Brinquedos Cantados Na Psicomotricidade
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UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
PROJETO A VEZ DO MESTRE
BRINQUEDOS CANTADOS
NA
PSICOMOTRICIDADE
Por Denise Guerra dos Santos
Orientador Prof Ms Nilson Guedes de Freitas
Rio de Janeiro 2003
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
PROJETO A VEZ DO MESTRE
BRINQUEDOS CANTADOS
NA
PSICOMOTRICIDADE
Apresentaccedilatildeo de monografia agrave Universidade
Candido Mendes como condiccedilatildeo preacutevia para
a conclusatildeo do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo
ldquoLato sensurdquo em psicomotricidade
Por Denise Guerra dos Santos
2
ldquoAS BRINCADEIRAS E JOGOS CONSTITUEM AS NOSSAS FUNCcedilOtildeES O NOSSO VIVER OS PAPEacuteIS
QUE REPRESENTAMOS REALIZANDO TAREFAS BEM OU MAL TENDO PARCERIA OU NAtildeO
EM TODO ESSE BRINCAR A NOSSA PARTICIPACcedilAtildeO Eacute COM O CORPO E A ALMArdquo
(Cacilda Gonccedilalves Velasco)
ldquoCANTAR Eacute MOVER O DOM DO FUNDO DE UMA PAIXAtildeO
SEDUZIR AS PEDRAS CATEDRAIS CORACcedilAtildeOrdquo
(Seduzir ndash DJAVAN)
3
DEDICO ESTA PESQUISA
Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica
musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora
4
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras
Ao meu pai com muito amor
Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar
Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo
brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes
Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados
Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade
Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva
Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu
Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora
Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho
5
SUMAacuteRIO
1Introduccedilatildeo8
2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11
21Brincar12
22Musicar13
23Movimentar15
3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17
31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20
32Estaacutegio Preacute-operacional24
33Os jogos por Piaget 27
4O brincar e a realidade Winnecotteana32
41Conceitos e contornos33
5Encantando a psicomotricidade37
51Breve histoacuteria da psicomotricidade39
52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41
53Brinquedos cantados na psicomotricidade43
6Conclusatildeo55
Bibliografia57
Anexos59
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
PROJETO A VEZ DO MESTRE
BRINQUEDOS CANTADOS
NA
PSICOMOTRICIDADE
Apresentaccedilatildeo de monografia agrave Universidade
Candido Mendes como condiccedilatildeo preacutevia para
a conclusatildeo do Curso de Poacutes-graduaccedilatildeo
ldquoLato sensurdquo em psicomotricidade
Por Denise Guerra dos Santos
2
ldquoAS BRINCADEIRAS E JOGOS CONSTITUEM AS NOSSAS FUNCcedilOtildeES O NOSSO VIVER OS PAPEacuteIS
QUE REPRESENTAMOS REALIZANDO TAREFAS BEM OU MAL TENDO PARCERIA OU NAtildeO
EM TODO ESSE BRINCAR A NOSSA PARTICIPACcedilAtildeO Eacute COM O CORPO E A ALMArdquo
(Cacilda Gonccedilalves Velasco)
ldquoCANTAR Eacute MOVER O DOM DO FUNDO DE UMA PAIXAtildeO
SEDUZIR AS PEDRAS CATEDRAIS CORACcedilAtildeOrdquo
(Seduzir ndash DJAVAN)
3
DEDICO ESTA PESQUISA
Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica
musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora
4
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras
Ao meu pai com muito amor
Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar
Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo
brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes
Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados
Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade
Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva
Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu
Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora
Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho
5
SUMAacuteRIO
1Introduccedilatildeo8
2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11
21Brincar12
22Musicar13
23Movimentar15
3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17
31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20
32Estaacutegio Preacute-operacional24
33Os jogos por Piaget 27
4O brincar e a realidade Winnecotteana32
41Conceitos e contornos33
5Encantando a psicomotricidade37
51Breve histoacuteria da psicomotricidade39
52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41
53Brinquedos cantados na psicomotricidade43
6Conclusatildeo55
Bibliografia57
Anexos59
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
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Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
2
ldquoAS BRINCADEIRAS E JOGOS CONSTITUEM AS NOSSAS FUNCcedilOtildeES O NOSSO VIVER OS PAPEacuteIS
QUE REPRESENTAMOS REALIZANDO TAREFAS BEM OU MAL TENDO PARCERIA OU NAtildeO
EM TODO ESSE BRINCAR A NOSSA PARTICIPACcedilAtildeO Eacute COM O CORPO E A ALMArdquo
(Cacilda Gonccedilalves Velasco)
ldquoCANTAR Eacute MOVER O DOM DO FUNDO DE UMA PAIXAtildeO
SEDUZIR AS PEDRAS CATEDRAIS CORACcedilAtildeOrdquo
(Seduzir ndash DJAVAN)
3
DEDICO ESTA PESQUISA
Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica
musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora
4
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras
Ao meu pai com muito amor
Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar
Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo
brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes
Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados
Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade
Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva
Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu
Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora
Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho
5
SUMAacuteRIO
1Introduccedilatildeo8
2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11
21Brincar12
22Musicar13
23Movimentar15
3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17
31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20
32Estaacutegio Preacute-operacional24
33Os jogos por Piaget 27
4O brincar e a realidade Winnecotteana32
41Conceitos e contornos33
5Encantando a psicomotricidade37
51Breve histoacuteria da psicomotricidade39
52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41
53Brinquedos cantados na psicomotricidade43
6Conclusatildeo55
Bibliografia57
Anexos59
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
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Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
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ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
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Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
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psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
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As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
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BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
3
DEDICO ESTA PESQUISA
Agraves crianccedilas e adolescentes com os quais trabalho ldquobrincandordquo diariamente na cliacutenica
musicoteraacutepica com votos de que assim se faccedila tambeacutem na cliacutenica psicomotora
4
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras
Ao meu pai com muito amor
Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar
Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo
brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes
Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados
Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade
Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva
Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu
Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora
Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho
5
SUMAacuteRIO
1Introduccedilatildeo8
2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11
21Brincar12
22Musicar13
23Movimentar15
3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17
31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20
32Estaacutegio Preacute-operacional24
33Os jogos por Piaget 27
4O brincar e a realidade Winnecotteana32
41Conceitos e contornos33
5Encantando a psicomotricidade37
51Breve histoacuteria da psicomotricidade39
52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41
53Brinquedos cantados na psicomotricidade43
6Conclusatildeo55
Bibliografia57
Anexos59
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
4
AGRADECIMENTOS
Agrave Deus por permitir minha existecircncia neste mundo maravilhoso de muacutesicas e brincadeiras
Ao meu pai com muito amor
Aos meus irmatildeos e primos companheiros do brincar
Aos meus mestres em especial Fernando A Penza e Ronaldo Millecco (ambos in memorian) pelo
brilho inspirador do saber que eles deixaram em noacutes
Aos meus companheiros da poacutes-graduaccedilatildeo pelas vivecircncias parcerias e aprendizados
Aacute professora e amiga Cristie Campello pela apaixonante visatildeo da psicomotricidade
Agrave Musicoterapeuta Benita Michaeles por que a chama do nosso caminhar luacutedico continua viva
Agrave minha amiga conceiccedilatildeo costa pelo carinho e pela forccedila que sempre me deu
Ao meu orientador Nilson Guedes de Freitas por sua pedagogia afetuosa e acolhedora
Enfim agrave todos aqueles que participaram direta ou indiretamente deste trabalho
5
SUMAacuteRIO
1Introduccedilatildeo8
2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11
21Brincar12
22Musicar13
23Movimentar15
3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17
31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20
32Estaacutegio Preacute-operacional24
33Os jogos por Piaget 27
4O brincar e a realidade Winnecotteana32
41Conceitos e contornos33
5Encantando a psicomotricidade37
51Breve histoacuteria da psicomotricidade39
52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41
53Brinquedos cantados na psicomotricidade43
6Conclusatildeo55
Bibliografia57
Anexos59
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
5
SUMAacuteRIO
1Introduccedilatildeo8
2Histoacuteria e classificaccedilatildeo dos brinquedos cantados11
21Brincar12
22Musicar13
23Movimentar15
3O desenvolvimento infantil segundo Piaget17
31Estaacutegio Sensoacuterio-motor20
32Estaacutegio Preacute-operacional24
33Os jogos por Piaget 27
4O brincar e a realidade Winnecotteana32
41Conceitos e contornos33
5Encantando a psicomotricidade37
51Breve histoacuteria da psicomotricidade39
52Educaccedilatildeo Reeducaccedilatildeo e Terapia psicomotora41
53Brinquedos cantados na psicomotricidade43
6Conclusatildeo55
Bibliografia57
Anexos59
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
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O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
6
RESUMO
Aborda-se neste trabalho a importacircncia e a contribuiccedilatildeo dos brinquedos
cantados na psicomotricidade com crianccedilas de 0 agrave 7 anos A presente monografia
desenvolve-se agrave luz da dialeacutetica interdisciplinar tomando-se de empreacutestimo
conceitos do folclore da psicanaacutelise da filosofia da psicologia do
desenvolvimento da ludoterapia e da musicoterapia Segue-se a descriccedilatildeo dos
brinquedos cantados paralelos ao desenvolvimento infantil segundo Piaget
enumerando-se os estaacutegios propostos por este autor e delimitando-se os
acalantos e as brincadeiras-de-roda como objeto de interesse maior da populaccedilatildeo
pesquisada Dar-se-aacute ecircnfase a discussatildeo do suporte agrave cliacutenica psicomotora diante
dos conceitos de Winnicott sobre a vida afetiva e o brincar fazendo-se referecircncia
agraves vivecircncias atraveacutes dos brinquedos cantados no contexto terapecircutico Na
culminacircncia deste estudo propotildee-se a diferenciaccedilatildeo entre educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo
e terapia psicomotora esboccedilando-se a elaboraccedilatildeo das estruturas psicomotoras
comuns agraves trecircs aacutereas citadas interpondo-se os brinquedos cantados como
recursos plausiacuteveis a este trabalho Apresenta-se ainda vinte e dois exemplos de
brinquedos cantados ilustrados por suas letras e pelo desenvolvimento da
brincadeira em questatildeo
Palavras-Chave Brinquedos cantados Psicomotricidade Luacutedico Terapia
Folclore Desenvolvimento infantil
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1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
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No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
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2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
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aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
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correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
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Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
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PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
7
1INTRODUCcedilAtildeO
O canto estaacute presente no universo simboacutelico de todas as culturas Vive-
se um processo de massificaccedilatildeo da cultura brasileira onde a muacutesica infantil estaacute
mesclada de sensualidade e cultuaccedilatildeo a um corpo esteacutetico grego Tem-se entatildeo
a incumbecircncia de preservar e formar a crianccedila que nasce ingecircnua sonhadora e
necessita de cuidados afetuosos
Visto que o som tem propriedades fiacutesicas que incidem sobre o corpo
humano de forma objetiva e subjetiva movendo o sujeito a partir da sua emoccedilatildeo
e que as crianccedilas satildeo estimuladas em sua afetividade se apropriando do uso
destes elementos luacutedico-sonoros para investimento pessoal e social supotildee-se que
os brinquedos cantados interferem de forma significativa no desenvolvimento
psicomotor das ditas crianccedilas
Faz-se assim a relevacircncia deste estudo para pesquisar a importacircncia
dos brinquedos cantados para o desenvolvimento psicomotor de crianccedilas de 0 agrave 7
anos de idade e ainda demonstrar a contribuiccedilatildeo destes elementos luacutedicoshy
sonoros na psicomotricidade com a referida populaccedilatildeo
Assume-se a investigaccedilatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo dos
brinquedos cantados na psicomotricidade passando por quatro capiacutetulos
articulados entre si pelo vieacutes dos brinquedos cantados e dos interesses infantis
conforme o exposto a seguir
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
8
No primeiro capiacutetulo descreve-se uma breve histoacuteria e classificaccedilatildeo do
brincar a partir de referecircncias do folclore da psicanaacutelise e da filosofia Organiza-se
ideacuteias sobre trecircs possiacuteveis instacircncias que compreenderiam os brinquedos
cantados Musicar Brincar Movimentar Dar-se a ver na dialeacutetica entre a
Musicoterapia e a Psicomotricidade a importacircncia dos brinquedos cantados para
o desenvolvimento global da crianccedila nas idades mencionadas
Prossegue-se no segundo capiacutetulo um estudo sobre o desenvolvimento
infantil de 0 agrave 7 anos conforme a teoria Piagetiana Entre os estaacutegios do
desenvolvimento apontados por este autor para as estruturas cognosciacuteveis
imprescindiacuteveis a cada etapa sugere-se as contribuiccedilotildees de brinquedos cantados
compatiacuteveis com os momentos e as demandas verificadas Por fim mostra-se os
jogos na classificaccedilatildeo de Piaget situando o que cada etapa prioriza e delimitando
dois tipos de brinquedos cantados especiacuteficos para serem trabalhados na
psicomotricidade Os Acalantos e as Brincadeiras-de-roda
Identifica-se no capiacutetulo trecircs os conceitos de Winnicott sobre o objeto
transicional fenocircmeno transicional matildee suficientemente boa aacuterea intermediaacuteria e
o eu (Self) mostrando-se a interaccedilatildeo exposta pelos brinquedos cantados entre as
artes o luacutedico e o afeto supondo-se que esta interaccedilatildeo seja capaz de dar suporte
agrave cliacutenica psicomotora
Na proposta do capiacutetulo quatro buscou-se ldquoEn-Cantarrdquo a
psicomotricidade resumindo em uma breve histoacuteria como se instaurou a
educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo e terapia psicomotora atuais e ainda musicar com os
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
9
brinquedos cantados a elaboraccedilatildeo das diversas estruturas psicomotoras
assinalando a contribuiccedilatildeo destas para a psicomotricidade com a faixa etaacuteria
pesquisada
Finalizando esta introduccedilatildeo e abrindo os estudos desta monografia
deixa-se agrave contemplaccedilatildeo a muacutesica Redescobrir do compositor Luiz Gonzaga
Juacutenior 1980 interpretado pela cantora Elis Regina no Cd ldquoMuacutesica O melhor de
Elis Reginardquo WEA 2000
ldquoREDESCOBRIRrdquo
Como se fora brincadeira de roda (memoacuteria)
Jogo do trabalho na danccedila das matildeos (macias)
O suor dos corpos na canccedilatildeo da vida (histoacuteria)
O suor da vida e no calor de irmatildeos (magia)
Como um animal que sabe da floresta (memoacuteria)
Redescobrir o sal que estaacute na proacutepria pele (macia)
Redescobrir o doce no lamber das liacutenguas (magia)
Redescobrir o gosto e o sabor da festa (magia)
Vai o bicho homem fruto da semente (memoacuteria)
Renascer da proacutepria forccedila proacutepria luz e feacute (memoacuteria)
Entender que tudo eacute nosso sempre esteve em noacutes (histoacuteria)
Somos a semente ato mente e voz (magia)
Natildeo tenha medo meu menino bobo (memoacuteria)
Tudo principia na proacutepria pessoa (lembranccedila)
Vai como a crianccedila que natildeo teme os tempos (misteacuterio)
Amor se fazer eacute tatildeo prazer que eacute como fosse dor (magia)
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
10
2HISTOacuteRIA E CLASSIFICACcedilAtildeO DOS BRINQUEDOS CANTADOS
Os brinquedos cantados surgem na espontaneidade da cultura popular
Geralmente satildeo cantigas anocircnimas acompanhadas de movimentos expressivos
saltitantes e ou dramatizados
O brincar eacute uma forma de manifestaccedilatildeo caracteriacutestica da infacircncia entretanto
como afirma Huizinga (1980) a essecircncia do jogo eacute o prazer ele ultrapassa os
limites da realidade fiacutesica e assim se aplica a qualquer fase da vida
Os termos brincar e jogar satildeo referenciados como sinocircnimos por Cascudo
(1988) e Ferreira A (1988) Nos principais idiomas internacionais (Inglecircs Francecircs
Alematildeo e espanhol) brincar e jogar tambeacutem servem para definir atividades
artiacutesticas como a interpretaccedilatildeo teatral ou musical (Santa Roza1993)
Na liacutengua portuguesa o termo brincar vem do latim vinculum e significa
laccedilo uniatildeo No entanto eacute o termo luacutedico da nossa liacutengua tambeacutem proveniente do
latim ludus que melhor abrange e define as atividades artiacutesticas
culturais brincadeiras e jogos(ibid)
Nos divertimentos tradicionais infantis encontra-se os jogos de ronda
cantados declamados ritmados ou natildeo de movimento etc Brinquedo eacute ainda o
objeto material usado para brincar como o carro a boneca Diz-se tambeacutem da
proacutepria accedilatildeo de brincar (de cabra cega de chicotinho queimado e etc)
(Cascudo1988)
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
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23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
11
Dos trecircs povos que inicialmente formaram a cultura brasileira o
portuguecircs trouxe maior influecircncia para os brinquedos cantados os quais sofreram
modificaccedilotildees de acordo com a cultura local (Cascudo1988) Diga-se ainda que os
ritmos e danccedilas africanas juntamente com a alegria e marcaccedilatildeo ritmica-corporal
indiacutegena deu um tempero mais brejeiro ao legado luacutedico brasileiro
21BRINCAR
Como sonhar acordado brincar eacute expor-se de dentro para fora traduccedilatildeo
das impressotildees da crianccedila sobre o mundo que a cerca e os seus sentimentos
O brincar se desenvolve junto com o amadurecimento do sujeito as etapas iniciais
vatildeo perdendo o significado para o acreacutescimo do novo modo de explorar cada vez
mais elaborado
Todos os povos tecircm suas brincadeiras pertinentes agraves necessidades
expressivas de cada cultura O tempo se encarrega de transformar suas estruturas
mas eacute certo que as crianccedilas precisam de tempo espaccedilo e companheiros para
brincar
Sheridam (1990) classifica as brincadeiras em ativas exploratoacuterias
manipulativas imitativas construtivas faz-de-conta jogos com regras recreaccedilotildees
sofisticadas Este trabalho prioriza os brinquedos cantados que na praacutetica
psicomotora revelam valores e costumes culturais pontos de referecircncia para a
comunicaccedilatildeo e o relacionamento com o outro Estas manifestaccedilotildees envolvem a
emoccedilatildeo e o movimento que permeados pela muacutesica burlam as defesas e fazem
12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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12
aflorar a essecircncia do ser
Os brinquedos cantados se inserem nas diversas formas de
classificaccedilatildeo pois em face de sua riqueza dinacircmica satildeo brincadeiras ativas
(exChep Chep) imitativas(ex Samba Lecirc Lecirc) construtivas(exA minha velha tem)
priorizam o faz-de-conta conteacutem regras especiacuteficas e vatildeo desde as mais simples
como ldquoAtirei o pau no gatordquo ateacute as mais elaboradas como ldquoA linda rosa juvenilrdquo1
Lapierre e Aucoutourrier (1986p29) pontuaram que ldquoA expressatildeo sonora
estaacute necessariamente ligada agrave relaccedilatildeo com o outrordquo sabe-se que ainda na barriga
da matildee a funccedilatildeo auditiva se instaura no embriatildeo e ele ouve os batimentos
cardiacuteacos dele e da matildee e todo um mundo de sons atraveacutes do liacutequido amnioacutetico
Eacute a relaccedilatildeo com o outro atraveacutes dos sons que situa a crianccedila no espaccedilo no tempo
e no afeto
22 MUSICAR
Segundo Gainza (1988) ldquoa accedilatildeo musical implica num movimento
seja das cordas vocais e do aparelho fonador naquele que fala ou canta seja do
proacuteprio corpordquo No uacuteltimo caso o corpo aparece como instrumento produtor de
som ou se prolonga atraveacutes de um instrumento musical propriamente ditordquo
Sob a oacutetica musical as teorias apontam para as estruturas fiacutesico-sonoras
Encontra-se nestas a formaccedilatildeo de todo contexto musical que eacute igualmente
1 PAIVA Ione Maria R de BRINQUEDOS CANTADOS 1998 p25416383
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
13
correspondente para os brinquedos cantados Fala-se entatildeo dos elementos
inevitaacuteveis de qualquer muacutesica Ritmo Melodia Harmonia Eis a definiccedilatildeo de
Costa(1989p61) ldquoNuma definiccedilatildeo muito simples muacutesica eacute a organizaccedilatildeo de
relaccedilotildees entre sonoridades simultacircneas ou natildeo no decorrer do tempo Sons e
silecircncios satildeo combinados e encadeados entre si formando ritmos melodias e
harmoniasrdquo
O ritmo eacute basicamente a ordenaccedilatildeo do movimento formando um elo
entre espaccedilo e tempo A melodia eacute uma sequumlecircncia de sons notas musicais graves
e agudas A harmonia eacute a verticalidade ou a simultaneidade dos sons parte mais
intelectualizada da muacutesica(Costa opcit mesma paacutegina)
As muacutesicas infantis em geral acompanham o desenvolvimento afetivo
motor cognitivo e social da crianccedila Observa-se que existem brinquedos cantados
mais simples contendo siacutelabas repetitivas estrutura musical miacutenima e que satildeo
preferidos pelas crianccedilas entre 2 e 3 anos por ex
CAI CAI BALAtildeO(folclore)2
Cai cai balatildeo cai cai balatildeo aqui na minha matildeo
Natildeo vou laacute natildeo vou laacute natildeo vou laacute tenho medo de apanhar
A muacutesica dos brinquedos cantados altera a sensibilidade o humor faz
aflorar a criatividade a expressividade do corpo e da alma revelando as habilidades
e dificuldades da crianccedila se convertendo entatildeo em instrumento de trabalho na
psicomotricidade
2 MARTINS Armando TOQUE VIOLAtildeO OU GUITARRA(meacutetodo praacutetico) 1980p88
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23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
14
23MOVIMENTAR
Do choro aos acalantos (muacutesicas de ninar) dos cantos culturais as
brincadeiras-de-roda haacute uma trajetoacuteria que vincula o som da voz ao movimento
corporal conforme afirma Fregtman(1988p17) isto ocorre ldquoporque a muacutesica eacute
feita dita tocada e cantada como manifestaccedilatildeo corporalrdquo
Toda forma de comunicaccedilatildeo se daacute atraveacutes de coacutedigos estabelecidos
linguagens por assim dizer Fregtman (opcit) conceitua a partir da musicoterapia
que trecircs niacuteveis de manifestaccedilatildeo expressiva simultacircneos podem se dar quando
usamos a muacutesica Satildeo eles
1) Linguagem sonora (sons silecircncios entonaccedilotildees melodias ritmos)
2) Linguagem corporal (gestos posturas trejeitos tipos de movimentos)
3) Linguagem verbal (a fala a letra a poesia)
Apenas para efeitos didaacuteticos se consegue separar estes trecircs niacuteveis de
linguagem A linguagem sonora necessariamente traacutes expressotildees corporais
estimula a emoccedilatildeo que se revela atraveacutes dos gestos posturas movimentos voz e
etc A linguagem corporal responde ao chamado verbal ou musical os quais soam
determinados significados simboacutelicos apreendidos nas relaccedilotildees soacutecio-afetivas E
por fim a linguagem verbal eacute inserida para nomear as accedilotildees sejam elas musicais
ou corporais
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
15
Os brinquedos cantados satildeo tambeacutem conceituados mediante sua aplicaccedilatildeo
em determinadas funccedilotildees na recreaccedilatildeo Os brinquedos cantados podem ser de
marcha de grupos opostos de palmas de roda de ninar ou alternados
Modificaccedilotildees diversas quanto ao andamento (lento moderado raacutepido) agrave formaccedilatildeo
(rodas simples complexas fileiras) e agrave movimentaccedilatildeo dos brinquedos cantados
(marcha roda dramatizaccedilatildeo) satildeo descritas por Leitatildeo(2001)
Neste trabalho prioriza-se os acalantos e as brincadeiras-de-roda tendo
em vista que a populaccedilatildeo estudada crianccedilas de 0 agrave 7 anos podem ser atendidas
em suas necessidades de acolhimento afetivo comunicaccedilatildeo expressiva e
socializaccedilatildeo atraveacutes destes elementos A Simbologia do movimento de Lapierre amp
Aucoutourrier (1986p41) sustenta o nosso pensamento atraveacutes da seguinte
citaccedilatildeo ldquoA muacutesica pode nos ajudar muito a redescobrir essa dimensatildeo do
movimento desde que natildeo seja restringida aos estereotipos da lsquodanccedilarsquo mesmo a
lsquoexpressivarsquo ldquo
ldquoO JACAREacuterdquo (folclore)3
O jacareacute o jacareacute o jacareacute eacute amigo ele eacute
Oi jacareacute oi jacareacute vem caacute cumpadre que a lagoa natildeo daacute peacute
O jacareacute tem os olhos muito grandes tem o rabo muito grande
Mas as pernas satildeo curtinhas
O jacareacute tem a boca muito grande tem os dentes muito grande
mas as pernas satildeo curtinhas
3 Recolhido atraveacutes da cultura oral
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
16
3O DESENVOLVIMENTO INFANTIL SEGUNDO PIAGET
Para Piaget (2003) o conhecimento eacute o resultado das accedilotildees e
relacionamentos do sujeito com o ambiente em que vive e vai sendo elaborado
desde o nascimento ateacute suas vivecircncias com os objetos pessoas e situaccedilotildees que
procura conhecer sejam elas do mundo fiacutesico ou cultural
Este autor formulou importantes conceitos que explicam o
desenvolvimento das funccedilotildees cognitivas A interaccedilatildeo entre a assimilaccedilatildeo
(informaccedilotildees do mundo exterior recebidas atraveacutes dos sentidos movimento de fora
para dentro) e a acomodaccedilatildeo (informaccedilatildeo processada respostas dadas ao mundo
exterior movimento de dentro para fora) sobre uma accedilatildeo satildeo validadas pelo
processo de equilibraccedilatildeo (Piagetopcit)
As perturbaccedilotildees exteriores se mostram a crianccedila a partir do que ela natildeo
conhece assim oportunizadas pelo processo de equilibraccedilatildeo e por meio de suas
atividades vai respondendo a estas perturbaccedilotildees vencendo a mais uma etapa
cognosciacutevel A equilibraccedilatildeo eacute dinacircmica e nunca cessa ela norteia a passagem de
um conhecimento ao outro(Piaget2003)
Dois outros conceitos Piagetianos satildeo imprescindiacuteveis ao tenro
desenvolvimento infantil e encontra-se nos brinquedos cantados uma forma
espontacircnea de vivenciaacute-los A Imitaccedilatildeo e a noccedilatildeo de Permanecircncia do Objeto
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
17
Imitaccedilatildeo Eacute na gecircnese da imitaccedilatildeo que inicia o movimento luacutedico da crianccedila
Imitando o meio e as pessoas ao seu redor a crianccedila apreende e treina suas novas
aquisiccedilotildees Ferreira I(1994 p47) afirma que ldquoA imitaccedilatildeo eacute uma das manifestaccedilotildees
da funccedilatildeo simboacutelica Constitui-se num dos elementos baacutesicos que permitem a
crianccedila uma assimilaccedilatildeo de realidade ao seu proacuteprio ldquoeurdquo bem como Acomodaccedilatildeo
de suas estruturas mentais e de accedilatildeo agraves exigecircncias da realidade fiacutesica e socialrdquo
Para haver o ato imitativo eacute necessaacuterio um modelo Alguns brinquedos
cantados propotildeem accedilotildees simboacutelicas que copiam o mundo adulto sem impor aos
pequenos o fardo da responsabilidade que este teria na realidade Eis um exemplo
interessante onde as crianccedilas imitam os afazeres dos mais velhos
PASSA PASSA GAVIAtildeO(folclore)4
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As lavadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As passadeiras fazem assim
Assim assim assim assim
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
Passa passa gaviatildeo todo mundo eacute bom
As cozinheiras fazem assim assim assim
Assim assado carne seca com ensopado
4 Recolhido atraveacutes da cultura oral
18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
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18
Objeto permanente Nos primeiros dois anos de vida a crianccedila apresenta um
comportamento em constante adaptaccedilatildeo pois estaacute sempre se modificando para
responder aos estiacutemulos do meio A crianccedila inicialmente natildeo tem noccedilatildeo da
permanecircncia dos objetos ela pensa que eles soacute existem enquanto estatildeo ao
alcance dos seus olhos caso sejam escondidos a sua frente acharaacute que estes
acabaram ou se desintegraram Entre os 18 e 24 meses a crianccedila jaacute consegue
elaborar mais este conhecimento e apesar de natildeo vecirc-lo ouvi-lo ou tocaacute-lo ela vai
compreender que os objetos independem da sua vontade e presenccedila para
existirem
Para melhor apreensatildeo da realidade fiacutesica a praacutetica pelo ensaio e erro ou
aparecer desaparecer vatildeo treinar e orientar os pequenos na aquisiccedilatildeo das noccedilotildees
de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo da realidade como
afirma FerreiraI(1994p35) ldquoO esquema do objeto permanente eacute baacutesico para a
construccedilatildeo das noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidaderdquo
Observe que as crianccedilas nesta fase gostam das brincadeiras de
esconde-esconde que amenizam suas anguacutestias sobre a existecircncia ou natildeo dos
objetos reais Seu proacuteprio corpo eacute posto agrave prova escondendo o rosto ou as matildeos
atraacutes de uma almofada por exemplo A muacutesica das palminhas talvez possa auxiliar
nesta etapa
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
19
PALMINHAS PALMINHAS (folclore)5
Palminhas palminhas nos vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Em cima em cima noacutes vamos bater
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Em baixo em baixo noacutes vamos bate
Depois as matildeozinhas pra traacutes esconde
Assim assim pra traacutes esconder
Assim assim pra traacutes esconder
Os conceitos estudados ateacute aqui se realizam dentro dos estaacutegios do
desenvolvimento organizados por Piaget Passar-se-aacute neste momento agrave elucidaccedilatildeo
dos estaacutegios pertinentes agrave faixa etaacuteria da populaccedilatildeo pesquisada nesta monografia
estaacutegios Sensoacuterio-motor e Preacute-operacional
31ESTAacuteGIO SENSOacuteRIO MOTOR (0 agrave 2 anos) Estaacutegio que vai do nascimento
ateacute a aquisiccedilatildeo da linguagem e eacute dividido em 6 sub estaacutegios Esta eacute a fase do
comportamento inteligente antes da aquisiccedilatildeo da linguagem a crianccedila organiza a
informaccedilatildeo obtida atraveacutes dos sentidos e desenvolve respostas aos estiacutemulos
5 Recolhido atraveacutes da cultura oral
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
20
ambientais com comportamento adaptativo e constante modificaccedilotildees dos
esquemas de accedilatildeo em resposta ao meio A aquisiccedilatildeo mais importante deste
periacuteodo eacute o Objeto Permanente Manifesta-se ainda a imitaccedilatildeo que alcanccedilaraacute o
seu auge no proacuteximo estaacutegio
1ordm Sub Estaacutegio ndash Exerciacutecio dos reflexos (0 a 1 mecircs) Do alto da sua imaturidade
bioloacutegica a crianccedila se relaciona com o meio atraveacutes dos movimentos reflexos
hereditaacuterios que se aprimoram pelo exerciacutecio tornando-se cada vez mais
eficientes Ainda natildeo haacute a distinccedilatildeo entre o eu e o outro
2ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular primaacuteria (1 a 4 meses)Esta eacute a fase das
primeiras acomodaccedilotildees onde os exerciacutecios reflexos se transformam em esquemas
e comeccedilam a coordenar seus movimentos Inicia-se a construccedilatildeo dos primeiros
esquemas vocais A noccedilatildeo de tempo eacute primitiva sua duraccedilatildeo soacute eacute sentida no
decorrer da proacutepria accedilatildeo O final do periacuteodo eacute marcado pela coordenaccedilatildeo entre trecircs
esquemas fundamentais audiccedilatildeo fonaccedilatildeo e visatildeo
3ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular secundaacuteria (4 a 8 meses) O bebecirc apresenta
um maior interesse pelo mundo externo os esquemas se diferenciam surgindo
novos esquemas de coordenaccedilatildeo viso-motora unindo-se as aquisiccedilotildees jaacute
realizadas Os movimentos comeccedilam a ser repetido pelo prazer da repeticcedilatildeo
Observa-se o iniacutecio da noccedilatildeo do Objeto Permanente entretanto ela estaacute
condicionada ao movimento da crianccedila pois as coisas ainda natildeo seguem uma
trajetoacuteria independente
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
21
4ordm Sub Estaacutegio ndash Coordenaccedilatildeo de esquemas secundaacuterios (8 a 12 meses)
Caracteriza-se pelas primeiras condutas propriamente inteligentes surgindo
adaptaccedilotildees sensoacuterio-motoras intencionais onde o bebecirc combina esquemas
conhecidos a novas situaccedilotildees e ainda diferencia os meios e os fins de uma accedilatildeo
Aparece nesta fase o comportamento antecipatoacuterio caso o bebecirc veja sua matildee se
afastar chora a imitaccedilatildeo de sons e accedilotildees satildeo agora intencionais e
conscientizadas no entanto ainda condicionadas ao esquema visual Revelam-se
os primoacuterdios da memoacuteria e da representaccedilatildeo mental Comeccedila a permanecircncia do
objeto independente do ldquoeurdquo Quanto agrave noccedilatildeo de espaccedilo e tempo a crianccedila
comeccedila a ordenar os proacuteprios deslocamentos em relaccedilatildeo aos objetos
5ordm Sub Estaacutegio ndash Reaccedilatildeo circular terciaacuteria (12 a 18 meses) A crianccedila gradua
seus movimentos varia e experimenta novos padrotildees de comportamento
observando os diferentes efeitos da sua accedilatildeo sobre o objeto o qual jaacute eacute dotado de
permanecircncia Pode-se afirmar que o mecanismo da inteligecircncia praacutetica estaacute
definitivamente constituiacutedo A cada estruturaccedilatildeo da inteligecircncia corresponde uma
nova estruturaccedilatildeo do espaccedilo do tempo da causalidade etc Agindo por ldquoensaio e
errordquo os resultados das accedilotildees ainda satildeo por acaso pois as representaccedilotildees
mentais de fatos externos ainda natildeo se incluem ou seja o pensamento ainda natildeo
estaacute formado
22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
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Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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22
6ordm Sub Estaacutegio ndash A invenccedilatildeo dos novos meios por combinaccedilatildeo
mental (18 a 24 meses) Esta fase caracteriza o momento de transiccedilatildeo entre a
inteligecircncia praacutetica (sensoacuterio-motora) e a inteligecircncia representativa quando
comeccedila a funccedilatildeo simboacutelica Inicia-se a representaccedilatildeo mental imaginativa e criativa
No jogo simboacutelico a crianccedila usa siacutembolos na linguagem e na brincadeira do faz-deshy
conta recorda-se de fatos passados e os representa depois de algum tempo O
final deste periacuteodo eacute marcado pela primeira noccedilatildeo de conservaccedilatildeo(FerreiraI1994)
Os primeiros anos de vida da crianccedila satildeo marcados pelas inuacutemeras
formaccedilotildees e transformaccedilotildees fiacutesicas mentais e emocionais conforme descritas
acima Os acalantos (muacutesicas de ninar) satildeo cantados por matildees de todo o mundo
numa primeira inserccedilatildeo da crianccedila ao universo musical de sua cultura Eles
exercem um poderoso papel de auxiacutelio agrave maternagem acolhendo-a afetuosamente
condiccedilatildeo baacutesica para que a crianccedila se sinta suficientemente amada para
prosseguir desenvolvendo-se Este tema seraacute melhor explanado nos proacuteximos
capiacutetulos Por hora parece oportuno um exemplo de acalanto
TUTU MARAMBAacute(folclore)6
Tutu marambaacute
Natildeo venha mais caacute
Que o pai do menino
Te manda mata
6 MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute PRECISO CANTAR Musicoterapia cantos e canccedilotildees2001p38
23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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23
32ESTAacuteGIO PREacute-OPERACIONAL (2 agrave 7 anos) A crianccedila vive um tempo em que
usa a intuiccedilatildeo ela passa todos os seus atos para o pensamento sob a forma de
imagens e diante de uma situaccedilatildeo praacutetica suas respostas vatildeo se basear no que
ela vecirc sente mexe ou seja nas aparecircncias dos fatos que observa A crianccedila
possui a capacidade de representar uma coisa por outra e esta representaccedilatildeo
pode se dar por um gesto um desenho uma palavra etc A verbalizaccedilatildeo tem
destaque neste periacuteodo e a linguagem conduz agrave socializaccedilatildeo das accedilotildees Este
estaacutegio compreende duas formas de pensamento a saber O Pensamento
Simboacutelico e o Pensamento Intuitivo
Pensamento simboacutelico (2 agrave 4 anos) Para Piaget a funccedilatildeo simboacutelica consiste na
capacidade da crianccedila representar objetos e fatos conhecidos poreacutem ausentes por
um substituto qualquer seja este concreto ou imaginaacuterio Uma caracteriacutestica
fundamental desta fase eacute a diferenciaccedilatildeo entre significante e significado que eacute
manifestada por vaacuterias condutas sendo elas O jogo simboacutelico ou faz-de-conta a
imitaccedilatildeo o desenho a imagem mental a linguagem a criatividade etc Para
ldquosignificanterdquo leia-se objeto concreto e para ldquosignificadordquo a ideacuteia compreensiva do
que foi percebido (Piaget 2003)
Sobre a funccedilatildeo simboacutelica FerreiraI(1994p43) complementa ldquoA funccedilatildeo
simboacutelica pode ser considerada uma linguagem individual e particular da crianccedila
usada para compreender e representar o mundo O siacutembolo eacute subjetivo e aos
poucos vai sendo substituiacutedo por signos da linguagem socialrdquo
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
24
O pensamento infantil encontrado entre os 2 e 7 anos de idade eacute
egocentrado A visatildeo da realidade eacute centrada no ponto de vista do proacuteprio sujeito
sendo este incapaz de relacionaacute-lo ou de coordenaacute-lo a pontos de vistas diferentes
do seu
A aquisiccedilatildeo da linguagem tem destaque nesta fase e coincide com a
formaccedilatildeo do jogo simboacutelico que melhor se manifesta no jogo do faz-de-conta
Atraveacutes do que discute Ferreira I (1994p43) ldquoOs siacutembolos podem ser
socializados como os brinquedos coletivos e se tornar um siacutembolo coletivordquo
confirma-se mais uma vez que os estes elementos apresentam extrema valorizaccedilatildeo
soacutecio-afetiva e cultural Com a ludicidade que lhe eacute peculiar os brinquedos
cantados nesta fase encantam ensinam desenvolvem a memoacuteria a auto estima
o esquema corporal a imagem corporal a Coordenaccedilatildeo Motora a socializaccedilatildeo
entre outras funccedilotildees essenciais agrave formaccedilatildeo dos pequenos Eis um bom exemplo
O GIGANTE E O ANAtildeO(autor desconhecido)7
O peacute do gigante eacute grande
Do anatildeo pequenininho
O gigante pisa forte
O anatildeo pisa mansinho
O gigante fala grosso
O anatildeo fala fininho
Porque gigante come muito
E o anatildeo come pouquinho
7 Recolhido atraveacutes da cultura oral
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
25
Pensamento Intuitivo (4 agrave 7 anos) Subdividido em Intuitivo Simples e Intuitivo
Articulado eacute um estaacutegio marcado pela crescente formaccedilatildeo de conceitos O
pensamento intuitivo eacute uma espeacutecie de accedilatildeo executada em pensamento encaixar
seriar deslocar etc
A crianccedila no intuitivo simples representa mentalmente assimila e entende
o mundo real poreacutem de forma limitada pois soacute consegue coordenar um uacutenico
ponto de vista com base nas aparecircncias do que vecirc Centrado em si mesmo natildeo
admite a reversibilidade falta-lhe ainda a noccedilatildeo de conservaccedilatildeo das substacircncias
Quando se pede agrave crianccedila para desenhar ela desenha o que sabe e natildeo
o que vecirc Este egocentrismo que lhe eacute peculiar deveraacute evoluir para a
descentraccedilatildeo bem como haveraacute progressos nas diversas etapas cognitivas
(classificar seriar etc) Ao final do pensamento intuitivo articulado a crianccedila
comeccedila a levantar duacutevidas e questionamentos percebendo a mobilidade das
situaccedilotildees
ldquoA BARATArdquo(folclore)8
A barata diz que tem 7 saias de filoacute
Eacute mentira da barata ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute uma soacute
A barata diz que tem um anel de formatura
Eacute mentira da barata ela tem eacute casca dura
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
8 PAIVA Ione Maria R de OPCITp80
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
26
Ah ah ah ah ah ah ela tem eacute casca dura
A barata diz que dorme numa cama de cetim
Eacute mentira da barata ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Ah ah ah ah ah ah ela dorme eacute no capim
Na muacutesica da barata as crianccedilas ironizam a tentativa de mentir deste
inseto A propoacutesito das ldquomentirinhasrdquo contidas nas brincadeiras infantis funcionam
como passaporte para a experimentaccedilatildeo do que eacute verdadeiro e real As palavras
de cascudo(1988p491) discorrem sobre os deslimites da mentira ldquoAs estoacuterias
mentirosas() satildeo muito populares e constituem um gecircnero especial onde a
imaginaccedilatildeo exagerada e livre se liberta dos limites da loacutegicardquo Acredita-se que as
crianccedilas exigem a verdade para terem o domiacutenio do que aprendem
33OS JOGOS POR PIAGET
ldquoPiaget vecirc no jogo um processo de ajuda ao desenvolvimento da crianccedila
acompanha-a sendo ao mesmo tempo uma atividade consequumlente de seu proacuteprio
crescimentordquo(Negrine1994p45) A leitura dos jogos em Piaget acompanha o
desenvolvimento integral do homem a inteligecircncia a afetividade a motricidade e a
sociabilidade satildeo vivenciadas nos jogos sendo a afetividade a funccedilatildeo que constitui
a energia necessaacuteria para a progressatildeo psiacutequica moral intelectual e motora
daquele que joga
Trecircs classificaccedilotildees baacutesicas do jogo satildeo mostradas na teoria
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
27
psicogeneacutetica de Piaget Jogos de exerciacutecio Jogos simboacutelicos e jogos de regra
Jogos de Exerciacutecio Ou jogos sensoacuterio-motores que aparecem no periacuteodo do
mesmo nome natildeo chegam a constituir sistemas luacutedicos independentes e
construtivos Sua motivaccedilatildeo se daacute pelo prazer funcional ou pelo prazer produzido
pela tomada de consciecircncia de suas novas capacidades
Os jogos motores ou de exerciacutecios satildeo aqueles que envolvem
diretamente a participaccedilatildeo ativa do corpo como um todo inclui-se ainda os jogos
sensoriais que ajudam a desenvolver os oacutergatildeos dos sentidos
A crianccedila nesta fase gosta de brincar com brinquedos que manipula
repetidas vezes explorando toda sua superfiacutecie Brincar de esconder o rosto ou os
objetos atirar e pegar brinquedos eacute prazeroso para a crianccedila ao mesmo tempo
que assimila as noccedilotildees de espaccedilo tempo e causalidade necessaacuterias agrave construccedilatildeo
da realidade
Os estiacutemulos sensoriais tambeacutem fazem parte do seu interesse objetos
de diversas cores e texturas brinquedos sonoros muacutesica para ouvir acalentar
danccedilar e brincar desta forma explora o reconhecimento do eu do outro e dos
objetos
O jogo de exerciacutecio eacute o primeiro a aparecer no comportamento da
crianccedila explicitamente do 2ordm ao 5ordm estaacutegio do desenvolvimento sensoacuterio motor por
oposiccedilatildeo ao 6ordm estaacutegio onde se inicia o jogo simboacutelico(Negrine 1994)
28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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28
ATIREI O PAU NO GATO(Folclore)9
Atirei o pau no ga-to-to mas o ga-to-to
Natildeo morreu- rreu- rreu dona chica-ca-ca
Admirou- se se do berro do berro
Do berro que o gato deu Miau
Jogos Simboacutelicos Em princiacutepio do ponto de vista de Piaget a diferenccedila entre os
jogos simboacutelicos e os de exerciacutecio intelectual consiste em que os primeiros se
referem ao pensamento
Os jogos simboacutelicos tem iniacutecio no 6ordm estaacutegio do periacuteodo sensoacuterio-motor
e se continua aproximadamente dos 2 aos 4 anos de idade cronoloacutegica ou do 1ordm
estaacutegio do preacute-operacional(fase simboacutelica) ateacute o iniacutecio do 2ordm estaacutegio do preacuteshy
operacional(fase intuitiva) Piaget apud Negrine(1994p41) deixa claro a
supremacia dos jogos simboacutelicos em detrimento dos anteriores
ldquoO esquema simboacutelico por si mesmo eacute suficiente para
assegurar a superioridade da representaccedilatildeo sobre
uma accedilatildeo pura nesta segundo Piaget o jogo
permite assimilar o mundo exterior ao eu como meio
infinitamente mais poderoso que o de simples exerciacuteciordquo
Como aparecem antes da linguagem verbal propriamente dita os jogos
simboacutelicos satildeo representados nas imagens mentais da crianccedila e vivenciados
atraveacutes dos gestos onomatopeacuteias pelo prazer de brincar com o faz-de-conta
9 MILLLECCO FILHO Luiacutes A e outros OPCIT p43
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
29
Nesta fase os acalantos vatildeo perdendo sua importacircncia dando lugar agraves
brincadeiras-de-roda os pequenos ao mesmo tempo em que aprendem a falar
aprendem a cantar as brincadeiras-de-roda tem a propriedade de enriquecerem o
repertoacuterio de palavras e movimentos
Jogos de Regras Os jogos de regras natildeo seguem o mesmo itineraacuterio dos
anteriores pois comeccedilam a aparecer na metade do 2ordm estaacutegio do periacuteodo preacuteshy
operacional isto eacute dos 4 aos 7 anos e principalmente no periacuteodo das operaccedilotildees
concretas dos 7 aos 12 anos Pesquisaremos como ocorrem os jogos de regra ateacute
os 7 anos pela delimitaccedilatildeo da populaccedilatildeo que esta monografia abrange
Dos 4 aos 7 anos periacuteodo preacute operacional intuitivo surgem os jogos de
regra que substituiratildeo o siacutembolo e enquadraratildeo o exerciacutecio no momento em que se
constituem de forma incipiente certas relaccedilotildees sociais(Piaget2003)
Com relaccedilatildeo as regras segundo Piaget apud Negrine
(1994p44)distinguem-se dois tipos transmitidas e espontacircneas As regras
transmitidas se referem aos jogos institucionais que se impotildeem por pressatildeo das
geraccedilotildees anteriores As espontacircneas se referem aos jogos de natureza contratual e
momentacircnea isto eacute procedem da socializaccedilatildeo dos jogos de simples exerciacutecios ou
dos simboacutelicos
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
30
Na cantiga de roda ldquoCiranda cirandinhardquo destaca-se o desenvolvimento
da roda e ao final as regras uma imposta (entrar na roda e dizer um verso) outra
espontacircnea (serve qualquer verso criado na hora ou jaacute existente) Outra versatildeo
desta mesma cantiga para crianccedilas menores pede ldquofaccedila um gesto bem bonito
diga adeus e vaacute se emborardquo A liberdade de criar um gesto verso a importacircncia de
estar no meio da roda como centro das atenccedilotildees e a valorizaccedilatildeo dos
companheiros satildeo o impulso para a espontaneidade e o crescimento da autonomia
do ser
CIRANDA CIRANDINHA(folclore)10
Ciranda cirandinha vamos todos cirandar
Vamos dar a meia volta volta e meia vamos dar
o anel que tu me destes era vidro e se quebrou
o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou
Por isto sinhaacute Maria entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito diga adeus e vaacute se embora
Os conceitos estudados neste capiacutetulo podem orientar sobre o tempo
mental da crianccedila e a possibilidade de oferecer estiacutemulos adequados ao seu
momento Como uma boa buacutessola natildeo conteacutem apenas o norte
10 MARTINS Armando OPCITp105
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
31
4O BRINCAR E A REALIDADE WINNICOTTEANA
A partir da premissa de que natildeo se pode dividir o ser humano em
classificaccedilotildees bioloacutegicas e psiacutequicas posto que este eacute uma unidade indivisiacutevel
formulou-se apenas para efeitos didaacuteticos no capiacutetulo anteriorum olhar mais
fiacutesico(cognitivo) do desenvolvimento infantil atraveacutes de Piaget Discutir-se-aacute neste
capiacutetulo o ponto de vista Winnicotteano sobre a vida emocional e o brincar
Nos brinquedos cantados a arte de brincar se mistura a arte de cantar e
eacute fazendo ldquoArtesrdquo que a crianccedila dar-se a ver e a crescer A partir deste tema
instigante e universal que eacute o brincar torna-se mais prazeroso ainda falar sobre ele
depois de conhecer os estudos do Drordm Winnicott
D W Winnicott pediatra psicanalista psicoterapeuta inglecircs e defensor
da Ludoterapia nasceu no comeccedilo do seacuteculo 20 produzindo uma vasta obra
cientiacutefica ateacute os anos 70 quando nos deixou Em seu livro ldquoO Brincar e
Realidaderdquo(1975) se preocupou com os primoacuterdios da vida imaginativa da
experiecircncia cultural em todos os sentidos da relaccedilatildeo das artes com o brincar e da
criatividade
Neste momento parece relevante abordar alguns dos conceitos teoacutericos
do DrordmWinnicott atraveacutes da obra mencionada pelo suporte que podem
proporcionar agrave compreensatildeo da vida psiacutequica mediante o brincar e a terapia Em
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
32
Conceitos e contornos ilustrar-se-aacute o Objeto transicional Fenocircmeno transicional
Matildee suficientemente boa Aacuterea intermediaacuteria e o Eu(Self) circundando a
importacircncia destes conceitos em relaccedilatildeo aos brinquedos cantados e sua aplicaccedilatildeo
na cliacutenica psicomotora
41CONCEITOS E CONTORNOS
Objeto Transicional Eacute o objeto concreto relativo agrave exploraccedilatildeo pulsional (descarga
impulsiva) do sujeito por exemplo uma boneca ou um carrinho
Fenocircmeno Transicional Satildeo as accedilotildees relativas agrave exploraccedilatildeo pulsional ou o uso
que se faz dos objetos transicionais Ex Um carrinho pode ser acalentado como se
fosse um bebecirc
Matildee Suficientemente Boa Pessoa que ocupa o lugar de suporte afetivo no
desenvolvimento global da crianccedila tambeacutem associada por ele a figura do
terapeuta
Em outras palavras o amor da matildee ou do terapeuta
natildeo significaria apenas um atendimento agraves necessidades
da dependecircncia mas vem a significar a concessatildeo
de oportunidades que permita ao bebecirc ou ao paciente
passar da dependecircncia para a autonomia
(Winnicott1975p150)
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
33
Aacuterea Intermediaacuteria Aacuterea neutra de experimentaccedilatildeo vivencial entre as realidades
internas e externas do sujeito que favorece a dialeacutetica do brincar e das artes O
dito autor parece supor um espaccedilo de refuacutegio para a resoluccedilatildeo dos conflitos
humanos Eis aqui a referecircncia para tal colocaccedilatildeo
Presume-se aqui que a tarefa de aceitaccedilatildeo da realidade
nunca eacute completada que nenhum ser humano estaacute livre
da tensatildeo de relacionar a realidade interna e externa e
que o aliacutevio dessa tensatildeo eacute proporcionado por uma aacuterea
intermediaacuteria de experiecircncia(cf Riviere1936) que natildeo eacute
contestada (artes religiatildeo etc) Essa aacuterea intermediaacuteria
estaacute em continuidade direta com a aacuterea do brincar da
crianccedila pequena que se ldquoperderdquo no brincar
(Winnicottopcitp29)
A princiacutepio eacute difiacutecil falar dos brinquedos cantados como objetos
transicionais (concretos) porque natildeo satildeo exatamente vistos a olhos nus embora
sejam audiacuteveis Todavia qualquer muacutesico pode escrever em uma partitura o
brinquedo cantado (concreto e cantaacutevel) para tornaacute-lo visiacutevel
O ato de cantar uma muacutesica de roda ou um acalanto jaacute eacute a traduccedilatildeo do
fenocircmeno transicional Dar-se-aacute o uso que quiser a este brinquedo cantado no
momento de sua realizaccedilatildeo Se uma muacutesica de ninar for entoada com raiva ou
brutalidade eacute certo que traraacute temores ao bebecirc e natildeo o conforto a que se prestaria
Acalantos com este do ldquobicho papatildeordquo expotildee o perigo e propotildee acolhida pela
proteccedilatildeo materna
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
34
ldquoBICHO PAPAtildeO(folclore)11
Bicho Papatildeo sai de cima do telhado
Deixe o menino dormir sossegado
O Eu (Self) O Eu (Self) eacute o eu integral descrito por Winnicott(1975) em sua mais
pura essecircncia um eu que nasce na liberdade de expressatildeo na confianccedila baseada
nas experiecircncias vividas no suporte dos sentimentos Para este autor certas
condiccedilotildees se fazem necessaacuterias na busca do Eu (Self) eacute o que se chama de
criatividade A criatividade pode defraglar e sustentar o ser integral
A vida sadia se mostra pelo impulso criativo O brincar eacute um instrumento
da criatividade sediado na ldquoaacuterea intermediaacuteriardquo (entre as artes e o luacutedico)
sustentado em seus primoacuterdios pela ldquomatildee suficientemente boardquo direcionado agrave
busca do ldquoEu (Self) Sobre a importacircncia das cantigas de roda nesta busca
podemos ler as contribuiccedilotildees de Millecco filho e outros (2001p44)
As cantigas de roda datildeo continuidade ao trabalho
de elaboraccedilatildeo de conflitos e agrave estrutura da pessoa
em desenvolvimento iniciado com os acalantos
() A roda aparece como uma representaccedilatildeo da
mandala expressatildeo geomeacutetrica do Self
11 Recolhido atraveacutes da cultura oral
35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
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Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
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BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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35
A letra da muacutesica infantil ldquoa canoa virourdquo expotildee um problema e supotildee
uma soluccedilatildeo hipoteacutetica
A CANOA VIROU(folclore)12
A canoa virou vou deixar ela virar
Foi por causa da Maria que natildeo soube remar
Ah se eu fosse peixinho e soubesse nadar
Eu tirava a Marialaacute do fundo do mar
A accedilatildeo terapecircutica deve ser um modo de auxiliar uma pessoa a
vir a ser o que ela eacute capaz de ser O psicomotricista atua como facilitador no
desenvolvimento do potencial existente no sujeito Numa maternagem
suficientemente boa como fala Winnicott o psicomotricista relacional torna-se um
companheiro de jornada para as atitudes luacutedicas do seu paciente
As medidas de afeto e limites saudaacuteveis agraves necessidades do outro
devem ser reconhecidas e valorizadas Eacute o que se vecirc nas colocaccedilotildees de Winnicott
(1975p63) ldquoEm outros termos eacute a brincadeira que eacute universal e que eacute proacutepria da
sauacutede o brincar facilita o crescimento e portanto a sauacutede o brincar conduz aos
relacionamentos grupais o brincar pode ser uma forma de comunicaccedilatildeo na
psicoterapia()rdquo
12 MARTINS Armando OPCITp110
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
36
Segundo referido autor a expressatildeo cultural eacute derivada da brincadeira e
estas duas instacircncias estatildeo implicadas na aacuterea intermediaacuteria A criatividade eacute o que
haacute de comum no brincar nas experiecircncias artiacutesticas e na sauacutede Uma crianccedila
acometida por doenccedilas logo se furta do brincar e reduz suas atividades criativas
Nos brinquedos cantados encontra-se o canto a poesia a danccedila a
brincadeira o compartilhar os quais resumem a interaccedilatildeo entre
MUacuteSICA BRINCADEIRA MOVIMENTO APRENDER CRIAR ACALENTAR
VIVER IMAGINAR SONHAR CRESCER REESTABELECER CURAR
Leia-se no doce modo de fazer doces desta muacutesica o ensinar e o
aprender com a danccedila do outro
ldquoDE ABOacuteBORA FAZ MELAtildeOrdquo(folclore)13
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
De aboacutebora faz melatildeo de melatildeo faz melancia
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute faz doce sinhaacute Maria
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Quem quiser aprender a danccedilar vai na casa do Juquinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
Ele pula ele roda ele faz requebradinha
13 Recolhido atraveacutes da cultura oral
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
37
Daqui por diante a psicomotricidade seraacute ldquoEn-cantadardquo em versos sons
e gestos desenvolvendo as estruturas psicomotoras pelo trabalho com os
brinquedos cantados
5ENCANTANDO A PSICOMOTRICIDADE
Pelos estudos de Jean Claude coste(1992) a psicomotricidade eacute uma
nova abordagem do corpo humano Ela estuda o indiviacuteduo e suas relaccedilotildees com o
corpo Eacute uma ciecircncia que se originou do encontro de muacuteltiplos pontos de vista e se
utiliza dos conhecimentos da biologia da psicologia da psicanaacutelise da sociologia
e da linguumliacutestica
No que toca ao seu objeto de estudo se ocupa do corpo com sua
expressatildeo dinacircmica Para Denise Levy(2000) trecircs pilares baacutesicos sustentam a
existecircncia da psicomotricidade O Movimento expressivo a Inteligecircncia e o Afeto
O movimento acima do ato mecacircnico ou seja posturas de vida a inteligecircncia que
encerra os conhecimentos diante do mundo o afeto pulsatildeo expressiva e
motivacional das relaccedilotildees do sujeito com os outros
Bia Bedran parece ter sintonizado as bases da psicomotricidade quando
fez a muacutesica ldquoEacute bom cantarrdquo Com um pouco de criatividade pode-se imaginar
gestosmovimentos expressivos para representar os versos desta muacutesica infantil
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
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nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
38
ldquoEacute BOM CANTARrdquo(Bia Bedran)14
Eacute bom cantar eacute bom ouvir
Eacute bom pensar eacute bom sentir
Olhar as coisas ao redor pra crescer muito melhor
Viajar dentro de si pra poder se descobrir
51BREVE HISTOacuteRIA DA PSICOMOTRICIDADE
A histoacuteria da psicomotricidade tem seu iniacutecio cientiacutefico no discurso
meacutedico-neuroloacutegico no final do seacuteculo XIX Entretanto a ldquopreacute-histoacuteriardquo da
psicomotricidade se confunde com a histoacuteria do humano que discursa sobre seu
corpo e com ele se relaciona soacutecio-afetivamente Leia-se em Levin(2001p22)
O percurso histoacuterico deste corpo discursivo e simboacutelico
(eixo do campo psicomotor) estaacute marcado pelas diferentes
concepccedilotildees que o homem vai construindo acerca do corpo
ao longo da histoacuteria Deveriacuteamos levar em conta que a
palavra corpo proveacutem por um lado do sacircnscrito garbhas
que significa embriatildeo e por outro do grego Karpoacutes que
quer dizer fruto semente envoltura e por uacuteltimo do
latim Corpusque significa tecido de membros envoltura
da alma embriatildeo do espiacuterito
14 BEDRAN Bia CD O MELHOR DE BIA BEDRAN Angels records RJ 2000
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
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nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
39
Encontra-se encerrado na histoacuteria que a psicomotricidade se inicia na
Franccedila pelas praacuteticas reeducativas determinadas pelo paralelo mente-corpo posto
que a neuropsiquiatria do iniacutecio do seacuteculo XX era investida pelo dualismo
cartesiano O principal representante desta eacutepoca era Dupreacute ele correlacionava a
motricidade com a inteligecircncia
Novas contribuiccedilotildees foram surgindo conforme os estudiosos avanccedilavam
em seus conhecimentos Nos idos de 1925 Henry Wallon ocupa-se do movimento
humano como instrumento na construccedilatildeo do psiquismo Ele relacionava o
movimento ao afeto agrave emoccedilatildeo ao meio ambiente e aos haacutebitos da crianccedila
De Wallon ateacute a deacutecada de 70 ocorre o que Levin (2001) Chama de
segundo corte epistemoloacutegico Autores como Ajuriaguerra Guilman e o proacuteprio
Piaget ajudaram a delimitar o que hoje entendemos por psicomotricidade Diga-se
no entanto que na praacutetica o que se fazia era a reeducaccedilatildeo psicomotora no modelo
de Guilman
O olhar desta fase estaraacute centrado natildeo mais num corpo motor mas num
corpo em movimento Abre-se espaccedilo para a Educaccedilatildeo psicomotora jaacute que o corpo
toma uma dimensatildeo instrumental uma dimensatildeo cognitiva e outra tocircnico
emocional(Levin opcit)
O iluminar da deacutecada de 70 inclui a psicanaacutelise no acircmbito psicomotor
Seus conceitos de inconsciente e a valorizaccedilatildeo do sujeito com seu corpo em
movimento deram iniacutecio agrave terapia psicomotora Para este novo contexto da cliacutenica
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
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MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
40
psicomotora nomes como Aucoutourier P Vayer JC Coste Lapierre entre
outros falam de uma escuta diferenciada e de um olhar que se desprendem da
pura e simples catarse fiacutesica e emocional como se pode ler nas palavras de
Levin(opcit)
Resumindo ao longo da histoacuteria do acircmbito psicomotor
podem ser especificadas diferentes transiccedilotildees do motor
ao corpo e deste ao sujeito com um corpo em movimento
Jaacute natildeo eacute possiacutevel confundir o corpo com o sujeito ou o
sujeito com o corpo Eles natildeo satildeo sinocircnimos nem
tampouco equivalentes e eacute justamente porque tampouco
podem se desamarrar um do outro que a psicomotricidade
eacute nomeada e portanto existe(ibidp32)
52EDUCACcedilAtildeO REEDUCACcedilAtildeO E TERAPIA PSICOMOTORA
A educaccedilatildeo psicomotora atua na formaccedilatildeo do indiviacuteduo possibilitando o
seu desenvolvimento global utilizando-se do corpo como meio para atingir os fins
pedagoacutegicos (Levy2000)
A reeducaccedilatildeo psicomotora atua nas funccedilotildees prejudicadas utilizando-se
do proacuteprio corpo para a reabilitaccedilatildeo Atraveacutes de teacutecnicas especiacuteficas interfere nos
transtornos evidenciados (Coste1992)
A terapia psicomotora atua sobre a emoccedilatildeo a expressividade e a
41
afetividade considerando o sujeito-corpo-movimento em sua integralidade ou seja
o ser Bio-psico-social Parte de conceitos psicanaliacuteticos escutando a singularidade
do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
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41
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do sujeito na relaccedilatildeo transferencial dado no devir espontacircneo e luacutedico do setting
psicomotor (Levin2001) Voltando-se a Winnicott (1975p74) sustenta-se mais
uma vez o valor terapecircutico do brincar ldquoEacute bom recordar que o brincar eacute por si
mesmo uma terapiardquo
As trecircs aacutereas da psicomotricidade tecircm em comum as estruturas
psicomotoras como objetivos gerais a serem desenvolvidos Assim Esquema
corporal Imagem corporal estruturaccedilatildeo Espaccedilo-temporal Lateralidade
Coordenaccedilatildeo motora ampla Coordenaccedilatildeo motora fina Equiliacutebrio e Ritmo
estruturas especiacuteficas da funccedilatildeo psicomotora se articulam com as funccedilotildees
cognitivas afetivas e sociais formando a sauacutede Bio-psico-social do sujeito
As crianccedilas no periacuteodo sensoacuterio-motor iniciam o desenvolvimento de
algumas estruturas psicomotoras poreacutem ainda com capacidade limitada A
coordenaccedilatildeo motora ampla para alcanccedilar os ldquoobjetos transicionaisrdquo e se expressar
pela vida a coordenaccedilatildeo motora fina na atividade de pinccedila realizada pelos dedos
dando margem ao ldquofenocircmeno transicionalrdquo de chupar o dedo o equiliacutebrio para
andar o esquema corporal situado ainda nos grandes membros e nas partes
visiacuteveis do corpo a imagem corporal levemente introjetada na diferenciaccedilatildeo entre a
existecircncia de um eu e um outro Os acalantos satildeo fundamentais nesta etapa
caracterizando um momento de maior acolhimento da matildee para o bebecirc
No periacuteodo preacute-operacional simboacutelico as brincadeiras-de-roda tem a
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primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Editora Nova fonteira SA1988
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Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
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Summus editorial 1988
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LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
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58
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MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
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PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
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PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
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SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
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SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
42
primazia Os objetos jaacute permanentes na vida dos pequenos os deixam mais agrave
vontade para imitar criar e se relacionar A repeticcedilatildeo proposital nos brinquedos
cantados satildeo para melhor apreensatildeo e desenvolvimento das estruturas
psicomotoras entre outras A muacutesica infantil sensibiliza desinibe autoriza a
expressividade e a emoccedilatildeo
O periacuteodo preacute-operacional intuitivo continua a maturaccedilatildeo das estruturas
psicomotoras de uma forma mais elaborada Soacute entatildeo a lateralidade vai se
confirmar por exemplo para treinar a escrita
As rodas infantis podem girar em sentido horaacuterio e depois meia volta dar
iniciam regras de convivecircncia que eacute preciso respeitar para fazer parte da
brincadeira conteacutem histoacuterias que a imaginaccedilatildeo infantil trata de ampliar satildeo
dotadas de conceitos morais ajudam a contar e a conhecer pela poesia o valor da
cultura de um povo integra meninos e meninas com cores de peles diversas
pequenos e grandes deficientes ou natildeo pelo prazer de brincar
Passar-se-aacute agora agrave conceituaccedilatildeo de cada estrutura psicomotora
relacionando-se a contribuiccedilatildeo dos brinquedos cantados no desenvolvimento de
cada uma delas
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53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
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As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
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BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
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Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
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Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
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HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
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LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
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Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
43
53BRINQUEDOS CANTADOS NA PSICOMOTRICIDADE
Acalantos Conforme citado anteriormente eacute no periacuteodo sensoacuterio-motor que os
acalantos tem sua maior importacircncia oferecem pelo ato de ninar um suporte
afetivo ao crescimento da crianccedila envolvida nos braccedilos da matildee a crianccedila percebe
o seu contorno externo adquirindo as primeiras noccedilotildees de equiliacutebrio ritmo espaccedilo
e tempo numa aacuterea intermediaacuteria O esquema corporal desabrocha a partir do
acariciar das matildeos da matildee e a imagem corporal se anuncia pelo sentimento de si
mesmo que o outro pocircde oferecer na maternagem suficientemente boa para a
busca do eu (Self)
O relacionamento expressivo dos elementos sensiacuteveis dos brinquedos
cantados ou sua plasticidade eacute dinacircmico podendo ser retomado resiginificado a
partir da necessidade de cada sujeito Natildeo fechamos portanto o tempo destes
acontecimentos apenas situamos o seu aparecimento como o privileacutegio de
interesse da populaccedilatildeo pesquisada
Cantiga-de-roda As cantigas-de-roda comuns no cancioneiro folcloacuterico infantil
geralmente canccedilotildees anocircnimas advindas da cultura espontacircnea dos povos datildeo
continuidade agrave elaboraccedilatildeo emocional e estruturaccedilatildeo da pessoa em
desenvolvimento iniciado pelos acalantos Devido a simplicidade musical riqueza
simboacutelica e ludicidade peculiar as vivecircncias atraveacutes destes elementos luacutedicos
conquistam a crianccedila como aquilo que eacute proacuteprio do seu tempo
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
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desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
44
As brincadeiras-de-roda projetam a essecircncia da inserccedilatildeo na vivecircncia
cultural e na socializaccedilatildeo dar as matildeos ao outro o contato corporal e o
relacionamento pelo interesse comum satildeo oportunidades iacutempares no cotidiano
infantil Enriquecendo nossa exposiccedilatildeo sobre as cantigas-de-roda recorremos a
Bruno Bethelheim apud Millecco filho e outros (2001p42) ldquoAs Cantigas de Roda
assim como os Contos de Fadas alimentam a imaginaccedilatildeo e estimulam a fantasia
oferecendo a pessoa em desenvolvimento a chance de encontrar sua proacutepria
soluccedilatildeo para os conflitos internos neste momento da vidardquo
Abordar-se-aacute em seguida cada estrutura psicomotora conceituando-as
com um exemplo de cantiga-de-roda que possa contemplar o desenvolvimento da
referida estrutura
Coordenaccedilatildeo motora global Eacute a capacidade do indiviacuteduo de realizar tipos
integrados de movimentos somando-se os movimentos do eixo corporal e dos
grandes segmentos (Coste1992)
Na coordenaccedilatildeo motora global observa-se o indiviacuteduo em sua macro
expressatildeo no mundo muacutesicas que estimulem a danccedila e a ampliaccedilatildeo da expressatildeo
corporal pelo espaccedilo devem orientar a vivecircncia das partes do corpo com a
habilidade de utilizar os movimentos de forma harmoniosa
O exemplo abaixo eacute um brinquedo cantado que faz as crianccedilas se
movimentarem caminhando enfileirados dispostas em ciacuterculo assim realizam os
movimentos enquanto observam os amigos
45
BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
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ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
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estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
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conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
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pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
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ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
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o prazer de brincar cantar e ser feliz
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BATALHA DO AQUECIMENTO (autor desconhecido)15
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
Os braccedilos pra cima e pra baixo
Vamos pra batalha do aquecimento
Vamos aquecer aqui neste momento
As pernas pra frente e pra traacutes
Coordenaccedilatildeo motora fina Consiste no uso das matildeos e dedos na aproximaccedilatildeo
preensoacuteria dos objetos e nos gestos de pegaacute-los e manipulaacute-los A coordenaccedilatildeo
motora fina deve ser acompanhada da coordenaccedilatildeo viso-motora relacionada
diretamente entre olho e matildeo elemento mais importante para a aquisiccedilatildeo do
grafismo (Coste1992)
A utilizaccedilatildeo dos dedos separadamente para apontar ou contar nas
brincadeiras em que se escolhe um par ou ainda nas brincadeiras de bater as
palmas das matildeos satildeo sugestotildees para treinar a coordenaccedilatildeo motora fina e tornar a
crianccedila mais habilidosa nos movimentos finos
Na muacutesica do indiozinho as crianccedilas devem contar mostrando os dedos
fazer os gestos das penas do iacutendio na proacutepria cabeccedila os gestos de remar a boca
do jacareacute e o movimento do bote quase virando no rio todos encenados atraveacutes
15 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
46
das matildeos devem estar dispostos enfileirados como se estivessem em uma canoa
de preferecircncia com espelhos nas paredes da sala para se olharem e aos colegas
ldquoINDIOZINHOSrdquo(folclore)16
123 indiozinhos 456 indiozinhos
789 indiozinhos 10 num pequeno bote
Vinham navegando pelo rio abaixo
Quando o jacareacute se aproximou
E o pequeno bote dos indiozinhos
Quase quase virou quase quase virou
mas natildeo virou
Esquema Corporal Eacute o que se pode dizer ou representar acerca do proacuteprio corpo
ou seja a representaccedilatildeo que se tem deste discriminando suas partes sejam
internas ou externas (Levin2001)
A muacutesica infantil ldquoCabeccedila ombro joelho e peacuterdquo pede para cantar e
apontar as partes do corpo simultaneamente O psicomotricista junto com as
crianccedilas devem ser livres para improvisar sobre a muacutesica colocando a parte do
corpo que deseja mostrar
ldquoCABECcedilA OMBRO JOELHO E PEacuterdquo (folclore)17
Cabeccedila ombro joelho e peacute
Joelho e peacute joelho e peacute
Olhos boca orelha e nariz
Orelha e nariz orelha e nariz
16 PAIVA Ione Maria R deOPCITp107 17 Recolhido atraveacutes da cultura oral
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
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ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
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6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
47
Equiliacutebrio O equiliacutebrio reuacutene um conjunto de aptidotildees estaacuteticas e dinacircmicas O
equiliacutebrio estaacutetico exige mais concentraccedilatildeo e abstraccedilatildeo O equiliacutebrio dinacircmico estaacute
relacionado agraves funccedilotildees tocircnico-motoras e sensoriais (Thompson 2000)
Eacute provavelmente mais faacutecil trabalhar o equiliacutebrio brincando de
amarelinha No atual contexto luacutedico-sonoro sugere-se a cantiga do ldquoSaci pererecircrdquo o
personagem folcloacuterico que pula de uma perna soacute e na muacutesica ainda toca
instrumentos musicais arma-se entatildeo um grande desafio de cantar pular de uma
perna soacute e tocar os instrumentos pedidos Vencer uma etapa de equiliacutebrio corporal
traz autoconfianccedila e fomenta a valorizaccedilatildeo pessoal
ldquoO SACI PEREREcircrdquo(folclore)18
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca o pandeirotoca como ele soacute
O saci pererecirc pula de uma perna soacute
Ele toca violatildeo toca como ele soacute
Ritmo Ritmo eacute o fator de estruturaccedilatildeo temporal que sustenta a adaptaccedilatildeo ao
tempo (Coste1992) A crianccedila eacute inserida nos ritmos da vida desde cedo o ir e vir
da respiraccedilatildeo o compasso do coraccedilatildeo o tempo de se alimentar a hora do
aconchego no colo da matildee o ritmo do andar o ritmo da muacutesica a cadecircncia da fala
dias de sol e noites de lua primavera veratildeo outono inverno o movimento da
vida humana eacute dinacircmico e segue lado a lado com a natureza
18 Recolhido atraveacutes da cultura oral
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
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FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
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FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
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nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
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WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
48
Para internalizar um pouco das experiecircncias riacutetmicas a que a crianccedila
seraacute submetida vida agrave fora a muacutesica infantil ldquoO macaquinhordquo simboliza um
personagem alegre e saltitante exposto aos movimentos naturais de andar pular
correr e deitar Enquanto realiza estes movimentos de forma crescente agita-se e
volta agrave calma quando se pode chamar a atenccedilatildeo das crianccedilas para que escutem
seus batimentos cardiacuteacos e percebam o proacuteprio corpo enquanto deitam
ldquoO MACAQUINHOrdquo (autor desconhecido)19
Anda anda anda macaquinho
Anda anda anda sem parar
Pula pula pula macaquinho
Pula pula pula ateacute cansar
Corre corre corre macaquinho
Corre corre corre sem parar
Deita deita deita macaquinho
Deita deita deita dorme ateacute sonhar
Espaccedilo O mundo espacial da crianccedila se constroacutei paralelamente ao seu
desenvolvimento psicomotor na medida em que cresce sua eficaacutecia gestual e
relacional criam-se os espaccedilos para a comunicaccedilatildeo Toda nossa percepccedilatildeo do
mundo eacute uma percepccedilatildeo espacial na qual o corpo eacute a referecircncia (Coste 1992)
Uma cantiga-de-roda do folclore judeu jaacute inserido na cultura brasileira
19 Recolhido atraveacutes da cultura oral
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
49
traz uma ave conhecida das crianccedilas brasileiras e estimula a liberdade de voar pelo
espaccedilo Brincando por baixo por cima pra frente e pra traacutes a crianccedila vivencia a
noccedilatildeo de espaccedilo sem pensar e dificilmente esqueceraacute pois o corpo tendo
vivenciado inscreve em sua histoacuteria mais este conhecimento
O periquito bate as asas voando no meio da roda todos devem cantar e
rodar parando no refratildeo para bater palmas apenas o periquito deve pegar as matildeos
de um colega e com ele danccedilar como a muacutesica pede por baixo por cima pra
frente e pra traacutes Entatildeo ficaram dois periquitos na roda estes cantaram novamente
e ao pararem ficaram quatro periquitos e assim sucessivamente ateacute que todos da
roda virem periquitos tambeacutem
Os periquitos cantam voam danccedilam escolhem um colega e interagem
no grupo Cada funccedilatildeo trabalhada como prioridade sempre envolvem tantas outras
visto que o individuo natildeo se divide em camadas ele eacute formado por elas
ldquoPERIQUITOrdquo (folclore Judeu)20
Periquito periquito parece com papa
Periquito periquito parece com papa
Por baixo por cima pra frente e pra traacutes
Tempo Coste(1992p53) ressalta que ldquoO tempo eacute simultaneamente duraccedilatildeo
ordem e sucessatildeo a integraccedilatildeo desses trecircs niacuteveis eacute necessaacuteria agrave construccedilatildeo
temporal do indiviacuteduordquo Entende-se portanto que a estrutura temporal eacute articulada a
20 Recolhido atraveacutes da cultura oral
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
50
estrutura espacial atraveacutes delas eacute que o indiviacuteduo daacute sequumlecircncia aos seus
movimentos e se organiza na vida cotidiana
Verifica-se o tempo do reloacutegio que marca as horas fisicamente daquilo
que eacute realizado o tempo bioloacutegico que se refere ao funcionamento do organismo
humano que as vezes ldquoparece um reloginhordquo como diz o dito popular ocorre
ainda o tempo psicoloacutegico o da abstraccedilatildeo um tempo atemporal do tamanho dos
acontecimentos que fazem voar a imaginaccedilatildeo
A muacutesica infantil ldquoA janelinhardquo faz referecircncia ao tempo do sol e da
chuva estimula gestos de abrir e fechar representando nos movimentos de flexatildeo
dos antebraccedilos simultacircneos o ir e vir da janela ou seraacute o tic tac do reloacutegio
ldquoA JANELINHArdquo (folclore)21
A janelinha fecha quando estaacute chovendo
A janelinha abre por que o sol taacute aparecendo
Pra laacute Pra caacute pra laacute praacute caacute pra laacute
Pra caacute pra laacute pra caacute pra laacute pra caacute
Lateralidade A lateralidade adveacutem de uma constituiccedilatildeo cerebral que define os
centros motores e sensitivos primaacuterios cujos mecanismos satildeo simeacutetricos e
contralaterais (Coste1992)
21 Recolhido atraveacutes da cultura oral
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
51
A lateralidade eacute uma das funccedilotildees mais elaboradas do desenvolvimento
psicomotor a dominacircncia lateral vai sendo gradativamente experimentada e
assimilada e embora seja utilizada na praacutetica da crianccedila soacute mais tarde estaraacute
organizada e natildeo mudaraacute mais
Botando a matildeo direita e depois a esquerda fazendo o mesmo com os
peacutes e outras partes do corpo a muacutesica infantil ldquoRock pockrdquo induz a crianccedila a
conhecer sobre a lateralidade divertindo-a com movimentos criados na hora pelo
grupo disposto em roda
ldquoROCK POCKrdquo(folclore)22
Eu ponho a matildeo direita dentro eu ponho a matildeo direita fora
Eu ponho a matildeo direita dentro e sacudo ela agora
Eu danccedilo Rock e pock rock e pock rock e pock
Assim eacute bem melhor
( e assim por diante com as demais partes do corpo)
Imagem corporal A imagem corporal eacute o sentimento que se tem de si mesmo o
modo como nosso corpo se apresenta a noacutes mesmos na conceituaccedilatildeo de Shilder
apud Coste(1992)
A imagem corporal ao contraacuterio do que se pensa natildeo eacute relativo a
organicidade bioloacutegica nem tatildeo pouco anatocircmica Ela adveacutem de um processo
mental que se produz por identificaccedilatildeo a uma imagem que vem de fora a apartir do
22 PAIVA Ione Maria R de OPCIT p57
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
52
desejo da matildee
A crianccedila se vecirc refletida no olhar desejante do outro referido por Lacan
apud Levin(2001) Reconhecer-se enquanto corpo soacute eacute possiacutevel porque os outros
tambeacutem tem um corpo O corpo ocupa deste modo uma posiccedilatildeo de referecircncia e
de diferenccedila (ibid)
Dentro da psicomotricidade parece existir um ponto chave que faz o
ldquoSERrdquo ndash ldquoESTARrdquo provavelmente a imagem corporal devido a sua importacircncia na
constituiccedilatildeo do sujeito Por toda a nossa vida estaremos construindo
desconstruindo e reconstruindo novas imagens deste eu que somos e seremos A
psicomotricidade diante do luacutedico por ser um espaccedilo de prazer e criatividade
poderaacute facilitar a construccedilatildeo desconstruccedilatildeo e reorganizaccedilatildeo do ser no mundo A
citaccedilatildeo abaixo complementa esta discussatildeo
O corpo imaginaacuterio eacute o corpo das imagens Efeito de
identificaccedilatildeo a uma imagem a esta imago imaginaacuteria
de unidade espaccedilo ilusoacuterio e virtual constituinte do
lsquoeu idealrsquo lsquoidealrsquo de perfeiccedilatildeo a ser alcanccedilado e que
eacute inconsciente Imagem que natildeo eacute constituiacuteda e sim
constituinte do corpo de um sujeito Imago que ateacute
poderiacuteamos dizer eacute a causa do corpo subvertendo
o arcabouccedilo da funccedilatildeo anatocircmica(Levin2001p63)
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
53
Nas proposiccedilotildees de Levy(2000) a psicomotricidade enquanto terapia
corporal trabalha basicamente o prazer de sentir o proacuteprio corpo de perceber
possibilidades de lidar com as limitaccedilotildees de se reconhecer de brincar e de viver
As atividades psicomotoras estimulam a consciecircncia corporal para a
expressividade de um corpo que pensa se movimenta e sente
Do folclore Piauiense a ldquoBoneca de latardquo eacute um exemplo que vem resgatar
cada parte do corpo que foi supostamente atingida Com a possibilidade de
construccedilatildeo e desconstruccedilatildeo da imagem corporal esta muacutesica folcloacuterica mobiliza
pelo ritmo danccedilante e estimula agravequele que deseja resgatar ou mudar sua imagem
corporal Com ela encerra-se as reflexotildees desta pesquisa na expectativa de ter
fomentado proveitosas discussotildees novos conhecimentos bem como o desejo de
cantar danccedilar e brincar
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
54
ldquoBONECA DE LATArdquo(folclore do Piauiacute)23
Minha boneca de lata
Bateu com a cabeccedila no chatildeo
Levou mais de uma hora
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui pra ficar boa
Minha boneca de lata
Bateu com o pescoccedilo no chatildeo
Levou mais de duas horas
Pra fazer a arrumaccedilatildeo
Desamassa aqui desamassa aqui
Pra ficar boa
Continuar como ombro o outro ombro a barriga o bumbum o joelho
o outro joelho o peacute o outro peacute pra ficar boa Apontar cada parte do
corpo repetindo a cada volta da muacutesica fazendo isto ateacute as dez
horas de arrumaccedilatildeo propostas
23 Recolhido atraveacutes da cultura oral
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
55
6CONCLUSAtildeO
Pesquisando sobre os brinquedos cantados necessariamente discorreu-
se sobre o musicar brincar e movimentar estruturas que despontam no interesse
infantil e nas bases do ldquoCERrdquo comunicar-expressar-relacionar
Abordou-se o desenvolvimento infantil segundo Piaget dando-se a ver a
relaccedilatildeo vivencial dos brinquedos cantados com o desenvolvimento das estruturas
cognitivas e na dialeacutetica dos jogos a interaccedilatildeo social do eu com o mundo
permeado de acalantos e brincadeiras-de-roda Concluiu-se entatildeo que os
estiacutemulos devem ser compatiacuteveis ao tempo mental e agraves necessidades da crianccedila e
que o objeto de estudo desta monografia eacute pertinente a esta funccedilatildeo
Delineou-se a constituiccedilatildeo do sujeito em sua emoccedilatildeo que sob a oacutetica de
winnicott se daacute numa aacuterea intermediaacuteria onde eacute possiacutevel o acontecer das artes do
ludus da criatividade da terapia e do prazer Pontuou-se o valor dos acalantos
como acolhimento afetivo seja na relaccedilatildeo com a matildee ou na relaccedilatildeo terapecircutica
Observou-se o papel das brincadeiras-de-roda como facilitadores da elaboraccedilatildeo de
conflitos nomeando as percepccedilotildees e expressando os sentimentos
Ilustrou-se como foram instituiacutedos os primoacuterdios da psicomotricidade
que hoje se desenvolvem na educaccedilatildeo reeducaccedilatildeo terapia e por isso agora se
pode falar de um sujeito psicomotor oferecendo-lhe uma envoltura no mundo dos
sons e das brincadeiras que move o objetivo do eu ldquocorpordquo e o subjetivo do eu
ldquoafetordquo
56
Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
BIBLIOGRAFIA
CASCUDO Luiacutes da Cacircmara Dicionaacuterio do folclore Brasileiro 6ordfediccedilatildeo
Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Editora Universo1988
COSTA Clarice Moura O Despertar para o outro Musicoterapia Satildeo Paulo
Summus editorial1989
COSTE Jean Claude A Psicomotricidade 4ordf ediccedilatildeo Rio de Janeiro Guanabara
Koogan 1992
FERREIRA Aureacutelio Buarque de Holanda Dicionaacuterio Aureacutelio Baacutesico Rio de Janeiro
Editora Nova fonteira SA1988
FERREIRA Isabel Neves Caminhos do aprender Brasiacutelia Coordenaccedilatildeo Nacional
Para a integraccedilatildeo da pessoa portadora de deficiecircncia 1993
FREGTMAN Carlos Daniel Corpo Muacutesica e terapia Satildeo Paulo Editora Cultrix
Ltda 1989
GAINZA Violeta Hemsy de Estudos de psicopedagogia musical Satildeo Paulo
Summus editorial 1988
HUIZINGA J Homo Ludens Satildeo Paulo Editora Perspectiva 1980
LAPIERRE A amp AUCOUTURIER B A simbologia do movimento psicomotricidade
e educaccedilatildeo 2ordfediccedilatildeo Porto alegre Editora Artes meacutedicas 1988
LEITAcircO Luiacutes A Apostila Recreaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Fiacutesica Rio de Janeiro UNESA
2001
LEVIN Esteban A cliacutenica psicomotora O corpo na linguagem 4ordfediccedilatildeo Petroacutepolis
Rio de janeiro Editora Vozes 2001
LEVY Denise ldquoPsicomotricidade e Gerontomotricidade na sauacutede puacuteblicardquo IN
Psicomotricidade da educaccedilatildeo infantil agrave gerontologia (teoria e praacutetica)
Satildeo Paulo Editora Lovise 2000
58
MARTINS Armando Toque violatildeo ou guitarra (meacutetodo praacutetico) Rio de Janeiro
Ediccedilotildees de ouro 1990
MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
ltda1998
PIAGET Jean Seis estudos de psicologia 24ordfediccedilatildeo 3ordf reimpressatildeo Rio de
Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
SANTA ROZA Eliza Quando brincar eacute dizer A experiecircncia psicanaliacutetica na
infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
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Por fim concluiu-se que os brinquedos cantados podem contribuir para a
psicomotricidade como instrumento de trabalho no cantar danccedilar brincar interagir
expressar criar vivenciar e integrar pelo prazer
Constatou-se ainda que o material pesquisado tem grande importacircncia
para a psicomotricidade por inserir o indiviacuteduo em sua cultura estimular a
socializaccedilatildeo oferecer bases para a construccedilatildeo de um sujeito integral dar suporte
aos elementos da terapia encaminhar a aquisiccedilatildeo do conhecimento e propiciar o
desenvolvimento das estruturas psicomotoras
Lanccedilou-se o brincar e o cantar como caminhos para redescobrir a
essecircncia do ato da mente e da voz humana propondo-se que o brinquedo cantado
pudesse se dar no jogo do trabalho e na danccedila das matildeos entrelaccediladas inventando
o prazer de brincar cantar e ser feliz
57
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Janeiro Editora forense universitaacuteria ltda 2003
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nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975
58
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MILLECCO FILHO Luiacutes A e outros Eacute preciso Cantar Musicoterapia Cantos e
Canccedilotildees Rio de Janeiro Enelivros editora e livraria ltda 2001
NEGRINE Airton Aprendizagem e desenvolvimento infantil Simbolismo e jogo
volume 1 Porto alegre Editora Prodil1994
PAIVA Ione Maria R Brinquedos cantados Rio de Janeiro Editora Sprint
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infacircncia Rio de Janeiro Editora Relume dumaraacute 1993
SHERIDAN Mary D Brincadeiras espontacircneas na primeira infacircncia Do
nascimento aos seis anos Satildeo Paulo Editora Manole 1990
VELASCO Cacilda Gonccedilalves Brincar o despertar psicomotor Rio de Janeiro
Editora Sprint ltda 1996
WINNICOTT D W O brincar e a realidade Rio de JaneiroImago editora ltda1975