Caio Fábio - Ta doendo

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    Caio Fbio DArajo Filho

    O Privilgio de Poder

    Simplesmente Dizer:T DOENDO

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    Caio Fbio DArajo Filho --- T DOENDO!

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    Caio Fbio DArajo Filho

    Capa:Carlos Franco

    Reviso:Sandra Regis

    Editorao eletrnica:Josnei e Vera Formagio

    7 impresso, 1998

    Devidamente autorizado e com todos os direitos depublicao e distribuio dos ttulos com a marca

    VINDE reservados MZ Produes Culturais Ltda.

    SCRN 716 Bl. F Loja 36Braslia, DF CEP 70770-556

    Fone./Fax: (061) 349-6032

    Filiada ABEC

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    Caio Fbio DArajo Filho --- T DOENDO!

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    ISBN 85-86467-25-1

    Impresso na ColmbiaPrinted in Colmbia

    Dedicatria

    A todos aqueles queentendem que ter f,

    quando no h milagres,

    um milagre maior doque ter f paraoperar milagres.

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    O Privilgio de PoderSimplesmente

    Dizer: T Doendo

    Um Vo Perdido

    Na quinta-feira 29 de julho, eu deveria ter embarcado no vo das 22horas, rumo aos Estados Unidos, a fim de pregar na sexta-feira e nosbado noite, bem como na manh de domingo, no encerramento docongresso da Youth For Christ International (MPC Internacional). Noentanto, na tera-feira 27, noite, comecei a ter fortes dores no estmago,na cabea e em todo corpo, alm de vmitos, diarria e sintomas degastrite. No dormi aquela noite.

    A quarta-feira foi marcada pelo agravamento daqueles sintomas. Dequarta para quinta-feira, a crise se acentuou tanto que minha mulher teveque me levar ao hospital, onde passei o resto da noite recebendo soro commedicamento apropriado. No momento de retornar a minha casa, amdica resolveu que eu no deveria viajar, sob pena de que a crisepudesse se agravar ou se repetir durante as 17 horas da viagem.

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    Para mim, foi muito desagradvel aceitar a recomendao mdica.Afinal, havia muita gente contando com minha ida quele evento. Almdisso, eu mesmo entendia tratar-se de um congresso extremamenteestratgico, em termos de evangelizao mundial. No entanto, eu no

    podia tomar a deciso de ir, correndo o risco de ver a situao agravar-see deixando, com isso, minha famlia sobressaltada. Decidi acatar ainstruo mdica e no fui. Continuei a tomar a medicao e, dois diasdepois, j estava me sentindo bem melhor. Mas j era tarde para ir.

    Hoje, domingo, 1 de agosto, quatro dias aps o ocorrido, quandoestou escrevendo este livreto, o sentimento que me vem ao corao deprofunda alegria. Alegria por poder dizer que no me senti bemfisicamente, sem ter, contudo, que me justificar por isto. Alegria por no

    ter a obrigao de achar que toda enfermidade seja obra direta do diabo.Alegria por poder aceitar uma orientao mdica como conselhodivino.Alegria por poder dizer a voc que no sou super-homem. Alegriapor poder compartilhar com voc a verdade da minha fraqueza. Alegriapor poder me regozijar na Graa de Deus (II Co. 12:7-10).

    A Angstia de Uma Orao No

    RespondidaEssa experincia que acabei de narrar totalmente diferente de uma

    outra que vivi h quase 19 anos. Naquele tempo, eu morava em Manaus etinha apenas um ano e meio de f consciente em Jesus. Desde que eu meconvertera para valer, no fazia outra coisa a no ser pregar o evangelhotodos os dias, expulsar demnios tambm diariamente (s vezes trssituaes de exorcismo no dia), orar pelos doentes (vendo muitos seremmilagrosamente curados) e ler livros sobre f. Foi naquele perodo quecomecei a ler alguns dos livros e teologias que hoje esto muito em vogano Brasil. Eram livros que garantiam a cura de Deus, sempre que vocora com f, ensinando tambm que, quando voc ora e no v a curachegar, voc tem que decretar a cura e ignorar os sintomas da doena.Pois bem, assim crendo e assim vivendo, adoeci de uma hepatite agudacontrada beira do Rio Negro, pintando um barco da igreja. Quando adoena chegou, pensei:

    Essa no vai ficar. Deus sabe que meu corao no duvida do Seupoder. Portanto, vou pedir a meu pai para me ungir com leo e

    vamos mandar essa enfermidade sair em nome de Jesus.

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    Assim foi feito. Oramos com f e autoridade. A enfermidade, noentanto, parecia no se retirar. Decidi, ento, que somente os sintomas daenfermidade haviam permanecido e declarei:

    Mesmo que eu ainda tenha os sintomas, pela f, vou viver como sej estivesse curado.Assim fiz. Comi gordura; fiz esforo fsico; fui luta. Quase morri.

    A hepatite no apenas se agravou, como ainda se complicou de talmaneira que eu tive que ficar cinco meses na cama, tomando soro todosos dias e curtindo agonias espirituais quase insuportveis. Mil perguntasinvadiam minha mente de dia e de noite.

    O que teria acontecido? O que de errado fora feito? Ser que eu no

    tivera f? Que Deus insensvel era aquele que me via entrar de cabea naexperincia e quebrar a cara?Foi horrvel. Minha alma gemia angustiada e perplexa em noites e

    noites insones. E o pior era quando chegavam os amigos de J, todoscheios de frmulas. Todos com uma receita de milagre. Todos com umaexplicao.

    Felizmente, foi ento que aprendi que pior do que no ficarcurado de uma doena, ter que ficar curado dela. um inferno na

    alma.E por que estou lhe dizendo isto? A razo simples. Eu no agentomais ver lderes evanglicos tentando vender ao povo de Deus a imagemde que quem anda com Jesus no adoece, no passa por tribulaes, nose cansa, no conhece limitaes, no aceita sua prpria condiohumana. Meu desconforto com essa doutrina se fundamenta nos seguintesaspectos bsicos que passarei a descrever.

    A Bblia Passou Longe

    Inicialmente, no me agrado dessa doutrina, porque ela no bblica. A tentativa de fazer da Cruz o ponto de anulao de toda dor eenfermidade falso. No tem apoio no texto bblico, nem nas doutrinasapostlicas, nem na experincia humana narrada na Bblia.

    A Palavra de Deus nos d conta de que o patriarca Jac morreu deuma enfermidade, mas com a mente cheia de bnos (Gn. 48:1-33).Eliseu, em quem o poder de Deus alcanou nveis de manifestaes scomparveis aos que foram manifestos na vida de Jesus, morreu,

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    entretanto, de uma enfermidade fsica (II Reis 13:14). Paulo diz aosglatas que sua estada entre eles deveu-se a uma enfermidade fsica (Gl.4:13), e fala de Timteo, referindo-se a ele como algum suscetvel afreqentes enfermidades (I Tim. 5:23). Acerca de Epafrodito,

    companheiro de Paulo, diz-se que andou todo o processo gradual deaproximao da morte e saiu de l lentamente, aps um tempo natural derecuperao (Fp. 2:25-28).

    Alguns certamente perguntaro: Como pode ser isto se Isaas 53 dizque Jesus levou na Cruz nossas dores, enfermidades, transgresses einiqidades?!

    Ora, eu devo entender esse levar de duas maneiras: como umlevar expiatrio, ou seja, ele levou o que eu mereo sofrer e se ofereceu a

    Deus como oferta moral e espiritual substitutiva por mim. Isto tem a vercom a justificao que traz perdo de pecados, e com a salvao. A outramaneira de ver este levar na perspectiva da experincia da nossacondio humana, isto , como um que sabe o que padecer (Is. 53:3). por isso que o livro de Hebreus diz que Ele um Sumosacerdote quepode se compadecer de nossas fraquezas, porque foi tentado em todas as

    coisas a nossa semelhana e passou por todos os sentimentos que voc eeu experimentamos (Heb. 4:15). A prova disto que no texto de Isaas 53

    os resultados desse levar de dores, enfermidades, transgresses einiqidades so vistos apenas nas duas perspectivas expostas acima, quaissejam, ele justificar (Salvador) a muitos, porque as iniqidades deleslevar sobre si (Is. 53:11): e derramou a sua alma na morte; foicontado com os transgressores, contudo levou sobre si o pecado demuitos e pelos transgressores intercedeu (Sumo sacerdote; Is. 53:12).

    Vemos, portanto, que Isaas nos diz que as duas bnosdecorrentes da Cruz so a justificao do pecador e a ao intercessriado Salvador a nosso favor. Tenho motivos para lhe dizer que, mesmocrendo em Jesus, sendo salvo por Ele, e sendo objeto da Sua intercessosumo sacerdotal, continuo vulnervel dor (voc tem dvida disso?),passvel de doenas e de morte, sujeito a transgresses (eu no tenhodvida disso), lutando sempre contra minha tendncia iniqidade. EmJesus, eu recebi o poder justificador que j me absolveu dos meuspecados e que me fortalece para enfrentar as minhas inclinaes naturais;recebi, igualmente, a graa que cura, quando curar o que o Deus degraa acha que deve realizar em mim. Isto porque, s vezes, a fim decurar meu carter, Deus tem que me deixar enfermar no corpo, mesmoque eu esteja orando para ser curado. Se de um lado a Palavra de Deus

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    manda orar com f, de outro ela diz que eu nem sempre sei orar comoconvm (Rm. 8:26). Concluo que nem sempre quando peo com f paraser curado estou pedindo o que convm a mim mesmo.

    H tambm ocasies em que, para que meu esprito aprenda a

    humildade, a pacincia e o quebrantamento, eu tenho que sentir dor,muita dor. Enfim, no h nenhuma regra sobre cura fsica, porque muitasvezes esta cura pode significar a perpetuao de uma doena maisprofunda na alma, no carter. Nesse caso, o Deus que cura (e que entendeque almas so mais importantes que corpos devido a sua perpetuaoeterna), pode no curar um corpo para poder curar uma alma. O textopara tais pessoas o salmo 41:3: O Senhor assiste no leito daenfermidade....

    Outro texto que nos conduz concluso semelhante o salmo103:3, Ele o que sara todas as tuas enfermidades, pois para sararalgumas enfermidades, neste mundo ambguo e marcado pelascontradies impostas pelo pecado, Ele tem que deixar voc experimentarcertas dores e, muitas vezes, doenas. Afinal, as dimenses da vidararamente esto em plena harmonia neste mundo caracterizado por essanossa natureza cada onde corpo, alma e esprito no esto alinhadosharmonicamente em nenhum de ns, desde a queda. por isto que

    muitas vezes, a fim de que uma destas dimenses seja curada, a outradimenso tem que padecer, sendo mesmo possvel que uma menteconflituada, em se acalmando, possa fazer muito bem ao corpo,realizando, eventualmente, at a sua cura. No entanto, o mesmo no podedizer do inverso, pois um corpo curado no desencadeia,necessariamente, processos automticos de cura da alma e do carter.

    A pergunta de muitas pode ser: Se Isaas 53 tem que ser visto,basicamente, naquelas duas perspectivas expostas acima, como foi

    ento que Mateus interpretou a passagem aplicando-a s curas queJesus realizava? (Mt. 8:17)Em minha opinio, em Mateus 8:17, temos uma aplicao

    secundria do texto de Isaas 53. Nesse texto, Mateus no estava fazendoaluso a Jesus, nem como o Salvador (Is. 53:12). Ele estava pensando noaspecto prtico e histrico relacionado ao fato de que Jesus era tambm oque curava. Mateus, aqui, no estava fazendo uma teologia a respeito dopoder que a Cruz tem de cancelar as nossas dores e enfermidades. Atporque, ele no estava falando da Cruz, mas simplesmente descrevendo opoder curador de Jesus. Ele est apenas dizendo que Jesus encarnouhistoricamente o fato de que as enfermidades Lhe estavam sujeitas. Em

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    Isaas 53, temos uma teologia da Cruz; j em Mateus 8:17, temos umaaplicao de Isaas a uma contingncia histrica. Por isso, luz deMateus 8:17, fico sabendo que Jesus cura, e cura mesmo. Mas luz deIsaas 53, no se pode dizer que o Cristo que cura, cura sempre. O que se

    pode dizer que o Cristo que cura, salva sempre aqueles que se achegama Ele, tendo-O como o grande Sumo sacerdote que intercede pelospecadores.

    Fbrica de Hipocrisias

    Outra razo pela qual no me sinto confortvel com a teologia do

    no-adoecimento do crente porque, alm de no ter base bblica, essadoutrina tambm uma fbrica de hipcritas. Pessoalmente, j conheoadeptos desse pensamento h, pelo menos, 20 anos. Ela nova no Brasil,como moda teolgica, porm, nos Estados Unidos j vem sendo pregadah muito tempo. Ora, nesses 20 anos j vi crentes dessa teologiaadoecerem e esconderem sua doena, a fim de no escandalizar os seusdiscpulos. E o que isto, seno a mais terrvel hipocrisia. perigosssima a hipocrisia de fazer o povo de Deus crer em algo em que

    Ele no mandou crer. Isto pior que adulterar e negar o pecado, afinal, osprejudicados so muitos outros, e no apenas o infrator.Fiquei sabendo da histria de uma pessoa que prega essa doutrina

    do no-adoecimento dos crentes cheios de f. Essa pessoa adoeceu eteve que ser levada escondida ao hospital, de modo que suas ovelhas noficassem desiludidas com a doutrina.

    S Deus sabe quanta hipocrisia h por trs dessas prticas tiranas dasade sobrenatural.

    s vezes, com base em uma experincia real de cura, criada umateologia que generaliza um fato isolado, transformando-o em regra de f eprtica. Quando no se pode sustentar a concretizao dessa doutrina nasvidas de todos os seus adeptos sim, porque ningum controla avontade e os desgnios de Deus , os seus promotores, no raramente,desenvolvem uma f cega a qual os impede de avaliar os fatos com aiseno de paixo necessria a sua boa percepo, continuando, assim, aafirmar experincias isoladas, como se fossem a regra geral para todos.

    Nesse caminho, alguns realmente crem no que pregam e sofrem asconseqncias de sua crena em total abstinncia de remdio ou detratamento mdico, at mesmo quando estes se fazem necessrios.

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    Enquanto isso, outros assumem apenas a fachada dessa doutrina, mas navida mais ntima tomam para si cuidados que negam aos seus fiis.

    Uma Legio de Angustiados e FrustradosEntretanto, os prejuzos que advm dessa doutrina no so apenas

    os dois que acabo de mencionar. Ela tambm gera uma legio deangustiados e de seres que introjetam um tremendo sentimento derejeio da parte de Deus para com eles. E a razo simples: como taldoutrina no tem base bblica, sua nica base a experincia de algumaspessoas, mais o reforo de alguns versos bblicos destacados de seu

    contexto mais amplo. E neste aspecto, deve-se dizer que as basesexperienciais sobre as quais essa doutrina erigida so,fundamentalmente, curas maravilhosas e sade extraordinria.Pessoalmente, creio em ambas. Vejo com freqncia curas sobrenaturaisacontecerem em muitas pessoas. No entanto, acerca disto, eu creio comoJesus, quando disse que as curas milagrosas no eram a regra, eram ossinais (Lc. 4:25-27; Jo. 5:3-5;9:1-3). Sinais so marcos de presena,no acontecimentos comuns e corriqueiros.

    Creio em sade e longevidade, mas creio tambm que sade temmuito a ver com alimentao adequada, exerccio fsico, estilo de vida,hereditariedade gentica, geografia, clima e muitos outros fatores. Aspessoas fisicamente mais saudveis do planeta no so os crentes, soalguns agnsticos ou alienados obcecados com sade e alimentao, tipoJane Fonda.

    Meu bisav paterno no era evanglico, vivia no interior doAmazonas, casou aps os 60 anos, aos 80 carregava 120 quilos nas costase aos 104, com todos os dentes na boca, morreu sem conhecer gripe, dorde cabea, doena ou cansao. Morreu porque achou que j havia vividomuito. Recolheu-se a sua rede e ficou quieto, curtindo um frio repentinoque cara sobre o interior do Amazonas, at que passou ali mesmo. Semeu bisav fosse evanglico, e adepto da teologia da prosperidade, elecertamente estaria sendo usado como exemplo de que quem realmente fiel a Jesus no adoece. Ele, todavia, nem crente era.

    Muitas vezes, pessoas que, por razes as mais variadas, no gozamde condies fsicas privilegiadas e que passam a crer em tal doutrina,sentem-se os mais desprezveis seres do planeta, quando o que lhes estsendo prometido no se cumpre em suas vidas. Afinal, elas se perguntam:

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    O que ser que h de errado em mim? Ser que no tenho f suficiente?Ser que h pecado na minha vida? Ou pior ainda: Ser que Deus noquer nada comigo? Se aconteceu com seu Fulano, por que no estacontecendo em minha? So poucos os que raciocinam que,

    possivelmente, a doutrina esteja errada, e o professor totalmenteequivocado. A maioria leva a alma cheia de culpa para a solido de seusquartos.

    S Deus sabe a quantidade enorme de angustiadas dessadoutrina que andam desoladas pelo pas, vendo-se como as criaturasmais abominveis e desprezveis da terra. Afinal, o que se diz quefunciona sempre com quem tem f, no funcionou com elas.

    Nega a Humanidade de Cada Um de Ns

    Outra importante razo pela qual me sinto to desconfortvel comessa doutrina do no-adoecimento, porque ela nega a humanidade decada um de ns. Cada vez mais, vejo os pregadores dessa doutrinachegando perto da criao do mito do Super-homem. Por enquanto, sno voam nem permanecem embaixo dgua por tempo ilimitado. No

    mais, esto buscando alcanar os mesmos superpoderes, entre os quais,sua viso de raio X, seu sopro, sua sade de ferro e suainvulnerabilidade a tudo, exceto Kriptonita vermelha.

    O irnico que justamente agora, quando a indstria americana doscartoons salvou o Super-Homem de sua falta de humanidade, deixando-omorrer, alguns evanglicos esto tentando ressuscitar o seu mito,mediante a criao de uma doutrina de poderes extraterrenos, alis,bastante parecidos com os do falecido super-heri. uma desgraa ter

    que ser super-homem. Bom mesmo ser gente, ser homem. NemJesus quis ser Super-Homem. Filho do Homem, foi tudo o que eledisse ser. O apstolo Paulo, por sua vez, dava a si mesmo o privilgio deconfessar-se com a cara ferida (II Co. &), de ficar desesperado deangstia quando a alma se contorcia (II Co. 1:8), de sentir-se impotentediante da enfermidade de um amigo querido que visitava os portes damorte (Fp. 2:25-28), e de pedir que ningum o visse como super-heri (IICo. 12:6).

    muito perigoso quando pessoas comeam a roubar a glria que Deus. Deus um Deus ciumento e zeloso. A sua glria Ele no d aoutrem. Cuidado!

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    Todos ns ainda lembramos dos trgicos episdios envolvendo avida de nosso irmo na f, Jimmy Swagart. Ainda hoje sinto a dor de tersido to duro em minhas opinies sobre ele no passado (1985), quandodisse em diversas ocasies que sua superatitude moral, julgando-se

    supersanto, haveria de lhe trazer conseqncias amargas. Trs anosdepois, seus lenis morais foram levantados, e a nudez do irmo foivista pelo mundo. A lio que ele recebeu no foi apenas para ele. Foisobretudo para ns, para mim e para voc. E com ela vem a terrveladvertncia quanto ao fato de que aquele que pensa estar em p, cuidepara que no caia (I Co. 10:12).

    O Culto ao PoderO que tambm me espanta no atual movimento de celebrao a

    superpoderes o fato de que ele est sendo, quase sempre, celebradocomo um fim em si mesmo. Vejo muita gente, simplesmente vibrandocom vises espirituais de raios X que indicam as enfermidades interioresdas pessoas, saltando de entusiasmo com os sopros que derrubam e fazemdesmaiar, e vangloriando-se do fato de que, como filhos do Rei, no

    ficam doentes, sem, no entanto, mostrarem qualquer entusiasmo porrealidades essenciais da f, como a salvao que vem da Cruz, a vida depiedade, a devoo pessoal, a misericrdia para com o prximo pobre, oestudo srio da Palavra de Deus, a vida solitria e discreta de orao, e avivncia da tica da f na vida profissional.

    Tais pessoas, se ouvem uma pregao sria sobre estes temas,muitas vezes, mostram-se visivelmente sonolentas e desinteressadas.Apavora-me ver que, em muitas reunies onde tais superpoderesmanifestam-se

    obrigatoriamente,quase no se prega sobre a Cruz, a

    salvao, o arrependimento, o novo nascimento e a vida santa. Prega-sesobre como trocar o seu Fusquinha por um mega. Ensina-se que serpobre dar mau testemunho da f. Diz-se que Deus no faz nada, amenos que voc o force a fazer mediante a orao. Usam termos desoberania humana sobre Deus, do tipo: Eu determino; Eu libero; Euordeno. S que, eu desafio voc a encontrar na Bblia essas expressesditas atravs das bocas dos santos do Velho ou do Novo Testamento.Vasculhe a Palavra de Deus e voc no achar, jamais, esse tipo deatitude de soberania humana em relao ao Criador. Hoje, em nossomeio, h muita gente dando ordens a Deus e determinando Sua agenda e

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    as dos anjos. Para tais pessoas, a petio quebrantada ensinada pelossalmos considerada fraqueza espiritual e sinal de infantilidade na f.

    Minhas angstias aumentam ainda mais, quando vejo pessoasdizendo:

    Oba! Vou l na reunio do grupo X para dar uma caidinha.Quando isto acontece, porque os superpoderes j tomaram o lugarde Deus e de sua palavra, e as pessoas esto manifestando uma f quetem muito mais a ver com a f de Simo, o mgico de Samaria, o qual seconverteu no a Jesus, mas ao superpoder que ele vira em operao (At.8:9-20). De acordo com o livro de Atos, essa f atrai muita gente, masno d a elas nada essencial sobre o verdadeiro conhecimento de Deus.

    Tenho visto pessoas genuinamente carem no Esprito. Em

    vrias ocasies, enquanto eu mesmo prego ou oro, tenho visto taisfenmenos manifestaram-se. Assim afirmando, eu estou lhe dizendo queminha posio no de negao acerca da possibilidade de que taispoderes se manifestem. Longe de mim tal coisa. O que me preocupa asua prtica rotineira, a fabricao deles, o show com o qual eles sodemonstrados, a supremacia deles sobre a Palavra, o valor que se d a taiscoisas; enquanto a Cruz fica no canto, apagada, escondida, e Jesus sendoaclamado apenas como Grande Poder e no como o Senhor, como

    Verdade para ser crida, Caminho para ser seguido de acordo com aPalavra, e Vida para ser vivida em abundncia-humana, no super-humana.

    Superpoderes ou Simples Humanidade?

    Fica, portanto, a pretexto da minha enfermidade de cinco dias, umapalavra de corao aberto dirigida aos

    superirmos-poderosos,aos

    superirmos frustrados, aos superirmos-ofendidos, aos superirmos-doentes e a todos os que querem ainda se converter ao hino-clamor dePaulo:

    Tende em vs o mesmo

    sentimento que houve tambm em

    Cristo Jesus, pois ele, subsistindo

    em forma de Deus no julgou

    como usurpao o ser igual aDeus; antes a si mesmo se

    esvaziou, assumindo a forma de

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    servo, tornando-se emsemelhana de homens; e,reconhecido em figura humana,

    a si mesmo se humilhou,

    tornando-se obediente at amorte, e morte de Cruz. Pelo que

    Deus o exaltou sobremaneira e

    lhe deu o nome que est acima detodo o nome, para que ao nome

    de Jesus se dobre todo joelho,

    nos cus, na terra e debaixo daterra, e toda lngua confesse que

    Jesus Cristo Senhor, para aglria de Deus Pai.(Fp. 2:5-11).

    Os que so capazes de escolher o modelo de esvaziamento pessoalensinado por Jesus, so tambm os mesmos que dizem com Paulo:

    Pelo que sinto prazer nas

    fraquezas, nas injrias, nas

    necessidades, nas perseguies,

    nas angstias, por amor deCristo. Porque quando sou fraco,

    ento que sou forte. (II Co.12:10).

    E a razo para assim pensar e agir, -nos dada pelo prprio SenhorJesus quando diz a Paulo:

    A minha graa te basta, porque

    o poder se aperfeioa na

    fraqueza.(II Co. 9).Ora, Deus determinou que assim seja, a fim de que Aquele que se

    gloria, glorie-se no Senhor (II Co. 10:17). Por isso no desanimamos:pelo contrrio, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa (no sefala de corrupo moral, mas fsica), contudo, o nosso homem interior serenova de dia em dia (II Co. 4:16).

    A Bno da Orao no Respondida

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    Voc se lembra que no incio deste livro, contei que quase morri deangstia, porque cri que seria curado e no fui? Pois bem, veja a ironia doepisdio: enquanto eu estava, na minha cama, num quartinho da RuaUrucar com a Rua Tef, no Bairro da Cachoeirinha, em Manaus, cheio

    de aflies, tomado por conflitos, desapontadssimo com Deus, beira dadescrena, surgiu uma pessoa na minha vida. Era o meu mdico, Dr.Antnio Nogueira de Farias. Ele me deu toda ateno possvel. Um dia,no entanto, ele no apareceu. Fiquei preocupado com o que poderia teracontecido. Trs dias passaram. Uma semana. E, ento, sua esposaapareceu l por casa.

    Joedisa chegou a pretexto de visitar-me. Depois de alguns minutosde conversa, ela me disse que ela e Antnio estavam em situao conjugal

    muito difcil, prestes separao, e que ambos estavam envolvidos comespiritismo Kardecista. No fim de tudo, ela me contou que Antnio estavamuito doente em casa. Orei com ela, e ela se foi.

    Alguns dias depois ela me visitou outra vez e agora me pedia para irvisitar o marido. Embora eu tambm estivesse sob srio repouso, disse-lhe que no domingo seguinte eu pediria ao meu pai que me levasse l.Antes do domingo chegar, fomos a sua casa. Conversamos e vi a situaodeplorvel na qual Antnio estava. Como mdico, ele nos explicou que

    sua situao era de um quadro vertiginoso de mono-nucleose, uma doenapr-leucmica, assim chamada por poder, em certos casos, evoluir paraleucemia.

    No sbado, soubemos que os mdicos amigos de Antnio lhetinham trazido ms notcias acerca de seu estado de sade. A informaoera de que o quadro se tornara, de fato, leucmico. Joedisa estava empnico. Papai e eu decidimos que no domingo iramos l para orar comele.

    No domingo, tardinha, ns fomos. Ao chegarmos, encontramosuns amigos da famlia fazendo uma visitinha. Aguardamos uma hora naesperana de que pudssemos orar a ss com Antnio e Joedisa. Mas osamigos no saam. Cansados da espera resolvemos orarindependentemente do pblico ser adequado ou no. Perguntamos aoAntnio se l cria que Jesus podia cur-lo.

    Sim, eu creio.Voc gostaria que ns oungssemos com leo em nome doSenhor, como ordena a Bblia?

    Sim, eu quero.

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    Papai pegou o vidrinho com leo que sempre carregava e nsungimos o Antnio.

    Senhor Jesus, tu tens todo

    poder no cu e na terra. Tu

    criaste o corpo do Antnio. Tupodes cur-lo. No estamos te

    dizendo o que fazer, porque tu s

    Deus. Tu sabes o que fazer equando. Mas ns estamos aqui

    Jesus, para dizer que cremos no

    teu poder de curar. Assim,Senhor, te pedimos: cura o

    Antnio agora, para louvor datua glria.Oramos e samos.Antnio nos contou, no dia seguinte, que nada aconteceu at ele

    ouvir que demos partida no carro. Quando ele ouviu aquele rum, rum,rum do motor do carro, olhou para o teto da casa e teve a impresso deque haviam aberto o telhado e derramavam um caldeiro de amorliquefeito sobre ele.

    A, meu fgado, que estavaenorme, cavalgou aos saltos paradebaixo da costela, onde era seulugar. O bao veio aos pinotes de

    volta ao lugar de origem,desinchando imediatamente.

    Senti o sangue ferver e correr

    aceleradamente pelo meu corpo.

    Uma energia extraordinria meenvolveu. Saltei e comecei a

    gritar: Jesus me curou, Jesus mecurou.

    A essa altura seus amigos, que ainda estavam l, ficaramembasbacados, sem entender nada. Ele correu, saltou o muro na frente dasua casa e gritou: Eu estou curado!

    No dia seguinte foi trabalhar. Quando os amigos o viram entrandono hospital, correram para segur-lo.

    Qui isso cara, ce ta doido?

    Vai pra casa. Ce vai morre aqui.

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    Antnio ento contou o que lhe havia acontecido e pediu para fazertodos os exames. O resultado foi alarmante para os mdicos. Tudonormal. Eles no podiam acreditar. O quadro leucmico se reverterainstantaneamente. Jesus operara. Aleluia!

    Em meio a tantos outros episdios resolvi lhe contar este, apenaspara ilustrar que o poder de Deus se aperfeioa na fraqueza., l estava eu, humilhado, porque no fora curado; confuso, porque

    no pudera entender o porqu, no entanto, foi nesse estado de fraquezae humilhao que Deus resolveu me usar, juntamente com meu pai, paracurar o Antnio.

    D para entender? Deus estava pondo um espinho na minha carnepara que eu pudesse entender o sofrimento do meu prximo, e para que

    eu pudesse me gloriar sempre no Senhor e na Sua graa, nunca em mim ena minha f.Voc pode imaginar o que teria acontecido comigo, caso eu tivesse

    sido curado naquele dia, conforme minha f e minha orao?Provavelmente eu teria me tornado um dspota, impondo cura divina atodos, acusando os no-curados de falta de f e pecado e, com certeza,voc no estaria recebendo o benefcio deste livreto, que, se de um ladoafirma que Jesus cura, de outro testemunha que Ele no tem que curar

    sempre a fim de provar seu poder para tal. Sem aquela experincia,possivelmente, eu no seria quem eu sou hoje.

    Ah! Meu Deus, como eu Te dou graas por no ter sido curado

    naquele dia!

    Perdendo a Viso a fim de Poder Ouvir Melhor

    Minha esposa leu este meu pequeno trabalho, e achou que eu nodeveria entreg-lo sem lhe contar uma histria recente acontecida na vidade meu pai.

    Como muita gente no meio evanglico sabe, meu pai, alm deadvogado, fora um empresrio bem sucedido que veio a converter-se aoevangelho no ano de 1967.

    Sua converso foi to profunda e apaixonante que ele,simplesmente, no conseguiu mais viver para os seus prprios negcios ecarreira. Deixou tudo, e foi pregar o evangelho.

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    Naqueles primeiros meses de f em Jesus, entregou-se profundaorao e jejum, na busca do discernimento de qual seria o chamado deDeus para sua vida. Em uma daquelas ocasies de profunda solido, elefoi tomado, durante o sono, pelo Esprito Santo.

    Caio! Caio! Eis que te dou dois dons. Tu curars enfermos elibertars os oprimidos pelo diabo, dizia-lhe uma voz divina.Papai disse que sentou na cama, absolutamente invadido por aquela

    presena majestosa. Seu ser foi atravessado pelo prazer maisindescritvel, perpassando seus msculos, pele, plos, emoes e o magodo seu prprio eu.

    Ele saiu daquela dimenso com o sentimento e a certeza de que oprprio Senhor Jesus fala com ele.

    O impacto daquele acontecimento s pode ser devidamentecompreendido por aqueles que j passaram por algo semelhante, nasolido de um quarto, sem profetas, sem intermedirios, sem ajudahumana, sem as boas intenes de gente espiritual, mas que, muitasvezes, acaba filtrando ou aguando a verdadeira Palavra de Deus queest sendo dirigida a algum.

    No! Com ele no fora assim! Ele estivera s com seu Criador, e sedeleitara em se saber amado e desejado por Ele no mundo, com uma

    misso incomparvel.A fora daquele dia move a vida de meu pai at hoje, e vaienergiz-lo at o ltimo dia de sua existncia.

    Logo aps aquele dia, os sinais de que dons estavam habitando suavida comearam a se manifestar. Aonde quer que ele fosse, surgiamoportunidades de exercit-los.

    Lembro-me de que, meses aps aquela experincia, aconteceramduas situaes muito interessantes. A primeira foi um acaso de possessono qual o esprito imundo resistia, j por muitas horas, em deixar opossesso. Meu pai no estava no lugar onde se travava o confronto, masno jardim do local, orando. Depois de algum tempo, a pessoa queliderava o enfrentamento espiritual soube que meu pai estava l fora emandou cham-lo.

    Dot Caio, d uma ajudinha aqui que eu to que num agentomais, disse o irmo quando meu pai entrou na sala.

    A mera presena de meu pai na sala agitou o esprito sobremaneira.Papai simplesmente lhe disse que se retirasse, em nome de Jesus. Oesprito saiu imediatamente.

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    Daquele dia em diante, cenas assim viraram rotina em sua vida.Pouco depois daquele episdio, uma outra situao viria confirmar apresena do segundo dom.

    Meu pai ainda advogava na cidade de Niteri, quando isso

    aconteceu. Ele tinha um cliente, Sr. Barros, que lhe devia algunshonorrios advocatcios. Ele tentara cobrar, mas o cliente mostrava-setardio no pagamento. Depois de muito telefonar, meu pai resolveu ir,pessoalmente, falar com seu Barros.

    Chegando a sua loja, meu pai verificou um grande alvoroo.Uma tragdia, Dot, uma tragdia, gritou seu Barros, to logo

    o viu.Papai demorou alguns minutos at compreender que algo

    acontecera ao filho do comerciante.O que houve, seu Barros?, indagou meu pai.Uma espingarda de ar cumprimido, Dot. Meu garoto tava

    brincando cum amigo, e o treco disparou e furou o olho dele. Hoje tarde, os mdicos vo arrancar o olho do meu filho. Uma tragdia, Dot!

    Meu pai parou em silncio, por um momento, orou baixinho, edecidiu pedir quele pai aflito que lhe permitisse orar pelo menino.

    O sinh t querendo ir l no hospit agora?, perguntou seu

    Barros.No! Eu creio em um Deus que opera de perto e opera de longe.Ns podemos orar juntos, aqui mesmo, e Ele agir na vida de seu filho lno hospital agora, respondeu papai.

    Os dois homens se ajoelharam ali na sala mais ntima da loja, e meupai orou:

    Senhor Jesus, eu no tenho qualquer dvida sobre Teu poder paracurar o olho daquele menino. Eu sei que podes. Quem fez o olho tambmpode cur-lo. Senhor, na minha ignorncia, entretanto, eu no sei sequeres curar o olho do filho do seu Barros. Tu tens caminhos estranhos,impossveis de entender. Todavia, Senhor, eu estou aqui, com este paiaflito, de joelhos, para te dizer que, se tu ests procurando um homemque creia de todo corao que tu podes dar um olho novo quela criana,ento, Senhor, podes dar, porque eu estou aqui. Eu creio e no duvido. Tupodes, D, Senhor, um olho novo ao menino.

    Meu pai orou e saiu.Seu Barros no era evanglico. Contudo, em seu desespero creu e

    partiu para o hospital, onde o olho de seu filho seria extirpado.

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    Ao chegar ao hospital, seu Barros encontrou o cirurgio nocorredor, a caminho da sala de operaes.

    Agenta firme, pai. Ele no vai sofrer nada. Vai ser duro nocomeo, mas ele vai se acostumar, disse o mdico na sua pressa de entrar

    na sala.Seu Barros ficou ali, com o eco da orao de meu pai aindareverberando em sua cabea.

    Minutos depois, o mdico sai correndo da sala de cirurgia, branco,como se tivesse visto um fantasma.

    Escuta aqui, moo. Eu no sei quem o seu Deus, mas Ele deveser Todo-poderoso. Eu tirei o tampo que cobria o olho do seu filho pracomear o trabalho. E sabe o que aconteceu?O olho do seu filho est

    completamente bom. Que Deus esse?Histrias como esta comearam a tornar-se normais na vida e noministrio de meu pai. Ele, no entanto, as vivia com a mais absolutadiscrio.

    Vi Deus us-lo para a cura de dezenas de males, como cncergenital, males da prstata, doenas no sangue, doenas de pele, doenaspulmonares, e coisas menores como aquelas que aconteciam l em casa,com os membros da famlia.

    Durante os anos que se sucederam, Deus no s o usou para curaroutros, mas tambm fez uso dele para curar a si mesmo.Lembro-me de ocasies, as mais variadas, quando meu pai

    simplesmente disse:Esta enfermidade que me atingiu vai sair. Eu sinto Jesus quer me

    curar sem remdio.E ele agentava sozinho a situao com orao at que,

    subitamente, sarava.No entanto, ele nunca pensou que todas as enfermidades tivessem

    que ser curadas sem auxlio mdico. Ao contrrio, ele achava que osmdicos eram parte da ddiva curadora de Deus aos homens.

    Depois de anos, vendo aquelas coisas maravilhosas acontecerem,tive que me acostumar a um outro cenrio. Tive que aceitar que meu paihavia perdido a viso quase que por completo.

    Em 1988, meu pai teve um pico de presso e sofreu um derrame emum dos olhos. Daquele acidente vascular, restaram-lhe apenas 20 a 25 porcento da viso daquele olho.

    Em julho de 1992, ele foi submetido a sofrimentos emocionaisfortssimos. Em uma daquelas noites, ele foi acordado com um susto

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    terrvel. Ao pular da cama, percebeu que tudo ficara escuro. Agora aretina do olho sadio se deslocara radicalmente.

    Ele e minha me vieram para minha casa em Niteri. Oramos muitoe amigos queridos se uniram a ns em orao. A cura no veio.

    Talvez Deus estivesse querendo cur-lo de uma outra maneira.Iniciamos uma peregrinao pelas melhores clnicas e mdicos do Rio deJaneiro. A operao era a nica coisa a ser feita. Duas cirurgias foramrealizadas sem sucesso.

    Meu pai perdera completamente a viso daquele olho. Ele, porm,voltou para Manaus, ainda com esperana. Talvez em seis meses elepudesse fazer uma terceira cirurgia.

    A operao foi feita em Manaus mesmo. Sem sucesso.

    Meus pais voltaram ao Rio para a ltima tentativa, pois umapossvel quarta operao era cogitada. Depois de andarmos por vriosmdicos, ouvindo diferentes opinies, chegamos ao consenso de queaquela quarta cirurgia seria muito arriscada. Ele poderia ter aquele olhoextrado.

    L estvamos ns, de volta ao comeo de tudo. O homem queiniciara seu ministrio sendo usado por Deus na cura de um garoto cujoolho seria extirpado, necessitava, ele mesmo, de viso, debaixo de

    ameaa semelhante.Outra santa e preciosa ironia dos caminhos de Deus!Durante os seis meses de espera, em Manaus, meu pai sofrera de

    algo, at ento, absolutamente aliengena para ele: depresso.Em casa, ns at brincvamos com isso. Meu pai parecia

    indeprimvel. Ele passava por tudo com extrema galhardia. Perdas,incompreenses, insucessos, ou qualquer outra coisa, eram por elesempre vistos de maneira positiva e esperanosa. No entanto, agora,aproximando-se dos 70 anos e apenas com 20 por cento da viso em umdos olhos, ele parecia realmente muito deprimido.

    Logo verificamos que a depresso no vinha da limitao fsica emsi, mas daquilo do que ela lhe privava, ministerialmente falando.

    E as viagens pelo interior do Amazonas? E a liberdade para dirigirseu prprio carro, visitando igrejas da periferia e congregaes emformao? E como faria para inspecionar juntamente com seu queridoamigo Slvio Lucena, as obras do acampamento da igreja? E a leitura daBblia, como seria? Enfim, havia estas e um sem nmero se outraslimitaes e questes depressivas amassando sua alma.

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    Quando voltamos do ltimo mdico, j era noite. Meu pai nocomia quase nada havia 3 meses. Estava base de sopas, e alguns sucosdesciam fora e at Coca Cola, que uma das suas fraquezas humanas,ele parara de aceitar quando lhe ofereciam.

    Pois bem, chegamos do mdico e fomos nos assentar no gramado,nos fundos de minha casa. Ficamos ali em silncio por alguns minutos.At que meu pai me perguntou: Caizinho, se voc estivesse em meu lugar, o que voc faria?

    Voc tentaria mais uma cirurgia?Caizinho o diminutivo carinhoso com o qual meu pai me trata

    desde a infncia, e durante toda minha vida eu s ouvi a voz dele carregarmeu nome daquela forma.

    Estranhamente, ao ouvir a voz de papai to cheia de cansao,chamando-me de Caizinho e fazendo-me aquela pergunta, de algumamaneira fui transportado para Manaus, nos anos mais idos possveis deminhas melhores memrias infantis.

    S que agora ele no dizia:Caizinho, vamos ver quem corre mais, se voc ou o Roberval.Ou ainda:Caizinho, vamos dar um pulinho comigo l na casa da vov?

    No. Ele estava me perguntando se devia tentar no ficar totalmentecego ou se aceitar quase completa cegueira com quietude de alma.Eu pausei por algum tempo, orei baixinho e disse:Papai, eu realmente no sei. Eu no me sinto autorizado a tentar

    dizer ao senhor o que fazer. Meu temor que esta seja uma hora deprofunda solido e que o senhor v ter que se haver com elaabsolutamente s em sua deciso.

    Ele ouviu em silncio. Pensou um pouco, e me devolveu seussentimentos:

    , filho, eu sei que a deciso minha, e sei que voc deve estartemendo me dizer algo que possa me fazer assumir alguma posio queno seja exatamente aquela que eu tenha dentro de mim. Mas no sepreocupe com isto. Eu quero mesmo ouvir o que voc pensa. Voc meu melhor amigo e sua palavra me mais que importante.

    Bem, papai, se o senhor promete ouvir o que eu disser, sem sesentir obrigado a acatar o que eu digo apenas para me agradar, ento euvou dizer o que eu acho que faria se estivesse nos seus sapatos. Euagradeceria a Deus pelos quase 70 anos de boa viso que tive, e lhe

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    dedicaria a minha limitao visual com a mesma paixo com a qual eume dedicara com viso.

    Penso que consagraria esta limitao ao desenvolvimento de outrasreas da minha vida que jamais cresceriam, a menos que, alguma outra se

    atrofiasse. Por exemplo, eu acho que me consagraria a ser o melhorouvido da cidade, o mais atencioso de todos os conselheiros, o maisdisponvel de todos os pastores, o mais sbio e prudente pastor depastores. Ou seja, paizinho, se eu fosse o senhor, eu no me operaria. Eusimplesmente agradeceria a Deus por ter usado, tantas vezes para curar aoutros, um homem que no tem poder para curar a si mesmo, e superariaa limitao atual atravs de uma nova maneira de contribuir para o Reinode Deus.

    Meu pai me ouviu em silncio, mas com a atitude de quem ouvia amesma voz que um dia lhe dissera que ele seria usado para expulsardemnios e curar enfermos. No houve emoo, mas houve deciso noseu ouvir.

    Aps pensar um pouco, ele interrompeu o silncio e disse: Caizinho, manda comprar uma cokinha pra mim. J faz um

    tempo que eu no bebo uma.E acrescentou:

    Ser que d pra gente fazer um churrasquinho ainda hoje noite?Pulei da cadeira e disse: pra j, papai.Quando minha me ouviu aquilo, disse: Agora, sim, meu velho ta curado!Os pastores que auxiliam meu pai l em Manaus, disseram-me que

    ele voltou cheio de planos: Gente, vamos trabalhar, que o Reino de Deus no pode esperar.

    Em vez de quatro barcos, vamos construir 20 e solt-los pelos rios daAmaznia. Vamos tambm encher o interior de novas igrejas. Vamosterminar a clnica, e partir para coisas maiores. H muita gente para serganha neste estado.

    Algum me perguntou: Pastor Caio, o que foi que o senhor fez com seu pai, l em Niteri?Foi s uma cokinha e um churrasco, minha irm, respondi com

    alegria.Esta histria de meu pai serve para ilustrar concluses plenamente

    coerentes com as verdades bblicas:

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    1. Deus no tem obrigao de curar sempre apenas porque eu, quesou Seu filho, acho que ficar curado a nica e melhor coisa que podeme acontecer.

    2. Doenas no tm que ser sempre vistas como obra direta do

    diabo atingindo algum. s vezes, elas so. Mas nem sempre. Por isso, necessrio muito discernimento.3. Pessoas usadas por Deus, muitas vezes, sofrem limitaes fsicas

    para que, ou elas mesmas, ou outras que a elas admiram, aprendam que opoder que cura vem sempre de Deus e no do homem.

    4. Certas limitaes fsicas ou enfermidades podem chegar, nopara diminuir a vida, mas para desenvolv-la em outras reas entoinibidas e que, de outra sorte, jamais seriam dilatadas sem tal estmulo

    advindo da nova limitao.Neste livreto minha orao no sentido de que voc tenha basebblica suficiente, tanto para crer em um Deus que cura, quanto paracontinuar amando a Deus, mesmo quando Ele, por razes que so sdEle, resolver no curar voc.

    Tudo o que me interessa viver de modo abundante o privilgio deser gente, de ser cheio do Esprito Santo e de ser tomado pela alegria deme bastar na graa de Jesus.

    Que voltemos sensatez e, assim, se4jamos salvos da mentira dequerer ser o que Deus no nos fez para ser, e de querer entender quais soos Seus mistrios em nossas prprias vidas e na do prximo.

    Quanto ao mais, eu me contento em exclamar com Paulo a maissbia de todas as exclamaes de ignorncia devotadamente apaixonadapor Deus e seus Caminhos:

    Oh, profundidade da riqueza,

    tanto da sabedoria como do

    conhecimento de Deus! Quoinsondveis so os seus juzos e

    quo inescrutveis os seuscaminhos! Quem pois conheceu a

    mente do Senhor? Ou quem foi o

    seu conselheiro? Ou quem

    primeiro lhe deu a ele para que

    lhe venha a ser restitudo?

    Porque dele e por meio dele sotodas as cousas. A ele pois, a

    glria eternamente. Amm!

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    T DOENDO!Este livro aborda um tema

    polmico em nossos dias: AQuesto do No-Adoecimento dosCristos. Pode um cristo adoecer? A sua f no o livra de qualquerproblema? O cristo realmente invulnerveldiante dos fatos? Deus atende os nossos pedidos porcompaixo ou porque reconhece a forae a soberania de nossas palavras? Somos simples seres humanos ouSuper-Homens?Confira um pouco mais sobre esteassunto que vem tendo imenso destaqueem nosso meio, criando teorias,formando opinies as mais absurdaspossveis e confundindo de umamaneira geral o povo evanglico.Liberte-se deste sentimento de culpapor ficar doente ou passar portribulaes.No perca este privilgio desimplesmente poder dizer: T doendo!