Caderno de Resumos XV Encontro Anpof

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de 22 a 26 de outubro de 2012 curitiba - PR anpof

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XV Encontro Anpof

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  • de 22 a 26 de outubro de 2012

    curitiba - PR

    anpof

  • anais de Resumos do

    XV enConTRo naCionaL de FiLosoFia da anPoF

    apresentao

    Anais de Resumos do XV Encontro Nacional de Filosofia uma publicao bienal da Associao Nacional de Ps-Graduao em Filosofia (ANPOF). Publica os resumos dos trabalhos apresentados nos Encontros da Associao que apresentam verses do atual estado da pesquisa desenvolvida e vinculada quer aos diferentes Grupos de Trabalho, quer aos Programas de Ps-Graduao Associados.

    realizao patrocnio

    apoio organizao

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    Diretoria da ANPOF 2011-2012

    Vinicius de Figueiredo (ufpr)Presidente

    Bento Prado de Almeida Neto (ufscar)Tesouraria geral

    Edgar da Rocha Marques (uerj)Secretaria geral

    Maria Aparecida de Paiva Montenegro (ufc)Tesouraria adjunta

    Telma de Souza Birchal (ufmg)Secretaria adjunta

    Comisso Cientfica

    Pedro Costa Rego (ufrj)Lia Levy (ufrgs)

    Edmilson Pascoal (puc/pr)Ethel Rocha (ufrj)

    Newton Bignotto (ufmg)Edmilson Menezes (ufs)

    Marco Antonio Zingano (usp)Maria Isabel Limongi (ufpr)

    Comisso Organizadora

    Andr Penteado (ufpr)Eduardo Barra (ufpr)

    Ericson Falabretti (puc/pr)Filipe Ceppas (ufrj)

    Marcelo Senna Guimares (Colgio Pedro II)

    Corpo editorial e normas para publicao

    O Corpo Editorial se altera a cada edio do Encontro, conforme a comporsio dos membros da Diretoria da Associao e das duas Comisses do Encontro em pauta a Comisso Cient-fica e a Comisso Organizadora. (Veja o expediente abaixo). Todos os trabalhos aprovados e apresentados em cada um dos Encontros, dentro da atividade Grupos de Trabalho, so pu-blicados, assim como tambm os trabalhos apresentados aos Programas Associados e apro-vados por eles para compor Sesses Temticas do Encontro. Normas especficas para parti-cipao nestas atividades so divulgadas nos sites dos Encontros. Veja o sto da Associao (www.anpof.org.br) para informaes sobre futuras edies.

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    abel Francisco Vargas [email protected]

    en iii, juzo moral e responsabilidade

    O trabalho tem por objeto de estudo a tica das virtudes de Aristteles, em especfico a obra Ethica Nicomachea. Assim, procuro apresentar uma interpretao da escolha deliberada como juzo moral, res-saltando o proceder racional da deliberao, tpico de uma agncia responsvel. A deliberao um pro-cedimento racional no mbito prtico (ao e produo), possuindo tanto uma aplicao reflexiva, em um processo de pesar razes, quanto uma aplicao tcnica, como discriminao dos melhores mtodos e instrumentos; o elemento comum entre estes procedimentos deliberativos a obscuridade que envolve os assuntos em questo. No mbito das aes (tica e poltica), a deliberao, em ltima instncia, um procedimento reflexivo de pesar razes, onde a escolha deliberada representa o assentimento racional do agente, o seu julgamento ou juzo. Este juzo representa, ainda, uma instncia ativa de intencionalidade do agente frente s razes deliberadas, isto , a capacidade de realizar uma escolha efetiva representa o poder de autodeterminao do agente. Deste modo, na medida em que o juzo moral expressa a inten-cionalidade, como um assentimento racional, diante de uma ao, ou conjunto de aes, o agente est sujeito a imputao de responsabilidade. O que foi escolhido aquilo que o agente predica como correto ou adequado em sentido prescritivo. Deste modo, a escolha deliberada expressa a efetividade de uma capacidade de premeditao, mesmo que ela no seja condio necessria para a responsabilidade, ela condio suficiente e caracterstica do proceder tpico da agncia humana responsvel.

    abilio azambuja Rodrigues Filho [email protected]

    uma teoria paraconsistente para a verdade aritmtica

    Segundo o teorema da indefinibilidade da verdade, atribudo a Tarski, no possvel construir, na aritmtica, uma teoria da verdade aritmtica, que chamaremos aqui de S, materialmente adequada, i.e. uma teoria que produza todas as instncias do esquema-T. O problema que o acrscimo do esquema-T aritmtica de primeira ordem torna a teoria obtida inconsistente e, no contexto da lgica clssica, trivial. A aritmtica fica, por assim dizer, contaminada pelo paradoxo do mentiroso, que pode ser formulado em S. A soluo aqui proposta para esse problema rejeitar a lgica clssica como lgica subjacente a S uma opo no admitida por Tarski. Se a lgica de S no for explosiva, a contradio no a torna trivial. Alm disso, S deve ser uma extenso conservativa da aritmtica. O que precisamos pode ser obtido se a lgica subjacente a S for paraconsistente, mais precisamente uma lgica da inconsistncia formal (LFI). Assim, possvel sepa-rar a inconsistncia, estabelecendo que o princpio da exploso vale apenas para frmulas da aritmtica. Entretanto, essa soluo tcnica precisa ser justificada do ponto de vista filosfico. preciso dizer por que podemos considerar o predicado verdade inconsistente mas no as demais frmulas da aritmtica. Isso ser feito a partir de uma distino entre os aspectos ontolgico, epistemolgico e lingustico da lgica. As lgicas paraconsistentes so perfeitamente adequadas para lidar com o carter epistemolgico da lgica. A ideia bsica, em poucas palavras, que contradies no ocorrem na realidade, mas sim no pensamento.

    abraao Lincoln Ferreira Costa [email protected]

    a contribuio de nietzsche na filosofia de Gilles deleuze

    Buscando interpretar a filosofia nietzschiana, Gilles Deleuze retoma uma srie de elementos fundamen-tais para a compreenso das ideias do filsofo alemo. Para ele, a Grcia trgica, anterior a Scrates,

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    tornara-se um perodo de incomensurvel valor, devido capacidade dos homens daquela poca com-preender a vida, enfrentando as dores que acompanham a existncia, sustentando uma viso trgica que permitia celebrar todos os aspectos vitais, desde os mais belos at os mais medonhos. Deleuze constata que Nietzsche soube ainda identificar no esprito trgico o surgimento de uma crescente vitalidade fruto desse enfrentamento e aceitao corajosa do destino. No entanto, essa fora vital se enfraquecera no instante em que os valores dessa cultura trgica foram sendo substitudos por outros, agora acrescidos de propsitos transcendentes, como fora pretendido por Plato e pelo cristianismo. Assim, viver tornou-se uma tarefa arriscada, repleta de sofrimentos e desiluses. Dessa forma, pensa Deleuze que a filosofia nietzschiana chega concluso de que a cultura ocidental aprendeu a gerar homens que pretendem con-trolar as paixes, fugindo das dores vitais e de tudo aquilo que fosse ameaador e desregrado, anulando, por efeito, toda potncia dionisaca. Todavia, a inspirao desses pensadores nos ensina que, mesmo com o predomnio das valoraes metafsicas sobre as vontades humanas, Plato e o cristianismo no teriam conquistado uma vitria plena. De acordo com Deleuze, o principal projeto de Nietzsche no intuito de ultrapassar tais valores transcendentes teria sido a introduo dos conceitos de sentido e de valor, vistos desta vez dentro de uma perspectiva imanente. A filosofia nietzschiana entende pela histria do homem, o desprezo ao corpo e por tudo aquilo que se encontra na ordem do tempo. Da a necessidade da reflexo, capaz de rever o desprezo, a natureza, a vida terrena e sua constante desvalorizao do corporal, a favor de uma pretensa alma perene e imortal. Essa anlise inicia o ponto de inflexo que sustenta a ligao entre os dois pensadores. A filosofia da imanncia de Nietzsche tornar-se-ia grande contribuidora do projeto ontolgico deleuziano. Exposto isso, pretendo tematizar, em primeiro lugar, a interpretao de Deleuze acerca das trs diferentes formas de niilismo desenvolvidas por Nietzsche, ou seja, o negativo, o reativo, e passivo. Em seguida, explicitarei, a maneira pela qual a leitura deleuziana reala no personagem Zara-tustra, a soluo diante do processo de autodestruio desencadeado pelo prprio indivduo atravs dos ideais metafsicos. A parte final do texto pretende mostrar que sua chegada trar, portanto, novo sentido ao mundo, juntamente com o amor incondicional vida.

    acylene maria Cabral Ferreira [email protected]

    a significncia do mundo e a diferena ontolgica

    Nosso objetivo mostrar que a diferena ontolgica o conceito basilar que fundamenta e assegura a cons-tituio de ser do ente intramundano na significncia do mundo. Nossa hiptese que o ente intramundano tem a mesma estrutura da diferena ontolgica: a manualidade concerne a dimenso ontolgica e o sim-plesmente dado a dimenso ntica. Entendemos que na mesma proporo que, na diferena ontolgica, ser e ente so distintos e inseparveis para a constituio ontolgica da realidade, na significncia do mundo, o simplesmente dado e a manualidade so modos de ser distintos e inseparveis para a constituio ontolgi-ca do ente intramundano. Pretendemos expor ainda que, assim como na diferena ontolgica, por um lado, o ente intramundano estruturado pela reunio antecipadora (Versammlung) que concentra, antecipada-mente, algo junto de algo em uma totalidade. E por outro, que os modos distintos e fundamentais de ser que constituem o ente intramundano, so determinados pelo carter de circularidade inerente a relao entre ser e ente na diferena ontolgica.

    adan John Gomes da silva [email protected]

    Popper, Kuhn e a verdade

    Muito j se falou sobre a dissidncia entre Karl Popper e Thomas Kuhn no que diz respeito natureza da cincia. Enquanto o primeiro v na constante crtica a forma mais legtima de progresso cientfico, Kuhn

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    acredita que exatamente o abandono do discurso crtico que caracteriza o empreendimento cientfico maduro. Ao contrrio de Popper, ele tambm cr que uma mudana de teoria no pode ser constrangida por nenhum mtodo que se assemelhe ao processo dedutivo de falsificao, defendendo ao invs disso a importncia de elementos subjetivos em tais ocasies, conseqncia inevitvel da incompatibilidade de teorias. Contudo, pouco foi dito sobre a diferena entre esses dois autores no que diz respeito a suas posies metafsicas e importncia delas nas suas ideias. Popper, enquanto um realista convicto, acredi-ta que teorias sucessivas se aproximam cada vez mais de uma descrio correta da realidade, razo pela qual ele utiliza a ideia de verdade reguladora como um padro pela qual podemos medir o progresso de nossas teorias cientficas. Kuhn, por outro lado, nega que teorias sucessivas nos dem um retrato cada vez mais aproximado do que podemos chamar de mundo real, falando ao invs disso numa capacidade pro-gressiva para a soluo de quebra-cabeas como sendo a meta da cincia. Por essa razo, verdade para ele teria apenas usos intratericos. Nesse trabalho pretendo propor e defender a ideia de que a principal dissidncia entre esses dois autores se encontra no em suas consideraes acerca do mtodo cientfico, mas antes em seus comprometimentos metafsicos e em suas consideraes a respeito do tema verdade, temas dos quais dependem suas demais ideias sobre a natureza da cincia.

    adauto Lopes da silva Filho [email protected]

    a indstria Cultural: Regresso do esclarecimento e mistificao da Conscincia

    Atualizando o conceito de Marx sobre o fetichismo da mercadoria, Theodor Adorno desenvolve toda uma tematizao acerca da indstria cultural que, para ele, se torna uma forte arma ideolgica contra a autono-mia e o esclarecimento da conscincia do indivduo na sua singularidade e no coletivo. Segundo Adorno, o fetichismo se expressa, aqui, no valor de troca do bem cultural. Nesse sentido, ele exerce uma anlise sobre a decadncia da cultura no sistema capitalista que, ao torn-la uma mercadoria, exerce atravs dela, um domnio cada vez mais crescente sobre os indivduos, intensificando a alienao e bloqueando o pensa-mento crtico. Desse modo, a cultura, ao ser produzida para as necessidades da lgica do mercado, perde a sua caracterstica de cultura, sua dimenso esttica, para ser meramente um objeto de consumo. Aqui os sentimentos do lugar aos lucros e a cultura produzida como instrumento de troca. Portanto, a populariza-o da cultura no significa esclarecimento e nem democratizao, ao contrrio, ela se manifesta como um instrumento de dependncia e ignorncia a partir do momento em que se torna mercadoria, valor de troca. A indstria cultural domina os homens e contribui para a falsa democratizao da cultura, para a regresso do esclarecimento e mistificao da conscincia. Nesse vis tenta-se difundir a mentira de que, com o de-senvolvimento revolucionrio de uma sociedade racional e livre, seria proporcionada a todos uma formao cultural, pois nas sociedades pr-capitalistas poucas pessoas tinham acesso s manifestaes artsticas, mas, com a transformao para o capitalismo, todos teriam iguais oportunidades, quer dizer, todos teriam acesso arte, literatura, msica etc. Deste modo, o mundo cultural capitalista postulava a realizao da liberdade e da felicidade para os indivduos. Tal promessa voltava-se para a valorizao da dimenso subjetiva; a inte-rioridade dos sentimentos, dando nfase aos valores espirituais e, assim, realizava-se a seduo das massas. No entanto, a grande maioria da populao no teve de fato acesso nem aos bens materiais, nem aos bens culturais. A igualdade no se deu pela formao cultural, pelo acesso cultura, e sim pela massificao da cultura mercantilizada, industrializada. A uniformizao dos produtos e o seu acesso aos consumidores do aquela sensao de igualdade e de liberdade. No entanto, o que predomina, em ltima instncia, o valor de troca. Atravs da mdia, o poder dominante dita valores, padres de comportamento e estabelece neces-sidades. Tais valores e padres tornam-se uniformes porque devem alcanar a todos para dar aquela ideia de igualdade e liberdade preconizada pela burguesia. A repercusso desses mecanismos na conscincia e na ao dos indivduos deseduca o homem, o aliena do seu ser. Desse modo, os mecanismos da indstria cul-tural levam regresso do esclarecimento, tornando este ltimo uma ideologia naquele sentido empregado

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    por Marx, ou seja, enquanto falsa conscincia ou mistificao da conscincia. Em decorrncia, a dimenso humana do homem, a sua emancipao e autonomia, o seu poder de crtica e de criatividade, tornam-se ameaados pelo sistema da civilizao industrial.

    adelino montenegro

    egosmo racional: possibilidades e limites de uma tica do interesse prprio

    O artigo propor reflexes sobre as possibilidades e limites de uma tica voltada para o interesse prprio. O egosmo racional ser apresentado como uma teoria que sustenta que diante de questes morais o agente, racionalmente, rejeitar as opes que impliquem em sacrifcio, adotando a postura mais vanta-josa para seus prprios interesses. Argumentar-se- ainda que a existncia individual e separada das pes-soas leva ao surgimento incontornvel do egosmo em situaes morais. A tese da separao metafsica das pessoas fundamenta o egosmo racional por implicar que as pessoas no poderiam naturalmente ser altrustas nem suficientemente distributivas em suas aes. A plausibilidade do egosmo racional reme-ter seguinte questo: Como um agir tico que tem como motivao primeira o interesse individual se viabiliza diante da gama de relacionamentos requeridos pelas interaes sociais e dos quais o agente de-pende? As dificuldades para a defesa de uma tica egosta vo desde uma concepo popular que associa o egosmo maldade, excessiva vaidade e prepotncia at a argumentos mais elaborados atinentes inconsistncia lgica da teoria e, consequentemente, ao menosprezo pelos relacionamentos sociais. Sob o aspecto da inconsistncia os crticos afirmam que o egosta ao advogar que todos ajam em defesa de seus interesses estar, em ltima anlise, advogando contra os seus prprios interesses. Para sair de tal incon-sistncia o egosta dever continuar agindo egoisticamente, mas defender que os demais ajam altruistica-mente, o que o levar desonestidade e dissimulao. Os defensores da tica do cuidado, por exemplo, afirmaro que as relaes mais prximas (parentesco, amizade), e no o indivduo, constituem-se na mo-tivao para a moralidade. A perspectiva egosta, dizem os crticos, exagera na independncia do individuo em detrimento da interdependncia mtua, negligenciando os relacionamentos como motivao para a moralidade. Por outro lado, as reflexes do artigo buscaro uma caracterizao do egosmo racional como motivao parcial para a ao moral dos agentes. A hiptese subjacente a esse argumento de que, para alm de uma absolutizao da motivao exclusivamente egosta, possvel defender um egosmo ta-manho econmico, em detrimento de um egosmo puro ou extremo, segundo o qual o comportamento egosta do agente no contraditrio com a considerao genuna pelos interesses dos outros.

    adelmo Jos da silva [email protected]

    Histria e confronto luz do pensamento de Hobbes

    Pretendemos apresentar e refletir sobre o conceito de histria de Hobbes, onde este coloca a vida como sendo um campo altamente competitivo. A principal ideia deste pensador a ser trabalhada que alegria proporcionada pela posse do que causa prazer, e a tristeza e o sofrimento so provocados pelo que acarreta o desprazer. O homem, naturalmente vai desejar se aproximar sempre mais daquilo que lhe provoca satis-fao. E no apenas o homem na sua individualidade , mas todos os homens, numa corrida desenfreada e altamente competitiva, a partir da percepo de que os objetos desta busca so comuns a todas as ambies e desejos. Certo de que, quando mais de um desejo se volta para o mesmo objeto, o conflito inevitvel, sobressaindo-se aquele que possui um maior poder capaz de atingir o seu objetivo, Deste modo, a histria, dentro deste contexto, concebida como sendo um campo destinado a este confronto incessante.

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    adelson Cheibel simes [email protected]

    a identidade narrativa e a dialtica da ipseidade-mesmidade

    Ao se propor a pensar a identidade narrativa, pensa-se tambm a mesmidade e a ipseidade, cujo centro das questes a identidade pessoal do sujeito. O certo que de algum modo a identidade pessoal implica a narrativa de uma vida voltada para a constituio de si. Sob o titulo de Carter e de Promessa, a dis-cusso gira em torno da possibilidade de se estabelecer um princpio de permanncia no tempo. Ricoeur encontra nestes dois conceitos uma maneira de nos reconhecermos e traa a partir deles a constituio do prprio sujeito. Ricoeur mesmo afirma que a natureza verdadeira da identidade narrativa s se revela, na dialtica da ipseidade e da mesmidade. Assim, esta ultima representa a maior contribuio da teoria narrativa para a constituio do Si. Neste artigo tentaremos mostrar em dois passos esta relao entre a identidade narrativa e a dialtica perpassada entre a ipseidade e a mesmidade. O primeiro esforo ento, mostrar como o modelo especifico de conexo entre acontecimentos que constitui a intriga, permite integrar permanncia no tempo, o que parece ser o contrario sob o olhar da identidade-mesmidade, a saber a diversidade, variabilidade, descontinuidade, instabilidade. O segundo esforo na inteno de mostrar como a noo de intriga, transportada da ao para os personagens da narrao, gera a dialtica da mesmidade e da ipseidade; voltando assim a estratgia dos puzzling cases (casos enigmticos) da Filo-sofia analtica. Neste momento Ricoeur aproxima os conceitos proposto por Dilthey de conexo de vida ao que ele considera equivalente histria de uma vida. Alem disso, Ricoeur utiliza-se da aproximao destes conceitos para discutir a articulao da teoria narrativa e da identidade pessoal, bem como para sustentar a sua tese: de que a identidade narrativa necessita de um carter, o que dado pela identidade do personagem, construda em ligao estreita com a intriga.

    admar almeida da Costa [email protected]

    dialtica: tchn e dnamis em Plato

    No dilogo Fedro (265d), Plato nos apresenta um Scrates apaixonado (266b) pela dialtica, arte (tchn) ou poder (dnamis) de dividir e reunir, pois, em suas palavras, a prtica dialtica a nica que ensina a pen-sar e, conseqentemente, a falar bem. Interessa-nos aqui, exatamente, procurar entender quais conseqn-cias estariam implicadas na compreenso de dialtica como arte ou como poder, e se essa compreenso pode ser mantida em outras ocasies e dilogos em que se trata da dialtica como aquilo que distingue o filsofo do no filsofo.

    adriana Barin de azevedo [email protected]

    aprendendo entre afetos e signos

    Escuto uma queixa referida aos efeitos provocados pela morfina, e fica explicitada uma sensao de fadi-ga. H corpos que, a primeira vista, esto destrudos demais! Gilles Deleuze dizia que O Anti-dipo, livro escrito com Flix Guattari, fora uma tentativa de evitar que os corpos chegassem a tal estado de destruio e que os pacientes no virassem doentes psiquitricos. Deleuze e Guattari insistiam em uma prudncia nas escolhas dos agenciamentos, de modo a garantir a expresso de uma vida singular. O que eles nos si-nalizam e, em especial Deleuze, em vrios de seus livros, um aprendizado em decifrar signos, em conhe-cer os afetos que constituem um indivduo. Poderamos dizer que tanto em filosofia quanto em Psicologia, assim como em outras reas, existe uma competncia clnica de estar espreita do que pode surgir e se

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    combinar em uma nova composio afetiva. No metr de Paris ouve-se um violino soar agenciado a uma heterogeneidade de lnguas que falam e soam com ele. Tanto o violino, quantos as vozes, os rostos expli-citam a variao de sofrimentos e alegrias, explicitam uma infinidade de signos e afetos ali agenciados em uma segunda-feira s 18 horas da tarde, constituindo corpos e vidas singulares. Todos os encontros dos quais participamos envolvem uma experincia do pensar e uma experincia do sentir. A questo deste texto conhecer o modo que Deleuze nos convida a aprender e decifrar afetos e signos.

    adriana Belmonte moreira

    a crtica de Canguilhem aos fundamentos tericos e ideolgicos da cincia moderna: a medicina como caso exemplar

    O problema de a medicina ser uma arte da cura ou uma cincia das doenas se inscreve no pensamen-to canguilhemiano no contexto de uma discusso epistemolgica mais ampla, que procura elucidar a anterioridade lgica e cronolgica das tcnicas em relao s cincias. Com efeito, Canguilhem define a medicina com uma tcnica de enraizamento vital, isto , um prolongamento consciente de uma fora curativa natural (vis medicatrix naturae), disparada por valoraes negativas que a vida mesma atribui a determinados comportamentos orgnicos. Ao enraizar a tcnica mdica na vida, sua inteno colocar em questo a tese de que a cincia deve comandar a tcnica, ideia que enfaticamente recusa. A seu ver, a medicina, como uma arte da cura, deve menos se orientar por uma cincia biolgica do normal - da qual ele questiona at mesmo a existncia - mas sim considerar a dimenso axiolgica e criativa da vida, isto , a polaridade dinmica e a normatividade que lhe so prprias. Alm disso, somente tendo em vista a crtica que Canguilhem faz aos fundamentos ideolgicos da cincia moderna que podemos compreender o pleno sentido de sua recusa ideia de medicina como cincia das doenas, a seu ver associada teoria da identidade real dos fenmenos normais e patolgicos. Segundo ele, tal teoria, ao defender a ideia de que o patolgico seria apenas uma modificao quantitativa do estado normal, fazendo da patologia uma mera extenso da fisiologia, carrega a ideia de que possvel controlar a natureza, domin-la atravs da atividade cientfica. , portanto, em duas relaes opostas em relao natureza, de domnio e de respei-to, que ele encontra a origem da oposio entre uma medicina que, adotando uma ideia de normalidade definida por mtodos cientfico-experimentais, surda aos apelos da vida e dita normas a ela e outra que escuta a vida e colabora com ela em sua capacidade de reao e de resistncia a tudo que lhe ameaa. Assim, para ele, enquanto a medicina como cincia das doenas advm do desejo humano de dominar a vida para controlar o mal, localizando-o para melhor agir sobre ele, como tcnica enraizada na vida ela expressa a confiana do homem na natureza e em suas tentativas de cura. Destarte, se Canguilhem de-fende a ideia de uma medicina como arte da cura no somente porque ela evidencia a precedncia da tcnica em relao cincia, dos valores em relao aos fatos, do qualitativo em relao ao quantitativo, do subjetivo em relao ao objetivo e da experincia vivida em relao experimentao laboratorial. , sobretudo, porque ela permite que ele faa frente ideologia de controle da natureza que orienta a ativi-dade cientfica. Da, a nosso ver, o papel exemplar da medicina no interior da crtica canguilhemiana aos fundamentos tericos e ideolgicos da cincia moderna.

    adriana maria da silva [email protected]

    o Conceito de Virt em maquiavel : uma anlise de o Prncipe

    Nossa comunicao tem como questo central compreender o significado aplicado por Maquiavel ao ter-mo virt. O desafio de nosso trabalho o de desvendar a causa verdadeira do sucesso das atitudes pol-ticas, ou seja, de revelar de que modo o conceito virt diz respeito aos homens, na participao daqueles

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    que governam o corpo poltico, como resultante da ao poltica de quem governa. Encontrando resulta-dos e extraindo lies, ensinamentos e exemplos a serem seguidos, Maquiavel oferece perspectivas para os modos de agir no cenrio poltico. A virt se constitui e se torna efetiva somente com a participao da fortuna, por isso o objetivo de nossa exposio ser o de analisar a relao entre determinao e indeter-minao existente entre estes dois plos que dominam a arte de governar.

    adriana santos Tabosa [email protected]

    marx e o problema da anlise econmica em aristteles

    Aristteles citado por Marx logo no captulo I de Das Kapital Kritik der politischen konomie, na tercei-ra seo, onde discorre sobre A forma equivalente. Marx afirma que a genialidade de Aristteles consiste no fato de que ele descobre uma relao de igualdade na expresso de valor das mercadorias (MARX, 1985, p. 62). Contudo, conclui que Aristteles fracassa em sua anlise porque os limites histricos de sua poca, uma vez que a sociedade grega daquele perodo baseava-se no trabalho escravo, o impediram de deduzir que o trabalho humano, que a substncia comum subjacente em qualquer mercadoria, o que torna possvel a igualdade e comensurabilidade nas trocas. Segundo Marx, o prosseguimento da anlise de Aristteles fracassa na falta do conceito de valor. Pois, para ele o segredo da expresso de valor, a igualdade e a equivalncia de todos os trabalhos, na medida em que so trabalhos humanos em geral, somente pode ser decifrado quando o conceito da igualdade humana j possui a consistncia de um preconceito popular. E isso s possvel numa sociedade na qual a forma mercadoria a forma geral do produto de trabalho, por conseguinte, tambm a relao das pessoas umas com as outras enquanto possuidoras de mercadorias a relao social dominante (MARX, 1985, p. 62). Este texto discorre sobre a anlise feita por Marx nos captulos I e IV de Das Kapital Kritik der politischen konomie sobre o sentido da economia em Aristteles. Para Marx Aristteles teria sido o grande pesquisador que primeiramente analisou a forma de valor (MARX, 1985, p. 61). De certa forma, por intermdio das observaes de Marx sobre a importncia das teorias aristotlicas, gerou-se a maioria dos debates em torno do problema da anlise econmica em Aristteles.

    adriane da silva machado mbbs [email protected]

    agostinho: natureza e vontade

    De onde provm o mal? Agostinho encontrou em Plotino a chave para resolver essa questo: o mal no um ser, mas deficincia e privao de ser. E, foi mais alm, aprofundando a questo e examinando em trs nveis o mal: i) metafsico-ontolgico; ii) moral; iii) fsico. Neste sentido, a resposta agostiniana a essa questo consiste em dois aspectos. E o primeiro tem em vista que, aps compreender a natureza pura-mente privativa das coisas ms, Agostinho vai explicar a existncia do mal no mundo, pois, aquilo que no nada no pode ter sido criado. E, em segundo, tambm acresce que, se Deus tivesse criado o mal, ele seria inevitvel ao homem, porque criar tirar do nada e, vindo do nada corruptvel. No que tange a questo do mal moral, cabe considerar que se as aes dos homens no so sempre o que deveriam ser, sua vontade a responsvel. O homem escolhe livremente suas decises e, , por ser livre, capaz de fazer mal. Assim, parece-nos que o problema reside em Ado, homem primordial, arqutipo ou modelo de homem, pois frente possibilidade de escolha se deixou seduzir pela mulher, que por sua vez, havia sido seduzida pela serpente. De acordo com Agostinho, foi herdada, a partir do pecado de Ado, uma espcie de mancha ou pecado original. E, assim, s podemos nos ver livres desse pecado atravs da manifestao da graa misericordiosa de Deus. Portanto, Agostinho construiu a ideia de uma culpabilidade de natureza, ou seja, herdada do primeiro homem, efetiva como um ato e punvel como um crime. Qui um esforo

  • caderno de resumos - xv encontro nacional anpof - outubro 2012 | 11

    para conservar o pecado, no como natureza, mas como vontade. A vontade, por sua vez, deveria tender, de acordo com a sua natureza, ao Bem supremo, mas por vezes, ela pode vir a tender a bens criados e finitos, invertendo a ordem hierrquica, preferindo a criatura em detrimento a Deus, optando por bens inferiores ao invs de bens superiores. Logo, o mal s pode ser a corrupo de uma das perfeies na na-tureza que as possui. Ento, possumos uma natureza m? No, a natureza m aquela em que medida, forma ou ordem est corrompida e, ela m somente na exata proporo do grau de sua corrupo. No corrompida, essa natureza seria toda ordem, forma e medida, quer dizer, boa; mesmo corrompida, ela permanece boa enquanto natureza e m apenas no tanto em que corrompida.

    adriano aprigliano [email protected]

    os trs planos da linguagem no Vakyapadiya de Bhartrhari

    O Vakyapadiya de Bhartrhari (sc. V d.C.) um texto em versos (karikas) que, na tradio indiana, se conta tanto entre os textos de filosofia (darsana) como dentre os de gramtica (vyakarana). Bhartrhari trata uma gama variada de temas, os quais recupera de fontes mais antigas, especialmente das obras dos trimuni (trs sbios) Panini (sc. V a.C), Katyayana (sc. III/IV a.C) e Patajali (sc. II a.C), bem como das de Yaska (sc. V/VI a.C), Vyadi (sc. II/III a.C) e outros, a fim de revelar-lhes a dimenso epistemolgica que serve fundao de uma filosofia da linguagem. Pode-se dizer que Bhartrhari escreve como um filsofo da gramtica (vyakara-na), mas que os resultados de suas anlises interessam a toda reflexo indiana sobre a linguagem, haja vista a reverberao de suas ideias, seja para subscrev-las ou refut-las, nas obras de grande nmero de pensado-res de diferentes escolas filosficas que o sucederam, especialmente os prprios gramticos (vaiyakaranas), os lgicos (naiyayikas) os exegetas do Veda (mimamsakas) e os budistas (bauddhas). O objetivo de nossa comunicao comentar a novidade de sua visada epistemolgica sobre o legado terico da tradio grama-tical e a maneira pela qual destila as questes perenes da filosofia indiana. Dentre as questes tradicionais da gramtica que revisita e reinterpreta, ater-nos-emos da natureza do signo lingustico (sabda) . Bhartrhari prope trs planos de linguagem ontologicamente separados, porm interdependentes, vaikhari, madhya-ma e pasyanti, que so objeto das diferentes perspectivas da disciplina gramatical por ele concebida, a saber: vaikhari, a forma manifesta da gramaticalidade, i.e., os problemas do uso lingustico; madhyama, a forma mental da gramaticalidade, i.e., o problema do sentido lingustico, e pasyanti, enfim, a forma imanifesta e absoluta da gramaticalidade, i.e., o princpio lingustico, que a dissoluo de toda a diferena da atividade lingustica secular numa forma idntica natureza subjacente de todas as coisas (brahman), com a qual se busca conjuno na prtica soteriolgica do yoga da palavra (sabda-purva-yoga). Dentre as questes clssi-cas das filosofias da ndia, interessa comentar a viso de Bhartrhari sobre o papel da linguagem no conheci-mento do mundo, e sua relao com a tradio e o conhecimento herdado (agama), a inferncia (anumana) e a percepo direta (partyaksa). Propomo-nos, ainda, dizer algumas palavras acerca da dimenso discursiva e organizacional da obra, comentando a forma da karika bhartrhariana e a aparentemente confusa diviso dos assuntos ao longo da obra, a fim de suscitar discusso sobre as dificuldades de forma do discurso filos-fico na tradio indiana de expresso snscrita.

    adriano Bueno Kurle [email protected]

    o conceito de eu na Crtica da Razo Pura

    Este trabalho busca articular a concepo de eu na obra Crtica da Razo Pura. Mostra-se primeira-mente que o sujeito e a razo, enquanto faculdade, esto imbricados um ao outro. Desta maneira, a razo considerada faculdade de um sujeito. Este ltimo, porm, no pode ser conhecido como em si, pois as faculdades essenciais formao do conhecimento (sensibilidade e entendimento) no po-

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    dem buscar seu contedo em algo que lhe anterior, sendo assim a unidade destas duas faculdades postas em um sujeito epistmico (transcendental), este funcionando como uma unidade que susten-ta ambas as faculdades, enquanto um ponto de conexo. A partir da doutrina do idealismo transcen-dental isto esclarecido, assim como determinados os limites e as possibilidades do conhecimento, distinguindo a rea legtima do conhecer da rea do puro pensar. Desta maneira, Kant faz a distino entre fenmeno e nmeno, tendo este ltimo um sentido positivo (que transcende o conhecimento possvel e, tomado desta maneira, gera apenas iluses) e um sentido negativo (que tem um valor heu-rstico na teoria). A partir destes limites impostos pela doutrina do idealismo transcendental, tratam-se de trs distintas perspectivas para o conceito de eu: (1) como fenmeno, aonde se tratam das condies universais para pensar este conceito empiricamente, atravs da possibilidade da aplicao do conceito de permanncia, que se d apenas mediante a correlao entre espao e tempo, geran-do a representao espacial da linha do tempo; (2) como elemento transcendental, onde tratado como elemento necessrio estrutura do conhecimento possvel, tendo sua explicitao no conceito de apercepo transcendental, e de onde se extrai a distino entre unidade sinttica originria da conscincia da identidade analtica, tendo a primeira como condio para a segunda. A unidade sint-tica originria aparece relacionada com a atividade de sntese, sendo este conceito determinado pela necessidade de uma unidade sinttica possvel entre as distintas representaes mediante as regras gerais da sntese (as categorias). Esta condio para que o sujeito do pensamento possa relacionar e operar juzos e aplicar conceitos intuies sensveis, o que implica a possibilidade de reconhe-cimento destas operaes como sendo suas operaes, o que caracteriza a identidade analtica da conscincia. Desta maneira, a unidade sinttica originria transcendentalmente e empiricamente necessria para o conhecimento e para a experincia, enquanto a unidade analtica transcenden-talmente necessria mas apenas possvel empiricamente, isto , deve sempre poder ocorrer, mas no necessrio que ocorra para que se tenha conscincia de algo; (3) por fim trata-se da concepo do eu como nmeno, de onde se trata da ideia transcendental de alma, distinguindo entre o uso constitutivo (que caracteriza a falcia chamada Paralogismo da Razo Pura) e o uso regulativo. As-sim, tem-se a possibilidade do uso regulativo como uma pressuposio conceitual que tem como fim buscar a unidade sistemtica dos eventos, conceitos e juzos menos gerais em uma ideia que regula a pesquisa e a estruturao do conhecimento em torno do tema (no caso, a Psicologia).

    adriano Correia [email protected]

    tica e poltica em Hannah arendt: pensamento, juzo e banalidade do mal

    Quando o julgamento de Adolf K. Eichmann e a repercusso da obra Eichmann em Jerusalm: um rela-to sobre a banalidade do mal, publicada pela primeira vez h cinquenta anos, fizeram com que Hannah Arendt se detivesse demoradamente sobre algumas questes de filosofia moral assim como o evento representado pela ascenso do nazismo dirigiu seu olhar para as questes estritamente polticas trazidas tona pela impossibilidade mesma da poltica , o diapaso de sua anlise foi ento estabelecido tanto pelo estatuto da relao entre tica e poltica quanto pela dupla relao, no mbito da tica, entre ausncia de pensamento e banalidade do mal, de uma parte, e entre pensamento e cuidado do si-mesmo (self), de outra. Arendt jamais pensou que a poltica pudesse ser redimida na tica, mas se perguntou sobre se, em um cenrio de falncia dos padres tradicionais de julgamento e de inviabilidade da ao poltica, a ativi-dade do pensamento no poderia operar como um obstculo ao mal ao menos no sentido elementar e precrio de permitir que os que no se mostram determinados a serem viles possam evitar tomar parte na perpetrao de maldades a sua prpria revelia, por assim dizer. Para ela, pensar significa mover-se no mbito da profundidade, deitar razes e, portanto, estabelecer limites. Assim, o que em geral chamamos de uma pessoa ou uma personalidade, distinta de um mero ser humano ou de um ningum, nasce real-mente desse processo do pensamento que deita razes . O que caracteriza a banalidade do mal como

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    uma catstrofe extrema justamente o fato de que esse mal, por no possuir razes nem limites, pode espraiar-se indefinidamente, transcendendo as limitaes impostas maldade humana inclusive pelas tentaes e perverses abrigadas nas motivaes individuais, mesmo aquelas mais torpes. Meu propsito na presente apresentao examinar a relao entre tica e poltica no pensamento de Hannah Arendt a partir da perspectiva privilegiada da sua anlise da banalidade do mal.

    adriano Geraldo Pinto

    de como o escravo conquista sua liberdade na dialtica do senhor e do escravo na Fenomenologia do esprito

    Esta pesquisa visa compreender a passagem celebre da dialtica do senhor e do escravo da obra he-geliana, Fenomenologia do Esprito. Especificamente, tentaremos demonstrar como se d a conquis-ta da liberdade pelo escravo. Para tanto, estabelecemos um percurso para atingir esse fim desejado. Primeiro passo o reconhecimento mtuo, que d origem ao homem, na medida que, as duas cons-cincias se reconhecem como sendo autnomas e portanto, como conscincias-de-si independentes. Segunda etapa, na qual apresentamos a dialtica do senhor e do escravo, como figuras de oposio da conscincia. Nessa relao, o senhor quem domina e, portanto, priva o escravo de sua liberda-de, na medida em que, ele no reconhecido pelo senhor como conscincia-de-si autnoma. Assim, escravo para conquistar sua liberdade precisa re-significar o seu trabalho, que o cume desta etapa, e o objetivo principal de toda essa pesquisa, ou seja, o trabalho como fundamento e conquista da liberdade.

    adriano Henrique de sopuza Ferraz [email protected]

    Literatura e subjetividade na crtica das representaes: um estudo de as palavras e as coisas de michel Foucault

    Em As palavras e as coisas, Michel Foucault elabora uma tese de relevncia salutar para as cincias humanas, a partir da colocao do problema de como os saberes clssicos sobre uma gramtica geral, uma filosofia natural e uma teoria das riquezas foram transformados nas reflexes modernas sobre a vida, o trabalho e a linguagem. Essa transformao ou passagem para a modernidade no seria possvel antes do aparecimento da crtica com a filosofia de Kant. Atravs do que designar como investigao arqueolgica, na esteira dos epistemlogos franceses, como Bachelard, Canguilhem e Koyr, Foucault almeja encontrar as rupturas e descontinuidades nos processos histricos de conso-lidao do saber ocidental, estudando como o sujeito, sua vida e sua linguagem so transformados em objeto de estudo dos saberes ocidentais e como estes saberes fazem parte do processo de ob-jetivao\subjetivao do indivduo. Este projeto de pesquisa visa a identificar, nesse movimento, o papel da literatura como manifestao privilegiada que atua no mesmo campo sobre o qual se exerce uma crtica s representaes. Todavia, no se trata mais de uma atividade ldica com demasiada valorizao do papel da imaginao, como pensaram as filosofias da conscincia numa educao esttica para a libertao do homem. Com esta abertura da modernidade, a literatura pde pensar o indivduo como conhecedor e produtor de sua prpria subjetividade sem estar subordinada ordem terica, prtica ou perceptiva que encerra as cincias humanas. Este projeto crtico que atravessa a obra de Foucault aponta as tendncias emancipatrias existentes na atividade literria, tanto por es-tar diretamente ligada problemtica da finitude humana que emerge da modernidade, quanto por se voltar para um campo precioso da literatura: a linguagem em seu prprio ser, onde o sujeito que escreve se debrua sobre si prprio e seu ato de escrever. Desde a introduo de As palavras e as coi-

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    sas, apreende-se a proposio de que, dentre as diferentes formas de perceber, realizar e pensar as coisas, surge uma regio mediana em que so contestadas as representaes que se acumulam num dado sistema de pensamento. Este lugar, que se coloca de modo transicional, o prprio campo da crtica. No surgimento da idade clssica , a literatura se caracterizou como a superao da ordem das semelhanas e similitudes pela ordem da representao, onde quem figura Dom Quixote e os sabe-res se caracterizam pela busca da representao fidedigna do real. No despontar da idade moderna, com Marqus de Sade, a literatura vem a ser a ultrapassagem dos limites da representao pela violncia do desejo e expresso da finitude. No obstante, a revoluo copernicana de Kant abre o caminho para o surgimento das cincias humanas em sua esteira. J a partir de Mallarm, a literatura torna-se a relao fundamental da linguagem consigo prpria, que d bases para Foucault pensar nos princpios de uma ontologia da literatura. Portanto, o primeiro passo desta pesquisa ser percorrer estes trs movimentos histricos da arqueologia das cincias humanas para definir seu conceito de representao e evidenciar sua crtica.

    adriano mrcio Janurio [email protected]

    Conceito de experincia em T. W. adorno

    O objetivo da apresentao a exposio dos resultados da pesquisa de mestrado, desenvolvida desde 2011. Essa pesquisa tem como objeto o conceito de experincia em Theodor W. Adorno, mais especificamente a experincia de no-identidade. A investigao pretendeu encontrar o lugar que o conceito de experincia ocupa dentro do quadro terico desenvolvido por Adorno nos anos cinquen-ta e sessenta do sculo vinte, e investigar mais a fundo a relao do conceito de experincia com o de critica. Para tanto, foram considerados como textos principais desse perodo a Dialtica Negati-va, Capitalismo Tardio ou Sociedade Industrial e o conjunto de textos denominado Stichworte. Kritische Modelle II (Palavras e Sinais: Modelos Crticos 2). Pde-se perceber que o quadro terico desenvolvido por Adorno neste perodo possui como centro uma das caractersticas fundamentais da Teoria Crtica: um diagnstico de tempo presente. O diagnstico de Adorno est centrado na ideia de que a sociedade capitalista tardia est dominada pelo princpio de identidade. Esse princpio, contudo, no possui meramente uma significao de cunho lgico; ele o ponto de toque entre as disposies do pensar para Adorno pensar significa identificar e a estrutura geral da troca. O modo como sociedade no capitalismo tardio industrial se organiza expressa justamente a afinidade originria entre pensar e identidade e, por sua vez, entre pensar e troca, j que a troca, para Ador-no, o modelo social do princpio de identidade. Essa configurao social, presente no capitalismo tardio industrial, o estatuto da dominao material e simblica sobre as mulheres e os homens. Qual seria a posio da crtica nos escritos de Adorno, levando em conta a dominao do princpio de identidade? Os escritos de Adorno indicam que a crtica sob essas condies no pode apontar as aes (prxis) que levariam a transformao da sociedade, tal como Karl Marx havia feito no momen-to em que produziu suas anlises sobre o capitalismo. A prxis revolucionria est adiada por tempo indeterminado diz Adorno. A forma atual da dominao permite apenas resistir quele princpio de identidade. E essa resistncia est presente no prprio pensar, pois ele deve acolher em si sempre o que no pensar. O pensar, que para Adorno significa identificar, acolhe o que no pensar, algo que resiste ao princpio de identidade: o no-idntico. Contudo, a dominao social atravs do princpio de identidade desconsidera o no-idntico. A experincia da no-identidade e sua apresen-tao desponta nos escritos de Adorno como via de resistncia ao princpio de identidade, princpio que configura a dominao social vigente. Essa resistncia o que pode caracterizar a crtica sob as condies do capitalismo tardio industrial.

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    adriano marques [email protected]

    Vcios e virtudes do conjuntivismo

    Em semntica formal, assume-se que o modo de composio semntica das lnguas naturais pode ser expli-cado em termos de aplicao funcional. Contudo, embora essa seja uma operao formal til metalingua-gem adotada pelas teorias semnticas, ela no explica satisfatoriamente o modo de composio semntica das lnguas naturais, pois fora a multiplicao das operaes composicionais requeridas para acomodar os fenmenos em anlise, multiplicando assim os problemas a serem explicados, em vez de resolv-los. P.M. Pietroski oferece uma proposta alternativa aplicao funcional, chamada conjuntivismo. De acordo com essa abordagem, o modo de composio semntica das lnguas naturais equivale conjuno de predicados mondicos. Com efeito, Pietroski mostra que essa proposta tem o mesmo poder descritivo que a aplicao funcional. Logo, argumenta o autor, cabe aplicar a Navalha de Occam: se temos duas abordagens que do conta dos mesmos fenmenos, ento prefervel adotar a abordagem mais simples. Seria esse um critrio adequado, suficiente para sustentar essa proposta? Nesta comunicao, argumentamos que embora o con-juntivismo reduza o nmero de operaes composicionais e seja, portanto, sob esse aspecto, mais simples, no claro que a proposta conjuntivista seja, em sua totalidade, mais simples. Sustentamos que o principal atrativo do conjuntivismo no reside em sua simplicidade, mas sim porque constitui um programa de pesqui-sa dotado de certas virtudes explanatrias, a saber: (i) fornece um tratamento semntico satisfatrio ope-rao sinttica de adjuno, que deixa de ser um caso especial de aplicao funcional; (ii) adota como expla-nandum generalizaes empricas no fortuitas, certos fenmenos sintticos sistemticos que precisam ser explicados. O item (i) indica que o conjuntivismo oferece mais do que apenas consideraes metasemnticas interessantes, oferece uma explicao para o carter recursivo da composio semntica. O item (ii) revela uma escolha metodolgica acertada, pois o sucesso de uma teoria semntica no deve ser avaliado apenas em termos de sua capacidade de descrever as intuies dos falantes, pois essas intuies oferecem, quando muito, generalizaes descritivas dos fenmenos observados.

    adriano martinho Correia da silva [email protected]

    a latinizao do vocabulrio grego do ser no de Hebdomadibus de Bocio

    No estudo da latinizao do vocabulrio lgico-metafsico grego do ser tem-se, em primeiro lu-gar, que ele no se nos apresenta pronto e acabado e que uma sua traduo exije adapt-lo ao portugus filosfico, o que, por sua vez, implica um enorme esforo de tornar consistente o que ainda no e no apenas no caso do latim helenizado de Bocio. Em segundo lugar, h um risco, porque no h uma tabela de correspondncia clara para o que Plato e Aristteles cha-mavam de e que se tornou em latim ora substantia, ora essentia. Isto sem contar que esse (infinitivo latino de ser) no texto boeciano parece por vezes ser melhor traduzido por essncia e id quod est por substncia o que tornaria estranha a sua afirmao de que essncia e subs-tncia so diversos, visto que ambos traduziriam ento o grego . Para uma compreenso satisfatria do texto boeciano necessrio recorrer s fontes gregas e entender no s como funciona a estruturao deste vocabulrio nos filsofos helnicos clssicos, mas tambm como os latinos o entenderam, traduziram e desterritorializaram (como diria Courtine). Mas h um an-tecedente a este longo percurso: o prprio tratado de Bocio e como ele lida em seus axiomas com o vocabulrio geral do ser para depois na formulao da questo e de sua soluo o aplicar a um caso tico-metafsico-teolgico no problema de as substncias serem boas em virtude de serem, a despeito de no serem bens substanciais. notrio que Bocio escreveu uma srie de tratados teolgicos. Aquele que nos interessa particularmente ficou conhecido como de Hebdo-

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    madibus, devido a uma referncia textual esotrica a septuanrios, que no se sabe ao certo se foram o nmero de dias em que ele discutira com um interlocutor, ou ainda, talvez, o nmero de axiomas fundamentais para a discusso de sua questo (embora haja nove axiomas, eles poderiam ser reduzidos a sete). A questo que anima nossa apresentao , com foco neste breve tratado boeciano, a consolidao do vocabulrio filosfico do ser, por meio da latinizao de Aristteles sob o neoplatonismo tardo-antigo; nisto que Bocio o maior representante, assim como sua obra mais original: justamente o opsculo de Hebdomadibus. A apresentao, assim, girar em torno de mostrar o percurso percorrido por Bocio em seus axiomas que versam sobre o ser e suas derivaes terminolgicas no contexto das Categorias de Aristteles sob o vis do neoplatonismo porfiriano.

    adriano naves de Brito [email protected]

    o que obrigao moral? desafiando a perspectiva naturalista

    O conceito de obrigao vem sendo objeto de diversos tipos de caracterizaes ao longo da histria da filosofia. Deus, a conscincia moral, o Estado, e outras fontes possveis j foram aventados como funda-mentos de nossos deveres de diversos tipos. Alguns brasileiros que trabalham com filosofia analtica j escreveram sobre esse tema, tambm sob diferentes pontos de vista. Recentemente, a abordagem de cunho naturalista vem ganhando fora no tratamento dos problemas da filosofia prtica e, dentre eles, o da obrigao. Nesta mesa, propomos-nos dois objetivos: por um lado, expor a alternativa naturalista para explicar a obrigao, em especial a obrigao moral, e, por outro, confrontar essa abordagem com objees e solues no naturalistas. Em debate estaro uma concepo a priori sobre o fundamento da obrigao e outra mais descritiva sobre o funcionamento da regulao moral entre os humanos. A mesa estar organizada de modo a que a uma exposio da concepo naturalista, siga-se a exposio de obje-es e o debate, primeiro entre os participantes da mesa e, depois, envolvendo o pblico presente.

    adriano ucha [email protected]

    a anlise do discurso como crtica do poder em Foucault

    Foucault procurou elaborar suas teses com enorme cuidado para no estabelecer categoricamente o que so as coisas, e acabar por repetir a atitude moderna de teorizao objetiva do conhecimento. Isto fica evi-dente em sua obra A Arqueologia do Saber, em que ele aponta caminhos para a anlise discursiva por ro-tas contrrias s metodologias encontradas nas discusses da epistemologia tradicional. Nesta, em muitos casos, a tentativa de elaborao de sistemas de pensamento orbita a noo de Ursprung em concordncia com as prticas exegticas e pletricas, culminando no estabelecimento de uma relao entre aconte-cimento e origem que seria historicamente inverificvel. A caracterstica principal de tais prticas seria a substituio, no mbito do conhecimento, da diversidade das coisas ditas e feitas por uma totalidade uniforme e pelo engendramento de continuidades teleolgicas. Por outro lado, a arqueologia foucaultiana prope a recusa das formas continustas dos saberes atravs da anlise enunciativa, que se utiliza de uma lei de raridade em oposio abundncia de significados na interpretao e uso dos discursos. Abrem-se, portanto, novos campos de pesquisa num domnio de investigao relacionado ao conjunto de todos os enunciados efetivos na sua prpria configurao acontencimental e dispersiva, ao invs de semntica, como postulam os estruturalistas. Dessa maneira, pode-se afirmar que junto anlise do discurso se colo-ca a questo do poder j que, como expe Hannah Arendt no prlogo de A Condio Humana, o discurso faz do homem um ser poltico. Em Foucault, a anlise dos enunciados (e o encontro de suas condies de possibilidade de aparecimento) tambm demonstra a qualidade de objeto de luta poltica presente nos

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    discursos. Sendo assim, objetivo deste trabalho responder as seguintes questes em torno da analtica do discurso presente na arqueologia foucaultiana: em que sentido Foucault oferece concepes de discur-so e enunciado distintas daquelas provenientes da anlise lingustica e da histria do pensamento? Quais as implicaes das diferenas conceituais propostas pelo filsofo francs? Alm isso, ser exposta a tese de que a arqueologia deva ser entendida como pilar fundamental do pensamento poltico foucaultiano e delimitar qual seu papel na formulao de uma crtica do poder.

    adrielle Costa [email protected]

    o carter pr-temtico da verdade e da significao

    Com esse trabalho pretendemos investigar em que medida o pr-temtico e o pr-predicativo faz parte da teoria ontolgica da significao e da verdade no pensamento de Heidegger. Ou seja, em que medida estes conceitos no se restringem a um fundo de experincia cotidiana da presena (Dasein) olheia a teo-rizao cientfica, mas mantm-se, nesse fundo, em uma relao de fundao desta. Desse modo, preten-demos investigar o lugar da teoria e suas ramificaes cientficas no pensamento heideggeriano. Para tal, considerar-se- Ser e Tempo a principal obra deste trabalho. Tomando como base o conceito tradicional de verdade como adequao e concordncia e a concepo de que o enunciado ou o juzo o lugar da verda-de, legados pelo aristotelismo, mostraremos que a determinao do significado e do seu valor de verdade no ato enunciativo est fundada na verdade como abertura e descoberta da significabilidade pr-temtica do mundo, que por sua vez o fundamento do verdadeiro e do falso. Do mesmo modo, mostraremos que o fundamento ontolgico da verdade e da significao preserva uma relao de unidade entre o ente e o seu significado. Se possvel conceber o significado como aquilo que nomeia o ente no ato enunciativo, e enquanto tal, pode represent-lo e substitu-lo em sua ausncia, porque h a significao ontolgica como fundamento, dada pelo encontro de aberturas entre presena e mundo, a partir da qual se constitui significabilidade e sentido de ser. Donde se pode afirmar que a significao ontolgica se d de um modo copertinente com o sentido originrio da verdade como abertura de ser e descoberta de ente. Assim, o que caracteriza a concepo de uma significao ontolgica, constitutiva da presena como ser-no-mun-do, o seu fundamento pr-temtico e pr-predicativo. No h um purismo do significado, antes ele est fundado na prpria mundanidade, constituindo-a e constituindo a presena enquanto ser-lanado em um mundo dotado de significabilidade. Da mesma maneira, a linguagem como fala, tambm concebida em seu fundamento pr-temtico, mostrando que a sua funo no est restrita a uma instncia terica. Sendo concebida em outras modalidades que no mais das vezes antecedem a sua concepo no ato predi-cativo e que no se submetem ao critrio epistemolgico de verdade. Na modalidade pr-terica da fala, em seu carter de abertura e constituio da presena e do seu mundo, se fundamenta a sua possibilidade terica. Que por sua vez, tambm faz parte da estrutura da presena, mas no a nica possibilidade da fala. Assim, a partir da verdade como abertura e descoberta da significncia do mundo, que por sua vez abre a significabilidade do mundo e da presena, e a partir da compreensibilidade significativa da fala, que o significado pode ser articulado e re-articulado, analisado lgica ou gramaticalmente, na instncia tetica da linguagem. Estando a sua possibilidade de conceitualizao radicada na interpretao da viso da compreenso na mundanidade do mundo.

    affonso Henrique Vieira da Costa [email protected]

    acerca do escrever interessado

    O problema relativo ao que propriamente escrever conduz-nos questo decisiva acerca do que a linguagem, pois, ao menos no modo como pretendemos abord-lo, ele no aparece como expresso de

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    um eu j previamente dado e nem smbolo, isto , no representa nada. A linguagem, como nos ensina Heidegger, simplesmente fala. Mas ser que deixamos a linguagem falar? Ser que falamos desde a lingua-gem? Caso deixemos ecoar em ns o que disse certa vez Manoel de Barros, a saber, que na folha de papel no cabe palavra acostumada, parece-nos que estaremos a caminho da essncia da linguagem. Dizemos essncia, mas no a tomamos como algo fixo e que determina metafisicamente o homem em seu ser. Trata-se, antes, de compreender que a linguagem se essencializa e, nessa sua essencializao, encontra-se em jogo o fazer-se de homem desde a abertura de seu modo de ser. Em Sobre o humanismo, ao iniciar uma discusso acerca da essncia do agir, Heidegger afasta-se de uma compreenso que s conhece o agir como a produo de um efeito, cuja efetividade se avalia por sua utilidade. Se, neste caso especfico, estamos lidando com uma espcie de fazer intil e necessrio, o que se pe em jogo o espao de liber-dade que se dispe desde a abertura do humano no sentido de conduzir a sua ao plenitude de ser, sua prpria consumao. somente a que o escrever de um escritor interessado, porque este, antes de tudo, con-suma, como nos diz Heidegger no texto anteriormente citado, a referncia do Ser Essncia do homem. O assunto do escrever torna-se, ento, desde sempre, um pensar acerca da linguagem. No escrever interessado, o que se impe como questo um deixar aparecer, um deixar ser aquilo que na prpria ao veio fala. Esse lugar em que mundo vem fala a habitao prpria do homem. a que linguagem se d. a que se d, que h Ser. Seria neste sentido que Heidegger afirma que a linguagem a casa do Ser? Em que sentido ainda os pensadores e poetas lhe servem de vigias? Como compreender a articulao empreendida pelo pensador entre viglia, con-sumao da articulao do Ser e linguagem no mbito do que denominamos de escrever interessado? So estas as questes que pretendemos encami-nhar na abordagem do tema ora proposto.

    afrnio Rami Coelho sales [email protected]

    mecanizao e Riso na filosofia de Henri Bergson

    Henri Gouhier (1898-1994), e em sua esteira grande parte da crtica filosfica, considera O Riso (1900) de Henri Bergson (1859-1941) como uma aplicao da doutrina bergsoniana ao estudo de um problema particular. O que se procura aqui apresentar que, ao contrrio do muito propagado, O Riso tem uma forte ligao com aquilo que h de mais central na filosofia de Bergson: a vida [la vie]. Embora detenham grande importncia na economia interna da filosofia bergsoniana, as ideias de durao [dure], memria [mmoire], impulso vital [lan vital] ou mesmo o mtodo da intuio [intuition] so apenas formas de apontar para o lugar de importncia central ocupado pela vida. O Riso, tendo em vista esta importncia da vida, toma nova proporo por concretizar efetivamente o que se revela como o projeto do bergsonismo: deter o processo descaracterizao da vida. O riso a resistncia natural imposta pela prpria vida a todo este processo que, a partir da progressiva mecanizao gerada pela inteligncia, oferece resistncia, no interior e a partir mesmo da inteligncia, impedindo-o de se efetivar completamente.

    agemir Bavaresco [email protected]

    metodologia Hegeliana, articulaes e estratgias de Robert Brandom

    Na obra de Robert Brandom, encontram-se pressupostos e conceitos hegelianos que so de ordem metodolgica. De fato, permanece como pano de fundo uma rede interpretativa hegeliana a partir da qual Brandom analisa os temas e problemas da filosofia norte-americana. Nessa pesquisa, tomamos esses conceitos a partir de seu livro Articulando Razes - uma introduo ao inferencialismo. O obje-tivo deste trabalho , em primeiro lugar, apresentar, resumidamente, as principais ideias e partes do livro de Brandom, Articulando Razes, que fazem parte das questes filosficas do autor, tais como a

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    filosofia analtica, inferencialismo e o idealismo alemo. Quais so as escolhas estratgicas feitas pelo autor para analisar temas como o pragmatismo, o inferencialismo, a intencionalidade, o holismo, o racionalismo e o expressivismo? Ele quer enfatizar alguns aspectos, tais como: na filosofia da mente, o sentido de sapincia, em vez da mera sencincia; em semntica, ele enfatiza o contedo conceitual e no outros contedos; na pragmtica, ele destaca a prtica discursiva, ou seja, focar o conceitual, que consiste na aplicao de um conceito dizendo ou pensando em algo. Outro objetivo apresentar alguns aspectos da abordagem metodolgica hegeliana feita por Brandom. Qual a sua leitura do hegelianismo, especialmente, a sua metodologia a partir da perspectiva da filosofia norte-america-na? A metodologia hegeliana constitui-se na principal estratgia para aproximar o hegelianismo e a Filosofia Analtica. Cabe salientar que a pesquisa de Brandom uma das que mais se interessam em ampliar essa aproximao. Foram escolhidos alguns conceitos metodolgicos, tais como o conceito de lgica e seu contedo, a dialtica entre o todo e as partes, a negao determinada e a contradio como o ncleo do sistema hegeliano.

    agnaldo Cuoco Portugal [email protected]

    a filosofia analtica da religio e a teologia como auxiliar da filosofia

    As relaes entre filosofia acadmica e teologia crist se tornaram mais conflituosas no pensamento moderno que no perodo medieval. Um momento importante desse atrito se deu com a filosofia de Hume e seu clebre conselho de jogar ao fogo os livros de teologia encontrados na biblioteca do leitor. No s o teolgico deixava de ser considerado o conhecimento mais importante, do qual a filosofia era apenas uma rea auxiliar, mas aquele parecia no ser compatvel com o nascente e pro-missor conhecimento cientfico. Ao final do sculo XX, porm, a rejeio humeana, adotada pelo po-sitivismo lgico, passou a ser fortemente questionada e autores ligados filosofia analtica da religio retomaram reflexes teolgicas em termos filosficos, na sequncia do esforo em mostrar que no h incompatibilidade entre conhecimento cientfico e teologia. Na presente comunicao, pretende-se expor criticamente uma dessas tentativas, a que empreendida por Richard Swinburne em The Christian God (1994). Nessa obra, o autor discute conceitos filosficos fundamentais (substncia, individualidade, causalidade, tempo e necessidade) antes de aplic-los reflexo sobre a noo crist de Deus. Porm, possvel encontrar ali uma abertura para a resoluo de problemas propriamente filosficos a partir de ideias teolgicas. Assim, na presente apresentao, pretende-se discutir at que ponto pode-se considerar que ideias teolgicas testas constituem uma opo aceitvel para a re-soluo de problemas metafsicos. Em outras palavras, em que medida, na filosofia contempornea, a teologia poderia ser uma auxiliar da filosofia?

    agostinho de Freitas meirelles [email protected]

    Crtica e metafsica na concepo kantiana de histria (1790-1797)

    Objetivamos apresentar algumas notas referentes pesquisa, que, presentemente, realizamos sobre o conceito de histria na filosofia kantiana quando do surgimento da terceira Crtica (1790) e seus desdo-bramentos nos ltimos escritos produzidos na fase tardia do pensamento do filsofo. Segundo nossa in-terpretao, pelo menos dois momentos revelam-se decisivos formulao do conceito de histria (Ges-chichte) na ltima fase da filosofia crtica; o primeiro instaurado com a publicao da Crtica da faculdade do juzo (1793[2. ed.]); o segundo com a publicao da Metafsica dos costumes (1797). Afirmamos que o horizonte de abordagem da temtica histrica, em noventa, difere do horizonte em que sero tratos os problemas relativos esfera prtica em noventa e sete. Sabe-se que o problema fundamental da terceira

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    Crtica exige que seja dada resposta pergunta de como so possveis os juzos de Reflexo. No que se refere ao outro horizonte, a tarefa imposta filosofia transcendental mostrar como sendo de extrema relevncia, nos escritos kantianos de filosofia prtica de meados da dcada de noventa at os ltimos anos de vida de Kant, o exame de princpios prticos adicionais derivados do princpio supremo da moralidade, os quais revelam a grande sensibilidade da tica ao devir histrico.

    aguinaldo Pavo [email protected]

    mal radical e psicologia moral em Kant segundo John Rawls

    Em suas Lectures on the History of Moral Philosophy (LHMP), Rawls esposa a interpretao de que Kant teria se comprometido, sobretudo na FMC, com o que ele chama, tendo Agostinho como ins-pirao, de psicologia moral maniquesta. Esse flerte inicial acabaria, porm, sendo abandonado, na Religio, em favor de uma psicologia moral agostiniana. Segundo Rawls, a teoria do mal radical apresentada na Religio vincula-se ao que se pode denominar de psicologia moral agostiniana, uma vez que a caracterstica distintiva de tal psicologia consistiria em atribuir exclusivamente liberdade do arbtrio a fonte do mal moral. Essa psicologia repeliria a ideia de que o mal teria como causa nossa natureza desiderativa ou, at mesmo, social (cf. LHMP, p. 294). Pode-se afirmar que, ao fazer uso da expresso psicologia moral agostiniana, Rawls apenas chama a ateno, com outro nome, para o que, mais consagradamente, tem sido chamado, a partir de Allison, de tese da in-corporao. Esse parece um ponto incontroverso, ou majoritariamente aceito pelos comentaristas de Kant. No me parece ser o caso, porm, da presena na filosofia moral de Kant do que Rawls chama de psicologia moral maniquesta. De acordo com Rawls, a ideia bsica da psicologia moral maniquesta consiste em que temos dois eus: um deles o eu bom, que temos enquanto intelign-cias pertencentes ao mundo inteligvel; o outro o eu mau, que temos enquanto seres naturais pertencentes ao mundo sensvel (LHMP p.303). Rawls corretamente assinala as dificuldades que, de imediato, emergem a partir da psicologia moral maniquesta, nomeadamente a relacionada teoria do mal moral em geral e, correspondentemente, compreenso da responsabilidade moral. O objetivo da comunicao ser justamente discutir se Rawls tem razo em atribuir ao pensamento moral de Kant na FMC essa tal psicologia moral maniquesta. Defenderei que no h propriamente tal psicologia moral maniquesta em Kant. Argumentarei ainda que h basicamente duas falhas na leitura de Rawls. Ele (a) interpreta mal o sentido da distino entre mundo sensvel e inteligvel e (b) parece no perceber que, j na FMC, possvel encontrarmos recursos conceituais a fim de, tambm nela, afirmar a presena da psicologia moral agostiniana.

    alan Ricardo Pereira [email protected]

    a teologia filosfica de Kierkegaard: um estudo acerca da ironia como desvelamento de sua obra

    Em Linhas gerais, no presente trabalho, discute-se a categoria da ironia tal como esta se apresenta no Ps-escrito. A discusso, no entanto, se estende a outras obras de Kierkegaard, principalmente, tese Sobre o Conceito de Ironia, assim como sua obra pstuma, O Ponto de Vista Explicativo. Estru-turalmente, este trabalho est dividido em trs partes, alm, claro, de sua introduo e concluso. s duas primeiras correspondem, respectivamente, duas teses nucleares a serem defendidas, a saber, identificar a ironia esfera esttica naquela e a ironia esfera tica nesta. Por outras palavras: far-se- uma anlise do conceito de ironia - e esta a primeira tese na medida em que tal ironia se presta a uma interpretao esttica. Ou seja: em que medida as personagens e/ou autores romnticos e/

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    ou irnicos, reproduzem a forma existencial tpica do esteta. Avaliar-se-, em seguida - e esta a se-gunda tese - o conceito de ironia medida que ele se confunde com a prpria esfera tica, ou mais exatamente, com a primeira tica. Isso significa, segundo esta anlise, que a ironia, socraticamente interpretada por Kierkegaard, reflete o modo prprio da primeira tica. Na terceira parte so apre-sentadas outras duas teses, quais sejam: justapor a ironia esfera religiosa em primeirssimo lugar e mostrar a partir da - como tese eixo - que a ironia proporciona um entendimento global da obra kierkegaardiana entendida aqui como uma espcie de teologia filosfica. Nesse sentido, analisar-se-, em terceiro lugar - e esta a terceira tese - a imbricao da ironia, a kierkegaardiana mais especi-ficamente, com a esfera religiosa, a fim de tentar mostrar, assim, o surgimento da f como resultado dessa investigao acerca da ironia. Isto quer dizer que: o tornar-se cristo decorre, em ltima anli-se, do desdobramento dialtico e conceitual da ironia. Far-se- algumas conjecturas, por fim - e esta a quarta tese -, levantando a hiptese de que a ironia, pelas razes expostas, quer dizer, pelo fato de se relacionar com todas as esferas da existncia, a esttica, a tica e a religiosa, parece proporcionar, por isso mesmo, um precioso fio condutor para o entendimento global da obra kierkegaardiana. Esta ltima tese, embora seja a primeira da srie a ser intuda, ser a derradeira a ser explicada. A investi-gao atender a dois fins metodolgicos, a saber: o primeiro diz respeito a uma anlise genealgica, ou seja, buscar-se- esclarecer a obra de Kierkegaard que consiste em explicitar dialeticamente o de-vir cristo a partir de um princpio fundamental, defendido aqui como sendo a ironia. O segundo, em consonncia com o primeiro, na medida em que deriva dele, est relacionado a uma anlise gentico-comparativa. Isto quer dizer que se torna necessrio comparar outros conceitos ironia, dado que adquirem o mesmo significado desta. Conclui-se de toda esta investigao que a ironia se constitui como pea-chave de interpretao da labirntica obra de Kierkegaard.

    alberto Bezerra de abreu [email protected]

    Walter Benjamin e a crtica da noo de histria como progresso necessrio

    Partindo do pressuposto segundo o qual a alcunha Modernidade atribuda ao perodo histrico que abriga eventos como o Renascimento, a Reforma protestante, o Iluminismo e a Revoluo In-dustrial assenta-se num explcito e inegvel juzo de valor positivo desta, bem como na recorrente ideia perpetrada por grande parte das chamadas filosofias da histria, segundo a qual a histria humana constitui um percurso necessariamente progressista, analisaremos a crtica de Walter Ben-jamin a este otimismo teleolgico, expresso nas obras de pensadores como Kant, Hegel, Marx e Comte. Para isso, no nos limitaremos a seu escrito especfico sobre o tema, a saber, suas teses Sobre o conceito de histria, mas a ele agregaremos outras obras do autor, como trechos de seu escrito intitulado Passagens pertinentes a tal temtica, bem como seu artigo A vida dos estudan-tes, objetivando assim o alcance de uma viso mais completa de seu pensamento. Como forma de melhor elucid-lo, empreenderemos alguns contrastes dele com a viso da histria desenvolvida por seu contemporneo Oswald Spengler em A decadncia do ocidente, demonstrando assim que a crtica benjaminiana no implica uma atitude de pessimismo fatalista para com a histria, e sim uma postura essencialmente crtica. Neste sentido, aproximaes com as formulaes empreendi-das por Nietzsche acerca da histria sero pertinentes, haja vista a influncia romntica que inspira a ambos em suas respectivas crticas modernidade e ao seu subjacente imperativo do progresso. Entretanto, enfatizaremos o papel decisivo que o materialismo histrico e o misticismo judaico de-sempenharam na reflexo benjaminiana, no sentido tornar sua viso geral acerca da modernidade mais construtiva que o aristocratismo nietzschiano.

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    alberto Cupani

    Cincia e valores

    Minicurso de 8 hs-aula, coordenado por Alberto Cupani (UFSC), com a participao do mesmo, de Oswaldo Melo Souza Filho (AFA) e Alberto Oliva (UFRJ).O minicurso visa apresentar a complexa relao da produo do conhecimento cientfico com valores, cognitivos e sociais. Sero abordados temas como a complexida-de das noes de cincia e de valores, a crise da concepo tradicional da neutralidade da cincia, o ques-tionamento da separao de fatos e valores, a transformao da cincia acadmica em tecnocincia, e a questo de uma satisfatria relao entre o compromisso social da cincia e sua autonomia epistmica.

    alberto dias Gadanha [email protected]

    Herbert marcuse, dialtica marxista e negatividade, situaes de hesitao, excitao ou alterao hegeliana

    Desde 1941 no captulo, a dialtica marxista do livro Razo e Revoluo, Herbert Marcuse prope-se dis-tinguir a proposio marxiana de uma dialtica materialista de uma dialtica de proposio hegeliana idealista. Quais so os elementos de confronto e quais os elementos aceitao destacados por Marcuse. De que modo os elementos do conceito de negatividade aparecem na construo de uma compreenso dialtica da alterao institucional, destacando sua retomada em 1960 no novo prefcio denominado: Sobre Dialtica.

    alberto marcos onate [email protected]

    derrida e Husserl: sobre a histria

    Escrito em 1953-54 e publicado s em 1990, O problema da gnese na filosofia de Husserl constitui um importante trabalho no apenas para se conhecer o perodo inicial da obra do filsofo francs, mas sobretudo para se avaliar a concepo husserliana de histria. Comentando pontualmente as obras de Husserl publicadas poca e os textos do Nachlass consultados em Louvain, Derrida diagnostica as dificul-dades husserlianas para conciliar as dimenses emprica e transcendental da noo de histria, impasses devidos principalmente primazia do terico sobre o prtico no conjunto da obra do filsofo alemo. Na etapa final da empreitada husserliana (Krisis), tais bices conduziriam a uma filosofia da histria alicerada numa histria da filosofia de carter formalista cujas origens e transformaes genticas careceriam de explicitao conceitual e argumentativa. Pretende-se nesta exposio apresentar os momentos nucleares da argumentao de Derrida e discutir o seu alcance para a compreenso de fenomenologia husserliana.

    alberto Ribeiro G. de Barros

    maquiavel entre Repblicas: a melhor forma de governo para Florena

    A comunicao pretende discutir o livro Maquiavel entre Repblicas (2010) de Gabriel Pancera, que ana-lisa o projeto de reforma para Florena proposto por Maquiavel em Discurso sobre as formas de governo de Florena (1519-20). A inteno questionar esta anlise, principalmente no que se refere ideia de governo misto. Se ela d conta da questo da superao das tenses internas do corpo poltico, ao esta-

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    belecer instituies capazes de conformar os interesses das diversas partes que o compem, dando-lhe a necessria estabilidade e coeso, ela parece no tratar adequadamente do problema das relaes com os outros estados. A preocupao com a conservao da liberdade de Florena, inserida num contexto de estados sempre em tenso, que ameaam a sua existncia, parece assim minimizada.

    alcides Hector Rodriguez Benoit [email protected]

    a crise contempornea luz da dialtica

    Procuraremos mostrar o carter estrutural da crise contempornea do capitalismo e criticar as anlises empricas que apenas pensam o carter conjuntural da noo de crise. Nesse sentido, o elemento funda-mental da nossa reflexo estudar at que ponto a clebre crise de 1929 no determina uma j longa poca histrica que, em certa forma, ainda nos envolve. Trata-se, portanto, de procurar a linha dialtica de continuidade entre a crise de 1929 e a crise contempornea do capitalismo. Trata-se de desvelar uma temporalidade mais profunda que aquelas temporalidades empricas trabalhadas pela chamadas cin-cias humanas (Economia, Sociologia, Histria) e pelo jornalismo. Tal temporalidade que tentaremos nos aproximar constituda essencialmente pelas contradies geradas em um territrio que no pode ser descrito como econmico ou poltico isoladamente, mas sim, como econmico e poltico ao mesmo tem-po e na mesma relao, um territrio que se demarca pelo cruzamento antittico de regies opostas que elaboram uma intencionalidade fatdica, sem sujeito, ou, em outras palavras um destino, o destino que anuncia o crepsculo de um modo de produo mundial.

    alcino eduardo Bonella [email protected]

    Levando a srio a caridade: argumento moral e fatos sobre a pobreza absoluta

    Este trabalho expe alguns fatos sobre a pobreza e a riqueza, desenvolve um argumento moral sobre o que os mais ricos devem aos mais pobres, e analisa o que os filsofos morais tem a ver com tudo isso. Uma breve apresentao das propostas prticas de Peter Singer e Toby Ord, e sua justificao, exposta. E uma aplicao de tudo isso ao caso brasileiro, seja aos indivduos, seja ao Estado, esboada.

    aldir arajo Carvalho Filho [email protected]

    Contingncia, metfora do fluxo

    O trabalho visa a ampliar as discusses no campo do neopragmatismo, sobretudo na dimenso de uma tica prtica e existencial. Na impossibilidade de ser transformada em conceito ou significao de alcance prtico inequvoco, a impermanncia radical de todas as coisas ou fluxo seja l o que seja tem provocado, com sua absoluta impositividade, a criao das mais variadas metforas (segundo Davidson, noes que se tornam, eventualmente, literalidades, quando so assumidas pelo uso corrente): devir, histria, contingncia, presena, imanncia, diferio, etc. A redescrio (igual-mente metafrica) de uma delas, a de contingncia, constitui eixo articulador (ao lado das met-foras da ironia e da solidariedade) da mais importante proposta neopragmatista contempornea: as ideias antifundacionistas de Richard Rorty. Capaz de inspirar as mais decisivas reorientaes tericas na direo de um vocabulrio final mais naturalista e historicista e menos metafsico e platnico, a metfora rortyana da contingncia no implica, contudo, em nenhum sentido relevante (ao que

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    parece) a possibilidade de que diga respeito efetivamente ao que se passa no mundo. Minha hiptese de leitura: o autor preferiu preservar a coerncia interna do vocabulrio criado, para no se expor crtica de autocontradio referencial, em vez de dar um salto criativo (certamente problemtico, mas, ainda assim, necessrio e possvel) e afirmar que sua metfora da contingncia pode estar designando o lugar de uma ancoragem ontolgica. Uma ancoragem de natureza tal que seria inclusive capaz de, sensatamente, fazer convergir todas as verses sobre tudo o que est no fluxo, ou na contingncia.

    alessandra ucha sisnando [email protected]

    Por Que o estado tico no uma utopia? Consideraes sobre a Filosofia do direito de Hegel como anlise Filosfica do estado

    Nosso texto expe um debate instigante no mbito poltico-filosfico; isso porque, muitas vezes Hegel foi tratado como um co morto, como disse Marx no prefcio dO Capital. Uns, percebiam um excesso de utopia nas ideias hegelianas, transformando Hegel de um pensador da efetividade e da Historia especulativa, em um mero idealizador da razo absolutista; outros acreditavam, como Kierkegaard, que Hegel havia construdo um belo castelo, onde ningum poderia habitar. Nada mais longe de He-gel do que as vertentes utpicas da idealizao do Estado ou do Estado ideal, ao contrrio vemos um filsofo ocupado em traduzir seu tempo em conceito, e considerando a filosofia como a cincia que deve ocupar-se com o que e o que , a realidade efetiva. As questes em torno das quais giram as consideraes hegelianas acerca do Estado de Direito so extremamente pertinentes e atuais, isso por-que o debate hoje gira em torno de Estados que se arrogam o poder e a autoridade, em nome de uma pretensa poltica liberal, de levar a libertao para outros povos, quebrando o princpio da soberania do Estado. Segundo Hegel, o Estado de Direito soberano, e, essa soberania expressa na constituio, conjunto de leis que evoluem diretamente do ethos do povo. Sendo assim, nos assegura que, nada pior para um povo do que dar-lhe uma constituio, ou, diramos, uma falsa libertao. Charles Taylor nos d uma panormica da atualidade da teoria hegeliana no tocante ao conceito de liberdade quando nos diz: A filosofia de Hegel um passo importante no desenvolvimento da noo moderna de liberdade. Ele ajudou a desenvolver uma concepo da liberdade como total autocriao, que, na verdade, em sua filosofia era atribuvel somente ao esprito csmico, mas que s necessitava ser transposta para o homem para impelir a concepo da liberdade como autodependncia ao seu dilema ltimo. Entre-tanto, apesar das mltiplas dificuldades histricas, o Estado tico no uma utopia, pois se trata de uma realizao efetiva do esprito de um povo, expresso no e atravs do seu ethos, que evolui para a forma da lei, e, essa, o Estado. Partindo de tais consideraes, o Estado tico no pode ser entendido como algo outro que o cidado, no qual deve encontrar sua base e sua sustentao. Tampouco pode ser considerado um paraso a que chegou a humanidade, pois lembremos que para Hegel o que tico se compreende a partir do ethos, que em todo caso est sempre situado e datado, ou seja, histrico e se determina somente a partir da vida de um povo, que se desenvolve sempre em sua relao com o negativo, essa fora contrria que gera a crise, mas que tambm propicia o crescimento de uma nao.

    alessandro Baungartner [email protected]

    natureza, habituao e ao humana no entendimento da esfera tico-poltica aristotlica

    Uma das questes mais disputadas sobre a Poltica de Aristteles acerca da formao da plis. A plis surgiria por natureza (physei) ou por conveno (nomos)? Seria ela uma entidade natural ou ar-

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    tificial? Ao analisarmos a dimenso do pensamento tico-poltico aristotlico constatamos que nosso autor, por um lado, recorre natureza (physis) para fundamentar a existncia da plis, por outro lado, lana mo de argumentos que restringem o surgimento da plis as prticas humanas, em especial, aquelas na qual o legislador (nomottes) deve submeter seus concidados a um processo de habitu-ao (ethismos) direcionado para a vida virtuosa. nesse ltimo ponto que podemos inserir a figura do prudente (phronimos), ou seja, algum que para alm da prudncia privada, possua tambm a prudncia pblica, um governante com capacidade de agir atravs da deliberao (phroaresis) para si e para outros. Nessa apresentao, pretendo mostrar que esse processo de habituao no , para Aristteles, apenas o resultado de aes explicadas fora do agente, antes mesmo, h uma relao entre a formao do hbito e o intrnseco do homem (natureza primeira potencial), e uma conexo entre um hbito j formado (natureza segunda atualidade) e a deliberao que nos permite atuar com maior destreza acerca das exigncias do viver em uma plis. Com tal elucidao, a natureza (phy-sis) passa a ser sempre o rasgo fundamental para o entendimento da esfera etico-poltica e, nesse sentido, o surgimento de uma plis por natureza poder, talvez sem maiores problemas, ser vincula-do em alguma medida tambm s convenes humanas.

    alessandro Carvalho sales [email protected]

    deleuze, a crtica e a clnica: o cinema, a literatura

    Os livros de Deleuze com o cinema so muito densos e, por vezes, chegam a sufocar o leitor, especial-mente o iniciante, tendo em vista a intrincada variedade de pensadores, de cineastas e de ideias ne-les convocados. Encontraramos uma razovel fita condutora de modo a percorr-los e a clarific-los? uma difcil questo, de natureza inclusive pedaggica. Como compreender um pouco mais dessas obras? Como enxerg-las melhor? Em nossa perspectiva, o mtodo por ele esboado para dar conta de alguns textos literrios, por exemplo em sua Crtica e Clnica, poderia tambm cingir e dar contornos aos modos pelos quais ele analisa uma boa gama de filmes e de diretores fato seguramente no to evidente, mas que, uma vez manifesto, pode trazer ganhos de sentido possivelmente interessantes. Em outras palavras: A Imagem-Movimento e A Imagem-Tempo so obras difceis, exigentes, mas, se nelas conseguirmos perceber o fio crtico e clnico patente no caso da literatura revista por Deleuze , talvez tenhamos a possibilidade de melhor compreender o que efetivamente est ali posto em jogo. No presente trabalho, tencionamos avanar certo exame relativamente a pontos especficos de trs captulos do livro A Imagem-Tempo. Buscaremos tomar estes pontos e textos como casos, alis, como sintomas do mtodo deleuzeano. Optamos ento por trabalhar trechos dos captulos sexto, intitulado As potncias do falso, do stimo, chamado O pensamento e o cinema, e do oitavo, Cinema, corpo e crebro, pensamento. Qual a razo? Poderamos ter escolhido outros, porm, estes extratos parecem mesmo discutir basta que observemos o sumrio da obra o lugar de uma filosofia, aqui coligidos com motivos no cinema: no texto seis, a questo de base a noo de verdade; no de nmero sete, o pro-blema de uma crena, de uma tica e de um pensamento; na oitava amostra, entram em jogo o corpo, uma poltica. So assuntos incontornveis e que parecem encontrar, aos olhos de Deleuze, o cerne de seus vnculos com o cinema precisamente nesses espaos. Feito isto, tentaremos mostrar como estas temticas, em Crtica e Clnica, so tambm cerzidas no que tange s literaturas trabalhadas pelo autor. Claro, preciso lembrar que h conceitos especficos e diferenciais para cada rea, suscitados por este cineasta ou por aquele escritor, mas parece mesmo haver certa homologia garantida por alguns dos pilares do prprio pensamento do autor que no tem como no se estender por ambos os terrenos e pela prpria arte de uma maneira mais geral. O que pode enfim sustentar a especificidade justamente o fato desses conceitos singulares serem traados no plano de imanncia particular a Deleuze, sua filo-sofia, que , em suma, uma crtica e clnica da diferena.

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    alessandro Pinzani [email protected]

    o conceito de reconstruo em Honneth. um comentrio a marcos nobre

    Em seu texto, Marcos Nobre analiza a noo de reconstruo no conjunto da obra de Axel Honneth. Ao fazer isso, leva em considerao termos anlogos ou prximos como os de: presentificao, atuali-zao, reatualizao etc., at chegar ao conceito - central no livro Das Recht der Freiheit - de recons-truo normativa. A presente comunicao pretende oferecer alguns comentrios ao texto de Nobre e instigar ao debate acerca dele.

    alessio Gava [email protected]

    empirismo Construtivo e observabilidade: a necessidade de uma filosofia da percepo

    O empirismo tradicionalmente visto como a doutrina segundo a qual todo conhecimento deriva da expe-rincia. No sculo XX o apelo empeiria mudou na forma e a nfase no papel da experincia objetivou-se como centralidade do ato de observao. Isso levou Shapere a escrever (2006) que o empirismo a dou-trina segundo a qual todas nossas ideias so baseadas na observao. Muito se deve proposta antirrea-lista de van Fraassen conhecida como empirismo construtivo, uma das principais referncias para o empi-rismo contemporneo. Essa posio filosfica est alicerada na distino entre observvel e inobservvel e a discusso acerca da observabilidade tornou-se um dos principais temas de debate entre realismo e antirrealismo. Em 2004, van Fraassen afirmou a necessidade de discriminar a parte observvel do mundo daquela inobservvel de forma inequivocvel: Para explicar minha viso do que a cincia, e especifi-camente qual seu objetivo, preciso de uma vivel distino entre o que observvel e o que no . A caracterizao da observabilidade forne