Caçadores de Zumbis
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Transcript of Caçadores de Zumbis
Sã o Pa u l o 2011
Zack walking home
O entardecer caiu sobre a vizinhança. O ar úmido
estava tão denso quanto a polpa de uma fruta.
Zack Clarke entrou na alameda Locust
depois de uma lenta caminhada em direção à sua casa, espe-
rando pelos acontecimentos normais de uma sexta-feira no
quarteirão: os gêmeos Zimmer treinando manobras novas
com o skate; a senhora Mansfield indo para casa com lan-
ches e DVDs para suas crianças preguiçosas; ou o velho
Straton caminhando pela calçada com um livro velho em sua
mão enrugada. Mas nesse entardecer úmido do Arizona,
não havia sequer uma alma nas redondezas.
Encurvado sob o peso da mochila, Zack apressou o
passo, ansioso para chegar a sua casa. Ele foi obrigado a
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encerar o chão de sua escola como punição por ter, mais
cedo naquele dia, participado de uma guerra de comida.
Agora, tudo que queria era o pedaço de bolo de chocolate
que estava na geladeira, embrulhado em um plástico e com
um aviso que dizia: “BOLO DE NÍVER DO ZACK, NÃO
TOQUE!”.
Zack já podia ver sua casa, onde o carro de sua mãe
estava estacionado na entrada. Todas as luzes estavam apa-
gadas – todas, exceto a do quarto de sua irmã mais velha,
acima da garagem. Na calçada, ele observou o quarto de
Zoe escurecer, dando a impressão de que a casa havia
ficado vazia e abandonada.
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Mas ele sabia que sua irmã e suas três amigas malva-
das – Madison Miller, Ryan York e Samantha Donovan –
estavam lá dentro, reunidas para mais uma famosa festa do
pijama. Então, até que sua mãe e seu pai retornassem da
reunião de pais e mestres em sua escola, seria somente ele.
E elas.
Assim que ele alcançou a varanda, um poste de ilumi-
nação piscou e queimou, transformando todo o gramado
em um manto negro. Ele abriu a porta da frente lenta-
mente.
— Olá! — chamou na escuridão. — Zoe?
De repente, a porta fechou com violência e ele sentiu
um saco de papel ser colocado em sua cabeça. Uma voz
gritou: —Te peguei!
Em questão de segundos, levantaram Zack do chão,
agarrando seus cotovelos e tornozelos. Com uma força
monstruosa, eles carregaram seu corpo pela entrada prin-
cipal. Desesperado, ele se debatia, mas, apesar do esforço,
não conseguia se libertar.
As sequestradoras jogaram Zack contra uma cadeira
velha de madeira, sua cabeça ainda estava dentro do saco.
Uma delas segurou seus pulsos atrás do móvel, prendendo
seus braços como os de um prisioneiro algemado. Ele se
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contorceu e chutou em todas as direções, tentando resistir.
Frustrado e exausto, Zack se fingiu de morto por um ins-
tante, mas logo voltou a se debater com sua última dose
de energia.
Foi então que ele escutou um apito digital, e alguém
removeu a sacola de sua cabeça. Sua irmã, Zoe, estava a
sua frente. Atrás dela, estava o computador de seu pai
aberto em cima da mesa, onde Zack podia ver sua própria
imagem na tela.
— Zoe, o que você está fazendo? Você sabe que o papai
não deixa a gente brincar com a webcam dele.
— Eu não estou brincando, irmãozinho — ela disse
jogando seu cabelo para trás e empinando o nariz em sua
melhor pose, como se fosse uma das participantes de um
show de moda para garotas malucas. — Eu estou produ-
zindo um novo reality show para o canal VH1. Vou chamá-lo
de “Reconstrução Total: Edição Refém”. Gostaria de par-
ticipar?
— Eu preferiria me afogar no meu próprio vômito —
Zack respondeu.
— Azar o seu, garoto — Zoe riu. — Vamos começar
meninas!
Samantha e Ryan entraram na sala de estar e se aproxi-
maram de Zack. Ryan tinha um enorme rolo de fita adesiva
em uma mão e, quando Zack se virou, a garota o escondeu
atrás das costas.
— Sem espiar, pequeno Zachary! — Ela o repreendeu,
batendo levemente em sua cabeça.
— Ok, Zack, fique quietinho! — Zoe gesticulou para
suas ajudantes. Logo em seguida, Samantha e Ryan circu-
laram Zack com a fita adesiva, prendendo seus braços e
ombros contra as costas da cadeira. Rapidamente, continua-
ram até suas pernas, parando somente quando estavam
certas de que ele não escaparia. As misteriosas mãos final-
mente soltaram seus pulsos, permitindo que seu sangue
alcançasse aquela região do corpo.
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Novamente, ele tentou se libertar, mas a fita estava
apertada demais.
Zoe ajustou a webcam para filmar seu irmão se deba-
tendo. Ela então se abaixou na frente do computador e
disse:
— Bem vindos à estreia do show “Reconstrução Total:
Edição Refém”. Eu sou a apresentadora, Zoe Clarke. Vocês
já conheceram o nosso refém, o infeliz do meu irmão mais
novo, Zachary Arbutus Clarke — ela se afastou do com-
putador. — Diga para todos como você está se sentindo,
querido refém.
— Zoe, por favor, pare com isso — disse Zack.
— Zoe, por favor, pare com isso — imitou uma voz
vinda de trás dele.
Madison Miller apareceu, segurando um kit de maquia-
gem. Madison era a garota mais bonita da escola, com lon-
gos cabelos castanhos claros, quase loiros, e algumas sar-
das enfeitando seu nariz delicado. Ela também era uma das
mais altas da oitava série. Sendo assim, parecia enorme e
intimidadora enquanto olhava Zack com seus grandes
olhos azuis.
— Cale a boca, Madison. Ninguém está falando com
você.
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— Cale a boca, Madison. Ninguém está falando com
você — Madison continuou com sua vozinha infantil.
— Pare de me copiar — Zack insistiu.
— Pare de me copiar — Madison não parou.
— Eu sou um idiota — Zack
disse, tentando fazer que ela
repetisse.
— Sim, Zachary, você é um
idiota.
Fim de jogo. Madison
abriu uma bolsa de oncinha
e tirou de dentro diversos
itens parecidos com lápis de
cor. Em seguida, tomou um
gole de seu suco energético
superpoderoso, sabor kiwi e
morango.
— Sabe, Madison — disse Zack.
— Eu ouvi falar que se você tomar
muito desse negócio, você pode aca-
bar com a sua beleza.
— Alguém aí falou em beleza?
— Zoe se intrometeu.
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E com isso, Madison colocou uma enorme quantidade
de produtos de beleza na mesa da sala. Zack não tinha a
mínima ideia de para que servia metade daquelas coisas.
Para ele, aquelas porcarias só ocupavam espaço no banheiro
de sua irmã.
— Escute aqui, irmãozinho — Zoe formou a imagem
de um retângulo com seus dedos, como se fosse uma dire-
tora de cinema filmando com sua câmera. — Se você coo-
perar, nós te deixaremos muito bonitinho. Mas... se você
me incomodar enquanto eu estiver filmando, nós te fare-
mos parecer um idiota, e então eu vou te trancar no seu
quarto, colocar esse vídeo no YouTube e mostrar para
todos na escola. Então, por favor, seja um bom refém.
— Zoe, me deixe em paz ou eu vou contar para a mamãe
e para o papai que você tem saído escondida de casa à noite
— Zack ameaçou irritado.
— Ah, querido irmão — Zoe rosnou. — Bons reféns
não fazem ameaças.
Ela pressionou a barra de espaço do teclado e gritou:
— Ação!