Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

download Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

of 21

Transcript of Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    1/21

    Os fuzis da Senhora Carrar

    Die Gewehre der Frau CarrarEscrita em 1937

    Traducao: Antonio Bulhces

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    2/21

    (aprovcitando uma ideia deJM. Synge)Colaboradora: M. Steffin ..

    PERSONAGENS

    TrmESA C A R R A n , MULHER DE PBSCADOl!.RA l'AZ , DE NOME JOSE , FIUIO MArS MOO;:O DE TERESAQpERAmo, DENOME PEDRO JAQUERAS , IRMAODE TERESAFrUtI[)Q: M A N u E L APADRESENfiOM PEREZ, IDosAPESCADORES 1 II 2MULHERS E CRIAN~ASA VOZ DO GENERAL

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    3/21

    Numa casa de pescadores na Andaluxia. A urn canto do apo-sen to, caiado debranco, umgrandecrucifixopreto. Teresa Carrar,mulher depescador,mdequarentona, estafaaendopdo.Pertoda[aneta aberia, seufilhoJose, umRapaz dequinze anos, talha ummoitdo. Troar de canh6es ao lange.MAE Nnda esta vendo 0barco deJuan?R AP AZ - E sto u.M A . E - E a Ianterna continua acesa?R,I J>AZ - Continua.lVUE- Nao tern nenhum outro barco perro?R.,\PAZ - Nenhum.PausaMAE- Multo me adrnira : par que ninguern mais sai iu?R;, l'AZ - A senhora sabe.MAE com paciencia - Se estou perguntando, e porque nao set .RAI'AZ - Nao saiu mais ninguem, alem deJuan, porque no momentaeles tern Dutra coisa a fazer , em vez de pegar peixe,MAE-Ah ...PausaR A P A Z - Juan tambem nao teria saido, se dependesse dele.M ," \E - E , nao depende dele.RApAZ olhando com mats impeto - Nao, mesmo.A mite poe a massa noforno, lava as maos e apanha a rede depesca para consertar.RAPAZ - Estou com fom e.

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    4/21

    16 Bertolt BrechtMAE E ainda nao quer que seu irmao v a pescar!RAPAZ- IS50 e uma coisa que en posse fazer, e 0 lugar deJuan e na

    linha de frente,MAE Pensei que VOte tarnbem quisesse i f " .Pausa.RAPAZ - Sera que as navios de mantimentos rompem 0 bloqueioIngles?~ 1A I. - De qualquer rnaneira, eu nao tenho mais farinha de trigo,depois desse pao que botei no torno.oRapaz fecha ajanela.M A.E - P ar que fcchou a janela?R"PAZ - Sao nove horas em ponto.i \ 1 AE - E dar?R A P A Z - A s nove horas aquele cachorro fala outra vez pelo radio e asPerez Iigam.MAE- Par favor, torne a abrir essa janela, imediatamente! Nao se venada corn essa luz aqui dentro eo reflexo nas vidracas.RAPA2- Eeu vou ficar aqui plantado, vigianda? Elenao vai fugir, nao!A senhora tem medo e de ele ir para a linha de frente.MAE- Nao seja malcriado! J a e amolacao bastantc eu ter de ficarvigiando as dois.RAPAZ - Que "dois"?MAli - Voce nao e melhor que 0 seu irmfio em nada: pior, talvez.R A P A Z - E l e s s b l i g a m 0 riidio por n o s s a causa.Ia e a t e r c e i r a n o i t e l Enontern vi que cscancarararn a janela 56para nos ouvirmos,

    Osfuzis da Senhora Carrar 17MAE Esses discursos nao sao diferentes daqueles que ouviamos emValencia.R A I 'A Z - Por que nao diz logo que sao melhores?MAE- Voce sabe que eu nao

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    5/21

    18 Bertolt Brecht

    O PER AR IO - Boa-noire!RAPAZ Tio Pedro!MAE- Que e que voce veio fazer aqui, Pedro? Estende-lhe a mao.RAPAZ - Vern de Motril, tio Pedro? Como e que estao as coisas por Hi?OPERARto Ah, nao vao m uito bern, nao . E voces?MAEcom reseroa - Vai-se indo,RAPAZ 0 senhor saiu de Iiihoje?O('ERAruO - Foi ,RApAZ - Sao quatro horns bern puxadas, nao?OPERARlo Mais do que Isso .p o rqu e as estradas e s t ao entupidas derefugiados que vao p~ra Almeria.RAPlIZ - EMotril continua resistindo?OFERAIUO - Eu nao sei como esuo as coisas ho]e. Ontern a noite ainda

    estavamos resist indo.RAPAZ Par que 0senhor saiu de la, entao?O PE RA ru o - P.recisamos de uma porcao de coisas, para a Iinha defrente. E el l pensei em vir visitar voces, mais uma vez..M A E - Quer urn gale de vinho? Vai buscar 0uinho. Dentro de meia

    bora te rn pao fresco.OPEIWuO - Eluan, onde esta?R APA Z - E sta pescando.QPERARIO - Verdade?R oU >A Z ~ Daqui da janela se pode ver a luz do barco dele!

    Os fuzts da Senhora Carrar 19MAll- A gente tern que viver.Ol'1UtAmo-Naturalmente. Ouvi avoz do General no radio; enquantocu vinha descendo a rua. Quem e que escuta radio, par aqui?IV .P AZ - Os Perez, ai defronte.( )I 'I \RAruo - Ligam sempre que h a coisas desse tipo?R....; .z- Nao, e nao sao franquistas; nao fazem iS50par gosto, se e 0que voce esta pensando.OI'f!RAIUO - Sim.MAl i ao Rapaz - Ainda consegue avistar seu irmao?RAPAZ uottando contrariado a janela - Pode ficar descansada: denao caiu do barco.o Operario apanha a botija de vinho e senta-se perto de Teresa,(lj,t~dando-a a remendar as redes.

    PElWuO - Que idade mesmo tern juan agora?MXE- Faz vinte e urn em setembro.O I 'E R A R Io - EJose?MAE- Voce te rn a lguma coisa em especial a fazer por aqui?Ol'EltAAIO - Nada em especial.MAE- J 1 " I faz tempo que nao aparecia,QpERAruo - Doi s anos.MAE- Como v al R os a?O I' ERAmO - Com reumatisroo.MA E- P e ns ei que viessem n o s v is it ar ,

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    6/21

    20 Bertolt Brecht

    QpE.RAruO Rosa ta lve z ficas se u rn pouco melindrada, depots doenterro do Carlos.A Mae ruu responde,QpER AR lo~ E1aachou que voces deviam te r avisado antes. E claro quenos gostariamos de estar presentes ao enterro do seu marido,Teresa!l \ 1 A E - Foi tudo t iio de repente ...OPEIWuO - Que foi que houve, afinal?A Mae nito responde.RAPAZ - Uma bala no pulrnao.OpRAr uo espantado - 0 que?MAE - "0 que", 0que?OPERAmo- Mas n.ao estava tudo calmo, POt aqui, dois anos atras?R A PA Z - Foi em Oviedo, a levante.OPERAAIO - E 0 que: que Carlos fazia em Oviedo?MAE- Tlnha ido para la .OPER! .. ruO - Poi-se embora daqui?RApAZ - Quando os jornais deram noticia do levante.MAilamarga - Assirn como outros partem para aAmerica, e arriscarntudo numa cartada so: como fazern os loucos!RApAZ leuantando-se - Esta querendo dizer que 0 pai era loucorEm silencio e com as mdos tremulas, Teresa poe de lade a rede esat do aposento.QPEWIO - Poi multo duro para eta, nao]R;M>AZ- Foi.

    Osfuzis da Senhora Carrar 21

    OPERARIO - Teve urn trauma, por nao tornar a ver seu pal?RApAZ-Ainda tornou a ver: devol tou. Mas isso foi 0pior de tudo. Ele

    chegou Licomo se hi nas Asturias 0 tivessern posto hum trern,de qualquer maneira, com uma atadura no peito, por baixo datunica, eo despachassem de volta. Teve defazer duas baldeacoes,e veio morrer aqui na estacao. De repente, uma noite, a portaabriu-se e as vizinhas entraram, como se estivessem trazendourn afogado, encostaram-se naparede, scm dizerem uma palavra,e cornecararn a balbuciar a ave-maria. Depois tronxerarn 0palenrolado nurna lana e estenderarn no chao. Desdeesse dta, am a e vive na igreja, Ebateu illporta na cara da professora, que sedizia umaesquerdista.OPEtiruo - Entiio agora ela ficou beata?RApAZ assentindo com a cabeca -Juan acredita que e principalmentepelo que 0pessoal da vizinhanca andou dizendo dela,OPEMRIO - E 0 que e que andaram dizcndo deb?RAPAZ - Que 0 pai tinha ida porque ela mandou.OP( .R}.R!O - E mandou mesmo?o Rapaz dli de ombros. A Mae retorna, olha 10 pao e senta-se denouo perto da rede.MAEao Operario, que Jaz rnenciio de cottar a afuda-la - Pode dei-xarl E melhor tomar 0seu vinho e descansar, jiique se levantoutao cedo.o Operario pega a botija de tnnho e senta-se de novo it mesa.M AE - Quer passar a noire aqui?OI'I]RA.RIO - Niio. Eunao tenho tanto tempo assim: preclso estar de

    volta hoje ainda, Quero s6 me lavar, Satpelos fundos.M.'fl li[azendo sinaiao Rapaz para seaproximar - Ele disse a voceo que veio fazerrRAPAz-Nao.

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    7/21

    22 Bertolt Breoht

    1 'I 1A E - Nao, mesmo?o Operarto reaparece com uma bacia e uma toalha, e iaua-se.1 'I 1 A E - Os velhos Lopez ainda estao vivos?OPERARIO- S6 0 marido.zto Rapaz- Poram muitos daqui para a linha

    de frente?RAP.-.z Ainda flcaram alguns.QpER .ARIO - Conosco, desta vez, foi ate uma porcao de catolicos

    praticantes.R A PA 2 - Alguns daqui tambem foram.QPERARIO - E todos tern fuzis?RAPAZ - Nao, nem todos.OPERAHIO - Isso e que e mau: os fuzis sao 0 que faz mais falta no

    momento. Aqui no povoado voces nao tern fuzisrMAE cortando a conuersa - Nao!.RAPAZ- Hi umas pessoas que esconderam osque tinham: enterraramno chao, como se fossem batatas.AMile olhajixamente para a Rapaz.OPElWUO - Sei...o Rapaz afasta-se vagamente da[anela e encaminha-se para 0lunda. .:roUE ~ Ao nde vailR A p A 2 - A Ingar n e n h u m .MAE- Vol te para a janelalo Rapaa: teima empear nofundo do aposento.OPEnA IUO - Que foi que houve?

    Osfuzis da Senhora Carrar 23

    MAE- Por que voce se afastou da janela] Me diga, vamos!OI'ERAluo- Hi alguem Ii fora?RAPAZ com ooz rouca - Nao.Ouuem-se fiifora oozes de criancas cacoando.VOZESpAS CRJAN~AS-

    Juan nao e um soldado,~ urn covarde consumado:Mete a eara com pavorDebaixo do cobertor.Na[aneta aparecem tres cabecas de criancas.

    C l! lA N r, ;: :A S - Uuuh! Saem correndo.MA . 1 i levanta-se e uai a janela - Se ell agarro voces, viio ficar com a

    bunda roxa de pancadal Seus moleques!Volta-se para dentro. Sao os Perez, de novo.Pausa.Orr:Riiluo- Voce gostava de jogar cartas.Tose: que tal uma par tsda?A Mae senta-se perto da janel.a. 0Rapaz traz 0baralho e as dotshomens comecam ajogar .OI'ERARlO - Trapaceando semprerRAI'AZ rindo - Eu jii trapaceei alguma vezrOI'mtARIo Me parecia. Entao eu vou cortar todas as vezes: asslm, vale

    tudo. Na guerra todos as truques sao validos, e au nao e ?AMae olha com desconfianca.R A pA 2 - Esse e 0 pior dos trunfos,OI'EMmo- Ainda bern que voce diz isso ... All, esai logo deas!Voce

    blefou, mas nao foi urn pouquinho cam' Desfez a sua a rtilha ri apesada, e agora eu entro com minhas bombinhas. Recolhe avaza. Venha a n6s! Audacia e uma coisa muito boa, men filho,e audacia voce tern, mas nao e prevenido:

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    8/21

    24 BertoltBrechtR ,t .P AZ - Quem nao arrisca, nao petisca.MAE Esse proverbio, de herdou: 0pal cosrumava dizer que "urnhomem perfeitoarrisca sernpre", Nao sei para que!OPERAr uO - 0 que se arrisca mesrno e a pele, Uma vez, Dam Miguelde Ferrante apostou setenta homens docampo, num jogo comurn coronel, Coitado: foi it ruina, e teve de se contentar com osdoze ernpregados que restararn, pelo testa da vida! - Mas elequer mesmo ficar scm 0valete de copas!RApAZ - Eunao podia jogar outra carta. Apanha a oaza. Era a mlnhaunica chance!MAE Eles sao rodos assim, 0 pai pulava do barco, em mergulho,quando a rede ficava presa . ..OPElWUO - Vaiver que ele nao tinha muitas cedes.MXE- Muitas vidas tambern de nao tinha.Aparece naporta um homem com 0uniforme da milicia, a cabecaenfaixada e um braco na tipota.M AE - Pablo, entre de uma vez!FERIDO - A senhora disse que eu podia voltar para 0 curative,MAE- Esse at jii. esta fora do lugar.Efa corre para osfundos da casa.OPEAAIUO - Onde foi que arranjou isso?FERIDO - Em Monte Solluve.A Mae reaparece trazendo uma camisa, que ela rasga em tiras, epoe-se a renouar 0 curatioo do Perido, mas sem tirar as ethos doOjJeriirio e do Rapaz, sentados a mesa.IvUE.- Voce andou trabalhando de novo, hein!FERIDO - se com 0 braco dlreito.

    Osfuzisda Senhora Carrar 25

    MAE Mas nao devia: nao foi por falta de aviso..FElUDO - Pois e . . .Dizem queesta noite van romper 0 bloqueio, Nossasreservas estao esgotadas. Sera que a esta hora ja romperam?OPElWllO intranquilo - Nao, eu nao creio: a artilharia ja se teriadesloeado, se fossc 0caso,FEIlI[)Q - Tern razao!MAE~ Estell machucando sell braco? Diga l Eu nao tenho diploma deenfermeira: estou fazendo 0rnelhor que posso.llA pA Z - Por Madri des nao passarn.FEIUDO ~ Isso ninguem sabe.IV.AZ - A gente sabe.PElUDO - Est i bern. Mas a senhora rasgou mais urna carnisa inte ira: nao

    devia ter feuo isso, senhora Carrar!MAE- Voce queria que ell fizesse 0 curative com um pano de chao?FEIllDO - Mas a senhora nao tern tantas carnisas assim.MAE - Enquanto tiver, terei. Mas para 0 sell outro braco eu nao sei

    como arranjar.FlmIDO ri - Bndio da proxima vez eu vou me culdar melhorl AoOperario, pondo-se de p e - Desde que des nao passern, essesdies! Sal.M AE - Ah, todos esses tiros de canhao!IV - .P AZ - Enos aqui , pescando ...Mil.r~-Deviarn dar-se por muito felizes de estarem ainda Inteiros, com

    seus braces e pernas!Ouuem-sefora, aumentando e diminuindo aopassarem, ruidos

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    9/21

    26 Bertolt Brecht

    de motores de caminhoese trechos de cantosmarciais. OOperarloeo Rapaz chegam a janela e espiam.Q pE R Ar uo - Sao as Brigadas Intemacionais: VaG set lancadas na frente

    de batalha agora em Motril,Ecoa 0 estribilho de "Thalrnannkokmne: DieHeimat is! ureit.: ".Q pE RA ru o - Sao os alernaes.Ouuem-se alguns compasses da "Marselhesa ".O P ER A R IO - Franceses."Varsoutana: rrO P ER A R IO - Os poloneses."Bandiera rossa.JIQ PE uA IU O - Italianos."Hold thefort: HOP E Il AR J O ~ Amer ic an os ."Loscuatro generales. "O PEIW uO - Eagora os nossoslBxtingue-se 0rumor de cantos e caminhoes. 0Operdrio e aRapazuoltam para a mesa.Q PE R Ar uO - Ho]e a noite e que tudo se decide. - Agora eu tenhomesmo que itandando. Jose, esta foi a ultima!M AEaproxima-se da mesa -Quem foi que saiu ganhando?RAPAZcom orgulho - ElelM A E ao Operario - E nt ao n ao quer que eu deixe a cama arrumada?O P ER AIu o - Nao: eu preciso ir embora, Mas continua sentado..M A E - De lembrancas a Rosa, e diga a ela para nao flcar zangada: a

    genre nao sabe 0que alnda pode acontecer,RAP AZ- E u vou com 0 t io ate ali adiante .. ,

    os fuzisda Senhora Carrar 27O J 'I lRA ru O - Nao e precise.A Mile, de p e , olha pela [anela;MAE - Voce nao gostaria de vee Juan?OPIOllhruO - Gostaria muito. Mas ele nao val voltar cedo, vai?M;'E-O barco dele esta longe dernals, Ii naaltura do cabo, Deixando

    ajanela. A gente podia rnandar chama-lo.Aparece aporta uma jovem: Manuela.RAI 'AZ - Salve, Manuela! Baixinho ao Operario - E a namorada deJuan. A jovem - Manuela, este e 0meu do Pedro!l \1 A NU E LA - EJuan, onde esta?M AE - Juan esta trabalhando.M,\NUF.LA - Pensamos que a senhora tivesse mandado Juan para 0

    jardim-de-infancia, jogar bola ...MAE- Nao. Ele foi pescar: Juan e pescador.MANUEL\. - Por que de nao foi a reuniao que tivemos no colegio?Ravia pescadores Hitambern.M AE - !E Ie n ao perdeu nada.RAPAZ - Que reuniao foi essa?MAmTELA - Foi para decidinnos que deveriarn seguir para a linha de

    frente, ainda esta noire, todos oshornens que pudessem afastar-se do povoado. Mas disso voces deviam saber: mandamosrecado para juan'

    RAP AZ- Im po ss ive ll S ena o, Juan nao teria ido pes carl Mae, a senhoradell 0recado a ele?AMiief ica emsilncio:parece inteiramente ocupadacom oforno .R AP A Z - Ela nao deu 00 recado a ele, pura e simplesmente! A Mae-Agora eu sei por que mandou Juan pes car!

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    10/21

    28 Bertoli BrechtQPEIWuO - Nao devia ter felto isso, Teresa.M\E. emperttgando-se - Deus deu a cada hornem urn oficio: meumho e pescadorlMANuElA - Asenhora esta querendo nos expor ao ridicule, perante

    o povoado inteiro? Sou apontada com 0 dedo, em qualquerIngar que vou, Eu ja fico doente , 56 de escutar 0nome de juan.Mas que especie de gente sao voces aqui?

    .M A E - Genre pobre: nos somas gente pobrelMANUELA - 0 Governo conVOCOl1 todos os hornens validos a pegarem

    em armas: nao val querer me dizer que a senhora njio leu isso!M AE - Li, sim. E Govemo pam ca e Governo pna Ii. Equem vai para

    omatadouro somas nos! Mas nao e par causa disso que euvoubotar meus mhos numa carreta e levar para 0magarefe, porminha l ivre e espontanea vontadelM A N u E L - \ . - Nio! Vai ficar esperando que des sejarn levados para 0

    rnuro de fuzilamento, Eununca vi uma bobagem tao grande!Par causa de genre como a senhora e que cstamos no ponte aque chegam os, e Urn porco como esse General Llano tern atopete de nos dizer 0 que diz.

    M AE fracamente ~ Nfo adrnito que me falern dessejeiro, dentro daminha casatMANuELAfora de si-Ji esta toda a favor dos Generals ...R"PAZ urnpouco impaciente - Nao: ela 56 nao quer que os mhos vaopara a guerra!Of'rrRARIO Entao q ue r f ic ar ne ut ra ?MAE- Ell sel que voces querem fazer da minha casa urn ninho de

    conspiradores. Enquanto naovirem]uanencostado noparedao,voces nao dao tregua!l\lt.NuElA- Eda senhora e que andararn dizendo que feztudo para verseu marido na guerra em Oviedo ...

    Osfuzis da senhora Carrar 29

    MAEbaixo - Calc essa boca! Eu nao fiz nada com rneu rnarido! Paraisso, nao! Seiqne falam de mim, mas e mentira: tudo nao pass ade rnentira sujal Todos sao testemunhas . .

    MANUElA - Mas nao e mal da senhora que falam, scnhora Carrar: tudoi5S0 e dito com 0 maier respeito, No povoado, todos nossabiamos que Carlos Carrar foi urnher6i. Masque ele tivesse desair a s escondidas, na calada da noire, isso Ii : 56 agora queestamos sabendo.

    R A PA Z - Manuela, meu pai nao saiu de casa a s escondidas, na caladada noite ...

    MAE- Cale essa boca , Jose!MANuEIA- Diga a seu filho que ell nao tenho mais nada a ver com ele.E que ele nao precisa se desviar, quando passar por mim, com

    medo de euperguntar por que e que de nao esta onde deveriaestar, Sat.

    OPEIWuO - Voce nao devia ter deixado essa root; ;a irembora assim: emoutros tempos, Teresa, voce nao adrnitiria.

    MAE- Eu souamesmadesempre. Provavelmente andaramapostandoque ainda haviam de convencer Juan a irpara a linha de frente.Eu, alias, ja ia mesmo busca-lo. Ou vai voce.Iose? Nao, flque: IOUmesma vou, Mas volto ja! Sai.OPERAlUO - Me diga uma coisa, Jose, voce que nao e nenhum bobo

    para a genre ter de explicar tudo: Onde e que cstao?R . ,\ l'A 2 - 0que?O PE RAR TO - O s fu zls !

    R A P A 2 - De meupai?QPERAIliO - Naturalmente ainda estao por aqui: denao poderia nem

    pegar 0rrem com tanta coisa, quando embarcou.R-\.PAZ- Foi 1S50 0 que a senhor veio bus car?

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    11/21

    30 Bertolt Brecht

    OPElWUO - Que outra coisa mais?R A PA Z~ A mae nfio vai entrega r: ela e scondeu tudo.OPERARIO - Onde?oRapaz aponta para um dos cantos. 0Operdrio leuanta-se efazmencao de dirigir-se para 0lugar indicado, quando ouue passos.OPERARIO uoltando a sentar-se rapidamente - Blco calado!AMite entra com0Padre dopouoado, umhomem altoeforte, coma batina muito surrada.PADRE - Boa-notre, Jose! Ao Operario - Boa-norte!M AE - Padre, este e meu irrniio: mota em Motril.PADRE - Prazer em conhece-lo.zi jtliie- Espero que possa me perdoar ,

    mas tenho mais urn favorzinho a lhe pcdir: sera que, arnanha aomeio-dla, pode passar em casa dos Turillos? E que as criancaseSlaO la sozinhas: a mae {oi encontrar-se com 0 marido na linhade frente.

    M A E - Isso eu posso fazer, com multo gosto.PADRE ao Operdrio - Que ventos 0 trazern por estas bandas? Ouvi

    dizer que as cornunicacfies de Motril para ca estao rnuitodificeis.

    QPElWuO - Por aqui, tudo vai na maior calma, e OU nao e?PADRl;: - Como? ... Ah, sim,MAE- Pedro, eu acho que 0Padre lhe fez urna pergunta: que foi quefez voce vir aqui?O P l1 R A R1 0 - Senti que fa era tempo de rever rninha irma.PADRE olhando aMiie, com animacdo ~ Foi muito born 0 senhor vi r

    agora visitar sua irma: ja deve ter percebido que as coisas paraela nao tern sldo facers.

    Osfuzis daSenhora Carrar 31

    OI'liRARIO - Espero que 0 senhor tenha ne la uma boa paroquiana .M'\~- Precisa tomar urn gole de vinho. 0 Padre fica cuidando dos

    filhos, quando os pais vao para a Iinha de frcnte. Vai ver quepassou 0dia todo correndo de urn lado para outro, Ojerece aoPadre urn capo de uinho.

    P!\J)HE sentando-se epegando a botija - Eus6 querta saber quem eque vai consert ar rneus sapa tos,Neste momenta comeca a ouuir-se de novo 0radio dos Perez. A

    M I :7 eJaz mem;lio defechar a[aneta.P AD nE ~ Pode deixar a janela aberta, senhora Carrar! Elcs me viramentrar aqui. Detestam-me por eu nao tel' ido pant ,LS barricadas,

    e de vez em quando me agridem com urn desscs discursos.OPERAIUO - Isso 0 incomoda muito?l'i\DRE- Para ser franco, me incornoda, sim. Mas pode deixar a [anela

    aberta.Voz DO GENERAL - ... mas jii conhecemos bern a especie de mentiras

    com que certas pessoas procuram infamar a causa nacional.Talvez ao Arcebispo de Canterburynos nao paguemos tao berncomo os vermelhos, mas em compensacao poderiamos dar aele os nornes de dez mil sacerdotes a quem os seusqueridosamigos cortararn a garganta. A esse cavalheiro, embora na otenhamos nenhum cheque a dar, temos a dar a noticia de queo Exercito Nacionalista, ern sen avanco vitorioso, jitern deparadocom grande numero de obuses efartos cunhetes deannamento,mas ate agora ainda nao encontrou nem sinal de nenhumsacerdote vivo!() Operario estende urn maco de cigarros ao Padre, que tira um,

    sorrindo, embora ndofume.VOZDO GllNERAL- Fel izmente, para veneer, a causa justa nao depende

    cia. ajuda dos senhores arcebispos, enquaruo puder dispor deboos avioes, Homens como 0General Franco, 0General Mola . ..A trradiacdo e interrompida bruscamente.

    PADRE beneuolente -Gra~asa Deus , nem osPerez conseguern supor tar

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    12/21

    32 Bertolt Brecht

    mais de duas ou tres frases! Creio que discursos desse tipo naopodemcausar boa impressao.

    OPERAruo- Mas, mesrno assim, ja ouvimos dizer que 0 proprioVaticano tadifundlr sernelhantes mentiras pelo mundo inteiro,PADRli- Isso eunao sei.Desconsolado. Tenho para mim que nao eabea Igreja dar 0prero por branco e0branco POt preto.OPERAruoolhando para 0Rapaz - Claro que nao ..MAEcortando a con versa - Padre, meu irmao e da milicialPADRE - Emque setor de combaterQ PE R A. Il. lO - Malaga.PADRE - A coisa Ii esta feia, nfio esta?o Oper.ario fuma, sent. responder.M\E-Men irrnao nao me considera urna boa espanhola: ele acha que

    eu devia deixar Juan Ir para a lmha de frente,R A P A Z - E l l tambem acho: 0nosso Ingar e l a !PADRE - A senhora Carrar sabe multo bern que eu, em s a e perfeitaconsclencia, julgo a sua atitude perfeitamente justa. Em muitas

    regioes 0 baixo-clero da apoio ao Governo constituido. Dasdezoito dioceses de Bilbao, dezessere pronunciaram-se a favordo Governo. Nao sao poucos as mens colegas de batina quemarcharam para aIinha de frente. Ealguns jii tombaram naluta,Mas en naa sou um combatente, de jcito nenhurn, Deus nao meconcedeu 0 dom de conclamar meus paroquianos, alto e bornsorn, a. lutarem POf uma . ..procura apalaura - por uma causa,seja ela qual for . Para mirn prevalece apalavra de Nosso Senhor:"Nao matarasl", Eundo sou rico, nao SOlI dono de mosteiro, ereparto com meuscornpanhetros 0 POllCO que pOSSllO: essatalvez seja a unica coisa capaz de dar afgurn valor a s rninhaspalavras,

    Os fuzis da Senhora Carr ar 33o I'EHAmo-Naa hit duvida. A questao e saber se a senhor nao e mesrnourn combatente. Espero que me entenda. Se, par exemplo, urnhomem vai ser marta eprocura dcfender-se.e 0senhor segura

    o brace dele dizendo "nao mataras", perrnitindo que 0sangremcomo a um frango, ai talvez 0 scnhor esteja tambem tornandoparte na luta, quero dizcr, a sua maneira. erda que pode meperdoar par falar assim,

    ('AUKE Por enquanto, e na ferne s6 que eu tomo parte.OI'ElW:tlO - Ed e que modo imagina que voltaremos a t el" 0 pao BOS:50

    de cada dia, qne 0 senhor pede no padre-nosso?Pi\I)J lJ : : Isso eu nao sei: e ll so p os s e c pedir,() PEB, \RlO - Entao talvcz interesse ao sen hot saber par que motivo,onrern de noire, Deus fez as navies de mantrmentos darernmeta-volta,ItAI'A/' -v Isso e verdade? - Mae, as navies derarn rncia-voltall )I'Ff!,IH.lO - Pois e: e a neutralidadc. Incisiuo. Eo senhor, rambem eneutrorPAf)fU' - Que quer dizer?Oi'liIlARIO - E isto rnesmo: partidario da nao-Iruervencaol E, sendo

    pela nao-interveracao, admire, no fundo, todo esse banho elesangue ern que as Senhores Generaisvem mergulhando 0povoespanhol.

    PAllluilevando asmaos a altura dacabeca,num gestodefensiuo=.Isso eu nao admito:()l'lmAll.lUJi'tando-o com os othos semicerrados-: Fique urn instanceassirn com as rnaos para. 0alto: ncssa mesrna posicao, cinco mil

    das nossos homens tiveram de sair de casa, durante 0cerco eleBadajoz, e nessa mesma posicao foram abatidos a tiros.

    MM:- Pedro, como e que voce pode dizer urna coisa dcssasr

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    13/21

    34 Bertolt Brecht

    OPE!WuO~ 0 que eu acho cur ioso, Teresa, e a posicao dessas pessoas,que nao admitcm sertao grotescamente parecidacom a poslcaode quem capitula. Euja li, muitas vezes, que aspessoas que naoquerern assumir nenhuma culpa acabarn lavando as maos embac ias de sangue . E esse sangue, depois bem que se vE nas maosl

    lliE- Pedro!PADRE - Pode deixar, senhora Carrar: OS animos andam quentes nosdias de hoje. Depois que tudo passar, nos todos voltarernos a

    raciocinar com calma.OPERAmo Pensei que iamos se r va rridos da face da terra, por sermosuma gente perversa ...PADRE - Quem disse isso?OPERAruo 0 General do radio. Nao escutou, ainda hii pouco? Ah, 0

    senhor ouve multo pouco 0radio!PADRE desdenhoso - Ora, esse General .._OPERARlO Nao diga "ora, esse General", porque , pa ra nos varre r da

    face da terra, "esse General '; reuniu toda a escoria da Espanha,sem War nos mercenaries mouros, I tal ianos e alemaeslMAE Tarnbern e urna vergonha trazerem para di essa gente que fazguerra por dinheiro.PADRE - Mas voces nao acredltam que tambem do outre lado possahaver genre honesta e convicta?Q PE R A R lo - Eu s6 sc i que espec ie de conviccao e essa,Pausa.PADRE consultando 0 relogio - Eu ainda vou passar na casa dos

    Turiillos.OPERARiO 0 senhor nao aeha que a Camara dos Deputados, onde 0Governo tinha maioria, foi eleita legal c honestamentei

    Osfuzts da SenhoraCarrar 35I 1 1 1 1 1 Crclo que sim.I II'I UAIlIO Quando eu falava, ainda h a pouco, de urn hom em que sc

    Ih-Iende e a quem seguram os braces, na o era urn simples jogo,It palavras: Iiteralmente euestava dizendo que no s nao temosII,H.Ia alern dos nossos bracos nus.;

    1 '1 1II11',-rompendo-N1io r e comec e com is so , qu e nao faz ne nhu mr-ntklo.

    I' \1,III Os hornens nascerarn de braces nus, como todos sabemos.() Criador nao as fez sairem do ventre materno com armas nas111:105. Euconheco a doutrina de que toda a miseria do mundorcsulta de que os pescadores e operarios - acho que 0senhorr operario - s6 disp6em dos braces nus para lutarern pelasubsistencia, Mas em nenhuma parte das Sagradas Escriturasronsta que este seja urn mundo de perfeicao. Ao contrario: ereplete de miseria, pecado e opressao. Feliz de quem, ernbora.1 contragosto, foi posto neste mundo sern armas nas maos, epock sair dele scm ter posto as maos em nenhuma armal

    , " l" UAIII{) - Muito bern dito! Eu nao tenho nada contra asfrases quesoam tao bern: 56 que ria que elas causassem alguma impressao:10General franco. Mas 0 pior e que 0 General Franco esta ai,urmado ate os dentes, sem a rnenor Intenciio de sair destemundo. Se ele saisse, n6s Irnediatamcntc jogariamos fora todasus arrnas da Espanha. Hojc mesmo os aviadorcs dele jogaramuns volantes em cima de Motril, e eu apanhei urn no meio darun.

    f J 1)/}/'r/n-iotira do bolso urn papel, que 0Padre, a Mae e 0Rapaz, I ron tnam.It I\I'AZ c)Mile - Veja 56: e les aqui tornam a dizer que vao arrasar tudo!MAl' tendo - Absolutamente, nao podem fazer isso!( )1'!' IlARO - Podem, sirn. Padre, 0 que e que 0 senhor acha?It ! ' ' '' '. ~ E entao?

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    14/21

    36 Bertolt Brecht

    PADRE hesitante - Imagine que tecnicarnente talvez estejam emcondicoes de fazer isso. Mas, se entendi bem 0que a senhoraCarrar quis dizer, para ela nao e 56uma questao de avioes. Numpanfleto assirneles podemfazerameacas, para abrir osolhos dopovo sabre a gravidade da situacao: mas dai a executaremrnihtarmente as ameacas vai uma grande distancia,

    OPERAluo - Eunaa entendi bern.RAPAZ - Nem eu .PADRF.aindamais hesitante - Enacho que falei com bastante clareza ...Qp'ERAillo-.M suas frases sao claras, mas 0 que nao flcou muito claropara Jose e para mirn foi 0 que 0 senhor queria dizer: acha,

    entao, que nao van nos bombardear?Pequena pausaPADRE - Acho que e apenas urna ameaca,OPEIWUO - Que nao sera executada?PADRE-Nao.

    MAE- Pelo que en Ii, 0 que des querern justamente e evitarderramarnento desangue, epar Issonos previnern para nao nosIevantarrnos contra eles.RAPAZ - Generais querendo evitar derramamento de sangue?MAE estendendo 0panfleto ao Rapaz - Aqui esta escri to : quem

    depuser as armas, sera poupado.OPERARIO - 56 quero perguntar mais uma coisa, Padre: 0 senhoracredita que eles vao poupar quem depuser as armas?PADRE olhando em volta desamparado - Q que se dlz e que 0General Franco sernpre repete que e um born cristae.OPERARJO - 1s50 quer dizer que ele vai cumprir a promessa?

    Os fuzls da Senhora Carrar

    PADRE ueemente - Tern de cumprir , senhor Pedro!MAE Assim, a quem nao lutar , nada podera acontecer .OPElwno - Senhor Padre ...Descutpando-se. Nao sci como sechama ...PA[)RIl- Francisco.QpERAruocontinuando- ...Francisco, 0 que eu gostaria desaber naoe a sua opintao sabre 0 que 0General Franco pode ou devefazer, mas sim0que na sua opiniao ele vai fazcr realmente. Estaentendendo a minha pergunta?PADRE - Estou,OI'ERARlO - Entende que eu lhe faco essa pergunta como homem deCristo que 0senhor e , au, melhor dizendo, como urn homemque nao e dono de mosteiro, como frisou hi poueo, e que esta

    pronto a dizer a verdade, ainda em caso de vida au de morte.Pais disso e que se trata, nao e mesmo?PADRE mutto inquieto - Eu compreendo 0 que quer dizer,OI'f;lWuO - Talvez eu possa ajudar 0 senhor a responder, Iembrandoao senhor 0que aconteceu em Malaga.l'ADRIi- Eu sei onde quer chegar, Mastern certeza de que em Malaganao houve resistencia? .OPIlt.\HIO - 0 senhor sabia que clnquenta mil homens, mulheres e

    criancas, que iarn fugindo, foram ceifados pelos canh6es dosnavies e pelas bombas e metralhadoras das esquadrilhas aereasde Franco, ao longo dos duzentos e vinre quilometros daestrada para Almeria?

    P/l .Dnl l - Pode ter sido uma noticia falsa .( )1'llIlARro - Como aquela dos padres fuzilados?I 'A l) IIH - Como aquela dos padres fuzilados,

    37

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    15/21

    Bertolt Brecht

    !)I'I' IC;'II II) - Tambem nao forarn mottos as ctnquenta mil?(J Pmtre mantem-se calado.( )I'I'I(;\IIIU- Asenhora Carrar e os mhos nao levant am run dedo contrao General Franco, Sendo assim, a senhora Carrar e as filhos

    cstiloem seguranca>I 'AIWI' ~ A[ulgar com a humanidade ...'}I'EltI\RIO - A julgar com a humanidade, como?'PAI}lll: afttto - Que garantia senhor quer que eu lhe de?Ol' fCRARIO - Nenhuma. Eu quero apenas a sua opiniao: a seuhora

    Carrar e as filhos dela estao em seguranca?() Padre silencia.QPERARIO - Acho que ja respondeu, 0 senhor e honesto.PADRE leuantando-seperturbado - Entao, senhora Carrar, possso

    concar com a senhora, para ir ver as criancas dos Turillos?Mi\l: igualmente perplexa - Vou sirn, eleva alguma coii.sapara elascomerem. Muito grata pela sua visita!o Padre retira-se cumprimentando com urn gesto de cabeca 0Opera rio e 0Rapaz; a Mile sat eom ele.RAPAZ - 0 que0 senhordisse agora e a queela deve estar cansada de

    ouvir ... Nao v a embora sern as fuzis!OI'EIII\RIO- Dcpressal Onde e que estao?I)lrlgenNe para lunda do aposeruo, afastam uma areaeleuantam(I(fl.umas tabuas do assoatho.IV.' AZ - Mas ela ja vern ail( )I'I.nAmo- A genre poe os fuzis do lado de fora da janela, e na saida

    en upanho,Tlrnm apressadamente os fuxis de urn caixote de madeira,dl'/.\"rll/"o cair no chilo uma pequena bandeira putda em que".~"lflf//JI enrolados.

    Os Iuzts da Senhora Carrar ')

    RApAZ - Abandeirinha e daqueles tempos! 0 que me esparua t'vel'o senhor ai sentado, com tanta calma, quando a pressa (: laogrande.

    OPERARIO - Eutinha de levar este arsenal!Osdots experimentam osfuzis, uendo sejuncionam. Derepente 0'Rapaz tira do bolso urn barrete da milicia e 0}Joe na cabeca;triunfante.OPERAruo Onde foi que arranjou esse barrete?R A PA Z - Fiz lima troca,o Rapaz Zanga urn olhar receoso em direrilo a porta e torna aenJiar no bolso a barrete: aMae acaba de uoltar.l \ 1 AE - Podern deixar esses fuzis onde estavaml Foi para isso, entao,

    que voce veio?OPilR.WO- FOi, Teresa: 11I.6sreclsamosrnnitol Nao podemosenfrentaras Generals com as maos vazias,RAI'AZ M a e , a senhora ouviu do proprio Padre como e que estao as

    cotsas,MAE Se veio s6 por causa dos fuzis , nao precisa ficar mais esperando:nao vai adiantarl Esc nao podem nos deixar em paz, em nossa

    casa, pego rneus filhos e von-me embora daqui!O P E R A R ro - Teresa, voce f a viu nosso pais no mapa? Tern 0 feitio deurn prate quebrado. Na rachadura estao as aguas do mar, e nabeira do prato esta a artilharia: sabre nossas cabecas voam os

    bornbardeiros, Voce quer ir para onde, a nao scr para aboca doscanhoes?A Mile aproxima-se do Openlrio, arranca-lhe osfuzis das maos e

    fica com eles nos braces.M A E - Estes fuzis voce nao leva, Pedro!RAPAZ Mae, deixe 0tio Ievar: eles aqui so estao se enferrujandolMAE- Jose, cale essa boca! Que e que voce entendc dessas cotsasr

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    16/21

    Berton Brecbt

    oO/)erarlo retorna calmamente a sua cadeira, senta-se e acendeum cigarro.QpERARIO - Teresa, voce ndo tern direito de esconder os finis doCarlos.MAEmbrulhando osJuzis - Com direito ou sern direito, a voces enniio entrego! Nao tern cabimento voces virem aqui levantar 0

    rneu assoalho para tirar qualquer coisa contra ammha vontade.QI'ERAR10 - Nao se trata de qualquer coisa que pertenca a sua casa,Na presenca de seu filho eo nao quem dizer 0 que estoupensando de voce, nem 0que estaria pensando a seu marido:ele era um hornem de luta. Imagino que voce perdeu a cabeca,

    ternendo par seus filhos. Mase claro que nao vamos entrarnesse tipo de considcracoes ...M A E - Que esta querendo dizer?QPElWuO - Estou dizendo que scm as fuzis eu nao saio daqui: disso,

    VOce pode ter certeza.MAn- S o se passar par cima do meu cadaver!QI'ERARJO - Nao vou passar: nilo sou 0 General Franco. S6 quero teruma conversa com juan, depots ell vou e levo os fuzis . .M AE incisiua - Juan nao volta tao eedo.R AP A/'. - Foi a senhora mesrna quem chamou!Mi lo l linctstua _ Nao chamei, nada! E nao qu ero que elc veja voce,Pedro,OI'EHAH10- toque ell estava pensando. Mas eu tambern tenho voz,

    posse if ale it beira-mar e gritar para de voltar. Uma frase e 0hustantc: ell conheco 0 juan. Ele nao e nenhum covarde,Tt :1'C:;:I, nun voce val poder irnpedir.

    RAPAZ - Tarnhem vou Com voces.

    Osfuzls da Senhora Carrar

    !vIAEcommuita calma- Deixe meusfllhos em paz, Pedrol Eu jii dtss -a eles que me enforce, sc des forern: sci que isso, aos olhos dDeus, e urn pecado que leva it danacao eterna. Masell nao tenhooutra coisa afazer. Quando Carlos morreu, daquele jeito, eu fuiprocurar 0Padre; nao fosse isso, eu ja me teria enforcadonaquela ocaslao. En tinha plena consciencia da rninha culpa,embora a dele fosse maier, COm aquele temperamento e aquelapropensao para a violencia. Esta vida nao e assim tao boa, esuporta- Ia a s vezes nio e facil. Mas fuzis nao resolvern: foi 0queeu percebi, quando trouxeram 0corpo de Carlos e0puseramdeitado at no chao. Nan sou partidaria dos Generals, e e umainfamia dizcrem isso de mim, Masse eu souber dorninar mcusimpulses, talvez des nos poupern: e urn simples calculo, e a quecu peco e bern pouco. Nunca rnais quem ver esta bandeira:amarguras, nos j i i . temos de sabra!Em silencio encaminha-se para a pequena bandeira, pega-a erasga-a. Logo em seguida, abaixa, recolhe ospedacos rasgados e

    guarda-os no balsa.QPErWuO - Teria side melhor voce se enforcar, Teresa.Batem a porta, e entra a Senhora Perez: uma senhora idosa,uestida depreto.RAPAZ ao Operario - Iia Senhora Perez.QPlillAruO a meta voz _ Que especie de genre e ?RAPAZ- Boa genre. Eaquela que liga 0 radio. Afilha dela tomball na

    linha de frente, na semana passada,SI' .NHORA PEREZ _ Sabe? Eu s6 estava esperando ate ver 0 Padre sair,

    Estava mesmo querendo falar com a senhora sobre 0 rneupessoal: eu queria Ihe dizer que nao acho direito criaremdiflculdades para a senhora por causa dos seus pontos de vista.A Maefica em stlencio.

    SEN110RA PEREZ que ja se sentou _.A senhora terne e pelos seus filhos,senhora Carrar, Aspessoas nem sempre imaginam como edificil criar os filhos, nos dias de hoje. Volta-se urn pouco paraoOperdrio,aquem nao tinhasido apresentada. Agora, depots

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    17/21

    Bertolt Brechtda motte de Inez, nao me restam tantos. Dais nao foram alemdos cinco anos: perdinos anos da fome de 1898e 1899. Andres,eu nem sci onde esta: a ultima carta que mandou foi do Rio deJaneiro, HinaAmerica do Sul.Mariana esta emMadri, sempre sequeixando; ela nunca foi rnuito forte. Nos, as velhos, sernpreImagiuamos que tudo quanta vern depots e mesrno urn poucomais fragil,

    MAE- Mas a senhora ainda tem a Fernando.SENHORA. P ER E Z - E .. M A E ernbaracada - Perdao! Eunao quis magoar a senhora,SFmIORA PEREZ calma - Nao precis a pedir desculpas: en sei que naofalou par maLR A P A Z baixinho aoOperdrio - E 0 filho dela que esta com Franco.SENHORA PEREZfirme - Nos nunca mais falamos em Fernando. Depotsde uma pausa breve. Sabel Asenhora nao podera compreenderbern minha familia, se nao levar em consideracao que, alern desentir muito, nos lamentamos profundamente a perda de Inez.MAf1 De Inez, todos nos gostavamos. Au Operario - Foi ela queensinou Juan a ler.RAPAZ - E a mim tambem,SENIIORA Penez - Andarn dizendo por ai que asenhora e do ourro lado,mas eu desminto isso sempre. Nos sabernos multo bern qual e

    a difcrcnca que existe entre ricos e pobres.M AE - Eu naa desejo que meus fllhos sejam soldados: des nao saogada para 0matadouro.SENHORA P E R EZ - Sabe, senhora Carrar? E 0 que eu digo sempre: paraquem Ii : pobre, nilohi seguranea algurna na vida. Quero dizer:

    no s somas sernpre as que apanham, de urn jeito ou de outro. Ea esses, que apanharn sernpre, e que dao 0nome de pobres, E

    Os fuzis da Senhora Carraraos pobres nao hiprudencia que salve, senhora Carrar, Anoss ..Inez sempre foi a rnais cautelosa de todos as nossos fllhos: asenhora nao calcula 0 que men marido precisou fazer paraensina-la a nadar!

    MAE- Ache que ainda poderia estar viva.5ENHORA PEREZ - Mas como?MAE- Par que e que tinha a sua 111ha, que era professora, deempunhar urn fuzil e ir lutar contra os Generals?OIEIWtIO- Que alias sao financiados ate par Sua Santidade 0 Papa!S~NHORA PEREZ - Ela dizia que pretendia continuar como professora,MAE.-E nao poderia contlnuar na escola dela , em Miilaga, fosse qualfosse 0General. que entrasse ou saisserSENHORA PEREZ - Nos conversamos muito aesse respeito. 0 pai abriumao do fumo durante sere anos, e por sete anos os irrnaos naopuseram na boca nem urna gota de leite, para ela se formarprofessora, Masagora Inez dizia que nao via jeito de ensinar quedois mais dois sao cinco e que 0General Franco e urn enviadode Deus.Mil.I'.-Se]uan viesse me dizer que com os Generals denao tlnha maisjeito de pes ear, eu saberia abrir os olhos dele. A scnhora aehaque as que nos explorarn vao deixar de nos arrancar apele, se

    no s nos Iivrannos desses Generais?O I'f:uA_IU O- Eu acho que, se no s t ivermos fuzis, vai set muito rnais

    dificil para eles.MAE Fuzis, sempre fuzis! E tiroteio, sernpre!()l'I'Uii.RJ{) - Quem foi que falou nisso? Seurn tubarao ataca e voce sedefende, e voce quem recorre a violencia? Fomos nos quemarcharnos sabre Madri ou foi 0General Mola que atravessouas montanhas para nos agredir? Durante dots anos houve urn

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    18/21

    Bertolt Brecht

    pouco de luz, uma luz fraquinha, que nao era ainda a crepusculo:mas agora querern que se faca a noire de novo.E nem isso!Deagora em diante, asprofessor asnao van mats poder ensinar ascriancas que dais e dois sao quatro, e asque ousarern dizer iS50hao de ser extcrminadas, Voce nao escutou 0 homem dizcr,esta noite mcsmo, que vamos ser varridos da face da term?

    M AE - S6 os que pegarem em armas, Cornigo voces nao devem falarassim: eu nao posso discutir com voces todos Mens filhos meolham como se eu fosse dapolicia, Se :I, lata de farinha de trigofica vazia, eo posso ler na cara deles que a culpa e minha, Eseos avioes vern nos bombardear, eles olharn para 0outro Iado,como se aquilo fosse par ordem minha, Por que e que 0Padrefica mudo, quando deveria dizer qualquer coisa? Pensam quefiquei rnaluca, por acreditar que osGenerals sao seres humanos:multo maus, sim, mas nao sao nenhum terremoto com quemnao sepode argumentart Ea Senhora Perez, por que e que ficaatsentada em minha sala a me dizer uma porcao de coisas? Estapensando que eu nao sel de tudo 0que vern me dizer? Sca suafilha esta morta, agora e a vez dos meus: nao e isso 0 que asenhora quer? Asenhora invade aminha casa, como sefosse urncobrador de impastos: mas eu jipaguei a minha cora,SENHORA PEREZ ieoanta-se - Senhora Carrar, ell nao que ria provo cara sua colera. Nao compartilho da opiniao de meu marido, deque se deve forcar asenhora afazer alguma coisa, N6s tinharnoso senhor sell rnarido em muiro born conceiro, e eu queria pcdira senhora para dcscul par osaborreclmentos que 0meu pessoallhe da,Retira-se a Senhora Perez, com urn cumprimento de cabeca aoOperario e ao Rapaz.Pausa.MAE 0 pior, e que, com tanta insistencia, acabam levando a gentea dizer, em voz alta, coisas que nern estavam sendo pensadas.Eunao tenho nada contra Inez, absolutamente.OI'EItARIO furioso - Voce esta contra Inez, siml Apartir do momentaque nao fez nada par ela, ficou contra elatVoce tambem diz queniiocstficom osGenerals, e isso tambem nao e verdade: a partir

    05 finis da Senhora Carrar

    do momento que nao ajuda anos, esta ajudando a des! Neurravoce nao pode continuar, Teresa!RAPAZ dirigindo-se de repente a ftfiie - Vamos, mae! Is to nao valenada para a senhoral Ao Operario - Ela agora esta sentada emcirna da caixa dos fuzis, para n6s nao podermos apanha-los . ..

    Desista, Mae!M AE - Ora, J o s e : cresca e apareca!RAI'AZ - Mae, eu quem ir com 0 tio Pedro! Nao quero ficar aquiesperando que nos venham sangrar como pore os. A senhorame proibiu de fumar, mas nao vat me proibir de Iutar l Fel ipe,que nao faznem ametade doque enfaco com uma pedra, ja estan a ; e Andres, que e urn ano mais moco que eu, ja tomballIutando. Nao quero ser motive de rtso do povoado inteiro.MAE- E , eu sei, Ate0Pablo, tao pequenino, chegou a dizer que dav ao coelho dele, morto, a urn rnotorista de caminhao, selevassepara a Iinha de frente: ridiculol()I'mtAlUO - Ridiculo, nao!RAI'AZ - Diga ao Eruesto Turillo que ele pode ficar com 0 meubarquinho ..- Vamos Tio Pedro! Pax mencdo de sair.MAll- Voce fica!IIAI'AZ- Nao, eu voul Asenhora podc dizer que prccisa de Juan, masde mim tambem nao prccisa .MAE-Nao,eparamedarpeiXe que euprecise deJuan. Eel! nao queroque voce va, tambernt Correpara ele e 0abraca fortemente.Voce pode fumar quando quiser: e se quiser pescar sozinho,pode ir: pode ir ate no barco do seu pai, que eu nao vou dizernadal

    Mi\H - Naol Voce fica aqui!

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    19/21

    6 Bertolt Brecht

    RAPAZ escapuiindo - Eu ja estou indo!! Tio, os fuzis, depressa!MAE -Ai!AMae solta 0Rapaz e anda mancando, mal pousando no chaoum dos pes.RMAZ - 0 que e que a senhora tern?MAE- Que irn porta a voce 0que eu tenho? V i, de um a vez! Sua mae,pelo rnenos, voce jivenceu,RAPAZdesconfiado - E ll nao fiz nada. A senhora na o tern co i sanenhuma!MilE massageando o r e - Nao tenho nada. Va-se em bora deuma veztOPERARIO - Nao quer que eu ponha 0 s ell pe no lugarrM.:{E - Nao, Va embora! Saia da minha casal Voce insuflou meus

    mhos, para os dois se lancarern contra mim?RAPAZom raiua - Ora, e fui eu que me lancei contra ela!Pulido decotera; dirige-se aofundo doaposento.MAE- Voce quer se tom ar urn criminosol Par que nao me roubarndo fomo 0ultimo pao ? Podem ate me amarrar na cadeira com

    uma corda: voces agora sao dois!QPER. tOOO - Chega de comedia , sim?MAEJuan e louco, tarnbem, mas nunca seria capaz de uma violenciacontra apropria mae! Eleval dar uma 1i~ao a voces dois quando

    chegar, Juan!Leuanta-se de repente, como que tomada de um pressentimento,e corre a janela: esquece-se de man car, eo Rapaz aponta para ospe s dela, indignado.Hi\I',"v. - Num Instante ficou boa do pelMAE olliando para fora, subitamente - Nao sel, eu nao vejo mais a

    luntcrna dcJuan!

    as fuzis da Senhora Carrar

    I t A I . . ..Z rabugento - Como e que ela nao ia estar mais Ii?M Al! - Q fato e que ela nao esta mais Ii!() rapaz chega a fanela e olha para fora.It,,,,,,,zao Operario, com uma voz de espanto - Nao esta, rne sm o! D a1 1 1 1 imavcz estava liIonge, perto do cabo. Vou dar uma corrida e saberIIque hit. Sai a s pressas.(ll'lm;'R"[O - Talvez j i i : esteja voltando.MAE - Se e le estivesse vol tando, a lante rna seria vista.{'I'HlAIUO - 0 que e que pode tee acontecldo!M A E - Ah, ell ja sei: ela foi hi charnar poe de!( )I 'I lI {ARIO - Quem? A moca? Claro que nio!MAE - E sim, foram busca-lol Em crescente irritacao. Era urn plano,

    que puseram em pratical Mandaram aqui urn, depots outro, atarde toda, para eu nao poder tomar conta! Assassinosl Saotodos assassinos!()!'!!IlAmo meio brincalhao, meio zangado - 0 Padre, pelo rnenos,nao veio aqui a mandu de ninguemlMAil - Nao sossegam enquanto nao arrastarern todos!( )I '"EltAIl lO - Nao esta querendo dizer que ele foi para l inha de frente,

    e s t a ?

    M i\.E - S ao os assassinos dele, mas de tambem nao e melhor que osoutrosl Eisto se faz:sair assim a s escondidas, na calada da noite?Nao quero que apareca mats na minha frente!

    OPEI tARIO - Teresa, eu nao entendo mais voce, Niioest a percebendoque nao pode fazer a demaior mal do que tentando impedirque entre na luta? Ele jamais lhe sera gra to por issol

    47

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    20/21

    4 8 Bertolt BrechtMAEeomo que distraida - Nao foi por mim que eu dlsse a ele que

    nao devia lutar .OPERARIO - Nao se trat a de lutar par nos, Teresa; quem nao faz a nossa

    luta faz a {uta dos Generais,MAE- Se ele foi capaz de fazer isso comigo e i r se ali st ar na mi li cia ,amaldicoado seja: Tornara que 0acertem com as bornbas dos

    avioesl Tomara que 0esrnaguern com os tanques! Para ele verque Deus nao gosta de pouco caso, e que gente pobre nao podefazer nada contra osGenerals. Eunao trouxe ele ao mundo paratocaiar as sernelhantes arras de urna metralhadora. Seh a injusticano mundo, eu nao ensinci fi lho meu atomar parte nela , Ese demeaparecer de volta , eunao abro aporta , nem que me diga quevenceu as Generals! Detcis da porta mesrno eu digo a dequeem minha casa nao quem ninguem rnanchado de sangue. Valser arrancado da minha vida como urn pe gangrenado. E issoque eu vou fazer . Urndos mens ja me levaram: tambem achavaque ia ter sorre, Mas surtc nao e para nos ..Voces talvez aindaaprendam isto, antes que as Generals acabern conosco: quemcom ferro fere, com ferro sera ferido!Ouue-se do lado defora urn burburinho de uozes, aporta abre-se,e tres mulheres entram, com as mdos cruzadas nopeito, rezandoa ave-maria. Elas alinham-se contra a pare de, epeta porta queficOU aberta entram dais Pescadores trazenda Juan Carrar, com

    uma vela manchada de sangue: morto. Atras, jJti.lido de morte;oem 0Rapaz. Os Pescadores pousam a cadaver no chao; urn delessegura a lanterna defuan. Enquanto aMae, da sua cadeira, olhapetriJicada, e as mulheres rezam mais alto, osPescadores, em vozbaixo, expiicam ao Operario 0que aconteceu.PESCADOR 1 - Foi urna daquelas chalupas de pesca que eles rem,armadas de metralhadoras: iarn passando par ele e rnandararn

    baIa, sern mais nem menus,M " 'E - Nao pode ser! S6 pode ter sido engano! Ele so, estavapescando!OsPescadores calam. A iliae pen depara 0chao e e amparada petoOperarto.

    Os fuzis da Senho.ra Carrar

  • 5/17/2018 Bertol Brecht - Os Fuzis Da Senhora Carrar

    21/21

    50 Bertolt Brecht

    MAll- Elespodem, sim. Elesnao sao gente. IS50 e uma lepra, e terndesertratada afogo como alepra .As mulheres querezam.comdelicadeza - Eugos taria que voces se retirassern: h:i muita coisaa fazer aqui, e men irmao esta comigo.Saem as mulheres, os Pescadores e outros estranhos.

    PESCADOR 1 saindo - 0 barco dele nos deixamos 13.amarrado,Quando ficam $6 os dafamtlta; a Mae pega urna bandeira e olhabem para-eta:MAE- Alnda hi pOlleo rasguei uma bandeira, e ja me trazem Dutra.A Mae vai com a bandeira para o fundo do aposento e cobre comela 0morto. Nesse momento modifica-se 0ribombar dos canhlJesao longe, como se de repente estiuesse mais perto.R A P A Z apatico - Que sera isso?OPERARIO leuantando-se de repente atento - Romperarn 0 bloqueiol

    Agora eu preciso ir!MAE em voz alta, enquanto se encaminha para 0orno - Leve os

    fuzisl J os e, v a se prepararl 0 pao tambern jii esta pronto.Enquanto 0 Operarto tira da caixa osfuzis, ela cuida do pao:reura-o dojorno, embrulha-o numa toatha edirige-separa osdoishom ens, empunhando urn dos fuzis.RAPAZ~ A senhora tarnbem quer vi r conosco?. MAE- Vall, por Juan!Bncaminham-se para aporta de saida.