Brands Chanel

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BRANDS HISTÓRIA DAS GRANDES MARCAS 50 POR ANA PAULA KUNTZ Com a mesma aura enigmática que envolvia sua criadora, a Chanel inaugura nova loja no Shopping Iguatemi de São Paulo: com mistérios até o último mi- nuto. Com 200 metros quadrados, o espaço abriga a segunda butique stand alone de São Paulo (a primeira fica no Shopping Cidade Jardim) e tem projeto inspirado no modelo da flagship na Place Vendôme, em Paris. Suas araras e prateleiras estarão sempre em dia com as últimas novidades da linha prêt-à-porter de roupas, bolsas, sapatos, relógios. As am- plas fachadas, constituídas de janelas de vidro e paredes de mármore branco, refletem na arquitetura a elegância minimalista característica da grife, avaliada em cerca de 6 bilhões de dólares. O frisson causado pela abertura da loja, o lançamento de uma coleção, a estreia de filme ou qualquer outra novidade que envolva seu nome é compreensível quando se entende o poder e a influência que Gabrielle Chanel exerceu não apenas sobre a moda, mas sobre todo um estilo de vida e comportamento social. Precursora da filosofia “menos é mais” e idea- lizadora do “pretinho básico”, com uma ousadia rara entre as mulheres de seu tempo, a estilista francesa insurgiu na década de 1910 ao pregar o fim de fitinhas, frufrus e outros enfeites profusos e típicos da belle époque, e fez de seu nome sinônimo da mais refinada elegância. Antes dela, vestir-se era uma verdadeira tortura para as mulheres, que tinham de se espremer em corpetes, equilibrar pesados chapéus e manejar com grande esforço saias e mais saias que impediam o andar livre e ágil. É graças à geniosa Mademoiselle Chanel que hoje as mulheres podem desfrutar, com toda a naturalidade, da mobilidade das calças, da praticidade chique de um tailleur e da simplicidade cômoda de uma roupa esportiva. “Não gosto que falem de moda Chanel. Chanel é antes de tudo um estilo. A moda sai de moda, o estilo, jamais”, disse ela, antevendo a perenidade de sua marca. De forma sumária, os cabelos curtos com a nuca à mostra e os sapatos abertos nos calcanhares continuam sendo chamados Chanel, o que pode ser uma afronta para os devotos da marca, mas é um preço que se paga por ser um ícone da revolução fashion, e do qual não se pode fugir. Recente- mente, os advogados da grife publicaram um comunicado pedindo para que não se use seu consagrado nome em vão, nem os termos “chanel-ed’”, “chanels” e “chanel- ized”, dizendo que “por mais que nosso estilo seja determinante, um terninho não é um terninho Chanel a não ser que seja nosso”. DE PRETO dama ELA TRANSFORMOU AS SILHUETAS SIMPLES E AS CORES SÓBRIAS EM SINÔNIMO DE ELEGÂNCIA. COCO CHANEL AINDA É REFERÊNCIA E COBIÇA NO MUNDO DA MODA A

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história da marca

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Page 1: Brands Chanel

BRANDS H I S TÓ R I A D A S G R A N D E S M A R C A S

50

P O R A N A PAU L A K U N T Z

Com a mesma aura enigmática que envolvia sua criadora, a Chanel inaugura nova loja no Shopping Iguatemi de São Paulo: com mistérios até o último mi-nuto. Com 200 metros quadrados, o espaço abriga a segunda butique stand alone de São Paulo (a primeira fica no Shopping Cidade Jardim) e tem projeto inspirado no modelo da flagship na Place Vendôme, em Paris. Suas araras e prateleiras estarão sempre em dia com as últimas novidades da linha prêt-à-porter de roupas, bolsas, sapatos, relógios. As am-plas fachadas, constituídas de janelas de vidro e paredes de mármore branco, refletem na arquitetura a elegância minimalista característica da grife, avaliada em cerca de 6 bilhões de dólares.

O frisson causado pela abertura da loja, o lançamento de uma coleção, a estreia de filme ou qualquer outra novidade que envolva seu nome é compreensível quando se entende o poder e a influência que Gabrielle Chanel exerceu não apenas sobre a moda, mas sobre todo um estilo de vida e comportamento social. Precursora da filosofia “menos é mais” e idea-lizadora do “pretinho básico”, com uma ousadia rara entre as mulheres de seu tempo, a estilista francesa insurgiu na década de 1910 ao pregar o fim de fitinhas, frufrus e outros enfeites profusos e típicos da belle époque, e fez de seu nome sinônimo da mais refinada elegância.

Antes dela, vestir-se era uma verdadeira tortura para as mulheres, que tinham de se espremer em corpetes, equilibrar pesados chapéus e manejar com grande esforço saias e mais saias que impediam o andar livre e ágil. É graças à geniosa Mademoiselle Chanel que hoje as mulheres podem desfrutar, com toda a naturalidade, da mobilidade das calças, da praticidade chique de um tailleur e da simplicidade cômoda de uma roupa esportiva. “Não gosto que falem de moda Chanel. Chanel é antes de tudo um estilo. A moda sai de moda, o estilo, jamais”, disse ela, antevendo a perenidade de sua marca. De forma sumária, os cabelos curtos com a nuca à mostra e os sapatos abertos nos calcanhares continuam sendo chamados Chanel, o que pode ser uma afronta para os devotos da marca, mas é um preço que se paga por ser um ícone da revolução fashion, e do qual não se pode fugir. Recente-

mente, os advogados da grife publicaram um comunicado pedindo para que não se use seu consagrado nome em vão, nem os termos “chanel-ed’”, “chanels” e “chanel-ized”, dizendo que “por mais que nosso estilo seja determinante, um terninho não é um terninho Chanel a não ser que seja nosso”.

D E P R E T Odama

ELA TRANSFORMOU AS SILHUETAS SIMPLES E AS CORES SÓBRIAS EM SINÔNIMO DE ELEGÂNCIA.COCO CHANEL AINDA É REFERÊNCIA E COBIÇA NO MUNDO DA MODA

A

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“ N Ã O G O S T O Q U E F A L E M D E M O D A C H A N E L . C H A N E L É A N T E S D E T U D O U M E S T I L O .

A M O D A S A I D E M O D A , O E S T I L O , J A M A I S ”

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Inauguração do ateliê na Rue

Cambon, em Paris

Primeira loja Deauville, à

beira do Canal da Mancha

Introduz o jérsei, tecido que só era usado em roupas íntimas, nas

coleções de alta-costura

A Maison Chanel é transferida e fixada,

definitivamente, no número 31 da

Rue Cambon Lançamento do Chanel no 5, o

perfume mais vendido do mundo

1910 1913 1916 1920:

1921

1 8 8 3 Nasce, em Saumur, Gabrielle Chanel

LINHA DO TEMPO

TALENTOS E AMORESGabrielle nasceu em 1883, em Saumur, e foi deixada em um orfanato pelo pai, logo

após a morte da mãe. Virou Coco de tanto cantar Qui Qu’a Vu Coco e ganhar o apelido carinhoso dos clientes que frequentavam o cabaré em que trabalhava. Quem assistiu ao filme sabe que a música fala de um passarinho chamado Coco.

Aos 20 anos, teve seu primeiro emprego relacionado à moda como vendedora em uma loja de acessórios, e logo começou a esgrimir a alfinetadas precisas e certeiras seu próprio caminho. Para ela, o luxo não tinha outra finalidade que não a de ressaltar a simplicidade, máxima que aplicava em todas as suas criações, a começar pelos cha-péus. “Eu era um bicho curioso, com um chapéu de palha sobre a cabeça e uma cabeça sobre os ombros”, disse sobre os pequenos canotiers, foram seu primeiro sucesso no mundo da moda. Outro marco foram as calças. “Essa constitui a mais espetacular das inovações de Chanel. É a ela que essa cópia do traje masculino deve todos os seus títulos de nobreza”, afirma a romancista francesa Edmonde Charle-Roux no livro A Era Chanel (Editora CosacNaify). O adereço era uma atração à parte nos encontros da alta sociedade nos hipódromos, que Coco Chanel frequentava acompanhando Étienne Balsan, um jovem de família renomada e nobre que lhe ofereceu uma vida em comum, mas não o casamento, motivo pelo qual ela era discriminada e considerada membro do demi-monde, termo cunhado pelo dramaturgo Alexandre Dumas Filho. Era uma casta que as despossuídas almejavam e as ricas temiam.

A capacidade de inventar moda tomou formas de negócio próprio na década de 1910, quando inaugurou sua primeira loja no balneário francês Deauville, com a ajuda do seu amante inglês e rico Arthur Capel. Ele também lhe deu apoio na abertura de seu ateliê no número 21 da Rue Cambon, em Paris, que mais tarde seria transferido para o número 31, onde está até hoje a Maison Chanel. Também são dela as primeiras roupas esportivas, inspiradas nas blusas de pescadores da Normandia, onde passava as férias, e em uniformes de trabalho em geral. Coco produzia as peças em tricô e jérsei, que até então só era usado em roupas de baixo e, na sequência, confeccionava roupas de banho, um traje abusadinho que ia até os joelhos e tinha mangas curtas (praticamente uma roupa de freira, se comparada aos ousados biquínis de agora).

Até 1933, Chanel não tinha nenhuma rival na moda, até que a Vogue decretou que uma das criações da estilista romana Elsa Schiaparelli, a italiana que inventou o rosa-choque, era o suéter do ano. Mas foi em 1947 que começou um período duro para a francesa. Por causa de sua relação com um oficial alemão durante a ocupação, foi detida (mas logo liberada) pela polícia, e decidiu fechar seu ateliê para se retirar, em exílio na Suíça. Em 1954, recomeçou a produção, seus vestidos voltaram a ser usados nas ruas e, no ano seguinte, já havia reconquistado a primazia. Voltou ao posto de rainha da moda dos 79 aos 88 anos, solitária, respeitada, orgulhosa e tirânica. Armada de uma grande tesoura amarrada à cintura ou ao pescoço, ela submetia suas modelos a intermináveis seções de provas e reparava cada ruga, cada detalhe de suas roupas com alfinetes até ficar satisfeita. Um perfeccionismo que se imortalizou mesmo após sua morte, aos 88 anos, na suíte do Hotel Ritz de Paris, onde morava. 52

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Lançamento da primeira

coleção de joias

Nasce o imortal vestido

pretinho básico

Primeira rival à altura, a

romana Elsa Schiaparelli confecciona suéteres que desbancam

a grife francesa

Chanel está no auge de sua

reputação

Em plena 2a Guerra Mundial,

após ser detida

e liberada pela polícia, Chanel decide fechar

o ateliê e partir para o exílio

na Suíça

Volta a produzir, mas seu desfile

não obtém grande sucesso

Reconquista a primazia e

volta a reinar no mundo da

moda, solitária e tirânica, dos 79 aos 88 anos

Nasce, em Saumur, Gabrielle Chanel

1924 1926 1933 1938 1945 1954 1955

Coco Chanel falece num domingo, dia da semana que dizia odiar 1 9 7 1

M U I TO M A I S E XC Ê N T R I C ODesde 1983, o alemão Karl Lagerfeld, chamado de “kaiser” da moda, é o diretor artístico da Maison Chanel. Suas coleções têm feito jus ao legado de Coco, mas o estilista tem as próprias excentricidades. Lagerfeld pretende inaugurar até 2014 a Isla Moda, projeto de ilha artificial que está sendo construída a 20 quilômetros de Dubai, pelo escritório de arquitetura Oppenheim e o grupo hoteleiro Kor. O complexo terá três hotéis de luxo, 150 vilas residenciais e uma série de butiques: tudo inspirado nos palácios da Índia e nos navios de cruzeiro.

Cena do filme Coco Avant

Chanel, com Audrey Tautou

Karl Lagerfeld: mãos de ferro na condução do império da Maisone