobre reciprocidade em
jogos de tomada de decisão como o TG e o PD (RILLING, KING-CASAS e SANFEY,
2008).
Estudos tem observado que a identificação cerebral da violação da confiança é
detectada pelo Núcleo Caudado e áreas do sistema de recompensa, detecção de erro e
conflito. Contudo, logo a atividade do Núcleo Caudado é reduzida pelo Córtex Pré-Frontal
Ventral Lateral quando ocorre um conflito ou uma violação da confiança por parte de uma
pessoa ou por um grupo em que o participante pertence e confie. Tal redução de atividade
leva a se comportar de acordo com os desejos do grupo se conformando então com estes
(FOURAGNAN et al, 2013; STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; MONTAGUE e
LOHRENZ, 2007; KLUCHAREV et al, 2009; DELAGDO, FRANK e PHELPS, 2005).
Assim como informações de características morais interferem na tomada de decisão tornando
os participantes insensíveis ao feedback e não apresentando diferença na atividade do núcleo
caudado (DELAGDO, FRANK e PHELPS, 2005).
Outras áreas ativadas observadas na aversão a inequidade foram à região do estriatum
ventral e do Córtex Pré-Frontal Ventro Medial (CPFVM) que foram relacionadas à aversão a
inequidade sendo modulada não somente pela inequidade de valores, mas pelo contexto como
62
a percepção de competição, julgamento do merecimento ou pela necessidade. Tanto o
estriatum ventral quanto o CPFVM ativaram fortemente quando sujeitos que receberam
menor pagamento realizavam transferências para si do que para os outros ao passo que o
oposto correu com o grupo que recebeu alto pagamento apontando para a sensibilidade dessas
regiões sobre as considerações de equidade sugerindo sobre o porquê a preocupação com a
equidade parece ser fundamental na interação social (TRICOMI et al, 2010).
Baumgartner et al (2011) utilizaram a Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva
de 1Hz e neurimagem para investigar o papel do CPFDL direito na tomada de decisão no UG.
Ao inibirem o CPFDL direito observaram o mesmo padrão de comportamento entre o grupo
controle quando não havia conflito entre justiça e interesse econômico. Contudo, quando há o
conflito entre justiça e o interesse econômico observaram no grupo controle maior ativação do
CPDL direito e maior conectividade entre o CPDL direito e o CPFVM posterior na rejeição
de propostas injustas mostrando a importância da conectividade entre essas áreas no
comportamento de acordo com as normas sociais envolvendo custo (BAUMGARTNER et al,
2011).
Neste sentido, Cooper et al (2010) investigaram a relação entre a ativação do CPFVM
e a preferência social através do jogo PG (The public goods game) em dois contextos sociais:
a condição Doação e a condição Economia. Em um primeiro momento os jogadores
observavam as fotos de 4 jogadores e inferiam se estes doariam valores altos ou baixos.
Depois recebiam não somente o feedback de acerto ou erro sobre a inferência dos doadores,
mas também os valores que cada um doou e o total ganho. Os autores observaram que na
condição Doação, os jogadores gostavam do grupo que doava altos valores e não gostavam do
grupo que doava valores baixos apresentando maior ativação do CPFVM quando os jogadores
inferiram sobre os jogadores generosos e diminuía quando inferiam sobre os jogadores mais
63
egoístas. Mais do que na condição Economia, os erros inferenciais ativaram a região da
Junção Temporo-Parietal (JTP), o CPFDL e a região parahipocampal na condição Doação.
Os resultados apontam para a importância do CPFVM na integração entre a intenção e
o valor, talvez tenha um papel importante no que diz respeito à representação de preferência
do resultado referente ao outro e acima das próprias preferências. Contudo, tais preferências
dependem crucialmente das intenções por trás das ações do outro (Cooper et al, 2010). O
Córtex Pré-Frontal Medial (CPFM) e o Córtex para-cingular anterior são considerados
estruturas importantes para na “detecção da intenção” do outro e para a tomada de decisão
social em um outro estudo (SANFEY, 2007).
Rilling et al (2002) investigaram as bases neurobiológicas da cooperação social em
mulheres no jogo do Dilema do Prisioneiro (DP). Por meio da ressonância magnética
funcional observaram que na cooperação mutua as mulheres apresentaram ativação nas áreas
relacionadas com o processamento da recompensa como a região do estriado anteroventral e a
área do Córtex Orbitrofrontal (COF) na condição que havia cooperação-cooperação
apontando para a percepção da cooperação mutua como recompensadora. Os participantes
que foram mais propensos a experienciarem cooperação tiveram grande ativação na área do
estriado Antero ventral, mas esta área não foi ativada na cooperação recebida pelo
computador, somente na interação com humanos assim como a área do CCA. Já o COF foi
ativado tanto na cooperação com humanos quanto com o computador. A ativação do
cingulado anterior rostral estaria relacionada ao caráter emocional da interação. Pode se dizer
que os achados deste estudos estão relacionados a comparação do comportamento entre os
jogadores e que seria recompensador quando o outro coopera junto com o jogador.
O comportamento altruísta também foi observado como recompensador. Moll et al,
(2006) investigaram os mecanismos neurobiológicos da doação de caridade por meio de uma
tarefa em que escolhiam dar apoio ou não as causas sociais de organizações de caridade reais.
64
Para isso, os participantes apenas tinham que responder “Sim” ou “Não” diante a cinco
possíveis escolhas após a apresentação das causas de cada organização: recompensa apenas
para o participante (Sujeito= +2 e ORG= 0), doação sem custo (Sujeito= 0 ORG= +5),
oposição sem custo (Sujeito= 0 ORG= +5), doação com custo (Sujeito= -2 ORG= +5) e
oposição com custo (Sujeito= +2 ORG= +5). Moll et al. observaram que todos os
participantes fizeram consistentes doações e levaram mais tempo para fazerem doações que
tinham custo. Em relação a ativação das áreas cerebrais, foi observado ativação do estriado
ventral, estriado dorsal e área ventral tegmental do mesencéfalo tanto na condição de decisão
para recompensa apenas para o participante quanto na decisão de doação.
A área anterior do CPF foi correlacionada com as decisões de doação que tinha custo.
Os resultados deste estudo, segundo os autores, trás evidência de que o comportamento de
altruísmo é recompensador por desencadear a ativação do sistema de recompensa. A ativação
das áreas relacionadas ao apego social e a aversão também foram relacionadas ao
comportamento altruísta humano. Além disso, os autores trazem que a crença abstrata sobre
os aspectos morais ligados ao comportamento altruísta estaria baseada no desenvolvimento do
CPF anterior do ser humano.
Estudos recentes tem investigado a percepção de inequidade quando há um terceiro
envolvido no UG e as áreas cerebral relacionadas por meio de neuroimagem. Corradi-
Dell’Acqua et al (2012) observaram maior atividade a insula anterior (AI) para as ofertas
injustas tanto para o participante quanto para o terceiro e a ativação do CPFM anterior
somente quando as propostas injustas eram para o participante, mostrando que o impacto da
injustiça foi independente para quem a injustiça fora cometida e que o CPFM anterior está
envolvido nos processos relacionados a injustiça para o próprio indivíduo. Ciavei et al (2012)
realizaram um estudo semelhante envolvendo uma terceira parte no UG e observaram o
mesmo resultado que o estudo descrito anteriormente em que a IA foi sensível a injustiça para
65
ambos, o próprio voluntário e o terceiro, apontando para o papel esta estrutura na detecção da
violação das normas sociais e o envolvimento do CC anterior medial e do CPFM no
envolvidos no interesse pessoal. Os resultados destes estudos em conjuntam apontam para o
papel da insula anterior na detecção da violação da norma social de forma mais abstrata por
ser ativada independentemente da injustiça ter sido cometida para o próprio participante
mostrando uma reação automática da aversão a inequidade.
Os resultados deste estudo apontam para a importância da investigação acerca das
bases neurobiológicas da mente moral para uma melhor compreensão do comportamento
decisório na interação social (KVARAN e SANFEY, 2010). Moll et al. (2007) mostraram a
relação entre a agencia e as emoções morais com a ativação de áreas relacionadas a ToM
(observaram ativação do CPFM anterior e STS) nas emoções pro sociais como culpa,
vergonha e compaixão, a ativação da rede mesolímbica para emoções empáticas como culpa e
compaixão, para outras emoções relevantes como desgosto e indigação observaram ativação
da amígdala, área parahipocampal e fusiforme.
Mais recentemente, Bault et al (2011) observaram em uma tarefa de tomada de
decisão em duas condições, a privada e a social, o efeito da comparação social na tomada de
decisão de risco. Neste estudo foi observada uma grande ativação do estriado quando o ganho
do jogador era maior do que o outro em comparação ao ganho na condição privada (isolado).
Quando o ganho era menor do que o outro jogador observaram uma redução na atividade
desta área mais significativa do que quando a perda era isolada. Além disso, observou-se na
condição de ganho social maior atividade do CPFM e da JTP, áreas relacionadas à habilidade
de metalização, do que em outras condições sendo que a ativação do estriado predizia a
ativação desta área durante as escolhas sociais mesmo estando claro para os participantes que
a recompensa era independente. Por isso os autores sugerem que a ativação do CPFM está
relacionada ao componente competitivo e estratégico do contexto social. Outro resultado
66
interessante relacionado à ativação dessa área foi o aumento do comportamento competitivo
buscando maiores recompensas e correndo maiores riscos.
A ativação do CPFMV, CPFM, JTP e Sulco Temporal Superior (STS) tem sido
relacionadas à habilidade de mentalização e empatia descrita pela ToM (MITCHELL, 2009).
O CPFM tem sido apontado como uma área importante para o comportamento social e sua
ativação tem sido implicada de forma quase unanime em tarefas que exijam mentalização
sobre os pensamentos e sentimentos do outro. Além da habilidade de compreensão da mente
do outro, a ativação desta área também esta envolvida em várias outras habilidades sociais
como a experiência emocional, avaliação e atitude e auto-conceito (MITCHELL, 2009).
Diferenças entre lesões no CPFVM direito e esquerdo foi investigado por Tranel,
Bechara e Denburg (2002). Neste estudo, os pacientes com lesão CPFVM do lado direito
apresentavam perturbações do comportamento social e interpessoal, com profundas alterações
do processamento emocional e da personalidade, preenchendo critérios para sociopatia
adquirida. Estes pacientes realizaram o Iowa Gambling Task (IGT) junto com a coleta da
condutância da pele e foi encontrada uma diferença na condutância da pele antecipatória que
permaneceu normal nos sujeitos com lesões no lado esquerdo e alteradas nos que tinha lesão
no lado direito.
Damásio e colaboradores têm investigado alterações na tomada de decisão de
pacientes com lesões na área do CPFVM mostrando que estes pacientes apresentam escolhas
desvantajosas, reações emocionais anormais e menor amplitude da condutância da pele
antecipatória em relação aos sujeitos saudáveis, mas não há diferença na amplitude após as
escolhas independente da punição ou recompensa (NAQVI e BECHARA, 2006; BECHARA,
LEE, DAMÁSIO e DAMÁSIO, 1999; BECHARA et. al., 1996; CRONE et. al., 2004).
A região do CPFVM tem sido apontado por meio de estudos com pacientes com
lesões nessa área, pacientes que apresentam alterações no comportamento social após a lesão,
67
em tarefas que investigam aspectos simples e complexos da ToM como de grande
importância no processamento e na integração dos aspectos cognitivos e afetivos da ToM,
aspectos estes importantes para o comportamento adequado na interação social. (SHAMAY-
TSOORY e AHARON-PERETZ, 2007; MULLER et al, 2009; SHAMAY-TSOORY et al,
2005; SHAMAY-TSOORY et al, 2003).
Krajbich et al (2009) aplicaram alguns jogos econômicos em pacientes com lesões no
CPFVM bilateral para investigar o impacto das emoções sociais como a culpa e inveja na
TDS. Os pacientes realizaram o Ditactor Game, UG e TG. Como resultado os pesquisadores
encontraram insensibilidade anormal por parte dos pacientes para a culpa, mas não para a
inveja sugerindo que os pacientes apresentam uma disfunção na habilidade de regular suas
emoções sociais. Os resultados sugerem que a as emoções sociais (como a culpa e a inveja)
podem servir para preencher a lacuna entre tomada de decisão em geral e a tomada de decisão
social.
Segundo os autores, o CPFVM contribui para o planejamento do futuro da mesma
forma que contribui para a negociação na interação entre pessoas e mediaria as emoções
eliciadas não somente nos resultados encontrados, mas nos resultados imaginados.
Os estudos ainda não são claros sobre o papel de cada região na ToM (STS, JTP,
CPFVM e CP-cingulado posterior). Tais regiões parecem ser fortemente ativadas em tarefas
de atribuições de verdadeiras e falsas crenças (SAXE, CARE e KANWISHER, 2004). Mas
evidências sugerem que o lado direito da JTP está fortemente associada a um papel central da
ToM e que desempenharia o papel na atribuição de estados mentais do outro (SAXE e
WEXLER, 2005; SAXE, 2006).
Um aspecto importante da tomada de decisão em que a TJ prevê é a habilidade de
prever as possíveis conseqüências de suas escolhas que devem ser levadas em consideração
no momento da escolha (FIANE, 2006). Radke et al (2011) investigaram o monitoramento do
68
desempenho na interação social entre erros na interação social quando estes têm
conseqüências para o outro e as áreas cerebrais envolvidas comparando com situações em que
os erros cometidos afetavam apenas o jogador.Com cenário competitivo e cooperativo com
recompensas distintas foi observado uma preocupação maior por parte dos participantes com
os possíveis erros na condição de cooperação e, embora o CPFM tenha sido ativado nas duas
condições (erro relacionado ao próprio jogador e ao outro),a maior ativação do CPFM foi
relacionada ao erro na condição de cooperação, resultado que mostra a ativação desta área
está relacionada à mentalização de uma forma geral. Os autores apontam para o papel da
mentalização como crucial na adaptação do comportamento na interação social por nos levar
a pensar em como nosso comportamento pode afetar o outro.
A percepção da intenção do outro é outro aspecto da interação social que tem
mostrado um grande impacto na TDCS. Den Ouden et al. (2005) investigaram a detecção de
intenção em mulheres saudáveis que responderam perguntas sobre suas próprias intenções e
conseqüentes ações (causa intencional) ou sobre eventos físicos e suas conseqüências (causas
físicas). Os sujeitos apresentaram menor tempo de reação nas perguntas sobre causas
intencionais com maior ativação do córtex pré-frontal medial dorsal (CPFMD), do sulco
temporal superior (STS), especialmente em torno da junção temporo-parietal (JTP) e os pólos
do temporal. A intenção de casualidade, segundo os autores, pode ser entendida como um
sub-componente da mentalização.
Nessa linha, um estudo recente reforça o papel da Junção Temporo-Parietal na
avaliação do contexto e a importância desta área no comportamento altruísta. Morishima et al
(2012) observaram que os participantes apresentaram maior ativação na JTP a direita quando
o ato altruísta tinha baixo custo para o participante a menor ativação da JTP direita quando o
custo do ato altruísta era muito alto em relação ao máximo de boa vontade individual. Além
disso, o volume da matéria cinzenta da JTP direita foi forte associada com o comportamento
69
altruísta na tomada de decisão mostrando uma conexão entre estrutura e funcionamento
cerebral no conflito entre comportamento altruísta e o ato egoísta (MORISHIMA et al, 2012).
Em um estudo com autistas de alto funcionamento utilizando o jogo TG com múltiplas
rodadas (CHIU et al, 2008) observaram que os autistas de alto rendimento tiveram
desempenho semelhante ao grupo controle na fase “outros”, momento que realizam o
reembolso do investimento mostrando uma ativação normal do córtex cingulado com maior
ativação na região anterior e posterior do córtex cingulado, e difere na fase “self”, momento
em que realizam o investimento apresentando uma ativação não esperada em comparação ao
grupo controle: o grupo controle apresentou uma maior ativação na região do córtex
cingulado e o grupo do espectro autista de alto desempenho apresentaram uma baixa ativação
dessa região assemelhando-se a ativação do grupo controle na ausência de um parceiro no
jogo.O córtex cingulado e o CPFVM anterior também estaria envolvido nas relações de
reciprocidade e confiança, situações de baixo conflito no UG (RUZ e TUDELA, 2010). No
jogo TG observaram maior ativação do CPFVM anterior nas situações quem que os jogadores
desertaram (VAN DEN BOS et al, 2009).
Estudos tem mostrado que a oxitocina, um neuropeptídeo, aumenta a confiança no ser
humano e tem auxiliado no conhecimento sobre as bases neurobiológicas deste aspecto da
interação social. Kosfeld, et al. (2005), investigaram se a oxitocina poderia modificar a
relação de confiança em homens saudáveis no jogo TG. Os participantes foram divididos em
três grupos: o grupo que recebe a oxitocina, o grupo placebo e o grupo controle. Todos os
grupos jogaram o TG. Os autores observaram um aumento na confiança bastante considerável
nos sujeitos que receberam oxitocina. Já no grupo controle, os participantes apresentaram
níveis baixos de confiança. Além disso, os sujeitos que receberam a oxitocina realizaram
trasferências maiores do que os outros grupos.
70
Krueger et al. (2007) sugere que o conhecimento prévio sobre as características do
outro (que garante sentimento de confiança de forma incondicional) gera alto nível de
sincronicidade entre os parceiros resultando em menores demandas cognitivas. Por outro lado,
interações com parceiros desconhecidos, onde o risco de deserção ou de estarem mais
voltados para interesses pessoais é maior, gera demandas cognitivas maiores. Os autores
investigaram esta relação com o uso do jogo TG com a finalidade de verificar as regiões
recrutadas durante o jogo. Os autores observaram que houve maior ativação do córtex
paracingular nas decisões de confiança, região também relacionada a pensamentos,
sentimentos e representação mental do outro (MCCABE et al., 2001 apud KRUEGER ET
AL., 2007) tendo maior ativação em situações condicionais de confiança (desertores).
Chang e Sanfey (2009) realizaram um estudo com neuroimagem utilizando o UG na
interação com humanos intencionais e com o computador e uma tarefa de memória com as
fotos de pessoas que jogaram no UG e fotos de pessoas que não apareceram no jogo. Os
autores também verificaram a expectativa dos participantes antes do jogo. Como resultados
observaram rejeições de propostas injustas e o impacto das expectativas negativas foram
associadas com a ativação da JTP, STS direito, insula anterior e precuneus, mas não
encontraram diferença significativa entre propositores justos e injustos na memória. Contudo,
observaram diferença na memorização dos propositores em relação a expectativa: os
jogadores que tinham altas expectativas recordaram mais os parceiros injustos e os que
tinham baixas expectativas teve um aumento da memorização dos propositores justos, ou seja,
que extrapolaram a sua expectativa. Já quando houve a superação de expectativa as faces
destes propositores quando observados ativaram o STS e a JTP superior.
Barraza e Zack (2009) observaram que a empatia estava relaionada com o nível de
ocitocina e responde com maior intensidade nas mulheres o que nos homens após assistirem
71
vídeos com conteúdos emocionais e jogarem, em seguida, o UG. No jogo observaram que a
alto nível de empatia correlacionado com aumento de propostas generosas para estranhos.
Baumgartner et al (2008) investigou a adaptação da confiança depois da traição da
confiança no TG e no Lottery Game depois do investimento de risco sem pagamento. Os
participantes que receberam a ocitocina intranasal não mudaram o seu comportamento ao
receberem o feedback da traição enquanto o grupo placebo reduziu sua confiança ao receber o
mesmo feedback. Já no Lotery Game não foi observado diferença do comportamento em
ambos os grupos após o feedback, mostrando que a ocitocina teria apenas para o feedback
social e não para o risco. No período de pré-feedback no TG, apenas o grupo placebo
apresentou a ativação da área dorsal do CCA. No período pós-feedback foi observado maior
ativação bilateral da amígdala, mesencéfalo e do estriado no grupo placebo do que no grupo
que recebeu a ocitocina. Tais resultados apontam para uma redução da resposta ao medo
desencadeado pela ocitocina aumentando o nível de confiança mesmo com o risco de traição.
A redução da atividade do núcelo caudado no TG observado no grupo que recebeu a ocitocina
vai de encontro com estudo prévio (DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005) onde saber que o
outro é confiável levou a uma redução na adaptação do comportamento na interação e por isso
a redução da atividade desta área que é considerada crítica para a aprendizagem entre
resultados e ações.
A percepção de características morais na confiança foi investigada por Delgado, Frank
e Phelps (2005). Os jogadores leram pequenas frases biográficas sobre o parceiro antes do
jogo. Neste estudo verificaram que a confiança foi modulada pelas frases biográficas e
aqueles considerados como bons parceiros receberam mais divisões por parte dos jogadores.
Já os parceiros considerados ruins os jogadores tenderam a ficar com o dinheiro. A ativação
do núcleo caudado foi observada na fase de recompensa com parceiros neutros e na loteria,
mas não foi significativa quando se tinha uma expectativa em relação aos parceiros (biografia
72
de bons parceiros e parceiros ruins). Outro resultado interessante foi a grande confiança
apresentada pelos jogadores que realizaram grandes divisões com os bons parceiros mesmo
estes violando a expectativa freqüentemente. Os autores discutem que as informações prévias
fizeram com que os jogadores não levassem em consideração o feedback e, por isso, não
adaptaram o comportamento diante a violação da expectativa.
Entretanto, um estudo recente mostrou que ocitocina teria nuances que, em condições
onde o outro possa ser percebido como não pertencente ao grupo interno, levam a uma
redução a aderência as normas de justiça em uma versão modificada do UG (RADKE e
BRUJIN, 2012). Neste estudo observou se uma redução a sensibilidade ao contexto de justiça
e os autores levantaram a hipótese de que tais resultados talvez estejam relacionados ao fato
de terem jogado com diferentes propositores sem nenhuma informação prévia e, por isso,
teriam sido percebidos como fora do grupo. Os autores também apontam para a necessidade
de investigar a relação da dosagem em grupos clínicos em futuro estudos, o que ajudaria a ter
uma melhor compreensão acerca do efeito da ocitocina no comportamento social.
Considerando os resultados dos estudos em conjunto, o comportamento de confiança
está relacionado a não somente a percepção da intenção do outro como confiável, mas
também ao conhecimento prévio sobre o outro tem um impacto importante. Com isso, pode se
pensar que diferentes níveis de interação social talvez tenham importantes impactos na TDS,
uma vez que a proximidade leva não somente a construção da reputação, mas também a
diferentes níveis de conhecimento prévio sobre o outro e de confiança.
Segundo Güroğlu et al. (2009) pouco se sabe sobre a interação social com pessoas de
relação mais significativa como amigos, namorados e parentes pela dificuldade em realizar
este tipo de estudo.Além disso, apesar destas técnicas fornecerem informações importantes
sobre o funcionamento cerebral durante a TDS, estas medidas são de alta resolução espacial,
mas de baixa resolução temporal. Com isso, muitos autores vêm empregando a
73
eletroencefalografia nessas tarefas para melhor compreenderos componentes ou potenciais
relacionados a evento subjacentes as decisões.
5. Eletroencefalografia e Potenciais Cognitivos
A mensuração da atividade neuronal por métodos diretos como a eletroencefalografia
e a magnetoencefalografia apresentam importantes vantagens quando comparadas com
técnicas de neuroimagem como a ressonância magnética funcional, principalmente por
oferecerem medidas com alta precisão temporal (MICHEL e colaboradores, 2004; LANTZ e
colaboradores, 2003; MENENDEZ e colaboradores, 2004; ORTIGUE e colaboradores, 2004;
SHIV e colaboradores, 2005). Tais métodos registram a atividade elétrica no escalpe de
populações de neurônios em uma escala de tempo de milissegundos. Entretanto, tais métodos
apresentam uma grande desvantagem na medida em que consistem em medidas dos sinais
superficiais do escalpe não indicando de forma precisa a fonte geradora no cérebro daquela
atividade coletada. Com o avanço da área de informática e com o surgimento de
equipamentos de EEG com número elevado de canais (128 e 256 eletrodos), tal cenário vem
sofrendo importante transformação. Diversos algoritmos têm sido investigados para, com
base em uma coleta de sinal proveniente de número elevado de eletrodos, resolver o chamado
problema inverso gerado pelo campo eletromagnético e assim possibilitar uma localização de
áreas cerebrais geradoras daquele sinal coletado pelo EEG (MICHEL e colaboradores, 2004;
MENENDEZ e colaboradores, 2004). Diversas são as questões técnicas envolvidas para que
ao final se tenha uma informação precisa sobre a localização; entre elas, considera-se
importante o número de eletrodos utilizados na coleta do sinal. Diversos estudos sinalizam
que a precisão aumenta drasticamente entre um sistema de 31 eletrodos para outro de 63, e
aumenta (não tão drasticamente) de um sistema de 63 para outro de 123 eletrodos (MICHEL e
74
colaboradores, 2004; LANTZ e colaboradores, 2003). A Figura 1 ilustra a geração de mapas
de atividade cerebral levando-se em consideração o número de eletrodos e a disposição
destes.
Figura 1. Mapas de atividade cerebral em relação ao número e disposição dos eletrodos.
Avanço também importante é a reconstrução não-invasiva e tridimensional dos
geradores da atividade eletromagnética do cérebro medidas no escalpe pelo EEG, técnica esta
chamada de tomografia cerebral eletromagnética (MENENDEZ e colaboradores 2004).
Segundo Menendez e colaboradores (2004) esta é a única possibilidade de investigar de forma
não-invasiva com uma resolução temporal precisa o impacto do comportamento na atividade
neuronal. Além disso, a precisão temporal permite investigar os processos curtos em que
diferentes redes neuronais participam durante eventos sensoriais e cognitivos. Assim, estudos
investigando relações entre eventos comportamentais e atividade cerebral (estudos que
investiguem potenciais relacionados a eventos – ERP ou potenciais cognitivos) que busquem
localização temporal e espacial no processamento da informação passam a ter novo destaque.
A Figura 2 apresenta esquema relacionando tarefa de tempo de reação, potencial relacionado
a esse evento e reconstrução 3D dessa atividade.
75
Figura 2. Tarefa comportamental, ERP e reconstrução 3D.
Por fim, com esses avanços em modelos matemáticos, surge a possibilidade de estudar
o período de atividade cerebral coletado durante tarefa comportamental dividindo-o em
diferentes mapas de segmentação. A segmentação é o processo de determinação de períodos
de estabilidade nos mapas de representação dos ERPs. Estes mapas representam micro-
estados funcionais do cérebro durante processamento de informação e é a partir desses mapas
que se busca estimar as fontes geradoras desses micro-estados.
5.1 Potenciais Cognitivos
Os Potenciais Relacionados a Evento (ERPs) ou Potenciais Cognitivos são o registro
da variação da voltagem no tempo em resposta à apresentação de um estímulo em um
contínuo que pode ser endógeno (processo cognitivo que pode ocorrer independentemente de
qualquer evento específico evocado) e exógeno (resposta obrigatoriamente gerada pelos
aspectos físicos eliciados por eventos no mundo externo) (PICTON et al., 2000; HUGDAHL,
1995; COLES e RUGG, 1997; KUTAS e DALE, 1997; LUCK, 2005). O EEG registra a
variação da voltagem no córtex cerebral.
De acordo com Kutas e Dale (1997), o córtex cerebral é constituído de 70% de células
piramidais, células que se encontram alinhadas perpendicularmente a superfície do córtex.
76
Quando a corrente passa pelos dendritos apicais do espaço extracelular para dentro da célula a
passagem da corrente resulta do lado de fora uma rede negativa na região dos dendritos
apicais e irá fluir para fora do corpo celular, e para os dendritos basais gerando uma rede
positiva nesta região criando um dipolo minúsculo, impossível de ser registrado pelo escalpe
sozinho. Por isso, é necessário que haja a ativação de uma população de neurônios ao mesmo
tempo, para que haja a somatória de vários dipolos. Um dipolo seria um par de cargas elétrica
positiva e negativa que estão separados por uma pequena distância (LUCK, 2005).Um
potencial evocado a um único estímulo é muito pequeno tendo uma amplitude de
aproximadamente entre 5-10μV (KUTAS e DALE, 1997).
Segundo Bartholow e Amodio (2009), os ERPs representam a atividade neuronal de
processamento de informações específicas em relação a um estímulo ou a resposta de um
evento. Os ERPs refletem os potenciais pós-sinápticos das células neuronais do córtex. Os
potenciais pós-sinápticos são as tensões geradas quandoos neurotransmissores se ligam aos
receptores na membrana da célula pós-sináptica, o que provoca tanto a abertura quanto o
fechamento dos canais iônicosconduzindo mudanças graduais no potencial da membrana da
célula. Somente a somatória dos potenciais pós-sinápticos que permite o registro no escalpe,
uma distância longa (LUCK, 2005). Portanto, os ERPs são a somatória da atividade de uma
população de neurônios ativados simultaneamente em diferentes partes do cérebro (COLES e
RUGG, 1997; HUDGDHAL, 1995; OTTEN e RUGG, 2005).
O eletroencefalograma (EEG) é o registro da variação da voltagem no tempo por meio
de eletrodos fixados no escalpe conectados a um amplificador. A variação da amplitude de
um EEG normal pode variar entre -100 e +100µV com uma faixa de frequência de 40 Hz ou
mais (COLES e RUGG, 1997).
O registro é realizado por eletrodos posicionados no escalpe segundo o Sistema
Internacional 10-20 padronizados por Jasper em 1958 que seguem como referência 4 pontos
77
que formam linhas que orientam o posicionamento dos eletrodos. O násio e o ínion formam
uma linha central e os dois pré-auriculares formam uma linha que cruza com a linha formada
pelo násio e o ínion. Os eletrodos são posicionados em 10 e 20% de distância das linhas
formadas pelos pontos (HUGDAHL, 1995).
A análise dos ERPs se dá pela média de um número de registros realizados durante um
experimento com uma situação controlada. O sinal analisado apresenta ondas que são
compostas por uma série de picos e vales de voltagens positivas e negativas. Estes picos
isolados em uma janela de tempo são chamados de Componentes. Os Componentes são
correlacionados a um processamento cognitivo particular que pode ser um índice fisiológico
daquele processo relacionado a uma manipulação experimental específica (KUTASeDALE,
1997), ou seja, o componente pode coincidir ou aparecer em seguida à apresentação de um
estímulo com um breve atraso (HUGDAHL, 1995). Para analisar os componentes é preciso
considerar a tarefa utilizada, a localização no escalpe, o tempo,outras medidas utilizadas e
perspectivas teóricas e bases neurológicas que o pesquisador tem como base para analisar o
aspecto funcional do componente (BARTHOLOW e AMODIO, 2009; COLES eRUGG,
1997).
A nomenclatura utilizada para a distinção entre cada componente e sua função
tipicamente se refere à polaridade (P para positivo e N para negativo) e pela localização no
tempo, sua posição ordinal após o estímulo ou o evento que é registrado em milissegundos,
podendo ser um valor aproximado ao momento em que é registrado (um exemplo, P3-
positivo em torno de 300ms) (BARTHOLOW e AMODIO, 2009).
Entretanto, quando o potencial observado precede uma resposta é dada os
componentes são tipicamente nomeados pela polaridade e o tipo de resposta eliciado por estes
componentes (exemplo, ERN- error-related negativity- potencial negativo relacionado ao
78
erro). São componentes mais evidentes geralmente nas regiões frontais e fronto-centrais do
escalpe (BARTHOLOW e AMODIO, 2009).
Os componentes são analisados basicamente pela sua amplitude e latência (COLES e
RUGG, 1997). A amplitude é medida em microvolts (µV) e pode ser medida em relação aos
picos olhando os valores mínimos e máximos da voltagem em uma determinada janela de
tempo ou em relação a média de voltagem em uma determinada janela de tempo. Já a latência
é mesurada em milissegundos e analisa-se a relação temporal entre o estímulo apresentado e o
componente de interesse verificando o ponto no tempo em que o pico é atingido (COLES e
RUGG, 1997; BARTHOLOW e AMODIO, 2009).
Na tomada de decisão, vários ERPs vem sendo observados e estudados nos diferentes
contextos e tipos de tarefas. Potenciais negativos e potenciais positivos vêm sendo observados
em eletrodos nas regiões frontais, fronto-centrais, centrais e centro-parietais do escalpe
durante a realização das tarefas (GEHRING e WILLOUGHBY, 2002; YEUNG e SANFEY,
2004; BARTHOLOW e AMODIO, 2009; HEWING e colaboradores, 2010; BOUDREAU,
MCCUBBINS e COULSON, 2009; FOLSTEIN e VAN PETTEN, 2008, entre outros). Em
função disso, será descrito a seguir os principais componentes de estudos em Tomada de
Decisão.
5.2 Potenciais Cognitivos e Tomada de Decisão Social
O uso de EEG voltado para análise de ERPs tem aumentando em estudos de
neurociência cognitiva uma vez que pode prover informações importantes a respeito do
processamento de informação subjacente a realização de diferentes tarefas cognitivas como,
por exemplo, a Tomada de Decisão.
Entre os componentes cognitivos que vem sendo investigado na TD podemos destacar
o ERN (Erro-Related Negativity), um componente relacionado à detecção de erro e
79
monitoramento do comportamento (NIEUWENHUIS et al, 2004a; HOLROYD, LARSEN e
COHEN, 2004; DEAHENE, POSNER e TUCKER, 1994; GEHRING et al., 1993), o FRN
(Feedback-Related Negativity) ou FN, componente observado no feedback negativo sendo
sensível a valência da perda monetária (NIEUWENHUIS et al, 2004a; GEHRING e
WILLOUGHBY, 2002; YEUNG e SANFEY, 2004) e o MFN (Medial Frontal Negativity), um
componente relacionado ao impacto das propostas injustas e em situações de comparação
social (GEHRING e WILLOUGHBY, 2002; NIEUWENHUIS et al, 2004b; BOKSEN e DE
CREMER, 2010; BOKSEN, KOSTERMANS e DE CREMER, 2010; MARTIN et al, 2009). Os
componentes destacados são considerados componentes iniciais (BARTHOLOW e AMODIO,
2009).As gerações destes componentes nos diferentes aspectos da TD estão sendo
relacionados à atividade, principalmente, do CCA (DEAHENE, POSNER e TUCKER, 1994;
NIEUWENHUIS et al, 2004a, b; MILTINER, BRAUN e COLES, 1997; GEHRING e
WILLOUGHBY, 2002; MARTIN et al, 2009).
Entre os componentes cognitivos mais tardios que estão envolvidos no processamento
decisório podemos citar como mais importante deles o P300 (Positivity 300), relacionado
tomada de decisão e a magnitude da recompensa, mas não a valência (YEUNG e SANFEY,
2004; Yeung, Holroyd e Cohen, 2004; WU e ZHOU, 2009). Além disso, este potencial parece
refletir a efeito modulador do sistema Locus Coeruleus- Norepinefrina (LC-NE) no
processamento da informação (NIEUWENHUIS, COHEN e ASTON-JONES, 2005). O LPC
(Late Positivity Complex) tem sido associado à resposta correta e a precisão do
reconhecimento de decisões corretas (FINNIGAN et al., 2002). A atividade de áreas cerebrais
Fronto-Centrais e Centro-Parietais tem sido relacionadas como fonte geradoras destes
componentes (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004).
Esses componentes vêm sendo investigados em diversos aspectos da TDS visando à
melhor compreensão do comportamento na interação social em diversos contextos e de como
80
o cérebro processa tais informações. A expectativa é um dos aspectos que vem sendo
estudado.
Martin et al. (2009) investigaram em uma tarefa que um estímulo predizia a
possibilidade de ganho ou perda observaram o impacto da violação da expectativa por meio
do EEG e da ressonância magnética funcional. Os autores observaram maiores amplitudes do
MFN quando a recompensa não era dada e era esperada. Menores amplitudes do MFN
quando uma recompensa inesperada era dada. Também observaram maior ativação do CCA e
do núcleo caudado quando a recompensa era dada do que quando não era recebida. O CCA
foi mais ativado quando recompensas inesperadas foram recebidas do que quando não foram.
A área de ativação geradora do MFN mais próxima encontrada foi o CCA. Tais resultados
apontam para a sensibilidade do MFN para a expectativa.
Utilizando o UG, Polezzi et al. (2008) investigaram a relação entre aceitação e rejeição
de propostas realizadas por uma outra pessoa (na realidade, pelo computador) e observaram
maior aceitação de propostas justas e uma diferença no potencial FRN, componente também
sensível a valência e que tem sido associado a atividade do CCA, com amplitude menor nos
valores médios. No mesmo sentido, Hewig et al. (2010) observaram maior amplitude do
componente FN nas ofertas injustas e maiores amplitudes da condutância da pele nestas
propostas.
Outro estudo observou o comportamento e os componentes eliciados na tomada de
decisão social em diferentes contextos. Rigoni et al (2010) dividiram os sujeitos
randomicamente em 3 condições: Neutra, de Comparação e de Competição. Na realidade,
todos realizaram o mesmo teste, porém receberam instruções diferentes. Os autores
observaram que o P200 apresentou maior amplitude na situação não-social do que nas
situações sociais. A amplitude do FRN previu sentimentos subjetivos nas situações
81
consideradas agradáveis e desagradáveis refletindo os processos cognitivos e emocionais a
avaliação do feedback.
Tais dados nos fazem pensar sobre o impacto na tomada de decisão quando se observa
as ações do outro e sofre as conseqüências destas decisões. Marco-Pallarés et al (2010)
investigaram os ERPs em pares de homens e mulheres que não se conheciam, sendo que um
foi o observador e o outro realizou um jogo em que suas ações tinham conseqüências para o
observador. Foram coletados os ERPs de ambos em 3 situações: neutra (observador contava
grandes ganhos e perdas e ganhava 3 € independente do desempenho do jogador), paralela (o
observador ganhava e perdia a mesma quantidade que o jogador) e a condição reversa (o
observador perdia quando o jogador ganhava e vice-versa). O jogo consistia na apresentação
de dois valores (um alto– 25- e outro baixo-5-) e o jogador deveria escolher entre estes
valores qual seria o correto. Se acertasse ganhava o valor escolhido, se errasse perdia.
Ao analisarem os ERPs, observaram que os jogadores apresentaram o componente
FRN com um pico pronunciado e positivo para ganhos e com o pico negativo, que foi
sobreposto pela perda. Os trials de ganho máximo grandes amplitudes do que nos ganhos
mínimos. Um FRN mais significativamente negativo foi observado nas situações de perda. Na
condição paralela, observou-se o FRN foi mais negativo na situação de ganho e na condição
reversa verificaram que o FRN ocorreu nas situações de ganho para o jogador e perda para o
observador. Os autores concluíram que a observação do desempenho do outro talvez tenha
ativado o processo de avaliação dirigido pela recompensa de outra pessoa e pode estar
relacionado com processo de empatia em que o outro avalia as conseqüências para si próprias
(MARCO-PALLARÉS et al, 2010).
Estudos com autistas de alto desempenho mostraram que há alterações no
processamento da recompensa e feedback e, por isso, eles apresentam prejuízos na interação
social (LARSON et al., 2011; VLAMINGS et al, 2008; SANTESSO et al, 2011; SOUTH,
82
LARSON, KRAUSKOPF e CLAWSON, 2010). Vlamings et al. (2008) investigaram o
processamento da detecção de erro em crianças do espectro autista. Os autores observaram
amplitudes menores do ERN no grupo de crianças do espectro autista. Tais resultados
sugerem que o prejuízo no processamento da detecção do erro pode estar relacionado à
dificuldade de mudança do comportamento estratégico.Larson et al. (2011) observaram o
processamento do feedback de perda adequado para o grupo de pessoas do espectro autista
em comparação com o grupo controle aprensentando maiores amplitudes do FRN para perdas
monetárias. Os autores sugerem que o processamento do feedback pode estar preservado, mas
estes indivíduos teriam alterações no processamento interno na regulação do comportamento.
Os resultados destes estudos junto nos levam a pensar sobre o impacto da empatia na
tomada de decisão e o quanto seríamos sensíveis as perdas e ganhos de outras pessoas, sejam
elas próximas, como um amigo, ou por uma pessoa desconhecida.
Um estudo recente mostrou que a comparação entre a recompensa do participante e a
recompensa do outro, mesmo o desempenho de cada um não interferindo na recompensa,
modulo o componente MFN. Boksem, Kostermans e De Cremer (2010) mostraram que a
amplitude do MFN era maior quando o participante tinha um desempenho ruim e, ao mesmo
tempo, observava a recompensa do outro. Quando o participante tinha um bom desempenho
observou se maior amplitude do P3. Além disso, a amplitude do P3 também foi mais positiva
quando o participante observou um desempenho ruim do outro jogador. Segundo os autores
tais resultados mostram que o impacto do contexto social e que a avaliação do resultado do
outro é levando em consideração na avaliação dos nossos próprios resultados. O que está de
acordo com a teoria da utilidade social em que a percepção de justiça se daria na comparação
(HANDGRAAF, VAN DIJK e DE CREMER, 2003; LOEWENSTEIN, BAZERMAN e
THOMPSON, 1989). Os autores levantam a hipótese de que talvez a percepção de erro seja
maior na comparação do quando o erro é cometido em uma situação isolada. Outra
83
possibilidade apontada seria o impacto das emoções: ver o desempenho do outro melhor do
que o próprio levaria a sentir se pior quando o desempenho do outro também é ruim.
Nesse sentido, outro estudo recente investigou o impacto da observação das ações de
uma pessoa importante para o sujeito (um amigo), uma pessoa desconhecida e compararam
com os potenciais evocados durante a observação destes realizando uma tarefa de aposta.
Leng e Zhou (2010) solicitaram aos sujeitos que viessem acompanhados de um amigo(a) para
realizar uma tarefa de aposta que envolvia risco e probabilidade. Um desconhecido
selecionado pelos pesquisadores também foi requisitado para participar do estudo. O sujeito,
em que os potencias cognitivos foi registrado, observou primeiro um desconhecido apostando,
logo após o amigo e, em seguida, ele mesmo apostou. Na verdade, ninguém estava jogando, o
tempo todo foi o computador que apresentava situações previamente programadas. Os
pesquisadores observaram que a amplitude do componente FRN foi diferente entre as 3
condições, sendo mais negativo nas situações de perdas e maior na condição em que o sujeito
apostou do que nas observações do amigo e desconhecido, sendo que no amigo a amplitude
foi ligeiramente maior. Além disso, o pico do FRN apareceu mais cedo na condição em que o
sujeito apostava do que nas outras.
No componente P3 a amplitude do pico foi maior na condição em que apostou do que
nas de observação sendo mais positivo na condição de ganho do que de perda, assim como o
componente LPC apresentou-se mais positivo na condição em que apostou do que nas outras
condições. Os pesquisadores concluíram que a diferença no FRN na condição de aposta do
sujeito estaria relacionada com o interesse próprio uma vez que nas condições de observação
não haveria uma relação direta com o sujeito e suas ações não teriam conseqüências para este.
Contudo, foi observado um P3 maior quando observaram o feedback do amigo, o que pode
estar relacionado com a capacidade de sentir empatia e apontando para esta capacidade na
84
condição em que o observador tem uma forte relação interpessoal com o observado (amigo)
(Leng e Zhou, 2010).
Na mesma direção, Fukushima e Hiraki (2006) também encontram diferença da
amplitude do MFN na observação de perda monetária de um conhecido com a diferença de
que o ganho de um implicava a perda para o outro neste experimento. Além disso, a diferença
da amplitude do MFN na observação da perda monetária do conhecido (o que implicava em
ganho para o participante) só foi observada quando as mulheres jogaram, mas não para os
homens que foi positiva a um período comparável ao do self-MFN. Outro resultado
interessante foi a correlção entre o MFN na observação com a pontuação do Quoeficiente de
Empatia e Sistematização (QE-QS), mas não foi encontrado correlação com o self-MFN. Os
autores sugerem que tais resultados estejam relacionados ao processamento empático e que a
valência da perda monetária do outro é processada de forma diferente por homens e mulheres,
que teriam maior consideração empática do que os homens que teriam percebido a perda
monetária do outro como positiva apontando para a predominância da competitividade.
Assim, considerando os resultados em conjunto, o MFN parece ser modulável não
somente pela valência dos estímulos que afetam diretamente os ganhos pessoais, mas pela
observação dos ganhos de um conhecido com um vínculo afetivo (amigo) em comparação a
um desconhecido.
Outro estudo recente investigou o impacto da observação de um amigo e de um
desconhecido jogando um jogo de apostas em dois grupos diferentes: um grupo que o sujeito
também jogava (experimento1) e outro que o sujeito só observava os outros jogando
(experimento2). Como resultado, Ma et al (2011) observaram que o FRN, foi maior quando
os sujeitos perdiam do que quando observava os outros no experimento 1. Já no segundo
experimento o FRN apresentou maior amplitude quando os sujeitos observavam o amigo
jogando do que um desconhecido. Segundo os autores, tais resultados apontam para o
85
envolvimento pessoal como um fator que influencia na percepção de ganhos e perdas gerando
atitudes mais egocêntricas em contraste com posição de observação. Em relação ao
componente P300 apresentou maior amplitude na observação do amigo apontando para o
impacto motivacional na modulação deste componente. Os autores também especulam sobre
a possibilidade deste componente refletir a empatia pelo outro participante.
Assim, os resultados considerados em conjunto permite pensar a respeito dos estudos
envolvendo punição altruísta quando há um terceiro envolvido. Recentemente, Alexopoulos
et al. (2012) investigaram a punição altruísta no jogo Three-Person Ultimatum Game (TPUG)
e a resposta neuronal na avaliação de propostas para o jogador ou para um terceiro passivo ou
para ambos. Propostas injustas foram mais rejeitadas com maior freqüência principalmente
por afetar negativamente o participante. Em relação a atividade elétrica, foi observado maior
amplitude do MFN para ofertas injustas para o participante, mas não foi modulado em relação
as propostas realizadas para a terceira pessoa que dependia da resposta do participante. De
acordo com os autores, o MFN parece não refletir a preocupação com o bem-estar da terceira
pessoa e que talvez este processamento seja mais tardio. O MFN seria modulado pelo
comportamento do outro para guiar as nossas decisões.
Mais recentemente, Alexopoulos et al (2013) realizaram o TPUG e registraram a
atividade elétrica não somente no participante com poder de decidir, mas também do terceiro
observado. Os pesquisadores observaram que os participantes apresentaram amplitude mais
negativa do MFN para propostas injustas para ambos. Os terceiros (dummy player) também
apresentaram amplitude do MFN amplitude mais positiva quando o participante recebeu
proposta injusta e o terceiro justa, o que sugere que os terceiros perceberam como uma
recompensa inesperada e, por isso, a diminuição da amplitude do MFN. Em ambos os estudos
o terceiro era um desconhecido.
86
Tais resultados podem ter relação com os achados de Ma et al. (2011) que mostrou o
impacto do envolvimento do participante no jogo aumentou a preocupação com a sua
recompensa, mas não com a recompensa do amigo e do desconhecido. Mas quando este
apenas observa o amigo e desconhecido jogando, o participante passa a se preocupar com o
desempenho do amigo e processar as perdas dele como se fossem suas desencadeando maior
amplitude do FRN.
Em relação à interação e confiança no outro, Boudreau, McCubbins e Coulson (2009)
observaram que em condições de interesses em comum e de penalidade por mentira, os
participantes apresentaram menores tempos de reação para decidir. Já com relação aos
potenciais evocados, os autores observaram maiores amplitudes nos potenciais P2 e P3 nas
situações de interesses em comum em comparação as outras duas situações mostrando
processos cerebrais diferenciados em função do tipo de situação a que o sujeito é exposto.
Além disso, esses resultados sinalizam o impacto do sujeito acreditar que está lidando com
outro ser humano e não com um computador e mostram o papel da confiança no outro
baseado nos interesses comuns e não simplesmente porque o outro pode ser punido se mentir.
Boksen e De Cremer (2010) por meio do registro dos potenciais cognitivos na
interação com pessoas desconhecidas no UG verificaram que os sujeitos com altos escores na
escala de Identidade Moral apresentaram maior amplitude de MFN nas ofertas injustas. O que
sugere maior percepção de injustiça e violação das normas sociais por indivíduos com maior
preferência pelas normas eliciando maior sentimento negativo.
Pouco se sabe sobre o impacto dos diferentes níveis de relações interpessoais e
confiança na tomada de decisão. Recentemente foi investigado o impacto da confiança em
uma versão modificada do UG. Campanhã et al. (2011) solicitaram que os participantes
viessem acompanhados de uma pessoa de grande confiança para participarem juntos em um
jogo de divisão monetária. Neste experimento o participante foi também apresentado a um
87
desconhecido ao chegar no laboratório e foi explicado que ele jogaria com o seu amigo e com
o desconhecido. Fotos foram tiradas no momento e inseridas no jogo para que o participante
soubesse quem estaria realizando as propostas de divisão no valor de R$100,00 reais. A
pessoa de confiança foi levada para outra sala junto ao desconhecido (um aluno do
laboratório), mas na verdade as propostas eram previamente programas pelo computador com
proporções de propostas justas e injustas iguais, randomicamente apresentadas nas duas
interações. Como resultado foi verificado que os participantes aceitaram mais propostas do
amigo do que do desconhecido e deram notas mais altas para o propositor amigo (ou seja,
consideram o amigo mais justo) do que o desconhecido. Em relação aos componentes, o MFN
foi observado, assim como em estudos prévios, na comparação entre ofertas injustas e justas.
No entanto, tal achado só foi válido para o propositor Desconhecido, e não para o Amigo que
foi observado amplitude positiva. Tal achado introduz informação inédita aos estudos de
decisão social, uma vez que apresenta ausência de diferença na atividade
eletroencefalográfica na comparação entre situação injusta e justa quando o propositor é um
amigo. Por este componente (por volta de 250 ms) estar relacionado a valência e a percepção
de injustiça, o resultado observado quando o propositor foi o amigo sugere alteração de
percepção de injustiça desse. Mais ainda, tomografia com base nos dados
eletroencefalográficos usando o modelo sLORETA revelou uma diferença significativa na
ativação da região do CPFM na condição de propositor Desconhecido quando comparada as
ofertas injustas com as justas, mas não na condição Amigo. A região observada está
relacionada a empatia e a ToM (MITCHELL, 2009; RADKE et al, 2011) e engajada em
tarefas envolvendo cooperação (MACCABE et al., 2011). De acordo com Amodio e Frith
(2006) o CPFM anterior pode ter um papel importante no processo de reflexão de sentimentos
e intenções. Dessa forma, o fato de jogar com um amigo parece interferir nos processos
típicos de mentalização e empatia durante situações de avaliação e decisão.
88
Além disso, quando considerado o fator gênero, homens apresentaram amplitudes
mais negativas do que as mulheres no MFN, sugerindo uma diferença na percepção da
interação social talvez as mulheres considerem mais as relações interpessoais do que os
homens tendo uma percepção mais positiva da pessoa de confiança e menos racional das
ofertas propostas. Talvez isto possa estar relacionado ao fato de mulheres apresentarem maior
habilidade empática do que os homens (Baron-Cohen, 2004). A Figura 3 apresenta esquema
relacionando a tarefa, os dados comportamentais, o potencial MFN e a fonte geradora desse
potencial em uma reconstrução 3D do estudo de Campanhã et al (2011).
Figura 3. Tarefa comportamental, dados comportamentais, componente MFN e a reconstrução 3D da região
geradora do potencial (Campanhã et al, 2011).
O inverso foi observado no estudo de Wu et al., (2011). Os participantes jogaram o
Dictator Game tendo como propositores um amigo e um desconhecido. Propostas injustas
realizadas pelo amigo geraram amplitudes mais negativas do MFN em comparação com as
propostas feitas pelo desconhecido. Já o P300 foi mais positivo nas propostas justas
independentemente do propositor. Diferentemente do estudo de Campanhã et al. (2011), os
89
participantes neste jogo não podiam rejeitar as propostas, apenas dava uma nota para dizer o
quanto satisfeito ele sentiu com a divisão proposta sendo que as propostas realizadas pelo
amigo forma pontuadas como mais insatisfatórias do que as propostas realizadas pelo
desconhecido. Os autores sugerem quea amplitude do MFN pode ter sido modulada pela
violação da expectativa e das normas sociais uma vez que se esperaria do amigo maior
aderência as normas sociais.
Uma possível relação entre os diferentes tipos de jogos nos dois estudos anteriormente
descritos poderia explicar os diferentes resultados encontrados. O fato do participante não
poder rejeitar ou manifestar ao propositor a insatisfação com as propostas recebidas podem ter
levado a um aumento de emoções negativas quando o amigo ofereceu divisões injustas
levando ao aumento da amplitude do MFN e reduzindo o impacto das emoções negativas
(como raiva e indignação) quando as proposta eram realizadas pelo desconhecido uma vez
que a expectativa deste tipo de proposta é mais plausível para o desconhecido pela ausência
de vínculo afetivo.
Já no estudo de Campanhã et al. (2011) o participante decidia se o valor seria divido
de acordo com o proposto ou não. Como o participante dava a palavra final, este não espera
que divisões injustas venham a ser propostas. Contudo, houve rejeições de propostas injustas
realizadas pelo amigo, mas estas foram percebidas como em menor quantidade e,
provavelmente por isso, houve maior quantidade de aceitação deste tipo de propostas não
desencadeando fortes emoções negativas. O que explicaria a inversão da polaridade do MFN
neste estudo.
Sendo assim, tais achados nos levam a pensar sobre a importância da ToM e da
empatia na confiança e o papel do gênero como modulador dessas características. Neste
estudo foi possível verificar o papel da amizade nos processos decisórios, mas não o papel de
qualidades empáticas e gênero de cada participante. Além disso, as formas como empatia e
90
gênero interagem e produzem efeitos na decisão nunca foram investigadas. Neste sentido, o
presente estudo empregará o mesmo instrumento utilizado no estudo de Campanhã et al
(2011) e também o formato de propositores (amigo e desconhecido). No entanto, os
voluntários de pesquisa serão selecionados de maneira a termos quatro grupos: homens e
mulheres com alto índice de empatia e homens e mulheres com menor índice de empatia.
Com isso, este modelo experimental (detalhamento na seção Método) buscará compreender o
impacto comportamental e eletroencefalográfico da confiança na tomada de decisão social em
função de gênero, empatia e suas interações.
Além disso, a observação de que os participaram aceitaram mais ofertas injustas
vindas dos amigos do que as dos desconhecidos abre um questionamento crucial sobre um
conceito amplamente aceito na literatura: punição altruísta. Como já visto, em muitas
situações de interação, as pessoas optam por punir o outro mesmo que isto resulte em perdas
para si próprias. Em função disso, o termo punição altruísta surge como um constructo para
sinalizar que punir ações injustas ou fora dos valores e regras aceitas tem como finalidade
melhorar o comportamento do outro – ou seja, a punição traria um bem maior. Neste sentido,
os dados obtidos no estudo de Campanhã et al (2011) talvez sinalizem que a aplicabilidade
deste conceito é dependente das relações e preferências sociais prévias. Assim, a aversão a
iniqüidade (reação frente a situações de injustiça) parece não ser processada e percebida da
mesma forma em função das preferências sociais;interagir com um amigo resultou em
comportamentos de menor punição.Neste sentido, este doutorado, também usando o UG, terá
como outro objetivo investigar em que níveis de relação interpessoal a punição altruísta pode
ser considerada como uma explicação válida.
Para investigar Empatia, Gênero e comportamentos de Punição Altruísta, propõe-se
neste Doutorado dois experimentos controlando gênero e perfil de empatia dos participantes
e, também, a posição do participantes nas interações de decisão, i.e no experimento 1 os
91
participantes receberão diretamente as propostas que deverão aceitar ou rejeitar e no
experimento 2 os participantes jogarão em dois momentos: 1º momento receberão propostas
para ele e um par (amigo e desconhecido) que não terão poder de decisão, somente o sujeito
poderá aceitar ou rejeitar as propostas para ambos; em um 2º momento os participantes
acompanharão propostas feitas entre seu par de confiança (amigo) e um desconhecido e
deverá julgar (aceitar ou rejeitar) por eles. Os dois experimentos em conjunto, ampliarão o
quadro teórico e conceitual dos modelos de decisão baseada em interação social e poderão ter
implicações práticas para processos decisórios uma vez que buscarão compreender o papel
das preferências sociais na percepção, aversão a iniqüidade e comportamento de punição
altruísta.
6. Objetivo
6.1 Experimento 1 – Empatia e Gênero:
Este experimento tem como objetivo geral compreender o impacto da Empatia e do
Gênero como fatores moduladores de processos de decisão social em tarefa UG tanto por
meio de medidas comportamentais quanto por meio de medidas eletrofisiológicas.
6.1.1 Objetivos específicos
1- Avaliar o desempenho comportamental (respostas e tempo de reação) em tarefa
adaptada do teste Ultimatum Game considerando:
a. o propositor (pessoa de confiança e desconhecido);
b. a proposta (justa ou injusta);
c. o gênero do participantes;
d. o grau de empatia dos participantes;
e. interações entre esses fatores,
92
2- Estudar os componentes MFN, P300 e LPC evocados pela tarefa por meio da análise
de amplitude média considerando os fatores Tipo de Propositor (amigo, desconhecido ou
computador), Tipo de Proposta (justa ou injusta), Gênero (masculino ou feminino) e nível de
Empatia (baixo e alto).
3- Investigar as correlações entre as escalas sociais respondidas pelos participantes e a
amplitude dos componentes.
6.2 Experimento 2 – Punição Altruística
Este experimento tem como objetivo geral compreender o impacto da preferência
social na percepção de injustiça e aversão a iniqüidade e, conseqüentemente, em
comportamentos caracterizados como de Punição Altruística em tarefa UG tanto por meio de
medidas comportamentais quanto por meio de medidas eletrofisiológicas. Ao contrário do
experimento anterior, as propostas não serão direcionadas ao participante; ao contrário, ele
observará as propostas feitas pelo amigo em direção a um desconhecido, do desconhecido em
direção a outro desconhecido e do desconhecido em direção ao amigo. Seu papel será sempre
o de decidir por aquele que recebe a proposta (podendo aceitar ou rejeitar).
6.2.1 Objetivos específicos
1- Avaliar o desempenho comportamental (respostas e tempo de reação) em tarefa
adaptada do teste Ultimatum Game considerando:
a. o par de interação (propositor/recebedor da oferta) pelo qual o participante
decidiu (amigo/desconhecido, desconhecido/amigo, desconhecido/desconhecido);
b. a proposta (justa ou injusta);
c. interações entre esses fatores,
93
2- Estudar os componentes MFN, P300 e LPC evocados pela tarefa por meio da análise
de amplitude média considerando os fatores Par de Interação
(amigo/desconhecido, desconhecido/amigo, desconhecido/desconhecido), Tipo de
Proposta (justa ou injusta), Gênero (masculino ou feminino) e nível de Empatia
(baixo e alto).
3- Investigar as correlações entre as escalas sociais respondidas pelos participantes e a
amplitude dos componentes;
7. Método
Os dois experimentos foram realizados no Laboratório de Neurociência Cognitiva e
Social (Rua Piauí, 181, 10°andar, São Paulo) do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo – SP.
7.1 Participantes
Participaram do estudo 96 duplas de sujeitos saudáveis entre 18 e 30 anos de idade.
Metade das duplas participou do experimento 1 e a outra metade do experimento 2. Para os
dois experimentos, os mesmos critérios de inclusão e exclusão foram aplicados.
7.1.2 Critérios de inclusão/exclusão
Critérios de inclusão do participante: homens ou mulheres, com idade entre 18-30
anos, sem diagnóstico de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos e outorga por escrito de
consentimento informado para participar do estudo.
Critérios de exclusão do participante: paciente com história de epilepsia,
neurocirurgia, trauma craniano e implante de marca-passo, paciente com dependência
química, quadros psicóticos, quadros psiquiátricos como depressão, ansiedade, fobia social e
uso de medicações, principalmente que leve a sonolência.
94
Critério de inclusão do Amigo:Participantes homens e mulheres acompanhados de
amigos do mesmo gênero do participante, amigos de longa data e que sejam considerados de
grande confiança pelo participante.
Critérios de exclusão do Amigo: Amigos do gênero oposto ao participante, casal
heterossexual e homossexual, parentes, amigos que se conhecem a menos de um ano, amigos
que não são de grande confiança.
7.2 Instrumentos
7.2.1 Instrumentos para Caracterização da Amostra
Inicialmente os participantes dos dois experimentos responderam algumas escalas para
verificar critérios de inclusão, caracterização e distribuição dos grupos. Para verificar os
critérios de inclusão e exclusão, os participantes responderam as escalas de Beck para
avaliação da depressão (BDI) e ansiedade (BAI). Com o intuito de avaliar a impulsividade foi
aplicado a Escala de Impulsividade de Barrat adaptada e validada para adolescentes no Brasil
(von Diemen et al, 2007) com afirmações a respeito de comportamentos no cotidiano onde o
sujeito classifica a freqüência com que estes comportamentos ocorrem. Depressão, ansiedade
e impulsividade são variáveis que interferem nos processos decisórios (Miu, Heilman e
Houser, 2008; Franken et al, 2008; Radke et al, 2013) e por isso níveis altos foram excluídos
do estudo. Para avaliar outros possíveis quadros psiquiátricos foi aplicado um questionário
on-line, a Global Mind Screen que é baseada nos critérios do DSM-IV e CID-10. Este
instrumento de triagem pode identificar sintomas de 32 transtornos de saúde mental
apresentando os sintomas encontrados, classificação de severidade, duração, histórico de
saúde mental da família e do entrevistado, perfil de medicações e uso de drogas lícitas e
ilícitas. Para avaliar o nível de empatia foi aplicado o Quoeficiente de Empatia de Baron-
95
Cohen (2004). Homens e mulheres foram divididos em dois grupos (Alto e Baixo nível de
Empatia) em função do escore na escala de empatia por meio da análise de cluster. Com isso,
o experimento 1 contou com uma amostra final de 13 homens e 10 mulheres com escores
baixo de empatia e 9 homens e 15 mulheres com escores alto de empatia. No experimento 2
contou com 11 homens e 8 mulheres com escores baixo de empatia e 10 homens e 18
mulheres com escores alto de empatia. Cada um destes participantes veio ao laboratório
acompanhado de uma pessoa de alta confiança. Para garantir o mesmo grau de confiança
entre os participantes foi aplicada uma escala adaptada (The KNOWI Scale) tanto para o
participante quanto para o acompanhante com frases afirmativas sobre situações cotidianas de
relacionamento com um amigo (TURAN e HOROWITZ, 2007; TURAN, 2009). Também foi
aplicado a escala The Inclusion of Other in the Self Scale (IOS) para avaliar o quão próximo
eles se consideram (Aron, Aron e Smollan, 1992) como forma de certificar se o
acompanhante realmente é um amigo próximo do participante. Para avaliar o vínculo afetivo
entre o participante e seu melhor amigo foi aplicado o Experience in Close Relationships -
Relationship Structures Questionnarie (ECR-RS) para amizade (Fraley et al, 2006). Além
disso, em função da literatura prévia discutir o impacto da identidade moral nas decisões, a
Escala de Identidade Moral foi aplicada para garantir homogeneidade da amostra neste
quesito. Esta escala apresenta características que uma pessoa pode ter (Amiga, Confiável,
Justa, Trabalhadora, entre outras) e 10 afirmativas sobre essas características, que foram
respondidas pelo participante e acompanhante permitindo identificar aqueles que apresentam
maior ou menor internalização de aspectos morais.
Apenas no Experimento 2 os voluntários responderam duas escalas adicionais as
descritas anteriormente: a Escala de Altruísmo Auto-Informada e a Escala de Altruísmo
Informada por Pares. Estas escalas foram respondidas tanto pelo participante quanto pelo
96
amigo sendo que na Escala de Altruísmo Informada por Pares o participante respondeu sobre
o Amigo e o Amigo sobre o participante.
7.2.2 Jogo de Tomada de Decisão Social (versões adaptadas do Ultimatum
Game para os experimentos 1 e 2)
7.2.2.1 EXPERIMENTO 1
A tarefa é constituída por 4 blocos em função dos 2 tipos de propositores (2 blocos
com a pessoa confiável e 2 blocos com desconhecido). Cada bloco apresentou 60 situações
com propostas justas e injustas da divisão de R$ 100,00 reais já estabelecidas previamente
pelo pesquisador e que foram randomizadas em um total de 240 trials. Essas divisões foram
apresentadas ao participante do experimento e foi dado ao participante o poder de aceitar ou
não a divisão monetária oferecida pelo propositor. O participante não soube previamente que
as divisões já foram pré-estabelecidas, pelo contrário, a ele foi informado que as divisões
seriam definidas durante a tarefa por um dos dois propositores – pessoa confiável conhecida
(que foi uma pessoa que o participante trouxe ao laboratório) e uma pessoa desconhecida
(algum aluno do laboratório). As ofertas foram apresentadas no monitor posicionado a frente
do participante; juntamente com a divisão proposta, o participante foi informado sobre qual
propositor fez aquela oferta junto com a sua foto (foto que foi tirada da pessoa de confiança e
do desconhecido antes de começar o teste). Os blocos (divisões feitas por um dos dois
propositores) foram randomizados entre os diferentes participantes.
97
Figura 4. Experimento 1
O participante foi instruído a tentar acumular a maior quantidade possível de dinheiro.
Caso aceitasse a proposta, o valor era dividido e o dinheiro guardado. Caso rejeitasse, o
dinheiro não era dividido e ninguém ganhava nada. As divisões entre propostas justas ou
injustas foram: a) justa - R$50,00 e R$50,00; b) muito injusta - quando a divisão proposta é
de um valor muito maior para o propositor e muito menor para o jogador (R$ 10,00 e
R$90,00; R$ 20,00 e R$ 80,00); e c) pouco justa quando a divisão proposta é de um valor
mais alto para o propositor e mais baixo para o jogador, mas não tão menor quanto à
considerada na proposta muito injusta (R$30,00 e R$ 70,00).As situações justas, injustas e
muitos injustas serão120 no total para cada propositor randomizadas entre os blocos.
Inicialmente o participante viu uma tela durante 1500 milissegundos com a foto do
propositor para informá-lo que a proposta seria realizada por este naquele momento. Após
esse período, uma tela com um ponto de fixação ficou 500 milissegundos seguida de uma
imagem de um Olho para o participante poder piscar e assim diminuir o ruído nos dados do
EEG durante 1000 milissegundos. Logo em seguida a outro ponto de fixação de 500
milissegundos, a próxima tela apresentava a proposta da divisão do valor com a identificação
98
de quem está propondo (exemplo: “Amigo R$ 50,00 e Você R$ 50,00”). Abaixo das
propostas estava as opções de escolha “Aceitar” e “Rejeitar” a proposta realizada. Cada
proposta permaneceu na tela por 5000 milissegundos. Os participantes deveriam escolher sua
resposta apertando o botão correspondente na caixa de resposta. O ponto de fixação apareceu
novamente por 500 milissegundos e, em seguida, depois da resposta dada pelo jogador, uma
nova tela foi apresentada com o valor total acumulado pelo jogador até aquele momento (que
poderia ser acrescentado ou não o novo valor caso ele tenha aceitado a oferta oferecida ou
não) por 1500 milissegundos. Por fim, foi apresentada uma tela com ponto central de fixação
por 500 milissegundos para que, logo em seguida, iniciasse a nova situação de oferta de
divisão.
Ao final, os participantes deram uma nota de 0=muito injusto à 10=muito justo para
cada propositor.
7.2.2.2 EXPERIMENTO 2
Assim como no Experimento 1, o teste foi composto por situações com propostas
justas e injustas da divisão de R$ 120,00 reais (1ª fase) e R$100,00 reais (2ª fase) já
99
estabelecidas previamente pelo pesquisador e que foram randomizadas. Neste experimento
houve duas fases.Na primeira fase, propositores desconhecidos(fotos selecionadas da base de
faces Berlin Faces Database e do Google imagens neutras julgadas como confiáveis) sempre
fizeram as propostas de divisão de valor, mas desta vez estes propunham uma divisão entre
três pessoas: entre o propositor, o participante e um terceiro jogador que metade das vezes foi
o amigo e a outra metade um desconhecido (alguém do laboratório). A terceira pessoa não
podia decidir sobre a aceitação ou não da proposta, somente o participante podia decidir se a
proposta seria aceita ou rejeitada e deveria, portanto, levar em consideração o montante dado
ao terceiro jogador que dependia de sua decisão para ganhar algum valor. O propositor
Figura 5. Parte 1 do Experimento 2
dividiu R$ 120,00 reais para os três propositores segundo 4 tipos de divisão: a) justa para os
três (R$40,00 e R$40,00 e R$40,00); b) vantajosa para o propositor, para o participante e
injusta para o terceiro (R$70,00 e R$40,00 e R$10,00); c) vantajosa para o propositor, para o
terceiro e injusta para o participante (R$70,00 e R$10,00 e R$40,00); e d) vantajosa para o
propositor e injusta para os outros (R$100,00 e R$10,00 e R$10,00). No total foram 192 trials
dividos em 4 blocos (2 blocos com o amigo e 2 bloco com o desconhecido como terceiro) de
48 trials cada.
Na segunda fase, o participante observou, no primeiro momento, a interação entre um
propositor e um jogador que poderia ser seu amigo ou um desconhecido. Em seguida,
apareceu a tela com as propostas para cada um da dupla que está jogando e o participante
tinha que decidir no lugar de quem recebeu a proposta (amigo ou desconhecido) se aceitava
ou rejeitava a proposta. O participante foi instruído a tentar acumular a maior quantidade
possível de dinheiro para cada uma das pessoas que em cada bloco que ele estivesse
representando. Caso aceitasse a proposta, o valor era dividido e o dinheiro guardado entre o
100
par. Caso rejeitasse, o dinheiro não era dividido e ninguém ganhava nada. É importante frisar
que neste experimento as divisões as quais o participante respondeu não resultaram em
nenhum ganho a ele, mas apenas àqueles que ele representava. O participante observou e
representou um dos pares de interação entre: a) amigo propondo para o desconhecido 1; b)
desconhecido 1 propondo para o amigo; e c) desconhecido 2 propondo para outro
desconhecido 1. Os desconhecidos eram alunos do laboratório apresentados no momento do
jogo. Nesta fase foram 216 trials de divisão do valor de R$100,00 reais divididos em justas,
pouco justas e injustas da mesma forma que no Experimento 1 sendo que foram apresentadas
em 6 blocos (2 blocos para cada tipo de interação observada) com um total de 36 trials em
cada um. Ao final, os participantes deram uma nota de 0=muito injusto à 10=muito justo para
cada propositor de cada par de interação em relação as propostas realizadas. O objetivo do
jogo nas duas fases foi de acumular a maior quantidade de dinheiro possível.
Figura 6. Parte 2 do Experimento 2
Nas duas fases o participante viu inicialmente uma tela durante 1500 milissegundos
com a foto do propositor para informar ao participante que a proposta seria realizada por este
101
naquele momento. Após esse período, uma tela com um ponto de fixação ficou 500
milissegundos seguida de uma imagem de um Olho para o participante poder piscar e assim
diminuir o ruído nos dados do EEG por 1000 milissegundos. Logo em seguida a outro ponto
de fixação de 500 milissegundos, a próxima tela apresentou a proposta da divisão do valor
com a identificação de quem estava propondo (exemplo: 1ª fase “Propositor R$70,00, Você
R$40,00 e Amigo R$10,00” ou 2ª fase “Amigo R$ 50,00 e Você R$ 50,00”). Abaixo das
propostas estavam as opções de escolha “Aceitar” e “Rejeitar” a proposta realizada. Cada
proposta permaneceu na tela por 5000 milissegundos. Os participantes deveriam escolher sua
resposta apertando o botão correspondente na caixa de resposta. O ponto de fixação apareceu
novamente por 500 milissegundos e, em seguida, depois da resposta dada pelo jogador, uma
nova tela foi apresentada com o valor total acumulado pelo jogador até aquele momento (que
poderia ser acrescentado ou não o novo valor caso ele tenha aceitado a oferta oferecida ou
não) por 1500 milissegundos. Por fim, foi apresentado uma tela com ponto central de fixação
por 500 milissegundos para que, logo em seguida, iniciasse a nova situação de oferta de
divisão.
7.3 Equipamento
Aparelho de Eletroencefalografia de 128 canais da marca Electrical Geodesics, Inc
(EUA) modelo EEG System 300. Este equipamento é composto por amplificador modelo Net
Amps 300, transformador com isolamento, braço articulado para suporte do amplificador,
licença para software de aquisição e análise dos dados Net station, 6 redes de eletrodos
modelo hydrocel da Geodesic (tamanhos: bebê, pediátrica pequena, pediátrica grande, adulto
pequeno, adulto médio, adulto grande), CPU Macintosh para aquisição dos dados, monitor de
23” para acompanhamento dos dados, câmera de vídeo digital Sony, software para cálculo de
fontes geradores dos sinais (GeoSource Estimation Software), pacote para Potencial Evocado
102
relacionado a Evento (PST, Inc - EUA), estação de trabalho E-prime para acoplar ao EEG
(Net Station), computador de mesa Dell, hardware para os experimentos (microfone, caixa de
repostas, cabos, adaptador para barra de resposta para o sistema EGI), monitor LCD 17” com
vídeo splitter e switch, barra de resposta para EGI, single clock, AV device. Esse
equipamento foi obtido com a aprovação do projeto de pesquisa “Potenciais evocados
relacionados a eventos no autismo, na síndrome de prader-willi e na dislexia – experimentos
com eeg de alta densidade” sob liderança do Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio (orientador deste
Projeto de Doutorado) junto ao Fundo Mackenzie de Pesquisa. Valor total: USD$110.000,00.
7.4 Procedimentos
Os sujeitos vieram apenas uma vez ao laboratório, após terem sido avaliados por
screen psiquiátrico auto aplicável online, o Global Mind Screen. Caso não preenchessem
nenhum critério de exclusão, os participantes eram convidados a participar do estudo e
responder as outras escalas. Os sujeitos que contemplaram todos os critérios de inclusão e
exclusão descritos anteriormente foram convidados pessoalmente pelo pesquisador a
participar do estudo que explicou individualmente os procedimentos. Para tanto, foi solicitado
o consentimento informado de cada participante após serem-lhe explicados os objetivos,
métodos, benefícios e riscos potenciais do estudo.
Foi solicitado aos participantes de pesquisa que viessem acompanhados de uma pessoa
que eles considerassem de grande confiança (um amigo). Este amigo ficou durante todo o
experimento na sala ao lado daquela onde estava o participante. Foi explicado que em parte
do teste ele se basearia nas informações fornecidas por este amigo. Esta pessoa de confiança
também recebeu explicações sobre os objetivos, métodos, benefícios e riscos potenciais do
estudo e só participou após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Em seguida, uma foto foi tirada da pessoa de confiança e acrescentada ao teste,
103
assim como a foto do desconhecido (aluno do laboratório) que se foi apresentado minutos
antes ao início do experimento.
Os participantes realizaram o teste em uma sala especialmente preparada para o
equipamento de EEG. Durante toda a coleta de dados do teste de tomada de decisão, foi
realizado o registro da atividade eletroencefalógrafica dos participantes. O teste de tomada de
decisão foi apresentado com o uso do software E-Prime e o registro do EEG pelo software
NetSation.
7.5 Aspectos Éticos
O estudo foi conduzido de acordo com os requerimentos do comitê de ética da
Universidade Presbiteriana Mackenzie e também baseado nas recomendações estabelecidas na
Declaração de Helsinki (1964), conforme emenda em Tóquio (1975), Veneza (1983) e Hong-
Kong (1989). Todos os participantes tiveram conhecimento dos objetivos e métodos do
experimento e tiveram que dar seu consentimento por escrito. Em função da necessidade dos
participantes acreditarem que jogaram com a pessoa de confiança e que suas respostas teriam
influencia nas propostas, todos foram cuidadosamente informados ao final do experimento de
que em nenhum momento as ofertas haviam sido de fato realizadas por seus pares de confiança,
mas sim pelo computador. Também foi, neste momento, perguntando se houve a desconfiança
de que seu amigo ou desconhecido realmente estariam jogando com ele durante o jogo e o que o
levou a desconfiar ou não. Assim, foi explicada qual a finalidade da criação dessa situação e da
necessidade da presença de uma pessoa de grande confiança. Com isso, o participante tomou
maior conhecimento sobre o estudo e suas possíveis implicações tanto práticas quanto
científicas. Nenhum participante ou convidado ficou desconfortável com a situação após o
esclarecimento da finalidade da criação dessa situação. Também foram devidamente avisados
de que todas as informações fornecidas são estritamente sigilosas.
104
7.6 Análise Estatística dos Resultados
Os dados comportamentais foram classificados em respostas de aceitação ou rejeição,
e sub-divididos para os fatores relativos ao Tipo de Proposta oferecida (justa, injusta e muito
injusta), Tipo de Propositor (Experimento1: amigo e desconhecido; Experimento2: amigo,
desconhecido 1 e desconhecido 2 dos pares de interação), Gênero (homens e mulheres) e
Empatia (alto e baixo). Também foi analisado o Tempo de Reação.
Com relação ao traçado do EEG coletado, foi inicialmente realizada uma fase de pré-
processamento que contém: a) filtro de 0.1Hz (High Pass Filtering), b) filtro de 30Hz (Low
Pass Filtering), c) segmentação do traçado considerando os 200 ms prévios a apresentação da
tela que contém a proposta e a decisão e os 1200ms posteriores, d) detecção de artefatos.
Foram considerados artefatos a) os canais que apresentem variação Max-Min maior que
200µV (com janela de tempo de 640 ms). Foram considerados como canais ruins e, logo,
removidos, aqueles com mais de 20% de artefatos. Além disso, foram considerados
segmentos ruins aqueles com mais de 10 canais ruins ou com piscagem.
Após a fase de pré-processamento, seguiu a fase pós-processamento que inclui: a)
substituição dos canais ruins, b) média dos potenciais obtidos na segmentação considerando
os fatores descritos anteriormente (será criado um arquivo de dados contendo todos os
potenciais evocados incorporando os dados de todos os participantes), c) correção pela linha
de base, sendo esta o traçado obtido nas porções de 200 ms prévios à apresentação dos
estímulos.
Em seguida, os dados passaram por processamento estatístico considerando como
variável dependente a amplitude média para os potenciais MFN, P300 e LPC e como fatores o
Tipo de Propositor (Experimento1: amigo e desconhecido; Experimento2: amigo,
desconhecido 1 e desconhecido2 dos pares de interação), Tipo de Proposta, Eletrodos (os
105
eletrodos selecionados para cada componente), Gênero (homens e mulheres) e Nível de
Empatia (baixo e alto). Para a definição dos eletrodos e das janelas de tempo para cada
componente, em um primeiro momento, foi realizada inspeção visual na grande média
calculada sobre os valores de todos os sujeitos. Além disso, também foram considerados os
eletrodos e janelas de tempo conforme Mestrado realizado pela autora. A análise foi realizada
com o uso do pacote SPSS Statistics 17.0. e foi utilizada ANOVA, teste post-hoc com o
Fisher LSD. Correlação de Pearson também foi utilizada na investigação de possíveis
correlações entre os dados comportamentais, eletrofisiológicos e das escalas. Para todos os
testes, foi estabelecido um erro α=5%.
8 Resultados e Discussão
8.1 Resultados do Experimento 1
Participaram do estudo 57 voluntários universitários saudáveis, sendo que destes 47
foram selecionados para amostra com idade média de 18 a 32 anos (25 mulheres com idade
média de 22,1±4.0 e 22 homens com idade média de 22,2 anos±3.0). Os participantes vieram
ao laboratório acompanhados de um Amigo de confiança do mesmo gênero que o voluntário.
Dos 57 apenas 10 foram excluídos devido aos seguintes fatores: 1) uso de drogas psicoativas;
2) nível elevado de ansiedade ou depressão; 3)problemas técnicos na coleta de dados com o
software; 4) nível elevado de ruído no traçado eletroencefalográfico ocasionando perda
significativamente elevada nos trechos de segmentação (excesso de movimentos oculares,
piscagem, cochilar durante a coleta e ruídos eletromagnéticos externos). Com isso, o
experimento 1 contou com uma amostra final de 13 homens e 10 mulheres com escores baixo
de empatia e 9 homens e 15 mulheres com escores alto de empatia.
106
8.1.1 Caracterização da Amostra
Em função de o fator Gênero ser uma variável importante a ser considerada no
presente estudo, foi realizado a análise ANOVA em função do Gênero para idade, escalas e
questionários. Como pode ser observado na Tabela 1, foi encontrado efeito significativo em
função do Gênero nos subitem da escala ECR-RS Avoidance (F[1;46]=6,13, p=0,016) sendo
que Mulheres apresentaram uma pontuação em média maior do que a dos Homens (4,1±0.5 e
3,6±0,7 respectivamente) e Ansiedade (F[1;46]= 5,83, p=0,020) sendo que as Mulheres
também apresentaram uma pontuação média maior do que a dos Homens (7,6±1,1 e 6,7±1,3)
e no QE (F[1;46]= 4,85 , p=0,033). Não foram encontrados efeitos significativos para os fatores
Idade (F[1;46]= 0,004, p=0,953) e para os demais questionários e escalas.
Tabela 1 – Caracterização da Amostra - ANOVA em função do Gênero
Gênero N Média Desvio
Padrão F p
Idade
Mulher 25 22,1 ±4
0,004 0,953 Homem 22 22,1 ±2,9
Total 47 22,1 ±3,5
QVBH Materialistas
Mulher 25 5,1 ±0,5
0,02 0,888 Homem 22 5,1 ±0,5
Total 47 5,1 ±0,5
QVBH Humanitários
Mulher 25 5,6 ±0,4
0,63 0,432 Homem 22 5,5 ±0,5
Total 47 5,6 ±0,4
IOS
Mulher 25 5,4 ±1,1
3,90 0,054 Homem 22 4,7 ±1,3
Total 47 5,1 ±1,2
Confiança
Mulher 25 201,9 ±25,4
2,84 0,099 Homem 22 190,3 ±21,2
Total 47 196,5 ±24,0
ECR-RS Avoidance Mulher 25 4,1 ±0,5
6,31 0,016* Homem 22 3,6 ±0,7
107
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para verificar se houve diferenças entre confiança e proximidade entre as duplas de
Amigo e se estes eram semelhantes entre si em relação a aspectos morais e nível de empatia,
foi realizado ANOVA em função do fator Grupo (participante e Amigo). Como pode ser
observado na Tabela 2, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos. O
Questionário de Valores Básicos Humanos-versão reduzida não foi sensível em dividir os
participantes entre os motivadores Materialistas e Humanistas, assim como em Pro-Self e Pro-
Others. Por esse motivo estes questionário não foi incluído nas análises.
Total 47 3,9 ±0,6
ECR-RS Anxiedade
Mulher 25 7,6 ±1,1
5,83 0,02* Homem 22 6,7 ±1,3
Total 47 7,1 ±1,3
IM Simbolização
Mulher 25 14,8 ±3,9
0,70 0,404 Homem 21 13,8 ±4,4
Total 46 14,3 ±4,1
IM Internalização
Mulher 25 21,9 ±3,4
1,34 0,253 Homem 21 20,7 ±3,5
Total 46 21,4 ±3,5
IM-Total
Mulher 25 36,6 ±5,7
1,64 0,207 Homem 21 34,6 ±4,2
Total 46 35,7 ±5,1
Impulsividade
Mulher 24 74,1 ±5,3
0,02 0,881 Homem 22 74,4 ±5,5
Total 46 74,2 ±5,3
BAI
Mulher 25 5,9 ±4,3
0,79 0,378 Homem 22 7,7 ±9,3
Total 47 6,7 ±7,1
BDI
Mulher 25 5,5 ±5,7
0,002 0,963 Homem 22 5,5 ±4,4
Total 47 5,5 ±5,1
QE
Mulher 25 48,2 ±11,4
4,85 0,033* Homem 22 41,5 ±9,1
Total 47 45,1 ±10,8
108
Tabela 2 – Caracterização da Amostra - ANOVA em função dos Grupos
*Aná
lise
consi
deran
do
como
efeito
signif
icativ
o
p<0,0
5
8
.1.2
Ulti
matum Game
8.1.2.1 Taxa de Aceite e Rejeite no Ultimatum Game
Para a análise da Resposta emitida pelo participante, foi considerada a Porcentagem de
Rejeite como variável dependente para os fatores Justiça (Proposta Muito Injusta – soma das
propostas R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00 e Justa – R$50,00/R$50,00), do tipo de
relacionamento com o propositor Amizade (Amigo e Desconhecido), Gênero (Mulher e
Homem) do participante e o Nível de Empatia (Baixo ou Alto) deste. Foi realizada a ANOVA
para medidas repetidas e verificou se, como pode se observar na Tabela 3, um efeito
Grupos N Média
Desvio
Padrão F p*
QE
Participante 47 45,1 10,8
1,08 0,299 Amigo 47 42,8 10,6
Total 94 43,9 10,7
Confiança
Participante 47 196,4 24,0
0,70 0,404 Amigo 47 191,0 37,1
Total 94 193,7 31,2
IOS
Participante 47 5,1 1,2
0,20 0,651 Amigo 47 4,9 1,4
Total 94 5,0 1,3
ECR-RS Avoidance
Participante 47 3,9 0,6
1,74 0,19 Amigo 47 3,7 0,5
Total 94 3,8 0,6
ECR-RS Anxiedade
Participante 47 7,1 1,3
2,06 0,154 Amigo 47 6,8 1,1
Total 94 7,0 1,2
IM Simbolização
Participante 46 14,3 4,1
0,06 0,8 Amigo 47 14,1 4,2
Total 93 14,2 4,1
IM Internalização
Participante 46 21,4 3,5
0,92 0,338 Amigo 47 20,6 4,2
Total 93 21,0 3,8
IM-Total
Participante 46 35,7 5,1
0,80 0,373 Amigo 47 34,7 5,5
Total 93 35,2 5,3
109
significativo para o fator Justiça (F[1;46]= 513,28, p<0,001) e Amizade (F[1;46]=20,33,
p<0,001). Além disso, foi observado efeito significativo para a interação entre os fatores
Amizade*Gênero (F[1;46]=5,10, p=0,029), Amizade*Nível de Empatia (F[1;46]=6,98, p=0,011)
e os fatores Justiça*Amizade (F[1;46]=7,68, p=0,008). Não foram encontradas diferenças
significativas para os demais fatores e interações.
Tabela 3 – Porcentagem de Rejeite - ANOVA para medidas repetidas em função da
Justiça, Amizade, Gênero e Nível de Empatia
F p
Justiça 513,28 <0,001**
Justiça * Gênero 0,000 0,996
Justiça * Nível Empatia 0,02 0,888
Justiça * Gênero * Nível Empatia 3,18 0,081
Amizade 20,33 <0,001**
Amizade * Gênero 5,10 0,029*
Amizade * Nível Empatia 6,98 0,011*
Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,38 0,537
Justiça * Amizade 7,68 0,008*
Justiça * Amizade * Gênero 0,33 0,567
Justiça * Amizade * Nível Empatia 2,64 0,111
Justiça * Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,009 0,924
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Com relação ao efeito significativo para o fator Justiça, observou-se uma maior
porcentagem de rejeição em média para as propostas Muito Injusta (82,9% ±3,1) do que para
as propostas Juta (6,2 ±2,1). Na interação Justiça e Amizade realizou-se uma análise post hoc
com o teste Bonferroni e observou-se um efeito significativo na porcentagem de rejeite entre
as propostas Muito Injustas realizadas pelo Amigo e as propostas Justas realizadas pelo
Amigo (76,6% ±3,9 e 5,1% ±1,9 respectivamente, p<0,001), entre as propostas Muito Injustas
110
realizadas pelo Desconhecido e as propostas Justas realizadas pelo Desconhecido (89,1% ±2,9
e 7,3% ±2,5 respectivamente, p<0,001) e entre as propostas Muito Injustas realizadas pelo
Desconhecido e as propostas Muito Injustas realizadas pelo Amigo (89,1% ±2,9 e 76, 6%
±3,9, respectivamente, p<0,001) como pode ser visto na figura 7.
Figura 7 – Média da porcentagem de Rejeite em função da Justiça e Amizade; p<0,001
Já em relação ao efeito significativo para o fator Amizade, observou-se uma maior
porcentagem de rejeição de propostas em média em função do propositor sendo rejeitadas
mais propostas realizadas por um Desconhecido (48,2% ±2) do que pelo Amigo (40,9%
±2,3). Para a interação Amizade e Gênero foi realizada uma análise post hoc com o teste
Bonferroni e observou-se um efeito significativo na porcentagem de rejeite de propostas para
os Homens entre as as propostas realizadas por um Desconhecido e as propostas realizadas
pelo Amigo (52,8% ±2,98 e 41,8% ±3,46 respectivamente, p<0,001). Não observou-se
diferença significativa nas demais comparações (Figura 8).
111
Figura 8 – Média da porcentagem de Rejeite em função do Gênero e Amizade; p<0,001
Em relação à interação entre os fatores Nível de Empatia e Amizade realizou-se uma
análise post hoc com o teste Bonferroni e observou-se uma diferença significativa na
porcentagem de rejeite das propostas entre os participantes com Alto nível de empatia quando
as propostas foram realizadas por um Desconhecido em comparação com as ofertas do Amigo
(51,8% 2,9 e 40,2% 3,3 respectivamente, p<0,001). Não observou-se diferença
significativa nas demais comparações como mostra a Figura 9.
112
Figura 9 – Média da porcentagem de Rejeite em função da Empatia e Amizade; p=0,011
Em relação ao tipo de proposta Pouco Justa, foi considerada a Porcentagem de Rejeite
como variável dependente para os fatores Tipo de Proposta (Pouco Justa –R$30,00/R$70,00 e
Justa – R$50,00/R$50,00), do tipo de relacionamento com o propositor (Amigo e
Desconhecido), ao Gênero (Mulher e Homem) do participante e o nível de Empatia (Baixo ou
Alto) deste. Foi realizada a ANOVA para medidas repetidas e verificou se, como pode se
observar na Tabela 4, um efeito significativo para o fator Justiça (F[1;46]= 106,55, p<0,001) e
Amizade (F[1;46]=19,33, p<0,001). Além disso, foi observado efeito significativo para a
interação entre os fatores Justiça*Amizade (F[1;46]=10,87, p=0,002) e Justiça*Gênero*Nível
de Empatia (F[1;46]=4,58, p=0,038). Não foram encontradas diferenças significativas para os
demais fatores e interações.
113
Tabela 4 - Porcentagem de Rejeite – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Amizade,
Gênero e Nível de Empatia
F p
Justiça 106,55 <0,001**
Justiça * Gênero 0,000 1,000
Justiça * Nível de Empatia 0,63 0,431
Justiça * Gênero * Nível de Empatia 4,58 0,038*
Amizade 19,33 <0,001**
Amizade * Gênero 0,28 0,596
Amizade * Nível de Empatia 0,24 0,625
Amizade * Gênero * Nível de Empatia 1,46 0,233
Justiça * Amizade 10,87 0,002*
Justiça * Amizade * Gênero 0,18 0,672
Justiça * Amizade * Nível de Empatia 0,000 0,996
Justiça * Amizade * Gênero * Nível de Empatia 2,37 0,130
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Em relação ao efeito significativo para o fator Justiça, observou maior porcentagem de
rejeite em média de propostas Pouco Justas (54,6% ±5,1) do que Justas (6,2% ±2,1). Além
disso, a análise post hoc com o teste Bonferroni encontrou uma diferença significativa entre
as propostas Pouco Justas e Justas realizadas pelo Amigo (44,2% ±5,9 e 5,1% ±1,9
respectivamente, p<0,001), entre as propostas Pouco Justas realizadas pelo Amigo e por um
Desconhecido (44,2% ±5,9 e 64,9% ±5,5 respectivamente, p<0,001) e entre as propostas
Pouco Justas e Justas realizadas por um Desconhecido (64,9% ±5,5 e 7,3% ±2,5
respectivamente, p<0,001), como pode ser observado na Figura 10.
114
Figura 10 – Média da porcentagem de Rejeite em função da Justiça e Amizade; p<0,05
Já em relação ao efeito significativo para o fator Amizade, observou se uma maior
porcentagem de rejeite de propostas em média em função do propositor sendo mais rejeitadas
propostas do Desconhecido (36,1% ±3,3) do que as propostas realizadas pelo Amigo (24,7%
±3,4). Pela Tabela 5 pode-se observar tal efeito se deve ao fato dos sujeitos rejeitarem mais as
propostas realizadas por um Desconhecido do que pelo Amigo independente do tipo de
proposta.
Tabela 5- Porcentagem de Rejeite - Média e Erro Padrão em função da Amizade
Amizade Média Erro
Padrão
Amigo 24,7 ±3,4
Desconhecido 36,1 ±3,3
Em relação à interação entre os fatores Nível de Empatia, Justiça e Gênero realizou-se
uma análise post hoc com o teste Bonferroni e observou-se que há uma diferença significativa
entre as propostas Justas e Poucos Justas rejeitadas pelas Mulheres com Baixo nível de
115
Empatia (6% ±4,5 e 40,6% ±10,9 respectivamente, p=0,032) e entre as propostas Justas e
Pouco Justas rejeitadas por Mulheres com Alto nível de empatia (0,8% ±3,7 e 63% ±8,9
respectivamente, <0,001). Já os Homens observou-se uma diferença significativa entre as
propostas Justas e Pouco Justas quando rejeitadas por Homens com Baixo Nível de Empatia
(3,0% ±4 e 57,7% ±9,5 respectivamente, p<0,001) e entre propostas Justas e Pouco Justas
rejeitadas por Homens com Alto nível de Empatia (15% ±4,8 e 57,0% ±11,4 respectivamente,
p=0,006), como observa-se na Figura 11.
Figura 11 – Média da porcentagem de Rejeite em função da Justiça, Gênero e Empatia; p<0,05
8.1.2.2 Tempo de Reação
Para a análise do Tempo de Reação em que as propostas foram rejeitadas pelo
participante, foi realizada ANOVA para medidas repetidas tendo como variável dependente
as Médias do Tempo de Reação Rejeitar das propostas Muito Injustas (uma vez que as
propostas Justas foram rejeitadas apenas 6% das vezes) e como fatores Gênero (Homens e
Mulheres), tipo de relacionamento com o propositor, Amizade (Amigo e Desconhecido) e
116
nível de Empatia do participante (Baixo e Alto). Na Tabela 6 pode ser observado que houve
um efeito significativo para os fatores Justiça (F[1;46]=88,79, p<0,001). Não foram
observadas diferença significativa nos demais fatores e interações.
Tabela 6 - Tempo de Reação Rejeite Muito Injustas - ANOVA medida repetidas em função da
Amizade, Gênero e Nível de Empatia
*Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Como é possível observar na Tabela 7, os participantes apresentaram menor tempo de
reação para rejeitar as propostas Muito Injustas quando estas foram realizadas pelo Amigo
(963ms ±46) e maior tempo de reação para rejeitar as propostas Muito Injustas quando
realizadas por um Desconhecido (1396ms ±50).
Tabela 7 – Tempo de Reação Rejeitar- Média e Erro Padrão em função da Justiça
Amizade Média* Erro
Padrão
Amigo 963 ±46
Desconhecido 1389 ±50
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
Para a análise do Tempo de Reação em que as propostas foram aceitas pelo
participante, foi realizada ANOVA para medidas repetidas tendo como variável dependente
as Médias do Tempo de Reação Aceitar das propostas Justas e como fatores Gênero (Homens
e Mulheres), tipo de relacionamento com o propositor, Amizade (Amigo e Desconhecido) e
Nível de Empatia do participante (Baixo e Alto). Na Tabela 8 pode ser observado que houve
um efeito significativo para o fator Amizade (F[1;46]=5,05, p=0,030). Não foram observadas
diferença significativa nos demais fatores e interações.
F p
Amizade 88,79 <0,001**
Amizade * Gênero 0,92 0,342
Amizade * Nível Empatia 0,19 0,660
Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,27 0,601
117
Tabela 8 - Tempo de Reação Aceitar Justas- ANOVA medidas repetidas em função da Justiça,
Amizade, Gênero e Nível de Empatia
F p
Amizade 5,05 0,030*
Amizade * Gênero 0,09 0,759
Amizade * Nível Empatia 2,67 0,109
Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,06 0,804
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Na Tabela 9 pode se observar que os participantes apresentaram menor tempo de
reação para aceitar propostas Justas realizadas pelo Amigo (723ms ±25) do que por um
Desconhecido (794ms ±34).
Tabela 9 - Tempo de Reação Aceitar - Média e Erro Padrão em função da Amizade
Amizade Média* Erro
Padrão
Amigo 723 ±25
Desconhecido 794 ±34
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
Com relação às propostas Pouco Justa, para a análise do Tempo de Reação em que
estas propostas foram rejeitadas pelo participante, foi realizada ANOVA para medidas
repetidas tendo como variável dependente as Médias do Tempo de Reação Rejeitar e como
fatores Gênero (Homens e Mulheres), tipo de relacionamento com o propositor,
Amizade(Amigo e Desconhecido) e Nível de Empatia do participante (Baixo e Alto). Na
Tabela 10 pode-se observar que há uma diferença significativa no fatore Amizade
(F[1;46]=6,58, p=0,015). Não foi observado diferenças significativas nos demais fatores e
interações analisados.
118
Tabela 10 – Tempo de Reação Rejeitar Pouco Justa– ANOVA medidas repetidas em função da
Justiça, Amizade, Gênero e Nível de Empatia
F p
Amizade 6,58 0,015*
Amizade * Gênero 0,35 0,558
Amizade * Nível Empatia 2,99 0,092
Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,009 0,923
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Na Tabela 11 pode observar que os participantes apresentaram maior tempo de reação
para rejeitar as propostas Pouco Justas realizadas pelo Amigo (1156ms ±89,7) do que por um
Desconhecido (954ms ±53,8).
Tabela 11 – Tempo de Reação Rejeitar Pouco Justa– Média e Erro Padrão em função da Amizade
Amizade Média* Erro
Padrão
Amigo 1156 ±89,7
Desconhecido 954 ±53,8
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
8.1.2.3 VAS Notas
A Tabela 12 mostra os resultados da análise ANOVA para medidas repetidas tendo
como variável dependente as Notas dadas pelos participantes para cada propositor (VAS-
Notas) considerando os fatores Amizade (Amigo e Desconhecido), Gênero (Mulher e
Homem) e Nível de Empatia (Baixo e Alto). Observou-se diferença significativa
(F[1;46]=4,38, p=0,042) apenas para o fator Amizade.
Tabela 12 – VAS Notas – ANOVA medidas repetidas em função do Gênero e Empatia
F p
Amizade 4,38 0,042*
Amizade * Gênero 0,31 0,576
Amizade * Nível Empatia 0,000 0,997
Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,07 0,785
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
119
Na Figura 12 pode-se observar que as notas dadas para o Amigo foram maiores do que
as notas dadas para o propositor Desconhecido (6,0 ±0,327 e 5,3 ±0,313 respectivamente).
Figura 12 – VAS Notas em função da Amizade; p<0,05
8.1.3 Análise dos Potenciais Relacionados a Eventos
8.1.3.1 Potencial Medial Frontal Negativity
Para a análise do componente MFN, os eletrodos e a janela de tempo foram
selecionados de acordo com a literatura e com o observado na grande média deste estudo. A
janela de tempo definida foi entre 200ms à 350ms. O componente MFN foi analisado pela
diferença entre os potenciais observados nesta janela de tempo da condição Muito Injusta
(soma das propostas R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$90,00) com a condição Justa
(R$50,00/R$50,00). Os eletrodos selecionados foram agrupados em 3 sub-áreas:
a) eletrodos frontais à esquerda: 22, 23, 18, 24 e 10;
b) eletrodos frontais na linha média: 15, 16 e 11 (Fz);
c) eletrodos frontais à direita: 9, 10, 3, 4 e 124
p=0,042
120
A figura 13 apresenta o mapa da rede de eletrodos e os eletrodos selecionados para a
análise do componente MFN.
De acordo com a literatura, o MFN vem sendo analisado pela diferença das condições
Muito Injustas das Justas. Por isso, realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a
análise do componente MFN tendo como variável dependente a Diferença da Amplitude
Média entre as condições muito injusta e justa na janela de tempo de 200 a 350ms e os fatores
Amizade (Amigo e Desconhecido), Área dos eletrodos (frontais à esquerda, frontais na linha
média ou frontais à direita), Gênero (Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Baixo e
Alto) e respectivas interações. Segundo a Tabela 13, pode-se verificar que a análise ANOVA
para medidas repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Amizade*Nível
Empatia (F[1;46]=8,84, p=0,005) e na interação Amizade*Gênero*Nível de Empatia
Frontal Esquerda
Frontal Linha Média
Frontal Direita
121
(F[1;46]=6,85, p=0,012). Não foram encontradas diferenças significativas da amplitude do
MFN para os demais fatores e interações.
Tabela 13 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da
Área, Gênero, Amizade e Nível de Empatia
F p
Amizade 0,40 0,526
Amizade * Gênero 1,98 0,166
Amizade * Nível Empatia 8,84 0,005*
Amizade * Gênero * Nível Empatia 6,85 0,012*
Área 2,03 0,137
Área * Gênero 0,33 0,720
Área * Nível Empatia 0,77 0,463
Área * Gênero * Nível Empatia 0,15 0,858
Amizade * Área 0,21 0,809
Amizade * Área * Gênero 0,16 0,846
Amizade * Área * Nível Empatia 0,78 0,458
Amizade * Área * Gênero * Nível Empatia 2,95 0 ,057
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Com relação a interação entre Amizade e Nível de Empatia, realizou-se uma análise
post hoc com teste de Fisher LSD e observou-se apenas uma tendência para o efeito na
interação entre os participantes com Alto nível de Empatia para o Amigo e o Desconhecido
na amplitude média do MFN (p=0,063). Os participantes com Alto Nível de Empatia
apresentaram a amplitude média do MFN mais negativa quando as propostas foram realizadas
por um Desconhecido (-0,431μV ±0,3) e mais positiva quando as propostas foram realizadas
pelo Amigo (0,646μV ±0,3), como pode ser observado na Tabela 14. Tais resultados sugerem
uma tendência para o efeito principal no fator Amizade que não foi observado no presente
estudo, provavelmente, devido a interferência dos níveis de empatia. Também não verificou-
se um efeito significativo nas interações entre os participantes com Baixo nível de Empatia na
amplitude do MFN quando receberam propostas de um Desconhecido e pelo Amigo
(p=0,082), entre participantes com Alto nível de Empatia e Baixo nível de Empatia quando
122
receberam propostas realizadas pelo Amigo (p=0,70) e participantes com Alto nível de
Empatia e Baixo nível de Empatia quando receberam propostas por um Desconhecido
(p=0,203).
Tabela 14 – Amplitude Média do MFN – Média e Erro Padrão em função da Amizade e Nível de
Empatia
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Na interação Gênero, Nível de Empatia e Amizade realizou-se um teste post hoc de
Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa entre os participantes Homens com
Alto nível de Empatia e os Homens com Baixo nível de Empatia quando estes receberam
propostas pelo Amigo (p=0,002) e entre os Homens com Alto nível de Empatia quando
receberam propostas realizadas por um Desconhecido e os Homens com Alto nível de
Empatia receberam propostas pelo Amigo (p=0,001). Tabela 15 pode se observar que a
amplitude média do MFN foi mais negativa quando Homens com Alto Nível de Empatia
receberam propostas realizadas por um Desconhecido (-0,948μV ±0,6) e apresentaram
amplitude média mais positiva quando receberam propostas pelo Amigo (1,329μV±0,4). Já os
Homens com Baixo Nível de Empatia apresentaram a amplitude média do MFN mais
negativa quando receberam propostas realizadas pelo Amigo (-0,910μV±0,3). Não verificou-
se diferença significativa nas demais interações.
Nível de
Empatia Amizade Média*
Erro
Padrão
Baixo Amigo -0,345 ±0,3
Desconhecido 0,351 ±0,3
Alto Amigo 0,646 ±0,3
Desconhecido -0,431 ±0,3
123
Tabela 15 – Amplitude Média do MFN – Média e Erro Padrão em função da Amizade, Gênero e Nível
de Empatia
Gênero Nível
Empatia Amizade Média*
Erro
Padrão
Mulher
Baixo Amigo 0,220 ±0,4
Desconhecido 0,556 ±0,5
Alto Amigo -0,038 ±0,3
Desconhecido 0,086 ±0,4
Homem
Baixo Amigo -0,910 ±0,3
Desconhecido 0,146 ±0,5
Alto Amigo 1,329 ±0,4
Desconhecido -0,948 ±0,6
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo MFN em função das propostas Pouco Justas tendo como variável dependente a
diferença da Amplitude Média do MFN na janela de tempo de 200 a 350ms e os fatores
Amizade (Amigo e Desconhecido), Área dos eletrodos (frontais à esquerda, frontais na linha
média ou frontais à direita), Gênero (Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Baixo e
Alto) e Justiça (propostas Pouco Justas –R$30,00/R$70,00- e Justas –R$50,00/R$50,00) e
respectivas interações. Segundo a Tabela 16, pode-se verificar que a análise ANOVA para
medidas repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Área (F[1;46]=6,04,
p=0,004). Não foram encontradas diferenças significativas da amplitude do MFN para os
demais fatores e interações.
Tabela 16 – Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área, Gênero,
Justiça, Amizade e Nível de Empatia
F p
Amizade 0,12 0,722
Amizade * Gênero 2,38 0,130
Amizade * Nível Empatia 3,02 0,089
Amizade * Gênero * Nível Empatia 1,08 0,304
124
Área 6,04 0,004*
Área * gênero 0,48 0,616
Área * Nível Empatia 0,58 0,557
Área * Gênero * Nível Empatia 0,25 0,779
Amizade * Área 0,37 0,690
Amizade * Área * Gênero 0,16 0,848
Amizade * Área * Nível Empatia 0,16 0,850
Amizade * Área * Gênero * Nível Empatia 0,73 0,481
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Com relação ao efeito significativo para o fator Área, realizou-se um teste post hoc de
Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa na amplitude negativa do MFN entre o
grupo de eletrodos localizados na Área Frontal na Linha Média e na área Frontal à Direita (-
0,238μV ±0,2 e 0,164μV ±0,1 respectivamente, p=0,006) e entre os eletrodos da área Frontal
Esquerda e área Frontal Direita (-0,289μV ±0,1 e 0,164μV ±0,1 respectivamente, p=0,002).
Não observou-se diferença significativa nas demais comparações. A Tabela 17 apresenta a
média e o erro padrão para cada área de eletrodos.
Tabela 17 – Amplitude Média do MFN – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média Erro
Padrão
Frontal Direito 0,164 ±0,1
Frontal Linha Média -0,238 ±0,2
Frontal Esquerda -0,289 ±0,1
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.1.3.2- Potencial P300
Como foi observado na literatura, o componente P3 é tipicamente observado em uma
janela de tempo ao redor dos 300ms e em eletrodos centro-parietais. No presente estudo foi
definida uma janela de tempo entre 350ms a 480ms após a apresentação do estímulo. Os
eletrodos centro-parietais forma divididos em 3 sub-áreas:
125
a) eletrodos centro-parietais a esquerda: 53 e 54;
b) eletrodos centro-parietal: 55(CPz);
c) eletrodos centro-parietal direita: 79 e 86;
A figura 14 apresenta o mapa da rede de eletrodos e os eletrodos selecionados para a
análise do componente P300.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo P300 tendo como variável dependente a Amplitude Média do P300 na janela de
tempo de 350 a 480ms e os fatores Justiça (Muito Injusta – soma das propostas
R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00 e Justa – R$50,00/R$50,00), Amizade (Amigo e
Desconhecido), Área dos eletrodos (Centro-Parietais à esquerda, Centro-Parietais na linha
média ou Centro-Parietais à direita), Gênero (Masculino ou Feminino), Nível de Empatia
(Alto e Baixo) e respectivas interações. Segundo a Tabela 18, pode-se verificar que a análise
Centro Parietal Esquerdo
Centro Parietal Linha Média
Centro-Parietal Direito
126
ANOVA para medidas repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça
(F[1;46]=21,17, p<0,001), Área (F[1;46]=22,14, p<0,001)e na interação Justiça*Área
(F[1;46]=3,11, p=0,050), Amizade*Área (F[1;46]=12,71, p<0,001) e
Amizade*Área*Gênero*Nível Empatia (F[1;46]=3,65, p=0,030). Não foram encontradas
diferenças significativas da amplitude do P300 para os demais fatores e interações.
Tabela 18 – Amplitude Média do P300 – ANOVA medidas repetidas em função da Área, Gênero,
Justiça, Amizade e Nível de Empatia
F p
Justiça 21,17 <0,001**
Justiça * Gênero 1,06 0,309
Justiça * Nível Empatia 1,13 0,292
Justiça * Gênero * Nível Empatia 0,002 0,964
Amizade 0,01 0,902
Amizade * Gênero 0,55 0,460
Amizade * Nível Empatia 2,13 0,151
Amizade * Gênero * Nível Empatia 2,58 0,115
Área 22,14 <0,001**
Área * Gênero 1,64 0,199
Área * Nível Empatia 2,06 0,133
Área * Gênero * Nível Empatia 1,07 0,346
Justiça * Amizade 1,25 0,268
Justiça * Amizade * Gênero 0,000 0,989
Justiça * Amizade * Nível Empatia 2,86 0,098
Justiça * Amizade * Gênero * Nível Empatia 3,53 0,067
Justiça * Área 3,11 0,050*
Justiça * Área * Gênero 0,19 0,820
Justiça * Área * Nível Empatia 0,71 0,494
Justiça * Área * Gênero * Nível Empatia 0,17 0,843
Amizade * Área 12,71 <0,001**
Amizade * Área * Gênero 2,66 0,075
Amizade * Área * Nível Empatia 0,42 0,655
Amizade * Área * Gênero * Nível Empatia 3,65 0,030*
Justiça * Amizade * Área 0,82 0,442
Justiça * Amizade * Área * Gênero 0,03 0,962
Justiça * Amizade * Área * Nível Empatia 0,59 0,553
Justiça * Amizade * Área * Gênero * Nível Empatia 0,23 0,790
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
127
Com relação ao efeito significativo para Justiça realizou-se o teste post hoc de Fisher
LSD e observou-se uma diferença significativa entre as propostas Justas e Injustas (p<0,001).
Na Tabela 19 pode observar que os participantes apresentaram maior amplitude média do
componente P300 quando receberam propostas Justas (5,753μV±0,4) do que Muito Injustas
(4,591μV±0,4).
Tabela 19 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
padrão
Muito Injusta 4,591 ±0,4
Justa 5,753 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
O mesmo teste post hoc foi realizado para o fator Área e observou se um efeito
significativo entre os eletrodos da área Centro-Parietal na linha média e os eletrodos Centro-
Parietal Direita (5,317μV ±0,4 e 5,987μV ±0,4 respectivamente, p<0,001), entre os eletrodos
Centro-Parietal da área Esquerdo e da área Direita (4,211μV ±0,4 e 5,987μV ±0,4
respectivamente, p=0,010) e dos eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda com os eletrodos
da área Centro-Parietal na Linha Média (4,211μV ±0,4 e 5,317μV ±0,4 respectivamente,
p<0,001). Como pode ser observado na Tabela 20 as médias e erro padrão em cada área.
Tabela 20 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 5,987 ±0,4
Centro-Parietal Linha Média 5,317 ±0,4
Centro-Parietal Esquerda 4,211 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
128
Na interação Justiça e Área realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e observou-se
um efeito significativo entre as propostas Justas e Muito Injustas na área Centro-Parietal
Direita (6,479μV ±0,4 e 5,495μV ±0,4 respectivamente, p<0,001), entre as propostas Justas
na área Centro-Parietal Direita e Muito Injustas na área Centro-Parietal na linha Média
(6,479μV ±0,4 e 4,685μV ±0,5 respectivamente, p<0,001) e entre as propostas Justas na área
Centro-Parietal Direita e Muito Injustas na área Centro-Parietal Esquerda (6,479μV ±0,4 e
3,592μV ±0,4 respectivamente, p<0,001). As propostas Justas na área Centro-Parietal na
Linha Média (5,950μV ±0,5) também apresentaram diferença significativa entre as propostas
Muito Injustas na área Centro-Parietal Direita (5,495μV ±0,4, p<0,001), da área Centro-
Parietal na Linha Média (4,685μV ±0,5, p<0,001) e na área Centro-Parietal Esquerda
(3,592μV ±0,4, p=0,026). As propostas Justas na área Centro-Parietal Esquerdo (4,829μV
±0,4) observou-se diferença significativa entre as propostas Muito Injustas nas áreas Centro-
Parietal Direita (5,495μV ±0,4, p<0,001), na Linha Média (4,685μV ±0,5, p<0,001) e na
Esquerda (3,592μV ±0,4, p<0,001). As propostas Justas também apresentaram diferença
significativa entre as áreas: Centro-Parietal na Linha Média com a área Centro-Parietal
Direita, p<0,001; Centro-Parietal Esquerda com a área Direita, p<0,001; e Centro-Parietal
Esquerda com a área na Linha Média, p<0,001. As propostas Muito Injustas também
apresentaram diferença significativa entre as áreas: Centro-Parietal Esquerda com a área à
Direita, p<0,001; Centro-Parietal Esquerda com a área na Linha Média, p<0,001; Centro-
Parietal na Linha Média com a área à Direita, p<0,001.
Tabela 21 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça e Área
Justiça Área Média* Erro
Padrão
Muito Injusta
Centro-Parietal Direita 5,495 ±0,4
Centro-Parietal Linha Média 4,685 ±0,5
Centro-Parietal Esquerda 3,592 ±0,4
Justa
Centro-Parietal Direita 6,479 ±0,4
Centro-Parietal Linha Média 5,950 ±0,5
Centro-Parietal Esquerda 4,829 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
129
Em relação aos fatores Amizade e Área realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e
observou-se uma diferença significativa quando as propostas foram realizadas pelo Amigo
entre as áreas Centro-Parietal na Linha Média e Centro-Parietal Direita (5,100μV ±0,5 e
5,924μV ±0,5 respectivamente, p<0,001), quando as propostas foram realizadas por um
Desconhecido entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (3,856μV
±0,4 e 6,050μV ±0,4 respectivamente, p<0,001), Centro-Parietal Esquerda e a área Centro-
Parietal na Linha Média (3,856μV ±0,4 e 5,53μV 4 ±0,5 respectivamente, p<0,001) e Centro-
Parietal na Linha Média e Centro-Parietal Direita (5,53μV 4 ±0,5 e 6,050μV ±0,4
respectivamente, p<0,001). Também observou-se diferença significativa entre as propostas
realizadas por um Desconhecido nos eletrodos da área Centro-Parietal na Linha Média e as
propostas realizadas pelo Amigo nos eletrodos na área Centro-Parietal na Linha Média
(5,53μV 4 ±0,5 e 5,100μV ±0,5 respectivamente, p<0,001). A Tabela 22 apresenta a média e
o erro padrão para cada propositor e Área.
Tabela 22 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Amizade e Área
Amizade Área Média* Erro
Padrão
Amigo
Centro-Parietal Direita 5,924 ±0,5
Centro-Parietal Linha Média 5,100 ±0,5
Centro-Parietal Esquerda 4,565 ±0,4
Desconhecido
Centro-Parietal Direita 6,050 ±0,4
Centro-Parietal Linha Média 5,534 ±0,5
Centro-Parietal Esquerda 3,856 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Na interação Gênero, Empatia, Amizade e Área também realizou-se um teste post hoc
de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa entre as Mulheres com Baixo nível
de Empatia quando receberam propostas pelo Amigo nos eletrodos da área Centro-Parietal na
Linha Média e os eletrodos da área Centro-Parietal Direita (4,825μV ±1,1 e 5,348μV ±1,0
respectivamente, p=0,013), Mulheres com Baixo nível de Empatia quando receberam
130
propostas realizadas por um Desconhecido na área Centro-Parietal na Linha Média e na área
Centro-Parietal Direita (6,230μV ±1,0 e 6,426μV ±0,9 respectivamente, p<0,001) e Mulheres
com Baixo nível de Empatia quando receberam propostas por um Desconhecido na área
Centro-Parietal Esquerda e a área Centro-Parietal na Linha Média (4,627μV ±0,8 e 6,230μV
±1,0 respectivamente, p<0,001). Também observou-se uma diferença significativa entre as
Mulheres com Baixo nível de Empatia quando receberam as propostas por um Desconhecido
e Mulheres com Baixo nível de Empatia quando receberam propostas pelo Amigo nos
eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda (4,627μV ±0,8 e 4,456μV ±1,0 respectivamente,
p<0,001). Já as Mulheres com Alto nível de Empatia quando receberam propostas pelo
Amigo apresentaram diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal na Linha Média e
Direita (6,402μV ±0,9 e 6,243μV ±0,8 respectivamente, p<0,001), Centro-Parietal Esquerda e
na Linha Média (5,154μV ±0,8 e 6,402μV ±0,9 respectivamente, p<0,001). Com relação as
Mulheres com Alto nível de Empatia observou-se uma diferença significativa entre as
propostas realizadas por um Desconhecido e pelo Amigo nos eletrodos da área Centro-
Parietal Esquerda (3,362μV ±0,7 e 5,154μV ±0,8 respectivamente, p<0,001), nos eletrodos na
área Centro-Parietal na Linha Média (4,647μV ±0,8 e 6,402μV ±0,9 respectivamente,
p<0,001) e na área Centro-Parietal Direita (5,035μV ±0,7 e 6,243μV ±0,8 respectivamente,
p<0,001). Observou-se uma diferença significativa entre as áreas quando as propostas por um
Desconhecido foram realizadas para as Mulheres com Alto nível de Empatia como a área
Centro-Parietal na Linha Média e área Centro-Parietal Direita (4,647μV ±0,8 e 5,035μV ±0,7
respectivamente, p<0,001) e entre a área Centro-Parietal Esquerda e área Centro-Parietal na
Linha Média (3,362μV ±0,7 e 4,647μV ±0,8 respectivamente, p<0,001). Em relação aos
Homens com Baixo nível de Empatia ao receberem propostas pelo Amigo observou-se uma
diferença significativa entre os eletrodos da área Centro-Parietal na Linha Média e na área
Centro-Parietal Direita (4,148μV ±1,0 e 6,333μV ±0,9 respectivamente, p<0,001) e entre as
131
áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (4,411μV ±0,8 e 6,333μV ±0,9,
p<0,001). Quando os Homens com Baixo nível de Empatia receberam propostas por um
Desconhecido observou-se uma diferença significativa entre os eletrodos das áreas Centro-
Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (4,155μV ±0,7 e 6,436μV ±0,8 respectivamente,
p<0,001) e entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal na Linha Média
(4,155μV ±0,7 e 4,876μV ±0,9 respectivamente, p<0,021). Também observou-se uma
diferença significativa quando os Homens de Baixo nível de Empatia receberam propostas
por um Desconhecido entre os Homens de Baixo nível de Empatia que receberam propostas
pelo Amigo nos eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda (4,155μV ±0,7 e 4,411μV ±0,8
respectivamente, p=0,020). Os Homens com Alto nível de Empatia quando receberam
propostas pelo Amigo observou-se uma diferença significativa nos eletrodos das áreas
Centro-Parietal na Linha Média e Centro-Parietal Direita (5,028μV ±1,2 e 5,774μV ±1,1
respectivamente, p<0,001), entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Direita (4,240μV ±1,0 e
5,774μV ±1,1 respectivamente, p=0,047) e entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e na Linha
Média (4,240μV ±1,0 e 5,028μV ±1,2 respectivamente, p=0,036). Quando os Homens com
Alto nível de Empatia receberam as propostas por um Desconhecido observou-se uma
diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal na Linha Média e Centro-Parietal à
Direita (6,383μV ±1,1 e 6,303μV ±1,0, p<0,001) e entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e
Centro-Parietal na Linha Média (3,280μV ±0,9 e 6,383μV ±1,1 , p<0,001). Também
observou-se que os Homens com Alto nível de Empatia apresentaram diferença significativa
quando receberam propostas por um Desconhecido e pelo Amigo entre os eletrodos na área
Centro-Parietal Esquerda (3,280μV ±0,9 e 4,240μV ±1,0 respectivamente, p<0,001) e entre os
eletrodos na área Centro-Parietal na Linha Média (6,383μV ±1,1 e 5,028μV ±1,2
respectivamente, p=0,011).
132
Tabela 23 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função do Gênero, Nível de
Empatia, Amizade e Área
Gênero Nível de
Empatia Amizade Área Média*
Erro
Padrão
Mulher
Baixo
Amigo
Centro-Parietal Direita 5,348 ±1,0
Centro-Parietal Linha Média 4,825 ±1,1
Centro-Parietal Esquerda 4,456 ±1,0
Desconhecido
Centro-Parietal Direita 6,426 ±0,9
Centro-Parietal Linha Média 6,230 ±1,0
Centro-Parietal Esquerda 4,627 ±0,8
Alto
Amigo
Centro-Parietal Direita 6,243 ±0,8
Centro-Parietal Linha Média 6,402 ±0,9
Centro-Parietal Esquerda 5,154 ±0,8
Desconhecido
Centro-Parietal Direita 5,035 ±0,7
Centro-Parietal Linha Média 4,647 ±0,8
Centro-Parietal Esquerda 3,362 ±0,7
Homem
Baixo
Amigo
Centro-Parietal Direita 6,333 ±0,9
Centro-Parietal Linha Média 4,148 ±1,0
Centro-Parietal Esquerda 4,411 ±0,8
Desconhecido
Centro-Parietal Direita 6,436 ±0,8
Centro-Parietal Linha Média 4,876 ±0,9
Centro-Parietal Esquerda 4,155 ±0,7
Alto
Amigo
Centro-Parietal Direita 5,774 ±1,1
Centro-Parietal Linha Média 5,028 ±1,2
Centro-Parietal Esquerda 4,240 ±1,0
Desconhecido
Centro-Parietal Direita 6,303 ±1,0
Centro-Parietal Linha Média 6,383 ±1,1
Centro-Parietal Esquerda 3,280 ±0,9
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.1.3.3- Potencial Late Positivity Complex
Com base na literatura, o componente LPC é tipicamente observado em eletrodos da
região centro-parietais e em janelas de tempo ao redor de 600 ms. Nesse estudo foi definido
como janela de tempo para a análise deste componente o período de 500ms a 800ms após a
apresentação do estímulo. Foram selecionados eletrodos frontais divididos em 3 sub-áreas:
a) eletrodos centro-parietal a esquerda: 53 e 54;
b) eletrodo central na linha média: 55 (CPz);
c) eletrodos centro-parietal a direita: 79, 86;
133
A Figura 15 apresenta o mapa da rede de eletrodos e os eletrodos selecionados para a
análise do componente LPC.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo LPC tendo como variável dependente a Amplitude Média do LPC na janela de
tempo de 500 a 800ms e os fatores Justiça (Muito Injusta – soma das propostas
R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00 e Justa – R$50,00/R$50,00), Amizade (Amigo e
Desconhecido), Área dos eletrodos (frontais à esquerda, frontais na linha média ou frontais à
direita), Gênero (Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Alto e Baixo) e respectivas
interações. Segundo a Tabela 24, pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas
repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1;46]= 13,22,
Centro Parietal Esquerdo
Centro Parietal Linha Média
Centro-Parietal DireitoCentro
Parietal Esquerdo
Centro Parietal Linha Média
Centro-Parietal Direito
134
p<0,001) e Área (F[1;46]=14,13, p<0,001) e na interação Área*Nível Empatia
(F[1;46]=3,26, p=0,043), Justiça*Amizade*Gênero*Nível Empatia (F[1;46]=74,60,
p=0,038) e Amizade*Área (F[1;46]=6,83, p=0,002). Não foram encontradas diferenças
significativas da amplitude do LPC para os demais fatores e interações.
Tabela 24 – Amplitude Média do LPC – ANOVA medidas repetidas em função da Área, Gênero,
Justiça, Amizade e Nível de Empatia
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Com relação ao efeito significativo encontrado para o fator Justiça realizou-se um
teste post hoc de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa entre as propostas
F p
Justiça 13,22 <0,001**
Justiça * Gênero 0,05 0,813
Justiça * Nível Empatia 0,05 0,814
Justiça * Gênero * Nível Empatia 0,07 0,779
Amizade 0,01 0,919
Amizade * Gênero 0,09 0,766
Amizade * Nível Empatia 0,71 0,403
Amizade * Gênero * Nível Empatia 0,58 0,450
Área 14,13 <0,001**
Área * Gênero 0,42 0,657
Área * Nível Empatia 3,26 0,043*
Área * Gênero * Nível Empatia 0,89 0,412
Justiça * Amizade 0,02 0,875
Justiça * Amizade * Gênero 0,39 0,534
Justiça * Amizade * Nível Empatia 0,03 0,858
Justiça * Amizade * Gênero * Nível Empatia 4,60 0,038*
Justiça * Área 0,70 0,496
Justiça * Área * Gênero 0,23 0,791
Justiça * Área * Nível Empatia 0,53 0,591
Justiça * Área * Gênero * Nível Empatia 1,56 0,216
Amizade * Área 6,83 0,002*
Amizade * Área * Gênero 2,19 0,117
Amizade * Área * Nível Empatia 0,31 0,730
Amizade * Área * Gênero * Nível Empatia 2,39 0,098
Justiça * Amizade * Área 1,34 0,266
Justiça * Amizade * Área * Gênero 0,21 0,809
Justiça * Amizade * Área * Nível Empatia 0,45 0,638
Justiça * Amizade * Área * Gênero * Nível Empatia 0,25 0,773
135
Justas e Muito Injustas (6,077μV±0,3 e 4,925μV ±0,4 respectivamente, p<0,001). O mesmo
teste post hoc foi realizado na interação Gênero, Nível de Empatia, Justiça e Amizade.
Observou-se uma diferença significativa na amplitude do componente LPC entre as Mulheres
com Baixo nível quando receberam propostas Justas e Muito Injustas realizadas pelo Amigo
(6,937μV ±1,0 e 5,122μV ±1,2 respectivamente, p=0,032), entre Mulheres com Alto nível de
Empatia quando receberam propostas Justas e Muito Injustas realizadas por um Desconhecido
(5,611μV ±0,6 e 3,895μV ±0,8 respectivamente, p<0,001) e entre Homens com Alto nível de
Empatia quando receberam propostas Justas e Muito Injustas realizadas por um Desconhecido
(5,725μV ±0,8 e 5,169μV ±1,0 respectivamente, p=0,013). Na Tabela 25 pode-se observar as
médias e erro padrão de cada condição.
Tabela 25 – Amplitude Média do LPC – Média e Erro Padrão em função do Gênero, Justiça, Amizade
e Nível de Empatia
Gênero Nível
Empatia Justiça Amizade Média*
Erro
Padrão
Mulher
Baixo
Muito Injusta Amigo 5,122 ±1,256
Desconhecido 6,428 ±0,985
Justa Amigo 6,937 ±1,031
Desconhecido 6,739 ±0,835
Alto
Muito Injusta Amigo 5,140 ±1,026
Desconhecido 3,895 ±0,804
Justa Amigo 6,210 ±0,842
Desconhecido 5,611 ±0,682
Homem
Baixo
Muito Injusta Amigo 4,834 ±1,102
Desconhecido 4,199 ±0,864
Justa Amigo 5,162 ±0,904
Desconhecido 6,054 ±0,733
Alto
Muito Injusta Amigo 4,609 ±1,324
Desconhecido 5,169 ±1,038
Justa Amigo 6,180 ±1,087
Desconhecido 5,725 ±0,880
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão
Com relação ao efeito significativo para o fator Área realizou-se um tese post hoc de
Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa entre os eletrodos na área Centro-
136
Parietal Esquerda e Centro-Parietal na Linha Média (4,511μV ±0,4 e 5,931μV ±0,4
respectivamente, p<0,001) e entre os eletrodos na área Centro-Parietal Esquerda e Centro-
Parietal Direita (4,511μV ±0,4 e 6,060μV ±0,3 respectivamente, p<0,001). Na interação Área
e Amizade realizou-se o mesmo teste post hoc e observou-se uma diferença significativa
quando os participantes receberam propostas pelo Amigo entre os eletrodos na área Centro-
Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (4,849μV ±0,5 e 6,056μV ±0,5 respectivamente,
p<0,001) e entre os eletrodos nas área Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal na Linha
Média (4,849μV ±0,5 e 5,668μV ±0,5 respectivamente, p<0,001). Quando os participantes
receberam propostas realizadas por um Desconhecido observou-se uma diferença significativa
entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (4,174μV ±0,4 e 6,063μV
±0,4 respectivamente, p<0,001) e entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal na
Linha Média (4,174μV ±0,4 e 6,195μV ±0,5 respectivamente, p<0,001). Também observou-
se uma diferença significativa quando os participantes receberam propostas realizadas por um
Desconhecido e pelo Amigo nos eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda (4,174μV ±0,4 e
4,849μV ±0,5 respectivamente, p=0,003 ). Na Tabela 26 pode-se observar as médias e erro
padrão de cada condição.
Tabela 26 – Amplitude Média do LPC – Média e Erro Padrão em função da Área e Amizade
Amizade Área Média* Erro
Padrão
Amigo
Centro-Parietal Direita 6,056 ±0,5
Centro-Parietal Linha Média 5,668 ±0,5
Centro-Parietal Esquerda 4,849 ±0,5
Desconhecido
Centro-Parietal Direita 6,063 ±0,4
Centro-Parietal Linha Média 6,195 ±0,5
Centro-Parietal Esquerda 4,174 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
O teste post hoc de Fisher LSD também foi realizado na interação Área e Nível de
Empatia e observou-se uma diferença significativa entre os participantes com Baixo nível de
Empatia nas área Centro-Parietal na Linha Média e na área Centro-Parietal Direita (5,638μV
137
±0,6 e 6,477μV ±0,5 respectivamente, p=0,044) e entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e
Centro-Parietal Direita (4,937μV ±0,5 e 6,477μV ±0,5 respectivamente, p<0,001). Já os
participantes com Alto nível de Empatia verificou-se uma diferença significativa entre as área
Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (4,085μV ±0,5 e 5,642μV ±0,5
respectivamente, p<0,001) e entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal na
Linha Média (4,085μV ±0,5 e 6,225μV ±0,6, p<0,001). Na Tabela 27 pode-se observar a
média e erro padrão de todas as condições.
Tabela 27 – Amplitude Média do LPC – Média e Erro Padrão em função da Área e Nível de Empatia
Nível Empatia Área Média* Erro
padrão
Baixo
Centro-Parietal Direita 6,477 ±0,5
Centro-Parietal Linha Média 5,638 ±0,6
Centro-Parietal Esquerda 4,937 ±0,5
Alto
Centro-Parietal Direita 5,642 ±0,5
Centro-Parietal Linha Média 6,225 ±0,6
Centro-Parietal Esquerda 4,085 ±0,5
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.1.4 – Discussão do Experimento 1
Como forma de organização da discussão destes dados, este tópico foi dividido com
relação aos resultados da tarefa comportamental (Ultimatum Game) e aos componentes
analisados (MFN, P300 e LPC).
8.1.4.1 – Ultimatum Game
Com relação aos dados comportamentais da tarefa UG, os resultados estão alinhados
com estudos prévios (CAMPANHÃ et al, 2011). Observou-se uma diferença significativa
entre os tipos de propostas na taxa de rejeite (Justiça), entre tipo de propositor (Amizade) e a
interação entre propositor e proposta. Além disso, o Gênero e o Nível de empatia trouxeram
138
novas informações a respeito da tomada de decisão entre uma pessoa de confiança e uma
desconhecida.
Alinhado com estudos prévios, os participantes rejeitaram na maioria das vezes as
propostas Muito Injustas do que as propostas Justas reforçando a teoria da aversão a
inequidade (FEHR e SCHIMIDT, 1999). Ou seja, as pessoas têm aversão por grandes
diferenças e punem aqueles que violam a norma social de equidade (FEHR e CAMERER,
2007; HANDGRAAF, VAN DIJK e DE CREMER, 2003)
Seguindo os resultados encontrados no estudo anterior (CAMPANHÃ et al, 2011) os
participantes rejeitaram mais propostas realizadas por um Desconhecido, mas a porcentagem
de rejeição entre as propostas Muito Injustas foi maior quando estas foram realizadas por um
Desconhecido do que pelo Amigo, corroborando com os achados do estudo anterior de que a
confiança leva a maior aceitação de situações desvantajosas. Os resultados em relação a
interação do Nível de Empatia e Amizade corroboram com a hipótese de que os participantes
com Alto nível de Empatia seriam mais sensíveis a inequidade e a Amizade teria maior
impacto na percepção de justiça: os participantes com Alto nível de Empatia rejeitaram maior
porcentagem de propostas realizadas por um Desconhecido do que pelo Amigo.
Um estudo recente aponta que pessoas com baixo nível de Empatia apresentam
respostas mais utilitárias do que pessoas com Alto nível de Empatia (GLEICHGERRCHT e
YOUNG, 2013). Nesse sentido, os resultados sugerem que as pessoas com Alto Nível de
empatia seriam mais sensíveis as normas sociais e, por isso, rejeitariam mais propostas do que
os participantes com Baixo nível de Empatia. Contudo, outro aspecto importante a ser
considerado é a interação com o fator Amizade com o nível de Empatia
Pesquisas têm apontado para o papel da cognição social na tomada de decisão e a sua
importância na percepção de intencionalidade do outro como um fator importante na aversão
à injustiça (FALK e FISCHBACHER, 2006). Bem como propostas realizadas por um ser
139
humano injustas são percebidas mais negativamente do que as propostas realizadas por um
computador (VAN WOU`T et al, 2006), o que sugere que a intencionalidade e a expectativa
com relação ao outro também tem um papel importante nos processos decisórios e, por isso, a
Amizade modularia os processos decisórios na medida que não se espera um comportamento
injusto por parte de uma pessoa que se confia. Nesse sentido, a Amizade por si só seria um
fator importante na percepção de injustiça levando a um maior engajamento atencional para
as propostas realizadas por um Desconhecido uma vez que não se sabe qual será o
comportamento deste.
O Gênero também foi outra variável importante na aversão a inequidade: os Homens
rejeitaram mais propostas realizadas por um Desconhecido do que pelo Amigo. Já para as
Mulheres, não observou-se diferença significativa na porcentagem de rejeite entre o Amigo e
o Desconhecido. Tais resultados vão de encontro com estudo prévio de Fischer-Shofty,
Levkovitz e Shamay-Tsoory (2013) que observaram a diferença de gênero ao inalarem
oxitocina antes de assistirem a vídeo-clipes com situações de relações familiares, intimidade
ou competitividade. Os autores observaram maior acurácia na percepção da interação em
geral, mas as Mulheres apresentaram maior reconhecimento das interações familiares ao
passo que os Homens apresentaram maior reconhecimento de interações de competitividade,
apontando para a tendência das Mulheres para o comportamento comunitário e familiar
enquanto que os Homens teriam maior tendência para os comportamentos competitivos nas
relações sociais. Esta tendência mais apaziguadora entre as Mulheres pode ter levado a não
diferença entre a rejeição de propostas realizadas pelo Amigo e por um Desconhecido, mas ter
aparecido para os Homens que são mais competitivos. Corroborando com a literatura de que
as Mulheres seriam mais preocupadas com as relações sociais (BARON-COHEN, 2004;
VIGIL 2007). Estudos sobre tomada de decisão e gênero mostram que as Mulheres são mais
sensíveis ao contexto envolvendo relacionamentos e aceitam menos em negociações
140
(ECKEL, OLIVEIRA e GROSSMAN, 2008). Em jogos como o UG, tanto homens quanto
mulheres oferecem menos para as mulheres por esperarem que estas se sintam satisfeitas com
menos. Conseqüentemente, mulheres acumulam menos dinheiro do que os homens
(SOLNICK, 2001). Tais estudos em conjunto, apontam para uma tendência das Mulheres
serem mais apaziguadoras e menos competitivas do que os Homens.
Interessante observar que não houve interação entre os fatores Amizade, Gênero e
Nível de Empatia na porcentagem de rejeite das propostas, o que sugere que a confiança por
si só modula o comportamento na tomada de decisão social. Contudo, Gênero e Nivel de
Empatia também são fatores que modulam o comportamento na tomada de decisão social na
confiança. Mas tanto os Homens quanto as Mulheres com Alto nível de Empatia foram
sensíveis a violação da norma social por um Desconhecido mantendo a confiança no Amigo,
corroborando com estudo prévio (CAMPANHÃ et al, 2011).
Em relação às propostas Pouco Justas, além da percepção de justiça ser semelhante
com as propostas Muito Injustas comparadas com as propostas Justas, observou-se uma
diferença significativa na porcentagem de rejeite das propostas Pouco Justas realizadas pelo
Amigo, mas ainda assim as propostas Pouco Justas foram rejeitadas em maior porcentagem
quando estas foram realizadas por um Desconhecido do que por um Amigo. Ou seja, mesmo
havendo a percepção destas como uma violação da norma social de equidade, a confiança
também levou a maior aceitação destas pelo Amigo do que por um Desconhecido. Resultados
que corroboram com a hipótese de que a confiança modula o comportamento na tomada de
decisão social devido a expectativa, a importância afetiva e o histórico recompensador com
esta pessoa (STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; FARERI, CHANG e DELGADO, 2012;
DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005; FOURAGNAN et al, 2013).
Interessante observar que para a rejeição de propostas Pouco Justas houve uma
interação entre os fatores Justiça, Empatia e Gênero: tanto as Mulheres com Alto e Baixo
141
nível de Empatia rejeitaram mais propostas Pouco Justas do que Justas e o mesmo foi
observado para os Homens com Alto e Baixo nível de Empatia. Apesar de não ter sido
estatisticamente significativo, as Mulheres com Alto nível de Empatia rejeitaram uma
porcentagem maior de propostas Pouco Justas do que as Mulheres com Baixo nível de
Empatia. Estudos têm apontado para as propostas Pouco Justas como propostas de maior
dificuldade em inferir a intencionalidade e a estratégia do outro (POLEZZI et al, 2008).
Porém no presente estudo foram percebidas como injustas, mas com uma menor porcentagem
de rejeite do que as propostas Muito Injustas. Interessante observar que para os dois níveis de
empatia, tanto para Homens quanto para as Mulheres este tipo de proposta foi rejeitado com
maior porcentagem, resultados que sugerem que a aversão a inequidade para este tipo de
proposta ainda é forte e não teve interação com o fator Amizade. Por ser um tipo de proposta
com menor diferença entre o propositor e o participante, a intencionalidade deste fica mais
difícil de inferir e, provavelmente, tenha levado a comportamento de rejeição semelhante
entre Homens e Mulheres com Alto e Baixo nível de Empatia.
Em relação ao Tempo de Reação, os participantes apresentaram maior tempo de
reação para as propostas Muito Injustas quando estas foram realizadas por um Desconhecido
e menor tempo de reação quando realizadas pelo Amigo, resultados que vão de encontro com
achados anteriores de que o comportamento de rejeitar propostas seja parte de um processo
controlado (SANFEY te al, 2003), de uma avaliação da situação e, por isso, levaria mais
tempo para a rejeição destas propostas. Rejeitar propostas injustas de Desconhecidos seria
uma punição por haver um custo para os participantes ao fazer com que não recebam nada e,
dessa forma, permitira ensinar para este propositor que este tipo de comportamento é uma
violação da norma social (FEHR e CAMERER, 2007; STROBEL et al, 2011; FEHR e
GÄCHTER, 2002; FEHR e FISCHBACHER, 2004). Apesar de poucas propostas Muito
Injustas terem sido rejeitadas quando realizadas pelo Amigo, quando foram rejeitadas pelos
142
participantes tiveram menor tempo de reação, resultados que sugerem que a quando houve a
percepção de injustiça desse rapidamente foi punida, provavelmente, pela percepção de que
este comportamento possa ter sido uma exceção e que não seria mal interpretado pelo Amigo.
Já as propostas Pouco Justas os participantes apresentaram maior tempo de reação
quando rejeitaram as propostas Pouco Justas realizadas pelo Amigo do que por um
Desconhecido, resultado que corrobora com a hipótese de que este tipo de proposta
dificultaria a inferência sobre a intencionalidade e estratégia do propositor (POLEZZI et al
2008) e, por isso, levaria mais tempo para rejeitá-las quando realizadas por alguém de
confiança.
Todos os resultados comportamentais em conjunto são corroborados com o
julgamento de Justiça realizado pelo participante após o jogo: os participantes julgaram o
Amigo como mais Justo do que o Desconhecido. Este viés de Julgamento de Justiça não foi
modulado pelo nível de Empatia ou pelo Gênero, o que aponta para o impacto da confiança
como um forte modulador na percepção de justiça independente de outros fatores.
Estudos recentes têm observado que o papel crucial no processamento de violação da
confiança de estruturas como o Núcleo Caudado e áreas do sistema de recompensa e detecção
de erro, conflito. Contudo, a redução da atividade do Núcleo Caudado em comparação com o
Córtex Pré-Frontal Ventro-Lateral quando ocorre um conflito ou uma violação da confiança
por parte de uma pessoa ou por um grupo em que o participante pertence e confie. Tal
redução de atividade correlaciona-se com comportarmentos de maior conformidade com as
expectativas do grupo (FOURAGNAN et al, 2013; STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013;
MONTAGUE e LOHRENZ, 2007; KLUCHAREV et al, 2009; DELAGDO e PHELPS, 2005)
As propostas Pouco Justas levaram mais tempo para serem aceitas do que as propostas
Justas independentemente do tipo de propositor, resultado que vai de encontro com estudos
prévios corroborando com a hipótese de que as propostas Pouco Justas leva a uma maior
143
preocupação a cerca do seu significado em relação a intencionalidade por não ser clara qual a
estratégia do outro (POLEZZI et al, 2008). O tempo de reação para a aceitação das propostas
Pouco Justas pelos Homens e pelas Mulheres foi semelhante ao observado pelas propostas
Muito Injustas em relação ao tipo de propositor, o que corrobora com a hipótese da diferença
de gênero na percepção de justiça e no impacto da confiança na tomada de decisão social.
Estudos prévios têm apontado que Mulheres apresentam maior preocupação com os
ganhos e perdas de um outro que seja o seu Amigo do que um Desconhecido ao passo que os
Homens parecem se preocupar mais com os ganhos próprios (FUKUSHIMA e HIRAKI,
2006).
8.1.4.2 Potenciais Relacionados a Eventos
8.1.4.2.1 Medial Frontal Negativity
O primeiro efeito encontrado foi com relação aos fatores Amizade e Nível de Empatia,
contudo, o teste post hoc verificou apenas uma tendência para uma diferença mais
significativa entre os participantes com Alto nível de Empatia para o Amigo e o
Desconhecido na amplitude média da diferença do MFN. O que sugere uma tendência para o
efeito principal no fator Amizade, como foi observado no estudo anterior (CAMPANHÃ et al,
2011). Possivelmente, tais resultados estejam relacionados a diferença no nível de Empatia e
Gênero como fatores que mascararam o efeito principal.
Apesar de ter encontrado apenas uma tendência, é interessante observar que houve
novamente uma inversão da polaridade do MFN em relação na interação entre os fatores
Amizade e Nível de Empatia: os participantes com Alto nível de Empatia apresentaram
amplitude do MFN mais negativa quando as propostas foram realizadas por um Desconhecido
e mais positiva quando foram realizadas por um Amigo, resultados que vão de encontro com
estudo prévio (CAMPANHÃ et al, 2011). Tais resultados corroboram com os dados
144
comportamentais de que as propostas realizadas por um Desconhecido foram percebidas
como mais injustas do que as propostas realizadas pelo Amigo que, ao contrário, foram
percebidas como recompensadoras (se considerarmos o julgamento como mais justos para os
Amigo e as porcentagens de rejeite menores para o Amigo) com a amplitude do MFN mais
positiva.
Estudos têm mostrado que a expectativa é um fator importante e quando esta é violada
a amplitude do MFN seria mais negativa ao passo que quando superada ou de acordo com a
expectativa a polaridade seria positiva devido a uma redução da atividade do sistema
dopaminérgico, na violação, e um aumento desta atividade, na superação ou de acordo com a
expectativa positiva (HOLRODOYD, KRIGOLSON e LEE, 2011; POTTS et al, 2006;
HOLROYD et al, 2008; PFABIGAN et al, 2001; HOLROYD e COLES, 2002).
Além disso, pessoas com Alto nível de Empatia apresentam maior facilidade em
antecipar as intenções do outro, ou seja, na habilidade de se empatizar com o outro visto que
pacientes com prejuízos nesta habilidade apresentam grande dificuldade de dividir emoções,
pensamentos e entender intenções do outro (BARON-COHEN, 2004; LAWSON, BARON-
COHEN e WHEELWRIGH, 2004; GLEICHGERRCHT e YOUNG, 2013; SHAMAY-
TSOORY, TOMER, BERGER e AHARON-PERETZ, 2003; SHAMAY-TSOORY et al,
2005; BARON-COHEN, 2009), por isso não perceberiam a injustiça cometida pelo Amigo
uma vez que não imaginam que este possa vir a violar a confiança.
Outro estudo mostrou ainda que há ativação do Sulco Temporal Superior Posterior
quando os participantes entram em maior conformidade com o grupo e sugerem que estes
estariam mais alinhados com o que o grupo pensa prevendo com maior facilidade suas
expectativas e crenças (STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013). Pesquisas também tem
encontrado um mecanismo de redução da atividade de estruturas que detectam a violação da
confiança e, por conseguinte, a não percepção da violação da confiança (FOURAGNAN et al,
145
2013; STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; KLUCHAREV et al, 2009). Corroborando
com a teoria de que as pessoas com Alto nível de Empatia são mais empáticas, pode-se inferir
que também haveria uma aumento de oxitocina na relação de confiança, hormônio que
também leva a uma redução na acurácia da percepção da violação da confiança e quando há
um aumento de oxitocina aumenta a dificuldade na percepção de terceiras intenções quando
se confia (ISRAEL, HART e WINTER, 2014) e na maior conformidade com o grupo, ou seja,
mudando sua opinião de acordo com o grupo que pertence (FOURAGNAM et al, 2013;
DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005; KLUCHAREV et al, 2009).
Os resultados dos estudos em conjunto, corroboram com os presentes achados de que
o alto nível de confiança e empatia levariam a não percepção da violação da confiança e, por
isso, os Amigos são percebidos como mais justos do que os Desconhecidos com uma
amplitude positiva do MFN.
Em relação ao Gênero, Nível de Empatia e Amizade, foi observado uma diferença
significativa entre os participantes Homens com Alto nível de Empatia e os homens com
baixo nível de Empatia quando as propostas foram realizadas pelo Amigo sendo a diferença
da amplitude média do MFN mais negativa para os Homens com Baixo nível de Empatia e
mais positiva para os Homens com Alto nível de Empatia. Os Homens com Alto nível de
Empatia também apresentaram diferença significativa na amplitude do MFN quando
receberam propostas pelo Amigo e por um Desconhecido sendo a amplitude do MFN
negativa quando as propostas foram realizadas por um Desconhecido e positiva quando
realizada pelo Amigo. Resultados que vão de encontro com a teoria de que pessoas com Alto
nível de Empatia apresentam maiores habilidades de antecipação da intenção, crenças e ações
do outro levando a não percepção da violação da confiança (STALLEN, SMIDTS e
SANFEY, 2013). O que corrobora com os presentes resultados uma vez que Homens com
Baixo nível de Empatia apresentaram amplitude mais negativa quando receberam propostas
146
realizadas pelo Amigo. Resultados que vão de encontro não somente com os achados de
estudos prévios a respeito da detecção da violação da confiança e da expectativa social
(CHEN et al, 2012; STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; DELGADO e PHELPS, 2005;
KLUCHAREV et al, 2009; FOURAGNAM et al, 2013), mas também em relação aos estudos
com o hormônio masculino, a testosterona, que aumenta o comportamento competitivo e
vigilante (BOS et al, 2012), a teoria de que o cérebro masculino é mais sistematizador
(BARON-COHEN, 2004; LAWSON, BARON-COHEN e WHEELWRIGH, 2004) e de que
pessoas com Baixo nível de Empatia são mais utilitárias (GLEICHGERRCHT e YOUNG,
2013). Tais estudos considerados em conjunto, apontam para uma maior facilidade na
detecção da violação da confiança e uma preocupação maior com os próprios ganhos nos
participantes com Baixo Nível de Empatia.
Interessante observar que foi apenas os Homens que apresentaram diferença
significativa, mas não as Mulheres. Fisher-Shofty, Levkotz e Shamay-Tsoory (2013)
observaram que Homens ao inalarem oxitocina apresentavam maior acurácia no
reconhecimento de interações competitivas e Mulheres em interações familiares. Além disso,
a relação de amizade para os Homens e para as Mulheres é diferente: Homens contam mais
com os amigos nas ações em grupos, ou seja, um grande amigo para os Homens é aquele que
faz coisas juntos com ele, como atividades físicas, e para as Mulheres, que são mais afetivas,
se ajudam mais umas as outras afetivamente e discutem relações (VIGIL, 2007). Talvez esta
diferença na forma como Homens e Mulheres se relacionam com seus amigos, a tendência
dos Homens se preocuparem mais com a competitividade entre os grupos (o que pertence, in-
group, e o outro grupo, out-group) e a tendência das Mulheres serem mais apaziguadoras, se
preocuparem com a comunidade e com o outro (FISCHER-SHOFTY, LEVKOVITZ e
SHAMAY-TSOORY, 2013; MESTRE et al, 2009) levaria a maior diferença da amplitude do
MFN entre os Homens do que entre as Mulheres.
147
Chen et al (2012) encontrou amplitude mais negativa do MFN quando os participantes
mudaram de opinião de acordo com a opinião do grupo que pertenciam e foi mais forte para
pessoas que eram mais susceptíveis de se conformar com outro (STALLEN, SMIDTS e
SANFEY, 2013; KLUCHAREV et al, 2009). Nesta mesma linha, Long, Jiang e Zhou (2012)
apontam para a diferença da atividade do FRN no ganho e não-ganho após uma escolha de
confiança que, provavelmente, reflita a detecção da violação da expectativa social.
Propostas Pouco Justas não foi observada diferença significativa em relação a Justiça,
Amizade, Gênero e Nível de Empatia, o que sugere que este tipo de proposta parece não ser
modulada por estas variáveis, provavelmente, por ser mais difícil de inferir intencionalidade
ou estratégia do propositor (POLEZZI et al, 2008). Porém foi encontrada diferença em
relação a área dos eletrodos sendo mais negativo para a área Frontal Esquerda e na Linha
Média e positivo na área Frontal Direita, diferentemente do encontrado no estudo de Boksen e
De Cremer (2010) que foi no observado nos eletrodos Frontais Direito.
8.1.4.2.2 – P300
Conforme descrito na literatura, foi observada maior amplitude do componente P300
quando os participantes receberam propostas do tipo Justas do que Muito Injustas
corroborando com a teoria de que o P300 é sensível a magnitude da proposta (YEUNG e
SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004; WU e ZHOU, 2009) e com estudos
prévios que mostram maior amplitude do componente P300 para propostas Justas do que
Injustas (HEWIG et al., 2010; WU et al, 2012; WU et al., 2011) e para ganhos do que não-
ganhos (LONG, JIANG e ZOHOU, 2012; LENG e ZHOU, 2010) corroborando também com
os achados anteriores de que o P300 estaria relacionado a maior engajamento motivacional e
atencional para aquilo que é considerado recompensador.
148
Com relação à área, foi observado nos eletrodos da Área Centro-Parietal Direita maior
amplitude do componente P300, o que está de acordo com a literatura que mostra maior
amplitude mais parietal para estímulos alvos (categorização) e sua localização tem sido
relacionado ao engajamento atencional (PLOISCHI, 2007; GRAY et al, 2004). Da mesma
forma as propostas Justas e Muito Injustas eliciaram maior amplitude do componente P300 na
área Centro-Parietal Direita, que vai de encontro com estudos prévios (YEUNG e SANFEY,
2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004) não somente a respeito do engajamento
atencional e motivacional, mas na aversão a inequidade com maior amplitude para as
propostas Justas (WU et al, 2012; WU et al, 2011; HEWIG et al., 2010; BOUDREAU,
MCCUBBINS e COULSON, 2009). O efeito da interação entre o fator Justiça e área
corrobora com os estudos anteriores sobre o engajamento atencional e motivacional para as
propostas Justas nos eletrodos da área Centro-Parietal Direita com maior amplitude para as
propostas Justas nesta área do que as propostas Muito Injustas e menor amplitude na área
Centro-Parietal Esquerda.
Tanto o Amigo quanto o Desconhecido também apresentaram maior amplitude do
componente P300 na área Centro-Parietal Direita, contudo, foi o Desconhecido que eliciou
maior amplitude deste componente. Devido o fato de não saber ao certo sua intenção,
provavelmente os participantes tiveram maior direcionamento de atenção para as propostas
realizadas por este do que pelo Amigo. Apesar de estudos prévios observar diferença do P300
na observação do Amigo do que o Desconhecido jogando (FUKUSHIMA e HIRAKI, 2006;
LENG e ZHOU, 2010; KOSTERMANS e DE CREMER, 2010; MA et al, 2011), no presente
estudo o participante não está apenas observando: ele tem ganhos e perdas na interação. Por
isso, a atenção pode ter sido maior para o Desconhecido em função da preocupação com o
próprio ganho ser maior nesta interação do que com o Amigo, em que o relacionamento e o
fator afetivo teria uma importância maior. Boudreau, McCubbins e Coulson (2009)
149
observaram maior amplitude no P300 nas situações de interesses em comum, o que sugere que o
participante possa ter apresentado maior interesse em ganhos assim como o Desconhecido
também estaria preocupado em ganhar, o que pode ter sido inferido pelo participante uma vez que
estes pontuaram o Desconhecido como mais Injusto, levando ao maior engajamento atencional.
Em relação ao Gênero, nível de Empatia e Amizade, foi observado maior amplitude do
componente P300 tanto por Homens quanto Mulheres com Baixo nível de Empatia quando as
propostas foram realizadas tanto por um Desconhecido quanto pelo Amigo nos eletrodos da
área Centro-Parietal Direita, o que está de acordo com a literatura. Estudos mostram que
pessoas com Baixo nível de Empatia são mais utilitárias (GLEICHGERRCHT e YOUNG,
2013). Além disso, o componente P300 está relacionado a maior engajamento atencional e
motivacional (PLOISCHI, 2007; GRAY et al, 2004) e a ganhos próprios (HEWIG et al.,
2010; WU et al, 2012; WU et al., 2011; LONG, JIANG e ZOHOU, 2012; LENG e ZHOU,
2010; MA et al, 2011). Tais resultados em conjunto apontam para a maior preocupação com o
ganho financeiro (mais utilitários) por parte das pessoas com Baixo nível de Empatia e, por
isso, as propostas realizadas por um Desconhecido e Amigo, mas quando comparados, foi
observado maior amplitude nos eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda para o
Desconhecido, o que sugere que, provavelmente, tenham maior preocupação e motivação
para com estes devido a maior preocupação com os ganhos.
Já os Homens e as Mulheres com Alto nível de Empatia apresentaram maior amplitude
do componente P300 nos eletrodos da área Centro-Parietal Direita e na Linha Média para o
Amigo e para o Desconhecido alinhado com estudos anteriores sobre a localização do
componente P300 (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004).
Contudo, quando as Mulheres com Alto nível de Empatia receberam propostas realizadas por
um Desconhecido e pelo Amigo a amplitude do P300 nos eletrodos na área Centro-Parietal
Direita para o Amigo do que para o Desconhecido ao passo que os Homens com Alto nível de
150
Empatia apresentaram maior amplitude do P300 nos eletrodos da Linha Média para o
Desconhecido. Tais resultados corroboram com estudos prévios de que os Homens seriam
mais utilitários e preocupados com os ganhos próprios do que as Mulheres (FUKUSHIMA e
HIRAKI, 2006). Mulheres com alto nível de Empatia já perceberiam como mais
recompensadoras as propostas realizadas pelo Amigo por terem maior atenção e engajamento
emocional nestes. Também vai de encontro com estudo prévio que observou maior amplitude
do P300 para condição “ganho” e maior amplitude deste na condição Confiança (LONG,
JIANG e ZHOU, 2012; LENG e ZHOU, 2010).
8.1.4.2.3 Late Positivity Complex
Alinhado com estudos prévios e o mestrado anterior ao presente estudo, o componente
LPC apresentou maior amplitude quando os participantes receberam propostas Justas do que
Muito Injustas, resultado que vai de encontro com estudos prévios que mostram maior
amplitude desde componente para estímulos de grande relevância motivacional (SCHUPP et
al, 2000; WU et al, 2011; WU et al 2012; WEINBERG e HAJCAK, 2011; BOUDREAU,
MCCUBBINS e COULSON, 2009) Além disso, este componente mais tardio vem sendo
apontado como um componente sensível a comparação social apresentando amplitude maior
para propostas com menores diferenças entre o propositor e o participante do que propostas
com maiores desigualdades entre o propositor e o participante (WU et al, 2011; WU et al,
2012; WANG, YANG, JIANG e QIU, 2013). Resultados que apontam para maior relevância
motivacional quando há equidade.
Na mesma direção de estudos prévios, foi observado maior amplitude o componente
LPC na Área Centro-Parietal Direita de acordo com achados anteriores de que o hemisfério
direito está relacionado a categorização, engajamento motivacional e afetivo do estímulo e,
por isso, o componente LPC apresenta maior amplitude nos eletrodos Centro-Parietal Direito
151
nas situações de avaliação de categorização do que não-categorização de atitudes e sua grande
lateralização é atribuída a mudança do significado motivacional (CACIOPPO et al, 1996;
CRITES e CACIOPPO, 1996).
Interessante observar que os participantes apresentaram maior amplitude do
componente LPC quando receberam propostas realizadas por um Desconhecido nos eletrodos
localizados na área Centro-Parietal na Linha Média, seguido pelos eletrodos da mesma área a
Direita quando as propostas foram realizadas pelo Amigo. Resultados que apontam para
maior atenção e para o processo de avaliação de comparação dos valores propostos quando
estes foram realizados por um Desconhecido, corroborando com os achados de estudos
prévios de que este componente está relacionado a um processamento mais tardio da
comparação social (WU et al, 2011; WU et al, 2012; WANG, YANG, JIANG e QIU, 2013).
Além disso, não haveria necessidade de grande preocupação e, por tanto comparação das
propostas, por parte do Amigo uma vez que já não se esperava comportamento injusto por
parte deste.
Os resultados com relação a interação dos fatores Amizade e Área vai de encontro
com achados prévios de que o significado do estímulo, valência positiva e negativa levam ao
maior engajamento afetivo e atencional com maior amplitude do componente LPC no
eletrodos da área Centro Parietal Direita (CACIOPPO et al, 1996; CRITES e CACIOPPO,
1996; HAJCAK, DUNNING e FOTI, 2009; WEINBERG e HAJCAK, 2011). No presente
estudo foi observada maior amplitude nos eletrodos desta área quando as propostas foram
realizadas pelo Amigo. Contudo, a amplitude foi maior quando os participantes receberam
propostas realizadas por um Desconhecido nos eletrodos da área Centro-Parietal da Linha
Média. O fato deste componente estar relacionado ao processamento de categorização de
atitudes e a comparação social (CACIOPPO et al, 1996; CRITES e CACIOPPO, 1996;
HAJCAK, DUNNING e FOTI, 2009; WEINBERG e HAJCAK, 2011) explica o maior
152
engajamento atencional na comparação de propostas realizadas por um Desconhecido, o que
levaria a maior engajamento afetivo e maior arousal (excitação) para a sua
classificação/comparação das propostas do que o Amigo.
Já em relação a interação dos fatores Nível de Empatia e Área, os participantes com
Baixo nível de Empatia apresentaram maior amplitude do componente LPC na área Centro-
Parietal Direita ao passo que os voluntários com Alto nível de Empatia apresentaram maior
amplitude nos eletrodos da área Centro-Parietal na Linha Média e Direita. Estudo recente
mostrou que a mudança na instrução para prestar maior atenção no nível de excitação
(arousal) que as figuras geravam aumentou a amplitude deste componente positivo tardio nos
eletrodos da área Centro-Parietal da Linha Média (HAJCAK, DUNNING e FOTI, 2009),
resultados que sugerem que as pessoas com Alto nível de Empatia podem ter se engajado
afetivamente e atencionalmente de forma mais intensa do que os participantes com Baixo
nível de Empatia, provavelmente por se preocuparem mais com a intenção do outro e o
significado das propostas do que os participantes com Baixo nível de Empatia.
Ainda corroborando com os achados do estudo de Wu est al (2011), o nível de
Empatia e Gênero mostrou maior engajamento motivacional com amplitude maior do
componente LPC para as propostas Justas realizadas pelo Amigo pelas Mulheres com Baixo
nível de Empatia. Resultados que vão de encontro também com os achados de estudos
anteriores sobre o Baixo nível de Empatia estar relacionado a comportamentos mais utilitários
(GLEICHGERRCHT e YOUNG, 2013), ou seja, haveria maior preocupação com os ganhos e
as diferenças entre o propositor e a proposta.
Já as Mulheres com Alto nível de Empatia apresentaram maior amplitude do
componente LPC para as propostas Justas realizadas por um Desconhecido. Wang et al
(2011) observaram maior amplitude do LPC para a leitura de interação de mentes, uma
habilidade mais complexa que seria de mais fácil realização por pessoas com Alto nível de
153
Empatia do que Baixo nível de Empatia, o que sugere que as Mulheres provavelmente
buscaram entender o comportamento e tiveram um esforço maior quando este era um
Desconhecido. Ainda mais por Mulheres que apresentam maior facilidade para a
compreensão da intenção do outro, desejos e sentimento do outro (MESTRE et al, 2009;
BARON-CHOEN, 2004). Considerando estes fatores em conjunto pode-se inferir que houve
maior engajamento atencional e cognitivo quando as propostas foram realizadas por um
Desconhecido pelas Mulheres com Alto nível de Empatia.
Em relação aos Homens, apenas os Homens com Alto nível de Empatia apresentaram
diferença significativa na amplitude do componente LPC. A mesma diferença significativa
observada entre as Mulheres com Alto nível de Empatia foi apresentado pelos Homens: maior
amplitude do LPC para as propostas Justas realizadas por um Desconhecido. O que sugere
que Homens estariam com maior engajamento atencional e motivacional para o Desconhecido
por serem mais preocupados com a recompensa e o ganho próprios por serem mais
competitivos.
8.2 Resultados do Experimento 2
Participaram do estudo 60 voluntários universitários saudáveis, sendo que destes, 46
foram selecionados para amostra com idade média de 18 a 32 anos (25 mulheres com idade
média de 21,20 anos ±3,63 e 21 homens com idade média de 23,19 anos ±3,41). Os
participantes vieram ao laboratório acompanhados de um Amigo de confiança do mesmo
gênero que o voluntário. Dois Desconhecidos (alunos do laboratório do mesmo gênero que
o participante) foram apresentados aos voluntários como participantes do jogo junto com
ele(a). Dos 60 apenas 13 foram excluídos devido aos seguintes fatores: 1) uso de drogas
psicoativas; 2) nível elevado de ansiedade ou depressão; 3)problemas técnicos na coleta de
dados com o software; 4) nível elevado de ruído no traçado eletroencefalográfico ocasionando
154
perda significativamente elevada nos trechos de segmentação (excesso de movimentos
oculares, piscagem, cochilar durante a coleta e ruídos eletromagnéticos externos).
8.2.1 Caracterização da Amostra
Em função de o fator Gênero ser uma variável importante a ser considerada no
presente estudo, foi realizado a análise ANOVA em função do Gênero para idade, escalas e
questionários. Como pode ser observado na Tabela 28, não foram encontrados efeitos
significativos para os questionários e escalas.
Tabela 28 – Caracterização da Amostra - ANOVA em função do Gênero
N Média Desvio
Padrão F p*
Idade
Mulher 25 21,2 ±3,6
3,62 0,064 Homem 21 23,1 ±3,4
Total 46 22,1 ±3,6
QE
Mulher 25 44,8 ±8,6
3,68 0,061 Homem 21 39,8 ±9,0
Total 46 42,5 ±9,1
QVBH Pro-
Self
Mulher 25 4,9 ±0,8
2,05 0,159 Homem 21 5,2 ±0,7
Total 46 5,0 ±0,8
QVBH Pro-
Others
Mulher 25 5,3 ±0,7
3,26 0,078 Homem 21 4,9 ±0,8
Total 46 5,1 ±0,8
QVBH
Materialistas
Mulher 25 5,2 ±0,7
0,95 0,334 Homem 21 5,0 ±0,7
Total 46 5,1 ±0,7
QVBH
Humanitários
Mulher 25 5,4 ±0,6
0,93 0,338 Homem 21 5,6 ±0,7
Total 46 5,5 ±0,6
Confiança
Total
Mulher 25 188,4 ±61,9
0,01 0,900 Homem 21 186,5 ±26
Total 46 187,5 ±48,4
IOS Total
Mulher 25 4,9 ±1,5
3,76 0,059 Homem 21 3,9 ±1,8
Total 46 4,4 ±1,7
ECR-RS Mulher 25 3,9 ±1 1,87 0,178
155
Avoidance
Média Homem 21 3,5 ±0,6
Total 46 3,7 ±0,8
ECR-RS
Ansiedade
Média
Mulher 25 8,2 ±7,5
1,09 0,302 Homem 21 6,5 ±1,2
Total 46 7,4 ±5,6
IM
Simbolização
Mulher 24 15 ±4,4
0,09 0,762 Homem 21 14,5 ±5
Total 45 14,8 ±4,6
IM
Internalização
Mulher 24 21,9 ±3
2,98 0,091 Homem 21 20,1 ±3,8
Total 45 21,1 ±3,5
IM Total
Mulher 24 36,9 ±4,9
2,47 0,123 Homem 21 34,3 ±6,4
Total 45 35,7 ±5,7
Altruísmo
Auto-
Informado
Mulher 25 1,7 ±0,6
0,01 0,912 Homem 21 1,7 ±0,5
Total 46 1,7 ±0,6
Altruísmo
Informado
por Pares
Mulher 25 1,6 ±0,6
0,003 0,957 Homem 20 1,6 ±0,4
Total 45 1,6 ±0,5
Impulsividade
Mulher 25 72,9 ±6,2
0,85 0,360 Homem 21 74,6 ±6,2
Total 46 73,7 ±6,2
BAI
Mulher 25 9,2 ±7,4
0,08 0,776 Homem 21 10 ±9,6
Total 46 9,6 ±8,4
BDI
Mulher 25 7,3 ±5,7
1,48 0,229 Homem 21 9,5 ±6,5
Total 46 8,3 ±6,1
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Para verificar se havia diferenças entre confiança e proximidade entre as duplas de
Amigo e se estes eram semelhantes entre si em relação a aspectos morais e nível de empatia,
foi realizado ANOVA em função do fator Grupo (Participante e Amigo). Como pode ser
observado na Tabela 29, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos, o
que mostra que as duplas de Amigos são muito semelhantes entre si. O Questionário de
Valores Básicos Humanos - versão reduzida não foi sensível em dividir os participantes entre
156
os motivadores Materialistas e Humanistas, assim como nos valores Pro-Self e Pro-Others.
Por esse motivo este questionário não foi incluído nas próximas análises.
Tabela 29 – Caracterização da Amostra - ANOVA em função dos Grupos
Grupos
N Média
Erro
Padrão F p*
QE
Participante 47 42,6 ±9
0,01 0,921 Amigo 46 42,4 ±8,6
Total 93 42,5 ±8,8
QVBH Pro-
Self
Participante 47 4,6 ±0,8
0,43 0,512 Amigo 46 4,7 ±0,6
Total 93 4,6 ±0,7
QVBH Pro-
Others
Participante 47 4,7 ±0,9
0,001 0,979 Amigo 46 4,7 ±0,7
Total 93 4,7 ±0,8
QVBH
Materialistas
Participante 47 4,7 ±0,8
0,01 0,922 Amigo 46 4,7 ±0,6
Total 93 4,7 ±0,7
QVBH
Humanistas
Participante 47 5,1 ±0,8
0,000 0,985 Amigo 46 5,1 ±0,5
Total 93 5,1 ±0,6
Confiança
Participante 47 185,7 ±49,5
0,06 0,805 Amigo 46 187,9 ±32,1
Total 93 186,8 ±41,6
IOS
Participante 47 4,5 ±1,7
0,79 0,375 Amigo 46 4,7 ±1,1
Total 93 4,6 ±1,4
ECR-RS
Avoidance
Participante 47 3,2 ±0,9
2,42 0,123 Amigo 46 3,6 ±1
Total 93 3,4 ±1,03
ECR-RS
Axiety
Participante 47 6,9 ±5,6
0,007 0,935 Amigo 45 6,8 ±1,4
Total 92 6,8 ±4,1
IM
Simbolização
Participante 46 14,7 ±4,6
0,32 0,571 Amigo 44 15,3 ±4,3
Total 90 15 ±4,4
IM
Internalização
Participante 46 21,1 ±3,4
0,79 0,375 Amigo 45 21,8 ±3,2
Total 91 21,4 ±3,3
IM Total
Participante 46 35,7 ±5,7
0,41 0,519 Amigo 44 36,4 ±4,6
Total 90 36 ±5,2
157
Altruismo
Auto-relato
Participante 47 1,2 ±0,74
0,01 0,912 Amigo 46 1,2 ±0,6
Total 93 1,2 ±0,6
Altruismo
Informado
por Pares -
Amigo
Participante 46 1,2 ±0,6
0,22 0,638 Amigo 43 1,3 ±0,6
Total 89 1,3 ±0,6
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
8.2.2- Resultados do Tree-person Ultimatum Game adaptado
8.2.2.1-Taxa de Aceite e Rejeite no Tree-personUltimatum Game adaptado –
Parte 1
Para a análise da Resposta emitida pelo participante, foi considerada a Porcentagem de
Rejeite como variável dependente para os fatores Justiça (Proposta Injustas para ambos -
R$100,00/R$10,00/R$10,00; Injusta para o terceiro – R$ R$70,00 e R$40,00 e R$10,00;
Proposta Injusta para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00 e Proposta Justa para os
três R$40,00 e R$40,00 e R$40,00), A Dupla (Amigo e Desconhecido), Gênero (Mulher e
Homem) do participante e o Nível de Empatia (Baixo ou Alto) deste. Foi realizada a ANOVA
para medidas repetidas e verificou se, como pode se observar na Tabela 30, um efeito
significativo para o fator Justiça (F[1;46]=56,75, p<0,001) e para a interação dos fatores
Dupla*Justiça (F[1;46]=5,75, p=0,001). Não foram encontradas diferenças significativas para
os fatores e interações analisados.
Tabela 30 – Porcentagem de Rejeite - ANOVA para medidas repetidas em função da Justiça, Dupla,
Gênero e Nível de Empatia
F p
Justiça 54,92 <0,001*
Justiça * Gênero 0,12 0,945
Justiça * Nível Empatia 0,57 0,631
Justiça * Gênero * Nível Empatia 0,39 0,756
Dupla 0,05 0,811
Dupla * Gênero 0,90 0,347
Dupla * Nível Empatia 0,80 0,376
Dupla * Gênero * Nível Empatia 1,19 0,281
Justiça * Dupla 5,80 0,001**
158
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Em relação ao fator Justiça, realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e observou-se
uma diferença significativa entre a porcentagem de propostas rejeitadas Justas para Ambos e
Injustas para Ambos (3,3% ±0,9 e 64,1% ±5,3 respectivamente, p<0,001), entre as propostas Justas
para Ambos e Injustas para o participante (Self) (3,3% ±0,9 e 65,7% ±4,3 respectivamente, p<0,001) e
entre as propostas Justas para Ambos e Injusta para o Outro (Other) (3,3% ±0,9 e 45,9% ±5,6
respectivamente, p<0,001). Também observou-se uma diferença significativa entre as propostas
Injustas para Other e Injustas para Ambos (45,9% ±5,6 e 64,1% ±5,3 respectivamente, p<0,001) e
entre as propostas Injustas para Other e Injustas para o Self (45,9% ±5,6 e 3,3% ±0,9 respectivamente,
p<0,001). As propostas Justas para Ambos apresentaram menor porcentagem de rejeite. Na Tabela 31,
pode observar as médias e erro padrão para cada condição.
Tabela 31 – Porcentagem de Rejeite – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Com relação a interação Justiça e Dupla, realizou-se o teste post hoc de Fisher LSD e
observou se uma diferença significativa na porcentagem de rejeite das propostas entre as propostas
Injustas para o Self quando a Dupla era um Desconhecido e quando era o Amigo (71,5% ±4,8 e 60,%
±5,3 respectivamente, p=0,004), entre as propostas Injustas para Other e Injusta para Ambos quando a
dupla era um Amigo (53,4% ±5,8 e 63,2% ±5,4 respectivamente, p=0,021). Também observou-se
uma diferença significativa na porcentagem de rejeite entre as propostas Injustas para Other e Injustas
para Ambos quando o terceiro era um Desconhecido (39% ±6,5 e 65% e ±6,1 respectivamente,
Justiça * Dupla * Gênero 1,39 0,249
Justiça * Dupla * Nível Empatia 0,38 0,763
Justiça * Dupla * Gênero * Nível Empatia 1,02 0,385
Justiça Média Erro
Padrão
Injusta Ambos 64,1 ±5,3
Injusta Self 65,7 ±4,3
Injusta Other 45,9 ±5,6
Justa 3,3 ±0,9
159
p<0,001), entre as propostas Injustas para o Other e Injustas para o Self quando o terceiro era um
Desconhecido (39% ±6,6 e 71,57% e ±4,8 respectivamente, p<0,001) e as propostas Justas para
Ambos (2,9% ±1,3) quando o terceiro era um Desconhecido observou se uma diferença significativa
na porcentagem de rejeite entre estas propostas e as propostas Injustas para Ambos (65,5% ±6,1,
p<0,001), Injustas para o Self (71,5% ±4,8, p<0,001) e as propostas Injustas para Other (39% ±6,5,
p<0,001). Quando o terceiro era um Amigo, observou-se uma diferença significativa nas porcentagem
de rejeite entre as propostas Justas para Ambos (3,8% ±1) e as propostas Injustas para Ambos (63,2%
±5,4, p<0,001), propostas Injustas para o Self (60% ±5,3, p<0,001) e propostas Injustas para o Other
(53,4% ±5,8, p<0,001).
Tabela 32 – Porcentagem de Rejeite – Média e Erro Padrão em função da Justiça e Dupla
8.2.2.2 Tempo de Reação
Para a análise do Tempo de Reação em que as propostas foram rejeitadas pelo
participante, foi realizada ANOVA para medidas repetidas tendo como variável dependente
as Médias do Tempo de Reação Rejeitar e como fatores Gênero (Homens e Mulheres), Dupla
(Amigo e Desconhecido), Justiça (Proposta Injustas para ambos -
R$100,00/R$10,00/R$10,00; Injusta para o terceiro – R$ R$70,00 e R$40,00 e R$10,00;
Proposta Injusta para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00. Não foi considerado
para a análise a proposta Justa para os três R$40,00 e R$40,00 e R$40,00 por ter sido quase
que 100% aceita como pode ser observado na análise de porcentagem de aceite) e nível de
Justiça Dupla Média Erro Padrão
Injusta Ambos Amigo 63,2 ±5,4
Desconhecido 65,5 ±6,1
Injusta Self Amigo 60 ±5,3
Desconhecido 71,5 ±4,8
Injusta Other Amigo 53,4 ±5,8
Desconhecido 39 ±6,6
Justa Amigo 3,8 ±1
Desconhecido 2,9 ±1,2
160
Empatia do participante (Baixo e Alto). Na Tabela 33 pode ser observado que houve um
efeito significativo para os fatores Dupla (F[1;46]=44,78, p<0,001) e na interação entre
Dupla*Gênero (F[1;46]=6,70, p=0,017), Dupla*Nível Empatia (F[1;46]=4,60, p=0,043) e
Dupla*Justiça*Gênero*Nível Empatia (F[1;46]=5,50, p=0,007). Não foram observadas
diferença significativa nos demais fatores e interações.
Tabela 33 - Tempo de Reação Rejeitar - ANOVA medida repetidas em função da Justiça, Dupla,
Gênero e Nível de Empatia
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Em relação ao fator Dupla, realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e observou-se
uma diferença significativa entre o tempo de reação para rejeitar as propostas quando a Dupla
era um Desconhecido e quando a dupla era o Amigo (1306ms ±88,9 e 880ms ±53,9, p<0,001)
com maior tempo de reação quando a dupla era o Amigo, como pode ser observado na Figura
16.
F p
Justiça 0,88 0,421
Justiça * Gênero 1,14 0,328
Justiça * Nível Empatia 1,99 0,148
Justiça * Gênero * Nível Empatia 2,41 0,101
Dupla 44,78 <0,001**
Dupla * Gênero 6,70 0,017*
Dupla * Nível Empatia 4,60 0,043*
Dupla * Gênero * Nível Empatia 0,54 0,467
Justiça * Dupla 0,71 0,496
Justiça * Dupla * Gênero 1,63 0,207
Justiça * Dupla * Nível Empatia 0,79 0,457
Justiça * Dupla * Gênero * Nível Empatia 5,50 0,007*
161
Figura 16 – Média Tempo de Reação de Rejeite em função da Dupla; p<0,001
Em relação à interação Dupla e Gênero, realizou-se o teste post hoc de Fisher LSD e
observou-se uma diferença significativa no tempo de reação para rejeitar as propostas Injustas
pelas Mulheres quando o terceiro era um Desconhecido e o Amigo (824ms ±76,7 e 1415ms
±126,4, p<0,001). Também observou-se uma diferença significativa no tempo de reação no
rejeite de propostas Injustas entre os Homens quando a dupla era um Desconhecido e o
Amigo (937ms ±75,9 e 1198ms ±125,1, p=0,004). Na Tabela 34 apresenta-se a média e o erro
padrão de cada condição.
Tabela 34 – Tempo de Reação Rejeitar- Média e Erro Padrão em função da Dupla e Gênero
Gênero Dupla Média* Erro
Padrão
Mulher Amigo 1415 ±126,4
Desconhecido 824 ±76,7
Homem Amigo 1198 ±125,1
Desconhecido 937 ±75,9
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
p<0,001
162
Na interação entre os fatores Dupla e Nível de Empatia também realizou-se um teste
post-hoc de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa no tempo de reação no
rejeite de propostas Injustas para os participantes com Baixo nível de Empatia entre as duplas
Desconhecido e o Amigo (913ms ±81,3 e 1475ms ±133,9 respectivamente, p<0,001) e para
os participantes com Alto nível de Empatia entre as duplas Desconhecido e o Amigo (848ms
±71 e 1137ms ±117 respectivamente, p<0,001). Na Tabela 35 pode se observar as médias e
erro padrão de cada condição analisada.
Tabela 35 – Tempo de Reação Rejeitar- Média e Erro Padrão em função da Dupla e Nível Empatia
Nível
Empatia Dupla Média*
Erro
Padrão
Baixo Amigo 1475 ±133,9
Desconhecido 913 ±81,3
Alto Amigo 1137 ±117
Desconhecido 848 ±71
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
Para a interação entre Justiça, Dupla, Gênero e Nível de Empatia, realizou-se uma
análise post hoc com o teste de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa no
tempo de reação para a rejeição de propostas Injustas entre as Mulheres com Baixo nível de
Empatia quando a Dupla era um Desconhecido e quando era um Amigo ao receberem
propostas Injustas para Ambos (847ms ±133,8 e 2009ms ±244,2 respectivamente, p<0,001) e
ao receberem propostas Injustas para o Self (1464ms ±197,9 e 797ms ±133,5
respectivamente, p<0,001). As mesmas apresentaram diferença significativa no tempo de
reação quando a dupla era o Amigo entre as propostas Injustas para o Self e Injustas para
Ambos (797ms ±133,5 e 2009ms ±244,2 respectivamente, p=0,008) e entre Injustas para
Other e Injusta para Ambos (1499ms ±317,1 e 2009ms ±244,2 respectivamente, p=0,004).
Já as Mulheres com Alto nível de Empatia apresentaram diferença significativa
quando um Desconhecido e o Amigo eram o terceiro entre as propostas Injustas para o Self
163
(1277ms ±125,2 e 689ms ±84,4 respectivamente, p<0,001) e Injustas para Other (800ms
±90,8 e 1251ms ±200,5 respectivamente, p<0,001). Quando a dupla era o Amigo observou-
se uma diferença significativa entre as propostas Injustas para o Self e Injustas para Ambos
(689ms ±84,4 e 989ms ±154,4 respectivamente, p=0,028) e entre as propostas Injustas para
Others e Injustas para Ambos (1251ms ±200,5 e 989ms ±154,4 respectivamente, p=0,017).
Em relação as Mulheres com Alto e Baixo nível de Empatia observou-se uma
diferença significativa quando a dupla era um Amigo entre as propostas Injustas para Ambos
(1251ms ±200,5 e 2009ms ±244,2 respectivamente, p=0,001). Com relação aos Homens com
Baixo nível de Empatia observou-se uma diferença significativa quando a dupla era um
Desconhecido e o Amigo entre as propostas Injustas para o Self (1382ms ±149,6 e 938ms
±100,9 respectivamente, p=0,004) e entre as propostas Injustas para Other (925ms ±108,6 e
1385ms ±239,7 respectivamente, p=0,001). Com relação entre os Homens e Mulheres com
Baixo nível de Empatia observou-se uma diferença significativa entre as propostas Injustas
para Ambos quando a dupla era o Amigo (1113ms ±184,6 e 2009ms ±244,2 respectivamente,
p=0,007). Na Tabela 36, encontra-se as médias e o erro padrão para cada condição.
Tabela 36 – Tempo de Reação Rejeitar- Média e Erro Padrão em função da Dupla, Nível Empatia,
Gênero e Justiça
Gênero Nível
Empatia Dupla Justiça Média*
Erro
Padrão
Mulher
Baixo
Amigo
Injusto Ambos 2009 ±244,2
Injusto Self 797 ±133,5
Injusto Other 1499 ±317,1
Desconhecido
Injusto Ambos 847 ±133,8
Injusto Self 1464 ±197,8
Injusto Other 1003 ±143,6
Alto
Amigo
Injusto Ambos 989 ±154,4
Injusto Self 689 ±84,4
Injusto Other 1251 ±200,6
Desconhecido Injusto Ambos 806 ±84,7
Injusto Self 1277 ±125,2
164
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
Para a análise do Tempo de Reação em que as propostas foram aceitas pelo
participante, foi realizada ANOVA para medidas repetidas tendo como variável dependente
as Médias do Tempo de Reação Aceitar das propostas Justas e como fatores Gênero (Homens
e Mulheres), Dupla (Amigo e Desconhecido), e nível de Empatia do participante (Baixo e
Alto). Na Tabela 37 pode ser observado que houve um efeito significativo para os fatores
Dupla (F[1;46]= 17,557, p<0,001). Não foram observadas diferença significativa nos demais
fatores e interações.
Tabela 37 - Tempo de Reação Aceitar - ANOVA medida repetidas em função da Justiça, Dupla,
Gênero e Nível de Empatia
F p
Dupla 20,56 <0,001**
Dupla * Gênero 1,81 0,185
Dupla * Nível Empatia 0,66 0,419
Dupla * Gênero * Nível Empatia 0,79 0,378
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Injusto Other 800 ±90,9
Homem
Baixo
Amigo
Injusto Ambos 1113 ±184,6
Injusto Self 938 ±100,9
Injusto Other 1385 ±239,7
Desconhecido
Injusto Ambos 965 ±101,2
Injusto Self 1382 ±148,7
Injusto Other 925 ±108,6
Alto
Amigo
Injusto Ambos 1051 ±218,5
Injusto Self 824 ±119,4
Injusto Other 1212 ±283,7
Desconhecido
Injusto Ambos 942 ±119,7
Injusto Self 1043 ±177,1
Injusto Other 1024 ±128,5
165
Em relação ao fator Dupla, realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e observou-se
uma diferença significativa para o tempo de reação aceitar para as propostas Justas entre o
Desconhecido e o Amigo (740ms ±31,4 e 880ms ±39,2 respectivamente, p<0,001).
Tabela 38 – Tempo de Reação Rejeitar- Média e Erro Padrão em função da Dupla
Dupla Média* Erro
Padrão
Amigo 880 ±39,2
Desconhecido 740 ±31,4
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
8.2.2.3 Análise dos Potenciais Relacionados a Eventos
8.2.2.3.1 Potencial Medial Frontal Negativity
Para a análise do componente MFN, os eletrodos e a janela de tempo foram
selecionados de acordo com a literatura e com o observado na grande média deste estudo. A
janela de tempo definida foi entre 220ms à 400ms. O componente MFN foi analisado pela
diferença entre os potenciais observados nesta janela de tempo da condição Self (Injusto para
o Participante menos Justo para os três -R$70,00 e R$10,00 e R$40,00 menos R$40,00 e
R$40,00 e R$40,00 - quando a dupla era o Amigo e o Desconhecido), Injusto para Ambos
(Injusto para a Dupla menos Justo para os três - R$70,00 e R$10,00 e R$10,00 menos
R$40,00 e R$40,00 e R$40,00 quando o outro era o Amigo e o Desconhecido) e Others
(Justto para o participante e Injusto para a Dupla menos Justo para os três - R$70,00 e
R$40,00 e R$10,00 menos R$40,00 e R$40,00 e R$40,00 quando o outro era o Amigo e o
Desconhecido). Os eletrodos selecionados foram agrupados em 2 sub-áreas:
a) eletrodos frontais à esquerda: 36, 29, 30, 20, 13, 7, 31;
b) eletrodos frontais à direita: 118, 112, 111, 106, 105, 104, 80;
166
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo MFN tendo como variável dependente a Diferença da Amplitude Média do MFN na
janela de tempo de 220 a 400ms e os fatores Justiça (Self- Injusto para o Participante menos
Justo para os três -R$70,00 e R$10,00 e R$40,00 menos R$40,00 e R$40,00 e R$40,00 -
quando a dupla era o Amigo e quando a dupla era o Desconhecido e Injusto para Ambos -
Injusto para o participante e o para terceiro menos Justo para os três - R$70,00 e R$40,00,
Other- Justo para o Participante e Injusto para o terceiro menos Justo para os três -R$70,00 e
R$40,00 e R$10,00 menos R$40,00 e R$40,00 e R$40,00 - quando a dupla era o Amigo e o
Desconhecido e Injusto para Ambos- e R$10,00 menos R$40,00 e R$40,00 e R$40,00) e Área
dos eletrodos (frontais à esquerda ou frontais à direita). Devido ao grande número de fatores a
análise foi dividia pelos fatores Gênero (Masculino ou Feminino)e Nível de Empatia (Alto e
Baixo) e a Dupla (Amigo e Desconhecido) foi analisada separadamente também. Segundo a
Tabela 39, pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas encontrou uma
diferença significativa para o fator Justiça (F[1;45]= 9,51, p<0,001) e na interação
Justiça*Área (F[1;45]= 4,95, p=0,009). Não foram encontradas diferenças significativas da
amplitude do MFN para os demais fatores e interações. Não foram encontradas diferenças
significativas para a análise com o fator Nível de Empatia.
Tabela 39 – Amplitude Média da Diferença do MFN para Amigo– ANOVA medidas repetidas em
função da Área, Gênero e Justiça
F p
Justiça 9,51 <0,001*
Justiça * Gênero 2,25 0,111
Área 1,90 0,174
Área * Gênero 2,78 0,103
Justiça * Área 4,95 0,009*
Justiça * Área * Gênero 0,26 0,768
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
167
Em relação a interação Justiça, realizou-se um teste post-hoc de Fisher LSD e
observou-se uma diferença significativa na amplitude média da diferença do MFN entre as
propostas Injustas para Ambos e Injustas para Other (-0,406μV ±0,1 e 0,235μV ±0,1, p<0,001)
e entre as propostas Injustas para Ambos e Injustas para o Self (-0,406μV ±0,1 e 0,123μV ±0,1,
p<0,011).
Tabela 40 – Amplitude Média da Diferença do MFN para Amigo – Média e Erro Padrão em função da
Justiça
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Na interação Justiça e Área o teste post hoc de Fisher LSD encontrou uma diferença
significativa para as propostas Injustas para Other entre as áreas Frontal Direita e Frontal
Esquerda (0,404μV ±0,1 e 0,067μV ±0,1 respectivamente, p<0,001) e para as propostas Injustas
para o Self entre as áreas Frontal Esquerda e Frontal Direita (0,007μV ±0,1 e 0,240μV ±0,1
respectivamente, p=0,011). Também observou-se uma diferença significativa entre as
propostas Injustas para Other e Injustas para Ambos (0,404μV ±0,1 e -0,446μV ±0,1
respectivamente, p<0,011) e entre as propostas Injustas para o Self e Injustas para Ambos
(0,240μV ±0,1 e -0,446μV ±0,1 respectivamente, p<0,001) nos eletrodos da área Frontal Direita.
Nos eletrodos Frontais Esquerda observou-se uma diferença significativa entre as propostas
Injustas para Other e Injustas para Ambos (0,067μV ±0,1 e -0,367μV ±0,1 respectivamente,
p<0,001).
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusta Ambos -0,406 ±0,1
Injusta Other 0,235 ±0,1
Injusta Self 0,123 ±0,1
168
Tabela 41 – Amplitude Média da Diferença do MFN para Amigo – Média e Erro Padrão em função da
Justiça e Área
Justiça Área Média* Erro
Padrão
Injusta Ambos Frontal Direita -0,446 ±0,1
Frontal Esquerda -0,367 ±0,1
Injusta Other Frontal Direita 0,404 ±0,1
Frontal Esquerda 0,067 ±0,1
Injusta Self Frontal Direita 0,240 ±0,1
Frontal Esquerda 0,007 ±0,1
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Na análise de medidas repetidas para o Amigo considerando o fator Nível de Empatia
não encontrou-se nenhum outro efeito significativo. Em relação a análise between group
observou-se um efeito significativo para os fatores Gênero (p=0,011) e Nível de Empatia
(p=0,002) para o Amigo. Para o fator Gênero observou-se uma média da amplitude da
diferença do MFN mais negativa para as Mulheres (-0,343μV ±0,1) e positiva para os
Homens (0,311μV ±0,1). Em relação ao fator Nível de Empatia observou-se uma média da
amplitude da diferença do MFN mais negativa para os participantes com Alto nível de
Empatia (-0,369μV ±0,1) e positivo para as pessoas com Baixo nível de Empatia (0,418μV
±0,1).
Para a análise do componente MFN quando a Dupla era um Desconhecido, realizou-se
a mesma análise para o Amigo com uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do
componente cognitivo MFN tendo como variável dependente a Diferença da Amplitude
Média do MFN na janela de tempo de 220 a 400ms e os fatores Justiça (Self- Injusto para o
Participante menos Justo para os três -R$70,00 e R$10,00 e R$40,00 menos R$40,00 e
R$40,00 e R$40,00 - quando a dupla era o Amigo e quando a dupla era o Desconhecido e
Injusto para Ambos - Injusto para o participante e o para terceiro menos Justo para os três -
R$70,00 e R$40,00, Other- Justo para o Participante e Injusto para o terceiro menos Justo
para os três -R$70,00 e R$40,00 e R$10,00 menos R$40,00 e R$40,00 e R$40,00 - quando a
169
dupla era o Amigo e o Desconhecido e Injusto para Ambos- e R$10,00 menos R$40,00 e
R$40,00 e R$40,00) e Área dos eletrodos (frontais à esquerda ou frontais à direita). Devido ao
grande número de fatores a análise foi dividia pelos fatores Gênero (Masculino ou Feminino)e
Nível de Empatia (Alto e Baixo) e a Dupla (Amigo e Desconhecido) foi analisada
separadamente também. Segundo a Tabela 42, pode-se verificar que a análise ANOVA para
medidas repetidas em relação ao Nível de Empatia encontrou uma diferença significativa para
a interação Área*Nível Empatia (F[1;45]= 6,71, p=0,013). Não foram encontradas diferenças
significativas da amplitude do MFN para os demais fatores e interações. Não foram
observadas diferenças significativas na análise em função do Gênero.
Tabela 42 – Amplitude Média da Diferença do MFN para Desconhecido – ANOVA medidas repetidas
em função da Área, Justiça e Nível de Empatia
F p
Justiça 0,17 0,843
Justiça * Nível Empatia 1,14 0,324
Área 0,31 0,577
Área * Nível Empatia 6,71 0,013*
Justiça * Área 0,65 0,520
Justiça * Área * Nível Empatia 0,30 0,740
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para a interação dos fatores Nível de Empatia e Área, realizou-se uma análise post hoc
com o teste de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa na amplitude média da
diferença do componente MFN para os participantes com Baixo nível de Empatia entre as
áreas Frontal Esquerda e Frontal Direita (0,115μV ±0,2 e -0,268μV ±0,2 respectivamente,
p=0,045).
170
Tabela 43 – Amplitude Média da Diferença do MFN para Desconhecido – Média e Erro Padrão em
função do Nível Empatia e Área
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.2.2.3.2 Componente P300
Como foi observado na literatura, o componente P300 é tipicamente observado em
uma janela de tempo ao redor dos 300ms e em eletrodos centro-parietais. No presente estudo
foi definida uma janela de tempo entre 350ms a 490ms após a apresentação do estímulo. Os
eletrodos centro-parietais forma divididos em 2 sub-áreas:
a) eletrodos centro-parietais a esquerda: 53 e 54;
b) eletrodos centro-parietal direita: 79 e 86;
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo P300 tendo como variável dependente a Amplitude Média do P300 na janela de
tempo de 350 a 490ms e os fatores Justiça (Justo para os três - R$40,00 e R$40,00 e R$40,00,
Injusto Self - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00, Injusto Other - R$70,00 e R$40,00 e R$10,00 e
Injusto para Ambos - R$100,00 e R$10,00 e R$10,00), Área dos eletrodos (Centro-Parietal
Direita ou Centro-Parietal Esquerda). Devido ao grande número de fatores a análise foi
dividia pelos fatores Gênero (Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo) e a
Dupla (Amigo e Desconhecido) foi analisada separadamente também. Segundo a Tabela 44,
pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas em relação ao Gênero
Nível Empatia Área Média* Erro
Padrão
Baixo Frontal Direita -0,268 ±0,2
Frontal Esquerda 0,115 ±0,2
Alto Frontal Direita -0,158 ±0,2
Frontal Esquerda -0,404 ±0,2
171
encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1;45]= 7,39, p<0,001) e Área
(F[1;45]=21,04, p<0,001) e na interação Justiça*Área (F[1;45]=4,75, p=0,004). Não foram
encontradas diferenças significativas da amplitude do P300 para os demais fatores e
interações. Não foram observadas diferenças significativas na análise em função do Nível de
Empatia.
Tabela 44 – Amplitude Média do P300 para Amigo – ANOVA medidas repetidas em função
da Área, Gênero e Justiça
F p
Justiça 7,39 <0,001**
Justiça * Gênero 0,37 0,771
Área 21,04 <0,001**
Área * Gênero 0,76 0,387
Justiça * Área 4,75 0,004*
Justiça * Área * Gênero 0,83 0,476
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e observou-se uma
diferença significativa na amplitude média do componente P300 entre as propostas Injustas
para o Self e Justas para Ambos (2,013μV ±0,3 e 2,498μV ±0,3 respectivamente, p=0,019),
Injustas para Ambos e Justas para Ambos (1,672μV ±0,2 e 2,498μV ±0,3 respectivamente,
p<0,001), entre as propostas Injustas para o Self e Injustas para Other (2,013μV ±0,3 e
2,485μV±0,2 respectivamente, p=0,040) e Injustas para Ambos e Injustas para Other (1,672μV
±0,2 e 2,485μV ±0,3, p<0,001).
Tabela 45 – Amplitude Média do P300 para o Amigo – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Justa 2,498 ±0,3
Injusta Other 2,485 ±0,2
Injusta Self 2,013 ±0,3
Injusta Ambos 1,672 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
172
Com relação ao fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD observou-se uma diferença
significativa entre a área Centro-Parietal Direita e Centro-Parietal Esquerda (2,521μV ±0,2 e
1,813μV ±0,2 respectivamente, p<0,001).
Tabela 46 – Amplitude Média do P300 para Amigo – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 2,521 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,813 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Com relação a interação entre Área e Justiça , no teste post hoc de Fisher LSD
observou-se uma diferença significativa para as propostas Justas entre as áreas Centro-Parietal
Esquerda e Centro-Parietal Direita (2,323μV ±0,3 e 2,699μV ±0,3, p<0,001), entre as
propostas Injustas para Other e Justas para Ambos na área Centro-Parietal Direita (2,914μV
±0,2 e 2,699μV ±0,3, p=0,004). Nos eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda observou-se
uma diferença significativa entre as propostas Injustas para Other e Justas (1,992μV ±0,3 e
2,323μV ±0,3 respectivamente, p=0,001). Também observou-se uma diferença significativa
nas propostas Injustas para Other entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal
Direita (1,992μV ±0,3 e 2,914μV ±0,2 respectivamente, p<0,001). Além disso, observou-se
uma diferença significativa entre as propostas Injustas para o Self e Injustas para Other na
área Centro-Parietal Direita (2,395μV ±0,3 e 2,914μV ±0,2 respectivamente, p<0,001). Para
as propostas Injustas para o Self observou-se uma diferença significativa entre as áreas
Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (1,654μV ±0,3 e 2,395μV ±0,3
respectivamente, p<0,001). Em relação as propostas Injustas para Ambos observou-se uma
diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita
(1,247μV ±0,2 e 2,036μV ±0,2 respectivamente, p<0,001).
173
Tabela 47 – Amplitude Média do P300 para Amigo – Média e Erro Padrão em função da Justiça e
Área
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para a Dupla Desconhecido, realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a
análise do componente cognitivo P300 tendo como variável dependente a Amplitude Média
do P300 na janela de tempo de 350 a 490ms e os fatores Justiça (Justo para os três - R$40,00
e R$40,00 e R$40,00, Injusto Self - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00, Injusto Other - R$70,00 e
R$40,00 e R$10,00 e Injusto para Ambos - R$100,00 e R$10,00 e R$10,00), Área dos
eletrodos (Centro-Parietal Direita ou Centro-Parietal Esquerda). Devido ao grande número de
fatores a análise foi dividia pelos fatores Gênero (Masculino ou Feminino) e Nível de
Empatia (Alto e Baixo) sendo analisada separadamente também. Segundo a Tabela 48, pode-
se verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas em relação ao Gênero encontrou
uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1;45]= 7,39, p<0,001) e Área
(F[1;45]=21,04, p<0,001). Não foram encontradas diferenças significativas da amplitude do
P300 para os demais fatores e interações. Não foram observadas diferenças significativas na
análise em função do Nível de Empatia.
Justiça Área Média* Erro
Padrão
Justa Centro-Parietal Direita 2,699 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 2,323 ±0,3
Injusta Other Centro-Parietal Direita 2,914 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,992 ±0,3
Injusta Self Centro-Parietal Direita 2,395 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 1,654 ±0,3
Injusta Ambos Centro-Parietal Direita 2,036 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,247 ±0,2
174
Tabela 48 – Amplitude Média do P300 para Desconhecido – ANOVA medidas repetidas em
função da Área, Gênero e Justiça
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Com relação ao efeito encontrado para o fator Justiça, realizou-se o teste post hoc de
Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa entre as propostas Injustas para Other e
Justas (1,833μV ±0,3 e 2,429μV ±0,3 respectivamente, p<0,001), entre as propostas Injustas
para o Self e Justas (1,963μV ±0,2 e 2,429μV ±0,3 respectivamente, p=0,030) e entre as
propostas Injustas para Ambos e Justas (1,906μV ±0,2 e 2,42μV 9 ±0,3 respectivamente,
p=0,014). Na Tabela 49 pode se observar média e erro padrão para cada condição.
Tabela 49 – Amplitude Média do P300 para o Desconhecido – Média e Erro Padrão em função da
Justiça
Jusitça Média* Erro
Padrão
Justa 2,429 ±0,3
Injusta Other 1,833 ±0,3
Injusta Self 1,963 ±0,2
Injusta Ambos 1,906 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Em relação ao fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD observou-se uma diferença
significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Cento-Parietal Direita (p<0,001).
F p
Jusitça 3,27 0,023*
Jusitça * Gênero 0,02 0,994
Área 33,00 <0,001**
Área * Gênero 0,01 0,906
Jusitça * Área 0,37 0,773
Jusitça * Área * Gênero 0,30 0,821
175
Tabela 50 – Amplitude Média do P300 para o Desconhecido – Média e Erro Padrão em função da
Área
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.2.2.3.3 Potencial Late Positivity Complex
Com base na literatura, o componente LPC é tipicamente observado em eletrodos da
região centro-parietais e em janelas de tempo ao redor de 600 ms. Nesse estudo foi definido
como janela de tempo para a análise deste componente o período de 500ms a 890ms após a
apresentação do estímulo. Foram selecionados eletrodos frontais divididos em 2 sub-áreas:
a) eletrodos centro-parietal a esquerda: 53 e 54;
b) eletrodos centro-parietal a direita: 79, 86;
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo LPC tendo como variável dependente a Amplitude Média do LPC na janela de
tempo de 480 a 840ms e os fatores Justiça (Justo para os três - R$40,00 e R$40,00 e R$40,00,
Injusto para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00, Injusto para a Dupla - R$70,00 e
R$40,00 e R$10,00 e Injusto para Ambos – Participante e Dupla - R$100,00 e R$10,00 e
R$10,00) e Área dos eletrodos (Centro-Parietal Direita ou Centro-Parietal Esquerda). Devido
ao grande número de fatores a análise foi dividia pelos fatores Gênero (Masculino ou
Feminino), Nível de Empatia (Alto e Baixo) e a Dupla (Amigo e Desconhecido) foi analisada
separadamente também. Segundo a Tabela 51, pode-se verificar que a análise ANOVA para
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 2,446 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,619 ±0,2
176
medidas repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1;45]=
10,80, p<0,001) e Área (F[1;45]=11,76, p=0,001). Não foram encontradas diferenças
significativas para os fatores Gênero e Nível de Empatia tanto para o Amigo. Não foram
encontradas diferenças significativas da amplitude do LPC para os demais fatores e
interações.
Tabela 51 – Amplitude Média do LPC Amigo – ANOVA medidas repetidas em função da Área,
Gênero, Justiça, Dupla e Nível de Empatia
F p
Justiça 10,80 <0,001**
Justiça * Gênero 0,47 0,698
Área 11,76 0,001**
Área * Gênero 0,02 0,879
Justiça * Área 2,17 0,095
Justiça * Área * Gênero 0,09 0,963
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, realizou-se análise post hoc com o teste de Fisher LSD e
observou-se uma diferença significativa na amplitude média do componente LPC entre as
propostas Injustas para Other e Justas (1,362μV ±0,2 e 2,198μV ±0,2 respectivamente,
p<0,001), entre as propostas Injustas para Self e Justas (1,182μV ±0,2 e 2,198μV ±0,2
respectivamente, p<0,001) e entre as propostas Injustas para Ambos e Justas (1,494μV ±0,2 e
2,198μV ±0,2 respectivamente, p<0,001).
Tabela 52 – Amplitude Média do LPC Amigo – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Justa 2,198 ±0,2
Injusta Other 1,362 ±0,2
Injusta Self 1,182 ±0,2
Injusta Ambos 1,494 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
177
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
na amplitude média do componente LPC entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-
Parietal Direita (1,080μV ±0,2 e 1,510μV ±0,2 respectivamente, p<0,001).
Tabela 53 – Amplitude Média do LPC Amigo – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 1,510 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,080 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para quando a dupla era um Desconhecido, realizou-se uma ANOVA para medidas
repetidas para a análise do componente cognitivo LPC tendo como variável dependente a
Amplitude Média do LPC na janela de tempo de 480 a 840ms e os fatores Justiça (Justo para
os três - R$40,00 e R$40,00 e R$40,00, Injusto para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e
R$40,00, Injusto para a Dupla - R$70,00 e R$40,00 e R$10,00 e Injusto para Ambos –
Participante e Dupla - R$100,00 e R$10,00 e R$10,00) e Área dos eletrodos (Centro-Parietal
Direita ou Centro-Parietal Esquerda). Devido ao grande número de fatores a análise foi
dividia pelos fatores Gênero (Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Alto e Baixo) foi
analisada separadamente também. Segundo a Tabela 54, pode-se verificar que a análise
ANOVA para medidas repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça
(F[1;45]= 10,80, p<0,001) e Área (F[1;45]=11,76, p=0,001). Não foram encontradas
diferenças significativas para os fatores Gênero e Nível de Empatia tanto para o Amigo. Não
foram encontradas diferenças significativas da amplitude do LPC para os demais fatores e
interações.
178
Tabela 54 – Amplitude Média do LPC Desconhecido – ANOVA medidas repetidas em função da
Área, Gênero, Justiça, Dupla e Nível de Empatia
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, realizou-se análise post hoc com o teste de Fisher LSD e
observou-se uma diferença significativa na amplitude média do componente LPC entre as
propostas Injustas para Other e Justas (1,372μV ±0,2 e 2,267μV ±0,2 respectivamente, p<0,001),
entre as propostas Injustas para o Self e Justas (1,295μV ±0,2 e 2,267μV ±0,2 respectivamente,
p<0,001) e entre as propostas Injustas para Ambos e Justas (1,564μV ±0,2 e 2,267μV ±0,2
respectivamente, p<0,001).
Tabela 55 – Amplitude Média do LPC Desconhecido – Média e Erro Padrão em função da Justiça
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
na amplitude média do componente LPC entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-
Parietal Direita (1,385μV ±0,2 e 1,863μV ±0,2 respectivamente, p<0,001).
F p
Justiça 12,20 <0,001**
Justiça * Gênero 0,58 0,629
Área 15,68 <0,001**
Área * Gênero 0,11 0,735
Justiça * Área 1,19 0,315
Justiça * Área * Gênero 0,57 0,632
Justiça Média* Erro
Padrão
Justa 2,267 ±0,2
Injusta Other 1,372 ±0,2
Injusta Self 1,295 ±0,2
Injusta Ambos 1,564 ±0,2
179
Tabela 56 – Amplitude Média do LPC Desconhecido – Média e Erro Padrão em função da Área
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.2.2.4 Discussão dos Resultados –Parte 1
Como forma de organização da discussão destes dados, este tópico foi dividido com
relação aos resultados da tarefa comportamental (Ultimatum Game) e aos componentes
analisados (MFN, P300 e LPC).
8.2.2.4.1 Tree-Person Ultimatum Game adaptado
Os resultados do presente estudo estão de acordo com os estudos prévios
(ALEXOPOULOS et al, 2013; ALEXOPOULOS et al, 2012; GUTH, SCHMIDT e SUTTER,
2007) que também encontraram uma diferença significativa na porcentagem de rejeite das
propostas em função da Justiça: as propostas Injustas foram rejeitadas na sua grande maioria
em relação as propostas Justas e as propostas Injustas para Ambos e Injustas para o Self
foram rejeitadas igualmente, mas as propostas Injustas para o Self foram rejeitadas em maior
porcentagem do que as propostas Injustas para Others. Resultados que corroboram com a
preferência pela equidade ao rejeitarem mais as propostas Injustas do que as Justas e quando
estas eram Injustas para Ambos. Contudo, na situação de vantagem para o participante e
desvantagem para o terceiro (propostas Injustas para Other) a porcentagem de rejeite foi
menor apontando para uma preocupação com os ganhos próprios.
Com relação a interação dos fatores Dupla e Justiça, os participantes rejeitaram maior
porcentagem de propostas Injustas para o Self quando a dupla era um Desconhecido do que
quando era o Amigo e maior porcentagem de propostas Injustas para Other quando a dupla
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 1,863 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,385 ±0,2
180
era o Amigo. Resultados que apontam para uma preocupação maior com os ganhos do
terceiro quando este é uma pessoa de confiança sacrificando mais os ganhos próprios. Quando
a dupla era um Desconhecido rejeitaram muito menos propostas Injustas para Other e maior
porcentagem para as propostas Injustas para o Self mostrando uma menor preocupação com
os ganhos de um Desconhecido.
Estudos têm apontado para o papel da amigdala, da ínsula anterior e do CPFDL direito
na rejeição de propostas Injustas (SANFEY et al, 2003; CORRADI-DELL’ACQUA et al,
2012; CIVAI et al, 2012). Estas estruturas estariam relacionadas ao sinal de alerta de que algo
está errado, além das emoções negativas como raiva, levando a rejeição das propostas
injustas. Os participantes no presente estudo se preocuparam não somente com a desvantagem
para si mesmos, mas também com os ganhos do terceiro, o “dummy”, principalmente quando
este era um Amigo. Estudo apontou para a importância do Amigo para as pessoas e que os
participantes agem com eles da mesma forma como agiriam consigo mesmos, mas são menos
sensíveis a justiça quando um Desconhecido está envolvido (KIM et al, 2013) e, por isso,
seriam mais “protegidos” do que um Desconhecido.
Em relação ao tempo de reação para rejeitar as propostas Injustas os participantes
apresentaram maior tempo de reação para rejeitar quando a dupla (o terceiro “dummy”) era
um Amigo e tanto as Mulheres quanto os Homens apresentaram maior tempo de reação para
rejeitar propostas Injustas quando a dupla era o Amigo. Resultados que sugerem que os
participantes pensaram e se preocuparam mais antes de rejeitar quando os ganhos do Amigo
estavam envolvidos do que quando era um Desconhecido.
Interessante observar que para ambos os Níveis de Empatia analisados (Baixo e Alto)
os participantes apresentaram maior tempo de reação para rejeitar as propostas quando a
dupla era o Amigo do que um Desconhecido, corroborando com estudos prévios de que as
pessoas com Baixo e Alto nível de Empatia percebem a injustiça da mesma forma, o que
181
muda é a reação diante da injustiça cometida (LELIVED, VANDIJK e VANBEEST, 2012) e
que ambos os níveis se preocuparam mais com o Amigo.
Nesse sentido, na interação dos fatores Justiça, Gênero, Dupla e Nível de Empatia,
tanto as Mulheres quanto os Homens com Baixo nível de Empatia apresentaram maior tempo
de reação para rejeitar propostas Injustas para o Self quando a dupla era um Desconhecido do
que quando era o Amigo, resultados que sugerem as Mulheres e os Homens com Baixo nível
de Empatia, por conhecerem o Amigo, se preocuparam menos com o que este iria pensar ao
rejeitar este tipo de proposta do que um Desconhecido que depende dos participante para
ganhar algo. Por não terem nenhum vínculo afetivo com este, o Desconhecido poderia não
concordar com a rejeição deste tipo de proposta (que era justa para o terceiro). Como as
pessoas com Baixo nível de Empatia apresentam maior dificuldade de inferir os pensamentos
e desejos do outro (BARON-CHOEN, 2004; LAWSON, BARON-COHEN e
WHEELWRIGH, 2004), provavelmente, foi mais difícil para estes participantes decidirem
rejeitar as propostas quando o outro era um Desconhecido levando a um maior tempo de
reação.
Interessante observar que quando a dupla era o Amigo as propostas Injustas para
Ambos levaram os participantes a apresentarem maior tempo de reação para rejeitar as
propostas do que as propostas Injustas para Self e Injustas para Others. Uma possível
hipótese para este aumento no tempo de reação pode estar relacionado a uma certa
ambiguidade na situação: apesar de ser um tipo de propostas claramente injusta em relação ao
propositor (R$100,00 reais para este e R$10,00 reais para o participante e o terceiro), entre o
participante e a dupla o valor é o mesmo e ambos estariam ganhando a mesma quantidade.
Contudo, o propositor violou a norma social de equidade ao realizar tal proposta e, por isso,
estas foram rejeitadas na maioria das vezes. O maior tempo de reação para rejeitar propostas
injustas vai de encontro com estudos prévios que observaram maior ativação da área do
182
CPFDL direito na rejeição de propostas injustas, além da amigdala e da ínsula anterior
(SANFEY et al, 2003; CIVAI et al, 2012; CORRADI-DELL’ACQUA et al, 2012), apontando
para a hipótese de que a rejeição de propostas injustas estariam relacionadas a um processo
cognitivo como uma reação ao impacto afetivo negativo.
Já as Mulheres com Alto nível de Empatia o maior tempo de reação para rejeitar entre
o Desconhecido e o Amigo na propostas Injustas para o Self foi observado quando a dupla era
um Desconhecido e para as propostas Injustas para Other o maior tempo de reação para
rejeitar foi observado quando a dupla era o Amigo. Tais resultados sugerem que as Mulheres
com Alto nível de Empatia ponderaram quando a dupla era um Desconhecido para as
propostas Injustas para o Self (que é justa para o terceiro) quando estas foram rejeitadas. Já
quando as propostas foram injustas para a dupla Amigo, as Mulheres com Alto nível de
Empatia ponderaram mais ao rejeitá-las do que quando era para um Desconhecido sendo mais
rejeitadas quando era para o Amigo. Uma possível hipótese para esta diferença no tempo de
reação seria a diferença na reação a injustiça apontada por estudo prévio: pessoas com Alto
nível de Empatia preferem recompensar a vítima ao passo que as pessoas com Baixo nível de
Empatia preferem punir o ofensor por serem mais utilitários e se sentirem menos responsáveis
em minimizar as diferenças com a vítima (LELIVELD, VANDIJK e VANBEEST, 2012).
Contudo, no presente estudo, o participante é responsável pelos ganhos do terceiro que não
tem possibilidade de escolha além dos seus próprios ganhos, o que pareceu levar a um maior
conflito na rejeição de propostas em situações vantajosas e desvantajosas para o próprio
participante e, por isso, o maior tempo de reação na rejeição destas.
Em relação a diferença no tempo de reação entre homens e Mulheres com baixo nível
de Empatia observou-se um maior tempo de reação para rejeitar as propostas Injustas para
ambos quando a dupla era o Amigo pelas Mulheres do que pelos Homens, tais achados vão de
encontro com estudos prévios que mostram, apesar de uma correlação entre a exposição a
183
maiores níveis de testosterona no período pré-natal levar a uma motivação mais forte a
recompensa, baixa sensibilidade social e comportamentos mais antissociais (YILDIRIM e
DERKSEN, 2012), principalmente para os Homens que apresentam menores níveis de
Empatia do que as Mulheres em geral (BARON-COHEN, 2004; LAWSON, BARON-
COHEN e WHEELWRIGH, 2004), e que pessoas com Baixo nível de Empatia são mais
utilitárias (GLEICHGERRCHT e YOUNG, 2013). Os estudos em conjunto apontam para
uma motivação diferente na atenção a recompensa da dupla para os Homens e Mulheres com
Baixo e Alto nível de Empatia.
O tempo de reação para aceitar as propostas Justas para Ambos, observou-se apenas
uma diferença significativa entre as duplas com um tempo de reação um pouco maior para
aceitar tais propostas quando a dupla era o Amigo. Apesar de ter sido mais rápido para aceitar
do que rejeitar, o maior tempo de reação neste caso pode estar relacionado a uma maior
ponderação por parte do participante quando uma pessoa de grande confiança está envolvida e
depende deste do que um Desconhecido.
Tais resultados em conjunto corroboram com estudo anterior de Ma et al (2011) de
que ao envolver ganhos e perdas do participante a atenção e motivação deste parece ser maior
para os seus próprios resultados do que do Amigo e do Desconhecido. Entretanto, no presente
estudo, a Amizade mostrou-se um fator importante no comportamento de rejeitar e aceitar as
propostas injustas e justas. Estas diferenças estão relacionadas a diferenças do jogo utilizado
no presente estudo e o estudo de Ma et al (2011): no presente estudo os participantes tinham
que decidir por eles mesmos e por um terceiro que dependia deles para acumular algum valor
ao passo que o estudo de Ma et al os participantes jogavam por si e observavam o
desempenho do Amigo e do Desconhecido (ganhos e perdas). Tais diferenças são importantes
e mostram que o contexto tem um grande impacto na atenção e na motivação em relação a um
Amigo e um Desconhecido.
184
No caso estudado, os participantes precisam considerar o outro em quanto que no
estudo de Ma et al os participantes não precisavam se preocupar com o desempenho do outro
por nada poderem fazer, a não ser, observar. O que corrobora com a importância da empatia e
da mentalização na atenção, motivação e preocupação para com o outro apontada por estudos
prévios (FRITH e FRITH 2006; AMODIO e FRITH, 2006; FRITH e SINGER, 2008;
ENGEN e SINGER, 2013).
8.2.2.4.2 Potenciais Relacionados a Evento
8.2.2.4.2.1 Medial Frontal Negativity
No presente estudo a amplitude da diferença do componente MFN foi mais negativo
para as propostas Injustas para Ambos, resultados que vão de encontro com estudo de
Alexopoulos et al (2013) que também observaram amplitude mais negativa do componente
MFN quando as propostas foram injustas para Ambos, o participante e a dupla (o “dummy”).
Resultados que apontam para uma maior aversão a inequidade quando esta é cometida com
ambos do que quando é cometida para apenas uma pessoa da dupla quando o “dummy” era
um Amigo. O que sugere que na relação de confiança a vantagem para um parece ser
percebida de forma positiva. Ou seja, uma relativização na percepção de justiça quando uma
pessoa de grande importância afetiva está em envolvida.
Em relação a análise entre grupos, observou-se uma diferença significativa para
Gênero e Nível de Empatia quando a dupla era um Amigo. As Mulheres apresentaram
amplitudes mais negativa do componente MFN e os Homens mais positiva. Resultados que
apontam para uma maior sensibilidade e preocupação com a injustiça por parte das Mulheres
do que os Homens, que parecem relativizar mais a injustiça quando um Amigo está
envolvido.
185
Já as Mulheres são mais Empáticas (BARON-COHEN, 2004; MESTRE et al, 2009) e
tendem a sentirem mais empatia com as perdas do outro do que os Homens (FUKUSHIMA e
HIRAKI, 2006). Outro estudo recente mostrou ativação das áreas relacionadas a dor afetiva
na observação de amigos sofrendo exclusão social como se os participantes estivessem sendo
excluídos socialmente (MEYER et al, 2013). Por serem mais empáticas do que os Homens,
talvez as Mulheres tenham sentido a injustiça cometida para com os outros como se fosse com
elas mesmas com maior intensidade do que os Homens.
Resultados que corroboram com os achados em relação ao Nível de Empatia: pessoas
com Alto nível de Empatia apresentaram amplitudes mais negativas da diferença do
componente MFN e as pessoas com Baixo nível de Empatia apresentaram amplitude mais
positiva. Estudos têm mostrado que pessoas com Baixo nível de Empatia são mais utilitárias
(GLEICHGERRCHT e YOUNG, 2013) e que pessoas com Alto nível de Empatia se
preocupam em diminuir a injustiça compensando a vítima (LELIVELD, VANDJK e
VANBEEST, 2012). Considerando estes estudos em conjunto, é possível inferir que as
pessoas com Alto nível de Empatia foram mais sensíveis a injustiça do que as pessoas com
Baixo nível de Empatia.
Com relação a interação dos fatores Área e Justiça quando a dupla era o Amigo,
observou-se maior amplitude negativa da diferença do componente MFN na área Centro-
Parietal Direita para as propostas Injustas para Ambos. Para as propostas Injustas para o Self
e Injustas para Other também apresentaram maior amplitude do MFN na área Centro-Parietal
Direita do que Esquerda. Resultados que vão de encontro com estudos prévios que amplitude
do MFN está relacionada a atividade do CCA (GHERING e WILLOUGHBY, 2002;
MARTIN et al, 2009) e as áreas fronto-centrais (GHERING e WILLOUGHBY, 2002;
BOKSEN e DE CREMER, 2010; VAN NOORDT e SEGALOWITZ, 2012;
ALEXOPOULOS et al, 2012; 2013). Além disso, estudos tem apontado para a atividade do
186
CPFM a direita na habilidade de mentalização (AMODIO e FRITH, 2006) e do CPFVM
direita na mentalização e na regulação das emoções (DAMÁSIO, 2001; SHAMAY-TSOORY
et al, 2005; 2003).
Interessante observar que não houve diferença significativa na análise entre os grupos
para Gênero e Nível de Empatia quando a dupla era um Desconhecido. Além disso, não
encontrou-se diferença significativa para os fator Justiça quando a dupla era um
Desconhecido. Tais resultados corroboram com achados de estudos prévios que mostram as
pessoas tendem a tomar mais a perspectiva do outro quando este outro são pessoas
afetivamente importantes e com histórico recompensador (STALLEN, SMIDTS e SANFEY,
2013; KIM et al, 2013), a proteger mais o grupo a que pertence (DE DREU et al, 2012) e a ser
menos sensível a justiça quando decide para um Desconhecido (KIM et al, 2013).
Quando dupla era um Desconhecido observou-se apenas uma diferença significativa
para os participantes com Baixo nível de Empatia nas áreas dos eletrodos analisados sendo
mais negativo para os eletrodos na área Centro-Parietal Direita. Achados que vão de encontro
com estudos prévios de que o MFN está relacionada a atividade do CCA (GHERING e
WILLOUGHBY, 2002; MARTIN et al, 2009) e as áreas fronto-centrais (GHERING e
WILLOUGHBY, 2002; BOKSEN e DE CREMER, 2010; VAN NOORDT e SEGALOWITZ,
2012; ALEXOPOULOS et al, 2012; 2013). Contudo, interessante observar que não observou-
se diferença significativa entre os participantes com Alto e Baixo nível de Empatia
apresentando atividade similar na área Centro-Parietal Direita. O que sugere que os
participantes com Baixo e Alto nível de Empatia perceberam a injustiça de forma similar
quando a dupla era um Desconhecido corroborando com estudo recente que mostra maior
preocupação e empatia com pessoas afetivamente importantes e com histórico recompensador
quando o participante está envolvido no jogo (STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; KIM
et al, 2013).
187
Considerando os resultados em conjunto, os participantes foram mais empáticos
quando o Amigo era o “dummy” do que quando um Desconhecido estava envolvido e
perceberam as propostas Injustas para Ambos como mais Injustas do que quando havia
alguma desvantagem. Importante considerar que nesta parte do jogo os participantes também
tinham ganhos e perdas envolvidos. Este é um fator importante a ser considerado por envolver
um custo para os participantes ao rejeitarem propostas justas para eles mesmos quando era
injusta para o terceiro.
8.2.2.4.2.2 – P300
No presente estudo observou-se maior amplitude do componente P300 para as
propostas Justas para Ambos, para Injustas para Other comparado com Injusta para o Self e
comparado com Injustas para Ambos quando a dupla era um Amigo. Tais resultados estão de
acordo com estudos prévios que mostram maior amplitude do componente P300 para a
magnitude da proposta (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004;
WU e ZHOU, 2009) e para os ganhos (LONG, JIANG e ZOHOU, 2012; LENG e ZHOU,
2010), corroborando também com os achados anteriores de que o P300 estaria relacionado a
maior engajamento motivacional e atencional para aquilo que é considerado recompensador,
por isso a amplitude do P300 seria maior quando as propostas foram Injustas para Other
(situação em que a proposta é Justa para o participante).
Também alinhado com a literatura, o componente P300 apresentou maior amplitude na
área Centro-Parietal Direita (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN,
2004). O efeito da interação entre o fator Justiça e Área com maior amplitude do componente
P300 para as propostas Justas para Ambos e Injustas para Other (que é Justa para o
participante) na área Centro-Parietal Direita corrobora com os estudos anteriores sobre o
188
engajamento atencional e motivacional para as propostas Justas (PLOISCHI, 2007; GRAY et
al, 2004; YEUNG e SANFEY, 2004).
Quando o “dummy” era um Desconhecido também observou-se maior amplitude
componente P300 para as propostas Justas para Ambos, corroborando com estudos prévios
que mostram maior amplitude do componente P300 para a magnitude da proposta (YEUNG e
SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004; WU e ZHOU, 2009) e para os
ganhos (LONG, JIANG e ZOHOU, 2012; LENG e ZHOU, 2010).
O mesmo foi observado com relação a área com maior amplitude para a área Centro-
Parietal Direita corroborando com estudos prévios (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG,
HOLROYD e COHEN, 2004).
Os resultados apontam para semelhante processamento quanto as propostas Justas
tanto para o Amigo quanto para o Desconhecido como dupla, o que aponta para um maior
impacto com os ganhos para ambos e da equidade na atenção e motivação dos participantes.
8.2.2.4.2.3 – Late Positivity Complex
No presente estudo a amplitude do componente LPC foi maior para as propostas
Justas para Ambos tanto quando a dupla era o Amigo quando era um Desconhecido.
Resultado que vai de encontro com estudos prévios que mostram maior amplitude desde
componente para estímulos de grande relevância motivacional (SCHUPP et al, 200; WU et al,
2011; WU et al 2012; WEINBERG e HAJCAK, 2011; BOUDREAU, MCCUBBINS e
COULSON, 2009) e sensível a comparação social apresentando amplitude maior para
propostas com menores diferenças entre o propositor e o participante do que propostas com
maiores desigualdades entre o propositor e o participante (WU et al, 2011; WU et al, 2012;
WANG, YANG, JIANG e QIU, 2013). Resultados que apontam para maior relevância
motivacional quando há equidade. Por isso, os participantes não teriam apresentado diferença
189
significativa na amplitude do componente LPC quando houve grandes diferenças nos valores
propostos.
Alinhado com estudos prévios, o componente LPC apresentou maior amplitude na
área Centro-Parietal Direita. De acordo com achados anteriores, o hemisfério direito está
relacionado a categorização, engajamento motivacional e afetivo do estímulo e, por isso, o
componente LPC apresenta maior amplitude nos eletrodos Centro-Parietal Direito nas
situações de avaliação de categorização do que não-categorização de atitudes e sua grande
lateralização é atribuída a mudança do significado motivacional (CACIOPPO et al, 1996;
CRITES e CACIOPPO, 1996).
Os resultados semelhantes observados tanto quando o “dummy” era o Amigo quando
era um Desconhecido apontam para uma maior relevância na comparação entre os valores
para o próprio participante e a equidade para com o terceiro de forma semelhante.
Tais resultados em conjunto da primeira parte do estudo corroboram com os achados
de Ma et al (2011) de que o envolvimento pessoal do participante reduz a sensibilidade para
com o outro mesmo que seja uma pessoa importante como um Amigo. Os estudos de
Alexopoulos et al (2012; 2013) também vão nesta linha e mostram que a preocupação com o
que acontece com ambos e com o próprio participante é maior.
8.2.3 Resultados do Ultimatum Game adaptado – Parte 2
8.2.3.1 Taxa de Aceite e Rejeite do Ultimatum Game adaptado – Parte 2
Para a análise da Resposta emitida pelo participante, foi considerada a Porcentagem de
Rejeite como variável dependente para os fatores Justiça (Proposta Injustas – soma das
propostas R$20,00/R$80,00 e R$10,00/R$90,00- e Justas –R$50,00/R$50,00), Duplas
190
(Amigo-Desconhecido1, Desconhecido1-Amigo e Desconhecido1-Desconhecido2), Gênero
(Mulher e Homem) do participante e o Nível de Empatia (Baixo ou Alto) deste. Foi realizada
a ANOVA para medidas repetidas e verificou se, como pode se observar na Tabela 57, um
efeito significativo para o fator Justiça (F[1,45]=378,643, p<0,001) e Duplas (F[1,45]=19,002,
p<0,001) e na interação dos fatores Justiça*Duplas (F[1,45]=19,745, p<0,001). Não foram
encontradas diferenças significativas para os demais fatores e interações analisados.
Tabela 57 – Porcentagem de Rejeite - ANOVA para medidas repetidas em função da Justiça, Duplas,
Gênero e Nível de Empatia
F p
Justiça 378,643 <0,001**
Justiça * Gênero 0,023 0,881
Justiça * Nível Empatia 0,005 0,945
Justiça * Gênero * Nível Empatia 3,083 0,086
Duplas 19,002 <0,001**
Duplas * Gênero 0,465 0,630
Duplas * Nível Empatia 2,151 0,123
Duplas * Gênero * Nível Empatia 0,775 0,464
Justiça * Duplas 19,745 <0,001**
Justiça * Duplas * Gênero 0,476 0,623
Justiça * Duplas * Nível Empatia 1,864 0,161
Justiça * Duplas * Gênero * Nível Empatia 0,484 0,618
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, realizou-se o teste post hoc de Fisher LSD e observou-se uma
diferença significativa entre as a porcentagem de rejeite das propostas Justas e Injustas
(p<0,001). Como pode-se observar na Tabela 58, as propostas Injustas foram rejeitadas 80,5%
com erro padrão de ±2,9, muito mais do que as propostas Justas que foram rejeitadas 8,3%
com erro padrão de ±2.
Tabela 58 – Porcentagem de Rejeite - Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média Erro
Padrão
Injusta 80,5 ±2,9
Justa 8,3 ±2
191
Com relação a porcentagem de rejeite em função da Dupla, o teste post hoc de Fisher
LSD mostrou uma diferença significativa entre as duplas do Desconhecido1-Amigo e Amigo-
Desconhecido1 (49,6% ±1.37 e 34,1% ±3,1 respectivamente, p<0,001) e entre as duplas
Desconhecido2-Desconhecido1 e Amigo-Desconhecido1 (49,5% ±2,4 e 34.18% ±3,1
respectivamente, p<0,001).
Figura 17 – Média da porcentagem de Rejeite em função da Dupla; p<0,001
Em relação a interação dos fatores Justiça e Duplas, o teste post hoc de Fisher LSD
mostrou uma diferença significativa na porcentagem de rejeite das propostas Injustas entre as
duplas Desconhecido 1 propondo para o Amigo e Amigo propondo para o Desconhecido1
(94,7% ±1,6 e 58,4% ±6,7 respectivamente, p<0,001) e entre Desconhecido2 propondo para o
Desconhecido 1 e Amigo propondo para o Desconhecido 1 (88,5 ±2,6 e 58,4% ±6,7,
192
respectivamente, p<0,001). Com relação a dupla Amigo propondo para o Desconhecido1
observou-se uma diferença significativa entre as propostas Justas e Injustas (9,9% ±2,7 e
58,4% ±6,7 respectivamente, p<0,001). Para a duplas Desconhecido1 propondo para o Amigo
observou-se uma diferença significativa entre as propostas Justas e Injustas (4,5% ±1,9 e
94,7% ±1,6 respectivamente, p<0,001). Para a dupla Desconhecido2 e Descinhecido1
observou-se uma diferença significativa entre as propostas Justas e Injustas (10,5% ±3,6 e
88,5% ±2,6 respectivamente, p<0,001).
Tabela 59 – Porcentagem de Rejeite - Média e Erro Padrão em função da Justiça e Duplas
Justiça Duplas Média Erro
Padrão
Injusta
Amigo-Desconhecido1 58,4 ±6,7
Desconhecido1-Amigo 94,7 ±1,6
Desconhecido2-Desconhecido1 88,5 ±2,6
Justa
Amigo-Desconhecido1 9,9 ±2,7
Desconhecido1-Amigo 4,5 ±1,9
Desconhecido2-Desconhecido1 10,5 ±3,6
8.2.3.1 – Tempo de Reação
Para a análise do Tempo de Reação em que as propostas foram rejeitadas pelo
participante, foi realizada ANOVA para medidas repetidas tendo como variável dependente
as Médias do Tempo de Reação Rejeitar e como fatores Gênero (Homens e Mulheres),
Duplas (Amigo-Desconhecido1, Desconhecido1-Desconhecido2 e Desconhecido1-
Desconhecido2). Não foi considerada para a análise as propostas Justas por terem sido aceitas
em sua grande maioria. Por isso foi considerada para análise apenas as propostas Injustas
(Proposta Injustas – soma das propostas R$20,00/R$80,00 e R$10,00/R$90,00) e nível de
Empatia do participante (Baixo e Alto). Na Tabela 60 pode ser observado que houve um
193
efeito significativo para os fatores Duplas (F[1,45]=28,024, p<0,001). Não foram observadas
diferença significativa nos demais fatores e interações.
Tabela 60 - Tempo de Reação Rejeitar - ANOVA medida repetidas em função das Duplas, Gênero e
Nível de Empatia
F p
Duplas 28,024 <0,001**
Duplas * Gênero 0,022 0,978
Duplas * Nível Empatia 2,426 0,098
Duplas * Gênero * Nível Empatia 0,528 0,593
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Em relação ao efeito para o fator Duplas, realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD
e observou-se uma diferença significativa no tempo de reação para rejeitar as propostas
Injustas entre as duplas Desconhecido1 propondo para o Amigo e Amigo propondo para o
Desconhecido1 (771ms ±40 e 911ms ±39,2 respectivamente, p<0,001) e entre as duplas
Desconhecido2 propondo para o Desconhecido1 e Amigo propondo para o Desconhecido1
(728ms ±31,4 e 911ms ±39,2 respectivamente, p<0,001).
Tabela 61 – Tempo de Reação Rejeitar- Média e Erro Padrão em função do Duplas
Duplas Média* Erro
Padrão
Amigo-Desconhecido1 911 ±39,2
Desconhecido1-Amigo 771 ±40
Desconhecido2-Desconhecido1 728 ±31,4
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
Para a análise do Tempo de Reação em que as propostas foram aceitas pelo
participante, foi realizada ANOVA para medidas repetidas tendo como variável dependente
as Médias do Tempo de Reação Aceitar e como fatores Gênero (Homens e Mulheres), Duplas
(Amigo-Desconhecido1, Desconhecido1-Desconhecido2 e Desconhecido1-Desconhecido2).
Não foi considerada para a análise as propostas Injustas por terem sido 80% rejeitadas (como
pode ser observado na análise de porcentagem de rejeite). Por isso, foi considerada para
análise apenas as propostas Justas (R$50,00/R$50,00) e nível de Empatia do participante
194
(Baixo e Alto). Na Tabela 62 pode ser observado que não houve efeito significativo para
nenhum dos fatores e interações analisadas.
Tabela 62 - Tempo de Reação Aceitar - ANOVA medida repetidas em função das Duplas, Gênero e
Nível de Empatia
F p*
Duplas 0,129 0,879
Duplas * Gênero 2,490 0,089
Duplas * Nível Empatia 0,093 0,911
Duplas * Gênero * Nível Empatia 1,745 0,181
*Médias do Tempo de Reação em milissegundos (ms)
8.2.3.2 – VAS Notas
A Tabela 63 mostra os resultados da análise ANOVA para medidas repetidas tendo
como variável dependente as Notas dadas pelos participantes para cada propositor em função
do julgamento de justiça destes sobre as propostas realizadas (VAS-Notas de 0=Muito Injusto
a 10=Muito Justo) tem como fatores o Propositor (Amigo, Desconhecido 1 e Desconhecido
2), Gênero (Mulher e Homem) e Nível de Empatia (Baixo e Alto). Observou-se uma
diferença significativa apenas para o fator Propositor (F[1,45]=10,521, p<0,001). Não foram
observadas diferenças significativas para as demais interações.
Tabela 63 – VAS Notas – ANOVA medidas repetidas em função do Propositor, Gênero e Empatia
F p
Propositor 10,521 <0,001**
Propositor * Gênero 1,820 0,168
Propositor * Nível Empatia 0,352 0,704
Propositor * Gênero * Nível Empatia 0,305 0,738
*Análise considerando como efeito significativo p<0,001
195
A análise post hoc com o teste de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
entre as notas dadas para o Propositor Desconhecido1 e o Amigo (5,2 ±0,3 e 6,1 ±0,3
respectivamente, p=0,001) e entre o propositor Desconhecido2 e o Amigo (4,9 ±0,3 e 6,2 ±0,3
respectivamente, p<0,001).
Figura 18– VAS Notas em função do Propositor; p<0,001
8.2.3.3 Total de Dinheiro acumulado no UG
Em relação ao total de Dinheiro obtido em reais para cada participante nas Duplas de
Interação por meio das decisões dos voluntários, realizou-se um Teste-t pareado. Na Figura
19 é possível observar que houve uma diferença significativa no total de dinheiro obtido nos
três tipos de Interação (Amigo-Desconhecido – t(45)= 6,922, p<0,001; Desconhecido1-
Amigo – t(45)=3,916, p<0,001; Desconhecido2-Desconhecido1- t(45)=4,256, p<0,001). O
total de dinheiro acumulado foi maior para o Amigo quando este realizou propostas para o
Desconhecido1 (R$2.794,57 ±1517,5 e R$1.641,52 ±449,3, respectivamente). O
Desconhecido2 ganhou mais dinheiro em média do que o Desconhecido1 (R$1.626,30 ±957,5
196
e R$1.273,70 ±453,9 respectivamente) e o Desconhecido1 acumulou maior quantidade de
dinheiro em média do que o Amigo (R$1.572,61 ±751,8 e R$1.314,35 ±330,3).
Figura 19 – Média e Desvio Padrão do Total acumulado em reais para cada participante das Duplas; * p<0,001
8.2.3.2 Análise dos Potenciais Relacionados a Eventos
8.2.3.2.1 Potencial Medial Frontal Negativity
Para a análise do componente MFN, os eletrodos e a janela de tempo foram
selecionados de acordo com a literatura e com o observado na grande média deste estudo. A
janela de tempo definida foi entre 220ms à 400ms. O componente MFN foi analisado pela
diferença entre os potenciais observados nesta janela de tempo da condição Injusta (soma das
propostas R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$90,00) com a condição Justa (R$50,00/R$50,00).
Os eletrodos selecionados foram agrupados em 2 sub-áreas:
a) eletrodos frontais à esquerda: 22, 23, 18, 24 e 10;
b) eletrodos frontais à direita: 9, 10, 3, 4 e 124
* *
*
197
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo MFN tendo como variável dependente a diferença da Amplitude Média do MFN na
janela de tempo de 220 a 400ms para a dupla Amigo propondo para o Desconhecido1 e os
fatores Área dos eletrodos (Frontal Direita ou Frontal Esquerda), sendo analisado Gênero
(Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo) separadamente e respectivas
interações. Em relação ao fator Gênero, segundo a Tabela 64, pode-se observar que a análise
ANOVA para medidas repetidas apresentou um efeito significativo para a interação
Área*Gênero (F[1,45]=5,249, p=0,027). Não foram observadas diferenças significativas da
amplitude média da diferença do MFN para os demais fatores.
Tabela 64 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área
e Gênero
F p
Área 0.945 0,336
Área * Gênero 5.249 0,027*
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Em relação a interação dos fatores Área e Gênero, realizou-se uma análise post hoc
com o teste de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa na amplitude média da
diferença do MFN para as Mulheres entre os eletrodos da área Frontal Esquerda e Frontal
Direita (-1,001μV ±0,3 e -0,233μV ±0,3 respectivamente, p=0,019) e entre os Homens e as
Mulheres nas áreas Frontais Esquerda (0,039μV ±0,3 e -1,001μV ±0,3 respectivamente,
p=0,047). Na Tabela 65 apresenta-se as médias e erro padrão para cada condição.
198
Tabela 65 – Diferença da amplitude média do MFN – Média e Erro Padrão em função das Áreas e
Gênero
Gênero Área Média* Erro
Padrão
Mulher Frontal Direita -0,233 ±0,3
Frontal Esquerda -1,001 ±0,3
Homem Frontal Direita -0,272 ±0,4
Frontal Esquerda 0,039 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo MFN tendo como variável dependente a diferença da Amplitude Média do MFN na
janela de tempo de 220 a 400ms para a dupla Amigo propondo para o Desconhecido1 e os
fatores Área dos eletrodos (Frontal Direita ou Frontal Esquerda) e Nível de Empatia (Alto e
Baixo) separadamente e respectivas interações. Segundo a Tabela 66, pode-se observar que a
análise ANOVA para medidas repetidas apresentou um efeito significativo para a interação
Área*Nível Empatia (F[1,45]=5,249, p=0,027). Não foram observadas diferenças
significativas da amplitude média da diferença do MFN para os demais fatores.
Tabela 66 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área
e Nível Empatia
F p
Área 0,534 0,469
Área * Nível Empatia 6,439 0,015*
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Em relação a interação dos fatores Área e Nível de Empatia, realizou-se uma análise
post hoc com o teste de Fisher LSD e observou-se uma diferença significativa na amplitude
média da diferença do MFN para as pessoas com Alto nível de Empatia entre os eletrodos da
área Frontal Esquerda e Frontal Direita (-0,680μV ±0,3 e 0,089μV ±0,3 respectivamente,
p=0,015) . Na Tabela 67 apresenta-se as médias e erro padrão para cada condição.
199
Tabela 67 – Diferença da amplitude média do MFN – Média e Erro Padrão em função das Áreas e
Nível Empatia
Nível
Empatia Área Média*
Erro
Padrão
Baixo Frontal Direita -0,734 ±0,4
Frontal Esquerda -0,308 ±0,4
Alto Frontal Direita 0,089 ±0,3
Frontal Esquerda -0,680 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo MFN tendo como variável dependente a diferença da Amplitude Média do MFN na
janela de tempo de 220 a 400ms para a dupla Desconhecido1 propondo para o Amigo e os
fatores Área dos eletrodos (Frontal Direita ou Frontal Esquerda), sendo analisado Gênero
(Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo) separadamente e respectivas
interações. Em relação ao fator Gênero, segundo a Tabela 68, pode-se observar que a análise
ANOVA para medidas repetidas e não observou-se um efeito significativo para os fatores e
interações analisadas. Na análise between group observou-se uma diferença significativa para
o fator Gênero (F[1,45]=4,789, p=0,034) com uma média de -1,051μV e um erro padrão de
±0,4 para os Homens e uma média de 0,237μV e um erro padrão de ±0,4 para as Mulheres.
Tabela 68 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área
e Gênero
F p*
Área 0,022 0,884
Área * Gênero 0,009 0,926
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
200
Tabela 69 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área
e Nível Empatia
F p*
Área 0,029 0,865
Área * Nível Empatia 0,010 0,921
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo MFN tendo como variável dependente a diferença da Amplitude Média do MFN na
janela de tempo de 220 a 400ms para a dupla Desconhecido2 propondo para o Desconehcido1
e os fatores Área dos eletrodos (Frontal Direita ou Frontal Esquerda), sendo analisado Gênero
(Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo) separadamente e respectivas
interações. Como pode-se observar na Tabela 70, não foram observadas diferenças
significativas da amplitude média da diferença do MFN para os fatores e interações
analisados.
Tabela 70 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área
e Gênero
F p*
Área 0,301 0,586
Área * Gênero 1,344 0,252
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
Tabela 71 – Diferença da Amplitude Média do MFN – ANOVA medidas repetidas em função da Área
e Nível Empatia
F p*
Área 0,168 0,684
Área * Nível Empatia 0,022 0,882
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
201
8.2.3.2.1 Componente P300
Como foi observado na literatura, o componente P3 é tipicamente observado em uma
janela de tempo ao redor dos 300ms e em eletrodos centro-parietais. No presente estudo foi
definida uma janela de tempo entre 360ms a 480ms após a apresentação do estímulo. Os
eletrodos centro-parietais forma divididos em 2 sub-áreas:
a) eletrodos centro-parietais a esquerda: 53 e 54;
b) eletrodos centro-parietal direita: 79 e 86;
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo P300 tendo como variável dependente a Amplitude Média do P300 na janela de
tempo de 360 a 480ms para a dupla Amigo propondo para o Desconhecido1 e os fatores
Justiça (Justo- R$50,00/R$50,00 e Injusto- soma R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00), Área
dos eletrodos (Centro-Parietal Direita ou Centro-Parietal Esquerda), sendo que os fatores
Gênero (Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo) foram analisados
separadamente devido ao grande quantidade de fatores. Segundo a Tabela 72, pode-se
verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas encontrou uma diferença significativa
nas variáveis Justiça (F[1,45]= 13,935, p<0,001) e Área (F[1,45]=28,937, p<0,001) e na
interação Justiça*Área (F[1,45]= 10,731, p=0,002) e Justiça*Área*Gênero (F[1,45]=5,130,
p=0,028). Não foram encontradas diferenças significativas da amplitude média do P300 para
os demais fatores e para a análise considerando o fator Nível de Empatia.
Tabela 72 – Amplitude Média do P300 – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Gênero e
Área
F p
Justiça 13,935 0,001**
Justiça * Gênero 0,262 0,612
Área 28,937 <0,001**
Área * Gênero 0,011 0,917
202
Justiça * Área 10,731 0,002*
Justiça * Área * Gênero 5,130 0,028*
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Com relação ao fator Justiça, realizou-se um teste post hoc de Fisher LSD e observou-
se uma diferença significativa na amplitude média do componente P300 entre as propostas
Justas e Injustas (p=0,001) como pode-se observar na Tabela 73.
Tabela 73 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusta 1,686 ±0,3
Justa 2,599 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
entre os eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal a Direita (1,732μV ±0,2
e 2,553μV ±0,3, p<0,001) com maior amplitude nos eletrodos da área Centro-Parietal Direita.
Tabela 74 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 2,553 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 1,732 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Na interação entre os fatores Justiça e Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou
diferença significativa na amplitude do componente P300 nas propostas Injustas entre as áreas
Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (1,141μV ±0,3 e 2,230μV ±0,3
respectivamente, p<0,001), entre as propostas Justas e Injustas na área Centro-Parietal Direita
(2,875μV ±0,3 e 2,230μV ±0,3 respectivamente, p<0,001) e na área Centro-Parietal Esquerda
(2,322μV ±0,3 e 1,141μV ±0,3 respectivamente, p<0,001). Nas propostas Justas observou-se
203
uma diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita
(2,875μV ±0,3 e 2,322μV ±0,3 respectivamente, p<0,001).
Tabela 75 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça e Área
Justiça Área Média* Erro
Padrão
Injusta Centro-Parietal Direita 2,230 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 1,141 ±0,3
Justa Centro-Parietal Direita 2,875 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 2,322 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Em relação a interação entre os fatores Gênero, Justiça e Área, o teste post hoc de
Fisher LSD mostrou uma diferença significativa para as Mulheres nas propostas Injustas entre
as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (1,507μV ±0,4 e 2,766μV ±0,4
respectivamente, p<0,001), entre as propostas Justas e Injustas na área Centro-Parietal Direita
(2,766μV ±0,4 e 3,100μV ±0,4 respectivamente, p=0,038) e na área Centro-Parietal Esquerda
(2,749μV ±0,4 e 1,507μV ±0,4 respectivamente, p<0,001). Para as propostas Justas observou-
se uma diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e áreas Centro-Parietal
Direita (2,749μV ±0,4 e 3,100μV ±0,4 respectivamente, p=0,029). Já para os Homens
observou-se uma diferença significativa para as propostas Injustas entre as áreas Centro-
Parietal Esquerda e área Centro-Parietal Direita (0,775μV ±0,4 e 1,695μV ±0,4
respectivamente, p<0,001), entre as propostas Justas e Injustas na área Centro-Parietal Direita
(2,650μV ±0,4 e 1,695μV ±0,4 respectivamente, p<0,001) e na área Centro-Parietal Esquerda
(1,896μV ±0,4 e 0,775μV ±0,4 respectivamente, p<0,001). Nas propostas Justas observou-se
uma diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita
(1,896μV ±0,4 e 2,650μV ±0,4 respectivamente, p<0,001).
204
Tabela 76 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área, Gênero e Justiça
Gênero Justiça Área Média* Erro
Padrão
Mulher
Injusta Centro-Parietal Direita 2,766 ±0,4
Centro-Parietal Esquerda 1,507 ±0,4
Justa Centro-Parietal Direita 3,100 ±0,4
Centro-Parietal Esquerda 2,749 ±0,4
Homem
Injusta Centro-Parietal Direita 1,695 ±0,4
Centro-Parietal Esquerda 0,775 ±0,4
Justa Centro-Parietal Direita 2,650 ±0,4
Centro-Parietal Esquerda 1,896 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo P300 tendo como variável dependente a Amplitude Média do P300 na janela de
tempo de 360 a 480ms para a dupla Desconhecido1 propondo para o Amigo e os fatores
Justiça (Justo- R$50,00/R$50,00 e Injusto- soma R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00), Área
dos eletrodos (Centro-Parietal Direita ou Centro-Parietal Esquerda), sendo que os fatores
Gênero (Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo) foram analisados
separadamente devido ao grande quantidade de fatores. Segundo a Tabela 77, pode-se
verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas encontrou uma diferença significativa
nas variáveis Justiça (F[1,45]= 10,509, p=0,002) e Área (F[1,45]=25,363, p<0,001). Além
disso, observou-se um efeito significativo na análise between group para Gênero (F[1,45]=
5,056, p=0,030). Não foram encontradas diferenças significativas da amplitude média do
P300 para os demais fatores e para a análise considerando o fator Nível de Empatia.
Tabela 77 – Amplitude Média do P300 – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Gênero e
Área
F p
Justiça 10,509 0,002*
Justiça * Gênero 1,112 0,297
Área 25,363 <0,001**
Área * Gênero 0,277 0,601
205
Justiça * Área 0,103 0,750
Justiça * Área * Gênero 3,483 0,069
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença
significativa entre as propostas Justas e Injustas (3,158μV ±0,3 e 2,220μV ±0,3
respectivamente, p<0,001) com maior amplitude para as propostas Justas
Tabela 78 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusta 2,220 ±0,3
Justa 3,158 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
entre os eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal a Direita (2,285μV ±0,3
e 3,093μV ±0,3 respectivamente, p<0,001) com maior amplitude nos eletrodos da área
Centro-Parietal Direita.
Tabela 79 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 3,093 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 2,285 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
No efeito entre grupos do fator Gênero, observou-se uma diferença significativa entre
os Homens e as Mulheres (1,995μV ±0,4 e 3,383μV ±0,4 respectivamente, p=0,030) com
maior amplitude do componente P300 para as Mulheres.
206
Tabela 80 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função do Gênero
Gênero Média* Erro
Padrão
Mulher 3,383 ±0,4
Homem 1,995 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo P300 tendo como variável dependente a Amplitude Média do P300 na janela de
tempo de 360 a 480ms para a dupla Desconhecido2 propondo para o Desconhecido1 e os
fatores Justiça (Justo- R$50,00/R$50,00 e Injusto- soma R$10,00/R$90,00 e
R$20,00/R$80,00), Área dos eletrodos (Centro-Parietal Direita ou Centro-Parietal Esquerda),
sendo que os fatores Gênero (Masculino ou Feminino) e Nível de Empatia (Alto e Baixo)
foram analisados separadamente devido ao grande quantidade de fatores. Segundo a Tabela
81, pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas encontrou uma diferença
significativa nas variáveis Justiça (F[1,45]= , p=0,026), Área (F[1,45]=, p<0,001) e
Justiça*Área (F[1,45]= , p=0,025). Além disso, observou-se um efeito significativo na
análise between group para Gênero (F[1,45]= 5,056, p=0,005). Não foram encontradas
diferenças significativas da amplitude média do P300 para os demais fatores e para a análise
considerando o fator Nível de Empatia.
Tabela 81 – Amplitude Média do P300 – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Gênero e
Área
F p
Justiça 5,338 0,026*
Justiça * Gênero 0,954 0,334
Área 41,984 <0,001**
Área * Gênero 0,008 0,928
Justiça * Área 5,403 0,025*
Justiça * Área * Gênero 1,560 0,218
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
207
Para o fator Justiça, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença
significativa entre as propostas Justas e Injustas (2,805μV ±0,3 e 2,240μV ±0,3
respectivamente, p=0,026) com maior amplitude para as propostas Justas.
Tabela 82 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusta 2,240 ±0,3
Justa 2,805 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
entre os eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal a Direita (2,053μV ±0,3
e 2,991μV ±0,2 respectivamente, p<0,001) com maior amplitude nos eletrodos da área
Centro-Parietal Direita.
Tabela 83 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 2,991 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 2,053 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Na interação entre os fatores Justiça e Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou
diferença significativa na amplitude do componente P300 nas propostas Injustas entre as áreas
Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita (1,671μV ±0,3 e 2,809μV ±0,3
respectivamente, p<0,001), entre as propostas Justas e Injustas na área Centro-Parietal Direita
(3,174μV ±0,3 e 2,809μV ±0,3 respectivamente, p=0,003) e na área Centro-Parietal Esquerda
(2,435μV ±0,3 e 1,671μV ±0,3 respectivamente, p<0,001). Nas propostas Justas observou-se
208
uma diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal Direita
(2,435μV ±0,3 e 3,174μV ±0,3 respectivamente, p<0,001).
Tabela 84 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça e Área
Justiça Área Média* Erro
Padrão
Injusta Centro-Parietal Direita 2,809 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 1,671 ±0,3
Justa Centro-Parietal Direita 3,174 ±0,3
Centro-Parietal Esquerda 2,435 ±0,3
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
No efeito entre grupos do fator Gênero, observou-se uma diferença significativa entre
os Homens e as Mulheres (1,683μV ±0,4 e 3,362μV ±0,3 respectivamente, p=0,005) com
maior amplitude do componente P300 para as Mulheres.
Tabela 85 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função do Gênero
Gênero Média* Erro
Padrão
Mulher 3,362 ±0,3
Homem 1,683 ±0,4
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.2.3.2.2 – Componente LPC
Com base na literatura, o componente LPC é tipicamente observado em eletrodos da
região centro-parietais e em janelas de tempo ao redor de 600 ms. Nesse estudo foi definido
como janela de tempo para a análise deste componente o período de 500ms a 890ms após a
apresentação do estímulo. Foram selecionados eletrodos frontais divididos em 2 sub-áreas:
a) eletrodos centro-parietal a esquerda: 53 e 54;
b) eletrodos centro-parietal a direita: 79, 86;
209
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo LPC tendo como variável dependente a Amplitude Média do LPC na janela de
tempo de 500 a 890ms para a dupla Amigo propondo para o Desconhecido1 e os fatores
Justiça (Justo- R$50,00/R$50,00, Injusto para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00 e
Injusto- soma R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00) e Área dos eletrodos (Centro-Parietal
Direita ou Centro-Parietal Esquerda), sendo analisado separadamente os fatores Gênero
(Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Alto e Baixo) devido ao grande quantidade de
fatores. Na Tabela 86, pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas
encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1,45]= 23,428, p<0,001) e
Área (F[1,45]=23,119, p<0,001). Não foram encontradas diferenças significativas da
amplitude do LPC para os demais fatores e interações.
Tabela 86 – Amplitude Média do LPC – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Gênero e
Área
F p
Justiça 23.428 <0,001**
Justiça * Gênero .018 0,895
Área 23.119 <0,001**
Área * Gênero .885 0,352
Justiça * Área .665 0,419
Justiça * Área * Gênero 1.260 0,268
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Já a análise considerando o fator Nível de Empatia observou-se um efeito significativo
para a interação Justiça*Nível de Empatia (F[1,45]=5,148, p=0,028).
210
Tabela 87 – Amplitude Média do LPC – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Nível
Empatia e Área
F p
Justiça 29,574 <0,001**
Justiça * Nível Empatia 5,148 0,028*
Área 21,019 <0,001**
Área * Nível Empatia 0,066 0,799
Justiça * Área 0,508 0,480
Justiça * Área * Nível Empatia 0,006 0,940
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, realizou-se uma análise post hoc de Fisher LSD e observou-se
uma diferença significativa entre as propostas Justas e Injustas na amplitude média do
componente LPC (p<0,001). Como pode-se observar na Tabela 88, os participantes
apresentaram uma amplitude média do componente LPC maior para as propostas Justas
(2,445μV ±0,2) do que para as propostas Injustas (1,349μV ±0,2).
Tabela 88 – Amplitude Média do LPC – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusto 1,349 ±0,2
Justo 2,445 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Em relação a Área dos eletrodos, observou-se pela análise post hoc com o teste de
Fisher LSD uma diferença significativa entre as áreas Centro-Parietal Esquerda e Centro-
Parietal Direita (1,612μV ±0,2 e 2,183μV ±0,2 respectivamente, p<0,001).
Tabela 89 – Amplitude Média do LPC – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 2,183 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,612 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
211
Com relação a interação dos fatores Justiça e Nível de Empatia, realizou-se um teste
post hoc de Fisher LSD e observou-se um efeito significativo para os participantes com Baixo
nível de Empatia entre as propostas Justas e Injustas (2,930μV ±0,3 e 1,259μV ±0,3
respectivamente, p<0,001) e para os participantes com Alto nível de Empatia entre as
propostas Justas e Injustas (2,089μV ±0,2 e 1,402μV ±0,3 respectivamente, p=0,017).
Tabela 90 – Amplitude Média do LPC – Média e Erro Padrão em função da Justiça e Nível Empatia
Nível
Empatia Justiça Média*
Erro
Padrão
Baixo Injusta 1,259 ±0,360
Justa 2,930 ±0,329
Alto Injusta 1,402 ±0,302
Justa 2,089 ±0,276
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo LPC tendo como variável dependente a Amplitude Média do LPC na janela de
tempo de 500 a 890ms para a dupla Desconhecido1 propondo para o Amigo e os fatores
Justiça (Justo- R$50,00/R$50,00, Injusto para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e R$40,00 e
Injusto- soma R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00) e Área dos eletrodos (Centro-Parietal
Direita ou Centro-Parietal Esquerda), sendo analisado separadamente os fatores Gênero
(Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Alto e Baixo) devido ao grande quantidade de
fatores. Na Tabela 91, pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas repetidas
encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1,45]= 8,353, p=0,006) e Área
(F[1,45]=13,241, p=0,001). Não foram encontradas diferenças significativas da amplitude do
LPC para os demais fatores e para a análise considerando o fator Nível de Empatia.
212
Tabela 92 – Amplitude Média do LPC – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Gênero e
Área
F p
Justiça 8,353 0,006*
Justiça * Gênero 0,061 0,805
Área 13,241 0,001**
Área * Gênero 1,205 0,278
Justiça * Área ,154 0,697
Justiça * Área * Gênero 1,663 0,204
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença
significativa entre as propostas Justas e Injustas (2,458μV ±0,2 e 1,840μV ±0,2
respectivamente, p=0,006) com maior amplitude para as propostas Justas.
Tabela 93 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusta 1,840 ±0,2
Justa 2,458 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
entre os eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal a Direita (1,961μV ±0,2
e 2,337μV ±0,2 respectivamente, p<0,001) com maior amplitude nos eletrodos da área Centro-
Parietal Direita.
Tabela 94 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 2,337 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,961 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
213
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas para a análise do componente
cognitivo LPC tendo como variável dependente a Amplitude Média do LPC na janela de
tempo de 500 a 890ms para a dupla Desconhecido2 propondo para Desconhecido1 e os
fatores Justiça (Justo- R$50,00/R$50,00, Injusto para o Participante - R$70,00 e R$10,00 e
R$40,00 e Injusto- soma R$10,00/R$90,00 e R$20,00/R$80,00) e Área dos eletrodos (Centro-
Parietal Direita ou Centro-Parietal Esquerda), sendo analisado separadamente os fatores
Gênero (Masculino ou Feminino), Nível de Empatia (Alto e Baixo) devido ao grande
quantidade de fatores. Na Tabela 95, pode-se verificar que a análise ANOVA para medidas
repetidas encontrou uma diferença significativa nas variáveis Justiça (F[1,45]= 23,298,
p<0,001) e Área (F[1,45]=20,623, p<0,001). Não foram encontradas diferenças significativas
da amplitude do LPC para os demais fatores e para a análise considerando o fator Nível de
Empatia.
Tabela 95 – Amplitude Média do LPC – ANOVA medidas repetidas em função da Justiça, Gênero e
Área
F p
Justiça 23,298 <0,001**
Justiça * Gênero 0,206 0,652
Área 20,623 <0,001**
Área * Gênero 0,206 0,652
Justiça * Área 3,014 0,090
Justiça * Área * Gênero 0,980 0,328
*Análise considerando como efeito significativo p<0,05
**Análise considerando como efeito significativo p<0,001
Para o fator Justiça, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença
significativa entre as propostas Justas e Injustas (2,121μV ±0,2 e 1,358μV ±0,2
respectivamente, p<0,001) com maior amplitude para as propostas Justas.
214
Tabela 96 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Justiça
Justiça Média* Erro
Padrão
Injusta 1,358 ±0,2
Justa 2,121 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
Para o fator Área, o teste post hoc de Fisher LSD mostrou uma diferença significativa
entre os eletrodos da área Centro-Parietal Esquerda e Centro-Parietal a Direita (1,486μV ±0,2
e 1,994μV ±0,2 respectivamente, p<0,001) com maior amplitude nos eletrodos da área Centro-
Parietal Direita.
Tabela 97 – Amplitude Média do P300 – Média e Erro Padrão em função da Área
Área Média* Erro
Padrão
Centro-Parietal Direita 1,994 ±0,2
Centro-Parietal Esquerda 1,486 ±0,2
*Médias da Amplitude (μV) expresso pela média ±erro padrão.
8.2.3.3 Discussão dos Resultados – Parte 2
Como forma de organização da discussão destes dados, este tópico foi dividido com
relação aos resultados da tarefa comportamental (Ultimatum Game) e aos componentes
analisados (MFN, P300 e LPC).
8.2.3.3.1 Ultimatum Game adaptado – parte 2
Alinha com a literatura, os participantes rejeitaram mais propostas Injustas do que
Justas, corroborando com a teoria da aversão a inequidade mesmo quando o participante não
tem perdas ou ganhos próprios envolvido.
215
Com relação as duplas, os participantes rejeitaram uma porcentagem maior de
propostas realizadas pelo Desconhecido1 para o Amigo e das propostas realizadas pelo
Desconhecido2 para o Desconhecido1. Ao rejeitarem mais propostas realizadas pelos
Desconhecidos do que pelo Amigo aponta para o impacto da confiança como modulador da
percepção de injustiça considerando o Amigo mais justo do que os outros dois
Desconhecidos. Os participantes também pontuaram o Amigo como sendo mais justo do que
os dois Desconhecidos, resultados que estão alinhado com estudo prévio (CAMPANHÃ et al,
2011).
Os participantes também tenderam a beneficiar mais o Amigo do que o Desconhecido
rejeitando maior porcentagem de propostas Injustas realizadas pelo Desconhecido1 para o
Amigo do que as propostas injustas realizadas pelo Amigo para o Desconhecido1. Contudo,
os participantes também perceberam as propostas do Desconhecido2 como sendo mais
injustas rejeitando-as em maior porcentagem quando realizadas para o Desconhecido1 e
rejeitaram mais de 50% das propostas Injustas realizadas pelo Amigo, o que mostra que
apesar de perceberem os Desconhecidos como mais injustos do que o Amigo, os participantes
também perceberam a injustiça por parte do Amigo. Resultados que contradizem um estudo
recente que mostrou uma menor preocupação com a justiça quando envolvia um
Desconhecido (KIM et al, 2013).
Estudos apontam para uma tendência em conformarmos com o grupo a que
pertencemos devido ao histórico recompensador e a importância afetiva para com este
(STALLEN, SMIDTS e SANFEY, 2013; FARERI, CHANG e DELGADO, 2012;
DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005; FOURAGNAN et al, 2013). Esta tendência a
conformidade leva a comportamentos de maior aceitação mesmo que inicialmente o
participante tenha discordado do grupo a que pertence (CHENG et al, 2012). Tais resultados
apontam para uma regulação na detecção da violação da norma social e confiança quando um
216
outro afetivamente importante viola uma norma desativando esta detecção pelo núcleo
caudado levando, assim a maior conformidade (FOURAGNAN et al, 2013; STALLEN,
SMIDTS e SANFEY, 2013; MONTAGUE e LOHRENZ, 2007; KLUCHAREV et al, 2009;
DELAGDO e PHELPS, 2005). Tal hipótese é corroborada pelos achados no tempo de reação
para rejeitar propostas Injustas: os participantes levaram um tempo maior para rejeitar
propostas Injustas realizadas pelo Amigo para um Desconhecido do que um Desconhecido
realizando propostas para o Amigo e um outro Desconhecido. Resultados que apontam para
um maior tempo de avaliação as propostas injustas realizadas por uma pessoa de confiança e
afetivamente importante para o participante.
Com relação ao tempo de reação para aceitar as propostas Justas não foi observado
uma diferença significativa, o que sugere que os participantes não perceberam as propostas
justas de forma diferente entre os três propositores aceitando a grande maioria deste tipo de
proposta.
Com relação ao montante acumulado em cada interação, o Amigo acumulou a maior
quantidade de dinheiro no final do jogo do que o Desconhecido1 e o Desconhecido2
apontando para uma maior tendência dos participantes em beneficiarem o Amigo. Contudo,
quando o Desconhecido1 realizou propostas para o Amigo este acumulou maior quantidade
de dinheiro do que o Amigo. Como a sequência sempre foi a mesma (primeiro o Amigo
propunha para o Desconhecido1, depois o Desconhecido1 propunha para o Amigo e no final o
Desconhecido2 propunha para o Desconhecido1) os participantes podem ter buscado
compensar o Desconhecido1 após terem beneficiado o Amigo na primeira parte do jogo. A
mesma hipótese pode ser considerada para o maior montante acumulado para o
Desconhecido2 pelo fato de ter jogado apenas no final e pelo fato do Desconhecido1 já ter
sido beneficiado na interação anterior.
217
Os resultados do presente estudo estão alinhados com a teoria da preferencia a
inequidade e a aversão pela injustiça mesmo quando não há perdas ou ganhos próprios
envolvidos, resultados que sugerem uma motivação maior para a punição de comportamentos
injustos do que o benefício próprio como estudos anteriores sugerem: um processamento
automático e evolutivo para a proteção do grupo e para a manutenção das normas sociais
(FEHR e GÄCHTER, 2000, 2002; FEHR e SCHIMIDIT, 1999). Estudos tem apontado para a
detecção da violação da norma social e a rejeição de propostas injustas, mesmo para uma
terceira parte no jogo, pela insula anterior (CORRADI-DELLÀCQUA et al, 2012; CIAVAI et
al, 2012; SANFEY et al, 2003), estrutura também relacionada a “dor social” e a empatia a dor
(LEIBERMAN e EISENBERG, 2009; MASTEN, MORELLI e EISENBERG; 2011). Sua
maior ativação foi observada no aumento de comportamentos pro-sociais para as vítimas
(MASTEN, MORELLI e EISENBERG; 2011).
Esta hipótese é reforçada pela rejeição de propostas também ocorrer na interação entre
dois Desconhecidos e sem nenhum custo ou vantagem para o participante no jogo. Ou seja,
não haveria motivação no jogo em si para o participante se preocupar com a injustiça para o
Desconhecido uma vez que o racional seria aceitar qualquer valor e não teria nenhuma
implicação de ganhos ou perdas para o participante e nem para o seu Amigo, uma vez que o
poder se decisão estava nas mãos do participante e este realizava propostas antes do
Desconhecido.
8.2.3.3.2 Potenciais Relacionados a Eventos
8.2.3.3.3 Media Frontal Negativity
No presente estudo, observou-se uma interação entre os fatores área e Gênero sendo
que as Mulheres apresentaram amplitude mais negativa da diferença do componente MFN na
área Frontal Esquerda quando o Amigo realizou propostas para o Desconhecido1. O que
218
sugere que as Mulheres tiveram maior conflito do que os Homens com as propostas realizadas
pelo Amigo. Estudos tem apontado para maior amplitude do MFN na detecção de conflito
(KIMURA et al, 2013) e maior para os participantes que mudavam sua escolha inicial para a
escolha do grupo (CHEN et al, 2012). Corradi-Dell’Aqua et al (2012), observaram maior
ativação da Insula Anterior (IA) Esquerda no UG tanto quando o participante recebeu
propostas ruins quando um desconhecido recebeu propostas ruins apontando para emoções
negativas e detecção de violação da norma social (CIVAI et al, 2012; SANFEY et al, 2003).
Considerando os estes estudos em conjunto, pode-se ingerir que as Mulheres perceberam com
maior intensidade a violação da expectativa em relação as propostas do Amigo do que os
Homens.
Resultados que corroboram com os estudos sobre a diferença de gênero na observação
do desempenho do outro que mostram maior sensibilidade das Mulheres na observação de
perdas do outro com maior amplitude do MFN (FUKUSHIMA e HIRAKI, 2006), que tendem
a serem mais apaziguadoras, se preocuparem com a comunidade e com o outro (FISCHER-
SHOFTY, LEVKOVITZ e SHAMAY-TSOORY, 2013; MESTRE et al, 2009).
O Nível de Empatia também foi um fator que modulou a amplitude do MFN em
relação a Área. Os participantes com Alto nível de Empatia apresentaram amplitude da
diferença do MFN mais negativa nos eletrodos da área Frontal Esquerda e mais positiva na
área Frontal Direita quando o Amigo realizou propostas para o Desconhecido1. Resultados
que vão de encontro com estudo anterior que mostraram amplitude mais negativa do MFN em
pessoas com Alto nível de Empatia (FUKUSHIMA e HIRAKI, 2006) e ativação de áreas
relacionadas a emoções negativas e detecção de violação da norma social como a IA
Esquerda no UG (CORRADI-DELL’AQUA et al 2012; CIVAI et al, 2012; SANFEY et al,
2003). Considerando tais estudos em conjunto, pode-se inferir que as pessoas com Alto nível
de Empatia não somente perceberam a injustiça, mas também detectaram um conflito entre
219
sua expectativa com relação ao Amigo e as propostas observadas, corroborando com os
achados de Chen et al (2012) na violação da expectativa com relação a escolha do grupo que
pertence.
O fator gênero foi um fator que modulou a amplitude do MFN quando um
Desconhecido1 realizou propostas para o Amigo com amplitude mais negativa para os
Homens e mais positiva para as Mulheres. Importante ressaltar que nesta parte do jogo os
participantes não tinham ganhos e nem perdas, mas tinham que decidir no lugar do outro e
este outro dependia dos participantes para ganhar algum valor. Além disso, todos os
participantes jogaram seguindo a mesma sequência de interação: primeiro a dupla Amigo
propondo para o Desconhecido1, depois o Desconhecido1 propondo para o Amigo e, por
último, o Desconhecido2 propondo para o Desconhecido1. Os Homens parecem ter
percebido as propostas tanto do Amigo quanto do Desconhecido1 como Injustas por terem
apresentado amplitudes negativas do componente MFN nas duas interações ao passo que as
Mulheres parecem ter sentido maior violação de expectativa quando o Amigo realizou as
propostas do que quando o Desconhecido1 realizou as propostas apresentando amplitude do
MFN mais positiva para este último. O que sugere que as Mulheres talvez não esperassem
comportamentos mais justos por parte do Desconehcido1, uma vez que não houve diferença
de gênero significativa quando a nota de julgamento de justiça para os propositores sendo o
Desconhecido1 considerado mais injusto do que o Amigo. Uma possibilidade para esta
expectativa mais baixa em relação ao Desconhecido1 pode estar relacionada a percepção das
propostas realizadas pelo Amigo para este anteriormente. Se as Mulheres perceberam como
inesperadamente injustas, não esperariam que um Desconhecido fosse mais justo após tais
propostas criando assim uma expectativa menor.
Um estudo mostrou que a expectativa modula a percepção de justiça fazendo com que
as pessoas aceitem mais propostas injustas quando é sinalizado que os propositores já fizeram
220
propostas injustas anteriormente no jogo UG (SANFEY et al, 2009). Dessa forma, pode-se
inferir que, provavelmente, as Mulheres consideraram as propostas realizadas pelo
Desconehcido1 mais justas em função de terem percebido as propostas realizadas pelo Amigo
mais injustas. Já os Homens, por serem mais sistemáticos (BARON-COHEN, 2004;
LAWSON, BARON-COHEN e WHEELWRIGH, 2004) e, por terem naturalmente maior
quantidade de testosterona, são mais competitivos e vigilantes (BOS et al, 2012) teriam
percebido os dois propositores como injustos, apesar de não terem pontuado de forma
diferente do que as Mulheres o Amigo considerando-o mais justo.
Kim et al (2013) mostrou que os participantes tendem a se comportar com o Amigo de
forma similar como se comportam quando a injustiça é cometida com eles mesmos ao passo
que com um Desconhecido há uma redução na sensibilidade com a injustiça cometida
apontando para uma maior facilidade de se colocarem no lugar do outro quando este é
afetivamente importante para eles. Além disso, as notas são dadas no final dos jogos (parte 1
e parte 2), o que pode ter levado a uma avaliação mais cognitiva do que afetiva quando
realizaram o julgamento de justiça das propostas realizadas e uma relativização no
comportamento do Amigo, possivelmente, pelos mecanismos descritos por estudos anteriores
do CPFV lateral na redução da atividade de estruturas relacionadas a detecção da violação da
confiança e uma redução da atividade do núcleo caudado para manter as crenças iniciais sobre
o outro quando estas crenças entram em conflito com o comportamento observado
(FOURAGANAN te al, 2013), o que pode ter levado a maior conformidade com o
comportamento deste.
As Mulheres já são mais empáticas (SHULTER-RÜTHER et al, 2008; BARON-
COHEN, 2004; LAWSON, BARON-COHEN e WHEELWRIGH, 2004) e mais
apaziguadoras, preocupadas com o outro (FISHER-SOFTY, LEVKOVITZ e SHAMAY-
221
TSOORY, 2013), podemos inferir que estas ponderaram as propostas do Desconhecido1 em
relação a percepção das propostas realizadas pelo Amigo anteriormente como não tão justas.
Os achados de Kim et al (2013) em relação a distância social e ao menor impacto da
injustiça também são corroborados com os resultados do presente estudo na terceira dupla,
quando o Desconhecido2 realizou propostas para o Desconehcido1. Interação em que não
observou-se efeito significativo na amplitude da diferença do MFN para nenhum dos fatores
analisados. O fato dos fatores gênero e nível de empatia não terem modulado a amplitude do
componente MFN na interação entre dois desconhecidos aponta para uma menor preocupação
com os ganhos do outro e com a injustiça cometida para com desconhecidos. Resultados que
estão alinhados com estudos prévios de observação de um Amigo e um Desconhecido
jogando que mostram diferença na amplitude do componente MFN e FRN para com as perdas
do Amigo, mas não para com o Desconhecido, principalmente quando o participante não tem
perdas e ganhos envolvidos no jogo (MA et al, 2011; FUKUSHIMA e HIRAKI, 2006; LENG
e ZHOU, 2010).
Os resultados em conjunto apontam para a Amizade como um modulador importante
na percepção de justiça indo de encontro a estudos prévios que mostram que há uma sintonia
mental com aqueles em que reportam forte sentimentos de confiança no outro com ativação
do STS, área relacionada a tomar a perspectiva do outro (STALLEN, SMIDTS e SANFEY,
2013). Krueger et al. (2007) sugere que o conhecimento prévio sobre as características do outro
(que garante sentimento de confiança de forma incondicional) gera alto nível de sincronicidade
entre os parceiros resultando em menores demandas cognitivas. Nessa linha, a amizade parece
levar a uma maior facilidade em se colocar no lugar do outro.
Um estudo recente mostrou que as faces de pessoas confiáveis foram percebidas como
mais similares com a face do participante do que as faces de parceiros não confiáveis
(FARMER, MCKAY e TSAKIRIS, 2014). Além disso, os estudos com oxitocina sugerem
222
não somente maior nível de confiança (BAUMGARTNER et al, 2008; KOSFELD, et al. 2005;
ZACK, 2012), mas também comportamentos de maior conformidade para aqueles que são
considerados afetivamente importantes e de confiança (DE DREU et al, 2012; STALLEN,
SMIDTS e SANFEY, 2013; ISRAEL, HART e WINTER, 2014; STALLEN et al, 2012).
Considerando tais estudos em conjunto, pode-se inferir que a confiança parece levar a maior
empatia não somente pela percepção do outro como alguém semelhante a si mesmo, mas
também pela importância afetiva levando a maior sintonia nos pensamentos e sentimentos
para com o outro.
8.2.3.3.4 P300
Alinha com a literatura, para as três dupla os participantes apresentaram maior
amplitude do componente P300 para as propostas Justas do que Injustas. Resultados que
corroboram com a teoria de que o P300 é sensível a magnitude da proposta (YEUNG e
SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004; WU e ZHOU, 2009) e com estudos
prévios que mostram maior amplitude do componente P300 para propostas Justas do que
Injustas (HEWIG et al., 2010; WU et al, 2012; WU et al., 2011) e para ganhos do que não-
ganhos (LONG, JIANG e ZOHOU, 2012; LENG e ZHOU, 2010).
Com relação a área, para todas as duplas os participantes apresentaram maior
amplitude do componente P300 na área Centro-Parietal Direita, resultados que estão de
acordo com a literatura (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG, HOLROYD e COHEN, 2004).
Além disso, os participantes apresentaram maior amplitude do componente P300 para as
propostas Justas na área Centro-Parietal Direita tanto na dupla Amigo propondo para o
Desconehcido1 quanto na dupla Desconhecido2 propondo para o Desconehcido1, corroborando
com estudos prévios sobre o engajamento atencional e motivacional para as propostas Justas
(PLOISCHI, 2007; GRAY et al, 2004; YEUNG e SANFEY, 2004) e para maior amplitude do
223
componente P300 para a magnitude da proposta (YEUNG e SANFEY, 2004; YEUNG,
HOLROYD e COHEN, 2004; WU e ZHOU, 2009) e para os ganhos (LONG, JIANG e
ZOHOU, 2012; LENG e ZHOU, 2010).
As propostas Justas também eliciaram maior amplitude do componente P300 para as
Mulheres e para os Homens na área Centro-Parietal Direita do que na área Centro-Parietal
Esquerda, resultados que sugerem que tanto as Mulheres quanto os Homens perceberam as
propostas Justas realizadas pelo Amigo como recompensadoras.
Interessante observar que apenas quando o Desconehcido1 realizou propostas para o
Amigo e quando o Desconhecido2 realizou propostas para o Desconhecido1 houve um efeito
entre grupos para o fator Gênero, sendo que para ambas as duplas as Mulheres apresentaram
maior amplitude do componente P300 do que os Homens. O que sugere que as Mulheres
perceberam as propostas realizadas por estas duplas de forma mais recompensadoras do que
os Homens.
A expectativa é um fator que pode ter levado a modulação da amplitude do
componente P300 para as Mulheres, uma vez que a relação entre a amplitude do MFN e do
P300 para conformidade e expectativa tem sido observada em estudos prévios (YU e SUN,
2013; HAJCAK et al, 2007; PFABIGAN et al, 2010). No presente estudo, as Mulheres
apresentaram uma redução da amplitude do MFN sendo mais positiva quando as propostas
foram realizadas pelo Desconehcido1 para o Amigo apontando para uma percepção mais
positiva das propostas realizadas por este e uma expectativa menor do que os Homens para
este propositor.
Yu e Sun (2013) observaram uma relação entre a redução da amplitude do FRN e um
aumento na amplitude do componente P300 para uma conformidade com as escolhas e
sugerem que se conformar seria por si só percebido como positivo. Resultados inesperados
também aumentaram a amplitude do componente P300 (HAJCAK et al, 2007; PFABIGAN et
224
al, 2010). Além disso, o componente P300 também tem sido observado com maior amplitude
na comparação social por e os autores sugerem que alguns contextos levariam a um maior
engajamento e esforço cognitivo (MOSER, GAERTIG e RUZ, 2014).
Considerando tais estudos em conjunto, pode-se inferir que as Mulheres, por serem
mais apaziguadoras, se preocuparem mais com o bem estar comum, com as relações sociais e
apresentam maior facilidade para a compreensão da intenção do outro (FISHER-SHOFTY,
LEVKOVITZ e SHAMAY-TSOORY, 2013; MESTRE et al, 2009; VIGIL, 2007), podem ter
percebido as propostas realizadas pelo Desconehcido1 e pelo Desconehcido2 como
inesperadas e mais positivas devido a uma baixa expectativa em relação a estes levando a uma
maior amplitude do componente P300 do que para os Homens, que são mais competitivos e,
provavelmente, tinham maior expectativa com relação a estes propositores. Importante
considerar que o fato dos participantes não terem recompensas e perdas envolvidas, mas
tinham que se colocarem no lugar de quem recebia as propostas, pode ter levado a um maior
engajamento e esforço cognitivo por parte das Mulheres que, em geral, têm maior facilidade
de se colocar no lugar do outro (BARON-CHOEN, 2003; MESTRE et al, 2009; SCHULTE-
RÜTHER et al, 2008). Já os Homens podem ter se distanciado mais e, por isso, reduzido sua
sensibilidade para a justiça (KIM et al, 2013).
8.2.3.3.5 Late Positivity Complex
No presente estudo, os participantes apresentaram maior amplitude do componente
LPC para as propostas Justas para as três duplas de interação. Alinhado com estudos prévios
que mostram maior amplitude do componente LPC para estímulos de grande relevância
motivacional (SCHUPP et al, 200; WU et al, 2011; WU et al 2012; WEINBERG e HAJCAK,
2011; BOUDREAU, MCCUBBINS e COULSON, 2009). Além disso, este componente mais
tardio vem sendo apontado como um componente sensível a comparação social apresentando
225
amplitude maior para propostas com menores diferenças entre o propositor e o participante do
que propostas com maiores desigualdades entre o propositor e o participante (WU et al, 2011;
WU et al, 2012; WANG, YANG, JIANG e QIU, 2013). Resultados que apontam para maior
relevância motivacional quando há equidade. Contudo, apenas quando o Amigo realizou
propostas para o Desconhecido1 que observou-se uma interação entre os fatores Justiça e
Nível de Empatia.
O fato do Amigo ser uma pessoa afetivamente importante para o participante poder
levado a um maior engajamento atencional e motivacional para as propostas realizadas por
este, ainda mais por terem que decidir se aceitariam ou rejeitariam as propostas deles no lugar
de um Desconhecido. O que pode ter levado a uma maior preocupação empática na
comparação social e, por isso, o LPC ter apresentado maior amplitude para as propostas
Justas tanto para as pessoas com Baixo quanto com Alto nível de Empatia. Resultados que
vão de encontro com estudos prévios que apontam para o maior impacto da injustiça quando
uma pessoa de grande importância afetiva e confiança está envolvida (KIM et al, 2013),
principalmente quando o participante não tem ganhos ou perdas no jogo (MA et a, 2011;
LENG e ZHOU, 2010). Além disso, componente LPC tem sido observado com maior
amplitude em situações na “leitura “ de interação de mentes do que uma única mente
(WANG et al, 2011), estudos que apontam para um maior engajamento cognitivo e da
empatia na comparação social principalmente quando uma pessoa de confiança está
envolvida.
Assim, interação do fator Justiça e Nível de Empatia para o Amigo propondo para o
Desconhecido1 sugere maior engajamento atencional e motivacional na comparação social
das propostas realizadas pelo Amigo com maior amplitude do componente P300 para as
propostas Justas por terem menor diferença entre o propositor e quem recebe a proposta (WU
et al, 2011; 2012), diminuindo o conflito do participante. Em relação aos dois níveis de
226
Empatia terem apresentado maior amplitude do LPC para as propostas Justas, estudo anterior
mostrou que tanto as pessoas com Baixo quanto com Alto nível de Empatia percebem a
justiça de forma semelhante, entretanto, reagem a injustiça de forma diferente (LELIVELD,
VANDIJK e VANBEEST, 2012). O que sugere que os participantes com Baixo e Alto nível
de Empatia tenham processado a injustiça de forma semelhante. Por ser um componente mais
tardio, o LPC parece estar relacionado a um processamento mais cognitivo, possivelmente
envolvendo a atividade do CPFM (WANG et al, 2011). Também é um componente que não
está relacionado ao processamento da valência em si dos estímulos, mas sim a uma
reavaliação destes (WU et al, 2012).
Em relação ao efeito para o fator área encontrado para as três duplas, na mesma
direção de estudos prévios, a amplitude do componente LPC foi maior na Área Centro-
Parietal Direita. De acordo com achados anteriores, o hemisfério direito está relacionado a
categorização, engajamento motivacional e afetivo do estímulo e, por isso, o componente
LPC apresenta maior amplitude nos eletrodos Centro-Parietal Direito nas situações de
avaliação de categorização do que não-categorização de atitudes e sua grande lateralização é
atribuída a mudança do significado motivacional (CACIOPPO et al, 1996; CRITES e
CACIOPPO, 1996).
9 Discussão Geral
O presente estudo teve como objetivo geral investigar o impacto da Empatia e do
Gênero no Ultimatum Game como moduladores do comportamento e da atividade
eletrofisiológica em relação a Confiança. Além disso, investigar o impacto da preferencia
social na percepção de justiça em dois contextos diferentes de envolvimento pessoal em duas
versões adaptadas do Ultimatum Game em relação a Confiança e o como a Confiança e os
227
fatores Gênero e Nível de Empatia modulam o comportamento e a atividade eletrofisiológica
nestes contextos.
Para isso, dois experimentos foram realizados para a melhor compreensão destas
variáveis. No primeiro experimento foi possível verificar que não somente a Confiança é um
fator importante na modulação do comportamento e na atividade eletrofisiológica, como
também os fatores Gênero e a Empatia.
No segundo experimento foi possível observar novamente o impacto da Confiança
como modulador do comportamento e da atividade eletrofisiológica nos dois contextos
estudados: envolvendo ganhos e perdas e a outra sem ganhos e perdas pessoais, mas tinham
que se colocar no lugar do outro.
Corroborando com o estudo prévio realizado no mestrado (CAMPANHÃ et al, 2011),
a Confiança novamente mostrou ser um forte fator modulador do comportamento em ambos
os experimentos. Não somente levando a um viés de percepção de justiça por parte dos
participantes, mas também foi possível verificar como os diferentes Gêneros são impactos
pela Confiança, bem como a Empatia parece ter maior impacto quando há o envolvimento de
uma pessoa de Confiança. Tais resultados corroboram com estudos prévios de que a distância
social é um fator importante na tomada de decisão social e na percepção de justiça apontando
para uma relativização desta em diferentes contextos (KIM et al, 2013; MA et al, 2011; LENZ
e ZHOU et al, 2010; FUKUSHIMA e HIRAKI, 2006). Além disso, os resultados do presente
estudo corroboram com estudos prévios que mostram o impacto da Confiança na
conformidade com violações de normas sociais devido a importância afetiva e o histórico
recompensador que a pessoa de Confiança tem para os participantes (FOURAGNAN et al,
2013; DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005; STALLEN, SMIDTS e SNAFEY, 2013).
O contexto também foi um fator importante para este viés de percepção. No primeiro
experimento os participantes acreditavam receber propostas diretamente do Amigo e do
228
Desconhecido e, no segundo experimento, os participantes tinham que decidir por eles e por
um terceiro “dummy”, na primeira parte, e no lugar de quem recebia as propostas do Amigo e
pelo Amigo na segunda parte do jogo. O fato de na segunda parte do segundo experimento
não envolver ganhos e perdas pessoais fez com que os participantes apresentassem um viés
menor para a percepção de justiça por parte do Amigo na observação das propostas realizadas
por este no componente MFN. Apesar de comportamentalmente os participantes beneficiarem
mais o Amigo quando este era o propositor e quando o Desconehcido1 realizou propostas
para o Amigo, os participantes acumularam um valor maior para o Desconhecido 1 do que
para o Amigo. O que sugere que a sequência das interações e o distanciamento do participante
tenha levado a uma maior relativização da justiça entre as três duplas de interação.
Quando os participantes tinham ganhos próprios envolvidos no jogo, o viés de
percepção de justiça para com o Amigo foi maior. Os resultados considerados em conjunto
apontam para uma maior conformidade com o comportamento das pessoas de grande
importância afetivas, mas que o contexto é um fator importante na potencialização deste viés.
Um estudo recente mostrou que informações prévias sobre o parceiro não somente
criava uma reputação levando a confiança, mas também diminuía a atividade da insula,
estrutura relacionada as emoções negativas e a injustiça (CORRADI-DELL’ACQUA et al,
2012; CIAVAI et al, 2012; SANFEY et al, 2003), e uma maior ativação do CPFM apontando
para uma redução na incerteza sobre o comportamento do outro e na antecipação de previsão
sobre o comportamento do outro (FOURAGNAN et al, 2013).
A importância da Amizade observada no presente estudo corrobora com estudos
prévios a respeito da diferença do comportamento de proteção e cuidado para com Amigos de
forma muito semelhante ao comportamento de proteção e cuidado para com familiares
(KORCHMAROS e KENNY, 2006), mostrando que este é considerado tão importante
229
quando a família e que estes comportamentos estão relacionados também a necessidade
humana de aceitação e pertencimento a grupos (EISENBERG e LIEBERMAN, 2004).
Estudos de neuroimagem têm apontando para uma atividade do CPFVL na redução de
atividades que detectam a violação da confiança como o núcleo caudado, mecanismo
relacionado a detecção de um erro quando ocorreria a violação (FOURAGNAN et al, 2013;
DELGADO, FRANK e PHELPS, 2005) e parece ser um mecanismo evolutivo no sentido de
que evitaria retaliações desnecessárias e auxilia na manutenção da estabilidade social,
segundo Fouragnan et al (2013).
O componente MFN foi um importante marcador biológico para a melhor
compreensão do viés de percepção de justiça na interação com pessoas de Confiança e na
maior conformidade para com estes. Corroborando com achados anteriores, a redução da
atividade do MFN foi relacionada a um comportamento de maior conformidade com aumento
da amplitude do P300 também (YU e SUN, 2013).
Como um marcador na detecção da injustiça e na aversão deste, o MFN também foi
importante para uma melhor compreensão acerca da diferença de Gênero mostrando uma
característica descrita em estudos prévios das Mulheres serem mais apaziguadoras,
preocupadas com o bem estar comum e mais empáticas (BARON-COHEN, 2004; MESTRE
et al, 2009; FISCHER-SHOFTY, LEVKOVITZ e SHAMAY-TSOORY, 2013) levando a uma
maior relativização na percepção de injustiça. Apesar de terem sido mais sensíveis a injustiça,
as Mulheres tentaram contentar a todos ao passo que os Homens, mais competitivos,
apresentaram comportamento de maior proteção para o Amigo.
Em uma perspectiva mais evolutiva, tais comportamentos parecem estar relacionados
a teoria de que as Mulheres são mais sociáveis e se preocupam mais com o bem estar do
grupo por terem comportamentos selecionados desde a idade das cavernas, onde as Mulheres
230
eram responsáveis pelo cuidado da prole e do grupo. Já os Homens cuidavam mais da
proteção do grupo e da liderança deste (BARON-CHOEN, 2003).
A punição altruísta também foi modulada pela Confiança levando Homens e Mulheres
a rejeitarem mais as propostas Injustas quando o Amigo era sua dupla, o que tinha um custo
para os participantes, do que quando era um Desconhecido. Os fatores Gênero e Nível de
Empatia só modularam o tempo de reação na parte comportamental da primeira parte do
experimento1. Contudo, o MFN só foi mais negativo quando as propostas foram Injustas para
Ambos quando a dupla era o Amigo. Os fatores Gênero e Nível de Empatia só modularam a
amplitude do MFN quando a dupla era o Amigo, sendo mais negativo para as Mulheres e para
as pessoas com Alto nível de Empatia apontando novamente para uma maior sensibilidade a
injustiça quando o outro é uma pessoa afetivamente importante.
Dessa forma, a punição altruísta foi modulada não somente pelo envolvimento pessoal
nos ganhos e perdas do participante, mas também fortemente pela Confiança rejeitando mais
propostas injustas realizadas pelos Desconhecidos e favorecendo o Amigo nas duas partes do
jogo do segundo experimento com amplitude mais negativa do MFN quando a dupla era um
Amigo, na primeira parte, e apenas quando o Amigo estava envolvido na segunda parte.
O componente P300 e LPC foram não somente sensíveis a recompensa, mas também a
expectativa, conformação social e a comparação social. Alinhados com estudos prévios, estes
componentes foram modulados também pelo contexto e pela Confiança sendo que estes
fatores levaram a diferenças entre Gênero e Nível de Empatia na amplitude destes.
Novamente a Confiança foi um importante fator na modulação destes componentes com
maior amplitude do P300 nos ganhos para Ambos, tanto Amigo quanto Desconehcido, na
primeira parte do segundo experimento e para as propostas justas realizadas pelas três duplas
na segunda parte do segundo experimento. Contudo, o Gênero só modulou a amplitude do
componente P300 quando o Desconhecido1 e Desconehcido2 realizaram propostas com
231
maior amplitude para as Mulheres. O que sugere que estas tinham expectativas menores com
relação a este propositores.
O componente LPC, tanto no primeiro experimento quanto nas duas partes do segundo
experimento, foi maior quando as propostas eram mais justas. Ou seja, quando a diferença
entre os participantes era menor corroborando com achados anteriores da relação da
amplitude do componente LPC na comparação social (WU et al, 2011; 2012). Além disso, o
Nível de Empatia só modulou a amplitude do componente LPC quando o Amigo propôs para
o Desconhecido1 com maior amplitude tanto para baixo quando para alto empatia para as
propostas justas (maior ainda para Alto nível de Empatia para as propostas justas). Os
resultados em conjunto apontam para um maior engajamento das pessoas com Alto nível de
Empatia não somente na comparação social, mas também na redução da diferença entre as
partes envolvidas. Mas não quando o participante tem perdas e ganhos envolvidos.
Já no primeiro experimento, a Gênero e Nível de Empatia também modulou a
amplitude do componente LPC com maior amplitude para as propostas justas tanto para as
Mulheres quando para os Homens, mas para as Mulheres foi maior quando as propostas
Justas foram realizadas pelo Amigo. Os Homens apresentaram maior amplitude quando as
propostas Justas foram realizadas por um Desconhecido. Resultados que novamente aponta
para a maior amplitude do componente LPC na redução da diferença entre propositor e
participante sendo uma preferência maior para Homens e Mulheres com Alto nível de
Empatia. A diferença de gênero também corrobora com achados anteriores de que as
Mulheres teriam maior engajamento e atenção para a Amizade e os Homens, por serem mais
competitivos, maior engajamento e atenção quando as propostas foram realizadas por um
Desconhecido.
Assim, o presente estudo trouxe importantes contribuições a cerca do comportamento
humano na interação social e como o contexto e a confiança modulam o comportamento. A
232
interação dos fatores aqui estudados em diferentes contextos corroboram com o caminho que
os estudos dos hormônios oxictocina e testosterona, hormônios não somente presentes em
quantidades diferentes entre os gêneros, mas também como moduladores do comportamento
social, vem sendo apontado. Apesar destes hormônios não terem sido dosados no presente
estudo, futuros estudos poderão investigar melhor a relação dos comportamentos observados
de conformidade e os níveis da oxitocina e testostenora entre os gêneros nos diferentes níveis
de confiança.
Esta diferença do contexto faz sentido numa perspectiva mais evolutiva, modulando o
comportamento em diferentes situações de forma a maximizar a probabilidade de
sobrevivência por sermos seres que dependem uns dos outros deste a mais tenra idade
(LIBERMEN e EISENGER, 2009). Inclusive, estudos comportamentais sociais tem
corroborado com esta hipótese mostrando que o baixo poder social leva a maior empatia
(COTÉ et al, 2011), maior compaixão (STELLAR et al, 2011) e comportamento de doação
(KRAUS, KELTNER e CHENG, 2010) do que aqueles que tem maior poder social ou de
maior classe social. Achados que sugerem uma preocupação maior com o outro por depender
mais do outro para aumentar as chances de sobrevivência, ao passo que as pessoas com alto
poder social seriam mais autônomas e, por isso, se preocupariam menos com o outro.
Nesse sentido, entender o impacto da Confiança nos diferentes contextos, bem como o
impacto da Empatia e do Gênero na tomada de decisão social é de grande relevância não
somente para a melhor compreensão do comportamento humano nos diferentes fenômenos
observados, mas também para a melhor compreensão de quadro clínicos como o Autismo e
Síndrome de Willians, distúrbios do desenvolvimento com comprometimentos importantes na
interação social. Em relação ao Autismo, um Transtorno Global do Desenvolvimento,
pesquisas têm apontado para alterações na atividade de estruturas relacionadas a cognição
social como a empatia (CHIU et al, 2008; SCHULTE-RÜTHER, 2011), no monitoramento
233
do comportamento e na detecção de erros (HENDERSON et al, 2006; SANTESSO et al,
2011; LARSON et al, 2011). Pensar em intervenções para grupos como estes para sua
inclusão social ainda é um grande desafio, uma vez que ainda não é claro todos os fatores que
regem o comportamento social sendo alguns deles considerados irracionais.
O presente estudo trás contribuições importantes acerca da importância da empatia na
interação social e da confiança que podem vir a auxiliar não somente na compreensão do
comportamento deste grupo clínico, mas também a pensar em possíveis intervenções para
uma inclusão social mais efetiva dos pacientes com menores prejuízos no desenvolvimento
cognitivo como os Autistas de auto desempenho e os Asperges, pacientes que aprecem
apresentar um grau de cognição social preservada (CHIU et al, 2008), mas ainda não
suficiente para ser modulado por diferentes contextos sociais e para a compreensão de
sutilezas das normas sociais que não são explicitamente colocadas.
Em suma, o presente estudo trouxe importantes contribuições acerca do impacto da
Confiança, Gênero e Empatia na tomada de decisão social. Futuros estudos utilizando outras
técnicas da neurociências como a combinação da estimulação cerebral não-invasiva e o
registro eletroencefalográfico para uma melhor compreensão do papel de áreas cerebrais mais
específicas relacionadas aos mecanismos da confiança e a não percepção da violação da
confiança, por exemplo. Dessa forma, levará a maior clareza na compreensão da confiança
como um fator importante que modula a percepção de justiça em diferentes contextos socias.
10. Conclusão
O presente estudo investigou o impacto da empatia e do gênero na tomada de decisão
social no jogo UG tendo como propositores uma pessoa de confiança e um desconhecido
(experimento1). Além disso, investigou-se por meio da punição altruísta o impacto do
234
envolvimento pessoal no jogo ug adapatado com duas condições diferentes em que um amigo
e desconhecidos dependiam do participante. o presente estudo trouxe importantes
contribuições acerca do impacto da Confiança, Gênero e Empatia na tomada de decisão social
apontando para a importância da confiança como modulador da percepção de justiça, bem
como as diferenças entre os gêneros na percepção de justiça levando a diferentes reações
frente a diferentes níveis de confiança e de envolvimento pessoal. Os resultados do presente
estudo contribuíram para uma melhor compreensão a cerca do contexto na modulação do
comportamento e como o gênero e a empatia apresentam maior ou menor impacto em relação
a estes. Os resultados em conjunto sugerem que a necessidade de pertencimento leva a
conformidade e a um viés na percepção de justiça devido a importância afetiva do outro.
Futuros estudos poderão contribuir para maior compreensão dos mecanismos subjacentes a
este viés de percepção em função do gênero e do nível de empatia como estudos com
dosagem de hormônios e o registro da atividade eletrofisiológica, por exemplo. Compreender
os mecanismos subjacentes as diferenças entre gênero nas relações de confiança poderá
ampliar o conhecimento acerca de fenômenos sociais como a não percepção de segundas
intenções em diferentes contextos sociais e, assim, possibilitar pensar em estratégias de
intervenção para diferentes fases do desenvolvimento como os adolescentes que são mais
sucetíveis de se envolverem sem perceber os riscos, pacientes com prejuízos em habilidades
sociais, entre outros.
235
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248
ANEXO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Sujeito de Pesquisa
Gostaríamos de convidá-lo a participar do projeto de pesquisa “Gênero e Empatia como
moduladores dos processos de decisão social – um estudo comportamental e eletrofisiológico”
que se propõe investigar o impacto da empatia e as diferenças de gênero na confiança em jovens por
meio de um jogo de tomada de decisão social. Além disso, iremos investigar a atividade
eletroencéfalográfica com o uso do EEG durante o jogo para estudar como processamos as
informações em diferentes interações sociais. Para isso, será solicitado que traga um amigo do mesmo
gênero de grande confiança que irá jogar com você. Antes de realizamos o jogo, será aplicado
questionário sobre os dados demográficos e algumas escalas. Você irá realizar o jogo com o seu amigo
durante o registro da atividade eletroencefalográfica com uma touca de eletrodos do EEG embebida
em uma solução salina e shampoo. Você não sentirá nada, a touca apenas coleta as informações não
implicando nenhum tipo de risco para você que permanecerá acordado o tempo todo. Os instrumentos
de avaliação serão aplicados pelo Pesquisador Responsável e tanto os instrumentos de coleta de dados
quanto o contato interpessoal oferecem riscos mínimos aos participantes.
Em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao Pesquisador Responsável para o
esclarecimento de eventuais dúvidas (no endereço abaixo), e terá o direito de retirar a permissão para
participar do estudo a qualquer momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. As informações
coletadas serão analisadas em conjunto com a de outros participantes e será garantido o sigilo, a
privacidade e a confidencialidade das questões respondidas, sendo resguardado o nome dos
participantes (apenas o Pesquisador Responsável terá acesso a essa informação), bem como a
identificação do local da coleta de dados.
Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa, poderá
entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie -
Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino - Mezanino.
Desde já agradecemos a sua colaboração.
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas pelo
Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação é voluntária, e que, a qualquer momento
tenho o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar a permissão para participar
da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo.
Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________
Assinatura do Sujeito de Pesquisa:__________________________________________
Declaro que expliquei ao Responsável pelo Sujeito de Pesquisa os procedimentos a serem realizados
neste estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se da pesquisa sem qualquer
penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas apresentadas.
São Paulo,___de__________de_______.
___________________________________ _________________________________
Pesquisador Responsável: Camila Campanhã Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio
Universidade Presbiteriana Mackenzie
R. Paiuí, nº181, 10º andar
Telefone:2114-8001
e-mail:[email protected]
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Instituição
Gostaríamos de convidar a sua Instituição a participar do projeto de pesquisa “Gênero e
Empatia como moduladores dos processos de decisão social – um estudo comportamental e
eletrofisiológico” que se propõe investigar o impacto da empatia e as diferenças de gênero na
confiança em jovens adultos universitários entre 18 a 30 anos por meio de um jogo de tomada de
decisão social. Além disso, iremos investigar a atividade eletroencéfalográfica com o uso do EEG
durante o jogo para estudar como as pessoas processam as informações em diferentes interações
sociais. Para isso, será solicitado que traga o participante traga um amigo do mesmo gênero de grande
confiança que irá jogar com ele. Durante o registro da atividade eletroencefalográfica com uma touca
de eletrodos do EEG embebida em uma solução salina e shampoo o participante não sentirá nada, a
touca apenas coleta as informações não implicando nenhum tipo de risco para o participante que
permanecerá acordado o tempo todo. Os instrumentos de avaliação serão aplicados pelo Pesquisador
Responsável e tanto os instrumentos de coleta de dados quanto o contato interpessoal oferecem riscos
mínimos aos participantes.
Em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao Pesquisador Responsável para o
esclarecimento de eventuais dúvidas (no endereço abaixo), e terá o direito de retirar a permissão para
participar do estudo a qualquer momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. As informações
coletadas serão analisadas em conjunto com a de outros participantes e será garantido o sigilo, a
privacidade e a confidencialidade das questões respondidas, sendo resguardado o nome dos
participantes (apenas o Pesquisador Responsável terá acesso a essa informação), bem como a
identificação do local da coleta de dados.
Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa, poderá
entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie -
Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino - Mezanino.
Desde já agradecemos a sua colaboração.
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas pelo
Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação da Instituição e dos Sujeitos de Pesquisa é
voluntária, e que, a qualquer momento ambos tem o direito de obter outros esclarecimentos sobre a
pesquisa e de retirar-se da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo.
Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________
Assinatura do Sujeito de Pesquisa:__________________________________________
Declaro que expliquei ao Responsável pela Instituição os procedimentos a serem realizados neste
estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se da pesquisa sem qualquer
penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas apresentadas.
São Paulo,___de__________de_______.
___________________________________ _________________________________
Pesquisador Responsável: Camila Campanhã Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio
Universidade Presbiteriana Mackenzie
R. Paiuí, nº181, 10º andar
Telefone:2114-8001
e-mail:[email protected]